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J.J.

Gremmelmaier

Bem
Vindo

Primeira Edição
Edição do Autor
2016

1
Autor; J. J. Gremmelmaier Magog, João Ninguém, Dlats e Olhos de
Edição do Autor Melissa, entre tantas aventuras por ele
criadas.
Primeira Edição
Ele cria historias que começam
2016 aparentemente normais, tentando
Bem Vindo narrativas diferentes, cria seus mundos
------------------------------------------ imaginários, e muitas vezes vai interligando
CIP – Brasil – Catalogado na Fonte historias aparentemente sem ligação
------------------------------------------ nenhuma, então existem historias únicas,
Gremmelmaier, João Jose com começo meio e fim, e existe um
universo de historias que se encaixam,
Bem Vindo, Romance de
formando o universo de personagens de
Ficção, 73 pg./ João Jose J.J.Gremmelmaier.
Gremmelmaier / Curitiba, PR. / Um autor a ser lido com calma, a
Edição do Autor / 2016 mesma que ele escreve, rapidamente, bem
1 - Literatura Brasileira – vindos as aventuras de J.J.Gremmelmaier.
Romance – I – Titulo
-----------------------------------------
85 – 62418 CDD – 978.426

As opiniões contidas neste livro


são dos personagens e não
obrigatoriamente assemelham-se as
opiniões do autor, esta é uma obra de
ficção, sendo quase todos ou quase todos
os nomes e fatos fictícios.
©Todos os direitos reservados a
J.J.Gremmelmaier
É vedada a reprodução total ou
parcial desta obra sem autorização do
autor.
Sobre o Autor; Bem Vindo
João Jose Gremmelmaier, nasceu
Crises de criatividade criam
em Curitiba, estado do Paraná, no Brasil,
formação em Economia, empresário por historias como esta, vamos a Curitiba,
mais de 15 anos, teve de confecção de vamos invadir outras historias, vamos
roupas, empresa de estamparia, empresa nos divertir na agitada vida de Ketlen
de venda de equipamentos de informática, Silva.
trabalhou em um banco estatal.
J.J Gremmelmaier escreve em suas Agradeço aos amigos e colegas que
horas de folga, alguns jogam, outros sempre me deram força a continuar a
viajam, ele faz tudo isto, a frente de seu escrever, mesmo sem ser aquele escritor,
computador, viajando em historias, e nos mas como sempre me repito, escrevo para
levando a viajar juntos. Ele sempre destaca me divertir, e se conseguir lhes levar juntos
que escreve para se divertir, não para ser nesta aventura, já é uma vitória.
um acadêmico.
Autor de Obras como a série Ao terminar de ler este livro,
Fanes, Guerra e Paz, Mundo de Peter, empreste a um amigo se gostou, a um
Trissomia, Crônicas de Gerson Travesso, inimigo se não gostou, mas não o deixe
Earth 630, Fim de Expediente, Marés de parado, pois livros foram feitos para
correrem de mão em mão.
Sal, e livros como Anacrônicos, Ciguapa,
J.J.Gremmelmaier

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Bem Vindo
J.J.Gremmelmaier

Nem sempre por trás de um


rosto bonito, está um espirito feliz,
nem sempre por trás de uma
historia, existe felicidade,
simplicidade, entendimento fácil.

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Olho a porta fechando, na certeza que o nome que o senhor
falou era mentira, mas o que posso fazer, meu nome também não é
Raiska, por sinal, nunca conheci uma Raiska, devem existir, pois este
planeta é imenso, mas não conheci nenhuma.
Conto o dinheiro a mão e olho para fora, sol, quarta feira, me
arrasto ao banho, tiro a peruca, me olho no espelho, e entro no
chuveiro, lembro das primeiras vezes, que tentava me limpar como
se algo estivesse impregnado em mim, hoje já não ligo, e nem
fazem 24 meses que comecei nesta vida.
Meu nome, isto com o tempo falo, agora é hora de me vestir
e ir ao trabalho.
Sinto o cheiro da fiação do chuveiro, minha mãe sempre dizia
que ter um bom homem em casa, era apenas para isto, talvez ela
tenha me afastado mais dos homens do que imagina.
Olho o celular e as noticias, vinham por ali as boas novas, as
ruins, as que me faziam querer voltar a cama.
Hoje em dia minha mãe me pergunta se não vou casar, sei
que ainda existem malucas que casam, mas não pretendo ser uma
delas, mas apenas penso isto, um ditado antigo da minha mãe

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sempre me cala nesta hora, quase ouço as palavras dela em sua voz
a mente. “Não quer algo, não fala isto alto, nunca!”.
Me arrumo e coloco a camiseta da loja que trabalho, serviço
de oito horas que me gerava ao mês o que ganho por noite, mas sei
que um dia ficarei velha, e lembro de uma amiga, falecida o ano
passado, a 5 meses, ano passado parece longe, ela vivia somente da
noite, uma noite, amanheceu morta, ninguém deu falta, dizem que
ela morreu asfixiada, até hoje não engulo o papo de suicídio, mas se
tivessem dado falta, ela teria sobrevivido, encontraram ela 48 horas
depois.
Dizem que gosto de tragédia, mas não, elas entram e saem de
minha vida. Eu vivo das tragédias, pois elas fazem parte da minha
alma, da minha cultura, da minha fé, mas poucos entendem isto.
Olho a chave do carro, olho para o sol, quarta, centro,
“esquece Ketlen, o transito vai estar uma merda.”
Paro ao ponto de ônibus, para ir ao centro, olho em volta, a
senhora da casa em frente me cumprimenta, será que me
cumprimentaria se soubesse o que faço?
Quem sabe, neste país maluco, ainda era capaz de pedir
dinheiro emprestado, as vezes duvido que as coisas serão como
planejo, mas sempre me esforço para manter o caminho.
O chegar a loja me faz bater o ponto, olhar para Rose, uma
moça que está lá a mais tempo que eu, o trabalho era sempre o
mesmo, monótono, sem futuro diria eu, mas era o que ainda me
mantinha ligado ao dia, aos seres que se um dia eu faltasse, talvez,
um talvez bem distante, dessem falta.
Ela sempre me adiantava as tragédias, tem gente que sempre
está ligado as mortes, esta era uma moça que sim, ela chega e fala.
— Tem de ver estas imagens.
Aquilo que para mim já era passado, para muitos era o hoje, o
passar de tragédias via aplicativos pessoais, sem perceber estava
vendo a morte de um casal no centro, mortos e abandonados a
meia quadra da casa deles.
— A cidade está violenta, as vezes tenho medo de sair a rua.

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Como poderia falar para Rose que se ela não ficasse olhando
aquilo, ela nem ficaria sabendo daquelas mortes, talvez ela até
acreditasse como uns amigos meus que a violência diminuiu na
cidade.
— Não vai palpitar?
Acho que por insistência olhei a foto atenta, olho aquele
rapaz, conhecia aquele rosto, tento lembrar de onde e falo.
— Tem o nome do rapaz ai?
— Paulo Camargo, conhecia?
— Deve ser alguém parecido, pois conheço um Silvio, mas
estas fotos não ajudam pelo ângulo.
— Certo, mas acha normal matarem gente assim?
— Não sei, como posso saber, eu estudo até tarde, as vezes
nem ligo a TV, desligo o celular para conseguir estudar.
— Acha que o estudo vai lhe levar a algum lugar, nunca ouviu
que não é o estudo que lhe dá posição social e sim estar no lugar
certo na hora certa.
— Ainda prefiro estar em casa, do que estes dois ai, que
estavam almejando posição social.
Meus pensamentos foram ao rapaz, era ele, mas obvio, eles
nunca usavam o nome correto, nunca entendi isto, nós geralmente
usamos nomes que nos facilitem, mas os clientes, frescura.
Olho a moça ao lado, olho como se não querendo ver, olho
para Rose e falo.
— Sempre queremos um mundo melhor, mas ele nunca foi
bom, está melhorando, mas as vezes temo estas coisas de vida e
morte, nos torna mortais.
Rose sorri e fala.
— Algo põem medo em Ketlen Silva, as vezes esqueço que até
você é mortal.
Sorri, ela estava falando que somente eu não adoecia,
somente eu não usava de artifícios como usar atestado falso.

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Como todo fim de tarde, ligo para Katherine, ela era uma
agenciadora de clientes, ela sempre dizia que garotas como eu eram
raras, pois a maioria pegava o telefone dos clientes e fazia
programas por fora, mas acredito que toda facilidade, gerada no
passar sobre os demais, gerava acomodar, e não evolução.
Soube que a noite seria com um rapaz que já era cliente da
agencia, ele sempre marcava em um hotel no centro, próximo do
local onde o casal morreu, mas um lugar calmo e sempre as mesmas
pessoas a rua.
Programa até agradável, as vezes eram velhos babões e
grosseiros, alguns pareciam nem saber o que fazer com uma mulher
a cama, mas Roberto sempre fora agradável.
Saio do hotel e caminho no sentido da praça a frente,
atravessando o calçadão entre a Praça Osorio e Rui Barbosa, vejo os
rapazes olhando para mim, as vezes fico pensando se eu morresse
produzida, com aquela peruca e vestido rente ao corpo, salto alto, e
Rose olhasse a foto, me reconheceria?
Macabra esta ideia, mas caminho, pego o ônibus, paro em
casa, abro o livro que minha mãe sempre disse, estuda para ser
alguém, lembro de Rose falando que estudando não se chega a
nada.
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Sorrio, livro de capa de couro duro, com presilhas de metal
que atravessavam as folhas grossas.
Fecho e abro ele como fazia todo dia e olho para a imagem e
para a carta em anexo.

Olho os dois lados da carta de Pemba, as vezes vejo como as


pessoas duvidam de seus deuses, e como se apegam a coisas que
para mim sempre foram parte do caminho, parte do destino.
Pemba sempre esteve em minha vida, mesmo nas partes
trágicas, mesmo nas partes gostosas, tudo em sequencias
intermináveis de acontecimentos, mas cada Demons tinha seus
valores e suas fraquezas, minha mãe sempre falava que a parte de
crenças dos Demons, era nova e baseada em uma crença Africana,
ela falava que os Demons, eram derivados dos Exu, que nas crenças
Africanas, eram as Entidades Presentes, os seres que abriam nossos
caminhos contra problemas, mas quando se apoderamos disto,
descobrimos que toda vez que se prende a uma origem, você mata
uma entidade.
Pego a carta dele a mão, olho em volta e vejo o vulto de
minha mãe surgir a minha frente.

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— Sempre se dedicando a este Demons que vai acabar com
sua vida.
— Como estão os campos da Energia?
— Eles sempre me mandam se afastar dos demais, eles não
gostam de mim lá, eles parecem querer que escolha um para me
dedicar, não quero escolher um, eles tem de entender que tenho
minhas vontades.
— Vai acabar virando um Demons assim mãe.
— Pelo jeito ainda nesta coisa de ganhar dinheiro fácil.
— Quem manda morrer mãe, antes da hora, eu tinha de me
virar, eu tinha de sobreviver, e não ficaria na casa daquele seu
companheiro, aquilo sim seria o fim de minha vida.
— Aquele um dia terá seu caminho atravessado pelo mal que
me fez, lhe fez, é bom não estar por perto mesmo filha, mas o que
olhava nas cartas?
— As definições, não me falam como são as terras iniciais, as
terras de Energia.
— Eu não posso a revelar isto, isto anteciparia sua ida para lá,
mas porque gostaria de saber?
— Curiosidades, pois sei que cada Demons tem um poder
implícito, mas para cada um deles, uma falha, acha que a idolatria
de Pemba é mesmo uma falha mãe?
— Sim, é onde quem se dedica a Pemba se perde, começa
pedindo por corpos e amores diferentes, no fim, acaba tendo de
idolatrar a si próprio, pois o tempo passa e somente nós
conseguimos nos ver por baixo das rugas depois de um tempo.
— Faz falta mãe.
— Tem coisas que ninguém planejou, se cuida. – Fala a
senhora sumindo da frente de Ketlen.
Os estudos de Pemba, eram em sua grande maioria de
prevenções, de cuidados, de recados, sempre tinha um que eu lia e
me preocupava.

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“Se um dia pedir uma aventura amorosa a Pemba, tenha
certeza que não o amara, pois este amor lhe levará a loucura e a
solidão.”
Os custos da vida, por isto ainda prefiro que Katherine
agende os clientes, isto não me permite selecionar ou escolher, é
dinheiro apenas.
Nestas horas, temo meus pensamentos, mas sei que tenho de
diferenciar sexo por dinheiro, de amor, as vezes o corpo pede mais,
mas não consigo me envolver com ninguém, as vezes alguém me
convida para sair, mas me perde tão rápido, perco a atração, que
raramente chego a uma cama que não seja por dinheiro.
Olho as inscrições no livro, olho para fora, olho para o
armário dos livros, coloco ele ali, parece que em meio a tantos livros
antigos, ninguém nem olha este, dizem que não se usa mais fazer
livros, que isto é coisa do passado, que tudo está na rede, nas
nuvens, mas pode tentar achar isto nelas, não vai achar.
Hoje se difere muito mais grupos fechados e secretos que
antigamente, pois antigamente os grupos por mais abertos que
fossem, nunca imaginaram que seus segredos mudassem de mãos
pois um novo integrante quis mostrar ao mundo que existiam.
Estranho hoje ter de provar mais aos outros suas crenças que
a você mesmo, deve estranhar eu falar com minha mãe, sim, ela já
morreu, ela a oito meses foi aos campos de Energia, sei que ela não
pode me contar nem se é bom lá, mas ela ter se mantido por perto,
mostra que no mínimo é monótono, ela adora uma agito.
Outra coisa que estranho, as pessoas pararam em suas
religiões e suas crenças, como se tudo já tivesse sido revelado no
passado, que nada mais é importante, acho que esta parte é a que
mais estranho, crenças cegas.
Olho o relógio, o tocar do celular naquela hora me fazia as
vezes querer dispensar, mas era a hora de ganhar um trocado a
mais.

