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Autor: Sérgio Barcellos Ximenes.

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______________________

Grande Otelo: poeta e profeta dos novos tempos

Resumo

Temas:

1. O único livro de Grande Otelo (1915-1993): "Bom Dia, Manhã", coletânea de


poemas e letras de músicas, lançado em outubro de 1993, um mês antes do falecimento
do ator em Paris (em 26 de novembro).

2. A única crônica de autoria de Grande Otelo: "O Negro e a Publicidade", texto


publicado em 9 de dezembro de 1950 no jornal "Redenção" (Rio de Janeiro, RJ), um
órgão de militância negra; o primeiro texto de artista nacional centrado na reivindicação
do emprego de negros em peças de publicidade.

Divulgação inicial da crônica: na principal biografia do ator e compositor, escrita


por Sérgio Cabral (pai) e intitulada "Grande Otelo: uma Biografia" (2007); reproduzida
sem se mencionar a publicação na época (o autor consultou somente os originais) e sem
associar a crônica ao movimento negro.

Outras descobertas reveladas no artigo:

1. O nome "Grande Otelo" não foi adotado, como informam a biografia de Sérgio
Cabral (pai), o site oficial do ator e as demais fontes, em 1935, e sim em 1927, ano em
que o ator, então com 11 anos, tornou-se famoso no Rio de Janeiro.

2. Após uma breve e bem-sucedida apresentação como integrante da Companhia


Negra de Revistas, no Rio de Janeiro, Grande Otelo apresentou seu primeiro espetáculo
solo, não mencionado em sua biografia ou em seu site oficial, no Teatro Cine Central do
Rio, contratado pela empresa Findipil.
Os nomes Pequeno Otelo e Grande Otelo:

. Primeira menção a Pequeno Otelo: 2 de novembro de 1926.

. Primeira menção a Grande Otelo: 12 de fevereiro de 1927.

Número de fontes primárias de 1927 que comprovam a informação sobre o


nome Grande Otelo: 40, todas apresentadas em imagens neste artigo, constituídas de
25 anúncios e 15 textos publicados de 12 de fevereiro a 27 de março.

Recurso utilizado pela Companhia Negra dos Artistas para atrair a curiosidade
do público: falsear a idade do ator, fazendo-o passar por uma criança de 6 anos de
idade quando já estava com 11 anos.

Feito histórico de Grande Otelo: o único artista mirim que foi chamado para
apresentar uma companhia de teatro, tornou-se membro dela e, em menos de 6 meses,
virou a sua maior atração.

Cronologia atualizada do início da carreira de Grande Otelo (várias correções


em relação à cronologia oficial):

1924

. "O Tesouro de Serra Morena" ou "Os Bandidos de Serra Morena".

. Circo de Uberlândia, Minas Gerais.

1924

. Peça teatral não identificada.

. Companhia de Comédia e Variedades Sarah Bernhardt, Teatro São Pedro,


Uberlândia, Minas Gerais.

. Primeiro uso do nome "Pequeno Tião".

1925

. "Pés pelas Mãos".

. Grupo amador não denominado (do empresário Álvaro Pinto), dezembro de 1925,
Real Centro Português, Santos.

. Participação provável.

1926

. "Nhá Moça", Companhia Arruda-Otília Amorim, março de 1926, Teatro Brás


Politeama, São Paulo.

. Mesma peça em março e abril, Teatro Rink, Campinas.


. Estreia profissional.

1926

. Peça não identificada.

. Companhia Tró-ló-ló, 14 de outubro de 1926, Teatro Apolo, São Paulo.

. Primeiro uso do nome "Pequeno Otelo".

1926

1. "Tudo Preto" (a partir de 21 de outubro), "Carvão Nacional" (de 29 de outubro a 2


de novembro), "A Revista das Revistas" (quadros de "Tudo Preto" e "Carvão Nacional",
3 de novembro), Teatro Apolo, São Paulo.

2. "Tudo Preto", 5 de novembro, e "Carvão Nacional", 6 de novembro, Teatro


Malfada, São Paulo.

3. "Preto e Branco", 7 de novembro, Cassino Antártica, São Paulo.

1926

. Excursão da Companhia Negra de Revistas pelo interior de São Paulo.

1927

1. "Café Torrado", 5, 6 e 8 de março, Companhia Negra de Revistas, Teatro


República, Rio de Janeiro.

. Primeiro uso do nome "Grande Otelo".

2. "Revista das Revistas", 10, 11 e 13 de março, Companhia Negra de Revistas,


Teatro República, Rio de Janeiro.

1927

. Espetáculo solo, 17, 19 e 20 de março, empresa Pinfildi, Cine-Teatro Central, Rio


de Janeiro.

. Continuação da temporada, após uma pausa por problema de saúde, em 26, 27 e 28


de março.

1933

. "A Volta do Front", de 14 a 18 de novembro, Companhia Nacional de Declamação


e Companhia de Autores Reunidos, Cassino Antártica, São Paulo.

. Recitação do poema "Moeda Paulista", de Guilherme de Almeida.

. Continuação da temporada em 13 de dezembro, no Teatro São Pedro, São Paulo.


. Retorno ao nome artístico "Pequeno Otelo".

1934

1. Participação em festival artístico da atriz Lódia Silva, 27 de setembro, Cassino


Antártica, São Paulo.

2. "Ensaio Geral", excursão com a companhia teatral de Zaíra Cavalcante pelo


interior de São Paulo.

1935

1. "Goal!" ("Gol!"), de 31 de maio a 3 de julho, companhia de Jardel Jercolis, Teatro


João Caetano, Rio de Janeiro.

. Primeiro uso do nome "The Great Othelo".

2. "Carioca", até o final de julho, companhia de Jardel Jercolis, Teatro João Caetano,
Rio de Janeiro.

. Retorno ao nome artístico "Grande Otelo".

3. "Rio-Follies", de 2 a 29 de agosto, companhia de Jardel Jercolis, Teatro João


Caetano, Rio de Janeiro.

. Retorno ao nome artístico "The Great Othelo".

4. "De Ponta a Ponta", de 30 de agosto a 8 de setembro, companhia de Jardel


Jercolis, Teatro João Caetano, Rio de Janeiro.

__________________________________________

Apresentação

As atividades artísticas de Grande Otelo (Sebastião Bernardo da Costa, depois


Sebastião Bernardes de Souza Prata, 1915-1993) como ator e compositor são bem
conhecidas.

Como ator, participou em mais de 100 filmes, dos quais o mais famoso foi
"Macunaíma", lançado em 1969. Também atuou em mais de 10 novelas.
https://www.amazon.com/Macuna%C3%ADma-Blu-ray-Grande-
Otelo/dp/6317699437

Como compositor, criou mais de 30 letras para músicas, das quais a mais famosa foi
"Praça Onze" (1942), em parceria com Herivelto Martins.

http://www.ctac.gov.br/otelo/musica/musica.asp

Poucos conhecem, entretanto, o poeta Grande Otelo, e menos ainda o militante pela
causa negra. Nesse último aspecto, apresento abaixo um texto profético de Grande
Otelo, sobre a necessidade da inclusão de negros na publicidade estrangeira e nacional.

O artigo foi publicado em 1950, ano da introdução da TV no Brasil, em um jornal da


militância negra que teve poucos números lançados. Hoje, 69 anos após o artigo, a
reivindicação de Grande Otelo remete-nos justamente à principal mudança visual nos
anúncios da publicidade brasileira: a inclusão de atores negros em peças encomendadas
às agências por governos e empresas.
De Pequeno Tião a Grande Otelo

Na seção "Espetáculos", o site oficial do ator e compositor apresenta estas peças


teatrais, nesta ordem, como sendo o início da carreira de Grande Otelo.

http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=espetaculos

Veremos nas seções a seguir como a cronologia inicial da carreira do ator é bem
diferente da oficial.
1924: surge o Pequeno Tião

Sebastião Bernardo da Costa (depois Sebastião Bernardes de Souza Prata), o Grande


Otelo, nasceu em 1915 na cidade de Uberlândia, então chamada Uberabinha.

Aos 9 anos, Sebastião, muito extrovertido, já atuava em circo e fazia apresentações


individuais à porta de hotéis, visando ganhar trocados de turistas.

No circo, Sebastião participava de uma encenação intitulada "O Tesouro de Serra


Morena" ou "Os Bandidos de Serra Morena", segundo seu biógrafo, Sérgio Cabral (pai).

Essas atividades interessaram a diretora de um grupo teatral que chegara para se


apresentar na cidade. A atriz Abigail Parecis, da Companhia de Comédia e Variedades
Sarah Bernhardt, logo convidou o menino para atuar com o grupo no Teatro São Pedro.

A estreia no palco se deu com apenas uma fala, no início da peça. Mas essa breve
participação valeu a inserção do nome artístico do ator no cartaz à entrada do teatro: O
Pequeno Tião.

Sebastião era órfão de pai, que morrera esfaqueado, e vivia com a mãe alcoólatra.
Abigail, a mãe de Abigail, Isabel Parecis, e o padrasto propuseram levá-lo para São
Paulo.

Abigal Parecis, em foto de 1932

"Correio de S. Paulo" (SP), 1/7/1932, número 14, página 6, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/720216/110
Os tempos eram outros, e a adoção foi consumada rapidamente, de modo legal. No
segundo semestre de 1924, o menino chegava a São Paulo.

1925: o Pequeno Tião se torna Pequeno Otelo

Em São Paulo, Abigail Parecis tomava aulas de canto e interpretação teatral no


Conservatório Dramático Musical de São Paulo, acompanhada do Pequeno Tião. Mais
tarde, quando Abigail tornou-se aluna do maestro italiano Fillipo Allesio, o pequeno
Sebastião continuou acompanhando a cantora nas aulas. E logo aprendeu a cantar árias
de óperas famosas. Ouvindo-o, Fillipo identificou a voz de um futuro tenor e previu que
ele representaria o papel de Otelo em espetáculo operístico.

O Pequeno Tião tornava-se o Pequeno Otelo.

Daqui em diante, os exemplares da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional


permitem acompanhar o início de carreira do menino ator.

