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Grande Otelo: Poeta e Profeta Dos Novos Tempos
Grande Otelo: Poeta e Profeta Dos Novos Tempos
https://1drv.ms/u/s!Aj6kOBkyV630khcEvKdfnFl6K5aP?e=hcoacK
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Resumo
Temas:
1. O nome "Grande Otelo" não foi adotado, como informam a biografia de Sérgio
Cabral (pai), o site oficial do ator e as demais fontes, em 1935, e sim em 1927, ano em
que o ator, então com 11 anos, tornou-se famoso no Rio de Janeiro.
Recurso utilizado pela Companhia Negra dos Artistas para atrair a curiosidade
do público: falsear a idade do ator, fazendo-o passar por uma criança de 6 anos de
idade quando já estava com 11 anos.
Feito histórico de Grande Otelo: o único artista mirim que foi chamado para
apresentar uma companhia de teatro, tornou-se membro dela e, em menos de 6 meses,
virou a sua maior atração.
1924
1924
1925
. Grupo amador não denominado (do empresário Álvaro Pinto), dezembro de 1925,
Real Centro Português, Santos.
. Participação provável.
1926
1926
1926
1926
1927
1927
1933
1934
1935
2. "Carioca", até o final de julho, companhia de Jardel Jercolis, Teatro João Caetano,
Rio de Janeiro.
__________________________________________
Apresentação
Como ator, participou em mais de 100 filmes, dos quais o mais famoso foi
"Macunaíma", lançado em 1969. Também atuou em mais de 10 novelas.
https://www.amazon.com/Macuna%C3%ADma-Blu-ray-Grande-
Otelo/dp/6317699437
Como compositor, criou mais de 30 letras para músicas, das quais a mais famosa foi
"Praça Onze" (1942), em parceria com Herivelto Martins.
http://www.ctac.gov.br/otelo/musica/musica.asp
Poucos conhecem, entretanto, o poeta Grande Otelo, e menos ainda o militante pela
causa negra. Nesse último aspecto, apresento abaixo um texto profético de Grande
Otelo, sobre a necessidade da inclusão de negros na publicidade estrangeira e nacional.
http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=espetaculos
Veremos nas seções a seguir como a cronologia inicial da carreira do ator é bem
diferente da oficial.
1924: surge o Pequeno Tião
A estreia no palco se deu com apenas uma fala, no início da peça. Mas essa breve
participação valeu a inserção do nome artístico do ator no cartaz à entrada do teatro: O
Pequeno Tião.
Sebastião era órfão de pai, que morrera esfaqueado, e vivia com a mãe alcoólatra.
Abigail, a mãe de Abigail, Isabel Parecis, e o padrasto propuseram levá-lo para São
Paulo.
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/110
Os tempos eram outros, e a adoção foi consumada rapidamente, de modo legal. No
segundo semestre de 1924, o menino chegava a São Paulo.
Uma informação constante do livro "Grande Otelo: uma Biografia", de Sérgio Cabral
(pai), não pode ser confirmada pelas fontes. Segundo o autor, o diretor da Companhia
Tró-ló-ló, Jardel Jércolis, promovera um festival em benefício do ator Danilo Oliveira,
no qual a participação do Pequeno Otelo teria encantado o empresário teatral Sebastião
Arruda. Contratado, o menino prodígio do teatro nacional faria pequenas participações,
especialmente de canto, na peça "Nhá Moça", um dos carros-chefes da Companhia
Arruda-Otília Amorim. O ano: 1925.
Nascido em São Paulo, o ator Danilo Oliveira, conforme a notícia abaixo, publicada
em 1926, passara os 6 anos anteriores na Europa. Portanto, de 1920 a 1926 ele não
poderia recebido homenagens, ao vivo, em seu estado natal.
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 29/6/1926, número 6119, página 4, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23231
O ator paulista voltou ao país para integrar a Companhia Tró-ló-ló, no Rio de
Janeiro. A primeira apresentação dessa Companhia em São Paulo deu-se em julho de
1926:
"Dentro de 9 dias teremos entre nós essa Tro-lo-ló famosa, que vinda do Rio com
grande fama de maiores vitórias para o nosso teatro de revista, revolucionará também o
meio teatral e artístico de São Paulo."
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 30/6/1926, número 6120, página 5, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23240
A peça cômica "Pés pelas Mãos", associada a 1926 na listagem do início da carreira,
e que no site do Instituto Cultural faria parte do repertório da Companhia Negra de
Revistas, é outro enigma do início da carreira do ator.
