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HISTÓRIA DO CAFÉ DAS MATAS DE MINAS

(1808-2015)

Belo Horizonte
2017
Governador do Estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel
Vice-Governador
Antônio Andrade
Secretário de Estado de Planejamento e Gestão
Helvécio Miranda Magalhães Júnior
Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais
Pedro Cláudio Coutinho Leitão

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO

Presidente
Roberto do Nascimento Rodrigues
Vice-Presidente
Daniel Lisbeni Marra Fonseca
Diretoria de Estatística e Informações
Júnia Santa Rosa
Diretoria de Estudos de Políticas Públicas Paulo Camillo de Oliveira Penna
Celeste de Souza Rodrigues
Diretoria de Estudos em Cultura, Turismo e Economia Criativa
Bernardo Novais da Mata Machado
Diretoria de Informação Territorial e Geoplataformas
Daniel Lisbeni Marra Fonseca
Diretoria de Planejamento, Gestão e Finanças
Josiane Vidal Vimieiro
Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho
Letícia Godinho de Souza

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais

Presidente do Conselho Deliberativo


Olavo Machado Júnior
Diretor Superintendente
Afonso Maria Rocha
Diretor Técnico
Anderson Costa Cabido
HISTÓRIA DO CAFÉ DAS MATAS DE MINAS
(1808-2015)

Termo de Cooperação celebrado entre o Estado de Minas Gerais, por intermédio da


Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento – SEAPA, a Fundação João Pinheiro –
FJP e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais – SEBRAE-MG
para embasar processos de Indicação Geográfica junto ao Instituto Nacional de Propriedade
Industrial
EQUIPE TÉCNICA

COORDENAÇÃO:
Bernardo Novais da Mata Machado
ELABORAÇÃO:
Bernardo Novais da Mata Machado (pesquisa e redação)
Cláudio Burian Wanderley (pesquisador colaborador)
Délio Araújo Cunha (cartografia)
Gabriela Martins Durães Brandão (assistente de pesquisa)
APOIO ADMINISTRATIVO
Júnia Alves de Lima
Karine Fernandes Ramo
Paulo Rogério Pereira de Freitas
REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
Ana Paula da Silva

Registramos nossos agradecimentos a Thiago Veloso Vitral, Superintendente do Arquivo


Público Mineiro e a José Roberto Enoque, técnico de nível superior especializado da
Epamig e gerente de contabilidade e finanças da Fundação João Pinheiro

F981h Fundação João Pinheiro.


História do café das matas de Minas : (1808-2015) / Fundação João
Pinheiro. Diretoria de Estudos em Cultura, Turismo e Economia Criativa –
Belo Horizonte, 2018.

197 p.: il.

1. História do café – Minas Gerais – 1808-2015. I. Título.

CDU 633.73 (815.1) “1808/2015” (091)


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICOS

Gráfico1: População estimada, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas, 1990=100,
1990-2015 ......................................................................................................... 126
Gráfico 2: Produto Interno Bruto a preços de 2015, Minas Gerais e municípios das Matas de
Minas, 2002=100, 2002-2014 ............................................................................ 127
Gráfico 3: Produto Interno Bruto per capita a preços de 2015, Minas Gerais e municípios das
Matas de Minas - 2002-2014 ............................................................................. 128
Gráfico 4: Produção de café, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas, 1990=100,
1990-2015 ......................................................................................................... 129
Gráfico 5: Produção de café tipo arábica, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas,
1990=100, 1990-2015 ........................................................................................ 130
Gráfico 6: Produção de café per capita - Minas Gerais, municípios das Matas de Minas e
restante do estado - 1990-2015 ......................................................................... 131
Gráfico 7: Área colhida de café (hectares) - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas -
1990-2015 ......................................................................................................... 131
Gráfico 8: Área colhida com culturas permanentes, proporção da área colhida agrícola total
(%) - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ......... 132
Gráfico 9: Área colhida com café, proporção da área colhida com culturas permanentes (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ................. 133
Gráfico 10: Área colhida com café, proporção da área colhida agrícola total (%) - Municípios
das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ................................... 133
Gráfico 11: Produtividade média por hectare da produção de café - Minas Gerais e
municípios das Matas de Minas, 1990=100 - 1990-2015 ................................... 134
Gráfico 12: Valor da produção de café - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas
(preços de 2015) - 1990-2015 ............................................................................ 135
Gráfico 13: Valor da produção de café - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas
(preços de 2015) - 1990=100 - 1990-2015 ......................................................... 136
Gráfico 14: Valor gerado pelas culturas permanentes - proporção do valor agrícola total
gerado (%) - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015
.......................................................................................................................... 137
Gráfico 15: Valor gerado pela cultura do café - proporção do valor gerado pelas culturas
permanentes (%) - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-
2015 .................................................................................................................. 138
Gráfico 16: Valor gerado pela cultura do café - proporção do valor agrícola total gerado (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ................. 138
Gráfico 17: Razão do valor gerado por hectare colhido de café e o valor médio agrícola
gerado por hectare - Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015 ......... 139
Gráfico 18: Relação entre o valor da produção cafeeira e o produto agropecuário -
municípios das Matas de Minas e Minas Gerais - 2002 -2014 ........................... 141
Gráfico 19: Relação entre o valor da produção cafeeira e o produto total - Municípios das
Matas de Minas e Minas Gerais - 2002 -2014 .................................................... 142
Gráfico 20: Efeito adicional da elasticidade do valor da produção cafeeira per capita em
relação ao produto municipal per capita dos municípios das Matas de Minas
(regressões quantílicas) - primeira especificação - 2002-2014 .......................... 145
MAPAS

Mapa 1 Região Cafeeira das Matas de Minas Gerais ......................................................... 16


Mapa 2 Região Cafeeira das Matas de Minas - MG - Bacias Hidrográficas ..................... 17
Mapa 3 Região Cafeeira das Matas de Minas - MG - Altimetria ........................................ 18

QUADROS

Quadro 1 Prêmios – Café ................................................................................................. 125


LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Quantidade de sacas transportadas – Estrada de Ferro Leopoldina – safra 1926-


1927 .................................................................................................................... 43
Tabela 2: Presença de imigrantes – Minas Gerais - 1919 .................................................... 52
Tabela 3: Estabelecimentos rurais pertencentes a estrangeiros – Minas Gerais - 1919....... 53
Tabela 4: Núcleos coloniais da Zona da Mata – Minas Gerais ............................................ 53
Tabela 5: Fazendas Cafeeiras dos Estados maiores produtores – 1920.............................. 65
Tabela 6: Percentual das fazendas cafeeiras em relação ao número total de propriedades
rurais recenseadas nos Estados maiores produtores - 1920................................ 65
Tabela 7: Municípios maiores produtores de café nos Estados de São Paulo, Minas Gerais,
Rio de Janeiro e Espírito Santo - 1920................................................................. 66
Tabela 8: Municípios maiores produtores de café do Brasil na safra 1919/1920 .................. 66
Tabela 9: Produção de café (quilos) – Municípios da Zona da Mata (MG) – 1926/1927 ...... 68
Tabela 10. Erradicação de cafeeiros e área liberada nas fases do programa ..................... 80
Tabela 11: Culturas substitutivas e área (ha) na primeira fase do Programa de Erradicação –
Brasil – 1962- 1966 .............................................................................................. 81
Tabela 12: Número de estabelecimentos, área e pessoal ocupado, produtores e não
produtores de café, agricultura familiar e não familiar - Municípios das Matas de
Minas, Minas Gerais e Brasil - 2006 .................................................................. 140
Tabela 13: Resultados econométricos obtidos relativos ao Produto Interno Bruto per capita
dos municípios mineiros (primeira especificação) - 2002-2014 .......................... 144
LISTA DE SIGLAS

ABIC - Associação Brasileira da Indústria de Café


ABCAR - Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural
ABICS - Associação Brasileira da Indústria do Café Solúvel
ACAR-MG - Associação de Crédito e Assistência Rural de Minas Gerais
ACIAM - Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Manhuaçu
AIA - Associação Internacional Americana para o Desenvolvimento
Econômico e Social
AIC - Acordos Internacionais do Café
APCEA - Associação dos Produtores de Cafés Especiais de Araponga
ACARC - Associação dos Cafeicultores da Região de Caratinga
BB - Banco do Brasil
BNDE - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
BDMG - Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
BSCA - Brazilian Specialty Coffee Association
CAMOB - Caixa de Mobilização e Fiscalização Bancária
CARED - Carteira de Redescontos
CDPC - Conselho Deliberativo da Política Café
CECAFE - Conselho de Exportadores de Café do Brasil
CEPEC - Centro de Pesquisas Cafeeiras Eloy Carlos Heringer
CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
CNC - Conselho Nacional do Café
CEB - Comunidade Eclesial de Base
CMN – Conselho Monetário Nacional
CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento
COOCAFÉ - Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha
COOFELIZ - Cooperativa da Agricultura Familiar Solidária de Espera Feliz
COOPERCAFÉ - Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Caratinga
COOPERMATAS - Cooperativa de Produtores da Região Matas de Minas
COORPOL - Cooperativa Regional Indústria e Comércio de Produtos Agrícolas do
Povo que Luta
COOPCEL - Cooperativa Cultural e Educacional da Região de Lajinha
CREAI - Carteira de Crédito Agrícola e Industrial
CTA- Centro de Tecnologia Alternativa
DEC - Divisão da Economia Cafeeira
DCTEC - Diretoria de Cultura Turismo e Economia Criativa
DMRD - Divisões Militares Do Rio Doce
DNC - Departamento Nacional do Café
EBDA - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola
EMATER-MG - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMBRAPA CAFÉ - Serviço de Apoio ao Programa Café
EMBRATER - Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
ESAF - Escola Superior de Agricultura e Veterinária
FAEMG - Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais
FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
FETAEMG - Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais
FRIGONORTE - Frigorífico Norte de Minas S. A.
FRIMUSA - Frigorífico Mucuri S.A
FUNCAFÉ - Fundo de Defesa da Economia Cafeeira
FJP - Fundação João Pinheiro
FUNDAÇÃO PROCAFÉ - Fundação de Apoio a Tecnologia Cafeeira
GERCA - Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura
IAC - Instituto Agronômico de Campinas
IAPAR-PR - Instituto Agronômico do Paraná
IBC - Instituto Brasileiro do Café
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IG - Indicação Geográfica
IMA - Instituto Mineiro de Agropecuária
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural
IPEACO - Instituto de Pesquisa Agropecuária do Centro-Oeste
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MAPA/SARC - Secretaria de Apoio Rural e Cooperativismo do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MOBON - Movimento da Boa Nova
OCEMG - Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais
OIC - Organização Internacional do Café
ONU - Organização das Nações Unidas
PAA - Programa de Aquisição de Alimentos
PESAGRO-RIO - Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro
PIPAEMG - Pesquisas Agropecuárias do Estado de Minas Gerais
PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNP&D/CAFÉ - Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café
PRONAF - Programa Nacional da Agricultura Familiar
PRRC - Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais
REDE - Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas
SCAA - Specialty Coffee Association of America
SCAE - Associação de Café Especiais da Europa
SCAMG - Associação de Cafés Especiais de Minas Gerais
SICOOB CREDICAF - Cooperativa de Crédito de Livre Admissão do Leste de Minas
SICOOB CREDICOPER - Cooperativa de Crédito de Livre Admissão da Regiãode Caratinga
SICOOB CREDILIVRE - Cooperativa de Crédito da Zona da Mata de Minas
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEAPA - Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais
SENAR-MG - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Minas Gerais
SERAC - Serviço Regional de Assistência a Cafeicultura
SUMOC - Superintendência da Moeda e do Crédito
UFLA - Universidade Federal de Lavras
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFV - Universidade Federal de Viçosa
UNIBANCO - União de Bancos Brasileiros
SUMÁRIO

1 Introdução ............................................................................................................................... 11
2 Os primeiros habitantes das Matas de Minas ........................................................................ 19
2.1 Os povos indígenas .............................................................................................................. 19
2.2 A colonização das Matas de Minas até a chegada do café ........................................... 28
3 A chegada do café .................................................................................................................. 33
3.1. Estradas de ferro e de rodagem.......................................................................................... 40
3.2 Escravos, imigrantes estrangeiros e meeiros. ................................................................ 44
4 Superprodução e intervenções governamentais para defesa e valorização do café brasileiro
................................................................................................................................................ 56
4.1 O Congresso Agrícola, Comercial e Industrial de 1903. ................................................ 58
4.2 O Convênio de Taubaté de 1906 .................................................................................... 61
4.3 O Censo de 1920 ............................................................................................................ 64
4.4 A defesa permanente do café ......................................................................................... 69
4.5 A política cafeeira de 1930 a 1990 ................................................................................. 75
5 A praga da ferrugem e a reinvenção da cafeicultura ............................................................. 85
5.1 A pesquisa cafeeira......................................................................................................... 88
5.2 Assistência técnica e certificação ................................................................................... 95
5.3 Crédito Agrícola............................................................................................................. 100
6 Organização dos produtores, concursos e prêmios do café das Matas de Minas. ............. 110
6.1 Sindicatos, Associações, Cooperativas e o Conselho das Entidades do Café das Matas
de Minas. .................................................................................................................................. 110
6.2 Cafés de qualidade, concursos e prêmios.................................................................... 117
7 Estatísticas da produção cafeeira nos municípios das Matas de Minas entre 1990 e 2015126
7.1 População e Produto nas Matas de Minas ................................................................... 126
7.2 A produção de café ....................................................................................................... 128
7.3 Produção de café e agricultura familiar ........................................................................ 139
7.4 Produção de café e produto local ................................................................................. 141
8 Conclusão ............................................................................................................................. 147
ANEXO I – .................................................................................................................................... 154
Municípios que compõem a região das Matas de Mina........................................................... 154
ANEXO II ...................................................................................................................................... 155
Evolução Administrativa dos Municípios da Região das Matas de Minas............................... 155
ANEXO III ..................................................................................................................................... 157
Delimitação das Regiões Produtoras de Café pelo Governo do Estado de Minas Gerais ..... 157
ANEXO IV ..................................................................................................................................... 160
Concursos e Prêmios ............................................................................................................... 160
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 188
1 INTRODUÇÃO

A região denominada Matas de Minas inclui 63 municípios do Estado de Minas


Gerais (ver mapa 1 e anexo 1), localizados na bacia do rio Doce, particularmente nos rios
afluentes Piranga, Casca, Matipó, Caratinga e Manhuaçu; e também na bacia do rio Paraíba
do Sul, no afluente denominado Muriaé e seus subafluentes rios Glória e Carangola.
Na divisão mesorregional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
51 municípios pertencem à Zona da Mata e 12 à mesorregião do vale do Rio Doce. Na
divisão microrregional desse mesmo instituto, os municípios fazem parte das microrregiões
de Caratinga, Manhuaçu, Muriaé e Viçosa. Apenas três municípios estão fora dessas,
pertencendo às microrregiões de Aimorés (Mutum e Conceição de Ipanema) e Ponte Nova
(Vermelho Novo).
As Matas de Minas ocupam 3% do território de Minas Gerais. Todos os municípios
têm em comum o fato de serem produtores de café, em altitudes que variam de 600 a 1200
metros. A região responde hoje por aproximadamente 24% da produção de café do Estado,
em 275 mil hectares, cultivados por 36 mil produtores, sendo que aproximadamente 80%
deles possuem de 3 a 20 ha. de café plantados, ou seja, são pequenos proprietários. Os
outros 20% dividem-se em médios (entre 20 e 50 ha.) e grandes produtores (mais de 50
ha.). No geral, pode-se dizer que a cafeicultura da região é predominantemente de base
familiar, constituindo uma densa classe média rural.
Em publicação de 1929, ocasião na qual os municípios de Carangola, Manhuaçu,
Muriaé, Caratinga e Mutum já figuravam entre os maiores produtores de café de Minas
Gerais (os dois primeiros entre os cinco maiores do Brasil), Aristóteles Alvim, ao referir-se à
região cafeeira da Zona da Mata, na qual ele incluía todas as bacias hidrográficas do leste
mineiro (Jequitinhonha e Araçuaí, Mucuri, Doce e São Mateus, Muriaé, Paraibuna e Preto,
Pomba, Rio Novo e Pariba), escreveu:

Toda a zona está magnificamente protegida, quer contra os ventos frios do


sul, produtores de “geada de vento”, quer contra os ventos salmorosos [sic]
do mar, flagelo dos cafezais da costa. Ao longo desta, guardando uma
distância entre 100 e 300 quilômetros do oceano, correm anteparos naturais
das serras dos Aimorés e do Mar, que regulam os ventos marítimos,
tornando possível um regime de aquecimento e umidade uniforme e
conveniente em toda a zona cafeeira do leste do Estado. Também as
1
“geadas brancas” são desconhecidas.
Levando-se em conta as bacias hidrográficas, a marcha do povoamento e a
expansão territorial da cafeicultura (sempre à procura de terras férteis), é possível dividir as
Matas de Minas em duas sub-regiões: a que corresponde à bacia do rio Paraíba do Sul,

1 ALVIM, Aristóteles. Confrontos e deduções, 1929, p. 150-151.

11
especificamente o vale do rio Muriaé, no qual o café chega por volta de 1840; e a sub-região
da bacia do rio Doce, particularmente no vale do rio Manhuaçu (com o afluente rio José
Pedro), que começa a ser penetrada pela cafeicultura a partir de 1860 (ver Mapa 2).
Do ponto de vista da qualidade do café é possível destacar, atualmente, duas áreas
menores: a que está situada no encontro dos vales dos rios Glória e Matipó, onde as
altitudes da serra do Brigadeiro (extensão da serra da Mantiqueira) propiciam que
municípios ali localizados, como Araponga, Sericita e Ervália sejam hoje vencedores de
concursos de qualidade de café; e uma segunda área, no vale do rio Itabapoana (formado
pela junção dos rios São João e Preto2), que nasce na serra do Caparaó e na direção do
litoral divide as fronteiras dos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Próximos uns dos outros, incluindo o afluente do Manhuaçu, rio José Pedro, configuram
uma área onde terras férteis, clima e principalmente a altitude da Serra do Caparaó
possibilitam a produção de um café de alta qualidade, com destaque para os municípios de
Espera Feliz, Caparaó, Alto Caparaó e Caiana (ver Mapa 3).
Em função do atual processo de aquecimento da temperatura terrestre, o café que
antes se adaptava bem em terrenos até 500 metros de altura, hoje está se dá melhor entre
650 e 1200 metros, e por isso muitos outros municípios também se encontram em situação
favorável, destacando-se Manhuaçu, São João do Manhuaçu, Santa Margarida, Martins
Soares, Luisburgo e Caratinga.
Embora grande parte da região aqui denominada Matas de Minas esteja na
mesorregião da Zona da Mata, seu povoamento, estrutura fundiária e regime de trabalho
têm características históricas distintas das que ocorreram no setor sul dessa mesorregião.
Ao contrário da cafeicultura das margens do rio Paraíba do Sul, desenvolvida entre 1830 e
1880 na fronteira entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, caracterizada pela grande
propriedade patriarcal, aristocrata e escravocrata, o café das Matas de Minas foi, desde a
sua origem, produzido predominantemente por pequenos e médios proprietários (incluindo
imigrantes estrangeiros) e cultivado em parceria com trabalhadores livres (meeiros), sendo
que alguns, com o passar dos anos, lograram transformar-se em sitiantes. Desde a origem a
lavoura do café das Matas de Minas conviveu com a pecuária leiteira e a produção de
gêneros agrícolas de subsistência.
O predomínio de pequenas e médias propriedades está relacionado ao processo de
ocupação das terras devolutas (abundantes na faixa leste de Minas Gerais até o início do
século XX), por meio do reconhecimento da posse. O sistema oficial de concessão de terras
(sesmarias), introduzido desde o início da colonização portuguesa, foi extinto oficialmente

2 Não confundir com o rio e a cidade do mesmo nome localizados na bacia do rio Paraíba do Sul.

12
em 1822, embora haja referências de concessões até 1836. Somente em 1850, através da
Lei nº 601 de 18 de setembro (Lei de Terras)3, o vazio jurídico foi superado e a legalização
da posse de terras devolutas autorizada, por meio de registro oficial, após comprovação de
uso efetivo (cultivo e moradia). Foi assim que o regime de pequenas e médias propriedades
predominou, e ainda se mantém nas Matas de Minas, com sucessivas subdivisões por
herança.
A quase inexistência de escravos negros (há referências esparsas) está
relacionada ao período no qual se inicia o povoamento da região, que coincide com o
gradativo processo de abolição da escravatura, marcado por sucessivas leis: a de 1831, que
declarou livres todos os escravos que dessem entrada no território brasileiro (lei muito
burlada), a que extinguiu definitivamente o tráfico negreiro (1850), as que declararam livres
os negros recém-nascidos (1871) e os sexagenários (1885) e, finalmente, a que libertou os
4
escravos (1888).
Apesar de existir diferenças substantivas entre as cafeiculturas das Matas de Minas
e a que floresceu na parte do sul da Zona da Mata, há entre elas uma característica comum:
até pelo menos 1970, em ambas as regiões o café, em geral, foi cultivado sem cuidados
especiais. Ao que tudo indica, a produção seguiu a rotina identificada pelo naturalista suíço
J. J. Von Tschudi, quando viajou por Minas Gerais em 1858:

Na província de Minas Gerais, como no resto do Brasil, a agricultura não


passa de uma atividade predatória, que esgota completamente o solo e o
torna, para sempre, imprestável para qualquer tipo de cultura. Derruba-se
um pedaço da mata virgem, a madeira mais seca é queimada e as cinzas
são espalhadas. Sobre a roça assim obtida, entre troncos meio calcinados,
as culturas são plantadas com enxada. Quando, depois de repetidas
colheitas sem intervalo entre si, o solo está esgotado, ele é posto a
descansar por alguns anos, e vai se cobrindo novamente com arbustos e
mato (capoeiras). Ao chegar a uma determinada altura ou idade, esse mato
é novamente derrubado, queimado, e o solo é replantado. O ciclo se repete
tantas vezes que por fim a terra já não pode produzir nenhuma colheita,
pois todos os nutrientes são retirados e nunca são minimamente repostos.
Quando uma fazenda já está completamente esgotada e incapaz de
produzir qualquer coisa, ela é abandonada, e o proprietário sai à procura de
5
outras terras onde possa recomeçar o mesmo processo.

3
BRASIL. Lei nº 601, 1850.
4 Respectivamente: Lei Feijó, de 7 de novembro de 1831(s/n); Lei Eusébio de Queirós (nº 581, de 4 de setembro
de 1850); Lei do Ventre Livre (nº 2040, de 28 de setembro de 1871); Lei dos Sexagenários (nº 3270, de 28 de
setembro de 1885) e Lei Áurea (nº 3353, de 13 de maio de 1888).
5 HALFELD, H.G.F.; TSCHDI, J.J. von. A província brasileira de Minas Gerais, p. 111.

13
Esse mesmo viajante, quando em visita à colônia de imigrantes Santa Leopoldina
na então Província do Espírito Santo, acrescenta algumas observações a respeito da
agricultura em áreas montanhosas:
O fogo violento, usado nas queimadas da floresta, destrói em parte a frágil
camada de húmus e as substâncias orgânicas [...], comprometendo também
a umidade. Além disso, com a derrubada das árvores os declives íngremes
das montanhas ficam totalmente expostos à influência dos fortes aguaceiros
tropicais que arrastam as melhores partes dos campos cultivados para
dentro do rio Santa Maria [...]. É um fato evidente que em Santa Leopoldina
6
o solo tornou-se infértil por causa dessa forma de cultivo.
No caso de Minas Gerais Tschudi ameniza parcialmente sua crítica:

Em Minas, no entanto, encontram-se menos terras totalmente esgotadas do


que nas demais províncias do império, pois, depois de algumas colheitas
(em geral após a primeira queima de uma capoeira), são formados pastos
artificiais. Por meio da circulação do gado, o chão é estercado e assim se
7
retarda o seu esgotamento.
É possível que nas Matas de Minas os fazendeiros, cultivando propriedades
pequenas e médias, junto com seus parceiros (meeiros), igualmente interessados no
sucesso das colheitas, tenham sido mais cuidadosos. Além disso, na região a cafeicultura
sempre conviveu com a criação de gado.
Todavia, nem fazendeiros nem posseiros puderam resistir à praga da ferrugem que
atacou os cafeeiros no ano de 1970. A única solução foi erradicar os cafezais e iniciar um
novo ciclo, com o plantio de espécies mais resistentes, e desta vez com os tratos culturais
introduzidos pela Revolução Verde: uso de defensivos químicos, corretivos de solo e
fertilizantes, plantação nos morros em curva de nível (ao invés de “morro abaixo”),
espaçamento adequado entre as plantas, colheita em pano (sem deixar cair os grãos na
terra) e outras inovações que fizeram aumentar a produtividade e a qualidade do café. A
partir de então, o processo de aperfeiçoamento da cafeicultura local resultou em cafés de
alta qualidade, hoje premiados em concursos municipais, estaduais, nacionais e
internacionais.
Os cafés de qualidade, que serão objeto de maior atenção nessa pesquisa, podem
ser divididos em duas categorias: especial e orgânico. O primeiro utiliza os agroquímicos e a
lavoura é mais mecanizada, particularmente na pós-colheita. Por ter essas práticas, que
demandam maior poder aquisitivo, ele é cultivado principalmente por médios e grandes
agricultores. O café orgânico, por sua vez, não faz uso dos agroquímicos, e apesar de sua

6 TSCHUDI, Johan Jakob Von. Viagem à Província do Espírito Santo, p. 60.


7HALFELD, H. G.F.; TSCHDI, J .J. von. A província brasileira de Minas Gerais, p. 111.

14
produção ter sido ultimamente reduzida por dificuldades de comercialização, ainda é
plantado, principalmente por agricultores familiares.
Em 1995 o governo de Minas Gerais, por meio da Portaria nº 165 de 27 de abril, do
Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), delimitou quatro regiões produtoras de café no
Estado (ver anexo 3), com a finalidade de instituir certificados de origem e qualidade. Nesse
ato a região aqui estudada foi reconhecida, primeiramente com o nome “Montanhas de
Minas”, trocado em 2001 para “Matas de Minas” (Portaria nº 437).
Essa é a história que será contada nas páginas seguintes. Além da introdução e da
conclusão, o trabalho está dividido em seis capítulos O capítulo segundo é dedicado à pré-
história do café, particularmente aos indígenas que primitivamente ocuparam aquela região,
e à chegada dos primeiros colonizadores brancos, que se deslocam da área mineradora em
decadência para os sertões do rio Doce (ou sertões do leste). O terceiro capítulo aborda a
chegada do café, que expandindo pelo vale do rio Paraíba do Sul vai, paulatinamente,
ocupando a região sul e central da Zona da Mata mineira (vales dos rios Paraibuna, Preto e
Pomba), até atingir as Matas de Minas, contando, inclusive, com a força de trabalho de
imigrantes suíços, alemães e italianos. Em seguida, no quarto capítulo são analisadas as
crises de superprodução do café e as intervenções governamentais feitas para sua defesa e
valorização, entre 1906 e 1990, com a finalidade de evitar a queda dos preços do então
maior produto de exportação brasileiro. O capítulo quinto trata da produção de café a partir
de 1970, quando a chegada da praga da ferrugem provoca uma verdadeira reinvenção da
cafeicultura, impulsionada pela execução de dois planos lançados pelo Instituto Brasileiro do
Café: o Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais e o Plano de Pesquisa e
Controle da Ferrugem do Cafeeiro, baseados no tripé pesquisa, assistência técnica e crédito
rural. O sexto capítulo versa sobre a organização dos produtores, destacando o Conselho
das Entidades do Café das Matas de Minas, e descreve os prêmios obtidos por cafeicultores
da região, notadamente a partir do ano 2000. O sétimo e último capítulo expõe e analisa
dados estatísticos da produção cafeeira da região entre 1990 e 2015, período no qual o café
das Matas de Minas passa a ser reconhecido internacionalmente por sua qualidade.

15
Mapa 1: Região Cafeeira das Matas de Minas Gerais

Fonte: Fundação João Pinheiro, 2017.

16
Mapa 2: Região Cafeeira das Matas de Minas - MG - Bacias Hidrográficas

Fonte: Fundação João Pinheiro, 2017

17
Mapa 3: Região Cafeeira das Matas de Minas - MG - Altimetria

Fonte: Fundação João Pinheiro, 2017

18
2 OS PRIMEIROS HABITANTES DAS MATAS DE MINAS

2.1 Os povos indígenas

O vale do rio Doce, em toda a sua extensão, bem como o vale do rio Paraíba do
Sul, na fronteira leste de Minas Gerais com os Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro,
permaneceram praticamente intocados pelo colonizador português até que a mineração do
ouro, que foi abundante na região central de Minas Gerais, entrou em declínio no final do
século XVIII. Durante quase três séculos a espécie humana nos sertões do leste, coberto
por florestas de difícil penetração, esteve representada unicamente pelos povos indígenas,
que das matas extraíam sua sobrevivência.
O isolamento do leste mineiro, assim como dos sertões do vale do rio São
Francisco, foi uma estratégia da política territorial da Coroa, que a todo custo queria evitar
que o ouro extraído das minas encontrasse outra saída que não fosse pelo Caminho Novo
(concluído em 1705 no ângulo sudoeste da Zona da Mata), por onde o metal precioso era
levado ao Rio de Janeiro e daí para a Europa.
Ordens régias (alvarás de 1710 e 1733) proibiram a navegação pelo rio Doce e a
abertura de caminhos por terra, quer do lado de Minas, quer do Espírito Santo. Não era
permitido abrir clareiras na mata nem construir casas ou estabelecer fazendas, e a Coroa
abstinha-se de conceder terras (sesmarias) na região. O objetivo da Metrópole era não só
evitar o contrabando do ouro, mas resguardar-se também de eventuais incursões de seus
concorrentes na conquista colonial, como os franceses e holandeses, que partindo do litoral
do Espírito Santo poderiam alcançar Ouro Preto e apossar-se das minas.
Assim, as florestas ao norte e ao sul do rio Doce permaneceram domínio exclusivo
dos Botocudos, Puris e Coroados, nações indígenas de origem remota, que para sobreviver
lutaram entre si e contra os invasores brancos. Até por volta de 1770, quando o ouro
começa a escassear na área central, os únicos povoados existentes na região se
desenvolveram no entorno de quartéis/presídios instalados para abrigar criminosos,
impulsionar o povoamento, defender a fronteira com o Espírito Santo e fazer guerra ou
aldear os índios. Os primeiros quartéis foram instalados em Abre Campo e em Cuieté (atual
distrito de Cuieté Velho no município de Conselheiro Pena). Em 1800, ano em que os
governadores de Minas e do Espírito Santo assinaram o Auto de Demarcação das fronteiras
entre as duas Capitanias, o elemento branco começa, lentamente, a penetrar aquelas
densas matas e a enfrentar as nuvens de mosquitos, a malária e a resistência indígena.

19
Com o Auto de Demarcação, confirmado pela Carta Régia de 4 de dezembro de 1816, a
navegação do rio Doce foi franqueada aos mineiros, sendo também iniciada a concessão de
sesmarias, particularmente no vale do rio Doce.
Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, os governadores da Capitania
de Minas Gerais buscaram alternativas para enfrentar a decadência da mineração do ouro,
entre elas o povoamento dos então chamados sertões do leste. Além dos presídios já
instalados, duas alternativas foram testadas: expedições de busca de novas jazidas de ouro
(algumas descobertas foram feitas, mas de escassa produção) e tentativas de navegação
fluvial do rio Doce com fins comerciais, que encontrou obstáculos físicos intransponíveis.
No intuito de encontrar soluções para o desenvolvimento da Capitania, os
governadores chegaram a encomendar estudos a intelectuais que ocupavam cargos
públicos civis e militares, nascidos ou residentes em Minas Gerais, entre eles José Joaquim
da Rocha, Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos, José João Teixeira Coelho, José Vieira
Couto e Antônio Pires da Silva Pontes. Com relação ao vale do rio Doce esses estudiosos
destacaram o potencial agrícola de suas terras e recomendaram conceder sesmarias,
moratórias de dívidas e isenções de impostos para aqueles que se interessassem no plantio
de culturas de exportação (como a cana de açúcar e o algodão), e na criação de gado. Para
enfrentar o botocudo “bárbaro”, “feroz”, “sedento de sangue” e “devorador de carne humana”
8
recomendava-se o uso de força militar ofensiva.
Essa última recomendação foi imediatamente assumida por D. João VI quando, sob
a ameaça de Napoleão Bonaparte, abandonou Portugal e refugiou-se no Brasil junto com
sua Corte. A partir de 1808, o Brasil passa a ser sede do Reino Unido de Portugal e
Algarves, e nessa condição adota uma nova política territorial, que abre para o povoamento
os sertões antes proibidos. Dois meses após ter aportado no país, o Príncipe Regente, por
meio da Carta Régia de 13 de maio de 1808, declara guerra aos índios botocudos e ordena
a ocupação do vale do rio Doce, com base na instalação das Divisões Militares do Rio Doce
(DMRD), coordenadas pela então criada Junta de Conquista e Civilização dos Índios e da
Navegação do Rio Doce. O território foi dividido em seis DMRD (uma sétima foi criada
posteriormente), sob a responsabilidade de “comandantes com plenos poderes militares,

8
A antropofagia dos índios Botocudos é tema controverso. Eschewege, na obra Jornal do Brasil (1811-1817)
[Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 2002] reproduz na página 81
informações de segunda mão que dão conta da existência desse hábito. Contudo, noutro trecho esse mesmo
autor se refere às “relações amistosas” que os Botocudos de Minas Novas tinham com os portugueses, supondo
que talvez fossem de outra tribo. (p.84). J. J. Von Tschudi, por sua vez, escreve que “os botocudos são canibais
não exatamente no sentido literal do termo, mas apenas por vingança ou pela fome insaciável”. Diz não acreditar
que eles matassem para comer, mas admite que “comam um inimigo abatido porque este lhes oferece uma
alimentação disponível e cômoda”. [Viagens através da América do Sul (1866). Belo Horizonte: Fundação João
Pinheiro, 1998, v. 2, p.261].

20
civis, judiciais e policiais”.9 A Carta Régia ordenava que os índios capturados em combate
fossem considerados prisioneiros de guerra, e postos a serviço dos comandantes por 10
anos, ou enquanto durasse sua “ferocidade”. O mesmo documento criava incentivos aos
comandantes, prometendo aumentar o soldo daquele que no decurso de um ano
demonstrasse ter aprisionado ou eliminado mais botocudos do que os outros. Para aqueles
que se despusessem a ocupar e cultivar as terras tomadas aos indígenas a Carta Régia
prometia isenção de impostos e liberdade de comércio por 10 anos, além da moratória de
dívidas dos colonos pelo período de 6 anos. Aos comandantes das Divisões cabia demarcar
os terrenos, proporcionais às “fábricas” (bens) dos interessados.
O geólogo, mineralogista e coronel do exército português Wilhelm Ludwig von
Eschewege, que viveu no Brasil entre 1810 e 1821, “levado pela curiosidade”, viajou em
1811 a um dos quartéis (ele não cita qual, provavelmente por razões de segurança), a fim
de conhecer a “constituição política e social” das tribos de botocudos. Como índios e
soldados estavam em plena guerra não foi possível uma “aproximação amistosa”, mas ele
pode extrair dos comandantes informações sobre os combates:

Em resumo, a tática usada pelos soldados das divisões para combater os


índios é a seguinte: primeiramente, procuram rastrear os selvagens,
utilizando para isso índios mansos de outras nações, ou mesmo botocudos
já amansados, que têm grande habilidade nisso. Seguem-lhes o rastro até
se aproximarem deles o suficiente. Durante a noite, cercam os índios e, ao
alvorecer, começam a atirar na direção deles. Atiram ininterruptamente até
que eles abandonam o lugar e fogem. Continuam atirando nos fugitivos,
prendendo os que não conseguem fugir. A maioria consegue fugir, porque
os soldados, portando armas precárias, quase não conseguem acertá-los.
10

Essa tática era conhecida como “matar a aldeia” e conforme outros relatos a
mortandade dos índios não foi pequena. Em 1858, o suíço J. J. von Tschudi, em visita a
Nova Filadélfia (atual Teófilo Otoni), no vale do rio Mucuri, destacou a supremacia das
armas de fogo dos portugueses e deu informações mais precisas:

[...] cercavam as aldeias durante a noite e caíam sobre elas nas primeiras
horas da madrugada [...]. Na maioria das vezes [os índios] eram
surpreendidos em meio ao sono profundo. Os soldados apoderavam-se
primeiro dos arcos e flechas, guardados em um canto, para então, menos
ameaçados, abaterem os índios indefesos. Apenas as crianças (os curucas)
eram poupadas. Elas se tornavam presas de guerra! Um curuca era
vendido, geralmente, por 100 mil réis. Em tempos mais recentes, o lucro
obtido com a venda de crianças capturadas foi a principal motivação para o
extermínio das aldeias. E isso acontece hoje no Brasil constitucional, contra
11
os nativos da terra!

9 ESPÍNDOLA, Haruf Salmen. Caminhos para o mar, 2013, p. 58.


10 ESCHWEGE, Jornal do Brasil (1811-1817), 2002, p. 83.
11 TSCHUDI. Viagens através da América do Sul, p. 246.

21
O comércio de curucas foi impulsionado pela própria Coroa, pelo que se depreende
de outra Carta Régia de D. João VI, dedicada à “civilização dos índios”, datada de 2 de
dezembro de 1808 (sete meses após a declaração de guerra aos Botocudos). Nessa Carta
o Príncipe Regente ordenava que a prática de aldear os índios só deveria ser adotada
quando houvesse uma grande população deles disposta a buscar a “real proteção”. Caso
contrário, os índios deveriam ser “distribuídos pelos fazendeiros e agricultores da Capitania”,
ficando os mesmos autorizados a “servir-se gratuitamente do trabalho de todos os índios
que receberem”, por um período de 12 anos, “e por 20, quanto aos que tiverem menos de
12 anos“ (grifo nosso). Para compensar os gastos com o sustento dos índios Sua Alteza
prometia indenizar os fazendeiros, como forma de “remuneração do seu trabalho e
12
vigilância”.
A estratégia da Coroa era econômica, mas também cultural. Desde o início da
colonização, os portugueses sabiam do potencial de resistência dos indígenas à escravidão,
além da facilidade de fuga que eles tinham por conhecer cada palmo das florestas. Subjugar
crianças e aculturá-las era mais prático.
Os aldeamentos indígenas da região em geral eram acoplados aos
quartéis/presídios. Alguns foram criados ainda antes de 1808, entre eles os de Cuieté,
Peçanha, Abre Campo, Arrepiados (atual Araponga) e São João Batista do Presídio (atual
Visconde do Rio Branco).
Sobre o quartel de São João Batista do Presídio há uma longa descrição feita por
Eschewege, que de Vila Rica (Ouro Preto) parte em viagem para lá em dezembro de 1814,
com a finalidade de conhecer as tribos já então subjugadas dos índios Puris e Coroados,
que habitavam as matas dos rios Pomba e Muriaé.
Essas tribos sofriam com os assédios dos Botocudos e por isso aceitaram
submeter-se ao aldeamento, estratégia utilizada desde o início da colonização, que envolvia
a demarcação de terras nas quais eram confinados os índios semicivilizados. Essa prática,
adotada por autoridades civis e religiosas (até 1891 vigorou no Brasil a união entre Estado e
Igreja), além de liberar terras fora das demarcações para serem exploradas, disponibilizava
13
aos colonos uma “força de trabalho baratíssima”. Em São João Batista Eschewege
registra que famílias inteiras de Coroados eram contratadas pelos comerciantes de poaia,
prometendo pagá-las quando retornassem da coleta. Os índios permaneciam meses
coletando a poaia nas matas, mas quando retornavam os comerciantes tinham por costume

12
Os textos citados das Ordens Régias de maio e dezembro de 1808 foram retirados de: ALVES, M. R. F.;
ALVES, J. D. Civilização e Barbárie: D. João VI e a conquista dos sertões do leste, 2008.
13
GORENDER, Jacob. O Escravismo Colonial, p.476.

22
14
“embriagar a todos e fugir com as ipecacuanhas.” . A poaia, ou ipecacuanha, é uma planta
cujas raízes e folhas têm múltiplas virtudes medicinais e por isso era muito valorizada na
Europa. Entre as aplicações da planta citam-se: provoca vômito, é antídoto contra veneno
de cobra, cura hidropisia, doenças reumáticas e venéreas, combate a amebíase.
Eschewege foi recebido em São João Batista do Presídio pelo francês Guido (Guy)
Thomas Marlière, militar que desertara das tropas de Napoleão. Chegou ao Brasil em 1808,
e após um período preso sob a suspeita de ser espião, alistou-se no exército português e,
em 1812, já era capitão de cavalaria em Vila Rica (Ouro Preto). Em 1813 foi nomeado
Diretor Geral dos Índios da Freguesia de São Manoel do Pomba, de São João Batista e
aldeias anexas, cargo que detinha quando recebeu Eschewege. Em 1824 foi promovido ao
posto de comandante geral das Divisões Militares do Rio Doce. Depois de reformado viveu
na sua fazenda Guidowald (hoje Guidoval) até falecer, em 1836.
Marlière passou para a história do Brasil como pacificador de índios e criador das
bases da colonização da Zona da Mata mineira. Sua estratégia de atração dos índios era
simples: dava-lhes presentes, em especial ferramentas – machados, foices, facas, facões e
enxadas – e panos de algodão. Para os indígenas esses presentes representavam uma
verdadeira mudança de Era. Logo que recebiam as ferramentas, dispensavam seus
utensílios de pedra. As mulheres, por sua vez, gostavam de se enfeitar com os panos de
algodão.
Eschewege publicou uma carta remetida por Marlière, na qual este relata uma de
suas visitas ao aldeamento dos Puris. Os índios o receberam com danças e manifestações
de alegria:

O belo sexo compareceu somente depois de ter feito a toalete [...]. Sua
toalete consiste de uma pintura do corpo todo com uma espécie de barro
vermelho [argila arenosa misturada com palhetas de mica], do qual lhe
envio uma amostra, e de colares feitos de dentes de macacos, enfiados
regularmente [...]. Enquanto virgens, enfaixam as pernas acima dos
tornozelos e abaixo dos joelhos de modo tão apertado que as pernas ficam
muito finas [a faixa é feita de um barbante muito comprido e uniformemente
fiado da ráfia de certas trepadeiras]. No dia do casamento tiram essas
faixas e colocam uma coroa sobre a cabeça, que não deve ser confundida
com o cocar, que também envio, e que é usado somente pelos caciques
durante as guerras [...]. A maior parte dos enfeites eu recebi da líder, que se
desfez, a meu pedido, prontamente de todos eles. Em troca dei-lhe três
côvados de pano de algodão branco, e ela o experimentou tanto que o pano
15
acabou ficando tão vermelho quanto a cor de sua pele.

14 ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig Von. Jornal do Brasil (1811-1817), p.112.


15 ESCHWEGE, Jornal do Brasil (1811-1817), p. 91. As frases entre colchetes reproduzem notas explicativas de
Eschewege.

23
Sobre os Coroados, Eschewege, interessado nos costumes e na vida política e
social dos índios, escreveu:

Vivendo em absoluta igualdade, como a maioria dos povos selvagens,


pode-se dizer que os coroados não têm praticamente forma alguma de
governo. Ninguém exerce domínio sobre o outro; todos são livres em seu
agir [...]. São raríssimas as brigas desencadeadas para decidir a posse de
algo, se pertence a um ou a outro, porque as diversas famílias que habitam
em um aldeamento moram muito distantes umas das outras, muitas vezes
horas, havendo pouco contato entre elas. As diferentes famílias, que
contam às vezes com 40 membros, obedecem geralmente ao mais velho.
Vivem em perfeita comunhão de bens, constroem suas cabanas em
mutirão, plantam roças e caçam juntos e desfrutam os resultados do seu
trabalho coletivamente. [...] Os mais jovens subordinam-se aos mais velhos
e mais valentes, que se distinguem pelo uso de bonitos penachos na
16
cabeça.

Levando-se em conta que os índios em geral foram cruelmente tratados pelos


colonizadores, incluindo o tráfico de curucas (crianças indígenas), a fama de Marlière se
justifica. Sua nomeação parece relacionada a um abrandamento da política indigenista após
a independência do Brasil (1822). No entanto, até mesmo ele cometia abusos, pelo que se
depreende do testemunho de Eschewege:

Desde que Marlière se tornou diretor geral, os coroados estão sob sua
autoridade: os que fazem algum mal ele os pune com palmadas ou coloca-
17
os no tronco.

Ambos os castigos eram impingidos também aos escravos negros. Para as


palmadas usava-se a palmatória; o tronco era um instrumento formado por duas tábuas
grossas, ambas cortadas ao longo em duas metades. Numa das tábuas eram abertos
orifício estreitos, um para enfiar o pescoço do punido e dois para os braços; na outra tábua
mais dois orifícios para as pernas. As duas partes de cada tábua eram então trancadas com
cadeados. O condenado ficava imobilizado, deitado de costas em lugar fechado, durante o
tempo que o carrasco julgasse necessário para expiar-lhe a culpa.
Teófilo Ottoni, responsável pelo empreendimento pioneiro da Companhia de
Comércio e Navegação do Mucuri, criticou a política indigenista do Império e defendeu outro
método. Em seu relatório ao presidente da Província de Minas Gerais (Francisco Diogo
Pereira de Vasconcelos), escrito em 1854 e reproduzido por Paulo Pinheiro Chagas, Ottoni
assim se manifesta:

16 ESCHWEGE, Jornal do Brasil (1811-1817), p. 102.


17ESCHWEGE, Jornal do Brasil (1811-1817), p.102.

24
O modo de aldear os índios, usado até aqui, consiste em obrigá-los a
trabalhar em comum, sob a administração de diretores, que são os
verdadeiros proprietários de tudo quanto produz o trabalho dos aldeados
[...]. Tenho procurado marchar no Mucuri por caminho diverso. Sendo os
laços de família poderosos entre os Nakenuks [uma das tribos de
botocudos], procurei do amor da família fazer desabrochar entre eles o
sentimento de propriedade, aconselhando-os a que se fixem ao solo e o
18
cultivem no próprio proveito.
Teófilo Ottoni colocou em prática suas ideias e, entre 1847 e 1861, celebrou a paz
com os Botocudos (denominação genérica atribuída a várias tribos), construiu uma estrada
e levantou uma cidade em plena selva (Nova Filadélfia, hoje Teófilo Otoni). Nas
negociações (ele também utilizou a doação de ferramentas) as terras foram repartidas com
19
as tribos e as que couberam aos índios tiveram “sua posse devidamente registrada”.
Embora sem violência e assegurando terras aos nativos, a política indigenista de T.
Otoni, assim como todas as outras aplicadas no Império, redundou no quase total
desaparecimento das tribos. Esse futuro foi previsto por Tschudi quando visitou Nova
Filadélfia e dedicou várias páginas aos Botocudos:

Pelas lutas constantes entre eles e com a população branca das


redondezas, irão desaparecer pouco a pouco, se não se transformarem em
caçadores nômades ou agricultores sedentários, modificando sua vida e
seus costumes pela influência da civilização [...]. Todas as nações
indígenas, do Jequitinhonha ao Paraíba do Sul, estão espremidas entre a
civilização e o oceano. O homem branco, com a sua cultura, os pressiona
para o centro, mas eles não podem se deslocar mais. [...] Restam-lhes dois
caminhos: ou se entregam voluntariamente à civilização que avança, ou
sucumbem lutando. De forma muito precisa, um dos caciques do Mucuri me
disse: “A mão branca vem até os Nakenuks e toma dos Nakenuks sua terra.
O que os Nakenuks podem fazer? Para os Nakenuks resta apenas o ar”. E
então, como que suplicando, levantou os braços em direção ao céu. 20

Na região das Matas de Minas, foi possível identificar a existência de dois


quartéis/presídios (Abre Campo e Arrepiados), um posto de patrulha acoplado a um
aldeamento indígena (Matipó), o aldeamento de Manhuaçu, próximo do Quartel de São João
do Príncipe, na fronteira com o Espírito Santo e o aldeamento de Manoelburgo.
Os primeiros quartéis e presídios eram destinados aos que cometiam crimes na
zona mineradora. Os governadores da Capitania consideravam ser o degredo de
condenados uma forma de apoiar a conquista do território, principalmente em locais onde a
existência de florestas e tribos indígenas desestimulava qualquer fuga.

18 CHAGAS, Paulo Pinheiro; Teófilo Ottoni: ministro do povo, 1978, p. 184.


19 CHAGAS, Paulo Pinheiro; Teófilo Ottoni: ministro do povo, 1978, p. 192. Por causa de intrigas políticas Teófilo
Ottoni deixa a Companhia do Mucuri em 1861, quando esta é encampada pelo governo imperial, que a deixa à
míngua. Com a saída de Ottoni, conflitos entre colonos e Botocudos recomeçam a ocorrer.
20TSCHUDI. Viagens através da América do Sul, p. 270-71. V.2.

25
José João Teixeira Coelho, na sua Instrução para o Governo da Capitania de Minas
Gerais (1780) fala sobre a utilidade dos vadios, salteadores e assassinos:

Os vadios são o ódio de todas as nações civilizadas e contra eles se tem


muitas vezes legislado, porém, as regras comuns relativas a este ponto não
podem ser aplicáveis ao território de Minas, porque estes vadios, que em
outra parte seriam prejudiciais, são ali úteis: eles, à exceção de um pequeno
número de brancos, são todos mulatos, cabras, mestiços e negros forros.
Por estes homens atrevidos é que são povoados os sítios remotos do
Cuieté, Abre Campo, Peçanha e outros; deles é que se compõem as
esquadras que defendem o presídio do mesmo Cuieté da irrupção do gentio
bárbaro e que penetram, como feras, os matos virgens, no seguimento do
mesmo gentio; e deles é, finalmente, que se compõem as esquadras que
muitas vezes se espalham pelos matos para destruir os quilombos dos
negros fugidos [...]. 21
O quartel/presídio de Abre Campo foi instalado em 1734 e a partir de 1808 serviu
de sede para o comando da 2ª Divisão Militar do Rio Doce (DMRD). O mesmo José João
Teixeira Coelho refere-se a esse presídio e ao povoado de Abre Campo:

A conservação do Presídio de Abre Campo é utilíssima à segurança desta


capitania porque, além de haverem nele minas donde se extrai ouro, serve
de embaraço ao gentio para penetrar aquele sertão e hostilizar as muitas
fazendas que se acham povoadas e cultivadas nas vizinhanças do rio
Casca, as quais, sendo abandonadas, será fácil ao mesmo gentio o vir
assaltar as mais fazendas e povoações do Turvo [provavelmente Santa Rita
do Turvo, atual Viçosa], Chopotó [atual Cipotânea] e Piranga, onde se
22
produzem os mantimentos que fazem abundante essa cidade.

O quartel/presídio de Arrepiados já existia antes de 1781, pelo que se deduz da


descrição feita pelo cartógrafo militar José Joaquim da Rocha da viagem que o governador
da Capitania de Minas Gerais, General D. Rodrigo José Menezes, fez até lá naquele ano, a
fim de confirmar informações que obtivera do padre Manuel Luís Branco sobre a existência
de ouro nos ribeirões de Santana, Arrepiados, São Lourenço e cabeceiras do Manhuaçu. O
informante também destacara a existência de terras “fertilíssimas” que permitiam
“abundância de produções”. O governador chegou ao Presídio dos Arrepiados no dia 3 de
agosto de 1781:

[...] e logo aí mandou proceder a exame do dito ribeirão e achou verdadeiras


as informações [...]. No dia seguinte determinou se subisse a alta serra dos
Arrepiados, a qual, por elevada, não admite caminho, mas, assim mesmo,
vence a diligência dos homens e o exemplo daquele Exmo. General, que a
pé chegou ao cume da mesma; de onde viu sertões tão dilatados quais a
vista pode alcançar, povoados de diversas nações de índios bravos e feras
que os ocupam e, voltando, buscou a silvestre choupana da sua habitação e
achou, no seguinte dia, cercada daquele povo, com 373 petições em que
impetravam concessão de terras e datas minerais que liberalizou aos

21
TEIXEIRA. Instrução para o governo da Capitania de Minas Gerais, 1994, p. 149-150.
22
TEIXEIRA. Instrução para o governo da Capitania de Minas Gerais, 1994, p. 188.

26
mesmos, conforme as suas fábricas [...]. Posta as coisas no seu necessário
23
equilíbrio, partiu o Exmo. General a demandar os sertões de Cuieté.

