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NEGOCIAÇÃO PARA
MEDIADORES
autora
STELLA LUIZA MOURA ARANHA CARNEIRO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial rafael iorio, roberto paes e paola gil de almeida
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-375-2
Prefácio 7
Vivemos em uma era onde o tempo é curto para o que queremos fazer, co-
nhecer e realizar. Há sempre mais por fazer, por conhecer, além da concorrên-
cia, disputando ferozmente cada cliente, cada oportunidade. Cada vez mais
percebemos as competências em negociação serem exigidas dos profissionais
no mercado de trabalho: seja na convivência com colegas, na habilidade de
captação de clientes ou na visualização de outras saídas, além da jurídica, nas
soluções de problemas.
A negociação é exigida a todo momento. A habilidade para negociar torna o
profissional de qualquer área, de uma forma geral, mais completo e mais pre-
parado para lidar com seus clientes, sócios e colegas, podendo oferecer solu-
ções mais criativas e diferenciadas. Um profissional capacitado tem consciên-
cia das ferramentas a sua disposição e é capaz de identificar a melhor forma de
resolver uma situação, enxergando os prós e os contras de cada método a ser
empregado.
Os estudos sobre negociação têm aumentado no mundo nos últimos anos
em razão da crescente importância que esta atividade vem assumindo nas em-
presas, no governo e na vida das pessoas de uma forma geral, impulsionada
pelo fenômeno da globalização. A globalização quebrou modelos organizacio-
nais e culturais, criou novas exigências para o mercado de trabalho e está im-
pondo a todos a necessidade de buscar aperfeiçoamento pessoal e profissional.
No Brasil, verificamos o aumento da quantidade de livros lançados anual-
mente, cursos e seminários oferecidos, abordando o tema negociação, além da
inclusão deste assunto como disciplina em cursos universitários. Existe um mo-
vimento cada vez maior de apoio ao desenvolvimento da habilidade de negociar,
impulsionado, sobretudo, pela mudança da ultrapassada ideia de que o bom
negociador já nascia com esta habilidade. Na visão atual, compreendemos que
as habilidades para a negociação podem ser desenvolvidas. Na prática, o planeja-
mento, a preparação e atitudes éticas, estão ocupando o lugar que antes era ocu-
pado pela improvisação, aplicação de truques, manipulação e intimidação.
Desta forma, concluímos que as técnicas de negociação deveriam de ser
uma prioridade na formação de todos, principalmente, os operadores do Di-
7
reito, para que as demandas judiciais pudessem ter soluções menos dispendio-
sas, menos traumáticas e mais adequadas às partes envolvidas e para a socie-
dade em geral.
Este livro tem o objetivo de iniciar o aluno na aprendizagem da negociação
como uma prática na resolução de conflitos quer seja em situações profissio-
nais ou em interações pessoais, através do conhecimento de práticas, técnicas
e ferramentas eficientes.
Bons estudos!
1
Iniciando o estudo
sobre negociação
1. Iniciando o estudo sobre negociação
Somos todos negociadores, desde que nascemos até o final de nossas vidas. Du-
rante o decorrer de nossa existência, lidamos, constantemente, com impasses
e tentativas de chegar a acordos. Que outro nome a não ser negociação podería-
mos utilizar? Pode não ser uma negociação, dentro de aspectos considerados
técnicos, mas é uma negociação realizada de forma empírica ou baseada em
tentativa e erro.
Embora a negociação seja um fenômeno muito antigo, o início de seu es-
tudo estava fundamentado, especialmente, sobre a barganha, ou seja, táticas
para tirar vantagem sobre um adversário. No final da década de setenta do sécu-
lo passado, uma visão diferente começou a ser construída sobre a negociação.
Ela começou a ser considerada como uma disciplina integrada, com metodolo-
gia e técnicas, o que possibilitou abordagens em linhas de pensamento diferen-
tes, envolvendo características, elementos e fases importantes nesse processo.
Neste capítulo, apresentaremos uma visão geral das definições sobre a nego-
ciação e algumas teorias que fazem parte de seu estudo. Você estudará algumas
definições e teorias que ajudam a entender e fundamentar as diferentes formas
de negociar. Cada negociação é única, mas existem características que a torna
semelhante a outras negociações. Você aprenderá sobre as características que
são comuns a todas as negociações. Conhecerá os elementos que influenciam
uma negociação e vai compreender as várias fases de uma negociação, identi-
ficando os tipos de negociações quanto a diversos fatores que as diferenciam.
OBJETIVOS
• Conhecer as diferentes definições de negociação;
• Identificar as várias teorias estabelecidas para a negociação;
• Comparar as diferentes teorias de negociação;
• Conhecer as características comuns a todas as negociações;
• Analisar os elementos que influenciam uma negociação;
• Identificar as várias fases de uma negociação;
• Estudar os tipos de negociações.
10 • capítulo 1
1.1 Natureza da negociação
Negociamos desde que somos bebês, embora nesta fase não tenhamos a noção
de que estamos negociando. Negociamos de tudo, desde comprar e vender, até
situações mais complicadas em que muitas vezes percebemos certa dificulda-
de para chegarmos a acordos.
Negociamos com o olhar, quando estamos tentando chamar a atenção de
alguém, depois negociamos como e se o relacionamento se tornará mais sério.
Ao estabelecermos uma vida a dois negociamos soluções para os problemas
que surgem a partir da convivência e, depois, negociamos regras e limites com
nossos filhos.
Negociamos com o vizinho quanto ao barulho em sua casa; com nossos
pais tentando convencê-los a seguir as ordens médicas; com o gerente de ban-
co quanto as melhores condições para um empréstimo; com o guardador de
carros na porta do restaurante; e, até mesmo conosco quando queremos nos
convencer de uma determinada ideia. Esta última, é a mais complicada das
negociações.
Todos nós negociamos coisas diferentes em situações diferentes.
Entretanto, o conhecimento e habilidade ao negociar são fundamentais para
qualquer indivíduo que precise trabalhar com outras pessoas para atingir ob-
jetivos pessoais ou profissionais. Em geral, deixamos de negociar quando isso
nos convém, muitas vezes porque não reconhecemos que estamos numa situa-
ção de negociação. Outras vezes, quando escolhemos outra alternativa que não
a negociação, corremos o risco de falhar na condução de nossos problemas e
chegar a um resultado não tão satisfatório quanto gostaríamos. Em certas si-
tuações, reconhecemos a necessidade de negociar, mas não conseguimos êxi-
to porque não sabemos avaliar a situação e não conhecemos os métodos mais
adequados para realizar uma negociação.
Então, podemos concluir que a natureza da negociação provém de um ou
mais fatores que precisamos solucionar. Esta situação surge em razão de opi-
niões, ideias e atitudes diferentes. Sendo assim, a negociação é uma das mais
eficazes formas para solucionar problemas, visto que a maioria das pessoas ne-
gocia empiricamente.
capítulo 1 • 11
1.2 Definições de negociação
“Os vencedores parecem ser aqueles que não apenas são competentes, mas
também sabem obter o que querem através da negociação”.
COHEN, 1982, p.30.
“Quase tudo pode ser objeto de negociação. Assim, não deve haver dúvida
de que nosso destino e sucesso individual, familiar ou coletivo, em nações, em-
presas e instituições, é decidido ou influenciado a cada momento pelas nego-
ciações que nós mesmos realizamos ou deixamos de realizar.”.
WANDERLEY, 1998, p.18.
SHELL,2001, p. 38.
12 • capítulo 1
2. As partes devem ter interesses em conflito – alguns dos resultados de-
sejados são melhores para uma das partes, enquanto outros resultados são me-
lhores para a outra parte;
3. As partes devem ter a possibilidade de se comunicar entre si – para que
exista algum acordo, é necessário comunicar o que se oferece e o que se aceita.
Aspectos em conflito
Aspectos em comum
capítulo 1 • 13
Rubin e Brown (1975), citados por Gestoso (2007), descrevem algumas ca-
racterísticas no processo de negociação:
a) Implica em duas ou mais partes;
b) Envolve um conflito de interesses em relação a algum tema;
c) As partes concordam em reunir-se, de forma voluntária;
d) Produz-se um intercâmbio de recursos entre as partes;
e) Apresentam-se propostas, avaliam-se, produzem-se concessões
e contrapropostas.
Podemos notar, então, que as partes se enfrentam com uma dupla inten-
ção: cooperar e competir. Há entre elas uma relação de interdependência na
negociação, já que elas precisam trocar diferentes recursos entre si. De acordo
com Moore (1989), para que ocorra o processo de negociação são necessárias
quinze condições:
1. Partes identificadas que estão dispostas a participar – se uma parte de-
cisiva está ausente ou não se compromete na negociação haverá uma diminui-
ção na possibilidade de um acordo.
2. Interdependência – para que as negociações sejam proveitosas, os par-
ticipantes devem depender uns dos outros para a satisfação de suas necessida-
des ou interesses.
3. Disposição para negociar – para que ocorra a negociação, as pessoas
devem estar dispostas a negociar
4. Meios de influência ou de pressão – as pessoas devem possuir alguns
meios de influenciar nas atitudes ou nas condutas das outras pessoas
5. Acordo em alguns pontos e interesses – em geral, os negociadores par-
tilham de alguns pontos e interesses e não outros. As partes têm que ter pontos
e interesses suficientes, em comum, para se comprometerem em um processo
de tomada de decisão conjunta
6. Vontade de acordo – se a continuação do conflito é mais importante do
que o acordo, as negociações estão condenadas ao fracasso.
7. Resultado imprevisível – para que as pessoas iniciem uma negocia-
ção, é importante que as possibilidades de uma vitória decisiva e unilateral
seja imprevisível
8. Urgência e velocidade de tempo – os participantes devem ter a cons-
ciência de que se não conseguem uma decisão a tempo podem sofrer uma si-
tuação adversa ou perder benefícios.
14 • capítulo 1
9. Ausência de obstáculos psicológicos importantes para um acordo – for-
tes sentimentos expressados ou silenciados para a outra parte podem afetar a
disposição da pessoa para a negociação.
10. Os temas têm que ser negociáveis – as partes devem estar conscientes
de que há opções de acordo aceitáveis que tornem possível a negociação
11. As pessoas têm autoridade para decidir – os participantes devem ter
autoridade para tomar decisões, se não o processo será apenas uma troca
de informações.
12. Vontade de compromisso – alguns acordos podem não exigir nenhum
sacrifício de ambas as partes, outros para alcançar uma solução satisfatória re-
querem o compromisso das pessoas em relação a realização do acordo
13. O acordo deve ser razoável e realizável – alguns acordos podem ser acei-
táveis, mas impossíveis de realizar. Os participantes devem ser capazes de criar
um acordo que seja realista e factível quanto ao seu cumprimento.
14. Fatores externos favoráveis ao acordo – na medida do possível devem
ser criadas situações externas favoráveis para um acordo.
15. Recursos para negociar – os participantes devem usar habilidades in-
terpessoais para negociar, recursos materiais e tempo para comprometer-se no
processo de negociação.
Nas últimas décadas foram realizados muitos estudos e investigações que de-
senvolveram diferentes teorias sobre a negociação. Vamos apresentar algumas
teorias sem a pretensão de esgotarmos este tema.
capítulo 1 • 15
Escuta ativa – Habilidade de focar-se completamente no que a pessoa está dizendo
e no que ela não está dizendo, entender o significado do que é dito no contexto
dos desejos da pessoa, e dar apoio para que a pessoa se expresse. Disponível em:
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:wf8zi6GtE24J:www.
linguee.com.br/portugues-frances/traducao/escuta%2Bativa.html+&cd=24&hl=p-
t-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 29 jun. 2016. Adaptado.
Mensagem EU – emprego no discurso sempre na primeira pessoa do singular,
responsabilizando-se pelo o que entendeu ou o que está falando. Por exemplo: “ Eu
gostaria de saber se eu entendi o que você está falando...” ou “ Eu tive a impressão
que ...”
Este método é muito importante para a mediação e estará sendo retomado vá-
rias vezes, no decorrer do seu curso. Este método de negociação baseada em
16 • capítulo 1
princípios foi desenvolvido no Projeto de Negociação da Universidade de Har-
vard (Harvard Business School) e difundido através da obra de Fisher, Ury e Pat-
ton (2005). A negociação consiste em resolver os assuntos pelos seus méritos
e, não, através de um processo impositivo. Os benefícios mútuos devem ser
encontrados e os interesses em conflito devem ser resolvidos com base em pa-
drões justos e independentes da vontade de cada um dos negociadores. Há um
procedimento pré-estabelecido na negociação baseada em princípios e pode
ser utilizado de uma forma geral.
De acordo com este método, a negociação ocorre a partir de quatro pontos
básicos que podem ser utilizados em qualquer circunstância.
1. Pessoas – separar o problema das pessoas.
Um fator fundamental na negociação é que ela ocorre entre pessoas, que
tem emoções, pontos de vista, valores e procedências diferentes. Estes aspectos
podem ser de grande ajuda ou desastrosos para a negociação. Sob estes aspec-
tos, é importante que a negociação ocorra de tal maneira que ajude na continui-
dade das futuras relações e negociações, podendo-se afirmar que, a continuida-
de da relação é muito mais importante do que o resultado da negociação. Uma
situação importante que deve ser ressaltada é que as relações entre as pessoas,
na negociação, tende a confundir-se com a sua discussão ou o problema.
2. Interesses – concentrar-se nos interesses e não nas posições.
Neste caso, quando se procura os interesses que motivam as posições opos-
tas, com frequência, encontramos interesses semelhantes, e é possível encon-
trar uma situação alternativa que satisfaça os interesses de todos. Por trás de
posições opostas, encontramos interesses partilhados e compatíveis, além
dos conflitos.
3. Opções – criar uma variedade de alternativas antes de decidir.
O importante, neste momento, é gerar alternativas para benefício mútuo.
Essas alternativas devem ser criadas sob baixa pressão e com um tempo dispo-
nível para pensar numa variedade de soluções possíveis, que tenham interesses
comuns e resolvam o conflito.
4. Critérios objetivos – os resultados devem estar fundamentados em cri-
térios objetivos.
O acordo deve ser a partir de algum critério justo. Discutir sobre estes crité-
rios levará as partes a acolher uma solução justa, sem que nenhuma delas tenha
que ceder perante a outra. As soluções devem estar baseadas em princípios e
não em pressões.
capítulo 1 • 17
Nesta negociação, os problemas são resolvidos procurando soluções para
as duas partes. O lema é ser duro com os problemas e suave com as pessoas,
mantendo padrões justos de negociação.
Como um processo no qual duas ou mais partes tomam uma decisão conjunta. As
partes verbalizam primeiro as suas demandas contraditórias e movem-se posterior-
mente até o acordo mediante um processo de realização de concessões ou procura
de novas alternativas. (p. 78)
18 • capítulo 1
1.4.4 O modelo de Bacharach e Lawler
Nesta negociação o poder tem um papel importante porque cada uma das
partes deve exercer algum poder sobre a outra. A percepção que os negociado-
res tiverem sobre o seu poder determinará a influência nas táticas utilizadas.
capítulo 1 • 19
importante é que você tenha percebido que qualquer teoria de negociação pode
ser analisada objetivamente através de três critérios:
1. a negociação deve chegar a acordos inteligentes;
2. a negociação, sempre que seja possível, deverá chegar a um acordo;
3. a negociação deve ser eficiente e melhorar a situação.
COMENTÁRIO
Negociação: ciência e/ou arte?
Neste momento que você já está familiarizado com nosso tema, negociação, vamos dis-
cutir a questão: A negociação é uma ciência ou uma arte? Segundo Raiffa (1991), pioneiro
na sistematização do conhecimento sobre a negociação, em primeiro lugar temos de definir
ciência e arte.
A ciência é o conhecimento sistematizado, representado pelo conjunto bem estrutura-
do de modelos e técnicas. Na negociação, temos a sistematização sobre comportamentos
humanos, contextos específicos, a mecânica e as estratégias através das quais se chega a
um acordo.
A arte, entretanto, apresenta uma concepção mais difícil de definir. Para simplificar pode-
mos considerar que a arte é aquilo que se aprende e se aprimora na prática. No contexto da
negociação podemos entender o componente arte composto por três elementos: 1) a cria-
tividade, com a proposta de novos caminhos, novas soluções, novas ideias; 2) sensibilidade,
através da capacidade de entender o outro, de interpretar seus sentimentos; 3) intuição, que
é a capacidade de antever reações alheias, mais do que entender como o outro está se sen-
tindo, mas ter uma ideia mais ou menos clara de como o outro reagiria a um novo argumento.
Resultado: podemos considerar a negociação uma ciência e uma arte, segundo os pres-
supostos levantados por Raiffa (1991).
Podemos dizer que cada negociação apresenta suas peculiaridades e, por isso,
é única. Não existe uma negociação igual a outra. Mesmo aquela que ocorre
várias vezes, vai apresentar características que a distingue das demais ocasiões.
No entanto, existem três características que aparecem em toda negociação,
em menor ou maior intensidade. São elas:
20 • capítulo 1
1.5.1 Assimetria de informações
Por maior que seja a relação de transparência entre as partes, toda e qualquer
negociação vai apresentar esta característica. Ou seja, um dos lados sempre
tem informações que o outro não tem.
É comum que os negociadores não forneçam todas as informações, para
que possam se proteger e, em algum momento, melhorar as condições de um
acordo. Além disso, mesmo as informações que estão disponíveis para os nego-
ciadores, muitas vezes, podem ser interpretadas de forma diferente.
capítulo 1 • 21
a) incerteza – que pode ser representada pela nossa imprevisibilidade
como seres humanos. Somos imprevisíveis por natureza. Não podemos prever
quais serão as atitudes das pessoas. Por exemplo, uma pessoa que se mostra
compreensiva quanto a uma situação hoje, pode mostrar-se resistente à mesma
situação em um outro momento.
b) cobrança externa – está ligada ao fato de devermos satisfações dos nos-
sos atos de várias formas e em várias situações. Por exemplo, devemos satisfa-
ção por nossos atos para nossa família, para nosso superior, para nossos ami-
gos, para nossos subordinados. Muitas vezes, em uma negociação podemos
estar tendendo a aceitar um acordo, mas este não é realizado quando pensa-
mos em como vamos justificá-lo para nossa família. Tomamos nossas decisões
voltados para a perspectiva de termos de explicar nossas atitudes, o que muitas
vezes não ocorre.
c) autocobrança – está intrinsecamente ligada à nossa autoestima e au-
toimagem, muitas vezes tornando-se mais importante do que os aspectos ob-
jetivos da negociação. Ou seja, durante a busca de um acordo, a autocobrança
faz com que não fiquemos contentes com o resultado alcançado. Outras vezes,
podemos recusar acordos que deveriam ser aceitos, por estabelecermos metas
e expectativas que estão fora das possibilidades dos mesmos.
22 • capítulo 1
4. Motivação mista nas relações – a negociação tenta resolver o paradoxo
entre a divergência e a cooperação. As partes, numa negociação, encontram-se
motivadas para cooperar e para competir.
5. Relação de poder – negociar não é bom nem mau. É uma situação de-
terminada pelas relações de poder. Sem uma relação de poder entre as partes
frente a um conflito, uma das partes poderia adotar uma decisão e impô-la a
outra parte, sem necessidade de negociação.
6. Relação de interdependência – numa negociação, os resultados de uma
conduta determinam-se pela interrelação entre a própria conduta e a conduta
de outras partes.
