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CARDOSO, Ciro Flamarion Santana; PEREZ BRIGNOLI, Hector.

Os métodos da história:
introdução aos problemas, métodos e técnicas da história demográfica, econômica e social. 6.
ed. Rio de Janeiro: Graal, 2002. (Cap. VI. Conceitos métodos e técnicas da História
Econômica, pp. 260-279) (Cap. VII. A História Social, pp. 348-353-357; Movimentos
Sociais, pp. 383-394)

1. Breve contexto sobre a obra e os autores

O livro “Os métodos da história: introdução aos problemas, métodos e técnicas da


história demográfica, econômica e social” tem sua primeira edição no ano de 1979 pela
editora Graal. Esta obra foi lançada em um período virada epistemológica, em que críticas
eram postas à história econômica e política, se continuavam as discussões iniciadas pela
revista dos Annales criticando a história somente pautada nas conjunturas. Sendo assim, a
obra escrita pelo professor e pesquisador Ciro Flamarion Santana Cardoso em parceria com
Hector Brignoli Perez, um estudioso argentino. Que em seus currículos tem como áreas de
pesquisa a história econômica e suas muitas vertentes, além disso, estes pesquisadores
colocam o foco geográfico de seus estudos na América Latina. Apresentam assim, este novo
olhar sobre a história econômica e suas ramificações que permeiam o político, social, trazendo
muitas possibilidades e pesquisas para a América Latina.
2. Ideia principal do texto

Os capítulos VI e VII complementam-se acerca da explanação acerca da história


econômica e a importância da mesma para a constituição da história social. O primeiro
capítulo lido apresenta uma breve elucidação dos principais conceitos utilizados na história
econômica, além de expor as teorias e os principais estudos por trás destes conceitos. Já o
segundo capítulo solicitado, além de brevemente elucidar acerca dos conceitos de história
social para uma compreensão de sua necessidade como método, aborda também, a articulação
da história econômica com a história social, expondo a necessidade de uma vinculação entre
ambos os métodos, para buscar assim, análises mais completas e amplas.

3. Alguns conceitos que são importantes para a estruturação da ideia

p.261. Entendemos como conjuntura, antes de tudo, movimento: elevações e quedas da


produção, flutuações no volume dos intercâmbios, oscilações de preços. [...] Em outro
sentido, a palavra também é empregada para designar o ramo da economia que se dedica ao
estudo e à previsão das flutuações chamadas, justamente, de conjunturais ou cíclicas. [...]
Voltando ao primeiro vocábulo, digamos de passagem que não se limita à esfera econômica.
p.261. [...] um fato importante: a conjuntura, o movimento da vida econômica, caracteriza-se
pela repetição, pela recorrência. [...] Isto faz com que, habitualmente sejam consideradas as
flutuações econômicas como cíclicas, falando-se corretamente em ciclos econômicos. Assim,
“a conjuntura, como fenômeno repetido é, pois, um movimento estrutural”.

p. 262. Não se deve identificar estrutura com estática. Em história, como em todas as ciências
humanas, a mudança, o movimento, são essenciais e partes inseparáveis da das estruturas. A
permanência, a estabilidade relativa da estrutura é simplesmente uma questão atinente à
rapidez ou velocidade da mudança.

p.262. As “relações majoritárias” de que falamos apresentam-se com um certo tipo de


equilíbrio ou desequilíbrio entre os grandes setores da vida econômica e, especialmente, entre
a agricultura e a indústria.

p.263. Com o capitalismo industrial, a estrutura econômica modificou-se sensivelmente: a


produção industrial tronou-se dominante e a indústria de bens de capital predominou sobre a
de bens de consumo. A agricultura perdeu, relativamente, em importância.

p. 265. [ARRANCADA] o estudo das relações e das influências recíprocas de uma porção de
fatores, datando e quantificando com a máxima precisão as mudanças ocorridas. [...]
necessidade de estudar a arrancada em cada caso particular, com a ideia de “reagrupar” os
diferentes fatores: nada de revelou mais perigoso e infrutífero do que a confiança em um
único fator, ou num grupo de fatores interpretados de modo mecanicista que os isole do
contexto social.

