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Alexandre Correia - Manual de Direito Romano.
Alexandre Correia - Manual de Direito Romano.
Os nomes dos jurisconsultos, muitas vêzes acompanhados das suas obras, se encontram
abreviados e se poderão ler na íntegra na lista à pág. 314.
Abreviações......................................................................................................................................... 3
índice.................................................................................................................................................... 5
Prefácio à quinta edição........................................................................................................... 11
§ 1 — O direito romano......................................................................................................... 13
§ 2 — Fases do direito romano........................................................................................... 15
§ 3 — Conceitos e distinções do direito........................................................................... 17
§ 4 — Iu s civile, ius é e n tiu m , ius honorarium , ius extraordinarium . 18
§ 5 — Iu s naturale; ius p u blicu m e p riv a tu m ; ius c o m m u n e e singulare 19
§ 6 — Fontes do direito em geral..................................................................................... 20
§ 7 — O costume....................................................................................................................... 22
§ 8 — A lei e o plebiscito..................................................................................................... 23
§ 9 — Os editos dos magistrados e em particular dopretor.................................... 25
§ 1 0 — A jurisprudência e as respostasdos jurisconsultos........................................ 27
§ 11 — Os senatusconsultos..................................................................................................... 28
§ 12 — As constituições imperiais........................................................................................ 29
§ 1 3 — O direito privado e sua exposição........................................................................ 30
P A R T E G E R A L
C ap . I — OS SUJEITOS D E D IR E ITO S
C ap . II — OS B E N S
C ap . IV — D E F E S A D OS D IR E IT O S
§ 3 8 — Noções gerais................................................................................................................. 72
§ 3 9 — Abuso do direito..................................................... ................................................. 73
§ 4 0 — Características gerais do processo civil............................................................... 76
§ 41 — Processo por legis a ction es................................................................................... 76
§ 42 — O processo form ular.................................................................................................. 79
§ 4 3 — Partes da fórmula........................................................................................................ 80
§ 44 — A excep tio ...................................................................................................................... 82
§ 4 5 — Tipos de fórmulas e de ações................................................................................ 83
§ 46 — A litis contestaticr. . ................................................................................................ 85
§ 4 7 — Processo apud iudicem e êxecução.................................................................... 86
§ 4 8 — Meios complementares do magistrado................................................................. 87
§ 49 — A extraordinaria cogn itio..................................................................................... 90
P A R T E E S P E C I A L
I— F A M ÍL IA , T U T E L A E CU RATELA
C a p . I — A F A M ÍL IA
§ 50 — Família e parentesco............................................................................................ 95
§ 51— Adrogatio, adoptio, con ven tio in m a n u m ................................................. 96
§ 52— O poder do p aterfam ilias...................................................................................... 97
§ 53— Aquisição e perda do poder dop aterfam ilias................................................ 100
C ap . II — O C A S A M E N T O E SEUS EFEITO S
§ 54 — Matrimônio...................................................................................................... 102
§ 55 — Efeitos do matrimônio.......................................................................................... 104
§ 56 — Dissolução do matrimônio....................................................................................... 105
MANUAL, DE DIREITO KOMANO 7
§ 5 7 — O dote.............................................................................................................................. 106
§ 5 8 — Doações entre cônjuges e doações nupciais...................................................... 108
C a p . III — T U T E L A E C U R A T E L A
II — A P O SSE E O S D IR E IT O S R EA IS
C a p . I — A POSSE
C a p . II — A PR O PR IE D AD E
III — D IR E IT O D A S O B R IG A ÇÕ E S
C a p . I — T E O R IA S G E R A IS
C ap . II — O S IS T E M A CO N TR A TU A L
C ap . III — AS DOAÇÕES
§ 116 — Doações em geral..................................................................................................... 219
§ 117 — Regime jurídico da doação................................................................ «.................. 221
§ 118 — Doações m o r tis causa.......................................................................................... 222
IV — D IR E IT O D A S SUCESSÕES
C ap . I — SUCESSÃO T E S T A M E N T Á R IA E AB IN T E ST A T O
C a p . II — LE G A D O S E FID E IC O M ISSO S
H IS T Ó R IA D A JU RISPRU D ÊN CIA E D A L IT E R A T U R A J U R lD IC A R O M A N A
C a p . I — A JU R ISP R U D Ê N C IA D O P E R lO D O REPUBLICAN O
C ap . II — A S C O N TR O V É R SIA S E N T R E SA B IN IA N O S E PROCULIANOS
C ap . IV — A CO DIFICAÇÃO D E JU STIN IA N O
§ 1 6 2 — Generalidades............................................................................................................... 303
§ 163— A coleção das constituições imperiais (Codex) e a dos escritos dos juristas
(D igesta)........................................................................................................................ 304
§ 164— A composição do Digesto. Manuscritos........................................................... 305
§ 165— As instituições imperiais......................................................................................... 308
§ 166— O codex repetitae pra election is....................................................................... 308
§ 167— As N ovellae................................................................................................................. 309
§ 168— Valor da Compilação justinianéia................................................................... 310
§ 169— Interpretação do Corpus Iu r is........................................................................... 311
§ 170— Interpolações................................................................................................................ 313
§ 171— Cronologia dos juristas romanos......................................................................... 314
§ 172— Cronologia dos imperadores romanos................................................................ 323
Notas bibliográficas................................................................................................... 327
PREFÁCIO À Q U IN TA EDIÇÃO
A. C.
NOÇÕES PR E LIM IN A R E S
§ 1 — O d ire ito ro m a n o .
§ 5 — Iu s n a tu r a le ; iu s p u b lic u m e p r iv a tu m ; iu s c o m m u n e
e sin gu lare.
1. D . 1, 1, 7, I Papin.
2. D . 1, 1, 8 Marcian.
3. Inst. 2, 23, 1.
4. Exemplos em Gai. 1,189, 156.158; 2.65.66.73.79; 3,93.154.194.119 a.
5. Inst. 1, 1, 11.
6. D . 1, 1, 11 Paul.
20 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 7 — O co stu m e .
1. In st 1, 2, 4.
2. Ulp. 1, 1 e 2.
3. C od. 1, 14, 5, 1 Im p . Theodosius.
4. C f. T it. L iv ., H i s t . f 26, 33 um ex. de plebiscito.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 25
1. G ai. 1, 6.
2. A n n u s hic (365 a. C. = 389 U . C.) insígnia n o v i h o m in is consu latu , ín-
aignia novis d u o bu s m a gistratibu s, praetura e t curuli aedilitate. — Tit. Li v., V II, 1-
26 ALEXANDRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
1. D . 1, 1, 7, 1 Papin.
2. D . 1, 1, 10, 2 Ulp.; Gai. 1, 7, referindo-se aos jurisconsultos que gozam do
iu s responcfentfí, diz que lhes é permitido iura condere, i. é, constituir o direito.
3. D . 1, 2, 2, 39 Pomp.
28 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. Gai. 1, 7.
2. Const. D e o a u c t o r e § 4.
3. O S. C . / u v e n t í a n u m de 129 d. C . distinguiu o possuidor de b o a -fé da h e
rança d o possuidor de m á-fé. (D . 5, 3, 20, 6).
4. O S. C . N e r o n i a n u m estabeleceu que um legado disposto com palavras não
idôneas para o seu conteúdo era vá lid o com o se disposto com a fórm ula mais ampla (Gai.
2, 197).
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 29
O S SU JE IT O S DE D IR E IT O S
1. D . 1, 5, 2, Hermog.
2. Gai, 1, 9; 1, 120; 1, 121; 4, 135; D . 30, 86, 2 Iul.: D . 50, 16, 215 Paul.; D . 50, 17,
22 Ulp. — Em Aulo Gellio 5, 7 se apresenta a etimologia de person a como provindo
de p er-son a re, com referência ao som carregado da voz do ator que fala usando máscara
(persona).
3. Gai. 1, 159-163.
4. Ulp. 19, 5.
36 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 15 — O h o m e m su je ito de d ireitos.
1. D 50, 2, 2
2. Gai. 1, 147; D . 38, 16, 3, 9 Ulp. Assim também proíbe-se o abôrto.
3. D . 50, 16, 129 Paul.
4. C . 6, 29, 3 Iustinianus.
5. D . 34, 5, 18 pr. Marcian.
6. D . 1, 5, 4 pr. Florent.; Inst. 1, 3, 1.
38 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 17 — Os in gên u os.
§ 18 — Os lib e rto s.
1. Gai. 1, n.
2. Gai. 1, 172 {honor).
3. Gai. 4, 46.
4. Gai. 3, 83; 3, 96.
5. Gai, 3, 40.
6. Gai. 3, 41.
7 Gai. 1, 12; Ulp. 1, 5; Inst. 1, 5, 3.
40 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 19 — Os escravos.
2. Gai. 2, 13.
3. Gai. 2, 86.
4. D . 50, 17, 133 G ai.
5. D . 4, 5, 31 Paul.
6. Ulp. 12, 3.
7. D. 50, 17, 22 pr. Ulp.
8. D. 50, 17, 107 G ai.
9. D. 23, 2, 14, 2: . . . q u o n i a m i n c o n t r a h e n d i s m a t r i m o n i i s n a t u r a l e i u s e t
p u d o r i n s p i c i e n d u s e s t.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 41
1. Gai. 1, 160.
2. D . 50, 7, 18, Pom p.
3. Gai. 1, 17; cf. 1, 35.
4. Ulp. 1, 7: V i n d i c t a m a n u m i t u n t u r a p u d m a g i s t r a t u m p o p u l i R o m a n i ,
v e l u t c o n s u l e m p r a e t o r e m v e v e l p r o c o n s u le m .
5. Gai. 1, 37; 1, 47.
M A N U A L DE DIBEITO ROMANO 43
§ 20 — S tatus civitatis.
§ 21 — Status fa m ilia e.
1. Gai. 1, 28-35.
2. Gai. 1, 14.
3. Gai. 1, 15; 1, 26; 1, 67 e 68.
4. Gai. 1, 27.
5. Gai. 1, 161.
6. Gai. 1, 48.
7. Gai, 1, 127.
46 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 22 — As pessoas m orais.
1. D. 3, 4, 7, 2 Ulp.
2. Os cristãos se valeram dos c o l l e g i a í u n e r a t i c i a para se reunirem nas catacum bas.
3. D. 50, 16, 85 M arcell.
4. D. 3, 4, 7, 2.
5. D. 50, 16, lb .
48 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. D . 46, 1, 22.
2. D . 41, 1, 34.
3. D . 35» 1, 50. M arcian.
C a p ít u lo II
OS BENS
dados na posse (p. ex. tra d itio ficta ) não diminui a importância da
distinção que deve ser levada em consideração por quem quiser seguir
o desenvolvimento das doutrinas e a progressiva abstração dos concei
tos jurídicos. O direito de propriedade porém, desde a sua origem, se
considera com o coisa corpórea, pois se identifica com o seu objeto.
A distinção das coisas em res m a n cip i e res n ec m a n cip i é a mais
antiga e funda-se na importância delas para a economia e a sociedade
romana das épocas primitivas. Sob muitos aspectos corresponde à m o
derna distinção entre coisas imóveis e móveis, que o direito subordina
a diversas regras formais.
São res m a n cip i: — os imóveis situados no solo itálico; os escravos;
os animais de tiro e carga (cavalos, bois, burros) (qu a d ru p ed es qu a e
collo d orsove d o m a n tu r ) 1. Embora incorpóreas, são res m a n cip i as
servidões rústicas mais antigas (ite r , actu s, via, a q u a ed u ctu s)2.
São res n ec m a n cip i tôdas as demais res, inclusive as obrigações.
Há grande diferença entre o regime jurídico de cada categoria. Com
efeito, o iu s civile exige, para a transferência da res m an cip i, atos sole
nes (m a n cip a tio , in iu re cessio), que por sua publicidade oferecem a
certeza das relações jurídicas realizadas3. O direito moderno, para a
transferência das coisas imóveis impõe análogas cautelas. Além disso, a
transferência das coisas m a n cip i por mancipação acarreta para o alie-
nante a responsabilidade de indenizar o adquirente, no caso de terceiros
terem pretensões legítimas à coisa, pois o alienante responde pela actio
a u cto rita tis (responsabilidade pela evicção). As mulheres su i iu ris
não podem alienar as res m a n cip i sem a assistência do tutor 4.
Ao invés, as res n e c m a n cip i podem mudar de proprietário pela
simples entrega (tra d itio) que o dono faz a outrem, como atualmente se
verifica em se tratando de coisas móveis.
Assim as res m a n cip i têm circulação mais limitada e, desde que
seja regular, a sua transferência é a mais garantida.
A distinção entre as res m a n cip i e n ec m a n cip i foi formalmente
abolida por Justiniano “; mas já no decurso do período clássico e princi
palmente depois do entrosamento do iu s h o n o ra riu m com o iu s civile,
desde que reconheceu válida o direito pretoriano a transferência duma
res m a n cip i sem a forma solene, perdera sua importância prática. A
1. Ulp. 19, 1; Gai. 1, 120; 2, 14-17 e 29; V at. Frag. 259 (Pap.).
2. Os Sabinianos sustentam que os animais de tiro e de carga Bão res m a n c i p i
desde que nasceram ; os Proculianos exigem que tais animais sejam dom ados, Gai, 2, 15.
3. Gai. 2, 22: M a n c i p i v e r o r e s s u n t , q u a e p e r m a n c i p a t i o n e m a d a l i u m
t r a n s f e r u n t u r ; u n d e e t i a m m a n c i p i r e s s u n t d ic t a e ; Gai. 2, 16: R e s n e c m a n c i p i
ip s a t r a d i t i o n e p l e n o i u r e a l t e r i u s f i u n t .
4. Gai. 2, 80.
5. C. 7, 31, 25.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 51
1. Ulp. 19, 6.
2. A Lei das X I I Tábuas fixava diverso período de tem po para o usucapião dos
im óveis { fu n d i, a e d e s , re s s o li) e dos m óveis (c e t e r a e re s , m o b i l e s Gai. 2, 42; D . 7, 1, 7
pr. U lpianus); dois interditos diferentes protegem a posse dos m óveis e dcs im óveis. (G ai.
