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ANPUH-BA
Associação Nacional de História - Seção Bahia
Revisão e Organização
Cleide Lima
Ilustração
Romeu Ferreira
Observação: a adequação técnico-linguística dos textos, bem como seus conteúdos, são de responsabilidade dos autores.
E47
291p. il.;
ISBN 978-65-87106-10-6
CDD: 338.528142
Resumo: Este trabalho pretende investigar o papel de Hades, deus ctônico relacionado ao
mundo inferior e dos mortos, deidade temida e respeitada na Ilíada e na Odisseia. Abordar-se-á a
perspectiva espacial do reino de Hades, relacionando-a com a personalidade e o papel atribuído
à divindade, na narrativa homérica. Junto a isso, destacar-se-á a passagem da psyché do mundo
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dos vivos ao mundo dos mortos, procurando localizar no reino de Hades a existência ou não de
sofrimento no post-mortem nos épicos, a partir das expectativas dos diferentes grupos sociais em
relação ao submundo, incluindo aí os valores que permeiam aquela sociedade. Apesar de haver uma
vasta produção acerca dos poemas atribuídos a Homero, principalmente no campo da literatura, o
viés teórico da pesquisa é amparado nos trabalhos de Moses Finley e Claude Mossé, que procuram
extrair dos poemas uma sociedade coerente, inclusive com uma datação histórica. Em relação ao
papel de Hades nos poemas, iremos acompanhar as reflexões de Leandro Barbosa, que procurou
apresentar os deuses ctônicos em diferentes épocas da história grega, possibilitando-nos conhecer
melhor a sociedade descrita por Homero, a partir de suas construção do mundo Hades, tendo suas
características transformadas de acordo com as mudanças na sociedade grega antiga.
Resumo: O vinho teve um papel de destaque na história da Gália. Contudo, se em alguns momentos
a expansão de seu consumo e produção se deu de forma natural, em outros, ele foi também fruto
de conflitos e conquistas. As últimas descobertas da arqueologia, aliadas ao estudo das fontes
antigas, têm evidenciado a evolução deste processo: o comércio de vinhos importados; a introdução
do cultivo da videira; as conflituosas ações de conquista pelos romanos, com o estabelecimento
dos colonos e a criação de uma nova dinâmica na produção, consumo e exportação de vinhos.
Deste modo, estes foram responsáveis por tornar o vinho bebida fundamental e onipresente,
perpetuando sua produção e consumo em várias regiões da Gália. Neste sentido, o vinho ocupa,
ainda hoje na França, uma relevante função econômica e política, bem como, legitima a identidade
nacional e identidades locais, mediante aos usos deste passado.
Resumo: O tema da morte na antiguidade romana, em geral, ainda possui lacunas significativas.
Tal afirmação não busca argumentar que as evidências materiais da morte e seus rituais tenham
sido ignorados. Contudo, as evidências são constantemente isoladas e estudadas em sua natureza:
arqueológica, monumental, epigráfica ou literária. Porém raramente as diferentes evidências são
cruzadas. As evidências arqueológicas fornecem informações essenciais sobre a maneira que
os mortos foram tratados. Muitos monumenta preservam os epitáfios, seus textos fornecem
informações verbais sobre o mundo romano e seus diversos grupos sociais. Escritores romanos
de todos os gêneros escreveram sobre a morte, raramente escreviam descrições sistemáticas de
rituais e funerais, mas escreviam muito, ainda que indiretamente, sobre o modo que as pessoas
morriam, sobre a maneira que foram lamentadas e sobre como eram lembradas. Contudo, a
escassez de trabalhos que realizem o cruzamento de evidências destas tipologias revelam as
lacunas a serem preenchidas e, simultaneamente, apresentam necessidades metodológicas
que possuem potencial de aprofundar o nosso entendimento deste fenômeno e das pessoas
envolvidas nestes processos.
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O poder régio e as formas de propaganda na Mesopotâmia Antiga: uma análise comparativa
entre o período acadiano e a III dinastia de Ur (2335-2004 a.C.)
RAFAEL FELIPE ALMEIDA NASCIMENTO (UESB)
Resumo: Este trabalho pretende analisar a influência cultural e religiosa que o exílio na Babilônia
caldeia provocou nos exilados judeus durante o século VI a.C., visando compreender o contexto
e os processos sobre os quais algumas lendas e mitos bíblicos foram construídos. O período na
Babilônia proporcionou aos sacerdotes, que defendiam a exclusividade de culto a Yahweh, um
conjunto de experiências que lhes serviram para construir um discurso que legitimou a dominação
da terra de Judá pela elite econômica, política e social exilada, frente aos remanescentes que
haviam ficado em Judá e consequentemente com a posse da terra. Para isso, pretendemos fazer
uma breve análise do debate historiográfico que circunda o tema, visto que há três correntes
que disputam as narrativas sobre a história do antigo Israel: maximalistas, que acreditam na
sacralidade da Torá; os minimalistas, que compreendem que a Torá tenha sido escrita após o
século VI a.C., de modo que não deve ser usada como fonte para analisar séculos anteriores; e, por
fim, os minimalistas-revisionistas, defensores do uso da Torá como fonte para analisar a história
do antigo Israel, apesar de sua datação complicada e problemática. Mário Liverani, professor da
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Universidade de Roma La Sapienza, cujos estudos serão a base de nosso trabalho, é o um dos
mais destacados defensores dessa última corrente. A historiografia tradicionalista, vinculada às
instituições religiosas e escolas teológicas, tem perpetuado uma interpretação ultrapassada sobre
a história do antigo Israel, fazendo com que mitos e lendas sejam vistos como fatos históricos.
Em vista da desatualização dos pesquisadores brasileiros sobre essa temática, livros didáticos se
aproximam da vertente tradicional, no qual, os temas como o dilúvio, a abertura do mar Vermelho,
a história dos patriarcas, entre outros, são apresentados como fatos históricos. Esse é o principal
motivo pelo qual essa pesquisa se faz importante no cenário brasileiro. Desse modo, utilizando a
perspectiva minimalista-revisionista pretendemos demostrar como o exílio na Babilônia caldeia
contribuiu com a invenção de lendas e mitos descritos no Antigo Testamento.
Resumo: Durante o reinado de Akhenaton, no Reino novo, o antigo Egito foi palco de uma
reforma religiosa, patrocinada pelo faraó, cujo alicerce central foi o culto solar ao deus Aton, em
detrimento dos outros deuses do panteão divino, além do enfraquecimento do clero de Amon.
Dentre os elementos que viabilizaram essa nova lógica religiosa, destacamos o festival-Sed, um dos
principais eventos da sociedade Egípcia, realizado, em geral, de trinta em trinta anos, preparado e
organizado desde o momento da coroação real, com a construção e reforma de templos e capelas,
até a sua culminância. O festival é um recurso cênico e ideológico fundamental de legitimação do
poder real, pois, ao renovar os poderes do faraó, realçava o equilíbrio entre o divino e o terreno,
tendo o rei como mediador. Além disso, o festival traduzia um pacto de caráter cósmico entre o rei
e os deuses, pondo toda a sociedade em situação cerimonial, no qual o Rei, através das oferendas,
buscava prosperidade, poder e fartura. Partindo do pressuposto de que política e religião estão
imbricadas no Egito Antigo, objetiva-se, neste trabalho, mostrar como durante os reinados de
Amenhotep III e Amenhotep IV (Akhenaton) o festival-Sed, visto por meio da iconografia e dos
textos literários, desempenha papel fundamental para uma transformação de caráter político,
social e religioso, a reforma Amarniana.
Resumo: A ópera, nascida durante o renascimento italiano como tentativa de resgatar o teatro
grego e os seus valores, carrega em si as mais diversas expressões artísticas ( música, teatro,
dança, cenografia, figurinos, etc.) é por isso mesmo considerada um exemplo de “Arte total” e o
gênero artístico que mais representa os valores do mundo ocidental. Escolhemos como fontes de
pesquisa o enredo de duas óperas compostas no Séc. XIX, época do auge do Orientalismo na arte
européia. Uma do compositor italiano Giuseppe Verdi, considerado um dos maiores expoentes
mundiais do gênero, “Aida” (1871); e uma do compositor francês Jules Massenet, “Thaïs” (1894).
Respectivamente o enredo dessas óperas se desenvolvem no Egito faraônico e no Egito Romano.
No presente trabalho pretendemos abordar o diálogo entre os conceitos de Orientalismo
(Edward Said) e Egiptomania (Jean-Marcel Humbert) no que concerne tanto à invenção do Oriente
pelo mundo ocidental, como também no empréstimo, modificação de sentido e reutilização de
elementos do Antigo Oriente Próximo na modernidade.
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A formação do Estado no Egito Antigo: rupturas, continuidades e relações de poder
ALEXANDRE GALVÃO CARVALHO (UESB)
Resumo: A unificação dos reinos por volta de 3100 a.e.c. e as mudanças de caráter social da
sociedade egípcia são caracterizadas pelo desenvolvimento de uma religião de Estado, centrada
em torno do rei e celebrada através de um culto mortuário. O rei se tornou o mediador entre os
vivos e as forças do mundo dos mortos e representava uma ordem cósmica no mundo. Para manter
o fluxo de excedente produzido pela maioria da população para a classe dominante, era necessário
manter as aparências de que as relações mais antigas estavam intactas. Assim, o advento do Estado
faraônico não transforma, de forma abrupta, o sistema de prestações preponderante na sociedade
tribal, mas se apropria deste sistema em proveito de uma classe dominante. A redistribuição é
uma sobreposição do sistema de prestações recíprocas da sociedade tribal, amparada na lógica
do parentesco, subsumida pela lógica estatal. A religião pré-estatal e as formas de integração –
reciprocidade - permanecem e se modificam antes e depois do aparecimento do Estado faraônico.
Além disso, a lógica estatal e a lógica do parentesco coexistem com pontos de articulação e de
conexão entre uma e outra, sendo a lógica parental subsumida e ressignificada pela lógica estatal.
As formas de sociabilidade das classes subalternas deixam de servir somente à sua reprodução
e passam a se constituir em elementos que vão fortalecer o domínio da classe dominante. Neste
sentido, procuraremos elucidar a transmutação da ordem social tribal à hegemonia estatal, que,
com todo o seu intricamento de relações no seio da elite, procura mascarar os aspectos materiais
e simbólicos da reciprocidade tribal, reapropriados em benefício de um aparelho estatal.
Resumo: Os Estudos de Gênero tornaram-se uma das referências fundamentais para a discussão
de novos paradigmas de conhecimentos. Esse campo de investigação tem auxiliado na revisão
de referenciais teórico-metodológicos e epistemológicos, na discussão contextualizada de
documentos de diferentes modalidades e, por fim, na problematização da história da historiografia
e suas relações interdisciplinares. Há poucos trabalhos que articulem sistematicamente os
estudos da violência à história das instituições jurídicas no contexto da Castela dos séculos
XV e XVI, sobretudo a partir da perspectiva de gênero e da história das sexualidades. Nesta
comunicação, partindo da proposição de uma História Institucional de Gênero, objetiva-se discutir
a historicidade das formas de violência social e institucional, procurando identificar e analisar
as práticas e discursos sobre os sujeitos das transgressões, os delitos, as circunstâncias e as
punições dadas no processo de criminalização do comportamento sexual de homens e mulheres.
Partimos do pressuposto de que a regulação das sexualidades é reveladora de configurações de
conflitualidades sociais, materiais, culturais, religiosas, morais, jurídico-políticas e institucionais
na chamada Baixa Idade Média.
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Perspectivas de gênero no épico gaélico Táin Bó Cuailnge
BEATRIZ GALRÃO ABRANTES (UFBA)
Resumo: A categoria de gênero propôs uma revisão nos estudos históricos desde o seu surgimento.
A medievalista Andreia Frazão aponta para a relevância da teoria de gênero no processo de
consolidação da História Medieval no Brasil. Assim, a pretensão do meu projeto de pesquisa, em
desenvolvimento, é discutir, à luz dessa categoria, os manuscritos do Táin Bó Cúailnge redigidos
no século XI e XII respectivamente Lebhor na hUidre (Recension I) e Book of Leinster (Recension
II). Essas duas versões contam as aventuras de Cú Chulainn para defender o território de Ulster
dos invasores comandados pela rainha Medb, que queria roubar o grande touro, Donn Cuailnge. A
motivação da rainha para o sequestro de Donn Cuailgne é equiparar os seus bens ao do esposo, pois
o seu touro mágico, FIndebennach fugiu, julgando ser indigno fazer parte do gado de uma mulher,
passando a pertencer ao rei. Ao aliar os Estudos de Gênero com a História comparada, pretendo
analisar as representações de gênero presentes na literatura medieval irlandesa, percebendo
rupturas, permanências e adaptações entre as obras. Afinal, estudar gênero no medievo serve,
entre outras finalidades, para desafiar as suposições contemporâneas sobre masculinidades e
feminilidades.
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de bruxaria e feitiçaria existentes ao norte do Reino de Castela nos séculos XV e XVI.
Resumo: Esta comunicação visa apresentar uma pesquisa sobre padrões de masculinidades
presentes no “Livro da Ordem de Cavalaria”, escrito pelo catalão Raimundo Lúlio no século XIII.
Aclamado por alguns estudiosos como talvez a primeira codificação da conduta cavalheiresca - que
não estivesse entrelaçada completamente pela literatura, tal obra permanece ainda com nenhum
ou poucos estudos à luz da História das masculinidades. Permeada de uma escrita pedagógica
para o período, que compara o cavaleiro com diversos sujeitos estereotipado, a fonte indica os
desejos pessoais do autor, além de diversos posicionamentos sobre como homens, especialmente
os cavaleiros, deveriam se comportar em relação a eles mesmos e a sociedade que os cerca.
Os estudos sobre masculinidades – guiados principalmente pelo conceito de masculinidades
hegemônicas e concorrentes – podem apontar para relações sociais e construções culturais difíceis
de serem acentuadas em abordagens tradicionais sobre o cavaleiro e a cavalaria na península
ibérica medieval.
Resumo: A proposta deste trabalho é realizar um estudo sobre a posição do sujeito mulher
enquanto ameaça, tanto nos contos de fada quanto nos tratados de inquisição,
fundamentada teoricamente nas pesquisas do filósofo Michel Foucault sobre o sujeito,
em especial, o sobre o conceito de “posição de sujeito”, apresentado por ele em seu
livro A arqueologia do saber. Este conceito é o ponto de partida para analisar a posição
de sujeito bruxa presente na obra Malleus Maleficarum e a sua representação nas
coletâneas de contos publicadas por Charles Perrault, no século XVII, e pelos irmãos
Grimm, no século XIX. Embora a obra de Michel Foucault não tenha pretensão de ser
um trabalho histórico, suas contribuições para a história são inegáveis e muitos
historiadores o colocam como tendo direta influência na história cultural surgida após a
escola dos Annales. Suas obras abordam uma análise da normalização da civilização
ocidental, produzindo uma história geral. A partir da observação dos modos de sujeição,
Foucault pretendia constatar como os seres humanos se tornam sujeitos. O conceito de
“posição do sujeito” é uma das quatro características que compõem o enunciado. Essa
posição é compreendida como sendo uma função vazia, podendo ser ocupada por
diferentes indivíduos sob certas condições. Assim, o indivíduo se torna sujeito quando
ocupa um lugar constituído por práticas específicas. O Malleus Maleficarum, ou o
Martelo das Feiticeiras, é um manual do inquisidor escrito por James Sprenger e
Heinrich Kramer por volta de 1484. O tratado é dividido em três partes – a primeira
direcionada aos juízes e ao reconhecimento das bruxas; a segunda elenca os diversos
males que podem ser causados pela bruxaria; a terceira retrata como deve ser
conduzido o processo legal de julgamento das bruxas. As coletâneas de contos
publicadas por Charles Perrault e pelos irmãos Grimm serão utilizadas para se perceber
as formas de alcance do sujeito bruxa mulher advindas do Malleus Maleficarum. Dessa
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maneira este trabalho delimitará quais normalizações e saberes deveriam se incidir nos
corpos das mulheres do século XIV, presentes nos tratados de inquisição, para que elas
ocupassem a posição de sujeito bruxa. Na segunda parte, observaremos como estas
normas e saberes – identificados no Malleus Maleficarum - reaparecem nos contos
populares europeus.
Resumo: No Período Arcaico da história da Grécia, o mito permeava todos os aspectos da vida
daqueles gregos. Visto que as esferas do mundo grego recorriam às narrativas míticas (GRIMAL,
1986), insinuava-se por todo lado, seja na arquitetura, nas esculturas, nos vasos, na literatura
e na própria política. Moses Finley (1990) defende o argumento de que a religião grega não
estava isolada em um compartimento à parte ou restrito a um único âmbito das vivências, mas
estava intrínseca a todos os aspectos do comportamento pessoal e social dos gregos antigos.
Uma característica marcante dos mitos em geral é sua pluralidade. Não apenas pela existência
de inúmeros mitos, mas em razão das diversas versões que um único mito pode apresentar nas
tradições mitológicas e ainda na obra de um mesmo autor. Os mitos associados à deusa grega
Afrodite na Ilíada, Odisséia, Hinos Homéricos e Teogonia são o exemplo preciso da existência de
diferentes versões de um mesmo mito e a inscrição deles dentro de uma tradição maior. Afrodite,
na Ilíada (Il.III. 374 e V. 371-372) e na Odisséia (Od. VIII. 308) é filha de Zeus e da deusa das ninfas
Dione, já na Teogonia (Hes. Th. 188-192) é originária das genitais de Urano ceifada por Cronos
e lançada ao mar. Nos primeiros casos é uma deusa atrelada à beleza, ao amor, aos desejos do
casamento, aos encantos e seduções. Já na Teogonia, justamente por ter nascido da espuma do
mar, quando as genitais de Urano foram lançadas para baixo, é uma deusa vinculada ao mar e
protetora dos marinheiros. Deste modo, a apresentação se concentrará em explicitar as diferentes
representações da deusa Afrodite na mitologia grega do período arcaico dentro dos poemas e
hino citados, utilizando-se, para tanto da teoria de gênero a fim de repensar o modelo da mulher
reclusa (LESSA, 2010) para o período arcaico, tendo em vista as novas leituras das fontes antigas
que evidenciam uma sociedade grega heterogênea, em que as mulheres possuíam um papel
muito mais ativo que tradicionalmente se pontuava (POMEROY, 2014, p. 12). Neste sentindo, a
relevância deste trabalho está entre outras questões, ligada ao fato de que poucos estudos de
gênero contemplaram o feminino no mundo arcaico (POMEROY, 2014, p 09). A apresentação é
resultado de pesquisa de pós-graduação em desenvolvimento que se propõe também a pensar
como as diferenças na tradição mítica referentes à deusa Afrodite e a sua sexualidade podem
refletir questões de gênero e poder no mundo grego arcaico. A teoria de gênero, por questionar
as configurações engessadas de homens e mulheres, abre caminho para pensar a deusa Afrodite
como múltipla, possibilitando enxergar suas diversas facetas apresentadas nas tradições
mitológicas não como excludentes ou contraditórias, mas como formadoras da constituição da
deusa.
Resumo: Por um longo tempo o discurso tradicional historiográfico afirmou que as mulheres
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gregas eram exímias donas de casa, viviam para seus maridos e tinham participação apenas na
oíkia, dentro de suas casas. Isoladas no ambiente doméstico essas mulheres foram narradas
com base em uma sociedade ocidental que compreendia a mulher como objeto, submissa e
homogênea. Os problemas que afetam o mundo feminino não estão na forma como as fontes são
construídas, mas na forma com que os historiadores a interpretam. Em 1987 Sarah Pomeroy, uma
precursora da História do gênero no mundo antigo, publica o livro “Goddesses, whores, wives, and
slaves” em que já aponta para o problema da interpretação anacrônica a qual as mulheres gregas
foram submetidas. Para a historiadora, os investigadores “son las víctimas de sus próprias épocas
e de sus entornos sociales” (POMEROY, 1999: 75). Destarte, alguns conceitos do mundo moderno
foram levados a fazer parte do mundo antigo, moldando-o e apropriando-o a essas ideologias.
(CUCHET, 2017: 13-14). A partir dessa dimensão das Bacantes e, por conseguinte, ao trazer à tona
uma nova perspectiva sobre a mulher grega que está sendo circulada para um grande público
acredito pluralizar o universo feminino e fazer ver que a Mélissa parece existir apenas como
discurso masculino. Na análise feita por Pierre Bourdieu (2002, p. 28) esta supremacia aparente
era necessária ao social e ao estético, pois mostrava ao outro a liderança e potência masculina,
justificando e estabelecendo uma dominação. É a partir deste discurso da mulher ideal que se
mantém e controla o poder de uma sociedade patrilinear.
Resumo: O presente trabalho busca analisar as relações de gênero e poder na Grécia Antiga,
mais especificamente na Atenas do período clássico. A cidade cuja política e cultura inspiraram
profundamente o Ocidente, onde a leitura tradicional de algumas fontes conceberam às mulheres
gregas a alcunha de seres débeis, compelidas à restrição dos espaços domésticos, particularmente
o gineceu, ao passo que aos homens caberiam as atividades da cidade-Estado, notadamente
a política e a guerra. A questão é, aqui, apresentar a ideia de que não apenas a historiografia,
mas também as fontes utilizadas delinearam as diretrizes que permitiram a confirmação acrítica
de que “a pólis era um clube de homens”. Tendo como fonte principal a Antígona de Sófocles,
buscaremos compreender as relações entre os indivíduos para além do determinismo biológico,
através da representação de uma personagem que subverte o padrão ideal estabelecido pela
sociedade grega. Destarte, os estudos de gênero e feministas nos permitem novas abordagens
sobre temas recorrentes, assim, a Antígona ressurge para nós, com problemas que ainda nos são
pertinentes e dialogam com o presente.
Resumo: Esta comunicação tem por objetivo apresentar nossa pesquisa em andamento no
Programa de Iniciação Científica da Universidade do Estado da Bahia (2019-2020). Nossa proposta
é investigar a representação da personagem Hermione e das espartanas de forma geral na tragédia
ática, Andrômaca, escrita por Eurípides no século V a.C. Nosso estudo se alinha com tantas outros
que tentam reinserir a história de Esparta, especialmente a história das mulheres espartanas,
em um contexto mais positivo, menos preso de um dado juízo de valor, tão presente nos textos
escritos por atenienses no contexto da Guerra do Peloponeso (432 a.C. – 404 a.C.). Tomamos como
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base a ideia de representação da História Cultural na forma que nos apresenta Roger Chartier
(CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difusão Editora,
1988). Para ele, “as estruturas do mundo social não são um dado objetivo, tal como o não são as
categorias intelectuais e psicológicas: todas elas são historicamente produzidas pelas práticas
articuladas (políticas, sociais, discursivas) que constroem as suas figuras” (CHARTIER, 1983, p. 27).
Assim, as representações não são a realidade, mas um olhar sobre ela, e, apesar de construídas
como universais, são determinadas pelos interesses de quem as constrói. Daí a necessidade de
se observar/interpretar um dado discurso levando em consideração o lugar social daquele que o
profere. É nessa perspectiva que pretendemos examinar a representação levada aos palcos por
Eurípides ao discorrer sobre as mulheres de seus inimigos de guerra, as espartanas. Partimos do
estudo e análise da tragédia Andrômaca, relacionando-a com outros documentos produzidos no
mesmo período e interpretados à luz da historiografia mais recente sobre o tema.
Resumo: As mulheres vêm assumindo cada vez mais papel de destaque na sociedade e denunciando
a submissão a qual sempre estiveram sujeitas. Estudos sobre gênero vêm em um crescendo:
novas perguntas, novas abordagens têm proporcionado a reconstrução de uma história das
mulheres. Nosso objetivo nesta comunicação é apresentar nossa proposta de projeto de
pesquisa (TCC). A partir de uma revisão bibliográfica, pretendemos perceber como
pesquisadores(as) brasileiros(as) estão se inserindo nesses novos debates sobre o feminino:
quais são as questões que os têm movido, como estão encaminhando a discussão. Partimos de
um levantamento bibliográfico que consta, além de livros impressos, de uma pesquisa em
bancos de dados e repositórios institucionais, na tentativa de levantar as dissertações, teses e
artigos científicos produzidos nos últimos trinta anos. Nossa hipótese é que há um esforço da
produção brasileira em acompanhar as novas discussões sobre a temática
Resumo: A Igreja cristã se expandiu pelo Ocidente chegando até a Hispânia, região onde se
fixou o reino suevo no ano de 411 e o visigodo em 507. O clero recorreu a diferentes estratégias
para combater o paganismo e construir a hegemonia cristã entre os povos instalados no antigo
território do Império Romano. Neste trabalho, perscrutamos a produção literária de Martinho de
Braga, as atas do II Concílio de Braga e a carta-sermão Da correção dos rústicos como evidência das
táticas empregadas pelo clérigo no empreendimento contra o paganismo. Pretendemos realizar
a analise de seus escritos a partir do arcabouço teórico do Estruturalismo Genético da Literatura,
a fim de verificar como a escrita e a oralidade foram articuladas no processo de conversão ao
cristianismo na Hispânia do século VI.
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A Cidade de Deus contra os pagãos: o papel dos intelectuais na afirmação do cristianismo
como religião oficial do Império Romano
CARLOS EDUARDO MEIRA BATISTA (UESB)
Resumo: No século V d.C., o cristianismo já havia se constituído como credo oficial do Império
Romano. Contudo, os distintos cultos existentes no território continuavam a ser praticados pela
população e a Igreja cristã ainda não tinha uma ortodoxia definida. Observada essa conjuntura,
propomos discutir o papel dos intelectuais no processo de afirmação do cristianismo como religião
oficial do Império Romano no século V d.C. Com esta perspectiva, analisaremos as formulações
do bispo Agostinho de Hipona, autor de uma vasta obra e influente pensador cristão, por meio da
quais polemizou com pagãos e hereges e contribuiu para a fundamentação do credo cristão como
único e legítimo sistema de interpretação do mundo. Utilizamos como fonte a obra A Cidade de
Deus, escrita pelo Bispo após o saque à cidade de Roma em 410. O Estruturalismo Genético da
Literatura de Lucien Goldmann fornece os pressupostos teórico-metodológicos para análise da
fonte.
Resumo: O Império Romano, entre os séculos IV e V d.C., passou por um conjunto de transformações
que promoveu a estruturação do Dominato, a constituição da basileia e o cristianismo como religião
oficial do Império, bem como a difusão de valores e símbolos balizados pelo novo credo. A partir
deste processo histórico, o presente artigo objetiva discutir como intelectuais vinculados à tradição
pagã ou cristianizados, utilizando a apologia e a censura ao comportamento das mulheres por eles
descritas, contribuíram para formular e projetar um ideal de feminilidade que ainda repercute no
mundo contemporâneo. Esta análise também evidencia como a Igreja cristã reforçou o regime
patriarcal por meio da valorização da castidade, subserviência e inferioridade feminina. O corpus
desta pesquisa é constituído por duas fontes, Dos bens da viuvez: cartas a Proba e a Juliana de
Agostinho de Hipona e Elogio à Imperatriz Eusebia de Juliano, e será examinado com o auxílio das
premissas teóricas e metodológicas de Mikhail Bakhtin, Antonio Gramsci e Heleieth Saffioti.
Resumo: No final do século XIV, um grupo de mulheres e homens estabelece uma comunidade na
cidade de Deventer, atuais Países Baixos, sobre a liderança do pregador Geert Groote. Orientados
para uma vida de simplicidade material, pautada pela prática ascética e pelo trabalho manual,
essa comunidade logo se tornaria um modelo de conduta espiritual e daria origem a dezenas de
outras comunidades, que passariam a se auto intitular como “comunidades dos irmãos e irmãs
de vida comum”, ou “devotos modernos”. Embora pouco estudados, esse grupo de religiosos
possui uma importante contribuição para a história do cristianismo. Eles seriam responsáveis pela
elaboração de manuais de exercitação espiritual, dando continuidade à profunda tradição mística
neerlandesa e oferecendo, em um momento de fortes crises, um modelo de reavivamento da vida
religiosa inspirado pelos exemplos do cristianismo primitivo. Uma de suas obras se tornaria um dos
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títulos mais lidos da história: a Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis, devoto da comunidade
de Santa Agnes, ligada à casa dos irmãos de Deventer. Ainda hoje, esse livro pode ser encontrado
facilmente, possuindo, apenas em português, mais de dez edições ainda comercializadas. Apesar
de sua importância histórica, são poucos os trabalhos que procuraram compreendê-lo, e todas
as suas traduções possuem caráter confessional. Trata-se de uma obra medieval que rompeu
a barreira do tempo e que continua viva mesmo em nossos tempos. A proposta aqui realizada
é a de abordar o contexto de produção desse livro, procurando compreender quais respostas
traz para as indagações do momento em que surgiu. Pretende-se abordar o seu profundo
aspecto místico, orientado à prática da união espiritual, como uma manifestação das tendências
trazidas pelas “comunidades de vida comum”, suscitadas, especialmente, por uma sensação de
corrupção e decadência generalizada que marcou a vida religiosa nos século XIV e XV, origem dos
anseios por uma relação direta com o divino e de um projeto de resgate dos modelos ligados ao
cristianismo primitivo. O objetivo, desse modo, é fazer uma leitura histórica dessa importante
obra, compreendendo as suas principais preocupações e as respostas que pretendia oferecer ao
seu momento.
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo analisar as ressignificações de Eurípides nas Troianas
de Sêneca. No século V a.C., os poetas trágicos colocaram suas peças em digressões máximas
proferidas pelas personagens, ou mais geralmente pelo coro, que expressava pensamentos sobre
a condição humana, exames críticos do poder político e regras para conduzir a vida dos indivíduos.
Os únicos espécimes dos dramas que sobrevivera do mundo antigo são as 32 peças atribuídas a
Ésquilo, Eurípides, Sófocles e Sêneca. Como gênero literário, as tragédias expressavam um tipo
particular de experiências humanas, assim como as condições sociais e psicológicas. Cada uma
dessas peças possuía uma estrutura com discursos que poderiam ser analisados dentro de um
ponto de vista filosófico, literário e histórico. As Troianas de Sêneca é dividida da seguinte forma:
Em 1179 versos, os personagens se apresentam: Hécuba, Taltíbio, Pirro, Agamêmnon, Calcante,
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Andrômaca, um ancião, Astíanax, Ulisses, Helena, Políxena, um mensageiro e o coro de troianas. A
peça teatral inicia-se com o lamento de Hécuba, rainha troiana sobre o seu destino e o de Tróia (1-
65). Um coro das troianas acompanha a destruição da cidade e a morte de Príamo e de Heitor (67-
162). No primeiro episódio (164-408), Taltíbio, relata o aparecimento da sombra de Aquiles com
o seu pedido: o sangue de Políxena pela mão de Pirro. Agamêmnon é contra esse pedido e o filho
de Aquiles, Pirro defende a honra de seu pai, discute a necessidade e a validade do assassinato da
jovem troiana. O segundo episódio inicia-se com Andrômaca, Astíanax e um ancião. No terceiro
episódio (v. 861-1008), com a ajuda de Helena, Políxena é preparada como noiva sob o pretexto
de seu casamento com Pirro. Mas o estratagema é logo descoberto, vindo Helena a confessar a
verdade. Assim, Pirro leva a jovem troiana. No êxodo (v. 1056-1179), o mensageiro relata as mortes
de Astíanax e Políxena, destacando a nobreza de espírito dos troianos frente a morte. Andrômaca
e Hécuba lamentam as suas desventuras. As Tragédias de Sêneca foram apresentadas aos leitores-
ouvintes da aula imperial durante as sessões de recitações. No presente estudo, nossa hipótese
pressupõe que Troianas Hécuba e Helena, serviam como formuladores das Troianas senequiana.
A análise leva a conclusão que essas peças influenciaram diretamente na construção dessa peça.
Resumo: O sujeito, segundo a definição de Foucault, é compreendido como sendo uma função
vazia podendo ser exercida por diferentes indivíduos, desde que esses indivíduos
estejam adequados a exigências historicamente estabelecidas. O médico, o professor, o
policial, o soldado são posições de sujeito e, assim como tantas outras, se manifestam
por meio de práticas de certos indivíduos que, por algum momento, exercem tais
funções. Nessas posições, esses indivíduos, necessariamente, precisam conferir à sua
subjetividade uma forma historicamente constituída. O sujeito foucaultiano é forma e
não substância, não pode ser, nesse sentido, confundido com o indivíduo que exerce a
função. Está, assim, em um domínio institucional inserido em um conjunto de
dispositivos no qual o Estado aparece como principal articulador. Há um indivíduo cujo
corpo, no entanto, se confunde com o próprio Estado: o rei. Retomamos, neste trabalho,
o processo histórico de constituição do rei enquanto função vazia a ser exercida e a
sobreposição dessa função com o corpo do único homem que pode exercer essa função.
Seguindo essa linha de raciocínio, fazemos uso do trabalho de Ernst Kantorowicz acerca
da duplicidade do corpo do rei, para desdobrar algumas das questões já iniciadas por
Foucault ao longo de sua pesquisa sobre o nascimento das prisões. De acordo com o
trabalho do historiador alemão mencionado, a compreensão que temos de rei passou por
inúmeras transformações, e sua definição está ancorada em um grande conjunto de
teorias do direito de caráter teológico ou político. Todas essas teorias contribuem para a
compreensão do que Foucault chama de poder soberano. O trabalho de Kantorowicz
mostra a transformação dessas teorias acerca do rei ao longo do tempo, Foucault, não
obstante, descreve uma espécie de quadro do rei. Na Alta Idade Média, o rei está
centrado em Cristo, é considerado humano por natureza e divino pela graça. Ele está
ligado ao altar pela sua consagração enquanto rei e não somente como pessoa.
Representa a imagem de Cristo e, em seguida, a imagem mesma de deus até que sua
imagem esteja centrada na lei. Desse modo, o rei não é um ser humano no sentido
comum. O rei é a própria perfeição, desde que seja rei e não déspota. Ele está acima da
lei, porque é o fim de toda lei; mas é, ao mesmo tempo, a justiça que, em si mesma, está
sujeita à lei. Sendo assim, não é o rei, mas a justiça que reina através de um rei que é o
instrumento da justiça. Trata-se, assim, de mostrar a complexidade a respeito da
25
subjetivação em relação ao sujeito rei.
Efeitos da ação antrópica de longo prazo sobre sítios arqueológicos pré-históricos na região
da Serra do Espinhaço, sudoeste da Bahia
ELVIS PEREIRA BARBOSA (UESC)
26
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Em decorrência da Guerra do Açu, os povos Tapuia dos sertões das Capitanias do Norte
do Estado do Brasil foram reduzidos em missões religiosas. Nestas missões, os indígenas ficariam
sob a tutela de missionários das Ordens religiosas e seriam introduzidos à fé católica e aos
costumes de vida ocidentais. A Missão do Apodi foi criada em 1700 e inicialmente administrada
pelos jesuítas. Posteriormente, em 1734, após um período de ausência de missionários fixos na
Missão, ela foi retomada pelos missionários Capuchinhos, que permaneceram na administração
até 1761, quando a vila de Portalegre é erigida e os índios da Missão são transferidos para ela. O
objetivo deste trabalho é perceber quais eram as dinâmicas estabelecidas entre os missionários
(jesuítas e capuchinhos), os indígenas e os demais moradores da região.
Resumo: O presente trabalho versa acerca do processo de ocupação e colonização do vale do rio
Araguaia, no antigo norte de Goiás, na segunda metade do século XIX, sob a égide da legislação
indigenista do Segundo Reinado (Regulamento das missões de 1845), e implementada a partir
da fundação de aldeamentos missionários e presídios militares às margens do Araguaia. Esse
amplo território, que hoje compreende o Estado do Tocantins, era visto enquanto um espaço
selvagem, bárbaro e de difícil controle pela província. Tratava-se de um território densamente
ocupado por vários grupos indígenas, constituindo-se num mosaico étnico bastante complexo,
no qual o domínio imperial era débil. O sertão, diziam as autoridades provinciais. Do ponto de
vista econômico, para a província de Goiás, era fundamental a construção de um corredor fluvial
estratégico ligando o norte da província ao litoral paraense, notadamente a sua capital, Belém.
Desse modo, esperava-se fomentar a econômica provincial, baseada unicamente na agricultura
e criação de gado. Ao mesmo tempo, era preciso incentivar e garantir a instalação de colonos
– principalmente os criadores de gado – às margens daquele rio para que pudessem socorrer
aos comerciantes/navegantes que realizariam viagens a Belém. Nesse contexto, a catequese
indígena, a cargo dos missionários capuchinhos, articulada à construção de presídios militares foi
a estratégia adotada pelas autoridades para a garantir o controle por sobre esse vasto território.
Entretanto, a experiência concreta mostra como os grupos indígenas da região, tais como os Karajá
e Kayapó, acabavam colocar os seus interesses na ordem do dia e, muitas vezes redimensionando
ou limitando, as intensões daqueles que eram responsáveis pela implementação da política
indigenista do sertão do Araguaia. Assim, tomando a experiência concreta do presídio militar de
Santa Maria do Araguaia, refundado em 1862, no médio curso daquele rio, mostro como a relação
entre índios, militares, colonos e missionários não foi marcada pela sobreposição e domínio da
cultura ocidental sobre a indígena, mas foi bem mais complexa, posto que os indígenas buscaram
sempre criar espaço de autonomia e negociação. A documentação analisada consiste em relatórios
da província de Goiás, relatos de viajantes e jornais.
28
Lavras Diamantinas (Bahia, séc. XIX): Reflexões Sobre a Historiografia
LUIZ ALEXANDRE BRANDÃO FREIRE (UESB), MARIA APARECIDA SILVA DE SOUSA (UESB)
Resumo: Os estudos sobre os Sertões da Bahia, nas últimas décadas, se expandiram graças ao
avanço de novos métodos de pesquisa, assim como em razão do interesse acadêmico pelas regiões
não-litorâneas da Bahia. Embora não tenha tido maior visibilidade em análises historiográficas
mais ampliadas sobre o Brasil durante o século XX, os relatos sobre a ocupação e o povoamento
dos sertões da Bahia datam desde o século XVI, seja por meio dos registros produzidos pelas
autoridades régias, seja em escritos posteriores de viajantes e cronistas que deixaram informações
preciosas sobre o movimento de domínio e controle do território. Ao se debruçar sobre fontes
inéditas, diversos trabalhos de pesquisa foram publicados nos últimos anos revelando a dinâmica
sertaneja em suas variadas dimensões. Aqui, merece ressalva a obra do historiador Erivaldo
Fagundes Neves, que em seus extensos estudos acerca das policulturas do semiárido baiano,
das experiências da escravidão nos sertões, das disputas nos seios familiares, assim como outros
temas de igual relevância, possibilitou evidenciar a importância da História Regional e Local para
a compreensão da totalidade histórica e, nesse sentido, o lugar essencial ocupado pelas áreas
sertanejas para uma compreensão mais rigorosa da História da Bahia/Brasil. No caso específico da
Chapada Diamantina, a análise de fontes documentais coetâneas tais como inventários, processos-
crimes, livros de notas etc., tem permitido avançar na compreensão da história econômica e
social da região, indo na contramão de interpretações clássicas que relegaram aos sertões papel
periférico da economia litorânea, a exemplo de autores como Kátia Mattoso, Caio Prado Júnior e
Sérgio Buarque de Holanda. Além disso, obras como a de Capistrano de Abreu, Felisbello Freire
e Rodolfo Garcia, que tratam sobre a história territorial, também vem sendo constantemente
referenciadas. Isso explica-se pela utilização dos métodos de História Regional e Local, que têm
forte influência da Geografia Humana e da História Econômica na escolha das fontes de estudo.
Nessa perspectiva, os trabalhos acadêmicos produzidos sobre as áreas diamantíferas da Bahia
apresentam caráter inovador, fomentando contribuições inestimáveis aos estudos da Chapada
Diamantina e das relações de produção e de reprodução da vida humana no período de extração
de diamantes. Desse modo, a presente comunicação, fruto de uma pesquisa mais ampla, propõe
debater, a partir dos estudos históricos produzidos nas últimas décadas, aspectos fundamentais do
processo de avanço científico e epistemológico da escrita documental sobre as Lavras Diamantinas
no Oitocentos, assim como as suas possíveis lacunas e possibilidades para novas investigações.
29
no Alto Sertão da Bahia, durante as lutas pela Independência do Brasil, a partir da bibliografia
específica sobre o tema e da pesquisa documental que possibilitem uma análise mais apurada
sobre as particularidades dos sertões da Bahia no período. Instalada na primeira metade do século
XVIII, o Senado da Câmara de Rio de Contas era responsável pela administração de um amplo
território e tal como ocorrido em outros lugares, foi absorvida pelas alterações decorrentes das
disputas e tensões políticas verificadas no período da Independência. De fato, os desdobramentos
nas diversas províncias do Brasil após a Revolução do Porto (1820) estimularam as discussões e
participação nas decisões camarárias não apenas daqueles que compunham a sua direção, como
também de parte da população atraída pelas possibilidades de alteração dos rumos do Reino do
Brasil, ainda que não se tivesse clareza sobre as alternativas de mudança. O que chama a atenção
no caso da Câmara da Vila de Rio de Contas é a maneira pela qual variadas questões vieram à tona
em meio ao debate sobre a conformação do Estado Imperial, expondo aspectos importantes dos
conflitos e tensões locais que nessa conjuntura conturbada viram-se dilatados.
No decorrer da crise política, evidenciam-se as extremas dificuldades de articulação entre o Senado
da Câmara de Rio de Contas e os poderes centrais situados em Salvador e no Recôncavo baiano.
Isto possibilitou o desenvolvimento de uma relativa autonomia da instituição na condução dos
seus próprios projetos revelando aspectos importantes da dinâmica política nos sertões da Bahia,
como espaços de considerável mobilização e de aprendizado político. Questões que a pesquisa,
ora em andamento, pretende discutir na esteira das produções acadêmicas acerca do intricado
processo de formação do Estado e da Nação brasileiros.
Resumo: A aproximação dos 200 anos da Independência do Brasil é por si uma justificativa para
revisitar os eventos e conflitos que forjaram a formação das identidades nacionais e políticas
brasileiras. Eventos e conflitos que, também, estão envolvidos os processos que resultaram na
formação do Estado e Nação brasileiras. Entre esses conflitos, está o antilusitanismo que esteve
disseminado no Brasil entre a Revolução do Porto em Portugal e alguns anos após a abdicação
de D. Pedro em 1831, com alguns episódios registrados até a década de 40 do século XIX. As
ações antilusitanas estiveram praticamente silenciadas na historiografia brasileira até o final do
século XX. Porém, nos últimos 20 anos tem sido tema de algumas pesquisas, principalmente, em
espaços urbanos como Rio de Janeiro, Salvador, Recôncavo e Recife. Esses conflitos antilusos,
que colocavam os “brasileiros” contra os “portugueses”, receberam na Bahia a alcunha de “mata-
marotos”. Para além de visitar a historiografia sobre esse tema, é preciso avançar nas pesquisar, a
fim de preencher certas lacunas que ainda estão em aberto. Parte dessas lacunas está na falta de
conhecimento historiográfico de como as ações antilusitanas se deram no interior das províncias,
e no nosso caso específico, no interior da província da Bahia, a Vila de Porto Seguro. Na Vila de
Porto Seguro da primeira metade do século XIX, viveu um padre extremamente atuante no seio
da sociedade de então. Ele se envolveu em querelas de vários tipos, além de agir politicamente,
em buscar de mercês, privilégios e honrarias junto ao Presidente da Província, ao Imperador e
junto ao Clero; e mais importante para nossa pesquisa, estava no cenário dos palcos das sedições
antilusitanas na Vila de Porto Seguro. O Padre José Tibúrcio de Sant’Ana era natural na Villa de
Caravelas-BA, Filho de pai portossegurense e mãe caravelense. José Tibúrcio se ordena padre
em 1808 e passa boa parte da primeira metade do século XIX, já como vigário, em Porto Seguro.
30
Testemunha ocular e protagonista em muitas ações do microuniverso sociohistórico da Vila de
Porto Seguro na primeira metade dos oitocentos, o Padre José de Tibúrcio será nosso personagem
guia na busca de historicizar uma parte fundamental da história da antiga Vila de Porto Seguro,
que foram as disputas identitárias, a formação do Estado e Nação brasileiras e o antilusitanismo no
Primeiro Reinado, pouco estudadas nessa região. E dentro desse contexto da Vila de Porto Seguro,
centraremos atenção na atuação do Padre José Tibúrcio de Sant’Ana nos conflitos antilusitanos
que ocorreram entre 1821 a 1835, como consequências dos processos que levaram a separação
política do Brasil e Portugal e àqueles que envolveram a abdicação de D. Pedro I e por isso, são as
bases dessa pesquisa.
Para além de patriotismo: atuação do magistrado José Antônio Gomes Neto no contexto da
Guerra do Paraguai
LIELVA AZEVEDO AGUIAR (UNEB)
Resumo: Este texto aborda como a Guerra do Paraguai foi encarada por José Antônio Gomes
Neto, juiz municipal e delegado na vila de Caetité (1860-1867), como uma oportunidade ímpar de
prestar serviços ao Império com vistas a alcançar um título nobiliárquico. Pautado em fontes do
seu arquivo pessoal e em correspondências encaminhadas ao presidente da província da Bahia, a
discussão também se encaminha na perspectiva de iluminar a participação de outros sujeitos do
alto sertão baiano no conflito em questão, desde aqueles alistados como Voluntários da Pátria
até estudantes de medicina.
Resumo: A presente comunicação trata do conflito envolvendo as famílias Passos e Silva ocorrida
em Vila Nova da Rainha, atual cidade de Senhor do Bonfim e Região, no norte da Bahia, entre 1831
e 1835. Os grupos eram aliados políticos, mas por razões pessoais acabaram entrando em uma
disputa que tomou cunho político. Tal confronto ficou conhecido como Guerra do Cadó, devido ao
apelido do líder da família Silva, Joaquim Simões da Silva. Este desonrara a filha mais jovem dos
Passos. A família cobrou uma retratação, porém o líder Narciso de Freitas Passos fora morto por
aliados dos Silva. Seu filho Manoel Joaquim dos Santos Mabiroba assumiu a liderança os Passos
e levou o confronto adiante. Através do confronto é possível perceber a influência do poder
religioso, na figura do Padre Severo Cuim Atuá, irmão de Joaquim Simões, dentro da política local
nos sertões baianos e as conexões entre o poder local e central com o envio de tropas da Primeira
Linha para apaziguar a situação. O primeiro destacamento enviado acabou por tomar parte
na contenda, acarretando em uma sublevação de onze praças contra seu comandante, Ignácio
Joaquim Pitombo. Para conter esse primeiro destacamento foi designado outra tropa, que enfim
apaziguou a situação.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo, a partir da análise do livro “Belo Campo – memórias”,
de autoria do memorialista Roberto Lettière (1997), problematizar a figura do coronel Napoleão
Ferraz, descrito pelo autor como herói. A memória constitui-se como fonte importante para o trabalho
31
do historiador, da mesma forma que o trabalho de memorialistas ao longo dos séculos tornou possível
o conhecimento de importantes aspectos de vários eventos na história, contribuindo para que muitas
informações não se perdessem com o apagamento da memória enquanto fonte histórica. Napoleão
Ferraz de Araújo foi um precursor da cidade de Belo Campo, que à época analisada (1900-1915) era
conhecida como Chapada e pertencente ao município de Conquista (atual Vitória da Conquista). Este
personagem está inserido em um momento complexo e diversificado em suas características, que
foi o Coronelismo. No livro memorialista acima citado, o autor aponta Napoleão Ferraz como um
herói, ressaltando, de forma romantizada, características pertinentes ao Coronel, como também suas
contribuições para a região da chapada, ainda em formação, e colocando o Coronel como avesso ao
Coronelismo e às atitudes de seus contemporâneos, também coronéis. Para tal objetivo, foi preciso
respondera alguns questionamentos: como se deu a construção de heróis cívicos ao longo da Primeira
República brasileira (1889-1930) e com qual objetivo? Quem foi, segundo a documentação disponível
e o contexto analisado, Napoleão Ferraz? Napoleão, mesmo recebendo a patente de coronel, era
avesso ao coronelismo? O coronel Napoleão Ferraz era um homem à frente de seu tempo ou um
homem, apesar de suas especificidades, parte de um contexto e de uma época específicas? Far-se-á
um contraponto do trabalho de Lettière com a bibliografia sobre Primeira República (1889-1930),
com o fenômeno do Coronelismo na região de Conquista (atual Vitória da Conquista), além de cartas
de Napoleão Ferraz e seus contemporâneos, valendo-se também da memória dos moradores mais
antigos do município de Belo Campo.
Resumo: A comunicação tem como objetivo refletir sobre a ideia de melhoramento ou aperfeiçoamento
da agricultura, presente no pensamento e nas ações de algumas autoridades e proprietários de
terras no Brasil imperial, sobretudo na província baiana, durante a segunda metade do século XIX.
Analisando falas e relatórios de presidentes de província da Bahia, bem como algumas posturas
municipais de uma região do interior, procuramos entender como esses grupos sociais pensavam
uma modernização da economia agrícola, mas atentos ao controle de possíveis ociosidades, ou seja,
eles pretendiam mudanças técnicas, científicas propostas pela era moderna, mas sem consequências
revolucionárias no que se refere à estrutura social. Dialogamos com Teresa Cribelli nesse sentido,
pois percebemos o uso do vocábulo melhoramento ou aperfeiçoamento, no Brasil, associado ao
sentido de progresso, significando o melhoramento de algo que já existia, empregando a ciência e as
máquinas na economia agrícola, pensando também numa ordem social pacífica, como se fosse uma
máquina bem servida (CRIBELLI, 2009, p. 57). Melhorar ou aperfeiçoar representava, portanto, uma
ideologia de mudança social, mas não de libertação. Ao contrário, as elites sempre estiveram atentas
para possíveis “distúrbios” sociais provocados pelo suposto progresso. Nas fontes documentais, além
dos tópicos referentes a transportes, obras públicas e educação agrícola nas falas e relatórios de
presidente da província, analisamos algumas posturas da região de Alagoinhas, onde sofreu direta, ou
indiretamente, os impactos com a implantação da ferrovia “Bahia and São Francisco”. Pensamos que
alguns códigos dessas posturas locais tinham o intuito de controlar ainda mais os espaços e as ações
de grupos sociais que desenvolviam a agricultura de forma sazonal, como agregados, sem relacionar-
se com a terra de forma individual, e por isso eram muitas vezes vistos como ociosos. Percebemos,
até então, que algumas ações costumeiras que passaram a ser tratadas pelas autoridades locais como
passíveis de pena, persistiram para além daquele contexto de “melhoramento”.
32
SESSÃO 02: 22/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: A história do Brasil enquanto nação teve um percurso historiográfico voltado para o
nacionalismo, para a constituição do que seria o Estado Nacional. Seu território, cultura e política
estiveram por muito tempo atrelado à ideia de um discurso uniforme sobre o que é mais representativo
do que seria o brasileiro. Trata-se da elaboração de uma narrativa nacional elitista frente ao caráter
heterogênico da nação brasileira, onde práticas e indivíduos vão corresponder ao ideal nacional e outras
vozes são descartadas. Desse modo, abordagens sobre a cultura regional e local visam, sobretudo,
reconhecer categorias e sujeitos silenciados por essa História de caráter oficial.
Entre estes temas, tem se a história social da pecuária, que se constituiu por muito tempo como
apêndice à história do litoral e da plantation. A proposta deste trabalho é estudar a pecuária nordestina,
a partir da representação de seus trabalhadores, em especial, o vaqueiro, que na historiografia muitas
vezes foi apresentado como fruto de construções literárias, memorialistas e folclóricas, bem como,
problematizar essas visões relacionando-as como os estudos cientificistas ligados à eugenia.
Inclui também, como proposta, compreender quem eram os trabalhadores da pecuária, quais as suas
relações, vivências e cultura. Tendo como local de pesquisa o município baiano de Morro do Chapéu
entre os anos de 1905 a 1935. E feita a partir de documentos cartoriais, entrevistas e matérias do jornal
local Correio do Sertão. Trata-se, portanto de um estudo sobre parte fundamental da estrutura pastoril,
os trabalhadores cuja identidade se faz tão presente no sertão, mas sobre os quais a historiografia
tardou em reconhecer e problematizar.
33
estabelecendo uma relação de dependência mútua, entre proprietários e agregados/trabalhadores.
Nessa sociedade, a maneira mais eficiente de ascender economicamente era através do ofício vaqueiral,
a profissão representava a ascensão tanto econômica quanto social, no entanto, a ascensão pelo
trabalho com o gado levava muitos anos e nem todos conseguiam, dependia da relação que estabelecia
com os proprietários e da habilidade do trato com o gado. Envolvidos nessa sociedade paternalista e
promovedora de laços de dependência, corroborou para a complexidade das relações de trabalho,
extensão dos laços de proximidade afetivos ou conflituosos e fez com que fazendeiros, vaqueiros
(livres e escravos), e trabalhadores autônomos estabelecessem relações sociais e estreitamento dos
laços de solidariedade, acentuando assim as diferentes concepções de poder, trabalho e sociedade e
definindo a aparência de seus conflitos cotidianos, fossem estes assumidamente ou sutil.
Palavras chaves: Sertão. Pecuária. Vaqueiro. Dependência. Autonomia.
Resumo: “Nascia do toque das boiadas a vida da pátria” (BOAVENTURA, 1989, p. 15). Essa é uma das
primeiras frases do livro de Eurico Alves Boaventura, no qual o escritor baiano propõe narrar uma
história do Brasil tendo como protagonista o vaqueiro, na produção da brasilidade. Na narrativa
do ensaísta, o vaqueano se torna o produtor das espacialidades, formador seminal da paisagem
interiorana, que substitui o papel do bandeirante como o responsável pela interiorização da nação.
Neste trabalho, irei analisar o modelo de Brasil proposto pelo escritor, que tem como cenário o sertão
baiano, em particular a zona do pastoreio, na região da Bacia do Jacuípe. Para isso, será analisado
diversos trechos da obra, com o objetivo de perceber as intencionalidades do autor na escrita do texto,
principalmente a escolha do vaqueiro (lido comumente como símbolo regional), como o protagonista
da fundação nacional. Nessa comunicação, o conceito de nação é de fundamental importância para
analisar o projeto político de Brasil defendido por Boaventura. Para aprofundar o termo, dialogo com
Benedict Anderson (1989), Perrone-Moisés (2007), Kothe (2000) e Hall (2015), que me possibilitam
pensar como o ideal de nacionalidade e identidade nacional é desenvolvido, principalmente no campo
literário. Entre as mais variadas características que marcam os sujeitos, a língua se sobressai, já que é
a partir da linguagem que se torna possível a construção dos signos, assim como o próprio indivíduo,
que necessita metaforizar sua própria existência para se ler no mundo. Dessa forma, a narrativa de
Eurico Alves apresenta uma imagem particular de nação, pautada nos dizeres de uma Bahia sertaneja
e centrada no aboio do vaqueiro viril.
Resumo: A presente pesquisa analisa historicamente o fenômeno da seca ocorrida no Sudoeste baiano
no último quartel do século XIX, cotejando com o discurso poético de Elomar Figueira Melo relacionado
a este fator climático. A partir disso nota-se a escassez de um índice pluviométrico favorável capaz de
contribuir para dificultar a criação de animais, o cultivo agrícola, sobretudo gera dificuldades sociais
para as populações atingidas por ela. Isto torna a vivência neste ambiente muito difícil, já que a falta
de água causa também a ausência de recursos econômicos provocando fome e miséria no sertão
nordestino. Vale ressaltar, a seca não atinge todo o Nordeste, mas uma área conhecida como Polígono
das Secas incluindo o norte de Minas Gerais. Grande parte das populações destas áreas – geralmente os
34
moradores das zonas rurais - se desloca procurando fugir das secas e buscam refugiar-se nas cidades,
ocasionando com isto o inchaço nas zonas urbanas, sobretudo as áreas de favelas sem infra-estrutura
adequada, mendicância, subemprego etc. Entretanto, estas mesmas populações também contribuem
fortemente com sua cultura e o emprego de sua força de trabalho para desenvolver as áreas para
onde migram. De qualquer forma os migrantes, segundo poetas como Elomar Figueira Melo, almejam
sempre o regresso ao seu local de origem após haver uma situação climática favorável. Para quem
permanece resta às vezes esperar o regresso das chuvas, podendo durar até cerca de meia década,
ou os socorros públicos. Políticas assistencialistas desenvolvidas de forma precária servem muito mais
como um paliativo, e um meio de conseguir promover a elite política por meio do processo eleitoral.
Em sua maioria a elite política também é a elite econômica, e tais socorros ou recursos são conseguidos
por meio do poder burocrático do Estado através dos representantes políticos da respectiva região.
Ao longo da história parece não haver efetivamente uma preocupação por parte do poder público
para contornar o problema gerado pela falta de água no sertão a fim de fazer com que o homem do
campo conviva de forma harmoniosa com o ambiente. Esta pesquisa se justifica pelo fato do tema ter
sido pouco ou quase nada explorado pela historiografia ao longo dos anos. Portanto, pesquisar a seca
no Sudoeste baiano no final do século XIX, analisando a poesia Elomariana contribui para elucidar
aspectos históricos relevantes da região Sudoeste neste período. É a partir da referida região, com
uma característica típica de um Menestrel e sua linguagem Dialetal Sertaneza que ele realiza suas
composições nas quais emprega um rigor não apenas técnico em suas obras tornando-as pertinente
para análise do tema. Espera-se com essa pesquisa contribuir para futuros estudos sobre o período e
o assunto.
“Matos alheios de ladrões e facinorosos” ou a terra das oportunidades? Uma visão dual sobre os
sertões dos Rios Piranhas e Piancó no período colonial na América Portuguesa
JANICE CORREA DA SILVA (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE BONITO DE SANTA FÉ - PB)
Resumo: A primeira parte do título deste artigo trata-se de uma expressão utilizada pelo sargento mor
e senhor de engenho Antônio Borges da Fonseca para se referir aos sertões da capitania da Paraíba,
especificamente aos sertões dos rios Piranha e Piancó para os quais realizava frequentes viagens. Estes
últimos constituíram o centro irradiador da conquista das áreas interioranas da referida capitania. A
expressão deixa bastante nítida uma das formas de se enxergar aqueles espaços durante o período
colonial, qual seja: percebê-lo enquanto um lugar de refúgio para criminosos e, portanto, de violência.
Não era só nesse sentido que os sertões eram vistos, muitas outras conotações fizeram parte do
imaginário das pessoas no que diz respeito ao modo como às áreas que se distanciavam do litoral eram
pensadas. É muito comum, quando se fala em sertão, algumas representações saltarem no imaginário
das pessoas. Atualmente, por exemplo, quando o assunto é sertão, emerge logo a imagem da seca, da
fome, da pobreza, da escassez, do desconhecido, do não civilizado, do rústico, etc. Se ainda hoje é assim,
o que pensar, então, das conotações apresentadas pelo termo sertão durante o período colonial? Quais
visões eram formuladas? No imaginário de colonizadores, viajantes cronistas e aventureiros vindos de
Portugal ou de outras partes do Brasil, ou ainda na compreensão de escritores ditos tradicionais de
nossa historiografia, quais representações predominavam acerca do sertão? São essas algumas das
indagações que motivam a elaboração de um saber histórico que se preocupe também em apresentar
alguns dos aspectos simbólicos e também das representações espaciais que palpitavam no imaginário
das pessoas durante o período colonial nos espaços supracitados. Essas representações ajudaram a
configurar as visões das gerações posteriores. Em tal empreitada, serviram como base documental os
relatos de viajantes e cronistas, mesmo sabendo que, em muitos momentos, tais relatos encontravam-
35
se impregnados de intensa subjetividade, uma vez que as impressões ou descrições dessas pessoas
sobre a terra que encontraram partiam de observações realizadas apressadamente e de modo
superficial. Fez uso também de documentos do Arquivo Histórico Ultramarino pertencentes a capitania
da Paraíba.
Resumo: Os sertões de São Bento do Tamanduá (hoje Itapecerica/MG) era, nos setecentos, palco
das ações de diversos bandos armados. Estes bandoleiros formavam grandes áreas de mando nestas
áreas de fronteiras. Segundo Marcia Amantino, “a principal imagem criada para o Sertão foi a de uma
área rebelde que precisava ser controlada e domesticada. Era assim também que os habitantes de
Minas Gerais no século XVIII viam o Sertão” (AMANTINO, Márcia. “O sertão oeste em Minas: um espaço
rebelde”. Varia Historia, Belo Horizonte, n.29, p.79-88, jan.2003). Ao formar os “Territórios de Mando”
- expressão utilizada pela autora Célia Nonata da Silva para classificar as regiões onde predominava os
interesses privados em detrimento dos interesses públicos – vários bandidos buscavam monopolizar
variados espaços pelo uso da força e da intimidação. Assim ocorreu nos sertões do Tamanduá. Ali agiam
vários bandos, entre eles a quadrilha dos “sete orelhas”. Este bando era liderado por Januário Garcia
Leal. Agiram nestes sertões nos fins do século XVIII e início do século XIX. Consta que teria imposto
perpétuo silêncio em pleitos judiciais que corriam na vila, ameaçando advogados que porventura
viessem a favorecer os seus inimigos ou mesmo aqueles que ousassem interferir judicialmente nas
querelas feitas contra o bando. Noutras vezes, suprimia fazendas alheias, ameaçando e forçando os
proprietários a abandonarem as suas propriedades. Sendo assim, formaram a sua área de mando
pelo medo e pela força de seus componentes. Nossas fontes estão concentradas na seção colonial
do Arquivo Público Mineiro e nos avulsos do Arquivo Histórico Ultramarino – MG. Nossos referenciais
teóricos são os estudos de Carla Anastasia (“Geografia do Crime”), Célia Nonata da Silva (“Territórios
de Mando”) e Márcia Amantino (“O sertão oeste em Minas: um espaço rebelde”).
Thomaz Cardoso de Almeida e Vicente Moretti Fóggia: conhecimento médico científico e a varíola
em Goiás
LEICY FRANCISCA DA SILVA (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS)
Resumo: Durante o século XIX, explica Lycurgo Santos Filho, não se percebe a existência de organizações,
de carreira ou de um campo de investigações científicas brasileira (1995). Tanto a formação, quanto
o modelo de organização profissional deviam muito ao modelo francês de onde proeminentemente
advinham os professores e o material para as Academias médicas (FERREIRA, 1994). O modelo médico
implementado era a clínica nascente, como analisado por Michel Foucault. Contrapondo-se em parte
a essa análise e considerando uma “forte tradição clínica” brasileira, Luiz Otávio Ferreira aponta a
possibilidade de através das trajetórias dos membros da elite médica perceber uma tradição clínica
“institucionalizada e portadora de padrões de formação intelectual, carreira profissional e produção
de conhecimento próprios” (idem). Se a produção do pensamento dos médicos, e sua trajetória
profissional pode nos trazer importante elementos para pensar o padrão da medicina clínica no
século XIX, a vida e atuação de Thomaz Cardoso de Almeida e de Vicente Moretti Fóggia, médicos
de proeminência regional pode nos auxiliar a perceber as margens dessa produção e atuação em
Goiás. Nosso objetivo neste artigo é, partindo da análise de texto dos dois médicos citados, observar
o conhecimento médico sobre a varíola, sua prevenção e no tratamento em Goiás no século XIX. Bem
como compreender os limites da atuação destes profissionais de saúde em casos de epidemia.
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SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Das fontes primárias ao livro didático: o debate na rede básica de ensino sobre a construção da
história
LIBÂNIA DA SILVA SANTOS (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA)
O relato biográfico como fonte e objeto da história: a escrita de Maria Mercedes sobre José
Marcelino de Souza (1887-1917)
RAILTON SOUZA SANTOS (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SERGIPE)
Resumo: Considerando a importância das fontes históricas para o ofício do historiador, esta comunicação
tem por objetivo tecer uma reflexão teórico-metodológica acerca do uso da narrativa biográfica como
fonte e objeto relevantes para os estudos situados no campo da história política. Para tanto, investiga-se
em que medida Maria Mercedes Lopes de Souza faz uso dos métodos da construção do conhecimento
histórico para recompor a trajetória política de seu pai, José Marcelino de Souza. A autora escreveu três
livros nos quais narra a história do “homem do campo”, bacharel em Direito, deputado geral na Monarquia
e governador da Bahia (1904 – 1908) e, que portanto, foi um sujeito que vivenciou a política baiana do final
do século XIX e dos primeiros anos do século XX.
O início da República na Bahia é marcado pelos atritos entre os interesses individuais, de modo que a
mentalidade provinciana levou a elite política, ao formar seus partidos, à criação de um fechado esquema
ofensivo-defensivo para a tomada do poder, logo, interessa-nos questionar como José Marcelino se
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moveu dentro dessa lógica. Nesse contexto, procuramos também entender de que maneira a escrita da
biógrafa-filha mostra os fatores de coesão e de cisão, a articulação com grupos de interesse e a atuação de
Marcelino junto outros chefes políticos da época, a exemplo de Rui Barbosa, Severino Vieira, Luis Viana e
J.J. Seabra. Podemos afirmar que os livros de Mercedes estão empenhados na construção da memória de
“um estadista quase desconhecido” para inseri-lo no roll de ilustres personalidades “defensoras” da Bahia.
Acervo fotográfico da Casa do Divino: um estudo sobre a rede social estabelecida entre os devotos
ELIZABETH JOHANSEN (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA)
Resumo: A Casa do Divino é um lugar de devoção ao Divino existente em Ponta Grossa (PR) desde 1882
quando sua fundadora, Maria Selvarina Julio Xavier, encontrou uma imagem do Espírito Santo. Desde
então, o imóvel que era uma residência foi se transformando em um lugar de devoção. Esta comunicação
analisará o acervo fotográfico da instituição a partir da perspectiva da formação de rede social entre
os devotos. A rede social pressupõe a identificação dos participantes a valores e práticas devocionais
compartilhados que remetem à sociabilidade do grupo, definindo quem são os outros com quem o
devoto se relaciona numa dimensão de identificação e afinidade. As relações não precisam vincular-se a
laços familiares, podem ser multiformes, aproximando participantes diversificados, pois o que os une é a
devoção ao Divino. As relações que se estruturam baseiam-se no conhecimento que os devotos vão tendo
uns dos outros a partir da participação nas atividades religiosas. Scherer-Warren (2006), afirma que nesses
casos a rede se constitui num processo em construção contínua, resultando em múltiplas articulações. As
fotografias deixadas no altar do Divino rogando ou agradecendo bênçãos tanto podem ser interpretadas
como ex-votos, como apresentar elementos da rede social conforme o conteúdo imagético ou o que foi
manuscrito no verso. Imagens de crianças oferecidas por seus pais devotos ou pela mãe/pai em separado
demonstram os nós mais próximos dessa rede: a filiação. Outros graus de parentesco também foram
identificados, como fotos levadas por avós, tias/tios, irmãs/irmãos, referendando a informação de que
a devoção era uma prática transmitida e vivenciada no seio familiar, uma vez que o primeiro contato
que tiveram com a devoção foi por intermédio de parentes próximos. Fotografias de casais também
são comuns no acervo, tanto trajando as roupas da cerimônia do casamento como usando vestuário
cotidiano. Muitas dessas imagens possuem manuscritos que indicam que a mulher ou o homem eram
os devotos, e seu parceiro, não; mas outros retratos demonstram que a devoção era comum a ambos.
Outras relações também ficaram evidentes, como o retratado que escreveu que estava cumprindo uma
promessa feita dezoito anos antes por outra pessoa em prol de sua saúde. Observando os sobrenomes,
vê-se que são distintos, levando a crer a existência de laços, mas não de parentesco, talvez de amizade,
apadrinhamento e/ou de vizinhança. Assim como a imagem em que a menina retratada oferece sua
foto ao Divino, mas solicita a outra pessoa que a entregue, provavelmente porque não residia em Ponta
Grossa. Nesse caso, a rede social atuou inclusive na redução de distâncias espaciais, pois possibilitou que
alguém sem condições de frequentar o local mantivesse sua prática devocional de encaminhar o ex-voto.
Roteiro de Fontes sobre o Mundo Botânico na Bahia Atlântica Colonial (1780-1808): um instrumento
de pesquisa a partir dos Catálogos do Arquivo Histórico Ultramarino – AHU
RODRIGO OSÓRIO PEREIRA (UEFS), WILTON ALVES FERREIRA JÚNIOR (UEFS)
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sistemática, a partir de critérios pré-estabelecidos, às listas de documentos que traziam alguma referência
em seus títulos (seja por autoria ou por temas) a aspectos do mundo botânico. Como resultado, criamos
um guia de fontes específico – Roteiro – que se constitui em instrumento estratégico aos historiadores
interessados nas ciências coloniais, no trabalho dos funcionários-naturalistas da Bahia, na identificação
de espécies (com interesse potencial de pesquisadores de outras áreas) e muitos outros aspectos. Ao
longo desse processo, refletimos sobre a organização dos catálogos dos AHU, a lógica de constituição das
referências documentais (fundo, série, caixa, documento, título) e as possibilidades de reorganização do
acervo catalogado. A experiência socializada neste trabalho foi realizada como proposta de trabalho de
Iniciação Científica no âmbito do curso de História da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.
O corpo das imagens: sobre usos e narrativas nas coleções fotográficas do Museu Afro-brasileiro
da UFBA
ELSON DE ASSIS RABELO (UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO)
Resumo: Esta comunicação é resultado parcial de uma pesquisa em andamento sobre as coleções
fotográficas do Museu Afro-brasileiro (MAFRO) da Universidade Federal da Bahia, problematizando os
usos museológicos dados a essas imagens na história da constituição de suas exposições e de sua reserva
técnica. Através do cotejamento entre as imagens doadas ao MAFRO ou adquiridas por sua gestão e seus
diferentes projetos e discursos curatoriais, indagamos se a fotografia é concebida ali como acervo, no
sentido de materialização das culturas africanas e afro-brasileiras, ou se tem funcionado como ilustração
do que efetivamente seria o acervo – isto é, as coleções do que convencionalmente se entende por cultura
material. Em nossa compreensão, essas percepções se desdobram, ainda, nas políticas de preservação
e nas narrativas construídas em torno dos artefatos, com vistas à formação dos diferentes públicos. No
recorte temporal estabelecido desde a criação do museu, em 1974, até o presente, selecionamos para
esta análise imagens que não aparecem para o público produzidas por três fotógrafos relativamente
desconhecidos para o visitante do MAFRO: Bauer Sá, Renato Marcelo e Sílvio Robatto.
Resumo: O texto visa discorrer sobre a pesquisa periódica, que a utiliza simultaneamente, como objeto
e fonte. Para isso, o texto promove uma discussão sobre os cuidados e deveres em torno da fonte,
utilizando a análise bibliográfica e considerações práticas da sua aplicação no campo da história.
Resumo: O estudo deste artigo aborda a necessidade do historiador trabalhar com fontes escritas a
respeito dos povos originários, abordando a semelhança entre história e antropologia, identidade nativa
e miscigenação, as diversas literaturas que possam corroborar para a pesquisa e consciência histórica. O
trabalho de Thiél (2019) corroborou para esclarecer sobre a importância dos escritores indígenas e suas
obras o que caberá ao professor com base neste artigo, proporcionar positivamente seu método de
ensino. Consequentemente, a descolonização e a ruptura do pensamento do senso comum que regem
a sala de aula serão percebidas cotidianamente através do tempo.
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Protagonismo indígena e indigenismo: acervos e fontes para a história (Rio Grande do Sul, 1964-
1985).
ANDRESSA DE RODRIGUES FLORES
Resumo: Nas décadas de 70 a 90 do século XX, foram produzidos cerca de 300 álbuns em vinil por
artistas (compositores e intérpretes) ligados direta ou indiretamente ao Carnaval de Salvador. Boa parte
desses álbuns encontra-se também no formato CD. O cotejamento das informações contidas nas capas,
contracapas e encartes desses álbuns, bem como o próprio texto musical de que os álbuns são o suporte,
permite compreender aspectos relevantes do mundo do Carnaval de Salvador. A partir da migração ou
trânsito de artistas entre modelos diferentes, como blocos afro, bandas de trio elétrico ou artistas em
carreira solo, pode-se compreender meandros e atalhos do contexto sociocultural do Carnaval. A partir
dessas descobertas, colocam-se elementos interessantes para a compreensão da trama do Carnaval
como um sistema de práticas em que a cidade se apresenta ao mesmo tempo polarizada e integrada.
Resumo: O estudo apresenta a conflituosa relação do saber médico com as práticas de cura e a
intervenção no cotidiano dos citadinos, a partir da análise de dois processos-crime da década de 1940 na
cidade de Parnaíba-PI. Pretende-se analisar os processos-crime e o desvelar de historicidades distintas,
dando visibilidade a atores sociais diversos, as contradições e as tramas nos quais eles estão envolvidos.
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SESSÃO 02: 22/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
“E as borboletas estão girando Estão virando a sua cabeça”: Gênero e ditadura na República
Dominicana
LINA MARIA BRANDÃO DE ARAS (UFBA)
Olhar do cotidiano, olhar político: interações cotidianas e íntimas nas CEBs durante a Ditadura
Civil-Militar.
GISELE OLIVEIRA DE LIMA (INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS)
Resumo: O presente trabalho pretende discutir sobre as interações cotidianas e íntimas, principalmente
entre as pessoas que não ocupam nenhum cargo representativo ou autoridade legitimada. Baseio-me
em María Lugones, onde aponta sobre a importância da relação subjetiva e intersubjetiva de libertação
seja no processo de adaptação ou oposição. Segundo Lugones, a subjetividade que resiste se expressa
muito mais vezes infrapoliticamente, ao invés de uma política do público. A partir desta perspectiva
teórica, este trabalho irá iniciar a análise sobre a relação subjetiva e intersubjetiva de mulheres que
atuaram nas Comunidades Eclesiais de Base - CEB na periferia de Salvador durante a Ditadura Civil-
Militar. Estas entrevistas foram coletadas durante o doutorado, que tinha como foco a atuação política
de um sacerdote que foi uma importante liderança religiosa nas CEBs na capital baiana. As entrevistas
destas mulheres nortearam o trabalho deste pároco, no entanto acabam revelando muito sobre esta
relação subjetiva e intersubjetiva de libertação expressada nas interações cotidianas e íntimas. Diante
disto, a História Oral se mostra como um rico caminho onde pode tornar visível algo inicialmente
subjetivo, demonstrando-se um campo importante e múltiplo de exploração para História e para
Historiografia.
