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HISTÓRIA

HISTÓRIA ECONÔMICA

Fabiano Prosa
Helder Henrique Jacovetti Gasperotto
Unidade 01 - As bases do pensamento Econômico:
Mercantilismo e Capitalismo Industrial

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Conhecer os principais conceitos do Mercantilismo e do

capitalismo industrial.

ESTUDANDO E REFLETINDO

“Ao se repensar o tempo histórico tendo como referência as


relações homem-natureza, pode-se ainda avançar na
compreensão das diversas temporalidades vividas pela sociedade e
nas formulações das periodizações e marcos de rupturas. Assim
como defendia Lévi-Strauss, as grandes transformações
irreversíveis da sociedade podem ser basicamente divididas em dois
grandes períodos. O primeiro momento desse longo processo foi a
revolução agrícola, com a criação da agricultura, responsável por
mudanças significativas nas relações entre os homens, a terra e as
plantas e animais. O segundo grande momento foi o da revolução
industrial dos séculos XVIII e XIX, que introduziu relações entre o
homem e os recursos naturais em escala sem precedentes,
impondo novo ritmo no processo de transformações e de
permanências. Esses dois momentos correspondem à constituição
de novas formas de os homens organizarem o tempo, com novos
ritmos, e de se organizarem no seu tempo cotidiano: ao longo
desse processo, o tempo da natureza foi sendo substituído pelo
tempo da fábrica”. (in: BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria
de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares
Nacionais: ensino médio: ciências humanas e suas tecnologias.
Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Média e
Tecnológica, 1999, pg. 49.)
Mercantilismo: O pensamento Mercantilista (Capitalismo Comercial)

O conflito do acúmulo de capitais corrobora com o que dizia a ética

paternalista cristã que condenava a usura (lucro, acúmulo de capitais). Esse


conflito cresce conforme o comércio da época se desenvolve. E é nesse período

que a expansão marítima vai tomando corpo, o capitalismo comercial


(mercantilismo) se prolifera e uma nova estrutura produtiva começa a imperar.

Uma sociedade também surge e começa a ficar descontente com essa

situação, a burguesia quer acumular seus lucros sem o peso do pecado imposto
pelo cristianismo (catolicismo) da época. Começa, assim, a ética protestante; do

outro lado, uma nova religião ganha muitos adeptos, pois o protestantismo vai
dar razão ao pensamento da acumulação de capitais sem remorso.

O mercantilismo pode ser empregado para designar a fase inicial do


sistema capitalista. Trata-se de uma política econômica, que vai de 1500 até a

Revolução Industrial, e que tinha como base o desenvolvimento econômico com o


acúmulo de riquezas exercidas com o comércio do ouro e prata. Quanto maior o

acúmulo de riquezas, mais fortalecido ficaria seu reino.


Essa fase do desenvolvimento do sistema capitalista está associada à

expansão comercial e a explorações de colônias na América. Assim sendo, o


capitalismo tem sua base na acumulação de capital.

“O termo capitalismo designa, com muita propriedade, este


sistema cujos pilares são a busca de lucros e a acumulação de
capital. O capital é a fonte dos lucros e, portanto, a fonte de
acumulações de capital ulteriores. Esse processo, contrariamente à
charada do ovo e da galinha, teve um início. A acumulação
primitiva de capital ocorreu no período ora analisado. As quatro
primeiras fontes de acumulação inicial de capital foram: (1) o
rápido crescimento do volume do intercâmbio do comércio de
mercadorias; (2) o sistema de produção manufatureira; (3) o
regime de enclousure dos campos e (4) a grande inflação de
preços”.

(HUNT; SHERMAN. 2007, p. 34).


O sistema vigente teve alguns condicionantes para o seu desenvolvimento,

como o cerceamento do campo (enclousure), a exploração das colônias e dos


metais preciosos que elas continham, a inflação reinante nessa época e o

renascimento intelectual.

Capitalismo Industrial

O liberalismo Clássico e a Revolução Industrial: diferentemente dos

mercantilistas, os pensadores do capitalismo industrial propunham uma maior


liberdade comercial, isto é, não ficaria restrito ao mercado interno, fazendo

expandir o mercado externo.


Essa economia foi desenvolvida acompanhada da inovação tecnológica, as

máquinas substituindo a mão de obra artesanal, a indústria passando a ser o


principal setor de empregos. O desenvolvimento das máquinas causou o aumento

da produção e o consequente aumento do acúmulo de capitais, aumentando,


assim, o lucro.

Juntamente com desenvolvimento da economia, a sociedade também


passa a assimilar esse processo, que levou a um grande êxodo rural; o processo

de urbanização ajudou a indústria emergente, fornecendo a mão de obra barata.


Muitos trabalhadores artesanais ou não se revoltaram com as máquinas

que lhes tiravam o emprego; em alguns pontos, eles quebraram máquinas nas
fábricas, pois não perceberam que o que havia mudado era o sistema. A mudança

era na estrutura do sistema capitalista, com a máquina acelerando a produção e


esta acelerando o lucro.

A doutrina liberal clássica veio para ficar definitivamente no pensamento


econômico e social dessa época; ela é marcada por diversos pensadores, mas

cabe lembrar Adam Smith e Robert Malthus.


A filosofia de Adam Smith fazia oposição ferrenha à teoria da ética

paternalista cristã: ele propunha um livre mercado, sem aquela ideia de que os
ricos deveriam promover o bem-estar dos pobres. Smith defendia a ideia de que
a prosperidade econômica dependia da capacidade produtiva da economia e a

capacidade produtiva dependeria da acumulação de capital e da força de


trabalho, força de trabalho atrelada a um baixo salário. Assim, o acúmulo de

capitais seria maior e o lucro também. Ele defendia a liberdade econômica com a
lei da oferta e da procura.

Robert Malthus postulava a preocupação com o crescimento populacional;


no final do século XVIII, o pastor anglicano Thomas Robert Malthus lançou sua

famosa teoria, segundo a qual a razão para a existência da miséria e das

enfermidades sociais seria o descompasso entre a capacidade de produção de


alimentos, que se daria numa progressão aritmética PA (1, 2, 3, 4, 5...), em relação

ao crescimento populacional, que se daria numa progressão geométrica PG (1, 2,


4, 8, 16...).

Malthus chegou a propor que só deveriam ter filhos aqueles que


pudessem criar, e que os pobres em decorrência disso deveriam abster-se do

sexo. Além disso, defendia a tese de que o estado não deveria dar assistência à
saúde das populações pobres. Para ele, se não acontecessem "obstáculos

positivos", como guerras, epidemias, que causassem grande mortandade, o


desequilíbrio entre a produção de alimentos e o crescimento populacional geraria

o caos total.
Malthus errou, pois a tecnologia possibilitou um aumento exponencial na

produção de alimentos que hoje são produzidos a taxas superiores às do


crescimento populacional; além disso, temos verificado uma tendência à

estabilização do crescimento populacional nos países desenvolvidos, além de uma


desaceleração do crescimento em grande parte dos países subdesenvolvidos,

especialmente nas últimas décadas.


Com isso podemos concluir que, se há fome no mundo e no Brasil, hoje,

isso não se deve à falta de alimentos ou ao excesso de pessoas, mas à má


distribuição e destinação dos mesmos.
BUSCANDO CONHECIMENTO

Biografia de Adam Smith:


Adam Smith (1723-1790) foi economista escocês. Considerado o pai da economia
moderna. O mais importante teórico do liberalismo econômico do século XVIII. Autor da
obra "Uma Investigação Sobre a Natureza" e a "Causa da Riqueza das Nações", que é
referência para os economistas.
Adam Smith (1723-1790) nasceu em Kirkcaldy, Escócia, e foi batizado no dia 5 de junho de
1723. Filho do advogado Adam Smith e de Margaret Douglas, ficou órfão aos dois anos
de idade. Fez o curso secundário no Burgh School of Kirkcaldy. Estudou Filosoia em
Glasgow, na Universidade de Edimburgo e em 1740, ingressou no Balliol College da
Universidade de Oxford.
Radicado em Edimburgo, em 1748, deu cursos sobre ética e economia até ser nomeado
professor de Lógica, na Universidade de Glasgow, em 1751. Assumiu a cátedra de filosofia
Moral, em 1752. Publicou seu principal tratado, "The Theory of Moral Sentiments" (1759).
Como tutor do duque de Buccleuch, viajou pela França e Suíça entre 1763 e 1766, onde
teve contato com os fisiocratas, como Voltaire e François Quesnay, fundador da
fisiocracia.
De volta à Escócia abandonou a atividade acadêmica e alternou sua residência entre
Kirkcaldy e Londres, e publicou sua obra principal, "An Inquiry into the Nature and Causes
of the Wealth of Nations" (1776), obra que teve importância fundamental para o
nascimento da economia política liberal e para o progresso de toda a teoria econômica.
Pregava a não intervenção do Estado na economia e um Estado limitado às funções de
guardião da segurança pública, mantenedor da ordem e garantia da propriedade privada.
Adam Smith defendia a liberdade contratual, pela qual patrões e empregados seriam
livres para negociar os contratos de trabalho. Foi nomeado inspetor de alfândega em
Edimburgo (1777), onde passou o resto da vida, e encerrou sua carreira profissional como
reitor da Universidade de Glasgow. Postumamente ainda foi publicado "Essays on
Philosophical Subjects" (1795).
Adam Smith faleceu em Edimburgo, Escócia, no dia 17 de julho de 1790.

Disponível em: http://www.e-biografias.net/adam_smith/


Unidade 02 - As bases do pensamento Econômico: Marx e
Keynes

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Conhecer os principais conceitos da Teoria Econômica Marxista e


da Doutrina de Keynes

ESTUDANDO E REFLETINDO

Teoria econômica Marxista

Marx estudou a sociedade da época e a sua estrutura econômica. Esse


estudo ficou conhecido como materialismo histórico. Ele estudou a relação de

causa e efeito desse sistema, analisando as leis, a religião, costumes, códigos


morais, o sistema econômico e as relações sociais (duas classes sociais – burguesia

e proletariado).
“O modo de produção compunha-se de dois elementos: (1) as
forças produtivas e (2) as relações de produção. As forças
produtivas englobam as ferramentas, fábricas, equipamentos, o
conjunto de habilidades e conhecimentos adquiridos pela força de
trabalho, os recursos naturais e o nível tecnológico. As relações de
produção constituíam as relações sociais que os homens
mantinham entre si, em particular a relação de propriedade ou
não propriedade que cada classe de homens estabelecida com os
meios de produção, implicando determinada forma de repartição
dos frutos da atividade produtiva. O conjunto do sistema
econômico, ou modo de produção, foi criado por Marx base ou
infraestrutura. As religiões, a ética, as leis, os costumes e as
instituições sociais compunham a superestrutura.”

(HUNT; SHERMAN. 2007 p. 92).


Sendo assim, o Modo de Produção era composto pelas forças produtivas –

fábricas, equipamentos, tecnologia e mão de obra, e as relações de produção –


relações sociais, propriedade e classes sociais.

Infraestrutura é o sistema econômico ou o modo de produção, e a


superestrutura é a religião, leis, os costumes (família), as instituições sociais

(escola) e a própria ideologia.


As classes sociais segundo Marx seriam duas: a burguesia (que detém os

meios de produção) e o proletariado (que vende sua força de trabalho); nesta

relação entre os meios de produção e a força de trabalho, após a força de


trabalho ter produzido o produto, os que detinham os meios de produção

vendiam os produtos com preços superiores à quantia investida inicialmente. Isso


foi chamado por Marx de mais-valia; então, quanto menor o salário maior o

trabalho mais lucro se obteria.

Capitalismo financeiro
Doutrina de Keynes

Nesta teoria, ele analisou o que acontecia com o sistema capitalista e fez
propostas para solucionar seus problemas. Ele faz um embasamento com três

vertentes: a poupança, as importações e os impostos.


No caso da importação, faz-se necessário diminuí-la ou contrabalancear

com o aumento das importações. A poupança financia os investimentos de


capital. Os impostos forneceriam ao governo a aquisição de bens e serviços.

Para Keynes, a intervenção do Estado na economia é necessária para se


evitar crises, gerar empregos, contendo os gastos públicos e controlando a

demanda dos produtos para não gerar inflação, controlando assim a emissão de
moedas.

As ideias de Keynes ficaram vigentes até a década de 70; a partir daí,


surgiram os economistas neoclássicos, que criticavam a teoria Keynesiana por
possuir um Estado pesado, oneroso e ineficiente em relação às suas contas (déficit

público).

BUSCANDO CONHECIMENTO

Economia Primitiva

 divisão natural do trabalho (distingue homens, mulheres, crianças e velhos);


 igualdade socioeconômica;

 coletivismo;
 ausência do Estado.

- Escravismo

 apogeu de Atenas e Roma;


 dívidas e derrotas na guerra;

 propriedade privada;
 Estado controlado pela elite.

- Feudalismo

 base agrícola, meio rural;


 sociedade estamental (domínio do clero e da nobreza sobre os servos);

 ideologia da igreja cristã.

- Capitalismo Comercial
 transição do feudalismo para o capitalismo;

 a burguesia se afirma no poder econômico;


 a religião protestante e o fim da usura.

- Capitalismo Industrial

 a separação do capital-trabalho;
 a mais-valia;
 duas classes sociais: burguesia e proletariado;

 Liberalismo econômico (Estado Liberal).

- Capitalismo Financeiro
 Terceira Revolução Industrial;

 Formação de grandes conglomerados;


 Quarta revolução industrial atual fase.

Modo de Produção

Modo de produção é uma estrutura global formada por estruturas

regionais, a saber:
1) Econômica  existe uma inter-relação dos modos de produção de bens

materiais, de tal forma que um domina os outros. É o modo de produção.


2) Jurídico-política  leis e as políticas públicas.

3) Ideológica  um conjunto estruturado de representações e ideias.


Processo de Produção

É todo processo de transformação de uma matéria-prima ou produto


natural, já trabalhado previamente, em um produto específico. A matéria-prima é

transformada pela atividade humana e de máquinas em um produto.

matéria transformação produto


prima

atividade instrumento
humana de trabalho
Unidade 03. O Modo de Produção Feudal

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Nessa unidade compreenderemos a organização, o


desenvolvimento e as contradições do modo de produção feudal, denominado

Feudalismo.
A organização do Feudalismo deve-se a uma reunião de fatores, dentre os

quais podemos apontar o legado deixado pelos romanos durante o processo de


desagregação ou decadência do Império, quando a população das cidades seguia

em direção ao campo, pois os altos impostos cobrados pelo Estado intensificaram

o êxodo urbano, ressaltando também a necessidade de proteção contra as


invasões bárbaras, principalmente após a conquista de Roma pelos hérulos,

liderados pelo rei Odoacro, em 476.


Os camponeses passaram a viver em grandes propriedades rurais

denominadas “Vilas Romanas” e o sistema de trabalho era conhecido como


“Colonato”, responsável pela coletivização das atividades no campo.

Podemos afirmar que o modelo econômico feudal, representado pelas


grandes propriedades rurais e pela servidão coletiva, deriva da organização do

trabalho rural nas “Vilas Romanas” nos séculos V e VI.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A Idade Média divide-se em dois períodos:


 Alta Idade Média (séc. V - X): organização, estruturação e desenvolvimento do

modelo econômico e suas repercussões políticas e sociais.


 Baixa Idade Média (séc. XI – XV): declínio e desestruturação do Feudalismo a

partir do advento das Cruzadas e da reabertura das rotas comerciais no mar


Mediterrâneo, resultando na monetarização da economia na Europa Ocidental.
O Feudalismo é o modelo econômico da Idade Média, apresentando também

características políticas e sociais próprias.


Principais características do Feudalismo

 Economia agrícola: A principal atividade econômica desenvolvida nos feudos


era a agricultura (especialmente trigo), por meio do trabalho coletivo dos

servos. Também somava-se a essa atividade, a prática do artesanato e o


pastoreio.

 Autossuficiência: Produziam tudo aquilo de que necessitavam, ou seja, não

havia relações econômicas de compra e venda interfeudais. Lembrando que


as necessidades eram poucas (alimentos, ferramentas e vestuário) e supridas

no cotidiano do feudo pelo trabalho desempenhado pelos servos.


 Economia amonetária: Sem circulação de moedas. Embora as moedas

existissem desde a Idade Antiga, durante o período feudal elas pouco


circularam, pois em razão da autossuficiência, as relações comerciais

praticamente inexistiam, quando muito, realizavam-se trocas de produtos


entre os servos. Porém, essas trocas de gêneros diversos levavam em

consideração as necessidades de cada indivíduo ou família naquele momento,


pois não havia produção de excedentes e nem sempre aquilo que um deles

tinha a oferecer interessava ao outro.


 Descentralização política: Cada senhor feudal administrava politicamente o

seu feudo, às vezes mais que um, caracterizando a autonomia feudal e o


estabelecimento dos padrões de pesos, medidas e moedas dentro da sua

área de dominação.
 Sociedade Estamental: A posição social do indivíduo era estabelecida desde o

nascimento, impossibilitando a mobilização social, seja de ascensão ou


declínio.

 Suserania e Vassalagem: Relação de lealdade, fidelidade e reciprocidade entre


suseranos e vassalos. Suserano – nobre que concedia terras para outro nobre.
Vassalo – nobre que recebia as terras do suserano.
O feudo era uma grande propriedade rural controlada politicamente pelo

senhor feudal (representante da nobreza) – “não existe senhor sem terra e não
existe terra sem senhor feudal” – na qual todo tipo de trabalho era exercido pelos

servos (camponeses).
Embora a palavra servo, derivada do latim servus, signifique escravo, a

servidão medieval não é caracterizada como tal, pois os servos, embora com
algumas restrições, tinham direito ao uso coletivo do solo e ficavam com parte

daquilo de produziam, desde que cumprissem com suas obrigações.

Os feudos dividiam-se em áreas ou domínios internos.


 Manso Senhorial: (terras do senhor feudal) Parte do feudo de uso exclusivo do

senhor feudal, onde se encontravam a moradia senhorial, a moenda de trigo,


o armazém e a área de cultivo agrícola senhorial. Tinha que ser arada,

semeada e colhida, antes das demais áreas do feudo.


 Manso Servil: (terras dos servos) Parte do feudo de uso coletivo dos servos, na

qual estavam as moradias servis, oficina e área de cultivo agrícola servil.


 Terras Comuns ou de Reserva: Parte do feudo de uso comum, representada

pelos bosques (obtenção de lenha), rios (obtenção de água) e pastos


(pastoreio de rebanhos).

BUSCANDO CONHECIMENTO

Dentro do feudo, os servos tinham algumas obrigações a cumprir.


Obrigações servis:

 Talha: Parte da produção servil, geralmente 50%, destinada ao senhor feudal.


Tal obrigação incidia não só sobre os produtos agrícolas, mas também sobre

todo e qualquer gênero oriundo da produção servil.


 Corveia: Dias da semana, geralmente 2 ou 3, nos quais os servos deixavam o

manso servil para trabalhar no manso senhorial, pois mesmo nessa parte do
feudo, o trabalho era integralmente realizado pelos servos.
 Banalidades: Pagamento, com parte da produção, toda vez que o servo

necessitasse utilizar as instalações senhoriais, tais como, ferramentas ou


moinho de trigo.

 Mão-morta: Pagamento, com parte da produção, na ocasião do falecimento do


servo-mor, ou seja, aquele que mantinha o vínculo com o senhor feudal, para

que seus familiares continuassem no feudo iniciando um novo compromisso


nas relações servis-senhoriais.

 Vintém: Pagamento, com parte da produção, para a igreja católica medieval.

Conforme verificamos anteriormente, a carga tributária paga pelos servos


era excessiva e, tratando-se de um modelo econômico amonetário, ou seja, sem

circulação de moedas, tais tributos eram pagos com parte daquilo que os servos
produziam.

Um ditado da Idade Média dizia que “feliz é o servo que come do seu
próprio trigo.”

