Você está na página 1de 91

J. J.

Gremmelmaier

Laços de Tempo

Primeira Ediçao

Curitiba
Ediçao do Autor
2010/201x
J.J.Gremmelmaier
Autor: J. J. Gremmelmaier
Edição do Autor
Nome da Obra; Laços de Tempo
ISBN:
CIP – Brasil – Catalogado na Fonte
Gremmelmaier, João Jose
Laços de Tempo, Romance de Ficção, xx pg./ João Jose
Gremmelmaier / Curitiba, Pr. / 2011/201x
1. Literatura Brasileira – Romance – I — Título
85 – 0000 CDD – 978.000

As opiniões contidas no livro são dos personagens, em nada


assemelham as opiniões do autor, esta é uma obra de ficção, sendo os
nomes e fatos fictícios.
É vedada a reprodução total ou parcial desta obra.
Sobre o Autor;
João Jose Gremmelmaier, nasceu em
Curitiba, Paraná, Brasil no ano de 1967,
formou-se em Economia e atuou como
microempresário por mais de 15 anos.
Escreve em suas horas de folga como
hobby, alguns jogam, outros viajam, ele faz
tudo isto, mas não abre mão de ficar a frente
de seu computador, viajando em estórias, e
nos levando a viajar com elas pelo mundo
da fantasia. Autor de Obras como a série Fanes, Guerra e Paz,
Mundo de Peter, Heloise e Anacrônicos, as quais se assemelham no
formato da escrita, por começarem como estórias aparentemente
normais, e logo partem para o imaginário utilizando de recursos que
interligam de forma sutil e inteligente as diversas estórias entre si,
fazendo com que o leitor crie um certo grau de curiosidade em
relação as demais estórias.

Laços de Tempo 2
Laços de Tempo

J.J.Gremmelmaier

Laços de Tempo
Texto contando uma aventura, lenta, gradual, de
Pedro, talvez das historias mais lentas e graduais que
escrevi, para quem escreve 50 paginas em um fim de
semana, demorei mais de x anos para escrever esta.
Esperiencia de historia, lembraças, fotos.

J.J.Gremmelmaier 3
J.J.Gremmelmaier

Laços de Tempo 4
Laços de Tempo
“Meu nome é Pedro, eu sou um funcionário de uma montadora, na
região de Curitiba, estou no emprego a alguns anos, ainda solteiro,
minha vida é trabalhar de segunda a sexta e me divertir no fim de
semana, vivo em um terreno próprio, na região metropolitana de
Curitiba, é simples, mas é meu, estou contando o dinheiro para
comprar um carro novo, comprei um usado por precisar desentocar,
um novo é meu próximo objetivo, moro sozinho, vim do interior,
uma comunidade simples perto de Cerro Azul, mas o município era
de Adrianópolis, uma região de plantação de pinus, isto quer dizer
que tudo em si desandou na pequena vila, que diminui a cada dia,
tive de sair de lá, terra de coronéis, embora ninguém fale, grandes
áreas ainda tem um único dono na região, e ou se respeita ou não
se tem chance de viver no lugar, eles vivem bem, a maioria,
subsistência!
Esta historia acontece comigo, não é algo apenas do meu
passado, é parte de minha vida.
Por quê?
Somente Deus poderia lhe responder isto, vou narrar o que
aconteceu, passo a passo, para que entendam a minha história. A
escolha de não narrar em primeira pessoa, foi para melhor me
posicionar na historia!”

J.J.Gremmelmaier 5
J.J.Gremmelmaier

Laços de Tempo 6
Laços de Tempo

Pedro compra seu primeiro


carro e sai para passear, acabara
de receber seu salário, solteiro,
poucos amigos, já que vivia a
pouco tempo em Curitiba, não
conhecia muito da cidade.
Estamos na região metropolitana de Curitiba, Pedro é um
funcionário da Audi Automóveis, uma subsidiaria da Volkswagen,
seu primeiro emprego, esta a 2 anos na cidade, veio de uma cidade
pequena na região metropolitana, Cerro Azul, uma localidade muito
pequena chamada Anta Gorda, uma comunidade que diminui a
cada ano mais, com o aumento das plantações de Pinus. Foi forçado
a vir a cidade para ter um futuro.
Por um ano ele economizou para comprar um carro, passou
por uma concessionaria de carros usados, viu que um Kadete com
10 anos de uso, estava no poderio de seu bolso, gostou do carro,
bem conservado, bancos novos, rodas novas, um som que lhe
agradou, ele se encantou com o carro, não resistiu e o levou para
casa;
Pedro morava no centro de São Jose do Pinhais, um terreno
que comprara, estava a economizar, o terreno primeiro, a casa
simples após, agora um carro, uma vida simples, mas olhando hoje,
pensou que em 2 anos, estava evoluindo, ainda tinha a lembrança
de sua mãe, de seu pai, a morte dos dois, morando na fazenda de
um Deputado que tinha muitas terras naquela região, foi colocado
para fora, sem oportunidade na pequena cidade, saiu sem nada,
pegou documentos e lembranças pessoais, e todo resto, ficou a
casa, não teria para a mudança, sairia mais caro para trazer a cidade
tudo aquilo.
Trabalhar em uma unidade de produção, o dia inteiro com
fones de proteção sonora, fazia do silencio um amigo, um desejo do
rapaz.

J.J.Gremmelmaier 7
J.J.Gremmelmaier
Estava conversando com um colega de trabalho, sobre o que
não conhecia na cidade, e Paulo o colega falou;
— Qualquer dia temos de fazer um churrasquinho na
Graciosa!
— Não conheço, onde fica?
— Estrada para São Paulo, BR 116, uma estrada centenária,
tem uns quiosques com churrasqueiras, dá para fazer um churrasco,
levamos duas garotas, dá para tomar banho de rio, se divertir num
domingo destes!
— Por mim tudo bem, estou precisando mesmo conhecer um
pouco a cidade, me divertir, a 2 anos aqui e não conheço quase
nada!
Os dois conversaram e foram para segunda parte do dia
dentro da montadora de automóveis.
As semanas de trabalhador parecem voar.
Fazia duas semanas que comprara o carro, e o se divertir
sempre esbarrava em algo, alguém não pode, alguém não esta bem,
não tem dinheiro¸ Pedro começava a achar que não sairia mais, que
tudo conspirava contra.

Laços de Tempo 8
Laços de Tempo

Mais uma sexta se


apresenta, Pedro esta sentindo-se
só, a vida na cidade grande
parecia não o satisfazer, estava
triste e só, tentara no começo
achar uma namorada, mas não era
chegado a internet, a papos online
e coisas assim, gostava do campo, queria viajar com seu carro, mas
para sua cidade não retornaria, saiu do emprego e parou em uma
lanchonete no calçadão da Quinze de Novembro em São Jose dos
Pinhais, olhava as pessoas, mas parecia querer fugir daquilo;
Em sua cabeça veio a conversa com o amigo, parou em uma
banca de revista e comprou um mapa da 4 Rodas, fim de tarde, ele
nem sabia se era uma boa ideia, mas algo o chamava a ir conhecer a
Estrada da Graciosa, sem a devida ideia de onde era, e o quão longe
era também.
Sexta a noite, lua cheia, decide de vez que iria conhecer a
Estrada da Graciosa, nem que sozinho, sempre lhe disseram que a
noite havia um ar místico na região, mas o que ele queria era se
afastar um pouco da cidade barulhenta que o cercava, acostumado
com o silencio do campo, a 24 meses se via dentro da maior região
metropolitana do Paraná;
Pega o mapa e começa a traçar o caminho, tentou falar com o
amigo Paulo, mas este não lhe atendera, olha para o caminho
traçado, maluquice, mas estava a fim de sair de qualquer jeito
aquela noite da cidade, relaxar, estava com o salario ao bolso, e
pretendia se divertir um pouco.
Pegou a BR 376 no sentido de Santa Catarina, no trevo do
Contorno Leste pegou no sentido de São Paulo.
Ele olha a cidade a beira da estrada, olha para uma montanha
no sentido da Serra, viu a Lua Cheia e para a lateral, olha a grande
lua, estava avermelhada, sorri, olha o contorno das montanhas ao
J.J.Gremmelmaier 9
J.J.Gremmelmaier
fundo, e de onde a lua parecia surgir, por um momento sentiu que o
caminho estava mais calmo e resolveu conhecer aquela serra, olha
para o caminho, pouco a frente viu a estrada virar um trecho em
construção, teve de desviar uma grande maninha, estava indo com
calma, por um momento achou estar no caminho errado, mas viu a
placa indicando a rodovia mais a frente.
Mais a frente, quando o contorno entrou na BR 116, procurou
um posto, estava caminhando a meia velocidade, então parecia que
tinha andado muito, parou em uma lanchonete, onde o senhor
explicou onde era a estrada, mas que aquele horário era muito
escuro para descer vendo algo;
Pedro estava tentando não desistir, no fundo queria fugir da
cidade, o bar a beira da estrada, com o ruído apenas da BR ao fundo
já lhe parecia mais para o seu mundo que a cidade.
Tomou uma cerveja, não sentira o álcool, mas olhou a
cerveja, acostumado a amaçar a latinha com a mão, estranhou o
quanto aquela lata era mais resistente, pagou a conta e ouviu o
senhor falar quando saia pela porta;
— Vai devagar, bebeu um pouco, tem um modulo policial na
entrada para a Graciosa!
— Obrigado pelo aviso!
— Deve estar querendo algo diferente rapaz, mas com um
carro destes eu também iria querer!
Pedro estranhou a frase, saiu pela porta do estabelecimento.

Laços de Tempo 10
Laços de Tempo
Os vagalumes a brilhar em volta do carro, eram um bom sinal,
tomou uma cerveja e um salgadinho e pegou a estrada, viu quando
uma placa anunciava a estrada a 500 metros, se posicionou a direita
da pista para entrar na estada que era seu destino;

J.J.Gremmelmaier 11
J.J.Gremmelmaier

Olhou a entrada da estrada,


uma cancela aberta, como se as
vezes fechassem a estrada, olhou
os policiais, pareciam não estarem
preocupados com a estrada. O
começo não lhe pareceu muito
diferente de uma estrada
asfaltada, fez três curvas e viu uma moça a beira da estrada a pedir
carona.
Para o carro e dá uma pequena ré, abre o vidro e olha a
moça.
— Vai para onde moça?
— Morretes, se puder me deixar lá!
— Sem problemas!
A estrada era cheia de curvas, mas ainda não era a descrição
que o amigo tinha lhe feito.
— Como é seu nome moça?
— Sueli, mas todos me chamam de Suelen!
— Me falaram que esta estrada era histórica, mas acho que
estou perdido entre a descrição e o que vejo!
— A parte bonita, é daqui uns quilômetro!
— Mora onde?
— Morretes, e você?
— São Jose dos Pinhais, no centro!
— E o que faz numa estrada destas vazia a estas horas?
— Ia perguntar o mesmo? – Pedro olha a moça, que sorri.
— Depois da pequena baixada, encosta a direita!
— Vai ficar aqui?
— Não, já que esta passeando, lhe mostrar algo!

Laços de Tempo 12
Laços de Tempo
Pedro viu a curva bem acentuada e estreita a direita naquela
estrada sem acostamento, de paralelepípedos, olha o quanto era
vazio naquela hora, um ou outro veiculo, dos antigos subiam aquela
serra, olha a descida e os quiosques começarem a aparecer a direita
da Estrada.
Os seus sentimentos pareciam o lançar no seu passado, mas
nele não tinha um carro, nele não tinha alguém com ele,
lembranças de uma infância a olhar a lua ao céu, a sentir a natureza,
filho único, ultimo remanescente de uma família.

J.J.Gremmelmaier 13
J.J.Gremmelmaier

Parou em um quiosque,
pouco antes de começar a descida
da serra, a Lua cheia surgia ao
fundo, e Suelen falou;
— Levou sorte!
Pedro pensou que talvez tivesse
realmente muita sorte, não sabia quem era a moça, mas era bonita,
e algo atraia ele a ela, talvez a solidão, talvez aqueles olhos
radiantes.
— Acho que sim! – Falou olhando ela aos olhos;
Suelen sorriu e falou;
— La onde surge a lua, se reparar, tem uma cidade, aquela é
Paranaguá, a cidade portuária, pouco para dentro, esta vendo o
negro ao fundo?
— Parece um grande lago!
— Baia de Antonina, e na ponta de cá a cidade de Antonina!
— E esta luz logo a baixo?
— Porto de Cima, uma vila de Morretes, que não se vê daqui!
Pedro olhou os quiosques, pareciam bem cuidados, olhou
para as churrasqueiras e para as placas iluminadas por aquela
grande lua ao céu.
— Às vezes tenho saudades desta paz! – Pedro;
— Por que, não gosta de agito?
— Cidade grande é muito barulhenta!
A moça sorriu e falou;
— Eu ao contrario, sempre sonhei em ir a Curitiba, deixar este
fim de mundo!
Pedro não comentou o que ela falou, pois não trocaria o
campo pela cidade por opção própria.

Laços de Tempo 14
Laços de Tempo
Ele observa a Lua cheia ao céu, olha ela iluminar todo aquele
vale, e viu o mar ao fundo, ele nunca fora até o mar, mas ainda
estava longe dele, mas o cheiro de mato, o local, lhe fez sorrir, era
um lugar especial.
Pedro volta ao carro e a moça sorri, iriam continuar a descer,
embora ela olhasse ele como alguém e conquistar, Pedro não estava
conseguindo ver naquele sorriso triste uma porta aberta.