p. 266. [Totalidade e setores] macroeconomia o estudo das variáveis econômicas globais,


relativas a determinado conjunto (grupos de países, país, região, etc.) [...] microeconomia o
estudo econômico das unidades de produção, das empresas agrícolas, de mineração,
comerciais, industriais, bancárias, etc. As variações macroeconômicas afetam, naturalmente,
as empresa, mas há uma certa especificidade dos campos de estudo, o que e devido: 1º) a tipos
de fontes [...] 2º) a problemáticas e variáveis distintas: portanto, a justaposição de
monografias microeconômicas não basta para determinar a natureza e a importância dos
problemas macroeconômicos, embora seja útil, se dúvida, para controlar as afirmativas
globais através de estudos monográficos regionais, de empresas, etc.
p.266. A história serial “setorial”, aplicada a espaços diferentes e de dimensões
dissemelhantes, conduz à descobertas e à análise dos desequilíbrios entre nações, regiões,
setores da economia, etc. A serial “global”, embora realizada no âmago de uma zona limitada,
conduz à análise dos desequilíbrios temporais entre os diferentes ritmos de evolução dos
distintos níveis da atividade humana.

p. 267. Outra distinção setorial muito comum é a oposição entre economia rural e economia
urbana. As estruturas econômicas urbanas e rurais; o peso, a natureza e a proporção relativa da
população e das atividades econômicas do campo e da cidade; as relações econômicas entre
os dois setores: tudo isso é variável, conforme os distintos sistemas econômicos.

p.269. [Flutuações econômicas] 1º) Movimentos breves (ou de curta duração): -


movimentos cotidianos, como o consumos de eletricidade e de água, por exemplo; -
movimentos semanais; - movimentos estacionais: inferiores a um ano e não têm,
necessariamente, uma cauda climática, reproduzindo-se regularmente ano após ano; -
movimento inter-anual ou ciclo de Kitnchin: trata-se de movimentos que afetam vários anos,
tendo a duração menos do que a do ciclo decenal ou Juglar; - Movimento intradecenal ou
ciclo de Juglar (ou simplesmente ciclo econômico): Estes ciclos constituem os movimentos
mais típicos das flutuações econômicas. [...] A duração deste ciclo oscila entre 7 e 10 anos e,
em geral, seus defeitos transcendem em consequências sociais [...]. Se auge ou na sua
depressão são perceptíveis para o público [...].

p.272. Movimentos Inogos (ou de longa duração) – Movimento interdecenal ou ciclo de


Kondratieff: [...] Trata-se de movimentos de longa duração, que geralmente oscilam entre 50
e 60 anos, consideradas as duas fases. [...] às vezes os historiadores chamam de ciclo de
Kondratiff só uma das fases, seja a de ascensão seja a de baixa, o que é inexato. – A tendência
secular: este movimento demonstraria a tendência geral de mais ou menos um século para a
alta ou a baixa; - O interciclo: trata-se de uma flutuação intermediária entre o ciclo de Juglar e
o movimento de Konratieff, que abrange um ciclo intradecenal completo e uma parte de outro
ciclo. Dura de 10 a 20 anos e orienta-se para a elevação ou a baixa. O interciclo não se repete
com a periodicidade dos outros movimentos estudados até agora.

p.275. A busca de uma explicação para as flutuações econômicas vincula-se ao próprio


nascimento da economia política como ciência.

p.276. No pensamento de Juglar, as variações do tipo de juros, a política dos bancos centrais e
as modificações dos estoques de metais eram as origens das flutuações econômicas. Alguns
autores, como Akerman, qualificam a explicação monetarista de endógena por vincular as
causas do ciclo econômico a fatores puramente econômicos – neste caso, monetários.

p.276. A elaboração de um modelo teórico que explicasse a produção, a distribuição, o


intercâmbio e o consumo de bens e serviços na sociedade capitalista conduziu, assim, a forjar
antes de mais nada, os instrumentos conceituais da análise econômica.

p. 277. A partir da segunda metade do século XIX, o estudo concreto da conjuntura fez com
que fossem conhecidos, com bastante evidências empírica, os ciclos de economia capitalista.
p.278. – Explicações dedutivas: Derivam de alguma teoria e carecem, quase sempre, de
comprovação empírica. Consideramos o seguinte exemplo, versão bem simplificada do que os
economistas denominam de ciclo de estoques.