Essas obrigações tributárias servis garantiam o sustento cotidiano da


nobreza – classe social predominante, pois enquanto alguns trabalhavam (servos),

outros governavam (senhores feudais), guerreavam (cavaleiros) ou rezavam


(clérigos), mantendo nos membros da nobreza, os respectivos poderes: político,

militar e religioso.
A desagregação do modelo feudal deve-se a uma série de fatores, dentre

as quais se destaca a monetarização da economia a partir do advento das


Cruzadas (séc. XII-XIV), responsável pela reabertura das rotas comerciais no mar

Mediterrâneo, no momento em que os europeus se depararam com a explosão


de cores, odores e sabores do oriente, representadas, respectivamente, pelos finos

tecidos chineses, tapetes persas, perfumes e óleos aromáticos árabes e especiarias


indianas (pimenta, cravo, canela...).

Outro fator preponderante foi o aumento da população servil em


descompasso com a produção de alimentos, desequilibrando o sistema
econômico feudal e obrigando muitos camponeses a abandonar as terras,

marcando um lento processo de êxodo rural.


Além dos fatores citados, os séculos XIV e XV, foram marcados pela peste e

pela guerra. A Peste Negra, epidemia que vitimou aproximadamente 1/3 da


população da Europa Ocidental e a Guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre

Inglaterra e França, contribuíram para agravar a situação de crise já existente.


Os limites do feudo foram ultrapassados e um novo modo de vida

descortinou-se diante dos olhos dos camponeses. As trocas de gêneros não eram

mais viáveis ou atraentes, pois as moedas circulantes permitiam trocá-las por


qualquer outro produto de necessidade individual.

A economia agrícola ou rural tornou-se coadjuvante do modelo comercial


urbano que se iniciava nas várias cidades que surgiam ao longo das muralhas

feudais, entroncamento de estradas ou margens de rios.


Unidade 04. Mercantilismo

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Compreender a transição econômica feudal-capitalista, durante a


Baixa Idade Média, ocasião na qual ocorreu a monetarização da economia,

originando o modelo econômico mercantilista.

ESTUDANDO E REFLETINDO

As Cruzadas – Guerra Santa Cristã contra os islâmicos – possibilitaram a


reabertura nas rotas comerciais no mar Mediterrâneo e, consequentemente,

ocorreu o Renascimento Comercial e Urbano europeu, pois várias rotas de


comércio surgiram e se intensificaram nesse momento histórico.

As principais rotas de comércio eram:


 Rota do Mediterrâneo: (Constantinopla – Península Itálica) monopolizada

pelas cidades italianas – Gênova e Veneza – abrangia a bacia do mar


Mediterrâneo, desde Constantinopla – principal entreposto comercial de

produtos orientais – até a península itálica, de onde tais produtos seriam


distribuídos no continente Europeu.

 Rota de Champagne: (Península Itálica – Flandres) era a rota terrestre que


distribuía as mercadorias nas mais diferentes regiões da Europa Ocidental,

sendo que a região francesa de Champagne era a principal, pois nela se


realizavam as principais feiras medievais, locais de intenso comércio,

empréstimos e trocas de moedas.


 Rota do mar do Norte: (Flandres – Constantinopla) comandada pela cidade

de Bruges, nessa rota havia um intenso comércio de madeira, peles de


animais, peixes e couro, cujos lucros obtidos possibilitavam a compra de
produtos orientais em Constantinopla.
Essas rotas comerciais eram responsáveis pela distribuição das mercadorias

que seriam comercializadas nas feiras medievais, as quais se realizavam duas


vezes ao ano, embora mudassem de lugar, duravam aproximadamente seis

meses.

O comércio tornou-se a principal atividade econômica nas cidades que


surgiram ao longo da Baixa Idade Média (séc. XII – XV).

Algumas cidades se agrupavam regionalmente em associações de

comerciantes ou ligas comerciais com o intuito de evitar a concorrência de


comerciantes estrangeiros. A mais importante dessas associações comerciais foi a

“Liga Hanseática”, a qual abrangia um grande número de cidades localizadas no


norte da Europa e tinha por objetivo monopolizar o comércio na região.

Dentro das cidades, que, na maior parte das vezes, eram muradas, também
havia as associações de artesãos, denominadas “corporações de ofício”. Essas

corporações reuniam vários artesãos de uma mesma atividade profissional, tais


como: corporação de oficio dos ferreiros, corporação de ofício dos vidreiros,

corporação de ofício dos padeiros e assim por diante.


A função das corporações de oficio era estabelecer o “justo preço” e, dessa
forma, minimizar a concorrência entre os artesãos. Também amparavam o
trabalhador e sua família em caso de acidente ou óbito.

Outra figura importante nas cidades era o cambista, responsável pela troca
de moedas a serem utilizadas nas feiras medievais, pois, na maioria delas, os

comerciantes só aceitavam as moedas da região. O banqueiro era o individuo que


efetuava empréstimos em moedas ou emitia letras de câmbio.

Enfim, essas transformações exigiam novas diretrizes econômicas, pois a


posse de terras não era mais o fator de diferenciação social. Portanto, a nobreza

detentora das propriedades rurais perdia o seu status de classe social dominante
para a recém-surgida burguesia, composta principalmente pelos comerciantes,
cambistas e banqueiros, os quais detinham uma outra fonte de riquezas, as

moedas acumuladas a partir das transações econômico-comerciais.

“...nos primórdios do feudalismo, a terra, por si só, constituía a


medida da riqueza do homem. Com a expansão do comércio
surgiu um novo tipo de riqueza – a riqueza do dinheiro.”
(HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem.
21ª. Edição. Rio de Janeiro: LTC, 1986, pág. 35)

O mercantilismo – conjunto de medidas econômicas responsáveis pelo

desenvolvimento do capitalismo comercial na Idade Moderna (séc. XV – XVIII) – é


fruto da aliança entre o rei e a burguesia durante o período de transformações

sociais e econômicas na Baixa Idade Média.


Os burgueses estavam interessados em fortalecer e ampliar suas relações

comerciais, mas encontravam diversos entraves no mundo feudal, tais como: a


existência de pedágios interfeudais e a diversificação de pesos, medidas e

moedas, frutos da descentralização política do feudalismo.


Para favorecer a burguesia, era necessário implantar a intervenção real, ou

seja, a centralização política e a concentração de poderes na figura do rei, o qual,


por sua vez, precisava do apoio e do dinheiro da burguesia para enfraquecer a

nobreza feudal.
Podemos afirmar que essa aliança só foi possível naquele contexto

histórico, pois ambos estavam interessados em formas diferentes de poder.


Enquanto a burguesia buscava a ascensão e o poder econômico, o rei queria

monopolizar o poder político e formar um Estado Nacional.


Os impostos recolhidos e os empréstimos da burguesia ao rei fortaleceriam

o Estado Nacional e financiariam a estruturação do Exército Nacional Profissional


e Remunerado, responsável pela defesa dos interesses do rei em detrimento da

nobreza feudal.
Dentro do Estado Nacional – território outrora dividido em diversos feudos

– as barreiras interfeudais seriam eliminadas e os pesos, medidas e moedas seriam


padronizados, resultando na ampliação do comércio praticado pela burguesia.

“Passaram a existir leis nacionais, línguas nacionais e até igrejas


nacionais (...) os homens passaram a dever fidelidade não à sua
cidade ou ao seu senhor feudal, mas ao rei, que é o monarca de
toda uma nação (...)
Necessitava-se de uma autoridade central, um Estado Nacional.
Um poder supremo que pudesse colocar em ordem o caos feudal.
Os velhos senhores já não podiam preencher sua função social.
Sua época passara. Era chegado o momento oportuno para um
poder central forte.”
(idem, pág. 70 e 71)

O principal objetivo das práticas mercantilistas era o enriquecimento do


Estado Nacional Absolutista, por isso entendemos o envolvimento direto da

monarquia com os rumos comerciais da nação.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Principais características do mercantilismo

 Metalismo: Acúmulo de metais preciosos (ouro e prata) como sinônimo de


riqueza de uma nação, ou seja, a medida de riqueza na nação era definida

pela quantidade de ouro e prata acumulados em seus cofres.


 Balança Comercial Favorável: Consistia em manter os níveis econômicos de

exportação sempre acima dos de importação, ou seja, buscar o superávit


da balança comercial. “O que importa é exportar”.

 Intervencionismo ou Protecionismo Estatal: O Estado criava barreiras


alfandegárias para dificultar a entrada de produtos estrangeiros, em vista

da manutenção da balança comercial favorável. Intervenção do Estado na


economia.
 Monopólio Comercial: Exclusividade na comercialização de alguns

produtos ou gêneros tropicais, obtidos pela metrópole nas colônias de


exploração e distribuídos na Europa.

 Exploração Colonial: Sistema ou Pacto Colonial – relação bilateral de


dominação e dependência entre metrópole e colônia, na qual a colônia

fornece metais preciosos, produtos tropicais e matérias-primas para a


metrópole e recebe desta os produtos manufaturados de que necessita.

A exploração de colônias era fator preponderante para a manutenção da

balança comercial favorável da metrópole, contribuindo de forma decisiva para o


acúmulo de metais preciosos e, consequentemente, para o enriquecimento do

Estado Nacional.
Unidade 05 - Processo de acumulação primitiva do capital

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Caracterizar o conceito estabelecido pelo filósofo e economista

alemão Karl Marx para descrever o surgimento e o funcionamento do Capitalismo


Industrial.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Segundo Marx, a origem do Capitalismo não está simplesmente vinculada

à divisão do trabalho, característica das manufaturas europeias dos séculos XVI e


XVII.

O processo de acumulação primitiva do capital estaria estreitamente ligado


à expropriação da produção familiar, artesanal ou corporativa, pois separou

definitivamente os produtos dos seus meios de produção, formando um exército


de proletários (trabalhadores empregados) e outro exército de reserva

(trabalhadores desempregados), sendo que esses últimos são os responsáveis


pelos níveis de salários que os trabalhadores empregados recebem.

 Meios de Produção: conjunto dos meios de trabalho (instalações,


infraestrutura produtiva, ferramentas, máquinas e equipamentos diversos)

e objetos de trabalho (recursos naturais e matérias-primas) utilizados pelo


indivíduo, responsáveis pela transformação da natureza.

 Modo de Produção: Representa a organização socioeconômica associada


ao desenvolvimento da força produtiva, ou seja, artesanal, manufaturado

ou industrial. Existem seis Modos de Produção: Primitivo, Asiático,


Escravista, Feudal, Capitalista e Comunista. Os modos de produção são
formados pelo conjunto das forças produtivas e pelo conjunto das relações

de produção
 Forças Produtivas: Representa a reunião da força de trabalho humana com

os meios de produção, ou seja, a utilização das instalações, infraestrutura


produtiva, ferramentas, máquinas e equipamentos diversos e dos recursos

naturais e matérias-primas, caracterizando todas as forças utilizadas para


transformar a natureza na produção de bens materiais. A principal força de

produção é o próprio homem, com seu corpo, sua energia, sua inteligência

e seu conhecimento.
O colonialismo (exploração dos recursos naturais das colônias pelas

metrópoles) contribuiu significativamente para a acumulação de capitais nas


principais nações industriais europeias, beneficiando principalmente a burguesia,

classe social diretamente ligada ao setor produtivo-comercial-financeiro.


Segundo Marx, esse modelo explorador foi responsável pela formação das

duas principais classes sociais antagônicas, ou seja, a burguesia (detentora dos


meios de produção) e o proletariado (força de trabalho empregada pela

burguesia).

“O dinheiro e a mercadoria não são, desde o início, capital, tão-


pouco os meios de produção e de vida. Carecem da transformação
em capital. Mas esta mesma transformação só pode processar-se
em circunstâncias determinadas, que se condensam no seguinte:
duas espécies muito diferentes de possuidores de mercadorias têm
de se pôr frente a frente e entrar em contacto, de um lado
proprietários de dinheiro, de meios de produção e de vida, aos
quais o que interessa é valorizar a soma de valor por eles possuída
por meio da compra de força de trabalho alheia; do outro lado
trabalhadores livres, vendedores da força de trabalho própria e por
isso vendedores de trabalho. Trabalhadores livres no duplo sentido
de que nem eles próprios pertencem imediatamente aos meios de
produção, como os escravos, servos, etc., nem também os meios de
produção lhes pertencem, como no caso do camponês que
trabalha a sua propriedade, antes estão livres deles, livres e sem
responsabilidades. Com esta polarização do mercado das
mercadorias estão dadas as condições fundamentais da produção
capitalista. (MARX, Karl. O Capital)
 Trabalho Artesanal: O artesão realiza todas as etapas da produção, desde a

obtenção da matéria-prima até o acabamento e posterior comercialização


do produto. Ele é o proprietário dos meios de produção, isto é, instalações

físicas, ferramentas e equipamentos diversos. Além disso, o artesão é o


responsável pela administração do seu tempo dedicado à produção.

Durante a Baixa Idade Média, as oficinas artesanais controladas pelas


corporações de ofício, deveriam estabelecer o Justo Preço do produto; na

verdade, era uma maneira de equilibrar as relações entre o artesão e o

consumidor, proporcionando vantagens para ambos.


 Trabalho Manufaturado: Ocorre a divisão do trabalho, na qual cada artesão

realiza uma ou mais etapas da produção. Nas oficinas de manufatura, o


trabalhador é contratado para trabalhar uma determinada jornada de

trabalho em troca de um pagamento pré-estabelecido (salário). O processo


produtivo continua sendo artesanal, porém, o trabalhador não dispõe das

ferramentas e equipamentos, os quais pertencem ao dono da manufatura


que controla o ritmo da produção e fica com a diferença existente entre os

gastos com os meios de produção e o valor de venda do produto final


(lucro ou mais-valia).

 Trabalho Industrial ou Maquinofaturado: É representado pela introdução


das máquinas no processo produtivo, as quais possibilitaram a aceleração

do ritmo da produção e, consequentemente, o aumento do consumo.


Ocorre a intensificação da divisão do trabalho e da exploração da mão de

obra dos proletários (trabalhadores assalariados das indústrias), os quais


começam a se organizar e reivindicar melhores condições de vida, trabalho

e salários. O trabalhador torna-se, definitivamente, vendedor da sua força


de trabalho e especializa-se numa determinada função do processo

industrial. Essas transformações estruturais nos meios e modos de


produção são definidas, historicamente, como Primeira Revolução
Industrial (século XVIII), que foi exclusivamente inglesa.
BUSCANDO CONHECIMENTO

Texto complementar

“Dois homens esperam na fila para comprar entradas para o espetáculo. Cada um
paga $9,90 por três poltronas. Ao se afastar da bilheteria, um deles se reúne a seus dois
amigos. Entram no teatro, sentam-se e esperam que o pano se levante. O outro homem
deixa a bilheteria, coloca-se no passeio em frente ao teatro e, com as entradas na mão,
aborda os transeuntes. "Quer um lugar no centro para hoje?", pergunta. Pode ser que
acabe vendendo as entradas (por $4,40 cada) ou pode ser que não venda. Não importa.
Há alguma diferença entre os seus $9,90 e os do outro homem? Há, sim. O dinheiro
do Sr. Cambista é capital, o dinheiro do Sr. Frequentador do Teatro, não. Onde está a
diferença?
O dinheiro só se torna capital quando é usado para adquirir mercadorias ou
trabalho com a finalidade de vendê-los novamente, com lucro. O Cambista não queria ver
o espetáculo. Pagou $9,90 com a esperança de tê-los de volta - com acréscimo. Portanto,
seu dinheiro tinha a função de capital. O Sr. Frequentador do Teatro, por outro lado, pagou
seus $9,90 sem pensar em consegui-los de volta - simplesmente desejava ver o espetáculo.
Seu dinheiro não tinha a função de capital.
Da mesma forma, quando o pastor vendia sua lã a dinheiro, a fim de comprar pão
para comer, não estava usando esse dinheiro como capital. Mas quando o negociante
pagava o dinheiro da lã com a esperança de vendê-la novamente a um preço mais
elevado, usava o dinheiro como capital. Quando o dinheiro é empregado num
empreendimento ou transação que dá (ou promete dar) lucro, esse dinheiro se transforma
em capital. É a diferença entre vender para comprar para uso (fase pré-capitalista) e
comprar para vender com o objetivo de ganhar (fase capitalista).
Mas o que é que o capitalista compra para vender com lucro? Entradas de teatro?
lã? carros? chapéus? casas? Não. Não é nenhuma dessas coisas, e ao mesmo tempo é parte
de todas elas. Converse com um trabalhador na indústria. Ele lhe dirá que o patrão lhe
paga salário pela sua capacidade de trabalhar. É a força de trabalho do operário que o
capitalista compra para vender com lucro, mas é evidente que o capitalista não vende a
força de trabalho de seu operário. O que ele realmente vende - e com lucro – são as
mercadorias que o trabalho do operário transformou de matérias-primas em produtos
acabados. O lucro vem do fato de receber o trabalhador um salário menor do que o valor
da coisa produzida.
O capitalista é dono dos meios de produção - edifícios, máquinas, matéria-prima;
compra a força de trabalho. É toda associação dessas duas coisas que decorre a produção
capitalista.
Observe o leitor que o dinheiro não é a única forma de capital. Um industrial de
hoje pode ter pouco ou nenhum dinheiro, e não obstante ser possuidor de grande volume
de capital. Pode ser dono de meios de produção. Isso, o seu capital, aumenta na medida em
que ele compra a força de trabalho.
Uma vez iniciada uma indústria moderna, ela obtém seus lucros e acumula seu
capital muito depressa. Mas de onde veio inicialmente o capital - antes de começar a
indústria moderna? É uma pergunta importante, porque, sem a existência do capital
acumulado, o capitalismo industrial, tal como o conhecemos, não teria sido possível. Nem
teria sido possível sem a existência de uma classe trabalhadora livre e sem propriedades -
gente que tinha de trabalhar para os outros para viver. Como se criaram essas duas
condições?
Poderíamos dizer que o capital necessário para iniciar a produção capitalista veio
das almas cuidadosas, que trabalharam duro, gastaram apenas o indispensável e
ajuntaram as economias aos poucos. Houve sempre quem economizasse, é verdade, mas
não foi dessa forma que se concentrou a massa de capital inicial. Seria bonito se assim
fosse, mas a verdade é bem diversa. A verdade não é tão bonita.
Antes da idade capitalista, o capital era acumulado principalmente através do
comércio - termo elástico, significando não apenas a troca de mercadorias, mas incluindo
também a conquista, pirataria, saque, exploração.
Não foi em vão que as cidades-Estados italianas se prontificaram a ajudar a Europa
ocidental nas Cruzadas. O término dessas guerras "religiosas" encontrou Veneza, Gênova e
Pisa controlando um fraco império e os conquistadores italianos aproveitaram ao máximo
sua oportunidade. Uma corrente de riqueza do Oriente para as mãos de seus comerciantes
e banqueiros. Uma das melhores autoridades no assunto, John A. Hobson, disse sobre esse
comércio italiano com o Oriente: "Assim, muito cedo foram lançadas as bases do comércio
lucrativo que proporcionou à Europa ocidental a riqueza necessária para a posterior
expansão dos métodos capitalistas de produção."
(HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem.
21ª. Edição. Rio de Janeiro: LTC,1986, pág.156-158)
Unidade 06 - Antecedentes da industrialização

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Compreender a origem das práticas capitalistas industriais

ESTUDANDO E REFLETINDO

INDUSTRIALIZAÇÃO OU REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA


Os trabalhadores assalariados originaram-se dentro das oficinas de

manufaturas, as quais eram representadas profissionalmente pelo mestre-artesão

(geralmente era o dono da oficina), o oficial (conhecedor do oficio) e os


jornaleiros (aqueles que recebiam um salário pela jornada de trabalho realizada).

Denomina-se Primeira Revolução Industrial ou Revolução Industrial Inglesa,


o conjunto de transformações ocorridas na Inglaterra ao longo da segunda

metade do século XVIII, quando a principal evidência foi a introdução das


máquinas no processo produtivo, intensificando a divisão do trabalho e

consequentemente a aceleração da produção e o aumento do consumo.


Embora tais mudanças sejam ambientadas no século XVIII, elas são

decorrentes das características econômicas da Inglaterra desde o século XV, pois


foram profundamente marcadas pela orientação mercantilista do absolutismo

monárquico inglês, em especial durante a monarquia da rainha Elizabeth I (1558-


1603), período no qual se verifica um grande desenvolvimento econômico do

Estado, completado posteriormente no período da Revolução Puritana (1642-


1649) e no Commonwealth (Comunidade Britânica) de Cromwell (1649-1659),

quando vigorou, na Inglaterra, o modelo republicano.


