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IDADE MÉDIA: “IDADE DAS TREVAS” OU UMA “BELLE ÉPOQUE”?

CONTEXTO EUROPEU DO SÉCULO X AO SÉCULO XIII

A Idade das Trevas foi denominada assim originalmente em 1330 pelo


intelectual italiano Francesco Petrarca (1304 – 1374) quando quis se referir à
sua época, como intelectualmente decadente e tenebrosa em relação à
Antiguidade. Porém, o termo só foi tomado amplamente quando os Humanistas
do século XVII generalizaram todo o contexto do período do século IV ao
século XV como sendo inferior à Idade Moderna, levando em conta apenas
seus fatores negativos, esquecendo-se de todo o desenvolvimento e
conquistas realizadas durante tal período.

A partir de então, a Idade Média, é bastante conhecida pelos seus


acontecimentos prejudiciais, tais como as crises da agricultura, as epidemias, a
imposição da Igreja, as guerras, as invasões bárbaras, a predominância do
feudalismo e as cruzadas (vale notar que estas foram importantes para a
formação da sociedade da Idade Moderna, por terem resultado, entre outras
coisas, no renascimento comercial da Europa no século XI). Porém, deve-se
destacar que tal termo pode ser descrito como pejorativo e até preconceituoso,
uma vez que, ao desconsiderar grandes progressos (que não são poucos),
determina a visão sobre uma sociedade como sendo unilateral, ou seja, igual
em todos os aspectos. Vale notar também, que o termo Idade Média, já é um
termo negativo, pois compara os níveis de importância e relevância das
épocas, colocando o que se passa entre os anos 476 a 1453 como inferiores a
Idade Moderna. Portanto, o termo Idade das trevas só serve para ampliar ainda
mais essa visão de que só coisas ruins aconteceram neste período.

Então empregar uma ideologia pejorativa a uma vã sociedade, é demonstrar


preconceito, calúnia, difamação e mais altamente uma insuficiência de
conhecimento desta mesma, que conforme o renomado historiador
medievalista Jacques Le Goff, a Idade Média foi “... uma época que não foi de
trevas nem imune ao progresso; ao contrário, foi uma época fértil de invenções
vitais e importantes...” .(LE GOFF, 2007, capa), nesta citação Le Goff trata a
Idade Média de uma forma clara, objetiva e “com os pés no chão”, aonde
expõe suas idéias sem condenar qualquer coisa, afinal a função do historiador
é de compreender, e não de julgar o passado. Através de comparações de
fontes de diferentes linhas teóricas, e através do estudo, da pesquisa e da
análise de várias fontes secundárias proponho dissertar a Idade Média (dos
séculos X ao XIII), visando mostrar o lento desenvolvimento, porém grandioso,
que de uma forma foi marcado pela fome, pobreza, miséria, doenças e todos
os obstáculos possíveis, mas que também levou a Europa a várias invenções e
criações tendo um papel de suma importância e fundamentação para a
formação de uma alta sociedade, que refletiu também nas novas sociedades
modernas, aonde vários aspectos foram legados a nós contemporâneos,
conforme o historiador Hilário Franco Junior:

“(...) o período entre os séculos IV e XVI é tradicionalmente conhecido por


Idade das Trevas, Idade da Fé ou, com mais freqüência, Idade Média. Todos
eles rótulos pejorativos, que escondem a importância daquela época na qual
surgiram os traços essenciais da civilização ocidental. Nesta, mesmo países
surgidos depois daquela fase histórica –caso do Brasil- têm muito mais de
medieval do que à primeira vista possa parecer. Olhar para a Idade Média é
estabelecer contato com coisas que nos são ao mesmo tempo familiares e
estranhas, é resgatar uma infância longínqua que tendemos a negar mas da
qual somos produto. De fato, para o homem do Ocidente atual compreender
em profundidade a Idade Média é um exercício imprescindível de
autoconhecimento (...)”.(FRANCO JUNIOR,2004, capa).

Muitos estudiosos, inclusive contemporâneos como o historiador francês


especializado em Idade Média, Bernard Guenée (1927 – 2010), reforçam em
suas obras esse estereotipo, o mesmo cita no início de sua obra, Histore et
culture historique dans l´Occident médiévale, que “A Idade Média nasceu com
desprezo”, reforçando totalmente, a nebulosa ideia de obscuridade, ignorância
e sofrimento sobre a tal Idade das Trevas.
As criações do medievo (de aproximadamente dez séculos) atingiram um alto
número, dentre elas estão: os moinhos, a charrua, a pólvora, a plaina, o pisão,
o arco triangular, os algarismos arábicos, a anestesia, o anno domini, a árvore
genealógica, os bancos, os botões, a bússola, o carnaval, o carrinho de mão,
as cartas de jogo, o cavalo como força motriz, o garfo, gatos como animais
domésticos, a hora de sessenta minutos, a lareira, os livros, o macarrão, a
marca d´água, o óculos, os nomes das notas musicais, o papai Noel, o papel, a
prensa de tipos móveis, o purgatório, as roupas de baixo, o tarô, as
universidades, os vidros coloridos, o xadrez, o zero, o relógio, as cidades, as
moedas, as feiras, a cavalaria, os castelos, as cruzadas, o leme, o astrolábio,
as ferraduras, a roda d’ água, o poço artesiano, o estilo gótico(...), entre várias
outras coisas, sendo que alguns dos itens inovadores já existiam na
antiguidade, só que não eram utilizados por falta de conhecimentos e técnicas.

Também de grande influência foi à contribuição dos gregos e dos árabes que
entrou no ocidente através dos interesses dos intelectuais tendo como via de
passagem o comércio, nas feiras, através de manuscritos, que foram
traduzidos por vários poliglotas. Os complementos culturais principais foram: a
filosofia, a matemática, a astronomia, a medicina, a física, a lógica, a ética, a
agronomia, a alquimia e os seus respectivos métodos de utilização.

Seria o mundo medieval um inferno de misérias e obscuridade? Descobre-se o


contrário onde o desenvolvimento expandiu em enormes ramificações através
de permanências e rupturas que permeiam um campo muito além da ideologia
de obscuridade imposta pelos humanistas modernos do século XVII. Para uma
suposta sociedade subdesenvolvida não cabem invenções geniais e de grande
repercussão, portanto a Europa ocidental medieval não foi uma idade de trevas
nem imune ao desenvolvimento, teve obviamente alguns aspectos negativos,
que de um modo geral faz parte de qualquer civilização em construção ou
propriamente dita “pronta”, afinal no mundo contemporâneo é notável
civilizações com demasiados atritos e aspectos negativos, se não maiores do
que nos dez séculos do período medieval.
O progresso medieval constituiu vários alicerces que resultaram nas nações
monárquicas da idade moderna, como a bela França, a Inglaterra, a Itália, a
Alemanha, Portugal e a esplêndida Espanha, que sem sombra de dúvida não
existiriam sem a superestrutura formulada pelos homens medievais, que por
causa de suas necessidades muito inventaram e desenvolveram, atingindo um
alto nível de progresso, portanto o período entre os séculos IV e XV é sinônimo
de uma bela época.

Bibliografia

FRANCO, Junior. A idade média: nascimento do Ocidente. Editora Brasiliense, 2001.

https://books.google.com.br/books/about/A_idade_m%C3%A9dia.html?
Id=IFqkOgAACAAJ&source=kp_book_description&redir_esc=y . Acesso em 20/09/2020
13h50min.

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