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Turismo, Lazer e

Gastronomia
Prof.a Talita Cristina Zechner Lenz

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof. Talita Cristina Zechner Lenz
a

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

L575t

Lenz, Talita Cristina Zechner

Turismo, lazer e gastronomia. / Talita Cristina Zechner Lenz. –


Indaial: UNIASSELVI, 2020.

182 p.; il.

ISBN 978-65-5663-307-7
ISBN Digital 978-65-5663-308-4

1. Turismo. - Brasil. 2. Lazer. – Brasil. II. Centro Universitário


Leonardo da Vinci.

CDD 790.0135

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico!

O debate sobre o tema lazer tomou força nos últimos tempos. Muito
se discute sobre a importância do lazer para assegurar uma vida de qualidade
e, nesse sentido, o turismo é visto como uma grande oportunidade para
sanar as necessidades de lazer.

Tendo em vista que as relações que se estabelecem entre turismo,


lazer e gastronomia não são tão simples e diretas, faz-se necessário refletir e
analisar com atenção a questão do lazer, considerando suas características e
os elementos-chave que fazem parte do conceito de lazer. Para tanto, nesta
disciplina você estudará quais as relações que existem entre lazer, turismo e
gastronomia.

Além disso, vamos debater as interfaces entre o setor público e


privado no lazer, entender o que é recreação, de que modo o lazer se apropria
dos espaços públicos e como o debate do lazer vem adentrando no ambiente
empresarial.

Outros elementos irão fazer parte dessa rica disciplina, que pretende
contribuir alargando as perspectivas que permeiam a questão do turismo,
lazer e gastronomia, oferecendo subsídios para conduzir com eficiência e
eficácia a qualidade de sua vida.

Boa leitura e sucesso em seus estudos!

Prof.a Talita Cristina Zechner Lenz


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER...............................................................1

TÓPICO 1 — O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO.................................................................. 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 UMA SOCIEDADE PAUTADA NO TRABALHO......................................................................... 3
3 AS MUDANÇAS NO TEMPO DE PRODUÇÃO E A EMERGÊNCIA DO TEMPO LIVRE........4
4 ALGUNS PRECONCEITOS EXISTENTES SOBRE LAZER E LÚDICO................................... 8
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 11
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 12

TÓPICO 2 — DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER.............................................................. 13


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 13
2 O QUE É LAZER? ............................................................................................................................... 13
3 TIPOS DE LAZER .............................................................................................................................. 17
4 LAZER E CULTURA DO CONSUMO............................................................................................ 19
5 O BINÔMIO TURISMO E LAZER ................................................................................................. 24
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 26
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 27

TÓPICO 3 — A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA........ 29


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 29
2 QUAL A IMPORTÂNCIA DO LAZER PARA AS SOCIEDADES?.......................................... 29
3 LAZER E QUALIDADE DE VIDA ................................................................................................. 30
4 O LAZER ENQUANTO MODALIDADE DE NEGÓCIO......................................................... 34
5 EMPREENDIMENTOS DE LAZER ............................................................................................... 36
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 45
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 46

TÓPICO 4 — O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL........................................................................ 47


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 47
2 AS ABORDAGENS TEÓRICAS DO LAZER................................................................................ 47
3 UM DIALÓGO ENTRE LAZER E RACIONALIDADE.............................................................. 49
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 51
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 57
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 58

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 59
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO
E GASTRONOMIA.................................................................................................. 63

TÓPICO 1 — OS CONSUMIDORES DE LAZER........................................................................... 65


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 65
2 O LAZER E O PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE........................................................... 65
3 O LAZER E OS ADULTOS............................................................................................................... 67
4 A TERCEIRA IDADE E O LAZER – ADULTOS DA SEGUNDA FASE.................................. 69
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 71
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 72

TÓPICO 2 — RECREAÇÃO E LAZER.............................................................................................. 73


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 73
2 ENTENDENDO O CONCEITO DE RECREAÇÃO..................................................................... 73
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 78
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 79

TÓPICO 3 — ESPORTE E LAZER...................................................................................................... 81


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 81
2 DISNTINGUINDO ESPORTE E RECREAÇÃO.......................................................................... 81
3 BREVE HISTÓRICO SOBRE O ESPORTE .................................................................................. 82
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 87
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 88

TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA................................................................................. 89


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 89
2 VIAGEM GASTRONÔMICA.......................................................................................................... 89
2.1 GASTRONOMIA PORTUGUESA............................................................................................... 90
2.2 GASTRONOMIA ESPANHOLA................................................................................................. 93
2.3 GASTRONOMIA ALEMÃ........................................................................................................... 95
2.4 GASTRONOMIA DA GRÉCIA................................................................................................... 96
2.5 GASTRONOMIA MEXICANA.................................................................................................... 98
2.6 GASTRONOMIA CHINESA........................................................................................................ 99
2.7 ÍNDIA............................................................................................................................................ 101
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 104
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 106
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 108

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 109

UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —TEMAS TRANSVERSAIS......................................... 113

TÓPICO 1 — MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO................................................ 115


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 115
2 AS PRINCIPAIS MOTIVAÇOES PARA O TURISMO E LAZER........................................... 115
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 124
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 125

TÓPICO 2 — O LAZER E A EMPRESA.......................................................................................... 127


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 127
2 O TRABALHO E O LAZER NAS EMPRESAS........................................................................... 127
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 137
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 138
TÓPICO 3 — LAZER E TECNOLOGIA.......................................................................................... 139
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 139
2 COMO O LAZER SE RELACIONA COM A TECNOLOGIA.................................................. 139
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 148
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 149

TÓPICO 4 — O LAZER E O JOGO.................................................................................................. 151


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 151
2 OS JOGOS E OS CASSINOS......................................................................................................... 151
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 155
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 156

TÓPICO 5 — FESTAS, LAZER E CULTURA................................................................................. 157


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 157
2 FESTAS E TURISMO....................................................................................................................... 157
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 162
RESUMO DO TÓPICO 5................................................................................................................... 172
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 173

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 175
UNIDADE 1 —

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender em que contexto histórico e social surgem as discussões sobre o


lazer;

• conhecer e aprofundar o conceito de lazer;

• analisar a importância do lazer na sociedade contemporânea;

• pontuar as relações existentes entre lazer e sociedade, perpassando pelas


principais correntes teóricas que tratam do assunto.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

TÓPICO 2 – DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

TÓPICO 3 – A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE


CONTEMPORÂNEA

TÓPICO 4 – O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

1 INTRODUÇÃO
Para muitas pessoas a palavra lazer parece trazer consigo um significado
de supérfluo, “perfumaria” (diriam alguns), ou, ainda, um antônimo de
prioridade. Outros já admitem sua importância para assegurar uma vida de
qualidade e mais equilibrada. A discussão em torno do tempo é carregada de
sentidos que se encontram atrelados a diferentes momentos históricos, isto é,
dizem respeito a uma construção cultural.

Neste tópico, vamos analisar, de forma introdutória, como o tema lazer foi
discutido ao longo da história. Vamos lá?

2 UMA SOCIEDADE PAUTADA NO TRABALHO


Em nosso modelo de sociedade atual, o trabalho é considerado por muitas
pessoas a principal razão de existência. As crianças são desde cedo estimuladas
a pensar sobre o seu futuro profissional. Algumas escolas, ainda na etapa do
ensino fundamental, inserem disciplinas e conteúdos relacionados ao tema do
empreendedorismo e línguas estrangeiras aclamando a necessidade de se preparar
bons candidatos para ingressar no mercado de trabalho. Durante o ensino médio,
é comum a realização de ‘aulões’ e simulados destinados a preparar muito bem
os alunos para o vestibular, para que o ingresso no ensino superior seja possível.

Por detrás de todas essas estratégias, é inerente a preocupação em


fazer com que crianças, adolescentes e jovens tenham êxito em sua carreira
profissional. Que encontrem um posto de trabalho que ofereça boa remuneração
e, ainda, a expectativa é que o ofício lhe traga realização pessoal e prestígio. Na
fase adulta, a profissão é algo que costuma ser tão importante, que o indivíduo,
ao ser questionado “Quem é você?”, tende a responder, “Me chamo Maria, sou
arquiteta” ou, ainda, “Sou Promotor de Justiça, meu nome é Marcos Roberto”.
Quer dizer, muito além de constituir uma forma de vender a força de trabalho
ou de explorá-la, o trabalho da pessoa traz consigo um sentido de identidade,
que, para alguns, pode ser uma forma de status, reconhecimento e aceitação, isto
é, extrapola o simples entendimento de ser uma maneira de se ganhar dinheiro.
Nesse cenário, a preocupação e as reflexões em torno do tema trabalho são comuns
e fazem parte do nosso aparato cultural.

3
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Na contramão desse processo, somos pouco estimulados a meditar e


ponderar a questão do lazer em nossas vidas. Não é intenção, de modo nenhum,
negar a relevância de se planejar e de se organizar para ter um bom emprego, nem,
tampouco, deslegitimar o papel que cumpre o trabalho na sociedade capitalista
que vivemos.

Na atualidade, o que parece bastante necessário é amadurecer e clarear


as ideias que permeiam o tema do lazer. É um assunto que sempre parece menos
importante, que costuma ser relegado a segundo plano na vida cotidiana, na
visão de alguns, um ‘capricho’ para quem pode. Esse modo de enxergar o lazer
está carregado de preconceitos e distorções e escondem o sentido legítimo do
conceito, conforme estudaremos ao longo do tópico.

3 AS MUDANÇAS NO TEMPO DE PRODUÇÃO E A


EMERGÊNCIA DO TEMPO LIVRE
O modo como as sociedades organizam seu tempo de trabalho e
lazer não foi sempre igual. A modificação da forma de trabalho artesanal e
predominantemente rural, típica da Idade Média, para o trabalho industrial, de
modo geral urbano, gerou alterações significativas. Camargo (1999) explica que,
no decorrer da Idade Média, trabalhava-se em média de 700 a 1.000 horas por
ano e demandando grande esforço físico. O trabalho era duro, mas adaptado
ao clima e às estações, com momentos de descanso e festa ditados pela família
e, sobretudo, pela religião, tendo um calendário composto por diversos dias
santos. Passada a Revolução Industrial, os trabalhadores partem do campo para
as fábricas e passam a ser submetidos a árduas jornadas de 3.500 a 4.000 horas
anuais, em um ambiente bem diferente do contexto social do qual faziam parte.

Nas sociedades pré-industriais, o lazer não existia e o trabalho inscreveu-


se nos ciclos naturais das estações e dos dias, ou seja, era intenso durante a boa
estação e esmorecia durante a estação má. Além disso, o ritmo do trabalho era
natural, sendo interrompido por cantos, pausas, jogos e cerimônias, de modo que
o corte entre o trabalho e o repouso não era nítido (DUMAZEDIER, 1999).

Nas cidades industrializadas do Brasil, no início do século XX, não


havia tempo para se divertir, nem mesmo no domingo, que também passou a
ser dia de trabalho. Nesse período, a vida era ditada pelo trabalho. Após lutas
e reivindicações da classe operária, a jornada de trabalho passou para os atuais
patamares de 1.800 e 2.000 horas anuais, isto é, 40 ou 44 horas semanais. Por
conseguinte, passaram a ter em média 30 a 35 horas na semana para o lazer
(CAMARGO, 1999).

A maneira como o trabalho era encarado pelas pessoas também difere


ao longo do tempo. Até o século XIX, a preocupação das sociedades centrava-se
em organizar estruturas socioculturais e econômico-políticas destinadas a atingir

4
TÓPICO 1 — O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

um nível de produção que ultrapassasse o consumo, até então, maior que o dos
bens e serviços indispensáveis às famílias, isto é, no início do período industrial,
a luta pelo consumo e equipamentos eletrodomésticos e eletrônicos era grande,
pois antes o contato com tais aparatos domésticos era raro, e, portanto, a referida
etapa inicial é marcada por um intenso consumo. Certamente que havia restrições
de ordem financeira, o que dificultava o acesso a alguns itens, mas o desejo em
almejar tais produtos era grande. No Brasil, por exemplo, onde as condições de
financiamento eram mais dificultosas do que atualmente, havia os chamados
‘consórcios’ para aquisição de vários equipamentos, desde veículos até televisores.

Nessa corrida, pouco se falava sobre a usufruição do lazer e sobre a


natural necessidade de repouso da sociedade em geral, pois, durante essa fase, as
pessoas sentiam seu valor pessoal reduzido a sua capacidade de produção. Em
contrapartida, significativo era o papel da religião e da igreja, que incorporava
um discurso quase dogmático segundo o qual homens nasceram para trabalhar
e seu trabalho era considerado um modo de purificação dos pecados, ou seja, a
ideia de trabalho se encontrava imbuída de sofrimento (ANDRADE, 2001).

Ainda sobre o papel desempenhado pela igreja na construção histórica do


conceito de lazer, convém apontar que nem mesmo dentro do cristianismo havia
um consenso construído. Camargo (1999) explica que, no bojo do catolicismo,
havia duas vertentes centrais que tratavam a questão do lazer dos fiéis, de modo
que a primeira condenava o não fazer nada e o divertimento em geral, em que as
atividades lúdicas eram consideradas ociosas e geradoras de desvios, originando
ditos populares como “A ociosidade é mãe de todos os vícios" e "Para cabeça
vazia, o diabo arruma serviço”. Uma segunda abordagem ditava que o trabalho
era uma obrigação a que o homem estava condenado. No protestantismo, grande
relevância foi atribuída ao trabalho e ao acúmulo de riquezas. A riqueza, fruto
do trabalho, era vista como bênção divina, e a falta de dinheiro, a pobreza, como
ausência de sintonia com Deus, um estado de doença espiritual. Essa abordagem
apresenta-se de forma nítida e detalhada na obra do sociólogo Max Weber,
intitulada “Ética protestante e o espírito capitalista”. De todo modo, nota-se que o
lazer não foi valorizado e tratado adequadamente por nenhuma das vertentes
religiosas referidas, pois, ao invés de ser tratado como um direito fundamental,
manteve-se atrelado aos ideais de divindade, pecado, culpa, enfim, bem longe do
seu sentido genuíno.

Ainda nesta linha de considerações, vale lembrar que, antes do século


XIX, aqueles que detinham o poder e que controlavam escravos, dependentes,
empregados e devedores de favores e de bens, não costumam trabalhar.
Autoridades, grandes senhores e credores importantes usualmente viviam longe
das obrigações de trabalho, folgando na alegria. No bojo de tais parâmetros
comportamentais, o lazer e o repouso eram privilégios apenas das pessoas livres
(ANDRADE, 2001).

5
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

FIGURA 1 – TINTUREIROS NA IDADE MÉDIA

FONTE: <http://cidademedieval.blogspot.com/2009/04/o-paternalismo-nas-relacoes-de-
trabalho.html>. Acesso em: 8 dez. 2011.

A situação vivenciada na primeira etapa da industrialização, marcada


por condições massacrantes de trabalho, não perdurou por muito tempo, pois
gradualmente os operários se organizaram e passaram a reivindicar o direito ao
repouso e a condições mais dignas de trabalho. Como fruto de protestos, ocorreu
o reconhecimento público da necessidade social de tempo livre e a busca de
condições adequadas ao livre exercício do lazer e do repouso para os empregados,
seus familiares e dependentes (ANDRADE, 2001).

No Brasil, a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho – representa um


marco fundamental na conquista dos direitos dos trabalhadores. Trata-se da
principal norma legislativa do direito do trabalho, tendo sido criada através do
Decreto-Lei nº 5.452, em 1º de maio de 1943. De modo geral, a referida consolidação
institui as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho.
A CLT foi e continua sendo uma ferramenta indispensável para assegurar os
direitos dos trabalhadores, incluindo o repouso e as férias remuneradas.

Conforme explica Viana (2011), a consolidação das leis trabalhistas esteve


diretamente atrelada à visão de governo populista e dependente da aclamação
popular e o surgimento da CLT coincide com a criação do Ministério do Trabalho.
Assim, a consolidação das leis trabalhistas foi recebida como uma melhoria nas
relações sociais do país e constitui-se de um passo importante para a evolução
econômica nacional. Ademais, ainda de acordo com Viana (2011), até o fim do
século XX, a CLT sofreu alterações em tópicos, como a remuneração das férias,
merecendo destaque a equiparação gradual do trabalhador rural ao urbano.

Conforme pode ser visto, a consolidação das leis trabalhistas foi um passo
de suma importância para o trabalhador brasileiro, tendo sido criado inclusive a
expressão “celetista” para se referir aos empregados enquadrados no referida lei.
Tendo em vista que as leis trabalhistas são relativamente antigas em nosso país, já
nos acostumamos e consideramos ‘normal’ o direito às férias remuneradas.

6
TÓPICO 1 — O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada a 10 de


dezembro de 1948, assegura a todas as pessoas o direito ao repouso e ao
lazer, contudo, o direito a férias pagas não existe em muitos países do mundo
(REVISTA FÓRUM, 2011).

Especificamente, 34 nações possuem o direito a férias remuneradas


regulamentadas, a saber: Alemanha, Armênia, Bélgica, Bósnia-Herzegovina,
Brasil, Burkina Faso, Camarões, Chade, Croácia, Eslovênia, Espanha, Finlândia,
Guiné, Hungria, Iêmen, Iraque, Irlanda, Itália, Letônia, Luxemburgo, Macedônia,
Madagáscar, Malta, Moldávia, Noruega, Portugal, Quênia, República Tcheca,
Ruanda, Sérvia, Suécia, Suíça, Ucrânia e Uruguai (REVISTA FÓRUM, 2011).

Nos Estados Unidos, por exemplo, as férias pagas não são obrigatórias,
de tal forma que somente 67% dos servidores públicos e 80% dos trabalhadores
do setor privado têm direito a férias pagas de duração variável. No Japão,
outra potência econômica, os trabalhadores têm direito a 10 dias de férias não
remuneradas. Na China, por sua vez, os funcionários possuem atualmente o
direito de gozar de até três semanas anuais de férias, mas este direito não se aplica
em todos os setores (REVISTA FÓRUM, 2011).

Conforme foi possível observar, a concessão do direito a férias ainda é um


desafio para alguns países. Nesse sentido, é pertinente fazer uma breve reflexão
sobre um paradoxo que parece se instalar em nossa sociedade atual. Se por um
lado, o direito ao descanso e ao lazer é produto de um processo de reivindicação,
nos dias de hoje, com o advento das novas tecnologias da informação, muitos
possuem incutidos em suas mentes, a ideia de que é preciso estar constantemente
checando e-mail, conferindo os últimos tweets ou acompanhando o sobe e desce
da bolsa de valores. Nesse sentido, o que não faltam são opções para se manterem
conectados: celulares, tablets, smartphones, netbooks, enfim, a lista não para. Fato
comum é que encontramos pessoas a nossa volta (ou quem sabe, você mesmo)
tomando providências de trabalho fora do seu horário de trabalho, muitas vezes,
à noite, aos finais de semana e durante as férias. De modo algum, me parece que
o problema está nos novos aparatos da era informacional, talvez antes, na falta
de preparo de lidar com eles, não no sentido técnico, mas sob uma ótica mais
madura da gestão do tempo pessoal e de trabalho. Ao longo desse livro, vamos
tentar entender melhor porque se configura essa nova realidade social.

7
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

4 ALGUNS PRECONCEITOS EXISTENTES SOBRE LAZER E


LÚDICO
Nas rodas de conversa e na mídia, é comum nos depararmos com uma
série de impressões, opiniões e conceitos equivocados e distorcidos sobre lazer.
Na sequência, apresenta-se uma síntese dos principais preconceitos inerentes ao
tema, baseado em Camargo (1999, p. 16-20).

Primeiro preconceito: diversão é preocupação dos ricos

Esse talvez seja o preconceito mais disseminado sobre diversão e


apresenta-se como uma desculpa constante. Muitas vezes reflete apenas a
dificuldade em se divertir experimentada pela pessoa que o enuncia. Queixar-
se da falta de dinheiro é um álibi que sempre funciona. Segundo Camargo
(1999), esse preconceito está associado a certo pudor ao se falar de diversão
em um país com tantos problemas sociais (fome, saúde, habitação etc.), algo
como “falar de banquete na casa de quem passa fome”. Contudo, há nessa
noção uma distorção, como se de fato, ser pobre significasse, além de falta de
recursos, uma falta de desejo humano em se divertir. É evidente que perante a
um cenário de limitação de recursos, algumas opções de lazer mais sofisticadas,
tais como realizar viagens internacionais, jogar golfe ou frequentar cassinos,
não serão possíveis. Entretanto, existem várias formas de se divertir gastando
pouco ou nenhum dinheiro, dando uma caminhada, frequentando praças,
visitando amigos, ouvindo música etc.

FIGURA 2 – A CAMINHADA COMO OPÇÃO DE LAZER

FONTE: <http://veja.abril.com.br/noticia/saude/caminhada-rapida-pode-garantir-alguns-
anos-a-mais-de-vida>. Acesso em: 8 fev. 2012.

Segundo preconceito: o trabalho é mais importante que o lúdico

Não há dúvidas que ainda hoje, as pessoas consideram o trabalho mais


importante que o lúdico, por mais que se fale em novos tempos. É sabido,
porém, que ao invés da máxima “viver para trabalhar”, na atualidade vigora o
“trabalhar para viver”, aceitando os múltiplos interesses que uma vida plena
pode oferecer, no trabalho e fora dele. Por exemplo, enquanto antigamente, a

8
TÓPICO 1 — O LAZER NO CONTEXTO HISTÓRICO

imagem do político ideal era uma pessoa séria e sisuda, hoje, eles procuram
temperar sua imagem austera com outras mais lúdicas, do esportista ou
do artista entre outras. Neste limiar, diversas igrejas que mantinham suas
celebrações e liturgias sérias inicialmente, passaram incorporar gestos e
canções animadas para se tornarem mais atrativas. (CAMARGO, 1999). Ou
seja, não faltam exemplos a nossa volta para demonstrar que é possível ser
descontraído, alegre, sem deixar de ser responsável e comprometido.

Terceiro preconceito: a diversão atrapalha o trabalho, o dever

Diversos setores da sociedade e muitas pessoas ainda continuam a


partilhar da crença de que o divertimento – o fácil – é o responsável pelo pouco
empenho das pessoas no dever – o difícil. É claro que é preciso ter um equilíbrio
entre o tempo dedicado ao lazer e aos compromissos, pois, exceto raríssimas
exceções, não é possível construir uma vida exitosa e próspera, distanciado de
todos os tipos de compromissos. Mas não é evitando o lúdico que pessoas vão
se ocupar melhor de suas obrigações. (CAMARGO, 1999). No passado, talvez
essa preocupação fizesse sentido, pois não poderia haver pausas e distrações
que prejudicassem a produção. Hoje em dia, a maioria das ocupações exige
posturas e atitudes responsáveis e criativas, isto é, demandam profissionais
que tenham a capacidade de “arejar suas próprias ideias”. O lúdico, portanto,
não é um obstáculo ao sério.

Quarto preconceito: trabalhar é difícil, divertir-se é fácil

A verdade dessa afirmativa certamente reside no fato de que o trabalho


(seja ele braçal, intelectual, de cunho artístico etc.) exige disciplina, esforço,
concentração, repetição, monotonia. O lazer, por sua vez, pode demandar
esforço e disciplina, mas apenas na intensidade desejada pelo indivíduo que
o pratica, e nesse sentido, divertir-se é mais fácil que trabalhar. Contudo, essa
reflexão não se esgota tão facilmente, pois o que explicaria a expressão de tédio
em uma criança perante uma montanha de brinquedos novos? Ou turistas
que se deslocam para remotos lugares e não conseguem relaxar e aproveitar
os passeios? Como explicar homens e mulheres num iate, entediados?
(CAMARGO, 1999). Essas situações indicam o desfrute do lazer, não é tão
simples como parece. Algumas pessoas possuem dificuldades para relaxar e
se soltar, e estão sempre preocupadas e querendo controlar a situação. Esse
tipo de atitude é maléfico e um grande empecilho para o desfrute do lazer.
O que acontece, é que às vezes a própria pessoa não tem consciência de
suas dificuldades para se divertir, possivelmente porque não foi educada e
preparada para o desfrute.

Diante desse cenário, crescem as ocupações profissionais relacionadas


à missão de entreter as pessoas, tais como recreadores e animadores culturais
que buscam proporcionar meios e condições para as pessoas se soltarem e
aproveitarem melhor os equipamentos de lazer.

9
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

TUROS
ESTUDOS FU

O tema recreação será estudado de forma mais aprofundada mais adiante


nesta disciplina.

10
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Em nosso modelo de sociedade atual, o trabalho é considerado por muitas


pessoas a principal razão de existência.

• Até o século XIX, pouco de falava sobre a usufruição do lazer e sobre a natural
necessidade de repouso, pois, durante essa fase, as pessoas sentiam seu valor
pessoal reduzido a sua capacidade de produção.

• Como fruto de protestos, ocorreu o reconhecimento público da necessidade


social de tempo livre e a busca de condições adequadas ao livre exercício do
lazer e do repouso para os empregados, seus familiares e dependentes.

• No Brasil, a CLT representa um marco fundamental na conquista dos direitos


dos trabalhadores.

• Algumas nações desenvolvidas ainda não possuem regulamentado o direito a


férias remuneradas.

• Existem quatro grandes preconceitos com relação ao lazer e ao lúdico: diversão


é preocupação dos ricos; o trabalho é mais importante que o lúdico; a diversão
atrapalha o trabalho, o dever e, por fim, trabalhar é difícil, divertir-se é fácil.

11
AUTOATIVIDADE

1 Qual a principal diferença entre o lazer antes e após a Revolução Industrial?

2 Qual a importância da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) para os


trabalhadores brasileiros?

3 Cite cinco países que respeitam a Convenção 132, elaborada pela


Organização Internacional do Trabalho que regulamenta o direito a férias
remuneradas.

4 Algumas pessoas acreditam que a diversão atrapalha o trabalho, porém


esse ponto de vista vem sendo alvo de críticas na atualidade. Explique
quais os argumentos apresentados pela crítica.

5 Sobre a questão do lazer, existe um preconceito que consiste em afirmar


que esta atividade é uma preocupação exclusiva dos ricos. Esta afirmativa
é correta?

12
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

1 INTRODUÇÃO
Conforme foi possível notar na seção anterior, o termo lazer carece de
uma apreciação mais cuidadosa e precisa, para que possa ser tratado de maneira
adequada, seja no setor privado, no setor público, ou, ainda, no âmbito de nossas
vidas pessoais. Na sequência, você vai aprender como os estudiosos tratam o
assunto. Isto lhe permitirá solidificar a compreensão do tema. Em seguida, os
assuntos lazer e turismo serão aproximados para você entender as interfaces que
se estabelecem entre os dois fenômenos.

Bons estudos!

2 O QUE É LAZER?
O termo lazer surgiu na antiga civilização greco-romana e deriva do
latim licere, que significa ‘ser permitido’. Nesse período, o ideal de lazer estava
atrelado à plena expressão de si mesmo nos planos físico, artístico e intelectual
(CAMARGO, 1999).

Diversão, brincadeira e ludicidade sempre estiveram atreladas à


cultura das sociedades, contudo o fenômeno do lazer, tal como o concebemos
na atualidade, é um fenômeno que emergiu mais recentemente. Por isso, não
é apropriado dizer que a história do lazer seria tão antiga como a história das
civilizações. Na perspectiva de Dumazedier (1999, p. 26), “o tempo fora do
trabalho é, evidentemente, tão antigo quanto o próprio trabalho, porém o lazer
possui traços específicos, característicos da civilização nascida da Revolução
Industrial”.

Mascarenhas (2003) também concorda que o lazer é um fenômeno


moderno, resultante das tensões entre trabalho e capital, que se materializa como
um tempo e espaço de vivências lúdicas, culturais e de relações sociais. Por isso, o
conceito de lazer está intimamente relacionado à questão do trabalho (sob forma
de empresas e indústrias, com horários e rotinas próprias), pois é a partir desse
novo contexto social que se começa a pensar nas ocupações desempenhadas
sem função produtiva. Dumazedier (1999, p. 28) faz uma distinção importante
entre o tempo de ausência de trabalho e o de lazer: “o lazer não é a ociosidade,
não suprime o trabalho; o pressupõe. Corresponde a uma liberação periódica do
trabalho no fim do dia, da semana, do ano ou da vida de trabalho”.
13
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Outra característica relevante é que com a Revolução Industrial o domínio


da igreja em todas as esferas da vida social é diminuído, pois as atividades de
trabalho passam a obedecer a outro código de poder, expresso pela figura do
patrão e das relações contratuais de trabalho. Além disso, o domínio da natureza
também se altera nesse novo quadro. Afinal, os limites para os turnos de trabalho
e as condições para a realização das atividades passam a não depender em
sua totalidade das condições da natureza, pois o parque fabril dispõe de uma
infraestrutura suficiente para não ficar à mercê das mudanças climáticas, por
exemplo.

O lazer diz respeito às atividades que permitem ao indivíduo entregar-se


de livre vontade, seja para repousar, divertir-se, recrear-se, entreter-se, ou ainda
aprender sobre determinado assunto sem que se estabeleça um compromisso,
após desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais
(DUMAZEDIER, 1973). Taschner (2000) realça a presença de uma dimensão
subjetiva na concepção de lazer de Dumazedier, pois é o indivíduo que, em
última instância, decide o que ele vive e o que ele não vive como lazer.

Se admitirmos a dimensão da subjetividade intrínseca ao conceito de lazer,


é possível compreender que não existe uma regra clara e rígida para determinar se
uma atividade faz parte do lazer do indivíduo, pois além da ação em si, depende
da condição em que ela é praticada. Cozinhar, por exemplo, pode ser uma prática
de lazer quando quem se dedica à atividade o faz por apreço, para relaxar, buscar
informações de maneira despretensiosa sobre gastronomia e se entreter. A mãe
de família, contudo, que prepara o almoço para crianças diariamente, na pressa
de conciliar o horário da escola dos filhos com seu horário de trabalho, não está
desfrutando de um momento de lazer.

O mesmo raciocínio é válido para refletir se a prática religiosa se enquadra


como um momento de lazer ou não na rotina do indivíduo. A este respeito,
Andrade (2001) mostra que são os interesses imediatos, os gostos pessoais e as
finalidades funcionais que determinam se as preces e as meditações costumeiras se
constituem ou não, em trabalho sério, lazer devoto ou repouso descompromissado
com qualquer outro tipo de produtividade ou de revigoramento voltado ao
desenvolvimento da vida humana e cristã.

Outro conceito válido para discussão encontra-se em Rolin (1989), que


aborda a questão do lazer a partir de uma abordagem psicossocial, definindo-o
como um tempo livre, empregado pelo indivíduo na sua realização pessoal
como um fim em si mesmo, que permite recompor-se do cansaço, repousando;
do aborrecimento, divertindo-se; da especialização funcional, desenvolvendo
capacidades de seu corpo e espírito, diferente daquelas realizadas diariamente.

Sintetizando a compreensão do tema, Andrade (2001) diz que lazer é


um conjunto de atividades e circunstâncias isento de pressões e tensões. Faz-
se necessário, ainda, distinguir os conceitos de lazer e hobby, que são tratados,
algumas vezes, de forma imprecisa. De acordo com o dicionário de Aurélio

14
TÓPICO 2 — DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

Buarque de Holanda Ferreira (2009), hobby refere-se a um passatempo favorito;


derivativo que serve para preencher o tempo em que se repousa de um trabalho
habitual. Quer dizer, o hobby pode ser uma forma de lazer, mas é preciso lembrar
que a definição de lazer situa-se em um arcabouço mais amplo, que inclui outras
modalidades de atividades.

É oportuno comentar ainda o conceito de lazer trabalhado por Marcelino


(1990), que o define como a cultura vivenciada no tempo disponível, tendo como
traço definidor o caráter desinteressado dessa vivência, ou seja, a recompensada
reside na satisfação provocada pela situação.

Para Edginton (2011), existem três abordagens clássicas para se definir


o lazer, que foram utilizadas ao longo do processo histórico. A primeira é que
ele representa o tempo livre, no qual não se tem que trabalhar para garantir a
subsistência. A segunda é que ele é a série de atividades em que um indivíduo
está envolvido. Futebol pode ser uma atividade de lazer para uma criança, mas
é um trabalho para jogadores profissionais, recordando que o elemento-chave
é a circunstância em que a atividade se desenvolve. A terceira e mais recente
definição considera-o como um estado da mente – isso significa que ele pode
ocorrer a qualquer momento, em qualquer lugar. Além disso, temos que ter em
mente que o lazer é definido culturalmente. Não é apropriado que um americano
defina o que é lazer no Brasil, mesmo em um mundo tão globalizado.

Visando clarificar a compreensão do tema lazer, permitindo uma distinção


adequada entre trabalho, obrigações, repouso e diversão, Dumazedier (1999)
elenca quatro aspectos fundamentais do lazer, a saber:

a) Caráter liberatório: o lazer resulta de uma livre escolha e seria falso dizer que
lazer é sinônimo de liberdade, ausentando qualquer possibilidade de obrigação
que pudesse estar relacionado ao lazer. O lazer é a liberação de certo gênero
de obrigações, mas depende, como toda atividade, das relações sociais e das
obrigações interpessoais, isto é, o lazer está sujeito às obrigações decorrentes
da formação de um grupo. Por exemplo, um grupo de amigos que se reúne
semanalmente para jogar pôquer, pode ter regras e obrigações, como chegar no
horário combinado, não faltar mais que duas vezes ao mês, ter de avisar quando
não puder comparecer etc. O aspecto liberatório do lazer está relacionado à
ausência de obrigações institucionais, imposta pelas instituições profissionais,
familiais, socioespirituais e sociopolíticas. Reciprocamente, quando a atividade de
lazer se torna uma obrigação, tal como sair para passear com a família de forma
imposta, ou quando o jogo de tênis semanal migra para a categoria profissional,
sob o ponto de vista sociológico, mesmo que o conteúdo técnico da atividade não
se altere, a atividade passa a ser uma obrigação e deixa de ser lazer.
b) Caráter desinteressado: o lazer não está fundamentalmente submetido a fim
lucrativo, tal como o trabalho profissional e, tampouco, a fim utilitário algum,
como as obrigações domésticas (limpar a casa) e, ainda, não possui finalidade
ideológica, como os deveres políticos, por exemplo. O lazer não se coloca a
serviço de nenhum fim material ou social, mesmo que tais aspectos perpassem

15
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

indiretamente pela atividade escolhida, como entrar para o time de vôlei da


empresa. Em primeiro lugar, pesa o desejo de se divertir e praticar o esporte,
melhorar o contato com os colegas de labuta não assume a razão de ser da
atividade.
c) Caráter hedonístico: o lazer é marcado pela busca de um estado de satisfação,
tomado como um fim em si e essa busca é de natureza hedonística, trata-se da
procura do prazer, da felicidade ou da alegria. Certamente, não se pode reduzir
a felicidade ao lazer, pois ela pode acompanhar o exercício das obrigações
sociais de base. Em suma, a busca de um estado de satisfação é a condição
primeira do lazer, quando o indivíduo pode afirmar: ‘isso me interessa’.
d) Caráter pessoal: cada pessoa busca, a sua maneira, atender a suas próprias
necessidades de lazer. Ele oferece ao sujeito a possibilidade de libertar-se das
fadigas físicas ou nervosas que contrariam os ritmos biológicos das pessoas,
sendo uma fonte de recuperação. E, ainda, permite a pessoa libertar-se do tédio
cotidiano que brota da realização de tarefas repetitivas, abrindo caminho de
uma livre superação de si mesmo e de uma liberação do potencial criador.

Conforme vimos, a necessidade de repouso e lazer é regulamentada


pela CLT no Brasil, que estabelece a quantidade de dias e horas destinadas a
essa necessidade. Contudo, é fácil imaginar que não existe uma tabela e padrões
predeterminados para assegurar que a pessoa esteja de fato descansada e
relaxada. A complexidade do ser humano torna os indivíduos diferentes entre
si e, portanto, é difícil estipular, por exemplo, a cota de duas horas diárias de
lazer para assegurar o bem-estar físico e mental do sujeito. Quer dizer, as pessoas
possuem necessidades distintas e, por conseguinte, buscam maneiras diferentes
de relaxar e se entreter. Nessa linha de considerações, Andrade (2001) pontua que
a ocupação apropriada do tempo para aliviar as tensões diárias que envolvem
as pessoas, embora se trate de uma necessidade objetiva em si mesma, assume
aspectos subjetivos em suas qualidades, pois as estruturas e circunstâncias nas
quais vive cada pessoa são diferentes.

Um exemplo claro do assunto, é que muitas pessoas associam o lazer ao


sossego, quietude, calmaria e um pouco de preguiça, isto é, relaxar e se manter sem
muitos planos. Para outros, o lazer está estreitamento relacionado ao movimento,
aos esportes, a viagens, passeios etc. Reflexão interessante sobre este aspecto do
lazer encontra-se no estudo de Featherstone (2000), que analisa por que algumas
pessoas buscam elementos de aventura e risco em seus momentos de lazer. O
autor comenta que quanto mais o mundo se torna racionalizado e os lugares,
antes inóspitos, se transformam em jardins cultivados, mais riscos as pessoas
desejam correr. Por exemplo, se é permitido aos membros das classes mais baixas
embarcarem em trens panorâmicos até o topo das montanhas locais, então os que
buscam distinção precisam participar de passatempos mais excitantes e perigosos
para se sobressair.

16
TÓPICO 2 — DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

3 TIPOS DE LAZER
Do mesmo modo como ocorre com o turismo, é possível classificar o
lazer em categorias para facilitar o entendimento das diferentes alternativas
existentes. O tipo de categoria irá variar de acordo com o critério e a finalidade
que se propõem. Inicialmente, apresenta-se uma divisão pautada no conteúdo da
atividade realizada com base em Dumazedier (1999), acompanhe:

a) Físico: envolve as atividades nas quais se enfatiza o movimento ou o exercício


físico. Incluem-se as diversas modalidades esportivas, os passeios e a pesca.
b) Manual: diz respeito à capacidade de manipulação, seja na transformação de
objetos e materiais, ou na lida com a natureza, como a elaboração de artesanato,
habilidade com a jardinagem ou o cuidado com animais.
c) Intelectual: almeja o contato com o real, as informações objetivas e explicações
racionais, destacando-se o conhecimento vivido, experimentado; como
exemplo, cita-se a participação em cursos ou na leitura.
d) Artístico: envolve o conteúdo estético associado a imagens, sentimentos e
emoções. A dança, as artes plásticas, o teatro e o cinema são algumas dessas
manifestações.
e) Social: refere-se ao relacionamento, o convívio com outras pessoas. Pode-se
mencionar o encontro em bailes, bares e cafés como exemplos dessa categoria.

Como faz notar Andrade (2001), outra forma interessante de analisar o


fenômeno é a partir da variável tempo. Nessa perspectiva, inicialmente, pode-se
mencionar o lazer espontâneo, que é aquele que ocorre sem uma ação prevista
anteriormente. É uma consequência de uma ação que revele espontaneidade e
propicia uma surpresa. Normalmente, ocorre em conjunto com atos corriqueiros,
pelo surgimento de circunstâncias inesperadas e por questões subjetivas. Por
conta da espontaneidade, os diversos efeitos psicossomáticos da surpresa
asseguram alta qualificação e maior durabilidade do efeito do lazer. Um exemplo
dessa categoria seria um encontro ao acaso com um amigo antigo na hora do
almoço seguida de uma boa conversa.

No outro extremo, existe o lazer programado, que embora bastante


conhecido e praticado, sob o ponto de vista de recomposição de energias físicas e
psíquicas, não é tão eficiente. (ANDRADE, 2001). Uma expressão bem clara deste
tipo de lazer são as viagens turísticas. Outro exemplo que incita a reflexão são os
sítios, fazendas, casas de campos e praia, chamados de segunda residência, que
obrigam os proprietários e seus familiares a frequentarem assiduamente o lugar
e com o passar dos anos, por diversos fatores como o tempo de posse, a passagem
das crianças para a fase da adolescência e alterações diversas na família, causam
mais saturação do que lazer e repouso. Em outras palavras, não existe uma receita
mágica que garanta níveis superiores de repouso (ANDRADE, 2001). Por isso,
cabe ao indivíduo se autoconhecer e buscar compreender um pouco do gosto de
seus familiares e amigos para que, de fato, o lazer programado nas férias ou nos
finais de semana possa realmente revigorar os envolvidos.

17
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Existe ainda o chamado lazer esporádico, que abarca as atividades que


se realizam conforme a disponibilidade de tempo, sem as características que
exigem duração e periodicidade determinada. A inexistência de obrigação de um
período específico para o lazer poupa os indivíduos do ônus do planejamento e
lhes propiciam boas possibilidades de descontrair-se (ANDRADE, 2001).