A referência no site da Enciclopédia Itaú Cultural certamente está errada, por três
motivos:
(1) Nenhum trabalho consultado sobre a Companhia menciona essa peça como
integrante do repertório;
(2) O site Memória da Música só indica o ano de 1924 para representações da peça
em São Paulo por grupos profissionais, e nenhuma apresentação em 1926;
http://www.memoriadamusica.com.br/teatromusicado/
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 10/12/1925, número 5954, página 2, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/22080
Outro indício importante: não se tratava de uma peça de temática negra, a essência
do trabalho da Companhia.
Segundo o site oficial e a biografia de Sérgio Cabral (pai), a estreia de Grande Otelo
na companhia de Sebastião Arruda, com uma pequena participação na peça "Nhá
Moça", deu-se no Teatro Rink de Campinas, em 1925.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/15772
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/20726
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 16/4/1926, número 22.531, página 6, última
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/21070
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 18/3/1926, número 22.503, página 3, última
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/20801
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 25/3/1926, número 22.510, página 3, sexta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/20869
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 30/3/1926, número 22.515, página 3, sexta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/20917
Observação: o "ator Prata" a que se referem os textos não é Grande Otelo, mas um
ator cômico de sucesso na época.
1924: "O Tesouro de Serra Morena" ou "Os Bandidos de Serra Morena" (no circo de
Uberlândia).
1926: "Nhá Moça" (no Teatro Brás Politeama, em São Paulo, e no Teatro Rink, em
Campinas).
Inspirada pela Revue Nègre ("Revista Negra"), companhia teatral parisiense em que
se destacava a dançarina Josephine Baker (1906-1975), a Companhia Negra de
Revistas, em seu curto período de duração (o grupo seria desfeito em julho de 1927),
teve em seu repertório quatro peças principais: "Tudo Preto", "Preto no Branco",
"Carvão Nacional" e "Café Torrado".
O rompimento entre os dois sócios deu-se antes desse fim: apenas três meses depois
da estreia, De Chocolat deixava a companhia para fundar a Ba-Ta-Clan Preta.
A matéria abaixo, publicada no jornal paulistano "A Gazeta", mostra uma foto de
Pixinguinha. O texto reproduz matéria original do jornal "A Pátria", do Rio de Janeiro.
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 13/10/1926, número 6207, página 4, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23841
Um trecho desse artigo reforça a afirmação anterior, de que "Pés pelas Mãos" não
constava do repertório da Companhia (itálico acrescentado): "Dotada de um repertório
interessante, visto que suas peças são escritas especialmente para ela, a Companhia
Negra é o assunto de todas as rodas na capital da República [Rio de Janeiro], ainda mais
porque as músicas são encantadoras e vivem nos assobios das ruas como nos pianos das
residências mais elegantes". A criação da peça "Pés pelas Mãos" precedeu em pelo
menos 5 anos a fundação da Companhia.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 24/9/1926, número 22.692, página 8, primeira
e segunda colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/22870
Nos recortes abaixo, a prova de que a peça "Pés pelas Mãos" já era encenada em São
Paulo desde 1921.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 30/1/1921, número 20.684, página 3, última
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/4105
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/22971
A peça "Tudo Preto" terminou escolhida pelo público, uma criação original de De
Chocolat com músicas de Pixinguinha.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 6/10/1926, número 22.704, página 6, segunda
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23024
Vemos aí, novamente, a associação entre o ator Danilo Oliveira e Grande Otelo, mas
em 1926, e não em 1925. E a nota sugere que Grande Otelo fazia parte do elenco da
Companhia Tró-ló-ló, antes de se integrar à Companhia Negra de Revistas.
Aliás, essa nota é histórica também porque se trata da primeira a registrar o nome
"Pequeno Otelo". O espetáculo realizou-se no Teatro Apolo.
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 13/10/1926, número 6207, página 4, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23841
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23160
A biografia do ator escrita por Sérgio Cabral (pai) conta qual foi a primeira
participação do então Pequeno Otelo na Companhia.
"Grande Otelo: uma biografia", Sérgio Cabral, Editora 34, 2007.
https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA35&ots=kbkmtmn
vPY&dq=%22reapareceu%20o%20Pequeno%20Otelo%22&hl=pt-
BR&pg=PA35#v=onepage&q=%22reapareceu%20o%20Pequeno%20Otelo%22&f=fal
se
Como afirma o biógrafo, mesmo no ano seguinte, ao voltar ao Rio com Grande Otelo
incorporado ao elenco, alguns jornais e anúncios atribuíam ao ator a idade de 6 anos,
quando o ator estava com 11 anos.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23246
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23310
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23318
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 28/10/1926, número 6220, página 3, última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23928
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23363
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 2/11/1926, número 22.731, página 5, quinta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23373
"O desempenho esteve a contento. Nele muito cooperou o pequeno Otelo, que
conquistou muitos aplausos, com as suas canções e monólogos."
