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FACTORES BIÓTICOS E ABIÓTICOS NA

DISSEMINAÇÃO DE PRAGAS E
INFESTANTES
Publicado em 08 de dezembro de 2015 por Assane Calisto Uitrosse

O conhecimento da epóca de maior ataque das pragas bem como dos factores que
afectam a dinamica das populações é fundamental para o desenvolvimento de
programas de maneio de pragas eficientes e que preservam o meio ambiente. A
produção vegetal depende, dentre outros aspectos, da garantia desejável, ou seja, do
estabelecimento de factores que estão directamente relacionado com a disseminação,
desenvolvimento das pragas e infestantes. 

Os seres vivos estão directamente relacionados ao ecossistema em que vivem e respondem de


maneira inter-relacionada aos vários elementos que estes encontram. A severidade do ataque de
pragas de importância agrícola está directamente relacionada aos factores que influenciam no
desenvolvimento destas pragas, além do que as medidas de controlo.

Distúrbios causados por fatores abióticos

Autor(es): Henrique Pessoa dos Santos

Vários fatores interferem na produtividade e na qualidade das uvas, sejam para consumo in
natura ou para processamento. Estes fatores podem ser divididos em dois grandes grupos:
1) fatores permanentes; 2) fatores culturais. O grande grupo “permanente” se subdivide
em: a) elementos impostos, tais como clima, solo, pragas e doenças; b) elementos
escolhidos, que incluem por exemplo a cultivar, porta-enxerto, densidade de plantio,
orientação solar do local de plantio. No conjunto de todos esses fatores, existe uma
classificação mais ampla que considera se o agente causal for vivo (fatores bióticos) ou
inerte (fatores abióticos). Nos fatores bióticos, são considerados todos os organismos vivos,
tais como pragas e doenças, presentes num determinado local e que podem exercer efeito
sobre as videiras. Em contrapartida, os fatores abióticos englobam todos os agentes físicos
e químicos desse mesmo local, com potencial de exercer influência sobre a qualidade e a
quantidade de produção das videiras. Destaca-se que os fatores bióticos e abióticos estão
em permanente ligação sistêmica, constituindo o ecossistema de um determinado local.
Portanto, pelo fato destes fatores serem parte do local, devem ser sempre considerados na
escolha do melhor local para implantação de um novo plantio vitícola.

Dentre os fatores abióticos, destacam-se como principais os seguintes:


