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Pioneirismo inglês

Para entendermos mais a fundo o pioneirismo inglês, no processo da Revolução


Industrial, devemos nos remeter a um conjunto de fatores.

Como já estudamos em Idade Moderna, sabemos que a formação dos estados


nacionais foi fundamental para a expansão comercial europeia, certo? Havia,
porém, um empecilho ao pleno desenvolvimento do comércio e,
consequentemente, da burguesia. Nos estados nacionais, desenvolveu-se o
absolutismo. Se, em um primeiro momento, a aliança entre o rei e a burguesia
foi necessária para que o Estado deixasse de ser fragmentado e se centralizasse,
logo a interferência do rei em todos os aspectos da sociedade passou a se tornar
um obstáculo. Vamos entender isso como uma troca de favores: a burguesia
apoiou o rei para que o poder real fosse centralizado e, em troca, o rei
desenvolveu o comércio. No entanto, quando esse poder se tornou excessivo,
não havia mais interesse nessa aliança e ocorreram as revoluções burguesas, que
foram, basicamente, manifestações contra o poder absolutista. Ainda que a
Revolução Francesa seja a que acabou se consagrando como a revolução
burguesa por excelência, ela ocorre depois das Revoluções Inglesas, cujo saldo,
para a Inglaterra, seriam a deposição da monarquia absolutista e a consolidação
da burguesia no poder pelo sistema de monarquia parlamentar.

Como a burguesia inglesa estava diretamente ligada ao poder, já que ocupava


cadeiras no Parlamento, o reino aprovava e investia maciçamente no comércio,
enriquecendo essa classe e tornando a Inglaterra uma potência mercantil. Isso
permitiu um acúmulo de capitais como não existia em nenhum outro reino.

No século XIX, Karl Marx chamou esse processo de “acumulação primitiva de


capitais”. Em sua análise sobre a gênese do capitalismo, Marx estuda, sobretudo
a Inglaterra. Logo, acumulação primitiva de capital será um conceito importante

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para entendermos o pensamento marxista, a origem do capitalismo e a
Revolução Industrial inglesa.

Entre os séculos XVI e XVIII, ocorre, na Inglaterra, um processo de acumulação de


riquezas. Como riquezas estamos nos referindo não só ao dinheiro em espécie
mas também a metais preciosos e terras.

De onde vinham esses metais preciosos se as colônias inglesas não eram ricas em
minério? A Inglaterra tinha sólidas relações econômicas com Portugal, lembram?
Assim, boa parte do que era produzido no Brasil e em outras colônias ibéricas
acabava nos cofres ingleses.

Portanto, temos um acúmulo de riquezas nas mãos de uma pequena classe de


proprietários e comerciantes. Se poucos têm muito, muitos não têm nada. A
concentração de riquezas provocou o crescimento do número de trabalhadores
pobres que vendiam sua força de trabalho e compunham a mão de obra
necessária para o trabalho na indústria nascente. Esses dois princípios ―
concentração de riquezas e força de trabalho disponível ― constituíram os
fundamentos da Revolução Industrial.

A burguesia, porém, não investia somente em comércio. A compra de


propriedades agrícolas era uma das mais importantes formas de lucro e aboliu
completamente os resquícios de feudalismo que ainda permaneciam. Vamos
relembrar: sabemos que, na sociedade medieval, o centro da produção era o
feudo. No feudo, trabalhavam os servos, que aravam uma parcela de terra e
entregavam parte de suas colheitas ao senhor feudal. Quando chegamos à Idade
Moderna, embora já não exista feudalismo, essa estrutura ainda persiste, com
camponeses que arrendam suas terras dos proprietários. Quando os burgueses
passam a se interessar pela compra dessas terras, os novos proprietários e a
nobreza latifundiária percebem que o lucro não está na produção agrícola, mas
nas atividades pastoris, especialmente na criação de ovelhas para a produção de
lã. O pastoreio necessita de menos mão de obra, e seu custo/benefício acaba

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sendo mais atraente do que a agricultura. O resultado disso é o processo que
ficou conhecido como enclosures, ou cercamento dos campos. A terra, antes
utilizada para cultivo, passa a ser cercada para servir de pasto para as ovelhas.
Os camponeses são expulsos de suas terras e, sem opção, migram para as
cidades. Esse enorme êxodo rural fornece a mão de obra necessária para as
fábricas que começam a existir no início da Revolução Industrial.

A Inglaterra era metrópole das treze colônias americanas que deram origem aos
Estados Unidos. Um dos produtos de exportação mais importantes dessas
colônias americanas era o algodão. Como estavam submetidas ao pacto colonial,
as colônias só poderiam vender sua produção para a metrópole inglesa, que, por
sua vez, comprava esse algodão por um preço muito baixo ― isso explica a razão
pela qual um dos símbolos da Revolução Industrial foi o tear mecânico.

Uma das principais características dessa revolução foi a inovação tecnológica. No


entanto, embora tenha o tear como símbolo, ele não foi a única invenção nem a
primeira. Sua importância se deve ao fato de otimizar a produção de tecidos,
que acabou por se tornar uma das principais indústrias britânicas. Além disso, a
Inglaterra possuía enormes reservas de carvão, que acabou se tornando o
combustível das mudanças econômicas do século XVIII.

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