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Psiquiatrização Infantil
De acordo com Brzozowski e Caponi (2007) problemas sociais são tomados como
individuais. Assim, problemas que deveriam ser resolvidos em âmbito social, abrem
caminho para a medicalização dos indivíduos que são cerceados de acordo com as normas
sociais.
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Psiquiatras e psicólogos que integram o “Ambulatório de Atendimento ao Amor e Ciúme Patológicos”,
da Faculdade de Medicina da USP produziram artigos que buscam legitimar a categoria amor patológico
enquanto um transtorno do impulso.
fase de experimentos laboratoriais (EARP, et al., 2013). Neuroéticos2 apostam no uso
futuro desses psicofármacos para a manutenção de relacionamentos desgastados ou
interrupção de relacionamentos prejudiciais.
O amor patológico é considerado um transtorno do impulso, sendo definido “pela
atenção e cuidado excessivos com o parceiro, sem controle e sem liberdade de escolha,
no qual o indivíduo é objeto prioritário na vida da outra pessoa, em detrimento de
interesses em outras atividades antes valorizadas”.3 Desse modo, o amor patológico é
considerado especialmente feminino, já que, segundo os especialistas em amor
patológico, as mulheres considerariam a relação amorosa como prioritária em suas vidas.
Em contraste, o homem teria maior tendência a desenvolver transtornos, compulsões,
relativos a atividades impessoais e externas, como jogo, trabalho, esporte, drogas ou
hobbies.
Assim, o que está aqui a ser considerado comportamento desviante, são papéis
sociais de gênero radicalizados. A concepção de transtorno, de desvio da norma, não se
dá pela reprodução desses papéis, mas sim pelo o que seria considerado excessivo.
Portanto, o objeto de intervenção são comportamentos que devem ser mensurados,
equalizados, controlados e enquadrados em uma medida considerada adequada.
Os cuidados na infância, então, são considerados, pelos especialistas em amor
patológico, fundamentais para o desenvolvimento ou não de tais comportamentos
inadequados na fase adulta:
Receber cuidado e afeto durante a infância é fundamental para que as crianças
se desenvolvam com segurança e proteção, necessárias para o desempenho
satisfatório das atividades e das relações futuras, na adolescência e na vida
adulta. (SOPHIA, et al., 2007, p.57)
2
Essas pesquisas laboratoriais geraram ampla discussão de caráter neuroético, encabeçada por um grupo de
neuroeticistas do The Oxford Centre for Neuroethics (OCN) da Universidade de Oxford, a respeito das possíveis
intervenções em humanos relacionadas ao que podemos nomear por medicalização do amor.
3 http://www5.usp.br/39660/ipq-procura-voluntarios-para-tratamento-de-individuos-com-amor-
patologico/
aqueles relatados acima, e as mulheres seriam atraídas por homens distantes
emocionalmente e/ou dependentes químicos. Um importante aspecto desse quadro é
associar as mulheres que se relacionam com dependentes químicos à categoria amor
patológico. Nessa associação está contida, entre outras coisas, o papel que a mulher teria
de auxiliadora na “recuperação” do dependente químico. Assim, a mulher sendo
diagnosticada e tratada poderia melhor apoiar seu parceiro em seu processo de
reestabelecimento, como vemos no fragmento abaixo:
Considerações finais
Costa, J. F. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1999. [capítulo 5]