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Regimento de 1640 - 2 Parte PDF
Regimento de 1640 - 2 Parte PDF
rÍruro ur
De como se hão de tomar as denunciações
1. Porenquanto a denunciação é um dos meios principais que há para se
poder em juízo proceder contra os culpados; os Inquisidores sem dilagão
alguma, ouvirão as pessoas, que vierem denunciar à mesa do S. Ofïcio, e
tomarão pessoalmente suas denunciagões, sem as poderem cometer aos Depu-
tados, como se diz no Livro l,Título 3, $ 14; e examinarão tudo o que nelas se
disser com muita consideração; e farão declarar aos denunciantes em seu
testemunho, sua idade qualidade, donde são naturais, e moradores, o tempo, e
lugar onde se cometeu o crime de que denunciam as pessoas que sabem dele,
e as razões, que os moveram a denunciar, e sendo passado muito tempo depois
de cometido, serão perguntados, porque mzÃo não denunciaram mais cedo, e
pelas mais circunstancias que parecem necessárias para melhor se inteirarem
do credito, que se deve dar a seus ditos; e assim mais lhe farão declarar a idade,
qualidade dos denunciados, donde são naturais, e moradores; e se ao tempo que
cometeram o crime, estavam em seu perfeitojuízo, ou se pelo contrario tomados
do vinho, ou de alguma paixão que lho perturbasse; se farão advertidos, ou
repreendidos das pessoas, que se acharão presentes, e o que lhe responderão,
com o mais que parecer, que convém, para se ter coúecimento das pessoas dos
culpados, e das culpas por eles cometidas.
2. Quando a denunciação for contra algum confessor de solicitar na
confissão, se guardarão muito os inquisidores de faz.er aos denunciantes mais
perguntam, das que parecerem necessiírias para se inteirarem da culpa dos
t Inquisidores lhe passarão precatório para lhes serem remetidas, e nele iná
declarando, que até verem ordem sua" seja o preso detido na cadeia; e sendo-lhes
remetidas, se acharem, que lhes pertence o conhecimento delas, passarão
segundo precatório, em que peçam a pessoa do preso, ao qual sendo remetido,
) mandarão por em custodia, e verão em mesa as testemuúas depois de reper-
I
guntadas, e ratificadas na forma, que fica dito, e tomando-se assento, que as
culpas são bastante para prisão, será o preso recolhido nos cárceres, e se
procederá em sua causa; e não sendo bastante, o mandarão por em sua liberdade,
e sem o remeter à prisão, em que estava" salvo se ele estivesse preso por outra
culpa, alem daquelaporque foi trazido ao S. Oficio, como adianta se diráno $.
8. do Título seguinte.
10. Pela denunciação, que houver de alguma pesso4 por casar duas vezes,
se não procederá, sem primeiro se verificarem ambos os matrimônios, e constar,
que foram contraídos na forma do sagrado Conselho Trident. e que no tempo,
em que se celebrou o segundo, era ainda viva a primeira mulher, ou o primeiro
marido, e constando de todas estas coisas na forma, que estiá dito no título 3. $.
8. deste livro, se procederá nesta denunciação, como adiante se dirá nas mais
denunciações.
I l. E se a denunciação for de palavras, ou feitos duvidosos, antes de se por
em mesa os Inquisidores os mandarão qualificar por dois, ou três qualificadores
do S. Oficio, para que sendo certa a qualidade da culp4 se possa melhor
proceder contra os culpados; e ao assento, que se tomar nas culpas, que tiverem
qualificação, se enviará com elas ao Conselho.
: TÍTIJLO IV
l.
Quanto mais graves são os crimes, principalmente aqueles que se
cometem contra nossa S. Fé, de que coúece o S. OÍïcio, tanto importa, que
com maior consideração se proceda neles à prisão dos culpados: por tanto
ordenamos que depois de tomados os testemuúos dos denunciantes, e pergun-
tadas as referidas, e ratificados uns e outros, e feitas nas denunciagões que
vierem remetidas as diligências, que ficam apontadas, se entregue tudo ao
Promotor do S. Oficio, para que lançando o primeiro em Repertório possa
requer contra os culpados por parte dajustiça, e autuadas com seu requerimento
as denunciações se farão conclusas aos Inquisidores, para todosjuntos as verem
em mesa; e em neúum caso pronunciarão por lista ou relação verbal das
testemuúas; e se o caso for razÃo gÍave; ou tÍío duvidoso, que entendam que
seria razão pronunciar-se com mais votos, poderão chamar dois Deputados,
quais lhes parecer para votarem nele; e para as que vierem remetidas dos
3. Sendo a pessoa denunciada de tão pouca idade, que não teúa a que no
Livro 3, Título l, $ 12; se requer parafazer abjuração os Inquisidores a man-
dario trazer à mesa, e a examinarão pela denunciação, que contra ela houver,
e confessando algum erro contra a Fé, se fará o que fica disposto no Título 2,
deste livro, $ 5. E negando a culpa, de que estiá denunciada, a mandarão por em
casa de um oficial da Inquisição, e com rogos, e ameaços a procurarão reduzir
a confessar, dando-lhe, se for necessário, algum castigo em lugar de tormento,
conforme o direito dispõe.
culpas, se podenâ proceder a prisão nos sobreditos casos sem ordem do Conse-
lho.
6. Depois de tomado assento das pessoas, que devem ser presas, se passarão
outros tantos mandados, entrando o nome de uma pessoa somente em cada um
deles, e estando assinados os Inquisidores, os entregarão ao Meiriúo, familiar
ou pesso4 a que se cometer a prisão, advertindo-lhe, que feita el4 ou não tendo
efeito, os viÉ entregar na mesa, e dar razÁo nela do mais que tem passado; e
quando os mandados se remeterem aos Comissários, se lhe encomendará muito
particularmente, que os tornem enviar: e em nenhum caso se mandarâ fazer
prisão alguma, sem mandado por escrito assinado pelos Inquisidores.
7. Quando a prisão for com seqüestro de bens, ordenarão, que a possa, a
quem se encarregar, guarde o que se dispõe no Título 13, $ 9, do Livro l; e
sendo sem seqüestro de bens, mandar-lhe-ão, que advirta ao preso, que deixe
sua cÍìsa, e fazenda encarregada a quem lhe parecer; mas se houver algum
: inconveniente, no preso entender, que não se faz seqüestro em seus bens, neste
caso, deixarâacasa encarregada a alguma pessoa de confiança, de quem possa
presumir, que se o preso o soubera, lhe encomendará sua fazenda.
8. Se os Inquisidores mandarem prender alguma pessoa que já estiver presa
(
por culpas cujo conhecimento pertence ao ordinrário, ou Juiz secular, farão
passar precatório para lhe ser o preso remetido, e irá declarado nele, que
acabado o negócio para que se pede a remissão, será tornado o preso ao lugar,
em que estava; e mandamos, que assim se cumpra, e guarde pontualmente; e
se o preso depois de estar nos cárceres do S. Ofício, for condenado em pena, a
qual senão possa executar nele, sem primeiro ser tornado à prisão donde veio,
será levado a ela com carta, em que se diga ao ordinário, ou Juiz secular, que
depois de sentenciado em seu juízo, será outra vez remetido ao S. Ofïcio, para
nele se executar sua sentença, de modo que sempre a execução dela haja de
preceder a qualquer outra; salvo quando de se executar em primeiro lugar do
S. Ofício, se seguir maior prejuízo a alguma pessoa, ou à sentença dada em
outrojuízo; porque sem razão seria, que por o preso ser remetido segunda vezo
se defraudasse o comprimento da justiça, ou o direito das partes.
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R IHGB, Rio de Janeiro, 157(392):693-883,ju\./set. 1996.
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Sônia Aparecida de Siqueira
que o réu foi posto, e logo as culpas com requerimento do promotor, e assento
da mes4 porque se decretou a prisão, e depois, disto, as mais culpas que
acrescerem. A segunda começaÌá pelo inventario do preso na forma do pará-
grafo segundo, e logo continuarão as sessões, como adiante se dirá nos Títulos
6 e7.E em caso, que haja de acusar algum ausente ou defunto, para efeito de
ser condenada sua memóri4 e confiscados seus bens na forma de direito, se
porão na primeira parte as culpas somente, e a segunda começará com o
requerimento do promotor, e assunto, que sobre ele se tomar, e logo se juntará
a cwta dos editos porque farão citados os ausentes, e os herdeiros do defunto,
com certidão do Notrário do dia, em que os fixou, e em que foram tirados, e
continuará o processo, como se declara nos Títulos 18 e 19 deste livro.
3. Se a prisão for com seqüestro de bens, tratarão os inquisidores, com a
brevidade possível, de fazer com o preso inventario deles, no qual lhe mandarão
que declare com juramento, os bens de raiz e móveis, de que estava de posse,
avalia, e qualidade deles, se são de morgado, capela ou prazo de vida ou fatos
perpetuo, Eclesiástico ou secular, ou tem algum outro encargo que direito, e
ações tem contra outras pessoas, ou elas contra ele, que dividas lhe devem, ou
estrâ devendo, que coúecimentos, letras, e papeis tiúa em seu poder, ou em
mão alhei4 e feito assim este invenüirio, se dará com ele principio à segunda
parte do processo, na forma, que fica dito, e se fará uma copia dele, com todas
as declarações sobreditas, que será enviada ao Juiz do Fisco, paratratar de por
em arrecadação, a segurançaafazenda do preso; e não tendo o preso alguns
bens, se fará disso termo assinado por ele, e será junto em lugar do inventrârio.
4. Sendo o preso menor de vinte anos, antes de lhe ser feita alguma, lhe
será dado curador, ao qual comjuramento dos santos evangélicos, que há de
receber em presença do preso, será encarregado, que o aconselhe bem, e
verdadeiramente em tudo o que entender-lhe convém, assim para bem de sua
alma, como paÍa o procedimento de sua caus4 e de tudo se farátermo assinado
pelo curador, que juntará ao principio logo depois ao inventrírio, e não o
havendo, depois do termo, que se hâdefazer em seu lugar.
5. Todas as sessões ordinárias e confissões dos presos menores, lhe serão
lidas em presença de seu curador, o qual estarátambém presente, quando se lhe
ler o libelo da justiça, e à publicação das testemunhas, e dos despachos
prejudiciais, ou sentenças, que lhe forem publicadas, na ratificação das confis-
sões, e abjuração, que o menor frzer, e a todos os mais autos judiciais de seus
processos; e os termos, que o menor assinar, assistirátambém o curador, e assim
irá declarado neles, e nos que não forem assinados, daú fé o Notiírio, que os
escrever, como o curador esteve presente.
6. Se no discurso da causa sobrevier ao curador tal impedimento, que não
possa continuar com ela, se dará ao preso outro, de que se fará termo na forma
TÍTULo VI
Das amoestações, e das sessões que se hão defazer aos
presos negativos antes do libelo dajustiça
l. Antes de vir o Promotor com libelo por parte da justiça contra os presos,
que estiverem negativos, lhe farão os Inquisidores fiês admoestações, com
'distinção
de tempo em cada uma delas, e a primeira se fará na sessão da
genealogia; a segunda na sessão in gênero; e a última na sessão in espécie, todas
as sessões começarão na form4 que estiá declarado no Título '7, 5,8, do livro
primeiro; e na primeira, que se fzer com réu, se dirá, que o Inquisidor N. ou
Inquisidores (estando na mesa mais que um) mandarão vir perante si a um
homem, ou mulher, que a tantos de tal mês veio de tal parte para os cárceres do
S. Oficio: em todas se dará juramento ao réu para dizer verdade, e ter segredo,
e será perguntado, se cuidou em suas culpas, e as quer confessar para descargo
de sua consciênci4 e seu bom despacho; e sendo relapso, ou tendo culpas de
sodomi4 se dirá, para descargo de sua consciênci4 e salvação de sua alma. Se
ao tempo, que se fizer a sessão estiver na mesa mais de um Inquisidor, todos
os que se acharem presentes a assinarão, mas o que a fizer assinará no último
lugar, ainda que seja mais antigo.
2. A primeira sessão, que há de ser de genealogia, se fará ao preso dentro
em dez dias, depois de haver entrado nos cárceres; nela será perguntado por seu
nome, por sua idade, qualidade de sangue, que oficio tiú4 de que vivia, donde
é nafural e morador, que foram seus pais, e avôs de ambas as partes, quais tios
teve, assim paternos, como maternos e que irmãos, o estado, que uns, e outos
tiveram, se são casados, e com quem, que filhos, ou netos, tem vivos, ou
defuntos, e de que idade são, se é cristão batizado,e crismado, onde, e por quem
o foi, e quem foram seus padrinhos; e se depois que chegou aos anos de
discrição, ia às igrejas; se ouvia missa, e se confessav4 e comungava, e fazia
as mais obras de Cristão. Mandarão ao preso, que se poúa de joelhos, e que se
benza, e diga a doutrina cristã, a saber, o Padre nosso, Ave Maria, Credo, Salve
Raiúa, mandamentos da lei de Deus, e da Santa Madre lgreja, o que se fará"
ainda que o preso notoriamente seja pessoa de letras: será mais perguntado, se
saber ler, e escrever, se estudou alguma ciência, e onde; se tem algumas ordens,
se saiu fora do reino, e porque partes andou, e nele, em que terras esteve; com
que pessoas tratava, e comunicava, e se foi outra vez preso, ou penitenciado
pelo S. Oficio, ou teve alguns parentes que o fossem. Todas estas declarações
se tomarão com muita miudez4 e se escreverâ cada uma delas em regra
separad4 para que mais facilmente se possa achar pelas genealogias, o que por
elas se quiser saber. será mais perguntado, se sabe, ou suspeita a causa porque
foi preso, e trazido aos cárceres do S. Oficio, e dizendo que não, e que antes
presume, que o prenderam por algum falsotestemunho levantado por inimigos,
se lhe faná primeira admoestação na forma de estilo do S. Ofïcio, na qual lhe
não será declarada a qualidade das culpas, porque foi preso, e somente lhe será
dito, que está preso por culpas, cujo conhecimento pertença ao S. Oficio; e no
fim da sessão tornará o Inquisidor a admoestar o preso, que cuide em suÍts
culpas, e trate de ao confessar, de que o notário dará fe. Antes de ser recolhido
o preso, lhe lerá o Notrírio a sessão, dizendo no ftm, como lhe foi lida, e o que
ele respondeu depois de a ouvit, e logo será assinado por ele, se souber escrever,
e pelo Inquisidor ou Inquisidores que estiverem presentes; e não sabendo os
presos escrever, farão seu sinal acostumado; e sendo mulheres, que não saibam
escrever assinará por elas o Noüirio, declarando, que o faz de seu consentimen-
to.