J.J.Gremmelmaier 15
J.J.Gremmelmaier

Descem a estrada, agora


entrando na parte mais íngreme,
mais lenta, curvas de 180 graus
em descida, algumas pareciam ter
até mais que isto, eles pararam
em dois pontos, ela mostrando
primeiro uma grande queda
d’água, e depois pararam sobre uma ponte, rio Mãe Catira, a moça
parecia ter cultura, falava muito bem, mas tinha um ar sofrido, as
vezes triste.
— Estes quiosques no Domingo se enche de gente vindas da
Cidade, eles mesmo quando em um lugar assim, agitam.
Pedro via que a moça quase pedia para a tirarem dali, aquele
sorriso triste pareceu prender Pedro.
Eles passaram sobre a ponte de Ferro, parram um pouco,
Pedro viu aquela agua translucida, sem cheiro químico ou de
esgoto, apenas de mato, isto lhe lembrava sua infância, agua limpa,
mesmo que já nem tão limpa quando a de seu passado serra acima.
Senta-se a uma pedra, olha para a lua sair de entre as nuvens,
pareceu avermelhar o chão, olha para ela vermelha sangue e Suelen
olha para ele e pergunta.
— É supersticioso referente a lua?
— Não, mas minha mãe era, dizia que Luas Vermelho sangue,
eram símbolos de mudanças, radicais mudanças.
— Fala triste dela, ela já se foi?
— Sim, ela e meu pai, morreram com uma semana de
diferença entre eles, quando meu pai morreu, soube que minha
mãe iria, eles eram ligados.
— Amores eternos, as vezes queria acreditar no Amor.
— Não acredita?
— Quando o achar, vou acreditar.
Laços de Tempo 16
Laços de Tempo
Era perto das 8 da noite quando ele a deixou em casa e ela
fala:
— Tem uma festa hoje a noite, aparece e vamos juntos.
Pedro mesmo se fazendo de desinteressado aceitou o
convite.
Olha a casa simples, junto a mata, olha para a casa, parecia
ter mais alguém, pensou se ela tinha alguém, mas o que mais ficava
visível era a tristeza naquele olhar.
Olha para aquele pedaço de cidade, parecia muito pequeno
para ser Morretes, mas se fosse, seria algo que estaria fadado ao
fim de sua vila, para em uma pousada a esquina e pergunta onde
era o centro da cidade, o senhor apontou uma rua e falou.
— Por ali.
Pedro viu que entrou na estrada novamente e viu uma grande
reta, se via uma construção bem ao fim dela, só não acelerou muito,
pois não conhecia o lugar e as lombadas estavam em espaçamentos
que ele não conhecia.

J.J.Gremmelmaier 17
J.J.Gremmelmaier

Pedro para no centro da


cidade de Morretes, caminha
primeiro pelas ruas fechadas ao
transito, bem iluminada, turística
diria ele, bonita nos detalhes,
clima bem mais gostoso que
Curitiba e região metropolitana,
mais quente, uma cidade pequena, um lugar que ele viveria bem,
mas sabia que cidades assim não teriam emprego para ele, vindo do
campo. Senta-se em um bar, ele não nota que todos olhavam para
ele, suas vestes, seu carro, para ele aqueles carros mais antigos as
ruas eram um charme, parecia mesmo que havia voltado no tempo.
Ele toma uma cerveja a mais, sai a olhar o centro, tinham
hotéis turísticos, mas gostou dos preços locais, ele pensou que
viveria melhor ali que na parte alta.
Camilha a beira do rio, e viu o chafariz de agua do rio, as luzes
iluminando o rio, ficou a observar aquilo, namorados ao calçadão,
pessoas vendendo artesanato em uma pracinha a frente, tudo na
calma de uma cidade que parecia que a pressa não fazia parte.
Caminha pela rua conhecendo e olha a grande igreja a frente,
sobe suas escadas e entra nela, um casamento se fazia, ele senta-se
ao fundo e olha para o local, se duvidar, muitos da cidade estavam
ali, não sabia o tamanho da cidade, mas aquilo o fez sorrir, tão perto
e ao mesmo tempo, outro mundo.
Ele sai da igreja olhando em volta, cidade sem prédios, o que
era alto, tinha três pisos, a torre da igreja sendo o ponto mais alto
da cidade inteira.
Realmente uma cidade de interior, não tinha noção do que
mantinha aquele lugar, mas viu que as ruas cuidadas, pareciam
induzir ao turismo, hotéis simples, baixos, mas bem conservados,
tinha de achar um lugar para passar a noite, e começa a voltar no
sentido que deixara a moça.
Laços de Tempo 18
Laços de Tempo
Lembra da pousada a entrada daquele lugar, entra e reserva
um quarto, soube que era um chalé ao fundo, toma um banho,
estava cansado, relaxa um pouco.
Até aquele momento estava gostando de sua aventura nada
agitada, sorri da calma, da tranquilidade daquele local.

J.J.Gremmelmaier 19
J.J.Gremmelmaier

Pedro passou na casa da


moça por volta das 23 horas, e
foram a festa, era em uma fazenda
beira rio, teve de deixar o carro ali,
todos atravessaram o rio em
Rurais (veiculo 4 por 4), ele achou
interessante uma festa onde os
carros e o som dos mesmos não chegassem, reparou assim que a
fazenda era cercada de água por todos os lado, rio Nhundiaquara
por todos os lados. Era um estranho no local, mas era um lugar que
ele gostaria de se enturmar, mais ao seu estilo, campo, do que o
estilo cidade;
— Belo local para festas!
— As vezes acho que tem muito cara desta cidade, muito
pequena para mim, sempre sonhei em ir a Curitiba, viver minha vida
e não a da cidade inteira e me sobrar tempo!
Pedro não comentou, duas pessoas diferentes, ele daria tudo,
o pouco que tinha, para viver numa cidade do interior, foi a cidade
grande por falta de emprego, de futuro, a vila que nasceu diminuía
a cada ano, foi o ultimo dos jovens a sair, não via como voltar para
lá, mas sempre sonhara com viver na calma, não no agito.
Ele repara que ela apresentou uma moça, e soube de cara,
que ele fora ao casamento, Suelen não, era a festa da cerimonia de
casamento.
Viu que sair dali, era por agua, não era tão fundo, mas apenas
por água, todos os lados, viu que Suelen estava querendo fugir, e
logico, na primeira chance, fugiu.

Laços de Tempo 20
Laços de Tempo

A moça no começo da festa


ficou um pouco ao seu lado, mas
não se prendeu a ele e foi se
divertir em outras rodas de
amigos, já que ela tinha amigos ali,
não ele;
Olhava em volta, algumas moças olhavam-no, mas veio de
cidade pequena, sabia que os rapazes também o estavam olhando,
pegou uma cerveja e sentou-se ao longe da multidão, não queria
que sua primeira festa depois de meses, acabasse em uma briga.
Mas era obvio que algumas moças sorriam para ele, tenta
ignorar, ele viera acompanhado, ou não?
Mas ele não sabia onde estava, não tinha noção de como
voltaria ainda, mas o lugar foi enchendo, a maioria trazida nas
Rurais, enquanto poucos, vinham em tratores antigos, aqueles
pareciam bem conservados, bonitos.
Vi que tinha gente de todas as classes sociais ali, em grupos
fechados, ele era o invasor, o ser que teria de se conter, pois não
tinha ideia de onde aquela festa iria acabar.
O agito em musicas antigas, lhe fez viajar a seu passado
novamente, todo aquele passado que ficou em Cerro Azul, toda sua
historia passada a beira de outro rio, de outra cidade pequena, mas
eram cidades diferentes, cidade pequena, com muitos pequenos
negócios, fazia ter varias famílias de varias atividades diferentes,
tentava não ligar a cidade a sua para não se desmotivar a vir, ele foi
afastado, ele não saberia como poderia viver em um lugar daquele,
ainda tinha de defender os trocados na barulhenta linha de
montagem da empresa.

J.J.Gremmelmaier 21
J.J.Gremmelmaier

Depois de um tempo, um
rapaz, Rogério, se aproximou e
perguntou quem era o boyzinho,
ele se apresentou, não queria
encrenca, fora apenas convidado
pela moça, nada mais que isto.
Viu que um grupo de 3 rapazes o tentaram intimidar, já
estavam alterados pela bebida que corria solta, sentia o cheiro de
maconha no ar, mas estavam até comportados, e o som de rock dos
anos 90 parecia animar o pessoal, evitou problemas.
Ele se afastou um pouco, olhando o rio, mas Rogério ficou
lhe olhando de longe, parecia querer confusão, via que algumas
moças também o olhavam, sentiu-se intimidado, não conhecia o
local, não teria como sair dali as pressas, seu carro estava do outro
lado do rio, então evitou mexer com quem não conhecia, teria
outras oportunidades para isto;
A festa corria livre, via alguns a vomitar no rio, depois de
beber demais, viu que a festa era daquelas que nunca foi, era por
manter a sobriedade, mesmo nos piores momentos.
Como não via mais onde Suelen foi parar, ele fica ao canto, a
moça deveria ter alguém, uma pena, mas seus olhos estavam em
ver os rapazes dançarem igual no centro daquele terreiro que
parecia de uma areia fina, lembrou de sua infância no interior, a
muito não ouvia aquelas musicas e não via as pessoas dançando
sem se preocupar se estava na moda, apenas se divertindo.
Tenta não gerar problemas, via que os rapazes queriam uma
discussão, estranhou serem bem os sozinhos, tinha mais meninas
sozinhas que os baderneiros, mas entendeu a arapuca, seria ele se
aproximar de qualquer uma, seria puxado para fora.
Sabia que em grupo, era uma ação fácil, e o ser calmo, sem
desejos de violência, chega a uma mesa ao fundo, olha para os
demais ao longe, olhava os noivos ao fundo.
Laços de Tempo 22
Laços de Tempo
O sair dos noivos estabelecia que a festa pegaria fogo ou
acabaria, não conhecia as pessoas, mas de cara uns dois grupos
atravessam o rio das Rurais.
O clima foi ficando mais familiar, os rapazes pareceram se
desencantar dele, talvez pensando em ir agitar em outro lugar.
Os tratores saíram ao fundo, Pedro estava quase que
pegando o próximo grupo para sair.

J.J.Gremmelmaier 23
J.J.Gremmelmaier

Pedro estava a olhar para os


veículos ao fundo.
O pessoal não estava mais
dançando e o som já estava baixo,
ele havia bebido quase nada, festa
indo para o fim, muitos já haviam
se retirado.
Pedro estava olhando para o rio quando ouve.
— Bom saber que não fugiu ainda.
Pedro sorri do surgir de Suelen novamente, lhe abraça e lhe
dá um beijo, ele fora pego de surpresa.
Por um momento esqueceu que poderia ter alguém olhando,
mas curtiram um pouco, estava amanhecendo quando saíram no
sentido de Morretes, a deixou em casa, foi a pousada logo ali a
frente, olha que estavam quase todos dormindo, mas reparou que a
pousada era dos pais do rapaz que o indagara.
Estava cansado, mas não pretendia dormir muito, mas com o
tempo um pouco mais fresco, cai a cama.

Laços de Tempo 24
Laços de Tempo

Acordou tarde, no lugar de


tomar café almoçou na pousada,
acertou as coisas, e passou na casa
da moça, ela o convidou para
entrar e apresentou sua filha, a
pequena Suzi, menina de 10 anos
com lindos olhos azuis, traços bem
marcantes e cabelo encaracolado castanho claro.
Saíram e passearam a beira de um rio, estavam os três lá,
quando Suzi veio correndo do rio assustada, Pedro viu que Suelen
nem se preocupou e foi ao local, viu aquela coisa estranha o centro
do rio, mas não conhecia o lugar, então pareceu apenas uma grande
pedra, e menina fala que viu umas coisas estranhas.
Pedro se levanta e vai com ela ao local, para um momento
olhando o rio, depois olha ela e fala.
— Acho que se assustaram com seu grito. Mas o que
aconteceu.
— Não sei, um ser grande saiu daquela pedra e segurou um
ser estranho, que parecia uma moça, ele parecia que ia a mater.
— Acho que ele a soltou, pois senão estavam brigando ainda.
— O ser era assustador.
— Assustador?
— Já comeu siri? – Olha a menina olhando para Pedro seria.
— Não, mas já vi um.
— Parecia um siri imenso, de mais de dois metros.
— Daria um bom ensopado.
A menina sorriu, pois não viu nada de diferente ali agora, e
aproveitaram a beira do rio o dia inteiro, no fim do dia, as deixou
em casa subindo a serra;
Um fim de semana incrível para quem queria apenas
conhecer um lugar.
J.J.Gremmelmaier 25
J.J.Gremmelmaier
Sorria de lembrar da moça, estanha como um sorriso
conquistara seu coração.
Foi subindo, para e toma um caldo de cana, um pastel de
vento e olha em volta, local simples, mas que lhe trazia a lembrança
de quando vivia no interior, ele gostou da sensação.

