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História Do Café Das Matas de Minas - 1808-2015 PDF
História Do Café Das Matas de Minas - 1808-2015 PDF
(1808-2015)
Belo Horizonte
2017
Governador do Estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel
Vice-Governador
Antônio Andrade
Secretário de Estado de Planejamento e Gestão
Helvécio Miranda Magalhães Júnior
Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais
Pedro Cláudio Coutinho Leitão
Presidente
Roberto do Nascimento Rodrigues
Vice-Presidente
Daniel Lisbeni Marra Fonseca
Diretoria de Estatística e Informações
Júnia Santa Rosa
Diretoria de Estudos de Políticas Públicas Paulo Camillo de Oliveira Penna
Celeste de Souza Rodrigues
Diretoria de Estudos em Cultura, Turismo e Economia Criativa
Bernardo Novais da Mata Machado
Diretoria de Informação Territorial e Geoplataformas
Daniel Lisbeni Marra Fonseca
Diretoria de Planejamento, Gestão e Finanças
Josiane Vidal Vimieiro
Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho
Letícia Godinho de Souza
COORDENAÇÃO:
Bernardo Novais da Mata Machado
ELABORAÇÃO:
Bernardo Novais da Mata Machado (pesquisa e redação)
Cláudio Burian Wanderley (pesquisador colaborador)
Délio Araújo Cunha (cartografia)
Gabriela Martins Durães Brandão (assistente de pesquisa)
APOIO ADMINISTRATIVO
Júnia Alves de Lima
Karine Fernandes Ramo
Paulo Rogério Pereira de Freitas
REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
Ana Paula da Silva
GRÁFICOS
Gráfico1: População estimada, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas, 1990=100,
1990-2015 ......................................................................................................... 126
Gráfico 2: Produto Interno Bruto a preços de 2015, Minas Gerais e municípios das Matas de
Minas, 2002=100, 2002-2014 ............................................................................ 127
Gráfico 3: Produto Interno Bruto per capita a preços de 2015, Minas Gerais e municípios das
Matas de Minas - 2002-2014 ............................................................................. 128
Gráfico 4: Produção de café, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas, 1990=100,
1990-2015 ......................................................................................................... 129
Gráfico 5: Produção de café tipo arábica, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas,
1990=100, 1990-2015 ........................................................................................ 130
Gráfico 6: Produção de café per capita - Minas Gerais, municípios das Matas de Minas e
restante do estado - 1990-2015 ......................................................................... 131
Gráfico 7: Área colhida de café (hectares) - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas -
1990-2015 ......................................................................................................... 131
Gráfico 8: Área colhida com culturas permanentes, proporção da área colhida agrícola total
(%) - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ......... 132
Gráfico 9: Área colhida com café, proporção da área colhida com culturas permanentes (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ................. 133
Gráfico 10: Área colhida com café, proporção da área colhida agrícola total (%) - Municípios
das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ................................... 133
Gráfico 11: Produtividade média por hectare da produção de café - Minas Gerais e
municípios das Matas de Minas, 1990=100 - 1990-2015 ................................... 134
Gráfico 12: Valor da produção de café - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas
(preços de 2015) - 1990-2015 ............................................................................ 135
Gráfico 13: Valor da produção de café - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas
(preços de 2015) - 1990=100 - 1990-2015 ......................................................... 136
Gráfico 14: Valor gerado pelas culturas permanentes - proporção do valor agrícola total
gerado (%) - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015
.......................................................................................................................... 137
Gráfico 15: Valor gerado pela cultura do café - proporção do valor gerado pelas culturas
permanentes (%) - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-
2015 .................................................................................................................. 138
Gráfico 16: Valor gerado pela cultura do café - proporção do valor agrícola total gerado (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ................. 138
Gráfico 17: Razão do valor gerado por hectare colhido de café e o valor médio agrícola
gerado por hectare - Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ......... 139
Gráfico 18: Relação entre o valor da produção cafeeira e o produto agropecuário -
municípios das Matas de Minas e Minas Gerais - 2002 -2014 ........................... 141
Gráfico 19: Relação entre o valor da produção cafeeira e o produto total - Municípios das
Matas de Minas e Minas Gerais - 2002 -2014 .................................................... 142
Gráfico 20: Efeito adicional da elasticidade do valor da produção cafeeira per capita em
relação ao produto municipal per capita dos municípios das Matas de Minas
(regressões quantílicas) - primeira especificação - 2002-2014 .......................... 145
MAPAS
QUADROS
1 Introdução ............................................................................................................................... 11
2 Os primeiros habitantes das Matas de Minas ........................................................................ 19
2.1 Os povos indígenas .............................................................................................................. 19
2.2 A colonização das Matas de Minas até a chegada do café ........................................... 28
3 A chegada do café .................................................................................................................. 33
3.1. Estradas de ferro e de rodagem.......................................................................................... 40
3.2 Escravos, imigrantes estrangeiros e meeiros. ................................................................ 44
4 Superprodução e intervenções governamentais para defesa e valorização do café brasileiro
................................................................................................................................................ 56
4.1 O Congresso Agrícola, Comercial e Industrial de 1903. ................................................ 58
4.2 O Convênio de Taubaté de 1906 .................................................................................... 61
4.3 O Censo de 1920 ............................................................................................................ 64
4.4 A defesa permanente do café ......................................................................................... 69
4.5 A política cafeeira de 1930 a 1990 ................................................................................. 75
5 A praga da ferrugem e a reinvenção da cafeicultura ............................................................. 85
5.1 A pesquisa cafeeira......................................................................................................... 88
5.2 Assistência técnica e certificação ................................................................................... 95
5.3 Crédito Agrícola............................................................................................................. 100
6 Organização dos produtores, concursos e prêmios do café das Matas de Minas. ............. 110
6.1 Sindicatos, Associações, Cooperativas e o Conselho das Entidades do Café das Matas
de Minas. .................................................................................................................................. 110
6.2 Cafés de qualidade, concursos e prêmios.................................................................... 117
7 Estatísticas da produção cafeeira nos municípios das Matas de Minas entre 1990 e 2015126
7.1 População e Produto nas Matas de Minas ................................................................... 126
7.2 A produção de café ....................................................................................................... 128
7.3 Produção de café e agricultura familiar ........................................................................ 139
7.4 Produção de café e produto local ................................................................................. 141
8 Conclusão ............................................................................................................................. 147
ANEXO I – .................................................................................................................................... 154
Municípios que compõem a região das Matas de Mina........................................................... 154
ANEXO II ...................................................................................................................................... 155
Evolução Administrativa dos Municípios da Região das Matas de Minas............................... 155
ANEXO III ..................................................................................................................................... 157
Delimitação das Regiões Produtoras de Café pelo Governo do Estado de Minas Gerais ..... 157
ANEXO IV ..................................................................................................................................... 160
Concursos e Prêmios ............................................................................................................... 160
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 188
1 INTRODUÇÃO
11
especificamente o vale do rio Muriaé, no qual o café chega por volta de 1840; e a sub-região
da bacia do rio Doce, particularmente no vale do rio Manhuaçu (com o afluente rio José
Pedro), que começa a ser penetrada pela cafeicultura a partir de 1860 (ver Mapa 2).
Do ponto de vista da qualidade do café é possível destacar, atualmente, duas áreas
menores: a que está situada no encontro dos vales dos rios Glória e Matipó, onde as
altitudes da serra do Brigadeiro (extensão da serra da Mantiqueira) propiciam que
municípios ali localizados, como Araponga, Sericita e Ervália sejam hoje vencedores de
concursos de qualidade de café; e uma segunda área, no vale do rio Itabapoana (formado
pela junção dos rios São João e Preto2), que nasce na serra do Caparaó e na direção do
litoral divide as fronteiras dos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Próximos uns dos outros, incluindo o afluente do Manhuaçu, rio José Pedro, configuram
uma área onde terras férteis, clima e principalmente a altitude da Serra do Caparaó
possibilitam a produção de um café de alta qualidade, com destaque para os municípios de
Espera Feliz, Caparaó, Alto Caparaó e Caiana (ver Mapa 3).
Em função do atual processo de aquecimento da temperatura terrestre, o café que
antes se adaptava bem em terrenos até 500 metros de altura, hoje está se dá melhor entre
650 e 1200 metros, e por isso muitos outros municípios também se encontram em situação
favorável, destacando-se Manhuaçu, São João do Manhuaçu, Santa Margarida, Martins
Soares, Luisburgo e Caratinga.
Embora grande parte da região aqui denominada Matas de Minas esteja na
mesorregião da Zona da Mata, seu povoamento, estrutura fundiária e regime de trabalho
têm características históricas distintas das que ocorreram no setor sul dessa mesorregião.
Ao contrário da cafeicultura das margens do rio Paraíba do Sul, desenvolvida entre 1830 e
1880 na fronteira entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, caracterizada pela grande
propriedade patriarcal, aristocrata e escravocrata, o café das Matas de Minas foi, desde a
sua origem, produzido predominantemente por pequenos e médios proprietários (incluindo
imigrantes estrangeiros) e cultivado em parceria com trabalhadores livres (meeiros), sendo
que alguns, com o passar dos anos, lograram transformar-se em sitiantes. Desde a origem a
lavoura do café das Matas de Minas conviveu com a pecuária leiteira e a produção de
gêneros agrícolas de subsistência.
O predomínio de pequenas e médias propriedades está relacionado ao processo de
ocupação das terras devolutas (abundantes na faixa leste de Minas Gerais até o início do
século XX), por meio do reconhecimento da posse. O sistema oficial de concessão de terras
(sesmarias), introduzido desde o início da colonização portuguesa, foi extinto oficialmente
2 Não confundir com o rio e a cidade do mesmo nome localizados na bacia do rio Paraíba do Sul.
12
em 1822, embora haja referências de concessões até 1836. Somente em 1850, através da
Lei nº 601 de 18 de setembro (Lei de Terras)3, o vazio jurídico foi superado e a legalização
da posse de terras devolutas autorizada, por meio de registro oficial, após comprovação de
uso efetivo (cultivo e moradia). Foi assim que o regime de pequenas e médias propriedades
predominou, e ainda se mantém nas Matas de Minas, com sucessivas subdivisões por
herança.
A quase inexistência de escravos negros (há referências esparsas) está
relacionada ao período no qual se inicia o povoamento da região, que coincide com o
gradativo processo de abolição da escravatura, marcado por sucessivas leis: a de 1831, que
declarou livres todos os escravos que dessem entrada no território brasileiro (lei muito
burlada), a que extinguiu definitivamente o tráfico negreiro (1850), as que declararam livres
os negros recém-nascidos (1871) e os sexagenários (1885) e, finalmente, a que libertou os
4
escravos (1888).
Apesar de existir diferenças substantivas entre as cafeiculturas das Matas de Minas
e a que floresceu na parte do sul da Zona da Mata, há entre elas uma característica comum:
até pelo menos 1970, em ambas as regiões o café, em geral, foi cultivado sem cuidados
especiais. Ao que tudo indica, a produção seguiu a rotina identificada pelo naturalista suíço
J. J. Von Tschudi, quando viajou por Minas Gerais em 1858:
3
BRASIL. Lei nº 601, 1850.
4 Respectivamente: Lei Feijó, de 7 de novembro de 1831(s/n); Lei Eusébio de Queirós (nº 581, de 4 de setembro
de 1850); Lei do Ventre Livre (nº 2040, de 28 de setembro de 1871); Lei dos Sexagenários (nº 3270, de 28 de
setembro de 1885) e Lei Áurea (nº 3353, de 13 de maio de 1888).
5 HALFELD, H.G.F.; TSCHDI, J.J. von. A província brasileira de Minas Gerais, p. 111.
13
Esse mesmo viajante, quando em visita à colônia de imigrantes Santa Leopoldina
na então Província do Espírito Santo, acrescenta algumas observações a respeito da
agricultura em áreas montanhosas:
O fogo violento, usado nas queimadas da floresta, destrói em parte a frágil
camada de húmus e as substâncias orgânicas [...], comprometendo também
a umidade. Além disso, com a derrubada das árvores os declives íngremes
das montanhas ficam totalmente expostos à influência dos fortes aguaceiros
tropicais que arrastam as melhores partes dos campos cultivados para
dentro do rio Santa Maria [...]. É um fato evidente que em Santa Leopoldina
6
o solo tornou-se infértil por causa dessa forma de cultivo.
No caso de Minas Gerais Tschudi ameniza parcialmente sua crítica:
14
produção ter sido ultimamente reduzida por dificuldades de comercialização, ainda é
plantado, principalmente por agricultores familiares.
Em 1995 o governo de Minas Gerais, por meio da Portaria nº 165 de 27 de abril, do
Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), delimitou quatro regiões produtoras de café no
Estado (ver anexo 3), com a finalidade de instituir certificados de origem e qualidade. Nesse
ato a região aqui estudada foi reconhecida, primeiramente com o nome “Montanhas de
Minas”, trocado em 2001 para “Matas de Minas” (Portaria nº 437).
Essa é a história que será contada nas páginas seguintes. Além da introdução e da
conclusão, o trabalho está dividido em seis capítulos O capítulo segundo é dedicado à pré-
história do café, particularmente aos indígenas que primitivamente ocuparam aquela região,
e à chegada dos primeiros colonizadores brancos, que se deslocam da área mineradora em
decadência para os sertões do rio Doce (ou sertões do leste). O terceiro capítulo aborda a
chegada do café, que expandindo pelo vale do rio Paraíba do Sul vai, paulatinamente,
ocupando a região sul e central da Zona da Mata mineira (vales dos rios Paraibuna, Preto e
Pomba), até atingir as Matas de Minas, contando, inclusive, com a força de trabalho de
imigrantes suíços, alemães e italianos. Em seguida, no quarto capítulo são analisadas as
crises de superprodução do café e as intervenções governamentais feitas para sua defesa e
valorização, entre 1906 e 1990, com a finalidade de evitar a queda dos preços do então
maior produto de exportação brasileiro. O capítulo quinto trata da produção de café a partir
de 1970, quando a chegada da praga da ferrugem provoca uma verdadeira reinvenção da
cafeicultura, impulsionada pela execução de dois planos lançados pelo Instituto Brasileiro do
Café: o Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais e o Plano de Pesquisa e
Controle da Ferrugem do Cafeeiro, baseados no tripé pesquisa, assistência técnica e crédito
rural. O sexto capítulo versa sobre a organização dos produtores, destacando o Conselho
das Entidades do Café das Matas de Minas, e descreve os prêmios obtidos por cafeicultores
da região, notadamente a partir do ano 2000. O sétimo e último capítulo expõe e analisa
dados estatísticos da produção cafeeira da região entre 1990 e 2015, período no qual o café
das Matas de Minas passa a ser reconhecido internacionalmente por sua qualidade.
15
Mapa 1: Região Cafeeira das Matas de Minas Gerais
16
Mapa 2: Região Cafeeira das Matas de Minas - MG - Bacias Hidrográficas
17
Mapa 3: Região Cafeeira das Matas de Minas - MG - Altimetria
18
2 OS PRIMEIROS HABITANTES DAS MATAS DE MINAS
O vale do rio Doce, em toda a sua extensão, bem como o vale do rio Paraíba do
Sul, na fronteira leste de Minas Gerais com os Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro,
permaneceram praticamente intocados pelo colonizador português até que a mineração do
ouro, que foi abundante na região central de Minas Gerais, entrou em declínio no final do
século XVIII. Durante quase três séculos a espécie humana nos sertões do leste, coberto
por florestas de difícil penetração, esteve representada unicamente pelos povos indígenas,
que das matas extraíam sua sobrevivência.
O isolamento do leste mineiro, assim como dos sertões do vale do rio São
Francisco, foi uma estratégia da política territorial da Coroa, que a todo custo queria evitar
que o ouro extraído das minas encontrasse outra saída que não fosse pelo Caminho Novo
(concluído em 1705 no ângulo sudoeste da Zona da Mata), por onde o metal precioso era
levado ao Rio de Janeiro e daí para a Europa.
Ordens régias (alvarás de 1710 e 1733) proibiram a navegação pelo rio Doce e a
abertura de caminhos por terra, quer do lado de Minas, quer do Espírito Santo. Não era
permitido abrir clareiras na mata nem construir casas ou estabelecer fazendas, e a Coroa
abstinha-se de conceder terras (sesmarias) na região. O objetivo da Metrópole era não só
evitar o contrabando do ouro, mas resguardar-se também de eventuais incursões de seus
concorrentes na conquista colonial, como os franceses e holandeses, que partindo do litoral
do Espírito Santo poderiam alcançar Ouro Preto e apossar-se das minas.
Assim, as florestas ao norte e ao sul do rio Doce permaneceram domínio exclusivo
dos Botocudos, Puris e Coroados, nações indígenas de origem remota, que para sobreviver
lutaram entre si e contra os invasores brancos. Até por volta de 1770, quando o ouro
começa a escassear na área central, os únicos povoados existentes na região se
desenvolveram no entorno de quartéis/presídios instalados para abrigar criminosos,
impulsionar o povoamento, defender a fronteira com o Espírito Santo e fazer guerra ou
aldear os índios. Os primeiros quartéis foram instalados em Abre Campo e em Cuieté (atual
distrito de Cuieté Velho no município de Conselheiro Pena). Em 1800, ano em que os
governadores de Minas e do Espírito Santo assinaram o Auto de Demarcação das fronteiras
entre as duas Capitanias, o elemento branco começa, lentamente, a penetrar aquelas
densas matas e a enfrentar as nuvens de mosquitos, a malária e a resistência indígena.
19
Com o Auto de Demarcação, confirmado pela Carta Régia de 4 de dezembro de 1816, a
navegação do rio Doce foi franqueada aos mineiros, sendo também iniciada a concessão de
sesmarias, particularmente no vale do rio Doce.
Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, os governadores da Capitania
de Minas Gerais buscaram alternativas para enfrentar a decadência da mineração do ouro,
entre elas o povoamento dos então chamados sertões do leste. Além dos presídios já
instalados, duas alternativas foram testadas: expedições de busca de novas jazidas de ouro
(algumas descobertas foram feitas, mas de escassa produção) e tentativas de navegação
fluvial do rio Doce com fins comerciais, que encontrou obstáculos físicos intransponíveis.
No intuito de encontrar soluções para o desenvolvimento da Capitania, os
governadores chegaram a encomendar estudos a intelectuais que ocupavam cargos
públicos civis e militares, nascidos ou residentes em Minas Gerais, entre eles José Joaquim
da Rocha, Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos, José João Teixeira Coelho, José Vieira
Couto e Antônio Pires da Silva Pontes. Com relação ao vale do rio Doce esses estudiosos
destacaram o potencial agrícola de suas terras e recomendaram conceder sesmarias,
moratórias de dívidas e isenções de impostos para aqueles que se interessassem no plantio
de culturas de exportação (como a cana de açúcar e o algodão), e na criação de gado. Para
enfrentar o botocudo “bárbaro”, “feroz”, “sedento de sangue” e “devorador de carne humana”
8
recomendava-se o uso de força militar ofensiva.
Essa última recomendação foi imediatamente assumida por D. João VI quando, sob
a ameaça de Napoleão Bonaparte, abandonou Portugal e refugiou-se no Brasil junto com
sua Corte. A partir de 1808, o Brasil passa a ser sede do Reino Unido de Portugal e
Algarves, e nessa condição adota uma nova política territorial, que abre para o povoamento
os sertões antes proibidos. Dois meses após ter aportado no país, o Príncipe Regente, por
meio da Carta Régia de 13 de maio de 1808, declara guerra aos índios botocudos e ordena
a ocupação do vale do rio Doce, com base na instalação das Divisões Militares do Rio Doce
(DMRD), coordenadas pela então criada Junta de Conquista e Civilização dos Índios e da
Navegação do Rio Doce. O território foi dividido em seis DMRD (uma sétima foi criada
posteriormente), sob a responsabilidade de “comandantes com plenos poderes militares,
8
A antropofagia dos índios Botocudos é tema controverso. Eschewege, na obra Jornal do Brasil (1811-1817)
[Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 2002] reproduz na página 81
informações de segunda mão que dão conta da existência desse hábito. Contudo, noutro trecho esse mesmo
autor se refere às “relações amistosas” que os Botocudos de Minas Novas tinham com os portugueses, supondo
que talvez fossem de outra tribo. (p.84). J. J. Von Tschudi, por sua vez, escreve que “os botocudos são canibais
não exatamente no sentido literal do termo, mas apenas por vingança ou pela fome insaciável”. Diz não acreditar
que eles matassem para comer, mas admite que “comam um inimigo abatido porque este lhes oferece uma
alimentação disponível e cômoda”. [Viagens através da América do Sul (1866). Belo Horizonte: Fundação João
Pinheiro, 1998, v. 2, p.261].
20
civis, judiciais e policiais”.9 A Carta Régia ordenava que os índios capturados em combate
fossem considerados prisioneiros de guerra, e postos a serviço dos comandantes por 10
anos, ou enquanto durasse sua “ferocidade”. O mesmo documento criava incentivos aos
comandantes, prometendo aumentar o soldo daquele que no decurso de um ano
demonstrasse ter aprisionado ou eliminado mais botocudos do que os outros. Para aqueles
que se despusessem a ocupar e cultivar as terras tomadas aos indígenas a Carta Régia
prometia isenção de impostos e liberdade de comércio por 10 anos, além da moratória de
dívidas dos colonos pelo período de 6 anos. Aos comandantes das Divisões cabia demarcar
os terrenos, proporcionais às “fábricas” (bens) dos interessados.
O geólogo, mineralogista e coronel do exército português Wilhelm Ludwig von
Eschewege, que viveu no Brasil entre 1810 e 1821, “levado pela curiosidade”, viajou em
1811 a um dos quartéis (ele não cita qual, provavelmente por razões de segurança), a fim
de conhecer a “constituição política e social” das tribos de botocudos. Como índios e
soldados estavam em plena guerra não foi possível uma “aproximação amistosa”, mas ele
pode extrair dos comandantes informações sobre os combates:
Essa tática era conhecida como “matar a aldeia” e conforme outros relatos a
mortandade dos índios não foi pequena. Em 1858, o suíço J. J. von Tschudi, em visita a
Nova Filadélfia (atual Teófilo Otoni), no vale do rio Mucuri, destacou a supremacia das
armas de fogo dos portugueses e deu informações mais precisas:
[...] cercavam as aldeias durante a noite e caíam sobre elas nas primeiras
horas da madrugada [...]. Na maioria das vezes [os índios] eram
surpreendidos em meio ao sono profundo. Os soldados apoderavam-se
primeiro dos arcos e flechas, guardados em um canto, para então, menos
ameaçados, abaterem os índios indefesos. Apenas as crianças (os curucas)
eram poupadas. Elas se tornavam presas de guerra! Um curuca era
vendido, geralmente, por 100 mil réis. Em tempos mais recentes, o lucro
obtido com a venda de crianças capturadas foi a principal motivação para o
extermínio das aldeias. E isso acontece hoje no Brasil constitucional, contra
11
os nativos da terra!
21
O comércio de curucas foi impulsionado pela própria Coroa, pelo que se depreende
de outra Carta Régia de D. João VI, dedicada à “civilização dos índios”, datada de 2 de
dezembro de 1808 (sete meses após a declaração de guerra aos Botocudos). Nessa Carta
o Príncipe Regente ordenava que a prática de aldear os índios só deveria ser adotada
quando houvesse uma grande população deles disposta a buscar a “real proteção”. Caso
contrário, os índios deveriam ser “distribuídos pelos fazendeiros e agricultores da Capitania”,
ficando os mesmos autorizados a “servir-se gratuitamente do trabalho de todos os índios
que receberem”, por um período de 12 anos, “e por 20, quanto aos que tiverem menos de
12 anos“ (grifo nosso). Para compensar os gastos com o sustento dos índios Sua Alteza
prometia indenizar os fazendeiros, como forma de “remuneração do seu trabalho e
12
vigilância”.
A estratégia da Coroa era econômica, mas também cultural. Desde o início da
colonização, os portugueses sabiam do potencial de resistência dos indígenas à escravidão,
além da facilidade de fuga que eles tinham por conhecer cada palmo das florestas. Subjugar
crianças e aculturá-las era mais prático.
Os aldeamentos indígenas da região em geral eram acoplados aos
quartéis/presídios. Alguns foram criados ainda antes de 1808, entre eles os de Cuieté,
Peçanha, Abre Campo, Arrepiados (atual Araponga) e São João Batista do Presídio (atual
Visconde do Rio Branco).
Sobre o quartel de São João Batista do Presídio há uma longa descrição feita por
Eschewege, que de Vila Rica (Ouro Preto) parte em viagem para lá em dezembro de 1814,
com a finalidade de conhecer as tribos já então subjugadas dos índios Puris e Coroados,
que habitavam as matas dos rios Pomba e Muriaé.
Essas tribos sofriam com os assédios dos Botocudos e por isso aceitaram
submeter-se ao aldeamento, estratégia utilizada desde o início da colonização, que envolvia
a demarcação de terras nas quais eram confinados os índios semicivilizados. Essa prática,
adotada por autoridades civis e religiosas (até 1891 vigorou no Brasil a união entre Estado e
Igreja), além de liberar terras fora das demarcações para serem exploradas, disponibilizava
13
aos colonos uma “força de trabalho baratíssima”. Em São João Batista Eschewege
registra que famílias inteiras de Coroados eram contratadas pelos comerciantes de poaia,
prometendo pagá-las quando retornassem da coleta. Os índios permaneciam meses
coletando a poaia nas matas, mas quando retornavam os comerciantes tinham por costume
12
Os textos citados das Ordens Régias de maio e dezembro de 1808 foram retirados de: ALVES, M. R. F.;
ALVES, J. D. Civilização e Barbárie: D. João VI e a conquista dos sertões do leste, 2008.
13
GORENDER, Jacob. O Escravismo Colonial, p.476.
22
14
“embriagar a todos e fugir com as ipecacuanhas.” . A poaia, ou ipecacuanha, é uma planta
cujas raízes e folhas têm múltiplas virtudes medicinais e por isso era muito valorizada na
Europa. Entre as aplicações da planta citam-se: provoca vômito, é antídoto contra veneno
de cobra, cura hidropisia, doenças reumáticas e venéreas, combate a amebíase.
Eschewege foi recebido em São João Batista do Presídio pelo francês Guido (Guy)
Thomas Marlière, militar que desertara das tropas de Napoleão. Chegou ao Brasil em 1808,
e após um período preso sob a suspeita de ser espião, alistou-se no exército português e,
em 1812, já era capitão de cavalaria em Vila Rica (Ouro Preto). Em 1813 foi nomeado
Diretor Geral dos Índios da Freguesia de São Manoel do Pomba, de São João Batista e
aldeias anexas, cargo que detinha quando recebeu Eschewege. Em 1824 foi promovido ao
posto de comandante geral das Divisões Militares do Rio Doce. Depois de reformado viveu
na sua fazenda Guidowald (hoje Guidoval) até falecer, em 1836.
Marlière passou para a história do Brasil como pacificador de índios e criador das
bases da colonização da Zona da Mata mineira. Sua estratégia de atração dos índios era
simples: dava-lhes presentes, em especial ferramentas – machados, foices, facas, facões e
enxadas – e panos de algodão. Para os indígenas esses presentes representavam uma
verdadeira mudança de Era. Logo que recebiam as ferramentas, dispensavam seus
utensílios de pedra. As mulheres, por sua vez, gostavam de se enfeitar com os panos de
algodão.
Eschewege publicou uma carta remetida por Marlière, na qual este relata uma de
suas visitas ao aldeamento dos Puris. Os índios o receberam com danças e manifestações
de alegria:
O belo sexo compareceu somente depois de ter feito a toalete [...]. Sua
toalete consiste de uma pintura do corpo todo com uma espécie de barro
vermelho [argila arenosa misturada com palhetas de mica], do qual lhe
envio uma amostra, e de colares feitos de dentes de macacos, enfiados
regularmente [...]. Enquanto virgens, enfaixam as pernas acima dos
tornozelos e abaixo dos joelhos de modo tão apertado que as pernas ficam
muito finas [a faixa é feita de um barbante muito comprido e uniformemente
fiado da ráfia de certas trepadeiras]. No dia do casamento tiram essas
faixas e colocam uma coroa sobre a cabeça, que não deve ser confundida
com o cocar, que também envio, e que é usado somente pelos caciques
durante as guerras [...]. A maior parte dos enfeites eu recebi da líder, que se
desfez, a meu pedido, prontamente de todos eles. Em troca dei-lhe três
côvados de pano de algodão branco, e ela o experimentou tanto que o pano
15
acabou ficando tão vermelho quanto a cor de sua pele.
23
Sobre os Coroados, Eschewege, interessado nos costumes e na vida política e
social dos índios, escreveu:
Desde que Marlière se tornou diretor geral, os coroados estão sob sua
autoridade: os que fazem algum mal ele os pune com palmadas ou coloca-
17
os no tronco.