6.1- Antecedentes da Revolução Industrial Inglesa

O pioneirismo inglês explica-se a partir da análise de uma série de fatores


ocorridos ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII que, quando conjugados,

possibilitaram as transformações econômicas e sociais responsáveis pela


Revolução Industrial.

Acúmulo de Capitais

Durante o período mercantilista, a Inglaterra promoveu o acúmulo de

capitais por meio do comércio marítimo, principalmente após a publicação do Ato


de Navegação em 1651 que, entre outras coisas, determinava que “todas as

mercadorias comercializadas pela Inglaterra deveriam ser transportadas por navios


ingleses”, proibindo, portanto, o comércio externo feito por navios estrangeiros.

Evidenciam-se, nessa prática, as características do nacionalismo e do


protecionismo inglês, pois tal medida, além de estimular a indústria naval na

Inglaterra, beneficiando diretamente a burguesia, envolvida no comércio


internacional, tentava afastar a principal rival inglesa no comércio marítimo, a

Holanda, a qual exercia uma supremacia naval.

O Ato de Navegação foi a resposta do governo inglês ao poderio


naval e comercial holandês em meados do século XVII. Naquela
época, os Países Baixos constituíam-se na maior potência
comercial e dispunham da maior frota mercante do mundo, que
transportava bens e riquezas de todas as partes do globo.
Amsterdã havia se tornado o centro financeiro mundial e os seus
bancos emprestavam dinheiro a muitos governos estrangeiros.
Ao mesmo tempo, a Inglaterra desenvolvia uma poderosa
marinha, tanto mercante, quanto bélica, desenvolvia as
manufaturas, expandia o Império, e abria muitos novos mercados
internacionais ao seu comércio. (www.wikipedia.org)
BUSCANDO CONHECIMENTO

Ascensão Política da Burguesia

As Revoluções Inglesas do século XVII possibilitaram a ascensão política da

burguesia.
Revolução Puritana (1642-1649):

Fonte: http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/06/revolucao-puritanismo.jpg

Revolução burguesa em oposição ao absolutismo monárquico do rei Carlos


I, demonstrando a rivalidade entre as forças instituídas pela monarquia (nobreza
anglicana e cavalaria) e as novas forças trazidas pelos republicanos (burguesia

puritana e exército).
A vitória dos puritanos e a decapitação do rei Carlos X simbolizam o fim do

absolutismo monárquico inglês e o início da ascensão política da burguesia, a qual


se reuniu no parlamento britânico para discutir os rumos políticos e econômicos

da nação.
Entretanto, a República transformou-se num governo ditatorial sob o

comando de Oliver Cromwell, líder dos puritanos durante a revolução. O


Protetorado de Cromwell promoveu profundas transformações econômicas em
benefício da burguesia, mas com o seu falecimento em 1658, a monarquia foi
restaurada e os anseios absolutistas dos reis Carlos II (1660-1685) e Jaime II (1685-

1688) tornaram-se evidentes, resultando em uma nova revolução burguesa.

Revolução Gloriosa (1688-1689):


Revolução burguesa responsável pela deposição do rei Jaime II e coroação

do rei Guilherme de Orange, o qual perante os líderes burgueses assinou a


“Declaração dos Direitos”, impondo limites ao poder político do monarca e

implantando definitivamente na Inglaterra a Monarquia Parlamentar, segundo a

qual “o rei reina e o Parlamento governa”.

“O fim do absolutismo na Inglaterra significou a vitória de


um importante segmento da sociedade: a burguesia. Aos poucos,
as restrições mercantilistas foram desaparecendo, atendendo assim
ao grande anseio da burguesia manufatureira e industrial.”
(História do Mundo Ocidental. FTD, São Paulo, 2005)
Unidade 07 - Características da industrialização

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos:
Identificar as principais características do processo de industrialização

ESTUDANDO E REFLETINDO

Abundância de Mão de Obra


A abundância de mão de obra barata utilizada nas indústrias inglesas nos

séculos XVIII e XIX é resultado dos cercamentos (enclosures) ocorridos desde os


séculos XVI e XVII, quando as pequenas propriedades agrícolas foram tomadas

pelos grandes senhores de terras (“latifundiários”) e, consequentemente, os


camponeses eram expulsos de suas terras, migrando para as áreas urbanas

(êxodo rural) e se tornaram os trabalhadores assalariados das indústrias.

Paralelamente ao êxodo rural, as propriedades eram transformadas em


grandes áreas agrícolas, que deixaram de produzir apenas o necessário para o

consumo local e se tornaram capazes de suprir as necessidades de alimentos da


população urbana, possibilitando uma relação de integração do meio urbano com

o rural.
Para controlar o excedente de mão de obra urbana e evitar a vadiagem nas

ruas das cidades inglesas, foram aprovadas severas leis que puniam os
desocupados, transformando-os em escravos ou enforcando-os publicamente.

Em razão disso, os trabalhadores se sujeitavam às longas jornadas de


trabalho diárias, aos baixíssimos salários e às péssimas condições de vida.
“A Revolução Industrial não dependeu só de um tipo qualquer de
expansão econômica, técnica ou científica, mas da criação da
fábrica, isto é, de um sistema fabril mecanizado, a produzir em
quantidades tão grandes e a um custo tão rapidamente
decrescente a ponto de não depender de uma demanda existente,
mas de criar o seu próprio mercado.
(...)
“No século XVIII, uma relativa quantidade de proprietários com
espírito comercial já monopolizava a terra, cultivada por
arrendatários empregando camponeses sem terra ou pequenos
agricultores. Isso significa que, diferentemente de outros países, a
agricultura inglesa estava predominantemente dirigida para o
mercado. E preparada para aumentar a produção de modo a
alimentar uma propriedade agrícola em rápido crescimento e
fornecer excedentes de mão de obra para as cidades e indústrias.”
(CANÊDO, Letícia. A Revolução Industrial. São Paulo: Atual, 1994.
p. 31)

Riqueza Mineral e Inovações Técnicas


Abundância de Recursos Minerais

Os recursos minerais fundamentais para a industrialização, ferro e carvão,


eram abundantes no território inglês e contribuíram significativamente para o

advento da industrialização na Inglaterra.


O carvão era o combustível das indústrias inglesas, o ferro a matéria-prima

e o vapor a fonte de energia.


A obtenção de tais recursos minerais se dava a partir da exploração do

trabalho dos mineradores (carvoeiros) ingleses.

Inovações e Invenções Tecnológicas


As máquinas, inseridas no longo processo de desenvolvimento e

transformação das manufaturas em indústrias, caracterizaram as mudanças nos


meios de produção, denominadas “Revolução Industrial”.
“Os jornais de 150 anos atrás não tinham seções de "O Impossível
Acontece", com suas histórias de acontecimentos incríveis. Se
tivessem, a Birmingham Gazette, de 11 de março de 1776, teria
sabido imediatamente onde colocar esta surpreendente notícia:
"Na última sexta-feira, uma máquina a vapor construída segundo
os novos princípios do Sr. Watt foi posta em funcionamento em
Bloomfield Colliery na presença de alguns homens de ciência cuja
curiosidade fora estimulada pela possibilidade de ver os primeiros
movimentos de uma máquina tão singular e poderosa. Com esse
exemplo, as dúvidas dos inexperientes se dissipam e a importância
e utilidade da invenção se firmam decididamente. [Foi] inventada
pelo Sr. Watt, após muitos anos de estudo e grande variedade de
experiências custosas e trabalhosas." Em 1800, a importância e
utilidade da invenção, do Sr. Watt, havia se tornado tão evidente
aos ingleses que ela estava em uso em 30 minas de carvão, 22
minas de cobre, 28 fundições, 17 cervejarias e 8 usinas de algodão.
(...) O aparecimento da máquina movida a vapor foi o nascimento
do sistema fabril em grande escala.” (HUBERMAN, Leo. História da
Riqueza do Homem)

Principais Máquinas

 Lançadeira Volante (1733) – John Kay


Aumentou a capacidade de tecelagem (produção de tecido), pois acelerava

a produção, provocando a necessidade, cada vez maior, de obtenção de


matéria-prima (fios de algodão).

 Spinning Jenny (1764) – James Hargreaves


Aumentou a produção de fios de algodão, suprindo a necessidade de

obtenção de matéria-prima provocada pela invenção de 1733. Essa


máquina fazia vários fios ao mesmo tempo, porém os mesmos eram

quebradiços e dificultavam a produção.


 Water Frame (1769) – Richard Arkwright

Produzia fios grossos e era movida a água, o que a tornava bastante viável
no processo de produção têxtil.

 Mule (1779) – Samuel Crompton


Foi a combinação de duas invenções anteriores, a spinning jenny e a water

frame. Produzia fios finos e resistentes, resolvendo o problema da


produção de fios. Entretanto, a alta produção de fios não era totalmente

absorvida pelas tecelagens, pois o ritmo de produção dessas fábricas de


tecido era lento em razão dos teares serem manuais.

 Tear Mecânico (1785) – Edmund Cartwright


Aumentou o ritmo da produção de tecidos, absorvendo maior quantidade

de fios, pois acelerava o processo de produção de tecidos.

 Máquina a Vapor (1765) – James Watt


Considerada a principal invenção da Revolução Industrial, possibilitou

maior velocidade no processo produtivo, de modo geral, pois tal cilindro


metálico movido a vapor era utilizado como fonte de energia nos mais

diferentes tipos de máquinas.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Para aprofundar seu conhecuimento recomendamos que você assita AL


filme Tempos Modernos (Modern Times) – 1936

“É um filme do cineasta britânico Charles Chaplin, em que o seu famoso personagem "O
Vagabundo" (The Tramp) tenta sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado.
É considerado uma forte crítica ao capitalismo (...) bem como uma crítica aos maus tratos
que os empregados passaram a receber depois da Revolução Industrial.
Nesse filme Chaplin quis passar uma mensagem social. Cada cena é trabalhada para que
a mensagem chegue verdadeiramente tal qual seja. E nada parece escapar: máquina
tomando o lugar dos homens, as facilidades que levam a criminalidade, a escravidão. O
amor também surge, mas surge quase paternal: o de um vagabundo por uma menina de
rua.
Tempos Modernos é ao mesmo tempo comédia, ao mesmo tempo drama e romance.
Um trabalhador de uma fábrica, tem um colapso nervoso por trabalhar de forma quase
escrava. É levado para um hospício, e quando retorna para a “vida normal”, para o
barulho da cidade, encontra a fábrica já fechada.
Charles vai em busca de outro destino, mas acaba se envolvendo numa confusão: pois é
tomado como o líder comunista por trás da greve que esta a acontecer e acaba por ser
preso.
Quando é libertado e depois de uma agradável estadia na prisão, decide fazer de tudo
para voltar para lá e ao ver a jovem que fugiu da adoção, decide se entregar em seu
lugar. Não dá certo, pois uma grã-fina tinha visto o que houve e estraga tudo. Mesmo
assim, ele faz de tudo para ir preso, no entanto os dois acabam escapando e vão tentar a
vida de outra maneira. A amizade que surge entre os dois é bela, porém não os alimenta.
Ele tem que arrumar um emprego rapidamente.
Consegue um emprego numa outra fábrica, mas logo os operários entram em greve e ele
mete-se novamente em perigo.
No meio da confusão, vai preso ao jogar sem querer uma pedra na cabeça de um policial.
Fonte: www.wikipedia.com
Unidade 08 - Trabalho assalariado

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: A divisão do trabalho, verificada nas manufaturas inglesas,

proporcionou a separação entre capital e trabalho a partir da exploração da mão


de obra do proletariado (operariado) resultava em lucro para os empregadores

(burgueses).

ESTUDANDO E REFLETINDO

O conflito entre proletariado e burguesia é fruto das contradições da


Revolução Industrial, pois o trabalhador exercia longas jornadas de trabalho

diárias, mas vivia em péssimas condições de vida, recebendo baixíssimos salários e


trabalhando em condições insalubres.

“As máquinas, que podiam ter tornado mais leve o trabalho, na


realidade, o fizeram pior. Eram tão eficientes que tinham de fazer
sua mágica durante o maior tempo possível. Para seus donos,
representavam tamanho capital que não podiam parar - tinham
de trabalhar, trabalhar sempre. Além disso, o proprietário
inteligente sabia que arrancar tudo da máquina, o mais depressa
possível, era essencial porque, com as novas invenções, elas
podiam tornar-se logo obsoletas. Por isso os dias de trabalho eram
longos, de 16 horas. Quando conquistaram o direito de trabalhar
em dois turnos de 12 horas, os trabalhadores consideraram tal
modificação como uma bênção.
Mas os dias longos, apenas, não teriam sido tão maus. Os
trabalhadores estavam acostumados a isso. Em suas casas, no
sistema doméstico, trabalhavam durante muito tempo. A
dificuldade maior foi adaptar-se à disciplina da fábrica. Começar
numa hora determinada, para, noutra, começar novamente,
manter o ritmo dos movimentos da máquina - sempre sob as
ordens e a supervisão rigorosa de um capataz - isso era novo.”
(HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem)
Segundo Karl Marx, “o lucro é fruto da mais-valia”, ou seja, da apropriação

do tempo da força de trabalho e do tempo do trabalhador em benefício do


empregador.

Buscando melhores condições de vida, trabalho e salários, o operariado se


organiza em associações de trabalhadores, originando as Trade Unions ou

Sindicatos e, utilizando-se da prática de greves, reivindica a redução da jornada


de trabalho e melhores salários.

A expansão do mercado consumidor, em decorrência da aceleração do

processo produtivo (Revolução Industrial), necessitava de um grande número de


trabalhadores nas indústrias e, para suprir essa demanda, indivíduos de ambos os

sexos e idades eram recrutados.


Entre os séculos XVI e XVIII, ocorre uma transformação nas forças de

produção, o artesão que outrora realizava o trabalho nas oficinas, torna-se


trabalhador assalariado.

As mulheres e crianças eram igualmente exploradas em longas jornadas de


trabalho diárias, fazendo com que os lares do período se tornassem locais de

acomodação precária da mão de obra explorada nas indústrias.

“Casas superlotadas, sujas e em mau estado, roupas esfarrapadas,


e reclamações frequentes sobre a comida insatisfatória, tanto na
quantidade como na qualidade, caracterizavam os lares
pesquisados...
Crianças de menos de 16 anos trabalhavam em 96 das 129 famílias
estudadas... Metade delas tinha idade inferior a 12 anos. Trinta e
quatro tinham 8 anos e menos, e doze tinham menos de 5 anos.”
(Idem. pág. 116 e 117)

Essa classe operária surgida durante o processo de industrialização inglesa


expandiu e consolidou o modelo capitalista industrial: por meio da exploração do

trabalho e dos baixos salários, uma massa de indivíduos despossuídos


(proletariado) sustentava aqueles que possuíam os meios de produção
(burguesia).
O trabalho exaustivo e insalubre nas fábricas obrigava os indivíduos a

cumprir jornadas diárias de até 16 horas, independentemente do sexo ou idade,


sem qualquer garantia ou lei trabalhista que preservasse sua integridade física ou

profissional.
As condições de trabalho eram as mais degradantes possíveis. As doenças,

os acidentes graves e a baixa expectativa de vida faziam parte do cotidiano desses


trabalhadores, os quais buscavam meios de organização coletiva em associações

ou sindicatos, vislumbrando melhores condições no trabalho cotidiano.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Texto Complementar
“Todo homem é rico ou pobre, de acordo com o grau em que consegue desfrutar
das coisas necessárias, das coisas convenientes e dos prazeres da vida. Todavia, uma vez
implantada plenamente a divisão do trabalho, são muito poucas as necessidades que o
homem consegue atender com o produto de seu próprio trabalho. A maior parte delas
deverá ser atendida com o produto do trabalho de outros, e o homem será então rico ou
pobre, conforme a quantidade de serviço alheio que está em condições de encomendar ou
comprar.
Portanto, o valor de qualquer mercadoria, para a pessoa que a possui, mas não
tenciona usá-la ou consumi-la ela própria, senão trocá-la por outros bens, é igual à
quantidade de trabalho que essa mercadoria lhe dá condições de comprar ou comandar.
Consequentemente, o trabalho é a medida real do valor de troca de todas as mercadorias.
O preço real de cada coisa - ou seja, o que ela custa à pessoa que deseja adquiri-la - é o
trabalho e o incômodo que custa a sua aquisição. O valor real de cada coisa, para a pessoa
que a adquiriu e deseja vendê-la ou trocá-la por qualquer outra coisa, é o trabalho e o
incômodo que a pessoa pode poupar a si mesma e pode impor a outros. O que é comprado
com dinheiro ou com bens, é adquirido pelo trabalho, tanto quanto aquilo que adquirimos
com o nosso próprio trabalho. Aquele dinheiro ou aqueles bens na realidade nos poupam
este trabalho. Eles contêm o valor de uma certa quantidade de trabalho que permutamos
por aquilo que, na ocasião, supomos conter o valor de uma quantidade igual. O trabalho
foi o primeiro preço, o dinheiro de compra original que foi pago por todas as coisas. Não foi
por ouro ou por prata, mas pelo trabalho, que foi originalmente comprada toda a riqueza
do mundo; e o valor dessa riqueza, para aqueles que a possuem, e desejam trocá-la por
novos produtos, é exatamente igual à quantidade de trabalho que essa riqueza lhes dá
condições de comprar ou comandar.
Riqueza é poder, como diz Hobbes. Mas a pessoa que adquire ou herda uma
grande fortuna não necessariamente adquire ou herda, com isto, qualquer poder político,
seja civil ou militar. Possivelmente sua fortuna pode dar-lhe os meios para adquirir esses
dois poderes, mas a simples posse da fortuna não lhe assegurará nenhum desses dois
poderes. O poder que a posse dessa fortuna lhe assegura, de forma imediata e direta, é o
poder de compra; um certo comando sobre todo o trabalho ou sobre todo o produto do
trabalho que está então no mercado. Sua fortuna é maior ou menor, exatamente na
proporção da extensão desse poder; ou seja, de acordo com a quantidade de trabalho
alheio ou - o que é a mesma coisa - do produto do trabalho alheio que esse poder lhe dá
condições de comprar ou comandar. O valor de troca de cada coisa será sempre
exatamente igual à extensão desse poder que essa coisa traz para o seu proprietário.
Entretanto, embora o trabalho seja a medida real do valor de troca de todas as
mercadorias, não é essa a medida pela qual geralmente se avalia o valor das mercadorias.
Muitas vezes é difícil determinar com certeza a proporção entre duas quantidades
diferentes de trabalho. Não será sempre só o tempo gasto em dois tipos diferentes de
trabalho que determinará essa proporção. Deve-se levar em conta também os graus
diferentes de dificuldade e de engenho empregados nos respectivos trabalhos.
Pode haver mais trabalho em uma tarefa dura de uma hora do que em duas horas
de trabalho fácil; como pode haver mais trabalho em uma hora de aplicação a uma
ocupação que custa dez anos de trabalho para aprender, do que em um trabalho de um
mês em uma ocupação comum e de fácil aprendizado. Ora, não é fácil encontrar um
critério exato para medir a dificuldade ou o engenho exigidos por um determinado
trabalho. Efetivamente, ao permutar entre si produtos diferentes de tipos diferentes de
trabalho, costuma-se considerar uma certa margem para os dois fatores. Essa, porém, é
ajustada não por medição exata, mas pela pechincha ou regateio do mercado, de acordo
com aquele tipo de igualdade aproximativa que, embora não exata, é suficiente para a vida
diária normal.
Além disso, é mais frequente trocar uma mercadoria por outras mercadorias - e,
portanto, comprá-las - do que por trabalho. Por conseguinte, é mais natural estimar seu
valor de troca pela quantidade de alguma outra mercadoria, do que com base no trabalho
que ela pode comprar. Aliás, a maior parte das pessoas tem mais facilidade em entender o
que significa uma quantidade de uma mercadoria específica, do que o significado de uma
quantidade de trabalho. Com efeito, a primeira é um objeto plenamente palpável, ao passo
que a segunda é uma noção abstrata que, embora possamos torná-la suficientemente
inteligível, não é basicamente tão natural e tão óbvia.” SMITH, Adam. A Riqueza das
Nações. volume I, Nova Cultural, 1988, Coleção "Os Economistas", pág. 17-54)
Unidade 09 - Trabalho e movimento sindical

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Analisar o movimento social e as transformações ocorridas nas relações de

trabalho com o advento da globalização e reconfiguração dos modelos


produtivos.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A história do movimento sindical perpassa por uma trajetória que atravessa

o século XX se anunciando como um poder político de enfrentamento e


resistência gerados, sobretudo, pelo modelo fordista de produção.