Radiação solar
A radiação solar é o elemento essencial para a atividade foliar (fotossíntese) e,
consequentemente, torna-se o fator ambiental mais importante para a síntese de açúcares
e para o potencial de crescimento e produção das videiras. Para isso, é importante que o
local de instalação do parreiral tenha uma ampla exposição solar ao longo do dia. Os limites
médios de radiação solar para uma folha de videira se situam entre 50 e 600 E.m-2.s-1 (1/3
da radiação solar incidente). Radiações abaixo desses limites são limitantes para as folhas,
tornando-as totalmente dependentes das folhas mais expostas. Portanto, em parreirais com
muitas folhas (alto vigor), as folhas sombreadas podem competir com os cachos por
açúcares e isto restringe o potencial de qualidade da fruta.
O sombreamento reduz a capacidade de produção da videira. Esse efeito é dependente da
cultivar e está relacionado ao grau de exposição solar das gemas durante o período
vegetativo-produtivo. Ou seja, ramos do ciclo anterior que se desenvolveram em ambiente
sombreado (excesso de nuvens , vigor excessivo com auto-sombreamento, erros de
condução e/ou orientação solar do parreiral) apresentam redução na diferenciação de
primórdios de inflorescências. Portanto, no ciclo seguinte o número de cachos por brotação
será reduzido, limitando a capacidade de produção da planta;
Folhas e cachos que se desenvolveram em ambiente sombreado, quando expostos (ex.:
após poda verde drastica) podem apresentar “queimaduras de sol”. Esse efeito ocorre em
função da mudança brusca das condições de luz e a falta de adaptação desses tecidos. Para
evitar esses danos, deve-se manter sempre organizado a distribuição de brotações, com
amarrações, desfolhas e podas frequentes para evitar ambientes muito sombreados.
Temperatura
A temperatura interfere na diferenciação do primórdio de inflorescência nas gemas axilares
dos ramos em crescimento, durante o ciclo vegetativo-produtivo. A faixa ideal de
temperatura é variável entre cultivares, sendo as Vitis labrusca  com temperaturas menores
(20-25°C) do que Vitis vinifera (25-28°C). Regiões que apresentam alta frequência de
temperaturas abaixo desses limites durante o período vegetativo-produtivo podem restringir
o potencial de diferenciação de gemas e, consequentemente, reduzir a capacidade de
produção.
A temperatura influencia o desenvolvimento da flor e a frutificação. No período brotação-
floração é necessário que não ocorram temperaturas baixas (< 15°C), as quais podem
restringir o desenvolvimento da inflorescência. Um efeito comum dessas baixas
temperaturas nesse período é a transformação de inflorescências em gavinhas, fenômeno
comumente conhecido como “desavinho”. Isto restringe drasticamente o potencial de
florescimento e, consequentemente, de frutificação.
Variações bruscas de dias frios e nublados seguidos de dias secos e quentes causam
também desordem fisiológica no período brotação-floração. Nestas condições, podem
ocorrer sintomas foliares similares a deficiência de potássio (bordas cor café viradas para
cima), porém, ao contrário do real sintoma de deficiência de potassio, esse sintoma ocorre
antes do florescimento sob estas condições de temperaturas. Este efeito é dependente da
cultivar e tem sido relacionado ao metabolismo do nitrogênio.
Dias frios e úmidos na primavera associados a locais com alta disponibilidade de nitrogênio
(ex.: alto teor de matéria orgânica) podem também promover o sintoma “necrose de
inflorescências”, o qual pode provocar grandes impactos de produção. Alguns resultados de
pesquisa indicam que esse sintoma é dependente da cultivar e também envolve alterações
no metabolismo de nitrogênio nas inflorescências (acúmulo de amônio) em condições de
baixas temperaturas e luminosidade (dias nublados) durante o desenvolvimento da
inflorescência.
A temperatura do ar altera a atividade foliar (fotossíntese) e, consequentemente, a síntese
de açúcares. A faixa de temperatura ideal para atividade foliar da videira se situa em 25-
30°C. Temperaturas menores que 20°C e próximas a 45°C podem reduzir drasticamente a
atividade fotossintética de uma folha.
Temperaturas muito altas (35-45°C) aliadas a baixa umidade relativa do ar e deficiência
hídrica no solo, podem proporcionar o ressecamento de folhas jovens, dos ápices em
crescimento e de bagas situadas nas posições mais apicais nos cachos (fenômeno
denominado “queima de sol”).
Temperaturas muito baixas (próximo a zero °C), as quais podem ocorrer associadas a
geadas tardias no período de primavera em regiões sul-brasileiras, podem promover o
congelamento e, consequentemente, a morte de ápices e ramos jovens. Este efeito pode
reduzir drasticamente o potencial produtivo das plantas no ciclo corrente. Este problema
pode ser controlado com o emprego de cultivares que apresentam brotações tardias.
Em regiões mais quentes, observa-se uma evolução fenológica mais rápida, reduzindo o
comprimento do período brotação-colheita. Nessas regiões, é importante o controle hídrico,
pois a exposição solar em conjunto com alta temperatura podem promover danos na
película e, consequentemente prejuizos para qualidade visual (consumo in natura) ou
qualidade enológica (degradação de pigmentos, redução de acidez, excesso de açúcar, etc).
Precipitações pluviométricas / Disponibilidade hídrica / granizo
Chuvas são essenciais para garantir a disponibilidade hídrica para plantas. Entretanto,
quando essas ocorrem no período de floração promovem grandes prejuízos em
produtividade. Isto se deve ao fato da água da chuva interferir diretamente no processo de
polinização, promovendo o abortamento de flores e, consequentemente, a redução do
número de bagas por cacho. O controle desse problema torna-se complexo, pois é muito
influenciado por condições climáticas do ano (ex.: fenômeno El Niño). Como alternativas,
pode-se adotar o plantio de cultivares com variações de ciclo e datas de florescimento,
evitando-se a perda total da área. Além disso, pode-se adotar o uso de cobertura plástica.
A disponibilidade hídrica é de extrema importância para o desenvolvimento, produção e
qualidade da uva para consumo ou processamento. Em média, a videira consome 1 litro de
água para produzir 2 gramas de massa seca de tecido (ramo, folha ou fruto). Em função
disso, dependendo da cultivar, o consumo médio de um parreiral é de 650 a 900 mm (ou
L/m2) por safra. A sintomatologia da deficiência hídrica na videira é dependente do período
de crescimento no qual ocorre o déficit e da intensidade do mesmo, sendo mais acentuada
no período frutificação-início da maturação. Em geral, a deficiência hídrica é diagnosticada
pela murcha de folhas e gavinhas nas porções apicais dos ramos (pontos de crescimento). A
persistência da deficiência hídrica irá provocar a necrose e a queda de folhas basais,
redução no diâmetro de tronco e crescimento de ramos, a paralização de fotossíntese,
queimadura de bagas expostas ao sol e maior suscetibilidade a pragas e doenças.
Granizo corresponde a outro fator abiótico de grande impacto na viticultura. Locais de
ocorrência desse fator meteorológico devem, se possível, ser evitados. O impacto do
granizo sobre videira pode ser direto, reduzindo a superfície foliar e a quantidade de frutos,
ou indireto, favorecendo o ataque de doenças (principalmente Botritys). Se a ocorrência do
granizo for mais tardia, quando as gemas estão mais diferenciadas (ex.: início da
maturação) é possível recuperar parte da produção anual realizando a prática de repoda. A
garantia de qualidade da repoda dependerá da cultivar e das condições climáticas de outono
no local de cultivo.
Ventos
Brisa leve (< 7 km/h) apresenta-se como vantagem para a viticultura. Isto porque nesta
condição, o vento favorece a renovação do ar em torno das folhas (benéfico para o controle
térmico e a atividade fotossintética das folhas) e reduz o tempo de secagem da folhagem e
frutos após chuva ou orvalho (importante para o controle do estabelecimento de doenças).
Além disso, brisas leves favorecem a polinização das inflorescências e, consequentemente,
a produtividade.
Ventos fortes (> 50 km/h) podem trazer grandes danos ao parreiral, independente do
período de desenvolvimento que se encontra. Entretanto, quando este se encontra no
período brotação-frutificação, apenas uma brisa moderada (20-30 km/h) já pode trazer
grandes prejuízos em produtividade e qualidade de safra. Isto ocorre porque os ramos
novos não apresentam resistência (ex.: lignificação de tecidos) e podem facilmente se
romperem gerando impactos diretos no potencial de produção das plantas. Para evitar esses
danos, deve-se sempre escolher áreas protegidas de ventos fortes ou adotar quebra-ventos.
Além disso, deve-se prestar a atenção ao manejo de ramos, mantendo-os fixados o máximo
possível na estrutura de sustentação.
Solo
A estrutura física e a composição química do solo onde se encontra o parreiral também se
apresentam como importantes fatores abióticos no controle da qualidade e da produção de
um parreiral.

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