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CURSO

BÁSICO DO
TAROT
OS SISTEMAS DIVINATÓRIOS
O Tarô e a Liberdade Imaginativa
O tarô é considerado o mais complexo de todos os inúmeros sistemas divinatórios de que se
tem conhecimento. E representa, sem dúvida, um inigualável exercício de imaginação,
suscetível de infinitas aplicações.

No livro O Tarô ou a Máquina de Imaginar, Alberto Cousté considera que, de maneira


geral, as disciplinas mânticas (do grego mantéia, oráculo, adivinhação) podem ser
divididas entre as que utilizam um intermediário e as que não o utilizam. As mancias
sem intermediário são as mais remotas e compreendem todos os tipos de videntes e
médiuns. As que incluem um intermediário subdividem-se em dois tipos: aquelas cujo
intermediário não escapa ao âmbito do próprio corpo humano e as que recorrem a um
objeto alheio ou referencial. Ao primeiro tipo pertencem, por exemplo, a quiromancia
(leitura das linhas das mãos, conhecida universalmente) e a partenomancia (estudo da
nuca das mulheres para verificar a perda ou não da virgindade). Entre as que utilizam
um intermediário referencial está a cartomancia, da qual o tarô é o grau mais
especializado.
Mais do que qualquer outra mancia, o tarô oferece uma situação adivinhatória no seu
mais alto grau de complexidade, que se compõe de: a) o adivinho em total liberdade
imaginativa para selecionar um entre os múltiplos estímulos que a leitura lhe oferece; b)
o consulente em disponibilidade para orientar suas perguntas segundo o
desenvolvimento dessa leitura; c) o intermediário (as cartas) com uma capacidade
sugestiva inesgotável; d) a sessão de leitura irrepetível; e) a falta de um código de
referências estável, que torna o tarô um exercício imaginativo de primeira ordem, pois
requer uma grande concentração do adivinho diante da pluralidade de níveis que existe
em cada leitura.
A constituição do tarô: exercício combinatório – Dentre as inúmeras versões de tarô, o
conhecido Tarô de Marselha, usado nesta obra, é a melhor de todas, na opinião dos
estudiosos, por ter maior semelhança com o jogo primitivo. Compõe-se de 78 cartas
divididas em dois grupos: um de 22 cartas, denominadas arcanos maiores, e outro de 56
cartas, denominadas arcanos menores ou simplesmente naipes.
Os 22 arcanos maiores são tradicionalmente numerados de 1 a 21, mais o número 0,
atribuído ao arcano denominado O Louco, que tanto pode aparecer no começo como no
fim da seqüência. Por superstição, em alguns jogos a carta 13 não aparece numerada.
Esse conjunto de cartas representa, de maneira geral, a evolução de todas as criações
humanas, interiores e exteriores, sobre as quais o consultante interrogará, e constitui,
por assim dizer, a alma do tarô.
As 56 cartas denominadas arcanos menores são divididas em quatro grandes subgrupos
– paus, copas, espadas e ouros –, correspondentes aos naipes propriamente ditos. Cada
naipe apresenta 14 cartas: um rei, uma rainha, um cavaleiro, um valete e os números de
1 a 10, em ordem crescente. Como não simbolizam acontecimentos, servindo apenas
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para fornecer informações secundárias, essas cartas têm importância bem relativa dentro
do jogo.
Na utilização do tarô são consideradas: a carta e seu simbolismo isoladamente, as
relações que cada uma mantém com as vizinhas e a posição que ocupa dentro das
tiragens. Normalmente, para responder a uma pergunta ou a uma série delas, utilizam-
se apenas os 22 arcanos maiores. Os simbolismos dessas cartas, originários do
inconsciente, encontram ressonâncias na psique de todos os homens, podendo responder
a qualquer tipo de questão que o consultante não saiba conscientemente resolver. Além
disso, são elas que, ao exigirem complicados exercícios combinatórios para a sua
interpretação, tornam o tarô um livro inacabado, compondo, a cada leitura, um novo
livro. Ou, como diz Oswald Wirth, “é próprio do simbolismo sugerir indefinidamente:
cada um verá o que o seu olhar permita perceber”.

Um Mistério Ainda Indecifrado As Origens do Tarô


Criação de Satanás, obra de Hermes-Thot ou invenção cabalística – inúmeras são as teses que
pretendem decifrar a misteriosa gênese do tarô. Ao lado destas, outras, mais abalizadas,
estabelecem na China o seu surgimento e asseguram aos humanistas europeus a retomada de
seu primitivo simbolismo. Mas, apesar de todas as tentativas de explicação, ainda
permanecem muitas dúvidas a respeito de sua verdadeira origem.

Apesar das inúmeras pesquisas que as escolas e sociedades secretas têm realizado
através dos séculos, o verdadeiro significado do tarô permanece envolto em mistério.
Ainda hoje, pouco de positivo se pode afirmar sobre os primórdios do jogo, em virtude
da multiplicidade de versões existentes acerca do seu país de origem, bem como da
associação primitiva entre os arcanos maiores e menores.
Segundo alguns historiadores, o tarô começou a se tornar conhecido na Eu em fins do
século 14, mais precisamente entre os anos 1370 e 1380. Essa suposição baseia-se
principalmente na narrativa de frei João, um monge suíço que, em 1377, fala de um jogo
de cartas o qual, entre outras coisas, indica, pelas suas figuras, o atual estado do
mundo. No entanto, como o monge descreve um baralho com 52 cartas e quatro naipes,
em tudo semelhante ao jogo moderno e não ao tarô, a incerteza continua.
Existe ainda outro registro, datado de 1392, que menciona uma encomenda de três
baralhos, pintados e ornamentados, ao artista Jacquemin Gringonneur, por ordem do rei
Carlos VI. Por muito tempo se pensou que as 17 cartas de tarô existentes na Biblioteca
Nacional de Paris fizessem parte desse baralho. Agora, contudo, os especialistas refutam
essa idéia, presumindo que as cartas sejam de origem italiana, confeccionadas em 1470.
Com isso, desmente-se a afirmação do padre Menestrier, feita em 1704, de que
Gringonneur inventara o tarô em 1392 para distrair o rei Carlos VI durante seus ataques
de loucura.
Também não é muito provável que as cartas tenham sido inventadas e confeccionadas
na França antes de 1369, pois um decreto francês daquela data, proibindo os jogos de
azar, não faz menção às cartas comuns ou a jogos semelhantes ao tarô. Assim, pode-se
deduzir que o baralho tenha mesmo aparecido na Europa entre 1370 e 1380.
De acordo com uma das versões mais plausíveis, o tarô procede do norte da Itália, do
vale do rio Taro, afluente do rio Pó, do qual teria se derivado seu nome. Talvez seja mera
coincidência, mas, de fato, na Itália o jogo é conhecido como tarocchi e, além disso, o
baralho moderno descende do tarô veneziano ou piemontês, composto por 22 arcanos,
semelhante ao francês, conhecido como Tarô de Marselha. Este último, que conta com 78
cartas, incluindo os 22 arcanos, tornou-se um tipo-padrão, embora os desenhos, os
nomes e a ordem dos arcanos tenham sido várias vezes alterados. Na Sicília do século
17, por exemplo, a Grã-Sacerdotisa, o Diabo e o Julgamento foram substituídos por
cartas mostrando um Mendigo (Povertá ou Miséria), uma fi-gura feminina (Constância) e
por outras intituladas Navio e Júpiter.
Existem algumas escolas iniciáticas que atribuem a origem do tarô ao Egito. O livro As
Grandes Iniciações Segundo os Arcanos Menores do Tarô, traduzido para o português por
Martha Pécher, diz textualmente que “segundo a Tradição, quando os sacerdotes
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egípcios, herdeiros da sabedoria atlântica, eram ainda guardiães dos mistérios sagrados,
o grande hierofante convocou ao templo todos os sábios sacerdotes do Egito para que,
juntos, pudessem achar um meio de preservar da destruição os ensinamentos iniciáticos,
permitindo, assim, seu uso às gerações de um futuro distante. (...) O grandioso sistema
simbólico da sabedoria esotérica – o tarô – foi dado à humanidade sob a forma de um
baralho de 78 cartas que, desde milhares de anos, servem para satisfazer a curiosidade
humana a respeito de seu futuro ou para distrair e matar o tempo jogando. Nessas
cartas os sábios egípcios encerraram toda a sabedoria que tinham herdado, todos os
conhecimentos que possuíam, toda a verdade que lhes era acessível a respeito de Deus,
do universo e do homem”.

Walter B. Gibson e Litzka R. Gibson, autores de Psychic Sciences, dizem que, apesar de
as suas origens serem desconhecidas, algumas autoridades alegam que o tarô evoluiu
dos divinings sticks, pauzinhos usados para as adivinhações dos chineses, enquanto
outros concordam com os defensores da teoria egípcia, segundo a qual teria ele sido
adaptado das páginas do legendário Livro de Thot. Para essa corrente, o tarô chegou à
Europa durante o século 14, trazido pelos ciganos que, vindos da Índia, passaram pela
Pérsia, onde um baralho ilustrado – conhecido pelo nome de atouts – estava em moda.
Os ciganos, tentando conseguir status na Europa, falavam que sua pátria era o Pequeno
Egito. Não seria, portanto, de se admirar se as cartas persas tivessem sido
propositadamente atribuídas ao Egito.
Hipóteses à parte, a verdade é que os indícios sobre a existência do tarô só podem ser
obtidos através das notícias surgidas ao longo do tempo, as quais estabelecem as datas
e os lugares onde ficou conhecido.
Pesquisando essas antigas notícias, vemos que durante os séculos 14 e 15 havia certa
discriminação quanto ao jogo de cartas, especialmente depois que Bernardino de Siena,
um monge franciscano, declarou em 1423 que as cartas haviam sido inventadas por
Satanás. Mais tarde, tanto os padres católicos como os ministros protestantes atacaram
todos os jogos de cartas, declarando que os homens se distraíam quando deveriam estar
cuidando da salvação de suas almas. Alegavam, igualmente, que o jogo induzia os
homens à bebida, a usar linguagem profana e a cometer outros pecados. As artes
divinatórias também eram duramente criticadas, pois sugeriam a existência de
mecanismos psíquicos contrários ao dogma de que a providência divina planeja tudo o
que vai ocorrer. Um frade chegou a comparar os arcanos aos degraus que conduzem os
homens ao inferno.
Na Inglaterra, as cartas eram condenadas não só pelo clero, mas também por leigos de
mentalidade puritana. Um desses foi John Northbrooke, que em 1570 afirmou que as
cartas haviam sido criadas por Satanás para introduzir a idolatria entre os homens. Com
essa declaração, ele antecipou uma teoria moderna, de acordo com a qual elas são os
repositórios de uma antiga sabedoria pagã, pois os reis, os valetes e as rainhas
encobrem antigas imagens de ídolos e falsos deuses. Por sua vez, o fundador da Igreja
Metodista da Inglaterra, John Wesley (1703-1791), denunciou as cartas como sendo “os
livros do Diabo”.
Mas nem todos os homens tinham sentimentos tão negativos com relação ao tarô. Os
humanistas (século 16), por exemplo, consideravam que as lendas surgidas na
Antigüidade continham verdades sublimes e que o seu cerne fora propositadamente
encoberto, pois a sabedoria lá contida destinava-se unicamente aos iniciados; assim
sendo, reconciliaram o tarô às antigas tradições.
Esse grupo também se interessou pela astrologia e pela magia, e seus membros
recomendavam o uso das imagens dos arcanos para a meditação, a fim de atrair as
influências planetárias benéficas. Recomendavam ainda esse tratamento de imagens
mágicas para aliviar o cansaço mental causado por estudos prolongados e intensivos.
O interesse que os humanistas mostravam pela arte de memorizar e pela classificação
das idéias fez surgir outra hipótese: a de que os arcanos do tarô apareceram na
Renascença e que suas figuras eram usadas como artifícios mnemônicos.
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O pioneiro do método mnemônico foi o filósofo espanhol Raymond Lull, morto em 1315
pelos muçulmanos, quando tentava convertê-los ao cristianismo. Lull sofrera a influência
dos cabalistas judeus, que recomendavam meditar sobre as letras, suas combinações e
permutações. Em seus livros, usava letras e diagramas para representar as idéias e as
associações entre elas, e empregava também o sistema de degraus para mostrar que o
mundo está disposto numa hierarquia descendente e ascendente: Deus no ponto mais
elevado e os anjos, as estrelas, os homens, os animais, as plantas, etc. em lugares
inferiores. Agrupando os conhecimentos de uma forma clara e precisa, ele esperava levar
tanto os judeus como os muçulmanos a reconhecer as verdades inerentes ao
cristianismo.
Os magos e os ocultistas, que acreditavam na sabedoria oculta nas lendas antigas,
achavam que o tarô era a chave-mestra para descerrar todos os mistérios. Contudo, o
interesse no tarô como sistema mágico e compêndio simbólico só surgiu depois de 1773,
quando Anthony Court de Gébelin publicou o penúltimo volume de sua obra Le Monde
Primitif Analysée et Comparé avec le Monde Moderne.
Em 1781, Gébelin conheceu o tarô e, examinando as cartas, chegou à conclusão de que
eram de origem egípcia. Com cerca de 3.757 anos de idade, os arcanos ocultavam
antigos conhecimentos e teriam sido levados à Europa pelos próprios egípcios. Ele
achava que a palavra tarô provinha da língua egípcia: tar, significando caminho ou
estrada, mais ro, rei ou real, daria tarô, ou seja, Caminho Real. Notando também a
coincidência numérica entre os 22 arcanos e as 22 letras do alfabeto hebreu, tentou
interpretá-los. Depois de estudar bem todos os arcanos, Gébelin declarou publicamente
que o tarô era de origem egípcia e tinha um significado arcano e hieroglífico.
A primeira pessoa a fazer uso dessa descoberta foi um cartomante que vendia amuletos
mágicos, praticava a quiromancia, interpretava sonhos e fazia horóscopos. Chamava-se
Alliette e dizia ser aluno do conde de Saint-Germain, mago e alquimista que teria mais
de dois mil anos, seria o verdadeiro Judeu Errante e descobrira o Elixir da Vida.
Acrescentando idéias próprias aos seus conhecimentos da cabala, Alliette declarou que o
tarô fora composto 171 anos após o Dilúvio, que, durante quatro anos, 17 magos haviam
colaborado na sua produção e que Hermes Trismegisto concebera o plano do Livro de
Thot, escrito sobre folhas de ouro num templo localizado a três léguas de Mênfis, Egito.
O grego Hermes Trismegisto (três vezes grande), considerado equivalente ao deus
egípcio Thot, seria um antigo sábio, autor dos textos herméticos, fundador da alquimia e
construtor das pirâmides.
Sob o pseudônimo Etteilla (seu nome escrito de trás para frente), Alliette escreveu
diversos livros e desenhou baralhos para tirar a sorte, mostrando eventos futuros como
viagens, inimigos, processos, etc. Também imprimiu baralhos de tarô, com um
significado mais profundo, alegando que, após eliminar os erros cometidos por outros ao
longo dos séculos, restaurara o verdadeiro e antigo simbolismo das cartas. Depois,
modificou os desenhos dos arcanos e a ordem das cartas.
Por sua vez, Gébelin, a quem o arcano O Mago desagradava (pois representava a vida
neste mundo como um perpétuo jogo de azar), sugeriu que o sistema egípcio teria se
iniciado com números menores, terminando com os maiores, e colocava assim O Mago
no fim da escala.
Eliphas Levi, pseudônimo de Alphonse Louis Constant, autor de Dogma e Ritual de Alta
Magia, interessou-se pelo tarô em 1856. Primeira pessoa a colocar o tarô no esquema da
cabala, Levi, rejeitando as idéias de Alliette, associou os arcanos às 22 letras do alfabeto
hebreu, os quatro naipes ao tetragrama (o grande nome de Deus escrito com quatro
letras) e as cartas do número 10 ao Ás aos dez aspectos de Deus. Desde então, os
ocultistas admitem a interligação do tarô com a cabala.