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Acordo na Quinta, tanta coisa para fazer, olho o relógio, pulo
da cama, sem disposição, as vezes até eu me acabo a noite, sorrio,
um banho rápido e rua.
Chego ao serviço como quase todo dia, talvez a cara de
cansada, mas mais dois dias teria meu dia de folga, e Domingo eu
sempre folgava.
Rose me olha de dentro, estranhei, sempre ela vinha a mim,
mas tinha um senhor fazendo perguntas lá, e a administradora me
aponta o dedo, e chego lá, as vezes deveria correr, mas nunca fui de
fugir do problema, olho para o senhor e para a administradora.
— Esta que é Ketlen Silva.
Eu estranho quando alguém me chama pelo meu nome
completo, as vezes acho que este nome não me cabe, talvez eu seja
mais Raiska, mas ali sabia que era assim.
— Podemos conversar moça?
— Sim, algum problema senhor?
Rose olha como se tivesse medo de mim, estranho, a moça
que falava em morte o dia inteiro ter medo de mim, isto era sinal de
desemprego, mas ainda não havia entendido o problema.

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O rapaz se identifica como policial civil, algo estava errado, o
desviar dos olhares nesta hora, é o que mais me irrita, os amigos
viram as costas.
— Posso ir senhora? – Pergunto a administradora.
O rapaz segurou meu braço com força e fala.
— Não entendeu, vai a delegacia comigo.
Se tem uma coisa que sei é empacar, olho para a senhora que
fala, vendo que o senhor foi bem mais ríspido.
— Eles querem lhe indagar sobre um assassinato.
Meu olhar para o senhor foi bem firme, e olhei para o outro
na porta e falo.
— Esta é sua valentia com os bandidos ou só com moças
rapaz? – Olhei ele o para o outro e falo. – E esta arma quase
empunhada é medo de uma atendente de loja?
— Tem de nos acompanhar.
— Não me neguei a isto, sabe disto.
Um rapaz ao fundo pergunta o que estava acontecendo e o
policial tenta o afastar e o mesmo apenas fala algo que não
esperava, as vezes pessoas reagindo assim me encanta e me
assusta. O rapaz puxa a carteira da OAB e fala.
— O advogado dela, ou acham que estão onde.
Vi que a administradora da loja também se surpreendeu, pois
os policiais pareceram se perder na afirmativa e pergunta.
— Onde esta a ordem de Condução Coercitiva rapaz?
— Viemos apenas conversar.
— Este aperto no braço da moça parece mais do que
conversa, o que está acontecendo, vamos a delegacia e me explica
porque está agredindo alguém, depois vou verificar o que inventou
para a dona da loja, e se tiver falado algo que não sabe, vai
responder por qualquer prejuízo que minha cliente sofrer
investigador.
— Acha que esta falando com quem rapaz.
— Um servidor publico, contratado para nos servir, e não nos
agredir, vai me ameaçar agora, com todos vendo rapaz?
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A firmeza do rapaz me deixa perdida no meio do tumultuo,
mas fomos a delegacia, e lá fui sentada em uma cadeira, o delegado
queria respostas sobre um senhor, nome Carlos Teixeira,
encontrado morto naquela madrugada.
Tem algumas coisas que as pessoas estranham, mas nomes
não são para ser usados, eu estava quieta, não sabia do que
estavam falando.
— Pode se manter quieta, mas Katherine Guedes, nos indicou
você como a ultima pessoa que o viu.
Começo a entender.
— Ela estava a minha porta para ter afirmado isto, ou o
senhor escreveu isto senhor? – Olhei para ele firme.
— Ela indicou ele como seu cliente, vai negar?
— Não, pagamentos por cartão de credito diriam que ele saiu
lá de casa por volta das 21 horas, mas afirmar que fui a ultima
pessoa que ele viu, é dedução senhor.
— Sabe que prostituição é crime social neste país.
— Então porque existem boates senhor, porque existem
locais permitidos, quer dizer que me prostituir onde vocês podem
me apontar e falar, olha a prostituta, é permitido, em casa, sobre a
proteção do anonimato não posso?
— Podemos a deter por isto, temos indícios que matou um
senhor e pediremos sua prisão menina, vamos ver se estará mais
calma em dias.
— Pode até me prender senhor, mas sabe que está querendo
justificar sua incompetência - Ela olha para o escrivão – e pode
escrever que falei isto, que o delegado Sanches, para não apurar
uma morte na cidade manda prender uma inocente, que se for
agredida na cadeia, e depois de provada a sua inocência, vai o
indiciar por cumplicidade nos crimes ao centro.
— Esta me ameaçando menina.
O advogado estava quieto, viu que a moça não iria se calar,
mas olha para o delegado e fala.
— Não, ela esta afirmando o que o senhor está fazendo,
lavando as mãos de um crime, inventando um culpado sem provas.
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— Soube que o senhor ameaçou meu investigador.
— Vai por este caminho senhor, que pedimos uma
corregedoria nesta delegacia, pois vejo que deve ter comprado sua
carteira da OAB delegado, a cassamos e lhe tiramos daqui.
Sei que no fim daquela discussão fui fichada, e me colocaram
em uma cela que não cabia 12, e que tinha umas 50 detentos.
As vezes é difícil acalmar, imaginei eles chegando a meu
apartamento e se deparando com quem eu era, embora eles não
teriam com tirar isto de mim.
O advogado no fim do dia pediu para falar comigo.
— Meu nome é Carlos Silvio, não sei se quer que seja seu
advogado, só não gosto deste tipo de justiça no Brasil.
— Não sei o que eles vão acusar, mas se eles invadirem o
meu apartamento com imprensa, vão me acusar de Bruxaria, todos
dizem que temos direito a culto, mas quando não somos cristãos,
viramos todos Bruxas e Demônios.
— O delegado rasgou seu depoimento, ele não iria deixar lá o
que você falou, mas tem de manter a calma.
— Sei que para quem fazia de tudo para manter isto no
anonimato, isto vai ser escancarado por ai, quem nos dizia que
tínhamos privacidade, que nunca nem dei meu nome completo para
ela, deve ter dito onde eu trabalhava, pois para mim, Katherine nem
era o nome da senhora, ele só me conhecida por Raiska.
— E porque não fizeram a abordagem em sua casa.
— Acho que deveria ter olhado para o apartamento ao lado,
eu não recebo pessoas em minha casa senhor, e sim num
apartamento ao lado.
— Tem dois apartamentos?
— Um apartamento dividido em duas portas, posso receber
as pessoas pelo social, que é isolado do outro, mas não lembro de
ter ouvido barulho, então a minha agenciadora deve ter falado com
alguns clientes, pois ela sabia que não era uma casa e sim um local
para receber as pessoas, algo que fica evidente aos clientes.
— Sabe que pode ter entrado em uma encrenca grande.

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— Só sei que o senhor saiu vivo de lá, não pergunto nada dos
clientes, para mim ele nunca foi Carlos, quanto menos informação
melhor.
— E teria alguém para afirmar que estava em casa.
— Logico que não, eu moro sozinha, vejo que todos dizem
que temos direito a privacidade, mas ela é usada contra nós quando
os delegados e investigadores querem.
— Acha que eles acham o culpado, para lhe livrar?
— Não sei, apenas tenta achar algo que não combine e me
tira daqui, o resto respondo.
— Tem como pagar um advogado?
— Tenho uma pequena reserva, mas talvez fique uns dias
aqui.
Fico ali sentada a olhar o andar das coisas.

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O advogado chega a região dos inquéritos e pede uma copia
do que tinham, nada.
Carlos Silvio olha para fora e pensa em como tirar a moça,
sorri, pois ele nunca diria que Ketlen, uma moça que admirava do
escritório a duas lojas da que ela trabalhava faria programas sexuais
para viver.
O advogado foi acompanhar o entrar na casa da moça e olha
como o policial chamou a imprensa e registrou isto de longe, a moça
tinha razão na discrepância das noticias, ele entra com um mandato
de segurança intervindo na Delegacia e no Jornal, ambos tinham de
respeitar o direito de credo.
Carlos foi para a loja onde ficava um escritório de Advocacia
e viu a moça que trabalhava lá falar.
— Viu que prenderam a vendedora ai da frente por ritual
satânico, onde mataram um senhor respeitado da cidade.
Carlos sorriu e falou.
— Não, vi prenderem uma vendedora, e o delegado inventar
todo resto, e toda a sociedade que diz que as pessoas podem ter
um culto afro, a taxarem em horas em todas as redes sociais.
— Mas o senhor era um pai de família respeitado.

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— Silvia, a moça ali na frente, fazia programas sexuais, este
senhor, era cliente, se isto é um pai de família respeitado, o que é
para você um pai sem respeito.
— Sabia disto?
— Eu adoro casos difíceis, os fáceis qualquer um pega, mas ai
temos alguns problemas, a prenderam, o delegado não tem até a
entrada na casa dela, um relato do caso, nem o do IML, temos um
senhor encontrado sentado ao carro, com cortes superficiais,
morto, pode ter sido asfixiado, mas ou o delegado afirma quem
ajudou a moça, ou vai ter de entrar em contradição.
— Por quê?
— Porque para não voltar atrás que prendeu uma inocente,
ele chama a imprensa, todos a volta sabiam do culto da moça a uma
seita que pode parecer satânica aos cristãos, mas é uma derivação
dos Exus. Mas se ela fez um ritual, ele vai ter de dar o nome dos
demais, ou a historia não fecha, estou pedindo uma analise
especializada da peça que eles invadiram, e fotografaram, eles vão
ter de me achar restos de sangue, de pelos da vitima, já que é para
os complicar, vamos os complicar muito.
— Vai defender uma prostituta?
— Ela tem para pagar a defesa.
— Mas ela trabalha ai na frente, como?
— Pelo que levantei, ganha por programa o que lhe pagavam
ai por mês, tem um apartamento no Cabral, de 300 metros
quadrados, um carro do ano, uma poupança e mais 2 apartamentos
alugados.
— Vou pedir aumento. – A moça olhando o rapaz.
— Eu não ganho o que ela tira por mês Silvia, ela chega a
ganhar 44 salários por mês, obvio que corre os riscos de uma vida
assim, e pode vir a ter de responder por assassinato por isto.
— E acha que ela não o matou?
— Ela veio trabalhar como se tivesse vindo a um dia normal,
assassinos não fazem isto, a não ser que ela seja uma serial Killer.
— Defenderia uma Serial Killer.

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— Todos tem direito a defesa.
A moça olha para Carlos e fala.
— Ela lhe encantou, mesmo sabendo o que ela faz?
— Não é o que ela faz que encanta Silvia, é a forma que ela
enfrenta um delegado, que acaba rasgando o depoimento dela para
não ficar lá que ela o chamou de incompetente, pois se ela for
inocente, ela usaria aquilo contra ele.
— E vai cobrar dela?
— Eu tenho de comprar as rosas, sem dinheiro não dá.
— E o que veio fazer no fim do dia de hoje?
— O Rodrigo quer falar comigo, ele pelo jeito não gostou de
algo, se não estiver aqui amanha, ajuda ele a tentar manter este
escritório em dia.
— Ele é bem sistemático, sabe disto.
Carlos não discutiria o sistemático de Rodrigo, que chega e
olha para ele serio e faz sinal para irem a sala de reunião.
— O que pensa estar fazendo Carlos?
— Fazendo?
— Se envolvendo no caso de um funcionaria ai da loja da
frente, temos processos sérios a tocar.
— Deixei algum sem acompanhamento Rogerio.
— Não, mas não defendemos pobres, quando o coloquei
como meu parceiro aqui, era por sua competência, mas não quero o
meu escritório envolvido em defesa de bruxas.
— Sem problemas Rogerio.
— Pensei que iria espernear de soltar o caso da moça, todos
dizem que fez um processo contra a delegacia e contra 3 jornais,
não gosto de ver meu nome envolvido nisto.
— Não fiz através de seu escritório, se colocarem seu nome lá
pode os processar Rogerio.
— Mas você está aqui dentro, eles vão falar.
— Rogerio, defender pessoas não é ficar jogando cartas numa
quinta e vir me encher o saco por ter comprometido o seu nome,
então não se preocupe, estou me afastando de seu escritório.
19
— Vai me largar por isto?
— Não quero o prejudicar, pensei que éramos uma equipe,
você me puxou para dentro como parte da equipe, defendi seus
clientes mais sujos com a cabeça erguida, gente que deve ao
escritório, ou você perdeu nas cartas um processo, você não abre
isto comigo, mas que não pagaram, não pagaram, se na primeira
vez que fiz algo fora dos seus amiguinhos, vai me mandar largar, eu
largo, mas não o processo, e sim, quem não quero prejudicar.
— Tudo por uma bruxa?
— Sabe que ai é onde nós ganharíamos dinheiro, mas se não
quer, faço a parte, não se preocupe.
Rogerio olha para Carlos, ele não iria ceder, mas não queria
se dizer errado, e fala.
— Esfria a cabeça Carlos, nossa parceria é boa, vai para casa e
pensa, você está pelo jeito agitado, amanha nos falamos.
Carlos olha para o rapaz, ele queria uns dias para por outro
no seu lugar, então olha para ele e fala.
— Lhe ligo.
Carlos sai pela porta e olha para Silvia.
— Cuida dele direito.
Silvia entendeu, Rogerio veio o por para fora, ou o afastar do
caso, ela sabia que os processos dali ela passava tudo para Carlos,
então Rogerio teria de correr atrás de um novo parceiro, o Escritório
Rogerio SS de Advocacia era conhecido em toda a região.

