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Carlos Biasotti

Regime Prisional
(Doutrina e Jurisprudência)

2020
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado
de São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB,
AASP, IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia
Brasileira de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte,
Cultura e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor
de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos
Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), além
de numerosos artigos jurídicos publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo


(nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento, em
14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honorícos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado
de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de
São Paulo; medalha cultural “ Brasil 500 anos”; medalha “ Prof. Dr.
Antonio Chaves”, etc.
Regime Prisional
(Doutrina e Jurisprudência)
Carlos Biasotti

Regime Prisional
(Doutrina e Jurisprudência)

2020
São Paulo, Brasil
Índice

I. Preâmbulo...................................................................11

II. Dedicatória....................................................................13

III. Regime Prisional...........................................................17

IV. Regime Prisional: Regressão.......................................128

V. Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)....................151

VI. Excesso ou Desvio de Execução...................................156

VII. Casos Especiais............................................................169

VIII. Da Prisão Domiciliar: Solução Heroica para


Casos Especiais...........................................................261

IX. O Traficante de Tóxico e seu Regime Prisional.........279

X. Do Excesso ou Desvio de Execução ...........................285

XI. Petição de Regime Prisional (Modelo)........................295

XII. Damásio E. de Jesus: Honra e Glória do


Direito Penal...............................................................301
I. Preâmbulo

Se o condenado atendeu ao requisito objetivo (lapso


temporal), observou sem quebra o código de disciplina
do presídio e manifesta o propósito de emendar as
máculas do passado, faz jus à progressão de regime,
porque esta é a vontade da lei (art. 112 da Lei
de Execução Penal). Somente fato grave, indicativo
de personalidade anômala e de todo refratária aos
estímulos da recuperação, poderá obstar-lhe a mudança
para o regime prisional mais brando.
O asserto de que o criminoso empedernido não
conhece recuperação não é dogma científico. Para
honra da Humanidade, não são raros os casos em que,
incentivados por medidas penais salutares, condenados
abjuraram a vida de crimes, redimiram-se de suas faltas
e, restituídos à comunhão social, deram boa conta de si
como cidadãos úteis.
Os penitenciaristas põem timbre em que a execução
da pena se processe em ambiente que reproduza, quanto
possível, “as condições da vida livre, para evitar as
deformações que o regime recluso faz sofrer à personalidade
do homem”(1).

(1) Cf. Aníbal Bruno, Direito Penal, 2a. ed., t. III, p. 50.
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À luz da lógica e por princípio de justiça, a


escorreita exegese do art. 126 da Lei de Execução Penal
deve compreender também, no conceito de trabalho,
a atividade escolar do preso, por sua transcendental
importância como fator de promoção humana e
poderoso instrumento de reforma de vida e costumes.
A opinião de que o encarceramento do infrator
perigoso constitui medida profilática e de salvaguarda
social, ainda que tributária de sufrágios numerosos, não
deslustra a advertência do insigne jurista Evandro Lins e
Silva: as prisões “não ressocializam ninguém, ao contrário,
aviltam, degradam, embrutecem”(2).
Enfim, ainda que graves seus crimes, “tem o acusado o
direito à esperança de um dia voltar ao convívio social e de
sua família”(3).
Ementas de votos que proferi na 2a. Instância da
Justiça Criminal do Estado de São Paulo (e breves
artigos jurídicos): eis o tema genérico do opúsculo que
deponho em suas mãos, benévolo e gentil leitor, na
confiança de que lhe aproveite e satisfaça. Adeus e boa
sorte!
O Autor

(2) Arca de Guardados, 1995, p. 62.


(3) João Baptista Herkenhoff, Uma Porta para o Homem no Direito
Criminal, 2a. ed., p. 166.
II. Dedicatória

Entre os laços da afeição humana, sempre


disputaram primazia os que se forjaram na convivência
profissional. A esfera de trabalho, com efeito, dita
vulgarmente “escola da vida” (em que predominam os
primores da inteligência e da virtude, orientados para a
realização de um intuito comum), é não só fonte de
energia senão luz do espírito e crisol da personalidade.
Dado que ninguém é perfeito e cabal e em seu
ofício, aconselha a sensatez que, por suprir a natural
lacuna, procure cada um conformar-se ao melhor
padrão. Menos que máxima de prudência, é esta uma
das condições do próprio existir!
Assim é que de uns recebemos valiosas lições de
fortaleza de ânimo e tolerância; de outros, o tirocínio da
solicitude e da fidalguia; este nos ensinará, com o seu
exemplo, o princípio da austeridade; aquele enfim nos
revelará, com espontânea alegria, a glória de ter sido
útil.
14

Dos antigos colegas da 5a. Câmara de Direito


Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo tudo isso aprendi, pois que se abalizavam em
sabedoria, retidão de caráter, nobreza de sentimentos,
rasgos de cordialidade, senso judicante e ambição de
bem servir à causa da Justiça.
Eis por que lhes dedico e ofereço, num como
preito de homenagem, estima e gratidão, este modesto
livrinho. Escrevo-lhes aqui os nomes (que de tão ilustres
mereciam gravados em lâminas de ouro!): Antônio
Carlos Tristão Ribeiro, Geraldo Francisco Pinheiro
Franco, José Damião Pinheiro Machado Cogan,
Juvenal José Duarte, Marcos Zanuzzi e Sérgio Rui da
Fonseca.
Nomes são estes que guardo, com infinita saudade,
no âmago do coração!

Carlos Biasotti
15

5a. Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça


do Estado de São Paulo e sua Composição (2009)

Desembargadores:
(E) Antonio Carlos Tristão Ribeiro, Marcos Zanuzzi,
Geraldo Francisco Pinheiro Franco, Carlos Biasotti,
José Damião Pinheiro Machado Cogan,
Sérgio Rui da Fonseca e Juvenal José Duarte.
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Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo


Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de
Justiça: http://www.tjsp.jus.br).

III. Regime Prisional

Voto nº 1276
Agravo em Execução nº 1.126.591/7
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— No geral consenso dos penitenciaristas, a progressão de regime é


fato de tal relevância na vida carcerária, que ao preso que já satisfez
ao requisito objetivo – cumprimento de 1/6 da pena no regime anterior
(art. 112 da Lei de Execução Penal) – somente se haverá denegar
se conspirarem circunstâncias por demais graves e de todo
inconciliáveis com a outorga do benefício.
— Aquele a quem, na puerícia e na juventude, faltaram os fortes laços
de família bem constituída, capazes de defendê-lo das quedas e
transvios, não é muito que, pela vida fora, ostente na alma alguns
estigmas indeléveis, pois o costume de casa é o que vai à praça.
—“Os homens formam sua personalidade dentro da sociedade em que vivem”
(Ingenieros; in Revista Brasileira de Criminologia e Direito Penal,
1954, nº 1, p. 111).
—“Deve o rigor do castigo temperar-se sempre com a moderação da
clemência” (Manuel Bernardes, Nova Floresta, 1728, t. V, p. 466).
18

Voto nº 9613
Agravo em Execução nº 1.126.997-3/0-00
Art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.072/90;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Dois requisitos exige a lei para a progressão de regime: lapso


temporal e mérito do condenado; presentes que sejam, compete ao
Juiz despachar de boa sombra a pretensão, uma vez não pode
recusar-se a praticar os atos de seu ministério.
— Não vá esquecer ao cultor do Direito que ainda o mais vil dos
homens tem jus à proteção da Lei!
— O asserto de que o criminoso empedernido não conhece
recuperação não é dogma científico. Para honra da Humanidade,
não são raros os casos em que, incentivados por medidas penais
salutares, condenados abjuraram a vida de crimes, redimiram-se de
suas faltas e retornaram à comunhão social, tornando-se cidadãos
prestantes.
— Opor-se à progressão de regime – direito que a lei assegura ao
condenado em condições de o merecer – fora mais do que obstar-
-lhe a reintegração social, porque seria matar-lhe a esperança, “que é
o último remédio que deixou a natureza a todos os males” (Vieira,
Sermões, 1682, t. II, p. 87).
19

Voto nº 10.482
Agravo em Execução nº 993.08.029667-7
Art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos);
art. 93, nº IX, da Const. Fed.

— A despeito da nova redação que a Lei nº 10.792/03 deu ao art. 112 da


Lei de Execução Penal, subsiste a possibilidade de realização do exame
criminológico, “quando o entender indispensável o juiz da execução para
a decisão sobre progressão de regime” (Julio Fabbrini Mirabete, Execução
Penal, 11a. ed., p. 59).
— Não padece do vício de nulidade a decisão que, suposto sucinta, dá
as razões do convencimento de seu prolator, fundadas na prova e em
bom direito (art. 93, nº IX, da Const. Fed.).
— A Lei nº 10.729/03 – que deu nova redação ao art. 112 da Lei
de Execução Penal – não aboliu o exame criminológico para a
progressão de regime, o qual pode ser realizado se as circunstâncias
pessoais do sentenciado e a natureza do crime que cometeu o
aconselharem. Nisto, como no mais, obrará sempre o Magistrado
com a prudência e o arbítrio do bom varão.
— Se o sentenciado atende aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução
Penal, isto é, “tiver cumprido ao menos um sexto da pena no
regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário”, faz jus à
progressão ao regime semiaberto. Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária aos estímulos da recuperação,
poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
— Sob pena de violação da coisa julgada material, instituto
capitalíssimo em que assenta a ordem jurídica, o Juízo de Execução
não pode alterar o regime prisional fechado, imposto pela sentença
condenatória a autor de tráfico de entorpecentes (art. 12 da Lei
nº 8.072/90), crime da classe dos hediondos, sem atender ao requisito
do lapso temporal: 2/5 para o condenado primário, 3/5 para o
reincidente (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90, Lei dos Crimes
Hediondos).
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— Decisões contraditórias no seio da Justiça operam sempre como


fator de insegurança dos negócios jurídicos, em detrimento grave de
seu nome e crédito.

Voto nº 10.592
Agravo em Execução nº 993.08.044220-7
Arts. 105 e 112 da Lei de Execução Penal

— Não há que opor à decisão que, embora pendente recurso do


Ministério Público, determina a expedição de guia provisória de
recolhimento a favor de réu preso, condenado a cumprir pena sob o
regime prisional fechado, pois mesmo que provido o recurso e
exasperada a pena corporal, já lhe está fixado o regime da última
severidade; inexistirá, portanto, o “periculum in mora”, o risco de
fuga do sentenciado à execução da pena ou algum prejuízo para a
sociedade.
— Também os que violaram a ordem jurídica e social têm seus
direitos; ainda o mais vil dos homens não decai nunca da proteção
da Lei. A presteza com que encaminha o réu para a Vara das
Execuções Criminais serve de timbre de honra do Juízo da
condenação, não de labéu (art. 105 da Lei de Execução Penal).
— Fere os princípios da Justiça e repugna à consciência jurídica
submeter o réu condenado a efeitos mais graves do que os
estipulados no título executório, mesmo no caso de ter sido
interposto recurso pela Acusação.
—“Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação
imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória” (Súmula nº 716 do STF).
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Voto nº 5467
Agravo em Execução nº 1.407.287/7
Art. 112 da Lei de Execução Penal

—“Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”


(Rui, Oração aos Moços, 1a. ed., p. 42). Tal exortação naturalmente
sobe de ponto, em se tratando de réu preso: perdida a liberdade –
bem supremo do homem –, o anseio de recobrá-la não sofre nem
admite dilação desarrazoada. Aqui toda a delonga parece funesta,
pois “mata a esperança, que é o último remédio que deixou a natureza a
todos os males”, como afirmou o elegante Vieira (Sermões, 1682, t. II,
p. 87).
— Suposto o conflito entre a Lei e o Direito, para a parcialidade deste
é que se deve inclinar o Juiz. “O direito é que é a fonte da lei” (Eliézer
Rosa, A Voz da Toga, 1a. ed., p. 47).
— Satisfeitos os requisitos legais (art. 112 da Lei de Exec. Penal), é a
progressão de regime direito público subjetivo do condenado, que
se lhe não pode negar sem grave injúria da Lei e da Justiça.
— O argumento da pena longa não é poderoso a obstar a concessão de
progressão de regime ao sentenciado, se já cumpriu dela o lapso
temporal exigido por lei (necessariamente longo). Tampouco lhe serve
de empecilho à obtenção do benefício o registro de falta grave (fuga)
se, ao depois, revelou, por largo espaço de tempo, exemplar conduta
carcerária e notável dedicação ao trabalho, sinais inequívocos de sua
redenção.
22

Voto nº 10.679
Agravo em Execução nº 990.08.037126-6
Arts. 66, nº III, alíneas b e f, e 112 da Lei de Execução Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76; art. 5º da Const. Fed.

—“A progressão de regime de cumprimento de pena (fechado para o


semiaberto) passou a ser direito do condenado, bastando que se satisfaça
a dois pressupostos: o primeiro, de caráter objetivo, que depende do
cumprimento de pelo menos 1/6 da pena; o segundo, de caráter subjetivo,
relativo ao seu bom comportamento carcerário, que deve ser atestado pelo
diretor do estabelecimento prisional” (STJ; HC nº 38.602; 5a. Turma;
rel. Min. Arnaldo Esteves de Lima).
— Salvo se lhe pende processo de expulsão do País, é possível deferir
a condenado estrangeiro o benefício da progressão no regime
prisional, desde que atenda aos requisitos do art. 112 da Lei
de Execução Penal. Conclusão diversa implicava tratamento
discriminatório entre o condenado alienígena e o nacional, balda
gravíssima que a Constituição da República solenemente repele
(art. 5º).
— Sob o regime semiaberto, o sentenciado estrangeiro estará sujeito,
por força, a restrições de vária ordem: não terá direito a “saída
temporária” nem realizará “trabalhos extramuros”, por não frustrar o
cumprimento de eventual decreto de expulsão.
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido.
23

Voto nº 2419
Apelação Criminal nº 1.203.473/3
Art. 155, “caput”, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

— Ao condenado reincidente a lei veda apenas o regime aberto, e isto


mesmo quando superior a 4 anos sua pena; se igual ou inferior a
4 anos, tem jus ao regime prisional semiaberto, interpretado
“a contrario sensu” o art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal.
— O regime prisional semiaberto fixado para autor de furto,
reincidente, não repugna ao direito expresso; antes se conforma com
as diretrizes da política criminal: reservar o regime da última
severidade aos réus de delitos graves, perpetrados com violência à
pessoa e profundo menoscabo dos valores sociais.

Voto nº 2079
Agravo em Execução nº 1.198.735/2
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Porque o homem perfeito é uma ficção, o critério para a aferição


dos requisitos legais de ordem subjetiva para a progressão de regime
prisional do sentenciado será, em linha de princípio, aquele adotado
pela equipe técnica: terá jus à mudança de regime o condenado que
revelar positivas condições de readaptação ao convívio social (art.
112 da Lei de Execução Penal).
— A ausência de periculosidade e a aplicação do sentenciado à
laborterapia são elementos decisivos para a concessão do benefício:
uma previne a sociedade contra os efeitos da delinquência; outra
(o trabalho) representa o principal fator de promoção humana.
24

Voto nº 2215
Apelação Criminal nº 1.185.463/7
Arts. 180, “caput”, e 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— A nota de reincidência, nas mais das vezes aconselha a estipulação


de regime severo ao infrator, havendo-se consideração à sua
periculosidade, pois aquele que, infenso ao rigor da lei, se obstina a
transgredi-la, esse há mister de terapia penal mais intensa e eficaz.
— Mas a isolada reincidência não conduz, por força, ao regime
fechado. A lei, o que veda expressamente ao condenado reincidente
é o regime aberto, no caso de superior a 4 anos sua pena (art. 33,
§ 2º, alínea b, do Cód. Penal); se inferior, nada obsta se lhe conceda o
regime intermediário (unicamente o aberto lhe é defeso).

Voto nº 5108
Agravo em Execução nº 1.379.415/2
Art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal

— É de boa política criminal restaurar o regime aberto (prisão-


-albergue domiciliar) ao sentenciado que o teve revogado porque se
ausentara de casa no horário proibido, mas por motivo imperioso e
urgente, como ir à farmácia comprar remédio para a mulher
acometida de mal súbito. A regressão de regime, no caso, importaria
punição demasiado severa e drástica, em prejuízo não somente do
sentenciado, que também das pessoas de sua obrigação (mulher e
filhos, estes de tenra idade).
25

Voto nº 1419
Apelação Criminal nº 1.144.963/3
Arts. 157, § 2º, nº II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— Salvo quando alcança demonstrar, com êxito feliz, que perpetrara o


fato sob a égide de causa excludente de ilicitude jurídica, o réu que
lhe confessa a autoria fecha, de plano, sobre si a porta do cárcere.
— Pelo alto sentido que tem a confissão no processo penal, deve a
Justiça amercear-se daquele que, ainda com dano para sua liberdade,
preferiu ser sincero com o Juiz que o interrogou. Essa, a que se
pudera chamar coragem moral, é digna sempre de galardão, não
apenas de apologia.
— Não repugna à Lei conceda o Juiz regime semiaberto ao condenado
não-reincidente, cuja pena não ultrapasse 8 anos (cf. art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); somente lhe é defeso concedê-lo a réu
condenado a pena superior a 8 anos (ainda que primário), ou ao
reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.
— Tal benefício não desacredita o Judiciário nem encontra o
sentimento de justiça; bem ao revés, há coisa de trinta séculos,
Salomão, dos homens o mais sábio, já encarecia aos que julgam não
fossem demasiado justos: “Noli esse justus multum” (Ecl 7,17).
26

Voto nº 1329
Agravo em Execução nº 1.141.355/4
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— A objeção de que a pena, por longa, desaconselha a progressão no


regime prisional não tem fomento de direito: à uma, porque a lei o
não prevê; à outra, porque dessa longa pena foi precisamente que o
sentenciado cumpriu a sexta parte (art. 112 da Lei de Execução Penal).
— O asserto de que, na fase de execução, prevalece o princípio “In
dubio pro societate” carece de bom fundamento, já que nenhum nome
de autoridade se conhece que o apadrinhe. O contrário, aliás, se tem
escrito dos sentenciados: cumpre se mostre a Justiça menos
implacável e mais tolerante com aquele que, já condenado e, pois,
perdida sua liberdade (bem supremo, sem o qual a própria vida não
merece os cuidados que lhe reservamos), tornara-se, na frase de
Carnelutti, “(…) o mais pobre de todos os pobres, o encarcerado” (cf.
Execução Penal, Visão do TACrim-SP, 1998, pp. 107-108).
27

Voto nº 1364
Agravo em Execução nº 1.143.553/7
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Ainda que opinativo (como toda a manifestação do pensamento),


o parecer da Comissão Técnica de Classificação (art. 7º da Lei
de Execução Penal) é emitido por profissionais de saber técnico
especializado; não há, pois, rejeitá-lo imotivadamente. Dar tento da
lição do anexim: Mais sabe o ignorante no seu, que o sábio no alheio.
— É imolar na ara do dogmatismo pretender que, na fase da execução
criminal, vigora o princípio do “In dubio pro societate”. Paráfrase
do aforismo “In dubio pro reo” (que exorna os brasões da Justiça
Criminal), o refrão “In dubio pro societate” pertence para os processos
da competência do Júri, onde as dúvidas sobre a admissibilidade da
acusação (“judicium accusationis”) se resolvem a favor da sociedade
(“pro societate”), não para o Juízo das Execuções, ao qual compete
examinar se a pretensão do sentenciado se concilia, ou não, com o
Direito Positivo.
—“A justiça penal não termina com o trânsito em julgado da sentença
condenatória, mas se realiza, principalmente, na execução. É o poder de
decidir o conflito entre o direito público subjetivo de punir (pretensão
punitiva ou executória) e os direitos subjetivos concernentes à liberdade do
cidadão” (Julio Fabbrini Mirabete, Execução Penal, 5a. ed., p. 42).
28

Voto nº 9618
“Habeas Corpus” nº 1.142.670-3/6-00
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Embora praxe vitanda, não configura constrangimento ilegal a


permanência do condenado em estabelecimento penal próprio do
regime fechado, enquanto aguarda vaga no semiaberto. Ditada por
força maior ou razão de ordem superior invencível, tal situação cai
na esfera da previsão humana: todo o infrator sabe que,
delinquindo, sua liberdade poderá ser coartada em grau menor ou
maior.
— Pretender o condenado passar desde logo ao regime aberto, como
forma de iludir o rigor da espera, será tripudiar sobre o direito de
outros sentenciados que há mais tempo aguardam a efetivação da
transferência para o estágio intermediário, além de fazer injúria
à própria sociedade, que tem o direito de exigir do infrator a
reparação, à guisa de pena retributiva, do dano que lhe causou com
o seu crime.
— Ainda o mais vil dos homens não decai nunca da proteção da lei,
pelo que deve o Juiz olhar sempre não se dilate além da marca o
tempo de privação da liberdade daquele que, em tese, já poderia ter
passado a estágio mais brando de cumprimento de pena (art. 112 da
Lei de Execução Penal).
29

Voto nº 613
Apelação Criminal nº 1.063.637/7
Art. 33, § 1º, letra c, do Cód. Penal;
art. 171 do Cód. Penal

—“Quando grosseiramente inverossímil, a defesa do réu é mais um indício


de sua culpabilidade” (Nélson Hungria, in Jurisprudência, vol. 13,
p. 236).
— Infringe o preceito do art. 171 do Cód. Penal aquele que, para obter
vantagem ilícita, vende como próprio imóvel alheio, mediante o
ardil da elaboração de contrato ideologicamente falso, induzindo
assim vítimas em erro e causando-lhes prejuízo.
— Em circunstâncias especiais, que saberá identificar, pode o Juiz
deferir o benefício do regime aberto a reincidente que não revele
acentuado grau de periculosidade como, “verbi gratia”, o condenado
por estelionato. É que a prisão, muita vez, atinge “inocentes, como são
a esposa e filhos do criminoso, privados, sem culpa, de subsistência e do
convívio do chefe de família” (Magarinos Torres; apud José Luís Sales,
Da Suspensão Condicional da Penal, 1945, p. 13).
30

Voto nº 840
Apelação Criminal nº 1.081.289/1
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal

— É suficiente para justificar a condenação pela prática de roubo a


confissão do réu em Juízo, pois que reputada a mais importante das
provas (“regina probationum”).
— Não há proibição legal de que o Juiz conceda ao condenado
não-reincidente a pena inferior a 8 anos o benefício do regime
semiaberto; o Código Penal o que veda às expressas é que se
conceda ele ao réu condenado a pena superior a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos (cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
— Cárcere: “meia-sepultura” (Vieira, Sermões, 1959, t. XV, p. 276).
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
31

Voto nº 896
Apelação Criminal nº 1.091.735/4
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Isto de ter sido feita na Polícia não desmerece a confissão: o ponto


está em que encerre força de convencimento.
— As declarações da vítima de roubo (que se presume pessoa honesta)
assumem o vértice da prova. Deveras, que melhor e mais forte
argumento, com que se autorize alguém a discorrer de um fato, do
que ter-lhe sido o protagonista?!
— Testemunha – ou uma presença no fato (consoante velha definição)
– também o policial pode ser. O valor do que disser, caberá ao Juiz
aferi-lo segundo o rigor da lógica jurídica e as regras da prudência
humana.
— O regime prisional fechado, no início, é o que melhor responde à
natureza do roubo, crime gravíssimo, e à personalidade de quem o
pratica, infensa à disciplina social e orientada para a delinquência
violenta.
32

Voto nº 946
Agravo em Execução nº 1.102.443/4
Art. 33, § 1º, alínea b, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Pode o Juiz, na sistemática do Código de Processo Penal (art. 182),


rejeitar o laudo, pois que lhe não fica adstrito; para tanto, porém, é
mister expenda razões que se avantajem às que deram à conclusão
de seu laudo os peritos, visto como, em ponto que reclame saber
técnico especializado, eles são os que falam “ex cathedra”.
— Exceto se infenso à razão lógica, ou parto de corrupção da
inteligência, não se deve impugnar laudo favorável à pretensão do
sentenciado, pois se presume assente em base científica.
— A pena de longa duração não obsta a promoção a regime prisional,
se o sentenciado satisfez aos requisitos legais, i.e., cumpriu “ao menos
1/6 da pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão” (art.
112 da Lei de Execução Penal).
— Ao Juiz “decerto que lhe não cabe julgar a lei, deixando de aplicá-la por
amor de sua própria opinião pessoal” (Min. Orosimbo Nonato, in Rev.
Forense, vol. 87, p. 263).
— Os penitenciaristas põem timbre em que a execução da pena se
processe em ambiente que reproduza, quanto possível, “as condições
da vida livre, para evitar as deformações que o regime recluso faz sofrer à
personalidade do homem” (cf. Aníbal Bruno, Direito Penal, 2a. ed.,
t. III, p. 50).
— Ainda que graves seus crimes, “tem o acusado o direito à esperança
de um dia voltar ao convívio social e de sua família” (João Baptista
Herkenhoff, Uma Porta para o Homem no Direito Criminal, 2a. ed.,
p. 166).
33

Voto nº 984
Revisão Criminal nº 315.842/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— É de cunho acidental a omissão da sentença condenatória quanto


ao regime prisional do réu; após o trânsito em julgado, pode o
Juízo competente para a execução penal supri-la, deferindo ao
sentenciado o regime mais brando, “desde que compatível com o disposto
no art. 33, § 2º, do Cód. Penal” (cf. Rev. Tribs., vol. 617, p. 359; apud
Julio Fabbrini Mirabete, Execução Penal, 5a. ed., p. 278).
— A confissão policial, máxime se feita em presença de curador,
somente a deverá desconsiderar o Juiz se comprovado ter sido obra
do arbítrio e da violência.
— Não há deferir pedido de revisão criminal, sem a prova cabal e
plena de que a decisão condenatória fez rosto à evidência dos autos.
34

Voto nº 1105
Apelação Criminal nº 1.115.453/6
Art. 157, “caput”, do Cód. Penal

— Bem hajam os que, no terrível e grave ofício de dispensar justiça,


trazem sempre diante dos olhos aquela alta sentença de Salomão,
o mais sábio dos homens: “Noli esse justus multum”, que em
linguagem significa: Não sejas por demasiado justo (Ecl 7,17). E
aqueloutra do imortal Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De
Officiis, I, 10). Em vulgar: A suma justiça converte-se em suma
iniquidade.
— Não há proibição legal de que o Juiz conceda ao condenado
não-reincidente a pena inferior a 8 anos o benefício do regime
semiaberto; o Código Penal, o que veda às expressas é que se
conceda ele ao réu condenado a pena superior a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos.
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
— O cárcere: o pior lugar do mundo, antes do cemitério!
35

Voto nº 1218
Apelação Criminal nº 1.121.659/1
Art. 157, “caput”, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

— Em linha de princípio, é o regime prisional fechado o que mais


convém à personalidade do autor de roubo, de seu natural violento e
refratário à disciplina social. Mas, desde que primário e de bons
antecedentes, não é defeso ao Juiz, em obséquio aos graves e
notórios malefícios do regime fechado, deferir-lhe o benefício do
aberto (cf. art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal).
— As prisões “não ressocializam ninguém, ao contrário, corrompem,
aviltam, degradam, embrutecem” (Evandro Lins e Silva, Arca de
Guardados, 1995, p. 62).
—“Não seria justo obstar o caminho do acusado, dificultar sua vida neste
mundo, que já é tão duro para os jovens e sobretudo para os jovens pobres”
(João Baptista Herkenhoff, Uma Porta para o Homem no Direito
Criminal, 2a. ed., p. 133).

Voto nº 1238
Apelação Criminal nº 1.115.093/2
Art. 155, § 4º, nº I, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alíneas b e c, do Cód. Penal

— Ainda que feita na Polícia, tem alto valor probante a confissão do


réu, salvo se obra de coação, ou em contradição manifesta com os
mais elementos do processo.
— Repugna fixar ao autor de furto, primário e menor de 21 anos, o
regime prisional fechado; as mesmas razões que lhe justificam a
fixação da pena-base no mínimo legal, em obséquio ao preceito do
art. 59 do Cód. Penal, autorizam-lhe o cumprimento da pena sob
regime menos gravoso: aberto ou semiaberto (art. 33, § 2º, alíneas b
e c, do Cód. Penal).
36

Voto nº 1269
Agravo em Execução nº 1.117.903/0
Art. 155, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Pequenas baldas da individualidade psíquica devem ser relevadas,


quando o sentenciado apresenta um complexo de valores que lhe
indiquem sincero esforço de emenda.
— A pretensão do sentenciado de convolar para regime prisional
menos rigoroso é tão legítima e razoável, que apenas em casos
excepcionais se lhe há de indeferir (art. 112 da Lei de Execução Penal).
O tempo do encarcerado conta-se por segundos!

Voto nº 1318
“Habeas Corpus” nº 334.900/7
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— O mero decurso do trato de tempo de 1/6 (art. 112 da Lei de


Execução Penal) não assegura ao condenado o direito à progressão ao
regime prisional menos rigoroso, se lhe falecer o requisito subjetivo,
isto é, o mérito.
— Não é o “habeas corpus” via adequada para obter o apressamento de
decisões na esfera do Juízo da execução, pois se presume que o
Magistrado, sujeito à escrupulosa observância dos prazos legais,
renda sua jurisdição tanto que esteja o processo em termos e bem
instruído.
37

Voto nº 6055
Agravo em Execução nº 441.526-3/8-00
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Ainda que opinativo (como toda a manifestação do pensamento), o


parecer da Comissão Técnica de Classificação (art. 7º da Lei de
Execução Penal) é emitido por profissionais de saber técnico
especializado; não há, pois, rejeitá-lo imotivadamente. Dar tento da
lição do anexim: “Mais sabe o ignorante no seu, que o sábio no alheio”.
— É imolar na ara do dogmatismo pretender que, na fase da execução
criminal, vigora o princípio do “In dubio pro societate”. Paráfrase do
aforismo “In dubio pro reo” (que exorna os brasões da Justiça
Criminal), o refrão In dubio pro societate” pertence para os processos
da competência do Júri, onde as dúvidas sobre a admissibilidade da
acusação (“judicium accusationis”) se resolvem a favor da sociedade
(“pro societate”), não para o Juízo das Execuções, ao qual compete
examinar se a pretensão do sentenciado se concilia, ou não, com o
Direito Positivo.
—“A justiça penal não termina com o trânsito em julgado da sentença
condenatória, mas se realiza, principalmente, na execução. É o poder de
decidir o conflito entre o direito público subjetivo de punir (pretensão
punitiva ou executória) e os direitos subjetivos concernentes à liberdade do
cidadão” (Julio Fabbrini Mirabete, Execução Penal, 11a. ed., p. 32).
38

Voto nº 9502
Agravo em Execução nº 1.129.108-3/7-00
Art. 112 da Lei de Execução Penal

—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido


para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; j. 6.3.2001; DJU 23.4.2001,
p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem quebra, às instâncias da disciplina
do estabelecimento penal para poder, no tempo oportuno,
credenciar-se à outorga de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).

Voto nº 10.324
Apelação Criminal nº 993.08.036938-0
Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— A confissão judicial, por seu valor absoluto – visto se presume feita


espontaneamente –, basta à fundamentação do edito condenatório.
— A palavra da vítima é a pedra angular do edifício probatório: se em
harmonia com os mais elementos dos autos justifica a procedência
da pretensão punitiva e a condenação do réu.
— Não há proibição legal de que o Juiz conceda ao condenado
não-reincidente a pena inferior a 8 anos o benefício do regime
semiaberto; o Código Penal, o que veda às expressas é que se
conceda ele ao réu condenado a pena superior a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
—“A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não
constitui motivação idônea para imposição de regime mais severo do que o
permitido segundo a pena aplicada” (Súmula nº 718, do STF).
39

Voto nº 6168
“Habeas Corpus” nº 486.618-3/7-00
Art. 304 do Cód. Penal;
art. 5º, nº LXVIII, da Const. Fed.

— Contra o parecer de notáveis juristas, que sustentam não ser


o “habeas corpus” meio apropriado a impugnar decisão de que
caiba recurso ordinário, mostra-se de bom exemplo conhecer da
impetração, porque, em tese, passa pelo remédio jurídico-processual
mais célere e eficaz para conjurar abusos e ilegalidades contra o
direito à liberdade de locomoção do indivíduo (art. 5º, nº LXVIII,
da Const. Fed.).
— Assim como o dia precede à noite, precede a prisão do réu à sua
remoção para o estabelecimento compatível com o regime de
cumprimento de pena que lhe foi estipulado.
—“O regime aberto (semiaberto, com maioria de razão) é modalidade de
cumprimento da pena privativa de liberdade e, portanto, o juiz da sentença
deve ordenar a expedição do mandado de prisão, com a determinação de
que seja o preso encaminhado ao estabelecimento penal adequado” (Julio
Fabbrini Mirabete, Execução Penal, 11a. ed., p. 278).
40

Voto nº 10.334
Agravo em Execução nº 993.07.070971-5
Art. 12 da Lei nº 6.368/76;
art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos);
art. 112 da Lei de Execução Penal; art. 5º, nº XL, da Const. Fed.

— Declarada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, em sessão de


23.1.06, a inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90 (Lei
dos Crimes Hediondos), é o art. 112 da Lei de Execução Penal que
serve de fundamento ao pedido de progressão de regime do
condenado por crime hediondo cometido antes da promulgação da
Lei nº 11.464, de 28.3.07, pois, segundo princípio basilar de Direito
Penal, a lei posterior mais severa não pode retroagir.
— A decisão da Suprema Corte, conforme o sentimento comum dos
melhores intérpretes, “é autoaplicável, dispensando a atuação do Senado
Federal para suspender a sua execução (CF/88, art. 52, X)” (René Ariel
Dotti, in Rev. Tribs., vol. 400, p. 415).
— Na conformidade do que têm proclamado nossos Tribunais
Superiores, os condenados por crimes hediondos cometidos antes da
Lei nº 11.464/07, para efeito de progressão, caem sob o regime do
art. 112 da Lei da Execução Penal: cumprimento de 1/6 da pena e
bom comportamento carcerário.
—“O requisito objetivo necessário para a progressão de regime prisional dos
crimes hediondos e equiparados cometidos antes da entrada em vigor da Lei
nº 11.464, em 29 de março de 2007, é aquele previsto no art. 112 da Lei
de Execução Penal” (HC nº 88.037/SP; 5a. T.; relª Minª Laurita Vaz;
j. 25.10.07; DJU 19.11.07, p. 264).
—“Fazer justiça não é, em muitos casos, obedecer à lei e, sim, obedecer ao
direito que é a fonte da lei” (Eliézer Rosa, A Voz da Toga, 1a. ed.,
p. 41).
—“Não trepidei em mudar de voto, pública e declaradamente, toda vez que
novos argumentos ou provas concludentes me convenceram do desacerto do
veredictum anterior: acima do melindre pessoal de cada um está a
sacrossanta causa da Justiça” (Carlos Maximiliano, Hermenêutica e
Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 377).
41

Voto nº 10.382
Apelação Criminal nº 993.08.032216-3
Arts. 155, § 4º, nº II, e 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal;
art. 5º da Lei de Introdução ao Cód. Civil

— Está acima de crítica (e merece confirmada) a sentença que condena,


por furto mediante escalada, o sujeito que penetra em armazém
rural pelo telhado e subtrai coisa alheia móvel (art. 155, § 4º, nº II,
do Cód. Penal).
—“Álibi: quem alega deve prová-lo, sob pena de confissão” (Damásio E. de
Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 163).
—“Escalada é o acesso a um lugar por meio anormal de uso, como v.g., entrar
pelo telhado, saltar muro, etc.” (Damásio E. de Jesus, Código Penal
Anotado, 18a. ed., p. 573).
— Não repugna à consciência jurídica nem quebranta a vontade da lei
a decisão que defere a réu (mesmo reincidente) o regime aberto, se
condenado a pena de curta duração. Casado e chefe de família, os
efeitos de sua prisão alcançariam também pessoas inocentes (a
mulher e os filhos); donde o prescrever o direito positivo que, ao
aplicar a lei, deve olhar o Juiz o bem da sociedade (art. 5º da Lei de
Introdução ao Cód. Civil).
— A prisão, conforme o alto pensamento de Magarinos Torres, “a
prisão é um contrassenso que não regenera ninguém, mas só revolta, por
contrariar flagrantemente a natureza humana, deturpando funções e,
sobretudo, atingindo inocentes, como são a esposa e filhos do criminoso,
privados, sem culpa, de subsistência e do convívio do chefe de família”
(apud José Luís Sales, Da Suspensão Condicional da Pena, 1945, p. 13).
42

Voto nº 10.403
Agravo em Execução nº 993.08.036264-5
Arts. 66, nº III, alíneas b e f, e 112 da Lei de Execução Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76;
art. 5º da Const. Fed.

—“A progressão de regime de cumprimento de pena (fechado para o


semiaberto) passou a ser direito do condenado, bastando que se satisfaça
a dois pressupostos: o primeiro, de caráter objetivo, que depende do
cumprimento de pelo menos 1/6 da pena; o segundo, de caráter subjetivo,
relativo ao seu bom comportamento carcerário, que deve ser atestado pelo
diretor do estabelecimento prisional” (STJ; HC nº 38.602; 5a. T.; rel.
Min. Arnaldo Esteves de Lima).
— Salvo se lhe pende processo de expulsão do País, é possível deferir
a condenado estrangeiro o benefício da progressão no regime
prisional, desde que atenda aos requisitos do art. 112 da Lei
de Execução Penal. Conclusão diversa implicava tratamento
discriminatório entre o condenado alienígena e o nacional, balda
gravíssima que a Constituição da República solenemente repele
(art. 5º).
— Sob o regime semiaberto, o sentenciado estrangeiro estará sujeito,
por força, a restrições de vária ordem: não terá direito a “saída
temporária” nem realizará “trabalhos extramuros”, por não frustrar o
cumprimento de eventual decreto de expulsão.
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido.
43

Voto nº 10.444
Agravo em Execução nº 993.08.028831-3
Arts. 213, 225, § 1º, nº II, e 226, nº II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Se o sentenciado satisfez ao requisito objetivo (lapso temporal),


observou sem quebra o código de disciplina do presídio e submeteu-
-se à laborterapia, tem jus à progressão ao regime semiaberto,
porque esta é a vontade da lei (art. 112 da Lei de Execução Penal).
Somente fato grave, indicativo de personalidade anômala e refratária
aos estímulos da recuperação, poderá obstar-lhe a mudança para
regime prisional mais brando.
— O argumento da pena longa não é poderoso a impedir a concessão
do benefício do regime semiaberto ao sentenciado, se já cumpriu
dela a metade (necessariamente longa).

Voto nº 10.657
Apelação Criminal nº 993.08.037906-8
Arts. 155, § 4º, nº I, e 33, § 2º, alínea c , do Cód. Penal

— Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a


confissão policial constitui prova idônea de autoria delituosa e
justifica edição de decreto condenatório.
— As provas do processo em que o réu indica, sem hesitar, o
receptador das coisas que furtara, apreendidas afinal pela Polícia,
pertencem ao número das que Beccaria denominou perfeitas: “(…)
demonstram de maneira positiva, que é impossível ser o acusado inocente”
(Dos Delitos e das Penas, § VII; trad. Torrieri Guimarães).
— Inexiste repugnância lógica entre o direito positivo e a concessão
do regime semiaberto a réu condenado a pena inferior a 4 anos
(cf. art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal).
44

Voto nº 1401
Revisão Criminal nº 337.190/6
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— Não repugna à Lei conceda o Juiz regime semiaberto ao condenado


não-reincidente, cuja pena não ultrapasse 8 anos (cf. art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); somente lhe é defeso concedê-lo a réu
condenado a pena superior a 8 anos (ainda que primário), ou ao
reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.
— Tal benefício não desacredita o Judiciário nem encontra o
sentimento de justiça; bem ao revés, há coisa de trinta séculos,
Salomão, dos homens o mais sábio, já encarecia aos que julgam não
fossem demasiado justos: “Noli esse justus multum” (Ecl 7,17).
45

Voto nº 6146
“Habeas Corpus” nº 836.986-3/0-00
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
arts. 50, nº II, e 118, nº I, da Lei de Execução Penal

— A fuga do preso, exceto quando realizada com emprego de violência


contra a pessoa, não constitui crime, pelo que não vale a caracterizar
maus antecedentes criminais. É, entretanto, violação grave da
disciplina carcerária, pedra angular de todo estabelecimento penal.
— Assim, recapturado o fugitivo, não repugna aos preceitos legais
mantê-lo em regime fechado até que a Justiça disponha acerca de
sua eventual regressão (art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal).
46

Voto nº 1452
Apelação Criminal nº 1.147.557/2
Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal

—“As atenuantes não permitem a redução da pena abaixo do mínimo previsto


na lei para o crime” (Rev. Trim. Jurisp., vol. 104, p. 736).
— Isto de alguém confessar a autoria de crime, sem expor juntamente
cabais razões que o justifiquem, o mesmo é que fechar atrás de si a
porta que deita para o pátio da liberdade.
— Se, perante o Magistrado, o réu assumiu francamente sua culpa, é
bem que dele se amerceie a Justiça. Essa, a que se pudera chamar
coragem moral, é digna sempre de galardão, não só de louvores.
— Não repugna à Lei conceda o Juiz regime semiaberto ao condenado
não-reincidente, cuja pena não ultrapasse 8 anos (cf. art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); somente lhe é defeso concedê-lo a réu
condenado a pena superior a 8 anos (ainda que primário), ou ao
reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.
— De quantos males afligem de presente a Humanidade, nenhum
disputa primazia à terrível Aids, que arrebata ao indivíduo aquilo que
tem em maior preço: a vida.
— Uma casta de pessoas existe que merece, por mui particulares
circunstâncias, especial atenção dos espíritos bem formados,
notadamente dos constituídos em dignidade. Compõe-se daqueles
que, havendo decaído (ainda mal!) de seu estado de liberdade, foram
por isso excluídos do convívio social: os encarcerados!
47

Voto nº 1591
Apelação Criminal nº 1.152.663/4
Arts. 155, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal

— É princípio jurídico, recebido pelo Código de Processo Penal em


seu art. 156, que o ônus da prova incumbe àquele que alega. “Onus
probandi ei qui dicit”.
— Dificuldades de caráter sócio-econômico, só por si, não justificam
o sacrifício do direito alheio, exceto em circunstâncias mui
particulares, em que invencível perigo o imponha (art. 25 do Cód.
Penal).
— Tratando-se de pena de curta duração, não é defeso ao Magistrado
conceder ao condenado reincidente o benefício do regime
semiaberto, se mais compatível com o critério de suficiência para a
reprovabilidade e prevenção de novas infrações (art. 33, § 2º, letra c,
do Cód. Penal).