Embora, desde Levi, os ocultistas nunca mais tenham deixado de admitir a


interdependência entre o tarô e a cabala, a verdade é que, além de um não se encaixar
perfeitamente bem no outro, não existem provas dessa ligação. De qualquer maneira,
deve-se a Levi o fato de o tarô ocupar lugar de relevo no ocultismo.
“O tarô”, disse Levi, “é uma obra monumental, extraordinariamente forte. É simples
como a arquitetura das pirâmides e resistente como elas – um livro que engloba todas as
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ciências e que, em virtude de suas infinitas combinações, pode resolver todos os
problemas. Sem dúvida, é uma das mais admiráveis obras legadas pela Antigüidade: a
Chave Universal”.
Na História da Magia, Levi diz que a base da ciência hieroglífica consistiria num alfabeto
onde as letras representariam idéias, que seriam convertidas em números, que seriam,
por sua vez, sinais perfeitos. E acreditava que esse alfabeto – o Livro de Thot – estava
contido no tarô, de origem egípcia, cujas cartas eram de origem judaica.
Levi achava que os martinistas e os rosa-cruzes haviam compreendido o significado do
tarô, e que os humanistas da Renascença, os alquimistas medievais e o autor do
Apocalipse (que tem 22 capítulos) eram conhecedores dos seus segredos. Para ele, a
palavra tarô derivava-se do vocabulário rota, que em latim significa rosa ou círculo.
Também associou-a a lábaro, um emblema do cristianismo primitivo.
Levi faleceu em 1875 sem escrever sequer um manual do tarô. Entretanto, um de seus
alunos, Jean Baptiste Pitois, cujo pseudônimo era Paul Christian, inventou uma
astrologia envolvendo o tarô. Pensando que encontrara provas da sua origem num livro
de mistérios egípcios atribuídos a Lamblichus, um escritor neoplatonista do século 4,
Christian descreve como um iniciado é conduzido por uma galeria com 22 quadros, 11 de
cada lado, recebendo, durante a caminhada, instruções sobre o seu significado.
Apesar de Christian acreditar que os 22 quadros eram os 22 arcanos do tarô, jamais se
encontrou no Egito qualquer evidência que corroborasse essa hipótese.
As figuras das cartas de Court de Gébelin foram reproduzidas por Ely Star em 1887, no
seu livro Les Mystéres de I’Horoscope. Ely, pseudônimo de Eugene Jacob, era um
charlatão com pretensões de médico, casado com uma cartomante que vendia amuletos
mágicos.
Dois anos mais tarde, um baralho corrigido, desenhado por Oswald Wirth, foi publicado
numa edição limitada de cem cópias. Os desenhos de Wirth foram os usados no livro O
Tarô dos Boêmios, de autoria de Papus, traduzido para o inglês em 1892 e que ainda se
encontra à venda.
Oswald Wirth, nascido na Suíça, era maçom e membro da Sociedade Teosófica, fundada
por Blavatsky; usava o magnetismo animal (o hipnotismo) para curar, e trabalhou com o
marquês Stanislau de Guaita, um mago que dizia conservar num armário um espírito
que volatizava os venenos e os lançava no espaço junto com seu corpo. Escreveu
comentários sobre os arcanos num livro intitulado Os Vendedores de Imagens da Idade
Média, cujas ilustrações levavam o imprimatur de Wirth.
Guaita tinha um amigo chamado Gérard Encausse (1865-1916) – o famoso Papus –,
médico clarividente, que deu grande impulso ao ocultismo. Interessando-se pela cabala,
Papus publicou um livro sobre o assunto e, em 1889, um sobre o tarô, seguido de Le
Tarot Divinatoire, em 1909. Em 1912, tornou-se presidente do grupo martinista, ligando-
se também a uma organização alemã que investigava a magia sexual.

Na Inglaterra, o ocultista Aleister Crowley, que também estudava a magia do sexo,


começou a se interessar pelo tarô. O assunto logo cativou uma parte do público inglês e,
em 1888, Samuel Lidell Mathers, membro da Sociedade Rosa-Cruz, publicou um livro
sobre o jogo. Mais ou menos na mesma ocasião, a Ordem Hermética Golden Dawn foi
fundada, com a participação de Mathers.
A Golden Dawn deu grande importância ao tarô. O que ela ensinou a seu respeito teve
influência sobre praticamente todas as interpretações posteriores. Esses ensinamentos
usavam as interpretações de Levi, modificando a associação que ele estabelecera entre
os arcanos e o alfabeto hebreu. A ordem instituiu um sistema englobando a cabala, o
tarô, a alquimia, a astrologia, a numerologia, as artes divinatórias e o ritual mágico, e
começou a funcionar como uma universidade, dando diplomas aos que participavam das
aulas e faziam os exames de praxe.
E. Waite (1857-1940) associou-se à Ordem Golden Dawn em 1891, quando redesenhou
o baralho e escreveu uma introdução ao jogo, além de publicar diversas obras sobre
cabala, alquimia, maçonaria e a sociedade rosa-cruz.
Num livro sobre o Santo Graal, Waite sugeriu que os quatro objetos sagrados – a taça, a
lança, o prato e a espada – são semelhantes aos quatro naipes do tarô: as taças, os
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bastões, as moedas e as espadas. A autora inglesa Jessie L. Weston aceitou essa
interpretação e incorporou-a em um de seus livros.
Jessie também acreditava que as lendas do Santo Graal ocultavam rituais e símbolos de
um culto secreto que transformara o ritual da fertilidade em “uma iniciação dos segredos
físicos e espirituais da vida”. A lança e a taça representariam o sexo masculino e o
feminino. Como as lendas sobre o Santo Graal estão associadas a tradições celtas, há
quem acredite que os arcanos do tarô possam derivar-se das 22 letras do alfabeto celta.
Em 1903, Waite assumiu a direção do templo da Ordem, em Londres, reformando os
rituais e dando-lhes um espírito mais cristão, pois era contrário à prática da magia. Em
1914, por falta de apoio, foi obrigado a fechar a sua versão da Golden Dawn.
Foi Waite que, em 1910, publicou The Pictorial Key to the Tarot, cujas ilustrações são de
um baralho que ele mesmo redesenhou.
Aleister Crowley (1875-1947), que se juntou à Golden Dawn em 1898, acreditava ser a
reencarnação de Eliphas Levi. Quando, em 1914, escreveu um guia do tarô, com o
subtítulo Um Curto Ensaio Sobre o Tarô dos Egípcios, deixou-se influenciar pela escola de
Levi. Publicou um baralho com novos desenhos, executados por Frieda Harris, repletos
de simbolismos eróticos, denunciando a influência da magia sexual.
Na ocasião do falecimento de Crowley, o ocultista americano Paul Foster Case (1884-
1954) publicou a obra The Tarot: A Key to the Wisdom of the Ages. Dizendo ser o chefe
da Golden Dawn nos Estados Unidos e no Canadá, produziu mais um baralho
redesenhado por Jessie Burns Par-ke. Os modelos, embora com alguns detalhes
diferentes, são parecidos com os de Waite.
Existem outros baralhos redesenhados pelo astrólogo Elbert Benjamine e por Manly
Palmer Hall, o fundador da Sociedade de Pesquisas Filosóficas de Los Angeles.
Ouspensky, o discípulo de Gurdjieff, fez um breve relato do tarô em seu livro A New
Model of the Universe.
Infelizmente, o grande poeta Yeats (1865-1939) nada escreveu sobre o tarô. Quando a
Golden Dawn rompeu-se em duas partes, ele assumiu a chefia do setor dissidente,
atribuindo-se o título de imperador. Durante esse tempo, fez experiências telepáticas,
induzindo imagens nos pensamentos de outras pessoas. Acreditava que, meditando
sobre certos símbolos, poderia fazer contato com a alma do mundo (anima mundi), um
reservatório de memórias, independente do dos encarnados.

O filósofo William James também era da opinião que certos indivíduos poderiam, em
estado de transe, extrair informações desse reservatório. C. G. Jung explicou o fenômeno
com sua teoria sobre o inconsciente coletivo – repositório dos arquétipos encontrados
nas religiões, na mitologia, na filosofia, na ciência, no simbolismo, nos sonhos, nas
visões e nas fantasias. Essa teoria de Jung teve marcante influência nas interpretações
modernas do tarô.
Além dessas interpretações filosóficas, ocultas e herméticas, existe o lado curioso do
tarô: o da propaganda política e social.
Durante certa época, era voz corrente que os naipes do tarô representavam as diferentes
classes da sociedade – a aristocrática, o clero, os negociantes e os trabalhadores – e que
as cartas ensinavam a plebe como trabalhar eficazmente. O ensino tornou-se, então,
uma função importante do baralho.
No século 16, Murner desenhou um baralho destinado a transmitir ensinamentos sobre
lógica e, no 17, idealizaram-se baralhos para ensinar a ler e difundir a história, a
geografia, a gramática, a culinária, etc.
Na França, o famoso cardeal Mazarin (1602-1661), que modelou os destinos daquele
país, sugeriu que o jovem Luís XIV aprendesse história usando os arcanos.
Na Alemanha do século 18, fabricavam-se baralhos com desenhos mostrando animais,
monstros legendários, cenas de óperas, etc. Em 1879, transformaram-se em cenas
históricas, figuras célebres, poetas, escritores, militares e exploradores. Era comum
encontrar cartas com as figuras de Shakespeare, Marlborough, Kepler e o general
Gordon.
Durante a Primeira Guerra Mundial, uma firma austríaca, provavelmente inspirada pelos
seus predecessores, imprimiu baralhos com cenas de guerra, uma das quais mostrando
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um submarino alemão no porto de Nova York. Em outros países, as cartas foram usadas
para fins de propaganda política, com caricaturas dos membros de outros partidos.
Durante a Revolução Francesa, as coroas foram removidas e as figuras substituídas por
filósofos ou proletários, e na União Soviética distribuíram-se baralhos comuns satirizando
a religião. As rainhas foram substituídas pelas virtudes ou deusas mitológicas e, num
baralho americano, vêem-se as figuras de Washington.
Um soldado teve uma idéia genial: o baralho comum, segundo ele, associaria a Bíblia ao
livro de orações e ao almanaque. Os sinais representariam os artigos da Fé: 1 = Deus; 3
= a Trindade; 4 = os quatro Evangelhos; 5 = as cinco virgens sábias; etc. As 52 cartas
representariam as 52 semanas do ano, e os quatro naipes, as quatro estações. Esses
paralelos acabaram levando alguns ocultistas a achar que as cartas estão ligadas a
estruturas do universo. Para provar o que diziam, fizeram os seguintes cálculos: 52
cartas = 52 semanas no ano; 4 naipes = 4 estações do ano; 13 cartas dos naipes = 12
meses; e a 13a carta de cada naipe = as 13 semanas em cada trimestre. Somando os
números 1-2-3-4-5-6-7-8-9-10-11-12 temos um total de 91, e 91 x 4 (as quatro
estações) = 364, mais 1 referente ao trunfo = 365 dias do ano.

A Visão Psicológica
O Tarô e o Caminho da Individuação – II
O tarô é considerado o mais complexo de todos os inúmeros sistemas divinatórios de que se
tem conhecimento. E representa, sem dúvida, um inigualável exercício de imaginação,
suscetível de infinitas aplicações.

Não é por acaso que os 22 arcanos maiores do tarô acham-se numerados. Suas cartas,
perfiladas tal qual os capítulos de uma novela, retratam uma história verdadeira, a do
ser humano em sua senda iniciática, repleta de experiências transcendentes e desafios
que se nos apresentam como oportunidades para o autoconhecimento.
Desde a antigüidade, espalhados por distintas culturas, incontáveis são os mitos que
abordam a imagem do homem colocado à prova, chamado a enfrentar perigos e resolver
enigmas, a ultrapassar seus próprios limites e escolher o rumo certo nas encruzilhadas
do caminho.
Foi o médico psiquiatra suíço Carl G. Jung (1875-1961), inicialmente seguidor de Freud,
e que desenvolveu sua própria teoria para a compreensão do psiquismo (a psicologia
analítica), quem cunhou o nome de “individuação” para esse processo ininterrupto de
aprimoramento pessoal, destinado a orientar a personalidade para algo maior e
transcendente, a cumprir psicologicamente o mesmo papel a que se destinavam os
rituais de ini- ciação dos povos antigos.
A questão fulcral da psicologia junguiana esbarra num dos principais mistérios da
existência, o da consciência em busca da fonte primordial, inconsciente em sua essência,
de onde se desprendeu originalmente. Para Jung, o ego poderia ser comparado ao
inconsciente na mesma proporção que uma ilha estaria para o oceano à sua volta. Outra
analogia seria a do planeta Terra, pequenina morada da civilização humana (a
consciência), comparado ao universo desconhecido no qual estamos inseridos (o
inconsciente).
Jung chamou de ego o núcleo da consciência, sendo a individuação toda a busca
empreendida por essa diminuta instância em direção ao presumido centro da totalidade
psíquica, a abranger obviamente o mundo inconsciente. Ao ponto de fusão entre
consciência e inconsciente, núcleo da personalidade total e, ao mesmo tempo, passagem
para uma dimensão transcendente e coletiva, espécie de porta para o psiquismo
universal, Jung denominou de Selbst, em inglês self, que em português melhor ainda se
traduz por “si mesmo”.
O si mesmo seria o órgão regulador de todo o psiquismo, dotado de qualidades abissais
que ultrapassam as dimensões do simples ego. Paradoxalmente, o si mesmo, ponto
central da psique, preenche toda a sua circunferência, abarcando todos os fenômenos
anímicos possíveis, a incluir portanto, os do próprio ego. Nicolau de Cusa, monge filósofo
do século 15, já usara imagem semelhante ao referir-se à onisciência divina: “Deus é
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uma esfera cujo centro está em toda a parte e cuja circunferência não se delimita em
parte alguma.”
Como veremos, as alegorias dos 22 arcanos maiores, ainda que veladas por intrincado
hermetismo, de caráter particularmente medieval no baralho de Marselha, representam
nada mais que as situações comuns, reservadas a todos aqueles que se dediquem a
explorar seu mundo psicológico mais profundo. Os que partem em busca de si mesmos
em geral abrem suas vidas para o amadurecimento pessoal, e sofrem experiências
consideradas arquetípicas, de cunho propriamente iniciático.
Aqui convém explicar: arquétipo é palavra de origem grega, primeiramente usada por
Platão, a significar “padrões arcaicos” (arqui = antigo, arcaico + typos = padrão, matriz).
Jung se valeu do termo para denominar certos padrões registrados no comportamento da
humanidade, que vêm sendo manifestados ao longo de sua história pelas mais diversas
culturas. Embora semelhantes entre si, expressam-se pela variedade dos mitos,
religiões, lendas ou folclore; e através de padrões também identificáveis em nosso
mundo onírico, quer no cerne de nossos sonhos, quer sob a forma das fantasias.

A Visão Psicológica
O Tarô e o Caminho da Individuação
A “leitura” das cartas, quando contemplativa e dinâmica, bem pode transportar-nos para um
mundo psicológico mais profundo.

