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8/12/2020 “China 2013“

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"China 2013"
11/08/2015

O debate que diz respeito à China atual—uma “potência emergente”— nunca me


convence. Alguns defendem que a China escolheu, de uma vez por todas, o
“caminho capitalista” e inclusive pretende acelerar sua integração à globalização
capitalista atual. Esses estão bastante satisfeitos com isso e apenas esperam que esse
“retorno à normalidade”(capitalismo como “fim da história”) seja acompanhado pela
escolha da democracia aos moldes ocidentais(multipartidarismo, eleições, direitos
humanos). Eles acreditam—ou precisam acreditar— na possibilidade de que a China,
a partir desses meios, deva “acompanhar” em termos de renda per capita as
sociedades abastadas do Ocidente, mesmo que gradualmente, o que eu não acredito
ser possível. A direita chinesa possui a mesma posição. Outros, lamentam isso tendo
por base um “socialismo traído”. Alguns partem espontaneamente para as
expressões dominantes do ato ocidental de “China bashing”[1]. Ainda outros—
aqueles no poder em Pequim—descrevem o caminho escolhido como “socialismo de
características chinesas” sem uma precisão muito clara. Entretanto, pode-se discernir
suas características através da leitura de textos oficiais, particularmente os Planos
Quinquenais, que são precisos e levados muito a sério.
 

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Na verdade, a pergunta “A China é capitalista ou socialista?” é mal colocada, muito
geral e abstrata para qualquer resposta que faça sentido em termos de alternativa
absoluta. Na verdade, a China vem seguindo um caminho original desde 1950, e
quem sabe mesmo desde a Revolução de Taiping no século XIX. Procurarei aqui
esclarecer a natureza desse caminho original em cada uma de suas etapas de
desenvolvimento, de 1950 até hoje—2013.
 
 
A questão agrária
 
Mao descreveu a essência da revolução Chinesa liderada pelo Partido Comunista
como uma revolução antifeudal e anti-imperialista em direção ao socialismo. Mao
nunca assegurou que, após terem enfrentado o Imperialismo e o feudalismo, que o
povo chinês havia “construído” uma sociedade socialista. Ele sempre caracterizou
essa construção como a primeira etapa do longo caminho para chegar ao socialismo.
 
 
Eu devo enfatizar a natureza bastante específica da resposta dada à questão agrária
pela Revolução Chinesa. A terra (agrícola) distribuída não era privatizada; permaneceu
como propriedade da nação representada pelas comunas rurais e apenas o uso delas
era dado para famílias rurais. Não foi este o ocorrido na Rússia, onde Lenin, ao
encarar o fato consumado da insurreição camponesa de 1917, reconheceu a
propriedade privada para os beneficiários da distribuição de terras.
 
Por que a implementação do princípio de que as terras agrícolas não são uma
mercadoria, foi possível para a China (e Vietnã)? É constantemente repetido que os
camponeses por todo o mundo lutam por propriedade e apenas. Se fosse esse o caso
na China, a decisão de nacionalizar a terra levaria a uma guerra camponesa sem fim,
como ocorreu na União Soviética quando Stalin iniciou a coletivização forçada.
 
A atitude dos camponeses da China e Vietnã (e nenhum outro lugar) não pode ser
explicada por uma suposta “tradição” onde eles não têm conhecimento da
propriedade. É o produto de uma linha política inteligente e excepcional
implementada pelos Partidos Comunistas desses dois países.
 
A Segunda Internacional tomou como certa a inevitável aspiração dos camponeses
por propriedade, bem verdade na Europa do século XIX. Em frente a longa transição
europeia do feudalismo para o capitalismo (1500-1800), as anteriormente
institucionalizadas formas feudais de acesso à terra através de direitos compartilhados
entre reis, nobres, e camponeses servos gradualmente se dissolveu e foi substituído
pela forma burguesa de propriedade privada, que trata a terra como uma mercadoria
—um bem que o dono pode livremente se dispor (comprar e vender). Os socialistas
da Segunda Internacional aceitaram o fato consumado da “Revolução Burguesa”,
mesmo que o lamentando.
 
Também pensaram que a pequena propriedade camponesa não possuía futuro, que
pertencia à grandes empresas agrícolas mecanizadas se baseando no modelo
industrial. Pensaram que o desenvolvimento capitalista por si só levaria a tal
concentração de propriedade e para formas mais eficazes de sua exploração (ver os
escritos de Kautsky acerca desse assunto). A história provou que eles estavam errados.
A agricultura camponesa deu lugar a agricultura familiar capitalista em um duplo
sentido; um que produz para o mercado (consumo dentro da fazenda tendo-se
tornado insignificante) e um que faz uso de modernos equipamentos, insumos
industriais, e crédito bancário. E indo além, essa agricultura familiar capitalista acabou
tornando-se bastante eficiente em comparação àquela de grandes fazendas, em
termos de volume de produção por hectare por trabalhador/ano. Essa observação
não excluí o fato que o moderno fazendeiro capitalista é explorado pelo capital
monopolista em geral, que controla o emergente de fornecimento de insumos e de
crédito e o direcionamento da comercialização dos produtos. Esses agricultores foram
transformados em empresas subcontratadas para o capital dominante.
 
Assim (equivocadamente), convencidos que a grande empresa é sempre mais
eficiente do que a pequena em todas as áreas—indústria, serviços e agricultura—os
socialistas radicais da Segunda Internacional presumiram que a abolição da
propriedade fundiária (nacionalização da terra) permitiria a criação de grandes
fazendas socialistas (análogas às futuras sovkhozes e kolkhozes soviéticas). No
entanto, eles foram incapazes de colocar essas medidas em prática já que a revolução
não estava na agenda em seus países (os centros imperialistas).

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Os Bolcheviques aceitaram essas teses até 1917. Eles advogaram a nacionalização das
grandes propriedades da aristocracia russa, enquanto permitiam propriedade em
terras comunais para os camponeses. Entretanto, foram posteriormente pegos
despercebidos pela insurreição camponesa, que ocupou as grandes propriedades.
 
Mao aprendeu as lições dessa história e desenvolveu uma linha de ação política
completamente diferente. Começando na década de 1930 no sul da China, durante a
longa guerra civil de libertação, Mao fundamentou a crescente presença do Partido
Comunista em uma sólida aliança com os camponeses pobres e sem-terra (a maioria),
mantinha relações amistosas com os camponeses médios, e isolava os camponeses
ricos em todas as fases da guerra, sem necessariamente antagonizá-los. O sucesso
dessa linha foi uma pré-condição para a vasta maioria dos habitantes rurais
considerarem e aceitarem uma solução para seus problemas que não precisasse da
propriedade privada em lotes de terra adquiridos através da distribuição. Penso eu
que as ideias de Mao, e sua implementação bem-sucedida, possuem raízes históricas
na Rebelião de Taiping do século XIX. Mao, então, logrou êxitos onde o Partido
Bolchevique havia falhado; ao estabelecer uma sólida aliança com a vasta maioria
camponesa. Na Rússia, o fato consumado do verão de 1917 eliminou oportunidades
posteriores para uma aliança com os camponeses pobres e médios contra os ricos (os
kulaks) devido ao fato desse último se mostrar determinado para defender sua
propriedade adquirida, e os primeiros consequentemente, preferiram seguir os Kulaks
ao invés dos Bolcheviques.
 