7. Processo de percepção – a negociação desenvolvida entre os protago-
nistas estabelece uma relação entre eles em que há uma tentativa contínua de
influenciar sobre a percepção do outro, através de demandas, concessões, pro-
messas etc. Cada parte interpreta, através das suas percepções, o significado
das estratégias da outra parte, ao mesmo tempo em que transmite a ela a im-
pressão que teve.
8. Precisão do objetivo e margem de atuação – a negociação pressupõe
um encontro entre os protagonistas, o resultado desta relação se produz atra-
vés do trabalho com as divergências existentes, que exige que cada um possua
objetivos e tenha uma determinada margem de manobra. Isto é para reduzir as
divergências, é preciso que cada parte tenha recursos que serão apreciados pela
outra parte para serem realizadas as concessões.
9. Parâmetros antagônicos – em toda negociação há um desejo de maxi-
mizar os recursos próprios desenvolvendo um processo competitivo, para che-
gar a uma solução equitativa, através de uma situação cooperativa. Isto coloca
o processo de negociação num paradoxo entre os parâmetros implicados nes-
ta questão.
10. Pautas sequenciais de condutas – as relações que são estabelecidas na
negociação obedecem uma sequência. São produzidas trocas de informação,
avaliação e decisão, até chegar a um acordo mutuamente aceitável.
capítulo 1 • 23
Vamos fundamentar nossa descrição no trabalho de alguns autores
(LEWICKI; SAUNDERS; BERRY, 2014), que descreveram as seguintes fases para
a negociação:
1. Preparação e planificação
2. Estabelecimento de limites e objetivos da negociação
3. Aceitação de um contexto comum
4. Apresentação de alternativas
5. Encerramento e gestão do acordo
1. Preparação e planificação
Nesta fase é realizada uma análise do conflito, determinando nossas metas,
objetivos e limites, assim como o desenvolvimento de uma estratégia que po-
derá ser utilizada.
2. Estabelecimento de limites e objetivos da negociação
Nesta fase, o objetivo é que as partes mostrem as questões relevantes da situa-
ção estabelecida e possam, até mesmo realizar pequenas concessões, para de-
monstrar a boa disposição para negociar. Neste momento, cada protagonista terá
informações sobre os limites e pontos relevantes do outro. As posições adotadas
no início, em geral, são modificadas. Neste momento, cada um projeta uma ima-
gem que revela o seu interesse, facilitando a definição de metas e prioridades.
Colocam-se em evidência as grandes diferenças entre as partes para que estas
possam ir trabalhando estas situações e se centrando nas vantagens do acordo.
3. Aceitação do contexto comum
Nesta fase, as duas partes já começam a diminuir as objeções perante as
propostas da outra parte e encontrar mais pontos em comum. Ambas já se en-
contram conscientes de que o objetivo comum é o acordo e começam a assumir
atitudes mais coordenadas para este fim.
4. Apresentação de alternativas
A partir da cooperação mútua, onde são colocadas as propostas, é iniciada
uma troca de propostas e contrapropostas que permitem chegar ao acordo final
entre as partes.
5. Encerramento e gestão do acordo
Uma vez chegado ao acordo, é conveniente, em algumas situações, princi-
palmente as judiciais, encerrá-lo através de um documento escrito e assinado
por todos os participantes. Lembrando a você que cada contrato terá sua espe-
cificidade, de acordo com a questão negociada.
24 • capítulo 1
Alguns sinais podem indicar, durante a negociação, o momento de encerrá-
-la. São eles, segundo Gestoso (2007):
• existe cada vez menos objeções por parte das partes e menor resistência
ao acordo;
• observação de que depois de um tempo de argumentações, o ambiente se
torna relaxado e há mais cordialidade entre as pessoas;
• quando uma das partes começa a pedir detalhes concretos para a ou-
tra parte;
• quando, em alguns casos, se pergunta sobre o período de experiência
para posteriormente assinar o acordo definitivo.
De acordo com cada autor, teremos diversas classificações. Vamos adotar a clas-
sificação de Pruitt (1981), que divide os tipos de negociação quanto: a função, ao
modo de desenvolvimento, interação, níveis de análise, partes envolvidas, compo-
sição das partes e ambiente onde se desenvolve. Vamos estudar cada uma delas:
capítulo 1 • 25
o menor número de concessões possíveis para conseguir o acordo. É estabele-
cido um ponto de referência, que são os objetivos desejados, um ponto de re-
sistência e a zona de contrato ou negociação, cujo objetivo será obrigar a outra
parte a ter uma resistência menor e, consequentemente, aceitar a proposta da
outra parte.
b) negociação integrativa ou baseada em princípios ou méritos
Apresenta uma estratégia que se caracteriza por ser essencialmente coope-
rativa. É uma negociação onde ambas as partes sairão ganhando com o acordo.
Os benefícios são distribuídos entre as partes, sendo encontradas soluções e
alternativas que satisfaçam a ambas.
Vamos ver um quadro que destaca aspectos importantes destes dois tipos
de negociação:
c) negociação mista
Estratégia em que se misturam tanto os aspectos competitivos quanto coo-
perativos. As partes competem para obter o melhor acordo possível, mas não
esquecem de cooperar entre elas para que o acordo seja vantajoso para ambas.
a) negociação interpessoal
É a negociação estabelecida entre dois indivíduos que tem suas prioridades
frente a melhor solução para o conflito
b) negociação intergrupal
É a que ocorre entre diferentes grupos que devem resolver um conflito
c) negociação interorganizacional
Duas ou mais organizações devem resolver um conflito
26 • capítulo 1
1.8.5 Quanto às partes implicadas
RESUMO
Como vimos neste capítulo, a negociação é um processo humano que visa resolver ou evitar
conflitos e chegar a realização de acordos. É utilizada quando não existe uma autoridade que
decida como chegar ao acordo, ou quando as partes envolvidas decidem chegar por si ao
acordo, inclusive mudando as regras já existentes.
Você teve oportunidade de aprender sobre a negociação no que diz respeito às suas
definições e estudou as várias teorias que estabelecem algumas técnicas para a negociação.
Além disso, você observou que a negociação abrange diferentes características e, segundo o
tipo de negociação, teremos resultados diferentes quanto a realização do acordo.
capítulo 1 • 27
ATIVIDADE
www.marcoschiodi.com.br
01. A partir do que você estudou sobre tipos de negociação, segundo Pruitt (1989), classi-
fique esta negociação entre pai e filho, quanto ao caráter de interação.
LEITURA
BOFF, R.E. NEGOCIAÇÃO: Técnicas para a obtenção de resultados. INTERLINK ,v. 2, n.2, jul/dez 2011
BRITO, E. P. A. Técnicas de negociação. Revista Científica do ITPAC.v. 4.,n. 1. jan. 2011. Disponível em:
<http://www.itpac.br/arquivos/Revista/41/3.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2016.
FRANCISCO, L. L. Negociação uma ferramenta que pode fazer a diferença. Disponível em: <http://
www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/1804>. Acesso em: 24 abr. 2016.
LIMA, A. A importância da negociação na Advocacia. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/
artigos/exibir/6012/A-importancia-da-negociacao-na-Advocacia>.
RODRIGUES, L.C.; OLIVEIRA, J.V.de. O Processo de Negociação, sua estrutura e importância no
contexto atual. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos05/299_ARTIGO%20
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WANDERLEY, J. A. Negociação: uma competência essencial para líderes e administradores. Disponível
em: <http://idemp-edu.com.br/artigos/22>. Acesso em: 25 abr. 2016.
28 • capítulo 1
MULTIMÍDIA
Liinks.
Harvard Business Review Brasil - http://hbrbr.com.br/negociacao/
Assista o video
Animação sobre negociação
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gZUcJsOA2VQ
Entrevista
Entrevista José Augusto Wanderley – Negociação
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-5OT_FXPSXg
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEZERMAN, M.H.; NEALE, M.A. Negociando racionalmente. São Paulo: Atlas, 1995.
COHEN, Herb. Você pode negociar qualquer coisa. Rio de Janeiro: Record, 1982.
FISHER, R.; URY, W.; PATTON, B. . Como chegar ao sim. A negociação de acordos sem concessões.
2.ed. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
GESTOSO, C.G. Estratégias de negociação. Mangualde: Pedago, 2007.
LEWICK,R. J.;SAUNDERS,D.M.;BERRY,B. Fundamentos da negociação. 5. São Paulo: McGrawHill;
Bookman,2014.
MOORE, C.W. O processo de mediação. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1989
NIEREMBERG,G.I. El negociador completo. Madrid: Espasa Calpe, 1991.
PRUITT, D.G. Negotiation behavior. New York:Academic Press, 1981.
RAIFFA, H. El arte y la ciência de la negociacion. Mexico: Fondo de Cultura, 1991.
SARFATI, G. (org.). Manual de negociação. São Paulo: Saraiva, 2010.
SHELL, Richard G. Negociar é preciso: estratégias de negociação para pessoas de bom senso. São
Paulo: Elsevier, 2001.
WANDERLEY, José Augusto. Negociação Total: Encontrando Soluções, Vencendo Resistências,
Obtendo Resultados. São Paulo: Gente,1998
capítulo 1 • 29
30 • capítulo 1
2
Estilos,
planejamento
e técnicas de
negociação
2. Estilos, planejamento e técnicas de
negociação
OBJETIVOS
• Conhecer os diferentes estilos na negociação;
• Analisar as diferentes fases de planejamento da negociação;
• Reconhecer as diferentes estratégias e técnicas de negociação;
• Entender como se negocia com pessoas difíceis.
32 • capítulo 2
com a outra parte. Entre estas duas tendências existe uma ampla gama de esti-
los de negociação. Apesar disto, poderíamos afirmar que existem tantos estilos
de negociação como negociadores, mas geralmente encontramos pontos em
comum que vão determinar um estilo de negociar.
De acordo com Manuel e Martinez-Vilanova (2000), existem cinco estilos
pessoais de negociação. Vamos às suas descrições:
1. Estilo formalista
O negociador se orienta a partir de processos estabelecidos por ele ou pela
sua organização, procurando nunca se afastar de regras pré-estabelecidas. É
uma pessoa meticulosa, perfeccionista, consciente das dificuldades da nego-
ciação, não gostando de alterações. É cautelosa nas suas manifestações, pro-
curando não tomar decisões sem o respaldo dos regulamentos. É uma pessoa
realista, que não espera muito da outra parte, tendo um baixo nível de expecta-
tivas, desta forma. Prefere negociações fundamentadas em testemunhos e ar-
gumentos por escrito, sendo exigente no cumprimento dos acordos firmados.
2. Estilo cooperativo
Estes negociadores procuram estabelecer uma relação cordial e de confiança
na negociação. Evitam a confrontação, procurando uma solução satisfatória para
ambas as partes. Considera como elemento principal a harmonia entre as partes,
procurando pontos em comum para realizar a negociação. Gostam de colaborar
e não costumam ocultar informações, manifestando claramente suas necessida-
des e objetivos, com a finalidade de conseguir acordos gratificantes para todos.
Preferem a comunicação oral aos documentos escritos, tendo grande habilidade
para os relacionamentos. Utilizam todos os meios disponíveis para encerrar os
pontos de desacordo, cedendo, para que o acordo seja possível. O acordo é buscado
através da cooperação, esperando que seja bom para todos. Não há manipulação.
3. Estilo diplomático
Há um interesse em encontrar um equilíbrio de objetivos entre as partes.
Acredita que os objetivos conseguidos são suficientes para os seus interesses.
Tenta chegar a uma zona de equilíbrio, onde os benefícios representem os inte-
resses de todos. Apresenta prudência, mas mostra grande firmeza nos seus pla-
nejamentos. É uma pessoa analítica, no lugar de emotiva, e paciente quanto a
busca dos resultados pretendidos. Tem grande capacidade de diálogo e fluidez
verbal. Utiliza muito bem o conteúdo de suas expectativas, adaptando-as, se
isto levar a um acordo. Durante a negociação é direto no planejamento, tentan-
do chegar logo a um acordo. Nunca se compromete com aquilo que não pode
cumprir, adaptando-se a forma e ao estilo de negociar da outra pessoa.
capítulo 2 • 33
4. Estilo impositivo
Utiliza o tipo de negociação “ganhar poder”. Não se preocupa com a con-
frontação nem apresenta interesse pela parte contrária. É uma pessoa impe-
tuosa, envolvida, tomando decisões de forma rápida e querendo chegar ao fim
do conflito. Emprega o poder através da força, usando-a como motivação para
a negociação. Gera um clima de tensão e só colabora quando percebe que os
outros estão dispostos a aceitar o que ele determina. Não perde tempo, indo
logo ao essencial. Apresenta segurança na formulação dos seus problemas e
objetivos. Manipula muito bem a linguagem verbal e os gestos, intimidando
as pessoas. Fala mais do que ouve e considera toda negociação como uma con-
frontação com um ganhador e um perdedor.
5. Estilo dirigente
Estes negociadores procuram resolver os conflitos tentando a colaboração
entre as partes. Seu objetivo é contribuir com soluções viáveis para satisfazer
os objetivos tanto seus quanto da outra parte. Tentam uma negociação ganhar/
ganhar. Sabem criar um ambiente de objetividade e de cordialidade, tratando
de resolver o problema, no lugar de ganhar. Procuram que todos se impliquem
na análise conjunta das propostas. Gostam de negociar, dominando a comu-
nicação verbal e a não-verbal, pensando nos resultados da negociação a longo
prazo. Transmitem, com precisão, a informação procurada pela outra parte.
Exibem grande respeito pelo outro.
Outra classificação de estilos na negociação é a de Rahim e Bonoma (1979),
citada por Gestoso (2007), que combina duas dimensões: interesse na satisfa-
ção de interesses próprios e interesse na satisfação dos interesses da outra par-
te. Estes autores chamam essa classificação de estilos de gestão de conflitos.
Alto
Subserviência Integração
Interesse
outros
pelos
Compromisso
Dominação Evitação
Baixo
Baixo Alto
Interesse próprio
Figura 2.1 – Estilos de gestão do conflito. MUNDUATE; DOURADO, 1999. Fonte: GESTO-
SO, 2007, p.102.
De acordo com a figura podemos ter interesse pelos outros: alto ou baixo
e, interesse próprio: alto ou baixo. Combinando estes interesses os autores
34 • capítulo 2
(RAHIM; BONOMA,1979, citado por GESTOSO,2007) estabeleceram quatro es-
tilos extremos e um estilo equilibrado. Vamos às suas descrições:
capítulo 2 • 35
em conta na hora de planejar o processo de negociação. Gestoso (2007), enu-
mera alguns deles:
• o planejamento da sequência e do problema principal;
• a definição de limites para chegar a um acordo satisfatório para todos;
• o objetivo de toda negociação que deve ser o máximo de benefício mútuo;
• reconhecimento das próprias necessidades, diferenciando-as de desejos;
• utilização de um planejamento adaptado a cada pessoa e a cada tipo
de conflito.
Definição de limites
36 • capítulo 2
b) Não existe campo de acordo – neste caso, é impossível chegar a um
acordo a não ser que em uma análise realizada por uma das partes ou ambas, se
chegue a conclusão de que os limites estavam mal definidos.
c) Os limites de uma das partes encontram-se dentro dos limites da outra
parte – esta situação ocorre, com frequência, quando a negociação é entre ne-
gociadores bem treinados e negociadores iniciantes. Apesar de nestes casos, os
limites serem estreitos, o acordo a ser negociado deve estar dentro da margem
de satisfação das partes.
Atitudes
Percepções
Necessidades interpessoais
Estilos de gestão
Interação entre
os negociadores
capítulo 2 • 37
Atitudes e percepção interpessoal
Necessidades
38 • capítulo 2
McClelland, Atkinson e cols. (1958), citados por Gestoso (2007) propuseram
uma tipologia de necessidades básicas que são enumeradas como: necessidade
de sucesso; necessidade de afiliação; necessidade de poder.
Antes de descrevê-las podemos esquematizá-las da seguinte forma:
Necessidades pessoais
Influência
Exito Amizade
Conduta orientada para
Desejo fazer de bem Desejo de estabelecer e
dominar, controlar, influenciar
as coisas e fazê-las manter relação afetiva
ou castigar com os fim de
cada vez melhor positiva com as pessoas
atingir objetivos
capítulo 2 • 39
que as partes tentam para conseguir esse objetivo estratégico, que poderíamos
dizer: “resolver o conflito da forma mais vantajosa possível“.
Uma estratégia é formada por um conjunto de objetivos ou metas e as técni-
cas referem-se aos meios para chegar às metas.
Vamos apresentar, agora, as principais estratégias de negociação, segundo
Pruitt (1983). Seu modelo de escolha estratégica é composto de quatro possí-
veis estratégias de negociação:
1. Estratégia de resolução de problemas
É uma situação em que se reconcilia as aspirações das partes. O resultado
contempla um grande benefício para todos, principalmente, quando estão pre-
sentes duas condições complementares: um grande potencial integrativo e ele-
vadas aspirações das partes, permitindo desenvolver ao máximo a criatividade.
2. Estratégia de rivalidade
Cada uma das partes tenta se impor em relação a outra. A rigidez de inte-
resses, muitas vezes, impossibilita o acordo. A própria dinâmica do processo
bloqueia as soluções criativas para a resolução do conflito.
3. Estratégia complacente
Ocorre uma importante redução nas aspirações básicas das pessoas em
conflito. Pode ser em parte, vantajosa, quando se deseja acabar rápido uma
negociação. Os problemas da disputa não são importantes ou há uma elevada
pressão do tempo. Essa evitação do conflito e o consequente acordo leva a be-
nefícios inferiores a aqueles que poderiam ser conseguidos se tivessem enfren-
tado o conflito de forma criativa.
4. Estratégia de não ação
Há uma atividade negociadora mínima, podendo chegar à suspensão
da negociação.
40 • capítulo 2
como um instrumento de cooperação entre eles. Desta forma, podemos distin-
guir dois grupos de técnicas: as concessivas e as punitivas.
a) Concessivas
A conduta concessiva é escolhida pelos negociadores em função dos custos
e benefícios com as concessões. Algumas técnicas podem ser mais arriscadas,
como por exemplo, realizar uma concessão na expectativa de receber outra
como retorno; revelar possíveis compromissos; e revelar seus próprios interes-
ses. A outra parte pode não levar em consideração estes detalhes e se beneficiar
destes. Entre as técnicas mais brandas e que podem trazer melhores resulta-
dos, temos a insinuação de possíveis compromissos, enviar sinais de que está
disposto a realizar concessões ou comunicar-se através de um mediador.
b) Punitivas
Ocorre em ambientes de rivalidade, onde os negociadores terão alguns pro-
blemas táticos: conseguir a máxima informação sobre os objetivos, expectativas
e intenções do outro, oferecendo uma informação ambígua e incompleta que
não pode ser manipulada como arma contra ele. Nestas técnicas, o elemento
crucial é a ameaça, ou seja, a comunicação da intenção de causar dano ao outro.
capítulo 2 • 41
preocupações, necessidades e interesses. Depois, exploraria algumas opções
que fossem satisfazer os interesses de ambas as partes. Com o objetivo de che-
gar a um acordo satisfatório de forma eficiente e amistosa. Como já vimos no
capítulo 1, quando você foi apresentado à negociação baseada em princípios.
Contudo, e se o seu oponente não estiver interessado nesse tipo de negocia-
ção? Você pode querer um sim, mas, e se a resposta dele for não? Como fazer
para superar o não?