O arquétipo serve, portanto, como matriz comportamental herdada por todo ser humano,
como arcabouço capaz de selecionar, nas experiências da vida, os elementos
significativos que estejam em sintonia com o processo inato da individuação. Os
arquétipos, verdadeiras potências imateriais, surgem como entidades impalpáveis e
incognoscíveis, mas se manifestam por meio de idéias e imagens, e vestem-se com as
mais distintas roupagens de acordo com as culturas que os representam. Nesse sentido,
o tarô os simboliza amplamente, e um mergulho no mundo dos arcanos permite
espelharmos nossa alma. Por isso a “leitura” das cartas, quando contemplativa e
dinâmica, bem pode transportar-nos para um mundo psicológico mais profundo.
Percorramos juntos então, passo a passo, essa estrada pictográfica da individuação.
Comecemos pela figura especial do Louco, que, exceção à regra, não se mostra
numerada. O Louco, por não ter um número que lhe determine a posição, acha-se livre
para ser notado em qualquer parte da jornada, podendo assumir diferentes valores em
nossa vida; daí talvez ter sido preservado sob a efígie do curinga nos baralhos mais
comuns. Preferencialmente o colocamos entre o tudo e o nada de Pascal, isto é,
simultaneamente ocupando o início e o fim da jornada. Feito Jano dos romanos (a
divindade de dois rostos que nunca se olham, voltados que estão para lados opostos), é
O Louco quem sabe do porvir tão bem quanto do passado, já que se acha situado antes
do primeiro arcano, O Mago. Ao mesmo tempo ocupa a posição após o último, O Mundo.
O Louco confere assim ao conjunto um caráter rotativo e perene. Ao assumir duplo papel
de fechar e (re)abrir o ciclo, promete a continuidade da individuação. Representa ainda
uma força inconsciente, não personificada, por isso sem número; e a figura de bobo da
corte expressa a ambivalência de sua função, já que os tais bobos medievais, antes de
idiotas, eram sábios, quiçá os únicos capazes de falar verdades ao rei sem o risco de
perder a cabeça.
O Louco nos prende assim em sua mágica, na paradoxal leitura de seu sentido. Se pode
ser visto como um bobo que nada sabe sobre si, caminhando a esmo, por outro lado é
ele o sábio que, tendo mergulhado no abismo de si mesmo, ressurge renascido, disposto
a retomar sua senda. E não há monotonia nem repetição nesse processo; embora as
experiências mais fortes sejam arquetípicas, elas são inusitadas no modo como
acontecem e nos propiciam leituras sempre novas do livro da vida. Também os passos do
Louco nunca são lineares, pois a individuação pressupõe voltas e rodeios até que nos
aproximemos do si mesmo, ou até que tropecemos em algo e caiamos dentro dele.
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A carta seguinte, O Mago, é a consciência personificada. Resulta da transformação do
impulso inconsciente do Louco, agora direcionado conscientemente para o trabalho da
individuação. Decididamente, O Mago é o grande herói dessa jornada (ele é cada um de
nós), pois a cada passo nos transformamos, conforme desfilamos pela “estrada real” dos
arcanos. Ele está em pé, sendo portanto ativo; e, feito aprendiz de feiticeiro, opera na
mesa à sua frente. Um de seus braços aponta para cima, o outro para baixo, como se
nos lembrasse da primeira máxima de Hermes Trismegisto, a ensinar que o nível
humano da existência apenas reproduz o plano cósmico da vida; que somos, sim,
manifestação da divindade, mas nem por isso privilégio algum da natureza. O homem
precisa trabalhar com o que tem às suas mãos e intuir acerca do universo à sua volta
para que venha a compreender-se.
Consoante os preceitos básicos da magia, O Mago posiciona-se como elo entre os planos
humano e divino, surge como centro e medida de todas as coisas. Quatro objetos, dentre
outros, despertam-nos a atenção. São eles a moeda e a baqueta que traz em suas mãos,
além dos copos e da adaga postos sobre a mesa. Aludem claramente aos quatro naipes
do baralho – ouros, paus, copas e espadas –, que representam a inteireza do caminho
ora descortinado. Isso porque o 4, assim como o 12, é um número que, por excelência,
expressa a totalidade, haja vista serem quatro as estações do ano e 12 o número de
seus meses, como também as constelações do zodíaco. Quatro e 12 sempre nos dão a
idéia de algo completo.
Jung escolheu as mandalas (nome sânscrito a designar “círculo mágico”) como símbolos
da integridade psíquica, visto que são geralmente representadas por formas circulares
(ou outras que insinuem a presença de um centro). Do mesmo modo, podemos perceber
em cada um dos 22 arcanos uma mandala oculta. No Mago, ela se mostra tanto pelos
instrumentos dos quatro naipes citados como pela mesa de três pés e quatro cantos,
números cujo produto nos leva ao 12. É como se O Mago já tivesse diante de si o tesouro
que deseja encontrar pelo caminho. Isso, aliás, lhe permite seguir viagem mesmo que
não saia do lugar onde se encontra, até porque a individuação é processo essencialmente
espontâneo de nosso psiquismo.
Pois bem, tendo à frente uma senda que se desdobra em quatro caminhos, O Mago,
resoluto, entende que precisa percorrer simultaneamente todos eles, sob pena de nunca
alcançar a transcendência, razão pela qual se divide ele próprio no quatérnio que lhe
sucede, formado pelos próximos quatro arcanos: A Grã-Sacerdotisa, A Imperatriz, O
Imperador e O Sumo-Sacerdote.
Esses representam uma diferenciação a mais da “ciência dos opostos”, já insinuada pelos
braços do Mago que ligavam o em cima ao embaixo. Observemos que as quatro cartas se
casam muito bem: são duas figuras femininas e duas masculinas; há da mesma forma
uma dupla de imperadores e outra de sacerdotes; e é no equilíbrio de cores de suas
vestes que o baralho de Marselha oculta outros mistérios. O detalhe mostra que as
mulheres vestem mantos azuis sobre os vermelhos, ao passo que os homens trazem a
composição contrária, com vestes vermelhas por cima das azuis. Aqui as cores também
têm significado; o vermelho associa-se ao lado consciente, ao aspecto racional do
psiquismo. O azul representa o inconsciente, a irracionalidade, os processos intuitivos de
percepção.
Nas personagens femininas (Grã-Sacerdotisa e Imperatriz), a intuição prevalece sobre a
razão; já na dupla masculina (Imperador e Sumo-Sacerdote), são os processos racionais
que estão por cima. A psicologia analítica identifica, além disso, tanto o aspecto feminino
no interior do psiquismo masculino, ao qual Jung batizou de anima (no caso, definido
pela Grã-Sacerdotisa), bem como a relação contrária, a essência masculina no psiquismo
feminino, denominada animus (no tarô, melhor representado pelo Sumo-Sacerdote).
A Grã-Sacerdotisa é, antes de tudo, o complemento do Mago. Guarda tudo aquilo que lhe
falta, sendo, portanto, o verdadeiro motor de sua busca. Se o mago é movimento, ela é
repouso; se ele é ativo, ela é a receptividade em pessoa. Ele é ação; ela, reflexão. Em
suma, todo o desenrolar do baralho a partir do Mago é A Grã-Sacerdotisa, pois tudo
aquilo que estiver em seu caminho lhe servirá como complemento. A relação Mago/Grã-
Sacerdotisa no tarô é correlata do binômio yang-yin dos chineses; aliás, não poderia
faltar no esoterismo do Ocidente o arquétipo da “ciência dos opostos”.
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Havendo O Mago experimentado as diferentes maneiras de perceber o mundo, e
consciente da natureza interminável de seu caminho, pela primeira vez tem nítida noção
das dificuldades que ainda enfrentará. Sua determinação estará sempre à prova.
Na situação arquetípica sucedânea, o herói depara-se com a encruzilhada do Namorado,
quando se encontra dividido entre duas mulheres que cobram dele uma escolha. A que
está à sua direita, para a qual ele volta sua face, toca-lhe o ombro e veste roupas
predominantemente vermelhas. Representa a via racional. A outra moça, aparentemente
mais jovem, vestindo principalmente o azul, toca-lhe o coração, como se quisesse
despertar suas emoções, seu lado intuitivo. No alto, acima da cabeça do herói, em
instância que transcende sua consciência, um anjo direciona sua seta para a via
intuitiva, como se quisesse orientá-lo em sua escolha. Enfim, aí está representado o
drama do livre-arbítrio, capaz de atormentar a consciência com o conflito da eterna
dúvida. O personagem acha-se cruelmente dividido entre o racional e o intuitivo,
observe-se suas roupas listradas de azul e vermelho, além do amarelo, seu aspecto
pessoal. Mas pouco importa por onde seguirá nosso herói, até porque razão e intuição
encontram-se mescladas em todas as experiências da vida, apenas predominando ora
esta, ora aquela. O principal é que o herói dê seu próximo passo, para que não reste
estagnado em seu caminho. Siga por onde seguir, desembocará na tríade seguinte, O
Carro, A Justiça, e O Ermitão.
Decidindo prosseguir, O Mago experimenta a extroversão das conquistas rápidas,
simbolizado pelo arcano VII, O Carro. O primeiro terço das 21 cartas numeradas se
completa. O Mago está emancipado. Destemido, deixa de ser mero neófito para
amadurecer na senda, e, mediado pelo senso da Justiça, virtude que será assimilada no
arcano subseqüente, chega à condição de maior introversão e capacidade introspectiva.
Aí descobre que há sabedoria em seu próprio poço, a ser buscada por um processo
sereno e cuidadoso, como o faz o velho Ermitão.
A carta X, A Roda da Fortuna, traz as vicissitudes da vida, com seus rodopios e reveses.
O herói deve afinal saber tirar proveito do movimento do cosmos. “Há nas lides do
homem uma maré que, se aproveitada enquanto cheia, o levará à fortuna”, diria
Shakespeare.
No arcano XI, A Força, alcançamos a metade do caminho, mas prosseguem as
vicissitudes, até que O Mago perceba que, invariavelmente, ações sutis repercutem
melhor do que as atitudes brutas, como nos mostra a figura intuitiva da vestal, que, sob
um manto azul, domina com suas delicadas mãos toda a brutalidade duma besta-fera,
contendo-a pela mandíbula. A fera ocupa a metade inferior da carta e, não fosse sua cor
distinta, estaria misturada ao hábito da personagem. Representa os processos
instintivos, aspectos brutos que esperam ser dilapidados e transformados em algo mais
sutil.
Os dois arcanos seguintes nos trazem a experiência da morte. O Enforcado é ela própria,
em seu sentido terminal. A lâmina mostra o herói dependurado, de cabeça para baixo,
vendo a vida por seu outro ângulo; ou como se estivesse num ataúde, cercado por terra
e troncos, os dois verticais com seus 12 ramos podados, a representar o esgotamento da
mandala, a morte aparente do dinamismo psíquico. Mas o herói, se sobrevive à força
perturbadora desse arquétipo que dele exige sacrifícios, comunga pela primeira vez com
o mundo transcendente, representado pelo arcano XIII. Por ser o único sem nome, nem
deveria ser chamado Morte. O esqueleto que ceifa sugere transformações substanciais, a
troca do velho pelo novo. É um momento iniciático de fértil aprendizagem, representada
pelos arbustos em quantidade que brotam neste novo campo da existência. Afinal, o 13
expressa o rompimento da mandala, a transposição da ordem; a soma de 1+3,
entretanto, leva-nos de volta ao 4, à mandala de uma nova dimensão.
O arcano XIV, A Temperança, é a terceira das quatro virtudes medievais a estar
representada no tarô. As outras três, já vistas, são a justiça (arcano VIII), a prudência
(arcano IX), e a força (arcano XI). Este tema é chave dos alquimistas, e o segundo terço
se completa com O Mago promovido à esta condição. A Temperança se (re)vela no
equilíbrio parcimonioso de seu movimento, e a figura feminina aqui traz azul e vermelho
em iguais proporções. Uma vez feito alquimista, agora nosso herói pode experimentar as
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provações mais duras, reservadas aos que penetram no Diabo, arcano XV, ou na Casa de
Deus, arcano XVI.
Tais estações referem-se ao mundo sombrio, aos aspectos mais críticos de nossa
personalidade, produtos que são de partes pouco exploradas ou desconhecidas de nós
mesmos. O demônio nada mais faz do que escravizar a nossa consciência, prendendo-a
em seu altar, exigindo de nós o auto-sacrifício da extinção de nossas buscas. É por meio
dele (o intelecto) que nos sentimos separados da fonte primordial. Por conta dessa
mesma consciência é que podemos refletir acerca da única certeza que temos, a de
nossa morte, de onde nasce uma natural angústia capaz de nos prender em temores
pessoais. O Mago descobre que a única forma de evitar o demônio é enfrentá-lo! Se por
um lado não devemos negar os méritos de nosso intelecto, por outro, de alguma forma,
precisamos transcendê-lo.
A Casa de Deus é o arquétipo da destruição, das mudanças avassaladoras em nossas
vidas. Por vezes, somente algo assim tem força capaz de nos arrastar para longe do
Diabo que antes nos prendia. A Torre fulminada mostra o ego abalado pelo grito de um
inconsciente incontido, simbolizado pela labareda de fogo que explode a cúpula da Torre,
cuja forma lembra uma coroa, real adorno de uma consciência que se esquece muitas
vezes de perceber a realidade por detrás da realeza.

O arcano XVII, A Estrela, nos entrega à esperança. Revela à consciência libertada que a
individuação continua a ser possível. Ao menos é o que representam as luzes que
brilham no firmamento. A jovem desnuda não é outra senão o nosso herói, despido dos
valores mundanos, a verter no rio do inconsciente coletivo as próprias águas (azuis) de
seu mundo intuitivo, de seu inconsciente pessoal. As estrelas no céu simbolizam as
almas já individuadas. Pela primeira vez os quatro elementos se agrupam numa mesma
lâmina: água, fogo, terra e ar estão aí representados, este último reafirmado pela
presença do pássaro, símbolo da alma inclusive. De novo descobrimos a mandala
disfarçada.

A Lua, arcano XVIII, representa as trevas, os porões da alma; na psicologia junguiana


será chamada de sombra. A sombra representa o lado oculto do psiquismo, fonte de
inúmeros perigos e potenciais que jazem adormecidos. As trevas psicológicas
apresentam sérios desafios à nossa frágil consciência, que precisará pedir ajuda à
intuição para vencer a provação noturna. A Lua é receptiva, absorve a energia (as gotas)
do sistema, e demarca a aproximação entre consciência e inconsciente, aqui
representados pela duplicidade de símbolos: dois lobos a serem vencidos e dois templos
a serem alcançados. Jung admitia que, quando os símbolos se duplicavam em nossos
sonhos, provavelmente estaria havendo a assimilação de valores inconscientes por uma
consciência que se aprimora.
Vencida a noite negra, o Sol do arcano XIX é quem traduz o momento áureo da jornada,
quando a consciência comunga do si mesmo, inspirado instante em que ela se ilumina. A
energia agora se espalha pelo sistema, e as duas crianças (consciência e inconsciente),
que se tocam para cá do muro que antes as separava, descobrem-se idênticas, visto que
nenhuma diferença deveria mesmo haver entre instâncias de um mesmo psiquismo. No
contato mútuo das crianças, a ponte para o si mesmo se apresenta, e a iluminação
preenche esta mandala.

Mas não por isso o caminho chega ao fim. Restam ainda a análise e a síntese alquímica
do processo, previstos pelos últimos dois arcanos, O Julgamento, XX, e O Mundo, XXI.
Juntos simbolizam o ajuste da mandala pessoal, momento em que o herói procura
reorganizar seu mundo psicológico, transformado que está por tudo aquilo que sofreu.
No Mundo, a síntese (a mandala) se define claramente. O herói está liberto no núcleo da
carta, em sintonia com o universo à sua volta. As figuras nos quatro cantos da lâmina
são alusão aos quatro naipes em que se desdobra o baralho. Mas o Mundo é apenas o
fechar de um ciclo. Serve para impulsionar o herói (nós mesmos) para a frente. Afinal,
somos sábios apenas em relação àquilo que vivemos, e completamente Loucos frente ao
que nos é desconhecido. Vamos dar outra volta?
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O Tarô e o Caminho da Individuação


As possibilidades de análise esotérica do tarô exigem a
observação atenta e minuciosa das suas lâminas, devendo se
considerar detalhes como cores, objetos e figuras geométricas.