Essa “particularidade chinesa”—cujas consequências são de grande importância—
nos impede absolutamente de caracterizar a China contemporânea (mesmo em 2013)
como "capitalista" porque o caminho capitalista se baseia na transformação da terra
em mercadoria.
 
 
Presente e futuro da Pequena Produção
Contudo, uma vez que esse princípio é aceito, as formas de usar esse bem comum (a
terra das comunidades rurais) podem ser muito diversas. A fim de compreender isso,
devemos ser capazes de distinguir a pequena produção da pequena propriedade.
 
Pequena produção—camponesa e artesanal—dominou a produção em todas as
sociedades antigas. Manteve um lugar de destaque no capitalismo moderno, agora
ligado à pequena propriedade—na agricultura, setor de serviços e mesmo em alguns
segmentos da indústria. Certamente na tríade dominante do mundo contemporâneo
(Estados Unidos, Europa e Japão), isso está sendo reduzido. Um exemplo disso é o
desaparecimento do pequeno comércio e sua substituição por grandes operações
comerciais. Ainda, isso não é para afirmar que essa mudança seja “progresso”,
mesmo em termos de eficiência, e tudo mais se as dimensões culturais, sociais e
civilizacionais são levadas em conta. Na verdade, isso é um exemplo da distorção
produzida pela dominação dos monopólios e rentistas em geral. Disso se tira o fato
que talvez em um socialismo futuro, o lugar da pequena produção seja chamado a
retomar sua importância.
 
Na China contemporânea, de qualquer forma, a pequena produção—o que não
necessariamente está ligado à pequena propriedade—toma posições importantes na
produção nacional, não apenas na agricultura, mas também em grandes segmentos
da vida urbana.
 
A China passou por formas bastante diversificadas e mesmo contrastantes de uso da
terra como um bem comum. Precisamos discutir, por um lado, a eficiência (volume de
produção de um hectare por trabalhador/ano) e, por outro, a dinâmica das
transformações em movimento. Essas formas podem fortalecer tendência que vão em
direção do desenvolvimento capitalista, que acabaria por questionar o estatuto de
não-mercadoria da terra, ou pode ser parte do desenvolvimento em uma direção
socialista. E essas questões só podem ser respondidas através de um exame concreta
das formas em questão, uma vez que foram implementadas em momentos sucessivos
do desenvolvimento chinês de 1950 até o presente.
 
No início, nos anos 50, a forma adotada foi de pequena produção familiar combinada
com formas mais simples de cooperação para a gestão da irrigação, trabalho que
requer coordenação, bem como a utilização de certos tipos de equipamento. Isto foi
associado com a inserção dessa pequena produção familiar a uma economia de
estado que manteve um monopólio sobre as compras de produtos destinados ao

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mercado e da oferta de crédito e insumos, tudo com base em preços planejados
(decididos pelo centro).
 
A experiência das comunas que seguiram o estabelecimento das cooperativas de
produção nos anos 70 está repleta de lições. Não foi necessariamente um problema
de passar da pequena produção para grandes fazendas, mesmo que a ideia de
superioridade da última, inspirasse alguns de seus apoiadores. A essência dessa
iniciativa tem sua origem na aspiração por uma construção socialista descentralizada.
As Comunas não apenas tiveram a responsabilidade de gerir a produção agrícola de
um grande povoado ou de um conjunto de povoados e aldeias(essa organização em
si foi uma mistura de formas de pequena produção familiar e produção especializada
mais ambiciosas), mas como também forneceram um panorama maior : (1)anexar
atividades industriais que utilizavam camponeses disponíveis em determinadas
épocas do ano;(2)articular atividades econômicas produtivas junto com a gestão de
serviços sociais(educação, saúde, moradia); e (3)iniciar a descentralização da
administração política da sociedade. Assim como a Comuna de Paris pretendia, o
Estado Socialista estava para se tornar, ao menos parcialmente, uma federação de
Comunas socialistas.
 
Sem dúvidas, em muitos aspectos, as comunas eram um avanço para seu tempo e a
dialética entre a descentralização do poder de decisão e a centralização assumida
pela onipresença do Partido Comunista nem sempre operava sem contradições.
Ainda, os resultados registrados foram longe de serem desastrosos, como a direita
pretende nos fazer acreditar. A Comuna na região de Pequim, que resistiu à ordem de
dissolução desse sistema, continua a registrar excelentes resultados econômicos,
ligados à permanência de debates políticos de alta qualidade, que desapareceram
em outros lugares. Os atuais projetos de “reconstrução rural”, implementado pelas
comunidades rurais em diversas regiões chinesas, aparentam ser inspirados na
experiência das comunas.
 
A decisão de dissolver as Comunas, tomada por Deng Xiaoping em 1980 fortaleceu a
pequena produção familiar, que permaneceu sendo a forma dominante durante as
três décadas que seguiram essa decisão. No entanto, o leque de direitos dos
utilizadores (por Comunas rurais e unidades familiares) expandiu-se
consideravelmente. Tornou-se possível aos titulares de direitos de uso da terra
“alugar" a terra (mas nunca "vendê-la"), seja para outros pequenos produtores—
facilitando, assim, a emigração para as cidades, particularmente de jovens instruídos
que não querem permanecer residentes rurais— ou para empresas que visem
organizar uma fazenda modernizada muito maior (nunca um latifúndio, que não existe
na China, mas, no entanto, consideravelmente maior do que a agricultura familiar).
Essa forma é o meio usado para encorajar produção especializada (como bons vinhos,
dos quais a China pediu o auxílio de peritos da Borgonha) ou testar novos métodos
científicos (OMGs e outros).
 
“Aprovar” ou “rejeitar” a diversidade desses sistemas, a priori não faz sentido, em
minha opinião. Mais uma vez, a análise concreta de cada um deles, tanto na forma
como na realidade de sua implementação, é imperativo. O fato permanece que a
diversidade criativa das formas de usar a terra como bem comum levou a resultados
fenomenais. Primeiramente, em termos de eficiência econômica, ainda que a
população urbana tenha crescido de 20 para 50% do total da população, a China
alcançou sucesso em aumentar a produção agrícola para acompanhar o ritmo da
necessidade gigantesca de urbanização. Esse é um resultado marcante excepcional,
sem paralelo nos países do Sul “capitalista”. Ela preservou e reforçou a sua soberania
alimentar, embora sofra de uma grande desvantagem: sua agricultura alimenta 22 por
cento da população do mundo razoavelmente bem enquanto a China tem apenas 6
por cento das terras aráveis do mundo. Ademais, em termos da forma (e nível) de vida
das populações rurais, as aldeias chinesas já não têm nada em comum com o que
ainda é dominante em outras partes do terceiro mundo capitalista. Estruturas
permanentes confortáveis e bem equipadas, formam um contraste marcante, não só
com a antiga China da fome e da pobreza extrema, mas também com as formas
extremas de pobreza que ainda dominam a zona rural da Índia ou da África.
 
