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Resumo
Depósitos e, como conseqüência, a corrosão sob depósito causada por sais de amônio, especialmente cloreto de amônio,
tem sérios impactos na confiabilidade operacional de várias unidades de processo numa refinaria. Em unidades de
hidrotratamento os depósitos de sais nos tubos de trocadores de calor provocam um decréscimo na eficiência de troca
térmica, diminuem a eficiência do hidrotratamento, aumentam a perda de carga no sistema e a corrosão na unidade.
Este trabalho discute os parâmetros determinantes da formação depósitos de sais de amônio, métodos para prevenir e/ou
mitigar os depósitos e apresenta um caso prático demonstrando os efeitos da formação de sais de cloreto de amônio na
operação de uma refinaria. Após a apresentação do processo de hidrotratamento de diesel, serão apresentados as ações
operacionais para mitigar a formação de sais de amônio, efeitos no processamento, impactos no projeto metalúrgico da
unidade e ocorrências de corrosão. Será demonstrado que um trabalho de análise multidisciplinar é fundamental para
solução de problemas de confiabilidade operacional e de equipamentos numa refinaria de petróleo. Será apresentada
uma revisão bibliográfica sobre a formação de sais em unidades de hidrotratamento e sistemas de injeção de água de
lavagem que auxiliaram no entendimento do problema.
Abstract
Fouling and consequent underdeposit corrosion caused by ammonium salts, especially ammonium chloride, have
serious impact on the reliability of operation of various process units. In hydrotreating units salt deposition on heat
exchanger tubes causes a decrease in heat transfer efficiency, decrease hydrotreating efficiency, increased pressure
drops, and corrosion. This paper will discuss the causes of ammonium chloride fouling,methods to help prevent and/or
mitigate the fouling, and provide a case history demonstrating the effects of ammonium chloride formations in one
refinery operation.
1. Introdução
A medição de cloretos tem sido historicamente um importante parâmetro nos processos de uma refinaria. A
presença de cloreto orgânico e inorgânico pode ser observado em todos os processos existentes em uma refinaria, desde
o óleo cru passando pelos produtos intermediários até os produtos finais.
Em diversas aplicações na indústria de petróleo a presença de cloretos é indesejada pois são conhecidos seus
efeitos como veneno de catalisador de diversos processos numa refinaria.
Catalisadores a base de níquel, cobre e paládio são muito suscetíveis a rápida desativação por íons cloreto. A
redução dos níveis de concentração de enxofre na gasolina, querosene e diesel (principalmente), tem ocupado a maior
parte da atenção e esforços das refinarias. A preocupação com o nível de contaminação de cloretos para prevenir tanto
a desativação de catalisadores quanto corrosão nos sistemas tem levado ao aumento do interesse na redução da presença
de cloretos.
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Consultor Técnico – Petrobras S.A.
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Engenheiro de Processo – Petrobras S.A.
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Consultor Técnico – Petrobras S.A.
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O teor total de cloretos, assim como enxofre, nas correntes presentes nas refinarias contribui para os problemas
de corrosão. Dados de 2000 para os EU estimam uma perda devido à corrosão em 3.7 bilhões de dólares [Manahan, et
al. 2002], sendo:
U$1.767 bilhões – despesas de manutenção
U$1.425 bilhões – despesas com paradas
U$ 500 milhões – custos com obstrução de equipamentos (fouling)
Estes custos associados com controle de corrosão nas refinarias incluem tanto o processamento de petróleo
quanto tratamento de água.
Numa refinaria de petróleo a principal fonte de cloretos é a própria carga de petróleo crú, que pode ser
proveniente de várias origens. Estes cloretos podem ser classificados de duas formas conforme sua origem [Parkash,
2003].
Cloreto inorgânico ocorre naturalmente no petróleo. Predominantemente a partir de cloreto de cálcio e
magnésio que hidrolisam formando HCl durante o processo de dessalgação. Falaremos mais detalhadamente no
próximo tópico.
Cloreto orgânico, que não ocorre naturalmente em petróleo. Entretanto, pode ocorrer contaminação com
cloreto orgânico de diversas formas, relatados em diversos casos:
As concentrações típicas de cloreto orgânico encontradas no petróleo variam muito. Seguem alguns exemplos
de literatura.
Nas análises realizadas no petróleo processado na REGAP não foi encontrado presença de cloro orgânico.