Por fim, o autor elabora o conceito de lazer habitual, que se perfaz das
sensações percebidas no intervalo das atividades cotidianas, à consciência
do dever cumprido e simples expectativa de diversão. Trata-se de um estado
psicológico ausente de preocupações. Como exemplo, seria a sensação de chegar
em casa ao final do dia e repousar no sofá, sem preocupações, apenas relaxando e
tendo em mente a sensação de que o dever daquele dia foi cumprido.

Ainda quanto aos tipos de lazer, é possível dividir as práticas de lazer que
acontecem dentro e fora de casa. É inegável que, por uma série de fatores como
financeiros, culturais, de transporte e até mesmo de acomodação, as pessoas
passam uma parte importante do tempo livre e do tempo de lazer em casa. De
maneira alguma, pode-se afirmar que o lazer dentro de casa é menos importante
que o lazer que implica saídas.

Ficar em casa ouvindo boa música, organizando uma coleção de moedas,


cuidando de uma horta, pintando um quadro, bordando, enfim, realizando
qualquer atividade que se tenha apreço, pode se constituir em uma excelente
alternativa de lazer. O problema reside em dedicar o tempo de lazer em ações
automatizadas e apáticas, que não contribuem para o bem-estar e desenvolvimento
pessoal. Passar o final de semana inteiro assistindo a qualquer coisa na televisão,
sem nenhum critério, recebendo tudo de forma passiva e apática, apenas para ‘
matar o tempo’, certamente está longe de ser uma boa alternativa de lazer. Um
ponto importante é que a pessoa tenha consciência da atividade que pretende
realizar para desfrutar e se divertir com ela.

Na atualidade cresce o número de opções para o chamado lazer


doméstico, em decorrência de um conjunto de fatores, por exemplo, a ampliação
dos equipamentos destinados ao lazer, como os televisores de tela plana, TV a
cabo, videogames, computadores pessoais, DVDs, Blu Ray’s, hidromassagens,
saunas domésticas, CDs Players, entre muitos outros. Existe uma tendência de
alguns segmentos em transformar casas e apartamentos em locais aconchegantes,
confortáveis, íntimos e acolhedores para desfrutar os períodos de lazer (TRIGO,
2002). Outro exemplo são os variados itens disponíveis para a área de gastronomia
que, em conjunto com alguns dotes culinários, transformam qualquer cozinha em
um ponto de confraternização com os amigos e familiares.

Dentre as modalidades de lazer que ocorrem fora das residências, além do


turismo, pode-se mencionar as atividades físicas, as ‘baladas’, as idas aos cinemas,
passeios no shopping, participação em shows e espetáculos, participação em grupos
formais e associações (terceira idade, grupos de jovens, clubes esportivos etc.), ir
ao clube, entre outras.

18
TÓPICO 2 — DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

4 LAZER E CULTURA DO CONSUMO


Conforme foi visto, o lazer é um produto da sociedade moderna que teve
como marco da construção do seu sentido atual, a industrialização capitalista, que
alterou, significativamente, o estilo de vida nos centros urbanos, principalmente,
pela ênfase na apropriação do consumo. Em decorrência disso, atualmente o
segmento de lazer constitui-se em um mercado em ascensão (ZINGONI, 2002).

Com a ascensão do lazer, ocorre um largo crescimento do setor de serviços,


destinados a atender às demandas deste, por exemplo, os empreendimentos
turísticos. Todo esse processo de busca por formas de satisfazer as necessidades
e desejos de distração e autorrealização alavanca a consolidação da chamada
cultura do consumo.

Antes de adentrar na discussão sobre a cultura do consumo, parece


oportuno apresentar o conceito de cultura em si, embora não exista unanimidade
no círculo das ciências sociais sobre o assunto. Por ora, nos serve a importante
contribuição do antropólogo Roberto Da Matta (1981), que explica que a cultura,
analogicamente, pode ser entendida como um mapa, um receituário, um código
por meio do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e
modificam o mundo e a si mesmas. Refere-se a um conjunto de regras que nos diz
como o mundo pode e deve ser classificado.

A cultura do consumo, por sua vez, envolve o conjunto de imagens,


símbolos, valores e atitudes que se desenvolveram com a Modernidade, que
se tornaram associados ao consumo (real ou imaginário) de mercadorias e que
passaram a orientar pensamentos, sentimentos e comportamentos de segmentos
crescentes da população (TASCHNER, 2000).

A relação entre cultura e consumo encontra-se imbricada na ideia de


que uma vida boa é aquela baseada no consumo, tanto de mercadorias como de
entretenimento, sugerindo que a felicidade e o bem-estar das pessoas estejam
subordinados ao consumo. É bastante evidente que o lazer, assim como as demais
esferas da vida, passa a ser vinculado ao mercado e ao consumo, e não somente às
atividades de lazer tornam-se mercadorias, como o próprio tempo destinado ao
lazer torna-se tempo para consumir mercadorias (PADILHA, 2002).

Na atualidade, os indivíduos são influenciados pelas constantes mudanças,


típicas da sociedade pós-moderna, e passam a ter uma maior mobilidade na
caracterização de sua identidade, propiciando, então, a produção de simulacros
da cultura e vivências imediatas, que resultam em produtos que são usados como
respaldo na constituição das mesmas – desde sua personalidade (interior) até sua
imagem (exterior) – e, rapidamente são substituídos, pois deixam de corresponder
às necessidades dos consumidores (FÉLIX, 2003).

19
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Nas palavras de Zingoni (2002), é suficientemente evidente que o


capitalismo encontrou uma forma de se fazer presente também no lazer das
pessoas, fazendo com que elas se transformem em potenciais consumidores de
mercadorias lúdico-culturais.

A cultura do consumo é um elemento nuclear na constituição da


identidade de uma pessoa. O corpo, as roupas, o discurso, os entretenimentos de
lazer, as preferências gastronômicas, a opção de férias, entre várias outras formas
de consumo, são vistas como indicadores da individualidade, dos gostos.

Mais do que um ato de consumo em si, trazem consigo um símbolo,


uma representação icônica daquilo que se é ou se pretende ser. Tais escolhas
de consumo, incluídas aí a vasta gama de segmento de lazer, representa uma
“segunda voz”, pois o indivíduo não se apresenta apenas oralmente, mas
também pelos seus gestos e significados implícitos em seus hábitos de consumo.
Por exemplo, direta ou indiretamente, de modo consciente ou não, muitas vezes
optamos por ir a determinado restaurante, pois é um lugar “bacana, de gente
bonita e descolada”, pois gostaríamos de ser reconhecidos assim.

É notável que os padrões de consumo são peculiares a cada classe social.


Para Padilha (2002), o tempo livre possui dimensões que variam de acordo
com o nível de renda (capital financeiro) e o nível de cultura (capital cultural),
permitindo uma distinção social além da própria satisfação de necessidades.

Em se tratando da relação lazer e consumo, é possível ainda citar o


conceito de indústria cultural, que, conforme Rocha (1995), engloba as produções
simbólicas da atualidade e que são veiculadas pelos meios de comunicação de
massa. Padilha (2002) explica ainda que a cultura decorrente da indústria cultural
é padronizada, pautada em gosto médio de um público que não questiona aquilo
que consome. Os meios de comunicação procuram naturalizar as regras do jogo
social, transmitindo em seus conteúdos códigos comuns para toda sua audiência.

Especialmente no Brasil, este cenário é preocupante e apresenta cada vez


mais indícios de sua decadência. Programas de humor com personagens usando
trajes mínimos, com piadas e jargões exageradamente carregados de conotação
sexual, parecem cada vez mais ultrapassar a linha do bom senso e do bom gosto,
construindo um tipo de humor apelativo. Com relação aos comportamentos
sociais desejáveis, é nítida em muitos folhetins a inserção de determinados temas
que parecem estar na moda. Sempre polêmicos, a proposta é selecionar algum
assunto, por exemplo, homossexualismo, prostituição, ou algo que o valha, e
explorá-lo nas novelas para que depois de tanto ouvir falar do tema, tudo se torne
“normal”, “natural”. Não se pode negar que esse tipo de estratégia pode ter como
impacto positivo, a desconstrução de alguns preconceitos e incita debates sobre
o tema. O problema reside no fato de que a proposta dos programas reside em
apresentar uma resposta pronta, um ponto de vista que deve ser incorporado
de forma alienada, sem que o indivíduo chegue por si só as suas impressões e
opiniões sobre determinado tema.

20
TÓPICO 2 — DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

Ainda tratando da questão da indústria cultural, convém lembrar que a


publicidade é o ponto de sustentação do universo simbólico da comunicação de
massa, na medida em que é ela que financia e paga a conta daquilo que se recebe
quase gratuitamente (PADILHA, 2002).

Sob a égide capitalista, é impossível desassociar o lazer ao consumo,


fenômeno que cresce paulatinamente nos últimos anos. Santos (2000) discorre
sobre o panorama da sociedade pós-industrial e comenta que os progressos
tecnológicos e científicos prometeram alívio no trabalho, mediante mais produção
por pessoa e por unidade de tempo, contribuindo também para o aumento do
tempo livre, visando a uma realização mais completa da existência pessoal através
do acesso a mais informação, comunicação e política. O próprio autor reconhece
que tal promessa não passou de um sonho, distanciado da realidade.

Não há dúvidas que de fato ocorreu a revolução dos transportes, a


conquista da velocidade e a diminuição virtual da distância (embora o custo
de tais comodidades ainda mantenha afastada muitas pessoas). A ascensão de
diversas mídias e utilização indiscriminada de propagandas que, por vezes,
expressam conteúdo diverso do real contribuiu para a criação de estereótipos
e manipulação de massas, sendo que a imagem estereotipada ameaça a tomar
o lugar tão importante do gosto pela fantasia e pela descoberta. Tendo em vista
a perspectiva geográfica do trabalho de Santos (2000), ele acrescenta ainda que
o fenômeno da massificação das atividades de lazer sofre influência da própria
emergência das massas, resignificadas com a explosão urbana e metropolitana.
Quer dizer, a própria configuração de cidades com imensas zonas urbanas
estimula a homogeneização dos gostos e das opções de lazer.

Para Zingoni (2002), as metrópoles brasileiras demonstram, em suas


diferentes formas de organização, uma hierarquização social embasada nos
fatores de localização e acessibilidade aos bens e serviços de lazer, que definirão os
valores de uso e de troca dos espaços de lazer nas cidades e, neste limiar, regiões,
bairros, ruas e praças vão se hierarquizando pautadas em cargas valorativas de
sentido. Atributos arquitetônicos e estéticos dos equipamentos de lazer, outdoors,
áreas verdes no entorno e qualidade dos serviços prestados formam um conjunto
de signos que balizam o imaginário urbano.

Se pararmos para pensar sobre qual seria a principal característica da


sociedade atual, certamente, o consumismo seria uma delas. Há um grande
apelo para consumir e, se antes, o consumo estava mais atrelado às necessidades
elementares, hoje, sabe-se que as explicações não são tão simples. A prática do
lazer também se altera nesse cenário. Um exemplo icônico da busca de lazer e
entretenimento massificado, típico dos centros urbanos, são os passeios pelos
Shopping Centers.

Observem na matéria apresentada na sequência, algumas explicações


apresentadas para o crescimento desta modalidade de empreendimento.

21
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

TEMPLOS DE CONSUMO E LAZER

Na era do hiperconsumo, busca por segurança e conforto faz dos


centros comerciais as novas praças das cidades grandes.

Mais de 350 milhões de pessoas circulam por mês nas centenas de


shopping centers brasileiros. No mundo todo, pode se supor que, a cada 30 dias,
o equivalente a toda a população chinesa – algo em torno do 1,35 bilhão – vá a
algum desses “templos do consumo”. Mas, por quê? O que têm esses espaços
para atrair e seduzir tanta gente ao redor do planeta? Concluir que essas
pessoas vão até lá porque precisam comprar algo é tão óbvio quanto simplista.
A sociedade que criou o “fenômeno shopping center” tem prazer em consumir.
Vê nesses empreendimentos uma combinação de conforto, praticidade e
segurança que se perdeu no centro das grandes cidades.

“Não há chuva nem vento. As pessoas não cospem nem jogam tocos
de cigarro no chão. Não há moscas. Não há cachorros. A vida sob o teto de
um shopping é tranquila, segura e acolhedora”, diz o consultor Paco Underhill,
autor do livro A Magia dos Shoppings (Best Books) e considerado um dos
maiores especialistas do mundo em comportamento do consumidor.

Os primeiros centros comerciais foram criados nos Estados Unidos no


fim da década de 1950, período pós-guerra no qual as famílias de classe média
começavam a povoar os subúrbios das cidades norte-americanas. No berço
da sociedade de consumo, esses espaços reproduziam, mais perto das novas
casas e com ampla opção de estacionamento, a região central das cidades. Na
década de 70, eles já eram milhares e representavam metade do varejo norte-
americano.

Com algumas adaptações, os malls – como são chamados na terra natal


– chegaram ao Brasil em 1966, quando foi inaugurado o Shopping Iguatemi, em
São Paulo. Hoje, a associação que representa os empreendimentos, a Abrasce,
tem 379 associados e a previsão de 20 novos ao longo deste ano. No Paraná,
são 28 – 13 só na capital.

Praças

Uma das principais diferenças do modelo tupiniquim é a localização –


aqui, os shoppings se instalaram principalmente em regiões mais centrais. Mas,
nos dois casos, é comum a noção de que os shoppings passaram, em grande
medida, a substituir as praças das cidades como espaços públicos – embora
sejam privados.

“Praças cobertas” que, muito mais no Brasil do que em qualquer outra


parte do mundo, se consolidaram, sobretudo, pela oferta de segurança –
natural, em uma sociedade que sofre com o aumento da criminalidade.

22
TÓPICO 2 — DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

A proteção, nesses casos, vai além de evitar furtos ou assaltos. Nessa


cidade recriada entre paredes, fica de fora o que não agrada nos grandes centros
– não se vê pobreza, gente sem teto e passando fome, por exemplo. “Mais
do que um ‘guardião’, no shopping center você tem a segurança no sentido de
andar sem ser incomodado ou abordado. E essa é uma característica dos nossos
tempos: as pessoas não querem contato, não querem ser incomodadas”, diz a
professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná
(UFPR) Olga Firkowski, estudiosa do assunto.

Parte desse isolamento, diz Olga, é resultado de uma “barreira” natural.


“As pessoas mais pobres têm receio de entrar nesses empreendimentos. Eles
são intimidadores para elas porque, em geral, são bonitos, suntuosos e com
guardas de terno em todos os cantos.” É o que Underhill chama de “mecanismo
de autorregulagem capaz de manter a ordem na shoppinlândia”.

No lado oposto, para os olhos de quem frequenta, entrar nesse ambiente


isolado pode trazer a satisfação do “fazer parte” de um lugar destinado a
“poucos”. “Embora ninguém fale isso claramente quando questionado, do
ponto de vista da psicanálise, as pessoas vão até o shopping para se sentirem
selecionadas”, analisa a professora Valquíria Padilha, doutora em Ciências
Sociais e autora do livro Shopping Center: a Catedral das Mercadorias (Boitempo
Editorial). “Mas os shoppings são um fenômeno mundial. E o porquê disso não
é uma resposta simples de se dar. É um conjunto de fatores. É preciso pensar,
por exemplo, que eles são parte do universo da sociedade de consumo.”

Para a professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo


Andréia Schmidt, ir ao shopping é fazer parte de algo que a nossa cultura,
ao longo dos últimos anos, valoriza como prazer. “Consumir não está mais
relacionado com atender uma necessidade básica. É de fato entretenimento.
Está cada vez mais ligado à busca de prazer”, diz. “E o shopping é planejado
totalmente para essa busca. Ele não é só um ambiente protegido, com lugar
para estacionar. É um espaço para ver e ser visto.”

Naturalmente, os centros comerciais não criaram o hiperconsumo. Mas,


de certa forma, são o símbolo de uma sociedade que tem prazer em comprar.
Na tese defendida pelo sociólogo francês Gilles Lipovetsky, autor de A
Felicidade Paradoxal (Companhia das Letras), na era do “hiperconsumismo”,
ligar o entretenimento ao consumo é algo que marca o cotidiano de toda a
pirâmide social e que mudou o relacionamento do indivíduo consigo e com
os outros.

Lipovetsky defende o consumo como forma de terapia contra as


frustrações cotidianas. Algo que o pesquisador e professor da Faculdade de
Comunicação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Ricardo
Ferreira Freitas, chama de “consumoterapia” – um jogo de palavras que brinca

23
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

com a ideia de que, consumindo, é possível ser mais feliz. “Todas as pessoas,
mesmo com pequeno poder aquisitivo, caem nessa armadilha: comprar para
compensar frustrações. Se isso puder ser feito em um lugar seguro (como o
shopping center), melhor ainda.”

FONTE: Jornal Gazeta do Povo. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/


cadernog/conteudo.phtml?id=900017>. Acesso em: 8 dez. 2011.

A partir do exposto, relacionado à questão do consumo do lazer enquanto


modalidade de negócio é possível lançar dois olhares sobre esse mercado em
expansão. O primeiro concerne em admitir as inúmeras possibilidades de atuação
profissional que se vislumbram para os profissionais desse segmento, conforme
estudaremos ao longo deste livro. O segundo diz respeito a aceitar, com uma
postura crítica, que o excesso de atividades e programas ofertados pode ser
sufocante e pouco prazeroso para o indivíduo e sua família. Se durante o final de
semana, ao invés de se atentar para o que se tem vontade e interesse de fazer, seja
ir ao cinema, passear no parque ou ficar ouvindo música, se cair na armadilha de
grandes maratonas de programas e agendas, tentando encaixar a balada, com a
apresentação teatral e o desfile no shopping, em meio a uma correria parecida com
a dos escritórios, então, não existirá um ambiente propício para o desfrute do
repouso e de um revigoramento físico e mental.

5 O BINÔMIO TURISMO E LAZER


A esta altura, você já deve ter compreendido adequadamente a concepção
de lazer. Vamos agora entender de que modo o fenômeno do lazer se relaciona
com a atividade turística.

Para tanto, vamos retomar algumas definições elementares sobre o turismo


apresentadas na disciplina Teoria Geral do Turismo. Vimos que o turismo, de
acordo com a Organização Mundial do Turismo (GEE, 2003), é o fenômeno
que abrange as atividades de pessoas que viajam para lugares afastados de seu
ambiente usual, ou que neles permaneçam por menos de um ano consecutivo,
a lazer, a negócios ou por outros motivos. Para Montaner (2001), turismo é um
fenômeno vinculado ao tempo livre e à cultura do lazer. Trata-se de um fenômeno
embasado em uma série de disciplinas relacionadas com as ciências sociais e
humanas.

Levando em conta o conceito de turismo, fica fácil entender de que forma


ele se relaciona com o lazer. O turismo pode ser uma alternativa na busca do lazer
pelas pessoas, uma forma de realizá-lo.

Convém destacar que tanto o turismo como o lazer apresentam aspectos


subjetivos relacionados a sua motivação. Para melhorar o entendimento,
retomamos a noção básica de tipologias de turismo, como a prática do turismo

24
TÓPICO 2 — DISCUTINDO O CONCEITO DE LAZER

cultural, turismo ecológico, entre outros. Entre todas essas modalidades, é a


motivação da viagem que determina o tipo de turismo em questão. Nunca é
demais reforçar que as pessoas possuem os mais variados gostos e interesses, o
que pode permitir a emergência de novas modalidades de turismo, como é o caso
do turismo espacial.

Desta forma, fica nítido que o turismo não se reduz ao lazer, já que parte
significativa dos deslocamentos turísticos obedece a expectativas que vêm das
esferas de saúde, profissionais, familiares, entre outras, logo, as viagens ocorrem
por distintas motivações, ainda que estejam ligadas a valores e expectativas
nascidas do lazer (CAMARGO, 2001).

No lazer, também são os elementos subjetivos que vão determinar se


uma dada ação ou atividade pode ser considerada parte integrante do lazer do
indivíduo. Acordar às 5 horas da manhã para ir pescar pode ser muito estimulante
e divertido para quem tem apreço pela atividade, ou um verdadeiro martírio para
aqueles que não gostam de despertar tão cedo e participar de uma atividade junto
à natureza. As práticas de lazer, sendo estas turísticas ou não, algumas vezes só
fazem sentido para aqueles que realmente adoram um determinado passatempo,
enquanto outras atividades, como ir ao cinema, por exemplo, acabam atendendo
a um número maior de pessoas.

Outro ponto importante é que no turismo o aspecto do entretenimento e


dos atrativos constitui um aspecto fundamental para o turista, pois ao chegar à
destinação, o que se espera (na maioria das vezes) são opções de lazer e diversão,
evidenciando novamente a possibilidade de entrelaçamento dos dois fenômenos.

Trigo (2002) destaca que, apesar de o lazer ser notável em nosso país,
ainda existem consideráveis lacunas na elaboração da problemática envolvendo
o setor. Pormenorizando as debilidades existentes, verifica-se que o setor de
lazer é relativamente recente no Brasil, de tal forma que as pessoas não têm
consciência do que o setor supracitado pode representar em termos econômicos
ou profissionais. Além disso, pesa o fato de não existirem programas e controles
abrangentes de qualidade em lazer e, ainda, a constatação de que alguns setores
privados não conhecem profundamente o lazer e o turismo e, por este motivo,
não investem de maneira adequada em equipamentos, projetos e qualificação
profissional. O autor acrescenta que vários setores da sociedade civil ainda não
se sensibilizaram que o lazer é tão indispensável como a saúde e habitação, por
exemplo.

A partir da década de 1990, ficam gradualmente mais evidentes as


preocupações e iniciativas destinadas à organização de uma “indústria de lazer
e entretenimento”, replicando a tendência de outros países. Notadamente,
observou-se o crescimento das preocupações com o turismo, a consolidação
do esporte como um importante produto de negócios, além do fortalecimento
do mercado cultural e do crescimento dos parques temáticos (ALVES JUNIOR;
MELO; 2003).

25
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O termo lazer surgiu na antiga civilização greco-romana e deriva do latim


licere, que significa ‘ser permitido’.

• O lazer é um fenômeno moderno, resultante das tensões entre trabalho e capital,


que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, culturais e de
relações sociais.

• O lazer diz respeito às atividades que permitem ao indivíduo entregar-se de


livre vontade, seja para repousar, divertir-se, recrear-se, entreter-se, ou ainda
aprender sobre determinado assunto sem que se estabeleça um compromisso,
após desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

• O lazer é um produto da sociedade moderna que teve como marco da construção


do seu sentido atual, a industrialização capitalista.

• Cultura refere-se a um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e
deve ser classificado.

• A cultura do consumo envolve o conjunto de imagens, símbolos, valores


e atitudes que se desenvolveram com a Modernidade, que se tornaram
associados ao consumo de mercadorias e que passaram a orientar pensamentos,
sentimentos e comportamentos.

• O turismo pode ser uma alternativa na busca do lazer pelas pessoas, uma forma
de realizá-lo.

• No turismo, o aspecto do entretenimento e dos atrativos constitui um aspecto


fundamental para o turista.

• Tanto o turismo como o lazer estão relacionados pela subjetividade da


motivação.

26
AUTOATIVIDADE

1 Lazer e tempo fora do trabalho podem ser considerados sinônimos?

2 Explique com suas palavras o que é lazer.

3 Qual a diferença entre hobby e lazer?

4 A partir de uma perspectiva antropológica, o que é cultura?

5 O que significa a expressão ‘cultura de consumo’ ?

27
28
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE


CONTEMPORÂNEA

1 INTRODUÇÃO
Qual a importância do lazer na atualidade? Seria sua contribuição para
o bem-estar das pessoas? Um modo de recarregar as baterias para o trabalho
e estudo? Ou seria importante por sua capacidade de movimentar o mercado
enquanto modalidade de negócio? Neste tópico, vamos nos aproximar dos temas
citados a fim de compreender qual a contribuição deste importante fenômeno em
nossa sociedade.

2 QUAL A IMPORTÂNCIA DO LAZER PARA AS


SOCIEDADES?
A finalidade do lazer é conseguir a desaceleração das atenções pessoais,
sejam estas de natureza profissional ou não, distanciando-se das atividades
rotineiras. Como consequência, ocorre um relaxamento psicológico e físico que
contribui para o bem-estar social (ANDRADE, 2001).

Os indivíduos buscam nas atividades de lazer alternativas para relaxar, se


divertir e recarregar as sua energias. Conforme estamos aprendendo, cada pessoa
possui singularidades e, em decorrência disso, o modo como cada uma encontra
no lazer a possiblidade de saciar suas necessidades físicas e psíquicas, também
muda. Para Camargo (1999), de modo geral, as pessoas buscam quatro grandes
motivações no lazer: a aventura, a competição, a vertigem e a fantasia. Vejamos
na sequência cada uma delas com mais detalhes:

a) Aventura: está relacionada às descobertas, à busca por novidades que podem


ser alcançadas pelo lazer. Uma demonstração clara dessa sensação está na
experiência de viajar, conhecer novas cidades, pratos diferentes, culturas
diferentes – ou seja, desfrutar de várias pequenas aventuras. A experiência
lúdica da aventura tem por base a curiosidade.
b) Competição: de início, convém esclarecer que competição não significa
necessariamente disputa com outro, pode ser uma questão de superação
pessoal, quer dizer, um confronto consigo mesmo. Tal situação, no âmbito
do lazer, pode ser exemplificada pelo pescador que pretende fisgar um peixe

29
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

maior que o da temporada passada, e, para algumas pessoas, esse pode ser o
grande barato do lazer. Sem contar inúmeras outras atividades que oferecem
um nível de competição, como as corridas de carte, torneio de golfe entre outros.
Atividades relacionadas à competição demandam autocontrole e disciplina.

FIGURA 3 – LAZER E COMPETIÇÃO

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/_vmZqY5IlSI0/TT-XSUKX1CI/AAAAAAAABKA /rj6fDqq6lo8/


s1600/bahia-turismo-golfe-2.jpg>. Acesso em: 28 dez. 2011.

c) Vertigem: existem várias formas de vertigem que podem ser vivenciadas pelo
lazer, seja a de uma montanha-russa, em assistir a um filme 3D no cinema,
alguma atividade radical, como o rafting, entre tantas outras. Esse tipo de
sensação permite explorar a capacidade de se deixar levar, de perder o controle
e de correr riscos com segurança, calculados.
d) Fantasia: a quarta categoria de motivação para o lúdico e para o lazer refere-se ao
desejo de ser diferente, de ser outro, de estar em lugares diversos. Novamente,
há uma estreita relação entre lazer e turismo, pois a viagem permite entrar
na fantasia e algumas pessoas pretendem parecer mais descoladas, mais ricas,
mais jovens, mais divertidas – diferentes dos traços do cotidiano. Existem
ainda inúmeras possibilidades para explorar a fantasia no bojo do lazer, como
através das artes (literatura, música, artes plásticas, teatro, cinema etc.).

3 LAZER E QUALIDADE DE VIDA


Para iniciar o debate entre lazer e qualidade de vida, precisamos
analisar o que é qualidade de vida de fato. Esta é uma das expressões bastante
utilizadas no nosso dia a dia. Por exemplo, quando se pretende avaliar o nível de
desenvolvimento humano de uma cidade ou país, fala-se em qualidade de vida.
Em se tratando do ambiente de trabalho e o modo pelo qual a carreira de cada um
deve ser estruturada, muitos primam novamente pela tal qualidade. Ou ainda,
existem aqueles que procuram a academia sem a pretensão de ver os músculos
super definidos ou o corpo “marombado”, “sarado”, dizem então para o instrutor
que desejam apenas se sentir bem, ter qualidade de vida. A expressão também é
usual entre os médicos, quando estes almejam conhecer melhor os hábitos de vida
do paciente, para afinal, desvendar se existe ou não a tão aclamada qualidade.

30
TÓPICO 3 — A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Embora muito utilizado, em sua utilização coloquial, o conceito parece


um pouco impreciso, não apresenta um recorte bem definido. A qualidade de
vida está relacionada a um indicador para verificar as condições de vida humana,
e dada à complexidade do ser humano, trata-se de um conceito que perpassa
por aspectos, físicos, mentais e psicológicos. De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (WHOQOL, 1995, p. 1.405), “qualidade de vida é a percepção
do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas
de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões
e preocupações”.

Corroborando com o conceito da Organização Mundial de Saúde,


Bonalume (2002, p. 193) comenta:

Quando falamos em qualidade de vida, duas perguntas devem nos


fazer refletir para tentar compreender a complexidade do tema: o
que é e para quem e, se pensamos qualidade de vida como forma de
prolongar a vida, precisamos considerar, também, os aspectos de por
quê e para quê, uma vez que não basta conseguir viver mais: é preciso
viver bem. Longevidade com qualidade de vida depende do acesso à
informação, à instrução, ao lazer, à saúde, à moradia, enfim, a todos
os direitos sociais.

Fica evidente que o conceito de qualidade de vida depende do contexto


social e cultural em que se encontra. Preocupado em elaborar um indicador para
avaliar padrões de qualidade de vida, a Organização Mundial da Saúde utiliza
um questionário no qual os pontos considerados relevantes são checados junto
aos entrevistados.

Entre os pontos indagados no questionário são levados em conta aspectos


relacionados ao bem-estar físico (ausência de dores e desconfortos físicos), à
disposição, ao cansaço, à qualidade do sono, ao modo como a vida é desfrutada
e à capacidade de concentração. Além disso, as perguntas realizadas investigam
o modo de enxergar a vida e o futuro, a confiança própria, a autoestima, o nível
de estresse, a depressão, a utilização constante de medicamentos, a segurança, o
conforto do lar e as dificuldades financeiras. Para avaliar a qualidade de vida, é
checado se a pessoa tem amigos, se aceita sua aparência física, se possui tempo
e condições para o lazer, se é capaz de relaxar, se possui alguma crença pessoal,
se tem acesso a novas informações entre outras variáveis (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2011).

Embora o conceito de qualidade de vida apresente alguns elementos de


subjetividade, após detalhar alguns aspectos, você pode compreender que tipo
de variáveis e aspectos da vida são levados em conta para mensurar a qualidade
de vida de uma pessoa.

31
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Pensando nas relações decorrentes entre lazer e qualidade de vida, Etges


(2002) explica que à medida que a qualidade de vida de determina população
melhora, aumenta a demanda por opções de lazer que passa a ser visto não apenas
como uma oportunidade de descanso e divertimento e passa a ser incorporada
como parte da cultura.

Fato reconhecido é que a qualidade de vida e o lazer como uma


possibilidade de concretização dessa condição vivenciada não estão acessíveis
para todas as pessoas. Durante algum tempo, se defendia que a ascensão da
tecnologia permitiria uma redução da jornada de trabalho. Sem perder de vista
o papel importantíssimo que a tecnologia cumpre, seja mediante maquinários
sofisticados nas indústrias ou o crescente número de softwares cada vez mais
eficientes (apenas para citar dois exemplos), não é possível encarar a realidade
mediante uma simplificação generalista. Para Zingoni (2002), se inicialmente
era possível presumir que a tecnologia permitiria economizar o tempo para o
lazer, melhorando o bem-estar comum, na prática, muitas vezes o tempo livre do
trabalhador está voltado para a procura de mais emprego, mais trabalho e mais
dinheiro. Nesse caso, a tecnologia disponibiliza tempo para mais trabalho e não
para mais lazer.

É importante ressaltar que a tecnologia pode se apresentar como uma


alternativa a determinadas pessoas conseguirem usar o seu tempo livre para o
lazer. É o caso de empresários que atualmente podem se afastar de suas empresas,
mas continuar gerenciando (de longe, on-line) e aproveitar em intervalos de
tempo livre para praticar o lazer.

Embora se reconheça a importância do lazer para assegurar a qualidade


de vida do indivíduo, é equivocado pensar que aqueles não costumam realizar
atividades para o seu recreio, não o fazem porque não querem. A prática do
lazer requer esforços e supõe responsabilidades de opções nem sempre simples,
porque mesmo o repouso e os relaxamentos podem tornar-se frustrantes para
as pessoas. Fato decorrente de uma genérica falta de conhecimento pessoal a
respeito das próprias necessidades e capacidades de repousar e divertir-se. Isto é,
o lazer não é simples ato automático, porque mexe com a consciência individual
e os sentimentos para que cumpram sua razão de ser, supõe objetividade e
subjetividade, no planejamento e no dinamismo (ANDRADE, 2001).

A qualidade de vida também estabelece interface com a questão do


trabalho. Estudos na área da neurociência comprovam a necessidade de repouso
e lazer para que se tenha condições adequadas de executar as tarefas do trabalho.
Observe no trecho da entrevista a seguir as ponderações da neorocientista Suzana
Herculano-Houzel:

32
TÓPICO 3 — A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Seu cérebro no trabalho

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel explica como o cérebro


funciona diante de situações do dia a dia. Controlar as emoções pode melhorar
sua motivação e seu desempenho.

Elisa Tozzi e Murilo Ohl

Complexo e repleto de ligações, o cérebro reage de maneiras diferentes


a cada situação enfrentada no dia a dia do trabalho. A cobrança por um
resultado rápido desencadeia uma poderosa onda de estresse. E aquele projeto
complicado faz com que a ansiedade mande constantes mensagens de alerta.
Na entrevista a seguir, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, de 37 anos,
diretora do Laboratório de Neuroanatomia Comparada da Universidade
Federal do Rio de Janeiro e autora de cinco livros, entre os quais Pílulas de
Neurociência para uma Vida Melhor (Editora Sextante), explica como essas
emoções podem ser benéficas ou perigosíssimas para o desempenho e para a
motivação profissional.

O que ocorre com o corpo, do ponto de vista da neurociência, quando um


profissional passa por situações estressantes no trabalho?

O estresse nada mais é do que uma força que provoca transformações


mentais e físicas no corpo. O coração dispara, a pressão arterial aumenta e
o cérebro reage para que possa enfrentar novos problemas. A princípio,
o estresse é bom, porque faz com que os níveis de atenção cresçam. Isso só
acontece quando o profissional sente que tem controle sobre a situação e que é
capaz de encontrar soluções para o problema. O estresse se torna perigoso no
momento em que a pessoa acha que não consegue dar conta do trabalho e entra
num estado de paralisia. A situação fica drástica quando alguém precisa fazer
grandes esforços para tentar driblar um desafio e não chega a lugar nenhum.

O que fazer para ter mais qualidade de vida?

Três fatores são importantes: lazer, sono e exercício. O primeiro


passo é parar de pensar nos problemas assim que o expediente terminar.
Um profissional não consegue relaxar se for para casa e ficar remoendo as
obrigações do dia seguinte. Desligar-se é vital. O lazer ajuda nessa tarefa, pois
faz com que o cérebro se ocupe com atividades prazerosas e se sinta satisfeito
e recompensado.

Como o sono e a atividade física ajudam?

O sono faz com que o cérebro registre as atividades desenvolvidas


durante o dia e crie estratégias para resolver novos problemas. Uma boa noite
de sono ajuda a regenerar os neurônios do hipocampo, parte do cérebro que

33
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

cuida da memória recente. Essas novas células ampliam a capacidade de


aprendizagem e auxiliam na administração do estresse. Os exercícios também
mantêm o hipotálamo em bom funcionamento. Mas tem que ser alguma
atividade física que dê prazer. Caso contrário, o cérebro vai encontrar mais
um motivo para se estressar.

Uma das queixas mais comuns entre os profissionais é a dificuldade de planejar


tarefas. É possível treinar o cérebro para ter uma organização mental?

Sim. Nós temos uma agenda interna no hipocampo que funciona


como uma lista de tarefas, armazenando as informações mais novas do dia.
Para funcionar bem, o cérebro precisa priorizar essas atividades e diminuir a
complexidade dos problemas. Esse é o segredo do bom planejamento mental.
A satisfação aparece quando nós resolvemos aquilo que nos deixa angustiados.
Por isso é importante dividir os grandes problemas em pequenos desafios,
que podem ser resolvidos com mais facilidade, e traçar uma estratégia simples
para solucioná-los.

FONTE: Revista Você S/A. Disponível em: <http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carrei-


ra/materia/seu-cerebro-trabalho-612822.shtml#>. Acesso em: 18 dez. 2011.

4 O LAZER ENQUANTO MODALIDADE DE NEGÓCIO


De acordo com o que estudamos no tópico anterior, aprendemos que a
questão do lazer e do consumo estão intimamente relacionadas e que, portanto,
o lazer se reveste de significação econômica. Nesse sentido, tal como ocorre no
turismo, passa a existir um mercado para o lazer, no qual, de um lado, ofertantes
oferecem seus serviços a um dado preço em um dado local e, de outro, os
interessados, que demandam por lazer podem consumir bens de lazer mediante
um pagamento. Vale lembrar que, no contexto da economia, a modalidade de
serviços possui características próprias. Assim, para estudarmos o lazer enquanto
modalidade de negócio, consideramos as especificidades desse tipo de serviço,
conforme se apresentam na sequência baseado em Beckers (2000):

a) As vendas, a produção e o consumo dos serviços acontecem quase


simultaneamente.
b) Um serviço não pode ser produzido, inspecionado e estocado – geralmente
é prestado onde está o consumidor, por pessoas que não estão sob o controle
imediato da administração.
c) Um serviço não pode ser demonstrado e tampouco é possível enviar uma
amostra grátis ao cliente para que ele prove esse serviço antes de adquiri-lo.
d) Um cliente, ao receber o serviço, geralmente não tem nada de tangível até que
o serviço tenha sido prestado.

34
TÓPICO 3 — A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

e) A prestação de um serviço geralmente requer certo grau de contato humano.


f) Diferentemente de um mau produto, um mau serviço não pode ser substituído.
g) Há limites para a padronização de um serviço: quanto mais autêntico,
personalizado, espontâneo e adequado ao cliente o serviço for, mais valor ele
terá para o ciente.

De forma semelhante, as características do serviço turístico, o lazer


enquanto modalidade de negócio também apresenta atributos que o diferenciam
claramente da modalidade de produtos.

Andrade (2001) sustenta que os desejos e as necessidades de lazer, unidos


à capacidade econômico-financeira, determinam e direcionam a escolha dos
muitos tipos de repouso. Tais desejos e necessidades são fundamentais para a
determinação e o alcance do número de pessoas que poderão efetivar aquilo que
pretendem, obedecendo sempre a lógica da oferta e da procura.

Ainda que a escolha por determinados tipos de lazer dependa do poder


aquisitivo da pessoa, existe uma série de outros componentes que interferem
na escolha de consumo, muito além dos financeiros. Andrade (2001) elenca
quinze motivos que levam as pessoas a consumirem determinado tipo de lazer,
acompanhe na sequência:

1. A liberdade.
2. A paz de espírito.
3. A companhia agradável.
4. A ausência de problemas.
5. A solitude.
6. A convivência comunitária.
7. A conveniência econômica.
8. A conveniência financeira.
9. As situações novas.
10. As expectativas de conforto.
11. O poder aquisitivo.
12. O desejo de rupturas.
13. O desejo de aparecer.
14. O amor.
15. A paixão.

Você pode observar que vários fatores interferem no momento de tomada


de decisão sobre o consumo de serviços de lazer.

35
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

5 EMPREENDIMENTOS DE LAZER
Na sequência, apresentam-se algumas modalidades de empreendimentos
em lazer para ilustrar quão amplo é o segmento.

Bares e restaurantes

Sob o ponto de vista teórico, os estabelecimentos de alimentação


podem ser considerados um equipamento de lazer em si, pois, como se sabe, se
alimentar constitui-se de uma necessidade fisiológica básica e comer não significa
necessariamente se divertir. Contudo, na prática, é sabido que muitas pessoas
incluem a ida a bares e restaurantes como uma alternativa de lazer, pois além
de simplesmente buscarem o alimento, as pessoas procuram nesses espaços
realizar encontros sociais, serem vistas, ouvir música, apreciar a decoração,
enfim, se divertir. Nesse sentido, cresce o número de restaurantes especializados
revestidos de uma esfera de descontração, alegria ou sofisticação, dependendo do
seu público-alvo.