4, 150); não se adm ite o furto de im óveis (Gai. 2, 51; D . 47, 2, 25 pr. Ulpianus) e se dis
cute se o b je to d o com od a to possam ser im óveis (D . 13, 6, 1, 1 U lp.) N a idade média
esta distinção das coisas se tornou fundam ental e com o tal foi aceita pelos sistemas de
direito de base rom anística.
3. Gai. 2, 2-11.
4. D . 41, 2, 1. 1 Paul.
52 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SC1ASCIA
Inconsumíveis são, pelo contrário, as coisas cujo uso não lhes importa
a alteração ou destruição da substância; nem consiste em sua privação.
N o caso das vestes, sujeitas a gasto, se fala de coisas q u a e usu m i-
n u u rttu r.
Também esta qualidade das coisas varia conforme a sua função
econômica. A classificação é relevante no concernente ao usufruto; o
comodato de coisas consumíveis é absolutamente excepcional.
O conceito de coisa fungível não se confunde com o de consumível,
pois as consumíveis são sempre fungíveis, mas as fungíveis nem sempre
são consumíveis. Assim, muitos produtos industriais de certo padrão,
que são fungíveis, não são consumíveis. Todavia, desde que afinal as
coisas consumíveis constituem uma categoria das fungíveis, a classifi
cação é importante relativamente aos mesmos institutos para os quais o
é a distinção entre coisas fungíveis.
Coisas divisíveis (res q u a e d ivision em recip iu n t) são as que se p o
dem cindir em porções distintas, cada uma das quais conserva a função eco-
nômico-social que tinha o inteiro. Divisível é sobretudo o dinheiro, os
alimentos, as matérias primas etc.
São indivisíveis (res q u a e sirie in te r itu dividi n o n p o s s u n t,
res individ u ae) as coisas que se não podem dividir sem alteração de sua
substância ou função. Assim, é indivisível uma estátua, porque as partes
resultantes não correspondem ao mesmo gênero do todo; um quadro,
um animal.
A divisibilidade ou indivisibilidade pode referir-se também às coisas
incorpóreas, quando concebida só intelectualmente. O crédito de uma
soma de dinheiro, p. ex., pode dividir-se entre vários sujeitos; o direito
de passar por um fundo alheio não pode dividir-se em partes, porque o
gôzo de uma servidão de passagem até o meio da estrada não tem sentido.
A distinção é importante para a fundamentação de cada instituto
jurídico, no caso da pluralidade dos sujeitos ativos ou passivos de uma
relação.
1. D . 6, 1, 44 Pomp.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 55
ATOS JURIDÍCOS
1) U nilaterais e bilaterais.
1. D . 2, 14, 1, 2 Ulp.
M A N U A L DE DIREITO IíOMANO 57
1. Gai. 2, 59 e 60.
2. Gai. 4, 182.
3. Gai. 2, 27a; 173- 174.
4. Gai. 2, 24.
60 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
§ 31 — C apacidade d o su je ito .
A capacidade do sujeito para praticar atos jurídicos pode ser excluída
ou limitada pela idade, sexo, estado de saúde, condenação penal. Com
relação à idade, os romanos distinguem: — a) menores de vinte e cinco
anos; b) maiores de vinte e cinco anos. Os menores de vinte e cinco anos
por sua vez se distinguem em: 1) in fa n te s ; 2) in fa n tia m a io re s;
3) a d o lescen tes.
Com relação à puberdade, os sujeitos distinguem-se em im p u b e re s
e pu beres.
Ê in fa n s q u i fari n e q u it, i. é, o que não compreende o que diz e
faz e, portanto, não pode praticar atos jurídicos. É semelhante a uma
pessoa sem vontade4. A in fa n tia dura até aos sete anos de idade.
1. Gai. 2, 25.
2. Gai. 3, 115.
3. D . 50, 16, 219 Papin.: In co n v en tio n ib u s co n tra h en tiu m volu n ta tem po-
tius q u a m verba spectari p la cu it. A rt. 85.
4. D . 44, 7, 1, 3 Gai.; Inst. 3, 19, 10.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 61
1. Gai. 4, 71.
2. N o direito clássico era discutido, Gai. 2, 95.
3. D . 45, 1, 99 Cels.: Q uidquid adstrir?gendae obligationis est, id n isj palam
verbis exp rim itur, o m issu m in tellegen d u m e s t : a c fere secu n du m p rom issorem
in terpretam u r, quia stip ulatori liberu m fu it verba, late concipere.
D . 50. 17, 67 Iul.: Q u otien s id em serm o duas sen tentias e xp rim it, ea po-
tissim u m accipiatur, quae rei gerendae aptior est.
D . 50, 17, 9 Ulp.:Sem per in obscuris qu od m in im u m e s t sequim ur.
D . 32, 25, 1 Paul.: C u m in verbis nulla am bigu ita s est, non d e b e t a d m itti
volu n tatis quaestio.
4. D . 50, 17, 12, Paul.: In testa m en tis p len iu s voíun tates testa n tiu m in
terpretam ur.
5. D . 50, 17, 179.: In obscura volu ntate m a n u m itte n tis favendum liberta ti.
6. D . 50, 17, 85 p r. P au l.: In am biguis pro dotib u s respondere m elitis
est (cfr. D . 23, 3, 70).
7. D . 45, 1, 109 P om p.: . .. in stipulationibus id servatur, u t q u od m i n u s
e sse t qu od qu e longius, esse videretur in obligatione d edu etu m .
MANUAL DE DIREITO ROMANO 65
§ 34 — Êrro.
§ 35 — D olo.
1. D . 44, 7, 57.
2. D . 4, 3, 1, 2 Ulp.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 67
para destruir a eficacia do ato viciado pelo dolo. Tais meios são os se
guintes:
I) A a ctio d o li: ação concedida à vítima contra o autor do dolo.
Dada a sua gravidade, é concedida pelo pretor sòmente quando não há
outro meio jurídico, que permita à vítima obter reparação do dano so
frido. Tem por isso, caráter subsidiário l. O iu d iciu m de d olo foi
inventado por Galo Aquílio e Cícero chama-lhe everriculum . m a litia ru m
o m n iu m 2. A a ctio de d olo é uma ação fa m o sa , por importar a in fa m ia
do condenado; pode-se propor dentro de um ano do fato delituoso.
II) A e x c e p tio d oli é uma defesa que o pretor concede à parte enga
nada que, não tendo ainda cumprido as obrigações assumidas com o ato
jurídico, seja chamada a juízo para o seu adimplemento 3. Pode ser opos
ta contra o autor do ato jurídico e contra terceiros agindo em virtude dêle,
quando a relação é a título gratuito.
Nos atos conducentes a um juízo de boa fé, b o n a e tid ei, não sendo
necessário inserir a ex c e p tio d oli na fórmula, o dolo sob o ponto de vista
processual acarreta a nulidade. Nos atos de direito estrito se neutralizam
os efeitos práticos em virtude de e x c e p tio concedida pelo pretor.
Quando se confundiu o direito civil com o pretoriano, o dolo, que no
período clássico permitia recorrer tão só à tutela do pretor, foi considerado
vício direto do ato.
Os intérpretes distinguem a propósito o d olu s dans cau sam e o
d olu s in cid en s. O primeiro é determinante da vontade, pois sem êle o
ato jurídico se não teria realizado; o d olu s in cid en s é o influente nos
momentos secundários do ato jurídico de m odo que mesmo sem o dolo o
negócio ter-se-ia realizado, mas em condições diversas e em geral menos
onerosas.
Os intérpretes conservam a máxima segundo a qual n e m in i dolus
su u s p ro d esse d e b e t (n e m o a u d itu r tu r p itu d in e m su a m allegans).
Chama-se dolu s b o n u s o consistente em lisonjas e malícias com as
quais4, no comércio cotidiano, um contraente gaba perante o outro a qua
lidade da mercadoria e as utilidades do ato jurídico a se realizar 6. Não
tem conseqüências jurídicas.
§ 36 — Coação.
03 romanos falam em vis e metus. Vis é a violência absoluta e
material (vis corpori illata) ou a ameaça de tal violência; metus (mêdo)
é a situação de temor em que se encontra uma pessoa por efeito da ameaça.
Quando se trata de violência material, p. ex., quando se é constran
gido fisicamente à prática de um ato, a vontade no ato jurídico é só apa
rente e portanto êste é absolutamente nulo.
Quando se trata de violência moral, praticamos o ato jurídico para
evitarmos o mal de que somos ameaçado pela violência, mas a vontade
existe: quamvis si liber essem noluissem, tamen coactus volui 1.
Por isso, o ius civile considera válido o ato jurídico, mas o pretor introduz
meios destinados a proteger a parte cuja vontade foi viciada pela vio
lência. Tais meios são:
— a) A dio quod metus causa concedida contra o autor da vio
lência e também contra o terceiro que tenha adquirido a coisa extorquida
por violência. Por êste seu caráter, segundo o qual se pode exercer
contra qualquer , não obstante ser uma ação obrigatória, a ac tio quod
metus causa se chama ac tio in tem scripta 2.
— b) A exceptio tem caráter de defesa daquele que repele a pre
tensão fundada em ato extorquido por violência3.
— c) A restitutio in integrum considera não realizado o ato
jurídico extorquido p o r violência, restabelecendo a situação anterior.
A violência deve ser injusta: o mal resultante da ameaça deve ser
maior que o dano proveniente à parte que praticou o ato (timor maioris
malitatis); deve ser de molde a impressionar não a um homem qualquer,
mas, a um varão forte (homo constantissimus). A ameaça deve ser
atual: metum praesentem accipere debemus, non suspicionem
inferendi eius 4. Enfim , o mal deve ser inevitável, i. é, maioris rei
impetus qui repelli non p o testl.
O timor reverentialis não constitui causa de nulidade do ato jurídico.
1. D . 4, 2, 21, 5 Paul.
2. In hac actione non quaeritur, utrum ia qu i conve-
D . 4, 2, 14, 3 Ulp.:
nitur an alius m etu m fec it: aufficit enim hoc docere, m etu m aibi illatum vel
vim , e t ex hac te eu m , qui convenitur, etai crim ine ca iet, lucram tam en aenaiaae.
3. Gai. 4, 117.
4. D . 4, 2, 9 pr. Ulp.
5. D . 4, 2, 2, Paul.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 69
1. Há uma série de atos de direito (actua legitím i) que não admitem qualquer
modalidade, D . 50, 17, 77 Papin.; Vat. Fragm. 329. Quanto à compra e à locação, no
tempo de Gaio mais não se duvida que possam ser subordinadas a condições, Gaio, 3,146.
2. D . 46, 2, 9, 1 Ulp.
3. D . 23, 3, 21 Ulp.
4. Gai. 3, 98.
70 ALEXANDRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCJA
1. Inst. 3, 15, 2.
2. D . 45, 1, 138 pr. Vemü.
3. D . 35, 1, 80 Scaev.: . . . nec enim parem dicemua eu m , cui ita datum
a it.: “ aim onum entum fecerit" e t eu m , cui datum e s t: “ u t m onu m entum faciat’’
C a p ítu lo IV
§ 38 — N oções gerais.
1. Por isso a leitura do quarto livro das Inçtitutas de Gaio é indispensável aos que
queiram conhecer mais profundamente o direito romano.
2. D . 44, 7, 51 Cels.; Inst. 4, 6, pr. A definição se referia originàriamente só
às ações in personanrt, nas quais se podia falar de d ebea tu r, que importa uma obrigação.
Aliás, no direito justinianeu, actio muitas vêzes indica o que no direito clássico era um
in te r d ictu m , com terminologia que não é estranha aos jurisconsultos romanos.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 73
§ 39 — A b u so d o d ireito.
1. D . 50, 17, 55 Gai.; D . 50, 17, 151 Paul.; D . 50, 17, 155, 1 Paul.
2. C. 8, 4, 1.
3. D. 9, 2, 4, 1 Gai.
4. D . 39, 3, 1, 11 Ulp.; D . 39, 3, 2, 5 Paul.
5. C. 1, 4, 1 Valentinianus et Valens (ano 364).
6. D. 50, 17, 55 Gai.; D . 50, 17, 151 Paul.; D . 50, 17, 155 Paul.; D . 39, 2, 24
12, Ulp.; D . 39, 2, 26 Ulp.; D . 19, 1, 42 pr. Paul.; D . 43, 29, 3 Ulp.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 75
2. Ins. 4, 3, 2.
76 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
1. Lívio, 8, 28.
2. G ai. 4, 13-14.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 77
O mais antigo código do direito privado foi, com efeito, o lib er a ctio n u m
publicado, segundo a tradição, por Cneo Flávio.
O ato introdutório do processo (in iu s voca tio, chamamento a juízo)
tem caráter privado. Quem se acredita lesado intima o réu a comparecer
ao tribunal (in iu s), perante o magistrado, a fim de receber um juiz. Sendo
indispensável pela legis a ctio a presença dos litigantes, se o réu se recusar,
será levado à fôrça. A ctor, autor, deriva de agere, i. é, levar. O réu
que não quer ir, pode todavia oferecer um vindex, i. é, um fiador 1 que se
responsabilize pelo seu comparecimento no dia marcado para a audiência.
Neste caso o réu não deve ser incomodado.
O processo in iu r e se desenvolve nas formas das ações da lei. As
leg is a ctio n es são cinco: sa cra m en to , p e r iudicis p o s tu la tio n e m ,
p e r c o n d ic tio n e m , p e r m a n u s in ie c tio n e m , p e r p ig n oris ca p ion em .
As primeiras três são relativas ao processo ordinário, i. é, visam proporcio
nar os meios normais pelos quais a lide deve decidir-se a p u d iu d icem ;
as outras duas pertencem ao processo executivo, pois substancialmente
regulam uma atividade legal de certo modo autônoma do autor sôbre a
pessoa ou os bens do réu.
Por certo a m a n u s in ie c tio e a p ig n o ris ca p io constituem institu
tos muito primitivos, do tempo em que vigorava a defesa privada; no
período clássico permanecem apenas com o processos executivos.
