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A ÁFRICA DE MUITOS POVOS

No IV milênio a.C., o continente africano apresentava grande variedade de formações sociais. Na


Bacia do Nilo havia núcleos urbanos e comunidades que praticavam uma agricultura irrigada; na
região da Núbia encontravam-se pequenos grupos seminômades. Nos planaltos da Etiópia pequenos
núcleos humanos praticavam agricultura e pastoreio, enquanto a região saariana se encontrava em
um progressivo avanço de áreas desérticas, obrigando agricultores e pastores a deslocarem-se. Na
região subsaariana as comunidades ainda viviam da caça e da coleta, enquanto o norte era uma
encruzilhada de rotas comerciais com o Mediterrâneo.

A FORMAÇÃO DO EGITO
O Egito Antigo possui uma das culturas mais fascinantes de toda a história da humanidade. Foi a
primeira das antigas sociedades a constituir um reino unificado, em um período em que as regiões
do Oriente Próximo estavam organizadas em cidades independentes, em comunidades nômades e
seminômades e em aldeias.
Tal formação social desenvolveu-se no fértil Vale do Rio Nilo, no nordeste da África, entre os
desertos do Saara e da Núbia.
Os antigos egípcios dividiam a região em duas terras. A rica e estreita faixa de terra fértil que
acompanhava o Nilo era chamada Kmt ou “Terra Negra”, por oposição à Dsrt, a “Terra Vermelha”
do deserto não fertilizado pelo Nilo.
Havia também uma divisão entre o norte e o sul. A “Terra do Norte” era o Delta do Rio Nilo, ou
Baixo Egito, que se estendia em triângulo da cidade de Mênfis até o Mar Mediterrâneo. A “Terra do
Sul”, ou Alto Egito, era todo o Vale do Nilo, desde Mênfis até a primeira catarata do rio, na
fronteira com a região da Núbia.

HAPI, O DEUS-RIO

Assim como os rios Tigre e


Eufrates, o Nilo teve papel
fundamental no desenvolvimento
econômico, social e cultural do
Antigo Egito. Seus habitantes o
veneravam como um verdadeiro
deus.
O deus-rio era chamado Hapi.
Para os antigos egípcios, sem ele
não haveria nenhum recurso,
nenhuma vida, somente deserto,
pedras e areia. O deus era, geralmente, representado como um homem, mas com seios femininos e
barriga saliente. Sua pele era azul ou verde, cores associadas à fertilidade.
Os antigos egípcios chamavam as cheias do rio de “a vinda de Hapi”. Quando a cheia demorava, e o
mês de junho, seco e quente, provocava a morte de animais e a queima da vegetação, os egípcios
faziam suas preces ao deus e os sacerdotes faziam oferendas.

Fertilização
Inundado anualmente na estação das cheias, o Nilo deposita uma camada de húmus, uma espécie de
lodo escuro, rico em matéria orgânica, formado por restos de vegetais e animais.
O húmus fertiliza o solo às margens do rio. Quando as águas baixam, quilômetros de terra podem
ser cultivados.
Com tais condições, por volta de 5.000 a.C., o vale passou a atrair grupos humanos vindos das
regiões do Saara. Desde 6.000 a.C., ocorrera um progressivo ressecamento climático responsável
pela formação do grande deserto.

OS TRABALHOS DE IRRIGAÇÃO
Para um melhor aproveitamento das terras fertilizadas, as águas do Nilo deveriam ser controladas.
As populações estabelecidas transformaram gradualmente o Vale do Nilo, permitindo a organização
de uma forma de vida sedentária, ou seja, com habitação fixa, dependente das cheias do rio.
Diante da necessidade de cooperação para o trabalho comum, os grupos passaram a formar
pequenas comunidades agrícolas que se espalharam ao longo do Vale do Nilo.
Por volta de 4.000 a.C., essas pequenas comunidades começaram a se agrupar, provavelmente em
função da necessidade de organizar uma melhor defesa das terras, ou para realizar o difícil trabalho
de domesticação do rio.
As cheias do rio eram provocadas por chuvas que caíam na região subsaariana, por onde corriam o
Nilo Branco e o o Nilo Azul. Para armazenar a água para os períodos de baixa foram criados
reservatórios que eram abastecidos por canais de irrigação. Para represar a água, foram construídos
diques, de maneira a controlar a sua força e o seu volume.

A formação dos nomos ao longo do Nilo


A agricultura de irrigação, com o controle das cheias anuais do Nilo, teve papel muito importante na
formação e no desenvolvimento de comunidades independentes, mais conhecidas como nomos.
A comunicação e o contato entre os nomos eram realizados pelo Nilo. Para ir ao norte, os barcos
eram levados pela corrente do rio até a foz. Em sentido contrário, era possível aproveitar os ventos
que sopram constantemente do Mar Mediterrâneo em direção ao sul e permitem subir o rio com
embarcações a vela.
A autoridade do chefe dos nomos, o nomarca, estava relacionada a sua força militar e à capacidade
de garantir a prosperidade da terra. Alguns arqueólogos levantam a hipótese de que tal elite teria
assumido o poder por ter concentrado os conhecimentos de determinados fenômenos naturais
relacionados às cheias do rio.