Esse movimento ganhou projeção e maior expressão política no período


pós guerra, em decorrência da consolidação de governos social-democratas em

vários países.
No contexto da social democracia, a partir dos anos 50, os sindicatos

ocuparam um lugar importante no cenário produtivo e atuaram como mediações


importantes nas relações de trabalho, contribuindo para conquistas trabalhistas

significativas e consolidação do poder sindical.


Para Rodrigues e Lima (2009)

O sistema econômico e social que emergiu após a Segunda


Guerra Mundial e até inícios dos anos 1970, em grande parte da
Europa Ocidental, EUA e Japão, foi responsável por uma
estabilidade que representou um incremento do bem-estar e
aumento da riqueza em todos esses países. Durante o período,
além do aumento do bem-estar e altas taxas de crescimento
econômico, a democracia e o Estado de Bem-Estar Social foram
consolidados e o Estado estimulou o desenvolvimento da
atividade produtiva através de empréstimos e investimentos de
longo prazo.
Esses investimentos, em cada país, coordenados pelos Estados
nacionais, embora assumissem alguns aspectos mais específicos,
tinham como principal característica o processo de regulação do
Estado no que tange à política macroeconômica, ou seja, uma
decisiva intervenção do Estado na economia, com o objetivo de
garantir o equilíbrio no campo econômico e a paz social no
terreno político. Essas singularidades se manifestavam em
diferenças no padrão dos gastos públicos, na organização do
sistema de bem-estar social e na presença maior ou menor do
Estado nas decisões econômicas.
Desse modo, o complexo de arranjos institucionais e corporativos
se constituiu na essência do que veio a ser denominado
compromisso fordista e foi o principal ponto de apoio de sua
estruturação. Vale dizer, Estado, grandes corporações e sindicatos
passaram a ser a nova base desse regime de acumulação que se
caracterizava pela produção em massa de bens padronizados e
em série.

Mais recentemente alguns estudos apontam para um momento que tem


sido interpretado como “crise” da organização sindical

Uma importante análise desse cenário de reconfiguração política dos


movimentos sindicais está na obra de Leôncio Martins Rodrigues, Destino do

sindicalismo.
Na sua pesquisa, Rodrigues indica tendências para o movimento sindical,

partindo de cenários de países industrializados nos quais os índices de


sindicalização tem se retraído expressivamente. Aponta possibilidades para o

futuro do sindicalismo inferindo que "não seria preciso ressaltar que os


pesquisadores mais favoráveis aos sindicatos inclinam-se a vislumbrar saídas para

o movimento sindical, enquanto os mais hostis acham que os sindicatos terão


muita dificuldade para sobreviver no tipo de habitat que se delineia para o século

XXI." (p. 295).


Corroboram com as ideias de Rodrigues a reconfiguração obervada no

modelo produtivo que evidencia um desgaste nas bases institucionais sobre as


quais o sindicalismo se desenvolveu. Elementos como competição global, quadros

recessivos e incertezas progressivas no cenário econômico contribuíram para a


necessidade de reformulação das relações sindicais, desafinado os sindicatos a

procurarem novos caminhos.


Os efeitos da revolução da microeletrônica, bem o fenômeno da

globalização da sociedade também atingiram as bases da organização sindical


que ainda se sustenta em demandas de acesso aos bens ou poder (público ou

privado). Somam-se a isso questões como as alterações no mundo do trabalho


que apresentam novas demandas para a ação sindical.

Anunciam-se como dificuldades à organização sindical, questões como

aumento do desemprego, crescimento de relações de trabalho em condições


precárias, regimes parciais, regimes temporários e outros, que ocupam no

princípio do século XXI, parcelas muito significativa da economia.


Para Rodrigues

O assalariamento, que caracterizou a relação capital/trabalho


durante largo período, criou as condições de agregação de
direitos sociais aos contratos de trabalho. Já a flexibilidade
propiciada pela revolução tecnológica, representada pela
informatização e a telemática, desterritorializou a produção e o
trabalho, internacionalizando os mercados, desorganizando
identidades coletivas fundadas no local, no regional, no nacional.
O "local" é ressignificado dentro dos nós de uma sociedade em
rede, na qual atuam empresas, Estados e trabalhadores.

Para esse autor, os assalariados são os mais afetados pela nova ordem

econômica mundial.
As conquistas obtidas durante décadas de atuação sindical que resultaram
em saldos sociais positivos dão espaço para a marcha da competitividade global
gerando fragilidades na organização sindical devido as características da

fragmentação, dispersão territorial e vulnerabilidade social.


BUSCANDO CONHECIMENTO

MOVIMENTO OPERÁRIOS
Por tantas adversidades, os trabalhadores chegaram à conclusão que precisavam
começar a lutar por seus direitos.

Ludismo
O Ludismo estorou em 1811, foi uma das primeiras revoltas dos operários que eram
contra os avanços tecnológicos, que substituíam homens por máquinas, e o nome deriva
de um dos líderes, Ned Ludd. Eram revoltas radicais, onde os trabalhadores invadiam as
fábricas, e destruíam as máquinas, ficando conhecidos como “quebradores de máquinas”.
Existiam esquadrões luditas, que andavam armados com martelos, pistolas, lanças, e
durante a noite, andavam de um distrito ao outro, destruindo tudo que encontravam.
Porém, muitos manifestantes foram condenados à prisão, à morte, à deportação e até à
forca.
O Ludismo ocorreu durante alguns anos, mas aos poucos os manifestantes constataram
que não eram contra as máquinas que deveriam reagir, e sim ao uso que os proprietários
faziam delas, abusando da mão-de-obra dos operários.

Cartismo
De forma um pouco mais organizada, em 1836 surgiu o Cartismo, constituído pela
“Associação dos Operários” e liderado por Feargus O’Connor e William Lovett.
Reinvidicavam direitos políticos, como o sufrágio universal (direito de voto), o voto
secreto, melhoria das condições e jornadas de trabalho. Redigiram a “Carta da Povo”,
onde pediam um conjunto de reformas junto ao Parlamento.
Inicialmente, as exigências não foram aceitas pelo Parlamento, havendo grandes
movimentos e revoltas por parte dos operários.
Depois de muitas tentativas e lutas, o Cartismo foi se dissolvendo até chegar ao fim.
Porém, o espírito do movimento não se perdeu, e ganhou maior presença política depois
de um tempo, fazendo com que algumas leis trabalhistas fossem criadas.

Trade-Unions e Sindicatos
Os operários chegaram à conclusão de que a união era fundamental para se contrapor ao
poder burguês, então criararam os “trade-unions”, associações formadas pelos operários,
mas que possuiam uma evolução muito lenta nas reinvidicações que faziam. Porém,
evoluíram e formaram os sindicatos, que eram sistemas de organização que defendiam
seus direitos, eram os focos de resistência à expolaração capitalista. Mas diferente dos
sindicatos de hoje, tinham muita dificuldade de atuação.
A burguesia via um grande perigo nessas associações, e os sindicatos eram ameaçados
pela violência. Portanto, as reuniões tinham que ser secretas, não havendo sedes
sindicais. Mas aos poucos foram se organizando e realizando greves e protestos. E os
proprietários levavam prejuízo, pois não tinha quem trabalhasse durante as
manifestações.
Em 1824, diante de todo esse crescimento das lutas operárias, a Inglaterra acaba
aprovando a primeira lei, que permite a organização sindical dos trabalhadores. Depois
dessa conquista, o sindicalismo se fortalece ainda mais.
A partir desse momento, começaram a surgir organizações de federações que unificavam
várias categorias dos trabalhadores, e em 1830 foi fundada a primeira entidade geral dos
operários ingleses. Chegou a ter cerca de 100 mil membros.
Em 1866, ocorreu o primeiro congresso internacional das organizações de trabalhadores
de vários países, que representou um grande avanço na unidade dos assalariados, onde
surge a fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT).
Mas a burguesia sempre achava novos meios de interferir, e reprimir os sindicatos. A
história da legislação trabalhista dependeu de muitas lutas, os operários e sindicados
resistiram à muita pressão para que hoje, todos pudessem ter os direitos trabalhistas.

Fonte: http://revolucao-industrial.info/mos/view/Movimentos_oper%C3%A1rios/
Unidade 10 - O impacto da Revolução Industrial nas cidades

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Observar o impacto da Revolução Industrial nas cidades inglesas,

o qual provocou, entre outras coisas, uma maior concentração urbana e uma

revolução nos meios de transporte, representado, principalmente pelas ferrovias.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Entre as diversas transformações provocadas pela Revolução industrial,

destaca-se o desenvolvimento das atividades urbanas em detrimento do meio


rural, pois a concentração industrial aconteceu nas proximidades das fontes de

energia e matérias-primas e principalmente nas cidades, devido à necessidade de


obtenção de mão de obra.

O processo de industrialização foi responsável pelo surgimento de algumas


cidades na Inglaterra e pelo aumento significativo da população de várias outras,

fazendo com que o crescimento urbano ou urbanização fosse uma das principais
características inglesas do século XVIII.

“Em 1801, em todo o continente (europeu), não havia mais de 23


cidades com mais de 100 mil habitantes, agrupando menos de 2%
da população da Europa. Em meados do século, seu número já se
elevava para 42; em 1900 eram 135 e, em 1913, 15% dos europeus
moravam em cidades. Quanto às cidades de mais de 500 mil
habitantes que, na época, pareciam monstros, só existiam duas no
início do século XIX: Londres e Paris. Nas vésperas da Primeira
Guerra Mundial, elas eram 149. (RÉMOND, René. Introdução à
História de Nosso Tempo. O século XIX: 1815-1914. São Paulo: Cultrix,
1976. p. 137)
Durante seus primeiros anos a Revolução Industrial esteve essencialmente

vinculada à indústria têxtil de algodão, mas, com o passar do tempo, verificou-se


um conjunto de transformações econômicas, sociais e urbanas.

Antes do advento da indústria a sociedade era basicamente rural, ou seja, a

maioria da população vivia no campo. Foi em função das transformações nos


meios de produção ocorridas ao longo do século XVIII que essa situação inverteu-

se.
No decorrer do século XIX o processo de urbanização intensificou-se, pois

as pessoas abandonavam o campo e se dirigiam para as cidades em busca de


trabalho.

Essa concentração urbana é característica das nações industrializadas, onde


uma pequena parcela da população ainda reside no campo, pois as atividades

urbano-industriais superam, significativamente, as atividades agrícola-rurais, pois


essas também sofreram profundas transformações nos métodos de produção, de

tal modo que um número cada vez menor de trabalhadores rurais, auxiliados
pelas máquinas agrícolas, produziam cada vez mais alimentos e matérias-primas.

“O sistema fabril, com sua organização eficiente em grande escala


e sua divisão do trabalho, representou um aumento tremendo na
produção. As mercadorias saíam das fábricas num ritmo intenso.
Esse aumento da produção foi em parte provocado pelo capital,
abrindo caminho na direção dos lucros. (...) As mercadorias
produzidas nas fábricas encontravam também um mercado
interno simultaneamente com o mercado externo. Isso devido ao
crescimento da população da própria Inglaterra.
(...) Outra causa do crescimento da população foi o fato de que as
pessoas se alimentavam melhor, graças a progressos
surpreendentes na agricultura. (Esses progressos foram, em parte,
resultado do crescimento da população) Tal como houve uma
revolução industrial, houve também uma revolução agrícola.
(...) E tal como houve melhoramento nas ferramentas e máquinas
usadas na indústria, assim o século XVIII viu novos e melhores
arados, enxadas, etc., usados na agricultura”. (HUBERMAN, Leo.
História da Riqueza do Homem. p. 172-174)
BUSCANDO CONHECIMENTO

Cidade de Birmingham (Inglaterra, 1886)

(A evolução das cidades. Coleção Histórica em Revista. Rio de Janeiro: 1996.)

“Coketown era uma cidade de tijolos vermelhos, ou melhor, de


tijolos que seriam vermelhos se a fumaça e as cinzas permitissem,
cidade de máquinas e de altas chaminés. Apresentava muitas ruas
largas, todas iguais, e muitas ruazinhas ainda mais iguais, cheias
de pessoas também muito iguais, pois todas saíam e entravam nas
mesmas horas, andando com passo igual na mesma calçada, para
fazer o mesmo trabalho; para elas, cada dia era parecido com o da
véspera e com o dia seguinte.” (DICKENS, Charles. In: ENDERS,
Armelle e outros. História em curso. Rio de Janeiro: FGV, 2008.)

A Revolução Industrial provocou grandes mudanças em algumas cidades


inglesas, a partir de finais do século XVIII. A imagem de Birmingham, de 1886, e o

fragmento do romance “Tempos Difíceis”, reproduzido acima, apresentam sinais


dessas transformações.
Unidade 11 - Inovações Tecnológicas e inovações da
economia

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: abordar o conceito de globalização pautado no desenvolvimento


tecnológico.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A Nova Ordem Mundial e a Globalização

A Nova Ordem Mundial apresenta basicamente duas faces: uma


geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, a grande mudança foi o fim da

Guerra Fria e, consequentemente, o fim da bipolarização de poder entre as duas


superpotências, de um lado os EUA, do outro lado a URSS, esses países lideravam

seus blocos militares. Na economia, a disputa era entre o sistema capitalista


liderado pelos EUA e do sistema socialista liderado pela URSS.

A Guerra Fria foi um período onde ocorreu o conflito ideológico, militar e


econômico que envolvia os EUA, que representava o sistema capitalista, do outro

lado a URSS, que representava o socialismo. A caracterização do mundo bipolar


no cenário mundial estava embasada na capacidade militar das duas

superpotências.
Essa situação do mundo bipolar foi do pós-guerra até o fim da URSS em

1991 (alguns autores consideram as reformas de 1985 - Perestróica e Glasnost;

outros consideram a queda do muro de Berlim em 1989).


Na atual fase, o mundo é considerado como multipolar, e o poder é

medido pela capacidade econômica, como: disponibilidade de capitais, avanço


tecnológico, qualificação da mão de obra, nível de produtividade e índices de

competitividade. São esses os novos padrões de poder e influência no mundo,


que explicam a emergência recente de países, como o Japão e a Alemanha. Já a

então Rússia, embora seja a herdeira principal do poderoso arsenal nuclear


soviético, o parque industrial russo é, em geral, obsoleto e pouco produtivo, e o

país encontrava-se mergulhado em profunda crise social, política e econômica.


Nessa primeira etapa do atual mundo globalizado (anos 1990 e 2000), os

países de maiores economias eram os EUA, o Japão e Alemanha. Em meados dos


anos 2000, a Rússia recupera sua economia e volta ao cenário de superpotência;

outro país que superou suas expectativas foi a China, que se tornou a segunda

economia do mundo atual.


Outro importante aspecto da nova ordem mundial, que é muito polêmico e

vem sendo muito discutido, é o aprofundamento da tendência da globalização


em suas várias facetas. Mas, então, o que vem a ser a globalização?

A globalização é a mais recente fase da expansão capitalista, a qual visa


aumentar os mercados e, portanto, os lucros. O atual processo de globalização

nos revela que a expansão agora pode dispensar a invasão de tropas, a ocupação
territorial. Agora a invasão é muito mais silenciosa, sutil e eficaz. Trata-se de uma

invasão de mercadorias, capitais, serviços, informações e pessoas. As novas armas


são a agilidade e a eficiência das comunicações e do controle de dados e
informações.
A mais antiga faceta da globalização é a invasão de mercadorias em todos

os países. Com a intensificação dos fluxos comerciais no mundo, produtos são


levados e trazidos por enormes navios, trens, caminhões e aviões, que circulam

por uma moderna e intrincada rede de transportes, espalhadas pelo mundo. Há,
assim, uma globalização do consumo, com a intensificação do comércio que, na

verdade, é resultante da globalização da produção.


Paralelamente à globalização do consumo e da produção, ocorre a

intensificação do fluxo de viajantes pelo mundo, seja a negócios, turismo ou


imigrando, e uma invasão cultural de costumes, de comportamento, de hábitos de
consumo. Entrelaçando todos os países, esse domínio constitui-se de uma cultura
de massas, que se origina principalmente nos EUA, que ainda são, de longe, a

nação mais poderosa e influente do planeta. O american way of life (o modo


norte-americano de viver) é difundido pelos filmes de Hollywood e enlatados na

televisão pelas notícias da TV a cabo, pelos fast-foods, pelas músicas, pelos


musicais da Broadway.

Percebe-se, então, que a globalização apresenta várias dimensões:


econômica, social, política e cultural. Assim, esse fenômeno pode ser entendido

como uma intensificação dos fluxos de mercadorias e serviços, capitais e

tecnologias, informações e pessoas, que só se viabilizou em função dos avanços


tecnológicos.

Porém, a globalização tem uma face perversa, pois ela abarca o mundo de
forma bastante desigual. Alguns lugares, regiões e países estão mais integrados

do que outros, acentuando, assim, a tendência de concentração de capital, pois


aqueles que estão integrados têm maior capacidade de concorrer neste mundo

tão competitivo.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Dimensões da Globalização

A globalização está concentrando renda: os países ricos ficam mais ricos, e

os pobres, mais pobres. Há muitos motivos para isso. Alguns deles: a redução das
tarifas de importação beneficiou muito mais os produtos exportados pelos mais

ricos. Os países mais ricos continuam a subsidiar seus produtos agrícolas,


inviabilizando as exportações dos mais pobres. Com essas diferenças de câmbio,

os países ricos se aproveitam da situação, impondo aos países pobres uma

dependência tecnológica e econômica.


A geopolítica mundial está se ajustando aos arranjos desse novo espaço

mundial, o qual é a chave para explicar as diferentes lógicas da ordenação


territorial, juntamente com a geopolítica.

Essa nova ordenação territorial passa pelo modo de produção capitalista,


que é a base da nova ordem mundial.

Observamos um mundo desigual onde o atual modelo de desenvolvimento


econômico divide o mundo em ricos e pobres, em uma sociedade de consumo e

do outro lado os excluídos.


Esse atual modo de produção capitalista levou à formação de grandes

monopólios capitalistas (multinacionais, hoje denominadas de transnacionais), fato


que se tornou mais evidente com o fim do socialismo na ex-URSS.

O domínio e o expansionismo das grandes corporações se deve a três


fatores, principalmente:

1) Mobilidade de capitais; existe no mundo globalizado uma necessidade de


mobilidade de capitais, que é caracterizado pelo sistema financeiro

2) Avanço da produção; necessita da mobilidade de capitais, do desenvolvimento


de tecnologias, mão de obra barata, do controle das reservas minerais e de fontes

de energia.
3) Ação internacional dos governos mais poderosos; é o resultado da mobilidade

social e do avanço de produção, porém existe uma necessidade de intervenção


do Estado na economia, ficando vigente a ação dos países ricos sobre os países

pobres.
 Nessa tríade está a base da formação do modo de produção capitalista que

rege o mercado mundial.

Globalização

Após a queda do muro de Berlim, a reunificação da Alemanha, a


desarticulação do bloco soviético e do leste Globalização: é a mais
recente fase da expansão
europeu, onde o socialismo foi abandonado capitalista, a qual visa
aumentar os mercados e,
e o capitalismo “adotado”, o capitalismo portanto, os lucros.

ocupa uma vasta área, se expande e transforma essas novas áreas.


Porém, esta aparente tranquilidade da expansão do capitalismo, passa a

encontrar alguns obstáculos, problemas mais ou menos graves, como:


o a produção científica e tecnológica (como conseguir uma

modernização sem o desenvolvimento da ciência e da tecnologia);


o desemprego;

o comércio de armas;
o a violência urbana;

o drogas;
o os direitos humanos;
o a ecologia;

o a biotecnologia;
o as guerras;

o a escassez de água;
o o crescimento demográfico (7 bilhões – 2011);

o a distribuição de recursos materiais;


o a grande diferença das classes sociais.