História e memória no Conselho Estadual de Cultura da Bahia através dos calendários culturais
(1968-1985)
ANSELMO FERREIRA MACHADO CARVALHO (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA SERGIPE)
Resumo: O presente artigo investiga as noções de história e memória refletidas nas ações do Conselho
Estadual de Cultura da Bahia (CEC). Busca compreender qual passado o CEC quer lembrar e como ele é
recomposto ao ativar memórias da Bahia. Dessa forma, analisa a política de memória do CEC e centra
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o foco nos Calendários Culturais baianos, elaborados pelos conselheiros de cultura— intelectuais de
prestígio na Bahia, boa parte deles, membros do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e da
Academia de Letras (ALB). Os calendários eram lugares de memória e, ao mesmo tempo, portadores de
uma memória cultural das elites pretéritas baianas vivificadas através da ação do CEC. Os referenciais
teóricos que embasam o artigo são referendados em NORA(1993) e ASSMANN (2011) na medida em
que auxiliam interpretar os usos e construções das memórias nessa instituição cultural
Resumo: Os dias que se sucederam à morte de Ernesto Simões Filho (1886-1957) causaram grande
comoção em órgãos de imprensa do Rio de Janeiro e de Salvador. Naquelas condolências e homenagens
prestadas, reunidas em livro publicado, em 1958, sob o título “Simões Filho: in memorian”, foram
enaltecidas as atuações de Simões Filho como jornalista, que modernizou a imprensa na Bahia por meio
do A Tarde, criado por ele em 1912, e como político que devotava um grande amor à sua terra natal.
Dos sessenta e um textos apresentados, sua maioria foram escritos por políticos, poetas, romancistas
e jornalistas, pessoas que, de algum modo, pertenciam a mesma rede de sociabilidade e, até mesmo,
tinham vínculos afetivos com o homenageado. Talvez se possa dizer que o traço comum entre eles
seja o pertencimento a um quadro de intelectuais da época, tanto no aspecto sociocultural, como no
engajamento de ideias e no cotidiano da esfera política, como ensinou Jean-François Sirinelli (2003).
Desse modo, o objetivo dessa comunicação é utilizar os depoimentos da coletânea como fonte histórica
de modo que permitam, para além do saudosismo existente nos textos, problematizar a pessoa de
Simões Filho como um intelectual da época que, inserido nesta rede de sociabilidade, gravitou entre
contextos políticos que nem sempre lhe foi favorável, mas que não se furtou a se utilizar de tom
combativo para se expressar. Para isso, buscou-se traçar um breve perfil dos sujeitos que escrevem
sobre Simões Filho e, ainda, estabelecer que relação direta ou indireta existiu entre eles.
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A “escrita de si” e sua contribuição para a historiografia: o trabalho com o acervo epistolar do
pintor Candido Portinari
ANA CAROLINA MACHADO ARÊDES (UFES)
Resumo: Este trabalho trata das correspondências do acervo pessoal do pintor Candido Portinari
tanto como fontes historiográficas, quanto como objeto de estudo metodológico. Portinari foi um
importante artista brasileiro que atuou principalmente no período do primeiro governo de Getúlio
Vargas, época marcada pelo intenso mecenato estatal. Vargas ficou conhecido como um presidente
conciliador e hábil, capaz de reunir em torno do seu governo políticos, artistas e intelectuais das mais
variadas correntes de pensamento. Portinari participou ativamente desta gestão, realizando inúmeros
trabalhos para o Estado. Suas obras, de acentuado teor social e nacionalista, apareciam como as mais
apropriadas para endossar o caráter patriótico que era almejado pelo governo autoritário naquele
momento. Cabe ressaltar, que Portinari nutria uma simpatia pela esquerda comunista, tanto que se
filiou ao PCB após o Estado Novo, em 1945. No entanto, seu posicionamento político não impediu que
o artista participasse de um Estado de exceção. Assim como Portinari, outros artistas e intelectuais
contrários às ideologias do regime se relacionaram com o governo naquele momento, confeccionando
trabalhos ou diretamente empregados nas fileiras burocráticas. O Estado, por sua vez, entendia o
incentivo à arte e à cultura como necessário para fortalecer o Brasil como nação. As correspondências
trocadas entre Portinari e seu importante círculo de amizades epistolares são, dessa forma, capazes de
revelar muitos aspectos sobre os bastidores desse importante momento da política cultural brasileira.
As cartas compõem o que foi denominado de “escrita de si” pelo filósofo Michel Foucault. A “escrita de
si” engloba aquilo que concerne à produção de si, tal como autobiografias, diários íntimos, memórias,
anotações, correspondências, entre outros. As cartas do acervo pessoal de Portinari proporcionam ao
pesquisador uma boa noção do que estava em voga no círculo artístico e intelectual da época, assim
como são capazes de demonstrar os modos de produção de si do seu autor. Portanto, esta pesquisa
busca contribuir tanto para o estudo da produção de si e do uso metodológico das cartas como fontes
históricas, assim como almeja o entendimento da participação do pintor Portinari no Estado Varguista.
Produção agrária no sertão do São Francisco: a economia do catado e sua diversidade no século
XIX
RAFAEL SANCHO CARVALHO DA SILVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA)
Resumo: A diversidade produtiva no sertão do Rio São Francisco aponta para uma economia
diversificada com variedade na agricultura e extrativismo. A pecuária era a principal produção, mas isso
não anulou o ecletismo produtivo definido como “catado” que demonstra uma economia que não era
especializada. O propósito da presente comunicação é de debater a variedade produtiva da economia
do “catado” no sertão do São Francisco. Para isso, foi utilizado como fontes as correspondências de
autoridades como juízes e câmara de vereadores de Santa Rita do Rio Preto, Campo Largo e Barra
do Rio Grande. Além das correspondências das autoridades, também foram consultados relatórios
de viajantes e intelectuais oitocentistas como Henrique Halfeld e Ignacio Accioli Cerqueira e Silva.
Os limites técnico-tecnológicos eram empecilhos constatados por autoridades e intelectuais que
apontavam caminhos para reverter este problema e dinamizar as relações econômicas. Alguns desses
produtos eram de circulação restrita enquanto outros eram comercializados nos portos ao longo do rio
São Francisco. A partir da observação da economia do catado podemos notar as conexões mercantis
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do sertão do São Francisco com outras regiões da Bahia e, até mesmo, fora da província.
“Sob a pena da lei”: Mulheres sertanejas diante das leis criminais republicanas (Caetité, 1890-
1945)
MILEIA SANTOS ALMEIDA (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAETITÉ)
Resumo: A análise das histórias de criminalização e resistência das mulheres de classes mais pobres
em Caetité, por meio de fragmentos de suas experiências que atravessaram as cinco décadas e meia
compreendidas por este estudo, implica a problematização dos instrumentos legais empregados
com o intuito de moralização, controle e punição desses sujeitos. Essas mulheres, cujas estratégias
de sobrevivência e práticas cotidianas não se enquadravam nas normas morais de comportamento
feminino da época, representavam uma ameaça ao projeto de ordem e civilidade das elites republicanas
caetiteenses, propagandeado naqueles sertões baianos, em que aspiravam a uma modernidade que
nem sempre correspondia aos seus anseios. A precoce aprovação de um conjunto de leis penais estava
relacionada ao projeto de controle e punição da população mais pobre, gestado ainda no Império, e
implementado sob os ares de “ordem e progresso” ditados pelo discurso de modernização das elites
republicanas. Elites essas, que detinham o poderio econômico e político, e cujo poder intelectual
amparava-se, sobretudo, nos saberes médico e jurídico, alicerces para a elaboração das novas leis.
No que se refere as mulheres, a interferência maior do estado em questões de âmbito privado,
empregando conceitos como “honra e moralidade”, revelava diversas facetas, desde a imposição de
modelos ideais de feminilidade ao controle sobre seu comportamento e sexualidade. Ainda que o
alvo dessa “moralização” fosse principalmente a família de uma forma geral, enquanto instituição
que garantiria a concretização do projeto de civilidade republicano, aqueles sujeitos e grupos sociais
que escapassem desses papéis normativos e caíssem nas malhas da lei, tornavam-se alvo do controle
jurídico. As mulheres pobres e negras, seja por explícita resistência ou por necessária sobrevivência,
subvertiam essas legislações e, muitas vezes, utilizavam-se delas em suas táticas cotidianas, o que é
possível percebermos nos meandros dos processos judiciais.
Com Açúcar e Com afeto: a viuvez vivenciada por D. Lola em Éramos Seis.
SILMÁRIA SOUZA BRANDÃO (COLEGIO ESTADUAL LEOPOLDO DOS REIS)
Resumo: A presente comunicação tem por objetivo discutir as nuances da viuvez feminina retratada
no romance de Maria José Dupré, “Éramos Seis”, ambientado em São Paulo entre 1920 e 1940,
retratando a sociedade local e as alterações urbanas que se processam ao longo dessas décadas. A
trama referida já foi retratada em telenovelas exibidas em momentos diversos, com adaptações a
cada nova versão. Interessou-nos na história várias vezes exibida na televisão, a viuvez da personagem
Lola, cujo rosto, gestos e sentimentos tomaram vida na interpretação de Glória Pires (2020), nesta
última edição. O enredo desenvolvido de maneira lenta pela autora vai apresentando, aos poucos,
personagens complexas, em que o universo de sentimentos e estratégias femininas se desenrolam de
maneira criativa e envolvente, em especial a partir do momento em que ocorre a viuvez da personagem
Lola. Com uma família numerosa, cheia de conflitos e vivenciando grandes dificuldades financeiras,
acentuam-se as questões relacionadas ao gênero, classe e geração. As tristezas, alegrias e vitórias de
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D. Lola são dignas do sucesso que a história alcançou e que se presta a nosso objeto de estudo, posto
que poucas são as fontes para esboçar a viuvez feminina no Brasil republicano. Ressalte-se que a licença
poética, a fidelidade ou não da telenovela ao texto original, em nada reduz o brilho da saga da viúva
que encontra no doce do açúcar uma maneira de se reinventar para sustentar a prole ainda jovem e
dependente de suporte financeiro, transfigurando-se como sustentáculo da família e protagonista de
sua trajetória. Nos doces produzidos por D. Lola abre-se o caminho do suor, da luta da resistência, do
recomeço e do amor. Apresento esse texto a todos que enxergam na literatura uma fonte permanente
para a História em diálogo com as relações de gênero, classe e geração, trazendo reflexões do que
somos como mulheres, mães e senhoras dos nossos sonhos.
Com Açúcar e Com afeto: a viuvez vivenciada por D. Lola em Éramos Seis.
SILMÁRIA SOUZA BRANDÃO (COLEGIO ESTADUAL LEOPOLDO DOS REIS)
Resumo: A presente comunicação tem por objetivo discutir as nuances da viuvez feminina retratada
no romance de Maria José Dupré, “Éramos Seis”, ambientado em São Paulo entre 1920 e 1940,
retratando a sociedade local e as alterações urbanas que se processam ao longo dessas décadas. A
trama referida já foi retratada em telenovelas exibidas em momentos diversos, com adaptações a
cada nova versão. Interessou-nos na história várias vezes exibida na televisão, a viuvez da personagem
Lola, cujo rosto, gestos e sentimentos tomaram vida na interpretação de Glória Pires (2020), nesta
última edição. O enredo desenvolvido de maneira lenta pela autora vai apresentando, aos poucos,
personagens complexas, em que o universo de sentimentos e estratégias femininas se desenrolam de
maneira criativa e envolvente, em especial a partir do momento em que ocorre a viuvez da personagem
Lola. Com uma família numerosa, cheia de conflitos e vivenciando grandes dificuldades financeiras,
acentuam-se as questões relacionadas ao gênero, classe e geração. As tristezas, alegrias e vitórias
de D. Lola são dignas do sucesso que a história alcançou e que se presta a nosso objeto de estudo,
posto que poucas são as fontes para esboçar a viuvez feminina no Brasil republicano. Ressalte-se
que a licença poética, a fidelidade ou não da telenovela ao texto original, em nada reduz o brilho da
saga da viúva que encontra no doce do açúcar uma maneira de se reinventar para sustentar a prole
ainda jovem e dependente de suporte financeiro, transfigurando-se como sustentáculo da família e
protagonista de sua trajetória. Nos doces produzidos por D. Lola abre-se o caminho do suor, da luta
da resistência, do recomeço e do amor. Apresento esse texto a todos que enxergam na literatura uma
fonte permanente para a História em diálogo com as relações de gênero, classe e geração, trazendo
reflexões do que somos como mulheres, mães e senhoras dos nossos sonhos.
Uma Bahia em revista ou a história dos e nos periódicos ilustrados de Salvador nos séculos XIX e
XX
HENRIQUE SENA DOS SANTOS (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA)
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melhor traduziram os avanços tecnológicos do período. Seus editores passaram a estampar em suas
páginas reportagens fotográficas, imagens, contos, crônicas, propagandas, passatempos, artigos,
notícias, colunas e outros gêneros jornalísticos que fizeram desses impressos um amplo espaço de
divulgação e discussão das mais variadas temáticas possíveis. Não tão imediatas como os jornais,
tampouco densas como os livros, as revistas ilustradas, especialmente as de variedades, ao se situarem
em um meio termo no mundo dos impressos, permitiram que jornalistas, poetas, cronistas, fotógrafos,
caricaturistas experimentassem, na produção de texto e imagem, novos recursos gráficos e literários,
compartilhando dialogicamente com os leitores novas formas de ser e estar no mundo. Entretanto, a
despeito da riqueza desse material, na historiografia baiana as revistas ilustradas ainda não receberam
uma atenção mais aprofundada. Na maioria dos casos, esses impressos têm assumido uma função de
fonte auxiliar na pesquisa histórica. São poucos os trabalhos que os tem como fonte principal e mais
raros ainda são as pesquisas que os mobilizam como objeto de pesquisa. Diante deste cenário, esta
comunicação busca sugerir possibilidades de pensar as revistas ilustradas na investigação histórica,
considerando-as como fonte e, sobretudo, objeto. Para tanto, pretendemos fazer dois movimentos.
Inicialmente centraremos esforços na tentativa de periodização das revistas ilustradas de Salvador.
A intenção é apresentar alguns dos principais periódicos do período situando-os em um contexto
maior de emergência e desenvolvimento da imprensa da cidade e do país. Em seguida, a partir das
revistas citadas, levantaremos algumas possibilidades pesquisa levando em conta as temáticas, textos
e imagens presentes nestes periódicos. À guisa de conclusão, esperamos que esta comunicação possa
contribuir para o fomento de um campo de pesquisa sobre a história da imprensa ilustrada na Bahia
que, embora não tão desenvolvido quanto outros estados do Brasil, pode frutificar, estando apenas a
espera de novos pesquisadores.
Resumo: No ano de 1907, a recém-criada Diocese do Piauí, instalou um órgão de imprensa denominado
O Apóstolo. O periódico surge, na sociedade católica piauiense, como o principal instrumento, dentre
o conjunto de práticas ultramontanas, adotadas na região, com a intenção de vociferar as ideias
reformistas da instituição. O jornal, durante um considerável período, publicou em suas páginas,
artigos estritamente ligados aos interesses clericais, que tinham no Ultramontanismo seu norte
ideológico. Assim, divulgava as ações do Bispo, bem como artigos com caráter prescritivo, construindo
discursivamente, modelos de vida familiar, de vivência da fé e da espiritualidade, da necessidade de
frequência aos sacramentos, bem como de enaltecimento de modelos educacionais, presentes nas
escolas confessionais, e que eram apontados como adequados para o fortalecimento das práticas de
boa formação escolar para jovens católicos. No entanto, mesmo com a premissa suprema de manter-
se longe dos interesses político partidários, a Igreja Católica no Piauí, e consequentemente, seu
principal órgão de imprensa, diante de acalorados debates políticos presentes na sociedade, enviesa à
uma tendência partidária. Dessa forma, podemos perceber, nas páginas d’O Apóstolo, que o periódico
diocesano passa a emitir artigos, majoritariamente políticos, assumindo um reformulado perfil
editorial, que, por fim, desagua em desavenças políticas e no empastelamento do mesmo no ano de
1912. A pretensão da pesquisa é perceber como se dão tais mudanças no jornal, e como a instituição
católica responde ao cenário do início do século XX, que transpira tensões político partidárias.
Tomamos os autores Nelson Werneck Sodré e Tania Regina De Luca, como base teórica para a análise,
no que se refere aos diálogos entre a história e a imprensa. Bem como autores que tratam das
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práticas cotidianas e das instituições católicas no Piauí, para auxiliar na compreensão dos discursos
reformistas e das práticas católicas. Na análise damos visibilidade às intencionalidades expressas, nas
colunas do jornal, nos devidos contextos ideológico e político em que estavam inseridos, analisamos
os embates discursivos presentes no periódico, discorrendo sobre as publicações, os autores e os
textos, e, conferindo aos devidos espaços contextuais da época, nesse exercício, somos amparados
pelas reflexões de Michel de Certeau, quando afirma ser possível perceber que os discursos não são
neutros nem desinteressados, mas que todo saber obedece a normas de produção que o justificam.
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produzidos pela mesma tipografia/gráfica, o material recebeu duas denominações ao longo de seu
transcurso, vigente entre os anos 1938 a 1997, a saber: Jornal Oficial e Boletim Oficial de Belmonte.
Ao longo de suas páginas há registros de código de postura, sentenças jurídicas, anúncios, informações
sobre educação e construções de prédios escolares, prestação de contas, notas de nascimento,
casamento e falecimento e ainda notícias sobre acontecimentos no Brasil e no mundo, entre outros.
Tais registros são de suma importância para o campo da pesquisa em História – e também para outras
áreas do conhecimento –, em especial, por que eles contêm dados para investigação a respeito dos
moradores da cidade e de outros lugares em seu entorno. Graças à parceria com Secretaria de Cultura
e Turismo de Belmonte foi possível recolhermos o material para o campus para execução das etapas
metodológicas de: higienização, organização e catalogação do material. A etapa da digitalização da
documentação encontra-se em processo. Ao fim da referida etapa se pretende disponibilizar tal acervo
para os estudos historiográficos a serem realizados no curso de História, bem como para os estudos
realizados pelos atores do curso de Letras e ainda para consulta dos estudantes e pesquisadores
que frequentam a Biblioteca Municipal Sosígenes Costa em Belmonte, uma vez que o material será
digitalizado em CD/DVD. O fato da inexistência de arquivo público na cidade de Eunápolis e/ou em
outras, cujos estudantes estão no raio de extensão do campus XVIII – como a cidade de Belmonte
–, não é o único, mas é fator importante para justificar a relevância de tal atividade, pois ela permite
a democratização da herança de parte de um passado comum para as pessoas oriundas desses
lugares, assim como para os forasteiros que se instalaram por ali décadas depois e, que, são ávidos por
construírem “raízes”, vínculos, conexões com suas novas moradas.
49
de maio de 2019). O estudo em desenvolvimento se pauta na metodologia da história oral em que a
entrevista é o momento dessa efetivação, a partir do aporte teórico da metodologia da História Oral,
Verena Alberti (2004). Para o conceito de memória dialogo com os autores: Michael Pollak (1989), Paul
Ricoeur (2007), Bosi (1994), Le Goff (1990). Aqui será mobilizada também a noção de escrevivência
de Conceição Evaristo (2006), nos três elementos formadores: corpo, condição e experiência. Em face
da exposição dos recursos e percursos empreendidos nesta pesquisa esforço-me para avançar na
efetivação da coletânea de fontes cumprindo os requisitos para adquirir o grau de Licenciatura Plena
em História, para além de cumprir com uma função social.
Resumo: Esta comunicação tem como base uma pesquisa em andamento, se trata do meu Trabalho
de conclusão de curso sobre a obra literária intitulada Tungstênio de Marcello Quintanilha publicado
em 2014 pela editora Veneta. Quintanilha é um quadrinista brasileiro, teve sua primeira graphic
novel publicada em 1999, uma história baseada na vida de seu pai, que era jogador de futebol no
Rio de Janeiro em 1950. No Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte conheceu o
francês François Boucq que se interessou por seu trabalho e convenceu-o a enviar seus desenhos para
editoras europeias. Assinou contrato com uma editora Belga que o levou a mudar para Barcelona
para ficar mais próximo dos roteiristas, ao mesmo tempo, continuou produzindo álbuns para o público
brasileiro. Tungstênio narra uma história que se passa na cidade de Salvador tendo como fio condutor
um crime ambiental, envolvendo quatro personagens, Marcos Vinícios (vulgo Caju) um traficante, Sr.
Ney um ex-sargento, Richard um policial e sua mulher Keira que têm sérias dúvidas sobre continuar seu
casamento. A pesquisa tem por objetivo analisar a graphic novel e alcançar as intenções de Quintanilha
ao escolher o jogo de traços e ângulos para inscrição dos desenhos. Assim, é de suma importância
investigar o contexto da criação do autor e se a obra aponta evidências do momento histórico vivido
por ele, seguindo na perspectiva de que a mesma é uma fonte que permitirá entender questões da
sociedade humana. No presente trabalho, com base no estudo da iconografia e, principalmente,
análise do discurso dos quadrinhos Ramos (2018), utilizando da análise de biografia e autobiografia
conforme os respectivos autores Levi (2006) e Alberti (1991), busco analisar as imagens, linguagens
e discurso do autor para alcançar a escolha e intencionalidade de Marcelo Quintanilha ao retratar a
cidade de Salvador em sua obra e como os elementos e personagens-sujeitos foram distribuídos nas
imagens, atentando-me aos significados ali colocados nos quadrinhos.
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SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Representações de governos autoritários no mangá One Piece e seu uso em sala de aula
LARA DANIELLE BARBOSA OLIVEIRA SILVA (UNIJORGE)
Resumo: O presente artigo analisa o mangá One Piece do autor Echiiro Oda e suas representações
de autoritarismo a luz do debate entre estudiosos do tema. A partir de diferentes concepções,
características acentuadas do autoritarismo durante a história são apresentadas e comparadas com
a ficção construída pelo autor, tais como elitismo e coesão social, estabelecendo diálogos históricos
e pedagógicos entre a ficção e realidade autoritária do mundo. Este trabalho também conta com
considerações acerca da importância e dos desafios que o professor que deseja trabalhar com
mangás em sala de aula irá enfrentar, além da legislação que o apóia, fornecendo um respaldo para a
transformação de One Piece em uma ferramenta pedagógica dentro da aula de história.
Resumo: Esse artigo busca refletir sobre a importância do samba na elaboração dos principais
projetos de identidade cultural que estavam sendo produzidos no contexto das décadas de 1930 a
1950, pelo modernismo musical e pelos ideólogos do Estado Novo . É nessa perspectiva que o samba
figura nas páginas da revista Cultura Política, dos artigos analisados no período de 1941 a 1945 é
possível perceber claramente a importância que as seções de “Música” e “Rádio” dão à veiculação de
sambas nas emissoras de radiodifusão e a consequente penetração de seus valores na formação das
massas como um problema político emergencial, já que este se colocava como um potencial “inimigo”
da ideologia trabalhista do regime. A partir daí busca-se confrontar esses discursos com a perspectiva
de uma cultura popular autônoma, que expressava nas rodas de Salvador e nas canções de sambistas
como Batatinha e Riachão, expectativas e necessidades absolutamente próprias. Nas narrativas de
Riachão e Batatinha vão se delineando os elementos definidores de uma tradição oral e musical que se
expressava na sua capacidade de incorporar as demandas do tempo, identificar interesses antagônicos
e preencher as canções de versos que representam a realidade vivida pelas comunidades afro-
brasileiras. Nas letras dos sambas os sambistas cantaram as expectativas do povo pobre de Salvador
em relação ao mundo, ao Carnaval e principalmente ao trabalho. Seleciono as que tematizando as
questões do cotidiano deixaram indícios de uma história que esse artigo pretende escutar.
Resumo: No fim dos anos 1960, o crítico Paulo Emílio Salles Gomes escreveu duas adaptações
cinematográficas de “Amar, verbo intransitivo”, de Mário de Andrade. O romance permitiu a Salles
Gomes aprofundar sua produção ficcional, que já contava com os roteiros “Dina do cavalo branco”
(1962), “Capitu” (1966) e “Memória de Helena” (1967); ao longo dos anos 1970 o autor ainda produziria
as novelas “Três mulheres de três PPPês” (escritas em 1973) e “Cemitério” (escrito entre 1973 e
1976). Considerando a posição de “Amar, verbo intransitivo” nessa trajetória, o objetivo é analisar a
articulação desse projeto com a atuação política do autor após o Golpe de 1964. A participação na
demissão coletiva de docentes da Universidade de Brasília (1965) e a suspensão de sua contribuição
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em “A Gazeta” (1968) levaram o crítico a buscar alternativas, dentre as quais se destaca o investimento
ficcional em sua escrita. Esse movimento não inclui apenas o material já citado, mas a multiplicação
de estratégias narrativas (anedotas, digressões, o uso do palavrão etc.) em contextos acadêmicos.
Estratégias que marcam cada vez mais a presença do autor no texto. É nesse sentido que, na Versão
II de “Amar, verbo intransitivo”, Salles Gomes inclui um conjunto novo de personagens, como Oswald
e Raul Morais. A inclusão do autor (Mário Raul de Morais Andrade) no texto marca uma reflexão
sobre a produção da narrativa e sobre o papel do intelectual. De forma ampla é possível afirmar que
esse movimento no interior da obra de Salles Gomes se assemelha à produção fílmica da época que
repassa os dilemas dos intelectuais evidenciados pelo golpe, como ocorre em “O desafio” (1965, dir.
Paulo César Saraceni) e “Terra em transe” (1967, dir. Glauber Rocha). No entanto, o trabalho de Salles
Gomes é marcado por algumas peculiaridades. Em primeiro lugar, as modulações da vinculação com
o presente se dão de forma paulatina em sua ficção: são muito discretas no Segundo Império de
“Capitu”; insinuam-se genericamente no prognóstico de Raul Morais sobre a São Paulo dos anos 1960
(“uma grande... BOSTA”); concretizam-se nas menções à tortura na produção poética de início dos anos
1970 (“Tortuto”; “Paris 1944 curvou-se ante São Paulo 1970”), em “Três mulheres de três PPPês” e
em “Cemitério”. Mas a aproximação com a modernização conservadora seria trabalhada através de
dois movimentos já articulados em “Amar, verbo intransitivo”: 1. a circunscrição do escopo narrativo a
uma classe, a burguesia paulista (que de certa forma reapareceria na “aristocracia do nada” do ensaio
“Cinema: trajetória no subdesenvolvimento”, de 1973); 2. a dessolidarização do autor com essa classe
(o deboche que retrabalha a fórmula de Mário de Andrade, ao passar da “tosse paulista específica”
para a “burrice paulista específica”).
Resumo: O ano de 1961 pode ser lido como uma espécie de ponto de inflexão na trajetória de Ferreira
Gullar. Ao assumir como diretor da Fundação Cultural de Brasília, no governo de Jânio Quadros, o
poeta rapidamente se aproxima de Leon Hirzsman e Oduvaldo Vianna Filho, os quais representavam
uma organização que buscava estruturar-se naquele momento: o Centro Popular de Cultura. Um
contato que inicialmente se daria em torno de acesso a verbas para a viabilização do CPC logo se
transformaria, com Gullar produzindo obras próprias para o grupo e participando ativamente de
discussões internas, num envolvimento que poucos anos depois o levaria à sua presidência. Antes de
ir a Brasília, porém, Gullar vinha de uma outra experiência, com a vanguarda neoconcretista, da qual
foi inclusive um dos principais ideólogos. Indo além da discussão teórica, outra vez contribuiu com o
movimento desenvolvendo obras de sua autoria, bem como em colaboração com outros artistas, até
que, alegando um esgotamento das possibilidades de continuação de sua obra sob o guarda-chuva
desta vanguarda, Gullar aos poucos se afastaria dela, o que abriu espaço para a busca por um novo
rumo poético. Partindo dos debates e reflexões internos ao CPC — dentro dos quais pululavam temas
como a função do artista na sociedade, a definição do conceito de “cultura popular”, quão “próximas
das massas” deveriam passar a ser as obras de arte (e como essa “aproximação” poderia se dar) etc.
—, Gullar escreveria um livro de breves ensaios intitulado “Cultura posta em questão”, o qual pode
ser considerado uma tentativa de sistematização desses debates, com vistas também a um certo
apaziguamento das tensões da organização, afloradas com a circulação do polêmico “Anteprojeto do
Manifesto do Centro Popular de Cultura”, de Carlos Estevam Martins, a partir de março de 1962. É
em torno de “Cultura posta em questão” que eu gostaria de propor minha apresentação. Em minha
dissertação de mestrado, enxergo-o sob dois vieses não dissociados. No primeiro deles (gênese),
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busco entender a construção do livro de Gullar enquanto “bem simbólico”, olhando também para as
condições editoriais muito peculiares e acidentadas nas quais se deu sua publicação. Já no segundo
viés, meu foco está no texto da obra em si, com destaque para a genealogia de algumas das ideias ali
presentes, bem como para um cotejamento de alguns argumentos utilizados diante da obra anterior
de Gullar, buscando identificar eventuais “permanências” desde outros momentos de sua trajetória,
em especial o neoconcrestismo. E, aproveitando a coincidência envolvendo as datas do Simpósio e
do depósito de minha dissertação, gostaria de aproveitar o espaço para desenvolver uma espécie de
relato final, contemplando todo o andamento de minha pesquisa.
Resumo: A figura enigmática de Joseph Bologne, Chevalier de Saint-Georges (1745-1799), tem sido um
assunto de romance e aventura na literatura francesa desde o início do século XIX. Virtuoso violinista
e espadachim, ele capturou a imaginação da França pré e pós-revolucionária, não apenas por suas
prodigiosas habilidades físicas (tanto artísticas quanto marciais) mas também por sua ascensão à fama
a partir de origens relativamente humildes. Nascido na ilha caribenha de Guadalupe, ele era o filho
ilegítimo do proprietário de plantação George Bologne e de sua escrava africana Nanon. Em tenra idade,
mudou-se permanentemente para a França, onde recebeu uma educação esmerada, provavelmente
estudando violino e composição com Antonio Lolli e Franrois-Joseph Gossec, respectivamente. Com
uma boa reputação como solista, mestre de concertos e diretor, Saint Georges também era conhecido
como compositor; com obras entres as quais se incluem dois conjuntos de quartetos de cordas, doze
concertos para violino e dez sinfonias concertantes. Neste trabalho, procuramos analisar a trajetória
do compositor dentro da teia de relações raciais presente no sociedade francesa da época e das
implicações no campo musical, bem como os impactos de sua condição de “mulâtre” (mulato) na
processo de recepção da sua obra musical, revalorizada em anos recentes.
Resumo: Os cemitérios são muito além de um simples local para deixar restos mortais. São lugares de
memória por excelência. Por meio das lápides, da arte funerária e da própria disposição dos túmulos
é possível encontrar evidências relevantes. Toda essa organização cemiterial oferece indícios e
fontes para investigar trajetórias, perceber disputas, observar identidades, analisar a religiosidade e
compreender momentos econômicos que certamente ultrapassam os muros do cemitério. Embora
desde as últimas décadas do século XX, as pesquisas cemiteriais tenham ganhado mais fôlego, ainda
se considera reduzido, no meio acadêmico, o interesse pelos locais de enterramento oitocentistas.
Assim, pretende-se demostrar o importante papel que esses locais têm. Para tanto, demonstra-se a
relevância da produção de levantamentos fotográficos e inventários e, como eles têm contribuído, de
modo geral, com as pesquisas cemiteriais. Por isso, o que se propõe é apresentar algumas ideias de
pesquisa a partir desses instrumentos, evideciando porque se deve ter um olhar mais acurado para a
polis dos mortos, uma vez que se entende também muito da polis dos vivos.
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Critérios do patrimônio material e imaterial no Brasil: o caso das Carrancas do São Francisco.
JULIANO PEREIRA VICENTE
Resumo: O presente trabalho busca fazer uma reflexão acerca dos critérios adotados para o registro
dos bens de natureza material e imaterial no Brasil, utilizando como fonte de pesquisa as Carrancas do
São Francisco, figuras de proa de feições zooantropomorfas que integravam as barcas do médio São
Francisco da segunda metade do século XIX até meados do século XX, expressão popular brasileira e
que não encontra registro em nenhum dos dois âmbitos. Serão utilizados como fonte para análise os
textos-base da Política do Patrimônio Cultural Material – PPCM/Iphan, instituída pela Portaria Nº 375,
de 19 de Setembro de 2018, bem como o do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial – PNPI/Iphan,
regulamentado pela Portaria Nº 200, de 18 de Maio de 2016. A discussão será feita de acordo com as
premissas contidas no manual do Inventario Nacional de Referências Culturais, publicado em 2000
pelo Iphan, bem como do texto da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial de
2003, da Unesco. A preocupação sobre a preservação dos bens culturais no Brasil possui uma história
oficial de mais de oitenta e cinco anos, partindo da proteção das belezas naturais e dos monumentos
de valor histórico ou artístico, defendidos na Constituição de 1934, passando pelo Decreto nº 3.551,
de 4 de agosto de 2000, que instituiu o registro de bens culturais de natureza imaterial como parte do
patrimônio brasileiro.
Resumo: Uma reflexão sobre presença da Arte Sacra na história do Brasil, a partir da representação
da Procissão do Fogaréu na Santa Casa de Misericórdia da Bahia. Uma investigação através do
painel de azulejos instalado na nave da Igreja da Misericórdia e das telas de José Joaquim da Rocha
expostas no museu de mesmo nome. Para tal pesquisa, além das imagens em expostas, utilizou-se
também os documentos originais de encomenda e despesas constantes no Centro de Memória Jorge
Calmon, valioso acervo documental da instituição. O eixo narrativo percorre a história da Santa Casa
de Misericórdia da Bahia desde a sua fundação, passa pela a construção do templo da Igreja e suas
variadas intervenções. Continua através dos esforços dos provedores em construir um legado artístico
e se estende até a aquisição e uso dos azulejos e das telas que remetem a Procissão do Fogaréu
procurando compreender em cada tempo, de que maneira estes processos se relacionavam com a
sociedade local.
Resumo: A moda enquanto fenômeno social pode ser identificada e pensada nas esferas política,
econômica e cultural em diversas sociedades no tempo e no espaço. Sua presença nestes ambientes e
suas interações com o devir coletivo permite inseri-la no patamar de fonte e objeto para o conhecimento
histórico. Mas para tornar este prestígio compreendido e útil em sua essência pela historiografia, faz-
se necessário a compreensão de algumas noções, tais como: produtos de moda, tendências de moda e
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seu sistema. Nesta perspectiva, temos como objetivo analisar este fenômeno social na esfera cultural,
a fim de identificar a complexa gama de elementos que compõe seu sistema para, então, compreender
o que a moda pode ensinar para o conhecimento histórico.
Resumo: As telenovelas brasileiras são grandes lançadoras de tendências de moda por produzirem
peças que geram uma identificação com o gosto e a identidade visual do telespectador. Apesar das
novelas de época não possuírem essa mesma dinâmica na cultura de consumo que as novelas mais
contemporâneas têm, os trajes históricos também costumam cair no gosto popular, sendo estes menos
pela questão da identificação e mais por remeter a um tempo histórico diferente do telespectador. De
acordo com Luciana Andrzejewski, esse movimento permite que o figurino rompa com a “mesmidade”
em que vivemos, criando uma memória afetiva com o público. No entanto, mesmo funcionando tal
qual um espelho dos modos de vida, da cultura e da estética de uma época, esses trajes não são
completamente verossímeis com a realidade. Segundo a figurinista Emilia Duncan, “a linguagem da
televisão pede coisas que não necessariamente são a realidade. A ficção vem sempre em primeiro
plano”. Por isso, é mais importante se comunicar com o telespectador do que representar fielmente
a indumentária presente nas fontes históricas. Sem a atualização e a glamourização estabelecida
pelos figurinistas, as roupas não teriam tanta liberdade artística para compor a caracterização das
personagens. Nesse sentido, o traje de época se refere à realidade, mas não é completamente
verossímil a esta. Ele possui efeitos estéticos que ao se sobrepor ao dado histórico, acaba emergindo
um imaginário no telespectador capaz de se relacionar com a realidade histórica apresentada, e ainda
sim permanecer com os seus traços de ficcionalidade. Ao apresentar tais representações do passado
dentro do jogo da ficção, as novelas acabam contribuindo para a produção de uma memória histórica
fantasiosa. Afim de convencer o telespectador que determinada ficção televisionada é real, o/a
figurinista desempenha um grande papel na produção dos trajes, realizando uma pesquisa histórica
de modas e modismos que vão estar de acordo com as intenções artísticas e a narrativa proposta
pelo/a diretor(a). Como muitas vezes não é possível desenvolver as peças de todo o elenco de maneira
completamente diferenciada, é comum que os figurinistas recorram ao acervo de sua instituição para
o reaproveitamento trajes antigos. A partir desta ressignificação de roupas que outrora já foram
decodificadas durante o seu processo de reprodução do passado, podemos dizer que essas peças
possuem uma historicidade que não se refere ao fazer histórico mas à sua produção artística. Assim,
muitas vezes os figurinistas acabam rompendo com a historicidade do material têxtil e de parte da
memória histórica da peça em prol da produção artística. A partir desta nova produção, a peça está
pronta para vestir um outro corpo e recontar outra história.
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internacional realizada em solo brasileiro. O objetivo é analisar a participação de Ilhéus e o lugar
que coube ao cinema baiano e, especialmente, ilheense nessa exposição. A cidade de Ilhéus teve
participação no evento, se destacando na propaganda encomendada pelo Governo do Estado, que
exibia filmagens da capital e de algumas cidades do interior. A empresa contratada para realizar as
filmagens, Nelima Film, tinha João Galdêncio de Lima como um dos sócios, o qual era casado com uma
ilheense e residia na cidade. Justifica-se a importância dessa pesquisa ao fato de estarmos às vésperas
da comemoração do Bicentenário da Independência, bem como para perceber a contribuição de
Ilhéus na construção da história dessas comemorações e da história do cinema baiano. O referencial
teórico desta proposta utiliza autores tais como Eduardo Morettin, que traz uma visão do lugar que
cabia ao cinema nacional na grande exposição; Cínthia da Silva Cunha, que faz uma crítica à pouca
importância dada à participação da Bahia (na exposição) para consolidação da independência; e ainda
fontes históricas como jornais de Ilhéus e revistas da década referente ao centenário que retratam a
participação da cidade neste evento.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo traçar a produção intelectual sobre televisão em
cadernos culturais da grande imprensa e imprensa alternativa do eixo SP-RJ, durante a ditadura civil-
militar. O objeto de estudos consiste na formação de um crítica televisiva, presente nesses cadernos
culturais como colunas de televisão. Não há dúvidas quanto ao impacto que a televisão como meio
de comunicação de massa, na segunda metade do século XX, produziu para que diversas produções
literárias, filosóficas, sociológicas, dentre outras, situassem o tema como central para debate. No Brasil,
a TV tornou-se, para muitos dessas produções, sinônimo de desenvolvimento da industrialização no
Brasil, o que contribuem para os estudos sobre o processo de urbanização e intensa industrialização
na região sudeste do país, relacionando capitalismo e integração nacional, como é o caso da Rede
Globo. Durante o regime, a modernização da televisão torna-se parte do projeto de desenvolvimento
da comunicação de massas por meio da “modernização conservadora” (PATTO, 2014), conceito
que exprime as contradições entre os investimentos, sobretudo, em capital privado nas redes de
comunicação e a defesa da moral e dos bons costumes representada na censura. Com o crescimento
dos circuitos de comunicação e o aumento do acesso à tv por políticas de facilidade de crédito, é possível
perceber o aumento dos espaços nos cadernos culturais de colunas sobre televisão, sobretudo, como
crítica ao objeto e escrita sobre possibilidades de futuro para a TV. As fontes utilizadas são Caderno
B (Jornal do Brasil), Segundo Caderno (Tribuna da Imprensa), Cartazes da Cidade (Diário Carioca),
Revista da Televisão, o semanário Brasil Urgente, o alternativo Movimento, Revista UH (Última Hora) e
o Suplemento Literário (Estado de S. Paulo).
GRUPO DE TEATRO CECÉU: Do Parque Histórico Castro Alves as ruas da cidade de Cabaceiras do
Paraguaçu-BA (1996-2007)
RODRIGO DA SILVA LUCENA
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sua trajetória; impactando de forma direta ou indireta na vida dos moradores e recebendo público de
diversas localidades. O objetivo é descrever a origem e o funcionamento do Grupo de Teatro Cecéu
fundado em 1996 no Parque Histórico Castro Alves e que estará em atividade até 2007. Buscando
compreender a importância do grupo na formação de vários adolescentes e jovens moradores da
cidade. A metodologia utilizada foi a História Oral. O grupo atuou de forma ativa em espaços públicos
no qual terão uma importância significativa em algumas datas comemorativas e festivas da cidade de
Cabaceiras do Paraguaçu. Atraindo de forma significativa os moradores para assistir apresentações
teatrais no espaço do parque fortalecendo assim a interação e a relação da cidade com o grupo de
teatro Cecéu e o Parque Histórico Castro Alves.
Resumo: O estudo analisa possíveis interseções entre os conceitos e os procedimentos da história oral
e os expedientes teatrais, sobretudo na “tecitura” da escrita da literatura dramática e na encenação de
obras cênicas criadas a partir de memórias, depoimentos, narrativas de vida, relatos e testemunhos orais.
Que se abram as cortinas, o espetáculo não deve parar! O teatro de Antonio Mario dos Santos
como resistência durante o Regime Militar em Alagoinhas - BA (1964-1985)
BRUNA MEYER PEREIRA (FAPESB)
Resumo: O presente trabalho se debruça sobre as contribuições de Antonio Mario dos Santos (1922
- 2002) para a resistência artística e intelectual de Alagoinhas durante o Regime Militar (1964 – 1985).
Como primeiro ator/diretor formado pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na
cidade, a trajetória do sujeito se desdobra por todo um cenário cultural que se fortaleceu ao longo do
período de repressão contra o teatro e demais expressões artísticas. Antonio Mario dos Santos nasceu
a 8 de maio de 1922, em Salvador. Por volta de 1960, mudou-se para Alagoinhas e montou o grupo de
teatro Dias Gomes, formado por estudantes e trabalhadores de diversos ramos. Foi poeta, professor
de escolas da rede pública e privada, além de participar ativamente do movimento cultural que se
desenvolveu em Alagoinhas ao longo das décadas de 1970 e 1980. Interessado pela história local, passou
pelos domínios historiográficos ao escrever uma espécie de monografia onde criou representações
da cidade sobre suas instâncias políticas, educacionais e culturais, em 1985. Alagoinhas exerceu um
importante papel diante da formação histórica da militância de esquerda na Bahia. No estado, a cidade
foi pioneira em sediar o Partido Comunista do Brasil, sendo um alagoinhense o secretário nacional do
partido, Antonio Maciel Bonfim. No âmbito do teatro, essa militância se expressou, igualmente, de
forma tática. Não à toa este se intensificou em Alagoinhas, à medida que o regime militar recrudesceu,
principalmente na fase pós - AI-5. Nesse período, Alagoinhas sediou o único centro de repressão
clandestino na Bahia. A “Fazendinha”, assim chamada por ser localizada no meio de um matagal na
BR, consistia num galpão aberto onde os militantes do PCBR eram levados de diversas localidades -
principalmente de Salvador - para serem torturados por meio da “Operação Radar”, trazida à Bahia
em 1975. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, um dos principais torturadores da Operação
Bandeirantes em São Paulo, era o seu comandante. Mesmo diante da censura e das dificuldades
de fazer teatro numa cidade do interior da Bahia, o professor aproveitava as brechas do sistema,
de forma tática, para manter os projetos junto com o seu grupo. Foram tais táticas que permitiram
aos jovens alagoinhenses o acesso democrático à arte-educação, possibilitando o despertar para a
conscientização política em tempos de repressão.
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SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Nas confluências da história da saúde e escravidão é possível acessar cenários ainda
turvos do cotidiano das populações escravizadas, isto ocorre pela percepção de novas fontes como
movimentos de hospitais e documentos de corpo de delito, ou pela observação a acervos já visitados
pela historiografia como inventários post mort com novas perspectivas. Partindo do princípio que a
experiência de adoecimento na população serviu gera subsídios para compreendermos os meandros
das sociedades escravagistas, este artigo busca iluminar os padrões de doenças apresentados entre
cativos nas províncias da Bahia e Sergipe, relacionando estes dados as condições de trabalhadores
escravizados destes sujeitos.
Resumo: O artigo busca analisar as diferentes perspectivas a respeito das práticas e terapêuticas de cura
das doenças na Cidade da Bahia durante o século XVIII, identificando também os agentes responsáveis
pelo diagnóstico e tratamento das enfermidades. Assim, dentro dessa narrativa, encontraremos
alguns personagens que exerceram funções importantes para a construção da história da saúde e
das doenças juntamente com suas práticas de cura, desse modo, curandeiros, cirurgiões, boticários
e padres da Companhia de Jesus tornaram-se os responsáveis pela junção entre o que se entende
por medicina legal – acadêmica – e a medicina ilegal – aquela praticada a partir dos conhecimentos
da natureza e de benzeduras – causando, o que o historiador Timothy Walker classificou como uma
combinação entre o sagrado e o profano. Sendo assim, para compreender os métodos utilizados por
esses sujeitos, focarei meu interesse na análise de dois manuais cirúrgicos do período em questão, o
Erário Mineral de autoria do cirurgião Luís Gomes Ferreira (1735), e a Relação Cirúrgica e Médica do
também cirurgião João Cardoso de Miranda (1745), fazendo uso de uma análise comparativa entre
as práticas e receitas para o preparo de medicamentos ou dietas apresentadas por esses práticos de
cura.
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Planeja-se analisar as qualificações baseadas nas teorias eugênicas para o corpo negro feminino, como
a exemplo de “ama muito sadia” ou “que seja sadia” assim como, o exame do papel da ama-de-leite
e as ocupações espaciais visando discutir sua condição no pós-abolição diante da base científica e
apoio popular que a categoriza de forma inferior, seja em alcance por meio de anúncios redigidos nas
tipografias, em documentação da Faculdade de Medicina da Bahia ou Institutos Históricos. Em segunda
perspectiva, examina os constrangimentos legais e jurídicos reguladores da atividade que compuseram
as memórias, trajetórias e as lutas por direitos e cidadania. A partir do objeto e inquietação propostos,
o intuito da pesquisa vincula-se na reflexão da hierarquia da mulher negra, enquanto categoria de
raça e gênero, e para além, a concepção de seu corpo enquanto objeto, de modo que, a investigação
resultante possa vir a somar em novos suportes de análise criteriosa à trajetória feminina. Dessa forma,
pretende-se traçar o perfil de sociabilidade da ama-de-leite articulado as estruturas e demarcadores
sociais, particularmente, os de raça e gênero.
Resumo: O presente trabalho pretende tecer algumas considerações sobre a morte de crianças
abandonadas na roda dos expostos da Santa Casa de Salvador nas primeiras décadas do século XX, a
partir das novas percepções sobre a morte surgidas na virada do século, sobretudo, com a inserção do
saber médico higienista no cuidado à infância. O período aqui analisado vai de 1936 a 1940, quando
ocorreu uma mudança significativa na forma de acolhimento do Asilo, a extinção da secular roda
dos expostos. O Asilo de Nossa Senhora da Misericórdia, popularmente conhecido como Asilo dos
Expostos, instituição pertencente à Santa Casa de Misericórdia da Bahia foi, durante muito tempo, o
principal responsável pelo acolhimento e criação de menores abandonados. Desde o período colonial,
mais precisamente em 1726, quando a Roda dos Expostos foi instalada, esta era a única forma de
acesso à Instituição, e assim permaneceu por mais de dois séculos. Os índices de óbitos de crianças
expostas sempre foram bastante alarmantes, havendo oscilações em determinados intervalos e
atingindo números recordes nos períodos de crise, sobretudo, em tempos de epidemias. Ao longo
dos séculos, as atitudes tomadas pelos médicos, mesa diretora, irmãs de caridade e demais membros
da Irmandade responsáveis pelo cuidado com os expostos diante do elevado número de mortes
foram bastante distintas. Desde as designações das moléstias, seus agentes causadores, bem como
os possíveis tratamentos, que variavam de acordo com o período e crença dos envolvidos. Em 1934, a
Santa Casa aprovou a instalação de um “escritório aberto” ou “escritório de admissão”, que, de acordo
com o regulamento, deveria funcionar em conjunto com a Roda. As mudanças na forma de acolhimento
aliadas às transformações no olhar médico em relação ao trato com as crianças foram substanciais
para a diminuição da mortalidade no Asilo. Nesse sentido, o meu intuito é perceber de que forma os
novos ideais de higiene e cuidados com a infância influenciaram, não somente no número de óbitos
precoces, mas também na mentalidade da população baiana sobre a mortalidade infantil.
Resumo: O trabalho pretende analisar a trajetórias de vida das Parteiras em Itaberaba, visibilizando
seus saberes, formas de sociabilidades e sua ação dentro da comunidade que está inserida. Pretende
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ainda registrar a atuação destas mulheres como figuras fundamentais na hora do parto, especialmente
no que diz respeito a rede de sociabilidade que as mesmas construíram. Para desenvolver este artigo,
utilizei como metodologia a história oral, através do uso de entrevistas, trazendo depoimentos das
parteiras pesquisadas, buscando responder os questionamentos, bem como analisando os vários
papéis que as mesmas desempenham em suas comunidades. Falar dessa temática é relevante para
o meio acadêmico e social, pois é preciso relatar a importância social dessas mulheres, pois as suas
trajetórias e memórias têm uma dimensão histórica relevante que não pode ser esquecida.
Resumo: O uso medicinal de águas termo mineral já é conhecido desde a antiguidade. Na Região
Nordeste da então Província da Bahia, no século XIX, as nascentes conhecidas por Mãe d’Agua do
Sipó, situadas no arraial homônimo e localizadas na margem direita do Rio Itapicuru, território da Villa
de Soure, despertaram a atenção do Governo da Província e de terapeutas com formação acadêmica.
À época, as populações ribeirinhas já faziam uso terapêutico desses recursos naturais, que afloravam
em diversas fontes. Em razão dos fatos citados, estudou-se o uso da balneoterapia ou termalismo
em uma vila do interior da Província da Bahia, foram analisados os conceitos e fundamentos teóricos
que norteavam a prática médica no período, assim como o envolvimento do Governo da Província da
Bahia nas ações de proteção social à população. Na realização do estudo, além de revisão bibliográfica
e pesquisa de campo, foram necessárias pesquisas documentais em fontes primárias, a exemplo dos
relatórios dos Presidentes da Província da Bahia, teses doutorais da Faculdade de Medicina da Bahia
e relatos de casos de pacientes atendidos pelo Dr. Ignácio Moreira do Passo. Ao final, conclui-se que
a Villa de Soure foi o berço do termalismo na Bahia oitocentistas. Além disto, com base nos princípios
científicos vigentes à época, marcados pelo final da transição da Teoria Humoral em direção à Teoria
Anatomoclínica, Dr. Ignácio Moreira do Passo, formado pela Faculdade da Bahia, no ano de 1840, na
condição de funcionário do Governo da Província da Bahia, deixou um significativo legado sobre a
assistência e a prática médica, ao longo do período que exerceu a medicina em uma vila do interior da
Bahia oitocentista.
62
contém informações sobre as ações que envolviam professores e alunos da FAMEB no cuidado a
pacientes nas Enfermarias oftalmológicas, tanto masculina quanto feminina. Assim como, utilizaremos
exemplares da Gazeta Médica que discutem a Reforma do Ensino Médico, no Brasil e sobretudo na
Bahia; os Decretos e Leis que possibilitaram a Reforma e a Memória Médica da FAMEB escrita por
Gonçalo Muniz. Assim como iremos utilizar exemplares da Gazeta Médica que discutem a Reforma
do Ensino Médico, no Brasil e sobretudo na Bahia, os Decretos e Leis que possibilitaram a Reforma e
o Memorial Histórico da FAMEB escrito por Gonçalo Muniz e também matérias de Jornais da época
como Bahia Tradicional e Moderna, Correio do Povo: Órgão Independente, Noticioso e Informativo,
Gazeta de Notícias.
Resumo: Nessa apresentação pretende-se analisar o padrão arquetípico das histórias de peste, a partir
das pandemias de COVID-19 e da pandemia de gripe espanhola (1918-1919). Estudos historiográficos
sobre pandemias passadas revelam certa similitude na forma pela qual os fatos se desenrolaram sob o
impacto de uma epidemia/pandemia. Chales Rosenberg criou modelo um interpretativo para explicar
as epidemias baseado em padrões repetitivos, historicamente vivenciados. Objetiva-se discutir esse
modelo, destacando os pontos em que as pandemias de gripe espanhola e COVID-19 se aproximam
ou se distanciam.
Resumo: O presente trabalho busca evidenciar a chegada da epidemia de cólera asiático na segunda
metade do século XIX e os impactos causados pela mesma, quer seja na economia, na política e na
ciência médica do período. A província da Bahia tomou diversas medidas sanitárias, com o objetivo
de conter a pandemia e, ao mesmo tempo, preservar o comércio internacional. O porto de Salvador
era um dos mais importantes do Império brasileiro e recebia mercadorias e embarcações do mundo
inteiro. Do ponto de vista da política, acordos sanitários começavam a ser discutidos entre o Império
e as Repúblicas da Argentina e do Uruguai, para buscar diminuir os prejuízos econômicos e, ao mesmo
tempo, uniformizar medidas profiláticas defendidas pelos médicos dos três países e a Bahia integrou-
se a essas discussões, especialmente através do periódico médico “Gazeta Médica da Bahia”, que
atualizava os esculápios baianos do que estava acontecendo no Brasil e em outros países. Consideramos
que a epidemia de cólera contribuiu para que a ciência médica conseguisse se impor cada vez mais no
Brasil e em outros países da América, bem como impactou nas relações políticas econômicas e políticas
internacionais, que obrigou esses países a estabelecerem acordos sanitários nem sempre vantajosos
aos interesses econômicos do período.
63
SESSÃO 02: 22/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
A loucura aqui é diferente da loucura de lá: análise comparativa das instituições e políticas
públicas nos estados de Sergipe e Rio de Janeiro, 1889 a 1930.
RENATA MASCARENHAS FREITAS DE ARAGÃO (TJSE)
“A máscara da ferocidade”: Interpretações médicas sobre doentes leprosos nas primeiras décadas
do século XX.
MULLER SAMPAIO DOS SANTOS SILVA (UNEB)
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Um Laboratório da Fundação Rockefeller: interação médica, pesquisa e combate à Febre Amarela
na Bahia (1928-1934)
RICARDO DOS SANTOS BATISTA (USP)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo discutir a presença do Laboratório da Fundação Rockefeller
na Bahia, que funcionou entre 1928 e 1934. A implantação desse aparato tecnológico de saúde se
deu no contexto de aprofundamento do conhecimento científico sobre o agente patológico, das
possibilidades de transmissão e da descoberta de uma vacina para a amarílica. O trânsito de agentes
da Fundação Rockefeller no Nordeste, em especial na Bahia, contribuiu para a interação médica nas
atividades de pesquisa, visitas de campo, muitas vezes com o envio de materiais orgânicos para análise
no laboratório, na Capital, e com a publicação de artigos sobre as experiências de campo. Ao mesmo
tempo, se aprofundava o conhecimento sobre a realidade sanitária dos sertões baianos.
Saber médico e o saneamento do recôncavo: análise da atuação dos postos de profilaxia rural de
São Félix e Santo Amaro, Bahia (1922-1930)
JOSIEL MENEZES DA SILVA (UNEB)
Resumo: Os serviços de profilaxia rural foram iniciados na região do recôncavo da Bahia a partir de
1922 através da instalação de um posto nas cidades de Santo Amaro, de São Félix e de Nazaré. Esses
postos surgiram, principalmente, para amenizar as condições sanitárias que os municípios baianos
enfrentavam com a prevalência das “doenças dos sertões” cuja orientação técnica-sanitária ficava a
cargo do Governo Federal (União) com a finalidade de sanear os sertões. A Bahia foi um dos estados que
aderiu rapidamente ao serviço em questão (acordo realizado com a União a partir de 1921), tendo em
vista o quadro de constantes epidemias e entraves econômicos que não permitiam o investimento de
ações no interior do estado, embora, em certa medida, se entendesse a necessidade de fazê-lo. Deste
modo, em muitos locais, este foi o primeiro contato da população com médicos e espaços destinados
ao tratamento de doenças Este estudo tem o objetivo analisar a atuação dos Postos de Profilaxia Rural
no recôncavo da Bahia. O recorte temporal desse estudo vai de 1920 a 1930. A escolha desse recorte
se deu, porque em 1920 foi o ano da implantação do DNSP e em 1930, aconteceu à revolução. Assim,
com as modificações na estrutura politica brasileira implementadas por Getúlio Vargas, ocorreram
modificações na assistência a saúde pública. Essa pesquisa foi importante para entender a dinâmica de
implantação e execução das ações e serviços de saneamento, higiene e profilaxia no interior da Bahia.
Educar para Curar: O Projeto de Educação Sanitária nos Sertões da Bahia (1922-1930)
ANA CLARA FARIAS BRITO (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PERNAMBUCO)
Resumo: A educação sanitária foi defendida em 1910 como um dos pilares para a integração nacional
e erradicação de doenças. As ideias sobre o assunto, colocadas naquele período, ganham projeção
nacional e se revertem em uma linha de ação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP)
que nos anos de 1920 cria um setor específico para o assunto. De uma maneira geral o Serviço de
Propaganda e Educação Sanitária, criado em 1923, tinha como objetivo controlar problemas sanitários
de forma preventiva através de cuidados com o corpo e a saúde, assim, buscava articular diagnóstico
precoce e prevenção por meio da divulgação das características da enfermidade e informações sobre
sua profilaxia. Estes instrumentos de comunicação foram fundamentais para o convencimento da
população sobre os conceitos higiênicos e a prevenção de doença. O projeto idealizado pela União,
65
foi ganhando forma nos estados. Na Bahia as ações direcionadas para a educação e propaganda
sanitária foram, progressivamente, ampliadas entre 1923 até 1930. No interior do Estado, era de
responsabilidade dos Postos de Profilaxia Rural, atuar como um centro de estímulo a novos hábitos
sanitários e difusor dos novos conceitos de higiene que tinham como base os cuidados com o corpo
e a saúde, com o objetivo de atuar na prevenção de doenças. O presente trabalho tem como objetivo
abordar as particularidades na execução do projeto educativo desenvolvido pelos Postos Rurais de
Juazeiro e Senhor do Bonfim, no Norte da Bahia, entre 1922-1930. Destaca-se as particularidades de
cada cidade no desenvolvimento deste objetivo, dando ênfase a interlocução entre os médicos, os
poderes locais e os diretores dos postos rurais. Em Juazeiro as propostas elaboradas pelos médicos
higienistas abordavam, sobretudo, a necessidade de um uso adequado das águas Rio São Francisco,
contudo, as medidas propostas, foram ignoradas pelos poderes locais o que prejudicou o andamento
dos trabalhos nesta região. Em contrapartida, na cidade de Senhor do Bonfim, o discurso afinado entre
médicos e líderes locais resultou num bom aproveitamento das orientações feitas com o objetivo de
educar a população daquela região. Portanto, é objetivo deste trabalho problematizar os projetos
destinados a assistência a saúde no interior da Bahia, trazendo para discussão, a educação sanitária
realizada nos Postos de Profilaxia Rural de Juazeiro e Senhor do Bonfim.
Resumo: No início do século XX, a maternidade e a infância, tornavam-se pedra angular da nacionalidade.
A criança passa a ter valor não só para a família, mas para a nação, sendo de responsabilidade da mãe a
formação física, moral e intelectual das crianças (FREIRE, 2006). Este discurso mostrava-se sintonizado
com as propostas de educação higiênica, como solução para o problema do país. A Reforma Federal
da Saúde Pública colocou a higiene infantil na agenda nacional sendo de sua responsabilidade a
orientação técnica das ações sanitárias implantadas nos estados e conduzidas pelas inspetorias que
cuidavam da lepra, sífilis e doenças venéreas, tuberculose e higiene infantil. Pretende-se nesse estudo,
entender a sistematização do discurso médico-higienista no sertão de Pernambuco, tendo como
fonte principal as propagandas que tinham como público alvo as mães e crianças da região veiculadas
no jornal o Pharol. Analisamos o material entre os anos de 1920 a 1940, uma vez que esse recorte
temporal nos permite compreender a inserção dos profissionais da saúde nessa região, bem como,
entender a consolidação e as mudanças que foram feitas no âmbito da saúde durante o governo de
Getúlio Vargas, em 1930. Nesse novo modelo de sociedade que estava emergindo, a prática jornalística
auxiliava o corpo científico, principalmente os médicos, com as informações e propagações de ideias
de higiene, sobre os males das doenças, as formas de prevenções, medicamentos e onde se consultar.
Nessas propagadas e nos discursos médicos se percebia que a mulher não era só aquela que cuidava
do lar e do seu marido, mas cuidava também do seu filho com afinco, pois isso significava além de
tudo amor à pátria. Devido à necessidade de manter essa criança saudável, os médicos alimentavam
esse discurso sob uma ótica de “maternidade científica”. Em Petrolina o índice de mortes na infância
era significativo nas primeiras décadas do século XX. Durante o período, atribuiu-se esse resultado
a alimentação incorreta das crianças nos seus primeiros meses de vida. Segundo as observações do
chefe do posto de profilaxia rural, em 1923, na região era comum a oferta de papas, feitas de farinha,
às crianças muito pequenas, para fortalecer o seu organismo (SERAFIM JR, 1923). Desta forma, o
trabalho aqui apresentado, busca identificar no jornal O Pharol, anúncios destinados às mães, que
tinham o objetivo de propagar métodos aceitos pela ciência médica, quanto à forma de cuidar e nutrir.
66
Através deste material, compreende-se o discurso médico-higienista veiculado na região e a forma de
recepção de novos hábitos de cuidado infantil por parte da população do Vale do São Francisco.
Resumo: O trabalho aqui apresentado propõe-se a enfatizar a atuação do Hospital Adelaido Ribeiro
do atual município de Riachão do Jacuípe, cidade localizada na bacia do Jacuípe do interior baiano, que
fica a 197 km da Capital, mais precisamente no que tange às pessoas que compunham a Liga Jacuipense
de Proteção à Maternidade e à Infância (LJPMI), que era referência filantrópica que prestava serviços
assistenciais à saúde, em tese, com o intuito de envolver a população de um modo abrangente, e aos
atendimentos realizados pela mesma instituição, tecendo uma análise do perfil das pessoas que se
beneficiaram no processo aqui referido. Objetiva-se então problematizar a ausência das mulheres
negras nos espaços de destaque, sendo assim, de poder, e mais precisamente analisar o lugar social
que as mesmas ocupavam haja vista questões sociopolíticas que possivelmente clivavam essas
personalidades sociais neste contexto micro que se relacionavam com questões macro nacionais. Porém
é válido ressaltar e verificar a diferenciação de locais de privilégios e atuação das figuras envolvidas
descriminadas entre gênero, raça e classe. Para tal, é estabelecido um diálogo com pesquisadores da
área da assistência a saúde, filantropia e políticas sanitárias, assim como, neste trabalho em questão,
com pesquisadoras feministas negras que possibilitaram um olhar de explanação em linhas gerais, a
partir das fontes primárias e secundárias que são utilizadas nesta produção. Em suma, explana-se em
linhas gerais o silenciamento das questões que tangem aos aspectos das mulheres negras em esferas
políticas, econômicas e sociais, trazendo a discussão para um campo micro, de exclusão de mulheres
no hospital em questão.
Saúde e assistência nos Sertões da Bahia: infância e trabalho no Orfanato Santa Catarina de Sena
em Vitória da Conquista (1959-1981)
NAILA ARAÚJO MAGALHÃES (UESB)
Resumo: O presente trabalho visa debater a constituição do Lar Santa Catarina de Sena enquanto
uma instituição de assistência à infância órfã e necessitada em Vitória da Conquista durante o século
XX. A história do orfanato se inicia com a chegada das Irmãs dos Pobres Santa Catarina de Sena na
cidade na década de 1940, com o intuito de auxiliar o trabalho caritativo na Santa Casa de Misericórdia
conquistense. Com a inauguração da Maternidade Régis Pacheco em 1952, as Irmãs começam a cuidar
das crianças órfãs ou abandonadas pelas mães na maternidade, muitas vezes única alternativa de
sobrevivência dessas crianças diante a situação pauperizada que se encontrava a maioria da população
conquistense naquele período. Iniciado na antiga capela da Santa Casa como uma escola de educação
complementar e ensino religioso, o Lar construiu sua sede em um terreno doado pela elite local e foi
inaugurado em 1962. A importância do Lar pode ser percebida nos relatórios anuais da Instituição,
segundo essa fonte, no primeiro ano funcionando em sede própria o orfanato cuidou de 405 meninas,
entre os regimes de internato, semi-internato e externato. Contudo, esse número decai nos anos
seguintes devido à falta de verbas, chegando a extinguir o sistema de semi-internato em decorrência
disso, deixando claro o descaso governamental com a casa de amparo às meninas pobres. Dos anos de
1959 a 1981, espaço temporal dessa pesquisa, o Orfanato Santa Catarina de Sena funcionou como casa
e escola para muitas meninas órfãs ou que, mesmo tendo os pais vivos, se encontravam em situação
67
de extrema pobreza. No Lar, obtinham abrigo, educação primária, ensino religioso, bem como cursos
de “artes femininas”, como bordado, artes culinárias, corte e costura e etc. Essa grade curricular, bem
como a rotina das crianças internas, que participavam dos eventos religiosos promovidos na cidade
pela Igreja Católica, como também a distribuição das tarefas domésticas entre as residentes do lar,
tinha como intuito articular o ensinamento da boa moral cristã, a importância da caridade, com o papel
que era relegado às mulheres na sociedade brasileira capitalista do século XX; demonstrando assim o
viés ideológico da educação doméstica para a conformação social dessas mulheres na divisão sexual
do trabalho na ordem do Capital. O papel das fontes documentais do Orfanato se faz de extrema
importância porque nelas é possível identificar esses aspectos, bem como notar a relação do Estado
com a Instituição, demostrando que, apesar do vínculo do Lar com o MESP a partir do governo
Varguista em 1930, o Orfanato sobreviveu a duras penas graças a caridade da elite local, que direta
ou indiretamente – através dos clubes – contribuiu para o estabelecimento e funcionamento do Lar
durante toda a segunda metade do século XX.
68
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: O artigo visa abordar, a partir de uma análise historiográfica, a trajetória das políticas
patrimoniais na Bahia, desde a criação da Inspetoria Estadual de Monumentos Nacionais do Estado
da Bahia em 1927 até os dias atuais, apontando os agentes precursores, as características e as razões
para o alargamento da noção de patrimônio, que influenciou e também foi influenciada pelo contexto
nacional de preservação de bens culturais. O marco balizador da análise situa-se na criação da Inspetoria
Baiana, por intelectuais baianos vinculados ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), como
também a elite conservadora do estado, com destaque para Wanderlei de Araújo Pinho, detentor
de uma noção de patrimônio relacionada à defesa da herança colonial portuguesa representada
pelas edificações do Centro Histórico de Salvador e do Recôncavo. Mudanças políticas, econômicas e
sociais estão relacionadas a ampliação da noção de patrimônio no mundo e no Brasil, sendo a Bahia
caracterizada, sobretudo, a partir da década de 1960, pela valorização da herança africana, em diversas
expressões culturais, concomitantemente com a herança portuguesa, em uma relação estreita entre
patrimônio, representação, turismo e entretenimento. O tombamento de terreiros, a partir dos anos
1980, e o registro de bens imateriais de herança africana, a partir dos anos 2000, no âmbito federal e
estadual, inauguram um novo olhar e uma busca por equilíbrio nas ações patrimoniais.
Resumo: A presente pesquisa pretende estudar como a imprensa soteropolitana ajudou a construir
uma memória do candomblé como expressão religiosa indissociável da Bahia, especialmente da Cidade
do Salvador, conhecida no período de estudo como a “Roma Negra”. Perceber as festas realizadas
nos largos e nos terreiros, territórios negros, como vinculadas a uma possível identidade afro-baiana,
também ligada ao surgimento do turismo como atividade econômica. As principais fontes são artigos
da imprensa soteropolitana (Jornais: A Tarde, Estado da Bahia, Diário de Notícias e O Imparcial)
pertencentes ao acervo hemerográfico da Biblioteca Pública do Estado da Bahia. O recorte temporal
inicial situa-se na década de 1930, período de ruptura do olhar da imprensa baiana sobre o candomblé
baiano em diálogo com busca de uma nova identidade brasileira característica do nacionalismo
varguista e encerra-se na década de 1950, quando se consolida a imagem do candomblé como símbolo
identitário baiano. As fontes hemerográficas, pertencentes ao acervo da Biblioteca Pública do Estado
da Bahia - Seção Raros, são percebidas enquanto produtoras de discursos construtores de memória
sobre a religiosidade de matriz africana na Bahia, mais especificamente em Salvador. Busca-se,,
portanto, a observação das permanências e das rupturas conceituais sobre a população de uma das
maiores comunidades negras das Américas e das suas manifestações culturais.
Resumo: A chegada da família real no ano de 1808 provocou enormes transformações no cotidiano da
70
colônia portuguesa da América. Em Salvador, comumente chamada de cidade da Baía, não foi diferente.
Segunda praça comercial mais importante do Brasil à época, a cidade vivenciou inúmeras intervenções
físicas – aterros, calçamentos, alargamento de vias –, em sua maioria destinadas a proporcionar
melhor funcionamento das atividades comerciais. Grande parte das modificações ocorreram durante
o governo do Conde dos Arcos, entre 1810 e 1818. Data desse período um significativo aumento nos
investimentos em obras e reformas públicas, sobretudo no entorno da região portuária. Em conjunto,
tais mudanças no plano urbanístico acabaram remodelando a feição de duas das mais importantes
áreas comerciais da cidade, as freguesias de Conceição e Pilar. Ao interferir na dimensão e disposição
do espaço socialmente construído, alterando o traçado urbano, as reformas modificaram a vida dos
sujeitos que viviam, trabalhavam e negociavam naquelas localidades. Esta pesquisa, ainda em fase
inicial, visa compreender os impactos e tensões sociais provocados pelas transformações urbanas
ocorridas em Salvador durante o período de permanência da corte portuguesa no Brasil.
Resumo: A pesquisa histórica tem conseguido responder a inúmeras questões acerca do sistema
escravista, desde a circulação dos sujeitos, até mesmo à sua demografia. Longe de esgotar o tema,
estudos apontam para a necessidade de investigações mais aprofundadas sobre a chegada de ideais
antiescravistas ao Brasil e seus desdobramentos nos primeiros anos do oitocentos. Entre outros
aspectos, considero fundamental compreender os meios utilizados para a divulgação do antiescravismo
nos mais importantes núcleos econômicos do país, a exemplo das praças comerciais da Bahia e do Rio
de Janeiro. Inicialmente essa pesquisa utiliza como fonte as memórias da escravidão que circularam
entre o fim do século XVIII e a primeira metade do seguinte, embates e discursos políticos feitos no
contexto das câmaras e por figuras públicas, e a chegada da imprensa na capital em 1809, depois
espalhando-se por outras províncias. Esta apresentação visa expor as primeiras impressões de uma
pesquisa que analisa o desembarque, a recepção e os desdobramentos do antiescravismo nessas
importantes praças comerciais na primeira metade do século XIX.
Resumo: O conteúdo que se pretende apresentar é o resultado de um estudo sobre a produção cultural
de Canavieiras entre os séculos XIX e XX. A investigação foi baseada na leitura de fontes como relatos
de viajantes europeus no fim do século XIX. Essas informações foram cruzadas com fragmentos de
textos sobre a história local, e com a obra literária Fruta do Mato (1920), de Afrânio Peixoto, que tem
como cenário a cidade de Canavieiras. Analisamos ainda fotografias da cidade e de sua população para
desenvolver a análise que ora se apresenta. Realizou-se um retorno ao período em que Canavieiras era
apenas um vilarejo. Analisou-se A cidade, sua população e o processo de mudança que ocorreu através
do tempo de forma contextualizada com acontecimentos nos âmbitos regionais e globais.
O estudo parte das considerações da História vista de baixo para pensar nas diversas formas de
resistência dos grupos que foram excluídos da história local, questionamos como estes lidavam com a
classe hegemônica local e quais conflitos poderiam ser verificados no passado de Canavieiras.
Dessa forma, demonstramos a intenção de romper teoricamente com a perspectiva da História
tradicional, narrativa, cronológica, pois compreendemos que as classes sociais conviviam e convivem
de maneira intensamente dinâmica, negociando a todo tempo, visando melhores condições de vida
71
para os seus. Buscamos compreender com esse trabalho os resultados devastadores da dinâmica
escravidão, bem como as formas como a cultura negra resistiu e foi sendo incorporada a outras culturas
na cidade investigada. Sabendo, no entanto, que em toda a América, as comunidades de descendentes
de africanos foram amplamente destituídas de direitos, em um período de longa duração, discutimos
criticamente esse problema e verificamos se aos descentes de africanos em Canavieiras também foi
negado o direito de serem considerados parte integrante da produção da História da cidade e de toda
uma região, a saber, o litoral sul baiano.
Resumo: Este estudo está sendo desenvolvido a nível de mestrado, com o intuito de pesquisar a
construção de narrativas sobre o universo das heranças africanas na contemporaneidade, entre
as últimas décadas do século XX, início do processo de reconhecimento oficial das comunidades
quilombolas na Bahia, e a primeira do século XXI, quando das certificações emitidas pelo governo federal
através da Fundação Cultural Palmares. O trabalho tem como objetivo discutir sobre a construção de
memória afro-brasileira presente nas narrativas de membros das comunidades quilombolas da Lagoa
Santa e Laranjeira, mediante a análise das narrativas presentes nos documentários - Lagoa Santa: Nós e
Eles, criado em 2017; Comunidade da Laranjeira: Cultura e Memória Quilombola no Baixo Sul da Bahia,
produzido em 2018 e, de outros documentários produzidos sobre o tema. A comunidade de Lagoa
Santa, situada na zona rural, fica a 12 Km da sede do município de Ituberá. Localizada na zona rural,
a comunidade de Laranjeira, com aproximadamente 17 Km de distância da sede da cidade Igrapiúna,
ambas sito no Território de Identidade do Baixo Sul da Bahia. O trabalho justifica-se por possibilitar o
conhecimento das heranças africanas presentes no Baixo Sul da Bahia, no sentido de contribuir para
o reconhecimento dos sujeitos históricos e para a valorização das suas formas de pensamento, cujas
raízes remontam ao contexto das diásporas atlânticas. O referencial teórico desta proposta utilizará
autores tais como Stuart Hall no entendimento do processo de hibridização cultural presente nos
modos de pensar, agir e fazer nas relações construídas e ressignificadas nas comunidades quilombolas
na atualidade; Paul Gilroy também se aproxima das discussões, no que se refere a influência do processo
diaspórico vivido no “mundo atlântico”; bem como a discussão a respeito do interculturalismo presente
na vida das pessoas diaspóricas. Serão utilizadas outras referências bibliográficas que ampliam a
discussão sobre os temas apresentados nas narrativas dos recursos audiovisuais, assim como o diálogo
com outros filmes documentários, documentos escritos que versam sobre comunidades quilombolas
no Baixo Sul da Bahia e do seu entorno.