Os princípios e políticas implementadas (bem comum da terra, apoio à pequena
produção sem a pequena propriedade) são responsáveis por esses resultados sem
iguais. Tornaram possível a migração do campo para a cidade relativamente
controlada. Compare isso com a via capitalista, no Brasil, por exemplo. A propriedade
privada da terra agrícola tem esvaziado o interior do Brasil—hoje apenas 11 por cento
da população do país. Mas no mínimo 50% da população urbana vive em favelas e
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sobrevivem apenas graças à “economia informal” (o que incluí crime organizado).
Não existe nada do tipo na China, onde a população urbana está, como um todo,
adequadamente empregada e com moradia, mesmo em comparação com os vários
“países desenvolvidos”, sem nem mencionar aqueles cujo PIB per capita está no
mesmo nível do chinês!
 
A transferência da população da zona rural chinesa extremamente densamente
povoada (apenas Vietnã, Bangladesh e Egito são semelhantes) foi essencial. Melhorou
as condições da pequena produção rural, tornando mais terras disponíveis. Esta
transferência, embora relativamente controlada (mais uma vez, nada é perfeito na
história da humanidade, nem na China, nem em outro lugar), talvez ameace tornar-se
demasiadamente rápida. Isso está sendo discutido na China.
 
 
Capitalismo de Estado chinês
A primeira forma de qualificação que me vem à mente para descrever a realidade
chinesa é capitalismo de estado. É, certamente, capitalismo no sentido de que a
relação à que os trabalhadores são submetidos pelas autoridades que organizam a
produção é semelhante a que caracteriza o capitalismo: o trabalho submisso e
alienado, a extração do trabalho excedente. Formas brutais de extrema exploração
dos trabalhadores existem na China, por exemplo, nas minas de carvão ou no ritmo
vertiginoso das oficinas que empregam mulheres. Isto é escandaloso para um país
que afirma querer avançar no caminho para o socialismo. No entanto, o
estabelecimento de um regime capitalista de Estado é inevitável, e permanecerá
assim em todos os lugares. Os países capitalistas desenvolvidos por si só não serão
capazes de adentrar a um caminho socialista (que não está na agenda visível hoje),
sem passar por esta primeira etapa. É a etapa preliminar no comprometimento
potencial de qualquer sociedade que queira se libertar historicamente do capitalismo
na longa jornada para o socialismo e o comunismo. A socialização e reorganização do
sistema econômico sob todas as formas, desde a fábrica (uma unidade elementar)
para a nação e o mundo, exige uma luta prolongada durante todo um período
histórico que não pode ser encurtado.
 
Para além dessa reflexão preliminar, devemos concretamente descrever o capitalismo
de estado em questão, trazendo a natureza e o projeto de tal Estado em particular,
porque não existe apenas um tipo de capitalismo de estado, mas vários que diferem
entre si. O capitalismo de estado da França da Quinta República de 1958 até 1975, foi
designado para servir e fortalecer os monopólios privados franceses, e não para
comprometer o país a um caminho socialista.
 
O Capitalismo de Estado chinês foi construído para alcançar esses três objetivos: (I)
Construir um moderno sistema industrial, integrado e soberano; (II) Administrar as
relações desse sistema com a pequena produção rural; e (III) Controlar a integração
chinesa ao sistema mundial, dominado pelos monopólios gerais da tríade Imperialista
(Estados Unidos, Europa e Japão). A realização desses três objetivos é inevitável.
Como consequência, se permite um possível avanço ao longo caminho para o
socialismo, mas ao mesmo tempo se fortalecem as tendências ao abandono dessa
possibilidade em prol de alcance do desenvolvimento capitalista puro e simples. Deve
se aceitar que esse conflito é tanto inevitável como sempre presente. A questão então
é essa: as escolhas concretas da China favorecem um dos dois caminhos?
 
O Capitalismo de Estado chinês exigiu, em sua primeira etapa (1954-1980), a
nacionalização de todas as empresas (junto à nacionalização das terras agrícolas),
tanto as grandes quanto as pequenas. Em seguida, se viu uma abertura às empresas
privadas, nacionais e/ou estrangeiras, e liberalizou a pequena produção rural e urbana
(pequenas empresas, comércio, serviços). Contudo, grandes indústrias de base e o
sistema de crédito estabelecido durante o período Maoísta não foram
desnacionalizados, mesmo se as formas organizacionais de sua integração a uma
economia de “mercado” foram modificadas. Esta escolha se deu em conjunto com o
estabelecimento de formas de controle sobre a iniciativa privada e uma potencial
associação com capital estrangeiro. Continuou observando até que ponto estes meios
cumprem as suas funções atribuídas ou, pelo contrário, se eles não se tornam cascas
vazias em conluio com o capital privado (através de "corrupção" da administração)
tendo ganho a ajuda pelo alto.
 
Ainda assim, o que o capitalismo de Estado chinês alcançou, entre 1950 e 2012 é
simplesmente incrível. Na verdade, obteve sucesso em construir um sistema produtivo
moderno soberano e integrado, na escala desse país gigantesco, o que só pode ser

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comparado com aquele dos Estados Unidos. Ele conseguiu deixar para trás a forte
dependência tecnológica de suas origens (importação Soviética, e em seguida, dos
modelos ocidentais) através do desenvolvimento de sua própria capacidade para
produzir invenções tecnológicas. Entretanto, (ainda?) não começou a reorganização
do trabalho pela perspectiva da socialização da gestão econômica. O planejamento—
e não a “abertura”— manteve os meios centrais para a implementação desta
construção sistemática.
 
Na fase maoísta desse desenvolvimento planejado, o planejamento permaneceu
imprescindível em todos os pormenores: natureza e locação dos novos
estabelecimentos, objetivos de produção, e preços. Nessa fase, nenhuma alternativa
razoável era possível. Mencionarei aqui, sem aprofundar isso mais tarde, o debate
interessante sobre a natureza da lei do valor que sustentou o planejamento nesse
período. O próprio sucesso—e não o fracasso—dessa primeira fase exigiu uma
alteração nos meios para a execução de um projeto de desenvolvimento acelerado. A
“abertura” à iniciativa privada—que se inicia em 1980, mas acima de tudo em 1990—
foi necessária para que se evitasse a estagnação que foi fatal para a URSS. Apesar do
fato de que essa abertura coincidiu com o triunfo globalizado do neoliberalismo—
com todos os efeitos negativos dessa coincidência, da qual eu devo retomar—, a
escolha de um “socialismo de mercado, ou melhor ainda, um “socialismo com
mercado”, como fundamental para essa segunda etapa de desenvolvimento
acelerado é em grande parte justificada, em minha opinião.
 