24
O modo de aldear os índios, usado até aqui, consiste em obrigá-los a
trabalhar em comum, sob a administração de diretores, que são os
verdadeiros proprietários de tudo quanto produz o trabalho dos aldeados
[...]. Tenho procurado marchar no Mucuri por caminho diverso. Sendo os
laços de família poderosos entre os Nakenuks [uma das tribos de
botocudos], procurei do amor da família fazer desabrochar entre eles o
sentimento de propriedade, aconselhando-os a que se fixem ao solo e o
18
cultivem no próprio proveito.
Teófilo Ottoni colocou em prática suas ideias e, entre 1847 e 1861, celebrou a paz
com os Botocudos (denominação genérica atribuída a várias tribos), construiu uma estrada
e levantou uma cidade em plena selva (Nova Filadélfia, hoje Teófilo Otoni). Nas
negociações (ele também utilizou a doação de ferramentas) as terras foram repartidas com
19
as tribos e as que couberam aos índios tiveram “sua posse devidamente registrada”.
Embora sem violência e assegurando terras aos nativos, a política indigenista de T.
Otoni, assim como todas as outras aplicadas no Império, redundou no quase total
desaparecimento das tribos. Esse futuro foi previsto por Tschudi quando visitou Nova
Filadélfia e dedicou várias páginas aos Botocudos:
25
José João Teixeira Coelho, na sua Instrução para o Governo da Capitania de Minas
Gerais (1780) fala sobre a utilidade dos vadios, salteadores e assassinos:
21
TEIXEIRA. Instrução para o governo da Capitania de Minas Gerais, 1994, p. 149-150.
22
TEIXEIRA. Instrução para o governo da Capitania de Minas Gerais, 1994, p. 188.
26
mesmos, conforme as suas fábricas [...]. Posta as coisas no seu necessário
23
equilíbrio, partiu o Exmo. General a demandar os sertões de Cuieté.
23ROCHA. Geografia Histórica da Capitania de Minas Gerais: descrição geográfica, topográfica, histórica e
política da Capitania de Minas Gerais, 1995, p 191-192.
24 ESPÍNDOLA. A província de Minas, 2013, p. 64.
25 TSCHUDI. Viagens através da América do Sul, 2006, p. 262.
27
tamanho da área plantada (predominantemente ocupada por pastagens), mas por seu valor
como produto de exportação.
26
SOARES. Das Minas Gerais: um estudo sobre as origens do processo de formação da rede urbana da Zona
da Mata, 2009, p. 209.
28
D. João VI, a fim de ligar Viana (ES), onde seria instalada uma colônia de açorianos (1817),
até Vila Rica (Ouro Preto). A seção mineira, no entanto, foi construída pela 3ª DMRD,
também por ordem de D. João VI exarada em 04 de dezembro de 1816, que determinava
fosse promovida a comunicação de Minas Gerais com a Capitania do Espírito Santo por
“muitas e diferentes estradas”.
Vivaldo Barbosa detalha o trajeto dessa estrada: pela Serra do Caparaó
atravessava o rio Pardo e o rio José Pedro, entrava em Minas Gerais próximo ao Pico da
Bandeira, onde estava instalado o Quartel de São João do Príncipe, percorria a Serra dos
Correia, atravessava os rios Manhuaçu e Casca, indo em direção a Ponte Nova e dali para
27
Vila Rica
A julgar pelas observações de Tschudi o caminho não devia ser de fácil trânsito.
Em 1860, estando no Espírito Santo para avaliar as condições de vida de seus conterrâneos
nas colônias de imigrantes localizadas naquela Província, esse viajante anotou:
Por várias vezes abriram-se picadas pela floresta e trilhas pela serra
fazendo-se ligações que, mesmo sendo utilizadas experimentalmente,
acabaram sendo abandonadas, pois o desconforto e os perigos de tais
viagens não se comparavam ao proveito que elas possivelmente teriam
podido trazer. Agora, em época mais recente, o governo [do Espírito Santo]
retomou esses projetos e o futuro dirá se ele se sairá bem. O interior da
Província é em sua maior parte coberto por uma selva densa, bastante
montanhosa e habitado por grupos dispersos de índios selvagens. Por isso,
uma ligação terrestre duradoura e funcional entre as duas províncias só
pode ter perspectiva de sucesso, racionalmente falando, através da
colonização por uma população estrangeira ou nativa que gradualmente
28
avance para o interior, concomitante à construção de estradas.
Ainda no mapa de 1800 observa-se, entre o rio Doce e o rio Paraíba do Sul, um
grande vazio no qual está sinalizado, próximo ao vale do rio Casca, os “Sertões em que
vaga o bravo gentio Botocudo”, e perto do rio Manhuaçu o “Sertão povoado do bravo gentio
Puri”.
No mapa de 1804 volta a aparecer o povoado de Abre Campo e surge o de
Arrepiados (Araponga). Também é possível identificar, no vale do rio Piranga, novos
assentamentos humanos: S. Sebastião (Ponte Nova), Tapera (Porto Firme) e S. José (Paula
Cândido). Essas localidades estão indicadas na legenda do mapa como “capelas”, que
teriam sido edificadas por concessionários de sesmarias ocupadas pela agropecuária,
alternativa que se apresentou aos mineiros após a exaustão do ouro na região central.
Conforme J. Soares, as capelas eram erigidas a partir da doação, à igreja católica,
de uma porção de terras, por um senhor ou por vários vizinhos, em favor de um santo de
29
sua devoção. A capela devia possuir uma renda mínima para sua manutenção, chamada de
“patrimônio”:
Não só a capela era erigida nessas terras; parte delas podia ser parcelada e
concedida a quem pretendesse construir uma casa ou venda no referido
patrimônio, mediante o pagamento de uma taxa anual, o foro. Em tese, esse
sistema garantia a manutenção do templo e das visitas dos padres para
ministrar os sacramentos católicos [...]. A constituição do patrimônio em
terras também era uma forma de garantir o povoamento nas proximidades
do templo, pois sua concessão parcelada possibilitava a formação e o
crescimento de arraiais [...]. Da repartição desses patrimônios surgiram
pequenos arraiais, alguns dos quais prosperaram e tornaram-se freguesias.
29
Mais tarde, muitos foram elevados à categoria de vilas.
Na capela de Santa Rita do Turvo (atual Viçosa) ocorreu um fato singular, conforme
anotou Eschwege, que por lá passou em 1814:
Santa Rita é uma capela pertencente ao padre Manoel Ignácio. [...] Ao lado
da capela fica a casa do capelão e outra construção comprida, destinada à
acomodação de pessoas que frequentam a igreja aos domingos e feriados.
O padre mantém aqui uma taberna, onde se pode obter vinho, cachaça e
alguns artigos comerciais por altos preços. Como o padre não permite que
outras pessoas se estabeleçam perto da capela, todos são obrigados a
30
abrigar-se nessa casa, devendo, assim, tirar bastante lucro disso.
Pelo visto, o patrimônio da capela não fora parcelado e concedido, como era
habitual. Dez anos depois, a situação mudara, como registrou outro viajante estrangeiro, o
Barão de Langsdorff:
Esta capela [de Santa Rita] [...] ficou muito tempo isolada, porque o
proprietário fundador não quis ceder suas terras. Em função disso, as
pessoas estabeleceram-se o mais perto possível, do outro lado de um
pequeno córrego, distante da capela cerca de 10 minutos, na encosta de
um morro bastante ingrato, que nem água potável oferecia. Mas, quando o
proprietário faleceu, a comunidade, com a intervenção do bispo, solicitou
aos herdeiros e recebeu o pequeno pedaço de terra onde fica a capela
como propriedade da protetora da igreja, Santa Rita. Agora estão
começando a assentar lá as casas do arraial. A localização é muito boa, de
forma que vai ser possível construir uma vila bonita e bem organizada, com
31
ruas largas e praças abertas.
30
As vilas tinham status superior ao das freguesias e capelas, e quando eram erigidas
adquiriam o direito de ter Câmara Municipal e Cadeia. As Câmaras Municipais das
dezesseis vilas criadas em Minas Gerais, no período colonial, tinham amplas atribuições, e
por isso a Coroa evitou autorizações para que elas fossem erigidas fora da área mineradora,
que era cuidadosamente controlada. Nesse período, a única vila criada na região das Matas
de Minas foi a de Piranga, onde foi descoberta uma pequena quantidade de ouro.
Em 1821 Eschewege desenhou um mapa que até hoje permanece inédito. Em
1833, foi publicado apenas um recorte dele, incluindo a porção central de Minas Gerais e
parte da Zona da Mata. Nesse mapa há três novidades:
31
mesmo tempo, fortalecer a polarização da capital, porque de Araponga saía outro caminho
em direção a Ponte Nova, Mariana e Ouro Preto; e a partir de Viçosa, indo na direção sul, o
caminho alcançava Visconde do Rio Branco, Ubá, Pomba, Argirita e Porto do Cunha (atual
Além Paraíba). Em Argirita (atual Rio Pardo), havia um aldeamento, e em Porto do Cunha
estava situada uma Patrulha.
32
3 A CHEGADA DO CAFÉ
Até 1970, a produção de café no Brasil teve duas características básicas: foi
itinerante, avançando de forma contínua sobre terras virgens e florestas, e cíclica,
alternando momentos de fartura e crise, ao sabor da variação das cotações internacionais e
das condições climáticas. As cotações, por sua vez, acompanharam a maior ou menor
quantidade de café colocada no mercado.
Referências à existência de café em Minas Gerais datam de 1788, nas chácaras
em torno da cidade de Mariana, conforme informação do cartógrafo José Joaquim da Rocha
em sua Memória Histórica da Capitania de Minas Gerais:
34
ROCHA. Memória Histórica da Capitania de Minas Gerais, 1897, p. 439.
35
VASCONCELOS. Breve Descrição Geográfica, Física e Política de Minas Gerais, 1994, p. 66.
33
melhor café produzido na Capitania. Com base nessa Ordem Régia Sócrates Alvim
pretendeu demonstrar que Minas Gerais já produzia café e da melhor qualidade,
36
“merecendo a preferência do Príncipe Regente da Metrópole”.
Na Ordem Régia, o detalhamento sobre os cuidados com a embalagem do
conteúdo, que deveria ser dividido em caixas de duas arrobas cada, e a recomendação para
que o comandante da embarcação se apresentasse ao palácio real imediatamente após a
chegada a Portugal, demonstram, de fato, um zelo especial pela mercadoria vinda da
Capitania de Minas Gerais.
A primeira estatística sobre a produção de café em Minas Gerais foi dada por
Eschewege. Quando em viagem pelo Caminho Novo, estando no Registro de Matias
Barbosa, onde se pagavam impostos para atravessar a fronteira de Minas com o Rio de
Janeiro, o mineralogista registrou que em 1808/1809 Minas Gerais exportara 9.707 arrobas
de café, sendo 9.256 oriundas dos arredores daquela mesma localidade. Essa estatística
certamente está subestimada, visto que se refere apenas à sede do Registro.
Em 1809, mesmo ano das anotações de Eschewege, o viajante inglês John Mawe
fala da existência de café em São João Del Rei:
São João Del Rei, capital do distrito do mesmo nome, é uma cidade
importante, com cinco mil habitantes no mínimo [...]. O terreno em torno é
muito fértil e produz excelentes frutos, tanto exóticos, como indígenas,
assim como milho e feijão, um pouco de trigo, etc. É a parte mais cultivada
da comarca, da qual é o celeiro; aí fabricam sofrível quantidade de queijo e
toucinho muito mal preparado. Estes dois artigos são enviados ao Rio de
Janeiro e constituem um grande ramo de comércio. De lá mandam muitas
aves, um pouco de cachaça, açúcar e café [...]. Cultiva-se um pouco de
algodão, que se fia à mão e com o qual se fabricam panos grosseiros para
37
os negros.
36
ALVIM. Projeção Econômica e Social da Lavoura Cafeeira em Minas, 1929, p. 39.
37
MAWE, John. Viagens ao Interior do Brasil, 1978, p.182.
38 MAWE, John. Viagens ao Interior do Brasil, 1978, p.133.
34
café, ainda nas proximidades da capital, numa fazenda onde o proprietário “tinha preparado
uma grande parte das terras melhores para plantar café” o que poderia “lhe proporcionar
39
ganhos consideráveis”. No resto do caminho até Minas Gerais, esse viajante encontrou
apenas um pouco de cana de açúcar e muitas plantações de mandioca e milho para o
sustento de moradores, em geral pobres. No entanto, logo depois de passar a fronteira,
estando na altura de Juiz de Fora, Caldcleugh começa a encontrar “mais terras sendo
limpas com queimadas”, “mais plantações”, mais habitações e “mais civilidade”. Encontra
também muitas tropas de mulas “indo para a costa”, carregando “algodão, tecidos
40
grosseiros de algodão, toucinho, queijo, café e marmelada”. [grifo nosso]
Conforme as estatísticas disponíveis, a produção mineira somente se tornaria
expressiva por volta de 1830, acelerando a partir da década de 1840. Nos anos 1818-19, o
café representa 0,6% do valor das exportações de Minas Gerais; em 1844-45, dá um salto
41
para 21,0%; em 1865-66 esse valor chega a 44,9%, indo a 65,7% em 1892. Nesse último
biênio, a maior parte da produção era da Zona Mata. É o que se depreende da pesquisa do
geógrafo Orlando Valverde, que faz inferências a respeito da marcha do povoamento da
Zona da Mata, impulsionada pelo café:
Na área central da Zona da Mata, região dos atuais municípios de Ubá, Viçosa e
Senador Firmino, a paisagem rural foi dominada, durante as primeiras décadas do século
XIX, pelas plantações de milho, feijão, cana e algodão, mas a partir de 1840 é o café que
nela se difunde em ritmo acelerado.
Especificamente na das Matas de Minas, a primeira referência documental sobre a
chegada do café encontra-se no Tratado de Geografia Descritiva Especial da Província de
35
Minas Gerais, de José Joaquim da Silva, redigido em 1877. Nele se lê que a cidade de São
Paulo do Muriaé possui “solo ubérrimo”, produzindo “tudo quanto nele se planta; porém sua
43
lavoura fortíssima é a do café e da cana”. A atual cidade de Muriaé foi elevada a distrito
em 1841, sendo emancipada de Ubá em 1855 (ver anexo 2). Nessa época Muriaé
englobava os atuais municípios de Carangola, Miradouro, Eugenópolis e Tombos. Ao que
tudo indica, a chegada do café ao vale do rio Muriaé se deu a partir do vale do rio Pomba,
onde já se destacavam na cafeicultura os atuais municípios de Leopoldina, Cataguases (ao
qual pertencia Miraí) e Ubá.
A estrutura fundiária e as relações de trabalho, bem como a composição das
classes sociais, variam entre as duas sub-regiões da Zona da Mata: os vales dos rios
Paraibuna e Preto (onde despontariam Juiz de Fora, Mar de Espanha e Rio Preto) e os
vales dos rios Pomba e Muriaé.
Entre os proprietários podem-se distinguir duas categorias. A primeira faz parte da
“nobreza do café”, tal como vicejou em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, onde a estrutura
agrária, no primeiro quartel do século XIX, é formada por grandes latifúndios baseados na
mão de obra escrava. Na verdade, praticamente todas as famílias que irão ocupar o setor
fluminense do vale do Paraíba são de origem mineira, que haviam se enriquecido com a
mineração do ouro e, quando este se esgota, vão aplicar sua renda na lavoura de café, em
propriedades rurais na Zona da Mata e no norte fluminense, nas localidades de Barra
Mansa, Piraí, Vassouras e Valença, onde o café produzido ficava mais próximo dos portos
exportadores do litoral carioca. Com a abertura e melhoramento de estradas tributárias do
Caminho Novo, que de acordo com Afonso Taunay foram construídas com recursos dessas
famílias, é que a exportação do café mineiro se expande, beneficiando-se também de rios
navegáveis que abrigam portos intermediários no interior do Rio de Janeiro.
Entre as famílias mineiras dessa primeira categoria destacam-se os Teixeira Leite,
como o Barão de Aiuruoca e o Barão de Vassouras. Afonso Taunay escreve sobre essa
família:
43
SILVA. Tratado de Geografia Descritiva Especial da Província de Minas Gerais, 1997, p.134.
36
sargento-mor dez filhos e três filhas de que há hoje enorme descendência,
num total de milhares de pessoas espalhadas pelo Rio de Janeiro, Minas e
S. Paulo e cujos principais vêm a ser: Leite Ribeiro, Ferreira Leite, Leite
Pinto, Vidal Leite Ribeiro, Sá Leite, Leite Guimarães, Almeida Magalhães,
Ribeiro do Valle, Leite de Salles, Costa Machado, Magalhães Pinto,
Monteiro de Barros, Gomes de Carvalho, Leite de Barros, Leite Alves, Leite
de Assis, Aquino Leite, etc. Dos filhos do sargento-mor, quem mais se
destacou foi Custódio Ferreira Leite [...]. Seus irmãos [...] foram todos os
primeiros lavradores de café na Província do Rio de Janeiro e na Mata
Mineira [...]. Desciam os mineiros aos bandos avultados para as terras do
vale do Paraíba, delas enxotando os últimos Puris. E os Leite se
afazendaram em Barra Mansa, Valença, Santa Teresa, Vassouras, assim
44
como na mata mineira.
44
TAUNAY, Afonso E. E. Uma irmandade de grandes cafezistas e civilizadores, 1934, p. 484-5.
45
VALVERDE. Estudo Regional da Zona da Mata de Minas Gerais, 1958, p. 30.
37
ela floresceu de fato foi em Vassouras e Valença, onde famílias mineiras enriquecidas com
a mineração do ouro, ou com o comércio de gêneros agropecuários para o abastecimento
da capital do império, adquiriram propriedades. Com o esgotamento das jazidas auríferas,
essas famílias teriam investido no café primeiro em Minas e depois no Rio. Provavelmente
os mineiros já tinham conhecimento dos lucros obtidos pela exportação de café através de
46
portos localizados no litoral carioca.
47
Um fato é inconteste: como afirma Daniel de Carvalho, com base na leitura dos
relatórios de gestão, os governadores mineiros quase sempre ignoraram a importância do
café na economia da Província e insistiram no estímulo à cultura do chá. Por causa disso é
provável que tenham menosprezado o acompanhamento estatístico da produção e
renunciado a arrecadar vultosos impostos. Ao que tudo indica, as famílias produtoras de
café, que investiram na abertura de caminhos na direção do Rio de Janeiro, tiveram livre
passagem pelas fronteiras da Província.
Entre os caminhos abertos pelos Teixeira Leite acham-se: a Estrada da Polícia, que
de Iguaçu (RJ) se dirigia a Minas Gerais (Custódio Ferreira Leite foi autorizado a abrir essa
estrada em 1816); a que ligava Sapucaia a Feijão Cru (atual Leopoldina) e a Estrada do
Couto, de Magé a Mar de Espanha, onde Custódio Teixeira Leite possuía uma fazenda
cafeeira. Em Iguaçu, Magé e Itaguaí situavam-se portos fluviais intermediários entre a Zona
da Mata e os portos marítimos localizados no litoral carioca. A família Teixeira Leite
participou também da construção de pontes para travessia do rio Paraíba (uma delas no
caminho entre Valença e Itaguaí), além de contribuir para a criação das vilas de Mar de
Espanha (1815), em Minas Gerais, e as de Barra Mansa (1832) e Vassouras (1833), no Rio
de Janeiro.
Afonso Taunay refere-se a variantes que do Caminho Novo buscavam Valença,
48
Iguaçu e Vassouras e escreve:
46 Não é objetivo desse trabalho a comprovação dessa hipótese, visto que ultrapassaria o marco territorial
estabelecido pela pesquisa (Matas de Minas). No entanto, um levantamento das sesmarias concedidas entre
1770 e 1830, no Rio de Janeiro e Minas Gerais, poderia comprová-la ou refutá-la.
47 CARVALHO. Daniel de. O café em Minas Gerais: a cultura do café nasce e se desenvolve sem amparo oficial,
1934, p. 568.
48
TAUNAY. Pequena História do Café no Brasil, 1945, p. 67.
38
Valença, Sapucaia, Paraíba do Sul, Mar de Espanha, Leopoldina, etc. [...].
Para as terras fluminenses atraiu seis de seus irmãos, numerosos
sobrinhos, numerosíssimos primos, todos mineiros [...]. Entre os sobrinhos
estavam os filhos de seu cunhado, o Barão de Itambé, os irmãos Teixeira
Leite, José Eugênio e Francisco (barão de Vassouras), João Evangelista,
Antônio Carlos, Joaquim, Carlos e Custódio, que em meados do século XIX
eram verdadeiras potências nos meios cafezistas [sic] e tanto se
49
destacaram nos fastos primevos ferroviários.
No restante da Zona da Mata já há uma cidade (Juiz de Fora), quatro vilas (Mar de
Espanha, Rio Pomba, Leopoldina e Ubá), além de várias capelas e freguesias. No vale do
rio Piranga, permanece solitária a vila de Piranga.
A realidade em 1893 já é bem diferente, como pode ser visto no Mapa do Estado de
Minas Gerais, do engenheiro carioca João Chrockatt de Sá Pereira de Castro. O que antes
era chamado de “capela” é agora, depois da proclamação da República e da separação
entre Estado e Igreja, um “Povoado”:
49
TAUNAY. Pequena História do Café no Brasil, 1945, p.39-40.
39
Terminado o século XIX verifica-se que:
50
SOARES. Das Minas Gerais, 2009, p. 171.
40
Embora com mais comodidade e rapidez, nessa estrada o transporte do café até o
litoral continuou a ser feito por tropas de muares. Talvez tenha sido na expectativa da
abertura da União e Indústria “que a província de Minas importou, no decênio terminado em
51
1862, 150.000 bestas de carga”.
As estradas de ferro alteram profundamente esse quadro:
41
Em 1871, o governo mineiro foi autorizado a subvencionar a construção dessa
estrada e, no ano seguinte, foi organizada a Companhia da Estrada de Ferro Leopoldina,
capitalizada por fazendeiros do sudeste da Mata.
Para a região das Matas de Minas a Estrada de Ferro Leopoldina foi fundamental.
Vivaldo Barbosa, com base em Demerval Pimenta, resume o traçado dessa estrada de
ferro:
A chegada da linha de trem a Carangola fez dessa cidade a mais importante das
Matas de Minas. Nela estabeleceu-se:
Com muito esforço e luta política conseguiu-se, depois de quase 30 anos, que a
Leopoldina, partindo de Carangola, chegasse a Manhuaçu, passando por Manhumirim
(emancipada de Manhuaçu em 1923) cidades que, à semelhança de Carangola, iriam se
transformar em grandes centros de comércio de café:
E o trem vem subindo a Serra da Ernestina, serra difícil [...]. Varada a serra,
entra o trem no altiplano que circunda a Serra do Caparaó. Passa por
Caiana, e chega a Espera Feliz, com entroncamento para um ramal em
direção ao Espírito Santo. Em seguida atinge Caparaó Novo [...] vai varando
cafezais [...]. Após Caparaó, chega o trem a Taquaruna, e começa a descer
a Serra da Vista Bela [...]. Em 1912, o trem foi descendo a Serra [...].
Chegou a Jequitibá, ao Alto Jequitibá. E chega, em 1914, a Manhumirim;
57
em 1915, trafega o primeiro trem da nova linha Manhuaçu-Rio de Janeiro.
55
BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 63; 117-19.
56
BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 118.
57 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 120.
42
provincial. Quando se observa a evolução da malha férrea na região,
percebe-se claramente sua forte vinculação ao mercado carioca. As linhas
se desenvolveram a partir do território fluminense e da Estrada de Ferro D.
Pedro II, que tinha como ponto terminal a cidade do Rio de Janeiro. Mesmo
em municípios servidos por linhas em direção ao porto de Campos –
Carangola e Muriaé, por exemplo – a ligação com o porto carioca
permanecia. A implantação da malha ferroviária também privilegiou os
municípios que se inseriam na produção agroexportadora de café. A
inexistência de ramais integrando Piranga e Lima Duarte confirma tal
inferência, uma vez que esses municípios nunca estiveram entre os
principais produtores. Por outro lado, Mar de Espanha e Manhuaçu, centros
cafeeiros por excelência – este mais recente aquele mais antigo –, ainda
receberiam, no alvorecer do século XX, ramais que permitiriam a integração
58
de seus núcleos urbanos à rede de viação férrea então implantada.
Em 1926, das 296 estações da Estrada de Ferro Leopoldina, com seu emaranhado
de linhas e ramais, 224 exportavam café. Essa estrada foi a que prestou melhores serviços
ao café das Matas de Minas. Há dados referentes à quantidade de sacas da safra
1926/1927 transportadas pelas estações situadas em municípios das Matas de Minas
(TABELA 1).
43
Durante os anos em que o transporte por tropas predominou na região, muitas
fazendas estrategicamente situadas serviram como pouso e rancho de tropeiros, caso da
fazenda de Arthur Sanglart, em Jacutinga, que organizava o rancho e cobrava pela estadia e
pela passagem. Nos pousos aglomerava-se gente:
44
estivesse situada a “moradia habitual do respectivo posseiro” (artigo 5º). O artigo 7º da lei
previa que o governo estabeleceria prazos dentro dos quais as posses e sesmarias
deveriam ser medidas, podendo prorrogá-los quando julgasse conveniente. O artigo 11
obrigava os posseiros a tirar os títulos de propriedade das terras que lhes ficassem
pertencendo.
A Lei de 1850, que também cria a Repartição Geral de Terras Públicas, só veio a
63
vigorar de fato depois de quatro anos, por meio do decreto nº 1.318 . No Rio de janeiro os
prazos para registros das terras começaram a contar a partir da data fixada pelo Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios do Império, e nas Províncias por ato dos seus
respectivos presidentes. Os adiamentos foram constantes.
A hipótese mais provável é que durante os prazos em que foi possível legitimar as
posses, houve um avanço sobre as terras virgens que ainda abundavam na região leste da
Província de Minas Gerais, assim como no oeste de São Paulo, que seriam as duas novas
áreas de expansão da cultura cafeeira a partir de 1850.
Vivaldo Barbosa aventa a hipótese de que algumas posses teriam sido registradas
ainda antes da vigência da Lei de 1850, mas reconhece que foi a partir dessa época que as
terras da Serra do Caparaó e adjacências foram efetivamente ocupadas:
45
A colheita ficara sobremodo prejudicada pelo abandono das lavouras pelos
ex-escravos. Numerosos agricultores haviam ficado de vez arruinados. [...]
A lavoura fluminense, sobretudo, sofrera terrível golpe, cujas consequências
seriam irreparáveis na maioria dos casos individuais, daí provindo uma
66
transformação profunda no cadastro dos agricultores fluminenses.
Alguns anos depois, no primeiro quinquênio do século XX, quando ocorre uma
enorme crise de superprodução de café, o mesmo autor pinta um quadro ainda mais
dramático:
46
O fato é que, ao contrário da decadente cafeicultura fluminense, em Minas Gerais
ocorre uma expansão. E ela se dá não apenas no Sul de Minas, como resultado da
expansão da cafeicultura paulista, mas também nas terras ainda virgens dos vales dos rios
José Pedro, Manhuaçu e Caratinga, nas Matas de Minas.
Baseado em dados de Wilson Cano, Anderson Pires mostra que a produção em
Minas, entre os períodos de 1876-1880 e 1921-1930 cresceu aproximadamente 349% e já
69
em 1890 o Estado era o segundo maior produtor, superado apenas por São Paulo.
Uma questão controversa é se as médias e pequenas propriedades rurais da região
aqui denominada Matas de Minas prescindiram da mão de obra escrava. Vivaldo Barbosa
registra:
O livro de Vivaldo Barbosa abrange apenas uma parte dos municípios das Matas de
Minas, localizados em torno da Serra do Caparaó (atuais Alto Jequitibá, Alto Caparaó,
Caparaó, Manhumirim, Manhuaçu e Espera Feliz) e por isso uma investigação mais
pormenorizada seria necessária para verificar a existência da escravidão negra na região
como um todo.
Um fato é incontestável. Quando a caminho de São João Batista (Visconde do Rio
Branco) Eschewege hospedou-se numa fazenda em Santa Rita do Turvo (Viçosa). Era o
Natal de 1814, e durante toda a noite os escravos negros dançaram e cantaram ao som de
tambores e chocalhos. Esse fato permite inferir que em municípios localizados na bacia do
rio Piranga, entre eles Viçosa, a agricultura, ainda antes da chegada do café, valeu-se do
trabalho escravo.
O que chama a atenção nas observações de Vivaldo Barbosa é a vinculação entre
escravidão e imigração, já que os citados irmãos Sanglart (Leon e Eugênio), nome de
origem suíça, foram os primeiros que abriram fazenda de café na subida do maciço do
Caparaó, chegando lá em 1867, vindos de São José do Ribeirão e do Amparo, próximos de
Cantagalo (RJ), onde já eram lavradores de café. Outras famílias suíças chegariam depois,
entre elas os Rime e os Frossard, sendo que esses últimos se instalaram primeiramente em
Divino, então distrito de Carangola.