A luta por moradia na poesia de Solano Trindade e nas páginas do Jornal Quilombo (Rio de
Janeiro, 1944-1964)
OSCAR SANTANA DOS SANTOS (COLÉGIO MUNICIPAL NATUR DE ASSIS FILHO - CMNAF)
Resumo: O presente artigo analisa poemas de Solano Trindade (1908-1974) e matérias do Jornal
Quilombo (1948-1950) com o intuito de identificar reflexos da luta por moradia no Rio de Janeiro,
entre os anos 1944 e 1964. Com o início do desenvolvimento urbano e industrial no Rio de Janeiro,
72
a partir de 1940, a população pobre foi obrigada a subir os morros e a viver em barracos improvisados,
sem energia elétrica, água encanada e saneamento básico. Portanto, objetiva-se compreender como
essas questões aparecem na poesia de Trindade e no Jornal Quilombo. Após analisar os poemas O
canto do trabalhador, Poema autobiográfico e Rio, constatou-se que a luta por moradia pode ser
visualizada nos textos literários e na biografia do poeta. Já os artigos sobre política, morros e favelas,
publicados em Quilombo possibilitaram verificar as reivindicações sociais e o descaso da administração
pública com a população pobre da cidade do Rio de Janeiro nas décadas de 1940 e 1950.
A era dos trios elétricos: a micareta de Feira de Santana e o direito a cidade (1975-1985)
MIRANICE MOREIRA DA SILVA (UNEB)
Resumo: O trio elétrico é um antigo conhecido dos carnavais baianos; criado na década de 1950, o trio
naquela ocasião era visto como mais um elemento carnavalesco, assim como eram os carros alegóricos
e as baterias das escolas de samba. Entretanto a invenção de meados do século XX ganhou outros
contornos ainda no final dos anos de 1970, o trio passou a ser o grande protagonista dos festejos na
Bahia e com isso expôs uma nova sociabilidade das ruas em dias de festa. A partir desse contexto,
uso “as naves da alegria” para pensar as representações de cidade em Feira de Santana. Perceber
os lugares e sentidos dos territórios ocupados pela população negra e periférica na micareta de
Feira de Santana, em uma discussão sobre o direito a cidade que está para além dos dias de festa.
Interpretação que perpassa pela análise dos discursos sobre a ocupação da cidade por parte desses
sujeitos subalternizados e como eles tecem táticas para se apropriarem da cidade mesmo diante da
“privatização” dos espaços públicos pelos blocos de cordas e trio. A ocupação privada dos espaços
públicos estava aliada ao poder público que põe a desfilar o seu projeto de cidade e sociabilidades.
O corpo documental para compor a interpretação são os jornais Folha do Norte e Feira Hoje; fontes
que são interpretadas também na perspectiva de construtoras de sentido e significados do objeto;
ao mesmo tempo que noticia cria representações para a festa e para a cidade e seus sujeitos. Que
são lidos a luz de uma interpretação histórica que pensa as representações (Chartier, 1990), os usos
(Certeau, 2014), relacionadas as interpretações de cidade de Sandra Pesavento e quando pensando
o racismo estrutural (Almeida, 2019) que norteia as representações e imaginários da ocupação dos
espaços públicos. Em uma concepção que considera o público como não democrático (Arendt, 2016).
Trata-se, portanto de um texto que vê a micareta como uma linguagem da cidade que apresenta seus
conflitos, interesses e negociações.
Resumo: A pesquisa trabalhada neste artigo busca interpretar as relações de poder e disputa por
significação e representação territorial a partir do movimento empreendido por um grupo de moradores
do conjunto habitacional Jardim Sucupira localizado no bairro Baraúnas em Feira de Santana-BA.
Este movimento consistiu na mudança de alguns nomes das ruas do lugar, nos anos de 1980 a 2000.
Desde a sua origem, as ruas da localidade receberam identificações com nomenclaturas do universo
religioso do Candomblé e, no qual passaram a ser alvos das ações firmadas pelo grupo de moradores.
Essas ações aparecem como resquícios de um processos históricos de perseguição e silenciamento
a esse seguimento religioso no Brasil e seus desdobramentos na cidade de Feira de Santana. A ideia
é captar os imperativos por urbanização e civilidade sustentados pela elite local, as criminalizações
73
impostas as práticas culturais afrodiaspóricas dentro desse processo e a expansão do protestantismo
na cidade no decorrer do século XX como propulsor do fenômeno histórico territorial ocasionado no
bairro. O propósito é identificar quais interesses orientaram o desejo pela mudança dos nomes nos
tais logradouros. Os usos dos dispositivos legais e discursivos (projeto de lei, processos crimes, abaixo-
assinados, jornais) mobilizados pelos sujeitos envolvidos servirão para dimensionar a disputa pela (re)
construção de significações e representações que circunscrevem a instituição de novas experiências
e territorialidades . A ideia é entender até que ponto os espaços ocupados socialmente dão vasão a
territorialidades que se vinculam e se organizam de acordo tanto as estruturas sociais quanto aos
aspectos identitários, políticos, culturais e religiosos.
As Ações Afirmativas na UEFS: Redefinindo Lugares da Presença Negra em Feira de Santana nos
Séculos XX E XXI
ANA MARIA CARVALHO DOS SANTOS (UEFS)
Resumo: A pesquisa sobre a perspectiva afrocentrada do Ensino de História no CEUP, além de ter como
foco uma escola de periferia, apresenta aspectos relativos ao crescimento urbano de Feira de Santana.
Crescimento que constrói realidades cujas histórias se confundem com o surgimento da escola aqui
em destaque. Em meio a essas desigualdades e invisibilizações de sujeitos, se construiu a história de
Feira de Santana, cidade que surge dos caminhos desenhados pelo pisotear dos animais e movimentar
das pessoas no cotidiano, e em dias de feira. Assim se desenha, em sua origem, as vias de acesso dos
dias atuais, por onde diferentes transeuntes movimentam-se cotidianamente. Feira de Santana surge
a partir das antigas feiras de gado, tem portanto, uma forte tradição comercial e adquire mais tarde
um importante parque industrial. O contexto de crescimento e modernização de Feira de Santana
incide diretamente no cotidiano de homens e mulheres que sentiam na pele os reflexos da exclusão,
através das condições inóspitas de moradia em que estavam inseridos. É esse contexto, forjado pelas
exigências do progresso, que traz à tona parte da história da vida real de alguns sujeitos “invisíveis”,
74
que vão fazer parte da história do surgimento do Colégio Estadual Uyara Portugal.
Ao longo da avenida Anchieta, na época estrada de chão, moravam pessoas praticamente no meio da
rua em pequenos casebres e barracos de papelão, plástico e flandre, sem sanitários, água ou quaisquer
condições de higiene. Eram inicialmente duzentas e oitenta famílias, moradoras daquele lugar, que
deveriam ser removidas. A ideia de promover progresso em Feira de Santana, a partir daquele espaço,
não podia ocorrer fora da preocupação com as pessoas que ali residiam. As ações da Interurb, órgão
público da época definiram o destino dos moradores da Avenida Anchieta. Afinal ela era de extrema
importância pois cortava várias outras avenidas. Naquela época já se pensava, inclusive, na Avenida
Nóide Cerqueira. O novo endereço ficava, na época, extremamente longe do centro da cidade e era
quase de difícil acesso. Inclusive não havia transporte coletivo passando no local. Logo, essa passou a
ser uma das primeiras demandas enfrentadas pelos moradores. Na escola, que havia sido construída
para acolhê-los, os filhos desses moradores viviam a realidade da sua invisibilidade no currículo.
Resumo: Marcada por um “boom” populacional iniciado ainda nos anos de 1950, Feira de Santana
durante a década de 1970 recebeu mais de 150 mil pessoas migrantes vindas das mais diversas regiões
do Nordeste. Esse fenômeno transformou a realidade local, promovendo mudanças significativas na
forma como o solo urbano foi ocupado. Para se manter a frente do processo de urbanização e controlar
a acesso ao solo, a prefeitura da cidade, em consonância com a política federal de urbanização, criou
secretarias especializadas na gestão da infra estrutura urbana e controle do solo. Passadas mais de
4 décadas desse processo, é possível observar um cenário de favelização das regiões periféricas da
cidade, donde reside a maioria da população negra local, o que nos leva a questionar: Qual a relação
entre as políticas públicas aplicadas no passado e a formação favelas da cidade? Esta comunicação
tratará da gestão do acesso ao solo urbano de Feira de Santana durante os anos de 1977 e 1990,
enfocando as políticas públicas direcionadas para a promoção do acesso à moradia e sua relação com
a população negra da cidade.
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SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Baseado no livro chamado “The Help” de Kathryn Stockett, o longa-metragem Histórias
Cruzadas, é uma produção norte-americana lançada em 2011, e foi dirigido por Tate Taylor que é amiga
de infância da autora do livro, cresceram juntas na cidade de Jackson, no Mississipi, mesmo local onde o
filme foi desenvolvido. A obra fílmica retrata o drama das desigualdades sociais e raciais das mulheres
negras e suas famílias. O filme é um reflexo da conjuntura sobre os direitos civis nos Estados Unidos
nos anos 1960. A história é desenvolvida em uma pequena cidade no sul do país, tem como pano de
fundo a discriminação racial na sociedade norte-americana, por meio das palavras de Martin Luther
King, o longo descreve a história de Skeeter (Stone), uma jovem da sociedade que está decretada a se
tornar escritora, diante desse contexto ela começa a entrevistar as mulheres negras da localidade, que
deixaram seus familiares para trabalhar na criação dos filhos da alta sociedade burguesa. O objetivo do
livro era descreve as mazelas do sistema e os direitos civis. As mulheres negras viviam uma verdadeira
diáspora: não podiam andar de táxi, porque era privilegio da burguesia, e não podiam usar os banheiros
dos patrões, porque eles acreditavam que pessoas pretas transmitiria doenças. O trabalho doméstico
sempre foi e será cruel com a classe negra, essa situação retrata as desigualdades de gênero, tanto nos
Estados Unidos como também no Brasil. Uma categoria que vivem na incivilidade social, que convive
com os baixos rendimentos, discriminação e assédio sexual. Esses são alguns aspectos básicos para se
discutir o altíssimo números de trabalhadores domésticos negros no Brasil. Tal aspectos, perpassam
pela herança escravocrata da sociedade brasileira. Faz 132 anos que a escravidão acabou, mas ainda se
encontra pessoas negras trabalhando em regime de escravidão no Brasil. Faz 8 anos que a classe dos
empregados domésticos no país, passou a ser reconhecidos (Lei Complementar Nº 150/2015). Mesmo
sendo reconhecidos por lei, o ambiente ainda é de verberação e a comprovação de que o trabalho
doméstico ainda não é valorizado pelos patrões, a desigualdade de gênero de classe e étnicas raciais
e o lugar onde reside. Algumas práticas se mantem e consiste em permanecer.
77
se for negra isso é mais covarde ainda, são humilhadas, agredidas e mortas por sua singularidade;
os indivíduos sofre com a falta de moradia, saúde, segurança, educação e de outros direitos que são
violados no cotidiano de uma camada da população brasileira. Esse manifesto é uma inspiração para
lutas sociais e reinvindicações por uma vida digna com possibilidade de direitos sociais para toda classe
de vulneráveis. Dentro desse contexto, toda sociedade é destinatária dos direitos sociais, mesmo que
a base para esses direitos seja o amparo aos dependentes e dos mais fragilizados, que são os maiores
necessitados por prestações de serviços desenvolvidos pelo Estado. A complexidade que envolve os
direitos sociais e sua incontestabilidade reivindica uma análise exclusiva e pontual desses direitos,
para que existam soluções adequadas à sua natureza, sempre tendo como base o princípio da máxima
existência real. O poder público deve assegurar às pessoas mais desfavorecidas, as mínimas condições
de se viver dignamente, e buscando sempre uma efetiva justiça social. A música é um protesto que
menciona força e determinação que tanto precisamos para continuar lutando. O objetivo é abordar
a ligação direta entre a realidade retratada no vídeo clip e a contemporaneidade de nossa sociedade
atual onde todos os gêneros sempre lutaram e resistiram bravamente a toda forma de opressão e a
discriminação.
Resumo: A relação cinema e história vem sendo dialogada pela historiografia durante mais de 50
anos; começando com os estudos de Marc Ferro, Jacques Le Goff e Pierre Nora (1992), historiadores
franceses que, no início da década de 70, iniciaram a discussão sobre o valor das produções artísticas
para o estudo da história, e o uso das mesmas como ”documento”. A partir disto, o presente artigo
tem como principal objetivo levantar a importância de um material didático sobre o uso do cinema
em sala de aula, utilizando como temática principal a resistência do negro no Brasil. Esta proposta
se dá devido à observação de pouca ou nenhuma menção em livros didáticos para descrever os atos
de resistência dos povos escravizados inseridos em uma sociedade racista e escravocrata, o que
serve para perpetuar a visão de docilidade desses corpos. Paralelamente, o artigo também salienta a
importância do cinema como uma ferramenta didática para o ensino-aprendizagem de História, visto
que esse aparato é constantemente subvalorizado no ambiente da sala de aula, tanto pela figura do
educador quanto por parte dos estudantes - erroneamente figurando o ensino de história como uma
área de conhecimento estática que não progride, não se adapta e/ou não faz uso das tecnologias atuais
disponíveis. Logo, pretende-se por em evidência metodologias e obras que tratam da resistência do
povo negro dentre os mais de 350 anos de escravidão infligida às populações oriundas do continente
africano, com o intuito de apontar eventos, práticas e personalidades que não ganharam importância
em livros didáticos, e, através da ferramenta fílmica, aprofundar o debate do ensino de história.
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de Pierre Lévy (1999) e memória social de Peter Burke (2006) analisamos o ciberespaço como uma
rede que possibilita a valorização das culturas locais, mas também partícipe de um processo global.
A página facebook.com/labvirtualhistoria foi criada em maio de 2020 e junto com ela um perfil
no Instagram, @labvirtualhistoria, ambas se complementam e têm sido um importante meio de
transmissão da memória social do curso de História, destacando a atuação de professores com seus
projetos de ensino, pesquisa e extensão, mas também de estudantes e egressos. Ao decorrer das
atividades no ciberespaço os debates circunscritos na história do tempo presente ganharam visibilidade
e percebemos as possibilidades de tornar a página também um instrumento de ensino de História com
a articulação do 1º Ciclo de Debates do Laboratório Virtual de História. A primeira live aconteceu no
dia primeiro de julho com a temática “Por uma educação antirracista”, a professora do colegiado Raiza
Canuta debateu com a egressa Jéssica Silva, ambas bastante ambientadas nas redes sociais, tivemos
a participação de estudantes ingressantes, concluintes, egress@s e da comunidade externa da cidade
de Teixeira de Freitas, mas também de outras cidades e estados do Brasil.
Uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) na sala de aula dos professores de História
de Poções (BA): breve relato de experiência
79
é essencial para o desenvolvimento da autonomia dos educandos no sentido de superar exclusões
de saberes, próprios ou de outrem, no tensionamento da defesa de seus direitos diante do Estado
(BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS). Produzir suas próprias narrativas audiovisuais é um dos caminhos
possíveis do Ensino de História promover uma educação significativa que abra espaço para o efetivo
exercício da autonomia e da cidadania dos educandos da EJA.
Resumo: O presente trabalho objetiva apresentar “Os Intocáveis” (Brian De Palma, 1987) enquanto
obra cinematográfica representativa no escopo de abordagens existentes da Máfia Norte-Americana.
Em princípio, é essencial esclarecer que a primacial peculiaridade do organismo mafioso não está
relacionada à atividade fim do grupo, mas nos meios pelos quais os líderes orientam seus subordinados
80
e alicerçam sua organização. O filme se inicia com a trilha sonora de Ennio Morricone e a apresentação
dos atores que compõem a obra. Os créditos esclarecem o panorama da cidade de Chicago em 1930.
Diversas quadrilhas lutavam pelo domínio do império bilionário de bebida ilegal e o uso de granadas e
escopetas era algo corriqueiro para impor vontades próprias. A Lei Seca Norte-Americana foi efetivada
em 1920 através do Volstead Act, sendo responsável pelo banimento da produção e comércio de
bebidas alcóolicas. A proibição da fabricação e da venda de álcool por 13 anos acabou fortalecendo
o crime organizado e dando origem a um próspero mercado negro. Estima-se que 75% da população
do país tenha se tornado cliente dos contrabandistas e neste período, quadrilhas de origem judia e
italiana dividiam o monopólio do negócio. A Lei Seca assegurou o poder e a influência da Máfia em
toda sociedade norte-americana nas décadas seguintes. Esta foi a época dos grandes chefões. A época
de Al Capone. A estrutura central do filme revela a predominância de um grupo que combate a Máfia
de Chicago nas décadas de 1920 e 1930. Deste modo, a face romântica e estilizada da organização
criminosa retratada não se sobrepõe a importância de um grupo de agentes da lei personificados em
Eliot Ness, diferentemente de “O Poderoso Chefão” (Francis Ford Copolla, 1972), obra de referência
que estabeleceu novos padrões de glamourização do crime organizado.
Resumo: Esta apresentação é um breve recorte acerca do cinema na Revista do Globo sob a direção
de Plínio Morais como redator. É parte integrante de pesquisa de Doutorado acerca da crítica
cinematográfica e está vinculada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa
Maria. Pretende-se apresentar em termos gerais a Revista do Globo, periódico criado em Porto
Alegre no ano de 1929 e que teve duração até 1967, bem como sua seção dedicada ao cinema e
especificamente o momento onde Plínio Morais (pseudônimo de Jacob Koutzii) assume como redator
em 1938. Dotada de uma estética que marcou época na história dos periódicos nacionais do século XX,
a Revista do Globo, magazine de modernidade, segundo a própria, se propôs a ser como bem defendia
um veículo de comunicação para o Rio Grande do Sul. Dentro dessa proposta de estabelecimento, a
partir logo de seu primeiro número, o cinema figura como uma das suas seções mais importantes e
elaboradas. Se valendo de todas as estratégias de publicidade, como a utilização das imagens das
grandes estrelas, a seção cresce em importância dentro do periódico e em 1939 recebe um reforço
de peso. Se até o ano de 1939 a seção de cinema não possui claramente um eixo norteador, mesmo
sendo abastecida com inúmeras reportagens e artigos, com a chegada de Plínio Morais isso muda, e
a seção Globo cinematográfico ganha um aspecto mais teórico e mais voltado à crítica de fato. Sendo
modificada a sua aparência estética e apresentando uma abordagem mais teórica em relação aos
aspectos gerais que circundam o cinema, desde a produção dos filmes, passando pelos diretores e
atores, bem como questões políticas que transcendem o puramente fílmico.
Portanto é intenção apresentar de forma breve este recorte, onde Plínio Morais assume a seção de
cinema do periódico, dando assim uma nova abordagem em relação ao cinema, e especificamente este
momento de mudança que se dá no ano de 1939. Serão apresentados aspectos gerais da pesquisa
em que este recorte está inserido, objetivos, geral e específicos, bem como resultados preliminares e
questionamentos acerca do trabalho com imagens digitalizadas.
81
Que sul da Bahia é esse na tela? A noção de Nordeste no filme “Os deuses e os mortos” (1970),
de Ruy Guerra.
MICHAEL SILVA ROSENO
Resumo: Diversas narrativas acerca da região Sul da Bahia geralmente levam em consideração a
lavoura cacaueira, produto que deu uma visibilidade a esta localidade com relevante participação
nas exportações baianas. Divulgada na literatura de Jorge Amado, Adonias Filho e outros autores, os
escritos concernentes à região ajudaram a criar representações de uma terra “(...) que apenas começava
a crescer, de aventureiros e lavradores, onde só se falava em cacau e mortes”. Terras do Sem Fim, obra
onde está contido o trecho serviu de inspiração e referência para o diretor e roteirista Ruy Guerra na
realização do filme “Os deuses e os mortos” – com filmagens em Itajuípe, Ilhéus e outras cidades do sul
baiano e que retrata a decadência da economia cacaueira na década de 30 -, objeto de estudo de uma
pesquisa em andamento no Programa de Pós-Graduação em História – Atlântico e Diáspora Africana,
sob o título “Os frutos de ouro na terra adubada com sangue: representações da identidade regional
na literatura e no filme ‘Os deuses e os mortos’”. O recorte temático escolhido para esta comunicação
visa inscrever o filme de Ruy Guerra num diálogo com os debates intelectuais do seu contexto, bem
como outras produções da época. Ismail Xavier (1997) aponta que uma das primeiras cenas do filme,
cujo cenário é um posto de gasolina, se passa em Milagres, mesmo lugar onde termina “O dragão
da maldade” – filme de Glauber Rocha que foi lançado em 1969, mesmo ano em que ocorreram as
filmagens de “Os deuses e os mortos”, indício que nos permite averiguar um diálogo entre as duas
obras. Ruy Guerra, nascido no atual território de Moçambique enquanto este país ainda era colônia
portuguesa, estudou cinema na França e adotou o Brasil como residência no final da década de 50
e foi um dos principais colaboradores do Cinema Novo, movimento que, tal qual a geração de 30 do
romance brasileiro, toma “o Nordeste como o exemplo privilegiado da miséria, da fome, do atraso, do
subdesenvolvimento, da alienação do país”, como afirma Durval Munis de Albuquerque Júnior em “A
invenção do Nordeste”. No entanto, Ruy Guerra submete as imagens desse Nordeste “a uma leitura
‘marxista’ que a inverte de sentido, mantendo-a, no entanto, presa à mesma lógica e questões”.
82
trabalho de representação do ator como uma contribuição decolonial importante. A experiência no
mudo de Antonio Pitanga, segundo minha análise, tem articulação com essas perspectivas.
Resumo: O filme Bacurau (2019) dirigido e roteirizado por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
é ambientado em Bacurau, um povoado interiorano. Um local seco e de difícil acesso, de povo pobre
e resistente, símbolos e narrativas que nos remetem à imagem cristalizada de sertão. A população de
Bacurau passa a experimentar situações estranhas após a morte de Dona Carmelita, muito respeitada
e querida no povoado. O filme é envolto num clima de tensão, e há ao longo do desenvolvimento da
trama um jogo de quebra de expectativas do assistente sobre o lugar e seus personagens “sertanejos”.
Embora não abra mão de imagens de secura, simplicidade, resistência sertaneja, “banditismo”;
a narrativa do filme agrega a presença de tecnologias da informação, sagacidade e organização
comunitária ao ambiente e sujeitos sertanejos. É a mobilização de imagens-discursivas sobre sertão
e sertanejo no filme Bacurau (2019) que colocamos em questão. Buscamos compreender como essas
imagens e sentidos sobre o sertão são construídas no filme através do interdiscurso (a memória
discursiva, o já-dito e esquecido que sustenta todo dizer para que possa fazer sentido), procurando
explicitar seus processos de significação (ORLANDI, 2005). O filme será aqui tratado como discurso,
imagens discursivas em movimento, e abordado a partir da análise do discurso. Argumentamos que
o filme Bacurau se realiza numa repetição histórica das imagens discursivas sobre sertão: desloca,
permite o movimento porque historiciza o dizer, fazendo fluir o discurso, trabalhando o equívoco e o
possível de ser deslocado nas imagens cristalizadas (ORLANDI, 2005: 55).
Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir os possíveis usos de dois tipos de fontes audiovisuais
como recurso para o ensino e a pesquisa em História. O ponto de partida para análise será nossa
experiência docente na disciplina “Estudos Interdisciplinares do Trabalho” ministrada desde 2016
para cursos da área das Ciências Humanas e Sociais na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
Além do vínculo com a experiência da sala de aula, o trabalho busca seu referencial em autores e
pesquisas orientados pelos pressupostos teórico-metodológicos da História Social do Trabalho e
da Sociologia do Trabalho. Para a abordagem dessa temática no tempo presente, nossas reflexões
terão como um objeto mais geral o cenário recente de desenvolvimento da chamada Economia do
Compartilhamento, ou do trabalho mediado por aplicativos ou plataformas digitais, e seus impactos
sobre a realidade do trabalho no Brasil. Estudos no campo das Ciências Humanas e Sociais, que se
intensificaram na década de 2010, têm apontado a relação entre o desenvolvimento das chamadas
Economia do Compartilhamento com um curso avançado da desregulação (pública, social, estatal) não
apenas sobre as relações econômicas e laborais. Slee (2017) e Zuboff (2019) associam esse fenômeno
à atual fase do capitalismo em que o lucro privado se desvencilha das até então tradicionais formas
de controle público e social.
O material audiovisual trabalhado pode ser reunido em dois grupos. O primeiro diz respeito aos
documentários que ganharam destaque nos últimos anos ao abordarem essa nova forma de vínculo
(ou não vínculo) do trabalho a aplicativos e plataformas e outras formas de mediação tecnológica.
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Nesse tipo de documentário, a narrativa fílmica se aproxima da perspectiva acadêmico-científica ou,
por vezes, apoia-se em estudos e pesquisadores consagrados no meio acadêmico. Seja comercial
ou artística, sua produção mais voltada para um público geral apreciador ou consumidor do gênero
documental. O segundo tipo de material é representado pelas narrativas audiovisuais produzidas,
de forma mais ou menos sistemática, por atores sociais mais diretamente ligados à realidade que
buscamos reconstruir analiticamente. Destacam-se os vídeos produzidos por trabalhadores de
aplicativos, ou seus pretensos porta-vozes, que atuam como youtubers, com produção regular de
vídeos. Essa produção destina-se aos chamados “seguidores” e “visualizadores” que garantem algum
retorno econômico para os autores dos vídeos. Não obstante essa divisão um tanto esquemática
das fontes utilizadas, acreditamos que os resultados alcançados em sala de aula indicam que o apoio
do material audiovisual tem contribuído para que os objetivos que buscamos sejam atingidos: a não
dissociação entre ensino e o estímulo à produção do conhecimento histórico.
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SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: A Inquisição por mais de quatro séculos foi um dos órgãos que mais criminalizou, condenou
e assassinou centenas de pessoas. Sua legitimação vinha diretamente da Igreja Católica que designou
um formato de julgamento baseado nas mais terríveis formas de tortura dos denunciados. Por ser
um agente público e, possuir um contato direto com o rei, o Tribunal do Santo Ofício, teve um papel
importante nesse processo de “caça as bruxas”. A Sodomia, ou pecado negando, e que hoje recebe
o nome de homossexualidade era uma das práticas mais abomináveis considerada pela Igreja e até
na contemporaneidade se é condenada pela mesma. Durante muito tempo, alguns grupos indígenas
conviveram com essa prática em seu dia adia de forma mais natural possível, pois o tema sexualidade
era desconhecido nas aldeias do Brasil quinhentista. As práticas sexuais não foram perseguidas até a
chegada dos colonizadores, pois os mesmos não tinham a percepção de que o nudismo poderia ser
considerado um atentado a moral pregada pela Igreja católica e que até mesmo o sexo entre duas
pessoas era algo anormal e de cunho “terrorista” para essa população. Aliás, o conceito de religião
nem existia para essa população ainda, pois suas práticas não se enquadravam no que corresponde
ao á heresias neste momento. A associação dos povos indígenas a promiscuidade e a heresias se
reverberou nesse momento histórico justamente por essas práticas, em especial, a sodomia, serem
diferentes daquelas conhecidas no Oriente e que automaticamente causou grande desconforto entre
esses colonizadores, que aterrorizados com tais práticas começam a perseguir e matar esses homens
e mulheres partindo do princípio de que tais ações fossem demoníacas e profanas e por isso deveriam
ser exterminadas como uma espécie de controle social. As maneiras de se “converter”, “purificar”,
“consertar”... um sodomita era reproduzida de forma violenta e desumana, o índio Tibira foi um desses
que como penalidade é posto de cabeça para baixo e tem seu corpo dividido por uma bala de canhão
e uma das partes é jogada ao mar como castigo por tais práticas.
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Uma família de criptojudeus em Matoim: Os Rodrigues Antunes e a Inquisição
ANGELO ADRIANO FARIA DE ASSIS (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA)
Resumo: Em 1591, chegaria ao Brasil a Primeira Visitação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição.
Capitaneada pelo Licenciado Heitor Furtado de Mendonça, percorria até 1595 as capitanias da
Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba para coletar confissões e denúncias de comportamentos
considerados ameaçadores à pureza católica no Novo Mundo. dentre os principais grupos ameaçadas,
encontravam-se os cristãos-novos, descendentes dos antigos judeus convertidos à força em fins do
Quatrocentos. Na etapa baiana da visitação, vários membros da família Rodrigues Antunes, importante
grupo familiar radicado em Matoim, na região do Recôncavo, seriam duramente acusados de praticar
ocultamente o judaísmo, por isso denominado criptojudaísmo, proibido no mundo português desde
1497. As denúncias recaíam principalmente sobre os membros cristãos-novos da família: a matriarca
octogenária do clã, Ana Rodrigues, o marido Heitor, já falecido, seus filhos e netos. Mas também
ameaçava a honra e gerava desconfianças sobre os genros e noras cristãos velhos da família. A partir
das acusações, confissões e processos, é possível analisar as práticas religiosas familiares, e como
estas variavam com o tempo, bem como a dissolução, mesmo que temporária, das relações sociais
com a chegada da visitação, ou ainda, as estratégias do Santo Ofício na coleta de testemunhos e
encaminhamento dos casos. Os processos contra os Antunes - inclusive da matriarca, condenada à
fogueira passados mais de dez anos depois de sua morte, auxiliam na compreensão das religiosidades
e intolerâncias vivenciadas em fins do primeiro século de presença lusa na América a partir de fontes
privilegiadas para o devir do historiador das religiosidades no mundo colonial.
Resumo: O objetivo deste trabalho é mostrar o discurso eclesiástico como um dos legitimadores
dos fenômeno conhecido como “Caça às Bruxas” e analisar o trajeto histórico que fez da mulher a
figura estigmatizada e elevada à categoria de agente de Satã; passando pela institucionalização da
sanha persecutória a partir da Inquisição, enfatizando o estabelecimento do Santo Ofício português
e sua atuação na América portuguesa dentro de uma perspectiva que deixa evidente a relação
intrínseca entre feitiçaria e sexualidade feminina. A proposta é fazer um balanço histórico a partir
de uma abordagem que contextualmente se insere no Antigo Sistema Colonial, o que nos confere
algumas especificidades sobre o tema, pois, embora a perseguição sistemática às feiticeiras seja
uma característica da Europa Ocidental no período da Idade Moderna, nesta pesquisa há um salto
geográfico que possibilita uma análise da jurisdição do Santo Ofício português em outros domínios
intercontinentais, o chamado Novo Mundo.
Resumo: Cipriano Lobato Mendes foi um padre secular que viveu na Bahia no século XVIII e que teve
recusado o seu pedido de habilitação para atuar como comissário do Tribunal do Santo Ofício de
Lisboa no ano de 1771. O que sua recusa tem de peculiar é o fato de ter tido como justificativa o
antigo pertencimento de Cipriano à Companhia de Jesus, no tempo em que sobreveio o decreto de
expulsão e desnaturalização de todos os jesuítas do reino e domínios portugueses (3 de setembro de
1759). Na ocasião da execução do referido decreto, vários foram os jesuítas que renunciaram aos votos
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solenes que os ligavam à ordem inaciana e optaram por continuar vivendo em terras pertencentes à
coroa portuguesa, em lugar de enfrentarem a expulsão e a prisão, em Lisboa, ou o exílio, na Itália.
Assim como outros religiosos cujas trajetórias venho investigando em um projeto de pesquisa mais
amplo, Cipriano optou por continuar seguindo a vida clerical, ingressando no clero secular. Apesar
de existirem referências significativas na historiografia acerca da expulsão dos jesuítas, muitas delas
motivadas pela passagem dos 250 anos deste episódio, poucos pesquisadores têm se debruçado sobre
o contexto das décadas seguintes, no qual vários sujeitos tiveram que se adequar à nova realidade. A
expulsão transformou os jesuítas em inimigos de Portugal e do Cristianismo e o clima de perseguição
e antijesuitismo conheceu um movimento ascendente ao longo dos reinados de D. José (1750-1777) e
D. Maria I (1777-1816). Baseando-se em documentos oriundos do Arquivo Histórico Ultramarino e dos
acervos da Mesa da Consciência e Ordens e do Tribunal do Santo Ofício, depositados na Torre do Tombo,
busca-se nesta comunicação reconstituir parte da trajetória deste ex-jesuíta como forma de lançar luz
sobre o contexto de perseguição e desconfiança instaurado na segunda metade do século XVIII em
Portugal e suas colônias. Proponho pensarmos este cenário como um desdobramento importante do
processo de expulsão dos jesuítas, transcorrido na década de 1750, no âmbito da afirmação do poder
régio e do enquadramento das instituições religiosas e seus agentes.
Resumo: Em 1585, a Ordem dos Frades Menores fincou raízes na América Portuguesa através da criação
de uma Custódia que viria servir no auxílio ao trabalho catequético. Apesar da presença franciscana
ser perceptível desde os primeiros contatos com os nativos, só no final do século XVI é que houve uma
presença maior desses religiosos na colônia. A respeito desse momento de finco dos franciscanos na
recente conquista lusitana, foi escrita, em 1621, uma obra intitulada Narrativa da Custódia de Santo
Antônio do Brasil, assinada por fr. Manuel da Ilha. Para isso, o autor reuniu documentação nos arquivos
da Ordem e colheu informações orais dos religiosos que atuavam neste lado do Atlântico. É sobre este
livro, em especial sobre o aspecto espiritual dele, que essa pesquisa se trata. O formato e o contexto de
produção da obra atestam que ela respondia a um comando superior de registro memorialístico, que
envolvia toda ordem franciscana no período, e assim ela não deixa de nos revelar facetas importantes
das práticas espirituais dos frades. Tais relatos podem ser entendidos enquanto modelares e visavam
enaltecer a identidade da Ordem, bem como servir de exemplo para os frades e leigos que viessem ter
contato com tal produção. Além disso, através do exemplo de vida desses frades, os textos serviram
também como forma de combate a críticas e de elucidar conflitos em que os mesmos estiveram
metidos entre o Quinhentos e o Seiscentos. A presente comunicação, através da análise da construção
discursiva e em consonância com a ideia de Chartier de que devemos entender as motivações e as
implicações que estão “por trás da aparente objetividade das narrativas”, investiga as formas pelas
quais os franciscanos no Brasil dos séculos XVI e XVII foram representados, em matéria de vivência
espiritual. Para além do caráter informativo e defensivo da obra aqui estudada, foram examinados os
ideais de santidade, as virtudes dos religiosos elencados, a mística envolvida entre os frades e as suas
práticas ascéticas. Um aspecto que nos interessa é entender como esses modelos circulavam não só
entre os franciscanos que atuaram na América, mas também em outras partes do globo no mesmo
período. Desse modo, abordaremos os tópicos agenciados pela historiografia franciscana no tocante a
seus aspectos espirituais, explorando a vivência e os exemplos de franciscanos na América Portuguesa.
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O estabelecimento das estruturas do poder eclesiástico paulista em territórios de missão: o caso
da freguesia de Araçariguama
MICHELLE CAROLINA DE BRITTO (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA)
Resumo: O enraizamento das estruturas do poder eclesiástico em São Paulo e a atuação dos párocos,
missionários e vigários da vara possibilitaram a confirmação, a preservação e o exercício da jurisdição
episcopal nas diferentes comarcas diocesanas por meio da apropriação de capelas, paróquias, núcleos
missionários e vigararias da vara, que anteriormente pertenciam ao bispado do Rio de Janeiro, à malha
eclesiástica paulista. A reorganização dos espaços de atuação do oficialato episcopal e do clero regular
empreendida por d. Bernardo Rodrigues Nogueira, primeiro bispo de São Paulo, visava legitimar
as competências (espirituais e temporais) do prelado e submeter os membros do clero regular a
autoridade episcopal. Esta comunicação discorrerá sobre as medidas de organização e estruturação da
malha eclesiástica paulista, no período de 1745-1770, por meio da análise da documentação paroquial
e da administração eclesiástica e civil, assim como a rearticulação entre as estruturas, as formas de
intervenção e a ação dos poderes eclesiásticos na evangelização e na vigilância comportamental dos
fiéis através do caso especifico da freguesia de Araçariguama.
Resumo: Em 1918 as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, vigentes desde 1707, deram
lugar ao Código de Direito Canônico, que determinou maior interferência dos religiosos nos assuntos
ligados aos leigos. Incutida à essas normativas, afirmou-se que houve uma decadência das irmandades
leigas no decorrer do século XX, o que pode ser questionado, visto que até os dias atuais tais associações
ainda se fazem presentes na capital baiana. Cabe, portanto, entre outras coisas, compreender as
transformações ocorridas no início do século para causar tal impressão, mas também os mecanismos
utilizados pelas associações diante do que lhes era imposto. Para tanto, realizamos uma análise
comparativa entre o Código de Direito Canônico e as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia
a fim de perceber as diferenças entre as duas legislações eclesiásticas no que diz respeito às irmandades
leigas. Além disso, atentamos para meses específicos do jornal Diário de Notícias entre 1917 e 1924,
com o objetivo de investigar a repercussão da nova legislação no jornal, onde constantemente eram
divulgadas convocações dos membros para reuniões, celebrações e eleições da mesa administrativa
das irmandades. Com isso, notamos que a partir do ano no qual o Código Canônico entrou em vigor,
para que ordens terceiras, irmandades e confrarias fossem fundadas mantinha-se a exigência de que
os ordinários locais as permitissem e aprovassem. Estes, de acordo com a nova legislação deveriam se
fazer presentes em todas as reuniões das mesas administrativas. Eram, pois, religiosos as autoridades
máximas e capazes de dissolver as associações leigas caso estas não cumprissem ou se opusessem
aos seus desígnios. Desde os tempos coloniais a Igreja Católica se fez presente e participante da
construção moral da sociedade brasileira. A recém separação entre Igreja e Estado no fim do século
XIX, aliada a proliferação de novos ideais e outras vertentes religiosas no Brasil causou reações da
instituição eclesiástica. Como consequência, a Igreja tentava aproximar a religiosidade da ortodoxia
e as associações questionadoras passaram por momentos difíceis. Dessa forma, adaptando-se
formalmente às novas medidas ou continuado a existir na ilegalidade, as irmandades leigas desafiaram
o poder de um clero reformado.
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Padres, Políticos e Mitos: estudo historiográfico comparado acerca das trajetórias de vida dos
Padres João da Boa Vista (Goiás) e Cícero de Juazeiro (Ceará), 1844-1947.
RAYLINN BARROS DA SILVA (SEDUC - SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO TOCANTINS)
Resumo: Essa comunicação on-line tem o objetivo de historicizar e explicar, do ponto de vista de uma
análise historiográfica comparativa, as trajetórias de vida de dois sacerdotes católicos brasileiros que
viveram entre a metade do século XIX às primeiras décadas do XX: Padre João da Boa Vista e Padre
Cícero de Juazeiro. Esses dois religiosos, cada um a seu modo e nos sertões que viveram – o primeiro no
extremo norte goiano e o segundo no cariri cearense – por suas atuações na esfera religiosa e política,
terminaram por se tornar as maiores referências das suas sociedades, ambos chegando a ocupar
cargos públicos, despontaram como as maiores autoridades religiosas e políticas de suas épocas.
Resumo: O teólogo e filósofo Leonardo Boff, apresentou em muitas de suas publicações escritas,
uma leitura entusiasmada do vaticano II, o interpretando apesar de não deixar de pontuar limites,
como um sopro renovador na Igreja Católica, pois possibilitou o início do diálogo desta instituição
com a sociedade capitalista moderna e seus desafios. Teve participação expressiva nos debates sobre
a Teologia da Libertação na América Latina e seus escritos, junto com os de outros teólogos latino
americanos, também inspiraram a construção de documentos do Conselho Episcopal Latino americano
(Celam) a exemplo de Puebla 1979 e Santo Domingo 1992. A proposta desta comunicação é discutir as
interpretações da História do Brasil presentes no livro deste autor com o título: Concluir a refundação
ou prolongar a dependência? O trabalho foi publicado em junho de 2018, período de acirramento das
polarizações políticas motivadas pelas disputas eleitorais que elegeram a presidência da república,
Jair Bolsonaro, político conservador, identificado com o autoritarismo e insensível as desigualdades
sociais e econômicas que afetam a maioria dos brasileiros.
90
e municipal. Segundo o IBGE, no censo de 2010 os protestantes constituiam 42, 3 milhões de fiéis da
população brasileira e para a década de 2020 demógrafos já anunciam que os evangélicos se tornarão
maioria no Brasil. Tal crescimento quantitativo intensificou a participação na politica partidária do País.
Na conturbada conjuntura atual, a Frente Parlamentar Evangélica e líderes religiosos midiáticos, se
aliaram para eleger o atual Presidente da República. O apoio político dos evangélicos se baseia na
troca de favores no Governo Federal. Por outro lado, um setor evangélico oposicionista organizou
em 2016, a Frente Evangélica Pelo Estado de Direito, defendendo a democracia contra a cassação
da Presidenta Dilma Roussef e a instrumentalização política das Igrejas Evangélicas pelo voto de
cajado\ neocabresto. Pela primeira vez na trajetória do Protestantismo há um número relevante de
ministros e cargos de primeiro escalão, que professam as doutrinas reformadas. No atual Governo,
os “terrivelmente cristãos” têm uma postura fundamentalista e desrespeitosa frente ao preceito
Constitucional do Estado Laico. Pretendemos analisar, que fatores contribuíram para transformar
uma minoria religiosa em um setor atuante nacionalmente e o seu projeto de poder. Em tempos
de intolerância religiosa e negacionismo conhecer a trajetória política dos evangélicos é relevante
para travar o bom combate pelo conhecimento histórico, numa sociedade com um campo religioso
tão diverso. Trabalhamos com uma temática da História Recente na perspectiva da História Cultural
e interfaces com a História das Religiões, os conceitos de campo religioso e político de Bourdieu
contribuem para nortear esta pesquisa.
Resumo: O fenômeno religioso tem despertado interesse crescente junto ao meio acadêmico. Os
recortes e abordagens se apresentam de forma diversificada, sendo examinados variados aspectos
das religiões nas sociedades. A principio o objeto por excelência foi a igreja católica, mas ultimamente,
observa-se um crescente interesse dos pesquisadores por outros segmentos religiosos, em especial
por temas que envolvem às igrejas comumente chamadas “Evangélicas”, ou seja, aquelas oriundas
direta ou indiretamente do movimento denominado Reforma Protestante. Nessa comunicação
pretendemos enfocar o segmento denominado Batistas, que se estabeleceu na Bahia em outubro de
1882, organizando a primeira Igreja Batista na capital da Bahia. O estabelecimento das igrejas batistas
no estado teve inicio com a presença de dois casais de missionários americanos e um brasileiro. A
partir daí, a denominação Batista começou a se expandir espalhando-se por muitas cidades do interior
do Estado, conquistando adeptos, principalmente entre as classes mais pobres da população, até
as primeiras décadas do século XX. Segundo (PEREIRA, 2001), em 1900 já haviam igrejas batistas
fundadas em 10 capitais do país. Essa expansão era também, significativa em todo interior da Bahia.
Vários estudos têm procurado identificar, analisar e apresentar a trajetória expansionista dos Batistas
na Bahia, contudo quase todos tem se restringido a capital baiana, indo no máximo a região do
Recôncavo. São praticamente inexistentes estudos sobre os Batistas no Sul da Bahia, objeto dessa
comunicação.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo discutir a interiorização dos Batistas na Bahia, como
eles participaram das transformações políticas, sociais e culturais na cidade de Santo Antônio de
91
Jesus, no início do século XX. Neste contexto de inserção dos Batistas no Recôncavo da Bahia dois
elementos são notórios para uma discussão. O primeiro, é a participação das mulheres no processo de
expansão da Denominação Batista, o lugar que elas ocuparam na vida eclesiástica e de como foram
forjadas suas práticas e representações nesses processos históricos. O segundo, foram os conflitos
gerados com a chegada dos missionários batistas, a propagação de suas doutrinas que gerou fortes
reações da comunidade católica e os conflitos internos, denominado de Questão Radical, movimento
emancipatório que teve participação significativa dos membros da Igreja Batista desta cidade. O
presente texto segue a perspectiva da História Cultural e História das Religiões. Metodologicamente,
o trabalho se apoia nos conceitos de representação de Chartier e de campo religioso de Bourdieu.
“A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata a derruba”: um estudo sobre a participação
feminina na Igreja e família (1968-1990).
MICHELE SOARES SANTOS
Um espaço, diferentes agentes, diversas posições: o campo religioso do bairro Feira VI – Feira de
Santana-Ba (2000-2016)
JEAN DOS SANTOS DIAS (UEFS)
Resumo: O objetivo desta comunicação é apresentar como estava estruturado o campo religioso do
Bairro do Feira VI em Feira de Santana-Ba, entre os anos 2000 a 2016, fruto de uma pesquisa em
andamento. Para tanto traçamos como objetivos específicos mapear as religiões institucionalizadas
do bairro; compreender as relações internas no campo religioso; analisar como os elementos
externos influencia na sua dinâmica interna. Esta pesquisa se insere no campo da História Cultural do
Protestantismo brasileiro com ênfase no Pentecostalismo. Entendendo as tendências de mudanças
nas identidades na atualidade nas religiões, principalmente, no Cristianismo – afunilando ainda mais
– as protestantes de vertente “pentecostal assembleiana” é notório a importância de compreendê-
las dentro de suas particularidades. Neste trabalho abordaremos a noção de campo religioso do
sociólogo Pierre Bourdieu. A partir deste conceito faremos um recorte na história do bairro Feira VI
e sua trajetória lendo-o enquanto campo religioso e tentando compreender as ações dos sujeitos
que transitavam e faziam parte destas comunidades religiosas. O diálogo com a Sociologia permite
trabalhar o conceito e contribui para o entendimento do cenário religioso brasileiro, do bairro Feira
VI - que é nosso objeto de análise -, e suas relações com os demais campos sociais. Na tentativa
de compreender esses sujeitos, imbuídos em relações sociais que dão base nas suas concepções e
visão de mundo, é necessário entender essas nuances, enquanto campo religioso. Sabendo que a
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sistematização da religião está diretamente ligada à urbanização e ao processo de industrialização
que gerou a separação entre o trabalho material e o intelectual que por sua vez, fez oposição entre
o campo e a cidade, sendo esta última o lugar de desenvolvimento do trabalho intelectual e o campo
como o lugar do trabalho material. Foi realizado um mapeamento do bairro, procurando perceber as
manifestações religiosas que nele tem; entrevistas com representantes das denominações religiosas
do campo religioso. Conforme aponta Bourdieu (2005) cada um agente do campo usa de dispositivos
tipicamente seu para se colocar nas disputas. As denominações religiosas se apropriam de suas práticas
para evidenciar sua suposta superioridade em relação às outras, verificando-se grande diversidade
no campo do Feira VI, como elementos vários na disputa por maior influência no campo religioso do
bairro. Encontramos diversos grupos religiosos, de várias matrizes. Os grupos que mais aparecem são
os protestantes com maior número neste campo. Há grupos de Matriz africana, Católicos. O campo
religioso tem se diversificado a partir de novos agentes que nele se insere a cada ano.
Resumo: A proposta desta comunicação é analisar a intolerância religiosa presente no Jornal Folha
Universal da igreja Universal do Reino de Deus (IURD) contra as Religiões de Matrizes Africanas. È uma
pesquisa em andamento do Trabalho de Conclusão do Curso. O Objetivo geral é compreender como
as Religiões Afro-Brasileiras eram representadas no Jornal da Igreja Universal do Reino de Deus e
compreender como isso contribui na propagação da intolerância religiosa entre os anos de 1977 e 2007.
O primeiro ano refere-se ao de ano de fundação da IURD e 2007 o ano de aprovação da Lei n°11.635 de
combate nacional contra a intolerância religiosa. Os objetivos específicos são: Identificar quais motivos
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levam os Iurdianos a demonizar as Religiões Afro; Investigar as diferentes formas de ataques que
ocorreram em decorrência da intolerância religiosa; Mapear quais são os estados que apresentaram
maior incidência de intolerância religiosa pela IURD no Jornal da Folha Universal, bem como investigar
como são representados os adeptos das Religiões de Matrizes Africanas e como o Movimento Negro
Unificado (MNU) respondia aos ataques da IURD nas publicações do Jornal do Movimento Negro.
As fontes consultadas nesta pesquisa foram: exemplares do Jornal da Folha Universal de 1977 até
2007, disponível no acervo do Centro de Pesquisa da Religião (CPR), UEFS; os periódicos do Jornal do
Movimento Negro Unificado – MNU das décadas de 60,70,80 e 90, estas fontes possibilitaram uma
compreensão mais detalhada de como o Movimento Negro denunciava a intolerância religiosa contra
as regiões de Matrizes Africanas nos periódicos do MNU, também serviu de fonte o livro do Bispo
MACEDO, Edir. Orixás, caboclos e guias: deuses ou demônios? Rio de Janeiro: Unipro Editora, 2006. Os
aportes teóricos que foram utilizados para fundamentar a pesquisa: o conceito de Campo Religioso
do sociólogo Pierre Bourdieu em sua obra Economia das trocas simbólicas (1974); para entendermos
as prática, representação e ressignificação, utilizaremos os conceitos de Roger Chartier (1990); o de
Racismo de Kabengele Munanga (2004); os conceitos de Religião (1984) e Conversão (2005) de Rubem
Alves. Os resultados parciais apontam que a sociedade brasileira tem vivido na atualidade muitos
conflitos religiosos, que podem ser evitados com um melhor conhecimento da trajetória religiosa do
País. Esperamos que esta pesquisa no âmbito da História das Religiões, contribua para o conhecimento
da diversidade religiosa e cultural brasileira numa perspectiva histórica, identificando sua formação,
principais crenças e valores.
Resumo: A proposta desta comunicação é expor, através do jornal Mensageiro da Paz, as representações
da Denominação Assembleia de Deus sobre outros segmentos religiosos. É possível identificar nas
matérias divulgadas entre os anos 2000 e 2014, uma série de publicações que atacam diretamente
o Catolicismo e as religiões de matriz africana. Conversões de fiéis provenientes das religiões
mencionadas são exaltadas no Mensageiro da paz, periódico oficial da Assembleia de Deus, como
um processo de libertação de indivíduos que viviam sob o jugo das trevas, do engano e da perdição.
Compreendemos que o exclusivismo relacionado à salvação não está presente apenas na Assembleia
de Deus, mas é uma característica do próprio Protestantismo, no qual é manifestado entre as diversas
denominações que reivindicam para si a legítima posse dos “bens da salvação”. Desse modo, temos
o propósito de trazer à lume algumas reflexões, a partir de algumas matérias selecionadas, afim de
demonstrar como os conteúdos disseminados no Mensageiro da Paz contribuem potencialmente para
práticas de intolerância religiosa entre os fiéis da Assembleia de Deus que são instruídos segundo
as diretrizes das lideranças da instituição, que manifestam as suas concepções através do periódico
mencionado. O jornal Mensageiro da Paz é produzido e divulgado quinzenalmente e, a partir do
ano 2000 até 2014, identificamos um forte anti-catolicismo e demonização das religiões de matriz
africana. A primeira, geralmente referenciada em discursos sobre idolatria, e a última, atacada em
diversas matérias com termos pejorativos como “macumba”, “demônios” e/ou “espíritos malignos”.
Recorremos aos conceitos de representação, trabalhado pelo historiador Roger Chartier (1990), e
Campo Religioso, trabalhado pelo sociólogo Pierre Bourdieu (2015). Por fim, pretendemos contribuir
com o debate, no intuito de, no mínimo, provocar reflexões sobre os conteúdos que são produzidos e
consumidos entre os evangélicos.
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Religiosidade na cidade de Porto Seguro - BA: Olhares sobre a devoção a São Benedito
LAVÍNIA ALVES OLIVEIRA
Resumo: A cidade de Porto Seguro está localizada no Extremo Sul da Bahia, onde é reconhecida pelo
marco do “descobrimento” e por se tornar uma das cidades que mais atraem turistas de todo o Brasil,
fascinados pelas belas praias e a sua história local. Mas para além disso, a cultura religiosa também
está inserida neste local. Um exemplo é a devoção a São Benedito, que está presente na cidade desde
o século XVIII. Objetivo desta comunicação é relatar levantamentos feitos sobre a presença negra
na cidade de Porto Seguro – BA, através da devoção a São Benedito. O ensejo desta pesquisa surgiu
através de um projeto de Iniciação Científica, financiada pela Pró-reitoria de Ações Afirmativa da
Universidade do Estado da Bahia. O propósito do projeto foi a Investigação Histórica no Museu de Arte
Sacra de Porto Seguro: traçando a presença e participação dos afro-brasileiros na história e cultura da
cidade, iniciado em julho de 2018. O projeto atuou na análise das práticas sociais, devoções religiosas
e resistências culturais realizadas pela população afro-brasileira, entre eles a atuação da Irmandade
dentro do festejo de devoção a São Benedito, cuja presença pode ser observada nos artefatos
depositados no acervo do Museu de Arte Sacra da Misericórdia. Sendo assim, esses questionamentos e
reflexões durante o projeto de pesquisa resultaram no anseio de prosseguir com o estudo relacionado
a devoção a São Benedito, para o Trabalho de Conclusão do Curso – TCC. Diante disso, o objetivo
desta comunicação é apresentar os resultados iniciais sobre o estudo da devoção do santo negro na
cidade de Porto Seguro. Santo este, que de acordo com documentos eclesiásticos, do Arquivo Público
do Estado da Bahia – APEB, está presente na cidade desde o século XVIII. Ressaltando que, o estudo
dessa pesquisa tem como marco temporal o século XX, a partir da década de 1960 até 1970, podendo
ser alterada, já que a principal fonte são os relatos orais, conforme caminha as entrevistas, novas
informações irão surgindo.
Resumo: Este artigo pretende propor algumas observações acerca de conceito significativo para
a compreensão do termo patrimônio imaterial, e das políticas e ações públicas atinentes a sua
salvaguarda. As descrições aqui apontadas têm como fundamento alguns textos teóricos, leis e
documentos referenciais do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Num
segundo momento o folguedo da folia de Reis é apresentado no âmbito brasileiro, como um modelo de
Patrimônio Imaterial, exaltando a importância da preservação de sua tradição, identidade e memória,
na manutenção do legado cristão da jornada dos Reis Magos. Os argumentos expostos esforçam em
elucidar alguns conceitos sobre patrimônio imaterial de modo que haja uma melhor compreensão
desse campo, bem como entender como são efetivadas as ações de patrimonialização implantadas
pelo poder público, atinentes a proteção patrimonial.
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SESSÃO 02: 22/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: A proposta dessa comunicação é analisar o delineamento e os conflitos causados pela política
indigenista imperial de 1845 conhecida como Regulamento das Missões, a partir da premissa de que
a ideia de catequese a ser praticada desde então, esteve associada ao ideário de civilização e ambas
passaram a ter relação direta com a terra e com a necessidade do Estado em garantir territórios para
outras finalidades e também a mão de obra. No tocante às terras, embora o Regulamento das Missões
não fosse uma lei de regulamentação fundiária, ele era, sem dúvidas, uma das antessalas da Lei de Terras
de 1850. O Decreto reconheceu a posse da terra para os índios, mas não enquanto direito originário,
isso significa que não se estendia aos índios “bravios”, pois estava vinculada à condição de aldeado.
Isso implica dizer que o indígena não possuiria a terra enquanto originário, mas como parte de uma
política de Nação, razão pela qual os não aldeados permaneciam à margem. Ainda assim, a condição de
aldeado não garantiria o território, pois este, deveria ser demarcado em consonância com as diretrizes
do governo. Lógico que havia a real dificuldade na demarcação das terras de aldeamentos, o que
terminara por provocar inúmeros conflitos entre nativos e posseiros. Uma premissa que não se pode
perder de vista em relação ao problema indígena no Império, é a de que ele se inseriu no conjunto das
novas regras para o trabalho e para a utilização da terra como produto de mercado. A região de análise
é a composta geograficamente pela bacia do rio Jequitinhonha perpassando por duas importantes
províncias: Bahia e Minas Gerais. Os povos indígenas, que aí habitaram, genericamente conhecidos
como Botocudos, foram alvos de uma voraz política de devassamento territorial, em decorrência da
expansão agrícola e comercial da fronteira delineada pelo rio.
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Trabalhadores, manteiga e vinho: um furto nos armazéns da ferrovia Madeira-Mamoré
ANA CAROLINA MONTEIRO PAIVA (UFPB - UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)
Resumo: Em 1919, o furto de quinze caixas de manteiga e uma caixa de vinho dos armazéns da
Comissária, departamento da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, foi registrado em processos
criminais e amplamente noticiado no jornal local Alto Madeira. O acontecimento envolveu cerca de
vinte pessoas convocadas para declarações, incluindo acusados, interessados e testemunhas. Entre
os acusados e diretamente envolvidos, estavam sírios, portugueses, nordestinos e um caribenho,
que exerciam diferentes funções de trabalho como carregadores, comerciantes, guarda-livros e
empregados da Madeira-Mamoré, que transitavam entre os espaços da ferrovia – de administração
privada da Companhia ferroviária – e da cidade de Porto Velho – administrada pelo poder regional
do superintendente. A ocorrência do crime não foge à realidade, ao contrário, para Silvia Petersen
(1995), as subversões imprevistas são, do mesmo modo, os momentos de vida do cotidiano. Assim,
nos combates pela história, o que o caso pode nos dizer para além do furto de gêneros alimentícios? É
com o intuito de suscitar discussões que o objetivo deste artigo consiste em destrinchar o caso a partir
de elementos como a organização e estrutura das funções de trabalho, as relações sociais – entre
elas a de poder – e as tensões entre os prestadores de serviços, os comerciantes locais e a Companhia
Madeira-Mamoré; e, por fim, considerando a dimensão das ações furtivas na perspectiva dos embates
cotidianos pela sobrevivência e formas de enfrentamento.
Um relato de uma vida cangaceira: Jararaca invadiu, foi morto e virou santo
JÚLIO CÉSAR LIMA FERNANDES (PREFEITURA DE JOÃO PESSOA)
Resumo: As várias faces do cangaço, movimento sócio-político vivenciado pela realidade nordestina
brasileira, podem ser olhadas através de inúmeras lentes. Muitos foram os personagens que fizeram
parte desta saga que teve duração em torno de cem anos. Não se pode negar que, Virgulino Ferreira
da Silva, vulgo Lampião, foi a figura mais comentada a ilustrar a compreensão do cangaço, uma vez que
este se colocou à disposição de parte da mídia da época. No entanto, outros cangaceiros que podemos
chamar de coadjuvantes do cangaço, proporcionaram vários momentos que estão registrados nos
anais da história de vários municípios nordestinos. Entre esses “cabras”, está José Leite Santana,
conhecido pelo apelido de “Jararaca”. Entre suas andanças e façanhas ilegais, está a sua participação
na invasão ao município de Mossoró na tarde de treze de junho de mil novecentos e vinte e sete.
Este pernambucano juntou-se ao grupo de Lampião e Sabino Gomes na tentativa de empreender,
talvez a maior façanha do cangaço, invadir e assaltar uma cidade com mais de vinte mil habitantes.
Não logrando êxito, o grupo foge para as terras cearenses deixando ferido de morte o cangaceiro
colchete e aprisionado pela população o Jararaca que teve sua sentença de morte executada no
cemitério da cidade. Esse trabalho, apresenta uma breve análise de conjuntura que deu origem ao
cangaço e desemboca nas ações do povo de Mossoró durante a invasão cangaceira, e tenta trazer
para o presente uma compreensão dos sentimentos de seu povo em relação a uma figura (Jararaca),
que trouxe vários potenciais de sentimentos para posteridade como a consciência da liberdade e da
resistência.
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Intelectuais, imprensa e questão social: Visões sertanejas sobre a nação Republicana
MARIA APARECIDA SILVA DE SOUSA (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA), JOSÉ
RUBENS MASCARENHAS DE ALMEIDA (UESB)
Resumo: Os estudos sobre a imprensa no Brasil apontam o protagonismo da Bahia com a criação do
segundo jornal na América portuguesa, em 1811, dois anos após a chegada da família real na América
portuguesa. No decorrer das lutas pela Independência (1822) e nas décadas seguintes, muitos foram os
periódicos produzidos na província, acompanhando os tortuosos caminhos de consolidação do Estado
imperial no Oitocentos. No caso dos sertões, tudo indica que o primeiro jornal surgiu em 1897 com a
criação d´A Penna, em Caetité, redigido pelo autodidata João Gumes. Alguns anos depois tem-se o
registro da circulação de jornais em Vitória da Conquista quando alguns indivíduos como Laudionor
Brasil, Erathosthenes Menezes e Camillo de Jesus Lima, entre outros, vão se destacar como editores,
redatores e escritores, constituindo um seleto grupo que dominava os instrumentos da escrita numa
época em que a circulação do saber e do conhecimento era bastante limitada. Esses intelectuais
denunciavam a incompletude da Nação brasileira, haja vista que, para eles, o sertão ainda precisava ser
incorporado ao projeto civilizacional. A sua atuação se assemelha a tantos outros que exerceram, por
meio dos seus escritos, uma importância fundamental na discussão sobre a formação da nação, cada
um a seu modo, de forma que o panorama ideológico e cultural vivenciado por eles não pode ser bem
compreendido sem uma análise mais detida dos diferentes aparelhos de produção e divulgação das
concepções produzidas em seu tempo e lugar. Chama a atenção, não somente as temáticas veiculadas
nesses jornais sertanejos, mas também, a formação daqueles que redigiam os periódicos. Em muitos
casos, sobressai a clareza e a racionalidade do pensamento político ao denunciarem as precárias
condições de vida da população sertaneja nas primeiras décadas republicanas.
O período de circulação desses jornais, primeiras décadas do século XX, foi marcado por amplas
transformações econômicas e políticas na conjuntura internacional e nacional. No caso específico do
Brasil, a República havia sido proclamada em fins do século anterior, em 1889, e a escravidão abolida
um ano antes. Todavia, tais mudanças não corresponderam às expectativas daqueles que, a exemplo
de alguns redatores mais engajados, pretendiam ver um país livre das mazelas do século anterior.
Muitas das suas preocupações remetem ao abandono dos sertanejos pelas autoridades políticas,
questionando o lugar ocupado por estes no projeto de nação na nascente República brasileira. A
presente comunicação propõe refletir sobre o papel dos intelectuais sertanejos a partir das suas
concepções acerca das condições sociais dos habitantes sertanejos nas primeiras décadas republicanas.
“A educação para além do capital”: ponderações sobre trabalho, alienação e luta de classes.
HEDER CLAUDIO OLIVEIRA GOMES (EDUCANDARIO CORINA AMORIM)
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como objeto “o trabalho, a alienação e a luta de classes na obra “A educação para além do capital” de
István Mészáros”. Ao desenvolvermos essa investigação nos deparamos com o seguinte problema: “a
educação enquanto uma das múltiplas determinações da realidade social é um caminho possível para a
superação do capital e de sua lógica desumanizadora, ou, por outro lado, caminhamos inevitavelmente
para a barbárie?” Dentro de uma análise materialista histórica buscamos as matrizes e fundamentos
causais dos antagonismos presentes na sociedade burguesa, discutindo os caminhos, os impasses e os
horizontes apontados pelo autor na construção da emancipação humana.
A CULPA FOI MINHA? Mutilação de trabalhadores e justa causa nas fábricas da Azaléia na Bahia
DIANA DE SOUSA SANTOS LISBÔA (UFBA)
Resumo: O texto está alicerçado em base documental que venho analisando no doutorado, processos
trabalhistas, impetrados por trabalhadores e patrões das fábricas de calçados da Azaléia, na Bahia.
O exame dos autos evidencia exploração da mão de obra e embates trabalhistas na justiça e no chão
de unidades fabris, por trabalhadores e patrões desde 1997, ano em que a Azaléia inicia a produção
fabril na cidade de Itapetinga. Dentre as principais problemáticas relacionadas a essa empresa, têm-
se o elevado número de mutilações de seus trabalhadores, e o grande quantitativo de demissões
por justa causa. O primeiro fato fez com que em 2004, 2005 e 2008, a Azaléia fosse notificada
pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), e, em 2010, tivesse 428 máquinas
interditadas pelo órgão, por não respeitar normas básicas de segurança do trabalho. Tal interdição
teria importado na quase total paralisação de cerca de 20 mil trabalhadores empregados na unidade de
Itapetinga, e outras que dependiam de sua produção. A liberação foi somente cedida, 21 dias depois,
quando todas as recomendações do órgão do Ministério do Trabalho foram cumpridas. Em novembro
de 2008 o Programa da TV Record, Domingo Espetacular, já teria exibido uma reportagem sobre o
crescente número de trabalhadores mutilados nessas unidades. Os entrevistados destacaram, dentre
outros aspectos, o esforço da empresa em culpá-los pelas mutilações. Apesar do extenso número de
operários acidentados, a grande motivação da ida de trabalhadores à justiça foi o grande número de
justa causa aplicadas pela Azaléia, compondo cerca de 70% dos processos de minha análise. A empresa,
em geral, justificou a aplicação da punição máxima, ao quantitativo de faltas injustificadas cometidas
pelos obreiros. Em suas defesas, os operários (as), em regra, atribuíram as ausências à impossibilidade
de conseguir consultas médicas para tratar suas enfermidades, entre às mulheres, havia além dessa,
o adoecimento de filhos, ou falta de quem cuidá-los e doença de pais e conjugues. A Azaléia também
fez grande uso da punição máxima para livrar-se de funcionários adoentados pelo serviço na empresa,
emitindo o auxílio doença comum, ao invés do acidentário, para que na volta ao serviço, o empregado
não tivesse direito a estabilidade garantida em lei. A análise dos autos permite à compreensão de que
o emprego nas fábricas de calçados conferiu aos itapetinguenses, regra geral, o primeiro emprego de
carteira assinada, num modelo de produção fabril que impactou suas vidas, mas não os fragilizou, na
busca por melhores condições de vida e emprego.
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são, consequentemente, canais dos movimentos para atingir seus fins. Nesse sentido,
propomos neste trabalho uma avaliação dos caminhos que o Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto (MTST) tem realizado ao longo dos quase dez anos de lutas em Brasília – Distrito
Federal. Buscamos assim, analisar a referida questão à luz das recentes mudanças históricas
do contexto cultural brasileiro, visando não apenas analisar sua importância, mas, refletir
sobre os efeitos da atuação política dos movimentos sociais. Nessa perspectiva, o presente trabalho
pretende abordar o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) em Brasília - DF, e a crise
habitacional no Brasil. Para compreender o contexto dos movimentos, pretende-se realizar este
trabalho utilizando-se o método empírico bibliográfico, pelo qual se buscará uma revisão literária,
composta tanto por livros quanto matérias jornalísticas, visando relacionar os principais
ocorridos das ações sociais envolvendo o MTST frente às manobras políticas brasileiras. Por
termos como objeto de estudo sujeitos em condição de sem-teto, tomaremos como referência
empírica alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Instituto de
Pesquisa de Opinião, e de plataformas digitais do Governo Federal, que disponibilizam dados
de pesquisas e levantamentos em números de aspectos da realidade da sociedade. Argumentamos
que ao menos dois processos de longa duração interferem nessas questões, por um lado: a migração
rural às grandes cidades e, por outro, a expulsão de trabalhadores pela automação dos processos. No
universo conceitual que norteia o presente estudo, destacam-se os estudos de Fagnani (2005), Gohn
(1991), Helmann (1995), Leher e Setúbal, (2005), etc.
Resumo: Marca indelével da história do México, a questão agrária – e a luta de classes advinda das
relações que a envolvem – atinge seu ápice no governo de Porfírio Dias, que governou o México
ditatorialmente por mais de 30 anos (1876 – 1911). Com a chegada de Dias ao poder em 1876, as
desapropriações de terras das comunidades camponesas e indígenas ocorreram de maneira massiva,
marcando o espraiamento das relações capitalistas no México de então, de forma a integrá-lo ao
mercado mundial. Desempossados de suas terras, os trabalhadores do campo viram-se obrigados a
vender sua força de trabalho nas minas, indústrias têxteis e ferrovias em troca de salários baixíssimos.
Tais circunstâncias foram prognósticos para a deflagração da primeira Revolução do século XX: A
Revolução Mexicana, ocorrida em 1910, cujos objetivos vislumbravam o derrube do Estado Oligárquico,
o que implicava, por sua vez, o enfrentamento da burguesia agroexportadora, com destaque para a luta
pela reforma agrária. Fato é que a Revolução Mexicana se sagrou como um dos movimentos de luta de
classes de maior impacto social, cultural e político não só na América Latina, como também no mundo
naquele início de século. Em meio ao processo revolucionário, as artes no México, sobretudo as artes
plásticas, passaram por transformações radicais, de modo que o Muralismo Mexicano é considerado
“filho” da Revolução, apresentando uma essência revolucionária e transgressora. O objetivo do
presente artigo é analisar a memória e representação da luta de classes sob a perspectiva dos murais
de David Alfaro Siqueiros e sua conexão com as transformações provocadas pela Revolução Mexicana,
partindo do pressuposto de que a obra de Siqueiros consiste em pinturas com intervencionismo
político, crítica à sociedade capitalista e que defendia os ideais comunistas, tendo, assim, um caráter
eminentemente marxista que conduz seu trabalho artístico como instrumento de militância política,
no qual a classe trabalhadora mexicana era retratada como protagonista da luta contra a exploração e
opressão burguesas. Sob tal ótica, a luta de classes conduziria à revolução proletária e a consequente
101
destruição do sistema do capital. A pesquisa ampara-se no método do materialismo histórico-
dialético, compreendendo que suas categorias centrais e seu método respondem, necessariamente,
às pretensões de compreensão do processo aqui evocado, com tudo o que representa no mundo
cultural, social e político do México de então.
Resumo: Assim como a ideologia que se espraia para todos os complexos sociais de modo que tudo,
nas sociedades de classes, está impregnado de ideologia, as lutas mais fundamentais em torno
do controle do metabolismo social atinge não somente o complexo econômico, mas também os
complexos ideológicos, se manifestando também no campo da memória. Este, por sua vez, é um campo
de disputa que desempenha um papel crucial nas lutas de classes, pois, é nesta esfera de atuação
que será disputado a forma como os conteúdos de memória serão lembrados pelos sujeitos. A forma
como esses sujeitos vão se lembrar dos acontecimentos, se pela perspectiva das classes opressoras
ou a partir do ponto de vista da interpretação dos fatos das classes oprimidas, será determinante
para o comportamento ético dos sujeitos diante do mundo no tempo presente. Assim, todas as
memórias são, necessariamente, memórias de classes. A razão de tal afirmação encontra-se no fato
de que o sujeito não pode se autonomizar completamente em relação as determinações estruturais
da sociedade na qual se reproduz, dado que os sujeitos são, indubitavelmente, desdobramentos
necessários do conjunto das relações sociais. Neste sentido, todos os seus atos produzem memórias
que não podem ser dissociadas da sua condição material. A questão que se coloca decisiva neste
complexo de problemas é saber a partir de que perspectiva de classe as memórias serão lembradas
pelos sujeitos.
O cerrado à luz da Doutrina de Segurança Nacional: a ditadura militar e seu projeto de refundação
da agricultura brasileira (1964-1974)
JÚLIO ERNESTO SOUZA DE OLIVEIRA (UFBA)
102
dos movimentos sociais do campo, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), e de periódicos variados.
Importante assinalar que este trabalho não se pretende de fôlego, sendo desenvolvido de maneira
melhor acabada no âmbito de uma dissertação de mestrado.
Resumo: O trabalho em questão refere-se as terras sertanejas de uso comum denominadas fundo
de pasto, que caracterizam-se como áreas abertas, geridas por associações agropastoris e utilizadas
coletivamente para a criação extensiva de caprinos e ovinos, maior fonte de renda dos moradores
dessas comunidades, bem como, para o extrativismo e beneficiamento de frutos da caatinga (umbu,
maracujá do mato e licuri). Sua origem está relacionada à ocupação do interior baiano inicialmente para
criação extensiva de gado, no século XVI, a partir da concessão de Sesmarias as famílias D’ávila (Casa
da Torre) e Guedes de Brito (Casa da Ponte). De acordo com o grupo de pesquisa Geografar (Geografia
dos Assentamos Rurais) da Universidade Federal da Bahia – UFBA, na Bahia existem atualmente 576
(quinhentas e setenta e seis) áreas de fundo e fechos de pasto, presentes em 49 (quarenta e nove)
municípios, situadas sobretudo, nas Regiões Norte e Nordeste da Bahia. A discussão em questão
refere-se ao período militar no Brasil no que tange a questão agrária, mais especificamente, as políticas
desenvolvimentistas regionais e como estas impactaram na mercantilização das terras utilizadas
coletivamente por essas comunidades de fundo de pasto, situadas sobretudo, na Região Nordeste da
Bahia. O processo em que uma categoria de bens vira mercadoria é o da mercantilização. Mercantilizar
um bem é fazer com que ele se transforme em, ou passe a funcionar como mercadoria. A terra do
fundo de pasto não estava à venda, mas as políticas desenvolvimentistas com seus créditos fartos
(para alguns) proporcionaram a grilagem de muitas delas pelo poder do capital que invadiu o campo
e o que antes tinha valor incalculável, entrou para o mercado e a relação com a terra que outrora
era permeada pela “lei do costume”, passou a ser regida pela “lei do capital”. O foco principal são as
políticas que se dedicaram ao desenvolvimento da Região Nordeste, sobretudo, das políticas gestadas
para a questão agrária que garantiram a continuidade do que a Lei de Terras de 1850 permitiu, a grande
propriedade e, de modo mais específico, o Projeto Sertanejo que impactou diretamente as áreas de
fundo de pasto.