20
O delegado chega para trabalhar na sexta e está com uma
representação do Ministério Publico a porta.
— Problema Sergio? – O delegado para o representante do
ministério publico.
— Sim, como resolvemos o problema de ontem, onde fez
seus investigados invadirem uma casa, fotografarem alguém de
outra religião, e a acusaram de bruxaria, quando o senhor morreu
ao carro, do coração?
— Está falando serio? – O delegado pegando um café.
— Sim, plantar provas é crime, discriminação de outras
religiões, crime, acusar um inocente e o prender, revelando suas
intimidades a toda sociedade para justificar a prisão, crime, como
resolvemos isto Delegado?
— Tem de ver que a acusação fazia sentido.
— A defesa pediu o isolar do apartamento, e a analise se
havia algum sangue, algum pelo da vitima, algo que ligasse o senhor
ao local, sinal que alguém está mais rápido que o senhor em
estabelecer os fatos reais.
— Aquele advogado a Rogerio SS vai cair matando pelo jeito.

21
— Ele foi mandado embora por defender uma inocente, ele é
competente, mas pelo jeito o patrão dele não queria seu nome
envolvido nisto, desta se livrou, embora sem Carlos Silvio, aquele
escritório vai para o buraco, ele ergue dados dentro da lei, e a
prisão da moça foi toda irregular senhor, tenho de concordar que a
prisão dela, foi para a armação da tarde.
— Não pode concordar com isto.
— A secretaria de segurança está nomeando um novo
delegado para esta delegacia, vai para a de cargas roubadas.
— Não podem fazer isto comigo. – Grita o delegado.
— O senhor e os 4 investigadores, vão responder por isto
delegado, lei é para todos.
O senhor olha em volta, tudo que ele aprontara ali não
poderia ficar a disposição dos demais, a forma que o senhor olha
para os arquivos e para as pessoas faz Sergio falar.
— O senhor está dispensado Delegado, a delegacia está sobre
interdição.
— Não pode fazer isto comigo. – O delegado segurando o
rapaz do ministério publico pelo colarinho.
— Vai me ameaçar Delegado, se o fizer não sai daqui para
casa, e sim para a prisão, se está acostumado a fazer isto com os
demais, comigo não – Sergio o empurra soltando-se – tem de
acalmar delegado, mas deveria ter pensado antes, não se cria crime
para agradar a imprensa.
— Tudo por uma putinha?
— Não, ela dormiu em sua delegacia, tendo endereço fixo,
vocês não a pegaram em casa, pegaram em seu emprego, para fazer
a noticia, invadem com a imprensa o local, se tiver lá mais restos de
repórteres do que do senhor, você em si a inocentou, então quem
fez de tudo para a inocentar foi o senhor.
— Mas como o senhor pode ter morrido do coração?
— Morrendo, alguém vendo o senhor parado ali, tentou um
assalto, quebrou o vidro, os demais viram o rapaz correndo com
pertences, está nos relatos da policia militar que atendeu ao caso, e
manda prender a moça, me explique delegado.
22
— Teria de rever o processo.
— Isto que fez o advogado da moça pedir a soltura dela,
quando ele pediu uma copia do processo até então, primeiro eles
tentam achar, depois afirmam que está sobre sigilo, mas alguém
daqui vazou o que soubemos a pouco, não está no processo, pois
não tem uma folha lá, somente a ficha de prisão da moça, nada
além disto.
— Temos nossos prazos.
— Não tem nada lá, como pode prender alguém se não tem
nem o relato da policia que diz que viram um assalto ao carro?
O delegado entendeu que não era a moça, mas todo o
processo que estava atravessado, e ouve.
— Mantem a calma delegado, não é pessoal, mas não pode
fazer as coisas assim, dá a impressão a quem olha de fora, que
todos os processos são assim, vai para casa, pensa no que fez e vê
se não nos força a intervir na outra delegacia.
O delegado e os 4 investigadores são dispensados, para se
apresentarem a corregedoria em 15 dias, afastados com
vencimentos até a data.
O ministério começa a olhar os processos ali, e teve de
mandar para casa 12 pessoas presas, pois não tinha nem a acusação
na folha, os internos tiveram de ser interrogados para saber qual o
motivo de suas prisões, seria cômico se não fosse uma delegacia
especializada em Latrocínio. Sergio não gostou de mandar para casa
prováveis culpados, mas não havia acusação para os manter ali, os
investigadores não estavam fazendo o básico, teve de determinar
uma reunião local e passar os problemas determinados, e que
precisavam por as coisas em dia, para que a delegacia não
mandasse pessoas a mais, culpadas, para a rua.
Carlos chega a delegacia, para acompanhar a soltura de
Ketlhen que olha para ele.
— Foi tão fácil assim?
— As vezes a incompetência é tão grande, que nosso trabalho
fica facilitado, embora aparentemente perdi o emprego por lhe
defender, mas acho algo melhor.
23
— Não precisava se prejudicar por mim. – Ketlen.
— Quer uma carona até em casa, embora a imprensa esteja
na porta e tenha de saber o que vão perguntar.
— Eu sei o que eles vão perguntar Carlos, você nunca
entenderia uma pessoa como eu, mas desculpa por lhe prejudicar,
aceito a carona, assim me fala quanto lhe devo.
Os dois saem pela porta e a imprensa estava lá, já que a moça
foi escrachada na imprensa local, por 4 jornais, e agora sabia-se que
não tinha culpa em nada.
Ketlen sai a frente e um repórter pergunta.
— Poderia nos dizer o que tem a falar sobre a morte de Carlos
Teixeira, porque a acusaram.
Ketlen respira fundo e fala.
— Queria deixar uma coisa clara, vou apoiar a família de
Teixeira, vocês difamam um senhor que não pode se defender, eu
posso me defender e dizer que não éramos nada além de
conhecidos, mas transformarem-me em uma prostituta, para
difamar alguém como Carlos Teixeira, eu acho um absurdo, e apoio
a família em processar toda a imprensa que o difamou.
— O que ele foi fazer em sua casa?
— Ele está vendendo um terreno no Boqueirão, estávamos
tratando sobre como poderia pagar o mesmo, se estava com os
documentos em dia. – Conversar com os clientes, sempre lhe dá
detalhes, mesmo que não soubesse muito sobre o assunto.
— Lhe acusaram de bruxaria, o que tem a falar sobre isto?
— Tenho formação em Historia, estou estudando para fazer
uma pôs em religiões adulteradas, espero que ninguém tenha me
roubada alguns livros, ou os destruído, pois eles são raros.
Carlos ao fundo viu que a moça não era inocente, ela
respondeu cada uma das perguntas e pede educadamente para
passar, estava cansada, precisando de um chuveiro e teria de ver se
perdera o emprego ou não.
O delegado do outro lado da rua olha para o investigador e
pergunta.

24
— Como ela tem a cara de pau de falar isto?
— Ela parece saber até que o senhor rasgou o depoimento
dela, mas o senhor realmente tem terrenos a venda, e as
reportagens para falar mal da moça, esquecem que estavam
afirmando que o senhor a contratou, ela sabe que ele fez um
deposito na conta dela, e não o contrario, mas estes dados os
repórteres não tem.
— E com certeza ela vai gerar uma defesa disto também, mas
o advogado perdeu o emprego, este vai se dar mal em Curitiba.
O investigador não pareceu concordar com o delegado, mas
não teria como saber sobre isto, a cidade era um mistério, alguns
que apostaram que se dariam bem, faliram, alguns que todos
apostaram contra, eram destaque em mais de um ramo.

25
O rapaz estaciona para dentro, na vaga extra do
apartamento, prédio simples no bairro do Cabral, predo baixo de 5
andares, não mais de 2 apartamentos por andar, todos olham para
a moça, todos se perguntavam na vizinhança quem eram aqueles
senhores de idade que iam ao apartamento.
Chegam a porta, ela estava aberta e um grupo da pericia olha
para o apartamento e um rapaz olha a moça.
— O apartamento está interditado.
Ketlen entra poucos metros e fala.
— E quem fez toda esta bagunça?
— Encontramos assim. – O rapaz olhando o advogado ao
fundo, mas estão atrapalhando.
— Como proprietária, vou acompanhar para que não desviem
mais nada, pois pelo jeito fizeram uma festa aqui enquanto eu
curtia uma noite na carceragem.
O rapaz olha para o mais a dentro, com um equipamento de
identificação de sangue ou restos de pelos.
— Muito cabelo, de mesmo DNA, nada de sinal de sangue, o
quarto está limpo, apenas uma espécie de pelos, toda a região da
sala tem mais de 40 digitais, e mais de 40 DNAs de pessoas.
26
— Uma verdadeira festa. – O rapaz olhando a moça.
— Sim, uma festa feita por policiais incompetentes que se
tivesse matado alguém dentro desta sala, não conseguiriam me
acusar, uma senhora festa. – Ketlen não parecia nunca na defensiva,
sempre no ataque, Carlos a olha e pergunta.
— Vai ficar nesta bagunça?
— Acompanhar se eles vão fazer direito, pelo jeito já estão
acabando mesmo.
— Teremos de manter isolada a área. – O investigador.
— Me dê um motivo plausível para isto, já que vocês mesmo
trouxeram a imprensa e contaminaram toda região de investigação?
O rapaz olha outro e fala.
— Me alertaram que você não baixava a cabeça, mas precisa
de algo?
— Fora uma roupa, meus documentos, a chave do carro,
nada.
— Acompanha a moça Pedro?
Ele olha como se perguntando-se se não era muita frescura
aquilo, a moça foi ao quarto, pegou um conjunto e um calçado
baixo, uma bolsa, pegou os documentos, a chave do carro e jogou
ao rapaz a porta.
— Pelo menos fechem a porta quando saírem.
— Acha-se engraçada? – O rapaz.
— Passa uma noite na sua delegacia, na parte prisional e
quero ver você animado como eu.
Carlos viu que ela saiu dali, ela olha para a outra porta, não
iria para aquele sentido, olha para o rapaz e fala.
— Consegue me seguir de Carro?
— Se não correr muito.
Ketlen entra no carro, dá ré, aciona o portão, o mesmo se
abre, os dois carros saem no sentido do sul da cidade, ela entra em
um terreno plano, algumas frutíferas, olha para a casa ao fundo,
onde os carros param.
Carlos olha a moça entrar e lhe falar.
27
— Vou tomar um banho, se puder esperar conversamos,
senão passo em seu escritório.
— Espero.
Carlos olha a casa, térrea, em um terreno de mais de dois mil
metros quadrados, em meio a uma quadra simples na região
metropolitana, dava para as duas ruas, olha para o gramado bem
cuidado, para os muros altos de todos os lados.
Carlos sente seus pelos se arrepiarem e olha em volta.
— Calma Carlos, está impressionado com o lugar.
Carlos olha em volta, tenta achar algo que o impressionasse,
algo que tivesse falado, não tinha nada, parecia uma voz rouca, ele
olha para a casa e vê um ser translucido sair pela porta.
— Agradeço por minha filha.
— Quem é você, ou melhor, o que é você?
— Fui a mãe de Ketlen, hoje, um espirito de luz, um espectro
de vida, na física, um espirito de Luz nos campos da Energia.
— Ela parece triste, porque ela não sorri?
— Ela nasceu num mundo que não a entende, um mundo que
talvez as pessoas tivessem que sentir as coisas como ela sente, para
lhe ajudar.
— Sentir como ela sente?
— Ela quando entrou na delegacia, sabia que seria presa,
quando ela saiu, ela sabia que nem tudo seria fácil de explicar, mas
é que ela criou sobre o que ensinei para ela, uma cultura e religião
própria, quando morri a 8 meses, ela pareceu se perder mais.
— E parece para todos os amigos dela?
— Ela não tem amigos, ela raramente traz alguém a esta casa,
a casa que os vizinhos nem sabem quem mora nela, mas que os
rapazes da jardinagem mantem bonita, a diarista deixa limpo.
— E ela vem aqui raramente pelo jeito.
— Ela trabalha 8 horas, dorme 8 horas, 2 horas entre ir e vir
dos lugares, uma faculdade que tem faltado muito, ela não vive.
— Pensei que ela...