47
Em 1868, Guilherme Eller, descendente de alemães, levando consigo mudas de
café de Java (de alta qualidade) instala sua fazenda em Jequitibá. Por volta de 1873
chegam os Heringer, também de origem alemã. Atraídos pelo sucesso obtido pelos
pioneiros aos poucos chegam os Ker, Boier, Emerick, Werner, Hubner e Horst, entre outros.
Todos eram descendentes de imigrantes que viveram a experiência de instalação
da colônia agrícola de Nova Friburgo (RJ), contratada pela Coroa Portuguesa. Vivaldo
Barbosa dedica especial atenção a esses imigrantes suíços e alemães que chegaram à
colônia de Nova Friburgo em 1819 e 1824, respectivamente, e que com o passar dos anos
tomaram o rumo de Minas Gerais:
48
deveriam assumir a cidadania portuguesa e jurar fidelidade a D. João VI. Além do Cantão de
Fribourg, vieram imigrantes também do Cantão de Berna, mais precisamente da região de
Jura, que pertencera à França, mas que, com a queda Napoleão e o Tratado de Viena
(1815), passara a fazer parte da Suíça. Seus habitantes, no entanto, eram franceses:
De fato, o contrato previa a vinda de cerca de 500 pessoas (100 famílias), mas em
duas levas (1819 e 1820) chegaram à Nova Friburgo 2.006 suíços, após enormes
dificuldades vividas antes e durante as viagens, que ceifaram a vida de pelo menos 300
pessoas. As cem casas construídas pelo governo imperial tiveram de abrigar 16 pessoas
cada uma. A primeira colheita fracassou e em pouco tempo o governo acataria o pedido dos
imigrantes para sair da área demarcada e buscar terras mais férteis na direção de
Cantagalo e Macaé. A maior parte dos colonos abandonou suas glebas para trabalhar por
conta própria e a colônia foi extinta em 1831.
Uma parte dos imigrantes suíços era gente de posse, sendo que alguns vieram
para o Brasil por conta própria, como Pierre Gendre, que numa carta publicada no jornal de
Jura (12/8/1820) demonstrou seu espanto pelo fato de seus conterrâneos no Brasil terem
75
adotado facilmente “hábitos escravagistas”. Esse cidadão refere-se a quatro outros suíços
(do Cantão de Berna) que assim como ele viajaram por conta própria e possuíam meios
suficientes para iniciar uma empresa agrícola. Na época, o caminho natural era o café, que
já havia se tornado um bom negócio.
Martin Nicoulin cita frase de um colono de nome Stöcklin:
Nós suíços, que viemos em 1820, fomos postos em terras que só dão
batatas, milho e legumes: por isso os colonos que não tiveram coragem ou
76
meios de mudar para terras de café não progrediram nada.
49
região até por volta de 1870, iremos observar entre os imigrantes e seus descendentes a
77
presença de escravos e terras entre os bens a serem divididos”.
Os colonos alemães chegaram em 1824 em decorrência de negociações iniciadas
pelo governo brasileiro, que em 1822 enviara missão à Áustria, Prússia e Bavária, com o
objetivo de atrair imigrantes alemães. José Bonifácio, idealizador da missão, “queria
organizar uma estrutura militar no Brasil (...) com organização semelhante à dos Cossacos
78
do Don e do Ural, e da Ucrânia, a qual havia estudado em sua estada na Europa”. O
recrutamento deveria ser feito em duas classes de pessoas: atiradores, que teriam de
prestar serviço militar durante seis anos no Brasil; e colonos, aos quais seriam concedidas
terras onde poderiam se estabelecer como agricultores, mas teriam de prestar serviços
militares em caso de guerra.
Em maio de 1824, 342 pessoas (200 famílias) de origem alemã desembarcaram na
praia Grande, em Niterói e lá permaneceram três meses até que finalmente se decidiu
instalá-los em Nova Friburgo, onde foram abrigados em 30 casas de um vilarejo próximo ao
79
dos suíços, que ficou conhecido como Alemanha; mais tarde, uma leva se dirigiu para o
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Conforme Vivaldo Barbosa:
50
Renato Thomaz Guimarães, técnico do extinto Instituto Brasileiro do Café e
atualmente consultor e também produtor da rubiácea cita, em texto não publicado, famílias
italianas que teriam chegado à região no final do século XIX, entre elas os Beviláquas,
Fardingo, Grilo, Lazaroni e Castelani, “que derrubavam a mata e plantavam o café no
82
sistema morro abaixo”.
O regime de trabalho dos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil,
primeiramente em São Paulo, foi o da parceria:
a) uma remuneração fixa por 1000 pés para manter limpo e preparar o
terreno para colheita; b) uma remuneração por dia de trabalho para os
serviços de poda, adubação, pequenos reparos no equipamento de
produção, etc.; e c) uma remuneração diretamente proporcional ao número
84
de sacas de café por ele colhido.
Ao que tudo indica, os italianos que vieram para as Matas de Minas,
particularmente na região dos afluentes do rio Paraíba (Pomba, Muriaé e Carangola),
trabalharam sob o regime do colonato.
Como informa a historiadora Mônica Ribeiro de Oliveira, os italianos que vieram
para Minas Gerais eram da região da Sardenha e das localidades de Verona, Aresso,
Padova, Camerino, Torino, Mirandola, Colognolo e Lucca, dentre outras. A chegada de um
expressivo contingente (mais de 50.000 entre 1894 e 1901), particularmente em municípios
da Zona da Mata, Sul de Minas e Triângulo Mineiro, foi fruto de uma política imigratória
conduzida pelos governos imperial e da Província de Minas Gerais, a partir de 1887, sob a
pressão dos próprios fazendeiros:
82
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
83
OLIVEIRA. Imigrantes e Libertos no contexto do abolicionismo, 2013, p. 218.
84
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 44.
51
Imigração. [...] Em janeiro de 1888 o governo provincial assinou um contrato
com a Associação para a introdução de 30.000 imigrantes na província.
Meses depois foi assinado, com a Cia. de Imigração e Colonização Mineira,
um contrato para a entrada de 25.000 imigrantes no sul da Província. 85
52
é o segundo município das Matas de Minas no qual os alemães aparecem em maior
número. É significativa a presença também de espanhóis.
O mesmo artigo informa a quantidade de estabelecimentos rurais pertencentes a
estrangeiros:
53
dos proprietários era brasileira. Vivaldo Barbosa cita as famílias Miranda, Almeida, Dutra,
Vieira, Correia, Leite, Tostes e Lopes, entre outras. Há casamentos entre elas, incluindo
uniões entre famílias brasileiras e de imigrantes.
Carlos Prates, estando em Muriaé e Carangola (1906), registra o nome de vários
fazendeiros, todos com nomes de origem portuguesa. Em Muriaé citam-se: Eudócia
Canêdo, coronel Francisco Alves de Assis Pereira, Antônio Tibúrcio Rodrigues, Joaquim de
Souza Pinto, coronel Domiciano Antônio Monteiro de Castro, capitão Francisco Almeida de
Freitas Lima, coronel Marciano Rodrigues da Silva, coronel Francisco de Oliveira Vermelho,
Baronesa do Alto Muriaé, entre muitos outros. Em Carangola: coronel Manoel de Souza,
Maria de Souza Miranda, Maximiano Pinto Ferraz, major João Batalha Rodrigues, coronel
João Marcelino Teixeira, Inácio de Souza Barros, entre tantos outros. Em Viçosa Carlos
Prates nomeia Gabriel Rodrigues Rezende, de família influente na política da Zona da Mata
e proprietário de uma fazenda no distrito de Pedra do Anta, que tinha “regulares culturas de
87
café”.
A publicação do Departamento Nacional do Café relaciona também as principais
fazendas cafeeiras, com seus respectivos proprietários, nos municípios mineiros de maior
produção. Destacam-se: em Carangola, a de José Magalhães Pinto; em Manhuaçu, a de
Raimundo Soares Vargas; em Caratinga, a do Capitão Paulino Ribeiro; em Muriaé, a de
Abeilard de Andrade Goulart; em Rio José Preto (Ipanema), a de Antônio Pena Sobrinho;
em Viçosa, a do Coronel Manoel J. Rodrigues Caldas; e em Mutum, a de José Teixeira de
Siqueira.
A presença de nomes com patentes militares certamente tem a ver com a Guarda
Nacional. O coronel era a patente maior dessa instituição criada em 1831, mas que não
fazia parte da burocracia oficial. Era sustentada pelos proprietários rurais e comerciantes
ricos, nomeados pelo monarca com o objetivo de garantir a ordem, em nome da Coroa, nos
lugares nos quais a máquina oficial não chegava. Daí surgiu o termo coronelismo, pacto
político que sustentou o poder das oligarquias até 1930, com resquícios ainda hoje. O
coronel é o chefe político local, que apoia o presidente da província (depois governador de
Estado), que apoia o monarca (depois presidente da República), que apoia o governador,
que apoia coronel. O coronelismo atinge o ápice na Primeira República (1889-1930).
Brasileiros com certeza também são os anônimos meeiros, trabalhadores pobres
que nada tinham e que perambulavam em busca de trabalho e moradia nas fazendas. A
prática da meação predomina nas relações de trabalho das Matas de Minas, particularmente
87
PRATES. A lavoura e indústria da Zona da Mata, 1906, p. 67.
54
na região dos vales do rio Doce e Itabapoana. Vivaldo Barbosa discorre longamente sobre o
tema e explica como funciona essa parceria:
O meeiro podia plantar feijão e milho para si em meio à lavoura do café, mas
atualmente a redução do espaço entre as plantas não permite essa prática. Em geral, os
meeiros prestam serviços para o fazendeiro durante dois dias da semana, nas lavouras de
milho, arroz e feijão, e nesse caso a parceria é a terça (um terço do fazendeiro e dois terços
do meeiro). Pelo menos uma vez por ano eles são convocados para a manutenção das
estradas ou outros serviços, e para tanto são remunerados. Em algumas situações o meeiro
“toca boa lavoura” e pode contratar empregados assalariados. Mas os meeiros têm seus
dramas. O primeiro é a descontinuidade dos contratos, pois em geral eles têm validade por
apenas um ano, apesar da lavoura de café durar em torno de vinte. Esse drama acentua-se
quando o meeiro fica idoso e seu trabalho deixa de interessar ao fazendeiro. Outro
problema, que algumas vezes ele compartilha com o fazendeiro, vem na hora de vender sua
parte da colheita:
55
Pega a amostra do seu café, sai oferecendo aos compradores, está é a
hora de fazê-lo, há muita oferta, em consequência os preços ficam lá
embaixo; os compradores querem ganhar com o tempo, comprar barato na
colheita e vender com preço mais alto a partir do final do ano, na
entressafra, ganhando sempre à custa do meeiro. Este não pode guardar.
Sofre a pressão das circunstâncias, as dívidas para pagar, as coisas para
fazer e para comprar, é preciso colocar um dinheirinho no bolso. Tem de
vender. Ao preço que estiver valendo. E quem dita esse preço? É o
mercado, dizem muitos. E o que é o mercado? São os sacos de dinheiro na
90
mão dos compradores, torrefadoras, comerciantes, exportadores de café.
Vivaldo Barbosa diz que o ideal da vida do meeiro é “comprar um sítio para si” e
calcula que em cada fazenda da região “pelo menos um meeiro, em cada geração,
91
conseguiu comprar um sítio, ou seja, tornou-se um sitiante”. Embora sua cabeça funcione
de maneira próxima a de um empreendedor, o meeiro pratica a solidariedade com seus
pares. Na colheita do café, “quando cada um termina a sua, está pronto para colaborar com
quem ainda não terminou”. 92
O agrônomo, técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de
Minas Gerais (Emater) e pequeno produtor de café Paulo Roberto Vieira Correia, tataraneto
de um dos pioneiros da cafeicultura em Manhumirim, resume a multifacetada figura do
meeiro, classificado como um tipo “cinco em um”:
56
XX a produção de Minas Gerais ultrapassa a do Rio de Janeiro e se coloca em segundo
lugar no Brasil, atrás apenas de São Paulo.
A rápida e contínua expansão da cultura cafeeira produziu crises esparsas de
superprodução ainda no século XIX, mas nada comparável à que acometeu o Brasil entre os
anos de 1901 e 1906, quando o preço do café despencou, deixando endividados os
fazendeiros que, em todas as regiões produtoras, não conseguiam mais obter o retorno dos
capitais empregados. São Paulo foi o Estado mais afetado, não só porque era de longe o
maior produtor, mas também porque ali o regime de trabalho era o colonato, e os
fazendeiros tinham de desembolsar dinheiro às vezes diariamente, ao contrário das regiões
onde predominava a meação, que envolvia somente a divisão da colheita. Além disso,
naquele Estado a maioria dos trabalhadores era de estrangeiros (predominantemente
colonos italianos, entre eles muitos adeptos da ideologia anarquista), que diante da falta de
pagamento ameaçavam seus patrões com o abandono das lavouras, chegando
ocasionalmente a manter como reféns os familiares do fazendeiro, até que este lhes
94
pagasse as remunerações atrasadas.
Foi nesse clima que em 1906, com o Convênio de Taubaté (considerado por Afonso
Taunay o mais famoso documento da história cafeeira do Brasil), se inicia um longo período
de intervenções governamentais (dos Estados produtores e da União), que vão até 1990,
quando no governo do presidente Fernando Collor de Mello o Instituto Brasileiro do Café
(IBC), criado em 1952, foi extinto. 95
57
4.1 O Congresso Agrícola, Comercial e Industrial de 1903.
O primeiro tema abordado no Congresso foi o café, “o maior fator da fortuna pública
e particular brasileira”, mas que passava por “uma crise sem exemplo em nossa histórica
econômica e financeira”.
A dinâmica dos trabalhos previa que fossem levantadas questões relativas a cada
tema, que seriam objeto de texto analítico redigido por um dos membros da comissão
organizadora, cognominada Comissão Fundamental, e depois submetido à apreciação dos
congressistas.
58
Com relação ao café, refletindo as preocupações dos produtores, perguntou-se,
entre outras questões: (a) que medidas deveriam ser adotadas pelo governo para melhorar
a situação dos produtores? (b) era conveniente limitar a cultura, taxando proibitivamente as
novas plantações? (c) era conveniente tributar de forma diferenciada o café, elevando o
imposto sobre os tipos de qualidade inferior? (d) seria vantajoso proibir a exportação de
cafés inferiores, misturados com pedras, terra e outras substâncias estranhas? (e) seria
conveniente modificar a forma de pagamento do imposto de exportação para que ele fosse
suportado somente pelos exportadores, onerando os produtores mineiros apenas com o
frete até o porto do Rio de Janeiro? (f) conviria baixar o preço do frete enquanto persistisse
o preço do tipo 7, americano, abaixo de 8$000 (oito mil réis)?; (g) não seria melhor
uniformizar a tarifa ferroviária para todas as distâncias? (h) seria mais vantajoso estabelecer
entrepostos marítimos, fiscalizados pelo governo, ou construir armazéns nas estações da
Estrada de Ferro Central do Brasil, permitindo a instituição do warrant? (i) conviria criar uma
Bolsa de Café no Rio de Janeiro, devendo todas as transações ser nela realizadas? (j) que
medidas deveriam ser adotadas para evitar os ônus trazidos pelos intermediários ao
comércio do café? E (k) como o governo poderia intervir para auxiliar a venda direta do café
ao estrangeiro?
Para que houvesse a expansão do consumo mundial o documento introdutório
reforçava as seguintes recomendações do Congresso de Nova Iorque: (a) que o governo
deveria empenhar-se em obter a abolição, ou pelo menos a diminuição, dos impostos de
exportação e consumo nos países estrangeiros; (b) que o mesmo empenho deveria ser feito
para diminuir a taxação sobre os cafés de melhor qualidade; (c) que deveria ser
intensificada a propaganda sistemática do produto, mantendo exposições permanentes dos
cafés de diversas procedências; (d) que deveria ser realizado um novo congresso
internacional “composto de pessoas reconhecidamente competentes e devidamente
autorizadas para ajustarem um tratado regulador da produção e consumo do café”.
O texto crítico, redigido pelo membro da Comissão Fundamental José Joaquim
Monteiro de Andrade, dava respostas às questões levantadas, explicitando o debate que iria
dividir por muitos anos as opiniões tanto de liberais quanto de intervencionistas. De óbvio,
ele começa dizendo algo que afetava praticamente todas as demandas: “o café é um
problema inteiramente nacional”. No restante de sua análise, revela uma posição quase
sempre contrária às intervenções governamentais, particularmente com recursos diretos.
Não obstante, admite e reivindica que o governo mantenha escritórios de informações
agrícolas, com estatísticas sobre produção e comércio, para “se saber quando se ia chegar
ao tempo de se produzir sem ter consumidor”; e também informações sobre os fenômenos
59
naturais que afetam as diversas culturas, incluindo a do café. O autor critica duramente a
exportação de cafés misturados com substâncias estranhas, que entre suas “consequências
mais ruinosas é encontrarem os especuladores nessas qualidades ruins meios de
aumentarem os seus lucros, em detrimento do gosto dos que usam essa bebida e do bom
nome que deve ter o café brasileiro”. Por isso concorda com uma tributação diferenciada
para as diversas qualidades de café, de modo a pagar mais o de menor qualidade, a fim de
animar a produção do “gênero bom” e atender ao gosto do consumidor, “sempre propenso a
preferir artigo de melhor qualidade”. Critica o hábito “antidemocrático de se tributar
principalmente a classe dos produtores” e por isso apoia a abolição da cobrança do imposto
de exportação pago pelos mineiros, que nada mais fazem do que “a deslocação do gênero
do lugar da produção para o de venda”. Defende o estabelecimento de grandes armazéns
por sociedades comerciais ou pelo próprio governo, possibilitando assim maior poder de
resistência dos produtores na sua relação com os compradores, que em geral são
“inteiramente dominadores” do mercado. Sobre as bolsas de café diz que elas são
vantajosas para o maior conhecimento das transações diárias, mas pondera que “em toda
parte e em todos os tempos é certo que uma parte dessas transações é secreta”. Com
relação à proposta de venda direta do produtor ao consumidor estrangeiro manifesta
oposição, pois que o racional seria quem produz aperfeiçoar-se na sua especialidade,
“enviando os produtos ao comércio, indústria de interposição que se encarrega de lhes dar
circulação.” No entanto, apoia a diminuição do frete para os cafés destinados à exportação
direta por parte dos fazendeiros. Para isso defende a constituição de “sociedades de
lavradores” dispostas a operar nos centros consumidores estrangeiros e fazer a propaganda
do consumo.
Embora não estivesse entre as perguntas formuladas, o autor defende o ensino
profissional agrícola, proposta cara a João Pinheiro, coordenador da Comissão
Fundamental, e relaciona esse ensino à agricultura “cientificamente exercida”, necessária
para repor nas terras os elementos fertilizadores que lhes foram retirados pelos processos
até então adotados. Por sua conta, defende a adoção da policultura, combinando a cultura
do café com a de cereais, destacando o milho, “preciosa gramínea” que atende a “tantas
necessidades do homem e dos animais”. 97
Nas conclusões do Congresso as questões c), d), e) e f) foram respondidas de
forma afirmativa. Além disso, foi proposta a substituição do imposto de exportação por um
imposto territorial e a diminuição do frete e do imposto de exportação para particulares que
quisessem efetuar a venda diretamente ao estrangeiro.
60
4.2 O Convênio de Taubaté de 1906
Em 1906 a safra foi surpreendente. O economista Antônio Delfim Neto, na sua tese
sobre o café, defendida na Universidade de São Paulo, dá a dimensão do problema:
61
seria aumentado para cinco) cobrado sobre cada saca de café exportada. Em contrapartida,
os Estados se comprometeriam a desencorajar a expansão das plantações, particularmente
dos cafés de qualidade inferior ao tipo 7 americano.
Receando que sob a influência do empréstimo externo e do aumento dos preços
internacionais que se seguiriam, o câmbio se elevasse e viesse a anular, em moeda
nacional, o levantamento das cotações em ouro, também foi decidida a criação de uma
Caixa de Conversão, que atuaria como estabilizadora do câmbio, controlando as reservas
em ouro propiciadas pelos empréstimos externos e por eventuais saldos comerciais. Além
disso, o convênio estabelecia um preço mínimo e máximo da saca de café tipo 7 americano
e propunha que os cafés de qualidade superior tivessem seus preços aumentados
proporcionalmente.
Por imposição constitucional, para implantar o Convênio era necessário que o
Executivo federal encaminhasse ao Legislativo um projeto de lei, e por isso os governantes
dos três Estados apelaram ao presidente da República para que convocasse uma sessão
extraordinária do Congresso Nacional, fato que demonstra o clima de urgência então vivido
pela cafeicultura.
Antes mesmo da aprovação do Convênio em lei própria, o governo federal, já ciente
da gravidade da situação, solicitara ao Congresso Nacional, por meio da lei orçamentária de
1906, autorização para entrar em entendimentos com os governos dos Estados cafeeiros.
Na mensagem ao Congresso, o presidente Rodrigues Alves explicava o objetivo dessas
negociações:
62
Do ponto de vista puramente histórico, a apreciação crítica de determinada
ação somente pode ser realizada comparando-se os seus resultados com o
objetivo que deveria ter sido alcançado. É por essa razão que não há
sentido no julgamento desta operação quando realizado por meio de uma
análise puramente contábil de entrada e saída de recursos, como
frequentemente se tem feito. Deste ponto de vista, a valorização foi
certamente bem sucedida, pois em 1914 todas as dívidas estavam pagas e
o Estado de São Paulo possuía ainda 3,1 milhões de sacas de café. Do
ponto de vista dos comerciantes que participaram da operação, esta
também foi bem sucedida, pois eles, além de receberem juros e comissões,
puderam aproveitar-se da elevação dos preços. Não foi menor o lucro dos
banqueiros, que receberam mais ou menos 9% sobre o capital emprestado.
Mas esses pontos são simples subprodutos da operação; ela tem que ser
julgada em função do objetivo para o qual havia sido planejada: a melhoria
102
da remuneração dos cafeicultores, em moeda nacional.
Analisando gráficos sobre a flutuação dos preços em São Paulo, Delfim Neto
mostra que eles começaram a melhorar de fato só a partir de 1910, e que a elevação foi “tão
violenta quanto efêmera”, pois em 1914 o preço da saca, em mil réis, voltaria ao nível de
1904. E conclui:
63
Durante o funcionamento da Caixa de Conversão, manteve-se o câmbio
dentro dos limites preestabelecidos. Sem prejudicar o comércio e a
produção do café, esta estabilidade contribuiu para o surto de outras
atividades úteis, atraindo capitais e braços ao país, preparando o advento
de indústrias novas, como a dos matadouros frigoríficos, que nos permitiram
concorrer ao abastecimento de carnes resfriadas à Europa conflagrada [...].
A crise de 1900, ou “crise do século”, deixou em Minas uma consequência
capaz de compensar, em parte, os formidáveis prejuízos. Referimo-nos ao
desenvolvimento da indústria pastoril nas zonas cafeeiras, fato que resultou
na magnífica riqueza lacto-industrial de que nos podemos orgulhar com
104
justo motivo.
O autor propunha o que ele chamava de “solução integral” para a defesa do café,
que envolveria a aplicação de “métodos racionais” na produção, beneficiamento, transporte,
comercialização e exportação, a começar pelos cultivos, acusados de serem extensivos e
rotineiros e, em geral, manuais. Ele propõe “estudar e escolher experimentalmente
variedades apropriadas”, promover o “arroteamento mecânico do solo”, sua “correção física,
reconstituição química e solubilização dos elementos naturais pelo emprego de agentes
biológicos”. Conclui dizendo que melhor seria que as lavouras fossem reduzidas à décima
106
parte, elevando-se “ao décuplo a capacidade produtiva”.
64
os relativos à sua extensão e valor, benfeitorias permanentes, mecanização e
beneficiamento. O Serviço de Inspeção e Fomento Agrícolas, por sua vez, revelou o quadro
da distribuição geográfica das atividades e, para cada espécie vegetal, analisou os fatores
naturais que favoreciam sua propagação e as condições econômicas que presidiam sua
exploração. Foram recenseadas 648.153 propriedades rurais.
Com relação ao café o estudo revela que em todos os Estados brasileiros ele era
cultivado, totalizando 2.215.658 hectares, com 1.708.418.893 de árvores plantadas, em
128.424 estabelecimentos rurais. Entre os sete Estados de maior área plantada, São Paulo
concorria com 46% e Minas Gerais com 29% (totalizando 75%), seguidos do Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e Paraná.
Com base no Censo Afonso Taunay relaciona o número de fazendas, de cafeeiros
e hectares plantados dos quatro maiores produtores, conforme a seguinte tabela:
O mesmo autor fornece dados sobre o percentual das fazendas de café em relação
ao número total de propriedades rurais recenseadas nesses quatro Estados:
Tabela 6: Percentual das fazendas cafeeiras em relação ao número total de propriedades rurais
recenseadas nos Estados maiores produtores - 1920
ESTADOS FAZENDAS FAZENDAS DE PERCENTUAL DAS
RECENSEADAS CAFÉ DE CAFÉ
Minas Gerais 115.655 41.393 35,8%
São Paulo 80.921 21.341 26,4%
Espírito Santo 20.941 16.375 78,2%
Rio de Janeiro 23.699 10.766 45,4%
Fonte: Dados básicos: TAUNAY, Pequena história do café no Brasil, 1945.
Elaboração própria
107
Taunay também destaca os municípios de maior produção nesses Estados:
107
TAUNAY. Pequena história do café no Brasil, 1945, p. 393- 397.
65
Tabela 7: Municípios maiores produtores de café nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio
de Janeiro e Espírito Santo - 1920.
ESTADOS MUNICÍPIOS
São Paulo Ribeirão Preto e S. José do Rio Preto
Minas Gerais Carangola e Manhuaçu
Rio de Janeiro Itaperuna e S. Antônio de Pádua
Espírito Santo São Pedro de Itabapoana e Alegre
Fonte: Dados básicos: TAUNAY, Pequena história do café no Brasil, 1945.
Elaboração própria
A observação desses dados permite muitas análises. Tomando Minas Gerais como
referência, vê-se que o Estado possuía maior número de fazendas de café do que São
Paulo, mas tinha menos hectares plantados, o que sugere a predominância de propriedades
menores e/ou policulturas.
Verificando os municípios maiores produtores em cada Estado, vê-se que os do Rio
de Janeiro aparecem em 1º e 2º lugares, apesar da propalada decadência da cafeicultura
carioca. Na verdade, o café fluminense havia se deslocado da porção meridional para a
setentrional, atingindo o vale do rio Itabapoana na fronteira com os Estados de Minas Gerais
e Espírito Santo. Itaperuna e Santo Antônio de Pádua estão ambos na mesma mancha de
produção de café que envolve os municípios das Matas de Minas, com destaque para
Carangola e Manhuaçu, e também os do Espírito Santo, São Pedro de Itabapoana (hoje
distrito de Mimoso do Sul) e Alegre.
Especificamente em Minas Gerais, levando em conta o tamanho da área plantada,
Afonso Alvim, secretário do Censo de 1920, destaca os municípios de Teófilo Otoni,
Aimorés, São Miguel do Mutum (Mutum), Rio José Pedro (Ipanema), Caratinga, Manhuaçu e
108
MELLO. A evolução da cultura cafeeira no Estado do Rio, 1934, p. 421.
66
Carangola, sendo esse último o que apresentava a maior área cultivada em todo o território
mineiro.
A existência de municípios grandes produtores, situados bem próximos ao rio Doce
(Aimorés, Mutum e Ipanema), guarda relação com a construção da Estrada de Ferro Vitória-
Minas, iniciada no final do século XIX com o objetivo de escoar o café produzido em Minas
Gerais e no Espírito Santo. Embora esse objetivo inicial tenha sido alterado para dar
primazia à exportação do minério de ferro da região de Itabira, a estrada contribuiu também
para o escoamento do café do vale do rio Doce até o porto de Vitória, ponto de partida da
construção da estrada de ferro que, em 1914, já alcançara o município mineiro de Belo
Oriente, tendo no trajeto a estação de Aimorés.
A presença do município de Teófilo Otoni (vale do rio Mucuri) na lista dos maiores
produtores mineiros provavelmente está relacionada com a mancha que então se espalhava
a partir do sul do Estado da Bahia, na fronteira com Minas Gerais e Espírito Santo,
destacando-se os municípios de Itabuna, Ilhéus, Belmonte, Porto Seguro, Prado, Caravelas,
Alcobaça, Nova Viçosa e São José de Porto Alegre, na foz do rio Mucuri. O
desenvolvimento da cafeicultura em Teófilo Otoni realizou, mesmo que parcialmente, o
sonho acalentado por Teófilo Otoni e sua Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri.
Em 1860, em circular encaminhada aos seus eleitores, o otimista tribuno previa que os
terrenos “fertilíssimos e tão vastos” do município possibilitariam “vender ao estrangeiro
109
tantos milhões de arrobas de café como o vale do Paraíba”.