Será difícil o sistema econômico mundial conseguir equacionar esses

problemas, tentar equilibrar a liberdade de mercado e seus efeitos na sociedade.


Unidade 12 - Características do processo de globalização

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Identificar e analisar as principais características do processo de


globalização

ESTUDANDO E REFLETINDO

Principais características do processo de globalização:


 Distribuição dos limites entre o internacional e o nacional (enfraquecimento do

Estado-Nação);

 Emergência das transnacionais;


 Diminuição dos espaços devido aos avanços tecnológicos, que propiciam maior

velocidade às comunicações;
 Existência de uma sociedade planetária e outra nacional.

Sistemas de Produção Características


Taylorismo

 Separação entre as tarefas de concepção e de execução  requer


procedimentos mecânicos que dispensam o raciocínio dos trabalhadores;

 Divisão e subdivisão das tarefas;


 As tarefas destinadas aos trabalhadores são extremamente simples;

 Controle do tempo de execução dos movimentos dos trabalhadores para


eliminar o desperdício de tempo.

Fordismo
 Ford aperfeiçoou o taylorismo, introduzindo o uso de esteiras móveis em toda

a fábrica (linha de montagem);


 O ritmo da esteira determina o ritmo de trabalho  trabalhador fixo num certo

ponto, sendo as ferramentas e o objeto a ser trabalhado transportados até ele;


 Replanejamento dos movimentos dos trabalhadores e inovações das

ferramentas e máquinas, visando acelerar o ritmo de produção;


 Elaborou sua diretriz econômica, objetivando diminuir o custo dos produtos.

Toyotismo
 Uso de máquinas sofisticadas com terceirização de várias atividades;

 Emprego de pouca mão de obra, porém especializada;


 Estoques quase zerados tanto de matérias-primas, como de produtos

acabados;

 Acomodação dos trabalhadores ao novo sistema, acabando com a organização


e a consciência de classe.

O Modelo Japonês
A origem do atual sucesso do Japão é datada da época da segunda guerra

mundial, quando o Japão recebe o Dr. Deming, para um ciclo de palestras no país.
Deming fazia palestras sobre administração com os presidentes das vinte e

uma principais indústrias japonesas. Todavia, as ideias de Deming não foram


capazes de entrar em seu próprio país, pois os EUA haviam se transformado na

primeira nação com uma concepção de administração vigente há muito tempo no


país; sendo assim, eles não tinham problemas com inovação, produtividade; eram

os mais competitivos. Não precisavam de novos modelos sobre produtividade e


qualidade.

Porém, logo ele foi descoberto pelos americanos; isso aconteceu por meio
de uma repórter de televisão, Clare Crawfor-Mason, que produzia um

documentário sobre o Japão e sua prosperidade econômica chamado: “Se o


Japão pode... porque não podemos?”.

Diretrizes do JPC – Japanese Productivity Center


O Centro Japonês de Produtividade foi mediador de uma espécie de pacto

social na década de 50. Esse pacto postulava três diretrizes para o


desenvolvimento produtivo da economia do país. Essas diretrizes foram aceitas
pelos empresários, empregados, sindicatos e, obviamente, pelo governo.
Dentro dessas diretrizes, estava a estabilidade e segurança no emprego,

garantindo assim o emprego do operário. Além disso, a produção aumentaria,


garantindo maiores lucros para os empresários e impostos para o governo. O

empresário paga os impostos corretamente e o governo aplica em


desenvolvimento social, garantindo educação e saúde para o seu povo.

Outro fator importante é que foi passado também aos operários o TQC –
Controle da Qualidade Total, o JIT – Just in Time (ou apenas A Tempo), e o TPM –

Manutenção Produtiva Total. E ensina que, antes da ação, o operário deve

planejá-la.
Stakhanovismo

Ocorreu na Rússia, nasceu dentro do sistema operário, sem pressão


alguma por parte dos dirigentes das empresas do estado; procurava aumentar o

rendimento com a simplificação da operação, aumentando o seu ritmo e


favorecendo, assim, os operários. O Partido Comunista auxiliou os stakhanovistas

a consumar esse movimento.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Vocabulário
Globalização – Termo cunhado pelos norte-americanos; significa, ao pé da letra:

internacionalização das relações econômicas, sociais e políticas. A visão dos


estudiosos sobre o conceito é polêmica. Alguns o entendem como um processo

de adequação das dinâmicas nacionais a uma dinâmica preponderante no âmbito


internacional, sem traumas. Outros acreditam que a globalização é a sofisticação

máxima do sistema capitalista, portanto, violenta e traumática, gerando


desemprego, interferindo nas culturas nacionais e abalando a soberania das

nações.
Nacionalismo – Valorização do Estado como nação soberana. Com a globalização,
o Estado perde sua legitimidade e vigor porque suas instituições básicas –
soberania, estado social e defesa nacional – perdem poder. A ideia de pátria,

assim, se dilui. Isso aparece claramente no comportamento de um alto executivo


de corporação internacional, que se sente desobrigado de ser leal à pátria em

benefício da empresa onde trabalha.


Neoliberalismo – Doutrina que ganhou espaço com o fim do bloco socialista. Tem

como objetivo a manutenção do livre jogo das forças econômicas e a iniciativa


dos indivíduos. Prega a privatização e a menor intervenção possível do Estado

como gestor da economia.

Consenso de Washington – também conhecido como neoliberalismo, foi realizado


em 1989, com o auxílio do FMI (Fundo Monetário Internacional), visando à

economia de mercado nos países da América Latina. Foi então proposto que
esses países se abrissem ao capital estrangeiro, adotando amplas privatizações,

menor participação do Estado na economia nacional e menores investimentos


sociais.

Ordenamento territorial e o desenvolvimento tecnológico


A organização social do território atual está indissociável do meio técnico,

pois a tecnociência constrói a base das redes sociais e a insere na economia


internacional, o que nos leva ao mercado financeiro mundial e à busca incessante

pelo desenvolvimento econômico.


Essas distorções sociais e territoriais precisam ser corrigidas para que

alcancemos a plenitude da cidadania, pois a territorialidade é conhecida como a


sociedade dos espaços, ou seja, cada sociedade apresenta um espaço

diferenciado resultante do modelo econômico atual e da falta de organização


territorial abrangente da sociedade. Assim sendo, segundo Milton Santos,

consideramos o espaço geográfico do mundo atual como um meio técnico-


científico-informacional.

O meio técnico-científico-informacional é o espaço geográfico do mundo


atual, isto é, ele é a cara geográfica da globalização.
 Dentro desse processo existem três períodos para o desenvolvimento das

redes: período pré-técnico ou meio natural, o período mecânico e o período


atual (informacional). E, assim, nós temos o desenvolvimento do meio técnico-

científico-informacional.
 O período pré-técnico ou meio natural está na fase pré-revolução, pré-

industrial, isto é, antes das máquinas. As redes se formavam espontaneamente.


 O período mecânico está diretamente ligado ao desenvolvimento das

máquinas, no período da Revolução industrial, as redes se formam em etapas e

com diferentes formas de energia.


O período atual da chamada pós-modernidade é o período informacional;

nesse momento, as redes estão difusas, não atuando apenas no próprio território,
mas em todo o mundo.

 Dentro do atual arranjo espacial, vemos duas segmentações: a


Horizontalidade e a Verticalidade.

 A Horizontalidade ocorre de forma contínua, como região enquanto região,


isto é, existe uma forma contínua do território.

 A Verticalidade, por sua vez, suprime essa continuidade dos pontos, os


espaços ficam separados uns dos outros; esses pontos estariam ligados pelas

formas sociais, econômicas dentro do processo de globalização.


 A verticalidade se acelera quanto maiores forem as necessidades da produção

nos lugares. Com a atual globalização, a verticalização dos lugares é cada vez
mais forte.
Unidade 13 - Economia extrativista no Brasil colonial

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Analisaremos nessa unidade as atividades econômicas


desenvolvidas ao longo do Pré-Colonial brasileiro (1500-1530), no qual as relações

de trabalho eram predominantemente marcadas pelo escambo entre indígenas e


europeus em decorrência da exploração do pau-brasil.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Mesmo com a descoberta das terras brasileiras, Portugal continuava

empenhado no comércio com as Índias, pois as especiarias que os portugueses


encontravam lá eram de grande valia para sua comercialização na Europa.

Enquanto realizava este lucrativo comércio, Portugal aqui no Brasil realizava


o extrativismo do pau-brasil, explorando da Mata Atlântica toneladas da valiosa

madeira, cuja tinta vermelha era comercializada na Europa.


Os historiadores muitas vezes distinguem duas formas de colonialismo,

principalmente com base no número de pessoas do país colonizador que se


estabelecem na colônia:

Colônia de Povoamento: Na colonização de povoamento, os colonizadores

buscam desenvolver a região colonizada. Criam leis, organizam, investem em


infraestrutura e lutam por melhorias. Como exemplo, as Trezes Colônias, que

deram origem aos Estados Unidos da América. Essas colônias foram criadas por
pessoas que vieram morar no território. Famílias inteiras, que necessitavam de

comércio, escolas, bibliotecas, bancos, etc. Também precisavam de uma economia


diversificada, com agricultura, pesca, criação de diversos tipos de animais, e até
manufaturas. Geraram uma nação rica e desenvolvida;
Colônia de Exploração: Os colonizadores buscavam retirar recursos naturais e
minerais. Nessas colônias, pretendia-se apenas explorar o que tivesse algum lucro,
fosse pau-brasil, ouro, prata, ou até artigos plantados, como tabaco, algodão,

cana-de-açúcar, etc. Nem sempre eram famílias que vinham, e foi utilizada a mão-
de-obra escrava. Esse tipo de colônia gerou países com grandes dificuldades para

se desenvolver, com má distribuição de terras, grandes diferenças sociais,


preconceito.

.
As três primeiras décadas da colonização portuguesa em terras brasileiras.

Os portugueses construíram, neste período, diversas feitorias no litoral.


Estas tinham como função armazenar madeira (pau-brasil), facilitando o

transporte para as caravelas.


Os portugueses usaram mão-de-obra indígena na exploração do pau-

brasil, em troca de espelhos, chocalhos, facas e outras bugigangas, os índios eram


convencidos a trabalharem no corte e carregamento do pau-brasil para os navios.

Esta troca de trabalho por objetos é conhecida como escambo.


A exploração do pau-brasil, principal atividade econômica desta época, era

monopólio da coroa portuguesa. Esta podia conceder a exploração à particulares


em troca do pagamento de 1/5 da madeira extraída.
Nestes 30 anos de exploração do pau-brasil, houve devastação de grande

parte da vegetação litorânea nativa. O pau-brasil foi praticamente eliminado das


matas entre o litoral do Rio de Janeiro até o do Rio Grande do Norte. Neste

período houve contrabando de pau-brasil praticado por europeus, principalmente


franceses.

A coroa portuguesa precisou enviar ao Brasil expedições de caráter militar


para proteger a costa brasileira. Cristóvão Jacques comandou uma das principais

expedições deste tipo, entre os anos de 1516 a 1526.

Como pudemos analisar, durante os primeiros anos da efetivação da posse


do território brasileiro pela coroa portuguesa (descobrimento ou “achamento” do

Brasil), não houve um projeto de colonização efetiva, pois os interesses


econômicos dos portugueses estavam voltados para o comércio de especiarias

orientais, principalmente em razão da importância econômica da pimenta-do-


reino trazida das Índias.

Desse modo, as relações econômicas que se desenvolveram nas terras


brasileiras eram essencialmente extrativistas e dependiam do escambo entre

indígenas e portugueses, segundo o qual, os nativos trabalhavam na extração do


pau-brasil (procuravam, cortavam as árvores, atoravam e transportavam a

madeira até as feitorias no litoral, onde a mesma era depositada em locais


previamente preparados para o armazenamento dos produtos que seguiriam

viagem para a Europa.)


Em troca do trabalho empreendido, os indígenas recebiam dos

portugueses produtos diversos, os quais, para os portugueses, eram de baixo

valor econômico-comercial; entretanto, para os indígenas, eram produtos de valor


inestimável, pois não havia qualquer possibilidade de os nativos fabricarem algo

semelhante (facas, machados, foices, enxadas, espelhos, tesouras, anzóis...).


Verifica-se nessa relação uma situação de relativa vantagem para ambos,
pois enquanto a madeira seria comercializada na Europa como matéria-prima
para as indústrias têxteis, os produtos europeus “facilitariam” o cotidiano dos

indígenas brasileiros.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Texto Complementar

“Descoberto assim o território que haveria de constituir o Brasil, não se tardou muito em
procurar aproveitá-lo. As perspectivas não eram brilhantes. O famoso Américo Vespúcio,
que viajou como piloto alternadamente com espanhóis e portugueses, e que nos deu com
suas cartas a primeira descrição do novo mundo, escreverá a respeito: "Pode-se dizer que
não encontramos nada de proveito". E devia ser assim para aqueles navegantes-
mercadores que se tinham lançado em arriscadas empresas marítimas unicamente na
esperança de trazerem para o comércio europeu as preciosas mercadorias do Oriente. Que
interesse tinha para eles uma terra parcamente habitada por tribos nômades ainda na
idade da pedra, e que nada de útil podiam oferecer? Assim mesmo, contudo, o espírito
empreendedor daqueles aventureiros conseguiu encontrar algo que poderia satisfazer suas
ambições. Espalhada por larga parte da costa brasileira, e com relativa densidade,
observou-se uma espécie vegetal semelhante a outra já conhecida no Oriente, e de que se
extraía uma matéria corante empregada na tinturaria. Tratava-se do pau-brasil, mais tarde
batizado cientificamente com o nome de Caesalpinia echinata. Os primeiros contactos com
o território que hoje constitui o Brasil, devem-se àquela madeira que se perpetuaria no
nome do país.
Não foi difícil obter que os indígenas trabalhassem; miçangas, tecidos e peças de vestuário,
mais raramente canivetes, facas e outros pequenos objetos os enchiam de satisfação; e em
troca desta quinquilharia, de valor ínfimo para os traficantes, empregavam-se arduamente
em servi-los. Para facilitar o serviço e apressar o trabalho, também se presenteavam os
índios com ferramentas mais importantes e custosas: serras, machados. Assim mesmo, a
margem de lucros era considerável, pois a madeira alcançava grandes preços na Europa. O
negócio, sem se comparar embora com os que se realizavam no Oriente, não era
desprezível, e despertou bastante interesse.”

(PRADO JR, Caio. História Econômica do Brasil.


40ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1993)
Unidade 14 - Economia Açucareira no Brasil Colonial

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: compreender que a ocupação efetiva da faixa litorânea da região

nordeste e sudeste do território brasileiro, esteve essencialmente vinculada ao


desenvolvimento da economia açucareira nesses locais.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A efetiva colonização do Brasil deve-se à necessidade de ocupação dos


territórios pertencentes à coroa portuguesa no litoral atlântico da América do Sul

– conforme assegurava o Tratado de Tordesilhas, assinado com os espanhóis em


1494 – e que, naquele momento, sofriam constantes ameaças de invasões
estrangeiras, principalmente pelos franceses.
Conforme sugere a frase atribuída ao rei português D. João III, o

colonizador, era necessário “ocupar para não perder”, visto que, frequentemente,
embarcações francesas aportavam no Brasil e realizavam o escambo de pau-brasil

com os nativos.
O nordeste brasileiro foi o ponto inicial da colonização, embora o primeiro

engenho de cana-de-açúcar do Brasil tenha se instalado na região sul-sudeste,

mais precisamente em São Vicente.


No decorrer dos séculos XVI e XVII, a região de São Vicente ficou

economicamente marginalizada, pois no nordeste as condições climáticas (clima


tropical quente e úmido) e pedológicas (solo de massapé) eram mais favoráveis,

além do que, a região ficava mais próxima da Europa e isso facilitava a exportação
do açúcar.
“Na faixa litorânea, o Nordeste representou o primeiro centro de
colonização e de urbanização da nova terra. (...) Até meados do
século XVIII, a região nordestina concentrou as atividades
econômicas e a vida social mais significativa da Colônia. (...) A
empresa açucareira foi o núcleo central da ativação
socioeconômica do Nordeste. O açúcar tem uma longa e variada
história, tanto no que se refere a seu uso quanto à localização
geográfica. (BORIS, Fausto. História Concisa do Brasil. São Paulo:
Edusp, 2002, p. 38-39)

Em 1534 foi instalado no Brasil o primeiro engenho de cana-de-açúcar,

cujo nome era “Engenho de São Jorge dos Erasmos”. Localizado em São Vicente,
esse engenho foi administrado pelo português Martim Afonso de Sousa, o qual, a

partir de uma expedição oficial (organizada pela coroa portuguesa), iniciou


efetivamente a colonização do Brasil.

Porém, analisando informações históricas a respeito do movimento de


interiorização do território brasileiro, nós nos deparamos com a figura dos

“paulistas” que, a partir do século XVI, focaram o povoamento no Planalto do


Piratininga, após transporem a Serra do Mar devido ao declínio da atividade

canavieira no litoral.
Segundo Capistrano de Abreu em “Caminhos Antigos e Povoamento do

Brasil”:

“Depois de instalar São Vicente, Martim Afonso transpôs a serra de


Paranapiacaba e criou outra vila, que posteriormente mudou de
sede e nome, transformando-se insensivelmente na atual cidade de
São Paulo.”

A vila de São Paulo estava economicamente marginalizada, pois a


concentração econômica do complexo açucareiro dos engenhos de cana-de-

açúcar encontrava-se no nordeste.


Sobre a situação da vila de São Paulo, Belmonte escreveu:
“Separada do mar, vive separada da metrópole. O isolamento a
obriga a agir por si própria e bastar-se às suas necessidades (...),
perdido no deserto, entregue a si próprio, São Paulo do Campo do
Piratininga chega ao limiar do século XVII povoado por milhares de
índios e menos de duzentos brancos (...), é evidente a pobreza da
vila, pobreza que só se atenua no fim do século, com o advento do
grande ciclo do ouro no bandeirismo paulista”.

Entretanto, no nordeste brasileiro, a economia açucareira encontrou as

condições climáticas e pedológicas necessárias para pleno desenvolvimento da


cana-de-açúcar, visando à produção de açúcar e aguardente para suprir as

necessidades de consumo do mercado externo.


A economia açucareira esteve estreitamente vinculada ao modelo de

colonização de exploração, cujo objetivo era a obtenção de lucros no contexto do


mercantilismo.

Principais Características da Colonização de Exploração


 Grandes propriedades rurais (latifúndios), monocultura de cana-de-açúcar,

exploração da mão de obra escrava africana e produção destinada ao mercado


externo (exportações), como forma de sustentar a metrópole no contexto

mercantilista.
 Produção de açúcar – para suprir a demanda de consumo das nações

europeias – e de aguardente – produto utilizado como moeda de troca no


mercado de escravos africanos.

O advento da economia açucareira no Brasil está diretamente vinculado ao


início da utilização da mão de obra escrava africana. Foi durante a economia

açucareira que se empreendeu a substituição da exploração da mão de obra


indígena pela mão de obra escrava africana, mais precisamente durante as

décadas de 1870, 1880 e 1890, quando os negros representavam


aproximadamente 40% da força de trabalho empregada nos engenhos e, a partir

de 1638, compunham a totalidade dos trabalhadores, uma vez que o tráfico de


escravos também proporcionava vultosos lucros no contexto das relações

comerciais mercantilistas.
Durante décadas, informações imprecisas afirmavam ser o negro mais forte

do que o indígena brasileiro e, portanto, mais apto ao árduo trabalho nas


lavouras, porém historiadores contemporâneos encontraram no fator da

acumulação de capitais, através do tráfico negreiro, o real motivo da preferência


pela escravidão negra.