p.279. Explicações empíricas: São, por exemplo, as derivadas de uma análise estatística e/ou
qualitativa dos ciclos da economia capitalista. Neste caso, a construção da explicação dá-se de
modo indutivo, generalizando a partir da observação de casos concretos.

p. 349. Esta disposição de não considerar a história social como uma especialização com o
mesmo status da história econômica, demográfica, etc., certamente está presente em muitas
obras importantes da historiografia francesa dos últimos quarenta anos.

p.350. Se a história social, por sua própria natureza e pela evolução da metodologia manifesta
vocação de síntese, será indispensável colocar os requisitos metodológicos necessários para
levar a bom termo tal vocação. Não nos podemos conformar, já, apenas com o fato do
vocábulo “social” ser conveniente porque é o bastante amplo para convocar a discussão
interdisciplinária – admitindo afinal, que toda a história é social.

p.353. “A história social não é somente um estado de espírito, quer também ser uma disciplina
especial dentro do conjunto das ciências históricas. Neste sentido mais preciso, está vinculada
ao estudo da sociedade e dos grupos que a constituem, em suas estruturas e pelo ângulo da
conjuntura; nos ciclos e na longa duração”.

p.354. Nenhum historiador poderia, hoje, negar que a estratificação social, a constituição dos
grupos humanos, a estruturação das relações sociais entre grupos e indivíduos possam ser
estudadas, ou mesmo compreendidas, sem que se considerem as bases materiais da produção
e distribuição do excedente econômico.

p.385. A distinção bem geral, proposta por George Rudé, há quase 10 anos, entre multidão
industrial e multidão pré-industrial parece manter ainda sua validez. Este autor considera que
na sociedade industrial os distúrbios, nas sublevações populares, têm natureza diferente da
apresentada nas sociedades pré-industriais. A multidão industrial tende a ser composta por
operários industriais e assalariados urbanos, suas formas de luta passam pela greve e a
organização sindical e política. Seus objetivos são, em geral, claramente definidos.

p.386. O que permite que se fale em movimentos sociais pré-industriais é a presença, em


todos eles, de uma série de caracteres comuns, o mais importante sendo o serem movimento
pré-políticos, isto é, insurrecionais que, mesmo chegando a graus inusitados de violência, são
incapazes de articular um projeto político como alternativa às formas vigentes de dominação
social.

4. Comentários do leitor sobre o texto (relacionando com o objeto de estudo da sua


dissertação)

A concisa obra de Cardoso e Perez demonstra uma lucidez ao tratar da história


econômica e, sua articulação com os outros ramos da história. Em um período que a história
econômica foi criticada pela sua não imersão fora dos campos conjuntural, como o social,
político, etc., os capítulos escritos pelos pesquisadores trazem fôlego e sapiência à temática.
Demonstram que a história econômica vai além da conjuntura econômica, apresentam que as
outras áreas estão conectas e elucidam como analisar o econômico pode trazer resultados
significativos sobre a estruturação de uma sociedade. Em minha pesquisa, à luz da história
social, que baseia-se na interdisciplinaridade e relação com as outras áreas da história, o
econômico tem uma importância significativa. Reitero que não é possível analisar o social
sem olhar para a conjuntura econômica e suas consequências em determinada sociedade.
Analisar a constituição de uma identidade social negra, em uma economia de subsistência,
que determina as relações constituídas em seu seio, no fim do processo de escravidão negra e
inicio da república demonstram os efeitos econômicos, políticos para a sociedade. Isto é, para
analisar uma sociedade não pode-se deixar de compreender o contexto econômico e político
que a mesma está inserida, considerando que todos estes aspectos são formadores da
sociedade e seus estamentos.
A gênese do capitalismo

MARX, Karl. A assim chamada acumulação primitiva. In: O Capital. Vol. 1, Tomo 2, Cap.
XXIV. São Paulo: Abril Cultural, 1996, pp. 339-381.