Os resultados dessa escolha são, mais uma vez, simplesmente incríveis. Em poucas
décadas, a China construiu uma urbanização industrial, produtiva que reúne 600
milhões de seres humanos, dois terços dos quais foram urbanizados nas últimas duas
décadas (quase igual à população da Europa!). Isto é devido ao planejamento e não
ao mercado. A China hoje tem um sistema produtivo verdadeiramente soberano.
Nenhum outro país do Sul (exceto Coreia e Taiwan) foi bem-sucedido em fazer isso.
Na Índia e Brasil existem alguns poucos elementos variados de projeto de soberania
do mesmo tipo, mas nada mais.
 
Os métodos para projetar e implementar o planejamento foram mudados nessas
novas condições. O planejamento permanece imprescindível para os enormes
investimentos infra estruturais que são necessários pelo projeto: para abrigar 400
milhões de novos habitantes urbanos em condições adequadas, e para construir uma
rede incomparável de rodovias, estradas, ferrovias, barragens e usinas de energia
elétrica; para a abertura de todos ou quase todos da zona rural chinesa; e para
transferir o centro gravitacional do desenvolvimento das regiões costeiras para o
oeste continental. O planejamento também permanece imprescindível — ao menos
parcialmente — para os objetivos e recursos financeiros de empresas públicas (do
Estado, províncias, municípios). Quanto ao resto, se aponta para os possíveis e
prováveis objetivos de expansão da pequena produção urbana de mercadorias bem
como atividade privada industrial e outras atividades privadas. Estes objetivos são
levados a sério e os recursos político-econômicos necessários para a sua realização
são especificados. No seu conjunto, os resultados não são muito diferentes das
previsões "planejadas".
 
O Capitalismo de Estado chinês se integrou nas dimensões de seu projeto de
desenvolvimento visivelmente social (não estou falando em “socialista”). Esses
objetivos já estavam presentes na era Maoísta: erradicação do analfabetismo, saúda
básica para todos, etc. Na primeira parte da fase pós-maoísta (década de 1990), a
tendência foi, sem dúvida, a negligencia da busca destes esforços. Entretanto, deveria
ser notado que a dimensão social desse projeto, desde então, tomou de volta seu
lugar, e em resposta a movimentos sociais fortes e ativos, se espera que façam mais
progressos. A nova urbanização não tem comparação com qualquer país do Sul.
Certamente existem bairros “chiques” e outros que não são sob nenhum ponto de
vista, ricos; mas não existem favelas, que continuaram a se expandir em todos os
lugares nas cidades do terceiro mundo.
 
 
A Integração da China na globalização capitalista
Não podemos prosseguir na análise do capitalismo de Estado chinês (chamado de
“socialismo de mercado” pelo governo) sem levar em consideração sua integração na
globalização. O mundo soviético havia visado um desligamento do sistema mundial
capitalista, complementando esse desligamento através da construção de um sistema
socialista integrado que inclua a URSS e a Europa Oriental. A URSS conseguiu esta
dissociação, em grande parte, imposta por outro lado pela hostilidade do Ocidente;

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mesmo culpando o bloqueio para seu isolamento. No entanto, o projeto de
integração da Europa Oriental nunca avançou para muito longe, apesar das iniciativas
da COMECOM. As nações do Leste Europeu permaneceram em posições incertas e
vulneráveis, parcialmente desvinculadas—mas sob uma base estritamente nacional—e
parcialmente com uma abertura à Europa Ocidental que se inicia em 1970. Nunca
houve uma questão acerca de uma integração entre URSS e a China, não apenas
porque o nacionalismo chinês não aceitaria isso, mas ainda mais porque as tarefas
prioritárias chinesas não exigiam isso. A China Maoísta praticamente se demarcou em
seu próprio caminho. Devemos dizer que, por reintegrar-se na globalização no início
na década de 1990, ela total e permanentemente renunciou essa desvinculação?
 
A China entrou na globalização nos anos 90 pelo caminho do desenvolvimento
acelerado de exportações de manufaturados possíveis para seu sistema produtivo,
dando prioridade às exportações cujas taxas de crescimento, em seguida, superaram
as do crescimento do PIB. O triunfo do neoliberalismo favoreceu o sucesso desta
escolha por quinze anos (1990-2005). O exercício dessa escolha é questionável não
apenas pelos seus efeitos políticos e sociais, mas também porque ela é ameaçada
pela implosão do capitalismo globalizado neoliberal, que começa em 2007. O
Governo Chinês aparenta estar ciente disso e muito cedo começou a tentar corrigir
isso ao dar grande importância para o mercado interno e o desenvolvimento do
Oeste da China.
 
Dizer, e como se ouve ad nauseam, que o sucesso chinês deve ser atribuído ao
abandono do maoísmo (cujo “fracasso” era óbvio), à abertura, e à entrada de capital
estrangeiro é simplesmente idiota. A construção maoísta pôs em prática as bases que
sem elas, a abertura não teria alcançado seu sucesso bem conhecido. A comparação
com a Índia, que não fez uma revolução comparável, demonstra isso. Dizer que o
sucesso chinês é principalmente (ou até “completamente”) atribuível às iniciativas do
capital estrangeiro não é menos idiota.  Não foi o capital multinacional que construiu
o sistema industrial chinês e atingiu os objetivos da urbanização e de construção de
infraestrutura. O sucesso é 90% atribuível ao projeto de soberania chinês.
Certamente, a abertura para o capital estrangeiro tem cumprido funções úteis:
aumentou a importação de tecnologias modernas. No entanto, por causa de seus
métodos de parceria, a China absorveu essas tecnologias e agora domina o seu
desenvolvimento. Não há nada semelhante em nenhum lugar, mesmo na Índia ou no
Brasil, a fortiori na Tailândia, Malásia, África do Sul e outros lugares.
 
A integração da China na globalização tem-se mantido, além disso, parcial e
controlada (ou pelo menos controlável, se alguém quiser colocar dessa maneira). A
China ficou de fora da globalização financeira. Seu sistema bancário é totalmente
nacional e focado no mercado de crédito interno do país. A gestão do yuan ainda é
uma questão de tomada de decisão soberana da China. O yuan não está sujeito aos
caprichos dos intercâmbios flexíveis que a globalização financeira impõe. Pequim
pode dizer a Washington "o yuan é o nosso dinheiro e seu problema", assim como
Washington disse aos europeus, em 1971, "o dólar é o nosso dinheiro e seu
problema.” Mais além, a China retém uma grande reserva para expansão em seu
sistema de crédito público. A dívida pública é insignificante em comparação com as
taxas de endividamento (considerada intolerável) nos Estados Unidos, Europa, Japão
e muitos dos países do Sul. China pode, assim, aumentar a expansão de seus gastos
públicos sem grave perigo de inflação.
 