3. E as pessoas, que não forem presas por culpas de heresia formal, se não
fará a sessão de genealogia por extenso, mas somente serão perguntadas, por
seu nome, idade, e qualidade, e pela de seus pais, e avós, se são Cristãos
batizados, e crismados, com o mais, que dai em diante fica apontado; e aos que
forem presos segunda vez, se perguntará somente por seu nome, e de seus pais,
e se mudaram de estado depois da primeira prisão; ou sendo casados, se tiveram
mais filhos, e depois de saírem do S. OÍïcio foram fora do Reino, e com que
pessoas trataram.
4. Na segunda sessão, que se fará dentro de um mês depois da prisão, será
o preso perguntado em geral por suas culpas, e pela crença, e cerimonia da lei,
ou seita, de que estiver delato, para que achando-se o culpado em alguma delas
o confesse, e trate do que convém à salvação de sua alma; e nossa sessão se
multiplicarão as perguntas, segundo a qualidade das culpas e cerimonias da lei,
ou seita, de que estrá indiciado; e depois de responder a todas elas, afirmando,
que não tem cometido culpas na matéria das perguntas que lhe foram feitas, se
lhe fará a segunda admoestação, na qual o Inquisidor se conformará com a
prática, e estilo do S. Ofício, tendo consideração à qualidade das culpas, porque
o réu esüi preso.
5. E sendo as culpas do judaísmo, será o réu perguntado pelas que cometeu
depois do último perdão geral; e se o réu estiver indiciado de alguma proposi-
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Sônia Aparecida de Siqueira
depois do libelo lhe ser lido, se lhe tomará sua confissão, e se procederá em sua
causa na foÍma, que vai ordenado no título seguinte.
TÍTTJLo VII
De como se hão as confusões aos presos, e das omoestações
que se hão defazer antes de serem
acusados por diminutos
tempo, e o lugar, em que foi, as pessoas, que se acharam presentes, com toda a
miudez4 e o mais, que ali passou: se aceitou o tal ensino, e movido dele se
apartou de nossa S. Fé, e o declarou assim aos que estavam presentes, que
cerimonias, lhe ensinaram, em que forma se fazia, e até que tempo continuou
com elas, e lhe durou a crença dos sobreditos erros.
4. Se o preso em sua primeira confissão, ou em qualquer, outra, confessar
culpas cometidas antes do perdão geral, nem por isso se deixará de escrever, e
tomar a confissão, que delas fizer, mas no fim se fará declaração, que a tal
confissão se tomou por informação, e terá isto lugar na pessoas de nação dos
Cristãos novos, que gozarão do último perdão geral, que lhe foi concedido.
5. Quando o preso em sua confissão disser de pessoas, com que comunicou
seus erros se lhe tomarão as comunicações com muita miudeza, declarando
nelas, quanta parte tem de nação as pessoas, de que vão dizendo, e porque via:
donde são moradoras, que estado, e idade tem, se são solteiros; o tempo da
declaração, o mais ao certo que for possível, escusando sempre de o tomar com
alternativa, com mandar aos presos, que cuidem, e lancem conta aos anos, de
modo que ajustem as confissões com a verdade, quanto a memória lhe permitir:
a ocasião, que houve paÍa se declarar, se o fizeram mais que umavez,e quando
foi a última; se os cúmplices são vivos, ou defuntos, se foram presos pelo S.
Ofício, e se a comunicação foi antes ou depois de o serem; se tem com eles
razão de parentesco, se declaram quem os ensinou, ou as pessoas, com que,
comunicavam, e no fim de cada sessão lhe farão declarar aÍazÃo, que houve
para se fiarem uns dos outros e tudo o que tiverem que dizer ao costume. E
quando na mesma comunicação disser de muitos cúmplices depois de se
haverem tomado com suas confrontações, e que se passou na comunicação,
serão segunda vez repetidos por seus nomes, e após isso se continuará a
declaração, que com ele teve.
6. Se o preso depois de confessar suas culpas, no discurso de sua confissão
acrescentar mais cúmplices em alguma das comunicações, que tem declarado,
ou depuser de outras diferentes em substancia, e no lugar, a respeito das pessoas,
de que tem dito, os Inquisidores se não contentaram em remeterem umas
comunicações a outras, antes farão, que o preso declare particularmente em
cada uma os nomes de todas as pessoas, que se assinaram presentes, posto que
tenha dito a substancia da culpa, que cometeram, e assim mais lhe farão declarar
o tempo, e lugar, em que tiveram a declaração, com todas as circunstancias, que
paÍecerem necessárias paÍa os testemunËos ficarem claros, e confundentes, e
as publicações, que deles houverem de sair, se puderem fazer com certez-a.
poderão dizer, que o que mais lhe convém, é dizer em tudo verdade, e
descarregar sua consciência; mas depois de tomada a confissão, e ratificação
na mesma forma em que estiver feit4para que não aconteça ficar por ratificar,
revogando-se o preso, quando vir que o examinarão por ela; e depois disto em
diferente sessão metendo algumas audiências em meio, examinarão ao preso
pelas contradições, repugnância, e inverosimilidades de sua confissão, e no fim
desta sessão será admoestado na forma, que se diz no $. seguinte, juntando à
admoestação o que parecer conveniente, em razío das ditas contratações,
repugnâncias, e inverosimilidades.
8. E não se podendo tomar toda a confissão ao preso na primeira audiência,
lhe será dito no fim dela, que examine bem, sua consciência, para continuar
sua confissão, e os inquisidores terão cuidado de lha ir tomando sem meter
tempo em meio. E depois do preso dizer que não tem mais o que confessar, lhe
dirão, que tomou muito bom conselho em começar confessar suas culpas, que
lhe convém traze-las todas à memória, e declarar inteiramente as verdades
delas, e todas as pessoas, com quem as comunicou; porque fazendo-o assim,
salvará sua alma, e se porá em estado de com ele se usar de misericórdia.
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Sônia Aparecida de Siqueira
o preso perguntado pelo tempo, em que se apartou da nossa santa Fé, e se passou
à crença dos erros, que tiver confessado: por quem lhos ensinou, e cerimonias
que fez, repetindoJhe de palavras as que se contem na sessão in genere do
negativo; e em que Deus cria no tempo de seus eros; que orações rezava, a
quem as oferecia; e dizendo de algumas orações, que não sejam as da igrej4 se
tomarão todas por extenso; se cria no mistério da santíssima Trindade e em
Cristo nosso seúor, e se o tiúaporverdadeiro Deus, e Messias prometido na
lei dos Judeus, ou se esperava ainda por ele, como os judeus esperam; se cria
nos Sacramentos da santa madre Igreja, e os tinha por bons, e necessários para
salvação da alma, se lhe fez alguma irreverência, principalmente ao da Euca-
ristia: se tomava os sacramentos, e fazia as mais obras de Crist2Ío, e com a tengão
asfazia; se confessava os erros, que tem declarado a seus confessores, e os tinha
por tais; se sabi4 que ter crença na lei de Moisés, ou seguir os erros, que tem
confessado, eÍa contra o que tem, crê, e ensina a santa madre Igreja de Roma"
e contra o uso comum dos Católicos Crist2ios; até que tempo lhe durou a crença
de seus erros, e que o moveu a apresentar-se deles e em que crê de presente. E
se o réu for sacerdote, será mais perguntado, se quando dizia miss4 ou
ministrava os sacramentos do batismo, e penitencia, tinha intenção de consa-
gr ar, b atizar e absolver.
12. Todas as perguntas, e respostas, que os réus derem a cada uma delas,
na sessão de crenç4 se escreverão por extenso; e tendo o réu satisfeito a
informação da justiga, e assentando bem na crença de seus erros, se lhe dirá o
que fica dito no $ 10 precedente. E tendo; e quando não tiver satisfeito, ou não
assentar bem na crença, se lhe fanâ a segunda admoestação, na qual a advertirão
em particular, das faltas de sua confissão, repugnâncias, contradições, e inve-
rosimilidades, que dela resultarem, escrevendo-se fudo por extenso, e admoes-
tando-o da parte de Cristo N. S. trate de confessar toda a verdade, e emendar
as faltas, de que foi advertido-o para merecer, que com ele se use da misericór-
dia, que pretende.
13. As confissões dos presos se radicarão ordinariamente, antes de lhe ser
feita sessão de crença; salvo se por algum respeito parecer necessiírio aos
inquisidores fazer-se a ratificação em outro tempo; e em todo o caso, adoecendo
no cárcere algum preso, que teúa confessado suas culpas, os inquisidores o
irão ratificar tanto que adoecer, e farão declarar na ratificação o lugar, em que
se fez, e a causa, que para isso houve.
14. As ratificações se farão em presença de duas pessoas eclesiásticas, das
aprovadas por nós para efeito, na forma, que fica dito no livro primeiro Título
3, $ 21, as quais se darájuramento para dizerem verdade, e guardarem segredo,
e diante delas se perguntará ao preso, se está lembrando das pessoas, de que
tem dito em sua confissão, e do que contra elas tem testemuúado, depois de
16. O Promotor, tanto que o processo lhe for entregue, formará libelo contra
o réu no qual o primeiro artigo será conforme ao primeiro dos negativos, de que
fica dito no Título 6, $ 8, e no segundo dirá que em tanto é verdade o sobredito,
que o réu o tem confessado, e no terceiro porâa substancia de suas confissões,
tomando-a dos lugares do processo, em que o réu a fez" e dtÍá, que as aceita
enquanto fazemcontra ele: no quarto artigo articulará em geral as diminuições,
encontros, e inverosimilidades, que houver nas confissões, e logo irá formando
TÍTuLo Vm
Da apresentaçõo do libelo dajustiça,
e defesa dos réus
1. Tanto que o Promotor tiver feito libelo contra algum réu, dará na mesa
conta disso aos Inquisidores, os quais mandarão vir o preso perante si, e lhe
dirão, como o Promotor o quer acusar por parte dajustiça, e vir contra ele com
libelo; que trate de confessar a verdade de suas culpas, e que será melhor para
seu despacho, e para alcançar mais misericórdia, confessa-los antes, que depois
dele; e esta admoestação se tomará por terÍno no processo; e se com tudo sendo
negativo, persistir na contumácia de sua negação, ou não satisfazer a suas
diminuições, sendo confidente, será chamado o promotor à mesa" e estando o
réu em pé, lerão libelo dajustiça, e lido ele, e entregue ao inquisidor, que fizer
a audiênci4 que logo o receberásiet in quantum, se recolheú para o secreto; e
depois de recebido o libelo, darâo Inquisidor juramento ao réu paÍa contestar,
e logo mandará ao Notiário, que segunda vez lhe leia cada um dos artigos de
por si, e ao réu, que separadamente vai respondendo a eles; e tudo o que disser,
e responder se escreverá nos autos.
2. Na mesma audiência perguntará o Inquisidor ao réu se tem defesa, com
que vir, e se quer vir com ela; e dizendo que sim, lhe nomeará os advogados,
que costumam procurar pelos presos, para que faça procuração a todos, e a cada
um in solidum; salvo se disser, que tem pejo em algum deles, porque neste caso
fará procuração aos outros; e dizendo, que tem pejo em todos, e pedindo, que
lhe dêem outro, os Inquisidores mandarão tomar seu requerimento no processo,
e declarar nele as causas que o preso alegar para não aceitar os procuradores
ordiniários, e de fudo darão conta ao Conselho geral, para se prover no caso
como parecer justiça.
3. Sabendo o réu ler, se mandará dar o traslado do libelo, paÍa que inteirado
do que nele se contem, possa dar melhor informação ao Procurador, que lhe há
de formar sua defesa; porem sendo o réu pessoa ústica, ou de pouca capaciclade
e que não saiba ler, lhe sená declarada com muita miudez4 e substancia do
libelo, e o traslado, mandarão os Inquisidores dar a seu procurador, quando
houver de estar com ele.
4. Se o réu pedir papel para fazer suas lembranças das coisas, de que se
quer ajudar em sua defesa, os Inquisidores lho mandarão dar, com tida, e pena
para escrever, o que lhe for necessário, e as folhas que lhe derem, serão
rubricadas por um Notiário, que fará termo no processo, de quantas foram, e as
mesmas tornará a entregar, ou escritas, ou em branco, tanto que vier com sua
defesa, e no processo se fará descarga delas à margem do dito termo; o que se
guardará inviolavelmente pelos inconvenientes, que sepodem seguirde ficarem
com papel os presos no cárcere.
5. Depois de ter o réu bastante tempo para deliberaÍ em sua defesa, o
mandarão os Inquisidores trazer à mesa onde também será chamado um dos
procuradores, que tiver feito, ao qual em presença do preso darão notícia por
maior do estado de sua causa, e qualidade de suas culpas, e juramento dos santos
evangélicos, e lhe encarregarão, que defenda o réu bem, e verdadeiramente,
requerendo, alegando em seu favor tudo o que entender faz a bem de suajustiç4
advertindo-lhe mais, que se pelo discurso da causa alcançar, e se persuadir, que
o réu se defende injustamente, desistirá dela, e o virá declarar na mesa; e de
tudo se fará logo termo, que o procurador assinará em presença do preso, e do
Inquisidor, que der a audiência.