De acordo com Ury (2005), temos cinco desafios para superar o não. Você
precisa entender o que está por trás dele: o que leva o seu oponente a se recusar
a cooperar. Desta forma, as cinco regras são:
• não reaja – controle seu próprio comportamento. Em vez de reagir, você
precisa recuperar seu equilíbrio mental e se manter concentrado para conse-
guir o que deseja.
• desarme seu oponente – você precisa ajudar seu oponente a recuperar o
equilíbrio mental dele. Diminuir as emoções negativas dele, tais como medo,
desconfiança, defesa e hostilidade. Romper a resistência dele e fazer com que
ele escute o que você tem a dizer.
• mude o jogo – depois de ter criado um clima de negociação favorável, você
precisa fazer com que seu oponente pare de barganhar posições e comece a pro-
curar um meio de satisfazer os interesses de ambos os lados. Você precisa trans-
por as barreiras dele, desviar-se dos seus ataques e neutralizar seus truques.
• facilite o sim – após o envolvimento de seu oponente na negociação para
a solução de problemas, você precisa vencer o ceticismo dele e conduzi-lo a um
acordo mutuamente satisfatório.
• dificulte o não – seu oponente talvez pense que ainda pode fazer preva-
lecer sua vontade por se sentir mais forte que você. Intensifique seu poder de
negociação usando este poder para trazer seu oponente para a negociação.
Vamos ver cada regra resumidamente.
42 • capítulo 2
Romper – podemos romper relações, contratos, mas nem sempre é uma
boa resposta. Muitas vezes, o rompimento é uma reação apressada que vamos
nos arrepender mais tarde. As pessoas que reagem rompendo, em geral, nunca
vão a lugar nenhum porque estão sempre recomeçando.
Quando reagimos, então, perdemos de vista nossos interesses, mesmo que
a reação não acarrete um grande prejuízo, ela alimenta o ciclo ação-reação. E, o
pior, você se torna parte do problema.
De acordo com Ury (2005), quando você se depara com uma negociação di-
fícil, é preciso recuar, esfriar a cabeça e analisar a situação de maneira objetiva.
Deve “subir a galeria”, termo usado como uma metáfora, para significar uma
atitude mental de distanciamento. Subir a galeria significa distanciar-se de
seus impulsos e emoções naturais.
capítulo 2 • 43
e seu oponente não, você terá mais poder na negociação. Quanto melhor sua
MAPAN, maior será seu poder. Guarde sua MAPAN no bolso traseiro. Quando
estiver sob ataque pesado e se sentir em pânico, apalpe o bolso e diga a si mes-
mo: “Eu estarei bem, caso não dê certo”.
Mantenha-se concentrado em seu objetivo, pois o prêmio é um acordo que
satisfaça bem seus interesses e aceitavelmente os interesses de seu oponente;
que seja melhor para você que sua MAPAN. Para manter-se atento, você deve
reconhecer as táticas que estão sendo utilizadas na negociação. O segredo para
neutralizar o efeito de uma tática é reconhecê-la. Existem dezenas de táticas,
mas, de maneira geral, elas podem ser agrupadas em três categorias: obstruti-
vas, ofensivas ou enganosas.
A tática de obstrução consiste em recusar-se a ceder. Seu oponente tenta
convencê-lo de que ele não tem a menor flexibilidade e que, portanto, você não
tem alternativa senão aceitar a posição dele. Ataques são táticas de pressão que
têm por finalidade intimida-lo e deixa-lo tão sem jeito que você acaba cedendo
às exigências de seu oponente. Os truques são táticas que se utilizam de engano
para fazê-lo ceder. As pessoas se aproveitam do fato de partir do princípio de
que seu oponente está agindo de boa-fé e falando a verdade.
Depois, conheça seus pontos fracos, para neutralizar devidamente o efeito
da tática usada por seu oponente, você precisa saber não só o que ele está fa-
zendo, mas também, o que você está sentindo. Uma vez denunciado o jogo e
tendo contido sua reação imediata, o próximo passo é ganhar tempo para pen-
sar; tempo para subir à galeria. A maneira mais simples de ganhar tempo para
pensar no meio de uma negociação tensa é fazer uma pausa e não dizer nada.
Se você precisa de mais tempo para pensar, faça um rápido intervalo. Não tome
decisões importantes impulsivamente.
Ao tratar com uma pessoa difícil, provavelmente a última coisa que você se
sente inclinado a fazer é passar para o lado dela. Para vencer a resistência de seu
oponente, você precisa reverter essa dinâmica. Se quer que ele o escute, comece
por escutar o que ele tem a dizer. Se quer que ele reconheça seu ponto de vista,
reconheça o dele primeiro. Para conseguir que ele concorde com você, comece
por concordar com ele em tudo o que for possível.
Tendo ouvido tudo que seu oponente tem a dizer, é provável que ele se torne
menos reativo, mais racional e mais acessível na busca da solução do problema.
44 • capítulo 2
Não é por mera coincidência que negociadores eficientes mais escutam que fa-
lam. Não basta apenas escutar o que seu oponente diz. Ele precisa saber que
você ouviu o que ele disse. Para tanto, repita o que ouviu. Parafrasear signifi-
ca repetir com suas próprias palavras o que seu oponente disse. Lembre-se de
manter o ponto de vista dele.
Depois de ouvir o que seu oponente tinha a dizer, mostre que você respeita
o ponto de vista dele. Não ignore as emoções de seu oponente. Por trás de seu
ataque quase sempre existe raiva; por trás de sua inflexibilidade quase sempre
existe medo. Tendo ouvido o que seu oponente tinha a dizer, e demonstrado
que respeita sua opinião, o próximo passo consiste em concordar com o que for
possível. É difícil atacar alguém que concorda com você.
Você não precisa fazer nenhuma concessão. Basta concentrar-se nos pon-
tos com os quais você já concordou. Ouvindo seu oponente, reconhecendo seu
ponto de vista e concordando com ele sempre que for possível você está, de fato,
demonstrando que o respeita como pessoa. Uma das melhores maneiras de de-
monstrar respeito por seu oponente é criando uma relação de trabalho com ele.
Depois de ter ouvido e demonstrado respeito pelo seu oponente, ele estará
mais disposto a ouvir o que você tem a dizer. Agora é hora de expressar o seu
ponto de vista. Ao expressar sua opinião, é menos provável que você provoque
seu oponente se falar de si mesmo, em vez de falar dele. Mostrar que concorda
com seu oponente não significa que você suprimiu as diferenças existentes en-
tre vocês. Na verdade, é sempre melhor reconhecê-las abertamente, o que asse-
gura a seu oponente que você compreendeu a colocação dele e o ajuda a relaxar.
Em resumo, as barreiras que você tem pela frente são a desconfiança e a
hostilidade de seu oponente, sua recusa em ouvi-lo e sua falta de respeito. A
melhor estratégia é passar para o lado dele. É mais difícil manter-se hostil e
desconfiado em relação a alguém que o ouve e respeita o que você diz e o que
você sente. É mais fácil ouvir uma pessoa que escutou o que você tinha a dizer.
E respeito gera respeito.
capítulo 2 • 45
Para mudar o jogo, você precisa fazer o oposto do que se sente tentado a fa-
zer. Em vez de rejeitar, aceite o que seu oponente diz e transforme-o na negocia-
ção que você quer fazer. Em outras palavras reformule. Reformular significa dar
uma forma diferente ao que seu oponente diz, de modo a dirigir a atenção para o
problema de satisfazer os interesses de ambos. É como trocar a moldura de um
quadro. Neste caso significa trocar a moldura para solucionar o problema em tor-
no das declarações de seu oponente. Reformule a conversa transformando-a em
uma discussão construtiva sobre como resolver as questões levantadas.
Faça perguntas voltadas à solução do problema. Em vez de dar a resposta cer-
ta, procure fazer a pergunta certa. Não explique o assunto. Pergunte por que e por
que não. Você pode achar a posição de seu oponente insensata. Contudo, em vez
de rejeitá-la, você pode usá-la como um ponto de partida para uma discussão so-
bre padrões de justiça. Aja como se ele devesse acreditar que a posição dele é jus-
ta; e ele, geralmente acredita. Pergunte, “por que você acha que isso seria justo?”.
As perguntas destinadas à solução do problema permitem-lhe reformular
a posição de seu oponente em termos de interesse, opções e padrões. Porém,
você precisa, também, enfrentar a tática, os obstáculos, os ataques e os truques
dele para fazer com que você aceite a sua posição. Ignore um ataque ou obstá-
culos. Uma das técnicas é fingir que não notou o ataque ou o obstáculo e conti-
nuar falando do problema. A alternativa para rejeitar o truque é fingir que não
o notou. Responda como se seu oponente estivesse negociando de boa fé, mas
aja com certa lentidão e faça perguntas para testar sua sinceridade.
Como você percebeu, o momento da decisão do método de derrubar barrei-
ras é quando você muda o jogo, passando da barganha de posições para a nego-
ciação da solução do problema. O segredo para mudar o jogo é a reformulação.
Reformular, repetindo, significa pegar o que seu oponente diz e apontá-lo em
direção do problema.
46 • capítulo 2
1. A ideia não é dele. Ele poderá rejeitar a proposta por não ter sido feita
em conjunto.
2. Interesses Insatisfeitos. Um dos interesses básicos do seu oponente
pode estar passando despercebido por você.
3. Medo de Ser Desprestigiado. Ninguém quer fazer feio perante
seus constituintes.
4. Grande Demais e Rápido Demais. A perspectiva de seu oponente de fe-
char um acordo parece assoberbante. A decisão parece grande demais, e o tem-
po, muito curto.
capítulo 2 • 47
ponte, então, significa engajá-lo na elaboração do acordo, enxergar o que está
por trás dos interesses óbvios dele, mexendo com suas necessidades mais in-
tangíveis, tais como reconhecimento ou autonomia. Ajuda-lo a preservar seu
prestígio, quando ele retroceder a sua posição inicial. Encontrar uma maneira
de apresentar seu acordo aos seus constituintes como uma vitória. Ir devagar
para chegar mais rápido, guiando passo a passo pela ponte.
48 • capítulo 2
• neutralizar o ataque do oponente: o meio mais eficaz na negociação é a
neutralização do ataque do oponente sem revidar;
• convocar a terceira força: uma pessoa sozinha, em certos momentos, não
tem poder suficiente, portanto, é interessante que haja uma coalização em prol
dos objetivos, além do uso de terceiros para impedir que ocorram ataques e que
se promova uma negociação;
• acentuar as diferenças entre as opções: deixar claro ao oponente
que ele sempre tem uma saída, acrescentando-se, sempre, a possibilidade
de conciliação;
• deixar o oponente escolher: respeitar a liberdade do oponente de escolher
entre as consequências de não haver um acordo e a ponte dourada, a escolha
sempre deve ser do outro;
• mesmo quando se pode vencer, negocie: um resultado imposto é sem-
pre instável;
• elaborar um acordo duradouro: traduzir a negociação em um acordo fir-
me e duradouro;
• concentrar-se na implementação: necessidade de se elaborar um acordo
que induza o oponente a cumprir com sua palavra, protegendo o negociador
caso a mesma não se cumpra, elaborando um acordo de maneira a minimizar
riscos e criando um procedimento para solução de desavenças;
• mostrar confiança no relacionamento: é interessante que o oponente sin-
ta-se o mais satisfeito possível ao final da negociação;
• ter como objetivo a satisfação mútua, não a vitória: ao invés de tentar im-
por uma solução, orientar o oponente sobre a opção que é melhor para ele e
para o negociador
RESUMO
Neste capítulo, você teve a oportunidade de aprender que na negociação a fase de planeja-
mento é imprescindível para o seu êxito. Além disso, você estudou os diferentes estilos de
negociadores e suas características principais. Observou que existem estratégias e técnicas
de negociação, que são fundamentais para o seu sucesso e, para finalizar o seu estudo, você
foi apresentado às possibilidades de negociação com pessoas difíceis e as estratégias ne-
cessárias para se chegar a um acordo, nestes casos.
capítulo 2 • 49
ATIVIDADE
01. Questionário de auto avaliação em estilos de negociação. Disponível em: <http://ww3.
panaftosa.org.br/Comp/MAPA/4721058.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2016.
LEITURA
ACUIO, A.de O.; MORAIS, J.C.C.; BANDOS, M.F.C. A importância de planejar as negocia-
ções. Revista Fórum de Administração, n.1., 2012, p.118-137.
BRITO, E.P.A. Técnicas de negociação. Revista do ITPAC, v.4, n. 1., jan2011. Disponível
em: <http://www.itpac.br/arquivos/Revista/41/3.pdf>. Acesso em: 10 maio 2016.
SAFARTI, G. Negociações complexas e com pessoas difíceis. In SAFARTI, G. (ORG.)
Manual de negociação. São Paulo: Saraiva, 2010.p.111-30.
SOBRAL, F.; CARVALHAL, E.; ALMEIDA, F. O estilo brasileiro de negociar. Revista Portu-
guesa e brasileira de gestão. Edição Especial - 10 anos. Disponível em: <http://www.scielo.
mec.pt/pdf/rpbg/v11n2-3/v11n2-3a08.pdf>. Acesso em: 10 maio 2016.
MULTIMÍDIA
Liinks.
Resenha do livro Supere o não, negociando com pessoas difíceis. Disponível em:
<http://www.arcos.org.br/livros/estudos-de-arbitragem-mediacao-e-negociacao-vol2/
quinta-parte-resenhas-de-livros/ury-william-l-supere-o-nao-negociando-com-pessoas-difi-
ceis-editora-best-seller>.
Uma aula de negociação com William Ury - <http://www.administradores.com.br/arti-
gos/economia-e-financas/uma-aula-de-negociacao-com-william-ury/34645/>.
William Ury – uma história pode resolver conflitos - <http://revistaepoca.globo.com/
ideias/noticia/2012/09/william-ury-uma-historia-pode-resolver-conflitos.html>.
Assista o video
William Ury – O caminho entre o não e o sim. Disponível em: <https://www.ted.com/
talks/william_ury?language=pt-br>.
50 • capítulo 2
Entrevista
William Ury: “O Brasil pode reinventar a sua democracia”. Entrevista à Revista Época
em 23 de março de 2016. Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/Brasil/noti-
cia/2016/03/william-ury-o-brasil-pode-reinventar-sua-democracia.html>. Acesso em: 29
jun. 2016.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERG, E.A. Negociação. Técnicas eficazes para resultados concretos.São Paulo : Juruá,2012
GESTOSO, C.G. Estratégias de negociação. Mangualde: Pedago, 2007.
MANUEL, F. de; MARTINEZ-VILANOVA, R. Técnicas de negociación. Un método práctico. Madrid:
ESIC, 2000.
PRUITT, D.G. Negotiation behavior. New York:Academic Press, 1981.
SARFATI, G. (Org.) Manual de negociação. São Paulo:Saraiva, 2010.
URY, William L. Supere o não: negociando com pessoas difíceis: como fechar grandes negócios
transformando seu oponente em parceiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2005.
capítulo 2 • 51
52 • capítulo 2
3
Conflito,
comunicação e
negociação
3. Conflito, comunicação e negociação
Não se pode conceber a sociedade sem comunicação. Sem ela, o homem não
teria história. A comunicação é a instituição da cultura e, desta forma, das re-
lações sociais e interpessoais. Pode-se dizer que a comunicação é o elemento
inseparável de todos os processos ligados ao conhecimento e à sociedade.
Na atualidade, a comunicação já não se limita a um dom natural dos seres
vivos e, também, não está restrita apenas aos espaços mediáticos, onde alcan-
ça uma dimensão de importância. Os avanços do desenvolvimento tecnológico
contribuíram para a comunicação, para a sua diversidade técnica, sua comple-
xidade e seu entendimento mais pleno.
Associado à comunicação, conflitos existem desde o início da humanidade,
fazem parte do processo de evolução dos seres humanos e são necessários para
o desenvolvimento e o crescimento de qualquer sistema familiar, social, políti-
co e organizacional. Até pouco tempo, falta de conflitos era entendida como ex-
pressão de um bom ambiente, boas relações e, no caso das organizações, como
sinal de competência.
Alguns profissionais analisam o conflito de forma negativa, como resultante
da ação e do comportamento de pessoas indesejáveis, associado à agressivida-
de, ao confronto físico e verbal e a sentimentos negativos, que são considerados
prejudiciais ao bom relacionamento entre as pessoas e, consequentemente, ao
bom funcionamento das organizações. Entretanto, o conflito pode levar à ne-
gociações em que surgirão soluções criativas e novas formas de relacionamen-
to mais ricas e mais duradouras, fundadas no consenso e na boa fé.
Neste capítulo, trataremos do conflito e suas ligações com a comunicação
entre as partes e as possibilidades de negociação, nestas situações. Estudaremos
a importância de um olhar diferenciado para as questões conflitivas, enfatizan-
do aspectos comunicacionais como imprescindíveis para a realização de nego-
ciações bem sucedidas.
OBJETIVOS
• Conhecer os diferentes entendimentos sobre conflito;
• Entender o conceito de comunicação;
• Identificar as barreiras que dificultam a comunicação;
• Analisar os meios para ultrapassar as barreiras à comunicação;
54 • capítulo 3
• Estudar a escuta ativa;
• Compreender a importância da comunicação nos processos de negociação.
capítulo 3 • 55
Em contrapartida, os disfuncionais afetam o desempenho, criam um clima de
ansiedade e tensão, sendo potencialmente negativos.
A grande diversidade de definições e critérios para definir o conflito faz com
que utilizemos a classificação de Pondy (1967), que destacou as definições de
conflito em quatro grupos, segundo seus aspectos e elementos. São elas:
1. As definições que fazem referência e destacam as condições prévias
que provocam ou dão lugar ao conflito manifesto;
2. As que se concentram em aspectos relacionados com estados afetivos
das partes que vivem o conflito;
3. As definições que se centram nas percepções e estados cognitivos;
4. As definições que dão destaque aos aspectos comportamentais das re-
lações conflituosas.
Estados cognitivos - Cognitivo é uma expressão que está relacionada com o pro-
cesso de aquisição de conhecimento (cognição). A cognição envolve fatores diversos
como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que
fazem parte do desenvolvimento intelectual. Disponível em: <http://www.significados.
com.br/cognitivo/>. Acesso em: 10 maio 2016.
Em nossa disciplina, vamos abordar o conflito como uma fonte de ideias no-
vas, podendo levar a discussões abertas sobre determinados assuntos, o que se
revela positivo, pois permite a expressão e exploração de diferentes pontos de
vista, interesses e valores. Em alguns momentos, e em determinados níveis, o
conflito pode ser considerado necessário se não quiser entrar num processo de
estagnação. Assim, os conflitos não são necessariamente negativos; a maneira
como lidamos com eles é que pode gerar algumas reações.
A administração de conflitos consiste exatamente na escolha e implemen-
tação das estratégias mais adequadas para se lidar com cada tipo de situação. O
conflito não deve ser visto apenas como impulsionador de agressões, disputas
ou ataques físicos, como já vimos, mas como um processo que começa na nos-
sa percepção e termina com a adoção de uma ação adequada e positiva.