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 2/11/1926, número 22.731, página 5, quarta e
quinta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23373
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 3/11/1926, número 22.732, página 2, quinta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23380
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 5/11/1926, número 22.734, página 4, quinta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23402
"Esse espetáculo oferece ainda um outro atrativo: é que foi dedicado ao mundo
infantil pelo interessante Otelo, aquele pedacinho de gente de cor, que tanta simpatia
tem conquistado em São Paulo, por ser um verdadeiro assombro de precocidade".
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 5/11/1926, número 22.734, página 4, quinta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23402
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 5/11/1926, número 6226, página 4, segunda e terceira
colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23961
No dia seguinte, o jornal paulistano "A Gazeta" publicava a última notícia sobre a
temporada da Companhia Negra na cidade. Em destaque, Grande Otelo:
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 6/11/1926, número 6227, página 4, primeira e segunda
colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23969
http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=linhadotempo
1927: o Pequeno Otelo se torna o Grande Otelo e conquista o Rio
Não há discrepância entre fontes oficiais: o nome "Grande Otelo" teria sido atribuído
ao ator mirim pelo empresário teatral Jardel Jercoles, e utilizado pela primeira vez na
peça "Goal!" ("Gol!"), encenada em 1935.
https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA152&dq=%22Fron
teiras%20Perdidas%22%2C%20de%20W%20L%20White&hl=pt-
BR&pg=PA61#v=onepage&q=pequeno%20otelo&f=false
Abaixo apresento 40 provas visuais dessa utilização de "Grande Otelo", oito anos
antes daquele apresentado na versão oficial: 25 anúncios e 15 textos (veja os destaques
em verde).
"Notícias que temos lido de todos os jornais onde tem trabalhado a companhia,
dizem da mesma as maiores maravilhas e destacam extraordinariamente o Grande
Otelo, um garotinho preto de seis anos que é um verdadeiro fenômeno, pois canta,
dança e recita em diversos idiomas, como gente grande.
"Como se o esplendor com que são apresentadas as peças não bastasse para garantir
o êxito da temporada do República, bastava o garotinho Otelo para fazê-lo."
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 16/2/1927, número 40, página 14, penúltima
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53047
"Faz parte do elenco como número de grande atração o Grande Otelo, um pequeno
artista de seis anos que é um verdadeiro assombro. O grande pequeno artista canta em
diversos idiomas com uma verve e uma espontaneidade extraordinária. Jornais de São
Paulo e de diversas cidades chamaram-no o maior artista do idioma português".
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 4/3/1927, número 54, página 10, quinta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53773
"Faz parte do elenco como número de grande atração o grande Otelo, um pequenino
artista de seis anos de idade, que é um verdadeiro assombro. O pequeno grande artista
canta em diversos idiomas com uma verve e uma espontaneidade extraordinárias.
Jornais de São Paulo e de diversas cidades chamaram-lhe o maior artista do idioma
português. O público carioca vai ter a prova amanhã de que não houve exagero em
chamar-se-lhe assim."
"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 4/3/1927, número, página, coluna (em
"Teatros e Música").
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/22895
"A companhia traz um número de atração que por si só seria capaz de fazer o êxito
da mesma. É um pequeno artista negro de 6 anos, que tem assombrado todas as plateias
com a precocidade do seu talento. Chama-se o mesmo, Otelo, e é tal o seu
desenvolvimento e a verve com que conta e representa, que alguns jornais do Estado o
chamaram o maior intérprete da língua portuguesa.
"Otelo, estamos certos, vai tornar-se o 'enfant gaté' da plateia carioca. O público está
ansioso por conhecer esse pequeno grande artista em que tanto se tem falado."
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 5/3/1927, número 9855, página 7, quarta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29785
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/22924
http://memoria.bn.br/DocReader/116408/2524
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 5/3/1927, número 55, página 28, primeira
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53817
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29785
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_05/29017
No mesmo dia 6 de março, novo anúncio da peça "Café Torrado" informava: "Em
que o pequeno ator O Grande Otelo repetirá os números que ontem foram tão
aplaudidos".
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 6/3/1927, número 9856, página 6, segunda
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29798
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_05/21832
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29798
Dois dias depois, novo anúncio, agora no jornal "A Manhã", informava: "Êxito
assombroso ― 'O GRANDE OTELO', o mais pequeno artista mundial. Todas as noites
delirantemente aplaudido pela vivacidade e dicção impecável com que representa todos
os números, especializando... As canções em diversos idiomas".