Notar que esta proporção segue, aproximadamente, a proporção na água do mar. É uma composição típica mas
o que importa é que estes sais estão sempre presentes.
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4. Dessalgação do Petróleo
Para a retirada destes sais utilizamos a dessalgação do óleo. Na dessalgação, os sais inorgânicos são extraídos
do óleo primeiramente injetando água.
A água dissolve os sais de cloreto e a solução resultante é separada do óleo cru através de um campo elétrico.
O objetivo da dessalgação é reduzir a concentração de sais de cloreto até em torno de 4 ppm.
É importante lembrar que a dessalgação não tem efeito no cloro orgânico que pode estar presente no petróleo.
Maiores detalhes sobre dessalgação podem ser encontrados nas referências.
Reações reversíveis :
6. Processo de Hidrorrefino
O processo de Hidrorrefino (HDR), também conhecido como Hidroprocessamento ou Hidrotratamento,
consiste na mistura de frações de petróleo com hidrogênio em presença de um catalisador. Em determinadas condições
operacionais, temperatura, pressão e velocidade espacial*, são produzidos os derivados dentro de especificações
[Trambouze,1993]. Este é o principal processo utilizado para obtenção dos derivados de petróleo, quer seja o querosene
de aviação (QAV-1), aguarrás, gasolina ou diesel, de forma a atender as especificações de teor de enxofre, nitrogênio e
aromáticos, estabilidade, etc.
Em todo o mundo os processos de hidroconversão têm grande importância na produção dos derivados de
petróleo "limpos", assim chamados devido aos baixos teores de enxofre. Isto também ocorre no Brasil.
Apesar de se tratar de um processo catalítico, em condições severas de operação (temperaturas e pressões
elevadas), e que consome hidrogênio, insumo de alto custo de produção, as vantagens alcançadas com essa tecnologia
de refino superam as desvantagens, permitindo melhor aproveitamento de cargas pesadas, melhoria da qualidade do
produto e proteção ambiental, por meio de remoção de poluentes como enxofre e nitrogênio. Assim, a resistência criada
ao processo de HDR, por este possuir elevados custos de investimentos e elevados custos operacionais, vem sendo
superada pelos benefícios obtidos.
As unidades de hidrogenação são classificadas, na literatura, de acordo com a sua finalidade em [Trambouze,
1991, Kabe et al., 1999]:
* velocidade espacial, LHSV (h-1), é a relação entre o volume de carga (m³/h) e volume de catalisador do leito catalítico
(m³).
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- unidades de hidrotratamento;
- unidades de hidroconversão ou hidrocraqueamento.
As unidades de hidrotratamento (HDT), quando empregadas em esquemas de refino mais complexos, têm
como finalidade melhorar as propriedades da carga, eliminando os contaminantes dos processos subseqüentes. O
produto da unidade tem essencialmente a mesma faixa de destilação da carga, embora possa existir a produção
secundária de produtos mais leves por hidrocraqueamento. As cargas típicas dessas unidades variam desde a faixa da
nafta até de gasóleo pesado de vácuo (GOP).
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A justificativa para estes teores são baseados nos impactos que a sua presença na carga dos hidrotratamentos
provoca na unidade. Por exemplo, se houver presença de cloretos há possibilidade de corrosão em sistemas críticos
devido à necessidade de adição de água de lavagem para retirada dos sais formados. A injeção desta água de lavagem,
seguindo os critérios de utilização de ao menos 25% no estado líquido, pode provocar grande impacto no balanço
térmico da unidade [Singh e Harvey, 1996-2000, Wilks, 2002].
No caso da presença de silício, ocorrerá desativação do catalisador, reduzindo o tempo de campanha e geração
de um catalisador impróprio para regeneração.
Como resultado destes fatores, para melhoria da confiabilidade operacional de HDT’s cuja a presença destes
contaminantes é esperada, devem ser empregadas metalurgias adequadas à presença de sais de cloreto em meio úmido
[Shargay 1999], projetar e utilizar sistemas de água de lavagem adequados e eficientes além de disponibilizar o leito
catalítico com leitos de guarda para reter o silício.
Os critérios e melhores práticas utilizadas para projeto e operação dos sistema de água de lavagem de sais
formados em sistemas do efluente dos reatores de hidrotratamento são fartamente encontradas na literatura e foram
empregadas para a solução dos problemas enfrentados pela unidade [Fort, 1996; Gutzeit, 1996; Gysbers, 1996; Konet,
1996; Quinter, 1996].