Laços de Tempo 26
Laços de Tempo

Pedro estava subindo,


quando todo o movimento da
estrada para.
Ficou ali parado, os carros
atrás começam a fazer a volta, ele
não conhecia outra saída.
Olha o policial que veio pela rua e afirmou que teriam de
voltar, e fazer o caminho para Curitiba pela 277, pois um trecho da
estrada cedera, nada grave, mas que as maquinas estavam
trabalhando no lugar. Perguntou para o policial como fazer, teria de
fazer no sentido que veio, e soube que poderia chegar ali por duas
estradas que saiam de Curitiba.

Pedro volta, olha a entrada para a casa de Suelen e quase


virou ali novamente, mas foi para a cidade, tinha de trabalhar no dia
seguinte.
Pedro chega em Curitiba, pela linha verde e pega no sentido
de São Jose dos Pinhais na Avenida das Torres, no portal de São
Jose, se mantêm a direita e 5 minutos estava entrando em um
J.J.Gremmelmaier 27
J.J.Gremmelmaier
apartamento locado no centro de São Jose dos Pinhais, a semana foi
agitada no trabalho, mas não via a hora de descer a serra
novamente, pela primeira vez achou que estava gostando de
alguém, estranho conhecer alguém tão pouco e se deixar envolver;
Uma semana inteira pensando em voltar, Paulo disse que não
poderia descer junto, talvez aquela tenha sido das maiores semanas
que ele teve, desde que começou ali, parecia interminável, mas
cada dia a mais, era um dia a menos para descer a serra.

Laços de Tempo 28
Laços de Tempo

Sexta feira a noite, Pedro


estava animado, pensando em
voltar a descer a serra, suas
lembranças da semana anterior o
fizeram sorrir a semana inteira.
Quando ele tenta dar
partida no carro ele não pegou, e não conseguiu descer a serra,
chama um amigo que era mecânico verificou que era bateria, teria
de deixar carregando.
A noite foi de lembranças, talvez ansiedade e na manha de
sábado, a luz do dia, desce a serra, quando entrou na estrada da
Graciosa, olhou o portal.

Pensou como não vira algo tão grande no dia anterior, olhou
o modulo policial logo a frente, com grandes cones no centro da
pista, não havia notado isto também, começa a descer, para no

J.J.Gremmelmaier 29
J.J.Gremmelmaier
lugar onde pegara a moça na semana anterior, não havia nada ali,
ficara pensando o que ela fazia ali sozinha, olhou em volta, nada
alem de uma casa aparentemente abandonada a anos, a uns 100
metros da estrada, não dava nem para ler o que dizia no que fora
um cartaz de entrada;
Para a olhar para o visual da parte alta, parecia outro lugar de
dia, olha os comerciantes no lugar, entendeu que de dia era outro
lugar, pois o lugar era bonito e chamava turistas.
O descer foi observando os lugares que não viu quando
desceu a primeira vez, mas as vezes parecia outro lugar, as vezes ele
olhava para detalhes pensando como não os vira.

Laços de Tempo 30
Laços de Tempo

Chega a Porto de cima, olha


para a ponte antes de a
atravessar, parecia diferente, mas
era dia, estava cheio de gente,
mas tinha mais bares, os lugares
pareciam diferente, muitos carros
de turistas, bem menos os seus
estilo, muito agito, ao lado da pousada, tomou a direita, passando
ao lado da igrejinha, atravessou os trilhos.
Quando pegou a direita novamente, viu a estrada cheia de
mato, estranhou, não conseguia entrar por ali com o carro, parou e
fez o caminho a pé, olha o tênis cheio de lama.
Estranhou, pois não parecia o mesmo lugar, parou diante da
armação de tijolo, que era a única coisa que restava de vestígio de
que tivera uma casa ali.
Olha em volta, era o mesmo lugar, mas como se tivesse
passado muito tempo, ele não entendia como crescera daquele
jeito o mato.
Deveria estar maluco, sonhado, ou era um lugar paralelo a
aquele muito semelhante, voltou pelo caminho, pés cheios de
barro, chegou na entrada da estradinha, olhou para uma venda de
Secos e Molhados, com uma placa grande de Eletricista Fator Copel
ao lado, entrou e perguntou pela casa que tinha ali a frente;
— Senhor, ali a frente não tinha uma casa de uma moça?
— A muito tempo ela não mora mais ali.
— Muito tempo?
— Ela abandonou a casa a mais de 10 anos, ela parece ter
enlouquecido.
— Mas onde encontro esta moça?
— Dizem na cidade que ela morreu a poucos dias, e a filha
dela perambula pelas ruas do centro pedindo dinheiro.

J.J.Gremmelmaier 31
J.J.Gremmelmaier
Pedro pensa no que o senhor falou, que ali morava uma
moça, mas a mais de 10 anos que ela saíra dali, que ela
enlouquecera e morrera a poucos dias, que a filha dela ainda vinha
ali, mas eram todas malucas;
“10 anos, como pode ser?”

Ele volta ao carro, fica a lembrar das pessoas perguntando do


carro, impressionados com o carro, parecia fazer sentido, mas na
sua mente, não tinha sentido nenhum.

Laços de Tempo 32
Laços de Tempo

Estranhando a historia ele


resolveu ir a fazenda que tinha
havido a festa, pegou o carro e
saiu na direção da ponte,
atravessou e entrou direto a
direita, a estrada caminhava em
paralelo ao rio e mais a frente viu
a entrada que ele parara o carro, muito mato, para a beira do rio, e
viu que toda a região do outro lado, estava diferente, olha para o
chão, não tinha marcas de que tivera um estacionamento ali para
carros, as marcas ao rio, pareciam todas antigas, se via o rio mais
longo que a uma semana.
Olha em volta, não estava entendendo, 12 anos teriam se
passado, 10 anos que a moça não estava mais naquele endereço,
como, para ele foi um momento, não fazia sentido, tudo parecia
girar na sua mente.

J.J.Gremmelmaier 33
J.J.Gremmelmaier
Entrou no carro, andou uns metros e parou novamente o
carro pensando que teria de olhar do lado de cá de novo, saiu do
carro, passou em meio ao mato alto, mas com uma trilha pelo meio,
tratores passariam fácil ali, não seu carro, parou a beira do rio
novamente, estava totalmente perdido em pensamentos, ele
sonhara, ele não vivera aquilo, o que estava acontecendo, como
poderia ter parecido tão real, como ele sabia que existiu uma casa
naquele terreno que fora antes, como sabia desta entrada que
atravessava o rio, e olhou para o outro lado, todo cultivado de
Gengibre, olhou em volta e viu que era ali mesmo, o lugar era o
mesmo, mas não fazia sentido, não entendeu.

Laços de Tempo 34
Laços de Tempo

Estava a voltar pela estrada


quando viu uma menina sair do
mato assustada, ele freou com
tudo, havia dois rapazes a
seguindo, que quando viram o
carro se mandaram no sentido do
rio, ela olhou o carro, como se
conhecesse, mas pareceu se perder na imagem de Pedro saindo do
carro, ele olhou a moça que não lhe olhava aos olhos e perguntou;
— Tudo bem?
Ela concordou com a cabeça, viu que ela tinha batido a
cabeça e estava sangrando, e ofereceu-se a leva-la a um hospital,
ela olhou desconfiada, ele olhou aquele rosto e perguntou sem
sentir;
— Suzi?
A moça olhou serio para ele, lagrimas correram por seu rosto,
a moça deveria ter mais de 20 agora, o que acontecera, ele a abraça
e ela pergunta num tom triste;
— Por que só voltou agora?
Ele não sabia o que falar, a ajudando a entrar.
— Estou tentando entender menina, estava achando até este
momento, que sonhei!
Ela olha ele e foi quieta, foram a um hospital no centro de
Morretes ele a olhava, sem entender o que havia acontecido.
Ela é atendida e ele fica a olhar em volta, a cidade continuava
pequena, mas tinha carros mais novos a rua, a cidade era a mesma
e ao mesmo tempo, parecia que estava diferente, estava a olhar e
vê a moça, não mais uma criança, o sorriso da mãe, sorriso triste.
Ele olha a cidade, mais moderna, as pessoas não olhavam seu
carro mais seu carro, velho, as pessoas a rua eram turistas, o

J.J.Gremmelmaier 35
J.J.Gremmelmaier
movimento de gente era grande, ele tentava entender, a cidade era
a mesma e ao mesmo tempo outra.
Ele parecia perdido, seus pensamentos estavam no que
poderia gerar aquilo, um sonho, uma volta no tempo, não existia
isto na mente de Pedro que parecia confuso com o todo.
Os dois saem dali e sentam a uma lanchonete, viu que os
preços agora eram normais, não os anteriores, as coisas pareciam
lhe contar algo que para ele era impossível, pois não teria como ter
voltado no tempo, algo especial aconteceu, mas ele estava bem
confuso.

Laços de Tempo 36
Laços de Tempo

A moça, que aos olhos de


Pedro era ainda aquela criança,
pega o suco a mesa e olha para
ele.
— A mãe parece ter gostado
de você, mas você parece o
mesmo, como se o tempo não tivesse passado para você, não sei o
que está fazendo.
— Eu? Tentando entender, para mim, se passou uma semana,
entendi apenas agora, o porque olhavam o carro como novo, ele
nem havia sido lançado a 12 anos, hoje, uma velharia conservado,
não sei o que está acontecendo.
— Vai mentir para mim descaradamente? – A moça olhando
Pedro.
— Pareço estar mentindo, pareço ter vivido 12 anos a mais? –
Pedro a devolve a pergunta.
Ela lhe olha e fala.
— A mãe pareceu se desiludir, o rapaz da Pousada disse para
ela que a amava, ela o destratou, ele a isolou, esperando que você
voltasse, mas não voltou.
— Eu estou um dia atrasado, mas aparentemente, 12 anos
depois, na minha cabeça, a festa de casamento foi a uma semana,
você assustada olhando o rio, a uma semana, mas sei que não
aceita, eu não estou aceitando a historia.
A menina conta que eram felizes, a mãe era meio estranha,
com um trabalho que não se orgulhava, mas que depois que ele
havia aparecido, por uma semana ela sonhou novamente, depois,
começaram as gozações, ela começou a beber mais do que o
normal, se culpava de não ter lhe dado atenção, parou de trabalhar,
desandou de vez, ela vivia agora uma hora na casa de uma tia, outra
hora na de outra, e que a uma semana sua mãe havia morrido.

J.J.Gremmelmaier 37
J.J.Gremmelmaier
Pedro olha ela segurando suas mãos e fala.
— Desculpa, não queria ela morta, queria apenas estar aqui
na semana seguinte, e sei que não vai entender.
As vezes Suzi olhava em volta, ela parecia se localizar e fala.
— Sei que não está mentindo, mas por 12 anos, pensei que
não apareceria ninguém mais...
Suzi para a frase, olha os demais lhe olhando, ela era a
maluquinha da cidade, ou a filha da louca da cidade, já fora
chamada de coisas piores nos últimos 12 anos, mas parecia tentar
entender, Pedro, não entendia a historia.
Pedem algo para comer, Pedro viu que a moça estava com
fome.

Laços de Tempo 38
Laços de Tempo

A lógica não servia, ele foi


ao carro, pegou a boneca que ela
havia esquecido no carro, alcança
para a moça, uma lagrima correu
em seu rosto, não havia chão para
pisar na historia, ele estava ali,
olhando a moça, a boneca,
pensando que a pessoa que ele sonhou a semana, estava morta há
uma semana, mas que tudo que ele jurava ter vivido no fim de
semana anterior, estava há 12 anos atrás;
Os pensamentos dele estavam se perdendo, como aquilo
havia acontecido, como poderia esta moça a sua frente, ser a
criança de uma semana atrás.
Seus pensamentos estavam todos confusos, ele não tinha
explicação, e não estava funcionando.

J.J.Gremmelmaier 39
J.J.Gremmelmaier
Alguém acostumado em uma linha de produção, onde as
coisas eram sempre iguais, na sequencia igual, não entendia como
poderia acontecer algo como aquilo.
Pensamentos tentando se manter no racional, em uma
historia que não conseguia pensar pelo racional, amenina a sua
frente, era prova de que acontecera, mas como?

Laços de Tempo 40
Laços de Tempo

Os vão na direção da casa


onde ela morou um dia, Pedro
tentava achar significado em tudo
aquilo, mas não conseguia, o inicio
de uma historia que deveria ter
sido linda, estava no passado, e
não fora linda, tinha de ver que se
ele foi ao passado por aquela estrada, teria de ter uma forma de
voltar lá, de ajudar a menina a ser feliz, a que Suelen não morresse.
Os dois chegam aos restos da casa, Pedro tentava achar o
chão a pisar, ele olha em volta, ele não conhecera o lugar, então
tudo que ele tinha eram rastros de uma historia de uma semana, e
tudo que não conseguia era entender este caminho.
— Ainda está no nome da sua mãe?
— Sim.
— Se me deixar ajudar.
— Acha que tem obrigação, não entendeu, não estou lhe
culpando por isto.
Pedro a olha serio.
— Aceito ajuda, mas não por pena.
Pedro sorri e fala.
— Pena, o que é isto?
Ele olha que o terreno era íngreme, tinha bananeiras no
fundo, viu que era bananeira da natural, pois pegou uma madura e
era quase só semente.
— Vai ficar?
— Não sei, não sou rico para dispor de muito em dois lugares.
— Mas quer ajudar como então?
— Dinheiro não faz milagres, e precisamos de um Suzi.