A exportação de capital estrangeiro para a China, que se beneficiou disso, não está
por trás do sucesso de seu projeto. Pelo contrário, é o sucesso do projeto que fez o
investimento na China atraente para as multinacionais ocidentais. Os países do Sul,
que abriram suas portas muito mais amplamente do que a China e aceitaram
incondicionalmente a sua submissão à globalização financeira não se tornaram
atraentes em mesmo nível. O capital transnacional não é exportado para a China para
saquear os recursos naturais do país, sem qualquer transferência de tecnologia, para
terceirizar e se beneficiar de baixos salários; nem para aproveitar os benefícios da
integração de unidades deslocalizadas não relacionados a sistemas produtivos
nacionais inexistentes, como em Marrocos e na Tunísia; nem mesmo para realizar um
ataque financeiro e permitir que os bancos imperialistas desintegrem as economias
nacionais, como foi o caso no México, Argentina, e no Sudeste Asiático. Na China, em
contraste, investimentos estrangeiros podem certamente se beneficiar de baixos
salários e fazerem bons lucros para eles, sob a condição que seus planos se encaixem
nos da China e permitam a transferência de tecnologia. Em suma, esses são lucros
“normais”, mas mais pode ser feito em conluio com a permissão das autoridades
chinesas!
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China, potência emergente
Ninguém duvida que a China seja uma potência emergente. Uma ideia frequente é
que a China apenas está tentando recuperar o lugar que tinha ocupado durante
séculos e perdeu apenas no século XIX. No entanto, esta ideia, certamente correta, e
apologética, por outro lado, não nos ajuda muito na compreensão da natureza desta
emergência e as suas perspectivas reais no mundo contemporâneo. Aliás, aqueles
que propagam essa ideia geral e vaga não possuem interesse em considerar se a
China vai emergir se agrupando em torno dos princípios gerais do capitalismo (que
eles provavelmente pensam ser necessários) ou se irá levar a sério seu projeto de
“socialismo com características chinesas”. Da minha parte, eu defendo que a China é
de fato uma potência emergente, e isso se deve precisamente ao fato que não
escolheu o desenvolvimento puro e simples do caminho capitalista; e isso, como
consequência, se tivesse decidido seguir o caminho capitalista, o projeto de
emergência em si estaria sob sérios ricos de fracassar.
 
A tese que eu apoio implica em rejeitar a ideia que os povos não podem
simplesmente pular uma sequência necessária de etapas e que a China deve passar
por um desenvolvimento capitalista antes que a questão sobre seu possível futuro
socialista seja considerada. O debate sobre esse problema entre as diferentes
correntes do marxismo na história nunca foi concluído. Marx se manteve hesitante
sobre isso. Sabemos que logo após os primeiros ataques da Europa (Guerra do Ópio),
ele escreveu: a próxima vez que vocês enviarem seus exércitos para a China, eles
serão recebidos com uma bandeira “Atenção, vocês estão chegando nas fronteiras da
burguesa República da China”. Isto é uma intuição magnífica e mostra confiança na
capacidade do povo chinês em responder a esse desafio, mas ao mesmo tempo ele
errou porque na verdade estava escrito na bandeira: “Vocês estão a chegar nas
fronteiras da República Popular da China”. Ainda que, e nós sabemos disso, que no
que tange a Rússia, Marx não rejeitou a ideia de pular a etapa capitalista (veja suas
correspondências com Vera Zasulich). Hoje, alguém pode acreditar que o primeiro
Marx estava certo e que a China está de fato no caminho do desenvolvimento
capitalista.
 
Mas Mao entendeu—melhor que Lenin— que o caminho capitalista não levaria para
nada e que a ressureição da China poderia ser apenas a tarefa dos comunistas. Os
Imperadores Qing no final do século XIX, seguidos por Sun Yat Sen e pelo
Kuomintang, já haviam planejado uma ressureição chinesa em resposta ao desafio do
Ocidente. Contudo, eles não imaginaram outro caminho além do capitalismo e não
possuíam os recursos intelectuais necessários para entender o que é o capitalismo de
fato e porque esse caminho já havia sido fechado para a China, e para todas as
periferias do capitalismo. Mao, um marxista de espírito independente, entendeu isso.
Mais do que isso, Mao entendeu que sua batalha não havia sido ganha em um
primeiro momento—pela vitória em 1949—e que o conflito entre o comprometimento
com o longo caminho para o socialismo, as condições para o renascimento da China,
e o retorno ao rebanho capitalista ocuparia todo o futuro que se via a frente.
 
Pessoalmente, eu sempre compartilhei da análise de Mao e eu sempre retomo o
assunto em alguns de meus pensamentos que concernem o papel da Revolução de
Taiping (que eu considero ser a origem distante do maoísmo), a revolução de 1911 na
China, e outras revoluções ao Sul no começo do século XX, os debates no começo do
período da Conferência de Bandung e a análise dos impasses aos quais os assim
chamados países emergentes que se comprometeram com o caminho capitalista
estão presos. Todas essas considerações são corolários da minha tese central que
concerne a polarização (i.e., construção do contraste entre centro e periferia)
imanente ao desenvolvimento mundial do capitalismo histórico. Essa polarização
elimina a possibilidade de um país periférico “se ascender” dentro do contexto
capitalista. Devemos desenhar essa conclusão: se alcançar os países ricos é
impossível, alguma outra coisa deve ser feita—se chama seguir o caminho socialista.
 
China não tem seguido um caminho específico apenas a partir de 1980, mas desde
1950, embora esse caminho tenha passado por etapas que são diferentes em muitos
aspectos. A China tem desenvolvido um projeto coerente, soberano que é adaptado
para suas próprias necessidades. Este certamente não é o capitalismo, cuja lógica
exige que a terra agrícola seja tratada como uma mercadoria. Este projeto permanece
soberano na medida em que a China permanece fora da globalização financeira
contemporânea.
 

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8/12/2020 “China 2013“
O fato sobre o projeto chinês não ser capitalista não significa que “seja” socialista,
apenas que torna possível avançar para o longo caminho em direção ao socialismo.
No entanto, também é ainda ameaçado por um desvio que possa a tirar desse
caminho e terminar com um retorno, puro e simples, ao capitalismo.
 
A emergência bem sucedida da China é completamente resultado de seu projeto
soberano. Nesse sentido, China é a única nação emergente autêntica (junto da Coreia
e Taiwan, das quais falaremos mais depois). Nenhuma das outras nações que o Banco
Mundial concedeu certificado de emergência é verdadeiramente emergente porque
nenhuma dessas nações está persistentemente buscando um projeto soberano
coerente. Todas subscrevem os princípios fundamentais do capitalismo puro e
simples, mesmo em setores potenciais de seu capitalismo de Estado. Todas aceitaram
a submissão à globalização contemporânea em todas as suas dimensões, incluindo a
financeira. Rússia e Índia são exceções parciais nesse último quesito, mas não Brasil,
África do Sul e outras. Eventualmente existem fragmentos de uma “política industrial
nacional”, mas nada comparado com o projeto sistemático da China de construir um
sistema industrial, completo, integrado e soberano (notadamente na área de
especialização tecnológica).
 