Hoje, Arrepiados se chama Araponga. O antigo topônimo provavelmente está ligado


ao frio intenso da serra do Brigadeiro. O ouro era pouco, mas o povoado desenvolveu-se em
torno da agropecuária.
Em 1824, revendo suas anotações da viagem a São João Batista do Presídio (atual
Visconde do Rio Branco), Eschewege acrescenta uma nota, registrando que “recentemente”
havia sido estabelecido um novo aldeamento (1819), reunindo cerca de mil índios Puris, que
recebera o nome de Manoelburgo, em homenagem ao então governador D. Manoel Portugal
e Castro. Manoelburgo hoje é Muriaé.
A Carta Régia que declarou guerra aos Botocudos e restabeleceu a servidão
indígena foi revogada em 1837. Dois anos depois, as Divisões Militares do Rio Doce foram
extintas, mas mantiveram-se os quartéis e as guardas de soldados, agora divididos em duas
companhias de Caçadores de Montanha.
Entre 1808 e 1839 as DMRD exerceram o controle militar do território,
possibilitando, nas palavras do historiador H. Espíndola, a expansão do negócio da poaia,
que “se tornou um dos principais fatores de devassamento dos sertões, abrindo caminho
24
para o estabelecimento de fazendas e posses”.
Em síntese: até a década de 1850, a coleta e a exportação da ipecacuanha, bem
como o aprisionamento e comércio de curucas foram os motores da economia regional, que
se desenvolveu sob a proteção manu militari. Nesses mercados o elemento indígena foi,
simultaneamente, escravo (nas fazendas), servo (nos aldeamentos) e por vezes
assalariado, embora tivesse pouca familiaridade com o dinheiro, sendo por isso
frequentemente enganado pelo elemento branco. A esse respeito Tschudi escreve:

Conhecem um pouco do valor relativo do dinheiro e o chamam de “pataca”,


palavra que no Brasil designa uma moeda antiga no valor de 320 réis.
Diferenciam entre a pataca papel (cédulas) e a pataca cobre (moedas).
Preferem uma quantidade menor que a metade dessa soma, em moedas, a
1000 réis em cédulas. Antigamente, trabalhavam simplesmente em troca de
alimentos. Porém, desde que descobriram que os comerciantes trocam
25
cobre por cachaça e fumo, querem também recebê-lo.
Junto com a progressiva diluição das identidades indígenas foi-se também a
floresta, em grande parte substituída pela agropecuária, destacando-se o café, não pelo

23ROCHA. Geografia Histórica da Capitania de Minas Gerais: descrição geográfica, topográfica, histórica e
política da Capitania de Minas Gerais, 1995, p 191-192.
24 ESPÍNDOLA. A província de Minas, 2013, p. 64.
25 TSCHUDI. Viagens através da América do Sul, 2006, p. 262.

27
tamanho da área plantada (predominantemente ocupada por pastagens), mas por seu valor
como produto de exportação.

2.2 A colonização das Matas de Minas até a chegada do café

Em Meeiros do Café; gente e ocupação da zona proibida do Caparaó, Vivaldo


Barbosa aponta uma característica singular do processo de povoamento da região leste de
Minas pelo colonizador português. Afirma que este território foi o último de todo o leste
brasileiro a ser ocupado e que, ao contrário do resto do país, o povoamento se deu no
sentido oeste-leste, a partir da zona mineradora, e não do litoral para o interior. O mesmo
autor atribui a instalação do povoado de São Lourenço (hoje Manhuaçu), em 1857, ao
comércio da ipecacuanha (poaia).
O lento e contínuo processo de povoamento da região das Matas Minas pode ser
acompanhado por meio da consulta aos mapas da Capitania e da Província de Minas
Gerais, elaborados entre 1778 e 1893. A pesquisadora Josarlete Magalhães Soares
esquadrinhou todos esses mapas na sua dissertação de mestrado, um trabalho de geografia
26
histórica que auxilia sobremaneira a compreensão desse processo.
O primeiro mapa é de José Joaquim da Rocha, de 1778. Nele o território aqui
denominado “Matas de Minas” aparece quase inteiramente coberto de florestas. Abre
Campo é o único assentamento humano assinalado. Na região contígua aparece, no
Caminho Novo, que partia de Vila Rica em direção ao Rio de Janeiro, o Registro de Matias
Barbosa, alfândega que cobrava impostos de passagem de mercadorias na fronteira entre
as duas Capitanias. Ao longo desse caminho já se observam fazendas que serviam para
pouso e abastecimento dos viajantes.
Dois mapas foram publicados em 1800 e 1804: a Planta Geral da Capitania de
Minas Gerais, de autor desconhecido, e a Carta Geográfica da Capitania de Minas Gerais,
de Caetano Luís de Miranda.
No mapa de 1800 pode-se observar a existência de um caminho que margeia o rio
Doce, ao sul, indo na direção de Ouro Preto e tendo como ponto de partida o presídio de
Cuieté (atual distrito de Conselheiro Pena), localizado na fronteira com o Espírito Santo. Há
fazendas esparsas assinaladas nesse trajeto. O mesmo caminho conecta-se com outro,
construído no território da Capitania do Espírito Santo após autorização dada em 1815 por

26
SOARES. Das Minas Gerais: um estudo sobre as origens do processo de formação da rede urbana da Zona
da Mata, 2009, p. 209.

28
D. João VI, a fim de ligar Viana (ES), onde seria instalada uma colônia de açorianos (1817),
até Vila Rica (Ouro Preto). A seção mineira, no entanto, foi construída pela 3ª DMRD,
também por ordem de D. João VI exarada em 04 de dezembro de 1816, que determinava
fosse promovida a comunicação de Minas Gerais com a Capitania do Espírito Santo por
“muitas e diferentes estradas”.
Vivaldo Barbosa detalha o trajeto dessa estrada: pela Serra do Caparaó
atravessava o rio Pardo e o rio José Pedro, entrava em Minas Gerais próximo ao Pico da
Bandeira, onde estava instalado o Quartel de São João do Príncipe, percorria a Serra dos
Correia, atravessava os rios Manhuaçu e Casca, indo em direção a Ponte Nova e dali para
27
Vila Rica
A julgar pelas observações de Tschudi o caminho não devia ser de fácil trânsito.
Em 1860, estando no Espírito Santo para avaliar as condições de vida de seus conterrâneos
nas colônias de imigrantes localizadas naquela Província, esse viajante anotou:

Por várias vezes abriram-se picadas pela floresta e trilhas pela serra
fazendo-se ligações que, mesmo sendo utilizadas experimentalmente,
acabaram sendo abandonadas, pois o desconforto e os perigos de tais
viagens não se comparavam ao proveito que elas possivelmente teriam
podido trazer. Agora, em época mais recente, o governo [do Espírito Santo]
retomou esses projetos e o futuro dirá se ele se sairá bem. O interior da
Província é em sua maior parte coberto por uma selva densa, bastante
montanhosa e habitado por grupos dispersos de índios selvagens. Por isso,
uma ligação terrestre duradoura e funcional entre as duas províncias só
pode ter perspectiva de sucesso, racionalmente falando, através da
colonização por uma população estrangeira ou nativa que gradualmente
28
avance para o interior, concomitante à construção de estradas.

Ainda no mapa de 1800 observa-se, entre o rio Doce e o rio Paraíba do Sul, um
grande vazio no qual está sinalizado, próximo ao vale do rio Casca, os “Sertões em que
vaga o bravo gentio Botocudo”, e perto do rio Manhuaçu o “Sertão povoado do bravo gentio
Puri”.
No mapa de 1804 volta a aparecer o povoado de Abre Campo e surge o de
Arrepiados (Araponga). Também é possível identificar, no vale do rio Piranga, novos
assentamentos humanos: S. Sebastião (Ponte Nova), Tapera (Porto Firme) e S. José (Paula
Cândido). Essas localidades estão indicadas na legenda do mapa como “capelas”, que
teriam sido edificadas por concessionários de sesmarias ocupadas pela agropecuária,
alternativa que se apresentou aos mineiros após a exaustão do ouro na região central.
Conforme J. Soares, as capelas eram erigidas a partir da doação, à igreja católica,
de uma porção de terras, por um senhor ou por vários vizinhos, em favor de um santo de

27 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 29-30.


28 TSCHUDI. Viagem à Província do Espírito Santo, 2004, p. 60.

29
sua devoção. A capela devia possuir uma renda mínima para sua manutenção, chamada de
“patrimônio”:

Não só a capela era erigida nessas terras; parte delas podia ser parcelada e
concedida a quem pretendesse construir uma casa ou venda no referido
patrimônio, mediante o pagamento de uma taxa anual, o foro. Em tese, esse
sistema garantia a manutenção do templo e das visitas dos padres para
ministrar os sacramentos católicos [...]. A constituição do patrimônio em
terras também era uma forma de garantir o povoamento nas proximidades
do templo, pois sua concessão parcelada possibilitava a formação e o
crescimento de arraiais [...]. Da repartição desses patrimônios surgiram
pequenos arraiais, alguns dos quais prosperaram e tornaram-se freguesias.
29
Mais tarde, muitos foram elevados à categoria de vilas.

Na capela de Santa Rita do Turvo (atual Viçosa) ocorreu um fato singular, conforme
anotou Eschwege, que por lá passou em 1814:

Santa Rita é uma capela pertencente ao padre Manoel Ignácio. [...] Ao lado
da capela fica a casa do capelão e outra construção comprida, destinada à
acomodação de pessoas que frequentam a igreja aos domingos e feriados.
O padre mantém aqui uma taberna, onde se pode obter vinho, cachaça e
alguns artigos comerciais por altos preços. Como o padre não permite que
outras pessoas se estabeleçam perto da capela, todos são obrigados a
30
abrigar-se nessa casa, devendo, assim, tirar bastante lucro disso.

Pelo visto, o patrimônio da capela não fora parcelado e concedido, como era
habitual. Dez anos depois, a situação mudara, como registrou outro viajante estrangeiro, o
Barão de Langsdorff:

Esta capela [de Santa Rita] [...] ficou muito tempo isolada, porque o
proprietário fundador não quis ceder suas terras. Em função disso, as
pessoas estabeleceram-se o mais perto possível, do outro lado de um
pequeno córrego, distante da capela cerca de 10 minutos, na encosta de
um morro bastante ingrato, que nem água potável oferecia. Mas, quando o
proprietário faleceu, a comunidade, com a intervenção do bispo, solicitou
aos herdeiros e recebeu o pequeno pedaço de terra onde fica a capela
como propriedade da protetora da igreja, Santa Rita. Agora estão
começando a assentar lá as casas do arraial. A localização é muito boa, de
forma que vai ser possível construir uma vila bonita e bem organizada, com
31
ruas largas e praças abertas.

29 SOARES. Das Minas Gerais, 2009, p. 84-85.


30ESCHEWEGE. Jornal do Brasil (1811-1817), 2002, p.64-65.
31SILVA. Os Diários de Langsdorff, 1997, p. 104.

30
As vilas tinham status superior ao das freguesias e capelas, e quando eram erigidas
adquiriam o direito de ter Câmara Municipal e Cadeia. As Câmaras Municipais das
dezesseis vilas criadas em Minas Gerais, no período colonial, tinham amplas atribuições, e
por isso a Coroa evitou autorizações para que elas fossem erigidas fora da área mineradora,
que era cuidadosamente controlada. Nesse período, a única vila criada na região das Matas
de Minas foi a de Piranga, onde foi descoberta uma pequena quantidade de ouro.
Em 1821 Eschewege desenhou um mapa que até hoje permanece inédito. Em
1833, foi publicado apenas um recorte dele, incluindo a porção central de Minas Gerais e
parte da Zona da Mata. Nesse mapa há três novidades:

A maior novidade é a inclusão das aldeias indígenas no rol dos elementos


representados. Pode ser percebida certa concentração de aldeias na área
do Presídio de São João Batista, que corresponde justamente ao local de
atuação inicial de Marlière. Uma consequência direta da política de
pacificação indígena foi a formação de diversos núcleos urbanos na Zona
da Mata. Além da importância desse processo para o crescimento dos
arraiais de São Manoel do Pomba e São João Batista do Presídio (atuais
sedes dos municípios de Rio Pomba e Visconde do Rio Branco), outras
localidades tiveram sua formação inicial diretamente vinculada a esse
contexto [...]. Esse é o caso da cidade de Muriaé, antigo arraial de São
Paulo do Manoelburgo, com núcleo inicial formado a partir de um
aldeamento de índios Puris, criado em 1819. Também se desenvolveram
em torno de aldeamentos de Puris os municípios de Miraí, Astolfo Dutra,
32
Guiricema, Ubá e Cataguases.

A segunda novidade é a sinalização das “Guardas e Patrulhas” que substituíram as


Divisões Militares do Rio Doce:

Esses assentamentos também eram responsáveis pela proteção dos


arraiais e fazendas da frente pioneira, evitando possíveis incursões
indígenas e permitindo, assim, a intensificação e continuidade do
povoamento. As nações de botocudos, considerados grupos mais hostis,
habitavam, nesse momento, o vale do rio Doce e as regiões de floresta na
porção nordeste de Minas Gerais, o que torna compreensível a
33
concentração das guardas na porção norte do território da Zona da Mata.

A terceira novidade evidencia-se quando o mapa de Eschewege é cotejado com o


Mapa do Leste do Brasil, feito pelos viajantes Spix e Martius no mesmo período. Dessa
forma, é possível identificar aldeamentos e postos de patrulha avançados, entre eles os
localizados nos atuais municípios de Matipó e Manhuaçu. Também é possível identificar a
abertura de novos caminhos. De Manhuaçu partia uma estrada que ia para oeste, passando
por Matipó, Abre Campo e Araponga, chegando a Santa Rita do Turvo (Viçosa). Parece ter
havido uma estratégia de estabelecer comunicações entre os aldeamentos e patrulhas e, ao

32 SOARES. Das Minas Gerais, 2009, p. 107.


33SOARES. Das Minas Gerais, 2009, p. 107.

31
mesmo tempo, fortalecer a polarização da capital, porque de Araponga saía outro caminho
em direção a Ponte Nova, Mariana e Ouro Preto; e a partir de Viçosa, indo na direção sul, o
caminho alcançava Visconde do Rio Branco, Ubá, Pomba, Argirita e Porto do Cunha (atual
Além Paraíba). Em Argirita (atual Rio Pardo), havia um aldeamento, e em Porto do Cunha
estava situada uma Patrulha.

32
3 A CHEGADA DO CAFÉ

Até 1970, a produção de café no Brasil teve duas características básicas: foi
itinerante, avançando de forma contínua sobre terras virgens e florestas, e cíclica,
alternando momentos de fartura e crise, ao sabor da variação das cotações internacionais e
das condições climáticas. As cotações, por sua vez, acompanharam a maior ou menor
quantidade de café colocada no mercado.
Referências à existência de café em Minas Gerais datam de 1788, nas chácaras
em torno da cidade de Mariana, conforme informação do cartógrafo José Joaquim da Rocha
em sua Memória Histórica da Capitania de Minas Gerais:

A cidade de Mariana está situada nas margens meridionais do ribeirão do


Carmo [...] os ares são temperados e produz muitas frutas, como são
34
bananas, ananases, mamões, laranjas, e quantidade de café.

A Memória Histórica é derivada de outro trabalho de José Joaquim da Rocha, a


Geografia Histórica da Capitania de Minas Gerais, de 1781, na qual a mesma frase citada
acima não inclui as palavras “e quantidade de café”, o que permite deduzir que o acréscimo
da informação está relacionado a fato ocorrido entre 1781 e 1788, ou seja, o café teria sido
observado nesse interregno, e em quantidade tal que mereceu sua inclusão no rol dos frutos
cultivados em Mariana. O tempo decorrido é suficiente para que o café plantado, que então
demorava pelo menos cinco anos para dar frutos, começasse a ser colhido.
Essa hipótese é confirmada pela obra Breve Descrição Geográfica, Física e Política
da Capitania de Minas Gerais, escrita em 1801 por Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos,
onde se lê o seguinte:

Fértil de todo o gênero de grãos a capitania abasta, de poucos tempos a


esta parte, do café, do qual faz lucrosa [sic] exportação para os portos de
35
beira-mar, e destes para os da Europa. [grifos nossos]

A informação é preciosa, porque situa no final do século XVIII o início da difusão da


cafeicultura mineira, bem como da exportação do produto, que então já propiciava lucros
aos fazendeiros.
A hipótese é reforçada pela Ordem Régia, datada de 2 de março de 1800, que
evidencia a reputação que o café de Minas já adquirira em Portugal. Nesse documento,
citado por Sócrates Alvim, o ministro do Reino, D. Rodrigo de Souza Coutinho, em nome do
Príncipe Regente (futuro D. João VI), ordena ao Governador da Capitania de Minas Gerais,
Bernardo José de Souza Lorena, que envie a Portugal, todos os anos, dez arrobas do

34
ROCHA. Memória Histórica da Capitania de Minas Gerais, 1897, p. 439.
35
VASCONCELOS. Breve Descrição Geográfica, Física e Política de Minas Gerais, 1994, p. 66.

33
melhor café produzido na Capitania. Com base nessa Ordem Régia Sócrates Alvim
pretendeu demonstrar que Minas Gerais já produzia café e da melhor qualidade,
36
“merecendo a preferência do Príncipe Regente da Metrópole”.
Na Ordem Régia, o detalhamento sobre os cuidados com a embalagem do
conteúdo, que deveria ser dividido em caixas de duas arrobas cada, e a recomendação para
que o comandante da embarcação se apresentasse ao palácio real imediatamente após a
chegada a Portugal, demonstram, de fato, um zelo especial pela mercadoria vinda da
Capitania de Minas Gerais.
A primeira estatística sobre a produção de café em Minas Gerais foi dada por
Eschewege. Quando em viagem pelo Caminho Novo, estando no Registro de Matias
Barbosa, onde se pagavam impostos para atravessar a fronteira de Minas com o Rio de
Janeiro, o mineralogista registrou que em 1808/1809 Minas Gerais exportara 9.707 arrobas
de café, sendo 9.256 oriundas dos arredores daquela mesma localidade. Essa estatística
certamente está subestimada, visto que se refere apenas à sede do Registro.
Em 1809, mesmo ano das anotações de Eschewege, o viajante inglês John Mawe
fala da existência de café em São João Del Rei:

São João Del Rei, capital do distrito do mesmo nome, é uma cidade
importante, com cinco mil habitantes no mínimo [...]. O terreno em torno é
muito fértil e produz excelentes frutos, tanto exóticos, como indígenas,
assim como milho e feijão, um pouco de trigo, etc. É a parte mais cultivada
da comarca, da qual é o celeiro; aí fabricam sofrível quantidade de queijo e
toucinho muito mal preparado. Estes dois artigos são enviados ao Rio de
Janeiro e constituem um grande ramo de comércio. De lá mandam muitas
aves, um pouco de cachaça, açúcar e café [...]. Cultiva-se um pouco de
algodão, que se fia à mão e com o qual se fabricam panos grosseiros para
37
os negros.

John Mawe também visitou a fazenda do Barro, de propriedade do Conde de


Linhares, situada a quarenta milhas de Vila Rica, na direção de Piranga. Nessa fazenda ele
relata:

A casa e o estabelecimento em geral valiam incomparavelmente mais, sob


todos os aspectos, do que tudo quanto tínhamos visto no gênero. Depois do
jantar fomos passear no jardim, onde os cafeeiros florescentes pareciam, ao
38
longe, cobertos de neve.

Outro viajante inglês, Alexander Caldcleugh, percorreu o Caminho Novo, do Rio de


Janeiro a Minas Gerais, em 1821. No território carioca, há apenas uma breve referência ao

36
ALVIM. Projeção Econômica e Social da Lavoura Cafeeira em Minas, 1929, p. 39.
37
MAWE, John. Viagens ao Interior do Brasil, 1978, p.182.
38 MAWE, John. Viagens ao Interior do Brasil, 1978, p.133.

34
café, ainda nas proximidades da capital, numa fazenda onde o proprietário “tinha preparado
uma grande parte das terras melhores para plantar café” o que poderia “lhe proporcionar
39
ganhos consideráveis”. No resto do caminho até Minas Gerais, esse viajante encontrou
apenas um pouco de cana de açúcar e muitas plantações de mandioca e milho para o
sustento de moradores, em geral pobres. No entanto, logo depois de passar a fronteira,
estando na altura de Juiz de Fora, Caldcleugh começa a encontrar “mais terras sendo
limpas com queimadas”, “mais plantações”, mais habitações e “mais civilidade”. Encontra
também muitas tropas de mulas “indo para a costa”, carregando “algodão, tecidos
40
grosseiros de algodão, toucinho, queijo, café e marmelada”. [grifo nosso]
Conforme as estatísticas disponíveis, a produção mineira somente se tornaria
expressiva por volta de 1830, acelerando a partir da década de 1840. Nos anos 1818-19, o
café representa 0,6% do valor das exportações de Minas Gerais; em 1844-45, dá um salto
41
para 21,0%; em 1865-66 esse valor chega a 44,9%, indo a 65,7% em 1892. Nesse último
biênio, a maior parte da produção era da Zona Mata. É o que se depreende da pesquisa do
geógrafo Orlando Valverde, que faz inferências a respeito da marcha do povoamento da
Zona da Mata, impulsionada pelo café:

Na década de 1830, a frente pioneira, partida das vizinhanças de Matias


Barbosa, andaria pelos arredores de Mar de Espanha. No decênio de 1850,
já fora ultrapassada a região de São João Nepomuceno; para leste,
Leopoldina se arvora em capital de uma região cafeeira recém-aberta, e
para oeste, a partir de Juiz de Fora e Matias Barbosa, a onda povoadora
atinge Rio Preto [...], cuja ocupação fora timidamente iniciada nos anos de
30. Para o norte, a penetração se processa rapidamente [...]. Pelo vale do
Carangola acima, o povoamento, que já deveria ter-se iniciado nos anos de
1870, alastrou-se com intensidade nos dois decênios seguintes,
prosseguindo para o norte pelo vale do Manhuaçu abaixo (bacia do rio
Doce), a tal ponto que, ao manifestar-se a primeira crise de superprodução
de café em 1905, a zona pioneira atingira os atuais municípios de
42
Manhuaçu e Abre Campo, nos limites norte-orientais da Zona da Mata.

Na área central da Zona da Mata, região dos atuais municípios de Ubá, Viçosa e
Senador Firmino, a paisagem rural foi dominada, durante as primeiras décadas do século
XIX, pelas plantações de milho, feijão, cana e algodão, mas a partir de 1840 é o café que
nela se difunde em ritmo acelerado.
Especificamente na das Matas de Minas, a primeira referência documental sobre a
chegada do café encontra-se no Tratado de Geografia Descritiva Especial da Província de

39 CALDCLEUGH. Viagens na América do Sul, 2000, p.97.


40 CALDCLEUGH. Viagens na América do Sul, 2000, p.113.
41 MARTINS; MARTINS. As exportações de Minas Gerais no século XIX, 1982, p. 4.
42
VALVERDE. Estudo Regional da Zona da Mata de Minas Gerais, 1958, p. 29.

35
Minas Gerais, de José Joaquim da Silva, redigido em 1877. Nele se lê que a cidade de São
Paulo do Muriaé possui “solo ubérrimo”, produzindo “tudo quanto nele se planta; porém sua
43
lavoura fortíssima é a do café e da cana”. A atual cidade de Muriaé foi elevada a distrito
em 1841, sendo emancipada de Ubá em 1855 (ver anexo 2). Nessa época Muriaé
englobava os atuais municípios de Carangola, Miradouro, Eugenópolis e Tombos. Ao que
tudo indica, a chegada do café ao vale do rio Muriaé se deu a partir do vale do rio Pomba,
onde já se destacavam na cafeicultura os atuais municípios de Leopoldina, Cataguases (ao
qual pertencia Miraí) e Ubá.
A estrutura fundiária e as relações de trabalho, bem como a composição das
classes sociais, variam entre as duas sub-regiões da Zona da Mata: os vales dos rios
Paraibuna e Preto (onde despontariam Juiz de Fora, Mar de Espanha e Rio Preto) e os
vales dos rios Pomba e Muriaé.
Entre os proprietários podem-se distinguir duas categorias. A primeira faz parte da
“nobreza do café”, tal como vicejou em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, onde a estrutura
agrária, no primeiro quartel do século XIX, é formada por grandes latifúndios baseados na
mão de obra escrava. Na verdade, praticamente todas as famílias que irão ocupar o setor
fluminense do vale do Paraíba são de origem mineira, que haviam se enriquecido com a
mineração do ouro e, quando este se esgota, vão aplicar sua renda na lavoura de café, em
propriedades rurais na Zona da Mata e no norte fluminense, nas localidades de Barra
Mansa, Piraí, Vassouras e Valença, onde o café produzido ficava mais próximo dos portos
exportadores do litoral carioca. Com a abertura e melhoramento de estradas tributárias do
Caminho Novo, que de acordo com Afonso Taunay foram construídas com recursos dessas
famílias, é que a exportação do café mineiro se expande, beneficiando-se também de rios
navegáveis que abrigam portos intermediários no interior do Rio de Janeiro.
Entre as famílias mineiras dessa primeira categoria destacam-se os Teixeira Leite,
como o Barão de Aiuruoca e o Barão de Vassouras. Afonso Taunay escreve sobre essa
família:

Tem os Teixeira Leite origem mineira, como quase todas as grandes


famílias fluminenses de lavradores de café, que o desbravamento de terras
do Paraíba trouxe para o território do Rio de Janeiro. Procedem de dois
portugueses, de hoje abraamica descendência, o capitão Francisco José
Teixeira e o sargento-mor José Leite Ribeiro [...]. Foram ambos mineradores
de ouro [...] “mineiros de fábrica avultada”. [...] O sargento-mor minerou até
os derradeiros dias [1799]. Faleceram os dois sócios abastados, sobretudo
o sargento-mor, que deixou largo cabedal. De ambos proveio grande prole,
de homens enérgicos, trabalhadores e ambiciosos que se empregaram no
comércio e na lavoura, já que a mineração nada mais rendia. Teve o

43
SILVA. Tratado de Geografia Descritiva Especial da Província de Minas Gerais, 1997, p.134.

36
sargento-mor dez filhos e três filhas de que há hoje enorme descendência,
num total de milhares de pessoas espalhadas pelo Rio de Janeiro, Minas e
S. Paulo e cujos principais vêm a ser: Leite Ribeiro, Ferreira Leite, Leite
Pinto, Vidal Leite Ribeiro, Sá Leite, Leite Guimarães, Almeida Magalhães,
Ribeiro do Valle, Leite de Salles, Costa Machado, Magalhães Pinto,
Monteiro de Barros, Gomes de Carvalho, Leite de Barros, Leite Alves, Leite
de Assis, Aquino Leite, etc. Dos filhos do sargento-mor, quem mais se
destacou foi Custódio Ferreira Leite [...]. Seus irmãos [...] foram todos os
primeiros lavradores de café na Província do Rio de Janeiro e na Mata
Mineira [...]. Desciam os mineiros aos bandos avultados para as terras do
vale do Paraíba, delas enxotando os últimos Puris. E os Leite se
afazendaram em Barra Mansa, Valença, Santa Teresa, Vassouras, assim
44
como na mata mineira.

Uma segunda categoria de proprietários teria vindo de áreas agropastoris que


abasteciam a zona mineradora e que, com a decadência da extração aurífera, passa a
comerciar seus gêneros alimentícios na direção do Rio de Janeiro. São João Del Rei era
então o entreposto comercial que concentrava a produção agropecuária de Minas Gerais
(incluindo a que vinha dos sertões do norte da Província) para o abastecimento da capital do
império de arroz, feijão, milho, leite, queijo, manteiga, açúcar, carne seca, gado em pé,
cavalos, carne suína e seus derivados (como o toucinho), tabaco e outros produtos
agropastoris. O açúcar e o tabaco chegavam ao mercado externo. Quando o café torna-se
um negócio promissor, esses fazendeiros/comerciantes adquirem terras mais ao sul e
constituem outro setor da aristocracia cafeeira, “uma espécie de nobreza sem crachás”,
45
como os Junqueira, de Leopoldina, e os Resende, de Cataguases”.
Juntando os fatos de que foram famílias mineiras que desenvolveram a cafeicultura
fluminense no vale do Paraíba e que o café de Minas Gerais era exportado desde 1800, é
possível levantar a hipótese de que a marcha do café não se deu exclusivamente na direção
do Rio de Janeiro para Minas, mas teria havido também um movimento contrário,
começando nas fazendas mineiras ao longo do Caminho Novo e se dirigindo para o vale do
Paraíba fluminense.
Sobre a expansão do café a partir dos arredores da cidade do Rio de Janeiro (Serra
da Tijuca) Afonso Taunay identifica dois rumos: na direção noroeste, com os núcleos de S.
João Marcos e Resende (situados no vale do Paraíba na fronteira com São Paulo e Minas
Gerais), e para o norte, na direção de Vassouras e Valença (também no mesmo vale e
coladas na fronteira com Minas Gerais); um pouco mais tarde, por volta de 1840, o café
chegaria à zona oriental, em Cantagalo. É possível que a cafeicultura tenha chegado a
Minas através de Resende e São João Marcos (particularmente a de Rio Preto), mas onde

44
TAUNAY, Afonso E. E. Uma irmandade de grandes cafezistas e civilizadores, 1934, p. 484-5.
45
VALVERDE. Estudo Regional da Zona da Mata de Minas Gerais, 1958, p. 30.

37
ela floresceu de fato foi em Vassouras e Valença, onde famílias mineiras enriquecidas com
a mineração do ouro, ou com o comércio de gêneros agropecuários para o abastecimento
da capital do império, adquiriram propriedades. Com o esgotamento das jazidas auríferas,
essas famílias teriam investido no café primeiro em Minas e depois no Rio. Provavelmente
os mineiros já tinham conhecimento dos lucros obtidos pela exportação de café através de
46
portos localizados no litoral carioca.
47
Um fato é inconteste: como afirma Daniel de Carvalho, com base na leitura dos
relatórios de gestão, os governadores mineiros quase sempre ignoraram a importância do
café na economia da Província e insistiram no estímulo à cultura do chá. Por causa disso é
provável que tenham menosprezado o acompanhamento estatístico da produção e
renunciado a arrecadar vultosos impostos. Ao que tudo indica, as famílias produtoras de
café, que investiram na abertura de caminhos na direção do Rio de Janeiro, tiveram livre
passagem pelas fronteiras da Província.
Entre os caminhos abertos pelos Teixeira Leite acham-se: a Estrada da Polícia, que
de Iguaçu (RJ) se dirigia a Minas Gerais (Custódio Ferreira Leite foi autorizado a abrir essa
estrada em 1816); a que ligava Sapucaia a Feijão Cru (atual Leopoldina) e a Estrada do
Couto, de Magé a Mar de Espanha, onde Custódio Teixeira Leite possuía uma fazenda
cafeeira. Em Iguaçu, Magé e Itaguaí situavam-se portos fluviais intermediários entre a Zona
da Mata e os portos marítimos localizados no litoral carioca. A família Teixeira Leite
participou também da construção de pontes para travessia do rio Paraíba (uma delas no
caminho entre Valença e Itaguaí), além de contribuir para a criação das vilas de Mar de
Espanha (1815), em Minas Gerais, e as de Barra Mansa (1832) e Vassouras (1833), no Rio
de Janeiro.
Afonso Taunay refere-se a variantes que do Caminho Novo buscavam Valença,
48
Iguaçu e Vassouras e escreve:

Na sesmaria de Vassouras, concedida em 1782, a Francisco Rodrigues


Alves e seu sócio, Luiz Homem de Azevedo, erguer-se-ia a capital do café
brasileiro nas primeiras décadas do século XIX [...], sobretudo a partir de
1816, com a chegada de Custódio Ferreira Leite (1782-1859), futuro Barão
de Aiuruoca. Foi um dos mais notáveis pioneiros da cultura cafeeira nas
Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais [...] trouxe das terras de
criação do seu planalto mineiro natal numerosíssimos parentes e amigos
que se afazendaram em diferentes pontos, como Vassouras, Barra Mansa,

46 Não é objetivo desse trabalho a comprovação dessa hipótese, visto que ultrapassaria o marco territorial
estabelecido pela pesquisa (Matas de Minas). No entanto, um levantamento das sesmarias concedidas entre
1770 e 1830, no Rio de Janeiro e Minas Gerais, poderia comprová-la ou refutá-la.
47 CARVALHO. Daniel de. O café em Minas Gerais: a cultura do café nasce e se desenvolve sem amparo oficial,
1934, p. 568.
48
TAUNAY. Pequena História do Café no Brasil, 1945, p. 67.

38
Valença, Sapucaia, Paraíba do Sul, Mar de Espanha, Leopoldina, etc. [...].
Para as terras fluminenses atraiu seis de seus irmãos, numerosos
sobrinhos, numerosíssimos primos, todos mineiros [...]. Entre os sobrinhos
estavam os filhos de seu cunhado, o Barão de Itambé, os irmãos Teixeira
Leite, José Eugênio e Francisco (barão de Vassouras), João Evangelista,
Antônio Carlos, Joaquim, Carlos e Custódio, que em meados do século XIX
eram verdadeiras potências nos meios cafezistas [sic] e tanto se
49
destacaram nos fastos primevos ferroviários.

Especificamente nas Matas de Minas, o povoamento impulsionado pela cafeicultura


pode ser visualizado no mapa concluído em 1855, coordenado pelo engenheiro Ferdinand
Halfeld e desenhado por Friedrich Wagner. Trata-se da Carta da Província Brasileira de
Minas Gerais. Nela podem ser observados, considerando a escala hierárquica – capela,
freguesia, vila e cidade -, os seguintes assentamentos humanos:

- CAPELAS: Santa Margarida, Araponga, Paula Cândido e São Francisco do Glória;


- FREGUESIAS: Abre Campo, Ervália e Viçosa;
- VILA: Muriaé.

No restante da Zona da Mata já há uma cidade (Juiz de Fora), quatro vilas (Mar de
Espanha, Rio Pomba, Leopoldina e Ubá), além de várias capelas e freguesias. No vale do
rio Piranga, permanece solitária a vila de Piranga.
A realidade em 1893 já é bem diferente, como pode ser visto no Mapa do Estado de
Minas Gerais, do engenheiro carioca João Chrockatt de Sá Pereira de Castro. O que antes
era chamado de “capela” é agora, depois da proclamação da República e da separação
entre Estado e Igreja, um “Povoado”:

- POVOADOS: Santana do Manhuaçu, Caparaó, Caiana, Faria Lemos, Vermelho Novo,


Matipó e Raul Soares;
- FREGUESIAS: Manhumirim, Caratinga, Simonésia, Santa Margarida, São Francisco do
Glória, Divino, Paula Cândido, Caputira, Miradouro, Ervália, Jequeri, Araponga, Rosário
da Limeira e Miraí;
- VILA: Abre Campo;
- CIDADES: Muriaé, Viçosa, Carangola e Manhuaçu.

49
TAUNAY. Pequena História do Café no Brasil, 1945, p.39-40.

39
Terminado o século XIX verifica-se que:

No geral, a configuração da rede de assentamentos humanos aponta para


um processo difuso de consolidação de diversos núcleos urbanos. Mais do
que uma expansão, tal rede sofre principalmente um adensamento durante
a segunda metade do século XIX. Ao final dos oitocentos, a grande maioria
das atuais cidades da Zona da Mata já tinha iniciado o desenvolvimento de
seus primitivos arraiais [...]. O processo de emancipação municipal manteve,
50
nesse momento, relação direta com a expansão cafeeira.

3.1. Estradas de ferro e de rodagem

A consolidação de uma rede urbana nas Matas de Minas está relacionada à


expansão da cafeicultura que, por sua vez, impulsionou a abertura de estradas de ferro, cuja
finalidade primordial era transportar o café até os portos do Rio de Janeiro, principalmente, e
secundariamente para o porto de Vitória, de onde o produto era exportado para o mercado
externo. O café da região Sul de Minas seria mais tarde transportado pelas estradas de ferro
que rasgaram o oeste paulista e que levavam o café até o porto de Santos.
Antes da estrada de ferro centralizar as exportações do Brasil no porto do Rio de
Janeiro e mais tarde em Santos, a produção dos estados do Rio e de Minas e a então
pequena produção paulista se dirigia aos portos marítimos de Parati, Angra dos Reis,
Mambucaba, Jurumim e Ariró (Mangaratiba), no Rio de Janeiro; e Ubatuba, São Sebastião e
Caraguatatuba, em São Paulo. Entre os portos fluviais intermediários destacavam-se o de
Itaguaí, no rio do mesmo nome, o de Iguaçu, também nesse rio, o porto de Estrela, sobre o
rio Inhomirim (na atual Magé) e o porto das Caixas (atual Itaboraí), nas margens do rio
Macapu. No rio Paraíba do Sul, encontravam-se os portos de Campos, São Fidelis, Porto
Velho e Porto Novo.
Na Zona da Mata, a expansão da lavoura cafeeira impulsionou de forma especial o
crescimento de Santo Antônio do Paraibuna. A passagem por esse povoado era rota
obrigatória para as mercadorias que chegavam ou saíam de Minas Gerais em direção ao
Rio de Janeiro. Seu desenvolvimento foi rápido e já em 1856 foi elevado à cidade, adotando
alguns anos depois o nome de Juiz de Fora, topônimo de uma antiga fazenda existente no
local.
A centralidade de Juiz de Fora foi acentuada com a abertura da estrada de
rodagem União e Indústria, inaugurada em 1861, ligando Juiz de Fora a Petrópolis (RJ).
Essa rodovia foi considerada uma das melhores estradas de rodagem até então construídas
e possuía ramais secundários que faziam a ligação com outras localidades da Zona da
Mata.

50
SOARES. Das Minas Gerais, 2009, p. 171.

40
Embora com mais comodidade e rapidez, nessa estrada o transporte do café até o
litoral continuou a ser feito por tropas de muares. Talvez tenha sido na expectativa da
abertura da União e Indústria “que a província de Minas importou, no decênio terminado em
51
1862, 150.000 bestas de carga”.
As estradas de ferro alteram profundamente esse quadro:

O primeiro grande empreendimento ferroviário em solo brasileiro, a Estrada


de Ferro D. Pedro II, teve por objetivo não só interligar o município do Rio
de Janeiro com as províncias de Minas Gerais e São Paulo, mas viabilizar
um escoamento mais eficiente da produção cafeeira do vale do Paraíba
fluminense. A construção da ferrovia foi autorizada pelo governo imperial
em 1855. No mesmo ano também foi constituída uma companhia, a D.
Pedro II, para condução das obras. Em 1865, era inaugurada a estação de
Barra do Piraí, em território fluminense, de onde partiriam duas linhas: uma
para Cachoeira, na província de São Paulo, outra para Porto Novo do
Cunha, em Minas Gerais. Em 1867, a D. Pedro II atingiu a localidade de
Entre Rios (atual cidade de Três Rios – RJ) e daí prosseguiu, descendo o
rio Paraíba do Sul. Em 1869, foi inaugurada a Estação de Chiador, no
município de Mar de Espanha, a primeira em território mineiro, e, em 1871,
estava em tráfego a linha até Porto Novo do Cunha [atual Além Paraíba].52

Conforme Taunay, os irmãos Teixeira Leite foram importantes incentivadores da


construção da Estrada de Ferro Dom Pedro II e para tanto lideraram o “Movimento de
Vassouras”, que defendia a criação de uma empresa ferroviária que ligasse o distrito
vassourense à cidade do Rio de Janeiro:

Depois de grandes delongas conseguiram que o governo imperial


patrocinasse a empresa, da qual surgiria a Estrada de Ferro Dom Pedro II
[...]. Com essa estrada cresceria de modo mais notável a produção mineira.
53

Em 1875, a estação de Juiz de Fora foi inaugurada:

Daí por diante, as tropas se deslocavam apenas entre as áreas de produção


e as estações terminais. O trem era meio de transporte barato, de grande
capacidade de carga e muito mais rápido. Portanto, ele estimulava uma
penetração maior das fazendas de café, fazendo avançar mais depressa a
54
frente pioneira.

Em função da exportação do café, logo foi levantada a necessidade de fazer-se um


prolongamento da Estrada de Ferro Pedro II, partindo da estação que seria inaugurada em
Porto Novo do Cunha em direção ao município de Leopoldina.

51 VALVERDE, p. 31, apud: TAUNAY. Pequena História do Café no Brasil, p. 166.


52 SOARES. Das Minas Gerais, 2009, p. 155.
53 TAUNAY. Pequena História do Café no Brasil, 1945, p.102.
54
VALVERDE. Estudo Regional da Zona da Mata de Minas Gerais, 1958, p. 31.

41
Em 1871, o governo mineiro foi autorizado a subvencionar a construção dessa
estrada e, no ano seguinte, foi organizada a Companhia da Estrada de Ferro Leopoldina,
capitalizada por fazendeiros do sudeste da Mata.
Para a região das Matas de Minas a Estrada de Ferro Leopoldina foi fundamental.
Vivaldo Barbosa, com base em Demerval Pimenta, resume o traçado dessa estrada de
ferro:

Em 1872, o engenheiro Antônio de Paula Melo Barreto obteve autorização


para organizar a Cia. Estrada de Ferro Leopoldina, com a finalidade de
construir a estrada. Em 1874, o Imperador Pedro II inaugura a primeira
estação. Em 1877, atinge Cataguazes e Leopoldina, formando o quilômetro
120 da estrada. [...]. Em 1871, [um ramal da Estrada de Ferro Pedro II]
chega a Porto Novo, ligando as duas estradas [...]. Em 1887, a estrada de
ferro chega a Carangola, através do ramal de Muriaé; em seguida, já está
ligada a Tombos e ao norte Fluminense, Itaperuna, Natividade, Porciúncula,
55
e daí a Campos, Porto Novo do Cunha e ao Rio.

A chegada da linha de trem a Carangola fez dessa cidade a mais importante das
Matas de Minas. Nela estabeleceu-se:

[...] um centro de comércio, essencialmente baseado no café. Para lá


convergia toda a produção da Serra do Caparaó e adjacências, e de lá
56
chegava tudo o que vinha do Rio de Janeiro por trem.

Com muito esforço e luta política conseguiu-se, depois de quase 30 anos, que a
Leopoldina, partindo de Carangola, chegasse a Manhuaçu, passando por Manhumirim
(emancipada de Manhuaçu em 1923) cidades que, à semelhança de Carangola, iriam se
transformar em grandes centros de comércio de café:

E o trem vem subindo a Serra da Ernestina, serra difícil [...]. Varada a serra,
entra o trem no altiplano que circunda a Serra do Caparaó. Passa por
Caiana, e chega a Espera Feliz, com entroncamento para um ramal em
direção ao Espírito Santo. Em seguida atinge Caparaó Novo [...] vai varando
cafezais [...]. Após Caparaó, chega o trem a Taquaruna, e começa a descer
a Serra da Vista Bela [...]. Em 1912, o trem foi descendo a Serra [...].
Chegou a Jequitibá, ao Alto Jequitibá. E chega, em 1914, a Manhumirim;
57
em 1915, trafega o primeiro trem da nova linha Manhuaçu-Rio de Janeiro.

Em 1916 a Estrada de Ferro Leopoldina chega a Raul Soares (estação de Matipó) e


dali foram necessários mais 15 anos para atingir seu ponto final, em Caratinga, município
que até 1931 ainda transportava sua produção de café em tropas de muares.
A relação entre a exportação do café e a implantação de ferrovias é óbvia:

Em 1884, quase 60% do total de 1.006 km da rede ferroviária da província


estava localizada na Mata, que correspondia a cerca de 5% do território

55
BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 63; 117-19.
56
BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 118.
57 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 120.

42
provincial. Quando se observa a evolução da malha férrea na região,
percebe-se claramente sua forte vinculação ao mercado carioca. As linhas
se desenvolveram a partir do território fluminense e da Estrada de Ferro D.
Pedro II, que tinha como ponto terminal a cidade do Rio de Janeiro. Mesmo
em municípios servidos por linhas em direção ao porto de Campos –
Carangola e Muriaé, por exemplo – a ligação com o porto carioca
permanecia. A implantação da malha ferroviária também privilegiou os
municípios que se inseriam na produção agroexportadora de café. A
inexistência de ramais integrando Piranga e Lima Duarte confirma tal
inferência, uma vez que esses municípios nunca estiveram entre os
principais produtores. Por outro lado, Mar de Espanha e Manhuaçu, centros
cafeeiros por excelência – este mais recente aquele mais antigo –, ainda
receberiam, no alvorecer do século XX, ramais que permitiriam a integração
58
de seus núcleos urbanos à rede de viação férrea então implantada.

As estradas de ferro, que substituíram a cangalha pelo vagão, provocaram


profundas mudanças nas Matas de Minas. A influência da velocidade das ferrovias pode ser
medida por essa passagem de Vivaldo Barbosa:

Nas últimas décadas do século XIX, os irmãos Sanglart, Leon e Eugênio,


levavam seu café em tropa até o Porto das Caixas, nos fundos da baía da
Guanabara, ao longo de semanas e meses. Quando o trem só chegava até
Cantagalo, a tropa vinha até ali. Quando alcançou Carangola, em 1887,
toda a Serra do Caparaó passou a transportar para lá o seu café. Carangola
permaneceu, durante anos, movimentado centro de convergência de tropas
[...]. Depois que o trem chegou a Manhumirim, a partir de 1914, as
59
distâncias se tornaram menores, e as tropas diminuíram de tamanho.

Em 1926, das 296 estações da Estrada de Ferro Leopoldina, com seu emaranhado
de linhas e ramais, 224 exportavam café. Essa estrada foi a que prestou melhores serviços
ao café das Matas de Minas. Há dados referentes à quantidade de sacas da safra
1926/1927 transportadas pelas estações situadas em municípios das Matas de Minas
(TABELA 1).

Tabela 1: Quantidade de sacas transportadas – Estrada de Ferro Leopoldina – safra 1926-


1927
ESTAÇÕES DA E. F. LEOPOLDINA SACAS
Miraí 105.833
Manhuaçu 99.666
Carangola 98.383
Manhumirim 90.916
Raul Soares 58.850
Fonte: Dados básicos: DEPARTAMENTO NACIONAL DO CAFÉ, 1934.
Elaboração própria

58 SOARES. Das Minas Gerais, 2009, p. 161.


59 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 166-68.

43
Durante os anos em que o transporte por tropas predominou na região, muitas
fazendas estrategicamente situadas serviram como pouso e rancho de tropeiros, caso da
fazenda de Arthur Sanglart, em Jacutinga, que organizava o rancho e cobrava pela estadia e
pela passagem. Nos pousos aglomerava-se gente:

Alguns iam se fixando para fornecer o necessário às tropas, receber e


distribuir mercadorias na região, formando povoados. José Alípio Goulart dá
a seguinte evolução: com o rancho, pode-se ter o povoado; com a venda, a
60
povoação, com a estalagem, a vila; com o hotel a cidade.

3.2 Escravos, imigrantes estrangeiros e meeiros.

Em 1863, Henrique Berger escreveu em suas Noções Geográficas e


Administrativas da Província de Minas Gerais que a maior parte das terras de Minas, apesar
de incultas, já tinham donos, sendo diminuta a quantidade de terras devolutas, que se
limitavam “apenas às matas virgens e sertões dos rios Doce e Mucuri, e algumas nas
comarcas de Jequitinhonha, Indaiá e Paraná”.61
Todas as evidências indicam que a ocupação das Matas de Minas, particularmente
no vale do rio Doce, iniciou-se na segunda metade do século XIX, por volta de 1860-70,
através da abertura de fazendas nas terras virgens da floresta, até então consideradas
devolutas, ou seja, de propriedade do Estado.
Esse período é influenciado por quatro acontecimentos fundamentais na história da
agricultura brasileira, particularmente da cafeicultura: a lei de terras, de 185062; a gradual
abolição da escravatura; o início da decadência da produção cafeeira do vale do rio Paraíba
fluminense e, parcialmente, também da cafeicultura mineira na fronteira entre os dois
Estados; e a entrada de imigrantes estrangeiros, que vieram substituir a mão de obra do
escravo negro na cultura do café.
A Lei de 1850, que dispõe sobre as terras devolutas do Império, em geral é tratada
na historiografia brasileira como responsável pela manutenção do latifúndio na estrutura
agrária do país. De fato, essa lei revalida as sesmarias que foram doadas pela Coroa
portuguesa durante o processo de colonização, muitas de grandes proporções,
particularmente nas regiões norte e nordeste do Brasil. No entanto, essa mesma norma
possibilitou a legalização de posses “mansas e pacíficas” de terras exploradas por primeiro
e segundo ocupante, que se achavam cultivadas ou com princípio de cultura, e onde

60 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 172.


61 GERBER. Noções Geográficas e Administrativas da Província de Minas, 2013, p. 101.
62 BRASIL. Lei nº 601, 18 de setembro de 1850.

44
estivesse situada a “moradia habitual do respectivo posseiro” (artigo 5º). O artigo 7º da lei
previa que o governo estabeleceria prazos dentro dos quais as posses e sesmarias
deveriam ser medidas, podendo prorrogá-los quando julgasse conveniente. O artigo 11
obrigava os posseiros a tirar os títulos de propriedade das terras que lhes ficassem
pertencendo.
A Lei de 1850, que também cria a Repartição Geral de Terras Públicas, só veio a
63
vigorar de fato depois de quatro anos, por meio do decreto nº 1.318 . No Rio de janeiro os
prazos para registros das terras começaram a contar a partir da data fixada pelo Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios do Império, e nas Províncias por ato dos seus
respectivos presidentes. Os adiamentos foram constantes.
A hipótese mais provável é que durante os prazos em que foi possível legitimar as
posses, houve um avanço sobre as terras virgens que ainda abundavam na região leste da
Província de Minas Gerais, assim como no oeste de São Paulo, que seriam as duas novas
áreas de expansão da cultura cafeeira a partir de 1850.
Vivaldo Barbosa aventa a hipótese de que algumas posses teriam sido registradas
ainda antes da vigência da Lei de 1850, mas reconhece que foi a partir dessa época que as
terras da Serra do Caparaó e adjacências foram efetivamente ocupadas:

As pessoas vinham, abriam uma área, iniciavam uma plantação ou


soltavam umas cabeças de gado, construíam uma casinha e corriam para
Ponte Nova ou para Mariana, sedes anteriores da Comarca dessa região, a
fim de registrar a posse [...]. Esse método de ocupação pela posse e pela
aquisição de posse, fez com que a ocupação se realizasse em áreas não
tão grandes como as outorgadas pelas sesmarias. Aqui a propriedade se
deu entre média e pequena. Não se verificou o latifúndio, decorrente da
64
sesmaria.

A corrida em direção às terras virgens tem a ver com o processo de decadência da


cultura cafeeira no vale do rio Paraíba, particularmente na Província do Rio de Janeiro.
Baseada na mão de obra escrava, as propriedades rurais dessa região viram o preço dos
escravos aumentarem constantemente a partir de 1831, data da primeira lei de controle do
65
tráfico negreiro . A dependência do trabalho escravo para a sobrevivência das grandes
fazendas senhoriais que se instalaram na região de Vassouras e Valença e depois mais ao
norte em torno de Cantagalo ficou evidente em 1888, quando a abolição da escravidão foi
definitivamente promulgada. O historiador Afonso Taunay, que dedicou grande parte de sua
obra à história do café, registrou:

63 Decreto Imperial nº 1.318 de 30 de janeiro de 1854.


64 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 56-57.
65 Lei Feijó, de 7 de novembro de 1831(s/n).

45
A colheita ficara sobremodo prejudicada pelo abandono das lavouras pelos
ex-escravos. Numerosos agricultores haviam ficado de vez arruinados. [...]
A lavoura fluminense, sobretudo, sofrera terrível golpe, cujas consequências
seriam irreparáveis na maioria dos casos individuais, daí provindo uma
66
transformação profunda no cadastro dos agricultores fluminenses.

Alguns anos depois, no primeiro quinquênio do século XX, quando ocorre uma
enorme crise de superprodução de café, o mesmo autor pinta um quadro ainda mais
dramático:

A desorganização do trabalho, consequência da lei de 13 de maio, o


depauperamento das lavouras nas terras montanhosas do Estado do Rio de
janeiro e a crise dos preços, tornaram a situação da cafeicultura angustiosa.
Apanhou a crise, como sempre, a lavoura endividada: em breve, as
plantações do Estado, que já vinham sofrendo as consequências da
supressão do braço escravo, apresentavam o mais lúgubre aspecto – o de
cemitério, semeado de esqueletos de fazendas, cujas casas arruinadas
67
davam a impressão de montes de ossadas [...].

Taunay escreve que em Minas Gerais as consequências da abolição foram menos


graves. Por volta de 1860, a cafeicultura mineira avançara do vale do rio Paraíba, na
fronteira com o Rio Janeiro, para os vales afluentes dos rios Paraibuna, Pomba, Muriaé e
Carangola, chegando aos municípios de Juiz de Fora, Leopoldina, São João Nepomuceno,
Visconde do Rio Branco, Cataguases, Ubá, Miraí, Muriaé e Carangola. Também chegara
nos afluentes do rio Piranga, notadamente em Viçosa, destacando-se o distrito de São
68
Sebastião da Pedra do Anta.
As fazendas de café mineiras (da Zona da Mata e do Sul de Minas) não foram
arruinadas como as fluminenses porque nunca foram monocultoras, dedicando-se também a
outros produtos de exportação, como o açúcar e o fumo, além da criação de gado vacum e
suíno, que lhes dava um papel importante no abastecimento de gêneros alimentícios (carne
de boi, toucinho, leite e queijo) preponderantemente para o mercado do Rio de Janeiro, mas
também para São Paulo. Além disso, as fazendas eram praticamente autossuficientes em
gêneros de subsistência (que geravam um pequeno excedente para comercialização), entre
eles feijão, milho, arroz, batata, mandioca e aves domésticas. Ressalte-se, ainda, que o
reaproveitamento das áreas cultivadas para pasto e circulação do gado estercava os solos e
retardava seu esgotamento. Eventualmente, quando o café entrava em uma de suas crises
cíclicas, os fazendeiros/comerciantes mineiros tinham a alternativa de investir na produção
agropastoril voltada para o mercado interno.

66 TAUNAY. Pequena História do Café no Brasil (1727-1937), 1945, p. 141.


67 TAUNAY. Pequena história do café no Brasil, 1945, p. 317-18.
68 PRATES. A lavoura e a indústria da Zona da Mata, 1906, p. 65-70.

46
O fato é que, ao contrário da decadente cafeicultura fluminense, em Minas Gerais
ocorre uma expansão. E ela se dá não apenas no Sul de Minas, como resultado da
expansão da cafeicultura paulista, mas também nas terras ainda virgens dos vales dos rios
José Pedro, Manhuaçu e Caratinga, nas Matas de Minas.
Baseado em dados de Wilson Cano, Anderson Pires mostra que a produção em
Minas, entre os períodos de 1876-1880 e 1921-1930 cresceu aproximadamente 349% e já
69
em 1890 o Estado era o segundo maior produtor, superado apenas por São Paulo.
Uma questão controversa é se as médias e pequenas propriedades rurais da região
aqui denominada Matas de Minas prescindiram da mão de obra escrava. Vivaldo Barbosa
registra:

Somente em três situações conseguimos relatos da presença de escravos


na região. Os Miranda, que vieram lá das nascentes do rio Doce para as
margens esquerdas do rio José Preto, teriam trazido escravos em sua
companhia. Na fazenda Velha, também às margens do Zé Preto, mas do
outro lado, lá em Santana/Pequiá, há referências a uma enchente que teria
invadido o dormitório dos escravos. E os quatro escravos que vieram com
70
os irmãos Sanglart lá de São José, na área de Friburgo.