Voto nº 1677
Apelação Criminal nº 1.164.401/1
Arts. 171 e 14, nº II, do Cód. Penal

— Se de curta duração a pena privativa de liberdade, não é defeso ao


Juiz determinar que o réu a cumpra sob o regime semiaberto, ainda
que reincidente. O que lhe, taxativamente, proíbe a lei é conceder
o benefício ao reincidente condenado a pena superior a 4 anos
(cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
48

Voto nº 1695
Apelação Criminal nº 1.160.439/6
Arts. 157, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

— O regime fechado é, de ordinário, o que mais convém à


personalidade do autor de roubo, de seu natural violento e refratário
à disciplina social. Mas, se primário e de bons antecedentes, não
é defeso ao Juiz, pelos graves e notórios malefícios do regime
recluso, deferir-lhe o benefício do aberto, como o prevê o art. 33,
§ 2º, alínea c, do Cód. Penal.
— O regime da última severidade nem sempre o tiveram em boa conta
os mais abalizados criminalistas. Das prisões, com efeito, disse o
preclaro Evandro Lins e Silva que “não ressocializam ninguém,
ao contrário, corrompem, aviltam, degradam, embrutecem” (Arca de
Guardados, 1995, p. 62).
49

Voto nº 2097
“Habeas Corpus” nº 360.506/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Conforme inteligência de nossos Tribunais consagrada em infinitos


acórdãos, não constitui constrangimento sanável por “habeas corpus”
a permanência do condenado no regime fechado, por falta de vaga,
enquanto aguarda sua remoção ao semiaberto, sobretudo se o
Juiz da execução proveu pontualmente que se efetivasse logo,
solicitando-o à Coespe.
— Pequena demora na transferência do sentenciado para regime
prisional mais brando deve entender-se como efeito inexorável de
caso fortuito ou contingência, a que infelizmente estarão sujeitos os
que violarem a ordem jurídica.
— Todo o que pede justiça está autorizado a fazê-lo em forma de
protesto, como o praticou o divino Antônio Vieira: “Não hei de pedir
pedindo, senão protestando e argumentando; pois esta é a licença e liberdade
que tem quem não pede favor senão justiça” (Sermões, 1683, t. III,
p. 472).

Voto nº 2229
Apelação Criminal nº 1.195.239/8
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— Ainda que condenado por roubo, faz jus a regime prisional


semiaberto o réu primário, menor de 21 anos e de bons
antecedentes, se inferior a 8 anos sua pena, conforme o preceitua o
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal.
—“A razão do tratamento especial dispensado ao menor de 21 anos é o seu
incompleto desenvolvimento físico e moral” (Costa e Silva, Comentários
ao Código Penal, 1967, p. 213).
50

Voto nº 2313
Apelação Criminal nº 1.197.767/0
Arts. 155, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 44, § 2º, do Cód. Penal

— Em vista da certeza da prática do crime, os protestos de inocência


do réu passam por estéreis e desarrazoados. É que ninguém pode
negar o que a evidência mostra!
— A “mens legis” da substituição da pena corporal por restritiva de
direitos é impedir que réus condenados a pena de curta duração, por
delitos praticados sem violência nem ameaça à pessoa, sejam
submetidos ao rigor do cárcere, que não reeduca nem recupera,
senão que perverte e despersonaliza o infrator (art. 44, § 2º, do Cód.
Penal).
—“A promiscuidade engendra maus caracteres. É grande o influxo de
nocividade que sofrem os condenados primários nas prisões. Por isso, é
precisa a frase de Mirabeau: o amontoamento de homens, como o de maçãs,
gera a podridão” (Hoeppner Dutra, O Furto e o Roubo, 1955, p. 163).
—“Nas declarações de vontade se atenderá mais à sua intenção que ao sentido
literal da linguagem” (art. 85 do Cód. Civil).

Voto nº 3640
“Habeas Corpus” nº 402.896/0
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— É gênero grande de injustiça agravar, sem razão de direito, a sorte


do condenado. Assim, desde que lhe fixou a Justiça o regime
semiaberto para o cumprimento da pena, será violência mantê-lo
sob o regime fechado.
— No caso de falta de vaga em presídio adequado ao semiaberto, é de
razão e justiça aguarde o sentenciado, no regime aberto, sob a
forma de prisão domiciliar, a efetivação de sua transferência.
51

Voto nº 4405
Agravo em Execução nº 1.353.727/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

— O parecer da equipe técnica favorável à progressão do condenado,


embora não obrigue o Juiz, impõe-lhe o dever ético de bem
fundamentar a decisão que o rejeita, pela presunção comum de que
a opinião do sábio, nas coisas que respeitam a seu ofício, há de
prevalecer, em princípio, contra a do leigo, segundo o conhecido
brocardo “Mais sabe o tolo no seu, que o sisudo no alheio”.
— A pena longa não serve de argumento para indeferir ao sentenciado
progressão de regime, se lhe cumpriu já, com mérito, a sexta parte
(art. 112 da Lei de Execução Penal); pois a sexta parte de uma pena
longa será, por força, um largo trato de tempo, conforme o estalão
da proporcionalidade das grandezas matemáticas.
— Não é óbice à análise de pedido de progressão de regime isto de ter
o sentenciado processo em andamento: à uma, porque, em caso de
condenação, estará sujeito à forma regressiva (art. 118, nº II, da Lei
de Execução Penal); à outra, porque inteligência diversa implicaria
violação do princípio do estado de inocência, consagrado pela
Constituição da República (art. 5º, nº LVII).
52

Voto nº 4656
“Habeas Corpus” nº 440.798/2
Arts. 157, § 2º, nº II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— Condenado o réu a pena mínima inferior a 4 anos (atenta a regra do


art. 59 do Cód. Penal), constitui exagero punitivo e contradição
lógica fixar-lhe o regime prisional da última severidade (fechado).
— Se evidente a hipótese de coação ilegítima, nada obsta se conceda a
condenado o regime prisional semiaberto pela via heroica do “habeas
corpus”, pois que este é, precisamente, o instrumento processual
de dignidade constitucional, destinado a garantir a liberdade do
indivíduo (art. 5º, nº LXVIII, da Const. Fed.).

Voto nº 5118
Apelação Criminal nº 1.378.551/5
Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

— A confissão, os juristas sempre a reputaram a rainha das provas


(“regina probationum”); se produzida em Juízo, é absoluto seu valor,
visto se presume livre dos vícios de inteligência e vontade, e pode
justificar edito condenatório.
— Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em
proveito próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro,
causando-lhe prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
— Ao renitente e empedernido autor de estelionatos, que se atira sem
freios à estrada tortuosa dos ilícitos penais, só o regime prisional
fechado lhe serve para a contenção do impulso criminoso e
reparação do mal que causa à sociedade.
53

Voto nº 3884
Embargos de Declaração nº 1.292.373/4 1
Art. 155, § 4º, ns. I e IV, do Cód. Penal;
art. 33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal;
art. 619 do Cód. Proc. Penal

— Não repugna à consciência jurídica nem quebranta a vontade da lei


a decisão que defere a réu (mesmo reincidente) o regime aberto se,
condenado a pena de curta duração, desempenha atividade lícita. Ao
demais, prescreve o direito positivo que, ao aplicar a lei, deve olhar
o Juiz o bem da sociedade (art. 5º da Lei de Introdução ao Cód. Civil).

Voto nº 3896
“Habeas Corpus” nº 413.876/4
Arts. 155, § 4º, nº IV, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

—“É exclusiva missão do habeas corpus garantir a liberdade individual na


acepção restrita, a liberdade física, a liberdade de locomoção” (Pedro
Lessa; apud M. Costa Manso, O Processo na Segunda Instância, 1923,
p. 390).
— A decisão sobre pedido de progressão ao regime semiaberto excede
às raias do “habeas corpus”, porque requer exame aprofundado de
circunstâncias de fato e subjetivas, que apenas à vista do processo de
execução é possível alcançar.
54

Voto nº 3941
Agravo em Execução nº 1.315.541/6
Art. 126 da Lei de Execução Penal

— Provando o condenado que trabalhou enquanto cumpria sua pena


sob o regime fechado ou semiaberto, deve a Justiça reconhecer-lhe
o direito à remição de parte dela, como dispõe a Lei de Execução
Penal (art. 126).
— Fruto e estipêndio do suor do preso, a remição de sua pena pelo
trabalho tem alguma coisa de sagrado que o defende e guarda do
rigor do Juízo da execução penal, mesmo no caso de haver cometido
falta grave. Solução diversa implicaria desestímulo ao trabalho,
fator importantíssimo para a recuperação do indivíduo, além de
verdadeira contradição e injustiça, pois a frustração da perda
alcançaria só o trabalhador, nunca o ocioso.
55

Voto nº 4209
Apelação Criminal nº 1.321.853/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

— A confissão judicial do réu tem valor absoluto porque se presume


estreme dos vícios que a podiam contaminar. Por isso, ainda que a
única prova dos autos, justifica a decretação do edito condenatório.
— Há tentativa de roubo se o agente, logo perseguido e preso, não teve
a posse tranquila da coisa subtraída, recuperada afinal pela vítima.
—“Se o agente foi de imediato perseguido e preso em flagrante, retomado o
bem, não se efetivou a subtração da coisa à esfera de vigilância do dono,
tratando-se, pois, de crime tentado” (STF; RE nº 100.771/1-São Paulo;
rel. Min. Rafael Mayer; j. 5.12.83; in JTACrSP, vol. 77, p. 446).
— Cancelada a Súmula nº 174 da jurisprudência do STJ (cf.
REsp nº 213.054-SP; DJU 7.11.2001), já não pode prevalecer o
entendimento de que o emprego de arma de brinquedo (“arma
ficta”) seja causa de agravamento da pena do roubo. Ainda que
idôneo para caracterizar ameaça à vítima, por infundir-lhe temor, o
simulacro de arma de fogo não qualifica o roubo (art. 157, “caput”,
do Cód Penal). Inteligência diversa do texto legal implicaria
considerável prejuízo para os interesses do réu, pois o obrigaria a
recorrer ao STJ para alcançar o que lhe recusaram outros Juízos ou
Tribunais.
— Em caso de tentativa de roubo, se primário e de bons antecedentes
o réu, não é defeso ao Juiz, tendo consideração aos graves e notórios
malefícios do regime recluso, deferir-lhe o benefício do regime
aberto (cf. art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal).
56

Voto nº 6785
Agravo em Execução nº 874.702-3/4-00
Art. 157, § 2º, ns. I, II e IV, do Cód. Penal;
arts. 6º e 112 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal)

— Se o sentenciado satisfez ao requisito objetivo (lapso temporal),


observou sem quebra o código de disciplina do presídio e submeteu-
-se à laborterapia, tem jus à progressão de regime, porque esta é a
vontade da lei (art. 112 da Lei de Execução Penal). Somente fato
grave, indicativo de personalidade anômala e refratária aos estímulos
da recuperação, poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional
mais brando.
— O argumento da pena longa não é poderoso a impedir a concessão
do benefício do regime semiaberto ao sentenciado, se já cumpriu
dela a metade (necessariamente longa).
57

Voto nº 6998
Mandado de Segurança nº 872.012-3/0-00
Arts. 2º, parág. único, e 112 da Lei de Execução Penal;
art. 83, nº V, do Cód. Penal;
arts. 12 e 18, nº III, da Lei nº 6.36876

— Ao estabelecer a Lei de Execução Penal que suas disposições se


aplicam também “ao preso provisório” (art. 2º, parág. único), assegurou-
-lhe, no mesmo ponto, o direito à execução provisória e à
progressão de regime, se presentes os requisitos legais (art. 112).
— A pendência de recurso da Acusação, com o intuito de agravar a
pena ao condenado, não lhe obsta a consecução de benefício, pois a
execução provisória foi instituída exatamente para poupá-lo à
iniquidade da espera, muita vez longa, do novo julgamento pela
Superior Instância. Admitir o contrário será presumir (falsamente)
que a existência do duplo grau de jurisdição obriga, por força, à
reforma de toda decisão de Primeira Instância.
— Segundo regra geral de Hermenêutica, enquanto a não modifique a
instância recursal, produz a sentença todos os seus legais efeitos.
— Questões relativas a livramento condicional e a outros incidentes de
execução da pena são da competência originária do Juízo das
Execuções Criminais (art. 66, nº III, alíneas e e f, da Lei de Execução
Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o reexame do
ponto ali decidido.
58

Voto nº 7110
“Habeas Corpus” nº 973.156-3/3-00
Arts. 83, parág. único, e 121, § 2º, nº IV, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LXVIII, da Const. Fed.

— Contra o parecer de notáveis juristas, que sustentam não ser o


“habeas corpus” meio apropriado a impugnar decisão de que
caiba recurso ordinário, mostra-se de bom exemplo conhecer da
impetração, porque, em tese, passa pelo remédio jurídico-processual
mais célere e eficaz para conjurar abusos e ilegalidades contra o
direito à liberdade de locomoção do indivíduo (art. 5º, nº LXVIII,
da Const. Fed.).
— A Lei nº 10.792/2003 (que deu nova redação ao art. 112 da Lei de
Execução Penal) não revogou o Código Penal; destarte, nos casos de
pedido de benefício em que seja mister aferir mérito, poderá o Juiz
determinar a realização de exame criminológico no sentenciado,
se autor de crime doloso cometido mediante violência ou grave
ameaça, pela presunção de periculosidade (art. 83, parág. único, do
Cód. Penal).
59

Voto nº 7933
Agravo em Execução nº 890.587-3/5-00
Art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Se o sentenciado atende aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução


Penal, isto é, “tiver cumprido ao menos um sexto da pena no
regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário”, faz jus à
progressão ao regime semiaberto. Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária aos estímulos da recuperação,
poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
— A Lei nº 10.729/03 – que deu nova redação ao art. 112 da Lei
de Execução Penal – não aboliu o exame criminológico para a
progressão de regime, o qual pode ser realizado se as circunstâncias
pessoais do sentenciado e a natureza do crime que cometeu o
aconselharem. Nisto, como no mais, obrará sempre o Magistrado
com a prudência e o arbítrio do bom varão.
— Dois requisitos exige a lei para a progressão de regime: lapso
temporal e mérito do condenado; presentes que sejam, compete ao
Juiz despachar de boa sombra a pretensão, uma vez não pode
recusar-se a praticar os atos de seu ministério.
— Não vá esquecer ao cultor do Direito que ainda o mais vil dos
homens tem jus à proteção da Lei!
— O asserto de que o criminoso empedernido não conhece
recuperação não é dogma científico. Para honra da Humanidade,
não são raros os casos em que, incentivados por medidas penais
salutares, condenados abjuraram a vida de crimes, redimiram-se de
suas faltas e retornaram à comunhão social, tornando-se cidadãos
prestantes.
— Opor-se à progressão de regime – direito que a lei assegura
ao condenado em condições de o merecer – fora mais do que
obstar-lhe a reintegração social, porque seria matar-lhe a esperança,
“que é o último remédio que deixou a natureza a todos os males” (Vieira,
Sermões, 1682, t. II, p. 87).
60

Voto nº 8740
“Habeas Corpus” nº 1.075.529-3/0-00
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de Execução Penal

— Embora praxe vitanda, não configura constrangimento ilegal a


permanência do condenado em estabelecimento penal próprio do
regime fechado, enquanto aguarda vaga no semiaberto. Ditada por
força maior ou razão de ordem superior invencível, tal situação no
entanto cai na esfera da previsão humana: todo o infrator sabe que,
delinquindo, sua liberdade poderá ser coartada em grau menor ou
maior.
— Pretender o condenado passar desde logo ao regime aberto, como
forma de iludir o rigor da espera, será tripudiar sobre o direito de
outros sentenciados que há mais tempo aguardam a efetivação da
transferência para o estágio intermediário, além de fazer injúria
à própria sociedade, que tem o direito de exigir do infrator a
reparação, em forma de pena retributiva, do dano que lhe causou
com o seu crime.
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via
sumaríssima e estreita do “habeas corpus”.
— Não há que reparar na decisão que ordena a expedição de mandado
de prisão contra o réu condenado a cumprir, sob o regime
semiaberto, pena privativa de liberdade: trata-se de forçoso
pressuposto da execução da sentença penal condenatória transitada
em julgado. A lição de Julio Fabbrini Mirabete faz ao caso:
“Enquanto não ocorrer a prisão, não se pode expedir a guia de
recolhimento por falta desse pressuposto” (Execução Penal, 11a. ed.,
p. 302).
61

Voto nº 6841
Agravo em Execução nº 893.400-3/5-00
Art. 126 da Lei de Execução Penal

— À luz da lógica e por princípio de justiça, a escorreita exegese do


art. 126 da Lei de Execução Penal deve compreender também, no
conceito de trabalho, a atividade escolar do preso, por sua
transcendental importância como fator de promoção humana e
poderoso instrumento de reforma da vida e costumes. Destarte,
comprovando que frequentou aulas em curso patrocinado pelo
sistema penitenciário, tem jus o condenado à remição de penas, na
proporção de um dia para cada 12 horas de efetiva atividade escolar.
— O argumento expendido no agravo (e que tira ao fim de prestigiar,
no âmbito carcerário, só o trabalho físico, em detrimento da atividade
intelectual) encerra crasso equívoco, pois justamente abate o que
devera exaltar: o labor intelectual, notabilíssimo instrumento de
promoção humana.
— Se “o estudo é a luz da vida”, como, pelo comum, entendem e
proclamam os pedagogos, como pretender, sem injúria da razão,
que o trabalho intelectual represente um “minus” em respeito do
trabalho físico?! Falou avisadamente quem disse: “Abrir escolas é
fechar prisões”; daqui se mostra bem a suma importância que o
convívio escolar tem na formação do caráter do indivíduo.
62

Voto nº 4916
“Habeas Corpus” nº 447.204/4
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Não há que opor à decisão que, embora pendente recurso do


Ministério Público, determina a expedição de guia provisória de
recolhimento a favor de réu preso, condenado a cumprir pena sob o
regime prisional semiaberto, pois mesmo que provido o recurso,
está obrigado às condições do regime recluso (inexistirá, portanto, o
“periculum in mora”, o risco de fuga do sentenciado à execução da
pena ou algum prejuízo para a sociedade).
— Ao dispor que a guia de recolhimento provisória será expedida
“quando do recebimento de recurso da sentença condenatória”, o Provimento
nº 653/99, do egrégio Conselho Superior da Magistratura não excetua
hipótese em que recorrente seja a Acusação. Donde se infere, à luz
de hermenêutica tradicional, que, ainda no caso de ter apelado
o Ministério Público, o Juiz da condenação expedirá guia de
recolhimento provisória ao réu preso. “Ubi lex non distinguit nec nos
distinguere debemus”.
— Também os que violaram a ordem jurídica e social têm seus
direitos; ainda o mais vil dos homens não decai nunca da proteção
da Lei. A presteza com que encaminha o réu para a Vara das
Execuções Criminais serve de timbre de honra do Juízo da
condenação, não de labéu (art. 105 da Lei de Execução Penal).
— Fere os princípios da Justiça e repugna à consciência jurídica
submeter o réu condenado a efeitos mais graves do que os
estipulados no título executório, mesmo no caso de ter sido
interposto recurso pela Acusação.
— É princípio geralmente recebido que não configura constrangimento
ilegal a permanência do réu no regime fechado, se o Juiz deu todas
as providências que lhe estavam ao alcance para removê-lo ao
semiaberto. É que todo processo penal, mesmo na fase de execução
da sentença, está sujeito a contingências inexoráveis, que não pode o
Magistrado prevenir nem remediar.
63

— Pequena delonga na transferência do preso para estabelecimento


compatível com o regime de cumprimento de sua pena pode-se
tolerar; não há sofrer, porém, aquela que exceda ao limite do
razoável, o que seria conculcar direito sagrado do réu, demais de
ofender gravemente a lei (art. 185 da Lei de Execução Penal) e
desprestigiar a Justiça.
— Maior do que a norma legal é o direito que ela encerra, ainda que
do condenado. Fazer justiça, escreveu o doutíssimo Eliézer Rosa,
“(…) não é, em muitos casos, obedecer à lei e, sim, obedecer ao direito, que
é a fonte da lei” (A Voz da Toga, 1a. ed., p. 49).
—“Não há sentimento mais confrangente que o da privação da justiça” (Rui,
Obras Completas, vol. XL, t. VI, p. 202).

Voto nº 168
Apelação Criminal nº 1.038.115/6
Art. 155 do Cód. Penal

— Incorrem em equívoco de interpretação aqueles que entendem deva


todo o condenado reincidente cumprir sua pena em regime inicial
fechado. Isto não determina a lei. Aliás, dispondo acerca do
cumprimento das penas privativas de liberdade, reza o art. 33 do
Cód. Penal que, no regime fechado, só o réu condenado a mais de 8
anos deverá cumprir sua pena (§ 2º, letra a). Sendo ela inferior a 8
anos (ainda que superior a 4), poderá o réu cumpri-la em regime
semiaberto (§ 2º, letra b).
— Isto de não fazer jus ao melhor dos regimes (aberto) não implica
necessariamente haja o condenado de cumprir sua pena no pior
(fechado): poderá descontá-la no estágio intermediário, que o não
impede razão alguma de ordem lógica. O exercício desse arbítrio,
por outra parte, não encontra o direito objetivo.
—“Nos termos do art. 33, § 2º letra a, do Cód. Penal, ao condenado
reincidente é vedada, tão somente, a fixação do regime inicial aberto;
sendo a lei omissa, no que tange à possibilidade ou não de estabelecimento
da modalidade semiaberta, é possível adotar-se solução mais benéfica ao
réu”(RJDTACrimSP, vol. 28, p. 222; rel. Moacir Peres).
64

Voto nº 181
Apelação Criminal nº 1.036.805/0
Art. 33, § 2º, letra b, do Cód. Penal

— Segundo o teor literal do art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal, se


a pena for superior a 4 anos (e não exceder a 8), poderá o réu
não-reincidente descontá-la sob o regime semiaberto desde o início,
sobretudo se primário e menor de 21 anos.
— Acerca do tratamento especial reservado ao menor de 21 anos,
Basileu Garcia tem lição memorável: “Falta-lhe, ainda, o pleno uso da
reflexão. Não se operou o amadurecimento do seu espírito. Nessa quadra da
vida o crime costuma ser episódio isolado, para o qual não há necessidade,
nem conveniência, de excessivo rigor. A relativa benevolência da ação da
Justiça, que se fará sentir sem todo o peso das suas mais rudes sanções, pode,
mesmo, concorrer para que o transviado se reabilite” (Instituições de
Direito Penal, 1975, vol. I, t. II, p. 483).

Voto nº 732
Agravo em Execução nº 1.081.735/9
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— A transferência do condenado ao regime semiaberto não o subtrai


de todo às cautelas nem vigilâncias: continuará na prisão. Pela
confiança que nele depositou a Justiça, olhando por sua readaptação
e futuro reingresso na comunhão social, haverá decerto o
sentenciado de lhe dar estritas contas.
—“Não se deve apagar no homem a chama da esperança, que um longo
encarceramento destruiria” (João Baptista Herkenhoff, Uma Porta
para o Homem no Direito Criminal, 2a. ed., p. 170).
65

Voto nº 959
Agravo em Execução nº 1.103.841/0
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Isto de ser longa a pena do sentenciado não obsta à sua progressão


no regime prisional; o ponto está em saber se atendeu ao requisito
objetivo, i.e., se cumpriu “ao menos um sexto da pena no regime
anterior” (art. 112 da Lei de Execução Penal), pois a sexta parte de
uma longa pena será, por força, um dilatado tempo de cárcere.
— O mérito é a “conditio sine qua non” para a transferência do condenado
ao estágio menos rigoroso de cumprimento de pena; o meio mais
seguro de o aferir, o laudo criminológico.
— Ainda que satisfeito o requisito objetivo, pode o Juiz indeferir ao
sentenciado o benefício da progressão ao regime semiaberto, se o
tiver desaconselhado o laudo criminológico.
66

Voto nº 1242
Apelação Criminal nº 1.117.181/9
Art. 157 do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— As palavras da vítima bastam a firmar a certeza da autoria do roubo:


personagem principal do evento delituoso, foi quem esteve em
contacto direto com o rapinador, e somente incriminará aquele de
quem puder reaver suas coisas roubadas.
— Confissão que se faz em presença de curador passa por autêntica,
pois repugna ao bom-senso e contraria a lição da experiência
comum pudesse ele ter tolerado alguma espécie de violência ao
confitente.
— Não infringe a lei o Magistrado que, havendo consideração a
circunstâncias mui particulares do caso – v.g.: primariedade e
menoridade relativa do agente, pena inferior a 8 anos, etc. –, defere
a autor de roubo o benefício do regime semiaberto (art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); proibido somente está de concedê-lo a réu
condenado a pena superior a 8 anos (ainda que primário), ou ao
reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.

Voto nº 1306
“Habeas Corpus” nº 333.114/3
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Em princípio, não se conhece de “habeas corpus” impetrado com o


intuito de obter modificação de regime prisional, pois seu rito é
incompatível com o exame das circunstâncias objetivas e subjetivas,
imprescindível à concessão do benefício.
— Toda a decisão deve ser fundamentada, sob pena de nulidade (art.
93, nº IX, da Const. Fed.). Atende ao rigor do preceito o Magistrado
que, ao fixar regime prisional, alega com a gravidade do crime
(roubo) e com o “modus operandi” do agente (emprego de arma de
fogo e concurso de pessoas).
67

Voto nº 2112
Agravo em Execução nº 1.199.897/1
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Benefício que é, a progressão ao regime semiaberto deve firmar-se


em aspectos fortemente positivos de que o sentenciado está
empenhado na própria ressocialização. A pedra de toque desse alto
propósito é sua disposição para as atividades laborterápicas.
— Ainda que encarcerado, nunca deve o homem voltar-se contra a
ocupação útil de seu tempo. O trabalho, com efeito, não apenas é
obrigação social, mas o melhor fator de promoção humana.

Voto nº 2204
Apelação Criminal nº 1.202.479/0
Arts. 155, § 4º, nº I, e 14, nº II, do Cód. Penal

— A apreensão da “res” em poder do imputado, que o não saiba


justificar, basta a firmar-lhe a responsabilidade criminal, pois de
ordinário pertencem as coisas para a esfera de seu dono, que não de
estranhos.
— Repugna à consciência jurídica e fere de rosto os princípios do
Direito Penitenciário fixar a autor de furto, primário e de bons
antecedentes, o regime da última severidade, se lhe facultava a lei até
o aberto (art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal).
68

Voto nº 2261
Agravo em Execução nº 1.203.595/6
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Dois requisitos exige a lei para a progressão de regime: lapso


temporal e mérito do condenado; presentes que sejam, compete ao
Juiz despachar de boa sombra a pretensão, uma vez não pode
recusar-se a praticar os atos de seu ministério.
— Não vá esquecer ao cultor do Direito que ainda o mais vil dos
homens tem jus à proteção da Lei!
— O asserto de que o criminoso empedernido não conhece
recuperação não é dogma científico. Para honra da Humanidade,
não são raros os casos em que, incentivados por medidas penais
salutares, condenados abjuraram a vida de crimes, redimiram-se de
suas faltas e retornaram à comunhão social, tornando-se cidadãos
prestantes.
— Opor-se à progressão de regime – direito que a lei assegura
ao condenado em condições de o merecer – fora mais do que
obstar-lhe a reintegração social, porque seria matar-lhe a esperança,
“que é o último remédio que deixou a natureza a todos os males” (Vieira,
Sermões, 1682, t. II, p. 87).
69

Voto nº 10.979
Agravo em Execução nº 993.08.035930-0
Art. 44, § 4º, do Cód. Penal;
arts. 181, § 1º, alínea a, e 197 da Lei de Execução Penal;
art. 306 do Código de Trânsito

—“A imposição de serviços à comunidade como condição da pena em regime


aberto implica inaceitável bis in idem, pois a restrição de direitos possui
caráter substitutivo da pena privativa de liberdade, não podendo ser
cumulada com esta, como condição especial daquele regime” (Rev. Tribs.,
vol. 753, p. 730).
—“Conversão de pena restritiva de direito em privativa de liberdade, porque
o sentenciado não foi localizado para dar cumprimento —— Regime aberto,
sem fixação de condição especial consistente em prestação de serviços à
comunidade —— Possibilidade —— O descumprimento injustificado da pena
restritiva de direitos acarreta, obrigatoriamente, a conversão em pena
privativa de liberdade —— Inteligência dos arts. 44, § 4º, do Código Penal
e 181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal —— Decisão mantida ——
Recurso improvido” (TJSP; Ag. Exec. nº 990.08.056459-5; 16a. Câm.
Criminal; rel. Newton Neves).
— Se o sentenciado cumpriu inteiramente sua pena, carece de legítimo
interesse o pedido de reforma da decisão. Em consequência, agravo
em execução interposto com essa finalidade está prejudicado, visto
perdeu o objeto (art. 197 da Lei de Execução Penal).
70

Voto nº 2437
Apelação Criminal nº 1.102.347/8
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

—“A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos


desiguais, na medida em que se desigualam” (Rui, Oração aos Moços, 1a.
ed., p. 25).
— A confissão espontânea e sincera do réu, pedra de toque
do arrependimento e do propósito de emenda, justifica-lhe a
estipulação do regime semiaberto para o cumprimento da pena
privativa de liberdade, ainda nos casos de roubo.
—“Não encontra fundamento a imposição de regime fechado para execução da
pena inferior ao limite máximo estabelecido no art. 33, § 2º, alínea b, do
Cód. Penal, mesmo em se tratando de condenação por roubo duplamente
qualificado, se foram reconhecidas a primariedade dos réus e a concorrência
de circunstâncias judiciais favoráveis, previstas no art. 59 do mesmo
Codex” (Rev. Tribs., vol. 770, p. 495; rel. Min. Octavio Gallotti).
71

Voto nº 2501
Agravo em Execução nº 1.220.355/5
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Se tem histórico de dedicação ao trabalho (o melhor instrumento de


promoção humana) e ao estudo (a luz da vida), além da opinião
favorável da direção do presídio, faz jus à progressão o sentenciado
que houver descontado, no regime anterior, 1/6 de sua pena.
— A pena longa não é óbice à progressão de regime, se o sentenciado
tiver dela cumprido já, com boa conduta carcerária, a sexta parte
(necessariamente longa).
— Conquanto o Juiz não esteja adstrito ao laudo pericial, não é de bom
conselho fazer tábua rasa nem auto de fé da opinião dos expertos.
Aquele que tratou diretamente com o sentenciado – e , “ex professo”,
deu-o em condições de receber benefícios da Justiça – esse
unicamente pode ser refutado com argumentos irreplicáveis, sob
pena de injúria à reta razão, ao direito e à equidade.
72

Voto nº 2661
“Habeas Corpus” nº 371.318/1
Arts. 32 e 34 da Lei das Contravenções Penais;
art. 105 da Lei de Execução Penal

—“Sentença que passou em julgado não se deve outra vez meter em disputa”,
já o dispunham as velhas Ordenações Filipinas (cf. Cândido Mendes
de Almeida, Auxiliar Jurídico, 1985, vol. II, p. 588).
— Se lhe fixou a sentença o regime semiaberto, não pode o réu eximir-
-se de um de seus efeitos imediatos: o recolhimento ao cárcere.
— Só depois de preso o condenado, lhe será expedida guia de
recolhimento (art. 105 da Lei de Execução Penal). É que dela deverá
constar, por força, a data da terminação da pena, o que se não pode
alcançar senão mediante o conhecimento do dia de sua prisão (art.
106, nº V).
—“Não é o habeas corpus a via adequada para a análise das condições
subjetivas do réu, com a finalidade do livramento condicional” (STJ; RHC
nº 5.606; rel. Min. William Patterson; DJU 26.8.96, p. 29.726).
73

Voto nº 2709
“Habeas Corpus” nº 376.088/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Nunca perderá atualidade a severa exortação de Rui: “Não há


sofrimento mais confrangente que o da privação da justiça” (Obras
Completas, vol. XL, t. VI, p. 202).
— Ao Juiz cabe prover não tenha o sentenciado agravada sua pena por
eventual incúria do Estado. Contudo, se fez quanto estava em suas
mãos por evitar-lhe inconvenientes e prevenir gravames, não podia
ser obrigado a mais.
— Alguma demora que, porventura, haja na efetivação da transferência
do sentenciado para o regime prisional que lhe é próprio, reputa-se
tolerável, pois não raro intervêm motivos de força maior, contra os
quais nada pode a jurisdição do Magistrado.
74

Voto nº 2923
Agravo em Execução nº 1.252.099/8
Art. 563 do Cód. Proc. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Sem prova cabal de prejuízo, não há decretar a nulidade do


processo, ainda que oportuna a arguição (cf. art. 563 do Cód. Proc.
Penal).
— Tratando-se de criminoso ocasional, sem índices de periculosidade e
com crítica satisfatória, tem jus o condenado à progressão de regime
prisional, se atendeu aos requisitos objetivos do art. 112 da Lei de
Execução Penal.
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. I, t. I, p. 14).
— Falou avisadamente quem disse: Abrir escola é fechar cadeia.
—“Antes, com os mais miseráveis é que a Justiça deve ser mais atenta e
redobrar de escrúpulo” (Rui, Oração aos Moços, 1a. ed., p. 44).
75

Voto nº 2924
“Habeas Corpus” nº 383.352/5
Art. 171 do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— É gênero grande de injustiça agravar, sem razão de direito, a sorte


do condenado. Assim, desde que lhe fixou a sentença o regime
semiaberto para o cumprimento da pena (máxime se de curta
duração, e o seu crime não esteja no número dos que mais
gravemente ferem a ordem jurídica e social), será violência mantê-lo
sob o regime fechado.
— No caso de falta de vaga em presídio adequado ao semiaberto, é de
razão e justiça aguarde o sentenciado, no regime aberto, sob a
forma de prisão domiciliar, a efetivação de sua transferência.
76

Voto nº 2941
“Habeas Corpus” nº 383.994/1
Art. 155, § 4º, nº I, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

—“Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”


(Rui, Oração aos Moços, 1a. ed., p. 42).
— Sob pena de caracterizar desvio de execução, deve o condenado
cumprir sua pena em estabelecimento prisional adequado ao regime
que lhe fixou a sentença; mas, desde que o Juiz tomou as
providências que estavam em suas mãos para satisfazer à vontade da
lei, não cabe a arguição de constrangimento ilegal pela permanência
do sentenciado em regime fechado enquanto aguarda sua remoção
ao semiaberto. A delonga na realização da medida, pela existência de
obstáculos de cunho administrativo, não lhe pode ser imputada, se
decorre de “força maior transindividual”, segundo Pontes de Miranda
(cf. Comentários ao Código de Processo Civil, 1947, vol. II, p. 129).
— Se o Magistrado praticou com boa exação os atos de seu ofício, não
pode ser obrigado a mais (“Ad impossibilia nemo tenetur”). Não
desconvém notar ainda que alguma demora na transferência do
condenado a estabelecimento da rede da Coespe inclui-se entre as
invencíveis contingências a que estarão sempre sujeitos aqueles que,
deliberadamente, violarem a ordem jurídica.
77

Voto nº 2944
Agravo em Execução nº 1.246.289/5
Art. 111 da Lei de Execução Penal;
art. 77 do Cód. Penal

— No Juízo das Execuções Criminais, o regime prisional do


sentenciado, em caso de nova condenação, será determinado pela
soma da última pena com o restante da que está cumprindo (art.
111 da Lei de Execução Penal).
— Se ultrapassar 4 anos a soma das penas, não pode ser imposto ao
sentenciado o regime aberto (cf. Julio Fabbrini Mirabete, Execução
Penal, 5a. ed., p. 279).
— Há repugnância lógica e jurídica entre o regime aberto e a pena
superior a 4 anos; pedido de “sursis” e pena privativa de liberdade
superior a 2 anos também são ideias que se implicam (art. 77 do Cód.
Penal).
78

Voto nº 3308
“Habeas Corpus” nº 392.744/1
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Sob pena de descumprimento de determinação expressa de órgão


colegiado do Poder Judiciário, emanada de acórdão com trânsito em
julgado, a remoção do condenado a estabelecimento penal próprio
do regime semiaberto não depende senão do “exequatur” do Juízo
de Direito da Vara das Execuções Criminais.
— É gênero grande de injustiça agravar, sem razão de direito, a sorte
do condenado. Assim, desde que lhe fixou a sentença o regime
semiaberto para o cumprimento da pena, será violência mantê-lo
sob o regime fechado.
— No caso de falta de vaga em presídio adequado ao semiaberto, é de
razão e justiça aguarde o sentenciado, no regime aberto, sob a
forma de prisão domiciliar, a efetivação de sua transferência.
—“Fazer justiça não é, em muitos casos, obedecer à lei e, sim, obedecer ao
direito, que é a fonte da lei” (Eliézer Rosa, A Voz da Toga, 1a. ed.,
p. 49).
—“Não há sentimento mais confrangente que o da privação da justiça” (Rui,
Obras Completas, vol. XL, t. VI, p. 202).
79

Voto nº 3331
“Habeas Corpus” nº 393.196/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 185 da Lei de Execução Penal

— Em bom direito, deve o condenado cumprir sua pena no regime


prisional que lhe fixou a sentença, aliás haverá desvio de execução
(art. 185 da Lei de Execução Penal).
— É questão fria nos Tribunais não constituir constrangimento ilegal
reparável por “habeas corpus” breve demora na remoção do
condenado para o presídio adequado ao regime estabelecido na
sentença, desde que, por alcançá-lo, tenha dado o Juiz as
providências que lhe cabiam. Aquele que fez quanto podia, não
estava obrigado a mais (“Nemo tenetur ad impossibilia”).