J.J.Gremmelmaier 41
J.J.Gremmelmaier
Ela olha como se não entendesse, eles chegam ao fundo do
terreno, tinha uma construção, ele queria falar, mas não sabia como
falar sobre isto.
Pedro fez força e abriu a porta e olha para a estrutura, olha a
estrutura da casa e fala.
— A estrutura era boa, pena ter ficado abandonada, levaram
tudo, dois anos, é o que entendi?
— Sim, a mãe há dois anos dava uma de louca no centro,
brigava, bebia todas, ela se desencantou com a vida.
Pedro olha para uma vassoura bem usada, tão usada que não
levaram e junta as palhas que estavam para dentro, aquilo poderia
queimar o resto da casa, e separa dois bancos e senta-se.

Ele a olha e fala.


— Tenho tentado entender, não está funcionando.
Suzi senta-se ao lado e segura sua mão.

Laços de Tempo 42
Laços de Tempo

Pedro olha aquela mão


segurando a sua, olha os olhos
azuis de Suzi e fala, tomando
coragem.
— Sei que é difícil entender,
mas para mim, a uma semana,
pensei me apaixonar por sua mãe, não sei o que aconteceu, estou
aqui, perdido, desci a serra pensando em a convidar a morar
comigo, ela falava que queria viver na cidade, e passei uma semana
pensando nisto, em dividir o meu pouco.
Suzi ouve Pedro falar, uma lagrima corre no rosto do rapaz.
— Eu não sei como aconteceu, pensa em ter descido uma
semana depois e descobrir que a pessoa que você conheceu, está a
este tempo morta, mas não porque morreu assim que saiu, e sim,
porque se foram, 12 anos. – Pedro passa a mão nos olhos, como se
os limpasse para ver.
Suzi segura sua mão, não sabia o que falar, o rapaz parecia
estar perdido, olhava tudo perdido, ela parecia querer falar algo,
mas não tinha coragem de contar também.
Pedro conta para a moça a sua versão da historia, ela sabia
que era ele, sabia pela boneca, pelo carro, pelo rosto e pelo olhar
do rapaz que era verdade, mas a lógica também não ajudou ela a
entender o que havia acontecido;
Suzi olha ele e não tem coragem de falar sua parte da
verdade, a verdade, será que existia verdade nesta historia? Pensa
ela também sem saber o que falar, ela tinha um segredo, olha o
rapaz, como poderia ser verdade, como poderia ela estar naquele
ponto da historia.

J.J.Gremmelmaier 43
J.J.Gremmelmaier

Depois de muito
conversarem naquele fim de
semana, ele a convida a morar
com ele em São Jose, região de
Curitiba, ela estranha o convite,
aceita receosa, sem saber que ele
ainda a via como aquela menina
de 10 anos, arteira de um fim de semana no passado.
Suzi subiu olhando aquele rapaz, lembranças de uma menina,
de um dia no passado, quase sem entender, ela abraça sua boneca,
olha para ele ligar o carro e sobem a estrada, ele parou, tomaram
um caldo de cana, ela via que ele tentava lhe ajudar, mesmo ela as
vezes dando umas patadas, sofreu uma semana, todos a volta
queriam que ela sumisse, mas depois explicava para suas tias.
Ela não entendia as palavras de Pedro as vezes, ele parecia
acreditar em algo impossível, tentava não o desiludir e enganar.
Chegam naquele fim de domingo a casa de solteiro, toda
bagunçada, ela sorri, Pedro viu que teria de mudar sua vida, mas
sentia que aquela menina era a única coisa que lhe permitiria
dormir aquela noite, pois ele olhava tudo incrédulo, próximo da
loucura de algo que não tinha como ter acontecido, mas
acontecera.

Laços de Tempo 44
Laços de Tempo

As adaptações foram
visíveis, complicadas, ele era
solteiro, acostumado a liberdades
que não teria mais em sua casa,
vícios de alguém solteiro.
A semana passa com ele
tentado lembrar cada detalhe da noite em que fora a primeira vez a
Morretes, foi uma semana conturbada, com desafios que iam alem
do normal, mas sentia-se responsável por Suzi.
Suzi presa naquela casa, olha para Pedro sair sedo, trabalhar,
não ter tempo para muita coisa durante a semana, sua mãe sempre
dizia que a cidade grande era coisa boa para todo lado, e Suzi viu
que para manter-se o rapaz trabalhava duro, não tinha regalias em
casa.

J.J.Gremmelmaier 45
J.J.Gremmelmaier
Ele comprou umas roupas para ela, estava olhando ele
diferente, eles tinham agora quase a mesma idade, mas ele
continuava a lhe tratar como pequena Suzi.
Aquela casa era simples, mas tentava não chegar perto da
cerveja da geladeira, tentou dar uma ajeitada na casa, teria de
ajudar, estava pesando e não queria isto, mas parecia que seriam
uma família, estranha família a partir daquele momento.
Mas ela não contou a verdade a Pedro, pois ela não entendia
a verdade, mas na cidade grande, parecia que as coisas se
acalmavam, mas desde a segunda, a cada manha, ela acordou em
uma parte da vida dela, diferente, passado, presente, e bem a
frente, mas somente no passado não tinha Pedro ali, ele estava em
todas aquelas subdivisões de sua vida, mas ele não vivia múltiplas
vidas, ele viveria aqueles trechos ainda.
As vezes queria ficar ali para sempre, mas sabia que Pedro
não seria feliz se não fosse a parte de Morretes, sabia que falara
com ele lá em um ponto ao passado, diria mais de 30 pontos em 12
anos de história.
Ela não sabia como contar algo que nem ela entendia, e não
sabia como seria, pois ela para viver aquilo, ou ela recuaria no
tempo, ou ele a deixaria e voltaria no tempo, não queria ele longe,
mas também queria ver sua mãe sorrir, embora ela nunca sorriu de
verdade.
Ela estava na duvida se falava ou não para Pedro, resolveu
não falar, ele poderia decidir a poupar e não descer mais e algo que
aconteceu no passado e no futuro, não acontecer.
Suzi se olha no espelho e fala.
— Tá ficando maluca Suzi.
Ela sorri por falar a frase de sua mãe.

Laços de Tempo 46
Laços de Tempo

Suzi contava sempre a


mesma historia para Pedro, que
sua mãe mudou, fez planos, mas
que algo não deu certo, que ele
não havia voltado, ela foi ficando
triste, parecia que ouviria esta
historia muitas vezes, muitas
mesmo.
Suzi sabia que estava sendo chata, mas ela queria entender,
ela mesmo pareceu olhar a mãe estranha.

As vezes ela queria que as coisas voltassem no tempo, tentar


viver de volta, ajudar sua mãe a ser feliz, não implicar tanto com
Rogerio, sabia que ela não gostava dele, mas era a forma que ele
tratava sua mãe que a machucava, mas começa a pensar se não era
a forma dele conseguir estar ali.

J.J.Gremmelmaier 47
J.J.Gremmelmaier
Pensar em algo que não gostava, pensar em sua mãe
diferente de todas as formas, não estava lhe fazendo feliz.
Tentava não julgar, sabia que nascera e sua mãe tinha 14
anos, com certeza isto mudou a vida dela, talvez ela não quisesse
fugir da cidade, mas das pessoas que sabiam sua historia.
Pedro a cada dia que chegava em casa, parecia que o mesmo
canto estava maior, a menina tinha ajeitado mais um canto, ainda
faltava um espaço apenas dela, mas teria de ter calma para
construir algo, tinha um plano, e precisava estar centrado no
problema a cada dia mais.

Laços de Tempo 48
Laços de Tempo

Sexta a noite, os dois saem


em direção a Morretes pele 116,
para passarem pela Estrada da
Graciosa, fez cada movimento
como fizera no primeiro dia.
Quando do desvio da
construção do contorno, que lhe fez fazer um desvio que lembrara
do primeiro dia.
Depois parou em um Bar a beira da estrada, pediu uma
latinha e sorriu. O senhor no bar olhou para Pedro e perguntou se
conseguiu achar o caminho outro dia, Pedro sorriu.
Quando saiu da BR 116 entrando na Graciosa Pedro já sabia
que estava no passado, Suzi ao seu lado pergunta onde estava o
portal e entendeu no sorriso de Pedro que poderiam ter voltado ao
passado.
Os policiais estavam olhando os carros naquele dia, mas não
pararam o carro dos dois.
Deveria ter algo naquele caminho, naquela noite, pois o
movimento estava maior do que na primeira vez.

J.J.Gremmelmaier 49
J.J.Gremmelmaier
Pedro estaciona e deixa os demais carros passarem, Suzi olha
para ele e pergunta.
— E como vai ser?
— Nem ideia, cada vez que desço esta estrada as coisas estão
diferentes, estou travado em um misto de tempo, não sei o que me
colocou nisto, e neste momento, não quero pensar em sair deste
misto de tempo.

Laços de Tempo 50
Laços de Tempo

Na altura que pegara a


Suelen a primeira vez, olhou
atento e viu a mesma casa, agora
conservada, 3 focos vermelhos a
frente, a placa dizia Boate 3 Focos,
saiu a descer a serra.
Suzi olha para onde Pedro olhou, não conseguiu não
perguntar.
— Foi ai?
— Não.
Suzi olha o lugar, olha bem ao fundo alguns carros que sabia
de quem era, foi inevitável pensar em quem ele pegara ali, a
estrada, ele parecia ainda perdido, procurando uma historia que ele
pulara para dentro, mas não participara.
Os pensamentos de Pedro foram a estrada, viu que muitos
entraram mais a frente em uma estrada de chão, ele continuaria
pela estrada, nem imaginava que aquele caminho era a antiga
estrada que ia até Curitiba.
A neblina fez ele ligar a luz baixa, viu que a mesma tomava
toda a região, olha para a curva acentuada, sabia que tinha uma
entrada para o mirante a frente, foi calmamente.

J.J.Gremmelmaier 51
J.J.Gremmelmaier

Parou na parte onde Suelen


lhe mostrara as luzes, uma neblina
tomava tudo, não se via nada, não
era tarde, mas a neblina dava um
ar de mistério naquele lugar.
Suzi olhava para os
detalhes, lembra que poucas vezes subia, sua mãe não queria que
ela fosse por este caminho, notava que as coisas estavam diferente
do pouco que conhecia.
— Com neblina não teria descido.
— E não estaria nesta encrenca.
— Talvez, ou numa pior.
— Pior? – Suzi.
— Voltar para uma cidade, que estaria 10 anos no passado
chamada São Jose dos Pinhais, não teria minha casa, não teria nada,
nem emprego.
— Mas com certeza teria um plano.
Pedro sorriu, teria como voltar a sua cidade, ajuda seu pai,
mesmo sem ele ver, viver melhor aqueles anos, que hoje sentia
falta, na época, apenas reclamava.

Laços de Tempo 52
Laços de Tempo
Na mente de Pedro veio outra duvida, se levasse Suelen a
cidade, e ela acordasse dez anos mais velha, como ele se portaria,
como seria?
Com calma e cuidado, começam a descer a serra com toda
aquela neblina.

J.J.Gremmelmaier 53
J.J.Gremmelmaier

Pedro para na porta da casa


de Suelen.
Pedro desce e bate palmas,
mas parecia que havia saído, não
subiria e entraria com Suzi
naquela boate, mas foi onde
Pedro pensou que encontraria ela naquele momento.

Como ninguém atendeu a porta, começa a voltar pela


estradinha, olha que o secos e molhados na curva de saída do local
ainda estava aberto, vai lá, Suzi o acompanhou.
— O senhor sabe onde a Suelen está?
— A moça da casa ao fundo?
— Sim.

Laços de Tempo 54
Laços de Tempo
— Ela não vem muito, a filha dele que vinha, a uma semana
que a pequena Suzi sumiu, ela corre para cima e para baixo, mas
não gosto de me meter com este tipo de moça.
— Esse tipo de moça? – Suzi.
— Vocês sabem. Da noite.
— Mas o que aconteceu com a menina. – Pedro.
— Outra maluquinha, deve ter fugido com alguém, sei lá,
estas crianças hoje não esperam crescer para sumir.
Suzi lembra que o senhor Ramalho sempre a tratava
diferente, mas era estranho saber o que as pessoas pensavam a
respeito dela assim.