Uma informação constante do livro "Grande Otelo: uma Biografia", de Sérgio Cabral
(pai), não pode ser confirmada pelas fontes. Segundo o autor, o diretor da Companhia
Tró-ló-ló, Jardel Jércolis, promovera um festival em benefício do ator Danilo Oliveira,
no qual a participação do Pequeno Otelo teria encantado o empresário teatral Sebastião
Arruda. Contratado, o menino prodígio do teatro nacional faria pequenas participações,
especialmente de canto, na peça "Nhá Moça", um dos carros-chefes da Companhia
Arruda-Otília Amorim. O ano: 1925.

"Grande Otelo: uma biografia", Sérgio Cabral, Editora 34, 2007.


https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA152&dq=%22Fron
teiras%20Perdidas%22%2C%20de%20W%20L%20White&hl=pt-
BR&pg=PA32#v=snippet&q=1924&f=false

Nascido em São Paulo, o ator Danilo Oliveira, conforme a notícia abaixo, publicada
em 1926, passara os 6 anos anteriores na Europa. Portanto, de 1920 a 1926 ele não
poderia recebido homenagens, ao vivo, em seu estado natal.

"A Gazeta" (São Paulo, SP), 29/6/1926, número 6119, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23231
O ator paulista voltou ao país para integrar a Companhia Tró-ló-ló, no Rio de
Janeiro. A primeira apresentação dessa Companhia em São Paulo deu-se em julho de
1926:

"Dentro de 9 dias teremos entre nós essa Tro-lo-ló famosa, que vinda do Rio com
grande fama de maiores vitórias para o nosso teatro de revista, revolucionará também o
meio teatral e artístico de São Paulo."

"A Gazeta" (São Paulo, SP), 30/6/1926, número 6120, página 5, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23240

Provavelmente, trata-se de um erro de memória de Grande Otelo. As fontes sugerem


que ele teria participado de uma apresentação nesse ano, e não em 1925.

A peça cômica "Pés pelas Mãos", associada a 1926 na listagem do início da carreira,
e que no site do Instituto Cultural faria parte do repertório da Companhia Negra de
Revistas, é outro enigma do início da carreira do ator.
A referência no site da Enciclopédia Itaú Cultural certamente está errada, por três
motivos:

(1) Nenhum trabalho consultado sobre a Companhia menciona essa peça como
integrante do repertório;

(2) O site Memória da Música só indica o ano de 1924 para representações da peça
em São Paulo por grupos profissionais, e nenhuma apresentação em 1926;

http://www.memoriadamusica.com.br/teatromusicado/

(3) Nenhuma notícia da imprensa paulista relativa à passagem da Companhia Negra


de Revistas por São Paulo inclui essa peça no repertório do grupo.

O único resultado de uma apresentação desta peça em ano próximo ao da cronologia


remete a 1925, na cidade de Santos. Tratava-se de "um grupo muito bem ensaiado de
amadores", o que pode relacionar a notícia a Grande Otelo, já que nesse ano o ator ainda
não havia estreado profissionalmente.

"A Gazeta" (São Paulo, SP), 10/12/1925, número 5954, página 2, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/22080
Outro indício importante: não se tratava de uma peça de temática negra, a essência
do trabalho da Companhia.

Segundo o site oficial e a biografia de Sérgio Cabral (pai), a estreia de Grande Otelo
na companhia de Sebastião Arruda, com uma pequena participação na peça "Nhá
Moça", deu-se no Teatro Rink de Campinas, em 1925.

Novamente, as fontes sugerem uma datação diferente. Há três resultados para a


passagem da Companhia Arruda em Campinas: um em outubro de 1924, já com a peça
"Nhá Moça" integrante do seu repertório, outro em março de 1926 e o último em abril
do mesmo ano.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 8/10/1924, número 21.982, página 8, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/15772

"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 10/3/1926, número 22.495, página 6,


penúltima coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/20726

"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 16/4/1926, número 22.531, página 6, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/21070

Abaixo, uma foto do Teatro Rink, em Campinas.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_cinemas_de_Campinas#/media/F
icheiro:Werner_Haberkorn_-_Vista_do_centro_da_cidade_de_Campinas_(cropped).jpg

Informa Sérgio Cabral (pai), de passagem, que o escritor J. Galante de Souza


registrou o Teatro Politeama como o palco de estreia de Grande Otelo pela companhia
Arruda. Há três registros de apresentação naquele espaço, o que reforça a suspeita de
que a estreia se deu realmente em 1926.

"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 18/3/1926, número 22.503, página 3, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/20801
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 25/3/1926, número 22.510, página 3, sexta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/20869

"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 30/3/1926, número 22.515, página 3, sexta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/20917

Abaixo, uma foto do Teatro Brás Politeama.


https://br.pinterest.com/pin/347480927479807255/

Observação: o "ator Prata" a que se referem os textos não é Grande Otelo, mas um
ator cômico de sucesso na época.

As informações acima provam que a companhia se apresentava tanto na cidade de


São Paulo, no Teatro Brás Politeama, quanto no Teatro Rink, em Campinas, no primeiro
semestre de 1926.

As fontes parecem sugerir que a sequência correta de peças teatrais seria:

1924: "O Tesouro de Serra Morena" ou "Os Bandidos de Serra Morena" (no circo de
Uberlândia).

1926: "Nhá Moça" (no Teatro Brás Politeama, em São Paulo, e no Teatro Rink, em
Campinas).

Mas há também correções necessárias na cronologia referente a 1926 e 1927, estas


mais conclusivas.
1926: o Pequeno Otelo e seu sucesso na Companhia Negra de Revistas

A Companhia Negra de Revistas, fundada no Rio de Janeiro em 1926 pelo ator e


cantor negro baiano João Cândido Ferreira (também Jocanfer e, mais tarde, De
Chocolat) e pelo cenógrafo branco português Jaime Silva, apresentou seu espetáculo de
estreia, a revista "Tudo Preto", no Teatro Rialto em 31 de julho daquele ano.

Inspirada pela Revue Nègre ("Revista Negra"), companhia teatral parisiense em que
se destacava a dançarina Josephine Baker (1906-1975), a Companhia Negra de
Revistas, em seu curto período de duração (o grupo seria desfeito em julho de 1927),
teve em seu repertório quatro peças principais: "Tudo Preto", "Preto no Branco",
"Carvão Nacional" e "Café Torrado".

O rompimento entre os dois sócios deu-se antes desse fim: apenas três meses depois
da estreia, De Chocolat deixava a companhia para fundar a Ba-Ta-Clan Preta.

O sucesso obtido no Rio de Janeiro levou a Companhia à sua primeira apresentação


fora desse estado. Foi nesse período que Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho),
então regente da orquestra, decidiu deixar a Companhia, ao negar-se a seguir com ela
nas apresentações pelo interior de São Paulo.

A matéria abaixo, publicada no jornal paulistano "A Gazeta", mostra uma foto de
Pixinguinha. O texto reproduz matéria original do jornal "A Pátria", do Rio de Janeiro.
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 13/10/1926, número 6207, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23841

A chegada da Companhia Negra de Revistas a São Paulo gerou várias matérias na


imprensa paulista. Uma delas consistia de uma votação para que os simpatizantes do
grupo decidissem qual, entre as peças do repertório, seria a primeira apresentada na
cidade pelo grupo. Esse concurso foi divulgado pelo "Correio Paulistano" em 24 de
setembro de 1926, com o título "Qual a peça de estreia da Companhia Negra de
Revistas?".

Um trecho desse artigo reforça a afirmação anterior, de que "Pés pelas Mãos" não
constava do repertório da Companhia (itálico acrescentado): "Dotada de um repertório
interessante, visto que suas peças são escritas especialmente para ela, a Companhia
Negra é o assunto de todas as rodas na capital da República [Rio de Janeiro], ainda mais
porque as músicas são encantadoras e vivem nos assobios das ruas como nos pianos das
residências mais elegantes". A criação da peça "Pés pelas Mãos" precedeu em pelo
menos 5 anos a fundação da Companhia.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 24/9/1926, número 22.692, página 8, primeira
e segunda colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/22870
Nos recortes abaixo, a prova de que a peça "Pés pelas Mãos" já era encenada em São
Paulo desde 1921.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 30/1/1921, número 20.684, página 3, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/4105

Já no início de outubro, o mesmo jornal informava que a temporada da Companhia


no Teatro Apolo duraria somente 20 dias, porque a companhia de Procópio Ferreira,
ator já consagrado na época (e pai da futura atriz Bibi Ferreira, nascida em 1922) havia
reservado o teatro para suas apresentações.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 2/10/1926, número 22.700, página 7, segunda
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/22971

A peça "Tudo Preto" terminou escolhida pelo público, uma criação original de De
Chocolat com músicas de Pixinguinha.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 6/10/1926, número 22.704, página 6, segunda
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23024

Grande Otelo estrearia na Companhia Negra de Revistas como mero apresentador do


grupo ante o público paulistano. Entretanto, um misto de curiosidade (por ser ainda
criança) e talento, demonstrado nas apresentações, faria com que o menino (então com
11 anos) fosse imediatamente contratado pela Companhia, e em poucos meses se
tornasse a sua principal atração.

No dia 13 de outubro, antes portanto da primeira representação da Companhia, uma


nota no jornal "A Gazeta" informava sobre um festival artístico da atriz paulista Lia
Binatti, estrela da Companhia Tró-ló-ló, exatamente aquela que se apresentou no Teatro
Apolo antes da Companhia Negra. O festival, em homenagem à Associação dos
Funcionários de Banco, contava com um [negrito acrescentado] "ato variado, como
concurso de Edna Torá, Maria Lisboa Gaby, Pequeno Otelo, Machado del Negri,
Danilo Oliveira e Lia Binatti, em números caipiras".

Vemos aí, novamente, a associação entre o ator Danilo Oliveira e Grande Otelo, mas
em 1926, e não em 1925. E a nota sugere que Grande Otelo fazia parte do elenco da
Companhia Tró-ló-ló, antes de se integrar à Companhia Negra de Revistas.
Aliás, essa nota é histórica também porque se trata da primeira a registrar o nome
"Pequeno Otelo". O espetáculo realizou-se no Teatro Apolo.