Convém aqui examinar particularmente a legis a ctio sa cra m en to 2
que tinha caráter geral, no sentido de se poder adaptar aos casos para os
quais não era estabelecido um modo diferente de agir; e a legis a ctio
p e r m a n u s in ie c tio n e m 3, que representa a regulamentação pura e sim
ples da luta privada. As outras ações da lei têrn caráter subsidiário e
complementar.
L eg is a c tio sa cra m en to significa a ação da lei da qual decorre um lia-
me em virtude do juramento (sa cra m en tu m ). O processo constava duma
aposta feita pelos litigantes com palavras solenes e sacramentais. Os
litigantes, depois de terem comparecido perante o magistrado 4, aposta
vam uma quantia em dinheiro que seria perdida pelo que não provasse
ser verdadeira a sua afirmação. Conforme o objeto controvertido fôsse
inferior ou superior a mil asses, a quantia apostada seria de cinqüenta ou
quinhentos asses. Nas lides relativas à liberdade, fa v ore lib erta tis,
a aposta era de cinqüenta asses. As partes depositavam antecipadamente
a quantia num lugar sagrado ou os p ra ed es sa cra m en ti prestavam ga
rantia pelo adimplemento dela. O juiz nomeado decidia apenas indire
tamente a lide, pois a sentença se limitava a dizer quem tinha ganho a apos-
1. Gai. 4, 21-25.
2. Os dias de expediente se chamam dies faati; dies nefasti são os em que não se
pode agir; dies interciai são os parcialmente tasti.
3. Gai. 4, 13-14.
4. Gai. 4, 21-2S.
78 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANQ SCIASCIA
sôbre ti, por causa da condenação” . O réu não pode repelir a manus
iniectio, mas ou deve procurar um defensor (vindex), que vai responsa
bilizar-se pelo dôbro, ou, não o achando fica adicto, ao autor, que o traz
à sua casa, tem o direito de amarrá-lo e vendê-lo com o escravo além do
Tibre, se não pagar a dívida dentro de sessenta dias. O credor pode
mesmo matar o devedor; sendo vários os credores, o corpo do devedor
será dividido entre êles.
Mais tarde esta execução sôbre a pessoa sofreu atenuações. A tra
dição atribuiu à lex Poetelia de 326 a. C. o princípio pelo qual pecuniae
creditae bona debitoris, non corpus obnoxium esset.
A legis actio per manus iniectionem podia intentar-se também
contra quem tivesse confessado in iure uma dívida em dinheiro e era
concedida por algumas leis especiais, no concernente aos créditos privile
giados, cuja execução podia ser obtida direta e imediatamente por um
processo de execução, com o hoje no respeitante à letra de câmbio.
Para ™onhecer o processo relativo às outras legis actiones é suficiente
ler o manual de Gaio1, no assunto a nossa maior e quase única fonte de
informação.
§ 42 — O processo formular.
1. Legia actio p er iudicia poatulationem , Gai. 4, 17; legia actio per condictio-
n e m , Gai. 4, 17-20; legia actio per pignoria capionem , Gai. 4, 26-29.
2. Gai. 4, 30. O mesmo se dava no caso de omitir ou acrescentar outras palavras
cf. V . F. 318.
3. Gai. 4, 30; 4, 11; 1, 184.
80 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
Sicrano não quer pagar e portanto Fulano usa dos meios judiciários para
obter quanto lhe cabe. Assim, chama Sicrano à juízo (in ius vocatio)
perante o magistrado. Indicaremos, como fazem os romanos nos seus
exemplos, Fulano, o autor, Aulus Agerius, i. é , o rico que intenta a ação;
e Sicrano, como o réu pobre que nega, Nuznerius Negidius.
Quando se apresentam ao magistrado, os litigantes expõem os fatos
e seu desenvolvimento sem pronunciar nenhuma palavra solene ou praticar
nenhum ato simbólico, ao contrário do que se fazia preciso no processo
por legis actiones. Em seguida, o magistrado resume os têrmos da con
trovérsia na fórmula escrita em que se distinguem as seguintes partes
1.a nomeação do juiz:
“ Tício seja juiz"',
2.a demonstração (demonstratio):
“ Desde que Aulo Agêrio vendeu um escravo a Numério
Negídio” ',
3.a pretensão (intentio):
“ se se provar que Numério Negídio deve dar a Aulo Agêrio
dez mil sestércios” ;
4.“ condenação (c ondemnatio):
“ o juiz condenará Numério Negídio a pagar a Aulo Agêrio
dez mil sestércios; se não se provar absolverá Numério
Negídio” .
Assim a fórmula constitui a delimitação da forma segundo a qual a
controvérsia será examinada pelo juiz; para êste é uma indicação de seu
poder.
Como ressalta especialmente da condemnatio, a fórmula contém
um juízo hipotético, no sentido em que a ordem dada pelo magistrado
ao juiz, de condenar ou de absolver o réu, está subordinada à verificação
(se se provar) dos elementos de fato que determinaram a controvérsia
resumida na própria fórmula. Na espécie, o juiz Tício deverá averiguar
se na verdade Aulo Agêrio vendeu um escravo a Numério Negídio e se
na verdade Numério Negídio não pagou o preço. Se estas circunstâncias
resultarem verdadeiras, o juiz condenará o réu; em caso contrário, o
absolverá.
§ 43 — P artes da fó rm u la .
1. Gai. 4, 39-44.
MANUAL. DE DIREITO ROMANO 81
1. Gai. 4, 44. São dêste tipo tôdas as ações relativas ao acertamento do estado
de uma pessoa.
82 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
quando o juiz não pode condenar o réu além duma quantia máxima na
co n d e m n a tio 1. Como foi dito, esta parte da fórmula falta nas ações
prejudiciais.
Para se compreender a configuração dos institutos jurídicos romanos
se deve ter em conta que a condenação no processo formular é sempre
concebida numa quantia de dinheiro, qualquer que seja o objeto da lide:
o m n iu m a u te m fo rm u la ru m , q u a e c o n d e m n a tio n e m h a b en t, ad
p ecu n ia ria m a e s tim a tio n e m c o n d e m n a tio co n cep ta e s t 2. O prin
cípio, talvez vestígio dos tempos em que os litigantes costumavam recon
ciliar-se substituindo à vingança privada o pagamento duma quantia,
leva à conseqüência de que o autor não pode pretender nada, se a violação
do direito não tiver um interêsse pecuniário. N o que diz respeito às
obrigações, a prestação" deve ser avaliável em dinheiro; quanto aos direitos
reais, a coisa objeto da lide deve ter um valor pecuniário. N o caso em que
o autor pretenda uma coisa determinada, com o por exemplo na reivindi
cação, o pretor intercala na fórmula a cláusula arbitrária, i. é, dá fa
culdade ao juiz, Tício, de condenar o réu, a não ser que êste, antes da sen
tença, restitua a coisa devida (n isi ea res a rb ítrio T itii r es titu e tu r).
A form u la arbitraria tem indiretamente o efeito de constranger o réu
a restituir a coisa, pois em face de uma c o n d e m n a tio in certa in fin ita ,
êle preferirá naturalmente restituir a coisa a pagar uma quantia enorme 3.
Nas causas de partilha (a ctio c o m m u n i d ividundo, a ctio fa m ilia e
erciscu n d ae, a ctio fin iu m reg u n d o ru m ) a c o n d em n a tio era substi
tuída pela ad iudicatio, em virtude da qual o juiz (a rb iter) tinha o poder
de atribuir aos litigantes de maneira equitativa a coisa objeto da lide.
§ 44 — A exceptio.
1. Gai. 4, 49-52.
2. Gai, 4, 48.
3. No direito justinianeu a condenação da reivindicação é na própria coisa e a
execução se pode obter inesmo m a nu m ilitari: D . 6, 1, 68; Inst. 4, 6, 31.
4. D . 44, 1, 2 pr.; Gai. 4, 116.
5. G ai. 4, 118.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 83
§ 45 — T ip o s de fó rm u la s e d c ações.
1. Gai. 4, 119.
2. Gai. 4, 120-125.
3. Gai. 4, 130-137. Do instituto deriva o têrmo moderno de prescrição, que,
sendo originàriamente uma causa de extinção da ação, era colocada antes da fórmula,
evitando que o juiz examinasse inútilmente o mérito da lide.
4. Gai. 4, 1-5.
84 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. Gai. 4, 47.
2. Gai. 4, 34-37.
3. Gai. 4, 35*
MANUAL DE DIREITO ROMANO 85
§ 46 — A litis contestatio.
O processo in iure, perante o magistrado, quer no período das ações
da lei, quer no do rito per formulas, termina com a litis contestatio.
A expressão deriva do fato de que a contestação da lide se praticava for
malmente perante testemunhas. Interessa-nos a. litis contestatio no
processo formular.
Tendo o pretor redigido a fórmula, que cabia à espécie, as partes con
cordavam em apresentar-se ao juiz. A litis contestatio clássica consiste
exatamente na comunicação por parte do autor e na aceitação por parte
do réu da fórmula da ação. Os efeitos principais da litis contestatio
são o de estabelecer um vínculo em virtude do qual as partes devem aceitar
1. Gai. 4, 46.
2. Gai. 4, 62.
3. Gai. 4, 6-9.
4. Inst. 4, 6, 16, 19.
86 ALEXA N D R E CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 48 — M eios co m p le m e n ta re s d o m a g istrad o.
Vimos que os poderes do magistrado, no quediz respeito ao processo,
são muito amplos, pois mediante a sua iu risd ictio, podiam ser protegidas
1. D . 22. 3, 2.
2. D . 22, 3, 19 pr.; 44. 1. 1; 22. 3 . 12.
3. Gai. 4, 53-59.
4. Gai, 4, 78-79; 4, 35.
5. Gai. 3, 181; 4, 103-109.
88 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. D . 42, 4, 1.
2. D . 4, 1, 3.
90 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 49 — A extraordinaria cognitio.
1. Gai. 4, 57 in fine.
2. Gai. 2, 163; Inst. 3, 11. 5.
3. C . 2, 57, 1 Imp. Constantius.
MANUAL DE DIREITO ROMANO 91
A F A M IL Í A
1. Gai, 1, 55.
2. D . 50, 16, 195, 2 Ulp.: Jure proprio fam iliam dicim u s p lu res per&onas,
quae su n t su b u nius p o te sta te a u t natura au t iure subiectae.
96 ALEXAN DRE CORREIA ---- CAETANO SCIASCIA
§ 52 — O p od er d o paterfam ilias.
1. Gai. 1, 108-115.
2. Gai. 1, 114.
98 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. A dom inica p otesta s pertence, no direito clássico, ao senhor por direito preto
riano, Gai. 1, 54-55; 2, 88; 3, 166; mas o adjetivo dom inica não é usado pelos juristas
romanos.
2. D . 48, 9, 5 Ulp.: . . . patria p otesta s in p ieta te d eb et, n on atrocitate
consistere.
3. Gai. 1, 116, 138.
4. Gai. 1, 132.
5. Paul. 5, 1, 1.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 99
operando a n oxae d ed itio Êste poder sôbre os íilii fam ilias foi abolido
por Justiniano2.
Ulteriores poderes do p a terfa m ilia s são os de nomear o tutor por
testamento aos filhos, casá-los e contrair por êles os esponsais. Mas, já
no direito clássico e mais ainda no justinianeu, nestes últimos atos é ne
cessária e se torna elemento principal a vontade do dependente. O
p a terfa m ilia s pode enfim reivindicar os filhos e mulher de quem quer
que os detenha injustamente; e além de uma ação para êste (vind icatio
filii a u t uxoris), goza de um interdito de liberis (a u t de uxore) exh i-
ben d is e t d u cen d is, como também da a ctio fu rti.
Na legislação do imperador Justiniano, por influência da ética cristã,
se firmou o princípio pelo qual o exercício da p a tria p o te s ta s in p ie t a te
co n s is te r e d e b e t 3.
(b) O princípio pelo qual o p a terfa m ilia s é a única pessoa capaz de
direitos e obrigações do iu s civile importa em que tôdas as aquisições
feitas pelos dependentes, quer direitos reais, quer obrigações, pertencem
ao chefe. Em seu benefício se reproduzem os efeitos vantajosos de qual
quer ato realizado pelo filiu sfa m ilia s 4.
Mas, como aos escravos, o p a terfa m ilia s costuma conceder ao filho
o gôzo e a livre administração de um p e c u liu m , i. é, de um pequeno
patrimônio em dinheiro ou em coisas, do qual todavia fica sempre pro
prietário. Durante o período imperial, sobrevêm disposições em favor
dos militares, pelas quais os soldados filiifa m ilia s têm não só o gôzo,
mas também a capacidade de dispor por testamento do p e c u liu m cas-
tren se, i. é, dos bens adquiridos no exercício da vida militar (sôldo, prêsa,
donativos). Depois de Constantino, os mesmos direitos tem o filiu s
fa m ilia s sôbre o p e c u liu m q u a si ca stren se, constituído pelos bens
que foram adquiridos no exercício de uma profissão ou cargo público; e
sôbre os bens que obteve pela herança materna (b on a adventicia) ou
pelo matrimônio (lucra nu ptialia) tem o filho a plena propriedade. Na
idade justinianéia o filiu sfa m ilia s tem a capacidade patrimonial; e
sôbre os bens que lhe pertencem o pai tem somente usufruto legal, tal
como modernamente.
Conexas com o instituto do p e c u liu m são as ações que o pretor con
cede aos terceiros para os atos realizados pelo filiu sfa m ilia s, chamadas
pelos intérpretes a ctio n es ad iecticia e q u a lita tis porque formuladas
de modo que, justamente com o filiu sfam ilias, pode ser condenado o
p a te r fa m ilia s 6. Tais — a actio d e p e c ú lio e t de in rem verso, na
qual o p a terfa m ilia s responde pelas obrigações contraídas pelo filho
dentro dos limites do pecúlio e até o montante da soma eventualmente
1. Gai. 4, 75.
2. Inst. 4: 8, 7.
3. D . 48, 9, 5.
4. Gai. 2, 86; 3, 163.
5. Gai. 4, 69-74.
100 ALEXA N DR E CORREIA — GAETANO SCIASCIA
Quando vem a fazer parte de uma família o indivíduo cai sob o poder
do chefe.
