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MEDIAÇÃO
autora
NIVEA MARIA DUTRA PACHECO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
isbn: 978-85-5548-559-6.
1. O processo de mediação 7
Dinâmica da mediação 11
Pré-mediação 14
Etapas da mediação 16
Avaliação do processo (resultado) 20
Casos mediáveis e não mediáveis 20
O mediador 21
A formação do mediador 22
Aptidões e atitudes do mediador 24
Ferramentas da mediação 39
Acordo/termo de participação no processo de mediação 39
Compartilhamento de objetivos de cada etapa do processo. 41
Conferir o tempo necessário a cada etapa do processo. 43
Observação dos limites da ética e do direito 45
Criação de características particulares nas anotações 47
3. Ferramentas procedimentais 51
Promoção de reuniões privadas – caucus 53
Mapeamento do conflito 57
Enquadre 60
Sugestão da procura de técnicos e/ou especialistas 61
4. Ferramentas comunicacionais 69
Escuta ativa 71
Acolhimento 74
Validação de sentimentos 76
Mensagem eu 85
5. Ferramentas negociais 91
A separação das pessoas dos problemas 93
Prezados(as) alunos(as),
5
As ferramentas comunicacionais auxiliam no processo de mediação, sendo
relevante para o fortalecimento da confiança dos mediandos em relação ao media-
dor, funcionando de forma a equilibrar a partes da mediação.
Você também será instigado a refletir sobre pontos da matéria e buscar mais
fontes de pesquisa, dialogar com os seus colegas e professor.
É preciso ter em mente que o livro é a primeira oportunidade de aprendiza-
gem, serve como subsídio para acompanhar as aulas e traz um suporte mínimo in-
dispensável à compreensão do tema. Fazer uma leitura antes das aulas auxilia não
só a entender o conteúdo que será ministrado em sala pelo professor, mas também
serve para a formação crítica e construtiva, além de ajudar a esclarecer as dúvidas.
Antes e depois das aulas, aprofunde suas leituras e pesquisas, busque colocar
em prática o conhecimento que adquiriu.
Bons estudos!
6
1
O processo de
mediação
O processo de mediação
No presente capítulo você vai estudar como o procedimento da mediação se
apresenta, para tanto, será abordado a pré-mediação e de que forma o mediador
deve lidar com os envolvidos no conflito no momento que antecede ao procedi-
mento da mediação. Em seguida, será possível observar as etapas da mediação e
como avaliar o processo de mediação, oferecendo embasamento teórico para a
compreensão dos diferentes momentos da mediação.
É preciso que o aluno tenha conhecimento de que nem todos os casos de
conflito são mediáveis, havendo, inclusive, casos de direitos indisponíveis que não
estão sujeitos ao procedimento da mediação, assim, abordaremos como identificar
os casos mediáveis e não mediáveis.
É necessário, ainda neste capítulo, tratarmos da figura do mediador, o terceiro
imparcial, que busca restabelecer o diálogo entre os envolvidos no conflito. Nesse
contexto, a formação do mediador é um ponto essencial a ser abordado, traba-
lhando também suas habilidades, aptidões e atitudes, considerando que o desem-
penho do mediador é crucial para um bom resultado no processo de mediação.
OBJETIVOS
• Compreender o processo de mediação e sua prática;
• Conhecer o papel do mediador e identificar as habilidades, aptidões e atitudes necessárias
para um bom desempenho do mediador.
capítulo 1 •8
Novos instrumentos destinados à administração de conflitos foram construí-
dos pela necessidade humana, diante de uma realidade.
A intervenção de um terceiro imparcial, estranho à relação posta para solução
do conflito, não é nova, pois desde os tempos de Salomão, tem-se conhecimento
de que essa prática vem sendo consolidada.
CURIOSIDADE
Na Bíblia em 1 Reis, capítulo 3, o Rei Salomão foi chamado a decidir uma controvérsia
existente entre duas mães, onde ambas, tendo filho, o de uma delas veio a falecer e ao que
permaneceu vivo, ambas se reclamavam para si a maternidade, acusando uma à outra. O Rei
Salomão, então, como terceiro, neutro e imparcial buscou a solução do conflito: “Então o rei
ordenou: "Tragam-me uma espada". Trouxeram-lhe. Ele, então ordenou: "Cortem a criança
viva ao meio e dêem metade a uma e metade a outra". A mãe do filho que estava vivo, movida
pela compaixão materna, clamou: "Por favor, meu senhor, dê a criança viva a ela! Não a mate!
" A outra, porém, disse: "Não será nem minha nem sua. Cortem-na ao meio! " Então o rei deu
o seu veredicto: "Não matem a criança! Dêem-na à primeira mulher. Ela é a mãe".” (1 Reis
3:23-27). Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvi/1rs/3>. Acesso em 23 de
setembro de 2017.
capítulo 1 •9
Para que tudo isso tenha eficácia, é necessário que o processo de mediação es-
teja ordenado por etapas, embora, estas nem sempre serão estáticas. Muitas vezes,
durante a mediação surgem acordos provisórios, que demandam um acompanha-
mento para análise da viabilidade de sua manutenção; outras vezes, já nos primei-
ros encontros os acordos são realizados, ou seja, há uma infinidade de situações
que podem ocorrer no decorrer de uma mediação, sendo o procedimento da me-
diação dinâmico, embora possa ser apresentado, em geral, de uma forma didática.
O procedimento de mediação é flexível, tendo o mediador, liberdade, de-
pendendo da situação, de desenvolver um estilo próprio de mediação, desde que
respeitados os princípios éticos e as questões técnicas, mantendo-se a postura
profissional, havendo espaço para a informalidade, buscando sempre estimular
o diálogo.
A mediação, diferentemente do procedimento da conciliação, é uma proposta
de mudança em relação ao conflito, onde espera-se que as partes encontrem pos-
sibilidade de construção de um ambiente saudável, baseadas na confiança e coo-
peração, juntamente com o mediador, que será aquele que identificará as barreiras
que dificultam o diálogo.
De acordo com Cooley e Lubet, é possível se definir mediação:
pode ser definida como um processo no qual uma parte neutra ajuda os contendores a
chegar a um acerto voluntário de suas diferenças mediante um acordo que define seu
futuro comprometimento. (COOLEY; LUBET, 2001, p. 23).
a mediação seria uma proposta transformadora do conflito porque não busca a sua
decisão por um terceiro, mas, sim, a sua resolução pelas próprias partes, que recebem
auxílio do mediador para administrá-lo. A mediação não se preocupa com o litígio, ou
seja, com a verdade formal contida nos autos. Tampouco, tem como única finalidade a
obtenção de um acordo. (WARAT, 2001, p. 32).
Vale ressaltar que a mediação não tem, necessariamente, como fim, a concre-
tização de um acordo, o que se busca é uma transformação das partes em relação
a comunicação e ao relacionamento dos envolvidos, objetivando o entendimento,
pois, sabemos que, muitos acordos, em grande parte das vezes, não trazem consigo o
restabelecimento da comunicação entre as partes, sendo assim, o processo tem o seu
fim, mas o conflito permanece e, pouco tempo depois, volta a desaguar no judiciário.
capítulo 1 • 10
Convém destacar que o incentivo e implantação de mecanismos alternativos
de resolução de conflitos são recomendados pelas Nações Unidas. O Conselho
Econômico e Social das Nações Unidas, na Resolução n° 26, de 28 de julho de
1999, preconizou que os Estados devem buscar, ao lado dos respectivos sistemas
judiciais, impulsionar os chamados ADRs – Alternative Dispute Resolution.
Dinâmica da mediação
capítulo 1 • 11
aceita pela parte, passa-se ao contato com a outra parte para que possa manifestar-
se sobre a proposta do convite para um diálogo, podendo ser feita via telefone ou
correspondência, momento, em que, aceito o convite passa-se a pré-mediação, o
qual veremos no tópico a seguir.
É importante frisarmos que o ambiente da mediação deve ser agradável e es-
timulante para o diálogo, mantendo a privacidade. O espaço da mediação deve
ser ajustado, sempre que possível, de forma que as partes se vejam lado a lado e
não de forma adversarial, para tanto, uma mesa redonda será sempre bem-vinda,
criando-se a garantia de que todos se veem e estão no mesmo plano, além do fato
de que todos devem ter acesso a material para escrita, com fins de realizarem as
anotações que se fizerem necessárias.
A 6ª edição da obra Manual de Mediação Judicial, do Conselho Nacional de
Justiça (2016), destaca que a disposição da mesa pode gerar uma predisposição das
partes, de forma que a mesa redonda facilita a comunicação e afasta a ideia de hie-
rarquia entre os envolvidos; já a mesa quadrada impõe que os mediadores estejam
de um lado da mesa e as partes de outro o que pode dar a falsa ideia de autoridade
do mediador, diminuindo a chance do diálogo, embora, quando postas as partes
lado a lado, acaba por retirar o sentimento de rivalidade; podendo, ainda, optar o
mediador por realizar a mediação sem o emprego de mesa, dispondo as cadeiras
em círculo, criando um ambiente mais informal.
1. A mesa redonda
Igualitário - a mesa redonda
capítulo 1 • 12
2. Mesa retangular
Igualitário - a mesa retangular
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A Mediação assume-se como um meio de resolução de conflitos, alternativo
aos tradicionais (em especial ao judicial), na medida em que na mediação as partes
tem a possibilidade de flexibilização do procedimento, tendo ingerência sobre o
seu andamento e sobre o seu resultado.
Pré-mediação
O mediador também vai avaliar se as questões que são pelas partes trazidas
(por meio de um breve relato destas sobre o conflito), são adequadas ao emprego
da mediação, bem como deverá avaliar se não há qualquer impedimento que o
impossibilite de atuar como mediador no caso.
Nesse sentido esclarece Tania Almeida:
capítulo 1 • 14
Os mediandos também serão alertados sobre a possibilidade de comparecerem
acompanhados de advogados, que nas sessões, atuarão como assessores e consul-
tores jurídicos, sempre com uma visão de colaboradores para o procedimento de
mediação, sendo, de igual forma esclarecido que, caso seja necessário, o acordo
será encaminhado para homologação judicial.
O ideal é que as partes que desejarem estar acompanhadas de advogado, já o
façam na pré-mediação, oportunizando, assim, um nivelamento do conhecimento
de todos sobre o processo de mediação, legitimando a importância do advogado e
ao mesmo tempo conscientizando-os para uma postura de assessores para soluções
colaborativas e de interesse mútuo.
No Livro Mediação e Solução de Conflito – Teoria e Prática, de José Osmir
Fiorelli, Rosa Fiorelli e Marcos Olivé Malhadas Júnior, os autores concluem sobre
o objetivo da pré-mediação:
capítulo 1 • 15
Etapas da mediação
Discurso de abertura
capítulo 1 • 16
LEITURA
Indicamos a leitura do material: Manual de Mediação Judicial do Conselho Nacional de
Justiça – CNJ, p. 157/198, para que você tenha uma visão mais abrangente da sessão de
mediação e dos quesitos formais do discurso de abertura.
Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/07/f247f5ce60df
2774c59d6e2dddbfec54.pdf>.
O objetivo maior dessa etapa é possibilitar que cada envolvido tenha acesso ao
ponto de vista do outro sobre a mesma questão conflituosa que atinge as partes.
Cada qual apresentará seus interesses e necessidades, suas motivações para o de-
sentendimento e sua abertura a auto composição.
A narrativa dos fatos pelos mediandos possibilita ao mediador conhecer a de-
savença e mapear o conflito a partir do ponto de vista de cada participante. O
relato das histórias facilita a reedição de uma comunicação direta entre os envol-
vidos, facilitando a visualização, pelo mediador, de como construir intervenções
produtivas, em especial, nos pontos que obstaculizam o diálogo, para tanto, o
mediador deve estar atento às expressões de sentimentos e escutar os relatos de
forma ativa, reunindo informações e elaborando perguntas que possam levá-lo a
entender o que está oculto no conflito.
No livro Caixa de Ferramentas em Mediação, Tânia Almeida observa:
A condução ativa e acolhedora do mediador (rapport) deve provocar nos mediandos o fa-
vorecimento de uma expressão verbal e não verbal adequadas e de uma escuta inclusiva
– que considere o ponto de vista do outro como possibilidade.(ALMEIDA, 2014, p.41)
Resumo
Nessa fase, pelo mediador será feito um resumo de toda a controvérsia até
então apresentada, centralizando a discussão nos principais aspectos encontrados,
assim como nos interesses subjacentes. O resumo tem um valor significativo na
mediação, pois, a partir dele, os mediandos identificarão que o mediador está
capítulo 1 • 17
atento às questões da controvérsia e as está compreendendo; e, para o mediador é
uma forma de efetiva organização do processo.
O mediador, no resumo, impõe ordem à discussão, recapitulando o que foi
exposto até o momento, traduzindo para uma linguagem neutra e positiva. O
resumo é também chamado de resumo de texto único, já que coloca duas pers-
pectivas em uma única descrição. No entanto, deve o mediador agir com cautela
ao apresentar o resumo das partes, pois qualquer colocação inexata e que não seja
neutra poderá ser entendida como favorecimento a uma das partes e, com isso,
uma visão pelo mediando, de perda de imparcialidade, podendo levar a frustração
do procedimento mediativo.
De igual importância é o fato do mediador buscar ao final do resumo uma
concordância das partes sobre o que foi por ele relatado, bastando perguntar se as
partes estão de acordo com a síntese que foi feita dos fatos, e, abrindo a possibili-
dade para correções, com a pergunta: “Há algo que queiram acrescentar?”.
Pauta de trabalho
capítulo 1 • 18
Esclarecimento de controvérsias e resolução de questões
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Avaliação do processo (resultado)
A mediação pode ser aplicada em conflitos que possam ser resolvidos por
meio do diálogo, sendo lícita a aplicação da mediação nas matérias que admitam
reconciliação, transação ou acordo. O código de processo civil brasileiro (Lei nº
13.105/2015), em seu artigo 165, § 3º, prevê que a mediação poderá ser utilizada,
preferencialmente, nos casos que se pretenda que relações entre as partes envol-
vidas restem preservadas após a resolução do conflito, ou seja, nos casos em que
exista vínculo anterior entre as partes.
No entanto, você deve ter em mente que apenas os conflitos que versem sobre
direitos disponíveis ou indisponíveis que admitam transação (nesse último caso,
havendo acordo deve ser homologado pelo juiz e mediante a oitiva do Ministério
Público), são elegíveis ao processo de mediação, conforme estabelece o artigo 3º,
§2º, da Lei 13.140 de 2015. Portanto, tratando-se de direitos indisponíveis e que
não admitam acordo, não será possível a aplicação do processo de mediação.
A mediação aplica-se de maneira eficaz aos conflitos subjetivos, como os de
família, por haver uma enorme carga emocional envolvendo o conflito e influen-
ciando os mediandos, muitas vezes ocultando os reais interesses das partes, por
esse motivo uma solução dialogada será o melhor caminho.