"A Gazeta" (São Paulo, SP), 13/10/1926, número 6207, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23841

Desse modo, as fontes permitem estabelecer a sequência inicial de peças na carreira


de Grande Otelo:

. "O Tesouro de Serra Morena", circo, 1924.

. "Pés pelas Mãos", grupo amador não denominado, 1925.

. "Nhá-Moça", Companhia Arruda-Otília Amorim, 1926. Estreia profissional.

. Peça não identificada, Companhia Tró-ló-ló, 1926.

E, como veremos abaixo:

. "Tudo Preto", "Carvão Nacional", "Preto no Branco" e "Café Torrado", Companhia


Negra de Revistas, 1926-1927.

Em 17 de outubro, o "Correio Paulistano" anunciava a próxima chegada da


Companhia e a data de sua estreia em São Paulo: 20 de outubro.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 17/10/1926, número 22.715, página 4, segunda
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23160

A biografia do ator escrita por Sérgio Cabral (pai) conta qual foi a primeira
participação do então Pequeno Otelo na Companhia.
"Grande Otelo: uma biografia", Sérgio Cabral, Editora 34, 2007.

https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA35&ots=kbkmtmn
vPY&dq=%22reapareceu%20o%20Pequeno%20Otelo%22&hl=pt-
BR&pg=PA35#v=onepage&q=%22reapareceu%20o%20Pequeno%20Otelo%22&f=fal
se

Como afirma o biógrafo, mesmo no ano seguinte, ao voltar ao Rio com Grande Otelo
incorporado ao elenco, alguns jornais e anúncios atribuíam ao ator a idade de 6 anos,
quando o ator estava com 11 anos.

A vitoriosa estreia da "excêntrica" Companhia valeu outra nota do "Correio


Paulistano".
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 23/10/1926, número 22.721, página 8, sexta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23246

Em 28 de outubro, a Companhia passou a apresentar a peça "Carvão Nacional".


"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 28/10/1926, número 22.726, página 4, quinta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23310

A partir desse dia, grandes anúncios passaram a sair na imprensa paulistana.


"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 28/10/1926, número 22.726, página 12, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23318
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 28/10/1926, número 6220, página 3, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23928

Nos dois dias antes da última da apresentação em São Paulo, ou seja, em 1º e 2 de


novembro, a Companhia Negra apresentou a "Revista das Revistas", "escolha dos
melhores quadros de 'Tudo Preto' e 'Carvão Nacional'". A última apresentação
consistiria de uma homenagem da Companhia a Procópio Ferreira e seu elenco. Essa
apresentação acabou não se consumando, como veremos adiante.
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 1/11/1926, número 22.730, página 3, quarta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23363

"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 2/11/1926, número 22.731, página 5, quinta
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23373

O espetáculo de 1.º de novembro marcou a carreira de Grande Otelo porque foi a


primeira vez em que o seu nome apareceu na lista de atores da Companhia Negra, nos
jornais. Mais do que isso: já se reconhecia o seu talento, que iria dominar a cena no
restante do breve período de existência do grupo.

"O desempenho esteve a contento. Nele muito cooperou o pequeno Otelo, que
conquistou muitos aplausos, com as suas canções e monólogos."

"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 2/11/1926, número 22.731, página 5, quarta e
quinta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23373

No dia 3, a Companhia Negra passou a se apresentar no Teatro Malfalda, no bairro


do Brás. O anúncio da estreia pelo "Correio Paulistano" destacou, novamente, a figura
de Grande Otelo:
"Há ainda uma razão para essa curiosidade: ― é que a companhia será apresentada
ao público pelo pequeno Otelo, o endiabrado garoto que, com a sua assombrosa
precocidade, tanto êxito tem alcançado".

"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 3/11/1926, número 22.732, página 2, quinta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23380

A estreia no Teatro Mafalda deu sequência ao sucesso da Companhia.


"Tanto na primeira como na segunda sessão, o espaçoso teatro da avenida Rangel
Pestana regurgitava de espectadores, que desde cedo haviam adquirido bilhetes, com
receio de lhes vir a faltar localidade, tal o interessante despertado no Brás pela
companhia."

"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 5/11/1926, número 22.734, página 4, quinta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23402

Depois do Teatro Mafalda, a Cassino Antártica serviria de palco para a Companhia


Negra, agora com a peça "Preto e Branco". Novamente, o "Correio Paulistano" deu
destaque a Grande Otelo.

"Esse espetáculo oferece ainda um outro atrativo: é que foi dedicado ao mundo
infantil pelo interessante Otelo, aquele pedacinho de gente de cor, que tanta simpatia
tem conquistado em São Paulo, por ser um verdadeiro assombro de precocidade".
"Correio Paulistano" (São Paulo, SP), 5/11/1926, número 22.734, página 4, quinta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/23402

No dia 5, uma terça-feira, o anúncio da Companhia divulgava tanto o espetáculo no


Teatro Mafalda, realizado nesse dia e nos dois dias seguintes, quanto o do Cassino
Antártica, com a apresentação de "Preto e Branco" no domingo seguinte.

No primeiro, o destaque: "Carvão Nacional ― Grande sucesso de Otelo, o ator de 6


anos de idade" (o menino já estava com 11 anos). No segundo, novo destaque: "Preto e
Branco ― Revista de grande sucesso, em que toma parte o interessantíssimo ator
'mignon' Otelo".

Esse anúncio é histórico porque se trata do primeiro em que o ator é mencionado


como um dos destaques de um grupo teatral.

"A Gazeta" (São Paulo, SP), 5/11/1926, número 6226, página 4, segunda e terceira
colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23961

No dia seguinte, o jornal paulistano "A Gazeta" publicava a última notícia sobre a
temporada da Companhia Negra na cidade. Em destaque, Grande Otelo:

"Sem dúvida, um dos principais atrativos do espetáculo de amanhã, no teatro da Rua


Anhangabaú, será o pequeno Otelo, em números novos de seu aplaudido repertório".
8

"A Gazeta" (São Paulo, SP), 6/11/1926, número 6227, página 4, primeira e segunda
colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/23969

O Pequeno Otelo, à época de sua estreia no Teatro.

http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=linhadotempo
1927: o Pequeno Otelo se torna o Grande Otelo e conquista o Rio

Não há discrepância entre fontes oficiais: o nome "Grande Otelo" teria sido atribuído
ao ator mirim pelo empresário teatral Jardel Jercoles, e utilizado pela primeira vez na
peça "Goal!" ("Gol!"), encenada em 1935.

"Grande Otelo: uma biografia", Sérgio Cabral, Editora 34, 2007.

https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA152&dq=%22Fron
teiras%20Perdidas%22%2C%20de%20W%20L%20White&hl=pt-
BR&pg=PA61#v=onepage&q=pequeno%20otelo&f=false

As fontes primárias contam outra história e são conclusivas: a alcunha "Grande


Otelo" surgiu e se consolidou já no início de 1927, e assim o pequeno Sebastião era
denominado quando se tornou o maior fenômeno do teatro nacional, naquele ano.

O menino que fora contratado para simplesmente apresentar a Companhia Negra de


Revistas ao público paulista, três meses antes, se tornara a sua principal atração e o
único nome era o único a merecer destaque nos anúncios das peças da Companhia.

Abaixo apresento 40 provas visuais dessa utilização de "Grande Otelo", oito anos
antes daquele apresentado na versão oficial: 25 anúncios e 15 textos (veja os destaques
em verde).

No texto abaixo, publicado em 16 de fevereiro de 1927, aparece pela primeira vez a


alcunha "Grande Otelo". O ator é apresentado com "um garotinho preto de seis anos".

"Notícias que temos lido de todos os jornais onde tem trabalhado a companhia,
dizem da mesma as maiores maravilhas e destacam extraordinariamente o Grande
Otelo, um garotinho preto de seis anos que é um verdadeiro fenômeno, pois canta,
dança e recita em diversos idiomas, como gente grande.

"Como se o esplendor com que são apresentadas as peças não bastasse para garantir
o êxito da temporada do República, bastava o garotinho Otelo para fazê-lo."
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 16/2/1927, número 40, página 14, penúltima
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53047

No dia seguinte, 4 de março, novo destaque para o menino prodígio do teatro


nacional.

"Faz parte do elenco como número de grande atração o Grande Otelo, um pequeno
artista de seis anos que é um verdadeiro assombro. O grande pequeno artista canta em
diversos idiomas com uma verve e uma espontaneidade extraordinária. Jornais de São
Paulo e de diversas cidades chamaram-no o maior artista do idioma português".
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 4/3/1927, número 54, página 10, quinta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53773

O "Jornal do Commercio" divulgou o texto abaixo, no mesmo dia, em que se


destacava:

"Faz parte do elenco como número de grande atração o grande Otelo, um pequenino
artista de seis anos de idade, que é um verdadeiro assombro. O pequeno grande artista
canta em diversos idiomas com uma verve e uma espontaneidade extraordinárias.
Jornais de São Paulo e de diversas cidades chamaram-lhe o maior artista do idioma
português. O público carioca vai ter a prova amanhã de que não houve exagero em
chamar-se-lhe assim."
"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 4/3/1927, número, página, coluna (em
"Teatros e Música").

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/22895

No dia seguinte, o da estreia da Companhia Negra no Teatro República, mais elogios


merecidos ao menino.

"A companhia traz um número de atração que por si só seria capaz de fazer o êxito
da mesma. É um pequeno artista negro de 6 anos, que tem assombrado todas as plateias
com a precocidade do seu talento. Chama-se o mesmo, Otelo, e é tal o seu
desenvolvimento e a verve com que conta e representa, que alguns jornais do Estado o
chamaram o maior intérprete da língua portuguesa.