28
— Ela faz isto também, mas esta parte é rápida, estranho ela
ficar de pé 8 horas para vender roupas e ganhar um salario no mês,
ela dispender não mais de 2 horas com outra atividade, e ganhar
dois salários, por dia.
— E acha certo isto?
— Não, ela se desgasta muito com isto, ela perde
sensibilidade, ela se isola dos homens, as vezes sentindo nojo disto,
mas ela parece quer algo diferente.
— O que?
A senhora aponta uma peça, Carlos entra lá, existiam
esculturas, ele olha para uma, era a dele, tamanho real, ele gira na
estatua, olha para seu sapato, olha para a estatua, não era uma
estatua dele, era a estatua dele naquele momento.
Ele olha em volta, olha para as estatuas a frente e as costas
dele, mais de 50 estatuas, não tinha uma relacionada a outra, mas
tinha uma de uma senhora e 4 moças, com um senhor as costas,
aquele era Carlos Teixeira, ela sabia que algo aconteceria, sentir as
coisas, pois ali estava a criação da família de alguém, mas olhou
para a porta, pensando em ver o espirito, e viu a moça olhando-o.
— Como faz isto?
Ela olha a estatua, olha para Carlos e fala.
— Saber que vão cruzar com nossas vidas, é fácil, difícil é
saber quando, a ordem das coisas, mas não vejo o que vai
acontecer.
— E o que faz com isto?
— Presenteio pessoas.
— Presenteia?
Carlos viu ela chegar a estatua, passou por ela, pega um
carrinho de transporte de lojas, coloca ali a estatua dele, e a leva
para a parte interna, ela termina de dar detalhas, dai ele viu ela
mergulhar aquela resina que parecia usar para fazer as estatuas, em
uma espécie de gesso, se viu o objeto mergulhar ali deitado, depois
a maquina ficar vibrando, como se estivesse tirando as bolhas, dai
começa a endurecer, a moça olha para ele, não estava acostumada
a pedir ajuda, então iria deixar ele apenas olhando.
29
— Carlos, tem de ver que ninguém acredita no que faço, as
pessoas podem me tratar mal no emprego a partir de amanha, na
faculdade, estou em uma curva de vida de dois anos, uma curva que
tive uma declaração de renda que posso não ter nos próximos anos,
mas que pode me garantir o começo de uma vida.
— Vai sair disto?
— Eu não faria ponto na rua, quem deu meu endereço de
trabalho, foi quem me agenciava, e agenciar é crime no Brasil, e não
se prostituir, sei das leis, mas com certeza ela vai me afastar dos
clientes, eles raramente pedem para sair com alguém com
problemas com a policia, mas ela que me entregou, então deixo de
confiar nela.
— Tem uma estatua dela?
— Esta na frente da casa dela, no Jardim Social.
— Mas vai apenas sair?
— Pretendia ficar mais um ano, mas se fui tirada disto, vou
ter de me virar.
A moça pareceu jogar aquele bloco que vibrava em um forno,
e olhou para Carlos.
— Qual o custo de um processo, pois pelo jeito se nomeou
meu advogado, e processos assim, não sei como se cobra.
— Tenho de avaliar os custos, mas me afastei do meu
escritório, não pensei que a confusão fosse tão grande quando vi os
policiais.
— Seu patrão não quis que me defendesse?
— Ele não falou com estas palavras, mas mais ou menos isto,
não queria seu nome ligado a bruxaria.
— Sei que ele é cliente da agencia, mas a dona diz que ele é
pão duro, então não o conheço pessoalmente.
— Acha que sua agenciadora pediu para ele não interferir?
— Tem coisa que não entendi ainda, mas como nem sempre
as coisas acabam bem, não sei.
O forno apitou, ela puxou o bloco para fora, o sistema de
rolamentos dentro do forno facilitava muito isto.

30
Ela faz um furo em uma marca que ela deixara, vira o bloco e
Carlos olha um liquido sair de lá, ela olha para ele e fala.
— Deve estranhar alguém que conversa fazendo coisas
assim?
— Sim.
— Esta vai ser um presente, assim como a em frente, com a
família, mas dá para tirar uns 25 mil por estatua.
O rapaz viu ela puxar aquele bloco pela sala, bem no fundo,
parecia ter um forno ligado, e ela fala.
— O problema de manter este Hobby é os custos dele, um
forno destes se eu desligar ele racha todo.
Ela foi ao canto, ele viu ela pegar uma pá, e jogar em um
recipiente com a pá, uma quantia de um metal, ele não sabia que
era chumbo, dai ela pegou duas pás de níquel, uma de ferro e jogou
para dentro do forno aquela mistura.
Quando ela sentou-se ele ficou olhando para ela.
— Você pelo jeito faz força com os braços para pensar.
— Sim, ouvi falando com alguém, vai dizer que minha mãe
gostou de você?
— Me explique isto, nunca vi um espirito.
— E se falar que viu, vira maluco, e advogados malucos não
servem para nada.
Carlos sorriu e falou.
— Pelo jeito você tem mais de uma identidade, pois nas
poucas horas que ouvi falarem, me definiram com a moça calma
que atendia com presteza os clientes, a proprietária que não
interferia no que faziam sobre o térreo alugado, apenas uma
contratada, uma estudante aplicada que nunca ficava muito por
perto, e ninguém falou de uma artista plástica.
O visor do forno deu que havia derretido, Carlos a olha
levantar-se, coloca o bloco de gesso numa camara a frente, olha
para uma espécie de vazo, parecia um material que aguentava altas
temperaturas, e se deposita através do buraco no bloco de gesso, a

31
moça põem uma espécie de espuma no buraco, e Carlos viu o
sistema começar a girar.
— Não deu seu preço ainda.
— Não sei, estou desempregado, o sistema fazia os preços,
acho que uma coisa é defender um culpado, tem seu preço, mas um
inocente não deveria pagar advogados.
— Inocentes ficariam lá, sabe disto Carlos.
Ela se levanta e vão a cozinha da casa, a moça coloca uma
agua para ferver e pergunta.
— Não tem clientes mesmo?
— Rogerio mandou-me para casa para esfriar a cabeça, não
esfriei a cabeça o suficiente para pedir desculpas por minhas ações
de ontem, talvez por não as achar erradas.
— Não existe o certo e o errado Carlos, uma interpretação
momentânea de vingança, onde a maioria das pessoa naquele
momento acham justo a vingança, geram a maioria das mortes,
outras acham que se andar a 90 quilômetros por hora em seu carro
dentro de uma cidade, nunca vai lhe acontecer algo, até um dia que
mata alguém ou se mata, eles sabem dos riscos, e por segundos de
vida, eles jogam a vida pela janela, um serial killer deve ser sempre
melhor estudado, eles tem algo no passado que despertou isto, a
maioria deles é a impunidade, gerando uma sensação de estar
acima da lei, eles não fazem para os demais verem, eles fazem para
sentirem-se acima dos demais.
— Daqui a pouco vai dizer que matou o senhor.
— Eu não mataria alguém que precisa pagar para fazer sexo,
as vezes a vida continua, o respeito por esposa, os fazem ainda
sentir vontade.
— Os tenta entender?
— Na maioria são homens carentes, mas tem os estúpidos,
que se não estão sozinhos, devem ficar sozinhos, mas quando se
seleciona por volume de dinheiro, poucos estúpidos ficam, eles não
tem dinheiro para jogar em suas estupides.
— Sabe que terá problemas com o cartão de credito, não sei
como vai resolver?
32
— Preciso apenas do endereço do senhor, que resolvo isto
Carlos, entregando algo que foi encomendado.
Carlos lembra da estatua e pergunta.
— Vai dar um estatua para se livrar do problema?
— Lá vai estar o valor total da mesma, se vão pagar o resto, é
problema de honestidade, não mais meu.
— E referente a moça que diz que lhe indicou?
— Ela tinha meu telefone, um endereço aproximado, nem
meu nome ela sabia, eles foram a loja para descobrir meu nome.
— Certo, mas se ela lhe contradizer.
— Como disse Carlos, vender meu corpo não é crime pela lei,
agenciar isto que é, acha que ela vai confessar oficialmente um
crime, agora que sabe que o senhor morreu do coração?
— A logica diz que não, e o que lhe preocupa?
— O porque está por perto ainda Carlos, isto que me
preocupa, não me leve a mal, mas foi apenas um serviço.
— Me mandando embora?
— Ainda não, mas daqui a pouco.
Carlos não entendeu, mas ela colocou um café para fazer,
olha para a porta e fala.
— Tem coisa que não tenho como falar Carlos, eu sei que
terei outro problema, mas não precisa estar por perto.
— Como sabe?
— Quando falei em me afastar, foi porque algo está
acontecendo, sei que mesmo Katherine querendo me afastar, tenho
meus clientes fieis, mas vou ter de não atender, mas coisas
estranhas aconteceram na ultima semana, e ainda não tenho a
imagem de quem foi.
— Como não tem?
— As vezes me vem imagens como o do rapaz no escritório
quase em frente, mas as vezes vem uma carta como resposta, e
tenho de entender como um iniciado.
— Uma carta?

33
Ketlen se levanta e pega uma quantidade de cartas estranhas
ao armário, e estiva todas elas sobre a mesa e fala.
— Quando pergunto quem está por trás dos acontecimentos
que acho estranho, sempre sai a mesma carta.
— Mas isto é impossível.
— Quer embaralhar?
Carlos olha as cartas e pergunta.
— Que cartas são estas?
— A representação dos 23 Demons.
Carlos as embaralha e estica para ela que pega uma sem
olhar, pela cor saberia, puxa a primeira e joga a mesa sem olhar e
fala.

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— Demons Encruzilhada, tem prazer em ensinar e doutrinar,
por isto sempre está tirando dúvidas a todo aquele que lhe faça
perguntas, desde as perguntas mais insólitas como "porque há
estrelas..." até as mais comuns como "quero saber se meu marido
me engana..." Prefere beber uísque de boa qualidade e fumar
charutos grossos. Sua voz é rouca, grave e forte. Quando está
manifestado em algum médium, gosta também de azeitonas. Seu
olhar é insustentável e quando se fixa em alguém, parece que o
atravessa e sabe seus segredos mais íntimos. As pessoas que o
conhecem sentem certa autoridade nele e o respeitam. Apresenta-
se como um homem de idade avançada com chifres, ponta ao
corpo, de pele metade escura, metade cor de bronze, olhos
vermelhos, cor de brasa. Traz a metade do seu corpo (o lado
esquerdo) queimado, sendo que sua perna esquerda não funciona
bem, por isto é muito comum que se apoie em um bastão.
Representado por alguém que quando entra em sua vida, atrapalha,
é considerado um Demons quiumba ele não sabe distinguir o bem
do mal e trabalha para quem pagar mais. Não é confiável, pois se
for apanhado, é castigado pelas falanges do bem e volta-se contra
quem o mandou. Mas eles se ocultam em amigos, parentes, em
conhecidos e desconhecidos, lhe fazem mal e não distinguimos
quem é antes de sentir sua autoridade sobre nós.
Carlos olha no fundo da carta parte da definição que ela havia
falado e pergunta.
— E o que este ser é, porque ele está em sua historia?
— Não tenho a resposta, eu não tento fazer mal para alguém
mas sou alguém ligada ao Demons Pemba, das traições amorosas,
este Demons desperta possessão, as vezes temos de cuidar com o
que fazemos, mas pode ser que eu tenha despertado em alguém,
ou em alguém traída, esta posição, pode nem ser da minha cultura
religiosa, mas pode agir através de seres que tem nomes diferentes
em outras culturas, mas fazem a mesma coisas.
— Fala desses Demons como se fossem coisas do bem e do
mal, sempre vi esta palavra ligada ao mal.
— Quando vocês leem seus testos impõem um Deus bom,
mas esta noção é nossa, eles são o que precisam ser, esta coisas de
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bom ou mal, é cultural, e não faz parte das entidades, nós querendo
transformar uma religião em coisa melhor que cultos antigos, que
dissemos o nosso é bom, mesmo quando deixa matarem milhares
de Judeus em campos de concentração, mesmo quando condena
uma cidade, pela ação de alguns, tudo é pelo bem, mata crianças
como sendo ratos e sou o Deus bom, vocês que as protegem, os
ruins, subjuga e mata todos os verdadeiros adoradores da Amaná, a
deusa local, a ponto de quase extinguir estes relatos, mas somos o
bom, não felizes em ganhar o dinheiro dos brancos, criam igrejas
para os negros, para recolher deles parte de seus vencimentos.
— Mas está dizendo que um Demons pode estar por trás de
problemas pessoais, e isto é bom?
— Carlos, alguém me invejar, não me faz mal, mas alguém
querer imperar sobre mim, sim, as vezes gostaria de não entender
as pessoas, mas como disse, o que a pessoa acha por certo é
cultural, esta pessoa pode achar correto se impor sobre uma
mulher, tem gente que acha certo.
— Mas não falava das pessoas.
— Entidades, como as entendo, pois Deus está bem distante
de tudo que tocamos ou somos, enquanto carne, refletem as
vontades do povo que lhe cerca, alguns os invocam sem sentir,
alguns os varrem para fora de suas vidas, e depois reclamam que as
coisas não vão nem a frente e nem para traz, mas as entidades,
refletem o povo, se ele é bom, bons, se eles são ruins, ruins, mas
como humanos, somos hora bons, hora ruins, e as entidades
refletem isto, elas não são nem boa e nem ruins, apenas estão por
ai como entidades, refletindo o que somos.
— E se identifica apenas com este Demons Pemba. – Carlos
estava com a carta a mão.
— Logico que não, somos sempre seres em mudança, e quem
não muda, fica louco.
Eles são interrompidos por um som ao fundo, a moça levanta-
se e olha para o bloco de gesso, olha para o rapaz e fala.
— As vezes eu crio coisas para não pensar no que o mundo é,
no que sei existir, as vezes apenas crio por não estar pronta para