Por essas razões estes outros países, muito precipitadamente caracterizados como
emergentes, continuam vulneráveis em graus variados, mas sempre muito mais do
que a China. Por todas estas razões, as aparências de emergência— respeitáveis
índices de crescimento, capacidade de exportar produtos manufaturados—estão
sempre ligadas aos processos de pauperização que afetam a maioria de suas
populações (especialmente o campesinato), que não é o caso da China. Certamente o
crescimento da desigualdade é óbvio em todo o mundo, incluindo a China; mas essa
observação permanece superficial e enganosa. Desigualdade na distribuição de
benefícios de um modelo de crescimento que, não obstante não exclui ninguém (e é
inclusive acompanhado de uma redução dos bolsões de pobreza—que é o caso
chinês) é uma coisa; a desigualdade conjunta com um crescimento que beneficia
apenas uma minoria (de 5% a 30% da população, dependendo do caso) enquanto os
outros permanecem desesperados é outra coisa. Aqueles que praticam China Bashing
desconhecem—ou fingem desconhecer—essa diferença decisiva. A desigualdade
que resulta da existência de bairros com moradias de luxo, por um lado, e
alojamentos com habitação confortável para as classes média e operárias, por outro,
não é o mesmo que a desigualdade resulta da justaposição de bairros ricos, habitação
de classe média e favelas para a maioria. Os coeficientes de Gini possuem valor para
a medição das mudanças de um ano para o outro num sistema com uma estrutura
fixa. No entanto, nas comparações internacionais entre sistemas com diferentes
estruturas, eles perdem seu significado, como todas as outras medidas de
magnitudes macroeconômicas em termos nacionais. Os países emergentes (além da
China) são de fato “mercados emergentes” abertos à penetração por monopólios da
tríade imperialista. Esses mercados permitem os últimos a extrair, em seu benefício
próprio, uma parte considerável da mais valia produzida no país em questão. A China
é diferente; é uma nação emergente, onde o sistema torna possível a retenção da
maior parte de sua mais valia produzida ali.
 
Coreia e Taiwan são os únicos exemplos bem sucedidos de uma emergência autêntica
e dentro do capitalismo. Esses dois países devem esse sucesso às razões
geoestratégicas que levaram os Estados Unidos a permitir-lhes alcançar o que
Washington proibiu os outros de fazerem. O contraste entre o apoio dos Estados
Unidos para o capitalismo de Estado destes dois países e a oposição extremamente
violenta ao capitalismo de Estado no Egito de Nasser ou a Argélia de Boumedienne
é, nesse sentido, bastante esclarecedor.
 
Não discutirei aqui os projetos potenciais de emergência, que aparecem bem
possíveis no Vietnã e em Cuba, ou as condições para uma possível retomada do
progresso nesse sentido na Rússia. Nem discutirei os objetivos estratégicos da luta
pelas forças progressistas seja no Sul capitalista, na Índia, Sudeste Asiático, América
Latina, mundo árabe, e na África, que poderia facilitar indo além dos impasses atuais
e incentivar a emergência de projetos soberanos que iniciem uma verdadeira ruptura
com a lógica do capitalismo dominante.
 
 
Grandes sucessos, novos desafios
A China não acabou de chegar nessa encruzilhada; esteve nela todos os dias desde
1950. As forças políticas e sociais da direita e da esquerda, ativas nas sociedades e no
partido, constantemente se enfrentaram.

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8/12/2020 “China 2013“
 
De onde a direita chinesa surge? Com certeza, da antiga Burguesia burocrático
compradora do Kuomintang que foram excluídos do poder. No entanto, no decorrer
da guerra de libertação, segmentos inteiros das classes médias, profissionais,
funcionários, e industriais, decepcionados com a ineficácia do Kuomintang em face da
agressão japonesa, aproximaram-se do Partido Comunista, inclusive entrando em
suas fileiras. Muitos deles—mas certamente não todos—continuaram nacionalistas, e
mais nada. Posteriormente, começando nos anos 90 com a abertura para iniciativa
privada, uma direita nova, mais poderosa, apareceu. Não deve ser reduzida
simplesmente a "empresários" que tiveram sucesso e fizeram fortunas (por vezes
colossais), fortalecidos pelos seus negociantes—o que inclui funcionários do Estado e
do Partido, que misturam o controle com conivência e até mesmo corrupção.
 
Este sucesso, como sempre, incentiva o apoio às ideias de direita nas crescentes
classes médias instruídas. É neste sentido que a crescente desigualdade, mesmo que
não tenha nada em comum com a característica desigualdade de outros países no Sul
—é um grande perigo político, o veículo para a propagação de ideias de direita,
despolitização e ilusões ingênuas.
 
Aqui devo fazer uma observação adicional que acredito ser importante: a pequena
produção, particularmente camponesa, não é motivada por ideias direitistas, como
Lenin pensava (isso era correto nas condições russas). A situação da China aqui
diverge bastante daquela da antiga URSS. O campesinato chinês, como um todo, não
é reacionário porque não defende o princípio da propriedade privada, em oposição
com o campesinato soviético. Ao contrário, o campesinato chinês de pequenos
produtores (sem serem pequeno proprietários) é hoje uma classe que não se entrega
a soluções direitistas, mas é parte do campo de forças de agitação para a adoção das
políticas sociais e ecológicas mais corajosas. O forte movimento de “renovação da
sociedade rural” comprova isso. O campesinato chinês em grande parte fica no
campo de esquerda, junto com a classe operária. A esquerda possui intelectuais
orgânicos provenientes do campo e exerce alguma influência nos aparatos do Estado
e do Partido.
 
O conflito contínuo entre a direita e esquerda na China sempre se refletiu nas linhas
políticas sucessivas implementadas pelo Estado e pela liderança do partido. Na era
maoísta, a linha de esquerda não foi dominante sem luta. Avaliando o avanço das
ideias de direita dentro do partido e sua liderança, um pouco parecido como o
modelo soviético, Mao lançou a Revolução Cultural para combatê-las. “Bombardear
os quartéis-generais”, ou seja, a liderança do Partido, onde a “Nova burguesia”
estava se formando. No entanto, enquanto a Revolução Cultural atendeu às
expectativas de Mao durante seus dois primeiros anos de existência, posteriormente
tomou um desvio anárquico, ligado à perda do controle por Mao e da esquerda do
partido ao longo da sequência dos eventos. Este desvio levou ao Partido e Estado
tomarem a situação por cima de novo, o que deu à direita, a sua oportunidade. Desde
então, a direita foi uma parte forte de todos os órgãos de liderança. No entanto, a
esquerda está presente no terreno, submetendo a liderança suprema aos
compromissos do "centro"—mas seria centro-esquerda ou centro-direita?
 