"Otelo, estamos certos, vai tornar-se o 'enfant gaté' da plateia carioca. O público está
ansioso por conhecer esse pequeno grande artista em que tanto se tem falado."
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 5/3/1927, número 9855, página 7, quarta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29785

No mesmo dia, o anúncio da peça "Café Torrado" afirmava: "Apresentação do já


notável ator O GRANDE OTELO. O artista mais pequeno do mundo".
"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 5/3/1927, número 62, página 16,
primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/22924

O mesmo anúncio do "Jornal do Commercio" saiu em "A Manhã".


"A Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 5/3/1927, número 371, página 8, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/116408/2524

No mesmo dia, outro anúncio da peça informava que os quadros de número 8 e 15


intitulavam-se "O Grande Otelo", os únicos quadros dos 22 apresentados pela
Companhia Negra que eram denominados por um ator.

"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 5/3/1927, número 55, página 28, primeira
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53817

O mesmo anúncio do "Jornal do Brasil" saiu no "Correio da Manhã".


"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 5/3/1927, número 9855, página 7, quarta e
quinta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29785

A primeira breve resenha da estreia da Companhia Negra foi conclusiva: "A


Companhia Negra de Revistas resume-se hoje no grande Otelo, moleque de pouco mais
de uma polegada de altura, mas que é um verdadeiro diseur [declamador]. Tem esse
atorzinho excepcionais qualidades para a difícil arte que abraçou, e desde já se pode
considerar um vitorioso. Entra em cena sempre calmo e diz o seu papel com absoluta
serenidade. É ainda um cômico de mérito, pois com o seu fino espírito provocou
hilaridade na plateia."
"O País" (Rio de Janeiro, RJ), 6/3/1927, número 15.477, página 5, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/178691_05/29017

No mesmo dia 6 de março, novo anúncio da peça "Café Torrado" informava: "Em
que o pequeno ator O Grande Otelo repetirá os números que ontem foram tão
aplaudidos".
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 6/3/1927, número 9856, página 6, segunda
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29798

O mesmo anúncio do "Correio da Manhã" foi publicado na "Gazeta de Notícias".


"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 6/3/1927, número 55, página 5, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_05/21832

E também no "Correio da Manhã".


"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 6/3/1927, número 9856, página 6, segunda
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29798

Dois dias depois, novo anúncio, agora no jornal "A Manhã", informava: "Êxito
assombroso ― 'O GRANDE OTELO', o mais pequeno artista mundial. Todas as noites
delirantemente aplaudido pela vivacidade e dicção impecável com que representa todos
os números, especializando... As canções em diversos idiomas".
"A Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 8/3/1927, número 373, página 8, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/116408/2548

Em 10 de março, a atração da Companhia Negra era "A Revista das Revistas", uma
seleção dos melhores quadros de suas peças características: "O 'Compère' [mestre de
cerimônias] da revista será desempenhado por O GRANDE OTELO. Pequeno Pretinho,
de 7 anos, mas GRANDE ATOR, que todas as noites é delirantemente aplaudido".

"A Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 10/3/1927, número 375, página 8, quarta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/116408/2564

O anúncio do jornal "A Manhã" também saiu no "Jornal do Brasil", no mesmo dia.

"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 10/3/1927, número 59, página 28, primeira
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53935

No dia seguinte, 11 de março, no mesmo "Jornal do Brasil" outro anúncio destacava


a atuação do menino prodígio em "A Revista das Revistas", que "[...] ontem obteve um
grande sucesso, sendo o compère da revista desempenhado pelo pretinho de 7 anos, O
GRANDE OTELO, que nesta peça ainda mais se impõe como um grande ator".
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 11/3/1927, número 60, página 28, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53963

No dia 13 de março, novo destaque para Grande Otelo no anúncio publicado no


"Jornal do Brasil".

Um detalhe importante: o anúncio informa que esse dia foi o último em que a
Companhia Negra de Revistas se apresentou no Teatro República, no Rio de Janeiro.
Segundo o texto: "DESPEDIDA DE GRANDE OTELO".

Veremos a seguir que o ator, sem a Companhia Negra, passou a se apresentar no


Cine Teatro Central, aparentemente fazendo um espetáculo solo, informação que não
consta da biografia de Sérgio Cabral (pai).

"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 13/3/1927, número 62, página 36, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/54025

No anúncio abaixo, de 16 de fevereiro de 1927, Grande Otelo é apresentado como


uma "Sensacional estreia: O GRANDE OTELO. O mais pequeno artista mundial.
Delirantemente aplaudido pela vivacidade e dicção impecável com que representa todos
os seus números, especializando As Canções em diversos idiomas. Um prodígio ― Um
assombro! Único do Mundo".

O aspecto importante do anúncio é a informação de que Grande Otelo, devido ao seu


destaque na Companhia Negra de Revistas, havia sido contratado por outra companhia,
a Empresa Pinfildi para apresentar um espetáculo solo. Nada disso se encontra na
biografia do ator escrita por Sérgio Cabral (pai), nem no site oficial do ator.
"A Noite" (Rio de Janeiro, RJ), 16/3/1927. número 5500, página 5, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/348970_02/19493

Quatro dias depois, uma breve nota no "Correio da Manhã" destacava o novo
trabalho de Grande Otelo, com alguns trechos extraídos de anúncios.

"Faz sua estreia hoje, no palco do Central o Grande Otelo. Apesar de sua pouca
idade, o Grande Otelo já é um artista de renome, pois que tem conquistado as plateias
onde tem trabalhado. Delirantemente aplaudido, pela vivacidade e dicção impecável
com que representa todos os números de seu repertório, o Grande Otelo é um triunfador.
O Grande Otelo não canta somente em português, ele sabe manejar também com
facilidade vários idiomas. A estreia de Grande Otelo, o menino prodígio, constitui um
acontecimento artístico notável e vai atrair ao Central todo o público do Rio".

A informação mais relevante: Grande Otelo, que havia se despedido da Companhia


Negra de Revistas em 13 de março (após estrear no grupo, em seu retorno ao Rio, em 5
de março), já em 17 de março estreava pela empresa Pinfildi, apresentando seu primeiro
espetáculo solo da carreira.
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 17/3/1927, número 9865, página 6,
segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29942

No mesmo dia, um anúncio publicado no "Correio da Manhã" não deixava dúvidas


sobre a importância do menino, nem sobre a sua desvinculação da Companhia Negra.
Jaime Silva, dono da Companhia Negra, entretanto, contribuiu para o espetáculo: "Os
cenários para os números do Grande Otelo gentilmente cedidos pelo Sr. Jaime Silva".
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 17/3/1927, número 9865, página 14, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29950

No dia seguinte, o "Jornal do Brasil" apresentou sua resenha do espetáculo:

"Como previmos, o sucesso da estreia do Grande Otelo, o menor artista do mundo,


excedeu a expectativa. Há muito tempo não víamos o público aplaudir um artista com
tamanho frenesi.

"Mas na realidade, Otelo é um menino prodígio: a sua pose, a sua maneira de


representar, o seu desembaraço quando canta ou quando recita, é de pasmar e
assemelham-se a um artista de 10 anos de palco! [O ator já estava com 11 anos de idade,
então.] No entanto, Otelo tem somente 7 anos, e há pouco iniciou a sua carreira artística.
A cada número de Otelo, os aplausos espontâneos do público rompiam delirantemente.
E Otelo foi forçado a executar 8 números, para contentar o público, quando seu
programa era apenas de 3. Eis um número que ninguém deve deixar de ir ver no Central.
O Grande Otelo, apesar de seu pequeno tamanho e de sua pouca idade, já é um artista de
valor. Com um desembaraço extraordinário, ele tanto canta e canção brasileira, como a
canção napolitana ou um tango argentino. Um número destes é raro, raríssimo mesmo.
De resto, Otelo se exibirá no Central apenas por alguns dias. É preciso, pois, aproveitar
estes poucos dias para ir apreciar o menor artista do mundo, um prodígio, um
verdadeiro encanto."

"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 18/3/1927, número 66, página 18, penúltima
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/54127

No dia seguinte, o anúncio empilhava qualificativos e elogios como "Êxito colossal",


"Assombro", "Prodígio", "Ver para crer". O conteúdo do espetáculo solo eram
"recitativos, monólogos e canções em vários idiomas". Outros artistas também se
apresentavam no mesmo programa.
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 19/3/1927, número 9867, página 14, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29976

Mais elogios em texto da edição de 20 de março, do "Correio da Manhã":

"[...] não menos grandioso é o sucesso do Grande Otelo, o menino prodígio, o artista
mais pequeno do mundo!

"Na verdade, o Grande Otelo é um número colossal que por si só vale um programa.
A sua vivacidade, o seu modo de representar no palco, a sua dicção impecável, é digna
de elogios. Em muitos grandes artistas não se encontra[m] os predicados de que é
dotado o grande Otelo. É uma maravilha, um assombro e uma magnífica aquisição feita
pela empresa do cine-teatro Central."
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 20/3/1927, número 9868, página 21,
segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/29997

No mesmo dia 20 de março de 1927, mais um anúncio pondo em destaque o nome


que as fontes até agora disponíveis garantiam só ter surgido em 1935.

"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 20/3/1927, número 9869, página 28, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30004
E o sucesso se fez sentir. Sobrecarregado pela carga de trabalho, o corpo de Grande
Otelo pediu tempo. Em 22 de março saía esta informação no "Correio da Manhã":
"Precisando de alguns dias de repouso, por se achar ligeiramente adoentado, somente no
próximo sábado fará sua reentrée no Central o famoso Grande Otelo, o menino prodígio
que tanto sucesso obteve no Central nestes últimos dias".

"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 22/3/1927, número 9869, página 6, terceira
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30010

O anúncio do Cine Teatro Central informava, na parte inferior: "O GRANDE


OTELO. Precisando repousar alguns dias, fará sua reentrée SÁBADO".

"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 22/3/1927, número 9869, página 14,
terceira e quarta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30018

Uma notinha no "Correio da Manhã", no dia seguinte, lembrava essa informação aos
leitores.
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 23/3/1927, número 9870, página 7,
segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30025

Nesse mesmo dia, outro anúncio do Cine Teatro Central, com a mesma informação
na parte inferior.