“Os cativos realizavam um grande número de tarefas, sendo


concentrados em sua maioria nos pesados trabalhos do campo. A
situação de quem trabalhava na moenda, nas fornalhas e nas
caldeiras poderia ser pior. (...) Muitos cativos eram treinados desde
cedo para esse serviço, considerado também um castigo para os
rebeldes (Idem, p. 41)

Participação dos Holandeses na Economia Açucareira

Desde os primeiros tempos da economia açucareira, os holandeses tiveram


papel relevante com seus investimentos e financiamentos, pois a instalação de um

engenho e a aquisição de escravos requeria o emprego de vultosas somas, as


quais eram proporcionadas pelos banqueiros holandeses, interessados,

obviamente, na obtenção do lucro posterior.


Essa relação econômica existente entre Portugal, Brasil e Holanda, foi

rompida na ocasião da União Ibérica (1580-1640), quando Portugal passou ao


domínio espanhol, formando o Império Colonial Ibérico, sob o comando do rei

Filipe II da Espanha.
No contexto da União Ibérica, os portos brasileiros foram fechados para os

navios holandeses, ou seja, o lucrativo comércio açucareiro e a estreita relação


econômica entre Brasil e Holanda foram rompidos.

“A consequência mais significativa da união das duas coroas se


deu no plano das relações internacionais. A proximidade entre
Portugal e os Países Baixos desaparecia, dando lugar a um período
de confrontação aberta, como decorrência do conflito existente
entre os Países Baixos e a Espanha. No mundo colonial americano,
a luta girou em torno do comércio de açúcar (...)” (Idem, p. 44-45)
Em decorrência desse episódio e pretendendo retomar as relações

econômico-açucareiras, os holandeses invadiram o litoral nordeste brasileiro –


principal região produtora de açúcar – e ali permaneceram por um período de 24

anos (1630-1654), denominando a região de “Brasil Holandês”.


Com a Restauração Portuguesa em 1640, desenrolou-se no Brasil, entre os

anos de 1644-1654, uma luta contra os holandeses, denominada “Insurreição


Pernambucana”, cujo desfecho na Batalha dos Guararapes, em 1654, foi a

expulsão dos mesmos que, a partir de então, iniciaram uma produção de açúcar

nas Antilhas, concorrendo de forma desvantajosa para o Brasil com o açúcar


brasileiro e, consequentemente, provocaram a decadência da economia

açucareira nordestina.

BUSCANDO CONHECIMENTO

“Os donatários, que em regra não dispunham de grandes recursos próprios,


levantaram fundos tanto em Portugal como na Holanda, tendo contribuído em boa parte
banqueiros e negociantes judeus. A perspectiva principal do negócio está na cultura da
cana-de-açúcar. Tratava-se de um produto de grande valor comercial na Europa. (...) O
clima quente e úmido da costa ser-lhe-ia altamente favorável; e quanto à mão de obra,
contou-se a princípio com os indígenas que, como vimos, eram relativamente numerosos e
pacíficos no litoral. Estas perspectivas seriam amplamente confirmadas; o único fator ainda
ignorado antes da tentativa, a qualidade do solo, revelar-se-ia surpreendentemente
propício, em alguns pontos pelo menos da extensa costa. Foi o caso, particularmente do
Extremo-Nordeste, na planície litorânea hoje ocupada pelo Estado de Pernambuco; e do
contorno da baía de Todos os Santos (o Recôncavo baiano, como seria chamado). Não
seriam, aliás, os únicos: de uma forma geral, toda a costa brasileira presta-se ao cultivo da
cana-de-açúcar. É nesta base, portanto, que se iniciarão a ocupação efetiva e a colonização
do Brasil. Sem entrar nos pormenores das vicissitudes sofridas pelos primeiros colonos, seus
sucessos e fracassos, examinemos como se organizará sua economia. O regime de posse da
terra foi o da propriedade alodial e plena. Entre os poderes dos donatários das capitanias
estava, como vimos, o de disporem das terras, que se distribuíram entre os colonos. As
doações foram em regra muito grandes, medindo-se os lotes por muitas léguas. O que é
compreensível: sobravam as terras, e as ambições daqueles pioneiros recrutados a tanto
custo, não se contentariam evidentemente com propriedades pequenas; não era a posição
de modestos camponeses que aspiravam no novo mundo, mas de grandes senhores e
latifundiários. Além disso, e sobretudo por isso, há um fator material que determina este
tipo de propriedade fundiária. A cultura da cana somente se prestava, economicamente, a
grandes plantações. Já para desbravar convenientemente o terreno (tarefa custosa neste
meio tropical e virgem tão hostil ao homem) tornava-se necessário o esforço reunido de
muitos trabalhadores; não era empresa para pequenos proprietários isolados. Isto feito, a
plantação, a colheita e o transporte do produto até os engenhos onde se preparava o
açúcar, só se tomava rendoso quando realizado em grandes volumes. Nestas condições, o
pequeno produtor não podia subsistir. São, sobretudo, estas circunstâncias que
determinarão o tipo de exploração agrária adotada no Brasil: a grande propriedade.
(...) a organização das grandes propriedades açucareiras da colônia foi sempre,
desde o início, mais ou menos a mesma. É ela a grande unidade produtora que reúne, num
mesmo conjunto de trabalho produtivo, um número mais ou menos avultado de indivíduos
sob a direção imediata do proprietário ou seu feitor. (...) O seu elemento central é o
engenho, isto é, a fábrica propriamente, onde se reúnem as instalações para a manipulação
da cana e o preparo do açúcar. O nome de "engenho" estendeu-se depois da fábrica para o
conjunto da propriedade com suas terras e culturas: "engenho" e "propriedade canavieira"
se tornaram sinônimos. Embora o proprietário explore, em regra, diretamente suas terras
(como ficou entendido acima), há casos frequentes em que cede partes delas a lavradores
que se ocupam com a cultura e produzem a cana por conta própria, obrigando-se contudo
a moerem sua produção no engenho do proprietário. São as chamadas fazendas obrigadas;
o lavrador recebe metade do açúcar extraído da sua cana, e ainda paga pelo aluguel das
terras que utiliza urna certa porcentagem, variável segundo o tempo e os lugares, e que vai
de 5 a 20%. (...) Os lavradores, embora estejam socialmente abaixo dos senhores de
engenho, não são pequenos produtores, da categoria de camponeses. Trata-se de senhores
de escravos, e suas lavouras, sejam em terras próprias ou arrendadas, formam como os
engenhos grandes unidades.
A razão por que nem todas as propriedades dispõem de engenho próprio são as
proporções e o custo das instalações necessárias. O engenho é um estabelecimento
complexo, compreendendo numerosas construções e aparelhos mecânicos: moenda (onde a
cana é espremida); caldeira, que fornece o calor necessário ao processo de purificação do
caldo; casa de purgar, onde se completa esta purificação. Além de outras, o que todas as
propriedades possuem é, em regra, a casa-grande, a habitação do senhor; a senzala dos
escravos; e instalações acessórias: oficinas, estrebarias, etc. Suas terras, além dos canaviais,
são reservadas para outros fins: pastagens para animais de trabalho; culturas alimentares
para o pessoal numeroso; matas para fornecimento de lenha e madeira de construção. A
grande propriedade açucareira é um verdadeiro mundo em miniatura em que se concentra
e resume a vida toda de uma pequena parcela da humanidade.”

(PRADO JR, Caio. História Econômica do Brasil.


Unidade 15 - Economia mineradora no Brasil colonial

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Estudar a economia mineradora e as diversas transformações

provocadas pela “corrida do ouro” e ocupação das terras na região das Minas
Gerais.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Após algumas décadas percorrendo o interior do território brasileiro, os

paulistas, enfim, realizariam um velho sonho dos colonizadores do Brasil,


descobririam as primeiras minas de ouro no interior do território brasileiro.

“Em 1695, no rio das Velhas, próximo às atuais Sabará e Caeté, no


Estado de Minas Gerais, ocorreram as primeiras descobertas
significativas de ouro. A tradição associa essas primeiras
descobertas ao nome de Borba Gato, genro de Fernão Dias,
conhecido como “o caçador de Esmeraldas’. Durante os quarenta
anos seguintes, foi encontrado ouro em Minas Gerais, na Bahia,
em Goiás e Mato Grosso”. (BORIS, Fausto. História Concisa do
Brasil. São Paulo: Edusp, 2002, p. 52)

A mineração provocou profundas transformações no cotidiano da colônia e


da metrópole, pois tão logo a informação da descoberta de ouro chegou a

Portugal, a coroa reorientou o modelo de exploração, fiscalização e tributação


colonial; afinal de contas, esse metal era sinônimo de riqueza nacional para as

nações mercantilistas europeias e, dentro desse contexto econômico, era


necessário acumular o máximo possível de ouro e prata, evitando de todas as

formas o contrabando e a sonegação de impostos.


O ouro também atraiu a atenção dos brasileiros que viviam na região
litorânea nordestina, a qual se encontrava em decadência em razão do declínio
das atividades açucareiras após a expulsão dos holandeses e o início da

concorrência do açúcar produzido nas Antilhas.

Tributação e Fiscalização na Região Mineradora


 Quinto: determinava que um quinto, ou seja, 20% de todo o ouro extraído

no Brasil pertenceria à coroa portuguesa.

 Capitação ou Capitalização: imposto cobrado (17g per capita) sobre o


número de escravos maiores de 12 anos empregados na região

mineradora. Os mineradores sem escravos pagavam o imposto sobre si


mesmos.

 Finta: estabelecia um mínimo de arrecadação anual de 100 arrobas de


quinto acumulado, sendo que, se esse mínimo não fosse atingido, os

mineradores deveriam completar a diferença.


 Casas de Fundição: tinha a finalidade de pesar, “quintar” (tirar o quinto),

fundir o ouro em barras e marcar com o brasão da coroa portuguesa. Para


complementar essa medida, foi determinada a proibição da circulação do

ouro em pó.
Essas determinações tinham por objetivo aumentar a arrecadação tributária

da coroa portuguesa no Brasil, pois, desde a Restauração (1640), a economia de


Portugal encontrava-se desestabilizada, devido aos efeitos negativos da União

Ibérica (1580-1640).
Alguns movimentos de contestação eclodiram na região em razão dos

pesados tributos, entre os quais se destaca a Sedição ou Revolta de Filipe dos


Santos (1720), o qual protestava contra a instalação das Casas de Fundição. Após

executar o líder dessa rebelião, a coroa portuguesa determinou a diminuição do


quinto para 12%, porém, o nome do tributo foi mantido.
Entretanto, a ação da coroa portuguesa não atingiu os objetivos

pretendidos, pois a distância, a corrupção e a sonegação, dificultavam o trabalho


dos funcionários reais.

Consequências da Mineração

Conforme fora citado anteriormente, a mineração trouxe uma série de


transformações para a colônia, entre as quais podemos citar:

 Deslocamento do eixo econômico e demográfico do nordeste açucareiro


(litoral) para o sudeste minerador (interior), promovendo a interiorização

do território brasileiro.

 Crescimento demográfico, em decorrência da intensa imigração


portuguesa, uma vez que os mesmos estavam interessados na exploração

e, se possível, no controle da região das minas.


 Deslocamentos populacionais (migrações) internos, devido ao afluxo de

nordestinos, paulistas e gaúchos para a região mineradora.


 Desenvolvimento do comércio interno, pois era necessário suprir as

necessidades básicas de consumo (charque, farinha de mandioca, pólvora,


rapadura, cachaça...) dos moradores da região das Minas Gerais.

 Surgimento de novos grupos sociais (proprietários de lavras, funcionários


da coroa, advogados, padres, militares, comerciantes, tropeiros, artesãos,

artistas e escravos), tornando a sociedade mineradora mais flexibilizada


quando comparada à sociedade açucareira (senhores de engenho e

escravos).
 Fundação de arraiais, vilas e cidades (urbanização) em decorrência da

exploração aurífera.
O apogeu da mineração no Brasil encontra-se entre os anos de 1733 a

1748, começando a declinar a partir dessa data e, mesmo durante a fase de


esplendor, outras atividades complementavam a economia, tais como: a pecuária,

a produção de farinha de mandioca, rapadura, açúcar e cachaça.

BUSCANDO CONHECIMENTO

O texto abaixo, do economista e historiador Celso Furtado, apresenta-nos,


didaticamente, a relação existente entre a economia mineradora do Brasil e a

dependência econômica de Portugal para com a Inglaterra, desde a assinatura do


Tratado de Methuen em 1703, também conhecido como Tratado dos Panos e

Vinhos, pois estabelecia uma relação bilateral (desvantajosa para os portugueses)


entre essas duas nações.

“O ciclo do ouro brasileiro trouxe um forte estímulo ao desenvolvimento manufatureiro,


uma grande flexibilidade à sua capacidade para importar, e permitiu uma concentração de
reservas que fizeram do sistema bancário inglês o principal centro financeiro da Europa. A
Portugal, entretanto, a economia do ouro proporcionou apenas uma aparência de riqueza,
repetindo o pequeno reino a experiência da Espanha no século anterior. Como agudamente
observou Pombal, na segunda metade do século, o ouro era uma riqueza puramente fictícia
para Portugal: os próprios negros que trabalhavam nas minas tinham que ser vestidos
pelos ingleses. Contudo, nem mesmo Pombal, que tinha uma visão lúcida da situação da
dependência política em que vivia seu país e uma vontade de ferro, conseguiu modificar
fundamentalmente as relações com a Inglaterra. Na verdade, essas relações constituíam
uma ordem superior de coisas sem a qual não seria fácil explicar a sobrevivência do
pequeno reino como Metrópole de um dos mais ricos impérios coloniais da época.
(...) O último quartel do século XVIII veria a decadência da mineração do ouro no Brasil. A
Inglaterra já havia, sem embargo, entrado em plena revolução industrial. As necessidades
de mercados cada vez mais amplos para as manufaturas em processo de rápida
mecanização impõem nesse país o abandono progressivo dos princípios protecionistas.
O tratado de Methuen, que criava uma situação de privilégio para os vinhos portugueses
no mercado inglês, é fortemente criticado do ponto de vista dos novos ideais liberais. O
problema fundamental da Inglaterra passa a ser a abertura dos grandes mercados
europeus para as suas manufaturas, e com esse fim tornava-se indispensável eliminar as
ataduras da era mercantilista.
Com efeito, no tratado de 1786, firmado com a França, a Inglaterra pôs praticamente fim ao
privilégio aduaneiro que desde o começo do século haviam gozado os vinhos portugueses
em seu mercado, única contrapartida econômica, que recebera Portugal nos cento e
cinquenta anos anteriores de vassalagem econômica.
Em suas memórias, o Marquês de Pombal afirma categoricamente que a Inglaterra havia
reduzido Portugal a uma situação de dependência, conquistando o reino sem os
inconvenientes de uma conquista militar: que todos os movimentos do governo eram
regulados de acordo com os desejos da Inglaterra.”

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 2005.


Unidade 16 - Renascimento agrícola

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Compreender a economia do período de transição entre a


economia açucareira nordestina e o advento da cafeicultura no Rio de Janeiro e

Vale do Paraíba.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Conforme o ouro escasseava, buscava-se uma alternativa econômica viável

e, nesse momento de transição do século XVIII para o XIX, a agricultura volta a ser

a atividade de destaque, porém, na ausência de um produto-chave, como outrora


fora a cana-de-açúcar, verifica-se uma diversificação agrícola, cujos principais

produtos eram: cana-de-açúcar, algodão, tabaco, cacau, café, entre outros.


A retomada da atividade agrícola brasileira é uma consequência de

diversos fatores internos e externos. Internamente ocorria o declínio da atividade


mineradora, fato que exigia um redirecionamento econômico. Externamente, mais

precisamente na Europa, ocorriam consecutivamente a Revolução Industrial e o


crescimento da população urbana.

Nesse contexto, o Brasil se posicionaria como país periférico, ou seja,


fornecedor de matérias-primas e produtos agrícolas (alimentos) para as nações

industrializadas.
O algodão tornar-se-ia o principal produto das exportações brasileiras

desse período, pois era a matéria-prima da Revolução Industrial Inglesa. Desde


1776, as relações entre a metrópole inglesa e suas colônias na América do Norte

foram rompidas pela Declaração de Independência dos Estados Unidos da


América, ocasião na qual travaram uma Guerra de Independência (1776-1783)

contra a Inglaterra.
Durante esse período de conflito, o Brasil tornou-se o principal fornecedor

de algodão para as indústrias têxteis inglesas, contribuindo positivamente com a


retomada das atividades agrícolas brasileiras (Renascimento Agrícola).

Boris Fausto (2008) defende que a grande propriedade se impôs na


Economia brasileira. O sistema de plantation, ou seja, a monocultura, utilizando a

mão de obra escrava foi a base para a produção em larga escala destinada

principalmente à exportação. O Vale do Paraíba, região que se estende do Rio a


São Paulo, ofereceu território fértil para o início de um rico ciclo cafeeiro no Brasil.

Prevalecia no Brasil a lei do mais forte, isto é, quem tinha mais condições
de explorar a terra aproveitava, expandia seu território e lucrava com a produção,

Segundo Fausto (2008):

Para implantar uma fazenda de café, o fazendeiro tinha de fazer


investimentos significativos, que incluíam a derrubada da mata, o
preparo da terra, o plantio, as instalações e a compra de escravos.
Além disso, se o cafeeiro é uma planta perene – ou seja, o plantio
não deve ser renovado a curto prazo – as primeiras colheitas só
ocorrem após quatro anos. (p.187)

O mercado interno brasileiro não consumia, principalmente porque a

produção do café era feita em larga escala. Portanto, o Brasil dependia do


mercado externo. Os Estados Unidos tornaram-se o principal consumidor do café

brasileiro, além da Alemanha e Escandinávia. Porém, mesmo que a produção


fosse tão volumosa, as técnicas para o trabalho nos cafezais ainda eram simples e

o sistema de transporte era precário:


Antes da construção das ferrovias, o transporte era feito por
tropas de burros, a carga de uma guia chamada de arreador e de
tropeiros escravos. Essas tropas percorriam várias vezes por ano
os caminhos que iam dom vale do Paraíba ao Rio de Janeiro. Na
ida, carregavam a produção da fazenda e na volta traziam
ferramentas e mantimentos, como bacalhau, carne-seca e
toucinho. (FAUSTO, 2008, p.188)

O capital inglês ajudou em grande parte para o desenvolvimento da região


já que era necessária a construção de estradas de ferro para o transporte do café.

Em 1868, foi construída a estrada de ferro que ligava Santos a Jundiaí por uma
companhia inglesa, a São Paulo Railway Co. Limited (SPR). A empresa não se

interessou por estender as estradas até Rio Claro e, então, os próprios fazendeiros
financiaram a construção da estrada de ferro, Boris Fausto (2008) enaltece o fato,

dizendo: A Companhia Paulista de Estradas de Ferro surgiu como uma empresa


formada com capitais brasileiros ligados aos negócios do café (p.201).