Para compreender a natureza dos desafios que a China enfrenta hoje, é essencial
entender que o conflito entre o projeto soberano chinês, tal como ele é, e o
Imperialismo Norte Americano e seus aliados subalternos europeus e japoneses irá
aumentar em maior grau à medida que a China prossiga em seu sucesso. Existem
diversas áreas de conflito: o controle da China por tecnologias modernas, o acesso
aos recursos do planeta, o fortalecimento das capacidades militares da China, e o
alcance do objetivo de reconstrução da política internacional com base nos direitos
soberanos dos povos em escolher seu próprio sistema político e econômico. Cada um
desses objetivos entra em conflito direto com os objetivos visados pela tríade
imperialista.
 
O objetivo da estratégia política dos EUA é o controle militar do planeta, a única
maneira que Washington pode manter as vantagens que lhe dão hegemonia. Esse
objetivo está sendo advogado por meio de guerras preventivas no Oriente Médio, e
nesse sentido essas guerras são as preliminares para a guerra (nuclear) preventiva
contra a China, a sangue-frio, e prevista pelo departamento de Estado da América do
Norte como uma possibilidade necessária “antes que seja tarde demais”. Fomentar a
hostilidade à China é inseparável desta estratégia global, que se manifesta no apoio
demonstrado para os proprietários de escravos do Tibet e Sinkiang, o reforço da
presença naval dos EUA no Mar da China, e o incentivo irrestrito ao Japão em
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8/12/2020 “China 2013“
construir suas forças militares. Os praticantes do China Bashing contribuem para
manter essa hostilidade viva.
 
Simultaneamente, Washington se dedica a manipular a situação ao apaziguar as
possíveis ambições da China e de outros países ditos emergentes, através da criação
do G20, que se destina a dar a estes países a ilusão de que a sua adesão à
globalização liberal iria servir aos seus interesses .O G2(Estados Unidos e China) é—
nesse sentido—uma armadilha que, ao fazer da China um cúmplice das aventuras
imperialistas dos EUA, poderia fazer a política externa pacífica de Pequim perder toda
a sua credibilidade.
 
A única resposta eficaz possível a esta estratégia deve proceder em dois níveis: (I)
Fortalecer as forças militares da China e equipá-las com o potencial para uma
resposta decisiva, e (II) tenazmente prosseguir o objetivo de reconstruir um sistema
político internacional policêntrico, que respeite todas as soberanias nacionais, e, para
concretizar isto, agir no sentido de reabilitar as Nações Unidas, agora marginalizadas
pela OTAN. Eu enfatizo a importância decisiva do último objetivo, que implica a
prioridade em reconstruir uma “frente do Sul” (uma segunda conferência de
Bandung?) capaz de apoiar as iniciativas independentes dos povos e Estados do Sul.
Implica, por sua vez, que a China se torne ciente que não tem os meios para a
possibilidade absurda de se alinhar às práticas predatórias do Imperialismo (pilhagem
de recursos naturais do planeta), já que carece de um poder militar similar àquele dos
Estados Unidos, que em última instância é a garantia de sucesso para projetos
imperialistas. A China, pelo contrário, tem muito a ganhar em desenvolver sua oferta
de apoio à industrialização dos países do Sul, que o clube dos "doadores"
imperialistas está tentando fazer impossível.
 
A linguagem usada pelas autoridades chinesas em matéria de questões
internacionais, que é muito comedida (o que é compreensível), torna difícil saber até
que ponto os líderes do país estão conscientes dos desafios abordados acima. Mais a
sério, esta escolha de palavras reforça ilusões ingênuas e despolitização da opinião
pública.
 
A outra parte do desafio concerne o problema da democratização da gestão política
e social do país. Mao formulou e implementou um princípio geral para a gestão
política da nova China que ele resumiu nos seguintes termos: reunir a esquerda,
neutralizar (eu acrescento: e não eliminar) a direita, governar a partir da centro-
esquerda. Na minha opinião, esta é a melhor maneira de conceber uma forma eficaz
para prosseguir em avanços sucessivos, compreendidos e apoiados pela grande
maioria. Dessa forma, Mao deu um conteúdo positivo à concepção de
democratização da sociedade combinado com progresso social sob o longo caminho
em direção ao socialismo. Ele formulou o método ao implementar isso:  a “linha de
massas” (ir até as massas, aprender com suas lutas, e voltar para as cúpulas de poder).
Lin Chun analisou com precisão esse método e os resultados que o fazem possível.
 
O problema da democratização combinado com progresso social—o contrário de
uma “democracia” desligada do progresso social (e até frequentemente ligada a
regressão social) — não interessa apenas à China, mas a todos os povos do mundo.
Os métodos com os quais isso deve ser implementado com sucesso não podem ser
sintetizados em uma única fórmula, válido em qualquer época para qualquer lugar. De
qualquer forma, a fórmula oferecida e propagada pela mídia ocidental—
multipartidarismo e eleições—deve simplesmente ser rejeitada. Mais além, esse tipo
de “democracia” se tornou em uma farsa, mesmo no Ocidente, mais ainda em outros
lugares. A “linha de massas” foi o meio de gerar consenso em objetivos sucessivos,
constantemente progredindo, e estratégicos. Isso vai em contraposição ao
“consenso” obtido nos países ocidentais através da manipulação midiática e da farsa
eleitoral, que é nada mais que o alinhamento com as exigências do capital.
 
Ainda hoje, como deveria a China começar a reconstruir o equivalente a uma nova
linha de massas em suas novas condições sociais? Não será fácil porque o poder da
liderança, que guinou em maior parte para a direita no Partido Comunista, baseia a
estabilidade de sua direção em despolitização e nas ilusões ingênuas que vão em
conjunto a isso. O próprio sucesso das políticas de desenvolvimento fortalece a
tendência espontânea em mover para esta direção. Se acredita abertamente na
China, entre as classes médias, que a estrada real para acompanhar o modo de vida
dos países ricos está agora aberta, livre de obstáculos; acredita-se que os membros
da tríade (Estados Unidos, Europa, Japão) não se opõem a isso; os métodos dos EUA
são mesmo acriticamente admirados; etc. Isso é particularmente verdade para as
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8/12/2020 “China 2013“
camadas médias urbanas, que estão em um rápido crescimento e cujas condições de
vida estão sob incríveis melhoras. A lavagem cerebral que os estudantes chineses são
submetidos nos Estados Unidos, em particular nas ciências sociais, combinado com a
rejeição do ensino oficial do marxismo “sem imaginação” e “tedioso”, têm
contribuído para diminuir os espaços de debates radicais e críticos.
 