6.Tendo o procurador aceitado a causa e assinado o dito termo, se recolhená
com o preso na casa, que lhe for ordenado, para ali lhe formar sua defesa; e
enquanto com ele estiver lhe assistirá o Meiriúo do S. Oficio, ou um dos
solicitadores, sendo ele impedido, o que assim se guardará todas as vezes que
o preso houver de estar com seu procurador.
7. Se o réu disser, que para formar sua defesa lhe importa saber o tempo,
e lugar do delito, e pedir, que deles lhe façam declaragão, posto que o lugar
próprio de a pedir era quando viesse com contraditas as testemunhas, com tudo
os Inquisidores por seu despacho mandarão ao Promotor, que lhe faça a tal
declaração na forma de direito, e estilo do S. Ofício, e em nenhum caso a farão
de palavra" por alguns inconvenientes, que pode haver se o réu a pedir na mesa
logo depois de acusado, lhe será dito, que a peça por seu procurador, e que então
lhe diferirão como forjustiça.
8. Quando o réu confidente acusado por diminuto pedir, que lhe dêem vista
de suas confissões, para tratar com seu procurador, do que importa a sua
defensão, os Inquisidores o mandarão vir à mesa juntamente com o procurador,
e por um dos Notários lhe será lido tudo o que teve confessado somente de si,
calando o que toca aos cúmplices.
12. E dizendo o réu por seu procurador, que quer confessar suas culpas, ou
continuaÍ sua confissão, junta esta declaração ao processo, o mandarão os
lnquisidores vir à mes4 e lhe tomarão a confissão, e no termo da sessão irá
declarado, que o mandarão vir perante si, por dizer por seu procurador, que
queria confessar suas culpas, ou continuar a confissão, que havia feito; e no fim
da sessão será perguntado, se quer ainda vir com defesa; e dizendo, que não,
será lançado no mesmo termo; mas dizendo, que tem defesa, com que vir,
tornará a estar com seu procurador.
13. Quando o réu, depois de lhe ser lido o libelo dajustiça, disser, que não
tem defesa com que vir, ou que não quer vir com ela; se for negativo, os
Inquisidores exficio,lhe mandarão, que faça procurador, para se poder defen-
der; e o mesmo se guardará sendo confidente diminuto, e tais as diminuições
porque foi acusado, que justamente se possa duvidar, se será recebida sua
confissão; porem sendo as diminuições de pouca consideração, se o réu disser,
que não quer usar de defesa, o lançarão dela no mesmo temo, o mandarão, que
12. Se o réu não tiver feito procurador na defesa, porque não quis vir com
ela, nem de presente o que fazer, para vir com contraditas, nos casos referidos,
o mandarão os Inquisidores estar com um dos advogados, a quem primeiro
informarão do estado de sua causa, para que o aconselhe, e encaminhe no que
bem lhe estiver; e de tudo mandarão fazer termo no processo, ao qual se juntará
o que o advogado responder, depois de haver estado com o réu; e o mesmo se
guardará todas as vezes que se lhe fizer nova publicação da prova" que lhe
acrescer.
{
TITULO X
Das contraditas
I . Tanto que for publicada ao Réu a prova dajustiç4 e dada tempo bastante
para cuidar em sua defesa" os Inquisidores mandarão vir à mesa, onde será
amoestado confesse suas culpas, como lhe convém para bem de sua alma e seu
bom despacho; e dizendo, que não tem culpas que confessar, nem contraditas,
com que vir, ou que não quer vir com elas, se guardará o que fica dito no fim
do título precedente; e se com tudo disser, que está aparelhado para vir com
suas contaditas às testemuúas, que contra ele depuseram, o mandarão estar
com seu procurador, o qual continuará com ele, até todo de lhe formar as
contraditas, e como as tiver feitas, as assinará com o próprio Réu, e em mesa
as oferecerá em seu nome, e os Inquisidores as mandarão juntar ao processo, e
fazer termo de como se apresentaram.
2. Juntas as contraditas ao processo, será o Réu chamado à mes4 e lhe
mandarão os Inquisidores, que nomeie testemunhas para prova delas, e logo lhe
irão lendo os artigos, cada um por si, e acadaum deles poderá nomear até seis
testemunhas; e será o Réu advertido, que faça nomeação em Crisüio velhos, e
que não sejam seus parentes dentro do quarto grau, nem seus familiares, ou
pessoasi infames, e que fossem presas pelo S. Ofïcio, nem ausentes em lugares
remotosn que não possam ser perguntadas sem grande dilação; porém sendo a
matéria da contradita de qualidade, que se não possa provar por outras pessoas,
e afirmando o Réu com juramento que não tem outra que dar par prova dela;
neste caso se lhe admitirão quaisquer que nomear; e no despacho final se lhe
dará o credito que merecerem. E se a matéria da contradita for tal, que aos
Inquisidores paÍeça, que conforme a direito, para prova dela, não bastarão as
testemunhas nomeadas, mandarão ao Réu, que nomeie mais, até o número que
houverem por bastante; e isso mesmo se guardará nas testemuúas, que houver
de nomear, para prova das contraditas, que contém defesa cortada; e em caso
que algumas pessoas das que o réu nomear para prova de suas contraditas sejam
falecidas, ou ausentes, lhe mandarão nomear outras, não lhe declarando arazáo,
que para isso tem.
3. Feita a nomeação das testemunhas, para prova das contraditas, se dará
ao Réu juramento dos Santos Evangelhos sob cargo do qual farão declarar, se
o que articula passa na verdade, e vem com elas bem, e verdadeiramente, por
entender que fazem a bem a sua justiça, e não a fim de dilatar o procedimento
de sua causq e se depois de passar o que diz, falava, e comunicava com as
pessoas recusadas, tratando-se como amigos, ou se perseverarão sempre na
mesma inimizade; e a resposta, que o Réu der, se estenderá" por termo, o qual
assinaná com o Inquisidor.
9. Posto que o réu, quando vem com suas contraditas, diga que não tem
mais algumas, com que vir, se todavia depois pedir procurador para formar
outras, fazendo-se disso termo no pÍocesso, será admitido a elas, e isto sem
embargo de se haver tomado assento final em sua causq porém se tiver por
vezes vindo com contraditas, e de novo pedir procurador para ir com outras os
Inquisidores lhe farão declarar na mesa a materia delas, e as pessoas, cujos
testemunhos pretende impugnar; e parecendo, que o fazsó a fim de dilatar sua
causa, e impedir o despacho dela, não será admitido a novas contraditas, como
também não será admitido a elas, quando depois de estar defendido na forma
de direito, pedir procurador a tempo, que se entenda, que o faz maliciosamente,
a fim de impedir a execução da sentença, que contra ele estiver dada.
10. Não se juntarão ao processo as contraditas, que o Réu fizer por sua
mão, ainda que seja letrado, mas em todo o caso, estará com seu procurador,
que as formaní de sua letra, e assinadas por ele, e pelo Réu, as oferecerá em seu
nome, na form4 que fica dito.
1 l. Quando o Réu disser, que se não lembra de pessoas, que possa nomeaÍ
para prova de alguns artigos de suas contraditas, para que nem ainda nessa parte
fique indefeso, mandarão aos Inquisidores ex-fficio, sobre os artigos recebi-
dos, perguntar algumas pessoas da viziúança, onde o Réu, e os recusados eram
moradores, ou as que lhe parecer, que podem ter notícia da matéria dos ditos
artigos.
l2.Vindo o Réu com contraditas, que lhe não foram recebidas por não tocar
nas testemunhas da justiça; se estiver em estado perigoso, e se entender, que
pode ser julgado por convicto, mandarão os Inquisidores por seu despacho
ex-fficio, fazer diligencia, sobre a qualidade, e crédito delas, e por outra
comissão separada, mandarão tomar informação, se o réu teve diferenças, ou
razãode inimizade com algumapessoa, oupessoas, que estejam, ouestivessem
presas no S. Ofïcio; mas não se perguntará em particular pelas testemunhas,
porque se não possa vir em coúecimento de que foram; e a mesma diligencia
fará quando das contraditas, com que o Réu tem vindo, lhe forem recebidos
poucos artigos, e parecer que não está bastantemente definido; e bem assim,
quando não tiver vindo com contraditas, ou seja por dizer, que as não tem, ou
que não quer vir com elas.
rÍruro x
Das mais diligências, que se devemfazer
antes deJìnal despacho
l. Quando nas confissões dq réu houver tais diminuições que paÍeça aos
inquisidores, que haverá duvida em ser admitido com elas ao grêmio, e união
da S. M. Igreja antes de propor em mesa seu processo, para se despachar em
final, lhe farão duas ou três admoestações em sessões diferentes, advertindo-o
particularmente das faltas, encontros, repugnâncias, e diminuições de suas
confissões, para que as possa emendar, e merecer a misericórdia de que se usa
com os verdadeiros confidentes, e em cada uma destas sessões se lhe fará uma
admoestagão aperladç declarando-lhe o perigoso estado, em que eúá" e o
despacho, que pode temer, não melhorando sua causa, e na última sessão lhe
serão lidas todas suas confissões, porque não aconteça deixar de dizer de
rÍruroxil
Do despachofinal dos processos, e dos votos,
que nele devem haver
7. Recolhido o réu, relatará o Inquisidor, que leu seu processo, tudo o que
nele se contém, ponderando com muita miudezaa prova da justiça, e defesa do
réu, e tudo o mais, que entender é necessário para se alcançar perfeito conhe-
cimento da causa; e logo dará nela seu voto, e após ele votarão os Deputados,
começando o mais moderno, e seguindo-se os outros por sua antigüidade; e
assistindo o Ordinrário pessoalmente na mesa, votará em último lugar depois
dos Inquisidores; mas se ele ai não assistir, a pessoa, que estiver em seu nome
votará depois dos Deputados, e antes dos Inquisidores votarem; o que também
se guardará em caso, que algum dos Deputados assista pelo Ordinrário; porque
então, posto que esteja assentado no lugar, que lhe cabe, conforme sua antigüi-
dade, como está dito no Livro 1, Título 3, $ 57, com tudo nos processos, em
que vota como Ordinário em razão desta qualidade, ordenamos, que preceda a
todos os deputados, ainda que sejam mais antigos, e os Inquisidores votarão
por sua antigüidade, seguindo-se o mais moderno, e votando no último lugar o
mais antigo.
8. Se depois de se propor o processo, antes de se votar nele, ou tendo se
começado a votar, parecer a algum dos Inquisidores, e Deputados ou Ordinário,
que convém fazer alguma diligenci4 ordenará o Inquisidor mais antigo, que se
vote sobre ela; e vencendo-se que se faça, o tomarão por assento, e parará o
despacho do processo, até que veúa, e se junte a ele; e se com tudo parecer à
maior parte dos votos, que a diligencia se deve escusar, se votará na casa, e sem
ela se despachará o processo.
9. O Inquisidor mais antigo irá tomando os votos, que regulará depois de
todos votarem, paÍa ver o que fica vencido, e conforme a isso se escrever o
assento, o qual se lançará logo no processo, para se poder assinar antes de passar
ao despacho de outro; mas havendo lugar de logo se escrever, se fará com toda
a brevidade possível, e será assinado por todos os votos pela mesma ordem, em
que votarão, ainda que alguns fossem de contrário parecer, do que esüâ vencido;
e querendo emenda-lo, o poderão fazer ainda depois de o terem assinado,
propondo em mesa as razões, porque se moveram.
TÍruLo XTV
tempo para deliberar, se lhe dará; salvo se parecer, que o faz maliciosamente,
a fim de impedir, ou dilatar a execução da sentença.
4. Par:a a execução do tormento será chamado o Ordinário, ou a pessoa,
que estiver em seu lugar, e vindo assistir a ele, estarão também presentes dois
inquisidores, ou ao menos um Inquisidor com um Deputado; e não vindo o
ordinrírio, assistirão dois Inquisidores com um Deputado ou um Inquisidor com
dois Deputados, de sorte, que sempre haja três votos, quando o tormento se
executar.
5. Depois dos Inquisidores, e ordiniário estarem na mesa da casa do
tormento, mandarão trazer ante si o réu, em que se houver de executar, e se lhe
dará juramento, para que em tudo diga verdade, e logo o admoestarão, que trate
de descarregar sua consciência, e de escusar com isso o trabalho , e aperto em
que se há de ver; e não confessando as culpas, porque foijulgado a tormento,
serão chamados os ministros, que houverem de fazer a execução, e o médico,
o cirurgião, que também hão de assistir a ela , aos quais se não dirá o grau do
tormento, a que o Réu esüájulgado, e se lhe darájuramento, par que façam seu
ofïcio bem, e verdadeiramente, e tenham segredo, e de tudo isto fará o Notário
menção na sessão, que ai se fizer, na qual declarará os nomes dos Inquisidores,
que assistirem, e do Ordinario, ou da pessoa, que estiver em seu lugar, e então
mandarão levar o Réu ao lugar do tormento, e se executará na forma do assento;
e sendo o Réu começado a atar, irá o Notario fazer-lhe um protesto, dizendo,
que em nome dos Inquisidores, e dos mais ministros, que foram no despacho
de seu processo, proposta, que se ele Réu no tormento morïer, quebrar algum
membro, ou perder algum sentido, a culpa será sua, pois voluntariamente se
expõe aquele perigo que pode evitar, confessando suas culpas, e não será dos
ministros do S. Ofício, que fazendo justiça, segundo os merecimentos de sua
causa o julgam a tormento.
fora" se lhe irá tomar sua confissão no mesmo lugar onde estiver; e estando já
de todo levantado, será decido, e sentado no banco onde foi atado, paÍa ser
ouvido; e tomada a confissão, se suspenderá o tormento, para se continuar seu
processo; e sendo confidente, e querendo continuar sua confissão, se procederá
no tomar dela na mesma forma; e não se contentarão os Inquisidores com tomar
por maior o que disser, antes se tomará a confissão com todas as circunstancias;
e não satisfazendo, mandarão continuar o tormento, e alterando o assento, que
se tiúa tomado, os votos, que assistirem no tormento na casa dele, votarão na
causa, e logo se executará o que entre eles se assentar.