Para a correta administração do conflito é importante que sejam conhecidas
as possíveis causas que levaram ao seu aparecimento. Entre elas, podemos citar:
56 • capítulo 3
• Experiência de frustração de uma ou ambas as partes: incapacidade de
atingir uma ou mais metas e/ou de realizar e satisfazer os seus desejos, por al-
gum tipo de interferência ou limitação pessoal, técnica ou comportamental;
• Diferenças de personalidade: são relatadas como explicação para os de-
sentendimentos tanto no ambiente familiar como no ambiente de trabalho;
• Metas diferentes: é muito comum estabelecermos e/ou recebermos me-
tas/objetivos a serem atingidos e que podem ser diferentes dos de outras pes-
soas e de outros departamentos, no caso do trabalho, o que nos leva à geração
de tensões em busca de seu alcance;
B
Idéia A Arco de distorção
A
Emissor Receptor
Feedback
Figura 3.1 – WANDERLEY, J.A. Negociação total. São Paulo: Gente, 2015, p. 38.
capítulo 3 • 57
Vamos explicar o esquema acima. Uma pessoa quer transmitir a ideia A
para um receptor. O mais provável é que o receptor não capte justamente o que
quer dizer a ideia A. A diferença entre o que se quer dizer, a ideia A, o que queria
que se entendesse e a ideia B, o que o outro entendeu, dá-se o nome de arco
de distorção. Para evitar que isso ocorra, é importante saber o que o receptor
captou da mensagem, obtendo o feedback. As pessoas podem dar significados
diferentes às mesmas palavras.
Feedback - é uma palavra inglesa que significa realimentar ou dar resposta a uma
determinado pedido ou acontecimento. O termo é utilizado em áreas como Adminis-
tração de Empresas, Psicologia ou Engenharia Elétrica. Disponível em: <http://www.
significados.com.br/feedback/>. Acesso em: 16 maio 2016.
Significado
Figura 3.2 – WANDERLEY, J.A. Negociação total. São Paulo: Gente, 2015,p. 38.
O significado está na mente das pessoas, de acordo com sua idade, educa-
ção, crenças, valores, expectativas. O que acontece, muitas vezes é que se age
como se o significado fosse inerente às palavras. No entanto, as palavras têm
vários significados. Às vezes, uma palavra pode ter significados opostos. Além
disso, as palavras adquirem significados diferentes, de acordo com a geração.
O significado que o receptor dará à uma palavra vai depender de sua idade, for-
mação, cultura e outras influências.
58 • capítulo 3
É importante levar em conta que a informação transmitida pelo emissor
transcende a mensagem verbal. Os aspectos não verbais como a postura, a dis-
tância física, o tom da voz, as expressões faciais, são informações sobre outras
dimensões da linguagem que permitem uma interpretação sobre a mesma.
A nossa cultura considera a linguagem verbal como um canal quase exclusi-
vo de comunicação, no entanto estudos têm demonstrado que a comunicação
não verbal é um indicador importante daquilo que queremos dizer. As princi-
pais formas de comunicação não verbal são, segundo Gestoso (2005, p.135):
Proxêmica – que se dedica a como estruturamos o nosso espaço corporal;
Cinésica – diz respeito ao estudo dos movimentos corporais como formas
de comunicação;
Paralinguística – se dedica ao estudo de uma série de sinais capazes de co-
municar mensagens verbais, como por exemplo, o volume, o tom, a ênfase, a
fluidez, a velocidade entre outros aspectos.
Além da questão do símbolo e do significado, nem sempre conseguimos
formular nossas ideias corretamente, acrescentando a esta situação nossa de-
satenção, expectativas e pressupostos sobre a mensagem.
Segundo Wanderley (2015), existem três mecanismos que contribuem para
o entendimento da mensagem. São eles: distorções, omissões e generalizações.
Algumas mensagens são distorcidas em função de nossos estados mentais, ex-
pectativas ou formas de entender a situação. Por outro lado, há ocasiões em que
projetamos nossas próprias ideias nas mensagens de outras pessoas, ouvindo
apenas aquilo que queremos ouvir, que está condicionado pela nossa forma-
ção. Há ocasiões em que omitimos algumas coisas, principalmente as desagra-
dáveis. E, outras vezes, generalizamos, a partir de uma ou duas informações,
acreditamos que podemos ter uma conclusão válida para todas as ocasiões.
Quanto ao feedback ou retroalimentação é a comprovação da eficácia com
que se transmitiu a mensagem. É a informação ao emissor da mensagem rece-
bida para que este comprove se foi transmitido o que realmente se queria. No
processo de comunicação se perde uma grande quantidade de informação. A
seguir, vamos analisar as causas destas perdas de informação.
capítulo 3 • 59
3.4 Barreiras na comunicação
A seguir, você verá uma charge chamada o poder do boato que mostrará
para você, a verdadeira dimensão das barreiras na comunicação.
60 • capítulo 3
Você deve ficar atento para o fato de que uma adequada disponibilidade
psicológica para a comunicação não supõe uma falta de opinião ou de valores
próprios. Aliado a estes fatores, devemos acrescentar uma vontade de com-
preender a outra pessoa, usando nossos filtros de interpretação em relação à
realidade, considerando outros modos alternativos de percebê-la.
Podemos utilizar alguns meios para intervir e evitar as barreiras na comu-
nicação. Um deles é obter e dar feedback. Uma forma de feedback pode ser
sintetizar a mensagem recebida e pedir esclarecimento se algum aspecto não
está claro. Antes de responder a alguma proposta devemos ter certeza de que
compreendemos a mensagem. É importante perguntar à outra parte sobre o
significado de nossa mensagem.
Um outro meio importante para lidar com as barreiras da comunicação é a
escuta ativa. Vamos desenvolvê-la a seguir.
capítulo 3 • 61
trole. Muitas vezes, estamos ouvindo o que uma pessoa está nos dizendo, sem
prestarmos atenção, já pensando no que vamos dizer, quando for a nossa vez de
falar. Isso pode causar a percepção na outra pessoa de que não a estamos ouvin-
do ou que não entendemos o conteúdo de sua mensagem, podendo dificultar
ou colocar em perigo uma negociação. Uma das soluções para mostrarmos que
estamos atentos e percebendo adequadamente a mensagem é parafrasear com
frequência e fazer pequenos resumos no decorrer de uma negociação.
Segundo Gestoso (2005), para que se produza uma escuta eficaz e ativa são
apresentadas as seguintes atitudes:
1. Ser consciente do outro, ou seja, concentrar-se na mensagem da outra
parte, evitando qualquer distração, fazendo um esforço pessoal para prestar
atenção e demonstrar ao receptor que percebeu a mensagem;
2. Observar e perguntar-se constantemente sobre o que está sendo trans-
mitido, perguntando mentalmente: “Há algo mais por detrás destas palavras?”;
É isto que ele quer me dizer? “. Da mesma forma deve-se observar a linguagem
não verbal (gestos, expressões faciais etc.).
3. Retroalimentar, resumindo, fornecendo ao emissor uma parte de sua
mensagem. Devem ser usadas frases do tipo: “A impressão é que você quer me
dizer...”; “Os pontos resumidos do que você me disse até agora são...”. Desta
forma, damos a impressão ao emissor de que estamos sintonizados com a sua
comunicação. Lembrando que este feedback deve ser realizado sem interrom-
per a pessoa, esperando o momento apropriado para realizá-lo.
4. Detectar palavras-chave, ou seja, as ideias-chave que vão fornecer o con-
teúdo exato daquilo que se quer dizer. São estas palavras que transmitem, em
geral, a informação e os interesses do emissor.
62 • capítulo 3
suas emoções, sentimentos e intenções. O objetivo da escuta ativa na negociação
é melhorar a comunicação, porque é desta forma que conseguimos mais infor-
mações e uma informação de melhor qualidade, além de determinar e avaliar
as necessidades, motivações e objetivos do outro. Melhorando nossa capacidade
comunicativa, nos tornamos pessoas e profissionais mais competentes.
O domínio da escuta ativa faz com que as pessoas se desenvolvam mais em suas
atividades pessoais e profissionais. Sendo assim, não podemos deixar de res-
saltar a sua importância na negociação. Vamos ver algumas destas vantagens:
• Tranquilidade para as pessoas que estão cansadas ou desconfortáveis
com a situação. Ao escutarmos o maior tempo possível os motivos de seu esta-
do, sem interrompe-las, olhando-as e fazendo-as perceber que estamos ouvin-
do atentamente;
• Maior disposição da outra parte para aceitar sugestões e comentários.
Uma vez comprovado que escutamos a pessoa, esta, em geral, mais calma, es-
tará mais apta a aceitar nossas sugestões e comentários, ajudando a encontrar
a solução mais adequada;
• Percepção das necessidades do outro. Ao propor que exponha com deta-
lhes os seus comentários, compreendemos o que o outro pensa e entendemos
melhor o seu problema, percebendo suas necessidades.
• Satisfação da necessidade de ser compreendida. Numa negociação é fun-
damental que as partes se escutem com atenção. Uma das formas de conquis-
tar a outra parte é satisfazendo uma necessidade que todas as pessoas têm de
serem compreendidas e ouvidas. Ao ouvirmos o outro, este se tornará mais dis-
posto a nos ouvir.
• Precisão na determinação de objetivos. Ao realizar a escuta ativa em uma
negociação, conseguimos determinar mais rápido os objetivos, uma vez que
esclarecemos os mal entendidos e buscamos alternativas para os desacordos.
• Maior tempo para pensar. O tempo que dedicamos na escuta ativa per-
mite-nos avaliar a situação e compreender claramente o outro, dando mais
tempo, também, para pensar e avaliar as respostas, ganhando segurança nas
tomadas de decisões.
• Compreensão de pessoas com problemas n a comunicação. Às vezes, é di-
fícil entender pessoas que falam muito depressa, não se expressam bem ou tem
capítulo 3 • 63
problemas para falar. Ao ouvirmos com atenção e elas perceberem este fato,
não ficarão ofendidas se lhes pedirmos para que repitam alguma frase que não
tenha sido entendida.
ESCUTA ATIVA
A escuta ativa é Razões para utilizar a escuta ativa
- ser consciente do outro - demonstramos consideração para com
- observar e interrogar-se constantemente o outro
- retroalimentar, resumindo o conteúdo - criamos um clima de confiança
- detectar as palavras-chave - diminui a competitividade e a tensão
- criamos um clima de cooperação e
receptividade
A arte de saber negociar é uma habilidade que já faz parte do nosso dia-a-
dia, mas nem sempre nos damos conta disso. Por exemplo, frequentemente
temos que resolver, com amigos e clientes onde vamos almoçar; temos que
combinar com nossos pares o que vamos fazer em uma data festiva; precisa-
mos conversar com nossos pais sobre alguma situação a ser resolvida dentro
de casa e discutir com nossos colaboradores os detalhes sobre a entrega de um
trabalho. Se observarmos bem, em todas essas situações precisamos ‘negociar’
64 • capítulo 3
e colocar em prática nossa capacidade de argumentar. Uma outra questão que
normalmente não nos damos conta é o fato de que, para negociarmos bem,
precisamos nos comunicar bem. Passamos o dia nos comunicando. Até mes-
mo uma tentativa de não se comunicar é uma forma de comunicação. Nos ex-
pressamos, também, através de gestos, olhares e palavras. Portanto, não existe
negociação sem comunicação.
Assim, podemos concluir que, se melhorarmos nossa comunicação, au-
tomaticamente desenvolveremos nossa capacidade de negociação. Os bons
negociadores geralmente são bons comunicadores, e o passo inicial para a
formação de um negociador habilidoso é ampliar o seu entendimento sobre
o processo de comunicação. Para isto, é importante, entre outros fatores, esta-
belecer sintonia com o interlocutor e aprender a observar a maneira como ele
se expressa. Toda negociação é relacionamento e uma das bases do relaciona-
mento é a comunicação.
RESUMO
Neste capítulo, você teve a oportunidade de aprender algumas noções sobre o conflito nas
negociações. Estudou sobre a importância da comunicação para a negociação e percebeu
como é fundamental a escuta ativa como uma proposta de aproximação e compreensão
das pessoas com quem estamos negociando. Compreendeu, também, como as barreiras na
comunicação podem distorcer as mensagens, causando danos para todos.
ATIVIDADES
Teste: Como está sua comunicação?
O objetivo deste teste avaliar sua habilidade de se comunicar e a importância que a co-
municação tem na sua vida. Siga as instruções e depois leia o resultado.
Instruções:
• reserve 20 minutos para realizar o teste em local tranquilo e livre de interferências;
• leia atentamente as questões e as alternativas, assinalando a letra correspondente a
cada resposta;
• anote as letras que correspondem às respostas assinaladas e faca os cálculos com base
na tabela que acompanha o teste;
• leia, ao final, a interpretação do seu resultado.
capítulo 3 • 65
01. O que você, pensa da sua voz na secretária eletrônica?
a) Parece estranha, horrível, não gosto.
b) Gosto, mas acho que tem muitos defeitos.
c) É maravilhosa, com bom timbre, musicalidade, boa dicção. Parece voz de locutor.
66 • capítulo 3
06. Você foi convidado para falar em público. O que normalmente acontece na hora?
a) Tenho dificuldade para encontrar palavras que expressem meus pensamentos. E comum
perder o raciocínio.
b) Falo razoavelmente, embaraço-me às vezes e percebo que sinto alguma dificuldade para
encontrar as palavras exatas.
c) Falo bem, com propriedade, naturalidade e domino as palavras. Leio muito, tenho voca-
bulário rico para expressar minhas ideias.
07. Seu chefe solicita que você prepare uma apresentação para a convenção anual da em-
presa. Como a estruturaria?
a) De modo intuitivo. Como não domino nenhuma técnica e não conheço nenhum mé-
todo de apresentação, ficaria em dúvida sobre planejamento, preparação e condução
da palestra.
b) Por ter algum conhecimento sobre organização e planejamento, eu estruturaria a apre-
sentação com começo, meio e fim, subdividindo-a em partes. Mas sinto que ainda sou
fraco nisso.
c) Planejo, preparo, administro o tempo, uso adequadamente recursos audiovisuais, sei téc-
nicas para início, desenvolvimento e encerramento de apresentações.
capítulo 3 • 67
10. Como você se comporta nas relações interpessoais?
a) Por ser de natureza introvertida, normalmente fico quieto, evito conversar e as pessoas
não me procuram.
b) Converso, tomo algumas iniciativas, mas só quando necessário. Exponho pouco mi-
nhas ideias.
c) Sou espontâneo, carismático, simpático e normalmente benquisto. Tenho muitos amigos
e sou popular. Muitas pessoas param para me ouvir.
68 • capítulo 3
c) Sou um vendedor nato. Conheço técnicas, tenho sensibilidade para me adequar a qual-
quer perfil de pessoa, desenvolvo boa argumentação e fecho negócios. Vendo qualquer
coisa que quiser.
capítulo 3 • 69
c) Reconheço que se não me comunico não sou nada, não sou ninguém. Sempre que pos-
so invisto nessa competência, leio livros, assisto a seminários e palestras, faço cursos e
me exercito constantemente.
LEITURA
FIGUEREDO, M.S. Comunicação organizacional: quando a comunicação falha. Instituto Catarinense de
Pós-graduação. Disponível em: <http://www.posuniasselvi.com.br/artigos/rev02-09.pdf>.
JACOMOSSI, F.A.; GRIPA,S. A comunicação no processo de negociação. CONVIBRA,
Business Conference, 2015. Disponível em: <http://www.convibra.org/upload/
paper/2015/123/2015_123_11512.pdf>.
MULTIMÍDIA
Links
Comunicação eficiente, negociações extraordinárias. Disponível em: <http://www.cres-
cimentum.com.br/home/Artigos/2004-10-Arthur-ComunicacaoEficienteNegociacoesEx-
traordinarias-revista-Vencer.pdf>. Acesso em: 15 maio 2016.
A importância da comunicação na negociação Disponível em: <http://www.administra-
dores.com.br/artigos/academico/a-importancia-da-comunicacao-na-negociacao/87155/
>. Acesso em: 16 maio 2016.
Para negociar é preciso se comunicar Disponível em: <http://www.bibliotecas.sebrae.
com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/5A7CB8AC25C24D25832576FE-
000490D8/$File/NT00043E22.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.
A importância da comunicação na negociação Disponível em: http://revistapegn.globo.
com/Revista/Common/0,,EMI148439-17141,00-A+IMPORTANCIA+DA+COMUNICA-
CAO+NA+NEGOCIACAO.html>. Acesso em: 16 maio 2016.
Assista o video
Comunicação objetiva em negociações – Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=mJryG28D11E>.
70 • capítulo 3
Entrevista
Aurea Regina de Sá entrevista Rafael Armani sobre a importância da comunicação na
negociação. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fRLPT3I23u4>. Acesso
em: 29 jun. 2016.
Curiosidade
Cinco animais com sistemas complexos de comunicação. Disponível em: <https://www.
curioso.blog.br/post/animais-sistemas-complexos-comunicacao/>. Acesso em: 30 jun.
2016.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERG, E. A. Negociação. Técnicas eficazes para resultados concretos. Curitiba: Juruá, 2012.
GESTOSO, C. G. . Estratégias da negociação. Mangualde: Pedago, 2005.
LONGO, E. F. La negociacion inevitable. Beccar: Grupo Abierto, 2004.
WANDERLEY, J. A. Negociação total. 21 .ed. São Paulo: Gente, 2015.
PASSADORI, R. As 7 dimensões da comunicação. São Paulo: Gente, 2009. Disponível em: <http://
gq.globo.com/Prazeres/Poder/noticia/2015/10/teste-como-esta-sua-comunicacao.html>. Acesso
em: 29 jun. 2016.
capítulo 3 • 71
72 • capítulo 3
4
Habilidades e
competências do
negociador
4. Habilidades e competências do
negociador
74 • capítulo 4
Habilidade - É a capacidade técnica para realizar determinada tarefa, desenvolvida
a partir de teorias e práticas. Exemplo, usar computador, dirigir automóvel. Muitas
profissões são realizadas graças às habilidades, que nada mais é que a soma do
conhecimento e da experiência. A habilidade não pode ser considerada um dom,
pois computadores podem ser programados com habilidades substituir o trabalho do
Homem. Habilidade é o que nós aprendemos, e conseguimos identificar (por exemplo:
os alunos saberem identificar autores de textos, artigos...). Habilidade está ligada à
competência, que é como vamos colocar em prática o que aprendemos.
OBJETIVOS
• Conhecer as habilidades necessárias para ser um negociador eficaz;
• Analisar as competências que fazem parte de um bom negociador;
• Entender o que é inteligência emocional;
• Estudar o comportamento do negociador;
• Conhecer os acertos na negociação;
• Analisar os erros que ocorrem nas negociações.
capítulo 4 • 75
4.1 Habilidades do negociador
76 • capítulo 4
Escuta ativa - é uma técnica de comunicação que implica que, durante o processo
de comunicação, o receptor interprete e compreenda a mensagem que o emissor lhe
transmite. E é importante que compreenda totalmente o significado da mensagem que
recebe pois normalmente uma boa parte da informação que escutamos durante uma
conversa não chega corretamente ou é mal interpretada pelo ouvinte. Disponível em:
<https://escutaactiva.wordpress.com/escuta-activa/>.
COMENTÁRIO
SÓCRATES - 469 a.C., Atenas/399 a.C., Atenas
"Pode alguém perguntar: 'Mas não serás capaz, ó Sócrates, de nos deixar e viver calado
e quieto?' Não convenceria alguns dentre vós de nada mais dificilmente do que disso. Se
vos disser que assim desobedeceria ao deus e, por isso, impossível é a vida quieta, não me
dareis fé, pensando que é ironia; de outro lado, se vos disser que para o homem nenhum bem
supera o discorrer cada dia sobre a virtude e outros temas (...), e que a vida sem exame não é
vida digna de um ser humano, acreditareis ainda menos em minhas palavras."