BUSCANDO CONHECIMENTO

“(...) Ocorre na segunda metade do século mais um fator particular que estimula a
agricultura brasileira. Até então, o grande gênero tropical fora o açúcar. Outro virá
emparelhar-se a ele, e sobrepujá-lo-á em breve: o algodão. Embora conhecido
imemorialmente, o papel do algodão nunca fora de destaque; em particular na Europa,
onde nada havia que o avantajasse às fibras de produção local então utilizadas para os
mesmos fins que ele: o linho ou a lã. Os progressos técnicos do séc. XVIII permitirão o seu
aproveitamento em medida quase ilimitada, e ele se tornará a principal matéria-prima
industrial do momento, entrando para o comércio internacional em proporções que este
desconhecia ainda em qualquer outro ramo. Arkwright constrói o seu fuso em 1769, no
mesmo ano em que Watt obtém patente para a máquina a vapor que tornaria possível o
emprego desta energia em larga escala. Em 1787 Cartwright inventa o tear mecânico. São
datas preciosas para o Brasil. O consumo do algodão na Inglaterra, o grande centro da
indústria têxtil moderna, acompanha estas datas. Não ia no quinquênio 1771/5 além de
4,76 milhões de libras (peso); no penúltimo do século (1791/5), logo depois da introdução
do tear mecânico, atingirá 26 milhões. Já não bastavam para este volume considerável os
antigos e tradicionais fornecedores do Oriente; e a América, aproveitando suas reservas
imensas de terras virgens, virá preencher a falta e tornar-se-á o grande produtor
moderno do algodão. O Brasil terá sua parte que a princípio não é pequena, neste surto
sem paralelo no passado do comércio algodoeiro.O algodão é produto nativo da
América, inclusive do Brasil, e já era utilizado pelos nossos indígenas antes da vinda dos
europeus. Com a colonização o seu cultivo se difundiu. Fiado e tecido em panos
grosseiros, servia para vestimenta dos escravos e classes mais pobres da população.
Exportou-se mesmo, ocasionalmente, em pequenas quantidades; e na falta da moeda, os
novelos de fio e panos de algodão chegaram a circular em certas regiões como tal; hábito
que tanto se arraigou, que no Maranhão, p. ex., exprimiam-se ainda naquelas
mercadorias, em princípios do séc. XIX, os valores monetários locais: novelo de fio, por
100 réis: e rolo de pano, por 10$000. Mas até o terceiro quartel do séc. XVIII, quando
começa a ser exportado regularmente, o algodão nada mais representa que uma
insignificante cultura de expressão local e valor mínimo. É somente quando se torna
mercadoria de grande importância no mercado internacional que o algodão começa a
aparecer, tornando-se mesmo uma das principais riquezas da colônia.
Verifica-se aí, mais uma vez, o papel que representa na economia brasileira a
função exportadora: é ela o fator único determinante de qualquer atividade econômica
de vulto. E isto se comprovará novamente neste mesmo setor da produção algodoeira,
pouco depois do período que ora nos ocupa, quando vem o reverso da medalha e a fibra
brasileira é desbancada e quase excluída do mercado internacional pelos seus
concorrentes. A produção decairá logo em seguida, e as regiões produtoras que não
contaram com um substituto, encerram com um colapso sua brilhante e curta trajetória. A
primeira remessa de algodão brasileiro para o exterior (com exclusão daquela remessa
pequena e intermitente exportação do séc. XVI, referida acima e que não progrediu),
data, ao que parece, de1760, e provém do Maranhão que neste ano exporta 651 arrobas.
De Pernambuco exporta-se a partir de 1778, sendo em quantidade insignificante até 1781.
A Bahia e o Rio de Janeiro seguirão o passo. Mas é no Maranhão que o progresso da
cultura algodoeira é mais interessante, porque ela parte aí do nada, de uma região pobre
e inexpressiva no conjunto da colônia. O algodão dar-lhe-á vida e transformá-la-á, em
poucos decênios, numa das mais ricas e destacadas capitanias. Deveu-se isto em
particular à Companhia geral do comércio do Grão-Pará e do Maranhão, concessionária
desde 1756 do monopólio desse comércio.
É esta companhia que fornecerá créditos, escravos e ferramentas aos lavradores;
que os estimulará a se dedicarem ao algodão, cuja favorável conjuntura começava a se
delinear. A Companhia não colherá os melhores frutos do seu trabalho: extingue-se em
1777 com a cessação do seu privilégio que não é renovado. Mas o impulso estava dado, e
o Maranhão continuará em sua marcha ascendente. Será ultrapassado mais tarde por
Pernambuco e Bahia, que contavam ao se lançarem na empresa com recursos de gente e
capitais muito mais amplos. Mas o Maranhão terá, pelo menos num momento, seu lugar
no grande cenário da economia brasileira.

(PRADO JR, Caio. História Econômica do Brasil.


40ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1993)
Unidade 17. Economia Cafeeira

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Analisar a economia cafeeira, principal atividade econômica a

partir de meados do século XIX, responsável por um conjunto de transformações

econômicas, sociais e políticas no Brasil.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A cafeicultura desenvolveu-se plenamente no Brasil durante a segunda

metade do século XIX. Embora haja registros de que as primeiras sementes de


café tenham chegado ao Pará, ainda no século XVIII, obtidas as primeiras mudas,

foram usadas apenas como planta ornamental. Foi na região sudeste (Rio de
Janeiro, São Paulo e Minas Gerais) que a atividade cafeeira teve finalidades

comerciais.
A partir de meados do século XIX, o mercado consumidor externo

expandiu-se em decorrência de vários fatores, entre os quais podemos destacar o


hábito das camadas médias da sociedade norte-americana e europeia de

consumir café.
Também encontramos registros de que o café era a bebida da razão e,

desde a difusão dos ideais iluministas pela Europa no século XVIII, era a bebida
preferida dos pensadores, escritores, cientistas, intelectuais e comerciantes, pois

“clareava” as ideias, ao contrário do álcool que as ofuscava.


“Café, a bebida sóbria, o poderoso alimento do cérebro, que, ao
contrário de outros destilados, eleva a pureza e a lucidez; o café,
que remove da imaginação as nuvens e seu peso sombrio e que
ilumina a realidade das coisas de repente com o brilho da
verdade”.(Jules Michelet, historiador francês: 1798-1874)

“A propagação do racionalismo pela Europa foi espelhada pela


difusão de uma nova bebida, o café, que promovia acuidade e
clareza de pensamento”. (STANDAGE, Tom. História do mundo
em 6 Copos. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2005)

Entretanto, não foram esses pensadores e intelectuais os responsáveis pelo

aumento da demanda do produto no exterior. As camadas médias e baixas da


sociedade também adquiriram o hábito de beber café. A industrialização das

nações ocidentais europeias e norte-americana contribuiu significativamente para


a ampliação das exportações do produto, pois, segundo consta, o café mantinha

os indivíduos despertos e aptos ao trabalho nas longas jornadas diárias dentro


das indústrias.

A produção de café com finalidades comerciais iniciou-se no Rio de


Janeiro, pois ali havia terras disponíveis e uma maior proximidade com o litoral

Atlântico, fundamental para realizar as exportações do produto.


As fazendas de café no Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba (para onde o

cultivo expandiu-se nos primeiros anos do século XIX) apresentavam uma


característica tradicional de produção, ou seja, grandes propriedades (latifúndios),

monocultura, mão de obra escrava africana e produção destinada ao mercado


externo (exportações).

Quando a expansão das lavouras atingiu o Oeste Paulista, em meados no


século XIX, o modelo tradicional foi substituído pelo modelo empresarial, o qual,

entre outras características, adotou a mão de obra livre (assalariada) dos


imigrantes europeus.

Rio de Janeiro e Vale do Paraíba: modelo tradicional – técnicas rudimentares de


cultivo (enxada e foice) e utilização da mão de obra escrava africana – baixa
produtividade.
“Os instrumentos de trabalho básicos e quase exclusivos da grande
lavoura cafeeira foram a enxada e a foice. Os escravos ajustaram-
se a essas ferramentas tradicionais do trabalhador da terra no
Brasil, e as condições topográficas do vale do Paraíba favoreceram
seu uso.” (FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil)

Oeste Paulista: modelo empresarial – novas técnicas de cultivo (arado e


despolpador de grãos) e utilização da mão de obra assalariada dos imigrantes –

maior produtividade.

“No grande planalto do interior de São Paulo reuniam-se as


condições mais favoráveis de solo e de clima para a lavoura do
café. Aí se encontra a terra roxa, de alta produtividade (...). Embora
não devamos exagerar nos avanços tecnológicos, foi no Oeste
Paulista que se introduziram o arado e o despolpador. Este
significou uma verdadeira revolução na técnica de descascamento
de grãos.” (Idem)

O desenvolvimento da cafeicultura no Oeste Paulista, em detrimento do

Vale do Paraíba, deu origem a uma nova classe social: a burguesia cafeeira que,
diferentemente dos antigos latifundiários açucareiros do nordeste brasileiro,

destinaram os excedentes de capitais para outras áreas da economia, tais como as


indústrias de bens de consumo não-duráveis (alimentos, bebidas e têxteis).

Durante a segunda metade do século XIX, principalmente a partir de 1870,


verificou-se um surto de industrialização no Brasil, especificamente em São Paulo.

Porém, tal industrialização foi efêmera, pois a cafeicultura representava a


principal atividade econômica nacional e, quando o preço do café oscilava no

mercado internacional diminuindo os lucros, diminuíam-se também os


investimentos no segmento industrial.

Nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, o preço
do café diminuía vertiginosamente, pois além das supersafras internas, que

aumentavam a oferta do produto, internacionalmente ocorriam crises econômicas


nas nações liberais industrializadas e as importações de café eram diminuídas.
A partir das décadas de 30 e 40 (Era Vargas), ocorreria o início da

industrialização brasileira e o café seria apenas mais um produto das exportações


brasileiras.

BUSCANDO CONHECIMENTO

O mercado mundial do café se ampliava, na medida em que o produto


deixava de ser um artigo de luxo para se incorporar à cultura e ao consumo

cotidiano das populações em diversos lugares do mundo. A participação do café


brasileiro no mercado mundial elevou-se de 20% na década de 1820 para mais de

50%, entre 1880 e 1889.

Estruturada a princípio na grande propriedade agroexportadora e na mão

de obra escrava, a economia cafeeira, a partir da segunda metade do século XIX,


passou a adotar progressivamente o trabalho livre. O tráfico negreiro foi extinto

em 1850, e a expansão da lavoura cafeeira no Oeste Paulista aumentava a


necessidade de mão de obra. Com o objetivo de atrair imigrantes para o Brasil, o
governo lançou campanhas na Europa, distribuindo folhetos que prometiam terra

e fartura.
O comércio exterior se dinamizou, com a exportação crescente de café e a

importação de produtos franceses e ingleses para atender aos novos núcleos


urbanos, estimulando o desenvolvimento do sistema bancário.

A expansão da cafeicultura brasileira deu-se no contexto da Segunda


Revolução Industrial, desencadeada, sobretudo na Inglaterra. Interessados em

expandir seus mercados, os investidores ingleses aplicaram vultosos recursos no

Brasil.
A influência da Inglaterra na economia brasileira vinha desde os tempos

coloniais, e se ampliou quando a família real transferiu-se para o Brasil em 1808.


No século XIX, o capital inglês tomou-se ainda mais presente na economia

brasileira, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, com investimentos na


construção de ferrovias, portos e no transporte urbano. A feição dos centros

urbanos se modificou, contando com mais estabelecimentos comerciais, bancos,


iluminação, telégrafos, um novo traçado das ruas e, já no final do século XIX, a

presença de bondes elétricos, em substituição aos de tração animal.


Unidade 18 - Industrialização

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Ressaltar a importância e o processo da industrialização brasileira.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918, favoreceu o


crescimento do setor industrial brasileiro durante a República Velha. Neste

período a indústria europeia estava totalmente concentrada na produção de


armas, munições, veículos de transporte e medicamentos necessários para o

esforço de guerra. Dessa forma, as indústrias europeias deixaram de produzir


mercadorias para o resto do mundo.

Mas havia limites nesse processo, pois no Brasil ainda não havia indústria
de base, indústria pesada, tais como indústria siderúrgica e metalúrgica. Nesse

período a indústria brasileira começou a se diversificar e desenvolver.


O capital para financiar a industrialização brasileira veio da agro

exportação, principalmente do Café. A economia agroexportadora brasileira foi


responsável pela montagem de canais de escoamento da produção, tais como a

construção de portos e ferrovias.


A posse de Getúlio Vargas simbolizou o final da República Velha e o início

de novos tempos, mas o que de fato ocorreu foi um rearranjo, uma acomodação
dos interesses das elites, uma ruptura com “continuísmo”, pois a elite cafeeira

paulista, que esteve no poder, direta ou indiretamente durante aproximadamente


35 anos, foi afastada, mas outras elites pertencentes ao grupo que chegou ao

poder foram beneficiadas.


Em 1940, foi oficialmente estabelecido um salário mínimo, o qual deveria

satisfazer às necessidades básicas dos trabalhadores, quais sejam: alimentação,


moradia, transporte, vestuário e lazer. Embora tais necessidades tenham se

modificado substancialmente com o passar das décadas, é evidente que o poder


de compra do salário mínimo não era significante.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939) e o enfrentamento dos


nazifascistas alemães e italianos na Europa, o governo viu-se obrigado a se

posicionar em relação ao conflito. Embora na esfera política houvesse

simpatizantes de ambos os lados, Vargas conseguiu manter-se neutro até 1942,


tentando angariar vantagens econômicas em troca de apoio ideológico-militar.

Negociava tanto com os alemães quanto com os Estados Unidos. Enquanto


alguns oficiais da FAB (Força Aérea Brasileira) viajaram para a Alemanha e se

encontraram com o todo poderoso chefe da propaganda nazista Hermann


Göring, seu ministro das relações internacionais, Osvaldo Aranha, viajou para

Washington para negociar com o presidente Roosevelt.


O ataque militar japonês a Pearl Harbour, em dezembro de 1941, provocou

a declaração de guerra dos EUA ao eixo, forçando o Brasil a se decidir


rapidamente.

Com as promessas norte-americanas de que o Export-Import Bank


(Eximbank) financiaria a construção da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta

Redonda/RJ, o Brasil, em agosto de 1942, declarou guerra ao eixo, em apoio aos


países aliados, em especial aos Estados Unidos, permitindo a esse país instalar

bases militares no litoral nordeste brasileiro.


Os anos de governo do presidente Juscelino Kubitschek foram

denominados “Anos Dourados”, devido ao modelo político-econômico nacional-


desenvolvimentista, isto é, um misto de investimentos público-privados, no qual o

governo assumia o compromisso de investir nos setores estratégicos da economia


(energia, transporte, alimentação, educação e industrialização de base), enquanto
os investimentos estrangeiros seriam destinados principalmente para a
implantação de indústrias de bens de consumo, sobretudo para as

automobilísticas.
A construção de Brasília – a nova Capital Federal – foi a principal realização

desse governo. A Novacap foi a empresa estatal responsável pela administração


das obras, as quais só foram possíveis graças aos convênios entre as principais

empreiteiras do país.
A proposta de planejamento e estudo para a mudança da capital já estava

prevista nas Constituições de 1891, 1934, 1937 e 1946, entretanto Juscelino

Kubitschek, ainda em campanha presidencial, assumiu um compromisso público


com esse artigo constitucional, pois afirmava que a integração nacional era

necessária e Brasília, construída na região Centro-Oeste, dentro do Estado de


Goiás, distando algumas dezenas de quilômetros da divisa do Estado de Minas

Gerais, seria o epicentro de tal integração.

BUSCANDO CONHECIMENTO

A industrialização brasileira
Publicado por: Eduardo de Freitas

Engenhos de açúcar primeira etapa da indústria no país.

O Brasil é considerado um país emergente ou em desenvolvimento. Apesar disso, está


quase um século atrasado industrialmente e tecnologicamente em relação às nações que
ingressaram no processo de industrialização no momento em que a Primeira Revolução
Industrial entrou em vigor, como Inglaterra, Alemanha, França, Estados Unidos, Japão e
outros.
As indústrias no Brasil se desenvolveram a partir de mudanças estruturais de caráter
econômico, social e político, que ocorreram principalmente nos últimos trinta anos do
século XIX.
O conjunto de mudanças aconteceu especialmente nas relações de trabalho, com a
expansão do emprego remunerado que resultou em aumento do consumo de
mercadorias, a abolição do trabalho escravo e o ingresso de estrangeiros no Brasil como
italianos, alemães, japoneses, dentre muitas outras nacionalidades, que vieram para
compor a mão de obra, além de contribuir no povoamento do país, como ocorreu na
região Sul. Um dos maiores acontecimentos no campo político foi a proclamação da
República. Diante desses acontecimentos históricos, o processo industrial brasileiro
passou por quatro etapas.
• Primeira etapa: essa ocorreu entre 1500 e 1808, quando o país ainda era colônia. Dessa
forma, a metrópole não aceitava a implantação de indústrias (salvo em casos especiais,
como os engenhos) e a produção tinha regime artesanal.
• Segunda etapa: corresponde a uma fase que se desenvolveu entre 1808 a 1930, que
ficou marcada pela chegada da família real portuguesa em 1808. Nesse período foi
concedida a permissão para a implantação de indústria no país a partir de vários
requisitos, dentre muitos, a criação, em 1828, de um tributo com taxas de 15% para
mercadorias importadas e, em 1844, a taxa tributária foi para 60%, denominada de tarifa
Alves Branco. Outro fator determinante nesse sentido foi o declínio do café, momento em
que muitos fazendeiros deixaram as atividades do campo e, com seus recursos, entraram
no setor industrial, que prometia grandes perspectivas de prosperidade. As primeiras
empresas limitavam-se à produção de alimentos, de tecidos, além de velas e sabão. Em
suma, tratava-se de produtos sem grandes tecnologias empregadas.

• Terceira etapa: período que ocorreu entre 1930 e 1955, momento em que a indústria
recebeu muitos investimentos dos ex-cafeicultores e também em logística. Assim, houve a
construção de vias de circulação de mercadorias, matérias-primas e pessoas, proveniente
das evoluções nos meios de transporte que facilitaram a distribuição de produtos para
várias regiões do país (muitas ferrovias que anteriormente transportavam café, nessa
etapa passaram a servir os interesses industriais). Foi instalada no país a Companhia
Siderúrgica Nacional, construída entre os anos de 1942 e 1947, empresa de extrema
importância no sistema produtivo industrial, uma vez que abastecia as indústrias com
matéria-prima, principalmente metais. No ano de 1953, foi instituída uma das mais
promissoras empresas estatais: a PETROBRAS.
• Quarta etapa: teve início em 1955, e segue até os dias de hoje. Essa fase foi promovida
inicialmente pelo presidente Juscelino Kubitschek, que promoveu a abertura da economia
e das fronteiras produtivas, permitindo a entrada de recursos em forma de empréstimos e
também em investimentos com a instalação de empresas multinacionais. Com o ingresso
dos militares no governo do país, no ano de 1964, as medidas produtivas tiveram novos
rumos, como a intensificação da entrada de empresas e capitais de origem estrangeira
comprometendo o crescimento autônomo do país, que resultou no incremento da
dependência econômica, industrial e tecnológica em relação aos países de economias
consolidadas. No fim do século XX houve um razoável crescimento econômico no país,
promovendo uma melhoria na qualidade de vida da população brasileira, além de maior
acesso ao consumo. Houve também a estabilidade da moeda, além de outros fatores que
foram determinantes para o progresso gradativo do país.

Disponível em http://www.mundoeducacao.com/geografia/a-industrializacao-brasileira.htm
Unidade 19 - Economia brasileira pós 64

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Analisar a situação econômica do Brasil após o golpe militar que

sucedeu o governo de João Goulart, em 1964.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Economia Brasileira pós-1964


O modelo econômico adotado após 64 foi uma tentativa de consolidar o

modelo econômico implantado por Juscelino Kubitschek, pois ele não rompe com
o padrão de desenvolvimento de JK.

No início dos anos 60, percebia-se uma crise econômica, que foi vista
como resultado da quebra do dinamismo econômico e uma diminuição do ritmo

dos investimentos industriais.


Para resolver a crise, o Estado amplia a emissão de tesouro, que acarreta a

elevação da inflação ou admite a subordinação ao crédito internacional, devendo


aceitar as condições impostas por ele. Esta segunda alternativa enfrentava o

problema de um governo instável e frágil, que acarretaria um risco para os


investidores estrangeiros.

Neste momento, ocorriam greves em muitos setores, até mesmo dentro do


exército (como a greve dos sargentos), que ameaçavam a hierarquia e a ordem

interna.
Devido às pressões populares e ao fraco desenvolvimento e desempenho

econômico, e em nome da burguesia emergente, a solução seria a tomada do


poder pelos militares, o que acontece em 1964, havendo assim uma redefinição
do poder no país com um novo pacto: burguesia-militares.
Com o golpe de 64, a política econômica cria condições para a retomada

do crescimento econômico e financeiro.


Mas o grande problema desse período foi a falta de investimentos e a

inflação galopante, que seria enfrentada com o arrocho salarial, com uma nova
legislação trabalhista que atrelaria o trabalhador a uma poupança forçada, o que

forneceria recursos para a indústria; criação de um novo sindicato que fortaleceria


a dominação do empregado pela classe empresarial.

Outro problema foi o fantasma da demissão, que colocava o trabalhador

subordinado à fábrica. A rotatividade de empregos proporcionava baixos salários


e uma margem de lucros maior para o empresário. Esta política foi fundamental

para o crescimento econômico pós 68, porém ela vai estrangular a classe operária.
O Brasil fez empréstimos para crescer economicamente; esse período ficou

conhecido como “Milagre Brasileiro”.