Vale a pena lembrar que existem vários tipos de restaurantes, vamos


revisá-los rapidamente de acordo com Vasconcelos (2006):

a) Restaurantes étnicos: resultaram das grandes migrações do século XIX e XX;


como explica o autor, indianos que migraram para Inglaterra, assim como
espanhóis, portugueses e italianos que migraram para a América e para a
Austrália, criaram restaurantes que ofereciam comidas típicas. Na atualidade,
envolve tanto estabelecimentos de luxo, e, portanto caros, e como outros menos
sofisticados e de baixo custo. Estão incluídos nesse grupo os restaurantes
regionais (mineiro e baiano, por exemplo) e os restaurantes turísticos.
b) Restaurantes self-service ou autosserviço: referem-se àqueles estabelecimentos
nos quais o próprio cliente se serve, sem contar com o apoio de um funcionário,
dispondo de buffet quente e frio. Pode ter um preço predeterminado (fixo)
por refeição e a pessoa pode se servir à vontade, ou pode pagar por quilo,
dependendo da quantidade consumida.
c) Restaurantes temáticos: são conhecidos por fazerem parte de roteiros
gastronômicos de todo o mundo. Caracterizam-se por recuperar e criar o
cenário local, ofertando aos clientes produtos alimentares especializados.
Não só a comida é especializada, mas também todo o espaço é decorado e
apresenta atrações características de cada localidade, em alguns casos dispõem,
por exemplo, de garçons vestidos a caráter, para lembrar a construção da
regionalidade.
d) Restaurantes fast food: não é um restaurante onde se come depressa, mas, sim,
aquele onde a comida é preparada rapidamente. Apresenta como característica
um cardápio reduzido. Podem oferecer, em alguns casos, serviços adicionais,
como brinquedos para crianças; computadores com acesso à internet; locais
para leitura; principais jornais e revistas e até mesmo telefones.

36
TÓPICO 3 — A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Geralmente, os restaurantes que mais se aproximam do lazer são aqueles


que possuem atributos para além da comida em si. Existem estabelecimentos, por
exemplo, que funcionam até determinado horário e à medida que a noite avança,
transformam-se em baladas, com espaço para a dança, diminuição na iluminação
e aumento no volume da música.

Andrade (2001) explica que quando as pessoas saem de casa para ir a


um restaurante com a finalidade exclusiva de facilitarem o relacionamento ou
mudar de ambiente para se descontraírem, pode haver uma modalidade de lazer.
Contudo, quando elas saem de casa simplesmente porque a refeição estará pronta
ou porque querem evitar ir à casa de alguém do círculo de familiares e colegas
porque não se sentem bem recebidos, as conotações de um encontro em local
neutro podem ensejar efeitos desagradáveis.

Bibliotecas

Os conjuntos sistematizados de acervos arquivos-documentais são


fundamentais para o conhecimento e compreensão da história e tradição de
determinada sociedade. As bibliotecas podem ser públicas, particulares ou
comunitárias e servem tanto para pesquisas de trabalho e estudo como também
se constituem uma alternativa de entretenimento e lazer (ANDRADE, 2001).

Cassinos

Os cassinos são estabelecimentos nos quais as pessoas se reúnem para


jogar. É um tipo de estabelecimento que incita polêmicas, pois a maioria dos jogos
que se realiza é de azar e precisam de uma regulamentação jurídica para poder
funcionar, dependendo do país ou estado em que esteja situado. Nesses espaços,
a jogatina acontece através do uso de dinheiro e apostas.

No Brasil, os cassinos são proibidos por lei. Entretanto, é inegável que


muitas pessoas apreciam esse tipo de passatempo e que, por tal motivo, existem
destinos turísticos especializados em cassinos e hotéis-cassino. Las Vegas é uma
figura icônica no segmento de cassinos.

Cartódromo ou kartodromo

Cartódromos são estabelecimentos dotados de pistas para treinos e


corridas de kart. Inspirado nas competições de automobilismo, as corridas de
kart vem se tornando uma forma de lazer bastante requisitada, principalmente
para o público masculino. Normalmente, é possível participar da corrida a partir
dos doze anos e são organizadas baterias de corrida entre um grupo de amigos.
Em tais espaços, existe uma infraestrutura de apoio com vestiários e lanchonetes,
para tornar a atividade mais confortável e atraente. É uma modalidade de lazer
com uma boa dose de competição.

37
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

FIGURA 4 – KARTÓDROMO DE INTERLAGOS - SP

FONTE: <http://www.premiuminterlagos.com.br/index.php>. Acesso em: 11 jan. 2012.

Cinemas

Segundo Rosenfeld e Fernandes (2002, p.13), “cinemas são imagens


fotográficas em movimento, projetadas em uma tela a uma determinada
velocidade”. Trata-se de uma forma de arte que, além das imagens, utiliza som
e outros instrumentos para nos contar uma história. Sua principal característica
é mostrar visualmente todo o contexto dramático da história para quem assiste
a ele.

O hábito de ir ao cinema é uma das modalidades de lazer mais conhecidas


e comuns em nosso contexto cultural. Muitas pessoas se queixam dos preços dos
ingressos por considerá-los bastante elevados e existem políticas que buscam
tornar essa forma de arte mais acessível, praticando preços mais acessíveis para
estudantes e pessoas da terceira idade.

Ao comentar sobre o desenvolvimento do cinema, Rosenfeld e Fernandes


(2002) explicam que isso se deve inicialmente aos estudiosos que formularam
as primeiras teorias sobre ótica; aos artistas, incluindo aí roteiristas, diretores,
equipe e atores; e aos empreendedores responsáveis por planejar, distribuir e
exibir os filmes. O cinema carece do aval do público, pois é dele que provêm os
fundos necessários para que as empresas de cinema possam dar continuidade
ao seu trabalho. Por isso, o que se espera ao lançar um filme é que ele seja um
sucesso de bilheteria.

Nos últimos anos, a arte do cinema vem se especializando e cresce o


número de salas que exibem filmes em três dimensões, salas amplas com telas
gigantescas e ainda, o chamado cinema vip, que dispõe de salas de luxo, com
poltronas amplas e reclináveis além de diferencias como espumantes e garçons
para tornar o ambiente mais sofisticado.

38
TÓPICO 3 — A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Circo

O circo é um equipamento de lazer muito antigo. Combinando atrações


engraçadas, como os palhaços; atrações de risco, trapézios, atiradores de facas,
animais ferozes; com números de música e dança, atraíram crianças e adultos ao
longo do tempo. De acordo com o dicionário Aurélio (2009), trata-se de um recinto
formado por uma armação desmontável, coberta de lona, de forma circular, para
espetáculos acrobáticos, cômicos, equestres etc. Normalmente, trata-se de uma
companhia itinerante que congrega um grande número de artistas.

No Brasil e em vários lugares do mundo, os circos já foram alvo de inúmeras


críticas, por não oferecerem condições de vida digna para os seus funcionários,
além de cometerem uma série de maus-tratos com os animais, como a ingestão
de alimentos estragados e violência no processo de treinamento e adestramento.
Por tais motivos, muitas pessoas deixaram de gostar das atrações circenses.
Atualmente, existem leis e fiscalizações que são realizadas para assegurar que as
atividades do circo ocorram em um espaço saudável e agradável para todos os
seus integrantes.

Algumas companhias circenses adquiriram fama e renome internacional,


como é o caso do canadense Circo de Soleil (Cirque Du Soleil). Trata-se de uma
companhia em todo o mundo pelo entretenimento artístico de alta qualidade.
Desde a sua fundação em 1984, o Cirque  du  Soleil procurou sempre evocar a
imaginação, invocar os sentidos e provocar emoções em pessoas de todo o mundo.
Em 1984, 73 pessoas trabalhavam para o Cirque du Soleil. Atualmente, a empresa
tem 5000 funcionários em todo o mundo, incluindo mais de 1300 artistas e mais
de 100 milhões de espectadores assistiram a um espetáculo do Cirque du Soleil
desde 1984. (CIRQUE DU SOLEIL, 2012).

FIGURA 5 – CIRQUE DU SOLEIL, 2012

FONTE: <http://www.cirquedusoleil.com/pt/home.aspx#/pt/home/about/details/cirque-du-
soleil-at-a-glance.aspx>. Acesso em: 10 jan. 2012.

39
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

DICAS

Se você quiser conhecer melhor a história do circo ao longo do tempo e


aproveitar para se divertir, assista ao filme Água para Elefantes.

Clubes

Existem diversos tipos de clubes. Trata-se de uma palavra abrangente.


Ela poderia remeter à ideia de clube de futebol ou clube do livro. Nesse item, a
intenção é comentar a respeito dos clubes que possuem sede física e administrativa,
normalmente equipado com piscinas, saunas, quadras esportivas, churrasqueiras,
pistas de caminhada e parquinhos infantis.

Quase todas as cidades possuem clubes e muitas congregam uma porção


deles. Trata-se de um equipamento muito utilizado para o lazer, pois permite a
prática de lazer, o convívio social além da realização de festas e eventos, como
casamentos e bailes. Cada clube possui suas regras próprias para regulamentar o
número de sócios e as regras de utilização de suas dependências.

Danceterias e casas noturnas

Esse é um tipo de equipamento de lazer amplamente conhecido, sobretudo,


entre os jovens. Conforme o nome sugere, refere-se a um empreendimento
destinado ao encontro de pessoas com a finalidade de dançar, beber, serem
vistas e se divertirem. Em tempos da explosão das redes sociais, assumem ainda
a finalidade de ser o cenário de várias fotos e poses, para que no dia seguinte,
conhecidos ou desconhecidos possam acompanhar e comentar o destino da
noite anterior. O consumo dessa modalidade de lazer faz sentido por si só e pelo
reconhecimento pelos pares, quer dizer, para muitos jovens é relevante que seus
colegas fiquem sabendo e achem ‘legal’ a balada escolhida no último final de
semana. Trata-se de um mercado que reúne diferentes tipos de empreendimentos,
alguns sofisticados, outros despojados, focados em música eletrônica, sertanejo
universitário, pagode, rock ou em um estilo mais lounge, entre outros. Em suma,
existem opções para todos os gostos.

Um fato curioso é que ao longo dos anos, os horários das baladas vêm se
alterando, com as festas começando cada vez mais tarde. Em algumas cidades,
é comum antes de ir para as discotecas ou casas noturnas fazer o chamado
‘esquenta’, reunião de amigos para tomar alguns drinks para então seguir para a
festa em si, depois da meia-noite.

40
TÓPICO 3 — A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Hotéis de lazer

Hotéis de lazer são os meios de hospedagem que, conforme o próprio


nome sugere, dispõem de uma infraestrutura de lazer para os seus hóspedes.
Nesses estabelecimentos, é comum a presença de piscinas, saunas, quadras
esportivas, restaurantes temáticos, sala de jogos, salas de massagem, ofurôs,
parquinhos para as crianças, pistas para caminhada, redes e poltronas ao ar livre,
lagos para pesca, entre outros.

Além dos referidos equipamentos, existem profissionais especializados


em oferecer uma programação de lazer, como recreadores e animadores e agenda
de lazer e programada de acordo com cada faixa etária. Os resorts são uma
expressão icônica desse tipo de empreendimento.

Museus

Pires (2001) discorre sobre a questão da visitação dos museus brasileiros


e sustenta que pouco importa se um museu possui um acervo de conteúdo geral
ou específico. Para o autor, o mais relevante é buscar entender se esse acervo
tem sua visitação maximizada em função de seus atrativos e de suas condições
técnicas. Faz-se necessário enfatizar o que o lugar tem a oferecer e de que forma
tais conteúdos são apresentados ao público.

Museus, em sua concepção tradicional, local de silêncio absoluto com


dezenas de relíquias expostas, parecem perder seu poder de encantamento. Em
vários países e em alguns casos brasileiros, ocorre uma verdadeira remodelação
dos museus, planejados para oferecer visitações mais interativas.

Pires (2001) comenta que alguns museus tentaram se atualizar com o


intuito de apresentar temáticas mais em conformidade com a nova historiografia,
centrando-se, contudo, apenas no intelecto, na razão crítica. Painéis fotográficos
com extensas legendas podem ser interessantes para algumas pessoas, mas
dificilmente prenderão a atenção de adolescentes, por exemplo.

Museus mais modernos já se atentaram para essa realidade e vêm se


esforçando para empreender novas formas de exposição e apresentação de seus
acervos. O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, é um ótimo exemplo a
ser seguido. Se você ainda não teve a oportunidade de visitá-lo, faça uma visita
virtual para ver uma amostra do que ele guarda, entrando no site http://www.
museulinguaportuguesa.org.br/.

41
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

FIGURA 6 – MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA EM SÂO PAULO

FONTE: <http://www.museulinguaportuguesa.org.br/>. Acesso em: 11 jan. 2012.

No bojo do turismo, a visitação aos museus é uma atividade bastante


conhecida, pois quando se está numa cidade, estado ou país diferente, é comum
ter curiosidade em conhecer um pouco da história local. Ocorre que, muitas
vezes, as pessoas deixam de visitar os museus de sua cidade ou dos municípios
vizinhos, realizando apenas visitas obrigatórias durante o período escolar. Não
deixe de visitar e apreciar os atrativos e equipamentos de lazer próximos a sua
residência, porque você pode perder a oportunidade de se distrair e aprender
mais sobre sua própria herança cultural.

Parques aquáticos

São empreendimentos que possuem como atrativo principal a


água, reunindo várias piscinas, tobogãs, escorregadores, trampolins, entre
outras atrações aquáticas. Além das piscinas, os parques aquáticos possuem
infraestrutura adequada para receber os visitantes, dispondo de guarda-vidas,
estacionamento, vestiários, duchas e serviço de bar e cozinha. Existem parques
aquáticos de diferentes tamanhos, desde pequenos negócios com duas ou três
piscinas até grandes e famosos parques, capazes de atrair um grande fluxo de
turistas. Os parques aquáticos são um equipamento de lazer comum em nosso
país, devido ao clima quente e tropical. Em parques aquáticos de porte médio ou
grande, existem recreadores e animadores para incentivar e estimular a recreação
de crianças e adultos.

42
TÓPICO 3 — A IMPORTÂNCIA DO LAZER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

FIGURA 7 – BEACH PARK FORTALEZA

FONTE: <http://www.beachpark.com.br/site/pt/home/home.asp>. Acesso em: 11 jan. 2012.

Parques de diversão

Empreendimento amplamente conhecido que abarca atrações e brinquedos


normalmente focados em crianças e adolescentes. É um tipo de negócio que
vem crescendo muito nos últimos anos e para além das atrações tradicionais,
como carrossel, roda-gigante e montanha-russa, passaram a oferecer inúmeros
brinquedos cada vez mais tecnológicos e radicais, somado a apresentações
artísticas, shows diversos, variadas opções de alimentação, lojas de souvenir
e muito mais. No Brasil, Hopi Hari, Play Center e Beto Carreiro são exemplos
representativos dessa modalidade de negócio. Internacionalmente, a Disney e
todo o complexo de parques de Orlando (EUA) fazem parte do imaginário e do
sonho de consumo de muitas crianças, adolescentes e até mesmo de adultos.

FIGURA 8 – DISNEY PARK

FONTE: <http://disneyparks.disney.go.com/>. Acesso em: 11 jan. 2012

43
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Pesque e pague

Os “pesque e pague” são um tipo de empreendimento destinado às


pessoas que gostam de pescar e permite, além disso, que, na maioria das vezes,
o pescador não volte para casa de mãos vazias. Tais espaços são formados
por um conjunto de lagos e lagoas repletos de peixes, além de dispor de uma
infraestrutura de apoio, como sanitários, lanchonete, estacionamentos etc. No
“pesque e pague”, aquele que deseja pescar normalmente encontra tudo o que
precisa para a sua diversão, como iscas, varas de pesca e anzóis. Conforme o
nome sugere, ao final da pescaria, o pescador pesa seus peixes e pagará o valor de
acordo com a quantidade pescada. Os peixes mais comuns de serem encontrados
nesses locais são as carpas, tilápias, bagres, tambaquis, entre outras espécies,
dependendo de cada região. Buscando por diferenciais competitivos, alguns
“pesque e pague” oferecem a comodidade de limpar os peixes capturados além
de ofertar a possibilidade de prepará-los na hora, se assim o cliente desejar.

Teatros

Os teatros são um dos espaços de lazer mais antigos e tradicionais


que existem. Presentes em muitas cidades, são espaços que contam um pouco
da história local e servem de palco para manifestações artísticas diversas, por
exemplo, concertos de orquestras, apresentações de dança, coral, sapateado além
dos espetáculos teatrais entre outras modalidades. Antigamente (e ainda existem
resquícios desse pensamento), o teatro era visto como um local luxuoso e nobre,
ou seja, não acessível a todos. Atualmente, várias ações vêm sendo realizadas para
alterar esse quadro, como a realização de apresentações a preços populares e com
entrada franca.

44
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A finalidade do lazer é conseguir a desaceleração das atenções pessoais, sejam


estas de natureza profissional ou não, distanciando-se das atividades rotineiras.

• Genericamente, as pessoas buscam quatro grandes motivações no lazer: a


aventura, a competição, a vertigem e a fantasia.

• Qualidade de vida é a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no


contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

• Diferentes aspectos da vida de uma pessoa devem ser ponderados para


mensurar seu nível de qualidade de vida.

• Os serviços de lazer possuem características específicas que precisam ser


levadas em conta para compreender a dinâmica do mercado existente em torno
do lazer.

• Ainda que a escolha por determinados tipos de lazer dependa do poder


aquisitivo da pessoa, existe uma série de outros componentes que interferem
na escolha de consumo, muito além dos financeiros.

• Existem vários tipos de empreendimentos de lazer, alguns voltados


especificamente para os turistas e outros para a comunidade de modo geral.

45
AUTOATIVIDADE

1 Qual a importância do lazer para a sociedade?

2 Cite duas motivações comuns das pessoas que buscam o lazer, de acordo
com o conteúdo estudado no tópico.

3 De acordo com Organização Mundial de Saúde, qual o conceito de qualidade


de vida?

4 Cite quatro fatores que podem influenciar a qualidade de vida de uma


pessoa.

5 Qual é a relação entre lazer e qualidade de vida?

46
TÓPICO 4 — O
UNIDADE 1

O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
As discussões sobre o tema do lazer perpassam por várias áreas do
conhecimento, como o turismo, a economia, a psicologia, a educação física e
a sociologia. Neste tópico, vamos lançar um olhar especial sobre essa última
disciplina a fim de entender que papel cumpre o lazer no contexto social.

2 AS ABORDAGENS TEÓRICAS DO LAZER


Conforme você pode ver, existe uma relação muito estreita entre o lazer e
o trabalho desde o início dos tempos. Aliás, vimos que a noção de lazer em si, tal
como a concebemos atualmente, existe a partir da Revolução Industrial.

Na atualidade, vivencia-se, contudo, uma crítica entre os teóricos do


assunto, que em termos simples, pode ser colocado da seguinte forma: de um
lado, existem aqueles que defendem o lazer baseado na sua capacidade de relaxar
o indivíduo e como uma forma de repor suas energias para realizar seu trabalho
da melhor forma possível (Luiz Otávio Lima Camargo, por exemplo) e, de outro,
uma corrente que entende o lazer como parte da cultura vivenciada (Nelson
Carvalho Marcellino).

Padilha (2002) aborda tal questão e explica que, muitas vezes, o lazer acaba
se configurando como residual, como compensatório, sendo considerado como
uma fonte de recuperação de energias que se perdem no trabalho ou no tempo
de realizar obrigações. Nesse sentido, o quadro que se forma é funcionalista, isto
é, o lazer é encarado como um remédio capaz de curar os males que a sociedade
provoca.

Do outro lado, os que entendem que o lazer é um desdobramento da cultura


social existente, clamam por educação voltada para o mesmo. De acordo com
Marcelino (2000), a educação para o lazer tem como objetivo formar o indivíduo
para que viva o seu tempo dispo­nível da forma mais positiva, através de um
processo de desenvolvimento total no qual a pessoa amplia o conhecimento de si
próprio, do lazer e das relações do lazer com a vida e com o tecido social.

47
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Visando elaborar critérios e estabelecer parâmetros para a educação para o


lazer, a Associação Mundial de Recreação e Lazer elaborou a Carta Internacional
de Educação para o lazer. De acordo com o documento (ASSOCIAÇÃO
MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER, 1993, p. 1):

A finalidade desta Carta é informar aos governos, às organizações não


governamentais e às instituições de ensino a respeito do significado
e dos benefícios do lazer e da educação para e pelo lazer. É também
orientar os agentes de educação, incluindo as escolas, a comunidade e
as instituições envolvidas na capacitação de recursos humanos sobre
os princípios nos quais poderão se desenvolver políticas e estratégias
de educação para o lazer.

Neste limiar, o referido documento preocupa-se em evidenciar a noção


de educação para o lazer, entendendo que as condições para o lazer não podem
ser garantidas somente pelo indivíduo, ou seja, o lazer demanda uma ação
coordenada por parte de governos, organizações não governamentais, instituições
de ensino e dos meios de comunicação para preparar o indivíduo para o lazer
(ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER, 1993).

Esclarece ainda que a educação para o lazer deve ser adaptada às


necessidades locais e às demandas de determinados países e regiões, levando-se
em consideração os diferentes sistemas sociais, culturais e econômicos.

A carta apresenta diretrizes para a implementação de projetos de educação


para o lazer em escolas e na comunidade, discutindo as várias etapas que
envolvem os referidos projetos, tais como estratégias de divulgação e marketing,
plano de comunicação, recursos humanos necessários, entre outros.

DICAS

Acesse o documento na íntegra e discuta com seus colegas os aspectos


apresentados no documento. A Carta Internacional de Educação para o Lazer encontra-
se disponível em: <http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.
asp?cod_noticia=195>. Boa leitura!

48
TÓPICO 4 — O O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

3 UM DIALÓGO ENTRE LAZER E RACIONALIDADE


A discussão apresentada na seção anterior, sobre o modo como o lazer é
visto por diferentes autores, contém em sua essência, duas concepções diferentes
de racionalidade. Para você compreender o conceito de racionalidade e qual
a relação entre o tema em análise, vamos fazer uma breve incursão na arena
sociológica.

A reflexão sobre o que seria agir racionalmente tem apresentado variações


ao longo do tempo. Ramos (1989), aludindo ao sentido antigo da palavra razão,
explica que esta era entendida como a capacidade inerente à psique humana, que
habilita o indivíduo a distinguir entre o bem e o mal, entre o conhecimento falso
e o verdadeiro, servindo, assim, para ordenar a vida pessoal e social da pessoa.

A partir dos trabalhos de Thomas Hobbes, a definição de razão torna-se


sistematizada e inspirada no ideário de modernidade, passa a ser compreendida
como a “capacidade que o indivíduo adquire pelo esforço e que o habilita a fazer
o cálculo utilitário de consequências” (RAMOS, 1989, p. 3).

É significativo relatar que a modernidade ocidental levantou a pretensão


de levar a efetivação do ideal de uma civilização da razão, na qual se torne
concreta a conquista do sentido na vida histórica dos homens. Neste limiar, a
crise da modernidade desembocou numa crise do sentido para a vida humana e
constata-se que a meditação sobre o sentido da vida, passa necessariamente, na
atualidade, pela crítica da razão moderna (OLIVEIRA, 1993).

O sociólogo Max Weber (RAMOS, 1989) elaborou dois conceitos:

a) racionalidade instrumental (ou formal): é determinada pela expectativa de


resultados;
b) racionalidade substantiva (de valor): é determinada independentemente
de suas expectativas de sucesso e não caracteriza nenhuma ação humana
interessada na consecução de um resultado anterior a ela.

Cabe citar o trabalho de Mannheim (1986), dedicado a distinguir


as peculiaridades envoltas no conceito de racionalidade. O autor utiliza a
denominação racionalidade substancial e funcional. A primeira diz respeito aos
julgamentos independentes de acontecimentos em determinada situação, isto é,
cada fato é analisado por si só, sem levar em conta experiências anteriores ou com
vistas aos acontecimentos futuros. Em contraposição, a racionalidade funcional
se refere a qualquer conduta, acontecimento ou objeto, na medida em que este é
identificado como sendo apenas um meio de atingir uma determinada meta.

Os atos são racionais quando contribuem para que se logre atingir um


objetivo predeterminado (RAMOS, 1983).

49
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Com base no exposto, é possível concluir que os autores que entendem o


lazer a partir da sua capacidade de tornar o indivíduo revigorado para o trabalho,
pautam-se em um viés instrumental. Por sua vez, quando se compreende
o lazer como parte da cultura vivida, se revestem de uma abordagem teórica
fundamentada na racionalidade substantiva.

Convém apontar que essas duas teorias podem se relacionar entre si,
dependendo da maneira que se trabalha com cada uma delas. Por exemplo, a
ideia de lazer como uma restauração para o trabalho não é equivocada, porém não
é exclusiva, quer dizer, sua única razão de ser. O lazer pode servir para alguma
coisa (racionalidade instrumental) ou não (racionalidade substantiva), ter sentido
por si só, como o desfrutar do ócio, ficar de pernas para o ar, simplesmente pelo
prazer do nada fazer.

É importante reconhecer para fins de análise do mercado turístico que,


para alguns, o lazer é carregado de um significado funcionalista, isto é, só faz
sentido porque é uma forma de se recompor para o trabalho e que, para outros,
o lazer é importante por si só, isto é, não o entendem como uma forma de
recompensa pelo tempo investido no trabalho ou no estudo. Assim, fica lançado o
desafio para você, futuro Gestor de Turismo, no que diz respeito à elaboração de
estratégias voltadas para aprimorar os serviços e produtos de lazer para aqueles
que já o praticam e para conquistar aqueles que ainda não o praticam.

50
TÓPICO 4 — O O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

Para ampliar seu entendimento sobre os temas estudados na Unidade 1,


segue, na sequência, um fragmento de um artigo publicado na Revista Mal-Estar
e Subjetividade. Boa Leitura!

ÓCIO, LAZER E TEMPO LIVRE NA SOCIEDADE DO CONSUMO


E DO TRABALHO

Cássio Adriano Braz Aquino e José Clerton de Oliveira Martins

Introdução

A importância de pensar a articulação entre os conceitos de ócio, tempo


livre e lazer no contexto atual se deve, principalmente, ao fato de o trabalho – que
ocupou o lugar de atividade central na inserção social e constituir fator fundamental
da produção subjetiva ao longo da sociedade moderna – ser questionado
como atividade dominante. Essa referência de dominância está caracterizada,
principalmente, por ser a atividade laboral o elemento que demarca a estruturação
dos quadros temporais das sociedades Pós-Revolução Industrial, tal como afirma
a sociologia do tempo e, de forma destacada, os teóricos contemporâneos dos
tempos sociais (Roger Sue, Gilles Pronovost, Giovanni Gasparini, Ramos Torre,
dentre outros).

A partir das teorias dos tempos sociais, surge, então, uma pergunta que
parece crucial para reiterarmos a importância de caracterizar esses três conceitos,
que dão título ao artigo, a saber, ócio, tempo livre e lazer. Considerando que, ao
longo da sociedade industrial, foi o trabalho a atividade que ocupou a centralidade
na organização da temporalidade social, seria o ócio a atividade que ocuparia
na sociedade pós-industrial o lugar que foi ocupado pelo trabalho na sociedade
industrial? A atividade social e o tempo que a demarca precisam ser postos em
discussão para que tenhamos elementos para a formulação de uma análise crítica
do contexto social em que hoje vivemos.

O fator temporal passa por metamorfoses significativas, iniciadas no


momento em que o homem resolve medir o tempo cotidiano e quantificar o
tempo social na sociedade industrial, chegando à comercialização do próprio
tempo, que se torna uma mercadoria e passa a ter valor econômico.

Neste espaço, surge à pressa como um fenômeno típico da atualidade e


como mola mestra para os avanços tecnológicos que fabricam equipamentos para
poder ganhar mais tempo.

51
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Os telefones celulares, o fax, o pager, a internet, entre outros, são mecanismos


que marcam essa busca incessante por mais tempo, porém, paradoxalmente,
o homem termina por preencher esse tempo disponível com mais atividades e
afazeres.

No caos entre necessidades econômicas e existenciais, o homem


contemporâneo se vê dividido entre as obrigações impostas por suas atividades
laborais e o desejo de libertar-se dessas tarefas e, assim, poder usufruir um tempo
para si.

No entanto, todo processo de educação/formação/orientação da sociedade


moderna gerou os valores da atual sociedade do consumo, não contempla a
orientação para ser/existir num tempo de “nada fazer”.

A maior ou a menor variação desse tempo na vida dos indivíduos


organiza-se e estrutura-se de acordo com padrões assimilados sobre como se
deve dispor o tempo para as diversas atividades, além de como o sujeito valora o
sentido do tempo cotidiano para si. Desta maneira, as diferentes formas de sentir,
pensar, agir e estabelecer o tempo seguem padrões culturais que se refletem na
ação do sujeito.

Munné (1980) apresenta uma tipologia do tempo social, que se revela


através de quatro tipos fundamentais: o primeiro é o tempo psicobiológico, que
é ocupado e conduzido pelas necessidades psíquicas e biológicas elementares,
o que engloba o tempo de sono, nutrição, atividade sexual etc. Esse tempo se
condiciona endogenamente, é um tempo individual.

A segunda tipologia seria o tempo socioeconômico, que diz respeito


ao tempo empregado para suprir as necessidades econômicas fundamentais,
constituídas pelas atividades laborais, atividades domésticas, pelos estudos,
enfim, pelas demandas pessoais e coletivas, sendo que esse tipo de tempo está
quase que inteiramente heterocondicionado, somente sendo autocondicionado
nas circunstâncias que visam à realização pessoal.

A terceira tipologia seria o tempo sociocultural, sendo aquele dedicado


às ações de demandas referentes à sociabilidade dos indivíduos que se refere aos
compromissos resultantes dos sistemas de valores e pautas estabelecidos pela
sociedade e objeto maior de sanção social. Esta categoria de tempo tanto pode
ser heterocondicionado como autocondicionado, podendo existir um equilíbrio
entre os dois polos.

Finalmente, o autor apresenta a quarta categoria, o tempo livre, que se


refere às ações humanas, realizadas sem que ocorra uma necessidade externa.
Neste caso, o sujeito atua com percepção de fazer uso desse tempo com total
liberdade e de maneira criativa, dependendo de sua consciência de valor sobre
seu tempo.

52
TÓPICO 4 — O O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

O tempo livre deveria ser um tempo máximo de autocondicionamento e


mínimo de heterocondicionamento, isto é, ser constituído por aquele aspecto do
tempo social, em que o homem conduz com menor ou maior grau de nitidez a
sua vida pessoal e social.

No entanto, neste tempo que poderia ser um tempo voltado para o


ócio mais verdadeiro, o consumismo termina por deteriorá-lo, mercantilizá-lo,
coisificando-o e empobrecendo-o de significados.

Encontra-se na literatura que é preciso educar os sujeitos não só para


perceber os meandros do trabalho, mas também para os mais diversos e possíveis
ócios, significa ensinar como se evita a alienação que pode ser provocada pelo
tempo vago, tão perigoso quanto a alienação derivada do trabalho (De Masi,
2000, p. 326).

Segundo Muller (2003), a educação costuma sonegar o direito ao ócio;


observa-se que as escolas tendem a preparar a criança para a importância da
profissão e do trabalho no futuro, isto é, preparam crianças e jovens para a vida
adulta moldada pelo trabalho, porém não há orientação nesse processo para o
uso adequado do tempo de ócio, um fator de vital importância para a edificação
de um indivíduo equilibrado. Isso porque a escola, dentro de uma concepção
moderna, está profundamente demarcada pelo paradigma da produção industrial,
reiterando que atividade social dominante e determinante da configuração social
é o trabalho.

O aspecto educativo também se volta para a qualificação do trabalhador,


mais dirigido para a questão de execução de tarefas, limitando seu potencial
criativo, submetendo-o ao limite de suas habilidades, àquela ou a esta função.

Em Elogio ao Ócio, Russell critica de forma categórica a concepção


estritamente utilitária da educação, afirmando que esta ignora as necessidades
reais dos sujeitos e que os componentes culturais na formação do conhecimento
se ocupam em treinar os indivíduos com meros propósitos de qualificação
profissional, esquecendo, desta maneira, os pensamentos e desejos pessoais dos
indivíduos, levando-os a ocuparem boa parte de seu tempo livre com temas
amplos, impessoais e sem sentido (2002: 37).

Sobre ócio, tempo livre e lazer

A compreensão do conceito de ócio surge na contemporaneidade, um


pouco obscura, haja vista a amplitude que o termo possibilita pelos sentidos
diversos que toma, de acordo com as realidades de abordagens e interesses
intrínsecos.

Em nossas investigações, encontram-se três termos que, cotidianamente,


aparecem como sinônimos, inclusive, muitas vezes, especialistas os utilizam como
equivalentes. No entanto, sabe-se que tais termos possuem diferentes sentidos e,
para seguir em frente é melhor esclarecer. Os termos são: ócio, tempo-livre e lazer.

53
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

Como se pode observar, no Brasil, no sentido corriqueiro, as palavras ócio


e lazer aparecem como semelhantes. O termo tempo livre também está carregado
dos mesmos sentidos, embora fique evidente, já nas primeiras aproximações, que
os fenômenos lazer e ócio necessitam de um tempo liberado ou livre e resguardam
relação com liberdade.

Estudos atuais evidenciam que ambos são muito diferentes pelo contexto
de liberdade que invocam. No caso, um se apresenta na dinâmica social brasileira
carregado dos valores do capital, relacionando-se diretamente com tempo de
reposição de energia para o trabalho. O outro envolve um sentido de utopia
por orientar a uma liberdade supostamente, longe de ser alcançada, haja vista a
própria dinâmica socioeconômica preponderante.

Em Munnè (1980) e Gómez (1992), encontra-se uma relação forte da


palavra ócio em espanhol com a palavra grega scholé, carregada do sentido
de um lugar para o livre desenvolvimento individual. Remonta ao processo
educativo daquela civilização. Gómez (1992) sugere que nesta palavra grega está
a origem etimológica e sentido primeiro da palavra “escola” em vários idiomas
modernos, como: school no inglês, école no francês, escuela no espanhol e “escola”
no português.

O termo lazer é atualmente utilizado de forma crescente, podendo


ser empregado em sua concepção real ou ser associado a palavras como
entretenimento, turismo, divertimento e recreação, porém o sentido do lazer é
tão polêmico quanto a origem e o sentido do termo ócio.

Por outro lado, a palavra ócio resguarda valores negativos apregoados


pela influência religiosa puritana, pela própria história da industrialização
e modernização brasileira, ao longo da qual se pode observar, claramente, o
surgimento de uma nova ordem entre empresários e empregados, operários e
patrões e a necessidade de controle social no tempo fora do trabalho, para garantir
a ordem numa sociedade elitista, herdeira de valores colonialistas.

Faz-se necessário declarar outra fonte de equívocos na compreensão dos


referidos termos no Brasil. Trata-se das traduções de obras originadas da produção
científica espanhola e italiana que trazem a utilização do termo ócio com o mesmo
sentido atribuído ao termo lazer, basta observar a obra de Domenico de Masi
(2000; 2001), difundida no Brasil intensivamente, a partir da década de 90. E ainda
outras, como Puig e Trilla (2004), De Gracia (1966), apenas para citar algumas.

Sabe-se que, nas sociedades pré-industriais, as atividades lúdicas, hoje


atribuídas ao lazer, estavam ligadas ao culto, à tradição, às festas e não existia de fato o
lazer em si, pois as atividades de trabalho envolviam ludicidade e prazer criativo.

54
TÓPICO 4 — O O LAZER NO CONTEXTO SOCIAL

O trabalho e o lazer se intercalavam no cotidiano do indivíduo. O trabalho


e o tempo subjetivo eram difíceis de serem percebidos separadamente, pois ambos
possuíam intrínsecas relações. É curioso perceber que, em sociedades onde a
industrialização não foi hegemônica, essa relação do caráter lúdico e criativo, que
hoje se associa ao lazer, está presente em atividades laborais, que não compõem o
modelo industrial de produção.

Elungu (1987), ao discorrer sobre a estrutura temporal em algumas


sociedades africanas, fala da dificuldade de adaptação de tribos ao modelo
de divisão do tempo imposto pela organização produtiva industrial, e,
consequentemente, a resistência dos indivíduos a desvincular sua atividade
produtiva dos prazeres lúdicos. Em algumas dessas sociedades, não há categorias
distintivas entre o trabalho e o lazer.

O ócio é tão antigo quanto o trabalho, porém, somente após a Revolução


Industrial, com o surgimento do chamado tempo livre, que representa uma
conquista da classe operária frente à exploração do capital, é que foi evidenciado,
ocorrendo a nítida separação entre tempo-espaço de trabalho (produção) e lazer
(atividades contrárias ao trabalho) enquanto tempo para atividades que se voltam
para a reposição física e mental.

[...]

Novos investigadores surgem aportando abordagens críticas aos estudos


do lazer no Brasil, explicitando a necessidade de visualizar o fenômeno como fruto
de um processo econômico social específico brasileiro, chamando atenção para a
necessidade de observar o fenômeno enquanto elaboração social, orientado pela
dominação, alienação produzida pela relação capital-trabalho da qual, segundo
suas afirmações, não se deve fugir.

Nesse sentido, ressalta-se o trabalho de Mascarenhas (2005) e Marcassa


(2002), em que se observam colocações como esta:

[...] sobre o que é o lazer, é comum ainda encontrarmos respostas


que o associam à participação e ao desenvolvimento, dentre outras
possibilidades que evidenciam seu potencial formativo, mas o fato
é que tendencial e predominantemente o que ele constitui mesmo
é uma mercadoria cada vez mais esvaziada de qualquer conteúdo
verdadeiramente educativo, objeto, coisa, produto ou serviço em
sintonia com a lógica hegemônica de desenvolvimento econômico,
emprestando aparências e sensações que, involucralmente, incitam
o frenesi consumista que embala o capitalismo avançado. [...] o que
estamos querendo dizer é que num movimento como nunca antes se
viu o lazer sucumbe de modo direto e irrestrito à venalidade universal.
A mercadoria não é apenas uma exceção no mundo do lazer como
antes, mas sim a regra quase geral que domina a cena histórica atual.

55
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LAZER

A palavra ócio, derivada do latim otium, significa o fruto das horas vagas,
do descanso e da tranquilidade, possuindo também sentido de ocupação suave
e prazerosa, porém, como ócio, abriga a ideia de repouso, confunde-se com
ociosidade.

Com a Revolução Industrial, um novo conceito de ócio se torna evidente,


um conceito oposto ao de ócio contemplativo grego, impregnado da mentalidade
puritana, “pai de todos os vícios”. Desta forma, o trabalho se torna a fonte de
todas as virtudes, e a jornada de trabalho aumenta de maneira assustadora,
gerando, assim, descompensações psicossomáticas na grande maioria das
pessoas, conforme defendem Paul Lafargue e Bertrand Russell (em De Masi, 2001),
ferrenhos críticos da mistificação do trabalho e de seu excesso desnecessário.

O ócio, na atualidade, tem sido fonte de polêmica. Sabemos que a redução


da jornada de trabalho gerou o tempo livre, assim como a problemática com
relação a sua utilização adequada.

A década de 1990 coloca a palavra ócio em moda no Brasil, fruto das


publicações do sociólogo Domenico de Masi, que apregoa sua ideia de ócio
criativo como um modelo a ser perseguido por pessoas e organizações, na busca
de um modo de viver e trabalhar criativamente, a partir da redução do tempo
de trabalho, descentralização da empresa enquanto lugar de trabalho e do
surgimento de uma nova economia centrada no novo tempo livre.

Não se quer, aqui, defender ou atacar este ou aquele pensamento.


Pretende-se demonstrar as principais ideias sobre o fenômeno ócio e lazer que
interferem na compreensão geral do tema no Brasil.

FONTE: AQUINO, Cássio Adriano Braz; MARTINS, José Clerton de Oliveira. Ócio, lazer e tempo
livre na sociedade do consumo e do trabalho. Revista Mal-estar e subjetividade. Fortaleza, v.7,
n. 2, p. 479-500, set. 2007. Disponível em: <http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/dcefs/
Prof._Adalberto_Santos/4-ocio_lazer_e_tempo_livre_na_sociedade_do_consumo_e_do_
trabalho_22.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2012.

56
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem duas correntes principais de estudos do lazer: de um lado, existem


aqueles que defendem o lazer baseado na sua capacidade de relaxar o indivíduo
e como uma forma de repor suas energias para realizar seu trabalho da melhor
forma possível e, de outro, uma corrente que entende o lazer como parte da
cultura vivenciada.

• Algumas vezes, o lazer acaba se configurando como residual, como


compensatório, sendo considerado como uma fonte de recuperação de energias
que se perdem no trabalho ou no tempo de realizar obrigações.

• Os autores que entendem que o lazer é um desdobramento da cultural social


existente, clamam por educação voltada para este.

• A educação para o lazer tem como finalidade formar o indivíduo para que
viva o seu tempo dispo­nível da forma mais positiva, sendo um processo de
desenvolvimento total através do qual um indivíduo amplia o conhecimento
de si próprio, do lazer e das relações do lazer com a vida e com o tecido social.