1. Breve contexto sobre a obra e os autores

O Capital, conjunto de livros datados de 1867, de autoria de Karl Marx estudioso


percursor nos conceito envoltos ao capitalismo e na análise deste processo econômico. Estas
obras demonstram a eloquência do pensamento de Marx, além demonstrarem a gênese do
capitalismo, seus primeiros passos ainda na Idade Média até sua constituição moderna na
Europa, aos principais conceitos que o capitalismo como modelo econômico trás consigo. O
Capital é considerado a obra máxima de Marx, unindo os conceitos, pensamentos e estudos
realizados ao longo dos anos, seu primeiro volume foi lançado em 1867, em que discute a
formação histórica do capital e foi o único finalizado por Marx. Os outros três volumes datam
de 1885, 1894 e 1905, sendo todos introduzidos durante o período de Revolução Industrial e
ascensão do Capitalismo de mercado.
2. Ideia principal do texto
A idealização central do capítulo XXVI, nomeado “a assim chamada acumulação
primitiva” perpassa pela construção histórica da acumulação primitiva. Ou seja, Marx discute
desde a desapropriação de terras, da legislação desde o final da Idade Média, passando pela
institucionalização dos salários aos proletários, até chegar à ideia da acumulação primitiva até
chegar ao capitalismo por assim dizer. O autor discute a gênese do capitalismo, surgindo
assim o conceito de acumulação primitiva, cunhado por Adam Smith. Para Marx, o
capitalismo não surge da maneira que conhecemos, na Revolução Industrial Inglesa, mas sim
desta acumulação primitiva que inicia-se no final da Idade Média, inclusive, Marx utiliza-se
de alguns conceitos feudais para a explicitação da acumulação primitiva. Ademais, o autor
perpassa fatos históricos que vão constituindo o capitalismo, em pequenos passos.
3. Conceitos que são importantes para a estruturação da ideia
p.339. A acumulação do capital, porém, pressupõe a mais-valia a produção capitalista, e esta,
por sua vez, a existência de massas relativamente grandes de capital e de força de trabalho nas
mãos de produtores de mercadorias. Todo esse movimento parece, portanto, girar num círculo
vicioso, do qual podemos sair supondo uma acumulação primitiva.
p.340. A assim chamada acumulação primitiva é, portanto, nada mais que o processo histórico
de separação entre produtor e meio de produção. Ele aparece como “primitivo” porque
constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde.
p.341. O ponto de partida do desenvolvimento que produziu tanto o trabalhador assalariado
quanto o capitalista foi a servidão do trabalhador. A continuação numa mudança de forma
dessa sujeição, na transformação da exploração feudal em capitalista.
p.342. A expropriação da base fundiária do produtor rural, do camponês, forma a base de todo
o processo.
p.355. O roubo dos bens da Igreja, a fraudulenta alienação dos domínios do Estado, o furto da
propriedade comunal, a transformação usurpadora e executada com terrorismo inescrupuloso
da propriedade feudal e clânica em propriedade privada moderna, foram outro tantos métodos
idílicos da acumulação primitiva. Eles conquistaram o campo para a agricultura capitalista,
incorporaram a base fundiária ao capital e criaram para a indústria urbana a oferta necessária
de um proletariado livre como os pássaros.
p.356. Os ancestrais da atual classe trabalhadora foram imediatamente punidos pela
transformação que lhes foi imposta, em vagabundos e paupers. A legislação os tratava como
criminosos “voluntários” e supunha que dependia de sua boa vontade seguir trabalhando nas
antigas condições, que já não existiam.
p.358. Na evolução da produção capitalista, desenvolve-se uma classe de trabalhadores que,
por educação, tradição, costumes, reconhece as exigências daquele modo de produção como
leis naturais evidentes. A organização do processo capitalista de produção plenamente
constituição quebra toda a resistência, a constante produção de uma superpopulação mantém a
lei da oferta e da procura de trabalho e, portanto, o salário em trilhos adequados às
necessidades de valorização do capital, e a muda coação das condições econômicas sela o
domínio do capitalista sobre o trabalhador.
p.359. A burguesia nascente precisa e emprega a força do Estado para “regular” o salário, isto
é, para comprimi-lo dentro dos limites convenientes à extração de mais-valia, para prolongar a
jornada de trabalho e mantes o próprio trabalhador num grau normal de dependência.
p.363. Os próprios servos, ao lado dos quais houve também pequenos proprietários livres,
encontravam-se em relações de propriedade bastante diferentes e foram, por isso,
emancipados também sob condições econômicas muito diferentes.
p.365. O camponês despojado tem de adquirir o valor deles de seu novo senhor, o capitalista
industrial, sob a forma de salário. Assim como os meios de subsistência, foram afetadas
também as matérias primas agrícolas nacionais das indústrias. Transformaram-se em
elementos do capital constante.
p.370. Todos, porém, utilizaram o poder do Estado, a violência concentrada e organizada da
sociedade para ativar artificialmente o processo de transformação do modo feudal de
produção em capitalista e para abreviar a transição.
p.375. O regime fiscal moderno, cujo eixo é constituído pelos impostos sobre os meios de
subsistência mais necessários (portanto, encarecendo-os) traz em si mesmo o germe da
progressão automática. A supertributação não é um incidente, porém muito mais um
princípio.
p.379. A propriedade privada do trabalhador sobre seus meios de produção é a base da
pequena empresa, a pequena empresa uma condição necessária para o desenvolvimento da
produção social e da livre individualidade do próprio trabalhador.
p.381. Com diminuição constante do número dos magnatas do capital, os quais suportam e
monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação, aumenta a extensão da
miséria, da opressão, da servidão, da degeneração, da exploração, mas também a revolta da
classe trabalhadora, sempre numerosa, educada, unida e organizada pelo próprio mecanismo
do processo de produção capitalista.