Na obra "Defesa de Sócrates", de seu discípulo Platão, encontramos o mestre afirmando
a necessidade da filosofia contra seus acusadores, que acabaram condenando-o à morte.
Sócrates é considerado um dos principais filósofos de toda a história da filosofia ociden-
tal. Era filho de um escultor e de uma parteira. Em Atenas, recebeu uma educação clássica,
que incluía ginástica, música e gramática. Pouco se sabe a respeito de sua juventude.
Sócrates vivia de maneira humilde, percorrendo descalço as ruas de Atenas. Tornou-se
o filósofo por excelência, "amigo do saber". Passou a ensinar em praça pública, sem cobrar
pelos seus ensinamentos, ao contrário do que faziam os sofistas. Seu método consistia em
fazer perguntas que conduziam o discípulo à descoberta da verdade.
capítulo 4 • 77
Sócrates reformulou a filosofia grega, fazendo com que a busca de conhecimento, antes
centrada no estudo da natureza, passasse a ocupar-se do homem e das suas ações.
Casou-se com Xantipa, mulher de temperamento difícil, e teve três filhos. No fim da vida,
foi considerado um perigo para a sociedade e, confundido com os sofistas, acabou acusado
e condenado à morte. Preso, morreu ingerindo a cicuta - um veneno comum na época - em
399 a.C. Sócrates elaborou sua própria defesa, comentando e refutando as acusações de
corromper a juventude e não venerar os deuses da cidade.
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/socrates.htm>.
Acesso em: 29 jun. 2016.
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
78 • capítulo 4
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Status quo – Statu quo (por vezes grafada status quo, por influência do inglês) é
uma expressão latina que significa "no mesmo estado que antes" ou "o estado atual
das coisas". É uma forma abreviada da expressão do latim in statu quo res erant ante
bellum ("no estado em que as coisas estavam antes da guerra"). Emprega-se essa
expressão, geralmente, para definir o estado atual das coisas, a situação em que algo
se encontra. É empregado, por exemplo, em expressões como "manter o statu quo",
"defender o statu quo" ou, ao contrário, "mudar o statu quo". Disponível em: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Status_quo>.
capítulo 4 • 79
Muitas habilidades, como você deve ter percebido, manifestam as caracte-
rísticas centrais da atividade de negociação. Estas habilidades estão relacio-
nadas a resolução de problemas relativos ao processamento da informação,
influência e tomada de decisão. Utilizando uma representação de Wanderley
(2015, p. 38) temos:
Poder pessoal
Estado mental
Conhecimento Habilidades
80 • capítulo 4
perseverança, a empatia, entre outras. Essa inteligência pode ser desenvolvida
e aperfeiçoada em qualquer momento de nossa vida.
Goleman (1999) descreveu as competências associadas à inteligência emo-
cional, separando-as naquelas que determinam o modo como nos relaciona-
mos com nós mesmos e com os outros. O enfoque das competências, neste
caso, apresenta muitas contribuições:
• contribui para um enfoque integrado na compreensão do homem;
• implica em uma maior integração entre estratégia, trabalho e cultura orga-
nizacional, a partir do conhecimento maior das potencialidades do indivíduo;
• supera a visão tradicional que considera a competência apenas sob o pon-
to de vista de conteúdos cognitivos;
• é um enfoque importante para analisar o aumento da produtividade e
melhor desempenho das pessoas em todos os ambientes, principalmente
no trabalho.
AUTOR
Daniel Goleman
Daniel Goleman (1946) é um psicólogo, escritor e jornalista norte-americano, é o autor
do Best-seller Inteligência Emocional. Daniel Goleman nasceu em Stockton, Califórnia, Esta-
dos Unidos, no dia 7 de março de 1946. Foi aluno do Amherst College e na Universidade da
Califórnia, em Berkeley. Recebeu o PhD na Universidade de Harvard onde também lecionou.
Durante 12 anos, Daniel Goleman foi jornalista do New York Times, onde cobria a seção de
Ciências do comportamento e do cérebro. Foi editor da Psychology Today. Realiza palestras
para grupos profissionais. Em 1995, tornou-se uma celebridade do mercado editorial com
a publicação do livro Inteligência Emocional, que vendeu 5 milhões de cópias, em quaren-
ta idiomas e se tornou um best-seller em vários paíse . Daniel Goleman é cofundador do
Collaborative for Academic Social e Aprendizagem Emocional na Universidade de Illinois,
em Chicago. É codiretor do Consórcio para Pesquisa sobre Inteligência Emocional entre
as organizações e a Universidade de Rutgers. É membro do Conselho do Instituto Mente &
Vida. Entre seus livros destacam-se: “Inteligência Emocional” (1995), “Emoções Destrutivas
e Como Dominá-las: um Diálogo com o Dali Lama” (2005), “Inteligência Social: a Nova Ciên-
cia das Relações Humanas” (2006), “Inteligência Ecológica” (2009), “Foco: o Motor Oculto
da Excelência” (2014) e “Liderança” (2015).
Disponível em: <http://www.e-biografias.net/daniel_goleman/>.
Acesso em: 16 maio 2016..
capítulo 4 • 81
4.3 Competências do negociador
Competências Pessoais
Consciência de si mesmo
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Reconhecer nossas emoções e seus efeitos.
Compreender o vínculo entre os pensamentos, o sentimen-
CONSCIÊNCIA to e a conduta.
EMOCIONAL Conhecer a forma como os sentimentos influem sobre
os comportamentos.
Ser consciente de nossos valores e objetivos.
82 • capítulo 4
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Autorregulação
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Manter sob controle as emoções e impulsos conflitivos.
Permanecer equilibrado, positivo e imperturbável inclusi-
AUTOCONTROLE ve em momentos críticos.
Pensar com clareza e permanecer centrado apesar das
pressões.
capítulo 4 • 83
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Permanecer aberto a novas ideias e enfoque das coisas.
Buscar ideias novas em distintas fontes.
INOVAÇÃO Oferecer soluções originais aos problemas.
Abordar novas perspectivas.
Ser flexível.
Manejar adequadamente múltiplas demandas.
ADAPTAÇÃO Estabelecer e reorganizar prioridades.
Adaptar-se a circunstâncias cambiantes.
Possuir uma visão flexível das coisas.
Motivação
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Esforçar-se para melhorar ou obter um determinado critério
de excelência.
MOTIVAÇÃO Orientar-se para os resultados.
PARA A Planejar objetivos desafiantes.
CONSECUÇÃO Assumir riscos calculados.
Descobrir formas mais eficazes e eficientes de fazer as coisas.
Melhorar o próprio desempenho.
84 • capítulo 4
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Aproveitar as oportunidades.
Perseguir objetivos superiores aos demandados.
INICIATIVA Pular as rotinas habituais para iniciar um trabalho eficaz.
Mobilizar pessoas para empreender esforços superiores.
Competências sociais
Empatia
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Atender aos sinais emocionais que emanam das pessoas
de seu meio de relação.
Perceber os sentimentos e pontos de vista dos demais.
COMPREENDER Interessar-se ativamente por suas preocupaçõe
OS DEMAIS Saber escuta
Ajudar aos demais baseando-se na compreensão de suas
necessidades.
capítulo 4 • 85
COMPETÊNCIA MANIFESTAÇÃO
Compreender as necessidades do cliente e satisfazê-las.
Buscar um modo de aumentar a satisfação e a fidelidade
ORIENTAÇÃO AO dos clientes.
SERVIÇO Oferecer ajuda de forma desinteressada.
Atuar como assessor.
86 • capítulo 4
Comportamento
Realidade interna
Percepção
Expectativas
Emoções, sentimentos e desejos
Metaprogramas
Crenças/Valores
Necessidades
4.4.1 Percepção
4.4.2 Expectativas
Nós, em geral, vemos aquilo que esperamos ver e não vemos aquilo que não es-
peramos ver. Podemos transformar em realidade aquilo que se espera. Usando
um exemplo de Wanderley (2015), foi feito um teste na Universidade de Har-
vard com alunos do ensino fundamental. Eles foram escolhidos aleatoriamen-
capítulo 4 • 87
te, independente do nível de inteligência e capacidade. Foram distribuídos em
duas classes e uma professora foi selecionada para desenvolver um programa
com as duas turmas. Disseram a ela que a Turma A era composta de excelen-
tes alunos e a Turma B, era formada por alunos problemáticos. Algum tempo
depois, os alunos foram submetidos a um teste. Os da Turma A tiveram notas
melhores do que os da Turma B. Ficou provado que a professora teve um tra-
tamento diferenciado com os alunos da turma A (incentivo) em relação aos da
turma B (reprimidos e desvalorizados).
4.4.4 Metaprogramas
4.4.6 Necessidades
88 • capítulo 4
associação (necessidade de estar com outras pessoas e pertencer a um grupo);
e a segurança (necessidade de dominar o que está fazendo, de não se expor e
de proteção).
O negociador não pode errar. Uma passada em falso e a outra parte pode se
afastar da negociação ou uma parceria estabelecida já há muito tempo pode
ser quebrada. No entanto, nem sempre as coisas acontecem como desejamos.
Pollan; Levine (1995) afirmam que a negociação é, depois de ler e escrever, a
habilidade mais importante das necessárias para se tornar bem-sucedido pes-
soalmente, financeiramente e nos negócios.
Os negociadores, segundo esses autores (POLLAN; LEVINE, 1995), são proa-
tivos: eles não aceitam as coisas como elas são sem antes perguntar por que
elas não poderiam ser feitas melhor. Esses autores, porém, afirmam, ao con-
trário da maioria, que há poucos negociadores. Isso, principalmente, se são
considerados alguns pontos básicos para se negociar efetivamente, visto que
todos negociam, a todo o momento, a vida inteira, mesmo sem ter consciência.
Contudo, negociar efetivamente exige outras condições nem sempre preenchi-
das pelos que negociam informalmente.
O fato de existirem na realidade poucos negociadores efetivos se deve basi-
camente a três razões (POLLAN; LEVINE, 1995, p. 147):
• ninguém nos ensina a negociar, nem na escola, nem em casa, e claro, que
com isso as pessoas não sabem como negociar;
• as pessoas acreditam no mito de que é preciso nascer sendo negocia-
dor, é preciso ter o dom de saber negociar, e com isso acham que não é possí-
vel aprender;
• e a terceira razão, e a mais importante, é o medo de negociar, o medo de
ouvir um não por exemplo.
capítulo 4 • 89
Negociar é – e será cada vez mais – uma habilidade indispensável para os profis-
sionais do século XXI. A seguir, algumas atitudes que podem fazer a diferença
em qualquer negociação, segundo Wanderley (2005):
1. Definição de objetivos e luta pelo desejável – na negociação alcançamos
objetivos por meio de um acordo nas situações em que existem interesses co-
muns, complementares e opostos, isto é, conflitos, divergências e antagonis-
mos de interesses, ideias e posições.
2. Solução de problemas – quem segue este caminho aprofunda a com-
preensão do que está sendo negociado e procura encontrar alternativas e solu-
ções que atendam aos interesses das partes. Todo negociador quer ganhar. Mas
existem duas maneiras de ganhar. Uma, às custas do outro. Outra, de forma que
os interesses das partes sejam atendidos. É importante saber converter situa-
ções de ganha/perde em ganha/ganha.
3. Flexibilidade – Significa agir com propriedade de acordo com a situa-
ção. A pessoa flexível sabe quando deve mudar ou ceder e quando deve manter
sua posição. Deve-se ter sempre presente que cada caso é um caso e certo é o
que dá certo.
4. Preparação – A maioria das negociações apresenta um resultado satis-
fatório ou não, de acordo com a qualidade da preparação. Quem não leva a sé-
rio a preparação numa negociação está se preparando para o fracasso. Alegar
falta de tempo é confessar má administração do tempo. Não estar preparado
para os imprevistos significa não internalização dos princípios e procedimen-
tos existentes em toda e qualquer negociação. Deve-se levar em consideração o
princípio da economia, ou seja, conseguir o máximo com o mínimo. Para isto é
importante ser simples, no entanto, ser complicado é mais fácil, basta ir fazen-
do as coisas sem pensar e verificar quais são as consequências.
Na preparação devemos dar uma atenção especial às três dimensões da ne-
gociação que são: informação, tempo e poder. A negociação tem relação com
dar, obter e negar informação. A negociação sempre ocorre no tempo e com
prazos. A negociação envolve o poder, ou seja, um jogo de influências. É funda-
mental identificar quais são as suas fontes de poder e as da outra parte. E em
função disto, definir estratégias e táticas.
5. Processo – É o caminho percorrido desde o início até o final da nego-
ciação. Sempre se está numa etapa do processo de negociação. Existem 7 eta-
pas: Preparação, Abertura, Exploração, Apresentação, Clarificação, Ação Final
e Controle/Avaliação. Geralmente, as pessoas dão pouca atenção ao processo e
90 • capítulo 4
se concentram mais no conteúdo. Entretanto, a negociação não acaba quando
o acordo foi firmado e sim quando cumprido.
6. Identificação dos cenários – Toda negociação tem três cenários. O pri-
meiro diz respeito aos negociadores, estejam eles negociando individualmente
ou em equipe. A autoridade da pessoa com quem se está negociando, deve ser
verificada. O segundo cenário refere-se às pessoas que estão por trás dos ne-
gociadores. É o chamado eleitorado. Todo negociador tem um eleitorado. Um
dos maiores temores de qualquer negociador é ser desconsiderado pelo seu
eleitorado. O negociador deve ter sempre uma saída honrosa para o outro lado.
Um outro aspecto do segundo cenário é apoio logístico, como banco de dados e
suporte para quem estiver negociando. Somente competência individual pode
não ser suficiente. Pode ser necessária competência organizacional. O terceiro
cenário consiste no macro ambiente econômico, social e cultural – fator extre-
mamente relevante neste nosso mundo globalizado.
7. Relacionamento – Negociação implica em relacionamento, emoção e
comunicação. Não se deve confundir a pessoa do outro negociador com suas
propostas. O outro pode ter posições ou ideias contrárias. Mas isto não signifi-
ca que deva ser tratado como inimigo. Não se deve confundir assertividade com
grosseria porque é possível ser firme e cortês.
8. Conhecimento do negócio – O negociador deve conhecer muito bem o
assunto da sua negociação na totalidade dos pontos de vista, que podem ser de
natureza jurídica, técnica, econômica, financeira e social. A diversidade dos as-
suntos e competências necessárias fazem com que, com frequência, seja neces-
sário negociar em equipe. Equipes bem preparadas podem ser extremamente
fortes. As equipes mal preparadas, um verdadeiro desastre.
9. Realidade Pessoal – Tem relação com atitudes, crenças e valores.
Existem crenças que levam ao fracasso como, por exemplo, acreditar que se
está sempre na pior situação e sem alternativas. Entre as crenças de sucesso
estão: considerar tudo uma oportunidade; assumir responsabilidade pelas coi-
sas que acontecem; e não considerar seus erros como um fracasso e sim um
feedback negativo – uma informação de que o que se fez não levou aos obje-
tivos. É importante saber conviver com o risco, a incerteza e a ambiguidade.
Deve-se procurar verificar os próprios padrões comportamentais nas situações
de impasses e conflitos. Por exemplo, algumas pessoas tem tendência à intran-
sigência e ficam martelando sempre na mesma tecla, enquanto outras tendem
a fazer muitas concessões.
capítulo 4 • 91
Feedback - Feedback é uma palavra inglesa que significa realimentar ou dar resposta
a um determinado pedido ou acontecimento. O termo é utilizado em áreas como Ad-
ministração de Empresas, Psicologia ou Engenharia Elétrica. Em alguns contextos a
palavra feedback pode significar resposta ou reação. Neste caso, o feedback pode ser
positivo ou negativo. Disponível em: <http://www.significados.com.br/feedback/>.
92 • capítulo 4
Despreparo: não dispor de procedimentos para lidar com a tensão e o es-
tresse, elementos sempre presentes em qualquer negociação, sobretudo, aque-
las de maior vulto.
Fazer uso táticas sujas: deixar-se envolver por estratégias sujas, aplicadas
com a intenção de ferir o outro negociador, psicológica ou mesmo fisicamente,
ou iludi-lo.
Vencer a qualquer custo: planejar e efetuar uma negociação sem buscar
identificar os objetivos mínimos (necessários) do outro negociador.
Conflito entre as partes: não identificar quais são as expectativas e os inte-
resses comuns, complementares e opostos, o que acaba criando polarização e
conflitos entre as partes.
Desrespeito ao outro: não verificar quais os possíveis temores do outro ne-
gociador. Existe sempre uma série de temores subjacentes em grande parte das
negociações, tais como ter o status prejudicado. Deixe sempre uma saída hon-
rosa para o outro.
Não identificar as intenções do outro: as posições em uma mesa de nego-
ciação são decorrentes de atitudes mentais e de valores. É preciso, portanto,
identificar se estamos diante de uma situação de colaboração, em que a pre-
missa subjacente é a de que o bom negócio é bom para ambas as partes, ou seja,
o ganha/ganha, ou se estamos diante de alguém que quer levar vantagem em
tudo, ou seja, o ganha/ perde.
Não prestar atenção no estilo e interesses do outro: como decorrência, apre-
sentar argumentação sem nenhuma força persuasiva, distante do entendimen-
to, da lógica, da emoção, das soluções e dos benefícios para o outro negociador.
As pessoas estão interessadas, sobretudo, em soluções e benefícios.
Não saber ver e ouvir: desconhecer os sinais verbais e não verbais, ou pro-
cessá-los de forma inadequada. Em todas as negociações, são lançadas muitas
deixas que só podem ser interpretadas corretamente por quem estiver atento à
figura do outro negociador, isto é, vendo e ouvindo efetivamente.
Não levar em conta o tempo de aceitação do outro: todos nós, diante de
ideias diferentes, temos um tempo para processá-las e aceitá-las. A compreen-
são desse tempo diferencia o bom do mau negociador. É preciso ter paciência,
saber esperar ou fazer a hora e a vez.
Descuidar-se do clima da negociação: o clima de uma negociação pode ser
de apoio ou defensivo, e pode significar a diferença entre um desfecho bom
para ambas as partes ou um impasse. Ajuda muito, se você colocar primeiro os
fatos, depois as opiniões.
capítulo 4 • 93
Não se preparar para os impasses: formular inadequadamente seus obje-
tivos máximos (desejáveis) e mínimos (necessários), antes de entrar em uma
negociação, pode se tornar um transtorno. Isso ocorre, muitas vezes, porque,
na formulação desses objetivos, não se leva em conta a Melhor Alternativa
Disponível no caso de um impasse na negociação. Como consequência, às ve-
zes, cedemos mais do que devíamos. Outras vezes, ficamos intransigentes, para
depois verificarmos que perdemos uma boa oportunidade.
Fazer mau uso da concessão: esquecer-se de que quem concede mal conce-
de o dobro. A arte da concessão está em descobrir e valorizar o que é importante
para o outro negociador e pouco importante para você, e identificar a sequência
correta. Sempre leve em consideração que aquilo que é importante para você
pode não ter a menor importância para o outro negociador.
Falta de repertório: repetir, constantemente, as mesmas táticas, por falta de
repertório. É sempre conveniente atentar que táticas percebidas a tempo podem
ser neutralizadas e revertidas e, muitas vezes, irritam o outro negociador. Procure
desenvolver um bom repertório de táticas de informação, tempo e poder.
Pressa: fazer a apresentação da proposta, sem antes ter percorrido uma ade-
quada fase de exploração ou sondagem. O bom negociador pergunta o dobro e
compreende antes de se fazer compreender.