Entre as regiões cafeeiras de Minas a Zona da Mata é a maior produtora, e nela
destacam-se os municípios de Carangola e Manhuaçu. Sobre Carangola, maior produtor do
Estado, Afonso Alvim escreve:
Convém assinalar que o município de Carangola acha-se precisamente
situado na fronteira de Minas com o Espírito Santo e o Rio de Janeiro, isto
é, no centro da mais intensa cultura desses três Estados, e que no seu fértil
território principia a famosa Zona da Mata, constituída pelos municípios de
Muriaé, Cataguases, Ponte Nova, Ubá, Juiz de Fora, Além Paraíba,
Leopoldina, São João Nepomuceno, Rio Novo, Pomba, Guarará, Mar de
Espanha, Rio Branco, São Manoel, Palmeira, Viçosa e Rio Preto, cujas
áreas em cafezais, reunidas à de Carangola, perfazem, segundo o censo de
1920, 255.787 hectares ou mais de 39% de toda a área cafeeira de
110
Minas.
67
Tabela 9: Produção de café (quilos) – Municípios da Zona da Mata (MG) – 1926/1927
MUNICÍPIOS SAFRA 1926-1927 (quilos) ÁREA CULTIVADA 1926
(hectares)
Abre Campo 1.800.000 3.049
Além Paraíba 6.398.700 10.915
Antônio Dias 380.480 675
Alvinópolis 397.420 952
Bicas 6.000 13
Caratinga 6.330.000 11.150
Carangola 9.150.000 16.090
Cataguases 4.230.000 7.245
Guarani 1.140.000 2.420
Guarará 3.015.000 5.122
Itanhomi 9.000 18
Jequeri 6.000 14
José Pedro [Ipanema] 2.400.300 4.076
Juiz de Fora 9.495.840 16.329
Leopoldina 3.684.000 6.246
Lima Duarte 450.660 824
Manhuaçu 7.602.000 13.570
Matias Barbosa 4.800 16
Manhumirim 4.200 13
Mar de Espanha 8.634.000 14.540
Raul Soares 6.000 16
Miraí 4.080.000 6.850
Muriaé 14.790.000 26.050
Palma 2.565.000 4.316
Pomba 5.180.000 8.650
Ponte Nova 7.395.000 42.466
Rio Casca 3.600.000 5.200
Rio Branco 5.100.000 8.580
Rio Novo 5.640.300 9.849
S. João Nepomuceno 3.600.300 6.186
S. Domingos do Prata 6.412.488 1.539
S. Manoel [Rio Pomba] 3.924.000 6.590
Tombos 1.800 6
Ubá 6.480.000 1.156
Viçosa 3.059.451 5.110
TOTAL 136.583.139 225.751
FONTE. Dados básicos: DEPARTAMENTO NACIONAL DO CAFÉ, 1934.
Elaboração própria
68
Tendo como referência o Censo de 1920, as mudanças mais expressivas são o
aparecimento de Muriaé e Juiz de Fora como os dois maiores produtores, superando
Carangola e Manhuaçu. A presença de Mar de Espanha, um dos pioneiros da produção de
café em Minas Gerais, mostra que a cafeicultura desse município sobreviveu à decadência
que tomou conta do vale do rio Paraíba fluminense.
Levando em conta apenas os municípios localizados nas Matas de Minas, os cinco
maiores produtores, em ordem decrescente são: Muriaé, Carangola, Manhuaçu, Caratinga e
Miraí. Seguem-se: Viçosa, Ipanema e Abre Campo. Os municípios de Jequeri, Raul Soares,
Manhumirim e Tombos eram recém-emancipados e por isso aparecem com pequena
produção.
A segunda região mineira de maior produção era o Sul, onde se destacavam os
municípios localizados na fronteira com São Paulo: Monte Santo, São Sebastião do Paraíso,
Jacutinga, Machado e Guaranésia, servidos pela Estrada de Ferro Mogiana. Somadas, a
Mata e o Sul perfaziam 64% da área cafeeira de Minas Gerais.
Em menor escala, havia produção também no Triângulo Mineiro (Conquista), no
Oeste (Vila Nepomuceno, Bom Sucesso, Oliveira e Lavras) e na área Central (Conceição do
Serro, Mercês, Itabira, Palmira, São Domingos do Prata, Guanhães, Barbacena, Bonfim,
Mariana e Alto Rio Doce). A presença de Mariana faz lembrar que foi nesse município que a
existência de café em Minas foi identificada pela primeira vez (1788), conforme registro de
José Joaquim da Rocha.
111
RAMOS. A intervenção do Estado na lavoura cafeeira, 1934, p. 508.
69
Em 1921, quando os preços internacionais do café passaram a cair mais
rapidamente do que a taxa de câmbio, erodindo a renda real do setor cafeeiro, uma nova
intervenção foi necessária, dessa vez feita pelo governo federal, que por meio de mais
emissão de papel moeda comprou 4,5 milhões de sacas nos portos do Rio e Santos, cujo
estoque serviu de caução para levantar um empréstimo externo de nove milhões de libras
esterlinas. Paralelamente, realizou-se a primeira tentativa de regular a entrada de café nos
portos, que passou a ser uma característica constante do plano de defesa permanente.
A operação de 1921 foi bem sucedida, até mesmo porque as safras de 1921/22 e
1922/23 foram bem menores, se comparadas com as do início do século. Já o estoque
mundial de café havia caído de 10 milhões de sacas em 1919, para 5,3 milhões em 1923.
Essa conjuntura resultou na expressiva subida das cotações do café na Bolsa de Nova
Iorque. Em 1923/1924 elas aumentaram de 10,9, para 19,3 cents libra-peso. Em 1933, o
estoque adquirido com as compras de café já estava praticamente no fim e sua venda
paulatina tinha proporcionado vultosos lucros ao país.
Ainda em 1921, a Mensagem encaminhada ao Congresso pelo presidente Epitácio
Pessoa apontava as causas das sucessivas crises e sugeria a instituição de uma defesa
permanente do café. Entre as causas destacava-se a irregularidade das remessas de café
para os portos, que se concentravam no segundo semestre de cada ano. Isso causava
graves problemas financeiros para os operadores do mercado, em virtude da inexistência de
um sistema bancário suficiente para atender às suas necessidades. Dizia a Mensagem:
70
Instituto de Defesa Permanente do Café e instituía um Fundo a ele vinculado. Os parágrafos
3º a 6º do artigo 6º do referido Decreto definem a política de defesa permanente e detalham
as fontes de recursos do Fundo:
71
Antes, era a autoridade pública que incorria nos ônus financeiros e carreava
os ganhos eventualmente resultantes da operação esporádica de defesa
dos preços; agora, era o fazendeiro que, como proprietário dos cafés
114
armazenados, bancaria a operação.
114 FRITSCH, Winston. Apogeu e crise na Primeira República FRITSCH, Winston. Apogeu e crise na Primeira
República, 1989.
115 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 122.
116 TAUNAY, A. Pequena História do Café no Brasil, 1945, p. 411.
117 BRASIL. Decreto 4.868, 1924.
118 SÃO PAULO. Lei 2.004, 1924.
72
A taxa serviria como garantia para obtenção de empréstimos externos que
abasteceriam o Fundo. Sinal do protagonismo assumido por São Paulo na política cafeeira
nacional, a lei previa a celebração de convênios com os demais Estados produtores.
Em novembro de 1925 foi assinado o convênio com o Estado de Minas Gerais, que
regularizava os embarques de café nas estradas comuns aos dois estados. Em 1927, com a
participação dos Estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro (depois entrariam os
governos do Paraná e da Bahia), firma-se um compromisso para defesa conjunta do café.
Esse compromisso ficou conhecido como o “segundo convênio de Taubaté”. O controle das
entradas de café, que já se dava no porto de Santos, foi estendido aos portos do Rio, Vitória
e Paranaguá, com a fixação dos estoques máximos e da cota de participação de cada
Estado. Os números e índices acordados permitem aferir a importância de cada um dos
portos exportadores e o montante da produção de cada estado. Em Santos, para um
estoque máximo de 1.200.000 sacas/mês, Minas Gerais concorreria com 11% e São Paulo
com 89%; no Rio de Janeiro, para um estoque de 360.000 sacas/mês, Minas Gerais tinha
direito a 55,75%, o Rio a 30%, o Espírito Santo a 11,75% e São Paulo a 2,5%. No porto de
Vitória, o limite era de 150.000 sacas/mês, sendo 73,3% para o Espírito Santo e 26,7% para
Minas Gerais. O porto de Paranaguá era 100% reservado para o café do Paraná (limite de
estoque de 50.000 sacas/mês), que já começava a ter expressão nas estatísticas nacionais
de produção e exportação de café.
Embora não tivesse acesso direto ao mar, o café das Minas Gerais estava
localizado de forma a poder se utilizar de três, entre os quatro portos, e nessa posição
estratégica destacava-se a produção das Matas de Minas, que podia ir para qualquer um
deles, preferencialmente para o Rio de Janeiro e Vitória, sendo que o porto do Rio tinha
maior capacidade de estoque e melhores condições técnicas de embarque, além da
presença das empresas exportadoras e de um sistema bancário de apoio. As distâncias dos
municípios das Matas de Minas até esses portos são mais ou menos as seguintes: menos
de trezentos quilômetros de Vitória; quinhentos e poucos do Rio e um pouco mais de
oitocentos quilômetros de Santos.
Os convênios firmados com São Paulo previam que os estados legislassem sobre a
política de defesa permanente do café. Já em 1925 a lei estadual mineira nº 887 criou o
imposto sobre cada saca de café exportado e definiu os meios pelos quais se daria a
defesa:
73
café, feitos pelos bancos regionais que se sujeitassem à fiscalização do
governo; c) pela fixação de um preço mínimo ao qual seria recebido o café
que fosse entregue em locais determinados, pagando-se em obrigações a
juro razoável e prazo de um ano, garantidos pelo café entregue e pelo fundo
119
de defesa”.
O Convênio gerou também a criação de órgãos públicos para a defesa do café nos
estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, sustentados pelos recursos
arrecadados com a cobrança das taxas de exportação.
119
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 78.
120
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 134-35.
74
4.5 A política cafeeira de 1930 a 1990
Um ano após o início da crise de 1929, ocorre no Brasil uma mudança política, a
chamada Revolução de 30, que instaurou uma forte concentração de poder no governo
federal e o equivalente enfraquecimento da autonomia dos estados federados. A política de
defesa do café então retorna ao Poder Executivo da União, sob o comando do presidente
Getúlio Vargas, que em 1931 cria o Conselho Nacional do Café, substituído, em 1933, pelo
Departamento Nacional do Café (DNC), autarquia federal que dispensou a participação dos
representantes dos estados produtores. Os cafeicultores de São Paulo, reunidos em torno
do Instituto Paulista de Defesa Permanente do Café, haviam apoiado a chamada Revolução
Constitucionalista de 1932, contrária ao governo Vargas.
Produzir café para queimá-lo é de fato absurdo, mas não há dúvida de que
queimar uma saca de café, do ponto de vista social, é menos importante do
que despedir um chefe de família e forçá-lo a roubar ou a prostituir sua
122
esposa para alimentar seus filhos.
Por outro lado, o governo Vargas instalou no país vários centros (fazendas)
experimentais voltados para a pesquisa científica e a transferência de tecnologia para a
produção de gêneros agropecuários exportáveis. Com relação ao café, destacam-se as
instalações, em 1934, da estação experimental de Botucatu (extinta em 1970) e, em 1935,
121
ABREU. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: 1930-1983, 1984, p. 520.
122
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 147.
75
da Estação Experimental do Café no município de Machado (sul de Minas), hoje uma das
fazendas experimentais vinculadas à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(Epamig). O objetivo dessas fazendas era melhorar a qualidade dos produtos agropecuários
brasileiros de exportação, a fim de criar condições mais favoráveis para competir no
mercado internacional. No caso do café mirava-se, particularmente, a competição com o
produto colombiano. Registre-se, de passagem, que o primeiro gerente oficial da Fazenda
de Machado foi o engenheiro agrônomo Demerval Frossard, nascido em Manhumirim e
descendente de imigrantes suíços que desbravaram as Matas de Minas.
A queima de café durou até 1945, ano de término da Segunda Guerra Mundial,
quando no Brasil, o regime getulista, que em 1937 adquirira faceta autoritária com o golpe
do chamado Estado Novo, foi substituído por um regime de corte liberal democrático.
Durante o litígio, fez parte do “esforço de guerra” dos Estados Unidos atrair o Brasil para o
campo de luta dos países aliados (Getúlio chegou a flertar com os países do Eixo) e nesse
contexto situam-se os Acordos de Washington, pelos quais o Brasil obteve algumas
vantagens, incluindo a compra pelos americanos de “cotas de sacrifício” e a diminuição de
impostos incidentes sobre o café brasileiro nos Estados Unidos.
Em 1946 o governo federal, sob a ótica do liberalismo econômico, argumentando
terem sido atingidos o equilíbrio estatístico entre a produção e o consumo de café, bem
como a normalização do comércio interno do produto, decide extinguir o Departamento
Nacional do Café e o substitui pela fraca Divisão da Economia Cafeeira (DEC). O momento
coincide com uma melhora das exportações brasileiras, que haviam sofrido com a queda do
consumo mundial durante a guerra. Coincide também com o término do estoque acumulado
pelo DNC, fato que se refletiu no aumento dos preços internacionais, gerando uma
campanha contra o café brasileiro junto à opinião pública norte-americana.
A campanha foi orquestrada no rastro do inquérito parlamentar instaurado na
subcomissão de agricultura do Senado americano, pelo senador democrata Guy Gillette, a
fim de investigar as causas dos altos preços do café do DNC, comprado em 1948 por
operadores na Bolsa de Nova Iorque. O periódico paulista Jornal de Notícias, de 10 de junho
de 1950, dia seguinte à conclusão do relatório do inquérito, publicou na primeira página a
seguinte manchete: PROVOCARAM NOVA BAIXA DO CAFÉ EM NOVA YORK AS
SUPREENDENTES CONCLUSÕES DO INQUÉRITO GILLETTE. No corpo da matéria, o
jornal cita o relatório, que teria revelado que perto da metade dos contratos de café para
entregas futuras na Bolsa de Nova Iorque, na data de 31 de março de 1950, pertencia a
interessados brasileiros (principalmente do Estado de São Paulo) que teriam se locupletado
nessas transações.
76
Registre-se que a campanha em torno do inquérito do senador Guy Gillette não foi
a única movida contra o café brasileiro nos Estados Unidos. Ela reeditou outra, inspirada
pelas empresas importadoras e torrefadoras americanas, à qual aderiu o candidato
republicano à presidência dos EUA, Herbert Clark Hoover, que durante a campanha contra o
café brasileiro foi eleito presidente dos Estados Unidos (1929 -1933).
Em 1951, o preço do café foi congelado nos Estados Unidos, provocando o
reestabelecimento da política brasileira de defesa do produto. O governo federal, novamente
sob o comando do nacionalista Getúlio Vargas, limitou a entrada de café nos portos e
anunciou sua disposição de comprar café, caso fosse necessário, a fim de valorizar o
produto. No mesmo governo foi criado, em 1952, o Instituto Brasileiro do Café (IBC), que até
1990 foi responsável pela totalidade da política cafeeira nacional.
O IBC assume o armazenamento e a regulação das entradas de café nos portos
(fixando cotas por porto), a pesquisa agrícola, os levantamentos estatísticos, a assistência
técnica, o fomento aos cafeicultores e às suas cooperativas, a fiscalização do trânsito do
café até os armazéns e deles até os portos, o comércio interno, a propaganda nos mercados
consumidores (interno e externo), a regulamentação e fiscalização dos tipos e qualidades de
café e a exportação. Para sustentar o instituto foi criada uma taxa por saca de café
produzida.
O IBC tinha até mesmo poder de polícia, podendo reprimir fraudes no transporte,
comércio, industrialização e consumo do café, que passa a ser encarado como o produto
brasileiro por excelência, capaz de gerar receita de divisas destinadas à promoção do
desenvolvimento industrial do país. Levando em contas as idas e vindas da política de
defesa, é justo dizer que ela só se torna permanente de fato com a criação do IBC.
Há um relativo consenso entre os especialistas a respeito da existência de uma
contradição básica da política de defesa e valorização do café. Ao controlar a oferta do
produto e o câmbio, os preços elevam-se ou no mínimo se mantêm estáveis, fato que
estimula os fazendeiros a expandir a produção, não só no país, onde cada vez mais estados
começam a se dedicar ao plantio, como também no estrangeiro, onde o Brasil passou a
enfrentar a concorrência da produção de um número cada vez maior de países. Se por volta
de 1900 o Brasil detinha ¾ da produção mundial, já em 1933 essa cifra tinha caído para
50%, chegando a 35% entre 1950 e 1960, embora ainda representasse 50% das receitas
totais oriundas das exportações brasileiras. A contradição da política de defesa ficava
explícita na ocorrência das crises de superprodução, que eram cíclicas e provocavam a
depreciação do produto, exigindo novas intervenções valorizadoras.
77
Uma crise de superprodução volta a ocorrer com força na safra 1959/60, quando a
colheita, somada ao estoque do IBC (depositado numa enorme rede armazenadora de 100
ha. de área), alcança 44 milhões de sacas. A demanda estimada era de aproximadamente
24 milhões de sacas, das quais 18 milhões destinados à exportação e seis milhões ao
123
consumo interno. Havia, portanto, um excedente de 12 milhões de sacas.
É então que o IBC introduz uma política ainda não testada: financiar, ao mesmo
tempo, a erradicação de cafezais e sua substituição por outros gêneros agrícolas. Para tanto
é criado, em 1961, o Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura (GERCA), braço do
IBC que até 1967 irá centralizar a política cafeeira nacional.
124
Nos termos do Decreto nº 79, de 28 de outubro de 1961 , assinado pelo então
Primeiro Ministro Tancredo Neves, caberia ao GERCA, com a colaboração de órgãos
estaduais e municipais, “concentrar a produção de café nas zonas ecológicas mais
favoráveis” e “financiar ou complementar financiamentos para a diversificação da produção,
através de entidades de crédito, oficiais e privadas, mediante convênios”.
Demonstrando a centralidade dessa política para o governo o IBC/GERCA,
vinculado ao Ministério da Indústria e do Comércio (também criado em 1961), era regido por
um Conselho Deliberativo do qual participavam representantes de mais dois ministérios
(Fazenda e Agricultura); do Banco do Brasil, que detinha quatro cadeiras (ocupadas pelas
carteiras de Crédito Agrícola e Industrial, Comércio Exterior, de Redescontos e de Crédito
Geral); da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC); da Comissão de
Financiamento da Produção e de um representante de cada um dos quatro estados maiores
produtores de café, entre eles, por óbvio, Minas Gerais. Comandava o Conselho o
presidente do IBC, representado ainda pelo presidente da Junta Administrativa do instituto,
pelo vice-presidente e diretores cafeicultores (eram três diretores, obrigatoriamente
produtores de café).
O Decreto previa os recursos necessários à execução do programa, especialmente
o Fundo de Defesa do Café, que teria acesso ao dinheiro proveniente do recolhimento de
uma cota de contribuição, no valor de 22 dólares por saca de café exportada. A cota fora
125
criada cinco meses antes pela Instrução nº 205 da SUMOC, de 12 de maio de 1961 .
Esse dispositivo legal facultava ao Banco do Brasil negociar cambiais provenientes da
exportação de café, à taxa do mercado livre; os recursos seriam destinados ao Fundo, mas
recolhidos diretamente ao caixa da SUMOC. Mediante requisição do presidente do
78
Conselho Deliberativo do GERCA a SUMOC abriu uma conta especial no Banco do Brasil,
denominada “Fundo de Racionalização da Cafeicultura”, que ficou à disposição do GERCA.
Nessas condições, o programa de erradicação tinha garantidos não só os recursos,
mas também a flexibilidade nas operações. Não dependia de orçamentos públicos e se valia
da SUMOC, criada em 1945 como uma espécie de núcleo de um banco central. Essa
superintendência era gerida por um conselho, no qual o Banco do Brasil detinha vários
assentos, e gozava de extrema agilidade operacional. Em dezembro de 1961 o Conselho
ganhou mais um membro: o ministro da indústria e comércio, ao qual estava vinculado o
IBC. A partir de 1964, quando foi criado o Conselho Monetário Nacional (CMN), a liberdade
da SUMOC foi mais controlada, pois a partir de então deveria submeter suas decisões à
confirmação do CMN, instância superior.
Artigo escrito pela geógrafa Márcia Siqueira de Carvalho, intitulado “A erradicação
de cafezais e a diversificação de lavouras executadas pelo GERCA no estado Paraná”,
permite acompanhar a evolução do programa não só naquele estado, mas em todo o país.
126
Suas fontes de informação são os relatórios do IBC/ GERCA, de 1962 a 1969.
O GERCA dividiu seu programa em dois projetos: Racionalização da Cafeicultura
Brasileira (que teve duas fases) e Diversificação Econômica das Regiões Cafeeiras.
O projeto de Racionalização tinha como meta erradicar dois bilhões de cafeeiros,
pagando 15 cruzeiros por pé eliminado, o que na época equivalia a cerca de 50% do custo
médio de produção, correspondendo à produtividade de seis sacos por mil cafeeiros.
O projeto de Diversificação previa que o lavrador:
126 CARVALHO. O uso do solo no norte do Paraná e a política cafeeira, p. 135-141, jul./dez.1999, v. 8, n.2, p
135-141, jul./dez.1999.
127 CARVALHO. O uso do solo no norte do Paraná e a política cafeeira, p. 135-141, jul./dez.1999, v.8, n.2, p
135, jul./dez.1999.
79
A tabela abaixo dá o número de pés erradicados e as áreas liberadas nos estados
de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo, na 1ª fase (junho de 1962 a agosto de
1966) e na segunda fase do programa (1966 a 1968).
80
Tabela 11: Culturas substitutivas e área (ha) na primeira fase do Programa de Erradicação –
Brasil – 1962- 1966
Culturas Área (ha) %
Pastagens 65.069 40,4
Milho 17.878 11,1
Arroz 2.738 1,7
Algodão 25.770 16,0
Feijão 7.731 4,8
Cana-de-açúcar 2.255 1,4
Mandioca 3.382 2,1
Amendoim 1.172 1,1
Mamona 4.671 2,9
Café 483 0,3
Reflorestamento 805 0,5
Outras 28.508 17,7
Total 161.062 100,0
Fonte: Relatório GERCA/IBC. 1968.
128
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela
Martins Durães Brandão, 2016.
81
Além da baixa produtividade, nessa ocasião o café das Matas de Minas era
predominantemente do tipo Rio Zona, de qualidade inferior; por isso não havia como a
região ser enquadrada na categoria de “zonas ecológicas mais favoráveis”, onde o
programa do GERCA pretendia “concentrar a produção de café”. Ao contrário, o café das
Matas de Minas era tido como “antieconômico” e por isso passível de ser erradicado.
O engenheiro agrônomo e professor José Luiz dos Santos Rufino, da Universidade
Federal de Viçosa, explica:
129
RUFINO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
130
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.
82
Não foi possível encontrar estatísticas sobre o aumento do desemprego nas Matas
de Minas, mas para o vizinho Estado do Espírito Santo há pesquisas:
131 ROCHA; MORANDI. Cafeicultura e grande indústria: a transição no Espírito Santo (1955-1985), 1991, p.36.
132 FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. A Trajetória do BDMG: imagens de um projeto para Minas, 1997, p.77.
83
A regulação do mercado de café por meio do AIC durou basicamente de
1962 a 1989, com alguns períodos de interstício. Este acordo, assinado
pelos países membros da OIC, tinha como principal instrumento de
regulação mercantil o sistema de cotas de exportação que visava controlar
e elevar os preços do café no mercado internacional. [...]Em 1989, após
uma intensa rodada de discussões no âmbito da OIC, o AIC não foi
renovado. Estas discussões foram marcadas por pressões de países
consumidores, sobretudo os Estados Unidos da América, que defendiam o
livre mercado de café, e de alguns produtores, sobretudo da América
Central, que questionavam as cotas destinadas a cada país. A partir de
1989, o mercado internacional de café passou a funcionar dentro dos
parâmetros liberais, extinguindo-se o sistema de cotas e qualquer
133
participação direta dos Estados sobre o comércio.
84
5 A PRAGA DA FERRUGEM E A REINVENÇÃO DA CAFEICULTURA
A cafeicultura está sujeita a ser atacada por inúmeras pragas, entre elas a broca-
do-café, o bicho-mineiro, o ácaro vermelho e as cigarrinhas; mas uma das mais temíveis é a
ferrugem, provocada pelo fungo Hemileia Vastatriz, que ataca as folhas de todas as
variedades de café, podendo trazer perdas na produção de até 50%. Indiretamente, após
anos de ataque, essa praga pode atingir também os ramos laterais e comprometer a
longevidade das plantas.
No final do século XIX, uma epidemia de ferrugem provocou a ruína da cafeicultura
do Ceilão e a possibilidade dela chegar ao Brasil nunca foi descartada. Foi o que aconteceu
em 1970 quando essa doença foi identificada em Aurelino Leal, município do sul da Bahia.
Os agrônomos Renato e Pedro narram:
O café tinha acabado de sair de uma política de erradicação, que somada à praga
da ferrugem poderiam decretar a derrocada da cafeicultura brasileira. Nessa conjuntura são
lançados pelo IBC, em 1972, dois planos: o Plano de Renovação e Revigoramento de
Cafezais (PRRC) e o Plano de Pesquisa e de Controle da Ferrugem do Cafeeiro. Ambos
fazem parte de um esforço de renovação da cafeicultura baseado no tripé pesquisa,
assistência técnica e crédito. A pesquisa para desenvolver métodos de controle da doença,
incluindo a descoberta de variedades (cultivares) resistentes; a assistência técnica para
fazer chegar até os produtores os novos métodos; e o crédito para dar suporte financeiro à
execução de novas práticas culturais. A metodologia envolveu a criação de equipes
integradas por especialistas (cerca de 600) nos três “pés”, distribuídos em centros
experimentais regionalizados: três em Minas Gerais, dois no Espírito Santo, dois na Bahia,
134 ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.
85
um no Paraná, um em Mato Grosso, um em Mato Grosso do Sul, um no Ceará, um em
Pernambuco e um no Rio de Janeiro. Os centros experimentais eram apoiados pelo Instituto
Agronômico de Campinas (IAC-SP), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar - PR) e pela
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig - MG), responsáveis pelo
desenvolvimento de pesquisas científicas.
Nos municípios das Matas de Minas, o PRRC foi lançado oficialmente em abril de
1972, na cidade de Caratinga, onde se localizava uma divisão do IBC: o Serviço Regional de
Assistência a Cafeicultura (SERAC - M. G. 2). No mês seguinte, o lançamento foi em Santa
Margarida, onde a aceitação pelos cafeicultores locais dos financiamentos e orientação do
IBC surpreendeu: em menos de dois meses foram apresentadas 103 propostas para o
plantio de 613.750 covas e instalados cinco viveiros com capacidade para um milhão de
135
mudas.
Quarenta anos depois, o engenheiro agrônomo José Braz Matiello, participante
ativo dessa história, avaliou os resultados do PRRC:
86
Antes a cafeicultura estava concentrada em São Paulo e Paraná e, agora,
está mais distribuída, com destaque para o crescimento havido em Minas,
Espírito Santo, Bahia e Rondônia. O trabalho de zoneamento e do Plano de
Renovação permitiu incorporar as áreas de cerrado (MG, GO, MS e SP),
antes terras inativas e hoje abrigando a cafeicultura mais expressiva do
país, além da região do Jequitinhonha, do Norte e Noroeste de Minas, mais
as das Chapadas, na Bahia e, recentemente, também o cerrado do oeste
baiano, mais os microclimas serranos de Pernambuco e Ceará, mais as
zonas de altitudes elevadas, chamadas de cafeicultura de Montanha, nos
estados do Espírito Santo, Zona da Mata de Minas, estado do Rio de
Janeiro e parte do Sul de Minas; destacando-se que, antes, o café era
137
principalmente explorado em áreas de baixas altitudes nessas regiões.
Hoje a tecnologia possibilita que se produza durante 100 anos no mesmo terreno,
podendo até mesmo ser melhorada a qualidade do solo, não só com adubos, mas também
com manejo do mato e da água. Em consequência, a produtividade aumenta sem que seja
necessário acrescentar área de cultivo. O Brasil atualmente tem dois milhões de hectares de
café plantados, sendo um milhão (50%) só em Minas Gerais.
Porém, tudo isso exigiu muito trabalho e por isso é preciso contar com mais
detalhes essa história, tendo por base o tripé pesquisa, assistência técnica e crédito.
137
MATIELLO, J. B. Tributo à tecnologia cafeeira e aos nossos técnicos e cafeicultores, 2012.