"A Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 8/3/1927, número 373, página 8, primeira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/116408/2548
Em 10 de março, a atração da Companhia Negra era "A Revista das Revistas", uma
seleção dos melhores quadros de suas peças características: "O 'Compère' [mestre de
cerimônias] da revista será desempenhado por O GRANDE OTELO. Pequeno Pretinho,
de 7 anos, mas GRANDE ATOR, que todas as noites é delirantemente aplaudido".
"A Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 10/3/1927, número 375, página 8, quarta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/116408/2564
O anúncio do jornal "A Manhã" também saiu no "Jornal do Brasil", no mesmo dia.
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 10/3/1927, número 59, página 28, primeira
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53935
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53963
Um detalhe importante: o anúncio informa que esse dia foi o último em que a
Companhia Negra de Revistas se apresentou no Teatro República, no Rio de Janeiro.
Segundo o texto: "DESPEDIDA DE GRANDE OTELO".
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 13/3/1927, número 62, página 36, última
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/54025
http://memoria.bn.br/DocReader/348970_02/19493
Quatro dias depois, uma breve nota no "Correio da Manhã" destacava o novo
trabalho de Grande Otelo, com alguns trechos extraídos de anúncios.
"Faz sua estreia hoje, no palco do Central o Grande Otelo. Apesar de sua pouca
idade, o Grande Otelo já é um artista de renome, pois que tem conquistado as plateias
onde tem trabalhado. Delirantemente aplaudido, pela vivacidade e dicção impecável
com que representa todos os números de seu repertório, o Grande Otelo é um triunfador.
O Grande Otelo não canta somente em português, ele sabe manejar também com
facilidade vários idiomas. A estreia de Grande Otelo, o menino prodígio, constitui um
acontecimento artístico notável e vai atrair ao Central todo o público do Rio".
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29942
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29950
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 18/3/1927, número 66, página 18, penúltima
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/54127
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29976
"[...] não menos grandioso é o sucesso do Grande Otelo, o menino prodígio, o artista
mais pequeno do mundo!
"Na verdade, o Grande Otelo é um número colossal que por si só vale um programa.
A sua vivacidade, o seu modo de representar no palco, a sua dicção impecável, é digna
de elogios. Em muitos grandes artistas não se encontra[m] os predicados de que é
dotado o grande Otelo. É uma maravilha, um assombro e uma magnífica aquisição feita
pela empresa do cine-teatro Central."
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 20/3/1927, número 9868, página 21,
segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29997
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 20/3/1927, número 9869, página 28, última
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30004
E o sucesso se fez sentir. Sobrecarregado pela carga de trabalho, o corpo de Grande
Otelo pediu tempo. Em 22 de março saía esta informação no "Correio da Manhã":
"Precisando de alguns dias de repouso, por se achar ligeiramente adoentado, somente no
próximo sábado fará sua reentrée no Central o famoso Grande Otelo, o menino prodígio
que tanto sucesso obteve no Central nestes últimos dias".
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 22/3/1927, número 9869, página 6, terceira
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30010
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 22/3/1927, número 9869, página 14,
terceira e quarta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30018
Uma notinha no "Correio da Manhã", no dia seguinte, lembrava essa informação aos
leitores.
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 23/3/1927, número 9870, página 7,
segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30025
Nesse mesmo dia, outro anúncio do Cine Teatro Central, com a mesma informação
na parte inferior.
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 23/3/1927, número 9870, página 16,
terceira e quarta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30034
No dia 24, uma promessa: O GRANDE OTELO (o menino prodígio) fará sua
reentrée depois de amanhã, SÁBADO".
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 24/3/1927, número 9871, página 16,
terceira e quarta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30050
"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 24/3/1927, número 81, página 5, quinta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/23290
"Não há no Rio de Janeiro quem não tivesse já ouvido falar no Grande Otelo. Os
poucos dias que trabalhou no Central na semana passada ― de quinta a domingo,
apenas ―, ele conquistou já uma fama, e muita gente que queria vê-lo trabalhar foi
obrigado a desistir porque o Central estava sempre à cunha [abarrotado], durante os seus
espetáculos. Isto quer dizer que o Central [erro do redator] mais uma vez o Grande
Otelo no Central deve ir cedo, porque do contrário não encontrará lugares."
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 25/3/1927, número 9872, página 6, quarta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30056
No mesmo dia, o rodapé do anúncio do Cine Teatro Central chamava para o público
para o espetáculo no dia seguinte.
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 25/3/1927, número 9872, página 14,
terceira e quarta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30064
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/23311
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30070
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 26/3/1927, número 73, página 29, segunda e
terceira colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/54344
Outro anúncio com o mesmo teor saiu na "Gazeta de Notícias", no mesmo dia.
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 26/7/1927, número 72, página 5, última
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_05/21980
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 9874, página 25,
terceira e quarta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30105
"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 73, página 10,
última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_05/21993
Também o jornal "O País" registrou o retorno de Grande Otelo aos palcos.