8. Se o Réu der algum acidente na casa do tormento antes de ser começado,
ou sobrevier causa, que impega a execução dele, os Inquisidores mandarão
recolher o preso a seu cárcere, declarando na sessão, que com ele se ia fazendo,
araz.ão,que houve para o tormento se não executar; e cessando o acidente, ou
a causa, será o Réu tornado ataz,er à casa do tormento, e sem que se lhe leia
nova sentença, se executanâ nele; porém se o acidente, ou impedimento sobre-
vier depois de começado o tormento, mandá-lo-ão suspender, fazendo na sessão
a mesma declaração, e se tornará a ver o processo em mesa, para se assentar,
se há de continuar, e em que forma.
confianga fora da ordem dos outros penitenciados, de maneir4 que por nenhum
modo possa no caminho receber ou dar aviso a pessoa alguma.
10. Quando o Réu depois de lhe ser publicada sua sentenç4 e ser entregue
àjustiça secular, pedir aos inquisidores, que o ouçÍrm, que quer descarregar sua
consciênci4 se ainda estiver no cadafalso, um dos Inquisidores o ouvini como
no $ precedente fica dito; e se já tiver saído do cadafalso, o mandarão ouvir por
um Deputado, e um Notrírio na casa da Relação, ou onde parecer conveniente,
e sua confissão se tatifrcarâ, e juntará a seu processo, e se darâ a seu dito o
credito, que conforme a direito merecer.
rÍruro xvr
Dos hereges afirmattvos
1. Havendo nos cárceres alguns presos por culpas de heresia, que aÍïrme
crer nos erros, de que estiá denunciado, ou em alguns outros contra nossa santa
Fé Católica, depois de lhe ser tomada por escrito sua confissão em seu processo,
e de ser admoestado com caridade, que se aparte da crença de seus eros: os
Inquisidores por todos os meios, que for possível, procurarão reduzi-lo ao
conhecimento da verdade, e ao caminho de sua salvação, e não o podendo
conseguir com as admoestações, que lhe ftzerem, perguntarão ao preso, se quer
que lhe chamem pessoas doutas, com quem possa comunicar sua crenç4, e os
fundamentos dela; e dizendo que sim, chamarão paÍa este efeito alguns Reli-
giosos, ou outras pessoas Eclesiásticas, de que tenham maior satisfação, assim
em letras, como em virtude, e capacidade, e dando-lhe primeiro na mesa conta
do estado do preso, e qualidade dos erros, que afirma" ou crença, que tem, e
instruindo-os de como se devem haver com ele, encarregando-lhe debaixo do
juramento dos santos Evangelhos, o segredo, os mandarão colocar com o preso
cada um por si em diversas audiências, estando presente um Notário, e depois
de estar com ele o tempo que lhe parecer, mandarão vir à mesa o Religioso, e
nela o perguntarão judicialmente, pelo que passou com o preso, e juízo, que
formou de sua crença e capacidade; e resultando de seu testemuúo culpa contra
ele, a ratificarão na forma do estilo.
2. Depois de haver escrito o que o religioso depuser, mandarão os Inqui-
sidores tazer àmesa o preso, com quem houver estado, e lhe perguntarão, se
esteve com o Religioso, e o que passou com ele, e o mais, que lhes paÍecer
necessário, segundo o estado, em que o acharem, e o estarão, que trate de se
apartarde seus erros, ede se conformarcom o queas pessoas doutas lhe afirmam
ser necessário para sua salvação.
3. E posto que o preso dig4 que lhe não são necessiários pessoas doutas
paÍa se aconselhar, nem quer estar com elas; com tudo os Inquisidores,
ex-fficio, e como ministros da Igreja, cujo principal intento é procurar a
rÍruro xvrr
Dos presos, que endoidecem no cdrcere
TÍTULO XVIII
Dos defuntos
l. Falecendo no cárcere algum preso, antes de seu corpo ser tirado da casa,
em que falecer, os Inquisidores o mandarão ver por dois Notrírios, e um dos
notários e um dos médicos do S. Ofïcio; e podendo ser comodamente, será
estando todosjuntos, e verão, se o conhecem e se lhe parece, que sua morte foi
natural, ou se há no corpo sinal algum, de que se possa presumir, que foi
violent4 e logo um dos Notários fará no processo do dito auto de seu faleci-
mento, e ao pé dele passarão ambos certidão de como viram o corpo do defunto
e o conhecerzÌm e do que nele achaÍam; e depois disto, será perguntado ao
médico, Alcaide, e guardas e os companheiros, que o dito preso tiú4 para se
saber se faleceu de morte natural, ou de morte violenta, e se confessou na
doença, e fez alguns outros atos de Cristão.
2. As causas das pessoas, que falecem no cárcere, procurarão os Inquisi-
dores despachar com brevidade, posto que haja contra elas pouca prova, e não
sobrestarão no despacho, por esperar, que lhe acresça; salvo se houver esperan-
ça mito provável e ocasião propícia, de lhe acrescer, como será se o defunto
fosse de terra, de que haja no cárcere muitas pessoas presas, e estivesse
indiciado com algumas delas ou tenha nele algumas suas parentes, com que se
presuma haver-se comunicado; e bem assim se sobrestará em seu despacho,
quando no cárcere houver presos, a quem de direito toque sua defesa, e que paÍa
ela houverem de ser citados; porque neste caso se esperarri que eles saiam dos
ciirceres; porém ter-se-á particular advertência de correr com as causas destes
presos, por se não retardar por seu respeito o despacho dos defuntos.
t
3. Sendo o defunto preso por culpas de heresia, ou fosse confidente ou
negativo, depois de feito o auto de seu falecimento, e de serem perguntadas as
pessoÍrs, que o devem ser, na forma do $ 1 deste tífuIo, os Inquisidores mandarão
TÍTULo xlx
Dos ausentes
rÍruro xx
Das suspeições
1. Quando algum réu disser que tem legitimas causas de suspeição, e que
com elas quer recusaÍ de suspeito a alguns dos Inquisidores, Ordinário, Depu-
tado, Notário, ou Comissário do S. Oficio, lhe será dito, que declare as razões
que tem de suspeição; e que para formar os artigos dela, há de estar com seu
procurador, ao qual os Inquisidores mandarão chamaÍ, e depois de lhe haverem
declarado para que os chamaram, e de lhe darem juramento, se ainda o não tiver
tomado, como procurador na causa do Réu sob o cargo dele lhe dirão, que não
venha com suspeição, se não entender, que é legitima, e não ordenada, a fim de
dilatar a causa, logo estará com o Réu, e lhe formará a suspeição, que será
escrita, e assinada por ele, etazìdaà mesa, onde depois de autuada, e juntada
por liúa ao processo, se verá pelos Inquisidores, os quais, se lhe parecer, que
os artigos contém tal matéria, que provada não conclui ser o recusado suspeito
ao recusante, julgarão por assento ao pé dos artigos, que a suspeição não
procede; porém se todos os artigos, ou algum deles parecerem de receber, se
dirá no assento, que os recebem visto sua matéria, e que por eles se perguntarem
as testemuúas, que o réu nomear; e para esse efeito será chamado à mesa, e
poderá nomear até cinco testemunhas a cada um dos artigos, ou até quinze ao
todo; e sendo tirada a inquisição das testemuúas, se verá em mes4 e segundo
o que por ela constar, dirão os Inquisidores no assento que se prova, ou que se
não prova quanto baste para o recusado serjulgado de suspeito ao recusante, e
não votar, ou escrever em seu processo.
do S. OÍicio lhe são suspeitos, e que lhes quer vir com suspeição, não sení
ouvido com tal requerimento.
6. Quando algum Inquisidor, ordinário ou pessoa, que por ele assistir,
Deputado notário, ou qualquer outro ministro do S. Ofício, entender, que é
suspeito a algum Réu, se poderá lançar de suspeito em sua causa, e neste caso
não bastará dizer, que tem apego nela; mas será necessário declarar por escrito
no processo que é suspeitojurejurando.
7. Se o Réu disser, que tem legitimas causas de suspeição a algum dos
deputados, ou secretario do conselho geral, e o processo for de qualidade, que
haja de ir ao Conselho, os Inquisidores nos darão conta disso, paÍa no caso
provennos como parecer justiça.
8. Nas causas entre partes, de que os Inquisidores coúecem, em virtude
das provisões, e privilégios Reais, se alguma das partes vier com suspeição a
algum deles, ou ao Notário, que na causa escÍever, coúecerão dela os inquisi-
dores na forma do $ 2, deste título; e em tudo o mais guardarão o que se dispõe
pela Ordenação do Reino no Livro 3, Título 31, dando apelação, e agravo para
o conselho, nos casos, que por ela se permitirem.
rÍruro xx
Das apelações
1. Das sentenças, que os Inquisidores derem nos processos, que se despa-
cham no S. Oficio, ou sejam definitivas, ou interlocutora, poderá o promotor
apelar para o Conselho geral, alegando por escrito as razões, com que pretende
mostrar por parte da justiça, que lhe feito o agravo; e isto haverá lugar não só
nas sentenças dadas em processos, que não houverem de ir ao Conselho; mas
também naqueles, que por bem deste Regimento lá devem de ir; ainda que no
assento se declare como se assentou, que o processo fosse ao Conselho.
2. As razões, que o promotor tiver para justificar a gravidade de sua
apelação, dará por escrito em papel separado, que se juntará ao processo; e
depois de vistas em mesa" ao pé delas, dirão também por escrito os Inquisidores
as principais razões, em que se fundou seu despacho, se nele não estiverem
declaradas, com toda a mais informação, que lhe paÍecer necessiáriq para do
caso haver inteiro coúecimento, e se poder decidir mais facilmente; e se não
tiverem mais razões, que as que posto no assento, responderão, que se remetem
a ele.
3. A mesma ordem, que há de ter o promotor de ser interposta sua apelação
por escrito, de responderem os Inquisidores a ela" e de vir tudo ao Conselho
junto aos autos, se guardará nas apelações, que interpuserem os Réu em seus
processos, aos quais para virem com elas, mandaÍão, que estejam com seus
procuradores, e eles lhes formarão a apelação por escrito, com as razões, e
causas em que a fundarem.
6. Quando pelos despachos finais, que sobre as apelações dos presos forem
dados no Conselho, ou fora dele, se julgar que os Inquisidores procederão bem,
e que as paliações não são de receber, se lhe fará publicação dos tais despachos;
salvo se de lhe serem publicados resultar algum inconveniente, porque parece
aos Inquisidores, que o não devem fazer.
TÍruLoXXII
De como se hão de dispor as coisas necessárias
pctra o auto daJë, e da ordem, que nele se há de guardar
clérigos, com tochas, confonne ao costume, que houver em cada uma das
Inquisições, e detrrás do crucifixo irão os Relaxados com os religiosos, que lhe
assistirem, e ministros dajustiça, que os defendam da gente; e depois de sair a
procissão do pátio, se levarão para o Auto as arcas dos processos, com as quais
irão dois familiares; e por um Deputado se mandará a lista a El Rei, ou à pessoa,
que assistir no Governo; e ao Coletor, Arcebispo, ou Bispo da cidade, pelos
familiares: e como se entender que os penitenciados terão chegado ao Auto,
sairão os Inquisidores, e mais minisfos do S. Ofïcio, a cavalo, levando diante
o meiriúo com vara alçad4 e paÍa acompaúar a procissão, mandarão ao
solicitador mais antigo, que levante vara nesse dia, e com ela irá entre os últimos
religiosos de S. Domingos, e os primeiros penitenciados; e levará consigo um
dos guardas dos cilrceres, que melhor conheça os presos, para chamar quando
o meiriúo lho ordenar, para virem ouvir suas sentenças; e o guarda levará
mordaças para lançar aos que se descompuserem, se os Inquisidores o ordena-
rem.
15. Tanto que o hibunal chegar ao cadafalso, e estiverem os ministros
assentados em seus lugares, se começará o sermão, no qual o pregador, se
estivermos presente, nos captará benevolência e não estando, aos Inquisidores;
e acabado o sermão, se lerá do púlpito o edito da Fé, e monitoria geral; e depois
dele, se continuará com as sentengas, conforme a ordem das listas dos Notários,
e meiriúo; e tanto que se acabarem de ler as dos reconciliados, o Inquisidor
mais antigo tomará sobre pedis, estola, e capa Íoxa, e com autoridade devida a
este atoo irâfazer a absolvição, acompanhado dos clérigos da freguesi4 e dos
que lerem as sentenças, e do capelão do ciircere da penitenciária" os quais com
as varas tocarão os penitenciados; e os noüírios não acompanharão o Inquisidor;
e feita a absolvição, se recolherá o Inquisidor a seu lugar, e se lerão as sentenças
doas relaxados; e assim como se forem lendo, os irá o meiriúo entregando aos
ministros da justiça secular, que assistirem no Auto.
16. Depois de lidas as sentenças, e entregues os relaxados àjustiça secular,
um dos notários levará suas sentenças ao Inquisidor mais antigo, as quais serão
assinadas pelos Inquisidores, e seladas com o selo do S. OÍïcio, e o Inquisidor
as dará da sua mão ao corregedor do crime da Corte mais antigo, ou ao
desembargador, que houver de presidir no despacho dos relaxados, os quais as
irá receber onde o Inquisidor estiver, e ele lhas dará coma cortesia devida, e
necessária.