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar a trajetória de luta dos trabalhadores
rurais do município de Feira de Santana, mais precisamente na comunidade Candeal II entre o período
de 1970-1980. Tal trajetória marcada pela disputa da posse da terra que consolidou na organização
comunitária da comunidade. Esta fica localizada no Distrito de Matinha, pertencente ao município de
Feira de Santana - Ba. A proposta da pesquisa tem o intuito de discutir a “Memória da Terra: Conflito
pela posse da terra em Feira de Santana-Ba 1970-1980”, tendo como objetivo investigar a memória
dos trabalhadores Rurais do Conflito de terra da fazenda Candeal, procurando compreender através
da memória de luta dos trabalhadores rurais as possíveis estratégias de ressignificação da luta de
classe pela posse da terra. Para isso, Utilizo como metodologia da História Oral, como método de
investigação para o desenvolvimento desta pesquisa, bem como outros tipos de documentos como
Jornais. Nesse sentido, analisar este conflito consiste na importância em pensarmos nas lutas pela terra
103
realizadas no país na segunda metade do século XX que marcam as diferentes regiões interioranas do
Estado da Bahia e consolidou na formação de comunidades dentro dos territórios. Assim, a partir da
perspectiva da história local e da história oral o presente trabalho pretende recuperar as relações mais
complexas entre o vivido e o narrado. Através da memória de luta dos trabalhadores rurais é possível
compreender o território é enquanto um espaço dinâmico constituído por relações de disputa e poder.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo dialogar sobre a tessitura de relações em torno da renovação
do sistema prisional do estado de Pernambuco, ocorrida durante a última década do regime ditatorial
civil-militar (1970-1980). Para realizar esta reflexão, utilizaremos o aporte teórico de Michel Foucault
e seus estudos sobre os dispositivos de poder, biopolítica e dominação; Michelle Perrot, na construção
de uma reflexão acerca dos sistemas carcerários através da história. Para isso, pretendemos expor as
narrativas discursivas através de uma análise dos textos legislativos, que delinearam e autorizaram tais
modificações no sistema prisional. Além dos arquivos legislativos, analisaremos os testemunhos dos
periódicos em circulação no período, a fim de identificar qual teria sido o impacto dos acontecimentos
referentes ao tema na opinião pública e como esta haveria de não apenas recebe-los, mas de direcioná-
los por também se conformar numa instituição de poder. Neste caso, contaremos com o suporte teórico
de Maria H. Capelato, acerca da influência da imprensa nas relações de poder. Convém salientar que o
presente trabalho direciona a busca, a partir da leitura e análise dos testemunhos destas instituições,
por um discurso ou mesmo de indícios de uma reflexão, ainda que embrionária, dos direitos humanos,
condições prisionais e ressocialização dos apenados.
Resumo: O movimento LGBT vem desenvolvendo uma trajetória histórica de lutas e resistência
no mundo e no Brasil, contra as diversas discriminações, opressões e repressões producentes da
concepção hegemônica do cis – heteropatriarcado. Os enfrentamentos conduzidos pelo movimento
LGBT brasileiro, em diversos momentos da história, desde o punitivismo inquisitório ao Estado
higienista perpassando pela patologização das pessoas de gênero não-binário, até a luta contra a AIDS
e a busca pela promoção e reconhecimento dos direitos civis e cidadania, demonstram a materialização
despatriarcalizadora e descolonizadora da resistência, corroborando, com a ressignificação das
normas e da estrutura do poder decodificada nas práticas sociais. O texto abordará, em linhas gerais,
aspectos da trajetória das lutas LGBT no Brasil da década de 1970 a 2000, a partir da discussão teórica
desenvolvida na pesquisa de dissertação de mestrado, ainda em andamento, intitulada: “A luta contra a
homotransfobia em Vitória da Conquista: um estudo sobre a memória histórica da relação movimento
LGBT e poder público municipal”.
Resumo: Esta comunicação oral busca apresentar o estágio parcial da pesquisa de doutorado que
venho desenvolvendo na UFRJ, pelo PPGHIS. Trata-se de um trabalho sobre a lesbofobia na Primeira
104
República representada por meio, inicialmente, da mídia jornalística do período em que notícias sobre
o tema das lésbicas foram veiculadas em jornais. O conjunto das fontes primárias encontradas está
disponível em diversas sessões dos jornais e em periódicos de vários cunhos ideológicos, afinal, a
questão lésbica era pouco comentada, mas esteve presente, como pode ser comprovado por meio
de tais fontes. São muitas formas de lesbofobia encontradas nos discursos jornalísticos. É possível
destacar, porém, que grande parte das notícias encontra-se nas páginas policiais, ou seja, que a
figura da lésbica é sistematicamente associada ao crime. O entrelaçamento de alguns preconceitos
é perceptível, além da grande criatividade sobre o universo lésbico, evidentemente desconhecido e
apavorante. Por fim, o trabalho está em desenvolvimento e aponta apenas análises preliminares sobre
as reportagens através de um adentramento teórico incipiente na temática tanto da criminologia
quanto da Primeira República carioca.
A eterna luta pela democracia no Brasil: por que a retórica ditatorial permanece viva?
RICARDO OLIVEIRA ROTONDANO (UFPA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ), DANIEL SOUTO
NOVAES (FTC - FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DE JEQUIÉ)
Resumo: A ditadura militar brasileira foi um período histórico conhecido pelas atrocidades cometidas
contra pessoas que se opunham ao regime autoritário e ditatorial instaurado, com graves violações
aos direitos humanos da população. Foram efetuadas prisões arbitrárias, torturas e assassinatos,
supostamente em prol da ordem e do bem estar da nação (CONTREIRAS, 2005). A partir do engajamento
dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada, houve a superação deste quadro institucional,
promovendo-se o retorno à democracia. Tal processo de resgate do panorama democrático do
país veio em conjunto com a consolidação de um rol expresso de direitos fundamentais, inseridos
na Constituição Federal de 1988. A referida Carta Magna constituiu-se como mecanismo político e
jurídico de defesa contra quaisquer tentativas de violação do regime democrático brasileiro, bem
como quaisquer investidas que atentassem contra os direitos e as liberdades fundamentais das/dos
cidadãs/aos (ROTONDANO, 2015). Não obstante o regime democrático tenha sido resgatado nestas
últimas décadas, a retórica ditatorial permanece viva em determinados grupos sociais, emergindo
principalmente em situações de crise institucional e política. Nas manifestações contra a ex-presidenta
Dilma Roussef (CHAPOLA, 2014; LIMA et. al., 2015) ou na greve dos caminhoneiros (ROSA, 2018;
LONGO, 2018), ecoaram vozes e cartazes pedindo a realização de uma intervenção militar no país. Tais
grupos fortaleceram o seu discurso com a recente eleição de Jair Bolsonaro e de Antonio Hamilton
Mourão para a presidência e para a vice-presidência da república, respectivamente – visto que ambos
possuem clara posição pró-intervenção militar (MERCIER, 2020; VILELA, 2019). O presente escrito tem
como objetivo analisar os possíveis fundamentos sociopolíticos que impulsionam a crença de grupos
populares na intervenção militar do Estado como caminho profícuo para o alcance fático de anseios
sociais. Através dos métodos hipotético-dedutivo e dialético, utilizando-se as técnicas de pesquisa
comparativa, histórica, bibliográfica e documental, almeja-se problematizar a retórica ditatorial,
visando entender o raciocínio que embasa o seu desejo social por grupos de pessoas no Brasil. Mais
do que isso, realizar-se-á uma interlocução histórica, de modo a perceber como uma versão alternativa
da memória ditatorial pátria consegue se retroalimentar e disseminar suas ideias, alcançando
novos adeptos. Por fim, promover-se-á um debate acerca da possibilidade jurídica de manifestação
pública de pleitos referente à intervenção estatal e da instauração de uma ditadura militar no Brasil
na contemporaneidade. Em um Estado Democrático de Direito, haveria espaço para que o discurso
público solicitando uma intervenção militar ditatorial seja proferido?
105
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
“É tudo nosso e nada deles”: o Ensino de História e as produções de sentido para os educandos da EJA
no Sistema Penal de Salvador
FÁBIO CARVALHO DA HORA (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO)
Resumo: O espaço prisional, comumente descrito como lugar de penitencia, onde os sujeitos que infringiram
as normas do contrato social devem “purgar seus pecados”, é também o lugar previsto na Constituição
Federal Nacional, no Código Penal e na Lei de Execuções Penais, para a “recuperação” e ressocialização
destes indivíduos apenados à sociedade. A educação cumpre um papel estratégico de resgate da cidadania
e de preparação para o pós-cárcere e entre as matérias elencadas no currículo básico, a História ganha
destaque. O objetivo da nossa pesquisa é investigar os significados atribuídos pelos estudantes privados
de liberdade aos saberes históricos produzidos na dinâmica do ensino de história nas das celas de aula,
compreendendo, a formação de uma consciência histórica a partir de um processo formativo que, não
só não é neutro, mas parte integrante de um confronto entre a subjugação e resistência. Teoricamente
fundamentados em conceitos da pedagogia critica, educação em prisões, consciência histórica e operação
historiográfica escolar, entendemos que a consciência histórica não é um privilégio de alguns indivíduos
capazes de pensar a história, mas algo que faz parte do dia-a-dia do homem. Isto abre espaço para o
entendimento de que os alunos, em geral, são dotados de uma consciência histórica, pois todos os dias
são levados a lidar com diversas situações diárias que exigem reflexão e interpretação da realidade e nessa
lógica, o conhecimento histórico, como elemento da consciência, história exerce um papel decisivo em suas
vidas. Para atingir o objetivo proposto e responder à questão central deste estudo, desenvolvemos uma
pesquisa Colaborativa de abordagem Qualitativa, para valorizar a participação e o lugar de fala dos sujeitos.
Esperamos contribuir para o debate sobre a educação em prisões, fortalecê-la como direito, ampliar os
horizontes metodológicos, para a melhoria do ensino de história nesses espaços e contribuir inclusão social.
Que aprendizagem histórica é essa? Uma análise da competência narrativa de estudantes do 3º ano
do Ensino Médio
IONE MACHADO SANTOS, VALTER GUIMARÃES SOARES (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE
SANTANA)
107
Ao todo, conseguimos 74 narrativas. Para analisá-las utilizamos um bloco de perguntas elaboradas pelos
integrantes do Grupo de Investigação em Didática das Ciências Sociais (GREDICS). Seguidamente, inspirados
na Teoria Fundamentada em Dados (Grounded Theory), as produções dos estudantes foram agrupadas em
categorias, escalonando desde aquelas que mais se distanciam de uma narrativa histórica até elaborações
que informam um maior grau de complexidade.
Em termos de resultados nota-se uma ambiguidade: os estudantes demonstram ter um bom desempenho
nas questões de Enem e vestibular, todavia, o mesmo não acontece nas produções textuais. A análise das
narrativas deixa ver que parte considerável dos textos, pouco mais de um terço (34%), sequer podem
ser classificadas enquanto narrativa histórica. Alguns não apresentam informações históricas e contexto
espaço-temporal. Outros, apesar de conter informações históricas, seguem a cronologia das imagens, que
são descritas de forma individualizada. Em geral, as narrativas indiciam fragilidades na sua estrutura, de
modo que não articulam as diferentes temporalidades, apresentam informações históricas fragmentadas
e desconexas, incoerência temática, e consequentemente inconsistências em relação às competências de
experiência, interpretação e orientação, desfecho que coloca em questão e sob suspeita a efetividade e a
qualidade da aprendizagem histórica dos/as estudantes.
Resumo: Essa comunicação apresenta uma pesquisa em andamento cujo objetivo é analisar como os
alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II compreendem a escravidão africana e suas relações com o atual
contexto da sociedade brasileira. Localiza-se no campo do Ensino de História, dialogando com as discussões
acerca da aprendizagem histórica e do conceito substantivo de escravidão. Os Estudos que tratam desses
dois aspectos fazem parte de um campo de investigação denominado Educação Histórica.
De acordo com Albuquerque Júnior (2012, p.31) a tarefa da história na contemporaneidade “é ensinar e
permitir a construção de maneiras de olhar o mundo, de perceber o social, de entender a temporalidade
e a vida humana”. Esta concepção acerca da história deve ser evidenciada também em seu ensino, ou seja,
ao entrar em contato com a disciplina o aluno deve ser sensibilizado a refletir os processos históricos numa
concepção temporal dinâmica. Nesse sentido, o aprendizado da história ultrapassa a simples acumulação de
fatos históricos conhecidos linearmente e sem relação com a vida prática dos estudantes. Essas concepções
iniciais apresentadas aqui acerca do aprendizado histórico aliam-se na pesquisa com a importância da
abordagem do tema da escravidão africana nas aulas de história. Parte-se da premissa de que o ensino
de história necessita ter vínculo com a vida prática dos sujeitos e que sua abordagem deve considerar
temas sensíveis de seu passado e do presente. Sendo assim, pretende-se investigar essas questões, no
sentido de compreender o pensamento histórico dos alunos acerca deste passado e suas relações com o
contexto atual da sociedade brasileira. A pesquisa será realizada numa escola da rede pública do município
de Poções, com alunos do 9º ano. Entendemos que nessa etapa da escolarização os alunos já trabalharam
o tema Escravidão, sendo, portanto, possível dimensionar e analisar, com base na proposta das atividades
que deverão ser realizadas em sala de aula, o pensamento histórico construído pelos estudantes a respeito
do tema em questão. A pesquisa ainda pode contribuir para identificar se os alunos conseguem estruturar
cognitivamente o seu pensamento histórico sobre a escravidão de modo a considerá-la um processo
que envolveu a ação de diversos atores sociais com visões de mundo, perspectivas e vivências distintas
que foram em certa medida impactadas pelo sistema escravista e as diversas formas de violência, o que
torna o acesso a este passado da nossa História difícil de ser tratado, entretanto, indispensável quanto
à necessidade de compreender as questões tanto presente como também de perspectiva de futuro.
108
Pretende-se inicialmente colher as narrativas dos alunos sobre suas ideias sobre o tema em questão a
partir de aulas oficinas.
Resumo: Nesse texto encontra-se o resultado de parte da pesquisa desenvolvida junto ao Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPGED), da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). A discussão aqui
apresentada objetiva demonstrar os meios pelos quais os alunos mais confiam para interpelar o passado e
insere-se no campo do ensino da História. Tendo o aporte teórico sido cuidadosamente selecionado, entre os
autores utilizados estão: Flávia Caimi (2017); Margarida Oliveira e Itamar Oliveira (2014) que, seguramente
contribuíram com o diálogo aqui apresentado. A abordagem qualitativa foi definida como matriz teórico-
metodológica e empregamos a análise de conteúdo para o tratamento dos dados. Ressaltamos o valor
desta pesquisa por entendermos que, por meio da investigação no campo do ensino de História, é possível
identificar e analisar a compreensão das ideias históricas dos alunos – no caso de nossa investigação, mais
especificamente alunos do ensino médio – bem como, nos leva a refletir sobre os meios pelos quais eles
confiam e gostam de acessar o passado e, sobretudo, o conhecimento histórico, ajudando a deslindar os
caminhos didáticos da história.
NA TERRA DE CHICO PINTO: ideias históricas de estudantes do ensino médio sobre a Ditadura civil-
militar
IUKA LIMA CERQUEIRA, VALTER GUIMARÃES SOARES (UEFS)
Resumo: Neste trabalho, parte de uma pesquisa mais ampla, na qual analisamos as ideias históricas
sobre Democracia e Direitos Humanos de estudantes do Ensino Médio, fazemos um diagnóstico sobre
as representações e posicionamentos de jovens sobre a Ditadura Civil-Militar. São temas relevantes e
recorrentes no atual cenário sócio-político do país, e que marcam presença tanto no âmbito do currículo
escolar quanto em vivências da cultura histórica fora da sala de aula. No caso específico, constituem os
sujeitos da pesquisa jovens de escolas públicas e privadas da cidade de Feira de Santana, Bahia.
Filiada ao campo da Didática da História, a pesquisa se pretende um desdobramento do Projeto Residente:
O observatório das relações entre jovens, história e política na América Latina. Coordenado pelo Prof.º
Luis Fernando Cerri e composto por uma equipe de pesquisadores de vários estados e cidades brasileiras,
assim como, um significativo número de países latino-americanos, o Residente tem como objetivo mapear
as representações e posicionamentos de jovens do Ensino Médio e seus professores a respeito de diversos
temas, possibilitando assim gerar diagnósticos, abordagens panorâmicas e análises comparativas sobre
a consciência histórica, a cultura histórica, a cultura política e o ensino e aprendizagem de História nos
países da América Latina, sustentados numa base de dados ampla, já construída pelos participantes da
pesquisa. Para efeito deste momento do trabalho, recortamos da base de dados do Projeto Residente
aqueles referentes à Feira de Santana, cidade historicamente afetada de forma direta pelo regime militar,
constituindo-se em palco de cassações políticas, tortura e repressão. A partir de uma amostra de 284
jovens estudantes do Ensino Médio, situados na faixa etária entre 15 e 18 anos, investigamos as ideias
históricas acerca deste período, analisando o material a partir de um tratamento estatístico que levou em
consideração o posicionamento relativamente ao regime militar, intercruzando com outras variáveis, a
exemplo do interesse pelo tema, importância atribuída à história, à religião e à democracia, percepções a
partir do gênero e da condição socioeconômica, do tipo de escola (pública de periferia, pública de centro,
particular). Os resultados preliminares apontam para a presença substantiva de elementos de uma narrativa
109
que associa a Ditadura Militar no Brasil a ideias de desenvolvimento econômico, segurança pública e a
ausência de corrupção.
O jogo das alteridades: a significância histórica dos povos indígenas entre estudantes do Ensino
Médio.
PATRICIA MOURA DE JESUS (UEFS), VALTER GUIMARÃES SOARES (UEFS)
“História é nós”: significações da história por estudantes de comunidades rurais negras de Feira de
Santana.
BEATRIZ SOARES DA CONCEIÇÃO OLIVEIRA (COLÉGIO LIMITE)
110
histórico dos estudantes investigados, em sua maioria moradores de comunidade rurais negras,
é atravessado pelo apego à memória, pela importância atribuída a oralidade, bem como por um
sentido de pertencimento à história.
Ensino de História e Currículo no Pibid da Uesb: um estudo sobre conhecimento histórico e prática
docente no período 2013-2017
KELVIN OLIVEIRA DO PRADO (CNPQ)
Resumo: Neste resumo são apresentados aspectos de uma pesquisa que objetiva analisar o pensamento
histórico e as relações de ensino e aprendizagem de sujeitos que passaram pelo Programa de Bolsa
de Iniciação à Docência (PIBID) de História, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB),
ou seja, como graduandos bolsistas lidam com o conhecimento histórico e seu processo de ensino
e aprendizagem. Os referenciais da pesquisa passam pela discussão de currículo, ensino de história,
consciência histórica e pensamento histórico, tendo como base a Educação Histórica. A metodologia
sustenta-se na pesquisa qualitativa, produzidos através das narrativas dos ex bolsistas que atuaram
no Programa no período investigado. Essas narrativas foram coletadas por meio de um questionário
online, na plataforma Google Forms. Os dados foram captados por perguntas objetivas e subjetivas,
percebe-se que essa experiência é avaliada pelos sujeitos de maneiras diversas, particularmente no
tocante à práxis e pela aproximação com o campo do ensino de História. Ademais, identificar e analisar
como esses ex bolsistas compreendem a História e seu ensino, mas também como avaliam o Programa
e em que medida a experiência provocou mudanças na trajetória da formação dos indivíduos.
111
citar as contribuições de Nora(1993) e Salgado (2012). Essa experiência provocou reflexões no tocante
a prática pedagógica dos docentes envolvidos com o ensino de História, sobretudo pela riqueza
observada nas narrativas e nos álbuns produzidos pelos alunos. Os resultados obtidos resultaram
na reflexão sobre a importância de validar a realidade cotidiana desses sujeitos como princípio de
reflexão sobre a construção dos processos históricos. Além disso, analisou-se as concepções sobre
patrimônio histórico e cultural, memória e fontes históricas, possibilitando a formação sócio histórica
dos estudantes através da aprendizagem significativa, experimentando formas alternativas de se
analisar o passado, distintas das propostas pelos manuais didáticos.
Resumo: A forma como as sociedades compreendem e significam o tempo histórico contribui para
alterar a vida social. Se na temporalidade moderna o presente esteve à sombra de um futuro de
progresso, a contemporaneidade, desdobrada a partir das crises do século XX, mostrou-se menos
confiante no futuro. A visão teleológica deu lugar a uma outra ordem do tempo. Isto é, uma nova
engrenagem de passado, presente e futuro foi constituída. O passado não aparece mais como ponto
de orientação, mas deve ser preservado, porque o tempo pode destruí-lo. O futuro é percebido não
mais como promessa, mas como ameaça. Já o presente não é mais passagem ou expectativa. É sim, a
convergência do passado e do futuro. É um tempo em constante expansão, onde o acontecimento é
efeito das necessidades e interesses do próprio presente. Essa relação das sociedades com a passagem
do tempo, mais especificamente com a cultura epistemológica do presente, gerou mudanças na
ciência História, à medida em que o conhecimento histórico se voltou para uma hermenêutica dos
sentidos do tempo nas ações dos sujeitos. Por outro lado, essa forma de compreensão do tempo foi
influenciada pelo ritmo acelerado das transformações na área tecnológica, e, numa via um pouco mais
lenta, na linguagem. No avanço frenético das (TIC) Tecnologias de Informação e Comunicação, quase
tudo acontece no imediato e nele também se desmancha, desaparece. Isso implica na necessidade
permanente de atualização, de não se tornar ultrapassado, superado. Nesse presente em que
a obsolescência se tornou risco iminente, que papel cumpre o ensino de História? Como lidar com
identidades cada vez mais fluidas e fragmentadas do presente de simultaneidades onde o político
é cada vez mais pessoal e diz menos respeito aos projetos de transformação global? Como o ensino
de História pode contribuir para formar sujeitos questionadores, atentos e conscientes do jogo de
intenções e práticas que compõem a concepção do tempo atual? Sem dúvida, a compreensão da
dinâmica do tempo a partir do fomento à consciência histórica é um dos elementos vitais do ensino
de História e deve servir de parâmetro para a revisão de currículos, metodologias de ensino e para
as práticas educativas. Faz-se necessário articulação mais efetiva entre o conhecimento da ciência
especializada e o cotidiano da aprendizagem escolar para que as atualizações da produção científica
alcance a vida cotidiana, proporcionando o desenvolvimento da capacidade de interpretação do tempo
histórico e da competência narrativa.
112
andamento, e tem como objetivo: investigar como se deu o ensino de História na educação básica,
na rede pública de Vitória da Conquista - BA, durante o período ditatorial no Brasil, a partir das
memórias de professores. Percebemos que ainda há pouca produção sobre o ensino de História em
nível local, portanto, além da contribuição dada ao processo educacional, a ação dos professores
pouco aparece nos “documentos oficiais”. Contudo, esse caminho pode levar à problematização de
temas e objetos da área de ensino de História e da educação não contemplados em outras fontes,
neste caso, as escritas. Essa pesquisa está sendo norteada a partir da problemática central, qual seja:
De que forma a História foi ensinada na rede pública de Vitória da conquista no período da ditadura
civil-militar? Quais os significados das lembranças desta prática docente pelos professores de história?
Além das memórias de professores, lançaremos mão também de documentos escritos como leis, atas,
livros ponto, pareceres, jornais, diários de classe, ofícios, etc., Estamos fazendo uso de entrevistas
semiestruturadas realizadas com os atores da pesquisa, a saber: 06 (seis) professores que atuaram
na educação básica, na rede pública estadual, no colégio Instituto Euclides Dantas (IEED) e no Colégio
Estadual Abdias Menezes (CEAM), no município de Vitória da Conquista, no contexto em questão.
Esta pesquisa encontra-se em fase de desenvolvimento, portanto, ainda não há resultados conclusivos.
Resumo: Em tempos de negacionismo histórico recorro a Belchior e suas canções que refletem a
dialética do velho e do novo diante a uma esperança na mudança que sempre vem. Em Roupa Velha
Colorida, afirma Belchior, que “o passado é uma roupa velha que não serve mais” e assim, é preciso
abandonar os velhos costumes e nos abrir ao novo, pois “precisamos todos rejuvenescer”. A dialética
presente na canção adjetiva ao passado o peso do “antigo”, do “velho” e daquilo que precisa ser
esquecido frente a sua inutilidade no tempo presente. Assim, demarca-se um conflito latente no
cotidiano da sala de aula e que, no cenário político atual, implica diretamente sobre a aprendizagem
histórica e a formação da consciência histórica dos estudantes em fase de escolarização.
Segundo Peter Lee (2006) o passado é visto por uma grande maioria de alunos como algo permanente,
como uma paisagem fixa e a verdade associada ao que se pode provar “porque é dito assim no livro” (p.
137), pois só podemos saber sobre algo se estivermos lá e como isso não é possível, cabe a História nos
contar o que aconteceu. Outro elemento a ser considerado, sobretudo em tempos de redes sociais, é
que o passado está presente em diversos outros ambientes e que podem ser acessados de diferentes
formas por nossos alunos. Assim, Lee aponta que a desconstrução desse conceito pelos estudantes
será feita quando forem capazes de construir uma compreensão da disciplina História e uma estrutura
utilizável do passado. É, portanto, sobre o uso do passado em sala de aula e a aprendizagem histórica
que esse texto se propõe a refletir, a partir do estudo sobre o Nazismo e o Holocausto em turmas
dos 3º ano do Ensino Médio tendo como referência a leitura dos livros O diário de Anne Frank e
Entre Mundos: História e Memória dos sobreviventes do holocausto, de Maria Luiza Tucci Carneiro
e Carol Colffield. A atividade foi desenvolvida durante a última unidade letiva. A leitura das obras
aconteceu em paralelo a abordagem do conteúdo em sala de aula. De acordo com Lowenthal (1989)
e Oakeshott (2013) o passado conhecido por nós já foi experimentando como presente. Sendo assim,
o que permanece sobre esse passado conhecido são os vestígios, os fragmentos que nos permite
distingui-los, em uma dimensão temporal, do tempo presente. A partir desses pressupostos teóricos
nos atrevemos a propor aos estudantes uma aproximação com passado a partir do olhar daqueles
que o viveram. O elemento central, portanto, dessa reflexão, é como se dá a aprendizagem histórica e
das possibilidades de elaboração do pensamento histórico frente ao negacionismo tão em pauta em
113
nossos dias atuais.
Resumo: O presente artigo discute o potencial que a história local oferece como estratégia para
dar sentido ao estudo da história. Apresenta fundamentos teóricos que asseguram a importância
desse estudo e comenta os principais desafios enfrentados por professores e historiadores
nessa tarefa. Objetiva demonstrar como a conexão entre as vivências dos estudantes - no
que se refere ao legado histórico do local onde vivem - e a disciplina de história estudada no
currículo escolar, pode se transformar em aliado do professor para ressignificar metodologias
de ensino da história. Apoia-se teoricamente em autores como Barbosa (2006), Barca (2001), Lee
(2011), Albuquerque Jr (2012), Caime e Oliveira (2010). Destaca a Educação histórica como uma
perspectiva de ensino aprendizagem que valoriza a experiência do aluno no processo educativo,
tornando-o mais produtivo e contribuindo grandemente com o desenvolvimento do pensamento
histórico dos jovens. Propõe a problematização da história local como ponto de partida para o
estudante compreender a intencionalidade imbuída nos conteúdos históricos apresentados no
livro didático e elaborar questionamentos indispensáveis tais como: o que os acontecimentos
passados têm a ver com o mundo atual? Como influenciam a maneira de viver e de pensar de
homens e mulheres de hoje? Como ajudam a explicar o que está acontecendo agora, aqui onde
114
vivo? As coisas poderiam ter sido diferentes? Considera que os questionamentos sobre a história
local são oportunidades reais para o aluno exercitar a explicação de seu raciocínio histórico por
meio da resolução de problemas semelhantes aos da ciência histórica. Assim, ele poderá realizar
uma nova leitura da realidade, direcionando seu olhar sobre os fatos históricos, construindo um
conhecimento novo, no qual perceba os nexos que conectam experiências de outros tempos,
tomando o passado como marco de referência para compreender os problemas sociais do seu
tempo. Ressalta a possibilidade de efetuar pesquisas e métodos de análises comuns ao meio
acadêmico, cujas atividades permitem que os estudantes percebam-se importantes, atribuam
maior sentido ao estudo que estão realizando, uma vez que entendem que estão fazendo história,
reconstruindo conhecimentos. Esse exercício possibilita a prática da pesquisa histórica, ou seja, a
produção do conhecimento pelos alunos.
Resumo: Este trabalho tem a proposta de criação de um material didático para ser utilizado pelos
alunos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, como forma de auxílio em sala de aula para trabalhar
sobre a História da cidade de Santiago. O interesse por esse tema se dá no tocante de que eu, além de
ser professora do município de Santiago do componente curricular História, também sou professora
da referida cidade em Educação Infantil, atuando em regime de convocação suplementar durante
um semestre, como docente nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e, no momento da sala de aula
ou na coordenação das Escolas ser questionada sobre a origem, povoação e outros traços históricos
da cidade, não saber responder. Visto que não sou natural da cidade, não que isso seja uma requisito
básico para conhecer sobre a história de determinada localidade, observa-se uma enorme dificuldade
em encontrar materiais que dão um aporte teórico sobre essa questão, pois há um desencontro
e desconhecimento de informações, inclusive de personagens históricas que nomeiam os espaços
públicos, ruas e praças (GONTIJO, 2018). O que noto é que, fora uma pequena parcela da população
santiaguense, que está localizada em ambientes considerados mais “eruditos” – como museus,
escolas, memorialistas –, a maior parte das pessoas não sabe sobre a sua localidade e, percebe-se
que não há pesquisas atuais feitas na cidade para fechar essa lacuna. Pensa-se por isso, no estudo
da História Local, que surge com a “Escola dos Annales, a partir da década de 1930, na denominada
Nova História e nas relações interdisciplinares entre a Geografia e a História, trazendo novas
concepções metodológicas” (ALVES, 2018, p.48), aproxima o historiador do seu objeto de estudo.
Através dessa nova metodologia, a História se tornaria mais próxima do cotidiano do estudante,
principalmente, do aluno dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e, não consegue por conta do seu
próprio amadurecimento cognitivo compreender os conceitos históricos. Segundo Caimi (2016, p.24)
no artigo “Por que os alunos (não) aprendem História?”, devido ao não entendimento dos processos
cognitivos que ocorre um “verbalismo vazio que permeia as aulas de História, resultando ora na
passividade dos alunos, ora na sua resistência ativa frente à disciplina”. Soma-se isso ao despreparo
dos professores que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, que em sua maioria, possuem
graduação em Pedagogia, onde os conceitos específicos de cada componente curricular são apenas
pincelados e, por conta das avaliações nacionais, acabam priorizando em suas práticas pedagógicas
a Língua Portuguesa e a Matemática. Assim, este trabalho visa contribuir para o avanço dos debates
e a melhoria das práticas do profissional de História dentro e/ou fora da sala de aula.
115
REPRESENTAÇÕES SOBRE A ESCRAVIDÃO NOS LIVROS DIDÁTICOS: o que mudou
transcorridos dez anos da Lei 10.639/03?
CAIO PINHEIRO OLIVEIRA
O uso do paldet como instrumento digital para discussão histórica na educação básica
MATEUS CAMPOS RANZAN (ESCOLA MUNICIPAL ZILÁ PAIVA)
116
discentes e sua participação nas tarefas, procurando mantê-los envolvidos nos temas propostos.
O Padlet é uma ferramenta digital para construção de murais virtuais colaborativos, acessíveis
através do navegador de internet de computador ou aplicativo de celular. O acesso é gratuito,
embora com algumas limitações em quantidade de murais disponíveis. Além disso, está disponível
em língua portuguesa. Nos murais é possível deixar fixado fotos, vídeos, músicas ou textos que
já estão na internet ou próprios, seja do professor, seja dos estudantes. Permite que os alunos
expressem seus pensamentos sobre um tema norteador. Funciona como uma folha de papel
online, onde é possível colocar qualquer conteúdo referente ao tema proposto, interagir e realizar
comentários nas postagens.
Atualmente há uma gama de exemplos de como o padlet pode ser utilizado nos meios educacionais,
contudo é uma ferramenta que ainda carece de estudos científicos sobre sua aplicabilidade
efetiva como facilitador do processo de ensino e aprendizagem, especialmente para o ensino
fundamental. Pesquisas apontam como as principais vantagens dessa ferramenta sua interface
amigável, o que o torna intuitivo para ser utilizado, não requerendo grande conhecimento prévio,
sua gratuidade, além de não haver necessidade de criar uma conta no aplicativo para interagir. O
padlet concede uma interação entre os educandos e os educadores ao permitir seus comentários
e criações próprias, requisitos fundamentais para uma aprendizagem significativa assim como
incentiva a criatividade dos discentes ao explorar a internet na busca de maneiras de se expressar e
realizar as tarefas. Contudo requer acesso à internet de todos os envolvidos e alguns comentários
são somente cópia da internet.
Resumo: O Teatro possui uma íntima relação com o processo educacional (COURTNEY, 2001),
aparecendo com maior ou menor intensidade em determinados contextos esta linguagem se
manteve próxima às práticas educacionais e de escolorização desde pelo menos a antiguidade.
No entanto, a pesquisa e a difusão de metodologias para o uso desta ferramenta ainda são
bastante escassas no ensino de história. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar uma
experiência pedagógica realizada entre os meses de setembro e novembro de 2019 no
Colégio Estadual Moisés Bohana através da nossa atuação no projeto de Iniciação à Docência
“Revirando Séculos – Leituras do Tempo Presente” e no Programa Partiu Estágio. Na ocasião,
em conjunto com a Professora Márcia Lago e sob a orientação do professor Carlos Alberto
de Oliveira, foi realizada a adaptação da peça Teatral “As Vespas”, escrita por Aristófanes
(dramaturgo grego). A produção e execução da peça foi realizada pelos estudantes de todas
as turmas matutinas do 1ª do ensino médio da referida escola. O processo contou ainda
com o apoio e a colaboração de comerciantes, grupos e artistas da cidade de Ilhéus. A nossa
intenção foi desenvolver um trabalho com Teatro que aproximasse os/as estudantes dos
conteúdos relativos à Grécia Antiga e ao Teatro Grego (BERTHOLD, 2014) ao tempo em que
possibilitaríamos uma experiência de produção teatral em moldes próximos aos praticados
profissionalmente. O processo contou com fases distintas, a saber: 1 – Leitura, adaptação e
submissão da peça à Coordenação Pedagógica e aos/as demais professores/as da área; 2 –
Aulas expositivas com temáticas ligadas à Grécia Antiga e ao Teatro Grego; 3 – Formação dos
núcleos e equipes de produção da peça; 4 – Realização, concepção e pós-produção.
Os/as estudantes foram divididos em 05 grupos (Produção, Cenografia, Figurino/Maquiagem,
117
Som/Iluminação e Elenco), sendo que cada um deles contava com núcleos internos para
divisão de tarefas. Cada grupo participava de uma reunião semanal no turno vespertino e/
ou nos sábados, a exceção do elenco, que realizava três encontros semanais para a execução
de jogos, testes e ensaios (BOAL, 2008). Assim, o presente trabalho visa apresentar as
dinâmicas ocorridas durante o processo de produção da peça, com vistas a colaborar com o
desenvolvimento de novas metodologias ligadas para o uso do Teatro como ferramenta para
o ensino de História.
118
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: O presente trabalho propõe discutir sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) e seus limites para uma participação mais ampla e efetiva das merendeiras, no contexto
da educação no ambiente escolar. Tomando o PNAE como a política pública mais antiga no que
se refere à alimentação de escolares no Brasil, e também como parâmetro normativo para este
assunto, o programa denomina e trata a merendeira como um manipulador de alimentos. Embora
muitos estudos apontem a importância da merendeira como profissional da educação, que
contribui para a formação de hábitos alimentares, assim como reconhecem a alimentação escolar
ser um espaço permanente de aprendizado, o programa e suas diretrizes indica cursos de formação
inicial e continuada priorizando conteúdos marcadamente técnicos como, por exemplo, higiene
pessoal, manipulação higiênica dos alimentos, e as doenças transmitidas pelos alimentos. Estes
itens constam uma obrigatoriedade no “material orientativo para a formação de manipuladores
de alimentos que atuam na alimentação escolar”.
O objetivo pautado aqui é discutir a formação continuada proposta pelo PNAE e pensar olhares
outros para uma educação mais participativa que inclua as merendeiras, bem como as/os demais
profissionais da comunidade escolar. A importância deste trabalho reside em contribuir com
a fundamentação teórica de um curso de formação voltado para merendeiras da rede pública
municipal de educação de Itabuna, que possa criar um diálogo interseccional entre o trabalho
prático e pedagógico das merendeiras. Pretende-se abordar temas transversais a realidade
cotidiana das merendeiras nas escolas como negritude, pobreza, fome, educação, conversando
com o pensamento de autoras como Ângela Davis, Grada Kilomba, Bell Hooks, Lélia Gonzalés e
tantas outras/os que discutem as relações e interseccionalidades entre gênero, raça e educação.
Apenas o ventre-livre (?): Os limites impostos à lei 2.040/1871 pelo livro didático
CAMILA SÃO JOSÉ COELHO
Resumo: Essa comunicação tem por objetivo analisar o modo como o período emancipacionista é
abordado no Livro Didático de História do 8º ano, da Coleção Historiador, de autoria de Gilberto
120
Cotrim e Jaime Rodrigues. Considerando que a emancipação da mão-de-obra escravizada já
constava na pauta das discussões imperiais desde o início do século XIX (Parron, 2011; Schultz,
2008; AZAVEDO, 1987), busca-se aqui investigar o modo como o período emancipacionista, em
especial a Lei Rio Branco, promulgada em 28 de setembro de 1871 e conhecida como Lei do
Ventre Livre, foi retratada neste livro. Conhecida por libertar o filho das mulheres escravizadas
nascidos a partir da data da sua promulgação, a Lei do Ventre é muito mais abrangente e suscita
uma série de debates e questionamentos. Assim, parte-se do objetivo de identificar e refletir
sobre as representações deste processo no material selecionado, bem como analisar se o livro
didático atende ou não aos pressupostos para a aplicabilidade da Lei 10639/03 no que diz respeito
aos caminhos e sentidos para a conquista da liberdade. Para fundamentar esta reflexão, nos
amparamos em análises doa autores anteriormente referenciados, como também de Sidney
Chalhoub, Azoilda Loreto Trindade e Nilma Lino Gomes. Como bolsista vinculada ao Laboratório
de Estudos Africanos e do Espaço Atlântico (LEAFRO), da UNEB – Campus XIII, tenho investigado
as representações da África e da diáspora em livros didáticos do Ensino Fundamental II e foi no
âmbito desta experiência que esta comunicação foi elaborada.
Resumo: Os vetores semânticos que constituíram a gramática racial do interior da Bahia entre
os anos 1940 e 1960 compõem o pano de fundo da comunicação. Volto-me a trajetória do
Doutor Eduardo Fróes da Motta, médico, político, mestiço e um dos homens mais ricos de Feira
de Santana no período abordado. Diante o defeito da cor, a trajetória do doutor Eduardo se
tornou um importante lugar de observação das hierarquias raciais estipuladas pela sociedade do
período, bem como das táticas mobilizadas entre aqueles que transitaram entre os gradientes
de cor existentes. A comunicação discorre sobre os sentidos raciais compartilhados na sociedade
baiana dos anos 1940 e 1950 e como eles se materializavam na trajetória dos sujeitos não brancos
naquela sociedade. Para tanto, foram investigadas as cartas trocadas entre o doutor e seu pai,
Coronel Agostinho Fróes da Motta, além de algumas notícias de jornais que envolviam o sujeito
investigado. Dialogando com o conceito de racialização de Robert Milles (2004) e, também, com
os estereótipos do pensamento colonial propostos por Homi Bhabha (2013), a comunicação
debate as tensões e disputas em torno da trajetória dos sujeitos não brancos no interior da Bahia.
Entre as conclusões apresentadas, está a constituição de identidades não brancas continuamente
vulneráveis aos referentes de dominação raci(ali)stas e frequentemente marcadas pela negação
e flagelação identitária.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer uma breve análise sobre “a automutilação
proveniente do racismo no contexto escolar” e sobre a forma como ela é fortemente difundida no
imaginário social. A automutilação se tornou um assunto de cunho social e preocupante quanto ao
crescimento no âmbito escolar. Esse trabalho é uma reflexão inicial da pesquisa “automutilação
em adolescentes e jovens negros no contexto escolar” que será realizada no Instituto Municipal de
Ensino Eusínio Lavigne – IME, escola pública de Ilhéus/BA, esse estudo foi proposto pelo autor e
121
aceito no mestrado de Educação e Relações Étnico-raciais - PPGER da Universidade Federal do Sul
da Bahia – UFSB. O convívio entre os jovens serve para trocarem entre si experiências dolorosas
sobre a automutilação. Nesse universo, há uma explosão de novos conceitos e os adolescentes
se encontram inesperadamente com grandes dúvidas ao buscarem seu direito de estudar e
trabalhar, de realizar seus sonhos e projetos de vida. Diante desse contexto, os jovens se acham
despreparados, inseguros e imaturos para assumirem o protagonismo de suas vidas diante da
sociedade em que vivem. Essas incertezas da juventude são maiores na população negra devido
aos entraves sociais. A escola sempre foi vista como uma entidade neutra que trata todos de
forma igualitária. Tal igualdade não se reflete sobre sua atual função social, o que contribui com
a disparidade na sua maioria. A educação tem o poder de disseminar o pensamento ideológico
de quem conduz a sociedade. Assim, o sistema educacional estará sempre a serventia da classe
que comanda a sociedade. Trabalhamos com a hipótese de que os dilemas sociais que levam os
jovens negros a praticarem a automutilação são consequência do racismo, esses jovens convivem
diariamente com diversos sintomas angustiador de saúde mental, principalmente nas circunstancias
dos adolescentes negros: desprezo, relacionamento angustiante com a discriminação racial, de
gênero ou elementos sociais e econômicos. Os jovens negros sofrem com seus monstros internos
e não sabem a quem recorrer já que a escola também é um local de verberação e essa posição
torna os atos de racismo pouco perceptíveis. As jovens negras periféricas sofrem o estigma por
usarem mega hair, box braids, o que serve como incentivo para autoestima, e isso é o suficiente
para encadear atos preconceituosos, essas situações não são vistas ou percebidas, e quando são
percebidas passam por invisíveis. É visível que a educação do século XXI, precisa de nova roupagem
voltada para os princípios de igualdade.
Resumo: Procurando refletir sobre a Educação e as relações étnico raciais na escola pública
brasileira, esta pesquisa procura analisar a percepção dos/as professores/as sobre a educação para
as relações étnico-raciais no ambiente escolar. Para isso foi necessário dar voz ao corpo docente do
Colégio Estadual Camilo de Jesus Lima, situado em Vitória da Conquista-Bahia. A opção por essa
pesquisa tem como objetivo analisar a realidade estudada com base na minha vivência familiar e
profissional como professora e gestora e nas leituras de obras que retratam o cotidiano escolar
e as relações étnico raciais, entre elas as obras de autores como Petronilha Beatriz Gonçalves
(2002), Cidinha Silva(2014), Valter Roberto Silvério (2010), Julio Groppa (1998), Eliane Cavalleiro
(2000), Kabenguele Munanga (2000), Vera Candau (2003), Paulo Vinicius Baptista da Silva (2008)
Anete Abramowicz e Nilma Lino Gomes (2010), Karina Almeida Sousa (2010), entre outros. Para
tanto, a metodologia utilizada para a realização do trabalho consistiu, em um primeiro momento,
na aplicação de um questionário com o corpo docente dos turnos matutino e vespertino com o
objetivo de perceber o conhecimento e a prática dos professores com relação à Lei 10.639/03,
modificada pela Lei 11.645/08, que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena em todas as escolas, públicas e particulares, do Ensino Fundamental Médio.
Além da realização dos encontros utilizando a técnica do grupo focal com estudantes que se auto
declaram negro/a, foram feitas entrevistas com professores/as que atuam no Ensino Fundamental
e Médio e com a gestora da unidade de ensino, com o objetivo de fazer um contraponto entre as
falas dos(as) estudantes, dos representantes do corpo docente e da gestão escolar.
122
Com base nas respostas dos(as) docentes ao questionário e nas entrevistas acerca da temática da
História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, constata-se que a apropriação das Leis 10.639/2003
e 11.645/2008 ainda não se consolidou para esses profissionais que atuam na Educação Básica
do colégio. Apesar de conheceram a legislação e afirmarem saber da importância da aplicação
na escola, demonstram desconhecimento acerca da concretização pedagógica dessas leis pela
unidade de ensino, que deixa as discussões para serem realizadas apenas no mês de novembro,
com a culminância do projeto denominado “Novembro Negro”, ficando, muitas vezes, apenas no
âmbito cultural, sem dar ênfase a uma discussão teórica mais aprofundada sobre o tema.
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar como as memórias coletivas, presentes
nas narrativas autobiográficas das (os) fundadoras (es) da AQH (Associação Quilombola de
Helvécia), erigiram o discurso/ação de aquilombamento. O tema de pesquisa volta-se às memórias
narrativas e busca compreender como a família, a tradição, o trabalho, as redes de sociabilidade e a
identidade constituem maneiras de educação informal que têm contribuído para o protagonismo
das lutas pela certificação de Helvécia como comunidade remanescente quilombola. Nesse
caminho interpretativo as biografias são fundamentais, pois elas incorporam elementos do
contexto histórico, ou seja, marcas do processo político, econômico, social e identitário, além
dos modos de vida e resistência significativos para compreender a mobilização da comunidade
contra os danos causados pelo avanço da indústria de celulose. Metodologicamente, a pesquisa
está pautada em análises de fontes escritas e orais, a partir das quais procuramos perceber as
correspondências entre as biografias e o processo de aquilombamento. As memórias também têm
função pedagógica, portanto, (re)constroem vínculos afetivos, conferem significados coletivos a
ações aparentemente individuais, sensibilizam e fortalecem as lutas por direitos. Nesse sentido,
a escolha da criação de um site como produto pedagógico é duplamente proveitosa. Por um
lado, atende a demanda pelo fornecimento de material pedagógico para a utilização em espaços
educacionais formais, não-formais e informais, propiciando a valorização das identidades negras,
das lutas campesinas e das expressões culturais da história local. Por outro, cumpre o papel de
comunicação nas relações entre os moradores distrito de Helvécia e a Associação Quilombola
de Helvécia, tendo em vista a mobilização permanente baseada na reconstrução das identidades
coletivas dos aquilombados.
Resumo: O Recôncavo baiano abrigou uma das mais duradouras e resistentes instituições
123
escravistas do Império Brasileiro. Suas principais vilas, como Cachoeira, Santo Amaro e São
Francisco do Conde, importantes para a economia baiana colonial e imperial, congregou números
expressivos de cativos africanos e crioulos, empregados, sobretudo, na produção em larga
escala de cana de açúcar e fumo. Não raro, a população negra precisava empregar esforços para
conquistar e defender a precária liberdade diante dos interesses e desmandos senhoriais. A
condição de liberto ou livre, entre os africanos e crioulos, não assegurava viver em liberdade,
sem riscos ou incertezas da escravização e/ou reescravização. Ao contrário, o estigma da cor
marcava e servia como definidor de lugares sociais naquela sociedade oitocentista. A experiência
da liberdade e mobilidade era constantemente ameaçada ante os espectros da escravidão. O
caso da crioula Luciana e suas duas “crias”, Clementina e Maurícia, envolvidas num drama judicial
soa revelador dos interesses espúrios tramados por indivíduos estabelecidos na Freguesia de
Muritiba, Recôncavo baiano, que se assenhorearam delas, escravizando-as, a fim de obter ganhos
pecuniários. Esta comunicação tem como propósito refletir, a partir das histórias de Luciana e suas
filhas, experiências de escravizados e libertos na conquista e manutenção da precária liberdade.
Outrossim, a história de resistência das crioulas nos tribunais demonstra a corda bamba por onde
trilhavam pessoas negras livres, expostas à insegurança da escravização, apesar de viverem num
contexto crescente de ideias que pregavam o fim da escravidão.
124
considerados como seres incapazes judicialmente, ou seja, estes não tinham condições jurídicas
de iniciar uma ação de liberdade, tornando-se necessários a presença de um indivíduo de condição
livre para dar início a impetração da ação, sendo realizada por meio um curador nomeado pelo
juiz. Deste modo, o estudo tem o objetivo de apontar os conflitos e relações entre senhores e
escravizadas na Vila de Canavieiras, sinalizando alguns elementos do cotidianos como a família
negra, bem como as disputas pelas alforrias onerosas, como forma de compreender um pouco
sobre o Sul da Bahia e os arranjos familiares durante a segunda metade do século XIX.
Resumo: Neste texto apresento uma visão geral e preliminar das principais sociedades
abolicionistas da província da Bahia na década de 1880. O recorte temporal se justifica pelo fato de
que é justamente a partir desse momento que a campanha abolicionista ganha um novo impulso,
com a criação de diversas associações que tinha por fito a promoção da libertação de cativos e a
defesa da abolição da escravidão. As fontes utilizadas na pesquisa são em sua maioria oriundas da
imprensa periódica baiana e nacional, a exemplo da Gazeta da Bahia e do Diário da Bahia. Por meio
da análise das notícias veiculadas nos jornais, busco traçar um perfil da composição social e étnica
de seus membros; apresentar suas filiações e interesses políticos; perceber como representavam
o escravo e a escravidão; e, por fim, procuro elencar e discutir as principais estratégias de atuação
na promoção da propaganda abolicionista e na libertação dos escravizados.
125
(1886-1887): emancipação, trabalho e imigração
ELIAS LIMA PEREIRA (UNEB)
Resumo: O projeto substitutivo n. 546 elaborado pelo deputado Leovigildo do Ipyranga Amorim
Filgueiras, apresentado a assembleia legislativa provincial da Bahia no início de 1886, tem como
ponto central a criação de um sistema de imigração europeia com o intuito, ao menos no projeto,
de contribuir com o processo de substituição da força de trabalho escravizada pela assalariada.
No entanto, as discussões na assembleia provincial nos levam a perceber os objetivos ali
implícitos os quais podemos citar como preponderante o objetivo civilizador que esse projeto
carrega. A imigração proporcionaria um aperfeiçoamento da condição intelectual e afetiva da
província, fazendo com que a sociedade trilhasse os rumos do progresso e fomentando as teorias
de branqueamento racial já presentes no período. Neste âmbito, partindo de uma análise crítica
dos discursos proferidos pelos deputados sobre a substituição da mão de obra escravizada e os
interesses desses sujeitos em manter seus privilégios buscaremos contribuir no debate o sobre
pós-abolição percebendo a assembleia legislativa provincial como um campo de disputa entre os
“advogados” da agricultura, em constante crise, e da indústria, que buscava dar seus primeiros
passos, discutindo a partir de uma crítica interna aos documentos os caminhos explícitos e implícitos
propostos por esses agentes políticos no referente ao lugar do negro na sociedade, visto que a
imigração vem justificar por meio de uma “qualificação” do imigrante o restrito acesso dos negros
ao trabalho assalariado e a consequência desta exclusão é potencializada pelos defensores da
agricultura e seus privilégios que já buscam adequar escravidão, que só terá um fim institucional
em 1888, a um novo modelo que agora liga estritamente o negro a necessidade da terra para
sua sobrevivência, como aponta o contrato de locação de território do deputado Leão de Caldas
Britto em 1887.
Resumo: A presente pesquisa tem por finalidade analisar as experiências históricas de meninas
negras no período do pós-abolição em Salvador (Bahia), nos anos de 1888 a 1920, com enfoque
principal para a compreensão de aspectos relacionados à inserção destas menores mundo do
trabalho. A entrada de meninas negras no mercado de trabalho doméstico possui motivações
diversas. Essas razões estão relacionadas a orfandade, violência, infortúnios, migrações, doenças
e a existência de uma família em condições de precariedade. Semelhante aos anúncios de compra,
venda e aluguel de escravos veiculados na imprensa durante o sistema escravista, os jornais do
pós-abolição que circularam em Salvador entre 1889 e 1918 demonstram uma grande demanda
solicitações de trabalho correlacionando cor, gênero e idade com determinadas funções. Nestes
anúncios, também, percebe-se a grande demanda pela utilização de mão de obra infantil nos
serviços domésticos na capital baiana. Como procedimento de pesquisa analisamos os anúncios
presentes seguintes jornais da imprensa baiana: A Notícia, Correio do Brasil, Diário de Notícias,
Cidade de Salvador, Gazeta de Notícias, Jornal de Notícias e O Imparcial. Adota-se aqui a perspectiva
teórica dos estudos da história social, tendo como norteadoras as reflexões de Nicolau Sevcenko
(2003), Sidney Chalhoub (1998) e Petrônio Domingues (2011). Essa pesquisa justifica-se pela sua
contribuição com o preenchimento da lacuna existente acerca da história das mulheres negras
126
no Brasil, tornando-se pertinente para a historiografia brasileira e baiana por proporcionar a
discussão sobre trabalho infantil, gênero, raça e classe. Em síntese, a documentação trabalhada
permitiu evidenciar as estratégias de enfrentamento das mulheres negras em seus diferentes
contextos.
Resumo: O trabalho que ora pretendemos comunicar diz respeito a um projeto de pesquisa inicial
com o qual fomos aprovados em um programa de pós-graduação. Pretendemos nesta comunicação
apresentar as principais hipóteses, alguns dos objetivos da pesquisa, bem como o quadro teórico-
metodológico, afim de suscitar debates e contribuições para nosso estudo investigativo.
Tomamos como recorte espacial a região do Recôncavo Baiano, que compunha a hinterlândia
da qual Salvador dependeu durante todo o período colonial e que possibilitou à Bahia tornar-
se, sobretudo na maior parte do XVIII – auge da produtividade dos seus engenhos de açúcar
– a segunda região açucareira mais importante da Colônia. A partir dessa região, marcada por
um passado escravista e memória social da presença negra e africana que dão o tom de sua
paisagem sociocultural, teceremos um estudo sobre os significados das masculinidades para os
homens de camadas populares no imediato pós-abolição, entre os anos de 1889 à 1920. Mais
precisamente, nosso estudo cetra-se na cidade de Santo Amaro que, ao lado de São Francisco
e outras paróquias, foi nas palavras de Schwartz o “coração do Recôncavo açucareiro e o berço
da sociedade dos engenhos” (SCHWARTZ, 1988, pp. 90), entre os séculos XVIII e parte do XIX.
As experiências de homens negros e mestiços dos setores populares são analisadas a partir do
cruzamento das categorias de gênero, raça e classe, para uma compreensão as interações sociais e
sentidos de masculinidades para estes. Delimitamos como baliza temporal 1889 a 1920 , partindo
do pressuposto de que as experiências e ações dos trabalhadores negros e mestiços atravessaram
o moldar das sociedades que se formavam naquele momento (MATTOS, 2004). O pós-abolição,
período de grandes transformações e efervescência político-social, além de um privilegiado recorte
para se pensar as relações raciais, mediante as expectativas de inserção social para os homens
recém egressos da escravidão, constitui-se enquanto um importante problema historiográfico.
Dilemas e disputas entorno do reconhecimento de sua cidadania (GOMES, 2007), dos seus projetos
de liberdade e enfrentamentos em uma sociedade extremamente racializada (FILHO, 2006;
ALBUQUERQUE, 2004) estiveram colocados para esses homens, que ao reinventarem formas
de trabalho, sociabilidades, lazer, também recriavam formas de masculinidades. Os embates e
processos históricos que se desenvolveram nesse período ganham sentido mais completo se
levarmos em conta a sua dimensão generificada também. Entendemos, portanto, as construções
de masculinidades como um lugar de conflito e de disputas, capaz de revelar aspectos novos desse
momento, onde projetos distintos de nação, de ideia de trabalho livre, estiveram em constantes
gestação e tensão.
127
empreendidas pelas pessoas negras nesse período. Partindo do entendimento de que o pós-1888
não significou uma condição de igualdade, muitos dos praticantes das religiões afro-indígenas
continuaram sofrendo repressões sociais após a abolição da escravidão. Apesar da Constituição
da República (1891) assegurar a liberdade de culto, na prática, os sujeitos continuavam sendo
reprimidos. Isso ocorreu, quase sempre, com base no Código Penal (1890) vigente da época.
Vistos por um segmento da sociedade como: feiticeiros, bruxos, charlatões, mágicos e etc. Essas
pessoas foram, muitas vezes, impossibilitadas da sua liberdade religiosa. No tocante ao catimbó,
essa retaliação pode ser observada a partir dos jornais que circularam no Recife nesse momento,
tais como: Diario de Pernambuco, A Província, Jornal do Recife, entre outras fontes. Além dessas,
os trabalhos dos autores CAMPOS (2001), Sweet (2007), BASTIDE (1985), SCHWARCZ (1993),
Chalhoub (2007), RIBEIRO (1952), entre outros, nos ajudaram nessa pesquisa. Procuramos
compreender a partir dessas análises como essas práticas culturais interagiram no espaço social
recifense, entendendo que, em alguns casos, esse contato contribuiu para a desconstrução dos
discursos negativos acerca do catimbó.
128
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Este texto tem por objetivo apresentar apontamentos e análises iniciais sobre a
afetividade no Ensino de História no Ensino Fundamental nas turmas do 6º e 7º ano da Escola
Estadual Ernestina Carneiro. As observações das atividades e relações estabelecidas por mim
com meus alunos e alunas na minha prática na escola citada entre os anos de 2016 e 2019,
como regente da disciplina História em 12 turmas do 6º ano e 5 turmas do 7º ano do Ensino
Fundamental. As palavras que eu disse pela primeira vez em cada turma, a maneira dos alunos e
alunos se comportarem em sala de aula, diminuição das ausências nas aulas de História, melhor
compreensão de conceitos, mais autonomia na elaboração de fichamentos em seus cadernos,
respostas mais elaboradas em atividades, aumento da participação oral durante aulas de História,
são alguns indícios que sinalizaram que Educação e afeto caminham juntos.
Relatos dos alunos e alunas ao longo desses anos dizendo que eu ouvia o que eles diziam, falava
que a letra deles e delas estava boa, que eu queria a resposta do “juízo” deles e não do livro
me apontaram que eles se sentiram estimados positivamente pela forma como as relações e
as atividades foram desenvolvidas durante as minhas aulas de História com base no afeto. Ao
me referir ao afeto em sala de aula desejo discutir o conceito de maneira mais ampla. Tratar a
afetividade além de abraços e beijos, embora eles ocorram e sejam muito bem-vindos, mas de
variadas formas usei, e não as esgotei, de construir as relações e desenvolver diferentes atividades
com os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental. Pude perceber que o afeto em minhas
salas de aulas, nem sempre no ambiente escolar como um todo, foi relevante para proporcionar a
boa parte dos alunos e alunas um local onde eles queriam estar, contar sobre o filme que viram e
que tratava do tema de aula, contar que ensinou algo que seu pai não sabia. Não eram as turmas
mais quietas, nem silenciosas, mas por algumas razões, entre elas as relações de afeto que
construímos, fizeram ser turmas sempre cheias.
A partir dessas observações e inquietações iniciais, almejo trazer para o debate a importância da
afetividade do Ensino de História do 6º e 7º ano do Ensino História, buscando compreender de quais
maneiras o afeto pode contribuir para o ensino-aprendizagem, maior aproximação e interesse
pelos temas da História, tornar a escola um local mais acolhedor e construir uma educação que
realmente valorize as diferenças.
130
entendimento de como estes/as estudantes se reconhecem no mundo, estou trabalhando com
narrativas autobiográficas recolhidas no processo de diagnóstico para o ingresso no ensino médio
na EJA do SESI Retiro em Salvador- Bahia. Neste diagnóstico, chamado de Reconhecimento de
Saberes, os/a estudantes constroem um e-portfólio pessoal contando suas trajetórias desde a
infância, passando pelo presente e suas aspirações para o futuro, registrando, nestas passagens
suas experiências profissionais, sociais e as experiências de educação formal que tiveram. O
objetivo final do Reconhecimento de saberes é a construção de um plano pessoal de estudos
específico para cada estudante de acordo com a sua necessidade de construção de conhecimento.
Esta pesquisa vem se desenvolvendo a partir de uma abordagem qualitativa fenomenológica,
portanto não faz análises das narrativas, mas percebe como os sujeitos vivem os fenômenos e estes
se manifestam em sua consciência e como isto se traduz nas formas que utilizam para representar
a própria realidade, assim as histórias autobiográficas contadas pelos estudantes da EJA nos darão
outras percepções sobre o território geográfico, o tempo, as transformações sociais, os impactos
das ações humanas etc ao mesmo tempo em que desenvolvem o saber histórico, se apropriando
dos próprios saberes e da importância deles para o mundo
Do conteúdo aos discurso: a aula de História como discurso articulador de práticas enunciativas
ALEXANDRE BARTILOTTI MACHADO
131
A Educação Científica no Ensino de História: desafios e inovações didático – metodológicas
HOMERO GOMES DE ANDRADE (IFBA)
Resumo: O presente trabalho é fruto das pesquisas, estudos e reflexões da tese em desenvolvimento
no Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (UFBA/UNEB/
IFBA/UEFS/Senai-Cimatec/LNCC) e trata da difusão da educação científica como uma abordagem
interdisciplinar, integradora e crítica, aplicada ao ensino de história. Nosso objetivo principal
consiste em destacar as contribuições da educação científica no ensino de história, tendo como
lócus de pesquisa o ensino médio integrado do IFBA – Campus Seabra, enfatizando como essas
práticas de ensino se configuram como fomentadoras de pensamento autônomo, ético e crítico
para os estudantes. Além disso, buscamos compreender como tais práticas são desafiadoras para a
sua implementação dentro do conteúdo programático da disciplina, e como podem ser inovadoras
do ponto de vista didático e metodológico por promoverem o pensamento multirreferencial de
disciplinas e conteúdos dentro da disciplina de história. Para tanto, a metodologia utilizada tem
como referência o estudo de caso aliado a metodologias da pesquisa social qualitativa. Como
resultados obtidos tivemos a formação de curso de extensão relativo à educação científica, a
proposição de ações com vistas a inovação metodológica para as aulas de história, bem como nos
processos avaliativos da disciplina.
132
seguinte, além do debate, a produção de fichamentos críticos sobre o material didático pesquisado
por cada discente. A proposta da pesquisa é renovar os saberes e propor caminhos mais eficientes
no tratamento do período ágrafo humano e sua importância para o ensino de História.
Resumo: A literatura se tornou um tipo especial de fonte pois é narrada pelo autor ou autora
a partir de vivências tornando-se uma ótima ferramenta para trabalhar o ensino de história.
Contudo, nosso objetivo é trazer alguns aspectos do ensino de história, através do uso da literatura,
utilizando algumas obras dos autores escolhidos para ensinar sobre alguns períodos históricos
vivenciados por eles, abordando os temas de gênero e raça como transversais. Neste resumo
iremos tratar do uso de alguns contos de Lima Barreto e da sua biografia. Iremos desenvolver
esse projeto na escola Municipal Almerindo Alves em Eunápolis na Bahia, localizada numa região
133
periférica da cidade, por isso a maioria dos alunos são pessoas desfavorecidas economicamente
e talvez alguns dos questionamentos, descobertas e situações se assemelhem com as que alguns
autores escolhidos vivenciaram em suas épocas, são alunos do 9° ano no componente de história.
Foram feitas algumas leituras para que pudéssemos através dessas demarcar os nossos sujeitos
e adquirir conhecimento sobre ensino de história, bem como sobre os personagens escolhidos.
Um desses trabalhos foi a dissertação de Carla de Moura intitulada Marias da Conceição, por
trabalhar com gênero e o seu público também era uma comunidade periférica e negra. Assim
como também foi feita a leitura da biografia de Lima Barreto escrita por Lília Schwarcz. O projeto
foi iniciado em outubro de 2019, com a finalidade de ensinar a história a partir da trajetória de
vida, atuação política e a produção literária de autores negros e negras, no período do Brasil
República. Neste resumo nos debruçaremos sobre a República Velha. Pesquisamos e separamos
as fontes históricas e um dos autores biografados foi Lima Barreto, escritor e jornalista brasileiro,
com grandes atuações na primeira República. Além de fazermos uma biografia para ser utilizada
na sala de aula também trabalharemos com os contos: O pecado e O filho de Gabriela, as crônicas:
Problema vital; A derrubada; Feminismo e o voto feminino e Uma nota, juntamente a esses contos
inserimos o diário íntimo. Alguns dos temas possíveis de serem tratados será a revolta da vacina,
a (re)existência dos negros, a educação como ato de liberdade e como era alguns posicionamento
das mulheres durante a República Velha. Ressaltamos que o projeto ainda não foi concluído.
Resumo: O presente projeto tem como finalidade o aprendizado de história em uma escola, pautado
em produções intelectuais e biográficas de personagens negras durante o Brasil republicano.
Buscamos como referências algumas dissertações no campo do ensino de história como a intitulada
de As Marias da Conceição de Carla de Moura, que aponta a importância da produção e ensino de
história negra. Para pensar Gênero e raça, bem como uma educação mais transgressora utilizamos
a Bell Hooks que discute classe, gênero, raça e educação. Hooks classificou alguns quesitos para
despertar o entusiasmos dos alunos, um deles é valorizar o a experiência de vida dos alunos nas
aulas.
O projeto é voltando para o 9º ano do ensino fundamental, para ser aplicado na disciplina de
história, na Escola Municipal Almerindo Alves Dos Santos ,situada na cidade de Eunápolis, Bahia. A
personagem escolhida nesse resumo é Laudelina de Campo Melo. E, para construir uma biografia
para ser usada como recurso didático utilizamos a dissertação de Elisabete A. Pintor que narra a
trajetória da personagem citada. Também escolhemos alguns recortes da entrevista de Laudelina,
cordel, vídeos e recortes de jornais. Assim esperamos aproximar a personagem dos alunos e sabemos
que as fontes históricas contribuem para o ensino de história, possibilitando que os alunos possam
ler a história. Conforme mencionado a personagem que trataremos nesse resumo é Laudelina Melo,
e ela foi escolhida para tratarmos da Era Vargas, com o foco nas lutas trabalhistas das empregadas
domésticas. A trajetória de Laudelina evidencia a luta trabalhista e contra o preconceito racial.
Acreditamos que essa mulher negra aproximará a história do cotidiano dos alunos, pois muitos são
filhos de empregadas domésticas negras. Através dela traremos uma protagonista negra para o
ensino de história. Contudo o projeto está em andamento, e biografia está concluída, e as fontes
(jornais, contos, crônicas, literatura, fotos, entrevista e biografia ) já foram reunidas para a elaboração
das aulas.
134
Povos Indígenas e a Guerra de Imagens no Ensino de História: relato de experiências de
pesquisas e produção de bricolagens didáticas.
FRANCISCO ALFREDO MORAIS GUIMARÃES (UNEB)
135
Abreu, Arievaldo Viana, Ana Marinho e Hélder Pinheiro, Franciane Lacerda e Geraldo Menezes
Neto; a lei 10639/03 e a história e cultura afro-brasileira: Nilma Lino Gomes, Kabengele Munanga,
Maria Telvira da Conceição; a questão de gênero no ensino de História: Carla Pinsky.
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas notas referentes aos
resultados da investigação desenvolvida no Mestrado em Educação da Universidade Federal do
Rio Grande – FURG (2015-2017) titulada: Cartografando Experiências no Ensino de História: A
Mídia Cinemática como Fonte Educativa em Sala de Aula. Na mesma, buscou-se compreender quais
foram as concepções sobre as mídias cinemáticas e seu papel no ensino que foram percebidas
nos trabalhos realizados por professores no ensino de História na cidade do Rio Grande/RS. Para
tanto, utilizamos como empiria questionários semiestruturados e respondidos por 26 professores
da rede básica de ensino público e entrevistas com cinco desse grupo de professores pesquisados.
A metodologia utilizada para desenvolver a investigação foi de cunho quanti-qualitativo, cujos
dados obtidos são descritos como significativos, densos e de uma riqueza de informações.
Para realizar o desenvolvimento da investigação optamos pelo método de análise de conteúdo
proposto por Laurence Bardin (2012). Esse método, segundo a autora, tem por intuito a descrição,
136
inferência e interpretação dos materiais coletados e catalogados e consiste num conjunto de
técnicas e instrumentos metodológicos capazes de efetuar a exploração objetiva de dados,
informações e/ou narrativas, destacando-os das diversas categorias de documentos. A análise
de conteúdo foi utilizada nos dois instrumentos utilizados para coletar os dados empíricos: os
questionários semiestruturados e as entrevistas orais. E os resultados encontrados durante o
percurso investigativo revelaram a compreensão de uma mídia cinemática que se configurou como
uma fonte histórica e, como tal, capaz de desenvolver os conteúdos de História, bem como o seu
caráter educativo gerador de habilidades cognitivas, bem como, análise, interpretação, reflexão,
além de proporcionar a ampliação dos sentidos estéticos dos estudantes. A fundamentação
teórica sobre a utilização das mídias cinemáticas no ensino de História está ancorada nos autores:
Carmo (2003), Duarte (2002), Guimarães (2013). Esses autores expõem que a utilização das mídias
cinemáticas no ensino potencializa a aprendizagem. Carmo (2003, p. 72) afirma ainda que o
cinema “pode fazer o aluno se interessar pelo conhecimento, pela pesquisa, pelo modo mais vivo
e interessante que o ensino tradicional, apoiado em aulas expositivas e seminários”. Desta forma,
o cinema é um importante mobilizador de aprendizagens, propicia a reflexão, a curiosidade e a
criticidade dos estudantes. Ratifica-se, portanto, que a mídia cinemática na sala de aula é mais do
que uma ferramenta didática, pois envolve questões subjetivas, históricas, políticas que exigem
que o professor a conheça bem.
137
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Eis que o dia tão esperado chegou! Depois de acompanhar aulas de alguns professores da
educação básica, (SANTA ROSA; LIMA, 2019, p. 4) visitar inúmeras escolas, participar de encontros,
como aqueles em que acontecem as atividades complementares, por exemplo, ver e rever
anotações nos rascunhos dos planos de aulas, elaborar sequências didáticas, o agora estagiário
se vê diante do momento de “tornar-se professor”. À constatação, segue-se um misto de prazer,
afinal este momento simboliza, também, mais uma etapa vencida na carreira do acadêmico e o
anunciar do quase término das idas e vindas à faculdade durante quatros seguidos anos, atividade
extremamente cansativa e onerosa para muitos. Mas, o Estágio Supervisionado se constitui,
também, em ansiedade, preocupação e por que não dizer, angústia diante de uma realidade
que demonstra as contradições entre o escrito e o vivido, o dito pelos discursos oficiais e o que
realmente acontece. (PIMENTA; LIMA, 2009, p.103). Para ter um bom desempenho não há receitas
prontas, mas sugere-se, de antemão, um olhar complexo, principalmente em relação aos alunos
de hoje, ditos pós modernos por alguns autores, portadores de um novo tipo de subjetividade
humana ― uma subjetividade pós-moderna ― que se caracteriza pela efetivação particular
da identidade social e da agência social corporificadas em novas formas de ser e de tornar-se
humano. (GREEN e BIGUN 1995). Estas são algumas das impressões deixadas pelos graduandos
do curso de Licenciatura em História, Campus XIV, acerca dos seus sentimentos, comportamentos
e ações desenvolvidos durante o período do Estágio Supervisionado. Esta comunicação oral
pretende problematizar o cotidiano vivido por duplas de alunos durante a regência no período do
estágio. Elaborado a partir da análise de seis relatórios, pertencentes a doze estudantes do curso
de História, procuramos considerar os ditos e não ditos contidos em cada parágrafo das mais de
trezentas páginas e que apontam para uma maior necessidade de planejamentos consistentes
e específicos, principalmente no tocante às sequências didáticas. Os relatos ainda enfatizam a
necessidade de um maior comprometimento, por parte dos graduandos, com as disciplinas deste
componente curricular.
Resumo: Através deste texto pretende-se fazer uma reflexão acerca da prática docente de um
historiador no Ensino Médio da Educação Básica brasileira, através da apresentação de questões
teórico metodológicas e didáticas que o aflige e ao mesmo tempo instiga o seu labor; da sua busca
de proporcionar um relacionamento de proximidade com os estudantes que seja propiciador
de um ambiente motivador do estudo histórico, bem como os limites por ele encontrado no
processo de aprendizagem. Também apresenta relatos de experimentos em atividades didático-
históricos nos quais se busca analisar suas possibilidades, resultados e limites encontrados em
sua aplicabilidade. A ideia é fomentar a consciência docente sobre a necessidade de formação
continuada no que tange às teorias historiográficas como um suporte de segurança para a sua
139
práxis em sala de aula, assegurando assim que verdadeiramente está incorrendo na formação de
um pensamento histórico em seu alunado.
Resumo: Este trabalho consiste na análise da relação entre teoria e prática vivenciada durante
o componente de Estágio Curricular Supervisionado II: Regência nas séries finais do Ensino
Fundamental, desenvolvido no curso de Licenciatura em História da Universidade do Estado da
Bahia – UNEB/Campus X e aplicado em uma turma noturna do 7º Ano da EJA (Educação de Jovens
e Adultos) na Escola Municipal Bela Vista, localizada na cidade Teixeira de Freitas – Bahia, no ano
de 2018, do mês de Março ao mês de Junho. A pretensão é analisar o estágio como um espaço
de encontro entre a teoria e a prática educativa, e portanto fugir da redução desse componente
a instrumentalização do ensino, talvez pela primeira vez, e portanto fugir da rotineira redução
desse componente a uma prática instrumental, como ainda ocorre nos dias de hoje, para a partir
disso discorrer de forma subjetiva os relatos desta experiência e as implicações desta na minha
formação docente. Será levado em consideração também o fato de o estágio ter ocorrido em
uma turma de EJA, portanto será abordado aqui reflexões relacionadas a realidade do aluno
dessa modalidade de educação, tendo em vista as a diversas especificidades e complexidades que
ela possui. Utilizarei um arcabouço teórico com os seguintes autores: Pimenta e Lima (2005/06),
Freire (1996), Luckesi (2002), Hobsbawm (1998), Fonseca (2015), entre outros autores. Escolhidos
por disporem essenciais reflexões relacionadas ao Estágio Curricular, o ensino de História e a
realidade do EJA no Brasil. A metodologia tem uma abordagem qualitativa e prevê a apreciação
de questões que vão desde às leituras, debates e orientações ocorridas no âmbito do componente
curricular até as práticas docentes supervisionadas na sala de aula, apresentando também as
impressões em relação as vivências no cotidiano escolar durante o estágio fazendo correlação com
os autores utilizados para o embasamento teórico. Por conclusão, destacarei as formas como a
experiência do estágio na EJA implicou em diferentes âmbitos da minha vida, são estes: O próprio
meio universitário, pois a vivência do estágio implicou de forma direta no meu desenvolvimento
acadêmico; O meio profissional, pois interpreto o estágio como fundamental para a gênese da
formação de minha identidade profissional, possibilitando compreensão de questões relativas à
função político-social da atuação docente o que se constituiu para mim e muitos colegas enquanto
um divisor de águas; E por fim, na minha vida pessoal, tendo em vista tudo o que aconteceu na
escola, em relação aos alunos e aos professores quais possui contato e foram parte essenciais
dessa experiência.