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falar de coisas mais intimas, meus nojos são coisas minhas, e não
pretendo dividir eles antes de estar pronta para isto.
— As vezes temos de conversar sobre o que sentimos, vi que
sabe o que quer, construiu algo para fazer o que gosta, e mesmo
assim, parece triste.
— Não sou triste, apenas aprendi a sorrir quando não preciso
sorrir, odeio quando me definem como uma moça feliz a cama, que
parece gostar do que faz, pois somente eu sei quanto as vezes é
nojento e estou ali.
Carlos viu ela pegar o mesmo carrinho de transporte, e
levantar a armação ao fundo, que girava junto com o bloco, pareceu
fazer mais força agora, e empurra em uma câmera que somente
quando entrou viu que haviam outras ali, ela deixa esta girando e
tira outra, Carlos ajudou ela a tirar, era bem pesada, ele estranha,
pois ela colocou ao centro da peça, e bateu no gesso e este se
desfez, em muitos pedaços, ela tirou os detalhes entre os braços e
olha para a escultura que sabia existir uma na sala ao lado, esta as
pessoas ainda estavam sorrindo, na outra, olhando pela porta se via
que o senhor estava mais triste, mais morto, mas a senhora que
nesta a frente estava triste, parecia mais alegre na que estava lá
fora.
— Vai sentindo as diferenças?
— Sim.
A moça corta um tubo que se formou num sentido, entendeu
que por ali que colocara o metal liquido, aquilo estava a uma
semana na câmera, ela sabia que iria precisar, isto que Carlos não
entendeu, e ela com uma lixadeira elétrica desprende da escultura
aquele tubo, ela olha para o buraco, pega um pedaço de metal do
mesmo tubo e solda ali, depois alisa o material.
Carlos viu ela passar um produto em toda a escultura, com
uma luva, e depois a lavou, aquilo deixou mais liso e limpo, dai ela
pegou um sistema de polimento e começa a polir toda a peça, uma
camada de verniz após fez a escultura brilhar e Carlos sorriu, a moça
sabia fazer algo que ele ignorava por onde começar.
— E vai entregar onde?

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— Vamos.
Carlos estranhou, mas a moça foi a parte do fundo, pegou
uma armação de madeira, colocou no chão, ergueu a estatua até lá,
enrola a estatua com um plástico e coloca as laterais da madeira,
fechado uma caixa.
O rapaz viu ela ir a parte do fundo, puxar uma caretinha de
carro, prende no fundo do carro e depois levar a estatua para lá.
A moça mandou para a impressora uma nota de compra, ele
olha o valor, deveria ter feito alguns programas com o mesmo
senhor, pois era algo para não terem nem como indagar o preço.
Ela olha serio para Carlos e pergunta.
— Se vai ficar por ai, entra no carro que vamos com um
apenas agora.
— Se você improvisou, está me deixando assustado.
— Ainda não lhe fiz nada para ficar assustado Carlos.
Os dois saem de carro e param em um condomínio fechado
na região de Pinhais, o rapaz olha a caixa e não sabia o que era, mas
a nota estava ali, e foram a porta da senhora.
Ketlen olha a moça vir a porta, uma das filhas, ela gritou para
dentro.
— A moça está aqui mãe.
A senhora veio como se não acreditasse e falou.
— Veio se desculpar, ele morreu, sua galinha.
Carlos a viu sorrir e falar apenas.
— Vim apenas entregar o que ele encomendou, pena ele não
estar aqui para receber, mas ele pagou em 6 parcelas, a sétima
ainda iria pagar, mas como não vou cobrar um morto, apenas vim
entregar a encomenda.
A senhora olha para ela e fala.
— Não quero nada de você.
— Me ajuda aqui Carlos, ela pode não querer, mas o marido
dela encomendou isto.
Os dois com dificuldade escorrem para o chão a escultura,
Ketlen tira as duas laterais, a parte do alto e depois desenrola, a
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moça a porta olha para a mãe, ela estava agressiva, mas aquilo não
era uma peça para se fazer do dia para a noite, a moça olha para
suas vestes, olha para Ketlen e pergunta.
— Ele iria por isto onde?
— Não sei, é uma escultura de 25 mil reais, dos quais quase
tudo está pago, não sou de não entregar moça, mas acho que todos
entenderam errado o que aconteceu.
A senhora se olha na escultura, os olhos dela estavam nos
dela, depois foram na do marido, ali estava a antiga realidade, não a
atual.
— Não vai explicar? – A senhora.
— Não sei para que era a estatua, ele falou em um grande
evento, mas não conheço seu marido tão a fundo, apenas as
imagens que ele me passou para fazer a estatua. – Ketlen esticou a
pasta com os prospectos e com a nota fiscal de compra.
— Mas uns senhores amigos de meu marido afirmam que a
senhora que agencia garotas de programa que apresentou vocês.
— Tenho uma estatua da senhora, a frente da casa dela no
Jardim Social, deve ter sido o que gerou o telefonema dele, mas se
olhar em seus cartões de credito, ele vem pagando isto aos poucos
a mais de 6 meses.
A senhora tinha olhado, ela estava jurando que a moça era
uma amante do senhor, mas se tinha com outras, não era culpa
dela.
— Agora temos de ir senhora, como falei na Delegacia, se
fosse a senhora processava os jornais por terem desmerecido seu
marido, ele estava comprando algo para eternizar a família, e
parece que a imprensa usou para outra coisa.
A moça coloca as laterais da caixa que abrira na caretinha,
fecha ela e faz sinal para Carlos entrar, os dois saem dali, deixando a
senhora a olhar a estatua.
Uma das filhas saiu somente nesta hora e fala.
— Que agito foi este mãe?
Ela para na estatua, olha as irmãs, olha para as vestes e olha
para a mãe.
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— Quem fez esta estatua, não estou tão gorda assim.
A senhora olha as filhas e fala.
— Chama o motorista, pede para ele e o Ruy colocarem na
sala para a gente, vou ter de pensar filha.
— Mas...
A senhora pega a nota, em nome da moça, ali não dizia ser
uma artista plástica, mas ela acabara de dar uma nota de uma peça,
talvez o que ninguém esperava.
Carlos olha para Ketlen e pergunta.
— E vai fazer oque agora?
— Já que está ai comigo, vou terminar de cobra a estatua na
frente da casa de Katherine e vamos ver como ficou a sua estatua.
Ela dirige até o Jardim Social, ela nunca fora lá, os contatos
via telefone, viu que havia um carro da civil a esquina, ela pagava
proteção e entregou muito fácil ela.
A senhora olha para Raiska a sua frente.
— Temos sim Katherine, se não sabe segurar a língua, todas
vão saber que você não é de confiança.
— Acha que está falando com quem menina.
— Me deve metade da estatua linda de sua sala, e vim cobrar,
se não defende quem mantem este seu padrão de vida, vim cobrar
e pular fora.
— Mas...
— Vai dizer que não tem 12 mil reais, eu tenho na conta isto e
vai me dizer que não tem Katherine?
— Tem de ver que não gosto de criminosas no grupo.
— Eu também não, e se não me pagar, vou contar a minha
versão da historia e tiro a estatua de sua sala e derreto para fazer
algo melhor.
— Quem é o rapaz?
— Meu advogado.
— Pensei que estava de namoro com aquele Roberto, ele que
tem perguntado de você.
Ketlen sente o cheiro de azeitona, sorri e fala.
40
— Não estou falando de seus clientes Katherine, vim para
receber a minha parte, antes de você dizer por ai outra versão, mas
pode me tirar do seu book, não faço mais isto.
Um rapaz chega a porta e pergunta.
— Tudo bem Katherine?
Ketlen olha o rapaz e fala.
— Não, some daqui policial, que não queremos testemunhas
de um acerto.
— Acha que fala com quem?
— Manda aquele seu amigo, Roberto, se cuidar, uma hora
vão pegar ele, manda ele se cuidar.
O rapaz olha para ela sem entender, Katherine olha para o
rapaz sair e pergunta.
— O que quis dizer com isto?
Os olhos de Carlos sobre ela.
— Uma estatua surgindo em minha mente, uma estatua
vinda de uma carta. – Fala olhando para Carlos.
A senhora não entendeu, mas a moça estava ali para receber
e vai ao cofre e pega o dinheiro, ela não conta as pilhas, a senhora
dizia ter maços de mil reais, mas ela apenas põem em uma sacola e
voltam ao carro.
Saem com os olhares do policial para a moça.

41
Roberto olha o policial entrar pela porta, olhar aquela sala
cheia de espadas, com imagens assustadoras em todas as paredes e
fala.
— Não entendi o que quis dizer?
— Nem eu senhor, ela mandou lhe falar para você se cuidar,
que uma hora vão lhe pegar, mandando você se cuidar.
Roberto olha em volta e olha o policial.
— Ela foi sozinha lá?
— Ela e o advogado, que perdeu o emprego.
— Onde ela passou o dia?
— Ela pelo jeito trabalhou o dia inteiro, ela entregou uma
estatua na casa dos Teixeira, não sei qual, mas segundo os
seguranças locais, uma estatua com o senhor Carlos, a esposa e as
três filhas a sua volta, em uma liga de chumbo.
— Ela é esperta, enquanto a maioria estaria se defendendo,
ela foi ao ataque, se qualquer um ouvisse ela na porta da delegacia,
saberia que ela já resolvera em sua mente o problema, ela deve ter
ido pegar um dinheiro com a Katherine.
— Sim, não sei o valor.

42
— O problema é que as coisas que você não dá valor rapaz, a
moça dá, este livro, um repórter amigo tirou da casa dela, pensei
que não existisse mais nenhum destes, pensei que ela tinha como
protetor um Exu, mas aqui é uma derivação do Candomblé, eles
chamam de o passo a frente, a adoração a Energia Eterna, através
dos seres de Ligação.
— Não entendi.
— Quando você lê o Novo Testamento, o que ninguém dá
valor, é as palavras que afirmam por si, o valor do nome, da
pronuncia, quando se adultera isto para o Latim, os nomes se
modificam, qualquer oração cristã precisa de muita fé para
funcionar, pois está com os nomes trocados, quando se lê a
essência do budismo, se separa o poder do sentir do meio, do
dedicar um tempo a seu Deus, quando se vê o Judaísmo, a
importância de se achar filho de Deus, os caminhos de Exu, o
compreender a dualidade humana interferindo nas Entidades que
estão entre a Energia de Deus e a terra dos homens, esta dualidade
pode ser representada em todo contesto, este documento fala das
entidades, dos santos, de Cristianismo, Judaísmos, Islamismo,
Budismo, Xamanismo, fala das entidades, de deuses que nem
sabiam existir no passado, um ensinamento realmente como ela
falou, deuses adulterados, ela usou religião, mas ela sabe que a
religião é criação humana para domínio, pensei que ela era uma
simples bruxa, ela é uma Demons.
— O que é isto?
— Os filhos das entidades, o representar físico de alguém
superior, não sei ainda quem é o protetor dela, por isto que ela não
caiu, pensei que ela precisaria de ajuda, mas vi que ela foi procurar
a cafetina, sinal que precisava do dinheiro, mas tenho de
reconhecer, saiu por cima.
— Não entendi nada.
— Tudo nem eu, mas ela mandou eu me cuidar, ela não sabe
quem sou, ela acha que entendeu algo, alguém falou algo, não sei
quem, mas com certeza terei de olhar nos olhos de alguns e
descobrir.