Para se conhecer o tarô, é necessário seguir um método mais ou menos lógico de análi
se das cartas, observando o grafismo, as cores, as figuras, as relações entre as figuras, a
maneira como elas evoluem (um homem e uma mulher, um homem e duas mulheres,
várias figuras, animais, plantas e objetos em geral) e os símbolos por trás disso tudo.
Essa análise depende de uma bagagem intelectual prévia, pois, para quem não entende
de psicologia das cores, de grafismo e símbolos, as cartas vão oferecer muito pouco
material. O estudo do jogo é feito, em geral, em dois níveis: o do conjunto das cartas,
que tem relação direta com os métodos de tiragem, e o da carta individual. A análise
individual das cartas baseia-se em conhecimentos do esoterismo relativos às figuras
geométricas, às cores, aos objetos e às direções.
As figuras geométricas
• O ponto e/ou o círculo (e, em alguns casos, o triângulo) geralmente representam o
espírito. • A cruz e/ou o quadrado geralmente representam a matéria. • O leminiscato
e/ou os chifres geralmente representam a alma. • O triângulo com apenas um vértice
para cima geralmente representa o bem; para baixo, o mal.
As cores
• Vermelho: em geral, atividade, agressividade e espiritualidade divina.• Azul:
passividade, docilidade e materialismo. • Amarelo: espiritualidade em desenvolvimento;
é considerada uma cor estimulante a nível intelectual. • Branco: pureza, alma,
consciência espiritual e imortalidade. • Verde: corrupção, putrefação e regeneração.
Os objetos
Embora deva-se analisar todos os objetos da carta, reconhecem-se sobretudo quatro
objetos básicos, correspondentes aos naipes do baralho: • Bastão/clava/paus – atividade
e poder. • Copo/cálice – passividade e receptividade. • Faca/espada – atividade e força.
• Moeda/roda/pentágono – passividade e matéria.
As direções
• Para a esquerda: o passado. • De frente: o presente. • Para a direita: o futuro.
Guia de Estudo dos Arcanos Maiores
Arcano I – O Mago
A carta apresenta três partes: o chapéu, formando um leminiscato; o tronco, formando
um círculo; e a mesa, formando o quadrado da matéria.
Observar: • A divisão da carta representando o glifo de Mercúrio. • A inversão
cetro/moeda que aparece nas mãos; os braços formando o Aleph. • O disfarce do
potencial dos objetos que aparecem sobre a mesa: faca – espada; copo – cálice; moeda
– círculo; bastão – cetro • O olhar e a direção do olhar do Mago. • O excesso de
vermelho.
Arcano II – A Grã-Sacerdotisa
A carta apresenta três partes: o painel, formando um chifre disfarçado; o tronco e a
cabeça da figura, formando um triângulo do bem; e a parte inferior da carta, formando o
sinal da matéria. Observar: • Os chifres. • O olhar e a direção do olhar da figura. • O
livro como fonte de sabedoria. • A predominância da cor azul. • A cor vermelha
losangular (vagina) como atividade escondida.
Arcano III – A Imperatriz
A carta apresenta três partes: a curva das asas, representando os chifres do poder e da
alma; o tronco e a cabeça, formando o triângulo espiritual do bem; e a parte inferior,
formando o quadrado da matéria. Observar: • A direção do olhar da figura. • A
predominância da cor azul. • A coroa. • O cetro amarelo. • O brasão, entre o céu e a
terra, com as asas apontando para cima. • As asas da figura. • A planta à esquerda.
Arcano IV – O Imperador
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A carta divide-se em três partes: a cabeça e as costas, formando o semicírculo potencial
do espírito; o tronco, formando o triângulo do bem e da espiritualidade; e as pernas
cruzadas, formando a cruz da matéria. Observar: • O chapéu, cuja forma é uma
evolução do anterior. • A predominância da cor azul. • O cetro amarelo. • O cinto
amarelo. • O medalhão. • O brasão, com as asas apontando para a terra (bens
materiais). • A planta à esquerda, se desenvolvendo mais em relação à figura anterior.
Arcano V – O Sumo-Sacerdote
A carta apresenta: a cabeça do Sumo-Sacerdote com uma coroa, onde predomina a cor
amarela; o braço esquerdo mais o bordão amarelo, indicados pela mão direita; e o
tronco e a cabeça formando o triângulo do bem e reforçando a situação de predomínio da
espiritualidade. Observar: • O olhar da figura. • As colunas atrás, asas em potencial. • A
veste azul, que se transforma em vermelha. • As mãos formando um novo Aleph,
representando o início de um novo ciclo.
Arcano VI – O Namorado
A carta apresenta três figuras importantes: a mãe ou o vício, à esquerda, apontando
para as partes genitais; a amada ou a virtude, apontando para o coração do Namorado;
e o cupido com a flecha.
Observar: • O olhar do Namorado, para a esquerda. •As listas da roupa do Namorado,
onde não há dominância de cor (indecisão). • A cor vermelha predominante à esquerda e
a azul, à direita. • A cor do chão aos pés do Namorado.
Arcano VII – O Carro
A carta pode ser dividida em três partes: no alto, o corpo do homem; a moldura,
formada por quatro mastros; e o carro, com os dois cavalos, no plano inferior.
Observar: • A corda amarela. • O cetro amarelo. • As duas mangas: uma vermelha, a
outra amarela. • O azul central do tórax da figura. • As ombreiras. • A planta central. • O
equilíbrio de cores dos quatro mastros. • A direção do olhar do homem e dos cavalos. • A
cor dos dois cavalos: emoções contraditórias.
Arcano VIII – A Justiça
A carta apresenta duas partes: o corpo, formando o oval do espírito; e o encosto da
cadeira, formando os chifres do espírito (ou alma). Observar: • O equilíbrio entre as
cores azul e vermelha. • A espada (matéria) em posição de atuação (espírito) na mão
direita da figura. • O símbolo do equilíbrio na mão esquerda; a balança amarela. • A
figura está de frente e não está distraída. • A planta à esquerda.
Arcano IX – O Ermitão
A carta representa quase um quadrado, onde há o predomínio da cor azul. Observar: • A
direção da figura. • O chapéu vermelho (atividade psíquica). • A lâmpada vermelha e
amarela. • O bastão que poderá se transformar em cruz ou cetro. • A figura é de idade
avançada e dá idéia de peso e massa.
Arcano X – A Roda da Fortuna
A carta representa três partes: uma figura animalesca, coroada e alada (vitória sobre a
“roda da vida”?); os dois animais presos à roda; e os pés do suporte da roda, formando
cruzes invertidas.
Observar: • As bases espirituais da roda, em amarelo. • Não aparece o outro lado do
eixo da roda. • O centro da roda é vermelho e, portanto, ativo. • Os raios em número de
seis e não de oito, envolvidos pelo aro ativo: união do homem com os deuses ou com
Deus. • O animal que sobe, amarelo, espiritual, e o animal que desce, simiesco,
vermelho: a luta entre os espíritos de animais para se apossar do homem.
Arcano XI – A Força
A carta apresenta três partes: o chapéu, representando um leminiscato; a parte superior
da figura, formando um círculo; e os braços cruzados, dominando um leão amarelo e
formando outro leminiscato, de forma ativa.
Observar: • O Chapéu. • O equilíbrio entre as cores amarela, vermelha e azul, que
aparecem na parte superior da figura. • A figura parece dominar o leão com certa
facilidade. • A direção do olhar da figura. • O pé da moça em direção ao futuro. • O leão
não tenta fugir. Arcano XII – O Enforcado A carta apresenta três partes: os pés cruzados,
representando a predominância da matéria sobre o espírito; o resto do corpo, formando
um triângulo invertido; e o quadrado envolvendo a figura, constituído por partes que
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poderão reviver. Observar: • Os pés não estão amarrados (a situação não é incorrigível).
• A cor vermelha dos membros inferiores. • O triângulo invertido (desconhecimento do
próprio caos interior). • O olhar sonhador da figura. • As plantas.
Arcano XIII – A Morte
A carta representa o símbolo de Saturno, formado pela cruz dos braços e pela foice.
Observar: • A Morte não é um esqueleto, mas uma parte óssea envolvida ainda de carne.
• A foice vermelha com o cabo amarelo. • O pé esquerdo cortado pela foice. • A direção
da figura. • As cabeças no chão (o Sol e a Lua). • As plantas. • A cor do chão. • O
leminiscato disfarçado, formado pelos braços e pela foice. Arcano XIV – A Temperança A
carta apresenta uma figura alada e a passagem de água de uma vasilha para outra,
indicando uma transformação de forças. Observar: • A figura é feminina. • O olhar é em
direção ao passado, ou seja, à carta anterior, A Morte. • A disposição das cores
geralmente sugere o yin-yang chinês. • A cor dos vasos e de seus interiores. • Os fluxos
da água: a água não se esparrama. • As plantas e o chão. Arcano XV – O Diabo A carta
pode ser dividida em duas partes: o corpo do Diabo até o seu pênis, formando um
triângulo invertido e centralizado nas partes genitais; e a parte inferior, formando o
quadrado da matéria. Observar: • As asas formando um semicírculo (vontade de voar,
de ser puro). • As cordas que prendem os dois escravos. • O cinto do Diabo (fixação
ativa no sexo). • Asas e pernas azuis: passividade, preguiça. • O olhar dos escravos:
contentes ou indiferentes com a situação? • A espada quebrada na mão esquerda:
possibilidade de se chegar à pureza.

Arcano XII – O Enforcado


A carta apresenta três partes: os pés cruzados, representando a predominância da
matéria sobre o espírito; o resto do corpo, formando um triângulo invertido; e o
quadrado envolvendo a figura, constituído por partes que poderão reviver.
Observar: • Os pés não estão amarrados (a situação não é incorrigível). • A cor vermelha
dos membros inferiores. • O triângulo invertido (desconhecimento do próprio caos
interior). • O olhar sonhador da figura. • As plantas.

Arcano XIII – A Morte


A carta representa o símbolo de Saturno, formado pela cruz dos braços e pela foice.
Observar: • A Morte não é um esqueleto, mas uma parte óssea envolvida ainda de carne.
• A foice vermelha com o cabo amarelo. • O pé esquerdo cortado pela foice. • A direção
da figura. • As cabeças no chão (o Sol e a Lua). • As plantas. • A cor do chão. • O
leminiscato disfarçado, formado pelos braços e pela foice.
Arcano XIV – A Temperança
A carta apresenta uma figura alada e a passagem de água de uma vasilha para outra,
indicando uma transformação de forças.
Observar: • A figura é feminina. • O olhar é em direção ao passado, ou seja, à carta
anterior, A Morte. • A disposição das cores geralmente sugere o yin-yang chinês. • A cor
dos vasos e de seus interiores. • Os fluxos da água: a água não se esparrama. • As
plantas e o chão.

Arcano XV – O Diabo
A carta pode ser dividida em duas partes: o corpo do Diabo até o seu pênis, formando
um triângulo invertido e centralizado nas partes genitais; e a parte inferior, formando o
quadrado da matéria.
Observar: • As asas formando um semicírculo (vontade de voar, de ser puro). • As
cordas que prendem os dois escravos. • O cinto do Diabo (fixação ativa no sexo). • Asas
e pernas azuis: passividade, preguiça. • O olhar dos escravos: contentes ou indiferentes
com a situação? • A espada quebrada na mão esquerda: possibilidade de se chegar à
pureza.

Arcano XVI – A Casa de Deus


A carta apresenta uma torre quadrangular com um teto circular, fulminado por um raio.
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É impossível ajustar um círculo a um quadrado ou unir coisas que naturalmente não
combinam.
Observar: • O teto redondo com ameias amarelas. • O fogo dos céus. • As figuras
caindo. • As pedras vermelhas, azuis e brancas como dádivas do céu. • O chão amarelo.
• As plantas.

Arcano XVII – A Estrela


A carta apresenta os quatro elementos, todos nos seus devidos lugares: o fogo (estrela);
o ar (pássaro sobre a árvore); a água (saindo dos jarros); e a terra (onde se encontra a
figura humana).
Observar: • Os elementos estão interagindo. • Os braços e cabelos da mulher e a água
que sai dos jarros formam novamente o símbolo yin-yang ou o Ouroboros, a serpente da
vida. • A árvore da vida, onde se encontra o pássaro, está completamente desenvolvida.
• Parte da água cai na água e parte no chão: atos e idéias que se perdem, de um lado, e
atos e idéias férteis, de outro.
Arcano XVIII – A Lua
A carta mostra a Lua sugando a energia da terra; dois animais (emoções) uivando para
ela; e uma lagosta numa poça d’água.
Observar: • O aspecto lúgubre da carta. • Os dois castelos amarelos. • A direção das
gotas. • A lagoa de águas paradas (estagnação). • O predomínio da cor azul
(passividade). • As plantas.
Arcano XIX – O Sol
Esta carta é o oposto da anterior e apresenta o Sol derramando sua força para todos os
lados e duas crianças numa atitude amigável.
Observar: • Os raios do Sol e as gotas. • O muro. • O predomínio do amarelo.
Arcano XX – O Julgamento
A carta é dividida em duas partes: o círculo, com o anjo e a trombeta, ativando a
matéria embaixo; e o grupo de figuras, ponto focal da ativação, representando a própria
matéria.
Observar: • O anjo segura na mão esquerda uma cruz, enquanto procura “acordar” com
a trombeta os que ainda não estão em processo de desenvolvimento espiritual. • As três
figuras (a mãe, o pai e o filho, este de costas) representam a humanidade. • O filho
ainda não se definiu e emerge de uma putrefação e regeneração (verde). As duas figuras
de frente são os conselheiros e os guias.

Arcano XXI – O Mundo


A carta é uma reunião das outras. Apresenta o triângulo da matéria sendo dominado
pelo círculo do espírito. Este, por sua vez, é rodeado pelos quatro elementos básicos: o
anjo (ar), a águia (água), o leão (fogo) e o touro (terra).
Observar: • O equilíbrio dos quatro elementos. • As cores da guirlanda. • O bastão da
mulher. • O equilíbrio entre a mulher (alma) e os quatro elementos. • As pernas
cruzadas numa posição inversa à do Enforcado. • O olhar da mulher.

Arcano 0 – O Louco
A carta mostra uma ausência de grafismo: o homem com um chapéu de bobo, sacola nas
costas, roupa extravagante e rasgada, sendo perseguido por um cão.
Observar: • A direção da figura, iniciando um caminho para o futuro. • A cor da roupa:
conflito entre as emoções. • As plantas no chão. • O bastão: cetro, espada ou o quê? • O
cão: emoções, desejos, situações. • A sacola nos ombros (potencial para se chegar ao
Mago ou ao Mundo). • O chapéu amarelo.

A Interpretação dos Arcanos Maiores


Os Ciclos da Evolução do Inconsciente -III
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A interpretação que se segue do significado de cada um dos arca- nos maiores
representa simplesmente uma das inúmeras possibilidades de leitura em relação a cada
símbolo e pretende fornecer ao leitor uma base operatória nas tiragens. Cada carta está
assim dividida: descrição da simbologia; representação abstrata; interpretações
divinatórias. Para as duas primeiras partes, foram usados os seguintes autores, cujos
livros se encontram citados na bibliografia: Juan-Eduardo Cirlot, Alberto Cousté, Oswald
Wirth, Piotr Demiánovich OusDescrição da simbologia – A primeira lâmina do tarô
simboliza a atividade originária e o poder criador que existe no homem. O Mago é o
homem perfeito, confiante em si mesmo e em plena posse das faculdades físicas e
morais. É representado de pé, numa atitude que indica vontade pronta para agir. Com a
mão direita segura um bastão (eixo do mundo, que se eleva para o céu), um dos quatro
emblemas do trabalho. A mão esquerda, indicando a terra, mostra que a missão do
homem é reinar neste mundo. O duplo gesto indica que a vontade humana deve refletir
na terra a vontade divina. A fronte do Mago é cingida por um chapéu em forma de oito
deitado, signo do infinito. O cinto é representado por uma serpente que morde a própria
cauda, símbolo da eternidade. Na mesa à sua frente aparecem os outros três emblemas
que completam o baralho: o ouro, a espada e a copa. No seu traje, de várias cores,
destaca-se o vermelho. Todos esses pensky, Paul Huson, J. Repollés. As interpretações
divinatórias foram extraídas do livro Cartas e Destino, de Hadés.
Além disso, foram consideradas as informações fornecidas pela profa. Ana Matilde
Pacheco e Chaves sobre os vários ciclos das cartas – que ela compara ao processo de
individuação junguiano – e que podem ser assim resumidos:
O conjunto das sete primeiras cartas representa o desenvolvimento das qualidades do
arcano O Mago, cuja culminância é o imperador vitorioso – O Carro. O homem veio ao
mundo tendo à sua disposição as quatro funções psíquicas representadas pelos quatro
naipes: espadas/pensamento; cálice/sentimento; bastão/intuição; ouros/sensação. É
também o princípio masculino, ativo, que pode ser associado ao animus. A Grã-
Sacerdotisa representa a necessidade de parar, de se tornar receptivo para se aprimorar
espiritualmente, e pode ser associada à anima. Na sua trajetória inicial, o homem
aprende primeiro a lidar com os pais – A Imperatriz e O Imperador. Depois, entra em
contato com as instituições socializadoras – a religião e a escola – simbolizadas pelo
arcano O Sumo-Sacerdote. Aprende a fazer uma escolha e o reconhecimento de sua
identidade sexual, transferindo os laços edípicos para outras pessoas do sexo oposto. Se
a decisão é bem feita, ele assume a persona – O Carro – como veículo para viver em
sociedade e conduzir a própria vida. Essa primeira fase da vida representa a atitude
extrovertida.
O segundo ciclo é representado pelo conjunto das cinco cartas seguintes e corresponde à
segunda parte da vida, à atitude introvertida e ao início do processo de individuação.
Esse conjunto apóia-se no conceito de que a realidade, tal como a conhecemos, é
ilusória. A Justiça é o primeiro passo para esse reconhecimento e ensina a pesar, a medir
e a eliminar o que é desnecessário. O Ermitão é a volta ao passado para se iluminar – a
auto-análise e a busca de fatores que condi-cionaram a atitude presente. O
autoconhecimento leva à constatação da mecanicidade do mundo como fator dominante
e dos determinismos biológicos e sociológicos – A Roda da Fortuna. Dependendo de
como compreende tais determinismos, o homem sobe ou desce a roda. Começa então a
enfrentar aquilo que vem a ser a sua herança biológica, representada pela carta A Força
– os instintos de agressão e sexualidade. Esta carta corresponde ao confronto com a
sombra. Prosseguindo, entra em contato com seu caos interior e sua impotência básica –
O Enforcado.
O conjunto das próximas três cartas completa o ciclo anterior e representa os elementos
que deverão ser usados ou combatidos, para se obter uma evolução interna. Se supera a
preguiça e desamarra o nó do Enforcado, estabelece relação com A Morte, aprendendo a
cortar o que não presta, transformando-se inevitavelmente; se for bem-sucedido, chega
ao rejuvenescimento. Ingressa, então, em um novo plano mais elevado, de outro nível,
operando uma transmutação alquímica interior, representada pelo arcano A Temperança.
Feito tudo isso, pode cair na tentação de usar o que aprendeu para obter poder sobre os
outros – O Diabo.
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O ciclo seguinte, de quatro cartas, é a conseqüência externa do anterior. A Casa de Deus
– destruição; A Estrela – reconhecimento de que há influências cósmicas; A Lua – ilusões
que impedem o homem de chegar àquilo que ele é; O Sol – a necessidade de encarar a
realidade e abandonar A Lua.
O ciclo das duas últimas cartas numeradas representa propriamente o início da evolução
espiritual: O Julgamento – criação de um novo “eu”, de uma individualidade; O Mundo –
o homem completo, que reconcilia a extroversão e a introversão. Se falha no processo,
chega ao Louco, ao zero, e começa tudo de novo.