O livro de Vivaldo Barbosa abrange apenas uma parte dos municípios das Matas de
Minas, localizados em torno da Serra do Caparaó (atuais Alto Jequitibá, Alto Caparaó,
Caparaó, Manhumirim, Manhuaçu e Espera Feliz) e por isso uma investigação mais
pormenorizada seria necessária para verificar a existência da escravidão negra na região
como um todo.
Um fato é incontestável. Quando a caminho de São João Batista (Visconde do Rio
Branco) Eschewege hospedou-se numa fazenda em Santa Rita do Turvo (Viçosa). Era o
Natal de 1814, e durante toda a noite os escravos negros dançaram e cantaram ao som de
tambores e chocalhos. Esse fato permite inferir que em municípios localizados na bacia do
rio Piranga, entre eles Viçosa, a agricultura, ainda antes da chegada do café, valeu-se do
trabalho escravo.
O que chama a atenção nas observações de Vivaldo Barbosa é a vinculação entre
escravidão e imigração, já que os citados irmãos Sanglart (Leon e Eugênio), nome de
origem suíça, foram os primeiros que abriram fazenda de café na subida do maciço do
Caparaó, chegando lá em 1867, vindos de São José do Ribeirão e do Amparo, próximos de
Cantagalo (RJ), onde já eram lavradores de café. Outras famílias suíças chegariam depois,
entre elas os Rime e os Frossard, sendo que esses últimos se instalaram primeiramente em
Divino, então distrito de Carangola.

69 PIRES. Agricultura de exportação e diversificação econômica, 2013, p. 334.


70 BARBOSA, Meeiros de café, 2009, p. 461.

47
Em 1868, Guilherme Eller, descendente de alemães, levando consigo mudas de
café de Java (de alta qualidade) instala sua fazenda em Jequitibá. Por volta de 1873
chegam os Heringer, também de origem alemã. Atraídos pelo sucesso obtido pelos
pioneiros aos poucos chegam os Ker, Boier, Emerick, Werner, Hubner e Horst, entre outros.
Todos eram descendentes de imigrantes que viveram a experiência de instalação
da colônia agrícola de Nova Friburgo (RJ), contratada pela Coroa Portuguesa. Vivaldo
Barbosa dedica especial atenção a esses imigrantes suíços e alemães que chegaram à
colônia de Nova Friburgo em 1819 e 1824, respectivamente, e que com o passar dos anos
tomaram o rumo de Minas Gerais:

Transferiram-se para Bom Jardim, São José, Amparo e Cantagalo, e


também para Sana, nas nascentes do rio Macaé. A terceira morada, duas
gerações depois, foi a Serra do Caparaó, em Alto Jequitibá e Manhumirim;
71
alguns se dirigiram, pouco antes, para Carangola e Divino.

Desde 1808 se falava na necessidade de buscar mão de obra europeia para o


Brasil. Sobre a fundação de Nova Friburgo informa a historiadora Gisele Sanglart:

A história da colonização suíça no Brasil, mais especificamente da fundação


de Nova Friburgo, surgiu do que os jornais suíços chamavam de uma
“atitude generosa” de um compatriota que havia se estabelecido no Rio de
Janeiro (Journal Du Jura, 3.10.1818). Sébastien-Nicolas Gachet propusera
a D. João VI formar, não muito longe da capital, uma colônia de suíços que
ajudaria a socorrer os “pobres” habitantes do cantão de Fribourg, que
haviam atravessado um rigoroso inverno, seguido de acentuada carestia
alimentar. [...] A congruência da proposta de Gachet com os interesses da
Coroa se fez sentir no contrato de imigração firmado entre as partes em 11
de maio de 1818, estipulando a vinda de cem famílias católicas e de língua
72
francesa.
Além dos rigores do clima, também estimularam a imigração as dificuldades
encontradas pela economia suíça diante das medidas protecionistas tomadas pela França,
após a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte. O estabelecimento de pesadas tarifas
alfandegárias prejudicou a indústria dos cantões suíços (incluindo a indústria de relógios,
cuja produção era em grande parte exportada para a França), gerando grande desemprego.
A instalação da Colônia de Nova Friburgo, pautada na pequena propriedade,
objetivava produzir gêneros alimentícios para o consumo da cidade do Rio de Janeiro. Por
isso a escolha do local nas cercanias da capital “em uma região não destinada à
73
agroindústria cafeeira”. Previu-se a vinda de 100 famílias católicas que, ao chegar,

71 BARBOSA, Meeiros de café, 2009, p.460.


72 SANGLART. De Nova Friburgo a Fribourg através das Letras: a colonização suíça vista pelos próprios
imigrantes, 2003.
73 SANGLART. De Nova Friburgo a Fribourg através das Letras: a colonização suíça vista pelos próprios
imigrantes, 2003, p. 3.

48
deveriam assumir a cidadania portuguesa e jurar fidelidade a D. João VI. Além do Cantão de
Fribourg, vieram imigrantes também do Cantão de Berna, mais precisamente da região de
Jura, que pertencera à França, mas que, com a queda Napoleão e o Tratado de Viena
(1815), passara a fazer parte da Suíça. Seus habitantes, no entanto, eram franceses:

De lá vieram quinhentos imigrantes. Dentre eles o agricultor Conrad


Frossard, de Montvoie; Mathieu Sanglard, oleiro de Cornol e Henri Boechat.
Enquanto Henri Boechat embarcava diversos utensílios agrícolas e
declarava boa quantidade de dinheiro, Mathieu Sanglard, que vendera todos
os seus bens e saldara suas dívidas, pouco lhe sobrando para a viagem,
74
era dado como indigente na cidade de Cornol.

De fato, o contrato previa a vinda de cerca de 500 pessoas (100 famílias), mas em
duas levas (1819 e 1820) chegaram à Nova Friburgo 2.006 suíços, após enormes
dificuldades vividas antes e durante as viagens, que ceifaram a vida de pelo menos 300
pessoas. As cem casas construídas pelo governo imperial tiveram de abrigar 16 pessoas
cada uma. A primeira colheita fracassou e em pouco tempo o governo acataria o pedido dos
imigrantes para sair da área demarcada e buscar terras mais férteis na direção de
Cantagalo e Macaé. A maior parte dos colonos abandonou suas glebas para trabalhar por
conta própria e a colônia foi extinta em 1831.
Uma parte dos imigrantes suíços era gente de posse, sendo que alguns vieram
para o Brasil por conta própria, como Pierre Gendre, que numa carta publicada no jornal de
Jura (12/8/1820) demonstrou seu espanto pelo fato de seus conterrâneos no Brasil terem
75
adotado facilmente “hábitos escravagistas”. Esse cidadão refere-se a quatro outros suíços
(do Cantão de Berna) que assim como ele viajaram por conta própria e possuíam meios
suficientes para iniciar uma empresa agrícola. Na época, o caminho natural era o café, que
já havia se tornado um bom negócio.
Martin Nicoulin cita frase de um colono de nome Stöcklin:

Nós suíços, que viemos em 1820, fomos postos em terras que só dão
batatas, milho e legumes: por isso os colonos que não tiveram coragem ou
76
meios de mudar para terras de café não progrediram nada.

Como escreve Gisele Sanglart “o desejo de uma vida melhor continuava


impulsionando esses homens rumo à riqueza, sobretudo em direção à cafeicultura”. A
mesma autora, na seção reservada às notas, registra que “se verificarmos os inventários da

74 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 387.


75 SANGLART. De Nova Friburgo a Fribourg através das letras, 2003, p. 12.
76 NICOULIN. A gênese de Nova Friburgo: emigração e colonização Suíça no Brasil 1817-1827, 1996.

49
região até por volta de 1870, iremos observar entre os imigrantes e seus descendentes a
77
presença de escravos e terras entre os bens a serem divididos”.
Os colonos alemães chegaram em 1824 em decorrência de negociações iniciadas
pelo governo brasileiro, que em 1822 enviara missão à Áustria, Prússia e Bavária, com o
objetivo de atrair imigrantes alemães. José Bonifácio, idealizador da missão, “queria
organizar uma estrutura militar no Brasil (...) com organização semelhante à dos Cossacos
78
do Don e do Ural, e da Ucrânia, a qual havia estudado em sua estada na Europa”. O
recrutamento deveria ser feito em duas classes de pessoas: atiradores, que teriam de
prestar serviço militar durante seis anos no Brasil; e colonos, aos quais seriam concedidas
terras onde poderiam se estabelecer como agricultores, mas teriam de prestar serviços
militares em caso de guerra.
Em maio de 1824, 342 pessoas (200 famílias) de origem alemã desembarcaram na
praia Grande, em Niterói e lá permaneceram três meses até que finalmente se decidiu
instalá-los em Nova Friburgo, onde foram abrigados em 30 casas de um vilarejo próximo ao
79
dos suíços, que ficou conhecido como Alemanha; mais tarde, uma leva se dirigiu para o
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Conforme Vivaldo Barbosa:

A cada colono deu-se uma área de 62 braças [...], excluídas as já


proclamadas pelos suíços como inservíveis para o cultivo. Os alemães
obtêm os mesmos subsídios dados aos suíços. As terras ali não eram boas,
nem suficientes. Foram-lhes oferecidas terras devolutas [...] situadas ainda
nas montanhas, mas já no município de Macaé, para onde muitos se
dirigiram. Outros se deslocaram para a região de Cantagalo, mais fértil e
mais própria ao plantio de café. O mesmo ciclo já realizado pelas famílias
80
suíças.

Além de suíços e alemães, nas Matas de Minas se verifica a presença também de


imigrantes italianos, na condição de colonos. O engenheiro Carlos Prates, Inspetor de
Indústria, Minas e Colonização do governo de Minas Gerais, viajou pelos municípios da
Zona da Mata e publicou seu relatório em 1906. Ao fazer uma inspeção em Muriaé,
considerado por ele o município “mais importante da Mata sob o ponto de vista agrícola” e
onde predominava o café, o autor visita a fazenda Santa Rosa, grande produtora da
rubiácea, e registra que “nela trabalhavam constantemente 60 operários, grande número
81
dos quais são italianos, existindo 20 famílias dessa nacionalidade”.

77 SANGLART. De Nova Friburgo a Fribourg através das letras, 2003, p. 15.


78 BARBOSA, Meeiros de Café, 2008, p. 397-98.
79 ALVES, Viagem de Ernest Hasenclever à Colônia Nova Friburgo em 1940, p.4.
80 BARBOSA, Meeiros de café, 2009, p. 401.
81
PRATES. A lavoura e indústria da Zona da Mata, 1906, p. 17.

50
Renato Thomaz Guimarães, técnico do extinto Instituto Brasileiro do Café e
atualmente consultor e também produtor da rubiácea cita, em texto não publicado, famílias
italianas que teriam chegado à região no final do século XIX, entre elas os Beviláquas,
Fardingo, Grilo, Lazaroni e Castelani, “que derrubavam a mata e plantavam o café no
82
sistema morro abaixo”.
O regime de trabalho dos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil,
primeiramente em São Paulo, foi o da parceria:

O fazendeiro financiaria o transporte dos imigrantes de seu país para a


fazenda, forneceria gêneros, instrumentos de cultivo e moradia, além de um
lote para o cultivo de subsistência. Os trabalhadores deveriam reembolsar
as despesas feitas com a metade de seus ganhos com o café; cuidariam de
um número de pés especificado e não poderiam deixar as fazendas até
83
quitar a dívida.

Muitos imigrantes, atolados em dívidas, que eram constantemente reajustadas,


acabaram abandonando as fazendas onde, em geral, eram tratados como se fossem
escravos brancos. O regime de trabalho foi então substituído pelo colonato, sistema pelo
qual o trabalhador rural recebia três tipos de remuneração, como explica Delfim Neto:

a) uma remuneração fixa por 1000 pés para manter limpo e preparar o
terreno para colheita; b) uma remuneração por dia de trabalho para os
serviços de poda, adubação, pequenos reparos no equipamento de
produção, etc.; e c) uma remuneração diretamente proporcional ao número
84
de sacas de café por ele colhido.
Ao que tudo indica, os italianos que vieram para as Matas de Minas,
particularmente na região dos afluentes do rio Paraíba (Pomba, Muriaé e Carangola),
trabalharam sob o regime do colonato.
Como informa a historiadora Mônica Ribeiro de Oliveira, os italianos que vieram
para Minas Gerais eram da região da Sardenha e das localidades de Verona, Aresso,
Padova, Camerino, Torino, Mirandola, Colognolo e Lucca, dentre outras. A chegada de um
expressivo contingente (mais de 50.000 entre 1894 e 1901), particularmente em municípios
da Zona da Mata, Sul de Minas e Triângulo Mineiro, foi fruto de uma política imigratória
conduzida pelos governos imperial e da Província de Minas Gerais, a partir de 1887, sob a
pressão dos próprios fazendeiros:

Juiz de Fora, como o principal centro econômico e político da Zona da Mata,


passou a reunir os interesses envolvidos (...). Para estimular a vinda de
imigrantes foi fundada na cidade em 1888 uma Associação Promotora de

82
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
83
OLIVEIRA. Imigrantes e Libertos no contexto do abolicionismo, 2013, p. 218.
84
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 44.

51
Imigração. [...] Em janeiro de 1888 o governo provincial assinou um contrato
com a Associação para a introdução de 30.000 imigrantes na província.
Meses depois foi assinado, com a Cia. de Imigração e Colonização Mineira,
um contrato para a entrada de 25.000 imigrantes no sul da Província. 85

Para recebê-los, foi instalada em Juiz de Fora a Hospedaria Horta Barbosa, e, em


Mar de Espanha e São João Nepomuceno, Centros Municipais de Imigrantes. Em 1891,
portanto já no período republicano, o governo do Estado instituiu a Repartição de Terras e
Colonização, dividindo Minas Gerais em cinco distritos receptores e distribuidores de
trabalhadores imigrantes: Leopoldina, Juiz de Fora, Saúde, Varginha e Uberaba.
Artigo não assinado, que consta de livro publicado pelo Departamento Nacional do
Café, por ocasião do bicentenário da introdução da rubiácea no Brasil, apresenta tabelas
com o número e a nacionalidade dos imigrantes estrangeiros situados nas regiões cafeeiras
de Minas Gerais, referentes ao ano de 1919. O quadro abaixo considera apenas a presença
dos estrangeiros nos municípios que compõem as Matas de Minas, acrescentando, para
efeito comparativo, Juiz de Fora, que concentrava o maior número de imigrantes de todas as
nacionalidades, e Ubá, de onde se supõe que a cafeicultura tenha se expandido para Miraí e
86
Muriaé, chegando à região das Matas de Minas.

Tabela 2: Presença de imigrantes – Minas Gerais - 1919


IMIGRANTES/MUNICÍPIOS Alemães Espanhóis Italianos Portugueses
Carangola 9 167 1.245 649
Manhuaçu 12 94 371 262
Caratinga --- 16 92 124
Muriaé 2 113 1.045 270
Viçosa 127 18 155 212
Abre Campo 2 4 45 36
Mutum 1 9 37 33
JUIZ DE FORA 323 178 3.389 1.575
UBÁ 1 76 1.422 309
Fonte: Dados básicos: DEPARTAMENTO NACIONAL DE CAFÉ, 1934.
Elaboração própria

Vê-se que os italianos predominam (particularmente em Carangola e Muriaé) e é


certo que vieram como colonos para trabalhar na cafeicultura. Os alemães tinham forte
presença em Juiz de Fora, aonde chegaram em 1858, trabalharam na construção da
estrada União e Indústria e formaram a Colônia Agrícola D. Pedro II. A presença alemã em
Viçosa se deve à instalação da Colônia Vaz de Melo, em 1915, de maioria alemã. Manhuaçu

85 OLIVEIRA, Imigrantes e libertos no contexto do abolicionismo, 2013, p.220.


86 DEPARTAMENTO NACIONAL DO CAFÉ. O Café no Bicentenário de sua introdução no Brasil, 1934, p. 659.

52
é o segundo município das Matas de Minas no qual os alemães aparecem em maior
número. É significativa a presença também de espanhóis.
O mesmo artigo informa a quantidade de estabelecimentos rurais pertencentes a
estrangeiros:

Tabela 3: Estabelecimentos rurais pertencentes a estrangeiros – Minas Gerais - 1919


MUNICÍPIOS ESTABELECIMENTOS
Carangola 204
Manhuaçu 86
Caratinga 34
Muriaé 146
Viçosa 30
Abre Campo 10
Mutum 16
Juiz de Fora 197
Ubá 196
Fonte: Dados básicos: DEPARTAMENTO NACIONAL DO CAFÉ, 1934.
Elaboração própria

Surpreende a quantidade de proprietários estrangeiros em Carangola e Muriaé,


provavelmente imigrantes italianos que se tornaram sitiantes. Em Manhuaçu, já se sabe,
havia muitas propriedades rurais de famílias alemãs e italianas.
Em seguida, o artigo lista os núcleos coloniais que estavam localizados na Zona da
Mata, com suas respectivas datas de criação e de emancipação:

Tabela 4: Núcleos coloniais da Zona da Mata – Minas Gerais


MUNICÍPIO NÚCLEO COLONIAL DATA DE CRIAÇÃO/
EMANCIPAÇÃO
Leopoldina Constança 1910 – 1921
Mar de Espanha Barão de Aiuruoca 1910 – 1921
Cataguases Major Vieira 1911 – s/d
Ponte Nova Rio Doce 1911 – 1921
Carangola Pedro Toledo 1912 – s/d
Viçosa Vaz de Melo 1915 – s/d
Fonte: dados básicos: DEPARTAMENTO NACIONAL DO CAFÉ, 1934.
Elaboração própria

Na maioria dessas colônias predominam os italianos (Leopoldina, Mar de Espanha,


Cataguases, Ponte Nova e Carangola), com exceção do núcleo de “Vaz de Melo”, onde os
colonos alemães são maioria.
É possível que muitos imigrantes alemães e suíços (os últimos não aparecem nas
estatísticas) tenham sido pioneiros no desbravamento das florestas e instalação de
fazendas, principalmente na porção norte das Matas de Minas, mas é certo que a maioria

53
dos proprietários era brasileira. Vivaldo Barbosa cita as famílias Miranda, Almeida, Dutra,
Vieira, Correia, Leite, Tostes e Lopes, entre outras. Há casamentos entre elas, incluindo
uniões entre famílias brasileiras e de imigrantes.
Carlos Prates, estando em Muriaé e Carangola (1906), registra o nome de vários
fazendeiros, todos com nomes de origem portuguesa. Em Muriaé citam-se: Eudócia
Canêdo, coronel Francisco Alves de Assis Pereira, Antônio Tibúrcio Rodrigues, Joaquim de
Souza Pinto, coronel Domiciano Antônio Monteiro de Castro, capitão Francisco Almeida de
Freitas Lima, coronel Marciano Rodrigues da Silva, coronel Francisco de Oliveira Vermelho,
Baronesa do Alto Muriaé, entre muitos outros. Em Carangola: coronel Manoel de Souza,
Maria de Souza Miranda, Maximiano Pinto Ferraz, major João Batalha Rodrigues, coronel
João Marcelino Teixeira, Inácio de Souza Barros, entre tantos outros. Em Viçosa Carlos
Prates nomeia Gabriel Rodrigues Rezende, de família influente na política da Zona da Mata
e proprietário de uma fazenda no distrito de Pedra do Anta, que tinha “regulares culturas de
87
café”.
A publicação do Departamento Nacional do Café relaciona também as principais
fazendas cafeeiras, com seus respectivos proprietários, nos municípios mineiros de maior
produção. Destacam-se: em Carangola, a de José Magalhães Pinto; em Manhuaçu, a de
Raimundo Soares Vargas; em Caratinga, a do Capitão Paulino Ribeiro; em Muriaé, a de
Abeilard de Andrade Goulart; em Rio José Preto (Ipanema), a de Antônio Pena Sobrinho;
em Viçosa, a do Coronel Manoel J. Rodrigues Caldas; e em Mutum, a de José Teixeira de
Siqueira.
A presença de nomes com patentes militares certamente tem a ver com a Guarda
Nacional. O coronel era a patente maior dessa instituição criada em 1831, mas que não
fazia parte da burocracia oficial. Era sustentada pelos proprietários rurais e comerciantes
ricos, nomeados pelo monarca com o objetivo de garantir a ordem, em nome da Coroa, nos
lugares nos quais a máquina oficial não chegava. Daí surgiu o termo coronelismo, pacto
político que sustentou o poder das oligarquias até 1930, com resquícios ainda hoje. O
coronel é o chefe político local, que apoia o presidente da província (depois governador de
Estado), que apoia o monarca (depois presidente da República), que apoia o governador,
que apoia coronel. O coronelismo atinge o ápice na Primeira República (1889-1930).
Brasileiros com certeza também são os anônimos meeiros, trabalhadores pobres
que nada tinham e que perambulavam em busca de trabalho e moradia nas fazendas. A
prática da meação predomina nas relações de trabalho das Matas de Minas, particularmente

87
PRATES. A lavoura e indústria da Zona da Mata, 1906, p. 67.

54
na região dos vales do rio Doce e Itabapoana. Vivaldo Barbosa discorre longamente sobre o
tema e explica como funciona essa parceria:

A meação é um contrato que se faz entre o fazendeiro, proprietário da


terra, e o meeiro, que vai trabalhar a terra. Muitas vezes, trata-se de
contrato escrito; outras vezes registrado em cartório; mas na maioria dos
casos é verbal [...]. No contrato de meação o fazendeiro retém a
propriedade e a posse da terra. Retém a posse indireta, ou seja, o direito, e
cede a posse direta, ou seja, o uso. O contrato, a princípio, é livremente
negociado. Mas o que prevalece mesmo é a vontade do fazendeiro. [...] O
meeiro é um trabalhador. O que coloca de seu na parceria é a sua força de
trabalho. [...] O fazendeiro entra na parceria com seu capital, a terra e a
lavoura formada, ou seja, os pés de café já plantados e produzindo. 88
O meeiro recebe uma casa para morar e no seu entorno pode fazer para si uma
horta, um galinheiro e um chiqueiro que lhe garantem bens de subsistência, mas cujo
excedente pode ser vendido. A criação de gado não é permitida.

A parceria da meação começa com a produção. [...] Todo o trabalho


necessário à boa produção, bem como todos os custos envolvidos desde o
término de uma colheita até a seguinte, correm por conta do meeiro. [...]. Na
colheita o fazendeiro cuida de providenciar o cargueiro de burros para
apanhar ou, como dizem, ‘puxar o café’ até o terreiro da fazenda. A
lavagem, secagem e movimentação do café são por conta do meeiro. A
limpa do café e a embalagem para ensacá-lo correm por conta do
fazendeiro, e a mão de obra necessária é por conta do meeiro. Limpo e
ensacado o café, o produto da colheita é dividido meio a meio entre meeiro
e fazendeiro. Da parte do meeiro são descontados 5% [ou 10%] por conta
das despesas gerais da fazenda. [...] O meeiro faz de sua parte o que lhe
aprouver, vende pelo preço que quiser. Às vezes está endividado com o
fazendeiro e este retém o necessário para pagar a dívida, o que passa a ser
89
fonte de encrencas e mal-entendidos. E de injustiças, muitas vezes.

O meeiro podia plantar feijão e milho para si em meio à lavoura do café, mas
atualmente a redução do espaço entre as plantas não permite essa prática. Em geral, os
meeiros prestam serviços para o fazendeiro durante dois dias da semana, nas lavouras de
milho, arroz e feijão, e nesse caso a parceria é a terça (um terço do fazendeiro e dois terços
do meeiro). Pelo menos uma vez por ano eles são convocados para a manutenção das
estradas ou outros serviços, e para tanto são remunerados. Em algumas situações o meeiro
“toca boa lavoura” e pode contratar empregados assalariados. Mas os meeiros têm seus
dramas. O primeiro é a descontinuidade dos contratos, pois em geral eles têm validade por
apenas um ano, apesar da lavoura de café durar em torno de vinte. Esse drama acentua-se
quando o meeiro fica idoso e seu trabalho deixa de interessar ao fazendeiro. Outro
problema, que algumas vezes ele compartilha com o fazendeiro, vem na hora de vender sua
parte da colheita:

88 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 139-140 e 174.


89
BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 146-47.

55
Pega a amostra do seu café, sai oferecendo aos compradores, está é a
hora de fazê-lo, há muita oferta, em consequência os preços ficam lá
embaixo; os compradores querem ganhar com o tempo, comprar barato na
colheita e vender com preço mais alto a partir do final do ano, na
entressafra, ganhando sempre à custa do meeiro. Este não pode guardar.
Sofre a pressão das circunstâncias, as dívidas para pagar, as coisas para
fazer e para comprar, é preciso colocar um dinheirinho no bolso. Tem de
vender. Ao preço que estiver valendo. E quem dita esse preço? É o
mercado, dizem muitos. E o que é o mercado? São os sacos de dinheiro na
90
mão dos compradores, torrefadoras, comerciantes, exportadores de café.

Vivaldo Barbosa diz que o ideal da vida do meeiro é “comprar um sítio para si” e
calcula que em cada fazenda da região “pelo menos um meeiro, em cada geração,
91
conseguiu comprar um sítio, ou seja, tornou-se um sitiante”. Embora sua cabeça funcione
de maneira próxima a de um empreendedor, o meeiro pratica a solidariedade com seus
pares. Na colheita do café, “quando cada um termina a sua, está pronto para colaborar com
quem ainda não terminou”. 92
O agrônomo, técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de
Minas Gerais (Emater) e pequeno produtor de café Paulo Roberto Vieira Correia, tataraneto
de um dos pioneiros da cafeicultura em Manhumirim, resume a multifacetada figura do
meeiro, classificado como um tipo “cinco em um”:

Como meeiro ele também é produtor. Quando ganha um dinheirinho,


consegue comprar uma pequena propriedade e vira proprietário; em certas
ocasiões, quando ele não está trabalhando, ele ajuda algum vizinho, capina,
terceiriza sua mão de obra e vira assalariado; na colheita, quando precisa
de mais gente trabalhando ele contrata mão de obra e vira empregador. De
uns anos para cá surgiu o arrendamento de terras e aí ele pode se tornar
um arrendatário. Ele não tem como comprar mais terra, mas arrenda de
outro. Isso é muito comum. Em todos esses papeis ele é um agricultor
familiar. Muita gente saiu da condição de parceiro e passou a proprietário.
As propriedades aqui são pequenas, a maioria é de até 10 hectares (80%).
Eles começam a se preocupar com a sucessão, então compram terra ou
93
arrendam para os filhos.

4 SUPERPRODUÇÃO E INTERVENÇÕES GOVERNAMENTAIS PARA DEFESA E


VALORIZAÇÃO DO CAFÉ BRASILEIRO

A expansão da cafeicultura nos municípios das Matas de Minas coincide no tempo


com a conquista das terras extremamente férteis do oeste paulista, de onde o café penetra
nas montanhas do sul de Minas. É nesse contexto que já no final do século XIX e início do

90 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 161-62.


91 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 182.
92 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 193.
93 CORRÊA, Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.

56
XX a produção de Minas Gerais ultrapassa a do Rio de Janeiro e se coloca em segundo
lugar no Brasil, atrás apenas de São Paulo.
A rápida e contínua expansão da cultura cafeeira produziu crises esparsas de
superprodução ainda no século XIX, mas nada comparável à que acometeu o Brasil entre os
anos de 1901 e 1906, quando o preço do café despencou, deixando endividados os
fazendeiros que, em todas as regiões produtoras, não conseguiam mais obter o retorno dos
capitais empregados. São Paulo foi o Estado mais afetado, não só porque era de longe o
maior produtor, mas também porque ali o regime de trabalho era o colonato, e os
fazendeiros tinham de desembolsar dinheiro às vezes diariamente, ao contrário das regiões
onde predominava a meação, que envolvia somente a divisão da colheita. Além disso,
naquele Estado a maioria dos trabalhadores era de estrangeiros (predominantemente
colonos italianos, entre eles muitos adeptos da ideologia anarquista), que diante da falta de
pagamento ameaçavam seus patrões com o abandono das lavouras, chegando
ocasionalmente a manter como reféns os familiares do fazendeiro, até que este lhes
94
pagasse as remunerações atrasadas.
Foi nesse clima que em 1906, com o Convênio de Taubaté (considerado por Afonso
Taunay o mais famoso documento da história cafeeira do Brasil), se inicia um longo período
de intervenções governamentais (dos Estados produtores e da União), que vão até 1990,
quando no governo do presidente Fernando Collor de Mello o Instituto Brasileiro do Café
(IBC), criado em 1952, foi extinto. 95

94 RAMOS. A Intervenção do Estado na lavoura cafeeira, 1934, p. 507, v. 2.


95A rigor, poucos anos após o impedimento do presidente Collor (1992) e à quase completa desregulamentação
do setor cafeeiro, a União retoma o apoio estatal ao café. Manteve-se o financiamento ao produtor pelo Fundo de
Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), criado em 1986 e operado por meio de bancos públicos. As pesquisas
científicas, voltadas para o aperfeiçoamento dos métodos e técnicas de cultivo, antes coordenadas pelo IBC,
renascem no Consórcio de Pesquisa Café, criado em 1997, reunindo instituições estaduais e federais sob o
manto da Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa, fundada em 1973). E em 1999 a Embrapa cria o
Serviço de Apoio ao Programa Café (Embrapa Café), unidade descentralizada da empresa. Até mesmo a
formulação da política cafeeira foi restabelecida com a instituição, em 1996, do Conselho Deliberativo da Política
Café (CDPC). A extinção do IBC provocou também uma descentralização federativa das políticas cafeeiras. Em
Minas Gerais a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater - MG) incorpora o
café entre os produtos assistidos e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) mantém
suas pesquisas sobre a cafeicultura. Em 1995 o governo estadual, através do Instituto Mineiro de Agricultura
(IMA), delimita as regiões produtoras de café do Estado com a finalidade de instituir certificados de origem e
qualidade. Para tanto, em 1996 é instituído o programa Certiminas (que inclui o Certicafé), em 2000 é criado o
Agrominas, e logo depois o Certifica Minas, que se mantém até hoje. Em 2003 foi instituído o Conselho Estadual
de Política Agrícola.

57
4.1 O Congresso Agrícola, Comercial e Industrial de 1903.

Antes mesmo antes do Convênio de Taubaté os Estados produtores vinham


discutindo a crise de superprodução e tomando algumas providências. Foram promovidas
inúmeras reuniões de produtores e exposições de café em quase todas as grandes cidades
europeias, na esperança vã de aumentar o consumo, que no caso do café é inelástico, ou
seja, não varia com o aumento ou a diminuição dos preços.
Ainda em 1902, os países produtores reuniram-se na Conferência Internacional
para o Estudo da Produção do Café, realizada em Nova Iorque, para discutir soluções para
a crise que atingia a cadeia produtiva de todos os países, visto que a cotação internacional
do café era diretamente afetada pela situação do maior produtor, o Brasil, responsável na
época por ¾ da produção mundial.
Em 1903, o governo de Minas Gerais convocou as lideranças políticas e
econômicas do Estado para realizar o Congresso Agrícola, Comercial e Industrial. Para
coordenar a comissão organizadora do evento, o presidente do Estado, Francisco Antônio
Sales, convidou João Pinheiro da Silva, político com visão desenvolvimentista e
preocupação social e que, já naquela época, defendia a intervenção governamental nos
assuntos econômicos. Na introdução dos anais do Congresso, João Pinheiro cita o exemplo
dos Estados Unidos:

País de primeira grandeza, pela proteção contínua, eficaz, sempre mantida,


de todas as suas riquezas, a todas as suas indústrias e a todos os seus
trabalhos, encontrando nas tarifas protecionistas a fonte de seu
deslumbrante poder da atualidade, triunfalmente confessado e a elas
96
atribuído nas duas mensagens do atual presidente Roosevelt.

O primeiro tema abordado no Congresso foi o café, “o maior fator da fortuna pública
e particular brasileira”, mas que passava por “uma crise sem exemplo em nossa histórica
econômica e financeira”.
A dinâmica dos trabalhos previa que fossem levantadas questões relativas a cada
tema, que seriam objeto de texto analítico redigido por um dos membros da comissão
organizadora, cognominada Comissão Fundamental, e depois submetido à apreciação dos
congressistas.

96 REVISTA FUNDAÇÃO JP – ANÁLISE E CONJUNTURA, 1981, p. 124.

58
Com relação ao café, refletindo as preocupações dos produtores, perguntou-se,
entre outras questões: (a) que medidas deveriam ser adotadas pelo governo para melhorar
a situação dos produtores? (b) era conveniente limitar a cultura, taxando proibitivamente as
novas plantações? (c) era conveniente tributar de forma diferenciada o café, elevando o
imposto sobre os tipos de qualidade inferior? (d) seria vantajoso proibir a exportação de
cafés inferiores, misturados com pedras, terra e outras substâncias estranhas? (e) seria
conveniente modificar a forma de pagamento do imposto de exportação para que ele fosse
suportado somente pelos exportadores, onerando os produtores mineiros apenas com o
frete até o porto do Rio de Janeiro? (f) conviria baixar o preço do frete enquanto persistisse
o preço do tipo 7, americano, abaixo de 8$000 (oito mil réis)?; (g) não seria melhor
uniformizar a tarifa ferroviária para todas as distâncias? (h) seria mais vantajoso estabelecer
entrepostos marítimos, fiscalizados pelo governo, ou construir armazéns nas estações da
Estrada de Ferro Central do Brasil, permitindo a instituição do warrant? (i) conviria criar uma
Bolsa de Café no Rio de Janeiro, devendo todas as transações ser nela realizadas? (j) que
medidas deveriam ser adotadas para evitar os ônus trazidos pelos intermediários ao
comércio do café? E (k) como o governo poderia intervir para auxiliar a venda direta do café
ao estrangeiro?
Para que houvesse a expansão do consumo mundial o documento introdutório
reforçava as seguintes recomendações do Congresso de Nova Iorque: (a) que o governo
deveria empenhar-se em obter a abolição, ou pelo menos a diminuição, dos impostos de
exportação e consumo nos países estrangeiros; (b) que o mesmo empenho deveria ser feito
para diminuir a taxação sobre os cafés de melhor qualidade; (c) que deveria ser
intensificada a propaganda sistemática do produto, mantendo exposições permanentes dos
cafés de diversas procedências; (d) que deveria ser realizado um novo congresso
internacional “composto de pessoas reconhecidamente competentes e devidamente
autorizadas para ajustarem um tratado regulador da produção e consumo do café”.
O texto crítico, redigido pelo membro da Comissão Fundamental José Joaquim
Monteiro de Andrade, dava respostas às questões levantadas, explicitando o debate que iria
dividir por muitos anos as opiniões tanto de liberais quanto de intervencionistas. De óbvio,
ele começa dizendo algo que afetava praticamente todas as demandas: “o café é um
problema inteiramente nacional”. No restante de sua análise, revela uma posição quase
sempre contrária às intervenções governamentais, particularmente com recursos diretos.
Não obstante, admite e reivindica que o governo mantenha escritórios de informações
agrícolas, com estatísticas sobre produção e comércio, para “se saber quando se ia chegar
ao tempo de se produzir sem ter consumidor”; e também informações sobre os fenômenos

59
naturais que afetam as diversas culturas, incluindo a do café. O autor critica duramente a
exportação de cafés misturados com substâncias estranhas, que entre suas “consequências
mais ruinosas é encontrarem os especuladores nessas qualidades ruins meios de
aumentarem os seus lucros, em detrimento do gosto dos que usam essa bebida e do bom
nome que deve ter o café brasileiro”. Por isso concorda com uma tributação diferenciada
para as diversas qualidades de café, de modo a pagar mais o de menor qualidade, a fim de
animar a produção do “gênero bom” e atender ao gosto do consumidor, “sempre propenso a
preferir artigo de melhor qualidade”. Critica o hábito “antidemocrático de se tributar
principalmente a classe dos produtores” e por isso apoia a abolição da cobrança do imposto
de exportação pago pelos mineiros, que nada mais fazem do que “a deslocação do gênero
do lugar da produção para o de venda”. Defende o estabelecimento de grandes armazéns
por sociedades comerciais ou pelo próprio governo, possibilitando assim maior poder de
resistência dos produtores na sua relação com os compradores, que em geral são
“inteiramente dominadores” do mercado. Sobre as bolsas de café diz que elas são
vantajosas para o maior conhecimento das transações diárias, mas pondera que “em toda
parte e em todos os tempos é certo que uma parte dessas transações é secreta”. Com
relação à proposta de venda direta do produtor ao consumidor estrangeiro manifesta
oposição, pois que o racional seria quem produz aperfeiçoar-se na sua especialidade,
“enviando os produtos ao comércio, indústria de interposição que se encarrega de lhes dar
circulação.” No entanto, apoia a diminuição do frete para os cafés destinados à exportação
direta por parte dos fazendeiros. Para isso defende a constituição de “sociedades de
lavradores” dispostas a operar nos centros consumidores estrangeiros e fazer a propaganda
do consumo.
Embora não estivesse entre as perguntas formuladas, o autor defende o ensino
profissional agrícola, proposta cara a João Pinheiro, coordenador da Comissão
Fundamental, e relaciona esse ensino à agricultura “cientificamente exercida”, necessária
para repor nas terras os elementos fertilizadores que lhes foram retirados pelos processos
até então adotados. Por sua conta, defende a adoção da policultura, combinando a cultura
do café com a de cereais, destacando o milho, “preciosa gramínea” que atende a “tantas
necessidades do homem e dos animais”. 97
Nas conclusões do Congresso as questões c), d), e) e f) foram respondidas de
forma afirmativa. Além disso, foi proposta a substituição do imposto de exportação por um
imposto territorial e a diminuição do frete e do imposto de exportação para particulares que
quisessem efetuar a venda diretamente ao estrangeiro.

97 REVISTA FUNDAÇÃO JP – ANÁLISE E CONJUNTURA, 1981, p. 139-43.

60
4.2 O Convênio de Taubaté de 1906

Na segunda metade do século XIX, a exportação de café começa a ganhar grande


dinamismo, “tendo passado de 2,5 milhões de sacas entre 1857-1860, para quase 9,5
98
milhões entre 1897-1900, e a cerca de 13 milhões em 1901-1904”.
Sócrates Alvim resume a difícil situação da cafeicultura no ano anterior ao Convênio
de Taubaté:

A safra de 1905 era calculada em 12.000.000 de sacas, sendo oito milhões


de São Paulo, dois e meio de Minas e um e meio milhão do Rio de Janeiro.
A produção dos outros países era estimada em cerca de 4.000.000 de
sacas e o consumo mundial orçava por 14 milhões de sacas anualmente.
99
Tornava-se necessário retirarem-se 5.000.000 do mercado.

Em 1906 a safra foi surpreendente. O economista Antônio Delfim Neto, na sua tese
sobre o café, defendida na Universidade de São Paulo, dá a dimensão do problema:

A safra se antecipou com uma florada de proporções até então


desconhecidas e o Brasil tomou consciência de que se colheria num só ano
mais café do que o mundo todo poderia beber. Quando ficou claro que esta
safra não seria inferior a 20 milhões de sacas, começou-se a pensar
seriamente numa forma de intervenção que preservasse a lavoura cafeeira
do desastre. [...] Uma safra dessa magnitude, quando os preços do café já
eram muito baixos, quando existia um estoque de quase 10 milhões de
sacas e quando o consumo mundial era da ordem de 16 milhões de sacas
exigiria uma violenta e duradoura queda de preços para ser absorvida. [...]
Percebe-se, portanto, claramente, que o problema não se resolveria dentro
100
de uma economia de mercado.

A situação da cafeicultura de Minas Gerais não era diferente. Em 1904, na


Mensagem anual encaminhada ao Congresso Mineiro, o Presidente do Estado Francisco
Sales expunha suas impressões de uma viagem à Zona da Mata, na qual pode sentir o
influxo da desvalorização do café, que já produzira reflexos negativos na receita do Estado.
A queda dos preços, que vinha ocorrendo desde 1900, poderia chegar ao ponto de
inviabilizar a cultura cafeeira. Foi então que os presidentes dos três maiores estados
produtores, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, se reuniram e a 25 de fevereiro de
1906, na cidade paulista de Taubaté, assinaram o famoso Convênio.
Em síntese, o Convênio propunha o seguinte: para regular as cotações do café os
governos estaduais ou o governo federal comprariam a produção excedente. O
financiamento para essa compra viria de empréstimos estrangeiros (em torno de 15 milhões
de libras esterlinas), que o governo pagaria instituindo um imposto de três francos (depois

98 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 9.


99 ALVIM. A projeção econômica e social da lavoura cafeeira em Minas, 1929, p. 61.
100
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 51 e 57-58.

61
seria aumentado para cinco) cobrado sobre cada saca de café exportada. Em contrapartida,
os Estados se comprometeriam a desencorajar a expansão das plantações, particularmente
dos cafés de qualidade inferior ao tipo 7 americano.
Receando que sob a influência do empréstimo externo e do aumento dos preços
internacionais que se seguiriam, o câmbio se elevasse e viesse a anular, em moeda
nacional, o levantamento das cotações em ouro, também foi decidida a criação de uma
Caixa de Conversão, que atuaria como estabilizadora do câmbio, controlando as reservas
em ouro propiciadas pelos empréstimos externos e por eventuais saldos comerciais. Além
disso, o convênio estabelecia um preço mínimo e máximo da saca de café tipo 7 americano
e propunha que os cafés de qualidade superior tivessem seus preços aumentados
proporcionalmente.
Por imposição constitucional, para implantar o Convênio era necessário que o
Executivo federal encaminhasse ao Legislativo um projeto de lei, e por isso os governantes
dos três Estados apelaram ao presidente da República para que convocasse uma sessão
extraordinária do Congresso Nacional, fato que demonstra o clima de urgência então vivido
pela cafeicultura.
Antes mesmo da aprovação do Convênio em lei própria, o governo federal, já ciente
da gravidade da situação, solicitara ao Congresso Nacional, por meio da lei orçamentária de
1906, autorização para entrar em entendimentos com os governos dos Estados cafeeiros.
Na mensagem ao Congresso, o presidente Rodrigues Alves explicava o objetivo dessas
negociações:

Para regularizar o comércio de café, promover a sua valorização, organizar


e manter um serviço regular e permanente de propaganda com o fim de
aumentar o seu consumo, podendo endossar as operações de crédito
101
necessárias para esse fim.
Também antes de sua aprovação pelo Congresso Nacional, o convênio foi aditado
em reunião realizada em Belo Horizonte, no dia 4 de julho de 1906. Com a lei aprovada o
governo de São Paulo seria o grande operador do Convênio e de seus sucedâneos,
lembrando que, na Primeira República (1889-1930), os Estados federados gozavam de
ampla autonomia, inclusive para contrair empréstimos externos. Com o Convênio em
execução foram retiradas do mercado mais de oito milhões de sacas de café, que foram
sendo paulatinamente vendidas durante cerca de nove anos.
O debate em torno do Convênio e de seus resultados dividiu opiniões, mas de
modo geral todos reconheceram que alguma coisa tinha de ser feita para evitar o debacle
completo da lavoura cafeeira. Delfim Neto considera que a operação teve êxito relativo:

101 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 61.

62
Do ponto de vista puramente histórico, a apreciação crítica de determinada
ação somente pode ser realizada comparando-se os seus resultados com o
objetivo que deveria ter sido alcançado. É por essa razão que não há
sentido no julgamento desta operação quando realizado por meio de uma
análise puramente contábil de entrada e saída de recursos, como
frequentemente se tem feito. Deste ponto de vista, a valorização foi
certamente bem sucedida, pois em 1914 todas as dívidas estavam pagas e
o Estado de São Paulo possuía ainda 3,1 milhões de sacas de café. Do
ponto de vista dos comerciantes que participaram da operação, esta
também foi bem sucedida, pois eles, além de receberem juros e comissões,
puderam aproveitar-se da elevação dos preços. Não foi menor o lucro dos
banqueiros, que receberam mais ou menos 9% sobre o capital emprestado.
Mas esses pontos são simples subprodutos da operação; ela tem que ser
julgada em função do objetivo para o qual havia sido planejada: a melhoria
102
da remuneração dos cafeicultores, em moeda nacional.

Analisando gráficos sobre a flutuação dos preços em São Paulo, Delfim Neto
mostra que eles começaram a melhorar de fato só a partir de 1910, e que a elevação foi “tão
violenta quanto efêmera”, pois em 1914 o preço da saca, em mil réis, voltaria ao nível de
1904. E conclui:

Se julgarmos o resultado da valorização pela sua capacidade de impedir


que os preços em moeda nacional caíssem abaixo do limite fixado pelo
103
Convênio de Taubaté, podemos afirmar que ela teve relativo bom êxito.

Afonso Taunay defende a operação e cita Roberto Simonsen:


Não fora a intervenção – sabe Deus em que grau de perturbação
econômica teria caído o Estado de São Paulo e o Brasil. Não só as finanças
do Estado teriam sofrido os efeitos de uma catástrofe, como as da Nação.
Trinta anos após o Convênio de Taubaté escrevia Roberto Simonsen em
seus excelentes Aspectos Econômicos do Café: “O balanço financeiro da
valorização, computado no seu crédito a taxa de 5 francos, criada para os
serviços de juros de empréstimo, apresentou saldo positivo. O balanço
econômico da valorização também apresentou saldos positivos a favor de
São Paulo, pois é incontestável que esta operação evitou grandes baixas
nos preços, o que iria desorganizar não só as finanças do Estado de S.
Paulo, como as do próprio país. Não se pode negar, tão pouco, que foram
os mercados consumidores que pagaram, pela melhoria dos preços de
venda, parte do custo da operação”.

Entre 1910 e 1913, as divisas provenientes da exportação do café elevaram-se de


27 milhões de libras esterlinas para 41 milhões, tendo alcançado a cifra de 47 milhões em
1912, fato que animou não apenas o caixa dos Estados produtores, como também a do
governo federal.
Em 1929, Sócrates Alvim avaliou os efeitos da Caixa de Conversão sobre a
economia brasileira e, consequentemente, mineira:

102DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 83-84.


103 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 84.

63
Durante o funcionamento da Caixa de Conversão, manteve-se o câmbio
dentro dos limites preestabelecidos. Sem prejudicar o comércio e a
produção do café, esta estabilidade contribuiu para o surto de outras
atividades úteis, atraindo capitais e braços ao país, preparando o advento
de indústrias novas, como a dos matadouros frigoríficos, que nos permitiram
concorrer ao abastecimento de carnes resfriadas à Europa conflagrada [...].
A crise de 1900, ou “crise do século”, deixou em Minas uma consequência
capaz de compensar, em parte, os formidáveis prejuízos. Referimo-nos ao
desenvolvimento da indústria pastoril nas zonas cafeeiras, fato que resultou
na magnífica riqueza lacto-industrial de que nos podemos orgulhar com
104
justo motivo.

Escrevendo em 1929, esse mesmo autor, embora reconhecendo que o Convênio


de Taubaté foi necessário “para salvar da ruína iminente a economia cafeeira nacional”, não
deixou de criticar a política de valorização do café no longo prazo:
As medidas de defesa baseadas na elevação do custo de venda são
recursos de emergência, que apenas adiam crises (...). À sombra dessa
política tem-se avolumado e avolumar-se-á cada vez mais a cifra da
produção, dentro como fora do país. Pernambuco, Espírito Santo, Paraná,
Bahia [...] se fizeram Estados exportadores nestes vinte anos de política
valorizadora. A produção dos países estrangeiros, que em 1906 era de
cerca de 4 milhões de sacas, eleva-se agora a 7 milhões, segundo as
estimativas. A Colômbia rivaliza com o Estado do Rio de Janeiro no volume
de sua exportação de café, e dentro de alguns anos talvez alcance Minas
Gerais. O preço alto traz consigo dois efeitos inevitáveis: o aumento da
105
produção e a diminuição do consumo.

O autor propunha o que ele chamava de “solução integral” para a defesa do café,
que envolveria a aplicação de “métodos racionais” na produção, beneficiamento, transporte,
comercialização e exportação, a começar pelos cultivos, acusados de serem extensivos e
rotineiros e, em geral, manuais. Ele propõe “estudar e escolher experimentalmente
variedades apropriadas”, promover o “arroteamento mecânico do solo”, sua “correção física,
reconstituição química e solubilização dos elementos naturais pelo emprego de agentes
biológicos”. Conclui dizendo que melhor seria que as lavouras fossem reduzidas à décima
106
parte, elevando-se “ao décuplo a capacidade produtiva”.

4.3 O Censo de 1920

Em 1909, é criado o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, e nele a


Diretoria Geral de Estatística e o Serviço de Inspeção e Fomento Agrícolas. Em 1920, é
realizado, pelo Ministério, o Censo Econômico, que investiga, entre outros setores, a
agricultura. A Diretoria de Estatística produziu dados sobre as diferentes culturas, incluindo

104 ALVIM. Confrontos e deduções, 1929, p. 66.


105ALVIM. Confrontos e deduções, 1929, p. 67-68.
106ALVIM. Confrontos e deduções, 1929, p. 68-69.

64
os relativos à sua extensão e valor, benfeitorias permanentes, mecanização e
beneficiamento. O Serviço de Inspeção e Fomento Agrícolas, por sua vez, revelou o quadro
da distribuição geográfica das atividades e, para cada espécie vegetal, analisou os fatores
naturais que favoreciam sua propagação e as condições econômicas que presidiam sua
exploração. Foram recenseadas 648.153 propriedades rurais.
Com relação ao café o estudo revela que em todos os Estados brasileiros ele era
cultivado, totalizando 2.215.658 hectares, com 1.708.418.893 de árvores plantadas, em
128.424 estabelecimentos rurais. Entre os sete Estados de maior área plantada, São Paulo
concorria com 46% e Minas Gerais com 29% (totalizando 75%), seguidos do Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e Paraná.
Com base no Censo Afonso Taunay relaciona o número de fazendas, de cafeeiros
e hectares plantados dos quatro maiores produtores, conforme a seguinte tabela:

Tabela 5: Fazendas Cafeeiras dos Estados maiores produtores – 1920


ESTADOS FAZENDAS CAFEEIROS HECTARES
São Paulo 21.341 823.943 1.028.673
Minas Gerais 41.393 488.036 650.706
Rio de Janeiro 10.766 155.595 194.490
Espírito Santo 16.375 114.583 152.776
Fonte: Dados básicos: TAUNAY, Pequena história do café no Brasil, 1945.
Elaboração própria

O mesmo autor fornece dados sobre o percentual das fazendas de café em relação
ao número total de propriedades rurais recenseadas nesses quatro Estados:

Tabela 6: Percentual das fazendas cafeeiras em relação ao número total de propriedades rurais
recenseadas nos Estados maiores produtores - 1920
ESTADOS FAZENDAS FAZENDAS DE PERCENTUAL DAS
RECENSEADAS CAFÉ DE CAFÉ
Minas Gerais 115.655 41.393 35,8%
São Paulo 80.921 21.341 26,4%
Espírito Santo 20.941 16.375 78,2%
Rio de Janeiro 23.699 10.766 45,4%
Fonte: Dados básicos: TAUNAY, Pequena história do café no Brasil, 1945.
Elaboração própria

107
Taunay também destaca os municípios de maior produção nesses Estados:

107
TAUNAY. Pequena história do café no Brasil, 1945, p. 393- 397.

65
Tabela 7: Municípios maiores produtores de café nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio
de Janeiro e Espírito Santo - 1920.
ESTADOS MUNICÍPIOS
São Paulo Ribeirão Preto e S. José do Rio Preto
Minas Gerais Carangola e Manhuaçu
Rio de Janeiro Itaperuna e S. Antônio de Pádua
Espírito Santo São Pedro de Itabapoana e Alegre
Fonte: Dados básicos: TAUNAY, Pequena história do café no Brasil, 1945.
Elaboração própria

Joaquim de Melo arrola os sete maiores municípios cafeeiros do Brasil e dá o


108
número de sacas de café produzidas:

Tabela 8: Municípios maiores produtores de café do Brasil na safra 1919/1920


MUNICÍPIOS SACAS
Itaperuna (RJ) 277.355
Santo Antônio de Pádua (RJ) 241.420
Carangola (MG) 200.133
Campinas (SP) 198.920
Manhuaçu (MG) 197.685
Ribeirão Preto (SP) 185.270
Fonte: Dados básicos: MELLO. A evolução da cultura cafeeira no Estado do Rio, 1934.
Elaboração própria

A observação desses dados permite muitas análises. Tomando Minas Gerais como
referência, vê-se que o Estado possuía maior número de fazendas de café do que São
Paulo, mas tinha menos hectares plantados, o que sugere a predominância de propriedades
menores e/ou policulturas.
Verificando os municípios maiores produtores em cada Estado, vê-se que os do Rio
de Janeiro aparecem em 1º e 2º lugares, apesar da propalada decadência da cafeicultura
carioca. Na verdade, o café fluminense havia se deslocado da porção meridional para a
setentrional, atingindo o vale do rio Itabapoana na fronteira com os Estados de Minas Gerais
e Espírito Santo. Itaperuna e Santo Antônio de Pádua estão ambos na mesma mancha de
produção de café que envolve os municípios das Matas de Minas, com destaque para
Carangola e Manhuaçu, e também os do Espírito Santo, São Pedro de Itabapoana (hoje
distrito de Mimoso do Sul) e Alegre.
Especificamente em Minas Gerais, levando em conta o tamanho da área plantada,
Afonso Alvim, secretário do Censo de 1920, destaca os municípios de Teófilo Otoni,
Aimorés, São Miguel do Mutum (Mutum), Rio José Pedro (Ipanema), Caratinga, Manhuaçu e

108
MELLO. A evolução da cultura cafeeira no Estado do Rio, 1934, p. 421.

66
Carangola, sendo esse último o que apresentava a maior área cultivada em todo o território
mineiro.
A existência de municípios grandes produtores, situados bem próximos ao rio Doce
(Aimorés, Mutum e Ipanema), guarda relação com a construção da Estrada de Ferro Vitória-
Minas, iniciada no final do século XIX com o objetivo de escoar o café produzido em Minas
Gerais e no Espírito Santo. Embora esse objetivo inicial tenha sido alterado para dar
primazia à exportação do minério de ferro da região de Itabira, a estrada contribuiu também
para o escoamento do café do vale do rio Doce até o porto de Vitória, ponto de partida da
construção da estrada de ferro que, em 1914, já alcançara o município mineiro de Belo
Oriente, tendo no trajeto a estação de Aimorés.
A presença do município de Teófilo Otoni (vale do rio Mucuri) na lista dos maiores
produtores mineiros provavelmente está relacionada com a mancha que então se espalhava
a partir do sul do Estado da Bahia, na fronteira com Minas Gerais e Espírito Santo,
destacando-se os municípios de Itabuna, Ilhéus, Belmonte, Porto Seguro, Prado, Caravelas,
Alcobaça, Nova Viçosa e São José de Porto Alegre, na foz do rio Mucuri. O
desenvolvimento da cafeicultura em Teófilo Otoni realizou, mesmo que parcialmente, o
sonho acalentado por Teófilo Otoni e sua Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri.
Em 1860, em circular encaminhada aos seus eleitores, o otimista tribuno previa que os
terrenos “fertilíssimos e tão vastos” do município possibilitariam “vender ao estrangeiro
109
tantos milhões de arrobas de café como o vale do Paraíba”.
Entre as regiões cafeeiras de Minas a Zona da Mata é a maior produtora, e nela
destacam-se os municípios de Carangola e Manhuaçu. Sobre Carangola, maior produtor do
Estado, Afonso Alvim escreve:
Convém assinalar que o município de Carangola acha-se precisamente
situado na fronteira de Minas com o Espírito Santo e o Rio de Janeiro, isto
é, no centro da mais intensa cultura desses três Estados, e que no seu fértil
território principia a famosa Zona da Mata, constituída pelos municípios de
Muriaé, Cataguases, Ponte Nova, Ubá, Juiz de Fora, Além Paraíba,
Leopoldina, São João Nepomuceno, Rio Novo, Pomba, Guarará, Mar de
Espanha, Rio Branco, São Manoel, Palmeira, Viçosa e Rio Preto, cujas
áreas em cafezais, reunidas à de Carangola, perfazem, segundo o censo de
1920, 255.787 hectares ou mais de 39% de toda a área cafeeira de
110
Minas.