Desatenção: esquecer que a negociação só termina quando o acordo foi
cumprido e não quando o acordo foi firmado. Tenha formas de avaliar e con-
trolar o que foi acordado.
Achar que sabe tudo: não procurar aprender alguma coisa de cada negocia-
ção efetuada é outro erro grave. A prática só é boa mestra para quem sabe apren-
der com ela. Quem não sabe comete sempre os mesmos erros e cada vez mais.
94 • capítulo 4
• baixo poder de escuta
• incapacidade para argumentar nos processos de comunicação
Quanto mais poder de negociação você tiver comparado ao seu vendedor, menos
concessões você terá de fazer. Um comprador que acredita que o produto ou serviço que
você está vendendo é único não tem outras opções. As suas outras opções consistem em
outras oportunidades de venda que você possuir. Quanto mais opções você tiver, e menos
opções seu comprador tiver, maior será o seu poder de negociação (DAVIS, 2007).
capítulo 4 • 95
Burbridge et. al. (2005) possui uma visão interessante sobre o poder de ne-
gociação: para eles, “qualquer disputa entre duas partes pode ser resolvida por
meio do poder (autoridade, judiciário etc.) ou da negociação entre as partes”,
portanto, para esses autores, o poder é algo de algum modo oposto à negocia-
ção. Se a disputa for resolvida por meio do poder, então não houve negociação.
Agora que já se definiu o poder nas negociações, vejamos cada um dos três
poderes propostos por Etzioni (1967) no âmbito da negociação. O poder coerci-
tivo (que utiliza a força) pode ocorrer em uma negociação quando um dos nego-
ciadores teme represálias do outro, e em geral, nas empresas, essas represálias
implicarão em perdas de cunho financeiro. Temendo perder uma venda, por
exemplo – e, portanto arriscando-se a perder o lucro advindo dessa venda – um
negociador poderá se submeter a vontade de seu comprador, e poderá acabar
fazendo mais concessões do que faria se o poder das duas partes fosse igual.
Outro exemplo de poder coercitivo aplicado a uma situação real são os ca-
sos de negociações entre a polícia e bandidos no caso de situações com reféns:
tanto a polícia como os bandidos possuem fontes de poder coercitivo, já que
ambos possuem armas de fogo. Porém, quando há reféns envolvidos, a polícia
não pode mais fazer uso de seu poder, já que o bandido já estará fazendo uso
de seu poder de ameaça do uso da força, ameaçando usar sua força (sua arma)
contra o refém (matando-o).
O poder normativo em uma negociação pode ser usado, por exemplo, quan-
do um negociador acredita na boa fé do outro, possivelmente por já haver um
relacionamento entre as partes. Nesses casos, poderão haver concessões basea-
das na crença de que um dos lados é merecedor dessas concessões. Por exemplo,
imagine que duas empresas, uma vendedora e uma compradora, já negociam há
algum tempo. A empresa compradora, que sempre pagou em dia, pede à vende-
dora um maior prazo para pagar em um determinado mês – por já haver uma
crença de que a compradora é uma boa pagadora, a empresa vendedora poderá
acabar fazendo uma concessão, ou seja, ampliando o prazo de pagamento.
O poder manipulativo, baseado em recompensas, pode ocorrer quando um
vendedor, por exemplo, precisa fazer um determinado número de vendas para
receber sua comissão no fim do mês. Para conseguir essa recompensa finan-
ceira, ele poderá acabar fazendo concessões para seus compradores de modo a
realizar muitas vendas para conseguir sua comissão ao fim do mês.
Negociações envolvem pessoas, e pessoas têm crenças, valores, e principal-
mente, egos. Ao se ferir o ego de alguém submetendo-o a sua vontade sem o
96 • capítulo 4
consentimento dessa pessoa, por meio do poder, se obtém facilmente um certo
ódio. Como dizem alguns autores, o poder pode incitar a vingança contra quem
sofreu por causa da submissão. Um relacionamento de longo prazo entre em-
presas, por exemplo, precisa de confiança, situação essa que não é conseguida
por meio da vingança mútua.
RESUMO
Neste capítulo, você estudou as habilidades e competências do negociador e percebeu a
importância do desenvolvimento da inteligência emocional nas negociações. Você aprendeu
a relevância do estudo do comportamento para a nossa disciplina
Além disso, você teve a oportunidade de estudar as negociações, agora, sob o enfoque
dos seus erros e acertos e percebeu como é importante o trabalho do negociador quanto ao
seu autoconhecimento, sua preparação e sua capacitação. Finalizando este capítulo, apre-
sentamos para você como o poder pode ser utilizado contra ou a favor nas relações sociais
e nas negociações.
REFLEXÃO
Viva melhor com inteligência emocional
O dia-a-dia das pessoas no mundo contemporâneo vem se caracterizando pelo excesso
de informações que chegam em altíssima velocidade, bem como, pela sobrecarga de ativi-
dades no trabalho, conflitos nas relações interpessoais, e incertezas em relação ao futuro, o
capítulo 4 • 97
que tem gerado ansiedade e estresse. Segundo os estudiosos, a depressão, que se origina
do estresse e estado de melancolia, será o mal do século.
A solução para esses males da vida moderna se encontra no desenvolvimento e uso da
inteligência emocional no nosso dia-a-dia.
Quando se fala em inteligência emocional, tendemos a relacioná-la com a capacidade
que certas pessoas demonstram, de manter o autocontrole diante de situações conflituosas,
perigosas e estressantes. Embora o autocontrole seja algo muito importante, ela não traduz
completamente o que seja a inteligência emocional.
Ser emocionalmente inteligente significa ter a capacidade de manter o autocontrole,
sem guardar magoas ou alimentar o ódio em relação a outrem, ainda que tenhamos sofrido
agressões físicas ou psicológicas.
Quando guardamos rancor ou alimentamos ódio em relação a outrem, tendemos a soma-
tizar tais sentimentos negativos, os quais acabam se manifestando em nosso organismo, na
forma de doenças físicas e problemas que afetam nossa saúde física e mental.
A inteligência emocional e constituída pela habilidade de perceber, avaliar e expressar
emoções de forma adequada, gerando sentimentos que facilitem o equilíbrio no pensar, en-
tendimento e controle das emoções, buscando promover o crescimento emocional e desen-
volvimento intelectual.
Ela também está relacionada à capacidade de automotivar-se, de superar os traumas
e os reveses da vida, de persistir na busca da consecução de nossos objetivos de vida,
mantendo sempre o foco no controle das emoções e impulsos, canalizando a energia produ-
zida pelas nossas emoções de forma positiva, bem como, está relacionada a capacidade de
motivar as pessoas, estimulando-as a expressarem seus melhores talentos, buscando obter
engajamento na consecução de metas e objetivos comuns.
A capacidade de controlar os impulsos e a base do caráter, uma vez que as aptidões
emocionais nos fazem tomar posições equilibradas, coerentes, éticas e morais, conquistadas
pelo autoconhecimento e reflexões. A capacidade de ler emoções e colocar-se no lugar do
outro, conhecida como empatia, nos tornam capazes de desenvolver o sentimento altruísta
de amor ao próximo.
O desenvolvimento da inteligência emocional está diretamente relacionado à qualidade
de vida, na medida em que, pesquisas demonstram que a pessoa emocionalmente equili-
brada, e que tenha desenvolvido em alto grau as habilidades sociais, tendem a serem mais
adaptadas as pressões da vida moderna e dizem-se mais felizes.
Faça da reflexão um hábito salutar em sua vida, procure conhecer-se melhor, bus-
que entender as motivações das pessoas, perdoe mais a si mesmo e a outrem, seja
flexível e procure relacionar-se bem com as pessoas, sorria mais, ame mais e seja feliz!
98 • capítulo 4
LEITURA
A inteligência emocional como diferencial no mercado de trabalho. Diego Vinicius Ferreira; Fabiana
Ires Pais de Lira Batista; Francisco César Vendrame; Jovira Maria Sarraceni; Máris de Cássia Ribeiro
Vendrame Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/encontro2009/trabalho/aceitos/
CC37601443817.pdf>.
Habilidades essenciais e perfil do negociador – Mauro Corte Real. Disponível em: <http://www.
unisalesiano.edu.br/encontro2009/trabalho/aceitos/CC37601443817.pdf>.
Habilidades essenciais aos negociadores em um contexto globalizado –Ana Paula de Almeida e Dante
Pinheiro Martinelli. Disponível em: <http://www.angrad.org.br/_resources/files/_modules/producao/
producao_621_201212051834228e9c.pdf>.
PAULILLO, Luiz Fernando. Rede de relações e poder de negociação: uma análise do caso citrícola
brasileiro. Gest. Prod., São Carlos, v. 8, n. 3, p. 250-270, dez. 2001 . Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X2001000300004&lng=pt&nrm=iso>.
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MULTIMÍDIA
Liinks.
Significado da frase: “Conhece-te a ti mesmo”. Disponível em: <http://www.significados.
com.br/conhece-te-a-ti-mesmo/>. Acesso em: 15 maio 2016.
Academia de negociadores. Disponível em: <http://academiadenegociadores.com/>.
Processo de negociação: o poder da informação e a habilidade de saber ouvir. Disponível
em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/processo-de-negociacao-o-po-
der-da-informacao-e-a-habilidade-de-saber-ouvir/23674/>.
Somos todos negociadores? Disponível em: <http://www.guialog.com.br/Y595.htm>.
Assista o video
O poder da negociação – André Carvalho. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=J0YRK7G3VBA>. Acesso em: 15 maio 2016.
Entrevista
Entrevista com Daniel Goleman. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/ideias/
noticia/2012/01/inteligencia-emocional-nao-e-tudo.html>. Acesso em: 15 maio 2016.
capítulo 4 • 99
Curiosidade
Como grandes negociadores usam a linguagem corporal nas negociações. Disponível
em: http://www.agendor.com.br/blog/como-grandes-negociadores-usam-a-linguagem-cor-
poral-nas-negociacoes/>.Acesso em: 15 maio 2016.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DAVIS, Kevin. Eight Sources of Power in a Sales Negotiation. Disponível em: <http://www.
businessknowhow.com/marketing/eightsourcesofpower.htm>. Acesso em 17 maio 2016.
ETZIONI, Amitai. Organizações complexas. São Paulo: Atlas, 1967.
GESTOSO, C. G. Estratégias de negociação. Mangualde: Pedago, 2007.
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GONZÁLES, J. M.F. Técnicas de resolução de conflitos e negociação. Fundação Universitária
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PRUITT, D. G.; CARNEVALE, P. J. Negociation in social conflict. Buckingham: Open University Press,
1993.
WANDERLEY, J.A. Negociação total. 21. ed. São Paulo: Gente, 2015.
100 • capítulo 4
5
Negociação e
mediação
5. Negociação e mediação
A negociação e a mediação surgem, constituindo respostas que, com o passar
do tempo, se apresentam e se definem como exercícios de uma cidadania res-
ponsável e como uma alternativa eficaz aos meios judiciais tradicionais. A via
judicial centra-se na figura do juiz, no seu papel de julgador, detentor do poder
de decisão. Por seu turno, a advocacia tem na litigância (CONCEITO) um marco
referencial, visível na oposição dos ideais, na elevada contenda e/ou na transfe-
rência para o advogado do tratamento do problema.
Ao invés desta perspectiva, as visões atuais das teorias da negociação e da
mediação enfatizam critérios integradores, em que as partes assumem o papel
de protagonistas na construção da sua realidade, promovendo-se uma atitude
de cooperação entre os envolvidos e a busca dos seus interesses pessoais deve
ser complementar, sempre que possível, à criação de benefícios conjuntos.
Neste capítulo, vamos entender sobre a importante relação entre a media-
ção e a negociação. Você perceberá que não existe mediação sem negociação
e que a melhor forma de negociar é através de princípios, ou seja, utilizando o
modelo da Escola de negócios de Harvard. Estaremos revisando este modelo de
negociação e acrescentando outras características deste trabalho para que você
possa ficar cada vez mais familiarizado com este procedimento.
Litigância - É o movimento que surge sempre que, num procedimento qualquer, surja
um conflito de interesses. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/
litig%C3%A2ncia/>. Acesso em: 30 jun. 2016.
OBJETIVOS
• Entender a ligação entre a negociação e a mediação
• Conhecer as características da negociação utilizada na mediação de conflitos
• Analisar o processo de negociação na mediação
102 • capítulo 5
5.1 Negociação e mediação
capítulo 5 • 103
A mediação é equacionada, segundo Kressel e Pruitt (1989, citados em
SERRANO, 1996), como a intervenção de uma terceira parte neutra que ajuda
os participantes a alcançarem um acordo no decorrer da negociação. Dá-se
destaque à capacidade do mediador para intervir, recomendar e fazer suges-
tões, sem nunca impor soluções ou tomar decisões vinculativas. Nesse sentido,
Moore (1986) entende a mediação como uma extensão do processo de negocia-
ção, destacando-se a atitude neutra e imparcial do mediador.
Segundo Folberg e Taylor (1992), podem ser definidos como objetivos na
mediação, os seguintes:
a) preparação de um plano para o futuro, que os participantes podem
aceitar e cumprir;
b) preparação dos participantes para que aceitem as consequências das
suas próprias decisões;
c) redução da ansiedade e outros efeitos negativos do conflito, mediante a
ajuda aos participantes para que cheguem a uma resolução consensual.
104 • capítulo 5
5.2 Negociações na mediação
capítulo 5 • 105
O foco da negociação deve ser, portanto, afastar a ideia de que lados opostos
são inimigos. Ambas as partes possuem interesses em comum, e uma negocia-
ção bem sucedida consegue identificar exatamente quais são estes interesses e
encontrar soluções de ganhos mútuos.
A negociação, como já vimos, faz parte da mediação, quando a qualidade do
conflito bloqueia a negociação. Neste momento, o mediador ajuda a restabele-
cer a negociação utilizando seus conhecimentos sobre este tema, para que as
partes consigam chegar a uma decisão negociada.
O papel do mediador é ajudar os mediandos a utilizarem o diálogo usando
os princípios da teoria da negociação, dirigindo-se a alternativas viáveis e acei-
tas para resolver o impasse em que se encontram. Neste momento, o conheci-
mento do mediador sobre negociação será imprescindível porque ele só poderá
ajudar as partes se souber trabalhar para criar contextos de negociações partici-
pativas e colaborativas. Não é o mediador que vai negociar, mas ele vai auxiliar
os mediandos a negociarem e construírem novas realidades.
Você está percebendo como é fundamental o mediador conhecer e dominar
as estratégias de negociação, para que ele seja mais eficaz no auxílio aos me-
diandos em suas negociações. O modelo de negociação da escola de Negócios de
Harvard, que já vimos no capítulo 2, nos fornece conceitos fundamentais para a
realização da mediação. Vamos retomá-lo e aprofundá-lo em alguns aspectos.
COMENTÁRIO
Escola de Negócios de Harvard – Harvard Business School - A Harvard Business
School, ou HBS, como é conhecida, é a escola de negócios mais famosa do mundo. Em suas
salas de aulas já se formaram mais de 76.000 alunos de 167 países, incluindo nomes como
os dos políticos George W. Bush, Mitt Romney e Michael Bloomberg. Outra ex-aluna notável
é Sheryl Sandberg, CFO do Facebook e autora do livro “Lean on”. Nos principais rankings de
MBAs, como o da revista Financial Times, a HBS é líder absoluta. A instituição é rigorossíma
no seu processo de seleção: em 2014, dos 8.963 candidatos, apenas 13% foram aceitos
e, em 2015, dos 9.543 interessados, somente 12% conseguiram uma vaga. A universidade
é destaque na área de pesquisa de negócios: somente em 2014, os docentes publicaram
18 livros e mais de 190 artigos.
Disponível em: <http://www.estudarfora.org.br/harvard-business-school-conheca-a-
escola-de-negocios-mais-famosa-do-mundo/>. Acesso em: 25 jun. 2016.
106 • capítulo 5
5.3 Modelo de gestão de conflitos – Ury, Fischer e Patton – e a
mediação
capítulo 5 • 107
A tendência é pensar que o maior e único interesse numa negociação é o in-
teresse econômico. Muitas vezes, a pessoa que está negociando, em geral numa
mediação, não tem clareza dos seus interesses. Deve-se buscar, nestas situa-
ções, a clareza e um olhar prospectivo, definindo até onde gostaria de chegar,
no lugar de discutir com a outra pessoa sobre o passado.
• Criação de opções de ganhos mútuos
Antes de chegar a solução final, deve ser criada uma gama de opções possíveis
que promovam os interesses comuns. Temos algumas situações que impedem a
criação de opções como: o julgamento prematuro; a busca de uma resposta úni-
ca; pressuposição de uma solução única; pensar que resolver o problema deles é
problema deles. Para que as opções sejam ampliadas devemos criar um espaço
de negociação, construindo um número de ideias diferentes que, depois, serão
escolhidas em conjunto. Pode-se inclusive, dividir o problema em partes meno-
res para que seja mais fácil de resolvê-lo. Entretanto, o olhar deverá ser sempre
para os ganhos mútuos a partir da identificação dos interesses comuns.
• Usar critérios objetivos
O resultado deve ter algum padrão objetivo que seja considerado justo por
todos. Os acordos não devem ser aceitos através de pressão ou ameaças. O uso de
critérios objetivos levará a uma solução baseada em princípios e, não, em pres-
sões. Critérios objetivos, em geral, envolvem padrões justos, legítimos e práticos,
e procedimentos justos, através de meios adequados para resolver as diferenças.
Comunicação
108 • capítulo 5
o problema, ou até mesmo, não se escutam. Estes ruídos na comunicação são
responsáveis pelas comunicações não eficazes e pela falta de diálogo.
Cabe ao mediador estar atento para estas questões e tentar construir trocas
comunicacionais entre as partes. Ele deverá identificar se a forma como as pes-
soas se comunicam ajuda ou interfere no manejo para a busca de uma solução
para o conflito.
Relacionamento
Alternativas
Interesses ou necessidades
Para que isso não ocorra, é importante que as partes identifiquem seus inte-
resses e entendam as prioridades e limitações da outra parte, com a ajuda do
mediador. Saber por que está negociando com o outro e ter consciência dos
interesses da outra parte possibilita a criação de propostas que serão atraentes
e com possibilidade de serem acordadas.
capítulo 5 • 109
Criar opções
Neste caso, estamos tratando de pensar em diversas propostas que possam ser
adotadas para se chegar a um acordo. Isto só ocorrerá através da participação
efetiva das partes buscando a solução comum para o problema. As opções pre-
cisam estar fundamentadas em argumentos objetivos. É importante separar a
criação de alternativas da definição das alternativas possíveis.
Critérios objetivos
Compromisso
Em uma conferência realizada em 2007, William Ury ampliou esta teoria dos
sete princípios básicos de negociação. Dividiu este modelo em três fases, que
veremos, de forma resumida, a seguir:
1. Vá para o balcão
Numa negociação é fundamental deslocar-se para algum lugar (simboli-
camente), acima da negociação, procurando ter uma nova perspectiva do que
está acontecendo, sem perder o objetivo. Ury fala de um balcão imaginário, em
que a pessoa terá um olhar de observador e revisor, orientando seus próximos
110 • capítulo 5
passos na negociação. Deve-se ir para o balcão antes da negociação, quando
nos preparamos para ela; durante a negociação, para ajustarmos nossa estraté-
gia; e, após a negociação, para rever o que funcionou ou não.