J.J.Gremmelmaier 55
J.J.Gremmelmaier

Saíram dali e foram a


cidade, Pedro viu Suelen ao lado
de um policial e sai para falar com
ela.
Estranhou quando ela lhe
olhou com ódio.
Estranhou e viu dois policias chegarem lhe apontando a arma
e gritando.
— Encosta na parede.
Pedro demorou para entender o problema, entendendo
quando os policiais o encostaram violentamente no carro.
— Ele veio a uma semana, dizem ter visto ele voltando e
passando lentamente por aqui policial, só pode ter sido ele que
roubou minha pequena Suzi.
Pedro não acreditava no que ela estava falando, pensou que
ela era diferente, acusado de raptar a pequena Suzi.
— Confirma que passou aqui depois?
— Sim, o senhor estava lá policial, a estrada estava
interditada, todos voltaram.
Pedro sabia que não poderia falar a verdade, Suzi ao carro
olhou a senhora, não parecia sua mãe, mas entendeu a
preocupação.
Suzi sai do caro, os olhos de ódio de sua mãe para ela, foi de
doer, e perguntou o que havia acontecido.
— Está com este bandido, deve ser cumplice.
Suzi viu que a mãe a olhar como concorrente, ela quase riu e
ouviu absurdos da boca de sua mãe referente ao senhor.
— Ele se aproximou somente para ter confiança da menina,
deveria ter desconfiado, deve ser um destes ladrões de crianças.
Suzi pensou se era raiva dele não ter aparecido, ou o que era,
os documentos de Pedro não ajudavam, pois seriam de um
Laços de Tempo 56
Laços de Tempo
adolescente, Suzi somente nesta hora de deu conta e entendeu que
se ela teria dez, ele não mais de 14 pela data de nascimento, o
detiveram para averiguação.
Suzi foi ao carro, e Pedro foi a delegacia, o delegado
perguntou os dados do documento, o senhor viu que eram novos,
pergunta dados de mãe, de pai e pergunta sobre a data de
nascimento, se fosse nos dias atuais, ele estaria encrencado, mas
sem sistema unificado, um erro que Pedro disse nem ter verificado,
foi o que falou.
Cela enquanto o delegado olha para o policial.
— Acha que foi ele.
— Lembro dele delegado, estava com a moça no casamento,
e depois ficou lá parado no deslizamento, lembro que ele perguntou
como chegar a cidade pelo outro caminho.
— E a maluca da Suelen não perdeu chance de detonar mais
um, está é maluca.
— A menina sumiu senhor, alguém foi.
— Ou ela, cansou do que falam da mãe e pegou uma carona,
como saber onde, Paranaguá, Curitiba, São Paulo, tem turista de
todo lado por aqui ultimamente.
— Verdade.
— O rapaz nem pareceu temer, ele não estava entendendo,
imagino o que é ser pego de surpresa, ele vinha falar com ela, acho
que se fosse ele teria desviado. – O delegado.

J.J.Gremmelmaier 57
J.J.Gremmelmaier

Nada tinham contra o rapaz,


mas só liberaram na tarde de
sábado, ele não viera com nada
que pudesse o ligar a menina, Suzi
viu sua mãe pegar a boneca.
— Ele tem a boneca no
carro, e nem isto eles levam em conta.
— Sabe que ele veio lhe ver moça, porque o trata assim.
— Não está com aquele galanteador?
Suzi olha a mãe pegar a boneca e a abraçar.
Pedro sai e olha as duas, embora ele sempre achava que
falava termos estranhos do interior, somente agora ele começava
notar por que o estranharam, por que boyzinho, o som era
ultrapassado, mas anos 2000 e não anos 1990, sua noção das coisas
estavam desfocadas ao futuro, mesmo ele um caipira na cidade
grande parecia um boyzinho para eles.
Fim da tarde de sábado, ele e Suzi se olharam, ela olhou a
mãe ao longe, olhando Pedro, se antes nada os separava, agora
parecia que tudo os separava, até ela, viu a forma que sua mãe lhe
olhou, estranhou tudo.
— Ela me vê como concorrente.
— Sim, ela lhe vê como concorrente.
O termo saiu desiludido da boca de Pedro, ele não parecia
acreditar que estava acontecendo novamente uma versão da
historia que não gostara.
Os dois já não estavam em clima de passeio, mas pela
primeira vez, Suzi olha para a história pela visão do rapaz, chegar lá,
e todos olharem eles como burguesinhos, por um carro usado, mas
que eles olhavam como lançamento.

Laços de Tempo 58
Laços de Tempo

Os dois voltam a Curitiba,


sua mãe conseguira em poucos
atos transformar a admiração de
Pedro em silencio, se ele falava
como se talvez nunca voltasse
para Curitiba se fosse para ver a
mãe dela feliz, na volta não falava
nada, o silencio entrou a semana enquanto Suzi pensava se o que
sua mãe sentia era amor ou apenas uma saída de uma vida que
entendeu apenas depois, quando começou a crescer e as pessoas
lhe jogar na cara;
Pedro dormindo no sofá, ela na cama dele, as vezes não
achava justo isto, mas Pedro parecia olhar Suzi ainda como uma
criança, mesmo que ela tivesse quase sua idade agora.
Pedro pensava se não deveria parar de pensar nisto e ir ao
futuro, mas algo estava lhe ligando aquela cidade, ele não sabia
oque, ela surgiu em uma conversa, e nunca mais saiu de sua mente,
quando entrou na cidade mesmo no passado, parecia já ter ido lá,
quando a vida tentava lhe mostrar que fora um sonho, retornou e
achou Suzi.
Pedro olhava Suzi como se ela escondesse algo, ele às vezes
via que ela queria falar algo e ficava quieta.

J.J.Gremmelmaier 59
J.J.Gremmelmaier

A semana acabou, desceram


na sexta a noite, mas quando
passaram pelo portal sabiam que
não haviam ido ao passado, mas
Pedro desceu da mesma forma,
Suzi viu o rapaz parar na pousada
que Pedro sabia ser da família de
Rogério, ele nunca esqueceria o rosto do rapaz, mesmo que com
mais 12 anos, estava a pedir dois quartos de solteiro na recepção
quando o senhor o barrou e perguntou quem era, que conhecera
alguém que tinha um carro igual a aquele;
As pessoas da pousada sabiam quem era a moça, viram
crescer, mas estranho como se pode conhecer alguém desde
pequena, e numa tragédia, a sociedade moderna não acolhe os
necessitados os deixando para traz, os tachando por coisas que se
parassem para ouvir suas palavras veriam que não fora como a boca
falava;
O senhor não obteve respostas de Pedro, ele não devia nada
a aquele senhor, se recolheram e acordaram cedo.
Pedro foi a um material de construção no centro de Morretes
e comprou uma casa de madeira, acertou a construção, pagou,
deixou o endereço, eles sabiam onde era, comprou também uma
roçadeira a gasolina, passaram aquele fim de semana cortando
mato e podando as arvores, reabrindo a estradinha entre o portão e
a casa, Suzi viu que ele não estava falando mais de sua mãe, mas a
historia havia mudado, falando que Suzi sumiu um tempo, e quando
reapareceu ela já havia sumido no mundo, este fim ainda não
agradava a Pedro;

Laços de Tempo 60
Laços de Tempo

Passou também nos escritórios da Copel, e da Sanepar,


empresas de luz e água do Paraná, e acertou os atrasados e pediu
para o rapaz do secos e molhados fazer a ligação para ele, deixando
pago.
Param a frente da Igreja de São Jorge na praça e conversam
sobre o que Suzi vivera ali, ela fala que o colégio a frente estava
cada dia mais vazio, que as pessoas que vinham ali eram quase que
só turistas.
Pedro vê que a moça tinha uma historia triste, ela também
parecia sorrir com dor.

J.J.Gremmelmaier 61
J.J.Gremmelmaier

Voltaram a Curitiba, por


duas semanas não desceram a
serra, ele havia ultrapassado seus
gastos, não tinha como descer
antes do próximo salário, não
sabendo nem se a casa estava
montada, preso a cidade mesmo a
uma distancia tão próxima de carro;
O sofá da sala estava tirando o sorriso de Pedro, dor nas
costas não combinava com alguém que tinha de trabalhar de pé
meio dia, ele pensava em arrumar aquilo, mas poderia não precisar,
a duvida de alguém que queria tentar consertar as coisas, mas
parecia que a historia ia se complicando a cada vez que descia.
Mesmo Suzi as vezes sentia que estava atrapalhando, mas
Pedro não reclamava para ela, que tentava por a casa cada vez mais
em dia para justificar sua estada, ela estava precisando ajeitar seus
documentos, para conseguir trabalhar.
O assunto parecia ainda meio confuso, e por duas semanas
eles não tinham como descer, não sobrara nem para a gasolina, se
não fosse as reservas no estoque e o ônibus da empresa que o
pegava a porta da casa, teria tido problemas.

Laços de Tempo 62
Laços de Tempo

28 dias haviam se passado


da primeira vez que ele fora a
Morretes, lua cheia novamente,
Suzi e Pedro, saem com destino
certo no sentido de Morretes,
fazem o mesmo ritual, sabiam já
na ausência do portal que estavam
no passado, param na parte alta para apreciar a vista, o local estava
calmo, a vista dava para ver as luzes de porto de cima, de Morretes,
de Antonina e até uma Ponta de Paranaguá, uma noite muito clara,
estavam a observar quando a lua cheia surge ao céu.
Pedro olha assustado para Suzi que olha suas mãos, e vê seu
corpo encolher ficando embaraçada em uma imensa camiseta,
segurando a saia que não se manteve no local, sorriu, e olhou a mão
novamente, pequena, algo mágico acabara de acontecer;
— Acha que terei uma segunda chance?
— Agora tenho de lhe deixar em casa.
— Sabe que vou odiar estudar tudo de novo?
— Capricha desta vez, quem sabe, nos vemos mais vezes
assim.
Pedro pega a estrada descendo lentamente, a neblina estava
bem forte.

J.J.Gremmelmaier 63
J.J.Gremmelmaier

O rapaz para a porta da casa


de Suelen, que o havia acusado de
a ter seqüestrado, talvez fosse a
prova do que havia acontecido
mesmo, Suelen veio a porta e
olhou atravessado para Pedro, que
apenas deu a volta no carro e abre
a porta, Suzi sai do carro e olha com um jeito maroto para a mãe,
enquanto ela andava até sua mãe, ele entra no carro, dá ré e some
na estradinha no sentido de Porto de Cima;
Para na mesma pousada, pede um quarto, Rogério olhava ele
estranhando a familiaridade, se acomoda e depois foi dar uma
caminhada até o rio, sentou-se em uma pedra ao lado da ponte, não
estava feliz, mas estava onde tinha de estar.
Fica a olhar o rio e chora suas lembranças;
Ouve uma menina chamar seu nome, limpando as lagrimas
olha para a menina.
— Não sei ainda o que será desta historia.
— Nem eu Pedro, pela primeira vez vi um rapaz capaz de não
dar encima de uma louquinha como eu, acho que sua missão era me
trazer a um futuro melhor.
— Ainda me parece um futuro que não me faz feliz.
— Sei disto, mas pelo menos, posso tentar fazer minha mãe
mais feliz.
— Ela merece sorrir, a primeira vez que a vi, ela tentava
sorrir, mas o sorriso parecia doido.
— Tem algo que não sei se devo falar Pedro.
— Oque?
— Não sei se posso, mas sei que você ainda vai vir outras
vezes, e queria pedir para não desistir de nós.
— Não desistir.
Laços de Tempo 64
Laços de Tempo
— Não pare de tentar nos entender, você me trouxe para
casa, mas acredito que ainda não descobriu o que nos prende nesta
historia, e gostaria de saber.
— Vai ficar bem?
— Vou pegar menos no pé do Rogério.
— Tenta fazer sua mãe feliz, ainda me parece doida os
sorrisos dela.
Pedro vê a menina voltar para sua casa e fica a olhar o rio.

J.J.Gremmelmaier 65
J.J.Gremmelmaier

Quando Pedro volta a


Curitiba, ele senta-se em um bar,
sua historia estava triste, ele não
sabia o que fazer, ele desejara um
fim, mas tivera outro, sabia que
algo estava lhe ligando aquela
cidade, mas não sabia como se
portar, ele descera a serra varias vezes, cada uma das vezes, foi
diferente.
Nada do que ele vivera parecia definitivo, pensa uma semana
inteira em não descer, mas porque não descer.
Por uma semana ele sentiu-se atraído e afastado do litoral,
ele parecia temeroso em descer, e voltar a estragar tudo.

Laços de Tempo 66
Laços de Tempo

Quando ele estava


descendo a serra, sexta a noite, o
carro quase que foi sozinho,
passou pelo bar que comprara a
primeira vez uma cerveja e
descera, ele estava com um desvio
como se tivessem o fechado,
estranha, quando ele chega a
entrada da graciosa, viu os cones grandes no meio da rua, a frente
da policia rodoviária estadual, olha pelo retrovisor e o portal foi
sumindo, ele olha naquela reta as coisas mudarem, ele vai
encostando o carro assustado, vendo seus braços encurtarem, mal
conseguiu frear o carro, e olha para suas mãos, ele se olha ao
espelho assustado.
Abre a porta do carro e olha para a estrada, olha para o carro
sumir a beira da estrada.
Pedro olha em volta assustado, ele agora não tinha carro, não
tinha nada e estava em uma reta do inicio da estrada.
Ele olha para sua roupa solta, aperta o cinto até o ultimo
buraco e ficou frouxo, ele solta a camiseta e dobra a barra da calça,
o tenis ficou folgado no pé.
Ele olha para a carteira, ainda ali, ele pensa em voltar, mas
olha para a estrada no sentido que viera e pensa se era uma boa
ideia, não parecia uma boa ideia.
Começa a caminhar pela estrada, deveria ser perto das 10 da
noite, quando ele senta-se a beira da estrada, seus pensamentos
estavam perdidos, e viu aquela menina vir ajudando o senhor a
chegar em casa, ele estava alcoolizado, ele a viu olhar para ele do
outro lado da estrada, caminham até uma casa um pouco a frente.
Os olhos dele foram para a casa, uma casa simples, mas
parecia confortável.
Ela lhe olhou aos olhos e ele sorriu.
“Sueli” – Veio a sua mente e ela sorriu.
J.J.Gremmelmaier 67
J.J.Gremmelmaier
Pedro pensa com sigo, deveria ter uns 14 anos, a menina a
mesma idade, estranhou pois novamente ele voltara a historia,
tinha algo a mudar ainda?
As vezes Pedro achava que estava numa missão, e não sabia
se era real ou não.
Começa a caminhar e para mais a frente na cobertura de uma
construção que tinha passado antes, mas agora falava em policia
ambiental, não tinha ninguém naquele momento, sentou-se na
cobertura, estava com frio, e a garoa gelada estava lhe molhando,
parou e se encolheu.
Estava ali parado quando viu aquele senhor chegar a ele e
falar.
— Fugiu de casa?
Pedro olha desconfiado, não sabia o que falar.
— As vezes a verdade é difícil.
— Está molhado, se quer um lugar para dormir, amanha cedo
você se manda, mas pelo menos não vejo você morrer a 200 metros
da minha casa.
Olhei para o senhor, era o que a moça ajudou a chegar em
casa, não sabia se era uma boa ideia e ouve.
— E se olhar para minha filha, lhe capo.
Pedro olha para o senhor e fala.
— Então melhor ficar aqui.
O senhor olha para Pedro e fala.
— Vamos de uma vez.
Pedro caminha no sentido que o senhor indicou, chegam a
casa e a senhora fala.
— Toma algo quente, amanha devolvemos você a sua casa,
não é uma boa noite para fugir de casa.
A menina sorriu e aquele cozido quente, pareceu me
esquentar, eu agradeci, me deram um lugar no sofá e lembrei que
dormir no sofá estava se tornando minha especialidade.