43
Olho para Carlos parando no terreno ao lado do carro dele.
Pego o saco com os 12 mil reais e alcanço para ele e falo.
— Vai para casa, não atende a porta, pega este dinheiro como
seu pagamento, pode ser que ainda tenha de pedir outros serviços,
mas agora sei onde lhe encontrar.
— Mas não vai precisar de ajuda?
— Ajuda sim, mas o que vou enfrentar é algo que minha mãe
falava que existia, eu nunca senti isto, mas prefiro que esteja
protegido.
— Vai se meter em encrenca.
— Não sei, mas as provocações foram feitas, hora de ir.
Carlos me olha como se não sabendo se saí, mas sai pela
porta, destravei o carinho traseiro, encosto no barracão, olho para a
porta, não sei se Carlos via minha mãe ali, mas ouvi ela falar.
— Problemas pelo jeito.
— Tem coisa que temos de viver, mas Carlos, vai, daqui a
pouco não sei se será seguro.
Olho o dia ficando noite e falo.
— Some mãe, hora de se poupar.
— Tem certeza filha.
44
— Eles vivem uma vida procurando uma passagem para os
campos de Energia, a senhora é apenas isto para eles, para mim,
muito mais.
Carlos me olha, ele vai ao seu carro e sai, parecia não querer
ir, mas eu sabia que o enfrentamento não se daria ali.
Pego algumas coisas e vou no sentido do apartamento, agora
já noite, entro no apartamento isolado, se isso era isolar algo, o que
seria deixar aberto para que danificassem a região.
Olho os livros, vi qual foi retirado, olho para a porta e olho
aquele senhor me olhando.
— Demorou.
— Estava esperando para ver se voltava.
— O que quer Roberto?
— Sabe o que sou?
— Ler estas coisas não é entender o que você é, sabe disto,
nossas escolhas que nos fazem, não os papeis.
— Pensei que não desconfiava.
— As vezes alguém chega para você e pergunta algo, e tudo
muda, as vezes, é um cheiro, as vezes, uma posição, as vezes tudo
junto, encostada em uma cela de uma delegacia, sendo a menor lá
dentro, sem piscar os olhos, apenas pensando.
— Não entende que você é minha, vou matar todos os que
chegarem perto de você Raiska.
— Eu não sou nem minha, como vou ser de alguém?
— Eu os mato, acha que se livra de mim?
— Eu não pretendia me livrar antes de ontem de você
Roberto, embora não sei se este é seu nome.
— Você nunca ouviu o que lhe falei.
— Todos falam isto Roberto, todos tentam gerar um clima,
mas eles não sabem o quanto acho nojento alguns.
— Não parecia me achar nojento.
— Não disse que era, mas o que faz aqui?
— Vim ver se procuraria o livro, nem sabia que existia esta
tendência religiosa, passou bem desapercebida.
45
— Acho que não entendo o que você quer Roberto, pois não
matamos porque queremos algo, matamos porque gostamos de
matar.
Sinto o olhar dele, parecia me ler a alma, mas o que ele
queria, um senhor, deveria estar próximo dos 50 anos, cabelos
grisalhos, não era feio, corpo de quem se cuidava, nunca teve as
marcas de que se prendera a alguém, nunca perguntei, mas parecia
que ele procurava algo.
— Como se atreve a não ter ninguém de verdade em sua vida,
como posso ter ciúmes de alguém assim.
— Minha alma, como disse, não é minha Roberto, mas não
falou ainda o que veio fazer aqui.
— Apenas garantir que estaria aqui, talvez não saiba, mas vai
precisar me implorar para lhe ajudar, somente ai que vou pensar
como cobrarei esta ajuda.
Ri, eu encenara a tarde toda, mas com certeza, algo
montaram, pensei em Katherine, pelo cheiro do senhor, soube que
ela levou o azar.
— Sabe o que acho graça nisto senhor, é que me perde
pensando em ganhar, posso responder por um assassinato, mas não
será isto que estará em jogo, pode pagar para me baterem lá
dentro, pode pedir para os seus amigos me machucarem para que
me sinta um nada, mas é uma perda, se queria que visse os últimos
senhores, como um nada, isto vai conseguir.
— Hoje fala alto.
— Roberto, quem se dedica a Encruzilhada, cobra a
encruzilhada de sua vida, de hoje em dia, assim que eu estiver no
inferno, sei que terei 7 caminhos, escolherei sempre o pior, pois de
ti será cobrado em mesma intensidade.
— Não entende disto, não foi o que disse?
— Estava tentando entender o que acontecera, mas vai me
culpar da morte do casal a praça, vai me culpar da morte do Rui,
levou azar com Carlos, mas acha que tenho medo disto, porque se
valeu de todas estas oferendas para me ferrar?

46
Ouvi os carros da policia, vi um entrar minutos após, dizer
que tinha o direito de ficar calada, que tudo que dissesse seria
usado contra mim, não olhei a rua, pois sabia que ali estavam rostos
que me condenavam.
Por dentro mantive a calma que não tinha, vi eles me levarem
presa, em flagrante, embora não tivesse sido, vi os repórteres na
porta do lugar, um me perguntou se mantinha as versões
anteriores, não respondi, vi que me ficharam novamente e um
delegado me olha.
— Põem para dentro, amanha fazemos as perguntas.
Fui jogada para dentro, outras que me viram sair antes, mas
viram algumas a mais saírem pelo dia, ficam pensando no que havia
acontecido.
Uma brutamonte chega perto e me olha, disse que iria me
machucar, que adorava machucar as pessoas.
Tinha sempre 7 caminhos a tomar, mas os pesos são para
serem tomados, se o delegado me jogou lá sem corpo delito é para
dizer que já entrei quebrada, sinto os socos, os tapas, os chutes, me
recolho, ouço alguém falar ao fundo.
— Sabe que tem de estar viva pela manha. – Sabia que era
uma voz masculina, mas não olhei, o olho direito estava inchado e
olho para a moça e falo.
— Bom saber que se sair daqui, alguém vai arrastar-se para
pedir perdão e não darei.
— Que apanhar de novo?
— O que lhe pagaram para fazer, me matar, estou aqui,
apenas bater, cuida para não me matar, pois quem lhe pagou, lhe
mata, alguém que não teve coragem nem de falar que sente,
alguém capaz de destruir algo porque acha que um dia serei escrava
dele.
— Não me pagaram, eu bato porque gosto.
— E parou porque então?
A moça olha para fora, eu não olhei, mas ela queria bater e
falo.

47
— Pode bater moça, quem sabe eles façam com você o que
fizeram com quem acusam que eu matei, quando sair, apenas
porque não podem deixar a verdade sair.
— Quem você matou?
— Alguém em meu coração, bem morto.
Encostei no canto, sentindo o gosto de sangue na boca, sinto
o corpo relaxar, sinto minhas energias voltarem, sinto o sono me
tomar e olho em volta, eu não deixaria barato.

48
Carlos estava sentado em uma cadeira, tinham pego ele em
casa, eles poderiam dizer que foi um assalto, mesmo com o dinheiro
tendo ficado encima da mesa sem eles verem, tão preocupados com
o que ele sentia ou tinha.
Ele olhava em volta quando viu a senhora, que apenas fala.
— Eles não me veem, não responda, apenas ouça.
Carlos concordou com a cabeça.
— Quem vem a você, é Roberto qualquer coisa, ele criou uma
acusação contra você e Ketlen, de terem matado a senhora
Katherine, mas isto ele sabe que não foi você, não precisa falar que
sabe que foi ele, ele vai ler sua alma, então o que ele quer é que
confirme em palavras o que ele vê em sua alma, ele vai
provavelmente fazer uma demonstração de força, mas ele parece
ter uma missão para você, ele quer que Ketlen sinta-se abandonada,
ela sabe que ele vai pedir isto, e você vai se afastar, entendido?
— Mas...
— Sem palavras rapaz.
Ele olha nos olhos vazios daquela senhora que continua.
— Mantem a calma, ele vai lhe ameaçar, vai lhe por para
correr, mas ele sabe que precisa que esteja vivo, nem que para ser
49
alguém cruel com Ketlen, mas o que ele não sabe, é que os
sentimentos dela parecem ter sido arrancados dela, sei que a culpa
foi minha, ele leu na alma dela que ela não tem ninguém, mas ele
vai mesmo assim tentar limpar a região.
Carlos olha em volta, não sabia onde estava, lhe colocaram
em um porta malas, quem estava envolvido, talvez somente agora
entendeu quando Rogerio mandou ele acalmar a alma.

50
Um senhor olha para a bailarina no meio do palco, ela olhava
apenas para ele, a musica foi para ele, os olhos dela fixos nos dele,
ele levanta-se, com todos olhando aquele senhor ir de encontro
com o palco, parecia falar algo, sente a moça o beijar, sente o
coração parar, fica naquele olhar, enquanto cai morto ali na boate.
A polícia é chamada e o tirar do Delegado morto dali, foi
noticia nos rádios do dia seguinte, ninguém entendeu, mas ele
estava com um sorriso, como se tivesse morrido sem sentir.

Uma moça chega a casa de Katherine e Roberto olha para ela,


olha em volta e fala.
— Onde está Katherine?
— Morta, e se não me ajudar com uma versão, morrerá
também.
Ela olha assustada, mas se vê o senhor passar a foto de Raiska
e falar.
— Você vai dizer que entrou nesta peça, na tarde ontem, logo
após ouvir um grito e um tiro, entra e vê Raiska saindo, e Katherine
morta ao chão. Ficou assustada e saiu, mas que queria falar isto
para o delegado amanha cedo.

51
A moça concorda, não conhecia a moça, mas sabia que era
das moças do livro Rosa, das mais chamadas da casa, sabia pela foto
que todos a chamavam de Raiska, ela olha para a estatua e ouve.
— Sim, a moça da estatua.
— Porque a acusar?
— Ou você o faz ou outra faz moça, você que escolhe.
A moça concorda, estava com medo, aquele senhor era um
cliente de um passado longínquo, pelo jeito a moça falou ou fez algo
que o senhor discordava.

O auxiliar do Delegado, olha para a esquina de sua casa, havia


uma moça fazendo ponto, ele não deixaria na região de sua casa,
eles gostavam destas coisas longe de suas famílias, não na porta de
suas casas.
Ele chega a moça, olha ela lhe sorri e falar.
— O que precisa policial?
— Sabe que este não é um local de ponto.
— Sei disto, estou aqui porque mandaram observar, não
estou fazendo programa hoje.
— Mas gostaria que saísse...
A moça pega na camisa do senhor, sorri e fala.
— Tudo bem policial.
Ele se assusta vendo asas surgirem as costas dela, o cerca
com as asas, ele sente o choque, olha em volta, tenta gritar, o rapaz
de uma guarita a esquina olha para o senhor ali sozinho, gritar e cair
morto.

52
Amanhecia quando o senhor Roberto chega a frente de
Carlos, ele estava amarrado na cadeira, tendido ao lado, pois
dormira sentado, joga o balde da agua nele e fala.
— Acorda bela adormecida.
Carlos olha para o senhor, não sabia quem era, não o vira,
não falara sobre ele, então era um desconhecido.
— Bom saber que não sabe com quem fala, mas tenho de lhe
pedir uma coisa, terá de abandonar uma cliente, eu pago para isto,
não precisa voltar a olhar para traz, até consigo seu emprego de
novo, mas tenho de saber, podemos ter um acordo.
O senhor olha para Carlos e sorri.
— Estranho você saber que iria propor isto, sinal que
imaginava estar entrando em um caminho sem volta. – Um rapaz
chega a sala, passa para o senhor as fotos das estatuas que a moça
tinha em casa, olha para Carlos e fala.
— Acaba de levar a sorte grande rapaz, todos os que ela
sonhou, eu matei. – Carlos viu que ele mostrou as fotos, eles
invadiram a casa da moça, estranho que nesta hora ele pareceu
sentir medo, e sentiu logo em seguida, já que não entendia disto,
mas a pergunta lhe veio a mente.

53
— O que quer saber rapaz?
— Porque ela disse que entendeu tudo, quando sentiu o
cheiro de azeitona fresca, não entendi isto.
— Quando ela fez isto?
— Na casa daquela cafetina, quando olhou para um policial
que fazia a segurança.
— Ele é especial, mas podemos ter um acordo?
— Se vai me pagar para me afastar, sei que entrei pelo cano
muito rápido, as vezes agimos por impulso, e dá nisto.
— Sei que esta moça nos faz fazer coisas por impulso, mas
apenas some, que quando voltar a cidade em dois dias, lhe pago.
— Quando serei solto?
— Os rapazes estão trazendo uma roupa, vão lhe deixar na
estrada, para fora da cidade, dois dias rapaz.
Carlos vê o senhor sair, depois foi deixado na estrada já em
Santa Catarina, a beira da BR376.
Carlos olha em volta e sente a senhora aparecer.
— Não sei como ela sabia que ele não lhe mataria, mas ela
parece não querer mortes a mais.
— Você aparece para quem bem entende?
— Não, somente seres ligados as entidades.
— Não entendo de nada disto.
— Ter poder não requer entender o poder, alguns nunca
desenvolvem, outros começam a ouvir historias e nunca mais param
de escrever, sabendo que seu destino não é fazer fama, mas gerar
em torno dos poucos que o seguem, ideia, tem gente que força os
caminhos, mesmo sem saber que o está fazendo, e tem uns poucos
que acham que mandam nas entidades.
— Porque fala assim difícil, como esta Katlen.
— Apanhou na cadeia, mas ela se recupera rápido, mas se ela
pediu para as entidades, alguém vai surgir morto, e destas mortes
ela não pode ser culpada.
— Entidades matariam por ela?

54
— Quando alguém lhe chuta as entranhas, e você tem em seu
caminho Demons Caveira, esta na veia dela, alguém vai morrer para
lhe dar as forças que lhe tiraram.
Carlos olha em volta, pois a sua frente estava uma imagem de
uma carta.

Ele olha a moça ressurgir e pergunta.