• A Carta Internacional de Educação para o Lazer é um documento


importantíssimo, elaborado em 1993, que serve como referência para os debates
em torno do assunto.

• A racionalidade instrumental (ou formal) é determinada pela expectativa de


resultados.

• A racionalidade substantiva (de valor) é determinada independentemente


de suas expectativas de sucesso, e não caracteriza nenhuma ação humana
interessada na consecução de um resultado ulterior a ela.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

57
AUTOATIVIDADE

1 O que quer dizer a expressão “o lazer passa a ser uma atividade


compensatória”?

2 Qual é o sentido de afirmar que o lazer deve fazer parte de uma cultura
vivenciada?

3 Qual é a razão de ser da educação para o lazer?

4 O que se entende por racionalidade instrumental?

5 O que se entende por racionalidade substantiva?

58
REFERÊNCIAS
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trabalho. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

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61
62
UNIDADE 2 —

TEMAS CENTRAIS PARA O


ESTUDO DO LAZER, TURISMO E
GASTRONOMIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• apresentar os diferentes consumidores de lazer, de acordo com a faixa


etária na qual encontram-se inseridos;

• compreender o conceito de recreação e sua relação com o lazer;

• identificar as relações existentes entre esporte e lazer;

• identificar a relação do turismo com gastronomia.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – OS CONSUMIDORES DE LAZER

TÓPICO 2 – RECREAÇÃO E LAZER

TÓPICO 3 – ESPORTE E LAZER

TÓPICO 4 – TURISMO E GASTRONOMIA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

63
64
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

OS CONSUMIDORES DE LAZER

1 INTRODUÇÃO
Cada cultura possui os seus valores definidos. Eles estabelecem correlação
com o sistema técnico vigente, que, em toda sociedade, influi a capacidade de
consumo de bens e serviços, as formas de trabalho e de vida e, especificamente,
a forma de uso do tempo livre (BACAL, 2003). Neste tópico, estudaremos os
diferentes consumidores de lazer.

2 O LAZER E O PÚBLICO INFANTIL E ADOLESCENTE


É certo que os grupos vivenciam a cultura de acordo com a faixa etária
na qual estão inseridos. Por isso, é fácil compreender que para crianças, jovens,
adultos e idosos as experiências de lazer são vividas e sentidas de acordo com
a idade. A própria noção do tempo, considerado livre e disponível, altera-se ao
longo da vida. Para as crianças, atividades recreativas e de lazer são uma forma
de ocupá-las e distraí-las, ou seja, uma alternativa para passar o tempo. Na fase
adulta, geralmente, tomada pelo trabalho, estudos e outras obrigações, o tempo
livre é precioso. Uma tarde de folga passa a ser realmente uma delícia e, um fim
de semana prolongado passa a ser um presente. Já na maturidade, a tendência
é perceber o tempo passar de modo menos acelerado e, então, os momentos
de sociabilidade e de recreio com colegas e amigos passam a ser aguardados e
desfrutados com atenção. Espera-se com alegria o dia da hidroginástica ou o dia
da semana para o encontro com os parceiros do carteado.

As crianças gostam de dedicar o tempo que dispõem em atividades que


permitem o movimento, com liberdade para pular, correr, gesticular, falar e gritar,
sem se preocupar com os limites. Interessa-lhes aquilo que significa a quebra das
normas emanadas em suas casas e nos demais estabelecimentos de socialização
em que vivem ou passam parte de sua vida cotidiana (ANDRADE, 2001).

Dentre as atividades apreciadas pelo público infantil, os jogos infantis


merecem destaque. A transmissão dos jogos tradicionais, em geral, ocorre pela
reprodução popular do saber (oralmente, imitação direta, observação etc.),
usualmente sem uma organização formal de ensino-aprendizagem. Tais formas
espontâneas propiciam um espaço com regras próprias, seguindo sua própria
lógica, sem o controle que julga e avalia (BRUHNS, 1997). Negrine, Bradacz e
Carvalho (2001) comentam que, por meio do brincar das crianças, é possível

65
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

notar as representações simbólicas que predominam em determinadas culturas.


Por meio dos jogos e brincadeiras, as crianças vão aprendendo e solidificando
um repertório de comportamentos, atitudes e valores, tendo assim um relevante
papel social.

Quando o assunto é lazer, as crianças se identificam com todas as diversões e


os variados tipos de recursos que se apresentam como novidade, raridade, esquisitice
ou desafio. Costumam vivenciar o tempo de lazer intensamente, e a fantasia delas é o
elemento dimensionador do universo imaginário (ANDRADE, 2001).

Bruhns (1997) menciona que existe uma orientação deficitária dirigida


às crianças, referente ao desenvolvimento de propostas de lazer para elas. A
criança é tratada não como referência do seu universo, mas como um adulto em
miniatura. Muitos adultos elegem programas para as crianças de acordo com o
seu próprio desejo (por exemplo, o tradicional judô para os meninos e o balé para
as meninas), embora nem sempre exista uma boa aceitação por parte da criança.

Os principais equipamentos de lazer utilizados pelas crianças englobam a


própria área de recreação das escolas maternais e do jardim de infância, o parque
de diversões (sejam de praças ou no prédio onde moram), os clubes associativos,
os parques públicos (com pistas de caminhada, chafariz, árvores etc.), as praças
e as quadras esportivas. Outro equipamento que vem se tornando popular na
idade infantil são as casas de festas, que, além da infraestrutura para realizar
as comemorações de aniversário, contam com inúmeras atrações para entreter
e divertir as crianças, como o fliperama, os labirintos, as piscinas com bolinhas,
cama elástica, escorregadores etc. e todas estas facilidades se reúnem em ambiente
fechado, climatizado e com adultos monitorando. Espaços semelhantes a esses
têm se tornado comum também nos shoppings.

FIGURA 1 – ESPAÇO DE LAZER INFANTIL

FONTE: <https://pix10.agoda.net/hotelImages/390/3906/3906_1209131616007444160.
jpg?s=1024x768>. Acesso em: 30 set. 2020.

66
TÓPICO 1 — OS CONSUMIDORES DE LAZER

Com relação ao lazer na infância, a questão da ludicidade é tomada como


um elemento importante no desenvolvimento e aprendizado infantil. Psicólogos
como Piaget, Wallon e Vygotsky destacam o papel que cumpre o brincar na fase
infantil, atribuindo-lhe papel decisivo na evolução dos processos de maturação
e aprendizagem (NEGRINE; BRADACZ; CARVALHO, 2001). Com relação às
atividades infantis, tais como os jogos e as brincadeiras, estas podem expressar
diferentes significados, entre eles (NEGRINI; BRADACZ; CARVALHO, 2001, p. 37):

a) Experimentar a partir de sensações e estímulos externos.


b) Atrair a atenção dos outros para a atividade que realizam.
c) Imitar aquilo que viram ou veem outra pessoa realizar.
d) Servir como reforço às habilidades já adquiridas.
e) Testar suas habilidades ou adquirir novas.

Na infância, o lazer, os jogos, as brincadeiras e os aprendizados constituem


uma trama que contribui para o desenvolvimento pessoal, de modo que inexistem
barreiras claras que separam uma ação da outra, até porque a própria criança ainda
não possui mecanismos de consciência suficientemente definidos. Por exemplo,
se uma criança for indagada sobre o que mais lhe atrai no parque próximo a sua
casa, ela não terá plena condição de afirmar o quanto exatamente os brinquedos lhe
atraem, se são os colegas que brincam com ela, o sorvete que ela toma quando vai
até lá ou se é a atenção que ela ganha dos pais, que decidem levá-la até lá.

Quanto aos adolescentes, estes se divertem na companhia que eles mesmos


descobrem em seus relacionamentos amistosos, familiares, formais ou informais.
Eles fazem questão de selecionar por conta própria as modalidades de lazer que
consideram interessantes e, muitas vezes, utilizam-nas para a sua autopromoção
(ANDRADE, 2001).

3 O LAZER E OS ADULTOS
Dentre os públicos que desfrutam do lazer, os adultos são aqueles que
apresentam mais dificuldades para desfrutar da atividade em sua plenitude. É um
público difícil de trabalhar porque, considerando algumas exceções, os adultos
tendem a apegar-se a hábitos adquiridos, a pessoas e a atividades as quais se
acostumaram pela rotina, pela conveniência e por necessidades (ANDRADE, 2001).

Para que se vivenciem bons momentos de lazer, é necessário que os


adultos possuam certa disponibilidade para isso, isto é, precisam se permitir o
desfrute do lazer. Nesse sentido, verifica-se que a capacidade lúdica do adulto
está estreitamente relacionada a sua história de vida e faz parte da apropriação de
um saber que, paulatinamente, vai se instalando na conduta do indivíduo, face ao
seu modo de vida (NEGRINI; BRADACZ; CARVALHO, 2001). Certamente, com
dedicação e esforço, novos hábitos podem ser incorporados e atitudes antigas
maléficas para o lazer podem ser deixadas para trás.

67
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

Na fase do tempo livre adulto, quanto ao uso de equipamentos, ocorre


uma diminuição de abrangência devido ao maior envolvimento com o tempo de
trabalho e os equipamentos procurados tendem a ser: clubes associativos, quadras
particulares, parques e praças públicas, academias e cinema (STUCCHI, 1997).

Outro traço característico é que muitos adultos dedicam pouco tempo


para o seu lazer, pois têm grande parte do seu tempo tomado pelo trabalho,
pelas obrigações familiares e, ainda, pelos deveres domésticos. Em nossa cultura,
é comum encontrar pessoas que se preocupam com as atividades de lazer dos
seus filhos, de proporcionar a eles momentos agradáveis nas férias, sem, contudo,
priorizar um tempo só para si, para o desfrute e para se recompor física e
psicologicamente. Entre os adultos, principalmente no caso das mulheres, parece
rondar uma espécie de culpa entorno da questão do lazer.

Dado o grande número de compromissos profissionais, familiares e sociais,


em alguns grupos, falar abertamente que você não abre mão de jeito nenhum de
frequentar a academia duas vezes por semana, soa como demonstração de egoísmo.
Dizer que você quer sair do trabalho e ir direto para a sauna, sem se aborrecer
com pendências do trabalho que podem tranquilamente ser encaminhadas no dia
seguinte, parece pegar mal em alguns ambientes de trabalho, principalmente em
ambientes repletos de colegas viciados em trabalho.

A essa altura, é desnecessário frisar o quanto essa percepção da realidade


é distorcida e prejudicial ao desenvolvimento pessoal. Todas as pessoas precisam
dispor de um tempo para o lazer para a manutenção da sua saúde e para manter
um bom nível de qualidade de vida.

Ocorre também que, a fim de não desejarem correr o risco de serem levados
a reações que possam criar-lhes constrangimentos ou forçar-lhes a rupturas em
seu modo de levar a vida, os adultos costumam fazer de tudo para garantir o clima
de coexistência pacífica (ANDRADE, 2001). Não restam dúvidas que as mutações
do mundo atual vão progressivamente afastando os indivíduos do convívio
social de caráter lúdico, de modo que os tempos modernos impõem outras
formas de lazer, deslocando o eixo do lazer compartilhado para modalidades
individuais (NEGRINI; BRADACZ; CARVALHO, 2001). As formas individuais
de lazer são impulsionadas pela tecnologia, por meio de equipamentos como os
computadores portáteis, tablets, a televisão, os celulares, os videogames entre
outros, fato perceptível já na fase infantil.

Outra questão paradoxal que dificulta o trabalho de lazer com o público


adulto reside no fato que embora não faltem informações e apelos para a
necessidade de se buscar um modo de vida mais saudável, muitos adultos ainda
não despertaram para isso e vêm desenvolvendo péssimos hábitos de vida. Fica
complicado tratar da necessidade de se entreter e relaxar para pessoas que não
conseguem se controlar e estabelecer um padrão de alimentação mais saudável.
Por exemplo, a pessoa sabe que precisa fazer uma dieta para se sentir bem e

68
TÓPICO 1 — OS CONSUMIDORES DE LAZER

melhorar sua saúde: seu cônjuge e seu médico lhe dizem isso, sem contar toda a
informação disponível nos canais de comunicações (internet, revistas, televisão
etc.), contudo, muitas vezes, ela não consegue mudar o seu estilo de vida. O que
falta para convencer uma pessoa assim? A resposta não é fácil e nem evidente. Um
caminho parece ser a insistência e a constante busca por maneiras de sensibilizar
os adultos para os benefícios que o lazer lhes reserva.

4 A TERCEIRA IDADE E O LAZER – ADULTOS DA SEGUNDA


FASE
Nesta etapa da vida, embora alguns autores se utilizassem do termo
“melhor idade”, pois pode ser um momento da vida repleto de boas experiências.
É fato que a maioria dos idosos apresenta-se com algumas ou várias limitações
orgânicas e de saúde, que podem restringir algumas atividades ou impor
condições específicas para a sua realização. Parece irreal e equivocado conceber
que o público mais maduro conta exatamente com a mesma disposição e aptidão
física de um jovem de 25 anos.

O objetivo não é argumentar declarando que o destino dos idosos seriam


as atividades tradicionais e, às vezes, sem graça, como o bingo ou encontros
semanais para tricotar, sabendo que existem muitos que praticam atividades
radicais e adoram se socializar e se divertir. O que se pretende, aqui, é deixar
claro que se trata de um público que demanda cuidados e atenções específicas.

Dados atuais do IBGE revelam o aumento da população idosa no Brasil.


O crescimento da participação relativa da população, com 65 anos ou mais, era
de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e, chegando a 7,4% em 2010. Um
detalhe é que a região Norte, apesar do contínuo envelhecimento observado nas
duas últimas décadas, ainda apresenta uma estrutura bastante jovem, devido aos
altos níveis de fecundidade no passado. Nessa região, a proporção de idosos de
65 anos ou mais passou de 3,0% em 1991 e 3,6% em 2000 para 4,6% em 2010. A
região Nordeste ainda tem, igualmente, características de uma população jovem
e a proporção de idosos passou de 5,1% em 1991 a 5,8% em 2000 e 7,2% em 2010.
Sudeste e Sul apresentam evolução semelhante da estrutura etária, mantendo-se
como as duas regiões mais envelhecidas do país, sendo que as duas tinham em
2010 8,1% da população formada por idosos com 65 anos ou mais. Ademais, na
região Centro-Oeste a população de idosos teve um crescimento, passando de
3,3% em 1991, para 4,3% em 2000 e 5,8% em 2010 (BRASIL, 2011).

De acordo com Rubin e Rocha (2011), existe um novo padrão de envelhecimento


em curso, denominado por “envelhecimento ativo”, que nem de longe lembra a
resignação com que os idosos do passado se aposentavam do trabalho e da vida
social. Muitos idosos são saudáveis, dispostos a continuar em atividade por mais
tempo e, muitos possuem um bom poder aquisitivo. Vários brasileiros que romperam
a barreira dos 60 anos provam que é possível dialogar com a passagem do tempo
harmoniosamente, realizando inúmeras atividades de lazer.
69
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

FIGURA 2 – OS IDOSOS E O LAZER

FONTE: <http://rondoniadigital.com/wp-content/uploads/2010/09/idosos.png>.
Acesso em: 30 set. 2020.

Conforme faz notar Andrade (2001), os idosos gostam do lazer e procuram


exercê-lo a sua maneira, sem expor-se a situações que os ridicularize ou, ainda,
atraindo a atenção dos outros de modo a despertar pena, isto é, sem sair do limite
do conveniente. É importante lembrar que não há uma ruptura da personalidade
entre a primeira fase do adulto e a segunda. Algumas opções de lazer são
oferecidas ao público mais velho, como se este fosse um grupo homogêneo, o que
não é verdade. Nem toda senhora gosta de bordar para se distrair e nem todo
homem idoso aprecia jogar dominó, por exemplo. Outro fato que você já deve ter
observado, são os encontros dançantes, realizados normalmente à tarde, que vem
se popularizando entre os clubes de idosos. Novamente, sem criticar a iniciativa,
tendo em vista que o sucesso decorre do crescente número de participantes nessas
tardes dançantes, pretende-se simplesmente destacar que ao se elaborar um plano
de lazer para os idosos, sem dúvida, essa é uma das possibilidades, não a única.
Da mesma forma que acontece na fase juvenil e adulta, há que se recordar que
o lazer pode abarcar interesses manuais, artísticos, sociais, esportivos, de cunho
intelectual entre outros.

A relação entre o lazer e os idosos vem se alterando ao longo dos últimos


anos. Importantes esforços vêm demonstrando uma maior preocupação com essa
parcela da população, algumas limitações ainda precisam ser superadas. Entre
as fragilidades existentes, Bruhns (1997) relata o decréscimo no salário, devido
ao sistema de aposentadoria vigente no país e, devido à rotulação baseada nos
estereótipos de que o idoso é carente, passivo, desinteressado pela vida, que
contribuem para um quadro insatisfatório na busca pelo lazer.

Tratando da relação entre o lazer e o idoso, Andrade (2001, p. 133) destaca:


“conscientes que o tempo se torna sempre mais escasso para eles e mais difícil de
ser bem aproveitado, empenham-se em utilizá-lo ao máximo”.

70
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os grupos vivenciam a cultura de acordo com a faixa etária na qual estão


inseridos.

• As crianças gostam de dedicar o tempo que dispõem em atividades que


permitem o movimento, com liberdade para pular, correr, gesticular, falar e
gritar, sem se preocupar com os limites.

• A transmissão dos jogos tradicionais, em geral, ocorre pela reprodução popular


do saber (oralmente, imitação direta, observação etc.).

• Os principais equipamentos de lazer utilizados pelas crianças englobam a


própria área de recreação das escolas maternais e do jardim de infância, o
parque de diversões, os clubes associativos, os parques públicos, as praças e as
quadras esportivas.

• A questão da ludicidade é tomada como um elemento importante no


desenvolvimento e aprendizado infantil.

• Os adultos são aqueles que apresentam mais dificuldades para desfrutar da


atividade em sua plenitude.

• Muitos adultos dedicam pouco tempo para o seu lazer.

• Dados atuais do IBGE revelam o aumento da população idosa no Brasil.

• Os idosos gostam do lazer e procuram exercê-lo a sua maneira, sem expor-se a


situações que os ridicularize ou, ainda, atraindo a atenção dos outros de modo
a despertar pena nos outros, isto é, sem sair do limite do conveniente.

71
AUTOATIVIDADE

1 Por que as pessoas atribuem um sentido diferenciado ao lazer de acordo


com a faixa etária na qual estão inseridas?

2 De modo geral, que atividades de lazer costumam atrair as crianças?

3 Como as crianças costumam aprender as regras dos jogos tradicionais,


como a brincadeira de esconde-esconde, por exemplo?

4 Que modalidades de lazer para adultos são estimuladas pela mídia


atualmente?

5 O que significa a expressão “envelhecimento ativo”?

72
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

RECREAÇÃO E LAZER

1 INTRODUÇÃO
O termo “recreação” é amplamente utilizado e conhecido e, inclusive,
algumas pessoas o entendem como um sinônimo de lazer. Nesse tópico,
exploraremos o tema da recreação visando entender a sua relação com o fenômeno
do lazer e do turismo.

2 ENTENDENDO O CONCEITO DE RECREAÇÃO


Para iniciar o debate acerca do tema recreação, é oportuno mencionar
que algumas iniciativas preferem adotar o termo “lazer” à recreação, porque
esta, usualmente, pode ser vista como um fazer pelo fazer, como uma atividade
esvaziada de reflexões, significados, valores e fundamentos. No que se refere
ao significado da recreação no contexto brasileiro, na maioria das vezes, ela é
entendida como sinônimo de atividades realizadas com o intuito de promover
diversão, especialmente, aquelas desenvolvidas a partir de um profissional
(GOMES; PINTO, 2009). No Brasil, em termos gerais, o que se concebe é o lazer
como uma área abrangente, que de acordo com o que estudamos, perpassa pela
cultura, turismo, educação física etc. e a recreação, como uma atividade que se
insere dentro do contexto do lazer.

Conforme evidencia Gomes e Pinto (2009), a recreação (do latim recreatio,


recreationem) mantém ao longo dos tempos o sentido de atividade, que pode ser
desenvolvida em distintos espaços sociais, tais como a escola, a igreja, a família
e o trabalho.

Vale lembrar que da mesma forma como ocorre com o turismo, que possui
termos e palavras específicas para cada ação empreendida, no dia a dia, muitas
vezes ocorre uma utilização de termos inadequados, como é o caso de excursão,
por exemplo. Da mesma forma, é possível que você visualize no cotidiano do
seu campo de atuação, o emprego de termos pouco apropriados e específicos,
como “departamento de recreação do hotel”, enquanto o mais adequado seria
“departamento de lazer”, dada a amplitude das tarefas empreendidas. Nesse
caso, o importante é ter discernimento dos sentidos e após a construção de um
relacionamento (o que demanda certo tempo), você pode sugerir uma alteração.
O que não soa bem é a partir de um determinado conhecimento sair criticando
todas as pessoas e iniciativas e querer que as mudanças ocorram rapidamente. Os
relacionamentos de trabalho são construídos gradualmente.
73
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

Ao analisar o universo do lazer e da recreação como campo de trabalho,


Camargo (1999) divide o segmento em algumas categorias, a saber:

a) Recreação pública: nessa categoria estão incluídas todas as ações e instalações


focadas na ocupação do tempo livre da população de modo geral, abrangendo
as ações desenvolvidas por secretarias governamentais, fundações públicas e
empresas ligadas ao poder público municipal, estadual e federal, perpassando
por setores próximos, como a cultura, os esportes, turismo e meio ambiente.
b) Recreação comercial: dirigido ao público consumidor geral, abarca uma série
de empreendimentos privados voltados ao lazer, como parques temáticos,
livrarias, locadoras de filmes, galerias de arte, lojas de CDs e DVDs, academias
de ginástica, escolas de música etc. Ainda é possível incluir restaurantes
especializados e estabelecimentos de lazer noturno. Todas estas atividades
demandam mão de obra especializada.
c) Recreação industrial: a recreação no ambiente de trabalho industrial (atualmente
vem se espalhando em diversas áreas de trabalho) recebeu um significativo
incremento nas décadas de 1970 e 1980 e, inicialmente, consistia principalmente
em grêmios e associação de empregados e é comum dentre as empresas médias e
grandes a presença de sedes sociais para a realização de festas e jogos esportivos,
as chamadas “recreativas”. Algumas destas, mais sofisticadas, apresentam
infraestruturas similares a de clubes ou colônias de férias.
d) Recreação escolar: as escolas, sobretudo as particulares, vêm se firmando como
um importante mercado de trabalho para os profissionais da recreação. A
existência de instalações recreativas ociosas, carente de programações, tanto
para a externa como interna, torna o segmento um importante captador de
mão de obra.
e) Recreação turístico-hoteleira: tal setor é bastante conhecido e envolve todos
aqueles que atuam na programação e operacionalização das atividades de
lazer nos hotéis de lazer e resorts. Parte das oportunidades de trabalho é
sazonal, concentrando-se nas férias e nos feriados prolongados. Os hotéis de
negócios também vêm demandando profissionais de recreação, pois vários
eventos (feiras, congressos, convenções) necessitam de pessoal para organizar
atividades paralelas para os participantes, cônjuges e filhos.
f) Recreação ecológica: uma modalidade de recreação turística assume uma
fisionomia diferenciada por destacar o contato intenso com a natureza.
g) Recreação hospitalar: os hospitais vêm nos últimos anos percebendo a
necessidade de melhorar a atmosfera do ambiente hospitalar, tornando-a mais
lúdica e atraente para os doentes e para os familiares que acompanham os
tratamentos médicos. Já existem indícios de que o ambiente mais acolhedor
e agradável contribui para a recuperação dos pacientes. Um exemplo dessa
modalidade são os chamados doutores da alegria.

Mais uma vez, apresentam-se de forma clara várias possibilidades de


atuação para os profissionais de lazer. Algumas pessoas quando pensam em
lazer e recreação não se atentam para as muitas opções. Outro fato que chama

74
TÓPICO 2 — RECREAÇÃO E LAZER

atenção é que muitas vezes as atividades de recreação desenvolvidas são focadas


em atividades físicas, no movimento corporal. Existe uma série de opções para
divertir e ocupar o tempo disponível de crianças e adultos. Eis alguns exemplos
que poderiam ser melhor explorados:

• Oficinas de poesia.
• Oficinas e tour de fotografia (aproveitando a paisagem e espaços de lazer
comuns nos hotéis).
• Aulas de culinária.
• Aulas para aprender a preparar drinques.
• Oficinas sobre os ícones da Música Popular Brasileira.
• Oficinas sobre os principais talentos das artes plásticas no Brasil.
• Oficinas sobre como aproveitar melhor os passeios nas galerias e exposições de
artes.
• Oficina de introdução à musica clássica.
• Oficina sobre dicas de moda.
• Minicursos de automaquiagem.
• Minicurso para churrasqueiros.
• Minicurso sobre o uso de chás, ervas e temperos etc.

FIGURA 3 – AULA DE GASTRONOMIA: RECREAÇÃO COM CRIATIVIDADE

FONTE: <https://http2.mlstatic.com/como-montar-escola-de-culinaria-gastronomia-sebrae-D_
NQ_NP_428915-MLB25359891555_022017-F.jpg>. Acesso em: 30 set. 2020.

Alguns estabelecimentos de hospedagem se queixam da pouca adesão


por parte do público (principalmente entre os adultos) na programação de lazer
que o hotel oferece. Esse fato decorre de uma realidade na qual, muitas vezes,
os hóspedes já estão cansados entediados das atividades usualmente oferecidas:
alongamento, hidroginástica, dança, massagem, futebol e acabam ficando por aí.
Se o tempo estiver ruim, uma parcela dessas atividades já deixa de ser oferecida.

É claro que nem sempre o recreador ou monitor de lazer terá condições e


conhecimento para abordar temas tão diversos. No entanto, existe uma série de
possibilidades, como chamar consultores externos especialistas nos temas para

75
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

realizar a atividade ou utilizar talentos internos que atuam no próprio meio de


hospedagem. Por exemplo, muitas cozinheiras possuem um vasto conhecimento
sobre o mundo dos sabores e aromas, assim como o próprio pessoal do bar do
hotel pode ser escalado para algumas oficinas.

Ainda que essas opções de lazer pouco praticadas representem um


custo, na realidade, para o hotel, esse tipo de despesa deve ser encarado como
um investimento, pois a programação de lazer é um grande diferencial em
estabelecimentos como os resorts e hotéis de lazer. É necessário sempre se atentar
para as características do público-alvo, tais como, nível de escolaridade, faixa
etária, nível de renda etc. para elaborar uma programação criativa e que seja
capaz de despertar o interesse dos hóspedes.

Imagine como é interessante para um turista estrangeiro poder tomar


contato de uma forma descontraída e agradável sobre os ícones da música
nacional? E, ainda, estabelecer relações em um ambiente que incita a troca de
ideias e o bate-papo, que podem resultar em laços de amizade? Parece mais fácil
puxar assunto e trocar ideias sobre temas como música, arte, cozinha, vinhos do
que nos antigos moldes em que o primeiro contato já é o corpo a corpo, numa
aula de salsa.

Ainda sobrevivem resquícios de estereótipos que confundem a atuação na


área de lazer com o simples oferecimento de uma série de atividades. No entanto,
conforme foi comentado na unidade anterior, vale reforçar que de certo modo,
as atividades de lazer são sempre culturais, em seu sentido mais amplo. Quer
dizer, a escolha por determinado tipo de atividade está direta e indiretamente
condiciona à cultura vivenciada. Por isso, a cultura não deve ser considerada
somente como uma variedade de linguagens, manifestações, mas também como
um conjunto de valores, normas e princípios que norteiam a vida em sociedade
(MELO; ALVES JÚNIOR, 2003).

No contexto da hotelaria, o propósito de um serviço de recreação é oferecer


entretenimento e descontração aos hóspedes, de tal forma que eles se sintam bem
durante sua estadia. Nas palavras de Negrini, Bradacz e Carvalho (2001, p. 49):

Quando as pessoas se sentem bem num determinado local, tornam-


se mais disponíveis e ampliam consideravelmente suas relações
interpessoais. Quando isso ocorre, elas dão um significado todo
especial àqueles momentos, procurando revivê-los sempre que
possível, já que há uma tendência no comportamento humano de
reviver tudo o que causa prazer.

Nos meios de hospedagem, o planejamento das atividades lúdicas e de


lazer demanda um instrumento para sistematizar e divulgar as atividades que
serão oferecidas, a chamada programação. Na programação, são apresentadas
as relações de atividades, o local onde elas serão realizadas, o público a que se
destinam e o horário. É de bom tom inserir informações que possam ser relevantes
para o hóspede, como a duração da atividade e a roupa mais apropriada. Por mais

76
TÓPICO 2 — RECREAÇÃO E LAZER

que pareça óbvio para alguns, sempre pode existir um “perdido” que vá de calça
jeans para aula de alongamento ou com sua vasta, longa e rebelde cabelereira
solta na aula de culinária. Cabe ao responsável pela atividade pensar em todos
os detalhes que possam assegurar uma experiência mais agradável e harmoniosa
possível. Também é importante mencionar se as atividades são mantidas no caso
de mal tempo e outras informações que podem ser úteis. Lembre-se de que cada
hóspede possui personalidade diferente e, alguns, por exemplo, podem deixar
de participar de alguma atividade por vergonha ou acanhamento em ligar para a
recepção e tirar alguma dúvida.

Outro ponto de suma importância é o cuidado na redação da programação,


para que não se cometam erros de grafia e concordância. Por mais que pareça
batido, sempre vale lembrar a relevância de revisar os textos e recordar que os
editores de texto, embora bastante úteis, não são suficientes para evitar escorregões
com a língua portuguesa. A programação deverá ser fixada e distribuída em
pontos estratégicos para que o hóspede tome contato com ela com antecedência
suficiente para se organizar para a atividade. Alguns hotéis de lazer costumam
deixar uma via da programação embaixo da porta no quarto do hóspede no
período da noite, para que ao despertar, ele possa planejar com sua família quais
atividades serão realizadas naquele dia.

Em síntese, a programação de lazer deve ter como finalidade (NEGRINI;


BRADACZ; CARVALHO, 2001):

a) Informar aos hóspedes as possibilidades de lazer disponíveis.


b) Buscar a participação livre e espontânea dos hóspedes nas atividades.
c) Contribuir para a construção de possibilidades de interação entre os hóspedes.
d) Criar uma atmosfera lúdica, sem discriminações de idade, sexo ou etnia.
e) Permitir uma avaliação constante dos serviços oferecidos.

Com relação a esse último aspecto, é importante que se estabeleçam canais


de comunicação nos quais seja possível expressar a opinião sobre as experiências
vivenciadas e receber sugestões que permitam novos delineamentos no futuro.
Contudo, é necessário ser realista e entender que dificilmente as pessoas receberão
formulários espontaneamente. Se a equipe de gestão do hotel deseja ter um
retorno sobre as percepções dos clientes, é preciso incentivar o preenchimento dos
formulários, seja fazendo pequenos sorteios (de drinks ou doces, por exemplo) ou
fazer com que os participantes o preencham logo depois da atividade. Esperar que
formulários deixados no criado mudo do quarto sejam devidamente preenchidos
e amplamente devolvidos para a recepção é uma aposta otimista demais.

77
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Recreação (do latim recreatio, recreationem) mantém ao longo dos tempos, o


sentido de atividade, que pode ser desenvolvida em distintos espaços sociais,
tais como a escola, a igreja, a família e o trabalho.

• Existem várias áreas para atuar na recreação entre elas: pública, comercial,
industrial, escolar, turístico-hoteleira, ecológica e hospitalar.

• As atividades de recreação devem ser criativas e não explorar somente a


questão física e desportiva.

• Ainda sobrevivem resquícios de estereótipos que confundem a atuação na área


de lazer com o simples oferecimento de uma série de atividades.

• O propósito de um serviço de recreação é oferecer entretenimento e descontração


aos hóspedes, de tal forma que eles se sintam bem durante sua estada.

• Nos meios de hospedagem, o planejamento das atividades lúdicas e de lazer


demanda um instrumento para sistematizar e divulgar as atividades que serão
oferecidas, a chamada programação.

78
AUTOATIVIDADE

1 Cite três áreas de atuação para o profissional de recreação.

2 Cite três possibilidades de atividades de lazer voltadas para hotéis, pouco


exploradas pelo setor.

3 Algumas empresas e organizações não valorizam a atuação do recreador.


Comente um dos motivos para esse fato.

4 Qual é a função do serviço de recreação nos meios de hospedagem?

5 Quanto à recreação hoteleira, no que consiste a programação?

79
80
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

ESPORTE E LAZER

1 INTRODUÇÃO
Grande parte da população em nosso país, quando opta por alguma
atividade corporal, não tem como finalidade o rendimento ou um desempenho
profissional, mas uma forma de se exercitar no tempo de lazer, fato que explicita a
relação direta que se estabelece entre esporte e lazer (BRUHNS, 1997). Conforme
você aprendeu, o fenômeno do lazer abarca uma série de atividades diferenciadas,
de cunho recreacional, lúdico, artístico, cultural e esportivo.

Nesse tópico, trataremos da relação do esporte com o lazer, que de


acordo com o que foi visto, envolve as atividades esportivas realizadas nas horas
disponíveis, sem compromisso profissional. A categoria de esportes profissionais
pode se relacionar com o lazer, somente no sentido de ser um atrativo para o
turismo, como é o caso dos grandes eventos esportivos como as Copas Mundiais,
Olímpiadas e Corridas de Fórmula 1, por exemplo.

2 DISNTINGUINDO ESPORTE E RECREAÇÃO


A recreação e o esporte são atividades que apresentam muitas semelhanças
por um lado, e por outro, resguardam suas singularidades. O jogo, a dança, a
ginástica e o esporte, ao serem tratados como atividades de lazer, pressupõem
que o conteúdo desses elementos, embora submetido a regras, permite a alteração
das mesmas pelos sujeitos envolvidos, ou seja, não exclui adaptações se assim
os envolvidos julgarem mais atraente (BRUHNS, 1997). Outro ponto relevante,
é que as referidas atividades podem ser realizadas por grupos que se formam
por similaridades de interesses mais amplos. Por exemplo, um grupo pode se
configurar pelo apreço ao turismo de natureza e, como um desdobramento,
passar a realizar a atividades de caminhadas, montanhismos ou rafting, ou seja,
em alguns casos, mais do que a atividade em si, o que é relevante para a realização
de um ato de lazer é o contexto e as relações sociais que acabam se formando.

Delineando distinções entre a área de recreação e educação física (voltada


aos esportes), Lüdtke (1984) realça:

• Predomínio do motivo lúdico em oposição aos índices de resultado, baseado


em critérios de desempenho.
• Ao invés de parâmetros fechados e permanentes, a ênfase deve ser em critérios
de livre escolha, discutíveis e substituíveis.

81
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

• As formas sociais de participação precisam ser flexíveis e informais.


• Para a realização das atividades, não é necessário que a equipe seja homogênea.

Conforme se pode notar, as atividades de lazer trabalhadas pela área de


educação física se focam na questão do lúdico e não da competição, no sentido
de busca pelo desempenho excelente. Ainda quanto às distinções entre o esporte
de alto rendimento e o lazer, Bruhns (1997) faz notar que o primeiro caracteriza-
se por regras rígidas, modelos, busca de rendimento, recordes, medalhas
além da superação física, enquanto as atividades lúdicas são marcadas pela
espontaneidade, a flexibilidade, a falta de comprometimento e a fantasia.

Outro traço marcante no esporte é que treinos fortes, além da busca da


adequação dos gestos técnicos e das táticas de jogo ou apresentação, significam
um processo de construção de novas possibilidades de tempo para o movimento
humano. Uma prova é o fato de que existem jogadas em inúmeros tempos,
possíveis de serem realizadas apenas com muito treinamento. (GEBARA, 1997).

3 BREVE HISTÓRICO SOBRE O ESPORTE


Buscando compreender os antecedentes históricos que explicam o
surgimento dos esportes no Brasil, Gebara (1997) explica que, para tanto, faz-se
necessário analisar as relações sociais e de trabalho existentes no início da era
industrial brasileira.

Novas relações sociais e uma nova sociedade alteraram


significativamente as máquinas e a medição do tempo. A máquina
e o relógio transformaram o universo das ações motoras, os homens
não mais definem seu potencial e habilidade muscular. Instrumentos
externos são introduzidos no sentido de avaliar mais racionalmente, ou
mais produtivamente, a atividade física do trabalhador. Está aí a chave
para compreendermos a constituição dos esportes modernos. Não se
trata de dizer que os jogos se esportivizaram e deixaram de existir;
os jogos, tanto como comunidades indígenas primitivas, continuam
existindo e se reproduzindo. O que se está argumentando é que com
a existência de mecanismos externos de controle, e de treinamento
muscular, se tornou possível tanto a invenção de modalidades
esportivas quanto a esportivização de jogos já existentes (GEBARA,
1997, p. 70).

É desnecessário frisar que os esportes são muito antigos e não demandam


a presença de equipamento de medição para que aconteçam. Muitas modalidades,
por exemplo, adotam a contagem de pontos ou gols para determinar o início
e o fim das partidas. O que se pretende comentar é que o advento tecnológico
exerce influência importante sobre os esportes, tanto que na atualidade, as novas
possibilidades tecnológicas são responsáveis por tornar os esportes modalidades
de entretenimento. Uma amostra são as ferramentas utilizadas como tira-teima

82
TÓPICO 3 — ESPORTE E LAZER

nos jogos de futebol, com uma série de animações gráficas para mostrar, por
exemplo, a distância de um determinado lance e se esse estava impedido ou não.
Tais aparatos cativam os espectadores e ajudam até leigos entender melhor as
regras do jogo e passam a ficar mais motivados para acompanhar as partidas.

Outro elemento importante para a análise do esporte sobre o prisma


do lazer é não dissociar o esporte da cultura de forma dicotômica, como duas
realidades paralelas. Na realidade, as modalidades esportivas situam-se dentro
de um aparato cultural mais abrangente. Gomes e Pinto (2009) mencionam que
algumas atividades, como o futebol, por exemplo, remontam contextos diferentes
do atual quadro nacional. Isto é, o futebol foi ressignificado no Brasil, dada a
base cultural marcada pela multiplicidade étnica existente em nosso território.
Também as manifestações como o samba e a capoeira cujo surgimento está
relacionado ao Brasil sendo que ambas realçam a diversidade rítmica e corporal
apreciadas inicialmente pelos escravos, as quais passaram a fazer parte do gosto
cultural de vários grupos socioculturais.

Ainda quanto ao futebol, este é um exemplo bem nítido de como uma


mesma atividade pode ser considerada ou não uma forma de lazer. O futebol pode
ser vivenciado como uma brincadeira, conhecida na linguagem coloquial como
“pelada”. Estas partidas são jogadas com os amigos e quando crianças, muitas vezes
são disputadas na própria rua. Na fase adulta, é comum a formação de confrarias
e grupos que se reúnem semanalmente para jogar futebol, colocar o papo em dia e
tomar algumas cervejas. Por outro lado, o futebol profissional cresce cada vez mais e
passa a movimentar um mercado econômico com cifras milionárias.

Retomando a questão dos aspectos históricos que permitem compreender


o desenvolvimento dos esportes no Brasil, é indispensável discutir o papel da
criação do Ministério dos Esportes no início do governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no ano de 2003. O referido ministério é responsável por
construir uma Política Nacional de Esporte além de desenvolver o esporte de alto
rendimento. Ademais, a entidade trabalha com ações de inclusão social por meio
do esporte, visando garantir à população brasileira o acesso gratuito à prática
esportiva, qualidade de vida e desenvolvimento humano (IBGE, 2003).

No contexto do ministério do esporte, compete ao Conselho Nacional


do Esporte (CNE) a deliberação, normatização e assessoramento das questões
voltadas ao esporte nacional, tendo por objetivo buscar o desenvolvimento de
programas que promovam a massificação planejada da atividade física para toda
a população, bem como a melhoria do padrão de organização, gestão, qualidade
e transparência do desporto nacional (BRASIL, c2020).