A Interpretação das Cartas


ARCANO I
O MAGO
Descrição da simbologia – A primeira lâmina do tarô simboliza a atividade originária e o
poder criador que existe no homem. O Mago é o homem perfeito, confiante em si mesmo
e em plena posse das faculdades físicas e morais. É representado de pé, numa atitude
que indica vontade pronta para agir. Com a mão direita segura um bastão (eixo do
mundo, que se eleva para o céu), um dos quatro emblemas do trabalho. A mão
esquerda, indicando a terra, mostra que a missão do homem é reinar neste mundo. O
duplo gesto indica que a vontade humana deve refletir na terra a vontade divina.
A fronte do Mago é cingida por um chapéu em forma de oito deitado, signo do infinito. O
cinto é representado por uma serpente que morde a própria cauda, símbolo da
eternidade. Na mesa à sua frente aparecem os outros três emblemas que completam o
baralho: o ouro, a espada e a copa. No seu traje, de várias cores, destaca-se o vermelho.
Todos esses atributos simbolizam o domínio da situação:empunhando as armas mágicas
da consciência, o homem pode conquistar o mundo.
Esta carta costuma aparecer também com outros nomes: Saltimbanco, Prestidigitador,
Conjurador, Trovador, etc. Conta-se que, na sua origem, queria representar o artista, o
bufão ou o comediante ambulante que, de cidade em cidade, ia, com um grupo de
atores, levando comédias, augurando boas notícias e vendendo elixires fantásticos. As
autoridades viam esses grupos com desconfiança, pois também eram veículos de idéias
“heréticas”, que transmitiam de um país a outro.
Representação abstrata – O início dos atos da vida material e mental, aspectos para os
quais mais se habilita. A prestidigitação (do latim digitus, dedo, e praestigium, ilusão,
artifício) consiste em tocar nas coisas com os dedos, modificando-as diante do mundo
visível. Inteligência, habilidade, destreza, astúcia, presença de espírito; iniciativa,
vontade, energia, poder, criação, ânimo disposto a se confrontar com os perigos;
diplomacia, finura, persuasão, personalidade.
No sentido negativo: falta de escrúpulos, intriga, exploração do outro, discussões,
disputas; timidez, vontade fraca, vacilação, nervosismo, indecisões, tendência à
impulsividade. No conjunto: ação e movimento.
Interpretações divinatórias – O Mago é a carta do tarô que mais sofre influência das
outras cartas que se agrupam à sua volta ou a acompanham. Alude à modificação
perpétua da matéria, cuja compreensão, na verdade, escapa ao homem, sendo, por isso,
um convite à penetração na realidade invisível, que se dissimula sob a visível. Soma de
várias possibilidades, anuncia uma ascensão nas esferas do futuro.
Exerce sua influência nos mundos material, mental e anímico. Não se trata, portanto, de
uma carta espiritual, pois os segredos a que se refere são meramente técnicos. Sua
presença no jogo indica a modificação e o ponto de partida de qualquer coisa. No plano
mental: capacidade de ação e de livre-arbítrio, independência; um aviso e uma criação
encontram-se à disposição do consultante; ação próxima. No plano anímico: movimento;
circunstâncias materiais favorecerão o consultante. Como a carta contém um lado de
ilusão, há necessidade de observar as outras para melhor definir a direção do
movimento. No plano físico: um novo fato vai orientar a vida do consultante; pode
significar o encontro com um homem jovem, tanto para a mulher quanto para o homem.
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Recomenda ação, trabalho, vontade, fé em si mesmo, esforço e racionalidade para
resolver os problemas.

ARCANO II
A GRÃ-SACERDOTISA
Descrição da simbologia – A segunda carta é representada por uma mulher (princípio
passivo e feminino) que guarda a entrada do templo. Simboliza a natureza, no sentido
da geração oculta e formativa de todos os fenômenos que lhe são inerentes. Na mitologia
egípcia é figurada por Ísis, deusa da noite ligada a Osíris. Aparece sentada entre duas
colunas, tendo sobre os joelhos um livro entreaberto, meio escondido sob o manto,
significando que a sabedoria só se revela na solidão e àquele que se concentra em
silêncio e em paz consigo mesmo. A coluna direita é vermelha, solar, correspondente ao
fogo, atividade do espírito na sua elevação acima da matéria. A coluna esquerda é azul,
lunar, representando a noite do caos, as trevas do espírito impuro, preso às coisas
materiais.
A tiara que cinge a cabeça da Grã-Sacerdotisa tem um crescente lunar, símbolo das
fases do mundo fenomênico, demonstrando com isso a predominância do princípio
feminino. A cruz solar que traz no peito exprime que a verdade foge aos olhares
profanos. O livro é o símbolo do próprio universo (“o universo é um imenso livro”), cujos
caracteres revelam os fenômenos essenciais divinos, escondidos no segredo dos
segredos.
Segundo Douglas, a lenda que afirma ser a Grã-Sacerdotisa uma alusão à mulher que
ocupou a cadeira de São Pedro não tem fundamento. O mais provável é que ela tinha
relação com as grandes sacerdotisas da Antigüidade.
Representação abstrata – A geração do ato, o desenvolvimento em segredo, num ritmo
mais lento que o do Mago. A fecundidade secreta que assegura o crescimento. Intuição,
percepção das coisas visíveis e invisíveis, sabedoria, meditação, interioridade ativa;
modéstia, discrição, paciência, piedade, resignação. Simboliza o mistério da
maternidade, mas também a Grande Mãe – o eco, o reflexo, o conflito, a contraposição,
a sombra.
No sentido negativo: rancor, dissimulação, intenções ocultas, intolerância, instabilidade
emocional. Postula o crescimento e a fecundidade. No conjunto, indica que toda
concepção se realiza em ambiente fechado (o útero, o templo), onde se desenvolve o
germe, o conhecimento.
Interpretações divinatórias – Sua presença no jogo significa fecundidade, imaginação,
sabedoria em todos os planos e, conseqüentemente, deve ser considerada benéfica. Tem
o poder de multiplicar a força das cartas que a acompanham. Renascimento; forças
femininas em gestação. No caso de o consultante ser mulher, a carta simboliza ela
mesma. A mulher, modelo do homem.
A Grã-Sacerdotisa é a lâmina mais simbólica de todo o tarô, surgindo sempre como uma
recomendação para se buscar a verdade através do bem e para se guardar silêncio sobre
os desejos, a fim de não expô-los à confusão dos homens.

ARCANO III
A IMPERATRIZ
Descrição da simbologia – O terceiro arcano do tarô simboliza a produtividade material:
a natureza geradora de uma nova vida em constante atividade – união dos dois
princípios anteriores. Apresenta a imagem de uma mulher em posição rígida e hierática,
com um sorriso no rosto. Seus atributos são o cetro, a coroa, o escudo e o colar. O cetro
revela o sentido do comando e da ação da figura, sendo guarnecido, na extremidade, por
um globo, imagem do mundo, signo da natureza sempre em evolução. A águia sobre o
escudo é o símbolo da alma sublimada no seio da espiritualidade, da elevação e vôo do
espírito. A coroa de 12 estrelas representa o poder criador do Sol no seu percurso
durante o ano ao redor do zodíaco. O colar de ouro é formado por um triângulo, uma
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alusão ao encontro do princípio ativo com o passivo, do consciente com o inconsciente,
sendo que o primeiro se impõe ao segundo e o sustenta.
Todo o conjunto mostra uma inteligência ativa, equilibrada por uma sabedoria absoluta.
A lâmina é associada à Ísis celeste, à Grande Deusa-Mãe, governante do paraíso
terrestre e fonte de todos os seres.
Representação abstrata – A multiplicação manifesta-se através do masculino, mas
usando a emoção e o sentimento como armas e não o pensamento e o controle
intelectual do Mago. Império exercido através do afeto. Graça, afabilidade, encanto,
poder da alma, educação, generosidade, penetração dos seres. Abundância,
maternidade, fertilidade, fecundidade, proteção, honestidade de sentimentos, cuidado
materno, estabilidade doméstica. Inspiração ou conforto através do contato com a
natureza. Elaboração, evolução, fôlego, dinamismo. Possibilidade de comunicação com o
visível e o invisível, livre de dualidade e alternância. Germinação dos atos que devem
nascer da vontade. No sentido negativo: ligeireza no amor, sedução, vaidade,
coqueteria, luxo, afetação, desejo sem espírito, frivolidade, pompa, pose, ostentação de
noções superficiais; alienação psíquica, tirania materna. No plano geral: produção
material e espiritual.
Interpretações divinatórias – Possui o sentido de multiplicidade, razão pela qual se deve
interrogar as cartas à sua volta. Multiplica os efeitos das cartas vizinhas. É neutra e age
como as ondas, a estrada, o caminho, servindo para transmitir alguma coisa. Obtenção
de bens materiais como conseqüência de contínuos esforços, apesar dos obstáculos.
Satisfação em vencer as dificuldades. Êxito nos empreendimentos, se souber unir a
atividade fecunda à retidão de espírito. No plano mental, ao qual está adaptada, permite
o ensino e a comunicação; coordena e associa; é mediadora entre o 2 e o 4, a
fecundidade e a estabilidade. No plano anímico, representa as forças do pensamento que
ligam o microcosmo ao macrocosmo, mas, como é muito presa aos sentidos, a
comunicação é ainda grosseira. No plano físico: os intermediários, os mensageiros, os
carteiros, os livros, a edição, o avião, as viagens; pessoas jovens e inteligentes que
agirão em favor do consultante. Anuncia alegria e satisfação dos empreendimentos, à
medida que os obstáculos forem vencidos.

ARCANO IV
O IMPERADOR
Representação da simbologia – Quarto arcano do tarô, O Imperador (organização,
autoridade e poder) aparece sentado num trono no qual se destaca uma águia. O trono é
uma pedra cúbica de ouro que representa a sublimação do princípio construtivo e
material – a obra humana realizada. Tem na mão direita um cetro rematado pelo globo
do mundo. A perna direita dobrada sobre a esquerda forma uma cruz (os quatro
elementos, os quatro pontos cardeais), significando a expansão do poder humano em
todas as direções. O capacete coroado é o emblema da conquista do poder. A
possibilidade de culminação de sua autoridade é representada pelo cetro e pela águia.
A predominância do vermelho é símbolo de atividade intensa. É o personagem que
triunfou sobre as restrições físicas por meio do emprego inteligente de seus próprios
recursos. Está relacionado às sociedades patriarcais guerreiras que sucederam as
culturas agrícolas primitivas da Grande Mãe e é um descendente das representações do
Pai. Introduz as leis humanas na sociedade e o princípio de transmissão hereditária do
poder.
Representação abstrata – O poder que cria e se mantém – a organização imperativa de
uma esfera da vida. Criação da vontade, não dos sentimentos; mais poder do que amor.
Poder civilizador, apoio, estabilidade, proteção. Magnificência, energia, direito e rigor.
Coragem, valor. No sentido negativo: dominação, tirania, autoritarismo. No sentido
geral, expressa o quádruplo trabalho do espírito: afirmação, negação, discussão, solução.
Interpretações divinatórias – É uma carta unicamente material, cujos efeitos dependem
das cartas que a acompanham. Indica fortes possibilidades de realizações no domínio
material. Ação triunfante que pode servir de trampolim para uma grande realização. As
modificações que sugere são provenientes de uma atividade inteligente acompanhada de
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uma autoridade. Pouco adaptada ao plano mental, manifesta-se como compreensão de
acontecimentos materiais; bons servidores nesse sentido.
O plano anímico não interessa ao Imperador. No plano físico, pode representar o
encontro com um homem importante, forte aliado ou tirano inflexível. Promoção e apoio
material em benefício do consultante ou dos que o rodeiam. Êxito na esfera material.
Recomenda o combate para assegurar a realização da verdade e da justiça, a fim de
realizar-se como ser humano. O espírito só consegue a liberdade se lutar contra as
dificuldades da vida e triunfar sobre as circunstâncias.

ARCANO V
O SUMO-SACERDOTE
Descrição da simbologia – Entre duas colunas do santuário, figura O Sumo-Sacerdote,
mestre supremo da ciência e dos mistérios sagrados. Simboliza o ensino. Sob o manto
vermelho, sua roupa branca é sinal da pureza de suas intenções. O indicador da mão
direita sobre o peito é signo do silêncio. O cetro, onde se apóia, termina numa cruz de
três barras, emblema da penetração de Deus nos três mundos – mental, anímico e físico.
Os extremos da cruz são arredondados: alusão ao setenário das virtudes necessárias
para vencer os sete pecados capitais: orgulho, preguiça, inveja, cólera, luxúria, gula e
avareza. Dois fiéis ajoelhados à sua frente representam a unção santificada pelos
sacramentos e a obediência ao Senhor dos Arcanos. O conjunto simbólico convida a ouvir
a voz do céu, a voz interior, livre de paixões. Esta carta é a contrapartida masculina da
Grã-Sacerdotisa. Assemelha-se ao papa romano; algumas versões do tarô apresentam-
na como o Hierofante, sacerdote dos mistérios de Eleusis, na Grécia antiga.
Representação abstrata – Tudo que nasce é dirigido por um processo criador que impõe
à matéria um sentido espiritual. Inspiração, aviso, bom conselho, ensino, consciência,
austeridade, justiça, religião, lei divina, dever moral, sacerdócio, bondade, afabilidade,
generosidade, autoridade, certeza, segurança, afeto sólido, equilíbrio, soluções lógicas,
segredo revelado, vocação.
No sentido negativo: calúnia, propaganda que distorce a verdade, má informação,
equívoco, projeto retardado, falta de humanidade no sentido comum, falta de
espontaneidade, repetição de erros, opressão através do intelecto.
Interpretações divinatórias – Carta do poder espiritual sobre o material, da instauração
do sagrado e da intervenção da lei divina. Sanção de uma autoridade superior que vem
beneficiar o consultante, exigindo deste serenidade e fé para compreender um
acontecimento que surge fora da rotina de sua vida. No plano mental, ao qual está bem
adaptada, trata-se de um aviso do espírito para a matéria e exige muita concentração a
fim de apreender em que circunstâncias um novo acontecimento se dará; revelação de
uma vocação e transmissão de princípios.
No plano anímico, é um apelo à libertação da matéria com a ajuda de um diretor de
consciência, de um médico da alma, de um professor ou de um personagem sentencioso;
necessidade de desprender-se do meio em que vive. Carta de legalidade, no plano físico,
significa proteção para o consultante, indicando que lhe será feita justiça. Recomenda
ouvir a voz da consciência e a oração: “Pedes e serás atendido.”