— Como faz isto?
— Você foi revelado rapaz, agora fica longe, aquele Roberto
não viu o que ela viu, você é representante desta caveira, você e
alguém que ajuda nas guerras, mas tem de estar forte para isto.
55
— Eu não sou isto.
— Alguns chamam este de Exu Caveira, o exu que ajuda nos
conflitos, ensinando as artimanhas da guerra e o modo de vencer
inimigos. É encarregado de vigiar os cemitérios e os lugares onde
houver pessoas enterradas. Sua força é de modo a incutir medo aos
que o invocam. Todo trabalho ou despacho a ser feito num
cemitério precisa da participação do Exu Caveira. É lugar-tenente de
Omolu e sem a sua participação, nenhum trabalho ou despacho
feito no cemitério dará resultado. Para se entregar, seja o que for, a
Omolu, no cruzeiro de um cemitério, é indispensável saudar
primeiro Exu Caveira, acendendo uma vela em sua homenagem na
sepultura mais próxima do Cruzeiro, à esquerda e pedindo-lhe
licença para a entrega. Apresenta-se, em geral, com a forma de uma
caveira. Na maioria das vezes, apresenta-se depois da "hora grande"
(meia-noite). Você é a carta que ela ficou a olhar durante a noite
antes de começar isto, ela não sabia quem era, mas é que estava
oculto, você não se revela, você põem medo da revelação, Roberto
deve ter tido medo de lhe matar por parecer que as coisas dariam
errado se o fizesse.
— Vocês são malucas.
A senhora sorri e some da frente de Carlos que se olha,
estava a beira de uma estrada, teria de caminhar, e não seria uma
caminhada fácil.

56
Quando a jovem se apresentou a delegacia, é mandada para
casa, Roberto olha ela entrando e pergunta.
— Não foi muito rápida?
— Me informaram que o Delegado e o assistente surgiram
mortos na cidade nesta madrugada.
Roberto olha para o rapaz a porta que fala.
— Sim, o delegado parece ter visto algo num palco de uma
zona no centro, chega ao palco, sorri e cai morto.
— Quem está matando por ela?
— Não sei senhor, mas as duas mortes foram assistidas, e
ninguém estava ao lado.
— Aquele Carlos?
— Ele ainda estava na cadeira quando eles morreram senhor,
soltamos ele agora sedo.
— Quem mais está envolvido nisto.
— Não sei senhor, os carcereiros dizem que a moça que
pagaram para bater nesta moça não fez um trabalho bom.
— Quantos incompetentes.
Roberto levanta-se e olha para a moça e fala.

57
— Assim que der faz a revelação, não quero ela solta.
Roberto olha para o carro e tenta dar partida e não pega, o
rapaz veio com uma bateria, não pegou, ele pega um dos carros da
segurança e vai para sua empresa, estava em um domingo, não
sabia o que estava acontecendo.
Quando o delegado substituto lê as afirmações sabia que
estariam jogando sobre a moça todas as mortes na região central da
cidade.
— Me tragam a moça, a imprensa esta em cólica ai na porta.
— O que aconteceu?
— É o que quero saber, a moça foi presa, quem a prendeu
morre do coração, o segundo morre, ainda não me deram a causa,
mas eles falam que ele tem sintomas de quem morre eletrocutado.
— E quer falar com a moça?
— Soube que alguns aqui fizeram vistas grossas para baterem
nela, sei que tem gente aqui que pode me explicar o que está
acontecendo.
— Nos acusando delegado?
— Me traz a moça.
Levam Ketlen a sala de depoimento e o delegado pergunta.
— Nome completo.
— Ketlhen Silva.
— Idade?
— 22 anos.
— Ocupação?
— Atendente de Loja, artista Plástica e estudante de Historia.
— O que tem a falar sobre terem visto você na casa de
Katherine Guedes.
— Que quando sai de lá ela estava viva.
— O que foi fazer lá?
— Cobrar o pagamento de uma estatua que criei com o rosto
dela, que esta em sua sala de estar, que ela não havia me pago
ainda.

58
— Acha que cola esta historia.
— Um dos rapazes do sexto, estava lá dando segurança na
casa, ele me viu sair de lá, com ela viva.
— Ele afirma que a viu morta após sua saída.
— Então ele deveria estar preso também, pois ele mente, e
ele viu quem a matou.
— Sabe quem a matou?
— Senhor, todos nesta delegacia sabem, todos que falar
quem é, vão morrer, então melhor lhe poupar a vida.
— O que quer dizer com isto?
— Ontem as pessoas já haviam saído, quando o delegado e o
assistente dele me perguntaram quem achava que era o culpado, é
só falar com eles, não vou me repetir, não sei quais a volta são
pagos com dinheiro do senhor que a matou.
O delegado sabia que a moça não teria como saber que os
dois estavam mortos.
— Acha que alguém mais vai aparecer morto?
— Todos os policiais que lhe deram cobertura nas mortes do
casal Paulo Camargo e a moça, ela era uma garota da rua, que fazia
programas, e que o senhor que matou o rapaz, os matou por
ciúmes, tem aquele senhor, Andrei, aquela moça, Camila Souza,
aquele rapaz do Mole, Carlinhos Rosa, aquela prostituta da esquina
que morreu em um assalto ao meio dia e os policiais a meia quadra
dizem não ter visto, todos que deram cobertura a este assassino,
pode considerar morto, agradeço estar presa, pois aqui não posso
ser culpada.
— Sabe que lhe acusam de todas estas mortes.
— Senhor, eu sei que o delegado está morto, que o assessor
dele está morto, eu queria que me ouvissem, mas ninguém me
ouve, tem gente que não perdoa.
— Esta se complicando.
— Provas, pois não terá uma arma com minhas digitais, se
não fizeram-me fazer um teste residuográfico ondem, foi para
usarem isto em um tribunal, mas ai depende de um bom advogado,

59
ele consegue reverter isto e vocês ficam com esta cara de bunda
que gostam de fazer para gente.
— E como descobriu tudo isto?
— Boa sorte delegado, mas o que mais quer saber?
— Vai dizer que não a matou?
— Todos sabem que não os matei, até seus policiais da
carceragem, mas tem gente que é difícil de matar, estou aqui,
manda recado para eles, tentarem melhor.
O delegado olha para o escrivão e fala.
— Não escreve isto.
— Mas ela falou senhor, ela ameaçou.
— Ela aparece morta e sabe para quem sobra.
O rapaz olha para a moça e a conduzem para a cela
novamente, ela olha a moça que a bateu no dia anterior e fala.
— Se precisar de algo lá fora, me fala Carla Rocha.
— Quem é você, parece estar melhor hoje que ontem.
— Diria que mesmo com dor, consegui dormir uma noite, isto
me fez bem.
— Sabe o que pediram.
— Eles vão ter de vir olhar na hora, pois no dia seguinte
estarei assim Carla.
— Não entendi isto?
— Eu não reclamo muito, mas tem de saber machucar para
valer, depois que sair daqui lhe explico, aqui testaria em mim, não
gosto da ideia.
Ketlen senta-se perto da parede do fundo, quando escureceu,
apanhou novamente.

60
Ketlen abre os olhos e vê o campo de energia, sua mãe a olha
e fala.
— Pelo jeito foi violenta a surra.
— Eles vão ter de me olhar, todos reclamaram que ela não
tinha batido para valer, aquele Roberto entrou na Delegacia para
me ver quebrada ao chão, ele acha que estou ruim.
O que ele faz lá agora.
— Ele mediu minha pulsação, deu ordens para os rapazes
chamarem a ambulância pela manha, que eu ainda estava forte
demais.
— Mas você está quase morta lá.
— Mãe, onde deixou Carlos?
— Ele está em Garuva, deve ter chego lá a pouco, ele foi
deixado na estrada.
— Me faz um favor mãe, dá uma dica para ele, ficar em local
publico, a noite inteira.
— Por que?
— Roberto o quer preso pelas mortes que provocar.
— Gostando do rapaz?

61
— Não sei ainda o que é isto.
Ketlen olha as moças a colocando ao canto esticada, ela não
parecia respirar, estava bem ruim, Carla olhava como se eu fosse
morrer, outras a perguntavam porque, todas viram que ela batera
na noite anterior.
Os rapazes na delegacia, geralmente um dormia, e outro
olhava, Ketlen surge em seu sonho, o rapaz se delicia com aquela
moça no sonho, mas sente o coração, o segundo ouve o grito, entra
no quarto do rapaz e ele estava com a mão no coração, olhos
estalados de dor, estático.
Os olhos dele assustado entrando naquela peça, foi chamar
ajuda e viu aquela moça a porta, viu ela abrir suas asas e o abraçar,
o rapaz sente o choque e cai morto.
Carla olha Ketlen ao chão desinchar, as moças ao lado olham
também, estavam todas assustadas e Carla fala.
— Ela é uma bruxa de verdade?
— Não sei, mas isto que aconteceu ontem a noite, você
bateu, ela estava inteira pela manha, os rapazes disseram que ela
não apanhara, hoje o senhor veio ver, mas isto é perigo para nós
Carla, pois ele se deixou ver por todos aqui dentro.
Carla olha para a moça e fala.
— E a moça ai no chão.
As moças não sabiam, agora parecia dormir, mas ainda estava
bem inchada e com marcas de sangue.
Roberto chega a sua casa, e olha aquele vulto a sua frente e
fala.
— Volta para o corpo, não mandei você morrer.
— Acha que você manda na energia, um covarde que manda
me bater, porque alguém como você estraga algo que era bom,
para ficar ai nesta posição idiota Roberto.
— Você não ama nada, vou lhe ter na marra, acha bom sentir
que não sente nada, acho que você é meu desafio.
— Era quer dizer, me viu quase morta e deu as ordem,
ambulância pela manha, estava lá ao lado, covarde.

62
— Não pode morrer, não lhe deixei morrer.
— Gosto de ver esta cara de revoltado, mas não tenho como
lhe obedecer, acho que se uma luz surgir, já era, mas nos campos
de energia, vou estar bem melhor.
O senhor olha a moça sumir da sua frente e ele olha em volta,
olha para o motorista e fala que iriam a delegacia.
A chegada dele lá fez outros se mexerem, mas ele olha a
retirada dos corpos, não sabia que estavam tirando 12 policiais, ele
olha de longe, sem saber o que fazer.
Ketlen surge ao lado do carro e fala.
— Calma, não foi desta vez.
— Mas quem morreu ali.
— Alguém por meu pulmão furado, alguém pelo coagulo no
peito que trancou minha respiração, alguém por meus ossos
quebrados, alguém tinha me dar usa energia corporal, cada um me
forneceu um pouco, para que eu sobrevivesse, mas quem sabe a
moça cumpra sua ordem melhor amanha.
— Eu a mato, ela não deveria lhe matar.
— Ela não me matou, você sabe disto, ela me espancou,
quem quase me matou, é sua vontade de que eu ficasse ali
sofrendo, sentindo dor, sua covardia.
Ele olha para o espirito que sai pela porta e entra na
delegacia, Carla olha a hora que ela abre os olhos e fala.
— Teremos de cuidar de você Carla.
— Por quê? – Outra moça.
— Ele pede para me espancar, depois me vê quase morta e
lhe culpa por isto.
— E como nos defendemos?
— Sei lá, ainda não terminou a noite.
— Como você se recupera.
— Nem queiram saber, dói muito isto.
Os demais viram Ketlen mudar de posição e dormir
novamente.

63
O delegado é chamado a delegacia de madrugada, ele olha
em volta e olha o senhor Roberto ali, quase teve certeza de quem
fez tudo, as celas estavam calmas, mas tinham 12 atendentes da
madrugada mortos, o rapaz da manha o chamou.
— O que aconteceu Caio?
— Não sei, eles surgiram mortos, coração, eletrocutado, com
todos os ossos quebrados, alguns parecem cheirar a podre, estão
indo para o IML, mas não sei o que dará as causa morte, se contar
que nenhum deles pediu ajuda, sinal que não tiveram tempo.
— Pelo jeito uma segunda que vai nos ser trabalhosa.
— As celas estão tranquilas demais.
— A moça?
— Inteira, jurava que ela estaria quebrada hoje.
— Acho que algo está errado, ela sabe, mas como não
podemos acusar uma presa, pois nem rebelião houve.
Os dois começam a se organizar, e a informação de que uma
moça surgiu morta na casa de Katherine Guedes, que 16 policiais
que não eram daquela equipe surgem mortos, as noticias falavam
de matadores de policiais, pois em uma noite, mais de 28 policiais
foram mortos na cidade.
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No começo da tarde uma comissão se faz na delegacia e o
antigo delegado é chamado.
— O que querem agora? – Delegado Sanches, todos sabiam
que Roberto não mexia com ele, os dois tinham as mesmas
suspeitas de mortes nas costas, mas parecia que iriam apelar agora.
— Delegado, desde que lhe afastamos, dois delegados, e 12
agentes desta delegacia morreram.
— E me querem jogar na fogueira? – Sanches.
— Em uma noite, 28 pessoas morreram em Curitiba, e todos
são pessoas de Roberto, acha que isto lhe diz algo?
— Uma guerra, mas porque eu?
— Você que tem experiência nisto, o que pode unir casos,
pois ele tem cercado uma moça que está nas detenções.
— Quem?
— Ketlen Silva.
— O que a colocaria no caso?
— A morte de Katherine Guedes, atribuída a ela, e uma moça
que ontem tentou depor nesta delegacia, falou que voltaria hoje e
surgiu morta.
— Isto não a liga a Roberto.
— Ele pagou para algumas pessoas darem uma surra na
moça, tem gente falando que ele esteve na delegacia ontem a noite,
saiu e começaram as mortes.
— As câmeras internas?
— Apagadas.
— O chamaram a depor?
— Acho que os daqui somente você tem coragem para isto.
— Vocês são umas merdas mesmo.
O senhor se levanta e sai pela porta, ele vira o senhor e seus
seguranças na frente, chega a ele e fala.
— Esta intimado a depor Roberto, agora.
— Acha que está falando com quem?

