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Fulgencio - 2008 - Revisión Del Libro Winnicott de Adam Phillips
Fulgencio - 2008 - Revisión Del Libro Winnicott de Adam Phillips
(p. 186), a relação entre a submissão e ele considerava úteis”; e nas páginas
o falso-self (p. 189), a questão da ori- 182-3, temos: “Em três importantes
ginalidade e da criatividade (p. 189), artigos que podem ser lidos proveito-
o verdadeiro e o falso-self (p. 191), o samente como uma série – “O papel
problema da comunicação e da não- de espelho da mãe e da família no
comunicação (p. 203), a recusa do desenvolvimento infantil” (1967), “O
conceito de pulsão de morte (p. 152) uso do objeto e suas relações através de
etc. –, mas focarei meus comentários identificações” (1969), e “Distorção do
na questão das continuidades e ruptu- Ego em termos de Verdadeiro e Falso
ras que Phillips comenta ao comparar a Self”, (1960) –, Winnicott oferece as
posição de Winnicott com a de Freud considerações finais de sua teoria do
e de Klein. Para isto, abordarei três desenvolvimento”. Ainda que ele não
pontos específicos, comentados por chegue a caracterizar, como fazem
Phillips: 1. o reconhecimento de que alguns autores atuais, a teoria do
Winnicott apresenta modificações amadurecimento pessoal proposta por
profundas na teoria psicanalítica; 2. a Winnicott como uma teoria que é mais
avaliação da linguagem utilizada por ampla que a teoria do desenvolvimento
Winnicott como sendo, por vezes, obs- da sexualidade (cf. Dias e Loparic), ele
cura, ainda que de grande criatividade; reconhece que Winnicott se afastou
e 3. a consideração de que faltaria uma das teorias clássicas, oferecendo um
organização sistemática harmônica nas novo paradigma para a psicanálise:
propostas teóricas de Winnicott. Ao “Winnicott fez derivar tudo, em sua
final da resenha, me ocuparei, ainda, obra, inclusive uma teoria das origens
de fazer alguns comentários críticos da objetividade científica e uma revi-
relativos às opções de tradução dos são da psicanálise, do seu paradigma
termos instinct e ruthless. da relação mãe-bebê” (2006 [1988],
Phillips considera que Winnicott p. 5).
tem uma teoria do desenvolvimento A avaliação da obra de Winnicott
diferente da de Freud e da de Klein, como sendo um novo paradigma para
apresentando uma perspectiva própria. a psicanálise também foi defendida por
Na página 143, temos: “durante os Greenberg & Mitchell (Relações objetais
anos 1940 Winnicott havia elaborado na teoria psicanalítica, de 1983) e por
uma teoria do desenvolvimento pode- Zeljko Loparic (“Esboço do paradigma
rosamente antagônica àquela de Freud winnicottiano”, de 2001; “De Freud a
e de Klein, ao mesmo tempo incluído Winnicott: aspectos de uma mudança
os pedaços das obras dos mesmos que paradigmática”, de 2006), ainda que
passagens. Numa nota da página 181, dizer que um bebê inveja o seio, que
ele afirma: “A falta de clareza concei- um bebê pode experienciar relações do
tual convencional sempre remete a tipo edípicas, etc.