Em particular, por ocasião da morte dêste, no período mais antigo,
os filhos se constituiam em uma comunhão inseparável, o chamado con -
so r tiu m e r c tu m n o n c itu m 2. Em época mais recente, porém ante
rior à Lei das X I I Tábuas, após a morte do ascendente os filhos mas
culinos sin g u li sin gu la s fam ilia s in c ip iu n t h a b ere 3 e cada um dêles
se torna p a terfa m ilia s.
O p a terfa m ilia s adquire então o poder sôbre os filhos que gerou em
iu s ta e n u p tia e 4 os quais até êsse momento haviam estado sujeitos ao
avô; igualmente, adquire o poder sôbre as mulheres casadas cu m m a n u ,
com êle ou com um filho.
Os filhos naturais não caem sob o poder do p a terfa m ilia s. No
direito justinianeu, porém, se admite possam vir a fazer parte da família
(legitimação) por subsequente matrimônio dos pais (p er su b seq u en s
m a trim o n iu m ), por concessão imperial (per rescrip tu m prin cip is) ou
por lhes ter o pai dado um patrimônio suficiente para o exercício do cargo
gravoso de decurião, i. é, de membro do senado da cidade (curia) respon
sável pela cobrança dos impostos (legitimação p e r o b la tio n e m cu riae).
A adrogação, a adopção e a co n v e n tio in m a n u m originam o poder
do p a terfa m ilia s.
Ao passo que modernamente o pai de famílias perde o pátrio poder
sôbre os filhos, chegados à maioridade, no direito romano o p a terfa m ilia s
perde o poder sôbre o grupo familiar somente pela morte. Para êstes
efeitos à morte se equipara a cap itis d e m in u tio em uma das suas três
formas: — a m axim a , pela qual o indivíduo se tom a escravo, importa a
perda de tôda capacidade; a m ed ia porque, desaparecendo a civitas roma
na, não mais pode subsistir um poder que é reconhecido pelo iu s civile; a
m in i m a porque, mudando o s ta tu s fam ilia e, desaparece a relação de
parentesco civil (a d g n a tio) sôbre que se funda o poder do p a terfa m ilia s2.
Portanto, relativamente à cap itis d e m in u tio m in im a , se o p a te r fa
m ilias é adrogado vem a perder o poder que lhe competia sôbre os depen
dentes. De outro lado verifica-se a perda da p a tria p o te s ta s sôbre os
filhos dados em adoção, in m a n cip iu m ou in n oxa m ao chefe de outra
família, e sôbre as filhas que, por ocasião do matrimônio, estão sujeitas
a outro p a terfa m ilia s pela c o n v e n tio in m a n u m .
Merece aqui particular consideração a emancipação do filiu sfa m i-
lias, após a qual o p a terfa m ilia s perde a p a tria p o te s ta s 3 e o filho
se tom a su i iuris.
Como se disse, a Lei das X I I Tábuas punia, com a perda da p a tria
p o te s ta s , o p a terfa m ilia s que por três vêzes houvesse vendido o filho
com o escravo. Assim o filho se tom ava su i iuris. A antiga jurispru
dência aconselhou que se utilizasse a norma legal para permitir ao filiu s-
fa m ilia s ficar independente da p a tria p o te s ta s e adquirir a plena ca
pacidade. Para êste fim, o pai dava in m a n cip iu m o filho a um amigo
de confiança (m a n cip a tio iid u cia e causa) o qual por duas vêzes seguidas
o libertava do m a n cip io, caindo outra vez sob o pátrio poder. Na ter
ceira m a n cip a tio o filho, de acôrdo com a norma legal, estava livre (ex
m a n cip a tio n e) da p a tria p o te s ta s , permanecendo todavia in m a n cip io
puramente formal do amigo. A fim de evitar que êste, liberando a pessoa
do mancipio, como patrono, se tomasse sucessor legítimo do emancipado,
depois da terceira mancipação feita pelo pai, o amigo remancipava o
filho ao próprio pai, que, alforriando o filho do mancipio, adquiria os di
reitos de patronato (sucessão e, se impúbere, tutela do p a ren s m a n u -
m issor). Para os netos e as filiaefam ilia s bastava uma única manci
pação. N o Baixo Império, com o desaparecimento das formas solenes,
o sistema caiu em desuso e foi substituído pela e m a n cip a tio A n asta -
siana (por concessão do imperador) e pela declaração do pai feita, com
o consentimento do filho, perante o magistrado.
Capítulo II
O C A SA M E N TO E SEUS EFEITOS
§ 54 — M a trim ô n io .
2. D . 23, 1, 1 Florent.
M A N U A L DE DIREITO IIOMANO 1 0 :)
§ 55 — E feitos d o m a tr im ô n io .
1. Ulp. 13.
2. Gai. 1, 66-75. 87, 15. 26; 2, 142. 143; 3, 5.
3. D . 25, 2, 1 Paul.
4. Gai. 1, 55; L ib eri naturales são osfilhos legítimos em contraposição aos
adotivos.
5. D . 2, 4, 5 Paul.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 10 5
§ 56 — D issolu ção d o m a tr im ô n io .
§ 57 — O d ote.
1. D . 23, 3, 2 Paul.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 109
TUTELA E CURATELA
1. Gai. 1, 188.
2. Gai. 1, 155 segs.
3. G aio usa o têrm o quer para o tu tor testam entário (1, 144-145-155) quer para o
tu tor n om eado pelo magistrado (Gai. 1, 185).
4. Gai. 1, 186.
112 ALEXAN DRE CORREU — GAETANO SCIASCIA
1. G a i. 1, 190; 1, 144.
2. Inst. 1, 21 pr.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 113
§ 62 — C uratela.
Nas suas origens, o instituto da curatela visa o interêsse comum da
família, protegendo o patrimônio de pessoa em determinada condição de
incapacidade natural. Conhecem-se vários tipos de cura, dos quais
apenas alguns importam gestão geral dos bens pertencentes a um sujeito
de direitos.
(a) Cura fu riosi. Conforme o disposto da Lei das X I I Tábuas,
se o indivíduo que por ocasião da morte do p a terfa m ilia s se torna su i
iuris, fôr louco, o a d gn ad o mais próximo lhe administrará o patrimônio.
Na falta do agnado a curatela cabe aos g en tiles. Quando o louco sarar,
a curatela se extingue; no intervalo lúcido apenas se suspende.
(b) Cura p rod ig i. Aos agnados de quem desbarata os seus bens,
a Lei das X I I Tábuas confiava a gestão do patrimônio familiar. A pedido
dêles o pretor pronunciava a interdição do pródigo, cuja posição é assimi
lada à do fu rio su s.
(c) Cura m in o r u m X X V a n n o ru m . Depois da lei P laetoria , do
início do II século a. C., e dos meios concedidos pelo pretor em favor dos
púberes menores de vinte e cinco anos (e x cep tio e r e s titu tio in i n t e
g ru m p r o p te r m in o r e m a e ta te m ), costumou-se fazer intervir na con
clusão dos atos por aquêles praticados uma pessoa que, com sua presença,
impedisse de o menor ser enganado; assim ficava excluída a impugnação
do ato por parte do próprio menor. Depois de Marco Aurélio a cura m i
n o r u m assumiu caráter estável assimilando-se e amoldando-se à regu
lamentação da tu tela im p u b eru m .
Os varões de 20 anos e as mulheres de 18, depois de Constantino,
podem eximir-se da curatela mediante a venia a eta tis.
O curador é responsável pela sua administração, mediante a actio
n e g o tio r u m g e s t o r u m ; a ação é d irecta quando proposta contra êle;
con traria , quando intentada pelo curador contra o menor que se tom ou
capaz. N o direito justinianeu há contra o curador um juízo especial
cu ra tio n is iu d iciu m .
Outros tipos de cu ra tores particulares são: o cu ra tor ven tris,
nomeado para garantir os bens do nascituro chamado a suceder; os dife
rentes cu ra to res b o n o r u m que administram os bens do prisioneiro de
guerra, do ausente por motivo oficial, do devedor insolvente que, para
evitar a in fa m ia , cedeu os bens (b o n o r u m cessio) aos credores; enfim
o curador da herança ainda não adida pelo h eres volu n ta riu s (h ered ita s
iacen s).
A POSSE E OS DIREITOS REAIS
C a p ít u l o I
A POSSE
§ 63 — Fundamento e conceito.
Os bens materiais, úteis econômicamente, têm em geral um proprie -
tário que lhes aufere as vantagens. Existem na verdade também coisas
sem dono (res nullius), mas não se pode negar que estas, em tempos de
civilização adiantada, constituam a exceção. Se p. ex., encontrarmos
um automóvel numa praça ou na estrada, nunca suporemos que seja
uma res n u lliu s: o proprietário poderá tê-lo deixado por um momento
estacionado ou também um ladrão tê-lo ocultado. Porém, tanto o pro
prietário como o ladrão, que nas mesmas circunstâncias de lugãr encon
trarmos ao volante, a nós, que não conhecemos a placa do carro, se nos
apresentarão ambos como legitimamente gozando das utilidades do mesmo.
O direito, conforme o seu escopo de garantir a paz social, levando em
conta a presunção de legitimidade, baseada no fato de um indivíduo estar
na hipótese, ao volante do carro, protege quem se encontra em tal situação
contra qualquer que queira tirá-lo daí. Isto significa que o direito pro
tege o possuidor da coisa, prescindindo de indagar se tem ou não direito
(propriedade) sôbre ela. Com efeito, externamente o possuidor nos apa
rece com o proprietário.
D o que foi dito resulta claro o conceito de posse e o fundamento da
sua proteção. Savigny sustentou que a posse é tutelada para assegurar a
paz social; Jhering, que o é porque constitui a exteriorização da proprie
dade. As duas explicações não são totalmente inconciliáveis.
Na verdade, na linguagem vulgar, as palavras posse e propriedade,
como também possuidor e proprietário, são usadas indiferentemente. Mas
do ponto de vista jurídico, os dois conceitos são mui distintos; até as fon
tes chegam a afirmar que a posse nada tem de comum com a propriedade:
n ih il c o m m u n e h a b e t p ro p rieta s cu m p o ss es sio n e 1 e que o conceito
de posse deve ser separado do de propriedade: separata esse d eb et
p o ssessio a p r o p r ie ta te 2.
1. D . 41, 2, 12, 1, Ulp. 41, 2, 5: N ec p ossessio e t proprietas m isceri d eb en t.
2. D . 43, 17, 1, 2 Ulp.: H u iu s a u te m interdicti p ro p o n en d i causa haec tu it
q u od separata esse d e b et p ossessio a p ro p rieta te: iieri e te n im p o te s t, u t alter
p ossessor sit, dom irtus n o n sit, alter d o m in u s q u id èm sit, p ossessor vero n on
sit, u t e t p ossessor id em e t d o m in u s sit. D . 41, 2, 3, 5: In su m m a p ossessionis
n o m m u ltu m in terest, j u s te quis an in ju ste possid ea t.
118 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
1. Naturalis facultas rei in sisten d i a n im o sibi habendi, Melo, In st. Jur. Civ.
Lua., 3, 2, S.
2. D . 41, 2, 1 pr. Paul.: Possessio appellata eat, u t e t L abeo ait, a sedibus
qu asi p ositio , quia naturaliter te n etu r ab eo q u i e i in sistit, q u a m Graeci katochén
dicu n t.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 119
1. D . 41, 2, 3, 1 Paul.
2. D . 41, 2, 1, 3 Paul.; D . 41, 2, 32, 2 Paul.
3. Gai. 2, 89; 94. Porém era controverso se o paterfam ilias podia adquirir a
posse por meio de pessoas não possuídas, como a mulher in m a nu, as pessoas in m a n -
cipio, os escravos çm usufruto, Gai. 2, 90; 94.
4. Gai. 2, 95; D . 41, 1 ,13; D . 41, 3, 41 Nçrat.
5. C. 7, 32, 1 Severo e Caracala (ano 196); D . 13, 7, 11, 6 Ulp.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 12 1
§ 66 — Proteção da posse.
A posse é protegida por meio dos in terd icta , que, como sabemos, são
ordens expedidas pelos magistrados a requerimento dum particular, contra
outro, impondo-lhe um certo comportamento. Quem obtém o interdito
não tem direito sôbre a coisa; e assim o possuidor não tem a correspondente
a ctio. Não tendo a ordem do magistrado sido executada pela outra
parte, propõe-se a demanda e o juiz deverá apenas averiguar se os exatos
têrmos da ordem interditai foram infringidos. Pois na ordem não ha
vendo referência ao direito dos litigantes, mas simplesmente à sua situação
de fato, não interfere o juízo petitório e o possuidor pode ganhar mesmo
contra o proprietário.
Os interditos possessórios distinguem-se segundo seu fim em2: (a)
In terd icta ad ipiscen d ae p ossessio n is, que visam fazer adquirir a posse
a alguém que já não a tem. Assim, êles não protegem propriamente a
posse, mas um título a possuir, como por ex. o que tem o credor pigno-
ratício ou o beneficiário de coisa a êle deixada por ato de última vontade,
(b) In terd icta retin en d a e p ossession is, que têm o escopo de manter
o estado de possuidor, protegendo-o contra qualquer turbação. No di
reito clássico êste tipo de interditos servia para preparar os processos de
reivindicação, pois o vencedor, conservando a posse, na reivindicatio
tinha a posição de réu, com tôdas as vantagens relativas. 3 (c) In terd icta
recip era n d a e p ossessio n is, que conduzem à reaquisição da posse per
dida. A denominação de cada interdito decorre geralmente das palavras
com que se inicia a ordem pretoriana.
1. D . 41, 2, 3, 19 Paul.
2. Gai. 4, 143.
3. Gai. 4, 148; D . 43, 17, 1, 3 Ulp.
12 2 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
§ 67 — Posse de direitos.
A PROPRIEDADE
§ 68 — A propriedade.
Falta-nos uma definição romana da propriedade. Deriva dos in
térpretes da Idade Média a que diz: iu s u ten d i, fru en d i e t a b u ten d i,
o direito de usar, fruir e de abusar da coisa. Pode-se definir a proprie
dade como o poder mais geral, atual ou potencial sôbre a coisa.