Nos conflitos objetivos, por outro lado, como nos casos envolvendo questões
tributárias, acreditamos que a mediação não seria o método apropriado, por não
haver espaço, considerando o regramento jurídico, para concessões mútuas, sen-
do, por esse motivo, casos não mediáveis.
capítulo 1 • 20
Será sempre uma boa opção a aplicação da mediação nos conflitos familiares,
em especial quando houver disputa pela prole (filhos); em empresas familiares;
nos casos relacionados a partilha de bens deixados por herança; em casos empre-
sariais, como disputa entre sócios; em questões contratuais e nas relacionadas com
a responsabilidade civil; em questões escolares e também nas relações de trabalho,
entre outros casos em que seja possível celebrar acordo.
A lei de mediação (Lei 13.140/2015) prevê, ainda, que poderão ser objeto de
transação as controvérsias jurídicas que envolvam a administração pública federal
direta, suas autarquias e fundações, possibilitando, assim, a aplicação da mediação.
O mediador
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capítulo 1 • 21
Para que isso aconteça é necessário que o mediador se mostre às partes como
uma pessoa que transmite confiança, pois as partes precisam confiar que o me-
diador está em busca de que elas próprias cheguem a uma melhor solução para
a controvérsia.
A formação do mediador
Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos dois anos
em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação e
que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, re-
conhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - EN-
FAM ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho
Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça. (BRASIL, 2015)
capítulo 1 • 22
de 2010, que disciplina a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado
dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, sendo os cursos regu-
lamentados pela Resolução nº 06, de 21 de Novembro de 2016, da ENFANM.
LEITURA
Sugerimos a leitura da Resolução nº 6, de 21 de novembro de 2016, da Escola Nacional
de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM), para que você tenha uma visão
completa dos requisitos exigidos para o curso de formação de mediadores. Material completo
disponível no sítio da Biblioteca Digital Jurídica do Superior Tribunal de Justiça: https://bdjur.
stj.jus.br/jspui/handle/2011/106319
capítulo 1 • 23
Aptidões e atitudes do mediador
Apesar de você já ter estudado que qualquer pessoa pode ser mediadora, é ne-
cessário, no entanto, deixar claro que para que uma pessoa possa habilitar-se para
o desempenho do ofício de mediador, é essencial que seja uma pessoa previamente
preparada sendo dotada de conhecimentos da técnica e dos métodos de mediação,
fundamentais para o desenvolvimento do procedimento.
Se analisarmos um perfil de mediador concluiremos por algumas atitudes que
são inerentes a sua função: o mediador não impõe decisão/julgamento, não estan-
do investido no poder de decidir pelas partes, por não ser juiz; não possui interesse
na causa ou em seu resultado, não tomando parte na negociação, diferentemente
de um negociador; não tem função de árbitro, deixando de fazer qualquer inter-
venção técnico-jurídica no caso.
Logo, podemos concluir que a atitude do mediador deve ser a de um terceiro
neutro, apenas conduzindo o restabelecimento do diálogo e levando as partes a
participarem ativamente do processo com fins de obterem a melhor solução para
o conflito, sem, contudo, apresentar, o mediador, qualquer decisão, permitindo
que as partes construam por seus próprios méritos.
Nesse sentido, trazemos as palavras do Professor Warat:
[...] Para mediar, como para viver, é preciso sentir o sentimento. O mediador não pode
se preocupar por intervir no conflito, transformá-lo. Ele tem que intervir sobre os senti-
mentos das pessoas, ajudá-las a sentir seus sentimentos, renunciando a interpretação.
[...] mediador deve entender a diferença entre intervir no conflito e nos sentimentos das
partes. O mediador deve ajudar as partes, fazer com que olhem a si mesmas e não ao
conflito, como se ele fosse alguma coisa absolutamente exterior a elas mesmas.[...]
(WARAT, 2004, p.26).
Portanto, o mediador deve ser uma pessoa capacitada, neutra e imparcial, ten-
do como objetivo restabelecer o diálogo, no entanto, deve ser uma pessoa sensível
e capaz de identificar o conflito existente além das questões, de início, identifica-
das pelas partes para o litígio, sempre com o intuito de promover a paz, fazendo
com que prevaleça a autoestima dos envolvidos, de modo que se conscientizem do
importante papel que cada um tem na solução do conflito.
Seguindo os princípios que regem a mediação, constantes no artigo 2º da Lei
nº 13.140/2015 (Lei de Mediação), é possível correlacionarmos aptidões e atitu-
des do mediador.
capítulo 1 • 24
A imparcialidade é característica fundamental ao mediador, logo, valores pes-
soais, preconceitos ou conflitos internos não podem interferir em sua mediação,
mantendo sempre o autocontrole e não permitindo-se envolver com as questões
das partes, tendo, ainda, total consciência de suas eventuais limitações para atua-
ção no caso. A credibilidade também é algo fundamental para uma mediação
exitosa, devendo o mediador construir um franco, independente e igualitário re-
lacionamento com as partes, sendo esse relacionamento pautado no princípio da
transparência, sempre deixando claro que sua função não é a de um conciliador,
não podendo, portanto emitir sua opinião.
A confidencialidade é fundamental para um bom desempenho do mediador,
sendo um compromisso desse manter em total sigilo os fatos, as situações e as de-
cisões ocorridas na mediação, sendo, inclusive, vedado servirem como testemunha
do caso em que atuaram.
Empatia e flexibilidade
capítulo 1 • 25
No que tange a flexibilidade, o mediador possui margem de liberdade para
alterar, de acordo com as necessidades e peculiaridade do caso, as regras do proces-
so, podendo definir o cronograma, o local e o tipo de sessão a ser realizada, salvo
alguns princípios básicos.
Cabe ressaltar que a mediação não possui um procedimento rígido, pois cabe
ao mediador, juntamente com as partes, a condução do processo, e para isso é
necessária a flexibilidade, visando permitir às partes a escolha do melhor caminho
para o encontro da solução do conflito, estando amparados pelo princípio da au-
toridade das partes e da autonomia de vontade.
ATIVIDADES
01. Antônio e Maria estão casados há 12 anos, neste período tiveram dois filhos, Manoel com
3 e Joaquina com 7 anos. A relação do pai com os filhos é de total cumplicidade. Há cerca de
um ano o relacionamento entre Maria e Antônio esfriou e as brigas se tornaram uma constante,
tornando cada vez mais insuportável a vida em comum. Antônio por algumas vezes já mencionou
querer o divórcio e a guarda compartilhada das crianças, mas Maria alega que não se casou para
se divorciar, e que se isto acontecer, Antônio não verá mais os filhos. Com receio de não mais ver
os filhos, Antônio sempre cede às chantagens. Você, advogado, recebe Antônio em seu escritório,
que afirma querer se divorciar, mas que tem interesse de fazer isto da melhor forma, restabelecen-
do o diálogo, pois sua preocupação é a construção de um ambiente familiar saudável. Sabendo
que Maria está um pouco mais propensa à conversa, qual seria a melhor orientação para o caso?
a) Tentativa de um acordo em mediação familiar.
b) Tentativa de um acordo em mediação comunitária.
c) Entrega do conflito ao Estado para ser solucionado pelo método adjudicatório.
d) Propositura de uma ação judicial consensual.
e) Tentativa de um acordo obtido na realização de uma arbitragem.
capítulo 1 • 26
a) Recomendada; Não-Recomendada; Não-Recomendada; Recomendada
b) Recomendada; Não-Recomendada; Recomendada; Não-Recomendada
c) Recomendada; Recomendada; Não-Recomendada; Não-Recomendada
d) Não-Recomendada; Recomendada; Não-Recomendada; Recomendada
e) Não-Recomendada; Não-Recomendada; Recomendada; Recomendada
03. (PUC-PR 2010 – COPEL – Psicólogo). A mediação é uma forma consensual de reso-
lução de controvérsias, em que as partes envolvidas têm a oportunidade de solucionar seus
conflitos, com a participação de um mediador. Analise as afirmativas a seguir e assinale a
alternativa CORRETA sobre o tema:
I. A mediação tem como um dos objetivos a prevenção de conflitos. A mediação estimula
um comportamento de comunicação pacífica. Quando os indivíduos conhecem o processo
de mediação e percebem que essa forma de resolução é adequada e satisfatória, passam a
utilizá-lo com mais frequência.
II. A mediação exige das partes envolvidas a discussão aberta sobre os problemas, com-
portamentos, direitos e deveres de cada um.
III. A mediação reforça a cultura do conflito, na medida em que abre espaço para que as
pessoas falem o que pensam, expondo abertamente todos os seus sentimentos negativos.
IV. Os princípios da mediação são os seguintes: (1) liberdade das partes; (2) não competi-
tividade; (3) poder de decisão das partes; (4) participação do terceiro imparcial (mediador); (5)
competência do mediador; (6) informalidade dos processos; e (7) confidencialidade do processo.
RESUMO
Nesse capítulo você aprendeu sobre o processo e dinâmica da mediação e a impor-
tância da pré-mediação como forma de conquistar a confiança dos mediandos e verificar a
viabilidade do processo de mediação, considerando os casos mediáveis e não mediáveis, em
capítulo 1 • 27
uma análise do caso concreto. Você também pode analisar as etapas da mediação e a pos-
sibilidade de realização de uma pauta de trabalho para melhor organização do procedimento
mediativo. Você pode compreender o papel do mediador e os requisitos para sua formação, a
importância das aptidões e atitudes do mediador para um resultado exitoso no processo de
mediação, com vistas ao melhor resultado para ambas as partes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Tania. Caixa de Ferramentas em Mediação: aportes práticos e teóricos. São Paulo: Dash
Editora, 2014.
BRASIL. Lei 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares como
meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração
pública. Altera a Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto nº 70.235, de 06 de março de
1972; revoga o § 2ºdo art. 6º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm, acessado em: 27/09/2017.
COOLEY, John W.; LUBET, Steven. Advocacia de arbitragem. Brasília: UnB, 2001.
FIORELLI, José Osmir; MALHADAS JÚNIOR, Marcos Julio Olivé ; MORAES, Daniel Lopes de.
Psicologia da Mediação: inovando a gestão de conflitos interpessoais e organizacionais. São Paulo:
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______. José Osmir; FIORELLI, Rosa; MALHADAS JÚNIOR, Marcos Julio Olivé. Mediação e Solução
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FIUZA, César. Teoria geral da Arbitragem. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.
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KRZNARIC, Roman. O Poder da Empatia: o poder de se colocar no lugar do outro para transformar o
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WARAT, Luis Alberto. O Ofício do Mediador. Florianópolis: Habitus, 2001.
_______. Luis Alberto. O Ofício do Mediador. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004
capítulo 1 • 28
2
Aportes teóricos
e ferramentas da
mediação
Aportes teóricos e ferramentas da mediação
No capítulo 2, você conhecerá os aportes teóricos e as ferramentas da media-
ção, e poderá compreender a importância dos princípios que regem o seu proce-
dimento, em especial os princípios éticos, que interferem diretamente nas atitu-
des dos mediadores, dos mediandos e de seus advogados/defensores públicos. Os
aportes teóricos são considerados pilares da mediação e se encontram presentes em
todo o processo, sendo, portanto, essencial a aprendizagem por aqueles que têm
interesse no estudo da mediação.
As ferramentas da mediação são técnicas utilizadas pelo mediador para tornar
eficaz o processo de mediação, em busca da resolução do litígio e o alcance da pacifi-
cação social, concretizando-se o acesso à justiça mediante uma ordem jurídica justa.
O capítulo abordará a sistematização do processo de mediação, devendo os
envolvidos no litígio, primeiramente, deixar claro que concordam com as regras
e princípios que regem a mediação, mediante assinatura de Acordo/Termo de
Participação, sendo dever do mediador compartilhar os objetivos de cada etapa
com todos os envolvidos no processo, de forma que reste claro o propósito de cada
passo que está sendo dado e os objetivos de atingir o almejado consenso, manten-
do-se sempre dentro dos limites da ética e do Direito.
OBJETIVOS
• Conhecer os 04 principais aportes teóricos, compreendendo sua relevância no processo
de mediação para os mediandos, mediadores e qualquer outro participante;
• Identificar as ferramentas da mediação e compreender a necessidade do uso destas para
a melhor eficácia do procedimento de mediação.
Aportes teóricos
capítulo 2 • 30
Norteadores éticos
Quando falamos de norteadores éticos, nos referimos a algo que nos direcio-
na, que nos guia, nos dirige a atos ou até mesmo a pensamentos.
A palavra “ética” vem do Grego ethos significando “modo de ser” ou “caráter”, sen-
do possível definir ética como um conjunto de conhecimentos extraídos da investiga-
ção do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional.
Para Aristóteles, a ética pertence ao campo do saber prático, norteando o indi-
víduo a agir com prudência, com deliberação cuidadosa a respeito do que é conve-
niente e bom para si mesmo e para o próximo (o outro), objetivando a realização
pessoal e com vistas a felicidade, que corresponde ao bem-estar do ser humano em
realizar algo com excelência.
Objetivou de Aristóteles fazer com que as pessoas refletissem sobre as suas
ações, procurando a felicidade individual e coletiva, porque o ser humano vive em
sociedade e as suas atitudes devem ter em vista o bem comum. Para Aristóteles,
toda a racionalidade prática visa um fim ou um bem e a ética tem como propósito
estabelecer a finalidade suprema que está acima e justifica todas as outras, e qual a
maneira de alcançá-la. Essa finalidade suprema é a felicidade, não se tratando dos
prazeres, riquezas, honras, e sim de uma vida virtuosa, sendo que essa virtude se
encontra entre os extremos e só é alcançada por alguém que demonstre prudência.
Num sentido menos filosófico e mais prático podemos compreender um pou-
co melhor o conceito de ética examinando certas condutas do nosso dia a dia,
quando nos referimos, por exemplo, ao comportamento de alguns profissionais,
como médicos, advogados, psicólogos etc.
É preciso, ainda, analisarmos a moral. A palavra “moral” tem origem no termo
“morales” que significa “relativo aos costumes”. No sentido prático, a finalidade da éti-
ca e da moral é bem semelhante, no entanto, é possível se definir moral como conjunto
de regras aplicadas no cotidiano que orientam cada indivíduo, norteando as suas ações
e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.
Dessa forma, é possível encontrarmos distinções entre a moral e a ética.
Ética diz respeito, em primeira e em última instância, à prática interativa com
o outro, sendo que a ética é gênero e a moral, espécie.
Kant foi um dos muitos filósofos que se ocupou com a questão da ética e
da moral. A ética kantiana tem como princípio o reconhecimento da existência
de outros seres racionais, agindo segundo regras que os outros podem adotar. A
norma de conduta do homem deve estar baseada em sua substância racional, não
no sentimento.
capítulo 2 • 31
Nas palavras de Almeida (2014):
Está em Kant, o célebre princípio do imperativo categórico – age somente de acordo com
aquela máxima pela qual possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei univer-
sal – ou seja, o critério fundamental do caráter ético de um ato está em sua universalidade.
O que faço em nada deve diferir do que aceito que façam comigo.
Agir de forma que a ação possa ser considerada universal (válida também para o outro)
é princípio presente na Mediação quando esta solicita que mediandos se proponham, em
dupla mão, soluções de benefício mútuo, pautadas também nas necessidades e nas pos-
sibilidades de todos. As necessidades e possibilidades de todos podem ser identificadas
quando há permissão interna para visitar a perspectiva do outro. (ALMEIDA, 2014, p. 134).