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— Alguém que não gosta de perder 12 bons investigadores
em uma noite que eles abriram as detenções para você ver o
estrago de uma detento em outra.
— Vai me acusar Sanches.
— Quero entender o acontecido, o que aconteceu, a menina
não quis ir a sua cama e resolveu a ferrar.
— Não é isto.
— Você não gosta de nada, então não foi por amor, vou
dispensar os demais, e lhe espero lá na minha sala para
conversarmos.
Sanches dá as costas e entra na delegacia, olha para os
demais e fala.
— Eu vou tentar verificar, vou pedir os dados do IML, mas
outra coisa, me vê onde está aquele advogado da moça.
— Acha que pode ter sido ele? – Outro rapaz.
— Eliminar possibilidades, pois alguém foi.
Os rapazes saem e o delegado chama a detento para a
entrevista que precisava ter.
Ketlen olha o senhor e pergunta.
— Mais calmo delegado?
— Sabe que pode estar complicando o seu advogado, que
esta sumido desde sua prisão.
— O vão acusar do que agora?
— Matar 28 policiais.
— Acho que ele não conseguiria fazer isto, mas quem sabe,
estou aqui a duas noites, ele teve trabalho se fez isto em duas
noites, deve estar pregado em algum lugar.
— Não tem medo de descobrirmos algo?
— Delegado, se não me engano, amigo pessoal de Roberto
Valverde, como podemos nos livrar se os dois vão inventar algo, e
no fim, nós nos damos mal.
Roberto estava entrando pela porta, ela estava de costas e
fala.

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— Entra Roberto, esta loção de barba deu para sentir na cela,
quando entro na quadra, as 6 e meia da manha.
Roberto olha para a moça, ela estava inteira, parecia que não
havia sofrido nada, ele não acredita e pergunta.
— Não pode estar inteira.
— A moça já havia lhe dito que fez na primeira noite, você
não acreditou, mandou me bater de novo e foi lá verificar, mas doi
Roberto, coisa de homem isto, pagar os demais para me espancar.
Sanches viu que o assunto era entre os dois, viu o olhar dela
para Sanches e fala.
— Se quer saber onde meu advogado está, pergunta para
este senhor onde ele pagou para deixarem ele, pois é bem o jeito
dele agir, pagar alguém para sumir, para não me defender.
Sanches olha para Roberto que fala.
— Tem de entender que o assunto entre nós é complicado
delegado.
— Sim, se ele falar algo, e você ouvir, ele vai mandar lhe
matar, como matou todos que viram me espancar, que mataram a
moça na casa da Katherine, a própria Katherine, mais aqueles que
haviam aberto o caminho para ele ser alguém.
— Acha que ele vai acreditar.
— Roberto, ele lhe conhece, ele sabe que é verdade, mas ele
quer parar as mortes, pois 28 policiais em uma noite é muita gente,
poderia ter feito mais calmamente, não tenho como ir a lugar
nenhum.
Roberto olha para ela e fala serio.
— Pensei que teria lhe perdido, você quase foi, não entende
isto, ou não lembra?
A forma que ela olhou para Roberto o deixou na duvida, ele
estava inseguro, toda a segurança de um ser poderoso sendo pego
pelo ser humano que o fazia caminhar.
— Deve ter bebido muito Roberto.
Sanches sai pela porta e fala.

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— Quero uma solução Roberto, não dá para continuar estas
mortes.
— Sabe que não fui eu Ketlen, porque me acusa.
— Sabe que foi, você leu o livro, você sabia que aconteceria,
quem seriam as mortes podia não saber, mas sabia.
— Mas tem de ser minha.
— Eu não sou nem de mim Roberto, você quer demais, você
acha que entende de forças, mas tem coisa que não precisa ser
feito, não precisa acontecer.
— Você parece mais forte hoje que no dia que lhe vi a
primeira vez.
— A primeira vez faz muito tempo Roberto, você tem tudo, o
que quer em mim?
— O amor que imponho a todas.
— Amar alguém como eu, é na possessão, isto que gera,
mortes, você deveria entender.
— Sabe que vou jogar no advogado as culpas.
— Ele me abandonou, porque teria pena dele.
— Você está me bloqueando, não consigo sentir você.
— Você que está se bloqueando, sabe disto, um dia iria fazer
isto, sentir meu gelo interno não é para qualquer um.
— Mas porque deste gelo, poderia ter me amado.
— Você quer meu amor, mas não me ama, me quer ver
morrer a não lhe amar, você não sabe o que é amor Roberto.
— Não entende o que sinto.
— Você entende?
— Lhe declarei meu amor, você se entregou a este corpo,
agora não me quer, fica com estes outros.
— Eu não lhe quero mal Roberto, mas escolhe alguém que
tenha um coração para amar, escolha alguém que saiba ser fiel,
alguém que entenda de amar, eu só sei viver, e pouco.
— Mas você não tem uma estatua minha.
— Você se escondia por traz de uma carta, sabe disto, medo
de surgir em minha vida, você se escondeu, não eu.
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— Mas aquele senhor surgiu nas suas esculturas.
— Tem de entender que são curvas da vida, quando você vê a
imagem dele, tem de ver que fiz a dele sorrindo, mas existe uma
dele morto lá, eu sabia que ele morria, só não sabia quando.
— Esta dizendo que lá são curvas da vida, não entendi.
— Alegrias ou tristezas, não gostaria de ter sonhado com sua
estatua Roberto, mas quando surgiu, em minhas anotações a dois
dias, soube que era você a curva deste momento, você escolheu
este caminho.
Ketlen sentiu a mudança de energia, sentiu o fim das duvidas
e olhou o olhar de Roberto a olhar, este não era o ser que lhe
respeitava a cama, este era a representação do 7 encruzilhadas, ela
apenas olha ele parecer tentar sentir suas energias, sua alma, e as
deixou leves, sem segredos, sua vida simples e viu o ser olhar com
raiva, sentiu a temperatura se afastar, se afastou um pouco
levantando, o senhor foi mudando de feição, crescendo, sua pele
mudando, seus chifres crescendo, seus olhos ficando profundos e
avermelhados, como se o fogo estivesse ali.
— Acha que vou deixar você convencer este fraco?
— O que quer Demons?
— Não sou um Demons, sabe disto.
— Pensei que fosse algo mais forte, mas se é apenas um exu
de trabalho, a pergunta, quem fez a oferta, qual a oferta.
O ser vinha no sentido dela e ela começa a sair pela porta, o
delegado foi falar para ela voltar para dentro e viu aquele ser de
quase dois metros e meio sair pela porta, a danificando, alguns
atiraram nele enquanto ela grita.
— Não atirem.
Das mãos do ser saiu uma soma de fogo que cercou os dois
que atiraram e os queimou, eles se desfazem em poeira.
— Recua o pessoal Delegado, agora.
O delegado olha para aquele ser, demorou a se mexer,
começou a empurrar as pessoas para fora.
— Acha que escapa de mim Ketlen.

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O delegado olha para a moça, já na porta de saída e a ouve.
— Mais respeito 7 Encruzilhadas, está achando que fala com
quem?
— A pessoa que vim destruir.
— Quem lhe pagou por isto, que favor lhe foi feito, pois sabe
que pagará por isto, vai voltar a ser um pequeno e insignificante
quiumba, acha que escapa dos seres de luz?
O ser olha para a moça, ela parecia fácil, ele lançou suas
linhas de fogo, o ser dentro de 7 encruzilhadas grita que não, mas o
ser viu a moça ficar em espirito a sua frente, ao chão a cinzas dela, o
ser desvia os olhos, o delegado os desvias, pois uma luz mais forte
ficou na sala que na rua fora, os seres em pó se refazem e olham
assustados, eles olham suas armas derretidas e saem pela porta,
onde o delegado pede uma roupa para os dois.
— Acha que tenho medo de um espirito qualquer?
— Ainda não respondeu quem lhe contratou Demons.
— Roberto queria lhe ter apenas para ele, mas isto o fez fazer
algumas ofertas a mim, ele que me fez as oferendas, ele não
entende que não paramos algo porque ele muda de ideia.
— Fala como um ser de quinta, pensar que falavam tão bem
de você.
— Você se foi, já morreu.
O ser olha o sistema de agua contra incêndio disparar, viu as
cinzas da moça se levantarem e voltarem a posição da alma e olhar
para ele.
— Tem de entender Roberto, seres de poder, querem vidas,
eles nunca param onde você quer que parem, eu agora, depois sua
família, quando não tiver mais nada que lhe sirva, abandona-o ao
julgamento e volta a procura de outro desesperado.
— Ele não lhe ouve.
— Se ele não me ouvisse você nem se daria ao trabalho de
falar, sabe disto, mas – Ketlen olha para o ar, a volta, abre os braços
e os puxa para ela, tocando seu peito, se viu mais seres de luz
surgirem ali, um olhar o ser e fala.

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— Aprontando de novo quiumba? – Um ser de luz, eles se
deram as mãos em luz e ficaram a volta do ser, Ketlen vê o ser sumir
e Roberto cair desacordado ao chão, ela caminha a sala e pega a
blusa do delegado e coloca sobre o corpo.
O delegado a olha e pergunta.
— O que foi isto?
— Melhor o levar ao medico, ele deve estar com
queimaduras serias.
— E você?
— Uma roupa seria bom.
O delegado olha os dois investigadores entrarem na sala e um
apontar a arma para a moça.
— Estou aqui, não precisa atirar. – levantando as mãos,
estava apenas de blusa, obvio para onde foram os olhos de todos na
sala.
— Abaixa o braço antes de desmoralizar esta delegacia. – o
Delegado – e você respeito a quem lhe defendeu.
— Ela estava em forma de alma.
— Alguém desliga este esguicho de agua. – O delegado vendo
a moça entrar em sua sala.
A moça fecha os olhos e agradece aos espíritos por poupar
sua vida, ela sentia cada musculo, se levar chutes era doido, se
refazer das cinzas, parecia que seu corpo reclamava cada musculo
esticado, refeito.
O delegado entrou com uma roupa, ela foi ao banheiro e
colocou a roupa, e voltou a cadeira, agora com roupa de presa.
A moça nem viu o senhor ser colocado em uma maca se ser
tirado da sala ao lado, queimadura por 60% do corpo, sabia que o
senhor levara sorte.
O delegado a olha e pergunta.
— Pode explicar o todo?
— Não, posso explicar minha proteção, mas o todo, teria de
ver se Roberto lembra, parece que ele foi possuído por um ser que
alguns chamam de Exu 7 Encruzilhadas, mas ele não deveria fazer

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mais trabalhos, então era alguém se passando por um 7
encruzilhada, este ser deve ter forçado o senhor a fazer algumas
coisas, mas não espere que fale o que estou falando com o escrivão
ali a digitar.
— Entendo, mas como o enfrentou?
— Um ser de equilíbrio, sempre vence um em desiquilíbrio,
ele era mais forte que eu, mas não reagi a nada dos ataques antes,
colhi as consequências e só reagi após isto, isto me dava o
equilíbrio, e a ele, as ações impensadas, quando falava com
Roberto, primeiro ele estava calmo, mas foi ficando mais
descontrolado, até o ser se manifestar.
— Ele era assustador, não tem medo de algo assim?
— Delegado Sanches, você me põem mais medo que ele.
Sanches sorriu.
— Escondeu seu advogado onde que ele não apareceu ainda?
— Ele seria culpado de algo se estivesse por aqui, dai ele foi
tomar umas cervejas ontem em Garuva, se meteu em uma briga e
passou a noite e ainda está na delegacia de Garuva.
— Preso a noite inteira não poderia ser culpado, mas como
você saberia?
— Me viu em espirito e me pergunta como Delegado?
— Nunca vi tamanho brilho, juro que pensei que você fosse
uma... – ele parou de falar.
— Prostituta? Logico que era, alguém mandou matar a minha
cafetina para que não voltasse.
O delegado vê outro delegado entrar pela porta e perguntar.
— Achou o motivo?
— Algo que não tenho como narrar delegado Plinio, tem de
ver que algo queimou Roberto Valverde, os demais até atiraram na
coisa, não sei o que era, ou quem estava fantasiado daquilo, mas o
senhor foi ao hospital, a moça parece ter levado sorte, mas somente
os dias seguintes vai nos dizer se vai parar de acontecer.
A moça passa mais uma noite na cadeia, mas agora apenas
dormiu em um canto, as demais a olhando apenas dormir em paz.

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Carlos estava em sua casa, quando ouviu alguém batendo na
campainha, olha aquele entregador de costas, olha a caixa e quando
o mesmo estica o papel ele olha os olhos de Ketlen e fala.
— Não entendi nada.
— Quer um patrão novo?
— Patrão novo? – Carlos a olhando.
— Ganhei a conta, e preciso de um lugar para passar as
tardes, quem sabe meu patrão não me paga um salario melhor.
— Qual a ideia?
— Tenho uma casa alugada no Cabral, esta desocupando,
fazemos o Escritório de Advocacia Carlos Silvio e o Atelier de
Esculturas de Raiska Silva.
— Vai assumir outro nome?
— Sempre assinei outro nome nas esculturas.
— Parece uma boa proposta.
— Pensa então.
Carlos vê ela sair, deixando ali a caixa de sua escultura, ele vê
ela entrando no carro a vendo sumir em sequencia pela rua.
Recomeço!
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