ARCANO VI
O NAMORADO
Descrição da simbologia – A sexta carta do tarô representa a imagem de um homem de
pé, entre duas mulheres, numa encruzilhada, indicando uma escolha a ser feita. Uma
das mulheres pousa-lhe a mão no ombro mostrando um caminho: atividade
determinada, vocação, finalidade, luta. A outra mostra o segundo caminho: passividade,
entrega aos impulsos e às solicitações externas. Acima da figura masculina e central,
paira um arqueiro que retesa seu arco, dirigindo sua flecha contra a segunda mulher, e
representa uma inspiração vinda do alto. A dualidade é uma fraqueza; a força está no
centro.
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O conjunto simbólico pressupõe uma eleição acertada, a beleza moral e a integridade; ao
mesmo tempo, alude à incerteza, às hesitações e aos riscos de erros. Perde-se o
caminho se predomina a segunda possibilidade. A imagem é relacionada à lenda de
Hércules, segundo a qual Deus o colocou entre duas mulheres (a Virtude e o Vício) para
que escolhesse uma delas. Como Hércules, o Namorado duvida entre dois modos opostos
de conduta.
Representação abstrata – A primeira decisão que o ser humano faz no seu caminho pela
vida sem ajuda de ninguém. Tudo o que toma forma para o suas escolhas. No sentido
positivo: liberdade, livre-arbítrio; amor, união, afetos puros, simpatias, sentimento,
laços que unem verdadeiramente, casamento; amor pelas artes; visão interior que
resolve problemas difíceis, abnegação, sacrifício, prazeres honestos, beleza moral.
Sentido negativo: incapacidade de abandonar a mãe; medo da vida independente;
desordem, ruptura, perigo de um deslize moral, severa tentação no caminho;
infidelidade afetiva, emoções instáveis, ausência de valores espirituais; dúvidas,
incertezas, indecisão, desejos não realizáveis, promessas que não se cumprem, etc.
Interpretações divinatórias – Carta neutra cujo sentido é esclarecido pelas cartas
vizinhas. A irrupção do desejo e do amor na vida do consultante. No plano mental não
transcende à ciência e à técnica; inquietação do espírito que procura mas ainda não
encontrou. No plano anímico introduz muita confusão, pois o contato com os outros seres
humanos impede que se ouça a voz mais interior; apelo para não se dispersar. O plano
físico oferece dupla solicitação ao consultante; presta-se a todos os desenvolvimentos no
terreno afetivo: associações, união, casamento. Adverte, de um lado, a não se deixar
perturbar pelos desejos, e, de outro, contra a indecisão.

Arcano VII
O Carro
Descrição da simbologia – Representando o triunfo dos princípios superiores da
personalidade humana, o sétimo arcano é figurado por um jovem protegido por
armadura, empunhando o cetro e montado no carro simbólico. De forma quadrada, o
carro é guarnecido por um pálio sustentado por quatro colunas, simbolizando a obra
realizada pela vontade que venceu os obstáculos. As quatro colunas representam os
quatro elementos submetidos ao condutor do carro. A coroa de ouro em sua fronte revela
a luz intelectual que desvenda todos os arcanos. Sobre seus ombros, dois crescentes
lunares significam o mundo das formas. O cetro e a coroa indicam dominação e vitória. A
dualidade homem-animal é representada pela presença dos dois animais atrelados ao
carro, símbolo dos poderes antagônicos, no caso, harmonizados. A couraça representa a
defesa contra essas forças inferiores. Todo o conjunto simbólico ressalta a idéia de um
movimento dinâmico do espírito, autodomínio e progressão vitoriosa. Muito rica
simbolicamente, a imagem do Carro possui correspondência em todas as civilizações,
sendo a mais conhecida a do profeta Elias, transportado para o céu num carro de fogo.
Representação abstrata – Representa a personalidade humana com poderes
espirituais, mentais e físicos suficientes para agir no mundo e guiar conscientemente sua
vida por um bom caminho. Vitória conseguida mediante esforço pessoal. Poder de
mando, decisão pronta e justa, auto-expressão, ação independente; espiritualidade
ativa, iniciativa, discernimento, conciliação; talento, diplomacia, predominância da
inteligência e do tato; saúde, força, sentimento de proteção, afeto manifestado,
magnetismo, avanço, progresso, altruísmo. No sentido negativo: egocentrismo, desprezo
pelos direitos dos outros, irreflexão, superatividade, falta de tato, orgulho, opressão
autoritária, habilidade para tirar proveito da desgraça alheia, brutalidade.
Interpretações divinatórias – Uma das cartas mais felizes e fortes do tarô, significa
auxílio, providência, proteção e êxito sobre os obstáculos. Sua presença no jogo é
sempre benéfica. No plano mental: realização e recompensa por trabalhos pessoais. Está
relacionada a público e tem forte influência sobre os artistas. Em outros casos:
comunicação possível com o absoluto. No plano anímico: forças exteriores ajudam o
consultante; apelo, amor, esplendor universal. No plano físico representa uma
irradiação; o poder de conseguir a adesão dos que estão à sua volta; a popularidade
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iluminando o campo sentimental do consultante. No plano afetivo aproxima os seres;
notícia; age como ativador de casamento, se for este o caso. Possibilidades de realização
em todos os campos; conquista de um público; conquista, vitória; amor, altruísmo;
talento.

Arcano VIII
A Justiça
Descrição da simbologia – A oitava lâmina simboliza a imparcialidade que caracteriza
a conduta humana, quando é guiada pelo equilíbrio entre forças opostas em movimento.
Essa idéia é personificada por uma mulher em atitude frontal – como a Imperatriz – e
simétrica, representando o exato equilíbrio bilateral. Seu trono é estável e maciço, como
o do Imperador. A fronte é cingida por uma coroa, a mão direita empunha uma espada
com a ponta para cima e a esquerda segura uma balança. Com a espada (símbolo da
palavra e da decisão psíquica) contrapesa a balança (peso do bem e do mal). É o antigo
símbolo da Justiça, associado ao signo zodiacal de Libra. Representa muito mais a função
interior justiceira do que a justiça exterior ou a legalidade social. Numa atividade
equilibrada, a balança pesa os atos, enquanto a espada separa a matéria, discernindo.
Seus olhos estão bem abertos, mostrando que ela penetra mais longe que as razões
parciais dos que se acham sob sua guarda. As lendas que se conhece sobre este arcano
referem-se às deusas relacionadas à sabedoria de Júpiter ou Zeus: Têmis – “lei natural”;
Astrea – que viveu na Idade do Ouro; Atenas – deusa da sabedoria.
Representação abstrata – A capacidade de julgar, comparar, pesar, medir e examinar
os atos humanos. Está associado à idéia de “justiça imanente”, ou seja, à idéia de que
toda culpa desencadeia automaticamente as forças de autodestruição, pondo em
movimento para isso todo um mecanismo psíquico ou psicossomático. Sentido positivo:
justiça, determinação pensada e sem excessos, potência conservadora das coisas,
retidão, honestidade, integridade, disciplina, respeito, independência de espírito, clareza
de juízo, justa valorização das coisas, reta conduta, firme propósito, graça-doçura-rigor
ao mesmo tempo, resolução. Sentido negativo: perdas, injustiça, parcialidade, prejuízos,
decisões errôneas, incapacidade de iniciativa, argúcias, manobras, castigos, punições,
rendição, submissão, ilusões, aplicação excessivamente rígida da lei.
Interpretações divinatórias – É uma carta de austeridade, pois está associada à lei de
causa e efeito, colocando-se fora de qualquer sentimento. O consultante deve esperar os
efeitos que seus atos presentes e passados suscitarão no futuro. Execução e veredito.
Seu princípio de severidade não pode ser vergado. Expressão de rigor e justa restrição
em vista de um novo equilíbrio. No plano físico, pode significar um contato com a justiça
e processos legais. No terreno afetivo, é dura, pois, dependendo das outras cartas,
impõe o fim a uma ilusão e, às vezes, um divórcio. É uma carta de apelo à clareza de
juízo, ao equilíbrio e à eqüidade de juízo, em suma, ao bom senso. O consultante é
chamado a prever o choque das forças contrárias para anulá-lo.

Arcano IX
O Ermitão
Descrição da simbologia – A alegoria do nono arcano apresenta um velho que anda
apoiado num bastão, trazendo na mão direita uma lanterna acesa, parcialmente
escondida sob seu manto. A lâmpada significa a luz da inteligência que se estende em
todas as direções e sentidos. Seu manto, exteriormente de cor escura – ocultação,
austeridade – e forrado de cor clara, simboliza a discrição. O bastão representa a
prudência. O velho é a personificação da experiência adquirida no trabalho da vida. Está
relacionado ao Velho Sábio, mestre que, às vezes, aparece em sonhos ou visões.
Representação abstrata – A busca do conhecimento feita em silêncio, com prudência e
circunspecção. Transmissão soberana da verdade. Ordem, sistema de investigação,
estudo, intuição, aptidão para fazer descobertas, meditação, razão, trabalho mental,
sabedoria; circunspecção, proteção, prudência, trabalho paciente e profundo, ajuda;
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silêncio, discrição, conselho pudente, reserva, experiência de vida; análise de desejos,
esperanças; celibato, estabilidade, cumprimento de promessas; a voz do eu interior, a
chama do conhecimento que existe em cada um. No sentido negativo: caráter taciturno,
desconfiado; tristeza, misantropia, pobreza, avareza; ceticismo, medo das novidades,
receios infundados.
Interpretações divinatórias – Tem o sentido de trazer luz a algo que estava escondido
– um segredo revelado. Pouco adaptada no plano físico, é uma carta neutra. Favorece o
consultante no domínio filosófico ou do ensino. No plano mental, inclina ao estudo, à
investigação, à pesquisa. No plano anímico, traz luz e esclarecimento a uma verdade:
contentamento. No plano físico, pode trazer atrasos e solidão que, em geral, não serão
bem aceitos. No entanto, esses obstáculos têm um profundo sentido benéfico, que só
mais tarde será compreendido. A carta não se relaciona com o plano afetivo das uniões.
Recomenda o trabalho paciente e profundo e a necessidade de ver as coisas com calma,
buscando reconhecer um caminho antes de seguir adiante com os planos.

Arcano X
A Roda da Fortuna
Descrição da simbologia – Décimo arcano do tarô. Figurado pelo simbolismo geral da
roda ou do círculo, representa o princípio de eterno movimento das forças cósmicas –
micro e macro – que ninguém e nada pode deter. Fatídica e irreversível, flutua sobre o
caos oceânico. A roda está presa a duas colunas por um eixo, cuja manivela movimenta
duas efígies, uma de cada lado. À direita, Hermanubis (gênio das forças construtivas da
existência) esforça-se para subir ao ponto mais elevado, enquanto, à esquerda, Tífon
(gênio das forças destrutivas) é precipitado para baixo. O equilíbrio dessas forças
contrárias de expansão representa o princípio de polaridade. No alto, a efígie imóvel é
uma alusão ao mistério das coisas, ao destino – sorte ou fortuna – sempre pronto a
impulsionar à direita ou à esquerda. O simbolismo da roda através dos tempos é muito
variado. Na antiga astrologia, significa a vida do espírito que nasce, evolui, desencarna e
volta a nascer, num movimento sempre ascendente em direção ao infinito. Como o ciclo
anual do Sol, é condutora da evolução e do destino.
Representação abstrata – A lei que rege a vida e a morte, o princípio de mudança
segundo o qual nada é permanente. O encadeamento de formas sucessivas e mecânicas
ao qual o homem deve submeter-se, enquanto não superar as possibilidades materiais.
Acontecimentos sobre os quais não se tem nenhuma influência. Ascensão, supremacia,
destino, elevação, bom augúrio, oportunidades; energia fecundadora, sagacidade,
iniciativa, sorte, êxito. No sentido negativo representa a incapacidade de aprender
através dos próprios erros; disfunções, meios ilegítimos para alcançar posições elevadas,
queda, inconstância, vantagens conseguidas através de adversidades.
Interpretações divinatórias – Carta de movimento rápido, de alteração imediata. Fim
de um ciclo e começo de algo completamente novo. No sentido imediato, é neutra, mas,
no sentido mais amplo, é sempre benéfica. Desempenha o mesmo papel que o tarô de
maneira geral, daí a necessidade de se interrogar as cartas vizinhas. Uma alteração
completa se revelará necessária e significativa para o consultante. A estabilidade atual
do consultante será substituída no futuro, em conseqüência de acontecimentos que se
manifestarão numa transformação de seu quadro habitual de vida, de seus sentimentos,
de seus negócios, etc.

Arcano XI
A Força
Descrição da simbologia – O arcano 11 do tarô simboliza a luta da inteligência contra
as forças bestiais da natureza. É figurado por uma jovem que, aparentemente sem
esforço, doma um furioso leão, cujas mandíbulas mantém separadas. Wirth assinala,
como detalhe de maior interesse nessa imagem, o fato de que a jovem não mata o leão,
mas o aperta contra seu corpo. Isso significa que não se deve menosprezar o inferior,
24
mas dominá-lo e utilizá-lo. Ou, como ensina a alquimia: não se deve – e a rigor nem é
possível – destruir o vil, mas sim transmutá-lo no superior. A alegoria encerra, também,
a noção de sexualidade: a goela aberta do leão situa-se à altura da vagina da jovem.
Alusão zodiacal – Leo dominado por Virgo. Leão é o único signo do zodíaco em que o Sol
se encontra em domicílio, em “força”. O arcano todo simboliza a força enquanto triunfo
da inteligência sobre a brutalidade.
Representação abstrata – Representa a capacidade de se confrontar com as próprias
necessidades instintivas – sobretudo a agressão e a sexualidade –, utilizando o espírito e
a inteligência como instrumentos. Ultrapassagem do ego no devotamento ao serviço dos
semelhantes. Força orgânica, moral e espiritual; firmeza e harmonia na conduta;
inteligência para lutar contra as forças bestiais da natureza; energia, vitalidade;
autocontrole, espírito alerta; trabalho; ação; domínio do “eu” e do que está à volta,
derrota dos baixos impulsos; união do sentimento e da razão; paciência, valentia,
intrepidez, capacidade de compreensão diante dos reveses e contratempos; fé, poder
espiritual, poder de direção; reconciliação com o inimigo (que pode estar em si mesmo);
caráter vivo, domínio das paixões, poder de conquista, intuição. No sentido negativo:
cólera, ira, impaciência, presunção, temeridade, natureza fraca, rudeza, grosseria,
insensibilidade, furor, crueldade, derrota diante de impulsos indignos, supressão das
necessidades instintivas por medo de afrontar as convenções, repressão.
Interpretações divinatórias – Carta clara e plena de alegria, é uma das melhores do
tarô, embora a vitória só possa ser conseguida em conseqüência de uma grande
vigilância. No plano mental, ao qual está perfeitamente adaptada, permite uma iniciativa
certa e reta; clareza de julgamento, força de ação sobre os outros; ensino importante.
Plano anímico: proteção e defesa contra qualquer dispersão; força oculta e magnetismo
sexual sobre os outros, vocação reconhecida. No plano físico: poder de ação invencível
dirigido a um objetivo; todas as possibilidades de se chegar ao que se quer;
afetivamente, promete um encontro importante, carregado de magnetismo, uma nova
direção à vida sentimental – ligação ou casamento.