Trata-se de um poder jurídico (d o m in iu m ) coexistente ou não com
o poder de fato (possessio). Como já se disse, é concebível o poder de
fato distinto do jurídico; a posse é distinta da propriedade.
O domínio exerce-se diretamente sôbre a coisa na sua totalidade; e os
poderes do proprietário são tão extensos que só é possível determiná-los
negativamente, i. é, indicando o que não lhe é permitido fazer, na ordem
jurídica.
Os romanos afirmam a relação de absoluta sujeição da coisa ao dono,
com a frase, res m ea est, a coisa é minha. Assim, a propriedade não se
considera como um direito, res in corporalis, mas se identifica com a
própria coisa corpórea.
O poder é atual ou potencial, pois ou é efetivamente exercido na sua
máxima extensão sôbre a coisa, ou, embora limitado por vínculos estra
nhos, conserva a possibilidade de estender-se de modo absoluto. Isto se
dá quando a coisa, que já constituiu objeto de direito real de outrem, se
tom a livre. O fenômeno se explica pela elasticidade do domínio.
Costuma-se dizer que o dono exerce seu direito u sq u e ad sidera
e t ad in fe r o s ; i. é, a propriedade do solo abrange a de tudo aquilo que
lhe está na superfície (su perfícies) ou no subsolo, em tôda a altura e
em tôda a profundidade.
Pode ser objeto de propriedade qualquer coisa corpórea. Os romanos
não coi\hecem o direito de propriedade sôbre bens incorpóreos (proprie
dade literária, científica, artística).
O conceito justinianeu de propriedade correspondente ao moderno,
resulta da fusão das várias espécies de domínio que, no decurso dos séculos,
no evolver do direito romano, coexistiram exercendo recíproca influência.
MANUAL. DE DIREITO ROMANO 125
1. D . 8, 5, 8, 5 Ulp.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 127
1. Gai. 2, 65.
2. Inst. 2, 1, 11.
130 ALEXA N DR E CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. D . 41, 1, 31, 1 Paul.; em C. 10, 15, 1 Imp. Leão (ano 474) o tesouro indica
condita ab ign otis dom inia tem p o re vetu stio re m obília (cf. Cod. Th. 10, 18, 2
Valent. e Theod. (ano 380).
2. D . 41, 2, 3, 3 Paul., referindo que Bruto e Manílio sustentaram que o usucapião
do prédio se estende ao tesouro ocultado nele.
3. Inst. 2, 1, 39.
132 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
(III) Especificação.
1. P lum batura 6 a solda com estanho ou outra matéria que deixa distintos os
metais, e, por isso permite ao proprietário do acessório obter a exibição e depois a rei
vindicação da coisa, D . 6 ,1 , 23, 5 Paul.
2. Gai. 2, 77.
3. D . 34, 2, 19, 13 Ulp.
4. Gai, 2, 78.
5. D . 41, 1, 26, 2; D , 6, 1, 23, 3.
6. Gai. 2, 76.
134 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 73 — Usucapião.
1. Gai. 2, 79.
2. Inst. 2, 1, 25.
3. D . 7, 4, 13 Paul.; Inst. 2, 1, 36.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 135
1. D . 41, 2, 3, 19 Paul.
2. Inst. 2, 6 pr.: Iu re civili co n stitu tu m fuerat, u t, q u i bona íide ab eo,
q u i d o m in u s n on erat, cu m crediderit e u m d o m in u m esse, rem em erit, vel ex do-
n a tion e aliave qua iusta causa acceperit, in ea m rem , si m obilis erat, anno ubi-
q u e, s i im m ob ilis bien n io ta n tu m in Itálico solo usucapiat, n e reru m d om in i-
u m in in certo essen t. E t cu m h oc p la citu m erat, p u ta n tib u s antiquioribus,
d o m in is sufficere ad ínquírendas res suas praefata têm p ora, n ob is m elior sen
tentia resedit, n e d o m in i m a turius suis rebu s defraudentur, n eq u e certo loco
b en eficiu m h oc concludatur. E t id eo c o n stitu tio n e m sup er hoc p rom u lgavim u s,
qua ca u tu m est, u t res qu id em m o b iles p er trien n iu m usucapiantur, im m o b il-
es vero p er longi tem p oris p ossession em , id e s t in ter p ra esen tes decennio, in ter
a b sen tes vigin ti annis usucapiantur: e t h is m o d is n o n so lu m in Italia, sed m
o m n i terra, quae n ostro im pério gubern a tur, d o m in iu m reru m iusta causa p o s
sessionis pra eced en te, adquiratur.
1. Gai. 1, 119.
2. O usucapião e a garantia pela evicção são institutos correspondentes, pois decor
rido o prazo d o usucapião, quem tem a coisa lhe adquire a propriedade e não pode sofrer a
reivindicação de um terceiro, que já não é proprietário. N a Lei das X I I Tábuas, a a e t e r -
n a a u c t o r i t a s contra o h o s t i s recusa-lhe o usucapião.
3. Gai. 2, 24.
4. Gai. 2, 29.
5. G ai. 2, 30.
6. G ai. 2, 34-37.
7. G ai. 2, 38.
8. G ai. 2, 25.
JIA N U A L DE DIREITO KOMANO 13 9
tio n is )l. Os elementos da tra d itio passaram por uma constante ela
boração e transformação, no desenvolvimento do direito romano.
Quanto à tomada de posse, o elemento material da entrega tende a
atenuar-se e a desaparecer, gerando a chamada tra d itio fi d a . Os in
térpretes distinguem várias espécies de tra d itio fi d a : 1) A tra d itio
sim bólica, quando se entrega apenas um símbolo do que se quer transfe
rir: as chaves do depósito ( tra d itio clavium ), o instrumento da proprie
dade (tra d itio in s tr u m e n to r u m ). Ou também quando se praticam
atos reveladores da vontade de tomar posse da coisa: mandar vigiar as
mercadorias (a d p o sitio cu sto d is); assinalar a madeira ou a coisa que se
quer adquirir (signare trabes); 2) a tra d itio tacita, que se verifica
em seguida ao contrato de sociedade pela qual as coisas conferidas pelo
sócio se tornam comuns, sem necessidade da efetiva entrega aos .outros só
cios; 3) a tra d itio longa m a n u , consistente em mostrar a coisa ao adqui-
rente, p. ex., indicando-lhe um terreno do alto de uma tôrre; 4) a traditio
b revi m a n u -, quando o adquirente por vontade do alienante muda a
sua relação com a coisa, p. ex., o inquilino que compra a casa e nela perma
nece aquire a propriedade sem necessidade da entrega material da casa;
5) o c o n s titu tu m p o ssesso riu m indicado pela definição: q u o d m e o
n o m in e p o ssid eo , p o s s u m a lien o n o m in e p o s s id e r e 3, p. ex., o pro
prietário vende a casa e continuando a habitá-la, toma posse dela em nome
do adquirente. N o direito justinianeu, em alguns casos se chega a admi
tir a tra d itio apenas por consentimento das partes, de forma que nas le
gislações derivadas do Código de Napoleão o contrato chega a operar a
transferência da propriedade (compra e venda real). N o direito bra
sileiro, como no romano, a venda não transfere, sem traditio, a proprieda
de (venda obrigacional).
No que respeita ao objeto, a princípio a tra d itio pode ser empregada
apenas em se tratando de coisas corpóreas4. Uma vez admitida a posse
de direitos, e espiritualizando-se o corp u s da posse, ao ato se pode recor
rer também no caso de coisa incorpóreas (iu ra), e assim p. ex., se pode
tra d ere uma servidão (q u a si trad itio). Desaparecida a distinção entre
res m a n cip i e res n ec m an cip i, a tra d itio serve para operar a
§ 75 — Defesa da propriedade.
A efetivação dos direitos reais se obtém afirmando o direito próprio
sôbre a coisa (a ctio in rem ), direito que todos têm o dever de respeitar
(erga om n es). Esta característica das ações para a defesa dos direitos
reais naturalmente mais se evidencia pelo meio judiciário sancionador do
direito real por excelência, a propriedade. Os diversos tipos de proprie
dade, coexistentes no direito romano clássico e depois fundidos no direito
justinianeu, distinguem-se pelas ações respectivas.
(a) Por princípio, a rei vin d icatio é a ação para a defesa do d o m i
n iu m ex iu re Q u iritiu m . Pode ser intentada pelo do m i n u s contra
quem quer que possua a coisa e lhe conteste a qualidade de proprietário.
Pode-se além disso, opor, como ação pessoal, contra quem se fingiu possui
dor sem o ser (q u i li ti se o p tu lit) e contra quem deixou dolosamente de
possuir (q u i d olo d esiit p ossid ere).
Se o réu não aceita o juízo, o pretor, mediante uma providência admi
nistrativa, confere ao autor a faculdade de se apossar da coisa.
O autor deve fornecer a prova do seu direito. Se não a apresenta,
in p a ri causa p o ssesso r p o tio r h a b eri d e b e t2. A prova é quase im
possível (p ro b a tio diabólica), quando a propriedade foi adquirida a tí
tulo derivado, pois em tal caso o autor deveria provar também o direito
dos precedentes proprietários. A isso vem obviar o instituto do usucapião
com a eventual su ccessio e accessio p o ssessio n is.
O réu, não querendo restituir a coisa, é condenado numa soma de
dinheiro, cujo montante é determinado por um juramento do autor (iu s iu -
ra n d u m in lite m ). N o direito justinianeu, quando a condenação não
é necessàriamente pecuniária, o autor pode obter a coisa mediante a fôrça
pública (m a n u m ilitari).
A coisa deve ser restituída cu m o m n i causa, i. é, com todos os acrés
cimos, acessões e frutos que produziu. Em particular, o possuidor de boa
fé deve restituir os frutos extantes', o de má fé, os consumidos e percipien-
dos. N o atinente às benfeitorias, o possuidor de boa fé pode reter a coisa
(r eten tio ) até o proprietário lhe pagar as necessárias; e, quanto às úteis,
o possuidor pode reter a coisa até o proprietário lhe pagar a quantia menor
entre a gasta com o melhoramento e a que representa efetivamente a van
tagem que desta tira o proprietário. Nenhuma retenção existe para as
benfeitorias voluptuárias. N o direito justinianeu o possuidor tem uma
1. Gai. 4, 36: D atur a u tem haec actio ei, q u i ex iusta traditam sibi rem
n o n d u m uaucepit, ea m q u e amiasa posaeaaione p e tit. N a m quia n o n p otea t
ea m ex iure Q u iritiu m auam esse in ten dere, fin gitu r r em uaucepiase, e t ita,
quasi ex iure Q u iritiu m d o m in u s factua eaaet in ten d it, velu ti hoc m o d o : “ Iu dex
eato. S i q u e m h o m in e m A . Ageriua e m it, e t ia ei traditua eat an n o posaediaaet,
tu m ai e u m h o m in e m , de q u o agitur, ex iure Q u iritiu m eiua esse op orteret
e t reliqu a ."
2. D . 6, 2, 17 Nerat.: Publiciana actio n on id eo com parata eat, u t rea d o m in o
auferatur (eiuaque rei a rg u m en tu m eat p rim o aequitas, deinde exceptio si ea res
possessoris non sit),secf u t is, q u i bona fide e m it, p osa esion em q u e eiua ea causa
nactua eat, potiua r em habeat.
C a p ítu lo III
§ 76 — Jura in re aliena.
§ 77 — Servidões.
S ervitu s significa escravidão. Em relação às coisas, a servitu s é a
escravidão de um prédio a outro; i. é, uma relação de sujeição existente
144 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. D . 8, 2, 28 Paul.
2. C . 3, 34, 9 D iocletianus (ano 293).
3. D . 8, 1, 9 Cels.
4. C f. D . 8, 3, 32 Afric.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 147
(a) São servidões rústicas: (I) As quatro mais antigas que, pela
importância para a economia dos prédios itálicos, foram consideradas
re s m a n cip i. São: o ite r , ou direito de passar a pé ou a cavalo pelo
terreno alheio; o a ctu s, ou o direito de conduzir o gado e de passar com
carros; a via ou o direito de passagem do m odo mais lato possível, m wnw
transportando e arrastando materiais; o a q u a ed u ctu s, que é o direito
de conduzir a água do terreno alheio ou através dêle para o terreno
próp rio1. (II) Rústicas são também a s erv itu s a q u a e h a u stu s i. é,
o direito de buscar água à nascente do terreno vizinho; a servitu s p e -
coris p a scen d i, o de apascentar o gado próprio no terreno alheio; o
p e c o r is ad a q u a m ad p u lsu s, ou o de fazer abeberar o gado no terreno
alheio; a serv itu s calcis co q u en d a e, o de queimar a cal; a servitu s
a ren a e (ou creta e) to d ien d a e, o de tirar areia (ou argila); servitu s
lapidis ex im en d a e, que é o de explorar o pedregulho.
(b) As servidões urbanas são conexas com as necessidades citadinas
e podem ser relativas à construção dos edifícios: a serv itu s cloacae é
o direito de fazer passar pelo prédio alheio canos de esgôto; a servitu s
stillicid ii e flu m in is, pela qual se pode deixar escorrer a água pluvial
do telhado sôbre o prédio serviente; a serv itu s tig n i im m itte n d i é o
direito de imitir traves e materiais no prédio alheio; a servitu s on eris
fe r e n d i é o de apoiar o muro no muro ou pilar alheio; serv itu s a ltiu s
(n on ) tollen d i, que importa a faculdade (ou a proibição) de construir
e levantar edifício; serv itu s n e lu m in ib u s (p rosp ectu s) o fficia tu r
veda obstruir as aberturas ou tirar a vista do vizinho.2
A categoria das servidões prediais se estende por obra do direito
pretoriano, que reconhece a possibilidade de constituir outras servidões
à semelhança dessas típicas, do iu s civile. N o direito moderno, qual
quer utilidade que um prédio venha a proporcionar a outro pode ser
objeto de servidão predial.
Outras classificações das servidões derivam dos intérpretes do di
reito romano; as regras acerca da aquisição e extinção das servidões
variam segundo seu tipo.
a) Positivas e negativas. As primeiras se concretizam no direito
de usar de qualquer modo do terreno alheio; as segundas consistem em
tirar ao proprietário do prédio serviente o livre uso dêle.