2. Coloque-se no lugar da outra parte
O segundo princípio é colocar-se no lugar da outra pessoa e ver as coisas
do ponto de vista dela. Para que isso aconteça é importante ouvi-la com aten-
ção, entender sua história, seus interesses e sua cultura. O melhor negociador
é aquele que sabe ouvir.
capítulo 5 • 111
2. Construa uma ponte dourada entre você e a outra parte
Esta situação ocorre quando a negociação está próxima de um acordo, tudo
foi feito para um bom final, mas a outra parte continua a dizer não. Neste caso,
o bom negociador deve abandonar sua maneira de pensar e adotar a maneira de
pensar da outra parte “construindo uma ponte sobre o abismo de insatisfação”.
Você percebeu que o modelo de Harvard tem um olhar de respeito ao ser hu-
mano quando separa as pessoas dos problemas, coloca-as no lugar das outras
para entendê-las, ao mesmo tempo que valoriza a autonomia e o livre arbítrio.
É a partir destes espaços para o diálogo e conversações que os sujeitos exercem
a sua cidadania.
Os profissionais que atuam na mediação, sejam mediadores, comediado-
res e advogados dos mediandos devem dominar este modelo de negociação,
pois estarão, desta forma, auxiliando as pessoas a negociarem e sentirem-se
satisfeitas com o resultado da negociação. O mediador usará as propostas da
negociação como ferramentas durante o procedimento da mediação, tendo em
mente que, apesar das diferenças em relação aos contextos em que ocorrem a
negociação e a mediação, a negociação está inserida na mediação, como parte
integrante e complementar.
Como você deve ter observado, negociação e mediação inserem-se na pers-
pectiva da gestão construtiva de conflitos, uma abordagem sem o caráter re-
dutor da visão clássica, que ignora e/ ou subestima as consequências positivas
dos conflitos, pois considera o conflito como um processo de desenvolvimento
pessoal e social e salienta a complexidade, a subjetividade e a especificidade
inerentes a cada situação e a possibilidade de intervenção construtiva na mes-
ma. Esta perspectiva enraíza-se e, concomitantemente, espelha aquilo que a
UNESCO (2000) (COMENTARIO) enuncia como pilares capitais da educação
para o século XXI, isto é, “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a
viver juntos, e aprender a viver com os outros, para aprender a ser”. Numa pala-
vra, cidadania para a paz.
COMENTÁRIO
UNESCO – A UNESCO no mundo e no Brasil. A Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) foi criada em 16 de novembro de 1945, logo
após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de garantir a paz por meio da coopera-
112 • capítulo 5
ção intelectual entre as nações, acompanhando o desenvolvimento mundial e auxiliando os
Estados-Membros – hoje são 193 países – na busca de soluções para os problemas que
desafiam nossas sociedades.
É a agência das Nações Unidas que atua nas seguintes áreas de mandato: Educação,
Ciências Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Cultura e Comunicação e Informação.
A Representação da UNESCO no Brasil foi estabelecida em 1964 e seu Escritório, em
Brasília, iniciou as atividades em 1972, tendo como prioridades a defesa de uma educação
de qualidade para todos e a promoção do desenvolvimento humano e social.
Desenvolve projetos de cooperação técnica em parceria com o governo – União, estados
e municípios –, a sociedade civil e a iniciativa privada, além de auxiliar na formulação de polí-
ticas públicas que estejam em sintonia com as metas acordadas entre os Estados Membros
da Organização.
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/agencia/unesco/>.
Acesso em: 29 jun. 2016.
RESUMO
Neste capítulo, você teve a oportunidade de estudar a negociação no processo de mediação.
Observou a importância do conhecimento da técnica de negociação para uma mediação
bem-sucedida. Entendeu que a mediação de conflitos e a negociação obedecem aos prin-
cípios de cidadania e auxiliam a sociedade no desenvolvimento de valores e práticas de
cooperação que levam à paz social.
capítulo 5 • 113
LEITURA
RISKIN, L. Compreendendo as orientações, estratégias e técnicas do mediador: um padrão para
perplexos. Estudos em arbitragem, mediação e negociação / André Gomma de Azevedo (org.). -
Brasília: Brasília Jurídica,2002. Disponível em: <http://www.arcos.org.br/livros/estudos-de-arbitragem-
mediacao-e-negociacao-vol1>. Acesso em: 25 jun. 2016.
CUNHA, P.; LOPES, C. Cidadania na gestão de conflitos: a negociação na, para e com a mediação
de conflitos. ANTROPOlógicas, n.12, 2011, p. 38-43. Disponível em: <file:///C:/Users/admin/
Downloads/1035-2456-1-SM%20(1).pdf>. Acesso em: 25 jun. 2016.
REFLEXÃO
O que é Mediação de Conflitos?
Basicamente, pode-se dizer que a mediação é uma forma de lidar com um conflito (como,
por exemplo, em caso de separação, divórcio, brigas entre vizinhos etc.) através da qual um
terceiro (o mediador ou a mediadora) ajuda as pessoas a se comunicarem melhor, a negocia-
rem e, se possível, a chegarem a um acordo.
Em seu livro “Mediação Familiar”, a psicóloga Stella Breitman e a advogada Alice Porto
fazem uma interessante análise sobre os diversos conceitos de mediação. Uma das defini-
ções mais abrangentes que essas autoras citam é de Tânia Almeida:
A mediação é um processo orientado a conferir às pessoas nele envolvidas a autoria de
suas próprias decisões, convidando-as à reflexão e ampliando alternativas. É um processo
não adversarial dirigido à desconstrução dos impasses que imobilizam a negociação, trans-
formando um contexto de confronto em contexto colaborativo. É um processo confidencial
e voluntário no qual um terceiro imparcial facilita a negociação entre duas ou mais partes
onde um acordo mutuamente aceitável pode ser um dos desfechos possíveis (2001, p. 46).
A definição do processo de mediação de conflitos está diretamente relacionada à orien-
tação teórica de seu/sua autor(a).
Alguns autores enfatizam a resolução de conflitos, então a Mediação seria uma forma de
resolução de conflitos.
Outros destacam o acordo entre as partes, de tal forma que a Mediação teria como ob-
jetivo principal o acordo.
Outros, ainda, ressaltam a comunicação; logo, a Mediação seria um meio de proporcionar
uma melhor comunicação entre as pessoas em conflito.
Há aqueles que salientam a transformação, de maneira que a Mediação transformativa é
mais enfatizada, não importando se as pessoas chegam a um acordo ou não.
114 • capítulo 5
O processo de mediação é complexo, podendo comportar os conceitos de “resolução de
conflitos” (ou gestão de conflitos), “acordo”, “comunicação”, “transformação”. Não deve ser
visto, porém, de forma simplista, atado a apenas um desses conceitos.
Como bem salienta a advogada Águida Arruda Barbosa (2006), “a definição de mediação
também se enquadra como espaço de criatividade pessoal e social, um acesso à cidadania.
A mediação encontra-se num plano que aproxima, sem confundir, e distingue, sem separar”.
MULTIMÍDIA
Liinks.
UNESCO - Fundamentos da nova educação. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.
org/images/0012/001297/129766por.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2016.
A negociação na mediação de conflitos – Centro Mediar & Conciliar. Disponível em:
<http://www.centromediar.com.br/imc/mediacao/a-negociacao-na-mediacao-de-confli-
tos-2>. Acesso em: 25 jun. 2016.
Assista o video
Animação sobre mediação. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=
Kr13qBAPA9k>. Acesso em: 29 jun. 2016.
Entrevista
Aurea Regina de Sá entrevista Rafael Armani sobre a importância da comunicação na
negociação. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fRLPT3I23u4>. Acesso
em: 29 jun. 2016.
capítulo 5 • 115
Curiosidade
Cinco animais com sistemas complexos de comunicação. Disponível em: <https://www.
curioso.blog.br/post/animais-sistemas-complexos-comunicacao/>. Acesso em: 30 jun.
2016.
ESTUDO DE CASO
O caso que se apresenta em análise foi apresentado à equipe do Programa Mediação de
Conflitos de Uberaba, MG, como sendo de orientação e, em seguida, assumiu o caráter e a
necessidade de mediação. O caso, ainda, revelou-se excelente oportunidade para capacitar
os envolvidos sobre o acesso e a efetivação de direitos, bem como sobre o significado da
situação e de suas prerrogativas legais, para somente então ser proposto o procedimento de
mediação como postulado pela metodologia do programa.
Ana procurou o Programa Mediação de Conflitos em janeiro de 2009 pedindo orienta-
ções sobre o benefício que seu companheiro, falecido em 2007, com o com qual mantinha
relação estável, recebia. Nesse primeiro momento, ela requereu informações sobre a possi-
bilidade de receber pensão ou receber o benefício do ex-companheiro e, ainda, apresentou
demanda referente à propriedade/posse do terreno em que residia.
Segundo relatou, tratava-se de um imóvel em que seus pais residiam. O pai falecera havia
15 anos e a mãe, aproximadamente sete anos. Logo após o falecimento dos dois, um dos
netos do casal apossou-se de uma parte do terreno, construindo uma casa no local. Com
essa construção, o terreno passou a ter duas entradas independentes em ruas diferentes.
Em outros atendimentos, Ana informou passar por situação de extrema pobreza, pois não
possuía renda fixa e dependia da ajuda dos familiares para sobreviver desde que ficou viúva.
O referido grupo familiar era composto por quatro irmãos que, após a morte dos pais,
abriram mão da casa deles para que ela morasse nela. Ela nunca contribuiu com o INSS
e não estava em idade para requerer aposentaria por idade (na época tinha 56 anos), o
que exigiu um primeiro encaminhamento para o Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS) do território para verificar a possibilidade de recebimento do Benefício de Prestação
Continuada (BPC).
Em outra perspectiva, instalou-se o conflito no sistema familiar a partir do momento em
que Ana exigiu do sobrinho ajuda para custear as despesas de sua casa, já que ele, supos-
tamente, residia em seu terreno. Ela não aceitava que o sobrinho tivesse qualquer direito
sobre a posse do terreno e fazia exigências constantes para sua permanência no local. Entre
denúncias de aluguel de partes do terreno para outros sobrinhos e construções ilegais no
116 • capítulo 5
imóvel, a equipe identificou os irmãos dela, o sobrinho em questão e percebeu que toda a
situação do imóvel estava ilegal, pois eles não haviam realizado inventário da propriedade por
ocasião da morte dos pais da demandante, então proprietários.
Foi necessário reunir os irmãos em atendimentos separados para esclarecer as questões
demandadas por Ana e, ainda, sobre a situação do imóvel que gerava conflitos familiares. Os
irmãos, por fim, concordaram em ceder a casa dos pais, localizada no terreno da família, para
Ana, mas não abrindo mão do direito à posse, somente permitindo que ela ficasse no local
“em vida”. Também se oportunizaram outras orientações sobre a situação do terreno, pois
com um atraso de três anos de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e a irregularidade
no que se refere à propriedade do imóvel, tendo em vista o falecimento dos pais deles, a
situação exigia providências para a regularização e divisão do bem.
Em meio ao procedimento de mediação, a situação de Ana com os sobrinhos residen-
tes no mesmo terreno ficou insustentável. Muitos foram os relatos de agressões verbais e
desrespeito. Ana desejava que os sobrinhos fossem expulsos do local, o que também exigiu
nova transmissão de informações sobre o direito à posse que pertencia a todos os irmãos
e a impedia de realizar a expulsão dos sobrinhos. Em outras situações, também se fizeram
necessárias orientações sobre direito de família e herança, sempre em linguagem simples
e adequada ao público atendido, para minimizar o sentimento de angústia e a propulsão de
novos conflitos entre as partes.
Mesmo nesse cenário, foi possível identificar que os laços familiares eram positivos e so-
mente o conflito emergente dificultava as relações fraternas. Assim, procedeu-se o encontro
para a mediação entre os irmãos. Na ocasião foram repassadas novas orientações sobre o
encaminhamento que foi feito à assistência jurídica de uma universidade do município para
realização do processo de inventário e a consequente regularização da posse do imóvel em
questão. As partes foram orientadas sobre os procedimentos a serem adotados e assina-
ram um acordo extrajudicial cedendo para “uso em vida” de Ana o imóvel em que seus pais
residiram. Nota-se que a demanda inicialmente apresentada diverge significativamente do
desfecho ilustrado.
A natureza complexa do caso, o número de envolvidos e o fenômeno social que figurava
ao fundo das questões exigiram da equipe uma compreensão global da situação, dos en-
gendramentos que emergiam a cada atendimento, sem que houvesse uma desvalorização
do todo pela concepção apenas de uma parte. A equipe do Programa Mediação de Conflitos
pautou suas ações na apreensão da dinâmica do sistema familiar, nas orientações sobre
acesso a serviços da rede social e na identificação de detalhes que fomentavam conflitos.
Destaca-se, ainda, que as orientações para o serviço judiciário somente ocorreram após
demanda dos participantes do caso e a equipe ofereceu alternativas para a resolução do
capítulo 5 • 117
caso antes de realizar tal encaminhamento. Esta perspectiva se confirma com a aceitação
pelos participantes do procedimento de mediação e da resolução do conflito simbólico, já que
a questão, como se percebeu, não se esgotaria no judiciário, com a dissolução do problema
da posse imobiliária, por estarem relacionadas a determinantes basilares do grupo familiar
em suas dimensões simbólicas, sociais, culturais, situacionais e relacionais.
OLIVEIRA, W. A. de; SILVA, J. L. da; BACCELLI, M. S.; Ferreira, M. C. P.; CARVALHO, R.
A. Enfrentamento da Violência: Mediação de Conflitos e Cultura de Paz. Pesquisas e Práti-
cas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, jan./jun. 2012, p.44-51.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Guia de mediação e conciliação judicial para
magistrados. Brasília: Ministério da Justiça, 2013 .p. 61.
CUNHA, P. Conflito e negociação. 2. ed. Porto: Asa, 2008.
DOUGLAS, A. The peaceful settlement of industrial and intergroup disputes. Journal of Conflict
Resolution, 1,1957. p. 69-81.
DOUGLAS, A. Industrial peacemaking. New York, Col University Press, 1962.
FOLBERG, J. ; TAYLOR, F. Mediación – Resolución de Conflictos sin Litigio. Mexico: Limusa, 1992.
KENNEDY, G.; BENSON, J., ; MCMILLAN, J. Managing negotiations. 3. ed. London: Hutchinson
Business Books, 1990.
MARONDIN, M. Conceitos fundamentais do modelo de negociação de Harvard. In MARONDIN,
M.; MOLINARI, F. (Org.)Mediação de conflitos. Paradigmas contemporâneos e fundamentos para a
prática. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2016. p. 171-195.
MOORE, C. O processo de mediação. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
OLIVEIRA, W. A. de; SILVA, J. L. da; BACCELLI, M. S.; FERREIRA, M. C. P.; CARVALHO, R. A.
Enfrentamento da Violência: Mediação de Conflitos e Cultura de Paz Pesquisas e Práticas
Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012,p.44-51.
SERRANO, G. Problemas y perspectivas de la mediación. In Cunha, P. (Org.). Mediação – Uma
forma de resolução alternativa de conflitos. Actas do Colóquio. Porto, Edições Universidade Fernando
Pessoa,2004. p. 13-31.
WERTHEIN, Jorge. Fundamentos da nova educação. Brasília: UNESCO, 2000.
118 • capítulo 5
6
Negociação e o
Processo Judicial
6. Negociação e o Processo Judicial
Quando se fala em negociação, concluímos que ela existe nas mais variadas re-
lações e desde as nossas primeiras investidas no mundo que nos cerca. O fato
de termos toda essa experiência com a negociação, não nos faz “ bons nego-
ciadores”. Essa negociação pode ser feita de forma mais eficiente quando con-
siderada como técnica e procedimento. Na verdade, se pensarmos apenas no
lado instintivo do ser humano, ele não negociaria. Ceder não é natural, assim
como negociar, também. Podemos entender que a negociação surge, histori-
camente, como um recurso para estabelecer a convivência entre os indivíduos
e organizar trocas de valores.
É pelo fato de termos pessoas envolvidas no processo de negociação que te-
mos de ter consciência da importância da comunicação e do relacionamento,
antes, durante e depois da mesma. Sabemos que o setor jurídico é repleto de
situações conflituosas, visto que a Justiça é a instituição responsável pela solu-
ção de litígios sociais. Magistrados, promotores, advogados e outros membros
desta área sempre estão lidando com a tarefa de resolver disputas, dentro dos
limites determinados pela lei. Por isto, a habilidade de negociação é fundamen-
tal neste setor.
Neste capítulo, vamos entender sobre a formação do profissional da área do
Direito no Brasil e suas características. Além disso, será demonstrada a impor-
tância da negociação na formação do advogado, nos dias atuais. Você será apre-
sentado à algumas áreas do Direito em que a negociação é bem utilizada. Serão
contextualizados alguns conceitos considerando o profissional do Direito e sua
atuação no processo judicial.
Estaremos estudando a ética em suas diferentes concepções, para depois es-
tabelecermos algumas ligações entre a negociação e a ética, revelando que este
é um tema bastante discutido, pelos autores desta área, principalmente, no
que diz respeito a questão : até que ponto se pode ser ético numa negociação?
OBJETIVOS
• Entender a negociação e sua importância para o Direito brasileiro;
• Conhecer as características da formação do profissional de Direito;
• Analisar o processo de negociação e o papel do advogado;
• Estudar a negociação no mundo jurídico;
120 • capítulo 6
• Compreender o conceito de ética;
• Discriminar a relação entre a negociação e a ética;
• Identificar as questões éticas ligadas à negociação.
capítulo 6 • 121
eram oferecidas, ¾ destas diziam respeito exclusivamente ao estudo da arbi-
tragem, mediação ou conciliação.
Esses dados nos parecem importantes porque vemos que a grande maioria
dos profissionais de Direito no mercado de trabalho brasileiro foi capacitado
para as batalhas judiciais. Além disso, raramente, um aluno é incentivado no
decorrer dos seus cinco anos de formação a buscar uma composição amigável
do conflito através da negociação.
Muitas vezes, o advogado nem imagina contatar a outra parte antes do pro-
cedimento judicial. Como consequência desta situação temos a morosidade da
Justiça, em razão de seu incontável número de processos, espelho de uma so-
ciedade extremamente litigante.
O Estado-juiz está assolado de processos e a pacificação social não é atingi-
da. E, assim, atos administrativos e leis voltadas para a solução direta dos con-
flitos têm sido criados para tentar desafogar o Judiciário. A Lei da Arbitragem
(1996/2015) e a lei da Mediação (2015) são realidades que constituem avanços
na busca de uma justiça mais célere. No entanto, a negociação ainda não é valo-
rizada no seu potencial e como efetiva alternativa ao Judiciário.
Os profissionais da área do Direito deveriam, na busca de defender me-
lhor os direitos de seus clientes, valorizar a negociação e alterar essa realida-
de, resolvendo conflitos sem, muitas vezes, encaminhá-los obrigatoriamente
ao Judiciário.
Sem esquecer que o advogado deverá ser um bom gestor de cada uma des-
tas dimensões. Não adianta ser um bom conhecedor de técnicas de negocia-
ção se não dominar o objeto da negociação ou as suas emoções. Por exemplo,
um advogado que atue em um conflito entre uma empresa e seus funcionários
deve conhecer: a legislação aplicável; as decisões jurisprudenciais envolvendo
122 • capítulo 6
conflitos semelhantes; o histórico de conflitos entre as mesmas partes; a rea-
lidade da região onde se desenvolve o conflito; as características da categoria
profissional e da empresa; e as perspectivas futuras sobre alterações na legis-
lação. Se o negociador não tiver conhecimento específico sobre o ambiente da
negociação, este fato pode levar danos aos clientes e à reputação do negociador.