As federações do Baixo e Alto Egito


Possivelmente como resultado das guerras e alianças, ocorreu um processo de articulação dos
nomos que acabou por formar duas grandes federações: uma que reunia os nomos no norte e outra
que reunia os nomos no sul.
As duas grandes unidades
territoriais elevaram seus chefes à
dignidade real, cada qual com seu
emblema. O rei do Baixo Egito
usava a coroa vermelha, e o papiro
era seu símbolo. O rei do Alto Egito
usava a coroa branca e tinha por
símbolo a flor de lótus.

O calendário dos egípcios


O dia a dia dos egípcios era marcado pelos ritmos da vida agrícola: semeadura, colheita, preparação
de novas sementes. Tais ritmos estavam condicionados ao Rio Nilo e a suas mudanças.
Isso explica a elaboração de um calendário baseado na repetição do evento mais importante para a
sobrevivência dos egípcios: as cheias do Nilo.
Nesse calendário, a primeira estação do ano começava com as inundações. Em julho (do nosso
calendário), as águas do Nilo de esverdeadas se tornavam avermelhadas por causa do barro e
começavam a aumentar de volume. O rio continuava a subir nos dois meses seguintes, atingindo o
ponto máximo em setembro. A partir daí, começava a baixar.
Os campos ficavam encharcados durante quatro meses. Nesse período de inundação, os egípcios
dedicavam-se às grandes construções, à arte e à guerra.
Em novembro começava a segunda estação, quando as águas baixavam e a terra estava pronta para
a semeadura. Iniciavam-se, então, os trabalhos de plantio.
Nesse período, os egípcios plantavam diversos produtos, em especial o trigo (para preparação de
pão), o linho (para confecção de roupas) e a cevada (para fabricação de cerveja).
Terminada a semeadura, os camponeses esperavam a germinação dos grãos. Nesse período, os
antigos egípcios podiam também se dedicar à horticultura e à vinicultura. Assim, aos cereais se
juntavam os legumes, as verduras, as frutas e o vinho.
A terceira e última estação (entre março e junho) era a época da colheita e do estoque da produção.
Também era o tempo para a limpeza e o conserto dos canais de irrigação. Depois disso, esperava-se
a nova enchente. Os egípcios observaram que o início da enchente tinha uma recorrência de 365
dias. A partir daí, eles dividiram seu ano em 12 meses.
Cada mês era composto de três semanas com dez dias cada. Os cinco dias ao final do ano eram
reservados para comemorar o aniversário dos deuses Osíris, Hórus, Ísis, Neftis e Set.

A UNIFICAÇÃO DO EGITO
Segundo a tradição egípcia, a unificação das “Duas Terras”, ou seja, a união do Baixo e do Alto
Egito sob um único soberano foi feita por Menés, embora as fontes arqueológicas o chamem de
Narmer.
Por volta de 3100 a.C., Menés, soberano do Alto Egito, conquistou o Baixo Egito, uniu as duas
coroas (branca e vermelha) e estabeleceu sua capital em Tínis, no Alto Egito.
Posteriormente, a capital foi transferida para a cidade de Mênfis, onde as duas terras se
encontravam. Menés é considerado o fundador da primeira dinastia (série de soberanos de uma
mesma família) e o primeiro rei a concentrar todos os poderes – político, econômico e religioso.

FARAÓ
Os reis egípcios eram denominados faraós. O termo tem origem em uma palavra que significava
“casa alta” ou “palácio”.
O poder do faraó era absoluto: estendia-se a todos os setores da sociedade. Como senhor supremo,
comandava um corpo de funcionários que recolhia impostos, fiscalizava obras de irrigação,
administrava projetos de construção, controlava a terra, mantinha registros e supervisionava os
armazéns governamentais, onde os cereais eram guardados para o caso de uma má colheita.
]diferente da Mesopotâmia, onde a acumulação de excedentes era centralizada nos templos de uma
divindade local, no Egito Antigo o excedente estava nas mãos de um soberano que se colocava
acima da sociedade, não porque representava a vontade dos deuses, mas porque ele era tido como o
próprio deus.

O armazenamento da produção
O excedente recolhido das comunidades locais era armazenado nos depósitos centrais e depois
redistribuído em um eficiente sistema. A eficiência da administração centralizada dependia do
conhecimento exato daquilo que acontecia em cada nomo.
As diversas operações de coleta, o armazenamento e a distribuição dos excedentes eram
responsabilidade dos funcionários sob a autoridade do faraó. Eles cuidavam da organização dos
trabalhos coletivos em toda a região, estocavam os produtos e, em caso de necessidade, racionavam
ou distribuíam às regiões necessitadas.

A partir da leitura do mapa desta página, identifique e descreva a localização:


• do Delta do Nilo;
• do Alto e do Baixo Egito;
• do Nilo Azul e do Nilo Branco.

2. No mapa há registros de diversos oásis. Explique o que é um oásis.

3. Observe o mapa da página 88 e responda: como o processo de desertificação do Saara, quais as


principais regiões de deslocamentos de suas populações? Explique.

4. Como os antigos egípcios dividiam suas terras?

5- Explique como se dava a fertilização natural das margens do Rio Nilo.

6- Relacione o processo de ampliação da área do Deserto do Saara com a concentração humana na


região do Vale do Nilo.

7- Explique as técnicas utilizadas para aproveitamento das águas do Nilo.

8- Explique o que eram os nomos.

9- Explique quem eram os nomarcas.

10- Explique como se formaram as federações do Baixo e do Alto Egito.

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