Resumo: A partir de 1990, a discussão em torno da política de formação continuada para professores
reascendeu principalmente após a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96.
Este estudo busca identificar como se deu a implementação desta nova dinâmica educacional
na rede municipal de ensino de Itabuna, situada no Sul da Bahia, no período de 1997 a 2008,
140
considerando que coube ao Ministério da Educação e Cultura a elaboração de um conjunto de
dispositivos legais que promovessem o desenvolvimento de uma agenda de formação continuada
em nível federal, estadual e municipal. Sendo assim, foram analisados os meios e os modos
utilizados pela Secretaria de Educação e Cultura do referido município para se inserir nessas novas
diretrizes educacionais sob a perspectiva de uma formação contínua voltada ao convívio social
entre diferentes culturas, reconhecendo os valores e os direitos humanos. Assim, observaram-
se os instrumentos de aperfeiçoamentos condizentes com as reais necessidades encontradas na
experiência docente diária, que oportunizam o crescimento profissional e a formação de uma
identidade coletiva dos professores. Além disso, foi abordada uma série de fatores extraídos
daquele cotidiano educacional/ administrativo, como: as sucessões de governo, mudanças de
projetos educacionais, coordenações e demais estruturas na rede de ensino. A discussão teve por
objeto os procedimentos vivenciados na Escola Grapiúna, devido à política de Ciclos de Formação
Humana instalados na rede e a produtividade de formações contidas no seu projeto. Logo, o
presente estudo pauta-se em questionar o conteúdo, a programação, a rotina e qual o grau de
importância dado a estas formações. Acredita-se que os resultados apresentados fortalecem a
ideia de que a política de Formação Continuada precisa progredir lado a lado com os principais
sujeitos destas ações: os professores.
Resumo: O Estágio Supervisionado nos cursos de licenciaturas constitui uma etapa imprescindível
no processo de formação dos alunos. Sua dimensão teórico-prática está sob a responsabilidade
das Universidades, mas são as instituições parceiras que constituem o campo real do exercício da
prática, ou seja, as unidades escolares são também corresponsáveis pela formação dos futuros
professores. Através do estágio nas escolas, os alunos passam a conhecer o ambiente profissional
nos seus mais variados aspectos. Dessa forma, o estágio compreende e expõe uma “face externa”
que implica no estabelecimento de diálogo e compromisso interinstitucionais, alicerçados em
planejamento e organização construídos por todos aqueles diretamente envolvidos na composição
das Comissões Departamental e Setoriais de Estágio, cujo foco é alinhar e mediar as demandas
oriundas dos estágios obrigatórios no interior da Universidade. Por isso, nesse artigo objetivamos
refletir sobre o estágio obrigatório supervisionado no âmbito da Universidade do Estado da
Bahia, a partir de dois aspectos importantes da Comissão Departamental de Estágio, definida no
Regulamento Geral de Estágio: o papel técnico da Comissão, no que concerne ao estabelecimento
das relações entre as instituições responsáveis pelo estágio e a sua dimensão formativa para
professores e alunos que a integram.
141
fases de execução, desde o processo de ambientação e imersão do licenciando ao ambiente
escolar, até sua atuação no planejamento de aulas e regência. O programa possui um formato
semelhante ao Estágio Supervisionado em suas diferentes fases, com a diferença de propor
um número maior de horas de regência. Possui uma estrutura própria que coloca o residente
em ação, dando-lhe mais liberdade e autonomia para executar sua ação docente. O presente
trabalho buscará com isso, realizar uma análise sobre o funcionamento do programa desde sua
implementação até atualmente, verificando o andamento do programa em comparação com o
estágio curricular obrigatório, apontando as semelhanças e as particularidades, levantando os
pontos positivos e negativos. Pretende-se com isso, investigar quais as contribuições o programa
tem trazido aos residentes em seu processo de formação de professores de História e medir a
partir da avaliação dos residentes como o programa está alheio ao processo de formação. Com
isso, verificar o andamento do programa em conjunto com o processo formativo, também sendo
de interesse observar a opinião dos residentes para com o andamento da residência pedagógica,
possibilitando opiniões, sugestões e criticas quanto ao funcionamento do programa em relação
a sua formação docente. Tratando-se das fontes e da metodologia, faz-se uso de uma pesquisa
qualitativa a partir de questionários semiestruturados onde os residentes respondem perguntas
com base na atuação no projeto, suas experiências com o programa aliado a sua formação. Foram
propostos questionários do mesmo modo aos professores supervisores. Esta sendo realizada
pesquisa bibliográfica em materiais que abordam o tema Residência Pedagógica e formação de
professores.
Resumo: O currículo da escola básica brasileira foi e continua sendo influenciado pela epistemologia
colonial de valorização da cultura europeia, em prejuízo das cosmovisões dos povos colonizados.
Conforme essa premissa, se realizou um projeto de discussões à luz da Educação Intercultural.
Objetivou construir um currículo decolonial praticado, segundo uma desconstrução do currículo
eurocentrado praticado. Tentaram-se romper certos silenciamentos de vozes subalternizadas que
muito contribuíram para a formação da sociedade e da cultura regional, quiçá brasileira. Assim,
o Projeto Estética Afro-brasileira, desenvolvido no Colégio Modelo de Itabuna, é uma ação de
intervenção do mestrado do PPGER/ Ensino das Relações Étnico-raciais/UFSB e propôs a discussão
de temas relacionados à diversidade cultural no Brasil, às relações étnicos-raciais e o combate aos
diversos tipos de preconceitos na sociedade brasileira. Este projeto propiciou reflexões sobre a
ressignificação da herança africana no cotidiano escolar preconceituoso na sociedade regional
e, talvez, brasileira. Objetivaram-se a desconstrução de alguns estereótipos geradores de
sofrimentos em diversos momentos do processo escolar das alunas e dos alunos afro-brasileiros.
A metodologia utilizada foi a leitura, a discussão e a produção de texto. O referencial teórico
utilizado, balizador das discussões e escrita, foi o artigo de Nilma Lino Gomes, intitulado: Trajetórias
escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural.
142
Os alunos do Ensino Médio das séries 2º e 3º ano com a orientação da professora de História,
autora deste resumo, construíram perguntas sobre várias questões pertinentes a estética afro-
brasileira. Desde a aceitação de si, preconceitos, gastos com cosméticos, uso de produtos químicos,
tempo na arrumação do cabelo. Após uma nova ressignificação e autoaceitação, outra ação foi
desempenhada como um ensaio fotografico dos alunos que se identificaram com o projeto.
Compreenderam-se as dificuldades no resgate da cultura e o sentimento de pertencimento afro-
brasileiro inerentes a uma aceitação do corpo e do cabelo crespo, na escolha dos acessórios, da
maquiagem, dos trajes, das pinturas artísticas, dos turbantes e das tranças. Logo, diante de certas
evidências extrapoláveis a outros contextos interculturais, proponho, nesse relato de experiência,
uma discussão sobre como desdobrar novas experiências, no espaço formativo escolar pautadas
num currículo decolonial, a partir das criativas e autocríticas vivências/resistências locais, em
detrimento do conhecimento europeizante ainda hegemônico e posto como universal. É no intuito
de promover mais subsídios a uma educação antirracista, de respeito às diferenças interculturais
que formam o povo brasileiro.
Resumo: Em 2003 foi promulgada a Lei n°. 10.639 que versa sobre o ensino da História e Cultura Afro-
brasileira e Africana. Esta insere no debate da educação nacional, a obrigatoriedade em discutir e
reconhecer a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira. A lei é resultado
de lutas sociais com participação pioneira dos Movimentos Negros, que viam a necessidade
dessa discussão, uma vez que a formação do Brasil é, majoritariamente, negra e descendente de
africanos. Enfrenta-se ainda hoje, 17 anos depois da sua promulgação, o desafio de implementá-
la, em todos os níveis educacionais (GOMES, 2013). Nos espaços escolares existem resistências
em abordar os assuntos que tratam da cultura e, principalmente, das religiões de matriz africana.
Essa resistência de uma interpretação bíblica que demoniza, em especial, o candomblé (ARAUJO
e ACIOLY, 2016). Isso ocorre por vários fatores, desde uma negação do professor em abordar a
temática ou a negação da família em aceitar discutir a religiosidade para além do fundamento
judaico-cristão. Os silenciamentos que ocorrem acerca das temáticas afro-brasileiras e africanas,
143
não se restringem apenas à religião, mas outros debates importantes, tais como: racismo
estrutural, feminismo negro, representatividade, lugar de fala, estereótipos, tornando-se gatilhos
para as várias formas de preconceitos, violências físicas e verbais em espaços que deveriam ser
de sociabilidade e respeito. Na rede escolar de Eunápolis problemas semelhantes puderam ser
identificados a partir de observações participativas e problematizadoras, realizadas através do
subprojeto PIBID/UNEB/CAMPUS XVIII “Entre textos, contextos e outros textos... narrativas
entrelaçadas entre linguagem e História na Educação Básica” e do componente curricular Estágio
Supervisionado I. O presente trabalho tem como objetivo analisar de que forma o curso de
História da UNEB (Campus XVIII), universidade pública que possui políticas e ações afirmativas
institucionalizadas, tem estruturado, em seu processo formativo, práticas para o rompimento
da educação racista, tomando como referência as problemáticas encontradas na Educação
Básica. É necessário refletir como universidade tem agido na formação dos futuros professores,
capacitando-os para dialogar e levantar na sala de aula situações-problema que contribuam para
superar o racismo, o preconceito e a discriminação. As fontes utilizadas foram os registros das
observações participativas e problematizadoras das aulas através do PIBID e do estágio. Também
foram analisados os projetos realizados no âmbito dos componentes curriculares que atenderam
a Lei 10.639/03. Conclui-se que a UNEB tem desenvolvido papel fundamental com seus alunos,
agindo de forma contínua para uma formação qualificada de professores de História.
Resumo: A escola configura-se como espaço cujos saberes situados podem alicerçar-se em práticas
de respeito às alteridades que valorizem as diferentes vozes que ali ecoam ou conformar-se como
ambiente que as excluem e as invibilizam atuando desta forma como eficiente dispositivo de controle
racial. Neste esteio, os complexos processos que culminaram no mito da democracia racial precisam ser
compreendidos e a acomodação da percepção da identidade étnico-racial a partir do desmerecimento
da figura da população negra precisa ser confrontada e superada para que os dispositivos da Lei Federal
no 10.639/03 convertam-se em práticas nas instituições escolares com reflexos em toda a sociedade.
Tendo a identidade racial do/a professor como mote, a presente comunicação tem por objetivo discutir
e problematizar a implementação da Lei Federal no 10.639/03. Será desenvolvida com o empenho de
discussão integrada sobre educação, identidade negra e formação de professor conforme nos credencia
as pesquisas de Nilma Lino Gomes (2002, 2003 e 2017), da abordagem sobre como preconceito racial se
configura na sociedade brasileira de acordo com o pensamento de Antônio Sérgio Almeida Guimarães
(2008) e de Petrônio Domingues (2005). Os dados estatísticos atinentes ao quesito cor/raça dos/as
professores da Educação Básica em âmbito nacional (Brasil), regional (Nordeste) e estadual (Bahia),
presentes no Censo Escolar da Educação Básica e as “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana” servirão de
fonte para o estudo na perspectiva de repensar posturas e estratégias para a concretização de uma
educação antirracista.
Resumo: Esta comunicação tem por objetivo pensar a aula de História do Ensino Superior a partir das
144
reflexões e experiências da disciplina de Laboratório de Ensino de História. Em decorrência do intenso
debatesobrequestõeseestratégiasparaoensino,oprofessordeHistóriatemtidoodesafiodedesenvolver
nos discentes uma prática pedagógica emergente capaz de tornar o processo de aprendizagem mais
dinâmico e participativo. As sugestões e reflexões apresentadas nesta comunicação são produto de uma
experiência docente na disciplina de Laboratório do Ensino de História. Essa reflexão apresenta relatos
de uma prática construída no decorrer de alguns semestres, tendo como fruto a produção didática
dos mais diferentes materiais, como cartilhas pedagógicas, visita de campo, esquemas e miniaulas
construídas a partir de discussões com os alunos. Fundamenta-se no diálogo entre diferentes autores
que defendem o ensino de História voltado para a valorização e estudo das realidades dos alunos a fim
de ajudá-los a sentirem-se participantes da História como futuros professores, e tornando significativa
sua aprendizagem. É intenção, neste trabalho, socializar as práticas experienciadas no cotidiano da sala
de aula, bem como, demonstrar os resultados das atividades dos alunos que são produtos de situações
partilhadas e compartilhadas no cotidiano da universidade.
Memória Contada
JANICLÊIDE MORENO GONÇALVES (SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO-BAHIA)
Resumo: Este texto propõe a relatar e analisar uma experiência desenvolvida durante as aulas de
História - O Projeto Memória Contada. O Projeto fez parte de uma das atividades desenvolvidas
pelo PIBID/ História no Colégio Estadual Nilton Gonçalves no ano de 2017. Um dos seus principais
objetivos foi dar voz aos alunos da Educação de Jovens e Adultos, dando-lhes a oportunidade de
registrar as suas histórias/vivências, valorizando suas memórias e reforçando o seu papel enquanto
sujeitos históricos. Num primeiro momento, foi apresentada a todos os alunos a proposta do
projeto, onde eles deveriam fazer os relatos das suas histórias de vida. A partir disso, foi feita uma
seleção das histórias que seriam, posteriormente, contadas em sala de aula. O critério utilizado
para selecionar as histórias foi o da disponibilidade do aluno a contar sua história, seria de forma
voluntária. Com a seleção das histórias, os alunos foram convidados a participarem de um chá da
tarde, em um sábado, de forma não prejudicar o horário de trabalho destes estudantes, na escola
onde estudam.
Em vista disso, foi montada uma sala especialmente para este evento e um profissional da área
foi contratado para realizar a filmagem durante os depoimentos. Nem todos quiseram gravar suas
histórias, mas os jovens e adultos que optaram pelo relato, fez isto com muita emoção e orgulho, por
tudo que viveram, sua luta pela sobrevivência, dificuldades familiares. Também falaram dos seus
sonhos, da necessidade d o retorno aos estudos. Por fim, estes depoimentos foram organizados
em um pequeno documentário. Foi uma atividade que envolveu muita emoção e aprendizagem
para todos que participaram. Atividades como o “Memória Contada” proporcionam aos envolvidos
uma grande aprendizagem, que vai para além da formação e experiências profissionais. Sem
dúvidas, ouvir cada relato nos causou profundas reflexões acerca das subjetividades da vida.
Atividades assim, colaboram bastante para o desenvolvimento da aprendizagem histórica, uma
vez que, podem despertar nos alunos da EJA, sentimentos de reconhecimento da sua importância,
enquanto sujeitos históricos e do seu valor na construção da memória da sua cidade , da sua escola,
gerando co-responsabilidade com a memória. Além disso, acabam estimulando a memória afetiva
destes alunos.
145
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Este artigo pretende analisar a produção acadêmica veiculada na Soronda: revista de
estudos guineenses, publicada com regularidade pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas,
147
na Guiné-Bissau entre 1986 e 1995, e depois novamente entre 1997 e 2004. Nesse país, grupos
de intelectuais envolvidos com o nacionalismo dedicaram-se, após a independência, a esforços de
institucionalização da cultura, relacionados aos projetos políticos que embasaram as reivindicações
por independência e que, agora, precisavam ser implementados pelo Estado em constituição.
Parte dessas iniciativas passou pela montagem de uma estrutura de pesquisa acadêmica na área
das ciências humanas, que pudessem embasar e orientar o sentido de uma série de políticas
governamentais. A Soronda é um índice privilegiado tanto para compreender o conteúdo e as
formas das questões envolvidas nos debates sobre a modernidade e o desenvolvimento na Guiné-
Bissau, como para localizar os projetos que se articulam assim como para localizar os projetos
políticos que as articulam ao conjunto mais vasto do nacionalismo e da política africana. O artigo
propõe uma abordagem sistemática do conjunto dessa produção, concentrando-se inicialmente na
quantificação e na serialização de dados referentes às vinculações sociais e políticas dos autores e
nos recortes disciplinares, temáticos, geográficos e cronológicos das contribuições, bem como na
referência a um conjunto de categorias de identificação coletiva que podem ajudar a relacionar o
debate acadêmico com os projetos políticos que disputaram o controle do Estado e se sucederam
ao longo do tempo, e suas articulações continentais mais abrangentes.
Resumo: O escopo deste relato de experiência, em sala de aula, converge em três pontos: o primeiro
ponto terá como foco, avaliação da disciplina de história e cultura de África, aspectos gerais e
em relação ao docente. O segundo vai tratar sobre a representação dos conteúdos aprendidos
148
face as aulas transmitidas em sala de aula. Com o terceiro ponto, pretende-se acompanhar as
trajectórias pessoais dos estudantes em torno da pesquisa orientada pelo professor. Os sujeitos
pesquisados são estudantes do segundo ano do Instituto Superior de Arte, dos cursos de Artes
Plásticas e Design de Moda. As estratégias metodológicas da pesquisa compreenderam o uso de
questionário, entrevistas individuais e coletivas, além de pesquisa bibliográfica e documental. Este
trabalho se apoiou em revisão bibliográfica especifica, além de análise de documentos alusivos a
temática, bem como entrevistas dos envolvidos no processo.
Resumo: O presente artigo tem por objetivo discutir o imperialismo fula em plena África Ocidental,
entre os séculos XIX e XX, através de uma releitura crítica da obra, “Amkoullel, o menino fula”,
de autoria de Amadou Hampâté Bâ. A articulação entre imperialismo fula sobre outros povos,
centra-se na ideia de combater o falso pressuposto de que os povos do continente africano viviam
em uma determinada harmonia, antes do colonialismo dos povos europeus, como vem sendo
propagado por vários pesquisadores brasileiros e alhures (ASANTE, 2016; CARDOSO, 2015; e
149
NASCIMENTO, 2009), os quais as categorias branco e preto tem se tornado a tônica da discussão,
como foi há muito aventado por Fanon (2008, p.40). Desde a ascensão do Império de Massina
(Macina), os fulas têm se espalhado pelas regiões que hoje cobrem os Estados Nacionais dos atuais
Senegal, do Gâmbia, do Mali e da Costa do Marfim (BÂ, 2013, p.19-46). Os fulas, embora utilizem
do islamismo para criar certas unidades administrativa e identitárias, por vezes, têm fomentado
segregações para com os povos incorporados e/ou vizinhos. A conquista de terras pelos fulas, a
partir da segunda metade do século XIX, contribuiu não apenas para o aumento dos adeptos de
Allah na denominada África Ocidental, como também para a imposição dos valores sociais desse
povo (GOMEZ, 2018, p.53).
Amokoullel traz um pouco dessa visão imperialista dos fulas e, mais especificamente, do autor,
Amadou Hampâté Bâ, que, por vezes, utiliza de certas estratégias para tanto. Em não raras
oportunidades no decorrer de seu livro, Bâ apresenta determinados e complexos atos e práticas
fulas e diz se tratar de “tradição africana”, “antiga tradição africana”, “costumes africanos” etc.
Por outro lado, os dogons são resumidos a pequenas passagens do livro. Linhas escritas quase que
de forma incidental e acidental, em que a capital do chamado “país dogon”, Bandiagara (BARROS,
2004), se apresenta “fulanizada”. Por fim, este artigo também tem por interesse discutir os ideais
imperialistas de determinados povos do continente africano para a aquisição de terras e de
imposição de suas religiões. Em específico, a mentalidade imperialista dos fulas, que aparece na
consagrada obra de Bâ.
Resumo: O entrelace entre História e Literatura se torna necessário quando o ponto de partida é
a linha de conhecimento entre a vida social e o texto literário. Nesse sentido, o conto “Kuíto (três
faces) ” que compõe a obra Momentos de Aqui (2015), do autor angolano Ondjaki, se torna o corpus
desse estudo que objetiva descortinar elementos do contexto histórico evidenciado no texto
literário, assim como de fatores externos que formam a narrativa. Nesta temos uma representação
dos conflitos que marcaram a região de Kuíto. Para este trabalho foram analisados aspectos da
literatura angolana, confrontando-as com a história deste país, sobretudo as motivações políticas
que ampliaram os conflitos ideológicos e armados, tendo em vista a compreensão do conto que
possui representações de combates fratricidas que marcaram a cidade de Kuíto em Angola.
Com base nas relações entre História, Literatura e Memória, buscou-se compreender o texto
literário como um suporte da memória, dotando a narrativa ficcional como evocação desta. Ao
trazer rememorações e aspectos ficcionalizantes, o conto delineia e pontua as consequências dos
conflitos armados por meio da voz do narrador, discutindo os fatores historiográficos no espaço
da cidade de Kuíto. Para este trabalho foram utilizadas análises do conto Kuito (Três Faces), bem
como revisão bibliográfica específica de autores que discutem pressupostos teóricos sobre a
importância da memória nas narrativas literárias e historiografia.
O estupro fomentado pelo Estado no intuito de manter uma sociedade pura e soberana
RITA DE CASSIA FERREIRA DOS SANTOS
Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer um estudo dentro da perspectiva de gênero que
busca entender a violência sexual como prática política e a atual situação da mulher ruandesa
150
pós a Guerra. O corpo dessas mulheres foi violado durante genocídio fomentado pela máquina
estatal, as tutsis não foram estupradas apenas por serem de outra “etnia” foram abusadas
sexualmente, sobretudo por serem do sexo feminino, pautada no conceito de gênero, que são
diferenças construídas dentro de uma sociedade que compartilha uma cultura com formato
patriarcal e associado no sexo biológico dos indivíduos, (LIPP, 2013 p, 2). Para além, o corpo da
mulher representa a reprodução da identidade, a ligação com a família e a comunidade, nesse
sentido, sua destruição sem dúvida foi uma tentativa destruir os tutsis e manter uma sociedade
pura e soberana. Faz-se necessário saber que este trabalho não irá discorrer sobre a Guerra Civil
de Ruanda em si, farei aqui um recorte específico onde existe uma interconexão entre genocídio
e violência sexual. Contudo, durante o período que compreendeu pouco mais de cem dias de
matanças, não foi apenas vidas que foram degoladas a golpes de facões, esta é a história genérica
dos fatos, atrás das cortinas, dos bastidores, existem histórias de milhares de mulheres e meninas
tutsis que tiveram seus corpos violados antes e após a morte, sendo que muitas dessas criaturas
sobreviveram para relatar ou ocultar seus traumas, momentos de terror, dor e sofrimento.
Segundo a ONU estima-se que entre 250 a 500 mil mulheres foram violentada sexualmente
durante o genocídio.
Resumo: Em 1994, entre os meses de abril e julho, Ruanda, um pequeno país localizado na região
dos lagos, na África central, foi palco de um triste capítulo da longa guerra civil decorrente dos
conflitos das identidades políticas consubstanciadas em tutsis e hutus. Divididos em dois grupos, os
discursos de morte e eliminação física perpetrados entre ambos passou a ser uma constante tanto
em Ruanda, como no Burundi, desde a independência destes dois países. Em 1994, no entanto,
uma componente veio agravar ainda mais o conflito, trazendo consequências que perduram até
os dias atuais. O presente estudo objetiva analisar as consequências decorrentes dos estupros
de mulheres no Ruanda, durante o período de massacres ocorrido em 1994. Neste contexto, os
grupos de milicianos e soldados, alinhados sob a identidade hutu, se utilizaram do estupro como
mecanismo de dominação e “limpeza étnica”, perpetrados por hutus contra as mulheres tutsis. No
período pós-guerra civil, Ruanda passou por um processo de reestruturação, necessitando assim
de novas medidas que geraram a participação feminina nas estruturas de liderança em diferentes
níveis, já que foram elas responsáveis pela boa parte da reconstrução do país. Para este trabalho,
foi feita revisão bibliográfica de TCC´s, monografias, dissertações, teses e bibliografia específica
sobre o tema.
Afetos, sexualidades e ressignificações nas Africa(s) e no(s) Brasil(is)
INEILDES CALHEIRO (DMMDC/MULTI-INSTITUCIONAL E MULTIDISCIPLINAR/UFBA)
151
Nesse contexto, a poligamia, o casamento, o matriarcado e o papel das mulheres e dos homens
são tomados como fenômenos que convivem com a negação das sexualidades homoafetivas, e de
como estas são invisibilizadas. “Na África não tem destas coisas” dizem as vozes que proclamam a
heteronormatividade como única possibilidade da relação de afetos no continente africano. Nos
resultados, estudos assinalam as ressignificações da tradição no trato com sexualidades e afetos
em territórios africanos; No Brasil, a cultura dita afro-brasileira é embebida de ressignificações
violentas, exploração sexual e desvalorização das mulheres que apontam para o “matriarcado
da miséria” e a poligamia da desgraça, indicando modelos pautados na infelicidade do sujeito
como tônica. É possível definir o continente africano como desprovido de homossexualidades?
É possível estabelecer homogeneidades nas diferentes culturas e povos do continente africano?
Para este trabalho foram foi utilizada revisão bibliográfica específica.
Por dentro dos sertões: escravidão e tráfico interno em tempos de comércio “lícito”, Planalto
Central de Angola – meados do século XIX
IVAN SICCA GONÇALVES (UNICAMP)
Resumo: Com seus vários impasses, contradições e ambiguidades, a proibição legal do tráfico
atlântico de escravos nas províncias ultramarinas portuguesas em 1836 provocou uma radical
reconfiguração econômica nos territórios que correspondem à atual Angola. Limitando sua
jurisdição a faixas litorâneas do território, com algumas fortalezas espalhadas em zonas
de influência pelo interior, a administração colonial portuguesa testemunhou uma abrupta
interrupção das finanças provenientes do seu principal produto de exportação, os escravos, que
continuavam circulando intensamente, mas em redes clandestinas. Como já apontado por parte
da historiografia, não só o governo colonial, mas, principalmente, os grandes traficantes das
praças de Luanda e Benguela, mesmo não abandonando o intenso contrabando de escravos para
as Américas, passaram a investir em atividades agrícolas e extrativistas para complementar os
seus ganhos comerciais. No entanto, com a exceção do café, por quase todo o século XIX, a maioria
dos gêneros do chamado “comércio lícito” eram produzidos no interior de reinos centro-africanos
autônomos e distantes do litoral, a exemplo da cera de abelha, do marfim e da borracha. Um dos
principais eixos dessas novas modalidades comerciais do interior era o Planalto Central de Angola,
em grande parte dominado por poderosos Estados umbundu que mantiveram sua autonomia
política ao longo do século. Sendo uma das principais regiões fornecedoras do tráfico de escravos
para Luanda e Benguela, o comércio do Planalto foi protagonizado desde os últimos quartéis do
século XVIII por intermediários portugueses e africanos, os sertanejos e pombeiros, que atuavam
e residiam nas cortes dos Estados africanos e montavam grandes caravanas de carregadores para
transportar mercadorias do interior para o litoral, sendo o principal centro de atuação comercial
da região a corte do reino do Bié. A partir dos relatos diários de um dos principais líderes dessa
comunidade de sertanejos do Bié, António da Silva Porto, em especial o primeiro conjunto de seus
cadernos, redigido entre 1840 e 1869, essa comunicação pretende refletir sobre o cotidiano das
transformações sociais causadas pela reconfiguração econômica dessa região antes tão envolvida
com a economia atlântica do tráfico. Para tal, focalizaremos em duas atividades absolutamente
centrais para o balanço desse processo: o tráfico interno de escravos, tanto do interior para o
Planalto, quanto o seu inverso; e o uso da mão de obra, formada por trabalhadores dependentes
e/ou escravizados, na produção e transporte dos dois produtos principais do eixo comercial entre
o Bié e Benguela no período, o marfim e a cera.
152
Africanos no Brasil, Brasileiros na África: a trajetória dos africanos que voltaram à África
RAIMUNDO CERQUEIRA SANTOS (UNEB)
Resumo: Este trabalho objetiva discutir a trajetória dos afro-brasileiros e africanos libertos e
alforriados, e seus descendentes à África, suas travessias do Atlântico para o Brasil, bem como suas
identidades entre culturas diferentes. Compreender a história de países africanos, principalmente
os que forneceram e acolheram os afro-brasileiros que retornaram à África, sua interrelação na
construção destas identidades é um dos objetivos deste trabalho. Este trabalho também objetiva
compreender a relação social entre a africanos e afro brasileiros e colonizadores africanos a partir
de análise historiográfica. Sabe-se que os “retornados” criaram comunidades que se destacaram,
a exemplo dos “Tabons” e “Agudás”, nos países hoje denominados Togo, Benin, Gana e Nigéria.
Um dos motivos mais impactantes que causou o retorno dos africanos libertos à África, foram as
leis de nº 9 de 13 de maio de 1835 e a de nº 14 de 2 de junho do mesmo ano. Elas foram criadas
com o intuito de criar dificuldades para a permanência de africanos no país, e regulamentava
a deportação destes. Na Costa Ocidental, no período em questão, os retornados tornaram-se
excelentes profissionais, a exemplo de pedreiros, carpinteiros, alfaiates e grandes comerciantes.
As diferenças culturais entre os retornados e os nativos, é que os primeiros queriam serem vistos
como brasileiros, no caso, Agudás e Tabom e não como iorubás ou qualquer outra etnia. Trata-
se de uma pesquisa bibliográfica com base em revisão bibliográfica e documentos existentes no
Arquivo Público do estado da Bahia.
Resumo: O presente estudo tem como proposta refletir sobre as memórias da comunidade
quilombola do Maracujá, localizada no município de Conceição do Coité, BA. Assim, a intenção é
registrar a trajetória de sua população, as relações sociais e de família, analisando os vínculos de
trabalho e de compadrio; outras questões focalizam os seguintes tópicos: a construção de sua
identidade, a religiosidade, os costumes e as tradições desse perímetro quilombola. Por se tratar
de um estudo da História do Tempo Presente, a história oral foi o fio condutor desta pesquisa. A
vantagem do estudo da história do tempo presente, reside na circunstância de estarmos, sujeito
e objeto, mergulhados em uma mesma temporalidade, que, por assim dizer, “não terminou”.
Todavia, essa característica da história do tempo presente, traz importantes consequências
epistemológicas para o conhecimento que se deseja construir.
153
Pretos, Negros, Mareseiros ou Quilombolas? Memórias e identidades revificadas em Ilha de
Maré.
NOLIENE SILVA DE OLIVEIRA (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO)
“Do chão que vem nosso sustento”: território, territorialidade e ancestralidade no Quilombo
Sambaquim
JOSÉ LUIZ XAVIER FILHO (PREFEITURA MUNICIPAL DE LAGOA DOS GATOS)
Resumo: O trabalho aborda e propõe o esclarecimento acerca da ideia de quilombo e sua origem,
dando ênfase ao Quilombo Sambaquim da cidade de Cupira - PE, em propósito de compreender e
valorizar os significados entre território, territorialidade e ancestralidade quilombola e a relação
entre eles. Na prática, a maioria das comunidades quilombolas permanece à míngua, convivendo
com a iminente possibilidade de serem extintas lentamente. Entendemos que o desenvolvimento
conceitual desses três pontos dentro do estudo da comunidade quilombola, nos dão clareza sobre
os significados da terra como um processo social. Desse modo, concentram valores (trabalho),
práticas, símbolos e a representação da ancestralidade.
Resumo: Lagoa Grande é uma comunidade localizada no Distrito de Maria Quitéria, em Feira
de Santana, cidade do interior baiano. É considerada uma comunidade quilombola, e em seu
quotidiano há tensões, dinâmicas, práticas e costumes que são tidas como dotadas de uma
identidade coerente com o perfil que lhe é atribuído. Há conflitos, mas também consensos
entre os indivíduos que pertencem a diferentes gerações. Um destes conflitos diz respeito aos
154
discursos alusivos à África, responsáveis por legitimar a comunidade como enquadrada no perfil
de “quilombola”. O presente artigo objetiva discutir os conceitos utilizados por alguns autores
para compreender quilombo, geração e encontro geracional, por meio da troca de experiência
entre mulheres da comunidade acima referida. Buscar-se-á analisar conceitos para a compreensão
do encontro geracional na troca de saberes entre as mulheres quilombolas em estudo, bem como
os discursos existentes nos nativos desta comunidade, como forma de entender os modos como
os indivíduos legitimam suas práticas.
Discursos de África(s) indistintas entre práticas e costumes nas religiões de terreiro: o caso
do Jaré.
CRISTIANE ANDRADE SANTOS (UNEB)
Resumo: Este trabalho objetiva discutir o Jarê, religião de terreiro existente somente na região
da Chapada Diamantina. Centro geodésico do Estado da Bahia, a região, cuja denominação é
resultante de sua formação geológica e da atividade econômica do garimpo de diamante, que
lhe projetou no cenário mundial, é notabilizada por uma rica e exuberante paisagem, formada
por um conjunto de serras, montanhas, vales, grutas, rios e cachoeiras e uma pluralidade de
ecossistemas. A cidade de Lençóis, locus dessa pesquisa, surge na cartografia baiana em 1845
como uma vila de garimpeiros em torno da exploração comercial do diamante, atraindo uma leva
de forasteiros em busca do sonho de riqueza por meio do achado de pedras preciosas. O curso do
seu desenvolvimento é marcado por histórias fortes, repletas de realismo e imaginação, marcadas
por expressões da religiosidade do povo, pelo culto aos Santos Católicos e às divindades do
Jarê. O desenvolvimento histórico do Jarê acompanha o desenvolvimento da região das Lavras
Diamantinas, tendo como registro de origem as cidades de Lençóis e Andaraí. O Jarê é considerado
por seus poucos pesquisadores como uma religião de matriz africana e/ou afro-indígena.
Contudo, mesmo nos textos destes pesquisadores se percebe o caráter de composição existente
neste fenômeno religioso, revelando a existência de problemas de viés em suas pesquisas, e
que tendem a classificar toda e qualquer religião com determinadas características (que tenha
como performance a possessão) como sendo “de origem” “africana”. É fundamental entender as
práticas, dinâmicas e costumes como sendo permeadas por dinâmicas que fogem ao linearismo,
presente em percepções pautadas na crença numa origem indistinta, como se fosse possível uma
dada manifestação cultural ser transportada de um espaço/contexto para outro. Em fase inicial
da pesquisa para o doutorado em difusão do conhecimento, neste artigo será apresentado o Jarê,
manifestação cultural de caráter religioso ainda pouco conhecida e estudada, seu processo de
desenvolvimento na região da Chapada Diamantina e, através de revisão bibliográfica, discutir as
representações de África presentes nos discursos dos seus pesquisadores.
Têm índios, negros e africanos nas escolas? Entre estereotipias e superficialidades: as Leis
nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 nos livros didáticos da rede municipal de ensino em Camacã
BRISA SANTANA PIRES
155
da Educação, a Resolução CNE/CP n.º 1, que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais – DCNERER. Estas leis, portanto, compõem os principais
documentos alusivos aos temas do que se convencionou nomear por “relações étnico-raciais” no
Brasil. E a partir desta questão, tem-se os elementos para questionar sobre como este processo
sofreu gradações sob a forma de representações nas diferentes regiões do país. Este trabalho,
ainda em andamento, objetiva discutir as formas como os índios e os africanos, em seus diferentes
contextos, são representados nos livros didáticos das escolas da rede municipal de ensino de
Camacã, e de como estas representações corroboram com a retroalimentação de estereótipos
e imagens superficiais dos povos em questão. Tem-se como lídimo, para esta discussão, o
entendimento acerca da excepcional importância do trabalho conjugado entre a Educação
Patrimonial e a História como fundamentais para restabelecer imagens e representações mais
próximas entre “objeto” e “representação propriamente dita”. Este trabalho se apoiou em revisão
bibliográfica com temas específicos, bem como a análise dos livros didáticos utilizados na rede
municipal de ensino da cidade de Camacã.
156
documental das leis citadas, bem como dos discursos de docentes e discentes entrevistados ao
longo da pesquisa.
De qual África eles falam? Ensino de História da África nas escolas da rede privada de
Itaberaba.
LOURIVAL LUZ BONFIM FILHO (UNEB)
Resumo: Este trabalho, ainda em andamento, objetiva refletir acerca das representações
existentes sobre o continente africano nos livros didáticos utilizados na rede privada do ensino
médio da cidade de Itaberaba, estabelecendo um confronto destas com as práticas, discursos
e performances dos professores destas referidas escolas. Entende-se o livro didático como
uma fonte de relevante importância na construção do conhecimento por parte dos estudantes
do período de estudo em questão. A priori, o problema que nos causa inquietação é saber se
este material por si só, atende as demandas dos alunos juntamente com as exigências da BNCC,
e se estes livros corroboram para a construção de representações balizadas em estereotipias,
contribuindo para retroalimentar versões parciais do continente africano. Destarte, entende-
se o livro didático como instrumento de apoio ao aprendizado, mas também como fonte para
o entendimento dos processos de ensino, e de como este é operado no âmbito da sala de aula.
Além disto, o objetivo final dessa pesquisa é verificar se ao concluir a citada etapa de estudos o
aluno terá condições de entender a África como um continente múltiplo, plural e diverso, com
grande diversidade de povos, nações e países, dotado de inúmeras religiões, detentor de riquezas
naturais; ou se continuará sendo representado por visões parciais e estereotipadas, em sua
maioria construídas e/ou retroalimentadas por perspectivas e visões de mundo pautadas pela
indústria cinematográfica hollywoodiana, ou por diferentes mídias balizadas pelo senso comum.
Nesta pesquisa também será observada existência de visões do continente africano pautados em
ideologias advindas de setores dos movimentos sociais negros, que estabelecem a África como
“pátria ou lugar de origem dos negros”, dotado de homogeneidades no campo da cultura, ou de
essências que o definem sob a raça. Usar-se-á como metodologia para a feitura deste trabalho, a
revisão bibliográfica específica sobre ensino de história da África, de ensino e didática, bem como
entrevistas feitas com os docentes da área de História das escolas em questão.
Das cores do saber – uma reflexão acerca da identidade africana na prática docente
ROSANE DOS SANTOS TORRES (SEEDUC)
Resumo: O presente trabalho traz uma contribuição para a reflexão do tema envolvendo a
identidade e a cultura africanas em sala de aula. A proposta inicial é refletir sobre a história da
África e do negro como objeto de estudo no exercício da prática docente. O ponto de partida
é a Lei nº. 10.639/03, por meio da qual se busca dar maior destaque à cultura africana e afro-
brasileira. Defende-se que a aplicação efetiva da lei esbarra na resistência da comunidade escolar,
que, por vezes, vincula os conteúdos relacionados à cultura africana à imagem cristalizada de que
se trata de povos “inferiores”, herdeiros de uma religiosidade “negativa”, atrelados a formas de
trabalho pouco valorizadas. Ao abordar essa questão pretende-se trazer contribuições para uma
valorização mais efetiva das culturas africana e afro-brasileira entre os alunos da educação básica;
incentivar a comunidade escolar a explorar o tema da diversidade cultural brasileira; e colaborar
com a desconstrução de estigmas e preconceitos relacionados à identidade e cultura africanas.
157
O segundo eixo de discussão é a prática efetiva em sala de aula, onde se pretende discutir os
caminhos que podem ser tomados pelos docentes para tratar o tema da cultura africana, superando
os estigmas históricos de inferioridade associados ao povo africano e seus descendentes. O mote
da discussão se dá a partir das oficinas realizadas pela autora do trabalho em sua prática docente.
Tal pesquisa se mostra relevante na medida em que se observa, entre a maior parte dos alunos,
uma resistência na recepção de temas envolvendo o cotidiano da cultura africana e a tentativa de
branqueamento de sua história pessoal. Passado mais de um século da abolição da escravatura no
país, ainda prevalece a ideia de que “homens de cor” são menos importantes socialmente. Tal fato
reafirma a perspectiva de que a escravidão deixou uma herança perversa para os descendentes de
cativos e ex-cativos: o estigma social vinculado à cor da pele.
158
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: A presente comunicação é resultado das pesquisas em andamento feitas para a tese de
doutoramento no Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia (PPHIST/UFPA) que
tem como objetivo estudar a história de uma disciplina acadêmica em tempos de ditadura militar
chamada de Estudo(s) de Problemas Brasileiros. A comunicação pretende debater a construção
curricular da disciplina EPB para o ensino superior a partir da promulgação do decreto-lei nº 869
de 12 de setembro de 1969. A disciplina EPB tinha dois elementos centrais dentro de proposta
de sua formulação, que são: a Doutrina de Segurança Nacional (DSN) e a tradição católica.
Usaremos como fonte de pesquisa as conferências ocorridas em setembro de 1969 na cidade
de Belém através da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) em parceria
com o Ministério da Educação e Cultura (MEC) para debater o desenvolvimentismo e a segurança
nacional pensada pelos governos militares, outra fonte é o decreto-lei nº 869 de 12 de setembro
de 1969 que debate a concepção da educação moral e cívica para todas as modalidades de ensino,
a legislação educacional apresenta os valores morais e cívicos a serem usados nos diversos
espaços de formação da juventude brasileira e as notícias de jornais cariocas que apresentam
o problema da Educação moral e Cívica e sua indefinição na sociedade brasileira. O debate local
sobre a disciplina acadêmica EPB ainda está em construção dentro dos estudos historiográficos,
percebemos que existem diversas produções sobre a disciplina Educação Moral e Civismo e os
sentidos atribuídos a esta disciplina nas diversas regiões do país, no entanto, carece de estudos
aprofundados sobre a disciplina EPB no que se refere ao seu projeto de nação pensados pelos
governos militares para a juventude universitária. Por isso, recorremos aos trabalhos em torno da
EMC para compreender o projeto de educação Os trabalhos de Lerner (2013) para a compreender
a experiência da disciplina EPB na UERJ na pós-graduação, e os trabalhos de Bertotti (2015) e
Koch (2019) para compreender a experiência da disciplina EPB na graduação na UFPR e na UFRGS
são os únicos trabalhos que foram feitos sobre o tema em questão. Usaremos como referencial
teórico-metodológico as discussões em torno das disciplinas escolares e acadêmicas apontadas
por Ranzi; Oliveira (2004), Goodson (1990), Gatti Jr (2009) e Chervel (1999). O argumento central
que se quer desenvolver com essa pesquisa é que após o ano de 1968 com greves, passeata,
manifestações dentro das universidades contra os acordos MEC-USAID e as ações arbitrárias dos
reitores conversadores. Os governos militares criaram mecanismos de controle da juventude
universitária.
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo discutir algumas celebrações cívicas que ocorreram
no Primeiro Ginásio Municipal de Serrolândia-Ba durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-
1985). As práticas cívicas, dentro do sistema educacional brasileiro, visavam a normatização e
160
disciplinarização do corpo estudantil, além do ufanismo patriótico que se alinhava as ideologias
do regime autoritário instaurado a partir 1964. Nascido em 1962, na recém emancipada cidade
de Serrolândia a 320 quilômetros da capital Salvador, o Primeiro Ginásio Municipal seguiu os
preceitos cívicos propostos pela ditadura civil-militar. Os desfiles, sessões solenes, hasteamento da
bandeira e cânticos de hinos patrióticos foram frequentes no cotidiano desse centro educacional,
principalmente em datas comemorativas a exemplo do sete de setembro, dia da bandeira,
aniversário da cidade etc. Além dessas datas, consideradas tradicionais, o Ginásio Municipal
celebrou entre 1971 a 1973 três aniversários da “revolução” de 1964, que tinha como único
objetivo a exaltação do próprio regime e o Sesquicentenário da Independência do Brasil em 1972.
Para a consecução desse texto, trabalhamos com a documentação do Ginásio como fotografias,
atas das celebrações cívicas, das reuniões e exame de admissão, que constituem em rico acervo
produzido no período estudado.
Resumo: O presente trabalho tem como objeto de estudo perceber a forma como a tecnocracia
aparece incutida nas diretrizes do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) entre os anos
de 1970 e 1985. O Mobral foi criado com intuito de alfabetizar adolescentes e adultos para, em
um período tido como breve (dez anos), erradicar o analfabetismo do país. Tendo em vista o
contexto histórico de criação e expansão do Movimento Brasileiro de Alfabetização, o país vivia
o auge do “milagre brasileiro”, cabia à educação a função de promover a formação do indivíduo
responsável pelo crescimento econômico do país. Assim, as iniciativas para educação passaram
a contar com capital estrangeiro, com orientação técnica para que pudessem desenvolver uma
educação voltada para o trabalho, tendo em vista que as reformas no campo educacional refletiam
o modelo de desenvolvimento capitalista monopolista sistematizado pelos militares durante a
ditadura. Através da lógica economicista, os técnicos assumiram importantes cargos no governo
militar e foram responsáveis pela materialização da ideologia tecnocrática. Nesse sentido, o
Brasil apresentava-se como uma grande empresa, e a educação como principal aporte para
suprir as demandas socioeconômicas impostas pelo mercado capitalista. Como justificativa, os
técnicos burocratas utilizam a teórica do capital humano para maximizar os avanços econômicos
associando-os a educação, de forma, a fazer-nos acreditar que está no sistema educacional as
mudanças e permanências necessárias para solucionar diferentes problemas enfrentados pela
nação. Dessa forma, buscamos apontar o modo em que as diretrizes operacionais (leis, decretos e
documentos reguladores) do Mobral procurou relacionar educação e desenvolvimento econômico,
característica principal dentro da perspectiva tecnocrática.
Resumo: O trabalho aqui presente tem por objetivo realizar um levantamento exploratório e
inicial das pesquisas no campo de história da educação produzidas nos cursos de graduação e
pós-graduações de História na Bahia, no período de 2000 à 2019. Assim, o trabalho se propõe
em realizar um inicial apontamento sobre a historiografia da Historia da Educação, nos cursos
de História existentes na Bahia, é de fundamental importância por objetivar coletar dados para
161
a construção de levantamento atualizado da mesma destacando os temas mais abordados, os
períodos escolhidos e o lugar de produção dessas obras na historiografia baiana. A importância
deste tipo de produção, um levantamento da historiografia de um campo temático de investigação,
não apenas para elencar títulos, mas especialmente para refletir sobre os caminhos do próprio
campo, dar visibilidade à produção investigativa já existente; aos/as, pesquisadores/as; e mapear
instituições e programas.
Resumo: Desde o início do século XVI, o oceano Atlântico foi via de transporte/tráfico de muito
mais que objetos, mercadorias e pessoas. Inserido nesse contexto, o Brasil experimentou o trânsito
de costumes, ideias, práticas e modelos educacionais. Pelo Atlântico, “navegaram”, também,
diferentes concepções educacionais, um “oceano” de metodologias e práxis que vêm sendo
descritas, estudadas e discutidas por pesquisadores e educadores em diferentes áreas. Com o
aumento dos debates sobre democratização da educação durante a Constituinte (1987-1988), bem
como a ação dos movimentos educacionais inclusivos, ampliaram-se as demandas por atendimento
educacional especial. Esta proposta de trabalho trata da Organização das Classes Hospitalares
no Brasil entre 1980 e 2019. Propõe-se a analisar, a partir do levantamento bibliográfico, de
documentos de natureza pública e jornalísticos, a implementação e desenvolvimento da educação
hospitalar, por conseguinte os desafios e as possibilidades de sua oferta aos jovens, adultos e
idosos (EJAI), em tratamentos de saúde nos hospitais de Itabuna, Bahia. Este trabalho insere-se
nos campos teóricos da História e da Educação e pretende somar aos debates sobre as políticas
educacionais, bem como a interlocução entre educação e saúde.
Resumo: O objetivo desse artigo é analisar o treinamento para professores orientado pela
Campanha Nacional de Educação Rural – CNER, como recurso metodológico que possibilita
problematizar quais eram os propósitos desta política educacional direcionada para modificar
as culturas praticadas em escolas da zona rural. Para a realização desse trabalho recorremos ao
conceito proposto por Dominique Julia (2001) que define a cultura escolar como um “conjunto de
normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas
que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos”.
Para Julia (2001), analisar o papel desempenhado pela profissionalização do professor é um dos
três eixos para entender a cultura escolar, principalmente quanto aos saberes exigidos a esses
profissionais. Diante disso, é importante o diálogo com André Chervel (1990) e o estudo da
História das Disciplinas para entender a cultura produzida para escola da CNER, visto que, o autor
concebe que uma “disciplina” é “em qualquer campo que se encontre, um modo de disciplinar o
espírito, de lhe dar os métodos e as regras para abordar os diferentes domínios do pensamento,
do conhecimento e da arte”. A CNER, institucionalizada no final da década de 1940, representou
uma nova maneira de interpretar e pensar o campo utilizando a educação como veículo para
162
ensinar a ler, escrever, contar, e mais do que isso, tratava-se de cuidar de construir alicerces para
uma nova mentalidade nas populações rurais com base na integração entre comunidades rurais e
homogeneização dos comportamentos cívicos, morais, sanitários e para o trabalho agrícola. A CNER
pretendia dar ao meio rural uma interferência agressiva, substancial e de caráter permanente. O
curso de formação de professores foi um instrumento utilizado para disseminar um conhecimento
considerado válido a partir de duas modalidades: o curso para professores rurais locais em
exercício e o curso de formação para novos regentes do ensino primário rural. Os cursos possuíam
uma parte teórica que consistia em uma revisão das disciplinas do ensino primário (linguagem,
aritmética, geografia, história e ciências), acrescido de noções de pedagogia e sociologia rural,
higiene e legislação, economia doméstica, puericultura, enfermagem, trabalhos manuais e uma
parte prática. A CNER pretendia dar ao trabalhador do campo um nível mais elevado de cultura
a partir de um trabalho dinâmico de recuperação total do homem rural. A análise do currículo do
treinamento de formação de professores para a CNER permite perceber que houve uma tentativa
de renovação da educação com a incorporação de uma escola que deveria formar no aluno da
comunidade rural hábitos de vida e de trabalho para o desenvolvimento e progresso do campo.
Resumo: Esta proposta visa tecer considerações acerca do livro didático compreendido enquanto
importante categoria de análise e objeto de estudo para o campo da história, assim como da
história da educação em interface com a história cultural. Enquanto parte de uma pesquisa de
doutoramento ainda em decurso, essa apresentação visa suscitar algumas discussões preliminares
que envolvem o livro didático como objeto de análise da cultura escolar procurando suportes
teórico-metodológicos em Dominique Julia (2001) e Alain Choppin (2009). Nesse sentido, nossa
pesquisa se volta ao cenário político, cultural e social do Brasil dos anos 1920 aonde selecionamos
dois livros didáticos de História do Brasil voltados para o ensino secundário, de reconhecida
relevância nacional, publicados respectivamente por João Ribeiro em 1914 e por Rocha Pombo
em 1925. Nesse sentido, é preciso que as categorias tempo e espaço façam parte deste estudo no
sentido de situar a produção e divulgação dos livros no âmbito histórico e sociocultural do qual
fizeram parte. Por isso, a categoria tempo será compreendida como o período da Primeira República
brasileira incluindo-se os debates em torno da formação de uma identidade nacional e das teorias
racialistas e a categoria espaço como o campo dos discursos e sociabilidades onde João Ribeiro
e Rocha Pombo tiveram seus papeis delimitados como professores, autores de livros didáticos
e intelectuais ao lado de outras personalidades importantes da época. Com efeito, pensando
nessa sociabilidade, isto é, na circularidade de ideais no período, recorremos a instituições como
o Colégio Pedro II, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Academia Brasileira de Letras,
sendo estes espaços onde intelectuais estiveram à frente da escrita da história brasileira marcada,
especialmente naquele período, por uma literatura civilizatória. Compreendemos que nenhum
discurso é neutro ou isento de concepções e ideias. Por isso, nossa proposta busca suscitar
questionamentos acerca de como o debate racial, assim como os ideais republicanos estiveram
representados nos discursos presentes nesses manuais, nos apropriando nesse sentido de Roger
Chartier (2011) e pensando em como esses livros influenciaram o pensamento social de gerações
de brasileiros haja vista que as obras continuaram a ser editadas até meados das décadas de 1950
163
e 1960. Nesse entrecruzamento entre a história da educação e história cultural, pretende-se situar
o livro didático enquanto importante artefato da cultura escolar pensando não apenas na cultura
produzida pela escola quanto na influência desta para a cultura da sociedade.
Resumo: Este artigo trata da formação do professor secundário no Brasil dos anos de 1940.
Situa-se no campo da História da Educação e entrecruza a Formação de Professores (CATANI,
2016; NÓVOA, 1991, 1995) e Currículo do Ensino de História no Brasil (ABUD, 2005; NADAI,
1993; FREITAS, 2008). É parte da pesquisa de doutoramento cuja problemática foi construída em
torno do processo de constituição da formação do professor de História, compreendida desde os
conteúdos exigidos para sua entrada na profissão, por concursos públicos, até o desenvolvimento
e atualizações político-sociais e culturais para suas aulas no Ginásio da Bahia. Objetiva identificar
e discutir problemas na formação do professor secundário nos idos de 1940, problematizando
o currículo prescrito de História em tempos de autoritarismo explícito. Através da literatura
consagrada, de documentos escritos por Lourenço Filho e Gustavo Capanema, além da própria
legislação vigente, o texto inicia demarcando a concepção de formação de professores adotada
e segue com a discussão sobre elementos que consubstanciaram os problemas na formação
do professor secundário, numa interlocução entre currículo do Ensino de História e contexto
sociocultural e político da sociedade brasileira. A análise da discussão aponta para três problemas
centrais: preparação cultural, social e psicopedagógica do professorado para trabalhar com a
juventude. Este último problema é relacionado aos escassos estudos e pesquisas no Brasil, ou
que aqui chegavam à época, sobre o trato pedagógico e psicológico que se deveria ter na escola
com os jovens, parcela da sociedade fulcral aos interesses do regime autoritário Varguista. Novas
exigências conceituais sobre a aprendizagem e educação da juventude cresciam em meio a
transformações socioeconômicas e educacionais do Brasil e do mundo. A formação do professor
secundário, e o currículo do Ensino de História em especial, deveriam dar conta da preparação/
formatação da juventude aos moldes nacionalistas republicanos. Conclui-se que os repertórios
intelectual e ideológico do professor secundário assumem centralidade na construção de uma
certa compreensão de valores e de destino do homem.
Resumo: O artigo objetiva possibilitar uma aproximação inicial com alguns documentos de
pesquisa para explorar a potência de análise e a viabilidade do estudo de doutorado sobre
narrativas docentes de professoras e professores, negras e negros, da escola primária no ano
164
de 1918, preservadas em cartas escritas por docentes. Nelas as professoras e os professores,
negras e negros, da escola primária, descrevem as condições do professorado, das escolas,
mas também outros conteúdos como relações domésticas, processos formativos, experiências
profissionais, entre outros. Memórias estas que evidenciam as cartas como práticas culturais que,
neste evento, se consolidam como uma das estratégias de lutas, ao que tudo indica, da primeira
greve de professores no Brasil. Algumas cartas foram exploradas e demonstram, de certa forma,
que as narrativas e trajetórias deste profissionais desvelam percursos coletivos favoráveis a
ampliação e redefinição da profissão docente. Consideramos, ainda, que a posicionalidade e o
lugar de fala na qual se encontrava a maioria das professoras e professores da escola primária
tenha sido atravessada pela interseccionalidade entre gênero, raça e classe social. O arcabouço
teórico utilizado nesta investigação será construído a partir da história vista de baixo( SHARPE,
1992), das relações entre a história social( THOMPSON, 1981, 1998) e a história cultural (
CHARTIER(2001), da teoria da análise de conteúdo de Bardin(2011) e Franco( 2005), da análise de
narrativas históricas( BASTOS e BIAR, 2015), e das contribuições sobre trajetórias profissionais de
educadores, profissão docente através de Silva ( 2004) e Nóvoa( 1992) e do lugar de fala ( RIBEIRO,
2017) e da interseccionalidade entre gênero, raça, profissão e renda a partir de Collins(1990) e
Colling(20105), e, ainda, das compreensões sobre narrativas epistolares ( REIS e LOPES, 1988).
Resumo: A presente comunicação debaterá a categoria de historiadora amadora (SMITH, 2003) com
vistas a ampliar o olhar acerca da historiografia oitocentista, promovendo um deslocamento que
atualmente ainda permanece centrado na produção dos homens de letras do Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro – IHGB, para as mulheres escritoras que pontualmente gestaram obras de
cunho histórico, tais como livros didáticos, poemas épicos, biografias, autobiografias e ensaios
históricos. Textos estes negligenciados como parte integrante do processo de constituição do
campo disciplinar da História (séculos XIX e XX). Deste modo pretendemos “abrir a história” para
conhecer o papel que estas autoras desempenharam na construção do conhecimento histórico
produzido durante os oitocentos - papel este cuja trajetória ainda carece de uma maior investigação
e aprofundamento teórico-metodológico a mobilizar, por seu turno, outras categorias como o
gênero (SCOTT,1991), a história intelectual feminina (PERROT, 2005) e o memoricídio (DUARTE,
2018, BAÉZ, 2010) presente ao longo do tempo na dupla prática do apagamento dos textos de
mulheres e da expulsão das autoras do cânone historiográfico.
165
o levantamento das fontes que embasam o trabalho da primeira, a qual no contato com o arquivista
aprende e compreende a importância dos múltiplos suportes que armazenam o documento, os
quais são denominados por nós historiadores e historiadoras como fontes, e como as tecnologias
de acesso a informação são importantes na preservação e na facilitação do acesso, por parte
dos pesquisadores, ao documento. Nessa parceria de trabalhado, fica estabelecido, também, o
entendimento de como as instituições de guarda e acervo dos suportes documentais, sobretudo
as que possuem o profissional em arquivologia, se comportam no atendimento ao pesquisador
em história da educação, facilitando ou dificultando o acesso a esses suportes, que no dizer de
Jean Glénisson são o objeto material do historiador. Para escrita desse relato nos debruçamos
sobre a história cultural a qual nos permite compreender, como afirma Chartier, enraizamentos
inteligíveis de práticas culturais, que segundo Lopes, é possível estudar em sua materialidade,
restabelecendo processos de produção, circulação e consumo, os usos e as apropriações que os
sujeitos da história atribuem aos objetos. Diante do exposto finalizamos esse relato apontando
as potencialidades que parcerias desse tipo trazem ao estudo da história da educação enquanto
campo da história, bem como o relacionamento entre esses profissionais é importante para
preservação dos documentos e da memória contida nos diferentes tipos de suportes e acervos.
Resumo: O tema dos Jardins de Infância não constaram oficialmente nos quesitos escolhidos para
discussão nas Conferências Pedagógicas. O evento realizado na cidade de Salvador – Bahia nos anos
de 1913 e 1915 foi tomado para estudo na pesquisa que resultou na dissertação de mestrado que
teve como seu objeto a prática dos professores primários, na Primeira República. Nos documentos
consultados não foi possível perceber se os professores opinavam de alguma forma na escolha
dos quesitos propostos, também não foi relatado nos documentos sobre a execução do evento,
nem no regulamento que regia as atividades qual era o critério de escolha das questões. Contudo
é possível identificar uma variedade de assuntos e temas que emergem das teses escritas pelos
professores. Além das questões diretamente relacionadas com o currículo, os textos revelam
algumas das preocupações dos professores referentes a: adoção de novos métodos e processos
de ensino; o papel ou a responsabilidade da família na tarefa do ensino; a uniformidade dos
programas; as condições adequadas para a realização da tarefa do ensino, a falta de execução
da lei, a inexistência de material didático adequado, garantias de acesso e ainda, revelam o que
pensavam os professores sobre os jardins de infância. Uma análise mais cautelosa dos escritos de
alguns professores deixa explicito o seu pensamento sobre o tema. Vários dos professores que
escreveram suas teses para participar das conferências tiveram expressiva atuação no cenário
educacional baiano a exemplo de: Cincinato Franca que foi diretor do grupo escolar Rio Branco,
além de assumir outras atividades fora do campo educacional; Possidônio Dias Coelho, que foi
delegado escolar, e a professora Anfrísia Santiago, além de vários outros.
166
Aula Noturna para Trabalhadores em Feira de Santana no pós abolição (1903 a 1920).
DAIANE SILVA OLIVEIRA (IFBA - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
DA BAHIA)
Rumores e temores nas ações educativas do jornal “Correio Mercantil” (Salvador, 1838-1840)
FABIO VALENTE DE MORAES (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA)
Resumo: Este estudo tem como objetivo geral analisar ações educativas do jornal baiano “Correio
Mercantil” em Salvador, entre abril de 1838 e dezembro de 1840, que, por intermédio do boato e da
promoção do medo, fez circular concepções em defesa da ordem e dos marcos morais e políticos
instituídos pelo Estado monárquico. Logo, a escassez local da instituição “escola” – mas, não sua
inexistência – permitiu extrairmos de um periódico aparentemente restrito ao mundo comercial,
o papel de executor de um acirrado combate ao que seus proprietários-redatores alegavam
ou endossavam ser perigoso aos grupos sociais que afirmavam representar (comerciantes,
proprietários, negociantes, empregados públicos e titulares) e estorvo a determinados modelos
de sociedade considerados virtuosos e civilizados. Desse modo, lembranças mais distantes – como
o Levante dos Malês (25 de janeiro de 1835) – e mais tenras – como a Sabinada (6 de novembro de
1837-16 de março 1838) – serviram de ingredientes insinuantes para realçar as tensões rotineiras
provenientes, por exemplo, das fugas e de uma série de manifestações públicas protagonizadas
por parte da população negra, que, mesmo legalmente proibidas ecoavam persistentes pela
cidade, muitas vezes sem intenções subversivas nítidas, todavia, avultadas nas linhas e entrelinhas
do “Correio Mercantil” como, no mínimo, potencialmente ameaçadoras.
167
Educadores, Médicos e a Materialidade Escolar: Bahia- 1870/1890.
IONE CELESTE JESUS DE SOUSA (UEFS)
Resumo: A Comunicação proposta enfoca táticas de médicos baianos em expandir seu campo de
atuação e disseminar um projeto civilizatório a partir de propostas de Hygiene Escolar a partir
de pareceres, sugestões e inspeções da materialidade escolar: edifícios, moveis e utensílios. As
noções de corpo sadio e higiênico foram utilizadas para difundir práticas médicas sobre a população
escolar infantil, divulgando representações de classe, gênero e raça, de forma interseccionalizada.
Numa perspectiva micro histórica de rastros e tessitura de discursos, como fontes são utilizados
artigos da Gazeta Médica, anúncios , relatórios de presidentes de província e de comissões da
Instrução Pública.
168
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: No início da primeira metade do século XVII, iniciou-se, no Novo Mundo, a colonização
francesa de São Domingos. Tal colonização envolveu pessoas de diferentes etnias, como também,
de inúmeras camadas sociais. Neste processo os negros importados da África foram considerados
a categoria social mais baixa da sociedade colonial, sendo submetidos ao trabalho escravo por
séculos. Isto ocorreu por meio de um discurso ancorado em um modo de produção escravagista,
que obteve o apoio de lideranças religiosas da época, oriundos da Igreja Católica. Esta Instituição
religiosa também foi uma das principais legitimadora da escravidão na Colônia, estando presente
em todas as esferas do cotidiano colonial. O código negro de 1685 representa o documento mais
valioso que confirma e concretiza estas ideias do sistema escravocrata, que foram amparadas por
dogmas defendidos pelo catolicismo. Por meio deste código, os escravizados foram obrigados a
obedecer aos dogmas católicos, sendo proibidos de manifestarem suas crenças e suas tradições.
Anos após o inicio da revolta dos escravizados em 1791 que obrigou os comissários (representantes
da metrópole) a decretar em 1793 a abolição geral do trabalho escravo na Ilha, Toussaint Louverture
governador geral de São Domingos, publicou a primeira constituição, em 1801. Embora seu
principal objetivo fosse garantir a liberdade de seu povo, seu posicionamento político, por meio
das recomendações expressas pela Constituição de 1801, causou indignações entre os autores e
historiadores da Revolução. Se para alguns, a Constituição de 1801 teve como proposta confirmar
a religião católica como única do Estado e, ao mesmo tempo, impor suas crenças opressoras,
para outros, a influência da religião católica nesta Constituição se manteve devido ao discurso
do Sistema Colonial internalizado e defendido por boa parte da liderança negra. Desse modo,
este trabalho objetiva analisar as influências e os impactos da religião católica no processo da
escravização na Colônia francesa de São Domingos, partindo do início da colonização em 1625 até
a Constituição de 1801. Sendo assim, nossa análise levará em consideração leis, cartas e tratados
publicados a respeito da religião na Colônia ao longo do período de 1625-1801.
170
apenas como coadjuvantes, e não como protagonistas. A partir da segunda metade do século
XX, historiadores como João José Reis, o canadense Hendrik Kraay, a educadora e pesquisadora
Eny Kleyde Farias, entre outros, desenvolveram pesquisas sobre a participação desta parcela
significativa da população baiana, africanos e afro-brasileiros, na guerra pela Independência do
Brasil na Bahia. Portanto a presente pesquisa fundamentada nestes pesquisadores, e, nas análises
das fontes investiga a participação de homens de cor livres, libertos e escravos (africanos e afro-
brasileiros) na referida guerra.
Resumo: O Brasil como domínio de Portugal estava submetido a Santa Inquisição (1536- 1821),
e apesar de não ter instalado um Tribunal enviava agentes inquisitoriais para julgar hábitos ou
ações consideradas heréticas pela Santa Igreja Católica praticados por quem aqui residia.Dentro
da vasta documentação Inquisitorial, utilizo os registros presentes nos Cadernos do Promotor do
século XVII. Nos Cadernos do Promotor contém denúncias, entre outras anotações de devassas
ou diligências, e cartas que de certo modo, serviam como forma de denúncia. Podendo assim
perceber questões relacionadas a religiosidade em geral, as relações sociais, culturais e políticas na
Bahia Colonial. Através da análise dessa fonte documental buscarei discutir as relações de gênero
e escravidão, como os homens e mulheres de “cor” escravizados são apresentadas observando
nesses relatos, a forma como suas vidas eram descritas dentro desses cadernos, possibilitando
analisar as formações de redes de sociabilidade, como o catolicismo perpassava o cotidiano
colonial, a religiosidade, e como estes se utilizavam de práticas mágicas-religiosas seja elas para
bênçãos, curas, feitiçaria, os batuques, calundus, adivinhações , bolças de mandingas, formação
de objetos para a proteção. Tais atitudes transgressoras cujo homens e mulheres africanos e
afrodescendentes vinheira a ser denunciados.
Resumo: A percepção sobre a feitiçaria sofreu com uma intensa transformação na segunda metade
do século XVIII. Essas alterações faziam parte de um quadro mais amplo de mudanças promovidas
pelas reformas pombalinas que alcançavam o campo das consciências, das letras, da justiça, das
relações comerciais e do ensino e promoviam a migração de ideias que até pouco tempo eram
dogmáticas ao campo do erro e do atraso, devendo ser superadas e abandonadas. O Santo Ofício
foi uma das instituições que mais sentiu essa virada das consciências. Percebemos isso de maneira
mais clara entre os finais da década de cinquenta e meados de setenta com a materialização
dos novos tempos no último regimento geral de 1774. Dentre todas as transformações que
ocorreram com esse documento a que mais nos interessa foi a leitura promovida sobre feitiçaria.
Se antes entendiam que o feiticeiro podia firmar pacto demoníaco para atingir determinados fins,
naquele momento a relação de intimidade e cumplicidade entre demônios e humanos passava a
ser vista como improvável. Prevalecia a leitura de que as práticas mágicas eram promovidas por
supersticiosos e enganadores.
Essas mudanças tiveram efeito prático sobre a vida de vários africanos e seus descendentes
171
na América Portuguesa. Ocupando espaço cada vez mais considerável no quadro de denúncias
enviadas por comissários do Brasil nos cadernos do promotor desde finais do século XVII e XVIII
a leitura sobre as suas práticas mágicas sofreram influência direta dos novos posicionamentos
defendidos pela instituição. Neste trabalho tentaremos acompanhar os efeitos da mudança de
pensamento acerca da feitiçaria e como isso afetou o quadro de denúncias enviadas do Brasil.
Para tanto, faremos a análise das denúncias contra feiticeiros presentes do caderno do promotor
130 da Inquisição de Lisboa dando destaque aquelas remetidas do Brasil tentado traçar, quando
possível, o grupo de procedência, as práticas pelas quais eram acusados e as leituras feitas pelos
denunciantes sobre a ritualística empregada com objetivo de perceber como e se as novas ideias
defendidas na metrópole atingiam a colônia americana.
Resumo: Nos últimos anos, as pesquisas sobre o comércio transatlântico de africanos escravizados
têm apresentado resultados animadores. Fazendo uso de novas ferramentas teórico-metodológicas
e atentos às múltiplas direções que o tema oferece, pesquisadores estão desvendando aspectos
fundamentais do comércio negreiro até então pouco explorados. Dessa forma, tais estudos têm
feito emergir gradualmente histórias das maiores vítimas desses processos, os escravizados.
Compreendendo a importância de um diálogo mais estreito com esse promissor horizonte
interpretativo, esta pesquisa busca mapear o universo de escravizados embarcados nos negreiros
que atuavam a partir do porto da Bahia e que foram apreendidos por cruzadores britânicos sob
acusação de violação dos termos do Tratado de 1810. Esta comunicação apresenta resultados
preliminares da análise dos processos resultantes das apreensões ocorridas entre os anos de 1810
e 1813, por meio dos quais se busca reconstruir parte da odisséia de um conjunto de africanos
escravizados que, de uma forma improvável, recobraram sua liberdade.
172
Maternidade e alforrias na Cidade da Bahia setecentista.
RAIZA CRISTINA CANUTA DA HORA (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA)
“Aquela dita comarca da Bahia abunda de muitos gêneros próprios, que são de consumo da
praça de Moçambique”: o comércio entre Bahia e Moçambique no século XIX.
ANA PAULA SANTOS MARIA (UFRB)
173
“Because we’re colored”: intelectualidade e identidade negra em Autobiography of an Ex-
Colored Man, de James Weldon Johnson (1895 – 1912)
CAIO ARRABAL FERNANDEZ JABBOUR (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS)
Resumo: A apresentação a seguir objetiva expor a obra de James Weldon Johnson, Autobiography
of an Ex-Colored Man como parte de um processo de formação intelectual do autor, em diálogo
com suas experiências de vida. Sabe-se, através de sua autobiografia real, que Johnson foi redator
do periódico The Daily American, que circulou em sua cidade natal no estado da Flórida entre
1895 e 1896; além disso, também trabalhou como diplomata na Venezuela e, posteriormente,
na Nicarágua, além de transitar em círculos intelectuais mais reconhecidos pela historiografia
como seus contatos com Booker T. Washington e W. E. B. Du Bois. Assim, amplio as análises já
destinadas ao autor, extrapolando a circunscrição de sua obra, inserindo-a em um movimento de
complexificação das questões identitárias acerca da raça. Para isso, considero de vital importância
a existência de uma rede de intelectuais que opera através do Atlântico, sendo balizada por
pensadores caribenhos, norte-americanos, ingleses e sul-africanos. Esta problemática parte da
consolidação do cânone historiográfico que pautou os debates intelectuais acerca das questões
raciais nos Estados Unidos em três principais pensadores: Booker T. Washington, W. E. B. Du
Bois e Marcus Garvey. Todavia, estudos recentes, produzidos a partir dos anos 2000, apontam a
multiplicidade de questões e debates propostos por diversos agentes além do trio mencionado.
Neste contexto, Autobiography of an Ex-Colored Man, de James Weldon Johnson, passou a ganhar
espaço nos estudos por conferir protagonismo aos indivíduos birraciais.
Deve-se considerar também que o público-leitor estadunidense mantinha estreitas relações com
o gênero literário das autobiografias, uma vez que este fora apropriado e divulgado em larga
escala pelos movimentos abolicionistas. Partindo desta experiência de leitura, Johnson se utiliza
desse conhecimento para construir sua autobiografia ficcional, publicada de forma anônima em
1912, com o objetivo de narrar a vida de um colored e, consequentemente, seus questionamentos
acerca de seu lugar no mundo, sendo considerado ora branco, ora negro. Por fim, utilizo-me da
fonte literária e arquivos pessoais de Johnson, como recortes de jornais e críticas de jornais,
contemporâneas ao livro, para construir a apresentação.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo mostrar a vida e o cotidiano dos ex-escravizados
após a promulgação da Lei nº 3353 denominada Lei Áurea e problematizar para onde foram
essas pessoas no Recôncavo da Bahia. Metodologicamente este estudo envereda pelo campo
da pesquisa bibliográfica. Como aporte teórico conto com as contribuições de Wlamyra R. de
Albuquerque (2004), que traz o fim do escravismo no Brasil quebrando alguns paradigmas; Walter
Fraga Filho (2006), ao discutir o destino dos ex-escravizados, o que fizeram e o que pensavam
sobre a liberdade após o fim da escravidão; Antônio Risério (2004), o mesmo aborda sobre a
sociedade dada aos contatos, trocas, interpretações, sendo uma sociedade hierarquizada mas ao
mesmo tempo, francamente informal, dentre outros autores importantes para debater a temática
proposta. Os resultados a que chegamos com essa análise foi que a sociedade naquele período,
assim como o poder público, não amparou essas pessoas e que apenas a promulgação da Lei não
seria suficiente para atender aos anseios desse povo que tanto sofria e que necessitava de uma
174
política pública que amparasse e reparasse, esses indivíduos. Observamos que os ex-escravizados
encontraram muitas barreiras dificultando a sua inserção na sociedade no Recôncavo, pois para
além da promulgação da Lei, existia senhores que mantinham seus escravizados presos em sua
fazenda, assim como existia sansões para os que se encontravam “libertos”, pois o intuito era
tardar a sua circulação em meio a elite que transitava no meio urbanizado.