Laços de Tempo 68
Laços de Tempo

Amanheceu e Pedro
agradeceu, desceu a serra, ele não
sabia o que estava fazendo, mas
caminhou pela estrada, bem
conservada, ele conheceu cada
curva, cada comercio, e viu
quando chegando a cidade, pernas
doidas, a cidade estava mais
bonita, mas muito do que era turístico ainda não estava ali.
Viu que os sistemas de proteção e quiosques, eram coisa
nova, e sentou-se a praça, como ele se viraria para sobreviver ali.
Pedro reparou que o dinheiro que tinha a carteira não servia,
era outro, lembrou das aulas de historia, que tinha uma época de
inflação complicada, que as pessoas corriam para comprar as coisas,
então começa a voltar, em uma goiabeira a beira da estrada, enche
a barriga, prevendo que teria uma desinteira mais a frente.
Em porto de cima, para a beira de uma capela e olha para um
casamento simples mas bonito, via um menino de sua idade e este
lhe olha atravessado.
Rogério, todos estava ali a tento tempo, que poderia voltar
no tempo e as peças seriam as mesmas.
Atravessa a ponte e olha para o caminho, talvez cansado,
sentou-se a olhar a estrada.
Caminha pela estrada lateral do rio e para mais a frente, onde
fora ao casamento, olha que era algo bem rustico, olha para o rio, e
olha aquela imensa estrutura vir do rio, não cabia no rio em si, mas
viu aqueles seres com jeito de siris, lembra de Suzi falando deles,
lembra que ela se assustou, viu que um olha para ele e chega ao seu
lado, lembra de cair para trás, como se ele lhe tivesse com aqueles
olhos destacados, indo e vindo, lhe feito dormir.
Pedro acorda com alguém lhe jogando agua nos olhos e ouve.
— Ele está bem mãe.

J.J.Gremmelmaier 69
J.J.Gremmelmaier
— De onde fugiu menino, parece estar no nosso caminho
sempre. – A senhora da noite anterior.
— Sonhei com uns siris gigantes, acho que me assustei.
A senhora olha para Sueli e fala.
— Ele viu, disse que ele tinha visto.
— Vi o que? – Pedro pergunta sem sentir.
— Os Otatos, os seres que dominam a magia local, meu pai
falava deles, poucos os veem, mas ele é um condenado.
— Condenado? – Pedro.
— Poucos veem os Otatos, os que os veem, uma hora eles
atravessam suas vidas com maluquices, mas na maioria, esquece,
não sei de onde veio, mas pode ter certeza, este rio, está na sua
vida, pode tentar escapar daqui, mas sempre voltará a este exato
ponto, pois foi aqui que os viu.
Pedro olha para a senhora e pergunta.
— Está dizendo que se alguém ver eles neste rio, estará preso
a este momento, voltando e indo, independente que quando o viu?
— Sim, dizem ser uma maldição dos antigos Otatos, mas
nunca os vi, e espero, nunca os ver.
Sueli se afastou com a mãe e Pedro a viu sumir na curva da
estrada, olha para o rio, senta-se e talvez este fosse um dos pontos
que deveria voltar, mas tinha algo a mais.
Ele caminha a beira do rio, ele queria respostas, e não tinha
nada ainda.
Ele olha aquele ser e pergunta alto.
— Fala minha língua Otato?
O ser estranha, pois os humanos uma vez que o viam, eles os
faziam esquecer, mas ele estava novamente ali.
— Não deveria ter esquecido de nós?
— Sei que algo vai acontecer, estou em um loop, não sei se
sabe o que é um loop, de tempo, eu já vim a este rio, em mais de 5
tempos diferentes, somente agora os vi, pois somente agora sou
criança nesta historia, mas a pergunta, como posso ajudar.
— Humanos não ajudam, só atrapalham.
— E porque estão coletando tão próximos a cidade?
Laços de Tempo 70
Laços de Tempo
— Coletávamos mais para a serra, Anhangava, mas dizem que
uma grande força ganha força lá.
— Grande força?
— Magog, o nosso líder diz que ele vai despertar, pode ser
hoje, pode ser em 20 anos, mas ele está juntando almas na
montanha amaldiçoada.
— Obrigado pela explicação.
— Disse que somente agora está nesta idade, que já veio em
outras horas e somente agora, a maldição foi estabelecida?
— Digamos que a primeira vez, tinha 26 anos, devo ter 14
agora.
— E veio em varias épocas?
— Sim, vim em varias épocas.
— E nada aconteceu ainda, então você deve ser o emissário,
o que determina quando vai acontecer no futuro.
— Ainda não aconteceu, e o mais a frente que fui, foi a 22
anos daqui, pois é nesta curva temporal em 22 anos, que tenho 26.
— Isto acalmará meu líder Oto.
— Deixa eu ir. – Pedro dando as costas e se afastando, um
Otato chega ao soldado e pergunta.
— O que o menino fazia nos olhando novamente?
— Ele veio se inteirar, pois ele disse que está num loop de
tempo, sabemos que é a consequência, mas ele sabe do loop, não
enlouqueceu, e fala que ele vem de algo longe no tempo, 22 anos a
frente.
— Acha que ele é um marcador? – O segundo ser na forma de
um grande siri.
— Não sei, mas relatarei.
— Estes humanos são nojentos, eles destroem tudo.
O ser olha com nojo para Pedro se afastando.
Pedro volta a subir a estrada, e começa a olhar para o
caminho, olha para a estrada, seria uma subida difícil, o vento vindo
do mar, esquentou e fez abrir o tempo, estava cansado se esticou
em uma mesa em Mae Catira a noite de Sábado.

J.J.Gremmelmaier 71
J.J.Gremmelmaier

Pedro acorda assustado e


cai da mesa, vendo gente chegar
fazendo barulho, olha para os
turistas, vestes da década de
setenta, coloridas e largas, sorri,
estava ainda no passado, o corpo
estava cansado, e olha a estrada,
começa a subir, goiabas
vermelhas, Pedro nunca esqueceria delas.
Sorri dos próprios pensamentos, pois lembrança de infância,
estava mudando o sentido, e se não voltasse a ser adulto, como
faria?
Estava subindo a serra e olha a casa que fora de Sueli e olha
para ela sumir, ele sente o ar e olha para a calça ficando apertada,
olha para a barra da calça, a abaixa, e caminha no sentido da
estrada, acha seu carro ali, a policia estava a olhar ele e Pedro fala.
— Desculpa, deixei ai.
— É seu?
O policial verifica o documento e fala.
— Achamos que era roubado, mas foi onde?
— As vezes temos de emprestar um banheiro, pois goiaba dá
uma dor de barriga.
O senhor sorriu, pelo menos isto, Pedro entra no carro, dá
meia volta e volta a Curitiba.
Uma semana de perguntas sobre coisas que não se tinha
registro, pois os Otatos, são lenda de índios extintos no Paraná,
digamos que nós tínhamos uma etnia bem ao litoral, uma na serra e
ou terceiro nos campos gerais, e a mesma de bem ao litoral, tinha
vertentes já na fronteira do Paraguai e Argentina, mas a extinta, era
a da Serra, foram os que enfrentaram a dominação, as demais
mescladas e caçadas.

Laços de Tempo 72
Laços de Tempo
Magog era uma lenda de longe, o que teria uma lenda do
outro lado do planeta com aquela região, então Pedro não avançou
no que queria, mas descobriu que os portadores da Lenda de
Otatos, foram extintos, e mesmo que não o tivessem sido, eles não
tinham transcrições escritas da língua, apenas verbais.
Estava pensando em descer a serra quando foi previsto um
furação no litoral Catarinense, nada normal, e embora ninguém
falasse, se vê imagens ruins em um dia chuvoso, se seres na forma
de Lobos translúcidos enfrentando caveiras ambulantes, lembra de
ouvir o termo Gog, o termo Laikans e Frock, as imagens assim como
surgiram, sumiram, os jornais não narraram.
Ele olha para a fim de semana perdido, algo havia acontecido,
algo o proibira de descer a serra, então bem menos pregado entra
em uma segunda feira, lembra de Paulo sorrir, pois ele estava sem
olheiras naquela semana.
Pedro sentia falta daquilo, estranha, ele não descera um fim
de semana, e parecia que fazia uma eternidade.
A semana se arrastou, parecia que poucos prestaram atenção
aos eventos em Piraquara e região, como se não fosse parte da
grande cidade.

J.J.Gremmelmaier 73
J.J.Gremmelmaier

Pedro estava na quinta


feira, saindo do trabalho, quando
olha aquele rapaz em seu carro a
frente da fabrica, ele falava com
Paulo que lhe aponta.
Pedro nunca esqueceria
aquele rosto, todo cheio de
cicatrizes, ele o olha e fala.
— Podemos falar rapaz?
— Lhe conheço de algum lugar?
— Jorge, da Tribuna do Paraná.
O rapaz era uma lenda, daquelas que poucos entendiam na
cidade, Pedro o estica a mão e pergunta.
— No que posso ajudar uma lenda?
— Lenda? – O rapaz sorriu – Sou bem real para uma lenda.
— Desculpa, mas falar de você e o ver esticando a mão, e
cumprimento, é bem diferente.
Paulo ao lado entendeu quem era o rapaz.
— Sou Pedro, no que posso ajudar?
— Toma uma cerveja?
— Sim.
Paulo acompanhou, estava estranhando aquele ser.
A uma imensa quadrada fabrica, bem no trevo interno que
levava a cidade, sentaram em uma lanchonete.
— Não sei se entende o problema que está rapaz?
— Problema?
— Soube que andou perguntando de Magog, toda vez que
alguém excita este nome, este ser se manifesta com força, mas não
entendi o que o liga a isto?
Pedro para na frase e olha em volta.
— Não entendi, perguntei a poucos.
Laços de Tempo 74
Laços de Tempo
— Sim, mas os ouvidos deste ser mitológico é poderoso, e
soube depois dos enfrentamentos, que mesmo quem achava que
fugiria, sabia que seria neste ano que aconteceria, e fala em um
rapaz, de nome Pedro, que anunciou que o evento teria uns 22 anos
após, eles entraram no outro lado da guerra, mas eles estarem ali
para guerrear, foi estabelecido.
— Está falando dos Otatos? – Pedro.
— Sim – Jorge sorriu, pois o rapaz realmente era quem ele
estava procurando, até aquele momento, duvidava.
— Não entendo o problema mesmo, mas estava em Morretes
há duas semanas, e quando vi pela primeira vez um ser destes,
entendi que estaria num loop de idas e vindas, mas este loop
somente agora foi narrado por ele, deveria ter algo anterior a isto e
não sei oque ainda.
— Por quê?
— Distorção temporal, apenas para mim e uma criança do
outro lado, já cheguei no mesmo ponto, sei que parece maluquice –
Pedro olha para Paulo – isto não falo lá dentro Paulo.
— Não estou entendendo nada mesmo.
— Como falava rapaz, eu cheguei no mesmo ponto, duas
vezes nos anos noventa, uma vez nos anos 80, mas na cidade, aqui,
sempre na mesma data.
Jorge olha em volta e vê aquela moça chegando, Dalma
estava próxima, eles se entendiam como poucos, mas parecia que
algo estava errado ainda.
— Um passageiro do tempo Jorge. – Dalma, uma moça que
deveria ter a idade de Jorge, e tinha uma imensa cicatriz no
pescoço.
— E o que é um passageiro do tempo?
— Uma praga dos Otatos, eles não querem ser transformados
em lendas, e nem caçados, então seus soldados amaldiçoam quem
os veem, e na maioria das vezes, isto os leva a loucura.
— Estão falando em quebra temporal? – Paulo – Isto é
impossível.