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Ao longo do primeiro ano de campanha da HDT U-210 foi verificado uma evolução no delta de pressão no
conjunto de trocadores de calor do efluente do reator 210-R-02. Durante uma parada programada para solução do
problema foi observada a presença de severa formação de sais de cloreto de amônia, bloqueando alguns tubos e
acumulado nos boleados.
Também na HDS U-110 foram observados indiretamente a formação de sais de cloreto de amônio através da
evolução de um diferencial de temperatura entre os dois passos do trocador de calor de pré-aquecimento da carga para o
forno. Durante a lavagem dos sais deste trocador foram encontrados grandes concentrações de sais de cloreto de
amônio (NH4Cl) na água de lavagem.
Assim, resumindo as ocorrências, temos:
1. Deposição de sal (NH4Cl) nos permutadores 210-E-04 (aumento da perda de carga) e 110-E-03 (diferenciação
de temperaturas de saída dos ramais);
2. 210-E-04: lavagens em fevereiro 2006 (80 tubos furados) e em novembro 2006 (troca da metalurgia);
3. 110-E-03: lavagens em outubro 2006 (com abertura e tamponamento) e em janeiro 2007 (05/01 e 28/01);
Em nenhum destes dois sistemas existia de projeto pontos de injeção de água de lavagem. A principal causa é
que a temperatura de formação dos sais de amônio ser muito superior ao da formação dos sais de bissulfito de amônio
(NH4SH), sal que é o foco principal dos sistemas de água de lavagem em unidades de hidrotratamento.
Assim, por não ser usual (ou mesmo esperado) a ocorrência de teores de cloreto na carga, as unidades de
hidrotratamento não possuem sistemas de injeção de água de lavagem para os sais de cloreto de amônio em locais de
formação deste sal durante a redução de temperatura do efluente do reator.
Devido a esta contaminação de cloretos, a formação de sais de cloreto de amônio ocorreu acelerando o
processo de perda de carga nos trocadores de calor das unidades.
Na Foto 1 vemos os tubos do trocador 210-E-04A completamente obstruído pelos sais de cloreto de amônio.
Em função das ocorrências descritas, foram tomadas algumas medidas para tratar a anormalidade da presença
de sais de cloreto de amônio no sistema de resfriamento do efluente do reator de hidrotratamento, dentre elas:
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Troca da metalurgia do feixe de permutador 210-E-04 para SANICRO e da linha de transferência entre os
trocadores A e B para aço inox 904A.
Projeto de novo ponto de injeção de água de lavagem entre os permutadores 210-E-04A/B com o objetivo de
lavagem esporádica dos sais formados.
Melhoria do sistema de lavagem das HDS – troca dos bicos injetores por bicos aspersores.
Além das ações anteriores, foi implementado uma sistemática de acompanhamento do delta de pressão nos
trocadores 210-E-4 que orienta o início da utilização do sistema de água de lavagem.
11. Conclusão
Um série de aspectos são importantes para se evitar a ocorrência de formação de sais de cloreto de amônio em
unidades de hidrotratamento e os conseqüentes efeitos corrosivos associados a sua presença:
1. A qualidade do petróleo deve ser adequada ao processamento posterior. Assim, a qualidade do tratamento
primário do petróleo, sistema de armazenamento, repouso e dessalgação do petróleo tem importância
fundamental no controle de cloretos na carga dos hidrotratamentos.
2. O projeto das unidades de hidrotratamento devem contemplar a possibilidade da presença de cloreto em sua
carga.
3. A metalurgia empregada nas seções onde se formam os sais de cloreto de amônio deve ser adequada para a
ocorrência de sal úmido.
4. Deve ser disponibilizado pontos de injeção de água de lavagem não somente para os pontos de formação de
bissulfito de amônio, usualmente encontrado nas HDT’s, mas também para o cloreto de amônio.
5. A injeção de água de lavagem para os sais de cloreto de amônio deve ser feita de forma esporádica,
acompanhando a evolução do delta de pressão pela formação do sal, de forma a não ser afetado o balanço
térmico da unidade.
6. A qualidade da água de lavagem utilizada deve ser garantida para se evitar novas contaminações.
12. Referências
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