Voto nº 3342
Apelação Criminal nº 1.275.393/2
Art. 155, § 4º, nº I, do Cód. Penal;
art. 33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal

— A confissão judicial, por seu valor absoluto – visto se presume feita


espontaneamente –, basta à fundamentação do edito condenatório.
— É superior à crítica a sentença que, em razão de sua primariedade,
menoridade relativa e confissão espontânea do delito, defere a autor
de furto o regime prisional aberto, ainda que responda a outros
processos, pois o prevê a lei e aconselha a boa política criminal (art.
33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal).
80

Voto nº 3365
Agravo em Execução nº 1.271.461/6
Arts. 122, 123 e 124 da Lei de Execução Penal

— Ainda que seja próprio do sábio mudar de parecer, quando o faz


para melhor (“Sapientis est mutare consilium”), não raro na emenda é
que está o erro!
— Suposto seja o castigo-retribuição um dos intuitos da pena, é a
recuperação do infrator a magna preocupação dos penitenciaristas e
daqueles a quem toca sua execução.
— Que autor de crime grave, com personalidade antissocial, deva
segregar-se em presídio da última severidade, ao menos no início,
é medida que a ordem jurídica reclama e o bom-senso recomenda;
negar todavia ao condenado o direito de, paulatinamente,
reconquistar, na esfera social, o “status dignitatis” de que decaiu por
efeito do crime cometido, é perverter o fim principal da pena: a
regeneração do infrator.
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
81

Voto nº 3546
Apelação Criminal nº 1.288.565/4
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a


condenado não-reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente
é defesa ao réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos.
— Embora os Tribunais Superiores não obriguem os inferiores, salvo
quanto ao caso concreto, será de bom exemplo guardar-lhes
conformidade às decisões que, proferidas sob o influxo da razão
lógica e da equidade, possam aproveitar ao réu sem ofender o zelo
da Justiça.
—“Manter quanto possível a jurisprudência, será obra de boa política
judiciária, porque inspira no povo confiança na Justiça” (Mário
Guimarães, O Juiz e a Função Jurisdicional, 1958, p. 327).
82

Voto nº 3568
Apelação Criminal nº 1.292.373/4
Art. 155, § 4º, ns. I e IV, do Cód. Penal;
art. 33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal

—“A confissão livre é, sem contradição, a prova mais peremptória, aquela que
esclarece, convence e satisfaz, no mais alto grau, a consciência do Juiz:
omnium probationum maxima” (Cons. Vicente Alves de Paula Pessoa,
Código do Processo Criminal, 1882, p. 157).
— É superior a toda a crítica a sentença que, atendendo à natureza da
infração penal (furto qualificado) e aos notórios malefícios do
regime recluso, faculta ao réu, embora reincidente, cumpra sua pena
de curta duração no regime semiaberto. Cabe ressaltar que o
próprio Nélson Hungria, “Pontifex Maximus” do Direito Penal
pátrio, não teve mão em si que não verberasse a pena-castigo: “A
pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Comentários ao Código Penal,
1980, vol. I, t. I, p. 14).
— Não repugna à consciência jurídica nem quebranta a vontade da lei
a decisão que defere a réu (mesmo reincidente) o regime
semiaberto, se condenado a pena de curta duração, de que já
cumpriu parte em estabelecimento próprio de regime fechado
porque preso em flagrante delito. É máxima vulgar que o rigor da
Justiça há de sempre temperar-se com a equidade (art. 33, § 1º,
alínea c, do Cód. Penal).
83

Voto nº 3588
Agravo em Execução nº 1.293.483/5
Art. 171 do Cód. Penal;
art. 112, parág. único, da Lei de Execução Penal

— O dever é um dogma, perante o qual todos, respeitosamente,


curvamos a fronte. “As atribuições do Ministério Público, bem
compreendidas, são as mais belas que existem” (De Molénes, apud J.B.
Cordeiro Guerra, A Arte de Acusar, 1a. ed., p. 99).
— Se cometido o crime sem violência nem grave ameaça à vítima,
pode o Juiz dispensar o sentenciado do exame criminológico,
suprindo-lhe a falta com informações ou relatórios oficiais de que
reúne méritos para a progressão de regime prisional (art. 112, parág.
único, da Lei de Execução Penal).
84

Voto nº 3981
Agravo em Execução nº 1.319.877/4
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 112 e 118, nº II, da Lei de Execução Penal

— Se o sentenciado satisfez ao requisito objetivo (lapso temporal),


observou sem quebra o código de disciplina do presídio e submeteu-
-se à laborterapia, tem jus à progressão ao regime semiaberto,
porque esta é a vontade da lei (art. 112 da Lei de Execução Penal).
Somente fato grave, indicativo de personalidade anômala e refratária
aos estímulos da recuperação, poderá obstar-lhe a mudança para
regime prisional mais brando.
— A existência de processo em andamento contra o réu, sem decisão
condenatória com trânsito em julgado, não lhe impede a concessão
do benefício de progressão ao regime semiaberto, que o contrário
seria violar o princípio da presunção de inocência (art. 5º, nº LVII, da
Const. Fed.). Ao demais, na hipótese de condenação superveniente, o
Juiz da execução adequará o regime prisional do sentenciado à
quantidade de suas penas somadas, como prevê a lei (cf. art. 118,
nº II, da Lei de Execução Penal).
85

Voto nº 3987
“Habeas Corpus” nº 417.244/9
Art. 157, “caput”, do Cód. Penal;
art. 35 do Cód. Penal;
art. 117 da Lei de Execução Penal

— É gênero grande de injustiça agravar, sem razão de direito, a sorte


do condenado. Assim, desde que lhe fixou a sentença o regime
semiaberto para o cumprimento da pena, será violência mantê-lo
sob o regime fechado.
— No caso de falta de vaga em presídio adequado ao semiaberto, é de
razão e justiça aguarde o sentenciado, no regime aberto, sob a
forma de prisão domiciliar, a efetivação de sua transferência.
— Pode e deve o Juiz “optar pela interpretação que mais atenda às
aspirações da Justiça e do bem comum” (Min. Sálvio de Figueiredo,
Revista do Superior Tribunal de Justiça, vol. 26, p. 384).
86

Voto nº 4200
Revisão Criminal nº 413.644/5
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a


condenado não-reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente
é defesa ao réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos.
— Isto de se proceder à alteração do regime prisional do sentenciado,
no Juízo da revisão, não é matéria para escrúpulo. Em verdade,
passa por doutrina bem aforada que o Juiz da revisão é o Juiz da
causa e, pois, com esse caráter, deve sempre dispensar justiça: “(…)
tem ampla liberdade de decidir, só não podendo rever in pejus a decisão
condenatória” (José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual
Penal, 1a. ed., vol. IV, p. 356).
87

Voto nº 3994
Agravo em Execução nº 1.322.651/4
Art. 155, “caput”, do Cód. Penal;
art. 7º , nº IX, da Lei nº 8.137/90;
art. 2º , parág. único, da Lei de Execução Penal

— Ao estabelecer a Lei de Execução penal que suas disposições se


aplicam também “ao preso provisório” (art. 2º, parág. único), assegurou-
-lhe, no mesmo ponto, o direito à progressão de regime, se
presentes os requisitos legais (art. 112).
— A pendência de recurso da Acusação, com o intuito de agravar a
pena ao condenado, não lhe obsta a consecução de benefício, pois a
execução provisória foi instituída exatamente para poupá-lo à
iniquidade da espera, muita vez longa, do novo julgamento pela
Superior Instância. Admitir o contrário será presumir (falsamente)
que a existência do duplo grau de jurisdição obriga, por força, à
reforma de toda decisão de Primeira Instância.
— A expectativa de solução da lide penal em desfavor do réu não é a
melhor craveira pela qual se lhe devam aferir os direitos. Aliás,
segundo regra de Hermenêutica, enquanto não modificada pela
instância recursal, produz a sentença todos os seus legais efeitos.
— Não é de bom exemplo nem se conforma aos preceitos da Justiça
dificultar o exercício do direito àquele que o conquistou pelo
merecimento.
88

Voto nº 4365
Mandado de Segurança nº 427.918/9
Arts. 112 e 197 da Lei de Execução Penal

—“Cremos não ser justo nem legal que, por deficiência do sistema
penitenciário, seja (o condenado) constrangido a cumprir pena no regime
fechado mais tempo do que a lei determina” (Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 17a. ed., p. 606).
— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério
Público de legitimidade para impetrar mandado de segurança com
o intuito de alcançar efeito suspensivo a agravo em execução, que o
não tem; falece-lhe a pertinência subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito
suspensivo ao agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução
Penal. Não se presumem, na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado
aforismo jurídico. É para supor que, nos casos sob o regime da
Lei nº 7.210/84, como nos mais, decidam os Juízes com acerto. “Os
Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da Silveira, Dicionário
de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).

Voto nº 4458
“Habeas Corpus” nº 435.882/0
Art. 155, § 4º, ns. I e IV, do Cód. Penal;
art. 118, nº II, da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

— Não é óbice à análise de pedido de progressão de regime isto de


ter o sentenciado processo em andamento, pois, em caso de
condenação, estará sujeito à forma regressiva (art. 118, nº II, da Lei
de Execução Penal); ao demais, inteligência diversa implicará violação
do princípio de inocência, consagrado pela Constituição da
República (art. 5º, nº LVII).
89

Voto nº 4624
Agravo em Execução nº 1.367.705/6
Art. 126 da Lei de Execução Penal

— Justiça excessiva não é senão injustiça, proclamou com assaz de


razão o eloquente Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis,
I, 10).
— Provando o condenado que trabalhou, enquanto cumpria sua pena
sob o regime fechado ou semiaberto, deve a Justiça reconhecer-lhe
o direito à remição de parte dela, como dispõe a Lei de Execução
Penal (art. 126).
— Fruto e estipêndio do suor do preso, a remição de sua pena pelo
trabalho tem alguma coisa de sagrado que o defende e guarda do
rigor do Juízo da execução penal, mesmo no caso de haver cometido
falta grave. Solução diversa implicaria desestímulo ao trabalho,
fator importantíssimo para a recuperação do indivíduo, além de
verdadeira contradição e injustiça, pois a frustração da perda
alcançaria só o trabalhador, nunca o ocioso.
90

Voto nº 5196
“Habeas Corpus” nº 454.838/3
Art. 157, § 2º, ns. I, II e V, do Cód. Penal;
arts. 66, nº III, alínea b, e 112 da Lei de Execução Penal

— Ao Juízo de Direito da Vara das Execuções Criminais é que toca


apreciar pedido de progressão de regime, conforme dispõe o art. 66,
nº III, alínea b, da Lei de Execução Penal. Nessa matéria, só em grau
de recurso poderá entender o Tribunal, sob pena de suprimir-se
órgão de jurisdição.
— Não se compadece com a natureza do “habeas corpus” (remédio
judicial de rito sumaríssimo e finalidade específica: tutela do direito
de locomoção) a análise de circunstâncias subjetivas do sentenciado,
imprescindível à apreciação do pedido de mudança de regime
prisional. Tão somente no Juízo da Execução, mediante exame
escrupuloso dos autos, é possível fazê-lo.
91

Voto nº 5231
Apelação Criminal nº 1.406.565/4
Arts. 155, “caput”; 61, nº I, e 65, nº III, do Cód. Penal

— Máxime quando produzida perante o Magistrado, “nada traz mais


certeza da autoria de um delito do que uma confissão livre, clara, sincera,
sem qualquer vício” (Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980,
vol. I, p. 381).
— O réu que espontaneamente confessa a autoria do crime tem direito
a especial tratamento da Justiça porque, falando verdade, revelou a
um tempo qualidade de caráter e propósito de emenda.
— A nota de reincidência não obsta à fixação de regime prisional
semiaberto a autor de furto simples, se inferior a 4 anos a pena,
atenuada pela confissão espontânea (arts. 155, “caput”; 61, nº I, e 65,
nº III, alínea d, do Cód. Penal).
92

Voto nº 5250
Apelação Criminal nº 1.361.039/9
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 29, § 1º, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— É escusada a intimação da Defesa para audiência no Juízo


deprecado, se já o foi da expedição da carta precatória pela imprensa
(art. 222 do Cód. Proc. Penal).
— A palavra da vítima é a pedra angular do edifício probatório: se em
harmonia com os mais elementos dos autos, justifica a procedência
da pretensão punitiva e a condenação do réu.
— Segundo jurisprudência consagrada pelos Tribunais, o transporte
dos autores do crime não caracteriza participação de menor
importância; inadmissível, pois, a aplicação a essa conta do benefício
do § 1º do art. 29 do Cód. Penal.
— Não há proibição legal de que o Juiz conceda ao condenado não-
-reincidente a pena inferior a 8 anos o benefício do regime
semiaberto; o Código Penal, o que veda às expressas é que se
conceda ele ao réu condenado a pena superior a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
93

Voto nº 5251
Apelação Criminal nº 1.396.245/1
Art. 129, “caput”, do Cód. Penal;
art. 43, nº IV, do Cód. Penal

— Que melhor prova do crime do que havê-lo o próprio autor


admitido?! A confissão, por isso, basta à prolação de um decreto
condenatório, se em conformidade com os mais elementos do
processo.
— Superior a toda a crítica é a decisão que condena por lesão corporal
dolosa (art. 129 do Cód. Penal) quem, para desforrar-se de terceiro,
que o teria, noutra ocasião, ofendido com palavras injuriosas, vai
tomar-lhe satisfações e agride-o com socos e pontapés. O emprego
de violência o Direito só admite nas hipóteses de exclusão de
ilicitude (art. 23 do Cód. Penal).
— Se miserável o réu e, pois, sem condições de satisfazer à prestação
pecuniária à vítima, é razoável que a comute o Juiz na medida
salutar e pedagógica de prestação de serviços à comunidade (art. 43,
nº IV, do Cód. Penal).
94

Voto nº 5415
Apelação Criminal nº 1.370.715/2
Art. 155, § 4º, nº I, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

— Sob pena de sancionar verdadeiro paradoxo ou abusão lógica, deve


o Juiz afastar a qualificadora do rompimento de obstáculo (art. 155,
§ 4º, nº I, do Cód. Penal), no caso de arrombamento ou quebra de
vidro para subtração de objetos do interior do veículo. É que o furto
do próprio carro não qualifica a infração penal, porque praticada a
violência contra a coisa.
— Furto mediante rompimento de obstáculo: “Não o qualifica a
violência empregada contra obstáculo que existe para o uso normal da
coisa, ou quando é um acessório necessário para uso do objeto material”
(Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 9a. ed., p. 516).
— Inexiste impedimento legal a que se defira a autor de furto, ainda
que reincidente, o regime prisional semiaberto, salvo se condenado
a pena superior a 4 anos de reclusão (cf. art. 33, § 2º, alínea c, do Cód.
Penal).
— De quantos males afligem de presente a Humanidade, nenhum
disputa primazia à terrível Aids, que arrebata ao indivíduo aquilo
que tem em maior preço: a vida.
— Uma casta de pessoas existe que merece, por mui particulares
circunstâncias, especial atenção dos espíritos bem formados,
notadamente dos constituídos em dignidade. Compõe-se daqueles
que, havendo decaído (ainda mal!) de seu estado de liberdade, foram
por isso excluídos do convívio social: os encarcerados!
95

Voto nº 10.606
Agravo em Execução nº 990.08.026750-7
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Se o sentenciado atendeu ao requisito objetivo (lapso temporal),


observou sem quebra o código de disciplina do presídio e manifesta
o propósito de emendar as máculas do passado, faz jus à progressão
ao regime semiaberto, porque esta é a vontade da lei (art. 112 da Lei
de Execução Penal). Somente fato grave, indicativo de personalidade
anômala e refratária aos estímulos da recuperação, poderá obstar-
-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
— O argumento da pena longa não é poderoso a impedir a concessão
de regime semiaberto ao sentenciado, se já cumpriu dela a sexta parte
(necessariamente longa). Tampouco lhe serve de empecilho à
obtenção do benefício o registro de falta grave (fuga) se, ao depois,
revelou, por largo espaço de tempo, exemplar conduta carcerária e
notável dedicação ao trabalho, sinais inequívocos de sua redenção.
—“A progressão de regime de cumprimento de pena (fechado para o
semiaberto) passou a ser direito do condenado, bastando que se satisfaça a
dois pressupostos: o primeiro, de caráter objetivo, que depende do
cumprimento de pelo menos 1/6 da pena; o segundo, de caráter subjetivo,
relativo ao seu bom comportamento carcerário, que deve ser atestado pelo
diretor do estabelecimento prisional” (STJ; HC nº 38.602; 5a. T.; rel.
Min. Arnaldo Esteves de Lima).
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
96

Voto nº 5860
“Habeas Corpus” nº 472.323-3/3-00
Art. 33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal;
arts. 93 e 185 da Lei de Execução Penal

— Em bom direito, deve o condenado cumprir sua pena no regime


prisional que lhe fixou a sentença, aliás haverá desvio de execução
(art. 185 da Lei de Execução Penal).
— Dado que o regime aberto é modalidade de cumprimento da
pena privativa de liberdade, não configura constrangimento ilegal
reparável por “habeas corpus” a expedição de ordem de prisão contra
o réu e seu encaminhamento ao estabelecimento penal adequado,
primeiro que o Magistrado lhe assine data para a audiência
admonitória (art. 33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal; art. 93 da Lei de
Execução Penal).
97

Voto nº 6075
Agravo em Execução nº 415.900-3/0-00
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Porque o homem perfeito é uma ficção, o critério para a aferição


dos requisitos legais de ordem subjetiva para a progressão de regime
prisional do sentenciado será, em linha de princípio, aquele adotado
pela equipe técnica: terá jus à mudança de regime o condenado que
revelar positivas condições de readaptação ao convívio social (art.
112 da Lei de Execução Penal).
— A ausência de periculosidade e a aplicação do sentenciado à
laborterapia são elementos decisivos para a concessão do benefício:
uma previne a sociedade contra os efeitos da delinquência; outra
(o trabalho) representa o principal fator de promoção humana.

Voto nº 6136
Agravo em Execução nº 414.714-3/3-00
Arts. 52 e 112 da Lei de Execução Penal;
arts. 5º, nº XXXIX, 93 e 185 da Const. Fed.

—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido


para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; DJU 23.4.2001, p. 171).
98

Voto nº 10.330
Apelação Criminal nº 993.07.080732-6
Arts. 33, § 2º, alínea b , do Cód. Penal;
art. 5º da Lei de Introdução ao Cód. Civil

— Não repugna à consciência jurídica nem quebranta a vontade da lei


a decisão que defere a réu (mesmo reincidente) o regime aberto, se
condenado a pena de curta duração. Casado e chefe de família, os
efeitos de sua prisão alcançariam também pessoas inocentes (a
mulher e os filhos); donde o prescrever o direito positivo que, ao
aplicar a lei, deve olhar o Juiz o bem da sociedade (art. 5º da Lei de
Introdução ao Cód. Civil).
— A prisão, conforme o alto pensamento de Magarinos Torres, “a
prisão é um contrassenso que não regenera ninguém, mas só revolta, por
contrariar flagrantemente a natureza humana, deturpando funções e,
sobretudo, atingindo inocentes, como são a esposa e filhos do criminoso,
privados, sem culpa, de subsistência e do convívio do chefe de família”
(apud José Luís Sales, Da Suspensão Condicional da Pena, 1945, p. 13).
99

Voto nº 6230
Agravo em Execução nº 442.455-3/0-00
Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97;
arts. 105 e 131 da Lei de Execução Penal;
Prov. nº 9/2000 da Corregedoria-Geral de Justiça

— Não há que opor contra decisão que, embora pendente recurso do


Ministério Público, determina a expedição de guia provisória de
recolhimento a favor de réu preso, condenado a cumprir pena sob o
regime prisional fechado, pois mesmo que provido o recurso e
exasperada a pena corporal, já lhe está fixado o regime da última
severidade; inexistirá, portanto, o “periculum in mora”, o risco de
fuga do sentenciado à execução da pena ou algum prejuízo para a
sociedade.
— Ao dispor que a guia de recolhimento provisória será expedida
“quando do recebimento de recurso da sentença condenatória”, o
Provimento nº 653/99, do egrégio Conselho Superior da
Magistratura não excetua hipótese em que recorrente seja a
Acusação. Donde se infere, à luz de hermenêutica tradicional, que,
ainda no caso de ter apelado o Ministério Público, o Juiz da
condenação expedirá guia de recolhimento provisória ao réu preso.
“Ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus”.
— Também os que violaram a ordem jurídica e social têm seus
direitos; ainda o mais vil dos homens não decai nunca da proteção
da Lei. A presteza com que encaminha o réu para a Vara das
Execuções Criminais serve de timbre de honra do Juízo da
condenação, não de labéu (art. 105 da Lei de Execução Penal).
— Fere os princípios da Justiça e repugna à consciência jurídica
submeter o réu condenado a efeitos mais graves do que os
estipulados no título executório, mesmo no caso de ter sido
interposto recurso pela Acusação.
— Satisfeitos os requisitos legais (art. 83 do Cód. Penal), é o livramento
condicional direito público subjetivo do condenado, que se lhe não
pode negar sem grave injúria da Lei e da Justiça.
100

Voto nº 6292
“Habeas Corpus” nº 476.563-3/7-00
Arts. 33, § 2º, e 89 do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LXVIII, da Const. Fed.

— Contra o parecer de notáveis juristas, que sustentam não ser o


“habeas corpus” meio apropriado a impugnar decisão de que
caiba recurso ordinário, mostra-se de bom exemplo conhecer da
impetração, porque, em tese, passa pelo remédio jurídico-processual
mais célere e eficaz para conjurar abusos e ilegalidades contra o
direito à liberdade de locomoção do indivíduo (art. 5º, nº LXVIII,
da Const. Fed.).
— A Lei nº 10.792/2003 (que deu nova redação ao art. 112 da Lei de
Execução Penal) não revogou o Código Penal; destarte, nos casos de
pedido de benefício em que seja mister aferir mérito, poderá o Juiz
determinar a realização de exame criminológico no sentenciado,
se autor de crime doloso cometido mediante violência ou grave
ameaça, pela presunção de periculosidade (art. 83, parág. único, do
Cód. Penal).
101

Voto nº 6373
“Habeas Corpus” nº 839.911-3/1-00
Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
arts. 41, nº VII, e 66, nº III, alínea f, da Lei de Execução Penal

— Não se conhece de pedido de “habeas corpus” impetrado ao Tribunal


com o escopo de obter progressão de regime prisional, pois se trata
de matéria em que, por previsão de lei (art. 66, nº III, alínea f, da Lei
de Execução Penal), deve entender o Juízo de Direito da Vara das
Execuções Criminais, sob pena de usurpação de suas atribuições e
violação de norma de organização judiciária do Estado.
— Alegando o preso padecer de moléstia grave (Aids), cabe ao Estado
intervir prontamente, pois sua preocupação em punir não deve
sobrepor-se aos cuidados com a saúde do indivíduo sob sua proteção
(art. 41, nº VII, da Lei de Execução Penal).
102

Voto nº 6392
Agravo em Execução nº 487.213-3/6-00
Art. 126 da Lei nº 7.210 (Lei de Execução Penal)

— À luz da lógica e por princípio de justiça, a escorreita exegese do


art. 126 da Lei de Execução Penal deve compreender também, no
conceito de trabalho, a atividade escolar do preso, por sua
transcendental importância como fator de promoção humana e
poderoso instrumento de reforma de vida e costumes. Destarte,
comprovando que frequentou aulas em curso patrocinado pelo
sistema penitenciário, tem jus o condenado à remição de penas, na
proporção de um dia para cada 12 horas de efetiva atividade escolar.
— O argumento expendido no agravo (e que tira ao fim de prestigiar,
no âmbito carcerário, só o trabalho físico, em detrimento da atividade
intelectual) encerra crasso equívoco, pois justamente abate o que
devera exaltar: o labor intelectual, notabilíssimo instrumento de
promoção humana.
— Se “o estudo é a luz da vida”, como, pelo comum, entendem e
proclamam os pedagogos, como pretender, sem injúria da razão,
que o trabalho intelectual represente um “minus” em respeito do
trabalho físico?! Falou avisadamente quem disse: “Abrir escolas é
fechar prisões”; daqui se mostra bem a suma importância que o
convívio escolar tem na formação do caráter do indivíduo.
103

Voto nº 10.562
Mandado de Segurança nº 990.08.005782-0
Arts. 12 e 18, nº III, da Lei nº 6.368/76;
art. 197 da Lei de Execução Penal

— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério


Público de legitimidade para impetrar mandado de segurança com o
intuito de alcançar efeito suspensivo a agravo em execução, que o
não tem; falece-lhe a pertinência subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito
suspensivo ao agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução
Penal. Não se presumem, na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado
aforismo jurídico. É para supor que, nos casos sob o regime da Lei
nº 7.210/84, como nos mais, decidam os Juízes com acerto. “Os
Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da Silveira, Dicionário
de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
—“É uníssona a jurisprudência desta Corte no que tange à ilegitimidade do
Ministério Público em impetrar mandado de segurança para conferir efeito
suspensivo a recurso que não o contém, como é o caso do agravo em
execução” (STJ; HC nº 237.975-SP; 6a.T.; rel. Min. Paulo Medina;
j. 23.9.03; DJU 13.10.03).
104

Voto nº 6450
Agravo em Execução nº 494.018-3/2-00
Arts. 112 e 146 da Lei de Execução Penal

— A pena privativa de liberdade não é considerada cumprida se, antes


de seu término, o condenado se evade do estabelecimento de regime
semiaberto, estando foragido (art. 146 da Lei de Execução Penal).
— Carece de requisito subjetivo para progressão ao regime aberto o
condenado que, estando a cumprir pena no regime intermediário,
frustra a confiança da Justiça e empreende fuga (art. 112 da Lei de
Execução Penal).
105

Voto nº 6476
Agravo em Execução nº 494.212-3/8-00
Arts. 156 e 182 do Cód. Proc. Penal;
arts. 6º, 7º e 112 da Lei de Execução Penal

— Ainda que, pelo comum, o juiz não fique “adstrito ao laudo” (art. 182
do Cód. Proc. Penal), é de bom exemplo, nas matérias de seu ofício,
ouvir sempre os que tiverem saber técnico especializado. Trata-se
de máxima de experiência, que a sabedoria popular compendiou no
prosaico anexim: “Mais sabe o ignorante no seu, que o sábio no alheio”.
— “O juiz criminal é, assim, restituído à sua própria consciência. Nunca é
demais, porém, advertir que livre convencimento não quer dizer puro
capricho de opinião ou mero arbítrio na apreciação das provas” (Francisco
Campos, Exposição de Motivos do Código de Processo Penal, nº VII).
— A despeito da nova redação que a Lei nº 10.792/03 deu ao art. 112 da
Lei de Execução Penal, subsiste a possibilidade de realização do exame
criminológico, “quando o entender indispensável o juiz da execução para
a decisão sobre progressão de regime” (Júlio Fabbrini Mirabete, 11a.
ed., p. 59).
— Pode o juiz “determinar, de ofício, diligências para dirimir dúvidas sobre
ponto relevante” (art. 156 do Cód. Proc. Penal).
106

Voto nº 6492
“Habeas Corpus” nº 462.434-3/1-00
Arts. 39, ns. II e V, e 50, nº VI, da Lei de Execução Penal;
Resolução nº 13/2003 (da Secretaria da Administração Penitenciária)

— O art. 50, nº VI, da Lei de Execução Penal, com ser norma penal em
branco, permite a inclusão de novas modalidades infracionais, v.g., a
utilização de telefone celular por preso, no interior da cadeia. Fator
e ocasião de quebra da disciplina carcerária – visto que, ao alcance
de integrantes de organizações criminosas, o telefone celular serve a
fomentar rebeliões nos presídios, com risco da segurança pública
e da ordem social –, a proibição de seu uso, estabelecida pela
Resolução nº 113/2003, da Secretaria da Administração Penitenciária,
é ao mesmo tempo útil e necessária. Sua inobservância implica, sem
dúvida, falta disciplinar grave, sujeita ao rigor da lei (arts. 50, nº VI, e
39, ns. II e V, da Lei de Execução Penal).
107

Voto nº 9477
Agravo em Execução nº 1.098.402-3/0-00
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Satisfeitos os requisitos legais (art. 112 da Lei de Exec. Penal), é a


progressão de regime direito público subjetivo do condenado, que
se lhe não pode negar sem grave injúria da Lei e da Justiça.
— O argumento da pena longa não é poderoso a obstar a concessão de
progressão de regime ao sentenciado, se já cumpriu dela a sexta
parte (necessariamente longa). Tampouco lhe serve de empecilho à
obtenção do benefício o registro de falta grave (fuga) se, ao depois,
revelou, por largo espaço de tempo, exemplar conduta carcerária e
notável dedicação ao trabalho, sinais inequívocos de sua redenção.
— Decisões contraditórias (a que tem dado ensejo instável
jurisprudência) constituem fator de insegurança dos negócios
jurídicos e natural descrédito da Justiça.
108

Voto nº 6536
Agravo em Execução nº 492.935-3/2-00
Art. 157, § 2º, ns. I, II e III, do Cód. Penal;
arts. 50, nº V, e 112 da Lei de Execução Penal

— Pequenas baldas da individualidade psíquica devem ser relevadas


quando o sentenciado apresenta um complexo de valores que lhe
indiquem sincero esforço de emenda.
— A pretensão do sentenciado de convolar para regime prisional
menos rigoroso é tão legítima e razoável, que apenas em casos
excepcionais se lhe há de indeferir (art. 112 da Lei de Execução Penal).
O tempo do encarcerado conta-se por segundos!
— Punido já administrativamente, a falta disciplinar cometida pelo
sentenciado, embora grave (art. 50, nº V, da Lei de Execução Penal),
não pode servir-lhe de eterno obstáculo à obtenção de benefício
garantido por lei a todo o que cumpriu, com bom comportamento
carcerário, 1/6 da pena no regime anterior (art. 112).
— Se o Juízo das Execuções Criminais já lhe deferiu livramento
condicional, carece o sentenciado de legítimo interesse para pleitear
a reforma da anterior decisão que lhe denegou progressão de
regime. Em consequência, agravo em execução interposto com essa
finalidade está prejudicado, visto perdeu o objeto (art. 197 da Lei de
Execução Penal).
109

Voto nº 6634
Agravo em Execução nº 479.538-3/5-00
Arts. 53, 118, nº I, 126, § 3º, 127 e 197,
da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal);
art. 5º, nº XXXVI, da Const. Fed.

— A decisão que concede remição de penas é imutável após seu


trânsito em julgado. Portanto, desconstituí-la, salvo mediante
revisão criminal, fora violar a autoridade da “res judicata”, um dos
principais dogmas em que assenta a ordem jurídica (art. 5º, nº
XXXVI, da Const. Fed.).
—“É inadmissível a perda dos dias remidos por decisão judicial, em virtude de
falta grave cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 416).
— Palavras do magistrado francês Osvaldo Bardot: “Consultai o bom-
-senso, a equidade, o amor do próximo, antes da autoridade e da tradição.
A lei se interpreta. Ela dirá o que quiserdes que ela diga. Sem mudar um
til, pode-se, com os mais sólidos considerandos do mundo, dar razão a uma
parte ou a outra, absolver ou condenar à pena máxima. Desse modo, que a
lei não vos sirva de álibi” (apud Jucid Peixoto do Amaral, Manual do
Magistrado, 4a. ed., p. 42).
— Fruto e estipêndio do suor do preso, a remição de sua pena pelo
trabalho tem alguma coisa de sagrado que o defende e guarda do
rigor do Juízo da execução penal, mesmo no caso de haver cometido
falta grave. Solução diversa implicaria desestímulo ao trabalho,
fator importantíssimo para a recuperação do indivíduo, além de
verdadeira contradição e injustiça, pois a frustração da perda
alcançaria só o trabalhador, nunca o ocioso.
— Justiça excessiva não é senão injustiça, proclamou com assaz de
razão o eloquente Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis,
I, 10).
110

Voto nº 6652
Agravo em Execução nº 443.586-3/5-00
Arts. 53, 118, nº I, 126, § 3º, e 127,
da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal);
art. 5º, nº XXXVI, da Const. Fed.

— Justiça excessiva não é senão injustiça, proclamou com assaz de


razão o eloquente Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis,
I, 10).
— Provando o condenado que trabalhou enquanto cumpria sua pena
sob o regime fechado ou semiaberto, deve a Justiça reconhecer-lhe
o direito à remição de parte dela, como dispõe a Lei de Execução
Penal (art. 126).
— Fruto e estipêndio do suor do preso, a remição de sua pena pelo
trabalho tem alguma coisa de sagrado que o defende e guarda do
rigor do Juízo da execução penal, mesmo no caso de haver cometido
falta grave. Solução diversa implicaria desestímulo ao trabalho,
fator importantíssimo para a recuperação do indivíduo, além de
verdadeira contradição e injustiça, pois a frustração da perda
alcançaria só o trabalhador, nunca o ocioso (art. 127 da Lei de
Execução Penal).
—“Os postulados da política jurídica nacional repelem o rigor da
hermenêutica da norma insculpida no art. 127 da LEP” (Célio César
Paduani, Da Remição na Lei de Execução Penal, 2002, p. 76).
111

Voto nº 6984
Agravo em Execução nº 885.666-3/4-00
Art. 126 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal)

— À luz da lógica e por princípio de justiça, a escorreita exegese do


art. 126 da Lei de Execução Penal deve compreender também, no
conceito de trabalho, a atividade escolar do preso, por sua
transcendental importância como fator de promoção humana e
poderoso instrumento de reforma de vida e costumes. Destarte,
comprovando que frequentou aulas em curso patrocinado pelo
sistema penitenciário, tem jus o condenado à remição de penas, na
proporção de um dia para cada 12 horas de efetiva atividade escolar.
— O argumento expendido no agravo (e que tira ao fim de prestigiar,
no âmbito carcerário, só o trabalho físico, em detrimento da atividade
intelectual) encerra crasso equívoco, pois justamente abate o que
devera exaltar: o labor intelectual, notabilíssimo instrumento de
promoção humana.
— Se “o estudo é a luz da vida”, como, pelo comum, entendem e
proclamam os pedagogos, como pretender, sem injúria da razão,
que o trabalho intelectual represente um “minus” em respeito do
trabalho físico?! Falou avisadamente quem disse: “Abrir escolas é
fechar prisões”; daqui se mostra bem a suma importância que o
convívio escolar tem na formação do caráter do indivíduo.
—“A interpretação extensiva do vocábulo trabalho, para alcançar também a
atividade estudantil, não afronta o art. 126 da Lei de Execução Penal. É
que a mens legislatoris, com o objetivo de ressocializar o condenado para
o fim de remição da pena, abrange o estudo, em face de sua inegável
relevância para a recuperação social dos encarcerados” (STJ; REsp
nº 256.273/PR; 5a. T.; relª Minª Laurita Vaz; j. 22.3.2005; DJU
6.6.2005, p. 359).
112

Voto nº 8525
Agravo em Execução nº 1.041.739-3/5-00
Arts. 214, 224, alínea a, e 225, § 1º, nº I, do Cód. Penal;
art. 659 do Cód. Proc. Penal;
art. 197 da Lei de Execução Penal

— Considera-se prejudicado o agravo se, durante o seu processamento,


o Juízo de Direito da Vara das Execuções Criminais tiver já
deferido ao sentenciado aquilo mesmo que fazia objeto do recurso,
visto que obtida a situação jurídica reclamada (art. 197 da Lei de
Execução Penal).

Voto nº 8805
Agravo em Execução nº 984.875-3/0-00
Arts. 71, 312, “caput”, e 327, § 2º, do Cód. Penal;
art. 27, § 2º, da Lei nº 8.038/90;
art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

—“É legítima a execução provisória do julgado condenatório na pendência de


recursos sem efeito suspensivo” (STJ; Rev. Tribs., vol. 753, p. 511; rel.
Min. Maurício Corrêa).
—“A interposição de recurso, sem efeito suspensivo, contra decisão
condenatória não obsta a expedição de mandado de prisão” (Súmula nº
267 do STJ).
113

Voto nº 6500
“Habeas Corpus” nº 852.410-3/0-00
Arts. 39, 50 e 66, nº III, § 1º, alíneas b e f, da
Lei de Execução Penal;
art. 5º da Const. Fed.

— O art. 50, nº VI, da Lei de Execução Penal, com ser norma penal em
branco, permite a inclusão de novas modalidades infracionais, v.g., a
utilização de telefone celular por preso, no interior da cadeia. Fator
e ocasião de quebra da disciplina carcerária – visto que, ao alcance
de integrantes de organizações criminosas, o telefone celular serve a
fomentar rebeliões nos presídios, com risco da segurança pública
e da ordem social –, a proibição de seu uso, estabelecida pela
Resolução nº 113/2003, da Secretaria da Administração Penitenciária,
é ao mesmo tempo útil e necessária. Sua inobservância implica, sem
dúvida, falta disciplinar grave, sujeita ao rigor da lei (art. 50, nº VI, e
39, ns. II e V, da Lei de Execução Penal).
— Não se conhece de pedido de “habeas corpus” impetrado ao Tribunal
com o escopo de obter livramento condicional, pois se trata de
matéria em que, por previsão de lei (art. 66, nº III, alínea e, da Lei de
Execução Penal), deve entender o Juízo de Direito da Vara das
Execuções Criminais, sob pena de usurpação de suas atribuições e
violação de norma de organização judiciária do Estado.
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via
sumaríssima e estreita do “habeas corpus”.
114

Voto nº 9634
“Habeas Corpus” nº 1.153.848-3/4-00
Arts. 157, “caput”, 14, nº II, e 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal;
arts. 5º, nº LXVIII, e 93 da Const. Fed.

— Contra o parecer de notáveis juristas, que sustentam não ser


o “habeas corpus” meio apropriado a impugnar decisão de que
caiba recurso ordinário, mostra-se de bom exemplo conhecer da
impetração, porque, em tese, passa pelo remédio jurídico-
-processual mais célere e eficaz para conjurar abusos e ilegalidades
contra o direito à liberdade de locomoção do indivíduo (art. 5º, nº
LXVIII, da Const. Fed.).
— Imposto ao réu, sem suficiente fundamentação, regime mais gravoso
entre os que a lei admite, pode o Tribunal, em ordem a reparar o
ilegítimo constrangimento, fixar-lhe regime mais brando para o
cumprimento da pena, até mediante “habeas corpus”, à luz da
jurisprudência do STJ (cf. HC nº 45.580/SP; 6a. T.; rel. Min
Hamilton Carvalhido; DJU 23.10.2006, p. 341; HC nº 36.762/SP;
6a. T; rel. Hélio Quaglia Barbosa; DJU 22.11.2004, p. 391, etc.).
115

Voto nº 10.043
Agravo em Execução nº 1.185.656-3/7-00
Arts. 39, ns. II e V, 44, 50, nº VI, e 112 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº XXXVI, da Const. Fed.

—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido


para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; j. 6.3.2001; DJU 23.4.2001,
p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem quebra, às instâncias da disciplina
do estabelecimento penal para poder, no tempo oportuno,
credenciar-se à outorga de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).
— O art. 50, nº VI, da Lei de Execução Penal, com ser norma penal em
branco, permite a inclusão de novas modalidades infracionais, v.g., a
utilização de telefone celular por preso, no interior da cadeia. Fator
e ocasião de quebra da disciplina carcerária – visto que, ao alcance
de integrantes de organizações criminosas, o telefone celular serve a
fomentar rebeliões nos presídios, com risco da segurança pública e
da ordem social –, a proibição de seu uso, estabelecida pela
Resolução nº 113/2003, da Secretaria da Administração Penitenciária,
é ao mesmo tempo útil e necessária. Sua inobservância implica, sem
dúvida, falta disciplinar grave, sujeita ao rigor da lei (art. 50, nº VI, e
39, ns. II e V, da Lei de Execução Penal).
— Com a promulgação da Lei nº 11.466, de 28.3.2007, a posse de
telefone celular no interior de estabelecimento penal – já proibida
pela Resolução nº 113/2003 da SAP –, passou a integrar, às expressas,
o rol das faltas graves enumeradas no art. 50 da Lei de Execução
Penal: “tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com
ambiente externo” (nº VII).
— Justiça excessiva não é senão injustiça, proclamou com assaz de
razão o eloquente Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis,
I, 10).
116

— A decisão que concede remição de penas é imutável após seu


trânsito em julgado. Portanto, desconstituí-la, salvo mediante
revisão criminal, fora violar a autoridade da “res judicata”, um dos
principais dogmas em que assenta a ordem jurídica (art. 5º, nº
XXXVI, da Const. Fed.).
— Frutos de seu trabalho e, pois, estipêndio do suor, os dias remidos
do preso têm alguma coisa de sagrado que os guarda do rigor do
Juízo da execução penal.
—“É inadmissível a perda dos dias remidos por decisão judicial, em virtude de
falta grave cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 416).
117

Voto nº 6393
Agravo em Execução nº 481.171-3/0-00
Art. 126 da Lei de Execução Penal

— À luz da lógica e por princípio de justiça, a escorreita exegese do


art. 126 da Lei de Execução Penal deve compreender também, no
conceito de trabalho, a atividade escolar do preso, por sua
transcendental importância como fator de promoção humana e
poderoso instrumento de reforma de vida e costumes. Destarte,
comprovando que frequentou aulas em curso patrocinado pelo
sistema penitenciário, tem jus o condenado à remição de penas, na
proporção de um dia para cada 12 horas de efetiva atividade escolar.
— O argumento expendido no agravo (e que tira ao fim de prestigiar,
no âmbito carcerário, só o trabalho físico, em detrimento da atividade
intelectual) encerra crasso equívoco, pois justamente abate o que
devera exaltar: o labor intelectual, notabilíssimo instrumento de
promoção humana.
— Se “o estudo é a luz da vida”, como, pelo comum, entendem e
proclamam os pedagogos, como pretender, sem injúria da razão,
que o trabalho intelectual represente um “minus” em respeito do
trabalho físico?! Falou avisadamente quem disse: “Abrir escolas é
fechar prisões”; daqui se mostra bem a suma importância que o
convívio escolar tem na formação do caráter do indivíduo.
118

Voto nº 11.031
“Habeas Corpus” nº 990.08.122924-2
Art. 659 do Cód. Proc. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 33 da Lei nº 11.343/06

— Dispõe o art. 659 do Cód. Proc. Penal que, se o Tribunal verificar ter
já cessado a violência ou coação ilegal de que se queixa o paciente,
lhe julgará prejudicado o pedido de “habeas corpus”.
—“Julga-se o habeas corpus prejudicado quando o impetrante obtém, durante
a ação, a situação jurídica reclamada” (STJ; HC nº 1.623/2; 6a. T.; rel.
Min. Vicente Cernicchiaro; j. 18.12.96).
—“Sapientis est mutare consilium!” É próprio do sábio mudar de opinião!
—“A toga do magistrado não se deslustra, retratando-se dos seus despachos e
sentenças, antes se relustra, desdizendo-se do sentenciado ou resolução,
quando se lhe antolha claro o engano, em que laborava, ou a injustiça, que
cometeu” (Rui, Obras Completas, vol. XLV, t. IV, p. 205).
119

Voto nº 11.083
Agravo em Execução nº 990.08.097175-1
Art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 5º da Const. Fed.

—“A progressão de regime de cumprimento de pena (fechado para o


semiaberto) passou a ser direito do condenado, bastando que se satisfaça a
dois pressupostos: o primeiro, de caráter objetivo, que depende do
cumprimento de pelo menos 1/6 da pena; o segundo, de caráter subjetivo,
relativo ao seu bom comportamento carcerário, que deve ser atestado pelo
diretor do estabelecimento prisional” (STJ; HC nº 38.602; 5a. T.; rel.
Min. Arnaldo Esteves de Lima).
— Salvo se lhe pende processo de expulsão do País, é possível deferir
a condenado estrangeiro o benefício da progressão no regime
prisional, desde que atenda aos requisitos do art. 112 da Lei
de Execução Penal. Conclusão diversa implicava tratamento
discriminatório entre o condenado alienígena e o nacional, balda
gravíssima que a Constituição da República solenemente repele
(art. 5º).
— Sob o regime semiaberto, o sentenciado estrangeiro estará sujeito,
por força, a restrições de vária ordem: não terá direito a “saída
temporária” nem realizará “trabalhos extramuros”, por não frustrar o
cumprimento de eventual decreto de expulsão.
120

Voto nº 11.204
Embargos Infringentes nº 993.07.109972-4
Arts. 157, § 2º, ns. I e IV, 14, nº II, e 329 do Cód. Penal;
arts. 126, § 3º, e 127 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº XXXVI, da Const. Fed.