ÉTICA
MORAL
capítulo 2 • 32
Segundo Zygmunt Bauman, os sujeitos são capazes de decisões próprias sem
serem coagidos por um sistema de normas elaboradas por um terceiro que con-
tam com a força para fazê-las cumprir, são os sujeitos que desenvolvem o sen-
so de responsabilidade necessário para lidar com situações que exigem consenso.
(BAUMAN, 1997, p.38)
Pensamento sistêmico
“cada sujeito, em sua relação com o mundo, faz emergir uma realidade e que, não ha-
vendo um critério de verdade, a única alternativa é a convivência na conversação e no
respeito pela verdade do outro”.
capítulo 2 • 33
A mediação guarda enorme relação com novos paradigmas, possibilitando aos
mediandos uma mudança de pensamento diante da visão do consenso e da adver-
sarialidade. No curso do procedimento mediativo é dado ao mediando a oportu-
nidade de um agir colaborativo, no sentido de buscar o melhor para o coletivo,
sabedor de que, sendo parte de um todo (ou seja, que incluído no conflito), é
necessário que seu pensamento considere, justamente, esse todo, no qual também
está inserido. Busca-se viabilizar uma postura colaborativa e de reconhecimento
do outro como legítimo outro, para a solução do conflito.
Nota-se que o pensamento sistêmico pode ser utilizado em diversas situações
de mediação, em especial nas mediações familiares (BUENO; LEAL; SOUZA,
2012, p. 249-258), mostrando-se favorável ao compreendê-las como sistemas,
onde há, então, ampliação do olhar, corresponsabilizando-se os membros da famí-
lia pelo modo de relacionamento estabelecido e questionando-se a problemática
apresentada, explorando o que está por trás do conflito, com vistas ao desenvolvi-
mento de uma forma de relacionamento mais saudável.
Na mediação cria-se condições para que os mediandos revejam seu passado e o
momento presente, e tenham uma visão de futuro. Sob esse enfoque, vale ressaltar
que o mediador não tem poder de decisão, vindo apenas a observar o contexto,
explorar as apresentações expostas em relação ao passado conflituoso e, então,
busca facilitar a percepção de novas possibilidades para o futuro, propiciando o
surgimento de comportamentos cooperativos, voltados ao encontro, como pro-
tagonistas, da solução que melhor atenda aos interesses de todos os envolvidos.
capítulo 2 • 34
Você pode notar que a ausência do diálogo permanente nas relações humanas, é
fonte de explicação para os descompassos, as mazelas e os conflitos entre os indivíduos.
Diante desse cenário encontramos uma árdua tarefa de construção do bem co-
mum, o que necessita, acima de tudo, passar pelo diálogo, tendo esse por significa-
do: fala em que há a interação entre dois ou mais indivíduos; colóquio, conversa;
contato e discussão entre duas partes em busca de um acordo.
O diálogo capacita o ser humano na forma de se dirigir e se relacionar com o
outro. Permite, ainda, demonstrar uma relação com a lucidez de discernimentos
e escolhas, facilitando a prática do bem viver e eliminando espaços para o ódio e
vinganças, ressaltando a importância da participação cidadã e pacificadora.
Segundo ensinamentos de Tânia Almeida (2014):
Assim, podemos resumir que os diálogos apreciativos, visam fazer uma análise
do que, no passado, para os envolvidos no conflito, ocorreu de positivo, buscando
boas recordações e possibilitando que elas sejam aproveitadas no momento pre-
sente ou futuro, como um item cooperativo para a solução do conflito. Já os diálo-
gos generativos, possibilitam ao indivíduo uma visão prospectiva, permitindo que
capítulo 2 • 35
projetem e planejem um futuro almejado, convidando aos envolvidos no conflito
a se tornarem protagonistas, pessoas pró-ativas no planejamento de seus futuros.
A qualidade do diálogo depende muito da visão construída no horizonte de
cada ser humano, com consciência de que o diálogo constrói entendimentos que
levam à compreensão das mudanças e transformações, pois quando se trata de re-
lacionamento entre seres humanos o diálogo, a conversa, a expressão de sentimen-
tos e outros através da fala clara e sincera é o meio para se chegar ao entendimento
e importância do outro.
Pablo Zevallos (2011) afirmar que:
A comunicação está guiada por sentimentos e pela informação que transmitimos e com-
preendemos. A comunicação serve para estabelecermos contato com as pessoas, para
dar ou receber informação, para expressar ou compreender o que pensamos, para trans-
mitir nossos sentimentos, valores, comungar algum pensamento, ideia, experiência, ou in-
formação com o outro, e nos unirmos ou vincularmos pelo afeto. (ZEVALLOS, 2011, p. 48).
Processos reflexivos
capítulo 2 • 36
Portanto, refletir pode significar o movimento de voltar-se a si mesmo. A refle-
xão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando
a si mesmo, ou seja, o indivíduo tem um diálogo interno.
Nesse sentido, a mediação surgiu trazendo uma mudança de paradigma,
provocando interação; diálogo; multivisão e cooperação, tendo como proposta
a transformação das relações sociais por meio da interação, da reflexão sobre si
e do conhecimento sobre o outro, na mediação se observa uma vontade para a
resolução do litigio por meio do diálogo e da reflexão dos envolvidos, levando-os a
um amadurecimento de suas atitudes, até então, permeadas pela raiva e o rancor.
A mediação objetiva a transformação do indivíduo, de forma que a busca pela
solução do conflito seja parte integrante do processo reflexivo, esse tipo de media-
ção está marcada pelo diálogo, de forma que os envolvidos possam pensar e/ou
repensar suas atitudes e se corresponsabilizarem pela construção de um processo
em que se busca uma solução que melhor atenda aos interesses de ambas as partes.
Segundo Yazbek (2008):
capítulo 2 • 37
Nos ensinamentos de Tânia Almeida (2014):
Ainda segundo Tânia Almeida (2014), aprendizados podem ser trazidos para o
processo mediativo, tais como: a identificação de diferenças pode gerar informações, o
que contribui para o acervo do conhecimento, interferindo na comunicação; a iden-
tificação de que as intervenções oferecidas não são ingênuas e necessitam de certa me-
dida, de uma força adequada para que permitam se constituírem em informação; o
trabalho com a ideia de que, incialmente, as pessoas se disponibilizam a uma mudança
que tenha sentido para elas; o trabalho com a ideia de uma linguagem como base de
uma construção social e expressão do mundo e que um indivíduo é diferente do outro
na forma de pensar e sentir, diante da singularidade de cada observador.
LEITURA
Sugerimos que, para uma abordagem mais completa e o aprofundamento sobre o tema,
você faça a leitura das páginas 146 a 150 do Livro Caixa de Ferramentas em Mediação, de
Tânia Almeida, ano 2014.
capítulo 2 • 38
de comunicação. As pessoas, ali envolvidas, além de considerarem e admitirem
a sua participação no conflito, também passam a se ver como participantes de
forma responsável na busca de soluções próprias, legitimando e reconhecendo a
participação do outro, exigindo a mediação que os envolvidos alcancem a ideia de
que, além de construírem um novo caminho, desconstruam outros já enraizados.
Ferramentas da mediação
Marcado, via de regra, pelo conflito, quando o indivíduo busca a solução por meio
da mediação, o seu ingresso nesse procedimento se dá por meio do Acordo/Termo de
Participação, que pode ser oral ou escrito, embora, se prefira o termo escrito, conside-
rando que a assinatura dos envolvidos no processo de mediação (mediandos, mediador
e advogados), traduz um compromisso ao texto descrito no acordo/termo.
O Acordo de Participação é o marco inicial de uma passagem de desentendi-
mento (uma visão competitiva) para o entendimento (uma visão colaborativa, coo-
perativa), marcando a transição entre a pré-mediação e a mediação em si, tendo o
Termo de Participação o objetivo de legitimar que todas as pessoas envolvidas estão
de acordo em participar, que entenderam as regras e o propósito e, de que aceitam
que suas condutas e a conduta do mediador e de qualquer outra pessoa que venha
participar desse processo, sejam pautadas nos princípios que regem a mediação.
capítulo 2 • 39
Segundo Tânia Almeida (2014), a sociedade está cercada de rituais, que
marcam a existência e acompanham os indivíduos em seu ciclo de vida, sendo o
Acordo/Termo de Participação um documento ritualístico, por marcar uma passa-
gem para um novo cenário, em que se propõe a cultura do diálogo.
Pode se dizer que o Acordo/Termo de Participação já é o primeiro acordo
construído na mediação entre os envolvidos no conflito, podendo ser considerado
como um avanço na solução do conflito, identificando-o como um contrato esta-
belecido entre as partes, demarcando uma trégua e concretizando a existência de
esforços para identificação de soluções de interesse e benefícios comuns.
Ainda segundo Almeida (2014), inúmeros temas podem ser comtemplados em
um Termo de Participação, podendo os mediandos incluí-los ou não, de acordo com
a necessidade de cada processo. Na citação a seguir, se encontram os temas propostos
por Almeida, nas folhas 198 e 199, do Livro Caixa de Ferramentas em Mediação:
capítulo 2 • 40
• A possibilidade de consulta técnica pelos mediandos, visando a tomada de deci-
sões qualificadas;
• A necessidade de revisão legal do acordo por advogado(s)/defensor(es) público(s);
• A estimativa do tempo de duração do processo ou o número previsto de reuniões, se
as pessoas envolvidas assim desejarem;
• A data da celebração do Acordo de Participação;
• A assinatura dos mediandos, dos advogados ou defensores públicos (se for o caso)
e da equipe de Mediação, com seus nomes claramente identificados. (ALMEIDA,
2014. p. 198/199);
capítulo 2 • 41
Nas palavras de Tânia Almeida (2014):
capítulo 2 • 42
Segundo Almeida (2014):
capítulo 2 • 43
Tomando por base tal definição, percebe-se que as relações temporais instituem-se
em diversos níveis, de múltiplas complexidades sociais. (SPENGLER, 2011, p.308).
capítulo 2 • 44
Portanto, muitas questões devem ser consideradas no momento de o media-
dor realizar a conferência do tempo necessário a cada etapa do processo. Cabe ao
mediador a sensibilidade de, pautado nos princípios éticos de sua prática, buscar
o ajuste de tempo a cada mediando, e esse, com o tempo da mediação, segundo
os propósitos estabelecidos.
Ademais, queimar etapas ou passar apressadamente por uma delas, pode sig-
nificar a perda da chance de construção de um diálogo entre as partes e a melhor
compreensão dos interesses e pontos de vista de cada mediando. Logo, a eficácia
da mediação está sujeita à aferição subjetiva do mediador quanto as ferramentas
utilizadas no procedimento.
capítulo 2 • 45
Perguntas de Natureza ética:
• Identificamos nos mediandos (e nos advogados) conduta pautada na boa-fé?
• Estão os mediandos exercendo a autonomia da vontade?
• Há, por parte dos mediandos e advogados, a observância do sigilo nos moldes
acordados?
• O conteúdo trazido à Mediação está sendo preservado, por mediandos e advogados,
com relação a processos adversariais porventura existentes?
Perguntas relativas aos propósitos da Mediação:
• Estão os mediandos (e seus advogados) envidando esforços para autocompor?
• Mediandos (e advogados) estão buscando soluções de benefícios mútuo(s) – o que
implica considerar o ponto de vista e as necessidades do outro como legítimo(s)?
• Uma postura colaborativa está sendo instaurada no diálogo e na sua convivência?
(ALMEIDA, Tania. Caixa de Ferramentas em Mediação: aportes práticos e teóricos. São
Paulo: Dash Editora, 2014. p. 212-13.)
capítulo 2 • 46
justiça, em linhas gerais, a primeira teria sido a justiça gratuita; a segunda, a defesa
coletiva dos direitos; e a terceira, as modificações no sistema processual civil e no
direito material.
O fenômeno dos movimentos de meios alternativos de resolução de conflitos
parece seguir o espírito das ondas renovatórias anunciadas pelo jurista italiano,
buscando por resultados efetivos do processo, e segundo o jurista Kazuo Watanabe
(1988, p.128-135) almejando uma ordem jurídica justa.
Nesse sentido, a mediação alcança a almejada ordem jurídica justa, e aos ad-
vogados e defensores públicos que acompanham o processo de mediação é dada a
responsabilidade de assessorar e auxiliar seus clientes na administração desse meio
adequado de resolução de conflito, ou seja, necessitam rever seus conceitos e terem
a visão de que a letra fria da lei nem sempre atenderá as necessidades e interesses
das partes envolvidas no processo de mediação e que, sendo possível, a composi-
ção do conflito sem a aplicação da legislação (quando não imperativa) esta deve ser
considerada, se obtida por meio de consenso e tidas por justas.
capítulo 2 • 47
ou mesmo privadas, valendo salientar que deve o mediador destacar, quando as
anotações se referirem às reuniões privadas, o que pode ou não ser dito ao outro
mediando quando do retorno à reunião conjunta, considerando o sigilo que com-
preende o procedimento de mediação.
O mediador poderá, ainda, criar símbolos particulares para identificar posi-
ções, interesses, valores, consensos e dissensos, como forma de agilizar as anota-
ções e não se prender a escrita, favorecendo, como já dito, a escuta ativa.
Assim, embora o processo de mediação seja em sua essência comunicação
verbal, não há como se desprezar a possibilidade de anotações para que o media-
dor crie seu aporte, com o objetivo de mapear a situação e agilizar a utilização de
informações que possam auxiliar o bom desenvolvimento da mediação.
ATIVIDADES
01. A prática da mediação apresenta vários princípios norteadores que devem ser observa-
dos antes, durante e depois do processo de mediação, dentre os existentes é correto afirmar:
a) parcialidade, ética, disciplina, oralidade;
b) ética, confidencialidade, imparcialidade, confiança;
c) confiança, ética, sensibilidade, rigidez;
d) ética, confiança, autonomia, involuntariedade.
RESUMO
Nesse capitulo você aprendeu questões relacionadas ao aporte teórico e as ferramentas
da mediação, para tanto, foi necessária uma análise da importância interdisciplinar da me-
diação, trabalhando com a psicologia, neuropsicologia e a ética. Você pôde perceber que o
mediador deve estar atento às questões éticas e legais em todo o processo de mediação,
devendo interromper o processo ao menor vestígio de atitudes que violem à ética e o Direito.
capítulo 2 • 48
Também foi possível entender que os fatores individuais (singularidades) interferem no
tempo de cada indivíduo no processo de mediação, devendo o mediador ser o controlador do
tempo para que haja um equilíbrio entre os envolvidos e de forma que se tenha o foco nos
objetivos propostos em cada fase do processo, objetivos esses que devem restar claros para
os mediandos. O capítulo trouxe, ainda, o pensamento sistêmico e os processos reflexivos
como aportes teóricos que conferem ao processo de mediação maior eficácia na busca do
consenso e da pacificação social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Tania. Caixa de Ferramentas em Mediação: aportes práticos e teóricos. São Paulo: Dash
Editora, 2014.
ANDERSEN, T. Processos Reflexivos. 2. ed. ampliada. Rio de Janeiro: NOOS e Instituto de Terapia de
Família do Rio de Janeiro, 2002.
BAUMAN, Zygmunt. Ética Pós-Moderna. Tradução de João Rezende Costa. São Paulo: Paulus, 1997.