1. Gai., 2, 20.
2. Gai., 2, 32.
3. Gai., 2, 28.
4. D . 41, 3, 4, 28 Paul.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 14 9
(II) Por co n fu sio , que é a reunião dos dois prédios sob o domínio
do mesmo dono. A norma deriva do princípio n e m in i res sua s e rv it.
1. G ai. 2, 30.
2. Gai. 2, 31.
3. G ai. 2, 33.
4. D . 7, 8, 2 pr. U lp.; Inst. 2, 5, 1: M in u s a u te m s c ilic e t iu r is i n u s u e s t,
q u a m in u s u fru e tu . N a m q u e is , q u i f u n d i n u d u m u s u m h a b e t , n i h i l u l t e r i u s
h a b e r e in t e llig it u r , q u a m u t o le r ib u s , p o m is , f lo r ib u s , fe n o , s t r a m e n t is , lig n u m
a d u s u m c o t i d i a n u m u t a t u r : i n e o q u e f u n d o h a c t e n u s e i m o r a r i lic e t , u t n e q u e
d o m i n o f u n d i m o l e s t u s s it : n e q u e h is , p e r q u o s o p e r a r ú s t i c a f i u n t , i m p e d i
m e n t o s it : n e c u í l i a l i i iu s , q u o d h a b e t , a u t v e n d e r e t a u t lo c a r e , a u t g r á t i s c o n -
c e d e r e p o t e s t , c u m is , a u i u s u m f r u c t u m h a b e t , p o t e s t h a e c o m n i a fa c e r e .
152 ALEXANDRE CORREIA — G A E IA N O SCIASCIA
§ 81 — Superfície e enfiteuse.
1. G ai. 2, 73.
2. D . 43, 18, 1 pr. U lp.: A it p ra eto r: “ U ti ex lege locationia aive conductionia
superfície, qua d e agitur, n ec vi n ec ciam n ec precário alter ah altero fru em in i,
qu o m in u s fru am in i, vim fieri veto. S i qua alia actio d e superficie poatulabitur,
causa cognita da bo” .
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 153
1. Gai. 2, 60.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 155
1. G a i. 4, 147.
2. D . 13, 7, 9, 2 Ulp.
3. D . 20, 1, 5, 1 Marcian.
4 .“ 0 D ir. R o m . perm itia hipothecar a própria hipotheca (pignus pignori dari
potest): C. 1, 8, 24: E tiam id q u od pignori obligatum est, a creditore pignori obstringi
posse jam dudum placu it” — C f. L afayette, D . d a s C o u s a s , 433. 6.
156 ALEXA N D R E CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. D . 41, 2, 3, 19 Paul.
2. Gài. 2, 64.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 157
TEORIAS GERAIS
§ 83 — Conceito de obrigação.
1. Inst. 3, 13 pr.
162 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
§ 86 — A prestação.
1. G ai. 4, 2.
M ANU AL DE DIREITO ROMANO 165
1. C f. D . 45, 1, 2, 5 Paul.
2. D . 40, 7, 9, 2 U lp .: B a e n i m i n o b l i g a t i o n e c o n s i s t e r e q u a e p e c u n i a l u i
p r a e s t a r iq u e p o s s u n t .
3. D . 50, 17, 185 Cels.; cf. G ai. 3, 9 7.
1G6 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
tente que a prestação não é indeterminada, mesmo se o seu valor fôr esta
belecido pelo devedor, segundo um justo critério dêste, excetuando os
casos em que isso repugne à natureza do ato, com o na compra e venda.
A prestação pode ser divisível ou indivisível. Ê divisível quando
se pode cumprir por partes (p ro p a rto ) de modo que o conjunto das
prestações proporcione ao credor exatamente, na avaliação da utilidade,
a prestação total devida. Em caso contrário a prestação é indivisível.
§ 88 — E m rela çã o à prestação.
1 . G a i. 4 , 7 5 - 7 9 : Inst. 4 , 8, 2 e S.
M ANU AL DE DIREITO ROMANO 169
1. G ai. 2, 205.
M ANUAL DE DIREITO ROMANO 171
§ 90 — R e la tiv a m e n te à san çã o.
§ 91 — In a d im p le m e n to e resp on sa bilid a d e.
1. D . 44, 7, 1, 4 Gai.
2. Inst. 3, 23, 3.
174 ALEXAN DRE COKRKIA — GAETANO SCIASCIA
1. G ai. 4, 113.
2. C om uma fórm ula fictícia o pretor fingia que a c a p i t i s d e m i n u t i o m i n i m a não
existira. G a i.3, 84; 4, 38.
3. G ai. indica o efeite d o i a s c i v i l e e o rem édio pretoriano, 4, 38 e 80.
4. G ai. 4, 4; Inst. 3, 29, 3; D . 44, 7, 13 Jul.
5. D . 16, 2, 1 pr.M odest.
6. Gai. 4, 64, 68.
M ANUAL, DE DIREITO ROMANO 179
vendedor lhe deve uma quantia, p. ex., a título de mútuo. Pois, a causa
dos dois contratos, i. é, venda e mútuo, é diferente.
Depois de M arco Aurélio a compensação se permite também nos
contratos de direito estrito e é invocada sob forma de e x c e p tio d o li;
ainda é permitida por causa diferente, nos contratos de boa fé. Na le
gislação de Justiniano a compensação extingue as obrigações ip so iu re,
automàticamente, e o juiz se limita a declarar a compensação verificada
entre o débito e o crédito
Para a compensação justinianéia se requer apenas que as dívidas
a serem compensadas sejam líquidas e certas. Não é possível a com
pensação com o fisco e não se compensam créditos adquiridos por v io
lência.
(II) O p a c tu m d e n o n p e t e n d o 2 é o pacto de não exigir a pres
tação. Pode ser um pacto puro e simples ou um pacto de não pedir
dentro de um determinado prazo. O primeiro origina uma e x c e p tio
p e r e m p tó r ia , o outro apenas d ilatoria . Tanto a a c cep tila tio quanto
o p a c tu m de n o n p e t e n d o servem para extinguir qualquer espécie de
obrigação; mas a a c cep tila tio opera ip s o iu re, ao passo que o p a c tu m
d e n o n p e t e n d o opera e x c e p tio n is o p e . Enfim, quando a obrigação
é extinta por a ccep tila tio , querendo refazer-se a primitiva obrigação,
é necessário nôvo contrato; ao passo que a obrigação extinta pelo p a c tu m
d e n o n p e te n d o revive por um simples pacto. Cumpre notar que a
a ccep tila tio tem eficácia quanto a todos os devedores (solidários e
fiadores), ao passo que o p a c tu m d e n o n p e te n d o libera o devedor
perdoado, mas não os outros devedores solidários.
1. Inst. 4, 6, 30.
2. Gai 4, 116-119-121.
3. Gai. 3,100. 158; 2, 38.
4. D . 7, 1, 25, 2.
180 ALEXANDRE CORREIA ■— GAETANO SCIASCIA
1. Gai. 4, 101.
2. Cod. 4, 35, 22.
3. Gai. 3, 139.
4. Gai. 4, 171.
182 ALEXANDRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
§ 96 — F iança.
1. G ai. 3, 115-127.
M ANUAL DE DIREITO ROMANO 183
alguém recebe por êrro o que não lhe era devido, e por isso, deve resti-
tuí-lo (co n d ic tio in d e b iti) ou também quando alguém assume espon
tânea e utilmente a gestão de negócios alheios (n e g o tio r u m g e s tio ).
N o que diz respeito aos delitos, há casos onde o ato ilícito não é
reconhecido pelo iu s civile com o gerador de o b lig a tio ; mas é apenas
sancionado pelo pretor.
Pretende-se obviar a deficiência da classificação com um texto atri
buído ao próprio G aio1, que considera fontes das obrigações: (a) o con
trato; (b) o delito; (c) várias figuras de causas, por um certo princípio
de direito.
Mas no aspecto doutrinário nem mesmo esta classificação satisfaz,
pois, agrupa tipos heterogêneos de obrigações, numa categoria indefi
nida com o é a terceira.
N o direito justinianeu faz-se uma quadripartição das fontes das
obrigações, a saber: (a) contrato; (b) delito; (c) quase-contrato; (d)
quase-delito2.
A classificação é mais infeliz que a precedente e se pode chamar
bizantina, no sentido vulgar do adjetivo. Com efeito, ela abrange nos
quase-contratos obrigações sem nenhuma analogia com o contrato,
acôrdo de vontade; p. ex., a obrigação do tutor para com o pupilo ou a
obrigação do,herdeiro de prestar os legados. Por outro lado a classifi
cação, sem qualquer simetria substancial, inclui na categoria dos quase-
delitos alguns atos ilícitos de origem pretoriana, que, dada a fusão dos
sistemas jurídicos, no direito justinianeu não têm configuração diferente
dos d elicta , atos ilícitos do iu s civile.
A quadripartição justinianéia é ainda reproduzida em códigos m o
dernos inspirados no código civil francês; outros códigos preferem a tri-
partição; o legislador brasileiro aproximou algumas figuras de obrigações,
de duvidosa classificação, dos tipos mais semelhantes, adotando como
fonte o contrato, o delito e, excepcionalmente, a declaração unilateral
de vontade (p o llic ita tio ) 3.
1. D . 44, 7, 1 pr.
2. Inst. 3, 13, 2.
3. V o tu m é a promessa unilateral feita à divindade (D . 50, 12, 2); pollicitatio é a
promessa unilateral, feita a uma cidade de op u s facere ou dare pecun ia m (D. 50, 12).
os herdeiros do promitente respondem dentro das fôrças da herança. Parece que a
promessa de recompensa obrigasse só quando houvesse ajuste explicito, D . 19, 5, 15.
Paul. 2 ,3 1 ,2 4 .
C a p ít u l o II
O SISTEM A CO N TRATUAL
§ 98 — D e se n v o lv im e n to d o sistem a d o s co n tra to s.
1. Gai. 3, 173-174.
2. T . Liv., V III, 28: iussique cônsules ferre ad populum, ne quis, nisi qui noxam
meruisset donec poenam lueret in compedibus aut in nervo teneretur: pecuniae creditae
bona debitoris, n on corpus o b n ox iu m e sset. Itaque nexi soluti: cautumque in
posterum, ne necterentur.
3. Gai. 3, 93 diz que deriva de uma palavra grega.
4. Gai. 3, 92-93.
5. Gai. 3, 116.
M AN U AL DE DIREITO ROMANO 189
1. Gai. 3, 89.
2. Gai 3, 90.
3. Gai. 4, 47 diz que o depósito e o comodato podiam ter form u la in fa ctu m ou
form u la in iu s concepta. Esta última é posterior no tempo.
4. Gai. 3, 90; cf. D . 12, 1, 2, 2 Paul.
190 ALEXANDRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
1. Pela lei das X I I Tábuas a taxa dos juros era de 1 % (unciarium). Depois de
várias leis, Justiniano fixou os juros a 6 % e proibiu o anatocismo, isto é, a transformação
dos juros em capital produtor de outros juros (C. 4, 32, 38).
2. D . 14, 6 D e S ena tu scon su lto M a ced on ia n o; Cod. 4, 28.
3. D . 22, 2, 8 Ulp.; D . 22, 2, 9 Lab.
M ANU AL DE DIREITO ROMANO 191
1. G ai. 3, 196.
2. G ai. 4, 60.
3. G ai. 4, 47.
192 ALEXANDRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
1 . Gai. 3, 91.
2. D . 19, 5, 5, 1 Paul.
3. D . 12, 6, 16 pr. Pomp.
4. D . 12, 6, 10 Paul.
5. D . 12. 6, 65, 9 Paul.
6. D . 12, 6, 38, 1 Afric.
7. Gai. 4, 9 e 171; 2, 282; Paul. 1, 19,1; Inst. 4, 6, 19.
194 ALEXANDRE CORREIA ----- GAETANO SCIASCIA
1. G ai. 3, 128-134.
19 8 ALEXANDRE CORREIA — g a e t a n o s c ia s c ia
1. Gai. 3, 137.
2. D . 2, 14, 7, 5.
3. Gai. 3, 139-141.
4. G ai. 3, 147.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 199
1. Gai. 4, 62.
2. Ê esta a opinião dos Sabinianos aceita por Justiniano, D . 18, 1, 35, 5-6.
20 0 ALEXANDRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
1. G a i. 3, 148-154.
m anual de d ir e it o rom ano 203
1. G ai. 3, 155-162.
2. Q uando o m andato é con ferido a um profissional (m édico, advogado, professor
e tc.), a rem uneração, que não se cham a m e r c e s m as h o n o r a r i u m , é exigível pelas ex -
t r a o r d i n a r i a c o g n i t i o , D . 50, 13, 1 U lp .: C . 4, 35, 1 Severus et Antoninus (anos 193-211).
3. D . 17, 1,22, 6.
4. D . 17, 1, 6, 5; G ai. 3, 156.
5. G ai. 3, 161.
6. D . 17, 1, 1, 4.
7. G ai. 4, 62.
204 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
1. D . 3, 5, 5, 6.
2. Gai. 4, 62.
3. D . 19, 5, 5 pr. Paul.
4. D . 19, 5, 4.
206 ALEXA N D R E CORREIA — CAETANO SCIASCIA
tentando que o pretor devia protegê-los com ações de d olo ou com fórmulas
in fa ctu m , de modo a o juiz poder condenar a parte faltosa a pagar uma
quantia como indenização. M enos formalistas e mais aderentes à reali
dade, os Proculianos reconheceram, pelo contrário, a natureza civil dessas
relações, admitindo por conseqüência devessem ser protegidas mediante
a ctio n es civiles; também a a ctio civilis in c e r ti chamada mais tarde
a ctio p ra escrip tis verbis, porque na d em o n s tr a tio da fórmula devia
descrever-se a figura do ato donde emanava a obrigação.
Entre os contratos inominados, alguns tiveram aplicação assim fre
qüente, que assumiram um nome próprio. Tais são:
1. G ai. 3, 141.
2. Inst. 3, 23, 2.
m a n u a l de d ir e ito r o m a n o 207
§ 110 — A fu n çã o da exceptio.