83
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

Complementando a compreensão sobre o contexto político do esporte e


do lazer, convém destacar a atuação da Secretaria Nacional de Desenvolvimento
de Esporte e Lazer do ministério dos esportes vem desenvolvendo estratégias
que almejam garantir a elaboração de políticas públicas inclusivas de esporte
recreativo e lazer no país. Ela também busca contribuir com a democratização de
acesso da população brasileira às práticas lúdicas no esporte e no lazer, pautadas
em quatro estratégias centrais de ação: (1) pesquisa: realizando estudos sobre
temas prioritários para a qualificação da política inclusiva do esporte e lazer,
fomentando também a pesquisa de base científica; (2) ação educativa: baseada
na formação continuada dos gestores, legisladores e profissionais que atuam na
área de esporte e lazer e que contribuem na formulação e implantação de políticas
públicas para o segmento, em nível municipal, estadual e federal; (3) informação:
realizando investimentos na política de documentação, informação e preservação
do patrimônio histórico do esporte e lazer com o intuito de subsidiar e qualificar
políticas públicas, sistematizando e difundindo informações relevantes e, por
último; (4) gestão compartilhada: por meio da consolidação de redes nacionais
de gestores, legisladores, agentes comunitários e demais parceiros, fomentando
uma atmosfera favorável ao desenvolvimento do setor de esporte e lazer.

Embora o lazer não disponha de um ministério específico para o segmento, a


atividade é amparada por ações políticas no âmbito do esporte, além dos ministérios
do turismo e da cultura, dependendo do enfoque que pretende trabalhar.

Existem vários desafios a serem superados pelos gestores e legisladores


responsáveis pela questão do esporte e do lazer no Brasil. Segundo pesquisa
do IBGE (2011), é notável a carência de equipamentos de esporte e lazer nos
municípios brasileiros. De acordo com o estudo, no ano de 2003, as participações
médias nacionais dos municípios que possuíam ginásios e estádios de futebol, de
propriedade e/ou gestão da prefeitura, em 31.12.2003, foram de 54,2% e 27,7%,
respectivamente. Ademais, dentre as regiões, o mesmo estudo indica que há de se
destacar que a Sul e a Centro-Oeste foram as que apresentaram um maior número
de municípios em que a prefeitura era a proprietária e/ou gestora dos ginásios,
atingindo participações de 75,5% e 82,3%, respectivamente.

Observe maiores detalhes do estudo na tabela apresentada na sequência:

84
TÓPICO 3 — ESPORTE E LAZER

TABELA 1 – NÚMERO DE EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES ESPORTIVAS


Número de equipamentos e instalações esportivas localizados
nos complexos esportivos .
Classes de
tamanho da Tipo de equipamento e instalação esportiva existente e
população dos Total de em construção em 31.12.
Total de
municípios, complexos
municípios Equipamento esportivo
Grandes Regiões esportivos
e Unidades da Ginásio Estádio de futebol Complexo aquático
Federação
Em Em Em
Existente Existente Existente
construção construção construção
Total 5 557 744 290 23 48 7 73 2
Classes de
tamanho da
população
Até 5 000 hab. 1 366 50 17 1 1 - 3 -
De 5 001 a
20 000 hab. 2 655 120 49 6 7 2 7 1
De 20 001 a
50 000 hab. 989 127 58 4 16 1 4 -
De 50 001 a
100 000 hab. 309 102 51 4 6 3 8 -
De 100 001 a
500 000 hab. 205 189 72 6 15 1 25 1
Mais de 500 000
hab. 33 156 43 2 3 - 26 -
Grandes
Regiões e
Unidades da
Federação

Norte 449 24 6 3 1 1 - -
Rondônia 52 - - - - - - -
Acre 22 2 1 1 - - - -
Amazonas 62 6 1 - - - - -
Roraima 15 3 - 1 - - - -
Pará 143 8 4 1 1 1 - -
Amapá 16 4 - - - - - -
Tocantins 139 1 - - - - - -

Nordeste 1 790 33 13 1 5 - - -
Maranhão 217 - - - - - - -
Piauí 222 - - - - - - -
Ceará 184 9 1 - 2 - - -
Rio Grande do
Norte 165 4 2 - 2 - - -
Paraíba 223 2 1 1 - - - -
Pernambuco 185 7 4 - - - - -
Alagoas 102 - - - - - - -
Sergipe 75 7 4 - 1 - - -
Bahia 417 4 1 - - - - -

85
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

Sudeste 1 668 495 178 11 28 3 66 2


Minas Gerais 853 128 36 5 6 3 2 -
Espírito Santo 78 1 - - - - - -
Rio de Janeiro 92 28 6 3 - - - -
São Paulo 645 338 136 3 22 - 64 2
Sul 1 188 155 82 6 11 2 7 -
Paraná 399 70 24 3 4 1 7 -
Santa Catarina 293 34 29 - 4 - - -
Rio Grande do
Sul 496 51 29 3 3 1 - -
Centro-Oeste (4) 462 37 11 2 3 1 - -
Mato Grosso
do Sul 77 11 2 1 1 1 - -
Mato Grosso 139 11 2 1 - - - -
Goiás 246 15 7 - 2 - - -

A realização de mapeamentos que retratem a realidade dos equipamentos


de esporte e lazer é fundamental para nortear o desenvolvimento de políticas e
ações de gestão nos níveis federal, estadual e municipal, pois muitas vezes, não
existem informações suficientes para delinear cenários e estabelecer quais ações
devem ser prioritárias.

Esporte, turismo e lazer

Para finalizar o debate sobre o tema esporte, o qual muitos vezes não recebe
a devida atenção por parte dos gestores de turismo, defende-se o argumento
que o esporte, lazer e turismo podem compor uma mesma equação, permitindo
alternativas de lazer completas e especializadas.

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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Grande parte da população em nosso país, quando opta por alguma atividade
corporal, não tem como finalidade o rendimento ou um desempenho
profissional, mas uma forma de se exercitar no tempo de lazer.

• O jogo, a dança, a ginástica e o esporte, ao serem tratados como atividades


de lazer, pressupõem que o conteúdo desses elementos, embora submetido a
regras, permite a alteração das mesmas pelos sujeitos envolvidos.

• O esporte de alto rendimento caracteriza-se por regras rígidas, modelos, busca


de rendimento, recordes, medalhas além da superação física.

• As atividades lúdicas são marcadas pela espontaneidade, a flexibilidade, a


falta de comprometimento e a fantasia.

• As modalidades esportivas situam-se dentro de um aparato cultural mais


abrangente.

• A criação do Ministério dos Esportes, em 2003, foi de suma importância para o


desenvolvimento do setor no Brasil.

• Esporte, lazer e turismo podem compor uma mesma equação, permitindo


alternativas de lazer completas e especializadas.

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AUTOATIVIDADE

1 Como deve ser tratado o jogo, a dança, a ginástica e o esporte enquanto


atividades de lazer?

2 Cite três características do esporte de alto rendimento.

3 Cite três características fundamentais para uma atividade ser considerada


lúdica.

4 Esporte e cultura devem ser encarados como fenômenos totalmente


separados. Você concorda com essa afirmativa? Justifique sua resposta.

5 No âmbito federal, qual é a função do Ministério do Esporte?

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TÓPICO 4 —
UNIDADE 2

TURISMO E GASTRONOMIA

1 INTRODUÇÃO
Compreender o turismo gastronômico é entender que cada cultura
gastronômica deriva de uma combinação única de geografia, história, povos com os
quais se fazia comércio ou mesmo que conquistaram o local e com os ingredientes
naturalmente disponíveis na região. Esse estudo por vezes auxilia a compreender
que o planeta todo se une pelos detalhes gastronômicos compartilhados.

2 VIAGEM GASTRONÔMICA
Apesar de termos sido colônia de Portugal desde o descobrimento
até 7 de setembro de 1822, para muitos é difícil identificar o que de fato temos em
nossa cultura alimentar que deriva dos costumes portugueses. Não foram só os
portugueses que influenciaram a gastronomia brasileira. Por nossa história, outros
povos trouxeram produtos e costumes que se mesclaram à cozinha nacional.  
 
Dependendo do estado brasileiro que estudarmos, poderemos encontrar
traços de outras culturas, como a espanhola, italiana, asiática, africana, árabe,
francesa e até holandesa. Desta forma, este primeiro tópico auxilia a compreensão
das cozinhas portuguesa e espanhola clássicas. A partir delas, poderemos inclusive
compreender melhor a cozinha dos países que estes dois antigos  impérios
navegadores colonizaram.  
 
Juntos, os árabes, portugueses e espanhóis dominavam o mercado
mundial de produtos alimentares, principalmente pelo Mediterrâneo. Ambos os
países traziam produtos de suas colônias na África e Américas para a Europa
e, consequentemente, os vendiam para mercadores asiáticos. Sem os portugueses
e espanhóis, a história seria diferente, já que dentre os produtos que espalharam
pelo mundo, podemos citar: pimentas, chocolate, frutas diversas, batatas,
mandioca, ervas, raízes, amendoim, baunilha e feijões.  
 
Da mesma forma, foram eles que trouxeram grande parte dos produtos
que temos em nossas mesas atualmente. Grande parte das frutas que comemos
diariamente foi  introduzida pelos colonizadores. O mesmo aconteceu para
raízes, como cenoura e beterraba; oleaginosas, como amêndoas, nozes e pistache;
grãos,  como trigo, cevada, arroz e aveia; as especiarias asiáticas; ingredientes
básicos, como cebola, alho, salsão, vinagres, vinhos etc.  
 
89
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

Por serem vizinhos, portugueses e espanhóis compartilham ingredientes,


técnicas e costumes e, assim, neste tópico conheceremos pratos, produtos e
tradições de cada país.  

2.1 GASTRONOMIA PORTUGUESA


Apesar de os portugueses serem os responsáveis por levar as pimentas
para a Ásia, o chá para os britânicos e o tempura para o Japão, ainda para muitos,
sua cozinha é, no mínimo, misteriosa.

Podemos dizer que a gastronomia do país é uma fusão dos costumes
nativos à influência de povos que passaram pelo território, como os muçulmanos,
cartagineses, gregos, romanos, judeus e africanos. Talvez o que tenha deixado
mais herança foi o povo muçulmano, que ali ficou por mais de 500 anos.
Podemos perceber clara influência principalmente na arquitetura das cidades e
na gastronomia portuguesa.

Uma das maneiras que se pode utilizar para desvendar a gastronomia de
um país, além de estudar sua história, é averiguar a geografia do local. A figura a
seguir apresenta a localização exata de Portugal na Europa.

FIGURA 4 – MAPA POLÍTICO DA EUROPA

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/65/Mapa_europa.
svg/1020px-Mapa_europa.svg.png>. Acesso em: 3 ago. 2020.

90
TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA

Na Figura 4 podemos notar que Portugal está no extremo oeste do


continente europeu e faz fronteira somente com a Espanha a leste. Podemos
inferir que na região fronteiriça há tanto influência de Portugal na Espanha como
o contrário.

Apesar de muitas pessoas colocarem Portugal como um país de cozinha


mediterrânea, fica claro pelo mapa que ele não é banhado pelo mar Mediterrâneo,
somente pelo Oceano Atlântico. Sua área territorial é de 91.985 km², sua população
ultrapassa os 11 milhões de habitantes, sua capital é Lisboa, sua moeda é o Euro,
seus principais rios são o Tejo, Minho, Douro, Zêzere e Sado e atualmente é um
dos países com índice de desenvolvimento humano mais alto, ou seja, possui
excelente qualidade de vida (LONELY PLANET, 2020).

Os principais produtos agrícolas cultivados no país são: trigo, milho,


batata, tomate, uvas e azeitonas. Estes dois últimos para a produção mundialmente
reconhecida de vinhos e azeites portugueses (LONELY PLANET, 2020). Na
pecuária, o país se destaca na criação de ovinos, aves, suínos e bovinos. Como
o país possui áreas de serra e não tem uma extensão territorial muito grande, a
criação de suínos e ovinos merece destaque, já que são animais que exigem menos
espaço para criação. Naturalmente, nos pratos típicos portugueses veremos muito
o uso destas carnes, miúdos e outros derivados.

Portugal é o Estado-nação mais antigo da Europa e é dividido em sete
regiões e ainda as Ilhas da Madeira e Açores. Suas nove regiões são: Entre Douro
e Minho, Trás-os-Montes, Beira Litoral, Beira Interior, Ribatejo e Oeste, Alentejo,
Algarve, Açores e Madeira.

Os romanos haviam conquistado o território e o chamaram de Lusitânia.


Vem daí a denominação de lusos para os portugueses. Depois de estar nas mãos
dos romanos, o território foi conquistado pelos mouros no ano de 711. Após
muitas batalhas e guerras, em 1143 é assinado o Tratado de Zamorra, e Portugal
torna-se independente. Nesta época, o país ainda incluiu outros territórios através
de conquistas e formou o país como o conhecemos hoje (CORRÊA, 2018).

Com o país definido e fortalecido, deu-se início à era dos chamados


descobrimentos. Por ter uma marinha forte e eficiente, o país passou a navegar
pelo mundo em busca de novos territórios para colonizar e explorar (CORRÊA,
2018). O Império Português chegou a ter territórios onde hoje temos: Brasil,
Marrocos, Gana, Angola, Guiné Equatorial, Mauritânia, Índia, Guiné-Bissau,
Cabo Verde, Sri Lanka, Espanha, Uruguai, Guiana, Indonésia, China, Malásia,
Omã, Quênia, Moçambique, Irã, Benim, Iêmen, São Tomé e Príncipe, Tanzânia,
Timor Leste e Senegal. Podemos ver que o Império buscou ter terras em todos os
continentes, contudo os países que ainda preservam o português como idioma
são: Moçambique, Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Timor-Leste, Guiné Equatorial,
Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e o território administrativo chinês chamado
Macau (MOMONDO, 2018).

91
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

Na Figura 5, podemos ver o mapa político de Portugal, que apresenta


suas regiões.

FIGURA 5 – MAPA POLÍTICO DE PORTUGAL

FONTE: <http://twixar.me/lh4m>. Acesso em: 3 ago. 2020.

Na gastronomia, além da fama mundial em vinhos, queijos e embutidos,


os portugueses sempre estão entre os maiores consumidores de pescados. Um
português consome em média 56,8 kg de pescados por ano (WWF, 2017). Os
principais produtos consumidos ali, vindos dos mares e oceanos, são: polvo,
sardinha, bacalhau, cantarilho, atum, peixe espada, camarões, sapateiras e
mariscos, como mexilhão, berbigão, percebes e navalha. Essa quantidade de peixe
consumido no país ultrapassa sua produção e por isso precisam importar (WWF,
2017). Há, em Portugal, campanhas para incentivar os produtos locais, já que, por
vezes, algumas espécies precisam vir de muito longe, não sendo um comércio
ambientalmente sustentável. Rita de Sá, da WWF Portugal, ainda acrescenta que:

92
TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA

Portugal é o maior consumidor de pescado per capita da Europa e


o 3º do mundo. Apesar das suas populações marinhas não estarem
tão ameaçadas como as do resto da região do Mediterrâneo, apenas
1/4 do pescado que os portugueses consomem provém de águas
nacionais. Esta dependência de importações de países do Norte
da Europa, com espécies como o bacalhau e o salmão, também se
verifica relativamente aos países em desenvolvimento, com outras
espécies (WWF, 2017, s.p.).

Como veremos nas receitas deste tópico, os frutos do mar estão presentes
principalmente nas regiões litorâneas portuguesas. Além dos pescados, os
portugueses possuem paixão pelos pães, sopas, assados, doces e açordas.

2.2 GASTRONOMIA ESPANHOLA


A origem geográfica e cultural espanhola determina muitas das suas
características que colocam a Espanha como país riquíssimo na gastronomia e
diferente da grande maioria (GIL, 1994).

Muitos classificam sua cozinha como “a Cozinha do Alho e Azeite”
(OTERO, 1995). Não estão errados, pois como veremos, são dois ingredientes que
configuram praticamente todas as receitas salgadas. As oliveiras ali são tão comuns
que o óleo básico para tudo na cozinha, seja para consumir cru ou para refogar
e fritar por imersão, vem das azeitonas. A cozinha espanhola integra a chamada
cozinha mediterrânea, já que possui extenso litoral com o Mar Mediterrâneo e
dele extrai muitos dos produtos alimentícios de sua dieta.

Frequentemente, ao descrever a cozinha espanhola, percebe-se uma


tendência em separar o país em zonas por seus pratos típicos. O Norte é
reconhecido pelos pratos com molhos, os pratos denominados chilindrones nos
Pirineus, a área das cazuelas que engloba grande parte da Catalunha, logo a região
dos arrozes ao longo do Levante e a das frituras e sopas frias na Andaluzia e os
assados no centro do país (OTERO, 1995).

Os romanos trouxeram à Espanha o trigo, vinho, azeite e muitos outros
produtos que se tornaram do cotidiano espanhol. Já os árabes vieram com produtos
hortícolas, como alface, limão, açafrão, cenoura, ervas, amêndoas, especiarias.
Das Américas, os navegadores trouxeram tomate, batata, milho, peru, feijões e
favas, amendoim, pimentas e outros produtos que hoje são indispensáveis na
cozinha do país (GIL, 1994).

Uma forte tradição na Espanha é a chamada siesta. Muitos turistas ao irem
ao país se espantam, pois até hoje muitas lojas fecham entre 14 e 17 horas para um
longo almoço e posterior descanso. Esta tradição é secular e principalmente em
cidades menores é mais comum.

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UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

A seguir, na Figura 6 vemos o mapa político da Espanha separado em


regiões. Ao norte de Portugal, fazendo fronteira com o país, visualizamos a
Galícia. Também fazendo fronteira com os portugueses, temos Castilla y Leon,
Extremadura e Andaluzia. No mapa também podemos ver o destaque para as
partes insulares do país, as Ilhas Baleares e Canárias. O país ainda possui dois
territórios na África, Ceuta e Melilla. Há ainda regiões que sofrem influência
da cozinha francesa por fazerem fronteira com a França. Navarra, Aragón e
Catalunha costumam ter ingredientes típicos dos pratos franceses em suas
preparações, como manteiga, creme de leite, leite, iogurte e pratos com bastante
molho. A cozinha mediterrânea espanhola se fortalece graças à rica cozinha
andaluza, valenciana, murcia e catalã.

FIGURA 6 – MAPA POLÍTICO DA ESPANHA

FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/b8/db/39/b8db39152e60365e656e6a2612a390c2.png>.
Acesso em: 6 ago. 2020.

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TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA

2.3 GASTRONOMIA ALEMÃ


A Alemanha é atualmente uma das maiores potências econômicas do
mundo e local de muitos restaurantes estrelados no Guia Michelin. O país faz
fronteira com Bélgica, Dinamarca, Polônia, República Checa, Áustria, França,
Suíça, Holanda e Luxemburgo, como podemos ver na Figura 7.

FIGURA 7 – MAPA POLÍTICO DA ALEMANHA

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/58/51/58513f3fdaea8-alemanha.jpg>.
Acesso em: 8 ago. 2020.

As estações no país são muito bem definidas, com isso, o menu se altera
de acordo com os produtos disponíveis. Na primavera, que vai de março a
maio, após inverno rigoroso, traz à mesa pescados como caranguejo, bacalhau,
lagosta, ostra, truta e carpa. A horta presenteia os alemães com couve-flor,
cebola, raiz-preta (schwarzwurzeln), cenoura, aspargos brancos, brotos diversos,
alho-de-urso (similar ao alho-poró), alfafa, alfaces, cogumelos e capuchinha
(GRABOLLE, 2013).

No verão, de junho a agosto, encontramos pimentão, abóbora, salsão,
beterraba, couve-lombarda, cereja, framboesa, amora, groselha, maçã, damasco,
pera, pêssego e pescados diferentes, como o halibute, linguado e seus similares,
como o rodavalho, e mexilhões. De setembro a novembro, temos o outono e é época

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UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

de colheita. Além de as frutas pequenas continuarem frutificando, conseguimos


encontrar no mercado ameixas, avelãs, castanhas e ainda cogumelos, como o
chanterelle e o morel. Das águas, obtêm-se peixes, como lúcio e arenque. Da terra,
batatas e repolho entram no menu (GRABOLLE, 2013).

Por fim, no inverno, que vai de dezembro a fevereiro, o consumo de raiz-
forte, nabo, repolhos, castanhas e peixes, como cavala, aumenta. Antigamente,
nesta época, basicamente se vivia do que foi estocado no outono e de conservas.
Com relação às carnes, os alemães consomem bovinos, caprinos, ovinos, aves,
coelho e lebre e muita carne suína (MÜLLER, 1993).

Além de sal e pimenta, os alemães têm paixão pelo cominho, mostarda,
zimbro, raiz-forte e páprica doce. A paixão pelos suínos veio provavelmente
pelo fato de que o animal é de criação mais fácil. Não precisa de tanto espaço
como os bovinos. Em países com vasto território e clima equilibrado, os bovinos
prosperam, como no Brasil e nos EUA. Contudo, em países mais montanhosos
e com clima severo, como na Alemanha, a criação de bovinos se torna quase
impraticável. Dessa maneira, a produção de pratos, defumados, curados e
embutidos se espalhou entre os alemães.

O lombo defumado chamado de Kassler, o bolo de carne Fleishkäse, repolho
fermentado Sauerkraut, ou chucrute (em português), pães como o Pumpernickel,
que pode durar mais de um ano, camarões em conserva e muitos outros
produtos simbolizam a necessidade de em tempos difíceis preservar alimentos
(GRABOLLE, 2013).

Como o país passou por guerras longas e danosas à população, muito
alemães migraram para países como Brasil, EUA e outros locais da Europa. Desta
maneira, naturalmente espalharam sua cultura pelo mundo e adaptaram suas
receitas aos ingredientes locais. No Brasil, principalmente no Sul e em algumas
cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, podemos presenciar o estilo de vida alemão.
Cervejarias, produções de embutidos, conservas, cucas e strudel caíram no gosto
dos brasileiros.

2.4 GASTRONOMIA DA GRÉCIA


Do norte frio da Europa e sua cozinha rica, passaremos a uma das cozinhas
mais mediterrâneas do mundo, a gastronomia grega. Por ter, além de sua parte
continental, muitas de suas ilhas situadas no Mediterrâneo (além deste mar), o
país também tem litoral com o mar Jônico a oeste, mar de Creta ao sul e mar Egeu
a leste (GAVALAS, 2001).

O terreno no país tende a ser montanhoso e isso implica a escolha de
animais para criação e produção de carne. O Brasil, por exemplo, por ter muitos
terrenos planos e amplos, é ideal para produção de bovinos, enquanto na Grécia,

96
TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA

ovinos e caprinos se adaptaram melhor. Com isso, muitos pratos são elaborados
com suas carnes, mas também os queijos produzidos ali derivam principalmente
do leite destes animais.

Dentre os queijos gregos mais conhecidos, podemos citar:

Queijo Feta: queijo branco curado e salgado com pequenos buracos e sem
casca, produzido com 70% de leite de ovelha e 30% de leite de cabra. É conhecido
desde a época do Império Bizantino com o nome de ‘prósphatos’, que significa
“recente”, ou seja, “fresco”, e era produzido principalmente em Creta.

Queijo Graviera: segundo queijo mais consumido na Grécia. A sua


origem remonta à época da dominação romana, sendo produzido na Ilha de
Creta com leite de ovelha. Apresenta uma consistência dura sendo maturado no
mínimo durante cinco meses. O seu paladar é ligeiramente adocicado com um
agradável toque de caramelo.

Queijo Anthothyros: fabricado com leite de cabra e/ou ovelha e soro. A


proporção é de nove partes de leite para uma parte de soro. Existem dois tipos.
O Anthotyros Fresco, que é meio duro e branco, com um doce sabor que lembra
creme de leite. Não tem casca e não é adicionado sal. O Anthotyros Seco é duro,
seco, salgado e maturado.

Queijo Kefalotyri: salgado, duro e amarelo, fabricado com leite de


ovelha e de cabra. Necessita de, no mínimo, três meses de maturação. Seu sabor
remete ao Gruyére, embora um pouco mais salgado. O Kefalotyri é cortado em
cubos, empanado e frito para o preparo do tradicional prato grego ‘saganaki’
(COSTA, 2011c).

Assim como na Itália, Espanha e Portugal, na Grécia o consumo de
azeitonas, azeite e vinho é grande. O terreno ali é ideal para estas produções.
Muitas das oliveiras mais antigas do mundo estão no país. Muitas das receitas
doces e algumas salgadas levam uma massa tradicional, chamada phyllo, ou
filo em português. Este nome significa folha e a massa é tão fina que é quase
transparente. Um doce típico chamado baklava leva diversos recheios de frutas e
castanhas como nozes, amêndoas e pistache em várias camadas desta massa. O
resultado é uma crocância incomparável (GAVALAS, 2001).

Os vegetais são fundamentais na dieta grega. Durante um mezze, refeição


de vários pratos típica no país, os primeiros pratos costumam ser vegetarianos,
passando para pescados marinados, produtos curados e, por fim, seguindo a
prato quentes diversos. Contudo, talvez o prato mais conhecido e ovacionado
dos gregos é a Moussaka de cordeiro. O prato é similar a uma lasanha, mas sem
massa. Berinjela laminada e tostada entra no lugar da massa, deixando o prato
mais leve, que ainda conta com carne de cordeiro moído em molho misto branco
e vermelho.

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UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

2.5 GASTRONOMIA MEXICANA


Quando se fala em cozinha mexicana no Brasil, o que vem de referência
é a chamada Tex-Mex, cozinha que mistura hábitos mexicanos com o olhar
americano. Como o norte do México faz fronteira com o Texas nos EUA, criou-
se o termo Tex-Mex. Entretanto, esta cozinha está longe da cozinha mexicana
autêntica, mais nitidamente longe da fronteira com os EUA. Se, por exemplo,
chegamos à Cidade do México e pedimos tacos em uma barraca de rua, eles
não virão crocantes em formato de concha como na Tex-Mex. Simplesmente
tortilhas macias serão servidas com o recheio escolhido sobre elas e molhos e
complementos a nossa disposição, dos quais nos servimos à vontade (TAUSEND;
PALAZUELOS, 1993).

Logo que os espanhóis chegaram à capital asteca, Tenochititlán, foram
presenteados com uma bebida à base de chocolate e, dizem alguns, com baunilha.
Ambos os produtos foram posteriormente levados à Europa e caíram no gosto
dos nobres (ZURITA, 2013). Lá, ao adicionar leite e açúcar, o chocolate evoluiu e
ganhou o gosto mundial. A baunilha mexicana, que é a vagem de uma orquídea
natural do país, tornou-se ícone na confeitaria mundial a ponto de também ser
produzida em outros locais. Atualmente, o mercado é abastecido pela baunilha
mexicana cultivada no próprio México e em Madagascar, na África. A orquídea
mexicana não é a única a fornecer baunilha. No Cerrado brasileiro também temos
orquídeas que possuem vagens extremamente aromáticas que estão em seu
princípio de exploração e comércio.

Muitos pratos das culturas pré-colombianas permanecem inalterados,


contudo com os muitos produtos trazidos pelos europeus, muitos ganharam
substitutos e novas possibilidades foram criadas (TAUSEND; PALAZUELOS,
1993). Carnes de caça, como a iguana e peru, cactos, frutos típicos, ervas nativas,
urucum, pimentas (chamada de chiles por lá), flor de abóbora, milhos variados,
abóboras, feijões, entre outros produtos oriundos se uniram aos cereais, ervas,
frutas, temperos, vinagres, azeites e óleos do Velho Mundo.

Os seres humanos migraram desde a Europa, passando pelo estreito de


Bering e descendo desde a América do Norte até a Mesoamérica e América do
Sul. Os Olmecas da costa do golfo do México foram os primeiros a entrar em
cena, seguidos do povo de Teotihuacán, Toltecase, por fim, os Astecas. Nos vales
do Sudoeste, imperavam os Zapotecas e Mixtecas. Na Península de Yucatán, mais
ao Sul, o território era Maia (TAUSEND; PALAZUELOS, 1993). O termo índio,
criado para denominar os povos nativos das Américas, vem de um equívoco
da frota de Cristóvão Colombo, que errou o caminho para as Índias (na Ásia)
chegando às Antilhas caribenhas em 1492.

Chegando às Américas, os europeus não encontraram as plantas e animais
que estavam acostumados a criar e por isso introduziram porcos, cabras, galinhas,
gado bovino, trigo, cevada, cebola, alho, arroz, cana-de-açúcar, uvas, entre outros
(TAUSEND; PALAZUELOS, 1993). No México, as civilizações se destacavam na

98
TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA

agricultura através da tríade vegetariana: milho, feijões e abóboras. O atole era a


primeira refeição do dia, similar a uma canjica de milho. Animais, como codornas,
perus e canídeos, eram comuns nos cardápios. Os mais nobres bebiam chocolate
(Xocolatl) e pulque (bebida fermentada feita do Agave).

Os espanhóis vieram atrás de ouro, contudo foram os alimentos que


levaram que mais mudaram a história do mundo (PEREGALLI, 2013). O que
seria da Europa sem o milho, batatas, abóboras, pimentas, baunilha, chocolate,
feijões, amendoim e tomate? Não teríamos pizzas, nem polenta, pratos indianos
e tailandeses sem pimentas, não haveria cassoulet francês, nem abobrinhas em
antepastos (ZURITA, 2013).

Mesmo com o trigo e o pão sendo importantes em praticamente todo


o mundo, no México a tortilha de milho é mais importante e é consumida em
qualquer refeição. Feita de um milho nativo, não leva trigo em sua composição.
Algumas receitas levam gordura animal ou vegetal e um pouco de sal. Sua
aparência e textura são similares à do pão folha, típico na cozinha árabe e indiana
(ZURITA, 2013). Antigamente, se moía o milho fresco em uma pedra com um
rolo também de pedra até ficar bem processado e pegar textura de uma massa,
chamada de massa, se faz uma bolinha, que é amassada em formato de disco.
Basta então tostar em chapa quente ou assar em fogo ou forno para que toste e
cozinhe (TAUSEND; PALAZUELOS, 1993). Os recheios possíveis são inúmeros.
Se no Brasil temos muitas padarias, no México há muitas tortilherias.

A cristianização do povo mexicano caminhou ao lado da colonização,


contudo, ainda hoje, muitas crenças antigas são fundamentais. No geral, grande
parte delas cultua a natureza e seus elementos, deixando o homem em comunhão
com a natureza e não acima dela. O país foi colônia da Espanha até 16 de setembro
de 1810. O território mexicano já englobou toda a América Central continental,
que aos poucos foi sendo recortada em novos países e também um bom pedaço
dos EUA, como Califórnia e Texas.

A cozinha mexicana pode ser estudada através de suas particularidades


culturais que derivam dos produtos nativos de cada região e dos povos que ali
vivem, além da fusão com os produtos e culturas estrangeiras.

2.6 GASTRONOMIA CHINESA


A República Popular da China é o país mais populoso do planeta, com
mais de 1,44 bilhão de habitantes (SUA PESQUISA, 2020). Basicamente, quase
um quinto da população terrestre é chinesa e está entre os quatro maiores países
do globo.

Seu norte é seco e mais frio, fazendo fronteira com Rússia e Mongólia,
diferentemente do Sul, mais úmido e quente, com presença de florestas nas
fronteiras com Laos, Vietnã e Mianmar. Povos já estavam bem estabelecidos

99
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

às margens do rio Amarelo desde 2000 anos a.C., tendo sido governada pelas
conhecidas dinastias e impérios ao longo dos tempos. As dinastias perduraram
até 1912, quando se instaurou a república (PENA, 2018).

O país também se destaca pelo árduo desenvolvimento econômico


ao longo das últimas décadas. O PIB (Produto Interno Bruto) da China cresce
exponencialmente, em médias que se aproximam aos 9% anuais, quando o mais
comum é uma média de crescimento de 2 ou 3% na maioria dos demais países.
Atualmente, o PIB chinês é o segundo maior do planeta (PENA, 2018).

Apesar de sua evolução econômica, a nação não é considerada


desenvolvida, sendo classificada como “em desenvolvimento” ou “emergente”.
Isso ocorre porque este desenvolvimento não impacta tão fortemente na melhoria
social e na qualidade de vida. O país ainda sofre com problemas nas áreas de
saúde, educação, moradia e segurança, além de um relativamente baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) (PENA, 2018).

A Figura 8 apresenta o mapa político da China dividida em regiões,


incluindo as citadas na introdução, que são as mais importantes na gastronomia
do país.

FIGURA 8 – MAPA POLÍTICO DA CHINA POR REGIÕES

FONTE: Adaptada de <https://tiooda.com.br/images/paises/china-mapa1.jpg>.


Acesso em: 17 ago. 2020

100
TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA

Além das regiões apontadas no mapa, duas cidades merecem destaque:


a capital Pequim, segunda mais populosa, e Xangai, mais populosa. Ambas são
centros importantes econômicos e gastronômicos, reunindo influências culinárias
de locais distintos do país graças aos muitos migrantes que vão viver nelas.

2.7 ÍNDIA
A nação localizada no Centro-sul da Ásia possui mais de 1,4 bilhão de
habitantes (LONELY PLANET, 2020b) e, em breve, deve passar a população
chinesa, tornando-se a maior do planeta.

Seu clima é em grande parte de monção, que alterna bastante clima seco
e chuvoso com fortes incidências de ventos, equatorial, árido e de montanha.
Além do Hinduísmo já citado (mais de 80% da população), há também no país
praticantes do Islamismo (11%), Cristianismo (3,8%), Sikhismo (2%) e Budismo,
Jainismo e outras com menores percentuais (LONELY PLANET, 2020b).

O clima de montanha indiano deriva dos Himalaias. Esta cordilheira é uma


cadeia montanhosa localizada na região central do Continente Asiático. Ela está
presente nos territórios dos seguintes países: China, Nepal, Índia, Paquistão e Butão.
A Cordilheira do Himalaia é a que possui as montanhas mais altas do mundo. O
Monte Everest, ponto mais alto do planeta, possui 8.848 metros de altitude (acima
do nível do mar). O derretimento da neve no Himalaia gera rios fundamentais no
território, como o Ganges, Indo, Bramaputra e Yangtze (COSTA, 2020).

A seguir, a Figura 9 apresenta o mapa político do país.

101
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

FIGURA 9 – MAPA POLÍTICO DA ÍNDIA

FONTE: Adaptada de <http://www.asia-turismo.com/india/mapa-politico.htm>.


Acesso em: 20 ago. 2020.

Da época do Império persa, fortes influências se mantêm na cultura


indiana, desde tabus, rituais, alimentos e utensílios. O forno mais popular no
país, o tandoor ou tandur, por vezes chamado também de tandoori, é fruto da
cultura persa. Este forno é originalmente feito em barro e enterrado no chão. Com
brasa em seu fundo, mantém altas temperaturas, ideais para cocções rápidas
(CAMARGO-MORO, 2006).

102
TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA

Atualmente se encontra tandooris com fonte de gás e não enterrados. Os


pães achatados do dia a dia da cultura indiana são tradicionalmente assados
nestes fornos. Eles são simplesmente colados na parede interna do forno até
tostarem (CAMARGO-MORO, 2006). Estes pães não são fermentados com
fermento fresco, similares à tortilha de trigo da América Central, pão pita ou folha.
Costumam ser elaborados somente com farinha e água, abertos em formatos de
disco e bem tostados de ambos os lados. Esses pães costumam sempre estar à
mesa, independentemente da refeição.

103
UNIDADE 2 — TEMAS CENTRAIS PARA O ESTUDO DO LAZER, TURISMO E GASTRONOMIA

LEITURA COMPLEMENTAR

FÉRIAS COM FÔLEGO

Bettina Monteiro

Subir morro, andar até fazer bolhas nos pés, esfolar-se, arrepiar-se de
medo e acabar o dia esgotado numa cama nada confortável não são atividades
geralmente associadas a férias ideais. No entanto, cada vez mais brasileiros
alistam-se nas fileiras do turismo de aventura, exatamente para passar por essas
desventuras. Todo mundo sabe que corpo cansado dá a agradável impressão de
vitória sobre a vil matéria. E que, à adrenalina liberada diante de um penhasco,
segue-se uma incrível sensação de prazer. Todavia, o motivo mais contundente
para tanta gente passar maus bocados por livre e espontânea vontade não
é a bioquímica, e sim o cenário. Só o turismo de aventura leva a algumas das
paisagens mais excepcionais do Brasil. Muitas inatingíveis para quem não se
dispõe a padecer um pouquinho na Terra antes de atingir o paraíso, que pode
estar logo ali, no alto de uma montanha ou no fundo de uma caverna.

A visão mais extasiante da Chapada Diamantina é conquistada de cima


daqueles morros de pedra íngremes nas laterais e planos no topo, típicos da região.
Para chegar ao cume do mais visitado deles, o Morro do Pai Inácio, a partir da
cidade colonial de Lençóis, percorrem-se 22 quilômetros, num carro sacolejante
ou num cavalo galopante, para depois seguir a pé, na vertical, por mais uns vinte
minutos. A recompensa é estar a 1.240 metros de altitude e poder admirar, em
360 graus, um imenso campo verde (a Chapada é maior que a Holanda) enfeitado
por chapadões, vales, cânions, rios, cavernas e lagos. Em algumas das mais de 200
cavernas da região, basta uma lanterna para extasiar-se diante das estalactites e
estalagmites. Na maioria, contudo, é preciso recorrer a estacas, cordas e coragem.
O fotogênico Poço Encantado, por exemplo, só pode ser apreciado por quem
topa se enfiar numa caverna escura auxiliado por uma corda. Lá dentro, o visual
parece uma alucinação, especialmente entre maio e setembro, quando os raios
solares entram pela claraboia e tornam ainda mais deslumbrantemente azuis a
água e as paredes calcárias da gruta. Sem se molhar, dá para enxergar o fundo do
poço, a 60 metros de profundidade.

Em 2001, 150.000 pessoas tiveram experiências fantásticas como essa na


Chapada Diamantina. E não foram apenas atletas com músculos de aço nem
malucos sequestrados pelo desejo de comunhão total com a natureza. Para encarar
o turismo de aventura basta ter um pouco de preparo físico e muito, muito bom
humor para enfrentar distâncias, poeira e, eventualmente, um travesseiro duro.
Em geral, ninguém reclama. No turismo de aventura, a natureza não é apenas
admirada, é desafiada.

104
TÓPICO 4 — TURISMO E GASTRONOMIA

Férias de aventura perfeitas envolvem o uso de mochila, capacete,


mosquetão. No mínimo, um canivete e um cantil. E, além de equipamentos,
jargões. Descer pela cachoeira pendurado em uma cinta e uma corda chama-se
rappel. Atirar-se para o nada, de uma árvore, pedra ou cascata, com uma cinta
presa a um sistema de cordas e roldanas tem o nome de tirolesa. Andar de
bicicleta em terreno acidentado, mountain bike. A região de Brotas, no interior
de São Paulo, é o lugar onde todas essas peripécias são organizadas de maneira
mais sistemática. Ali, cada queda-d'água, cada morro, cada pedra é desafiada.
Nos feriados e fins de semana, o principal rio dos arredores, o Jacaré-Pepira, fica
coalhado de boias (boia-cross) e botes infláveis (rafting) cor de laranja dirigidos
por aventureiros com colete e capacete igualmente coloridos. O rappel é feito
em penhascos e cachoeiras, quase sempre com mais de 40 metros de altura. As
agências locais oferecem cerca de quarenta atrações. A dose de adrenalina varia
da cavalgada em noite de Lua cheia ao arvorismo, uma mistura de gincana com
exercícios militares entre a copa das árvores.

O turismo de aventura fez com que Brotas passasse dos dois hotéis que
tinha dez anos atrás para vinte. Hoje a cidade recebe 100.000 turistas por ano. O
modelo deu tão certo que vem sendo copiado. Basta a geografia colaborar. No
Parque Nacional de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, os cânions são
percorridos a pé e de balão. No Vale do Itajaí, em Santa Catarina, as agências
locais já oferecem rafting no Rio Itajaí-Açu. No Paraná, os turistas aventuram-
se em caminhada, rappel e ciclismo no Cânion Guartelá, o sexto do mundo em
extensão. Em Itacaré, na Bahia, os nativos tornaram-se guias de trilhas pelas serras
encostadas no mar, de rafting pelos rios íngremes e de rappel nas cachoeiras. O
espetáculo da natureza costuma conquistar até os mais renitentes sedentários.

FONTE: REVISTA VEJA. Férias com fôlego. 2012. Disponível em: http://veja.abril.com.br/
especiais/turismo/p_058.html. Acesso em: 19 jan. 2019.

105
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Juntos, os árabes, portugueses e espanhóis dominavam o mercado mundial


de produtos alimentares, principalmente pelo Mediterrâneo. Ambos os países
traziam produtos de suas colônias na África e Américas para a Europa e os
vendiam para mercadores asiáticos.

• Sem os portugueses e espanhóis, a história seria diferente, já que dentre os


produtos que espalharam pelo mundo, podemos citar: pimentas, chocolate,
frutas diversas, batatas, mandioca, ervas, raízes, amendoim, baunilha e feijões.