4. Comentários do leitor sobre o texto (relacionando com o objeto de estudo da sua


dissertação)

Os escritos de Karl Marx alteraram a visão que o mundo tinha sobre si. O curso da
história e o estudo da história não foram o mesmo após os estudos deste pesquisador, que
analisou a construção do capitalismo e suas consequências para a sociedade, contrapondo com
teorias que contribuíram para mudança do olhar à economia. Pensar em escrever uma
dissertação e não refletir acerca da influência que Marx imprimiu para o estudo da economia
mundial é difícil. Em minha pesquisa, me utilizo dos estudos realizados por E.P. Thompson
que notadamente se apropriou dos estudos de Marx para construir sua teoria, de cunho social.
Ademais, pensar a influência do capitalismo e a transformação social por ele ocasionada é de
suma importância para a minha pesquisa, a transformação da mão-de-obra escravizada para a
mão-de-obra assalariada, no Brasil, teve impactos. Em si, a própria abolição da escravidão é
um pensamento capitalista que pensava novas formas de exploração em massa. Assim sendo,
mesmo não usando o autor propriamente dito, a historiografia está impregnada por seus
estudos, que ainda são de extrema relevância e precisam ser revisitados.

Ocupação territorial
THOMPSON, E. P. A economia moral da multidão inglesa no século XVIII. In: Costumes em
comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998,
pp. 150-202.

Edward Palmer Thompson foi um historiador inglês, lecionou em diversas


universidades na Inglaterra e nos Estados Unidos da América. Foi um dos fundadores do
Partido Comunista inglês, contudo se desvinculou do partido ainda na década de 1950 por
divergências teóricas. Essa compreensão acerca da classe trabalhadora foi de suma
importância para os escritos do autor. Suas obras mais famosas são: “A formação da classe
operária inglesa” lançado em 1963 e “Costumes em Comum” com sua primeira edição em
1980. Em suas obras, Thompson discute acerca da consciência de classe, da experiência
histórica e da cultura como estruturas que formarão um sujeito de maneira ampla, ou seja, nos
âmbitos político, econômico e social. Foi um dos percursores da História Social, trazendo o
aspecto interdisciplinar para a historiografia, abordando a importância dos costumes, da
cultura, para a política e economia.
2. Ideia principal do texto
Na obra em questão, E.P. Thompson discute acerca de temas envoltos a cultura e
aspectos como trabalho, motins, lei, cultura popular, dentre outros. O autor apresenta uma
obra inovadora, para aquele momento da historiografia, com um estudo conhecido “história
vista de baixo”. A interdisciplinaridade é parte constante dos estudos de Thompson,
principalmente com antropologia, economia e o direito. No capítulo nomeado “Economia
Moral da Multidão Inglesa no século XVIII”, o autor discute a artimanhas utilizadas pelas
camadas mais pobres da sociedade inglesa contra o preço da farinha, e consequentemente do
pão, os chamados motins da fome. O autor demonstra neste capítulo, que o costume
tradicional se sobrepõe em relação à lei redigida pelos nobres, ou seja, a economia moral dos
pobres que traziam obrigações de zelo para a comunidade, pautada na tradição/costume.