"O País" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 15.498, página 5, terceira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_05/29229
"Como sempre, nas 3 sessões em que trabalhou ontem, o grande Otelo foi
delirantemente aplaudido, sendo obrigado a fazer 3 e 4 bis cada vez. O grande Otelo
trabalha hoje nas sessões de 14:30, 17 e 20 horas".
"O País" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 15.498, página 11, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_05/29235
http://memoria.bn.br/docreader/103730_05/21989
"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 84, página 32,
terceira e quarta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/23375
Em 1930, o jornal carioca "A Batalha" publicou matéria especial com o autor teatral
Ruben Gill, em que ele aparecia como o "inventor do Pequeno Otelo".
"Mais: escrevi a peça de estreia para a célebre Companhia Negra de Revistas, tendo a
honra de apresentar, nesse transe, o famoso artista 'pequeno Otelo' [...]".
"A Batalha" (Rio de Janeiro, RJ), 5/2/1930, número 40, página 6, antepenúltima
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/175102/318
https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA152&dq=%22Fron
teiras%20Perdidas%22%2C%20de%20W%20L%20White&hl=pt-
BR&pg=PA61#v=snippet&q=flagelo%20dos%20mares&f=false
A biografia escrita por Sérgio Cabral (pai) registra o espetáculo "O Flagelo dos
Mares", apresentado em 1932 no Liceu Coração de Jesus, de São Paulo. Não consegui
encontrar uma fonte para essa informação.
Não consta da biografia escrita por Sérgio Cabral (pai) o título dessa peça, nem o
nome da Companhia de Artistas Reunidos, pela qual Grande Otelo atuou na peça.
"Grande", não: "Pequeno" Otelo, porque o ator novamente passou a ser chamado dessa
forma na apresentação oficial do espetáculo.
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/1968
Para encenar a primeira peça, criou-se outro grupo teatral, a Companhia de Artistas
Reunidos, "em que figuram elementos de prestígio no meio teatral paulistano". A peça
"A Volta do Front" centrava-se na Revolução Constitucional de 1932, deflagrada em
São Paulo no ano anterior.
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 8/11/1933, número 8351, página 4, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/42763
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/2853
A estreia das duas Companhias, marcada para o dia 14 de novembro, foi anunciada
pelo "Correio de S. Paulo". Novamente apareceu o nome "pequeno Otelo", agora no
final da lista dos atores.
"Correio de S. Paulo" (SP), 13/11/1933, número 440, página 2, quinta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/2861
Essa estreia mereceu um anúncio no jornal "A Gazeta". "Sainete" designa um bailado
executado nos intervalos de uma peça teatral.
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 13/11/1933, número 8355, página 7, última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/42814
No dia 14 de novembro, uma nota teatral no "Correio de S. Paulo" anunciou a estreia
da Companhia dos Artistas Unidos no Teatro Cassino Antártica, incluindo novamente o
nome "pequeno Otelo".
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/2869
Mais uma vez, o sucesso encontrou o ex-menino prodígio (agora com 18 anos):
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/2877
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/42866
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/3075
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/5237
Sérgio Cabral (pai), na biografia do ator, afirma que Grande Otelo fez parte da
companhia teatral de Zaíra Cavalcante, em 1934, enquanto esperava a participação na
companhia de Jardel Jercolis, prevista para 1935.
http://memoria.bn.br/DocReader/720216/3313
"Grande Otelo: um pícaro na cena", página 29, Camila Delfino da Silva, dissertação
de mestrado em Artes, Instituto de Artes, Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia (MB), 2012.
https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/12306/1/CAMILA%20DELFINO.pdf
1935: o Pequeno Otelo se torna The Great Otelo
Jardel Jercolis, famoso empresário teatral brasileiro da época, apresentou três novas
peças teatrais em 1935. Para a primeira delas, "Goal!" ("Gol!"), contratou Grande Otelo
― na verdade, The Great Othelo. A alcunha inglesa se justificava porque o personagem
era apresentado como um negro que havia chegado ao Brasil, vindo de Nova York.
"Pouco mais de cinco palmos de altura. Uma pedra de carvão, perto dele, é jaspe...
Tipo muito mais que sete! Miúdo, esperto, agilíssimo, elegante: eis o que é 'The Great
Othelo', esse negro-garoto inteligente que chegou ontem ao Rio, para figurar entre as
grandes atrações que Jardel Jercolis vai apresentar, a começar no dia 24, no Teatro João
Caetano.
"― Music!