Para efeito de análise a respeito da marcha da cafeicultura na Zona da Mata, é útil


verificar a produção (em quilos) dos municípios dessa região em 1927, conforme tabela
abaixo:

109 CHAGAS. Teófilo Ottoni: ministro do povo, 1978, p. 160.


110 PESSOA, Alvim. Distribuição Geográfica do Café, 1934. v. 1, p. 395.

67
Tabela 9: Produção de café (quilos) – Municípios da Zona da Mata (MG) – 1926/1927
MUNICÍPIOS SAFRA 1926-1927 (quilos) ÁREA CULTIVADA 1926
(hectares)
Abre Campo 1.800.000 3.049
Além Paraíba 6.398.700 10.915
Antônio Dias 380.480 675
Alvinópolis 397.420 952
Bicas 6.000 13
Caratinga 6.330.000 11.150
Carangola 9.150.000 16.090
Cataguases 4.230.000 7.245
Guarani 1.140.000 2.420
Guarará 3.015.000 5.122
Itanhomi 9.000 18
Jequeri 6.000 14
José Pedro [Ipanema] 2.400.300 4.076
Juiz de Fora 9.495.840 16.329
Leopoldina 3.684.000 6.246
Lima Duarte 450.660 824
Manhuaçu 7.602.000 13.570
Matias Barbosa 4.800 16
Manhumirim 4.200 13
Mar de Espanha 8.634.000 14.540
Raul Soares 6.000 16
Miraí 4.080.000 6.850
Muriaé 14.790.000 26.050
Palma 2.565.000 4.316
Pomba 5.180.000 8.650
Ponte Nova 7.395.000 42.466
Rio Casca 3.600.000 5.200
Rio Branco 5.100.000 8.580
Rio Novo 5.640.300 9.849
S. João Nepomuceno 3.600.300 6.186
S. Domingos do Prata 6.412.488 1.539
S. Manoel [Rio Pomba] 3.924.000 6.590
Tombos 1.800 6
Ubá 6.480.000 1.156
Viçosa 3.059.451 5.110
TOTAL 136.583.139 225.751
FONTE. Dados básicos: DEPARTAMENTO NACIONAL DO CAFÉ, 1934.
Elaboração própria

Em 1926/27, os cinco maiores produtores da Zona Mata eram, em ordem


decrescente: Muriaé, Juiz de Fora, Carangola, Mar de Espanha e Manhuaçu, lembrando que
em 1923 haviam se emancipado vários municípios, entre eles Tombos (Carangola), Miraí
(Cataguases), Jequeri (Ponte Nova) e Manhumirim (Manhuaçu).

68
Tendo como referência o Censo de 1920, as mudanças mais expressivas são o
aparecimento de Muriaé e Juiz de Fora como os dois maiores produtores, superando
Carangola e Manhuaçu. A presença de Mar de Espanha, um dos pioneiros da produção de
café em Minas Gerais, mostra que a cafeicultura desse município sobreviveu à decadência
que tomou conta do vale do rio Paraíba fluminense.
Levando em conta apenas os municípios localizados nas Matas de Minas, os cinco
maiores produtores, em ordem decrescente são: Muriaé, Carangola, Manhuaçu, Caratinga e
Miraí. Seguem-se: Viçosa, Ipanema e Abre Campo. Os municípios de Jequeri, Raul Soares,
Manhumirim e Tombos eram recém-emancipados e por isso aparecem com pequena
produção.
A segunda região mineira de maior produção era o Sul, onde se destacavam os
municípios localizados na fronteira com São Paulo: Monte Santo, São Sebastião do Paraíso,
Jacutinga, Machado e Guaranésia, servidos pela Estrada de Ferro Mogiana. Somadas, a
Mata e o Sul perfaziam 64% da área cafeeira de Minas Gerais.
Em menor escala, havia produção também no Triângulo Mineiro (Conquista), no
Oeste (Vila Nepomuceno, Bom Sucesso, Oliveira e Lavras) e na área Central (Conceição do
Serro, Mercês, Itabira, Palmira, São Domingos do Prata, Guanhães, Barbacena, Bonfim,
Mariana e Alto Rio Doce). A presença de Mariana faz lembrar que foi nesse município que a
existência de café em Minas foi identificada pela primeira vez (1788), conforme registro de
José Joaquim da Rocha.

4.4 A defesa permanente do café

O Convênio de Taubaté produziu seus efeitos até 1914, quando o estouro da


Primeira Guerra Mundial afetou o transporte e o comércio global. A partir de 1917, com o
recrudescimento das operações navais que provocaram o bloqueio da Europa, as
exportações de café sofreram um abalo e abriram o caminho para uma segunda intervenção
do governo no mercado:
Em 1917, para acudir aos produtores que em virtude da guerra viam
represados seus cafés nos portos de exportação, entrou o governo de São
Paulo em arranjo com o governo federal e deste recebeu, para aquele fim, a
quantia de 110 mil contos de réis resultantes de uma emissão de papel
moeda. Com essa quantia comprou o governo de São Paulo, em Santos e
no Rio, [para onde ia grande parte do café de Minas], não pequena porção
de café que retirou temporariamente do mercado, impedindo maior baixa
[...]. Dessa operação resultou um lucro líquido de 128.910:000 [de réis], que
111
foi dividido em partes iguais entre a União e São Paulo.

111
RAMOS. A intervenção do Estado na lavoura cafeeira, 1934, p. 508.

69
Em 1921, quando os preços internacionais do café passaram a cair mais
rapidamente do que a taxa de câmbio, erodindo a renda real do setor cafeeiro, uma nova
intervenção foi necessária, dessa vez feita pelo governo federal, que por meio de mais
emissão de papel moeda comprou 4,5 milhões de sacas nos portos do Rio e Santos, cujo
estoque serviu de caução para levantar um empréstimo externo de nove milhões de libras
esterlinas. Paralelamente, realizou-se a primeira tentativa de regular a entrada de café nos
portos, que passou a ser uma característica constante do plano de defesa permanente.
A operação de 1921 foi bem sucedida, até mesmo porque as safras de 1921/22 e
1922/23 foram bem menores, se comparadas com as do início do século. Já o estoque
mundial de café havia caído de 10 milhões de sacas em 1919, para 5,3 milhões em 1923.
Essa conjuntura resultou na expressiva subida das cotações do café na Bolsa de Nova
Iorque. Em 1923/1924 elas aumentaram de 10,9, para 19,3 cents libra-peso. Em 1933, o
estoque adquirido com as compras de café já estava praticamente no fim e sua venda
paulatina tinha proporcionado vultosos lucros ao país.
Ainda em 1921, a Mensagem encaminhada ao Congresso pelo presidente Epitácio
Pessoa apontava as causas das sucessivas crises e sugeria a instituição de uma defesa
permanente do café. Entre as causas destacava-se a irregularidade das remessas de café
para os portos, que se concentravam no segundo semestre de cada ano. Isso causava
graves problemas financeiros para os operadores do mercado, em virtude da inexistência de
um sistema bancário suficiente para atender às suas necessidades. Dizia a Mensagem:

[...] que esta situação se agravava com a falta de organização do mercado


produtor, constituído, como é, por uma massa difusa de vendedores, sem
coesão, sem unidade de ação, sem resistência financeira, em frente de dez
ou doze casas compradoras, apercebidas de todos os recursos para a luta e
112
ligadas pelo interesse comum de comprar a baixo preço.

Epitácio Pessoa, já no final de seu governo, encaminhou ao Congresso projeto de


lei criando um Conselho responsável pela formulação e execução da política de defesa
permanente do café, mas os legisladores modificaram o projeto e o converteram no Decreto
113
Legislativo nº 4.548, sancionado pelo presidente no dia 19 de junho de 1922 . Esse
dispositivo legal autorizava o governo a “promover o incremento da produção nacional,
agrícola e pastoril, e das indústrias anexas, por meio de medidas de emergência e criação
de institutos permanentes”. Tratava de vários temas, incluindo gado em pé, charque e
frigoríficos; algodão, cacau, borracha, mate, açúcar e café; transporte por estradas de ferro
e companhias de navegação. O Decreto mantinha o Conselho, mas também criava o

112 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 118.


113 BRASIL. Decreto Legislativo 4.548, 1922.

70
Instituto de Defesa Permanente do Café e instituía um Fundo a ele vinculado. Os parágrafos
3º a 6º do artigo 6º do referido Decreto definem a política de defesa permanente e detalham
as fontes de recursos do Fundo:

§ 3º A defesa permanente do café consistirá em:


I. Empréstimos aos interessados, mediante condições, prazo e juros
módicos determinados pelo conselho e garantia de café, depositado em
armazéns gerais ou armazéns oficiais da União ou dos Estados.
II. Compra de café para retirada provisória do mercado, quando o conselho
julgar oportuna para a regularização da oferta.
III. Serviço de informação e propaganda do café para aumento do consumo
e repressão das falsificações.
§ 4º O fundo para a Defesa Permanente do Café será de 300.000:000$000.
§ 5º Esse fundo será constituído pelos recursos seguintes:
a) lucros que forem apurados na liquidação do estoque;
b) lucros líquidos de outras operações de defesa do café;
c) contribuição dos Estados;
d) operações de crédito internas ou externas, se o Poder Executivo as
obtiver em condições favoráveis de prazo e juros e sendo necessário;
e) emissão de papel-moeda para completar o fundo da defesa, ficando o
Poder Executivo expressamente autorizado para esse fim por esta lei.
§ 6º A emissão terá como lastro a parte do fundo ouro, de garantia de papel-
moeda que não está garantindo as emissões realizadas em virtude do
decreto n. 3.546, de 22 de outubro de 196 [sic], e na proporção de 80% para
o café que for adquirido pelo Conselho ou «warrantado» pelos particulares.
§ 7º Uma vez liquidadas as operações, serão incineradas, mensalmente, as
notas correspondentes às importâncias emitidas.
§ 8º No caso de exigir a defesa do café «warrantagem», desse produto,
comprado pelo Conselho para obtenção de maiores recursos para essa
defesa, a «warrantagem» será feita na base máxima de 50% dos preços
correntes do café.

Embora já pensada, a defesa permanente do café começa a ser implantada de fato


em 1922, quando Artur Bernardes assume a presidência do Brasil. Sua primeira providência
foi regular as entradas de café nos dois grandes portos de exportação do país: Santos e Rio.
O governo federal distribuiu essas entradas pelos 12 meses do ano, em quotas mais ou
menos iguais. No conjunto, a defesa permanente introduziu duas grandes mudanças,
conforme análise de Winston Fritsch:
Em primeiro lugar, os preços não seriam mais controlados através da
compra e estocagem de excedentes eventuais pelo governo, mas da
retenção compulsória de todo o café colhido nas regiões produtoras do
Centro-Sul em armazéns reguladores, a serem construídos em
entroncamentos ferroviários estratégicos, e do controle do volume
embarcado a partir desses armazéns para os portos, isto é, pelo controle
contínuo da oferta brasileira ao mercado mundial. Essa alteração dos
mecanismos de valorização implicava crucial mudança na distribuição de
suas perdas e lucros.

71
Antes, era a autoridade pública que incorria nos ônus financeiros e carreava
os ganhos eventualmente resultantes da operação esporádica de defesa
dos preços; agora, era o fazendeiro que, como proprietário dos cafés
114
armazenados, bancaria a operação.

Os produtores se beneficiavam do warrant, um título que era emitido pelo armazém


encarregado da guarda do café, garantindo ao seu portador a propriedade da mercadoria
custodiada. O título era também um instrumento de crédito, pois poderia ser utilizado como
caução ou desconto quando o depositante contraía empréstimos oficiais, fato que deve ter
se tornado corriqueiro, porque o fazendeiro tinha de custear todas as despesas, desde a
entrega do café no armazém até seu embarque nos portos exportadores. Por outro lado, os
produtores, e não o governo, poderiam se beneficiar dos ocasionais aumentos de preços.
Essa vantagem, no entanto, mostrou-se limitada pelo tempo decorrido para emissão da
Ordem de Despacho do café do armazém para o porto, que podia demorar até 120 dias,
gerando outro efeito perverso: a corrupção, “alimentada pelas gratificações para acelerar as
liberações”. 115
Os armazéns reguladores e a possibilidade do produtor obter warrants tiveram um
papel importante sobre os ganhos dos lavradores no interior do país, e isso interessava de
perto aos produtores de todas as regiões de Minas Gerais. Afonso Taunay anota:

Assim se conjurava o perigo da venda a preços vis de cafés, no interior,


pelo lavrador premido por dificuldades, o que aos compradores [os
comissários do café] dava margem para revenda a baixo preço nos
116
mercados de exportação, burlando, assim, a defesa.

Dois anos turbulentos do ponto de vista político (movimentos tenentistas) e


econômico (crise monetária e fiscal) se passaram até que em 1924 o presidente Artur
Bernardes, que governou sob o estado sítio durante quase todo o seu mandato, resolveu
transferir para São Paulo a responsabilidade pelos armazéns reguladores (Decreto 4.868,
117
de 7 de dezembro de 1924 ), iniciativa que até então tinha sido a única acionada pelo
governo federal no âmbito da política de defesa do café. Para receber esse patrimônio foi
118
criado, via lei estadual (nº 2.004, de 19 de dezembro de 1924 ), o Instituto Paulista de
Defesa Permanente do Café. A lei que o instituiu criou uma “taxa de viação” por saca de
café que transitasse pelo território paulista, cujos recursos iriam compor uma parte do
também criado Fundo de Defesa Permanente do Café.

114 FRITSCH, Winston. Apogeu e crise na Primeira República FRITSCH, Winston. Apogeu e crise na Primeira
República, 1989.
115 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 122.
116 TAUNAY, A. Pequena História do Café no Brasil, 1945, p. 411.
117 BRASIL. Decreto 4.868, 1924.
118 SÃO PAULO. Lei 2.004, 1924.

72
A taxa serviria como garantia para obtenção de empréstimos externos que
abasteceriam o Fundo. Sinal do protagonismo assumido por São Paulo na política cafeeira
nacional, a lei previa a celebração de convênios com os demais Estados produtores.
Em novembro de 1925 foi assinado o convênio com o Estado de Minas Gerais, que
regularizava os embarques de café nas estradas comuns aos dois estados. Em 1927, com a
participação dos Estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro (depois entrariam os
governos do Paraná e da Bahia), firma-se um compromisso para defesa conjunta do café.
Esse compromisso ficou conhecido como o “segundo convênio de Taubaté”. O controle das
entradas de café, que já se dava no porto de Santos, foi estendido aos portos do Rio, Vitória
e Paranaguá, com a fixação dos estoques máximos e da cota de participação de cada
Estado. Os números e índices acordados permitem aferir a importância de cada um dos
portos exportadores e o montante da produção de cada estado. Em Santos, para um
estoque máximo de 1.200.000 sacas/mês, Minas Gerais concorreria com 11% e São Paulo
com 89%; no Rio de Janeiro, para um estoque de 360.000 sacas/mês, Minas Gerais tinha
direito a 55,75%, o Rio a 30%, o Espírito Santo a 11,75% e São Paulo a 2,5%. No porto de
Vitória, o limite era de 150.000 sacas/mês, sendo 73,3% para o Espírito Santo e 26,7% para
Minas Gerais. O porto de Paranaguá era 100% reservado para o café do Paraná (limite de
estoque de 50.000 sacas/mês), que já começava a ter expressão nas estatísticas nacionais
de produção e exportação de café.
Embora não tivesse acesso direto ao mar, o café das Minas Gerais estava
localizado de forma a poder se utilizar de três, entre os quatro portos, e nessa posição
estratégica destacava-se a produção das Matas de Minas, que podia ir para qualquer um
deles, preferencialmente para o Rio de Janeiro e Vitória, sendo que o porto do Rio tinha
maior capacidade de estoque e melhores condições técnicas de embarque, além da
presença das empresas exportadoras e de um sistema bancário de apoio. As distâncias dos
municípios das Matas de Minas até esses portos são mais ou menos as seguintes: menos
de trezentos quilômetros de Vitória; quinhentos e poucos do Rio e um pouco mais de
oitocentos quilômetros de Santos.
Os convênios firmados com São Paulo previam que os estados legislassem sobre a
política de defesa permanente do café. Já em 1925 a lei estadual mineira nº 887 criou o
imposto sobre cada saca de café exportado e definiu os meios pelos quais se daria a
defesa:

a) por meio de empréstimos aos produtores, sob garantia do café


depositado nos armazéns gerais ou outros fiscalizados pelo Estado
[arrendados], a juro módico e prazo não excedente a dez meses; b) pelo
redesconto de títulos de crédito que representam operações reais sobre o

73
café, feitos pelos bancos regionais que se sujeitassem à fiscalização do
governo; c) pela fixação de um preço mínimo ao qual seria recebido o café
que fosse entregue em locais determinados, pagando-se em obrigações a
juro razoável e prazo de um ano, garantidos pelo café entregue e pelo fundo
119
de defesa”.

O Convênio gerou também a criação de órgãos públicos para a defesa do café nos
estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, sustentados pelos recursos
arrecadados com a cobrança das taxas de exportação.

Em 1926, o Instituto Paulista contratou com banqueiros ingleses um empréstimo


externo e, no plano federal, foi criada, pelo Banco do Brasil, a Caixa de Estabilização, a fim
de controlar o câmbio e evitar que a alta do café (em ouro), retido nos armazéns provocasse
o aumento das taxas cambiais e anulasse, para o produtor, os efeitos positivos da defesa do
café. O Instituto, com base nos dados da safra do ano anterior, do consumo mundial de café
e da produção dos países concorrentes, liberava a diferença e mantinha os preços em alta.
A intervenção do Instituto paulista propiciou bons lucros aos cafeicultores. Por outro lado,
provocou a reação dos países importadores, particularmente dos Estados Unidos, que
passaram a investir na produção colombiana de cafés de maior qualidade.
Na sequência, outro episódio irá afetar a produção, exportação, consumo e também
a política cafeeira: a crise econômica mundial de 1929.
Delfim Neto resume os efeitos da queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque
(outubro de 1929), que provocou uma mudança imediata das expectativas dos operadores
do mercado:

Os bancos restringiram a concessão de crédito e reduziram as suas


operações sobre café; procuraram elevar a sua liquidez [...]; o governo
federal e o Banco do Brasil se recusaram a financiar as compras e a
situação tornou-se insustentável. O preço do café Santos 4, no disponível,
em Nova Iorque, desceu de 22,4 cents/libra-peso, em setembro, para 15,2,
em dezembro, para atingir 14,1 cents/libra-peso, em média, no primeiro
semestre de 1930, e 12 no segundo semestre do mesmo ano. O sistema de
defesa dos preços do café, cuidadosamente armado pelo Estado de São
Paulo, ruiu sob a pressão de várias forças. Externamente, a crise iniciada
em 1929 manifestou-se por um rápida generalização do desemprego e uma
violenta queda do nível de rendimento, o que deslocou para baixo a curva
120
de procura do café.

119
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 78.
120
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 134-35.

74
4.5 A política cafeeira de 1930 a 1990

Um ano após o início da crise de 1929, ocorre no Brasil uma mudança política, a
chamada Revolução de 30, que instaurou uma forte concentração de poder no governo
federal e o equivalente enfraquecimento da autonomia dos estados federados. A política de
defesa do café então retorna ao Poder Executivo da União, sob o comando do presidente
Getúlio Vargas, que em 1931 cria o Conselho Nacional do Café, substituído, em 1933, pelo
Departamento Nacional do Café (DNC), autarquia federal que dispensou a participação dos
representantes dos estados produtores. Os cafeicultores de São Paulo, reunidos em torno
do Instituto Paulista de Defesa Permanente do Café, haviam apoiado a chamada Revolução
Constitucionalista de 1932, contrária ao governo Vargas.

O verbete sobre o café do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro resume mais de


10 anos de atuação do DNC:

A nova entidade consolidou os poderes do governo federal, eliminando na


prática a representação dos Estados. Dispondo de poderes muito amplos o
DNC iniciou um programa que se estendeu por mais de dez anos, e que
abrangeu a aquisição, a armazenagem e o escoamento do café, além da
limitação ao plantio. Entre 1931 e 1944, aproximadamente 100 milhões de
sacas foram retiradas do mercado pelo DNC, que determinou a destruição
de cerca de 80 milhões de sacas, o equivalente a três anos de consumo
121
mundial.

A quantidade de café a ser eliminada era conhecida como “cota de sacrifício” e o


método utilizado era queimar as sacas. Sobre esse recurso opinou Delfim Neto, em 1957:

Produzir café para queimá-lo é de fato absurdo, mas não há dúvida de que
queimar uma saca de café, do ponto de vista social, é menos importante do
que despedir um chefe de família e forçá-lo a roubar ou a prostituir sua
122
esposa para alimentar seus filhos.

Por outro lado, o governo Vargas instalou no país vários centros (fazendas)
experimentais voltados para a pesquisa científica e a transferência de tecnologia para a
produção de gêneros agropecuários exportáveis. Com relação ao café, destacam-se as
instalações, em 1934, da estação experimental de Botucatu (extinta em 1970) e, em 1935,

121
ABREU. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: 1930-1983, 1984, p. 520.
122
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 147.

75
da Estação Experimental do Café no município de Machado (sul de Minas), hoje uma das
fazendas experimentais vinculadas à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(Epamig). O objetivo dessas fazendas era melhorar a qualidade dos produtos agropecuários
brasileiros de exportação, a fim de criar condições mais favoráveis para competir no
mercado internacional. No caso do café mirava-se, particularmente, a competição com o
produto colombiano. Registre-se, de passagem, que o primeiro gerente oficial da Fazenda
de Machado foi o engenheiro agrônomo Demerval Frossard, nascido em Manhumirim e
descendente de imigrantes suíços que desbravaram as Matas de Minas.
A queima de café durou até 1945, ano de término da Segunda Guerra Mundial,
quando no Brasil, o regime getulista, que em 1937 adquirira faceta autoritária com o golpe
do chamado Estado Novo, foi substituído por um regime de corte liberal democrático.
Durante o litígio, fez parte do “esforço de guerra” dos Estados Unidos atrair o Brasil para o
campo de luta dos países aliados (Getúlio chegou a flertar com os países do Eixo) e nesse
contexto situam-se os Acordos de Washington, pelos quais o Brasil obteve algumas
vantagens, incluindo a compra pelos americanos de “cotas de sacrifício” e a diminuição de
impostos incidentes sobre o café brasileiro nos Estados Unidos.
Em 1946 o governo federal, sob a ótica do liberalismo econômico, argumentando
terem sido atingidos o equilíbrio estatístico entre a produção e o consumo de café, bem
como a normalização do comércio interno do produto, decide extinguir o Departamento
Nacional do Café e o substitui pela fraca Divisão da Economia Cafeeira (DEC). O momento
coincide com uma melhora das exportações brasileiras, que haviam sofrido com a queda do
consumo mundial durante a guerra. Coincide também com o término do estoque acumulado
pelo DNC, fato que se refletiu no aumento dos preços internacionais, gerando uma
campanha contra o café brasileiro junto à opinião pública norte-americana.
A campanha foi orquestrada no rastro do inquérito parlamentar instaurado na
subcomissão de agricultura do Senado americano, pelo senador democrata Guy Gillette, a
fim de investigar as causas dos altos preços do café do DNC, comprado em 1948 por
operadores na Bolsa de Nova Iorque. O periódico paulista Jornal de Notícias, de 10 de junho
de 1950, dia seguinte à conclusão do relatório do inquérito, publicou na primeira página a
seguinte manchete: PROVOCARAM NOVA BAIXA DO CAFÉ EM NOVA YORK AS
SUPREENDENTES CONCLUSÕES DO INQUÉRITO GILLETTE. No corpo da matéria, o
jornal cita o relatório, que teria revelado que perto da metade dos contratos de café para
entregas futuras na Bolsa de Nova Iorque, na data de 31 de março de 1950, pertencia a
interessados brasileiros (principalmente do Estado de São Paulo) que teriam se locupletado
nessas transações.

76
Registre-se que a campanha em torno do inquérito do senador Guy Gillette não foi
a única movida contra o café brasileiro nos Estados Unidos. Ela reeditou outra, inspirada
pelas empresas importadoras e torrefadoras americanas, à qual aderiu o candidato
republicano à presidência dos EUA, Herbert Clark Hoover, que durante a campanha contra o
café brasileiro foi eleito presidente dos Estados Unidos (1929 -1933).
Em 1951, o preço do café foi congelado nos Estados Unidos, provocando o
reestabelecimento da política brasileira de defesa do produto. O governo federal, novamente
sob o comando do nacionalista Getúlio Vargas, limitou a entrada de café nos portos e
anunciou sua disposição de comprar café, caso fosse necessário, a fim de valorizar o
produto. No mesmo governo foi criado, em 1952, o Instituto Brasileiro do Café (IBC), que até
1990 foi responsável pela totalidade da política cafeeira nacional.
O IBC assume o armazenamento e a regulação das entradas de café nos portos
(fixando cotas por porto), a pesquisa agrícola, os levantamentos estatísticos, a assistência
técnica, o fomento aos cafeicultores e às suas cooperativas, a fiscalização do trânsito do
café até os armazéns e deles até os portos, o comércio interno, a propaganda nos mercados
consumidores (interno e externo), a regulamentação e fiscalização dos tipos e qualidades de
café e a exportação. Para sustentar o instituto foi criada uma taxa por saca de café
produzida.
O IBC tinha até mesmo poder de polícia, podendo reprimir fraudes no transporte,
comércio, industrialização e consumo do café, que passa a ser encarado como o produto
brasileiro por excelência, capaz de gerar receita de divisas destinadas à promoção do
desenvolvimento industrial do país. Levando em contas as idas e vindas da política de
defesa, é justo dizer que ela só se torna permanente de fato com a criação do IBC.
Há um relativo consenso entre os especialistas a respeito da existência de uma
contradição básica da política de defesa e valorização do café. Ao controlar a oferta do
produto e o câmbio, os preços elevam-se ou no mínimo se mantêm estáveis, fato que
estimula os fazendeiros a expandir a produção, não só no país, onde cada vez mais estados
começam a se dedicar ao plantio, como também no estrangeiro, onde o Brasil passou a
enfrentar a concorrência da produção de um número cada vez maior de países. Se por volta
de 1900 o Brasil detinha ¾ da produção mundial, já em 1933 essa cifra tinha caído para
50%, chegando a 35% entre 1950 e 1960, embora ainda representasse 50% das receitas
totais oriundas das exportações brasileiras. A contradição da política de defesa ficava
explícita na ocorrência das crises de superprodução, que eram cíclicas e provocavam a
depreciação do produto, exigindo novas intervenções valorizadoras.

77
Uma crise de superprodução volta a ocorrer com força na safra 1959/60, quando a
colheita, somada ao estoque do IBC (depositado numa enorme rede armazenadora de 100
ha. de área), alcança 44 milhões de sacas. A demanda estimada era de aproximadamente
24 milhões de sacas, das quais 18 milhões destinados à exportação e seis milhões ao
123
consumo interno. Havia, portanto, um excedente de 12 milhões de sacas.
É então que o IBC introduz uma política ainda não testada: financiar, ao mesmo
tempo, a erradicação de cafezais e sua substituição por outros gêneros agrícolas. Para tanto
é criado, em 1961, o Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura (GERCA), braço do
IBC que até 1967 irá centralizar a política cafeeira nacional.
124
Nos termos do Decreto nº 79, de 28 de outubro de 1961 , assinado pelo então
Primeiro Ministro Tancredo Neves, caberia ao GERCA, com a colaboração de órgãos
estaduais e municipais, “concentrar a produção de café nas zonas ecológicas mais
favoráveis” e “financiar ou complementar financiamentos para a diversificação da produção,
através de entidades de crédito, oficiais e privadas, mediante convênios”.
Demonstrando a centralidade dessa política para o governo o IBC/GERCA,
vinculado ao Ministério da Indústria e do Comércio (também criado em 1961), era regido por
um Conselho Deliberativo do qual participavam representantes de mais dois ministérios
(Fazenda e Agricultura); do Banco do Brasil, que detinha quatro cadeiras (ocupadas pelas
carteiras de Crédito Agrícola e Industrial, Comércio Exterior, de Redescontos e de Crédito
Geral); da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC); da Comissão de
Financiamento da Produção e de um representante de cada um dos quatro estados maiores
produtores de café, entre eles, por óbvio, Minas Gerais. Comandava o Conselho o
presidente do IBC, representado ainda pelo presidente da Junta Administrativa do instituto,
pelo vice-presidente e diretores cafeicultores (eram três diretores, obrigatoriamente
produtores de café).
O Decreto previa os recursos necessários à execução do programa, especialmente
o Fundo de Defesa do Café, que teria acesso ao dinheiro proveniente do recolhimento de
uma cota de contribuição, no valor de 22 dólares por saca de café exportada. A cota fora
125
criada cinco meses antes pela Instrução nº 205 da SUMOC, de 12 de maio de 1961 .
Esse dispositivo legal facultava ao Banco do Brasil negociar cambiais provenientes da
exportação de café, à taxa do mercado livre; os recursos seriam destinados ao Fundo, mas
recolhidos diretamente ao caixa da SUMOC. Mediante requisição do presidente do

123 ABREU. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (1930-1983), 1984, p. 523.


124 BRASIL. Decreto nº 79, 1961.
125 BRASIL. Instrução nº 205 da SUMOC, 1961.

78
Conselho Deliberativo do GERCA a SUMOC abriu uma conta especial no Banco do Brasil,
denominada “Fundo de Racionalização da Cafeicultura”, que ficou à disposição do GERCA.
Nessas condições, o programa de erradicação tinha garantidos não só os recursos,
mas também a flexibilidade nas operações. Não dependia de orçamentos públicos e se valia
da SUMOC, criada em 1945 como uma espécie de núcleo de um banco central. Essa
superintendência era gerida por um conselho, no qual o Banco do Brasil detinha vários
assentos, e gozava de extrema agilidade operacional. Em dezembro de 1961 o Conselho
ganhou mais um membro: o ministro da indústria e comércio, ao qual estava vinculado o
IBC. A partir de 1964, quando foi criado o Conselho Monetário Nacional (CMN), a liberdade
da SUMOC foi mais controlada, pois a partir de então deveria submeter suas decisões à
confirmação do CMN, instância superior.
Artigo escrito pela geógrafa Márcia Siqueira de Carvalho, intitulado “A erradicação
de cafezais e a diversificação de lavouras executadas pelo GERCA no estado Paraná”,
permite acompanhar a evolução do programa não só naquele estado, mas em todo o país.
126
Suas fontes de informação são os relatórios do IBC/ GERCA, de 1962 a 1969.
O GERCA dividiu seu programa em dois projetos: Racionalização da Cafeicultura
Brasileira (que teve duas fases) e Diversificação Econômica das Regiões Cafeeiras.
O projeto de Racionalização tinha como meta erradicar dois bilhões de cafeeiros,
pagando 15 cruzeiros por pé eliminado, o que na época equivalia a cerca de 50% do custo
médio de produção, correspondendo à produtividade de seis sacos por mil cafeeiros.
O projeto de Diversificação previa que o lavrador:

[...] escolheria a cultura que substituiria o café, sem exigências


agronômicas, caso fossem lavouras temporárias. As lavouras substitutivas
eram financiadas basicamente com recursos do Banco do Brasil, acrescidos
em 10% para o uso de sementes selecionadas, 20% para execução de
práticas de conservação do solo e 20% para o emprego de fertilizantes e
127
defensivos.
O programa deu resultados imediatos em 1962 e 1963, quando foram erradicados
587,5 milhões de pés de café em 678 mil hectares. Contudo, a alta inflação do período
corroeu o financiamento. A indenização por cafeeiro, que em 1962 equivalia a 50% do custo
médio da produção, caiu, em 1965, para 8%. De 1964 a 1966 foram eliminados 136 milhões
de cafeeiros, quantidade bem menor se comparada aos dois anos anteriores.

126 CARVALHO. O uso do solo no norte do Paraná e a política cafeeira, p. 135-141, jul./dez.1999, v. 8, n.2, p
135-141, jul./dez.1999.
127 CARVALHO. O uso do solo no norte do Paraná e a política cafeeira, p. 135-141, jul./dez.1999, v.8, n.2, p
135, jul./dez.1999.

79
A tabela abaixo dá o número de pés erradicados e as áreas liberadas nos estados
de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo, na 1ª fase (junho de 1962 a agosto de
1966) e na segunda fase do programa (1966 a 1968).

Tabela 10. Erradicação de cafeeiros e área liberada nas fases do programa


Estados Cafeeiros erradicados (mil pés) Área Liberada (ha)
1ª Fase 2ª Fase Soma 1ª Fase 2ª Fase Soma
SP 244.420 54.944 299.364 304.762 62.135 366.897
MG 230.564 133.139 363.703 241.538 111.596 353.134
PR 125.772 124.185 249.957 161.062 146.000 307.062
ES 67.903 235.272 303.175 60.429 239.000 299.429
OUTROS 54.887 108.257 163.144 50.726 115.000 165.726
TOTAL 723.546 655.797 1.379.343 818.517 673.131 1.491.648
Fonte: Relatório de 1967. GERCA/IBC. OBS: A segunda fase durou de agosto de 1966 a 1968,
mas os dados da tabela vão somente até 1967

Os dois estados de maior produção, São Paulo e Minas Gerais, lideram a


erradicação, nas duas fases, sendo que na segunda o número de pés eliminados em Minas
Gerais é bem maior do que em São Paulo. Na soma final, Minas Gerais destaca-se como o
campeão da erradicação, mas também são dignos de nota o Paraná e o Espírito Santo, este
principalmente na segunda fase, em que o montante eliminado o coloca em terceiro lugar,
deixando o estado do Paraná em quarto. No total, Minas Gerais eliminou 363.703 cafeeiros,
mas São Paulo teve a maior área liberada: 366.897 ha.
O que caracteriza a segunda fase do Programa são algumas mudanças
disciplinadoras introduzidas pelo IBC: a indenização por cafeeiro foi diferenciada por região,
aumentando onde a produção era maior; não se permitiu mais a livre escolha das culturas
substitutivas, que deveriam ser autorizadas pelo IBC; eram obrigatórias a destoca do
terreno, a aração, o uso de cercas e o cultivo por no mínimo dois anos; e somente após o
primeiro ano o lavrador recebia a primeira parcela do financiamento. Além disso, a
fiscalização foi dividida entre o Banco do Brasil e os bancos estaduais e particulares; e
criou-se a figura do avaliador, que emitia laudos para os bancos.
Uma avaliação do projeto de diversificação econômica das regiões cafeeiras pode
ser feita a partir dos dados sobre as culturas substitutivas e o montante de áreas liberadas,
entre os anos de 1962 a 1966, conforme a seguinte tabela:

80
Tabela 11: Culturas substitutivas e área (ha) na primeira fase do Programa de Erradicação –
Brasil – 1962- 1966
Culturas Área (ha) %
Pastagens 65.069 40,4
Milho 17.878 11,1
Arroz 2.738 1,7
Algodão 25.770 16,0
Feijão 7.731 4,8
Cana-de-açúcar 2.255 1,4
Mandioca 3.382 2,1
Amendoim 1.172 1,1
Mamona 4.671 2,9
Café 483 0,3
Reflorestamento 805 0,5
Outras 28.508 17,7
Total 161.062 100,0
Fonte: Relatório GERCA/IBC. 1968.

A substituição do café por pastagens foi a opção da maioria dos cafeicultores,


certamente em função da facilidade de cultivo e da menor exigência de mão de obra.
Acrescente-se que no caso de Minas Gerais as fazendas cafeeiras, em geral, já praticavam
a pecuária (de corte e leiteira), ou seja, os lavradores tinham áreas já plantadas com pastos
e também experiência nos tratos culturais. Esse era o caso também do milho, do feijão e do
arroz, lavouras de subsistência, mas também comerciais, que eram cultivadas por
fazendeiros e meeiros.
Depoimentos de Pedro Antônio Silva Araújo e Renato Thomaz Guimarães, ex-
servidores do IBC, dão conta de que na região das Matas de Minas o café foi praticamente
erradicado:

Acabou! Você ia de Muriaé e Caratinga e dava para contar nos dedos da


mão a quantidade de lavouras que ficaram. Não ficou quase nada! A nossa
região já explorava o café há uns 80 anos, já com um parque depauperado,
com baixa produtividade, abaixo de 10 sacas por hectare, com grande
quantidade de lavouras abandonadas, com a broca do café se multiplicando
e causando grandes prejuízos. Em suma, o nosso produtor já não tinha
sucesso na exploração das lavouras, assim quase todo o café foi
erradicado, ficando a região com um parque cafeeiro reduzido e uma
produção que beirava 200 mil sacas. O pessoal criticava: “vamos sair da
monocultura do café para a monocultura do capim”. Mas foi uma coisa boa,
128
pagou-se o produtor para erradicar café ruim.

128
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela
Martins Durães Brandão, 2016.

81
Além da baixa produtividade, nessa ocasião o café das Matas de Minas era
predominantemente do tipo Rio Zona, de qualidade inferior; por isso não havia como a
região ser enquadrada na categoria de “zonas ecológicas mais favoráveis”, onde o
programa do GERCA pretendia “concentrar a produção de café”. Ao contrário, o café das
Matas de Minas era tido como “antieconômico” e por isso passível de ser erradicado.
O engenheiro agrônomo e professor José Luiz dos Santos Rufino, da Universidade
Federal de Viçosa, explica:

Em todas as regiões pode-se fazer café de qualidade. Depende muito das


condições climáticas, do trato e do momento em que é colhido. O grande
condicionador é o clima. A baixa umidade ajuda a pós-colheita, pois nessas
condições o café seca mais rápido e não fermenta. Até a década de 1980, o
café das Matas de Minas era categorizado como do tipo Rio Zona, de
qualidade inferior, exatamente por conta desse fenômeno da fermentação,
que dá uma bebida áspera, com cheiro de iodofórmio, um gosto meio ruim.
Como a umidade relativa aqui é alta, e não havia controle da insolação,
jogava-se o café no terreiro, ele dava mofo e ficava ruim. Com os avanços
tecnológicos (corretivos do solo, adubação, fertilizantes, espaçamento
adequado, secadores mecânicos, controle de insolação, entre outros), a
partir da década de 1990 a região começa a aparecer como produtora de
129
bons cafés, e em 2000 eles começam a ganhar prêmios.

A erradicação de cafezais provocou desemprego rural nas Matas de Minas,


atingindo com especial rudeza os meeiros e os inúmeros trabalhadores provisórios
contratados na época da colheita. Sendo uma região montanhosa, a mecanização do plantio
e da colheita é muito limitada, e por isso os cultivos exigem bem mais mão de obra do que
nas áreas planas, fato que confere caráter artesanal e alto grau de empregabilidade à
cafeicultura das Matas de Minas.
Pedro Araújo e Renato Guimarães falam sobre a questão do desemprego:

O programa visava diversificar as atividades agrícolas, especialmente com


formação de pastagens. Essa atividade não criou os empregos que o café
proporcionava e grandes contingentes populacionais migraram para outras
regiões, especialmente Volta Redonda, para trabalhar na indústria, e
Paraná, para continuar com a lavoura de café. Muitos aqui ainda têm
parentes no Paraná e em Volta Redonda. Não se encontrou solução
imediata para a mão de obra liberada, que só tornou a aparecer alguns
130
depois, com o Programa de Renovação e Revigoramento de Cafezais.

129
RUFINO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
130
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.

82
Não foi possível encontrar estatísticas sobre o aumento do desemprego nas Matas
de Minas, mas para o vizinho Estado do Espírito Santo há pesquisas:

O programa de erradicação, executado entre junho/62 e maio/67, atingiu


mais da metade do cafezal capixaba, liberando 71% da área plantada com
café, deixando praticamente 60 mil pessoas sem emprego na área rural. As
consequências desse programa foram de imediato uma profunda crise
social [...] que provocou êxodo de famílias para as cidades, especialmente
para a região da Grande Vitória, que não dispunha de infraestrutura urbana
suficiente para abrigar número elevado de pessoas e muito menos oferecia
131
empregos para essa massa de trabalhadores.

Em Minas Gerais, as oportunidades de financiamento com recursos do programa


do GERCA foram aproveitadas pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG),
fundado em 1962 com o objetivo de fomentar a industrialização do Estado, incluindo a
agroindústria. Nesse setor o BDMG atuou inicialmente nos projetos de usinas canavieiras,
de laticínios, derivados do milho e matadouros-frigoríficos. Nos três primeiros setores o
BDMG assessorou a elaboração de projetos da iniciativa privada, prevendo sua localização
em regiões onde a substituição do café por canaviais, milharais e pastagens facilitasse sua
viabilização, via financiamentos do GERCA.
No caso dos matadouros-frigoríficos, considerados estratégicos, o BDMG optou
pela participação acionária direta. O objetivo era reduzir a exportação de gado em pé para
outros Estados, substituindo-a pela exportação de produtos já elaborados, o que aumentaria
substancialmente a renda gerada pela pecuária mineira. Com esse intuito o BDMG
participou da instalação do Frigorífico Norte de Minas (Frigonorte), em Montes Claros, e do
Frigorífico Mucuri S.A (Frimusa), em Teófilo Otoni, tradicional município cafeeiro. O Frimusa
contou com os financiamentos do GERCA para erradicar cafezais e substituí-los por
pastagens. O projeto foi lançado em junho de 1963 e o frigorífico começou a operar em
132
1967.
Em 1967, o programa do GERCA começou a definhar. Os estoques do IBC
estavam cada vez mais baixos e desenhava-se uma crise de abastecimento. Em junho de
1967, uma geada no Paraná arrasou cerca 500 milhões de cafeeiros, que somados aos 1,5
bilhões já erradicados, atingia o montante de dois bilhões, meta estabelecida pelo IBC. O
programa do GERCA, então, foi dado por concluído.
Sobre as intervenções governamentais na cafeicultora cabe ainda registrar as que
resultaram dos Acordos Internacionais do Café (AIC), firmados no âmbito da Organização
Internacional do Café (OIC). A socióloga Maria Alice Singulano resume:

131 ROCHA; MORANDI. Cafeicultura e grande indústria: a transição no Espírito Santo (1955-1985), 1991, p.36.
132 FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. A Trajetória do BDMG: imagens de um projeto para Minas, 1997, p.77.

83
A regulação do mercado de café por meio do AIC durou basicamente de
1962 a 1989, com alguns períodos de interstício. Este acordo, assinado
pelos países membros da OIC, tinha como principal instrumento de
regulação mercantil o sistema de cotas de exportação que visava controlar
e elevar os preços do café no mercado internacional. [...]Em 1989, após
uma intensa rodada de discussões no âmbito da OIC, o AIC não foi
renovado. Estas discussões foram marcadas por pressões de países
consumidores, sobretudo os Estados Unidos da América, que defendiam o
livre mercado de café, e de alguns produtores, sobretudo da América
Central, que questionavam as cotas destinadas a cada país. A partir de
1989, o mercado internacional de café passou a funcionar dentro dos
parâmetros liberais, extinguindo-se o sistema de cotas e qualquer
133
participação direta dos Estados sobre o comércio.

133SINGULANO. Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café: um estudo de caso na região


das matas de Minas, 2015, p. 43-44.

84
5 A PRAGA DA FERRUGEM E A REINVENÇÃO DA CAFEICULTURA

A cafeicultura está sujeita a ser atacada por inúmeras pragas, entre elas a broca-
do-café, o bicho-mineiro, o ácaro vermelho e as cigarrinhas; mas uma das mais temíveis é a
ferrugem, provocada pelo fungo Hemileia Vastatriz, que ataca as folhas de todas as
variedades de café, podendo trazer perdas na produção de até 50%. Indiretamente, após
anos de ataque, essa praga pode atingir também os ramos laterais e comprometer a
longevidade das plantas.
No final do século XIX, uma epidemia de ferrugem provocou a ruína da cafeicultura
do Ceilão e a possibilidade dela chegar ao Brasil nunca foi descartada. Foi o que aconteceu
em 1970 quando essa doença foi identificada em Aurelino Leal, município do sul da Bahia.
Os agrônomos Renato e Pedro narram:

Em 1970 a ferrugem do cafeeiro surge no sul da Bahia. A orientação de


especialistas do Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, de
Oeiras (Portugal), era de que se criasse uma faixa de segurança de 80
quilômetros de largura, de leste a oeste da Zona da Mata de Minas Gerais,
se fizesse um levantamento de todos os pés da região e aqueles que
tivessem com ferrugem seriam eliminados e assim a ferrugem seria
erradicada. Na época o IBC contratou por concurso 80 engenheiros
agrônomos e técnicos agrícolas, por tempo determinado, para atuarem na
‘Campanha de Erradicação da Ferrugem do Cafeeiro’. O que ninguém
esperava é que o fungo apresentasse um comportamento diferente, com
seus esporos sendo transportados a grandes distâncias; logo eles estavam
infestando os cafezais do sul de Minas e São Paulo, chegando a atingir o
Paraná, na época grande produtor. A infestação acabou provocando uma
mudança do foco da campanha: “já que não se pode acabar com a
134
ferrugem, vamos conviver com ela”.

O café tinha acabado de sair de uma política de erradicação, que somada à praga
da ferrugem poderiam decretar a derrocada da cafeicultura brasileira. Nessa conjuntura são
lançados pelo IBC, em 1972, dois planos: o Plano de Renovação e Revigoramento de
Cafezais (PRRC) e o Plano de Pesquisa e de Controle da Ferrugem do Cafeeiro. Ambos
fazem parte de um esforço de renovação da cafeicultura baseado no tripé pesquisa,
assistência técnica e crédito. A pesquisa para desenvolver métodos de controle da doença,
incluindo a descoberta de variedades (cultivares) resistentes; a assistência técnica para
fazer chegar até os produtores os novos métodos; e o crédito para dar suporte financeiro à
execução de novas práticas culturais. A metodologia envolveu a criação de equipes
integradas por especialistas (cerca de 600) nos três “pés”, distribuídos em centros
experimentais regionalizados: três em Minas Gerais, dois no Espírito Santo, dois na Bahia,

134 ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.

85
um no Paraná, um em Mato Grosso, um em Mato Grosso do Sul, um no Ceará, um em
Pernambuco e um no Rio de Janeiro. Os centros experimentais eram apoiados pelo Instituto
Agronômico de Campinas (IAC-SP), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar - PR) e pela
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig - MG), responsáveis pelo
desenvolvimento de pesquisas científicas.
Nos municípios das Matas de Minas, o PRRC foi lançado oficialmente em abril de
1972, na cidade de Caratinga, onde se localizava uma divisão do IBC: o Serviço Regional de
Assistência a Cafeicultura (SERAC - M. G. 2). No mês seguinte, o lançamento foi em Santa
Margarida, onde a aceitação pelos cafeicultores locais dos financiamentos e orientação do
IBC surpreendeu: em menos de dois meses foram apresentadas 103 propostas para o
plantio de 613.750 covas e instalados cinco viveiros com capacidade para um milhão de
135
mudas.
Quarenta anos depois, o engenheiro agrônomo José Braz Matiello, participante
ativo dessa história, avaliou os resultados do PRRC:

Como resultado, foram implantados mais de 230 mil projetos assistidos,


com o plantio de 1,8 bilhão de cafeeiros em cerca de 1,1 milhão de hectares
de novas lavouras. Essas lavouras passaram a ser implantadas com base
no zoneamento agroclimático, contavam com espaçamentos mais racionais
e com variedades mais produtivas (Catuaí e Mundo Novo), além de práticas
de proteção do solo, como o plantio em curva de nível, quando a tradição
era o plantio morro abaixo. A correção do solo, com uso do calcário, por
incrível que pareça, era novidade na cafeicultura da época, pois, antes,
eram usadas apenas as terras férteis, como aquelas de solos roxos, do
Paraná e de São Paulo, ou as terras de matas virgens, dizendo-se que o
café ia atrás do “‘pio do macuco’” [...]. Na evolução tecnológica, a densidade
de plantas de café por área foi muito ampliada. Antes tínhamos 700-1.000
cafeeiros por hectare; a primeira etapa ampliou para 1.600-2.500 e depois
para 5.000-10.000 plantas por ha. com adensamento na linha e/ou também
na rua de plantio (...). Foram lançadas inúmeras novas variedades,
produtivas e tolerantes a pragas e doenças [...]. A qualidade do café
melhorou muito. Muitas regiões antes consideradas produtoras de cafés de
bebidas inferiores (Ryada e Rio) são agora produtoras, em mais de 60%, de
136
cafés de bebidas suaves.

A execução do Plano resultou numa ampliação significativa da produtividade da


cafeicultura brasileira, que passou de 6-8 sacas por hectare (em Minas Gerais era ainda
menor, de 4-6 sacas/ha.) para 20-23 sacas por ha. Isso sem necessidade de ampliar a área
plantada, que foi reduzida de 2,5 para 2,3 milhões de hectares, produzindo cerca 50 milhões
de sacas de café por ano (antes eram 20 milhões). O mesmo J. B. Matiello destaca as
mudanças na geografia do café:

135 INFORMATIVO. IBC-GERCA, 1972.


136 MATIELLO, J. B. Tributo à tecnologia cafeeira e aos nossos técnicos e cafeicultores, 2012.

86
Antes a cafeicultura estava concentrada em São Paulo e Paraná e, agora,
está mais distribuída, com destaque para o crescimento havido em Minas,
Espírito Santo, Bahia e Rondônia. O trabalho de zoneamento e do Plano de
Renovação permitiu incorporar as áreas de cerrado (MG, GO, MS e SP),
antes terras inativas e hoje abrigando a cafeicultura mais expressiva do
país, além da região do Jequitinhonha, do Norte e Noroeste de Minas, mais
as das Chapadas, na Bahia e, recentemente, também o cerrado do oeste
baiano, mais os microclimas serranos de Pernambuco e Ceará, mais as
zonas de altitudes elevadas, chamadas de cafeicultura de Montanha, nos
estados do Espírito Santo, Zona da Mata de Minas, estado do Rio de
Janeiro e parte do Sul de Minas; destacando-se que, antes, o café era
137
principalmente explorado em áreas de baixas altitudes nessas regiões.

Hoje a tecnologia possibilita que se produza durante 100 anos no mesmo terreno,
podendo até mesmo ser melhorada a qualidade do solo, não só com adubos, mas também
com manejo do mato e da água. Em consequência, a produtividade aumenta sem que seja
necessário acrescentar área de cultivo. O Brasil atualmente tem dois milhões de hectares de
café plantados, sendo um milhão (50%) só em Minas Gerais.
Porém, tudo isso exigiu muito trabalho e por isso é preciso contar com mais
detalhes essa história, tendo por base o tripé pesquisa, assistência técnica e crédito.

137
MATIELLO, J. B. Tributo à tecnologia cafeeira e aos nossos técnicos e cafeicultores, 2012.

87
5.1 A pesquisa cafeeira

O combate à ferrugem pode ser feito por meio da aplicação de agroquímicos que
controlam bem o problema, mas uma solução mais definitiva se dá com a descoberta de
variedades resistentes à praga, e isso não acontece da noite para o dia, como explica o
professor J. L. Rufino:

O descobrimento de novas variedades de café é demorado. Você tem uma


geração, demora três anos, faz nova geração. É só lá pela quinta geração
(20 anos) que se pode selecionar uma planta resistente. No começo da
década de 1990 começa a surgir uma geração de variedades resistentes no
IAC, IAPA, Epamig e também na Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Todos os órgãos que se dedicavam ao conhecimento de café começaram a
criar variedades resistentes. Hoje temos muitas e convivemos bem com a
138
ferrugem. É um problema, se não resolvido, pelo menos equacionado.