BUENO, R. K.; LEAL, C. F. R.; SOUZA, S. A. de. Mediação na Defensoria Pública: Um relato de
experiência. Revista Pensando Famílias. 2012. 16(1), 249-58.
BUHR, Alexandre Dittrich. A Arte do Pacificador, OAB/SC, Florianópolis: Brasil, 2005.
CAPPELLETTI, Mauro e GRATH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto
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CHAUI, M. Filosofia, Série Novo Ensino Médio. Volume Único, São Paulo: Ática, 2004.
MIOTO. Eliane Correa. Neuropsicologia: conceitos fundamentais. In: MI OT T O, E. C.; DELUCI A, M.
C. S.; SCAFF, M. (Orgs.). Neuropsicologia e as interfaces com as neurociências. 1ª reimpr. São
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SPENGLER. Fabiana Marion. O TEMPO DO PROCESSO E O TEMPO DA MEDIAÇÃO. Revista
Eletrônica de Direito Processual – REDP. Volume VIII. 2011. Disponível em: www.redp.com.br.
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VASCONCELLOS, Maria José Esteves de. O Pensamento Sistêmico. São Paulo: Papirus, 2002.
WATANABE, Kazuo. Acesso à justiça e sociedade moderna. In GRINOVER, Ada Pellegrini Grinover
(Coord.). et al. Participação e processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988.
YAZBEK, Vânia C. Justiça restaurativa e comunitária em São Caetano do Sul: aprendendo com
os conflitos a respeitar direitos e promover cidadania. Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República. Rio de Janeiro: CECIP, 2008.
ZEVALLOS, Pablo. Comunicação e diálogo. Disponível em: http://br.guiainfantil.com/dialogo-na-
familia.html. Acesso em: 22 de outubro de 2017.
capítulo 2 • 49
capítulo 2 • 50
3
Ferramentas
procedimentais
Ferramentas procedimentais
No presente capítulo você conhecerá as ferramentas procedimentais e a importância
do uso das mesmas pelo mediador em busca de um caminho a ser trilhado pelos median-
dos para uma solução que possa alcançar o interesse das partes envolvidas no conflito.
Você poderá perceber, com o estudo das reuniões privadas, que o mediador
interessado em conhecer melhor e com maior profundidade as questões que en-
volvem o conflito, mas que não foram expostas pelos mediandos com pontos de
atenção, deve buscar a utilização dessa ferramenta, como forma de abertura de
informações que não seriam adquiridas em uma reunião conjunta, pois, em re-
gra, o mediando, nas reuniões, se encontrará mais à vontade em sua fala em uma
reunião privada, já que não precisa se preocupar com os olhares da outra parte,
valendo ressaltar que essas reuniões – caucus - são também importantes para que o
mediador se utilize da ferramenta de mapeamento do conflito.
No capítulo, você ainda terá a oportunidade de conhecer o enquadre e relem-
brar a importância do Termo de Participação, já que com a técnica do enquadro o
mediador busca trazer aos participantes do processo de mediação os compromis-
sos assumidos no início do processo, tais como respeito mútuo, escuta ativa etc.,
bem como os objetivos da mediação.
De igual importância é o estudo da identificação das redes de pertencimento
e sua participação na mediação, bem como o uso de tarefas e perguntas reflexivas
pelo mediador, e a possibilidade de sugestão por parte desse aos mediandos quanto
a busca de técnicos ou especialistas ligados a algum tema que seja necessário no
curso do processo de mediação.
OBJETIVOS
• Conhecer as técnicas e ferramentas procedimentais;
• Conceituar caucus – reunião privada e compreender a importância da ferramenta para o
processo de mediação;
• Compreender a utilização do mapeamento e seu papel nas estratégias a serem pensadas
no processo;
• Entender o alcance do enquadre junto aos mediandos.
capítulo 3 • 52
Promoção de reuniões privadas – caucus
Não se pode olvidar que com o uso dessas ferramentas, a mediação está a cumprir
os objetivos fundamentais do Estado Democrático de Direito, que é a construção de
uma sociedade justa, solidária e livre, garantindo a plena e efetiva pacificação social.
A ferramenta procedimental está voltada para o desenvolvimento do processo
de mediação, a forma com que o mediador o guiará segundo os propósitos esta-
belecidos para cada etapa.
Na mediação existe um espaço conjunto no qual o mediador procurará o res-
tabelecimento do diálogo entre os mediandos, mas, poderá ser utilizado também
capítulo 3 • 53
o espaço privado do caucus, ou seja, são encontros realizados entre os mediadores
e cada uma das partes, sem que esteja presente a outra parte.
Antes de você continuar a conhecer essa ferramenta, deve conhecer a origem
da palavra caucus.
É certo que a origem é controversa: segundo Sampaio e Braga (2007, p. 17):
[...] Tais reuniões também chamadas de caucus (termo das tribos indígenas norte-ame-
ricanas que significa encontros individuais) [...]
CURIOSIDADE
Segundo Wikipédia, a enciclopédia livre: A origem da palavra caucus é controversa,
entretanto é geralmente aceito que provenha do algonquim, cau´-cau-as´u ("conselho"). É
provável que o termo tenha sido introduzido no jargão político pela Tammany Hall, uma asso-
ciação de políticos do Partido Democrata de Nova Iorque conhecida pelo uso de termos de
origem indígena. Outras fontes afirmam que o termo deriva do Latim medieval caucus ("tigela
de beber"), ligando-o ao Caucus Club, que existia em Boston na época colonial.
Nos Estados Unidos designa-se por caucus o sistema de eleger delegados em dois es-
tados (Iowa e Nevada), na fase das eleições primárias (ou preliminares), na qual cada partido
decide quem será o candidato desse partido à presidência dos Estados Unidos.
Cada partido político reúne os apoiadores dos vários candidatos. Nessa reunião, o nú-
mero de delegados é atribuído conforme a quantidade de residentes no círculo eleitoral. Há
uma fórmula matemática que determina o número de votos que é preciso obter na eleição
primária (caucus), e os delegados são eleitos por representação proporcional.
Desde 2004, os eleitores do estado de Nevada participam do caucus.
Depois de apurados os resultados das votações nos estados, cada partido nomeia seu
candidato à presidência.
Afinal, o presidente do país é escolhido em eleições indiretas por um colégio eleitoral.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caucus. Acessado em: 23 de outubro de 2017.
capítulo 3 • 54
Esclarecida a origem do termo caucus, você conhecerá um pouco mais so-
bre ferramenta.
Para a utilização do caucus (reunião privada), é necessário que o mediador deixe claro
para os mediando, quando da elaboração e assinatura do Acordo/Termo de Participação
a possibilidade de sua utilização, devendo explicar que em algumas situações se avaliará a
necessidade do uso de uma técnica em que se ouve as partes em separadamente.
O caucus pode auxiliar a mediação de várias maneiras:
• Permite a expressão de fortes emoções sem aumentar o conflito;
• Busca eliminar comunicação improdutiva;
• É oportunidade para identificar e esclarecer questões, ajudando no fluxo
de informações;
• É oportunidade para acalmar os ânimos em momentos de tensão;
• É forma de estabelecer uma relação de confiança entre o mediando e o mediador.
A reunião privada pode ocorrer entre o mediador e um dos lados (umas das
partes e seu advogado), o mediador e somente cada parte, ou o mediador e apenas
os advogados de cada parte. No entanto, muitos mediadores preferem o cuidado
de equilibrar as oportunidades e assim, oferecem o caucus para cada uma das par-
tes, de forma que ambas se sintam privilegiadas e em igualdade de tratamento e
condições, bem como, para manter a neutralidade e imparcialidade.
MODELOS DE SESSÕES PRIVADAS
+ + +
MEDIADOR MEDIADO MEDIADOR MEDIADO ADVOGADO
DO MEDIADO
+ + +
MEDIADOR ADVOGADO MEDIADOR ADVOGADO ADVOGADO
DO MEDIADO DO MEDIADO 1 DO MEDIADO 2
Sessão Privada.
capítulo 3 • 55
As reuniões privadas podem ser pleiteadas pelos mediandos ou sugeridas e/
ou indicadas pelos mediadores por ser um espaço em que se preserva a confiden-
cialidade, sendo uma ferramenta utilizada em determinadas circunstâncias, como
forma de uma ampliação da visão relativa ao conflito apresentado pelas partes.
A análise do conflito deve ser o primeiro passo para sua compreensão e, em segui-
da, para sua resolução. Logo, os operadores do direito e os mediadores, enfim todos
aqueles que administram situações de conflitos entre partes devem analisá-los de modo
sistemático e neutro, tanto para aplicação da lei com justiça (juízes, promotores e de-
legados), como para a condução das partes a solucioná-los, nesse caso os mediadores.
Segundo ALMEIDA (2014, p. 222) o mediador, com o uso da reunião priva-
da, tem a possibilidade de uma abordagem mais direta com as partes envolvidas no
conflito, estando em um ambiente propício a abertura e desabafo da parte, consi-
derando que naquele momento não há defesas e ataques do outro. Nesse sentido,
tem o mediador condições de obter respostas quanto aos reais interesses da parte,
que muitas vezes, estariam ocultas se estivesse em uma reunião conjunta, já que a
parte poderia não se manifestar da mesma forma.
Assim, é possível dizer que o caucus oportuniza a superação de inúmeras ques-
tões que, talvez, seriam de difícil solução se as partes se mantivessem tão somente
com a técnica das reuniões conjuntas, tais como: obstáculos na comunicação, ex-
pectativas irreais, barreiras emocionais e outras.
No entanto, cabe deixar claro que o uso da reunião privada é opcional, pois,
ao mediador, no curso do procedimento de mediação, caberá avaliar a viabilidade
ou não da utilização da ferramenta, bem como em que momento poderá ou de-
verá ser utilizada.
Para alguns mediadores as reuniões privadas só devem ser utilizadas quando
estritamente necessárias, já para outros é uma das etapas do processo, sendo seu
uso sistêmico. Existem mediadores que discordam da ferramenta e jamais a utili-
zam e há, ainda, aqueles que só trabalham com o caucus.
Os que defendem que a reunião privada deverá ser utilizada somente quando
necessária, sustentam que se as partes estão progredindo, em conjunto, em direção
a resolução do conflito, não se deve lançar mão da ferramenta, pois poderá culmi-
nar em tensão, trazendo um efeito contrário ao pretendido.
O mediador pode avaliar a necessidade do uso da ferramenta:
• Para disponibilizar um ambiente propício para o exame de alternativas
e opções;
• Para quebrar um impasse;
capítulo 3 • 56
• Para analisar a durabilidade e viabilidade das propostas;
• Nas situações em que se perceber riscos à ocorrência de atos de violência.
Os caucus são um fórum seguro de expressão para os mediandos, validado para aco-
lher e legitimar seus medos, preocupações, sentimentos e emoções; para conhecer o
melhor e o pior deles, sem julgamento. É recurso de enorme valia quando as emoções
impedem ou exacerbam a expressão na frente do outro mediando. Na entrevista priva-
da, mediandos podem revelar o porquê de seu destempero, e mediadores podem fran-
camente mostrar o desbalance que suas instabilidades provocam na interação com o
outro, quando levadas às entrevistas conjuntas. ALMEIDA, 2014, p. 222.
No entanto, uma luz amarela deve estar sempre acesa, em estado de atenção,
pois há o risco de o mediador passar de catalisador à intermediário em acordos,
o que poderia ser um malefício da sessão privada, já que o ideal é que os acordos
sejam obtidos em concomitância das partes.
Algumas estratégias podem ser utilizadas nas reuniões privadas, tais como:
perguntas circulares, perguntas reflexivas, perguntas hipotéticas e tudo que se é
falado é confidencial, a menos que se tenha autorização da parte envolvida para
compartilhar o conteúdo da conversa com o outro mediando, devendo o media-
dor, quando verificar circunstâncias favorecedoras à auto composição, questionar
o mediando sobre a possibilidade de se levar a totalidade, partes ou um ponto em
específico da conversa para a sessão conjunta.
Mapeamento do conflito
capítulo 3 • 57
Um mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos
geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma
figura planetária, delimitada por elementos físicos, político-administrativos, destinada
aos mais variados usos, temáticos, culturais e ilustrativos. Disponível em: <https://ww2.
ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_nocoes/representacao.html>.
Acesso em: 01 de novembro de 2017.
[...] Morton Deutsch chama atenção para os resultados destrutivos e construtivos dos
conflitos. Deutsch afirma que os conflitos não são destrutivos ou construtivos em si, mas
produzem esses resultados a partir dos meios eleitos para administrá-los. Essa conclu-
são reveste de inestimável responsabilidade aqueles que indicam ou conduzem proces-
sos de resolução de controvérsias. São considerados construtivos os meios e favorecem
a permanência ou o restauro da relação social, que buscam soluções perspectivas e de
benefício mútuo, que se ocupam do atendimento de interesses e necessidades. São
considerados destrutivos os meios que esgarçam a relação social, fomentam a escalada
do conflito pela competição, distanciam-se dos interesses e necessidades e estabele-
cem um vencedor e um perdedor. ALMEIDA, 2014, p. 226.
capítulo 3 • 58
na ampliação de suas intervenções e a eficácia das estratégias propostas, por isso, o
mapeamento deve ser dinâmico, variando de acordo com cada momento do proces-
so de mediação, estando o mediador atento à necessidade de sua constante revisão,
considerando que fatos novos são inseridos na mediação a todo o momento.
O mapeamento do conflito está relacionado a uma análise dos seus elementos:
atores e terceiros; objetivos; problemas de “consciência”; relação; emoções; marcos
de referência; coalisões; poder.
Tânia Almeida (2014) trabalha a metodologia de John Paul Lederach falando
da importância dos três pês – pessoa, problema e processo, tomando emprestado
da Sociologia e da Antropologia elementos de mapeamento. Para Almeida, é neces-
sário que o mediador tenha conhecimentos sobre as pessoas (atores) que integram
o conflito, sejam eles atores primários (diretamente envolvidos nos conflitos) ou
secundários (indiretamente envolvidos no conflito), nesse ponto, o mapeamento é
destinado a construção do consenso entre os envolvidos, sendo todos bem-vindos ao
diálogo, pois se uma pessoa é vista como ator de um conflito, serão praticados atos
para que ela perceba sua condição; quanto ao problema, a questão se debruça sobre
a identificação deste sob o ponto de vista de cada envolvido na desavença, buscando-
se, com isso, encontrar interesses e valores em comum, que possam ser norteadores
para o consenso; e, no que tange ao processo, o ideal é que o mediador tenha conhe-
cimento dos recursos já utilizados na tentativa de consenso, pois o conhecimento da
trajetória dos mediandos até aquele momento permite mapear os meios construtivos
e destrutivos, possibilitando a utilização de meios funcionais.