"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 23/3/1927, número 9870, página 16,
terceira e quarta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30034

No dia 24, uma promessa: O GRANDE OTELO (o menino prodígio) fará sua
reentrée depois de amanhã, SÁBADO".
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 24/3/1927, número 9871, página 16,
terceira e quarta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30050

O "Jornal do Commercio" divulgou a mesma informação em uma notinha.

"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 24/3/1927, número 81, página 5, quinta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/23290

O "Correio da Manhã" do dia seguinte destacou a importância do retorno do ator.

"Não há no Rio de Janeiro quem não tivesse já ouvido falar no Grande Otelo. Os
poucos dias que trabalhou no Central na semana passada ― de quinta a domingo,
apenas ―, ele conquistou já uma fama, e muita gente que queria vê-lo trabalhar foi
obrigado a desistir porque o Central estava sempre à cunha [abarrotado], durante os seus
espetáculos. Isto quer dizer que o Central [erro do redator] mais uma vez o Grande
Otelo no Central deve ir cedo, porque do contrário não encontrará lugares."
"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 25/3/1927, número 9872, página 6, quarta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30056

No mesmo dia, o rodapé do anúncio do Cine Teatro Central chamava para o público
para o espetáculo no dia seguinte.

"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 25/3/1927, número 9872, página 14,
terceira e quarta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30064

Uma notinha do "Jornal do Commercio" repetia o texto do "Correio da Manhã",


publicado no mesmo dia, dando a entender tratar-se de matéria paga pela empresa
Pinfildi.
"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 25/3/1927, número 82, página 4,
segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/23311

No dia do retorno aos palcos, novo texto elogioso no "Correio da Manhã".


"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 26/3/1927, número 9873, página 6,
primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30070

No mesmo dia, o "Jornal do Brasil" publicou um anúncio da atração teatral.

"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 26/3/1927, número 73, página 29, segunda e
terceira colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/54344

Outro anúncio com o mesmo teor saiu na "Gazeta de Notícias", no mesmo dia.
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 26/7/1927, número 72, página 5, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_05/21980

A reestreia deu-se em 27 de março.

"Correio da Manhã" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 9874, página 25,
terceira e quarta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/30105

Um texto de divulgação publicado no "Jornal do Commercio", no dia seguinte,


informava sobre o sucesso da reestreia.

"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 73, página 10,
última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_05/21993

Também o jornal "O País" registrou o retorno de Grande Otelo aos palcos.

"O País" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 15.498, página 5, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/178691_05/29229

Em outra nota do mesmo jornal, na mesma edição, informava-se:

"Como sempre, nas 3 sessões em que trabalhou ontem, o grande Otelo foi
delirantemente aplaudido, sendo obrigado a fazer 3 e 4 bis cada vez. O grande Otelo
trabalha hoje nas sessões de 14:30, 17 e 20 horas".
"O País" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 15.498, página 11, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/178691_05/29235

Um anúncio do Cinema Teatro Central, no mesmo dia, exaltava o sucesso de Grande


Otelo.
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 73, página 6, primeira
coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/103730_05/21989

O mesmo anúncio, em outro formato, saiu no "Jornal do Commercio", também em


27 de março.

"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 27/3/1927, número 84, página 32,
terceira e quarta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/23375

E o nome "Grande Otelo" só voltaria a aparecer na mídia em 1933 ― também com


uma novidade em relação à cronologia oficial do ator.
1933: Grande Otelo volta a ser o Pequeno Otelo

De 1927 a 1932, o nome de Grande Otelo desapareceu da mídia nacional.

Em 1930, o jornal carioca "A Batalha" publicou matéria especial com o autor teatral
Ruben Gill, em que ele aparecia como o "inventor do Pequeno Otelo".

"Mais: escrevi a peça de estreia para a célebre Companhia Negra de Revistas, tendo a
honra de apresentar, nesse transe, o famoso artista 'pequeno Otelo' [...]".

"A Batalha" (Rio de Janeiro, RJ), 5/2/1930, número 40, página 6, antepenúltima
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/175102/318

"Grande Otelo: uma biografia", Sérgio Cabral, Editora 34, 2007.

https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA152&dq=%22Fron
teiras%20Perdidas%22%2C%20de%20W%20L%20White&hl=pt-
BR&pg=PA61#v=snippet&q=flagelo%20dos%20mares&f=false

A biografia escrita por Sérgio Cabral (pai) registra o espetáculo "O Flagelo dos
Mares", apresentado em 1932 no Liceu Coração de Jesus, de São Paulo. Não consegui
encontrar uma fonte para essa informação.

Em 15 de maio de 1933, depois de um período pessoal conturbado, Grande Otelo


voltou aos palcos. O site oficial do ator registra uma participação na peça "A Volta do
Front" em 1932, mas como veremos, essa participação deu-se em 1933.

Não consta da biografia escrita por Sérgio Cabral (pai) o título dessa peça, nem o
nome da Companhia de Artistas Reunidos, pela qual Grande Otelo atuou na peça.
"Grande", não: "Pequeno" Otelo, porque o ator novamente passou a ser chamado dessa
forma na apresentação oficial do espetáculo.

A criação da Companhia Nacional de Declamação foi anunciada pelo jornal "Correio


de S. Paulo". A ideia era representar uma peça e, em seus intervalos (na "cortina",
segundo terminologia teatral), declamar poemas. A participação de Grande Otelo, como
veremos, se daria não nos atos da peça, e sim no momento da declamação.
"Correio de S. Paulo" (SP), 5/7/1933, número 328, página 2, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/720216/1968

Para encenar a primeira peça, criou-se outro grupo teatral, a Companhia de Artistas
Reunidos, "em que figuram elementos de prestígio no meio teatral paulistano". A peça
"A Volta do Front" centrava-se na Revolução Constitucional de 1932, deflagrada em
São Paulo no ano anterior.
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 8/11/1933, número 8351, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/42763

O nome "pequeno Otelo" reaparece em 11 de novembro de 1933:

"Em cortinas, o pequeno Otelo recitará os famosos versos do poeta Guilherme de


Almeida, 'Moeda Paulista', e o cantor Paraguaçu cantará a canção 'São Paulo, Terra da
Garoa''."
"Correio de S. Paulo" (SP), 11/11/1933, número 439, página 2, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/720216/2853

A estreia das duas Companhias, marcada para o dia 14 de novembro, foi anunciada
pelo "Correio de S. Paulo". Novamente apareceu o nome "pequeno Otelo", agora no
final da lista dos atores.
"Correio de S. Paulo" (SP), 13/11/1933, número 440, página 2, quinta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/720216/2861

Essa estreia mereceu um anúncio no jornal "A Gazeta". "Sainete" designa um bailado
executado nos intervalos de uma peça teatral.

"A Gazeta" (São Paulo, SP), 13/11/1933, número 8355, página 7, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/42814
No dia 14 de novembro, uma nota teatral no "Correio de S. Paulo" anunciou a estreia
da Companhia dos Artistas Unidos no Teatro Cassino Antártica, incluindo novamente o
nome "pequeno Otelo".

"Correio de S. Paulo" (SP), 14/11/1933, número 441, página 2, quinta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/720216/2869

Mais uma vez, o sucesso encontrou o ex-menino prodígio (agora com 18 anos):

"[...] e o pequeno Otelo obteve os mais entusiásticos aplausos nos versos de


Guilherme de Almeida ― 'MOEDA PAULISTA'".

"Correio de S. Paulo" (SP), 15/11/1933, número 442, página 2, quinta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/720216/2877

O final da temporada das Companhias se deu em 18 de novembro, conforme os


dados desta nota.
"A Gazeta" (São Paulo, SP), 18/11/1933, número 8360, página 7, penúltima coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/42866

Em dezembro, o espetáculo voltou à cena, agora no Teatro São Pedro. A ocasião


motivou o "Correio de S. Paulo" a redigir uma matéria com foto do Pequeno Otelo.
"Correio de S. Paulo" (SP), 13/12/1933, número 466, página 6, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/720216/3075

No ano seguinte, em 27 de setembro de 1934, o Pequeno Otelo participou de um


festival artístico da atriz Lódia Silva, juntamente com Procópio Ferreira.
"Correio Paulistano" (SP), 29/9/1934, número 24.048, página 3, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/5237

Sérgio Cabral (pai), na biografia do ator, afirma que Grande Otelo fez parte da
companhia teatral de Zaíra Cavalcante, em 1934, enquanto esperava a participação na
companhia de Jardel Jercolis, prevista para 1935.

"Grande Otelo: uma biografia", Sérgio Cabral, Editora 34, 2007.


https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA152&dq=%22Fron
teiras%20Perdidas%22%2C%20de%20W%20L%20White&hl=pt-
BR&pg=PA61#v=snippet&q=za%C3%ADra%20cavalcante&f=false

De fato, a "vedete do teatro brejeiro" e "rainha do samba cantado" fez uma


temporada em São Paulo, naquele ano. Grande Otelo teria acompanhado Zaíra em
excursão pelo interior do Estado.

"Correio de S. Paulo" (SP), 17/1/1934, número 496, página 6, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/720216/3313

O título do espetáculo seria "Ensaio Geral".

Camila Delfino da Silva oferece outros detalhes dessa participação.

"Grande Otelo: um pícaro na cena", página 29, Camila Delfino da Silva, dissertação
de mestrado em Artes, Instituto de Artes, Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia (MB), 2012.
https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/12306/1/CAMILA%20DELFINO.pdf
1935: o Pequeno Otelo se torna The Great Otelo

Jardel Jercolis, famoso empresário teatral brasileiro da época, apresentou três novas
peças teatrais em 1935. Para a primeira delas, "Goal!" ("Gol!"), contratou Grande Otelo
― na verdade, The Great Othelo. A alcunha inglesa se justificava porque o personagem
era apresentado como um negro que havia chegado ao Brasil, vindo de Nova York.