— Justiça excessiva não é senão injustiça, proclamou com assaz de


razão o eloquente Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis,
I, 10).
— A decisão que concede remição de penas é imutável após seu
trânsito em julgado. Portanto, desconstituí-la, salvo mediante
revisão criminal, fora violar a autoridade da “res judicata”, um dos
principais dogmas em que assenta a ordem jurídica (art. 5º, nº
XXXVI, da Const. Fed.).
— Frutos de seu trabalho e, pois, estipêndio do suor, os dias remidos
do preso têm alguma coisa de sagrado que os guarda do rigor do
Juízo da execução penal.
—“É inadmissível a perda dos dias remidos por decisão judicial, em virtude de
falta grave cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 416).
— De presente, já não é lícito ao Juiz dar ao art. 127 da Lei de Execução
Penal interpretação outra que a literal restrita, por força da Súmula
Vinculante nº 9, editada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal,
que mandou inscrever entre os dogmas jurídicos a perda, para o
condenado “que for punido por falta grave”, do direito ao tempo
remido pelo trabalho.
121

Voto nº 11.236
Apelação Criminal nº 990.08.046466-3
Arts. 155, “caput”, 33, § 1º, alínea a, e 59 do Cód. Penal

— A palavra da vítima é ponto de alto relevo no campo da prova: se em


harmonia com os mais elementos dos autos justifica a procedência
da pretensão punitiva e a condenação do réu.
— O larápio contumaz e empedernido, que não emenda a mão e ainda
parece escarnecer da disciplina social, é razão expie seu castigo no
regime de maior rigor: o fechado (art. 33, § 1º, alínea a, do Cód.
Penal).

Voto nº 11.342
“Habeas Corpus” nº 993.08.023955-0
Arts. 52, 112 e 197 da Lei de Execução Penal

—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido


para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; j. 6.3.2001; DJU 23.4.2001,
p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem quebra, às instâncias da disciplina
do estabelecimento penal para poder, no tempo oportuno,
credenciar-se à outorga de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).
— Afirmar e entender o contrário seria, “data venia”, fomentar a
indisciplina nos presídios e fazer tábua rasa do preceito segundo o
qual cada um deve ter o que merece. O teor de proceder dos maus,
se já não cai sob a letra da lei, para que é exigir que a ela continuem
a submeter-se os bons?! Seria, então (ainda mal!), repetir a apóstrofe
do imenso Rui: “(…) o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se
da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Obras Completas, vol. XLI,
t. III, p. 86).
122

Voto nº 11.467
Apelação Criminal nº 990.08.141485-6
Arts. 33, § 4º, e 40, nº III, da Lei nº 11.343/06;
arts. 33, § 2º, letra c, e 59 do Cód. Penal

— A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado


argui para logo a ideia de tráfico (art. 33 da Lei nº 11.343/06).
—“(…) fixada a pena-base no mínimo legal, é inadmissível a estipulação de
regime prisional mais rigoroso do que aquele previsto para a sanção
corporal aplicada (…)” (STJ; HC nº 73.707-SP; 6a. T.; rel. Min. Paulo
Gallotti; j. 16.8.2007).
—“Nos termos do art. 33, § 2º, letra c, do Cód. Penal, o condenado não-
-reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá,
desde o início, cumpri-la em regime aberto” (STJ; HC nº 65.275/SC;
Min. Arnaldo Esteves Lima; 5a. T.; DJU 5.2.07).
— Ainda que se não deva julgar pelos precedentes judiciais mas
segundo as leis, conforme velha parêmia – “Non exemplis, sed legibus
judicandum est” –, não entra em dúvida que “os exemplos dos
superiores são a melhor norma de proceder dos juízes inferiores”,
asseverou o insigne Min. Macedo Soares (cf. Hermenegildo de
Barros, Grandes Figuras da Magistratura, 1941, p. 281).
123

Voto nº 11.600
Apelação Criminal nº 993.04.008670-1
Arts. 129, § 1º, nº I, 109, nº V, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 5º, nº XXXVIII, letra c, da Const. Fed.

—“Desfavoráveis as circunstâncias judiciais, cabível regime inicial diverso,


mais gravoso” (STJ; HC nº 24.212-0-SP; 6a. T.; rel. Min. Paulo
Medina; Boletim do STJ, set./2003, nº 14, p. 61).
— Decisão dos jurados não se anula, exceto se proferida contra
a evidência dos autos, pois tem por si a força do preceito
constitucional da soberania dos veredictos do Júri, que lhe assegura
a imutabilidade (art. 5º, nº XXXVIII, letra c, da Const. Fed.).
“Manifestamente contrária à prova dos autos” é somente a decisão que
neles não depara fundamento algum, constituindo por isso
formidável desvio da razão lógica e da realidade processual.
— Dado que julgam “ex informata conscientia”, não há impugnar a
decisão dos jurados se depara um mínimo de fundamento na prova;
que tal decisão já não será manifestamente contrária à prova dos
autos.
—“Se existem duas versões do fato e o júri aceita uma, que não se mostra
evidentemente falsa, não é possível reconhecer que a decisão tenha sido
manifestamente contrária à prova dos autos” (Rev. Forense, vol. 167,
p. 412).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
124

Voto nº 11.635
Agravo em Execução nº 990.09.010645-0
Art. 75 do Cód. Penal

—“A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento,


determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a
concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime
mais favorável de execução” (Súmula nº 715 do STF).
125

Voto nº 12.344
Apelação Criminal nº 993.03.081093-8
Arts. 214, 224, alínea a, 225, § 1º, nº I, e 71 do Cód. Penal;
arts. 1º e 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90

—“O ato de representação não depende de rigorismos formalísticos (STJ, RT


775/561 e 815/537). Assim, como tem entendido o STF, não depende de
fórmula sacramental, bastando a demonstração de vontade inequívoca de
que o autor do fato criminoso seja processado (RT 75/322 e 95/578; RT
500/310)” (Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado,
22a. ed., p. 51).
— A palavra da vítima de atentado violento ao pudor tem importância
inquestionável na apuração das circunstâncias do fato criminoso e
na identificação de seu autor. Exceto se os elementos de prova dos
autos demonstrarem que a ofendida mentiu, suas palavras servem de
carta de crença e, pois, justificam a edição de decreto condenatório
(art. 214 do Cód. Penal).
— O STF, em Sessão Plenária, decidiu que “os crimes de estupro e de
atentado violento ao pudor, tanto nas suas formas simples (Cód. Penal,
arts. 213 e 214), como nas qualificadoras (Cód. Penal, 223, caput, e
parág. único) são crimes hediondos: Lei nº 8.072/90, redação da Lei nº
8.930/94, art. 1º, ns. V e VI” (HC nº 81.288-1-SC; rel. Min. Carlos
Velloso; j. 17.12.2001).
— Mesmo em se tratando de crimes hediondos (art. 1º da Lei nº
8.072/90), têm nossas Cortes Superiores de Justiça admitido a
estipulação de regime prisional diverso do fechado (semiaberto e
aberto), se fixada a pena-base no mínimo legal e favoráveis ao réu
as circunstâncias judiciais do art. 59 do Cód. Penal (cf. STJ; HC
nº 60.523/SP; 5a. T.; rel. Min. Arnaldo Esteves Lima; DJ
10.12.2007, p. 402; HC nº 90.829/SP; 5a. T.; relª Minª Laurita Vaz;
DJ 15.12.2008).
— O réu de atentado violento ao pudor (art. 214 do Cód. Penal), crime
da classe dos hediondos, deve cumprir sua pena sob o regime inicial
fechado, por força do preceito do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.
126

Voto nº 12.464
Agravo em Execução nº 990.09.177493-6
Art. 12 da Lei de Execução Penal;
art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90

— Se o sentenciado atendeu ao requisito objetivo (lapso temporal),


observou sem quebra o código de disciplina do presídio e manifesta
o propósito de emendar as máculas do passado, faz jus à progressão
ao regime semiaberto, porque esta é a vontade da lei (art. 112 da Lei
de Execução Penal). Somente fato grave, indicativo de personalidade
anômala e refratária aos estímulos da recuperação, poderá obstar-
-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
— O argumento da pena longa não é poderoso a obstar a concessão de
regime semiaberto ao sentenciado, se já cumpriu dela a sexta parte
(necessariamente longa). Tampouco lhe serve de empecilho à
obtenção do benefício o registro de falta grave (fuga) se, ao depois,
revelou, por largo espaço de tempo, exemplar conduta carcerária e
notável dedicação ao trabalho, sinais inequívocos de sua redenção.
—“A progressão de regime de cumprimento de pena (fechado para o
semiaberto) passou a ser direito do condenado, bastando que se satisfaça
a dois pressupostos: o primeiro, de caráter objetivo, que depende
do cumprimento de pelo menos 1/6 da pena; o segundo, de caráter
subjetivo, relativo ao seu bom comportamento carcerário, que deve ser
atestado pelo diretor do estabelecimento prisional” (STJ; HC nº 38.602;
5a. Turma; rel. Min. Arnaldo Esteves de Lima).
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
— Declarada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, em sessão de
23.1.06, a inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90 (Lei
dos Crimes Hediondos), é o art. 112 da Lei de Execução Penal que
serve de fundamento ao pedido de progressão de regime do
condenado por crime hediondo cometido antes da promulgação da
Lei nº 11.464, de 28.3.07, pois, segundo princípio basilar de Direito
Penal, a lei posterior mais severa não pode retroagir.
127

— A decisão da Suprema Corte, conforme o sentimento comum dos


melhores intérpretes, “é autoaplicável, dispensando a atuação do Senado
Federal para suspender a sua execução (CF/88, art. 52, X)” (René Ariel
Dotti, in Rev. Tribs., vol. 400, p. 415).
— Na conformidade do que têm proclamado nossos Tribunais
Superiores, os condenados por crimes hediondos cometidos antes da
Lei nº 11.464/07, para efeito de progressão, caem sob o regime do
art. 112 da Lei da Execução Penal: cumprimento de 1/6 da pena e
bom comportamento carcerário.
—“O requisito objetivo necessário para a progressão de regime prisional dos
crimes hediondos e equiparados cometidos antes da entrada em vigor da Lei
nº 11.464, em 29 de março de 2007, é aquele previsto no art. 112 da Lei
de Execução Penal” (HC nº 88.037/SP; 5a. T.; relª Minª Laurita Vaz;
j. 25.10.07; DJU 19.11.07, p. 264);
—“Fazer justiça não é, em muitos casos, obedecer à lei e, sim, obedecer ao
direito que é a fonte da lei” (Eliézer Rosa, A Voz da Toga, 1a. ed.,
p. 41).
—“Não trepidei em mudar de voto, pública e declaradamente, toda vez que
novos argumentos ou provas concludentes me convenceram do desacerto do
veredictum anterior: acima do melindre pessoal de cada um está a
sacrossanta causa da Justiça” (Carlos Maximiliano, Hermenêutica e
Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 377).
IV. Regime Prisional: Regressão

Voto nº 247
“Habeas Corpus” no 301.528/2
Art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 50, nº II, da Lei de Execução Penal (fuga)

— A fuga do preso, exceto quando realizada com emprego de violência


contra a pessoa, não constitui crime, pelo que não vale a caracterizar
maus antecedentes criminais.
— É, entretanto, violação grave da disciplina carcerária, pedra angular
de todo estabelecimento penal.
— Assim, recapturado o fugitivo, não repugna aos preceitos legais
mantê-lo em regime fechado até que a Justiça disponha acerca de
sua eventual regressão.
129

Voto nº 527
Agravo em Execução nº 1.056.149/3
Art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 50, nº II, da Lei de Execução Penal

— Tratando-se de sentenciado foragido, escusa intimá-lo por éditos de


sentença proferida pelo Juízo das execuções criminais, sobretudo se
dela o defensor interpôs recurso de agravo; que o contrário não fora
só imolar na ara do frívolo curialismo, seria também menoscabar o
desvelo e a competência do advogado a cujo patrocínio se confiou a
sorte do réu.
— Ouvir o acusado é a primeira regra de quem se propõe distribuir
justiça. Entendeu-o bem o profundo Vieira, num lugar célebre:
“(…) ao mesmo Demônio se deve fazer justiça, quando ele a tiver”
(Sermões, 1696, t. XI, p. 195).
130

Voto nº 1932
“Habeas Corpus” nº 356.866/1
Art. 127 da Lei de Execução Penal;
arts. 118, nº I, e 127 da Lei de Execução Penal

— Embora o instrumento judicial adequado para contrastar decisão


que decreta a perda dos dias remidos seja o recurso de agravo em
execução (art. 197 da Lei de Execução Penal), nada obsta impetre o
sentenciado “habeas corpus”, remédio processual por excelência para
a tutela da liberdade.
— Não é pedra de escândalo decisão que determina o regresso do
condenado a regime de maior rigor no caso de falta grave, pois se
funda em dado objetivo e em razão lógica: a vontade expressa da lei
(art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal).
— Matéria de grande peso é a de que trata o art. 127 da Lei de Execução
Penal – o condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao
tempo remido… –, pois obriga o Juiz a decidir contra a própria
consciência, se quiser atender à letra da lei.
— Palavras do magistrado francês Osvaldo Bardot: “Consultai o bom-
-senso, a equidade, o amor do próximo, antes da autoridade e da tradição.
A lei se interpreta. Ela dirá o que quiserdes que ela diga. Sem mudar um
til, pode-se, com os mais sólidos considerandos do mundo, dar razão a uma
parte ou a outra, absolver ou condenar à pena máxima. Desse modo, que a
lei não vos sirva de alibi” (apud Jucid Peixoto do Amaral, Manual do
Magistrado, 4a. ed., p. 42).
— A decisão que concede remição de penas é imutável após seu
trânsito em julgado. Portanto, desconstituí-la, salvo mediante
revisão criminal, fora violar a autoridade da “res judicata”, um dos
principais dogmas em que assenta a ordem jurídica (art. 5º, nº
XXXVI, da Const. Fed.).
—“É inadmissível a perda dos dias remidos por decisão judicial, em virtude de
falta grave cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 416).
131

Voto nº 8063
“Habeas Corpus” nº 1.043.789-/7-00
Arts. 50, nº II, e 118, nº I, da Lei de Execução Penal

— Ainda que instrumento processual de dignidade constitucional,


próprio a tutelar a liberdade do indivíduo, não pode o “habeas
corpus” substituir o recurso ordinário, máxime quando a “causa
petendi” respeita a questões de alta indagação.
—“Não se conhece de habeas corpus originário quando substitui recurso
ordinário não interposto” (STF; HC nº 59.186-8; rel. Min. Décio
Miranda; DJU 26.3.82, p. 2.561).
— Questões relativas à progressão de regime prisional e outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alínea b, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via
sumaríssima e estreita do “habeas corpus”.
— Consoante orientação do STF (cf. Rev. Tribs., vol. 763, p. 485), não
configura constrangimento ilegal reparável por “habeas corpus” a
decisão do Juízo de Direito da Vara das Execuções Criminais que
determina a regressão cautelar e provisória do condenado, sem sua
prévia audiência, em razão de falta grave (art. 50, nº II, da Lei de
Execução Penal).
— O Juiz que determina a regressão do sentenciado ao regime
fechado, em caso de falta grave, não viola a lei, antes a cumpre com
pontualidade. Sua decisão, por isso, está ao abrigo de reforma na via
excepcional do “habeas corpus” (art. 118, nº I, da Lei de Execução
Penal).
132

Voto nº 2348
Agravo em Execução nº 1.209.111/0
Art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal;
art. 50, nº II, da Lei de Execução Penal (fuga)

— Embora a Lei de Execução Penal (art. 118, nº I) determine a regressão


do sentenciado a regime mais rigoroso, no caso de falta grave (v.g.:
fuga), incensurável é a sentença que o não pratica, por amor da
equidade, sob o argumento de que o largo trato de tempo decorrido
da recaptura do condenado (e sua permanência em presídio de
regime fechado) já lhe permitia pleitear mudança para estágio mais
brando de cumprimento de pena.
—“Uma norma é a sua interpretação” (Miguel Reale, Filosofia, 5a. ed.,
nº 214).
— Ao Juiz, decerto, não esquecerão jamais aquelas palavras que o
estilete imortal de Cícero imprimiu com letras de fogo: “Summum
jus, summa injuria” (De Officiis, I, 10).
133

Voto nº 2790
Agravo em Execução nº 1.234.383/3
Arts. 50, nº V, e 118, nº I, da Lei de Execução Penal

— Não cabe censura à decisão que, por haver o sentenciado cometido


falta grave (descumprimento das condições do regime semiaberto),
determina-lhe a regressão à modalidade fechada, pois esta é a
vontade explícita da Lei de Execução Penal (art. 118, nº I).
— A primeira obrigação do condenado é submeter-se ao cumprimento
da pena que lhe foi imposta, como forma de reparação do dano
causado na ordem moral da sociedade.

Voto nº 2969
Agravo em Execução nº 1.249.033/7
Art. 118, § 1º, da Lei de Execução Penal;
art. 50, nº V, da Lei de Execução Penal

— A sustação do regime prisional aberto, pela prática de falta grave


(art. 50, nº V, da Lei de Execução Penal), decorre do poder cautelar do
Juiz da Execução e pode ser decretada de ofício, “inaudita altera
parte”.
—“A principal obrigação legal, fundamental mesmo, inerente ao estado do
condenado a pena privativa de liberdade, é justamente a de se submeter o
preso a ele, ou seja, a não procurar furtar-se à pena pela fuga ou evasão”
(Julio Fabbrini Mirabete, Execução Penal, 5a. ed., p. 121).
134

Voto nº 11.918
Agravo em Execução nº 990.09.055387-1
Arts. 39, nº V, “in fine”, 49 e 50 da Lei de Execução Penal;
art. 48, nº XVIII, alínea a, do Regimento Interno Padrão dos
Estabelecimentos Prisionais do Estado de São Paulo

— Por ausência de previsão legal, constitui exagero punitivo qualificar


de falta grave (art. 50 da Lei de Execução Penal) a conduta do
reeducando que tem em seu poder material destinado ao preparo da
pingoleta “Maria Louca”; à luz do art. 48, nº XVIII, alínea a, do
Regimento Interno Padrão dos Estabelecimentos Prisionais do Estado de
São Paulo, configura apenas falta disciplinar média.
—“A posse de material destinado à fabricação da aguardente denominada
Maria Louca não constitui crime doloso, por falta de previsão legal, nem
mesmo crime contra a saúde pública. Ausente a reserva legal, não se
reconhece a falta grave” (Jurisprudência do Tribunal de Justiça, vol. 183,
p. 324).
135

Voto nº 5084
“Habeas Corpus” nº 453.182/6
Art. 180, “caput”, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— A sustação provisória do regime prisional ao reeducando que pratica


falta grave não constitui ilegalidade nem expressão de arbítrio do
Magistrado, senão providência prevista em lei (art. 118, nº I, da Lei
de Execução Penal) e inerente a seu poder cautelar, dada sempre no
alto interesse da preservação da disciplina e da ordem nos presídios.
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via
sumaríssima e estreita do “habeas corpus”.

Voto nº 5108
Agravo em Execução nº 1.379.415/2
Art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal

— É de boa política criminal restaurar o regime aberto (prisão-


-albergue domiciliar) ao sentenciado que o teve revogado porque se
ausentara de casa no horário proibido, mas por motivo imperioso e
urgente, como ir à farmácia comprar remédio para a mulher
acometida de mal súbito. A regressão de regime, no caso, importaria
punição demasiado severa e drástica, em prejuízo não somente do
sentenciado, que também das pessoas de sua obrigação (mulher e
filhos, estes de tenra idade).
136

Voto nº 6203
“Habeas Corpus” nº 847.881-3/7-00
Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal;
arts. 66, nº III, alínea b, e 118, § 2º, da Lei de Execução Penal

— Questões relativas à progressão de regime prisional e outros


incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alínea b, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via
sumaríssima e estreita do “habeas corpus”.
—“O réu que descumpre as condições do regime aberto rende ensejo a
instauração de incidente de regressão de regime” (STJ; RHC nº 4.623-6-
MG; 6a. T.; rel. Min. Anselmo Santiago; DJU 12.2.96, p. 2.433).

Voto nº 6295
“Habeas Corpus” nº 846.073-3/2-00
Art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal;
art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de Execução Penal

— A sustação provisória do regime prisional ao reeducando que pratica


falta grave não constitui ilegalidade nem expressão de arbítrio do
Magistrado, senão providência prevista em lei (art. 118, nº I, da Lei
de Execução Penal) e inerente a seu poder cautelar, dada sempre no
alto interesse da preservação da disciplina e da ordem nos presídios.
— Questões relativas à progressão de regime prisional e outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via
sumaríssima e estreita do “habeas corpus”.
137

Voto nº 6777
“Habeas Corpus” nº 880.414-3/9-00
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
arts. 50, nº II, e 66, nº III, da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LXVIII, da Const. Fed.

— Consoante orientação do STF (cf. Rev. Tribs., vol. 763, p. 485), não
configura constrangimento ilegal reparável por “habeas corpus” a
decisão do Juízo de Direito da Vara das Execuções Criminais que
determina a regressão cautelar e provisória do condenado, sem sua
prévia audiência, em razão de falta grave (art. 50, nº II, da Lei de
Execução Penal).
— A fuga, em princípio, com ser falta disciplinar grave, retira ao
condenado o direito de permanecer sob o mesmo regime, enquanto
não comprovar que a empreendera por justo motivo. É que, ao
quebrar o preceito a que estava obrigado, também decaiu do direito
que assiste apenas ao preso de méritos: permanecer no regime
prisional menos gravoso.
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alínea b, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via
sumaríssima e estreita do “habeas corpus”.
138

Voto nº 6947
Agravo em Execução nº 489.117-3/2-00
Art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal

— Embora a Lei de Execução Penal (art. 118, nº I) determine a regressão


do sentenciado a regime mais rigoroso, no caso de falta grave (v.g.:
fuga), incensurável é a sentença que o não pratica, por amor da
equidade, sob o argumento de que as razões alegadas para o
abandono do estabelecimento penal eram forçosas e de peso:
ameaça de morte por outros detentos e doença grave em família.
—“Uma norma é a sua interpretação” (Miguel Reale, Filosofia do Direito,
5a. ed., p. 124).
— Ao Juiz não esqueçam jamais aquelas palavras que o estilete imortal
de Cícero imprimiu com letras de fogo: “Summum jus, summa
injuria” (De Officiis, I, 10).

Voto nº 7353
“Habeas Corpus” nº 951.390-3/9-00
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 50, nº II, e 118, nº I, da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LXVIII, da Const. Fed.

— Consoante orientação do STF (cf. Rev. Tribs., vol. 763, p. 485), não
configura constrangimento ilegal reparável por “habeas corpus” a
decisão do Juízo de Direito da Vara das Execuções Criminais que
determina a regressão cautelar e provisória do condenado, sem sua
prévia audiência, em razão de falta grave (art. 50, nº II, da Lei de
Execução Penal).
— O Juiz que determina a regressão do sentenciado ao regime
fechado, em caso de falta grave, não viola a lei, antes a cumpre com
pontualidade. Sua decisão, por isso, está ao abrigo de reforma na
via excepcional do “habeas corpus” (art. 118, nº I, da Lei de Execução
Penal).
139

Voto nº 2196
Agravo em Execução nº 1.202.997/0
Art. 127 da Lei de Execução Penal
art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal

— Não é pedra de escândalo decisão que determina o regresso do


condenado a regime de maior rigor no caso de falta grave, pois se
funda em dado objetivo e em razão lógica: a vontade expressa da lei
(art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal).
— Matéria de grande peso é a de que trata o art. 127 da Lei de
Execução Penal – o condenado que for punido por falta grave perderá
o direito ao tempo remido… –, pois obriga o Juiz a decidir contra a
própria consciência, se quiser atender à letra da lei.
— Palavras do magistrado francês Osvaldo Bardot: “Consultai o bom
senso, a equidade, o amor do próximo, antes da autoridade e da tradição. A
lei se interpreta. Ela dirá o que quiserdes que ela diga. Sem mudar um til,
pode-se, com os mais sólidos considerandos do mundo, dar razão a uma
parte ou a outra, absolver ou condenar à pena máxima. Desse modo, que a
lei não vos sirva de alibi” (apud Jucid Peixoto do Amaral, Manual do
Magistrado, 4a. ed., p. 42).
— A decisão que concede remição de penas é imutável após seu
trânsito em julgado. Portanto, desconstituí-la, salvo mediante
revisão criminal, fora violar a autoridade da “res judicata”, um dos
principais dogmas em que assenta a ordem jurídica (art. 5º, nº
XXXVI, da Const. Fed.).
—“É inadmissível a perda dos dias remidos por decisão judicial, em virtude de
falta grave cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 416).
140

Voto nº 8400
Agravo em Execução nº 926.707-3/0-00
Arts. 155, § 4º, nº IV, e 14, nº II, do Cód. Penal;
arts. 52 e 118, nº I, § 2º, da Lei de Execução Penal

— Dispõe a lei que, se o condenado praticar fato definido como crime


doloso ou falta grave, estará sujeito à regressão no regime
penintenciário (art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal).
—“No procedimento de regressão de regime prisional, o sentenciado deve ser
ouvido, pessoalmente, desde que possível, pelo Juiz, conforme disposto no
art. 18, § 2º, da Lei nº 7.210/84” (STJ; Rev. Tribs., vol. 756, p. 524;
rel. Min. Felix Fischer).
141

Voto nº 8506
Agravo em Execução nº 1.046.757-3/3-00
Art. 121, § 2º, nº I, do Cód. Penal;
art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.072/90;
arts. 112 e 118, nº I, da Lei de Execução Penal

— Sob pena de violação da coisa julgada material, instituto


capitalíssimo em que assenta a ordem jurídica, o Juízo de Execução
não pode alterar o regime prisional fechado, imposto pela sentença
condenatória a autor de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, nº I,
do Cód. Penal), crime da classe dos hediondos, sem atender ao
requisito do lapso temporal: 2/5 para o condenado primário, 3/5
para o reincidente (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90, Lei dos Crimes
Hediondos).
— Se o sentenciado atende aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução
Penal, isto é, “tiver cumprido ao menos um sexto da pena no
regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário”, faz jus à
progressão ao regime semiaberto. Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária aos estímulos da recuperação,
poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido
para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; j. 6.3.2001; DJU 23.4.2001,
p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem quebra, às instâncias da disciplina
do estabelecimento penal para poder, no tempo oportuno,
credenciar-se à outorga de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).
— Tendo-se evadido do estabelecimento penal, já na condição de
beneficiário do regime prisional semiaberto, não entra em dúvida
que o sentenciado incorreu na sanção da lei: regressará, por força,
ao regime da última severidade (art. 118, nº I, da Lei de Execução
Penal).
142

Voto nº 11.976
Apelação Criminal nº 993.03.054462-6
Arts. 121, “caput”, 14, nº II, 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal;
art. 5º, nº XXXVIII, letra c, da Const. Fed.

— Máxime quando produzida perante o Magistrado, “nada traz mais


certeza da autoria de um delito do que uma confissão livre, clara, sincera,
sem qualquer vício” (Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980,
vol. I, p. 381).
— Configura tentativa de homicídio, e não lesões corporais, o
proceder de quem desfere golpe de arma branca em região nobre
do corpo da vítima, provocando-lhe ferimentos de natureza grave,
com perigo de vida (arts. 121, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal).
— Decisão dos jurados não se anula, exceto se proferida contra a
evidência dos autos, pois tem por si a força do preceito
constitucional da soberania dos veredictos do Júri, que lhe assegura
a imutabilidade (art. 5º, nº XXXVIII, letra c, da Const. Fed.).
“Manifestamente contrária à prova dos autos” é somente a decisão que
neles não depara fundamento algum, constituindo por isso
formidável desvio da razão lógica e da realidade processual.
— Dado que julgam “ex informata conscientia”, não há impugnar a
decisão dos jurados se depara um mínimo de fundamento na prova;
que tal decisão já não será manifestamente contrária à prova dos
autos.
— O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a
necessidade do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro
Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
143

Voto nº 8934
“Habeas Corpus” nº 1.089.502-3/5-00
Arts. 39, ns. II e V, 44 e 50, nº VI, da Lei de Execução Penal

— O art. 50, nº VI, da Lei de Execução Penal, com ser norma penal em
branco, permite a inclusão de novas modalidades infracionais, v.g., a
utilização de telefone celular por preso, no interior da cadeia. Fator
e ocasião de quebra da disciplina carcerária – visto que, ao alcance
de integrantes de organizações criminosas, o telefone celular serve a
fomentar rebeliões nos presídios, com risco da segurança pública e
da ordem social –, a proibição de seu uso, estabelecida pela
Resolução nº 113/2003, da Secretaria da Administração Penitenciária,
é ao mesmo tempo útil e necessária. Sua inobservância implica, sem
dúvida, falta disciplinar grave, sujeita ao rigor da lei (arts. 50, nº VI, e
39, ns. II e V, da Lei de Execução Penal).
— Dispõe o art. 50 da Lei de Execução Penal, com a nova redação que
lhe deu a Lei nº 11.466/07, que constitui falta disciplinar grave ter o
condenado “em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo” (inc. VII).

Voto nº 10.005
“Habeas Corpus” nº 1.170.469-3/9-00
Arts. 66, nº III, alínea b, e 118 da Lei de Execução Penal

—“O retorno ao regime mais gravoso é poder geral de cautela do Juiz, e não
padece de ilegalidade, como dispõe o art. 66, nº III, alínea b, da Lei de
Execução Penal” (Rev. Tribs., vol. 745, p. 566; rel. Dante Busana).
— Enquanto se não comprove que a falta disciplinar cometida
pelo reeducando era somente leve, parece bem suspender-lhe
cautelarmente o regime semiaberto até decisão sobre eventual
regressão (art. 118 da Lei de Execução Penal).
144

Voto nº 12.452
“Habeas Corpus” nº 990.09.217120-8
Arts. 44, § 4º, do Cód. Penal;
art. 181, § 1º, alínea a, do Cód. Proc. Penal

—“A imposição de serviços à comunidade como condição da pena em regime


aberto implica inaceitável bis in idem, pois a restrição de direitos possui
caráter substitutivo da pena privativa de liberdade, não podendo ser
cumulada com esta, como condição especial daquele regime” (Rev. Tribs.,
vol. 753, p. 730).
—“Conversão de pena restritiva de direito em privativa de liberdade, porque
o sentenciado não foi localizado para dar cumprimento —— Regime aberto,
sem fixação de condição especial consistente em prestação de serviços à
comunidade —— Possibilidade – O descumprimento injustificado da pena
restritiva de direitos acarreta, obrigatoriamente, a conversão em pena
privativa de liberdade —— Inteligência dos arts. 44, § 4º, do Código Penal e
181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal —— Decisão mantida ——
Recurso improvido” (TJSP; Ag. Exec. nº 990.08.056459-5; 16a. Câm.
Crim.; rel. Newton Neves).
145

Voto nº 11.229
Agravo em Execução nº 993.06.015057-0
Arts. 44, 50, 2a. parte, e 168, § 1º, nº III, do Cód. Penal

— Ao Juiz incumbido da execução da pena a lei confere sempre o


poder – amplo poder discricionário – de, com o arbítrio do bom
varão, prover que se conformem às condições pessoais do
sentenciado as tarefas que deva realizar, e ainda determinar-lhes o
sobrestamento (e até a supressão), em caso de fundado receio de
perigo para a incolumidade de terceiros (art. 44 do Cód. Penal).
— Embora não possa o Juiz da execução cancelar a multa, nem isentar
o condenado de seu pagamento (cf. Rev. Tribs., vol. 591, p. 359),
faculta a lei que este “se realize em parcelas mensais” (art. 50, 2a. parte,
do Cód. Penal).

Voto nº 11.541
Agravo em Execução nº 990.08.048204-1
Art. 111 da Lei de Execução Penal

— É indene de censura a decisão que, à vista de nova condenação do


sentenciado a pena incompatível com o regime aberto, determina-
-lhe o cumprimento na modalidade prisional mais severa, que isto
mesmo dispõe o art. 111 da Lei de Execução Penal.
— É princípio de ordem lógica, sufragado sem exceção pelas escolas
penais, que o castigo deve guardar relação com o delito e com a
personalidade do infrator, pois a reincidência reflete na dosimetria
da pena e na forma de seu cumprimento.
146

Voto nº 3027
“Habeas Corpus” nº 317.196/6
Art. 157, § 2º, ns. I, II e V, do Cód. Penal;
arts. 66 e 118 da Lei de Execução Penal

— Nenhuma censura admite a decisão que susta “ad cautelam” o regime


prisional do réu pela prática de falta grave. Trata-se de previsão
legal (art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal) e de medida que,
suposto drástica, inscreve-se no amplo poder discricionário do Juiz.
— O exame das condições que autorizam a modificação do regime
prisional do sentenciado compete, por disposição legal expressa, ao
Juiz da execução (art. 66, nº III, alínea b, da Lei de Execução Penal); só
pela via recursal poderá a Superior Instância pronunciar-se a tal
respeito, sob pena de suprimir grau de jurisdição.
—“As esperanças que tardam tiram a vida” (Vieira, História do Futuro,
p. 46).
147

Voto nº 8663
Agravo em Execução nº 1.031.344-3/4-00
Art. 12 da Lei nº 6.368/76;
arts. 38, 50, nº V, 112 e 118, nº I, da Lei de Execução Penal;
art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.072/90

— Sob pena de violação da coisa julgada material, instituto


capitalíssimo em que assenta a ordem jurídica, o Juízo de Execução
não pode alterar o regime prisional fechado, imposto pela sentença
condenatória a autor de tráfico de entorpecentes (art. 12 da Lei
nº 6.368/76), crime da classe dos hediondos, sem atender ao requisito
do lapso temporal: 2/5 para o condenado primário, 3/5 para
o reincidente (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90, Lei dos Crimes
Hediondos).
— Se o sentenciado atende aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução
Penal, isto é, “tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime
anterior e ostentar bom comportamento carcerário”, faz jus à progressão
ao regime semiaberto. Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária aos estímulos da recuperação,
poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido
para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; j. 6.3.2001; DJU 23.4.2001,
p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem quebra, às instâncias da disciplina
do estabelecimento penal para poder, no tempo oportuno,
credenciar-se à outorga de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).
— Tendo-se evadido o sentenciado do estabelecimento penal, já na
condição de beneficiário do regime prisional semiaberto, não entra
em dúvida que incorreu na sanção da lei: regressará, por força, ao
regime da última severidade (art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal).
148

Voto nº 12.096
Agravo em Execução nº 990.09.061117-0
Arts. 38 e 112 da Lei de Execução Penal

—“A fuga do preso é um fato antijurídico por ser uma violação do dever
expresso no art. 38 da Lei de Execução Penal. A principal obrigação legal,
fundamental mesmo, inerente ao estado do condenado a pena privativa de
liberdade, é justamente a de se submeter o preso a ela, ou seja, a não
procurar furtar-se à pena pela fuga ou evasão” (Julio Fabrini Mirabete,
Execução Penal, 11a. ed., p. 113).
—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido
para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; j. 6.3.2001; DJU 23.4.2001,
p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem quebra, às instâncias da disciplina
do estabelecimento penal para poder, no tempo oportuno,
credenciar-se à outorga de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).
— Faltas disciplinares e mau procedimento carcerário do sentenciado
arguem-lhe demérito, que obsta à sua progressão de regime
prisional (art. 112 da Lei de Execução Penal).
149

Voto nº 10.962
Agravo em Execução nº 990.08.071003-6
Arts. 39, ns. II e V, 44 e 50, nº VI, da Lei de Execução Penal

— O art. 50, nº VI, da Lei de Execução Penal, com ser norma penal em
branco, permite a inclusão de novas modalidades infracionais, v.g., a
utilização de telefone celular por preso, no interior da cadeia. Fator
e ocasião de quebra da disciplina carcerária – visto que, ao alcance
de integrantes de organizações criminosas, o telefone celular serve a
fomentar rebeliões nos presídios, com risco da segurança pública e
da ordem social –, a proibição de seu uso, estabelecida pela
Resolução nº 113/2003, da Secretaria da Administração Penitenciária,
é ao mesmo tempo útil e necessária. Sua inobservância implica, sem
dúvida, falta disciplinar grave, sujeita ao rigor da lei (arts. 50, nº VI, e
39, ns. II e V, da Lei de Execução Penal).
— Com a promulgação da Lei nº 11.466, de 28.3.2007, a posse de
telefone celular no interior de estabelecimento penal – já proibida
pela Resolução nº 113/2003 da SAP –, passou a integrar, às expressas,
o rol das faltas graves enumeradas no art. 50 da Lei de Execução
Penal: “tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com
ambiente externo” (nº VII).
150

Voto nº 12.503
“Habeas Corpus” nº 990.09.209938-8
Art. 39, nº I, da Lei de Execução Penal;
Art. 48, nº XVIII, alínea a, do Regimento Interno Padrão dos
Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo

— A posse de material destinado à fabricação da aguardente


denominada “Maria Louca” dentro dos presídios, embora não
configure falta grave (por inexistência de previsão legal), constitui
por força falta média, definida no Regimento Interno Padrão dos
Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo (art. 48, nº XVIII, alínea
a).
— Sustentar que a referida conduta não caracteriza falta alguma (por
não especificadas pela legislação local as faltas leves e médias) seria,
em certo modo, fomentar indisciplina e tolerar práticas nocivas no
interior dos presídios. Deve-se atender, em tal caso, às disposições
do Regimento Interno Padrão dos Estabelecimentos Prisionais do Estado de
São Paulo.
— O “comportamento disciplinado” constitui o primeiro dos deveres do
preso (art. 39, nº I, da Lei de Execução Penal).
V. Regime Prisional Diferenciado (RDD)

Voto nº 6403
“Habeas Corpus” nº 870.106-3/5-00
Art. 52 da Lei de Execução Penal

— Não é pedra de escândalo decisão que, em caso de prática de falta


grave que ocasione subversão da ordem ou da disciplina do
estabelecimento penal, determina a internação do preso no regime
disciplinar diferenciado; funda-se em dado objetivo e em razão
lógica: a vontade expressa da lei (art. 52 da Lei de Execução Penal).

Voto nº 7776
Agravo em Execução nº 890.285-3/7-00
Art. 659 do Cód. Proc. Penal;
Art. 36 do Código Criminal do Império do Brasil

— É doutrina comumente recebida que, sem prova plena e cabal de sua


culpa (“lato sensu”), ninguém pode ser punido. Donde a sabedoria
com que obrou o legislador imperial: “Nenhuma presunção, por mais
veemente que seja, dará motivo para imposição de pena” (art. 36 do
Código Criminal do Império do Brasil).
—“Ao mesmo Demônio se deve fazer justiça, quando ele a tiver” (Antônio
Vieira, Sermões, 1696, t. XI, p. 295).
— Se já obteve o recorrente aquilo que faz o objeto de agravo em
execução, não há apreciar-lhe o recurso, pela falta de interesse
legítimo (art. 659 do Cód. Proc. Penal).
152

Voto nº 8735
Agravo em Execução nº 1.021.893-3/0-00
Art. 52, § 2º, da Lei de Execução Penal

— A internação no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) –


providência “ultima ratio” para pôr cobro à delinquência violenta
organizada – deve assentar em “fundadas suspeitas” (e não apenas
em vagos rumores) de que o reeducando está subvertendo a ordem
interna do presídio (art. 52, § 2º, da Lei de Execução Penal). Como o
castigo é estipêndio de culpa somente, em esta faltando a punição
não tem lugar.
— A vida pregressa de todo o sujeito serve unicamente para
individualizar-lhe a pena; não é pedra de toque para a aferição de
sua culpabilidade.
—“A periculosidade de um indivíduo é exclusivamente fundamento à medida
de segurança, não podendo servir como elemento à estrutura de um crime,
porque a sanção do crime é a pena e a pena só se aplica pelo que o indivíduo
fez contra jus e não pelo que ele é intimamente antissocial” (Nélson
Hungria, in Arquivo Judiciário, vol. 117, p. 252).
— A biografia social do indivíduo, ainda que verdadeiro sudário de
crimes, não basta para imprimir-lhe na fronte o estigma de culpado;
para sua punição faz-se mister prova maior de toda a dúvida.
—“E deve, para haver condenação nos crimes, ser a prova mais clara que a
luz do meio-dia” (Alexandre Caetano Gomes, Manual Prático Judicial,
1820, p. 247).
153

Voto nº 9038
Agravo em Execução nº 1.069.000-3/8-00
Art. 52 da Lei de Execução Penal

— Não é pedra de escândalo decisão que, em caso de prática de falta


grave que ocasione subversão da ordem ou da disciplina do
estabelecimento penal, determina a internação do preso no regime
disciplinar diferenciado; funda-se em dado objetivo e em razão
lógica: a vontade expressa da lei (art. 52 da Lei de Execução Penal).
—“O regime disciplinar diferenciado foi concebido para atender às necessidades
de maior segurança nos estabelecimentos penais e de defesa da ordem
pública contra criminosos que, por serem líderes ou integrantes de facções
criminosas, são responsáveis por constantes rebeliões ou fugas ou
permanecem, mesmo encarcerados, comandando ou participando de
quadrilhas ou organizações criminosas atuantes no interior do sistema
prisional e no meio social” (Julio Fabbrini Mirabete, Execução Penal,
11a. ed., p. 149).
154

Voto nº 9628
Agravo em Execução nº 1.147.880-3/0-00
Art. 52, § 2º, da Lei de Execução Penal

— A internação no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) –


providência “ultima ratio” para pôr cobro à delinquência violenta
organizada – deve assentar em “fundadas suspeitas” (e não apenas
em vagos rumores) de que o reeducando está subvertendo a ordem
interna do presídio (art. 52, § 2º, da Lei de Execução Penal). Como o
castigo é estipêndio de culpa somente, em esta faltando a punição
não tem lugar.
— A vida pregressa de todo o sujeito serve unicamente para
individualizar-lhe a pena; não é pedra de toque para a aferição de
sua culpabilidade.
—“A periculosidade de um indivíduo é exclusivamente fundamento à medida
de segurança, não podendo servir como elemento à estrutura de um crime,
porque a sanção do crime é a pena e a pena só se aplica pelo que o indivíduo
fez contra jus e não pelo que ele é intimamente antissocial” (Nélson
Hungria, in Arquivo Judiciário, vol. 117, p. 252).
— A biografia social do indivíduo, ainda que verdadeiro sudário de
crimes, não basta para imprimir-lhe na fronte o estigma de culpado;
para sua punição faz-se mister prova maior de toda a dúvida.
—“E deve, para haver condenação nos crimes, ser a prova mais clara que a
luz do meio-dia” (Alexandre Caetano Gomes, Manual Prático Judicial,
1820, p. 247).
155

Voto nº 10.885
Agravo em Execução nº 990.08.049590-0
Art. 52 da Lei de Execução Penal

— Não é pedra de escândalo decisão que, em caso de prática de falta


grave que ocasione subversão da ordem ou da disciplina do
estabelecimento penal, determina a internação do preso no regime
disciplinar diferenciado; funda-se em dado objetivo e em razão
lógica: a vontade expressa da lei (art. 52 da Lei de Execução Penal).
—“O regime disciplinar diferenciado foi concebido para atender às necessidades
de maior segurança nos estabelecimentos penais e de defesa da ordem
pública contra criminosos que, por serem líderes ou integrantes de facções
criminosas, são responsáveis por constantes rebeliões ou fugas ou
permanecem, mesmo encarcerados, comandando ou participando de
quadrilhas ou organizações criminosas atuantes no interior do sistema
prisional e no meio social” (Julio Fabbrini Mirabete, Execução Penal,
11a. ed., p. 149).
VI. Excesso ou Desvio de Execução

Voto nº 10.482
Agravo em Execução nº 993.08.029667-7
Art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos);
art. 93, nº IX, da Const. Fed.