87
5.1 A pesquisa cafeeira
O combate à ferrugem pode ser feito por meio da aplicação de agroquímicos que
controlam bem o problema, mas uma solução mais definitiva se dá com a descoberta de
variedades resistentes à praga, e isso não acontece da noite para o dia, como explica o
professor J. L. Rufino:
138 RUFINO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
139 PEIXOTO. Extensão Rural no Brasil: uma abordagem histórica da legislação, 2008.
140 MINAS GERAIS. Lei 761, 1920.
88
ciências agrárias. Em 1949 o governador Milton Campos, num discurso proferido naquela
cidade durante a Semana do Fazendeiro, resumiu os primeiros passos da escola:
Foi um negócio interessante. Eu sabia que havia uma região produtora, mas
nosso conhecimento ainda era superficial. Houve a pergunta: que área é
essa? Eu mandei mapear todos os municípios do vale do Rio Doce e da
Zona da Mata que tinham acima de 500 hectares de café plantado.
Pegamos os dados do IBGE e fizemos o mapa. Para minha surpresa os
municípios estavam todos juntos, eram contíguos, exatamente os 63
municípios que hoje constituem o mapa das Matas de Minas. Por que será
que estavam todos juntos? Mandei fazer o mapa de relevo da região.
Colocamos em cima do mapa da divisão municipal e todos estavam acima
de 600 metros, com uma variação entre 600 a 1000 metros (há picos mais
altos nos maciços de Araponga, Caparaó e Caratinga, que chegam a quase
2000 metros). Em seguida fizemos o mapa climatológico. E deu exatamente
o recorte entre 18 e 22 graus. Foi esse o processo de definição da região.
89
Eu não imaginava que ia dar uma contiguidade tão acentuada, foi um lance
142
de sorte. Surpreendeu-me positivamente.
Destaca-se também o Mapa da Qualidade, produzido no intuito de identificar os
cafés especiais da região. Em 2013 foram coletadas e analisadas em laboratório, por
professores de vários departamentos da UFV, 400 amostras de cafés devidamente
georeferenciadas. Em seguida as amostras foram descascadas, passadas pelo secador e
depois de moídas foram submetidas à degustação, realizada por especialistas certificados e
de alto gabarito. Embora a pesquisa tenha sido descontinuada (como o clima varia ela teria
de ser feita anualmente) foi possível identificar alguns padrões: há tais tipos de cafés, em
tais altitudes, em tais faces de exposição ao sol. O resultado da degustação foi animador:
75% dos cafés beberam 85 pontos (na escala da Brazilian Specialty Coffee Association -
BSCA) e 5% acima de 90 pontos; e bem distribuídos na região. Posteriormente, foram
defendidas várias teses de mestrado e doutorado com base nos dados obtidos pelo Mapa
da Qualidade.
É verdade que foi somente a partir de 2013 que o raio de ação da UFV se ampliou
para além de seu entorno imediato e alcançou a bacia do rio Doce. Até então essa área fora
assistida pelo Centro Experimental do IBC, localizado em Caratinga, extinto junto com o
instituto. Pode-se dizer que de alguma forma ele foi substituído pelo Centro de Pesquisas
Cafeeiras Eloy Carlos Heringer (Cepec), inaugurado no município de Martins Soares em
1994, pela empresa privada Fertilizantes Heringer S.A. O Cepec mantém parcerias com
empresas de fertilizantes, defensivos e corretivos, com o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA) e com a Fundação de Apoio a Tecnologia Cafeeira (Fundação
Procafé), de Varginha. O Cepec realiza em sua fazenda experimental pesquisas com foco
na cafeicultura de montanha, nas áreas de melhoramento genético, tratos culturais (podas,
espaçamento, controle de plantas invasoras), qualidade da bebida, controle fitossanitário e,
principalmente, adubação e nutrição do cafeeiro; mantém um banco de germoplasma. O
sítio do Cepec na internet informa que anualmente o Centro recebe cerca de 2.000
produtores rurais, estudantes, pesquisadores e técnicos, em visitas e reuniões onde são
143
divulgados os resultados das pesquisas.
Uma importante parceria do Cepec dá-se com o evento anual denominado
Simpósio sobre a Cafeicultura de Montanhas no Leste de Minas Gerais e do Espírito Santo
(depois renomeado Simpósio da Cafeicultura das Matas de Minas), realizado em Manhuaçu,
desde 1998, pela Associação Comercial, Industrial e Agropecuária (Aciam) daquela cidade.
142
RUFINO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
143
Ver site http://www.portalcaparao.com.br/noticia/17344/esportes.php
90
O Simpósio tem uma programação com duração de três dias, sendo os dois primeiros
dedicados a palestras relacionadas com as necessidades conjunturais da cafeicultura
regional, e o terceiro para a realização de um “dia de campo” na Fazenda Experimental do
Cepec.
O jornalista Carlos Henrique Cruz, assessor de imprensa da Aciam e um dos
organizadores do Simpósio desde sua criação, aponta uma mudança do perfil do evento ao
longo dos anos:
O Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras está neste ano (2017) na sua 43ª
edição. Seu objetivo principal é promover o encontro entre a comunidade científica e os
representantes dos setores que compõem a cadeia produtiva do café, a fim de fomentar a
transferência de tecnologias e a troca de conhecimentos, além de realizar treinos práticos,
tudo isso visando o aumento da competitividade, a melhoria da qualidade do produto e a
sustentabilidade do setor. A preocupação da Fundação Procafé, promotora do evento, é
144 CRUZ. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
145 CRUZ. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
91
fazer com que os resultados das pesquisas tenham efeito prático, por meio do diálogo entre
146
pesquisa, extensão e produção.
Na divulgação do 40º Congresso (2014), cujo tema foi “40 anos de tecnologias ‘pro
café’ ter melhorias”, há uma entrevista com o agrônomo J. B. Matiello, responsável desde o
início pela organização do evento. Matiello, graduado em agronomia pela UFV, ingressou no
IBC em 1968, onde foi responsável pelo planejamento e execução do PRRC e também do
Plano de Pesquisa e Controle da Ferrugem do Cafeeiro. Desde 1992 Matiello é pesquisador
da Fundação Procafé. Na entrevista, perguntado sobre a origem do Congresso, ele
respondeu:
Até 2014 tinham sido expostos no Congresso mais de 10 mil trabalhos técnico-
científicos, e o público de pesquisadores, técnicos e lideranças da cadeia produtiva
alcançara a média de 600 pessoas por evento. Naquele ano o entrevistado ressaltava como
novidades do 40º Congresso o lançamento de três novas variedades (cultivares)
desenvolvidas na Fundação Procafé (Asa Branca, Beija-Flor e Siriema AS1) e o uso de
enzima para eliminar a mucilagem do café despolpado. A lista de parceiros e patrocinadores
revela a credibilidade adquirida pelo Congresso, o que explica também sua longevidade:
Embrapa Café, Consórcio Pesquisa Café, Universidade Federal de Lavras, Universidade de
Uberaba, IAC, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG),
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Minas Gerais (Senar-MG), Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de
Minas Gerais (Faemg), Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg),
Conselho Nacional do Café (CNC), Associação Brasileira da Indústria do Café Solúvel
(Abics), Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Conselho de Exportadores de
Café do Brasil (Cecafe), além de empresas de insumos e maquinário agrícola.
Nessa lista figura como apoiador o Consórcio Pesquisa Café, nome sintético do
Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, criado em 1997 por um
conjunto de institutos e empresas estaduais de pesquisa agrícola, sob a coordenação da
146FUNDAÇÃO DE APOIO A TECNOLOGIA CAFEEIRA. Fundação Procafé realiza 40º Congresso Brasileiro de
Pesquisas Cafeeiras, 2014.
147 FUNDAÇÃO DE APOIO A TECNOLOGIA CAFEEIRA. Fundação Procafé realiza 40º Congresso Brasileiro de
Pesquisas Cafeeiras, 2014.
92
Embrapa. Hoje o consórcio reúne mais de 40 instituições brasileiras, abrangendo 12
Estados produtores de café. Vale mencionar as que participaram da fundação, lista que
evidencia as regiões de maior tradição da cafeicultura brasileira: Empresa de Pesquisa
Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Empresa de Pesquisa
Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto
Capixaba de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Incaper), Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar-PR), Secretaria
de Apoio Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA/Sarc), além das universidades federais de Lavras (UFLA) e de Viçosa (UFV).
O Consórcio antecedeu a criação, em 1999, da Embrapa Café, unidade
descentralizada da Embrapa que passou a coordenar o Consórcio, cujo objetivo é conjugar
recursos humanos, físicos, financeiros e materiais das instituições consorciadas a fim de
viabilizar projetos de pesquisas no âmbito do Programa Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café – PNP&D/Café. O Consórcio realiza várias investigações,
destacando-se as de melhoramento genético das plantas, além de um programa de
treinamento e visitas técnicas para transferência de novas tecnologias aos produtores.
Entre as consorciadas está presente a Empresa de Pesquisa Agropecuária de
Minas Gerais (Epamig), que merece registro especial por sua influência na cafeicultura
mineira, incluindo a das Matas de Minas, onde essa empresa pública tem uma unidade
sediada na UFV.
A Epamig originou-se do Programa Integrado de Pesquisas Agropecuárias do
Estado de Minas Gerais (Pipaemg), instituído em 1971 pelo governo do Estado, entre outros
motivos para somar-se ao esforço nacional de combate às pragas do café, em especial a
ferrugem. O programa herdou os recursos do extinto Serviço Especial do Café e congregava
a UFV, a UFLA e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação da
Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, em parceria com o Instituto de Pesquisa
Agropecuária do Centro-Oeste (Ipeaco), órgão regional descentralizado subordinado ao
Ministério da Agricultura.
148
Em maio de 1974, por meio da Lei 6.310 , é criada a Epamig, que herda o
Pipaemg, incluindo as pesquisas que visavam o conhecimento e o controle de pragas do
café, e os experimentos nas áreas de fertilidade de solos e melhoramento genético de
sementes e mudas de café. Três meses após a criação da Epamig a Fazenda Experimental
de Machado, voltada predominantemente para a pesquisa cafeeira, passa das mãos da
Embrapa para a empresa mineira, em regime de comodato. A partir de 1990 o tema da
148
MINAS GERAIS. Lei 6310, 1974.
93
qualidade torna-se relevante nas pesquisas da Fazenda, que, em 1991, foi a primeira
instituição mineira a ter um descascador de cereja, adquirido com auxílio da Fundação de
149
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Em 2006 a Epamig pôs em marcha um sistema de monitoramento da cafeicultura
por meio de geoprocessamento, com uso de sensoriamento remoto, via imagens de satélite.
Foram selecionadas cinco áreas de 5 municípios representativos das regiões cafeeiras do
Estado, entre eles Machado, São Sebastião do Paraíso, Três Pontas, Patrocínio e
Manhuaçu. A jornalista Cibele Aguiar escreveu sobre esse sistema:
149 AGUIAR. Intrépida semente: 70 anos de história da Fazenda Experimental de Machado, 2006, p. 70.
150 AGUIAR. Intrépida semente: 70 anos de história da Fazenda Experimental de Machado, 2006, p. 128-129.
151 VILELA; RUFINO. Caracterização da cafeicultura de montanha de Minas Gerais, 2010.
94
5.2 Assistência técnica e certificação
95
As atividades da ACAR-MG iniciaram-se ainda em 1949 com o treinamento de
técnicos brasileiros por especialistas norte-americanos. Um dos primeiros escritórios criados
no Estado foi o de Ubá, na Zona da Mata, de onde supervisores se deslocavam para a área
rural levando informações sobre novas práticas agrícolas e noções de economia doméstica.
A metodologia envolvia visitas domiciliares e palestras para grupos de agricultores. Os
financiamentos, que contavam com aportes da AIA, vieram inicialmente por intermédio da
Caixa Econômica Federal e depois também do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste
Brasileiro. Os créditos eram dirigidos à aquisição de máquinas e insumos agrícolas
(sementes e adubos químicos), bem como para obras de saneamento (fossas secas) e
melhoria de habitações rurais.
96
Nas Matas de Minas a Emater atua em todos os municípios, através de Unidades
Regionais localizadas em Manhuaçu, Muriaé, Viçosa e Ipatinga (que abrange Caratinga e
Inhapim). Em 1990, quando o IBC foi extinto, a Emater assumiu a responsabilidade de
cuidar também da cafeicultura. O agrônomo Paulo Roberto Vieira, hoje em Manhuaçu, fala
do início da atuação dessa empresa na região:
Quando entrou na área do café a Emater deu prioridade aos pequenos produtores; depois
de 2007 passou a atender a todos. Uma conquista importante foi a instalação do laboratório
de solos:
154
CORRÊA. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
155
CORRÊA. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
97
capina) e gerenciamento da propriedade. A rastreabilidade é estimulada: anotar que tal lote
foi colhido tal dia, em tal lugar. Há 115 itens a serem cumpridos e o proprietário tem de
atender no mínimo a 80% das exigências. A Emater prepara os processos e o IMA confere e
certifica, pois tem habilitação internacional para essa finalidade. O certificado vale por um
ano e pode ser renovado. Em Minas Gerais estão certificadas cerca de 1.700 propriedades.
A vantagem para o proprietário é a obtenção de ágio (valor maior do que a cotação do café
na Bolsa de Nova York) na venda do produto.
O Certifica Minas tem mais de oito anos de existência. Nas Matas de Minas os
pedidos de certificação foram muitos – chegaram a 300 -, mas o número de propriedades
certificadas não passa de 60.
Outro programa voltado para a melhoria da qualidade é o Educampo Café,
instituído pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais
(Sebrae - MG), que também alcança poucos produtores.
156 D’ALESSANDRO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
98
Para as grandes propriedades, todos os tipos de assistência são igualmente
importantes, com alguma supremacia da assistência particular. Para as
médias, as assistências pública e de revenda são igualmente utilizadas por
aproximadamente 46% das propriedades, nas duas regiões [Matas de
Minas e Sul]. Contudo, para o tipo ‘pequeno’ a assistência pública é a mais
157
importante para cerca de 75% das propriedades que a procuram.
157
VILELA; RUFINO. Caracterização da cafeicultura de montanha de Minas Gerais, 2010.
158
RUFINO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
99
Outra inovação importante foi a adoção de máquinas lavadoras/despolpadoras, que
possibilitam a produção do café chamado cereja descascada, em geral, mas nem sempre,
de qualidade superior ao café natural. Na Zona da Mata 65%, 34% e 15% das respectivas
propriedades possuem esses equipamentos. Para tanto, contribuiu sobremaneira a
disponibilidade de crédito aos produtores.
Essa situação agradava aos fazendeiros, que davam até mesmo um “aval” informal
ao negócio, baseado na confiança mútua entre as três partes: meeiro, vendeiro e
fazendeiro. O vendeiro, por sua vez, obtinha crédito nas firmas comerciais situadas em
Manhumirim, como Tostes & Cia., e José de Albuquerque & Irmãos:
100
Essas firmas compravam de viajantes, ou no Rio de Janeiro; adquiriam
açúcar nas usinas em Campos, ou diferentes mercadorias em outra grande
praça. As mercadorias compradas vinham de trem. Tostes mantinha
escritório de compras no Rio. Aqui vendiam para várias localidades nos
diversos lugarejos e cidades circunvizinhas. Como a economia local era
cafeeira, tinham de entrar, por sua vez, no ciclo do café, de cultura anual.
Tornou-se imperativo para essas firmas abrir linha de crédito para vendas
160
pelo interior da região.
Os fazendeiros, na hora do aperto, buscavam outros caminhos: os comissários e
ensacadores de café, as casas exportadoras ou os Bancos locais, regionais e estaduais. Às
vezes recorriam a empréstimos captados entre seus próprios pares.
Antes do fortalecimento do sistema bancário, que ocorre a partir da década de
1880, o circuito da economia cafeeira envolvia o fazendeiro, o comissário, o ensacador e o
exportador. O comissário e o ensacador são representantes comerciais intermediários entre
o fazendeiro e a casa exportadora, geralmente controlada por empresas estrangeiras. As
casas comissárias (firmas predominantemente nacionais controladas por grandes
fazendeiros e/ou comerciantes), além de negociar café vendiam para o fazendeiro outras
mercadorias, oriundas principalmente do Rio de Janeiro, e também forneciam crédito para a
lavoura, ou seja, eram agentes financeiros. Nessa função sua presença, e também do
ensacador, foi essencial até a primeira década do século XX, quando a regulamentação dos
armazéns oficiais introduziu uma relação direta entre produtores e exportadores, eliminando
progressivamente a intermediação de comissários e ensacadores.
De modo geral, o fazendeiro entregava o café ao comissário que cobrava uma
comissão para vendê-lo ao ensacador ou aos exportadores diretamente. Enquanto durou
sua influência, o objetivo principal desses intermediários era não só ganhar com os juros dos
empréstimos (nunca inferiores a 12% ao ano), mas principalmente com a venda do café
entregue pelos fazendeiros logo após a colheita e retido nas casas comissárias e firmas
ensacadoras até que os preços no mercado interno e internacional lhes propiciassem o
maior lucro possível. O crédito ao fazendeiro e a viabilização do transporte do café até os
portos era função de comissários e ensacadores; o embarque e a venda no exterior cabiam
às casas exportadoras. A maioria dos fazendeiros das Matas de Minas vendia sua safra “na
porteira” para esses intermediários, que agiam por conta própria ou representando grandes
firmas.
Os bancos mineiros começaram a surgir a partir de 1889, em decorrência do
fortalecimento da economia cafeeira. Entre 1889 e 1918 instalaram-se em Minas Gerais 12
bancos, sendo o “Crédito Real” (em Juiz de Fora) e o “Hipotecário e Agrícola de Minas
Gerais” (em Belo Horizonte) os de maior expressão. Com exceção do “Hipotecário e
101
Agrícola” todos os outros estavam situados em zonas cafeeiras, oito no Sul de Minas e três
na Zona da Mata (dois em Juiz de Fora e um em Leopoldina).
Para toda a Zona da Mata destaca-se o Banco de Crédito Real, fundado em 1889.
Sua criação está intimamente vinculada a economia cafeeira: sete dos doze maiores
acionistas fundadores do Banco eram proprietários de terras. Sua finalidade inicial era
prover a lavoura de crédito agrícola hipotecário de longo prazo (juros anuais de 6%). Não
obstante, dois anos depois recebeu autorização para fazer operações em carteira comercial,
como descontos de títulos e depósitos, cauções e contas correntes. Em 1891 o Banco abriu
uma agência em Ouro Preto (a capital de Minas seria transferida de Ouro Preto para Belo
Horizonte em 1897) e em 1894, estimulado pelo governo do Estado, inaugurou sua agência
no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano o governo de Minas celebrou um acordo com o Banco
para depositar os fundos disponíveis do Tesouro do Estado na agência do Rio de Janeiro.
Na visão do governo a instalação de uma agência na capital do país era estratégica para
atrair os recursos provenientes dos negócios de exportação do café de Minas Gerais no
porto fluminense, que até então só favoreciam os bancos do Rio de Janeiro.
A partir de 1897 o governo estadual dá início a uma série de intervenções visando o
fortalecimento do Banco de Crédito Real e do sistema bancário de Minas como um todo. O
economista Fernando Nogueira da Costa, cuja tese sobre os bancos mineiros é seminal,
conta essa história:
Para dar cumprimento à lei nº 212 de julho de 1897, pela qual o Estado de
Minas garantia juros de 7% anuais às letras hipotecárias emitidas para
auxílios à lavoura e indústria, [é publicado] o Decreto nº 1.105, de 15 de
fevereiro de 1898; e a 26 de março do mesmo ano é celebrado o contrato
pelo prazo de 30 anos, entre o governo e o Banco de Crédito Real (que foi o
único que se apresentou à concorrência pública), a fim de realizar
empréstimos hipotecários e pignoratícios aos lavradores e industriais, a
prazo longo os primeiros e de um ano os segundos, ambos a juros anuais
de 8,5%, de conformidade com as tabelas de juros e amortização
aprovadas pelo governo. Para execução da lei que criou essa carteira, o
capital social, que já tinha se elevado de 500:000$000 e 3.000:000$000
quando de sua expansão territorial, foi a 7.000:000$000, sendo aplicados à
Carteira 6.000:000$000 sobre os quais o Banco pode emitir o quíntuplo
161
desse capital em letras hipotecárias.
Em 1905, também por lei, é criada a carteira de crédito agrícola, que autoriza o
Banco de Crédito Real a fazer adiantamentos a fazendeiros e industriais. Para execução
dessa lei um novo contrato é celebrado com o Banco, pelo qual o Estado adianta a quantia
de 10.000:000$000 (de réis), originada do fundo de arrecadação da sobretaxa de 3 francos
161
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 38-39.
102
ouro, por saca de café, instituída pelo Convênio de Taubaté. O Banco teria 20 anos para
amortizar esse empréstimo.
Em 1919 o governo do Estado já detinha ¾ do capital do “Crédito Real”. A soma de
recursos públicos com os capitais originados dos grandes fazendeiros de café é, em grande
parte, responsável pela industrialização de Juiz de Fora, como afirma Anderson Pires:
162
PIRES. Agricultura de exportação e diversificação econômica, 2013, p. 343.
163
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 39-40.
103
Por intermédio de sua agência aberta no Rio de Janeiro o Banco Hipotecário e
Agrícola logo se tornou responsável pelas operações de exportação e venda do café das
cooperativas instaladas em Minas. Já em 1922 esse banco possuía 22 agências e era o
oitavo entre os maiores do Brasil. Em 1943, com a desapropriação de suas ações, o
governo de Minas assumiu a administração do Banco.
Até 1920, quando mais de 35% da receita tributária do Estado era proveniente da
economia cafeeira, a ação do governo estadual na esfera do crédito hipotecário e agrícola
se dava através do “Crédito Real” e do “Hipotecário e Agrícola”. Esse período coincide com
a expansão da cafeicultura do Sul e das Matas de Minas e sobre o papel do Estado a
conclusão de Fernando Nogueira da Costa é taxativa:
Na década de 1920 a simbiose entre café e Bancos torna-se ainda mais evidente,
em parte como resultado das políticas de defesa que asseguravam preços altamente
favoráveis, mas também porque o Brasil e o resto do mundo, até a crise de 1929, viveram
um período de relativa estabilidade política e prosperidade econômica.
De 1920 a 1929 a dinâmica da economia cafeeira envolve não somente a lavoura,
mas também o comércio atacadista, as torrefações e o transporte ferroviário, que geram
impostos municipais, estaduais e federais. Nessa década a participação do café na receita
do Estado de Minas Gerais cresce anualmente, indo de 36,5% para 60,5%, em 1929. Essa
dinâmica reflete-se no sistema bancário. Entre 1920 e 1925 mais 14 bancos são instalados
em Minas Gerais (havia sete) e esse crescimento está relacionado aos excedentes gerados
164
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 43.
165
A tese de doutorado de Fernando Nogueira da Costa, defendida em 1978, é seminal no que se refere à
história dos bancos mineiros e por isso é muita utilizada nesse relatório. No entanto, como na época ele estava
influenciado pelas pesquisas de seus colegas, particularmente a de João Heraldo Lima, “Café e Indústria em
Minas Gerais” (1977), que minimizavam a importância de Minas Gerais em relação a São Paulo no que tange à
influência do café na industrialização, Fernando Costa deixa de lado a análise do surto industrial de Juiz de Fora.
Essa lacuna foi coberta pela tese de Anderson Pires, “Café. Finanças e bancos: uma análise do sistema
financeiro da zona da Mata de Minas Gerais” (2004). Nessa tese o autor demonstra a existência de um
“complexo cafeeiro” (expressão de Wilson Cano) de caráter pontual e eventual na cidade de Juiz de Fora. Seria
interessante pesquisar a influência do capital cafeeiro também na industrialização de Cataguases e na instalação
de pequenas agroindústrias da cana, do milho, das carnes, dos laticínios e do próprio café (torrefação e
moagem), espalhadas por toda Minas Gerais.
104
pela cafeicultura, captados e postos em circulação por esses bancos. À exceção de Belo
Horizonte as empresas bancárias localizam-se em municípios cafeeiros: Juiz de Fora,
Varginha, Guaxupé, Guaranésia, Carangola, Cataguases, Ponte Nova e São Sebastião do
Paraíso.
A crise de 1929, que afetou as exportações brasileiras de café, provocou o
endividamento dos cafeicultores, que tiveram inúmeras dificuldades para saldar seus
passivos hipotecários. Em decorrência, muitos bancos assumiram transitoriamente a
administração de propriedades rurais devedoras. Em 1933, para minorar o problema, foi
publicada a Lei de Reajustamento Econômico, que autorizava a redução de 50% da dívida
dos produtores rurais, desde que o valor do patrimônio do devedor fosse inferior ao total de
seu passivo. Apólices da dívida pública federal foram utilizadas para indenizar os credores.
Em Minas Gerais a crise provocou constantes déficits orçamentários, atribuídos em
parte à diminuição da arrecadação de impostos e taxas sobre o café. Além disso, o
processo de centralização do poder no âmbito federal, instituído após a Revolução de 1930,
levou à extinção de vários impostos estaduais (1935), entre eles a sobretaxa sobre a
exportação do café, criada em decorrência do Convênio com São Paulo, firmado em 1925.
Entre 1930 e 1945 Minas Gerais manteve sua posição de segundo maior produtor
de café, embora com tendência declinante no total das exportações, em favor de gêneros de
subsistência (arroz e feijão) e derivados do rebanho bovino (gado em pé, laticínios e carnes)
exportados principalmente para o mercado carioca. Entre 1931 e 1940 a contribuição do
café no valor total das exportações decresce de 55%o para 15%.
Na década de 1930 houve uma “divisão de trabalho” entre os bancos públicos e
privados. Os privados lucraram mais com os créditos à comercialização, ao passo que foram
os bancos públicos que assumiram o grosso do crédito à produção, de maior risco, pois
sujeito a fatores incertos, como as condições climáticas, as pragas da lavoura e as
flutuações da economia agrícola, particularmente a cafeeira. Nesse caso situa-se o Banco
Mineiro da Produção, organizado sob a forma de sociedade anônima, mas com a quase a
totalidade de suas ações detidas pelo Estado.
105
Com a reforma do estatuto, então promovida, passou o estabelecimento a
denominar-se Banco Mineiro da Produção S. A, financiando a partir dessa
época as lavouras de algodão, arroz, cana de açúcar e fumo, além da de
166
café. Contava com a garantia do Estado.
106
À Carteira de Redescontos os bancos comerciais podiam recorrer nos momentos
de baixa liquidez. Para tanto o BB utilizava emissão especial do tesouro nacional, da qual
detinha o monopólio. A princípio, as regras de funcionamento da Carteira eram mais rígidas:
168
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p.166-167.
169
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 206.
107
a seleção de sementes e mudas até a comercialização, passando pela adubação, plantio,
colheita e pós-colheita. A participação do IBC e do BB foi central também na execução, a
partir de 1960, do programa do GERCA e, a partir de 1970, dos planos de Renovação e
Revigoramento de Cafezais (PRRC) e de Pesquisa e Controle da Ferrugem do Cafeeiro.
Em 1986 foi criado junto ao IBC o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira
(Funcafé), cuja conta bancária era administrada pelo Banco do Brasil. A extinção do IBC, em
1990, deixou um espólio no qual se destacavam, além dos estoques de café (17 milhões de
sacas), os recursos do Funcafé, que somavam cerca de um bilhão de dólares. A socióloga
Marisa Singulano escreveu sobre esse momento crítico:
170
SINGULANO, Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 116.
171
SINGULANO, Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 140.
108
Dois outros programas, embora não sejam exclusivos para a cafeicultura, também
beneficiaram os pequenos produtores das Matas de Minas: o PAA (Programa de Aquisição
de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que funcionam da
seguinte forma:
Essa fala faz recordar as ideias de João Pinheiro, ainda nos primeiros anos do
século vinte:
João Pinheiro possuía sobre o problema da defesa e valorização do café
ideias próprias, que se afastavam em pontos essenciais da mentalidade
dominante na política cafeeira nacional. Parece que no entender do
presidente mineiro [...] o pivô do amparo à lavoura cafeeira devia ser o
crédito agrícola, prestado oportuna e eficazmente por meio do
174
cooperativismo.
172
SINGULANO, Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 144.
173
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.
174
ALVIM. Projeção Econômica e Social da Lavoura Cafeeira, 1929, p.69.
109
6 ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES, CONCURSOS E PRÊMIOS DO CAFÉ DAS
MATAS DE MINAS.
175
ALVIM, Sócrates. Projeção econômica e social da lavoura cafeeira, 1929, p. 71.
110
As cooperativas eram quase todas, senão todas, de responsabilidade
solidária e ilimitada dos sócios. Esta condição, da própria natureza do
instituto, foi, entretanto, o principal embaraço ao seu desenvolvimento e
duração. A responsabilidade solidária e ilimitada afastava do cooperativismo
os homens de fortuna, cujos bens iriam, desse modo, responder pelos
compromissos que contraíssem os pequenos proprietários, sempre em
maior número no seio da instituição. Foi realmente o que aconteceu mais
tarde, provocando o declínio do cooperativismo, a partir de 1914. O Estado
chegou a contar 56 sociedades cooperativas, distribuídas por 50 municípios.
176
176
ALVIM, Sócrates. Projeção econômica e social da lavoura cafeeira, 1929, p. 70.