"CHEGOU AO RIO O ARTISTA NEGRO QUE JARDEL JERCOLIS CONTRATOU


PARA A TEMPORADA QUE VAI SER INICIADA NO DIA 24

"Pouco mais de cinco palmos de altura. Uma pedra de carvão, perto dele, é jaspe...
Tipo muito mais que sete! Miúdo, esperto, agilíssimo, elegante: eis o que é 'The Great
Othelo', esse negro-garoto inteligente que chegou ontem ao Rio, para figurar entre as
grandes atrações que Jardel Jercolis vai apresentar, a começar no dia 24, no Teatro João
Caetano.

"'The Great Othelo', made in U.S.A ou na Martinica.

"Aquele olhar inteligente tem extraordinário realce naquele 'campo escuro'.

"― Music!

"E o maestro, em vez de tocar um samba, dá vida a um alucinante fox.

"Ágil, metido numa elegantíssima casaca, autêntico talho Nagib, 'The Great Othelo'
inicia seu originalíssimo sapateado e canta, logo em seguida, como Bing Crosby:

"― 'You are so beautyfull [beautiful]!'

"'You are so beautyfull [beautiful]!'

"My little sweet-heart...'

"Positivamente, é a mais original atração de music-hall [espetáculo teatral de


variedades].

"Esperemos, porém, pelos números que 'The Great Othelo' vai apresentar na
suprarevista "Goal!'".
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 15/5/1935, número 113, página 9, quinta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/4780

A estreia da peça, em 31 de maio, foi um sucesso, e novamente a imprensa destacou


a atuação de Grande Otelo:

"The Great Othelo constituiu uma das surpresas reservadas ao público, que se
mostrou satisfeito [...]".
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 1/6/1935, número 130, página 15, primeira
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_05/54155

Em 2 de julho, um anúncio da companhia de Jardel Jercolis informava sobre o final


da representação de "Goal!", que seria sucedida pela peça "Carioca!'.
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 2/7/1935, número 154, página 9, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5356
1935: The Great Othelo volta a se chamar o Grande Otelo

O nome artístico The Great Othelo durou pouco mais de um mês. Já no segundo
espetáculo da companhia de Jardel Jercolis, o ator passou a ser apresentado como o
Grande Otelo, conforme esta notícia de 2 de julho.

"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 2/7/1935, número 154, página 9, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5356

Três dias depois, em 5 de julho, o mesmo jornal informou sobre o personagem de


Grande Otelo.

"O Grande Otelo fará o negro que tem alma branca, e Samba, figura de alta projeção
em 'CARIOCA'".

É possível que tenha havido um erro do redator, porque no texto de divulgação do


recorte anterior (veja acima) lê-se:
"[...] Samba (o preto que tem alma branca) Mesquitinha; Grande Otelo [...]"

"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 5/7/1935, número 157, página 9,


penúltima coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5392

O espetáculo permaneceu no teatro até o final do mês, conseguindo sucesso.

"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 23/7/1935, número 172, página 9, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5598

Em 2 de agosto, Jardel Jercolis estreou novo espetáculo, de que participava Grande


Otelo: "Rio-Follies".
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 3/8/1935, número 182, página 6, última
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5735

O nome artístico "o Pequeno Otelo" voltou a ser usado em uma nota do jornal "A
Nação" sobre uma participação do ator no programa "Hora das Crianças", da Rádio
Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro.
"A Nação" (Rio de Janeiro, RJ), 8/8/1935, número 790, página 8, penúltima coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/120200/9804

A apresentação de número 50 da "Rio-Follies" serviu de motivo para a qualificação


"a melhor revista destes últimos tempos", na nota do "Gazeta de Notícias".

"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 16/8/1935, número 193, página 9,


penúltima coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/5894

Antes da viagem à Europa, a companhia ainda estrearia outra revista, intitulada "De
Ponta a Ponta", em 30 de agosto, no dia seguinte ao do encerramento da temporada de
"Rio-Follies", em uma única apresentação.
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 28/5/1935, número 203, página 9, quarta
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/6030

A companhia de Jardel Jercolis cumpriu, na primeira semana de setembro daquele


ano, sua última semana de exibições no Teatro João Caetano, antes de uma viagem à
Europa. A notícia do "Gazeta de Notícias" trazia uma foto de Grande Otelo (nomeado
como The Great Othelo). O último dia de apresentações: 8 de setembro.
"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 3/9/1935, número 208, página 9,
penúltima coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/6098

A notícia abaixo confirmava a ida do ator com a companhia de Jardel Jercolis.


"Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro, RJ), 11/9/1935, número 215, página 8, terceira
coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/103730_06/6185

Nos anos seguintes, The Great Othelo voltou a ser o Grande Otelo, nome artístico
que acompanhou o ator até o final de sua vida, em 1993.
Cronologia atualizada do início da carreira de Grande Otelo

De posse dos dados acima, podemos corrigir e complementar a fase inicial da


cronologia da vida teatral de Grande Otelo, apresentada na biografia escrita por Sérgio
Cabral (pai) e no site oficial do ator.

http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=espetaculos

1924

. "O Tesouro de Serra Morena" ou "Os Bandidos de Serra Morena".

. Circo de Uberlândia, Minas Gerais.

1924

. Peça teatral não identificada.

. Companhia de Comédia e Variedades Sarah Bernhardt, Teatro São Pedro,


Uberlândia, Minas Gerais.

. Primeiro uso do nome "Pequeno Tião".

1925

. "Pés pelas Mãos".

. Grupo amador não denominado (do empresário Álvaro Pinto), dezembro de 1925,
Real Centro Português, Santos.

. Participação provável.

1926

. "Nhá Moça", Companhia Arruda-Otília Amorim, março de 1926, Teatro Brás


Politeama, São Paulo.

. Mesma peça em março e abril, Teatro Rink, Campinas.


. Estreia profissional.

1926

. Peça não identificada.

. Companhia Tró-ló-ló, 14 de outubro de 1926, Teatro Apolo, São Paulo.

. Primeiro uso do nome "Pequeno Otelo".

1926

. "Tudo Preto" (a partir de 21 de outubro), "Carvão Nacional" (de 29 de outubro a 2


de novembro), "A Revista das Revistas" (quadros de "Tudo Preto" e "Carvão Nacional",
3 de novembro), Teatro Apolo, São Paulo.

. "Tudo Preto", 5 de novembro, e "Carvão Nacional", 6 de novembro, Teatro


Malfada, São Paulo.

. "Preto e Branco", 7 de novembro, Cassino Antártica, São Paulo.

1926

. Excursão da Companhia Negra de Revistas pelo interior de São Paulo.

1927

. "Café Torrado", 5, 6 e 8 de março, Companhia Negra de Revistas, Teatro


República, Rio de Janeiro.

. "Revista das Revistas", 10, 11 e 13 de março, Companhia Negra de Revistas, Teatro


República, Rio de Janeiro.

. Primeiro uso do nome "Grande Otelo".

1927

. Espetáculo solo, 17, 19 e 20 de março, empresa Pinfildi, Cine-Teatro Central, Rio


de Janeiro.

. Continuação da temporada, após uma pausa por problema de saúde, em 26, 27 e 28


de março.

1933

. "A Volta do Front", de 14 a 18 de novembro, Companhia Nacional de Declamação


e Companhia de Autores Reunidos, Cassino Antártica, São Paulo.

. Recitação do poema "Moeda Paulista", de Guilherme de Almeida.

. Continuação da temporada em 13 de dezembro, no Teatro São Pedro, São Paulo.


. Retorno ao nome artístico "Pequeno Otelo".

1934

. Participação em festival artístico da atriz Lódia Silva, 27 de setembro, Cassino


Antártica, São Paulo.

. "Ensaio Geral", excursão com a companhia teatral de Zaíra Cavalcante pelo interior
de São Paulo.

1935

. "Goal!" ("Gol!"), de 31 de maio a 3 de julho, companhia de Jardel Jercolis, Teatro


João Caetano, Rio de Janeiro.

. Primeiro uso do nome "The Great Othelo".

. "Carioca", até o final de julho, companhia de Jardel Jercolis, Teatro João Caetano,
Rio de Janeiro.

. Retorno ao nome artístico "Grande Otelo".

. "Rio-Follies", de 2 a 29 de agosto, companhia de Jardel Jercolis, Teatro João


Caetano, Rio de Janeiro.

. Retorno ao nome artístico "The Great Othelo".

. "De Ponta a Ponta", de 30 de agosto a 8 de setembro, companhia de Jardel Jercolis,


Teatro João Caetano, Rio de Janeiro.

***

A revista "Estupenda" foi encenada no ano de 1937 (e no mês de fevereiro), e não no


de 1935, como se encontra na cronologia do site oficial do ator. Veja a prova, abaixo.
"Correio Paulistano" (SP), 3/2/1937, número 24.813, página 9, quarta e quinta
colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/16641
Grande Otelo, o poeta

O livro de poemas "Bom Dia, Manhã", única obra literária de autoria do ator e
compositor, teve seu lançamento em 27 de outubro de 1993, no Shopping da Gávea
(Rio).

Único jornal brasileiro a divulgar com destaque o lançamento do livro, a "Tribuna da


Imprensa", do Rio, publicou uma página inteira dedicada ao evento literário, com a
manchete "Grande Otelo lança livro de poesia e anuncia filme sobre a gafieira Elite", a
matéria "Cidadão brasileiro número um", de João Antônio, e uma entrevista concedida
pelo novo literato a Margareth Cordovil, com o título "Um filho de Xangô que não
gosta de injustiça".

"Tribuna da Imprensa" (Rio de Janeiro, RJ), 9/11/1993, número 13.347, página 1,


primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/21761
"Tribuna da Imprensa" (Rio de Janeiro, RJ), 9/11/1993, número 13.347, página 2.

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/21773

Na entrevista, Grande Otelo fez um histórico de sua relação com a poesia.

Como a literatura surgiu em sua vida?

Comecei a escrever rapazinho. Fui criado por uma família de Batatais (interior de
São Paulo). Minha madrinha foi a grande poetisa Maria Eugênia Fernandes de Queiroz,
de quem eu tiro uma citação, que abre "Bom dia, manhã": "O homem se esbate e se
estorce na ânsia de enriquecer". O trecho está no livro "Primavera eterna", publicado em
1925.