Fonte: Guia de mediação popular/ André Luis Nascimento, Margaret Leonelli, Simone Amo-
rim, Vera Leonelli; revisão do texto Solange Lamego. – Salvador: Juspopuli, 2007. Acesso
em: 01/11/2017.
capítulo 3 • 59
Portanto, o bom operador deve romper a dinâmica da escalada dos conflitos e
saber que no processo não se deve ter protagonista e antagonista, deve haver um con-
texto de equidade e cooperação, não sendo o lócus de acusações ou de defesas, sabendo
que em meio ao conflito existem as questões internas e subjetivas, que normalmente,
não estão expostas, sendo, apenas visualizadas e compreendidas com o devido o ma-
peamento do conflito, que traz uma visão interna ampla, possibilitando a satisfação
dos interesses, simultaneamente, de ambas as partes, arquitetando uma negociação ou
finalizando um acordo com maior probabilidade de obtenção de resolução satisfatória.
Enquadre
É muito mais importante que exista uma regra para ser seguida do que quer que seja
aquela regra; que exista uma uniformidade nos procedimentos dos negócios, não su-
jeito ao capricho do presidente nem da capciosidade dos seus membros. É muito im-
portante que a ordem, a decência, e a regularidade sejam preservadas em um órgão
público digno. ROBERT, 1915, p. XVIII.
capítulo 3 • 60
A obra tornou-se um sucesso na cultura americana como diretriz para a con-
dução de reuniões e assembleias (políticos, corporativos e sociais), estabelecendo
um enquadramento quanto à direção dos trabalhos.
Conclui-se que o enquadre tem sua importância no âmbito da mediação, pois
prevê a criação de contexto e cria a condição, viabilizando o processo.
capítulo 3 • 61
Nesse sentido são as palavras de Tânia Almeida:
O maior atributo que se espera das perguntas feitas na Mediação é que possam pro-
mover a reflexão - convidem à expressão e a decisão sobre algo, após pensar a res-
peito com cuidado e critérios éticos (que considerem o outro). ALMEIDA, 2014, p. 257
(...) (a) contato com os interessados, explicando o instituto, suas vantagens e desvan-
tagens; (b) identificação das questões, baseando-se na técnica do looping, ou seja,
questões circulares reflexivas; (c) reflexão sobre o exposto entre as partes; (d) identi-
ficação e sugestão, sem vinculação, pelas partes de possíveis soluções para o conflito
(brainstorming); e (e) lavratura do termo final. CAHALI, 2012, p. 57.
Neste ponto, você já está apto a entender que as perguntas reflexivas e as tarefas
possuem o objetivo de manter os mediandos positivamente vinculados ao processo,
sendo recomendado conceder ao processo de diálogo um tempo cronológico, com vis-
tas a fornecer aos mediandos um intervalo para que possam conversar consigo mesmos.
Intervalos entre as reuniões são necessários, de forma que os mediandos tenham
oportunidade de pensar no outro, transformando a conduta adversarial em uma con-
duta colaborativa, no entanto, é necessário que o mediador tenha a sensibilidade para
capítulo 3 • 62
identificar qual o momento propício para se valer desse tipo de intervenção (inter-
valos), pois, pode ocorrer que, ao invés de estar fomentando a aproximação, esteja a
fomentar o distanciamento das partes, o que prejudicaria a construção de um proces-
so colaborativo.
As sessões (reuniões) individuais, por exemplo, são valorizadas, pois se tornam
uma oportunidade de trabalhar essas ferramentas autocompositivas, aplicando-as
com profundidade, concedendo-se ao mediando tempo para pensar as opções
possíveis para a resolução de seu conflito.
PERGUNTA
Exemplos de perguntas para provocar reflexões sobre a relação:
Como pensam que vocês podem dividir as tarefas se tomarem essa decisão?
O que seria necessário para que a relação de vocês possa mudar?
O que poderia ser feito para que os seus filhos tenham o desejo de te ver?
[...] Qual a importância disso para vocês? Qual o impacto de suas decisões para vocês?
E para o grupo? Para a família? [...].
Segue Sales (2007) dizendo que, uma vez verificados os interesses em comum, o me-
diador analisará as opções de ganhos mútuos, para que os mediandos se sintam satisfeitos.
capítulo 3 • 63
denominamos rede de pertinência, ou seja, todo indivíduo possui um círculo de
relações a que pertence e que, de alguma forma, pode influenciar nas tomadas
de decisões.
Pertencer, como pessoa, significa que compartilhamos atributos com um gru-
po de outras pessoas (o conjunto a que nos incluímos). E são esses atributos que
caracterizam o conjunto.
Segundo Sergio Teixeira de Carvalho:
Podemos pertencer a grupos que não temos ciência da existência, como é o caso de
agrupamento por atributos subjetivos de outros. Por exemplo, você pode pertencer ao
grupo de pessoas que considero, sob meu critério, interessantes. Pode também per-
tencer ao grupo de pessoas consideradas elegíveis para receber benefícios governa-
mentais do programa Bolsa Família. Nesses casos, os atributos de pertencimento não
precisam ser do seu conhecimento. São abstraídos segundo interesses alheios aos seus
e você não precisa sequer se sentir pertencente, para dessa forma ser.
Caso mais interessante se dá quando nos sentimos conscientemente pertencentes a um
grupo e cultivamos relações com os outros membros de forma a perpetuar esse grupo.
Nesse caso, o grupo pode ser visto como um organismo. Uma visão de seu interior
sob um quadro de fechamento operacional e autopoiese nunca será verdadeira, em se
tratando de pessoas. Se assim o for, mesmo por específicas conveniências metodológi-
cas, isto será um brutal reducionismo. Cada pessoa compartilha com outra (ou consigo
mesma: conjunto unitário) algum atributo comum cuja preservação a ela interesse. Esse
interesse perfaz o grupo e nos dá a sensação de pertencimento [...]. (CARVALHO, 2013).
capítulo 3 • 64
Algumas redes de pertinência tem um perfil mais amistoso, conduzindo as
partes na busca da solução do conflito que alcance o interesse de ambas as partes
e, outras, com um perfil mais animoso, direcionando as partes para o confronto, o
que pode e deve ser percebido pelo mediador pelas falas dos mediandos.
Como já dito, é necessário que os mediandos tenham um intervalo de tempo cro-
nológico entre as reuniões para reflexão e, invariavelmente, estes terão um encontro com
sua rede de pertencimento, estabelecendo um diálogo paralelo, sendo esse o motivo pelo
qual o mediador deve incluir essas redes de pertinência no processo de mediação, pois
deixar de incluí-las pode significar um passo atrás no caminho da autocomposição.
As redes de pertencimento devem ser consideradas no mapeamento do con-
flito, pois podem ser essenciais na controvérsia, sendo, muitas vezes, parte funda-
mental para a sua solução e para a tomada de decisões por parte dos mediandos,
mostrando a potencialidade que essas redes podem apresentar.
Segundo Tânia Almeida:
Sua palavra e postura são revestidas de enorme credibilidade por parte de seus clien-
tes e não poderão ser por eles contestadas, especialmente frente às inseguranças
que uma desavença provoca. Também a voz dos advogados pode ir em direção ao
consenso ou em direção ao fomento do desacordo. ALMEIDA, 2014, p. 237 e 239.
capítulo 3 • 65
ATIVIDADES
01. José, mediador, em um processo de Mediação percebe que uma das partes, influenciada
pelo elemento emoção, tenta, a todo momento, interromper a fala da outra, bem como, quando
lhe é dada a palavra usa de expressões grosseiras direcionadas ao outro mediando. Visando
relembrar ao infrator os termos do acordo previamente estabelecido pelas partes quando
aceitaram participar da mediação, deve o mediador utilizar-se da ferramenta procedimental:
a) oferecimento de perguntas reflexivas;
b) enquadre;
c) reunião privada – caucus;
d) identificação de redes de pertinência;
e) compartilhamento dos objetivos de cada etapa;
02. A afirmativa a seguir de Tânia Almeida (2014, p. 222) refere-se a qual ferramenta
procedimental: “É recurso de grande valia quando as emoções impedem ou exacerbam a
expressão na frente do outro mediando. [...] mediandos podem revelar o porquê de seu des-
tempero, e mediadores podem fracamente mostrar o desbalance que suas instabilidades
provocam na interação com outro, quando levadas à entrevistas conjuntas”.
a) reunião privada – caucus;
b) compartilhamento dos objetivos de cada etapa;
c) oferecimento de perguntas reflexivas;
d) identificação de redes de pertinência.
capítulo 3 • 66
04. Há uma cultura do litígio enraizada na sociedade, cuja tendência é resolver os conflitos
de forma adversarial. Nessas circunstâncias, os denominados meios alternativos de resolu-
ção de conflitos apresentam especial importância, com destaque para a mediação, na medida
em que possuem os seguintes objetivos, EXCETO:
a) aliviar o congestionamento do judiciário;
b) promover a pacificação social;
c) democratizar o acesso à justiça;
d) promover a autocomposição da solução de controvérsias;
e) garantir a legitimidade dos ritos judiciais.
RESUMO
Nesse capítulo você aprendeu sobre as ferramentas procedimentais e sua importância
no processo de mediação. Pôde perceber que as reuniões privadas possibilitam aos me-
diandos expressarem seus sentimentos e se manifestarem sobre questões que não fariam
nas reuniões conjuntas, sendo uma ferramenta valiosa para que o mediador possa conhecer
melhor as questões que permeiam o conflito.
Também foi possível entender que o mediador deve ser sensível na utilização das técni-
cas procedimentais, pois o enquadre, por exemplo, ao relembrar as regras combinadas para
o desenvolvimento do processo de mediação, pode expor o infrator, deixando um sentimento
de constrangimento para uma das partes e de regozijo para outra, o que pode interferir no
desenvolvimento de uma solução amigável para o conflito. Também o uso de tarefas ou
perguntas reflexivas e a concessão de intervalos entre as reuniões pode fomentar a aproxi-
mação das partes e a desconstrução do conflito, como também pode levar ao distanciamento
da postura colaborativa.
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BARCELLAR, Roberto Portugal. Juizados Especiais: a nova mediação paraprocessual. São Paulo:
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capítulo 3 • 67
CARVALHO, Sergio Teixeira de. Pertencimento e identidade. 07 de janeiro de 2013. Disponível
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FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como Chegar ao Sim: a negociação de acordos sem
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ROBERT, Henry M. Copyright do Manual de Bolso das Regras de Ordem. (Regras de Ordem de
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SALES, Lília Maia de Morais. Mediação de conflitos: família, escola e comunidade. Florianópolis:
Conceito Editorial, 2007.
SAMPAIO, Lia Regina Castaldi e BRAGA NETO, Adolfo – “O que é Mediação de Conflitos”. Coleção
Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasiliense 2007.
capítulo 3 • 68
4
Ferramentas
comunicacionais
Ferramentas comunicacionais
No presente capítulo você vai estudar como as ferramentas comunicacionais
auxiliam no processo de mediação, sua relevância para o fortalecimento da con-
fiança dos mediandos em relação ao mediador, e ainda, como as mesmas funcio-
nam de forma a equilibrar a partes da mediação.
É preciso ter o conhecimento de que a escuta ativa é uma fonte de informação
para o mediador, logo, necessário se faz escutar o outro, a fim de compreender a
ideia que se está transmitindo, tendo como pressuposto a atenção por parte do
ouvinte e uma atitude participativa no diálogo, gerando, assim, confiança e pro-
ximidade entre os mediandos e o mediador, lembrando-se de que o interlocutor
precisa notar o interesse em sua narrativa.
O acolhimento e a validação, por sua vez, são essenciais para o processo de
mediação, pois além de validar os sentimentos dos mediandos fazendo com que se
sintam valorizados, aceitos e respeitados, ao mesmo tempo mantém o mediador
no controle da coordenação do diálogo.
Você já estudou que na mediação os envolvidos no conflito estão carregados
de sentimentos, portanto, conferir acolhimento e demonstrar interesse nos temas
apresentados nos momentos de catarse são ferramentas valiosas para o desenvolvi-
mento do processo de mediação.
É necessário, ainda, neste capítulo tratarmos da identificação e desconstrução
de impasses. Para tanto, será apresentado o conceito de impasse e de que forma
pode o mediador fazer uma intervenção visando desconstruí-los, com o objetivo
de manter a fluidez do diálogo e criar condições favoráveis para que as partes pos-
sam continuar a caminhar em direção de uma solução negociada para o conflito.
Por ser a comunicação fundamental nas relações entre indivíduos, será aborda-
da a importância da percepção pelo mediador da comunicação verbal e não verbal,
devendo esse estar sensível tanto a palavra falada como aos gestos, posturas, tom e
ritmo de voz etc., ou seja, qualquer forma de comunicação que possa interferir na
mediação seja positivamente ou negativamente, sendo certo que estar alerta para
a forma com que os envolvidos de manifestam sobre o conflito é imprescindível
para o sucesso da autocomposição.
De igual forma, a postura do mediador reflete no desenvolvimento da media-
ção, assim, você terá também a oportunidade de conhecer a ferramenta “Mensagem
Eu”, onde, neste momento, o mediador traz para si a responsabilidade de demons-
trar que manteve uma escuta ativa quanto as mensagens apresentadas pelas partes,
oportunizando, ainda, a ratificação ou correção das mensagens.
capítulo 4 • 70
OBJETIVOS
• Compreender a importância das ferramentas de comunicação para o processo de mediação;
• Conhecer as ferramentas comunicacionais;
• Identificar qual, e em que momento, determinada ferramenta deve/pode ser utilizada;
• Ampliar o conceito sobre comunicação, compreendendo a comunicação verbal e não verbal;
• Recordar a importância do uso de aportes teóricos e ferramentas da mediação no proces-
so de mediação.
Escuta ativa
Para ser possível seguir em bom caminho rumo a um final de consenso no pro-
cesso de Mediação é imprescindível que exista uma boa comunicação interpessoal,
e para que isso ocorra, é necessário que a ferramenta da escuta ativa seja manejada
e utilizada no curso das reuniões conjuntas ou privadas, mediante dois ingredientes
essenciais: a compreensão e o cuidado, pois com a escuta ativa é possível compreen-
der melhor o outro, seus sentimentos e opiniões, fazendo com que o interlocutor
sinta-se compreendido e tenha o desejo de expressar seus interesses e objetivos.
Escutar, do latim auscultare, implica em imprimir uma atenção para o ato de
ouvir. É quando o indivíduo busca ouvir o outro, sem pensar no que você deseja
dizer ou responder, entendendo que chegará sua vez de se manifestar. Assim, você
pode entender que escuta ativa é escutar o outro, tentando compreender a ideia
que está transmitindo, por se tratar de uma fonte de informação.
Segundo Gestoso (2005), para que se produza uma escuta eficaz e ativa são
apresentadas as seguintes atitudes:
1- Ser consciente do outro, ou seja, concentrar-se na mensagem da outra parte,
evitando qualquer distração, fazendo um esforço pessoal para prestar atenção e
demonstrar ao receptor que percebeu a mensagem;
capítulo 4 • 71
2- Observar e perguntar-se constantemente sobre o que está sendo transmitido,
perguntando mentalmente: “Há algo mais por detrás destas palavras?; É isto que
ele quer me dizer? “. Da mesma forma deve-se observar a linguagem não verbal
(gestos, expressões faciais etc.)”;
3- Retroalimentar, resumindo, fornecendo ao emissor uma parte de sua mensa-
gem. Devem ser usadas frases do tipo: “A impressão é que você quer me dizer...”;
“Os pontos resumidos do que você me disse até agora são...”. Desta forma, da-
mos a impressão ao emissor de que estamos sintonizados com a sua comunicação.
