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Num bairro moderno

Orientação de leitura

 O poema apresenta uma visão cinematográfica dum “bairro moderno”


de Lisboa.

 O modo como “A larga rua macadamizada” (v. 5) contextualiza o poema e


o seu autor numa época histórica.

 Elementos narrativos presentes, ao longo do poema: tempo, espaço,


narrador, personagens e modo de expressão.

 Importância da localização espácio-temporal enquanto elemento realista


- Colocando-se num tempo e num espaço determinados, o poeta torna
mais credível e conforme à realidade aquilo que exprime, descreve ou narra.
A verosimilhança é, precisamente, um dos parâmetros do Realismo.

 Realizando um percurso rotineiro, o sujeito poético tem necessidade de


alimentar os sentidos e a imaginação através da visão de elementos do real
que o cerca
- Realidade espacial que o prende:
- atmosfera burguesa, doméstica, tranquila, solar que se
depreende de uma casa apalaçada e dos andares dos prédios
- É uma atmosfera aconchegante, saudável, que contrasta com as
tonturas de uma apoplexia que atacam o sujeito poético a caminho
do emprego.

 Caracterização do bairro
- adjetivação expressiva;
- sinestesia – brancuras quentes;
- estrangeirismo de intenção irónica;
- metonímia;
- exclamação irónica.

 Ao descrever o cenário que o cerca, o poeta usa repetidamente palavras


dos campos semânticos de cor e luz:
- cor – a rama dos papéis pintados;
- luz – Os transparentes matizam uma casa, fere a vista, com
brancuras quentes, reluzem, num almoço, as porcelanas, o Sol
dourava.
Dimensão impressionista (incidência na luz e na cor/
anteposição da característica visual do objecto ao próprio
objecto - transparentes matizam, rota, pequenina, azafamada ).

 “Eu descia, / Sem muita pressa, para o meu emprego.” (vs. 12 e 13)
Classe social em que se integra o “narrador”.

 “E rota, pequenina, azafamada” (v. 16)


- estrofe iniciada pela conjunção coordenativa copulativa “e”
- ambas as realidades convergem para a visão vivifiante de campo,
em oposição à larga rua macadamizada da cidade:
- as casas que lhe prendem a atenção, embora correspondam a
uma realidade urbana, contêm reminiscências campestres, nas
nascentes dos jardins, nas ramagens do papel pintado, no canário
que canta da janela;
- a rapariga, essa transporta para a cidade os frutos do campo,
vitalidade concentrada no seu cabaz.

 Recursos estilísticos utilizados para apresentar essa personagem:


- enumeração – figura do povo que, por oposição ao sujeito, está
apressada e atarefada apesar da sua fragilidade;
- comparação – simboliza a presença do campo;
- hipérbato – coloca em evidência a postura de trabalho e de
humildade da rapariga;
- adjetivação – simultaneamente descritiva e valorativa –
diminutivos – dão conta da sua debilidade física e da ternura com
que o sujeito poético a vê.

 Atira um cobre lívido/ oxidado/ que vem bater nas faces duns alperces
- valor expressivo das metáforas:
- A moeda com a qual o criado , morador da cidade, paga à rapariga
é pálida e estragada (doente) em oposição às faces dos alperces
que sugerem cor, saúde. Poderemos então ver, no gesto do criado
que atira a moeda às faces dos alperces, um símbolo da relação
mercantil e, simultaneamente sobranceira que a cidade tem com o
campo. Apesar disso, é o campo que representa a saúde, enquanto
a cidade representa a doença.
 A atenção antes presa na vendedeira é, pelo gesto do criado, deslocada
para o cabaz da fruta que se humaniza num pujante “novo corpo orgânico” de
Mulher-Mãe
- significado desse olhar metamorfoseante – ao ver no cabaz de
fruta e legumes que a vendedeira trouxe para a cidade, um corpo de
mulher-mãe, o sujeito poético vê o campo como a Terra-mãe, pujante
de vida, palpitante e fértil.

 A visão humanizada da fruta e a posterior comunicação direta com a


vendedeira provocam no sujeito poético uma transformação vital:
E recebi, naquela despedida,
As forças , a alegria, a plenitude,
Que brotam dos excessos da virtude
Ou numa digestão desconhecida.

 A recarga energética do sujeito poético tem reflexo na forma como ele


avalia a luz do Sol:
- Quando vê, pela primeira vez, a vendedeira, o sujeito poético olha-
a apesar do sol, como se o sol fosse impeditivo para a sua visão.
Depois, o sol é o principal agente da sua visão de artista, é o
“intenso colorista”.
- Finalmente, nas estrofes 17 e 18, é o sol que, incidindo sobre a
água lançada pelo pequerrucho, faz com que os borrifos sejam
estrelas e estende pelas frontarias das casas “seus raios de
laranja destilada” como se de um quadro de Monet ou de Renoir se
tratasse.

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