O país se endividou e o crescimento econômico diminuiu, atrelado à crise

mundial do petróleo (1973) que gera uma crise interna. E a indústria multinacional,
por sua vez, fazia a descapitalização, não havendo capital para reinvestir

internamente.
A crise estava inserida nos altos juros dos empréstimos e no custo do

capital financeiro.
No governo Geisel, há uma tentativa de implantar o II PND Plano de

Desenvolvimento Nacional (I PND – I Plano Nacional de Desenvolvimento


Econômico e Social, válido para os anos de 1972 a 1974. Os objetivos da política

regional ali enumerados têm por base, fundamentalmente, o PIN – Programa de


Integração Nacional. De modo geral, o I PND acentua a tendência do Estado de

procurar enfocar suas políticas territoriais através de estratégias de “integração


nacional”. O II PND atinge os anos de 1975 a 1979. É, de certo modo, conhecida a

mudança de enfoque nas diretrizes maiores do desenvolvimento nacional


(representado por esse plano e pelos demais que o precederam), que deveria
promover a substituição do setor de bens de consumo renováveis pelo setor de
bens de produção, através da empresa estatal. Este plano enfrenta dificuldades,

como: a falta de definição de um novo setor industrial, a falta de novos


financiamentos externos e a resistência do Sudeste em relação aos projetos

aplicados em outras áreas. Mas estas dificuldades estão ligadas à especulação da


ciranda financeira.

A falha econômica do II PND foi o fracasso em alterar os padrões de


acumulação, preservando as taxas de crescimento, havendo uma rapidez nos

ganhos do setor financeiro.

A falha política foi a adoção de uma estratégia que não conquistou o apoio
da classe econômica dominante.

A partir daí, o governo enfrenta grande oposição em suas tentativas de


resolver os problemas econômicos do país. Na gestão de Simonsen, os

beneficiados foram os grandes banqueiros, em detrimento da burguesia industrial


(pequenos e médios empresários) e do setor agrícola. Isto levou a um processo

inflacionário e ao aumento da dívida interna. Além disso, o governo não


conseguia conter os gastos públicos.

Esta crise gera tensões que levam ao surgimento dos movimentos grevistas
que reivindicam empregos.

Em 1981, nenhuma das medidas anti-inflacionárias havia dado resultados


positivos e a recessão se prolongara.

Em mais uma tentativa de sair da crise, o governo propõe o aumento das


exportações. Mas o governo é obrigado a recorrer ao FMI para tentar sair da crise,

assim o governo passa a enfrentar a oposição da burguesia e das forças


populares.

Na tentativa de legitimação do governo militar, foi criada a DSN (Doutrina


de Segurança Nacional) que se tornou o instrumento ideológico que facilitaria a

expansão do capitalismo.
O regime militar perde sua sustentação com o fim do milagre econômico,
que passa a ter um processo de abertura política.
No período do regime militar, houve um forte favorecimento às

multinacionais e estatais no processo de acumulação, enquanto que a pequena


burguesia sentia-se prejudicada. Com isso, houve uma politização das forças

armadas, que passa a se preocupar com a sucessão presidencial e a legitimidade


do regime militar.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Determinantes do "milagre" econômico brasileiro (1968-1973): uma análise empírica


Fernando A. VelosoI; André VillelaII; Fabio GiambiagiIII
[...]
O período 1968-1973 é conhecido como "milagre" econômico brasileiro, em função das
extraordinárias taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) então verificadas, de
11,1% ao ano (a.a.). Uma característica notável do "milagre" é que o rápido crescimento
veio acompanhado de inflação declinante e relativamente baixa para os padrões
brasileiros, além de superávits no balanço de pagamentos.
Embora esse período tenha sido amplamente estudado, não existe um consenso em
relação aos determinantes últimos do "milagre". As interpretações encontradas na
literatura podem ser agrupadas em três grandes linhas. A primeira linha de interpretação
enfatiza a importância da política econômica do período, com destaque para as políticas
monetária e creditícia expansionistas e os incentivos às exportações. Uma segunda
vertente atribui grande parte do "milagre" ao ambiente externo favorável, devido à
grande expansão da economia internacional, melhoria dos termos de troca e crédito
externo farto e barato. Já uma terceira linha de interpretação credita grande parte do
"milagre" às reformas institucionais do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG)
do Governo Castello Branco (19641967), em particular às reformas fiscais/tributárias e
financeira, que teriam criado as condições para a aceleração subseqüente do
crescimento.1
O objetivo desse artigo é quantificar, através de uma metodologia de regressões de
crescimento com dados de painel, a importância de possíveis determinantes do "milagre"
brasileiro. Em particular, verificamos em que medida o "milagre" decorreu da situação
externa favorável e do desempenho de variáveis de política econômica associadas à
estabilidade macroeconômica, política fiscal, nível de desenvolvimento do sistema
financeiro e grau de abertura ao exterior. Também investigamos até que ponto o
crescimento econômico observado no período 1968-1973 decorreu das reformas
implementadas a partir de 1964.
Neste artigo, estimaremos regressões de painel baseadas em uma versão ampliada do
modelo neo-clássico de crescimento. Utilizaremos inicialmente painéis de seis anos para
uma amostra de 62 países, durante o período entre 1962 e 1997, onde um dos
subperíodos corresponde aos anos do "milagre".
Embora o painel seja estimado para o período 1962-1997, o objetivo da análise é
quantificar o crescimento previsto pelo modelo para o período do "milagre" econômico
brasileiro de 1968-1973, e avaliar até que ponto este modelo consegue explicar a
aceleração de crescimento de 1968-1973 em relação ao período anterior (1962-1967).
A metodologia de quantificação dos determinantes do crescimento utilizada nesse artigo
baseia-se em Easterly et alii (1997), que avaliaram o efeito das reformas econômicas no
crescimento econômico da América Latina entre 1991 e 1993. Essa metodologia tem sido
recentemente empregada em diversos estudos que procuram quantificar os
determinantes do crescimento na América Latina, como, por exemplo, De Gregorio e Lee
(1999), Fernández-Arias e Montiel (2001) e Loayza et alii (2005).
Uma contribuição deste artigo é o fato de combinar a literatura de regressões de
crescimento com dados de painel com o estudo de um episódio de aceleração de
crescimento, na medida em que a escolha dos períodos no painel foi feita de modo a
cobrir o período de duração do "milagre" econômico brasileiro.
Os resultados mostram que tanto o ambiente externo como as variáveis de política
econômica explicam uma parcela relativamente pequena da aceleração do crescimento
brasileiro observada entre 1962-1967 e 1968-1973. Esses resultados são robustos ao uso
de diferentes metodologias econométri-cas, como o estimador de efeito fixo, o estimador
GMM em diferenças de Arellano e Bond (1991) e o estimador GMM de sistema de Blundell
e Bond (1998). Os resultados também são robustos à inclusão nas regressões da razão
investimento/PIB e da variável de abertura de Sachs e Warner (1995).
Em princípio, essa evidência parece corroborar os resultados de estudos recentes sobre
episódios de aceleração do crescimento, como Hausmann et alii (2005) e Rodrik e
Subramanian (2004). Em um estudo sobre mais de 80 episódios de aceleração do
crescimento desde a década de 1950, Hausmann et alii (2005) apresentam evidências de
que acelerações de crescimento são em larga medida imprevisíveis. Em particular, a
maioria dos episódios de aceleração de crescimento não está relacionada aos
determinantes comumente postulados em regressões de crescimento, e reformas
econômicas em geral não produzem acelerações de crescimento. Rodrik e Subramanian
(2004) confirmam esse resultado em um estudo de um episódio de aceleração do
crescimento na Índia durante a década de 1980.
No entanto, um estudo mais aprofundado do período 1968-1973 no Brasil mostra que
essa interpretação não é apropriada no caso do "milagre" brasileiro. A primeira evidência
nesse sentido é o fato de que o modelo de crescimento estimado com base em painéis
de seis anos superestima fortemente o crescimento econômico brasileiro no período
anterior ao "milagre" e subestima o crescimento no período em que ele ocorreu. Isso
sugere a possibilidade de que, pelo menos em parte, a aceleração de crescimento
associada ao "milagre" tenha decorrido do efeito defasado das reformas do PAEG.
De fato, Simonsen e Campos (1974) atribuem parte do "milagre" às reformas econômicas
implementadas no Governo Castello Branco. Nesse sentido, os principais formuladores do
PAEG argumentam que o período 1964-1973 deve ser visto de forma unificada. A
interpretação dos autores é de que, a partir de 1964, o modelo econômico brasileiro teria
mudado, no sentido de transformar a economia brasileira em uma economia de mercado
aberta ao exterior. Segundo os autores, o período 1964-1967 teria sido um período
caracterizado por um "esforço de restauração", diante da situação de descontrole
inflacionário, déficits crônicos no balanço de pagamentos e colapso do investimento
herdados do governo anterior, o que implicaria um sacrifício temporário das taxas de
crescimento. Em função do ajuste macroeconômico e das reformas institucionais
associadas ao PAEG, teriam sido criadas as condições que tornariam possível a aceleração
do crescimento no período 1968-1973.
Para testar essa conjectura, estendemos nossa análise para painéis de dez anos, incluindo
o período 1964-1973 entre seus subperíodos. Os resultados mostram que o modelo de
regressões de crescimento com dados de painel prevê uma taxa de crescimento para o
Brasil no período 1964-1973 bastante próxima da taxa de crescimento efetivamente
verificada no período.
A combinação dos resultados dos painéis de crescimento de seis e dez anos conduz,
portanto, a uma interpretação do "milagre" brasileiro bastante distinta da que decorre
dos estudos de aceleração de crescimento de Hausmann et alii (2005) e Rodrik e
Subramanian (2004). Em conjunto, nossos resultados indicam que o episódio de
aceleração do crescimento associado ao "milagre" decorreu em grande medida do efeito
defasado das reformas associadas ao PAEG.

Para leitura desse artigo complete acesse o endereço eletrônico


http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71402008000200006
Unidade 20 - A atual situação econômica do Brasil e o
cenário mundial

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Analisar as principais características da economia atual,


estabelecendo relação com o contexto mundial.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A partir do final dos anos 80, já era possível identificar no Brasil os efeitos
da política econômica orientada pelo neoliberalismo. Na década de 90 as ações

do governo são marcadas por uma onda de privatizações e medidas para o


controle inflacionário.

Em 1º de julho de 1994 passou a vigorar a nova moeda do país, o Real. O


Banco Central fixou uma paridade entre o Real e o Dólar, a fim de valorizar a nova

moeda. Um Real era o equivalente a Um Dólar.


O Plano Real animou empresários e a população, e impulsionou o

consumo interno. Mas o que era festa virou preocupação para o governo. Com o
consumo em alta, temia-se a volta da inflação.

Durante o Primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso a principal


preocupação era controlar a inflação. Para isto, o governo elevou as taxas de juros

da economia
Outra iniciativa de destaque de FHC foi privatizar empresas estatais, como

a Vale do Rio Doce e Sistema Telebrás. Enfrentou muitas críticas de vários setores
da sociedade, principalmente de partidos de oposição, como o PT (Partido dos

Trabalhadores).
Surgiram muitas denúncias relacionadas às privatizações, de

favorecimentos para determinadas empresas internacionais na compra das


estatais.
No final do segundo mandato (2002) de FHC, a inflação foi contida

entretanto, durante a distribuição de renda no Brasil continuou desigual, a renda


dos 20% da população rica continuou cerca de 30 vezes maior que a dos 20% da

população mais pobre. O Brasil ficou em excessiva dependência do Fundo


Monetário Internacional (FMI). Alguns autores apontam que foi durante esse

período que se consolidou no Brasil a política econômica neoliberal.


No período que sucedeu a saída de Fernando Fenrique Cardoso do

governo brasileiro, não houve grandes mudanças na política econômica adotada.

O cenário de relativa estabilidade resultou em a diminuição, em cerca de 168


bilhões de reais, da dívida externa, porém não conseguiu frear o aumento da

dívida interna que pulou do patamar de 731 bilhões de reais no ano de 2002 para
um trilhão de reais em fevereiro de 2006.

O governo Lula emprega uma fatia do seu orçamento em programas de


caráter social como: Fome Zero; Bolsa Família; Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil (Peti); Luz para todos; Brasil Alfabetizado e Educação de Jovens e
Adultos; ProUni ; Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE); Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC)...


Em 2011 A gestão Dilma Rousseff iniciou-se dando seguimento à política

econômica do Governo Lula.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Leia a seguir fragmentos da entrevista concedida pelo economista Celso


Furtado à Revista de Economia Mackenzie em 15 de novembro de 2002.

[..]

REM: Como o senhor analisa a situação econômica do mundo?


CELSO FURTADO: Não se pode ignorar que o mundo atravessa um processo de
reciclagem, de transformação, cujo alcance ainda não conhecemos. Veja o peso dos
Estados Unidos, país que por decênios foi se impondo como uma potência dominante
mundial. Hoje, especialmente depois do fim da Guerra Fria, essa grande potência não tem
mais diante de si nenhum grande desafio.
Surgiu apenas esse desafio absurdo que é o de combate ao “terrorismo islâmico”, que
ninguém leva a sério, pois se trata, na verdade, de um problema de polícia. Daí a
desorientação dos Estados Unidos. A economia norte-americana não avança, o
crescimento é pequeno e eles estão dando voltas, inventando fórmulas, como, por
exemplo, a de tentar uma saída pela via do endividamento do governo, interno e externo.
Estão tentando aumentar os gastos públicos, mas dependem de financiamento externo.
Por outro lado, pensam em fazer isso para aumentar o volume dos negócios, e não para
corrigir o desemprego. A recente “expedição militar” punitiva ao Iraque, em 2003,
exemplifica esse tipo de política. Só que nem assim conseguiram reativar a economia.

REM: E a situação do Brasil?


CELSO FURTADO: É preciso pensar que o Brasil vive uma fase muito complexa, difícil. Isso
não é somente aqui. Você olha para a América Latina e o quadro é completamente
diverso do que era, hoje é uma região onde não há praticamente desenvolvimento. Um
país como a Argentina, que tinha um dinamismo forte e um mercado interno ágil, não
encontra saída. O México está se submetendo a essa integração com os Estados Unidos,
o que é bastante negativo para o país. Vivi no México, sei que os mexicanos têm uma
consciência muito grande do perigo que representa para o destino deles a integração
com os Estados Unidos, sob controle norte-americano. Porém, agora aceitaram enveredar
por um caminho completamente distinto. Por fim, outros países da América Latina, como
o Peru, o Equador, e os da América Central também dão sinais de uma perda de rumo.

[...]

REM: Em outras palavras, o que o senhor sugere é que o Brasil precisa voltar a ter
controle dos câmbios.
CELSO FURTADO: Exato. Assim, o País recuperará as alavancas de manejo que lhe
permitem ter uma política própria. Sem o controle desses instrumentos, pode haver a
qualquer instante uma fuga de capitais em grande escala, o que deixaria o Brasil de
joelhos. Porque a verdade é essa: o País continua ameaçado por uma saída de capitais
especulativos, o que cria, naturalmente, uma insegurança e uma vulnerabilidade enorme.
O perigo é sermos levados a reduzir significativamente nossos investimentos, e, por
conseguinte, aceitar a estagnação econômica – caso em que todos os outros problemas
se complicariam.

[...]

REM: O que o senhor acha da Reforma Tributária?


CELSO FURTADO: É um tema essencial, mas ninguém o discute. Por quê? Quando
Fernando Henrique [o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso] tomou
posse, disse que deveria resolver o problema da inflação e entender-se com o Fundo
Monetário. Estudando mais de perto, vi que o entendimento deles com o FMI tinha
implícita uma reforma fiscal importante para enfrentar a situação adversa do Brasil. O
déficit em conta corrente era grande, 5% ou 6% do produto nacional. Mas era financiado
pela inflação, que chegou a render 5% do produto nacional. A inflação era o imposto
mais alto, e era oculto. Lembro-me de ter feito os cálculos: ela incidia sobre a economia
brasileira muito mais que o imposto de renda. Portanto, cabia a pergunta:
acabando a inflação, o que ficaria em seu lugar, como fonte de novos recursos? Imaginei
que iriam fazer uma reforma fiscal que permitisse aumentar a poupança interna. Mas a
reforma fiscal não veio. Porque exigia uma redistribuição de renda, e era aí que a coisa
tropeçava. O que ninguém queria enxergar é que, sem reforma fiscal, os recursos
mobilizados teriam como contrapartida o endividamento externo. A inflação, que,
aparentemente, acabou, foi substituída por uma nova dívida externa colossal. O passivo
brasileiro praticamente quintuplicou durante os oito anos de governo Fernando Henrique.
Qualquer redução da dívida externa exigiria redução de despesas. Os recursos do
governo para investimentos foram desviados para o serviço da dívida. E a economia ficou
estagnada. É uma situação complexa, porque a classe dirigente brasileira, que é a
beneficiária dessa concentração de renda, nunca aceitou uma discussão séria sobre isso.

[...]
REM: A economista Maria da Conceição Tavares, certa feita, em palestra proferida na
UERJ, expressou um certo desalento ao comentar que ela havia sido professora de vários
economistas no controle das políticas econômicas brasileiras, tais como Gustavo Franco, e
de tudo o que ela ensinou eles haviam simplesmente ignorado o principal, ou seja, a
ética. O que o senhor pensa sobre isso?
CELSO FURTADO: O que mais me surpreende é o desinteresse e o pessimismo desses
economistas em relação ao Brasil. Quando houve essa mudança no cenário internacional,
e obrigaram o Brasil, até por cegueira de muitos, a aceitar essa forma de integração
indiscriminada – quando na verdade o País tivera um êxito enorme no modelo baseado
em mercado interno –, houve gente pensando que talvez eu estivesse errado. Falei com o
Fernando Henrique na época, e ele me disse: “Olhe, Celso, estou convencido de que o
Brasil não tem muita chance. O espaço disponível que temos para manobrar é muito
pequeno”. É difícil entender que esse pessimismo tenha se espalhado tanto. Se é assim,
vou defender o meu emprego, meus interesses imediatos.
No caso de um país, isso significava integrar-se de tal forma à economia mundial que se
perdia o ideal de nação, de interesse nacional.
A atual situação econômica mundial O que se pode dizer é que o conceito de projeto
nacional se fundava em bases frágeis. Sou originário das áreas mais pobres do Brasil, e
nos anos do imediato pós-guerra tive a oportunidade de viajar pela Europa destruída. Vi
a reconstrução européia, que foi fantástica. Na Alemanha, tinha gente quase passando
fome, mas trabalhando. Percebi que o homem tem recursos que são na verdade
subestimados. Daí a conclusão de que teríamos de encontrar nosso caminho. Se o Brasil
chegou ao grau de pessimismo e de pouca ética à que refere Maria da Conceição, talvez
seja porque, depois de uma fase de 50 anos de crescimento fácil, tenha entrado numa
fase de dificuldades. Os economistas do governo anterior ficaram imaginando qual seria a
saída mais conveniente.
Houve discussões entre eles sobre o modelo viável a partir de então. Imaginou-se até a
volta ao modelo de substituição de importações. Mas atualmente o problema é outro:
que possibilidade existe de investir em setores mais nobres, em tecnologia de vanguarda?
Muita gente me diz: “por esse caminho não se pode ir muito longe, pois nosso mercado
interno é pequeno”. Mas eu respondo que o nosso mercado é muito maior do que se
pensa. O importante é persistir, e não se desarmar, como se fez recentemente. O grande
erro do Brasil, principalmente no governo Fernando Henrique, foi se desarmar por
completo diante das forças internacionais, ficar na dependência do mercado. Mercado
esse que passou a ser uma assombração, e que nada mais é do que um conjunto de
interesses bem definidos. O chamado “mercado” acabou asfixiando a economia nacional,
e o Brasil entrou nessa fase de perda de identidade, de perda do autocontrole, sem as
alavancas de manejo que possuía. Um exemplo é o controle de câmbio, que as
autoridades monetárias sabiam manejar muito bem.

A íntegra dessa entrevista você encontra no endereço eletrônico


http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/image/201108311227390.entrevista_a_atual_situacao
_economica_mundial.pdf
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