Lembrando que este feedback deve ser realizado sem interromper a pessoa, espe-
rando o momento apropriado para realizá-lo;
4- Detectar palavras-chave, ou seja, as ideias-chave que vão fornecer o conteúdo
exato daquilo que se quer dizer. São estas palavras que transmitem, em geral, a
informação e os interesses do emissor.
A escuta ativa além pressupor uma atenção, deve levar o ouvinte a uma atitude
participativa no diálogo, gerando confiança e proximidade. Uma postura participativa
possibilita um sentimento de legitimidade do interlocutor como autor do conteúdo da-
quela fala, sendo, portanto, uma ferramenta valiosa para uma interlocução produtiva.
Considerando que os mediandos encontram-se, na maior parte das vezes, com
a escuta comprometida em relação ao outro, diante dos desgastes emocionais por
que passaram até ali, cabe ao mediador, primeiramente, exercitar a escuta ativa,
demonstrando seu interesse nas falas dos mediandos e conferindo a estes a con-
fiança necessária para desenvolver o restabelecimento do diálogo.
O oposto da escuta ativa, é quando quem deveria estar atento às palavras do
outro, encontra-se distraído, deixando claro que está priorizando outros discursos
em detrimento do que está sendo falado, gerando um sentimento de desvalorização
por parte do outro e, inegavelmente, trazendo uma barreira para o diálogo, além
de afetar negativamente a capacidade de compreensão da mensagem expressada.
O interlocutor precisa notar o interesse em sua narrativa, para que, de igual
forma, possa agir quando o momento de se expressar for conferido ao outro.
Agindo assim, as partes passam a compreender melhor os interesses e objetivos
comuns existentes no conflito e em sua resolução.
Tão importante quanto escutar é fazer com que o outro sinta que está sendo ouvido.
Hodiernamente, com a velocidade com que as informações chegam aos ou-
vidos da maior parte da população, pouca atenção se dá à comunicação atenta e
participativa, pois, em geral, as pessoas estão mais preocupadas com os próprios
capítulo 4 • 72
discursos e em deixar evidenciado seus pontos de vista, perdendo-se a essência da
comunicação. Nunca se falou tanto em comunicação, como se fala hoje, mas, em
verdade, as pessoas se comunicam muito pouco, sendo notório o fato de que mui-
tos chegam e saem de suas casas sem que tenha havido um diálogo com a família;
muitos são os meios de comunicação (whatsapp, facebook, messenger etc.), mas, a
escuta ativa é algo difícil de ser encontrado, o que acarreta a perda do diálogo e,
consequentemente, torna-se um facilitador do conflito.
A escuta ativa necessita de uma postura atenta, como forma de demonstrar
uma participação ativa na conversa, estimulando o autor a ampliar sua narrativa,
permitindo o esclarecimento de questões e situações que jamais seriam percebidas
se não fosse por meio do desabafo de uma das partes e compreensão pela outra.
Não se pode olvidar que, para se conseguir compreender o que o outro envolvido
no conflito está expressando por trás daquilo que está dizendo, é necessário o desenvol-
vimento de certa empatia, ou seja, saber se colocar no lugar do outro e buscar entender
como ele se sentiria, no entanto, isso não significa concordar com tudo o que o outro
está pensando e dizendo, mas escutar com interesse no que está sendo dito.
Em relação ao mediador, como dito alhures, deve ser cuidadoso no uso da
ferramenta, pois, é certo que os mediandos estarão a todo tempo observando, con-
ferindo-lhe ou retirando-lhe credibilidade a depender de sua postura. É necessário
que os mediandos se sintam percebidos pelo mediador e legitimados em suas falas,
logo, quando houver alguma intervenção por parte do mediador, é necessário que
esse relembre pontos, em especial, positivos, da narrativa dos interlocutores, inclu-
sive com perguntas de esclarecimentos, se necessário.
Segundo Robert Dilts (1994):
capítulo 4 • 73
Nesse sentido é o entendimento de Tânia Almeida (2014).
A escuta ativa vem sendo foco de atenção de todos os que têm tomado o diálogo
como objeto de investigação. O lugar de facilitador de diálogos ou daquelas cujas
ações profissionais ou funcionais são regidas ou alimentadas pela escuta demanda
seu aprimoramento permanente, considerando-a ferramenta primordial para uma in-
terlocução produtiva. Uma escuta de qualidade por parte do terceiro imparcial pode ser
determinante para a continuidade e a efetividade de um processo de diálogo.
Acolhimento
capítulo 4 • 74
Você já estudou que na mediação as partes estão carregadas de sentimentos e
emoções, e que estas interferem diretamente na construção do diálogo, pois o in-
divíduo em crise acaba afastando-se do equilíbrio, podendo ter comportamentos
instáveis, por vezes explosivos, portanto, cabe ao mediador ter a sensibilidade de
reconhecer esses sentimentos e legitimá-los, transformando-os em fonte positiva.
Para Francisco José Cahali (2012, p. 62):
E, ainda, Lia Regina Castaldi Sampaio e Adolfo Braga Neto (2007, p. 41)
afirmam que:
muito embora o mediador não seja um terapeuta, ele deve estar familiarizado com as
técnicas psicológicas para auxiliar as partes a lidarem com suas emoções..
capítulo 4 • 75
É possível se perceber que a postura do mediador de acolhimento das par-
tes, pode tornar-se um valioso incentivo, desenvolvendo nas partes um desejo de
participar do processo de diálogo, sendo o restabelecimento do diálogo um dos
principais objetivos da mediação, o que torna, sem dúvida, relevante a aplicação
de legitimação de sentimentos.
Validação de sentimentos
Como dito alhures, um sujeito em crise acaba por afastar-se de seu equilíbrio,
expondo-se de forma inadequada no curso da mediação, em especial, quando de-
seja expor seu ponto de vista, sem, contudo, ser capaz de aguardar o seu momento
de falar, vindo a realizar recorrentes interrupções na fala do outro.
A inadequação do mediando, por vezes, torna-se agressiva e desrespeitosa, no
entanto, até certo ponto e dentro de alguns limites, pode o mediador por meio de
uma fala compreensiva e firme validar esse sentimento, de forma que o mediando
entenda que, embora esteja sendo compreendido, deve manter-se pautado nas
regras de respeito mútuo, acordadas no início do processo de mediação. Com o
reconhecimento da atitude, mas, com uma intervenção sutil, posturas agressivas
ou defensivas tendem a ser amenizadas.
O mediador pode deixar claro que entende a necessidade do mediando em
apresentar, antecipadamente, seu ponto de vista; que compreende a necessidade
de se fazer ouvir; de que, muitas vezes, é até natural se pretender apresentar cor-
reções à fala do outro, e, agindo assim, o mediador, procura não chamar atenção,
ainda que indiretamente do mediando por sua atitude inadequada, evitando, no
entanto, destacá-la como negativa no processo de mediação.
CONCEITO
Validação de sentimentos – Consiste em identificar sentimentos que a parte
desenvolveu em decorrência da relação e abordá-los como uma consequência natural. Não
se trata de afirmar que a parte está correta na sua manifestação ou conduta anterior, mas
sim de demonstrar que o mediador percebeu esse sentimento como algo importante a ser
valorizado. Disponível em: <http://www5.tjba.jus.br/conciliacao/images/MdCcAp.pdf>.
Acesso em: 12/11/2017).
capítulo 4 • 76
Algumas expressões podem ser eficientes na validação de sentimentos, de-
monstrando o que o mediador observou: “notei”, “percebi”, “me parece que”,
“pelo que foi possível perceber” etc.
Agindo como validador do sentimento o mediador mantêm-se no controle da
coordenação do diálogo, sem que seja necessário utilizar-se de um meio mais inci-
sivo para chamar a atenção dos mediandos para que aguardem por seu momento
de fala, ou seja, ao validar os sentimentos, o mediador, indica em tom normaliza-
dor, que identificou as necessidades da parte, mas, ao mesmo tempo, o convida a
respeitar as regras para que possam seguir no processo de mediação e alcançar o
restabelecimento do diálogo.
Cabe salientar que na busca pela validação do sentimento o mediador não
deve indicar que o mediando tem ou não razão quanto ao mérito da questão em
conflito, limitando-se a deixar evidenciado que identificou que os sentimentos
da parte decorreram do conflito em exame, mas, sem apresentar juízo de valor. A
validação de sentimento deve ser neutra, apenas refletindo aquilo que observou e
não uma opinião pessoal. A imparcialidade é princípio obrigatório a ser seguido
pelo mediador, sendo certo que, mesmo que este se sensibilize com o sentimento,
deve manter sua postura profissional.
Não se tratando de casos de intervenções inadequadas de uma ou de ambas
as partes quando da reunião conjunta, a validação de sentimentos costuma ser
utilizada, com maior frequência, nas reuniões privadas, sendo utilizadas nas seções
conjuntas em casos mais excepcionais e quando os sentimentos forem comparti-
lhados por ambos os mediandos.
A validação de sentimentos traduz-se na aceitação de que uma pessoa possua um
determinado sentimento. Consequentemente, busca-se a compreensão dos interes-
ses reais desse sentimento. A validação passa pelo reconhecimento da individualida-
de de uma pessoa e de que essa individualidade é apreciada na mediação.
O mediando, ao compreender que teve seus sentimentos validados, sente-se
ouvido e compreendido, o que lhe gera um sentimento de alívio e confiança, aju-
dando na criação de um ambiente mais receptivo e colaborativo.
Por outro lado, a invalidação consiste na rejeição ou desprezo aos sentimentos
da parte ou daqueles com quem se interage, podendo ser fatal para o desenvolvi-
mento sadio do processo de diálogo.
Os sentimentos revelam-se a todo instante na mediação, seja por meio do que
foi dito ou ainda por gestos, posturas, comportamentos, expressões faciais ou tom
de voz. Assim, ao se identificar e se reforçar positivamente os sentimentos, cria-se
capítulo 4 • 77
um elemento de ligação com a parte, facilitando o estabelecimento de uma relação
de confiança, possibilitando ao mediador um direcionamento em favor do diálogo.
É preciso ressaltar que as pessoas, ao vivenciarem uma relação, acreditam que
a comunicação e o diálogo serão o sucesso dessa relação. No entanto, por vezes a
comunicação é truncada e as pessoas passam a interpretar falas, gerando a quebra
do diálogo. O ser humano, na tentativa de entender o outro, busca conferir o sta-
tus de verdade às suas próprias interpretações, não se atentando para o fato de que
essas interpretações interferem diretamente nas ações e reações do outro.
Nesse sentido, destaca-se a importância do mediador, por meio da escuta ati-
va, como esclarecedor e tradutor, por vezes, desses sentimentos, redefinindo algu-
mas interpretações, trazendo os reais interesses das partes envolvidas no conflito.
a mediação terá lugar quando, devido à natureza do impasse, quer seja por suas caracte-
rísticas ou pelo nível de envolvimento emocional das partes, fica bloqueada a negociação,
que assim, na prática, permanece inibida ou impedida de se realizar. GARCEZ, 2003, p. 35.
capítulo 4 • 78
A atenção do mediador para a identificação e desconstrução dos impasses tem
por objetivo manter a fluidez do diálogo, criando condições favoráveis ao desen-
volvimento do processo de mediação. Ao mediador cabe dedicar-se a diagnosticar
atitudes, pontos de vista, ideias ou questões que estejam impedindo a comunica-
ção saudável entre os mediandos.
Segundo Almeida (2014, p. 253-54) os desbalances podem ser constituídos
pelos mais diferentes motivos, seja por questões socioculturais, econômicas, emo-
cionais, de nível hierárquico, nível de conhecimento etc., e embora de manejo,
não constituem impasses em si.
Ao diagnosticar o que está motivando o impasse deve o mediador manejar a
questão cuidadosamente, sabendo que para cada situação de impasse haverá uma
intervenção diferenciada e apropriada.
As reuniões privadas possibilitam ao mediador a identificação e a melhor for-
ma de tentar uma desconstrução daquele obstáculo ao diálogo, sendo uma ferra-
menta bastante utilizada, pois, embora sinalize a existência do impasse e a necessi-
dade de sua desconstrução, não expõe a parte que trouxe a questão motivadora do
impasse. O mediador sabe que existe o conflito, mas não o enfatiza como em uma
guerra, apenas busca uma forma de melhor resolvê-lo.
O mediador deve fazer a intervenção de modo cuidadoso e equilibrado, po-
dendo, inclusive, ao identificar desbalances tentar equilibrar os lados participan-
tes da mediação. Outra forma é a inclusão, na mediação, da rede de pertinência
quando estas estiverem fomentando o litigio; também pode ser utilizado o enca-
minhamento para serviços que atuem em parceria com a mediação. A atitude do
mediador visa desconstruir os impasses que imobilizam o entendimento, transfor-
mando em contexto colaborativo um contexto de confronto.
Quando o impasse atinge ambos os participantes da mediação, a abordagem
pelo mediador deve ser avaliada com os participantes da mediação, para que seja
possível o conhecimento do ponto de vista de cada mediando e a necessidade da
intervenção. O mediador, nos casos de impasse, buscará uma intervenção de modo
a auxiliar a melhor compreensão e reflexão dos assuntos e propostas, mas não im-
porá às partes uma solução, pois sua intervenção deve ser no sentido de descons-
trução do impasse por meio da compreensão e do restabelecimento do diálogo.
capítulo 4 • 79
Segundo Tania Almeida:
As intervenções pertinentes para lidar com possíveis obstáculos são particulares para
cada caso e situação. Intervenções mais simples, como a equiparação numérica – ter
o mesmo número de atores a cada lado da mesa de negociação quando esse pare-
cer ser o desbalance -, não dão conta da complexidade dessas situações. Com os
orientais, aprendemos que o equilíbrio pode ser assimétrico e que a tentativa cega de
simetria é competitiva, podendo ainda nos conduzir a equiparar uma situação quantita-
tivamente, quando em paralelo, aspectos mais complexos podem nos escapar.
A exemplo da proposta inspirada em Derrida relativa à desconstrução do conflito, im-
passes podem ser igualmente desconstruídos. Ou seja, desfeitos tijolo por tijolo, com a
intenção de entender sua construção e nela atuar. ALMEIDA, 2014, p. 254.
capítulo 4 • 80
de mediação, portanto, cabe ao mediador estimular o diálogo e estar atento e
consciente de que as pessoas se comunicam sob as mais diversas maneiras, muitas
vezes, mais por meio de gestos do que por palavras.
Podemos definir comunicação como um processo em que se envia e se recebe
mensagens. O emissor deve emitir uma mensagem com clareza e o receptor deve
recebê-la de forma correta. Então, o processo de comunicação tem a seguinte forma:
PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
B
ARCO DE DISTORÇÃO
IDEIA A A
EMISSOR RECEPTOR
FEEDBACK
capítulo 4 • 81
Nota-se que a comunicação é tema de grande relevância, em especial, porque
interfere na vida em sociedade, nas relações sociais e pessoais.
O corpo do indivíduo fala todo o tempo, por meio das expressões do rosto, na
forma de olhar, nos gestos, na maneira como o indivíduo apresenta sua postura,
diante do seu tom de voz. Por isso, é essencial que o mediador seja sensível a ocor-
rências da linguagem não-verbal.