Mulheres negras para sala de aula: storytelling, africanas e os mundos do trabalho na Bahia
Oitocentista
CRISTIANE BATISTA DA SILVA SANTOS (UESC)
175
hispânicos. No que se refere aos africanos, retirados do continente-mãe e trazidos também às
Américas inglesas, os spirituals estiveram presentes nas lavouras, sendo cantados na língua inglesa
e repleta de heranças do cristianismo europeu. Essa apropriação da cultura europeia não esteve
isenta de ressignificações por parte dos escravos africanos, os quais acabaram por empregar a
música como uma espécie de esperança de liberdade frente o sistema escravocrata. As músicas,
portanto, consistiram em formas importantes de resistência frente à dominação europeia.
Intelectualidade negra e a luta antiapartheid no Brasil nas décadas de 1970 e 1980 - Benedita
da Silva e Abdias do Nascimento
FABIANA VIEIRA DA SILVA (SESI-SP)
176
em âmbito econômico, social, cultural, artístico, religioso, epistemológico sob os ideais do pan-
africanismo. A compreensão de que os esforços de luta destes dois nomes representativos de
parte da militância negra iam além da busca pela solidariedade, mas se manteve enquanto parte
da luta tendo em vista a história do negro na diáspora e a opressão ao mundo cultural negro
enquanto marca do racismo. Para além de questões que envolviam a inserção no mercado de
trabalho, por exemplo, a proposta de Benedita girava em torno do que ela chamava de resgate
ao “nosso cultural massacrado”, que deveria ser buscado, a fim de que se construísse uma nova
sociedade, reformulada em seus aspectos culturais, políticos e econômicos.
Resumo: Esse trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado em andamento, que busca analisar
de que forma a imprensa cria e reforça estigmas e estereótipos dos bairros de população negra e
periférica da cidade de Itabuna e dos seus moradores. A cidade de Itabuna é um município de porte
médio do interior da Bahia, que hoje possui cerca de 240 mil habitantes, teve seu crescimento
desordenado, graças a sua rápida urbanização, tendo a criação de vários bairros sem estruturas no
final da década de 1970, para suprir as demandas do seu crescimento. Tais espaços eram marcados
pelos problemas relacionados a falta de serviços básicos, como falta de saneamento básico,
sem água potável, ruas não pavimentadas, sem postos de saúde, sem escolas, nem programa
de assistência social, transporte público deficitário e nenhuma estrutura de segurança pública.
A maioria de seus moradores eram pessoas pobres, trabalhadores assalariados e trabalhadores
rurais do cacau, desempregados que com as sucessivas crises da lavoura, migraram para os centros
urbanos da região em busca de empregos e acabavam tendo que sobreviver de subempregos ou
na economia informal. Na década de 1980, era comum a presença de gangues de bairro, tidas
pela polícia como sua grande inimiga. O objetivo do trabalho é compreender os mecanismos da
177
imprensa na estruturação e divulgação dos estereótipos dos locais de moradia da população negra
e pobre da cidade e como isso influencia na naturalização das violências cometidas nessas áreas.
A pesquisa se dá a partir da análise da trajetória de gangues pertencentes à bairros periféricos da
cidade, que foram cobertos pelos periódicos Jornal Agora e Diário de Itabuna, entre o período de
1988 à 1991, período em que as gangues analisadas se mantém em atividade na cidade.
178
tem por objetivo problematizar as disputas e estratégias do Porto de Ilhéus na inserção no mercado
externo, especificamente no que tange à acentuada presença dos navios suecos. Em 1926, marco
inicial da pesquisa, o Porto de Ilhéus deu início à exportação do cacau (anteriormente realizadas
apenas pelo Porto de Salvador) produto para cujo escoamento exclusivo fora construído, com
capitais locais e nacionais, sob a influência do capital inglês. Os ingleses haviam construído na
região a Estrada de Ferro Ilhéus Ilhéus-Conquista – EFIC, responsável pelo transporte do cacau
até o porto. O primeiro embarque do cacau para exportação direta foi feito em um navio sueco, o
Falco, cargueiro de capacidade de três mil toneladas, com 100 metros de comprimento e 16 pés
de calado que partiu com 47.150 sacos com destino a Nova York. Após o Falco, seguiram-se outros
navios de mesma origem, que frequentaram o novo porto, pelo menos até o ano de 1935, marco
cronológico final deste trabalho quando o assoreamento da barra de entrada do porto causou
impedimentos e prejuízos significativos à circulação de navios. Entre eles: o Bore, o Carolina, o
Gudmundra, o Mirabella, o Anglia, o Hibernia, o Orânia, o Miranda, o Knappinsborg, o Magda,
Liguria e o Fin, fizeram diversas viagens. Portos que ingressam no mercado externo precisam de
reconhecimento nacional e internacional. Diversos os aspectos envolvidos: técnicos; jurídicos; a
introdução em rotas consolidadas; a concorrência com outros portos; a regularidade das linhas
que passarão a fazer escalas; a qualidade das embarcações que circularão; os privilégios a serem
concedidos para atrair as Companhias entre outros. O pequeno porto de Ilhéus logo enfrentou a
luta por este reconhecimento em várias frentes. A articulação com os navios suecos foi uma das
suas principais estratégias. Este trabalho se referência na bibliografia sobre portos e se vale de
fontes hemerográficas e impressas localizadas no Centro de Documentação e Memória Regional
– CEDOC/UESC e Associação Comercial de Ilhéus.
179
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
181
fontes utilizadas foram o periódico O Correio de Alagoinhas e obras literárias e acadêmicas ligadas
ao objeto e período em questão. Concluímos que, mesmo sem o perfil dos conceitos atuais, as
práticas de lazer e os hábitos culturais locais foram influenciadores no processo de estruturação
dos espaços públicos urbanos. No que tange as práticas e vivências coletivas, a sociedade
alagoinhense usufruía desses espaços e dos benefícios de ações de agentes da sociedade civil que
promoviam práticas culturais diversas de lazer imbuídos das ideias de entretenimento e diversão
chegadas através da ligação férrea com algumas capitais. Mesmo as práticas habituais na natureza,
neste período, ganharam relatos carregados de um discurso próximo aos aspectos de lazer vistos
no intercâmbio cultural proveniente dessa abertura de comunicação com outros centros urbanos,
além da influência dos trabalhadores imigrantes que se estabeleceram na cidade neste período.
Em suma, vemos que o processo histórico que estrutura tais práticas trata das tensões do lazer
que transpõe os aspectos sociais e incide nas transformações do espaço da ação.
“NA MARÉ DOS CLUB’S”: Entre o crescimento urbano, a expansão das práticas sociais e
consolidação das distinções das elites em Manaus (1880-1910)
KÍVIA MIRRANA DE SOUZA PEREIRA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS)
Resumo: A vida social e urbana de Manaus no final do século XIX e início do século XX modificou-
se rapidamente com o advento da economia da borracha, promovendo uma intensa dinâmica na
cidade. Nesse sentido, novos hábitos e costumes foram implementados, dentre eles o incentivo
aos esportes, à cultura europeia e ao lazer, na busca constante pela ambígua “modernização”
e “civilidade” para agrado das elites locais. Assim, a sociabilidade de um grupo social deram-se
nos teatros, nos clubes, nas igrejas e nos cafés, possibilitando as diversões por meio das prosas,
espetáculos, danças ou esportes. Em especial, os clubes recreativos apresentam-se como
importantes espaços de interação social e fortalecimento dos vínculos pessoais, o que corrobora
para a consolidação de uma própria e distinta sociabilidade das elites na cidade. Sabendo
que os frequentadores desses espaços compunham os diferenciados grupos de organização
econômica, política, comercial e jurídica, no âmbito político-social, estas organizações tornam-
se o lugar de articulação da prática política e do exercício do poder na sociedade, emergindo
como representante de parte de seus anseios, influenciando com sua presença nas instituições
oficiais. Compreendendo também tais espaços como um campo autônomo com suas regras e
dinâmicas próprias, os interesses e práticas sociais dos agentes devem ser identificados como
formas de legitimação de poderes nos próprios clubes recreativos. Diante dessa explanação,
temos como proposta nesse Simpósio Temático apresentar as investigações sobre a expansão
dos clubes recreativos paralelo ao crescimento da cidade e consolidação de um projeto elitista.
Se, na primeira metade do século XIX, a cidade tinha poucas programações e apenas 5 sociedades
recreativas centralizadas no setor privado e cívico – como a Sociedade Recreação Amazoniense
(1854), Sociedade Ipyranga (1861), Recreação Marítima (1868), Sociedade Dramática Particular
(1868) e Club Familiar (1872) –, a partir da década de de 1880 até 1910, esse plano começa a se
reconfigurar e vemos surgir progressivamente mais 67 novos clubes. Com isso, verificamos que o
aparecimento de novos clubes na cidade mostram as diversidades de organizações identitárias e
como as pessoas participavam da dinâmica da modernidade que apresentava o modelo de atleta,
jovem, esportivo, civilizado alinhado ao agrupamento urbano e um modelo de vida em sociedade.
Para tanto, buscaremos explanar sobre o sentido organizativo, significados e interpretações dos
indivíduos a um clube e como as elites apropriaram-se desse momento e dos discursos para o
182
estabelecimento de talentos, estilização de vida, ostentação de status, códigos de distinções
sociais, culto à beleza, higiene e sociabilidade como projeto modernizador.
A Dança como fenômeno cultural nos clubes sociais e recreativos da cidade do Salvador nos
anos de 1910 a 1940
VIVIANE ROCHA VIANA (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA)
Resumo: O texto em tela provoca uma reflexão acerca da dança enquanto fenômeno cultural nos
clubes sociais e recreativos presentes na cidade do Salvador, considerando a escassez, os limites e
as exigências de uma pesquisa bibliográfica referente de caráter histórico. Para o desenvolvimento
dessa pesquisa optamos pela perspectiva da Nova História, centralmente a História Cultural, pois
as mesmas se encaixam na visão ontológica que possuímos do fazer científico. Como objetivos
buscou-se destacar o lugar da dança como fenômeno cultural nos clubes sociais e recreativos da
cidade do Salvador considerando o início do processo de modernização da cidade com destaque
para o recorte temporal de 1910 a 1940, assim como também buscou-se identificar os clubes
existentes neste período, bem como os tipos de dança praticadas nestes clubes. Como categorias
teóricas discutiram-se no texto a Dança como fenômeno cultural, as primeiras manifestações
da dança na cidade do Salvador e a modernização do centro urbano da capital baiana e os
impactos causados nos clubes da cidade. Neste sentido, os resultados encontrados apontam
que as primeiras décadas do século XX foram marcadas por resquícios de uma cultura europeia
baseada no carnaval português trazido para Salvador pela elite local na época, nele o entrudo,
brincadeira carnavalesca marcada por batalhas de rua com uso de bombas de água e farinha.
Além disso, também foi possível identificar grande influência nos ritmos africanos nas danças
praticadas nos clubes. Naquele momento a imprensa local associou o movimento do entrudo e
outras manifestações à cultura afro-festiva, colaborando para que parte da elite baiana criasse
os cortejos organizados que marcaram os primeiros movimentos do carnaval de rua da cidade
do Salvador, considerado uma festa familiar que disseminava a “ordem” e dessa forma houve
impactos nos clubes da cidade. Logo, a realização do estudo permitiu compreender que com a
modernização da cidade, mais especificamente a reestruturação do centro comercial urbano,
os clubes sofreram impactos na sua estruturação e funcionamento, passando a funcionar com
restrições de associados, tendo suas sedes deslocadas para outros espaços da cidade, bem como
alguns outros fechando suas portas, e o carnaval consolidando-se como a principal festa de rua da
cidade do Salvador nas primeiras décadas do século XX.
183
no espectro da beleza, enquanto rainhas de vaquejada, possibilidades outras de encenar a
sua existência. Portanto, o objetivo desse trabalho foi de descrever os significados culturais
atribuídos às vaquejadas, a partir do “olhar” de mulheres que participaram e participam da prática
na Bahia, bem como das matérias jornalísticas de jornais da capital e do interior do estado. Para
tanto, a nossa perspectiva metodológica se utilizou do diálogo entre a fonte oral, a partir do
conteúdo das entrevistas realizadas com dez mulheres, entre vaqueiras e rainhas de vaquejada,
e a fonte jornalística. Concluiu-se que a vaquejada, ao longo do tempo, ganha vários campos de
significação e ressignificação, dentre os quais, prevalecem às dimensões esportivas, de negócio
e de lazer. Assim sendo, a vaquejada começa a adentrar em um processo de esportivização com
o advento dos Parques de Vaquejada, da instituição de regras, do surgimento de categorias de
competição, do uso de cavalo de raça, da cobrança de inscrição para garantia da participação e
da criação de circuitos. Na Bahia, o marco inicial desse processo, provavelmente se consolida, a
partir da construção do Parque de Vaquejada Fernando Carneiro da Silva, em Serrinha, no ano de
1967. Agregam-se aí também outras atividades relacionadas a dimensões do lazer e estímulo ao
turismo, como: shows com artistas famosos de vários estilos musicais, o futeboi (jogo de futebol
com um boi solto no campo), o forroboi (forró com um boi solto no salão de dança) e os bolões
de vaquejada. Com o tempo, a transmissão ao vivo das competições, bem como a divulgação
maciça em sites, redes sociais e portais digitais passam a ser os principais meios de publicização
das vaquejadas, que se transformam em grandes festas de vaqueiros. Portanto, essa festa na
atualidade vem assumindo ares sofisticados e se tornando um comércio caro, um negócio, que
também gera renda e empregos em vários setores. Contudo, ainda compartilha a espontaneidade
entre os praticantes, reinventando a vaquejada de modo a estabelecer e fortalecer as relações
comunitárias mais societárias, pontificando, mesmo que contraditoriamente, negócio e a plenitude
da existência, compondo assim, um fenômeno híbrido, mas ao mesmo tempo genuíno.
184
“A LOS TOROS!”: As Touradas em Feira de Santana (1893-1905)
FÁBIO SANTANA NUNES (UEFS)
Resumo: O trabalho investiga uma face pouco explorada do boicote esportivo à África do Sul
durante a segunda metade do século XX: o caso do surfe e do acesso às praias. Em todos os anos
entre 1976, quando foi realizado o primeiro Circuito Mundial de Surfe, e 1991, quando diversas
entidades e associações esportivas internacionais decretaram o fim do boicote esportivo à África
do Sul, foram realizadas etapas do circuito naquele país (Cornelissen, 2011). As principais fontes
utilizadas para tanto são revistas de surfe internacionais. A escolha das publicações se justifica
tanto pela relevância e circulação quanto porque, durante a vigência do apartheid, os periódicos da
185
África do Sul eram vigiados e censurados pelo regime. Sendo assim, as publicações internacionais
são uma fonte privilegiada por abordarem a situação de segregação nas praias do país e o boicote
esportivo.
De forma secundária e complementar, recorro a fontes sul-africanas (sobretudo entrevistas e
memórias) e a historiografia recente produzida sobre aquele país, com destaque para as obras
do historiador Glen Thompson (2011, 2015). Neste corpus é possível identificar iniciativas locais
de desafio e combate à discriminação. O boicote esportivo à África do Sul e as reivindicações por
igualdade no acesso ao lazer e ao esporte são analisados tendo em vista o contexto da época,
que inclui as relações internacionais sob a égide da Guerra Fria (que incluía o apoio dos EUA aos
governos sul-africanos) e a ascensão do neoliberalismo.
186
baiano, e a História Oral enquanto abordagem que nos permite ter acesso a oralidade, através de
entrevistas gravadas com atores sociais que fizeram e fazem parte da história do voleibol na Bahia
e, consequentemente acesso as suas memórias.
Resumo: Fundado em primeiro de janeiro de 1933, o Galícia Esporte Clube carrega, como o
próprio nome sugere um vínculo com a imigração galega que aportou em Salvador entre o fim do
século XIX e início do Século XX. Em um contexto histórico no qual a Europa vivia uma grande crise
econômica, intensificada em espaços rurais que tiveram mais dificuldades em industrializar-se,
como por exemplo a Galícia situada na região noroeste da Espanha. Somada a isso, fuga do serviço
militar obrigatório – o que ajuda a explicar um dos motivos da maioria dos migrantes galegos
serem do sexo masculino – também é um elemento de forte expulsão desses migrantes de suas
terras.
Paralelo a isso, o Brasil vivia no final do século XIX uma crise econômica e uma pressão de caráter
externo e interno, para o fim da instituição escravocrata. Dessa maneira, a vinda da mão de obra
europeia contribuía para essa substituição gradativa do trabalho braçal e também num projeto
eugênico para o “embranquecimento da raça”. Assim, muitos italianos, espanhóis e alemães bem
como outras nacionalidades partiam da Europa no desejo de “Fazer a América”. Nesse contexto,
a Bahia e a cidade do Salvador, longe de ser o maior polo atrativo desses emigrantes, sendo esse
espaço de protagonismo ocupado tanto por São Paulo e sua forte economia não por acaso foi
alvo da migração portuguesa, italiana, espanhola e asiática; e o Rio de Janeiro, a época ainda
como Distrito Federal, responsável pela ocupação das colônias lusas, itálicas e hispânicas – desses
últimos, também majoritariamente galegos assim como no caso da Bahia mas em números
absurdamente maiores, chegando a 40 mil.
Dito isso, Salvador que em 1940 chega a ter pouco mais de 6 mil migrantes galegos, concentra um
grupo específico dessa colônia. A qual, muito graças ao sucesso no ramo de “secos e molhados”
enriquece e já em 1930 possui condição tal para uma série de instituições como o Clube Espanhol,
o Cassino Espanhol, o Hospital Espanhol e o próprio Galícia Esporte Clube.
Sendo esse último objeto de estudo uma vez que as particularidades do esporte como o seu
processo histórico de mudança do amadorismo para a cristalização do profissionalismo atrelado
a uma massificação do esporte o qual o tornava cada vez mais popular, faz do Galícia alvo de um
questionamento em torno de sua fundação e primeiros anos de vida: sendo um clube de valorização
da identidade galega ou uma forma de integrar-se à sociedade soteropolitana, participando de
um evento cívico e festivo o qual o futebol proporciona.
Resumo: O presente artigo aborda o futebol como prática esportiva inserida nos circuitos de
modernidade e transformações urbanísticas da cidade de Salvador, na Bahia, no período da década
de 1940. Esse projeto de modernização, capitaneado por um grupo político alijado do poder desde
a Revolução de 1930 e disposto a obter apoio popular, teve como um de seus efeitos a substituição
do Campo da Graça (Estádio Arthur Morais) pelo Estádio da Fonte Nova, este mais confortável e
187
com maior capacidade de público. Naquele período, a Bahia (em especial a cidade de Salvador)
viveu momentos de mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais, criando certa imagem de
um estado que se recuperava (ou tentava se recuperar) de espaços perdidos para outros estados do
Brasil após a Proclamação da República. A criação do Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade
do Salvador (1942) teve por objetivo intensificar as transformações urbanísticas implementadas
na cidade durante as primeiras décadas do século XX, com propostas de reformulação da
dinâmica urbana (expansão da cidade para novos bairros e avenidas de vale, a exemplo). Para
o poder público, interessava expurgar do passado o que impedia a criação de um futuro com
encantamento. Essa visão ganhou força com a vitória de Otávio Mangabeira para governador nas
eleições pós-Estado Novo, reativando o anseio por certa modernidade de uma “Bahia que não teve
sorte sob o signo da ditadura Vargas” (A TARDE, 1946, p. 3). O futuro que se avizinhava deveria
pertencer ao movimento político denominado “autonomismo”, com características de “retomada,
reerguimento, reintegração, restauração e restituição [da Bahia]” (PASSOS, 2016, p. 45). Nesse
contexto político de renovação, as práticas esportivas se profissionalizavam (processo iniciado nas
décadas de 1920 e 1930) nas maiores cidades do país, com forte adesão popular, muito estimulada
pela imprensa. Na cidade de Salvador, o futebol conquistou as massas. No projeto de urbanização
do novo governo, o Campo da Graça, construído com arquibancadas de madeira e para um público
reduzido, não mais representava o equipamento esportivo das multidões urbanas em êxtase. A
pesquisa tem por fontes os jornais da cidade de Salvador, livros de atas da Câmara e Assembleia
Legislativa, leis e decretos, dentre outras. Este artigo é um desdobramento do meu projeto de
pesquisa de conclusão do curso de graduação em História da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB), Departamento de Ciências Humanas (DCH), campus I, Salvador.
Forjando O Corpo Moderno: Rio de Janeiro e Salvador no início do século XX, um estudo
comparado
ALINE GOMES MACHADO (UFBA)
Resumo: O Rio de Janeiro e Salvador foram duas importantes cidades que marcaram a história
do país como Capitais Federais. Compartilham semelhanças e diferenças que formaram diversos
contextos políticos, culturais, econômicos e sociais nos quatro cantos do país. Salvador entre os
anos de 1549 e 1763 é a Capital Federal, palco de questões fundamentais num país continental
que política e culturalmente é fragmentado. O Rio de Janeiro assume, em 1763, o posto de capital
do país, tornando-se o centro das mais variadas discussões e produções de modelos diversos aos
quais os outros estados e cidades deveriam adotar, seguir o exemplo. No início do século XX, o
Rio de Janeiro e Salvador estavam imersas na onda de desejos e transformações modernas que se
espalhava e paulatinamente se efetivava pelo país. As condições políticas, econômicas, culturais e
científicas delineavam e, ao mesmo tempo, eram delineadas pelos ideais modernos. Assim, cada
cidade efetivava seus projetos modernizadores a partir das realidades nas quais esses elementos
estavam imersos. Neste sentido, compreendemos que o projeto de modernidade, tanto da então
capital Federal, quanto da capital baiana, envolveu bem mais que mudanças econômicas, políticas
e estruturais. Seus domínios queriam se materializar nas mais variadas práticas cotidianas, a fim de
tornar essas práticas, e seus praticantes, representações de uma sociedade moderna, civilizada. É
neste ponto que a atenção se volta para o corpo como palco, como representação de modernidade.
Assim, partimos da premissa que houve um movimento de gestação e educação do corpo a fim de
torna-lo moderno, para tanto vários aspectos da vida cotidiana como as vestimentas, as práticas
188
de divertimento, práticas culturais, o cuidado com corpo, passaram a ser repensados e vigiados, a
fim de enquadrá-los dentro dos preceitos modernos. Aqui, então, estratégias são pensadas para
formar esse corpo moderno. Dentre essas estratégias, nosso foco de análise se volta às práticas
corporais, mais especificamente a ginástica. Então, nos questionamos e objetivamos compreender
como se constituiu as relações entre projetos modernizadores e as representações de corpo
moderno, tendo a ginástica como elemento educador, em Salvador/BA e no Rio de Janeiro/RJ.
Para responder essa questão e objetivo de estudos estabelecemos como metodologia a História
Comparada. Nosso marco temporal compreende as duas primeiras décadas do século XX por terem
guardados o período de elaboração e efetivação de projetos de modernidade mais concretos tanto
do Rio de Janeiro, quanto em Salvador. Como fontes, utilizamos materiais de jornais, revistas,
documentos do governo, estudos já publicados que tratem do objeto em questão. Como pesquisa
em andamento, apontamos o potencial de discussão.
Resumo: O presente estudo faz parte do Programa de Pós- Graduação em Educação (PPGE), da
Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na linha temática Educação,
Cultura Corporal e Lazer. Entendemos que a ginástica é uma das práticas corporais de maior tempo
de experimentação no mundo, praticada em vários espaços sociais, com objetivos diferentes, com
possibilidades Diversas de execução, podendo sua prática ser realizada em diversas modalidades,
definirmos o foco dessa pesquisa nos espaços das academias se torna essencial, justo por
reconhecermos as especificidades de cada tipo de ação junto a esta atividade. A problemática
central desta pesquisa está em qual (ais) os elementos constituintes e os personagens atuantes
na construção da ação da ginástica em academia na cidade de Salvador? Tem como intuito principal
compreender a construção da ação profissional da ginástica em academia na Bahia entre os anos
de 1975 a 1988, a partir da formação e início de atuação de especialistas já graduados em cursos
na cidade. Nosso estudo trata-se de uma pesquisa histórica, com a abordagem da história oral,
utilizando de entrevistas, fontes bibliográficas, documentos oficias e documentos não oficiais. A
delimitação do interesse de estudo pelo curso da Universidade Católica de Salvador se deu pelo
fato de ser o primeiro do estado a formar professores de Educação Física a partir de 1975. O
pensamento de época dos professores e as experiências na construção da prática da ginástica em
academia, a partir de suas atuações fazem parte das excitações presentes nesse trabalho. Nesse
contexto, a partir de uma opção metodológica pela história oral, no que se refere à veracidade
dos fatos é a forma como as pessoas dão sentido ao que vivenciaram como uniram a experiência
pessoal com o contexto social, com o passado, com o presente e como essa relação se entrelaça
entre o tempo, servindo para interpretar as suas vidas e o mundo ao seu redor. O motivo que nos
levou a desenvoltura do estudo está na necessidade de pensarmos na inexistência de arquivos
acessíveis e organizados, documentos, registros e pesquisas que retratem de alguma forma e
preserve a história dessa área do saber em Salvador, buscando recuperar uma das histórias desta
área de conhecimento no estado. Como fim de analise será pautado em fontes documentais, além
de realizar entrevistas com profissionais atuantes desta temática, visando promover elementos
que de alguma forma preencham as lacunas existentes na história da Educação Física baiana.
189
Sabemos da necessidade de novos estudos e a continuação deste, que venham a apresentar novos
olhares, personagens e contextualizações, que servirão para alargar a visão da formação e das
formas de trabalho da Educação Física na Bahia e no Brasil.
190
organizada Raça Rubro-Negra, pensando suas performances como elemento de constituição de
sua identidade.
Resumo: A história de luta das mulheres por espaço dentro da sociedade pode ser observada
ao longo de muitos anos. As desigualdades, sejam de poder ou de direitos, são inúmeras, isso se
justifica devido as questões de gênero existentes nas relações sociais. Assim, investigar a influência
do gênero no esporte pode trazer contribuições significativas para uma maior valorização
e reconhecimento dos espaços que podem ser ocupados pelas mulheres. Diante disso, esta
proposta tem por objetivo analisar como a prática do futebol feminino na cidade de Guanambi-
Ba incita os debates acerca do gênero e das sexualidades, bem como investigar os fatores que
as levaram a este meio, os questionamentos sobre a existência de preconceitos relacionados ao
futebol feminino na cidade, e os lugares destinados a mulher na sociedade local. Baseia-se na
metodologia da história oral que permite aos pesquisadores enriquecerem suas experiências diante
as entrevistas realizadas, pois cada indivíduo apresenta algo novo diante do objeto pesquisado.
Por se tratar de um estudo com seres humanos, a pesquisa teve parecer favorável pelo comitê de
ética e pesquisa da UESB. Os dados encontrados reforçam a luta de mulheres por reconhecimento
e valorização dentro de um espaço culturalmente dedicado ao público masculino. Estas, venceram
os empecilhos movidas pelo grande amor a prática do futebol em meio a uma sociedade marcada
por traços machistas. A conclusão para esta breve reflexão é a importância de debater questões
referentes a trajetória histórica e de vida das mulheres, seja no âmbito esportivo ou qualquer
outro que reafirme aspectos igualitários nas discussões de gêneros.
Resumo: Esta pesquisa aborda sob uma perspectiva histórica, a presença de “leigos” na função de
professores de Educação Física com práticas corporais como a ginástica e as atividades resultantes
dos desfiles cívicos realizados nas festividades escolares, numa Escola Normal rural, fundada em
1906 por missionários da Missão Central do Brasil, denominado Instituto Ponte Nova (IPN), que
teve como referência o Colégio Mackenzie (SP). Situado no município brasileiro de Wagner na
Bahia, o IPN chamado Escola Americana de Ponte Nova e passou por mudanças e acontecimentos
no campo educacional e religioso, destacou-se na formação de Professores fundamentada numa
concepção integrada aos princípios religiosos, com base na evangelização da fé e se valeu de
educação do corpo e da alma, sob um pretenso viés civilizatório. Se reconhece a influência da Igreja
Presbiteriana no Colégio, até o ano de 1971. O problema que foi apontado é este: como foram
inseridas as atividades ginásticas pelos “leigos” professores e o que isso representou no campo
dos saberes ? Nosso objetivo é identificar qual é a relação entre as proposições pedagógicas da
191
missão americana no campo da Educação Física em defesa de sua existência e permanência como
componente curricular, e as finalidades dos rituais festivos no espaço escolar enquanto “garantia”
de aprendizagens. Tal estudo se justifica a partir da necessidade de compreender como as práticas
foram construídas e quais saberes foram inseridos nas atividades curriculares além de sua relação
com as políticas sociais e ações religiosas. Como metodologia a Nova História, na dimensão da
História Oral, tendo como participantes da pesquisa, pessoas que foram ex alunos, professoras e
diretoras . Para além destes, busquei outras fontes os documentos institucionais ainda disponíveis
para análise para verificar se os nomes de Mary Ann Chamberlaine, Ella Khul e Mary Dascomb - as
primeiras missionárias que se deslocaram para dar cursos através do Trainng Scholl como forma
de padronizar os métodos e erigir uma grande nação – hiterland - no sertão para um avanço social
com vistas no modelo republicano vigente nos Estados Unidos. Elenquei (05) leigos professores
de ed física que se destacaram com suas vivências no e também usei as imagens como fontes
para reconhecer ações escolares , em datas comemorativas conforme calendário para garantir
o uso das práticas corporais como espetacularização política e social onde o “corpo” aparece
vinculado a um “lugar” da moral, da religião e do aprendizado, evidenciando o papel formativo da
ginástica na condução dos sujeitos com valores diferenciados . Enfim, a esteira de um ideal liberal
e democrático para “formar” verdadeiros cidadãos e, dar continuidade a profissão de fé.
Resumo: O presente texto desperta um olhar crítico sobre a organização e criação do primeiro
Curso de Licenciatura em Educação Física e a formação da primeira turma na Universidade Católica
do Salvador na Bahia na década de 1970, depois de muitas décadas de participação em sua maioria
de militares, ex-atletas e ou médicos que atuavam na condução das atividades no Estado da Bahia,
quando os primeiros cursos civis foram criados em São Paulo desde 1934, e no Rio de Janeiro
em 1939, quando a Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro tinha
como objetivo ser a escola padrão na formação de Educação Física no Brasil, e apesar de naquela
ocasião já existirem outras escolas na área da EF no país. Esta história está registrada nos anos
80 na interventoria do Sr. Landulfo Alves, e este quadro nos permite considerar que talvez tenha
sido um pouco tardia como parte integrante da Faculdade de Educação da Universidade Católica
do Salvador – UCSAL a criação do primeiro Curso de Educação Física com habilitação em Técnica
de Desportos na Bahia, fundado em 27 de dezembro de 1972, mas a tarefa que demonstrava
certa urgência, talvez tenha ocorrido na época oportuna considerando as condições que o estado
oferecia a seus usuários e mais interessados os professores que claramente necessitam fazer um
curso universitário de EF. Logo, para falar sobre a primeira turma de Educação Física da UCSAL, nos
reportamos sobre as expectativas, sonhos e realidade e nos remete a discutir sobre as aspirações
e dificuldades que existiam na década de 1970 quando em Salvador – BA não existia um curso de
Licenciatura ou Bacharelado em Educação Física – EF, e reconhecemos que este apresenta apenas
uma síntese possível, e não absoluta da construção e formação da primeira turma Licenciatura
de educação Física da Bahia diplomada em 1975. O curso de Educação Física da UCSAL começou
integrado à Faculdade de Educação da Ucsal e funcionava nas dependências do Convento da Lapa
e no Campus da Federação com as aulas teóricas, e as aulas práticas aconteceram no Complexo
Esportivo Cultural Estádio Octávio Mangabeira – Fonte Nova.
192
Alcyr Ferraro: Materializador da Formação em Educação Física na Bahia
ROBERTO GONDIM PIRES (UESB)
Resumo: O Estado da Bahia, em que pese seu protagonismo na Educação nacional, seja com a
concretização da primeira Faculdade de Medicina do Brasil, seja por personagens que influenciaram
a política educacional em tempos e formas diferentes, como Anísio Teixeira, Rui Barbosa e tantos
outros, foi um dos últimos Estados da federação a materializar seu primeiro curso de formação em
Educação Física. Os esforços para tal feito na Bahia demarcam desde a década de 1930, quando
alguns Baianos foram enviados para a escola de Educação Física do exército para qualificar-se e
poder trabalhar nas escolas básicas baianas, esse movimento foi ampliado quando da constituição
do Primeiro Curso de Educação Física (1939) vinculado a uma Universidade no Brasil, na ENEFD
da Universidade do Brasil. Talvez, esse seja o marco de ampliação da formação da Educação Física
nacional, pois a política de bolsas de estudos empregada pela instituição permitiu o ingresso
de estudantes das mais variadas regiões do Brasil. Paralelamente a essa dinâmica, algumas
tentativas frustradas de Criação de um Curso de Formação em Educação Física se sucederam
na Bahia, em 1942 na interventoria de Landulfo Alves, em 1965 no governo de Lomanto Júnior,
em 1969 no governo de Luiz Viana Filho e só em 1973 o Estado ver materializado o intendo de
criação de seu primeiro curso em Educação Física, claro que vários personagens se empenharam,
mas um em particular merece uma analise destacada, pela posição que ocupou. O professor Alcyr
Naidiro Ferraro estudou na ENEFED na década de 1950 e retornou para a Bahia com o propósito
de propagar a formação adquirida, assim esteve próximo dos movimentos junto com a APEFB
quando da articulação da criação do Curso da UCSAL, e estava no colégio de aplicação da UFBA
e próximo ao reitorado da época para cristalizar o primeiro curso público da Educação Física na
Bahia. Definido o cenário, nos interessa entender as tensões existentes, as disputas internas,
assim como as convergências negociadas. Entrevistas realizadas com professores da época nos
ajudaram a compor um mosaico que nos impulsionam pensar que Alcyr Ferraro foi realmente o
materializador da Formação Profissional em educação física na Bahia.
Resumo: Este texto apresenta resultados parciais da pesquisa de doutorado, cujo objetivo é (re)
construir o percurso formativo do primeiro corpo docente da Escola Superior de Educação Física
do Pará(ESEFPA) no período de 1950,1960 e 1970. Os interesses que motivaram a pesquisadora a
realizar este estudo inicialmente reporta-se à própria trajetória profissional no Curso de Educação
Física (CEDF) da Universidade do Estado do Pará (UEPA) como professora da disciplina Fundamentos
Históricos da Educação Física, do Esporte e do Lazer. Função que propiciou um contato direto
com o arquivo ¨morto¨do curso ao deparar com poucas fontes, registros e relatos sobre esses
professores. Nessa atuação, a questão problema junto às aulas e eventos da disciplina era a
dificuldade com a história desses professores e quando se conhece é apenas o nome ou uma história
superficial sobre os mesmos. Além das buscas no arquivo foram realizadas entrevistas na linha da
História Oral que registra memórias narradas através de entrevistas como fontes. A utilização
desse método de pesquisa está ligada a uma série de procedimentos técnicos e de pressupostos
teóricos conceituais (BOSI,2004; ALBERTI,2005; NEVES,2006; HALBWACHS,2006). Além de relatar
as vivências passadas, foi registrado a reconstrução da trajetória de formação desses professores
193
que estão relacionados com a docência, formação, dom, protagonismo e esquecimento com outros
aspectos da trajetória de vida. Foram identificados pontos convergentes e comuns, divergentes,
independente da trajetória de cada um, os quais identificados e interpretados como sendo de
um determinado tempo histórico em que viveram e retratam o professor de Educação Física do
estado do Pará de um período específico.
194
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Clube de Cinema da Bahia e a sua participação no campo cinematográfico nos anos 1970
IZABEL DE FÁTIMA CRUZ MELO (UNEB)
Resumo: Este artigo trata das ações do Clube de Cinema da Bahia durante a década de 1970 em
Salvador. Pretende-se a partir da descrição e análise da sua programação, composta tanto por
exibições regulares e mostras temáticas, quanto por cursos, palestras e seminários, evidenciar
a sua importância junto com o Grupo Experimental de Cinema e a Jornada de Cinema da Bahia
como vértices impulsionadores da cultura cinematográfica na Bahia durante este período, que
articulados proporcionaram além da possibilidade de acesso a uma filmografia diversa, um espaço
de formação para críticos, cineastas, produtores e técnicos, alguns ainda hoje em atividade no
cinema brasileiro.
Resumo: Neste texto nos dedicamos à análise da adaptação da peça O Pagador de Promessas
de Dias Gomes escrita, em 1959, para versão fílmica, em 1962, dirigida por Anselmo Duarte.
Coloca-se em perspectiva a repercussão de O Pagador após o prêmio recebido em Cannes, a
Palma de Ouro. Uma importante premiação para o cinema nacional. Assim com um elucidativo
material documental de periódicos narramos como reverberou a película aqui e em outros países.
Concluímos refletindo sobre a censura durante o regime civil-militar em relação aos produtos
culturais, com destaque para os filmes e consequentemente aos seus cineastas, entrecruzando o
contexto histórico, social e político da década de 1960. A interpretação do Brasil que Dias Gomes
realiza em sua obra teatral desdobrou-se e foi perseguida pelos censores tanto no teatro como
no cinema.
Corpos urbanos na “Feira moderna”: a relação corpo-cidade no filme “Um crime na rua” de
Olney São Paulo
ALISSON OLIVEIRA SOARES DE SANTANA
Resumo: O presente estudo se propõe a analisar os corpos na cidade Feira de Santana a partir
do curta-metragem “Um Crime na Rua” (1955), de Olney São Paulo. Para isso, buscou-se analisar
a narrativa fílmica a partir dos vetores Corpo-Cidade, tais chaves potencializaram refletir
sobre as experiências e as diversas manifestações dos corpos no espaço urbano. O documento
cinematográfico analisado aqui, tem como data de produção e lançamento o ano de 1955.
Focalizando aspectos regionais da cidade, o curta-metragem apresenta um enredo policial que
vai mobilizar dois agentes investigativos na resolução de um crime cometido no centro de Feira de
Santana. Como narrativa, o filme apresenta cenas reais da vida cotidiana da cidade, possibilitando
o resgate de determinadas práticas culturais produzidas em meio a uma recente dinâmica urbana.
Ao explorarmos as representações das paisagens urbanas feitas no curta, percebe-se o como o
olhar do diretor se direcionou em trazer uma perspectiva da espacialidade da cidade e dos corpos
transeuntes. A cidade é revelada pelo diretor através de uma condição “flâneur”, caracterizando
196
seu olhar como detentor de significações urbanas. É, portanto por meio de estratégias como essa
que a narrativa do filme adquire contornos tangíveis e intangíveis, ao mesmo tempo que produzem
sentidos e sensações que operam nas subjetividades das memórias individuais e coletivas. Como
se trata de uma produção de caráter urbano, sendo realizada em espaços abertos da cidade, os
trechos da trama conseguem relatar especificidades históricas dos elementos que fizeram parte
da paisagem urbana de Feira de Santana na década de 1950. A paisagem apresentada no filme
incorpora não apenas as configurações espaciais da cidade, como também a relação entre as
pessoas que atuam no espaço urbano. Este olhar de profundidade sobre o espaço urbano vivido
fornece a Olney São Paulo um conteúdo visual que desvenda a Feira de Santana que se moderniza
dentro de um quadro de injunções socioeconômicas, formulando assim um campo imagético de
representações sobre a urbe e seus habitantes. Os corpos que também se apresentam preenchem
e interagem o tecido urbano, fornecendo atuações de grupos sociais, de situações e convenções
que são protagonizadas no meio urbano por meio de relações interpenetrantes.
Resumo: A proposta deste artigo é tomar o filme Negação (2016) como ponto de partida para
propor uma reflexão sobre o negacionismo no Brasil do tempo presente que tem conquistado
cada vez mais espaço na cena pública brasileira. A obra com direção de Mick Jackson e roteiro
de David Hare, foi lançada no Brasil em 2017 e, baseia-se no livro “Denying the Holocausto: The
Growing Assault on Truth and Memory”, escrito pela da historiadora americana Deborah Lipstadt
e, publicado nos Estados Unidos, em 1993. A trama do longa-metragem gira em torno de um
processo de difamação movido por David Irving contra a pesquisadora depois que seu livro foi
lançado no Reino Unido. O processo estava baseado no impacto que as alegações apresentadas
na obra de Lipstadt teriam causado na carreira e na reputação de Irving. Como foi movido em
um tribunal britânico e o sistema jurídico inglês, nos casos de calúnia e difamação, não parte da
figura de presunção de inocência, o ônus da prova cabia ao réu. Ao final do julgamento histórico,
David Irving, que utilizava como argumento principal a falsa ideia de que as câmaras de gás nunca
teriam funcionado para exterminar os judeus, foi condenado pelo juiz do caso, Charles Gray, como
negacionista. Em sua sentença o magistrado afirma que Irving “reproduziu evidências históricas
erroneamente e as manipulou”, além de ter sido qualificado como “anti-semita e racista” e “um
polemista de direita e pró-nazista” (WREN,2000). A partir do filme é possível realizar um conjunto
de debates que perpassam pela judicialização dos fatos históricos; o papel da mídia; a liberdade
de expressão e opinião; a disseminação da cultura do ódio, especialmente nos espaços da redes
sociais, bem como, a uma parte dos processos de desinformação, aos quais se convencionou
chamar de “fakenews”. O artigo perpassa por essas questões mas se concentra especificamente
no negacionismo no caso brasileiro, a partir das eleições de 2018, suas estratégias discursivas e
nas possibilidades e desafios de enfrentamentos. Busca conceituá-lo e investiga, especialmente
a partir da atuação do governo federal, observando suas diferentes facetas, que vão desde a
negação da própria política, passando pela negação das experiências traumáticas da sociedade
brasileira, a exemplo da escravidão e com ênfase na ditadura militar, até o negacionismo dos
dados produzidos pelas Universidades e instituições de pesquisa oficiais, como o IBGE e o INEP,
a respeito de temáticas como aquecimento global, desmatamento, a fome, o desemprego, a
desigualdade, a violência policial. A pauta também avança para o negacionismo da censura, da
197
violência contra o jornalistas e a liberdade de expressão, aos incidentes diplomáticos, até chegar
ao mais notório dos exemplos que se refere a pandemia do COVID-19.
Resumo: Agnaldo “Siri” Azevedo foi um documentarista que participou atividade da atividade
cinematográfica baiana do final dos anos 1960 até meados dos anos 1990. Contudo, nas narrativas
que abordam as décadas anteriores (Glauber Braga, Myriam Fraga, Sante Scaldaferri, Nelson
Motta), “Siri” é não é mencionado. Este trabalho visa investigar as razões do esquecimento em
torno de Agnaldo Azevedo dessas narrativas. Para tal, seguindo as pistas deixadas pelo relato de
Chico Drummond, primeiramente, vamos realizar um mapeamento das redes de sociabilidade dos
sujeitos em torno de “Siri”. Depois, vamos tentar reconstruir a inserção dele no Clube de Cinema
da Bahia. Acreditamos que esse esquecimento deve-se por dois motivos: primeiramente, a opção
pela produção de curtas-metragem, um objeto invisibilizado dentro da historiografia do cinema
brasileiro; e por fim, por ser um cineasta negro numa cidade racista.
198
Uma análise sobre a contracultura através do filme Labirinto de Paixões (1982) Pedro
Almodóvar
ISMÊNIA MEIRELES COSTA DE ALMEIDA BORGES (UNEB)
Resumo: Após a morte de Franco, a Espanha passa por um pujante processo de modernização
cultural e política, essa transição na atmosfera cultural da época motivou as pessoas a mudança
e a conquista de novos espaços; tendências iam surgindo e se consolidando. Nesta perspectiva,
a corrente contracultural que viria a ser conhecida como Movida Madrilenha, imprimiu uma nova
perspectiva artística e atmosférica no campo sociocultural espanhol. Rebento de uma sociedade
que clamava por liberdade de expressão, artística e sexual, campos que haviam sido oprimidos
durante os quase 40 anos de ditadura franquista, regime que sujeitou o país ao conservadorismo.
O cinema de Pedro Almodóvar é fruto desse período pós franquista, e nesse sentido, seus
filmes evidenciam a liberdade de expressão, apresentando um ideal democratizador, moderno,
e dialogando com a cultura de outros países, principalmente com inspirações norte-americanas,
apresentando uma história vista de baixo, das minorias, das vozes marginais e da estética do
absurdo. Assim, a partir do filme Labirinto de Paixões, lançado em 1982, discutirei aspectos da
importância desse movimento, o impacto da Movida em grande parte da sociedade daquela época,
partindo do método da análise fílmica em conjunto com a análise da documentação existente
sobre o assunto.
199
Fotografias de mulheres negras, escravizadas e libertas nos séculos XIX e XX: representações
e influências que nos afetam
ELLEN KATARINE DA SILVA OLIVEIRA (UFRB)
200
assim como também aos processos históricos que marcaram as formas de ver e de se fazer ver às
mulheres negras no Brasil, é um dos objetivos desta breve trabalho. É importante pontuar que a
série em questão apoia-se em um tipo de discurso feminista liberal, que tem por característica o
individualismo, e opera com base na universalização da categoria mulher. Em seus textos e roteiros,
portanto, a série age de modo antagônico àquilo que a própria produção acredita entregar para
o público quando se coloca enquanto uma filmografia que reflete, por exemplo, questões raciais.
A Memória fotobiográfica de Jorge Amado por Zélia Gattai em Reportagem Incompleta (1987)
KASSIANA BRAGA (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO)
Resumo: Este trabalho tem como intuito discutir a primeira fotobiografia intitulada “Reportagem
Incompleta” lançada pela escritora e fotógrafa Zélia Gattai no ano de 1987.
Nessa fotobiografia publicada pela editora Corrupio, apresenta inúmeras fotobiografias
produzidas por era durante o exílio (1948-1952) na Europa até o final da década de 1980, período
em que se debruça a compor muitas imagens do esposo Jorge Amado, dos seus familiares e amigos
em diversos momentos e espaços que os acompanhou. Com esse texto, pretendemos tecer uma
reflexão acerca dessas fotografias que Zélia Gattai produziu, registrou e guardou ao longo de sua
vida. O objetivo é identificarmos as significações e as interações entre memória familiar e coletiva
através da construção dessas memórias a partir dessas imagens e das legendas contidas nessa
fotobiografia, levando em conta as histórias visuais produzidas pela autora.
201
de repressão, censura e mudanças econômicas, utilizando a obra audiovisual como principal fonte
histórica. A análise da série se baseia em uma vasta bibliografia teórica, que é lida conjuntamente
a uma seleção de textos sobre a ditadura militar chilena, a situação feminina, o neoliberalismo e
o mercado de trabalho.
Resumo: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é uma instituição religiosa cristã
oriunda do contexto de reformismo religioso dos EUA no século XIX. Para que suas crenças e
doutrinas fossem propagadas, a Igreja dos Santos dos Últimos Dias utilizou de ferramentas,
como a Revista A Liahona, para que padrões familiares, condutas morais e modos de ser e ver o
mundo fossem internalizados por seus adeptos. Diante disto, está comunicação tem por objetivo
analisar as representações de família nas fotografias da Revista A liahona, publicadas no Brasil
entre 1995 a 2000. Para alcançar este fim, a análise empreendida dialoga com outras áreas do
saber, utilizando o método da descrição densa proposto por Clifford Geertz (2008), bem como
as concepções teóricas de John Berger (1999), Boris Kossoy (2001), Peter Burke (1999) e Valter
Oliveira (2017), que contribuem significativamente para análise das fotografias dentro dessa teia
de interesses que envolve família e religião. Por fim, cabe ressaltar que as fotografias enquanto
documento histórico devem ser utilizadas para a construção da narrativa histórico-social, pois
são suportes que consolidam práticas de um grupo e normatizam discursos que podem diferir
conforme a realidade social estudada.
Resumo: Pensar a casa brasileira como um lugar de tradições e preservação, é pensar sobre o
lugar onde se constitui a família não apenas como uma residência, mas também como um espaço
permeado de sentimentos, histórias e hierarquias sociais que formam a nossa conduta perante a
sociedade. Assim, nos propormos nesse ensaio analisar a casa como um patrimônio cultural que
carrega a história de vida e as memórias de seus moradores. Para conduzirmos nossa reflexão
utilizamos de artigos de autores que abordam acerca desse tema. A partir dessa análise verificamos
que pensar a casa enquanto patrimônio é inseri-la no conjunto de bens produtores de significação
e afetividades, que guarda a memória de uma família em seus patrimônios revelados nas receitas,
202
roupas, moveis, fotografias e outros objetos.
203
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Neste estudo, reconstituo a experiência de duas mulheres negras enquanto lutavam pela
liberdade legal para elas si mesmas e para suas filhas e filhos pequenos, em Feira de Santana, nas
últimas décadas da escravidão. Trata-se de Maria Mardina e Maria dos Anjos que fizeram questão
de dizer que por “amor da criação e bons serviços que lhes prestaram”, o senhor João Francisco
do Rego e dona Maria Carolina do Amor Divino concederam carta de liberdade gratuita a elas e às
crianças e, por isso, desde então, passaram a gozar de liberdade, ainda que sem deixar de viver em
companhia do casal. As duas relataram, também, que, depois disso, o coronel Joaquim Ferreira
de Moraes começou a aparecer na referida residência e a pressionar seu ex-senhor para que este
voltasse atrás na concessão da alforria. Ao observar a intenção do coronel e por receio de que seu
marido fosse “iludido ou a carta fosse subtraída” por medida de segurança, a mencionada ex-senhora
mandou escrever outra carta na qual conferia novamente a liberdade para toda família, mas como
nada disso garantiu à liberdade, depois da morte do ex-senhor, o caso foi levado pelas Marias para
ser resolvido diante das autoridades judiciais. Desse modo, tais experiências funcionaram como
fios condutores que permitiram descortinar aspectos da vida de outras mulheres daquele tempo;
de outros familiares bem como de demais integrantes da comunidade negra. Para tanto, foram
analisados documentos como ações de liberdade, jornais, inventários e cartas de alforrias. A partir
de uma abordagem qualitativa das marcas deixadas por essas personagens em seu itinerário foi
possível saber que, a despeito da opressão interseccional de classe, gênero e raça; mulheres
negras – escravizadas, libertas e livres foram personagens centrais na luta pela liberdade legal
na região. A escolha teórico-metodológica utilizada para a investigação tornou possível constatar
que as especificidades da escravidão feminina influenciaram na decisão de investir na conquista
desse tipo liberdade.
ÚLTIMO ATO SENHORIAL: Alforria e família negra na Chapada Diamantina (séc. XIX)
JACKSON ANDRÉ DA SILVA FERREIRA (UNEB)
Resumo: Esse trabalho tem por objetivo principal discutir alforria, famílias negras e dominação
senhorial nos anos finais da escravidão no Brasil. Para isso, além da bibliografia específica sobre
os temas, utilizarei documentos produzidos pelo coronel Quintino Soares da Rocha e sua esposa
dona Umbelina Adelaide de Miranda. O casal Soares da Rocha, como chamarei a apresentação,
era o mais rico proprietário da vila chapadina de Morro do Chapéu na segunda metade do século
XIX. Maiores senhores de terras, gado e gente, incluindo aqui escravos e dependentes, o coronel
Quintino e dona Umbelina possuíam na véspera da morte daquele, ocorrida em 1º de maio de
1880, uma fortuna estimada em 120 contos de réis. Por parte do casal, as duas principais fontes
norteadoras para a análise são o testamento do coronel, selado em 1874, e a carta de alforria
coletiva, feita e registrada logo após a morte do senhor. Além delas, utilizarei registros de batismo,
casamento, inventários e processos criminais diretamente relacionados aos escravos e libertos
do casal. Os principais parâmetros teóricos e metodológicos são o paternalismo thompsiniano, a
micro história e a trajetória.
205
Apontamentos sobre expectativas do trabalho livre nos anos finais da escravidão (região de
Feira de Santana-Ba, 1870-1888)
FLAVIANE RIBEIRO NASCIMENTO (IFBA - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA DA BAHIA)
Resumo: Os debates sobre abolição da escravidão no Brasil têm apontado para a necessidade de
compreensão de como essa história nacional está intrincada num processo de industrialização
de larga escala que, se por um lado levou ao fim da escravidão em vários lugares durante o
século XIX, também implicou expansão e diferenciação de regimes escravistas noutros, como no
Brasil, onde não só observamos a persistência da escravidão, como de outras formas de trabalho
não-remunerado. Nesse sentido, analisarei como os dispositivos que compunham o programa
emancipacionista brasileiro, notadamente a partir da lei de 1870, concebiam uma ideia de
transição para o trabalho livre e de trabalho livre para trabalhadoras/es escravas/os e libertas/
os na última sociedade escravista do Ocidente. Para tanto, analisarei os protocolos de cartas de
alforria sob condição de prestação de serviços e de contratos de trabalho da região de Feira de
Santana-Ba - instrumentos de libertação e de controle do trabalho daquele contexto. Pretendo
um estudo sobre formas e condições de trabalho a que eram submetidos esses sujeitos, a fim
de compreender como se constituiu um horizonte de mercado de trabalho e os seus sentidos
históricos. Também buscarei flagrantes desse devir em jornais que defendiam o fim da escravidão
com vistas ao entendimento de como essas ideias repercutiram sobre a inserção de ex-ecravas/
os no mundo do trabalho livre. Por certo, esses aspectos ajudarão a compreender a experiência
da liberdade e do trabalho, mas também como esse programa deu lastro a um projeto de nação
além da escravidão.
Resumo: Este artigo propõe estudar as freguesias, os pontos de encontros do comércio das
ganhadeiras libertas em Salvador no período compreendido entre 1850-1888. Analisamos os
registros produzidos pela Câmara municipal da cidade, como os requerimentos de Africanas
libertas, e como forma de controle social as infrações de posturas imputadas a estas mulheres.
Cabe ressaltar que a instituição regulava e fiscalizava o comércio urbano de Salvador. Deste modo
em tal registos, é possível identificar as ganhadeiras libertas desenvolvendo atividades comerciais
e prestação de serviços em diversas freguesias. Através de uma análise quantitativa, estudaremos
os censos apresentando os dados das freguesias diversas com o objetivo de identificar atuações
de trabalho das negras libertas. As freguesias da cidade baixa onde se concentrava o comércio
com destaque as freguesias da Conceição da Praia e do Pilar, nota-se a intensificação dos
trabalhos das ganhadeiras. Ressaltamos que estas estavam próximas ao porto da cidade, dele
provinha as mercadorias e gêneros alimentícios, possibilitando a efervescência do comércio
baiano. Além do comércio de varejo, o porto de Salvador assumiu um papel fundamental para a
economia local durante o século XIX, como redistribuidor de mercadorias. Nessas imediações é
possível identificar as negociações das ganhadeiras com as pequenas embarcações que atracavam
a beira mar, no intuito de sair na frente na vendagem dos gêneros de primeira necessidade. A
cidade alta também há registros, em 1849 ao censo de 1872 na freguesia de Santana, ganhadeiras
206
executando diversas funções como forma de sobrevivência. O que será reflexo para as décadas
posteriores, até os anos finais da abolição, onde constatamos diversos pedidos de licenças e
arrematação de talhos e barracas nas diversas freguesias, a atribuição de liberar os pedidos era
responsabilidade da câmara que tinha sob seu controle os dados sobre a vida e funções laborais
daquelas mulheres. A conjuntura favorecia, em decorrência de sucessivas leis abolicionistas, o que
possibilitou o aumento da mão de obra das africanas libertas em Salvador, que no seu histórico já
desempenhavam as atividades comerciais quando escravizadas. Além disso, discutiremos sobre
as habilidades de comercio, os reiterados pedidos dos locais fixos de trabalhos evidenciando os
espaços urbanos como meio integrador das trocas de solidariedades com os seus, assim como os
conflitos e as disputas diárias.
207
Da pequena vila à plantation: os padrões das alforrias de pia batismal e os caminhos para a
liberdade em um município em expansão – Campinas, séculos XVIII e XIX
TALISON MENDES PICHELI (UNICAMP)
Resumo: O colapso das exportações de açúcar na ilha de São Domingos, em decorrência do levante
escravo ocorrido naquela região, em fins do século XVIII, representou mudanças importantes em
alguns lugares do mundo, sobretudo nas Américas. No Brasil, a recém fundada vila de São Carlos
(antiga denominação do município de Campinas) foi uma das que mais sentiu os impactos desse
fenômeno, responsável por transformações importantes nos campos econômico, demográfico
e social ao longo de todo o século XIX. A pequena vila, cuja economia se baseava sobretudo
na produção de bens de subsistência, logo se tornou um típico centro de plantation, produtor
e exportador de açúcar e café, e dependente da mão de obra de homens e mulheres africanos
escravizados. Ainda que muitas dessas pessoas, e de seus descendentes, tenham vivido e morrido
sob o jugo do cativeiro, pesquisas têm demonstrado que suas experiências de luta pela liberdade
foram constantes e, não raro, lhes rendiam a conquista de uma nova condição jurídica, a de libertos
e libertas. Um dos principais caminhos nesse sentido foi, sem dúvida, o processo da alforria – um
processo que, longe de ter sido uniforme, sofreu alterações ao longo do tempo, a depender da
região e período em que ocorria e até mesmo do tipo de documento em que era registrado. Dito
isso, proponho apresentar parte dos resultados de minha investigação a respeito das alforrias de
pia batismal que foram lavradas nos livros paroquiais de duas freguesias campineiras, entre os
anos de 1774 e 1871. Em um primeiro momento, tenho por objetivo discutir a própria dinâmica
desse tipo de manumissão, levando em consideração a sua frequência, as condições impostas à
sua obtenção e a forma como foram registradas na documentação eclesiástica. Busco, com isso,
não apenas mostrar os padrões de alforria ao longo do tempo, mas também discorrer sobre os
significados atribuídos a esse processo pelos diferentes agentes históricos que dele fizeram parte
e como isso influenciou nas suas estratégias diante de tal prática. Interessa saber, sobretudo, a
experiência daquelas mães e pais que conquistaram a liberdade de seus filhos recém-nascidos no
ato da cerimônia religiosa do batismo. Por fim, como o recorte temporal mencionado abrange os
períodos estudados por outros autores que se debruçaram sobre o tema das manumissões em
Campinas, procuro examinar a dinâmica das alforrias de pia também em conjunto com aquelas
registradas em outras fontes de acesso à liberdade.
208
ocupado por mulheres foge da imagem submissa que perdurou por muitos anos. Aqui apresentamos
mulheres numa sociedade de traços patriarcais, paternalista e fortemente hierarquizado, que
“ousam” buscar a arena judicial, rompendo com a invisibilidade imposta aos grupos subalternos na
luta por autonomia, mobilidade e liberdades. Ao mesmo tempo que individualmente vão criando
estratégias de sobrevivência e resistência, vão, coletivamente conquistando o direito coletivo da
abolição gradual. A fonte judicial nos apresenta como a interferência do Estado passa a ditar um
novo padrão nas relações sociais e de poder entre o domínio senhorial e escravizadas. O direito
costumeiro da “alforria concedida” exclusivamente pelo proprietário passa a ser discutida na esfera
judicial com a garantia da irrevogabilidade. O que move as mulheres escravizadas, de idades, cores
de pele e atividades diversas, têm algo em comum: o sonho e o desejo por liberdades. Rofina,
Silvéria, Luíza e Benedicta são algumas das que vivenciaram o confronto entre seus desejos e
sonhos de liberdades e os interesses do poderio senhorial em oposição ao lugar subalterno e
invisível. Suas histórias fragmentadas nas ações instiga a percepção e afastamento da imagem de
escravizadas disciplinadas e submissas, contribuindo para incluir as mulheres da condição servil na
condução da abolição de 13 de maio de 1888.
“Não pode ter lugar a alforria”: alforria e família escrava, uma conquista árdua.
ROSÂNGELA FIGUEIREDO MIRANDA (INSTITUTO FEDERAL BAIANO)
Resumo: O artigo analisa as relações entre senhores e escravos em fazendas e sítios de grande,
médio e pequeno porte da região de Monte Alto, Alto Sertão da Bahia, durante o século XIX. A
vida de muitos escravos e libertos, no convívio com seus senhores, sobretudo na luta incessante
por alforrias e para escaparem da malha do tráfico interno, pôde ser analisada através de
registros de inventários, livros de notas e ações de liberdade disponíveis em cartórios e Fórum
da pequena cidade. Por meio da ligação nominativa e estudo minucioso desse acervo documental
foi possível compreender a vida cotidiana dos diferentes escravizados que por ali circularam.
A obtenção da alforria era algo custoso e difícil de alcançar, sobretudo diante do contexto do
tráfico interprovincial, fortemente ativo na região, naquele período. Como exemplo dessas
relações estabelecidas, o texto aborda a história de Inez, escrava de Ezequiel Botelho de Andrade,
proprietário da grande fazenda Lameirão. A história de vida da escrava Inez, na luta pela conquista
da alforria e da manutenção dos laços familiares se junta à história de muitos outros escravizados
países afora, no sentido de empreender esforços contra o cativeiro.
Resumo: Os escritos produzidos por Afonso Arinos de Melo Franco, na década de 1930, inserem-se
num conjunto discursivo que produziu imagens negativas sobre as populações negras e indígenas.
Os efeitos dessas interpretações permanecem na memória de boa parte da sociedade brasileira,
orientando suas visões acerca dos povos indígenas e negros, reforçando o racismo que estrutura
nossas relações sociais. Esse autor pode ser identificado como um dos intérpretes do Brasil que
buscou compreender o país nos conturbados anos 1930. Suas explicações acerca da formação do
povo brasileiro voltaram-se para as contribuições dos indígenas e dos negros sem romper com as
visões que sedimentaram narrativas de inferioridade e depreciação desses povos. Este estudo se
insere num conjunto amplo de trabalhos que apontam esse tipo de construção historiográfica e
209
demonstra seus equívocos, seus efeitos, sua longevidade e, especialmente, a necessidade de sua
desconstrução. A disseminação de uma visão diferente sobre a história indígena e da população
negra tem sido, nas últimas décadas, um grande desafio, que exige dos historiadores, não apenas
novos olhares sobre esses povos, mas também, a identificação e desconstrução de narrativas
eivadas de equívocos e preconceitos sobre essas populações e que até hoje se fazem presentes
tanto na visão da sociedade, quanto no sistema de ensino. Nesta comunicação, demonstraremos
como Afonso Arinos de Melo Franco na década de 1930, ao analisar os problemas do Brasil e
a formação do seu povo, incluiu, em suas análises, os indígenas e os negros. Entendendo a
historiografia enquanto produto da história e, portanto, dotada de historicidade, buscamos por
meio dela, contribuir para o enorme desafio de tornar conhecida parte das ferramentas narrativas
e visuais que ajudaram a construir as versões equivocadas sobre a história dos povos indígenas
e negro, por meio do conceito de “resíduos” que embasou a crítica sobre a sociedade brasileira
e a República formulada por Afonso Arinos. É nosso interesse também, discutir como essas
formulações influenciaram o ensino da História e a produção de materiais didáticos.
“Capangada bruta e irresponsável”: Debates em uma folha sergipana sobre a Guarda Negra
na Bahia (1889)
RAFAEL DE OLIVEIRA CRUZ (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA)
Resumo: Em junho de 1889 o marido da herdeira do trono imperial brasileiro, o conde d’Eu, realizou
uma excursão para visitar áreas do então norte do Brasil. A bordo do mesmo vapor viajava o
célebre propagandista republicano Antônio da Silva Jardim que acreditava ser uma oportunidade
de levar as suas ideias nas mesmas localidades onde o príncipe aportaria. A passagem pela cidade
de Salvador ficou famosa pela serie de distúrbios quando membros da chamada Guarda Negra
teriam atacado a comitiva republicana quando percorriam a ladeira do Taboão rumo à Faculdade de
Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus, famoso reduto republicano local. O pandemônio causado
entre negros tidos como monarquistas e republicanos acabou repercutindo tanto na imprensa
local quanto na imprensa de províncias vizinhas como no caso de Sergipe. O presente trabalho visa
tecer algumas abordagens a partir do periódico “O Republicano”, publicado na cidade sergipana
de Laranjeiras sobre a visita do consorte da princesa Isabel e os desdobramentos causados pela
alegada violência dos membros da Guarda Negra contra os republicanos. Argumentando-se que
não passavam de arruaceiros organizados pela polícia e que, a princesa deveria reinar “em algum
lugar da África com seus devotos súditos”, o periódico nos fornece uma série de possibilidades
de interpretação sobres as dinâmicas políticas e sociais que perpassavam nos momentos finais
da monarquia brasileira. A presente comunicação parte da perspectiva em observar as falas
produzidas por uma folha simpática à extinção da monarquia em um momento marcado pela
racialização dos discursos e pelo jogo de conflitos envolvendo as questões políticas que marcaram
o fim do Império.
210
Nas Redes do Tráfico Interno: Negociantes, traficantes e pessoas escravizadas na província
da Bahia 1830-1888
VALNEY MASCARENHAS DE LIMA FILHO
Espaços rurais em transformação: economia e sociedade do Recôncavo Sul entre 1850 e 1888
ALEX ANDRADE COSTA (UFBA)
Resumo: O início da segunda metade do século XIX foi um dos períodos mais catastróficos para
algumas regiões do Brasil. Além de acontecimentos que interferiram na organização social e
mexeram no jogo político e econômico do Império, como a Lei de Terras e o fim do tráfico atlântico
de escravos, algumas regiões ainda enfrentaram crises provocadas por epidemias como a varíola
e a cólera, além dos fenômenos climáticos como as secas. Esse foi o caso da província da Bahia
que, nos anos imediatamente subsequentes a 1850, viveu uma “tempestade perfeita”. O objetivo
deste trabalho é analisar os efeitos desses acontecimentos sobre a Comarca de Nazaré, no sul
do Recôncavo da Bahia. Tratava-se de uma importante região para o abastecimento de gêneros
alimentícios de Salvador e das principais vilas do Recôncavo. Conhecida como Nazaré das Farinhas,
esta pesquisa esquadrinha como as propriedades rurais da comarca, muitas delas, até então,
dedicadas ao cultivo de mandioca e produção de farinha, passaram a se organizar após 1850, bem
como os impactos da nova realidade no campo econômico e social local.
211
do abolicionista Joaquim Nabuco no jornal Folha do Norte. Através das notas comemorativas a
passagem do aniversário da Lei Áurea entre os anos de 1910 a 1933, buscamos identificar relações
entre o pensamento político de Nabuco em “O Abolicionismo” e as memórias construídas pelo
periódico sobre a escravidão e a abolição.
Resumo: A feira livre do “pessoal da roça”, ocorridas às segundas-feiras nas ruas centrais da
cidade de Feira de Santana, distinguiu o município como o segundo mais importante do Estado,
em critérios econômicos. Nas primeiras décadas do século XX, a feira livre se consolidou como
acontecimento central no cotidiano citadino, pois atraía significativa população visitante, para
consumir e comercializar a diversidade de mercadorias que a feira comportava. Lugar-comum
nos estudos sobre o município, a feira livre se destaca como argumento e fenômeno explicativo
para experiências diversas de Feira de Santana, sobretudo no século XX. Contudo, convêm
destacar, conforme objetivo dessa apresentação, a organização da feira livre e, sobretudo, os/as
protagonistas desse pequeno comércio no contexto do pós-abolição em uma cidade do interior
da Bahia. A pesquisa apresentada aqui pretende destacar as experiências de homens e mulheres
negras, nascidos/as na região de Feira de Santana e cidades circunvizinhas que participavam
ativamente da feira, sobretudo como pequenos/as vendedores/as, mais não só. Conforme
documentação pesquisada, a feira era um espaço de confluência de migrantes libertos que tinham
ali profícuas possibilidades de sociabilização e sobrevivência. Convêm fazer uma leitura da feira,
portanto, a luz dos debates sobre as expectativas de liberdade da população negra, relações
de trabalho no pós-abolição, bem como das tensões raciais latentes no município de Feira de
Santana, a partir das tentativas de controle dessa população através de legislação da Intendência
Municipal. Através de um levantamento de livros de Receitas e Despesas da Intendência Municipal,
entre os anos e 1905 e 1927, foi possível acessar documentação que tratava das expectativas
de organização da feira livre e dos/as trabalhadores/as atuantes ali, construídas por membros
do Conselho Municipal. Um dos resultados dessa pesquisa foi a construção coletiva de um
livro paradidático intitulado “Feira Uma cidade Princesa” (Editora Na Carona), direcionado para
estudantes da Educação Básica de Feira de Santana de região. O segundo capítulo do paradidático
intitulado “Feira Livre”, destaca esse protagonismo de homens e mulheres negras no cotidiano da
feira livre, problematizando, dessa forma, as práticas seculares de silenciamento da população
negra nas ditas regiões “sertanejas” do Estado da Bahia.
Contendas entre Jacinto Muniz e Tacião de Tal: experiências de libertos na Freguesia de São
Thiago do Iguape no imediato pós-abolição.
ANA PAULA BATISTA DA SILVA CRUZ (ESCOLA MUNICIPAL VIVALDO BITTENCOURT
MASCARENHAS)
212
família Moniz Barreto de Aragão que destaca-se por sua produtividade e diversificação industrial,
haja vista que, funcionou amiúde até 1950, passando de engenho a usina de açúcar. Os indivíduos
que dão nome a essa comunicação, Tacião de Tal e Jacinto Muniz nos idos de 1891 envolveram-
se numa querela na olaria do Engenho Victória onde trabalhavam, resultando na lesão corporal
de Jacinto que foi atingido por uma faca. Ao analisar o processo crime que dar conta dessa lesão
e cruzar as informações com os assentos de batismos da Freguesia de São Thiago do Iguape e
inventários post mortem, descobri que os sujeitos envolvidos na contenda foram escravizados,
assim como, representantes de outros núcleos familiares que aparecem no processo-crime.
Considero que recuperar experiências de libertos vivendo em comunidade na Freguesia do Iguape
no pós-abolição imediato é fundamental para reflexão acerca dos sentidos atribuídos a liberdade
no Recôncavo da Bahia, no que tange — a formação de famílias, aos mundos dos trabalhos e as
lutas por terras. É importante, sobretudo, para ponderação acerca dos motivos que levaram a
permanência da população negra, egressa do cativeiro, nos espaços onde foram escravizados e
como estes de diferentes formas batalharam pelo bem viver e por cidadania.
Tráfico interprovincial e lutas pela alforria no Sertão do São Francisco (Carinhanha- BA,
1840-1880)
SIMONY OLIVEIRA LIMA (SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS)
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo discorrer acerca da luta pela liberdade observada
no território subordinado juridicamente à Freguesia de Carinhanha (BA), situada no sertão do
São Francisco, no período histórico correspondente a intensificação do tráfico interprovincial na
região (1840-1880). Procuro perceber como os escravos buscaram escapar das vendas para fora da
província da Bahia, negociando suas libertações em uma conjuntura que propiciou um considerável
aumento no valor dos cativos. Em meio a esse cenário, os escravos utilizaram de mecanismos
para conseguir a liberdade. Através de fontes como cartas de alforria e ações de liberdade, são
analisadas estratégias utilizadas por escravos que se articularam para a conquista da alforria. A
abordagem do texto considera as articulações empreendidas pelos cativos na negociação pela
liberdade e por espaços de trabalho livre, e ainda, a procura da Justiça para reivindicar o direito à
alforria – recorrendo, no último caso, à lei de vinte e oito de outubro de 1871.
Resumo: Poder dizer e bradar que era livre, enquanto era levado amarrado para o Engenho
Caçada, era o que definia Manoel de Santa Rita, ainda que a circunstância não lhe fosse favorável.
A proposta dessa pesquisa é verificar as resistências empreendidas pelos ex-escravos perante as
práticas de reescravização ou de contestação da liberdade na cidade de Santo Amaro.
As atitudes e comportamentos dos ex-escravos, enquanto donos e possuidores da sua liberdade,
demonstram como os espaços de autonomia, ainda que mínimos, foram desejados, construídos e
estabelecidos. E na possibilidade de perderem a continuidade de suas liberdades, os ex-escravos
acionaram a justiça para que seus direitos fossem resguardados.
213
Entre histórias e representações: a linguagem como lugar de memória sobre o escravizado
Lucas da Feira, 1890-1910.
LÁZARO DE SOUZA BARBOSA (UEFS)
Resumo: Lourenço Isidoro de Siqueira e Silva, homem livre natural da Corte do Império do Brasil,
herdou de seu pai o ofício de carpinteiro naval. Para além das relações de trabalho, procurou
consolidar, nas décadas finais do século XIX, uma reputação de cidadão respeitável através da
participação em associações representativas de sua categoria, irmandades da Igreja Católica e
campanhas eleitorais. Identificado com a Diáspora Africana, ligou-se politicamente ao jornalista
José do Patrocínio e integrou os quadros da Sociedade Cooperativa da Raça Negra, fundada
em 1888 com a finalidade de ofertar aos negros brasileiros oportunidades profissionais e de
qualificação por meio do estudo. Não obstante as discriminações impostas pelos segmentos
letrados da capital do país aos trabalhadores manuais em geral e aos afrodescendentes em
particular, bem como as dificuldades financeiras derivadas da necessidade de sustentar mulher
e filhos, logrou ser reconhecido como orador operário e exerceu esta competência em variadas
solenidades oficiais. Isto não impediu que sofresse, junto com sua família, violências características
da sociedade escravista que se estenderam ao período pós-abolição.
214
A Constituição Familiar e Parentesco entre Senhores e Escravos na Freguesia de Nossa
Senhora do Resgate das Umburanas, Século XIX.
SANDRA DA SILVA CONCEIÇÃO (COLÉGIO GEORGIA SOARES NASCIMENTO)
Resumo: O presente artigo aborda sobre a constituição familiar entre senhores e mulheres escravas,
forras e livres, que se uniram através do concubinato, sendo uma relação duradoura, legitimada
pela Perfilhação dos filhos e os tempos de convivência bem como ambos sem terem nenhum
vínculo afetivo e relação sexual com outra pessoa. Aborda o contexto da criação da Escritura
Pública de Perfilhação e os direitos que cabem aos filhos nascidos das uniões ilícitas. O índice
elevado de nascimentos dos filhos ilegítimos das relações de concubinato e amancebamento. As
fontes usadas para contextualizar a constituição familiar entre senhores e mulheres cativas, forras
e livres são os documentos manuscritos como a Escritura Pública de Perfilhação, Escrítura Pública
de Perfilhação de Reconhecimento Paterno e o inventário post-mortem. O estudo tem como lócus
social a Freguesia de Nossa Senhora do Resgate das Umburanas na Província da Bahia.Os autores
para embasar o estudo são, Elaine Cristina Lopes (1998), João José Reis (1987), Isabel Cristina
Ferreira dos Reis (2001,2014,2018), Rangel Cerceau Netto (2008,2013, 2017), Adriana Dantas Reis
(2010), Robert W. Slenes (1997).