17. Tanto que os relaxados acabarem de sair do cadafalso, se ordenará a
procissão dos penitentes, e reconciliados na mesma forma, em que foram para
o Auto, e tornará até a sala da Inquisição, onde o Alcaide do ciárcere da
penitenciária tomará entrega deles da mão do meiriúo, e os recolherá no seu
cárcere, e nas Inquisições, que não tiverem cárcere particular da penitencia, se
fará à entrega ao Alcaide do ciírcere secreto, a quem os Inquisidores ordenarão
TITIJLO XXIII
Das coisas reservadas ao inquisidor geral e ao conselho
Muitas coisas há neste Regimento, das quais umas Íeservamos a nós e
outras ao conselho geral, que por si assim conveniente ao S. OfIcio; e posto que
todas estejam colocadas nos livros, a que pertencem; com tudo para se ter delas
melhor notíci4 e se acharem mais facilmente quando for necessário, as man-
darmos juntar neste título, como em sumário, donde irão remetidas aos próprios
lugares, em que se tratam.
Das coisas, que especialmente a nós estão reservadas, nos darão os Inqui-
sidores cont4 ou por carta" ou por consultq que enviarão serrada" para mandar-
mos resolver nelas o que for mais serviço de nosso Seúor; e das e das que são
reservadas ao Conselho, umas-hão de vir a ele por consulta da mesa, e outras
com os próprios autos, ou seja com assento da mês, ou sem ele, conforme à
qualidade delas, e ao que em cada uma está disposto, e todas virão dirigidas ao
Secretiário, para as apresentar no Conselho, e nele se resolverem como paÍecer
a justiça.
Por carta ao Inquisidor geral
Quando faltar alguma das pessoas aprovadas para assistir nas ratificações,
Livro l, Título 3, $ 21.
Quando não houver diúeiro rra aÍca, ou o tesoureiro do fisco disser, que
não tem para alimentos dos presos, Livro 1, Título 3, $ 40.
Sendo necessário dar confessor aos presos fora dos casos declarados nos
livros, Título 3, $ 28.
Quando de alguma das Inquisições de Castela se pedirem culpas de pessoas
Livro l , Título 3, $ 3 1 .
delatas nas deste Reino,
Lista dos presos para entrar em despacho, Livro l, Título 3, $ 36.
Quando for necessário fazer despesa, que exceda à quantia referida no
Livro 1, Título 3, ç 42.
Quando parecer, que se deve prorrogar o tempo de fiança, as pessoas' que
devem dinheiro ao S. Ofïcio, Livro 1, Título 3, $ 45'
Quando for necessaria confrontar alguma pessoa culpada com as testemu-
nhas da justiça, Livro 2, Título 3, $ 7.
Quando parecer, que se deve remitir alguma parte dos bens aos aprìesenta-
dos, que abjurarem em público, Livro 3, Título l, $ 5.
Quando se tratar de evocar o S. Ofïcio culpas de algum blasfemo conde-
nado no juízo Eclesiástico, Livro 3, Título 12, $ 13.
As culpas que resultarem da visita, quando parecer, que são bastante para
a prisão, Livro2, Título l, $ 7.
As culpas, em que houver proposições qualificadas, Livro 2, Título 3, $
11.
o dia, em que se cometeu o delito. Além destas penas, há outras menos graves
como a abjuração, degredo, açoite, reclusão, cárcere, hábito penitencial, con-
denação pecuniári4 e penitenciais espirituais. Com umas, e outras se costuma
no santo Oficio castigar os culpados, segundo a diferença dos crimes, estado
da caus4 e qualidade das culpas, e das pessoas, que as cometerão, e o modo,
com que nelas se há de proceder no santo Oficio, vai declarado nos títulos
seguintes.
rÍrwo r
Dos hereges, e apóstatas da santafé católica apresentados
garão que ouçam as pregações, e assistÍÌm aos oficios divinos nas Igrejas, e
comuniquem com pessoÍrs virtuosas, e doutas, que os possam bem instruir nas
coisas da fe; e para examinarem bem suas consciências, lhes mandarão, que se
confessem sacramentalmente nas quaho festas principais do ano,Natal, Páscoa,
Pentecostes, e Assunção de nossa Senhora. E não lhes poderão dar penitências,
posto que sejam espirituais, pelas quais se possa vir em coúecimento das
culpas, que confessaram.
7. Os que se vierem apresentar na mesa do santo Ofïcio no tempo do Edito
dagraça, ou fora dele, e confessarem culpas de judaísmo, ou de qualquer outra
heresia, se estiverem delatos por outros crimes, cujo coúecimento também
pertence, ao santo Ofício, serão recebidos à reconciliação, e abjurarão na mesa
sem hábito penitencial, na forma, que fica dito no $ 1. E do mesmo favor de ser
recebidos à união da Igreja com penas espirituais, na forma que fica dito no $
6. E de abjurar em mesa sem hábito penitencial, gozaráo aqueles, que estiverem
delatos pelas mesmas culpas, que vem confessar, por uma só testemunha; salvo
se com ela concorrerem os indícios, ou a qualidade de parentesco, que se refere
no liwo 2. Título 4. $ 4. Porque neste caso se guardará o que fica dito no $ 2.
Deste título. E se os apresentados estiverem presos nos cárceres do S. Ofício
por qualquer outro crime, e confessarem em mesa culpas de heresia, que não
estavam delatos, se seguirá o que estii disposto no livro 2.Titulo 2. ç 14
8. Os Heresiarcas, e Dogmatistas, que em qualquer tempo se vierem
apresentar, e confessarem suas culpas com sinais de arrependimento, e mostras
de verdadeira conversão, serão recebidos à reconciliação em lugar público com
hábito penitencial, por razáo do prejuízo, e escândalo, que deram com sua falsa
doutrina; e terão além das mais penas, e penitências espirituais, que lhes serão
impostas, reclusão por algum tempo em algum mosteiro, ou lugar, que parecer
aos Inquisidores, para que assim possam ser bem instruídos, e tirados dos erros,
que criam, e ensinavam, atentando-se muito pelo perigo, que pode haver de
tornaÍem outra vez a eles; e assim na reclusão, como nas mais penitências, se
poderá acrescentar o que parecer conveniente aos que se apresentarem fora do
tempo dagraça.
9. Das pessoas, que se vierem apresentar com culpa de relapsia no crime
de judaísmo, ou de outra heresia, se ainda por elas não estiverem delatas, serão
as confissões recebidas, e examinadas na forma, que fica dito no livro 2. Título
2. $ l. E assentando-se, que paÍecem verdadeiras, e que os culpados verdadei-
ramente se convertem a nossa santa Fé, não abjurarão de novo, se no primeiro
lapso tiverem abjurado em forma; mas serão absolutos na mesa, da excomunhão
maior, em que incorrerão, e lhe imporão os Inquisidores penitenciais espirituais,
e as mais penas, que parecer, que convém, segundo a qualidade de suas culpas;
e lhe nomearão pessoa douta, e virtuos4 que os confesse, e instrua nas cousas
\
ì
Sônia Áparecida de SQueira
TITULO II
Dos negativos
cia, ao escândalo, que deram com suas culpas; e nisto se terá particular
advertência, encaÍïegando se aos Comissrários dos distritos, para que o façam
assim cumprir, como convém.
3. Os que confessarem suas culpas, logo em sendo presos, ou nas primeiras
sessões, que com eles se ftzerem, sendo as confissões feitas antes de serem
acusados pela Justiça; e sendo satisfatórias, se receberão com cárcere, e hábito,
e o árbitro, o que poderá se favorável, ordinário, ou dilatado, segundo o tempo
e estado, em que ftzerem as ditas confissões, e segundo a qualidade, e circuns-
tâncias delas; o favorável durará por tempo de três meses; o ordinrário de seis,
o dilatado de nove.
5. Porém quando algum réu depois de preso, e acusado pela Justiça, antes
de lhe serem publicadas as testemunhas dela, confessar suas culpas, e a
confissão for muito satisfatória pelos sinais, que mostrará de sua conversão, e
arrependimento, e pela declaração das culpas, e dos cúmplices, que deu, e
descobriu; poderão os Inquisidores não votar em pena de cárcere, e hábito
perpétuo, senão a arbítrio; e isto mesmo poderá ter lugar no réu, que posto que
não mereça tanto favor pelo tempo, em que fez a confissão; com tudo o merecer
pelo modo, com que aftzer, e pelos sinais, que der de seu arrependimento, e
declarações, que fizer das culpas, e culpados no mesmo crime.
7. Confessando algum réu suas culpas depois de ser notificado aos quinze
dias antes do Auto, de como está convencido no crime de heresia, e apostasia;
se satisfizer como deve, com sua confissão, e como de direito se requer, será
recebido com cárcere, e hábito perpétuo sem remissão, e as mais penas, e
penitências espirituais, que se lhe impuserem, serão mais graves, que as
8. Se o réu confessar depois da notificação, que se lhe faz aos três dias do
Auto, quando se entender, que confessa com verdadeiro arrependimento, e
conhecimento de seus eÍïos, e que descobre todos os cúmplices, de modo, que
não pareça sua confissão simulada, e feita somente com o medo da pena da
relaxação; e será recebido com cárcere, e hábito perpétuo sem remissão, o qual
levará ao auto com insígnias de fogo, na forma cosfumad4 e será condenado a
galés por tempo de três até cinco anos, segundo a qualidade, e circunstância de
confissão, que fizer, e das mostras, que der de sua conversão; e sendo mulher,
a condenação de galés, que nela não pode ter lugar, será para S. Tomé, Angol4
ou partes do Brasil, por tempo de cinco até sete anos.
1 1. Se os réus confidentes forem clérigos, além das mais penas acima ditas,
com que devem ser reconciliados, segundo o tempo, e estado, em que confes-
sarem suas culpas, serão suspensos paÍa sempre do exercício das ordens, que
tiverem, e ficarão irregulares, para não poderem receber ouffas, e incorrerão
em privação dos ofïcios, benefícios, honras, e dignidades, que possuírem, e
ficarão inábeis para poderem alcançar outras; e se forem religiosos, ou religio-
sas, terão a mesma penitência de hábito, e cárcere; e em lugar do degredo, terão
reclusão nos cárceres de seus mosteiros, ou outro tanto tempo, e serão privados
paÍa sempre de voz ativa, e passiva, e se lhes mandará, que sirvam em seus
mosteiros ofïcios humildes da religião; o que tudo irá declarado em suas
sentengas, nas quais serão nomeados, como fica dito no título segundo, $ 6. E
levarão o hábito, que no mesmo $ se declara.
12. E para que os reus confidentes do crime de heresia, que foram recebidos
ao grêmio, e união da santa Madre lgreja, cumpram com humildade suas
penitencias, e mostrem no exterior o sentimento, que devem ter dos enos, em
que cairão; os Inquisidores lhes mandarão, depois de abjurarem em público,
que não tenham, nem possÍÌm ter offcios públicos, posto que seja sem dignidade,
nem jurisdição, como são Procuradores, Advogados, Médicos, Cirurgiões,
Boticrários, Sangradores, Pilotos, ou Mestres de navios, nem ainda bombardei-
ros, e que em suas pessoas, e vestidos não possam ülzer, nem tragam ouro,
prata" nem pedraria, ou vestido de ced4 nem andem a cavalo; salvo se forem
camiúando, nem tragam armas ofensivas, posto que sejam obrigados a tê-las;
somente poderão usar de espad4 depois que forem dispensados; o que tudo
cumprirão sob pena de que fazendo o contrario, serão castigados com as penas,
que parecerem; e no temo, de sua soltura lhes será declarada a proibigão das
cousas sobreditas, e como não poderão usar delas sem licença especial dos
Inquisidores.
13. E quanto aos filhos, cujo pai, ou mãe foram condenados pelo santo
Ofício, por hereges, ou relaxados à Justiça secular, e bem assim aos netos, que
por liúa masculina descenderem de seu Avô relaxado, se mandará, que não
sejam Juizes, Meirinhos, Alcaides,Noüírios, Escrivães, Procuradores, Feitores,
Almoxarifes, Secretiirios, contadores, Chanceler, Tesoureiros, Médios, Cirur-
giões, Boticários, Sangradores, Contadores de rendas reais; e nem usem de
outras hontas, ou de quaisquer outros ofïcios que sejam, ou se possam chamar
públicos, nem os serão por si, nem por interposta pessoa, sendo sua a proprie-
dade deles., nem tragam sobre sua pessoa, nem em seus vestidos, e trajes cousa
algumq que seja insígnia de alguma dignidade, milícia, ou oficio Eclesiástico,
ou secular.
14. Posto que na proibição acima dita, acerca dos ofïcios públicos, se haja
de proceder igualmente com os confidentes reconciliados, e com os filhos, e
netos dos relaxados; com tudo com os tais filhos, e netos (principalmente se o
forem de algum relapso, que antes de ser relaxado, confessou suas culpas, e se
mostrou delas arrependido) se usará de maior favor, para efeito de se dispensar
com eles na dita proibição.
TÍTULO IV
Dos confidentes diminutos
I . Quando o réu, que confessou as culpas e heresia por que foi preso, estiver
diminuto em sua confissão, e a diminuigão fo4 em cumplicidade, que esteja
legitimamente provada com algum seu ascendente, ou descendente, ou com
marido, ou mulher, não lhe será a confissão recebida: e por quanto se deve ter
por simulada, será relaxado à Cúria secular por confidente diminuto, e simula-
por não haver inteiramente falado verdade nas confissões, e não descobrir os
cúmplices. Mas em caso, que por não satisfazer seja presa, posto que depois
satisfaça às diminuições irá ao Auto público da fé com hábito penitencial a
arbítrio, ou perpétuo segundo merecer.
6. Quando alguma pessoa, que dantes for preza, e reconciliad4 for presa
segunda vez por diminuta, e satisfizer a suas diminuições, irá da mesma maneira
ao Auto com hábito penitenciaV e se o que teve da primeira vez,for a arbítrio,
da segunda será perpétuo; e se for perpétuo, será a segundavez sem remissão;
e se for sem remissão, será com insígnias de fogo.