3. Conceitos que são importantes para a estruturação da ideia


p.151. Durante décadas, a história social sistemática tem se mantida na retaguarda da história
econômica, e isso continua até os dias de hoje toda vez que se admite que uma qualificação na
segunda disciplina automaticamente confere proficiência na primeira.
p.151. Um número muito grande de nossos historiadores do crescimento incorre num
reducionismo econômico crasso, obliterando as complexidades da motivação, comportamento
e função, fato que, se percebessem no trabalho análogo de marxista, provocaria seu protesto.
p.152. É possível detectar em quase toda ação popular do século XVIII uma noção
legitimadora. Por noção legitimadora, entendo que os homens e mulheres da multidão
estavam imbuídos da crença de que estavam defendendo direitos ou costumes tradicionais, e
de que, em geral, tinham o apoio do consenso mais amplo da comunidade.
p.152. O motim da fome na Inglaterra XVIII era uma forma altamente complexa de ação
popular direta, disciplina e com objetivos claros. [...] É certamente verdade que os motins
eram provocados pelo aumento dos preços, por maus procedimentos dos comerciantes ou pela
fome. [...] Isso, por sua vez, tinha como fundamento uma visão consistente tradicional das
normas e obrigações sociais, das funções econômicas peculiares a vários grupos da
comunidade, as quais consideradas em conjunto, podemos dizer que constituem a econômica
moral dos pobres. O desrespeito a esses pressupostos orais, tanto quanto a privação real, era o
motivo habitual para a ação direta.
p.153. Assim como falamos do nexo monetário que emergiu com a Revolução Industrial, em
certo sentido podemos falar do nexo do pão no século XVIII. O conflito entre o campo e a
cidade era mediado pelo preço do pão. O conflito entre o tradicionalismo e a nova economia
política girava em torno das Leis dos Cereais.
p.155. O modelo paternalista existia no corpo desgastado da lei estatutária, bem como no
direito consuetudinário e no costume.
p.157. Se examinamos o caso da venda por amostragem, observamos o quanto é perigoso
admitir prematuramente a dissolução das restrições impostas pelo costume.
p.159. [...] a diversidade das práticas locais e o modo como o ressentimento popular podia
explodir quando mudava as antigas práticas do mercado. A mesma densidade, a mesma
diversidade, existe por toda a área comercial, definida dificultosamente.
p.160. Assim, o modelo paternalista tinha uma existência ideal e, igualmente, uma existência
real fragmentária. Nos anos de boas colheitas e preços moderados, as autoridade caíam no
esquecimento. Mas se os preços subiam e os pobres se tornavam turbulentos, o modelo era
ressuscitado, elo para produzir o efeito simbólico.
p.161. A nova economia trazia consigo uma desmoralização da teoria do comércio e do
consumo, algo não menos importante do que a dissolução, mais ampla discutida, das
restrições à usura. [...] Na nova teoria econômica, as questões sobre a organização política
moral do mercado não têm vez a não ser como preâmbulo e epílogo.
p.162. Não deveria ser necessário argumentar que o modelo de uma economia natural e auto
reguladora, funcionando providencialmente para o bem de todos, é tão supersticioso quanto as
noções que sustentavam o modelo paternalista – embora, curiosamente, seja uma superstição
que alguns historiadores econômicos têm sido os últimos a abandonar.
p.167. Na verdade, pode-se sugerir que, se as multidões sediciosas ou fixadoras de preços
agiam segundo um modelo teórico consistente, esse era uma reconstrução seletiva do
paternalismo, extraindo dele todas as características que mais favoreciam os pobres e que
ofereciam uma possibilidade de cereais mais baratos. [...] Tal particularidade era, entretanto,
inspirada por noções gerais de direitos que só se revelam bem claramente quando se examina
a multidão em ação. Pois num aspecto a economia moral da multidão rompia decisivamente
com a dos paternalistas. A ética popular sancionava a ação direta coletiva, o que era
categoricamente reprovado pelos valores da ordem que sustentavam o modelo paternalista.
p.167. A economia dos pobres ainda era local e regional, derivada de uma economia de
subsistência.
p.176. Mas essa altura é evidente que estamos lidando com um padrão muito mais complexo
de ação do que aquele que se pode explicar satisfatoriamente pelo enfretamento entre o
populacho e determinados moleiros, negociantes ou padeiros. É necessário adquirir uma visão
mais ampla das ações da multidão.
P.177. O poder de fixar o preço dos grãos e da farinha ficava, numa emergência, a meio
caminho entre a imposição e a persuasão.
p.180. O extraordinário é mais a moderação que a desordem; e não há dúvidas de que as ações
eram aprovadas por um esmagador consenso popular. Havia uma convicção profundamente
arraigada de que os preços deviam ser regulados em tempos de escassez, e de que o
aproveitador se excluía da sociedade.
p.182. Na verdade, se quisermos questionar a visão espasmódica e unilinear dos motins da
fome, basta apontar esse motivo contínuo da intimidação popular, quando homens e mulheres,
quase a ponto de morrer de fome, ainda assim não atacavam os moinhos e os celeiros para
roubar alimentos, mas para punir os proprietários.
p.183. Se os boatos frequentemente ultrapassavam todos os limites, sempre tinham raízes em
pelo menos algum fundamento precário de realidade. Os pobres sabiam que a única maneira
de forçar os ricos a ceder era torcendo-lhes o braço.
p.184. Essas mulheres parecem pertencer à pré-história de seu sexo antes da Queda, não tendo
consciência de que ainda deviam esperar uns duzentos anos pela sua libertação. [...] Eram
naturalmente as mais envolvidas com as negociações face a face no mercado, as mais
sensíveis ao significado dos preços, as mais experientes em detectar peso insuficiente ou
qualidade inferior.
p.185. Em distúrbios de maior escala, depois de formado o núcleo da multidão, o restante era
frequentemente insuflado pelas trompas ou pelos tambores.
p.187. As autoridades em áreas propensas a agitações eram frequentemente ponderadas e
competentes ao lidar com os distúrbios. Isso faz com que às vezes se esqueça que o motim era
uma calamidade, resultado com frequência numa profunda perturbação das relações sociais na
comunidade, cujas consequências podiam se arrastar por anos.
p.192. É no interior desse contexto que a função dos motins pode ser esclarecida. No curto
prazo, os motins talvez fossem contraproducentes, embora isso ainda não esteja provado.
Porém, uma vez mais, os distúrbios eram uma calamidade social, que devia ser evitada
mesmo a custo alto. O custo podia ser o de entrar um meio-termo entre o preço “econômico”
elevado no mercado e o preço “moral” tradicional determinado pela multidão. Esse meio-
termo podia ser alcançado pela intervenção dos paternalistas, pelos prudentes limites que
fazendeiros e negociantes se auto-impunham, ou pela compra do apoio de parte da multidão
em troca de subsídios e caridades.
p.201. [...] o mercado continuava a ser uma conexão tanto econômica como social. Era o lugar
onde ocorriam centenas de transações: as notícias eram dadas, os rumores e os boatos corriam
por toda parte, discutia-se política (se é que se discutia) nas estalagens ou vendas de vinho ao
redor da praça do mercado. O mercado era o lugar onde as pessoas, por serem numerosas,
sentiam por um momento que tinham força.