111
Crédito de Livre Admissão do Leste de Minas Gerais são membros fundadores do Conselho
das Entidades do Café das Matas de Minas.
Há outras cooperativas e associações, mas de pequeno porte, muitas sobrevivendo
com dificuldade. Marisa Alice Singulano arrola nos anexos de sua tese algumas delas: A
Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Caratinga (Coopercafé), fundada em 1989 e
que conta com pouco mais de 100 cooperados; Cooperativa Regional Indústria e Comércio
de Produtos Agrícolas do Povo que Luta (Coorpol/São João do Jacutinga/2006);
Cooperativa da Agricultura Familiar Solidária de Espera Feliz (Coofeliz/Espera Feliz);
Associação dos Pequenos Produtores de Divino e Orizânia; Cooperativa de Produtores da
Região Matas de Minas (Coopermatas/Ervália/2011); Coopramm (Canaã/2010); e
Cooperativa Agropecuária das Vertentes do Caparaó.
Araponga singulariza-se por possuir várias organizações que se conectam:
sindicato de trabalhadores rurais, associação da agricultura familiar, cooperativa de crédito e
uma associação de mulheres. Em 2002 foi constituída a Associação dos Produtores de
Cafés Especiais de Araponga (Apcea).
Em geral essas organizações foram criadas para tentar romper o elo da cadeia
produtiva dominado pelos intermediários e acessar diretamente os mercados locais,
nacional e externo. Muitas nasceram sob a influência da igreja católica por meio das
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), pequenos grupos que se reúnem para orar e
refletir sobre a realidade que os cerca. São dirigidas pelos próprios leigos e coordenadas
pela diocese ou paróquia na qual se inserem. Na região essa coordenação é exercida pelo
Movimento da Boa Nova (Mobon), com sede em Dom Cavati. A partir da década de 1980
muitos sindicatos de trabalhadores rurais, associações e cooperativas foram fundados por
esses fieis, que também participam da vida política, elegendo vereadores, prefeitos e até
deputados estaduais.
Contribuiu também na organização dos produtores o trabalho do Centro de
Tecnologia Alternativa (CTA), uma OSCIP (organização social de interesse público) fundada
em Viçosa no ano de 1987, que apoia o desenvolvimento da agroecologia, além de
estimular a participação social e política de jovens e mulheres. Conjuntamente, as CEBs e o
CTA tiveram participação expressiva na organização dos produtores dos municípios de
Espera Feliz, Divino e Araponga. Através de suas organizações os pequenos produtores
conseguem acessar programas governamentais, como o PAA e o Pnae, além de
comercializarem nos mercados e feiras livres locais. A organização dos pequenos
produtores é quase um imperativo, pois o sucesso nas transações comerciais está
112
associado à maior quantidade de café ofertada no mercado, algo que entre os pequenos só
é alcançado quando eles se unem e ajuntam sua produção.
Com perfil semelhante ao CTA também atua na organização dos pequenos
produtores a Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas (REDE), fundada em Belo
Horizonte em 1986. O CTA e a REDE são articulados nacionalmente pela Rede de Projetos
em Tecnologia Alternativa, que reúne as entidades que propõem modelos de produção
agrícola alternativos aos desenvolvidos sob a influência da Revolução Verde, que introduziu
na agricultura os chamados agrotóxicos. Na visão dos cultores da agroecologia esses
produtos são considerados “venenos”. Desde 1990 o CTA e a REDE vêm atuando
fortemente nos municípios de Caratinga, Conceição do Ipanema, Simonésia, Manhuaçu e
São João do Manhuaçu.
Em outro contexto atua o Sebrae, que se destaca no estímulo à inovação
tecnológica, empreendedorismo, competitividade e gestão de negócios.
O Sebrae chegou na região das Matas de Minas com o projeto Educampo Café,
mas a partir de 2010 ampliou seu campo de ação. O zootecnista e técnico do Sebrae
Rogério Galuppo Fernandes fala sobre esse trabalho:
177
FERNANDES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
178
São sete categorias numa escala ordenada do melhor ao pior café: estritamente mole, mole, apenas mole,
duro, riado, rio e rio zona. Essa última categoria faz referência, ao mesmo tempo, à Zona da Mata e ao Rio de
Janeiro, cujo porto exportava o café vindo daquela região.
113
No pilar do mercado situam-se os estímulos à comercialização, particularmente a
participação em concursos e eventos de negócios, como a Feira Internacional do Café. Esse
evento, antes sediado em São Paulo, foi assumido pelo governo de Minas em 2013 (em
parceria com a Organização Internacional do Café). Na feira os produtores das Matas de
Minas se fazem representar divulgando a marca em stand próprio, onde se pode degustar o
café da região, que já conquistou prêmios nesse evento.
No pilar da governança o Sebrae atuou intensamente (sem nunca substituir os
protagonistas) na assessoria à organização do Conselho das Entidades do Café das Matas
de Minas.
Rogério Galuppo Fernandes narra o processo de constituição do Conselho:
179
FERNANDES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
114
crédito, que cresceram de importância após a criação do Pronaf (1993). Além de agentes
financeiros no nível local, essas cooperativas se articulam com as outras organizações na
defesa de interesses comuns.
A articulação entre as entidades é reforçada por Rogério Galuppo:
180
FERNANDES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
181
ESTATUTO. PRIMEIRA ALTERAÇÃO DO ESTATUTO SOCIAL DO CONSELHO DAS ENTIDADES DAS
MATAS DE MINAS. Manhuaçu, 4 de setembro de 2014.
115
O local escolhido para abrigar o Conselho foi em Manhuaçu, na sede da Specialty
Coofee Association of Minas Gerais (SCAMG), entidade vinculada à Brazilian Specialty
Coffee Association (BSCA) e à Specialty Coffee Association of America (SCAA). A BSCA é
a principal associação de produtores de cafés do Brasil. Entre seus associados há grandes
empresas de produção e exportação.
A SCAMG foi criada em 2001 a partir de ideia apresentada por produtores do café
tipo Cereja Descascada, reunidos no Simpósio da Cafeicultura das Matas de Minas. Hoje
são 35 associados que promovem ações conjuntas: participam do Educampo, possuem uma
central de compras de insumos e tem um degustador de café próprio. A entidade obteve
apoios para que seus associados pudessem viajar para feiras e eventos internacionais e
conquistou cadeiras no Conselho Estadual de Política Agrícola (vinculado à Secretaria de
Estado de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais) e na Federação da Agricultura e
Pecuária de Minas Gerais.
Já registrado e instalado, em junho de 2014 o Conselho sistematizou seu programa
de ação, composto por cinco itens: (a) criar e fortalecer o Conselho Regulador; (b) registrar,
proteger e regulamentar a marca coletiva “região das Matas de Minas”; (c) fortalecer a
comunicação institucional; (d) instituir programa voltado para o engajamento dos
cafeicultores na produção de qualidade e naturalmente sustentável; (e) e criar selo de
origem com sistema de rastreabilidade. Um sexto item propunha a criação de um laboratório
de controle da qualidade do café, mas a decisão sobre o tema foi adiada até que fossem
definidas, pelo Conselho Regulador, as regras de produção, inscritas em regulamento
próprio. Dois meses depois entrou na pauta da reunião do Conselho a discussão sobre a
Indicação Geográfica (IG) para a região cafeeira das Matas de Minas. Enfatizou-se a
necessidade de delimitar a área, fazer o levantamento histórico e aprovar o Regulamento,
instrumento essencial para caracterizar o produto e seus métodos de produção. Na mesma
ocasião foram marcadas as datas para o lançamento da marca coletiva (11 de setembro de
2014) e para a realização da missão técnica ao Vale dos Vinhedos (01 a 05 de novembro),
primeira região do Brasil que obteve a IG.
Além da presença constante e ativa no Simpósio da Cafeicultura das Matas de
Minas, o Conselho esteve representado no evento denominado Cup of Excelence, nome
dado ao prêmio concedido pelo Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, promovido pela
BSCA. Em 2014 o evento foi sediado na UFV e na ocasião, além de palestras técnicas, uma
delas relativa ao café das Matas de Minas (com apresentação de um vídeo), houve visita ao
reitor da Universidade e uma degustação com provadores de todo o mundo, oportunidade
116
na qual os cafés da região foram experimentados, elogiados e principalmente divulgados
entre os especialistas internacionais.
O professor, pesquisador e coordenador do Centro de Excelência do Café José
Luiz Rufino, foi quem levou a Cup of Excelence para Viçosa. Ele compareceu a todas as
reuniões do Conselho em 2014 e 2015, exercendo na prática a tarefa de consultor. Foi
numa dessas reuniões que o Mapa da Qualidade produzido pela UFV, com base nas
análises de amostras de café da região, foi apresentado pelo professor, demonstrando a
qualidade superior do produto das Matas de Minas.
Marisa Singulano sintetizou o resultado do trabalho do Conselho e das várias
entidades e organizações das Matas de Minas:
182
SINGULANO. Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015 p. 224-225.
117
beneficiamento do produto. Destacam-se ainda os profissionais degustadores (que atestam
sensorialmente a qualidade) e os baristas, especializados na arte de fazer e servir café.
Esse conjunto de características corresponde ao perfil dos consumidores desses cafés,
cada vez mais atentos e exigentes, principalmente no que se refere aos aspectos
socioambientais da produção. O consumidor também valoriza a história e as tradições
locais.
118
A classificação dos cafés especiais segue a escala internacional da SCAA, que vai
de 0 a 100 pontos. Os especiais situam-se acima de 80 pontos e são avaliados por
degustadores profissionais (os Q-graders). Na exportação esses cafés obtêm ágio (valor
superior às cotações da Bolsa de Nova Iorque). Atualmente cerca de 10% do comércio
mundial de café é formado pelos especiais. Dentro dos Estados Unidos, maior importador
mundial, os cafés especiais representam 15% do volume total comercializado.
O café orgânico foi introduzido na região por influência de entidades como o CTA,
que difundiram na região as práticas e tecnologias agroecológicas, além de assessorar os
pequenos produtores na sua organização em cooperativas, obtenção de financiamentos,
contato com os órgãos e políticas públicas e também no estabelecimento de estratégias de
comercialização. A produção dispensa o uso de agroquímicos e é menos mecanizada.
Atende a uma demanda cada vez mais difundida entre consumidores (internos e externos)
que estão dispostos a pagar mais por produtos saudáveis, solidários ou comunitários, o que
os leva a comprar preferencialmente de agricultores familiares organizados em
cooperativas. Em geral participam de movimentos sociais pelo comércio justo (fair trade).
119
café orgânico tem diminuído de forma constante nas Matas de Minas. Assim como os
especiais, os orgânicos também obtêm no mercado um preço superior à cotação do café
commodity, mas a produção em pequena escala, como é próprio da agroecologia, não tem
sido compensadora.
De comum os dois tipos de café de qualidade são predominantemente da espécie
arábica e atingem entre 5% e 10% do total do café produzido na região. As propriedades,
além de não serem monocultoras, produzem outros tipos de café, principalmente o
commodity, que chega ao máximo de 75 pontos na escala da SCAA e é exportado em
grande escala, sem especificação de origem e marca. O café de tipo inferior, ou “de
consumo”, é destinado ao mercado interno.
A percepção de que a região das Matas de Minas produzia cafés de qualidade teve
início em 1985:
Em 1985 teve uma seca muito grande no sul de Minas e o pessoal veio para
cá “garimpar” café. Descobriram que havia café de qualidade e o venderam
com lucro [mas como se fossem de Varginha]. Eles confessaram isso para
nós e então a região descobriu que tinha café bom [...]. Aí começou o
185
trabalho de valorizar a qualidade.
184
MARCOMINI. Aspectos econômico-financeiros da produção de café convencional e de café especial, 2013.
185
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.
120
A confirmação veio quando os cafés da região começaram a ser bem classificados
em concursos lançados por empresas privadas e pelo governo estadual. Em 1995, pela
primeira vez, um produtor da região foi finalista de um concurso, o Prêmio Ernesto Illy de
Qualidade do Café, e então o que era apenas uma suposição tornou-se convicção. A partir
de 2000 os prêmios começaram a chegar sequencialmente.
Sérgio Cotrim D’Alessandro conta:
O primeiro café que foi finalista aqui na região foi em 1995 com o professor
Renan Werner da Gama, de Manhuaçu. Em 1997 foi o Mauro Garcia
Correa, de São João do Manhuaçu; em 2000 a D. Ceci, também de
Manhuaçu. Foi quando fundamos a SCAMG [...]. Depois disso vem uma
sequência de prêmios. Os principais concursos são da ILLY Café, que é
uma das empresas mais importantes do mundo no segmento de café
especiais; do governo do Estado de Minas Gerais (via Emater); e o
concurso da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). No começo
nosso café era muito barato, foi muito tempo discriminado. Aparecemos nos
concursos da ILLY e da BSCA porque os jurados são internacionais e então
186
eles começaram a acreditar que no Brasil há cafés de qualidade.
186
D’ ALESSANDRO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.
121
Especiais da Europa (SCAE). O resultado motivou a visita de especialistas da torrefadora
europeia Koffie F. Roumbouts à Fazenda Água Limpa, situada em São João do Manhuaçu,
onde foram conhecer os processos de cultivo e beneficiamento do Café Dutra. A fazenda
tem 358 hectares, sendo 280 ocupados por cafezais plantados entre 1.000 e 1.300 metros
de altitude. A propriedade possui várias certificações e em 2009 os irmãos receberam o
prêmio da Illy Café como os melhores fornecedores brasileiros de cafés especiais,
adquiridos pela Itália, Alemanha, Japão e Bélgica. Em 2015, reportagem da revista Globo
Rural registrou a presença de estrangeiros na fazenda Água Limpa:
O contato direto entre produtor e empresa exportadora, que tem vantagens para as
duas partes, se dá também entre os pequenos proprietários, por iniciativa da Emater. Paulo
Roberto V. Corrêa, que faz esse trabalho de aproximação, explica:
122
Outra estratégia de comercialização dos cafés especiais está vinculada ao turismo,
particularmente no circuito em torno do Pico da Bandeira, na serra do Caparaó.
Em 2000, o primeiro lugar obtido por D. Ceci Maria de Faria, cujos filhos
inscreveram lotes de café no concurso da BSCA sem o conhecimento da mãe, foi uma
surpresa que se transformou num “divisor de águas”, porque a premiação foi divulgada na
imprensa nacional, fato que deu visibilidade à região como um todo. Nesse concurso o café
de D. Ceci foi arrematado por 402 dólares a saca.
189 CRUZ. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
123
ganhou o prêmio de melhor café do Estado. Em 2014 foi de Espera Feliz e
em 2015 de Alto Caparaó. É uma sequência de premiações [...]. Primeiro se
premia os melhores cafés de cada uma das quatro regiões cafeeiras. Nem
todas as regiões são premiadas, porque só selecionamos cafés acima de 80
pontos. Esse ano a linha de corte foi de 84 pontos. Até hoje as região das
Matas de Minas foi premiada em todos [...]. A premiação é feita em duas
categorias: natural e cereja descascada. Os nossos ficaram acima de 86
pontos e esse ano temos chance de ser campeões nas duas categorias.
Dos 78 finalistas, 39 são cafés das Matas de Minas. O campeão será
comprado a 800 dólares a saca por uma empresa que foi licitada. Os
campeões de cada uma das quatro regiões ganham uma viagem ao exterior
(esse ano será para Costa Rica) e o técnico que envia maior número de
amostras também ganha essa viagem. Em 2016 o técnico é de Alto
190
Caparaó.
()Uma característica do concurso estadual lembra a distinção que era adotada pela
antiga ACAR entre assistência técnica e extensão rural. A assistência visa resolver
problemas pontuais a respeito de técnicas e métodos de produção, ao passo que a
extensão rural é entendida como um processo educativo integral. Nesse sentido, o principal
objetivo do concurso não é estimular a competição, mas melhorar a qualidade do café
produzido. Após o concurso, o extensionista da Emater leva o laudo referente à análise da
amostra encaminhada pelo produtor e discute com ele as possibilidades técnicas de
aperfeiçoamento da produção. Ou seja, o concurso estadual é, antes de tudo, um estímulo à
contínua melhoria da qualidade do produto.
190
CORREA, Paulo Roberto Vieira. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela
Martins Durães Brandão, 2016.
124
Quadro 1: Prêmios – Café
125
7 ESTATÍSTICAS DA PRODUÇÃO CAFEEIRA NOS MUNICÍPIOS DAS MATAS DE
191
MINAS ENTRE 1990 E 2015
140,00 5,82
120,00 5,80
100,00 5,78
80,00 5,76
60,00 5,74
40,00 5,72
20,00 5,70
0,00 5,68
Nota: A proporção da população de Minas Gerais existente nos municípios das Matas
de Minas está descrita no eixo secundário (à direita).
Fonte: IBGE.
Elaboração: DCTEC/FJP.
191
Esse capítulo contou com a colaboração do economista Cláudio Burian Wanderley, pesquisador
da Fundação João Pinheiro.
126
Já o Produto Interno Bruto em Minas Gerais (em preços de 2015), foi de pouco
mais de 282 bilhões em 2002. Nos municípios das Matas de Minas esse valor alcançou um
pouco mais de 9,6 bilhões – ou seja, 3,4% do PIB mineiro. Em 2014, o produto estadual
chegou (em preços de 2015) a pouco mais de 563 bilhões e o da região a 18,7 bilhões.
Nesses treze anos o produto mineiro cresceu 99,7% (5,5% a.a. em média) enquanto nas
Matas de Minas o índice foi de 92,5% (ou 5,2% a.a. em média), o que fez sua participação
no produto estadual cair para 3,3% (GRÁFICO 2).
Gráfico 2: Produto Interno Bruto a preços de 2015, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas,
2002=100, 2002-2014
250 4,00
3,90
200 3,80
3,70
150 3,60
3,50
100 3,40
3,30
50 3,20
3,10
0 3,00
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Nota: A proporção da população de Minas Gerais existente nos municípios das Matas de Minas está
descrita no eixo secundário (à direita).
Fonte: IBGE.
Elaboração: DCTEC/FJP.
Assim, entre 2002 e 2014, o produto per capta, tanto em Minas Gerais quanto na
região das Matas de Minas, cresceu consistentemente, visto que o produto total cresceu
mais que a população em ambas. Em Minas o crescimento (em preços de 2015) subiu de
15,9 mil em 2002 para 28,4 mil em 2014 (crescimento de 78,8% ou 4,6% a.a. em média);
nas Matas de Minas os números vão de 9,3 mil para 16 mil no mesmo período (crescimento
de 72% ou 4,3% a.a. em média). O produto regional per capita que era 60% do estadual em
2002, caiu para 57,7% em 2014 (GRÁFICO 3). As Matas de Minas, portanto, apresentou
nos últimos anos dinamismo econômico um pouco inferior ao de Minas Gerais.
127
Gráfico 3: Produto Interno Bruto per capita a preços de 2015, Minas Gerais e municípios das Matas
de Minas - 2002-2014
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
128
Gráfico 4: Produção de café, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas, 1990=100, 1990-2015
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00
Quase todo o café produzido em Minas (pouco menos de 99%) é da espécie arábica. Essa
variedade responde também por praticamente toda a produção cafeeira dos municípios das
Matas de Minas.
Entre 2012 e 2015, a produção de café arábica (assim como a produção cafeeira
como um todo) diminuiu no Estado. Caiu de pouco menos de 1,6 milhões de toneladas para
pouco mais de 1,3 milhões (um decréscimo de 20,6% em 3 anos ou 7,4% a.a. em média).
Nos municípios das Matas de Minas ocorreu o contrário: houve um crescimento acumulado
de 4,1% (média de 1,34% a.a.). Isso fez com que a região aumentasse sua participação na
produção total do estado de 18,7% em 2012 para 23,2% em 2015 (GRÁFICO 5).
129
Gráfico 5: Produção de café tipo arábica, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas, 1990=100,
1990-2015
140,00
120,00
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
2012 2013 2014 2015
A produção per capita de café (produção cafeeira dividida pela população total) em
Minas Gerais se mostrou bastante estável: um pouco menos de 70 quilos por habitante.
Esse número é bem maior nos municípios das Matas de Minas: de 220 quilos por habitante
em 1990, chega a 261 em 2015. Com exceção do período 2001-2003, esse número é
crescente, mas não no estado como um todo (GRÁFICO 6).
130
Gráfico 6: Produção de café per capita - Minas Gerais, municípios das Matas de Minas
e restante do estado - 1990-2015
350,00
300,00
250,00
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00
Gráfico 7: Área colhida de café (hectares) - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas - 1990-
2015
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
131
As culturas agrícolas se dividem em permanentes (café, laranja, cacau, entre
outras) e temporárias (soja, milho e feijão, entre outras). Devido ao café, a proporção de
área utilizada nos municípios das Matas de Minas com culturas permanentes é muito maior
que a observada tanto em Minas Gerais quanto no Brasil. Nestes municípios, essa
proporção sobe de 55% em 1990 para 78% em 2015. No Estado vai de 23% para 21%, e no
país de 14% para 7,5% (GRÁFICO 8). Mesmo considerando apenas a área colhida com
culturas permanentes, essa proporção ainda é maior no grupo de municípios estudados
(GRÁFICO 8).
Gráfico 8: Área colhida com culturas permanentes, proporção da área colhida agrícola total (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
132
Gráfico 9: Área colhida com café, proporção da área colhida com culturas permanentes (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015
120,00
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
Gráfico 10: Área colhida com café, proporção da área colhida agrícola total (%) - Municípios das
Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
133
A produtividade média por hectare no Estado variou bastante no período analisado,
seguindo as variações observadas na produção. A produtividade apresentou tendência
constante de crescimento, com exceção do período entre 2001 e 2003. Assim, no Estado
como um todo foi produzido pouco mais de uma tonelada por hectare em 1990, e 1,35
toneladas por hectare em 2015. Os municípios das Matas de Minas, em que pese sua
crescente produção e crescente área colhida, apresentou sistematicamente produtividade
média por hectare menor que a média estadual (mas com uma variância bem menor, pois
não apresenta o movimento cíclico observado no estado192). Ela sai de pouco mais de uma
tonelada por hectare (marginalmente menor que a produtividade mineira) em 1990 para 1,3
toneladas por hectare em 2015 (GRÁFICO 11).
Gráfico 11: Produtividade média por hectare da produção de café - Minas Gerais e municípios das
Matas de Minas, 1990=100 - 1990-2015
2.500,00
2.000,00
1.500,00
1.000,00
500,00
0,00
192
Como a produção estadual se dá pela soma das produções regionais, espera-se que esta será bem menos
variável que as de cada região separadamente. Para que a produção estadual apresentasse a mesma variância
das regionais, os choques que estas sofressem deveriam impactar igualmente todas as regiões ao mesmo
tempo (o que praticamente não acontece). Ou seja, é normal que as produções regionais variem muito mais que
a estadual, o que não ocorreu neste caso.
134
O valor da produção de café em Minas Gerais em 1990 foi de 2,9 bilhões de reais
em valores constantes de 2015. Em 2015, alcança R$ 9,3 bilhões (ou seja, mais que
triplica). A região das Matas de Minas se mostrou ainda mais dinâmica: passa de 453
milhões (15,8% do total estadual) para 2,1 bilhões em 2015 (22,7% do total estadual).
Enquanto a taxa de crescimento médio anual no Estado foi de 4,8% a.a. na região das
Matas de Minas foi de 6,4% a.a. No restante do Estado a taxa foi de 4,5% (gráf. 12), ou seja,
entre 1990 e 2015, o valor do café produzido na região das Matas de Minas se multiplicou
por 4,6 enquanto no restante do estado este valor se multiplicou por pouco menos de três;
no Estado como um todo o valor produzido em 2015 foi 3,2 vezes o valor de 1990
(GRÁFICO 13).
Gráfico 12: Valor da produção de café - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas (preços
de 2015) - 1990-2015
14.000.000,00
12.000.000,00
10.000.000,00
8.000.000,00
6.000.000,00
4.000.000,00
2.000.000,00
0,00
135
Gráfico 13: Valor da produção de café - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas (preços de
2015) - 1990=100 - 1990-2015
700
600
500
400
300
200
100
As comparações feitas com a área colhida podem ser feitas com o valor gerado.
Assim, as culturas permanentes responderam por 69% do valor agrícola gerado em 1990
nos municípios das Matas de Minas e 92% em 2015. Em Minas, estes percentuais foram de
38% e 42%, respectivamente. Já no Brasil foi de 25% e 17% (gráf. 14). O café foi
responsável por 94% do valor gerado por culturas permanentes nas Matas de Minas (97%
em 2015), 81% em Minas Gerais (82% em 2015) e 29% no Brasil (36% em 2015). Logo, o
café respondeu por 89% do valor gerado pela agricultura nas Matas de Minas, 34% no
Estado e 6% no país em 2015. Em 1990, esses percentuais foram de 65%, 30% e 7%,
respectivamente (GRÁFICOS 15 e 16). Ou seja, neste período, a importância do café nas
Matas de Minas cresceu muito, bem mais que no estado ou no país.
136
Gráfico 14: Valor gerado pelas culturas permanentes - proporção do valor agrícola total gerado (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
137
Gráfico 15: Valor gerado pela cultura do café - proporção do valor gerado pelas culturas
permanentes (%) - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil -
1990-2015
120,00
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
Gráfico 16: Valor gerado pela cultura do café - proporção do valor agrícola total gerado (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
138
O café, assim, mostra ser uma cultura capaz de gerar mais valor por área colhida
que a média existente na agricultura. Isso ocorre tanto nas Matas de Minas, quanto no
Estado e no país durante todo o período analisado. Pode-se dividir o montante de valor
gerado por hectare colhido de café com o valor médio gerado por todas as culturas (tanto
temporárias quanto permanentes). Nas três áreas analisadas, o índice aparece sempre com
valor maior que um, e fica mais perto de um com o aumento da participação da cultura do
café na produção agrícola total, como no caso das Matas de Minas. Esse resultado está
descrito no GRÁFICO 17.
Gráfico 17: Razão do valor gerado por hectare colhido de café e o valor médio agrícola gerado por
hectare - Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
139
pessoal ocupado. Já nos municípios das Matas de Minas havia 46.870 estabelecimentos
(83%), 48% da área e 66% do pessoal ocupado. Ou seja, a agricultura familiar nos
municípios das Matas de Minas é mais relevante que em Minas Gerais como um todo.
Ao mesmo tempo, a produção de café é muito mais relevante para a agricultura
familiar nos municípios das Matas de Minas do que no Estado ou no país. Enquanto menos
de 5% dos estabelecimentos brasileiros de agricultura familiar produzem café (pouco mais
de 23% no caso de Minas Gerais), 66% destes estabelecimentos na região estudada o
fazem. Em se tratando da área utilizada nesses estabelecimentos, essa proporção é de 3%
no país, 10% no Estado e 50% nos municípios das Matas de Minas. Em relação ao pessoal
ocupado as proporções são 4%, 20% e 65%, respectivamente (tab. 1). Ou seja, além da
maior importância da agricultura familiar nos municípios das Matas de Minas, a produção de
café é mais relevante para os agricultores dessa região do que no Estado e no país.
Tabela 12: Número de estabelecimentos, área e pessoal ocupado, produtores e não produtores de
café, agricultura familiar e não familiar - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e
Brasil - 2006
140
7.4 Produção de café e produto local
O valor da produção de café nos municípios das Matas de Minas representa uma
proporção bem maior do produto local (tanto agropecuário quanto total) do que a observada
193
para Minas Gerais. Esse valor nos municípios das Matas de Minas representou quase
99% do produto agropecuário da região em 2002. Em 2014, essa proporção foi de 92% (um
pico foi atingido em 2011, com 122%). Já em Minas a proporção sai de 41% em 2002 para
37% em 2014, com um pico de 42% em 2011 (GRÁFICO 18).
Gráfico 18: Relação entre o valor da produção cafeeira e o produto agropecuário - municípios das
Matas de Minas e Minas Gerais - 2002 -2014
140
120
100
80
60
40
20
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Matas MG
193 O valor da produção de café não é o mesmo que o valor adicionado pela produção de café (ou seja, a
contribuição da produção de café para o produto interno bruto). O valor da produção (de qualquer atividade)
equivale à soma do valor adicionado e do valor dos insumos intermediários utilizados na produção. Infelizmente,
não temos o valor adicionado pela produção cafeeira. Assim sendo, utiliza-se a razão valor da produção
cafeeira/produto total como indicativo da razão valor adicionado pela cultura cafeeira/produto total (mesmo
sabendo que a primeira é bem maior que a segunda).
141
Como a participação da agropecuária no produto total é bem maior nos municípios
das Matas de Minas que no Estado, a diferença observada na razão valor da produção
cafeeira/produto total entre esta região e Minas Gerais é ainda maior. Nos municípios das
Matas de Minas o valor da produção cafeeira foi de pouco mais de 10% em 2002 e de 9,5%
em 2014 (o pico também ocorrendo em 2011, com 17%). Já em Minas, este foi de 2,2% em
2002, e 1,8% em 2014, sendo que o pico aconteceu em 2004, com 2,5% (GRÁFICO 19).