7. E se a diminuição das ditas confissões estiver provada pelas testemuúas
dajustiça, que depois do réu abjurar, vieram dizer contar ele, e for de qualidade,
que não a confessando o réu, por ela houvera de ser enfregue à Justiça secular;
em tal caso, satisfazendo, será o cárcere, e hábito penitencial perpetuo sem
remissão, o qual levará ao auto da fé com fogos; e declarando em sua confissão
que perseverou na crença de seus erros, até o tempo, em que satisfez as
diminuições, será mais condenado em perdimento, e confiscação de seus bens,
até a publicação da última sentença; e não sendo a diminuição de qualidade,
que mereça pena ordinária; ou não estando a cumplicidade legitimamente
provada, ou dizendo, que a crença lhe durou somente, até o tempo da primeira
confissão, não teút confi scação de bens.
8. Como hereges afirmativos se procederá na forma que estiá disposto no
livro 2. Título 16. E persistindo em seus erros, serão entregues, e relaxados à
justiça secular, conforme à disposição de direito, e ao que fica dito nos $ 1. Do
Título 2. E sendo caso, que se possa temer, que digam em público algumas
cousas contra nossa santa Fe, levarão ao Auto mordaça na boca com hábito de
relarados.
Porém se recoúecerem seus erros, e se reduzirem anossa santa fé católica,
fazendo inteira, e verdadeira confissão de suas culpas, serão recebidos ao
grêmio, e união da santa Madre Igreja, com cárcere e habito penitencial,
segundo o tempo, e estado, em que fizerem suas confissões, na forma, que esta
disposto no Título 3 deste liwo $ 3. e nos seguintes, e terão reclusão pelo tempo,
que parecer, em um mosteiro, ou em outro lugar conveniente, pare que assim
possam ser instruídos nas cousas da fé, advertindo-se ao perigo, que pode haver
de tornarem outra vez aos erros, que professaram.
TÍTULO V
Dos que revogam as confissões, que judicialmente
.fi"eramno Santo Oficio
1. Por quanto os que revogam as confissões, que tem feito de culpas de
judaísmo, ou de outra qualquer heresia, são havidos por negativos, impeniten-
verdade, e não havendo presunções em conhario, não será condenada nas ditas
penas.
6. E o que na mesa do santo Ofïcio revogaÍ sua confissão depois de ser por
ela reconciliado ao grêmio, e união da Igreja; sendo examinado pela revo gação,
e persistindo nela" será havido por herege impenitente, e senão persistir na
revogação, será castigado pela dita culpa, em pena de cárcere, e hábito perpétuo
sem remissão, o qual começará da publicação da última sentenç4 e terá agoites,
e degredo, e as mais penas arbitnârias, e penitenciais espirituais que parecer aos
Inquisidores.
7. Toda pessoa, que depois de ser reconciliada pelo s. Oficio, em público,
ou ao menos perante algumas pessoas disser, que não cometeu a heresi4 ou
crime que confessou, ou alguma parte dele, será logo recolhida nos ciírceres do
s. Ofício; e senso convencida pela prova da Justiça, ou por sua confissão, senão
tiver ainda cumprido as penitências, que lhe foram impostas em sua sentenç4
será condenada em cárcere, e hábito penitencial perpétuo sem remissão, e em
pena de açoutes, e degredo para as galés por tempo de cinco até oito anos, e iú
ao auto público dafé, aouvir sua sentença, e terá as mais penas, e penitências,
que parecer aos Inquisidores; e sendo mulher, será o degredo de outros tantos
anos para o Brasil, ou Angola. E se cometer este crime depois de haver cumprido
as penitencias, que em sua sentenças lhes foram dadas, será castigado como
temerário, nas sobreditas penas de degredo, e açoites; mas poderá haver alguma
moderação no degredo.
E se a prova não for bastante para se haver o crime por provado, sení
condenada a pessoa, que o cometer, que vá ao Auto da fe, ouvir sua sentença
com hábito penitencial, que se lhe acrescentará um grau mais, daquele com que
foi reconciliada, com tanto que não seja menos que perpétuo, o qual começará
da publicação de sua sentença; e isto se entenderá, posto que ao tempo que
cometeu a dita culpa tivesse já cumprido sua penitência; e terão as mais penas,
que aparecer aos Inquisidores, segundo a qualidade da prova, e circunstâncias
da culpa. E se o réu depois de preso persistir em se revogar, do que havia
confessado, será condenado nas penas, que por direito estão impostas contra os
impenitentes, e revogantes, conforme ao que esüí dito. No $ l. Deste título.
rÍrurovr
Dos relapsos
TITULO VII
Dos apóstatas, aft ene gados, hereges estrangeiros,
e infiéis, que delinqüem neste reino
posto que das testemunhas porque foram presos, resulte presunção, sendo filhos
de Católicos, e criados entre eles, farão abjuração de leve em lugar público, e
terão as mais penas, e penitências, que parecer aos Inquisidores, que os
mandarão absolver ad cautelam, da excomuúão, e instruir nas coisas da Fé.
7. Mas se forem pessoas suspeitas, e confessarem depois de presas na forma
sobredita serão postas em tormento, pela presunção, que contra elas resulta, da
culpa, e de não se virem apresentar, e confessa-la na mesa do S. Oficio, e feita
a execução do tormento, abjurarão em lugar público, conforme à suspeita, que
se formar contra elas, e se guardará o mais que fica disposto no $ precedente.
8. E acontecendo haver prova contra os tais culpados de que arrenegaram
exteriormente, de nossa santa Fé Católica, sem violência, medo, ou mau
tratamento, antes que de sua liwe vontade se passarÍrm à seita de Mafomq
fazendo seus ritos e cerimônias; se procederá contra eles na forma em que se
deve proceder contra os mais hereges, e apóstatas de nossa santa Fé.
9. E os que tornarem a reincidir nas ditas culpas, se no primeiro lapso
tiverem abjurado de leve, no segundo farão abjuração de veemente, e terão as
mais penas, e penitências, que os Inquisidores arbitrarem; e havendo no
primeiro lapso abjurado de veemente, não farão no segundo abjuração, antes
se procederá contra eles na forma de direito.
10. Vindo algum herege estrangeiro apresentar-se na mesa do S. Oficio, e
pedir nela perdão de suas culpas será examinado na forma, que fica dito no livro
2. Título 2 $ 10. e será admitido à união da S. M. Igrejq abjurando na mesa
diante dos Inquisidores, e seus oficiais, sem hábito penitencial, e será por eles
absoluto da excomunhão, em que incorreu; e lhe imporão as penitências
espirituais, que parecerem convenientes, e o mandarão instruir nas coisas da
Fé, e que se aparte de comunicação pessoas suspeitas, e que lhe possam causar
dano a sua alma, e que se confesse nas três páscoas do ano; a de como assim o
fez, mande certidão de seu Pároco. E posto que venha apresentar-se fora do
tempo da graça,lhe não será feito seqüestro em seus bens, nem lhe serão
confiscados pelarazÁo do $ 5. do Título 1. deste livro.
1 1. E achando, que a tal pessoa estrangeira não foi suficientemente instruí-
14. E quanto aos infiéis, que não foram batizados, se delinqüirem nestes
Reinos contra nossa santa Fé Católica, nos casos contidos na dita Bula de
Gregório XIII serão condenados em pena de açoites, e degredo para as galés, e
nas mais arbitrárias, que paÍecerem aos Inquisidores; salvo se a culpa for de
qualidade, que por ela se haja de dar pena ordinária.
rÍrurovrrr
Dos schismaticos
rÍrurox
DosfatÍores, defensores, e receptores, dos hereges
1. Contra os Fautores, Defensores, e Receptores dos hereges se procede no
S. oficio, conforme a direito, e Bula da ceia do senhor, como contra pessoas
suspeitas na Fé, pela presunção, que há de não sentirem bem del4 favorecendo,
e aparando os inimigos da igreja Católica. Portanto toda a pessoa de qualquer
qualidade, estado, e condição que sej4 que nas coisas contra a Fé, favorecer os
hereges, dando-lhes ajuda para não serem presos, e condenados; e não mani-
festando as heresias, que deles souber, além de incorrer em excomunhão maior,
e nas censuras da bula da Ceia do seúor e de direito Canônico, será castigado
pelo S. Oficio, com as mesmas penas, que tem os receptores dos hereges, e fani
abjuração, conforme a qualidade da defesa, que lhes der, e da suspeita, que dela
resultarcontaafé,eterâas mais penas arbitrárias, quepaÍeceraos inquisidores,
havendo respeito à qualidade da pessoa, e circunstâncias da culpa.
2. E aquele, que por qualquer maneira impedir o castigo, e execução da
justiça contra o herege, e o receber, ocultar em sua cÍÌsa ou em outra parte, ou
fzer qualquer ato, porque se mostre ser defensor, ou receptor seu, abjurará em
lugar público, segundo suspeita" que contra ele resultar, e será açoitado, e
degredado paÍa as galés pelo tempo que pareceÍ aos Inquisidores.
3. Aqueles, que por ofïcio, ou juramento, tem obrigação de proceder contra
os hereges, buscando-os, prendendo-os, guardando-os, ou dando favor, ou
ajuda contra eles; se deixarem de o fazer por malícia, terão as penas de fautores
dos hereges, alem de serem condenados em perda de seus ofïcios; e quando
deixarem de o fazer por negligência notoriamente culpável, se lhes darão as
penas, que paÍecer, tendo-se respeito à qualidade das pessoas, e circunstâncias
das culpas.
4. As pessoas, que não sendo cúmplices, não quiserem testemunhar contra
os hereges, ou testemunhando negarem, ou encobrirem a verdade, sendo
perguntadas por parte do S. Ofïcio; serão castigadas como fautores, e uns e
outros terão as mesmas penas, e farão a mesma abjuração, que os defensores,
e receptores, segundo a qualidade da suspeita, que contra eles resultar.
5. Os ministros públicos Eclesiásticos, ou seculares, se forem requeridos
pelos Inquisidores, ou seus oficiais, para procederem contra os hereges, e não
frzerem, serão constrangidos com censuras, e mais procedimentos de direito,
até com efeito de cumprirem o que lhes for requerido.
6. Assim mesmo qualquer pessoa particular, que for requerida por algum
ministro, ou oficial do S. Oficio para alguma prisão ou diligência concernente
a ela, e por malícia, deixar de dar ajuda, ou favor, que lhe for pedido, ficará
sujeita àjurisdigão do S. Ofício, e se procederá contra ela, como contra aqueles
que dão favor e ajuda aos hereges, e se lhe darão as penas, que paÍecer que
convém, segundo a qualidade da pesso4 e circunstâncias da culp4.
7. Com os apresentados, que voluntariamente vierem confessar as sobre-
ditas culpas à mesa do S. Ofïcio, se procederá na forma que fica declarado no
título 1. Deste livro, a respeito do crime de heresia.
rÍruro x
Dos que comunicam com os hereges, e lhes levam arrnos,
ou mantimentos, ou comem c(nne em días proibidos
rÍrulo xI
Dos que disputam em matérias de fë nos casos
por direito proibidos
de duvidar, e suspeita, que dele resultar, na fonna, que fica declarada em seus
títulos.
2. E se disputar não duvidando, e for pessoa leig4 a quem por direito é
proibido o fazê-lo, sob pena de excomunhão maior, sendo com algum herege,
Judeu, ou infiel, além da excomunhão, em que por isso.incorrer, sení condenada
nas mais penas, que parecer aos Inquisidores, tendo-se respeito à sua qualidade.
3. O que não terá lugar nos casos de grande necessidade, ou utilidade, como
seri4 havendo algum herege, que com sua doutrina pervertesse aos católicos;
e não havendo pessoa Eclesiástic4 douta, e ciente, que possa defender, e acudir
pela verdade, e doutrina da santa madre Igreja; ou disputando em lugares nos
quais o crime de heresia for entrando; porque nestes, e em semelhantes casos,
poderá a pessoa leiga, se for douta" disputar com os hereges sobre a fé, sem
incorrer em pena, nem cometer culpa alguma.
TITULO XII
Dos blasfemos, e dos que proferem proposições heréticas,
temerórias, ou escandalos as
l. A Blasftmia, que os Doutores chamam heretical, pertence ao Tribunal,
ejuízo do S. ofício, por quanto fica sendo contraria à crença, e confissão da fé,
e contém em si erro, ou suspeita de erro contra ela. Pelo que os blasfemos devem
ser punidos no s. Ofïcio, como também o serão, os que disserem proposições
temerárias, e escandalosas, conforme ao Breve de Júlio III e constituição de
Sixto V. e uns, e outros, serão castigados com as penas neste tífulo declaradas.
2. Toda a pessoa de qualquer qualidade que seja, que disser blasfêmia
heretical, afirmando alguma cousa de Deus, que lhe não conveúa, ou negan-
do-lhe alguma" que seja sua própri4 ou atribuindo a alguma criatura o que
convém somente a Deus, abjurará em lugar público, de leve suspeita na fé, com
tanto que a qualidade da pessoa, e circunstâncias da culpa, não peçam maior
abjuração, e teÉ as mais penas arbitrrârias, e penitências espirituais, que paÍe-
cerem aos Inquisidores, os quais terão nelas respeito à gravesa das blasËmias,
à qualidade da pesso4 que as disser, e ao lugar, tempo, e ocasião, em que forem
ditas.
3. Sendo a tal pessoa costumada a dizer muitas vezes blasfêmias heréticas,
atrozes, com qualquer leve movimento, e perturbação, que lhe suceda, irá ao
Auto público da fé, aonde fará abjuração de veemente suspeito (não havendo
circunstâncias, que obriguem a moderação) e levará mordaça na boca, e será
condenada em pena de açoites, e degredo, e se lhe imporão as mais penas, e
penitências espirituais, que parecer que convém, as quais serão mais rigorosas,
que as daqueles, que não são costumados a blasfemar, e só por algumas vezes
cairão nesta culpa.