O início da pesquisa agrícola no Brasil é situado em 1808, com a instalação do


Jardim Botânico na cidade do Rio de Janeiro. Na segunda metade do século XIX são
fundados pelo governo imperial quatro institutos de agricultura (baiano, pernambucano,
sergipano e fluminense). Na década de 1890, após a proclamação da República, três deles
foram extintos, tendo sobrevivido até 1911 o Imperial Instituto Baiano de Agricultura, que
pode ser considerada “a primeira instituição, stricto sensu, de pesquisa e ensino superior
139
agropecuário no Brasil, tendo formado 273 engenheiros agrônomos até 1904”.
A pesquisa cafeeira, especificamente, teve início dois anos antes do final do
Império (1887), quando foi criado o até hoje existente Instituto Agronômico de Campinas
(IAC), cidade que então se destacava como polo da cafeicultura paulista. No IAC começam
a ser feitas as primeiras experiências sobre o estercamento de cafezais.
Na região das Matas de Minas destacam-se a fundação da Universidade Rural de
Viçosa (atual UFV) e do Centro de Pesquisas Cafeeiras Eloy Carlos Heringer, no município
de Martins Soares. Lamenta-se que no rastro da extinção do IBC, em 1990, a região tenha
perdido o Centro Experimental localizado numa fazenda do município de Caratinga.
A UFV começou a nascer em 6 setembro de 1920, quando o presidente do Estado
de Minas Gerais Artur Bernardes, natural do município de Viçosa, fez publicar a lei 761, de 6
140
de setembro de 1920 , que autorizava o governo a criar a Escola Superior de Agricultura e
Veterinária (ESAF) com o objetivo de ministrar o ensino prático e teórico da agricultura e da
veterinária, bem como realizar pesquisas experimentais para o desenvolvimento das

138 RUFINO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
139 PEIXOTO. Extensão Rural no Brasil: uma abordagem histórica da legislação, 2008.
140 MINAS GERAIS. Lei 761, 1920.

88
ciências agrárias. Em 1949 o governador Milton Campos, num discurso proferido naquela
cidade durante a Semana do Fazendeiro, resumiu os primeiros passos da escola:

Após entendimentos sucessivos no estrangeiro para a vinda de técnico


capaz de organizar uma escola de agricultura modelar, a escolha recaiu no
ilustre professor Peter Henry Rolfs, então no exercício do cargo de deão da
Escola Superior de Agricultura do Estado da Flórida, o qual chegou ao
Brasil em janeiro de 1921[...] as primeiras construções se iniciaram neste
recanto da cidade, seguidas de uma série de providências que perduraram
por um período de sete anos [...]. Iniciada as aulas em 1927, no governo do
Presidente Antônio Carlos, não tardaram os primeiros frutos, demonstrando
o acerto da brilhante iniciativa. Passados alguns anos, já em 1932, foi criado
o Curso Superior de Veterinária, anexo à Escola Superior de Agricultura [...].
De todos os Estados e mesmo do estrangeiro começaram a afluir jovens
estudantes. E tão longe foram a influência e o renome da Escola que, a
seguir, as proporções entre alunos mineiros e de outros Estados e do
estrangeiro atingiram a quase cinquenta por cento, prova evidente de que a
141
sua notoriedade transpusera os limites do nosso Estado.

A presença do governador de Minas Gerais na abertura do evento mostra não só a


importância que o Estado dava à questão da agricultura, mas também a relevância que a
Semana do Fazendeiro adquirira desde 1930. Anualmente, os fazendeiros se reuniam com
os pesquisadores para assistir demonstrações de novos métodos agropecuários
desenvolvidos na ESAF, hoje reconhecidas como as primeiras atividades de extensão rural
realizadas no Estado de Minas Gerais. Alguns meses depois de sua visita a Viçosa o
governador Milton Campos firmaria o acordo com a Fundação Rockefeller que daria origem
à Associação de Crédito e Assistência Rural de Minas Gerais (ACAR-MG).
O professor J. L. Rufino, atual coordenador do Centro de Excelência do Café Matas
de Minas, inaugurado em 2006 no campus da UFV, falou sobre a participação dessa
universidade no desenvolvimento de pesquisas voltadas para a melhoria da qualidade da
cafeicultura das Matas de Minas. Ressalta a delimitação da área de abrangência dessa
região cafeeira:

Foi um negócio interessante. Eu sabia que havia uma região produtora, mas
nosso conhecimento ainda era superficial. Houve a pergunta: que área é
essa? Eu mandei mapear todos os municípios do vale do Rio Doce e da
Zona da Mata que tinham acima de 500 hectares de café plantado.
Pegamos os dados do IBGE e fizemos o mapa. Para minha surpresa os
municípios estavam todos juntos, eram contíguos, exatamente os 63
municípios que hoje constituem o mapa das Matas de Minas. Por que será
que estavam todos juntos? Mandei fazer o mapa de relevo da região.
Colocamos em cima do mapa da divisão municipal e todos estavam acima
de 600 metros, com uma variação entre 600 a 1000 metros (há picos mais
altos nos maciços de Araponga, Caparaó e Caratinga, que chegam a quase
2000 metros). Em seguida fizemos o mapa climatológico. E deu exatamente
o recorte entre 18 e 22 graus. Foi esse o processo de definição da região.

141 CAMPOS. Compromisso Democrático, 2000. p. 254-257.

89
Eu não imaginava que ia dar uma contiguidade tão acentuada, foi um lance
142
de sorte. Surpreendeu-me positivamente.
Destaca-se também o Mapa da Qualidade, produzido no intuito de identificar os
cafés especiais da região. Em 2013 foram coletadas e analisadas em laboratório, por
professores de vários departamentos da UFV, 400 amostras de cafés devidamente
georeferenciadas. Em seguida as amostras foram descascadas, passadas pelo secador e
depois de moídas foram submetidas à degustação, realizada por especialistas certificados e
de alto gabarito. Embora a pesquisa tenha sido descontinuada (como o clima varia ela teria
de ser feita anualmente) foi possível identificar alguns padrões: há tais tipos de cafés, em
tais altitudes, em tais faces de exposição ao sol. O resultado da degustação foi animador:
75% dos cafés beberam 85 pontos (na escala da Brazilian Specialty Coffee Association -
BSCA) e 5% acima de 90 pontos; e bem distribuídos na região. Posteriormente, foram
defendidas várias teses de mestrado e doutorado com base nos dados obtidos pelo Mapa
da Qualidade.
É verdade que foi somente a partir de 2013 que o raio de ação da UFV se ampliou
para além de seu entorno imediato e alcançou a bacia do rio Doce. Até então essa área fora
assistida pelo Centro Experimental do IBC, localizado em Caratinga, extinto junto com o
instituto. Pode-se dizer que de alguma forma ele foi substituído pelo Centro de Pesquisas
Cafeeiras Eloy Carlos Heringer (Cepec), inaugurado no município de Martins Soares em
1994, pela empresa privada Fertilizantes Heringer S.A. O Cepec mantém parcerias com
empresas de fertilizantes, defensivos e corretivos, com o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA) e com a Fundação de Apoio a Tecnologia Cafeeira (Fundação
Procafé), de Varginha. O Cepec realiza em sua fazenda experimental pesquisas com foco
na cafeicultura de montanha, nas áreas de melhoramento genético, tratos culturais (podas,
espaçamento, controle de plantas invasoras), qualidade da bebida, controle fitossanitário e,
principalmente, adubação e nutrição do cafeeiro; mantém um banco de germoplasma. O
sítio do Cepec na internet informa que anualmente o Centro recebe cerca de 2.000
produtores rurais, estudantes, pesquisadores e técnicos, em visitas e reuniões onde são
143
divulgados os resultados das pesquisas.
Uma importante parceria do Cepec dá-se com o evento anual denominado
Simpósio sobre a Cafeicultura de Montanhas no Leste de Minas Gerais e do Espírito Santo
(depois renomeado Simpósio da Cafeicultura das Matas de Minas), realizado em Manhuaçu,
desde 1998, pela Associação Comercial, Industrial e Agropecuária (Aciam) daquela cidade.

142
RUFINO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
143
Ver site http://www.portalcaparao.com.br/noticia/17344/esportes.php

90
O Simpósio tem uma programação com duração de três dias, sendo os dois primeiros
dedicados a palestras relacionadas com as necessidades conjunturais da cafeicultura
regional, e o terceiro para a realização de um “dia de campo” na Fazenda Experimental do
Cepec.
O jornalista Carlos Henrique Cruz, assessor de imprensa da Aciam e um dos
organizadores do Simpósio desde sua criação, aponta uma mudança do perfil do evento ao
longo dos anos:

Quando se pega a programação do Simpósio pode-se ver que no início as


palestras eram genéricas, sobre pragas do cafeeiro e algumas questões de
mercado. Com o tempo vão surgindo outros temas: qualidade, certificação,
sustentabilidade, mecanização. Nos últimos cinco anos veio essa ideia de
região e do próprio conceito das Matas de Minas como produtora de um
144
café específico. Essa foi uma mudança do perfil do evento.

Ao planejar o Simpósio a Aciam pensava inicialmente num evento de caráter


comercial, uma feira, com exposição de máquinas e implementos agrícolas e realização de
rodadas de negócios em torno de financiamento e corretagem de café. Essa característica
ainda se mantém, e por isso o evento é realizado sempre antes da colheita do café, mas o
Simpósio também adquiriu, desde sua primeira edição, um caráter de divulgação científica.
Carlos Cruz explica por quê:

Em 1997 o prefeito que assumiu era cafeicultor e o secretário de agricultura


era técnico da Emater. Eles começaram um movimento para trazer para
Manhuaçu a 23ª edição do Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras,
organizado pelo Matiello. Uma comissão daqui foi ao 22º Congresso para
conversar com o Matiello e ele questionou: ‘como vocês querem sediar o
Congresso sem nunca ter organizado um evento sobre café’? Foi aí que
surgiu o Simpósio, que abriu as portas para sediar o Congresso no ano
145
seguinte.

O Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras está neste ano (2017) na sua 43ª
edição. Seu objetivo principal é promover o encontro entre a comunidade científica e os
representantes dos setores que compõem a cadeia produtiva do café, a fim de fomentar a
transferência de tecnologias e a troca de conhecimentos, além de realizar treinos práticos,
tudo isso visando o aumento da competitividade, a melhoria da qualidade do produto e a
sustentabilidade do setor. A preocupação da Fundação Procafé, promotora do evento, é

144 CRUZ. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.
145 CRUZ. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.

91
fazer com que os resultados das pesquisas tenham efeito prático, por meio do diálogo entre
146
pesquisa, extensão e produção.
Na divulgação do 40º Congresso (2014), cujo tema foi “40 anos de tecnologias ‘pro
café’ ter melhorias”, há uma entrevista com o agrônomo J. B. Matiello, responsável desde o
início pela organização do evento. Matiello, graduado em agronomia pela UFV, ingressou no
IBC em 1968, onde foi responsável pelo planejamento e execução do PRRC e também do
Plano de Pesquisa e Controle da Ferrugem do Cafeeiro. Desde 1992 Matiello é pesquisador
da Fundação Procafé. Na entrevista, perguntado sobre a origem do Congresso, ele
respondeu:

O Congresso surgiu na época da constatação da ferrugem, temida doença


do cafeeiro, no início da década de 1970. Havia a necessidade de integrar
resultados e agregar equipes para discutir soluções para enfrentar a
doença. Tanto assim que ele surgiu como Congresso de Pragas e Doenças.
Mas, logo em seguida, com a renovação dos cafezais, houve a necessidade
de ampliar os objetivos do evento para atender a todos os temas da cultura
147
cafeeira.

Até 2014 tinham sido expostos no Congresso mais de 10 mil trabalhos técnico-
científicos, e o público de pesquisadores, técnicos e lideranças da cadeia produtiva
alcançara a média de 600 pessoas por evento. Naquele ano o entrevistado ressaltava como
novidades do 40º Congresso o lançamento de três novas variedades (cultivares)
desenvolvidas na Fundação Procafé (Asa Branca, Beija-Flor e Siriema AS1) e o uso de
enzima para eliminar a mucilagem do café despolpado. A lista de parceiros e patrocinadores
revela a credibilidade adquirida pelo Congresso, o que explica também sua longevidade:
Embrapa Café, Consórcio Pesquisa Café, Universidade Federal de Lavras, Universidade de
Uberaba, IAC, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG),
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Minas Gerais (Senar-MG), Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de
Minas Gerais (Faemg), Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg),
Conselho Nacional do Café (CNC), Associação Brasileira da Indústria do Café Solúvel
(Abics), Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Conselho de Exportadores de
Café do Brasil (Cecafe), além de empresas de insumos e maquinário agrícola.
Nessa lista figura como apoiador o Consórcio Pesquisa Café, nome sintético do
Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, criado em 1997 por um
conjunto de institutos e empresas estaduais de pesquisa agrícola, sob a coordenação da

146FUNDAÇÃO DE APOIO A TECNOLOGIA CAFEEIRA. Fundação Procafé realiza 40º Congresso Brasileiro de
Pesquisas Cafeeiras, 2014.
147 FUNDAÇÃO DE APOIO A TECNOLOGIA CAFEEIRA. Fundação Procafé realiza 40º Congresso Brasileiro de
Pesquisas Cafeeiras, 2014.

92
Embrapa. Hoje o consórcio reúne mais de 40 instituições brasileiras, abrangendo 12
Estados produtores de café. Vale mencionar as que participaram da fundação, lista que
evidencia as regiões de maior tradição da cafeicultura brasileira: Empresa de Pesquisa
Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Empresa de Pesquisa
Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto
Capixaba de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Incaper), Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar-PR), Secretaria
de Apoio Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA/Sarc), além das universidades federais de Lavras (UFLA) e de Viçosa (UFV).
O Consórcio antecedeu a criação, em 1999, da Embrapa Café, unidade
descentralizada da Embrapa que passou a coordenar o Consórcio, cujo objetivo é conjugar
recursos humanos, físicos, financeiros e materiais das instituições consorciadas a fim de
viabilizar projetos de pesquisas no âmbito do Programa Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café – PNP&D/Café. O Consórcio realiza várias investigações,
destacando-se as de melhoramento genético das plantas, além de um programa de
treinamento e visitas técnicas para transferência de novas tecnologias aos produtores.
Entre as consorciadas está presente a Empresa de Pesquisa Agropecuária de
Minas Gerais (Epamig), que merece registro especial por sua influência na cafeicultura
mineira, incluindo a das Matas de Minas, onde essa empresa pública tem uma unidade
sediada na UFV.
A Epamig originou-se do Programa Integrado de Pesquisas Agropecuárias do
Estado de Minas Gerais (Pipaemg), instituído em 1971 pelo governo do Estado, entre outros
motivos para somar-se ao esforço nacional de combate às pragas do café, em especial a
ferrugem. O programa herdou os recursos do extinto Serviço Especial do Café e congregava
a UFV, a UFLA e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação da
Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, em parceria com o Instituto de Pesquisa
Agropecuária do Centro-Oeste (Ipeaco), órgão regional descentralizado subordinado ao
Ministério da Agricultura.
148
Em maio de 1974, por meio da Lei 6.310 , é criada a Epamig, que herda o
Pipaemg, incluindo as pesquisas que visavam o conhecimento e o controle de pragas do
café, e os experimentos nas áreas de fertilidade de solos e melhoramento genético de
sementes e mudas de café. Três meses após a criação da Epamig a Fazenda Experimental
de Machado, voltada predominantemente para a pesquisa cafeeira, passa das mãos da
Embrapa para a empresa mineira, em regime de comodato. A partir de 1990 o tema da

148
MINAS GERAIS. Lei 6310, 1974.

93
qualidade torna-se relevante nas pesquisas da Fazenda, que, em 1991, foi a primeira
instituição mineira a ter um descascador de cereja, adquirido com auxílio da Fundação de
149
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Em 2006 a Epamig pôs em marcha um sistema de monitoramento da cafeicultura
por meio de geoprocessamento, com uso de sensoriamento remoto, via imagens de satélite.
Foram selecionadas cinco áreas de 5 municípios representativos das regiões cafeeiras do
Estado, entre eles Machado, São Sebastião do Paraíso, Três Pontas, Patrocínio e
Manhuaçu. A jornalista Cibele Aguiar escreveu sobre esse sistema:

Em cada região foram selecionadas propriedades cafeeiras onde foram


realizadas visitas de campo no período de maior vigor vegetativo, para
completar as informações geradas pelo geoprocessamento. Nelas foram
observados: área do talhão, idade, altura ou porte, diâmetro médio das
plantas, ano da poda, porcentagem de cobertura do terreno por plantas de
café, cobertura entre as ruas, cultivares, densidade populacional,
espaçamento entre linhas e entre plantas, vigor vegetativo, produção média,
declividade e sua orientação e tipo de solo. Esses dados, associados às
demais informações geradas pelo geoprocessamento, contribuíram para a
definição dos padrões da cafeicultura de cada região. [...] A análise espaço-
temporal [...] gerou um banco de dados inédito sobre o meio físico das
regiões e sua relação com a cafeicultura, disponibilizando mapas e dados
quantitativos sobre o relevo, solos e uso da terra, que foram obtidos e
gerados por meio de levantamento de campo, interpretação de imagens de
satélite e fotografias aéreas. [...] A imagem de satélite permite uma visão
global da região, desvendando interações entre as lavouras e o ambiente
150
onde estão inseridas.

O desenvolvimento das pesquisas agrícolas com certeza contribuiu para o salto da


cafeicultura brasileira e mineira a partir de 1990. Na região das Matas de Minas esse salto
está bem documentado na obra Caracterização da Cafeicultura de Montanha de Minas
Gerais, pesquisa de 2010 que se concentrou nas regiões Sul e Zona da Mata do Estado.
Por essa pesquisa sabe-se que hoje Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil,
respondendo por aproximadamente 50% do total nacional. São mais de 90 mil propriedades
rurais produtoras, em 587 municípios, totalizando 1.147.895 hectares de lavoura. Na pauta
de exportação é o segundo produto mais importante do Estado (12,2 %), ficando atrás
somente do minério de ferro (28,1%). Dentre os produtos agrícolas mineiros o café responde
por 50% das exportações e é grande gerador de empregos diretos e indiretos (cerca de 3
milhões). Em termos de geração de empregos o café de montanha é o mais destacado do
151
Estado.

149 AGUIAR. Intrépida semente: 70 anos de história da Fazenda Experimental de Machado, 2006, p. 70.
150 AGUIAR. Intrépida semente: 70 anos de história da Fazenda Experimental de Machado, 2006, p. 128-129.
151 VILELA; RUFINO. Caracterização da cafeicultura de montanha de Minas Gerais, 2010.

94
5.2 Assistência técnica e certificação

A origem da Associação de Crédito e Assistência Rural de Minas Gerais (ACAR-


MG), cuja sucessora é a atual Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado
de Minas Gerais (Emater), remonta ao pós-guerra, quando ocorre uma forte aproximação
entre os Estados Unidos e o Brasil, aliados na luta contra os países nazifascistas. Em 1945
é criada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) a Comissão Brasileiro-
Americana de Educação das Populações Rurais, que mobiliza recursos para a Campanha
Nacional de Educação Rural, a fim de divulgar os novos métodos e técnicas agrícolas, que
incluíam a mecanização e a utilização de agrotóxicos. O objetivo maior a ser alcançado é o
incremento da produtividade do campo. As substâncias tóxicas haviam sido empregadas
como armas químicas durante a Segunda Guerra Mundial, em especial o DDT (sigla do
diclorodifeniltricloroetano), usado para combater os mosquitos vetores da malária e do tifo,
doenças que atacavam as tropas. Posteriormente se verificou ser este composto orgânico
capaz de combater vários tipos de artrópodes, tornando-se assim a base para a fabricação
de defensivos agrícolas (inseticidas e pesticidas).

Em 1948 um dos diretores da Escola Superior de Agricultura e Farmácia (atual


UFV) colocou em prática em Santa Rita de Passa Quatro aquela que é considerada uma
das primeiras experiências de extensão rural realizadas no Brasil, em parceria com
especialistas dos Estados Unidos. O norte-americano John B. Greefing, ex-dirigente da
Associação Internacional Americana para o Desenvolvimento Econômico e Social (AIA), do
grupo Rockefeller, implantou naquele município paulista um trabalho que associou
agricultores, empresas e o governo local.

Contudo, foi em Minas Gerais, com a criação da ACAR-MG, que as práticas


extensionistas ganharam, pela primeira vez no país, um perfil institucional permanente. Em
dezembro de 1948 foi assinado o convênio entre o Estado de Minas Gerais e a AIA, agência
que conjugava interesses de empresas e do governo dos Estados Unidos, dando origem à
ACAR, cujo modelo serviria para a criação de órgãos congêneres, como a Associação
Nordestina de Crédito e Assistência Rural e a Associação Sulina de Crédito e Assistência
Rural. Em 1956 seria criada a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (Abcar),
que nacionalizou o modelo. Esse modelo, por sua vez, fora inspirado no programa instituído
nos Estados Unidos pelo presidente Roosevelt, Farm Security Admnistration, para enfrentar
os problemas que a crise de 1929 ocasionara na agricultura americana e que provocaram
intensa migração de trabalhadores rurais desempregados.

95
As atividades da ACAR-MG iniciaram-se ainda em 1949 com o treinamento de
técnicos brasileiros por especialistas norte-americanos. Um dos primeiros escritórios criados
no Estado foi o de Ubá, na Zona da Mata, de onde supervisores se deslocavam para a área
rural levando informações sobre novas práticas agrícolas e noções de economia doméstica.
A metodologia envolvia visitas domiciliares e palestras para grupos de agricultores. Os
financiamentos, que contavam com aportes da AIA, vieram inicialmente por intermédio da
Caixa Econômica Federal e depois também do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste
Brasileiro. Os créditos eram dirigidos à aquisição de máquinas e insumos agrícolas
(sementes e adubos químicos), bem como para obras de saneamento (fossas secas) e
melhoria de habitações rurais.

As primeiras avaliações do programa da ACAR constaram que os objetivos não


vinham sendo alcançados. Esse fato foi atribuído à mentalidade atrasada dos agricultores,
que resistiam a adotar os métodos modernos. É então que são criados os Clubes 4-S
(Saber, Sentir, Saúde, Servir), formados por jovens entre 15 a 24 anos, filhos de pequenos e
médios proprietários rurais que, em tese, estariam mais abertos a novas ideias e
experiências. 152

Em 1975 a Abcar foi extinta e substituída pela Empresa Brasileira de Assistência


153
Técnica e Extensão Rural (Embrater). Nesse mesmo ano a lei estadual 6.704
transformou a ACAR-MG na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado
de Minas Gerais (Emater). A nova empresa assumiu o acervo físico, técnico e
administrativo, bem como os saldos remanescentes da ACAR. Hoje a Emater é vinculada à
Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

152 ROMANIELLO; ASSIS. Extensão rural e sustentabilidade: guia de estudos, 2015.


153 MINAS GERAIS. Lei 6.704, 1975.

96
Nas Matas de Minas a Emater atua em todos os municípios, através de Unidades
Regionais localizadas em Manhuaçu, Muriaé, Viçosa e Ipatinga (que abrange Caratinga e
Inhapim). Em 1990, quando o IBC foi extinto, a Emater assumiu a responsabilidade de
cuidar também da cafeicultura. O agrônomo Paulo Roberto Vieira, hoje em Manhuaçu, fala
do início da atuação dessa empresa na região:

Na década de 1990, com a extinção do IBC, nós assumimos a


responsabilidade, junto com o pessoal do Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA) [criado em 1992], de fazer um trabalho de credenciamento dos
viveristas de café. As sementes eram pegas em qualquer lugar e as mudas
estavam fora de controle. Havia problemas de doenças (principalmente
nematoide), que estavam se disseminando. Fizemos reuniões, registramos
e credenciamos todos os viveristas e passamos a acompanhá-los. Na
época ficamos com a responsabilidade técnica de acompanhar mais de 60
milhões de mudas nessa região, que produzia de 300 a 400 milhões de
mudas. [...] Depois assumimos em Manhumirim um campo de 10 hectares
para produção de sementes, tínhamos seis ou sete variedades diferentes,
vindas da Epamig, e começamos a trabalhar com os cultivares. Em 1992 o
Estado criou um programa cujo lema era “Qualidade é o que Importa” e
nossos técnicos começaram a ser treinados em cafeicultura. Fizemos vários
dias de campo aqui na região e assumimos de vez a questão da qualidade,
154
com um trabalho de conservação de solos.

Quando entrou na área do café a Emater deu prioridade aos pequenos produtores; depois
de 2007 passou a atender a todos. Uma conquista importante foi a instalação do laboratório
de solos:

O produtor empresarial tinha acompanhamento técnico. O pequeno achava


que qualidade era só para os grandes, mas nós pensávamos o contrário.
Então assumimos a questão da adubação, mas só iríamos receitar
mediante análise dos solos. Então criamos o primeiro laboratório de solos
da região. Antes tínhamos de mandar fazer as análises em Alegre [no
Espírito Santo], Belo Horizonte ou na UFV, demorava uns 20-30 dias para o
resultado chegar. Teve gente que disse que Manhuaçu não comportava um
155
laboratório. Hoje temos três aqui.

Um dos programas mais recentes da Emater, em conjunto com o IMA, é o Certifica


Minas. Para ser certificada a propriedade precisa se adequar às leis trabalhistas (se houver
trabalho infantil ela está fora); às leis ambientais (uso de agrotóxicos só com apresentação
de receituário, nota fiscal e comprovação de treinamento do aplicador); preservação de
nascentes e de as Áreas de Proteção Permanente; controle da erosão do solo, adoção de
tratos culturais adequados (na seleção de sementes e mudas, poda, colheita, pós-colheita e

154
CORRÊA. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
155
CORRÊA. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.

97
capina) e gerenciamento da propriedade. A rastreabilidade é estimulada: anotar que tal lote
foi colhido tal dia, em tal lugar. Há 115 itens a serem cumpridos e o proprietário tem de
atender no mínimo a 80% das exigências. A Emater prepara os processos e o IMA confere e
certifica, pois tem habilitação internacional para essa finalidade. O certificado vale por um
ano e pode ser renovado. Em Minas Gerais estão certificadas cerca de 1.700 propriedades.
A vantagem para o proprietário é a obtenção de ágio (valor maior do que a cotação do café
na Bolsa de Nova York) na venda do produto.
O Certifica Minas tem mais de oito anos de existência. Nas Matas de Minas os
pedidos de certificação foram muitos – chegaram a 300 -, mas o número de propriedades
certificadas não passa de 60.
Outro programa voltado para a melhoria da qualidade é o Educampo Café,
instituído pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais
(Sebrae - MG), que também alcança poucos produtores.

O agrônomo e médio produtor Sérgio Cotrim D’Alessandro é um entusiasta do Educampo:

Como produtor sou usuário. É um programa de gestão técnica e financeira


das propriedades. A fazenda é dividida em talhões sobre os quais eu tenho
todos os dados: produtividade, custos, renda bruta, margem líquida e taxa
de retorno do capital. O programa existe em todo o Estado. São 28 grupos,
sendo dois nas Matas de Minas; estamos indo para o terceiro. A maioria dos
grupos está na região do Cerrado. Temos uma análise completa da
fazenda, não só tecnicamente, mas também da gestão. Conhecemos os
custos da colheita, pós-colheita, adubação do solo etc. Depois eu posso
comparar os números com os companheiros do meu grupo. Se eu tenho um
indicador mais fraco eu posso aprender com quem está melhor, a gente
compartilha. Depois eu tenho acesso às informações das outras regiões. Se
há um indicador ruim, podemos fazer visitas técnicas em regiões nas quais
eles são bons, para saber como eles trabalham. Podemos fazer cursos de
capacitação em setores que estamos fracos. Cada grupo tem um agrônomo
capacitado pelo Sebrae que comanda uma central de processamento de
dados e monta apresentações trimestrais, específicas das propriedades e
do grupo como um todo. Fazem rankeamentos e os proprietários se
manifestam sobre suas necessidades, com base nas comparações. É um
espetáculo o projeto, mas é um pouco elitista. Somos 36 mil propriedades e
156
só temos dois grupos.
De fato, o desafio da Assistência Técnica é atingir o maior número possível de
agricultores. Em 2010 as porcentagens de propriedades certificadas nas Matas de Minas,
considerando as grandes, médias e pequenas chegavam, respectivamente, a 7%, 2% e 4%.
Menos de 20% das propriedades tem acesso à assistência técnica:

156 D’ALESSANDRO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.

98
Para as grandes propriedades, todos os tipos de assistência são igualmente
importantes, com alguma supremacia da assistência particular. Para as
médias, as assistências pública e de revenda são igualmente utilizadas por
aproximadamente 46% das propriedades, nas duas regiões [Matas de
Minas e Sul]. Contudo, para o tipo ‘pequeno’ a assistência pública é a mais
157
importante para cerca de 75% das propriedades que a procuram.

A solução para o problema do alcance pode vir das metodologias de assistência


técnica coletiva. Vale mencionar a evolução do trabalho da Universidade Federal de Viçosa:

Em 2014 começamos a fazer vários treinamentos nas áreas de solos,


controle de doenças e insetos, e em degustação, voltados para técnicos da
região indicados pelas cooperativas, pela Emater e por empresas
particulares. Também fizemos ‘dias de campo’ em Manhuaçu. No dia de
campo você faz uma palestra numa propriedade – sobre poda, por exemplo
-, e depois há uma demonstração prática. Reuníamos mais de 200
cafeicultores num dia de campo. Também trouxemos o pessoal para treinar
aqui, mas não tínhamos como avaliar se os ensinamentos estavam sendo
praticados de fato. Então falamos: temos que criar algo mais permanente.
São 36 mil cafeicultores, como chegar neles? Nesse momento, em 2015, é
que surgem as Redes de Referência, projeto inspirado numa prática de
extensão rural do Banco Mundial, muito exitosa pelos seus efeitos
multiplicadores. Há um especialista que orienta um grupo de cafeicultores
‘de referência’ que multiplicam os conhecimentos adquiridos. Assim,
chegamos a 200 cafeicultores que, por sua vez, irão chegar a mais 200 e
158
assim por diante.

A recepção dos ensinamentos técnicos depende, em parte, da escolaridade do


cafeicultor, e nesse quesito verifica-se uma evolução a partir de 1996, quando existiam nas
regiões Sul e Matas de Minas, em média, 17% de analfabetos, 58% com curso primário,
13% com curso secundário e 12% com curso superior. Em 2010 já não havia mais
analfabetos, mas nas Matas de Minas ainda predominava o ensino fundamental incompleto
para todos os tipos de propriedades (grandes, médias e pequenas). Considerando apenas o
nível superior, o curso mais procurado é Engenharia Agronômica.
Um item importante da assistência técnica refere-se à mecanização, e sob esse
aspecto destacam-se as máquinas secadoras, que corrigem o principal fator de depreciação
do café das Matas de Minas, a umidade contraída nos terreiros. Dados de 2010 mostram
que na Zona da Mata as grandes, médias e pequenas propriedades possuem essas
máquinas na proporção de 92%, 81% e 33%, respectivamente. Antes da máquina secadora
o processo de secagem passa pelos terreiros, e nesse caso houve uma substituição
generalizada do piso de terra batida pelo concreto, que permite uma seca mais rápida e
uniforme do café, evitando também sua mistura com substâncias estranhas.

157
VILELA; RUFINO. Caracterização da cafeicultura de montanha de Minas Gerais, 2010.
158
RUFINO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.

99
Outra inovação importante foi a adoção de máquinas lavadoras/despolpadoras, que
possibilitam a produção do café chamado cereja descascada, em geral, mas nem sempre,
de qualidade superior ao café natural. Na Zona da Mata 65%, 34% e 15% das respectivas
propriedades possuem esses equipamentos. Para tanto, contribuiu sobremaneira a
disponibilidade de crédito aos produtores.

5.3 Crédito Agrícola

O crédito está presente ao longo de toda a história do café, mas a opção


preferencial dos produtores sempre foi utilizar recursos próprios. No entanto, isso nem
sempre foi possível, tendo em vista os ciclos de “vacas gordas e vacas magras”, próprios da
cafeicultura, na qual geralmente a uma boa safra segue-se outra mais fraca. Além disso, até
que cafeicultura científica viesse abreviar o tempo de maturação da planta, o cafeeiro
necessitava de 4 a 5 anos entre o plantio e a primeira colheita economicamente viável, e
nesse interregno o produtor não tinha como vender seu café, mas necessitava de recursos
para os tratos culturais. Há também os condicionantes do clima (secas, enchentes e
geadas) e as doenças do cafeeiro, que podem arrasar as culturas e causar muitos prejuízos.
Por fim, as crises econômicas e de superprodução afetam os custos de produção e os
preços de venda, trazendo insegurança e às vezes frustração ao cafeicultor.
Nos primeiros tempos desempenhou papel importante a Venda de beira de estrada,
que ao fornecer gêneros de toda espécie, a prazo, funcionava como amortecedora de
eventuais dificuldades. Vivaldo Barbosa narra o caso da venda de Pirapetinga, situada na
encruzilhada entre duas estradas que davam em Manhumirim:

O meeiro não é assalariado, não recebe salário no fim do mês [...]. E a


lavoura de café só dá uma colheita no ano [...]. A primeira função da venda
foi se constituir em um estabelecimento de crédito. Isto é, vender a prazo
para os meeiros pagarem na colheita [...], o fiado, sobre o qual se cobravam
juros de 16% ao ano. [...] Em certas situações era possível chegar à
retenção de parte do café do meeiro para pagar sua dívida [...]. O sistema
funcionou durante anos e décadas. No geral, as dívidas eram pagas no
tempo certo, salvo um caso ou outro, usual no comércio. 159

Essa situação agradava aos fazendeiros, que davam até mesmo um “aval” informal
ao negócio, baseado na confiança mútua entre as três partes: meeiro, vendeiro e
fazendeiro. O vendeiro, por sua vez, obtinha crédito nas firmas comerciais situadas em
Manhumirim, como Tostes & Cia., e José de Albuquerque & Irmãos:

159 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p.175-177.

100
Essas firmas compravam de viajantes, ou no Rio de Janeiro; adquiriam
açúcar nas usinas em Campos, ou diferentes mercadorias em outra grande
praça. As mercadorias compradas vinham de trem. Tostes mantinha
escritório de compras no Rio. Aqui vendiam para várias localidades nos
diversos lugarejos e cidades circunvizinhas. Como a economia local era
cafeeira, tinham de entrar, por sua vez, no ciclo do café, de cultura anual.
Tornou-se imperativo para essas firmas abrir linha de crédito para vendas
160
pelo interior da região.
Os fazendeiros, na hora do aperto, buscavam outros caminhos: os comissários e
ensacadores de café, as casas exportadoras ou os Bancos locais, regionais e estaduais. Às
vezes recorriam a empréstimos captados entre seus próprios pares.
Antes do fortalecimento do sistema bancário, que ocorre a partir da década de
1880, o circuito da economia cafeeira envolvia o fazendeiro, o comissário, o ensacador e o
exportador. O comissário e o ensacador são representantes comerciais intermediários entre
o fazendeiro e a casa exportadora, geralmente controlada por empresas estrangeiras. As
casas comissárias (firmas predominantemente nacionais controladas por grandes
fazendeiros e/ou comerciantes), além de negociar café vendiam para o fazendeiro outras
mercadorias, oriundas principalmente do Rio de Janeiro, e também forneciam crédito para a
lavoura, ou seja, eram agentes financeiros. Nessa função sua presença, e também do
ensacador, foi essencial até a primeira década do século XX, quando a regulamentação dos
armazéns oficiais introduziu uma relação direta entre produtores e exportadores, eliminando
progressivamente a intermediação de comissários e ensacadores.
De modo geral, o fazendeiro entregava o café ao comissário que cobrava uma
comissão para vendê-lo ao ensacador ou aos exportadores diretamente. Enquanto durou
sua influência, o objetivo principal desses intermediários era não só ganhar com os juros dos
empréstimos (nunca inferiores a 12% ao ano), mas principalmente com a venda do café
entregue pelos fazendeiros logo após a colheita e retido nas casas comissárias e firmas
ensacadoras até que os preços no mercado interno e internacional lhes propiciassem o
maior lucro possível. O crédito ao fazendeiro e a viabilização do transporte do café até os
portos era função de comissários e ensacadores; o embarque e a venda no exterior cabiam
às casas exportadoras. A maioria dos fazendeiros das Matas de Minas vendia sua safra “na
porteira” para esses intermediários, que agiam por conta própria ou representando grandes
firmas.
Os bancos mineiros começaram a surgir a partir de 1889, em decorrência do
fortalecimento da economia cafeeira. Entre 1889 e 1918 instalaram-se em Minas Gerais 12
bancos, sendo o “Crédito Real” (em Juiz de Fora) e o “Hipotecário e Agrícola de Minas
Gerais” (em Belo Horizonte) os de maior expressão. Com exceção do “Hipotecário e

160 BARBOSA. Meeiros de café, 2009, p. 179-180.

101
Agrícola” todos os outros estavam situados em zonas cafeeiras, oito no Sul de Minas e três
na Zona da Mata (dois em Juiz de Fora e um em Leopoldina).
Para toda a Zona da Mata destaca-se o Banco de Crédito Real, fundado em 1889.
Sua criação está intimamente vinculada a economia cafeeira: sete dos doze maiores
acionistas fundadores do Banco eram proprietários de terras. Sua finalidade inicial era
prover a lavoura de crédito agrícola hipotecário de longo prazo (juros anuais de 6%). Não
obstante, dois anos depois recebeu autorização para fazer operações em carteira comercial,
como descontos de títulos e depósitos, cauções e contas correntes. Em 1891 o Banco abriu
uma agência em Ouro Preto (a capital de Minas seria transferida de Ouro Preto para Belo
Horizonte em 1897) e em 1894, estimulado pelo governo do Estado, inaugurou sua agência
no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano o governo de Minas celebrou um acordo com o Banco
para depositar os fundos disponíveis do Tesouro do Estado na agência do Rio de Janeiro.
Na visão do governo a instalação de uma agência na capital do país era estratégica para
atrair os recursos provenientes dos negócios de exportação do café de Minas Gerais no
porto fluminense, que até então só favoreciam os bancos do Rio de Janeiro.
A partir de 1897 o governo estadual dá início a uma série de intervenções visando o
fortalecimento do Banco de Crédito Real e do sistema bancário de Minas como um todo. O
economista Fernando Nogueira da Costa, cuja tese sobre os bancos mineiros é seminal,
conta essa história:

Para dar cumprimento à lei nº 212 de julho de 1897, pela qual o Estado de
Minas garantia juros de 7% anuais às letras hipotecárias emitidas para
auxílios à lavoura e indústria, [é publicado] o Decreto nº 1.105, de 15 de
fevereiro de 1898; e a 26 de março do mesmo ano é celebrado o contrato
pelo prazo de 30 anos, entre o governo e o Banco de Crédito Real (que foi o
único que se apresentou à concorrência pública), a fim de realizar
empréstimos hipotecários e pignoratícios aos lavradores e industriais, a
prazo longo os primeiros e de um ano os segundos, ambos a juros anuais
de 8,5%, de conformidade com as tabelas de juros e amortização
aprovadas pelo governo. Para execução da lei que criou essa carteira, o
capital social, que já tinha se elevado de 500:000$000 e 3.000:000$000
quando de sua expansão territorial, foi a 7.000:000$000, sendo aplicados à
Carteira 6.000:000$000 sobre os quais o Banco pode emitir o quíntuplo
161
desse capital em letras hipotecárias.

Em 1905, também por lei, é criada a carteira de crédito agrícola, que autoriza o
Banco de Crédito Real a fazer adiantamentos a fazendeiros e industriais. Para execução
dessa lei um novo contrato é celebrado com o Banco, pelo qual o Estado adianta a quantia
de 10.000:000$000 (de réis), originada do fundo de arrecadação da sobretaxa de 3 francos

161
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 38-39.

102
ouro, por saca de café, instituída pelo Convênio de Taubaté. O Banco teria 20 anos para
amortizar esse empréstimo.
Em 1919 o governo do Estado já detinha ¾ do capital do “Crédito Real”. A soma de
recursos públicos com os capitais originados dos grandes fazendeiros de café é, em grande
parte, responsável pela industrialização de Juiz de Fora, como afirma Anderson Pires:

O capital originado por provedores individuais identificados com a


cafeicultura constituiu um dos mais importantes componentes da oferta de
recursos financeiros dos diversos mercados que vão compor o sistema
financeiro local: o de hipotecas, o mercado de debêntures e outros títulos
industriais, e o mercado acionário, todos com a devida delimitação local e
regional. [Os provedores individuais] foram responsáveis por um importante
canal de transferência direta do capital cafeeiro especificamente agrário
162
para o setor industrial.

A intervenção governamental torna-se ainda mais explícita em 1909, quando o


Estado atua diretamente para instalar o Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais.
Sobre a história do “Hipotecário e Agrícola” fala o economista Fernando Nogueira
da Costa:

Em 1909, o Presidente do Estado, Wenceslau Brás, sancionou lei que


autorizava o Estado a garantir juros de até 6%, ouro, ao ano e conceder
determinados favores a um banco que se fundasse no Estado para operar
principalmente sobre o crédito hipotecário e agrícola. Logo depois ele envia
à França seu Secretário de Finanças, Juscelino Barbosa, com a missão de
atrair capitais estrangeiros para a formação de um banco em Belo
Horizonte, [...] mas só em 1911, no governo Bueno Brandão, o banco iria
tornar-se realidade. Dois franceses (Gabriel Henriot e Albert Landsberg)
chegam a Belo Horizonte como emissários dos banqueiros Périer & Comp.
O governo de Minas assina com eles o contrato para a constituição do
163
Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais.

Ao capital francês deu-se inicialmente garantia de juros, e ao Banco a isenção de


todas as taxas e impostos, incluindo os municipais. O Banco logo comprou ações do
“Crédito Real” e até 1920 abriu 11 agências, que revelam a preferência por municípios
grandes produtores de café. Em 1912 foram abertas as de Muriaé e Guaxupé; em 1915, a
de Varginha; em 1926, a de Carangola; em 1918, as de Formiga e São Sebastião do
Paraíso; em 1919 as de Alfenas, Araguari, Barbacena, Curvelo e Ubá. À exceção do
município de Curvelo, polo da agropecuária do norte de Minas, todos os outros são
municípios cafeicultores. Chama a atenção o fato da primeira agência no interior ter sido a
de Muriaé. Na ocasião esse município e o de Carangola eram os principais polos da
cafeicultura das Matas de Minas.

162
PIRES. Agricultura de exportação e diversificação econômica, 2013, p. 343.
163
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 39-40.

103
Por intermédio de sua agência aberta no Rio de Janeiro o Banco Hipotecário e
Agrícola logo se tornou responsável pelas operações de exportação e venda do café das
cooperativas instaladas em Minas. Já em 1922 esse banco possuía 22 agências e era o
oitavo entre os maiores do Brasil. Em 1943, com a desapropriação de suas ações, o
governo de Minas assumiu a administração do Banco.
Até 1920, quando mais de 35% da receita tributária do Estado era proveniente da
economia cafeeira, a ação do governo estadual na esfera do crédito hipotecário e agrícola
se dava através do “Crédito Real” e do “Hipotecário e Agrícola”. Esse período coincide com
a expansão da cafeicultura do Sul e das Matas de Minas e sobre o papel do Estado a
conclusão de Fernando Nogueira da Costa é taxativa:

Em síntese, o Estado da Primeira República em Minas (de posse da fonte


tributária do café) relaciona-se com esses Bancos não só participando do
capital empregado em suas atividades, como também garantindo seus
juros, seus débitos e forçando os negócios comerciais a passarem por seus
controles. Concluímos, portanto, que o Estado cumpriu em Minas Gerais um
papel semelhante ao do capital comercial em São Paulo, de apropriação,
centralização e diversificação do capital cafeeiro, amparando diversas
atividades agrícolas (inclusive o próprio café), através dos Bancos de
Crédito Real e Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais”. 164 [grifos do autor,
cuja frase merece um pequeno reparo: onde está “inclusive o próprio café”
165
deve-se ler “principalmente o café”]

Na década de 1920 a simbiose entre café e Bancos torna-se ainda mais evidente,
em parte como resultado das políticas de defesa que asseguravam preços altamente
favoráveis, mas também porque o Brasil e o resto do mundo, até a crise de 1929, viveram
um período de relativa estabilidade política e prosperidade econômica.
De 1920 a 1929 a dinâmica da economia cafeeira envolve não somente a lavoura,
mas também o comércio atacadista, as torrefações e o transporte ferroviário, que geram
impostos municipais, estaduais e federais. Nessa década a participação do café na receita
do Estado de Minas Gerais cresce anualmente, indo de 36,5% para 60,5%, em 1929. Essa
dinâmica reflete-se no sistema bancário. Entre 1920 e 1925 mais 14 bancos são instalados
em Minas Gerais (havia sete) e esse crescimento está relacionado aos excedentes gerados

164
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 43.
165
A tese de doutorado de Fernando Nogueira da Costa, defendida em 1978, é seminal no que se refere à
história dos bancos mineiros e por isso é muita utilizada nesse relatório. No entanto, como na época ele estava
influenciado pelas pesquisas de seus colegas, particularmente a de João Heraldo Lima, “Café e Indústria em
Minas Gerais” (1977), que minimizavam a importância de Minas Gerais em relação a São Paulo no que tange à
influência do café na industrialização, Fernando Costa deixa de lado a análise do surto industrial de Juiz de Fora.
Essa lacuna foi coberta pela tese de Anderson Pires, “Café. Finanças e bancos: uma análise do sistema
financeiro da zona da Mata de Minas Gerais” (2004). Nessa tese o autor demonstra a existência de um
“complexo cafeeiro” (expressão de Wilson Cano) de caráter pontual e eventual na cidade de Juiz de Fora. Seria
interessante pesquisar a influência do capital cafeeiro também na industrialização de Cataguases e na instalação
de pequenas agroindústrias da cana, do milho, das carnes, dos laticínios e do próprio café (torrefação e
moagem), espalhadas por toda Minas Gerais.

104
pela cafeicultura, captados e postos em circulação por esses bancos. À exceção de Belo
Horizonte as empresas bancárias localizam-se em municípios cafeeiros: Juiz de Fora,
Varginha, Guaxupé, Guaranésia, Carangola, Cataguases, Ponte Nova e São Sebastião do
Paraíso.
A crise de 1929, que afetou as exportações brasileiras de café, provocou o
endividamento dos cafeicultores, que tiveram inúmeras dificuldades para saldar seus
passivos hipotecários. Em decorrência, muitos bancos assumiram transitoriamente a
administração de propriedades rurais devedoras. Em 1933, para minorar o problema, foi
publicada a Lei de Reajustamento Econômico, que autorizava a redução de 50% da dívida
dos produtores rurais, desde que o valor do patrimônio do devedor fosse inferior ao total de
seu passivo. Apólices da dívida pública federal foram utilizadas para indenizar os credores.
Em Minas Gerais a crise provocou constantes déficits orçamentários, atribuídos em
parte à diminuição da arrecadação de impostos e taxas sobre o café. Além disso, o
processo de centralização do poder no âmbito federal, instituído após a Revolução de 1930,
levou à extinção de vários impostos estaduais (1935), entre eles a sobretaxa sobre a
exportação do café, criada em decorrência do Convênio com São Paulo, firmado em 1925.
Entre 1930 e 1945 Minas Gerais manteve sua posição de segundo maior produtor
de café, embora com tendência declinante no total das exportações, em favor de gêneros de
subsistência (arroz e feijão) e derivados do rebanho bovino (gado em pé, laticínios e carnes)
exportados principalmente para o mercado carioca. Entre 1931 e 1940 a contribuição do
café no valor total das exportações decresce de 55%o para 15%.
Na década de 1930 houve uma “divisão de trabalho” entre os bancos públicos e
privados. Os privados lucraram mais com os créditos à comercialização, ao passo que foram
os bancos públicos que assumiram o grosso do crédito à produção, de maior risco, pois
sujeito a fatores incertos, como as condições climáticas, as pragas da lavoura e as
flutuações da economia agrícola, particularmente a cafeeira. Nesse caso situa-se o Banco
Mineiro da Produção, organizado sob a forma de sociedade anônima, mas com a quase a
totalidade de suas ações detidas pelo Estado.

A ideia da criação do Banco Mineiro da Produção foi tornada pública no IV


Congresso dos Lavradores Mineiros no ano de 1933. Não era nova, porém;
há muito vinha sendo debatida pelos cafeicultores mineiros, que pretendiam
fosse fundado um estabelecimento de crédito com a finalidade de lhes
financiar as lavouras, em condições favoráveis de taxa e de prazo [...]. Em 4
de dezembro de 1933 foi fundado o Banco Mineiro do Café S. A., nome
primitivo do Banco Mineiro da Produção e ligado ao extinto Instituto Mineiro
do Café; o seu funcionamento teve início no Rio de Janeiro, em 20 de
março de 1934. Em 1937, foi o Banco transferido para Belo Horizonte,
fundando então 50 agências pelo interior do Estado.

105
Com a reforma do estatuto, então promovida, passou o estabelecimento a
denominar-se Banco Mineiro da Produção S. A, financiando a partir dessa
época as lavouras de algodão, arroz, cana de açúcar e fumo, além da de
166
café. Contava com a garantia do Estado.

O “Mineiro da Produção” financiava a compra de máquinas agrícolas, sementes e


adubos para a cafeicultura (a partir de 1940, também para as culturas de algodão, arroz,
cana de açúcar e fumo), bem como para a aquisição de reprodutores destinados à criação e
melhora do rebanho bovino; emprestava também para o custeio da entressafra. Entre as
garantias exigidas pelo banco constavam o penhor agrícola da safra em curso e os
warrants. Os vencimentos coincidiam com o término e beneficiamento da colheita. O
“Mineiro da Produção” operava também uma carteira comercial, mas estatutariamente tinha
a obrigação de empregar 80% do seu capital no crédito agrícola. Na safra 1939/40, 90,32%
dos empréstimos foram para a lavoura cafeeira. Em 1944/45 esse valor correspondeu a
57,93%. O então apelidado “banco dos fazendeiros” era procurado “quase que
exclusivamente pelos lavradores e criadores abastados, bastante conhecidos nos círculos
bancários”:

O lavrador [...] de recursos médios, regra geral, não ia aos bancos.


Limitava-se a rendimentos que cobrissem suas imediatas despesas, pagava
seus impostos, não tinha e não queria dívidas, possuía a propriedade e nela
167
gozava sua relativa independência.

No período da Segunda Guerra Mundial há um crescimento do número de bancos


brasileiros. Entre os 309 novos bancos instalados no país, 17 o foram em Minas Gerais. É
nessa época que os bancos mineiros estendem sua ação para outros Estados, incluindo
São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Goiás. No entanto, é nesse mesmo período que
o café perde a primazia entre os créditos agrícolas. Entre 1942-46 a prioridade é dada à
pecuária (zebu) e secundariamente ao algodão (em função das necessidades de matéria-
prima para a indústria têxtil).
Evidentemente não é possível desconsiderar o papel exercido na história do crédito
ao café pelo maior banco do país, o Banco do Brasil (BB), principalmente a partir de 1921 e
de 1937, quando são criadas, respectivamente, a Carteira de Redescontos (CARED) e a
Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (CREAI), considerada a primeira agência de âmbito
nacional especializada no financiamento da agricultura em geral. A partir de 1936 o BB, que
já vinha dando apoio à cafeicultura, torna-se o principal financiador da agricultura brasileira.

166 COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 147-148.


167 COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 150.

106
À Carteira de Redescontos os bancos comerciais podiam recorrer nos momentos
de baixa liquidez. Para tanto o BB utilizava emissão especial do tesouro nacional, da qual
detinha o monopólio. A princípio, as regras de funcionamento da Carteira eram mais rígidas:

Por ser órgão destinado a fomentar a produção nela só devem ser


redescontados títulos que representem transação legítima e efetivamente
realizada, sendo, portanto, excluídos os que resultem da especulação,
tenham firmas de favor ou se destinem apenas a proporcionar recursos aos
respectivos coobrigados. Naquela época, só eram aceitos pela Carteira
títulos cujas importâncias tivessem sido ou devessem ser aplicadas em
legítimas transações de movimento, relativas à indústria, agricultura e
168
comércio.

No entanto, com o correr do tempo, as regras da Carteira foram relaxando, e esse


fato está relacionado à economia cafeeira, cujas receitas cambiais alimentavam o caixa do
governo. Em 1930 a CARED passa a admitir os warrants e os títulos cambiais emitidos pelo
Conselho Nacional do Café, criado em 1931. Em 1934 ela é autorizada a redescontar letras
e notas promissórias cujo aceitante ou emitente exercesse atividade na agricultura e
indústrias derivadas. Em 1944 os redescontos aos bancos, que antes correspondiam ao
limite de 50% do seu capital, passaram a corresponder à totalidade do capital.
Os redescontos da CARED protegeram a economia cafeeira:

O redesconto, por seu fim precípuo, deveria cingir-se a efeitos comerciais


no curto prazo, para que pudesse corrigir as dificuldades passageiras que
se antepõem ao financiamento da comercialização realizado por bancos
particulares. No caso do Brasil, a necessidade dessa medida era sensível
169
especialmente durante o escoamento da safra do café.