O Governo da China não é insensível à questão social, não apenas devido à tradição
de um discurso fundado no marxismo, mas também porque o povo chinês, que
aprendeu como lutar e continua a fazer isso, pressiona as autoridades do governo. Se,
nos anos 90, essa dimensão social declinou ante as prioridades imediatas de acelerar
o crescimento, hoje a tendência é que se reverta isso. Ao mesmo tempo quando as
conquistas social-democratas estão se corroendo no Ocidente rico, a China pobre
está implementando a expansão da proteção social em três dimensões—saúde,
moradia e pensões. As políticas de habitação popular, difamadas pelo China Bashing
da direita e esquerda europeia, seriam invejadas, não apenas na Índia ou Brasil, mas
igualmente nas regiões carentes de Paris, Londres ou Chicago!
 
A previdência social e o sistema de pensões já cobrem 50% da população urbana
(que lembrem-se, aumentou, de 200 para 600 milhões de habitantes!) e o
planejamento (que a China ainda leva a cabo) antecipa que se cubra a população em
85% nos anos que se seguem. Deixem os jornalistas do China Bashing nos dar
exemplos comparáveis nos “países que embarcaram no caminho democrático”, que
eles continuamente rasgam elogios. No entanto, o debate permanece aberto sobre
os métodos de execução do sistema. A esquerda advoga pelo sistema francês de
distribuição baseado no princípio de solidariedade entre esses trabalhadores e as
diferentes gerações—que pré-condiciona a instauração do socialismo—enquanto a
direita, obviamente, prefere o sistema odioso de fundos de pensão dos Estados
Unidos, que divide trabalhadores e transfere os riscos do capital para o trabalho.
 
No entanto, a aquisição dos benefícios sociais é insuficiente se não for combinada
com a democratização da administração política da sociedade, com sua repolitização
por métodos que fortaleçam a invenção criativa de formas para o futuro socialista e
comunista.
 
Seguindo os princípios de um sistema eleitoral multipartidário como defendido ad
nauseam pela mídia ocidental e praticantes de China Bashing, e defendido pelos
“dissidentes” apresentados como “democratas” autênticos, não enfrentam esse
desafio. Ao contrário, a implementação desses princípios poderia apenas gerar na
China, como todas as experiências do mundo contemporâneo demonstraram (Na
Rússia, Leste Europeu, mundo árabe), a autodestruição do projeto emergente e de
renascimento social, que é na verdade o atual objetivo de preconizar esses princípios,
mascarados por uma retórica vazia (“não existe outra solução além das eleições
multipartidárias”!). Ainda assim, não é suficiente contrapor essa solução ruim com um
retorno à posição inflexível de defesa do privilégio do “Partido”, em si esclerosado e
transformado em uma instituição dedicada ao recrutamento de funcionários para a
administração do Estado. Algo novo deve ser inventado.
 
Os objetivos de repolitização e a criação de condições favoráveis para a invenção de
novas respostas não podem ser obtidos através de campanhas de “propaganda”.
Podem apenas ser promovidos através de lutas políticas, sociais e ideológicas. Isso
implica o reconhecimento provisório da legitimidade dessas lutas e uma legislação
com base nos direitos coletivos de organização, expressões políticas e proposta de
iniciativas legislativas. Isso implica, por sua vez, que o próprio partido está envolvido
nessas lutas; em outras palavras, a reinvenção da fórmula maoísta da linha de massas.
A repolitização não faz sentido se não for combinada com procedimentos que
incentivem a conquista gradual de responsabilidade por parte dos trabalhadores na
gestão da sua sociedade em todos os níveis— nas empresas, no regional e no
nacional. Um programa desse nível não exclui os direitos individuais. Pelo contrário,
supõe sua institucionalização. Sua implementação tornaria possível reinventar novas
formas de utilização de eleições para escolha de líderes.
 
 
 
 
Notas de observação [1]”China Bashing” se refere a uma das práticas favoritas da mídia ocidental, quaisquer seja sua tendência—o que
inclui a esquerda, infelizmente—que consiste em sistematicamente difamar, mesmo criminalizando, tudo que seja feito na China. A
China exporta velharia barata para os pobres mercados do terceiro mundo (isso é real), um crime terrível. No entanto, também produz
trens de alta velocidade, aviões, satélites, cujas qualidades tecnológicas maravilhosas são elogiadas no Ocidente, mas das quais a China
não deveria ter o direito a elas! Eles parecem pensar que a construção em massa de moradias para a classe operária nada mais é que
jogar os trabalhadores para favelas e a uma “desigualdade” na China (casas de trabalhadores não são bairros ricos) comparada a
existente na Índia (bairros ricos ao lado de favelas), e etc. China Bashing permeia também as opiniões juvenis encontradas em algumas

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8/12/2020 “China 2013“
tendências da fraca “esquerda” ocidental: se não é o comunismo do século 23, é uma traição! China Bashing faz parte da campanha
sistemática de manutenção das agressões hostis contra a China, tendo em vista uma possível agressão militar. Isso é nada menos do que
uma questão da destruição das oportunidades para uma emergência autêntica do grande povo do Sul.
 
 
Fontes
 
O caminho chinês e a questão agrária
Karl Kautsky, On the Agrarian Question, 2 vols. (London: Zwan Publications, 1988). Originally published 1899.
Samir Amin, “The Paris Commune and the Taiping Revolution, ” International Critical Thought, forthcoming in 2013.
Samir Amin, “The 1911 Revolution in a World Historical Perspective: A Comparison with the Meiji Restoration and the
Revolutions in Mexico, Turkey and Egypt,” published in Chinese in 1990.
Samir Amin, Ending the Crisis of Capitalism or Ending Capitalism? (Oxford: Pambazuka Press, 2011), chapter 5, “The Agrarian
Question.”
 
Globalização contemporânea, o desafio imperialista
Samir Amin, A Life Looking Forward: Memoirs of An Independent Marxist (London: Zed Books, 2006), chapter 7, “Deployment
and Erosion of the Bandung Project.”
Samir Amin, The Law of Worldwide Value (New York: Monthly Review Press, 2010), “Initiatives from the South,” 121ff, section 4.
Samir Amin, The Implosion of Contemporary Capitalism  (New York: Monthly Review Press, forthcoming in 2013), chapter 2,
“The South: Emergence and Lumpendevelopment.”
Samir Amin, Beyond US Hegemony (London: Zed Books, 2006). “The Project of the American Ruling Class,” “China, Market
Socialism?,” “Russia, Out of the Tunnel?,” “India, A Great Power?,” and “Multipolarity in the 20th Century.”
Samir Amin, Obsolescent Capitalism (London: Zed Books, 2003), chapter 5, “The Militarization of the New Collective
Imperialism.”
André Gunder Frank, ReOrient: Global Economy in the Asian Age (Berkeley: University of California Press, 1998).
Yash Tandon, Ending Aid Dependence (Oxford: Fahamu, 2008).
 
O desafio democrático
Samir Amin, “The Democratic Fraud and the Universalist Alternative,” Monthly Review 63, no. 5 (October 2011): 29–45.
Lin Chun, The Transformation of Chinese Socialism (Durham, NC: Duke University Press, 1996).
 
 
artigo de Samir Amin, na Montlhly Review
 
Tradução de Gabriel Duccini

China Países Socialistas Economia

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