E não sendo pessoa suspeita, posto que haja de ser acusada, pelo crime, e
pela tenção, por razÃo du p"t q que se lhe há de dar; com tudo não será posta a
tormento, mas fará abjuração públic4 e tenâ as mais penas, e penitências, de
que nos primeiros $ $ deste título se faz menção.
_J
Sônia Aparecida de Siqueira
tÍruro xrr
Dos que desacatam, oufazem irreverência ao santíssimo
sacramento do altar, ou as imagens sagradas
ou recebem o santíssimo sacramento,
não estando em jejum
l. Por quanto a adoração de latri4 que se deve ao santíssimo Sacramento,
e às imagens de Cristo nosso Senhor, e de sua sagrada Cru4 e o culto, e
veneração, com que devem ser veneradas as imagens da Virgem Seúora nossa,
e dos Santos, se não pode negar, sem cometer eÍro na fé,ftca sendo certo que
todos aqueles, que lhes fizerem irreverênci4 e desacatos, tem contra si a
presunção de sentirem mal dela" e devem ser por isso castigados no santo Oficio.
Por tanto se alguma pessoa for tão ousada, que em desprezo do santíssimo
Sacramento do altar, quebrar, derrubar, tomar, ou fazer algum outro desacato
à Hóstia consagrada, ou ao Cálice consagrado, ou a alguma imagem de Cristo
nosso Seúor, e de sua sagrada Cruz, ou da Virgem Maria nossa Seúora, será
examinada pela dita culpa, e posta a tormento, pela presunção, que contra ela
resulta de sentir mal de nossa santa Fé Católica, e confessando, que a cometeu
por viver apartada da fé, se procederá contra ela, como conta herege formal, na
forma do título 3. Deste livro; e além das penas nele impostas aos hereges, se
o delito for público, e pedir pública satisfação, será condenada a açoites, e em
degredo para galês, conforme as circunstâncias da culpa; e se negar o delito, ou
posto que o confesse, negÍlr a tenção, fará abjuração de leve, ou de veemente
em lugar público; mas se o delito for público, não bastará negaÍ a tenção, para
deixar de ter a pena de galês, e açoites; e uns e outros terão as mais penas
arbitrárias, e penitências espirituais comensuradas a suas culpas.
2. Porém se o Réu for pessoa suspeita, e cometer o crime publicamente, e
confessando o fato, negar atenção, e concorrerem tais circunstÍincias, assim do
crime, como na qualidade do réu, que paÍecer aos Inquisidores, que se lhe não
deve dar pena arbitrária, senão a ordinária de relaxação, será o caso examinado
com grande consideração, e se procederá na decisão dele, conforme a direito.
3. Toda a pessoa, que em desprezo das imagens sagradas, quebrar, demr-
bar, ou fazer qualquer outra irreverência, e desacato a alguma imagem de Santo,
ou Santa, abjurará de leve em lugar público; salvo se a qualidade da pessoa, e
circunstâncias da culpa, pedirem maior abjuração. E sendo o fato notiável, e de
gue haja escândalo no lugar do delito, será degradadaparaum dos lugares de
Africa, ou para Castro marim; e se lhe imporão as mais penas, e penitências
espirituais, que paÍecer aos Inquisidores.
4. Provando se contra alguma pessoa, que recebeu o santíssimo Sacramento
da Bucaristia, não estando emjejum, se for pessoa suspeita, reportar-se-á sua
culpa; e sendo compreendida segunda vez, se procedera contra ela como
parecer, enviando os autos com oassento, que neles se tomar ao Conselho.
TITULO XIV
Dosfeiticeiros, sortilégios, adivinhadores, e dos
que invocam o demônio, e tem pacto com ele,
ou usam da arte de astrologia judiaría
1. Ainda que conforme o direito, dos crimes de feitiçarias, sortilégios,
adiviúações, e quaisquer outros desta mesma espécie, pudessem conhecer os
4. E no arbítrio, que os Inquisidores hão de fazer das penas, com que devem
ser castigadas as pessoas, que usarem dos ditos feitiços, sortilégios, e adiviúa-
ções, terão respeito a se haver seguido com elas alguma morte, ou outro dano
notável, e de grande prejuízo, para neste caso serem mais rigorosas as penas;
por quanto ainda que o santo Ofïcio pertença castigar somente os feitiços, e
mais crimes semelhantes, e não as mortes, perdas, e danos, que deles se seguirão
com tudo como estes fiquem fazendo muito mais grave a culpa, é justo, que
confonne as circunstâncias dela se lhe acrescente a pena.
5. Se constar que os atos de que usarão os feiticeiros, adiviúadores, e
sortilégios, são tais, que deles se colha heresia; pela grande presunção, que
resulta de andarem apartados de nossa santa fé católic4 serão postos a tormento,
e se nele não confessarem a tenção, irão ao Auto público da fé a ouvir sua
sentença, e nele farão abjuração de veemente, quando em suas feitiçarias,
sortilégios, e adivinhações, usarem de hóstia consagrada, ou parte dela, ou do
sangue de Cristo nosso Senhor, ou de pedra de Ara tomada de lugar sagrado,
ou de Corporais, ou de parte alguma destas cousas, ou de qualquer outra cousa
sagrada, ou se expressamente invocarem os espíritos diabólicos, e lhes pedirem
cousa, que Deus somente pode vazar ou invocarem o demônio com preces, e
lhe fizerem sacrifïcios, ou algum outro culto de latria, ou dolia" ou batizarem
imagens, ou algum cadâver, ou rebatizarem, algumas crianças, sabendo que
foram batizadas, ou entre os Santos chamarem também ao demônios por seus
nomes, ou incensarem alguma cabeça de defunto, ou a ungirem com óleo
sagrado; por quanto destes atos, e dos que forem semelhantes, nasce veemente
suspeita de heresia. Porém se os réus em sua defesa diminuírem tanto na gravesa
das culpas, que havendo se juntamente respeito à qualidade da pessoa, e ao
modo, e lugar, em que as cometerão, com as mais circunstâncias, de se
oferecerem, pareça aos Inquisidores que devem abjurar de leve somente, neste
caso serão escusos de maior abjuração.
6. Quando dos atos de feitiçaria, sortilégio, e adivinhações, resultar somen-
te leve presunção de serem suspeitos na fé, serão também os réus postos a
tormento; e confessando outra cousa, no auto público ouvirão sua sentença, e
farão abjuração de leve; e assim estes, como os que abjuraram de veemente,
serão condenados nas penas arbitriárias, e mais penitências espirituais, que
pÍrecer aos Inquisidores, segundo o que fica dito nos $ $ Precedentes; e se os
condenados forem Religiosos, ou pessoas graves de tal qualidade, que parega
que não devem ir ao Auto público da fe, abjurarão na sala do Santo OÍïcio, ou
no lagar, que em mesa se assentar.
7. Sendo compreendida alguma pessoa em segundo lapso, de feitiçarias,
sortilégios, e adivinhações, se no primeiro houver abjurado de leve, no segundo
fará abjuração de veemente, e será condenado em açoites, e degredo, e as mais
penas, conforme ao que fica dito no $ 2 e 3. E porém, se no primeiro lapso tiver
abjurado em forma, ou de veemente, e no segundo for convicta em culpa, de
que pareça, que resulta presunção violenta de viver apartadade nossa santa Fé,
neste caso se procederá contra ela na forma de direito, com a consideração, que
convém; mas não sendo no segundo lapso convicta, será condenada conforme
à presunção, que resultar de suas culpas, com respeito às penas, que havia de
ter, se fora nelas convencida, mas não fará abjuração.
rÍruro xv
Dos bígamos
TITULO XVI
Dos que sendo casados por palavras e plesente,
se ordenam de ordens sacras, e dos católicos
que casam com herege, ou infiel
3. E sendo pessoa regular, fará abjuração na mesma forma; e além das ditas
penas, será privado paÍa sempre de voz ativa e passiva. Porém sendo a qualidade
da pesso4 e circunstâncias da culpa tais, que pareça conveniente diminuir-lhe
a pena, fará abjuração na sala do S. Ofïcio, e será degradado por tempo de sete
até dez anos para Angola, ou para qualquer e outro lugar das conquistas do reino
onde ouvir convento de sua Religião, e no cárcere dele terá um, ou dois anos
de reclusão com jejuns de pão, e âgu4 e outras penitências espirituais; e não
havendo mosteiro de sua Religião, em neúum dos lugares das conquistas, terá
reclusão no convento mais apartado de sua Província" por tempo de dez anos;
e os primeiros dois, ou três estará no ciircere dele, onde fará as ditas penitências,
e as mais que parecer aos Inquisidores.
rÍrwo xx
Dos que lêem, e retêm livros de hereges,
ou de alguma ímpia seita
TÍTULO XxI
Dos que impedem, e perturbam o ministério do Santo Oficio
1. Qualquer pessoa, que nas causas, e negócios pertencentes à Fé, impedir,
ou perturbar o ministério da Inquisição por algum dos modos contidos neste
título, ou outros semelhantes, alem de incorrer em excomuúão ipso fato, e
houver de abjurar conforme a suspeita, que contra ela resulta, e ser havida em
direito por fautor de hereges, será condenada em pena de açoites, e degredo
para galés, e nas mais arbitnárias que parecer aos Inquisidores, os quais nelas
terão respeito ao que dispõe os Breves Apostólicos do Papa Júlio III, Pio V e
Urbano VII, contra os tais delinqüentes, e ao estilo recebido no S. Oficio.
2. O que perturbar, e impedir o ministério do S. Oficio, injuriando, ou
ofendendo seus ministros, e oficiais em desprezo da Inquisição abjurará de leve
suspeito na Fé, no lugar que parecer aos Inquisidores, salvo se a qualidade da
pessoa, e circunstancias da culpa pedirem maior grau de abjuração, e sení
degredado a arbítrio dos Inquisidores paÍa as galés e açoitado publicamente, se
na qualidade de sua pessoa pode caber esta pena.
: 3. A pessoa que impedir, e perturbar o ministério nos negócios, e causas
da Fé, ofendendo, ameaçando, intimando, ou procurando ofender, ameaçar, ou
intimidar as testemunhas, ou denunciantes, que quiserem vir, ou tiverem vindo
testemunhar, ou denunciar à mesa da Inquisição, ou tomar da mes4 ou de
qualquer outro lugar alguns processos, ou papéis pertencentes ao S. Oficio, e
se queimar, ou sumir, ou quebrar os cáÍceres, para que algum preso possa fugir
deles, ou o livrar da prisão, ou de qualquer outro lugar, ou encobrir, paÍa que
não seja preso, abjurará na mesma form4 e será condenada nas mesmas penas:
o que tudo haverá lugar, posto que nos casos sobreditos se não siga efeito; salvo
se houver tais circunstancias, que pareça aos Inquisidores, que se devem
moderar as ditas penas, as quais também se moderarão, se o Réu mostrar por
prova legítima, como de direito se requer, que o crime não foi cometido em
TITULO XKII
Dos quefogem dos córceres, e dos que não cumprem
as penitências, que lheforam impostas
1. O preso, que por si, ou com forç4 e ajudas de pessoas de fora fugir dos
cárceres do S. Ofício, quebrando grades, ou rompendo paredes, ou sem haver
nada disso, será punido gravemente, a arbínio dos Inquisidores, que terão
respeito nas penas à qualidade da pessoa" e circunstância da culpa" que na fugida
tiver. E sendo pessoa vil, e plebéia sená açoitada publicamente; porém nas penas
se usará de moderação com aquela que fugir por indústria sua; ou descuido do
Alcaide, e guardas do ciárcere; e o que der ajuda, em favor a tal fuga" será
castigado como fautor de hereges, ou impediente do ministério, segundo a
qualidade da culpas do preso, na forma, que fica dito nos títulos 9. e 21. deste
livro.
2.8 o que fugir do lugar, que lhe foi assinado por ciírcere para cumprir as
penitências impostas em sua reconciliação, pela primeka vez será preso, e
pedindo misericórdia, será condenado, a que vã ao Auto da Fé ouvir sua
sentenç4 e se lhe agravará o crírcere, o hábito penitencial mais um grau daquele,
com que foi reconciliado; e nunca poderá ser menos, que perpétuo, o qual
começará da publicação da última sentença.
3. E fugindo do lugar assinado por cárcere, depois de ser castigado por não
cumprir as penitências na forma, que deverá, e parecendo inconigível; além
das ditas penas, será degredado para fora do Reino, pelo tempo que parecer, e
terá as mais penas, e penitencias espirifuais, que se entender que convém à
qualidade, e circunstâncias da culpa; porém antes de ir ao degredo, será preso
na cadeia pública do lugar, que lhe estií assinado por cárcere, e dela levado
publicamente à sua freguesi4 a ouvir a missa da Terça, para satisfação do
escândalo que deu com suas culpas.
4. E se não cumprir a penitenci4 que lhe foi imposta na sentença de sua
reconciliação, e preso não quiser pedir niisericórdia de sua culpa, nem aceitar
as penitencias, que por ela lhe forem dadas, se procederá contra ele, como
impenitente, conforme a disposição de direito, e prática do S. Oficio.
5. Se os penitenciados, que andam cumprindo suas penitencias, forem
achados sem hábito penitencial nas cidades onde assiste o S. Ofïcio, serão pela
primeira vez repreendidos na mesa, de que se faÌá termo em seus processos por
eles assinado, para que tornando a cair na mesma culpa, se proceda contra eles
confonne sua impenitência merecer; e sendo fora do lugar em que assiste o S.
Ofïcio, se mandará fazer o mesmo pelos Comissrários; e pela segunda vez serão
condenados em perdimento da capa, ou manto com que forem achados sem
hábito, e em alguns dias de prisão no cárcere da penitencirári4 ou na cadeia
pública.