Você escondia os seus poemas?

Não. O primeiro foi escrito aos seis anos de idade. Tratei logo de mostrar a D.
Eugênia, que o achou muito engraçado e deu boas risadas. Nunca mais tive coragem de
mostrar-lhe nada. Mas continuei escrevendo, incentivado pela família. Li, quando rapaz,
"Espumas flutuantes", de Castro Alves, que muito me marcou.

Como evoluiu a poesia de Grande Othelo?

No princípio, a coisa fluía mais como se fosse de brincadeira. Depois, passei a


escrever rimado, a me preocupar com a métrica. Quando estava no Cassino da Urca, por
volta de 1940, comecei a me importar mais com o produto final.
"Tribuna da Imprensa" (Rio de Janeiro, RJ), 9/11/1993, número 13.347, página 2,
terceira, quarta e quinta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/21773

No mês seguinte, em novembro daquele ano, Grande Otelo participou do lançamento


do livro: uma noite de autógrafos no 26.º Festival de Cinema de Brasília ― também o
último evento público de sua vida.
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 11/11/1993, número 217, "Caderno B",
página 7, terceira coluna (em "Brasília divulga lista de filmes", de Carlos Heli de
Almeida).

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_11/102993

O festival transcorreu de 24 a 30 de novembro. Grande Otelo participou da abertura,


no dia 24. Segundo nota do jornalista Teodomiro Braga, o ator quis permanecer em
Brasília até o fim do festival, mas uma viagem marcada para a Europa obrigou-o a
partir.

"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 27/11/1993, número 233, página 8, primeira
coluna (em "Informe JB", de Teodomiro Braga).

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_11/104235

No dia 26 de novembro, ao chegar a Paris, onde receberia uma homenagem especial


no Festival dos Três Continentes, Grande Otelo sofreu um ataque cardíaco, vindo a
falecer no centro médico do Aeroporto Charles de Gaulle.
"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 27/11/1993, número 233, página 8.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_11/104238

Durante a estada em Brasília, Grande Otelo agradeceu ao presidente Itamar Franco a


concessão de pensão vitalícia, que nunca viria a receber. O ator também não pôde
realizar o projeto de filmar "a película dos seus sonhos", um filme sobre a famosa
gafieira Elite, do Rio, intitulado "Gafieira". Esse projeto motivou um pedido de ajuda
financeira ao Presidente.
"Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro, RJ), 22 e 23/1/1994, "Revista Nacional",
número 91, página 20, última coluna (em "Grande Otelo, o Imortal Macunaíma", de
João Movietone).

Segundo nota do "Jornal do Brasil", o livro "Bom dia, manhã" tinha 154 páginas e
era vendido a CR$ 2.300,00 (dois e mil e trezentos cruzados).

"Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro, RJ), 20/11/1993, número 226, caderno "Ideias e
Livros", página 3, última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_11/103712

Eis a capa do livro.

https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-700922977-livro-bom-dia-manh-grande-
othelo-2911-_JM?quantity=1#position=1&type=item&tracking_id=de133273-361c-
4126-8158-c35adc02c568

https://www.estantevirtual.com.br/livros/grande-othelo/bom-dia-manha/1129549364

Antônio Olinto, um dos autores escolhidos para redigir o prefácio (o outro foi Jorge
Amado), escreveu sobre a importância afetiva do livro para Grande Otelo.

"Tribuna da Imprensa" (Rio de Janeiro, RJ), 18/12/1995, número 14.000, página 13,
penúltima coluna (no Caderno "Tribuna Bis").

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_05/34495
Leia abaixo 6 poemas do livro, o qual também apresenta letras das parcerias musicais
famosas de Grande Otelo.

Viva a vida

Sou ontem

Estou vivendo hoje...

Será que o tempo

Não passou por mim?

Não sei.

Sei que velho ainda

A vida é bela

Como a vida é linda!

Me dá meu Deus

A alegria de viver

Viver ontem

Viver hoje

Quero viver, viver

Amanhã também

Ontem, hoje, amanhã

Além... Além... Além

Bom dia, manhã.

Vida de negro

E dali, a alma da gente ficou vibrando

Como se fosse uma corda de violino...

Tudo pode acontecer!

Está se vivendo... Tudo é possível

Dentro da vida!...
Se a vida parasse,

Talvez fosse possível sofrer menos...

Mas como?

A vida não parou não, moço!

Caminhou sempre junto com a gente...

Se a gente não caminhar com ela

Vida, se dá mal.

É melhor seguir este ritmo

Horrível, monótono

Como um zabumba de negros

No meio da selva.

O palhaço de hoje

Eu sou o palhaço de hoje

Isto é normal

É carnaval

Eu sou, tu és e ele é

Nós somos, vós sois

Ninguém usa fantasia

O ano inteiro

Mas é palhaço de janeiro a janeiro

Palhaço vai à festa todo dia

E traz a cesta básica vazia

Se o palhaço quiser reclamar

Reclama pro bispo, antes de rezar


Palhaço votou em quem quis

Protesta, agora diz que é infeliz

Chora palhaço,

Teu choro ninguém vai enxugar

Foi nele,

Foi nele que você quis votar.

Verbo ser 3ª pessoa

À medida que o sol vem

Ela se alonga e na tua frente

Vai caminhando

À medida que o sol vai

Na tua retaguarda

Ela vai te acompanhando.

É olhada não é vista

Não importa a ninguém,

Que ela, sim ou não, exista

Se não a tiveres é porque

Também não tens

Sol, não existes

É mais longa e mais curta

Na medida em que

Estás alegres ou estás triste

É porque a rima é difícil

Não é poesia ― É sombra...

*
Desejo

O meu mundo eu carrego

Fazendo tudo, pra carregar sozinho

Ninguém poderia, mesmo querendo

Me ajudar a carregar

Este meu complicado mundo

Pesa muito e eu paro às vezes

Nos dias, semanas e meses

Em que este mundo pesa demais

E quando eu paro, choro e canto

Sem ninguém pra espiar

O choro que eu tenho pra chorar

E é baixinho, o canto que tenho pra cantar

Que é pra ninguém escutar

O canto que eu quero cantar

Que é pra ninguém escutar

O canto que eu quero cantar

Vou carregando com ele

Solitário nesta vida inteira

Levando sem saber pra onde

Meu velho mundo sem porteira.

"Bom dia, manhã", Grande Othelo, Topbooks Editora e Distribuidora de livros Ltda.,
Rio de Janeiro (RJ), 1993.

Fonte: Acervo do Projeto Grande Otelo ― 90 Anos.

http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=textos

O poema abaixo fez parte da matéria "Luiz Carlos Prestes Filho: o último encontro",
publicada na revista "Manchete" de 4 de dezembro de 1993, na qual o organizador do
livro "Bom dia, manhã" contou como foi seu último encontro com o ator.
"Manchete" (Rio de Janeiro, RJ), 4/12/1993, número 2174, página 21, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/281564
Grande Otelo, o profeta

Muito provavelmente, Grande Otelo foi o primeiro artista brasileiro a reivindicar a


participação de negros em anúncios publicitários. Essa queixa em forma de denúncia,
que se tornou comum somente no início do presente século, saiu em crônica publicada
em 9 de dezembro 1950.

"Nunca se viu, em um anúncio no Brasil, uma senhora negra abrindo uma geladeira,
tomando um refrigerante ou vestida com um belo maiô. Também a figura de um senhor
negro com os seus filhos dentro de um belo automóvel."

Neste ano, menos de três meses antes, em 18 de setembro, a primeira TV brasileira, a


TV Tupi de São Paulo, realizava sua transmissão inicial. E seria justamente este o
veículo mais visado nas reivindicações modernas do movimento negro, várias décadas
depois, na luta pela representatividade em telenovelas, telejornais e peças de
publicidade.

Grande Otelo e a militância negra

O periódico "Redenção", onde Grande Otelo publicou a crônica, destinava-se a lutar


pela inserção do negro na sociedade brasileira. Abaixo, a capa da primeira edição.
http://memoria.bn.br/docreader/844993/1

A seguir, a história da criação do jornal, publicada também no primeiro número:

"Há algum tempo, um grupo de brasileiros bem intencionados costumava conversar,


aos domingos, na casa do nosso diretor João Conceição, tentando encontrar um meio de
resolver o problema educacional e de alevantamento moral das classes menos
favorecidas do Brasil.

"Há tanta gente nas favelas, há tanta gente nos afastados rincões desta terra,
precisando de luz para o espírito e pão para o corpo... Precisamos mais escolas, a
questão é que pouca gente desce dos morros para vir estudar na planície. Por outro lado,
se todos resolvessem estudar de repente, então não haveria tantas escolas ― escolas
primárias ― onde abrigar uma legião de analfabetos.

"Resolvemos, pois, cooperar com o governo na imensa obra. Nós, os negros, com o
indispensável auxílio de todos /os/ brasileiros, vamos caquetizar negros, brancos e
mulatos.
"Então vamos fundar um jornal. Um jornal? Com que dinheiro? Fazer imprensa no
Brasil é um 'caso muito sério', ainda mais dirigida por negros. Vamos tentar,
consultemos os nossos amigos, os negros, os brancos, os mulatos e os caborés também.
Boa ideia.

"Fizemos, na velha Remington, um manifesto aos amigos, e o sonho tornou-se


realidade em pouco tempo. É um exército, temos gente de todas as classes sociais, de
todas as profissões e de todas as cores. Agora, pessoal, é cair firme no trabalho..."
"Redenção" (Rio de Janeiro, RJ), 9/12/1950, número 1, página 2, primeira, segunda e
terceira colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/844993/3

A Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional possui apenas os dois primeiros


números do periódico.