"Ágil, metido numa elegantíssima casaca, autêntico talho Nagib, 'The Great Othelo'
inicia seu originalíssimo sapateado e canta, logo em seguida, como Bing Crosby:
"Esperemos, porém, pelos números que 'The Great Othelo' vai apresentar na
suprarevista "Goal!'".
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 15/5/1935, número 113, página 9, quinta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/4780
"The Great Othelo constituiu uma das surpresas reservadas ao público, que se
mostrou satisfeito [...]".
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 1/6/1935, número 130, página 15, primeira
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_05/54155
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5356
1935: The Great Othelo volta a se chamar o Grande Otelo
O nome artístico The Great Othelo durou pouco mais de um mês. Já no segundo
espetáculo da companhia de Jardel Jercolis, o ator passou a ser apresentado como o
Grande Otelo, conforme esta notícia de 2 de julho.
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 2/7/1935, número 154, página 9, última
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5356
"O Grande Otelo fará o negro que tem alma branca, e Samba, figura de alta projeção
em 'CARIOCA'".
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5392
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 23/7/1935, número 172, página 9, última
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5598
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5735
O nome artístico "o Pequeno Otelo" voltou a ser usado em uma nota do jornal "A
Nação" sobre uma participação do ator no programa "Hora das Crianças", da Rádio
Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro.
"A Nação" (Rio de Janeiro, RJ), 8/8/1935, número 790, página 8, penúltima coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/120200/9804
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5894
Antes da viagem à Europa, a companhia ainda estrearia outra revista, intitulada "De
Ponta a Ponta", em 30 de agosto, no dia seguinte ao do encerramento da temporada de
"Rio-Follies", em uma única apresentação.
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 28/5/1935, número 203, página 9, quarta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/6030
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/6098
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/6185
Nos anos seguintes, The Great Othelo voltou a ser o Grande Otelo, nome artístico
que acompanhou o ator até o final de sua vida, em 1993.
Cronologia atualizada do início da carreira de Grande Otelo
http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=espetaculos
1924
1924
1925
. Grupo amador não denominado (do empresário Álvaro Pinto), dezembro de 1925,
Real Centro Português, Santos.
. Participação provável.
1926
1926
1926
1926
1927
1927
1933
1934
. "Ensaio Geral", excursão com a companhia teatral de Zaíra Cavalcante pelo interior
de São Paulo.
1935
. "Carioca", até o final de julho, companhia de Jardel Jercolis, Teatro João Caetano,
Rio de Janeiro.
***
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/16641
Grande Otelo, o poeta
O livro de poemas "Bom Dia, Manhã", única obra literária de autoria do ator e
compositor, teve seu lançamento em 27 de outubro de 1993, no Shopping da Gávea
(Rio).
http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/21761
"Tribuna da Imprensa" (Rio de Janeiro, RJ), 9/11/1993, número 13.347, página 2.
http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/21773
Comecei a escrever rapazinho. Fui criado por uma família de Batatais (interior de
São Paulo). Minha madrinha foi a grande poetisa Maria Eugênia Fernandes de Queiroz,
de quem eu tiro uma citação, que abre "Bom dia, manhã": "O homem se esbate e se
estorce na ânsia de enriquecer". O trecho está no livro "Primavera eterna", publicado em
1925.
Não. O primeiro foi escrito aos seis anos de idade. Tratei logo de mostrar a D.
Eugênia, que o achou muito engraçado e deu boas risadas. Nunca mais tive coragem de
mostrar-lhe nada. Mas continuei escrevendo, incentivado pela família. Li, quando rapaz,
"Espumas flutuantes", de Castro Alves, que muito me marcou.
http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/21773
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_11/102993
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 27/11/1993, número 233, página 8, primeira
coluna (em "Informe JB", de Teodomiro Braga).
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_11/104235
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_11/104238
Segundo nota do "Jornal do Brasil", o livro "Bom dia, manhã" tinha 154 páginas e
era vendido a CR$ 2.300,00 (dois e mil e trezentos cruzados).
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 20/11/1993, número 226, caderno "Ideias e
Livros", página 3, última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_11/103712
https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-700922977-livro-bom-dia-manh-grande-
othelo-2911-_JM?quantity=1#position=1&type=item&tracking_id=de133273-361c-
4126-8158-c35adc02c568
https://www.estantevirtual.com.br/livros/grande-othelo/bom-dia-manha/1129549364
Antônio Olinto, um dos autores escolhidos para redigir o prefácio (o outro foi Jorge
Amado), escreveu sobre a importância afetiva do livro para Grande Otelo.
"Tribuna da Imprensa" (Rio de Janeiro, RJ), 18/12/1995, número 14.000, página 13,
penúltima coluna (no Caderno "Tribuna Bis").
http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/34495
Leia abaixo 6 poemas do livro, o qual também apresenta letras das parcerias musicais
famosas de Grande Otelo.
