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Jonathan Crary aponta para como o problema da atenção persiste nos dias de hoje
sob o nome de “Transtorno de Déficit de Atenção” (TDA) e traça semelhanças entre os
sintomas das crianças diagnosticadas com o transtorno e os problemas recorrentes dos
pacientes contemporâneos, como impulsividade, dificuldade de manter a atenção, baixa
tolerância a frustrações e distração constante.
Jonathan Crary escolhe O Balcão, de Edouard Manet (fig. 1), para iniciar sua
jornada investigativa da transformação do modelo de percepção visual. Para o autor, esta
obra distancia o observador do sistema clássico de visão preso ao modelo de
interioridade e se afirma como marco representativo da modernidade justamente por sua
externalidade.
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Outro interessante apontamento de Jonathan Crary se dá no que concerne a
posição centralizada dos anéis matrimoniais das figuras. Mesmo que extremamente
próximas, permanecem distantes pela postura retraída do homem e pela indiferença da
mulher.
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Crary distancia-se da pintura para comentar a ligação entre as ideias de Seurat e já
citado conceito de visão subjetiva. O interesse do artista pelo estudo dos fenômenos
óticos reafirma seu gosto pela produção metódica e calculada.
Em seu projeto, Seurat não apenas estava a par de toda a produção científica de
seu tempo, como também buscou através de diversas fontes a confirmação de uma
fórmula universal que racionalizaria os efeitos da cor e da forma.
Uma das importantes contribuições de Seurat para a arte foi o uso sistemático da
decomposição da cor local, o último signo “natural” remanscente como referência para o
artista visual que buscava a verossimilhança.
Neste capítulo, Jonathan Crary analisa através da obra tardia de Paul Cézanne o
estado incerto do observador atento por volta de 1900. Por divergir de Manet e Seurat –
cuja produção continha estratégias de ligação, homeostase e fixação – Cézanne é
referenciado pelo autor como chave para o acesso às coisas-em-si.
O autor propõe que Cézanne não seja rotulado de “inocente” ou infantil, já que sua
obra o revela como um observador surpreendentemente atento a tudo que ocorre de
anormal na experiência perceptiva, desafiando seu próprio entendimento de mundo
reconhecível.
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A erradicação completa de uma distinção consistente dos planos é uma
característica marcante desta obra. As superfícies são reunidas de maneira imprevisível e
vertiginosa.
Entre outras inovações citadas por Crary, a exploração do espaço visual realizada
por Cézanne é um divisor de águas na história da arte. Muito mais do que propor um
ruptura, o artista propôs reinvenções e novidades em um campo já habitado por grandes
nomes. Através de desafios que impunha ao próprio olho, foi capaz de viajar para um
universo não da utopia, e sim um universo onde a intensidade das cores e formas era
plenamente reestruturável.