• Os romanos trouxeram à Espanha o trigo, o vinho, azeite e muitos outros


produtos que se tornaram do cotidiano espanhol.

• Os árabes trouxeram produtos hortícolas, como alface, limão, açafrão, cenoura,


alface, ervas, amêndoas, especiarias.

• Das Américas, os navegadores espanhóis e portugueses trouxeram tomate,


batata, milho, peru, feijões e favas, amendoim, pimentas e outros produtos que
hoje são indispensáveis na cozinha do país.

• Tanto a cozinha portuguesa como a espanhola derivam de uma mescla dos


povos que ali passaram, como romanos, cartaginenses e árabes, com os produtos
que trouxeram de outros continentes na época dos impérios navegadores.

• A cozinha da América do Sul e Central tende a ser uma mescla entre a cultura
nativa, europeia (principalmente espanhola) e africana. Alguns países possuem
mais cultura nativa, outros mais europeias e outros mais africanas, contudo, é
nítida a presença de todas elas nos países apresentados.

• Batata, milho, tomate e abacate estão presentes em todos os cantos das Américas.
Estes produtos nativos do continente formam a base alimentar de grande parte
da população. Para os países no território amazônico, a mandioca ganha mais
importância, sendo alimento diário.

• Da mesma forma, a batata, que é tão importante na Europa, é nativa na América


do Sul, principalmente da região do Peru.

• Os nativos peruanos executavam receitas das mais distintas com os milhares


de espécies de batata disponíveis, contudo ao chegarem à Europa, passaram a
ser preparadas com o olhar europeu e combinadas com ingredientes do velho
continente. Uma nova cultura se formava.

106
• Já a feijoada, que é tão brasileira, é uma excelente mescla de culturas.

• O feijão nativo do nosso território cozido com carnes de porco (animal


introduzido pelos portugueses), servida com arroz (originário da Ásia),
laranja (nativa da Ásia), couve (introduzida no Brasil pelos portugueses), mas
formatada com o olhar do povo brasileiro. Uma receita única.

• A pasta de camarão, popular pela Ásia, é elaborada com camarões que são
fermentados, possuindo odor muito forte. Entretanto, quando adicionada aos
preparos quentes, aflora-se com notas interessantes de sabor e aroma.

• A cozinha tradicional indiana deriva da cozinha caseira, feita principalmente


pelas mulheres, mães de família.

• Graças ao comércio de chá e especiarias que muito interessava aos europeus na


época das grandes navegações, muitos ingredientes circularam mundo afora e
também chegaram à Índia.

• Apesar de vários estilos de cozinha no país, o uso das especiarias, ervas,


cereais, leite, legumes, frutas, paladar agridoce, ghee (manteiga clarificada),
dahi (iogurte), panneer (queijo fresco de coalho), chutneys e picles é comum a
todas elas.

• O massala é um termo genérico para uma mistura de temperos.

• Na Índia, por ser predominantemente adepta à religião do Hinduísmo, não há


o costume de consumir carne bovina.

• A China possui oito cozinhas tradicionais: Sichuan, Shandong, Guangdong,


Jiangsu, Zhejiang, Fujian, Hunan e Anhui. Cada uma delas possui características
marcantes e juntas simbolizam a arte gastronômica chinesa.

• Dentre os derivados da soja mais utilizados na Ásia, podemos citar: leite de


soja, tofu, tofu fedorento, edamame, shoyu e missô.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

107
AUTOATIVIDADE

1 Aponte quais são os principais peixes consumidos pelos portugueses.

2 Aponte qual é a região espanhola que produz o melhor presunto cru do


mundo e as características do produto.

3 Aponte quais são os três derivados de soja utilizados na cozinha chinesa e


suas características.

108
REFERÊNCIAS
ANDRADE, J. V. de. Lazer: princípios, tipos e formas na vida e no trabalho. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.

BACAL, S. Lazer e o universo dos possíveis. São Paulo: Aleph, 2003.

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Editora da UNICAMP, 1997.

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BRASIL. Ministério da Economia. População brasileira cresceu 12,3% em dez


anos, diz IBGE. 2011. Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/
assuntos/noticias/planejamento/populacao-brasileira-cresceu-12-3-em-dez-anos-
diz. Acesso em: 30 set. 2020.

CAMARGO-MORO, F. Arqueologias culinárias da Índia. 3. ed. Rio de Janeiro –


São Paulo: Record, 2006.

CAMARGO, L. O. de L. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 1999.

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ZURITA, R. M. Verde, blanco y rojo en la cocina mexicana. Cidade do México:


Larousse México. 2013.

111
112
UNIDADE 3 —

TURISMO E LAZER —
TEMAS TRANSVERSAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer as principais motivações para o lazer e o turismo;

• debater a relação entre o lazer e a empresa;

• analisar o impacto das tecnologias no lazer;

• verificar a relação entre o lazer e o jogo e;

• estudar a interface entre festas, lazer e cultura.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

TÓPICO 2 – O LAZER E A EMPRESA

TÓPICO 3 – LAZER E TECNOLOGIA

TÓPICO 4 – O LAZER E O JOGO

TÓPICO 5 – FESTAS, LAZER E CULTURA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

113
114
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

1 INTRODUÇÃO
O comportamento reflete as atitudes do homem, que estão diretamente
vinculadas àquilo que a pessoa pensa, acredita e vê, e se realiza graças à capacidade
cognitiva e emocional de cada um. Neste sentido, a direção, a persistência e a
finalidade de um comportamento constituem o objeto de estudo da motivação,
isto é, trata-se de uma área de estudo que analisa quais razões e estímulos
norteiam as ações individuais. (BACAL, 2003). Vamos nos debruçar então sobre o
comportamento e a motivação dos consumidores de lazer e turismo.

2 AS PRINCIPAIS MOTIVAÇOES PARA O TURISMO E LAZER


Existem muitas causas que induzem o homem a viajar. Quando possuem
um caráter prático, transformam-se numa obrigação, como é o caso das viagens
realizadas por motivo de negócios, por razões de saúde ou trâmites de qualquer
natureza. O restante das viagens merece uma análise que permita ajudar para
saber por que as pessoas viajam quando nada as obriga a isso. (BOULLÓN, 2004).

Para que se compreendam os apelos motivacionais é importante ter em


mente que as pessoas procuram atingir objetivos, e têm a intenção de consegui-lo
de uma determinada forma, dentro de certo tempo, com algum grau de esforço
e determinado nível de realização. (BACAL, 2003). Isto implica que quando
realizamos o esforço de compreender quais os motivos que impulsionam as
viagens de lazer, precisamos sempre tomar em conta um conjunto de condições e
circunstâncias específicas. Em síntese, de acordo com Weisinger (1997), a motivação
é aquilo que leva o indivíduo a despender energia numa direção específica com
um determinado propósito. Para Barreto (1995, p. 64) “as motivações são as causas
subjetivas que vão fazer com que o turista decida sua viagem”.

As motivações recebem interferência do contexto social em que o indivíduo


se encontra inserido. Andrade (2001) comenta que o lazer pode ser motivado ou
estimulado pelo desejo de se viver novas experiências, pela busca por aventura,
por necessidade psicológica de repouso e por situações variadas, provenientes do
círculo social em que o sujeito está envolvido.

115
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Conforme faz notar Bacal (2003), o nível de aspiração do que se pretende


atingir é colocado na mesma altura dos comportamentos valorizados pelos seus
grupos de participação. Significa dizer que algumas pessoas escolhem alguns
destinos e programas, pois todos da sua ‘turma’ já fizeram determinado passeio e
como uma forma de reconhecimento e aceitação, a pessoa também quer vivenciar
aquela mesma experiência. Em outros casos, na ânsia de ascender verticalmente,
o sujeito procura reproduzir comportamentos inseridos no repertório do grupo
de referência. É o caso, por exemplo, dos chamados ‘novos ricos’, que para
demonstrar sua recém-conquistada prosperidade financeira, não medem esforços
para selecionar destinos e programas considerados na moda pelos seus pares.

Convém apontar que os relatos, conselhos e sugestões de colegas


e amigos são elementos importantes na influência de opções pessoais. O
papel desempenhado pelos canais de marketing e comunicação (publicidade,
propaganda, divulgação em sites e jornais etc.), tal como a elaboração de contratos
(compras de viagens antecipadas), somada a formas de pagamento disponíveis,
são fatores determinantes para as escolhas do turista. (ANDRADE, 2001).

O processo de gestão do turismo e do lazer não pode perder de vista que


o turismo faz parte do mundo dos símbolos, ícones, sonhos e representações, pois
se trata de um conjunto de pré-concepções e percepções de imagens e valores
imbuídos de sentido cultural.

Andrade (2001) comenta que as pessoas que demonstram uma busca


obsessiva por repouso e lazer, por conta de sua ideia fixa e do objetivo que
esperam atingir, não se distraem e nem relaxam. Ademais, o nível intelectual,
as necessidades e os gostos pessoais, somados a disposição para relaxar e
as possibilidades para tanto, constituem-se em fatores predeterminantes da
qualificação do resultado do lazer.

Além das motivações psicológicas que interferem no processo de consumo


do lazer e do turismo, outros aspectos de ordem bastante prática também exercem
influência. Conforme salienta Barreto (1995), para que ocorra o consumo de bens
e serviços de lazer, é preciso que suas necessidades vitais tenham sido supridas.
Quer dizer, do ponto de vista econômico, o consumo turístico só é possível
depois que todo o orçamento individual foi contemplado, levando em conta os
itens de consumo obrigatório, como moradia, alimentação, higiene, vestuário
básico, transporte básico, saúde. Dependendo do nível de renda, a pessoa poderá
gastar com itens não tão vitais (eletrodomésticos, livros, CDs) e se ainda sobrar
dinheiro, a pessoa pode optar em fazer uma poupança dessa parcela de dinheiro
ou realizar gastos considerados supérfluos, como artigos de luxo, divertimento e
potencialmente, realizar viagens.

Quando se discute a questão dos desejos e necessidades humanas, é


indispensável retomar a pirâmide trabalhada por Abraham Maslow, conhecida
como “Teoria da Hierarquia das necessidades”, que oferece uma base sólida
para situarmos os motivos das viagens turísticas. Nessa teoria, as necessidades

116
TÓPICO 1 — MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

humanas são divididas em cinco grupos, dispostos em uma ordem hierárquica.


A partir do momento em que uma necessidade é atendida, busca-se a satisfação
da próxima ascendente. (MAXIMIANO, 2007).

Observe na figura a seguir:

FIGURA – PIRÂMIDE DE MASLOW

Auto-Realização

Auto Estima

Necessidades Sociais

Necessidades de Segurança

Necessidades Fisiológicas Básicas

FONTE: Extraído e adaptado de Maximiano (2007)

De modo sintético, a Pirâmide de Maslow considera que as necessidades


fisiológicas, isto é, as de caráter básico como fome, sede, sono, sexo, devem ser
as primeiras a serem atendidas. Posteriormente, situam-se as necessidades de
segurança ou de estabilidade, permitindo ao ser humano viver longe de perigos
ou ameaças. Envolvem o desejo de sentir seguro dentro de sua residência, de
se ter um emprego estável ou um plano de saúde, por exemplo. Na sequência,
encontram-se as necessidades sociais, vinculadas aos sentimentos de afeto, amor,
afeição e de pertencimento a determinado grupo. No quarto nível, a necessidade
de estima relaciona-se com a maneira pela qual o indivíduo se vê e se avalia,
envolvendo o reconhecimento das capacidades pessoais e o reconhecimento dos
outros perante as atividades que o sujeito realiza. Esse nível de necessidade,
quando satisfeita, conduz a sentimentos como força, valor, autoconfiança,
prestígio, utilidade e capacidade. Por fim, a necessidade de autorrealização é
a mais elevada da pirâmide, e refere-se à motivação para realizar o potencial
máximo do ser. Está vinculada ao processo de identificação do próprio potencial
e à busca pelo contínuo autodesenvolvimento. (CHIAVENATO, 1987).

Com base no exposto, não há dúvidas que o consumo do turismo, enquanto


modalidade de lazer situa-se nas camadas mais superiores da pirâmide. Os
deslocamentos turísticos podem ser considerados como uma necessidade social,
quando na percepção do indivíduo, ele deve viajar para obter reconhecimento de
um determinado grupo e assim obter estima. A pessoa pode buscar no turismo a
autorrealização com uma atividade que lhe satisfaça, que lhe traga prazer ou que
contribua para o seu desenvolvimento pessoal, situando desta forma o turismo
no topo da pirâmide. (BARRETO, 1995).

117
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Conforme estamos estudando nesse caderno, o acesso ao lazer deveria


ser um direito assegurado a todas as parcelas da população tendo em vista sua
relevância para o desenvolvimento humano. Contudo, a realidade brasileira
demonstra que na prática, apenas determinadas parcelas da população têm acesso
ao lazer. Outro ponto que já estudamos ao longo da disciplina, é que embora
a disponibilidade financeira não seja um pré-requisito para as atividades de
lazer, tendo em vista que algumas delas não possuem nenhum custo (caminhar,
ler, ir a bibliotecas etc.), é notável que parcelas da população economicamente
desfavorecidas, muitas vezes, não possuem o hábito de dedicar certo tempo para
o lazer como parte de sua cultura. Andrade (2001, p. 138) comenta:

É constrangedora a constatação de que para as populações de menores


chances de chegar aos bens sociais e materiais e aos níveis desejáveis
de liberdade intelectual, as mídias, além de funcionarem como
recursos que pressionam o aumento das vendas e a aceitação passiva
de ideias, também se constituem em si mesmas em espécies de lazer
e de repouso.

Isto quer dizer que muitas pessoas não foram educadas para o desfrute
do lazer e não possuem o costume de realizar certo esforço para organizar e
viabilizar seu lazer, seja organizando mentalmente suas atividades com cuidado,
afim de que sobre mais tempo para descansar; pesquisando em sites e jornais a
programação artística e cultural da sua cidade; economizando dinheiro ao longo
de todo o ano para poder realizar um passeio nas férias; planejando o ambiente
de sua casa (quartos, salas e varandas) para que estes fiquem mais aconchegantes
e estimulantes para o convívio social etc.

Observa-se que na realidade cotidiana, muitas pessoas vão se deixando


levar pela vida sem se atentar para a necessidade de reservar um espaço e tempo
de qualidade para o lazer resultando, por exemplo, em um fim de semana inteiro
largado em frente à televisão, assistindo à programação de forma passiva, sem
escolher e selecionar de fato a programação (da televisão e da sua própria agenda).
E para piorar, a televisão, comumente nos vende a ideia de que precisamos
adquirir determinados produtos e sugerindo que a ausência deles resulta em
algum tipo de descontentamento e insatisfação pessoal.

O comportamento do consumidor no turismo, como qualquer outro


comportamento motivado, não pode ser explicado a partir de um único motivo. É
comum que a motivação para viajar englobe uma combinação de motivos, como
diminuir o estresse, conhecer novos lugares ou aprender mais sobre determinada
cultura.

Boullón (2004) identifica oito causas pertencentes à categoria das


denominadas motivações psicológicas que motivam a realização de viagens. São
elas:

118
TÓPICO 1 — MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

1) Por razões culturais ou educacionais: envolve o desejo de conhecer (ou de


voltar a visitar) destinos dos quais se possui informações prévias e precisas.
Envolve interesses culturais, como visitar cidades antigas, conhecer obras de
artes, locais de beleza arquitetônica além de cursos ou congressos de curta
duração.
2) Por saúde: engloba as pessoas que, sem estarem doentes, viajam por motivações
de beleza, estética e rejuvenescimento.
3) Por desejo de mudança: envolve a busca de algo que compense os desgastes
provocados pelo trabalho, pela vida cotidiana, as incomodações decorrentes
do núcleo familiar ou das pressões decorrentes da vida da cidade.
4) Para fazer compras: responde à inclinação de adquirir coisas típicas, que só
podem ser conseguidas no local de origem e que servem como testemunho da
viagem ou ainda, ao desejo de obter artigos conhecidos pelo menor preço.
5) Por hedonismo: envolve coisas concretas e experiências subjetivas, tais
como: passar bem, comer bem, bronzear-se ao sol, conhecer pessoas bonitas,
extravagantes ou acolhedoras, viver aventuras amorosas, experimentar
emoções ou simplesmente não fazer nada.
6) Para descansar: pressupõe certo nível de exaustão motivado pelo trabalho,
pela família ou pela vida urbana.
7) Para praticar esportes: refere-se às viagens de pessoas que já adquiriram
uma habilidade e viajam atraídas pela oportunidade de praticar seu esporte
preferido, como a pesca ou o alpinismo, por exemplo. Excluem-se dessa
categoria as viagens motivadas pela prática de esporte profissional.
8) Para conhecer: é o impulso mais comum a todos, pois as pessoas possuem a
curiosidade de tomar contato com ambientes e pessoas diferentes.

Sempre é válido lembrar que as motivações não atuam de forma


independente sobre o mecanismo de decisão, elas podem combinar-se entre
si. Conforme foi comentado, existe a categoria de motivações vinculadas às
obrigações, as quais, além do trabalho e por questões de saúde, envolvem um
conjunto de motivações que podem ser representadas pelo ente “família”,
incluindo relações ineludíveis, não recreativa, como ir à festa de algum membro
da família, sair para cuidar de um doente ou participar de alguma atividade que
outra pessoa escolheu por razões psicológicas, sem levar em conta a opinião dos
demais. (BOULLÓN, 2004).

Para Coriolano e Silva (2005) a viagem turística de lazer possui por objetivo
a busca do prazer e do gozo, permitindo a pessoa se distanciar do seu cotidiano,
propiciando o encontro com o novo, o diferente e visa satisfazer diversos prazeres
que vão do luxo ao consumo, avançando para o resgate psíquico que permitiria,
de certa forma, a pessoa ser mais feliz. Evidentemente, as viagens de lazer são
bastante distintas das viagens realizadas por razões de negócios, seja em sua
motivação e pelas características inerentes a cada modalidade. Swarbrooke e
Horner (2002) identificam as diferenças no quadro a seguir:

119
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

QUADRO 2 – DIFERENÇAS TURISMO DE LAZER X TURISMO DE NEGÓCIO

Turista de lazer Turista de negócio


O consumidor usa o serviço, mas ele não é o
Ele é tanto o cliente que toma a decisão quanto cliente (ou seja, é geralmente o empregador que
o consumidor que usa o serviço. decide se o turista de negócios viajará e sobre o
custo da viagem).
Quase sempre escolhe a destinação. Não costuma escolher a destinação.
Viagens relativamente pouco frequentes. Viaja com relativa frequência.
Suas viagens são em geral mais longas do que
Viagens em geral mais breves.
as do turista de negócios.
O período de planejamento da viagem pode ser
Planos de viagem realizados geralmente numa bastante curto (em horas), para resolver algum
escala média de duração (de algumas semanas trâmite urgente ou longamente planejado (anos)
a um ano). no caso de comparecimento a conferências, por
exemplo.
Relativamente consciente dos custos, já que ele Orçamento menos consciente, já que o turista
próprio costuma pagar a conta. não paga os custos da viagem.
Consumidor em geral menos experiente e menos
Consumidor em geral mais experiente e exigente.
exigente.

FONTE: Swarbrooke e Horner (2002, p. 216)

Além de entender as motivações do turista de lazer, é fundamental


conhecer o perfil desse tipo de viajante, a fim de que possam ser elaboradas
estratégias de negócios condizentes com suas características. Cabe aos gestores de
turismo e lazer buscarem pistas para elaborar produtos turísticos de acordo com
a motivação do seu público-alvo. Para Andrade (2001b), os diferentes estilos de
vida são indicadores eficientes para colaborar no trabalho de captação de novos
praticantes de lazer e do turismo. Além disso, para compreender as motivações
do turista, é primordial conhecer os principais perfis psicológicos utilizados no
âmbito do turismo. Existem várias formas de se classificar os tipos de turistas e
uma das mais conhecidas é o modelo de Plog (apud Barreto, 1995), acompanhe na
sequência:

a) Turistas alocêntricos: são exploradores, aventureiros e buscam experiências


novas e estabelecer contato com os visitantes. Quando uma destinação passa a
receber muitos turistas, eles buscam novos locais, pois não se preocupam com
a “moda” ou a “badalação”.
b) Turistas mesocêntricos: viajam individualmente, mas normalmente vão para
locais onde que recebem bastante visitantes e gostam de visitar lugares com
reputação. Estabelecem contato com a população local, principalmente por
meio da aquisição de bens e serviços.
c) Turistas psicocêntricos: modalidade de turistas que só viaja para lugares que
lhes sejam familiares, utilizando-se dos “pacotes turísticos”, isto é, saem de
casa com a viagem toda programada. Primam muito pela segurança em todos
os sentidos e normalmente, não abrem mão da presença constante de um guia
de turismo. Esperam que no núcleo turístico haja as mesmas coisas que em seu
local de origem e, além disso, são gregários, só viajam em grupos.

120
TÓPICO 1 — MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

Outra forma de classificar os turistas bastante difundida são os quatro


tipos elaborados pela influente sociólogo Cohen apud Swarbrooke e Horner
(2002) que também leva em conta as motivações dos turistas:

a) Turista de massa organizado: compra suas férias num pacote no ensejo de


conhecer destinações populares e viaja em grupos numerosos e seguindo um
itinerário predeterminado e inflexível. Normalmente, não se aventura para
muito longe da excursão ou do hotel em que está hospedado.
b) Turista individual de massa: realiza o turismo através de pacotes mais flexíveis
que lhe proporcione mais liberdade. Eventualmente, busca novas experiências.
Sua tendência, porém é optar por destinos e empreendimentos conhecidos.
c) Turista explorador: organiza sua própria viagem de férias, empreendendo-a de
forma a evitar contato com outros turistas. Se por um lado pretende interagir
com as pessoas locais, por outro espera certo nível de conforto e segurança.
d) Turista errante: esse tipo realiza grande esforço para ser aceito, ainda que
temporariamente, como parte da comunidade local. Não possui um itinerário
planejado e escolhe suas destinações e acomodações de forma improvisada,
sem prévio planejamento. Tenta evitar ao máximo o contato com empresas
turísticas formais.

FIGURA 14 – TURISTAS VIAJANDO EM GRUPOS ORGANIZADOS

FONTE: O turismólogo. Disponível em: <http://oturismoloogo.blogspot.com/2011/05/cresce-o-


numero-de-turistas.html?z#!/2011/05/cresce-o-numero-de-turistas.html>. Acesso em: 15 fev. 2012.

No turismo, os elementos que contribuem para a qualidade de vida fazem


com que a evasão, o desejo de “fugir do mapa” se torne uma importante motivação
para as viagens, representando uma forma de se distanciar dos constrangimentos
impostos pelo ambiente, no anseio de buscar mais liberdade. (BACAL, 2003).

Nesta linha de considerações, outra vantagem do turismo é que como as


viagens demandam a liberação de um tempo livre contínuo, a mesma se apresenta
como um espaço de tempo propício para o desenvolvimento do lazer. Como
sabemos, a usufruição do lazer necessita de uma atitude mental nem sempre fácil
de ser alcançada, pois para relaxar, não existe um dispositivo mágico que ao ser
tocado isenta a pessoa de todas as suas preocupações. Por isso, muitas vezes,

121
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

durante uma viagem de férias é comum que o sujeito leve alguns dias (ou pelo
menos algumas horas) para se ambientar e passar a desfrutar do seu tempo de
lazer. Por tal razão, o turismo é tão eficiente na tarefa de permitir a restauração
mental, física e psicológica, pois usualmente, assegura tempo e espaço para tanto.

Outro ponto interessante com relação ao potencial do turismo como


modalidade de lazer, é que a atitude e a sensibilidade da pessoa sofrem alterações
quando ela está viajando. Boullón (2004, p. 110) nos diz:

Quem quer que se transforme em turista experimenta naturalmente


uma alteração em seu comportamento habitual. Sem mudar os
traços básicos do caráter e da forma de ser, o fato de viajar predispõe
o indivíduo, de modo especial, diante das coisas e situações que
vivenciará, inclusive as parecidas às da vida cotidiana. A mudança
mais evidente no turista, quanto ao comportamento, reside no
excitamento da curiosidade. É interessante observar como pessoas que
nunca visitaram um museu da cidade natal interessam-se por outros
que nem sabiam que existiam antes de embarcar no avião.

Tal fato é realmente instigante, mas é notável que muitas pessoas mudam
sua postura e sua atitude quando viajam. Algumas se tornam mais expansivas
e alegres, outras passam a utilizar roupas bem mais coloridas, vibrantes e
despojadas do que no dia a dia, outras demonstram interesse por assuntos que
antes pareciam não lhe agradar. Se a viagem for em grupo então, parece que
as mudanças e até mesmo os exageros são potencializados. Como é notável em
várias situações cotidianas, duas moças acomodadas em um restaurante, tendem
a falar em um tom de voz natural. Em um grupo de dez mulheres, por sua vez,
a tendência é um aumento expressivo no tom da conversação e que estas se
apresentem de forma mais expansiva. O estudo do comportamento das pessoas
e dos diferentes consumidores é um tema complexo que cresce nos últimos anos.

Para Dumazedier (1979) o turismo desempenha três funções principais. A


primeira é função de descanso; a segunda diz respeito à função do divertimento,
recreação e entretenimento e a terceira é a função do desenvolvimento.

Tendo em vista que os negócios voltados ao turismo e ao lazer representam


um importante segmento econômico, profissionais como promotores culturais,
agentes, animadores, recreadores e demais profissionais do setor, passam
a dedicar-se a programar e criar novas motivações e justificativas de lazer
disponíveis nas variadas formas de turismo. As programações de lazer elaboradas
para despertar interesses funcionam como elemento impulsionador para tornar
mais agradáveis e frequentes as viagens de saúde, de negócios, de estudos, de
aventura, de cumprimento de deveres religiosos ou de afastamento de problemas
ou situações desagradáveis. (ANDRADE, 2001b).

122
TÓPICO 1 — MOTIVAÇÕES PARA O LAZER E O TURISMO

Tratando ainda dos aspectos subjetivos que permeiam o turismo, Oliveira


apud Marcellino (1996) esclarece que o turismo, enquanto atividade de lazer
envolve três dimensões, a saber:

a) Imaginação: é a fase que antecede a viagem, o domínio do sonho. É a etapa em


que a pessoa busca informações nos diversos canais de comunicação disponíveis,
buscando um referencial que permita curtir a viagem por antecipação.
b) Ação: é a vivência da viagem em si, abarcando a surpresa e a aventura que
cercam a ruptura com o cotidiano. Viagens totalmente programadas deixam
pouca margem para os elementos inesperados.
c) Recordação: é uma espécie de prolongamento da viagem, que não termina
na volta. Quando a viagem permite um intenso envolvimento, maior será o
prolongamento em termos de recordações de imagens e sensações, as quais
passam a ser socializadas entre familiares e amigos.

Boullón (2004) comenta o aspecto da imagem-recordação das viagens e


explica que independente da duração e da repetição de uma viagem, ela pode
passar para a memória de longo prazo e durar a vida toda. As lembranças estão
vinculadas aos acontecimentos que mais impressionaram o turista durante a
viagem. Cabe ressaltar que na mesma viagem, as mesmas coisas são percebidas
de modo diferente por cada pessoa. A percepção de cada um está atrelada, de
modo geral, a fatores como idade, sexo, nível cultural, profissão e experiências
anteriores do turista.

123
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O comportamento reflete as atitudes do homem, que estão diretamente


vinculadas àquilo que a pessoa pensa, acredita e vê e se realiza graças à
capacidade cognitiva e emocional de cada um.

• As motivações são as causas subjetivas que vão fazer com que o turista decida
sua viagem.

• As motivações para viajar recebem interferência do contexto social em que o


indivíduo se encontra inserido.

• O nível intelectual, as necessidades e os gostos pessoais, somados à disposição


para relaxar e as possibilidades para tanto, constituem-se em fatores
predeterminantes da qualificação do resultado do lazer.

• O consumo do turismo, enquanto modalidade de lazer, situa-se nas camadas


mais superiores da Pirâmide de Maslow.

• É comum que a motivação para viajar englobe uma combinação de motivos.

• Além de entender as motivações do turista de lazer, é fundamental conhecer


o perfil desse tipo de viajante, a fim de elaborar estratégias de negócios
condizentes com suas características.

• Plog classifica os turistas em alocêntricos, mesocêntricos e pscicocênctricos.

• Cohen divide os turistas nas seguintes categorias: turista de massa organizado,


turista individual de massa, turista explorador e turista errante.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

124
AUTOATIVIDADE

1 Explique o que é motivação para o turismo.

2 Mencione três fatores que exercem influência sobre o resultado das


atividades de lazer.

3 Qual é o principal argumento presente na Teoria das Necessidades de


Maslow?

4 Cite dois motivos que estimulam a realização de viagens de lazer.

5 De acordo com Plog, o que quer dizer turistas alocêntricos?

125
126
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

O LAZER E A EMPRESA

1 INTRODUÇÃO
Durante muitos anos, os tempos de trabalho e os tempos de lazer
mantiveram-se claramente separados e a dicotomia existente impedia a realização
de práticas mais integradoras. Nos últimos anos, essa realidade foi alterada e no
âmbito das organizações, o lazer passou a ser debatido e incorporado por muitas
empresas. Neste tópico, vamos analisar de que modo ocorreu esse processo e
observar quais são os avanços e as fragilidades que permeiam essa relação.

2 O TRABALHO E O LAZER NAS EMPRESAS


O lazer e a empresa são pares intimamente relacionados, pois conforme
estudamos, o tempo livre para o lazer usualmente depende da liberação do
tempo de trabalho e das obrigações. Atualmente, grande parte dos gestores já
está convencida da necessidade de tempo livre para o lazer e o repouso dos seus
funcionários, no próprio ambiente de trabalho ou fora dele, tendo em vista a
preocupação em mantê-los os mesmos menos estressados, melhorar a qualidade
de vida e estimular a boa convivência entre todos.

Durante os primórdios da Era Industrial, alguns empresários julgavam-


se senhores não apenas de seus negócios, mas também do tempo de serviço
do tempo livre de seus empregados, sendo que muitos acreditavam que a
remuneração que os trabalhadores recebiam eram superiores ao que eles
mereciam. (ANDRADE, 2001b).

Chamando atenção para a importância de espaços de repouso e diversão,


Andrade (2001b, p. 53) diz:

Ninguém consegue desenvolver sempre com segurança e no melhor


nível de qualidade, seu trabalho profissional ou qualquer outra
atividade que realiza de modo sistemático e constante. Todas as
criaturas humanas necessitam de pausas para repouso que podem
constituir-se de atividades de distração ou de tempo para dormir, a
fim de não entrarem em processos de irritação ou de extenuação.

127
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Conforme estudamos na Unidade 1, historicamente o trabalho sempre


mereceu mais destaque do que o lazer, devido seu caráter de manutenção e provedor
dos elementos necessários para a sobrevivência bem como sua representatividade
econômica. Ainda existem resquícios de um pensamento que considera o lazer,
o lúdico e a diversão como um perigo para a lucratividade. Nas empresas, essa
realidade se expressa, por exemplo, na limitação do acesso de determinados sites da
internet, pois em algumas organizações, se não existir o controle, seus colaboradores
gastam horas em conteúdos que não possuem relação com seu trabalho, tais como
notícias, previsões astrológicas, redes sociais, ensaios sensuais, resultados da última
rodada do campeonato, receitas etc. Outras empresas conseguem lidar melhor com a
questão, de modo que ainda que todo tipo de conteúdo esteja disponível, seu corpo
organizacional sabe utilizá-lo com parcimônia.

É evidente que pode ser saudável e agradável para o colaborador,


consultar materiais diversos para se distrair após um tempo intenso de trabalho,
por exemplo. Mas há também que se ponderar os interesses da empresa, porque
caso não exista o devido cuidado, ela passa a ser prejudicada, pois ao invés de
realizar suas tarefas durante o expediente, por exemplo, o funcionário pode
perder o foco várias vezes ao longo do dia, enviando mensagens e postando
comentários sobre as fotos da viagem do amigo no último fim de semana e, ter de
ficar depois do horário no escritório para finalizar suas pendências, demandando
o pagamento de horas extras. Há que se refletir, portanto, na necessidade de
adotar uma postura responsável, educada e apropriada ao ambiente de trabalho,
ponderando sempre os interesses de ambas as partes envolvidas. Se por um
lado, o lazer pode ser um símbolo de liberdade, por outro, carece de boa dose de
maturidade e comprometimento.

Defendendo a necessidade de lazer dentro das empresas, Marcellino


(1999) sustenta que vivemos em um período em que a criatividade e a capacidade
de organização, tanto no trabalho como no lazer, exigem maiores investimentos
na área de tal forma, que a iniciativa privada “esclarecida” precisa estar atenta
aos benefícios provenientes do lazer não somente para os trabalhadores, mas
também para as empresas onde eles desenvolvem sua atuação profissional.

O lazer nas empresas, embora restrito, apresenta um crescimento


considerável, sobretudo em organizações de médio e grande porte, permitindo
melhorar o bem-estar social e a melhoria da qualidade de vida no trabalho.
Para desenvolver ações de lazer no bojo das empresas é imprescindível criar
competências para trabalhar a questão do lazer de forma séria. (RAMALHO, 1999).
Ainda que existam dados otimistas, há que se considerar que a incorporação de
momentos de lazer demanda um processo de amadurecimento e alteração cultural,
o que certamente, demanda algum tempo. Nenhuma mudança social ocorre
instantaneamente e por isso, é necessário compreender que até que se mude o
entendimento por parte dos gestores da empresa, pode passar algum tempo.

128
TÓPICO 2 — O LAZER E A EMPRESA

Uma das empresas precursoras e que ficou internacionalmente conhecida


por incentivar momentos de lazer, foi a gigante Google. Na referida organização,
a preocupação com o lazer surge atrelada à intenção de fomentar a criatividade.
A empresa iniciou suas operações em 1998, e embora tenha se tornado uma mega
corporação, seus gestores afirmam manter o ambiente de pequena empresa.

No almoço, quase todos comem na cafeteria do escritório, sentados em


qualquer mesa que tenha uma vaga e desfrutando de conversas com googlers
de outras equipes. Na visão dos gestores da empresa, o compromisso com
a inovação depende de todos estarem confortáveis compartilhando ideias e
opiniões.

FONTE: Disponível em: <http://www.google.com/intl/pt-BR/about/corporate/company/


culture.html>. Acesso em: 27 fev. 2012.

A empresa estimula seus funcionários ao lazer e quando não estão


trabalhando, os googlers se envolvem em várias atividades, desde andar de
bicicleta pelo país até degustar vinhos, voar e jogar vôlei. Nas sedes da empresa,
é possível encontrar mesas de sinuca, quadras de vôlei, diversos videogames,
pianos, mesas de pingue-pongue e academias que incluem aulas de ioga e dança.
Além disso, existem organizações criadas por funcionários com todos os tipos
de interesse, como aulas de meditação, cinema, degustação de vinhos e grupos
de salsa. Preocupados com a qualidade de vida, são servidos almoços e jantares
saudáveis para a equipe inteira em várias lanchonetes. (GOOGLE, 2012).

FIGURA 15 – AMBIENTE DE TRABALHO DA EMPRESA GOOGLE

FONTE: Página Institucional Google. Disponível em: <http://www.google.com/intl/pt-BR/


about/corporate/company/culture.html>. Acesso em: 20 fev. 2012.

129
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Tendo em vista o sucesso que a empresa se tornou nos últimos anos,


não restam dúvidas de que quando bem implementadas, as políticas de lazer e
qualidade de vida nas empresas podem fomentar excelentes resultados.

As relações que equilibram as qualidades do trabalho e do lazer realizam-


se de modo mais apropriado quando existe um claro reconhecimento das
vantagens para todos os setores e pessoas envolvidas, contrabalanceando o
trabalho e a lucratividade; a satisfação pessoal e coletiva dos membros da equipe.
(ANDRADE, 2001b).

De modo geral, o trabalho, sobretudo quando fragmentado ou aqueles que


envolvem tarefas iguais e demasiadamente limitada, geram monotonia e podem
provocar consequências que se refletem fisicamente na fadiga e psicologicamente
no tédio. Uma das alternativas para reestabelecer o equilíbrio físico e mental é
proporcionar um espaço/tempo no qual haja a possibilidade de realização de
atividades livres. (BACAL, 2003).

Já ficou para trás o tempo em que as empresas se preocupavam apenas em


produzir o máximo possível no menor tempo. Na atualidade, várias preocupações
permeiam as bases da gestão moderna e além de produzir muito e com qualidade,
as organizações vêm procurando definir e delimitar o custo material e humano dos
seus produtos e serviços. Sob essa perspectiva, inúmeras iniciativas disseminam a
preocupação emergente com a saúde e a motivação dos colaboradores.
Alguns apontamentos podem ser feitos quanto à criação de tempos e
espaços de lazer dentro das empresas. (ANDRADE, 2001b):

a) É fato conhecido, que periodicamente, com maior ou menos frequência, a


capacidade criativa e produtiva decaem de maneira sensível após um período
intenso de trabalho.
b) O sucesso do lazer geralmente depende do acerto na escolha da atividade
sugerida. É importante também as pessoas se permitirem conhecer melhor
outras atividades, a fim de ampliar seu leque de interesses por atividades
lúdicas.
c) Em termos organizacionais, o tempo livre institucionalizado deve ser
integrado explicitamente como componente do horário normal das atividades
contratadas.
d) As pausas para o lazer durante a jornada de trabalho prestam-se para a
tomada de fôlego visando melhorar o ânimo pessoal de cada funcionário como
a produtividade da empresa. Ou seja, tais práticas não são suficientes para
substituir a necessidade de períodos mais longos de lazer, como no fim do dia,
finais de semana ou durante as férias.
e) O ideal da gestão madura pressupõe que os tempos e locais de trabalho
precisam se tornar cada vez mais agradáveis.

130
TÓPICO 2 — O LAZER E A EMPRESA

Uma das atividades de lazer pioneira nas empresas é a Ginástica na


Empresa ou Ginástica Laboral, como denominam alguns. A concepção desse tipo
de programa incorpora métodos diversos, elaborados de acordo com o tipo de
atividade desenvolvido por cada empresa. Além disso, os exercícios são elaborados
em acordo com a função exercida em cada posto de trabalho, de modo que, os
exercícios praticados pelos colaboradores do departamento de informática, são
distintos daqueles executados pela equipe responsável pela linha de montagem,
por exemplo. (RAMALHO, 1999). Dentre os benefícios proporcionados pela
ginástica laboral, Ramalho (1999) elucida:

a) prevenção da saúde ocupacional;


b) diminuição dos níveis de estresse;
c) redução do número de acidentes de trabalho;
d) queda no número de faltas por motivo de saúde;
e) diminuição dos gastos com despesas médicas;
f) melhoria das relações interpessoais; e
g) aumento da produtividade.

FIGURA 16 – GINÁSTICA LABORAL NAS EMPRESAS

FONTE: Portal R7. Disponível em: <http://noticias.r7.com/saude/noticias/ginastica-laboral-ajuda-


a-prevenir-doencas-decorrentes-da-ma-postura-20110915.html>. Acesso em: 18 fev. 2012.

De modo geral, a oferta de atividade de lazer durante o expediente faz com


o que o colaborar reconheça a preocupação por parte de seus líderes com o seu
bem-estar, o que pode significar a otimização de tempo e de recursos, melhorar o
nível de satisfação propiciado pelo trabalho além de contribuir para a construção
de uma identidade positiva da organização.

Na matéria a seguir, publicada no Portal do site Terra, é possível conhecer


experiências em curso nesse sentido. Acompanhe:

131
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Qualidade de vida nas empresas

Priscilla Nery

É tão bom quando a gente se sente bem no ambiente de trabalho, não


é? Isso nos faz sentir mais motivados e menos estressados. A qualidade de
vida foi apontada como uma das 10 razões escolhidas pelos profissionais na
hora de aceitar uma nova proposta de emprego na pesquisa "A Contratação,
A Carreira e a Demissão dos Executivos Brasileiros de 2009", realizada pela
Catho Online.

E pelo jeito algumas empresas já perceberam isso.

Uma delas é a Nivea, especialista em cuidados pessoais. A empresa


desenvolve o "Programa Bem-Estar" há mais de um ano, oferecendo quick
massage uma vez por semana e, esporadicamente, outras atividades para os
funcionários. "No começo, pensamos que as pessoas não iriam deixar seus
postos de trabalho para receber massagem. Mas fomos surpreendidos. Hoje, a
agenda de quick massage está sempre lotada", conta a responsável pelo setor de
Recursos Humanos da Nívea, Renata Braite.