O artigo de Grande Otelo saiu na página 3 do primeiro número, com a chamada


"Grande Otelo escreve" acima do seu título "O Negro e a Publicidade".
"Redenção" (Rio de Janeiro, RJ), 9/12/1950, número 1, página 2, quarta, quinta e
sexta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/844993/3

O texto da crônica vem reproduzido na biografia do ator e compositor, de autoria de


Sérgio Cabral (o pai). Na introdução, o biógrafo menciona o pioneirismo da
reivindicação.
"Grande Otelo: uma biografia", Sérgio Cabral, Editora 34, 2007.

https://books.google.com.br/books?id=d9MkY9p4C14C&lpg=PA152&ots=kbklnrjt
OZ&dq=%22Fronteiras%20Perdidas%22%2C%20de%20W%20L%20White&hl=pt-
BR&pg=PA152#v=onepage&q=%22Fronteiras%20Perdidas%22,%20de%20W%20L%
20White&f=false

A introdução sugere que o texto teria sido escrito em 1953 (não há datação da
crônica na obra), mas a data precisa é 9 de dezembro de 1950. Sérgio Cabral também
não menciona uma possível publicação da crônica, nem o contexto da publicação: um
órgão da imprensa de militância negra (provavelmente porque teve acesso ao original, e
não ao texto publicado).

Não consegui encontrar a crônica ou o original no site dedicado a Grande Otelo.

http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=textos

Mas como Sérgio Cabral redigiu a biografia a partir desse acervo, certamente os
originais fazem parte dele.

Também não encontrei menção a esse artigo em trabalhos acadêmicos disponíveis no


Google Scholar. Essa busca revelou apenas um trabalho acadêmico centrado na relação
de Grande Otelo com a causa negra: "Grande Otelo/Sebastião e a luta dos negros no
Brasil" texto de Tadeu Pereira dos Santos publicado em "Albuquerque: Revista de
História", volume 9, número 17 (2017), do Programa de Pós-graduação em Estudos
Culturais (PPGCult) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/Câmpus
de Aquidauana).

https://periodicos.ufms.br/ojs/index.php/AlbRHis/article/view/5196

No início da carreira, como vimos, Grande Otelo participou da Companhia Negra de


Revistas (1926-1927), mas não se pode afirmar que essa participação derivasse de
militância. Ainda conhecido como Pequeno Otelo, foi convidado a apresentar a
Companhia, originária do Rio de Janeiro, nos palcos de São Paulo. Logo se viu
contratado, passando a atuar em seus espetáculos, nos quais se tornou a principal
atração, tanto pela idade (apenas 11 anos) quanto pela competência, esta exaltada em
resenhas publicadas nos jornais.
A crônica publicada no "Redenção", 24 anos depois (em 1950) parece ter sido a
primeira manifestação autônoma do ator e compositor (isto é, não vinculada a
espetáculo ou entrevista) em defesa da causa negra.

A segunda (e última) viria oito anos depois, em 1958: Grande Otelo arriscou-se a
entrar para a política, lançando sua candidatura a vereador pelo PTB. O slogan: "Não
vote em branco; vote em Grande Otelo". Segundo o ator, uma desistência do Partido
antes da eleição teria inviabilizado a candidatura.

Fora essas duas iniciativas, há vários registros de denúncias de Grande Otelo quanto
à discriminação dos negros no Brasil, em respostas dadas a entrevistas. E essas
respostas explicam a opção anterior. Um exemplo:

Entrevistador: E por que só agora, sexagenário, você se preocupa com o problema


racial do negro?

Grande Otelo: De certa forma a preocupação sempre existiu. Mas achava que não
tinha condições pessoais, emocionais para me integrar em um movimento em prol de
minha raça. Com o tempo, porém, criou-se em torno de mim uma situação que não é
nada confortável: os negros estão me cobrando atitudes. E isso me dá uma
responsabilidade tremenda. Resolvi assumir quando achei que tinha condições, pois elas
surgiram só depois de muito sofrimento e amadurecimento. Hoje eu já sei que vou
encontrar respaldo, dentro e fora da raça, para qualquer atitude. Por ser, ou apesar de ser
Grande Otelo, serei ouvido, terei cobertura da imprensa

"O imaginário da branquitude à luz da trajetória de Grande Otelo: raça, persona e


estereótipo em sua perfomance artística", Luis Felipe Kojima Hirano, Entrevista ao
"Jornal da Tarde" em 10/6/1978, Revista "Afro-Ásia", número 48, julho/dezembro de
2013, Salvador (BA).

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0002-
05912013000200003&script=sci_arttext&tlng=es#nt44

Outro exemplo da mesma fonte, este extraído da edição de 22 a 28 de janeiro de


1970 do tabloide "O Pasquim":

Entrevistadora: Então o preconceito racial no Brasil é um fato?

Grande Otelo: Claro, existe preconceito racial em todas as áreas, inclusive na área
artística. Você não vê nunca um preto numa situação de destaque. Eu pra chegar ao
ponto que cheguei tive que dizer muito "sim, senhor" [...] Em primeiro lugar, eles
acham que o negro é um irresponsável, segundo, eles acham que o negro não tem
capacidade pra fazer determinados papéis. Então, ainda hoje pintam o branco de preto
pra fazer papel de preto.
http://www.conradoleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=1788243&ctd=196&tot=&tipo=&a
rtista=

Em outra entrevista, reproduzida na matéria "25 anos sem Grande Otelo: relembre a
vida e a obra do humorista", de André Carlos Zorzi em "O Estado de S. Paulo"
(26/11/2018), o ator reforçou a sua visão sobre o preconceito racial:

"Questionado pelo Roda Viva em 1987 se ainda via discriminação no Brasil, foi
enfático: 'Completamente! A discriminação existe totalmente. Pela sua pergunta, a gente
sente que a discriminação existe. Se não existisse, você não teria a necessidade de fazer
essa pergunta'."

https://emais.estadao.com.br/noticias/gente,25-anos-sem-grande-otelo-relembre-a-
vida-e-a-obra-do-humorista,70002617636

Esta resposta do ator e compositor, reproduzida em trabalho supracitado ("Grande


Otelo/Sebastião e a luta dos negros no Brasil", de Tadeu Pereira dos Santos) explica a
sua relutância em assumir a militância explícita:

https://periodicos.ufms.br/ojs/index.php/AlbRHis/article/view/5196
__________________________

Eis a capa do livro que serviu de base ao texto citado por Grande Otelo logo no início
do artigo. Essa condensação faz parte da obra "21 Livros Famosos de Seleções",
publicada em 1959. O título original: "Lost Boundaries" (1948). O autor: William
Lindsay White.

https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-809088696-21-livros-famosos-de-
selecoes-_JM

O livro conta a história de um médico que esconde a sua ascendência negra para não
ser discriminado nos Estados Unidos. No ano seguinte ao da publicação, a história
chegou ao Cinema.
https://en.wikipedia.org/wiki/Lost_Boundaries
A crônica "O Negro e a Publicidade"

Estranho à primeira vista o título. Acontece, porém, que foi lendo um volume de
"Seleções do Reader's Digest" que uma ideia antiga tirou-me violentamente da cama e
fez com que eu me resolvesse a escrever o que escrevo. Se você não leu, procure o livro
"Fronteiras Perdidas", de W L White, é muito interessante.

Li a condensação no "Reader's" e gostei. Depois então resolvi "ler" os anúncios dos


diversos produtos americanos. Formidáveis como sempre. Pecando somente num ponto,
que há muitos anos me chama a atenção, não só nas "Seleções" como em todas as
revistas e jornais de qualquer parte do mundo. As figuras de homens, mulheres ou
crianças, são todas brancas. Por quê? Não me lembro de jamais ter visto em um anúncio
de geladeiras, perfumes, aviação, interiores de casas, móveis, etc., figuras negras. Qual
o motivo, meu Deus?

Só me lembro de ter visto anunciando sabão com uma gorda e negra lavadeira.
Banha com uma sorridente cozinheira negra ou nos anúncios de pasta de engraxate,
vagões de estrada de ferro com negros encarregados de botar o banquinho para os
brancos subirem, automóveis com motoristas negros, nunca passageiros de avião,
bicicleta ou seja lá o que for neste mundo, de confortável.

Fiquei pensando... pensando... Será que negro não tem direito a ter uma casa,
comprar móveis, etc. etc.? Os garotos negros, os homens e as mulheres negras querem
tudo quanto os brancos querem, senhores anunciantes! E se às vezes não compram ou
não usam é porque não são influenciados pelos anúncios, com figuras de negras bonitas
e bem vestidas ou negros sorridentes com o seu bom charuto ou cigarro Hollywood ou
Continental. Nunca se viu, em um anúncio no Brasil, uma senhora negra abrindo uma
geladeira, tomando um refrigerante ou vestida com um belo maiô. Também a figura de
um senhor negro com os seus filhos dentro de um belo automóvel.

A publicação de anúncios assim intensificaria a aproximação maior da raça e


influiria muito mais, pois o anúncio entra na massa.

O negro nos anúncios, além de ser uma providência de fundo social, é pitoresco pelo
imprevisto que seria, pois que nunca foi visto.

O negro quando veste uma boa roupa (não falo do privilegiado, ou vai para o meio
dos seus ou torna-se arrogante, cheio de si, como se tivesse feito uma grande coisa. Por
quê? Porque não está acostumado a saber que também pode usar boas roupas. O elogio
que um branco recebe com indiferença, o negro sente-se como que magoado ao receber.
Fica parecendo a ele que deve se sentir ofendido. Por quê?

Não está habituado como os brancos aos anúncios.

Muitos deles gostariam de usar o que veem nos jornais em figuras brancas, mas não
usam porque talvez nunca viram uma figura negra assim vestida, em jornais ou revistas,
e chegam à conclusão do branco pobre, com a diferença de que é conclusão do negro.
Não é direito, minha gente. Acostumemos os nossos negros a se verem bem vestidos
nas revistas. Mostremos os garotos negros saindo das sacolas [escolas], jogando futebol
graças ao Toddy, ou os bebês negros reclamando talco Johnson, e estaremos ajudando
também as democracias na aproximação dos povos, sem recorrer às doutrinas
terroristas. Viva a Light. que botou a figura de um negrinho nos seus anúncios de
racionamento. É verdade que de uma maneira discutível, mas pelo pitoresco, não
chegou a ofender ninguém, e é sempre um negrinho.

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