()Com relação à CREAI, de 1937 a 1942 foram baixados vários dispositivos


normativos para viabilizar seu funcionamento. Em 1937 o BB foi autorizado por lei a emitir
bônus para captar recursos destinados ao financiamento agropecuário, incluindo a
obrigatoriedade dos institutos de aposentadoria utilizar parte de seus depósitos e fundos
para adquiri-los. Em 1942, para garantir a segurança dos financiadores, foram criados o
penhor rural e a cédula pignoratícia. Mesmo em condições adversas da economia nacional a
CREAI manteve o fomento à agricultura a taxas mais baixas que as do mercado, dando
crédito a grandes e pequenos proprietários rurais.
No que concerne à cafeicultura, em 1952 foi criado o Instituto Brasileiro do Café
(IBC) cujo braço financeiro era o Banco do Brasil. O crédito era fornecido pelo BB, mas
orientado e fiscalizado pelo IBC. Os técnicos do instituto assessoravam a elaboração dos
projetos apresentados ao banco e acompanhavam sua execução em todas as fases: desde

168
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p.166-167.
169
COSTA. Bancos em Minas Gerais (1889-1964), 1978, p. 206.

107
a seleção de sementes e mudas até a comercialização, passando pela adubação, plantio,
colheita e pós-colheita. A participação do IBC e do BB foi central também na execução, a
partir de 1960, do programa do GERCA e, a partir de 1970, dos planos de Renovação e
Revigoramento de Cafezais (PRRC) e de Pesquisa e Controle da Ferrugem do Cafeeiro.
Em 1986 foi criado junto ao IBC o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira
(Funcafé), cuja conta bancária era administrada pelo Banco do Brasil. A extinção do IBC, em
1990, deixou um espólio no qual se destacavam, além dos estoques de café (17 milhões de
sacas), os recursos do Funcafé, que somavam cerca de um bilhão de dólares. A socióloga
Marisa Singulano escreveu sobre esse momento crítico:

Na ausência do IBC para gerir o Funcafé, as organizações de


representação de setores da cadeia [cafeeira] se organizaram para
demandar a participação na gestão de tais recursos junto ao Estado, os
quais constituíam seu principal interesse comum. Essas organizações
setorialistas, com o apoio de alguns parlamentares, conseguiram levar a
debate na Câmara dos Deputados a questão da gestão do Funcafé e foi
constituída uma Comissão Especial para este fim. Esta comissão
recomendou a criação do Conselho Deliberativo da Política do Café, que foi
170
efetivado em 1996, por meio do Decreto 2.047.

Entre as atribuições do Conselho Deliberativo da Política Café estava a de


administrar os recursos do Funcafé, e grande parte deles foi destinada a Minas Gerais, que
no início da década de 1990 já havia ocupado o primeiro lugar entre os Estados produtores.
Contudo, o acesso a esse fundo deu-se principalmente pelos produtores de maior porte
(acima de 50 ha.).
Os pequenos produtores irão ser beneficiados posteriormente pelo Programa
Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf), criado em 1996 como resultado das pressões de
movimentos sociais do campo. O Pronaf, também acessado via Banco do Brasil (mas
também através das cooperativas de crédito), tornou-se o principal instrumento de
financiamento da cafeicultura das Matas de Minas, pelo fato de ser destinado ao agricultor
familiar, predominante na região. Marisa Singulano conta essa história:

Desde a década anterior, diversos movimentos sociais, que viriam a se


reunir posteriormente sob a categoria da agricultura familiar, pressionavam
o governo federal para maior apoio aos pequenos agricultores e
trabalhadores rurais. Essas pressões acabaram se centralizando na pauta
do crédito agrícola e os movimentos sociais levaram essa demanda para
negociação com o governo. Esta mobilização esteve na origem do Pronaf
[que] constitui um marco referencial nas políticas públicas para a agricultura
171
familiar no Brasil.

170
SINGULANO, Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 116.
171
SINGULANO, Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 140.

108
Dois outros programas, embora não sejam exclusivos para a cafeicultura, também
beneficiaram os pequenos produtores das Matas de Minas: o PAA (Programa de Aquisição
de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que funcionam da
seguinte forma:

[No PPA] A Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] adquire os


alimentos diretamente dos agricultores familiares ou de suas organizações
por preços tabelados e sem licitação, e os destina à formação de estoques
ou a programas sociais [...]. O Pnae tem suas ações destinadas à
transferência de recursos, provenientes do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação, para os estados e municípios que se
responsabilizam, juntamente com a sociedade civil, pela gestão de tais
recursos e sua destinação para aquisição de gêneros para a alimentação
escolar. O programa prevê a aquisição de alimentos produzidos localmente
e a destinação de no mínimo 30% dos recursos para aquisição de alimentos
172
produzidos pela agricultura familiar.

Sobre o crédito agrícola cabe ainda citar as Cooperativas de Crédito estabelecidas


na região a partir da década de 1980, entre elas: Cooperativa de Crédito de Livre Admissão
do Leste de Minas Gerais; Cooperativa de Crédito de Livre Admissão da Região de
Caratinga e Cooperativa de Crédito da Zona da Mata de Minas.
As cooperativas de crédito são particularmente úteis nas áreas rurais mais pobres,
onde a demanda por pequenos empréstimos não atrai os bancos. Por isso as cooperativas
se adaptaram bem às características das Matas de Minas e têm prestado serviços que
atendem à maioria dos produtores de café da região, incluindo os pequenos lavradores da
agricultura familiar.
O agrônomo, ex-técnico do IBC e produtor de café Pedro Antônio de Silva Araújo
resume a diferença entre um banco e uma cooperativa de Crédito:

No banco você é cliente, na cooperativa você é dono, pode opinar, ela te


presta contas, te devolve proporcional ao seu capital e você pode ser diretor
e até presidente dela. A cooperativa também presta assistência técnica, o
173
que eleva a produtividade e a qualidade de vida.

Essa fala faz recordar as ideias de João Pinheiro, ainda nos primeiros anos do
século vinte:
João Pinheiro possuía sobre o problema da defesa e valorização do café
ideias próprias, que se afastavam em pontos essenciais da mentalidade
dominante na política cafeeira nacional. Parece que no entender do
presidente mineiro [...] o pivô do amparo à lavoura cafeeira devia ser o
crédito agrícola, prestado oportuna e eficazmente por meio do
174
cooperativismo.

172
SINGULANO, Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 144.
173
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.
174
ALVIM. Projeção Econômica e Social da Lavoura Cafeeira, 1929, p.69.

109
6 ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES, CONCURSOS E PRÊMIOS DO CAFÉ DAS
MATAS DE MINAS.

6.1 Sindicatos, Associações, Cooperativas e o Conselho das Entidades do Café das


Matas de Minas.

Entre as organizações de produtores de café existentes hoje nas Matas de Minas


há sindicatos (de produtores e trabalhadores), associações e cooperativas (de produção e
de crédito). Em 2013 foi constituído o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas,
que será examinado mais detidamente, pois será essa entidade que encaminhará a
solicitação, junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, para obter o registro oficial
denominado Indicação Geográfica (IG), que visa agregar valor aos cafés produzidos na
região.
Nas entrevistas feitas para essa pesquisa, junto aos produtores de café, ouviu-se
muitas vezes a reclamação de que falta entre eles a cultura do associativismo. No entanto,
há informações sobre a existência de cooperativas de café na região desde o início do
século XX.
Sócrates Alvim, escrevendo em 1929, registra:

Ao mesmo tempo em que se ultimava o Convênio de Taubaté [1906], iam


medrando em Minas ideias cooperativistas. Chegou-se a praticar esse
instituto com animadores resultados [...]. As cooperativas de café
dispunham de armazéns gerais no Rio de Janeiro, postos a sua disposição
pelo governo do Estado, que lhes concedia favores, subvenções e prêmios
de animação. [...]. O Estado tinha um órgão próprio para dirigir esse
movimento: a Diretoria do Comércio e Expansão Econômica, da qual fazia
175
parte a Seção do Café.
Esse autor apresenta um quadro contendo as cooperativas de café situadas nos
municípios mineiros, bem como a quantidade de sacas enviadas à Agência Central, no Rio
de Janeiro, na safra 1912/1913. Das 23 cooperativas arroladas nove situavam-se na Zona
da Mata, nas cidades de Juiz de Fora, Carangola, Miraí, Ubá, Tombos, Leopoldina,
Cataguases, Muriaé e Inhapim, que na ocasião eram importantes centros cafeeiros. No
entanto, a partir de 1914 há um declínio do cooperativismo, que havia se desenvolvido não
só entre os cafeicultores, mas também envolvia produtores de laticínios, algodão, fumo,
arroz e banha, entre outros. Sócrates Alvim dá uma explicação para o declínio:

175
ALVIM, Sócrates. Projeção econômica e social da lavoura cafeeira, 1929, p. 71.

110
As cooperativas eram quase todas, senão todas, de responsabilidade
solidária e ilimitada dos sócios. Esta condição, da própria natureza do
instituto, foi, entretanto, o principal embaraço ao seu desenvolvimento e
duração. A responsabilidade solidária e ilimitada afastava do cooperativismo
os homens de fortuna, cujos bens iriam, desse modo, responder pelos
compromissos que contraíssem os pequenos proprietários, sempre em
maior número no seio da instituição. Foi realmente o que aconteceu mais
tarde, provocando o declínio do cooperativismo, a partir de 1914. O Estado
chegou a contar 56 sociedades cooperativas, distribuídas por 50 municípios.
176

Se o autor tem razão, o problema parece situar-se não na ausência de um espírito


de associativismo, mas na “taxa de mortalidade” das organizações. Além do argumento de
Sócrates Alvim, é possível que o nascimento e morte das organizações estejam vinculados
também ao maior ou menor apoio estatal, particularmente das políticas nacionais e
estaduais de defesa e valorização do café. Sabe-se que enquanto existiu o IBC (1952-1990)
o cooperativismo foi estimulado por esse instituto. Outra razão deve estar relacionada às
dificuldades de gestão. Não é fácil manter uma organização coletiva, que exige dedicação e
tempo, em geral retirado das horas de trabalho normal dos cooperados. É necessário
também que exista uma sede e uma estrutura administrativa mínima. Uma solução
apontada para esse problema é a profissionalização da gestão, mas isso significa custos
adicionais, difíceis de serem assumidos por pequenos produtores.
Uma cooperativa que conseguiu se profissionalizar e hoje é a maior da região é a
Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), fundada em 1979 e atuante
nos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Com sede em Lajinha e filial em
Manhuaçu, possui aproximadamente 7.500 cooperados, na maioria pequenos produtores da
agricultura familiar, e cerca de 300 funcionários. Tem lojas de insumos e implementos
agrícolas, armazéns próprios e departamento de assistência técnica, que faz visitas
rotineiras e promove dias de campo nas propriedades. A Coocafé comercializa no mercado
interno e externo e para tanto possui uma exportadora própria. Pela cooperativa passam em
média 500 mil sacas de café por ano. Desde 2007 ela promove o Concurso Coocafé de
Qualidade Regional, fato que demonstra sua estratégia de estimular de forma contínua a
melhoria da qualidade do café.
Em 1988 a Coocafé criou a Cooperativa de Crédito de Livre Admissão do Leste de
Minas Gerais para dar assistência financeira aos cooperados. Nesse mesmo ano fundou
também a Cooperativa Cultural e Educacional da Região de Lajinha Ltda. (Coopcel) para
reforçar a educação dos filhos e filhas dos cooperados. A preocupação de longo prazo é
com a fixação das novas gerações na lavoura cafeeira. A Coocafé e a Cooperativa de

176
ALVIM, Sócrates. Projeção econômica e social da lavoura cafeeira, 1929, p. 70.

111
Crédito de Livre Admissão do Leste de Minas Gerais são membros fundadores do Conselho
das Entidades do Café das Matas de Minas.
Há outras cooperativas e associações, mas de pequeno porte, muitas sobrevivendo
com dificuldade. Marisa Alice Singulano arrola nos anexos de sua tese algumas delas: A
Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Caratinga (Coopercafé), fundada em 1989 e
que conta com pouco mais de 100 cooperados; Cooperativa Regional Indústria e Comércio
de Produtos Agrícolas do Povo que Luta (Coorpol/São João do Jacutinga/2006);
Cooperativa da Agricultura Familiar Solidária de Espera Feliz (Coofeliz/Espera Feliz);
Associação dos Pequenos Produtores de Divino e Orizânia; Cooperativa de Produtores da
Região Matas de Minas (Coopermatas/Ervália/2011); Coopramm (Canaã/2010); e
Cooperativa Agropecuária das Vertentes do Caparaó.
Araponga singulariza-se por possuir várias organizações que se conectam:
sindicato de trabalhadores rurais, associação da agricultura familiar, cooperativa de crédito e
uma associação de mulheres. Em 2002 foi constituída a Associação dos Produtores de
Cafés Especiais de Araponga (Apcea).
Em geral essas organizações foram criadas para tentar romper o elo da cadeia
produtiva dominado pelos intermediários e acessar diretamente os mercados locais,
nacional e externo. Muitas nasceram sob a influência da igreja católica por meio das
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), pequenos grupos que se reúnem para orar e
refletir sobre a realidade que os cerca. São dirigidas pelos próprios leigos e coordenadas
pela diocese ou paróquia na qual se inserem. Na região essa coordenação é exercida pelo
Movimento da Boa Nova (Mobon), com sede em Dom Cavati. A partir da década de 1980
muitos sindicatos de trabalhadores rurais, associações e cooperativas foram fundados por
esses fieis, que também participam da vida política, elegendo vereadores, prefeitos e até
deputados estaduais.
Contribuiu também na organização dos produtores o trabalho do Centro de
Tecnologia Alternativa (CTA), uma OSCIP (organização social de interesse público) fundada
em Viçosa no ano de 1987, que apoia o desenvolvimento da agroecologia, além de
estimular a participação social e política de jovens e mulheres. Conjuntamente, as CEBs e o
CTA tiveram participação expressiva na organização dos produtores dos municípios de
Espera Feliz, Divino e Araponga. Através de suas organizações os pequenos produtores
conseguem acessar programas governamentais, como o PAA e o Pnae, além de
comercializarem nos mercados e feiras livres locais. A organização dos pequenos
produtores é quase um imperativo, pois o sucesso nas transações comerciais está

112
associado à maior quantidade de café ofertada no mercado, algo que entre os pequenos só
é alcançado quando eles se unem e ajuntam sua produção.
Com perfil semelhante ao CTA também atua na organização dos pequenos
produtores a Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas (REDE), fundada em Belo
Horizonte em 1986. O CTA e a REDE são articulados nacionalmente pela Rede de Projetos
em Tecnologia Alternativa, que reúne as entidades que propõem modelos de produção
agrícola alternativos aos desenvolvidos sob a influência da Revolução Verde, que introduziu
na agricultura os chamados agrotóxicos. Na visão dos cultores da agroecologia esses
produtos são considerados “venenos”. Desde 1990 o CTA e a REDE vêm atuando
fortemente nos municípios de Caratinga, Conceição do Ipanema, Simonésia, Manhuaçu e
São João do Manhuaçu.
Em outro contexto atua o Sebrae, que se destaca no estímulo à inovação
tecnológica, empreendedorismo, competitividade e gestão de negócios.
O Sebrae chegou na região das Matas de Minas com o projeto Educampo Café,
mas a partir de 2010 ampliou seu campo de ação. O zootecnista e técnico do Sebrae
Rogério Galuppo Fernandes fala sobre esse trabalho:

Um pouco antes de 2010 o Sebrae contratou uma consultoria espanhola


para trabalhar a parte de competitividade de clusters e foi feito um trabalho
piloto em Nova Serrana, com o setor calçadista. Foi um trabalho de
definição de estratégias de desenvolvimento setorial vinculadas ao território.
A metodologia do trabalho em Nova Serrana derivou para outros setores
nos quais o Sebrae atua [...]. Então eu assumi a responsabilidade técnica
de aplicá-la [na cafeicultura] da Zona da Mata. [...]. Os pilares da
metodologia são quatro: qualidade do café, governança setorial, identidade
177
de origem e mercado.
Os pilares são articulados. No que tange à qualidade, além da difusão de
conhecimentos sobre os avanços tecnológicos e os processos de gerenciamento e
certificação, busca-se reverter uma reputação do café regional, historicamente identificado
com o tipo “Rio Zona”, café classificado no nível mais baixo entre as sete categorias da
178
escala adotada no Brasil pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.
No que se refere ao fortalecimento da identidade regional, a substituição da
denominação Zona da Mata (associada a Rio Zona) por Matas de Minas foi estratégica no
sentido de evidenciar que a região, desde a década de 1990, produz cafés diferenciados e
de alta qualidade.

177
FERNANDES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
178
São sete categorias numa escala ordenada do melhor ao pior café: estritamente mole, mole, apenas mole,
duro, riado, rio e rio zona. Essa última categoria faz referência, ao mesmo tempo, à Zona da Mata e ao Rio de
Janeiro, cujo porto exportava o café vindo daquela região.

113
No pilar do mercado situam-se os estímulos à comercialização, particularmente a
participação em concursos e eventos de negócios, como a Feira Internacional do Café. Esse
evento, antes sediado em São Paulo, foi assumido pelo governo de Minas em 2013 (em
parceria com a Organização Internacional do Café). Na feira os produtores das Matas de
Minas se fazem representar divulgando a marca em stand próprio, onde se pode degustar o
café da região, que já conquistou prêmios nesse evento.
No pilar da governança o Sebrae atuou intensamente (sem nunca substituir os
protagonistas) na assessoria à organização do Conselho das Entidades do Café das Matas
de Minas.
Rogério Galuppo Fernandes narra o processo de constituição do Conselho:

Primeiro tínhamos de ter uma estratégia de entrada. A forma mais direta de


acesso à região era por meio dos produtores, através de suas instituições.
Então participamos de várias atividades – dias de campo, seminários,
palestras, uma gama de ações voltadas para comunicar aos produtores:
“’estamos aqui’”. Ainda nessa fase de aproximação programamos três
encontros, com 150, 180 pessoas, quase sempre as mesmas, onde
divulgávamos a metodologia do trabalho e os seus avanços. Depois veio a
ação prática, baseada nos quatro pilares. Quando definimos que o caminho
para a governança era constituir um Conselho de entidades, o processo
ficou mais ordenado, porque se eu comunico ao Conselho, as entidades
ficam sabendo e os produtores ligados a elas também são informados.
Trabalhamos sempre em parceria e buscando consultores especialistas. O
179
Sebrae é um provocador, um animador, um articulador.

O Conselho realizou sua assembleia de constituição no dia 11 de julho de 2013,


após inúmeras reuniões entre as entidades que o fundaram: Associação dos Cafeicultores
da Região de Caratinga (ACARC), Cooperativa Agropecuária das Vertentes do Caparaó
Ltda., Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha Ltda. (COOCAFÉ), Associação
de Cafés Especiais de Minas Gerais (SCAMG, na sigla em inglês), Cooperativa de Crédito
de Livre Admissão do Leste de Minas Ltda. (SICOOB CREDICAF), Cooperativa de Crédito
de Livre Admissão da Região de Caratinga Ltda. (SICOOB CREDICOPER), Cooperativa de
Crédito da Zona da Mata de Minas Ltda. (SICOOB CREDILIVRE), Sindicato dos Produtores
Rurais de Manhuaçu, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Luisburgo,
Associação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Município de São João do
Manhuaçu (Mãos Dadas), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caratinga e Sindicato dos
Produtores Rurais de Manhumirim. Acompanharam a assembleia técnicos do Sebrae e da
Emater e um representante do Centro de Excelência do Café das Matas de Minas, situado
na UFV. Salienta-se entre as entidades fundadoras a representação das cooperativas de

179
FERNANDES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.

114
crédito, que cresceram de importância após a criação do Pronaf (1993). Além de agentes
financeiros no nível local, essas cooperativas se articulam com as outras organizações na
defesa de interesses comuns.
A articulação entre as entidades é reforçada por Rogério Galuppo:

O que a gente tenta é não privilegiar uma ou outra entidade em termos


econômicos, mas sim como representativas do setor. Cada entidade tem
um voto. Todas são importantes do ponto de vista político e institucional,
porque dão legitimidade ao Conselho. O Conselho não quer substituir o
sindicato ou a cooperativa, mas unificar os discursos, então todos devem
ser tratados igualmente, essa é a teoria que dá base ao Conselho. As
cooperativas de crédito são bancos, mas intimamente vinculadas à
economia da região. Os sindicatos de produtores são filiados à Faemg e
têm importância institucional. O Conselho funciona por adesão. O
importante para nós é que as entidades possibilitam acessar os
180
produtores a elas filiados.

Nos termos do estatuto o Conselho é uma associação sem fins lucrativos, de


caráter representativo, científico, educacional e de divulgação cultural. Entre seus principais
objetivos estão: fortalecer e aprimorar a cafeicultura regional; promover a inovação
tecnológica; criar instrumentos para viabilizar a comercialização nacional e internacional do
café da região; ampliar o associativismo e o cooperativismo na sua área de abrangência; e
coordenar as ações de marketing do café produzido na região com a finalidade de torná-lo
reconhecido nacional e internacionalmente pela qualidade.
No princípio ainda não se pensava na Indicação Geográfica, mas uma alteração
estatutária posterior introduziu esse objetivo nos seguintes termos:

Instituir, promover, gerir, divulgar e proteger seus bens imateriais,


intelectuais, industriais, quando reconhecidos, concedidos ou deferidos, tais
como: patentes, softwares, desenhos industriais, indicação geográfica
(denominação de origem e/ou indicação de procedência), marcas coletivas
181
ou marcas de certificação.

Para gerir os instrumentos previstos foi necessário incluir na estrutura


administrativa a figura do Conselho Regulador, responsável, entre outras atribuições, pela
elaboração do Regulamento de uso da marca coletiva (já registrada), da Indicação
Geográfica e de outras formas de identificação dos produtos (selos, etiquetas e certificações
diversas). O Conselho também deve zelar pela proteção das normas do Regulamento e
evitar o uso indevido do nome geográfico.

180
FERNANDES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães
Brandão, 2016.
181
ESTATUTO. PRIMEIRA ALTERAÇÃO DO ESTATUTO SOCIAL DO CONSELHO DAS ENTIDADES DAS
MATAS DE MINAS. Manhuaçu, 4 de setembro de 2014.

115
O local escolhido para abrigar o Conselho foi em Manhuaçu, na sede da Specialty
Coofee Association of Minas Gerais (SCAMG), entidade vinculada à Brazilian Specialty
Coffee Association (BSCA) e à Specialty Coffee Association of America (SCAA). A BSCA é
a principal associação de produtores de cafés do Brasil. Entre seus associados há grandes
empresas de produção e exportação.
A SCAMG foi criada em 2001 a partir de ideia apresentada por produtores do café
tipo Cereja Descascada, reunidos no Simpósio da Cafeicultura das Matas de Minas. Hoje
são 35 associados que promovem ações conjuntas: participam do Educampo, possuem uma
central de compras de insumos e tem um degustador de café próprio. A entidade obteve
apoios para que seus associados pudessem viajar para feiras e eventos internacionais e
conquistou cadeiras no Conselho Estadual de Política Agrícola (vinculado à Secretaria de
Estado de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais) e na Federação da Agricultura e
Pecuária de Minas Gerais.
Já registrado e instalado, em junho de 2014 o Conselho sistematizou seu programa
de ação, composto por cinco itens: (a) criar e fortalecer o Conselho Regulador; (b) registrar,
proteger e regulamentar a marca coletiva “região das Matas de Minas”; (c) fortalecer a
comunicação institucional; (d) instituir programa voltado para o engajamento dos
cafeicultores na produção de qualidade e naturalmente sustentável; (e) e criar selo de
origem com sistema de rastreabilidade. Um sexto item propunha a criação de um laboratório
de controle da qualidade do café, mas a decisão sobre o tema foi adiada até que fossem
definidas, pelo Conselho Regulador, as regras de produção, inscritas em regulamento
próprio. Dois meses depois entrou na pauta da reunião do Conselho a discussão sobre a
Indicação Geográfica (IG) para a região cafeeira das Matas de Minas. Enfatizou-se a
necessidade de delimitar a área, fazer o levantamento histórico e aprovar o Regulamento,
instrumento essencial para caracterizar o produto e seus métodos de produção. Na mesma
ocasião foram marcadas as datas para o lançamento da marca coletiva (11 de setembro de
2014) e para a realização da missão técnica ao Vale dos Vinhedos (01 a 05 de novembro),
primeira região do Brasil que obteve a IG.
Além da presença constante e ativa no Simpósio da Cafeicultura das Matas de
Minas, o Conselho esteve representado no evento denominado Cup of Excelence, nome
dado ao prêmio concedido pelo Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, promovido pela
BSCA. Em 2014 o evento foi sediado na UFV e na ocasião, além de palestras técnicas, uma
delas relativa ao café das Matas de Minas (com apresentação de um vídeo), houve visita ao
reitor da Universidade e uma degustação com provadores de todo o mundo, oportunidade

116
na qual os cafés da região foram experimentados, elogiados e principalmente divulgados
entre os especialistas internacionais.
O professor, pesquisador e coordenador do Centro de Excelência do Café José
Luiz Rufino, foi quem levou a Cup of Excelence para Viçosa. Ele compareceu a todas as
reuniões do Conselho em 2014 e 2015, exercendo na prática a tarefa de consultor. Foi
numa dessas reuniões que o Mapa da Qualidade produzido pela UFV, com base nas
análises de amostras de café da região, foi apresentado pelo professor, demonstrando a
qualidade superior do produto das Matas de Minas.
Marisa Singulano sintetizou o resultado do trabalho do Conselho e das várias
entidades e organizações das Matas de Minas:

A região que tradicionalmente era identificada pelo baixo nível tecnológico e


organizacional e pela baixa qualidade dos seus cafés, passou por um
processo de reconstrução de sua reputação no setor cafeeiro. A melhoria da
qualidade dos cafés da região foi parte importante deste processo, o que se
deu a partir de esforços e investimentos dos próprios produtores e da
formação de organizações locais que fomentaram o processo de mudança
tecnológica. Com a melhoria da qualidade dos cafés da região e seu
reconhecimento no mercado, ocorreu também um feedback positivo sobre
as organizações. Sendo assim, as Matas têm experimentado uma fase de
florescimento de associações e cooperativas de produção e crédito. As
organizações existentes representam muitas vezes para os produtores
formas de proteção diante do ambiente de um mercado globalizado e uma
alternativa ao caminho habitual do café no mercado local, por meio de
intermediários. Além disso, estas organizações cumprem o papel de
representar politicamente os produtores desta região nos espaços de
deliberação da política cafeeira, levando a região a ser reconhecida
182
formalmente pelo poder público.

6.2 Cafés de qualidade, concursos e prêmios.

Em que pese serem essenciais o sabor, o aroma e o corpo, além da composição


físico-química, esses elementos por si sós não caracterizam a qualidade do café, que se
complementa com as condições ambientais da lavoura (temperatura, umidade e altitude), a
identificação do lugar de origem, a utilização de tratos culturais que não agridem o meio
ambiente (ditos sustentáveis), as tecnologias empregadas (na plantação, colheita e pós-
colheita, incluindo os cuidados com o armazenamento), as relações de trabalho, que devem
respeitar os direitos sociais e trabalhistas, as certificações (do produto e das propriedades
rurais) e o uso de símbolos distintivos, como as marcas (coletivas ou de pessoa jurídica) e
selos. Empresas torrefadoras e de moagem também devem ter cuidados especiais no

182
SINGULANO. Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015 p. 224-225.

117
beneficiamento do produto. Destacam-se ainda os profissionais degustadores (que atestam
sensorialmente a qualidade) e os baristas, especializados na arte de fazer e servir café.
Esse conjunto de características corresponde ao perfil dos consumidores desses cafés,
cada vez mais atentos e exigentes, principalmente no que se refere aos aspectos
socioambientais da produção. O consumidor também valoriza a história e as tradições
locais.

Os cafés de qualidade podem ser divididos em duas categorias: especiais e


orgânicos. O café especial, no que tange ao processo de beneficiamento, pode ser “natural”
ou “cereja descascada” (CD). O CD é obtido a partir do descascamento dos frutos e pode
ser despolpado e/ou desmucilado. O despolpamento facilita a secagem e assim evita de
maneira mais eficiente a fermentação. A seleção dos grãos, obtida na lavagem do café,
permite que se obtenha microlotes que são altamente valorizados.

O café especial é produzido em propriedades pequenas, grandes e médias,


principalmente nas áreas onde a altitude supera os mil metros, a partir da qual se obtém
café de melhor qualidade, como nas serras do Brigadeiro e do Caparaó.

Os médios e grandes produtores de cafés especiais, cujos negócios são


polarizados pelo município de Manhuaçu, em geral têm curso superior em agronomia e
possuem mentalidade empresarial; muitos descendem de famílias tradicionais da
cafeicultura regional (como os Miranda, Vieira, Dutra, Corrêa, Werner, e Sanglard); utilizam
mais intensamente mão de obra assalariada e fazem uso frequente de mecanização e
produtos agroquímicos (com controle rigoroso na aplicação e estocagem). Relacionam-se
com escritórios de corretagem especializados em cafés especiais ou diretamente com as
empresas exportadoras. Em alguns casos são donos de um escritório de corretagem
próprio, de uma pequena indústria de torrefação e até mesmo de uma firma exportadora;
participam dos principais eventos promovidos pelos agentes da cadeia produtiva do café e
estabelecem contatos diretos com cafeterias nacionais e internacionais. Têm controle da
contabilidade da produção de cada talhão de suas propriedades e acompanham
diariamente, via rede mundial de computadores, a variação das cotações do café (e do
dólar) no mercado interno e externo. As propriedades em geral são certificadas, às vezes
por mais de uma certificadora (como UTZ Certified e Rainforest Alliance). Recebem
assistência técnica de órgãos públicos como a Emater, mas podem contratar empresas
privadas para essa finalidade.

118
A classificação dos cafés especiais segue a escala internacional da SCAA, que vai
de 0 a 100 pontos. Os especiais situam-se acima de 80 pontos e são avaliados por
degustadores profissionais (os Q-graders). Na exportação esses cafés obtêm ágio (valor
superior às cotações da Bolsa de Nova Iorque). Atualmente cerca de 10% do comércio
mundial de café é formado pelos especiais. Dentro dos Estados Unidos, maior importador
mundial, os cafés especiais representam 15% do volume total comercializado.

O café orgânico foi introduzido na região por influência de entidades como o CTA,
que difundiram na região as práticas e tecnologias agroecológicas, além de assessorar os
pequenos produtores na sua organização em cooperativas, obtenção de financiamentos,
contato com os órgãos e políticas públicas e também no estabelecimento de estratégias de
comercialização. A produção dispensa o uso de agroquímicos e é menos mecanizada.
Atende a uma demanda cada vez mais difundida entre consumidores (internos e externos)
que estão dispostos a pagar mais por produtos saudáveis, solidários ou comunitários, o que
os leva a comprar preferencialmente de agricultores familiares organizados em
cooperativas. Em geral participam de movimentos sociais pelo comércio justo (fair trade).

Marisa Singulano escreve sobre o café orgânico das Matas de Minas:

Na região das Matas de Minas, muitos produtores, principalmente pequenos


produtores, fizeram a conversão para a produção orgânica no início dos
anos 2000, um momento em que o mercado de orgânico era bastante
favorável em relação ao mercado de café commodity. Este processo foi
mais intenso na região de Manhuaçu e alguns municípios do leste das
Matas e na região de Viçosa, principalmente em alguns municípios do
entorno da Serra do Brigadeiro, onde atuam organizações da sociedade civil
ligadas aos movimentos sociais e de agroecologia, respectivamente a Rede
e o CTA. Anos depois, alguns produtores abandonaram a produção
orgânica devido a dificuldades de certificação e comercialização, mas
muitos continuaram a produzir sem uso de agrotóxico e buscaram se inserir
183
no mercado de fair trade.

Além de possuírem vínculos com o movimento internacional do comércio justo,


principalmente quando organizados em cooperativas, os produtores de orgânicos têm
acesso aos mercados “de proximidade” (pequenas feiras e mercadinhos locais), e também
vendem para programas institucionais como o PAA e o Pnae. No entanto, a produção de

183 SINGULANO. Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café: um estudo de caso na


região das matas de Minas, 2015. p. 196.

119
café orgânico tem diminuído de forma constante nas Matas de Minas. Assim como os
especiais, os orgânicos também obtêm no mercado um preço superior à cotação do café
commodity, mas a produção em pequena escala, como é próprio da agroecologia, não tem
sido compensadora.
De comum os dois tipos de café de qualidade são predominantemente da espécie
arábica e atingem entre 5% e 10% do total do café produzido na região. As propriedades,
além de não serem monocultoras, produzem outros tipos de café, principalmente o
commodity, que chega ao máximo de 75 pontos na escala da SCAA e é exportado em
grande escala, sem especificação de origem e marca. O café de tipo inferior, ou “de
consumo”, é destinado ao mercado interno.

O administrador de empresas Gilson Rogério Marcomini comparou fazendas


produtoras de café convencional com as de café especial, a fim de verificar qual deles dá
maior retorno econômico ao proprietário. Sua conclusão é a de que apesar de exigir mais
cuidados e por isso mais investimentos o café especial, seja nas pequenas seja nas grandes
propriedades, se revelou mais vantajoso.184 Esse fato está relacionado ao preço obtido no
mercado externo pelos cafés especiais. Relatório do Conselho dos Exportadores de Café
(Cecafé) mostrou que a produção brasileira entre janeiro e outubro de 2016 atingiu o volume
de 4,9 milhões de sacas, com preço médio de 192,80 dólares, valor 25% superior ao café
commodity. Os cafés especiais do Brasil são consumidos em 122 países. Em 2016 os
Estados Unidos importaram mais de um milhão de sacas. O Japão veio em segundo lugar
(735 mil sacas), seguido da Itália (559 mil), Alemanha (554 mil) e Bélgica (511 mil).

A percepção de que a região das Matas de Minas produzia cafés de qualidade teve
início em 1985:

Em 1985 teve uma seca muito grande no sul de Minas e o pessoal veio para
cá “garimpar” café. Descobriram que havia café de qualidade e o venderam
com lucro [mas como se fossem de Varginha]. Eles confessaram isso para
nós e então a região descobriu que tinha café bom [...]. Aí começou o
185
trabalho de valorizar a qualidade.

184
MARCOMINI. Aspectos econômico-financeiros da produção de café convencional e de café especial, 2013.
185
ARAÚJO; GUIMARÃES. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.

120
A confirmação veio quando os cafés da região começaram a ser bem classificados
em concursos lançados por empresas privadas e pelo governo estadual. Em 1995, pela
primeira vez, um produtor da região foi finalista de um concurso, o Prêmio Ernesto Illy de
Qualidade do Café, e então o que era apenas uma suposição tornou-se convicção. A partir
de 2000 os prêmios começaram a chegar sequencialmente.
Sérgio Cotrim D’Alessandro conta:

O primeiro café que foi finalista aqui na região foi em 1995 com o professor
Renan Werner da Gama, de Manhuaçu. Em 1997 foi o Mauro Garcia
Correa, de São João do Manhuaçu; em 2000 a D. Ceci, também de
Manhuaçu. Foi quando fundamos a SCAMG [...]. Depois disso vem uma
sequência de prêmios. Os principais concursos são da ILLY Café, que é
uma das empresas mais importantes do mundo no segmento de café
especiais; do governo do Estado de Minas Gerais (via Emater); e o
concurso da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). No começo
nosso café era muito barato, foi muito tempo discriminado. Aparecemos nos
concursos da ILLY e da BSCA porque os jurados são internacionais e então
186
eles começaram a acreditar que no Brasil há cafés de qualidade.

Os concursos do governo do Estado, da empresa italiana de torrefação ILLY Cafe e


de associações de produtores de cafés especiais, como a BSCA, além de alavancar a
reputação dos fazendeiros finalistas, conferir-lhes prêmios em dinheiro e possibilitar-lhes
vender seu café por alto preço nos leilões realizados após a premiação (o preço chega a
alcançar até dez vezes o valor de mercado), também conferem reconhecimento às fazendas
produtoras no comércio nacional e internacional. Assim, empresas de importação e
exportação, bem como redes de cafeterias internacionais, passam a visitar as propriedades
a fim de constatar os cuidados dispensados à lavoura e adquirir futuros lotes do produto. A
fama das fazendas, dos fazendeiros e de seus métodos de produção reflete-se em toda a
região, cujos produtores passam a adotar as mesmas práticas dos premiados, a fim de obter
maiores lucros.

Um exemplo de relação direta entre produtores e exportadores pode ser constatado


nas propriedades dos irmãos Dutra, descendentes de uma família pioneira da cafeicultura
na região de Manhuaçu. Os atuais donos, os irmãos Walter e Ednilson, são proprietários de
1.000 hectares (750 ha. de café) distribuídos em sete propriedades, nas quais são
cultivados 3 milhões de pés de café. Os irmãos já conquistaram vários prêmios, incluindo os
obtidos na Bélgica e na França em concursos promovidos pela Associação de Café

186
D’ ALESSANDRO. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins
Durães Brandão, 2016.

121
Especiais da Europa (SCAE). O resultado motivou a visita de especialistas da torrefadora
europeia Koffie F. Roumbouts à Fazenda Água Limpa, situada em São João do Manhuaçu,
onde foram conhecer os processos de cultivo e beneficiamento do Café Dutra. A fazenda
tem 358 hectares, sendo 280 ocupados por cafezais plantados entre 1.000 e 1.300 metros
de altitude. A propriedade possui várias certificações e em 2009 os irmãos receberam o
prêmio da Illy Café como os melhores fornecedores brasileiros de cafés especiais,
adquiridos pela Itália, Alemanha, Japão e Bélgica. Em 2015, reportagem da revista Globo
Rural registrou a presença de estrangeiros na fazenda Água Limpa:

Nos dois dias em que receberam a reportagem da revista Globo Rural, os


irmãos Dinho e Valtim também hospedavam um grupo de cinco belgas,
liderados por Tom Janssen, dono de uma rede de cafeterias. Janssen
importa 800 sacas de café por ano, metade do Brasil. Ele conta que
costuma visitar os fornecedores e se possível leva também um dos seus 20
baristas, para que todos conheçam no campo as diversas etapas da
produção. Os belgas são apenas um dos vários grupos de estrangeiros que
os irmãos Dutra hospedam na fazenda todos os anos. Alguns visitantes
fazem questão de escolher as árvores que produzirão os cafés que irão
187
comprar.

O contato direto entre produtor e empresa exportadora, que tem vantagens para as
duas partes, se dá também entre os pequenos proprietários, por iniciativa da Emater. Paulo
Roberto V. Corrêa, que faz esse trabalho de aproximação, explica:

Em Manhuaçu tem mais de vinte empresas exportadoras; Manhumirim tem


umas quatro e Matipó tem uma. Elas que nos procuraram para levar os
produtores até lá e conhecer os exportadores. Antes só compravam de
corretores. Por que as exportadoras fazem isso? As amostras dos
produtores são fieis à entrega. Produtor não mistura café, ao contrário dos
corretores, que fazem uma liga e querem empurrar para os exportadores.
Por isso as exportadoras preferem comprar diretamente dos produtores.
Hoje [2016], 40% a 60% dos cafés que as empresas compram são direto do
produtor, independentemente da quantidade. Tem exportadora que já
comprou uma única saca de café. Algumas criaram um departamento
próprio só para receber agricultores familiares. Nós levamos os produtores
até lá ou as próprias empresas vão até as comunidades rurais. Antes os
produtores não vendiam diretamente aos exportadores, porque ficavam
amarrados nos corretores, que adiantavam dinheiro [...]. O produtor estava
188
sempre endividado.

187 FERREIRA. Café na montanha, 2015.


188 CORREA, Paulo Roberto Vieira. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela
Martins Durães Brandão, 2016.

122
Outra estratégia de comercialização dos cafés especiais está vinculada ao turismo,
particularmente no circuito em torno do Pico da Bandeira, na serra do Caparaó.

Carlos Henrique Cruz fala sobre esse tema:

Há algumas experiências pontuais em fazendas de cafés premiados que


foram integradas em roteiros turísticos. O turista compra a opção de visitar
as fazendas e conhecer os processos de beneficiamento. Nos restaurantes
de pousadas e lanchonetes já existe sorvete, macarrão e até pizza de café.
Há cursos para ensinar receitas gastronômicas que fazem uso do café
(incluindo cachaça) e também artesanato com a palha do café e móveis
com a madeira da planta. A prefeitura de Alto Caparaó é atenta a essa
questão e criou roteiros. É uma estratégia para manter por mais tempo o
189
turista que vai subir o Pico da Bandeira.

Em 2000, o primeiro lugar obtido por D. Ceci Maria de Faria, cujos filhos
inscreveram lotes de café no concurso da BSCA sem o conhecimento da mãe, foi uma
surpresa que se transformou num “divisor de águas”, porque a premiação foi divulgada na
imprensa nacional, fato que deu visibilidade à região como um todo. Nesse concurso o café
de D. Ceci foi arrematado por 402 dólares a saca.

O concurso do governo do Estado, realizado por meio da Emater, nasceu em 2002


com o nome de Concurso de Qualidade de Café da Agricultura Familiar e hoje se chama
Concurso Estadual de Qualidade de Café. O evento tem vários parceiros, incluindo UFV,
IMA, Epamig, Faemg e também a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaemg).
Paulo Roberto Viera Corrêa, da Emater de Manhuaçu, conta um pouco da história
do concurso:

O Concurso Estadual de Qualidade do Café da Agricultura Familiar foi o


grande marco. Ficamos cinco anos fazendo só para os pequenos
proprietários; eles eram uma prioridade da Emater. A partir de 2007 foi
estendido a todos. Hoje [2016] estamos no 11º, fizemos uma pausa de
quatro anos. Em 2009 começamos a mapear os 22 municípios da regional
de Manhuaçu e a colher amostras de café que ainda estavam na tulha do
produtor. Junto com o Centro de Excelência do Café da UFV fizemos uma
prova e vimos que havia cafés acima de 80 pontos, mesmo sem nenhum
preparo. Com o circuito mineiro do café do Sul de Minas criou-se o concurso
estadual. Este ano estão concorrendo 1400 amostras, sendo 462 daqui das
Matas de Minas [...]. Nos últimos dois anos o café das Matas de Minas

189 CRUZ. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela Martins Durães Brandão,
2016.

123
ganhou o prêmio de melhor café do Estado. Em 2014 foi de Espera Feliz e
em 2015 de Alto Caparaó. É uma sequência de premiações [...]. Primeiro se
premia os melhores cafés de cada uma das quatro regiões cafeeiras. Nem
todas as regiões são premiadas, porque só selecionamos cafés acima de 80
pontos. Esse ano a linha de corte foi de 84 pontos. Até hoje as região das
Matas de Minas foi premiada em todos [...]. A premiação é feita em duas
categorias: natural e cereja descascada. Os nossos ficaram acima de 86
pontos e esse ano temos chance de ser campeões nas duas categorias.
Dos 78 finalistas, 39 são cafés das Matas de Minas. O campeão será
comprado a 800 dólares a saca por uma empresa que foi licitada. Os
campeões de cada uma das quatro regiões ganham uma viagem ao exterior
(esse ano será para Costa Rica) e o técnico que envia maior número de
amostras também ganha essa viagem. Em 2016 o técnico é de Alto
190
Caparaó.

()Uma característica do concurso estadual lembra a distinção que era adotada pela
antiga ACAR entre assistência técnica e extensão rural. A assistência visa resolver
problemas pontuais a respeito de técnicas e métodos de produção, ao passo que a
extensão rural é entendida como um processo educativo integral. Nesse sentido, o principal
objetivo do concurso não é estimular a competição, mas melhorar a qualidade do café
produzido. Após o concurso, o extensionista da Emater leva o laudo referente à análise da
amostra encaminhada pelo produtor e discute com ele as possibilidades técnicas de
aperfeiçoamento da produção. Ou seja, o concurso estadual é, antes de tudo, um estímulo à
contínua melhoria da qualidade do produto.

Os diversos prêmios ganhos nos principais concursos por produtores de municípios


das Matas de Minas estão resumidos no quadro seguinte. Outras informações podem ser
obtidas no Anexo 4.

190
CORREA, Paulo Roberto Vieira. Entrevista concedida a Bernardo Novais da Mata Machado e Gabriela
Martins Durães Brandão, 2016.

124
Quadro 1: Prêmios – Café

Fonte Dados básicos


Elaboração própria

125
7 ESTATÍSTICAS DA PRODUÇÃO CAFEEIRA NOS MUNICÍPIOS DAS MATAS DE
191
MINAS ENTRE 1990 E 2015

7.1 População e Produto nas Matas de Minas

Em 2015, a região das Matas de Minas detinha cerca de 6% da população mineira.


Essa proporção se mantém relativamente estável, mas a população cresceu ligeiramente
menos que a do Estado de Minas Gerais. Entre 1990 e 2015 a população mineira cresceu,
em média, 1,13% a.a., enquanto na região esse índice foi de 1,08% a.a. (GRÁFICO 1).

Gráfico1: População estimada, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas,


1990=100, 1990-2015

140,00 5,82

120,00 5,80

100,00 5,78

80,00 5,76

60,00 5,74

40,00 5,72

20,00 5,70

0,00 5,68

Matas de Minas Minas Gerais Proporção

Nota: A proporção da população de Minas Gerais existente nos municípios das Matas
de Minas está descrita no eixo secundário (à direita).
Fonte: IBGE.
Elaboração: DCTEC/FJP.

191
Esse capítulo contou com a colaboração do economista Cláudio Burian Wanderley, pesquisador
da Fundação João Pinheiro.

126
Já o Produto Interno Bruto em Minas Gerais (em preços de 2015), foi de pouco
mais de 282 bilhões em 2002. Nos municípios das Matas de Minas esse valor alcançou um
pouco mais de 9,6 bilhões – ou seja, 3,4% do PIB mineiro. Em 2014, o produto estadual
chegou (em preços de 2015) a pouco mais de 563 bilhões e o da região a 18,7 bilhões.
Nesses treze anos o produto mineiro cresceu 99,7% (5,5% a.a. em média) enquanto nas
Matas de Minas o índice foi de 92,5% (ou 5,2% a.a. em média), o que fez sua participação
no produto estadual cair para 3,3% (GRÁFICO 2).

Gráfico 2: Produto Interno Bruto a preços de 2015, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas,
2002=100, 2002-2014

250 4,00
3,90
200 3,80
3,70
150 3,60
3,50
100 3,40
3,30
50 3,20
3,10
0 3,00
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Matas de Minas Minas Gerais Proporção

Nota: A proporção da população de Minas Gerais existente nos municípios das Matas de Minas está
descrita no eixo secundário (à direita).
Fonte: IBGE.
Elaboração: DCTEC/FJP.

Assim, entre 2002 e 2014, o produto per capta, tanto em Minas Gerais quanto na
região das Matas de Minas, cresceu consistentemente, visto que o produto total cresceu
mais que a população em ambas. Em Minas o crescimento (em preços de 2015) subiu de
15,9 mil em 2002 para 28,4 mil em 2014 (crescimento de 78,8% ou 4,6% a.a. em média);
nas Matas de Minas os números vão de 9,3 mil para 16 mil no mesmo período (crescimento
de 72% ou 4,3% a.a. em média). O produto regional per capita que era 60% do estadual em
2002, caiu para 57,7% em 2014 (GRÁFICO 3). As Matas de Minas, portanto, apresentou
nos últimos anos dinamismo econômico um pouco inferior ao de Minas Gerais.

127
Gráfico 3: Produto Interno Bruto per capita a preços de 2015, Minas Gerais e municípios das Matas
de Minas - 2002-2014

200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Proporção Matas de Minas Minas Gerais

Fonte: Dados básicos: IBGE


Elaboração: DCTEC/FJP.

7.2 A produção de café

A produção de Café em Minas Gerais sobe de pouco mais de um milhão de toneladas em


1990 para 1,35 milhões de toneladas em 2015 (taxa média de crescimento de 1,03% a.a.).
Os municípios das Matas de Minas produziram em 1990 pouco menos de 200 mil toneladas
(aproximadamente 19% da produção estadual). Em 2015 esta produção sobe para 308 mil
toneladas (22,9% da produção estadual). Ou seja, a produção de café na área cresceu bem
mais que no estado, alcançando uma taxa média no período de 1,77% a.a. A produção,
tanto no estado quanto nestes municípios, se mostrou bastante oscilante, mas com clara
tendência de aumento, excetuando-se o período entre 2001 e 2003 (GRÁFICO 4).

128
Gráfico 4: Produção de café, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas, 1990=100, 1990-2015

200,00

150,00

100,00

50,00

0,00

Matas de Minas (%) Matas de Minas Minas Gerais

Fonte: Dados básicos IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

Quase todo o café produzido em Minas (pouco menos de 99%) é da espécie arábica. Essa
variedade responde também por praticamente toda a produção cafeeira dos municípios das
Matas de Minas.
Entre 2012 e 2015, a produção de café arábica (assim como a produção cafeeira
como um todo) diminuiu no Estado. Caiu de pouco menos de 1,6 milhões de toneladas para
pouco mais de 1,3 milhões (um decréscimo de 20,6% em 3 anos ou 7,4% a.a. em média).
Nos municípios das Matas de Minas ocorreu o contrário: houve um crescimento acumulado
de 4,1% (média de 1,34% a.a.). Isso fez com que a região aumentasse sua participação na
produção total do estado de 18,7% em 2012 para 23,2% em 2015 (GRÁFICO 5).

129
Gráfico 5: Produção de café tipo arábica, Minas Gerais e municípios das Matas de Minas, 1990=100,
1990-2015

140,00

120,00

100,00

80,00

60,00

40,00

20,00

0,00
2012 2013 2014 2015

Mata de Minas (%) Mata de Minas Minas Gerais

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

A produção per capita de café (produção cafeeira dividida pela população total) em
Minas Gerais se mostrou bastante estável: um pouco menos de 70 quilos por habitante.
Esse número é bem maior nos municípios das Matas de Minas: de 220 quilos por habitante
em 1990, chega a 261 em 2015. Com exceção do período 2001-2003, esse número é
crescente, mas não no estado como um todo (GRÁFICO 6).

130
Gráfico 6: Produção de café per capita - Minas Gerais, municípios das Matas de Minas
e restante do estado - 1990-2015

350,00
300,00
250,00
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00

Restante de Minas Matas de Minas Minas Gerais

Fonte: Dados básicos IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

A área colhida de café no Estado ficou relativamente constante a partir de 2002: um


pouco acima de um milhão de hectares. Já nos municípios das Matas de Minas essa área
apresentou no período um crescimento de 27,5%, ampliando sua participação no estado de
19% para 24%. Sua área colhida cresceu de 185 mil hectares para 236 mil ha. (GRÁFICO 7).

Gráfico 7: Área colhida de café (hectares) - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas - 1990-
2015

1.200.000

1.000.000

800.000

600.000

400.000

200.000

Restante do estado Matas de Minas Minas Gerais

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

131
As culturas agrícolas se dividem em permanentes (café, laranja, cacau, entre
outras) e temporárias (soja, milho e feijão, entre outras). Devido ao café, a proporção de
área utilizada nos municípios das Matas de Minas com culturas permanentes é muito maior
que a observada tanto em Minas Gerais quanto no Brasil. Nestes municípios, essa
proporção sobe de 55% em 1990 para 78% em 2015. No Estado vai de 23% para 21%, e no
país de 14% para 7,5% (GRÁFICO 8). Mesmo considerando apenas a área colhida com
culturas permanentes, essa proporção ainda é maior no grupo de municípios estudados
(GRÁFICO 8).

Gráfico 8: Área colhida com culturas permanentes, proporção da área colhida agrícola total (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015

90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00

Mata de Minas Minas Gerais Brasil

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

132
Gráfico 9: Área colhida com café, proporção da área colhida com culturas permanentes (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015

120,00

100,00

80,00

60,00

40,00

20,00

0,00

Mata de Minas Minas Gerais Brasil

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP

Gráfico 10: Área colhida com café, proporção da área colhida agrícola total (%) - Municípios das
Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015

90,00

80,00

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00

Mata de Minas Minas Gerais Brasil

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

133
A produtividade média por hectare no Estado variou bastante no período analisado,
seguindo as variações observadas na produção. A produtividade apresentou tendência
constante de crescimento, com exceção do período entre 2001 e 2003. Assim, no Estado
como um todo foi produzido pouco mais de uma tonelada por hectare em 1990, e 1,35
toneladas por hectare em 2015. Os municípios das Matas de Minas, em que pese sua
crescente produção e crescente área colhida, apresentou sistematicamente produtividade
média por hectare menor que a média estadual (mas com uma variância bem menor, pois
não apresenta o movimento cíclico observado no estado192). Ela sai de pouco mais de uma
tonelada por hectare (marginalmente menor que a produtividade mineira) em 1990 para 1,3
toneladas por hectare em 2015 (GRÁFICO 11).

Gráfico 11: Produtividade média por hectare da produção de café - Minas Gerais e municípios das
Matas de Minas, 1990=100 - 1990-2015

2.500,00

2.000,00

1.500,00

1.000,00

500,00

0,00

Restante Matas de Minas Minas Gerais

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP

192
Como a produção estadual se dá pela soma das produções regionais, espera-se que esta será bem menos
variável que as de cada região separadamente. Para que a produção estadual apresentasse a mesma variância
das regionais, os choques que estas sofressem deveriam impactar igualmente todas as regiões ao mesmo
tempo (o que praticamente não acontece). Ou seja, é normal que as produções regionais variem muito mais que
a estadual, o que não ocorreu neste caso.

134
O valor da produção de café em Minas Gerais em 1990 foi de 2,9 bilhões de reais
em valores constantes de 2015. Em 2015, alcança R$ 9,3 bilhões (ou seja, mais que
triplica). A região das Matas de Minas se mostrou ainda mais dinâmica: passa de 453
milhões (15,8% do total estadual) para 2,1 bilhões em 2015 (22,7% do total estadual).
Enquanto a taxa de crescimento médio anual no Estado foi de 4,8% a.a. na região das
Matas de Minas foi de 6,4% a.a. No restante do Estado a taxa foi de 4,5% (gráf. 12), ou seja,
entre 1990 e 2015, o valor do café produzido na região das Matas de Minas se multiplicou
por 4,6 enquanto no restante do estado este valor se multiplicou por pouco menos de três;
no Estado como um todo o valor produzido em 2015 foi 3,2 vezes o valor de 1990
(GRÁFICO 13).