— A despeito da nova redação que a Lei nº 10.792/03 deu ao art. 112 da


Lei de Execução Penal, subsiste a possibilidade de realização do exame
criminológico, “quando o entender indispensável o juiz da execução para
a decisão sobre progressão de regime” (Julio Fabbrini Mirabete, Execução
Penal, 11a. ed., p. 59).
— Não padece do vício de nulidade a decisão que, suposto sucinta, dá
as razões do convencimento de seu prolator, fundadas na prova e em
bom direito (art. 93, nº IX, da Const. Fed.).
— A Lei nº 10.729/03 – que deu nova redação ao art. 112 da Lei
de Execução Penal – não aboliu o exame criminológico para a
progressão de regime, o qual pode ser realizado se as circunstâncias
pessoais do sentenciado e a natureza do crime que cometeu o
aconselharem. Nisto, como no mais, obrará sempre o Magistrado
com a prudência e o arbítrio do bom varão.
— Se o sentenciado atende aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução
Penal, isto é, “tiver cumprido ao menos um sexto da pena no
regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário”, faz jus à
progressão ao regime semiaberto. Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária aos estímulos da recuperação,
poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
157

— Sob pena de violação da coisa julgada material, instituto


capitalíssimo em que assenta a ordem jurídica, o Juízo de Execução
não pode alterar o regime prisional fechado, imposto pela sentença
condenatória a autor de tráfico de entorpecentes (art. 12 da Lei
nº 8.072/90), crime da classe dos hediondos, sem atender ao requisito
do lapso temporal: 2/5 para o condenado primário, 3/5 para o
reincidente (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90, Lei dos Crimes
Hediondos).
— Decisões contraditórias no seio da Justiça operam sempre como
fator de insegurança dos negócios jurídicos, em detrimento grave de
seu nome e crédito.
158

Voto nº 10.592
Agravo em Execução nº 993.08.044220-7
Arts. 105 e 112 da Lei de Execução Penal

— Não há que opor à decisão que, embora pendente recurso do


Ministério Público, determina a expedição de guia provisória de
recolhimento a favor de réu preso, condenado a cumprir pena sob o
regime prisional fechado, pois mesmo que provido o recurso e
exasperada a pena corporal, já lhe está fixado o regime da última
severidade; inexistirá, portanto, o “periculum in mora”, o risco de
fuga do sentenciado à execução da pena ou algum prejuízo para a
sociedade.
— Também os que violaram a ordem jurídica e social têm seus
direitos; ainda o mais vil dos homens não decai nunca da proteção
da Lei. A presteza com que encaminha o réu para a Vara das
Execuções Criminais serve de timbre de honra do Juízo da
condenação, não de labéu (art. 105 da Lei de Execução Penal).
— Fere os princípios da Justiça e repugna à consciência jurídica
submeter o réu condenado a efeitos mais graves do que os
estipulados no título executório, mesmo no caso de ter sido
interposto recurso pela Acusação.
—“Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação
imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória” (Súmula nº 716 do STF).
159

Voto nº 10.606
Agravo em Execução nº 990.08.026750-7
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Se o sentenciado atendeu ao requisito objetivo (lapso temporal),


observou sem quebra o código de disciplina do presídio e manifesta
o propósito de emendar as máculas do passado, faz jus à progressão
ao regime semiaberto, porque esta é a vontade da lei (art. 112 da Lei
de Execução Penal). Somente fato grave, indicativo de personalidade
anômala e refratária aos estímulos da recuperação, poderá obstar-
-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
— O argumento da pena longa não é poderoso a impedir a concessão
de regime semiaberto ao sentenciado, se já cumpriu dela a sexta parte
(necessariamente longa). Tampouco lhe serve de empecilho à
obtenção do benefício o registro de falta grave (fuga) se, ao depois,
revelou, por largo espaço de tempo, exemplar conduta carcerária e
notável dedicação ao trabalho, sinais inequívocos de sua redenção.
—“A progressão de regime de cumprimento de pena (fechado para o
semiaberto) passou a ser direito do condenado, bastando que se satisfaça a
dois pressupostos: o primeiro, de caráter objetivo, que depende do
cumprimento de pelo menos 1/6 da pena; o segundo, de caráter subjetivo,
relativo ao seu bom comportamento carcerário, que deve ser atestado pelo
diretor do estabelecimento prisional” (STJ; HC nº 38.602; 5a. T.; rel.
Min. Arnaldo Esteves de Lima).
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
160

Voto nº 1269
Agravo em Execução nº 1.117.903/0
Art. 155, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Pequenas baldas da individualidade psíquica devem ser relevadas,


quando o sentenciado apresenta um complexo de valores que lhe
indiquem sincero esforço de emenda.
— A pretensão do sentenciado de convolar para regime prisional
menos rigoroso é tão legítima e razoável, que apenas em casos
excepcionais se lhe há de indeferir (art. 112 da Lei de Execução Penal).
O tempo do encarcerado conta-se por segundos!

Voto nº 3640
“Habeas Corpus” nº 402.896/0
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— É gênero grande de injustiça agravar, sem razão de direito, a sorte


do condenado. Assim, desde que lhe fixou a Justiça o regime
semiaberto para o cumprimento da pena, será violência mantê-lo
sob o regime fechado.
— No caso de falta de vaga em presídio adequado ao semiaberto, é de
razão e justiça aguarde o sentenciado, no regime aberto, sob a
forma de prisão domiciliar, a efetivação de sua transferência.
161

Voto nº 4405
Agravo em Execução nº 1.353.727/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

— O parecer da equipe técnica favorável à progressão do condenado,


embora não obrigue o Juiz, impõe-lhe o dever ético de bem
fundamentar a decisão que o rejeita, pela presunção comum de que
a opinião do sábio, nas coisas que respeitam a seu ofício, há de
prevalecer, em princípio, contra a do leigo, segundo o conhecido
brocardo “Mais sabe o tolo no seu, que o sisudo no alheio”.
— A pena longa não serve de argumento para indeferir ao sentenciado
progressão de regime, se lhe cumpriu já, com mérito, a sexta parte
(art. 112 da Lei de Execução Penal); pois a sexta parte de uma pena
longa será, por força, um largo trato de tempo, conforme o estalão
da proporcionalidade das grandezas matemáticas.
— Não é óbice à análise de pedido de progressão de regime isto de ter
o sentenciado processo em andamento: à uma, porque, em caso de
condenação, estará sujeito à forma regressiva (art. 118, nº II, da Lei
de Execução Penal); à outra, porque inteligência diversa implicaria
violação do princípio do estado de inocência, consagrado pela
Constituição da República (art. 5º, nº LVII).
162

Voto nº 7933
Agravo em Execução nº 890.587-3/5-00
Art. 112 da Lei de Execução Penal;
art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Se o sentenciado atende aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução


Penal, isto é, “tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime
anterior e ostentar bom comportamento carcerário”, faz jus à progressão
ao regime semiaberto. Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária aos estímulos da recuperação,
poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
— A Lei nº 10.729/03 – que deu nova redação ao art. 112 da Lei
de Execução Penal – não aboliu o exame criminológico para a
progressão de regime, o qual pode ser realizado se as circunstâncias
pessoais do sentenciado e a natureza do crime que cometeu o
aconselharem. Nisto, como no mais, obrará sempre o Magistrado
com a prudência e o arbítrio do bom varão.
— Dois requisitos exige a lei para a progressão de regime: lapso
temporal e mérito do condenado; presentes que sejam, compete ao
Juiz despachar de boa sombra a pretensão, uma vez não pode
recusar-se a praticar os atos de seu ministério.
— Não vá esquecer ao cultor do Direito que ainda o mais vil dos
homens tem jus à proteção da Lei!
— O asserto de que o criminoso empedernido não conhece
recuperação não é dogma científico. Para honra da Humanidade,
não são raros os casos em que, incentivados por medidas penais
salutares, condenados abjuraram a vida de crimes, redimiram-se de
suas faltas e retornaram à comunhão social, tornando-se cidadãos
prestantes.
— Opor-se à progressão de regime – direito que a lei assegura
ao condenado em condições de o merecer – fora mais do que
obstar-lhe a reintegração social, porque seria matar-lhe a esperança,
“que é o último remédio que deixou a natureza a todos os males” (Vieira,
Sermões, 1682, t. II, p. 87).
163

Voto nº 4916
“Habeas Corpus” nº 447.204/4
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Não há que opor à decisão que, embora pendente recurso do


Ministério Público, determina a expedição de guia provisória de
recolhimento a favor de réu preso, condenado a cumprir pena sob o
regime prisional semiaberto, pois mesmo que provido o recurso,
está obrigado às condições do regime recluso (inexistirá, portanto, o
“periculum in mora”, o risco de fuga do sentenciado à execução da
pena ou algum prejuízo para a sociedade).
— Ao dispor que a guia de recolhimento provisória será expedida
“quando do recebimento de recurso da sentença condenatória”, o Provimento
nº 653/99, do egrégio Conselho Superior da Magistratura não excetua
hipótese em que recorrente seja a Acusação. Donde se infere, à luz
de hermenêutica tradicional, que, ainda no caso de ter apelado
o Ministério Público, o Juiz da condenação expedirá guia de
recolhimento provisória ao réu preso. “Ubi lex non distinguit nec nos
distinguere debemus”.
— Também os que violaram a ordem jurídica e social têm seus
direitos; ainda o mais vil dos homens não decai nunca da proteção
da Lei. A presteza com que encaminha o réu para a Vara das
Execuções Criminais serve de timbre de honra do Juízo da
condenação, não de labéu (art. 105 da Lei de Execução Penal).
— Fere os princípios da Justiça e repugna à consciência jurídica
submeter o réu condenado a efeitos mais graves do que os
estipulados no título executório, mesmo no caso de ter sido
interposto recurso pela Acusação.
— É princípio geralmente recebido que não configura constrangimento
ilegal a permanência do réu no regime fechado, se o Juiz deu todas
as providências que lhe estavam ao alcance para removê-lo ao
semiaberto. É que todo processo penal, mesmo na fase de execução
da sentença, está sujeito a contingências inexoráveis, que não pode o
Magistrado prevenir nem remediar.
164

Voto nº 732
Agravo em Execução nº 1.081.735/9
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— A transferência do condenado ao regime semiaberto não o subtrai


de todo às cautelas nem vigilâncias: continuará na prisão. Pela
confiança que nele depositou a Justiça, olhando por sua readaptação
e futuro reingresso na comunhão social, haverá decerto o
sentenciado de lhe dar estritas contas.
—“Não se deve apagar no homem a chama da esperança, que um longo
encarceramento destruiria” (João Baptista Herkenhoff, Uma Porta
para o Homem no Direito Criminal, 2a. ed., p. 170).

Voto nº 2501
Agravo em Execução nº 1.220.355/5
Art. 112 da Lei de Execução Penal

— Se tem histórico de dedicação ao trabalho (o melhor instrumento de


promoção humana) e ao estudo (a luz da vida), além da opinião
favorável da direção do presídio, faz jus à progressão o sentenciado
que houver descontado, no regime anterior, 1/6 de sua pena.
— A pena longa não é óbice à progressão de regime, se o sentenciado
tiver dela cumprido já, com boa conduta carcerária, a sexta parte
(necessariamente longa).
— Conquanto o Juiz não esteja adstrito ao laudo pericial, não é de bom
conselho fazer tábua rasa nem auto de fé da opinião dos expertos.
Aquele que tratou diretamente com o sentenciado – e , “ex professo”,
deu-o em condições de receber benefícios da Justiça – esse
unicamente pode ser refutado com argumentos irreplicáveis, sob
pena de injúria à reta razão, ao direito e à equidade.
165

Voto nº 3308
“Habeas Corpus” nº 392.744/1
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Sob pena de descumprimento de determinação expressa de órgão


colegiado do Poder Judiciário, emanada de acórdão com trânsito em
julgado, a remoção do condenado a estabelecimento penal próprio
do regime semiaberto não depende senão do “exequatur” do Juízo
de Direito da Vara das Execuções Criminais.
— É gênero grande de injustiça agravar, sem razão de direito, a sorte
do condenado. Assim, desde que lhe fixou a sentença o regime
semiaberto para o cumprimento da pena, será violência mantê-lo
sob o regime fechado.
— No caso de falta de vaga em presídio adequado ao semiaberto, é de
razão e justiça aguarde o sentenciado, no regime aberto, sob a
forma de prisão domiciliar, a efetivação de sua transferência.
—“Fazer justiça não é, em muitos casos, obedecer à lei e, sim, obedecer ao
direito, que é a fonte da lei” (Eliézer Rosa, A Voz da Toga, 1a. ed.,
p. 49).
—“Não há sentimento mais confrangente que o da privação da justiça” (Rui,
Obras Completas, vol. XL, t. VI, p. 202).
166

Voto nº 3331
“Habeas Corpus” nº 393.196/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 185 da Lei de Execução Penal

— Em bom direito, deve o condenado cumprir sua pena no regime


prisional que lhe fixou a sentença, aliás haverá desvio de execução
(art. 185 da Lei de Execução Penal).
— É questão fria nos Tribunais não constituir constrangimento ilegal
reparável por “habeas corpus” breve demora na remoção do
condenado para o presídio adequado ao regime estabelecido na
sentença, desde que, por alcançá-lo, tenha dado o Juiz as
providências que lhe cabiam. Aquele que fez quanto podia, não
estava obrigado a mais (“Nemo tenetur ad impossibilia”).

Voto nº 3987
“Habeas Corpus” nº 417.244/9
Art. 157, “caput”, do Cód. Penal;
art. 35 do Cód. Penal;
art. 117 da Lei de Execução Penal

— É gênero grande de injustiça agravar, sem razão de direito, a sorte


do condenado. Assim, desde que lhe fixou a sentença o regime
semiaberto para o cumprimento da pena, será violência mantê-lo
sob o regime fechado.
— No caso de falta de vaga em presídio adequado ao semiaberto, é de
razão e justiça aguarde o sentenciado, no regime aberto, sob a
forma de prisão domiciliar, a efetivação de sua transferência.
— Pode e deve o Juiz “optar pela interpretação que mais atenda às
aspirações da Justiça e do bem comum” (Min. Sálvio de Figueiredo,
Revista do Superior Tribunal de Justiça, vol. 26, p. 384).
167

Voto nº 4365
Mandado de Segurança nº 427.918/9
Arts. 112 e 197 da Lei de Execução Penal

—“Cremos não ser justo nem legal que, por deficiência do sistema
penitenciário, seja (o condenado) constrangido a cumprir pena no regime
fechado mais tempo do que a lei determina” (Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 17a. ed., p. 606).
— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério
Público de legitimidade para impetrar mandado de segurança com
o intuito de alcançar efeito suspensivo a agravo em execução, que o
não tem; falece-lhe a pertinência subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito
suspensivo ao agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução
Penal. Não se presumem, na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado
aforismo jurídico. É para supor que, nos casos sob o regime da
Lei nº 7.210/84, como nos mais, decidam os Juízes com acerto. “Os
Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da Silveira, Dicionário
de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).

Voto nº 5860
“Habeas Corpus” nº 472.323-3/3-00
Art. 33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal;
arts. 93 e 185 da Lei de Execução Penal

— Em bom direito, deve o condenado cumprir sua pena no regime


prisional que lhe fixou a sentença, aliás haverá desvio de execução
(art. 185 da Lei de Execução Penal).
— Dado que o regime aberto é modalidade de cumprimento da
pena privativa de liberdade, não configura constrangimento ilegal
reparável por “habeas corpus” a expedição de ordem de prisão contra
o réu e seu encaminhamento ao estabelecimento penal adequado,
primeiro que o Magistrado lhe assine data para a audiência
admonitória (art. 33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal; art. 93 da Lei de
Execução Penal).
VII. Casos Especiais: Reprodução
Integral do Voto
PODER JUDICIÁRIO

1
T RIBUNAL DE A LÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA C ÂMARA

Apelação Criminal nº 1.115.453/6


Comarca: São Paulo
Apelantes: EJS e Ministério Público
Apelados: Os mesmos

Voto nº 1105
Relator

Declaração de Voto (vencedor)

— Bem hajam os que, no terrível e grave


ofício de dispensar justiça, trazem
sempre diante dos olhos aquela alta
sentença de Salomão, o mais sábio dos
homens: “Noli esse justus multum”, que
em linguagem significa: Não sejas por
demasiado justo (Ecl 7,17). E aqueloutra
do imortal Cícero: “Summum jus, summa
injuria” (De Officiis, I, 10). Em vulgar: A
suma justiça converte-se em suma
iniquidade.
172

— Não há proibição legal de que o Juiz


conceda ao condenado não-reincidente a
pena inferior a 8 anos o benefício do
regime semiaberto; o Código Penal, o
que veda às expressas é que se conceda
ele ao réu condenado a pena superior a
8 anos (não importando se primário), ou
ao reincidente, cuja pena seja superior a
4 anos.
—“A pena-retributiva jamais corrigiu
alguém” (Nélson Hungria, Comentários
ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I,
p. 14).
— O cárcere: o pior lugar do mundo, antes
do cemitério!

(O eminente Juiz-Relator houve a bem reconsiderar


seu voto, exatamente no ponto da divergência, depois
que este revisor proferiu o seu. No julgamento dos
recursos – da Defesa e do Ministério Público –, não
houve portanto dissenso entre os integrantes da turma
julgadora. Peço vênia, destarte, para declarar meu voto
como o proferi).

1. Divergi, com bem de pesar meu, do voto do Exmo.


Sr. Juiz Relator, Dr. Vidal de Castro, na parte em que
provia o recurso do Ministério Público em ordem a
modificar para fechado o regime prisional do réu.

Nas mais das vezes, acompanho, edificado, os votos


que profere Sua Excelência, pois ostentam sempre o
timbre de magnífico senso judicante.
173

No caso, porém, estou em que a melhor solução era


aquela que, atendendo aos preceitos da Justiça, aplicasse
o Direito sem agravar o rigor da Lei.

2. Foi lançado o nome do réu no livro dos convictos


porque, usando de violência, subtraiu de Márcia Pereira
de Souza, que caminhava pela Rua Elias Casseb (Santa
Mônica), nesta Capital, a horas mortas da noite, sua
bolsa e o que nela se continha (documentos e dinheiro).

Praticado o roubo, o malfeitor deitou a correr. Foi


detido, porém; as coisas roubadas, essas a vítima reouve.

Consistiu a violência do réu contra a vítima em


puxar-lhe os cabelos e desferir-lhe pontapés.

Populares, contudo, tanto que o alcançaram,


regalaram-no com pancadas, e aí mesmo lhe teriam
dado cabo da vida não tivessem intervindo, em
momento providencial, policiais militares que
arrebataram o réu às mãos do vulgo indignado e o
entregaram aos médicos de plantão no Pronto-Socorro
de Pirituba.

3. A r. sentença de fls. 128/134 condenou o réu a


cumprir, no regime semiaberto, a pena de 4 anos de
reclusão e 10 dias-multa, por infração do art. 157,
“caput”, do Código Penal.
174

Apelaram as partes: o réu suscitou preliminar de


nulidade do processo, por terem sido juntados aos autos
documentos, sem fosse dado vista deles à Defesa; no
mérito, pleiteou absolvição, por falta de prova (fls.
156/166); o Ministério Público, pelas razões de fls.
139/143, pôs a mira na alteração do regime prisional do
réu para fechado.

Pelo que respeita ao recurso do réu, não era mesmo


de provê-lo, como o expôs em voto brilhante o ilustre
Juiz-Relator.

Quanto à prejudicial, afigura-se de todo improcedente,


porque, ao manifestar-se a Defesa nos termos e para os
fins do art. 500 do Código de Processo Penal, os laudos
de fls. 99/100 e as certidões de fls. 106/107 já se
encontravam nos autos; não podia, a essa conta,
desconhecer-lhes a existência.

Também no âmbito do mérito o apelo do réu não


tinha condições de ser provido, uma vez que assim a
materialidade do roubo como sua autoria ficaram
terminantemente comprovadas. Absolvição, destarte,
nem por sombras!

4. De igual passo que o recurso da Defesa, tenho


comigo que não deve ser acolhido o da Acusação, ainda
que se louvem os dotes de espírito e a diligência de seu
mui digno subscritor.
175

O alvo a que atira seu inconformismo é,


unicamente, a modificação do regime de cumprimento
da pena privativa de liberdade para fechado.

Ao réu fixou a sentença o regime semiaberto, firme


nos seguintes argumentos:

a) é o acusado primário e de bons antecedentes;

b) apesar de condenado por roubo, foi na modalidade


simples, sem o emprego de arma de fogo (fl. 133).

Não entra em dúvida que o Magistrado, ao dar de


mão ao regime prisional mais gravoso para o réu,
houvera-se com raro aviso e prudência.

Obrou com a circunspecção dos que, no terrível e


grave ofício de dispensar justiça, trazem sempre diante
dos olhos aquela alta sentença de Salomão, o mais sábio
dos homens: “Noli esse justus multum”, isto é, não sejas por
demasiado justo (Ecl 7,17).

E aqueloutra do imortal Cícero: “Summum jus,


summa injuria” (De Officiis, I, 10: A suma justiça converte-
-se em suma iniquidade).

Ora:

Não há proibição legal de que o Juiz conceda ao


condenado não-reincidente a pena inferior a 8 anos o
benefício do regime semiaberto; o Código Penal, o que
176

veda às expressas é que se conceda ele ao réu condenado


a pena superior a 8 anos (não importando se primário),
ou ao reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos.

5. À derradeira, o que sejam nossas prisões ninguém o


ignora. Desde Beccaria, que lhes chamou horríveis
mansões do desespero e da fome (Dos Delitos e das Penas,
§ VI) e, antes dele, o egrégio Vieira, para quem o
cárcere era meia-sepultura (Sermões, 1959, t. XV, p. 276),
há um consenso em derredor do termo prisão: é o pior
lugar do mundo, antes do cemitério!

O emérito desembargador Azevedo Franceschini


afirmou, em livro precioso: “(…) em relação à maioria dos
presídios brasileiros, não se defere aos recolhidos nem aquilo
que nos zoológicos aos animais se proporciona!” (Tóxicos,
1973, p. 67). É aí que milhares de desgraçados
cumprem suas penas!

Daqui por que, em certos casos em que a lei o


faculta, deve o Juiz afastar dos lábios do réu a taça
amarga do regime recluso, causa e ocasião de frequentes
e irreparáveis malefícios à personalidade do condenado.

Sirvam-lhe de inspiração estas palavras do ínclito


Nélson Hungria:

“A lição, a experiência dos acontecimentos do mundo atual


me levaram a uma revisão de meu pensamento, para
renegar, para repudiar, de uma vez para sempre, a
177

pena-castigo, a pena-retribuição, que de nada vale e é


de resultado ineficaz. A pena-retributiva jamais corrigiu
alguém” (Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed.,
vol. I, t. I, p. 14).

Por este padrão de raro aviso têm decidido nossos


Tribunais, como se colhe dos venerandos acórdãos
proferidos em casos semelhantes ao dos autos:

a) “É inadmissível o agravamento do regime inicial de


cumprimento de pena, de semiaberto para o fechado,
fundado, de modo vago e simples, na periculosidade e
na personalidade do agente, pois, nos termos do art.
33, § 3º, do Cód. Penal, a determinação do regime
inicial deverá ser fixada com observância dos critérios
previstos no art. 59 do mesmo diploma” (Rev. Tribs.,
vol. 752, p. 521; STF; rel. Min. Ilmar Galvão);

b) “O estabelecimento do regime prisional fechado para


o condenado pela prática de roubo não decorre,
inevitavelmente, de sua natureza, devendo o
Magistrado observar os critérios do art. 59 do Cód.
Penal, pois, se a Lei não impõe tal regime ao roubo
como faz com os crimes hediondos, o Juiz não pode
agir assim, sob pena de praticar inadmissível
analogia in malam partem” (RJTACrimSP, vol.
30, p. 280; rel. Eduardo Pereira).

c) “Em se tratando de crime de roubo qualificado pelo


emprego de arma, sendo o réu primário, cuja conduta
não indica reprovação exacerbada, é possível a fixação
178

do regime prisional semiaberto, sendo certo que o


estabelecimento da modalidade fechada pela só
gravidade do delito não encontra amparo legal,
estando o Juiz vinculado aos critérios previstos no art.
59 do Cód. Penal, consoante dispõe o art. 33, § 3º, do
mesmo diploma” (RJTACrimSP, vol. 36, p. 116;
rel. Ricardo Feitosa).

É a notar, por fim, que o próprio Ministério


Público de Segunda Instância, em parecer a um tempo
lúcido e judicioso do Dr. Antonio de Pádua Bertone
Pereira, não apadrinhou a pretensão do recorrente;
preferiu ratificar a r. decisão recorrida, com estas
palavras formais: “Aqui, tudo indica que o crime tratou-se
de fato isolado na vida do apelante Émerson, motivo pelo qual
o regime semiaberto pode funcionar como um fator decisivo
em sua recuperação. Assim, opino pela sua manutenção”
(fl. 195).

6. Destarte, pelo meu voto, nego provimento a ambos os


recursos.

São Paulo, 20 de setembro de 1998


Carlos Biasotti
Revisor
PODER JUDICIÁRIO

2
T RIBUNAL DE J USTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA C ÂMARA — S EÇÃO C RIMINAL

“Habeas Corpus” nº 1.142.670-3/6-00


Comarca: São Paulo
Impetrante: FVS
Paciente: O mesmo

Voto nº 9618
Relator

— Embora praxe vitanda, não configura


constrangimento ilegal a permanência
do condenado em estabelecimento penal
próprio do regime fechado, enquanto
aguarda vaga no semiaberto. Ditada por
força maior ou razão de ordem superior
invencível, tal situação cai na esfera da
previsão humana: todo o infrator sabe
que, delinquindo, sua liberdade poderá
ser coartada em grau menor ou maior.
180

— Pretender o condenado passar desde


logo ao regime aberto, como forma de
iludir o rigor da espera, será tripudiar
sobre o direito de outros sentenciados
que há mais tempo aguardam a
efetivação da transferência para o
estágio intermediário, além de fazer
injúria à própria sociedade, que tem o
direito de exigir do infrator a reparação,
em forma de pena retributiva, do dano
que lhe causou com o seu crime.
— Ainda o mais vil dos homens não decai
nunca da proteção da lei, pelo que deve
o Juiz olhar sempre não se dilate além
da marca o tempo de privação da
liberdade daquele que, em tese, já
poderia ter passado a estágio mais
brando de cumprimento de pena (art.
112 da Lei de Execução Penal).

1. FVS requer a este Egrégio Tribunal, em causa


própria, ordem de “Habeas Corpus”, com pedido liminar,
sob o argumento de que sofre coação ilegítima em seu
direito de locomoção, por parte do Excelentíssimo
Senhor Secretário da Administração Penitenciária do
Estado de São Paulo.

Alega, na petição manuscrita de fls. 2/10, que, tendo


cumprido sob o regime fechado 1/6 de sua pena e
preenchido os requisitos legais, foi promovido ao
semiaberto em 15.6.2007.
181

Acrescenta que, no entanto, continuava em


estabelecimento próprio do regime fechado –
Penitenciária “Álvaro de Carvalho” –, o que, a seu aviso,
constituía ofensa a direito legítimo.

Destarte, requer a concessão da ordem para que


aguarde sob o regime aberto, em prisão-albergue
domiciliar, a vaga no estabelecimento adequado.

O pedido acompanha-se de cópias de peças


processuais (fls. 7/9).

O despacho de fls. 11/14 denegou a medida liminar.

Prestou as informações de praxe a mui digna


autoridade indicada como coatora: esclareceu que, aos
15.6.2007, deferiu ao paciente progressão ao regime
semiaberto.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em firme


e avisado parecer do Dr. João Antônio Marchi, opina
pela denegação da ordem (fls. 26/31).

É o relatório.
182

2. Conquanto haja decisões colegiadas de grande peso


e estofo que apadrinhem a tese exposta na impetração,
tenho que não procede o pleito do paciente, visto não
sofre constrangimento algum.

De feito, embora praxe vitanda a de o Estado


conservar condenado em presídio de regime diverso do
que lhe foi deferido, tal solução, de caráter emergencial,
tem sido ditada por motivos de força maior.

À SAP (Secretaria de Administração Penitenciária


do Estado de São Paulo), é sabido, toca a pensão de
remover o condenado para estabelecimento de regime
semiaberto, mediante o sensato e justo critério da
precedência de tempo. Mas, porque escasseiam vagas, é
força aguardem os sentenciados, no regime anterior, sua
promoção.

Tal espera, suposto indesejável, não configura


coação ilegítima: à uma, porque acarretada por força
maior, ou razão de ordem superior invencível; à outra,
porque isto de ter o sentenciado de aguardar a
oportunidade de remoção a estabelecimento penal
próprio do regime semiaberto, condicionada à
existência de vaga, é sucesso que está dentro do círculo
da previsão humana: todo o infrator sabe que,
delinquindo, sua liberdade poderá ser coartada em grau
menor ou maior; à derradeira, pretender o condenado
passar desde logo ao regime aberto, como forma de
iludir o rigor da espera, seria tripudiar sobre o direito
183

de outros sentenciados que há mais tempo aguardam


a efetivação de sua transferência para o regime
intermediário, além de fazer injúria à própria sociedade,
que tem o direito de exigir do infrator a reparação, em
forma de pena retributiva, do dano que seu crime lhe
causou.

Por esta bitola têm decidido nossos Tribunais, como


o demonstram os brilhantes acórdãos abaixo transcritos
por suas ementas:

a) “A execução da pena em regime diverso do indicado


na sentença não vicia de ilegalidade a coação,
quando presente motivo de força maior, como tal
devendo ser considerada a inexistência de vaga em
estabelecimento penal apropriado” (TACrimSP; HC
nº 205.040/7; rel. Corrêa de Moraes);

b) “(…) a inexistência de vaga não transforma a


autoridade judiciária em coatora, já que, repita-se,
compete a funcionários do Poder Executivo
providenciar a vaga necessária” (RJTJESP, vol.
116, p. 533; rel. Renato Talli; apud Alberto
Silva Franco et alii, Código de Processo Penal e sua
Interpretação Jurisprudencial, 1999, vol. II, p.
3.314).
184

Em suma: não comprovou o impetrante, além de


toda a dúvida, estar a sofrer constrangimento ilegal.

3. Pelo exposto, denego a ordem de “habeas corpus”.

São Paulo, 27 de dezembro de 2007


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

3
T RIBUNAL DE A LÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA C ÂMARA

Agravo em Execução nº 1.126.591/7


Comarca: São Paulo
Agravante: JMS
Agravado: Ministério Público

Voto nº 1276
Relator

— No geral consenso dos penitenciaristas,


a progressão de regime é fato de tal
relevância na vida carcerária, que ao
preso que já satisfez o requisito objetivo
– cumprimento de 1/6 da pena no regime
anterior (art. 112 da Lei de Execução
Penal) – somente se haverá denegar se
conspirarem circunstâncias por demais
graves e de todo inconciliáveis com a
outorga do benefício.
186

— Aquele a quem, na puerícia e na


juventude, faltaram os fortes laços de
família bem constituída, capazes de
defendê-lo das quedas e transvios, não é
muito que, pela vida fora, ostente na
alma alguns estigmas indeléveis, pois o
costume de casa é o que vai à praça.
— “Os homens formam sua personalidade
dentro da sociedade em que vivem”
(Ingenieros; in Revista Brasileira de
Criminologia e Direito Penal, 1954, nº 1,
p. 111).
—“Deve o rigor do castigo temperar-se sempre
com a moderação da clemência” (Manuel
Bernardes, Nova Floresta, 1728, t. V,
p. 466).

1. Contra a r. sentença proferida pelo MM. Juízo de


Direito da Vara das Execuções Criminais da Comarca
da Capital, que lhe indeferiu pedido de progressão ao
regime semiaberto, interpôs recurso de Agravo em
Execução para este Egrégio Tribunal, com o intuito de
reformá-la, JMS.

Argumenta sua dedicada e culta patrona que o


agravante faz jus à promoção de regime, uma vez
atendeu aos requisitos legais. De sua pena, com efeito,
já cumpriu, no regime fechado, para mais de 2/5, com
boa conduta carcerária. Acrescenta que alguns senões
que lhe atribui o parecer da Equipe Técnica não se
187

mostram poderosos a incapacitá-lo à obtenção do


benefício. Tais insuficiências, afirma a distinta advogada
da Procuradoria-Geral do Estado, devem-se à estrutura
mesma do sistema penitenciário, que não permite que
todos os reeducandos se dediquem à laborterapia.
Pleiteia, por isso, o provimento do agravo, a fim de que
o recorrente seja transferido ao regime intermediário
(fls. 25/29).

Apresentou a digna Promotoria de Justiça


contraminuta de agravo, em que repele a pretensão do
sentenciado, visto carece de requisito subjetivo (mérito).
Propugna, enfim, a confirmação da r. decisão recorrida
(fls. 32/33).

O r. despacho de fl. 34 manteve a decisão recorrida.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


incisivo parecer do Dr. Shiguenobu Kawano – para
quem o agravante ainda não assimilou a terapêutica
penal nem inspira confiança de que se adaptará ao
segundo estágio de cumprimento de pena –, opina
pelo improvimento do recurso (fls. 39/40).

É o relatório.
188

2. Em cumprimento da pena de 5 anos e 4 meses de


reclusão, que lhe impôs o MM. Juízo de Direito da 19a.
Vara Criminal da Comarca da Capital, por infração do
art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código Penal, acha-se preso e
recolhido na Casa de Detenção, desde 25.10.96.

Requereu progressão ao regime semiaberto.

A douta e culta Magistrada indeferiu-lhe, no


entanto, a pretensão, forte no argumento de que não
satisfazia os requisitos subjetivos (fls. 18/19).

Dessa decisão foi que o sentenciado agravou, na


esperança de alcançar da colenda Câmara o benefício
que lhe denegou a Primeira Instância (fls. 25/29).

3. É de prover o recurso do agravante para deferir-lhe


o benefício que pleiteia, ainda que respeitáveis
argumentos pudessem persuadir o contrário.

No geral consenso dos penitenciaristas, a progressão


de regime é fato de tal relevância na vida carcerária, que
ao preso que já satisfez o requisito objetivo do tempo –
cumprimento de 1/6 da pena no regime anterior (art. 112
da Lei de Execução Penal) – somente se haverá denegar
se conspirarem circunstâncias por demais graves e de
todo inconciliáveis com a outorga do benefício.
189

Tais óbices, não os vejo no caso de que se trata.

É o agravante réu primário e uma só vez infringiu a


lei penal (fl. 8).

De seus assentamentos disciplinares não consta nota


desabonadora.

O teor de seu proceder carcerário foi considerado


bom (fl. 9).

O parecer da Equipe Técnica, é certo, contrariou-


-lhe a pretensão, in verbis: “imaturidade emocional, frágeis
mecanismos contensores e crítica superficial” (fl. 12).

Tal conclusão, entretanto, não impediu seus


membros de reputar o crime do agravante por
“circunstancial e fato isolado em sua história pregressa”
(fl. 11) e afirmar que “está assimilando o processo de
reeducação” (fl. 12).

Da síntese da avaliação de fl. 11 consta que à


assistente social o “reeducando relatou uma história de vida
problemática marcada pela precariedade nos seus diversos
níveis. Infância e adolescência caracterizadas pela ausência de
uma base familiar consistente”.
190

Ora, aquele a quem, na puerícia e na juventude,


faltaram os fortes laços de família bem constituída,
capazes de defendê-lo das quedas e transvios, não é
muito que, pela via fora, ostente na alma alguns
estigmas indeléveis, pois o costume de casa é o que vai à
praça, conforme o refrão.

Donde a lição clássica de Ingenieros:

“Os homens formam sua personalidade dentro da


sociedade em que vivem. A herança biológica constitui o
temperamento e se traduz por tendências; a educação
constitui a experiência individual. A personalidade é o
resultado das variações de herança, mediante a educação,
e é sempre um produto social, é representada pelo caráter
e se manifesta pela conduta” (in Revista Brasileira de
Criminologia e Direito Penal, 1954, nº 1, p. 111).

O que fica dito, ainda quando não justificasse o


procedimento do agravante, haveria certamente de
atenuar o rigor com que o avaliou a Comissão Técnica.

Assim, o parecer da Diretoria da Casa de Detenção


– que recomendou o atendimento ao benefício (fl. 14)
– é o que tenho pelo mais acertado: à uma, porque, em
contacto permanente com o reeducando, o Diretor do
presídio é quem melhor houvera de conhecê-lo. No
caso, patrocinando-lhe o pedido de progressão de
191

regime, nisto mesmo deu a conhecer que o agravante


possuía méritos; à outra porque, suposto convole para o
regime intermediário, continuará o recorrente na
prisão; à derradeira, “deve o rigor do castigo temperar-se
sempre com a moderação da clemência” (Manuel Bernardes,
Nova Floresta, 1728, t. V, p. 466).

A este voto de confiança que lhe está depositando,


espera a Justiça que o agravante saiba lealmente
corresponder!

4. Pelo exposto, dou provimento ao agravo em execução


para deferir ao sentenciado regime semiaberto.

São Paulo, 14 de dezembro de 1998


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

4
T RIBUNAL DE A LÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA C ÂMARA

Apelação Criminal nº 1.063.637/7


Comarca: São José do Rio Preto
Apelante: AM
Apelado: Ministério Público

Voto nº 613
Relator

— “Quando grosseiramente inverossímil, a


defesa do réu é mais um indício de sua
culpabilidade” (Nélson Hungria, in
Jurisprudência, vol. 13, p. 236).
— Infringe o preceito do art. 171 do Cód.
Penal aquele que, para obter vantagem
ilícita, vende como próprio imóvel
alheio, mediante o ardil da elaboração
de contrato ideologicamente falso,
induzindo assim vítimas em erro e
causando-lhes prejuízo.
193

— Em circunstâncias especiais, que saberá


identificar, pode o Juiz deferir o
benefício do regime aberto a reincidente
que não revele acentuado grau de
periculosidade como, “verbi gratia”, o
condenado por estelionato. É que a
prisão, muita vez, atinge “inocentes, como
são a esposa e filhos do criminoso, privados,
sem culpa, de subsistência e do convívio do
chefe de família” (Magarinos Torres;
apud José Luís Sales, Da Suspensão
Condicional da Pena, 1945, p. 13).

1. Inconformado com a r. sentença proferida pelo


MM. Juízo de Direito da 4a. Vara Criminal da
Comarca de São José do Rio Preto, que o condenou a
cumprir, em regime semiaberto, a pena de 1 ano e 6
meses de reclusão e a pagar 15 dias-multa, no valor
unitário de meio salário mínimo, por infração do art.
171 do Código Penal, apela AM para este Egrégio
Tribunal, com o fito de reformá-la.

Alega, por seu dedicado e ilustre patrono, que a r.


decisão recorrida fizera rosto à prova dos autos; jamais
se intitulara dono do imóvel que vendera à vítima; não
na ludibriara em momento algum; pela ausência de
fraude, tornara-se o fato penalmente atípico; visto não
cometera crime, será força que o Tribunal o absolva
(fls. 298/309).
194

O douto representante do Ministério Público, em


bem elaboradas contrarrazões, refutou os argumentos
expendidos pela defesa e pugnou pela manutenção da r.
sentença condenatória (fls. 311/315).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


detido e criterioso parecer do Dr. João Machado de
Araújo Neto, opina pelo improvimento do recurso
(fls. 322/324).

É o relatório.

2. Ainda que louvável o empenho do nobre defensor


do réu, não colhem, “data venia”, as razões do recurso,
pois que a r. decisão apelada se mostra superior a toda a
censura.

O apelante, na real verdade, perpetrou crime de


estelionato: vendeu a terceiro, mediante fraude, imóvel
que lhe não pertencia. O corpo de delito é o
instrumento particular de compromisso de venda e
compra, entranhado nos autos (fl. 7). Dele consta,
substancialmente, que o apelante, no dia 12 de agosto
de 1993, cedeu à vítima Célio Francisco de Assis, pelo
preço ajustado de CZ$ 90.000,00 (noventa mil cruzeiros
reais), padrão monetário da época, seus direitos sobre
uma chácara com 1.000 m2, encravada no Loteamento
São Pedro, no município de São José do Rio Preto.
195

Com o intuito de nele edificar, foi a vítima certo dia


ao terreno. Lá encontrou uma placa na qual se lia o
nome de outra pessoa, que estava já a realizar
benfeitorias.

Aí a vítima caiu na conta de que o réu lhe embaíra a


fé e embolsara o seu dinheiro (fl. 64).