Ela afirma que os colaboradores ganham tempo quando param e


fazem massagem, pois voltam ao trabalho mais produtivos. "Acreditamos que
isso aconteça porque os funcionários ficam mais conscientes do próprio corpo.
Muitos se queixavam de dores de cabeça e falta de concentração, e agora não
se queixam mais", diz.

Carolina Stilhano, gerente de comunicação da Catho Online, observa


que várias empresas têm buscado a melhoria do ambiente de trabalho e,
consequente, aumento na produtividade dos funcionários. "Há empresas que
têm áreas de descanso e lazer para seus funcionários, outras fazem parcerias
com academias, programas de saúde e bem-estar. Tudo pensando em ter
funcionários mais saudáveis e felizes", afirma.

A "Hera Brasil", especializada em oferecer serviços de qualidade de vida


para funcionários, é a responsável pela quick massage realizada na Nivea. Hoje,
esse tipo de consultoria tende a crescer. "As empresas precisam entender que
seu maior bem são os funcionários", diz Guilherme Falchi, diretor comercial
da Hera Brasil.

Ele informa que a produtividade aumenta cerca de 20% nas empresas


que investem em qualidade de vida. "Além disso, com um ambiente de
trabalho equilibrado, a redução de custos com saúde chega a 50%, já que os
colaboradores ficam doentes com menos frequência e por menos tempo",
conta.

132
TÓPICO 2 — O LAZER E A EMPRESA

Guilherme descreve a atividade da empresa onde trabalha. "Primeiro,


estudamos o cliente para entender quais os principais pontos de escape de que
os colaboradores precisam. Depois, traçamos um projeto de acordo com essas
informações e vamos acompanhando os resultados." Esse acompanhamento
é uma avaliação que acontece de três em três meses com cada cliente. Os
funcionários da Hera Brasil também mantêm contato com toda a hierarquia
da empresa, diariamente.

No "Espaço Mulher", evento oferecido pela empresa, as funcionárias


aproveitam serviços como manicure, pedicure, depilação, palestras e
massagem. "Creio que esses serviços sejam ainda mais importantes quando se
trata das mulheres, pois elas são mais sobrecarregadas, são mães, esposas e se
preocupam mais com a autoestima", justifica o diretor comercial.

Mas há outras atividades voltadas ao público feminino que estão


ganhando espaço nas grandes corporações. "Com a creche dentro da empresa,
por exemplo, as mães podem cuidar ou amamentar os filhos sem precisarem
se deslocar do trabalho e ainda conseguem executar suas atividades sabendo
que os filhos estão sendo bem tratados e logo ali do lado de seus escritórios",
observa Carolina.

Segundo a gerente de comunicação, os empresários estão percebendo


que precisam de funcionários saudáveis e que saibam equilibrar vida
profissional e vida pessoal. É deles que depende o sucesso de qualquer empresa.
"Se as empresas conseguem permitir estes espaços e esta saudabilidade aos
seus profissionais, logo elas terão equipes totalmente focadas que investem no
negócio como um todo", completa. E isso significa um lucro maior.

A especialista citou vários serviços que podem ser oferecidos para o


bem-estar dos funcionários. Quem sabe sua empresa não resolve implantar
algum:

• criar áreas de lazer e de descanso, com livros, videogames, televisões, filmes;


• fazer parcerias com academias de ginástica ou disponibilizar uma dentro da
própria empresa;
• propor programas e campanhas internas pensando no bem-estar de cada
profissional;
• ter profissionais que aplicam ginástica laboral dentro das empresas;
• propor horários flexíveis em dias de rodízios, ou estabelecer banco de horas.

FONTE: Portal Terra. Disponível em: <http://vilamulher.terra.com.br/qualidade-de-vida-nas-


empresas-5-1-37-475.html>. Acesso em: 21 fev. 2012.

133
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

FIGURA 17 – QUICK MASSAGE NAS EMPRESAS

FONTE: Emana. Disponível em: <http://emana.webnode.com.br/quick-massage/>.


Acesso em: 17 fev. 2012.

Quando se aborda o lazer institucionalizado, seja nas empresas, ou e


outras instituições como prefeituras ou escolas, é relevante que se reconheça
as características das pessoas envolvidas e que se estimule a participação das
mesmas nas decisões sobre o lazer, para que não aconteça um simples consumo
do lazer, e sim, uma participação efetiva das ações das quais as pessoas devem ser
considerados sujeitos e não meros objetos. (MARCELLINO, 1999).

Desta forma, é indispensável conhecer os trabalhadores da empresa, para


que seja possível oferecer atividades que despertem seu interesse e que realmente
os motive. Pois seria um grande contra censo, ofertar uma atividade que não
agrade a maioria e que, para piorar, se o clima organizacional não permitir que
as pessoas fiquem a vontade, corre-se o risco de observar pessoas participando
das atividades de lazer por obrigação e para não desagradar o chefe, minando os
benefícios que poderiam ser provenientes da prática.

Na abordagem de Marcellino (1999), a formação de grupos de interesse


em cada empresa, como forma de incentivo à produção cultural e à difusão
das programações aos seus familiares, pode ser uma alternativa para melhorar
o desenvolvimento de ações de lazer. Como exemplo de grupos de interesses,
o autor menciona a constituição de grêmios, clubes e Associações Desportivas
Classistas (ADCs) que entendam o lazer de uma perspectiva ampla em termos
de conteúdo, incluindo o esporte, mas não ficando restrito a ele. Além disso, o
papel de tais grupos é entender os valores do lazer visando ao desenvolvimento
pessoal e social.

A realização de atividades de lazer no ambiente de trabalho encontra-


se atrelada a uma visão empresarial pautada nas relações de trabalho que
primam pela qualidade dos recursos humanos e pelo capital intelectual. Além
disso, as referidas atividades inserem-se no conceito de responsabilidade
social empresarial. A responsabilidade social é um assunto que toma força nos
últimos anos e diz respeito ao modo como as empresas realizam seus negócios.
As primeiras iniciativas de responsabilidade social focavam-se nas questões

134
TÓPICO 2 — O LAZER E A EMPRESA

ambientais, preocupadas com a origem da matéria-prima utilizada, o modo como


os resíduos eram tratados, fomentam ações de reciclagem e ações do gênero.
Com o tempo, a noção de responsabilidade social passou integrar as noções de
desenvolvimento sustentável, e novas variáveis passaram a fazer parte da pauta
das discussões sobre a responsabilidade das empresas.

De acordo com Kraemer (2005), a concepção de responsabilidade social


pelas empresas vem sendo amplamente difundida no bojo das organizações por
conta dos desafios impostos pelas exigências dos consumidores, pela pressão
de grupos da sociedade organizada e pelas legislações e regras comerciais,
que primam pela proteção ambiental, pelo cumprimento de normas éticas e
trabalhistas em todos os locais de produção e em toda a cadeia produtiva. Nesta
perspectiva, a preocupação com as condições de trabalho do funcionário passaram
a ser levadas em conta.

O Instituto Ethos (2012) é uma importante e reconhecida organização


que fomenta ações de responsabilidade social nas empresas. De acordo com a
entidade, responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define
pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais
ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem
o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais
e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigualdades sociais.

Para Félix (2003), a responsabilidade social empresarial emerge da


integração das preocupações sociais e ambientais com as operações comerciais e
as relações da organização com seus representantes e sua área de influência.

Desta forma, quando as empresas investem em programas de lazer para


seus funcionários, visando melhorar a qualidade de vida, elas estão realizando
ações que coadunam com as premissas da responsabilidade social. Além disso,
tais ações são bem vistas pelos públicos com os quais a organização se relaciona,
incluindo fornecedores, clientes, a comunidade, investidores, entidades de classe
entre outros. Por consequência, além de investir no funcionário em si, as ações de
lazer podem ser integradas às ações de marketing da empresa, pois passam a ser
um elemento que influencia na identidade corporativa da organização.

Além de proporcionar momentos de lazer para seus funcionários, algumas


empresas, cientes do difícil acesso dos trabalhadores e suas famílias a atividades
culturais e recreativas, estendem o benefício do lazer para seus dependentes,
sobretudo em datas comemorativas e mediante a celebração de convênios (SESC
e SESI, por exemplo).

Marcellino (1999) lembra a importância do poder público atentar-se para


as demandas de lazer empresarial, pois as empresas também são contribuintes
do município e, portanto, podem ser beneficiadas com o desenvolvimento de
atividades de lazer diversas.

135
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

A realidade atual do mundo empresarial demanda um esforço por parte


das organizações para se adaptarem às novas abordagens sociais e levando
em conta as mudanças do perfil de exigências de funcionários no mercado,
remodelando seus programas de ações, com a finalidade de catalisar novos rumos
para as organizações, como a ênfase nos aspectos da criatividade, da inovação e
do clima organizacional (SCHWARTZ, 1999).

136
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Ninguém consegue desenvolver sempre com segurança e no melhor nível de


qualidade, seu trabalho profissional ou qualquer outra atividade que realiza
de modo sistemático e constante.

• Vivemos em um período em que a criatividade e a capacidade de organização,


tanto no trabalho como no lazer, exigem maiores investimentos na área de tal
forma, que a iniciativa privada “esclarecida” precisa estar atenta aos benefícios
provenientes do lazer não somente para os trabalhadores, mas também para as
empresas onde eles desenvolvem sua atuação profissional.

• Uma das empresas precursoras e que ficou internacionalmente conhecida por


incentivar momentos de lazer, foi a gigante Google.

• As relações que equilibram as qualidades do trabalho e do lazer realizam-se de


modo mais apropriado quando existe um claro reconhecimento das vantagens
para todos os setores e pessoas envolvidas, contrabalanceando o trabalho e a
lucratividade; a satisfação pessoal e coletiva dos membros da equipe.

• O sucesso do lazer geralmente depende do acerto na escolha da atividade


sugerida.

• O ideal da gestão madura pressupõe que os tempos e locais de trabalho


precisam se tornar cada vez mais agradáveis.

• Uma das atividades de lazer pioneira nas empresas é a Ginástica na Empresa


ou Ginástica Laboral.

• É indispensável conhecer os trabalhadores da empresa, para que seja possível


oferecer atividades de lazer que despertem seu interesse e que realmente os
motive.

• A realização de atividades de lazer no ambiente de trabalho encontra-se


atrelada a uma visão empresarial pautada nas relações de trabalho que primam
pela qualidade dos recursos humanos e pelo capital intelectual.

• Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela


relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela
se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e
culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigualdades sociais.

137
AUTOATIVIDADE

1 Por que as pessoas precisam de pausas durante a realização dos seus


trabalhos?

2 A realização de atividades de lazer na empresa geralmente está atrelada a


outros interesses por parte da organização além da qualidade de vida do
funcionário. Cite duas competências que se desenvolvem de modo melhor
quando existem pausas de lazer no trabalho.

3 Comente o caso de uma empresa famosa por estimular atividades de lazer


no trabalho.

4 O direito ao lazer no trabalho aumenta a qualidade de vida dos funcionários,


mas precisa de algumas condições para que se desenvolva de maneira
adequada. Qual deve ser a postura do funcionário quanto às atividades de
lazer?

5 Cite três atividades de lazer que podem ser realizadas nas empresas.

138
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

LAZER E TECNOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Após a Revolução Industrial, o advento tecnológico impulsionou uma
série de inovações e mudanças que passaram a fazer parte da vida das pessoas
e das empresas. No âmbito do lazer e do turismo, a tecnologia também foi
responsável por profundas alterações e indispensável para que se criassem novas
modalidades de entretenimento. Neste tópico, vamos analisar de que modo a
tecnologia e os avanços da era digital interferem no lazer das pessoas.

2 COMO O LAZER SE RELACIONA COM A TECNOLOGIA


Atualmente, a tecnologia contribui significativamente para a criação
e o surgimento de novas modalidades de lazer e entretenimento. Ao longo da
história, sempre houve atividades divertidas e programadas, como brincadeiras
de rua, jogos, festas, circos, teatros, shows, romarias, quermesses entre outros. No
século passado, despontaram-se modalidades mais elaboradas sob o ponto de
vista tecnológico, como o cinema o rádio e a televisão, avançando para o DVD,
os computadores entre outros equipamentos responsáveis pela transformação do
entretenimento em tecnologia de ponto destinado à massa. (TRIGO, 2003).

Para tratarmos da relação entre lazer e tecnologia, precisamos ter o


discernimento de que as mudanças tecnológicas sempre foram mais velozes do
que as mudanças sociais. Tendo em mente que a tecnologia exerce influências sobre
a sociedade, faz necessário ter a clareza de que a transição de uma modalidade
tecnológica para outra, não se dá de forma imediata e homogênea. Tais processos
tomam tempo e dependem de fatores culturais dos grupos sociais.

Tratando dos impactos da tecnologia nos territórios, Gomes e Pinto (2009)


sustentam que as novas tecnologias impulsionam novas relações entre lazer e
território, e tal evidência reforça a complexidade da sociedade globalizada e, sob
esse ponto de vista, sem fronteiras nítidas para demarcar o que é próprio ou não
de um determinado contexto.

Saímos de um lazer artesanal localizado para um lazer industrial


globalizado, de um lazer entranhando na sociedade a um lazer automatizado.
Essa automatização fez do lazer uma importante atividade econômica, que atinge
setores como o esporte, o turismo e as artes. Neste cenário, o advento tecnológico

139
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

permite uma integração dos lugares e de suas formas de representação. Entretanto,


chama atenção que em vez de se ter um conhecimento mais verdadeiro dos lugares,
com a possibilidade de consultar imagens de praticamente todos os destinos em
qualquer parte do mundo, o turismo pode ser impactado pela criação de imagens
estereotipadas. (SANTOS, 2000).

No contexto das relações existentes entre lazer e tecnologia, cabe destacar o


papel que cumpre o segmento econômico do entretenimento. Trigo (2003) explica
que o conceito de entretenimento surge ao longo do século XIX e XX, resultado da
estruturação do capitalismo em fase pós-industrial. O conceito emerge com força
nos Estados Unidos, de modo que o setor de entretenimento cresceu mais do que
a indústria automobilística, siderúrgica ou o setor financeiro nos últimos anos.

Inicialmente, o setor do entretenimento não era bem visto e alguns


estudiosos, pensadores e burgueses entendiam o entretenimento como uma
forma menos elaborada de arte. Gabler apud Trigo (2003, p. 30) comenta essa
questão mencionando algumas características do entretenimento:

[...] eram gratificação e não edificação, transigência e não


transcendência, reação e não contemplação, escape em vez de
submissão às instruções morais. Como disse um elitista, a diferença
entre entretenimento e arte é a diferença entre a gratificação espúria
e a experiência genuína como degrau para uma maior realização
pessoal. Está claro que o entretenimento podia fazer concessões à
moralidade, mas ninguém em sã consciência podia atribuir o poder
do entretenimento a isso. Ao contrário, seu apelo parecia estar no fato
de resistir, deliberadamente, às obrigações da arte. Um dos dogmas
da cultura era que a arte exigia esforço para ser apreciada, sobretudo
esforço intelectual, mas o entretenimento não fazia nenhuma exigência
a seu público. Trabalhava apenas a serviço dos sentidos e das emoções;
era a reação passiva recompensada pela diversão.

Nesta passagem, um ponto que merece ser destacado diz respeito à


questão do entretenimento, da cultura, da arte e do lazer e suas relações com os
valores morais de cada época. Não é fácil provar de que modo as alternativas de
lazer selecionadas por uma pessoa influenciam e são influenciadas pela bagagem
cultural de cada um. Por exemplo, o que explicaria o sucesso de programas
como os reality shows atualmente? Seriam tais programas uma expressão dos
valores cultivados pela sociedade atual, marcada por uma geração de pessoas
demasiadamente preocupadas com os padrões estéticos, capazes de expor
sua intimidade a qualquer preço, envolvendo-se em relações sociais e afetivas
tumultuadas, cultuando a busca do prazer acima de tudo? Ou seria o inverso, uma
tentativa dos meios de comunicação de estimular determinados comportamentos
e atitudes em sua audiência, pautada na máxima do “pão e circo” a fim de que a
população não fique atenta aos problemas a sua volta? Não existe uma resposta
pronta para tais indagações, mas conforme já comentamos, sempre é necessário
lembrar que o modo como determinada sociedade se diverte depende do aparato
cultural que atribui significados para as manifestações e que, portanto, essas
escolhas não podem ser totalmente esvaziadas de sentido social.

140
TÓPICO 3 — LAZER E TECNOLOGIA

Outro aspecto chave refere-se às rivalidades existentes entre as várias


formas de lazer. A concepção de que o lazer cultural seria uma forma mais
sofisticada e que seria destinada a camadas privilegiadas da população, precisa
ser abandonada nos dias de hoje. É evidente que cada modalidade de atividade,
apresenta suas características próprias. Por exemplo, não se pode dizer que
assistir a uma apresentação de uma orquestra ou a um filme seja atividades
equiparáveis. Cada uma delas cumpre sua função, e se por um lado, assistir à
apresentação da orquestra serve para ampliar a educação musical, isso não coloca
o filme, enquanto passatempo despretensioso, em uma escala inferior. Conforme
vimos, o lazer pode contribuir na formação cultural do sujeito ou pode se dar sem
nenhuma intencionalidade, almejando simplesmente o prazer, ou curtir algumas
gargalhadas, por exemplo.

Trigo (2003) menciona que alguns intelectuais (ou pretensos intelectuais)


adotam uma postura pedante perante a cultura de massa e o entretenimento
contemporâneos e que as explicações para tal atitude, encontram-se inscritas na
história. Segundo o autor supracitado, a aristocracia reacionária não aceitava o
fato de camadas menos abastadas da população se divertissem longe da Corte,
da Igreja e do Estado. Isso era permitido apenas nas festas de exceção, como o
carnaval, feiras populares ou em algumas quermesses. Contudo, quando tudo isso
se tornou uma atividade independente, lucrativa e submetida deliberadamente
aos desejos do público, as elites perceberam que estavam perdendo poderes e que
outras elites estavam se configurando.

Atualmente, os Estados Unidos são referência no segmento de


entretenimento, e possuem milhares de parques de diversão e temáticos, museus
de todos os tipos, parques aquáticos, parques naturais, cinemas, jogos eletrônicos
etc. De acordo com Trigo (2003), duas áreas podem ser consideradas pioneiras
no surgimento das atividades de entretenimento organizadas: Coney Island, em
Nova York e Venice, Califórnia. Essas duas localidades foram precursoras dos
grandes parques atuais como Disneyland, Walt Disney World, Universal Studios,
Six Flags, entre outros.

O segmento do entretenimento, um dos que mais emprega tecnologia no


âmbito do lazer é um setor embasado na diversão, no fácil, nas sensações e até
mesmo no irracional, como alguns efeitos e tramas de filmes, que embora sejam
totalmente irreais, cativam muitos expectadores. Da mesma forma como acontece
com as mais variadas formas de lazer, o entretenimento também sofre com
produções de baixa qualidade. Não há nenhuma dúvida que existem programas
de tevê grotescos, filmes apelativos e sem um bom enredo, do mesmo modo que
se montam exposições de obra de arte de péssimo gosto ou que se produzem
peças teatrais ruins. O que não se pode, é a partir de alguns casos, generalizar o
entendimento de que o entretenimento, destinado para as massas, é em si ruim e
pouco qualificado.

141
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

A indústria do lazer absorveu as tecnologias assim como o turismo,


e é inegável que muitas vezes tecnologia de ponta consiste em altos preços –
sobretudo no Brasil. Por isso, a tecnologia destinada ao lazer ainda não é acessível
para muitas parcelas da população.

Embora o turismo, enquanto atividade de lazer venha crescendo nos


últimos anos, muitas atividades de lazer são desenvolvidas dentro do espaço
doméstico. Anda que existam equipamentos variados como o rádio e os
computadores, a televisão costuma reinar quase que absoluta no lar. A televisão
adentra nas residências e em vários outros locais de socialização, como consultórios
e restaurantes, ocupando cada vez mais tempo das pessoas, especialmente das
que dispõem de TV por assinatura, que amplia e diversifica a gama de atrações,
mas que muitas vezes, apresentam pouca qualidade de conteúdo. Para Marcellino
(1996) o reinado da TV é exercido sobre um fiel público cativo, como uma forma
de lazer que não demanda grandes investimentos.

Muitas famílias brasileiras vivenciam uma realidade na qual a televisão


rouba um tempo precioso para as conversas e o convívio familiar. É comum as
pessoas manterem a televisão ligada durante as refeições e se manterem vidradas
na programação sem compartilhar os acontecimentos do dia. Tamanhos são os
impactos desse tipo de comportamento, os quais certamente, não possuem causa
e efeito direto, pois é difícil mensurar quais fatores subjetivos exercem influência
sobre as atitudes e sentimentos individuais. É fácil imaginar, contudo, que tomar
o café da manhã, com a televisão ligada em alto volume, apresentando uma série
de notícias violentas, repleta de crimes, conflitos e problemas diversos, afeta de
alguma forma o humor das pessoas.

Tratando do impacto da televisão sobre as relações familiares, Marcellino


(1996) reflete sobre o potencial da televisão permitir uma socialização dos
membros família e indaga até que ponto a cena da família reunida em torno do
aparelho, totalmente calada, seria causada pelo fascínio da programação ou uma
alternativa para quem não tem muito a dizer um ao outro. Trata-se de um assunto
delicado e com difícil reposta, mas infelizmente, várias famílias vêm apresentando
dificuldades em manter sólidos e harmoniosos laços afetivos.

Muito se discute, e você já deve ter ouvido falar a respeito, da capacidade


que os canais de comunicação possuem em despertar desejos de consumo, sem
que exista uma real necessidade dos mesmos. Andrade (2001b, p. 82) comenta o
assunto:

Esta constelação de mídias, encabeçada pela televisão estimula os


sentidos, desperta atenção a atenção, cria ou reforça desejos, e leva
os indivíduos a aquisições que, anteriormente, talvez jamais tivessem
tido disposição ou coragem de fazer. Evidencia-se que a força da
mídia induz os indivíduos e toda a sociedade a respostas cada vez
mais frequentes e exageradas, a necessidades naturais ou não, e cria o
mercado da transformação do supérfluo em realidades indispensáveis
à vida social.

142
TÓPICO 3 — LAZER E TECNOLOGIA

No Brasil, a situação torna-se mais critica, pois existe um claro exemplo


de hegemonia em termos de produção cultural televisiva, uma vez que a principal
emissora de TV chega a praticamente todos os 5.400 municípios do Brasil. Contudo,
o sinal emitido para todas as cidades é gerado exclusivamente no Rio de Janeiro,
difundindo em todo o Brasil (inclusive em outros países) determinados valores,
ideologias, visões de mundo e compreensões de lazer típico daquela realidade.
(GOMES; PINTO, 2009).

Lapolli e Gauthier (2008) explicam que os meios de comunicação de


massa são veículos nos quais o fluxo de comunicação é, predominantemente,
único ainda que existam várias formas de feedback, como os índices de consumo,
mensuradores de audiência, cartas dos expectadores, telefonemas e e-mails, a
capacidade de intervenção dos receptores é restrita. Na prática, nas mídias de
massa as mensagens são produzidas por algumas pessoas e transmitidas para
outras em situações espaciais e temporais diferentes das encontradas na ocasião
de concepção das mesmas. Assim, os receptores das mensagens participam de um
processo estruturado de transmissão simbólica, que não participa da elaboração
das mensagens. Nas palavras de Lapolli e Gauthier (2008, p. 35), “a massa é então
um conjunto de indivíduos com características sociológicas comuns, mas sem
nenhum encontro coletivo”.

Ou seja, as práticas de lazer apresentadas nas telenovelas, muitas vezes


realizadas pela orla da praia, com corpos musculosos e gente que dispõe de
longos períodos para o lazer, podem causar frustração para muitos expectadores,
se estes entenderem aquele ideal como o melhor para sua vida.

Por isso, é sempre importante que o uso da televisão enquanto instrumento


de lazer doméstico, perpasse por um senso crítico e de discernimento de quem
assiste, pois, no caso dos seriados americanos, por exemplo, a atitude soberba e
poderosa da patricinha protagonista da trama, se adotada por uma adolescente
no seu meio social, pode gerar um afastamento de muitos colegas. Embora seja
difícil de reconhecer, há que se atentar que o conteúdo assistido diariamente
na televisão (em alguns casos, durante várias horas) exerce influência sobre as
percepções e compreensões de realidade do indivíduo (principalmente entre
crianças e adolescentes) de forma direta ou indireta.

Outro equipamento que faz parte do gosto de muitas crianças, adolescentes


e, inclusive alguns adultos, são os video games. Trata-se de uma modalidade de
entretenimento gerada pela indústria eletrônica e abrigada pela indústria do
entretenimento, sendo continuamente aperfeiçoada. De acordo com Reginato
(1999, p. 132):

O vídeo game é o entretenimento como experiência individual,


mediada pela máquina, durante a qual a atenção do indivíduo é
tomada pela tela onde o jogo acontece e onde a velocidade é o índice
da capacidade de resposta. As máquinas requerem habilidades
diferentes, pois o manejo das alavancas e dos botões se inscreve na
ordem dos reflexos corporais; já o que se passa no vídeo e o que se
deseja que ali aconteça obedecem a uma lógica extracorporal.

143
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

No video game, o interesse é alimentado pela tensão que o jogo proporciona


e a recompensa, a satisfação, decorre da superação dos limites, da marca e da
pontuação alcançada anteriormente. Genericamente, pode-se afirmar que o video
game, jogado individualmente ou com outros colegas, demandam habilidades
manuais, rapidez de raciocínio e cooperação. (REGINATO, 1999).

Muito se discute sobre o impacto do video game na formação das crianças


e dos adolescentes. Dentre os que criticam a massificação dessa modalidade de
entretenimentos, condena-se principalmente a violência presente na maioria deles; a
diminuição da socialização entre os amigos, pois jogos brincadeiras ao ar livre estimulam
a criação de laços sociais; a falta de movimentação e deslocamento do indivíduo, pois ao
contrário das atividades físicas, o video game não consome muitas calorias nem estimula
o saudável desenvolvimento corporal. Esse último aspecto apontado vem se tornando
um grande mal em nossa sociedade, a obesidade infantil. Os números aumentam a
cada ano e constante consumo de alimentos industrializados, prontos e congelados,
típicos de uma geração nas quais os pais passam longos períodos no trabalho e partir
de certa idade, as crianças já aprendem a se virar sozinhas passando diariamente várias
horas desacompanhadas, o cenário se complica. Trata-se, contudo, de uma discussão
que requer certo nível de cuidado, pois não se pode provar, por relação simples e direta,
que o video game torna a criança violenta, por exemplo. Perante os vários estímulos e
relações que menor encontra-se exposto, vários fatores interferem em sua formação.

Por outro lado, entre os defensores do video game, os principais benefícios


apontados são o estímulo ao raciocínio rápido e a concentração. Nessa equação,
parece não haver uma resposta ou fórmula única, pois mesmo os pais que proíbem
seus filhos de utilizar o referido equipamento, encontram dificuldades, pois a
criança poderá ter acesso a ele na casa de vizinhos, colegas e amigos, sem contar
a constante pressão para a aquisição.

O que parece bastante pertinente é estabelecer normas para o uso do video


game. Como todos sabem qualquer exagero não faz bem para a pessoa e para sua
saúde. É de suma importância que os pais e responsáveis estabeleçam regras e
negociações para que a exposição a qualquer equipamento tecnológico seja o video
game, o computador ou dispositivos sonoros não seja exagerada. A imposição de
limites é fundamental no processo educativo.

Atentas às críticas que vinham recebendo por contribuir para o


sedentarismo e a obesidade (sobretudo infantil) nos últimos anos, algumas
empresas vêm projetando jogos com detectores de movimentos nos quais o
participante realiza atividades físicas integradas ao jogo, isto, ao invés de apenas
apertar o botão, pode ser solicitado ao jogador, dar passos para frente e para
trás. Algumas empresas estão inclusive acoplando dispositivos nos detectores
de movimentos, com a finalidade de mensurar quantas calorias foram gastas
em determinada partida. Esta é uma nova modalidade de jogos de video game
lançadas recentemente, e tendo em vista o paulatino advento tecnológico, não
será de estranhar se dentro de algum tempo, surjam outras capazes de explorar
novas modalidades de lazer digital.

144
TÓPICO 3 — LAZER E TECNOLOGIA

FIGURA 18 – NOVAS MODALIDADES DE VIDEO GAME

FONTE: Revista Típica. Disponível em: <http://www.revistatipica.com.br/?s=destaque&n=4>.


Acesso em: 12 fev. 2012.

Sob o ponto de vista econômico, tamanho é o sucesso dos video games como
forma de entretenimento que nos últimos anos, despontam-se novos cursos, em
nível técnico e de graduação, focados na elaboração de jogos.

Na reportagem apresentada na sequência, publicada pela Revista Crescer,


especialistas na área de desenvolvimento infantil falam a respeito do uso do video
game. Acompanhe:

Video game a favor do seu filho

Simone Tinti

Apesar de sempre gerar polêmica, os games podem ser uma diversão


saudável. O segredo está no controle dos pais, que precisam estar atentos com
o que os filhos se divertem.

Jogos de video game sempre geram polêmica entre os pais. Afinal, fazem
bem ou mal para as crianças? Para a psicóloga Andréa Jotta Nolf, do Núcleo de
Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da PUC-SP, as crianças de hoje
não conhecem o mundo sem tecnologia. Portanto, não seria possível privá-las
do video game.

A questão está no limite desta exposição. “Apesar de ser uma atividade


que entretém os pequenos por horas, os pais precisam regular o tempo da
brincadeira. Até os 12 anos de idade, a criança não tem controle da intensidade
de suas atividades. Então, cabe aos pais esse papel”, diz.

145
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Como diz a psicóloga Prislaine Krodi, do Instituto da Criança do


Hospital das Clínicas de São Paulo, se praticado em excesso o video game pode
virar compulsão. E como perceber isso? “Se a criança não pede mais para ir
ao parque, deixa de estudar, não se interessa por outras atividades ou não
telefona mais para os amigos, é o momento de diminuir as horas de jogo”, diz.

Uma saída para o equilíbrio é oferecer mais opções de lazer dos filhos.
Além de jogar video game, eles devem ter outras formas de diversão, como a
prática de esportes ou brincadeiras ao ar livre. Além disso, o game não pode
atrapalhar a hora da lição ou do banho. “Os pais precisam criar regras e serem
firmes na execução delas. Até pode ser atraente ter algumas horas de sossego,
com o filho quietinho em frente à televisão ou computador, mas os combinados
devem ser seguidos”, explica.

Em relação aos jogos violentos, Andréa recomenda verificar a


classificação indicativa. Caso seja permitido, a atividade pode funcionar como
uma “válvula de escape” para a criança. “Esse tipo de game segue a mesma
lógica das brincadeiras de mocinho e bandido. É uma forma de catarse”,
afirma Andréa.

Prislaine Krodi diz, ainda, que no caso dos games violentos, a atenção
deve ser maior com os menores de 7 anos. “Até essa idade, aproximadamente,
a criança não separa muito bem a fantasia da realidade”, diz. Uma solução
é explicar a diferença do que acontece no jogo e na vida real e, se possível,
incentivá-lo a brincar com outro game. “Os pais precisam saber o que o filho
está jogando, discutir o que acontece na tela e oferecer outras opções”, afirma
Prislaine.

FONTE: Revista Crescer. Disponível em: <http://revistacrescer.globo.com/Revista/Cres-


cer/0,,EMI4713-10540,00.html>. Acesso em: 19 fev. 2012.

Com relação ao advento tecnológico, vale a pena comentar que sempre que
surge uma nova forma superior ou diferente de tecnologia, é comum que ocorra o
pensamento de que a forma anterior será deixada totalmente para trás. No caso do
vídeo cassete, por exemplo, foi o que aconteceu com o surgimento do aparelho de
DVD, a forma mais moderna tornou totalmente obsoleta a modalidade anterior.
Em outros casos, entretanto, a transição pode ser mais lenta e a substituição pode
não ser total. Um exemplo é o rádio, que embora antigo e com substitutos mais
arrojados, ainda faz parte da realidade cotidiana. O livro e as bibliotecas podem
ser outra demonstração, pois embora existam amplos acervos digitais, o domínio
ainda é o das obras impressas.

146
TÓPICO 3 — LAZER E TECNOLOGIA

O lazer em conjunto com a tecnologia, seja através da televisão, do


video game, dos jogos online ou dos computadores, exploram as possibilidades
oferecidas pela tecnologia, passando pela simulação de geografias, épocas e
situações que podem contribuir para a construção de uma rede de informações
e experiências que levam o indivíduo a superar limites e sua compreensão do
mundo, possibilitando ainda, o prazer de compartilhar conversas com indivíduos
distantes fisicamente. (REGINATO, 1999).

A tecnologia digital surge para suprir a demanda por trocas de informações


e rapidamente foi integrada ao cotidiano das organizações, alterando a forma de
se fazer negócio e posteriormente, extrapolou os limites das empresas e passou a
fazer parte da vida de todos. Sob o ponto de vista da gestão, a tecnologia digital
cria oportunidades para as empresas estreitarem seus relacionamentos com
o consumidor além de inúmeras outras vantagens, como a redução de custos,
melhorias nos processos operacionais, aperfeiçoamento das ferramentas de
controle e pode oferecer subsídios para as tomadas de decisões estratégicas.

147
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Ao longo da história, sempre houve atividades divertidas e programadas, como


brincadeiras de rua, jogos, festas, circos, teatros, shows, romarias, quermesses
entre outros.

• As novas tecnologias impulsionam novas relações entre lazer e território, e tal


evidência reforça a complexidade da sociedade globalizada e, sob esse ponto
de vista, sem fronteiras nítidas para demarcar o que é próprio ou não de um
determinado contexto.

• Inicialmente, o setor do entretenimento não era bem visto e alguns estudiosos,


pensadores e burgueses entendiam o entretenimento como uma forma menos
elaborada de arte.

• A concepção de que o lazer cultural seria uma forma mais sofisticada e que
seria destinada a camadas privilegiadas da população, precisa ser abandonada
nos dias de hoje.

• Antes da ascensão do capitalismo, a aristocracia reacionária não aceitava o fato


de camadas menos abastadas da população de divertirem longe da Corte, da
Igreja e do Estado.

• Atualmente, os Estados Unidos são referência no segmento de entretenimento,


e possuem milhares de parques de diversão e temáticos, museus de todos os
tipos, parques aquáticos, parques naturais, cinemas, jogos eletrônicos etc.

• A televisão adentra nas residências e em vários outros locais de socialização,


como consultórios e restaurantes, ocupando cada vez mais tempo das pessoas,
especialmente das que dispõem de TV por assinatura, que amplia e diversifica
a gama de atrações, mas que muitas vezes, apresentam pouca qualidade de
conteúdo.

• Os meios de comunicação de massa são veículos nos quais o fluxo de


comunicação é, predominantemente, único.

• É sempre importante que o uso da televisão enquanto instrumento de lazer


doméstico, perpasse por um senso crítico e de discernimento de quem assiste.

• No video game, o interesse é alimentado pela tensão que o jogo proporciona e


a recompensa, a satisfação, decorre da superação dos limites, da marca e da
pontuação alcançada anteriormente.

148
AUTOATIVIDADE

1 Qual é a relação entre lazer e tecnologia?

2 Qual é o impacto das novas tecnologias aplicadas ao lazer sobre os


territórios?

3 O segmento do entretenimento sempre foi bem visto pelos formadores de


opinião. Essa afirmativa é verdadeira ou falsa? Justifique sua resposta.

4 Existem formas de lazer consideradas superiores que outras. Você concorda


com isso? Por quê?

5 Qual país é considerado o precursor e referência até hoje no segmento de


entretenimento?

149
150
TÓPICO 4 — O
UNIDADE 3

LAZER E O JOGO

1 INTRODUÇÃO
Muitos turistas viajam motivados em participar de jogos e apostas. O
jogo é um segmento do turismo que cresceu nos últimos anos. Existem destinos
e cruzeiros famosos por seus cassinos, e talvez Las Vegas seja um ícone desse
segmento. Neste tópico, vamos estudar a relação que se estabelece entre os jogos,
o lazer e o turismo.

2 OS JOGOS E OS CASSINOS
O primeiro cassino europeu foi fundado por volta de 1638, quando os
venezianos decidiram trabalhar profissionalmente o jogo, batizando-o de Il
Redotto e, em seguida, fundaram diversos outros. Nesse período inicial, houve
muitas brigas, impasses e falências, pois muitas famílias levaram suas finanças a
ruínas, jogando suas posses e até sua dignidade pessoal nas mesas e nas roletas.
Passado o período de conflitos e tumultos, houve a regulamentação do jogo e dos
cassinos, que há séculos compõe um dos setores mais lucrativos no âmbito do
lazer, nos países onde sua prática é legalmente permitida. (ANDRADE, 2001b).

Enquanto muitos criticam a legalização do jogo, há que se ponderar, que


quando bem administrada, tal prática permite o recolhimento de grande volume
de impostos para os cofres públicos, aumentando o montante de recursos que
podem ser investidos em benfeitorias em prol da sociedade.

Os Estados Unidos dominam o cenário de jogos de entretenimento na


América do Norte, contando com mais de 1.500 estabelecimentos de jogos. Na
cidade de Las Vegas, Nevada, estão localizados os melhores cassinos, que são os
preferidos de jogadores dos Estados Unidos e de outros países. Há outras cidades
que reúnem importantes cassinos, Atlantic City, Biloxi, Reno, além de outras
cidades na região do Golfo do México como Mississippi e Louisiana. Existe ainda
a modalidade de cassinos fluviais, situados em Illinois e Indiana. Os estados da
Califórnia e Colorado também experimentam grande crescimento no setor. Os
cassinos fluviais de Illinois e Indiana continuam emocionantes e você também
encontrará cassinos na Pensilvânia, abrindo caminho para ampliação dos jogos a
outros estados do país. (WORLD CASINO DIRECTORY, 2012).

151
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

FIGURA 19 – HOTEL CASSINO EM LAS VEGAS

FONTE: Disponível em: <http://vegasrooms.com/stratosphere-las-vegas.html>.


Acesso em: 20 fev. 2012.

Na Europa, o Principado de Mônaco, também é um destino muito famoso


por seus cassinos. Na América Latina, apenas o Brasil e a Bolívia não autorizam
a exploração dos jogos de azar. Na Argentina, os cassinos são um importante
atrativo turístico e para se ter uma ideia, somente um empreendimento,
denominado Trillenium recebe mais de 10 mil visitantes diários, sendo 80%
destes, brasileiros. (SILVEIRA, 2004). É evidente que todos os investimentos em
hospedagens e em infraestrutura para atender aos turistas que frequentam os
cassinos podem ser aproveitados por outros segmentos de turismo e, além disso,
conforme estudamos, tendo em vista que o turista pode ter múltiplas motivações,
é muito provável que além de frequentar os cassinos, dedica-se a conhecer outros
atrativos turísticos da cidade.

O Paraguai também participa do mercado turístico que comercializa os


cassinos como atração para seus visitantes. Leia na notícia apresentada a seguir,
informações sobre esse destino.

152
TÓPICO 4 — O LAZER E O JOGO

Cassinos no Paraguai são opções de lazer nas noites da tríplice fronteira

Proibido no Brasil desde a década de 50, os cassinos de Ciudad Del


Leste são alternativas para quem aprecia jogos ou procura um ambiente
aconchegante para um "happy hour".

A noite na Tríplice Fronteira – Brasil, Paraguai e Argentina – está cada


vez mais charmosa e com maior número de atrativos. Para quem cruza a
Ponte da Amizade após às 20 horas, os cassinos são opções certas de diversão.
Se não aprecia “testar sua sorte” em jogos como a roleta bacará, blackjack e
pôquer caribenho ou, ainda, os populares caça níqueis (com apostas a partir
de US$ 0,01) os cassinos contam com excelentes restaurantes que valem a pena
conferir.

Ciudad Del Leste (CDE), no Paraguai, têm dois cassinos – Gran Casino
Paraná e Gran Casino Itaipu. Com ambientes cuidadosamente decorados,
sempre com muito glamour e elegância, ambos levam os visitantes a cenários
que lembram os grandes centros de jogos, como Las Vegas.

O mais antigo da tríplice fronteira, em funcionamento desde a década


de 70, é o Gran Casino Itaipu. Situado na região central de CDE, conta com
salões espelhados, iluminados e climatizados – típicos de Las Vegas – onde
o visitante pode se distrair com várias opções de jogos. Além disso, há um
espaço cultural destinado para exposições. O estabelecimento tem serviços de
segurança e de baby sitter. Para quem aprecia gastronomia internacional, a dica
é saborear as delícias do restaurante anexo ao cassino, além do piano-bar.