A linguagem corporal tem tamanha importância entre pessoas que não se con-
segue esconder a comunicação, pois transcende a consciência, sendo essencial que
a linguagem corporal esteja em consonância com a verbal, sob pena de transpare-
cer algo que não está de acordo com o que está se falando, o que pode servir tanto
como fator colaborador quanto desagregador no processo de mediação.
capítulo 4 • 82
Destaca-se na mediação a comunicação tanto verbal quanto não verbal, conside-
rando o caráter de oralidade desse processo, pois como você já teve a oportunidade de
estudar, pouco se tem de escrito na mediação (por exemplo: termo de participação;
anotações dos mediadores para resgate futuro de informações essenciais; Termo de
Mediação), sendo certo que as expressões verbais e não verbais caminham lado a lado,
esmerando-se os mediandos para apresentarem suas narrativas e seus pontos de vista,
demonstrando, também, seus sentimentos positivos e negativos em relação ao conflito.
Ressalta-se que, quando se fala em escuta ativa por parte do mediador é ne-
cessário que esse, além de aplicar a escuta ao que é falado, também desenvolva a
visão, observando a comunicação não verbal, sendo, portanto, a escuta ativa um
conjunto de escuta e visão, em especial quanto a gestos, expressões, timbre e ritmo
de voz, sob pena da escuta ativa ser parcialmente trabalhada, perdendo-se pontos
essenciais para a continuidade do diálogo.
O impasse, trabalhado no item anterior, pode ser gerado por questões de co-
municação não verbal, passando despercebido da escuta do mediador, caso não
esteja desenvolvendo também uma escuta ativa baseada na visão, portanto, para
que possa desconstruir o impasse, por vezes, torna-se necessário a cessação de de-
terminada comunicação não verbal que vem sendo o fator desagregador entre os
envolvidos na mediação, pois uma comunicação mal feita gera má interpretação,
quem ouve mal ou entende de forma equivocada alguma expressão corporal ou fa-
cial, responde mal. Quando as pessoas se comunicam mais e melhor, os problemas
são minimizados e o conflito pode ser melhor administrado.
A intervenção do mediador, se necessária, deve se dar revestida de acolhimen-
to, validando os sentimentos como forma de trazer para o diálogo, de maneira
positiva, aquele sentimento, demonstrando que o mediador está atento a tudo
e todos no processo de mediação, lembrando que o ser humano, muitas vezes,
sequer se dá conta de sua linguagem não verbal, até porque parte dela foge ao con-
trole, passando o locutor a considerar apenas sua comunicação verbal, enquanto,
na verdade, também está a se expressar também de forma não verbal.
É impossível não se comunicar, mesmo o silêncio transmite uma mensagem,
uma comunicação, pois é forma de expressão. Assim, a reflexão sobre a comunica-
ção verbal e não verbal, serve para trazer à tona a questão complexa que é o traba-
lho do mediador, já que no curso do processo de mediação estará, a todo tempo,
tendo que utilizar-se de ferramentas para auxiliá-lo na condução do diálogo, de
forma que leve as partes ao caminho do consenso e de uma solução negociada.
capítulo 4 • 83
Veja que, se você chegar em um ambiente, por exemplo, de um hospital e en-
contrar um cartaz com a figura de uma pessoa posicionando o dedo nos lábios em
indicativo de silêncio, é certo que, mesmo que não haja nenhuma letra, qualquer
pessoa reconhecerá a mensagem de solicitação de silêncio.
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capítulo 4 • 84
Na mediação é preciso se ter em mente que os indivíduos em crise ficam mais
sensíveis e atentos a como as palavras são ditas do que propriamente ao que se é
falado, nesse ponto é que surge a figura do mediador, de forma a intervir de modo
eficiente, se beneficiando da compreensão da linguagem não-verbal, da utilização
adequada dos vários tipos de perguntas e das técnicas de escuta ativa.
Mensagem eu
Assim, iniciar suas próprias narrativas por: “Eu percebo...”; “Eu entendi que...”; “Deixe-me
ver se entendi corretamente...”; confere responsabilidade ao mediador pelo que está
sendo dito, ao mesmo tempo em que mantém uma determinada percepção sua sob o
crivo da confirmação ou correção dos mediandos. As Mensagens Eu possibilitam que
os mediandos interfiram no entendimento dos mediadores, conferindo-lhes, a eles, os
mediandos, ainda maior protagonismo.
capítulo 4 • 85
por parte do outro mediando, ou seja, é uma ferramenta que possibilita esclareci-
mentos sobre as narrativas, comportamentos, gestos, posturas etc. dos mediandos,
facilitando e fortalecendo o processo de dialógico e a busca pelo consenso.
ATIVIDADES
01. (Provas: FCC - 2009 - TJ-SE - Analista Judiciário – Psicologia) Nos trabalhos de media-
ção entende-se que o caminho mais curto para a solução de qualquer conflito é aquele que
decorre do conhecimento e da aceitação das partes sobre suas formas singulares de ação e
sua responsabilidade na dinâmica das relações. Dessa maneira o mediador deve estar atento:
a) às crenças que permeiam a comunicação, já que elas inviabilizarão completamente o
trabalho de mediação quando percebidas como dicotômicas.
b) aos princípios que regem a visão adversarial do conflito, já que eles permeiam as leis
brasileiras principalmente aquelas que disciplinam a convivência familiar.
c) ao caráter pacifista do método que se baseia na superação das dicotomias vítima/agres-
sor, certo/errado, culpado/inocente.
d) ao reconhecimento do outro como sendo necessariamente igual a mim e não portador
de diferenças, já que o princípio da equidade deve ser obedecido.
e) ao necessário enfrentamento entre as pessoas, já que a lógica da mediação é sempre
adversarial e oposicionista.
02. Em uma situação hipotética, Paulo e Cláudio trabalham, há dez anos, exercendo a mes-
ma função, considerada essencial em um setor central de uma multinacional. Há seis meses,
após aposentadoria do chefe imediato, Cláudio foi promovido para chefia substituta. A partir
de então, o grupo de trabalho que Cláudio participa passou a ter conflitos nos relacionamen-
tos interpessoais e no cumprimento de tarefas. Como porta-voz da insatisfação da equipe,
Paulo procurou Cláudio queixando-se de sua forma de gerenciar e afirmando, categorica-
mente, que ele (Paulo) deveria ter sido promovido para a atual chefia.
Diante desse cenário, o setor de recursos humanos decidiu contratar um mediador de
conflitos, por considerar que assim haverá resolutividade para o problema relatado, uma vez
que a mediação:
a) indicará, para as partes envolvidas, quais mudanças são necessárias a fim de melhorar a
comunicação entre chefia e grupo.
b) facilitará a comunicação interpessoal do grupo de trabalho, de forma a restaurar a auto-
nomia dos envolvidos e a legitimidade nos processos de trabalho.
capítulo 4 • 86
c) identificará os conflitos existentes, para que o mediador de conflitos determine a forma
de resolução do conflito entre os sujeitos envolvidos.
d) possibilitará que haja impessoalidade e o mediador atue de forma a garantir a liderança
do chefe em relação ao seu grupo de trabalho, que caracteriza a causa do conflito entre
chefia e grupo de trabalho.
e) possibilitará a intervenção de uma terceira pessoa que resolverá os conflitos hierárqui-
cos e treinará a chefia a fim de prevenir novos conflitos.
05. (Provas: FGV - 2015 - DPE-RO - Analista em Psicologia) Em 2009, o Núcleo da Câ-
mara de Conciliação de Roraima conquistou o segundo lugar no prêmio Innovare, cujo tema
foi a Justiça Rápida e Eficaz, escolhido em comemoração aos 60 anos da Declaração dos
Direitos Humanos. No núcleo, haveria a participação efetiva de defensores e estagiários de
Direito e Psicologia e, dada a importância dos chamados métodos alternativos de resolução
de conflitos, foi realizada em 2010, em parceria com a Defensoria Pública de Roraima e a
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, a capacitação de
líderes sindicais, religiosos, membros de associações de classes e representantes indígenas
para a prática de mediação. Sobre a mediação, analise as afirmativas a seguir:
capítulo 4 • 87
I. A resolução de conflitos tem a perspectiva de considerar a subjetividade humana en-
quanto construída nas relações familiares e sociais, e não limitada aos indivíduos.
II. A mediação implica métodos que permitem a democratização e desburocratização da
Justiça, bem como a pacificação social, embora não seja indicada para conflitos multipartes.
III. A mediação está atrelada a conhecimentos específicos da terapia familiar sistêmica e
da psicologia jurídica, comunitária e institucional.
IV. O mediador não sugere soluções, porém atua como intermediário na comunicação
entre as pessoas, ajudando-as a se sentir seguras para o diálogo.
Está correto o que se afirma em:
a) somente I e II;
b) somente I e IV;
c) somente II e III;
d) somente III e IV;
e) I, II, III e IV.
RESUMO
Nesse capítulo você conheceu as ferramentas comunicacionais e pôde entender a sua
relevância para o restabelecimento do diálogo, objetivo principal da mediação. Você também
pôde analisar cada ferramenta e perceber que o mediador deve manter-se atento às men-
sagens transmitidas pelas partes, sejam verbais e não verbais, de forma que possa manter
um equilíbrio na mediação e coordenar o processo de diálogo entre os envolvidos no conflito.
Você pode compreender que o mediador deve ser cauteloso no manejo das ferramentas
comunicacionais de forma que os mediandos se sintam compreendidos, aceitos, acolhidos e,
em contrapartida, desenvolvam atitudes e posturas voltadas para o diálogo e para o consen-
so, de forma que busquem uma solução que melhor atenda aos interesses comuns.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Tania. Caixa de Ferramentas em Mediação: aportes práticos e teóricos. São Paulo: Dash
Editora, 2014.
CAHALI, Francisco José. Curso de Arbitragem. 2ª Edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
DILTS, Robert. Enfrentando a audiência: recursos de programação neurolinguística para
apresentações. Tradução por: Heloísa de Melo Martins-Costa. São Paulo: Summus Editorial, 1994.
capítulo 4 • 88
GARCEZ, José Maria Rossani. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2003.
GESTOSO, C. G. Estratégias da negociação. Mangualde: Pedago, 2005.
SAMPAIO, Lia Regina Castaldi; NETO, Adolfo Braga. O Que É Mediação de Conflitos? São Paulo:
Brasiliense, 2007.
WANDERLEY, J. A. Negociação total. 21.ed. São Paulo: Gente, 2015.
WARAT, Luiz Alberto. O Ofício do Mediador. Florianópolis/SC: Habitus, 2001.
capítulo 4 • 89
capítulo 4 • 90
5
Ferramentas
negociais
Ferramentas negociais
É necessário destacar que um profissional da mediação deve estar compro-
metido com o emprego das técnicas e ferramentas da mediação para facilitar a
retomada do diálogo entre as partes.
No presente capítulo você vai estudar as ferramentas negociais e sua importân-
cia para o processo de mediação, sabendo que é essencial a separação das pessoas
dos problemas e a separação da posição dos interesses para que seja possível evitar
o surgimento de impasses e descontruir os já existentes na mediação.
As pessoas, os interesses e as posições são, portanto, elementos presentes na
mediação e devem ser muito bem trabalhados pelo mediador, de forma que o
processo de diálogo possa ser restabelecido.
Você verá que separar as pessoas dos problemas é essencial para a mediação,
pois o mediador deve focar no problema evitando o embate pessoal, reunindo
esforços para que os mediandos busquem uma solução para o conflito.
Você perceberá a dificuldade de se identificar os interesses, considerando que
estes, geralmente, não são apresentados pelos mediandos, que envolvidos em seus
sentimentos acabam firmando suas posições, reduzindo o espaço para uma solu-
ção negociada e que alcance os interesses de ambas as partes.
No presente capítulo você terá, ainda, a oportunidade de conhecer a pauta
subjetiva e pauta objetiva e entenderá a necessidade de sua construção pelo media-
dor, como forma de identificar as questões emocionais e as questões materiais que
permeiam o conflito e como trabalhá-las para que mediandos tenham validados os
seus sentimentos e possam sentir-se partes no processo e responsáveis pela busca
da resolução do conflito.
Também serão apresentadas como ferramentas para uso do mediador a Melhor
Alternativa Negociada (MAN) e a Pior Alternativa Negociada (PAN), identifica-
das na obra “Como Chegar ao Sim” de Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton,
com vistas a levar às partes envolvidas na disputa parâmetros da realidade, para
que possam decidir se permanecem ou não no processo de negociação.
A criação de cenários futuros é outra ferramenta a ser utilizada pelo media-
dor, com o objetivo de que os mediandos reflitam sobre seus procedimentos, suas
posições e atitudes até então direcionadas à mediação e, analisem as implicações
que estas podem trazer para sua vida, para a vida da outra parte e de terceiros, em
especial, aqueles que compõem sua rede de pertinência, buscando, assim, com o
capítulo 5 • 92
processo de reflexão e antecipação de cenários, direcionarem seus esforços para
uma solução que melhor atenda aos interesses mútuos.
OBJETIVOS
• Compreender a importância das ferramentas negociais para o processo de mediação;
• Conhecer as ferramentas negociais e sua aplicação no processo de mediação;
• Distinguir pessoas, posições, interesses e valores;
• Recordar a importância do uso de aportes teóricos, das ferramentas da mediação e das ferra-
mentas comunicacionais e compreender que estão interligadas com as ferramentas negociais.
capítulo 5 • 93
CURIOSIDADE
Um dos relatos bíblicos em que encontramos, visivelmente, a negociação, é o caso dos
irmãos Esaú e Jacó (Gênesis 25), onde são ilustrados aspectos da negociação, tais como os
interesses, a oportunidade, a troca.
capítulo 5 • 94
É muito comum que as pessoas, ao se depararem com um problema, auto-
maticamente, relacionem aquele problema a pessoa que se encontra envolvida
no conflito, ou seja, a culpa será sempre da outra pessoa, embora, para a melhor
solução fosse ideal que se buscasse em conjunto com a outra parte a solução para
o problema, considerando que o outro também é uma pessoa e de igual forma
deseja uma solução para o conflito, agindo assim o foco seria direcionado para os
interesses e não mais para as pessoas.
Não se pode olvidar que quando uma parte fere o ego de outra, o foco passa a
ser a pessoa e não mais o problema, pois a parte que se sente ofendida torna-se me-
nos aberta a negociar e passa a tomar sua posição, como uma defesa de si própria.
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capítulo 5 • 95
posteriormente, vir a gerar novos desentendimentos, culminado em um novo con-
flito, por isso é necessário que se pense sistemicamente.
Nesse sentido, por vezes, é necessário que as decisões tomadas tenham partici-
pação de pessoas da rede de pertinência, em especial, considerando a operaciona-
lização de alguns acordos realizados pelas partes, já que podem incluir garantias,
auxílio e cooperação de terceiras pessoas, como, por exemplo, quando quem vai
cuidar das crianças enquanto o genitor guardião trabalha é um dos avós, é neces-
sário que seja sugerida a participar desse terceiro, para que fique bem definida a
viabilidade de operacionalização do acordo.