O apelante, este se defendeu, afirmando que fora


apenas corretor na transação imobiliária. A quantia
em dinheiro que recebera da vítima ele a entregara
ao proprietário do imóvel, José Antônio Navarrete
Ferreira, após deduzir sua comissão de 40% (fl. 52).

Navarrete, no entanto, inquirido na instrução


criminal, asseverou que “nunca recebeu dinheiro do
acusado” (fl. 69). Disse mais: “nunca deu autorização para
o acusado vender lotes em seu nome naquele loteamento”
(ibidem).

As escusas do réu, portanto, não primaram pela


veracidade.

Aliás, de que eram precárias e coxas, bem o


persuade a circunstância de que o apelante não pediu a
Navarrete recibo da importância correspondente à
venda do terreno; tampouco lhe exigiu Navarrete recibo
do pagamento da polpuda comissão de 40%.
196

A ser verdadeira a alegação do réu, de que entregara


“o dinheiro nas mãos de José Antônio Navarrete Ferreira”
(fl. 52) e, sem dúvida, teria dado mau testemunho de si
mesmo, porquanto fora desmarcada ingenuidade não
lhe haver exigido recibo.

Seria, no entanto, menos grave do que falsear a


verdade! Increpação esta desprimorosa, que o réu
somente pudera afastar, no caso que, segundo a regra
do art. 156 do Código de Processo Penal, provasse o
alegado, i.é., que passara às mãos de Navarrete o
dinheiro referente à venda da chácara à vítima.

Se não, é concluir com o exímio Nélson Hungria:

“Quando grosseiramente inverossímil, a defesa do


réu é mais um indício de sua culpabilidade” (in
Jurisprudência, vol. 13, p. 236).

3. Ao vender como próprio imóvel alheio, causando


prejuízo a terceiro, mediante o ardil da elaboração de
contrato ideologicamente falso, infringiu o apelante o
preceito do art. 171 do Código Penal.

O venerando acórdão citado nas contrarrazões do


Ministério Público faz muito ao caso:
197

“A burla consistente na promessa firmada de compra e


venda de uma área de terras, sem que o promitente
vendedor tenha qualquer direito sobre elas, induzindo
as vítimas em erro, através de documentação sem força
de produzir efeitos e outros meios fraudulentos, obtendo,
assim, vantagem ilícita, em prejuízo das vítimas,
caracteriza o delito de estelionato” (Rev. Tribs., vol.
543, p. 395).

O esforço verdadeiramente hercúleo dos advogados


do apelante por demonstrar-lhe a inocência foi baldado
pela robustez e intensidade da prova que, de forma
inexorável, o argui da prática de estelionato.

Sua condenação, portanto, era o natural desfecho da


causa.

As penas, fixadas acima do mínimo legal à conta da


reincidência do apelante (fl. 43 v.), estão corretas e
merecem mantidas: 1 ano e 6 meses de reclusão e 15
dias-multa, no valor unitário de meio salário mínimo.

Reincidente, não tem jus aos benefícios da Lei nº


9.099/95.

4. Todavia, o regime prisional que lhe estipulou a


sentença recorrida (semiaberto), afigura-se-me, no caso,
excessivo, sobre desnecessário e inconveniente, a
despeito da nota de reincidência.
198

De feito, o delito que praticou o apelante, embora


reprobabilíssimo, não é dos que mais repugnam ao
sentimento ético médio da sociedade (como, v.g., os que
se acompanham de violência à pessoa).

Tem o réu profissão definida: corretor de imóveis


credenciado pelo CRECI (fl. 52).

É casado e pai de dois filhos (fl. 24). Seu


encarceramento, destarte, representaria grande mal não
só para si mesmo, senão para a família, como advertiu o
insigne Magarinos Torres:

“Prisão é um contrassenso que não regenera ninguém,


mas só revolta, por contrariar flagrantemente a
natureza humana, deturpando funções e, sobretudo,
atingindo inocentes, como são a esposa e filhos do
criminoso, privados, sem culpa, de subsistência e do
convívio do chefe de família” (apud José Luís Sales,
Da Suspensão Condicional da Pena, 1945, p. 13).

Este mesmo Egrégio Tribunal tem deferido o


benefício do regime aberto a “reincidentes que nem
sempre revelam acentuado grau de periculosidade”, como o
proclama ven. acórdão tirado à luz na Revista dos
Tribunais (vol. 731, p. 489; rel. Márcio Bártoli).
199

5. Isto posto, pelo meu voto, dou provimento parcial ao


recurso para conceder ao apelante regime aberto, mantida no
mais a r. sentença de Primeira Instância, proferida pelo
notável Juiz Dr. Emílio Migliano Neto.

São Paulo, 28 de outubro de 1997


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

5
T RIBUNAL DE A LÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA C ÂMARA

Apelação Criminal nº 1.147.557/2


Comarca: Sorocaba
Apelante: SPM
Apelado: Ministério Público

Voto nº 1452
Relator

— “As atenuantes não permitem a redução da


pena abaixo do mínimo previsto na lei para
o crime” (Rev. Trim. Jurisp., vol. 104,
p. 736).
— Isto de alguém confessar a autoria de
crime, sem expor juntamente cabais
razões que o justifiquem, o mesmo é que
fechar atrás de si a porta que deita para
o pátio da cadeia.
— Se, perante o Magistrado, o réu assumiu
francamente sua culpa, é bem que dele
se amerceie a Justiça. Essa, a que se
pudera chamar coragem moral, é digna
sempre de galardão, não só de louvores.
201

— Não repugna à Lei conceda o Juiz


regime semiaberto ao condenado não-
-reincidente, cuja pena não ultrapasse
8 anos (cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód.
Penal); somente lhe é defeso concedê-lo
a réu condenado a pena superior a
8 anos (ainda que primário), ou ao
reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.
— De quantos males afligem de presente a
Humanidade, nenhum disputa primazia
à terrível Aids, que arrebata ao indivíduo
aquilo que tem em maior preço: a vida.
— Uma casta de pessoas existe que merece,
por mui particulares circunstâncias,
especial atenção dos espíritos bem
formados, notadamente dos constituídos
em dignidade. Compõe-se daqueles que,
havendo decaído (ainda mal!) de seu
estado de liberdade, foram por isso
excluídos do convívio social: os
encarcerados!

1. Da r. sentença proferida pelo MM. Juízo de Direito


da 4a. Vara Criminal da Comarca de Sorocaba, que o
condenou a cumprir, sob o regime fechado, a pena de 5
anos e 4 meses de reclusão, por infração do art. 157,
§ 2º, nº I, do Código Penal, apela para este Egrégio
Tribunal, com o propósito de reformá-la, SPM.

Nas razões do recurso, apresentadas por esforçado e


culto defensor, insurge-se o réu contra a quantidade da
pena corporal que lhe infligiu a r. sentença e o regime
prisional fixado para seu cumprimento. Pretende a
202

modificação deste para aberto e a redução daquela,


à conta da circunstância atenuante da confissão
espontânea e de padecer moléstia grave; no mais, tem
por incensurável o decreto condenatório (fls. 151/156).

A digna Promotoria de Justiça, em alentadas e bem


escritas contrarrazões, repele os argumentos da Defesa
e propugna a confirmação da r. sentença apelada
(fls. 160/170).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


esmerado e sólido parecer do Dr. Antonio Augusto
Mello de Camargo Ferraz, opina pelo improvimento do
recurso (fls. 178/181).

É o relatório.

2. A condenação era de preceito, como o admitiu às


expressas o próprio apelante.

Deveras, em face de sua confissão irrestrita em Juízo


(fl. 36) e das declarações coincidentes da vítima e
testemunhas, que o deram, sem sombra de dúvidas,
como autor do roubo perpetrado no dia 8 de maio de
1998, cerca de 14h10, na Rua Coronel José de Barros
(Vila Amélia), em Sorocaba, na empresa Plano de Saúde
do Hospital Evangélico, toda a expectativa de absolvição
não passara de delírio de fantasia desordenada.
203

Com efeito, desde a mais remota antiguidade, isto


de alguém confessar a autoria de crime, sem expor
juntamente razões cabais que o justificassem, o mesmo
fora que fechar atrás de si a porta que deitava para o
pátio do cárcere.

Fazem muito ao propósito, por isso, estas palavras


do velho Garraud:

“A confissão que o acusado faz em justiça, isto é, quando


ele não pode desconhecer as consequências graves das suas
declarações, parece uma prova superior a todas as outras.
Habemus confitentem reum: a culpabilidade está
estabelecida, não falta senão aplicar a pena” (Compêndio
de Direito Criminal, 1915, vol. II, p. 208; trad. A.T.
de Menezes).

3. Com este recurso o apelante arma ao efeito de obter


a redução da pena privativa de liberdade, firme
no argumento da confissão espontânea, circunstância
atenuante obrigatória (art. 65, nº III, alínea d, do Cód.
Penal).

Mas, o nobre Magistrado, ao fixar-lhe a pena, houve


consideração às circunstâncias de que “o réu é primário e
confessou espontaneamente a prática da infração”; bem por
isto, aplicou-lhe a pena-base no mínimo legal (fl. 134).

Ora, é ditame consagrado pelo Pretório Excelso


que:
204

“As atenuantes não permitem a redução da pena abaixo


do mínimo previsto na lei para o crime” (Rev. Trim.
Jurisp., vol. 104, p. 736); apud Celso Delmanto,
Código Penal Comentado, 1a. ed., p. 105).

Em vista do que levo expendido, não há diminuir a


pena do réu, que isto implicaria ofender de frente o
direito positivo e fazer tábua rasa da jurisprudência
dominante nos Tribunais.

4. Pelo que respeita ao regime prisional estipulado pela


r. sentença ao réu (fechado), é possível abrandá-lo, sem
que, atenta a peculiaridade do caso dos autos, haja
agravo ao zelo da Justiça ou pedra de escândalo.

Em verdade, ante o ilustre Juiz que o interrogou,


assumiu o réu francamente sua culpa (fl. 36).

É bem, portanto, que dele se amerceie a Justiça.

Essa, a que se pudera chamar coragem moral, será


digna sempre não só de louvores, mas de galardão.

Ao demais, há informação nos autos de ser o réu


portador do vírus HIV (cf. fls. 14, 36, 88 e 93):

Desse doloroso tema – preso aidético – têm-se


ocupado com frequência as letras jurídicas:
205

De quantos males afligem de presente a


Humanidade, nenhum disputa primazia à terrível Aids,
que arrebata ao indivíduo aquilo que tem em maior
preço: a vida. Mensageira da morte, sobre todos exerce
implacável sua jurisdição. Poderosos e desvalidos,
celebridades e obscuros, bons e maus: ninguém está
seguro contra os efeitos de sua formidável tirania.

Uma casta de pessoas, contudo, existe que merece,


por mui particulares circunstâncias, especial atenção dos
espíritos bem formados, notadamente dos constituídos
em dignidade. Compõe-se daqueles que, havendo
decaído (ainda mal!) de seu estado de liberdade, foram
por isso excluídos do convívio social. Esses (os
encarcerados) inspiraram sempre alguns acentos de
compaixão no peito dos homens livres, ou porque,
carecedores do sumo bem da liberdade, a própria vida
lhes não devera parecer digna dos cuidados que lhe
reservamos, ou porque, postos em regime de
segregação, não lhes houveram de esquecer jamais
aquelas pungentes palavras com que o divino Dante
acrescentou o suplício dos réprobos: “Não há dor, que
maior seja, do que lembrar o tempo feliz nos dias da
desgraça” (Inferno, canto V; trad. Joaquim Pinto de
Campos).

Se a pena de prisão, ao aviso dos sujeitos eminentes


em ciências e letras, é já um mal, “porque inútil como
método penal e como fator de recuperação” (Evandro Lins e
Silva, A Defesa Tem a Palavra, 1980, p. 265), com
maioria de razão o será quando associada a castigo
206

corporal ainda mais aflitivo, como é a insidiosa


enfermidade que subjuga os portadores do vírus HIV,
quebrantando-lhes as energias e fazendo que, pelo
comum, de humanos só conservem a figura (cf. Execução
Penal, Visão do TACRIM-SP, 1998, p. 110; org. Caetano
Lagrasta Neto et alii).

À derradeira, não repugna à Lei conceda o Juiz


regime semiaberto ao condenado não-reincidente, cuja
pena não ultrapasse 8 anos (cf. art. 33, § 2º, alínea b,
do Cód. Penal); somente lhe é defeso concedê-lo a réu
condenado a pena superior a 8 anos (ainda que
primário), ou ao reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.

É que:

“Em se tratando de crime de roubo, em que a pena-base é


fixada no mínimo legal, não se pode estabelecer o regime
prisional mais grave, só em face da natureza do delito, o
que constitui a analogia in malam partem, por se estar
erigindo-o à conta de crime hediondo contra a previsão
legal” (RJDTACrimSP, vol. 28, p. 233; rel. Eduardo
Pereira).

Destarte, concedo ao apelante o regime intermediário.

Neste pouco, somente, me atrevo a modificar a r.


sentença que proferiu o distinto e culto Juiz Dr. César
Luís de Souza Pereira.
207

5. Isto posto, dou provimento parcial ao recurso para


deferir ao réu o benefício do regime semiaberto, mantida no
mais a r. sentença de Primeira Instância.

São Paulo, 11 de junho de 1999


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

6
T RIBUNAL DE J USTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA C ÂMARA — S EÇÃO C RIMINAL

Agravo em Execução nº 993.08.044220-7


Comarca: São Paulo
Agravante: Ministério Público
Agravado: CAAB

Voto nº 10.592
Relator

— Não há que opor à decisão que,


embora pendente recurso do Ministério
Público, determina a expedição de guia
provisória de recolhimento a favor
de réu preso, condenado a cumprir
pena sob o regime prisional fechado,
pois mesmo que provido o recurso e
exasperada a pena corporal, já lhe está
fixado o regime da última severidade;
inexistirá, portanto, o “periculum in
mora”, o risco de fuga do sentenciado à
execução da pena ou algum prejuízo
para a sociedade.
209

— Também os que violaram a ordem


jurídica e social têm seus direitos; ainda
o mais vil dos homens não decai nunca
da proteção da Lei. A presteza com que
encaminha o réu para a Vara das
Execuções Criminais serve de timbre de
honra do Juízo da condenação, não de
labéu (art. 105 da Lei de Execução Penal).
— Fere os princípios da Justiça e repugna
à consciência jurídica submeter o réu
condenado a efeitos mais graves do que
os estipulados no título executório,
mesmo no caso de ter sido interposto
recurso pela Acusação.
—“Admite-se a progressão de regime de
cumprimento da pena ou a aplicação
imediata de regime menos severo nela
determinada, antes do trânsito em julgado
da sentença condenatória” (Súmula nº 716
do STF).

1. Da r. decisão que proferiu o MM. Juízo de Direito


da Vara das Execuções Criminais da Comarca da
Capital, deferindo progressão de regime a Carlos
Alberto Alves Bezerra, interpôs recurso de Agravo em
Execução para este Egrégio Tribunal, com o intuito
de reformá-la, o ilustre representante do Ministério
Público.

Alega, preliminarmente, na minuta de agravo, que


não podia o nobre Magistrado ter concedido ao
réu progressão de regime, porque da r. sentença
condenatória pendia recurso de apelação interposto
pelo Ministério Público, o que não se conciliava com a
execução provisória do julgado.
210

Pleiteia, destarte, o provimento do recurso para


reformar a r. decisão de Primeira Instância, que
dispensara progressão de regime ao agravado (fls.
51/57).

A Defesa apresentou contraminuta, na qual


sustenta o acerto da r. decisão recorrida e propugna o
improvimento do agravo (fls. 80/82).

O r. despacho de fl. 83 manteve a r. decisão


agravada.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


firme e incisivo parecer do Dr. Carlos Fernandes
Sandrin, opina pelo provimento do recurso (fls. 85/87).

É o relatório.

2. Preso e recolhido no Centro de Detenção


Provisória de Osasco I, para cumprimento da pena de
9 anos e 2 meses de reclusão, no regime fechado,
requereu o sentenciado progressão para o regime
semiaberto e livramento condicional.

A Secretaria de Administração Penitenciária atestou,


para fins de progressão de regime, o bom comportamento
carcerário do agravado (fl. 5), condenado à pena total
de 9 anos e 2 meses de reclusão, pela prática de furto
qualificado, roubo e porte de arma.
211

A r. sentença de fl. 49 deferiu-lhe a progressão ao


regime semiaberto e indeferiu-lhe o benefício de
livramento condicional.

Não se conformou a digna Promotoria de Justiça


com o teor da r. decisão de Primeiro Grau e, a essa
conta, dela agravou para este augusto Tribunal de
Justiça, no intento de revogar a progressão de regime
que o MM. Juízo da Vara das Execuções Criminais da
Capital dispensara ao recorrido.

3. O agravado cumpriu para mais de 1/3 de sua pena


em regime fechado (fl. 30) e, pois, atendeu ao requisito
objetivo do art. 112 da Lei de Execução Penal.

Também os requisitos subjetivos a douta Magistrada


houve-os por satisfeitos: daqui o ter deferido ao
agravado a progressão ao regime semiaberto (fl. 49).

Salvo o devido respeito aos que sentiram o


contrário, tenho por mui digna de subsistir a decisão
recorrida, que faz honra a sua prolatora, a insigne Juíza
Dra. Luciana Caprioli Paiotti Figueiredo.

A arguição preliminar do agravante – de que,


tendo o Ministério Público apelado da sentença
condenatória, era impossível conceder ao réu
progressão de regime – não se recebe “sine grano
salis”, pois sofre temperamentos.
212

Na real verdade, a expedição da guia de


recolhimento para a execução da pena depende do
trânsito em julgado da sentença condenatória, como se
entende do teor literal do art. 105 da Lei de Execução
Penal.

Mas, para obviar às notórias deficiências materiais


do aparelhamento judiciário do Estado, com ingentes
prejuízos para os condenados, não há que opor à
iniciativa do Juiz que, tendo proferido sentença
condenatória, entra a prover acerca da expedição da
guia provisória de recolhimento, sem meter tempo em
meio.

O caráter precário (ou provisório) da guia supre


todo o discurso respectivamente à sua finalidade:
ensejar que o condenado, desde logo, passe a descontar
sua pena; prejuízo algum sofrerá o Estado, unicamente
se antecipará o início da execução da pena. Não foi
outro o espírito que presidiu à edição do Provimento nº
653/99 do egrégio Conselho Superior da Magistratura,
“in verbis”: “A guia de recolhimento provisória será
expedida quando do recebimento de recurso da sentença
condenatória, desde que o condenado esteja preso em
decorrência de prisão processual, devendo ser remetido ao
Juízo de Execução Criminal” (art. 1º).

Ao dispor que a guia de recolhimento provisória


será expedida “quando do recebimento de recurso da
sentença condenatória”, o Provimento não excetua
213

hipótese em que recorrente seja a Acusação. Donde se


infere, à luz de hermenêutica tradicional, que, mesmo
no caso de ter apelado o Ministério Público, o Juiz da
condenação expedirá guia de recolhimento provisória
ao réu preso. “Ubi lex non distinguit nec nos distinguere
debemus”.

4. Toda a preocupação com a segurança e bem-estar


da sociedade – alevantado objetivo a que atiram os
esforços do recorrente – é sempre cabível e merece
acoroçoada.

Não desconvém esquecer, no entanto, que também


os que violaram a ordem jurídica e social têm lá os seus
direitos, pois ainda o mais vil dos homens não decai
nunca da proteção da Lei.

A presteza com que encaminha o réu para a Vara


das Execuções serve de apanágio do Juízo da
condenação, não de labéu.

No caso que venha a ser provido o recurso e


exacerbado o castigo do réu isto não argui dificuldade:
à uma, porque a alteração do decreto condenatório
passaria por mera hipótese; à outra, porque estipulado
já o regime da última severidade (fechado), inexistiria o
“periculum in mora” ou risco de fuga do sentenciado
à execução da pena, pois somente lá para o diante
recobrará sua liberdade.
214

O ven. acórdão abaixo reproduzido por sua ementa


faz muito ao caso:

“Não se pode submeter o réu condenado a efeitos mais


graves do que os estabelecidos no título condenatório
recorrível, ainda mesmo que tenha sido interposto
recurso pela Acusação. Enquanto não for alterado, em
Segunda Instância, aquele título, nenhum efeito mais
grave produzirá contra o réu” (JTJ, vol. 221, p. 347;
rel. Celso Limongi).

À derradeira, a execução provisória está expressamente


prevista nas normas de serviço da Corregedoria Geral
da Justiça (Prov. nº 9/2000).

Em suma, visto se persuadira de que, no caso,


conspiravam os requisitos legais para sua concessão, a
nobre Magistrada deferiu ao agravado progressão ao
regime semiaberto, segundo os melhores de Direito e
os ditames da Jurisprudência.

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 26 de agosto de 2008


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

7
T RIBUNAL DE J USTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA C ÂMARA — S EÇÃO C RIMINAL

Agravo em Execução nº 1.021.893-3/0-00


Comarca: São Paulo
Agravante: Ministério Público
Agravado: JCGM

Voto nº 8735
Relator

— A internação no Regime Disciplinar


Diferenciado (RDD) – providência
“ultima ratio” para pôr cobro à
delinquência violenta organizada –
deve assentar em “fundadas suspeitas” (e
não apenas em vagos rumores) de que
o reeducando está subvertendo a
ordem interna do presídio (art. 52, §
2º, da Lei de Execução Penal). Como o
castigo é estipêndio de culpa somente,
em esta faltando não tem lugar a
punição.
216

— A vida pregressa de todo o sujeito serve


unicamente para individualizar-lhe a
pena; não é pedra de toque para a
aferição de sua culpabilidade.
—“A periculosidade de um indivíduo é
exclusivamente fundamento à medida de
segurança, não podendo servir como
elemento à estrutura de um crime, porque a
sanção do crime é a pena e a pena só se
aplica pelo que o indivíduo fez contra jus e
não pelo que ele é intimamente antissocial”
(Nélson Hungria, in Arquivo Judiciário,
vol. 117, p. 252).
— A biografia social do indivíduo, ainda
que verdadeiro sudário de crimes, não
basta para imprimir-lhe na fronte o
estigma de culpado; para sua punição
faz-se mister prova maior de toda a
dúvida.
—“E deve, para haver condenação nos crimes,
ser a prova mais clara que a luz do
meio-dia” (Alexandre Caetano Gomes,
Manual Prático Judicial, 1820, p. 247).

1. Contra a decisão do MM. Juízo de Direito


da Vara das Execuções Criminais da Comarca da
Capital, que indeferiu pedido de inclusão do
sentenciado JCGM (Julinho Carambola) no Regime
Disciplinar Diferenciado (RDD), interpuseram ilustres
representantes do Ministério Público recurso de
Agravo em Execução, com o intuito de reformá-la.
217

Em longo e denso arrazoado, subscrito por sete


insignes Promotores de Justiça, afirma o agravante que
a decisão de Primeiro Grau, a despeito dos predicados
de espírito de sua prolatora, não se eximia de reparos
(fls. 354/371).

Alega mais que, ao revés do que inculcou a decisão


impugnada, os elementos de prova reunidos no
processado autorizavam a procedência do pedido.

Acrescenta que, segundo os autos, o agravado


estava recolhido na Penitenciária de Presidente
Bernardes, desde 3.10.2005, em cumprimento de penas
que deitam a 73 anos de reclusão, e no dia 9.1.2006,
“por volta das 4h, um bando, fortemente armado e com
veículos potentes, investiu contra as torres de vigilância dos
estabelecimentos penais de Presidente Prudente, efetuando
muitos disparos” (fl. 356).

A reação dos policiais militares e dos agentes de


escolta e vigilância penitenciária conteve a acometida
do grupo armado e logrou prender quatro de seus
membros, na posse de “metralhadoras, pistolas, fuzis e
mísseis com lançadores” (ibidem).

Inspeção no interior da Penitenciária de Presidente


Bernardes, após o grave incidente, revelou que as
grades de “sete celas” estavam serradas, para possibilitar
“a fuga dos presos”.
218

Porque numa de tais celas habitava o agravado


(Julinho Carambola), concluiu o agravante que estava
envolvido no atentado ao presídio; por isso, requereu
sua inclusão no Centro de Readaptação — Penitenciária
de Presidente Bernardes, no Regime Disciplinar
Diferenciado (RDD), modificada a r. decisão de
Primeiro Grau, que o indeferiu.

A Defesa contrariou a pretensão do Ministério


Público e propugnou a mantença da r. decisão atacada
(fls. 373/374).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


extenso, veemente e abalizado parecer do Dr. Rubens
Rodrigues, opina pelo provimento do agravo (fls.
378/382).

É o relatório.

2. A decisão de fls. 346/350, de que agravou o


Ministério Público, tenho que não cede o flanco a
censura, “data venia”.

Deveras, os elementos dos autos, ainda que


respeitem a fatos de notória gravidade, não permitem
concluir, com certeza, pela responsabilidade do
agravado, o que, unicamente, poderia emprestar força e
legitimidade a uma decisão que o mandasse incluir
no Regime Disciplinar Diferenciado, providência
“ultima ratio” para pôr cobro à delinquência violenta
organizada.
219

A lição de Julio Fabbrini Mirabete dá a conhecer o


fim a que atendeu o legislador, criando a excepcional
medida:

“O regime disciplinar diferenciado foi concebido para


atender às necessidades de maior segurança nos
estabelecimentos penais e de defesa da ordem pública
contra criminosos que, por serem líderes ou integrantes
de facções criminosas, são responsáveis por constantes
rebeliões e fugas ou permanecem, mesmo encarcerados,
comandando ou participando de quadrilhas ou
organizações criminosas atuantes no interior do sistema
prisional e no meio social” (Execução Penal, 11a. ed.,
p. 149).

O agravado JCGM, que dá pelo apelido de “Julinho


Carambola”, é assaz conhecido no sistema carcerário
brasileiro como agente de discórdia e fermento de
rebeliões. Sua tumultuária biografia social e a
quantidade assombrosa de suas penas – que tocam
pelos 73 anos – têm-no apresentado como herói do
mal e compêndio de misérias.

A vida pregressa de todo sujeito, porém, serve


somente para individualizar-lhe a pena, não é pedra de
toque para aferir-lhe a culpabilidade.

Com a suprema autoridade de Pontífice Máximo do


Direito Penal entre nós, ensinou Nélson Hungria que:
220

“A periculosidade de um indivíduo é exclusivamente


fundamento à medida de segurança, não podendo servir
como elemento à estrutura de um crime, porque a
sanção do crime é a pena e a pena só se aplica pelo
que o indivíduo fez contra jus e não pelo que ele é
intimamente antissocial” (STF; Arquivo Judiciário,
vol. 117, p. 252; apud Darcy Arruda Miranda,
Repositório de Jurisprudência do Código Penal, vol. IV,
p. 482).

A vida pretérita do indivíduo, ainda que verdadeiro


sudário de crimes, não basta para imprimir-lhe na
fronte o estigma de réu de quantos delitos se lhe
imputem. É que para a punição do acusado – não
importando a natureza do crime – faz-se mister prova
maior de toda a dúvida.

Elegantemente, Alexandre Caetano Gomes:

“E deve, para haver condenação nos crimes, ser a prova


mais clara que a luz do meio-dia” (Manual Prático
Judicial, 1820, p. 247).

3. Descendo ao particular dos autos: era a pova


conclusiva da responsabilidade do recorrido pelos
graves sucessos que douta Promotoria de Justiça lhe
carregou?
221

A r. decisão de Primeiro Grau argumentou que


não. Fê-lo com as seguintes razões: a despeito dos
“inúmeros documentos” entranhados nos autos, não ficou
“devidamente comprovada a imputação feita ao sentenciado
na inicial” (fl. 348).

Ao demais, embora estabelecida a certeza da


ocorrência de atentado contra a “Penitenciária de
Presidente Bernardes”, cujas muralhas foram atingidas
por formidáveis rajadas de metralhadora, com o escopo
de resgatar presos, e se apreendessem veículos e armas
de extraordinária capacidade ofensiva em poder de
“pessoas que estariam ligadas ao PCC”, não houve
demonstração cabal e convincente de que o agravado
participara do evento.

É verdade que estavam serradas grades de celas


ocupadas por indivíduos tidos por cabeças da
organização criminosa PCC. Também o é que, nos
procedimentos administrativos instaurados para a
apuração dos fatos, houve menção do nome do
agravado (fls. 42, 60 e 265).

Deles nada consta, porém, que o pudesse vincular


aos fatos narrados na representação: faltou, em suma, a
prova de que tivesse concorrido para a prática dos fatos
que causaram a subversão da ordem interna do
presídio.
222

Ora, as suspeitas que, segundo o art. 52, § 2º, da


Lei de Execução Penal, justificam a internação do
reeducando no Regime Disciplinar Diferenciado hão
de ser “fundadas”, i.e., devem ter fundamento, que vale
o mesmo que “base, motivo, razão” (cf. Caldas Aulete,
Dicionário, 1925; v. fundamento).

Mas, no caso, onde se exigiam “fundadas suspeitas”,


não houvera mais que vagos e aéreos rumores, simples
“flatus vocis” ou sopro de voz; de tal arte que os
elementos de convicção (de cunho oral ou documental)
amealhados nos autos não permitiram formular juízo
de certeza a respeito da coparticipação do agravado nos
sobreditos fatos.

Como o castigo é estipêndio de culpa somente, em


esta faltando não tem lugar a punição.

Assim, quer-se confirmada, por seus próprios


fundamentos, a r. decisão que proferiu, com louvável
acerto, a distinta e culta Juíza Dra. Leyla Maria da
Silva Lacaz.

4. Pelo exposto, nego provimento ao agravo em execução.

São Paulo, 8 de junho de 2007


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

8
T RIBUNAL DE J USTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA C ÂMARA — S EÇÃO C RIMINAL

Agravo em Execução nº 1.126.997-3/0-00


Comarca: Bauru
Agravante: RPS
Agravado: Ministério Público

Voto nº 9613
Relator

— Dois requisitos exige a lei para a


progressão de regime: lapso temporal
e mérito do condenado; presentes que
sejam, compete ao Juiz despachar de
boa sombra a pretensão, uma vez não
pode recusar-se a praticar os atos de
seu ministério.
— Não vá esquecer ao cultor do Direito
que ainda o mais vil dos homens tem
jus à proteção da Lei!
224

— O asserto de que o criminoso


empedernido não conhece recuperação
não é dogma científico. Para honra da
Humanidade, não são raros os casos
em que, incentivados por medidas
penais salutares, condenados abjuraram
a vida de crimes, redimiram-se de suas
faltas e retornaram à comunhão social,
tornando-se cidadãos prestantes.
— Opor-se à progressão de regime –
direito que a lei assegura ao
condenado em condições de o merecer
– fora mais do que obstar-lhe a
reintegração social, porque seria
matar-lhe a esperança, “que é o último
remédio que deixou a natureza a todos os
males” (Vieira, Sermões, 1682, t. II,
p. 87).

1. Da r. decisão do MM. Juízo de Direito da 1a.


Vara das Execuções Criminais da Comarca de Bauru,
indeferindo-lhe pedido de progressão ao regime aberto,
interpôs recurso de Agravo em Execução, com o escopo
de reformá-la, RPS.

Alega, nas razões de recurso, elaboradas por


diligente e talentoso patrono, que, ao denegar-lhe a
pretensão, a r. decisão impugnada violou de frente
direito seu legítimo.

Remata que, tendo já cumprido para mais de 1/6


de sua pena, com bom comportamento carcerário, e
preenchido os requisitos de ordem subjetiva, era-lhe
de preceito a concessão do benefício.
225

Destarte, pleiteia a Defesa o provimento do


recurso, a fim de que, modificada a r. decisão de
Primeira Instância, seja deferida ao agravante
progressão ao regime aberto (fls. 28/32).

A douta Promotoria de Justiça apresentou


contraminuta de agravo, na qual rebateu a pretensão da
nobre Defesa e propugnou a mantença da r. decisão
recorrida (fls. 34/39).

O r. despacho de fl. 40 manteve, por seus


próprios fundamentos, a r. decisão agravada.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


firme e abalizado parecer do Dr. Rubem Ferraz
de Oliveira, opina pelo improvimento recurso (fls.
42/43).

É o relatório.

2. Preso e recolhido para cumprimento da pena de


12 anos, 4 meses e 7 dias de reclusão, pela prática de
roubo qualificado, latrocínio tentado e falsa identidade, e
promovido em 30.6.2005 ao regime semiaberto,
requereu o agravante progressão ao aberto.

Instruiu seu pedido com boletim informativo e


atestado de comportamento carcerário (fls. 8/12).
226

A r. decisão de fl. 23, todavia, indeferiu-lhe


a pretensão, debaixo do argumento de que não
preenchia o requisito de ordem subjetiva.

Não se conformou o sentenciado com o teor da r.


decisão de Primeiro Grau e, destarte, dela agravou
para esta augusta Corte de Justiça, no intento de
alcançar o que lhe negou o MM. Juízo de Direito da
Vara das Execuções Criminais: progressão ao regime
aberto.

3. A Secretaria de Administração Penitenciária atestou


para fins de progressão de regime, o bom comportamento
carcerário do agravante (fl. 5), condenado à pena total
de 12 anos, 4 meses e 7 dias de reclusão pela prática de
roubo qualificado, latrocínio e falsa identidade.

Dispunha o art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90 (Lei dos


Crimes Hediondos) que a pena por crime hediondo – e
dessa ordem é o que o recorrente praticou – seria
“cumprida integralmente em regime fechado”.

A recente Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou-lhe


porém o rigor no que respeita à progressão no regime
prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado
primário tiver dela descontado já 2/5 (ou 3/5, se
reincidente) e conspirarem os mais requisitos legais, fará
jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
227

Exarou a r. decisão recorrida que, no dia 24 de


abril de 2007, o agravante cumprira o lapso temporal
para a progressão de regime; faltavam-lhe, contudo,
méritos; daqui o indeferimento de seu pedido de
promoção ao aberto (fl. 23).

4. A despeito das razões em que se esforça a r. decisão


de Primeiro Grau – enaltecidas pelas oportunas e
criteriosas manifestações do Ministério Público –,
afigura-se-me atendível, “data venia”, a pretensão do
agravante.

Três óbices, com efeito, enumerou a r. decisão


à promoção do sentenciado: gravidade dos crimes
que praticou, quantidade de pena por cumprir e “a
existência de histórico de faltas disciplinares”; no tocante
às “saídas temporárias”, houve-as por insuficientes para
avaliar seu mérito (fl. 23).

Que sejam graves, e ainda gravíssimos, os crimes


cometidos pelo recorrente, não entra em dúvida; a
sanção mesma que o legislador cominou aos que os
praticam está a demonstrá-lo sem falta. Circunstância
é essa, no entanto, que não obsta à progressão, exceto
se não aperfeiçoado ainda o requisito objetivo.

Ora, no particular, a r. decisão reconheceu às


expressas ter o agravante preenchido a condição
objetiva.
228

Outro tanto, em relação ao argumento da


quantidade da pena por cumprir: desde que o
condenado descontou o trato de tempo necessário à
progressão, o tema da pena restante perde alcance e
momento: a lei garante-lhe o direito de passar a outro
estágio de cumprimento de pena.

À derradeira, isto de ter o agravante contra si


“histórico de faltas disciplinares” (fl. 23) não se mostra
decisiva para impedir-lhe o acesso ao último estágio
do regime prisional. É que mais de sete anos terão
corrido sobre a data da sua última falta grave
disciplinar: 29.5.2000 (fl. 11).

Ora, nesse largo espaço de tempo, não só o


agravante foi reabilitado da falta cometida, senão
também se dedicou à laborterapia. Ainda – e aqui
bate o ponto –, beneficiado cinco vezes com saída
temporária, sempre retornou ao presídio, o que lhe
revela senso de responsabilidade e inteira submissão à
disciplina carcerária (fl. 12).

5. Opor-se à progressão de regime – direito que a lei


assegura ao condenado em condições de o merecer –
fora mais que obstar-lhe a reintegração social, porque
seria matar-lhe “a esperança, que é o último remédio que
deixou a natureza a todos os males” (Vieira, Sermões,
1682, t. II, p. 87).
229

De igual sentir é João Baptista Herkenhoff, notável


e exemplar Magistrado:

“(…) a prisão não pode ser como o Inferno, cuja porta,


segundo o verso de Dante, tem o dístico dramático:
Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”.

Ainda:

“(…) por mais graves que tenham sido os crimes


praticados, tem o acusado o direito à esperança de um
dia voltar ao convívio social e de sua família” (Uma
Porta para o Homem no Direito Criminal, 2a. ed.,
p. 166).

Por este mesmo padrão têm decidido nossas Cortes


de Justiça:

“A gravidade dos crimes e a extensão das penas não


impedem a progressão prisional, porque não previstas
como óbices pelo art. 112 da Lei de Execução Penal”
(TJSP; Ag. nº 225.277-3/5-São Paulo; 4a. Câm.
Crim.; rel. Bittencourt Rodrigues; j. 19.8.97; v. u).

A concessão do benefício, não na interprete o


agravante por liberalidade irresponsável da Justiça
Criminal, antes por voto sincero de que emende a mão
e tome para o caminho do bem, de que se desviara.
230

6. Pelo exposto, defiro ao agravante progressão ao


regime aberto (art. 112 da Lei de Execução Penal e art.
2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90).

São Paulo, 27 de dezembro de 2007


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

9
T RIBUNAL DE A LÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA C ÂMARA

Apelação Criminal nº 1.266.449/2


Comarca: Santo André
Apelante: SMTSF
Apelado: Ministério Público

Voto nº 3166
Relator

— A apreensão da “res” em poder de


estranho, que o não saiba justificar,
permite a conclusão de autoria de
crime, pois, de regra, cada um traz
consigo somente o que lhe pertence.
— Tratando-se de condenada com filho de
tenra idade, faculta a lei e recomenda a
piedade cumpra sua pena, ainda que
reincidente, sob o regime de prisão-
albergue domiciliar (art. 117, nº III, da
Lei de Execução Penal). Até entre as
espécies inferiores passa por nociva (e
ainda perversa) a segregação precoce da
cria. Tal benefício, entendem graves
autores, é concedido mais em favor da
criança, pela necessidade que tem do
amparo materno.
232

1. Inconformada com a r. sentença proferida pelo


MM. Juízo de Direito da 2a. Vara Criminal da
Comarca de Santo André, condenando-a à pena de 4
meses e 20 dias de reclusão, além de 3 dias-multa, para
cumprimento no regime fechado, por infração do art.
155, combinado com o art. 14, nº II, do Código Penal,
dela interpôs recurso para este Egrégio Tribunal, com
o propósito de reformá-la, SMTSF.

Nas razões de recurso, afirma não ter perpetrado o


crime que lhe imputou a denúncia.

Argumenta ainda que as provas reunidas no


processado eram em extremo frágeis e precárias:
apenas no depoimento da vítima haveria uns longes de
incriminação, o que não bastava a embasar-lhe o
decreto condenatório.

Ajunta, por último, que trazia nos braços a filha


recém-nascida, circunstância que tornava inverossímil
a acusação de ladra que lhe imprimiu na fronte a
sentença condenatória.

Pleiteia, por isso, a absolvição, como ato de justiça


(fls. 164/166).

Apresentou contrarrazões de recurso a douta


Promotoria de Justiça: repeliu a pretensão da nobre
Defesa e propugnou a mantença da r. decisão de
Primeiro Grau (fls. 168/171).
233

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


primoroso e avisado parecer do Dr. José Eduardo
Diniz Rosa, opina pelo improvimento da apelação
(fls. 176/181).

É o relatório.

2. Outra vez foi chamada a ré à barra da Justiça


Criminal para prestar estritas contas, pois, aos 31 de
agosto de 2000, na calada da noite, no estabelecimento
comercial denominado Carrefour, localizado na Rua
Pedro Américo, em Santo André, tentara subtrair para
si 26 discos de vários artistas.

Reza a denúncia que, levada do “animus furandi”,


entrou a ré no referido estabelecimento e, dirigindo-se
ao setor onde se achavam discos, passou a apoderar-se
de alguns, que meteu numa sacola, junto a uma criança
que trazia nos braços.

Funcionários da loja perceberam a acometida da


ré e detiveram-na; em seu poder apreenderam a “res
furtiva”.

A ré, essa foi encaminhada à repartição policial,


onde a mandou a autoridade autuar em flagrante.
234

Instaurada a persecução criminal, correu o


processo conforme as prescrições legais; ao cabo, a
r. sentença de fls. 139/144 condenou a ré.

Esta, malcontente com o desfecho da lide penal,


espera que a Segunda Instância lhe ouça o clamor de
inocência.

3. Sem embargo do desvelo e cultura de seu patrono,


não é brado de inocência o que a ré levanta a esta
augusta Corte de Justiça, mas simples artifício de
defesa, a que têm jus todos os acusados.

Os elementos de prova entranhados nos autos


evidenciam-lhe a culpabilidade.

Com efeito, preposto da empresa-vítima, a


testemunha Pedro Luiz de Souza declarou, com
segurança, que, alertado pelo setor de filmagem que a
ré estava a surripiar discos, deteve-a quando de sua
passagem; em seu poder, apreendeu as mercadorias.

Rematou que a ré trazia um bebê no colo (fls. 5 e


76/78).

Em suas palavras abundou a testemunha Antonia


de Souza Capelão. Disse ter visto a ré a praticar o furto
e, ao depois, ser detida por agente de segurança.
235

Relatou mais que na posse da ré foram apreendidos


alguns discos (fls. 79/81).

O auto de apreensão de fls. 12/14 comprova a


materialidade da infração penal. A autoria, por outra
parte, sem embargo de suas negativas em Juízo, foi
superior a toda a dúvida, pelos testemunhos coerentes
e verossímeis dos funcionários da empresa.

A condenação da ré, enfim, ateve-se escrupulosamente


à prova obtida sob o influxo do contraditório processual.