Viva a vida
Sou ontem
Não sei.
A vida é bela
Me dá meu Deus
A alegria de viver
Viver ontem
Viver hoje
Amanhã também
Vida de negro
Dentro da vida!...
Se a vida parasse,
Mas como?
Vida, se dá mal.
Horrível, monótono
No meio da selva.
O palhaço de hoje
Isto é normal
É carnaval
Eu sou, tu és e ele é
O ano inteiro
Chora palhaço,
Foi nele,
Vai caminhando
Na tua retaguarda
Na medida em que
*
Desejo
Me ajudar a carregar
"Bom dia, manhã", Grande Othelo, Topbooks Editora e Distribuidora de livros Ltda.,
Rio de Janeiro (RJ), 1993.
http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=textos
O poema abaixo fez parte da matéria "Luiz Carlos Prestes Filho: o último encontro",
publicada na revista "Manchete" de 4 de dezembro de 1993, na qual o organizador do
livro "Bom dia, manhã" contou como foi seu último encontro com o ator.
"Manchete" (Rio de Janeiro, RJ), 4/12/1993, número 2174, página 21, última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/004120/281564
Grande Otelo, o profeta
"Nunca se viu, em um anúncio no Brasil, uma senhora negra abrindo uma geladeira,
tomando um refrigerante ou vestida com um belo maiô. Também a figura de um senhor
negro com os seus filhos dentro de um belo automóvel."
"Há tanta gente nas favelas, há tanta gente nos afastados rincões desta terra,
precisando de luz para o espírito e pão para o corpo... Precisamos mais escolas, a
questão é que pouca gente desce dos morros para vir estudar na planície. Por outro lado,
se todos resolvessem estudar de repente, então não haveria tantas escolas ― escolas
primárias ― onde abrigar uma legião de analfabetos.
"Resolvemos, pois, cooperar com o governo na imensa obra. Nós, os negros, com o
indispensável auxílio de todos /os/ brasileiros, vamos caquetizar negros, brancos e
mulatos.
"Então vamos fundar um jornal. Um jornal? Com que dinheiro? Fazer imprensa no
Brasil é um 'caso muito sério', ainda mais dirigida por negros. Vamos tentar,
consultemos os nossos amigos, os negros, os brancos, os mulatos e os caborés também.
Boa ideia.
http://memoria.bn.br/DocReader/844993/3
http://memoria.bn.br/DocReader/844993/3
https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA152&ots=kbklnrjt
OZ&dq=%22Fronteiras%20Perdidas%22%2C%20de%20W%20L%20White&hl=pt-
BR&pg=PA152#v=onepage&q=%22Fronteiras%20Perdidas%22,%20de%20W%20L%
20White&f=false
A introdução sugere que o texto teria sido escrito em 1953 (não há datação da
crônica na obra), mas a data precisa é 9 de dezembro de 1950. Sérgio Cabral também
não menciona uma possível publicação da crônica, nem o contexto da publicação: um
órgão da imprensa de militância negra (provavelmente porque teve acesso ao original, e
não ao texto publicado).
http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=textos
Mas como Sérgio Cabral redigiu a biografia a partir desse acervo, certamente os
originais fazem parte dele.
https://periodicos.ufms.br/ojs/index.php/AlbRHis/article/view/5196
A segunda (e última) viria oito anos depois, em 1958: Grande Otelo arriscou-se a
entrar para a política, lançando sua candidatura a vereador pelo PTB. O slogan: "Não
vote em branco; vote em Grande Otelo". Segundo o ator, uma desistência do Partido
antes da eleição teria inviabilizado a candidatura.
Fora essas duas iniciativas, há vários registros de denúncias de Grande Otelo quanto
à discriminação dos negros no Brasil, em respostas dadas a entrevistas. E essas
respostas explicam a opção anterior. Um exemplo:
Grande Otelo: De certa forma a preocupação sempre existiu. Mas achava que não
tinha condições pessoais, emocionais para me integrar em um movimento em prol de
minha raça. Com o tempo, porém, criou-se em torno de mim uma situação que não é
nada confortável: os negros estão me cobrando atitudes. E isso me dá uma
responsabilidade tremenda. Resolvi assumir quando achei que tinha condições, pois elas
surgiram só depois de muito sofrimento e amadurecimento. Hoje eu já sei que vou
encontrar respaldo, dentro e fora da raça, para qualquer atitude. Por ser, ou apesar de ser
Grande Otelo, serei ouvido, terei cobertura da imprensa
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0002-
05912013000200003&script=sci_arttext&tlng=es#nt44
Grande Otelo: Claro, existe preconceito racial em todas as áreas, inclusive na área
artística. Você não vê nunca um preto numa situação de destaque. Eu pra chegar ao
ponto que cheguei tive que dizer muito "sim, senhor" [...] Em primeiro lugar, eles
acham que o negro é um irresponsável, segundo, eles acham que o negro não tem
capacidade pra fazer determinados papéis. Então, ainda hoje pintam o branco de preto
pra fazer papel de preto.