1. D . 2, 14, 1, 3 Ulp.
2. Gai. 4, 32-38; 3, 81-84.
M AN U AL DE DIREITO ROMANO 213
formando a categoria das o b lig a tio n es tacitae, das quais temos muitos
exemplos na compilação de Justiniano. Isto decorreu da prática judi
ciária e mais tarde de os compiladores terem adotado muitas vêzes decisões
pretorianas estabelecidas por uma fictio , subrogando-lhe uma causa tácita,
geradora do mesmo efeito jurídico. Anàlogamente enfim se desenvolveu a
categoria geral das o b lig a tio n es ex leg e, de todo desconhecida no di
reito clássico, categoria derivada exatamente das fictio n es, que o pretor
estabelecia em casos determinados, para justificar o reconhecimento do
liame obrigacional.
1. Gai. 2, 95.
214 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
1. Gai. 4, 171.
m a n u a l de d ir e it o r o m a n o 21 5
Êste período é por certo o mais caótico de todo o direito romano; mas
é muito importante sob o aspecto do progresso jurídico, concluindo-se
nesta fase a evolução do direito de Roma e formando-se o n ov u m ius,
codificado por Justiniano. A reação contra as formas solenes tinha chega
do a tais extremos, que tôda a doutrina romana da ineficácia do nu-
d u m p a ctu m , no sector da vida comercial, parecia uma s upervacua
su b tilita s e um absurdo anacronismo.
Mostraremos a seguir as inovações mais relevantes, que a praxe do
período pós-clássico introduziu no concernente aos pactos nus, que visa
vam coordenar o sistema obrigacional com as exigências cotidianas, pu
rificando-o de todo elemento arcáico.
N o período clássico os pactos despidos de qualquer formalidade ti
veram reconhecimento jurídico direto apenas quando, em determinadas
hipóteses, se acrescentavam a outro pacto civilmente válido. Mas o
uso freqüente de tais convenções, independentemente da existência de um
pacto principal, reconhecido como civilmente eficaz, e dos requisitos exi
gidos para sua validade levou os imperadores a munir de ação também
êsses pactos. Êles representavam muitas vêzes o ulterior desenvolvi
mento de precedentes institutos ou evolução de orientações jà seguidas
pela prática. Chamam-se pactos legítimos, e entre êles enumeramos:
(I) O c o m p r o m is s u m : convenção em virtude da qual duas ou
mais pessoas se obrigavam a louvar-se em árbitros, no concernente ao
esclarecimento duma lide surgida entre elas. Era convenção muito fre
qüente entre os Romanos, tanto que, com o vimos, o pretor impôs ao ár
bitro o dever de decidir a controvérsia, desde que se tivesse comprometido
a julgá-la (r e c e p tu m arbitri). Mas nenhuma proteção direta foi con
cedida contra a parte que não executasse a decisão arbitrai (a rb itru m ou
lau d u m ). Quando a convenção fôsse reforçada por uma stip u la tio
p o e n a e , o inadimplemento de um dos contraentes acarretava a respon
sabilidade pela quantia estabelecida com o pena; mas, por fôrça própria,
a sentença arbitrai originava apenas uma exceção.
O instituto foi-se aperfeiçoando durante o Baixo Império, e Justini
ano, atualizando o que a praxe pós-clássica tinha paulatinamente reali
zado, concedeu uma actio in fa c tu m contra a parte que não executasse
o laudo, no caso de êste não ter sido impugnado nos dez dias posteriores
à pronúncia.
(II) A transação era uma convenção em virtude da qual as partes
acordavam sôbre pretensões litigiosas ou duvidosas, fazendo entre si re
cíprocas concessões: a liq u o d a to, a liq u o r e te n to . Quando não reves
tida da forma da s tip u la tio (e portanto não sancionada pela a ctio ex
stip u la tu ), a transação considerava-se com o um pacto nu; e assim, no
direito clássico, não podia gerar senão uma simples ex cep tio em favor do
réu, que tivesse executado a convenção; ou também uma rep lica tio doli,
em proveito do autor, contra a e x c e p tio proposta pelo réu, no caso de
218 ALEXANDRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
AS DOAÇÕES
dade constitui uma das inumeráveis causas pelas quais se pode praticar
um ato abstrato. Assim como hoje se pode assinar um título de crédito,
entregando-o a quem se quer beneficiar, no direito romano quiritário,
mediante a m a n cip a tio ou a in iu re cessio ou a sp on sio, podia-se rea
lizar uma doação. Como sabemos, nos atos jurídicos abstratos do di
reito quiritário, o elemento causa não tem importância jurídica; por isso
a doação tem regulamentação do ato jurídico, cuja forma assu
miu segundo seu objeto. Apenas a d otis d ictio é um ato jurídico típico,
que se identifica com a causa da liberalidade e tem sua forma; mas o ato
é subordinado à con d icio iuris do futuro casamento, e por isso não abran
ge tôdas as possíveis espécies de doação.
(II) As doações após a lei Cíncia. N o fim do século III a. C., para
dificultar e impedir as doações prejudiciais aos patrimônios familiares,
foi decretada a lex Cincia. Essa lei limitava a faculdade de doar, esta
belecendo uma quantia (m od u s), que não conhecemos, além da qual a
doação não era permitida. A lex Cincia era uma lei im p er fe cta , pois
não cominava sanção alguma, nem declarando o ato nulo nem impondo
uma pena ao transgressor. Apenas a intervenção do pretor, que con
cedia uma exceção (ex cep tio legis Cinciae), conseguia indiretamente
a anulabilidade do ato, dando ao doador a faculdade de se arrepender
até que a doação se tornasse perfeita em todos seus elementos.
Vários casos são possíveis: (a) Doação superior ao m o d u s legal.
Suponhamos que o m o d u s legis Cinciae seja cem e que a coisa doada vale
cento e cinqüenta. Feita a doação, o doador não pode anular o ato por
uma ação, pois a lei é despida de sanção. M as se o donatário, não rece
bendo a coisa doada, move ação para reclamá-la, o doador se defende pela
ex c e p tio legis Cinciae, que o pretor intercala na fórmula da ação. (b)
Sabemos que a transferência de propriedade de res m a n cip i se faz pela
m a n cip a tio . Se a coisa m a n cip i foi transferida pela traditio, o d o
natário não adquire o d o m in iu m , mas apenas a propriedade pretoriana.
Supondo que o doador mova uma ação de reivindicação, o donatário
apõe-lhe a e x c e p tio que protege sua propriedade pretoriana, mas o doa
dor replica por sua vez com uma e x c e p tio legis C inciae e ganha a lide.
(c) Supondo que a transferência da coisa foi feita por m a n cip a tio,
tendo-se satisfeito a tôdas as exigências d o iu s civile, i. é, tendo-se prati
cado a m a n cip a tio juntamente com a tradição da coisa, o doador não tem
nenhum recurso decorrente da jurisdição pretoriana, porque a lei Cíncia
é despida de sanção. Entretanto o pretor pode conceder-lhe no prazo
de seis meses o interdito u tr u b i que dará ganho de causa a quem possuiu
o móvel por mais tempo, no ano anterior. À defesa do donatário (ex cep tio
r ei d on a ta e e t traditaé), o doador opõe vitoriosamente a ex c e p tio
leg is Cinciae.
As disposições da lei Cíncia levaram os jurisconsultos a examinar a
causa dos atos jurídicos (causa d on a tion is), pois, ato praticado por es
pírito de liberalidade pode recair sob a proibição da lei. Ao mesmo re
sultado chega a proibição, introduzida no fim do período republicano,
da doação entre cônjuges. Por outro lado, os atos jurídicos abstratos
m a n u a l de d ir e it o e o m a n o 221
§ 117 — R e g im e ju r íd ic o da d oa ça o.
1. G ai. 2, 131.
1. Inst. 2, 7, 1.
C a p ítu lo IV
O BR IG A Ç Õ E S P O R A T O S IL ÍC IT O S
1. Gai. 4, 37.
2. Gai. 3, 182-225.
3. Gai 4, 112.
224 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
que não visem uma indenização patrimonial, mas apenas uma satisfação
moral do ofendido (m agis vin d ictae q u a m p e c u n ia e p e r s e c u tio ) 1.
(II) As ações penais do iu s civile dão lugar a obrigações solidárias
cumulativas dos co-autores do delito, cada um dos quais, portanto, deve
resgatar integralmente a pena cominada. Além disso, podem-se cumular
com qualquer outra ação real ou contratual, eventualmente conexa com
o delito e visando obter a coisa. Os atos ilícitos de origem pretoriana,
pelo contrário, geram obrigações solidárias eletivas.
(III) As ações penais têm caráter perpétuo. Pelo contrário, as
ações decorrentes de atos ilícitos pretorianos são concedidas em geral
apenas dentro de um ano do fato delituoso2.
Quando o delito é praticado por um filiu s fa m ilia s ou um escravo,
as a ctio n es p o e n a les são n oxales, i. é, podem intentar-se contra quem
quer que tenha em seu poder o filho ou o escravo, pois n oxa ca p u t se-
q u i t u r 3. Mas, não sendo o p a te r fam ilias responsável além do corpo do
seu dependente4, admite-se que o réu duma a ctio noxalis possa livrar-
-se da responsabilidade entregando o culpado à parte lesada (n oxae
d ed itio).
Segundo os Sabinianos a a ctio n oxalis se extingue se o autor do delito,
filho ou escravo, cair em poder do prejudicado, pois res e u m casu m
d ed u cta sit, in q u o c o n sistere n o n p o t u e r i t ; segundo os Proculianos
a a ctio n oxalis neste caso q u iescit e se pode intentar se o culpado tiver
saído do poder do prejudicado. Justiniano acolheu a opinião dos Sabinia
nos; mas a dos Proculianos, em matéria de confusão, foi seguida pelo
legislador brasileiro6.
N o direito pós-clássico, quando o filiu s fa m ilia s se tom ou capaz de
direitos patrimoniais, a n o x a e d ed itio já não tem razão de ser, no que
lhe diz respeito, e foi abolida definitivamente por Justiniano. Conser-
vou-se, porém, com relação aos escravos.
1. Gai. 3, 210,219.
2. D. 9, 2, 44 pr. Ulp.
3. Gai. 4, 37.
4. Gai' 4, 171.
5. Gai. 3, 220-225; 4, 182; 4, 112.
m anual de d ir e ito r o m a n o 227
lado havia uma a ctio con traria in iu ria ru m proponível contra quem
tivesse temeràriamente acionado por injúria l.
Em casos especiais, (lesões, violação de domicílio) havia uma actio
ex leg e C ornelia, que prescrevia em trinta anos.
1. Gai. 4, 117.
2. D . 44, 7, 5, 4.
3. Gai. 4, 52.
4. D. 9, 3, 5, 6.
228 ALEXAN DRE C O R R E U — GAETANO SCIASCIA
SUCESSÃO T E ST A M E N T Á R IA E AB IN TE STA D O
1. Gai 4, 34.
2. D . 29, 2 , 37 Pomp.
232 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
§ 131 — A b o n o r u m possessio.
N o fim da República e paulatinamente no decurso do direito clássico,
surge e se desenvolve, pela jurisdição do pretor, o instituto da b o n o ru m
1. Gai. 2, 3 4 -37 ; 3, 85-87.
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 241
í. Gai. 3, 34.
2. Gai. 2, 119 e147.
3. Gai. 3, 35 e2, 125-128.
4. Gai. 2, 135.
242 A LEX A N D R E CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. Gai. 4, 34.
1. Gai. 3, 32.
C a p ítu lo II
LE G A D O S E F ID E IC O M ISSO S
§ 133 — O legado.
1. Gai. 2. 197.
246 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
§ 136 — O prelegado.
Segundo os mais rigorosos princípios o herdeiro não pode ser chamado
a receber senão todo o iu s d e fu n c ti ou uma quota-parte dêle. Tal
norma todavia às vêzes contradiz as exigências da prática, por impedir
se possa instituir alguém herdeiro e simultâneamente atribuir-lhe determi
nados bens. Êste fato não escapou naturalmente à atenção dos juris-
consultos romanos e assim, com o correr dos tempos, se afirma o princípio
(já delineado no leg a i u m p e r p r a e ce p tio n e m ), em virtude do qual os
instituídos na herança podem, além disso, ser beneficiados com legados
só quando se prescindir da sua qualidade de herdeiros. Arrimada nêste
princípio a jurisprudência clássica constrói a particular figura do legado
chamada pelos modernos p releg a d o
A sua singularidade consiste nisto: o prelegatário adquirindo, como
herdeiro, a herança, o prelegado caduca na medida correspondente ao
quinhão no qual foi instituído herdeiro; porque, repartindo-se o ônus
dos legados proporcionalmente entre os herdeiros, o beneficiado não pode
obrigar-se para consigo mesmo, h ered i a s e m e tip s o legari n o n p o t e s t
(quando o prelegado foi disposto na forma p e r d a m n a tio n em ), ou não
pode adquirir, a título particular, o que já lhe pertence por título mais
amplo, como sucessor, no iu s d e fu n c ti (quando se trata de leg a tu m
p e r vin d ication em ). Na verdade, pràticamente êle obtém também a
parte relativamente à qual o legado caduca; tal aquisição, porém, se dá
iu re h ered itá rio e não iu r e legati, o que pode ter notável importância
prática. Se o beneficiado, ao contrário, não quer ou não pode adir a
herança, o legado lhe compete, naturalmente, como simples legatário, e
1. c . 6, 37,. 21
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 247
1. Gai. 2, 224-225.
2. Gai. 4, 23.
3. Gai. 2, 226.
4. Gai. 2, 227. O con ju n to das relações contidas na herança se chama as. O as
é partido em 12 partes (unciae). Cada fração do a s tem um nom e: 2/12 s e x t a n s ; 3 1 2
q u a d r a n s ; 4/12 t r ie n s ; 5'12 q u i n c u n x ; 6/12 s e m i s ; 7/12 s e p t u n x ; 8^12 b e s ; 9/12
d o d r a n s ; 10/12 d e x t a n s ; 11/12 d e u n x ; 12/12 a s : 24/24 d u p o n d i u m ; 36/36 t r i p o n d i u m
etc.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 249
1. Gai. 2, 249.
2. D . 30, 1.
3. Inst. 2, 20, 3.
4. Gai. 2, 252-254.
5. Uma variedade dêles eram os fideicom issa p oa t m o r te m , Gai. 2, 277.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 251
1. Gai. 2, 253.
2. Gai. 2, 257-258.
HISTORIA DÁ JURISPRUDÊNCIA E DA
LITERATURA JURlDICA ROMANA
C a p í t u i .o I
§ 141 — R e su m o de P o m p ô n io
D . 1, 2, 2, 35 e segs.