A versão exculpatória que apresentou não se


mostra apta a abalar os sólidos fundamentos da
sentença condenatória.

Em verdade, a ré atentou contra o patrimônio


alheio com o propósito de praticar furto, que somente
não se consumou pela eficaz e imediata intervenção do
pessoal da segurança da empresa-vítima.

Ao revés do que sustenta a combativa Defesa,


houve no particular efetiva subtração das mercadorias
pela ré, não mera “desconfiança de funcionários” (fl. 165).

Quando o responsável pelo setor de segurança


ouviu o toque de rebate, a ré já havia saído da loja sem
pagar (fls. 5 e 6).
236

Tal procedimento revela o dolo com que obrou.


Era-lhe inevitável, pelo conseguinte, a condenação.

O ven. acórdão reproduzido, por sua ementa,


pelo douto parecer da Procuradoria-Geral de Justiça
(fl. 179), merece transcrito:

“A apreensão de coisa furtada em mãos de alguém,


acarreta-lhe o ônus de oferecer para o fato (comprometedor,
em princípio) explicação razoável. Não o arrostando,
milita contra o réu presunção de autoria de infração
penal” (RJDTACrimSP, vol. 6º, p. 132).

O reconhecimento da forma tentada do furto


mostra-se irrepreensível: o empregado do estabelecimento
comercial deitou a mão à ré no recinto mesmo em que se
apossara das mercadorias.

A pena, fixou-lha a sentença com bom critério,


atendendo às circunstâncias pessoais da ré (reincidente)
e à diminuição pela tentativa.

Num ponto unicamente ouso modificar a r.


sentença de Primeiro Grau: no regime prisional.

Ainda que reincidente em crime doloso e ladra


empedernida, fora demasia, não só iniquidade enviar à
sombra do cárcere a ré, mãe de criança recém-nascida.
237

Como a toda a mãe, a natureza cumulou a ré da


aptidão indispensável para prover à subsistência da
filha; incumbe-lhe, pois, assisti-la continuadamente.
Aliás, até entre as espécies inferiores passa por nociva
(e ainda perversa) a segregação precoce da cria.

O benefício, observa com assaz de razão Julio


Fabbrini Mirabete, “é concedido mais em favor da criança
(…), que necessita do amparo materno” (Execução Penal,
5a. ed., p. 296).

Ao demais, tratando-se de pena de curta duração,


era frustrar os princípios da política criminal submetê-
-la à severidade do regime recluso.

Destarte, olhando pelo fim social da lei, a que deve


atender sempre o Juiz ao aplicá-la (art. 5º da Lei de
Introdução ao Código Civil), concedo à ré, bem que em
caráter excepcional, regime aberto, na modalidade de
prisão-albergue domiciliar, conforme o Direito vigente
(art. 117, nº III, da Lei de Execução Penal).

4. Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso para


deferir à ré o benefício do regime aberto, na
modalidade de prisão-albergue domiciliar (art. 117, nº III,
da Lei de Execução Penal), mantida no mais a douta
sentença de Primeiro Grau.

São Paulo, 2 de agosto de 2001


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

10
T RIBUNAL DE J USTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA C ÂMARA — S EÇÃO C RIMINAL

Agravo em Execução nº 885.666-3/4-00


Comarca: Presidente Prudente
Agravante: Ministério Público
Agravado: RAT

Voto nº 6984
3º Juiz

Declaração de Voto (vencedor)

— À luz da lógica e por princípio de


justiça, a escorreita exegese do art.
126 da Lei de Execução Penal haverá
compreender também, no conceito de
trabalho, a atividade escolar do preso,
por sua transcendental importância
como fator de promoção humana e
poderoso instrumento de reforma de
vida e costumes. Destarte, comprovando
que frequentou aulas em curso
patrocinado pelo sistema penitenciário,
tem jus o condenado à remição de
penas, na proporção de um dia para
cada 12 horas de efetiva atividade
escolar.
239

— O argumento expendido no agravo


(e que tira ao fim de prestigiar, no
âmbito carcerário, só o trabalho físico,
em detrimento da atividade intelectual)
encerra crasso equívoco, pois justamente
abate o que devera exaltar: o labor
intelectual, notabilíssimo instrumento de
promoção humana.
— Se “o estudo é a luz da vida”, como, pelo
comum, entendem e proclamam os
pedagogos, como pretender, sem
injúria da razão, que o trabalho
intelectual represente um “minus” em
respeito do trabalho físico?! Falou
avisadamente quem disse: “Abrir escolas
é fechar prisões”; daqui se mostra bem a
suma importância que o convívio
escolar tem na formação do caráter do
indivíduo.
—“A interpretação extensiva do vocábulo
trabalho, para alcançar também a
atividade estudantil, não afronta o art. 126
da Lei de Execução Penal. É que a mens
legislatoris, com o objetivo de ressocializar o
condenado para o fim de remição da pena,
abrange o estudo, em face de sua inegável
relevância para a recuperação social dos
encarcerados” (STJ; REsp nº 256.273/PR;
5a. T.; relª Minª Laurita Vaz; j. 22.3.2005;
DJU 6.6.2005, p. 359).

1. Da r. decisão do MM. Juízo de Direito da Vara


das Execuções Criminais da Comarca de Presidente
Prudente, declarando remidos, pelo estudo, 14 dias da
pena de RAT (fl. 36), interpôs a Justiça Pública recurso
de Agravo em Execução, com o intuito de reformá-la.
240

Na minuta de agravo, elaborada com talento e


dedicação por douto Promotor de Justiça (fls. 40/49),
afirma que a r. decisão recorrida não aplicara à espécie
o verdadeiro direito, pelo que era força modificá-la.

Argumenta, em síntese, que a legislação vigente


não prevê a possibilidade de remição de pena pelo
estudo.

O Excelentíssimo Senhor Relator negou provimento


ao recurso, ao passo que o proveu o douto 2º Juiz.

Salvo o devido respeito aos argumentos que, em


seu brilhante voto, deduziu o 2º Juiz – o eminente
Des. Damião Cogan, figura exponencial deste Egrégio
Tribunal de Justiça –, tenho que o voto do
Excelentíssimo Senhor Relator, o eminente Des.
Sérgio Rui, representa, na espécie, a pedra de toque
pela qual se deve aferir o bom direito e dispensar a
verdadeira justiça.

Desconsiderar, para efeito de remição de penas, o


tempo que o condenado empregou em atividade
intelectual (estudo) é, “data venia”, medida que
repugna às diretrizes fundamentais da Criminologia,
que apontam o trabalho como dever social, condição
de dignidade humana e penhor de regeneração de vida.
241

2. A decisão agravada não sofre, “data venia”, as


críticas valentes e severas que lhe fez o órgão do
Ministério Público; antes, examinada à luz dos
melhores cânones de direito, quer-se mantida em sua
inteireza, por amor das regras de justiça e brasão de
glória de seu prolator.

Com efeito, suposto expressiva e respeitável a


corrente contrária, tenho que, ao conceder o benefício
de remição de penas ao recorrido, por sua frequência
ao “Núcleo de Educação” da Penitenciária de Presidente
Prudente, o nobre Magistrado decidiu com notável
acerto, com sabedoria inclusive.

Os documentos de fls. 28/30 comprovam ter o


recorrido frequentado as aulas “na série Alfa I”.

Ora, de presente, o conceito de educação tem maior


alcance que o de instrução.

O ensinamento de José Celso de Mello Filho


merece reproduzido, pela boa doutrina que encerra:

“A educação objetiva propiciar a formação necessária ao


desenvolvimento das aptidões, das potencialidades e da
personalidade do educando. O processo educacional tem
por meta: (a) qualificar o educando para o trabalho; e
(b) prepará-lo para o exercício consciente da cidadania.
O acesso à educação é uma das formas de realização
concreta do ideal democrático” (Constituição Federal
Anotada, 2a. ed., p. 533).
242

O trabalho intelectual do preso, mesmo que


sucedâneo do braçal ou físico, deve ser estimulado
sempre como forma de aprimoramento da personalidade,
conquista e ampliação dos dotes de espírito.

O argumento expendido no agravo (e que tira ao


fim de prestigiar, no âmbito carcerário, só o trabalho
físico, em detrimento da atividade intelectual) encerra
crasso equívoco, pois justamente abate o que devera
exaltar: o labor intelectual, notabilíssimo instrumento
de promoção humana.

Se “o estudo é a luz da vida”, como, pelo comum,


entendem e proclamam os pedagogos, como pretender,
sem injúria da razão, que o trabalho intelectual
represente um “minus” em respeito do trabalho físico?!

Falou avisadamente quem disse: “Abrir escolas é


fechar prisões”; daqui se mostra bem a transcendental
importância que o convívio escolar tem na formação do
caráter do indivíduo.

Faz ao propósito, por sua reconhecida autoridade


no assunto, a lição de Célio César Paduani:

“Não vejo como se possa desprezar o tempo de estudo do


apenado que, como tal, adentrando o conceito de trabalho
escolar, redundará, efetivamente, como fator que deve ser
computado para efeito da aludida benesse” (remição).
243

Ainda:

“(…) a frequência às aulas, em qualquer estabelecimento


de ensino, constitui, indiscutivelmente, uma modalidade
de atividade laboral, pois quem efetivamente estuda
(…) despende energia, esforço, exercício mental e
intelectual em prol de seu aperfeiçoamento cultural,
moral e, consequentemente, social” (Da Remição na Lei
de Execução Penal, 2002, p. 54).

Em sufrágio do entendimento que professou o


insigne prolator da decisão recorrida triunfam
brilhantes julgados de nossos Tribunais:

a) “Na interpretação do art. 126 da Lei nº 7.210/84,


nada impede o reconhecimento do direito do
condenado à remição da pena também pela sua
efetiva frequência e comprovada conclusão de cursos
oficiais supletivos, profissionalizantes, de instrução
de segundo grau e superior, patrocinados pelo
sistema penitenciário, invocando-se a função
integrativa do princípio da analogia in bonam
partem, para preencher a lacuna legal” (Rev.
Tribs., vol. 797, p. 617; rel. Márcio Bártoli);

b) “O estudo é uma espécie de trabalho em que há


dedicação do condenado para o aprimoramento
intelectual. Aperfeiçoa a personalidade humana e
permite sua ressocialização, não sendo possível,
portanto, a exclusão da pena àquele condenado que
244

se dedica ao estudo na Escola Penitenciária, já que


esse também está exercendo atividade laborativa,
em seu sentido amplo” (Rev. Tribs., vol. 815, p.
696; relª Minª Carmen Lúcia de Almeida);

c) “Partindo da premissa de que, para o legislador, o


trabalho do reeducando é forma de auxílio no
processo de ressocialização do preso, admissível se faz
uma aplicação analógica do instituto da remição da
pena com relação ao estudo, que também possui
papel fundamental na formação e capacitação na
vida fora do sistema prisional” (Rev. Tribs., vol.
830, p. 571; rel. Almeida Sampaio);

d) “Equipara-se, com base na analogia, a remição de


pena pelo estudo às mesmas normas previstas para a
remição de pena pelo trabalho, uma vez que o art.
126 da Lei de Execução Penal não obsta à concessão
do benefício, e o estudo configura um estímulo para
a ressocialização do preso, atendendo assim aos
interesses da sociedade” (Rev. Tribs., vol. 823, p.
578; rel. Celso Limongi).

Também nas mais altas esferas de nossas Cortes


de Justiça a tese que a decisão recorrida abraçou
tem granjeado notável prestígio, como se extrai dos
copiosos arestos que, em parecer modelar, subscrito
pelo Dr. Paulo César Corrêa Borges, recenseou a
ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça (fls. 59/61).
245

Ao nosso intento basta o seguinte, reproduzido por


sua ementa:

“A interpretação extensiva do vocábulo trabalho, para


alcançar também a atividade estudantil, não afronta o
art. 126 da Lei de Execução Penal. É que a mens
legislatoris, com o objetivo de ressocializar o condenado
para o fim de remição da pena, abrange o estudo, em
face de sua inegável relevância para a recuperação
social dos encarcerados” (STJ; REsp nº 256.273/PR;
5a. T.; relª Minª Laurita Vaz; j. 22.3.2005; DJU
6.6.2005, p. 359).

4. À derradeira, conforme o estalão do art. 126 da Lei


de Execução Penal, cada período de 12 horas de
atividade escolar equivalerá a um dia de remição de
pena.

Com efeito, segundo a praxe adotada nas escolas


públicas e nas faculdades, a jornada de estudo são
4 horas; 3 dias perfazem 12 horas, que responderão a
um dia de remição de pena.

Em face do que levo expendido, reputo superior a


toda censura a r. decisão que proferiu, com bons
fundamentos, o distinto Magistrado Dr. Fabio D’Urso.
246

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 28 de junho de 2006


Des. Carlos Biasotti
3º Juiz
PODER JUDICIÁRIO

11
T RIBUNAL DE A LÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA C ÂMARA

“Habeas Corpus” nº 378.442/3


Comarca: Franco da Rocha
Impetrante: VJS
Paciente: O mesmo

Voto nº 2738
Relator

— Não é o “habeas corpus” via adequada


para o sentenciado obter progressão de
regime de cumprimento de pena. A
necessidade de aferir-lhe os requisitos
intrínsecos ou méritos pessoais para a
concessão do benefício obriga ao exame
detido de provas, o que somente é
possível à vista dos autos de execução
(art. 112 da Lei de Execução Penal).
—“Não há sentimento mais confrangente
que o da privação da justiça” (Rui, Obras
Completas, vol. XL, t. VI, p. 202).
248

—“Não conteis a prisão por anos ou meses,


mas por minutos e segundos, exatamente
como se tivéssemos nós mesmos de sofrê-la”
(Oswaldo Bardot; apud Jucid Peixoto do
Amaral, Manual do Magistrado, 4a. ed.,
p. 41).
— Que outra coisa tem sido a nossa vida
de Juízes senão um tirocínio de
ímprobos sacrifícios?!

1. VJS requer a este Egrégio Tribunal, em causa


própria, uma ordem de “Habeas Corpus” que lhe ponha
termo ao constrangimento ilegal que afirma está a
sofrer da parte do MM. Juízo de Direito da Vara das
Execuções Criminais da Comarca de Franco da Rocha.

Alega, na petição de fls. 2/3, que se acha recolhido


na Penitenciária Mário de Moura e Albuquerque, de Franco
da Rocha, em cumprimento de pena por tentativa de
roubo.

Acrescenta que, para efeito de progressão de regime


prisional, foi submetido a exame criminológico e
considerado apto ao benefício.

Acentua ainda que formulou pedido de progressão


que, no entanto, lhe não foi até aqui apreciado; o que,
a seu aviso, configurava coação ilegal, por manifesta
violação de direito.

Pelo que, requer à colenda Câmara a concessão da


ordem e sua transferência ao regime intermediário.
249

Apresentou informações de estilo a mui digna


autoridade indicada como coatora. Esclareceu que o
paciente foi condenado por infração dos arts. 157 e 180
do Código Penal.

Informou ainda que, em maio de 2000, foi


protocolado pedido de livramento condicional, com
exame criminológico favorável.

Admitiu que, em casos de outros sentenciados,


poderia ter-lhes havido algum gravame de ordem
processual – à conta da deficiência do serviço
cartorário, que orça pelo colapso, por desfalcado o
quadro de funcionários – , não no do paciente.

É que, pelo que lhe respeita, nem ao menos a


guia de recolhimento foi encaminhada ao Juízo de
Execuções Criminais.

Relatou, por fim, que o Conselho Penitenciário,


ainda não se pronunciou acerca do pedido de
livramento condicional (fls. 7/8).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em sólido


e criterioso parecer da Dra. Sônia Etuko Oda, opina
pela denegação da ordem (fls. 12/14).

É o relatório.
250

2. Não há atender à pretensão do paciente sem do


mesmo passo fazer “tabula rasa” do direito positivo e da
orientação predominante em nossos Tribunais.

De início, cabe ressaltar (com a douta Procuradoria-


-Geral de Justiça) que o pedido de “habeas corpus” se
acha mal instruído: não lhe ajuntou o paciente prova
documental do alegado; tampouco o ofício de
informações se acompanhou de cópias de peças dos
autos de execução (que os não havia).

Ao demais, nos termos do art. 66, nº III, alínea b, da


Lei de Execução Penal, toca ao Juiz da execução (que não
ao Tribunal) decidir sobre a progressão de regime de
cumprimento de pena.

A razão é que, para tal efeito, se mostra de rigor


a análise detida e aprofundada dos requisitos legais –
objetivos e subjetivos –, o que apenas se alcança
mediante consulta aos autos de execução de sentença.

Isto mesmo têm proclamado nossos Tribunais,


como consta do abalizado parecer da Procuradoria-
-Geral de Justiça (fl. 13):

“O habeas corpus não se presta ao exame de questão


relativa a progressão de regime prisional situada no
domínio dos fatos” (Revista do Superior Tribunal de
Justiça, vol. 28, p. 175).
251

Ainda:

“Não é possível deferir pedido de promoção de regime


prisional no âmbito restrito do remédio heroico” (Rev.
Tribs., vol. 700, p. 326; rel. Denser de Sá).

3. Mesmo no caso de haver o impetrante satisfeito


ao requisito objetivo para sua concessão, “ad
argumentandum tantum”, não é possível deferir-lhe a
passagem ao estágio mais brando de cumprimento de
pena, à vista da absoluta carência de elementos
informativos e probatórios a que se arrime o julgador:
não foi sequer autuada sua carta de guia.

O nobre Magistrado, no entanto, considerando-se


que “não há sentimento mais confrangente que o da privação
de justiça”, como o sentia o nosso Rui (Obras Completas,
vol, XL, t. VI, p. 202), dará as providências que estejam
em suas posses, em ordem a atenuar a aspereza da
situação carcerária do paciente. Por onde, na hipótese
de a guia de recolhimento não ter ainda entrado no
Cartório da Vara das Execuções Criminais, fará Sua
Excelência que lhe venha às mãos; se já no Cartório
do Ofício, proverá acerca da apreciação do pedido
do paciente (progressão de regime ou livramento
condicional), com a maior brevidade que couber no
possível.
252

4. Não obstante as forçosas ponderações do distinto


Magistrado Dr. Marcelo Sergio, de que “o quadro
funcional do Cartório Vara de Execuções Criminais
encontra-se defasado, não sendo possível o andamento dos
processos em tempo adequado” (fl. 7), estou que Sua
Excelência não perdoará a tempo nem a sacrifício – e
que outra coisa tem sido a nossa vida de Juízes senão um
tirocínio de ímprobos sacrifícios?! – para aliviar o
infortúnio do paciente. Assim o tenha entendido.

Fazem-me impressão na alma estas palavras do


legendário e emérito Juiz francês Oswaldo Bardot: “Não
conteis a prisão por anos ou meses, mas por minutos e
segundos, exatamente como se tivéssemos nós mesmos de
sofrê-la” (apud Jucid Peixoto do Amaral, Manual do
Magistrado, 4a. ed., p. 41).

5. Pelo exposto, denego a ordem de “habeas corpus”, com


recomendação.

São Paulo, 25 de janeiro de 2001


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

12
T RIBUNAL DE J USTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA C ÂMARA — S EÇÃO C RIMINAL

“Habeas Corpus” nº 993.08.023955-0


Comarca: Bauru
Impetrante: Dr. Mário Lúcio Pereira Machado
Paciente: JCOPC

Voto nº 11.342
Relator

— “O cometimento de falta grave interrompe


a contagem do prazo exigido para a
concessão do benefício da progressão de
regime prisional” (STJ; HC nº 12.453-
SP; rel. Min. Gilson Dipp; j. 6.3.2001;
DJU 23.4.2001, p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem
quebra, às instâncias da disciplina do
estabelecimento penal para poder, no
tempo oportuno, credenciar-se à outorga
de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).
254

— Afirmar e entender o contrário seria,


“data venia”, fomentar a indisciplina nos
presídios e fazer tábua rasa do preceito
segundo o qual cada um deve ter o que
merece. O teor de proceder dos maus, se
já não cai sob a letra da lei, para que é
exigir que a ela continuem a submeter-
-se os bons?! Seria, então (ainda mal!),
repetir a apóstrofe do imenso Rui:
“o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra, a ter vergonha de ser
honesto” (Obras Completas, vol. XLI, t. III,
p. 86).

1. O paciente JCOPC, por seu digno advogado,


requereu a este Egrégio Tribunal de Justiça ordem de
“Habeas Corpus”, sob color de que estava a sofrer
constrangimento ilegal da parte do MM. Juízo de
Direito da 2a. Vara das Execuções Criminais da
Comarca de Bauru.

Afirmou, na petição de fls. 2/5, que o douto


Magistrado de Primeiro Grau, por ter o paciente
cometido falta grave, determinara se procedesse a novo
cálculo de liquidação de suas penas para efeito de
obtenção de benefícios.

Tal decisão o paciente notou de injusta e ilegítima;


pelo que, requereu ao Tribunal tivesse a bem cassá-la.

A colenda 5a. Câmara de Direito Criminal, por


votação unânime, conheceu do pedido em parte e
denegou a ordem ao paciente (fls. 28/33).
255

O Colendo Superior Tribunal de Justiça, no


entanto, concedeu-lhe, de ofício, ordem de “habeas
corpus”, para que este Tribunal julgasse o mérito da
presente impetração.

Urge, portanto, cumprir o que resolveu aquela


Superior Instância.

É o relatório.

2. Ao julgar o pedido do paciente, fê-lo a Câmara por


este feitio (fls. 31/33):

[2. O alvo a que atira a impetração é obter desta


augusta Corte de Justiça ordem de “habeas corpus” que
ponha termo ao constrangimento ilegal que o paciente
afirma está a sofrer, por haver-lhe a decisão impugnada
decretado o reinício da contagem do prazo para a
obtenção de benefícios.

Sem embargo, porém, dos talentos e bons


esforços de seu patrono, a pretensão do paciente não se
mostra atendível.

Com efeito, embora relevante a matéria


referente ao reinício da contagem do lapso temporal,
não há agitá-la na esfera do “habeas corpus”.

Deveras, ainda que instrumento processual de


dignidade constitucional, próprio a tutelar a liberdade
do indivíduo, não pode o “habeas corpus” substituir o
recurso ordinário, máxime quando a “causa petendi”
respeita a questões de alta indagação.
256

É a lição da Jurisprudência:

“Não se conhece de habeas corpus originário


quando substitui recurso ordinário não
interposto” (STF; HC nº 59.186-8; rel. Min.
Décio Miranda; DJU 26.3.82, p. 2.561).

Ainda:

“O habeas corpus não pode ser usado como


substituto do recurso ordinário. Caso contrário,
ele seria transformado em um super-recurso,
sem prazo certo para sua interposição, tirando
a segurança das decisões judiciais passadas
em julgado, já que poderiam ser, a qualquer
tempo, modificadas pelo remédio heroico”
(RJDTACrimSP, vol. 12, p. 167; rel. Hélio
de Freitas).

Como lhe faculta a Lei de Execução Penal (art.


197), pode o paciente submeter a matéria que faz objeto
desta impetração ao Tribunal, que lha examinará mais
de espaço e a preceito, na via processual própria e em
forma adequada. “Non est hic locus”!

Em suma: o nobre Magistrado não fez senão


aplicar o bom direito ao caso concreto. Sua decisão,
portanto, está ao abrigo de reforma na via processual do
“habeas corpus”.

Não configurado o constrangimento ilegal, não


tem jus a paciente ao remédio heroico.

3. Pelo exposto, conheço em parte do pedido e


denego a ordem de“habeas corpus”.]
257

3. Entro a examinar, pois, o mérito do pedido do


paciente, que se resume em obter a cassação da r.
decisão proferida pelo MM. Juízo de Direito da Vara
das Execuções Criminais da Comarca de Bauru, que
lhe determinou “a interrupção do prazo para fins de
benefício” (fl. 5).

Foi o caso que, estando o paciente a cumprir a


pena de 6 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão, pela
prática dos crimes de roubo e furto, cometeu falta
disciplinar considerada grave: causou “danos ao
patrimônio público, ateando fogo na unidade prisional, no
dia 28.6.2007” (fl. 17).

Em vista do que, o ilustre Juiz da Vara das


Execuções – firme na conclusão da sindicância, que
apurara ter o reeducando provocado “danos ao
patrimônio público, ateando fogo em um colchão dentro de
sua cela, pondo em risco não apenas a sua segurança como a
dos demais detentos”, e reputando o fato crime doloso, o
que configurava infração disciplinar de natureza grave
(art. 52 da Lei de Execução Penal) – foi servido mandar
anotar a “falta grave no roteiro de penas” e retificar o
“cálculo de liquidação, fazendo-se constar novas datas para
benefícios” (fl. 6).

Pretendeu o paciente impugnar essa decisão mediante


“habeas corpus”.
258

Entre os mais dos doutores é voz que “o habeas


corpus não pode ser utilizado como substitutivo do agravo em
execução” (cf. Renato Marcão, Curso de Execução Penal,
2a. ed., p. 298).

Em obséquio, porém, ao princípio da ampla defesa,


comum a todo o condenado, e notadamente porque o
determinou, às expressas, órgão jurisprudencial de
superior hierarquia, leve-se à paciência que este
obscuro juiz, mesmo na esfera do “habeas corpus”, venha
a tratar de matéria relacionada com incidente de
execução.

4. Salvo o respeito aos que sentem o contrário, fico


não assiste razão ao paciente, ao pugnar pela cassação
da r. decisão que mandou retificar-lhe o cálculo de
liquidação de penas.

Entendimento é este que se conforma com a lição


de autores de prol e a jurisprudência dos Tribunais.

Em escólio ao art. 112 da Lei de Execução Penal,


escreveu o competente Julio Fabbrini Mirabete:

“O cometimento de falta grave pelo preso que cumpre


pena em regime fechado acarreta a interrupção do
tempo de pena para efeito de progressão, iniciando-se
nova contagem de 1/6 do restante da reprimenda a
cumprir, para a obtenção da promoção. O mesmo ocorre
259

se, estando no cumprimento da pena remanescente em


regime semiaberto, decretar o juiz a regressão para um
dos regimes mais severos” (Execução Penal, 11a. ed.,
p. 416).

Tal opinião tem recebido sufrágios de nossas


Cortes de Justiça:

a) “O cometimento de falta grave interrompe a


contagem do prazo exigido para a concessão do
benefício da progressão de regime prisional”
(STJ; HC nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson
Dipp; j. 6.3.2001; DJU 23.4.2001, p. 171);

b) “Se o condenado comete falta grave e está


cumprindo pena em regime fechado, é de rigor
que ele perca o tempo anterior do cumprimento da
pena e reinicie a contagem do lapso temporal, a
partir da prática da falta grave, tendo em vista
que não possui condições de progredir para o
regime semiaberto” (TJSP; rel. Hélio de
Freitas; Rev. Tribs., vol. 808, p. 608);

c) “O cometimento de falta grave pelo preso que


cumpre pena em regime fechado acarreta a
interrupção do tempo de cumprimento da pena
para efeito de progressão, iniciando-se nova
contagem de 1/6 do restante da reprimenda a
cumprir, para a obtenção da promoção” (TJSP;
rel. Jarbas Mazzoni, vol. 751, p. 583).
260

Em suma: a falta disciplinar grave determina o


reinício da contagem do lapso temporal para a
obtenção de benefícios perante o Juízo das Execuções
Criminais.

Afirmar e entender o contrário seria, “data venia”,


fomentar a indisciplina nos presídios e fazer tábua rasa
do preceito segundo o qual cada um deve ter o que
merece. O teor de proceder dos maus, se já não cai sob
a letra da lei, para que é exigir que a ela continuem a
submeter-se os bons?!

Seria, então (ainda mal!), repetir a apóstrofe do


imenso Rui: “o homem chega a desanimar da virtude, a
rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Obras
Completas, vol. XLI, t. III, p. 86).

5. Pelo exposto, conheço do pedido e denego a ordem de


“habeas corpus”.

São Paulo, 22 de fevereiro de 2009


Des. Carlos Biasotti
Relator
VIII. Da Prisão Domiciliar: Solução
Heroica para Casos Especiais

I. Grau máximo na escala do regime penitenciário


de semiliberdade, representa a prisão domiciliar, entre
nós, ideal de sadia política criminal e arrojada solução
para o magno problema do superpovoamento dos
presídios.
O estudo dos meios de combater o crime depois
de praticado – objeto da política criminal – tem
espertado no legislador providências de muito relevo,
indicativas antes da fé na completa recuperação do
infrator do que arbitrária generosidade para os que
violam a ordem jurídica.
Assumiu foros o problema de verdadeira cruzada
nacional, mercê da crise de saturação dos presídios,
que reclama medidas rápidas e drásticas em bem dos
interesses da sociedade e da pessoa do condenado, que
– entidade sagrada (“res sacra reus”) –, merece a
proteção da lei, ainda quando o pior dos facínoras.
Donde o aparecimento da prisão-albergue e
da prisão domiciliar, como formas sucedâneas da
prisão celular, instituídas, há obra de 45 anos, pelo
Provimento XCII, de 19.6.75, do Egrégio Conselho
Superior da Magistratura do Estado de São Paulo.
262

Em seu art. 40, previa o citado diploma o


albergamento no domicílio mesmo do sentenciado,
nos casos em que não houvesse vaga em estabelecimentos
oficiais de custódia, ou fosse o condenado acometido
de moléstia grave.
À medida, porém, que as autoridades judiciárias
deferiam a sentenciados a mercê, enorme problema
surgia, ameaçador de sua execução: falta de local
adequado para o albergamento.
De verdade, segundo o Prov. XCII, de 19.6.75,
o regime de prisão-albergue devia ser cumprido em
estabelecimento próprio, separado dos presos comuns,
e sem rigor carcerário (art. 39).
Contudo, ante a inexistência de infraestrutura
destinada à sua execução, houve mister se recolhessem
os albergados às cadeias públicas e distritos policiais,
em contacto com outros presos que descontavam suas
penas sob regime carcerário comum.
Porque não perdesse tão grata conquista da
penologia sua inspiração e finalidade – evitar o
trato promíscuo e deletério do condenado com
delinquentes perigosos e dar-lhes condições de
reintegração no convívio social –, urgia se criasse
forma alternativa de prisão celular.
Daqui a prisão-albergue domiciliar.
263

Extraordinário, o alcance dessa medida, pois ao


tempo em que prescrevia ao sentenciado normas
obrigatórias de conduta (v.g.: comparecimento perante
o Juízo das Execuções Criminais, comprovando o
exercício efetivo do emprego; permanência no
domicílio durante o período de repouso noturno,
proibição de frequentar lugares de duvidosa reputação
e de ingerir qualquer espécie de bebida alcoólica),
permitia-lhe reassumir em toda a plenitude os
encargos inerentes a seu estado.
As reiteradas e criteriosas concessões de prisão-
-albergue domiciliar comprovaram, desenganadamente,
sua excelência e eficácia como instrumento de
recuperação social.

II. Vozes, no entanto, houve, e essas abalizadas,


que entraram a apregoar não ser a prisão-albergue
domiciliar outra coisa que velada impunidade.
A despeito da crítica demolidora, o instituto
subsistiu, tendo-o acolhido a Lei nº 7.210, de 11.7.84
(Lei de Execução Penal) e admitido para o beneficiário
de regime aberto, em hipóteses taxativas (art. 117), a
saber: condenado maior de 70 anos, ou acometido de
moléstia grave; condenada gestante, ou com filho
menor, ou deficiente físico ou mental.
264

O Estado, porém, como observam geralmente


os doutos, não está aparelhado para oferecer ao
condenado o estabelecimento penal compatível com o
regime que lhe fixara a sentença.
Por isso, não raro, condenados são mantidos em
estabelecimentos prisionais diversos daquele a que
fariam jus, o que, em princípio, configura desvio de
execução.
Formam hoje verdadeira legião os condenados
que, promovidos já ao regime semiaberto, aguardam
ainda no fechado o surgimento de vagas.
E não lhes esquece aquilo de um alto engenho:
“As esperanças que tardam tiram a vida” (Antônio
Vieira, História do Futuro, 2a. ed., p. 59; Imprensa
Nacional).

III. Têm nossos Tribunais tratado variamente a


tormentosa questão da permanência do condenado
em regime mais gravoso, pela falta de vagas em
estabelecimento da rede da Coespe (Coordenadoria
dos Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo).
Acórdãos inúmeros professam a inteligência de
que tal situação, conquanto irregular e anômala, deve
ser tolerada porque, ao cabo de contas, cai na esfera
dos casos de força maior, que nenhum Juiz, ainda o
mais diligente, pode prevenir ou remediar. Ao demais,
265

alguma delonga (posto indesejável) que, porventura,


suceda na transferência do sentenciado para a colônia
penal ou estabelecimento similar, há de interpretar-se
como efeito invencível da contingência a que estarão
sempre sujeitos aqueles que voluntariamente se
levantarem contra a ordem legal e cometerem crimes.
Copiosos também são os julgados de nossas
Cortes Judiciárias que preconizam tese oposta:
reputam gênero grande de injustiça agravar, sem
razão de direito, a sorte do condenado. Assim, desde
que lhe estipulou a sentença o regime semiaberto para
o cumprimento da pena (máxime se de curta duração,
e o seu crime não esteja no número dos que mais
gravemente ferem a ordem jurídica e social), será
violência mantê-lo sob o regime fechado. No caso de
falta de vaga em presídio adequado ao semiaberto,
seria de razão e justiça aguardasse o sentenciado,
no regime aberto, sob a forma de prisão domiciliar, a
efetivação de sua transferência.
Isto sentiu bem o eminente Juiz Renato Nalini,
em acórdão de que foi relator, e que veio à luz na
Revista dos Tribunais (vol. 759, p. 627): “A manutenção
do preso em regime fechado, quando faz jus ao regime
semiaberto constitui constrangimento, corrigível por habeas
corpus. O encarcerado não pode responder pela incúria do
Estado e se não existir vaga no estabelecimento adequado,
266

pode fazer jus ao regime aberto, até mesmo sob a forma de


prisão domiciliar, a critério do Juízo das Execuções”.
Solução heroica e extremada, não há negá-lo,
mas que se compadece com os ditames da Justiça,
desde que aplicada pelo Juiz com a prudência do bom
varão, o qual não pode ignorar que, para quem está
preso, um dia importa o mesmo que uma eternidade!

IV. Foi a consideração do imenso malefício da pena


privativa de liberdade – sobretudo quando aplicada
muitos anos após o cometimento do crime, estando já
o infrator reintegrado na vida social – que moveu o
ânimo dos Juízes da colenda 15a. Câmara do Tribunal
de Alçada Criminal do Estado São Paulo a negar
legitimidade à prisão de condenado efetuada à véspera
do dia da consumação do prazo prescricional da
pretensão executória da pena.
O Estado que espera seis anos, para cumprir
ordem de prisão expedida por motivo de condenação,
já não pratica, por seus agentes, ato vinculado, antes
parece executar vingança pública.
Tem esta substância o ven. acórdão:

Recurso em Sentido Estrito nº 1.249.863/4


Comarca: Rio Claro
Recorrente: João C.
Recorrido: Ministério Público
267

Ementa Oficial:
— Das decisões proferidas pelo Juízo de
Direito da Vara das Execuções Criminais
cabe, em princípio, agravo, por força do
preceito do art. 197 da Lei de Execução
Penal.
— Se o Estado, por seus agentes, não revela,
durante largo trato de tempo, interesse
algum em cumprir ordem de prisão
expedida contra réu já reintegrado no
convívio social (e afastado da esfera
do crime), decai do direito de fazê-lo
à véspera da consumação do prazo
prescricional da pretensão executória de
sua pena. Por ferir de frente o sentimento
de justiça e a lógica do razoável, a cega
obediência à lei, em tal caso, seria
rematado arbítrio e vingança; mas justiça
excessiva não é senão injustiça, proclamou
com assaz de razão o eloquente Cícero:
“Summum jus, summa injuria” (De Officiis,
I, 10).
— Ao Estado não pode interessar mais a
expiação do delito cometido pelo infrator
do que sua recuperação, fim último da
pena.
268

—“Não há vinculação à lei que seja suficientemente


forte para romper o compromisso que todo Juiz
Criminal deve ter com a equidade e, portanto,
com a própria Justiça” (Alberto Silva Franco,
in JTACrSP, vol. 76, pp. 307-308).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de


Direito da Vara das Execuções Criminais da Comarca
de Rio Claro, indeferindo-lhe pedido de extinção da
punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva,
interpôs recurso para este Egrégio Tribunal, com o
intuito de reformá-la, João C.
Alega, nas razões de recurso elaboradas por sua
esforçada e digna patrona, que, prescrita sua pena em
execução, era força julgar-lhe extinta a punibilidade.
Acrescenta, com efeito, que, por infração do art.
157, § 2º, ns. I e II, do Código Penal, foi condenado
pelo MM. Juízo de Direito da 17a. Vara Criminal da
Comarca da Capital à pena de 5 anos e 4 meses de
reclusão e 13 dias-multa (proc. nº 546/90).
Afirma também que, desde a data do trânsito em
julgado da sentença condenatória – 3.7.92 – até à
data de sua prisão – 2.7.98 (fl. 30) –, decorreu
lapso temporal suficiente à prescrição da pretensão
executória da pena.
269

Sustenta, à derradeira, que, menor de 21 anos ao


tempo do crime, o prazo de prescrição, nos termos
do art. 115 do Código Penal, reduzia-se de metade,
convém a saber: 6 anos.
Destarte, espera que a colenda Câmara lhe
proveja o recurso para o efeito de julgar-lhe extinta a
punibilidade (fls. 2/18).
Apresentou contrarrazões a douta Promotoria de
Justiça: repeliu a pretensão da nobre Defesa, sob color
de que se não aperfeiçoara o lapso prescricional
(fl. 62).
O r. despacho de fl. 77 manteve, por seus
próprios fundamentos, a r. decisão agravada.
A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em
incisivo e ponderado parecer do Dr. Shiozo Tanaka,
opina seja conhecido o recurso como agravo em
execução, negando-se-lhe, todavia, provimento (fls.
80/82).
É o relatório.

2. Acho razão ao culto e diligente subscritor do


parecer (fl. 81), quando observa ser o agravo em
execução o recurso adequado a impugnar decisão que
indefere pedido de extinção da punibilidade pela
prescrição da pretensão executória.
270

Esta, com efeito, é a melhor interpretação do


texto legal, segundo o escólio de Julio Fabbrini
Mirabete:
“Para a jurisprudência majoritária cabe o recurso de
agravo em todas as decisões do juiz da execução no
procedimento judicial diante do disposto nos artigos
66 e 197 da LEP” (Execução Penal, 5a. ed., p.
458).
Destarte, pelo princípio da fungibilidade dos
recursos (art. 579 do Cód. Proc. Penal), conheço como
agravo em execução do que interpôs o sentenciado.

3. No rigor do cálculo aritmético e segundo o


preceito da lei, a decisão está sobranceira a toda a
censura, uma vez que o recorrente, para seu
infortúnio, foi preso à véspera do dia da consumação
do prazo prescricional.
De feito, lançadas boas contas, desde o termo
inicial do prazo prescribente – i.e., a data do trânsito
em julgado da sentença para o Ministério Público:
3.7.92 (cf. fl. 62) – e a sua prisão em 2.7.98 (causa
interruptiva), não decorreu o trato de tempo de 6
anos, em que se daria a prescrição da pena de 5 anos
e 4 meses, observada a circunstância do art. 115 do
Código Penal.
271

Ora, segundo a regra do art. 10 do referido


estatuto, inclui-se no cômputo do prazo de prescrição
o dia do começo – no caso, 3.7.92 (data do trânsito
em julgado da sentença condenatória para a Acusação
e Defesa, gênese do título penal executório).
Mas, preso aos 2.7.98, nesse dia se interrompeu o
lapso prescricional da pretensão executória (art. 117,
nº V).
Donde a conclusão implacável, mas escorreita, do
parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça (fl.
81): preso o recorrente em 2 de julho de 1998, o
prazo extintivo de sua punibilidade decorreria tão
somente à meia-noite de 2 de julho de 1998.
Assim, à conta de algumas horas, não pôde o
recorrente subtrair-se ao império da Justiça punitiva.
À data do crime – 7.1.90 (fl. 145) –, tocava o
réu por 19 anos (fl. 128).

4. No caso, porém, a aplicar textualmente a norma


penal, estará o juiz ferindo de rosto o princípio que
lhe deve reger todas as decisões e que o legislador
mandou gravar no pórtico de bronze do Código Civil:
“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do bem comum” (art. 5º, da Lei
de Introdução ao Código Civil).
272

Mandado de prisão havia sido expedido, fazia 6


anos, contra o agravante e apenas à última hora,
quando iminente a perda de sua eficácia, o Estado pôs
timbre em executá-lo.
Mas, ao presente, o condenado já não é o mesmo
indivíduo de antanho: reintegrou-se na comunhão
social e tem profissão lícita.
Enviá-lo ao cárcere, por obediência formal e cega
à vontade da lei, seria quebrar-lhe o propósito de
regeneração e deitá-lo a perder.
Ao Estado não pode interessar mais a expiação
do delito cometido pelo infrator do que sua
recuperação, fim último da pena.