Arcano XII
O Enforcado
Descrição da simbologia – Simboliza a sujeição e o sacrifício a tudo o que é
antinatural, nos domínios do micro e do macrocosmos, em nome de um ideal. O arcano
12 – número de expiação e salvação espiritual – apresenta a imagem de um personagem
de cabeça para baixo, suspenso por um pé que está amarrado, por uma corda, a uma
viga apoiada entre duas árvores, cada uma com seis ramos cortados. É um dos
simbolismos mais complexos de todo o tarô. A suspensão no espaço e sacrífícios
semelhantes entram nas práticas cultuais de muitos povos da humanidade: inflingia-se
esse martírio aos cristãos dos primeiros séculos. Está também relacionada à idéia de
levitação, vôo onírico, proveniente de um isolamento místico. Frazer observa que o
homem primitivo procura manter a vida de suas divindades, conservando-as isoladas
entre o céu e a terra, lugar onde não podem ser afetadas por influências comuns ou
terrenas. A posição invertida traduz por si mesma a idéia de purificação, por subverter a
ordem terrena ou natural. Os 12 ramos cortados fazem alusão à extinção das 12
principais expressões da vida humana, simbolizadas no zodíaco. Relacionado ao signo de
Peixes, o Enforcado representa aquele que, em vez de viver a vida da terra, vive num
mundo de sonho idealista.
Representação abstrata – Tensa expectativa em conseqüência da descida às
profundezas da vida e do eu. A oscilação é a dor por um desejo não satisfeito. No sentido
positivo: capacidade de participar dos sofrimentos dos semelhantes, dar sem pensar em
recompensas; direção sábia por parte do inconsciente, agilidade mental; perdão aos
inimigos, adaptação às circunstâncias, tentação material vencida, sacerdócio; ânimo
para deixar de lado considerações práticas e submeter-se apenas ao eu interior;
idealismo, atividade intensa da alma, perfeição moral, abnegação, sacrifício voluntário
por uma causa elevada, liberação do egoísmo instintivo, esquecimento de si mesmo,
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desinteresse absoluto; intervenção a distância, telepatia, tesouros espirituais. Sentido
negativo: falta de sentido prático, projetos irrealizáveis, falta de determinação; ilusões,
indecisão, impotência para agir no mundo concreto; excesso de confiança, desejos
generosos, mas estéreis; o artista que concebe a beleza, mas não sabe traduzi-la em
obras; projetos ocultos e duvidosos; evasão psíquica, vacilação, luta interior que cede à
fuga psicológica.
Interpretações divinatórias – No sentido material, uma das piores cartas do tarô,
indicando sempre que o consultante tomou uma direção errada. No plano mental:
hesitação, perturbação da consciência, falta de uma visão clara; recomenda a
necessidade de recuo, de interrogar sobre o caminho a seguir e de encaminhar-se para
uma nova direção. No plano anímico: libertação através de um sacrifício; se no plano
físico equivale a uma perda, no espiritual significa um ganho, pelo abandono daquilo que
impedia, obstruía e levava à indecisão e falta de vontade. No plano físico: cegueira, no
caso de amor; fraude, no plano das associações; no casamento significa adultério,
traição, abandono; fuga e desagregação, decepção, armadilhas no caminho, ingratidão.
Recomenda compreender as adversidades como resultado de um falso julgamento da
situação, pois aquilo que o consultante deseja não tem o valor que lhe atribui.

Arcano XIII
A Morte
Descrição da simbologia – O arcano 13 simboliza o fator de transformação que destrói
para construir. Figurado pela conhecida alegoria do esqueleto (que aqui maneja uma
foice), representa a morte, que, em todos os domínios, significa o fim de um ciclo e o
começo de outro. Tanto o esqueleto como os restos humanos espalhados no prado são
rosados – e não cinza – para reforçar o caráter de ambigüidade da imagem. Não só para
os antigos como também para a ciência moderna, da mesma forma que a vida está
intimamente ligada à morte, a morte é o manancial da vida. O simbolismo é o mesmo
que o de Saturno, que poda as árvores para que novos galhos possam crescer. Em
outras palavras, é necessário destruir a forma sem aniquilar o fundamento. O próprio
esqueleto simboliza a íntima e oculta perduração das coisas. A destruição que antecede o
rejuvenescimento pode ser associada ao simbolismo do planeta Plutão – é necessário
morrer na escuridão para renascer na luz. A morte é assim a suprema liberação.

Representação abstrata – Transmutação que o ser humano faz, eliminando da sua


vida tudo o que é supérfluo e antiquado, a fim de que possa seguir adiante na sua
evolução. Decomposição final de algo determinado e, por isso, integrado numa duração –
tempo e ciclo. Espiritualização, libertação; lucidez absoluta de julgamento; ascetismo,
desprendimento. No sentido negativo: tristeza, melancolia; corrupção, decrepitude;
fatalidade, fracassos, más condições, estagnação, enfermidade, ruína, abandono forçado
de algo que se quer preservar, rompimentos, perdas.

Interpretações divinatórias – A carta mais apropriada para assustar o principiante no


tarô. Embora o número 13 seja vulgarmente associado à má sorte, para fins de
adivinhação esta carta não é tão ruim quanto parece. Raramente significa morte física.
Seus efeitos são, entretanto, instantâneos e radicais. No plano mental, o consultante
será forçado a reajustar o seu modo de pensar, em virtude de novos fatores que
intervirão na sua vida; modificação total e renovação das idéias. No plano anímico:
passagem de um plano para outro, afastamento e fim de ciclo. No plano físico: mudança
completa de algum setor ou das circunstâncias determinadas pelas outras cartas. No
campo afetivo, nada traz que não se faça preceder da destruição de uma afeição ou de
um amor; fim definitivo de uma ilusão; libertação dolorosa.

Arcano XIV
A Temperança
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Descrição da simbologia – O arcano 14 simboliza a harmonização das forças naturais
masculinas e femininas através da transmutação de energias mais inferiores em outras
mais elevadas. É figurado por um ser alado, com túnica vermelha, azul e amarela,
vertendo água de uma urna para outra. Sua ação expressa a transformação que
experimenta a água – seiva conduta de vida – e traduz as incessantes operações que
ocorrem em todos os reinos da natureza. As asas reforçam o sentido da Temperança
como resultado de um trabalho constante de metamorfose espiritual, através do qual os
sentimentos e emoções mais densas são sublimados em potencial psíquico e criador.
Hermafrodita, o personagem é o símbolo da conjunctio oppositorum alquímica,
identificada por Jung como a íntima união no ser humano do princípio masculino
(positivo, claro, ativo) com o princípio feminino (negativo, escuro, passivo ), que
correspondem ao consciente e ao inconsciente. A alegoria toda representa o movimento
perpétuo de circulação da vida na sua contínua formação, transformação, regeneração e
purificação. Astrologicamente, é associado ao signo de Aquário e pode também se
relacionar a Indra, que, na filosofia hindu, é o senhor da purificação.
Representação abstrata – Representa a combinação hábil que o homem faz, entre
pessoas e circunstâncias, para continuar progredindo em direção a um futuro melhor. A
circulação e confraternização dos elos universais entre os seres. Facilidade para
harmonizar interesses e afetos. A passagem dos dias. A continuidade da vida. A
transferência de um tipo de existência para outro melhor. As mudanças, as
metamorfoses, as mutações. Amor sem paixão. Espírito de conciliação. Tolerância e
filosofia prática. Trabalho em comum, realizado harmoniosamente. O agente reparador e
reconstituinte de tudo o que se gasta. O fluido animador que renova as células do
organismo. Transfusão da força vital. Medicina mística; cura pelo magnetismo. A energia
vital em transmutação. No sentido negativo: desacordos, passividade, prodigalidade
excessiva, tergiversações, imprevisões, vacilações, instabilidade, frieza; deixar-se levar
pelos acontecimentos, apatia, fluxos involuntários, submissão à moda ou aos
preconceitos.
Interpretações divinatórias – Trata-se de uma carta geralmente benéfica, indicando
para o consultante uma libertação e a iniciação de um novo plano de existência. Faz
alcançar o desejo, dando, no entanto, uma nova orientação e apontando para
possibilidades sobre as quais não se tinha pensado. No plano mental, esta carta outorga
o sentido profundo das coisas, o princípio de moderação, a aceitação dos
acontecimentos, a flexibilidade para adaptar-se às circunstâncias. No plano anímico,
estabelece a comunicação com os planos superiores, através da qual, as pessoas se
encontram e se reconhecem por suas afinidades. No plano físico: a passagem de um
lugar para outro; depois de pesar os prós e os contras, encontra-se a maneira de se
chegar a um acordo; a carta, entretanto, não determina se a mudança será coroada de
êxito. Afetivamente, está para nascer uma nova afeição ou uma modificação de estado
através de uma ligação, casamento etc.; novos conhecimentos; amizades. Sob a
influência da Temperança, as pessoas que se encontram são felizes, mas, se ficarem
presas umas às outras, não evoluirão.

Arcano XV
O Diabo
Descrição da simbologia – O décimo quinto arcano simboliza as forças que trabalham
a favor das ilusões: a regressão e a paralisação do fragmentado e descontínuo. O
personagem central é representado de pé sobre um pedestal em forma de cálice, com
asas semelhantes às dos morcegos, uma estranha touca da qual saem dois chifres de
veado, mãos e pés simiescos, mostrando as costas da mão direita erguida, enquanto
segura na esquerda uma espada sem punho. Parece ser macho, embora tenha seios
desenvolvidos como os de uma mulher. Mais embaixo, um homem e uma mulher nus e
com atributos animalescos estão, um de cada lado, presos a um aro que se encontra no
centro do pedestal. O arcano todo representa as artes mágicas, em suas formas
negativas, e as perversões.
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Representação abstrata – A instintividade e os desejos, em todas as suas formas
passionais, que aprisionam todos aqueles que se deixam dominar pelas ilusões
materiais. No sentido positivo: destino, mistério, força maior, atrações secretas,
magnetismo, ação mágica, capacidade taumatúrgica, influências ocultas, sugestão,
proteção contra encantamentos, dominação das massas, reservas de vitalidade,
eletricidade vital na sua dupla polarização: ativa e passiva, eloqüência. No sentido
negativo: desordens; paixões, luxúria, superexcitação, lubricidade; ignorância, intriga,
amores desenfreados e ilícitos; problemas violentos, dependência dos sentidos,
escravidão inconsciente, egoísmo, egocentrismo; triunfos conseguidos através de
artimanhas, desrespeito aos sentimentos alheios, megalomania, histeria, maquinações,
abuso da posição para fins pessoais, enlouquecimento, falta de moderação; emprego de
meios ilícitos, bruxaria, malefícios, espíritos malignos, manobras criminosas; instintos
grosseiros, maledicência destrutiva; debilidade, degeneração.
Interpretações divinatórias – As correntes de energia que provêm do Diabo não são
propriamente satânicas, embora contra elas só mesmo um herói possa resistir. A
predominância da matéria e das ilusões, entretanto, torna esta carta maléfica. No plano
mental: muita atividade, mas totalmente egoísta; sagacidade e dom para solucionar
enigmas; falta de preocupação com a justiça. No plano anímico: cego pelas paixões, o
consultante perde a ligação com o plano espiritual; desrespeito pelo próximo; busca em
todas as direções para atrair tudo. No plano físico: no domínio das realizações materiais
e concretas, esta carta concede grande irradiação, embora os sucessos neste plano
sejam obtidos por meios censuráveis; os delitos permanecerão na impunidade. No
domínio afetivo: aproximação entre os sexos, cada um pensando só no seu prazer;
paixões que cegam, acompanhadas das inevitáveis decepções; destruição ou conquista
de um corpo por meios violentos. De maneira geral, as empresas a que se refere esta
carta serão coroadas de êxito, mas, de acordo com as outras cartas, esse sucesso será
efêmero e castigado. Recomenda-se transmutar os desejos e as paixões em energias
voltadas para o conhecimento das próprias motivações interiores (auto-exame).

Arcano XVI
A Casa de Deus
Descrição da simbologia – O arcano 16 simboliza a ação das forças celestes
(catástrofes) sobre a matéria, quando esta se ausenta totalmente do espírito. A alegoria
mostra uma torre fulminada na parte superior (cabeça) por um raio. Trata-se de uma
das mais remotas imagens para representar a aniquilação como conseqüência do
orgulho. Os ladrilhos da Casa de Deus são cor-de-carne, para reforçar a associação dessa
construção com o ser humano. Dois personagens caem feridos por materiais que se
desprendem da Casa de Deus: supõe-se que o que está na frente seja o rei e o detrás, o
arquiteto da torre. O orgulho de Lúcifer traduzido na Torre de Babel. A ruína cósmica. Os
empreendimentos humanos puramente materialistas condenados a desabar. A
fragilidade humana frente a forças que desconhece.
Representação abstrata – A dissociação mental a que conduz todo o excesso de
segurança em si mesmo. A enfermidade das vaidades. Sentido positivo: crise saudável,
desconfiança em si mesmo; parto; inquietação por causa de empresas temerárias,
austeridade; tendência à timidez, temperamento piedoso, religiosidade prática.
Sentido negativo: catástrofe, ruína, queda, acidentes, tempestades, terremotos,
dissipação de energias, fracassos, quimeras; presunção, orgulho, excessos, abusos,
irritabilidade que conduz a erros, ambições desenfreadas, transtornos, apetites
insaciáveis; autodestruição, sofrimentos desnecessários, dominação sobre as pessoas
sem caridade ou amor, ir além das próprias forças e não saber parar a tempo, egoísmo
radical, despotismo.
Interpretações divinatórias – É a carta mais nefasta do tarô e conseqüência do Diabo.
Grandes dificuldades, destruição de tudo o que se construiu. Luta de uns com os outros
para se destruírem, em vez de se edificarem. No plano mental: temeridade, presunção,
perigo de permanecer escravo de uma idéia, pensamento limitado e dogmático;
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indicação para não se esquecer da humildade da própria condição humana. No plano
anímico: despotismo sobre os outros, cuja conseqüência, mais cedo ou mais tarde, será
uma rejeição afetiva. No plano físico: projeto brutalmente abortado; frutos amargos;
falta de resultado ou malogro no terreno financeiro. No domínio afetivo: indicação de
divórcio, ruptura definitiva. A Casa de Deus representa, também, uma liberação, se o
consultante tiver proteção e capacidade para fazer um retorno sobre si mesmo e mudar
de rumo.

Arcano XVII
A Estrela
Descrição da simbologia – O arcano 17 simboliza os benéficos influxos cósmicos que
renovam e fazem florescer a vida na Terra. É figurado por uma mulher nua, com o joelho
apoiado no chão, segurando duas jarras, uma em cada mão. A água – fluido da vida
universal – contida nas jarras é derramada, em parte, numa superfície de água e, em
parte, na terra. Do chão amarelo brota uma planta verde de três folhas, sugerindo uma
acácia, símbolo da imortalidade. Ao fundo, destacam-se dois arbustos, com um pássaro
pousado em um deles. Acima dessa figura, uma estrela flamejante de oito raios, rodeada
de outras sete estrelas, parece aludir astronomicamente à constelação das Plêiades (uma
estrela grande com sete pequenas à volta) ou ainda aos sete planetas com o Sol no
centro. Muitos quiseram ver nesta estampa uma herança zodiacal da alegoria de
Aquário, embora nesta só exista um recipiente. Outros interpretaram a iconografia da
Estrela associando-a ao Apocalipse, onde é dito que os sete anjos derramarão suas taças
sobre o Sol e o ar, mas, sobretudo, sobre as águas. De qualquer forma, o sentido
simbólico desta imagem parece ser a comunicação entre os quatro elementos – ar, água,
terra, fogo: a vivificação dos líquidos pelas luminárias celestes e a transmissão do
conteúdo dos recipientes à terra e à própria água material. Em todas as mitologias, a
estrela é um sinal da divindade, de um guia.
Representação abstrata – O homem, enquanto parcela cósmica, comunica-se com
uma luz do céu e retorna à via da espiritualidade e da harmonia. A natureza amável e
bela. A mãe jovem, consoladora e clemente. A juventude, o bom humor, os sonhos, a
poesia. Esperança e visão íntima das possibilidades de futuro. Criatividade; inspiração.
Intuição para resolver os problemas comuns da vida. Entusiasmo e bom humor.
Adaptação às necessidades: suporta-se alegremente qualquer dificuldade e até a
miséria. Confiança, inocência, ingenuidade, encanto, sensibilidade, ternura. União entre
a mente e o coração. Compaixão; revelações. A própria vida como religião.
Sentido negativo: curiosidade indiscreta; falta de confiança em si mesmo; dúvidas;
sensualidade, negligência; rigidez mental de quem não se estende além dos limites
conhecidos; falta de amor ao semelhante, à humanidade e à beleza; falta de equilíbrio e
de controle.
Interpretações divinatórias – É uma carta benéfica, de esperança e consolo, que
conduz a novas criações e a uma ajuda tanto espiritual quanto material. Tem o poder de
neutralizar uma carta maléfica, como o Diabo. No plano mental: influxos que mostram o
caminho, inspirações e fé nos objetivos. No plano anímico: a influência dos elementos e
astros em nossas vidas; revelação de uma missão ou vocação. No plano físico: permite
atingir a satisfação do desejo, renova o ambiente trazendo verdadeiros amigos; socorro
e ajuda amigável; encontro de uma doce e verdadeira afeição, um amor; encontro com
alguém que trará inspiração e harmonia.