6. E os que forem achados sem hábito penitencial fora do lugar, que lhes
estava assinado por cárcere, perderão pela primeiravez a capa, ou manto, e
terão ao menos quinze dias de prisão na cadeia pública do lugar, que lhe estava
assinado por cárcere, e da prisão serão levados publicamente a ouvir missa, e
aos ofícios divinos. E sendo compreendidos segunda vez na mesma culpa, terão
um mês de prisão na mesma forma, e as mais penas arbitnârias, que parecer aos
Inquisidores, e porém se depois de assim castigados, não cumprirem suÍrs
penitências como devem, e se mostrarem incorrigíveis, serão presos nos cárce-
res do S. Ofício, e condenados conforme ao que está disposto no $2. deste título.
rÍruro XXIV
outra, mostrando em breve tempo que o fez por inadveúência, ou que quando
veio declarar sua confissão estava melhor lembrada do que no tempo, em que
o fez, porque neste caso, parecendo que fala verdade se fará o que fica disposto
no Título 5. $ 5. deste livro.
6. E os que pelo contrario negarem a culpa da falsidade que cometeram,
sendo por ela presos, se não houver prova legítimapara serem convencidos,
serão postos a tormento, e persistindo em sua negação, serão degredados para
S. Tomé, Angola, ou Brasil, se a qualidade da prova e circunstância da culpas
o pedirem.
7. Quando alguma pessoa jurar falso em qualquer diligênci4 que se fez
por parte do S. Ofício, os Inquisidores procederão contra ela, e lhe imporão a
penq que lhe parecer, tendo respeito à qualidade de pessoa, e ao prejuízo que
de seu testemuúo se seguiu.
TITTJLO XXV
Dos que cometem o nefodo crime da sodomia
l. Os Inquisidores procederão contra os culpados no pecado nefando de
sodomia de qualquer estado, grau, qualidade, preeminência e condição ainda
que isentos, e religiosos sejam, guardando a mesma form4 com que procedem
no crime de heresia; e quanto às penas, os poderão condenar, nas que merecem
por suas culpas, podendo também usar das que por direito civil; e ordenações
do Reino estão impostas aos que cometem este crime, até os relaxarem àjustiça
secular, conforme aos Breves Apostólicos de Pio IV. e Gregório XIII, e
declarações do Papa Paulo V. por cartas do Cardeal Melino, e a previsão do
Cardeal Infante Dom Henrique.
2. Os que a primeira vez se vierem voluntariamente apresentar na mesa do
S. Ofïcio, e confessarem nela culpas de sodomia" se não tiverem ainda teste-
munhas, nem depois de apresentados lhe sobrevierem, não serão condenados
em pena alguma; somente depois de se lhe tomar sua confissão, serão admoes-
tados, que nunca mais cometeram o tal crime; porque se tornarem a cair nele,
serão castigados com grande rigor; o que assim se guardará por ser este o estilo,
à que sempre se observou no S. Oficio.
€
3. E se os que assim se vierem apresentar, tiverem já testemunhas contra
si, ou depois da confissão lhes acrescerem, nem por isso castigados com pena
pública, para que com o temor dela e da infâmia, se não abstenham os culpados
de vir confessar suas culpas, e descobrir os cúmplices, com que as cometeram;
porém terão alguma pena, e penitencia secreta, pela qual se não possa vir em
conhecimento de sua culpa.
4. Quando as confissões dos tais apresentados forem diminutas, ou frau-
dulentas, de maneira que se prove, ou presuma com presunção grave, que foram
qualquer qualidade que sejam relaxados à Justiça secular, e seus bens confis-
cados na forma da lei do reino.
10. Os que havendo se apresentado primeira e segunda vez, tornarem
terceira vez a cometer o mesmo crime, e se vierem apresentar, e confessar sua
culpa; se do terceiro lapso não houver prova contra eles, mais que sua confissão,
serão castigados com pena publica arbitráni4 e não terão pena capital. Porém
tendo prova legítima contra si do terceiro lapso, serâo relorados à Justiça
secular; por quanto devem ser havidos por incorrigíveis, e convém, que neles
se pratique o rigor da lei, com a confiscação de bens, como fica dito.
11. Toda a pessoa, que for culpad4 e presa pelo crime de sodomi4 antes
de vir confessar no S. Ofïcio, ou seja leiga ou eclesiástica, secular ou regulaç
se estiver convencida pela prova dajustiça, ou pela confissão, que fez depois
de presa, nos cárceres do S. Oficio, sendo exercente (o que se entenderii se ao
menos se confessar, ou contra ela se provaÍ, dois atos consumados) será
relaxada à Justiça secular, e seus bens serão confiscados; salvo se for menor de
vinte anos, ou ocofferem tais circunstâncias no caso, e na qualidade da pesso4
que pareça se lhe não deve dar pena ordinária, porque entiio se lhe dará outra
extraordinária, a mais grave, que pode ser. E os negativos, que não forem
convencidos pela prova da Justiça serão postos a tormento; e não confessando
nele, nem depois, serão condenados em penas públicas arbitrárias, segundo
parecer que convém.
12. Qualquer pessoa que for convencida neste crime, ou seja pela prova da
justiça, ou sua própria confissão, e com tudo não há de ser entregue ajustiça
secular; mas há de ser castigada publicamente; ìrâ ao auto público da Fé a ouvir
sua sentença, e será condenada em confiscação de bens, em pena de açoites, e
degredo para galés, pelo tempo que parecer; e sendo Clérigo, terá as mesmas
pen:ìs, exceto a de açoites, e será suspenso paÍa sempre das ordens, que tiver,
e inabilitado para ser promovido às que lhe faltarem; e tendo ofício, ou beneficio
Eclesiástico, será privado dele, e inabilitado para ter outros; e se for Religioso
professo, ouvirá sua sentença na sala do S. Ofïcio, e será também suspenso das
ordens privado de voz ativa e passiva para sempre, e degredado paÍa um dos
mosteiros mais apartados de sua religião, onde terá algum tempo de reclusão
no cárcere, com as penitencias, que se costumam dar aos religiosos por culpas
gravíssimas; e poderá também ser degredado paÍa algum lugar fora do reino,
tendo-se respeito à gravidade do crime, e qualidade da pessoa; mas em caso
que sejam devassos no crime, e escandalosos, irão ouvir sua sentença no Auto;
e serão também condenados em degredo para galés.
rÍrur,o xxvr
Dos ausentes, e defuntos, que morueram antes
ou depois de presos, e dos que se matarom,
ou endoidecerão nos cárceres
J
Sônia Aparecida de Siqueira
10. Os presos pelo pecado nefando, que falecerem nos cárceres do s. oficio,
e ao tempo de sua morte estiverem convictos por sua confissão, ou por qualquer
outra legítima prova de direito, serão condenados em confiscagão de seus bens,
quando seus herdeiros, que hão de ser citados, conforme ao que estrí dito no
Livro 2, Título 18, não mostrarem tanto que dela hajam de ser revelados; e a
sentença da condenação se levará na mesa do S. ofïcio; e não estando conven-
cidos, se tomará assento em seu processo, na forma, que está disposto no dito
Título ll, $ 7.
ll. Aos que endoidecerem nos cárceres do S. Ofïcio, se não darápena
corporal, pois o furioso, não é capazdel4e assim com eles, como em sua causa,
se fará o que se dispõe no Livro 2, Título 17, e ficarão seus bens em seqüestro,
para que tornando a seujuízo, ou falecendo naquele estado se proceda confa
sua memória, e fama; e tendo prova legítima, será condenado em confiscação
dos bens, e danada sua fama, e memória; e se a prova não for bastante, como
de direito, e prática se recupere, para se haver por convencido, seja absoluto da
instância" e se mande levantar seqüestro feito nos bens, para que se possam
entregar a quem de direito pertencerem.
TÍTULO xxvll
Dos casos, eÌn que os inquisidores poderão dispensm
nas penqs impostas aos condenados no S. Oficio,
e dw sobrefiançaos culpados
para irem cumprir seus degredos; porém estes não serão obrigados a daÍ fiança:
e sendo alguns dos ditos degredados depois de passados os dois meses, achados
no Reino, fora do lugar do degredo, sem mostrar certidão, de como tem
cumprido serão presos na cadeia pública, e castigados conforme merecer sua
culp4 tendo-se respeito às penas, que pelas leis esülo impostas aos degredos
que não cumprem seus degredos como devem.
9. Nas mais penas, e degredos, que neste título não ficam, não dispensarão
os Inquisidores, nem darão sobre fiança os culpados condenados, por quanto
as reservamos aNós, para que com seu parecer, que enviarão ao conselho geral,
quando lhe for pedido, resolvamos o que for mais serviço de Deus N. Senhor,
e bem da Justiça.
Se sabem, ou ouviram, que algum cristÍio batizado haja dito ou feito alguma
coisa contra nossa santa Fé católica, e contra aquilo que tem, crê e ensina a
santa madre Igreja de Roma, e ainda que o saibam se segredo natural, como for
da confissão.
Que alguma pessoa depois de ser batizada, e tenha ou haja tido crença na
lei de Moisés, depois do último perdão geral, que publicou em cinco dias do
mês de janeiro de 1605, não reconhecendo a Cristo Jesus nosso Redentor por
verdadeiro Deus, e Messias prometido aos Patriarcas, e profetizado pelos
profetas, fazendo os ritos e cerimônias judaicas, a saber, não trabalhando nos
Sábados; mas antes vestindo-se neles de festa, começando a guarda da sexta
feira à tarde; abstendo-se sempre de comer came de porco, lebre, coelho, e peixe
sem escama, e as mais coisas proibidas na lei velha, jejuando o jejum do dia
grande, que vem no mês de setembro, com os mais que os Judeus cosfumam
jejuar, solenizando suas páscoas, rezando orações judaicas, banhando seus
defuntos, e amortalhando-os com çamisa comprida de pano novo, e pondo-lhes
em cima uma mortalha dobrada, e calçando-lhes calções de linho, e enterran-
do-os em terra virgem, e covas muito fundas, e chorando-os com sua liteiras,
cantando como fazem os Judeus, e pondo na boca grãos de aljôfar, ou diúeiro
de ouro ou prata, e cortando-lhes as unhas, e guardando-as, e comendo em
mesas baixas, e pondo-se atrás da porta por dó, ou fazendo outro ato, que pareça
r ser em observância da dita lei de Moisés.
qualquer maneira, maiormente, quando a cerca deste caso for requerido da parte
do S. Oficio: e que não cometerei, nem encíuïegarei os oficios públicos de
qualquer qualidade que sejam, a pessoa alguma dos sobreditos, nem a outras,
a que for proibido, ou imposto por penitencia pelo S. Ofício da Inquisição, nem
às pessoas, a quem o direito, por razío do delito, & crime de heresi4 e apostasia
o defende; & se os tiverem, não os deixarei usar deles, antes os punirei, &
castigarei conforme as leis do reino. E que neúum dos acima ditos receberei,
nem terei em minha companhia" famíli4 & serviço nem em meu conselho; &
se por ventura o contnário fizer, não o sabendo, tanto que a miúa notícia vier
serem as tais pessoÍÌs da condigão acima dit4 logo as lançarei de mim.
E assim prometo, que todas as vezes que por vos seúor Visitador ou
qualquer outro, que por parte do S. Oficio a estas partes vier, me for mandado
executar qualquer mandado ou sentença contra alguma pessoa, ou pessoas das
sobreditas, o farei, & cumprirei sem dilação alguma, segundo dispõe os sagra-
dos Cânones, que nos tais cÍrsos falam, & assim em tudo o acima dito, como no
mais, que tocar ao S. Ofïcio, serei obediente a Deus, & a vós S. Visitador, &
aos mais, segundo mlúa possibilidade. Assim Deus me ajude, & estes santos
Evangelhos.
FORMA DE RECONCTLTAÇÃO
DE QLIE SE FAZ MENÇÃO NO LIVRO 2, TÍruLO 1 $ 8.
ABJURAÇAO EM FORMA
Eu N. perante vos S. Inquisidor juro nestes santos evangelhos, em que
tenho minhas mãos, que de minha própria vontade anatematizo, & aparto de
mim toda a espécie de heresia que for, ou se levantar contra N.S. Fé Católicq
e Sé Apostólicq especialmente estas, em cai, e que agora em miúa sentença
me foram lidas, as quais hei por repetidas aqui, & declaradas; & juro de sempre
ter, e guardar a S. Fé Católica, que tem e ensina a S., M. Igreja de Roma; e que
serei sempre muito obediente ao nosso muito s. Padre o papaN, hora presidente
na Igreja de Deus, e a seus sucessores: e confesso, que todos os que contra esta
S. Fé católica forem, são dignos de condenação; e juro de nunca com eles me
juntar, e de os perseguir, e descobrir as heresias, que deles souber aos Inquisi-
dores, ou Prelados da S. M. igreja; e prometo, quanto em mim for, de cumprir
\ Deus, cuis proprium est misereri sempre, & parcere, suscipe deprecatio-
nem nostram, & hunc famulum tuum, quem sententia excomunicationis catena
constringit miseratio tua pietatis absoluat.
Oremos
Presta quasumus, Dominae, huic famulo tuo, dignum paenitentiae fructum
quem pecando amisit: ut Eclesiae tuae sactae, a cuius integritat deviauit
delinquendo, redatuÍ, innoxius, veniam cosenquendo. Per Christum Dffm nos-
trum. R" Amen.
Dominus noster Jesus Christus, qui habet plenariam potestatem, te abso-
luat & Pauli, & Apostolica autoritate mihi concessa in hac parte, qua fungor,
te absolvo ab omni vinculo excomunicationis, in quod incurristi, tam ab
homine, quam a iure, propter haeresim, siue superstitionem ludaicam, vel
múometicam, quam tenuisti, & sequitus fuist: & restituo te vnitati Ecclesiae,
& perceptioni sacramentorum, & parcipationi fedelium, in nomine Patris, &
Filij, & Spiritus Sancti. E langará água benta sobre o penitente.