Resumo: O Período Colonial brasileiro foi marcado pelo sistema escravista, onde milhões de
homens e mulheres foram retirados a força do continente africano para serem a base fundamental
nas atividades econômicas, inicialmente nas plantações de açúcar, mais adiante na mineração e na
lavoura do café. Contudo, não foi apenas nesses serviços, utilizaram a escravidão sob diversos
meios, sejam eles, nos serviços domésticos, ama de leite, escravos de ganho, até mesmo como
capitão-do-mato, que trabalhavam na captura de escravos e escravas fugidas, entre diversos
outros serviços.
Os variados estudos referentes a escravidão evidência que por onde esse sistema passou houve
resistência. Dentre as mais conhecidas temos corpo mole no trabalho, quebra de ferramentas,
incêndios nas plantações, agressão a seus senhores, havia também rebeliões individual e coletiva,
entre outros tipos. No entanto, a resistência mais típica era a fuga e formação de grupos de
escravos fugidos, mas vale ressaltar que a fuga nem sempre levava a formação desses grupos.
A formação desses grupos de escravos fugidos ocorreu por toda a América, contendo diferentes
nomes como maroons, palenques, cumbes,etc. No Brasil os mais comuns eram quilombos e/ou
mocambos.
No entanto, a historiografia tende a idealizar um estereótipo para “heróis” diretamente ligado ao
masculino. Assim, silenciando as vozes de muitas mulheres que foram importantes em diversos
processos históricos. Por isso, busco nessa pesquisa analisar na historiografia a ausência das
mulheres quilombolas da Bahia, que entre os séculos XVIII ao XIX, exerceram papeis fundamentais
de resistência na luta contra o sistema escravista, mas que sobre o estigma de gênero ficaram
na invisibilidade. Falar de resistência escrava e não lembrar de Zumbi automaticamente é quase
inevitável, revelando-se o quanto a representação da mulher fica no anonimato. Temos o caso
Zeferina, uma angolana que veio para a Bahia ainda criança na condição de escrava aparecendo nas
documentações como liderança no Quilombo do Urubu, mas acabou ficando no esquecimento. As
215
mulheres tiveram participação efetiva nas organizações dos quilombos, seu papel na manutenção
da família foi acompanhado da importância econômica na produção artesanal até mesmo no
enfrentamento às tropas escravista. Lutaram contra o patriarcado de diferentes maneiras. Muitas
juntaram pecúlio para a sua alforria e de seus descendentes. Outras chefiaram os quilombos, pois
nas documentações aparece que muitos mocambos eram liderados por reis e rainhas. Portanto
as mulheres foram fundamentais para estrutura e desenvolvimento dos quilombos. Assim, no
decorrer desta discussão procuro elencar o protagonismo dessas mulheres que estão “ausentes”
na historiografia.
Resumo: Esta comunicação tem por objeto analisar diferentes experiências de crianças escravizadas
na freguesia de São Gonçalo dos Campos do Termo da Cachoeira, entre os anos de 1850-1871. Tais
aspectos serão analisados através de um conjunto de fontes cartoriais e das memórias/tradições
orais: como transmissão de experiências/conhecimentos/testemunhos relacionados a vida dos
antepassados, que recebem uma carga de significados uma vez que é passado por meio das
narrativas orais através das gerações. Para análise das fontes, utilizamos como enfoque teórico-
metodológico da micro-história e da história social da escravidão, compreendendo as experiências
constituídas pelas crianças escravizadas no período desta investigação.
Mulheres forras e mobilidades sociais: Fulô do Panela da Imperial Vila da Vitória, século XIX
DIEGO SILVA MEIRA (UESB)
Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar a trajetória das forras Maria Bernarda de Oliveira
é sua filha Euflosina de Oliveira Freitas Trindade conhecida como Fulô do Panela, mulheres que
216
viveram na Imperial Vila da Vitória durante o século XIX. A pesquisa se ampara na análise de
fontes históricas, memorialísticas e literárias, revelando o alcance da mobilidade social dessas
mulheres ao manter concubinato com homens pertencentes a elite desta região, constituindo
famílias e garantindo a elas e a seus filhos benefícios econômicos e sociais. A luz da historiografia
analisamos as discussões sobre as práticas de concubinato, conquista de alforria e mobilidade
social por mulheres escravas. Concebemos ao espaço estudado a aplicabilidade do conceito de
Sertões conectados.
‘O que é que você quer ser carroceiro’? Trabalhadores de carroças na Capital da Bahia (1866-
1873)
MONA LISA NUNES DE SOUZA
217
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Ao longo do período medieval, o contato de viajantes europeus com o Oriente suscitou
visões maravilhosas de monstros, criaturas sobrenaturais, gentes extraordinárias, riquezas
exuberantes e outros “excessos”. Esse imaginário, milenarmente gestado, perdeu força nas mentes
dos cronistas, viajantes e demais agentes europeus no contexto da colonização da América na
medida que a modernidade avançava e a valorização da experiência empírica se impunha. Ainda
assim, visões do maravilhoso persistiram, encontrando novas formas específicas de expressão
numa complexa dinâmica entre continuidades, rupturas e ressignificações. Pretende-se analisar
descrições de cronistas da América Portuguesa dos quinhentos sobre o Outro indígena, mais
especificamente aquelas que, referindo-se a situações de assombro e/ou perigo, mobilizaram
imagens maravilhosas já conhecidas em relatos de viajantes medievais, como Jean de Mandeville.
Percebe-se-á, então, a maneira como essas heranças ganharam corpo e se modificaram num novo
contexto de produção imaginária.
Resumo: O presente trabalho, que apresenta uma pesquisa em curso, tem o objetivo de analisar o
processo de remodelação urbana da vila de Porto Seguro (sede da comarca homônima) em meados
do século XVIII, enquanto espaço estratégico de fortalecimento do projeto de colonização da
região, representando um modelo a ser seguido pelas demais vilas que abrangiam o território. Tal
procedimento estava enquadrado no programa pombalino que visava colocar o Estado na dianteira
de um plano civilizador inserido na política do Diretório dos Índios de 1758, que determinava uma
“reforma dos costumes” das populações indígenas. O Diretório impunha proibições a práticas
culturais indígenas, a exemplo de morar em habitações coletivas, estabelecendo normas para
a produção de novos espaços de sociabilidades capazes de inibir a reprodução dos costumes
classificados como “bárbaros”. Essas orientações estiveram presentes num plano de reforma
urbana implementado em Porto Seguro e se tornaram objeto de intensa correspondência entre o
então ouvidor da comarca e o governador da Bahia. A partir dessas fontes, disponíveis na Coleção
Resgate – Documentos Avulsos (Bahia) do Arquivo Histórico Ultramarino, o que se busca é analisar
a forma com que se deu o processo de remodelação urbana da vila, considerando as tensões
estabelecidas entre a implantação do projeto civilizador, as imposições advindas da sociedade
envolvida e os efeitos do projeto na materialidade arquitetônica e na morfologia urbana resultante.
Propõe-se considerar também a configuração dos padrões morfológicos de matriz portuguesa e
o processo de ocupação e de organização do espaço urbano. Para tanto, serão utilizadas fontes
textuais e iconográficas, pesquisa de campo no próprio sítio do centro histórico de Porto Seguro,
além do recurso da metafonte cartográfica, ou seja, a elaboração de plantas de representação do
espaço urbano da Vila que sintetizem informações extraídas do conjunto das diferentes fontes
primárias e da pesquisa de campo.
219
A CAPITANIA DE ILHÉUS: de donataria a comarca, 1755-1777
TERESINHA MARCIS (UESC)
Resumo: A capitania de Ilhéus no litoral sul do atual estado da Bahia compunha uma das 12
capitanias hereditárias doada pelo rei de Portugal entre 1533 a 1536. Igualmente a de Porto
Seguro, manteve o status de donataria privada até o reinado de D. José, (1755-1777) quando
foram incorporadas ao patrimônio do governo português. Qual era o conceito de uma capitania
com status privado e o funcionamento da administração política, econômica e jurídica? Quais foram
as instâncias administrativas e autoridades envolvidas no processo de sub-rogação da capitania,
no ritual de posse e na reconfiguração da administração entre 1755 a 1822. São tais questões
que se propõe analisar neste trabalho. A temática retoma as pesquisas e estudos aprofundados e
fundamentados em fontes manuscritas os desenvolvidos por Caio Adan (2009) e Marcelo H. Dias
(2011) com a intenção de revigorar a leitura do processo sub-rogação, posse e estabelecimento
da Comarca de Ilhéus, manuscritos digitalizados do Arquivo Ultramarino e disponibilizados pelo
Projeto Resgate.
Administração, política e caridade na Bahia no século XVIII: o Hospital de São João de Deus
da Vila de N. Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira
TÂNIA MARIA PINTO DE SANTANA (UFRB)
Resumo: A compreensão dos rumos dado ao hospital de caridade da Vila de N. Senhora do Rosário
do Porto da Cachoeira - denominado Hospital de São João de Deus -, nas últimas décadas do
século XVIII, somente é possível se considerarmos a sua inserção num contexto mais amplo,
da organização administrativa e política da vila. Nesta comunicação analisaremos diferentes
discursos relativos às práticas administrativas do hospital no período em que esteve subordinado
à autoridade dos juízes de fora da vila, a partir de 1771. A análise da sua trajetória e dos sujeitos
envolvidos em sua administração no contexto aqui referido nos revela aspectos significativos
das relações religiosas, políticas e sociais locais, nos permitindo compreender as estratégias e
conflitos que envolveram os diferentes sujeitos desta sociedade.
Resumo: A arquitetura colonial religiosa é uma marca central e indelével no processo de colonização,
desde o surgimento dos arraiais, vilas e a formação das primeiras cidades no Brasil colonial.
Tectônica, Frontispícios, adro e praça, são desse modo, elementos materiais, artísticos, históricos
e culturais, nascidos no bojo das práticas religiosas, tão típicas na formação das paisagens icônicas
de nossas cidades coloniais, a semelhança dos valores projetados por uma monarquia ibérica
pluricontinental católica no atlântico sul e que se espraiaram-se num conjunto de leis, instituições
como a câmara e jurisdições, assentados no antigo regime. A arquitetura religiosa é portanto, uma
prática jurídica, política e religiosa ressoada do antigo regime. A arquitetura de duas expressões
das matrizes baianas das irmandades, correlatas a segunda metade e fins do século XVIII, Matriz de
Santo Antônio do Urubu de Cima e Matriz de Senhora da Conceição de Macaúbas nos sertões altos
da capitania da Bahia, são dois exemplos de práticas da antiga engenharia e arquitetura no reino,
220
que acabaram por absorveram novas determinações da política pombalina ilustrada. São espaços
pios de catequização e evangelização nos dizeres de Murillo Marx, orquestrados por normas e
regimentos desde as legislações dos livros das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia,
juntamente a outros documentos régios. As relações e os interesses entre Estado e Igreja é matéria
candente em Kátia Matoso, Silvia Lara, John Bury, entre outros, pois mostram como o império
português no ultramar fez movimentar o cotidiano desses lugares, as engrenagens responsáveis
pela colonização e urbanização, num conjunto de estratégias de ordenamento urbano, visando
uma legitimação do poder e controle territorial e das almas.
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo discutir os impactos da legislação local camarária
sobre os fazeres dos negros em Salvador nos séculos XVIII e XIX. O foco recairá, a partir da análise
dos Códigos de Posturas, sobre a necessidade de constante vigilância de espaços, lugares, fazeres
e lazeres de escravos e libertos, que suscitassem ou possibilitassem o seu agrupamento pelos
cantos da cidade.
Resumo: Desde 1536, o Santo Ofício português teve os seus papeis estabelecidos, principalmente,
221
para a manutenção da fé católica. Em seus quase trezentos anos de funcionamento, sendo
extinta em 1821, a Inquisição contou com acusações, confissões e processos inquisitoriais dos
mais diversos, mas que serão selecionados neste trabalho as confissões, pesquisadas no Livro 1
das Confissões da Primeira Visitação na Bahia; especificamente serão analisadas as práticas por
agentes femininos no contexto cotidiano do Brasil colônia. As terras portuguesas no além-mar
possuíam um cotidiano heterodoxo de relações sociais autênticas do processo colonizador, o qual
foi se construindo distante do rigor católico do reino, e estruturado, por vezes, em mulheres pretas,
brancas, e indígenas, cristãs-novas ou cristãs-velhas, que realizaram, dentro e fora do domiciliar,
papeis sociais, culturais, religiosos e, também, econômicos, contribuindo para um tecido social
de realidades desviantes da norma cristã europeia, porém essenciais à vida comum, através de
práticas mágicas; como é o exemplo de algumas cristãs-novas acusadas de atividades judaizantes
e de mulheres chamadas de feiticeiras, acusadas de compactuar com os “diabos”. As heranças
ibéricas trazidas para a colônia, desde o início do século XVI, foram inseridas a fim de incorporar-
se ao processo colonizador, em contraste com os cenários religiosos africanos e indígenas, que
mesmo diante desse quadro buscaram formas de resistir, por vezes, conscientes. A Inquisição
buscou realizar-se, no Novo Mundo, através da atuação, neste caso, do visitador Heitor Furtado
de Mendonça e notário Manuel Francisco, entre os anos de 1591 e 1593 na Bahia, intuindo-se
de fazer justiça (nos moldes colonizadores e católicos) e impedir a sobrevivência de práticas
heterodoxas e o avanço social e econômico daqueles que desviavam da fé cristã no mundo além-
mar. A manutenção cultural desses agentes, especialmente o feminino, no cotidiano da colônia,
dizia respeito à realidade social de cada praticante, a necessidade desses agentes permitia essa
manutenção.
Mulheres, poder e decisão na Bahia seiscentista: novos agentes do governo no Brasil dos reis
Habsburgo (1580-1640)
IRENE MARÍA VICENTE MARTÍN (EUI)
222
Recôncavo. Os casos de Felicia Lobo, Inés Barreto e Joana de Sá apresentam três perfis comuns
de mulheres que participaram e contribuíram para a formação das relações sociais e de poder
no Brasil setecentista. Nenhuma delas foi administradora, nem possuiu engenho nem esteve
ligada à Corte. Mas as três alcançaram uma posição de destaque na sociedade baiana através
de intrincadas estratégias relações que ultrapassaram as limitações e dificuldades impostas nas
mulheres pela era moderna. Ao fazer pleno uso do matrimônio, da procriação da descendência e a
consequente transmissão de bens, Felicia, Inés e Joana adquiriram uma posição de renome social
igual ou maior á dos vereadores, os lavradores ou os soldados do monarca. Para realizar o estudo,
quanto a metodologia, foi utilizado o método prosopográfico e de redes sociais, combinado com
estudos genealógicos e o método indutivo “from below”. Igualmente, as fontes utilizadas, além
das bibliográficas, são as da Torre do Tombo e do Arquivo Ultramarino, ao qual foram adicionadas
informações recentes obtidas do Arquivo Publico do Estado da Bahia e do Arquivo Histórico
Municipal de Salvador.
Resumo: O presente resumo tem como objetivo apresentar os resultados parciais da dissertação
de mestrado nomeada “Homens de armas e mando: Conflitos e alianças na capitania de Porto
Seguro”. Tendo por finalidade principal analisar a atuação dos capitães-mores nas questões
militares na antiga capitania de Porto Seguro de 1621 a 1682, bem como o impacto das ações na
vivência dos índios e colonos. Buscando compreender desse modo como eram os recrutamentos
desses oficiais, as possibilidades de mobilidade entre os agentes, assim como seus mecanismos de
promoção. Dessa forma, sendo possível reconstruir o perfil e a inserção sócio-política e econômica
destes oficiais, analisando as formas de reproduções sociais através dos quais buscavam um
melhor posicionamento no seio da sociedade colonial. As informações encontradas em diferentes
grupos de documentos passaram pela metodologia do método indiciário para perceber os
pequenos vestígios deixados por esses indivíduos e as ligações nominativas, para compreender as
relações estabelecidas por esses sujeitos a partir dos nomes que o cercam, ambos desenvolvidos
pela Micro-História. Possibilitando assim, conhecer algumas das estratégias traçadas por estes
agentes, influenciando para que fossem vistos e permanecessem como homens detentores de
mando. Por fim e necessário compreender uma localidade a partir das especificidades do seu
tempo e com isso as nomeações para os cargos dos capitães-mores atendiam a esses requisitos,
tendo as relações baseadas em interesses maiores, exemplo disso e o caso de algumas ascensões
ao posto do capitão-mor, baseadas em conflitos e intrigas.
“Sem as qualidades exigidas” - Perfil dos pretendentes não habilitados a Familiar da Inquisição
Portuguesa na Bahia Colonial (século XVIII)
CLEÍLTON CHAGA BERNARDES (UESB)
Resumo: O Santo Ofício português, em quase três séculos de existência, atuou não apenas no reino,
mas em todo o seu império. Para garantir a presença no amplo domínio ultramarino, e tão distante
dos tribunais de distrito, foi necessário a formação de uma rede de agentes, possuindo assim
uma ampla estrutura de auxiliares em toda a extensão colonial, inclusive na América Portuguesa.
Entre os cargos de oficiais, um dos mais almejados pela elite colonial no século XVIII foi o de
223
Familiar do Santo Ofício, visto que contribuía também para a promoção social dos que tinham
os pleitos atendidos. Deste modo, o trabalho que apresentamos tem por objetivo traçar o perfil
de pretendentes baianos à Familiatura, mas que tiveram suas habilitações recursadas por terem
suspeita ou rumores de serem cristãos-novos e mulatos em suas ascendências, pois a pureza de
sangue era um pré-requisito obrigatório para a concessão da carta de Familiar. A documentação
que serve de base para a pesquisa que ora apresentamos, pertence ao conjunto de Habilitações
Incompletas do Conselho Geral do Tribunal do Santo Ofício Português e corresponde a pessoas
residentes na Bahia que tentaram habilitar-se ao cargo de Familiares da Inquisição. A amostragem
que apresentamos nos fornece informações valiosas não só em relação aos laços familiares dos
candidatos, mas também relações socioculturais, econômicas e de poder de indivíduos.
Resumo: A presente comunicação tem como desiderato debater a construção de um discurso por
parte de militares e milicianos pardos em torno de uma “identidade parda positiva” na luta por
mobilidade social ascendente no final do século XVIII, na Revolta dos Búzios. Para essa investigação
224
foram usados como fontes os requerimentos de patentes, cartas patentes e os Autos da Devassa
da Conspiração dos Alfaiates dentre outros documentos. Situa-se a presente pesquisa no âmbito
da História Social, tendo a micro-história como abordagem para compreender o “microcosmo”
da “comunidade” que pertenciam esses homens e sua interação com a sociedade escravagista
baiana. Ademais, o estudo se circunscreve no dialogo com região fronteiriça da História Política,
tendo em vista que a ascensão social e construção de identidades ocorrem no âmbito das relações
de poder.
Resumo: Essa comunicação tem o objetivo de analisar o trânsito de pessoas entre Brasil e
Portugal, bem como o envio de dinheiro de particulares para a metrópole. Nesse processo, se faz
necessário entender o papel exercido pela junta do Comércio de Lisboa e da Mesa de Inspeção
do açúcar e tabaco da Bahia na segunda metade do século XVIII, principalmente com o controle e
saída de pessoas na colônia mediante as emissões de passaportes, como também os mecanismos
que possibilitavam o envio do dinheiro.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar o nível de liquidez monetária na Bahia do
final do período colonial. Utilizando os livros de notas disponíveis no Arquivo Público do Estado
da Bahia entre os anos de 1777 e 1808, é possível demonstrar que não havia escassez monetária
na Bahia neste período. É sabido, que a historiografia tradicional, baseando-se principalmente,
em fontes oficiais e relatos de cronistas e viajantes, enfatizou excessivamente a questão da
exiguidade pecuniária como uma das características básicas da economia colonial. Os resultados
empíricos da análise documental refutam estas assertivas, e indicam que 33% do valor que
circulou nos cartórios de Salvador entre 1777 e 1808 foi de dinheiro líquido, equivalendo a cerca
de 769:562$869 réis.
A cifra acima, não é nada desprezível, principalmente quando se refere a uma economia que
foi caracterizada historiograficamente como escassa monetariamente e ultra-dependente do
crédito. Ora, se considerarmos as vendas a vista, somadas aos empréstimos de dinheiro a juros,
que eram capitais em forma de dinheiro injetados diretamente na economia, temos que quase
metade, ou exatos 44,2% da riqueza dos baianos registradas nos cartórios de Salvador, entre os
anos mencionados, circularam em forma de dinheiro.
225
Dívidas e relações sociais no mercado de terras: espaço agrário são cristovense e as transações
dos engenhos Ribeira e Escurial (Sergipe, 1800-1850)
FERNANDA CAROLINA PEREIRA DOS SANTOS
Resumo: O presente texto traz apontamentos iniciais sobre a conjuntura de fins do século XVIII e
início do século XIX para se pensar na consolidação e perfil da elite no alto sertão. Assim, o processo
de ocupação e povoamento do Sertão, associado às descobertas das Minas de Salitre na serra dos
Montes Altos, da expansão da pecuária e de atividades agrícolas, são abordados enquanto fatores que
atraíram indivíduos de diferentes lugares a se estabelecerem nessa região. Desse modo, a formação
do que se pode chamar de elite no alto sertão, certamente, se associou a uma configuração com suas
bases na expansão do povoamento e dinâmica de abastecimento do mercado interno e externo, tendo
em vista a movimentação engendrada com a abertura de caminhos e estímulos ao desenvolvimento
agrícola. A conjuntura da primeira metade do século XIX permitiu a consolidação de fortunas e, ao que
tudo indica, o acesso a grandes extensões de terras, adquiridas com o fim das sesmarias, elevou uma
minoria de latifundiários a ocuparem lugar de destaque social, econômico e político.
Dinâmica econômica, social e política no Alto Sertão da Bahia, início do século XIX
ZEZITO RODRIGUES DA SILVA (UNEB)
226
SESSÃO 0: 23/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Este trabalho objetiva discutir a construção de uma memória sobre as mulheres, com
enfoque na análise sobre a história de mulheres participantes do desenrolar das lutas sociais
travadas na região do Submédio do São Francisco, entre 1968 e 1994. O período se refere ao
processo de construção de usinas hidrelétricas na bacia sanfranciscana entre o lago de Sobradinho
e a Cachoeira de Paulo Afonso. O órgão responsável por essas construções foi a Companhia
Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). A construção das barragens foi tangenciada pela elaboração
de representações do país sob o símbolo do progresso e desenvolvimento econômico brasileiro. O
sertão enquanto cenário potencial de produção energética e geradora de base lucrativa, tornou-se
espaço de disputas. A Chesf preocupou-se em narrar sua própria história ao se pautar na narrativa
propagandista do desenvolvimento sertanejo, o que antes parecia se mostrar inédito. A narrativa
produzida pelos homens da Chesf, desconsiderou a atuação dos trabalhadores beradeiros,
indígenas, e em especial a atuação das mulheres. O estudo sobre as mulheres, lida com a ausência
da participação da história feminina em pesquisas. Michelle Perrot (2005), apresenta a dificuldade
presente na historiografia em construir produções voltadas para as mulheres, ao justificar que
estas são historicamente deslocadas dos espaços públicos, das documentações e da participação
da vida política, pelo olhar da forma historicista de entender a História. Ao tratar de como é possível
estabelecer pesquisas em torno do feminino, a autora propõe os métodos orais, por entender
que esses lugares legitimados para documentações, como arquivos e fontes escritas, as mulheres
ainda estão ausentes, ou minimamente representadas. Essa perspectiva dialoga efetivamente
na pesquisa sobre as mulheres do Submédio, pois além de serem mulheres e estarem imersas
nessa situação, estão em região sertaneja e atuantes de movimentos sociais. Perrot conduz uma
crítica a história das mulheres no que diz respeita a fontes que permitem/permitiram construções
narrativas. Ao tratar dos arquivos do século XIX, documentos voltados para mulheres são ausentes,
com isso, a memória sobre as mulheres foi e é construída intrinsecamente a prática da oralidade
feminina. Podemos inferir que a oralidade feminina carrega em si um potencial instrumento de
resistência. A oralidade se torna elemento cultural, político e histórico das mulheres. Ao partimos
das experiências das mulheres do Submédio através de entrevistas orais e fontes documentais,
buscamos contribuir com o debate historiográfico que visa uma análise histórica preocupada com
registro, debate e memória de mulheres.
“A saída do povo daqui por essa tal de barragem”: Memória e cordel na luta dos beraderos no
Submédio do rio São Francisco 1968-1994
CAROLAINE TOMAZ SILVA
Resumo: O cenário que guarda as trajetórias históricas investigadas é o Submédio do São Francisco.
Região esta que a partir de 1950 serve de palco para uma série de consequentes mobilizações e
enfrentamentos por grupos que tiveram seus modos de fazer, viver e configurar suas existências
ameaçadas, atingidas e destituídas por medidas tomadas a contragosto pela chegada e instauração
228
da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). Os beraderos, por vezes silenciados no
processo histórico, são os sujeitos que protagonizam o embate direto ou indiretamente contra
a CHESF. É a partir desses sujeitos que é permitido analisar e acessar por meio dos cordéis as
narrativas dos indivíduos – registradas em papel pardo – suas memórias, emergindo nos registros
os elementos em que teciam sua vidas cotidianas, através das experiências, dos elementos de
saudade, das organizações territoriais, enunciação de inquietações, reivindicações e atuação na
resistência.
A resistência popular é evocada – nessa relação nada amistosa entre o Estado e a população
ribeirinha – quando o povo vê suas vidas disputadas e em eminência de perda de identidade
engolidas por um inimigo avassalador maior que o tamanho das paredes da usina em construção.
As águas inundariam a paisagem e também a vida de ribeirinhos ameaçados por um movimento
de anexação, de dominação e asfixia dos modos de fazer camponeses. A significação dos cordéis
para o povo beradeiro aparece como forma de disputa narrativa e de aplicação sentido de suas
existências, contrariando a ideia do Nordeste como terra arrasada. Dessa forma, por intermédio
desta literatura popular ritmada, que é possível perceber tal como é constituído, símbolos,
anseios, esperanças, mobilização popular e significações da existência naquele lugar que tornar-
se-ia espaço. É a partir desta literatura marginal que elementos de saudade entoam como
movimentos mobilizadores e justificam a necessidade de uma organização popular consistente,
este que permite costurar as memórias (re)significando as existências e/ou experiências diante de
dilemas entre novas e antigas configurações de tempo, noções de territorialidade e sentimentos
saudosistas. Os cordéis conseguem interpelar o chamamento para a resistência enunciada pelo
povo das beiras do rio e exprimem a necessidade de manutenção de tradições e práticas do povo
que atua ativamente em suas próprias historicidades.
O sertão na poesia de Negrão dos Oito Baixos: o uso da literatura como fonte histórica
MARINA PINTO DOS SANTOS
Resumo: O presente artigo aborda o sertão representado na poesia de Negrão dos Oito Baixos
a partir da produção do artista na década de oitenta. Partindo da sua realidade, o compositor e
sanfoneiro, representa a área que atualmente corresponde, segundo o IBGE aos municípios de
Serrinha, Biritinga e Água Fria, segundo classificação da Secretaria de Planejamento do Estado
da Bahia corresponde ao Território do Sisal e ao Portal do Sertão, respectivamente. O artista
destaca entre os atributos de sertão por ele representado, alegria e festividades, evidenciando
eventos relacionados tradicionalmente com a zona rural, a exemplo do São João. Propõe-se
uma análise das representações de sertão com base na Nova História Cultural, na perspectiva
de Roger Chartier (1988) com ênfase no conceito de representações sociais em diálogo com
Serge Moscovici (1961). A análise parte do diálogo da História com a literatura, precisamente a
ficção e, dentro desta, a poesia, sendo o corpus, a discografia produzida na década de oitenta,
neste trabalho sendo utilizadas como fonte histórica. Além da introdução, o artigo compreende a
seguinte estrutura: a primeira parte estuda a “A poética de Negrão dos Oito Baixos (1941-1994)”,
prossegue “Conhecendo o sertão do poeta através da discografia”, faz uma discussão sobre “O
papel da ficção como fonte histórica”, evidenciando os desafios da lírica como narrativa e finaliza
com as considerações finais.
229
Mulheres do Almada: uma análise do lugar social da mulher na literatura de Adonias Filho
JACKSON NOVAES SANTOS (FACULDADE DE ILHÉUS)
A Cidade de Ilhéus nas narrativas ficcionais e jornalísticas: representações de uma Bahia entre
1920-1940
IGOR CAMPOS SANTOS
Resumo: Na primeira metade do século XX a Cidade de Ilhéus, na Bahia, foi objeto de múltiplas narrativas,
que destacavam sua riqueza e suas belezas, naturais e arquitetônicas. O objetivo desta pesquisa é analisar
as representações da Cidade de Ilhéus presentes na ficção e na imprensa escrita local no período de
1920 a 1940. Sobre as narrativas ficcionais o corpus da pesquisa é formado pelos romances Cacau (1933),
Terras do Sem-Fim (1943), São Jorge dos Ilhéus (1944) e Gabriela, cravo e canela (1958) do escritor Jorge
Amado. As narrativas jornalísticas foram divulgadas nos jornais O Comércio, Correio de Ilhéus e Diário da
Tarde, publicados entre as décadas de 1920 e 1940. Estas narrativas ficcionais e jornalísticas estão sendo
tomadas como fontes na perspectiva da Nova História Cultural, considerando o processo de ampliação
das fontes para a pesquisa histórica possibilitando diálogos com outros campos do saber. No caso, trata-
se do diálogo entre História e Literatura. Por isso, a opção pelos estudos sobre as representações sociais,
na visão de Roger Chartier (1988), no seu diálogo com Serge Moscovici (1961) e na compreensão de
narrativa, de Paul Ricoeur (1983). Do ponto de vista metodológico, o artigo analisa as representações
ficcionais e jornalísticas considerando como dois tipos de narrativas que permitem a compreensão de
realidades. Por meio do método de montagem, combinam-se os traços representados sobre a Cidade
com o intuito de construir uma interpretação sobre Ilhéus entre as décadas de 1920 e 1940, sinalizando
o potencial de diálogo com a realidade representada.
Meu caro Horácio: uma análise das correspondências enviadas por Carlos Drummond de Andrade a
Horácio de Almeida (1978-1982)
BRUNO RAFAEL DE ALBUQUERQUE GAUDÊNCIO (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DA
PARAÍBA)
Resumo: A partir de um debate entre história, literatura e correspondência, o objetivo desta comunicação
230
é analisar um conjunto de cartas enviadas pelo poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-
1987) ao historiador paraibano Horácio de Almeida (1896-1983), no período entre 1977 e 1982,
compreendo as relações e motivações intelectuais desta amizade literária, em especial a um pacto de
auxílio de Drummond na elaboração do Dicionário Erótico da Língua Portuguesa, publicado em 1980 e
depois ampliado e lançado como o título de Dicionário de Termos Eróticos e Afins, em 1981. Dentro de
uma perspectiva da história cultural dialogaremos com estudiosos que debatem no campo literário e
historiográfico sobre correspondência e amizades intelectuais e literárias, a exemplo de Marco Antônio
Morais (2005), Michel Trebitsch (1992), Brigitte Diaz (2016) e Geneviéve Haroche-Bouzinac (2016).
Cúmplices em projetos intelectuais comuns, Horácio de Almeida teve em Carlos Drummond de Andrade
uma amizade que possibilitou uma troca de conhecimentos, relacionados ao tema da literatura e do
erotismo, sob o signo da velhice.
Resumo: Esse artigo tem como objetivo analisar os processos de perda do posto e patente de alguns
oficiais militares na ditadura brasileira (1964-1985) em interface com o conto Sargento Garcia (1982) do
escritor Caio Fernando Abreu. No regime ditatorial uma série de militares que tinham práticas sexuais
homoeróticas foram alvo de caçadas moralizantes empreendidas pelos agentes ditatoriais dentro dos
quartéis, esses agentes agiam motivados por um projeto higienista de saneamento das Forças Armadas.
Ao serem pegos na caserna os militares dissidentes eram acusados do crime de pederastia e tinham
em decorrência dessa acusação, em um curto espaço de tempo, suas carreiras abortadas de forma
vexatória. A pederastia, crime de natureza militar, está incluída no rol dos crimes sexuais do Código Penal
Militar (CPM) de 1969, ou seja, para o aparato imagético e jurídico castrense a pederastia significava
de forma estreita qualquer relação homossexual, principalmente entre dois homens. Como para o
sistema classificatório dos militares, em especial no período do estado exceção, a identidade militar era
considerada essencialmente heterossexual, os militares sexualmente dissidentes foram tachados como
inimigos da pátria, assim como uma série de militantes de esquerda. Imbuída da lógica da suspeição, a
ditadura, através de seus agentes e órgãos de informação, buscavam identificar os supostos homossexuais
para expurga-los do serviço público militar, essa prática agudizou o clima inquisitorial na caserna que
historicamente já não era um espaço tolerante com as homossexualidades. Nesse contexto, de uma
negação da identidade militar homossexual, o conto Sargento Garcia, por apresentar um enredo que
trata de uma relação homoerótica entre um jovem alistado e um sisudo sargento no período ditatorial,
pode juntamente com os processos de pederastia, dar uma noção da complexidade do problema de
considerar obvia as perseguições sexuais nos quartéis e nesse sentido reforçar o contexto discursivo
e social que constrói os militares como a encarnação de um modelo de masculinidade heterossexual,
patriota, patriarcal e disciplinar. Espero que esse artigo contribua para o processo de tensionamento da
naturalização da existência de homossexuais (negados) nas Forças Armadas.
231
A Doçaria na Literatura e História no Atlântico Lusófono.
CARMOLY CARTEADO MONTEIRO LOPES FILHO
A literatura de viagem entre a história e a ficção: uma análise da crônica de Antonio Pigafetta
ADRIANO RODRIGUES DE OLIVEIRA (UNESP)
Resumo: A presente comunicação tem por intuito analisar razões, sentidos, sensibilidades e imaginários
acerca da modernidade científica e industrial do século XIX, a partir dos olhos daquele entendido como pai
da Ficção-Científica: Júlio Verne. Neste breve trabalho, busco expor uma certa sensibilidade escatológica
com relação às consequências da industrialização europeia, mais particularmente a francesa. A obra sob
análise é “Paris no Século XX”, uma das primeiras obras do gênero de nosso autor, escrita ainda em 1863
232
mas apenas publicada na década de 80 do século XX, mais de 100 anos após seu primeiro manuscrito.
Nesta, Júlio Verne conta a vida de um jovem rapaz, entusiasta das letras, admirador de Balzac e Vitor
Hugo, que se vê preso à sociedade francesa do ano de 1960; um mundo sem lugar para as ditas futilidades
da alma, onde apenas a engenhosidade da mecânica industrial, da construção civil, do maquinário fabril
e o crédito bancário tem lugar. Nosso protagonista, Michel Jérôme Dufrénoy, é por consequência um
melancólico, forçado à viver e refletir imerso em uma sociedade que lhe é hostil. A narrativa, portanto,
busca a construção de uma possibilidade estética futurista, a partir de elementos muito marcantes
dos anos mil e oitocentos na França, sob destaque a indústria, a urbanização, as intensas atividades
do mercado, a modernidade administrativa de um Estado centralizado e eficiente; responsáveis pela
edificação de um mundo determinado pelo progresso, os lucros, a praticidade, eliminando os espaços
da reflexão abstrata, bem como da transcendência artística. Portanto, é a partir da localização histórica
da obra citada que pretendo apresentar um período marcado por grandes possibilidades, repleto de
conquistas e otimismo; um lugar não mais dominado pelos desígnios da natureza ou do divino, e sim pelo
próprio homem, em contraste, por sua vez, com o intenso pessimismo e mal-estar causado pelas exatas
mesmas coisas que trazem toda a empolgação. Eis o mundo histórico representado por Júlio Verne.
233
da ficcionalização do texto, as abordagens sobre a luta, resistência e sociedade palestina; bem como
as estratégias narrativas e discursivas sobre o engendramento de experiências reais e a constituição
histórica da Palestina alinhado ao cenário literário do gênero romance.
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo realizar uma discussão teórico-bibliográfica referente à
ideia da literatura enquanto fonte legítima para as pesquisas históricas. Ao mesmo tempo, e não menos
importante, procura-se exemplificar a serventia histórica desse objeto social através da análise do
romance Hibisco Roxo, da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Nesse sentido, dois aspectos da
obra terão enfoque: as violências causadas pelos processos coloniais britânicos na Nigéria em seu caráter
religioso e linguístico. Ao final do trabalho, espera-se que o(a) leitor(a), tendo percorrido os debates e
análises suscitadas, compreenda e enxergue as obras literárias enquanto fruto da humanidade, objeto de
representação social e como fonte histórica autônoma, ou seja, que não precisam de outras fontes para
serem legitimadas. Para chegarmos aos objetivos mencionados, num primeiro momento, procuraremos
conceituar, caracterizar e identificar os potenciais e limitações do campo literário, com maior ênfase
na expressão literária do romance. Oportunidade na qual será pontuada também as possíveis relações
entre História e Literatura. Autoras como Jodelet (2001), Pesavento (2003), Gallagher (2009) e Watt
(1996) serão essenciais para aprofundarmos nas referidas questões. No que tange à análise da obra de
Adichie, procuraremos dialogar com os referenciais teóricos citados e com pensadores/intelectuais que
estudam a história da Nigéria e/ou do continente africano de forma geral, como: Sow & Abdulaziz (2010),
Mustapha (2014) e Tshibangu (2010).
Tentando contribuir com esse debate que envolve política e casas editoriais, venho desde 2018
pesquisando a trajetória e a produção literária da Alfa-Omega. A editora possui um catálogo
bastante interessante, com títulos que marcaram época como, por exemplo, A Ilha: um repórter
234
brasileiro no país de Fidel Castro (1976), de Fernando Morais e Em Câmera Lenta (1977), de Renato
Tapajós.
Portanto, nesta pesquisa, pretendo analisar o seu perfil editorial, através do catálogo do ano
1984, e também uma coleção intitulada História Imediata, publicada no final da década de 1970,
em formato de revista, que trazia temas quentes para o momento e censurados pela imprensa
como, por exemplo, a Guerrilha do Araguaia; e a União Nacional dos Estudantes – UNE.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar a censura que vigorou no Brasil durante
o período joanino, destacando como a tradução foi abordada pelos censores. Por meio da análise
dos pareceres e de uma revisão bibliográfica almeja-se compreender como as obras traduzidas
representavam a literatura portuguesa. Através da atuação dos censores será destacado
a importância das obras traduzidas como um mecanismo de enriquecimento da literatura
portuguesa, assim como as diferentes perspectivas sobre o conceito de tradução na época. Junto
a isso, será explorado os significados atribuídos a literatura ao longo do tempo, com a finalidade
de compreender a que os censores se referiam ao relacionarem as traduções a literatura. Além
disso, será destacado o processo de instauração do aparelho censório no Brasil após a chegada da
corte portuguesa, assim como as adaptações necessárias aos trópicos. Assim, retomar as origens
da censura portuguesa é de grande valia, pois possibilita a compreensão do modelo censório que
vigorou durante a atuação da Mesa do Desembargo do Paço no Rio de Janeiro joanino.
O feitiço de Conan Doyle: circulação dos impressos sobre Sherlock Holmes e suas leituras por
crianças e jovens brasileiros nas primeiras décadas do século XX
LEANDRO ANTONIO DE ALMEIDA (UFRB)
Resumo: Em um estudo sobre o período de 1870 a 1920 no Brasil, Gilberto Freyre afirmou que
um dos marcantes traços socioculturais da Belle Époque brasileira foi “a voga, no fim da época
em apreço, de Conan Doyle e do seu Sherlock”, e preconiza que tal ficção teria sido agente
literário da unificação da mentalidade de adolescentes brasileiros, seduzidos por aspectos da
vida moderna numa civilização. A ficção sobre Sherlock Holmes chegou ao Brasil em um contexto
de multiplicação e transformação dos suportes de narrativas entre os anos 1908-1930 (livros,
fascículos, peças, filmes, folhetins), ensejando também a popularização da ficção de detetives no
período. Sherlock Holmes era lembrado nas memórias e documentos do período como fonte de
prazer e entretenimento, sobretudo dos mais jovens, e também aparece como modelo de ação na
realidade, cujo raciocínio indiciário poderia ser aplicado a várias dimensões da vida, inclusive ser
parâmetro de policial e investigador. Tais percepções se relacionam a um contexto de urbanização
e modernização do cotidiano das cidades brasileiras, à ênfase no caráter redentor da ciência e da
técnica, os quais repercutiram na imprensa e na tentativa de reformulação da polícia segundo
os padrões europeus. Seguindo a pista deixada pelo sociólogo pernambucano, nosso objetivo
é analisar o papel da ficção policial, especialmente a protagonizada por Sherlock Holmes, na
construção de referenciais de modernidade em crianças e adolescentes brasileiros nascidos na
virada do XIX para o XX e nas primeiras duas décadas do novo século. A generalidade dessa difusão
235
concorreu para acirrar a sensação de “unificação da mentalidade” mencionada por Freyre e que
está presente em outras memórias e depoimentos. Tais fontes permitirão perceber o duradouro
impacto do Sherlock e também seus efeitos variados, os quais dependiam dos significados
atribuídos ao conteúdo dos impressos, aos efeitos da experiência de leitura e percepção de sua
utilidade. Depois esperamos, então abordar a mencionada sedução de crianças e adolescentes,
como elas construíam referenciais de modernidade a partir da leitura das narrativas sobre o
detetive Sherlock Holmes.
Resumo: Manoel Bomfim (1868-1932) foi um intelectual brasileiro marcado pelo engajamento
em diferentes campos (na medicina, magistério, jornalismo e política) e pela sua interpretação
do Brasil no cenário histórico da Primeira República (1889-1930), perpassando pela Belle Époque
tropical (1898-1914), conforme Needell (1993) – na capital. É atuante no Pedagogium (1896-1919),
como diretor e professor, na Escola Normal do Distrito Federal (1897-1926), na Liga Brasileira de
Higiene Mental (1924) e na Associação Brasileira de Educação (1924). Sua consistente produção
escrita revela uma singularidade desviante marcada por um contradiscurso (FOUCAULT, 2002)
em torno das justificativas dos “males” do atraso brasileiro em relação às questões de raça, da
mestiçagem e clima, apresentando como a cura a educação. Neste trabalho propomos investigar
o seu ideário de interpretação da nação e algumas questões que envolvem o campo da história
da educação em torno da higiene, da pedagogia e psicologia. Sua produção escrita, é significativa,
especialmente em relação aos livros, nos dedicaremos neste trabalho às obras: A América Latina:
males de origem (1905) O Brasil na América (1929); O Brasil na história (1930); O Brasil nação
(1931), que trazem além do contradiscurso do autor, uma análise de questões tão correntes em
relação ao debate em torno da relação entre raça e o atraso brasileiro, e também da América
Latina.
Resumo: A presente proposta de fala tem como meta discutir a abordagem temática em torno das
relações entre infância e escrita elaborada por historiadores e estudiosos da cultura como Carlo
Ginzburg, Walter Benjamin e Giorgio Agamben. Esses autores dialogaram com diferentes literatos,
desde Proust, Baudelaire e Tolstói, para evidenciarem um determinado método de interpretação
do mundo vivido no qual as sensações e as impressões sobre a realidade são transmitidas aos
leitores de forma frenética, labiríntica e anacrônica. Nesse sentido, os autores, a partir desses
debates literários, refletem sobre como essa infância do olhar, que conserva ainda a capacidade
de espanto, incertezas e estranhamento, pode ser uma alternativa epistêmica mais profunda do
que pensar fenômenos humanos a partir de esquemas tecnicistas e pretensamente neutros.
236
Perspectivas históricas sobre o romance de formação
MARCELLO DE ARAUJO PIMENTEL (UEFS)
Resumo: O romance de formação é uma indelével marca da literatura alemã. Tal estilo, destaca-se
na escrita de Goethe e Thomas Mann. Apesar de terem vivido e produzido suas obras em diferentes
períodos históricos, a tradição germânica do Bildungsroman perpassa as suas literaturas de
forma a fundamentar as bases onde assentam-se seus romances e demais escritos. A partir desse
gênero literário, representou-se lugares sociais e costumes culturais. Em Os anos de aprendizado
de Wilhelm Meister, Goethe caracteriza o processo formativo intelectual e moral de um jovem
nascido no seio da burguesia alemã. “De que me serve fabricar um bom ferro, se o meu próprio
interior está cheio de escórias? E de que me serve também colocar em ordem uma propriedade
rural, se comigo mesmo me desavim?” (GOETHE, 2017) Através deste questionamento de Wilhelm
Meister, apresenta-se ao leitor o conflito entre tradições e gerações que nunca possuíram as
mesmas formas de pensamento acerca do sentido da existência de um homem. Já em A montanha
mágica, Thomas Mann apresenta-nos a jornada formativa de um jovem burguês de Lübeck, sendo
a personagem confrontada com as grandes questões filosóficas, históricas e éticas que marcaram
seu tempo. Adeptos do romantismo, ambos os autores utilizaram em suas obras efígies de beleza
e morte, que associadas ao corpo feminino, também figuram como representantes de um ideal
artístico e estético característico de suas épocas e tradições. Através disso, iremos problematizar a
representação de mundos em conflito na narrativa ficcional e o seu evidente diálogo com a história
da Europa entre os séculos XIX e XX nas duas obras citadas acima. É, portanto, uma característica
da escrita dos dois autores dentro do gênero em questão, a problematização de estruturas
cristalizadas no meio social em face do desenvolvimento das personagens e protagonistas
de suas obras. Todavia, existem peculiaridades na escrita de cada um, as quais tem origem na
formação de cada escritor. Entre a História e Literatura, intentamos tecer uma singela abordagem
fundamentada na interlocução entre os campos da historiografia, filosofia e arte, num trabalho de
literatura comparada; evidenciando permanências, anseios mudanças na dinâmica das sociedades
retratadas, e suas culturas através da narrativa literária.
237
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Uma forma da história do Brasil ser lida é a partir do estudo das lutas sociais. Tal estudo
permite analisar também como se estabeleceram as relações entre Estado e sociedade ao longo
do decurso histórico. Partindo dessa premissa, discutiremos nesse trabalho como o intercâmbio
téorico-metodológico entre História e Sociologia podem trazer potencialidades para compreender
as lutas sociais em seu conteúdo e forma, seja no contexto em que elas se materializaram, ou
no que foi legado para momento ulterior, influenciando a configuração ou reconfiguração de
239
mecanismos de coerção do Estado, do aparato legal e dos repertórios de ação coletiva.
Resumo: O objetivo principal do estudo é discutir a legitimidade de o Estado, por meio das
funções legislativa e jurisdicional, impor limites ao revisionismo histórico. Não se ignora que
rever interpretações históricas, a partir da descoberta de novas fontes ou para evidenciar atores
sociais historicamente esquecidos, por exemplo, é tarefa genuína da História. Portanto, não se
refere aqui a qualquer revisionismo, mas sim àquele que não observa a metodologia própria da
investigação história e, portanto, tende a falsear acontecimentos, desqualificando as trajetórias
de determinados sujeitos, negando ou relativizando fatos dolorosos, como o holocausto
judeu, a escravização de indígenas e africanos e a ditadura militar no Brasil. O estudo pretende
promover interlocuções entre a teoria da História e o Direito, diagnosticando pontos de tensões e
convergências acerca da temática. A possibilidade de o Estado intervir na repressão ao falseamento
da história, mesmo nesses casos mais graves, é controversa em ambas as áreas do conhecimento.
Esse debate, por vezes, fica circunscrito a questionamentos sobre a cientificidade da História,
aos riscos de se instituir uma memória oficial ou de se promover o cerceamento da liberdade de
expressão e, ainda, à impossibilidade metodológica de juízes decidirem sobre o passado. Sem
perder de vista todas essas implicações, sustenta-se que a discussão precisa ser aprofundada,
pois há questões relativas ao revisionismo histórico que transcendem o fazer historiográfico e
passam a atuar na opressão de grupos ditos minoritários, inclusive na deslegitimação de políticas
públicas, e no acobertamento de crimes contra a humanidade.
Resumo: Escrever a História como “um tempo saturado de agoras”, conforme nos deixou como
testamento político Walter Benjamin. Eis o desafio para quem pretende tratar das Histórias da
ditadura, que tem vários outros conectivos: civil-miltar, empresarial-militar, ou simplesmente
ditadura, que teve sua presença anotada nos registros históricos entre os anos de 1964-1985.
Especialmente incômodo é uma afirmação de que “a ditadura não passou por aqui”, proferida
num debate promovido pela ONG Associação Ilhéus, em 2014, em que uma professora que teve
e ainda tem influência na formação de jovens estudantes na cidade de Ilhéus reforçou não só
um silêncio sobre as ações dos governos militares na cidade, mas expressou um discurso que
vem no rol dos negacionismos e revisionismos históricos sobre o período da ditadura de 1964-
1985 no Brasil. Ao afirmar em debate público que tinha por objetivo apresentar propostas aos
candidatos ao pleito municipal de Ilhéus em 2014, a palestrante quis referendar uma memória
dominante de que não houve sequer ditadura em Ilhéus, quiçá para referendar uma perspectiva
histórica de que a população de Ilhéus é pacífica, ordeira, cumpridora de seus deveres cívicos e,
portanto, não é afeita a praticar a “subversão” e, pior, aventuras esquerdistas. Em Ilhéus, também
temos personagens que deram seu apoio explícito ao golpe e à “revolução” de 1964. Entre estes,
figuras que consolidaram-se como importantes representantes da sociedade civil na consolidação
do apoio aos governos militares. Entre estes, o então professor do curso de Direito da Faculdade
de Direito de Ilhéus, que se tornou uma importante liderança política na região, ao realizar o
240
sonho dourado das elites cacaueiras, e consolidar o projeto de construção de uma universidade
para a região, através da FUSC - Fundação Universidade de Santa Cruz, em 1974, que se tornaria a
atual UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz, em 1992. É preciso situar na pesquisa histórica
sobre a presença da ditadura em Ilhéus e região, os sujeitos históricos que atuaram no apoio às
políticas implementadas pelos governos e na manutenção de uma memória que excluiu outras
possibilidades de memórias divergentes, dissidentes e de resistência à ditadura. Para tanto,
buscarei apresentar algumas questões que podem contribuir para outras histórias e trazer para
o debate memórias que foram negadas pelo processo histórico de “redemocratização” no pós-
ditadura na região. Para que novamente essas memórias não sejam silenciadas no processo
político na atual conjuntura em que vivemos no país, é primordial ouvir as vozes de sujeitos que
ousaram lutar contra a ditadura e que permaneceram em silêncio por muitos anos.
Resumo: A transição democrática brasileira foi palco de disputa entre diversos projetos– desde
o projeto que visava continuidade no poder até o que exigia a redemocratização, ou seja, fim do
regime com democracia e direitos sociais. Os militares, em que pesem as divergências internas
desenvolveram uma proposta de transição que pode ser sintetizada na consigna lenta, gradual e
segura, entretanto, a sociedade civil também apresentou diversos projetos. O Partido Comunista
do Brasil (PCdoB) na sua reorganização em 1979 traçou táticas e estratégias para o processo de
transição, do ponto de vista de sua organização interna até a relação com os movimentos de massa
do período. O Jornal Tribuna da Luta Operária foi um dos principais mecanismos do PCdoB para
reaparecer na cena política; foi um periódico de circulação nacional de 1979 a 1988 que nasceu
no interior do Comitê Central do PCdoB, influenciado pelo ascenso dos movimentos populares
e o processo de anistia. Nesse trabalho, analisaremos a atuação do PCdoB na “cidade operária”
Camaçari (Região Metropolitana de Salvador), no processo de transição. Camaçari estava inserida
na Lei de Segurança Nacional (LSN) e foi comandada por prefeito biônico por mais de uma década.
Em 1985, na primeira eleição pós ditadura, um dos dirigentes do PCdoB foi eleito prefeito. Para
avaliar essa experiência iremos recorrer a análise de Antônio Gramsci sobre partido político, ou
seja, o consideraremos de forma ampla e abrangente, não se restringindo a sua vida interna.
Ademais no que se refere as fontes, o Jornal Tribuna da Luta Operária e as entrevistas com Hilário
Leal e Luiza Maia – ambos militantes do PCdoB à época – serão nossos fios condutores para
compreender como mulheres e homens camaçarienses se movimentaram no contexto referido.
Assim, teremos uma indicação de como um partido político de esquerda atuou no processo de
transição em uma cidade que foi enquadrada na LSN e que elegeu na sua primeira eleição um
membro do PCdoB.
Resumo: O presente trabalho tem como perspectiva apresentar considerações sobre a atuação
do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na região sul da Bahia, em específico nas cidades que o
PCdoB desenvolveu trabalho político, são elas Camacan, Ilhéus, Itabuna e Potiraguá. As atividades
241
da militância do partido teve início no final da década de 1960 e em 1973 militantes e próximos
a organização foram indiciados, processados e alguns deles presos pela justiça militar acusados
por tentar reorganizar partido clandestino. O PCdoB começou suas atividades no sul da Bahia
no mesmo período em que a luta armada foi incorporada como estratégia política pelo partido.
Além disso, nesse mesmo contexto militantes da organização foram direcionados para a região do
Araguaia no Estado do Pará com a finalidade de iniciar os trabalhos para formação da guerrilha, na
oportunidade quadros da Bahia também foram destacados. No período de 1970/1971 o Comitê
Sul foi formado e a região cacaueira passou a receber considerável prioridade do partido naquela
conjuntura, chegando a deslocar membros da direção da regional para a localidade. Após a formação
deste comitê o campo passou a ser considerado como área prioritária para desenvolver trabalho
político, por conta disso membros de outras localidades do país e da região foram direcionados
para atuar nesses espaços, tendo como objetivo desenvolver ações junto aos trabalhadores rurais
da região cacaueira. Entretanto, é importante destacar que parte da militância continuou em
atividade na zona urbana das cidades.
Diante do exposto, esta reflexão terá como preocupação apresentar o contexto da atuação
política do PCdoB no sul da Bahia, desenvolvendo sobre o momento no qual o partido direcionou
sua atenção para o interior do Estado, assim como debateremos acerca dos elementos que
podem ter contribuído para tal definição. Neste trabalho também será possível indicar o perfil
da militância do partido na região estudada, destacando gênero, faixa etária, raça e profissão
dos sujeitos que envolveram suas vidas na construção do projeto político do PCdoB naquele
período. Para construir este texto será usado como base o processo 199/73 do fundo digital Brasil
Nunca Mais, teses congressuais, resoluções e outros documentos formulados pelo partido e seus
militantes. A partir deles será possível evidenciar os pontos indicados como questões a serem
problematizadas, demonstrando que as escolhas tomadas pelo núcleo dirigente na Bahia não
estavam desconectadas das formulações e direcionamentos feitos pelo Comitê Central.
242
“Capital da Seca”: o regionalismo nordestino expresso nas disputas parlamentares sobre o
Banco do Nordeste do Brasil
PEDRO LUÍS CAVALCANTE DA CUNHA (UFBA)
Resumo: O Banco do Nordeste do Brasil (BNB), instituição de crédito com meios e fins sem
precedentes claros na história do Brasil, viraria pauta, no processo de sua implantação, de calorosas
discussões. Os temas variavam, indo desde a natureza do planejamento regional, passando pelo
debate sobre o fomento de crédito para a produção econômica, até chegar, finalmente, na natureza
das relações que o governo federal mantinha com os entes federativos localizados no “nordeste”.
Assim, o decorrer da sua tramitação no Congresso Federal e Senado (ou seja, entre 23 de outubro
de 1951 e 19 de julho de 1952) não deixou de suscitar debates que, por vezes, iam bem além da
especificidade do projeto do BNB, levantando questões mais gerais que dialogavam intensamente
com a divisão inter-regional do capitalismo à época e com os diversos interesses que as classes
econômicas dominantes viam no estabelecimento dessa nova instituição de crédito. O presente
trabalho tem o interesse de analisar como a bancada nordestina na Câmara dos Deputados reagiu
à criação do Banco do Nordeste do Brasil e os diferentes conflitos em que se envolveram para
defender os seus respectivos interesses. Assim, pretendemos avaliar como se deu a mobilização
do discurso do regionalismo nordestino (como entendido por Iná de Castro, em “O Mito da
Necessidade”) em uma situação em que cada ente federativo pertencente ao “Nordeste” precisava
disputar a primazia da condição de “ser nordestino”. Não podemos desconsiderar, é claro, que
para além da disputa meramente retórica entre os parlamentares, haviam interesses de ordem
política-econômica que motivavam a atuação desses deputados. Dessa forma, esse artigo é um
esforço de interpretação acerca dos interesses da classe dominante no Nordeste, e das disputas
entre as suas frações, acerca da tramitação do projeto de lei 1348/1951, sobre a constituição do
Banco do Nordeste do Brasil.
243
Música, política e trabalho: o caso da Filarmônica Euterpe Itabunense (1922-1925)
SAMIR SANTANA DE OLIVEIRA
Resumo: É inegável que a música teve e continua tendo presença marcante na vida humana. Ela
pode ser a expressão de lutas sociais contraditórias, articuladas em uma prática política, social e
discursiva. Sua natureza é polissémica, transformando-a em algo dinâmico. Resta-nos compreender
como indivíduos em sociedade fizeram uso dessa arte. Visto isso, este trabalho pretende analisar
como trabalhadores de uma agremiação mutualista (Sociedade Monte Pio dos Artistas de
Itabuna), situada no sul da Bahia, construíram a ideia da formação de uma banda filarmônica, ao
passo em que lutavam contra a adversidade (CASTELLUCCI, 2010). Por meio das atas de reuniões
de assembleia geral e diretoria desta entidade e de periódicos, rastreando alguns detalhes, o
objetivo é compreender a motivação de criar uma banda, entendendo a relação desses sujeitos
com o poder público da cidade – que iniciava uma imposição de novos “costumes” através de leis
– e com seus associados, por meio das políticas e conflitos internos desta instituição nos anos que
antecederam a inauguração oficial do objeto a ser estudado.
“Como cidadãs e cidadãos que somos”: a luta por direitos trabalhistas da Associação das
Empregadas Domésticas da Bahia (1985-1989)
DEYSE VIEIRA QUINTO (UESC)
244
dinâmica e complexa o conjunto de relações sociais, o que não exime a existência de contradições
entre elas.
A chegança da MST no Pará e a luta pela terra na Fazenda Cabaceiras: a narrativa camponesa
e a luta de classes.
EMMANUEL OGURI FREITAS (UEFS)
Resumo: O presente trabalho origina-se dos estudos e investigações para a elaboração do meu
TCC (trabalho de conclusão de curso), no curso de licenciatura plena em História, na universidade
estadual do sudoeste baiano (UESB). E tem como tema base os movimentos sociais, com destaque
para as militantes femininas, na cidade de Vitória da Conquista, nas décadas de 1980-1990, tendo
245
como personagem central, a atuação da ativista social Ilda do Amaral. A pesquisa se encontra na fase
inicial, servindo mais para provocar reflexões e contribuições para o se desenvolvimento. Assim,
tenho como finalidade partilhar as pontuações já realizadas nessa pesquisa. A história recente
do nosso país, têm mostrado a busca incansável dos diversos setores populares, organizados ou
não, na busca pela superação de suas dificuldades, no atendimento aos seus anseios e no respeito
aos seus direitos. Atores sociais que tem se configurado como principais espaços de luta, visando
solucionar os diversos problemas que afeta uma comunidade ou uma determinada classe social,
objetivando a defesa de direitos. Portanto, visamos os movimentos sociais como um espaço que
tem possibilitado que as pessoas individualmente assumam uma postura coletiva de luta pela
manutenção ou conquista de direitos. Neste sentido, faz-se necessário o estudo da história de
vida de militantes femininas engajadas e comprometidas com as causas populares. Militantes
que assumiram a luta nas mais diversas frentes, que para além das suas diversas demandas e
carências, tem como pano de fundo, a luta contra uma ordem baseada no patriarcalismo tão
fortemente enraizado na nossa sociedade, especialmente na cidade de Vitória da Conquista,
onde se estabelece o foco dessa pesquisa. Vitória da Conquista tem sido, historicamente, o palco
de inúmeras manifestações e mobilizações populares, em suas mais diversas áreas e das mais
diversas formas, especialmente, com uma participação ativa de mulheres.
Com esse objetivo é que me despertou o interesse pela análise da trajetória de vida da militante
Ilda do Amaral, uma militante da cidade, que iniciou sua militância ainda nos anos 70 e que ainda
encontra se ativas nos movimentos; as suas instâncias formativas em seu processo político social,
as causas assumidas, a liderança frente a associação de bairro e do movimento de ocupação
do Alto da Boa Vista, e a fundação da Creche União e Força. Portando, diante da importância e
relevância histórica das mulheres que assumiram a militância social com coragem e afinco em
busca de garantir direitos, é que se faz necessário esse estudo, tendo como foco o exemplo de
dona Ilda que assumiu a militância com destreza possibilitando assim que sua sensibilidade se
tornasse força de luta, que se configurou em forma de legado que beneficiasse a comunidade.
O que é o bolsonarismo? Uma tentativa de explicar o fenômeno à luz das experiências recentes
da história social e política brasileira
CARLOS ZACARIAS F. DE SENA JÚNIOR (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA)
O que é o bolsonarismo? Uma tentativa de explicar o fenômeno à luz das experiências recentes
da história social e política brasileira
CARLOS ZACARIAS F. DE SENA JÚNIOR (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA)
Resumo: Qualquer debate acerca da vida política e das transformações sociais das quais passou o
Brasil, terão necessariamente de alguma forma, a presença, a participação de militares. Inclusive,
os militares já foram à vanguarda política do país, e todas as vezes que tivemos progresso político
eles estiveram lá. Entretanto, essa categoria social, como chamou Heloísa Fernandes (1978),
sempre associada à repressão e ao espectro político à direita, obnubilou qualquer perspectiva
ou debate em contrário, concentrando-se, mormente em sua face ditatorial e mais sombria.
Talvez essa carência se dê pela falta de interesse acadêmico, parcialmente explicável pelos
horrores perpetrados pelos militares durante a ditadura, é fato também que, como lembra
Helena Alves (2005), por conta da chamada Doutrina de Segurança Nacional, implantada aqui
pela Escola Superior de Guerra do Exército, completamente influenciados pela Doutrina Truman,
esses militares passaram por processos de expurgo, que previa que antes de qualquer coisa era
necessária uma limpeza do “público interno”, pois só após a limpeza das instituições de repressão,
estes estariam aptos ao combate aos “inimigos interno”. Segundo Moraes (2005, p. 42), “Os
247
militares de esquerda se tornaram espécie em vias de extinção, por terem sofrido uma caçada e
expurgo político-ideológico sem precedentes na instituição armada do Estado brasileiro”. Ainda
no prisma da participação militar em movimentos de esquerda, ou ideologicamente afinados
com o pensamento de esquerda, Pimentel (2011, p. 07-08) salienta que “os militares de cunho
esquerdista foram perseguidos dentro da corporação, sendo acusados de “traidores da pátria”,
o que não impediu a existência de grupos de esquerda, ligados ou não ao PCB, dentro das Forças
Armadas”. Portanto, se a questão da chamada esquerda militar é um tema caro a história política
do país, embora não tão estudado quanto poderia, menos presente ainda nos estudos de nossa
historiografia é a presença ou participação de policiais nesse espectro ideológico – que chamaremos
aqui de “esquerda policial”. E assim, este trabalho suscita levantar o debater, e contribuir com a
historiografia do tema.
Resumo: O presente texto tem como pretensão mapear e filiar a atividade legislativa que tramitou,
desde a Constituição Federal de 1988, no Congresso Nacional com a pretensão de regular a questão
quilombola. O foco aqui é identificar uma possível filiação ideológica aos projetos e a mobilização
de articulação entre os parlamentares em projetos políticos e de poder específicos para a questão
quilombola, com isso pretendemos vidraçar a luta dos blocos de poder que se apresentam no campo
legiferante federal. Com isso, conseguimos determinar uma certa homogeneidade no campo do
poder para a negação dos direitos étnicos-quilombolas pela “bancada ruralista” e, de outro lado,
um campo progressista, com protagonismo de partidos de esquerda e centro-progressista.
“Os sisaleiros pedem socorro”: o papel da APAEB na organização dos trabalhadores rurais
contra a crise do sisal no semiárido baiano (1990-1993)
CLEIDIANE DE OLIVEIRA LIMA
Resumo: O sisal, proveniente do México, foi introduzido no Brasil em 1903 onde encontrou clima
248
favorável, consolidando-se no Nordeste brasileiro. Nos anos 1950 conseguiu alcançar produção
em grande escala e, no início dos anos 1990 era responsável pela sustentação de cerca de 1
milhão de trabalhadores rurais distribuídos em 70 municípios do sertão baiano. Mas, na segunda
metade da década de 1970 o sisal entrou em crise com o surgimento de produtos concorrentes
oriundos da indústria química, desabando os preços da fibra no mercado internacional. Diante
disso, no dia 05 de novembro de 1990, foi lançada em Valente a campanha “os sisaleiros pedem
socorro”, com a participação de mais 3000 trabalhadores da região sisaleira e diversas entidades
dos trabalhadores, representantes de órgãos ligados ao governo estadual e federal, deputados
assim como prefeitos e vereadores, na tentativa de pensar alternativas referente a crise do sisal.
As reivindicações dos trabalhadores incluíam a demanda por garantia de preços mínimos do sisal
pelo Estado acompanhada de outras pautas, como as concernentes às condições de trabalho, ou
àquelas que se referiam a direitos já garantidos em acordos anteriores com o governo federal,
desrespeitados pelo mesmo. Dessa maneira, a campanha se caracteriza por conter pautas
primariamente econômicas, mas colocava-se também a dimensão do enfrentamento político.
Mediante o cruzamento de fontes documentais e jornalística, o trabalho tem como objetivo
analisar a organização dos trabalhadores e o papel desempenhado pela Associação dos Pequenos
Agricultores do Estado da Bahia (APAEB), principal órgão de articulação dos sisaleiros frente
ao Estado, a partir de interpretações no campo teórico de classe e luta de classes por entender
que aquele confronto foi travado por sujeitos contra carência material resultante do fato de se
apropriarem de uma parcela da riqueza social de forma desproporcional, determinada por sua
condição de classe. Pretendemos também examinar as ambiguidades que a instituição se coloca
nesse processo de mobilização considerando a própria dinâmica da entidade no que diz respeito
a sua estrutura organizativa que, já nesse momento, muito se assemelha a uma empresa. De toda
maneira, é difícil afirmar com precisão, a partir das fontes, se a campanha foi considerada vitoriosa
para aqueles trabalhadores. Mas a documentação nos leva a crer que o sentimento de conquista
circulava entre os sisaleiros pois, ao longo da campanha, mesmo que todas as reivindicações não
foram atendidas, a mobilização foi avaliada como politicamente vitoriosa levando em consideração
o envolvimento dos trabalhadores durante o processo.
A Direção do Rio: para uma história das lutas sociais no Submédio São Francisco
EURELINO TEIXEIRA COELHO NETO (UEFS)
Resumo: O São Francisco não é só um curso d’água magnífico. É também um “rio de lutas”, leito
por onde correram as histórias de homens e mulheres que tiveram de aprender a lutar para não
sucumbir diante de ameaças muito mais poderosas do que as traiçoeiras corredeiras, os seres
sobrenaturais ou mesmo as enchentes do Velho Chico. A partir dos anos 50 grandes obras
hídricas e elétricas impuseram mudanças violentas no modo de viver de famílias ribeirinhas,
empreendimentos gigantescos, atraindo contingentes inéditos de sertanejos em busca de incertos
empregos nos canteiros de obras ou de oportunidades de renda nos polos de comércio de bens de
consumo e serviços que cresceram com a população. Além dos enormes empreendimentos estatais
foram atraídos muitos investimentos menores, privados e públicos, articulados de algum modo
com aquelas intervenções matriciais. O sertão não virou mar, apesar dos lagos imensos nascidos
do represamento do rio, mas se transformou profundamente. Tratamos aqui das experiências
vividas por sujeitos que se deparavam com situações novas e desafiadoras e cuja reação não se
fez esperar: vieram as lutas, agitando as águas que os construtores de barragens imaginaram
249
tranquilas, domadas. E foram muitas, com muitos protagonistas e muitas maneiras de lutar.
Diante das mudanças que afetavam dramaticamente suas vidas aqueles subalternos resistiram, se
organizaram, protestaram, reivindicaram, exigiram. Já aprendemos algo sobre como eles foram
afetados pelas grandes barragens graças ao inestimável trabalho de alguns cientistas sociais. As
perguntas que ainda precisam ser feitas não são somente sobre o que os atingiu, mas também
sobre como reagiram? Como lutaram? Mais especificamente: como se organizaram para lutar?
Quais objetivos os subalternos elegeram, como traçaram suas estratégias e como construíram
suas armas? Subalternos? O conceito é útil para identificar os protagonistas do “rio de lutas” por
duas razões. Marca, em primeiro lugar, uma situação definida por oposição aos grupos sociais que
detinham o poder sobre as decisões estratégicas e que usaram este poder de várias maneiras. O
Estado é o mecanismo decisivo e o mais evidente deste poder cujas raízes, no entanto, penetram
fundo no solo da vida econômica e social. A segunda razão deriva do desafio de dar conta da rica
heterogeneidade de grupos sociais que tomaram parte no “rio de lutas”. Não era um conjunto
humano unificado nos planos político, intelectual ou moral e nem mesmo submetido a experiências
semelhantes de exploração do trabalho, o que dificulta o emprego do conceito de classe, no
singular, para se referir a eles. O que descobrimos, no entanto, é que a história de suas lutas foi,
ao mesmo tempo, a história da construção de laços e alianças entre os diferentes grupos.
250
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
252
mecânica conduz o jogo de forma que, nas primeiras dez rodadas haja um desenvolvimento
lento. A maioria dos recursos coletados serve apenas para a subsistência do grupo. Quando os
recursos terminam, os grupos humanos devem se movimentar pelo tabuleiro levando a própria
aldeia neste deslocamento. Isso muda com a domesticação e o desenvolvimento da pecuária e
agricultura. Currais e plantações só produzem se estiverem contínuos à aldeia, estimulando que
os estudantes não as desloquem mais. As tecnologias possuem um impacto transformador nas
ações do jogo e, consequentemente, na ação humana: é apenas a partir da sedentarização dos
currais e das plantações, além das tecnologias que aumentam a produtividade que os jogadores
conseguirão acumular alimentos para o crescimento da população. A proposta como um todo, por
mais que possua cartas explicativas, baseia-se na imersão dos estudantes no jogo, que procura
embutir em sua mecânica elementos de um processo histórico a ser desdobrado em ato de jogo.
Resumo: Preparar uma aula que cative a atenção dos alunos e os façam entender o conteúdo
proposto é sempre um desafio, principalmente se levarmos em conta que lidamos com um assunto
tão abstrato quanto o tempo. Ao procurar modos de fazer a aula funcionar, os jogos didáticos
aparecem como metodologia inovadora, que trazem mudança às tradicionais aulas expositivas ao
proporem a brincadeira como método de ensino. Entretanto, esse meio de ensinar não deixa de
levantar algumas questões quanto à qualidade dos resultados que traz. Com o objetivo, então, de
analisar tais propostas, propusemos o desenvolvimento e a aplicação de um jogo de cartas com
crianças do sexto ano do Ensino Fundamental. O jogo “Mithistória” foi criado, por professores
do Colégio de Aplicação da UFRGS, através de uma pesquisa sobre história e mitos greco-
romanos, juntamente com o estudo de mecânicas de jogo e aplicado com o auxílio da observação
participante, metodologia que coloca o pesquisador em contato direto com seu objeto de estudo.
Dessa forma, podemos testar tanto os resultados que os jogos podem trazer ao processo de
aprendizagem quanto o funcionamento do próprio jogo. Esse estudo se justifica, portanto, ao
propor um jeito diferente de trazer a atenção do aluno ao conteúdo, ao mesmo tempo em que
se propõe a verificar se esse método pode mesmo agregar conhecimento à sala de aula. O jogo é
dividido em quatro naipes: história grega, história romana, mito grego e mito romano. Além dos
naipes, as cartas são divididas em 4 categorias: ser, objeto, local e ação. Cada um dos naipes possui
4 narrativas gabarito, que narram um pequeno processo histórico ou alguma passagem mítica
com coerência. A partir da possibilidade dos alunos combinarem cartas, baixarem jogos e irem
alterando os mesmos com trocas de cartas, o jogo propõe que narrativas sejam criadas entre os
elementos, sem que se misturem História e mito. Desse jeito, o jogo possibilita o passeio do aluno
entre conhecimento histórico e diferenciações entre mito e história. Mithistória funciona, assim,
como uma ponte ao aprendizado do estudante, fazendo a ligação entre jogo e conhecimento
possível (FORTUNA, 2013, p. 52). No momento em que o jogo foi colocado em prática foi possível
observar que, com a devida atenção, os alunos entenderam e se organizaram de forma rápida,
restando dúvidas que logo foram solucionadas pelos professores que ministraram a aula. Como
geralmente se nota, alguns alunos se envolveram mais com o jogo do que outros, mas nada que
colocasse o andamento da brincadeira em risco. Por fim, foi possível notar que jogo dá escopo a
novas habilidades e aprendizagens que poderiam não se manifestar em meio a uma aula tradicional,
possibilitando que o aluno participe ativamente na construção de conhecimento.
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Jogos digitais: Ensino de História: Uma intervenção pedagógica a partir de narrativas
multiformes
ROSINEY DA SILVA DOS SANTOS (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA)
Resumo: Esse artigo tem como pretensão demonstrar algumas das mais recentes propostas de
estudo sobre jogos eletrônicos e sua relação com ensino de história. Dentre essas pesquisas,
selecionei aquelas que buscam analisar a relevância das narrativas presentes nesses jogos, para
além de característica “primária” de contar a história do jogo ou de personagens, mas também
com o propósito de permitir apropriações simbólicas sobre o universo do jogo em sua esfera
temporal e cultural. Assim sendo é de grande importância a análise das narrativas denominadas
multiformes, muito presente nos jogos digitais e em outras áreas como a literatura e o cinema,
para entender sua capacidade de propiciar diferentes leituras e experiências sobre um mesmo
tema, já que acrescentam ao conteúdo da mídia (seja ela um jogo ou um filme) simultaneidade de
acontecimentos e espaço para inferências particularizadas por parte de quem lê, assiste ou joga.