Gráfico 19: Relação entre o valor da produção cafeeira e o produto total - Municípios das Matas de
Minas e Minas Gerais - 2002 -2014
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Matas MG
142
exercício é chamado de regressão. Os dados utilizados são relativos aos municípios
194
mineiros entre 2002 e 2014 (anos para os quais existem dados de produto municipal).
Os dados também foram controlados para as dez regiões de planejamento do Estado,
utilizadas nas últimas décadas. Foram aplicadas três técnicas econométricas distintas:
mínimos quadrados generalizados, efeitos aleatórios e efeitos fixos. Posteriormente,
calcularam-se também regressões quantílicas para identificar efeitos específicos sobre
195
faixas específicas do produto per capita. A tabela 2 mostra os resultados encontrados.
194
As regressões estimadas apresentavam o seguinte formato:
𝑌𝑖𝑡 =∝ + ∑ ∅𝑗 𝐼[𝑖∈𝑗] + 𝛽1 𝑡 + 𝛽2 𝑋𝑖𝑡 + 𝛽3 𝐼[𝑖∈𝑀𝑎𝑡𝑎𝑠 𝑑𝑒 𝑀𝑖𝑛𝑎𝑠] 𝑋𝑖𝑡 + 𝜓𝑖 + 𝜀𝑖𝑡
𝑗
Onde Yit se refere ao logaritmo neperiano do produto per capita do i-ésimo município no t-ésimo ano, I é a função
indicadora (ou seja, se o município pertence ao grupo específico, este fica com um, caso contrário, este fica com
zero), j se refere à j-ésima região, t (de tempo) busca captar a tendência de crescimento observada, X it é o
logaritmo neperiano do valor da produção municipal de café per capita, ψ se refere ao efeito específico de cada
município e εit é o erro das estimativas (com média esperada zero).
Ou seja, o produto per capita municipal apresenta um componente comum a todos os municípios de cada região
(dados pelos parâmetros φ’s), uma tendência de crescimento constante no período analisado (dado pelo
coeficiente estimado relativo a “t”, tendência) e impactos decorrentes da produção de café existente em cada um
deles. Buscou-se identificar se, no caso dos municípios das Matas de Minas, este impacto proveniente da
produção cafeeira seria distinto do observado para os demais municípios. Como tanto o produto municipal per
capita quanto o valor da produção cafeeira per capita estão em logaritmos, os parâmetros estimados
representam a elasticidade do segundo em relação ao primeiro (ou seja, mostra quanto variaria relativamente o
produto per capita caso o valor da produção cafeeira variasse um por cento).
195
Os efeitos específicos de cada município jogam um papel fundamental em nossa análise. Como pode ser
facilmente observado, parece claro que o produto municipal per capita de cada município apresenta uma
trajetória bem mais complexa que aquela explicada por sua localização geográfica e sua produção cafeeira.
Todos os outros determinantes deste produto seriam condensados neste fator específico existente para cada
município. Os pressupostos relativos a estes efeitos determinam as técnicas a serem utilizadas e o tipo de
análise que deve ser feito sobre os resultados encontrados.
O primeiro pressuposto possível sobre este efeito é que seu valor esperado seja zero e que este não seja
correlacionado com as variáveis explicativas utilizadas (posição geográfica e produção de café). Caso aceito
pode-se utilizar a técnica conhecida como “Mínimos Quadrados Generalizados”. Este pressuposto não parece
razoável. Entretanto, podemos analisar os resultados encontrados como correlações entre as variáveis
trabalhadas (capazes de serem explicadas por diversas razões distintas).
Um segundo pressuposto possível seria que este efeito não apresenta um valor esperado nulo, mas mantém sua
independência em relação às variáveis explicativas utilizadas. Melhor que o pressuposto anterior, este ainda
apresenta problemas. Parece claro que o mesmo processo histórico (dependente também da localização do
município) que gerou o valor da cultura cafeeira local também gerou o tamanho do produto municipal per capita
de forma concomitante. E este estaria representado exatamente por este efeito específico municipal utilizado. A
técnica econométrica utilizada neste caso são efeitos aleatórios ou ramdonicos. Por fim, um terceiro pressuposto
seria que estes efeitos estão sim correlacionados com as variáveis explicativas. Isso tornaria as duas estimações
já descritas enviesadas, tornando necessário utilizar um novo modelo econométrico, com feitos fixos. Esta
técnica, mesmo na ausência desse pressuposto, não gera estimadores enviesados (ou seja, cujo valor não é
verdadeiro) mas sua eficiência diminui (aumenta a variância dos resultados). Estes são os valores efetivamente
levados em conta nas nossas análises.
Já as regressões quantílicas calculam os mesmos valores para faixas específicas de produto per capita. Ou seja,
busca-se identificar se os efeitos da atividade cafeeira sobre o produto municipal variam de acordo com o
tamanho deste mesmo produto municipal.
143
Tabela 13: Resultados econométricos obtidos relativos ao Produto Interno Bruto per capita dos
municípios mineiros (primeira especificação) - 2002-2014
Mínimos Quadrados
Variáveis Efeitos Randômicos Efeitos fixos
Generalizados
Alto Paranaíba 0.5018* 0.3018*
(0.0374) (0.1074)
Centro-Oeste 0.1371* -0.0135
(0.0310) (0.0895)
Jequitinhonha-Mucuri -0.3632* -0.4623*
(0.0258) (0.0837)
Mata -0.1475* -0.3303*
(0.0234) (0.0695)
Noroeste 0.4606* 0.3105**
(0.0458) (0.1493)
Norte -0.2825* -0.3263*
(0.0262) (0.0804)
Rio Doce -0.2554* -0.3195*
(0.0233) (0.0738)
Sul de Minas 0.2750* 0.0881
(0.0247) (0.0659)
Triângulo 0.3730* 0.1945
(0.0748) (0.1376)
Tendência 0.0581* 0.0558* 0.0552*
(0.0016) (0.0005) (0.0005)
Produção de café -0.0316* 0.0006 0.0069**
(0.0030) (0.0031) (0.0033)
Efeito adicional 0.1104* 0.1872* 0.2559*
(0.0103) (0.0208) (0.0253)
Constante 1.9343* 2.1321* 1.9926*
(0.0222) (0.0506) (0.0101)
Teste F (Ef. Fixos=0) 125.76*
R2 0.2499 0.6269 0.6275
Correlação (Ef. Fixos e Var. Ind.) -0.2106
Observações 8144 8144 8144
Grupos 730 730
Teste F 227.74* 12519.41* 4160.82*
144
regressões de mínimos quadrados generalizados). A elasticidade entre esse valor e o
produto é baixa. Cada 1% a mais gerado no valor produzido de café ampliaria o produto
local em 0,007%. No caso dos municípios das Matas de Minas, ter-se-ia um efeito adicional
de 0,256% (um efeito total de 0,263%), o que realça a importância local desses municípios
em relação à cultura cafeeira, reforçando os dados já descritos da importância dessa cultura
tanto para o produto agrícola quanto para o produto municipal local.
É possível estimar também, utilizando regressões quantílicas, os efeitos adicionais
que a produção de café apresenta sobre os produtos per capita locais por faixas específicas
de valores desses produtos. Infelizmente, entretanto, não é possível controlar pelos efeitos
fixos de cada localidade, que apresentam os mesmos problemas observados no método de
mínimos quadrados generalizados. O gráfico 20 mostra os resultados encontrados.
Gráfico 20: Efeito adicional da elasticidade do valor da produção cafeeira per capita em relação ao
produto municipal per capita dos municípios das Matas de Minas (regressões
quantílicas) - primeira especificação - 2002-2014
0,25
0,2
Efeitos estimados
0,15
0,1
0,05
0
5,32 6,46 7,44 8,51 9,81 11,37 13,60 16,91 24,28
Produto municipal per capita
Nota: Os valores verdadeiros dos parâmetros estimados se encontram entre os limites inferiores e superiores
descritos (o valor estimado se encontra exatamente no meio). São dois métodos utilizados: com Mínimos
Quadrados Generalizados (MQG) supõe-se que esses valores sejam constantes para qualquer nível de produto
per capita municipal; com regressões quantílicas calculam-se valores específicos para faixas específicas de
produtos per capita municipais.
Fonte: Dados básicos: IBGE. Elaboração: DCTEC/FJP
145
Os municípios das Matas de Minas com produto anual entre 11,4 e 16,9 mil reais
per capita são os mais beneficiados pelo seu valor cafeeiro. O aumento de 1% no valor da
produção de café aumenta o produto per capita em 0,16%. O efeito adicional observado nos
municípios com produto per capita entre 8,51 mil reais e 11,4 mil é de aproximadamente
0,13%. Municípios com produtos per capita muito baixos (menos de 6,5 mil reais)
apresentam um efeito adicional de 0,05%. Para todas as faixas, porém, esse efeito é
positivo e estatisticamente significativo.
Em síntese, a produção de café nas Matas de Minas é muito importante e
crescente. A região respondeu por 19% da produção cafeeira mineira em 1990 e por 23%
em 2015.
A agricultura familiar na região é mais relevante do que no Estado, e a proporção
de agricultores familiares envolvidos na produção de café é maior do que a de Minas Gerais,
tanto em relação ao número de estabelecimentos quanto em área e trabalhadores utilizados.
A cafeicultura apresenta impactos regionais diferenciados quando comparada ao
restante do estado. O impacto sobre o produto local se mostrou maior que o observado para
Minas Gerais como um todo.
146
8 CONCLUSÃO
Desde a década de 1990 Minas Gerais é maior produtor de café do Brasil, país que
ainda se mantém como o maior produtor mundial (cerca de 45 milhões de sacas/ano) e
também maior exportador do produto (cerca de 36 milhões de sacas/ano); hoje o Brasil é o
segundo maior consumidor. Minas Gerais, caso fosse um país, seria o segundo maior
produtor mundial, superando o lugar ocupado pelo Vietnã.
No Brasil o Estado de Minas Gerais está à frente, sucessivamente, dos Estados do
Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Bahia e Rondônia. Na localização das lavouras Minas
possui diversidade geográfica, de clima, topografia e relações de trabalho, que lhe permite
produzir diferentes tipos de café. Nas Matas de Minas reúnem-se as seguintes
características: região montanhosa, produção familiar de tipo artesanal (até a colheita) e
sustentabilidade. Em 2016, o setor agropecuário de Minas Gerais foi o responsável pela
desaceleração da queda do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, que em 2015 foi de 4,3%
e em 2016 caiu para 2,6%. O resultado deu-se em função do desempenho dos dois
principais produtos da pauta agrícola mineira: o café e a soja. A produção de café aumentou
37,1% em relação a 2015, um incremento de cerca de 500 mil toneladas. Sobre esse fato
pronunciou-se o secretário de Planejamento e Gestão Governamental Helvécio Magalhães:
***
Esse trabalho de pesquisa abordou principalmente os aspectos ligados à produção
de café e secundariamente questões que envolvem beneficiamento (torrefação e moagem)
e comercialização (interna e externa). Uma questão que intriga e merece resposta é o
porquê do persistente desprestígio do café brasileiro no mercado internacional.
Depoimentos de dois pesquisadores da Fundação João Pinheiro atestam que
estando numa cafeteria sofisticada de Nova Iorque encontraram cafés de todas as partes do
globo, exceto do Brasil, embora os Estados Unidos continuem a ser o principal importador
do produto brasileiro. Por que isso acontece? Maria Sylvia Macchioni Saes, na tese A
147
racionalidade econômica da regulamentação do mercado brasileiro de café, atribui esse
desprestígio ao excesso de regulamentação governamental:
Essa é uma causa, mas com certeza não é a única. Na Conferência Internacional
para o Estudo da Produção do Café, de 1902, representantes dos países produtores já
reclamavam das misturas feitas nas sacas do café brasileiro, incluindo a presença de terra e
“substâncias estranhas”, o que contribuía para depreciar a cotação do café de todos os
países.
Sem dúvida essas misturas estão ligadas ao método de colheita (café de varrição),
que até o Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais deixava o café cair no solo e
misturar-se com a terra. Contudo, não se podem desprezar as condições de ensacamento e
de transporte, bem como o comportamento dos comissários de café, localizados nas regiões
produtoras e também nos portos exportadores, como atesta A. Taunay:
148
Os grandes entrepostos comerciais europeus tinham todo o interesse em
criar a ideia de que o café brasileiro era de péssima qualidade, pois isto
estabelecia um diferencial maior entre ele e os seus concorrentes e dava-
199
lhes amplas possibilidades de lucros fáceis.
199
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p.53.
200
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 113.
201 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 131.
149
exportadoras, que sempre foram os players mais poderosos da cadeia produtiva, também
podiam obter do fazendeiro um preço compensador, calculado com base no café ordinário.
Escusado dizer que o comércio de exportação de café sempre foi dominado por poucas
empresas; atualmente apenas cinco dominam mais de 50% do mercado mundial.
Excetuando-se a criação das estações experimentais de Botucatu e de Machado, a
intervenção de 1927 foi, entre todas, a única que se dirigiu especificamente aos cafés de
qualidade, embora desde o início do século pretendeu-se estabelecer uma política que os
valorizasse, seja por meio da diminuição de impostos (ver Congresso Agrícola, Comercial e
Industrial de 1903), seja pela fixação de um preço proporcional à sua qualidade (ver
Convênio de Taubaté de 1906). Essas intenções, ao que se sabe, não chegaram a ser
praticadas, e uma eventual obtenção de preços mais altos se dava somente quando havia
comercialização direta entre produtores e exportadores.
Durante sua história a qualidade do café foi classificada por diferentes tipologias
(nacionais e internacionais), mas de forma didática é possível dividi-la em três tipos básicos:
inferior, médio e superior. Sem dúvida o Brasil optou majoritariamente pela exportação de
um café de nível médio e é possível que em torno desse objetivo tenha havido um acordo
tácito entre todos os agentes da cadeia produtiva e os governos da União e dos Estados
produtores.
Sabe-se que internamente tomamos um café muito inferior ao que é exportado,
porque o “acordo” envolve a separação do café de pior qualidade para atender ao mercado
interno. Os cafés de nível médio são manipulados de modo a produzir o tipo commodity, ou
de exportação. O café superior produzido aqui provavelmente não é exportado apenas pelo
Brasil. Ao que tudo indica, e a história confirma, parte dele é importado e reexportado por
outros países, provavelmente com suas próprias marcas e selos. Por isso o café brasileiro
não precisa (nem deve) constar do cardápio das cafeterias chiques.
Parte desses argumentos é apenas hipótese, mas é provável que esse
procedimento exista desde 1865, quando começa a processar-se uma revolução tecnológica
que generaliza no mundo o consumo de café:
Até então, o café era vendido verde e, posteriormente, era torrado em casa
pelos próprios consumidores, forma esta de comercialização que começou
a ser substituída pela venda de café torrado em pacotes [...]. O café torrado
pelo próprio consumidor ficava na dependência de sua habilidade e a sua
qualidade era muito mais variável. Quando esse serviço passou a ser
executado por grandes torradores, nasceu não só a especialização, como
202
também se generalizou a “prova de xícara”.
150
A opção do Brasil pela quantidade pode ser compreendida como uma estratégia da
política cafeeira para ganhar consumo em escala e dessa forma dar velocidade à obtenção
de receita de divisas, direcionadas ao desenvolvimento industrial do país. Em 1923, Augusto
Ramos comparava o café exportado pela Colômbia com o café brasileiro:
Com certeza os que têm menos culpa pela má fama do café brasileiro são os
produtores e produtoras - hoje nas Matas de Minas há muitas mulheres lavradoras,
principalmente na agricultura familiar -, porque, como depuseram os entrevistados dessa
pesquisa, sempre se produziu café de qualidade na região, e essa produção,
evidentemente, cresceu e melhorou de qualidade a partir da adoção de métodos científicos
e agroecológicos de cultivo. Por outro lado, também é verdade que o método de colheita
manual “a dedo” (como se faz na Colômbia, América Central, Etiópia e Quênia), pelo qual
apenas os frutos maduros são colhidos, é muito pouco usado no Brasil, onde os produtores
preferem a colheita por derriça, pela qual se obtém uma mistura de frutos de diferentes
características com relação à maturação, cor, densidade e teor de umidade. 204 Entretanto,
esse sistema de colheita, que também predomina nas Matas de Minas, tem suas vantagens:
ser mais rápido e poupar mão de obra, cuja escassez foi, e continua sendo, um drama
recorrente da cafeicultura brasileira na época da colheita.
***
Resta saber quando os cafés superiores, cujo consumo interno e externo vem
crescendo, obterão o devido reconhecimento, que se traduz em preços compensadores. É
fato que a bolsa de Nova Iorque precifica melhor esses cafés (ágio de 25%) e que nos
leilões que se seguem aos prêmios os cafés especiais são arrematados por altos preços.
Isso, no entanto, ainda é pouco, porque apenas alguns produtores são beneficiados.
No caso das Matas de Minas é preciso acrescentar as condições de
comercialização, conforme descritas por Marisa Singulano:
151
características da demanda e sobre o funcionamento do mercado e os
preços de tipos distintos de café. As informações necessárias para se
avaliar o café e determinar sua qualidade e preço não são uniformemente
distribuídas e não estão necessariamente disponíveis a todos os agentes da
cadeia [...]. Muitos produtores ao comercializarem seu café não conhecem
as características ou potencial de qualidade de sua produção e não
dispõem de informação suficiente sobre o funcionamento do mercado de
café. [...] Há também uma tendência ao oportunismo nas transações entre
205
produtores e os compradores por parte destes agentes.
152
Uma das formas de corrigir essas imperfeições do mercado é obter a Indicação
Geográfica, que deve estar entre as prioridades de todos os agentes da cadeia produtiva, e
também dos governos da União e dos Estados. O controle regulador da produção,
associado à certificação, assegura aos compradores a qualidade do café ofertado no
mercado.
Outra forma é fomentar a organização dos produtores em cooperativas, a fim de
diminuir a influência de intermediários inescrupulosos.
153
ANEXO I –
154
ANEXO II
Manhuaçu/Caratinga/Matipó/Raul
Vermelho Novo 1827 1995
Soares
155
Nome Criação do Distrito Emancipação Município originário
Chalé 1911 1962 Manhuaçu/Ipanema/Lajinha
Espera Feliz 1915 1938 Carangola
Alto Jequitibá 1923 1953 Manhumirim
Caiana 1923 1962 Carangola/Espera Feliz
Canaã 1923 1962 Viçosa
Porto Firme 1923 1953 Piranga
Imbé de Minas 1932 1995 Caratinga
Cajuri 1938 1962 Viçosa
Pedra Dourada 1938 1962 Tombos
Caparáo 1938 1962 Espera Feliz
Ubaporonga 1938 1992 Inhapim/Caratinga
Conceição de Ipanema 1948 1953 Ipanema
Vieiras 1948 1953 Miradouro
Santa Bárbara do Leste 1948 1992 Caratinga
Santa Rita de Minas 1948 1992 Caratinga
Martins Soares 1948 1995 Manhumirim
Reduto 1948 1995 Manhuaçu
São José do Mantimento 1953 1962 Lajinha
Fervedouro 1953 1992 São Francisco do Glória
Vargem Alegre 1953 1995 Caratinga
São Domingos das Dores 1962 1995 Inhapim
São Sebastião do Anta 1962 1995 Inhapim
São Sebastião da Vargem
1976 1995 Miraí
Alegre
Alto Caparaó 1982 1995 Caparaó
Piedade de Caratinga 1991 1995 Caratinga
Entre Folhas 1890 1992 Caratinga
Sericita 1900 ou 1901 1962 Jequitibá
Orizânia 1890 1995 Divino
1889
Pedra Bonita 1995 Ponte Nova/ Abre Campo
(provavelmente)
sem registro (era
Rosário da Limeira 1995 Muriaé
capela em 1866)
156
ANEXO III
RESOLVE:
Art. 1º - Ficam delimitadas as regiões para a produção de Café no Estado de Minas Gerais
em: Região Sul de Minas, Região dos Cerrados de Minas, Região das Montanhas de Minas
e Região do Jequitinhonha de Minas, conforme o Anexo Único desta Portaria.
I - A Região Sul de Minas compreende as áreas geográficas delimitadas pelos paralelos 21º
13’ a 22º 10’ de latitude e 44º 20’ a 47º 20’ de longitude, abrangendo a Região do Sul de
Minas, parte das Regiões do Alto São Francisco, Metalúrgica e Campo das Vertentes.
Caracteriza-se por áreas elevadas, com altitude de 700 a 1.080m., com temperatura amena,
sujeitas a geada, com moderada deficiência hídrica e possibilidade de produção de bebida
fina, sendo que, quando próximas de represas, apresenta elevada umidade relativa, com
produção de Café de bebida dura a rio.
157
sujeitas a geada de baixa intensidade e com possibilidade de produção de bebida fina, de
corpo mais acentuado.
III - A Região das Montanhas de Minas compreende as áreas geográficas delimitadas pelos
paralelos 40º 50’ a 43º 36’ de latitude e 18º 35’ a 21º 26’ de longitude, abrangendo as
regiões da Zona da Mata, Rio Doce e parte das regiões Metalúrgicas, Campos das
Vertentes e Jequitinhonha. Caracteriza-se por áreas montanhosas, com altitude de 400m. a
700m., úmidas, sujeitas a neblina e possibilidade de produção de Café de bebida dura a rio.
Art. 2º - Fica instituído o Certificado de Origem, com base nas regiões cafeeiras previstas
nesta Portaria, a ser conferido por esta Autarquia.
Art. 4º - Para garantir a plena execução das atribuições previstas nesta Portaria, o IMA
poderá credenciar cooperativas e entidades de produtores para a emissão do Certificado de
Origem.
158
PORTARIA Nº 437, DE 23 DE MAIO DE 2001
RESOLVE:
Art. 1º - Fica alterada para Região das Matas de Minas a denominação da Região das
Montanhas de Minas expressa no inciso III do Anexo Único da Portaria n.º 401, de 24 de
agosto de 2000.
Art. 2º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação e revoga as disposições em
contrário.
159
ANEXO IV
Concursos e Prêmios
160
O PROGRAMA CUP OF EXCELLENCE
O concurso Cup of Excellence foi iniciado por um grupo de profundos conhecedores de café
juntamente com o suporte de entidades do governo e organizações não governamentais
(ONGs), com o objetivo de recompensar os produtores por seus esforços e trabalho.
A Associação Brasileira de Cafés Especiais – também conhecida como BSCA – realiza este
concurso desde o ano 2000, e hoje conta com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (APEX-Brasil) e
da "Alliance for Coffee Excellence" (ACE). Este concurso está aberto a todo produtor
brasileiro de café arábica, sendo uma das ações do Plano Internacional de Marketing para a
Promoção dos Cafés Especiais Brasileiros proposto pela associação.
Para participar é preciso ser convidado. O júri nacional é composto por experientes
provadores de diversas empresas e regiões. Já o júri internacional do "Cup of Excellence™"
161
é composto por profissionais da indústria de café e provadores de vários países e locais.
Cada fase internacional da competição normalmente inclui de 24 a 32 jurados que
representam uma ampla gama de experiências profissionais. Membros do júri vêm dos
Estados Unidos, Europa, Japão, Canadá, Austrália, Brasil, Guatemala, Nicarágua, etc. O
denominador comum é um enorme conhecimento sobre degustação de cafés e um grande
amor e apreciação por cafés finos.
O número de cafés que recebem este importante prêmio depende inteiramente da qualidade
dos concorrentes. As exigências são tão rígidas que poucos cafés de um país são
condecorados.
Estes célebres cafés são vendidos ao importador de café ou torrador através de um leilão
internacional pela Internet. O lance mais alto compra a totalidade do lote de café que foi
submetido à competição.
162
ILLYCAFFÈ REVELA OS 50 FINALISTAS DO 21º PRÊMIO ERNESTO ILLY
A TORREFADORA ITALIANA PRETENDE DISTRIBUIR CERCA DE R$ 180 MIL AOS
PRODUTORES E CLASSIFICADORES DE CAFÉ DO PAÍS
O prêmio busca valorizar os fornecedores que produzem os grãos que compõem o blend
illy e distribui cerca de R$ 180 mil aos diversos produtores e classificadores do país.
“Foi muito difícil selecionar os 50 finalistas, dada a alta qualidade dos cafés apresentados”,
afirma Aldir Alves Teixeira, consultor técnico da illycaffè, que preside a comissão julgadora.
“As notas foram tão altas que muitos outros poderiam ser qualificados como finalistas, mas
tivemos de selecionar os melhores entre os melhores para chegar aos 50”, completa.
Crescimento
De junho a setembro deste ano, quase 500 amostras foram enviadas à Porto de
Santos/illycaffè, empresa responsável pelo recebimento dos grãos para o prêmio e pela
compra e exportação dos cafés brasileiros à illycaffè. Houve um acréscimo de cerca de 30%
em relação à edição passada do prêmio, demonstrando a confiança que os produtores
tiveram na qualidade da safra 2011/2012. Os cafés apresentados vieram de diferentes
estados: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia, Goiás e Espírito Santo.
Após a análise que revelou os 50 finalistas, uma nova codificação será dada às amostras e
a Comissão Julgadora se reunirá novamente para analisar e selecionar os dez vencedores
que serão anunciados na cerimônia de entrega que será realizada em março de 2012, em
São Paulo.
163
Em reconhecimento à qualidade do café produzido, os 10 melhores cafeicultores recebem,
respectivamente, R$ 50 mil, R$ 35 mil, R$ 18 mil, R$ 9 mil, R$ 5 mil e, do sexto ao décimo
lugares, R$ 2 mil. Todos os demais finalistas recebem R$ 1,2 mil.
Além dos produtores, o concurso premiará cinco classificadores: o primeiro colocado ganha
R$ 3,5 mil; o segundo, R$ 2,5 mil; o terceiro, R$ 1,5 mil; o quarto, R$ 1 mil e o quinto
colocado, R$ 1 mil.
164
- Homero Teixeira Macedo Júnior / São Paulo
- José Roberto Vidigal Santana / Minas Gerais
- José Mauro Miranda / Minas Gerais
- Edivandro Martins Amâncio / Minas Gerais
- Marina Scognamiglio R. do Vale / Minas Gerais
- Maria José Junqueira Ceglia / Minas Gerais
- Fernando Montans Alvarenga / Minas Gerais
- José Clenio Pereira / Minas Gerais
- Tomás Podolsky Rossilho / Minas Gerais
- Marisa Coli Noronha / Minas Gerais
- Dagmar Siqueira Zenun / Minas Gerais
- Dimas Mendes Bastos / Minas Gerais
- José Lourenço Filho / Minas Gerais
- Maria Nascimer Viana / Minas Gerais
- Joel Martins de Paula / Minas Gerais
- Anadel Tejada de Podesta / Minas Gerais
- Roni Martins Fernandes / Minas Gerais
- José Flavio Ferraz Reis / Minas Gerais
- Luciano Reis Gomes / Minas Gerais
- Édio Anacleto Miranda / Minas Gerais
- Pedro Aescio de Souza / Minas Gerais
- Ednilson Alves Dutra / Minas Gerais
- Carlos Andre Dognani / São Paulo
- Denise Aparecida Santana Costa Gomes / Minas Gerais
- Geovani Miranda / Minas Gerais
- Carlos Roberto de Miranda / Minas Gerais
- Carlos Sergio Sanglard / Minas Gerais
- Ceci Maria de Faria / Minas Gerais
Fonte: http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,EMI277141-18077,00-
ILLYCAFFE+REVELA+OS+FINALISTAS+DO+PREMIO+ERNESTO+ILLY.html
165
Uma mulher do café
Como diz a poeta, mulher é desdobrável. E ela é. Mãe de 11 filhos, D. Ceci Faria, 85 anos,
mudou a imagem dos cafés de toda uma região ao vencer a Cup of Excellence no ano 2000.
Até então a região leste de Minas Gerais, a Zona da Mata, era sinônimo de cafés de
qualidade inferior. O prêmio da D. Ceci foi uma sensação, a imprensa quis saber quem era a
ganhadora do prêmio de reputação internacional e que região era essa que produzia café
tão especial. “O bom do prêmio foi que animou muito os produtores” lembra D. Ceci numa
visão de mulher inteligente que conhece a força da liderança. Por isso mesmo ela foi e é
uma inspiração para quem acredita que controlando certas variáveis qualquer produtor da
região pode, sim, produzir café de qualidade com notas acima de 90 pontos na escala da
SCAA.
E não tem privilégio maior que sentar na varanda da D. Ceci para escutar causos que
incluem personagens do mundo do café, como Anna Illy que pediu a receita do delicioso
pudim de queijo que D. Ceci faz para suas visitas ou o norueguês Andreas Solberg da
Soberg&Hansen que comprou o lote premiado no ano 2000 para distribuir nas sofisticadas
cafeterias de Oslo.