“De cara nova” – Outra opção é o Gran Casino Paraná (antigo Casino
Acaray), que foi remodelado recentemente e se tornou opção de lazer para toda
a família. A casa de jogos conta também com boate e restaurante internacional,
com um cardápio para agradar aos paladares mais exigentes. Caso a intenção
seja apenas um happy hour, o Casino Paraná é uma boa opção para saborear
petiscos. Essa nova estrutura foi inaugurada no final de outubro do ano
passado. Situado próximo ao Rio Paraná, o cassino é anexo ao luxuoso Hotel
Casino Acaray, de padrão quatro estrelas. O local ganhou fama internacional
por ter sido cenário para a gravação do filme “Miami Vice”.

Os cassinos paraguaios, especialmente após a reforma do então cassino


Acaray, estão ganhando espaço na preferência do turista e já começam a
concorrer em patamares de igualdade com o argentino Gran Casino Iguazu,
que, nos últimos anos, monopoliza a preferência dos jogadores brasileiros.

FONTE: Portal Click Foz do Iguaçu. Disponível em: <http://www.clickfozdoiguacu.com.


br/foz-iguacu-noticias/cassinos-no-paraguai-sao-opcoes-de-lazer-nas-noites-da-triplice-
fronteira>. Acesso em: 16 fev. 2012.

153
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Outros destinos vêm se fortalecendo turisticamente por conta de seus


cassinos. Macau, na Ásia, é um ícone desse crescimento. Os cassinos de Macau
encerraram o mês de janeiro de 2012 com receitas brutas superiores a 2.190
milhões de euros traduzindo um crescimento de cerca de 25 por cento face ao
mesmo mês de 2011. (RTP NOTÍCIAS, 2012).

No Brasil, os cassinos são oficialmente proibidos. Contudo, como é de


conhecimento de todos, existem jogos que são realizados de forma ilegal, como
os bingos e o jogo do bicho. Andrade (2001b) faz notar que diversas formas de
loterias federais e estaduais, as rifas beneficentes, os documentos que garantem
prêmios nos sorteios visando ao incentivo da capitalização e um leque de outras
modalidades de aposta no acaso ou na sorte constituem-se em fatos diários,
sinalizando o apreço que a ‘jogatina’ desperta no povo brasileiro.

É importante lembrar que nem sempre os cassinos foram proibidos no


Brasil. A proibição ocorre em 30 de abril de 1946 quando o presidente Eurico
Gaspar Dutra proibiu os jogos em território nacional pelo Decreto-Lei nº
9.215/1946, decretando a suspensão dos jogos. Segundo o então presidente, a
tradição jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária aos jogos de azar, que
podem incitar abusos nocivos à moral e aos bons costumes. (SILVEIRA, 2004).

Antes da proibição dos jogos, de acordo com Silveira (2004), havia no


Brasil 71 cassinos legalizados, que juntos, empregavam direta e indiretamente 60
mil pessoas. Tal como ocorre em vários países, no Brasil, os cassinos fomentaram a
criação de outros empreendimentos turísticos no seu entorno, como hotéis, bares
e restaurantes, e atraíam visitantes oriundos da Argentina, Paraguai e Uruguai.
De acordo com a mesma autora, nos grandes cassinos reuniam diversas atrações
como vários tipos de jogos, bailes inesquecíveis e shows com artistas importantes
da época.

O primeiro cassino brasileiro foi fundado no Rio de Janeiro, especificamente


no Hotel Copacabana Palace. Depois, surgiram grandes cassinos em Minas Gerais,
São Paulo e Foz do Iguaçu e espalharam-se empreendimentos por outras cidades
do Brasil. Após a proibição dos jogos, a maior parte das instalações dos cassinos
passou a atender à demanda hoteleira. (SILVEIRA, 2004).

A legalização do lazer-jogo no Brasil poderia ser uma alternativa para


diversificar a oferta de produtos turísticos captando mais turistas estrangeiros
e nacionais. É claro que para isso, seria necessária uma clara e sólida política
de incentivo e fiscalização para regulamentar a atividade e para que não se crie
condições para a realização de crimes como lavagem de dinheiro, sonegação de
impostos, comercialização de drogas, prostituição e todos os outros fantasmas que
rondam o assunto quando a atividade não se desenvolve de forma séria e lícita.

154
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Muitos turistas viajam motivados em participar de jogos e apostas, sendo um


segmento do turismo que cresce nos últimos anos.

• Os Estados Unidos dominam o cenário de jogos de entretenimento na América


do Norte, contando com mais de 1.500 estabelecimentos de jogos.

• Os investimentos em hospedagens e em infraestrutura para atender aos turistas


que frequentam os cassinos podem ser aproveitados por outros segmentos de
turismo.

• Macau, na Ásia, vêm se fortalecendo turisticamente por conta de seus cassinos.

• Atualmente, no Brasil, os cassinos são oficialmente proibidos.

• Nem sempre os cassinos foram proibidos no Brasil, a proibição ocorreu em 30


de abril de 1946, durante o mandato do presidente Eurico Gaspar Dutra.

• Antes da proibição dos jogos havia no Brasil 71 cassinos legalizados.

• A legalização do lazer-jogo no Brasil poderia ser uma alternativa para


diversificar a oferta de produtos turísticos captando mais turistas estrangeiros
e nacionais.

155
AUTOATIVIDADE

1 Existiria demanda para frequentar cassinos no Brasil, caso a atividade fosse


regulamentada?

2 Onde está localizada a maior quantidade de cassinos no mundo?

3 Como os investimentos necessários para a construção de cassinos


influenciam o turismo?

4 No continente asiático, qual país vem se consolidando como uma importante


potência no segmento de jogos?

5 Já existiram cassinos no Brasil? Comente o assunto.

156
TÓPICO 5 —
UNIDADE 3

FESTAS, LAZER E CULTURA

1 INTRODUÇÃO
Se a tarefa de relacionar alguns assuntos, como lazer e trabalho, podem
requerer algum esforço inicial, algumas associações parecem tão evidentes e
parecem se encaixar perfeitamente. Festa e lazer são um desses casos. A festa é
uma expressão de alegria, de diversão, de encontro. As festas são uma forma de
lazer muito difundida e antiga. Neste tópico, vamos abordar a questão das festas
e do lazer.

2 FESTAS E TURISMO
As festas são um espetáculo à parte e ocorrem em um espaço e tempo
especiais e o setor do entretenimento empreende significativos esforços para fazer
com que as pessoas se abstraiam de seu lugar comum social e temporal a fim de
integrá-las na esfera festiva. As festas podem acontecer em diferentes espaços, tais
como: ruas, clubes, bares, praças das cidades, centros de eventos entre outros. As
festas permitem explorar a variável temporal de diferentes formas. O complexo
Disney Village, em Orlando, Flórida, comemora todas as noites, à meia-noite,
uma festa de réveillon. (TRIGO, 2003).

FIGURA 20 – SHOW DE FOGOS DE ARTIFÍCIO DISNEY

FONTE: UOL. Disponível em: <http://ec.i.uol.com.br/2009/fevereiro/19disney02.jpg>.


Acesso em: 20 fev. 2012.

157
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Diversos empreendimentos como clubes e danceterias em várias cidades


comemoram festas temáticas – juninas, halloween, piratas, cowboys, fantasia,
carnaval fora de época, bailes do Hawai entre outras – que tiveram origem em
outras cidades. Em muitos casos, as festas estavam vinculadas ao calendário
religioso, sendo revestidas, portanto, de cunho sagrado. (TRIGO, 2003).

Muitas festas são incorporadas no calendário de eventos da cidade e fazem


parte das atrações turísticas. No calendário de eventos, são apresentados todas as
festas, feiras, congressos e exposições que irão acontecer na cidade no decorrer
do ano, bem como o período e o local onde acontece o evento. Desta forma, o
calendário de eventos é um importante instrumento de gestão do turismo de uma
cidade, pois permite tanto aos administradores e servidores municipais como aos
turistas, planejarem e se organizar para participar dos mesmos.

As festas de um povo estão relacionadas com sua identidade cultural e em


alguns casos, fazem parte do patrimônio imaterial de determinada comunidade.
Se durante algum tempo, a noção de patrimônio cultural remetia apenas aos
prédios e obras arquitetônicas de grande valor que deveriam ser tombadas e
visitadas para contemplação, atualmente, novos elementos incorporam-se ao
tema. Macena (2003) assevera que a concepção de patrimônio envolve todo
o legado cultural de um povo, como suas lendas, festas, folguedos, costumes,
crenças, manifestações artísticas, etc., e todos os elementos essenciais para o
registro da melhora individual e coletiva e que contribuam para a formação do
sentimento de pertença a determinada comunidade.

Além de serem uma ótima alternativa de lazer, no âmbito do turismo,


as festas são responsáveis por impulsionar significativos fluxos de viajantes.
As festas, danças, folguedos, histórias orais entre outros aspectos da cultura
de uma comunidade, podem atrair atenção e despertar o interesse de muitas
pessoas a conhecerem melhor o local e inclusive, vivenciar a experiência de
participar das festas em conjunto com a comunidade autóctone. Quando a cidade
percebe seu potencial cultural e resolve com organização e parcerias transformar
suas manifestações culturais em atrativo turístico, os turistas passam a ter a
oportunidade de se aproximar de manifestações artísticas distintas das suas.
(MACENA, 2003).

Em alguns casos, uma festa pode adquirir tamanha importância no contexto


da cidade que passa a ser o atrativo responsável por atrair os visitantes. Em Blumenau,
SC, a Oktoberfest é uma grande festa que tornou a cidade nacionalmente conhecida.
Inspirada na Oktoberfest de Munique, a versão blumenauense nasceu da vontade
do povo em expressar seu amor pela vida e pelas tradições germânicas, tendo sua
primeira edição realizada em 1984. O evento é a maior festa alemã das Américas
e entre suas atrações, destacam-se vários elementos da cultura alemã, através da
música, da dança, dos belos trajes, da refinada culinária típica e do saboroso shop.
(OKTOBERFEST BLUMENAU, 2012).

158
TÓPICO 5 — FESTAS, LAZER E CULTURA

FIGURA 21 – DESFILE DA OKTOBERFEST EM BLUMENAU – SC

FONTE: Site Oktoberfest Blumenau. Disponível em: <http://www.oktoberfestblumenau.com.br/


galeria/album-de-fotos>. Acesso em: 22 fev. 2012.

No Brasil, uma das festas mais conhecidas é o carnaval. A festa, contudo,


não é uma criação nacional e remonta origens muito antigas. Conforme explica
Ferreira (2004, p. 15):

A origem da festa carnavalesca está coberta de mistérios e


controvérsias. Alguns afirmam que ela teria surgido nos ritos agrários
das primeiras sociedades de classes, outros preferem considerar que
a primeira folia aconteceu no Antigo Egito ou na civilização greco-
romana. O certo é que existem referências ao termo “carnaval” a partir
do século XI, quando a Igreja decide instituir o período da Quaresma.
Daí em diante, a festa vai tomar várias formas até que, no século XIX,
a burguesia parisiense ‘inventa’ o carnaval tal como o concebemos
atualmente.

A concepção de carnaval está vinculada ao divertimento de populares,


associado a máscaras, fantasias, desfiles, bebidas e dança. Ferreira (2004) explica
que o surgimento do carnaval está ligado à instituição da quaresma, que deveria
ser um período no qual os fiéis deveriam deixar de lado a vida cotidiana, para
dedicar-se a questões espirituais, privando-se dos prazeres da vida material, isto
é, abstendo-se de comilanças, namoros, brincadeiras e bebedeiras. No período
da quaresma, deveria reinar a temperança, o comedimento, a castidade e um
rigoroso jejum. Ainda em suas explicações, Ferreira (2004) comenta que o primeiro
dia da quaresma era chamado de quarta-feira de cinzas devido ao costume de
marcar a testa dos fiéis com uma cruz feita com cinzas de uma fogueira, como
sinal de penitência e o período de privações e dedicação espiritual encerrava-se
no domingo de Páscoa. Como era de se imaginar, para muitas pessoas todas essas
privações eram difíceis de serem suportadas e passaram a organizar festejos na
véspera do início da quaresma, marcados por exageros e farturas. “Os últimos dias
de fartura antes dos quarenta dias de penúria começaram então a ser chamados
de dias do ‘adeus à carne’, que, em italiano, fala-se dias da ‘carne vale’”. (Ferreira,
2004, p. 26). Para especialistas no assunto, essa é a explicação mais aceitável para
a origem do termo.

159
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

No Brasil, o carnaval incorpora elementos da cultura nacional e a partir


da entrada do país na modernidade dos anos de 1920, a festa carnavalesca se
torna uma importante celebração da diversidade cultural do país, contando com
cordões, blocos, ranchos e belas alegorias. (FERREIRA, 2004).

A cada ano que passa, o carnaval brasileiro toma força e os desfiles das
escolas de samba, do Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente, são atrações
aguardadas por muitos durante vários meses.

FIGURA 22 – DESFILE DE ESCOLA DE SAMBA NA SAPUCAÍ

FONTE: Portal Extra. Disponível em: <http://extra.globo.com/noticias/carnaval/carnaval-confira-


ordem-do-segundo-dia-de-desfiles-do-grupo-especial-4028231.html>. Acesso em: 20 fev. 2012.

O carnaval brasileiro atrai muitos turistas nacionais e internacionais.


Acompanhe na matéria elaborada pelo Ministério do Turismo dados sobre a
expectativa de viagens turísticas.

160
TÓPICO 5 — FESTAS, LAZER E CULTURA

Rio, Salvador e Recife serão os destinos mais visitados

Seja para descansar ou para cair na folia, o fato é que o brasileiro vai
sair de casa durante o carnaval. É o que revela levantamento do Ministério do
Turismo que estima a realização de seis milhões de viagens, dentro do Brasil,
no período que começa na sexta-feira (17) e se estende até a Quarta-Feira de
Cinzas (22).

Os destinos mais procurados são Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA)


e Recife (PE). As seis milhões de viagens, realizadas por turistas brasileiros
e internacionais, devem resultar em uma movimentação financeira de R$ 5,5
bilhões.

Esses números contribuem para a estimativa de que o verão, com ênfase


nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro deste ano, registre a realização
de 70 milhões de viagens domésticas. O número é 3% melhor que a projeção
anteriormente divulgada pelo Ministério do Turismo, de 68 milhões de viagens
realizadas por brasileiros durante a estação. Em 2011, o indicador registrou 60
milhões de viagens nacionais realizadas no mesmo período.

De acordo com o Departamento de Estudos e Pesquisas (Depes) do


MTur, a revisão da projeção deve-se ao incremento do turismo doméstico
verificado durante o Reveillon do ano passado.

FONTE: Ministério do Turismo. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/


todas_noticias/20120203.html>. Acesso em: 17 fev. 2012.

161
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

LEITURA COMPLEMENTAR

Para complementar seus estudos, na sequência apresenta-se o artigo Lazer,


festa e festejar, escrito pela antropóloga Marielys Siqueira Bueno e publicado na
Revista Cultura e Turismo. Boa leitura!

LAZER, FESTA E FESTEJAR

1. INTRODUÇÃO

A realidade do lazer no mundo moderno revelou-se complexa e ambígua,


pois além das relações profundas com todos os grandes problemas do trabalho,
é preciso considerar que o lazer cada vez mais se insere no universo do mercado.

O lazer pressupõe uma atividade de livre escolha, mas essa liberdade


encontra limites nos diversos determinismos sociais, limites esses que serão tanto
mais estreitos e opressores quanto maior for a estafa que dificulta o descanso e
menor for o salário.

A conquista do tempo livre no mundo do trabalho transcende o direito de


descanso e implica a oportunidade do exercício de funções individuais tais como
distrair-se, desenvolver-se etc. Portanto, o tempo livre se inscreve num tempo
social que permite a livre expressão do indivíduo na sociedade. O processo de
industrialização tem sido apontado como o motor da urbanização que provocou
uma verdadeira ‘mutação cultural’ que, historicamente, fez o homem passar do
arcaísmo ao modernismo determinando, também, profundas transformações na
esfera das relações principalmente naquelas decorrentes da própria natureza do
trabalho.

Nas sociedades industriais o trabalho se torna, progressivamente,


parcelado, mecanizado, desvalorizado. As forças econômicas, na busca de
ampliação de seus lucros negligenciam alguns aspectos fundamentais das
necessidades humanas, de forma que se pode avaliar o grau de isolamento e de
desigualdade entre os espaços urbanos.

Por outro lado, para o trabalhador urbano, as alterações no modo de


trabalho foram acompanhadas de mudanças no número de horas livres – o
progresso tecnológico permitiu maior produtividade com maior tempo livre. Ao
lado dessa conquista de maior tempo livre e de leis trabalhistas que garantiam
o direito a esse tempo, o lazer, em seus vários aspectos, passa a possuir uma
dimensão social nova, cuja importância não pode ser negligenciada.

162
TÓPICO 5 — FESTAS, LAZER E CULTURA

O lazer, hoje, não é mais considerado apenas como tempo necessário


para a reprodução da força de trabalho. Ele se tornou, pela sua extensão e pela
infraestrutura que ele supõe um fenômeno social da maior importância. Além
disso, o lazer atualmente não é mais o privilégio de uma minoria ou de uma
classe, mas o conjunto da população reivindica o direito a ele e, mesmo que ainda
persistam fortes desigualdades, o direito ao lazer se tornou uma demanda social
fundamental.

Esse fenômeno vai encorajar a industrialização do lazer e pode se notar


que ele tem sido progressivamente apropriado pela sociedade industrial. Em
consequência, vem se tornando tanto um tempo disponível quanto um objeto
de consumo – de tal forma, que nos espaços urbanos pode se considerar o lazer
como sinônimo de consumo.

Se articularmos os diferentes aspectos da condição do trabalho urbano


– salário gasto na sobrevivência, jornada de trabalho longa e, algumas vezes
intensa e penível, moradia distante, falta de centros recreativos e culturais além
do acréscimo de trabalho exigido pelas obrigações de ordem pessoal, o lazer pode
se tornar um espaço de fuga. E é por isso que se constatam numerosas atitudes
de passividade face ao lazer. O lazer ocupado pela televisão nas atividades de
lazer é testemunho dessa atitude. A preocupação então se volta para o ‘lazer
anestesiante’, o lazer que esvazia o homem de sua interioridade pelo processo
de massificação que teria um efeito tão despersonalisante quanto o trabalho
parcelado e automático.

É nesse sentido que Ecléa Bosi (1981) insiste em destacar que o lazer deve
ser sempre definido em relação (de posição e oposição) ao trabalho. Não com fato
externo, mas como é vivido pelo trabalhador, como é integrado na vida cotidiana
e qual é a significação para a sua consciência.

Nelson Carvalho Marcelino ao argumentar sobre ao lazer no mundo


urbano e os elementos redutores da liberdade de escolha do lazer pelo trabalhador
cita Godbey por ser enfático ao afirmar que, contrariamente ao que se afirma,
não é a prática do lazer que vem aumentando gradativamente, mas sim, o que
ele chama de ‘antilazer’, ou seja, uma atividade compulsiva realizada a partir de
estimulação exterior. É o “homem fugindo de si próprio, negando o afrontamento
consigo mesmo e como o mundo que o cerca, incapaz de encontros verdadeiros.
É o vazio, o nada, o tédio, a alienação”. (MARCELINO, 1986, p. 48).

Parece haver um consenso de que na sociedade atual nada favorece os


encontros comunitários. O desenvolvimento capitalista, na opinião de Edgard
Morin, acarretou a mercantilização generalizada destruindo numerosos tecidos
de convivialidade. Esse desenvolvimento, diz ele, “não somente trouxe o
florescimento individual, liberdade e lazer, mas também, uma atomização,
consequência das coerções organizacionais especificamente modernas”. (MORIN,
1993, p.23).

163
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Muitos pensadores sociais apontam para essa fragmentação do espaço


urbano que compromete a convivialidade e empobrece as relações. Richard
Sennet (1994), em seu livro ‘O declínio do homem público’ verifica que à medida
que a vida pública e comunitária se torna exangue, anula-se o senso de contato
significativo.

Referindo-se à condição atual, Balandier (1985) afirma que o homem de


hoje está preso no casulo invisível formado por todas as redes que lhe transmitem
a distância imagens e ruídos do mundo. É preciso, diz ele, encontrar novas
terapias capazes de tirar os homens do efeito das fascinações e reensinar a eles
governar as imagens e a não suportar que elas sirvam à captura da sua liberdade.

Hoje, quando praticamente todos os espaços estão impregnados pelo


espírito da modernidade que se caracteriza especialmente pelo transitório, o
efêmero e contingente determinando uma vida linear, direcionada, planificada,
torna-se imperativo a constatação de que existem diferentes dimensões na
concretude da vida.

No entanto, Rita Amaral não concorda e diz que,

não é possível pensar a cidade, especialmente as metrópoles, como


o lugar da solidão e do individualismo, como o senso comum tende
a estereotipar. Na verdade, vivem-se, atualmente, novos tipos de
associação, com bases mais “afetivas”, que têm no partilhar um gosto
comum e práticas comuns seu elemento mais notável. (AMARAL,
1998, p. 111).

É justamente nesse sentido que vemos o papel social importante das


festas que no dizer de Balandier (1985) abrem espaços no interior da sociedade
e ela não seria apenas um espetáculo onde se joga com a realidade e com o
imaginário, mas igualmente, oferece a possibilidade para uma participação
ativa onde se criam momentos para a libertação física e psíquica propiciando a
vivência da convivialidade e solidariedade.

2. FESTA

O uso do tempo livre, o lazer não é, como aponta Maffesoli (1984), um


divertimento de uso privado, mas, fundamentalmente, a consequência e o efeito
de toda sociabilidade em ato. A comunhão de emoções ou sensações difundida
nesses momentos é, para ele, o que funda a vida social.

A festa é uma verdadeira ‘recr(e/i)ação’ ao contrário de muitas formas de


lazer pobres em criatividade, convivialidade e comunhão comunitária. As festas
são ocasiões para as pessoas se reunirem e delas saírem fortalecidas. Nelas se
instala o clima da descontração, despreocupação. A festa tem a leveza e nela se
conecta com “o outro”. Na festa a despesa não é utilitária e a sociedade vê nela
uma fonte de energia e criação.

164
TÓPICO 5 — FESTAS, LAZER E CULTURA

Capra, em sua obra às conexões ocultas (2002, s.n.), diz que “a capacidade
marcante do nosso planeta é a sua capacidade intrínseca de sustentar a vida” e
sinto-me tentada a parafraseá-lo dizendo que a capacidade marcante do Homem
é a sua capacidade de sustentar a vida social. Entre os mecanismos alienantes
da economia e as limitações opressoras do poder, o Homem reage infiltrando,
nos interstícios da sociedade, formas de vivências revitalizadoras para recuperar
seu sentido de participação e construção de identidade. Assim, numa convivência
solidária, em diferentes modos de ser e viver, os homens criam, imaginam e
inventam formas de sustentar o humano no social, a identidade na impessoalidade.

Entre esses mecanismos, um espaço se destaca – a Festa. Particularmente


as festas que são manifestações da tradição cultural pelo seu grande potencial
criativo e de integração. Referindo-se à festa como manifestação cívica e cultural,
Octávio Paz (1984, p. 32) diz que a “sociedade comunga consigo mesma na festa
e, graças a ela, o mexicano comunga com seus semelhantes e com os valores que
dão sentido à sua existência”.

A Festa, em todas as suas diferentes modalidades e seus múltiplos


significados e contextos, têm em comum o fato de criar um espaço essencial para
fortalecer e nutrir a rede das relações sociais, a parte humana vital da chamada
‘teia da vida’.

A Festa – esses eternos rituais que acompanham o homem em momentos


suspensos, extraídos da linearidade do tempo cotidiano – tem muitas modalidades,
mas seja qual for a sua forma de expressão, os momentos de lazer proporcionados
por elas, têm sempre um caráter participativo e a forma de convivialidade que ela
cria reforça e nutre os laços sociais. O tempo vivido na Festa é um tempo extraído
do cotidiano porque cria um envolvimento que permite um distanciamento
das preocupações, especialmente aquelas decorrentes do trabalho e/ou medo
subjacente de perdê-lo.

A complexidade e riqueza da festa têm sido abordadas por vários autores.


Rita de Cássia Amaral (1998), em ‘Festa à brasileira’, diz que a festa é, conforme
o contexto, capaz de celebrar, ironizar, sacralizar a experiência social e, também,
pessoal. É capaz, ainda, de resolver, pelo menos no plano simbólico, contradições
da vida social, apontando assim, para seu poderoso papel de mediador entre
as estruturas econômicas, bem como entre as diferenças socais e culturais,
estabelecendo pontes entre grupos e indivíduos, realidades e utopias, além de
suas mediações simbólicas entre o sagrado e profano. Ainda segundo Amaral, a
festa é capaz de apreender o sentido de cidadania proporcionando um despertar
da consciência de grupo, de comunidade. Por essas razões, entre outras, que ela
atribui, às festas, uma tríplice importância: cultural, por colocar em cena valores,
projetos, artes e devoção; como modelo de ação popular e como produto turístico
capaz de revitalizar e revigorar muitas cidades.

165
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

3. METODOLOGIA

As reflexões que orientam este artigo resultam de trabalho de campo,


realizado em diversas épocas, acompanhando cada um das festas relatadas a
seguir, em todos os seus momentos, com objetivo de registrar, pela observação,
as manifestações próprias a cada uma delas. Utilizou-se como instrumento de
pesquisa, a entrevista com os principais “atores” participantes das festas, assim
como os turistas, provenientes de diversas regiões do Brasil.

Além disso, o interesse pelo tema é bastante antigo, embasando-se em


pesquisa bibliográfica de suporte, que permitiu a percepção das festas como uma
modalidade especial de lazer, que leva a privilegiar uma sociabilidade própria a
esses momentos. Percebem-se as funções sociais da festa nos resultados da coesão
grupal e um esforço na identidade grupal e, como disse um depoente, “antes
éramos conhecidos pela pobreza, e hoje somos conhecidos no Brasil inteiro pela
festa do Boi Bumba” (Parintins).

4. O FESTEJAR

As festas comunitárias ocupam um lugar privilegiado na cultura


brasileira. Seu forte apelo aos sentidos atrai e envolve tanto a comunidade quanto
os visitantes e admiradores. Nas festas, por todo o Brasil, o jogo de cores, os
ritmos. As toadas, os bailados e as comidas se multiplicam e encantam os que
dela participam, criando um envolvimento que, de certa forma, dilui barreiras e
fronteiras entre sagrado e profano, rico e pobre, brancos e mulatos.

Pode-se dizer que, a despeito da modernidade, as festas crescem, se


multiplicam e ganham visibilidade. Muitas festas tradicionais tornaram-se
atrações turísticas exercendo, pela sua organização, uma ação de destaque,
podendo alcançar uma visibilidade nacional que favorece, entre outros aspectos,
a construção de identidades sociais.

Na multiplicidade de festas que se tornaram verdadeiros ‘eventos’


nacionais, elegemos a festa do Boi-Bumbá de Parintins, no Amazonas e a
Cavalhada de Pirenópolis, em Goiás, como apoio para algumas considerações
sobre certas características do festejar brasileiro.

A primeira é uma festa de motivação folclórica e, a segunda, uma festa


religiosa. Com temas, motivações e estruturas de organização tão diferentes é
surpreendente encontrar nelas vários aspectos comuns. Ambas privilegiam o
imaginário em momentos criativos de uma plasticidade rica e atraente e, em ambas,
encontra-se o aspecto ‘mutirão’ que evidencia a oposição ao individualismo que
apontam ser característica urbana.

Ambas requerem a participação efetiva de praticamente toda a


comunidade, durante o ano todo, através da distribuição de funções dentro de
uma estrutura de planejamento e produção.

166
TÓPICO 5 — FESTAS, LAZER E CULTURA

O importante dessas manifestações festivas é a genuína comunhão e o


autêntico entusiasmo da participação coletiva. Imediatamente após o término da
festa iniciam-se o planejamento e a montagem da próxima. Dividem-se tarefas,
envolvendo inúmeras especialidades e talentos. Dessa forma, a festa se insere na
própria vida cotidiana.

5. FESTA DE PARINTINS

Em Parintins, o folclore do boi-bumbá é uma variante espetacular de


um tema registrado em várias regiões do país. O tema folclórico original do
boi-bumbá diz respeito a um vaqueiro que, para satisfazer o desejo da mulher
grávida de comer língua de boi, mata o boi que um rico fazendeiro havia dado à
sua filha querida. O fazendeiro descobre o ‘crime’ e só suspenderá a punição ao
vaqueiro de confiança se o boi for ressuscitado. Por interferência de um padre o
boi ressuscita e o vaqueiro é perdoado. Na versão amazônica, um médico e um
padre tentam ressuscitar o boi, mas fracassam. É introduzida a figura do pajé.
Este consegue o feito através de seus processos mágicos de cura, que levam ao
perdão do vaqueiro e à reconciliação festiva. A figura do pajé, bem como a ênfase
na incorporação do tema indígena, marca a singularidade do festival de Parintins
frente às representações de outros estados.

Tradicionalmente, o boi-bumbá era uma brincadeira de rua. Os brincantes


do boi saíam pelas ruas da cidade festejando, dançando e contando diante das
casas dos mais ricos, encenando a matança do boi. Em troca, o dono da casa
comprava a ‘língua do boi’, ou seja, retribuía a dádiva com uma quantia em
dinheiro dada aos brincantes.

A apresentação, na forma em que é conhecida hoje, iniciou-se em 12 de


junho de 1966 e ficou registrada como o primeiro festival oficial. O local foi a
praça da igreja Nossa Senhora do Carmo. A partir dessa data, as apresentações
passaram a ter um caráter competitivo, pois visavam a agradar o público e
conquistar o título de ‘o melhor festival’.

A partir daí há uma espetacularização do Festival. Em função do caráter


competitivo, novos critérios de regulamentação foram progressivamente
introduzidos na apresentação. A dimensão da festa levou os organizadores a se
mobilizar para adquirir um espaço permanente para a apresentação dos bois.
Depois de várias experiências, a consolidação de um espaço permanente e
adequado aos critérios da encenação será conquistada em 1988 com a inauguração
do Centro Educacional e Desportivo Amazônico Mendes que comporta trinta
e cinco mil pessoas e é conhecido e chamado de Bumbódromo (numa alusão
comparativa ao Sambódromo do Rio de Janeiro).

Os bois Garantido e Caprichoso se apresentam nos três últimos dias do


mês de junho celebrando o boi-bumbá através de um enredo que guarda o núcleo
semântico original, mas incorpora elementos do universo imaginário amazônico.

167
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

Cada boi cria, anualmente, um enredo que será representado na arena


do Bumbódromo, durante duas horas e meia, por três dias. Isso significa um
trabalho para o ano todo, começando pelo planejamento, seguido por atividades
febris para a execução das alegorias, os ensaios das coreografias e ajustes no
acompanhamento rítmico e melódico da linha narrativa.

Devido à crescente complexidade técnica, recursos cenográficos,


grandiosidade das alegorias e efeitos de luz, o festival assumiu uma dimensão
comparável ao desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro – fato extraordinário
se considerarmos as dimensões da cidade e o seu isolamento da ilha. Aliás,
segundo Braga (2002), foi o carnaval carioca que inaugurou essa concepção de
espaço destinado aos grandes espetáculos de massa que, mais tarde, se expandiu
para outras manifestações populares.

Tudo que se possa ler e ouvir, imagens que se possam ver, não conseguem
transmitir a efervescência da festa, seu aspecto monumental e seu clima feérico.
Ao amanhecer do primeiro dia dos festejos a cidade entra em ebulição. As ruas
se transformam, num abrir e fechar de olhos, barracas se erguem com os mais
variados produtos e as embarcações típicas do amazonas, com dois ou três
andares e dezenas de redes para acomodar os passageiros, buscam lugar para
atracar. Desse momento em diante, as ruas centrais, se transformam em palco
onde milhares de turistas passeiam, dançam e compram artesanato. Sucos de
frutos afrodisíacos são anunciados e pratos típicos são disputados nas barracas.
Bicicletas, transformadas em ‘taxi’, disputam espaço com os turistas.

De navios de cruzeiros internacionais desembarcam turistas estrangeiros.


Para estes são feitas apresentações especiais dos bumbas se eles chegam fora da
temporada do festival. A expansão da festa e os novos significados da tradição
determinaram, evidentemente, importantes modificações que recebem críticas
de uns e aprovação de outros. Mas parece não haver dúvidas de que o boi
tem fortalecido o orgulho da população. Nesse novo formato ‘espetáculo’, a
organização da festa, em função do acréscimo de outros participantes e outros
assistentes, exige um planejamento que requer múltiplos talentos, gerando um
tecido de atividades sociais criativas, uma convivialidade e uma solidariedade
em diferentes níveis de participação.

O núcleo tradicional das festas ganha, por esse processo, meios de


expressão de maior amplitude. Tudo vai permitir falar mais vigorosamente de
sua história, de redinamizar seu imaginário e fazer renascer valores esquecidos.
O certo é que durante todo o ano, várias formas de entretenimento ligadas ao
Festival animam a maioria dos moradores da cidade – ensaios das danças, das
músicas etc. constituindo um espaço concreto de relações de lazer.

168
TÓPICO 5 — FESTAS, LAZER E CULTURA

6. A FESTA DA CAVALHADA

Outra festa que apresenta esse processo de expansão de suas manifestações


populares é a Cavalhada de Pirenópolis. Também nesse caso, os moradores da
cidade têm durante todo o ano momentos de encontros festivos e de convivialidade
ligados ao preparo e planejamento da festa.

A Cavalhada propriamente dita é a evocação da luta entre os cristãos e os


mouros inserida na Festa do Divino e se realiza, anualmente, cinquenta dias após a
Páscoa. Pirenópolis é uma pequena cidade no interior do estado de Goiás. Foi fundada
em 1727 em função da exploração das ricas minas de ouro da região. Rapidamente as
minas se esgotaram e, para a cidade, só restaram o comércio e a agricultura.

Essa cidade ganhou um novo impulso com a criação de Brasília e sua


classificação como monumento histórico. Esses aspectos, aliado à sua configuração
geográfica, fazem dela uma cidade com potencial turístico e ecológico. Mas ela é
conhecida, principalmente, por causa da festa da Cavalhada, momento em que o
número de visitantes dobra a população da cidade.

Se a cavalhada propriamente dita dura três dias, a festa, no seu conjunto,


dura dez dias e sua preparação o ano todo.

Realizada desde 1819, a Cavalhada é uma festa de inspiração religiosa


e a ela foram acrescentadas numerosas manifestações profanas, o que provoca
alguns conflitos com as autoridades religiosas.

A motivação de Parintins é a competição e a motivação da Cavalhada é a


fé religiosa. Todos chamam a festa da Cavalhada, mas o verdadeiro nome é “Festa
do Divino”, o que mostra bem sua origem religiosa e a motivação particular das
pessoas para a sua preparação.

A festa de Pirenópolis também vem aumentando. Para receber o número


crescente de turistas algumas casas foram reformadas para assegurar a instalação
do “Bread and Breakfast”. As numerosas pousadas construídas asseguram o
alojamento dos turistas.

Para a festa os artesãos confeccionam artigos ricos e variados, as doceiras


oferecem as especialidades da região, as bordadeiras, hábeis, se revezam na
confecção das roupas cada vez mais luxuosas dos cavaleiros e para os ornamentos
dos cavalos. Os bares cafés e restaurantes se aperfeiçoam e se decoram – a cidade
se torna brilhante, viva e seus habitantes ficam orgulhosos de tudo isso. Muitos
aprovam as modificações ligadas à presença do número crescente de turistas,
mas não faltam críticas. Mas apesar da desaprovação de alguns moradores mais
conservadores, a festa da Cavalhada continua proporcionar aos seus moradores
momentos prazerosos de encontros festivos para preparação para a festa, para o
ensaio das pastorinhas, para a programação dos fogos de artifício, para a confecção
das máscaras dos cavaleiros. Alguns moradores confirmam esse prolongamento
do ‘festejar’ durante muito tempo e nas mais variadas ocasiões.

169
UNIDADE 3 — TURISMO E LAZER —

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É inegável que o fenômeno turístico pode significar a revitalização dessas


festas e oferecer condições para a manutenção dessas expressões culturais
sempre ameaçadas de esgotamento e extinção face às condições corrosivas
da modernidade. É bem conhecido que as festas populares ocupam um lugar
importante e de grande visibilidade na cultura brasileira.

Pode-se dizer que, a despeito da modernidade, as festas, se multiplicam e


ganham notoriedade. Por sua vez, essas festas oferecem ao turista, elementos que
o enriquecem na medida em que vivenciar uma manifestação cultural diferente,
pois olhar já é participar pela alegria, satisfação que a festa suscita.

No entanto, apesar desses aspectos reconhecidamente positivos é preciso


considerar a natureza da interação entre visitantes e residentes nessas festas, pois
segundo Urry, citado por Luiza Neide M. T. Coriolano (1997), existem muitos
determinantes conflitivos entre hospedeiros e hóspedes nas relações sociais através
das práticas turísticas. Daí a necessidade de avaliar as marcas deixadas por esse
intercâmbio que cria novos elementos e/ou novas funções nessas práticas sociais.

Vemos, portanto, que a festa é uma realidade social que requer abordagens
e interpretações múltiplas e complementares. Entre elas, gostaria de ressaltar o
fato de que ela é um espaço privilegiado para a prática do lazer.

A festa supõe, evidentemente, o acolhimento do ‘outro’, uma expansividade


coletiva. A alegria e despreocupação que permeia a festa e cuja função primordial
é criar e estabelecer relações. Seria o antídoto para a acentuada tendência da
modernidade de suprimir os vínculos sociais.

As relações sociais que estão na base dessas manifestações ganham


dimensões coletivas e induzem a formas de relacionamento peculiares. Antes de
tudo, a preparação da festa ganha proporções coletivas e elaboradas. A cidade
ou a comunidade se mobiliza para a preparação da festa e para recepcionar os
visitantes. As habilidades individuais ganham relevo e dão aos seus portadores
uma visibilidade e uma importância nem sempre presentes na vida cotidiana.

Devemos considerar que, embora a modernização da sociedade tenha se


aprofundado e que as diversas modalidades de comunicação tenham padronizado
muitos códigos e símbolos através da cultura de massa, é notável perceber que a cultura
popular, especialmente através de seus festejos, revela uma extraordinária vitalidade.

Além disso, apesar da mercantilização e espetacularização de muitas


dessas festas, elas continuam fazendo, em suas manifestações, uma interpretação
dos mitos, lendas e história, através da elaboração da expressão de uma imaginação
simbólica que desempenha o seu papel revelador e crítico.

170
TÓPICO 5 — FESTAS, LAZER E CULTURA

O sentido e o valor que a festa popular possa oferecer na prática do lazer


representam aspectos importantes para a reflexão sobre o papel e a própria função
do lazer na vida moderna. O dinamismo das festas e suas novas configurações
representam um grande estímulo para os estudiosos do lazer.

Termino essas considerações com a fala de Magnani em “Festa no


Pedaço”: “Em vez de avaliar exclusivamente a autenticidade ou não dos traços
culturais – preocupação, costumes, festas, tradições e formas de entretenimento,
com contexto das condições concretas de vida de seus portadores, constituindo,
deste modo, uma via de acesso ao conhecimento de sua ideologia, seus valores e
sua prática social”. (MAGNANI, 2003, p.32).

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www.uesc.br/revistas/culturaeturismo /edicao3/artigo3.pdf>. Acesso em: 18 fev.
2012.

171
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• As festas são um espetáculo à parte e ocorrem em um espaço e tempo especiais.

• As festas permitem explorar a variável temporal de diferentes formas.

• Muitas festas são incorporadas no calendário de eventos da cidade e fazem


parte das atrações turísticas.

• As festas de um povo estão relacionadas com sua identidade cultural.

• A concepção de carnaval está vinculada ao divertimento de populares,


associado a máscaras, fantasias, desfiles, bebidas e dança.

• O surgimento do carnaval está ligado à instituição da quaresma, que é um


período em que os fiéis deveriam deixar de lado a vida cotidiana, para dedicar-
se a questões espirituais, privando-se dos prazeres da vida material, isto é,
abstendo-se de comilanças, namoros, brincadeiras e bebedeiras.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
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172
AUTOATIVIDADE

1 Por que as festas são importantes para o lazer?

2 A festa permite explorar a variável tempo de forma diferente. O que


significa isso?

3 De que modo as festas devem ser inseridas no processo de planejamento


turístico?

4 Qual é a função do calendário de eventos?

5 Qual é a origem do termo carnaval?

173
174
REFERÊNCIAS
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