Pensando em jogos eletrônicos como ferramenta de mediação da aprendizagem no contexto
proposto pela didática da história (a qual sugere a inclusão de novas linguagens ao ensino de
História) é fundamental discutir as possibilidades pedagógicas que os jogos eletrônicos oferecem,
a partir da percepção sobre narrativas multiformes, presentes nos jogos, como um elemento
capaz de propor múltiplos conteúdos numa mesma história.
Resumo: Nas últimas duas décadas, as interfaces entre História, de uma forma geral, e do Ensino de
História, em particular, com os games têm sido objeto de investigação de diversos autores. Entre
eles, alguns chamam a atenção para a potencialidade na utilização de jogos virtuais comerciais em
atividades práticas, no entanto, naturalmente devemos nos perguntar: como promover o jogar
de jogos digitais no interior dos espaços escolares? Os estudantes de escolas públicas possuem
amplo acesso ao universo dos games em suas casas? A dificuldade em responder tais perguntas de
forma a propiciar a efetiva utilização de jogos virtuais como material didático, não impossibilita,
por outro lado, o diálogo com tal universo. A presente comunicação tem como objetivo analisar
os resultados obtidos em atividades práticas de roteirização de games com estudantes do último
ano de cursos técnicos integrados ao ensino médio, de uma instituição federal de ensino do sul de
Minas Gerais. Diante da impossibilidade de efetivamente se dedicar a jogar no contexto de sala de
aula, a roteirização de games dialoga de forma transdisciplinar com outras áreas do conhecimento
e, principalmente, com os interesses e conhecimentos adquiridos pelos estudantes em vivências
fora da escola. Concordarmos com Cipriano Luckesi, para quem a ludicidade é uma experiência
interna do sujeito que pode ser alcançada por estímulos externos que não necessariamente
devem estar ligados ao efetivo jogar ou ao entretenimento. Nesse sentido, a liberdade criativa
no desenvolvimento dos roteiros possibilita estabelecer pontes entre as atividades escolares e as
não-escolares de forma a propiciar o efetivo engajamento discente.
254
Viajando pelo Tempo e Espaço do Rio de Janeiro: a produção de materiais didáticos digitais
RENAN CARVALHO WENDERROSCK (CNPQ)
255
hipótese é a de que tal estrutura procedimental, ao delimitar as ações disponibilizadas à agência
do/a jogador/a, oferece um quadro para que este/a elabore suas próprias narrativas históricas
dentro dos contornos previamente estabelecidos da cultura histórica presente no jogo. Por fim,
nosso questionamento se volta para até que ponto os/as jogadores/as, ao ressignificarem suas
experiências de jogo, incorporam ou rejeitam tal enquadramento na elaboração de suas próprias
narrativas, mobilizando em suas ficções de inspiração histórica modelos de organização do tempo
histórico que contrastam ou se aproximam com aqueles disponibilizados pelos softwares.
Resumo: 1684, ano da graça do Nosso Senhor Jesus Cristo. A Cidade de São Salvador da Bahia
se via assolada por mais um surto de bexiga - ou como conhecemos em nossos dias - varíola
(Orthopoxvirus variolae). Essa é a trama central de “A Cura. A epidemia da varíola na Bahia Colonial
(1680-1684)”.
Baseado na estrutura dos lúdicos e populares jogos de RPG (mais especificamente em D&D), “A
Cura” foi planejado e adaptado para ser utilizado como ferramenta para ensino de História em sala
de aula. Com cinco ou seis jogadores por equipe, um dado, algumas cartas mestras, a narração do
mestre/professor (a) e a sua mediação, este jogo busca consolidar conhecimentos sobre História
do Brasil e da Bahia no período colonial, desenvolver a reflexão crítica sobre a História e trazer
ludicidade ao ambiente escolar.
Resumo: O período histórico que compreende a idade média é um dos que mais despertam a
curiosidade da sociedade, as histórias de cavalaria, das guerras santas, o modelo de vassalagem,
são objetos que atiçam o imaginário da contemporaneidade de forma que diversas obras
literárias, cinematográficas e jogos de tabuleiro buscam retratar o sentimento do medievo e
suas mentalidades. Os jogos eletrônicos também tentaram encapsular tal sentimento desde
seus primórdios, sendo jogos de temática medieval bastante comuns em todas as temporadas de
lançamentos. Desses jogos muitos buscam passar o sentimento fantasioso que a sociedade tem
sobre o período medieval, com exceções de alguns jogos que tentam passar um sentimento mais
realista de como se vivia naqueles tempos.
Nesse sentido existem alguns jogos de estratégia que buscam retratar o período com uma maior
fidelidade, dada as fontes sobrevividas e consultas com historiadores que se especializam no
período medieval, é dai que surgem jogos como Assassin’ s Creed, Age of Empires II, Strong Hold,
Medieval: Total War I e II, Anno 1404, que tentam transmitir o sentimento de se viver na idade
média. É nesse sentido que Crusader Kings II busca dar um sentimento extremamente realista de
como se é a vida de um senhor feudal durante o período medieval, com o jogador podendo jogar
como conde, duque, rei ou imperador, podendo até começar como um simples conde e ascender a
sua dinastia até o controle de impérios. O jogo se sobressai sobre outros simuladores por não se
focar no apenas no papel da guerra no período medieval, mas pela profundidade que dá aos outros
aspectos da vida de um senhor no medievo, tais como a diplomacia, intriga, negócios, religiosidade
e conhecimento, de forma que cada personagem que o jogador assume o mundo pode a vir ter
256
uma forma diferente de reações as escolhas do personagem. O jogo pode durar desde a ascensão
de Carlos Magno ao trono franco em 768 até a queda de Constantinopla em 1492, e o jogador em
controle de uma dinastia que deve durar até o fim do jogo evitando a destruição. O objetivo deste
trabalho é fazer uma análise de como Crusader Kings II se utiliza do imaginário contemporâneo
sobre o período medieval para criar um universo que se assemelha ao medievo.
Resumo: Desde o grande aumento do consumo de jogos eletrônicos nos anos 1970, principalmente
com os arcades, a indústria dos jogos cresceu rapidamente, chegando a um movimento de 120.1
bilhões de dólares em 2019, segundo a firma de análise de mercado SuperData . No mesmo
ano, hollywood movimentou cerca de 42.5 bilhões de dólares . Com esse crescente aumento
de consumo, podemos perceber o aumento da cultura dos jogos mundialmente, se tornando
necessário ampliar as pesquisas que englobam os jogos eletrônicos. Nesse crescimento, nasce
a série de jogos Sid Meier’s Civilization, que revolucionou o formato TBS, (Turn Based Estrategy
ou Estratégia baseada em turnos) onde o jogador escolhe o controle de uma entre as Civilizações
disponíveis. O jogador deve então guiar uma Civilização “pelo teste do tempo”, iniciando sua
jornada em 4000 A.C, e podendo alcançar o que seria um futuro próximo de colonização espacial.
Dessa forma, o jogador não passa pela “história universal” do mundo, mas cria uma história contra
factual com os elementos do nosso mundo conhecido.
Assim, o presente trabalho busca entender como funcionam as representações criadas pelo Sid
Meier’s Civilization IV, usando como base o texto “Understanding representation in playable
simulations”, dos autores Mike Treanor e Michael Mateas, que entendem que as simulações jogáveis
criam diferentes representações. A partir disso, discutiremos como trabalhar com o conceito de
Princípios trazido pelos autores, que traz esse conceito como resposta, para que seja possível a
análise de uma simulação jogável que é capaz de criar inúmeras representações. O estado atual do
trabalho é a leitura e a conexão da bibliografia com o objeto Sid Meier’s Civilization IV.
257
Poesia e política: Feminismo, luta de classes e antirracismo em Jacinta Passos
IRACÉLLI DA CRUZ ALVES (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)
“Tire seu terço do meu útero”: Católicas pelo Direito de Decidir e o debate sobre a Teologia
Feminista
RAQUEL CARNEIRO SOARES (UNEB)
Resumo: As Católicas pelo Direito de Decidir surgem (CDD) no Brasil em 1993, o grupo feminista
259
luta contra ordens fundamentalistas que regem diversas instituições, e a favor dos direitos e a
liberdade feminina, tendo como principal bandeira a legalização do aborto. Este trabalho faz parte
do meu projeto de conclusão de curso o qual trata das CDD com o recorte geográfico em Salvador,
e com um recorte temporal nos anos 2000, sendo essa uma pesquisa em andamento. As CDD
utilizam sobretudo da Teologia Feminista a qual Pereira (2003) observa sendo uma ferramenta de
re-interpretação de velhos modelos e de construção para novas possibilidades no mundo cristão.
O objetivo é compreender as relações e enfrentamentos vivenciadas pelas CDD dentro da Igreja
Católica, visto que há uma grande invisibilidade e desconhecimento sobre o grupo e sua trajetória.
Foi utilizada a historiadora Joan Scott (1990) para entender os significados em torno do gênero e
suas relações de poder, no debate sobre teologia feminista Neiva Furlin (2011) e Nancy Cardoso
Pereira (2003) em diferentes abordagens tratam de fases, fundamentos e objetivos que compõe
a teologia feminista. O trabalho em construção é uma pesquisa qualitativa, que tem como base o
cruzamento de fontes escritas das próprias CDD, como por exemplo, suas cartilhas informativas,
e fontes orais através de entrevistas com membras e ex membras do grupo na cidade de Salvador.
Resumo: A luta feminista foi marcada historicamente pela defesa da vida das mulheres, com pautas
diversas, que foram se ampliando e se modificando ao longo do tempo, incorporando pessoas
LGBTQI+, negras e indígenas, entre outrxs. Os feminismos são diversos, plurais, multifacetados,
assim como o são xs sujeitxs; no entanto, tanto no Norte quanto no Sul global um processo de
negação dessa diversidade contribuiu com a invisibilidade da existência de algumas pessoas e
experiências. A partir dessas percepções, nessa comunicação pretendo: 1. Refletir sobre novas
possibilidades de construção do conhecimento feminista que nos provoque a romper com
os extrativismos epistêmicos, para que seja possível emergir pluri-racionalidades nas nossas
pesquisas. 2. Propor uma produção do conhecimento tecida a partir da vida, das práticas, das
experiências, para romper com uma ciência dicotômica que opõe razão/emoção, homem/mulher,
civilizado/primitivo, cultura/folclore, cabeça/corpo, entre outras, para que seja possível criar
cenários epistemológicos onde a emoção, os sentimentos e o afeto sejam considerados como
parte da produção de saberes e da produção das lutas.
260
de comportamento destinados não apenas para o público de leitoras, mas também ao de leitores.
No século XIX, a imagem da prostituta foi sendo construída pelo discurso médico, literário e
jurídico, na borda de instituições como a Família, o Estado e a Igreja, que relacionavam o comércio
do prazer ao vício, o não-trabalho e a prostituta como principal foco para proliferação de doenças
venéreas. Ao definir a prostituição como pecado e a prostituta como pecadora, portanto, o autor
acreditava que a razão pela qual muitas das mulheres do período acabavam aderindo a essa
prática se devia, na maioria dos casos, à influência de homens, que dependiam de seus serviços
e lucravam com eles. De acordo com Luís Filipe Ribeiro (2008), o casamento era então apontado
por Alencar como a melhor solução, tanto para as moças, quanto para os rapazes. Tal desfecho,
por sua vez, era aplicado à maioria das personagens femininas nas obras de caráter pedagógico
de Alencar, que considerava nelas o matrimônio cristão como uma possibilidade de redenção. Em
“As Asas de Um Anjo”, porém, essa conclusão gerou alguma polêmica na época entre os jornais
e a polícia, culminando na suspensão das dramatizações da peça, por considerarem seu texto
imoral e o matrimônio de uma prostituta com um homem da sociedade algo inconcebível. Dessa
forma, consideramos esse debate, travado nas páginas do “Diário do Rio de Janeiro” em 1858,
bastante relevante para se entender uma ideia de moralidade corrente no período em questão,
bem como a visão do autor sobre o ideal de comportamento masculino, que deveria ser seguido
pelo público a partir da leitura das referidas peças. Daí a importância de textos como “As Asas
de Um Anjo” e “Expiação”, que, por sua vez, nos possibilitam entender como a imagem do vício
ligado à prostituição foi traduzida para os leitores do oitocentos, bem como as representações
das relações de gênero estabelecidas do período.
Maria Quitéria nos relatos de Maria Graham: “pois o espírito do patriotismo não foi confinado
somente nos homens”
Marianna Teixeira Farias
261
Pedro Porreta e Josepha: masculinidades negras e violência de gênero, Salvador, 1920-1931
ADRIANA ALBERT DIAS
262
Da lascívia dos nativos brasileiros na literatura de viagem (séculos XVI – XVII)
FERNANDO MARQUES DE MELLO JÚNIOR (FB - FACULDADE BARRETOS)
Resumo: Durante os três séculos que se seguiram ao desembarque de Cabral nas costas do
Novo Mundo, as letras estrangeiras criaram e moldaram os contornos do que viria a ser o Brasil
e suas gentes para o habitante do Velho Mundo. A natureza do lugar, exuberante e pródiga, não
demorou a arrancar elogios dos visitantes europeus. Dotada de uma fauna e flora maravilhosas e
de difícil descrição – afinal faltava aos viajantes vocábulo adequado para descrever as maravilhas
que testemunhavam –, a natureza bondosa e selvagem do novo continente foi assunto constante
nas relações de viagem do período colonial. Paralelamente a tal construção, as letras europeias
dedicaram vários parágrafos para esquadrinhar as gentes que aqui habitavam: homens e mulheres
quase sempre desmerecedores de gozarem das maravilhas do lugar. Há, claramente, nas relações
de viajantes, a contraposição entre a prodigalidade do novo continente e a qualidade dos seus
habitantes, descritos, na maioria das vezes, de maneira pouco abonadora. Assim, os nativos
chamarão a atenção dos primeiros visitantes em virtude de seu modo de viver completamente
diferente dos vigentes na velha Europa. Bestiais, destemperados sexualmente, canibais, violentos,
desconhecedores do Santo Evangelho – para nos atermos apenas aos atributos mais mencionados
pelos viajantes –, os nativos serão objeto de análise de vários textos europeus ao longo,
principalmente, dos séculos XVI e XVII, período em que ainda não dividiam a atenção dos olhares
estrangeiros com os colonos que, aos poucos, passavam a fazer parte da paisagem do Novo Mundo.
Assim, a comunicação proposta visa analisar brevemente o que escreveram os viajantes europeus
a respeito de um dos muitos aspectos comentados da vida ameríndia: sua suposta lascívia. Dito
de outra maneira, o presente trabalho visa abordar a maneira como o comportamento sexual
dos nativos, em especial das mulheres silvícolas, foi descrito pela literatura europeia produzida
entre os séculos XVI e XVII como destemperado, lascivo e prejudicial ao corpo em virtude de
seus excessos. Por fim, é digno de nota que compreender o contexto e a maneira como se deu a
construção da imagem dos nativos e de seus hábitos pelas relações europeias – textos que, como
mencionado, criaram os contornos do Brasil e de sua gente que circularia na Europa –, pode ser de
grande valia para desnaturalizar atributos que, ainda hoje, parecem constitutivos de uma suposta
natureza da população indígena do Brasil, afinal, a elite intelectual brasileira que frequentaria
os bancos das universidades europeias ao longo do século XIX entraria em contato com as ideias
propagadas pelas relações de viagem e as divulgaria em solo brasileiro.
263
contratempos enfrentados e as potencialidades deste campo de estudo, especialmente a partir
de uma abordagem articulada com os estudos de gênero. Para tal, este trabalho será dividido
em três momentos. No primeiro, aponto algumas das principais abordagens defendidas pela
historiografia do período; no segundo, apresentarei as fontes médicas que tratam do erotismo
e afeto entre homens organizadas em dois conjuntos, um mais aderente ao campo da higiene e
outro ao domínio da psiquiátrico e médico legal, com suas aproximações e distanciamentos; e, por
fim, de que maneira os estudos de gênero auxiliam na análise desta documentação, driblando a
diversidade terminológica e a aparente ausência de menções ao erotismo e afeto entre homens
no período.
Educação Inclusiva e o Projeto Escola Sem Homofobia (Programa Brasil Sem Homofobia,
2004-2011)
JHONATAN DA SILVA QUEIRÓS
264
Para fins de metodologia do estudo, será realizado uma breve discussão sobre a introdução da
temática de Orientação Sexual nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) - PCN - e a partir
disso faremos uma análise do documento Escola sem Homofobia (2011). A finalidade primordial
é apontar quais são as demandas na Educação Básica que esse público anseia, suas conquistas
e horizontes junto ao Ministério da Educação. É importante apontar que a comunidade LGBTI é
um grupo de minorias que sofre bastante com a violência homofóbica, essa violência nos faz ter
condições de vida muito precárias, isso fica evidente quando há um grande índice de pessoas dessa
comunidade fora dos espaços formais de educação, em condições precárias de emprego ou em
subempregos, a marginalização constante pela segurança pública, condições de saúde psicológica,
física e emocional bastante prejudicadas por conta da violência institucional e indicadores cada
vez maiores ano a ano quando o assunto é assassinatos. Em decorrência da violência sofrida
buscam na organização de entidades representativas, organizações sociais sem fins lucrativos ou
coletivos de militância política, um canal para alcançar melhores condições de vida, que em parte
são comuns a toda classe trabalhadora - educação, saúde, transporte, moradia - e, por outro lado
os que são específicos às suas demandas.
Resumo: Este trabalho é resultado dos estudos que estão sendo realizados para a dissertação do
mestrado, cujo o objetivo se relaciona ao estudo da História Comparada das mulheres militantes em
Portugal e no Brasil, em períodos ditatoriais. Esse estrado da pesquisa, que ora será apresentado,
visa compreender os lugares de atuação das mulheres, principalmente no Movimento Estudantil,
bem como identificar como estavam sendo estruturadas as relações de poder e as atividades que
as mulheres exerciam. A respeito de Portugal as fontes problematizadas serão principalmente
os relatos das militantes encontrados no arquivo Mulheres de Abril. No que tange ao Brasil, o
enfoque será no Relatório da Comissão de Memória e Verdade – Milton Santos, realizado em
2014, e em entrevistas, que já foram realizadas. Respeitando os limites e os cuidados relacionados
a História Comparada, pretende-se observar os eixos em que essas atuações se assemelham e
possuem diferenças nos dois países em questão, com base em seus contextos singulares. Para
analisar esses discursos narrativos, empregaremos os conceitos de memória dados pelos autores
Aleida Assman (2011), Maurice Halbwachs (2006), como também as críticas argumentadas por
Pollack (1992). Também nos interessa as observações sugeridas por Sarlo (2007). Em virtude dos
fatos mencionados, pretende-se contribuir para a apreensão das relações de gênero nos contextos
ditatórias em Portugal e no Brasil.
Resumo: O artigo aqui proposto apresenta os passos iniciais da pesquisa de doutorado que
desenvolvo no Programa Multidisciplinar Cultura & Sociedade da UFBA na qual almejo produzir
uma genealogia dos artivismos das dissidências sexuais e de gênero no teatro baiano durante o
265
regime civil militar brasileiro, recortando um período histórico que vai de 1968 a 1984. Acionando
alguns conceitos forjados pelo campo dos estudos queer, tais como biopolítica (FOUCAULT,
1999), assujeitamento (FOUCAULT, 1982), sexopolítica (PRECIADO, 2011), heternormatividade
(BUTLER, 2001), abjeção (BUTLER, 2015), e, a partir da leitura de pesquisa nos jornais A Tarde e
Tribuna da Bahia, entre os anos de 1960 a 1988, e documentos da Delegacia Municipal de Jogos e
Costumes (DJC) da cidade de Salvador, analiso a atuação deste órgão na repreensão e prisão dos
corpos sexo e gênero dissidentes da cisheteronormatividade. Neste estudo compreendo a DJC
como um aparato tecnopolítico que tinha como função social produzir corpos abjetos por meio
da instauração da vigilância moral do comportamento da população soteropolitana legitimada
pela produção do discurso de defesa da família e do regime da cisheteronormatividade, ambos
necessários à sustentação do regime de exceção vigente no Brasil. Deste modo, a polícia se
inscrevia enquanto um aparelho social de controle e punição às práticas sexuais não procriativas e
à presença de corpos e desejos dissidentes revelando uma biopolítica na qual somente os corpos
legíveis pela matriz cisheternormativa são aceitáveis, compreendidos e reconhecidos como vidas
vivíveis, enquanto que as demais corporalidades e práticas não assujeitadas e que, portanto,
se situam como corpos impensáveis, não inteligíveis, são assimilados como abjetos e arrolados
para fora da categoria do cidadão e do humano, sendo passíveis de violências, silenciamentos,
invisibilidades e morte.
266
baiana rejeitaram/contestaram o casamento tradicional e as feminilidades e masculinidades tidas
como “aceitáveis” e “normais”? Estas são algumas das perguntas levantas por esta comunicação,
assim, como também, espera-se contribuições teóricas, metodológicas e de acesso a fontes de
pesquisadores/as sobre este movimento e momento histórico, durante a apresentação, para
aprimoramento e escrita de projeto de doutorado em andamento.
Inquéritos e processos criminais: considerações sobre o uso destas fontes históricas para a
análise do cotidiano de mulheres pobres do início do século XX.
STEFANIE ROCHA CARNEIRO PINHO
267
na memória histórica. Mas há ressaltas quanto a esta teoria, pois pesquisas apontam que este
gênero nunca deixou de ocupar as ruas, especialmente a parcela pobre e afro-brasileira, que
tirava o seu sustento labutando por tais locais. E é sobre estas mulheres, seus conflitos, vivências
e discursos que as fontes policiais costumam tratar e por isso, permitem encontrar percepções
referentes ao cotidiano em que viveram. Os populares, notadamente as mulheres analfabetas,
não se expressavam em outro meio que não fosse em seus depoimentos policiais. Portanto, a via
de expressão dos depoimentos criminais foi a que permitiu chegar o mais próximo que se pode
das mulheres pobres que viveram sob a influência das iniciativas e projetos de modernização
e civilização do governo republicano. Ressalta-se, contudo, que o tratamento das fontes exige
do historiador(a) uma metodologia específica que lhe permita extrair indícios do cotidiano dos
envolvidos nos crimes, sem negligenciar as particularidades de tais documentos, tais como seu
meio de produção, autores e manipulação de informações. Sendo necessário, assim, atentar para
o seu contexto de produção, levando em conta os imbricamentos de raça, gênero e classe como
eixos norteadores da pesquisa. Espera-se com este trabalho, contribuir metodologicamente para
os estudos históricos na área da história das mulheres, estudos de gênero e análises interseccionais
do cotidiano.
Resumo: A violência doméstica voltada contra as mulheres sempre foi um traço da cultura
268
brasileira. A Lei Maria da Penha inaugurou um novo capítulo no enfrentamento contra a violência
sofrida pela mulher no âmbito doméstico. Dessa forma, ressalta-se a importância de se pesquisar
sobre quais fatores levaram uma sociedade omissa quanto à violência doméstica a se transformar
em uma sociedade em que o Estado ampara a vítima com diversas medidas protetivas e pune
de forma mais eficiente o agressor. Delimitamos nossas balizas cronológicas entre o período de
1975 a 2006. Tal recorte justifica-se com o início do período declarado pela ONU como a Década
da Mulher em todo o mundo e com o ressurgimento do feminismo no Brasil. Nesta época o
Brasil estava numa ditadura militar, mas, apesar da violência e repressão que caracterizaram o
governo, é também na década de 1970 que surge a segunda onda do feminismo no Brasil, em que
alguns grupos se organizaram e disseminaram ideias feministas. Em pese que existem estudos
historiográficos sobre a violência doméstica, os que pesquisam dentro do período proposto são
raros. Quanto ao aspecto teórico-metodológico essa pesquisa pretende se inserir no campo da
História Social e do Estudo de Gênero e Memória.
As práticas do cotidiano, o ordenamento jurídico, os discursos médicos, os jornais costumeiramente
ratificavam práticas machistas. O movimento feminista teve um papel importante para o início da
reversão desse quadro; a Lei Maria da Penha foi um grande avanço das conquistas feministas no
Brasil. Mas, pesar de alguns avanços contra o machismo na sociedade brasileira, esta ainda está
impregnada de práticas que não refletem a igualdade entre gêneros. Enfatiza-se a relevância do
estudo da violência doméstica em Feira de Santana, que historicamente foi reconhecida como um
lugar de muita hostilidade. É essencial a compreensão de como o ideal de comportamento nesta
cidade influenciou a diminuição da agressividade entre as pessoas quanto especificamente à
violência doméstica e se as formas com que estimularam a passividade e a civilidade foram eficazes.
Para isso, pretende-se identificar se os debates feministas corroboraram para a promulgação da
Lei Maria da Penha; analisar a violência doméstica em Feira de Santana em casos de homicídios e
lesões corporais; discriminar a violência doméstica em Feira de Santana por bairros, estabelecendo
relações entre os condicionantes raciais, sociais e econômicos.
Resumo: Este artigo é fruto da pesquisa, ainda em fase inicial, “Violências contra as mulheres
na História do Brasil: reflexões e formas de enfrentamento”. Visamos contribuir com reflexões
acerca das dificuldades que muitas mulheres baianas cis/hetero encontram para prestar queixa
nos casos de violência doméstica. Utilizamos o conceito de estigma de Goffman (2019), a partir
da perspectiva da autora Dominique Ribeiro (2013), bem como as reflexões sobre a Tolerância
Institucional às violências contra as mulheres (PEREIRA, 2014). Partimos da hipótese de que
tanto os estigmas atribuídos às mulheres, quanto a tolerância das instituições – o Estado e seus
equipamentos, delegacias e hospitais – a determinados tipos de violências, são fatores importantes
a serem analisados quando se trata das dificuldades das mulheres cis/hetero em registrar a queixa
crime contra seus agressores. Em que pese os avanços dos movimentos feministas, ainda hoje
mulheres são educadas dentro de uma perspectiva binária que tece uma rede de características e
muitas vezes reforçam um lugar de subalternidade perante situações de violências (psicológicas,
morais, patrimoniais ou físicas). Goffman (2019, p. 12) caracteriza o estigma como a exclusão
do sujeito em alguma categoria socialmente aceitável, pois “deixamos de considerá-lo criatura
269
comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída.” Muitas vezes a própria pessoa
estigmatizada passa a acreditar no estigma, sentindo-se incapaz de romper com o ciclo vicioso da
violência e “tende a ter as mesmas crenças sobre sua identidade que os outros possuem sobre ele
(...) mera imputação social depreciativa, capaz de convencer o próprio estigmatizado” (RIBEIRO,
2013, Pp. 15-16). Além disso, o estigma também reforça a violência refletida no tratamento
dado às mulheres violentadas na maioria das instituições estatais e seus diversos equipamentos
– configurando no fenômeno da Tolerância Institucional à Violência contra as mulheres – e,
consequentemente, criam barreiras para a denúncia. O conceito de interseccionalidade foi basilar
para o entendimento de como diversas violências se cruzam e desmobilizam as vítimas a denunciar
os seus agressores (PEREIRA, 2014). Para a realização deste debate, além das autoras e do autor
mencionados, também dialogamos com Bourdieu (2014), Saffioti (2015), Davis (2016), Sardenberg
& Tavares (2016) e Crenschaw (2002) – em articulação com a análise da Lei 11.340/2006, dos dados
dos mapas das violências, da cartilha do CFEMEA e de algumas notícias dos anos 2000, em jornais
baianos, sobre casos de violência doméstica. Esta é uma contribuição para a reflexão sobre o tema,
não tendo, portanto, nenhuma intenção de trazer respostas acabadas e/ou encerrar o debate.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo em abordar as marcas agressivas da violência que
culturalmente vem marcando a sociedade brasileira em que as mulheres carregam nos dias atuais,
insistindo em manter a cultura do feminicídio. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
em 2020, esta situação não mudou. Com a Pandemia do covid-19, houve um aumento crescente
de violência contra a mulher devido a necessidade de manter-se em casa. Aborda o conceito de
gênero, apresenta dados estatísticos que revelam o quanto as mulheres ainda são violentadas
em número elevadíssimo. A casa, moradia, lar são considerados lugares que as pessoas habitam
constituem a família. O lar é considerado o lugar de proteção onde às pessoas podem descansar
após realizar suas tarefas ao longo do dia. As relações simbólicas como afetividade entre os
membros da família para consolidar a união como uma forma de proteção e cuidados dos adultos
a crianças que residem na casa, no entanto é neste espaço que houve o crescente número de
violência doméstica. Autores que embasam a pesquisa: RIBEIRO Djamila, (2016); JUNIOR, Ivan
Franca; Oliveira. Ana Flávia P.L. de; OLIVEIRA, Elaine A. De; SCHRAIBER, Lilia B& STRAKE, Silvia
S.(2000); Joan Scott, (1998); DISCHINGER, Marta, (2015).
Resumo: Este trabalho visou verificar a presença feminina nos cursos de engenharia da Escola
Politécnica da Universidade Federal da Bahia (EPUFBA), no período de 1897 a 1970, a partir
dos dossiês das discentes custodiados no Memorial Arlindo Coelho Fragoso (MACF). Durante
participação no projeto de extensão no MACF, foi observada recorrente procura dos usuários da
unidade por documentos referentes a Carlos Marighella, Norberto Odebrecht, Miguel Calmon,
270
Octávio Mangabeira, entre outros homens, que foram discentes da Escola. Esses são destacados
em produções e narrativas que envolvem a EPUFBA e o desenvolvimento do estado e do país. Em
contrapartida, a documentação relativa às alunas não era referenciada e/ou pesquisada, e, por
isso, questionou-se a participação das mulheres na área da engenharia neste mesmo universo. Essa
pesquisa de caráter documental e descritiva, assim como um estudo de caso, identificou as alunas
da Escola Politécnica desde a fundação até o fim da década de 60, e buscou traçar o perfil das
jovens que tiveram acesso ao ensino superior no referido recorte. Para alcançar estes objetivos,
utilizou-se a técnica de observação sistemática, com elaboração de um roteiro, e a abordagem
qualitativa na análise das informações, apresentando também dados quantitativos. As fontes
primárias como curriculum vitae, procurações, ofícios, fotografias, recibos de pagamento de taxas,
solicitações de matrícula semestral, grade curricular semestral, históricos escolares do ginásio,
histórico escolar do curso superior, provas do concurso de habilitação ou vestibular, certidão
de nascimento e casamento, fichas de cadastro do aluno e carteira de vacinação, que são itens
documentais preservados nos dossiês no acervo do Memorial, possibilitaram a realização dessa
investigação que pretende contribuir com a história das mulheres e suscitar mais questionamentos
dessa realidade passada para culminar na compreensão do presente. Ainda nesse percurso, são
pontuados o início das instituições de ensino superior no Brasil, o ensino de engenharia no país e a
Escola Politécnica da Bahia, o desenvolvimento do acesso da mulher à educação neste panorama,
para, por fim, relatar os resultados obtidos sobre as estudantes dessa Escola de longa tradição
regional e nacional. Observou-se, em suma, que as mulheres foram 2,2% do alunado em 73 anos
da Escola, em sua maioria branca, jovem (entre 17 e 19 anos) e da classe média da capital baiana,
expondo a realidade de renegação do ensino superior às mulheres e estratificação do saber.
Resumo: Esse trabalho visa discutir as sociabilidades das mulheres soteropolitanas, negras e pobres
nos primeiros 50 anos da República, frente às múltiplas modificações que vão sendo operadas nas
cidades nesse período, tanto no que concerne a sua estrutura urbana quanto nas novas formas
de associação amorosa e de lazer que vão sendo incorporadas pelas camadas populares baianas
sob os auspícios dos discursos de modernidade amplamente difundidos pelos jornais. As disputas
advindas da convivência de práticas tradicionais, no concerne ao comportamento feminino, e
as novas formas de entretenimento, lazer e práticas amorosas iram gerar contradições na qual
valores como honra, namoro, modernidade e as sociabilidades femininas estarão em conflitos.
“Gentis senhoritas da nossa elite social”: a “Paris Sertaneja” como espaço de relações de
gênero
VANESSA NASCIMENTO SOUZA
Resumo: Desvendar o cotidiano das mulheres das famílias abastadas da “Paris Sertaneja”, entre
1940 e 1970 é o foco desta pesquisa. Paripiranga localiza-se na divisa entre Bahia e Sergipe, com
seu clima seco no verão e frio no inverno, e tendo como base econômica a agricultura. Passava
por transformações no quesito estrutural arquitetônico do centro urbano durante o período em
destaque, já no que se refere aos valores morais ainda se percebe vestígios de uma sociedade
patriarcal e machista, mas, mesmo assim nota-se a presença feminina nos espaços públicos.
271
Convém-nos voltar nosso olhar para o espaço das relações sociais e culturais, que se entrelaçam
no passar dos tempos, numa incessante procura por uma narrativa que possibilite a visibilidade
da voz feminina no cotidiano da cidade. As mulheres da elite paripiranguense foram aos poucos
se inserindo no espaço urbano, ocupando lugares distintos, desde a sala de aula, ao cartório e o
tabelionato de notas, como também representação no cenário político local, com a eleição da
primeira mulher ao cargo de vereadora no ano de 1947. O estudo torna-se relevante por trazer
uma discussão com foco para as relações de gênero, de modo a viabilizar novos olhares sobre
a participação feminina na História Local. Para tanto, foi realizado levantamento de dados em
jornais, depoimentos orais, livros de tombo da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio e o Código
de Posturas Municipal (1928 e 1955). Constatou-se que as moças da classe dominante tiveram
muitas oportunidades, dentre as quais destacam-se o acesso ao saber e a formação profissional, e
mesmo com tantas limitações, se percebe uma inserção ativa no espaço público.
272
SESSÃO 02: 22/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
Resumo: Este trabalho objetiva refletir sobre o Ensino de História a partir da modalidade
educacional Ensino Médio com Intermediação Tecnológica (EMITec) nas Comunidades
Quilombolas Sacutiaba e Riacho de Sacutiaba localizadas no município de Wanderley-BA, de modo
a problematizar como é estabelecida a relação entre a História Local do quilombo com a História
dos manuais e consequentemente a construção da consciência histórica nos estudantes. Ao longo
da história os negros foram condicionados a uma posição de inferioridade aos brancos. Vários de
seus direitos e anseios foram silenciados e negados, principalmente no campo educacional. No
entanto, os negros constituíram importantes movimentos de lutas, os quais calcaram grandes
vitórias para este grupo da sociedade. Sendo uma, o direito à educação pública, e no que diz
respeito às comunidades quilombolas à publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Escolar Quilombola, ocorrida no ano de 2012. Tais diretrizes direcionam os sistemas
de ensino, propondo uma pedagogia própria que respeite às especificidades culturais e étnico-
raciais de cada território. No que diz respeito ao ensino da disciplina de História, é papel desta,
a contribuição para a implementação de uma educação antirracista. Assim, cabe a esse campo
disciplinar trabalhar os conteúdos gerais interligando-os com a temática da identidade negra, os
processos de luta e resistência da comunidade e os saberes tradicionais da comunidade a partir
274
da oralidade dos mais velhos. Neste contexto, deve-se trabalhar em todas as etapas da educação
básica. Todavia, o Ensino Médio ofertado nas Comunidades Quilombolas da Bahia é a modalidade
educacional com intermediação tecnológica (EMITec), proposta criada em 2010 pela Secretaria de
Educação do Estado da Bahia para garantir o acesso à etapa final da Educação Básica em territórios
longínquos. Entretanto, cabe nos perguntarmos como é realizado o trabalho com as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola e em específico ao campo disciplinar
da História como são trabalhados os processos de luta e resistência da comunidade, visto que
a aula é ministrada virtualmente. O referencial adotado se situa no campo da Educação Escolar
Quilombola com interseção do Ensino de História. Em termos metodológicos, a pesquisa configura-
se de natureza bibliográfica, para mais, faz uso de duas entrevistas realizadas com estudantes do
EMITec das Comunidades Quilombolas Sacutiaba e Riacho de Sacutiaba. Destarte, foi possível
verificar que embora tal proposta permita aos cidadãos quilombolas o direito à educação pública,
a mesma falha no que diz respeito à efetivação das Diretrizes, principalmente no trabalho com a
história da comunidade em relação com os objetos de conhecimento gerais.
Resumo: A emergência por uma educação antirracista abre o debate para introdução de vários
elementos no ensino de História, esse componente curricular, que embora seja objeto de
desprezo por parte da sociedade brasileira, tem se constituído em um espaço de transgressão para
professores, escritores e alunos de todo Brasil. O presente artigo busca o desenvolvimento da
reflexão antirracista no ensino de história, nossa abordagem parte do principio de uma educação
libertadora, transgressora e reflexiva. Utilizando os registros de batismo de negros e escravizados
na Bahia durante o século XIX, nosso objetivo e levantar a discussão a cerca de uma educação que
seja capaz de problematizar o ensino de história a partir das fontes. Debatendo com as fontes
e na historiografia, consideramos que o processo educacional precisa da inserção libertadora e
multicultural nos espaços de ensino.
Ensino de História e livros didáticos na Guiné Bissau: rever, repensar para melhor ensinar
VIRGINIO VICENTE MENDES
Resumo: O presente artigo objetiva discutir o ensino de História na Guiné-Bissau nos níveis Básico
e Secundário (Médio), como também analisar os modos como os conteúdos são abordados nos
livros didáticos, de modo a perceber os processos de transmissão de conteúdos nesse país, e se
eles se configuram em distâncias entre “objeto de representação” e “coisa representada”. Ou seja,
se há discrepância entre os conteúdos representados e ensinados em salas de aula e os fenômenos
existentes no contexto Bissau-guineense. Para a consecução deste trabalho, busca-se analisar
a necessidade de estabelecer uma construção crítica de novos currículos, de epistemologias,
didáticas e de metodologias que tomem as identidades dos muitos povos guineenses, com suas
práticas, costumes e dinâmicas culturais. Desenvolve-se a pesquisa de natureza bibliográfica e
etnográfica, fazendo uso de um roteiro de entrevista semiestruturada aplicada aos estudantes
egressos de diferentes liceus (colégios) da Guiné-Bissau e análise de livros didáticos. Os resultados
275
parciais mostram como estes conteúdos são produzidos a partir de vieses eivados de fortes
influências ideológicas pautadas em valores ocidentais, privilegiando às representações dos
povos da Europa do ocidente e seus grandes feitos. Infelizmente há relativo desmerecimento dos
conteúdos que aludem a África. Como exemplo se observa o fato de que o ensino de história, por
exemplo, se resume aos três grandes impérios, designadamente: Gana, Mali e Songhai, ao passo
que à Guiné-Bissau, em especial, é reservada tão somente o ensino do império de Kaabú de forma
resumida e superficial. Ao mesmo tempo, aborda-se os legados do PAIGC – Partido Africano da
Independência da Guiné e Cabo-Verde, e alguns de seus ilustres integrantes para se construir uma
identidade nacional, cidadania, pertencimento e o amor à pátria, também, de forma superficial.
Em suma, discute o ensino de História em contramão com as realidades históricas desse país.
Resumo: A parte Sul da Chapada Diamantina é conhecida, especialmente, pela história de duas
cidades: Rio de Contas e Mucugê. Tais cidades se destacam a partir do ciclo do garimpo do ouro e
diamante (séculos XVIII e XIX), e hoje, além de preservarem toda sua arquitetura colonial, contam
também com uma rica rotina cultural que fomenta boa parte de seu turismo. São também cidades
importantes para a história local recente da Chapada Diamantina. Em uma direção oposta, algumas
cidades desta região carecem de pesquisa, resgate e investimentos em sua história e patrimônio
histórico. O sul da Chapada Diamantina foi local de ocupação de diversos povos, desde seu período
pré-cabralino até o pós-colonial. Os povos originários deixaram uma série de pinturas rupestres,
possivelmente do período pré-cabralino, pouco exploradas e sem o devido reconhecimento
acadêmico. O acesso a alguns sítios arqueológicos carregados de arte rupestre, dentro dos limites
dos municípios de Ibicoara e Jussiape, reacende o debate sobre a importância do resgate histórico
desses locais e de suas possíveis consequências para o turismo, identidade local e educação. Para
tanto, pontua-se a necessidade do envolvimento de ações dos poderes público e privado para
preservação dos sítios históricos e da aplicação de novas ferramentas didáticas para desenvolver
o sentido de educação patrimonial nas escolas do município, base importante para o resgate de
uma parte da História da Bahia e do município de Ibicoara. Logo, este trabalho busca discutir a
história antiga local, a partir do desenvolvimento de ações que estimulem a noção de preservação
do patrimônio histórico desde o ensino básico, com vistas também ao planejamento de ações que
integrem a economia turística não-predatória na região de Ibicoara, tendo assim relevância para
toda a comunidade e historiografia da região Sul da Chapada Diamantina.
276
com estudantes do sexto ano do Ensino Fundamental, em Florianópolis/SC, no ano de 2027. A
proposta deste trabalho foi analisar o processo de ensino-aprendizagem das alunas e alunos
dos conteúdos ministrados sobre os Sambaquis Catarinenses, bem como as relações possíveis
entre esses conteúdos e a sociedade contemporânea. Havia o desafio de despertar o interesse da
turma para os conteúdos, de uma forma que possibilitasse que estes atribuíssem sentido para o
presente e para a vida prática. Para tanto, a ideia de articular o conteúdo sobre povos sambaquis
com o presente, muitas vezes, partiu dos próprios(as) estudantes, que durante as aulas faziam
colocações sobre relações entre o que é encontrado dos vestígios dos sambaquis e o que isso
poderia evidenciar sobre a forma de viver e o cotidiano desses grupos e, em outra direção, o que
poderia ser evidenciado a partir daquilo que descartamos nas lixeiras de nossas casas, das escolas
e das cidades. Sendo assim, pensando no tema proposto, sobre povos dos sambaquis do litoral
brasileiro, buscou-se articular essa temática com o presente a partir da noção do que é descartado
pelas sociedades, e como podemos pensar essa questão no campo da história sob a perspectiva
da cultura material. Para observar esse processo, a abordagem teve duas etapas: a primeira de
investigar experiências prévias dos(as) estudantes, e a segunda de atividade depois dos conteúdos
terem sido ministrados, que consistiu na produção, pela turma, de dois “sambaquis”: um contendo
elementos “descartados” próprios dos sambaquis do litoral brasileiro estudados em sala de aula;
e outro “contemporâneo” que possuía elementos “descartados” do cotidiano de nossa sociedade.
Assim, objetivou-se compreender os conceitos utilizados pelos(as) estudantes e as relações que
estes fizeram entre passado e presente, no que diz respeito a cultura material de sociedades
“pré-históricas” e sociedades contemporâneas. Logo, observou-se, de modo geral, a compreensão
dos(as) estudantes sobre a sociedade atual, se colocando enquanto pertencentes de um grupo
identitário, de uma sociedade específica, e além disso, observou-se que os(as) estudantes
atribuíram sentido de forma significativa à cultura material como uma ferramenta importante
para a história, na compreensão de diferentes sociedades e em diferentes temporalidades.
277
iniciais da elaboração do trabalho de conclusão de curso, a pesquisa e produção da escrita vem se
mostrando satisfatória, sendo agregado aos achados locais, fundamentação teórico-metodológica
para conceitos de espaço, lugar, memória, imaginário e linguagem, sob os argumentos de Certeau
(2013), Castoriadis (1982), Augé (2012), Dick (1996), Cerri (2011) e outros. O conhecimento e a
análise dos imaginários relativos aos topônimos barreirenses oferecem um arcabouço para um
ensino contextualizado, correspondendo a função de desenvolvimento de consciências históricas,
que não só identificam, mas também propiciam a formação de sujeitos críticos para com as
sociedades que se insere e relaciona, estuda ou conhece.
Resumo: O presente trabalho surgiu do interesse em contribuir com o Ensino de História no município
de Correntina-BA a partir da análise de parte de sua toponímia. Nesse sentido, objetivamos pensar
como essa toponímia possibilitaria o desenvolvimento de aprendizagens significativas no Ensino
Fundamental – Anos Finais. Para este olhar que exige uma formação de professor-pesquisador em
História (AZEVEDO, 2012) trabalharemos com o método modelo taxeonômico (DICK, 1996) e com
imaginários toponímicos (BRITO, 2012) para analisar os objetos que constituem alguns topônimos
de Correntina-BA. O olhar sobre a História Local (BARBOSA, 2006) nos permitiu observar diálogos
possíveis com uma História Nacional que também está presente em algumas espacialidades do
município, fator este que pode favorecer ao desenvolvimento de aprendizagens significativas
(SEFFNER, 2013) através do Ensino de História.
Resumo: Este trabalho é oriundo das primeiras reflexões sobre o Programa Prodiscente - Eixo
Ensino (UFOB) a partir do desenvolvimento do Projeto A História Local como protagonista curricular
na formação de professores-pesquisadores. A discussão sobre currículos (ARROYO, 2013) dialoga
com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) para pensar a formação de professores-
pesquisadores (AZEVEDO, 2012) que desenvolvem experiências com História Local (BARBOSA,
2006) para problematizar consciências históricas (CERRI, 2011) e aprendizagens significativas
(SEFFNER, 2013). As análises se deram sobre os planos de aula e materiais didáticos elaborados
pelas discentes bolsistas conforme as orientações de Azevedo (2013), Alveal; Fagundes; Rocha
(2015), que nos permitiram já observar que existe uma relevância do protagonismo curricular da
História Local na formação de professores-pesquisadores.
278
A importância de questões norteadoras para o protagonismo e ensino de História local
DANIELLE LIMA ALMEIDA (UFOB)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo abordar a participação da História Local na formação
de professores-pesquisadores e como a mesma adquire protagonismo nos planejamentos das
aulas de História para o Ensino Fundamental – Anos Finais, através das questões norteadoras.
Nesse sentido, apresentamos uma parte da experiência do Programa Prodiscente – Eixo Ensino,
desenvolvido na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). Para esta etapa da pesquisa,
analisamos a princípio as questões norteadoras conforme o olhar de Azevedo (2013), presentes
nos planos de aula apresentados pelos estudantes que cursaram Estágio Supervisionado em
História III (Ensino Fundamental Anos Finais em 2018 e 2019). Essa compreensão partiu da
necessidade advinda em parte da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), que também
exigiu que Estados e Municípios elaborassem os seus currículos. Essa perspectiva nos fez pensar
os currículos enquanto um território de disputas de objetos de conhecimentos (ARROYO, 2013).
Ademais, contribuir com a formação de professores-pesquisadores a partir do trabalho com
sequências didáticas constantes no planejamento de atividades (AZEVEDO, 2013), considerando o
protagonismo da História Local (BARBOSA, 2006). Os Relatórios Finais de Estágio Supervisionado
para o período analisado concedem evidência para como as questões norteadoras foram
importantes para o protagonismo da História Local e inserção se outros objetos de conhecimento
da História.
O lugar da história local no Ensino Médio potiguar: uma análise do componente “história” no
Documento Curricular do Estado do Rio Grande do Norte – Ensino Médio (2018)
ILDEGARDE ELOUISE ALVES (SEEC/RN-PREFEITURA DE CEARÁ MIRIM)
Resumo: O currículo do Ensino Médio Brasileiro passou por fortes mudanças nos últimos anos. A
Lei Federal 13.415 de 2017, instituiu a chamada Política de Fomento à implementação de Escolas
de Ensino Médio em Tempo Integral, conhecida como “Reforma do Ensino Médio”, apresentada
no governo Michel Temer. Em vias gerais, a política visa uma flexibilização na escolha de disciplinas
por parte do alunado bem como prevê em médio prazo uma ampliação da carga horária ao longo
dos anos. Tal medida foi justificada como forma de combater a evasão escolar nesta modalidade,
bem como ampliar a oferta do ensino integral. 60% dos conteúdos a serem trabalhados nessa
modalidade foram definidos pela Base Nacional Curricular Comum para a etapa do Ensino Médio,
outorgada no ano de 2017 e com sua ultima versão aprovada no ano de 2018. Tais mudanças
provocaram um processo de reorganização das instituições de ensino a nível estadual. No estado
do Rio Grande do Norte, buscando atender as novas demandas, foi elaborado um documento
curricular para o Ensino Médio visando atender as mudanças na modalidade e também à BNCC.
Neste trabalho, iremos analisar como este documento tratou a questão da História Local no
componente curricular “história”, traçando ainda um breve perfil sobre como essa questão foi
tratada nos últimos anos no ensino público do Rio Grande do Norte. Nosso intuito é apontar os
desafios e perspectivas dessa abordagem, bem como buscando entender os processos de poder
e disputa deste currículo.
279
Sentidos da História no Ensino Médio noturno: problematizações a partir do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID)
SANDRA REGINA MENDES (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA), LARISSA DO ROSÁRIO
SANTOS
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo problematizar, a partir de uma perspectiva
etnográfica, o ensino de História no ensino médio noturno, em turmas de terceiro ano, de dois
colégios estaduais do município de Eunápolis. As observações participativas e as análises foram
desenvolvidas através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID),
subprojeto “Entre textos, contextos e outros textos... narrativas entrelaçadas entre linguagem e
História na Educação Básica”, vinculado à Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Campus XVIII),
em 2018 e 2019. O ensino médio é a última etapa da educação básica e tem por finalidade, segundo
a lei 9.394/96, nortear o indivíduo em formação para o exercício da cidadania e para o trabalho,
com vistas ao desenvolvimento da autonomia intelectual e a formação ética dos jovens. Assim,
questiona-se: O ensino de História contribui para atingir os princípios previstos na legislação, tendo
como referência os contextos vivenciados por alunos, em maioria trabalhadores, do turno noturno?
Busca-se responder essa questão analisando as práticas pedagógicas observadas nas turmas que
foram acompanhadas. A observação in loco, utilizou como instrumento de pesquisa o diário de
campo, documento com “caráter descritivo-analítico, investigativo e de sínteses cada vez mais
provisórias e reflexivas. O diário consiste em uma fonte inesgotável de construção e reconstrução
do conhecimento profissional e do agir de registros quantitativos e qualitativos [...].” (LEWGOY,
ARRUDA, 2004, p123-124). A análise dos dados coletados foi fundamentada teoricamente pelo
conceito de consciência histórica de Rüsen (2010), entendido como a interpretação temporal do
mundo e de si mesmos, pelos homens com objetivo de orientação na vida prática. Compreende-se
que o ensino de História deve estabelecer mediações para a revisão ou ampliação da consciência
histórica dos sujeitos, instrumentalizando-o a interagir criticamente com o mundo. Os resultados
obtidos permitem compreender a relevância e a complexidade do que é o ensino de História na
contemporaneidade marcada por narrativas negacionistas e revisionistas sem cientificidade que,
de forma equívoca, tratam como equivalentes opiniões e fontes. Articular essas discussões à
formação dos trabalhadores-estudantes possibilita compreender a cultura histórica brasileira e
refletir sobre o sentido da História.
Resumo: Para que o aluno possa se situar dentro do tempo histórico, é fundamental que os
conteúdos selecionados pelo professor façam sentido para a existência do mesmo, com isso, o
estudo de História Local vem a ser uma ferramenta indispensável para que haja uma correlação
entre o que é vivido e o que é estudado, tendo em vista que “a escola e as aulas de História
são lugares de memória da história recente, imediata e distante” (FONSECA, 2009, p. 125). Nessa
perspectiva, elaboramos com o apoio do subprojeto história do PIBID/UESB o projeto “A Mulher
na Produção e Comercialização de Café em Vitória da Conquista - BA” no CEEPS – Adélia Teixeira,
tendo como objetivo principal trabalhar, no contexto da sala de aula, temas muitas vezes ignorados
pelo Ensino de História, e que no atual contexto necessitam ser discutidos como, por exemplo, a
280
participação da mulher na sociedade no âmbito cultural e social. Levando em consideração que
os homens sempre ganharam destaque e centralidade nas narrativas históricas, é possível afirmar
que “o ensino de história se pautou por construir uma homogeneidade cultural a partir de um
padrão de sociabilidade que não enxergou a mulher como ser social que interage e transforma a
cultura” (THIAGO; NETO; SANTOS, 2019, P. 53). Dessa forma, o projeto em questão procurou dar
visibilidade a mulher no tocante ao trabalho de produção e comercialização de café em Vitória
da Conquista, concluindo, dentre outros aspectos, que a presença e importância feminina vão
muito além do âmbito doméstico. A historiadora Selva Guimarães Fonseca defende que: O meio
no qual vivemos traz as marcas do presente e de tempos passados. Nele encontramos vestígios,
monumentos, objetos, imagens de grande valor para a compreensão do imediato, do próximo
e do distante. O local e o cotidiano como locais de memória são construtivos [...] (FONSECA,
2009, p. 116-117). Dessa forma, o local de vivência dos alunos já fez parte de inúmeros períodos
e acontecimentos históricos que deixaram marcas e ganharam representações que podem ser
vistas de forma cotidiana. O estudo da história local permite que o aluno compreenda e questione
acontecimentos, vivências, monumentos, nomenclaturas e tombamentos tendo a noção do
processo histórico em que está inserido, sendo um dos objetivos alcançados nesta pesquisa.
O projeto oportunizou aos alunos participantes o contato com sujeitos históricos, maioria
mulheres, participantes de momentos importantes para o desenvolvimento da economia e
sociedade local que, no entanto, até naquele momento não tinham ganhado visibilidade, e com
a pesquisa científica no campo da história mantendo a devida ligação com a temática do curso
técnico.
Saúde Pública na Bahia: uma abordagem histórica das doenças, seus impactos e controles em
diferentes momentos históricos
JENNIFER KESSIE RAMOS FIGUEIREDO
281
Bahia ao longo de sua história, estabelecendo uma série de comparações com a COVID-19 e outras
doenças contemporâneas, mas atento às relações de continuidade e diferenças entre presente e
passado. As atividades do curso são desenvolvidas por meio de aplicativos, canais de comunicação
e outros recursos tecnológicos, perseguindo sempre a ideia de uma aprendizagem significativa.
Apesar de usar vários recursos, para incentivar um grau maior de participação dos alunos, temos
priorizado o uso das tecnologias disponíveis em celulares. Temos realizado leituras individuais e
coletivas de textos sintéticos e significativos; usamos slides com esquemas de apresentação de
ideias para fomentar o debate; também disponibilizamos links para que os alunos tenham acesso
a vídeos e filmes que tratam do assunto. Ao final, solicitaremos dos alunos a gravação de vídeos
ou a construção de pequenos textos com depoimentos sobre o que aprenderam no curso e o que
o sugerem à população nesse momento em que enfrentam uma grave pandemia.
Resumo: A presente pesquisa tem como intenção estudar os significados das disputas ideológicas
presentes no ensino de história, que tanto têm marcando atualmente o contexto sociopolítico e
o processo de ensino-aprendizagem nas instituições escolares da Educação Básica. São disputas
traduzidas na forma de verdadeiras guerras de narrativas, mas que nem sempre são suportes
de conhecimento, frustrando professores e/ou estudantes. Para melhor compreendê-las, é
necessário situá-las num cenário político, social e econômico mais amplo e complexo, adentrando
na chamada “onda conservadora” e fundamentalista que perpassa o país. Não obstante este cenário
de disputas, levantamos uma hipótese aparentemente paradoxal, de que ele pode contribuir para
uma nova perspectiva em sala de aula, já que enuncia um maior interesse por temas relacionados
à disciplina histórica no ambiente escolar. Do ponto de vista teórico, este trabalho inscreve-se
numa articulação ampliada, pautada na relação entre História (CERTEAU, 2017); (PAUL RICOEUR,
2007); (TRAVERSO, 2012), ideologia (VOLOCHÍNOV, 2018), sociologia da educação (APLLE,
2003), ensino de história (PENNA, 2013); (MONTEIRO, 2011) e discussões contemporâneas sobre
a história política e social do Brasil atual. (MATTOS, 2017); (FICO, 2019); (MOTTA, 2018) Como
trabalho de campo, aproveitamos uma experiência de estágio supervisionado, desenvolvida em
um colégio da polícia militar de Salvador, em parceria com a UNEB. Entrevistamos professores,
mas especialmente os alunos de um colégio da polícia militar de Salvador-Ba, por serem os mais
diretamente envolvidos na instauração dos conflitos discursivos em torno do saber histórico.
282
SESSÃO 01: 21/10/2020 DAS 14H ÀS 18H
As relações Brasil – Egito e a Política Externa (1956): entre a “Revolução” e a Guerra Fria
MATEUS JOSÉ DA SILVA SANTOS
Resumo: Iniciadas formalmente em 1924 (MAJZOUB, 2000), mas com heranças do Brasil Império
(PREISS, 2013; FERREIRA, 2019), as relações entre Brasil e Egito constituíram um objeto pouco
desenvolvido por parte da historiografia brasileira e os estudos específicos em Relações
Internacionais. A participação dos brasileiros no chamado Batalhão Suez (LANNES, 2009; ZANATTA,
2012), as mudanças nas orientações da Política Externa Brasileira no interior da ditadura militar
(AMARAL, 2008) e o chamado Pragmatismo Responsável foram algumas das temáticas tratadas
pela produção acadêmica acessada até o momento, considerando os processos históricos entre
1950 e 1980. Reconhecendo a relevância regional desses dois atores políticos, esta comunicação
se propõe a discutir as relações Brasil e Egito no ano de 1956, com enfoque para as percepções da
diplomacia brasileira sobre aquele país. Por meio dos Relatórios Políticos, Econômicos e Militares,
produzidos mensalmente pela embaixada brasileira no Cairo, analisaremos a forma como o
Egito foi considerado, tanto do ponto de vista de suas estruturas internas, como também sua
inserção internacional, num ano marcado pelas tensões oriundas da nacionalização do Canal de
Suez e da Guerra envolvendo a referida questão. A principal hipótese desta investigação é que,
em primeiro lugar, as concepções construídas sobre o país africano não estavam dissociadas dos
pressupostos mais gerais da Política Externa Brasileira neste período, especialmente a leitura
de uma ordem internacional bipolar e a concepção de uma identidade internacional brasileira
calcada pelo anticomunismo e pelo pertencimento ao bloco Ocidental-Cristão. Em segundo lugar,
do ponto de vista interno, percebe-se o reconhecimento de um período de transformações na
trajetória egípcia, por meio da ascensão do governo militar e o empreendimento de uma série de
transformações que acarretariam em rupturas históricas no destino daquele país, numa narrativa
que se aproxima com a imagem construída pelo próprio governo egípcio. Espera-se, com isto,
contribuir para o enriquecimento dos estudos acadêmicos da Política Externa Brasileira nos anos
50, das Relações Brasil – Egito e das Relações Internacionais enquanto uma vertente de pesquisa
cada vez mais forte entre os historiadores.
Resumo: Uma das particularidades mais relevantes da guerra civil em Angola é o seu caráter
transnacional e o emaranhado de interesses e significados que esses conflitos evidenciam. Após a
independência, o principal opositor militar interno à hegemonia do MPLA foi a base da UNITA no
sudeste angolano, apoiada pelo regime branco da África do Sul. Os embates tornaram perigoso
grande parte do território angolano, assim como do vizinho Sudoeste Africano, hoje Namíbia, que
também passava por lutas pela expulsão da ocupação ilegal sul-africana e pela libertação nacional,
como planejava a SWAPO. O longo período de guerra e a polêmica instaurada sobre quem venceu
na derradeira batalha de Cuito Cuanavale, tornaram a contenda objeto de uma instigante disputa
pela memória. Entre os diversos olhares possíveis sobre essas batalhas, soldados veteranos brancos
284
como Clive Holt (2005), Granger Korff (2009) e Arn Durand (2011;2012) têm publicado nos últimos
anos; alguns deles denunciam sofrimento de consequências sociais e psicológicas com a guerra
e por serem supostamente tratados como párias após a ascensão do ANC. O presente trabalho
prioriza os testemunhos autobiográficos – esses livros escritos por militares ou policiais de baixa
patente, onde estão narradas as experiências individuais e explicitadas noções de pertencimento
tão caras na África do Sul contemporânea. Como contraponto, discuto a autobiografia de Sisingi
Kamongo, um soldado negro, que atuou em um batalhão policial ao lado das tropas sul-africanas
em perseguição às forças da SWAPO.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar o trabalho das Missões Protestantes
Batistas em Angola, sobretudo pela missionária Analzira Pereira do Nascimento de 1990 a 2002
quando do seu regresso para o Brasil. As primeiras missões batistas brasileiras ocorreram em
1972 quando da chegada da primeira missionária batista enviada pela Junta de Missões Mundiais
da Convenção Batista Brasileira, Valnice Milhomens. Apontaremos alguns aspectos da chegada
dos primeiros missionários protestantes brasileiros a Angola, faremos uma breve passagem pelas
guerras de independência e a relação desse Estado Angolano nascente com as Igrejas Protestantes
ali estabelecidas. E, por fim faremos uma breve análise dos resultados conseguidos pelas missões
enviadas pela Junta de Missões Mundiais. Para tanto tentando compreender o contexto histórico
da chegada das missões protestantes a Angola e suas estratégias utilizaremos os artigos escritos
por Dulley (2017), assim como a tese de doutorado de Cruz e Silva (2001). Sobre as disputas entre
as missões Católicas e Protestantes dentro do território Angolano utilizaremos um artigo escrito
por Silva (2017), bem como um romance de Pepetela (1992). Nascimento (2013) nos ajudará
para uma reconstrução do período histórico do pós-independência em Angola, a manutenção da
Missão Batista do Brasil em solo Angolano consultaremos alguns números da Revista Ultimato.
Como metodologia utilizaremos análises de transcrições tanto de entrevistas concedidas pelas
missionárias Valnice e Analzira, bem como a análise de um vídeo de gratidão pelos 17 anos de
trabalho de Analzira em solo angolano, bem como trechos de reportagens da Revista Ultimato. As
entrevistas foram transcritas e depois analisadas, e os jornais fizemos um banco de dados. Esses
dados estão sendo cruzados e analisados. A partir do que elencamos acima queremos refletir sobre
a relação das Missões Protestantes Batistas e brasileiros com o Estado Angolano, e os resultados
do trabalho missionário em Angola, por meio do crescimento do número de igrejas, a formação
de obreiros nacionais, além de trabalhos de caráter social como escolas para alfabetização de
crianças e adultos.
Resumo: Muitos dos integrantes das “seitas gentílicas” ou nativistas em África não só eram
oriundos das igrejas protestantes, como, também, estavam infiltrados “nas fileiras da Igreja
Católica”. É o caso, por exemplo, de Sebastião Chitungane Chaxuaio, da “tribu changane”,
285
nasceu aproximadamente em 1905, nas terras do grupo de povoações Mutumanhane, regedoria
Muxaxane, do conselho de Chibuto. Frequentou escola formal, dirigida pelo Estado com apoio das
missões católicas, exerceu várias profissões como criado, engraxador, trabalhador das minas do
Rand, chegou até ser jardineiro nos finais dos anos 1930 da Igreja Católica em Loureço Marques.
Sebastião Chitungane, além de transitar por várias “crenças religiosas” e profissões, também
falava várias línguas, tais como “xichope e xindau. Falava e escrevia “português, inglês, xichagane,
xironga, xitsua, sizulo, sichossa e xisuto”. Sebastião, depois de ter descoberto dom de cura pelo
espiríto santo, já conhecido como pastor, levou nos finais dos anos 1940 a “seita” denominada
“fé nos apóstolos” para Lourenço Marques. Naquela oportunidade, a administração colonial, em
linhas gerais, afirmava que era preciso vigiar os adeptos de tal seita, entre outras, a exemplo
da Igreja Etiópica Luso-Africana, conhecida também pela denominação de Missão Cristã Etiópica
Moçambicana no contexto do final do século XIX e primeira metade do século XX. A ordem colonial,
através da administração civil e com o apoio da Igreja Católica, não apenas se preocupava com a
presença em terras moçambicanas das missões protestantes, chamadas de missões estrangeiras,
mas com outras denominações religiosas separatistas (movimentos etiópico e zionista) que o
Estado genericamente às denominava de “Seitas Gentílicas” e subversivas. Dessa forma, este
trabalho, a partir de um amplo relatório elaborado pelo administrador Afonso Ivens Ferraz de
Freitas na década de 1950 e numa perspectiva da História social e cultural, irá tratar de aspectos
em torno do surgimento das chamadas igrejas negras, problematizando quando e como foram
fundadas, quais eram seus membros fundadores, quais os objetivos das seitas e porque tanta
preocupação causava à igreja católica e, especificamente, à administração colonial o surgimento e
a disseminação das referidas igrejas, seitas no olhar do colonizador.
Resumo: O artigo busca apresentar através dos elementos visuais das bonecas Calungas e das
esculturas Nkisi Nkondi, as dimensões diaspóricas presentes no Maracatu de Baque Virado ou
Maracatu-nação. Redirecionando esses componentes visuais as características culturais e
simbólicas
dos povos Banto no Brasil. A pesquisa foi produzida através de uma revisão bibliográfica sobre os
Maracatus-nação centralizada na figura da Calunga e caminhos de compreensão sobre as figuras
Nkisi Nkondi. Além do contato com os primeiros questionamento sobre essa ligação, através do
Museu da Abolição (Ibram-PE), e sua exposição de Arte africana. As narrativas construídas nesse
texto tem como ponto de reflexão e crítica as diversas reelaborações culturais presentes com o
processo diaspórico, e que por diversas razões centralizaram essas heranças como práticas
concebidas dentro do troco nagô/ iorubá.
286
A Representação do Cabelo Afro entre Estudantes da Escola Pública em Feira de Santana
LAÍS DOS SANTOS OLIVEIRA CONCEIÇÃO (UEFS)
Resumo: O continente africano durante o final do século XIX e início do XX foi retalhado pelas
nações europeias e em seguida passou por um processo de colonização, seguido de lutas por
independências. Nesse processo de colonização as igrejas cristãs, protestantes e católicas, tiveram
um papel importante na colonização ensinando a fé cristã, bem como a língua do colonizador
dentre outros. Muitos intelectuais se debruçam sobre as missões protestantes e católicas na África
em diversos marcos temporais e lugares distintos. Esses trabalhos abordam como as missões
contribuíram no processo de colonização bem como essas missões se modificaram pós II Guerra
Mundial. E ainda há trabalhos que abordam o papel dos protestantes no pós-guerra. Tereza Cruz e
Silva estudou os presbiterianos e metodistas em Moçambique e destaca a importância que essas
missões tiveram na formação das lideranças da FRELIMO, a exemplo de Mondlane (SILVA,1998).
Ou ainda Moreira que trata dos missionários batistas em Moçambique e Angola na década de 70
e evidencia a relação entre esses missionários e o contexto político da época (MOREIRA, 2017).
No entanto, ainda há poucas pesquisas sobre as missões religiosas oriundas do Brasil de diversas
denominações religiosas. Esta pesquisa pretende abordar as missões religiosas protestantes,
batistas em Angola no período de 1974 a 2002, período marcado pelas levas de missionários
batistas saídos do Brasil para as colônias africanas e/ou países recém formados. Ressalta-se que
esse momento no Brasil é marcado por uma ditadura militar e redemocratização, e nesse contexto
homens e mulheres migraram para essas colônias e ex-colônias que estavam em diversos conflitos
dentre eles o de independência. Assim, objetiva-se nessa pesquisa traçar um perfil das missões,
analisando as estratégias de conversão em Angola, levando em consideração suas colonizações e
religiões majoritárias. Bem como as estratégias de negociação dos homens e mulheres missionários
com os grupos que lutavam pela independência ou que assumiram o poder no pós-independência.
Traçar fragmentos biográficos de alguns desses missionários. Para isso, serão pesquisados os
jornais; livros elaborados pelos missionários, entrevistas dadas por eles em programas e que
se encontram disponíveis no youtube. Para analisar essas fontes utilizarei métodos distintos e
os dados coletados serão cruzados e somados. A pesquisa está em andamento, mas é possível
apontar algumas missões como a de Caala, algumas estratégias de conversão como a de culto ao
ar livre, alguns missionários a exemplo de David Gomes, a convivência desses missionários com
outros estrangeiros.
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“Subversivos e Rebeldes”: A construção de narrativas coloniais em torno dos régulos do vale
do Zambeze. Moçambique (1860-1890)
LANA LESSA DOS SANTOS HORA (UNEB)
Resumo: No período anterior ao século XIX, o controle político de Portugal nos territórios africanos
era limitado aos entrepostos comerciais e no intuito de facilitar as trocas mercantis mantinham-
se alianças com alguns chefes locais, conhecidos como régulos. Entretanto, com a expansão
portuguesa dentro desses territórios e o interesse em transformar as terras moçambicanas em
uma colônia essencialmente produtiva do ponto de vista capitalista, organizaram-se comissões e
expedições para conhecer, explorar e analisar os desafios que seriam enfrentados pelos militares,
administradores e viajantes portugueses na consolidação de sua influência e domínio. As expedições
em torno da região do vale do Zambeze, conhecida como terra dos prazos, intensificaram, pois
buscavam argumentos que justificassem a extinção do domínio dos régulos dessa região e,
sobretudo, vislumbravam novas possibilidades de exploração econômica das populações locais
e das matérias primas existentes. Além disso, o diferencial do século XIX consistiu no fato das
narrativas coloniais serem pela primeira vez narrativas em que o poder político pressupunha de
um conhecimento cientifico, bem como muitos propagadores da ciência da época se utilizavam
das expedições patrocinadas pelo Estado para reafirmar suas teorias. Dessa forma, partindo do
pressuposto de que a relação entre os régulos e representantes portugueses estava inserida em
uma rede de interesses econômicos, políticos e sociais, esta pesquisa tem o objetivo de analisar
a produção de narrativas coloniais durante as expedições na região do vale do Zambeze frente
aos régulos que se posicionaram contra as mudanças no sistema de relações comerciais, sociais e
políticas.
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ocular de uma lógica de dominação por ele engendrada. Busca-se atrelar a análise do conteúdo
textual e imagético dos trabalhos assinados por Kannemeyer ao contexto em que os mesmos
foram produzidos e às experiências históricas do passado colonial a que se referem. Como aporte
teórico-metodológico para o exame histórico de imagens, utiliza-se como referências obras como
“La interpretación de la imagen: entre memoria, estereotipo y seducción” (2004), de Martine Joly,
e “Images and empires: visuality in colonial and postcolonial Africa” (organizado por Paul Stuart
Landau e Deborah D.Kaspin). Este último, além de tratar de aspectos da cultura visual relacionados
ao debate pós-colonial em países africanos, apresenta um capítulo sobre o personagem de
Hergé, objeto de crítica de Kannemeyer: “Tintin and the Interruptions of Congolese Comics”.
Para compreender como as HQs se articulam ao debate pós-colonialista, utiliza-se referenciais
como “Postcolonial Comics: Texts, Events, Identities” (coletânea organizada por Binita Mehta e
Pia Mukherji) e “Representing Multiculturalism in Comics and Graphic Novels” (organizado por Ian
Hague e Carolene Ayaka). Recorre-se ainda às reflexões sobre branquitude (particularmente, as
apresentadas em “Whiteness Afrikaans Afrikaners: Addressing Post-Apartheid Legacies”) e aos
estudos pós-coloniais de Homi Bhabha, de modo a examinar as maneiras pelas quais as experiências
coloniais, para além da cronologia, ainda são objeto de questionamento e de vivência.
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo analisar as missões batistas no continente africano,
sobretudo, na África do Sul entre o período de 1974 a 1990. As Igrejas Batistas como as demais
igrejas cristãs possuem como meta a evangelização, por esse motivo capacita pessoas através
de cursos, seminários e palestras no intuito de realizar trabalhos missionários em diversos
países. Nos anos 70, a Igreja Batista do Brasil passou a fazer missões na África e algum dos países
contemplados com as missões promovidas foi a África do Sul. Nesse país diversos pastores
realizaram várias estratégias para que as missões fossem efetivadas. Dentre essas, inserir no
local, trabalhos sociais que estão diretamente vinculados com o papel educacional. A educação
foi uma das estratégias de conversão que contribuiu para a disseminação do evangelho na
África, através disso, projetos que envolviam o aprendizado do idioma foram inseridos para
facilitar a comunicação e o desenvolvimento das missões. Algumas autoras que estudam essa
temática auxiliaram no desenvolvimento da pesquisa, são elas: Tereza Maria Cruz e Silva (2001)
e Analzira Pereira do Nascimento (2013). De acordo com as leituras e análises feitas no Jornal
Batista, utilizando o Método de Análise do Discurso construído por Fiorin (2011), bem como o
Capítulo Fontes Impressas da autora Tânia Regina de Lucca (2008), foi possível identificar algumas
estratégias para conversão, como por exemplo, cursos bíblicos progressivos, retiros evangélicos
nos feriados e transmissão de programas radiofônicos com o intuito de alcançar mais pessoas em
horários diferentes dos cultos, este programa era transmitido três vezes por semana pela Rádio
Transmundial dirigidas à população portuguesa da África do Sul.
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política colonial lusitana para suas colônias em África. Com a proclamação da República ocorreu
a criação do Ministério das Colônias, separando completamente e com autonomia em relação ao
antigo Ministério da Marinha. Os republicanos acreditavam e defendiam a ideia da autonomia
colonial e, de certo modo, a Primeira República teve fases de descentralização colonial que
continuaram até a situação econômica do Império se complicar. O artigo 67º da Constituição de
1911 especificava que o Império Colonial deveria ser gestado de forma descentralizada. Diversos
regulamentos sobre a descentralização administrativa chegaram a ser discutido no parlamento
português entre início e finais da Primeira Guerra Mundial. Em 1919, foram criadas novas
entidades governativas para as colônias, os comissários da República, um para Angola e outro para
Moçambique. O primeiro alto-comissário de Moçambique, Manuel de Brito Camacho administrou
a localidade de 1921 a 1923, ao assumir suas funções descobriu que a descentralização acontecia
apenas no papel, pois na prática, Moçambique estava sob as mãos das Companhias Concessionárias
e Arrendatárias de Prazos ou sujeita aos termos da Convenção com o União Sul-Africana. A política
dos altos-comissários no decorrer dos anos mostrou-se desastrosa politicamente devidos os
entraves coloniais existentes. O presente trabalho busca analisar e apresentar o discurso colonial
de Brito Camacho sobre sua gestão em Moçambique (1921-1923).
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