Arcano XVIII
A Lua
Descrição da simbologia – O arcano 18 representa a Lua nas situações específicas
simbolizada pelos outros elementos que compõem a estampa: a “via iniciática lunar”,
carregada de um sentido negativo e fúnebre, em oposição à “via solar” do arcano 19.
Retrata o mundo das aparências que enganam. A alegoria apresenta o astro noturno
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iluminando os objetos com sua luz refletida e indefinida. Ao mesmo tempo cheia e
crescente e apresentando um perfil provavelmente feminino, lança à terra 19 manchas
de cor em forma de lágrimas. Abaixo dela, duas torres amarelas, uma de cada lado,
perdem-se no horizonte. Diante das torres, dois cães ladram à Lua; abaixo destes,
aparece um enorme caranguejo em meio às águas azuis. As torres que se elevam ao
fundo advertem que o domínio da Lua está guardado por perigos: atrás delas haveria
lendas e contos cheios de fantasmas, uma montanha e um precipício, segundo
interpretação de Wirth sobre o que não se vê na gravura. Segundo Cirlot, os cães são
guardiães (cães-deuses?), que impendem a passagem da Lua para o domínio do
conhecimento – solar. Já a relação do caranguejo com a Lua é antiga, aparecendo em
ritos e lendas de numerosas culturas. A Lua é o regente do signo de Câncer,
representado por um caranguejo. O arcano todo está relacionado ao plano iniciático da
via úmida (lunar), e não abarca o vasto e interminável simbolismo deste astro. Segundo
Ouspensky, trata-se de uma alegoria, da viagem heróica, relacionada com o simbolismo
de trânsito e passagem: o tanque de água – matéria primordial; o caranguejo –
devorador do transitório, como o escaravelho entre os egípcios; os cães que interceptam
a passagem – qualificadores da aptidão do viajante para enfrentar o mistério; as torres,
cheias de ciladas e portas – meta, fronteira.

Representação abstrata – A impressionalidade imaginativa que impede o ser de


chegar ao que ele é. Desdobramentos psíquicos, viagens extáticas, fantasias arbitrárias,
vacilação constante, inquietudes, mudanças freqüentes, imprevistos, adversidades; a
noite, os sortilégios, as trevas, os feitiços; falta de energia, extravagâncias, falso saber,
escravidão material; estado de consciência confuso, idéias quiméricas, lucidez
sonâmbula. No sentido positivo: crise da fé, onde só a intuição, e não a razão, pode
salvar.
Interpretações divinatórias – Carta de miragens e de sonhos, indica um embuste dos
circundantes. Se estiver na companhia de boas cartas, pode ter o sentido apenas de
multiplicação dos efeitos destas. Mas sempre se deve precaver das possibilidades de erro
que ela encerra. No plano mental: falta de lógica, excesso de imaginação e perigo de
depender exclusivamente dessa faculdade. No plano anímico: forças do inconsciente
tendendo a uma inversão de planos, a menos que esteja na companhia de cartas fortes
como O Sumo-Sacerdote, O Sol, O Mundo, O Carro, etc. No plano físico: influências
perniciosas, fraudes, enganos, alcoolismo, drogas e tudo o que se refere a estados de
sono da alma; trevas e obscuridade; fecundidade e gestação. Em geral, recomenda
mudança do ambiente ao qual ela se refere e busca de lugares secos, ao sol.

Arcano XIX
O Sol
Descrição da simbologia – A lâmina 19 simboliza o momento de máxima atividade do
espírito, que, na sua dupla irradiação (calórica e luminosa), estabelece o contato com a
energia universal. O disco solar está rodeado de raios alternadamente curvos e
ondulados – uma alusão aos efeitos de luz e calor do astro. É uma emanação fecunda e
fina, e não errante como A Lua, revelando, por isso, a realidade das coisas no seu
aspecto imutável. O Sol ilumina dois meninos que vestem apenas uma tanga azul e uma
espécie de colarinho do mesmo tom que a pele – imagem da inocência e da felicidade
que a simplicidade da vida confere. Um dos meninos coloca sua mão esquerda na altura
do plexo solar de seu companheiro. Este par pode ser também uma alusão do signo
zodiacal de Gêmeos, que, por sua vez, é relacionado ao verão, estação onde reina o Sol.
Wirth vê neles os filhos da luz e uma alegoria às bodas do sentimento e da razão, ou,
ainda, a tarefa de regeneração que o universo começou a realizar depois da queda. Wirth
os chama “aqueles que reconquistarão o Paraíso”. A iconografia deste arcano não
apresenta muita originalidade, já que a imagem do Sol, figura central, é a mesma que se
encontra em qualquer figuração do astro. Alberto Cousté adverte que, como no caso do
arcano A Lua, é necessário prevenir-se contra uma excessiva assimilação do vasto
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simbolismo solar, a fim de não se conferir desmedida importância a esta carta em
relação ao conjunto das outras 21. Aqui, no tarô, O Sol pode ser compreendido em
oposição ao simbolismo do arcano 18 (A Lua), relacionando-se, portanto, à alternância
dos contrários: dia/noite, luz/trevas, luz potente/luz fraca, luz quente/luz fria,
masculino/feminino, espírito/matéria, etc. Pode ser associado ao aspecto Filho das
divindades trinitárias, onde aparece freqüentemente como atributo dos heróis. Nesse
sentido, está relacionado às purificações e às provas cuja finalidade é tornar
transparentes e claras as opacas e obscuras certezas dos sentidos, para que as verdades
superiores sejam compreendidas.
Representação abstrata – O Sol é o símbolo da totalidade psíquica e da comunhão
entre o consciente e o inconsciente. A capacidade do homem de realizar suas empresas
com êxito, através de sua inteligência e esforço próprio. Felicidade, alegria, luz; justa
recompensa, aprovação, aclamação, vitória, desembaraço, revelação, glória;
espiritualidade, iluminação, clareza de juízo; honras, celebridade; verbo que ilumina,
visão ampla; desvelo altruísta, nobreza, generosidade, grandeza moral; talentos
estéticos, saúde, beleza física. Sentido negativo: frivolidade, pose, esnobismo, vaidade,
suscetibilidade, necessidade de ser admirado, gosto pelo brilho fácil, idealismo
incompatível com o sentido da realidade brutal, fantasias de triunfos que substituem as
autênticas vitórias.
Interpretações divinatórias – Carta muito forte, uma das melhores do tarô, em
contato direto com a luz. Sinônimo de aliança, triunfo e regresso ao próprio caminho.
Carta de crescimento espiritual, cujos efeitos dependem do progresso moral do
consultante. Atenua os efeitos maléficos das cartas más. No plano mental: consciência,
superioridade ativa e poder criador. No plano anímico: verbo, missão, vocação e fusão
com as forças universais. No plano físico: triunfos, sorte, êxito material; assinala a
conquista de uma afeição; junto com O Sumo-Sacerdote: legalização de uma ligação.

Arcano XX
O Julgamento
Descrição da simbologia – O arcano 20 simboliza a revelação dos desígnios ocultos
das forças divinas do homem. A imagem apresenta, na parte superior, um anjo tocando
uma trombeta e, na parte inferior, três personagens, um dos quais de costas, em atitude
de prece. O personagem central, de costas, levanta-se de uma espécie de túmulo verde
(regeneração, ressurreição). Os três personagens simbolizam a trindade humana:
homem, mulher, criança. Segundo vários autores, esta carta apresenta a conhecida cena
da ressurreição dos mortos e do Juízo Final, quando o anjo do Apocalipse ressonará sua
trombeta. O anjo apresenta-se diante do signo solar, reforçando essa idéia: com a luz e
o som da trombeta o anseio de ressurreição do homem será “despertado”. Nas
representações medievais do Juízo Final, os mortos surgem dos seus túmulos
completamente nus, embora não fosse costume da época enterrar os cadáveres dessa
maneira. Segundo tradição popular, os mortos surgem dos túmulos como esqueletos
que, ao contato da luz, se revestem da carne e da pele perdidas. Simbolicamente, a
morte equivale à morte da alma, no sentido de esquecimento da finalidade
transcendente do homem. A ressurreição simboliza a cura, a renovação.
Representação abstrata – Renascimento do “eu” na sua passagem para um plano
mais elevado. Recuperação da consciência perdida, cura e libertação dos laços materiais,
renovação da vida, iluminação de um caminho espiritual, sopro redentor; estusiasmo,
exaltação; profetismo, medicina milagrosa, apostolado; atualização do passado,
regeneração; surpresas, brilho; retorno à saúde física, moral e intelectual, elevação
espiritual, volta às tradições esquecidas, nova permissão de vida; discernimento da
verdade, novas relações, fim e começo, gozo.
Sentido negativo: vacilação espiritual, ofuscamento da inteligência, alvoroço e agitação
inúteis; embriaguez, superexcitação natural ou artificial, fanatismo cego, erros sobre si
mesmo; provas resultantes de juízos errôneos, inversão nas emoções; inimigos
ciumentos, culpa, perdas, saúde escassa.
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Interpretações divinatórias – O julgamento humano está subordinado ao divino de
maneira poderosa, direta e luminosa. Carta de rapidez e muita força, acentua os efeitos
das cartas vizinhas. Geralmente benéfica, indica que o que foi feito no passado próximo
pelo consultante será julgado, examinado, pesado e o beneficiará com novas
possibilidades, se ele se mostrar merecedor. No plano mental: gênio inventivo e
revelação de uma missão. No plano anímico: passagem de um plano para outro, segredo
que irromperá brutalmente. No plano físico: carta fulminante que precipita os efeitos das
que lhe são próximas, falando de imediato, com rapidez e instantaneidade; trabalho de
biblioteca, compilação, classificação; decisão legal favorável; no domínio sentimental,
permite ver com justeza.

Arcano XXI
O Mundo
Descrição da simbologia – O arcano 21, resumo de todos os arcanos, simboliza a
síntese da criação. Corresponde ao mundo espacial, ao conjunto do que é manifestado
como reflexo de uma atividade criadora permanente. É figurado por uma mandala
(representação geométrica e concêntrica do universo interior e exterior), cujo centro é o
homem que chegou ao conhecimento de si mesmo. O personagem nu que se encontra
dentro de uma grinalda, com uma vara na mão, possui rosto masculino e seios de
mulher. O pequeno manto que cai de seus ombros justamente encobre o seu sexo. A
androgenia deste personagem simboliza a dualização integrada, própria dos mitos de
nascimento. Nos cantos da carta, quatro figuras de animais evocam a representação
simbólica tradicional dos quatro evangelistas: anjo, águia, leão e touro; por sua vez, se
relaciona aos quatro elementos: ar, água, fogo e terra. Essas quatro figuras também
podem ser compreendidas à luz das quatro funções da consciência descritas por Jung –
pensamento, sentimento, intuição e sensação –, que, integradas, representam o homem
individuado. O Mundo é a Anima Mundi dos alquimistas, liberada das trevas da matéria.
Após penetrar no seio de todas as influências cósmicas, o homem superou a dualidade e
chegou ao estado de libertação.
Representação abstrata – Representa aquele que alcançou a sua meta. Finalização,
recompensa, apoteose; sorte grande, êxito completo, coroamento da obra, finalização de
um processo; circunstâncias favoráveis, integridade absoluta; contemplação, êxtase,
promessa de longa vida. Deus e seu reino, amor à humanidade, poder da vontade.
Sentido negativo: falta de vontade, mundanidade; ambiente hostil, todos contra;
dispersão, incapacidade de concentração; sentimentos egoístas; ausência de energia
criadora, estancamento total, perda de impulso; obstáculos.
Interpretações divinatórias – É a melhor carta do tarô, indicando sempre uma
realização importante, na medida do valor moral do consultante. Carta de realização,
triunfo e glória, permite vencer e chegar ao resultado e ao objeto dos desejos. Mais ativa
no plano espiritual, afasta as ilusões e mostra o caminho. No plano mental:
conhecimento, invenção, possibilidade de um domínio. No plano anímico: inspiração,
proteção e numerosas ajudas. No plano físico: permite um triunfo momentâneo; o desejo
tem todas as possibilidades de ser satisfeito; afeição segura que vem ao encontro do
consultante; sorte, esplendor.

Arcano XXII
O Louco
Descrição da simbologia – Ponto último ou inicial do tarô, O Louco se distingue pela
ausência de cifra, para significar que está à margem de qualquer ordem ou sistema. A
alegoria mostra um homem de costas, mas com o rosto bem visível, caminhando com
um bastão na mão e segurando no ombro um pau em cuja extremidade há uma sacola –
símbolo de potencialidades. Seu traje de cores desencontradas indica as influências
múltiplas e incoerentes a que se submeteu. Sua perna esquerda (inconsciente) é
mordida por um cão, fato que poderia significar um resíduo de lucidez. A situação a que
se expôs não significa ausência de espiritualidade nem impossibilidade de salvação – seu
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estranho gorro e o cinto são amarelos. O arcano é irracional, correspondendo ao instinto
ativo e capaz de sublimação, mas também à cega impulsividade e à inconsciência.
Simboliza a utilização do anormal e do inconsciente para inverter uma ordem maligna
reinante. O Louco, segundo Frazer, possui o caráter das “vítimas de substituição” nos
rituais de sacrifícios humanos. A imagem de um homem solitário que atravessa os
campos, sendo agredido por um animal, é, segundo Alberto Cousté, uma das
contribuições mais originais do tarô. Provavelmente é uma alusão aos Clerici vagante –
estudantes medievais inquietos e migratórios, sempre em busca de novos mestres ou
novas tabernas. Seu traje lembra o de um bufão, figura que fazia a caricatura da corte,
de reis e senhores. Personagem singular, O Louco não se preocupa com os perigos do
caminho porque se sabe invulnerável e imortal e, por isso mesmo, está exposto a todo o
tipo de faltas.
Representação abstrata – Representa o microcosmo como resumo de tudo o que
existe. A não-identificação com a personalidade terrena. Passividade, abandono
absoluto, renúncia a toda resistência; irresponsabilidade, inocência, repouso,
instintividade; capacidade mediúnica; abstenção, o não-fazer. Promessas que não se
cumprem; inaptidão para se dirigir, perda do livre-arbítrio, joguete de forças estranhas,
instrumento dos outros, incapacidade para resistir às influências sofridas; recebimento
de favores com má intenção, perigo de se isolar da sociedade, incapacidade para
reconhecer os erros; sentimentos sem duração, abandono voluntário dos bens materiais;
extravagâncias, incoerência, desorientação total em muitas coisas; escravidão aos
desejos, inconsciência, insegurança; despreocupação em relação à palavra dada;
indiscrição que pode levar à ruína.
Interpretações divinatórias – Carta de instabilidade, com efeitos decepcionantes. O
homem, vergado sob o peso de obrigações e prazeres, cujas possibilidades não passam
de ilusões. No plano mental: julgamento egoísta e sem calor. No plano anímico:
sentimentos sem duração e risco de graves erros. No plano físico: caos, separação,
abandono voluntário. No domínio dos sentimentos, deslealdade e adultério.

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