Gráfico 12: Valor da produção de café - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas (preços
de 2015) - 1990-2015

14.000.000,00

12.000.000,00

10.000.000,00

8.000.000,00

6.000.000,00

4.000.000,00

2.000.000,00

0,00

Restante Matas de Minas Minas Gerais

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP

135
Gráfico 13: Valor da produção de café - Minas Gerais e municípios das Matas de Minas (preços de
2015) - 1990=100 - 1990-2015

700

600

500

400

300

200

100

Restante Mata de Minas Minas Gerais

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP

As comparações feitas com a área colhida podem ser feitas com o valor gerado.
Assim, as culturas permanentes responderam por 69% do valor agrícola gerado em 1990
nos municípios das Matas de Minas e 92% em 2015. Em Minas, estes percentuais foram de
38% e 42%, respectivamente. Já no Brasil foi de 25% e 17% (gráf. 14). O café foi
responsável por 94% do valor gerado por culturas permanentes nas Matas de Minas (97%
em 2015), 81% em Minas Gerais (82% em 2015) e 29% no Brasil (36% em 2015). Logo, o
café respondeu por 89% do valor gerado pela agricultura nas Matas de Minas, 34% no
Estado e 6% no país em 2015. Em 1990, esses percentuais foram de 65%, 30% e 7%,
respectivamente (GRÁFICOS 15 e 16). Ou seja, neste período, a importância do café nas
Matas de Minas cresceu muito, bem mais que no estado ou no país.

136
Gráfico 14: Valor gerado pelas culturas permanentes - proporção do valor agrícola total gerado (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015

100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00

Mata de Minas Minas Gerais Brasil

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

137
Gráfico 15: Valor gerado pela cultura do café - proporção do valor gerado pelas culturas
permanentes (%) - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil -
1990-2015

120,00

100,00

80,00

60,00

40,00

20,00

0,00

Mata de Minas Minas Gerais Brasil

Fonte: Dados básicos: IBGE. Elaboração: DCTEC/FJP

Gráfico 16: Valor gerado pela cultura do café - proporção do valor agrícola total gerado (%) -
Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015

100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00

Mata de Minas Minas Gerais Brasil

Fonte: Dados básicos: IBGE. Elaboração: DCTEC/FJP.

138
O café, assim, mostra ser uma cultura capaz de gerar mais valor por área colhida
que a média existente na agricultura. Isso ocorre tanto nas Matas de Minas, quanto no
Estado e no país durante todo o período analisado. Pode-se dividir o montante de valor
gerado por hectare colhido de café com o valor médio gerado por todas as culturas (tanto
temporárias quanto permanentes). Nas três áreas analisadas, o índice aparece sempre com
valor maior que um, e fica mais perto de um com o aumento da participação da cultura do
café na produção agrícola total, como no caso das Matas de Minas. Esse resultado está
descrito no GRÁFICO 17.

Gráfico 17: Razão do valor gerado por hectare colhido de café e o valor médio agrícola gerado por
hectare - Matas de Minas, Minas Gerais e Brasil - 1990-2015

3,00

2,50

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00

Mata de Minas Minas Gerais Brasil

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

7.3 Produção de café e agricultura familiar

Em 2006 (ano do último Censo Agropecuário), existiam no Brasil 4.366.267


estabelecimentos vinculados à agricultura familiar no Brasil (pouco mais de 84% dos
estabelecimentos existentes, com 24% da área e pouco menos de 75% do pessoal
ocupado). Em Minas Gerais eram 437.320 estabelecimentos (79%), 27% da área e 62% do

139
pessoal ocupado. Já nos municípios das Matas de Minas havia 46.870 estabelecimentos
(83%), 48% da área e 66% do pessoal ocupado. Ou seja, a agricultura familiar nos
municípios das Matas de Minas é mais relevante que em Minas Gerais como um todo.
Ao mesmo tempo, a produção de café é muito mais relevante para a agricultura
familiar nos municípios das Matas de Minas do que no Estado ou no país. Enquanto menos
de 5% dos estabelecimentos brasileiros de agricultura familiar produzem café (pouco mais
de 23% no caso de Minas Gerais), 66% destes estabelecimentos na região estudada o
fazem. Em se tratando da área utilizada nesses estabelecimentos, essa proporção é de 3%
no país, 10% no Estado e 50% nos municípios das Matas de Minas. Em relação ao pessoal
ocupado as proporções são 4%, 20% e 65%, respectivamente (tab. 1). Ou seja, além da
maior importância da agricultura familiar nos municípios das Matas de Minas, a produção de
café é mais relevante para os agricultores dessa região do que no Estado e no país.

Tabela 12: Número de estabelecimentos, área e pessoal ocupado, produtores e não produtores de
café, agricultura familiar e não familiar - Municípios das Matas de Minas, Minas Gerais e
Brasil - 2006

Variáveis Brasil Minas Gerais Matas de Minas


Número de estabelecimentos, café, Agricultura familiar 190,571 102,500 30,915
Número de estabelecimentos, café, Agricultura não familiar 47,929 25,738 6,048
Número de estabelecimentos total, café 238,500 128,238 36,963
Número de estabelecimentos, Agricultura familiar 4,366,267 437,320 46,870
Número de estabelecimentos, Agricultura não familiar 809,369 114,301 9,277
Número de estabelecimentos total 5,175,636 551,621 56,147
Area, agricultura familiar, café 2,238,181 853,970 266,098
Area, agricultura não familiar, café 3,717,699 1,739,400 241,446
Area, café, total 5,955,880 2,593,370 507,544
Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares), agr familiar 80,102,694 8,835,622 530,745
Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares), agr não familiar 253,577,343 24,247,887 567,358
Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares), total 333,680,037 33,083,509 1,098,100
Pessoal ocupado, agr familiar, café 519,052 230,619 96,693
Pessoal ocupado, agr não familiar, café 435,425 260,376 57,204
Pessoal ocupado, café 954,477 490,995 153,897
Pessoal ocupado, agr familiar, total 12,323,110 1,176,984 149,672
Pessoal ocupado, agr não familiar, total 4,245,095 719,953 76,164
Pessoal ocupado, total 16,568,205 1,896,937 225,836

Fonte: Dados básicos: Censo Agropecuário 2006, IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP

140
7.4 Produção de café e produto local

O valor da produção de café nos municípios das Matas de Minas representa uma
proporção bem maior do produto local (tanto agropecuário quanto total) do que a observada
193
para Minas Gerais. Esse valor nos municípios das Matas de Minas representou quase
99% do produto agropecuário da região em 2002. Em 2014, essa proporção foi de 92% (um
pico foi atingido em 2011, com 122%). Já em Minas a proporção sai de 41% em 2002 para
37% em 2014, com um pico de 42% em 2011 (GRÁFICO 18).

Gráfico 18: Relação entre o valor da produção cafeeira e o produto agropecuário - municípios das
Matas de Minas e Minas Gerais - 2002 -2014

140

120

100

80

60

40

20

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Matas MG

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

193 O valor da produção de café não é o mesmo que o valor adicionado pela produção de café (ou seja, a
contribuição da produção de café para o produto interno bruto). O valor da produção (de qualquer atividade)
equivale à soma do valor adicionado e do valor dos insumos intermediários utilizados na produção. Infelizmente,
não temos o valor adicionado pela produção cafeeira. Assim sendo, utiliza-se a razão valor da produção
cafeeira/produto total como indicativo da razão valor adicionado pela cultura cafeeira/produto total (mesmo
sabendo que a primeira é bem maior que a segunda).

141
Como a participação da agropecuária no produto total é bem maior nos municípios
das Matas de Minas que no Estado, a diferença observada na razão valor da produção
cafeeira/produto total entre esta região e Minas Gerais é ainda maior. Nos municípios das
Matas de Minas o valor da produção cafeeira foi de pouco mais de 10% em 2002 e de 9,5%
em 2014 (o pico também ocorrendo em 2011, com 17%). Já em Minas, este foi de 2,2% em
2002, e 1,8% em 2014, sendo que o pico aconteceu em 2004, com 2,5% (GRÁFICO 19).

Gráfico 19: Relação entre o valor da produção cafeeira e o produto total - Municípios das Matas de
Minas e Minas Gerais - 2002 -2014

20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Matas MG

Fonte: Dados básicos: IBGE.


Elaboração: DCTEC/FJP.

Buscou-se também estimar os impactos da produção de café sobre os produtos


municipais. Para tanto, é possível estimar as correlações existentes entre diversas variáveis
simultaneamente. Isto permite identificar efeitos distintos das variáveis, bem como
características distintas de determinada variável. A possibilidade de se utilizar tanto dados
de um grande conjunto de municípios (ou seja, identificando variações entre estes) quanto
de diferentes anos (identificando, assim, variações que ocorreriam de um ano para outro),
permite melhorar as estimativas feitas. É isto que fazem as análises econométricas. Cada

142
exercício é chamado de regressão. Os dados utilizados são relativos aos municípios
194
mineiros entre 2002 e 2014 (anos para os quais existem dados de produto municipal).
Os dados também foram controlados para as dez regiões de planejamento do Estado,
utilizadas nas últimas décadas. Foram aplicadas três técnicas econométricas distintas:
mínimos quadrados generalizados, efeitos aleatórios e efeitos fixos. Posteriormente,
calcularam-se também regressões quantílicas para identificar efeitos específicos sobre
195
faixas específicas do produto per capita. A tabela 2 mostra os resultados encontrados.

194
As regressões estimadas apresentavam o seguinte formato:
𝑌𝑖𝑡 =∝ + ∑ ∅𝑗 𝐼[𝑖∈𝑗] + 𝛽1 𝑡 + 𝛽2 𝑋𝑖𝑡 + 𝛽3 𝐼[𝑖∈𝑀𝑎𝑡𝑎𝑠 𝑑𝑒 𝑀𝑖𝑛𝑎𝑠] 𝑋𝑖𝑡 + 𝜓𝑖 + 𝜀𝑖𝑡
𝑗
Onde Yit se refere ao logaritmo neperiano do produto per capita do i-ésimo município no t-ésimo ano, I é a função
indicadora (ou seja, se o município pertence ao grupo específico, este fica com um, caso contrário, este fica com
zero), j se refere à j-ésima região, t (de tempo) busca captar a tendência de crescimento observada, X it é o
logaritmo neperiano do valor da produção municipal de café per capita, ψ se refere ao efeito específico de cada
município e εit é o erro das estimativas (com média esperada zero).
Ou seja, o produto per capita municipal apresenta um componente comum a todos os municípios de cada região
(dados pelos parâmetros φ’s), uma tendência de crescimento constante no período analisado (dado pelo
coeficiente estimado relativo a “t”, tendência) e impactos decorrentes da produção de café existente em cada um
deles. Buscou-se identificar se, no caso dos municípios das Matas de Minas, este impacto proveniente da
produção cafeeira seria distinto do observado para os demais municípios. Como tanto o produto municipal per
capita quanto o valor da produção cafeeira per capita estão em logaritmos, os parâmetros estimados
representam a elasticidade do segundo em relação ao primeiro (ou seja, mostra quanto variaria relativamente o
produto per capita caso o valor da produção cafeeira variasse um por cento).
195
Os efeitos específicos de cada município jogam um papel fundamental em nossa análise. Como pode ser
facilmente observado, parece claro que o produto municipal per capita de cada município apresenta uma
trajetória bem mais complexa que aquela explicada por sua localização geográfica e sua produção cafeeira.
Todos os outros determinantes deste produto seriam condensados neste fator específico existente para cada
município. Os pressupostos relativos a estes efeitos determinam as técnicas a serem utilizadas e o tipo de
análise que deve ser feito sobre os resultados encontrados.
O primeiro pressuposto possível sobre este efeito é que seu valor esperado seja zero e que este não seja
correlacionado com as variáveis explicativas utilizadas (posição geográfica e produção de café). Caso aceito
pode-se utilizar a técnica conhecida como “Mínimos Quadrados Generalizados”. Este pressuposto não parece
razoável. Entretanto, podemos analisar os resultados encontrados como correlações entre as variáveis
trabalhadas (capazes de serem explicadas por diversas razões distintas).
Um segundo pressuposto possível seria que este efeito não apresenta um valor esperado nulo, mas mantém sua
independência em relação às variáveis explicativas utilizadas. Melhor que o pressuposto anterior, este ainda
apresenta problemas. Parece claro que o mesmo processo histórico (dependente também da localização do
município) que gerou o valor da cultura cafeeira local também gerou o tamanho do produto municipal per capita
de forma concomitante. E este estaria representado exatamente por este efeito específico municipal utilizado. A
técnica econométrica utilizada neste caso são efeitos aleatórios ou ramdonicos. Por fim, um terceiro pressuposto
seria que estes efeitos estão sim correlacionados com as variáveis explicativas. Isso tornaria as duas estimações
já descritas enviesadas, tornando necessário utilizar um novo modelo econométrico, com feitos fixos. Esta
técnica, mesmo na ausência desse pressuposto, não gera estimadores enviesados (ou seja, cujo valor não é
verdadeiro) mas sua eficiência diminui (aumenta a variância dos resultados). Estes são os valores efetivamente
levados em conta nas nossas análises.
Já as regressões quantílicas calculam os mesmos valores para faixas específicas de produto per capita. Ou seja,
busca-se identificar se os efeitos da atividade cafeeira sobre o produto municipal variam de acordo com o
tamanho deste mesmo produto municipal.

143
Tabela 13: Resultados econométricos obtidos relativos ao Produto Interno Bruto per capita dos
municípios mineiros (primeira especificação) - 2002-2014

Mínimos Quadrados
Variáveis Efeitos Randômicos Efeitos fixos
Generalizados
Alto Paranaíba 0.5018* 0.3018*
(0.0374) (0.1074)
Centro-Oeste 0.1371* -0.0135
(0.0310) (0.0895)
Jequitinhonha-Mucuri -0.3632* -0.4623*
(0.0258) (0.0837)
Mata -0.1475* -0.3303*
(0.0234) (0.0695)
Noroeste 0.4606* 0.3105**
(0.0458) (0.1493)
Norte -0.2825* -0.3263*
(0.0262) (0.0804)
Rio Doce -0.2554* -0.3195*
(0.0233) (0.0738)
Sul de Minas 0.2750* 0.0881
(0.0247) (0.0659)
Triângulo 0.3730* 0.1945
(0.0748) (0.1376)
Tendência 0.0581* 0.0558* 0.0552*
(0.0016) (0.0005) (0.0005)
Produção de café -0.0316* 0.0006 0.0069**
(0.0030) (0.0031) (0.0033)
Efeito adicional 0.1104* 0.1872* 0.2559*
(0.0103) (0.0208) (0.0253)
Constante 1.9343* 2.1321* 1.9926*
(0.0222) (0.0506) (0.0101)
Teste F (Ef. Fixos=0) 125.76*
R2 0.2499 0.6269 0.6275
Correlação (Ef. Fixos e Var. Ind.) -0.2106
Observações 8144 8144 8144
Grupos 730 730
Teste F 227.74* 12519.41* 4160.82*

Fonte: Dados básicos: IBGE. Elaboração: DCTEC/FJP


Nota: Valores em parênteses são os desvios-padrão estimados. (*) significa rejeição da hipótese
nula a 1% de significância, (**) 5% e (***) 10%.

A taxa de crescimento estocástico do produto dos municípios mineiros foi de


aproximadamente 5,5% ao ano entre 2002 e 2014 (resultado bastante robusto entre os
modelos estimados). A produção de café tende a se concentrar em Minas Gerais nos
municípios de menor produto per capita, explicando a correlação negativa observada entre o
valor dessa produção e o nível do produto per capita (possível de ser encontrado nas

144
regressões de mínimos quadrados generalizados). A elasticidade entre esse valor e o
produto é baixa. Cada 1% a mais gerado no valor produzido de café ampliaria o produto
local em 0,007%. No caso dos municípios das Matas de Minas, ter-se-ia um efeito adicional
de 0,256% (um efeito total de 0,263%), o que realça a importância local desses municípios
em relação à cultura cafeeira, reforçando os dados já descritos da importância dessa cultura
tanto para o produto agrícola quanto para o produto municipal local.
É possível estimar também, utilizando regressões quantílicas, os efeitos adicionais
que a produção de café apresenta sobre os produtos per capita locais por faixas específicas
de valores desses produtos. Infelizmente, entretanto, não é possível controlar pelos efeitos
fixos de cada localidade, que apresentam os mesmos problemas observados no método de
mínimos quadrados generalizados. O gráfico 20 mostra os resultados encontrados.

Gráfico 20: Efeito adicional da elasticidade do valor da produção cafeeira per capita em relação ao
produto municipal per capita dos municípios das Matas de Minas (regressões
quantílicas) - primeira especificação - 2002-2014

0,25

0,2
Efeitos estimados

0,15

0,1

0,05

0
5,32 6,46 7,44 8,51 9,81 11,37 13,60 16,91 24,28
Produto municipal per capita

Efeito Limite inferior


Limite superior MQG
Limite inferior (MQG) Limite superior (MQG)

Nota: Os valores verdadeiros dos parâmetros estimados se encontram entre os limites inferiores e superiores
descritos (o valor estimado se encontra exatamente no meio). São dois métodos utilizados: com Mínimos
Quadrados Generalizados (MQG) supõe-se que esses valores sejam constantes para qualquer nível de produto
per capita municipal; com regressões quantílicas calculam-se valores específicos para faixas específicas de
produtos per capita municipais.
Fonte: Dados básicos: IBGE. Elaboração: DCTEC/FJP

145
Os municípios das Matas de Minas com produto anual entre 11,4 e 16,9 mil reais
per capita são os mais beneficiados pelo seu valor cafeeiro. O aumento de 1% no valor da
produção de café aumenta o produto per capita em 0,16%. O efeito adicional observado nos
municípios com produto per capita entre 8,51 mil reais e 11,4 mil é de aproximadamente
0,13%. Municípios com produtos per capita muito baixos (menos de 6,5 mil reais)
apresentam um efeito adicional de 0,05%. Para todas as faixas, porém, esse efeito é
positivo e estatisticamente significativo.
Em síntese, a produção de café nas Matas de Minas é muito importante e
crescente. A região respondeu por 19% da produção cafeeira mineira em 1990 e por 23%
em 2015.
A agricultura familiar na região é mais relevante do que no Estado, e a proporção
de agricultores familiares envolvidos na produção de café é maior do que a de Minas Gerais,
tanto em relação ao número de estabelecimentos quanto em área e trabalhadores utilizados.
A cafeicultura apresenta impactos regionais diferenciados quando comparada ao
restante do estado. O impacto sobre o produto local se mostrou maior que o observado para
Minas Gerais como um todo.

146
8 CONCLUSÃO

Desde a década de 1990 Minas Gerais é maior produtor de café do Brasil, país que
ainda se mantém como o maior produtor mundial (cerca de 45 milhões de sacas/ano) e
também maior exportador do produto (cerca de 36 milhões de sacas/ano); hoje o Brasil é o
segundo maior consumidor. Minas Gerais, caso fosse um país, seria o segundo maior
produtor mundial, superando o lugar ocupado pelo Vietnã.
No Brasil o Estado de Minas Gerais está à frente, sucessivamente, dos Estados do
Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Bahia e Rondônia. Na localização das lavouras Minas
possui diversidade geográfica, de clima, topografia e relações de trabalho, que lhe permite
produzir diferentes tipos de café. Nas Matas de Minas reúnem-se as seguintes
características: região montanhosa, produção familiar de tipo artesanal (até a colheita) e
sustentabilidade. Em 2016, o setor agropecuário de Minas Gerais foi o responsável pela
desaceleração da queda do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, que em 2015 foi de 4,3%
e em 2016 caiu para 2,6%. O resultado deu-se em função do desempenho dos dois
principais produtos da pauta agrícola mineira: o café e a soja. A produção de café aumentou
37,1% em relação a 2015, um incremento de cerca de 500 mil toneladas. Sobre esse fato
pronunciou-se o secretário de Planejamento e Gestão Governamental Helvécio Magalhães:

Essas quedas sequenciais do PIB [desde 2013] expõem a fragilidade da


economia mineira, que é muito assentada em produtos primários. Nos
últimos tempos faltou indução de infraestrutura. Agora o governo está
executando esse papel de indutor, com uma política de agrupamento das
cadeias produtivas. Sem dúvida essas iniciativas de integração ajudaram no
crescimento, mas, em primeiro lugar, o resultado vem da determinação dos
produtores rurais. É importante articular medidas, como apoiar a agricultura
196
familiar.

***
Esse trabalho de pesquisa abordou principalmente os aspectos ligados à produção
de café e secundariamente questões que envolvem beneficiamento (torrefação e moagem)
e comercialização (interna e externa). Uma questão que intriga e merece resposta é o
porquê do persistente desprestígio do café brasileiro no mercado internacional.
Depoimentos de dois pesquisadores da Fundação João Pinheiro atestam que
estando numa cafeteria sofisticada de Nova Iorque encontraram cafés de todas as partes do
globo, exceto do Brasil, embora os Estados Unidos continuem a ser o principal importador
do produto brasileiro. Por que isso acontece? Maria Sylvia Macchioni Saes, na tese A

196QUEILA, Ariadne. Café amortiza tombo do PIB, 2017.

147
racionalidade econômica da regulamentação do mercado brasileiro de café, atribui esse
desprestígio ao excesso de regulamentação governamental:

Havia uma tradição de políticas públicas voltadas apenas para a regulação


dos preços e da quantidade produzida, em detrimento da qualidade, o que
fez o café brasileiro ser reconhecido pelo mercado internacional como um
produto de baixa qualidade. O início da década de 1990 é um marco da
desregulamentação do mercado cafeeiro, com a extinção do IBC e,
também, com o fim dos Acordos Internacionais do Café estabelecidos pela
OIC. Esta década marca o início da competitividade entre os produtores
situados em diferentes regiões produtoras para a melhoria e
197
reconhecimento da qualidade do café produzido.

Essa é uma causa, mas com certeza não é a única. Na Conferência Internacional
para o Estudo da Produção do Café, de 1902, representantes dos países produtores já
reclamavam das misturas feitas nas sacas do café brasileiro, incluindo a presença de terra e
“substâncias estranhas”, o que contribuía para depreciar a cotação do café de todos os
países.
Sem dúvida essas misturas estão ligadas ao método de colheita (café de varrição),
que até o Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais deixava o café cair no solo e
misturar-se com a terra. Contudo, não se podem desprezar as condições de ensacamento e
de transporte, bem como o comportamento dos comissários de café, localizados nas regiões
produtoras e também nos portos exportadores, como atesta A. Taunay:

Submetia-se o gênero a mau ensaque e mau transporte. E nas casas


comissárias o emprego do famoso furador, o instrumento recolhedor das
amostras nos sacos, era sobremodo nefasto. O café recolhido nos
armazéns passava, em seguida, pela operação de viragem. Mudavam-no
dos sacos do fazendeiro para outros do comissário. Preparadas as
amostras de cada partida, eram elas reunidas às de outras, para formarem
lotes destinados à venda, os enforcados, na linguagem expressiva da gíria
da Bolsa. As transações efetuavam-se depois, obedecendo a normas
198
demonstradoras da pequena confiança recíproca.

O papel de países importadores também deve ser considerado, pois desde a


década de 1920, pelo menos, eles praticavam a reexportação do café brasileiro, como
informa Delfim Neto:

Mesmo para os Estados Unidos havia um comércio regular de


reexportação. Este fato tinha uma dupla implicação. Em primeiro lugar,
impedia o estabelecimento de correntes normais de comércio entre o Brasil
e uma série de outros países, o que enfraquecia nossa posição; em
segundo lugar, dava margem a toda sorte de fraude com o café brasileiro, o
qual, depois de remanipulado, era vendido como Java [conhecido por sua
alta qualidade], a preços superiores. Este fato explica uma parcela da ampla
campanha depreciativa a que sempre esteve sujeito o produto nacional.

197 SAES. A racionalidade econômica da regulamentação do mercado brasileiro de café, 1995.


198
TAUNAY. Pequena história do café no Brasil, 1945, p. 319.

148
Os grandes entrepostos comerciais europeus tinham todo o interesse em
criar a ideia de que o café brasileiro era de péssima qualidade, pois isto
estabelecia um diferencial maior entre ele e os seus concorrentes e dava-
199
lhes amplas possibilidades de lucros fáceis.

Acrescente-se, ainda, a irritação norte-americana com as políticas brasileiras de


defesa e valorização do preço do café. Essa irritação chegou mesmo a expressar-se antes e
depois da campanha presidencial de Herbert Hoover, republicano que ocupou o cargo de
presidente dos Estados Unidos entre 1929 e 1933. Delfim Neto atesta:

Provavelmente por inspiração dos próprios importadores e torradores,


iniciou-se nos Estados Unidos uma enérgica campanha contra o café
[brasileiro], à qual aderiria depois Hoover, futuro presidente do país. Os
preços no varejo haviam sido elevados de mais ou menos 36 cents/libra-
peso entre 1921/23, para 43 cents/libra-peso em 1924, e atingiria 50 cents
nos anos seguintes. Este período marca o início da rápida penetração do
café colombiano no mercado dos Estados Unidos. [...]. Sabe-se, aliás, que
muitos investimentos americanos foram realizados na Colômbia nessa
200
época.
Quando a política de defesa permanente, além do controle do câmbio impôs a
limitação da entrada de café nos portos, que era regulada por meio dos estoques
depositados nos armazéns oficiais, praticamente se inviabilizou qualquer tipo de manobra
das empresas importadoras, a maioria delas norte-americana, para depreciar o produto por
meio de estoques próprios.
É nesse momento que começam a entrar no mercado internacional os hoje
famosos blends colombianos. Os investimentos norte-americanos naquele país envolveram
a seleção de variedades de mudas de café de qualidade (inclusive brasileiras) e o cultivo
num terroir limitado em extensão, mas altamente propício à cultura cafeeira. Além disso, a
partir da década de 1920, no intuito de se livrarem da pressão brasileira, as empresas norte-
201
americanas montaram na Colômbia uma estrutura administrativa de exportação desse
café para os Estados Unidos, a fim de atender ao gosto refinado de consumidores dispostos
a pagar mais por um produto de melhor qualidade.
Uma tentativa de reação por parte do Brasil (ou terá sido concessão?) acabou
contribuindo para tornar esse negócio permanente. Em 1927 foi permitida aos produtores
que tinham café estocado nos armazéns reguladores a substituição de seus cafés finos por
cafés inferiores. O fazendeiro foi autorizado a substituir seu café de melhor qualidade por
uma quantidade igual de café inferior. Dessa forma poderia vender o café de boa bebida por
preços mais elevados, fora do esquema de defesa. No entanto, as empresas torrefadoras e

199
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p.53.
200
DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 113.
201 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 131.

149
exportadoras, que sempre foram os players mais poderosos da cadeia produtiva, também
podiam obter do fazendeiro um preço compensador, calculado com base no café ordinário.
Escusado dizer que o comércio de exportação de café sempre foi dominado por poucas
empresas; atualmente apenas cinco dominam mais de 50% do mercado mundial.
Excetuando-se a criação das estações experimentais de Botucatu e de Machado, a
intervenção de 1927 foi, entre todas, a única que se dirigiu especificamente aos cafés de
qualidade, embora desde o início do século pretendeu-se estabelecer uma política que os
valorizasse, seja por meio da diminuição de impostos (ver Congresso Agrícola, Comercial e
Industrial de 1903), seja pela fixação de um preço proporcional à sua qualidade (ver
Convênio de Taubaté de 1906). Essas intenções, ao que se sabe, não chegaram a ser
praticadas, e uma eventual obtenção de preços mais altos se dava somente quando havia
comercialização direta entre produtores e exportadores.
Durante sua história a qualidade do café foi classificada por diferentes tipologias
(nacionais e internacionais), mas de forma didática é possível dividi-la em três tipos básicos:
inferior, médio e superior. Sem dúvida o Brasil optou majoritariamente pela exportação de
um café de nível médio e é possível que em torno desse objetivo tenha havido um acordo
tácito entre todos os agentes da cadeia produtiva e os governos da União e dos Estados
produtores.
Sabe-se que internamente tomamos um café muito inferior ao que é exportado,
porque o “acordo” envolve a separação do café de pior qualidade para atender ao mercado
interno. Os cafés de nível médio são manipulados de modo a produzir o tipo commodity, ou
de exportação. O café superior produzido aqui provavelmente não é exportado apenas pelo
Brasil. Ao que tudo indica, e a história confirma, parte dele é importado e reexportado por
outros países, provavelmente com suas próprias marcas e selos. Por isso o café brasileiro
não precisa (nem deve) constar do cardápio das cafeterias chiques.
Parte desses argumentos é apenas hipótese, mas é provável que esse
procedimento exista desde 1865, quando começa a processar-se uma revolução tecnológica
que generaliza no mundo o consumo de café:

Até então, o café era vendido verde e, posteriormente, era torrado em casa
pelos próprios consumidores, forma esta de comercialização que começou
a ser substituída pela venda de café torrado em pacotes [...]. O café torrado
pelo próprio consumidor ficava na dependência de sua habilidade e a sua
qualidade era muito mais variável. Quando esse serviço passou a ser
executado por grandes torradores, nasceu não só a especialização, como
202
também se generalizou a “prova de xícara”.

202 DELFIM NETTO. O problema do café no Brasil, 1959, p. 12-13.

150
A opção do Brasil pela quantidade pode ser compreendida como uma estratégia da
política cafeeira para ganhar consumo em escala e dessa forma dar velocidade à obtenção
de receita de divisas, direcionadas ao desenvolvimento industrial do país. Em 1923, Augusto
Ramos comparava o café exportado pela Colômbia com o café brasileiro:

O café colombiano é adquirido por alto preço pelas classes consumidoras


ricas e só por alto preço pode chegar ao mercado [...]. Com o café do Brasil
as coisas se passam de outro modo. Sua clientela compõe-se do povo
203
miúdo e das classes remediadas: é a multidão.

Com certeza os que têm menos culpa pela má fama do café brasileiro são os
produtores e produtoras - hoje nas Matas de Minas há muitas mulheres lavradoras,
principalmente na agricultura familiar -, porque, como depuseram os entrevistados dessa
pesquisa, sempre se produziu café de qualidade na região, e essa produção,
evidentemente, cresceu e melhorou de qualidade a partir da adoção de métodos científicos
e agroecológicos de cultivo. Por outro lado, também é verdade que o método de colheita
manual “a dedo” (como se faz na Colômbia, América Central, Etiópia e Quênia), pelo qual
apenas os frutos maduros são colhidos, é muito pouco usado no Brasil, onde os produtores
preferem a colheita por derriça, pela qual se obtém uma mistura de frutos de diferentes
características com relação à maturação, cor, densidade e teor de umidade. 204 Entretanto,
esse sistema de colheita, que também predomina nas Matas de Minas, tem suas vantagens:
ser mais rápido e poupar mão de obra, cuja escassez foi, e continua sendo, um drama
recorrente da cafeicultura brasileira na época da colheita.

***
Resta saber quando os cafés superiores, cujo consumo interno e externo vem
crescendo, obterão o devido reconhecimento, que se traduz em preços compensadores. É
fato que a bolsa de Nova Iorque precifica melhor esses cafés (ágio de 25%) e que nos
leilões que se seguem aos prêmios os cafés especiais são arrematados por altos preços.
Isso, no entanto, ainda é pouco, porque apenas alguns produtores são beneficiados.
No caso das Matas de Minas é preciso acrescentar as condições de
comercialização, conforme descritas por Marisa Singulano:

A comercialização do café envolve sempre uma avaliação de sua qualidade.


Essa avaliação não é algo que possa ser fácil e objetivamente feito por
ambas as partes envolvidas na transação; demanda conhecimentos sobre
as normas legais que orientam a avaliação, sobre as formas de
classificação adotadas no mercado, sobre preferências de consumidores e

203 RAMOS. A intervenção do Estado na lavoura cafeeira, 1934, p. 509.


204 MALTA, CHAGAS; CHAUFOUN. Colheita e pós-colheita do café: recomendações e coeficientes técnicos,
2008.

151
características da demanda e sobre o funcionamento do mercado e os
preços de tipos distintos de café. As informações necessárias para se
avaliar o café e determinar sua qualidade e preço não são uniformemente
distribuídas e não estão necessariamente disponíveis a todos os agentes da
cadeia [...]. Muitos produtores ao comercializarem seu café não conhecem
as características ou potencial de qualidade de sua produção e não
dispõem de informação suficiente sobre o funcionamento do mercado de
café. [...] Há também uma tendência ao oportunismo nas transações entre
205
produtores e os compradores por parte destes agentes.

Entre os dois polos da cadeia produtiva – produtor e exportador - figuram os


corretores (às vezes simples atravessadores), cujos escritórios estão concentrados em
Manhuaçu. Marisa Singulano continua:

Deve-se destacar que há uma diferença importante entre a corretagem,


propriamente dita, e a compra ou intermediação de café. Os corretores
comercializam apenas informação. Porém, na maior parte dos supostos
“escritórios de corretagem” das Matas de Minas o que ocorre efetivamente é
a compra do café por intermediários ou atravessadores [...]. Nestes casos,
contudo, há um grande problema com relação à avaliação da qualidade, já
que esta é feita pelo próprio comprador, que não pode ser um juiz imparcial,
pois é uma das partes interessadas na transação, e pode-se dizer que é a
parte efetivamente em condições de impor os termos do negócio devido ao
controle da informação de que dispõe [...]. Nestes casos as transações
tendem a ser pouco transparentes. Os compradores, após avaliar a amostra
do café, geralmente informam ao produtor sua qualidade. Contudo, os
procedimentos de avaliação não são totalmente claros [...]. O padrão de
classificação com frequência discrimina apenas cafés “de bebida” e cafés
que “não dão bebida”, diferentemente do padrão de classificação oficial que
diferencia o café em sete categorias [...]. Os cafés que ‘não dão bebida’
seriam os cafés inferiores [...], mas normalmente não se diferenciam as
qualidades superiores, apenas as inferiores [...]. Isso pode reduzir a
remuneração dos produtores, sobretudo nos casos em que os cafés
apresentam qualidades superiores [...]. Um dos efeitos desse tipo de
206
mercado é o desestímulo para a produção de qualidade.

As relações entre produtores e intermediários geralmente penalizam os pequenos.


A mesma autora conta uma história que ouviu numa pequena comunidade rural da região:

Nesta comunidade foi relatado o caso de um produtor que submeteu uma


amostra de sua produção de um determinado ano a um concurso de café
regional. Logo em seguida precisou vender sua produção, foi até um
atravessador que disse que seu café ‘não bebeu’ e o vendeu a preço de
café rio. Pouco tempo depois saiu o resultado do concurso e seu café foi
classificado com uma alta pontuação na escala SCAA. As sacas de café
daquele lote poderiam ser vendidas a altos preços depois do concurso, no
entanto, o produtor daquele lote já as tinha vendido como se fossem café
207
rio.

205 SINGULANO. Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 175.


206
SINGULANO. Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 175-176.
207
SINGULANO. Desregulamentação e mudança institucional no mercado de café, 2015, p. 204.

152
Uma das formas de corrigir essas imperfeições do mercado é obter a Indicação
Geográfica, que deve estar entre as prioridades de todos os agentes da cadeia produtiva, e
também dos governos da União e dos Estados. O controle regulador da produção,
associado à certificação, assegura aos compradores a qualidade do café ofertado no
mercado.
Outra forma é fomentar a organização dos produtores em cooperativas, a fim de
diminuir a influência de intermediários inescrupulosos.

153
ANEXO I –

Municípios que compõem a região das Matas de Minas

1 - Abre Campo 49 - São Francisco do Glória


2 - Alto Caparaó 50 - São João do Manhuaçu
3 - Araponga 51 - São José do Mantimento
4 - Caiana 52 - São Miguel do Anta
5 - Cajuri 53 - São Sebastião da Vargem Alegre
6 - Canaã 54 - São Sebastião do Anta
7 - Caparaó 55 - Sericita
8 - Caputira 56 - Simonésia
9 - Carangola 57 - Teixeiras
10 - Caratinga 58 - Tombos
11 - Chalé 59 - Ubaporanga
12 - Conceição de Ipanema 60 - Vargem Alegre
13 - Divino 61 - Vermelho Novo
14 - Durandé 62 - Viçosa
15 - Entre Folhas 63 – Vieiras
16 - Ervália
17 - Espera Feliz
18 - Eugenópolis
19 - Faria Lemos
20 - Fervedouro
21 - Imbé de Minas
22 - Inhapim
23 - Jequeri
24 - Lajinha
25 - Luisburgo
26 - Manhuaçu
27 - Manhumirim
28 - Martins Soares
29 - Matipó
30 - Miradouro
31 - Miraí
32 - Muriaé
33 - Mutum
34 - Orizânia
35 - Paula Cândido
36 - Pedra Bonita
37 - Pedra Dourada
38 - Piedade de Caratinga
39 - Porto Firme
40 - Alto Jequitibá
41 - Raul Soares
42 - Reduto
43 - Rosário da Limeira
44 - Santa Bárbara do Leste
45 - Santa Margarida
46 - Santana do Manhuaçu
47 - Santa Rita de Minas
48- São Domingos das Dores

154
ANEXO II

Evolução Administrativa dos Municípios da Região das Matas de Minas

Nome Criação do Distrito Emancipação Município originário

Manhuaçu/Caratinga/Matipó/Raul
Vermelho Novo 1827 1995
Soares

Viçosa 1832 1871 Ubá


Ervália 1839 1938 Ubá/Viçosa
Muriaé 1841 1855 Visconde do Rio Branco
Abre campo 1846 1889 Ponte Nova

São João do Presídio/São


Paula Cândido 1854 1953
Januário de Ubá/ Viçosa

Jequeri 1855 1923 Ponte Nova


São Miguel do Anta 1857 1953 Viçosa
Araponga 1857 1962 Viçosa
Miraí 1859 1923 Cataguases
Santa Margarida 1859 1948 Matipó
Carangola 1860 1878 Muriaé
Caratinga 1866 1890 Manhuaçu
Simonésia 1866 1943 Manhuaçu

Tombos 1866 1923 São Paulo do Muriaé/Carangola


Miradouro 1876 1962 Muriaé
Eugenópolis 1870 1891 Muriaé
Manhuaçu 1873 1877 Ponte Nova
Manhumirim 1877 1923 Manhuaçu
Lajinha 1877 1938 Ipanema
Divino 1878 1938 Carangola
São Francisco do Glória 1878 1953 Carangola
Teixeiras 1883 1938 Viçosa
Matipó 1884 1938 Abre Campo/ Manhuaçu
Inhapim 1890 1938 Caratinga
Faria Lemos 1890 1953 Carangola
Santana do Manhuaçu 1890 1962 Manhuaçu/Simonésia
Durandé 1890 1992 Manhumirim
São João do Manhuaçu 1890 1992 Manhuaçu
Caputira 1891 1962 Manhuaçu/Matipó
Luisburgo 1901 1995 Manhuaçu
Raul Soares 1903 1923 Rio Casca/Matipó

155
Nome Criação do Distrito Emancipação Município originário
Chalé 1911 1962 Manhuaçu/Ipanema/Lajinha
Espera Feliz 1915 1938 Carangola
Alto Jequitibá 1923 1953 Manhumirim
Caiana 1923 1962 Carangola/Espera Feliz
Canaã 1923 1962 Viçosa
Porto Firme 1923 1953 Piranga
Imbé de Minas 1932 1995 Caratinga
Cajuri 1938 1962 Viçosa
Pedra Dourada 1938 1962 Tombos
Caparáo 1938 1962 Espera Feliz
Ubaporonga 1938 1992 Inhapim/Caratinga
Conceição de Ipanema 1948 1953 Ipanema
Vieiras 1948 1953 Miradouro
Santa Bárbara do Leste 1948 1992 Caratinga
Santa Rita de Minas 1948 1992 Caratinga
Martins Soares 1948 1995 Manhumirim
Reduto 1948 1995 Manhuaçu
São José do Mantimento 1953 1962 Lajinha
Fervedouro 1953 1992 São Francisco do Glória
Vargem Alegre 1953 1995 Caratinga
São Domingos das Dores 1962 1995 Inhapim
São Sebastião do Anta 1962 1995 Inhapim
São Sebastião da Vargem
1976 1995 Miraí
Alegre
Alto Caparaó 1982 1995 Caparaó
Piedade de Caratinga 1991 1995 Caratinga
Entre Folhas 1890 1992 Caratinga
Sericita 1900 ou 1901 1962 Jequitibá
Orizânia 1890 1995 Divino
1889
Pedra Bonita 1995 Ponte Nova/ Abre Campo
(provavelmente)
sem registro (era
Rosário da Limeira 1995 Muriaé
capela em 1866)

156
ANEXO III

Delimitação das Regiões Produtoras de Café pelo Governo do Estado de


MinasGerais

PORTARIA Nº 165/95, DE 27 DE ABRIL DE 1995

DELIMITA REGIÕES PRODUTORAS DE CAFÉ DO ESTADO DE MINAS GERAIS PARA A


INSTITUIÇÃO DO CERTIFICADO DE ORIGEM.

O DIRETOR-GERAL DO INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUÁRIA - IMA, no uso das


atribuições que lhe conferem o artigo 19, incisos I e XI, e o Anexo II, incisos I e XI, do
Decreto nº 33.859, de 21 agosto de 1992, para atender o disposto no inciso XLVI, dos
artigos 2º e 5º do mesmo diploma legal,

considerando a importância sócio-econômica da cultura do Café para o Estado de Minas


Gerais;

considerando as dificuldades para a caracterização do Café produzido nas diferentes


regiões ecológicas do Estado;

considerando o crescimento das exportações da produção mineIra de Café e a necessidade


de identificação das regiões produtoras;

considerando o conteúdo do trabalho denominado “Aptidão climática para a qualidade da


bebida das principais regiões cafeeiras de arábica no Brasil” de autoria do extinto Instituo
Brasileiro do Café;

considerando os resultados das pesquisas intituladas “Qualidade do Café nas diferentes


regiões do Estado” e “Zoneamento Agroclimático para a cultura do Café” , realizadas pela
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG;

RESOLVE:

Art. 1º - Ficam delimitadas as regiões para a produção de Café no Estado de Minas Gerais
em: Região Sul de Minas, Região dos Cerrados de Minas, Região das Montanhas de Minas
e Região do Jequitinhonha de Minas, conforme o Anexo Único desta Portaria.

I - A Região Sul de Minas compreende as áreas geográficas delimitadas pelos paralelos 21º
13’ a 22º 10’ de latitude e 44º 20’ a 47º 20’ de longitude, abrangendo a Região do Sul de
Minas, parte das Regiões do Alto São Francisco, Metalúrgica e Campo das Vertentes.
Caracteriza-se por áreas elevadas, com altitude de 700 a 1.080m., com temperatura amena,
sujeitas a geada, com moderada deficiência hídrica e possibilidade de produção de bebida
fina, sendo que, quando próximas de represas, apresenta elevada umidade relativa, com
produção de Café de bebida dura a rio.

II - A Região dos Cerrados de Minas compreende as áreas geográficas delimitadas pelos


paralelos 16º 37’ a 20º 13’ de latitude e 45º 20’ a 49º 48’ de longitude, abrangendo as
Regiões do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e parte do Alto São Francisco e do Noroeste.
Caracteriza-se por áreas de altiplano, com altitude de 820 a 1.100m., com clima ameno,

157
sujeitas a geada de baixa intensidade e com possibilidade de produção de bebida fina, de
corpo mais acentuado.

III - A Região das Montanhas de Minas compreende as áreas geográficas delimitadas pelos
paralelos 40º 50’ a 43º 36’ de latitude e 18º 35’ a 21º 26’ de longitude, abrangendo as
regiões da Zona da Mata, Rio Doce e parte das regiões Metalúrgicas, Campos das
Vertentes e Jequitinhonha. Caracteriza-se por áreas montanhosas, com altitude de 400m. a
700m., úmidas, sujeitas a neblina e possibilidade de produção de Café de bebida dura a rio.

IV - A Região do Jequitinhonha de Minas compreende as áreas geográficas delimitadas


pelos paralelos 17º 05’ a 18º 09’ de latitude e 40º 50’ a 42º 40’ de longitude, abrangendo
parte das regiões do Jequitinhonha e Rio Doce. Caracteriza-se por áreas de espigão
elevado, com altitude de 1.099m., isentas de geada, com reduzido Índice de insolação, alta
umidade e possibilidade de produção de Café de bebida dura a rio.

Art. 2º - Fica instituído o Certificado de Origem, com base nas regiões cafeeiras previstas
nesta Portaria, a ser conferido por esta Autarquia.

Art. 3º - O regulamento do Certificado de Origem, mencionado no artigo anterior, será


baixado por ato específico.

Art. 4º - Para garantir a plena execução das atribuições previstas nesta Portaria, o IMA
poderá credenciar cooperativas e entidades de produtores para a emissão do Certificado de
Origem.

Art. 5º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Registre-se, Publique-se e Cumpra-se.

INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUÁRIA - IMA, em Belo Horizonte, aos 27 (vinte e sete)


dias do mês de abril de 1995.

Antônio Cândido Martins Borges


Diretor-Geral

158
PORTARIA Nº 437, DE 23 DE MAIO DE 2001

O DIRETOR-GERAL DO INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUÁRIA - IMA, no uso da


atribuição que lhe conferem os artigos 2º e 19, inciso XI, do Regulamento baixado pelo
Decreto nº 33.859, de 21 de agosto de 1992,

RESOLVE:

Art. 1º - Fica alterada para Região das Matas de Minas a denominação da Região das
Montanhas de Minas expressa no inciso III do Anexo Único da Portaria n.º 401, de 24 de
agosto de 2000.

Art. 2º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação e revoga as disposições em
contrário.

Registre- se, publique-se e cumpra-se.

Belo Horizonte, 23 de maio de 2001.

Célio Gomes Floriani


Diretor-Geral

159
ANEXO IV

Concursos e Prêmios

Vencedores de concurso da BSCA recebem prêmios


Amanhã, dia 20, a partir das 17 horas, no auditório da matriz da Cooxupé (Cooperativa
Regional de Cafeicultores em Guaxupé) estará sendo efetuando o pagamento aos
produtores que tiveram seus lotes leiloados, via Internet, por preços recordes na história do
café brasileiro. Os 18 produtores que estarão recebendo o valor da venda foram os
vencedores do Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, organizado pelo terceiro ano
consecutivo pela Associação Brasileira de Cafés Especiais, em parceria com entidades
nacionais e internacionais. Dentre os lotes selecionados, 12 são de Minas Gerais, três de
Estado de São Paulo, dois do Espírito Santo e um da Bahia. Os 18 lotes selecionados por
júri internacional para serem leiloados receberam o prêmio Cup of Excellence, que
diferencia os cafés de qualidade superior. O mercado reconheceu a qualidade e, no último
dia 11 de dezembro, pagou preços diferenciados por esse café selecionado. O lote vencedor
do concurso deste ano foi vendido, via Internet, por US$ 735,48, o equivalente a R$
1.710,00. Quem arrematou esse lote, considerado de primeiríssima qualidade, foi a
torrefadora japonesa UCC Ueshima Coffee. O lote vencedor pertence a Paulo Sérgio de
Almeida, da Fazenda Santa Terezinha, situada no município de Paraisópolis, em Minas
Gerais. A média de comercialização, entre as sacas arrematadas, foi de US$ 397,88. Este
mês, o mercado de café não vem pagando mais do que R$ 110,00, em média, pela saca de
60 quilos. Essa é a terceira vez que a cafeicultura nacional realiza um leilão de cafés finos.
As experiências anteriores já haviam dado provas de que a qualidade tem mercado
garantido. No ano passado, o lote vencedor foi arrematado por US$ 402 a saca. Pertencia a
Ceci Maria de Faria, de Manhuaçu, município localizado nas Matas de Minas. E em 1999, o
lote vencedor, do cooperado Cláudio Carvalho Ottoni, foi arrematado por US$ 344 a saca.
Os números superiores desta terceira edição comprovam que o produtor só tem a ganhar ao
investir na produção de um café de qualidade. (Silvia Elena do Carmo Marques, da
assessoria da Cooxupé).
Fonte: http://www.coffeebreak.com.br/noticia/7593/Vencedores-de-concurso-da-BSCA-
recebem-premios.html

160
O PROGRAMA CUP OF EXCELLENCE

O que é o Concurso de Qualidade Cafés do Brasil – "Cup of Excellence"?

O concurso Cup of Excellence foi iniciado por um grupo de profundos conhecedores de café
juntamente com o suporte de entidades do governo e organizações não governamentais
(ONGs), com o objetivo de recompensar os produtores por seus esforços e trabalho.

A Associação Brasileira de Cafés Especiais – também conhecida como BSCA – realiza este
concurso desde o ano 2000, e hoje conta com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (APEX-Brasil) e
da "Alliance for Coffee Excellence" (ACE). Este concurso está aberto a todo produtor
brasileiro de café arábica, sendo uma das ações do Plano Internacional de Marketing para a
Promoção dos Cafés Especiais Brasileiros proposto pela associação.

Qual o objetivo deste concurso?


Continuar servindo de incentivo aos muitos países que vêm aderindo ao "Cup of
Excellence®" e mostrar ao mercado internacional que o Brasil produz cafés especiais de
altíssima qualidade, comparáveis aos melhores do mundo, e que tais cafés podem ser
vendidos a preços recordes como ocorreu no ano passado com o lote vencedor sendo
comercializado por mais de 1300 dólares/saca.

Qual a sua meta?


Aumentar o número de participantes e a abrangência geográfica do concurso de qualidade,
elevar o número de lotes leiloados pela Internet e o número de participantes (potenciais
compradores) no leilão eletrônico.

O que é um café vencedor do prêmio "Cup of Excellence®"?


Um café vencedor do prêmio "Cup of Excellence™" é o escolhido por um grupo de
provadores internacionais como um dos melhores cafés daquele país durante aquele ano.

O que torna estes cafés tão especiais?


Cafés com esta qualidade exemplar são muito raros. Estes cafés são cuidadosamente
colhidos quando perfeitamente maduros e, por isso, são muito encorpados, têm aromas
agradáveis e uma doçura viva que só os cafés especiais de extrema qualidade possuem.
Cada café vencedor leva a assinatura do ambiente em que foi cultivado e do trabalho
artesanal adequado para acentuar estas características inigualáveis.

Como este café é selecionado?


Produtores de café do país inteiro submetem as amostras a uma criteriosa competição com
três fases que acontece uma vez por ano. Depois de recebidos pela BSCA e transformadas
em número por uma empresa de auditoria, as amostras de cafés participantes primeiro
passam por uma pré-seleção para assegurar a satisfação dos padrões mínimos de
qualidade. Os cafés são então provados sem identificação por um júri nacional para
selecionar os melhores e, finalmente, depois de uma degustação de três dias, um júri
internacional premia os melhores lotes com o prêmio "Cup of Excellence™".
Quem é o júri do "Cup of Excellence™"?

Para participar é preciso ser convidado. O júri nacional é composto por experientes
provadores de diversas empresas e regiões. Já o júri internacional do "Cup of Excellence™"

161
é composto por profissionais da indústria de café e provadores de vários países e locais.
Cada fase internacional da competição normalmente inclui de 24 a 32 jurados que
representam uma ampla gama de experiências profissionais. Membros do júri vêm dos
Estados Unidos, Europa, Japão, Canadá, Austrália, Brasil, Guatemala, Nicarágua, etc. O
denominador comum é um enorme conhecimento sobre degustação de cafés e um grande
amor e apreciação por cafés finos.

Quantos cafés são premiados com o "Cup of Excellence"?

O número de cafés que recebem este importante prêmio depende inteiramente da qualidade
dos concorrentes. As exigências são tão rígidas que poucos cafés de um país são
condecorados.

Como são vendidos estes cafés premiados com o "Cup of Excellence"?

Estes célebres cafés são vendidos ao importador de café ou torrador através de um leilão
internacional pela Internet. O lance mais alto compra a totalidade do lote de café que foi
submetido à competição.

Quem compra estes cafés premiados?

Conhecedores do mundo todo, com paladares exigentes, que apreciam a complexidade do


sabor e do aroma encontrados no café, compram e valorizam estes vencedores. O torrador
que compra estes cafés procura fornecer a mais alta qualidade aos seus clientes.

Qual a importância deste prêmio para o produtor de café?

Os produtores premiados ficam extremamente contentes em serem reconhecidos pela sua


dedicação à qualidade. O fazendeiro não só recebe um prêmio de prestígio em uma
cerimônia nacional, mas também os preços recordes no leilão são pagos aos produtores
que merecem e precisam disto. Além disso, o fazendeiro passa a ser reconhecido pelo
comércio internacional. Uma fazenda premiada (e frequentemente a região inteira) poderá
receber visitas futuras e consultas. Um café que ganha continuamente o "Cup of Excellence"
terá seu status comparado a um bom vinho, ou seja, a um Grand Cru.

Como eu posso ter certeza de que é um café vencedor do "Cup of Excellence™"?

Procure pelo logo do "Cup of Excellence™" na embalagem ou na loja. Todos os cafés


premiados são vendidos com este logo. Procure pelo país específico e ano da competição,
tendo em mente que um café premiado pode levar meses para chegar à loja. Se um café
não tiver esta informação, pode não ser um vencedor. Nem todo o café de uma determinada
fazenda é um "Cup of Excellence™". Os fazendeiros submeterão frequentemente apenas
uma quantia pequena de café à competição.
Fonte: http://bsca.com.br/programa-cup-excellence.php

162
ILLYCAFFÈ REVELA OS 50 FINALISTAS DO 21º PRÊMIO ERNESTO ILLY
A TORREFADORA ITALIANA PRETENDE DISTRIBUIR CERCA DE R$ 180 MIL AOS
PRODUTORES E CLASSIFICADORES DE CAFÉ DO PAÍS

por Globo Rural On-line

A torrefadora italiana illycafé divulgou os 50 finalistas do 21º Prêmio Ernesto Illy de


Qualidade do Café para Expresso. Assim como aconteceu em 2009 e 2010, São Paulo
vem ganhando espaço na lista com os melhores cafés brasileiros, com duas posições na
safra 2011/2012, uma representando a região da Mogiana e outra, a região da Sorocabana.
Nesta edição, Minas Gerais conquistou as outras 48 posições.