J.J.Gremmelmaier 75
J.J.Gremmelmaier
Pedro sorriu, não teria como discordar e nem sabia quem era
a moça, mas sentiu que Jorge e a moça se conheciam por olhares, e
Dalma falou.
— As peças sempre entram no tabuleiro na hora do jogo, isto
estabelece que a guerra de ontem, teria sido pior se os Otatos,
mesmo não nos falando, não tivessem a certeza que seria agora a
guerra, entraram do outro lado, mas com o medo de algo a muito
narrado, explica a tentativa de fuga inicial.
— E acha que Magog volta?
— Sabe que sim, enquanto não entendermos a ideia total, ele
tem chance de vencer, ele não coletou quantidades vivas de alma
suficiente, um exercito de mortos, não é um exercito que lhe de
forças, e sim absorve suas energias. – Dalma.
— E como perguntei primeiro, como ajudo?
— Fica atento, o desviar ao sul o problema, pode ser
complicado. – Dalma.
— Acho que o problema não desviou ao sul e sim desceu a
serra. – Pedro.
— Onde acha que será o próximo problema?
— Morretes, entre a cidade e a serra da Graciosa. – Pedro.
— Terra dos Otatos e dos Saci, ainda forte em seres nativos
de força incrível, se for isto, Magog quer ganhar força de alguma
forma para retornar. – Dalma.
— Não entendi. – Jorge.
— Campos de magia dos Saci, cidades internas dos Otatos, e
dizem existir na serra da Graciosa, a entrada para a cidade das
arvores abaixo da serra dos Órgãos. – Dalma.
Pedro apenas ouvia e sabia que algo aconteceria, e pensa em
como poderia proteger Sueli e Suzi.
Pedro olha a moça e pergunta.
— Acho que não entendo nada disto, sei que quero ajudar
duas pessoas, que estão em Morretes, mas como ajudar, eu não sei
nada destas coisas, eu sou apenas um funcionário de uma linha de
produção de automóvel?

Laços de Tempo 76
Laços de Tempo
— Acho que não entendeu rapaz, eu, era apenas uma menina
de um orfanato, até o dia que cruzei com a verdade, Jorge, um
estudante de jornalismo, ninguém aqui sabia de nada, antes de
entrar na historia, sei que poucos veem as coisas acontecerem,
poucos viram as guerras, mas não quer dizer que não aconteceram,
se um dia duvidei, hoje não tenho como duvidar, mas toda força,
está dentro de cada um, apenas temos de saber onde, cada um de
nós se encaixa na historia.
— Acha que posso fazer parte de um plano deste ser que
falaram? – Pedro.
— Acho que você ter anunciado aos Otatos, não parece ser
algo ao acaso, mas é que vidas entrelaçadas, pelo tempo, leva
geralmente os dois lados a loucura ou a morte.
— Não entendi.
— As vezes, no meio de tantos enfrentamentos, não vemos
exatamente onde está os inimigos ou apoios, mas toda a
antecipação, é sinal de premeditação.
— E como posso estar entrelaçado em algo, que só aconteceu
agora, baseado em algo na adolescência, eu uma adolescência que
nunca vivi. – Pedro.
— O problema rapaz, é que não tenho como saber se você no
passado, na adolescência, viu um Otato, você não lembraria dele,
pois a confusão é para se esquecer o ser, mas se aconteceu no
passado e voltou a acontecer com você voltando no tempo, pode
ter sido antecipado em um local, para ser avisado em outro.
— Maluquice isto. – Pedro.
— Sei que alguns não reagem bem a estas coisas.
Pedro pede uma cerveja e toma um gole e fala.
— Mas os dois tem algo que pode ajudar numa guerra,
aqueles seres são imensos.
Dalma olha para Pedro que recua a cadeira vendo o rosto
dela ir para uma caveira e a imensa mão de garras na mesa.
Paulo que achava que estavam falando maluquices
impossíveis, entende que a moça era algo que estivera nas redes
sociais, mas que alguém já o tirara de lá.

J.J.Gremmelmaier 77
J.J.Gremmelmaier
— E o que é você?
— Se ouviu sobre Magog, ouviu sobre a Bruxa de Piraquara,
eu, o ser que alguns acham ser Frock, o ser que deveria batalhar ao
lado de Gog, mas eu, acho que não sei o que sou.
A moça volta a sua forma normal e Pedro pergunta.
— E como soube de seu poder?
— Eu não lembrava, eu precisei de ajuda para lembrar das
coisas e ter controle sobre as coisas.
— Não lembrava?
— Acordava longe, e alguém falava em seres mortos por
garras, mas não lembrava do acontecido.
— E agora sente isto?
— Sim, mas você é um caso que nunca me deparei, mas com
certeza, o tempo é algo que não é quebrado por regras normais,
então se alguém pode estar aqui hoje, e a vinte anos no passado em
outro, pode ser uma arma, mesmo contra nós. – Dalma.
— Contra?
— Quando acha que passou pelo tempo, indo ao passado?
Pedro tenta lembrar e fala.
— Estava no contorno sul indo para a estrada da graciosa,
lembro da lua vermelha no céu na altura de Quatro Barras, quando
uma hora o contorno estava lá, no outro, tive de fazer por dentro da
cidade para chegar a BR116.
— Divisa de Piraquara com Quatro barras. – Fala Jorge
olhando para Dalma.
— O que tem aquele lugar.
— Todo o mal, está preso no morro Anhangava, foi naqueles
campos, que quando eu era uma criança, fui atacada. – Dalma.
— Atacada?
— Uma pré coleta, para que o ser dentro da montanha
tivesse força e premeditasse outros ataques.
— Acha que eu poderia ser o alvo? – Pedro pensando.
— Sim, pensa, se você enlouquecesse, seria mais fácil o atrair
a eles e o usar para uma chance a mais, no passado.

Laços de Tempo 78
Laços de Tempo
— Acha que é algo que pode ainda vir a acontecer?
— Sim, sabemos que existe um grande risco nesta cidade, e
nem todos ouvem ou sabem. – Jorge.
— Grande risco? – Dalma.
— Pensa em Magog, conseguir o poder de um bruxo forte
como o Peter Wasser, ou o controle sobre o Fim de Expediente,
qualquer dos dois seria terrível, mas imagina isto, podendo ir ao
passado, e nos derrotando, tendo ai a força dos Laikans a seu lado.
Pedro olha para Jorge, não entendeu nada, mas Dalma olha
para ele e fala.
— Se preparando para o pior? – Dalma.
— Sim, se estivermos atento ao pior, podemos evitar e
vencer. – Jorge.
— Me perdi na historia. – Pedro.
— Tem de ter calma, está entrando na historia agora, mas
saiba, qualquer peça que sair da linha, pode ter certeza, eu derrubo
com minhas garras, então se quer o bem de alguém abaixo na serra,
não fique no nosso caminho, ou contra nós. – Dalma.
Pedro sorriu, Jorge entendeu que Dalma estava com medo,
pois ela ameaçara, e pior, o rapaz a frente entendeu que era medo,
e fala.
— Tem de entender Pedro, seria perder o litoral e a cidade a
volta, toda, para algo tão mortal, que transformou um império que
existira sobre o Saara, onda havia o maior lago de agua doce do
mundo, em apenas lenda, pois não sobrou nada de 22 mil anos
atrás.
— E este é o perigo que resolveu despertar aqui ao lado? –
Pedro.
— Sim, enfrentar este problema, gera as lendas locais, mas
temos de ter calma nesta hora, todos os que entraram neste
caminho, geralmente escolhem um caminho, agora, de algum jeito,
eles colocaram você nisto, mas somente você pode descobrir sua
função nesta historia.
Pedro olha os dois se olharem e pouco depois se despedem e
saem, Pedro olha para a cerveja, olha para Paulo e fala.

J.J.Gremmelmaier 79
J.J.Gremmelmaier
— Malucos, acham que vou acreditar nestas coisas.
Paulo sorriu e falou.
— Quase me convenceu que estava convencido.
— Paulo, acha que existe estas coisas de voltar no tempo,
eles estão delirando, pior, sei que a moça enfrentou algo, mas
quebrar o tempo com uma maldição, olha que esta maldição é mais
interessante que... – Pedro se cala, olha em volta, levanta a mão e
pede a conta – Vê a conta garçom.
— Nem bebeu ela.
— Quinta, não é dia de beber Paulo.
Os dois sorriram e Pedro sai dali.
Ele chega em casa e pega um caderno antigo e começa a
rabiscar e fala sozinho.
— Vou enlouquecer ou oque?
Pedro deixa o lápis cair, olha para ele e o olha para o chão,
olha para o caderno e pensa no lápis subindo para sua mão, e olha o
mesmo voltar no tempo, olha para o lugar e fala.
— Dentro de mim, uma arma, mas talvez eles não tenham
entendido o problema. – Pedro olhando o lápis e jogando o lápis,
ele olha fixo nele e estala o dedo, o mesmo para antes de chegar a
parede e olha para o lugar, levanta-se e pega o lápis e volta a por na
mesa, estala o dedo novamente e vai a um banho.
Pedro volta a sala, pega o computador e pesquisa todas as
vezes que Magog se manifestou na serra, as grandes mortes de 10
anos antes, os primeiros julgamentos de Jorge, se duvidar o passado
e o presente estão ligados ali naquele ponto.
Ele deita e dormiu um pouco quando já quase amanhecia.

Laços de Tempo 80
Laços de Tempo

Pedro foi ao trabalho na


Sexta, o dia começa a abrir com
sol e olha para Paulo lhe olhando
estranho.
— Problemas Paulo?
— Um senhor veio a mesa
depois que saiu e perguntou se
você era Pedro, ele é bem estranho.
— Senhor?
— Joaquim Moreira.
— Esta historia está perdendo o contesto e vai piorar.
— Vai?
— Sim, pois se fala de Joaquim Moreira, fala de gente
atirando por ai Paulo.
— Verdade, mas acha que eles desencanam?
— O que ele falou?
— Que estava de olho, e que precisava que lhe relatasse
coisas estranhas acontecendo aqui.
— Isto é uma linha de produção, coisas estranhas acontecem
todos os dias. – Sorri Pedro.
Paulo olha serio e fala.
— Estou falando serio.
— Paulo, as minhas desconfianças não servem para nada,
neste mundo deles, não sei o que eles pretendem, mas pretendo
manter-me na produção e com a mente sã.
— Só falaram maluquices ontem à noite.
— Eu não sei o que eles acham que sou, mas pode ter
certeza, eles acham que as coisas acontecem quando eles querem,
e como alguém na produção, sei que qualquer coisa que saia ao fim
da produção, depende de cada um dos funcionários na linha de
produção, quando o cartel está completo e com os melhores, sai o
melhor, quando está com Pedro na produção, o normal, mas tem
J.J.Gremmelmaier 81
J.J.Gremmelmaier
aqueles que apenas produzem, mas todos eles, saíram da mesma
linha de produção, o cliente entra na concessionaria um e pega o
carro feito pela produção dos melhores e sai falando maravilhas,
outro entra e compra o mesmo produto, feito pela terceira linha de
funcionários, e fica com tanta raiva que coloca fogo no carro.
— Acha que eles não sabem o que estão fazendo?
— Como alguém como aquela moça, pode ter medo de mim
Paulo, e aquela ameaça, foi demonstração de medo.
— Certo, eles sabem de algo que não falaram, e acham que
você é a peça que falta.
— Acredito que assim que eles acharem a peça, eles somem.
Pedro foi a sua posição e trabalhou pensando em o que faria
no fim do dia, ele saiu sem falar com Paulo, pegou o carro, passou
em um shopping no centro de São Jose dos Pinhais, comprou umas
roupas jovens, um calçado mais confortável, os calos no inicio da
semana por um tênis maior que o pé, doeram por dois dias.
Coloca tudo numa mochila, enche o tanque e sai para a
estrada, ele avança e para a beira da estrada, na altura que viu o
contorno mudar e se deteriorar, e olha que era bem num ponto que
tinha uma ponte sobre um rio, se via os campos a direita da estrada,
olha para a Lua surgir ao céu, olha para a montanha ao fundo,
sentiu uma vontade de ir lá, mas apenas entrou no carro e seguiu
até a entrada da estrada.
Ele para no bar a beira da estrada e olha para o atendente, o
local não estava no fim de semana ali, ele o cumprimenta e fala.
— Novo por aqui?
— Sempre fico na duvida do que acontece neste bar, sei que
algo está ligado a minha historia, mas não entendo.
— Nunca o vi por aqui. – O rapaz.
Pedro olha para a porta, o senhor do primeiro dia que
comprou uma cerveja e este olha para ele.
— Vai a que parte da historia hoje rapaz?
— Sabia de cara, como?
— Dizem que quem tem problemas com o Tempo, tem cheiro
de fogo, você cheira a isto.