O café premiado revelou uma característica própria da região: aquele aroma de rapadura
que é possível sentir ao se adentrar nas tulhas das propriedades onde estão armazenados
os cafés esperando pelos compradores. Compradores que estiveram presentes na 1ª
166
Rodada de Negócios realizada pelo SEBRAE-MG no 17° Simpósio de Cafeicultura de
Montanha, em Manhuaçu, na semana passada, ansiosos por conhecer o potencial dos cafés
das Matas de Minas.
167
Café das Fazendas Dutra é premiado na Bélgica e na França
Postado em 16/05/2010 | Há 7 anos
O café produzido na Fazenda Dutra, em São João do Manhuaçu, conseguiu um feito inédito.
Ele foi premiado em dois países – Bélgica e França - como o melhor café expresso no
concurso promovido pela Associação de Cafés Especiais da Europa. O resultado motivou
uma visita de especialistas da torrefadora europeia Roumbouts à sede da fazenda para
conhecer o processo de cultivo, produção e beneficiamento do café Dutra.
A Associação de Cafés Especiais da Europa (SCAE – sigla em inglês) é reconhecida por
concursos para seleção de cafés para diversas aplicações, como expresso e capuccino,
bem como concursos de baristas (que preparam os cafés) e entre diversos países. Em
pouco mais de 20 anos de existência do torneio, foi a primeira vez que um café conseguiu o
reconhecimento em dois países da associação. Realizado em etapas internacionais, o
concurso elegeu o Café Catuaí Amarelo e Vermelho produzido na Fazenda Dutra como o
melhor expresso na França e na Bélgica. O resultado ainda garantiu a Kenny Bursens o
título de barista campeão belga e a Maxence Moyearts a conquista do vice-campeonato
francês.
Para o produtor, Walter César Dutra, o reconhecimento no concurso foi motivo de alegria
para ele e irmão Ednilson. “Recebemos esse prêmio com satisfação e orgulho. Lógico que
ficamos ainda mais motivados para produzir mais qualidade, divulgando São João do
Manhuaçu e a nossa região. Esse concurso, as certificações que obtivemos ao longo dos
canos e vários prêmios agregam mais valor ao nosso café”, reconheceu.
COLHENDO PRÊMIOS
Walter e Ednilson com os diretores da Koffie F. Roumbouts
168
voltam sempre com a cabeça cheia de informação. Tentam experiências aqui para ver o que
pode ser feito para ter um café de qualidade. E eles conseguiram. Eles fizeram um trabalho
de longo prazo até serem premiados nos dois países”, elogiou.
Além de garantir a valorização de seu café especial, Ednilson e Walter sabem que agregam
valor também aos cafés produzidos em São João do Manhuaçu e na região. Em audiência
com o Prefeito João Batista Gomes, a comitiva da Roumbouts também saiu com uma boa
impressão do município.
Para o prefeito, o trabalho de Walter e Ednilson deve ser reconhecido ainda mais e
valorizado. “Para nós é motivo de muito orgulho saber que o município é fértil, tem clima
favorável e temos pessoas que sabem dar valor a isso. Parabenizamos de público a toda a
família Dutra e em especial o Ednilson e o Walter. Esse prêmio é importante para eles e
para o nosso município. Meus sinceros parabéns ao zelo e à dedicação desses produtores,
que são exemplos para toda a região”.
João Batista Gomes ainda anunciou a intenção de promover palestras com os irmãos Dutra
para os produtores de São João do Manhuaçu. “Queremos reunir os produtores, mostrar
como eles fazem esse café tão especial e incentivar outros a investir nesse segmento”.
Em dez anos, os irmãos Dutra ajudaram a mudar a fama dos cafés da região das Matas de
Minas. Investiram em qualidade e hoje colhem prêmios. Fonte:
http://revistacafeicultura.com.br/?mat=32396
No início da década de 50, José Dutra Sobrinho herdou um pequeno sítio. Em mais de 40
anos de muito trabalho, ampliou seu patrimônio, dedicando-se integralmente a cafeicultura.
Em 1980, já produzia o café despolpado que, apesar de ter um bom preço no mercado,
ainda não era o ideal.
Para a Família Dutra, a crise de 1986 trouxe também o momento certo de trabalhar ainda
mais. E para superar as dificuldades, a receita ditava mais uma vez a paixão pelo café:
continuar acreditando e investindo na cafeicultura, comprando terras e expandindo as
lavouras.
Passa o tempo, segue-se à rotina de muito trabalho, e a vida surpreende com o falecimento
do patriarca Zeca Dutra, em setembro de 1999. Nas mãos dos “meninos” Walter e Ednilson
uma herança de mais de 300 hectares cafeeiros. Mais que trabalhar, agora era a
responsabilidade total sobre o futuro da família.
169
Resultado do investimento em mais conhecimento: desde o ano de 2000, participando de
todos os concursos da Illy, os cafés das Fazendas Dutra figuram, por três vezes, entre os
dez primeiros colocados e constam, atualmente, do rol dos 50 melhores cafés do Brasil. E
conquistam mais qualidade com os certificados do IGAM e da Associação de Café Especial
do Brasil (Brazil Specialty Coffee Association).
Assim, os dois irmãos administram as Fazendas Dutra, que somam mais de 500 hectares de
lavouras de café plantadas em curva de nível. Atualmente, 100 hectares são de lavouras em
formação e 400 hectares produzindo 16 mil sacas/ano, sendo 6 mil de café especial. Uma
produtividade de 40 sacas por hectare. Geram 50 empregos fixos, 250 empregos na
entresafra e 600 empregos no período da colheita. O segredo desta história: paixão,
trabalho e a conquista da qualidade.
Fonte: https://www.fazendasdutra.com/
15/12/2011
O concurso é realizado pelo governo do Estado, por meio da Emater, empresa vinculada à
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A iniciativa tem a parceria
de diversas instituições, como a Universidade Federal de Lavras, Instituto Mineiro de
Agropecuária (Ima), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig),
Organização das Cooperativas de Minas Gerais (Ocemg), Federação de Agricultura
(Faemg), Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaemg), Centro de Excelência do
Café, Polo de Excelência do Café e Instituto Federal de Ensino e Tecnologia de Machado.
170
Na edição deste ano foram inscritas 1.637 amostras das 04 regiões cafeeiras do Estado:
Cerrado, Chapadas de Minas, Matas de Minas e Sul de Minas. Número superior ao da
edição do ano passado. Os lotes foram entregues pelos cafeicultores nos escritórios da
Emater, sendo aceitos exclusivamente cafés da espécie arábica na safra 2011/2012.
171
José Dutra Sobrinho (Espolio) (São João do Manhuaçu)
José Rocha (Manhuaçu)
Luiz Antônio da Paixão Neto (São João do Manhuaçu)
Moacir Ferreira (Manhuaçu)
Rodrigo Gonçalves Sobreira Rocha (Imbé de Minas)
Walter César Dutra (São João do Manhuaçu)
Wanderlei Gomes de Lima (Araponga)
Categoria Natural
Geraldo Rodrigues dos Reis (Manhumirim)
Giovane César Vieira (Santa Margarida)
Irson Pascoal da Silva (Manhuaçu)
João Andrade de Miranda (Araponga)
José Antonio da Costa (São João do Manhuaçu)
José Odair Rodrigues (Manhuaçu)
Maria Madalena Rodrigues Ferreira (Manhumirim)
Tamires Rodrigues Ferreira (Manhumirim)
Fonte: http://www.portalcaparao.com.br/noticia/8658/concurso-estadual-de-qualidade-de-
cafe-resultado-sera-amanha
Campeões do Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais são das Matas de
Minas
Por Equipe CaféPoint (CaféPoint) - postado em 26/11/2015
Cafés produzidos na região cafeeira das Matas de Minas foram os vencedores do 12º
Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais. Os produtores João da Silva Neto e
Clayton Barrossa Monteiro receberam as maiores pontuações entre os finalistas das duas
categorias concorrentes deste ano: Café Cereja Descascado e Café Natural. A cerimônia de
premiação aconteceu nesta quinta-feira (26/11), em Manhuaçu, que também fica na região
das Matas de Minas. Participaram do evento o secretário de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento de Minas Gerais, João Cruz, e o presidente da Emater-MG, Amarildo Kalil.
João da Silva é do município de Araponga. O café produzido por ele foi campeão estadual
na categoria Cereja Descascado. “Esse prêmio é a coroação de um trabalho de seis anos
que a gente tem feito, buscando sempre bons resultados”, disse o cafeicultor. A propriedade
dele produz 500 sacas por ano. O produto é vendido para a região e também Itália e Japão.
172
João da Silva também recebeu a medalha Sustentabilidade. Uma homenagem ao cafeicultor
com o melhor café produzido seguindo os princípios sustentáveis.
Já o produtor Clayton Monteiro foi o vencedor estadual na categoria Café Natural. Esta é a
segunda vez que ele vence o concurso. A primeira foi em 2012. “A nossa visibilidade
aumenta bastante com as premiações. E isso resulta em um preço melhor para o nosso
produto. É importante também os dois vencedores serem aqui da região, que antigamente
era tida como café de qualidade inferior. Hoje, estamos provando que podemos fazer os
melhores cafés”, afirma Monteiro.
A propriedade de Clayton fica no Alto Caparaó. Por ano a propriedade dele produz em
média 350 sacas de café. O produtor cultiva variedades, como catuaí e bourbon. A produção
é vendida na região e para cafeterias de outros Estados. Mas boa parte é exportada para
Inglaterra, Alemanha, França, Austrália e Japão. Clayton também venceu outros prêmios,
como o Coffee of the Year, em 2014 e 2015, sendo reconhecido como o melhor café do
Brasil durante a Semana Internacional do Café (SIC).
O Concurso também escolheu os três melhores cafés em cada uma das quatro regiões
cafeeiras, nas categorias Natural e Cereja Descascado. Os vencedores receberam
certificados e prêmios. “O nosso café só vai ter mercado se tiver qualidade. Esse trabalho
que a Emater-MG vem fazendo com os agricultores familiares tem um impacto enorme na
cafeicultura mineira”, disse o presidente, Amarildo Kalil.
Do total das inscrições deste ano, 1.014 são amostras da categoria Natural e 286 da
categoria Cereja Descascado. A região do Cerrado inscreveu 126 amostras, 28 são da
Chapada, 554 das Matas de Minas e 592 do Sul de Minas.
Os cafés foram avaliados em três etapas. Na primeira, foram feitas análises física e
sensorial. Na avaliação física, foram observados o tipo dos grãos, a umidade e a coloração.
Na sensorial foi feita a classificação das amostras de acordo com as qualidades da bebida
pronta (classificação quanto ao sabor e aroma). Na segunda etapa, houve mais uma análise
173
sensorial. Na terceira e última fase, foram realizadas novamente as análises física e
sensorial.
Leilão Virtual
Entre os dias 10 e 20 de novembro aconteceu um leilão virtual, no site da Faepe, com
quatro lotes, sem identificação, dos vencedores do Concurso de Qualidade dos Café de
Minas. Cada lote é formado por 10 sacas de 60Kg. O maior lance foi de R$ 2.970,00 a saca.
Os cafés leiloados receberam nota acima de 84 pontos, de acordo com a tabela de
classificação da Associação Brasileira de Cafés Especiais. As empresas que adquiriram os
lotes são: Hotel Parque do Caparaó, Academia do Café, Luca Cafés Especiais, Ateliê do
Café, Tudo da Roça e Sindicafé de Minas Gerais.
“Este ano o concurso foi diferenciado dos outros. Nós passamos por um período de dois
anos de seca e isso prejudicou muito. Mesmo assim conseguimos achar cafés com
qualidade excepcional”, diz o gerente regional da Emater em Lavras e coordenador do
concurso, Marcos Fabri.
Campeões Estaduais
Categoria Cereja Descascado: João da Silva Neto
Município: Araponga
Medalha de Sustentabilidade
João da Silva Neto
Categoria Natural
Matas de Minas (também foi o campeão estadual)
1º LUGAR: Clayton Monteiro
Município: Alto Caparaó
Sul de Minas
1º LUGAR: Hélio de Castro Coelho
Município: Machado
174
Cerrado Mineiro
1º LUGAR: Wagner Crivelenti Ferrero
Município: Patos de Minas
Sul de Minas
1º LUGAR: Carlos Henrique Ribeiro do Valle
Município: Guaxupé
Cerrado Mineiro
1º LUGAR: Décio Bruxel
Município: Varjão de Minas
Chapada de Minas
1º LUGAR: José Vilmar Rocha
Município: Capelinha
175
Café do Brasil: Matas de Minas Gerais
Esta realidade foi revertida com a criação de concursos de qualidade de café criados na
região, que contou com o apoio técnico da EMATER/MG (Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), que fica na cidade de Manhuaçu. Houve um
trabalho intenso para ajudar a população local a se profissionalizar e melhorar as técnicas
de cultivo e preparação do café. Foi criado, inclusive, o Concurso de Qualidade do Café das
Matas de Minas Gerais, promovido pela entidade.
A incidência de luz, colheita seletiva de grãos maduros, o uso de água tratada na lavagem e
no descascador de cereja, o bom manejo da secagem em terreiro e o descanso do café em
176
pergaminho, são fatores que propiciaram a produção de bebidas de alta qualidade com
nuances de aroma e sabores ricos.
Conheça um pouco mais sobre o café que enfrentou o descaso no passado, mas agora tem
sua produção e qualidade de grãos reconhecida.
Sabor:
Encorpado com aroma neutro, cuja característica é suave
Fonte: http://www.mexidodeideias.com.br/industria/cafe-do-brasil-matas-de-minas-gerais/
177
Governo entrega prêmios do 13º Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais
Premiação é a maior do país e foram inscritas 1.853 amostras das quatro regiões
produtoras
Após entregar os prêmios para os produtores dos melhores cafés do estado, o governador
ressaltou a importância do café para a economia brasileira.
“O agronegócio é uma força no mundo inteiro, mas no Brasil em especial temos a felicidade
de ter recursos naturais que nos propiciam ter no setor agrícola uma das mais altas
produtividades do mundo. Esse ano só Minas Gerais vai render para a balança comercial
brasileira mais de 3 bilhões de dólares de café. Dos 49 milhões de sacas que o Brasil vai
produzir, 28 milhões serão de Minas Gerais. Temos que ter um orgulho muito grande de
estar à frente de um setor que está gerando essa prosperidade ainda que em um tempo
difícil, de crise. Nós mineiros não desanimamos”, afirmou.
Ainda de acordo com Pimentel, o café é um setor de ponta no estado e que envolve
investimento em tecnologia de ponta. “Vejo aqui hoje a Minas Gerais que a gente gosta, que
a gente ama e aposta. A Minas que trabalha no campo, que dá emprego, gera renda, não se
abate com as crises e que faz a gente ter orgulho do nosso estado. Já foi o tempo que se
dizia que plantar café era atraso. A agricultura e o café hoje são um setor de ponta, que
envolve conhecimento cientifico avançado, que envolve crescimento tecnológico, e que faz
também inclusão social. É o que estamos fazendo em Minas Gerais”, completou.
Neste ano, na categoria Natural, o primeiro lugar e que ficou com o prêmio de campeão
estadual foi o café do produtor André Souza Lima Campos, do município de Presidente
Olegário, no Noroeste do estado. Já na categoria Cereja Descascado o troféu de campeão
estadual foi entregue a Aarão Ferreira, de Lajinha, na região Matas de Minas.
Avaliação
O concurso é dividido em duas categorias. A primeira é a Café Natural, que trata do grão
recém-colhido que, após passar por um processo de lavagem, é levado para secar. A outra
categoria é a do Café Cereja Descascado, despolpado ou desmucilado. Estes tipos de café
são lavados e há uma separação dos frutos verdes e secos dos frutos maduros. Depois,
eles passam por um descascador para só depois seguir para secagem.
Entre os finalistas foram selecionados os três melhores cafés em cada uma das duas
categorias, levando em conta cada uma das quatro regiões produtoras: Sul de Minas,
Chapadas de Minas, Cerrado Mineiro e Matas de Minas. O concurso é promovido pela
Emater - Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Universidade
Federal de Lavras (Ufla), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de
178
Minas e a Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepe).
A seleção dos finalistas foi feita por especialistas de empresas públicas e privadas com base
em análises físicas e sensoriais. As provas foram realizadas no Centro de Excelência do
Café, em Machado, no Sul de Minas Gerais. Neste ano, a novidade no critério de avaliação
foi a inclusão da avaliação socioambiental na etapa final das análises
Premiação
Os produtores que obtiveram a maior pontuação em cada região também ganham uma
viagem à Guatemala ou Costa Rica para conhecer o sistema de produção de café de
qualidade.
179
Lista de premiados
Categoria: Natural
Terceiro Lugar
1. Região Cerrado Mineiro (município Varjão de Minas) - Empresa Agrícola Santa Rita,
representada pela diretora agrícola Mariana Brayn Caetano;
2. Região Chapada de Minas (município José Gonçalves de Minas) - Gilson Pereira da
Silva;
3. Região Matas de Minas (município Alto Caparaó) - Sebastião Luiz Robadel;
4. Região Sul de Minas (município São Sebastião do Paraíso) - Antônio Adolfo de Souza.
Segundo Lugar
1. Região Cerrado Mineiro (município Patrocínio) - Flávio Ruiz Pequini;
2. Região Chapada de Minas (município Capelinha) - Arlindo Domingues de Oliveira;
3. Região Matas de Minas (município Alto Caparaó) - Rafael Lopes Louzada;
4. Região Sul de Minas (município Andradas) - Fábio Roberto Menegon.
Primeiro Lugar
1. Região Chapada de Minas (município José Gonçalves de Minas) - Claudio Fujio
Nakamura;
2. Região Matas de Minas (município Manhuaçu) - Celso Antônio de Oliveira;
3. Região Sul de Minas (município Divisa Nova) - Dimas Figueiredo Lopes.
4. Região Cerrado Mineiro (município Presidente Olegário) - André Souza Lima Campos;
Terceiro Lugar
1. Região Cerrado Mineiro (município Serra do Salitre) - Luiz Alberto Rossi;
2. Região Chapada de Minas (município Diamantina) - Dailton Antonio Ribeiro;
3. Região Matas de Minas (município Alto Jequitibá) - Ari de Oliveira Filho;
4. Região Sul de Minas (município São Pedro da União) - João Onofre da Silva.
Segundo Lugar
1. Região Cerrado Mineiro (município Patos de Minas) - Versi Crivelenti Ferrero;
2. Região Chapada de Minas (município Angelândia) - Primavera Agronegócios Ltda,
representada pelo Gerente-Geral Ronaldo Morais Pena Filho;
3. Região Matas de Minas (município Manhuaçu) - José Rocha;
4. Região Sul de Minas (município Campestre) - Hélio José Lopes Júnior.
180
Primeiro Lugar
1. Cerrado Mineiro (município Patos de Minas) - Wagner Crivelenti Ferrero;
2. Região Chapada de Minas (município Minas Novas) - CBI Agropecuária representada
pelo diretor Tancredo Pisa Simonini Spadas;
3. Região Sul de Minas (município Santo Antônio do Amparo) - Henrique Dias Cambraia;
4. Região Matas de Minas (município Lajinha) - Aarão Ferreira.
Fonte: http://agenciaminas.mg.gov.br/noticia/governo-entrega-premios-do-13-concurso-de-
qualidade-dos-cafes-de-minas-gerais
João da Silva é do município de Araponga. O café produzido por ele foi campeão estadual
na categoria Cereja Descascado. “Esse prêmio é a coroação de um trabalho de seis anos
que a gente tem feito, buscando sempre bons resultados”, disse o cafeicultor. A propriedade
dele produz 500 sacas por ano. O produto é vendido para a região e também Itália e Japão.
João da Silva também recebeu a medalha Sustentabilidade. Uma homenagem ao cafeicultor
com o melhor café produzido seguindo os princípios sustentáveis.
Já o produtor Clayton Monteiro foi o vencedor estadual na categoria Café Natural. Esta é a
segunda vez que ele vence o concurso. A primeira foi em 2012. “A nossa visibilidade
aumenta bastante com as premiações. E isso resulta em um preço melhor para o nosso
produto. É importante também os dois vencedores serem aqui da região, que antigamente
era tida como café de qualidade inferior. Hoje, estamos provando que podemos fazer os
melhores cafés”, afirma Monteiro.
A propriedade de Clayton fica no Alto Caparaó. Por ano a propriedade dele produz em
média 350 sacas de café. O produtor cultiva variedades, como Catuaí e Burbon. A produção
é vendida na região e para cafeterias de outros Estados. Mas boa parte é exportada para
Inglaterra, Alemanha, França, Austrália e Japão. Clayton também venceu outros prêmios,
como o Coffee of the Year, em 2015, sendo reconhecido como o melhor café do Brasil.
181
trabalho para obtermos um produto de mais qualidade”, diz João da Silva.
“O nosso café só vai ter mercado se tiver qualidade. Esse trabalho que a Emater-MG vem
fazendo com os agricultores familiares tem um impacto enorme na cafeicultura mineira. O
dia a dia da Emater-MG com o agricultor para melhorar o seu sistema de produção tem
garantido mercado e renda para eles”, disse o presidente da Emater-MG, Amarildo Kalil.
Etapas do concurso
A edição deste ano do Concurso Estadual de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais teve
1.300 amostras inscritas. Um crescimento de 26% em relação a 2014, que contou com
1.025 amostras. Participaram da disputa produtores das quatro regiões cafeeiras do Estado:
Cerrado, Chapadas de Minas, Matas de Minas e Sul de Minas.
Do total das inscrições deste ano, 1.014 são amostras da categoria Natural e 286 da
categoria Cereja Descascado. A região do Cerrado inscreveu 126 amostras, 28 são da
Chapada, 554 das Matas de Minas e 592 do Sul de Minas.
Os cafés foram avaliados em três etapas. Na primeira, foram feitas análises física e
sensorial. Na avaliação física, foram observados o tipo dos grãos, a umidade e a coloração.
Na sensorial foi feita a classificação das amostras de acordo com as qualidades da bebida
pronta (classificação quanto ao sabor e aroma). Na segunda etapa, houve mais uma análise
sensorial. Na terceira e última fase, foram realizadas novamente as análises física e
sensorial.
Leilão Virtual
“Este ano o concurso foi diferenciado dos outros. Nós passamos por um período de dois
anos de seca e isso prejudicou muito. Mesmo assim conseguimos achar cafés com
qualidade excepcional”, diz o gerente regional da Emater-MG em Lavras e coordenador do
concurso, Marcos Fabri.
182
Agricultura (Faemg), Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaemg), e cooperativas
de café do Sul do Estado.
Mais informações sobre o concurso pelo telefone (35) 3821-0020, pelo e-mail
uregi.lavras@emater.mg.gov.br ou no site da www.emater.mg.gov.br.
Campeões Estaduais
Categoria Cereja Descascado: João da Silva Neto
Município: Araponga
Medalha de Sustentabilidade
João da Silva Neto
Categoria Natural
Sul de Minas
1º LUGAR: Hélio de Castro Coelho
Município: Machado
Cerrado Mineiro
1º LUGAR: Wagner Crivelenti Ferrero
Município: Patos de Minas
Sul de Minas
1º LUGAR: Carlos Henrique Ribeiro do Valle
Município: Guaxupé
Cerrado Mineiro
1º LUGAR: Décio Bruxel
Município: Varjão de Minas
Chapadas
1º LUGAR: José Vilmar Rocha
Município: Capelinha
183
Semana Internacional do Café 2016 registra incremento de 8%
Realizada desde 2013, a SIC tem como objetivo fortalecer e valorizar o segmento cafeeiro,
um dos maiores da economia nacional e cujo produto é o principal do agronegócio brasileiro.
Neste ano, participaram produtores, baristas, cooperativas, indústrias, segmentos de
máquinas e equipamentos para o setor, embalagens, serviços de cafés, e-commerce e
indústria de cápsulas. A programação incluiu eventos técnicos, como o Seminário
Internacional DNA Café 2016, o Fórum da Agricultura Sustentável, Encontro Educampo e a
Cafeteria Modelo, além de Rodada de Negócios & Coffee of the Year, 5ª Copa Barista, entre
outras atrações.
Premiações
5ª Copa Barista
1º lugar: Lucas Salomão (SP)
2º lugar: Ivan Heyden (MG)
184
Coffee of The Year 2016:
- Arábica
1º - Afonso Donizete Lacerda (Sítio Pedra Menina) / Serra do Caparaó – Dores do Rio Preto
(ES)
2º - Felipe Gonçalves Pacheco (Fazenda Santa Lúcia) / Cerrado Mineiro – Araxá (MG)
3º - Fábio Protazio de Abreu (Sítio Forquilha Café) / Serra do Caparaó – Espera Feliz (MG)
- Conilon
1º - José Carlos de Azevedo (Sítio Chapadinho) / Nova Venecia - Nova Venecia (ES)
2º - Edinilson Alves Dutra (Sítio Boa Vista) / Matas de Minas – Manhuaçu (MG)
3º - José Carlos de Azevedo (Sítio Raphalys) / Alto Rio Novo – Alto do Rio Novo (ES)
Fonte: http://revistacafeicultura.com.br/?mat=62751
185
para se apropriarem da devida parcela de benefícios que são conquistados nessa nova
relação comercial.
Ao buscarem apoio da comunidade cafeeira regional, a resposta foi imediata. Logo os
cafeicultores e as instituições públicas e privadas se mobilizaram e participaram com
dedicação na busca de soluções inovadoras para o setor. Os trabalhos tiveram início com a
implantação da metodologia participativa do “Foco Competitivo”. Com a colaboração de
inúmeros cafeicultores e representantes institucionais, após diversos encontros e debates
bem orientados, foram definidas e planejadas quatro linhas de ação, pilares que deveriam
orientar todo o trabalho: Qualidade do café, Identidade da Região, Governança e Mercado.
As ações que buscavam identificar a qualidade dos cafés produzidos na Região das Matas
de Minas tiverem início em 2011. Após a realização de levantamento da qualidade dos cafés
comercializados no mercado atacadista da região, foram iniciadas atividades para apoiar e
incentivar a melhoria da qualidade na forma de cursos e palestras com foco nas adequadas
tecnologias de pós-colheita e na classificação física e análise sensorial do café em diversos
municípios. Valorizando também os aspectos vinculados à produtividade da lavoura, foram
ministrados cursos sobre adubação, controle de pragas e doenças e manejo da lavoura
cafeeira aos técnicos que prestam assistência técnica à lavoura de café e aos cafeicultores,
com o apoio da UFV, Epamig e Emater. Essas ações continuam sendo executadas até a
presente data, com a proposta de proporcionar aos cafeicultores das Matas de Minas, um
ponto de partida com base na adoção de inovações produtivas, gerenciais e
organizacionais, compatíveis com as condições geográficas e naturais características dessa
região e com as exigências contemporâneas de mercado.
As ações visando criar uma governança regional para a cadeia produtiva do café tiveram
início em 2012, com reuniões mensais das lideranças da cafeicultura e de representante das
principais instituições privadas a ela vinculadas. Como resultado dessa busca para
identificar o melhor modelo de governança regional, em junho de 2013 foi criado
o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas, que a partir de então tem
liderado os trabalhos e criado novos horizontes para a cafeicultura regional.
As ações voltadas para o pilar de mercado, foram também iniciadas em 2012, quando
técnicos do Sebrae – MG, de outras instituições e representantes dos cafeicultores
participaram de feiras internacionais e de visita a diversos compradores do mercado
mundial, com o intuito de verificar as exigências e as principais tendências que impactam o
comércio do café no presente e no futuro. Dando sequência aos trabalhos com foco na
ampliação das alternativas mercadológicas para a cafeicultura da região, em 2013 e 2014
foram realizadas “Rodadas de Negócio” durante o tradicional Simpósio de Cafeicultura de
Montanha, realizado em Manhuaçu.
Dentre as ações que buscam melhorar a identidade dos cafés produzidos, destaca-se o
mapeamento da qualidade do café das Matas de Minas, realizado em 2013, oportunidade
em que foi identificada a qualidade sensorial do café produzido em diversas alternativas dos
microclimas prevalecentes. Os resultados deste estudo mostraram que o relevo irregular das
Montanhas das Matas de Minas proporciona microclimas especiais, onde os cafeicultores,
usando tecnologias predominantemente manuais, são artesãos aliados da natureza
favorável na produção de cafés de alta qualidade e identidade distinta, com a predominância
de cafés com doçura acentuada, acidez equilibrada, encorpado, aroma floral e diversidade
de sabores cítricos e achocolatados. Outra importante atividade iniciada em final de 2013 foi
a construção da marca “Região das Matas de Minas”. Nessa, o Conselho das Entidades do
Café das Matas de Minas liderou o esforço para identificar, de forma participativa, uma
marca para representar a cafeicultura regional, expressando toda sua pujança e as
qualidades intrínsecas de um produto aprimorado pela tradição centenária de convivência
186
harmônica do homem com a natureza, proporcionando a produção de cafés de altíssima
qualidade e diversidade de aromas e sabores inigualáveis. O resultado desse esforço
coletivo é apresentado a seguir.
Fonte: http://revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=57761&matas-de-minas--
uma-regiao-produtora-de-cafe-em-movimento.html
187
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