O prêmio busca valorizar os fornecedores que produzem os grãos que compõem o blend
illy e distribui cerca de R$ 180 mil aos diversos produtores e classificadores do país.

“Foi muito difícil selecionar os 50 finalistas, dada a alta qualidade dos cafés apresentados”,
afirma Aldir Alves Teixeira, consultor técnico da illycaffè, que preside a comissão julgadora.
“As notas foram tão altas que muitos outros poderiam ser qualificados como finalistas, mas
tivemos de selecionar os melhores entre os melhores para chegar aos 50”, completa.

Crescimento
De junho a setembro deste ano, quase 500 amostras foram enviadas à Porto de
Santos/illycaffè, empresa responsável pelo recebimento dos grãos para o prêmio e pela
compra e exportação dos cafés brasileiros à illycaffè. Houve um acréscimo de cerca de 30%
em relação à edição passada do prêmio, demonstrando a confiança que os produtores
tiveram na qualidade da safra 2011/2012. Os cafés apresentados vieram de diferentes
estados: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia, Goiás e Espírito Santo.

A comissão julgadora, formada por especialistas nacionais e internacionais e presidida


pelo especialista Aldir Teixeira, da Assicafé, analisa os cafés pela classificação das
amostras quanto ao aspecto, seca, cor, tipo, peneira, teor de umidade, seleção de grãos no
equipamento de ultravioleta e quanto à qualidade da bebida, com degustação em prova de
xícara e para expresso.

Após a análise que revelou os 50 finalistas, uma nova codificação será dada às amostras e
a Comissão Julgadora se reunirá novamente para analisar e selecionar os dez vencedores
que serão anunciados na cerimônia de entrega que será realizada em março de 2012, em
São Paulo.

163
Em reconhecimento à qualidade do café produzido, os 10 melhores cafeicultores recebem,
respectivamente, R$ 50 mil, R$ 35 mil, R$ 18 mil, R$ 9 mil, R$ 5 mil e, do sexto ao décimo
lugares, R$ 2 mil. Todos os demais finalistas recebem R$ 1,2 mil.

Além dos produtores, o concurso premiará cinco classificadores: o primeiro colocado ganha
R$ 3,5 mil; o segundo, R$ 2,5 mil; o terceiro, R$ 1,5 mil; o quarto, R$ 1 mil e o quinto
colocado, R$ 1 mil.

A premiação entregará ainda o Diploma de Reconhecimento às Melhores Práticas e


Sustentabilidade, para a propriedade mais comprometida com a sustentabilidade no
trabalho com o café. Na mesma noite, será anunciado o Fornecedor do Ano safra 2011/2012
e concedido o Diploma de Reconhecimento aos Agentes dos classificadores vencedores,
pelo apoio aos produtores durante a safra e pela propagação do conceito do café de alta
qualidade no Brasil.

Confira a lista com os 50 finalistas (produtor/município):

- Armando Santos Júnior / Minas Gerais


- Luiz Delfino de Paiva / Minas Gerais
- Sebastião de Carvalho Montans / Minas Gerais
- José Bernardes de Santana / Minas Gerais
- Alessandra Ribeiro Pinto / Minas Gerais
- José Maurício Gorgulho de Castro / Minas Gerais
- Dalgiza Broze Naimeg / Minas Gerais
- Agropecuária Alimentar Ltda./ Minas Gerais
- Clóvis Carvalho / Minas Gerais
- Mariana de Carvalho Junqueira / Minas Gerais
- Leandro Sousa de Sá / Minas Gerais
- Ralph de Castro Junqueira / Minas Gerais
- Braz Francisco de Souza / Minas Gerais
- Antônio de Azevedo e Silva Júnior / Minas Gerais
- Raimundo Martins / Minas Gerais
- Rogério Tostes Ferraz / Minas Gerais
- Jorge Barakat / Minas Gerais
- Viriato Ferreira de Carvalho / Minas Gerais
- José Roberto Canato / Minas Gerais
- Arlindo Porto Neto / Minas Gerais
- Marçal Vieira Guedes / Minas Gerais
- Maria Ângela Ribeiro do Vale / Minas Gerais

164
- Homero Teixeira Macedo Júnior / São Paulo
- José Roberto Vidigal Santana / Minas Gerais
- José Mauro Miranda / Minas Gerais
- Edivandro Martins Amâncio / Minas Gerais
- Marina Scognamiglio R. do Vale / Minas Gerais
- Maria José Junqueira Ceglia / Minas Gerais
- Fernando Montans Alvarenga / Minas Gerais
- José Clenio Pereira / Minas Gerais
- Tomás Podolsky Rossilho / Minas Gerais
- Marisa Coli Noronha / Minas Gerais
- Dagmar Siqueira Zenun / Minas Gerais
- Dimas Mendes Bastos / Minas Gerais
- José Lourenço Filho / Minas Gerais
- Maria Nascimer Viana / Minas Gerais
- Joel Martins de Paula / Minas Gerais
- Anadel Tejada de Podesta / Minas Gerais
- Roni Martins Fernandes / Minas Gerais
- José Flavio Ferraz Reis / Minas Gerais
- Luciano Reis Gomes / Minas Gerais
- Édio Anacleto Miranda / Minas Gerais
- Pedro Aescio de Souza / Minas Gerais
- Ednilson Alves Dutra / Minas Gerais
- Carlos Andre Dognani / São Paulo
- Denise Aparecida Santana Costa Gomes / Minas Gerais
- Geovani Miranda / Minas Gerais
- Carlos Roberto de Miranda / Minas Gerais
- Carlos Sergio Sanglard / Minas Gerais
- Ceci Maria de Faria / Minas Gerais

Fonte: http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,EMI277141-18077,00-
ILLYCAFFE+REVELA+OS+FINALISTAS+DO+PREMIO+ERNESTO+ILLY.html

165
Uma mulher do café

CaféPoint - Piracicaba/SP - CADEIA PRODUTIVA - 25/03/2013 - 09:22:44


Josiane Cotrim Macieira

Como diz a poeta, mulher é desdobrável. E ela é. Mãe de 11 filhos, D. Ceci Faria, 85 anos,
mudou a imagem dos cafés de toda uma região ao vencer a Cup of Excellence no ano 2000.
Até então a região leste de Minas Gerais, a Zona da Mata, era sinônimo de cafés de
qualidade inferior. O prêmio da D. Ceci foi uma sensação, a imprensa quis saber quem era a
ganhadora do prêmio de reputação internacional e que região era essa que produzia café
tão especial. “O bom do prêmio foi que animou muito os produtores” lembra D. Ceci numa
visão de mulher inteligente que conhece a força da liderança. Por isso mesmo ela foi e é
uma inspiração para quem acredita que controlando certas variáveis qualquer produtor da
região pode, sim, produzir café de qualidade com notas acima de 90 pontos na escala da
SCAA.

O distrito de Dom Corrêa fica no município de Manhuaçu, às margens da BR 116, a Rio-


Bahia. A estrada de terra batida que conduz à casa branca de janelas azuis ainda é a
mesma por onde o seu primo caminhou, em 1945, rumo à casa do tio para a cerimônia de
casamento com a jovem Ceci que tinha na época 17 anos apenas. De onde teria vindo a
ideia do seu pai de dar o nome Ceci para a filha? Teria lido o romance O Guarani de José
de Alencar? Afinal é bastante curioso que um pai tenha batizado as duas irmãs com o
mesmo nome. Uma filha chama-se Maria Ceci e a outra Ceci Maria. Essa última, por acaso
sogra do Vicente, filho da D. Ceci. É isso mesmo, no mundo do café dessa região mineira as
relações entre as famílias são muito intensas, geração após geração.

E não tem privilégio maior que sentar na varanda da D. Ceci para escutar causos que
incluem personagens do mundo do café, como Anna Illy que pediu a receita do delicioso
pudim de queijo que D. Ceci faz para suas visitas ou o norueguês Andreas Solberg da
Soberg&Hansen que comprou o lote premiado no ano 2000 para distribuir nas sofisticadas
cafeterias de Oslo.

O café premiado revelou uma característica própria da região: aquele aroma de rapadura
que é possível sentir ao se adentrar nas tulhas das propriedades onde estão armazenados
os cafés esperando pelos compradores. Compradores que estiveram presentes na 1ª

166
Rodada de Negócios realizada pelo SEBRAE-MG no 17° Simpósio de Cafeicultura de
Montanha, em Manhuaçu, na semana passada, ansiosos por conhecer o potencial dos cafés
das Matas de Minas.

A denominação Matas de Minas é um conceito que engloba 63 municípios da região Zona


da Mata e Vale do Rio Doce composta por um milhão de habitantes. Uma região de
pequenos produtores – média de 10 hectares - onde a cafeicultura é basicamente de
montanha com colheita manual e cuja qualidade vem arrebanhando os maiores prêmios de
qualidade do país. O mercado internacional já está se dando conta desse potencial. Na
edição da revista Tea&Coffee de julho de 2012 a jornalista Maja Wallengren refere-se aos
terrenos únicos dessa região de altitude e seus variados processos de beneficiamento na
busca do desenvolvimento de um café de qualidade a ser descoberto pelos consumidores. A
mesa da D. Ceci está posta com biscoito de polvilho, pão de queijo e geleias de laranja
inglesa e goiaba. E excelente café. Que venham os compradores!
Fonte:
http://www.abic.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2419&sid=59&tpl=printer
view

167
Café das Fazendas Dutra é premiado na Bélgica e na França
Postado em 16/05/2010 | Há 7 anos
O café produzido na Fazenda Dutra, em São João do Manhuaçu, conseguiu um feito inédito.
Ele foi premiado em dois países – Bélgica e França - como o melhor café expresso no
concurso promovido pela Associação de Cafés Especiais da Europa. O resultado motivou
uma visita de especialistas da torrefadora europeia Roumbouts à sede da fazenda para
conhecer o processo de cultivo, produção e beneficiamento do café Dutra.
A Associação de Cafés Especiais da Europa (SCAE – sigla em inglês) é reconhecida por
concursos para seleção de cafés para diversas aplicações, como expresso e capuccino,
bem como concursos de baristas (que preparam os cafés) e entre diversos países. Em
pouco mais de 20 anos de existência do torneio, foi a primeira vez que um café conseguiu o
reconhecimento em dois países da associação. Realizado em etapas internacionais, o
concurso elegeu o Café Catuaí Amarelo e Vermelho produzido na Fazenda Dutra como o
melhor expresso na França e na Bélgica. O resultado ainda garantiu a Kenny Bursens o
título de barista campeão belga e a Maxence Moyearts a conquista do vice-campeonato
francês.
Para o produtor, Walter César Dutra, o reconhecimento no concurso foi motivo de alegria
para ele e irmão Ednilson. “Recebemos esse prêmio com satisfação e orgulho. Lógico que
ficamos ainda mais motivados para produzir mais qualidade, divulgando São João do
Manhuaçu e a nossa região. Esse concurso, as certificações que obtivemos ao longo dos
canos e vários prêmios agregam mais valor ao nosso café”, reconheceu.

COLHENDO PRÊMIOS
Walter e Ednilson com os diretores da Koffie F. Roumbouts

Os irmãos Walter e Ednilson começam a participar de cursos, palestras e concursos há


cerca de dez anos. O resultado desse investimento em mais conhecimentos vem somando
vários prêmios desde o ano de 2000. Os cafés das Fazendas Dutra figuraram, por várias
vezes, entre os dez primeiros colocados e constam, atualmente, do rol dos 50 melhores
cafés do Brasil no Prêmio Illy, além de certificações e outros prêmios de associações de
cafés especiais.
A visita dos representantes da Koffie F. Roumbouts foi também um incentivo para os dois
irmãos. “Fizeram questão de conhecer a produção, a colheita e como o café é preparado.
Isso nos motiva. Estamos investindo em qualidade há quase dez anos e buscando divulgar
a nossa mercadoria no mundo como café especial. Agora estamos colhendo os frutos”,
avalia Ednilson Alves Dutra (Dinho), que espera que a experiência deles seja um incentivo
também a outros produtores para procurar a qualidade e o segmento de café especial como
uma alternativa no mercado.
O Gerente do Departamento de Formação da Koffie F. Roumbouts Manu Demets explicou
que o feito do café Dutra é realmente especial. No concurso, o café pode atingir até 1.100
pontos e é muito difícil obter um reconhecimento tão grande. Sem meias palavras, ele
resume a qualidade do café colhido nas montanhas de São João do Manhuaçu: “Esse café
é realmente muito bom mesmo. São resultados realmente acima do padrão, ainda mais num
concurso com tantos pontos para avaliar”.
Depois de visitar a fazenda, ele elogiou a dedicação da família Dutra. “O que me chamou a
atenção na região e, principalmente na fazenda Dutra, é que eles vão atrás de novas
variedades, viajam o mundo, procuram novidades, querem saber o que o mercado quer e

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voltam sempre com a cabeça cheia de informação. Tentam experiências aqui para ver o que
pode ser feito para ter um café de qualidade. E eles conseguiram. Eles fizeram um trabalho
de longo prazo até serem premiados nos dois países”, elogiou.
Além de garantir a valorização de seu café especial, Ednilson e Walter sabem que agregam
valor também aos cafés produzidos em São João do Manhuaçu e na região. Em audiência
com o Prefeito João Batista Gomes, a comitiva da Roumbouts também saiu com uma boa
impressão do município.
Para o prefeito, o trabalho de Walter e Ednilson deve ser reconhecido ainda mais e
valorizado. “Para nós é motivo de muito orgulho saber que o município é fértil, tem clima
favorável e temos pessoas que sabem dar valor a isso. Parabenizamos de público a toda a
família Dutra e em especial o Ednilson e o Walter. Esse prêmio é importante para eles e
para o nosso município. Meus sinceros parabéns ao zelo e à dedicação desses produtores,
que são exemplos para toda a região”.
João Batista Gomes ainda anunciou a intenção de promover palestras com os irmãos Dutra
para os produtores de São João do Manhuaçu. “Queremos reunir os produtores, mostrar
como eles fazem esse café tão especial e incentivar outros a investir nesse segmento”.
Em dez anos, os irmãos Dutra ajudaram a mudar a fama dos cafés da região das Matas de
Minas. Investiram em qualidade e hoje colhem prêmios. Fonte:
http://revistacafeicultura.com.br/?mat=32396

TRADIÇÃO – FAZENDAS DUTRA

No início da década de 50, José Dutra Sobrinho herdou um pequeno sítio. Em mais de 40
anos de muito trabalho, ampliou seu patrimônio, dedicando-se integralmente a cafeicultura.
Em 1980, já produzia o café despolpado que, apesar de ter um bom preço no mercado,
ainda não era o ideal.

Para a Família Dutra, a crise de 1986 trouxe também o momento certo de trabalhar ainda
mais. E para superar as dificuldades, a receita ditava mais uma vez a paixão pelo café:
continuar acreditando e investindo na cafeicultura, comprando terras e expandindo as
lavouras.

Passa o tempo, segue-se à rotina de muito trabalho, e a vida surpreende com o falecimento
do patriarca Zeca Dutra, em setembro de 1999. Nas mãos dos “meninos” Walter e Ednilson
uma herança de mais de 300 hectares cafeeiros. Mais que trabalhar, agora era a
responsabilidade total sobre o futuro da família.

Os irmãos Walter e Ednilson começam a participar da Unilly - Universidade Illy do Café, em


convênio com a FIA-USP e o PENSA - Programa de Estudos dos Negócios do Sistema
Agroindustrial. Com mais conhecimento, o novo século abre as portas para a qualidade
desejada dos cafezais da Família Dutra.

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Resultado do investimento em mais conhecimento: desde o ano de 2000, participando de
todos os concursos da Illy, os cafés das Fazendas Dutra figuram, por três vezes, entre os
dez primeiros colocados e constam, atualmente, do rol dos 50 melhores cafés do Brasil. E
conquistam mais qualidade com os certificados do IGAM e da Associação de Café Especial
do Brasil (Brazil Specialty Coffee Association).

Assim, os dois irmãos administram as Fazendas Dutra, que somam mais de 500 hectares de
lavouras de café plantadas em curva de nível. Atualmente, 100 hectares são de lavouras em
formação e 400 hectares produzindo 16 mil sacas/ano, sendo 6 mil de café especial. Uma
produtividade de 40 sacas por hectare. Geram 50 empregos fixos, 250 empregos na
entresafra e 600 empregos no período da colheita. O segredo desta história: paixão,
trabalho e a conquista da qualidade.
Fonte: https://www.fazendasdutra.com/

15/12/2011

Concurso Estadual de Qualidade de Café: resultado será amanhã


Cento e seis amostras foram classificadas para a final do VIII Concurso Estadual de
Qualidade dos Cafés de Minas Gerais. Desse total serão escolhidos, em cada região, os
três melhores cafés, nas categorias natural e cereja descascado. A premiação dos
vencedores acontece na sexta-feira, 16, na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte.

Durante o evento, também serão entregues os certificados a todos os finalistas e realizado


um leilão com os lotes de café com nota mínima de 84 pontos, de acordo com a tabela de
classificação da Associação Brasileira de Cafés Especiais - BSCA.

O concurso é realizado pelo governo do Estado, por meio da Emater, empresa vinculada à
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A iniciativa tem a parceria
de diversas instituições, como a Universidade Federal de Lavras, Instituto Mineiro de
Agropecuária (Ima), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig),
Organização das Cooperativas de Minas Gerais (Ocemg), Federação de Agricultura
(Faemg), Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaemg), Centro de Excelência do
Café, Polo de Excelência do Café e Instituto Federal de Ensino e Tecnologia de Machado.

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Na edição deste ano foram inscritas 1.637 amostras das 04 regiões cafeeiras do Estado:
Cerrado, Chapadas de Minas, Matas de Minas e Sul de Minas. Número superior ao da
edição do ano passado. Os lotes foram entregues pelos cafeicultores nos escritórios da
Emater, sendo aceitos exclusivamente cafés da espécie arábica na safra 2011/2012.

O lote para a participação no concurso tem 10 sacas de 60 quilos e as amostras


correspondentes a cada um, dois quilos. De acordo com o regulamento, foi exigido grãos
tipo 2, passados em peneira 16, com no máximo 5% de vazamento. “Ou seja, os cafés que
participam do concurso estão prontos para a exportação”, afirma o coordenador técnico
regional da Emater-MG, Marcos Fabri Junior. Para a escolha dos cafés finalistas, as
amostras passaram por análise física e avaliação sensorial. Na categoria natural foram
classificadas 48 amostras e na cereja descascado, 58.

Mais do que prêmios, os participantes do concurso, realizado desde 2004, buscam o


reconhecimento de que produzem cafés de qualidade superior. “Nosso principal objetivo não
é estimular a competição. O caráter é mais educativo. Os resultados das amostras
analisadas serão detalhados em laudos e entregues aos extensionistas da Emater
responsáveis pelas inscrições. Produtor e técnico terão condições de discutir quais as
possibilidades existentes dentro das tecnologias preconizadas para a produção de bons
cafés. Ou seja, o concurso é um trabalho de melhoria contínua dos cafés de Minas Gerais”,
ressalta Marcos Fabri Junior.

VIII CONCURSO DE QUALIDADE DOS CAFÉS DE MINAS - 2011


CEREJA DESCASCADO.
Alberto Nunes Sena (Manhuaçu)
Aloizio Xavier (Caratinga)
Carlos Roberto de Miranda (Araponga)
Ceci Maria de Faria (Manhuaçu)
Edimar Gonçalves Sobreira (Caratinga)
Edison Rocha Amorim (Ervália)
Edmilson Alves Dutra (São João do Manhuaçu)
Eduardo Pereira Knupp (Luisburgo)
Felipe Duarte Godinho (Ervália)
José Brissio Pereira Manhuaçu (Manhuaçu)

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José Dutra Sobrinho (Espolio) (São João do Manhuaçu)
José Rocha (Manhuaçu)
Luiz Antônio da Paixão Neto (São João do Manhuaçu)
Moacir Ferreira (Manhuaçu)
Rodrigo Gonçalves Sobreira Rocha (Imbé de Minas)
Walter César Dutra (São João do Manhuaçu)
Wanderlei Gomes de Lima (Araponga)
Categoria Natural
Geraldo Rodrigues dos Reis (Manhumirim)
Giovane César Vieira (Santa Margarida)
Irson Pascoal da Silva (Manhuaçu)
João Andrade de Miranda (Araponga)
José Antonio da Costa (São João do Manhuaçu)
José Odair Rodrigues (Manhuaçu)
Maria Madalena Rodrigues Ferreira (Manhumirim)
Tamires Rodrigues Ferreira (Manhumirim)
Fonte: http://www.portalcaparao.com.br/noticia/8658/concurso-estadual-de-qualidade-de-
cafe-resultado-sera-amanha

Campeões do Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais são das Matas de
Minas
Por Equipe CaféPoint (CaféPoint) - postado em 26/11/2015

Cafés produzidos na região cafeeira das Matas de Minas foram os vencedores do 12º
Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais. Os produtores João da Silva Neto e
Clayton Barrossa Monteiro receberam as maiores pontuações entre os finalistas das duas
categorias concorrentes deste ano: Café Cereja Descascado e Café Natural. A cerimônia de
premiação aconteceu nesta quinta-feira (26/11), em Manhuaçu, que também fica na região
das Matas de Minas. Participaram do evento o secretário de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento de Minas Gerais, João Cruz, e o presidente da Emater-MG, Amarildo Kalil.

João da Silva é do município de Araponga. O café produzido por ele foi campeão estadual
na categoria Cereja Descascado. “Esse prêmio é a coroação de um trabalho de seis anos
que a gente tem feito, buscando sempre bons resultados”, disse o cafeicultor. A propriedade
dele produz 500 sacas por ano. O produto é vendido para a região e também Itália e Japão.

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João da Silva também recebeu a medalha Sustentabilidade. Uma homenagem ao cafeicultor
com o melhor café produzido seguindo os princípios sustentáveis.

Já o produtor Clayton Monteiro foi o vencedor estadual na categoria Café Natural. Esta é a
segunda vez que ele vence o concurso. A primeira foi em 2012. “A nossa visibilidade
aumenta bastante com as premiações. E isso resulta em um preço melhor para o nosso
produto. É importante também os dois vencedores serem aqui da região, que antigamente
era tida como café de qualidade inferior. Hoje, estamos provando que podemos fazer os
melhores cafés”, afirma Monteiro.

A propriedade de Clayton fica no Alto Caparaó. Por ano a propriedade dele produz em
média 350 sacas de café. O produtor cultiva variedades, como catuaí e bourbon. A produção
é vendida na região e para cafeterias de outros Estados. Mas boa parte é exportada para
Inglaterra, Alemanha, França, Austrália e Japão. Clayton também venceu outros prêmios,
como o Coffee of the Year, em 2014 e 2015, sendo reconhecido como o melhor café do
Brasil durante a Semana Internacional do Café (SIC).

Programa Certifica Minas


Os dois vencedores recebem orientação técnica da Emater-MG e participam do Certifica
Minas Café. O programa estadual orienta os produtores para a adequação das propriedades
às boas práticas agrícolas em todos os estágios da produção, atendendo também normas
ambientais e trabalhistas reconhecidas internacionalmente. “Foi esse trabalho que me deu
foco para a sustentabilidade. Nos deu padrão para o nosso trabalho para obtermos um
produto de mais qualidade”, diz João da Silva.

O Concurso também escolheu os três melhores cafés em cada uma das quatro regiões
cafeeiras, nas categorias Natural e Cereja Descascado. Os vencedores receberam
certificados e prêmios. “O nosso café só vai ter mercado se tiver qualidade. Esse trabalho
que a Emater-MG vem fazendo com os agricultores familiares tem um impacto enorme na
cafeicultura mineira”, disse o presidente, Amarildo Kalil.

Do total das inscrições deste ano, 1.014 são amostras da categoria Natural e 286 da
categoria Cereja Descascado. A região do Cerrado inscreveu 126 amostras, 28 são da
Chapada, 554 das Matas de Minas e 592 do Sul de Minas.

Os cafés foram avaliados em três etapas. Na primeira, foram feitas análises física e
sensorial. Na avaliação física, foram observados o tipo dos grãos, a umidade e a coloração.
Na sensorial foi feita a classificação das amostras de acordo com as qualidades da bebida
pronta (classificação quanto ao sabor e aroma). Na segunda etapa, houve mais uma análise

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sensorial. Na terceira e última fase, foram realizadas novamente as análises física e
sensorial.

Leilão Virtual
Entre os dias 10 e 20 de novembro aconteceu um leilão virtual, no site da Faepe, com
quatro lotes, sem identificação, dos vencedores do Concurso de Qualidade dos Café de
Minas. Cada lote é formado por 10 sacas de 60Kg. O maior lance foi de R$ 2.970,00 a saca.
Os cafés leiloados receberam nota acima de 84 pontos, de acordo com a tabela de
classificação da Associação Brasileira de Cafés Especiais. As empresas que adquiriram os
lotes são: Hotel Parque do Caparaó, Academia do Café, Luca Cafés Especiais, Ateliê do
Café, Tudo da Roça e Sindicafé de Minas Gerais.

“Este ano o concurso foi diferenciado dos outros. Nós passamos por um período de dois
anos de seca e isso prejudicou muito. Mesmo assim conseguimos achar cafés com
qualidade excepcional”, diz o gerente regional da Emater em Lavras e coordenador do
concurso, Marcos Fabri.

Confira abaixo a lista com os vencedores:

Campeões Estaduais
Categoria Cereja Descascado: João da Silva Neto
Município: Araponga

Categoria Natural: Clayton Monteiro


Município: Alto Caparaó

Medalha de Sustentabilidade
João da Silva Neto

Categoria Natural
Matas de Minas (também foi o campeão estadual)
1º LUGAR: Clayton Monteiro
Município: Alto Caparaó

Sul de Minas
1º LUGAR: Hélio de Castro Coelho
Município: Machado

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Cerrado Mineiro
1º LUGAR: Wagner Crivelenti Ferrero
Município: Patos de Minas

Categoria Cereja Descascado


Matas de Minas
1º LUGAR: João da Silva Neto (também foi o campeão estadual)
Município: Araponga

Sul de Minas
1º LUGAR: Carlos Henrique Ribeiro do Valle
Município: Guaxupé

Cerrado Mineiro
1º LUGAR: Décio Bruxel
Município: Varjão de Minas

Chapada de Minas
1º LUGAR: José Vilmar Rocha
Município: Capelinha

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Café do Brasil: Matas de Minas Gerais

Marcada pela predominância de produtores familiares, a região da Zona da Mata ou Matas


de Minas é a prova de que a agricultura levada a sério pode trazer grandes transformações
e melhorias para uma região. Durante vários anos, esta área foi tida como limitada e incapaz
de produzir cafés com alta qualidade. Estes fatores geraram por décadas desmotivação e
descapitalização de famílias que viviam da cultura do café.

A beleza da florada da plantação de cafés da Fazenda Braúna.

Esta realidade foi revertida com a criação de concursos de qualidade de café criados na
região, que contou com o apoio técnico da EMATER/MG (Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), que fica na cidade de Manhuaçu. Houve um
trabalho intenso para ajudar a população local a se profissionalizar e melhorar as técnicas
de cultivo e preparação do café. Foi criado, inclusive, o Concurso de Qualidade do Café das
Matas de Minas Gerais, promovido pela entidade.

Depois de alguns anos de trabalho duro e muito aprendizado, finalmente a produção de


cafeicultores da Zona da Mata consolidou sua posição no alto patamar de qualidade dos
melhores cafés gourmets brasileiros. A região foi além e se tornou uma das primeiras a
focar a produção de cafés socialmente justos e ambientalmente corretos.

A incidência de luz, colheita seletiva de grãos maduros, o uso de água tratada na lavagem e
no descascador de cereja, o bom manejo da secagem em terreiro e o descanso do café em

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pergaminho, são fatores que propiciaram a produção de bebidas de alta qualidade com
nuances de aroma e sabores ricos.

Conheça um pouco mais sobre o café que enfrentou o descaso no passado, mas agora tem
sua produção e qualidade de grãos reconhecida.

Café da Região Matas de Minas


Altitude média: 650m

Variedades de café mais cultivadas:


Catuai (80%), Mundo Novo e outras.

Sabor:
Encorpado com aroma neutro, cuja característica é suave

Algumas Cidades produtoras:


Manhuaçu, Alto Caparaó, São João do Manhuaçu, Luiz Burgo, Caratinga, Araponga, Dom
Viçoso, Ervália.

Algumas Fazendas da Região:


Fazenda Heringer, Fazenda Serra do Boné, Fazenda Braúna, Fazenda Jatobá e Olhos
D’água.

Escrito por Patrícia Nasser em Indústria

Fonte: http://www.mexidodeideias.com.br/industria/cafe-do-brasil-matas-de-minas-gerais/

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Governo entrega prêmios do 13º Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais

Premiação é a maior do país e foram inscritas 1.853 amostras das quatro regiões
produtoras

O governador Fernando Pimentel participou nesta segunda-feira (19/12) da cerimônia de


encerramento e premiação do 13º Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais, o
maior do país nesse setor. De 1.853 amostras inscritas, 24 foram classificadas como
finalistas na premiação.

Após entregar os prêmios para os produtores dos melhores cafés do estado, o governador
ressaltou a importância do café para a economia brasileira.

“O agronegócio é uma força no mundo inteiro, mas no Brasil em especial temos a felicidade
de ter recursos naturais que nos propiciam ter no setor agrícola uma das mais altas
produtividades do mundo. Esse ano só Minas Gerais vai render para a balança comercial
brasileira mais de 3 bilhões de dólares de café. Dos 49 milhões de sacas que o Brasil vai
produzir, 28 milhões serão de Minas Gerais. Temos que ter um orgulho muito grande de
estar à frente de um setor que está gerando essa prosperidade ainda que em um tempo
difícil, de crise. Nós mineiros não desanimamos”, afirmou.

Ainda de acordo com Pimentel, o café é um setor de ponta no estado e que envolve
investimento em tecnologia de ponta. “Vejo aqui hoje a Minas Gerais que a gente gosta, que
a gente ama e aposta. A Minas que trabalha no campo, que dá emprego, gera renda, não se
abate com as crises e que faz a gente ter orgulho do nosso estado. Já foi o tempo que se
dizia que plantar café era atraso. A agricultura e o café hoje são um setor de ponta, que
envolve conhecimento cientifico avançado, que envolve crescimento tecnológico, e que faz
também inclusão social. É o que estamos fazendo em Minas Gerais”, completou.

Neste ano, na categoria Natural, o primeiro lugar e que ficou com o prêmio de campeão
estadual foi o café do produtor André Souza Lima Campos, do município de Presidente
Olegário, no Noroeste do estado. Já na categoria Cereja Descascado o troféu de campeão
estadual foi entregue a Aarão Ferreira, de Lajinha, na região Matas de Minas.

O presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas


Gerais (Emater), Glenio Martins, ressaltou que o setor agropecuário mineiro tem recebido
grande atenção da atual gestão. “Temos certeza que vamos continuar a fazer de Minas
Gerais um Estado com muitas oportunidades”, disse.

Avaliação

O concurso é dividido em duas categorias. A primeira é a Café Natural, que trata do grão
recém-colhido que, após passar por um processo de lavagem, é levado para secar. A outra
categoria é a do Café Cereja Descascado, despolpado ou desmucilado. Estes tipos de café
são lavados e há uma separação dos frutos verdes e secos dos frutos maduros. Depois,
eles passam por um descascador para só depois seguir para secagem.

Entre os finalistas foram selecionados os três melhores cafés em cada uma das duas
categorias, levando em conta cada uma das quatro regiões produtoras: Sul de Minas,
Chapadas de Minas, Cerrado Mineiro e Matas de Minas. O concurso é promovido pela
Emater - Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Universidade
Federal de Lavras (Ufla), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de

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Minas e a Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepe).

A seleção dos finalistas foi feita por especialistas de empresas públicas e privadas com base
em análises físicas e sensoriais. As provas foram realizadas no Centro de Excelência do
Café, em Machado, no Sul de Minas Gerais. Neste ano, a novidade no critério de avaliação
foi a inclusão da avaliação socioambiental na etapa final das análises

Premiação

Todos os cafés finalistas já possuem comprador garantido. Conforme licitação promovida


pela Faepe, a empresa Atlântica Exportação e Importação Ltda irá comprar, no mínimo, dez
sacas (60kg) de cada um dos finalistas, com preços que variam de acordo com a pontuação
obtida no concurso. Cada saca dos campeões será adquirida por US$ 800.

Os produtores que obtiveram a maior pontuação em cada região também ganham uma
viagem à Guatemala ou Costa Rica para conhecer o sistema de produção de café de
qualidade.

Também participaram da entrega secretários de Estado, representantes de empresas


parceiras, deputados federais e produtores de café de todo o Estado.

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Lista de premiados

Categoria: Natural

Terceiro Lugar
1. Região Cerrado Mineiro (município Varjão de Minas) - Empresa Agrícola Santa Rita,
representada pela diretora agrícola Mariana Brayn Caetano;
2. Região Chapada de Minas (município José Gonçalves de Minas) - Gilson Pereira da
Silva;
3. Região Matas de Minas (município Alto Caparaó) - Sebastião Luiz Robadel;
4. Região Sul de Minas (município São Sebastião do Paraíso) - Antônio Adolfo de Souza.

Segundo Lugar
1. Região Cerrado Mineiro (município Patrocínio) - Flávio Ruiz Pequini;
2. Região Chapada de Minas (município Capelinha) - Arlindo Domingues de Oliveira;
3. Região Matas de Minas (município Alto Caparaó) - Rafael Lopes Louzada;
4. Região Sul de Minas (município Andradas) - Fábio Roberto Menegon.

Primeiro Lugar
1. Região Chapada de Minas (município José Gonçalves de Minas) - Claudio Fujio
Nakamura;
2. Região Matas de Minas (município Manhuaçu) - Celso Antônio de Oliveira;
3. Região Sul de Minas (município Divisa Nova) - Dimas Figueiredo Lopes.
4. Região Cerrado Mineiro (município Presidente Olegário) - André Souza Lima Campos;

Categoria: Cereja Descascado

Terceiro Lugar
1. Região Cerrado Mineiro (município Serra do Salitre) - Luiz Alberto Rossi;
2. Região Chapada de Minas (município Diamantina) - Dailton Antonio Ribeiro;
3. Região Matas de Minas (município Alto Jequitibá) - Ari de Oliveira Filho;
4. Região Sul de Minas (município São Pedro da União) - João Onofre da Silva.

Segundo Lugar
1. Região Cerrado Mineiro (município Patos de Minas) - Versi Crivelenti Ferrero;
2. Região Chapada de Minas (município Angelândia) - Primavera Agronegócios Ltda,
representada pelo Gerente-Geral Ronaldo Morais Pena Filho;
3. Região Matas de Minas (município Manhuaçu) - José Rocha;
4. Região Sul de Minas (município Campestre) - Hélio José Lopes Júnior.

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Primeiro Lugar
1. Cerrado Mineiro (município Patos de Minas) - Wagner Crivelenti Ferrero;
2. Região Chapada de Minas (município Minas Novas) - CBI Agropecuária representada
pelo diretor Tancredo Pisa Simonini Spadas;
3. Região Sul de Minas (município Santo Antônio do Amparo) - Henrique Dias Cambraia;
4. Região Matas de Minas (município Lajinha) - Aarão Ferreira.
Fonte: http://agenciaminas.mg.gov.br/noticia/governo-entrega-premios-do-13-concurso-de-
qualidade-dos-cafes-de-minas-gerais

REGIÃO DAS MATAS DE MINAS TEM OS MELHORES CAFÉS DO ESTADO


Os cafés produzidos na região cafeeira conhecida como Matas de Minas foram os
vencedores do 12º Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais. Os produtores João
da Silva Neto e Clayton Monteiro receberam as maiores pontuações entre os finalistas das
duas categorias concorrentes deste ano: Café Cereja Descascado e Café Natural. A
cerimônia de premiação aconteceu na quinta-feira, 26/11, em Manhuaçu, na Zona da Mata
mineira. Participaram do evento o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de
Minas Gerais, João Cruz, e o presidente da Emater, Amarildo Kalil.

João da Silva é do município de Araponga. O café produzido por ele foi campeão estadual
na categoria Cereja Descascado. “Esse prêmio é a coroação de um trabalho de seis anos
que a gente tem feito, buscando sempre bons resultados”, disse o cafeicultor. A propriedade
dele produz 500 sacas por ano. O produto é vendido para a região e também Itália e Japão.
João da Silva também recebeu a medalha Sustentabilidade. Uma homenagem ao cafeicultor
com o melhor café produzido seguindo os princípios sustentáveis.

Já o produtor Clayton Monteiro foi o vencedor estadual na categoria Café Natural. Esta é a
segunda vez que ele vence o concurso. A primeira foi em 2012. “A nossa visibilidade
aumenta bastante com as premiações. E isso resulta em um preço melhor para o nosso
produto. É importante também os dois vencedores serem aqui da região, que antigamente
era tida como café de qualidade inferior. Hoje, estamos provando que podemos fazer os
melhores cafés”, afirma Monteiro.

A propriedade de Clayton fica no Alto Caparaó. Por ano a propriedade dele produz em
média 350 sacas de café. O produtor cultiva variedades, como Catuaí e Burbon. A produção
é vendida na região e para cafeterias de outros Estados. Mas boa parte é exportada para
Inglaterra, Alemanha, França, Austrália e Japão. Clayton também venceu outros prêmios,
como o Coffee of the Year, em 2015, sendo reconhecido como o melhor café do Brasil.

Programa Certifica Minas

Os dois vencedores recebem orientação técnica da Emater e participam do Certifica Minas


Café. O programa estadual é coordenado pela Emater e orienta os produtores para a
adequação das propriedades às boas práticas agrícolas em todos os estágios da produção,
atendendo também normas ambientais e trabalhistas reconhecidas internacionalmente. “Foi
esse trabalho que me deu foco para a sustentabilidade. Nos deu padrão para o nosso

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trabalho para obtermos um produto de mais qualidade”, diz João da Silva.

O Concurso Estadual de Qualidade do Cafés de Minas Gerais também escolheu os três


melhores cafés em cada uma das quatro regiões cafeeiras, nas categorias Natural e Cereja
Descascado. Os vencedores receberam certificados e prêmios.

“O nosso café só vai ter mercado se tiver qualidade. Esse trabalho que a Emater-MG vem
fazendo com os agricultores familiares tem um impacto enorme na cafeicultura mineira. O
dia a dia da Emater-MG com o agricultor para melhorar o seu sistema de produção tem
garantido mercado e renda para eles”, disse o presidente da Emater-MG, Amarildo Kalil.

Etapas do concurso

A edição deste ano do Concurso Estadual de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais teve
1.300 amostras inscritas. Um crescimento de 26% em relação a 2014, que contou com
1.025 amostras. Participaram da disputa produtores das quatro regiões cafeeiras do Estado:
Cerrado, Chapadas de Minas, Matas de Minas e Sul de Minas.

Do total das inscrições deste ano, 1.014 são amostras da categoria Natural e 286 da
categoria Cereja Descascado. A região do Cerrado inscreveu 126 amostras, 28 são da
Chapada, 554 das Matas de Minas e 592 do Sul de Minas.

Os cafés foram avaliados em três etapas. Na primeira, foram feitas análises física e
sensorial. Na avaliação física, foram observados o tipo dos grãos, a umidade e a coloração.
Na sensorial foi feita a classificação das amostras de acordo com as qualidades da bebida
pronta (classificação quanto ao sabor e aroma). Na segunda etapa, houve mais uma análise
sensorial. Na terceira e última fase, foram realizadas novamente as análises física e
sensorial.

Leilão Virtual

Entre os dias 10 e 20 de novembro aconteceu um leilão virtual, no site da Faepe, com


quatro lotes, sem identificação, dos vencedores do Concurso de Qualidade dos Café de
Minas. Cada lote é formado por 10 sacas de 60Kg. O maior lance foi de R$ 2.970,00 a saca.
Os cafés leiloados receberam nota acima de 84 pontos, de acordo com a tabela de
classificação da Associação Brasileira de Cafés Especiais. As empresas que adquiriram os
lotes são: Hotel Parque do Caparaó, Academia do Café, Luca Cafés Especiais, Ateliê do
Café, Tudo da Roça e Sindicafé de Minas Gerais.

“Este ano o concurso foi diferenciado dos outros. Nós passamos por um período de dois
anos de seca e isso prejudicou muito. Mesmo assim conseguimos achar cafés com
qualidade excepcional”, diz o gerente regional da Emater-MG em Lavras e coordenador do
concurso, Marcos Fabri.

O concurso é realizado pelo Governo de Minas Gerais. A coordenação é da Emater, em


parceria com a Universidade Federal de Lavras (UFLA), o Instituto Federal do Sul de
Minas/Campus Machado e Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepe) e
Secretaria de Estado de Agricultura.

A realização do concurso também conta com o apoio de diversas instituições como o


Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas
Gerais (Epamig), Organização das Cooperativas de Minas Gerais (Ocemg), Federação de

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Agricultura (Faemg), Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaemg), e cooperativas
de café do Sul do Estado.
Mais informações sobre o concurso pelo telefone (35) 3821-0020, pelo e-mail
uregi.lavras@emater.mg.gov.br ou no site da www.emater.mg.gov.br.

Confira abaixo a lista com os vencedores:

Campeões Estaduais
Categoria Cereja Descascado: João da Silva Neto
Município: Araponga

Categoria Natural: Clayton Monteiro


Município: Alto Caparaó

Medalha de Sustentabilidade
João da Silva Neto

Categoria Natural

Matas de Minas (também foi o campeão estadual)


1º LUGAR: Clayton Monteiro
Município: Alto Caparaó

Sul de Minas
1º LUGAR: Hélio de Castro Coelho
Município: Machado

Cerrado Mineiro
1º LUGAR: Wagner Crivelenti Ferrero
Município: Patos de Minas

Categoria Cereja Descascado


Matas de Minas
1º LUGAR: João da Silva Neto (também foi o campeão estadual)
Município: Araponga

Sul de Minas
1º LUGAR: Carlos Henrique Ribeiro do Valle
Município: Guaxupé

Cerrado Mineiro
1º LUGAR: Décio Bruxel
Município: Varjão de Minas

Chapadas
1º LUGAR: José Vilmar Rocha
Município: Capelinha

Fonte: Agência Minas Gerais


http://revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=60193&regi-o-das-matas-de-minas-
tem-os-melhores-caf-s-do-estado.html

183
Semana Internacional do Café 2016 registra incremento de 8%

Principal encontro da cadeia produtiva do setor aconteceu entre 21 e 23 de setembro,


em Belo Horizonte, e gerou um volume de negócios da ordem de R$ 25 milhões.
Após três dias de programação intensa em Belo Horizonte, o balanço final da quarta edição
da Semana Internacional do Café (SIC), maior encontro da cadeia produtiva do setor
cafeeiro e um dos mais importantes do mundo, é extremamente positivo. O evento, que
aconteceu entre 21 e 23 de setembro, gerou um total de R$ 25 milhões em negócios –
movimentados apenas na feira, sem mensurar os valores obtidos indiretamente, no pós-
evento.

O desempenho revela ainda um incremento de 8% em relação ao ano passado,


considerando-se número de expositores e público. Mais de 14 mil visitantes, nacionais e
internacionais, estiveram no Expominas, para acompanhar os 25 eventos simultâneos, as 68
palestras e workshops e mais de 30 sessões de cupping, com, aproximadamente, 2.250
xícaras provadas. Além disso, eles tiveram a oportunidade de conhecer o 11º Espaço Café
Brasil, maior feira do segmento, que reuniu um total de 103 expositores e 155 marcas. Para
a participação no concurso Coffee of The Year, foram computadas mais de 180 amostras de
café, sendo que 100, de excelente qualidade, foram selecionadas para apresentação nas
rodadas de negócios.

Realizada desde 2013, a SIC tem como objetivo fortalecer e valorizar o segmento cafeeiro,
um dos maiores da economia nacional e cujo produto é o principal do agronegócio brasileiro.
Neste ano, participaram produtores, baristas, cooperativas, indústrias, segmentos de
máquinas e equipamentos para o setor, embalagens, serviços de cafés, e-commerce e
indústria de cápsulas. A programação incluiu eventos técnicos, como o Seminário
Internacional DNA Café 2016, o Fórum da Agricultura Sustentável, Encontro Educampo e a
Cafeteria Modelo, além de Rodada de Negócios & Coffee of the Year, 5ª Copa Barista, entre
outras atrações.

Números gerais da SIC 2016

- Visitantes nos três dias: mais de 14 mil


- Total de expositores: 103
- Marcas expositoras: 155 marcas
- Negócios iniciados no evento: R$ 25 milhões
- Amostras de café nas rodadas de negócios: 100
- Total de eventos simultâneos: 25
- Total de sessões de cupping: mais de 30 sessões, com, aproximadamente, 2.250 xícaras
provadas
- Total de palestrantes: 68
- Amostras inscritas para o COY 2016: Mais de 180

Premiações

5ª Copa Barista
1º lugar: Lucas Salomão (SP)
2º lugar: Ivan Heyden (MG)

184
Coffee of The Year 2016:

- Arábica
1º - Afonso Donizete Lacerda (Sítio Pedra Menina) / Serra do Caparaó – Dores do Rio Preto
(ES)
2º - Felipe Gonçalves Pacheco (Fazenda Santa Lúcia) / Cerrado Mineiro – Araxá (MG)
3º - Fábio Protazio de Abreu (Sítio Forquilha Café) / Serra do Caparaó – Espera Feliz (MG)

- Conilon

1º - José Carlos de Azevedo (Sítio Chapadinho) / Nova Venecia - Nova Venecia (ES)
2º - Edinilson Alves Dutra (Sítio Boa Vista) / Matas de Minas – Manhuaçu (MG)
3º - José Carlos de Azevedo (Sítio Raphalys) / Alto Rio Novo – Alto do Rio Novo (ES)

Fonte: http://revistacafeicultura.com.br/?mat=62751

Matas de Minas: uma região produtora de café em movimento


Por José Luis Rufino
A Região das Matas de Minas, situada no leste do Estado de Minas Gerais, é composta por
63 municípios que, juntos, produzem cerca de 5 milhões de sacas de café anualmente, uma
quarta parte do total produzido em Minas, o principal estado produtor brasileiro. São 240 mil
hectares de lavoura de café, situados em 36 mil propriedades cafeeira, 35% do total de
propriedades que produzem café no estado.
Desde 1830, quando se acentuou a ocupação humana e econômica das Matas de Minas, a
cafeicultura é a mais tradicional e a mais importante atividade econômica desenvolvida na
Região. Atualmente, a produção de café representa cerca de 90% do valor total da produção
agrícola regional e quase 20% do Produto Interno Bruto total, ou seja, de toda riqueza que é
produzida nessa região. Portanto, um fundamental gerador de emprego, de renda e de bem
estar para toda a sociedade local, estimada em 1 milhão de pessoas.

Em 2010, o Sebrae – MG, a Secretaria de Agricultura e a FAEMG, cientes da importância


fundamental da atividade cafeeira nas Matas de Minas, entenderam oportuno mobilizar os
cafeicultores e as instituições regionais na busca de encontrar soluções que promovessem
os necessários avanços da cadeia produtiva regional do café. Duas variáveis
fundamentavam esta preocupação. Olhando-se para dentro da região, verificava-se que, por
suas características de relevo acidentado e pela predominância de pequenos produtores,
essa atividade regional apresentava vulnerabilidades de produção e de mercado. Um olhar
para o ambiente externo, mostrava a necessidade do enfrentamento de mercados cada vez
mais globalizados e exigentes. Em conjunto, essas duas características, indicavam a
crescente importância de preparar os pequenos empresários cafeeiros das Matas de Minas
para, de maneira organizada, participarem dessa nova realidade comercial e de produção,

185
para se apropriarem da devida parcela de benefícios que são conquistados nessa nova
relação comercial.
Ao buscarem apoio da comunidade cafeeira regional, a resposta foi imediata. Logo os
cafeicultores e as instituições públicas e privadas se mobilizaram e participaram com
dedicação na busca de soluções inovadoras para o setor. Os trabalhos tiveram início com a
implantação da metodologia participativa do “Foco Competitivo”. Com a colaboração de
inúmeros cafeicultores e representantes institucionais, após diversos encontros e debates
bem orientados, foram definidas e planejadas quatro linhas de ação, pilares que deveriam
orientar todo o trabalho: Qualidade do café, Identidade da Região, Governança e Mercado.

As ações que buscavam identificar a qualidade dos cafés produzidos na Região das Matas
de Minas tiverem início em 2011. Após a realização de levantamento da qualidade dos cafés
comercializados no mercado atacadista da região, foram iniciadas atividades para apoiar e
incentivar a melhoria da qualidade na forma de cursos e palestras com foco nas adequadas
tecnologias de pós-colheita e na classificação física e análise sensorial do café em diversos
municípios. Valorizando também os aspectos vinculados à produtividade da lavoura, foram
ministrados cursos sobre adubação, controle de pragas e doenças e manejo da lavoura
cafeeira aos técnicos que prestam assistência técnica à lavoura de café e aos cafeicultores,
com o apoio da UFV, Epamig e Emater. Essas ações continuam sendo executadas até a
presente data, com a proposta de proporcionar aos cafeicultores das Matas de Minas, um
ponto de partida com base na adoção de inovações produtivas, gerenciais e
organizacionais, compatíveis com as condições geográficas e naturais características dessa
região e com as exigências contemporâneas de mercado.

As ações visando criar uma governança regional para a cadeia produtiva do café tiveram
início em 2012, com reuniões mensais das lideranças da cafeicultura e de representante das
principais instituições privadas a ela vinculadas. Como resultado dessa busca para
identificar o melhor modelo de governança regional, em junho de 2013 foi criado
o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas, que a partir de então tem
liderado os trabalhos e criado novos horizontes para a cafeicultura regional.

As ações voltadas para o pilar de mercado, foram também iniciadas em 2012, quando
técnicos do Sebrae – MG, de outras instituições e representantes dos cafeicultores
participaram de feiras internacionais e de visita a diversos compradores do mercado
mundial, com o intuito de verificar as exigências e as principais tendências que impactam o
comércio do café no presente e no futuro. Dando sequência aos trabalhos com foco na
ampliação das alternativas mercadológicas para a cafeicultura da região, em 2013 e 2014
foram realizadas “Rodadas de Negócio” durante o tradicional Simpósio de Cafeicultura de
Montanha, realizado em Manhuaçu.

Dentre as ações que buscam melhorar a identidade dos cafés produzidos, destaca-se o
mapeamento da qualidade do café das Matas de Minas, realizado em 2013, oportunidade
em que foi identificada a qualidade sensorial do café produzido em diversas alternativas dos
microclimas prevalecentes. Os resultados deste estudo mostraram que o relevo irregular das
Montanhas das Matas de Minas proporciona microclimas especiais, onde os cafeicultores,
usando tecnologias predominantemente manuais, são artesãos aliados da natureza
favorável na produção de cafés de alta qualidade e identidade distinta, com a predominância
de cafés com doçura acentuada, acidez equilibrada, encorpado, aroma floral e diversidade
de sabores cítricos e achocolatados. Outra importante atividade iniciada em final de 2013 foi
a construção da marca “Região das Matas de Minas”. Nessa, o Conselho das Entidades do
Café das Matas de Minas liderou o esforço para identificar, de forma participativa, uma
marca para representar a cafeicultura regional, expressando toda sua pujança e as
qualidades intrínsecas de um produto aprimorado pela tradição centenária de convivência

186
harmônica do homem com a natureza, proporcionando a produção de cafés de altíssima
qualidade e diversidade de aromas e sabores inigualáveis. O resultado desse esforço
coletivo é apresentado a seguir.

Este é, sem dúvida, um momento importante na caminhada por uma cafeicultura de


sucesso. Contudo, os desafios não se encerram aqui. Novas conquistas serão necessárias.
O Conselho, com o apoio do Sebrae e de diversas instituições públicas, está iniciando os
trabalhos para reconhecimento da Indicação Geográfica – IG para as Matas de Minas,
valorizando o cultivo do café arábica na região, para que ele continue a proporcionar
emprego, renda e bem-estar para milhares de famílias que tradicionalmente se dedicam a
ele de forma direta ou indireta.

Fonte: http://revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=57761&matas-de-minas--
uma-regiao-produtora-de-cafe-em-movimento.html

187
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tráfico africanos neste Império.

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mulher escrava que nascerem desde a data desta lei.

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servil.

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BRASIL. Decreto Legislativo 4.548, de 19 de junho de 1922. Autoriza o governo a


promover o incremento da produção nacional, agrícola e pastoril, e das indústrias anexas,
por meio de medidas de emergência e criação de institutos permanentes.

BRASIL. Decreto 4.868, de 7 de dezembro de 1924. Regula o consumo de café nos


mercados internos do país.

BRASIL. Superintendência da Moeda e do Crédito. Instrução 205, de 12 de maio de 1961.


Permite que as cambiais provenientes de exportação do Café sejam negociadas com o
Banco do Brasil à taxa de mercado livre. As negociações ficam subordinadas ao
recolhimento de quota de contribuição por saca de café, destinada ao Fundo de Defesa do
Café.

BRASIL. Decreto nº 79, de 28 de outubro de 1961. Cria o Grupo Executivo de


Racionalização da Cafeicultura.

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