Laços de Tempo 82
Laços de Tempo
— E quem é o senhor?
— Alguém que observa ao longe, tenta não entrar na guerra
antes dela ser decretada.
— Definição que para mim, não fala muito.
— Digamos, quando se fala em lobos locais, nos chamam de
descendentes dos Guarás, mas se tem problemas com o tempo,
deve ser descendente dos Yawara.
— Não entendi.
— Tem gente, que abre os caminhos, estes são os
descendentes dos gatos grandes, Yawara, os descendentes dos
Cães, os Guarás, mas no meio disto, muitos incultos querem
enfrentar o que não entendem.
— E como sabe disto?
— Moço, quando você entrou a primeira vez, estávamos em
1992, quando o vi com a mesma cara em 2004, e depois em 1982,
sabia que era um ser do tempo, mas os seres do tempo, quando
veem os Otatos, ficou no seu cheiro, não esquecem dos seres.
— Está dizendo que alguém despertou isto?
— Sim, que algo despertou isto em você, e parece querer
entender, mas se lembra de mim, eu tenho a mesma aparência em
todas as vezes que você entrou pela porta.
Pedro olha o ser e pergunta.
— Não envelhece?
— Envelhecer é para os seres descendentes dos Macacos, vi
que veio com uma filha, ela cheirava como você, a fogo.
— Filha, na... – Pedro para na frase, olha para o senhor e fala.
— Pelo jeito falei demais, mas ela tem seu cheiro, e como sua
descendente, vê os Otatos, e não esquece deles, todos os demais,
esquecem, eu se um dia os vi, esqueci.
— Certo, mas o que são estes Yawara.
— Quando achar ele dentro de ti, saberá quem são, estes não
são tão fáceis de se mostrar, mas o cheiro de fogo e de gato
molhado, sempre o acompanhara rapaz.
Pedro pega um cerveja e fala.
— E como pode saber tudo isto senhor?
J.J.Gremmelmaier 83
J.J.Gremmelmaier
— Porque estou aqui neste ponto, de antes de você ter
nascido, e se não achar o Yawara dentro de você, não será pó
quando eu me for.
— E os Yawara, podem ter filhos com os humanos?
— Nunca, somente entre eles.
Pedro olha para a porta e fala.
— Lá vou eu para a aventura sem saber o ponto de entrada.
— Mas desconfia?
— Estou começando a sentir isto.
O senhor olha para Pedro sair e olha para o filho, que se fazia
de atendente a frente.
— O que é este ser pai?
— Ele é a arma que os dois lados querem na batalha, mas ele
parece ter a cabeça certa para este momento.
— Arma?
— O problema de cidades pequenas ou médias, é que os
humanos não conseguem interferir o suficiente para deter o mal
natural da terra.
—Mal natural?
— A morte.
— E ele vai enfrentar a morte?
— Ele já enfrentou e ao mesmo tempo, não.
O rapaz viu outros entrarem e foi atender enquanto o senhor
olhava o carro do rapaz se afastar.
Pedro chega a entrada da Graciosa, olha para o portal, olha
em volta e pensa no que estava acontecendo, não entendia de
quase nada ali, mas era hora de começar a aprender.
Todos olham os carro parando, um grupo de rapazes
estranhos, parecia que estava atrapalhando, sorri, pega a mochila as
costas e olha para os rapazes, Pedro abaixa-se e pega uma pedra ao
chão, olha para os demais lhe olhando, e ouve.
— Some rapaz, aqui é para especiais.
Pedro sorri e joga a pedra para cima, se concentra nela e olha
para a pedra descendo, as coisas recuando no tempo, aceleradas,

Laços de Tempo 84
Laços de Tempo
olha em volta e olha para os carros sumindo, seu corpo em
colhendo, olha as mãos, em volta e um banheiro ao fundo, pega a
mochila e troca de roupa, após olhar em volta, ver aquela neblina
vindo da parte baixa para alta, começa a descer a estrada.
Descendo pela esquerda pois os que subissem o veriam, e ele
veria eles vindo.
Ele chega em uma cobertura mais abaixo e senta-se, o tempo
estava estranho, ele sentia os primeiros pingos, pega uma capa,
olhava em volta e vê aquelas luzes piscando, pensou em vaga
lumes, olha mais atentamente e olha para um em si vir na sua
direção, Pedro lembrou que os seres normalmente não viam eles,
então eles deveriam chegar bem próximo.
Pedro senta-se e um assoviou para outro, ainda não era bem
visível como eles eram.
Um linguajar estranho e assoprado, Pedro não entendia, mas
quando olha para o rio ao fundo, e olha aquela imensa criatura sair
por um local que não parecia ter nada, apenas uma rocha, Pedro
olha o Otato e os pequenos sacis vendo isto, mesmo que
instintivamente, se põem atrás de Pedro.
O otato olhando o humano olhando para ele, se aproxima,
mas Pedro ficou a olhar para onde ele saíra, não queria mostrar que
os via e olha o ser olhar os pequenos sacis e falar.
— Pensei que ele nos olhava.
— Ele vê algo, mas oque não sabemos.
Pedro entendera a velocidade da conversa e fala.
— Porque me mandaram esperar aqui, porque parece que cai
em uma brincadeira de mal gosto.
O otato olha para onde Pedro olhava e fala.
— Ele espera alguém, mas o que ele olha ali?
Pedro olhava a noite avançar, um adolescente em todo e olha
para aquela menina subindo ao lado de um outro rapaz, ela olha
para Pedro e fala.
— O perdido voltou?
— Não quero atrapalhar Sueli.
— Conhece Rogerio?

J.J.Gremmelmaier 85
J.J.Gremmelmaier
Pedro sorri e fala.
— O filho dos donos da pousada em porto de cima?
— Me conhece?
— Ainda não, Pedro.
— Conhece Sueli de onde?
— Eu fugi de casa e o pai dela não me quis ver congelando na
porta da casa dele.
— Algo assim vindo do senhor Rodolfo, ele gostou de você.
— Gatos gostam de gatos, cães de cães, humanos que se
batem nestas coisas. – Pedro fala observando que Sueli evitava
olhar para o Otato ao fundo, mas o via.
— Não entendi. – Rogerio.
— Rogerio, tudo que falar, pode desconsiderar, eu sou um ser
como a mãe dala falou, amaldiçoado pelo tempo.
O Otato olha para Pedro.
— Porque seria um amaldiçoado, e o que lhe amaldiçoaria.
Pedro via que Rogerio não parecia preocupado com os pontos
luminosos quase em seus olhos dos Sacis, e muito menos com os
mais de 10 otatos que estavam subindo a rua.
— O que vê em volta Rogerio? – Pedro.
— Uma rua escura, que é perigosa para pessoas
desacompanhadas.
Pedro olha para Sueli e pergunta.
— Porque tantos Otatos a volta Sueli?
— Do que estão falando.
Pedro toca no ombro do rapaz e o inverte e como ele estava
tocando no rapaz, o mesmo dá um passo atrás, e os otatos olham
para eles.
— O que é isto?
— Os seguranças do rei Oto, não sei o que eles procuram,
mas é obvio que o subir olhando o chão, é coisa de gente que
procura algo.
Os sacis olham Pedro que fala.
— Não estão entendendo a dia Sacis, para sair rápido?
Laços de Tempo 86
Laços de Tempo
O pequeno ser olha para Pedro, iria indagar algo, mas começa
a sair de costas e somem nas arvores.
Sueli olha Pedro e fala.
— Você sabia que víamos?
— Yawaras não são algo que entenda ainda Sueli, apenas
estava perdido naquele dia.
— Hoje parece pronto para um baile. – Sueli vendo Pedro
com roupas novas.
Pedro sorri e fala olhando para Rogerio tirando a mão de seus
ombros.
— Tem coisa, que se vê, mas não se fala, nos torna malucos
Rogerio.
Ele olha em volta e pergunta.
— Onde eles foram?
Os otatos pararam, e ouvem.
— Este truque é fácil, difícil é encarar sozinho a descida.
Rogerio sorriu e fala.
— Não entendi a montagem, mas me pegou direitinho.
Sueli sorriu e falou.
— Vamos Rogerio, você acredita em tudo mesmo.
Os dois voltam a subir a rua e um otato para a sua frente e
pergunta.
— Como saber se não está nos vendo?
— Perguntando se os vejo. – Pedro olhando o ser bem
próximo.
— E não tem medo de ficar aqui sem memoria?
— Me alertaram que as vezes, é um custo a encarar.
O grupo foi chegando e o ao fundo fala.
— Foi ele general.
O otato a frente de Pedro olha ele e fala.
— Você que falou para um segurança que teremos um
problema em 22 anos.
— Sim.
— Nosso rei mandou lhe achar e perguntar, qual o perigo?
J.J.Gremmelmaier 87
J.J.Gremmelmaier
Pedro sente o caminho e fala.
— Naquele sentido existe uma força se levantando, no
Anhangava.
— Força?
— Algo que uns seres estranhos em Curitiba chamam de
Magog.
O ser deu um passo atrás e pergunta.
— E sabe o resultado deste enfrentamento.
— Não, mas sinto que referente ao primeiro enfrentamento,
apenas aviso, o segundo, ai com certeza vou estar em campo, e será
seu líder que vai escolher se estaremos nos campos contrários.
— Acha que temos medo de humanos?
— Lógico, eles destroem tudo, mas o que eu tenho haver com
você ter medo de humanos.
— Você é... – o ser cheira o ar e dá um passo atrás, não sabia
o que estava acontecendo, mas sentia aquele cheiro de gatos
chegando ao fundo.
— Não sei ainda o que sou, mas pode ter certeza, estarei na
segunda batalha, mas como não sei em que lado estarei, pode ser
que voltemos a nos ver.
Os otatos começam a andar de costas, nada anormal a um
siri, mas Pedro sente aquele cheiro forte de onça, tenta manter a
calma, mas seu coração estava acelerado.
Ele olha as mãos, sente suas garras, lembrou do cheiro da
moça no dia anterior, era através do lembrar do cheiro que sentia
algo dentro dele, e olha suas mãos se transformarem, ele olhava
para as garras quando ouve o otato ao fundo.
— É um Yawara.
— Este cheiro de tempo, disfarça muito o cheiro dele.
— Um Yawara com problemas com o tempo, não sei se isto é
uma boa noticia ou uma péssima.
Pedro ainda olhava as mãos quando vê um ser se erguer ao
seu lado e lhe olhar, uma moça, a roupa que ela usava,
acompanhou a mudança de Pantera Negra a humana.
— Quem agitou os sacis? – Pergunta a moça.
Laços de Tempo 88
Laços de Tempo
— Não sei! – Pedro a olhando aos olhos e deixando sua mão
voltar ao normal.
— O que é você rapaz, Yawaras não tem problema com o
tempo.
— Digamos que apenas Pedro.
— Não estou perguntando seu nome.
— Eu não sei, entrei na historia a menos de dois meses, e
parece que nada está no lugar que deveria.
— Problema com os Otatos?
— Nada que não desse para correr um pouco.
A moça olha para Pedro e passam, ele realmente não parecia
uma ameaça ou algo que fizessem os sacis fugirem.
Elas saem da estrada assim como surgiram, se embreando no
mato a frente.
Pedro olhava a mão e pensa.
— O que pretende Pedro?
As moças sumiram e Pedro viu a chuva apertar, olha para
aquele lugar, se encolhe em um canto sobre uma mesa que não
chovia e ficou a olhar em volta.
Estava encolhido no escuro, quando viu Rogério passar
acelerado na rodovia, maluco ou apaixonado, sabia que amor e
ódio, as vezes são parte integrante de um mesmo ser.
Pedro estava a olhar ao longe quando ouve alguém as costas.
— Porque não disse que era um Yawara da vez anterior?
Pedro olha para trás e olha o senhor Rodolfo.
— Ai a muito tempo?
— Vi as guerreiras passarem e nem se preocupar com você,
devem pensar como eu, um qualquer no caminho.
— Meu caminho, não vai facilitar o seu senhor Rodolfo, e
nem o dos demais.
— Por quê?
— Já ouviu falar de Magog?
— Sim, uma força altamente destrutiva de coleta de almas
para um Deus, que não é o meu.

J.J.Gremmelmaier 89
J.J.Gremmelmaier
— Este ser se instalou no Anhangava, serra acima.
— E não sabe o que vai acontecer.
— Sei que muitos vão morrer, e não sei se o senhor escapa
senhor Rodolfo.
— Por quê?
— Este cheiro de tempo, é cheiro de futuro, é quente e
morto, por isto, futuro.
— E não tem como evitar?
— Desconfio que adiamos, mas um ser como eu, não tem
como enfrentar exércitos de mortos vivos, muito menos de
espectros de vida, imagina Magog em pessoa.
— Certo, mas veio alertar?
— Soube que sem saber quem era, quando vi o primeiro
Otato, eles perceberam como um anuncio de um enfrentamento, 22
anos a frente, onde eles se aliaram, aos mortos vivos, as sereias, e
aos Otatos para enfrentar os demais.
— E venceram?
— Toda vitória, parece apenas temporária, estamos falando
de algo que vive mais tempo que nossas lendas, crenças e registros
senhor.

Laços de Tempo 90
Laços de Tempo

Pedro é alguém especial, por que nem ele sabe, mas


aprendeu a conviver com duas realidades, quase todo fim de
semana vai a Morrestes, as vezes senta a pedra, e conversa com a
menina, as vezes vai a casa de madeira e ficam a conversar. A mãe
de Suzi casou-se com Rogério, mas ele ainda fica inseguro se estiver
descendo a serra em uma noite de lua cheia;
Receoso e desejoso, estranha o que sentia, ele queria viver o
passado e o presente, mas sempre tenso, antes de saber
exatamente em que momento de sua historia, e dos demais ele
chegaria a parte baixa da serra, muitos em Morretes acham que ele
é Pedro filho, filho do Pedro que vinha ali, poucos entendem o que
aconteceu realmente, e nesta noite, ele sabe que sentara ao lado de
uma menina a pedra, que parecia ter o mesmo problema, algo que
ambos não conseguiam entender ainda. Viver entre realidades
paralelas, onde cada decisão lhes abriu um mundo, mas que por
algum motivo, ambos são forçados aos mesmos intervalos, mesmo
que não entendam o sentido daquilo.

J.J.Gremmelmaier 91

Você também pode gostar