http://www.conradoleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=1788243&ctd=196&tot=&tipo=&a
rtista=
Em outra entrevista, reproduzida na matéria "25 anos sem Grande Otelo: relembre a
vida e a obra do humorista", de André Carlos Zorzi em "O Estado de S. Paulo"
(26/11/2018), o ator reforçou a sua visão sobre o preconceito racial:
"Questionado pelo Roda Viva em 1987 se ainda via discriminação no Brasil, foi
enfático: 'Completamente! A discriminação existe totalmente. Pela sua pergunta, a gente
sente que a discriminação existe. Se não existisse, você não teria a necessidade de fazer
essa pergunta'."
https://emais.estadao.com.br/noticias/gente,25-anos-sem-grande-otelo-relembre-a-
vida-e-a-obra-do-humorista,70002617636
https://periodicos.ufms.br/ojs/index.php/AlbRHis/article/view/5196
__________________________
Eis a capa do livro que serviu de base ao texto citado por Grande Otelo logo no início
do artigo. Essa condensação faz parte da obra "21 Livros Famosos de Seleções",
publicada em 1959. O título original: "Lost Boundaries" (1948). O autor: William
Lindsay White.
https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-809088696-21-livros-famosos-de-
selecoes-_JM
O livro conta a história de um médico que esconde a sua ascendência negra para não
ser discriminado nos Estados Unidos. No ano seguinte ao da publicação, a história
chegou ao Cinema.
https://en.wikipedia.org/wiki/Lost_Boundaries
A crônica "O Negro e a Publicidade"
Estranho à primeira vista o título. Acontece, porém, que foi lendo um volume de
"Seleções do Reader's Digest" que uma ideia antiga tirou-me violentamente da cama e
fez com que eu me resolvesse a escrever o que escrevo. Se você não leu, procure o livro
"Fronteiras Perdidas", de W L White, é muito interessante.
Só me lembro de ter visto anunciando sabão com uma gorda e negra lavadeira.
Banha com uma sorridente cozinheira negra ou nos anúncios de pasta de engraxate,
vagões de estrada de ferro com negros encarregados de botar o banquinho para os
brancos subirem, automóveis com motoristas negros, nunca passageiros de avião,
bicicleta ou seja lá o que for neste mundo, de confortável.
Fiquei pensando... pensando... Será que negro não tem direito a ter uma casa,
comprar móveis, etc. etc.? Os garotos negros, os homens e as mulheres negras querem
tudo quanto os brancos querem, senhores anunciantes! E se às vezes não compram ou
não usam é porque não são influenciados pelos anúncios, com figuras de negras bonitas
e bem vestidas ou negros sorridentes com o seu bom charuto ou cigarro Hollywood ou
Continental. Nunca se viu, em um anúncio no Brasil, uma senhora negra abrindo uma
geladeira, tomando um refrigerante ou vestida com um belo maiô. Também a figura de
um senhor negro com os seus filhos dentro de um belo automóvel.
O negro nos anúncios, além de ser uma providência de fundo social, é pitoresco pelo
imprevisto que seria, pois que nunca foi visto.
O negro quando veste uma boa roupa (não falo do privilegiado, ou vai para o meio
dos seus ou torna-se arrogante, cheio de si, como se tivesse feito uma grande coisa. Por
quê? Porque não está acostumado a saber que também pode usar boas roupas. O elogio
que um branco recebe com indiferença, o negro sente-se como que magoado ao receber.
Fica parecendo a ele que deve se sentir ofendido. Por quê?
Muitos deles gostariam de usar o que veem nos jornais em figuras brancas, mas não
usam porque talvez nunca viram uma figura negra assim vestida, em jornais ou revistas,
e chegam à conclusão do branco pobre, com a diferença de que é conclusão do negro.
Não é direito, minha gente. Acostumemos os nossos negros a se verem bem vestidos
nas revistas. Mostremos os garotos negros saindo das sacolas [escolas], jogando futebol
graças ao Toddy, ou os bebês negros reclamando talco Johnson, e estaremos ajudando
também as democracias na aproximação dos povos, sem recorrer às doutrinas
terroristas. Viva a Light. que botou a figura de um negrinho nos seus anúncios de
racionamento. É verdade que de uma maneira discutível, mas pelo pitoresco, não
chegou a ofender ninguém, e é sempre um negrinho.