Com a identificação das pessoas envolvidas no conflito, torna-se, imprescindí-
vel, que o mediador faça a separação destas dos problemas, para que seja possível
identificar possíveis afrontas às pessoas, que fazem com que o objeto do problema
seja colocado, por essas, como uma coisa secundária, sendo, muitas vezes, o confli-
to um caminho para a vingança, o que, certamente, prejudicará o diálogo.
Na obra Como Chegar ao Sim, de Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton,
separar as pessoas do problema é um método da negociação:
capítulo 5 • 96
Fundamente a relação em percepções exatas, comunicação, emoções apropriadas e
numa visão deliberada e voltada para o futuro. Lide diretamente com os problemas das
pessoas; não tente solucioná-los através de concessões substantivas. FISHER, URY,
PATTON, 2005, p. 39.
capítulo 5 • 97
Mediandos passam a focar mais no outro do que nas questões, distanciando-se da
resolução cooperativa do problema. A máxima: “Seja duro com as questões e não com
as pessoas” é metáfora concernente a esse primeiro princípio da negociação e oferece
muitos benefícios aos propósitos da Mediação. ALMEIDA, 2014, p. 308.
CONCEITO
Subjetividade é o que se passa no íntimo do indivíduo. É como ele vê, sente, pensa a
respeito sobre algo e que não segue um padrão, pois sofre influências da cultura, educação,
religião e experiências adquiridas.
Subjetividade é quando expressamos nosso ponto de vista pessoal, de acordo com as
influências anteriormente descritas. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/
subjetividade/>. Acesso em: 20 de novembro de 2017.
capítulo 5 • 98
Podemos perceber que na construção da pauta objetiva, a matéria ganha des-
taque, pois o mediador visa que as partes se conscientizem da importância de se
ater aos interesses, em especial, os interesses comuns existentes no caso concreto,
por outro lado, na pauta subjetiva são observados os sentimentos traduzidos e a
necessidade de seu reconhecimento, valendo ressaltar que os aspectos subjetivos
do conflito, consistem na maior porção do desentendimento e que acabam geran-
do os impasses que paralisam o processo de mediação.
Ao se construir uma pauta para ambos os aspectos, torna-se necessário que
seja confirmado com os mediandos as questões a serem tratadas, com relação aos
objetivos e interesses das partes em relação a mediação.
Com a criação de pautas objetivas e subjetivas evita-se que questões relacio-
nadas a pessoa como sentimentos, temores, valores, vingança, etc., sejam postas
pelos mediandos como se questões objetivas fossem.
Nas palavras de Tania Almeida:
A pauta objetiva vai tratar da matéria, da questão pela qual o processo de me-
diação foi procurado pelos mediandos, ou seja, o motivo alegado como base do
conflito. Já a pauta subjetiva, vai buscar as questões, muitas vezes ocultas por detrás
da matéria, ou seja, as questões interativas, de comunicação e emocionais existen-
tes entre as partes que geram o desentendimento, no entanto, trazê-las ou não para
o processo de mediação será uma decisão a ser tomada nas reuniões conjuntas.
O importante no processo de mediação é que o mediador saiba identificar as
questões que norteiam o conflito, para, então, criar as pautas, com isenção emocio-
nal, desenvolvendo antecipadamente alguns padrões alternativos para a mediação.
capítulo 5 • 99
De acordo com Fisher, Ury e Patton:
capítulo 5 • 100
Por outro lado, pode-se dizer que o interesse, também reconhecido por inte-
resse verdadeiro, real, em uma situação de conflito, é o que a parte de fato deseja
como resultado final, ou seja, é o que se encontra oculto na questão em conflito, o
que, geralmente, não é declarado à parte contrária, mas é o que a parte pretende.
Roberto Portugal Bacellar elucida bem o que se tem por posição e por inte-
resse em uma situação de conflito, nos fornecendo um exemplo com a história de
duas irmãs que brigavam por uma laranja.
É interessante a história de duas irmãs que brigavam por uma laranja. Depois de con-
cordarem em dividi-la ao meio, a primeira pegou sua metade, comeu a “fruta” e jogou
fora a casca, enquanto a outra jogou a “fruta” e usou a casca para fazer um doce.
BARCELLAR, 2004.
por mais útil que seja buscar a realidade objetiva, é a realidade tal como cada lado a
vê que, em última instância, constitui o problema de uma negociação e abre caminho
para uma solução.
capítulo 5 • 101
tem escapado a sua percepção, deve, imediatamente, retomar as ferramentas ne-
cessárias de forma a separar as posições dos interesses.
É importante ressaltar que, via de regra, as posições tendem a ser antagônicas
e se apresentam para a outra parte como incompatíveis e, quando rígidas, acirram
ainda mais o conflito.
Por outro lado, os interesses podem ter pontos em comum, sendo o caminho
para uma solução baseada no consenso. Os pontos em comum tornam as pessoas
mais flexíveis a criação de alternativas que contemplem os interesses de ambas as
partes. Assim, focar nos interesses traz um maior êxito para a mediação.
Conforme demonstrado, anteriormente, a imagem do iceberg representa bem
a questão da posição e do interesse, sendo, a parte visível as posições e a parte que
se encontra submersa os interesses.
Nas palavras de Fisher, Ury e Patton (2005):
A conciliação dos interesses, em vez das posições, funciona por dois motivos. Primeiro
porque, para cada interesse, geralmente existem diversas posições capazes de satisfa-
zê-lo. Com demasiada frequência, as pessoas adotam a posição mais óbvia, como fez
Israel, por exemplo, ao anunciar que pretendia conservar do Sinai. Quando se examinam
realmente os interesses motivacionais por trás das posições opostas, frequentemente
se descobre uma posição alternativa que atende não apenas aos interesses de uma das
partes como também da outra. [...]. A conciliação de interesses, em vez do compromisso
entre posições, funciona também porque, por trás das posições opostas, há muito mais
interesses em comum do que conflitantes. FISHER, URY E PATTON, 2005, p. 60.
capítulo 5 • 102
da outra, assim, ambas podem estar focadas em suas queixas (posições), sem que
sequer tenham se dado conta de que seus interesses convergem para a mesma so-
lução. A escuta ativa, por parte dos mediandos, é outra ferramenta que auxilia esse
momento de reflexão sobre o interesse do outro, da mesma forma que a inversão
de papéis possibilita enxergar os interesses do outro.
Assim, a identificação dos reais interesses de cada parte e sua legitimação de-
vem preceder a geração de soluções, possibilitando a contemplação desses, com
consequente sentimento de satisfação e de atendimento às necessidades, fazendo
com que as partes compreendam que estão envolvidas no problema e que devem
fazer parte de sua solução, pois, somente com a satisfação mútua se terá um final
exitoso no processo de mediação.
Os mediadores para que possam atuar como agentes transformadores das pes-
soas e facilitadores do diálogo devem convidar as pessoas a uma mudança de com-
portamento, de paradigma, com uma nova forma de pensar o conflito e a propor so-
luções que atendam a ambas as partes. Assim, todas as ideias podem ser bem-vindas,
cabendo às partes avaliarem as melhores e as piores alternativas para a negociação.
É preciso que o mediador atue com ética e apresente às partes a realidade que
os cerca, viabilizando que enxerguem e articulem decisões exequíveis, éticas e que
possam atender os interesses de ambas as partes, e como, muitas vezes, estão imer-
sas em seus sentimentos, um convite a avaliarem a melhor alternativa (MAN) e
a pior alternativa (PAN) de solução para o conflito pode auxiliá-las de forma a se
nortearem na construção de alternativas de resolução, entre o ideal e o indesejável.
O confronto com a Melhor Alternativa Negociada e com a Pior Alternativa
Negociada tem enorme relevância no processo de mediação, uma vez que coloca
as partes em contato com o que seria melhor (desejável) e o que seria o pior (in-
desejável), dessa forma, é possível se partir para apreciação de uma solução que
contemple uma boa medida de satisfação para os envolvidos, em especial, quando
conseguem visualizar o que de pior poderia advir da questão em discussão.
Assim, a realidade apresentada por MAN e PAN, acaba funcionando como
um marco para análise do que é possível se ter como alternativa para obtenção de
ganhos mútuos.
capítulo 5 • 103
Segundo estudiosos a primeira vez que o termo Melhor e Pior Alternativa
à negociação de um acordo aparece é na obra “Como Chegar ao Sim” de Roger
Fisher, William Ury e Bruce Patton, com vistas a mostrar às partes envolvidas na
disputa os parâmetros da realidade, para que assim decidam se permanecem ou
não no processo de negociação.
É preciso ter em mente que se os mediandos se mantiverem ao longo do pro-
cesso de mediação com a percepção voltada para o ideal de cada um como única
possibilidade, a criação de um impasse será inevitável, pois não estarão abertas ao
convite para que analisem outras alternativas que possam ser de interesse mútuo,
ainda que essas alternativas não contemplem na totalidade o ideal de cada uma das
partes, mesmo porque, muitas vezes, o ideal encontra impeditivo de exequibilida-
de ou mesmo impedimentos de ordem material ou legal.
A melhor e a pior alternativa - ou Melhor Alternativa à Negociação de um
Acordo (MAANA) e Pior Alternativa à Negociação de um Acordo (PAANA), são
conhecidas pelo poder que possuem de trazer os mediandos à realidade do conflito
e às alternativas para sua solução.
A identificação da Melhor Alternativa Negociada (MAN) e da Pior Alternativa
Negociada (PAN) pode ser obtida por meio de perguntas feitas pelos mediadores
aos mediandos, seja nas reuniões privadas - caucus -, ou nas reuniões conjuntas -
“Qual a melhor e a pior solução para essa situação, do seu ponto de vista?”.
Para Tania Almeida:
Temos trabalhado com uma ideia inspirada nesta oferecida pela Escola de Negociação
da Harvard Law School. A Melhor Alternativa Negociada – MAN e a Pior Alternativa
Negociada – PAN, ou seja, qual a solução ideal (MAN) e qual a pior solução (PAN) que
podem resultar da negociação em curso. Convidar os mediandos para sublinharem
esses dois parâmetros e para considerarem esses polos de realidade – o ideal e pior –
como norteadores, pode ajudá-los a lidar com a situação de interdependência inerente
a qualquer negociação e a manejar alternativas de solução. ALMEIDA, 2014, p. 334.
Uma reflexão por parte dos mediandos a respeito das soluções possíveis e que
melhor possam atender aos interesses de ambas as partes e ao mesmo tempo estar
distanciada da pior solução, faz com que estes se sintam participantes da constru-
ção da solução, elegendo as que se situem entre os dois pontos, inclusive, podendo
concluir que, muitas vezes, o que é a solução ideal para uma parte será a pior
solução para a outra, e nesse caso, o impasse estaria criado e inviabilizaria uma
tomada de decisão.
capítulo 5 • 104
A seguir o gráfico circular apresentado no Livro “Como Chegar ao Sim” de
Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton (2005, p. 86), apresenta Quatro Etapas
Básicas da Invenção de Opções.
capítulo 5 • 105
Criação de cenários futuros
capítulo 5 • 106
Para Tania Almeida (2014, p. 341):
ATIVIDADES
01. Assinale C para alternativa correta e E para a errada:
a) O momento de lidar com os problemas das pessoas é depois deles se tornarem proble-
mas pessoais. ( )
b) As diferenças são definidas pela diferença entre seu pensamento e o dele, que é o problema. ( )
c) O modo como você ouve o mundo depende do lugar onde você não se encontra. ( )
d) Talvez a melhor maneira de mudar as percepções de outrem consista em enviar-lhes
uma mensagem diferente da que esperam. ( )
02. Para o bom andamento da mediação de conflitos é importante que sejam respeitados os
princípios que norteiam esta técnica. Então, é possível afirmar que:
a) Os fatos, situações e propostas ocorridos durante a mediação são privilegiados e sigilo-
sos apenas nas hipóteses que envolvam direito de família e da personalidade.
b) Aqueles que participam do processo de mediação devem manter o sigilo sobre as ques-
tões apresentadas no curso do processo de mediação, mas podem ser testemunhas
sobre os fatos para que a justiça seja alcançada.
capítulo 5 • 107
c) O Mediador, por meio de uma série de procedimentos e de técnicas próprias, identifica
os interesses das partes e constrói com elas opções de solução sem caráter vinculativo,
visando ao consenso.
d) O princípio da autonomia da vontade das partes deve ser respeitado, desde que não
esteja contrariando a Constituição Federal, as leis e os bons costumes.
RESUMO
No presente capítulo você aprendeu sobre as ferramentas negociais, sua importância
para o mediador e para os mediandos, pois auxiliam na criação de alternativas que melhor
atendam aos interesses das partes, visando, ainda, efetivar o objetivo da mediação que é o
restabelecimento do diálogo e a manutenção da relação entre os mediandos.
Foi possível analisar as ferramentas negociais de forma pormenorizada, trazendo seus
conceitos e distinções, de maneira a serem identificadas e aplicadas em qualquer processo
de mediação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Tania. Caixa de Ferramentas em Mediação: aportes práticos e teóricos. São Paulo: Dash
Editora, 2014.
capítulo 5 • 108
_______. Mediação de Conflitos: Um meio de prevenção e resolução de controvérsias em sintonia
com a atualidade. 2016. Disponível em: http://www.mediare.com.br/2016/03/01/mediacao-de-
conflitos-um-meio-de-prevencao-e-resolucao-de-controversias-em-sintonia-com-a-atualidade/. Acesso
em: 20 de novembro de 2017.
BACELLAR, Roberto Portugal. A mediação, o acesso à justiça e uma nova postura dos Juízes.
2004. Disponível em: :http://revistadoutrina.trf4.jus.br/index.htm?http://revistadoutrina.trf4.jus.br/
artigos/edicao002/roberto_bacelar.htm. Acesso em: 20 de novembro de 2017.
FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como Chegar ao Sim: a negociação de acordos sem
concessões. Rio de Janeiro: Imago 1994
________. Como Chegar ao Sim: negociação de acordos sem concessões. FISHER, Roger, URY,
William e PATTON, Bruce; tradução Vera Ribeiro e Ana Luiza Borges. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
NUNES, Antônio Carlos Ozório. Manual de Mediação: Guia Prático da Autocomposição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016.
GABARITO
Capítulo 1
03. A – Estando Incorreta apenas a afirmativa III, pois a mediação reforça a cultura da paci-
ficação social e não a cultura do litígio.
Capítulo 2
01. B 02. C
Capítulo 3
01. B – O enquadre é uma técnica de relembrança do que foi combinado pelas partes quan-
do do aceite da participação no processo de mediação.
capítulo 5 • 109
02. A - Segundo ALMEIDA (2014, p. 222) o mediador, com o uso da reunião privada, tem a
possibilidade de uma abordagem mais direta com as partes envolvidas no conflito, estando
em um ambiente propício a abertura e desabafo da parte, considerando que naquele mo-
mento não há defesas e ataques do outro, nesse sentido, tem o mediador condições de obter
respostas quanto aos reais interesses da parte, que muitas vezes, estariam ocultas se esti-
vesse em uma reunião conjunta, já que a parte poderia não se manifestar da mesma forma.
03. C. 04. E.
Capítulo 4
01. C 04. A
02. B 05. B
03. C
Capítulo 5
01. A - ( E ); B - ( C ); C - ( E ); D - ( C )
02. C 04. A
03. B
capítulo 5 • 110
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 111
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 112