4. Comentários do leitor sobre o texto (relacionando com o objeto de estudo da sua


dissertação)

Em costumes em comum, E.P. Thompson desenvolve suas ideias relacionadas aos


costumes e a cultura e, sua diversificação. Analisa a consciência e os usos costumeiros, a
criação de “costumes” como construções recentes e a representações de lutas populares e a
busca por direitos. Os historiadores defendem que houve no século XVIII uma pressão
oriunda dos estratos superiores da sociedade (patrícios) para que houvesse uma “reforma” dos
costumes, isso instituído pelo avanço do esclarecimento (aprendizado da leitura e escrita). O
autor verifica uma alienação entre a cultura patrícia e da plebe, sendo que as manifestações
dos costumes dos dois estratos da sociedade inglesa do período com uma diferença
perceptível.
Os estudos deste estudioso vão de encontro com minha dissertação, visto que, me
utilizo da história social da escravidão e do pós-abolição que apropriou-se dos estudos de
Thompson para o estabelecimento de padrões para as pesquisas relacionadas com a temáticas.
Outros estudos de Thompson são importantes para compreensão de uma sociedade, vista de
baixo para cima, como, por exemplo, “Senhores e Caçadores: a origem da Lei Negra”. Estas
obras se postas no contexto brasileiro podem ser de extrema utilidade. Sendo assim, a História
Social escrita por Thompson é imprescindível para qualquer historiador que busca uma
análise completa de uma temática.

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