A negociação é uma forma de resolução de conflitos que ocorre sem a in-
tervenção de terceiros em sua solução. Não há um juiz ou árbitro para decidir
quem tem razão. Também não há um mediador para trabalhar a comunicação
ou um conciliador para sugerir soluções. Isso não significa que na negociação
não possam haver terceiros, que não sejam as próprias pessoas interessadas,
cujas questões estejam em discussão.
É bem comum a nomeação de um representante que vai à mesa de nego-
ciação, para que através de seus conhecimentos e técnicas negocie o bem ou o
direito da pessoa que ele representa. O advogado, em geral, é o representante
escolhido para defender os interesses de seus clientes. Desta forma, negociar
é fundamental na sua atuação profissional, seja com seu cliente ou com a ou-
tra parte. No entanto, em geral, o advogado é visto como aquele que dificulta a
negociação, que não tem visão de negócios e que, com frequência, traz para a
negociação restrições e cláusulas rígidas, que impedem um acordo.
Com frequência, advogados ou o Departamento jurídico só é chamado para
a negociação no momento da redação do contrato ou do acordo e, até mesmo
apenas para a revisão do documento. Entretanto, um advogado bem preparado
poderia trabalhar de forma construtiva no processo de negociação, atuando em
todas as suas etapas. Este profissional poderia demonstrar a sua criatividade, tan-
tas vezes impedida pela letra da lei, doutrina ou jurisprudência. Essa criatividade
não vem da sua formação universitária, mas é exigida pelo mundo corporativo.
Outra questão que se coloca, é a atuação do advogado que, em geral se com-
porta de forma assertiva, o que em uma negociação pode ser prejudicial. É ló-
gico que este comportamento é pertinente no ambiente jurídico, mas em um
ambiente alternativo de solução de conflitos, em nada ajuda.
Alguns componentes se destacam como pré-requisitos para uma
boa negociação:
• desenvolver empatia e uma comunicação interpessoal eficaz – é preciso
ter certeza de que nossa mensagem foi entendida de forma adequada. Também
é importante prestar atenção para os comportamentos não verbais. Após uma
proposta, através desta observação, podemos perceber se o outro concordou
capítulo 6 • 123
ou não, se está disposto a ceder ou não, mesmo antes de nos comunicar.
Acrescentando, a empatia que é fundamental para facilitar a aceitação de nos-
sas propostas pela parte contrária;
• Ter flexibilidade, evitar radicalismos – é importante manter a atenção nos
interesses, desejos e necessidades da parte contrária e sabermos ser flexíveis ,
quando necessário;
• Evitar que uma das partes seja prejudicada ou injustiçada – é fundamen-
tal buscar um acordo ganha-ganha, onde as duas partes no final saiam com a
sensação de vitória. A sensação de injustiça ou deque o acordo foi prejudicial
pode levar a situações negativas no futuro;
• Manter um relacionamento de respeito e cortesia durante o processo –
em qualquer demanda, o negociador deve manter uma atitude profissional e
respeitosa com a outra parte. Muitos acordos são prejudicados em função dos
problemas nos relacionamentos pessoais.
124 • capítulo 6
ajudar o seu advogado, se colocando aberto às soluções possíveis. Podem haver
relações cruzadas entre advogados de um lado e os clientes do outro lado.
Mourão (2014) conceitua as negociações, nestes casos, de behind the table
e across the table. As negociações behind the table são aquelas que ocorrem
de um mesmo lado da mesa, entre representante e representado, ou entre re-
presentante e todos os seus clientes internos. A negociação across the table é
aquela que envolve partes de lados opostos da mesa. O que é importante en-
tender é que uma negociação behind the table malfeita afetará a qualidade da
negociação across the table.
capítulo 6 • 125
Regra de conexão – Conexão é sinônimo de relação, nexo, de forma que, somente
resta configurada quando houver algum liame entre uma e outra infração penal. (arti-
go 76 Código de Processo Penal)
126 • capítulo 6
espécie, para a realização de objetivos comuns. Nos convênios e consórcios
cada participante colabora na medida de sua possibilidade, sendo a responsa-
bilidade compartilhada entre todos.
• Transação tributária
Na transação tributária podemos ter a negociação dos débitos tributários,
através dos quais o contribuinte negocia com o Poder Público, diretamente, o
valor, a forma e o prazo de pagamento. A transação tributária está prevista no
Código Tributário Nacional (1966), nos artigos 156, III e 171. Neste caso, há a
previsão de transação mediante concessões mútuas, que leve à solução de lití-
gios e extinção de crédito tributário.
A transação tributária e suas especificidades é uma realidade em diversos
países como França, Itália, Estados Unidos e Inglaterra. No Brasil, ainda temos
algumas discussões entre os membros do governo e da sociedade civil, além de
técnicos e operadores do Direito para que seja um verdadeiro instrumento de
pacificação social.
• Tratados Internacionais
O tratado internacional é um acordo entre dois ou mais sujeitos do Direito
Internacional formalizado através de um texto escrito. O acordo produz efeitos
jurídicos estabelecendo obrigações e direitos entre os entes contratantes. O tra-
tado internacional é a materialização de uma negociação sobre diversos temas.
A primeira fase de um tratado internacional é a negociação, que é de com-
petência exclusiva e restrita do Poder Executivo. No Brasil, nossa Constituição
Federal (1988) estabelece em seu artigo 21, I., que é competência da União man-
ter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacio-
nais. Ao término da negociação é elaborado um texto escrito, que é consensual,
e que será rubricado pelos negociadores, autenticando o texto negociado.
Uma vez negociado, celebrado e ratificado, o tratado é eficaz e gera direi-
tos e obrigações entre as partes contratantes. Para que você se familiarize com
os tratados internacionais e seus procedimentos, não deixe de ler o artigo de
Aquino (2010), sobre Tratados Internacionais.
• Fusões e Aquisições
Sabemos que as negociações podem ser desenvolvidas nos mais diferen-
tes ambientes. Na área jurídica, encontramos uma série de atividades que
capítulo 6 • 127
o operador do Direito pode realizar. Os advogados que decidem atuar em
Corporações, acabam se deparando com as fusões e aquisições. Muitas empre-
sas pequenas que se tornaram atraentes, cresceram juntamente com escritórios
de advocacia que defendiam os seus interesses e de seus sócios, neste período.
O mundo das fusões e aquisições é complexo e trabalham com uma equipe
multidisciplinar. Os assuntos da área jurídica que envolvem a negociação são
importantes e influenciam desde a transação até as regras que regerão os fu-
turos sócios. Há uma constante negociação, como já vimos behind the table e
across the table.
• Negociação coletiva
No âmbito do Direito Coletivo do Trabalho, a negociação coletiva é pautada
em alguns princípios que buscam orientar esse tipo de composição entre as
partes no conflito trabalhista. A autonomia dos sindicatos nesse tipo de nego-
ciação é enfatizada pelo princípio da autonomia coletiva, trazendo importân-
cia para a participação dos trabalhadores enquanto uma unidade representa-
tiva de suas categorias profissionais ou econômicas. Há vinculação clara com
o princípio da obrigatoriedade da participação sindical, consolidando a figura
do sindicato como ator protagonista da negociação coletiva.
Nesse ponto, também é importante destacar o princípio da contraposição,
partindo-se do pressuposto que os trabalhadores e os empregadores terão, em
regra, posições tidas como antagônicas ou divergentes, o que é essencial para
que ocorra a própria negociação. Além disso, destacam-se outros princípios,
como o da paz social, que é o objetivo maior de qualquer negociação, possi-
bilitando-se dessa maneira um acordo, que representará o consenso entre
as partes.
Você notou que um número cada vez maior de situações exige a negociação.
Todos, de uma forma geral, querem participar das decisões que lhes afetam.
Um número cada vez maior de pessoas não aceita decisões impostas pelos ou-
tros. As pessoas são diferentes, no entanto usam a negociação para lidar com
suas diferenças. Mesmo quando recorrem aos tribunais, muitas vezes nego-
ciam um acordo antes da sentença. Também podemos perceber, nos crescen-
tes conflitos entre etnias, como as formas não negociadas de solução acabam
em procedimentos extremamente perversos.
As novas estruturas organizacionais, com a diminuição dos níveis hierárqui-
cos e com as decisões em redes, equipes de trabalho e forças-tarefas substituem
128 • capítulo 6
as decisões de cima para baixo, exigindo cada vez mais negociação nas suas de-
terminações. As negociações de fusões, incorporações, joint ventures e alian-
ças estratégicas, resultados da economia globalizada, dinâmica e competitiva,
estabelecem um alto grau de complexidade neste processo, cobrando dos pro-
fissionais, além de profundo conhecimento técnico, o desenvolvimento de no-
vas habilidades para lidar com questões interpessoais e interculturais.
Joint ventures - é uma expressão de origem inglesa, que significa a união de duas
ou mais empresas já existentes com o objetivo de iniciar ou realizar uma atividade
econômica comum, por um determinado período de tempo e visando, dentre outras
motivações, o lucro Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=SIGNIFI-
CADO+DE+joint+ventures>. Acesso em: 30 maio 2016.
6.5 Ética
capítulo 6 • 129
origens da Ética contém uma lição importante para nós, pois mostra-nos que
a legitimação social da Razão demonstrativa e o lugar privilegiado que passa a
ocupar na esfera simbólica da sociedade, e ao mesmo tempo em que provocam
a perda da força de coesão do ethos tradicional, despertam a necessidade impe-
rativa de explicar, organizar e justificar criticamente a racionalidade implícita
desse ethos, tarefa que cabe exatamente a Ética. Ela se constitui como ciência
dos costumes transmitidos na sociedade, dos estilos permanentes do agir dos
indivíduos (hábitos), bem como da comprovação crítica dos novos valores que
a evolução da sociedade faz surgir” (VAZ, 2002, p.56).
Desde o início desse milênio se observa que a “Ética tem sido entendida
como a ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes” (SÁ,
2001, p.15), porém, nesse sentido, ela já era objeto de análise dos pensadores
clássicos, como já vimos, que consideravam serem relevantes os aspectos:
1. Como ciência que estuda a conduta dos seres humanos, analisando os
meios que devem ser empregados para que a referida conduta se reverta sem-
pre em favor do homem. Nesse aspecto o homem torna-se centro da observa-
ção, em consonância com o meio que lhe envolve. Cuida das formas ideais das
ações humanas e busca a essência do Ser, procurando conexões entre o mate-
rial e o espiritual;
130 • capítulo 6
2. Como ciência que busca os modelos da conduta conveniente, objetiva
dos seres humanos. A correlação nesse aspecto, é objetiva, entre o homem e o
seu ambiente. (SÁ, 2001, p.16)
Negociar é uma arte e pode ser praticada em diversos momentos da vida, como
já observamos, assim como pode acontecer sob várias condições e entre dife-
rentes interlocutores. Torna-se importante neste processo assumir uma posi-
ção que respeite os valores e crenças dos indivíduos que estão em negociação,
pois em função dos interesses inerentes ao processo de negociação as pessoas
podem se sentir estimuladas a agir de forma considerada antiética, mentindo
e praticando o engano em demasia. Negociadores que apresentam este padrão
de comportamento acabam, por vezes, perdendo a credibilidade e com isso não
negociam de forma transparente e efetiva.
capítulo 6 • 131
Assim, o diferencial que influenciará essencialmente nas negociações é o
comportamento ético levando-se em conta que existem:
[...] dois componentes que afetam a maneira de agir das pessoas: o domínio
da legislação, contendo os princípios éticos estabelecidos por lei, e o domínio
da livre escolha, ou seja, a condição social de todo ser livre, de fazer suas esco-
lhas e de agir da maneira que melhor lhe convier, em cada situação de sua vida
pessoal e profissional. (ANDRADE, et al. ,2007, p.19)
Em geral as pessoas podem apresentar diferentes tipos de comportamen-
to durante o processo de negociação, sendo que estes podem ser conflitantes
levando-se em conta o caráter ético, legal e moral como conhecemos. Lewicki
(2002) propõem uma matriz de análise dos comportamentos éticos e legais, na
qual temos quatro possibilidades básicas:
Comportamentos que não sejam nem éticos e nem legais;
• Comportamentos que sejam éticos, porém não legais;
• Comportamentos considerados legais que, porém, não são éticos;
• Comportamentos legais e éticos segundo os padrões de grupo;
132 • capítulo 6
Em uma negociação e tomada de decisão em uma situação onde estão em
jogo possíveis recursos escassos ou a busca pelo lucro, as partes podem estar
dispostas a se valerem de atitudes consideradas antiéticas, dependendo do
ponto de vista de quem analisa.
Os comportamentos considerados antiéticos durante uma negociação po-
dem ser:
• Mentir sobre os benefícios que o objeto oferece;
• Ocultar informações;
• Fazer concessões que não serão cumpridas;
• Ameaçar abandonar a negociação quando não se pretende fazê-lo;
• Agredir a outra parte com o objetivo de desestabiliza-la emocionalmente.
capítulo 6 • 133
Estes autores (ANDRADE, et al. ,2007, p.40) ainda esclarecem que:
“Há muita discussão quanto até que ponto se está agindo de maneira ética
ou não em uma tomada de decisão e negociação. Por exemplo, quando alguém
pergunta até que limite se pode chegar em uma tomada de decisão e negocia-
ção, e não se diz a ele o verdadeiro limite, para ter maior espaço de negociação,
até que ponto esse comportamento pode ser considerado ético e quando ele
passa a ser antiético?”
É claro que isso depende muito dos valores das pessoas envolvidas na toma-
da de decisão e negociação e do ambiente no qual elas estão inseridas. Estes
autores (ANDRADE et.al., 2007) afirmam que a negociação estabelecida em:
“Um clima de liberdade é essencial para a edificação de uma sociedade jus-
ta e democrática, que, ao assegurar a consecução de níveis dignos de bem-estar
social, estimule as ações tendentes a possibilitar o atendimento as aspirações
superiores do homem que configuram o bem-comum”(p.27).
Desta forma, podemos entender que o sucesso, de todos os envolvidos de-
pende em grande parte, da ética assumida nas negociações, mas não se deve
esquecer a competência destes negociadores, também. De um modo geral, as
pessoas não se perguntariam sobre o que deve ou não fazer às outras pessoas ou
outros grupos. Simplesmente buscariam os seus interesses próprios, ignoran-
do os interesses e direitos dos outros e os da coletividade como tal.
Entretanto, a necessidade de conviver com outros nos leva à necessidade de
estabelecermos relações que possibilitem a sobrevivência de todos os que com-
põem a coletividade. Isso significa na prática que os meus direitos e interesses
não podem ser absolutizados na medida em que entram em conflito com in-
teresses e direitos de outros com os quais necessitamos conviver. Entretanto
enfatizar o bom senso, as habilidades, e os etilos dos negociadores, auxiliam
em negociações dentro de modelos legais e éticos propostos na sociedade em
que se vive. (MARTINELLI E ALMEIDA, 2006)
Levando-se em conta o incentivo à prática do diálogo, baseado no respeito
mútuo e na colaboração, para a implantação de um código de ética e de condu-
ta, direcionado a todos os negociadores, compreende-se que todos podem ter
sucesso em suas negociações.
134 • capítulo 6
RESUMO
Neste capítulo, você teve a oportunidade de estudar a negociação no processo judicial. Per-
cebeu como é importante um novo olhar sobre a formação do operador do Direito, possibi-
litando uma atuação mais voltada para o consenso e, não mais para a litigância. Além disso,
compreendeu como a negociação é utilizada em várias áreas do Direito, possibilitando maior
autonomia às partes e celeridade nos processos.
Você estudou a importância da ética nas negociações. Nosso comportamento é funda-
mental para estabelecermos negociações, nas relações duradouras ou não, pautadas em
princípios de respeito e solidariedade para com o outro, que possibilitarão resultados provei-
tosos para todos, gerando um clima de paz social. É importante considerar que o sucesso ou
o fracasso de uma negociação pode estar ligado ao comportamento ético dos negociadores.
A ética é o que fundamenta racionalmente a conduta humana.
ATIVIDADE
01. Sobre o conceito de ética marque a alternativa que NÃO representa uma alternati-
va correta.
Disponível em http://jcconcursos.uol.com.br/arquivos/pdf/Caixa_Questoes_Etica.pdf
LEITURA
AQUINO, Leonardo Gomes de. Tratados Internacionais (Teoria Geral). In: Âmbito Jurídico, Rio
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capítulo 6 • 135
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tionado/2006/09/05/7-principios-para-a-etica-nos-negocios/>. Acesso em: 30 maio 2016.
136 • capítulo 6
Assista o filme
A NEGOCIAÇÃO – 2012 - Direção: Nicholas Jarecki. Elenco: Richard Gere, Susan Sa-
randon, Tim Roth. Gêneros Drama, Suspense Nacionalidade: Eua Disponível em: <http://
www.adorocinema.com/filmes/filme-187453/>.
Assista o video
O que é ética? - Mario Cortella - YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=vjKaWlEvyvU>.
Entrevista
RENATO JANINE RIBEIRO – Ética ou o fim do mundo? Disponível em: <http://
revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom/article/viewFile/151/251>. Acesso
em: 29 jun. 2016.
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a Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Brasília, DF, 26 de maio de 2015.
capítulo 6 • 137
BRASIL. Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares como
meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração
pública; altera a Lei no 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto no 70.235, de 6 de março de
1972; e revoga o § 2o do art. 6o da Lei no 9.469, de 10 de julho de 1997.Brasilia,DF, 26 de junho de
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VAZ, Henrique C. de Lima. Ética e a razão moderna. In MARCÍLIO, Maria Luiza;
GABARITO
Capítulo 1
Capítulo 3
138 • capítulo 6
B= __ x 2 = __
C =__ x 3 = __
Total = ___ pontos
Conclusões
Até 27 pontos: FRACO. Você dá pouca importância a comunicação e a própria imagem, não
se importa com o que pensam e sentem a seu respeito. Normalmente foge de situações em
que é convidado ou convocado para se expor, sofrendo por medo ou ansiedade. Você tem,
também, dificuldade para se relacionar em contextos de vendas, negociações ou em eventos
sociais. Se deseja obter maior sucesso em sua vida pessoal e profissional, precisa romper as
barreiras que o impedem de se expor e desenvolver a habilidade da comunicação.
De 37 a 45 pontos: BOM. É bom comunicador, relaciona-se bem com as pessoas, tem cons-
ciência de que mostra seu potencial individual por meio da comunicação. Tem habilidade
para vender e negociar e, eventualmente, fala em público, mas apenas quando a situação
é inevitável. Possui uma percepção desenvolvida das outras pessoas, domina técnicas de
comunicação, estudou e estuda o assunto. Reconhece que ainda há pontos a serem aprimo-
rados e sabe que isso só depende de esforço e boa vontade.
Capítulo 6
01. A
Comentário: A Ética é a ciência normativa dos comportamentos humanos, mas não é definida
por lei. Na verdade ética é uma disciplina ou campo de conhecimento que avaliam os compor-
capítulo 6 • 139
tamentos das pessoas e das organizações, considerando os valores e a moral da sociedade
ou de agrupamentos sociais particulares.
140 • capítulo 6
ANOTAÇÕES
capítulo 6 • 141
ANOTAÇÕES
142 • capítulo 6
ANOTAÇÕES
capítulo 6 • 143
ANOTAÇÕES
144 • capítulo 6