uma perplexidade essencial em sua Phillips também considera que
obra”. Noutro momento ele também Winnicott, mesmo tendo apresen-
diz: “ao mesmo tempo em que Win- tado uma teoria sem contradições,
nicott iniciava distinções importantes, não apresentou uma teoria em que
ele também mudava a terminologia todos os seus enunciados se encaixam
de forma confusa; nas citações acima, construindo um sistema harmônico:
‘componentes’ se tornaram ‘impulsos “É justo reconhecer também que
[impulses]’ e ‘vida instintual [instintual Winnicott tinha as virtudes psica-
life]’ mudara para ‘força vital’. Todos nalíticas de seus vícios científicos:
estes termos têm implicações bem ele não se tornou sistematicamente
diferentes” (p. 160). coerente em detrimento de sua pró-
Considero que Winnicott cons- pria inventividade” (p. 147). Esta
truiu uma linguagem nova, harmônica posição estaria em consonância com
com seu sistema teórico, que deve ser a sua avaliação sobre a linguagem
entendida segundo alguns parâme- utilizada por Winnicott. Aqui caberia
tros que não foram considerados por uma discussão sobre a existência ou
Phillips. O que o próprio Winnicott não de uma teoria sistematicamente
afirmou sobre sua maneira de teorizar organizada em Winnicott. Alguns
(sua linguagem) cada uma das fases do autores (em especial o grupo fundado
desenvolvimento: “A linguagem de por Dias e Loparic, constituindo a
uma parte específica é inadequada para Escola Winnicottiana de São Paulo,
outras” (Natureza Humana, p. 52). A cf. www.sociedadewinnicott.com.br,
opção por linguagens específicas para e, mais recentemente, em 2008, Jan
cada fase não é, pois, confusão ou falta Abram, “Donald Woods Winnicott
de clareza, mas de uma opção meto- (1896-1971): A Brief Introduction,
dológica que procura descrever com a IJP 89) têm se dedicado a mostrar esta
maior precisão possível as dinâmicas sistematicidade, e talvez aí esteja um
dos relacionamentos interhumanos em ponto de divergência entre a avaliação
jogo, considerando-se as maturidades que Phillips faz da importância e do
e as capacidades do bebê ou da criança lugar da obra de Winnicott na história
em cada um destes momentos e con- da psicanálise, e a que estes autores
quistas do amadurecimento. Assim, têm proposto. Por outro lado há outros
por exemplo, é totalmente inadequado intérpretes da obra de Winnicott que
mais de um dos três que formam o acha válido e o que não acha, mar-
triângulo é um objeto parcial” (1988, cando diferenças significativas entre
p. 67); a teoria da posição esquizo- eles. Como contribuições válidas, ele
paranóide – “que considero uma de cita, dentre outras: o uso da técnica
suas teorias menos bem elaboradas, ortodoxa estrita na psicanálise de
mas, de qualquer modo, o seu termo crianças facilitada pelo uso de peque-
regressão à perseguição não fez sentido nos brinquedos nos estágios iniciais,
algum para a maioria das pessoas que compreensão das forças ou “objetos”
a escutavam” (carta a Esther Bick); e internos benignas e persecutórias e
a teoria da inveja inata – “a inveja em sua origem em experiências instintivas
um bebê só pode fazer parte de um satisfatórias ou insatisfatórias, impor-
estado de coisas muito complexo, no tância da projeção e da introjeção
qual há uma representação aterradora como mecanismos mentais, a posição
do objeto” (“Melanie Klein: sobre o depressiva (comparável à descoberta
seu conceito de inveja”, p. 340), o do complexo de Édipo por Freud (cf.
que só poderia ocorrer depois de um p. 162)); como propostas duvidosas,
amadurecimento, dado que no início o que na verdade ele considera inacei-
bebê não teria tais capacidades. Ainda táveis, ele cita: a manutenção do uso
que Winnicott reconheça o passo da teoria do instinto de vida e instinto
importante dado por Klein ao propor de morte, e a tentativa de considerar a
a posição depressiva, ele a redescreverá destrutividade do lactente em termos
como sendo a fase do concernimento, de hereditariedade e de inveja (cf. p.
não aceitando a perspectiva patológica 162).
para a qual aponta o termo kleiniano Nas suas cartas, reunidas no
(como escreveu Phillips: “Winnicott livro O gesto espontâneo, Winnicott
renomeia de estágio da preocupação; insistiu sobre o caráter não científico
algo que soava ameaçadoramente e ideológico, por vezes até mesmo
como uma síndrone psiquiátrica se religioso, que o desenvolvimento da
torna um sentimento mais comumente teoria psicanalítica estava sofrendo
reconhecível”, p. 156). No texto em com a afirmação dogmática das posi-
que Winnicott faz um balanço das ções kleinianas. Em termos da própria
contribuições de Melanie Klein para história da psicanálise na Inglaterra,
a psicanálise (“Enfoque pessoal da Winnicott também não foi adepto
contribuição kleiniana”, de 1962), ele nem do grupo de Anna Freud nem
reconhece que ela fez contribuições do de Melanie Klein, sendo inclusive
importantes explicitando o que ele afastado das atividades didáticas da
Enviado em 3/2/2008
Aprovado em 15/5/2008