5. A jurisprudência – afirmou o sábio e preclaro


Magistrado Eliézer Rosa – é “a errata que os
Tribunais escrevem para corrigir os excessos dos Códigos
que devem ser feitos para o Homem, mas na verdade, por
ocasião de sua feitura, é como se o Homem é que fora
feito para os Códigos” (apud Heleno Cláudio Fragoso,
Jurisprudência Criminal, 1973, vol. II, p. 374).
De que ao juiz, em casos de todo especiais,
é lícito atenuar os ápices da lei, concedem os mais
opinados exegetas.
273

Do livro clássico de Carlos Maximiliano extraio


este passo, que merecia perpetuado em lâminas de
ouro:
“Hoje a maioria absoluta dos juristas quer libertar
da letra da lei o julgador, pelo menos quando da
aplicação rigorosa dos textos resulte injusta dureza,
ou até mesmo simples antagonismo com os ditames da
equidade. Assim, vai perdendo apologistas na prática
a frase de Ulpiano – durum jus, sed ita lex scripta
est – duro Direito, porém assim foi redigida a lei
– e prevalecendo, em seu lugar, o summum jus,
summa injuria – do excesso de direito resulta a
suprema injustiça” (Hermenêutica e Aplicação do
Direito, 16a. ed., p. 170).
Também o exímio Alberto Silva Franco, honra
e glória da Magistratura pátria (que não somente
paulista), em brilhante voto vencedor, não se correu
de expender estas notáveis palavras a respeito de
hipótese muito semelhante à de que tratam os autos:
“Julgo seres humanos, gente, enfim. E se meu campo
de trabalho se situa nesse nível, não posso, nem quero
– meu compromisso de Juiz com a lei é menos
importante do que minha compreensão a respeito do
sentido da justiça e minha visão do mundo –
sacrificar a liberdade de pessoas como se estas fossem
coisas, paradas no tempo, estáticas.
274

Não compreendo como possa, ao mesmo tempo,


cumprir a lei e ser justo condenando, quase sete anos
depois da prática da infração penal, indivíduos
que estão hoje perfeitamente integrados no convívio
social. A mora na entrega da prestação jurisdicional
torna, no momento, a imposição de pena privativa
de liberdade um ato de profunda injustiça. No espaço
de tempo em que o aparelhamento judiciário deixou
em suspenso uma definição sobre a ação criminosa,
os apelantes transformaram-se. Não são as mesmas
pessoas que executaram a infração penal. E se já são
outras pessoas, não me sinto, portanto, em condições
de privá-los de sua liberdade para o cumprimento de
uma pena absurda de cinco anos e quatro meses de
reclusão. Tal condenação tem para mim a sensação
amarga de apenar pessoas que são totalmente
estranhas ao delito. E, nesse caso, não há vinculação
à lei que seja suficientemente forte para romper o
compromisso que todo Juiz Criminal deve ter com
a equidade e, portanto, com a própria Justiça”
(JTACrSP, vol. 76, pp. 307-308).
Isto mesmo pratica a generalidade dos Tribunais
do País, conforme se extrai do ven. acórdão do
Tribunal de Justiça do Ceará, abaixo reproduzido em
sua parte fundamental:
275

“A respeito da matéria, cumpre trazer à tona as lições


de Mauricio Antonio Ribeiro Lopes que, ao estudar
tal princípio (scilicet, da razoabilidade), após invocar
ensinamento de Recaséns Siches – para quem a
lógica dedutiva é imprópria para a solução dos
problemas jurídicos e humanos, ao contrário da
lógica do razoável, que realiza operações que a lógica
formal não comporta, especialmente aquelas de
valorização e adaptação à realidade concreta –,
assevera: ‘A própria noção de razoabilidade adquire
um contorno próprio e específico no Direito, sendo
mesmo erigida à categoria de princípio geral
informativo do sistema jurídico positivo. E não se
pense que tal procedimento pode gerar uma ruptura
intrassistêmica ao Direito, porquanto o princípio
(talvez mais acertadamente o principado) da
razoabilidade é que dá consistência à possibilidade
material da realização da justiça na aplicação
concreta da lei, sobretudo da lei penal’ (Teoria
Constitucional do Direito Penal. São Paulo, Ed.
RT, 2000, p. 450-451)” (Rev. Tribs., vol. 787,
p. 515; rel. Des. Fernando Luiz Ximenes
Rocha).
276

6. Destarte, o cumprimento de seu mandado de


prisão (seis anos após expedido e às vésperas da
consumação do prazo prescricional) pode satisfazer à
lógica da Matemática, mas ofende de frente as normas
do Direito e da Justiça, que assentam na lógica do
razoável; pelo que, tenho por francamente injusto e
desarrazoado deixar de reconhecer ao réu a extinção
de sua punibilidade, “por questão de algumas horas ou
quiçá em função de alguns minutos” (fl. 82).
A severa obrigação do Estado de meter em ferros
ao autor de um crime torna-se ilegítima quando, por
desmarcada omissão e inércia de seus agentes, não
provê às diligências necessárias para efetivá-lo a seu
tempo.
Ao direito-dever de punir do Estado, que, por
dilatado espaço de tempo, não demonstra interesse em
executar o castigo imposto ao réu, prevalece o direito
deste de eximir-se da sanção penal e do rigor do
cárcere se, havendo aborrecido a vida de crimes,
plenamente se reintegrou no convívio da sociedade.
Exigir, no caso, o cumprimento mecânico da lei
não seria ato de justiça, mas puro arbítrio e vingança.
Porém, justiça excessiva não é senão injustiça,
proclamou com assaz de razão o grande Cícero:
“Summum jus, summa injuria” (De Officiis, I, 10).
277

7. Pelo exposto, conheço do recurso como agravo


em execução e dou-lhe provimento para, com base
nos arts. 107, nº IV, 109, nº III, 110 e 115 do Código
Penal, julgar extinta a punibilidade do réu pela
prescrição da pretensão executória da pena (proc. nº
546/90; 17a. Vara Criminal). Expeça-se-lhe alvará de
soltura, se por al não estiver preso. São Paulo, 20 de
dezembro de 2001 (Carlos Biasotti, relator).
IX. O Traficante de Tóxico e seu
Regime Penitenciário

I— Verdadeiro flagelo da Humanidade (que lhe move,


com assaz de razão, guerra implacável), o comércio das
drogas ilícitas é severamente punido por todas as
legislações penais. Entre nós, está sujeito o traficante
à pena de 5 a 15 anos de reclusão (art. 33 da Lei
nº 11.343/2006), a qual, posto já acerbíssima, têm-na
todavia muitos ainda por excessivamente benigna, em
comparação da gravidade do mal que provoca: em
certos casos, não menos que a morte.
Alguns povos, por isso, persuadidos de que a
propagação das substâncias entorpecentes entre os
jovens era a causa de se lhes quebrantarem as potências
do corpo e do espírito (e contra isso não há que se diga),
reservaram aos mercadores da desgraça castigos da
última rigidez, como o Irã, onde o crime de tráfico de
tóxicos é punido com a pena capital(1).
E parece bem que a sociedade humana, em atitude
legítima de autodefesa, arme-se fortemente contra essa
hidra abominável!
280

II— O legislador pátrio, em prova de seu formal


repúdio a essa oitava praga que não caiu no Egito,
equiparou o tráfico ilícito de entorpecentes aos crimes
hediondos (cf. art. 2º da Lei nº 8.072, de 25.7.90),
inspirado talvez nos rudimentos do método hipocrático:
Para os males extremos somente são eficazes os remédios
intensos.
Contudo, mesmo quando apontasse generosamente
no alvo da incolumidade pública, tal lei, na parte em
que prescreveu (para os diversos tipos delituosos de que
trata) o cumprimento integral da pena em regime
fechado, estamos que ofendeu de frente a ordem
jurídica. É que rompeu com os princípios que entendem
com a sanção penal.
Juristas houve, com efeito, e esses de autoridade
indeclinável, que não se correram de fulminar censuras
à Lei dos Crimes Hediondos, ou porque a tivessem por
inconstitucional, ou porque a concebera o legislador sob
a influência de maus astros.
Assim, quanto ao seu art. 2º, § 1º (“a pena por crime
previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime
fechado”), não hesitou o Min. Luiz Vicente Cernicchiaro
em afirmar: “O comando é, sem dúvida, inconstitucional”(2),
visto não meteu em conta a função social da pena, vale
dizer, “a reinserção do condenado na vida em liberdade”
(ibidem). Alberto Silva Franco, do mesmo passo, em
seus preciosos e eruditos comentários à Lei nº 8.072/90,
281

escreveu estas palavras não menos verdadeiras que


eloquentes: “A opção feita pelo legislador no sentido de
agravar a execução da pena foi, no mínimo, desarrazoada,
infeliz. Nada pior, num estabelecimento penitenciário, do que
um condenado sem nenhuma perspectiva de ser libertado ou,
ao menos, de receber regime penitenciário mais favorável,
antes do término de uma pena privativa de liberdade, de
longa duração”(3).

III— Foi, portanto, o princípio mesmo da individualização


da pena, assegurado pela Constituição Federal(4), que
a Lei dos Crimes Hediondos violou, ao negar a
cada preso, no momento executório de sua pena, “as
oportunidades e elementos necessários para lograr a sua
reinserção social”(5). Diferentes que são os condenados, a
execução de suas penas não terá, por força, o caráter
de homogeneidade; haverá de atender, ao revés, às
condições pessoais de cada um, que nisto precisamente
consiste a individualização da pena.
Pelo que, a despeito da suma hediondez de
seu delito, cumpria não excluir o traficante de
entorpecente do benefício da progressão no regime
prisional(6); que isto fora contravir a mandamento
expresso de nossa Carta Magna e juntamente dar em
terra com o sonho da recuperação do infrator, ideal
sagrado a que atiram seus esforços e diligências todos os
penitenciaristas(7).
282

Por fim, em pontos de castigos e penas, vêm


a propósito estas palavras de alto sujeito: Discreta
mansidão deve temperar o modo e rigor da justiça(8).

Notas

(1) Cf. Valdir Sznick, Entorpecentes, 1a. ed., p. 134.


(2) Processo Penal e Constituição Federal, 1993, p. 117.
(3) Crimes Hediondos, 2a. ed., p. 111.
(4) “A lei regulará a individualização da pena” (art. 5º, nº
XLIV).
(5) Júlio Fabbrini Mirabete, Execução Penal, 5a. ed.,
p. 56.
(6) É sem dúvida que o crime de tráfico de drogas
praticado antes do advento da Lei nº 8.072, de
25.7.90, não cai sob o disposto em seu art. 2º, § 1º
(que veda a progressão no regime prisional): “A Lei
nº 8.072/90, na parte em que obriga o cumprimento da
pena, no seu todo, em regime fechado, aos condenados
por tráfico de tóxicos, sendo de caráter penal, não pode
aplicar-se retroativamente, a dano do agravado”
(TJSP; RA nº 101.543-3; rel. Djalma Lofrano; apud
Alberto Silva Franco, op. cit., p. 123).

Para o crime de tráfico de entorpecentes, da


classe dos hediondos, o regime fechado era de rigor,
283

conforme o preceito do art. 1º, ns. V e VI, e


art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90. A Lei nº 11.464,
de 28.3.90, introduziu-lhe, porém modificação,
possibilitando a progressão no regime prisional
de cumprimento de pena. Se o sentenciado
primário tiver dela descontado já 2/5 – ou 3/5,
se reincidente – e conspiram os mais requisitos
legais, fará jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
(7) “Destina-se a pena a exercer sobre o condenado uma
individualizada ação educativa, no sentido de sua
recuperação social” (Manoel Pedro Pimentel, Prisões
Fechadas, Prisões Abertas, 1978, p. 15); “Voltaire, no
seu comentário sobre Beccaria, repete muitas vezes que
as penas devem ser proveitosas: um homem enforcado,
diz ele, não serve para nada” (Jeremias Bentham,
Teoria das Penas Legais, p. 34).
(8) Francisco Rodrigues Lobo, Cartas dos Grandes do
Mundo, 1934, p. 2.
X. Do Excesso ou Desvio de Execução(*)

Meus Amigos, boa tarde!


Quem fala por determinação de outrem, não por
impulso próprio, há de ter em seu favor a justa escusa
ou dirimente de que, sendo o dever um dogma, não
fizera mais que respeitosamente curvar-lhe a fronte; o
que decerto o defenderá da arguição de infrator daquele
velho anexim, segundo o qual, onde há galos de fama,
pintos não têm que fazer!
Nossa presença aqui, portanto, deve interpretar-se
apenas como sincero desejo de colaborar em mais um
mutirão em prol das Execuções Criminais. Tem o
sentido também, para que assim o digamos, de um
como preito aos distintos colegas que, debaixo de
verdadeira “pena de limitação de fim de semana”,
comparecem, nesta aprazível manhã de sábado, ao
I Encontro Estadual de Juízes da Execução Criminal, para
aprimorar os cabedais de espírito e trazer-nos o
conforto do amplexo fraterno.
É grande fortuna poder falar logo depois do Dr.
Pedro Gagliardi, porque o orador (ou arengador) ainda
encontra repleto o auditório. A debandada dos ouvintes
(ou vítimas?) será mais tarde!
286

Mas, vamos ao ponto.


Faz poucos dias, no gabinete da Vice-Presidência
do Tribunal de Alçada Criminal (Tacrim), onde está
sempre a despachar, até noite cerrada, processos
infinitos em número, o Pedrinho (perdão: Sua
Excelência o Dr. Pedro Gagliardi) ministrou a alguns
juízes que ali nos achávamos bela e oportuna lição, e foi
que devíamos adotar, com referência às causas-crimes, a
seguinte filosofia ou estilo de proceder: alguma
severidade, se tivéssemos de usar com o réu, que o fosse
até o momento da sentença, porque, ao depois, cumpria
se mostrasse a Justiça menos implacável e mais tolerante
com aquele que, já condenado e, pois, perdida sua
liberdade (bem supremo), tornara-se, na frase de
Carnelutti, “o mais pobre de todos os pobres: o
encarcerado”(1).
Para tanto, não será mister derrogar a ordem
jurídica e social; bastará aplicar a lei, sem lhe agravar o
rigor; se possível, praticar o conselho daquele
extraordinário vulto que foi Bardot (referimo-nos,
evidentemente, ao notável juiz francês Osvaldo Bardot,
não à sua patrícia Brigitte): “(…) para manter o equilíbrio
entre o forte e o fraco, o rico e o pobre, que não têm o mesmo
peso, é preciso carregar um pouco a mão do lado mais fraco da
balança”(2).
287

E isto cabe perfeitamente nas atribuições do Juiz e


está em suas mãos!
Do que sejam nossas prisões têm os nobres
Colegas notícia completa, cabal e individuada. Desde
Beccaria, que lhes chamou “horríveis mansões do desespero
e da fome”(3) e, antes dele, o egrégio Vieira, para quem o
cárcere era “meia-sepultura”(4), há um consenso em
derredor do termo prisão: é o pior lugar do mundo,
antes do cemitério!
O emérito Des. Azevedo Franceschini, que foi o 2º
Presidente de nosso querido Tacrim, afirmou num
livreto, “(…) em relação à maioria dos presídios brasileiros,
não se defere aos recolhidos nem aquilo que nos zoológicos aos
animais se proporciona!”(5). É aí que milhares de
desgraçados cumprem suas penas!
A pena – que é o salário do crime e “traduz
primacialmente um princípio humano por excelência, que é o
da justa recompensa: cada um deve ter o que merece”(6) – a
pena constitui o núcleo objetivo da execução.
O cumprimento da pena, como era de razão, está
subordinado ao critério da legalidade, de sorte que não
pode extrapassar as raias da pretensão executória fixadas
na sentença condenatória com trânsito em julgado; se
não, como reza o art. 185 da Lei de Execução Penal (Lei nº
7.210, de 11.7.84), haverá excesso ou desvio de execução,
288

com manifesta violação dos direitos e interesses do


sentenciado.
Por amor da pouquidão de tempo, versaremos
somente a hipótese de desvio de execução
consubstanciada em manter-se o condenado em regime
diverso daquele que lhe estabeleceu a sentença.
São de todos os dias, no Tribunal, com efeito,
casos de réus que, pela via heroica do “habeas corpus”, se
queixam de constrangimento ilegal, porque, embora
lhes houvesse concedido a sentença o benefício do
regime prisional semiaberto, permanecem no fechado
sob o argumento da falta de vagas nos institutos penais-
-agrícolas.
Como resolver o empecilho?
Nisto, como em tudo o mais na vida, é necessário
proceda o Magistrado com o arbítrio do varão
prudente: comprovada a inexistência de vaga em
estabelecimento penal adequado ao regime
intermediário, pode o Juiz promover desde logo o
sentenciado ao regime aberto, na modalidade de prisão
domiciliar, que isto não ofende o zelo da Justiça, antes é
o que a Jurisprudência preconiza.
O nº 8 da publicação do Tacrim — As Mais Recentes
Decisões — traz venerando aresto do Colendo Superior
Tribunal de Justiça, que faz muito ao nosso intento:
289

“Evidente a inadequação entre a lei de execução da


pena e a realidade brasileira. A inexistência de Casa de
Albergado não pode impor ao condenado regime mais
rigoroso; caso contrário, afrontar-se-á o princípio da
legalidade, com flagrante desrespeito do título executório. Na
falta de local próprio, por analogia e precariamente,
recomenda-se a prisão domiciliar, enquanto inexiste o local
próprio” (STJ; REsp nº 120.595-DF; 6a. T; rel. Min. Luiz
Vicente Cernicchiaro; j. 10.6.1997; v.u.; DJU 8.9.1997,
p. 42.626).
É sem dúvida que o Magistrado advertirá o
beneficiário de que a Justiça, havendo-o transferido
diretamente do regime recluso ao aberto, deu-lhe voto
de mui particular confiança, a qual, uma vez quebrada,
implicará seu imediato retorno às sombras do cárcere.
Importará muitíssimo ainda que o Magistrado lhe
encareça a necessidade impreterível de dedicar-se ao
trabalho, que não é apenas obrigação social, mas o
melhor fator de promoção humana.
O preso aidético. De quantos males afligem de
presente a Humanidade, nenhum disputa primazia à
terrível Aids, que arrebata ao indivíduo aquilo que tem
em maior preço: a vida. Mensageira da morte, sobre
todos exerce implacável sua jurisdição. Poderosos e
desvalidos, celebridades e obscuros, bons e maus:
290

ninguém está seguro contra os efeitos de sua formidável


tirania.
Uma casta de pessoas, contudo, existe que merece,
por mui particulares circunstâncias, especial atenção dos
espíritos bem formados, notadamente dos constituídos
em dignidade. Compõe-se daqueles que, havendo
decaído (ainda mal!) de seu estado de liberdade, foram
por isso excluídos do convívio social. Esses (os
encarcerados) inspiraram sempre alguns acentos de
compaixão no peito dos homens livres, ou porque,
carecedores do sumo bem da liberdade, a própria vida
não lhes devera parecer digna dos cuidados que lhe
reservamos, ou porque, postos em regime de
segregação, não lhes esqueceriam jamais aquelas
pungentes palavras com que o divino Dante acrescentou
o suplício dos réprobos: “Não há dor, que maior seja, do
que lembrar o tempo feliz nos dias da desgraça”.(7)
Se a pena de prisão, ao aviso dos sujeitos eminentes
em ciências e letras, é já um mal, “porque inútil como
método penal e como fator de recuperação”(8), com maioria
de razão o será quando associada a castigo corporal
ainda mais aflitivo, como é a insidiosa enfermidade que
subjuga os portadores do vírus HIV, quebrantando-lhes
as energias e fazendo que, pelo comum, de humanos só
conservem a figura.
291

Desses tais é forçoso que se amerceie a Justiça;


mantê-los em calabouço, onde aguardem com
resignação estoica o sopro frio da morte, não seria
só rigor excessivo, que fora também desmarcada
impiedade. A mesma legislação penitenciária é a que,
nesses casos, ministra aos desgraçados os derradeiros
lenitivos, com facultar-lhes o recolhimento à própria
residência (cf. art. 117, nº II, da Lei de Execução Penal).
Portanto, uma vez que lhe tenha chegado à notícia
que certo preso se ache em adiantado (não terminal
somente) estágio da atroz moléstia, dê o Juiz, com a
maior brevidade que couber no possível, as providências
necessárias para removê-lo ao pé de seus familiares. É
que, havendo-se declarado impotente a Medicina para
conjurar o mal, fora de preceito que o Estado (que mais
se conhece por ente sem entranhas) relaxasse o preso
aos desvelos de sua família, a qual, unicamente, lhe
poderia acudir com o remédio que serve de atenuar ao
mesmo tempo os achaques do corpo e os da alma: o
amor.
Tanto que diagnosticada a doença gravíssima, a
direção do presídio, firme em parecer médico oficial,
comunicá-la-ia espontaneamente ao Juiz de Direito
corregedor. Este, com aviso e cautela, e sem fazer caso
nem cabedal da pena imposta ao recluso, enviá-lo-ia aos
seus, num tributo sublime à piedade, considerando
292

apenas no grande alcance do benefício (acaso o último),


cuja concessão não encontra as regras do bom-senso
nem faz rosto a seu amplo poder discricionário.
Mais que aconselhável, seria verdadeira obra de
misericórdia isso de o Magistrado, para melhor aferir as
condições físicas do enfermo, proceder a uma inspeção
ocular e, de seguida, num generoso impulso de
consciência reta, sensível sempre às tragédias humanas,
transferi-lo para o domicílio, onde familiares o
pudessem assistir até o doloroso momento em que ao
curto dia de sua vida sucedesse a noite eterna.
Tal solução não desacreditaria o Judiciário nem
recomendaria mal o Juiz; bem ao revés, consoante
parêmia venerável, mais crescerá em crédidto e
respeitabilidade o Magistrado que ao rigor antepuser a
equidade, a um tempo corpo e alento da Justiça!

Notas

(*) Alocução no I Encontro de Juízes da Execução


Criminal; Escola Paulista da Magistratura
(18.10.97).
(1) As Misérias do Processo Penal, 1995, p. 21; trad. José
Antonio Cardinalli.
293

(2) Apud Jucid Peixoto do Amaral, Manual do


Magistrado, 4a. ed., p. 42.
(3) Dos Delitos e das Penas, VI.
(4) Sermões, 1959, t. XV, p. 276.
(5) Tóxicos, 1973, p. 67.
(6) Nélson Hungria, Novas Questões Jurídico-Penais,
p. 131.
(7) A Divina Comédia, 1886; Inferno, canto V; trad.
Joaquim Pinto de Campos.
(8) Evandro Lins e Silva, A Defesa Tem a Palavra,
1980, p. 265. Outro tanto, in Revista Forense: “A
repressão pela expiação no cárcere não traz cura.
Amontoa desespero sobre desespero” (vol. 155, p. 414).
XI. Petição de Regime Prisional (Modelo)
(Regime Prisional Semiaberto)

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara


das Execuções Criminais da Capital

Proc. nº _____ /2020


(Nome do sentenciado), por seu advogado que esta
subscreve, nos autos de Execução de Sentença(1), cujos
regulares termos se processam neste douto Juízo, vem,
mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, a
teor(2) do disposto nos arts. 33 do Código Penal e 112 da
Lei de Execução Penal, requerer concessão de Regime
Semiaberto, pelas seguintes razões de fato e
de direito:

1. Por infração do art. ______ do Código Penal, foi


condenado o peticionário pelo MM. Juízo de
Direito da ___a. Vara Criminal da Capital (proc. nº
_______ ) à pena de ____ anos.
296

2. Desde sua prisão (dia, mês e ano) até esta data já


cumpriu mais de 1/6 (um sexto) da pena que lhe
foi imposta. Reúne, além disso, mérito e
condições para ser promovido a regime prisional
menos rigoroso. Tem jus(3), portanto, que nos
conste(4), ao benefício pleiteado.

3. De tudo o que leva expendido(5), faz certo o


peticionário a Vossa Excelência que:
a) conspiram(6), no caso, os pressupostos legais
que autorizam a progressão de estágio;
b) os penitenciaristas procuram fazer que(7) a
execução da pena se processe em ambiente
que reproduza, quanto possível, as condições
da vida livre, evitando-se, destarte, as
deformações que o regime recluso impõe à
personalidade do indivíduo (cf. Aníbal Bruno,
Direito Penal, 1962, t. III, p. 50);
c) é opinião comum dos juristas que se deve
temperar com a moderação da clemência o
rigor do castigo;
d) isso mesmo vem praticando este ínclito
Juízo, com gerais aplausos, sem ofender o
zelo da Justiça.
297

4. Posto isto(8), requer o peticionário a Vossa


Excelência, Magistrado notável pelo saber e
virtudes(9), digne-se dar as seguintes providências:

I — ordenar seja submetido a exame criminológico,


segundo o preceito do art. 112, parágrafo único,
da Lei de Execução Penal;

II — deferir-lhe o benefício do regime semiaberto,


promovendo-se(10) para o instituto penal-
-agrícola de _______________.

E.R.M.
São Paulo, (dia, mês e ano)

__________________________________
(Nome do advogado e número da OAB)

Notas

(1) Guia de recolhimento (antes, carta de guia) é como


a Lei de Execução Penal (art. 105) denomina o
documento que o Juízo da condenação expede à
autoridade judiciária incumbida da execução da
pena privativa de liberdade do réu.
298

(2) A teor. Diz-se também: ao teor de, na forma de,


conforme a, na conformidade de, de conformidade
com, de acordo com, etc. “Era o caso, em conformidade
com aquela norma (…)” (Rui, Réplica, nº 189).
(3) Tem jus. O mesmo que: faz jus (ou tem direito) a,
é merecedor ou digno de, etc.
(4) Que nos conste. Expressões sinônimas: a nosso
juízo, a nosso parecer, salvo melhor aviso, ao
parecer, etc.: “Mas a concordância que empregou o
meu mestre e amigo Dr. Laet não é incorreta, que me
conste” (Mário Barreto, Fatos da Língua Portuguesa,
1a. ed., p. 84).
(5) De tudo o que leva expendido. Ainda: em vista do
exposto, por estas razões, em presença de tudo o
que fica exposto, do que fica dito se colhe que,
etc. “Do que temos dito fica assaz claro que (…)”
(Arte de Furtar, 1652, p. 150); “Do que acima fica
dito se colhe que (…)” (Bluteau, Prosas Portuguesas,
1726, 1a. parte, p. 381); “Do que está dito se colhe
que (…)” (Amador Arrais, Diálogos, 1846, p. 187).
(6) Conspiram, isto é, concorrem para, intervêm juntamente
em. “Conspiram todos em vos desacreditar” (Morais,
Dicionário).
299

(7) Fazer que. Forma que preferia Cândido de


Figueiredo (Problemas da Linguagem, 5a. ed., vol.
I, p. 128) a esta: fazer com que. No entanto, fazer
com que “é expressão vernaculíssima, a que todos
podemos subscrever sem o mínimo receio de ferir a
índole da língua” (José de Sá Nunes, Aprendei a
Língua Nacional, 1a. ed., vol. II, p. 188).
(8) Posto isto. É a frase correta. Com o particípio
passado, a oração se inicia, obrigatoriamente, pelo
verbo. Ex.: Dado o sinal, fechado o trânsito, etc.
“A inversão – Isto posto – é erro” (Edmundo
Dantès Nascimento, Linguagem Forense, 1980, p.
80). Rui, contudo, não escrupuleou de escrever
isto posto (cf. A Imprensa e o Dever da Verdade, 1920,
p. 8). Sintaxe foi esta que também praticou
seu venerando mestre, Carneiro Ribeiro: “Isto
posto, passemos a analisar mais de espaço as
emendas propostas pelo esclarecido senador” (Ligeiras
Observações, 1902, p. 13); “Isto posto, vejamos se o
autor, que é o objeto deste desalinhado discurso, resume
em si as qualidades inerentes a todo o escritor que
deve reputar-se clássico” (Idem, Páginas de Língua e
Educação, 1939, p. 71).
300

(9) Magistrado notável pelo saber e virtudes. Aposto, ou


adjunto adnominal que, ao mesmo passo que não
desapraz ao juiz, recomenda bem o advogado.
Outros do mesmo jaez: “Homem de prol nas
ciências e nas letras” (João leda, Vocabulário de Rui
Barbosa, 1966, p. 38); “Varão de singulares prendas”
(Bernardes, Nova Floresta, 1728, t. V, p. 408); “Um
dos mais considerados magistrados paulistas, forte pela
inteligência e pelo estudo, forte ainda pela experiência”
(João Mendes Jr., in Júri, de Firmino Whitaker,
5a. ed., p. III).
(10) Promovendo-se. Evitar as construções “promovendo-
-se-os”, “citando-se-os” e quejandas, que tanto
repugnam ao gênio da língua. “Todos, em letra
redonda, já se referiram à combinação se o e
unanimemente lhe assentaram o ferro em brasa da sua
condenação, por monstruosa em face dos documentos
exemplares do nosso idioma” (Mário Barreto, De
Gramática e de Linguagem, 1922, t. I, p. 47).
Diga, portanto, “promovendo-o”, “promovendo-se”
ou “promovendo-se ele”; jamais, “promovendo-se-o”.
XII. Damásio E. de Jesus: Honra e
Glória do Direito Penal

1. Personagem singular

Ele, que discorria “ex professo” do princípio da


proporcionalidade da pena(1) – que deve corresponder
sempre ao grau da culpa ou da falta cometida –,
esqueceu-lhe aferir por justa craveira a pena dos que
perdem os objetos de sua afeição: preferiu que outros o
fizessem. Foi debalde, porém, que a dor de certas
perdas não raro excede toda medida.
Não cabe realmente no coração humano (porque
infinita) a mágoa que acompanha o desaparecimento
de individualidades privilegiadas como o Professor
Damásio Evangelista de Jesus, arrebatado pela morte no
dia 13 de fevereiro deste ano.
Até mesmo os que aprenderam a resignar-se ao
império da lei que fixou o termo a todas as coisas –
“pois também as pedras morrem”, como asseverou um alto
espírito(2) – acabrunharam-se com a interrupção do
esplêndido curso da vida desse varão egrégio, no qual
se viam reunidas, no mais elevado grau de primor,
qualidades que apenas se encontram distribuídas entre
muitos.
302

Os que o conheceram e trataram – e esses se


contam por dezenas de milhares – podem atestar que
não há encarecimento retórico nem tropo de linguagem
no juízo de ter sido Damásio de Jesus, sem contradição,
uma das figuras mais úteis, estimadas e fascinantes de
nossa idade.
A razão do mui particular apreço e reverência que
lhe sagrava o comum das pessoas ilustradas (máxime as
atuantes nas províncias do Direito) procedia da notória
fama de sua dedicação, contínua e proficiente, ao
magistério das disciplinas jurídicas.
Ao mesmo tempo que se desempenhava, com
exemplar exação, de árduas e relevantes funções no
Ministério Público do Estado de São Paulo, dava lições
de Direito a classes universitárias. Com provada
competência e assiduidade cumpria à risca as praxes da
cátedra e proferia aulas com seguro critério e esmero;
granjeou bem cedo, por isso, entre alunos e professores,
grande prestígio e reputação. Ainda: nas preleções
patenteava, sem quebra, a excelência de sua didática:
expunha com clareza e vivacidade as matérias do
programa oficial, que, muito de estudo, para logo
aplicava a casos concretos, numa como antecipação da
303

liça incruenta, expressão com que se referia à futura


agenda dos advogados, promotores de justiça e juízes de
direito.
Pelo interesse que a novidade excitava, a classe
inteira ficava-lhe suspensa dos lábios!
Não se restringia, porém, seu magistério a
transmitir doutrina segundo a mais apurada matriz
da ciência jurídica; declarava as dúvidas e infundia
torrentes de conhecimentos aos que se aprestavam para
o exercício da profissão (o que lhe conferia já legítima
credencial de professor benemérito); inculcava, por fim,
no espírito dos alunos o termo de proceder que deviam
guardar, à luz da Ética.
À maneira dos rudimentos da boa educação (de
ordinário ministrados com o leite materno), recitava aos
moços, no limiar da vida acadêmica, o pregão duas
vezes milenar de Ulpiano, jurisconsulto romano de
muito nome: Os princípios fundamentais do Direito
são: Viver honestamente; não lesar a ninguém; dar a
cada um o que é seu(3).
Estes, em síntese, os traços mais conspícuos das
nunca assaz louvadas preleções que, na regência da
cadeira de Direito Penal, fazia o provecto mestre
Damásio E. de Jesus!
304

II. Artífice das letras jurídicas

No benéfico intuito de obviar às dificuldades e


percalços que soem influir no aproveitamento letivo, o
Prof. Damásio diligenciou por suprir suas aulas com
textos adequados às matérias do currículo. Por esta
forma, tirou a público o prestigioso repertório didático
em quatro volumes: Direito Penal. Sucessivamente,
atendendo à extraordinária aceitação da obra e aos
abundantes frutos que produzia, deliberou entre si
enviar ao prelo os que seriam os mais laureados
compêndios de doutrina e jurisprudência em pontos de
Direito Penal e Processo Penal: Código Penal Anotado e
Código de Processo Penal Anotado.
305

Assim pelo rigor do senso crítico e acurada exegese


dos textos legais como pela sistemática e judiciosa
disposição dos temas versados e feliz apresentação
gráfica, esses dois livros bastaram a exaltar aos cornos
da lua a glória literária de seu autor.
Em verdade, apenas expostos nas livrarias,
despertaram geral atenção e interesse da classe jurídica
do País, que de pronto os adquiriu e transformou no
principal vade-mécum dos que militam na área do
Direito Penal.
Nenhum bacharel especializado na “Ciência de
Carrara” furtou-se a dar-lhes guarida pronta e cortês.
Advogados criminalistas, promotores de justiça e
magistrados tinham-nos sempre à mão (na mesa de
trabalho ou na estante de obras seletas). Para dar força e
peso a seus arrazoados forenses, ou para acrescentar o
vigor da fundamentação de suas decisões, era aos
“Códigos Anotados” do Prof. Damásio que se habituaram
a recorrer.
E não havia que opor a esta sensata e natural prática.
À uma, porque sempre foi de louvar o dito daquele
discreto: “Duvido muito de quem se não abordoa a
autoridades (…)”(4); à outra, porque, no caso de
necessitarmos de boa lição, importa muito que a
tomemos a quem a deu mais clara e completa.
306

De mim, entre honrado e agradecido, direi que não


caem sob o algarismo as vezes em que me valeram esses
dois edificantes compêndios. Advogado, eram-me a
primeira fonte de consulta; juiz de 2º grau, constituíam
meu oráculo e subsídio na aplicação do bom direito
à espécie em causa. E isto por mui atendível razão: a
despeito da robusta bibliografia com que eminentes
penalistas opulentaram a república das letras(5), esses
dois livros passavam pelos mais fáceis de compulsar,
além de, sem salvas nem rodeios, encaminhar o leitor
para a solução do ponto controverso. Por fim –
circunstância notável –, eram suas edições, com
desusado esmero, revistas e atualizadas anualmente.
Eis por que (e cuido não incorrer em engano se
alego interpretar o sentimento comum dos que
frequentam a barra da Justiça Criminal), fomos
alcançados em altíssima dívida para com o Prof.
Damásio E. de Jesus, irresgatável como todas as
contraídas com um benfeitor, já que de gratidão.

III. Vocação para o magistério superior e para as artes

Sem embargo de suas atividades de professor


universitário, membro efetivo do Ministério Público
e escritor de pulso, Damásio achou ainda força e
condições para realizar ambicioso projeto, que o
consagraria como o precursor das escolas preparatórias
307

às carreiras jurídicas. Fundou e dirigiu, com inspiração


de educador exímio, o Complexo Jurídico Damásio de
Jesus, glorioso celeiro de saber especializado, onde
jovens encontravam estímulo e pecúlios intelectuais que
os habilitassem a ingressar no Ministério Público e na
Magistratura.
Mestre Damásio e o abalizado corpo docente de seu
instituto deitaram em solo fértil sementes de verdadeira
e sã doutrina, que logo medraram e, por fortuna,
produziram os frutos que se esperam da boa árvore
(na espécie, a nova geração de servidores públicos,
“magna pars” da cota de sinergia orientada para o
aprimoramento dos quadros da Justiça).
Incontáveis, com efeito, são hoje os que servem
lugares de Magistratura, dignificam as hostes do
Ministério Público e da Advocacia e podem exibir com
orgulho, à guisa de credenciais de mérito, as insígnias
do Complexo Jurídico Damásio de Jesus.
A auréola de celebridade começava, destarte, a cingir
a fronte do Mestre, pois transpusera a meta que muitas
organizações predestinadas não lograram sequer tocar!
Houve mais, porém! É fama que a natureza, para
não desmentir a parêmia que a dá por mãe pródiga,
costuma dotar de modo especial certas individualidades,
com apurar-lhes o entendimento, a vontade, o senso
estético e as potências que afirmam a vida(6). Este
308

prodígio operou em relação a Damásio, cujo ânimo,


agraciado já com peregrina inteligência e caráter,
quis também dispor para altas concepções e misteres:
ungiu-o ministro juramentado da arte e da beleza, em
cujos altares oficiou com devota pontualidade.
O bucólico teor de vida, o estilo original e as
expansões de jovialidade que imprimia às horas feriadas,
em sua estância rural, forjaram-lhe afável e lisonjeiro
perfil. Comprazia-se em cultivar, com entranhado
desvelo, imenso orquidário, que encerrava para cima de
6 mil espécies, e extensa plantação de coqueiros (coisa
de 3 mil pés, que lhe rendiam a safra anual de 90 mil
cocos). Ainda: criava em sua deleitosa quinta – que,
num lampejo feliz de imaginação denominou Ilha da
Fantasia – formoso bando de 153 flamingos. Remeteu
o disco ainda mais longe: com infinita paciência
adestrou-os na arte coreográfica; sob sua regência e ao
som de melodia favorita, punham-se as aves a agitar a
cabeça e o pescoço, graciosa e sincronicamente, de um
para outro lado. Espetáculo era esse belíssimo de ver e
mui digno de divulgar, para gáudio e encantamento de
quantos ainda se extasiam perante o maravilhoso e
sabem ser gratos àqueles que, pelo engenho, ação
fecunda e idealismo, engrandecem a sociedade humana.
A revista Veja SP, edição de 5.10.2005, levou a
palma do bom gosto e oportunidade, ao comentar, com
texto da jornalista Marcella Centofanti, ilustrado com
309

fotografia expressiva, a arte cênica dos alvinitentes


flamingos do Prof. Damásio de Jesus (pp. 49-50):

IV. A herança do varão sábio e probo

Aquele que ensinou pela palavra e pelo exemplo, e


converteu em facho de luz os livros com que aplainou
a milhares de jovens o caminho das mais nobres
profissões, esse não foi apenas agente do bem; exerceu,
em rigor, a missão de apóstolo, termo por que se
conhecem e recomendam os propagadores de boa
doutrina.
Obrando conforme o seu nome – Evangelista –,
Damásio armara-se de ponto em branco para revelar
aos espíritos ávidos de saber e afeitos aos estudos
310

jurídicos as noções fundamentais da ciência que o faria


conhecido e louvado em todos os círculos acadêmicos:
o Direito Penal.
Mentor intrépido da instrução secundária e guia
seguro da mocidade estudiosa, acha-se-lhe por isso
inscrito o nome, à conta de sua manifesta e inconcussa
influência, entre os grandes vultos nacionais.
Isto de um obscuro discípulo pretender tributar
louvor a seu mestre, se este se chamou Damásio E. de
Jesus, não será pedra de escândalo nem pretexto para
censura, já que se amparou em razões forçosas e
atendíveis, das quais uma é a regra que manda
proporcionar o galardão ao merecimento, e o castigo
à iniquidade. (Ora, os serviços que o homenageado
prestou à gente do foro ultrapassam o mais generoso
estalão!).
É de ordem natural o outro motivo: procede das
fibras do coração humano, que nunca ficou indiferente
à face daqueles que, por haverem tomado sobre si
o patrocínio de causas sociais nobres e urgentes,
tornaram-se dignos de eterno reconhecimento.
Ao Prof. Damásio Evangelista de Jesus convém,
pois, o mote paradoxal que a opinião pública tem
reservado aos varões de sumo valor, saber e honra:
“Morreu ontem um desses homens que não morrem”!(7)
311

Prof. Damásio E. de Jesus (1935-2020)


(Luminária grande do Direito Penal)

Notas

(1) Direito Penal Anotado, 18a. ed., p. 3.


(2) Pe. Antônio Vieira, Sermões, 1959, t. I, p. 120.
(3) “Juris praecepta sunt haec: Honeste vivere; neminem
laedere; jus suum cuique tribuere” (Digesto, 1.1.10.1).
(4) José de Sá Nunes, Aprendei a Língua Portuguesa,
1938, vol. II, p. 221.
312

(5) No soberbo e dilatado cânon dos penalistas que, por


universal consenso, têm entre nós lugar assinalado
no panteão da glória literária, avultam os nomes de:
Nélson Hungria (“Pontifex Maximus” do Direito
Penal Brasileiro), Bento de Faria, A.J. da Costa e
Silva, Basileu Garcia, José Frederico Marques,
Aníbal Bruno, Heleno Cláudio Fragoso, Edgard
Magalhães Noronha, René Ariel Dotti, Alberto
Silva Franco, Mohamed Amaro, Guilherme Souza
Nucci, Luiz Flávio Gomes, Cezar Roberto
Bitencourt, Miguel Reale Jr., Edílson Mougenot
Bonfim, Fernando Capez, Roberto Delmanto e
muitos outros, também de primeira plana.
(6) Assevera um de seus biógrafos que Benjamim
Disraeli (1804-1881), estadista que consolidou
o Império Britânico, “idolatrava as árvores e as
flores” (André Maurois, A Vida de Disraeli, 7a. ed.,
p. 141; trad. Godofredo Rangel; Companhia
Editora Nacional; São Paulo); o genial Rui Barbosa
(1849-1923), nos raros e breves ócios que lhe
consentiam as graves ocupações, “sempre dedicou
especial carinho ao jardim e às flores” (cf. Ruy Barbosa,
“In Memoriam”, 1923).
(7) Dístico eloquente com que a imprensa da Capital
paulista lamentou a morte de seu prefeito Olavo
Setúbal (in O Estado de S. Paulo, 22.8.2008).
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula;
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e
Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio;
pronúncias e construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora
Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurisprudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência);
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina;
54. Da Pena (Doutrina e Jurisprudência);
55. Ilícito Civil e Ilícito Penal (Doutrina e Jurisprudência).
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www.scribd.com/Biasotti
Regime Prisional (Doutrina e Jurisprudência) Carlos Biasotti

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