POM PÔN IO, livro único do Enchiridion.
Muitos e notáveis varões professavam a ciência do direito.
Mencionaremos os de maior consideração entre os Romanos, para se
conhecerem os que formaram e transmitiram a ciência. De todos os ju
risconsultos, foi T ibério C oruncânio o primeiro a pfofessar publicamente
256 ALEXA N DR E CORREIA — GAETANO SCIASCIA
tem p o ris con va lescere, que nega ao decurso do tempo o efeito de reva
lidar um ato nulo desde o início *.
Na metade do II século a. C. viveram Públio Cévola, Bruto e Manílio,
jurisconsultos que, diz Pompôriio, iu n d a v er u n t iu s civile, ou por terem
sido os primeiros a lançar as bases da sistematização científica do direito
ou porque sua obra foi o fundamento do sistema de Quinto M úcio. Entre
os três jurisconsultos, chamados por Cícero p rín cip es civitatis, houve
uma controvérsia acêrca da natureza jurídica dos partos da escrava;
Bruto negava se pudesse considerar com o fruto o homem, levando em
conta a personalidade moral do escravo e sua função econômica, que não
era a de criar; Manílio e Públio Cévola defendiam a doutrina tradi
cional contrária.
A opinião de Bruto, inspirada nos ensinamentos do estoicismo, pre
valeceu2.
O mais antigo dêsses ictos é M anius M anilius , cônsul em 149, autor
de sete livros sôbre o iu s civile, chamados mais tarde M o n u m e n ta
M anilii, em que entre outras coisas parece foram coligidas leis atribuí
das a Numa Pompílio. É provável que êste escrito contivesse as M an i-
lian a e ven d en d a ru m leg es, chamadas M an ilii a ctio n es por Varrão,
que nos legou o texto juntamente com alguns formulários para estipula-
ções de venda. M anílio é citado junto com Bruto por Paulo, referindo
êste a opinião de Manilio, segundo a qual quem adquire, no decurso do
tempo, a propriedade de um terreno, também adquire por usucapião o
tesouro escondido, embora lhe ignore a existência 3.
M arcus J unios B rutus , que foi pretor, vir o p tim u s e t iu ris p e r i-
tissim u s, segundo Cícero, escreveu três livros d e iu re civili que, segundo
o uso dos filósofos gregos, tinham forma de diálogo entre o autor e o filho.
É provável que outras obras, inexatamente a êle atribuídas, fôssem co
nhecidas por Cícero, que lembra respostas suas. Bruto é citado junto
com Manílio por Paulo, como já se disse, por Ulpiano que refere Celso,
por Modestino, enfim, que recorda uma sua controvérsia com Cévola.
P ublius M ucius S caevola , cônsul em 133, mais tarde pontífice
máximo escreveu dez livrinhos. Conhecemos dêle algumas sentenças,
uma das quais referida por Pompônio e lembrada por M odestino; uma
outra, por Javoleno, relativa à revolta de Tibério Graco, cujos herdeiros
foram obrigados a restituir à sua mulher, Licínia, os bens dota is. perdidos
na sedição provocada por culpa do marido1.
P ublius R utilius R ufus foi discípulo de Públio Cévola. M uito
procurado pelos seus pareceres, distinguiu-se como homem de Estado,
historiador e jurista. Foi injustamente exilado em 92 a. C. sob a acusa
ção de ter praticado extorsões, quando legado na Asia Menor. Entre
seus escritos cita-se um intitulado D e m o d o a ed ificioru m . E provável
seja o mesmo autor aduzido por Sabino e por Ulpiano, como também
seja o autor da fo rm u la R u tilian a com que o b o n o r u m e m p to r exerce
tôdas as ações que cabem ao réu contra seus devedores 2. Gaio IV, 35
afirma ter sido êle o pretor que introduziu .a b o n o r u m v en d itio, i. é,
a execução sôbre todo o patrimônio do devedor, em proveito de todos os
credores, a pedido de um dêles. Ulpiano menciona-o como o juriscon-
sulto que eliminou o inconveniente das condições demasiadamente pesadas
impostas às manumissões, dispondo que não se concederia ação aos pa
tronos, para a execução das promessas, a não ser as de op era e ou a com
que o liberto tivesse combinado que, no caso de não cumprir o obséquio
para com o patrão, admitiria êste com o sócio de todos os bens. A Ru-
tílio Rufo é também atribuída a c o n s titu tio R u tilian a acêrca da possi
bilidade de usucapir as res m a n cip i vendidas pela mulher, sem outorga
do tutor (Vat. Fragm. 1).
1. D . 24, 3, 66 pr. Javol.; cf. Juv. II, 24: Q u is tu lerit Gracchos se sedition e
qu ae ren tes?
2. Gai. 4, 35.
262 ALEXAN DRE CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
várias opiniões de Sérvio, uma das quais com a indicação precisa do pri
meiro livro ad B ru tu m .
Nas duas cartas de pêsames, que Sérvio enviou a Cícero por ocasião
da morte de Túlia, se encontra a celebrada su b tilita s e eleg a n tia do
seu estilo. É muitas vêzes citado por seus sucessores: Nerácio, Celso e
talvez também Pompônio e Gaio tenham podido conhecer diretamente
as suas obras; mas, se deve ter em conta que os juristas do II e III séculos
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 265
1. Uma resposta humorística de Aulo Cascélio é contada por Macróbio, Sat. II, 6, 1.
Certo Vatínio, espécie de antigo homem-montanha, lutara muito mal no estádio, contrà-
riamente à sua fama, talvez de propósito, depois de entendimentos com o adversário ou
os managera. Os espectadores aborreceram-se e os mais enfurecidos cobriram-no não
com uma chuva de bananas podres, que em Roma não havia, mas com pedras e caliças
muito menos leves. Aulo Cascélio era no tempo edil e por ordem pública providenciou
um decreto que permitia lançar na arena sòmente frutas. “ E as pinhas são frutas?”
lhe perguntou um torcedor folgazão; “ Por certo” — apoiou o jurista que provàvel
mente tinha assistido à luta fingida ■— “ se você deseja lançá-las sôbre Vatínio!” . Aliás,
às vêzes, dos textos que a tradição nos confiou tiramos anotações curiosas, de colorido
humorístico. Assim encontramos apostas à solução dum caso jurídico estas palavas-
“ O jurisconsulto respondeu com grande agudeza na questão, facílima, pois é duvidosa
a sua solução” (D. 35, 1, 109). É evidente que se o problema era fácil, não era mister
grande sagacidade para resolvê-lo; e se a solução era duvidosa, a resposta não podia ser
a mais simples. A patente contradição pode eliminar-se supondo que um estudante
tenha anotado o texto qualificando a questão de “ facílima” . Quem tem prática de livros
de biblioteca bem sabe como muitas vêzes, não obstante a vigilância dos empregados,
nas páginas dos volumes encontram-se escritas observações jocosas. — Üm caso igual
ao das cinco irmãs Dionne ou Diligenti, que tanta maravilha e curiosidade produziram
nos nossos tempos, aconteceu também, na antiguidade, não só de Aristóteles, que o lembra,
mas também durante o govêrno de Adriano, no segundo século depois de Cristo. M ui
tos jurisconsultos (D. 34- 5, 8 pr. Gai.; D . 5, 6, 3 Paul.) contam que certa Serápia de Ale
xandria, no Egito, deu à luz cinco crianças no mesmo parto; Lélio mesmo a viu com os
filhos no palácio imperial, onde foi levada à presença do imperador. O fato do parto
dá lugar a um problema jurídico. Com efeito, quando o pai, morrendo, deixa a mulher
grávida, a lei reserva ao nascituro parte dos direitos hereditários: que parte da herança
deve caber logo a outro filho dos mesmos pais, sem prejudicar os direitos dos nascituros ?
Dada a maior freqüência de partos singulares responderíamos, que lhe cabe a metade.
Mas não é absolutamente excepcional que a mãe d£ à luz duas crianças no mesmo parto.
M AN U AL DE DIREITO ROMANO 26 7
Neste caso seria preciso revogar a parte já dada ao outro filho para dar-lhe não metade,
mas um terço. A lei, porém, quer prever todos os casos possíveis e por isso considerando
que não são raros os partos trigêmeos, na expectativa do nascituro, atribui ao filho só
a quarta parte. Em relação ao caso de Serápio Alexandrina os próprios jurisconsultos
reconhecem que a realidade não pode ser encerrada em regras absolutas, e justificam a
índole dos princípios jurídicos por meio da autoridade dos filósofos gregos: o legislador
não cuida de fatos que acontecem uma ou duas vêzes, ensinou Teofrasto (cf. D . 1, 3, 6
Paul.). — Indubitàvelmente nada tinha de humorística a decisão dum outro juriscon
sulto sôbre a pergunta duma vítima do amor. Particularmente ridícula, porém, como
aliás todos os nossos escritos amorosos, é a carta, causa da lide, na qual foi pedido
o parecer de Cervídio Scévola. Uma velha tinha escrito a um campônio seu conhecido
estas palavras: “ Meu tesouro, bem sei qual seja o teu amor por mim. Mostra-mo
deixando todos os negócios que te aborrecem, vindo para aqui. Deixa tudo; eu tenho
muitas rendas que são suficientes para viver tôda a vida. Nada te faltará” . Saiu de
longe o homem, quem sabe se atraído mais pelo final da carta do que por verdadeiro
amor. Mas bem se sabe o que acontece depois de poucos meses nas relações dos que
vivem juntos sem ter um ideal comum. E os negócios deixados ? a colheita madura ?
Tudo perdido! E as promessas, as rendas da mulher? O jurista não sabe como decidir
no momento e prefere adiar o seu parecer depois de conhecidas as causas e as pessoas
implicadas na lide (D. 44, 7, 61, 1 Scaev.). A h on esta s produz efeitos jurídicos.
C a p ítu lo II
§ 148 — O brigações.
§ 150 — G eneralidades.
Q. C e r v í d i o S c é v o l a — Os lib ri V I re s p o n so ru m de Q. Cervídio
Scévola foram escritos provàvelmente sob Septímio Severo. A história
da tradição desta obra é muito discutida, porque numerosos textos na
coleção de respostas se encontram idênticos na outra obra de Scévola
X L libri d ig esto ru m . Os dois escritos têm certamente um arquétipo
comum. Segundo a opinião dominante, que é a de Mommsen, Scévola
teria publicado antes os resp on sa , ao passo que os digesta, derivados
daqueles, teriam sido póstumos. Segundo outros, não se deve excluir
a hipótese de ter o jurista publicado os d igesta, donde deriva a subse
qüente edição dos resp on sa . Schulz sustentou que o arquétipo foi pu
blicado sòmente nos fins do III ou princípios do IV século. Mas se são
autênticas com o parece, as anotações de Cláudio Trifonino e de Paulo
apostas quer aos D igesta quer aos resp on sa , esta última hipótese não
tem fundamento, a não ser que se queira sustentar que as anotações dos
m a n u a l de d ir e ito r o m a n o 285
1. D . 28. 1. 27 Cels.
2. D . 28, 1, 21, 2 U lp .; D . h, t . 20, 10 Ulp. O legislador brasileiro dedicou ao
assunto um artigo d o cód. civ . (1639) dan do poder a o oficia l, que tiver escrito o testa
m en to cerrado dum analfabeto, de aprová-lo.
M AN U AL DE DIREITO ROMANO 287
1. D . 41, 1, 55 Procul.
2. D . 8, 2, 13 Procul
288 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
1. D . 40, 5, 20 Pomp.. “ kan ton eteron póda en tei soroi echo, prosmathein ti
bouloímen” . O parecer de Juliano deve ter chegado antes de êle dar outro passo.
M A N U A L DE DIREITO ROMANO 289
1. D . 12, 1, 40 Paul.
m a n u a l d e d ir e ito r o m a n o 291
(b) L ibri ad S a b in u m
De Masúrio Sabino, já mencionado com o autor de lib ri resp o n so ru m
e de um comentário ad ed ic tu m p ra e to r is urbani, a obra mais
conhecida são os três livros iu ris civilis. O in d ex F lo ren tin u s enumera-os
entre as obras utilizadas pela compilação, mas nesta não encontra
mos nenhum fragmento seu. O escrito é importante para a história da
literatura jurídica romana por ter servido de base aos extensos comentá
rios ao iu s civile de Pompônio, de Paulo e de Ulpiano, que exatamente
se intitulam libri ad S a b in u m ou ex S ab in o e lhe seguem o sistema.
Dêstes comentários se deduz a ordem adotada por Sabino, que era a
seguinte: — testamento com adição da herança e deserdação, te sta m e n -
tu m r u p tu m ou ir r itu m pela sobrevivência de h ered es su i ou revo
gação, sucessão intestada e herança dos libertos, legados, p a tria p o te s ta s ,
adoção e emancipação; escravos manumitidos por testamento, sob con
dição; prestações do liberto ao p a tr o n u s (op era e lib e r to r u m ); traditio',
venda com a d u plae stip u la tio (i. é, a estipulação do vendedor, que teria
dado um preço dobrado ao comprador no caso de ter êste sofrido a evicção),
sociedade, com ações divisórias relativas à comunhão hereditária (a ctio
fa m ilia e erciscu n d a e) e à comunhão em geral (a ctio c o m m u n i divi-
d u n d o); dote; tutela; furto; lex A qu ilia relativa à culpa extra-contra-
tual, d a m n u m in fe c tu m (ainda não verificado) referente à respectiva
caução e à eventual m issio in p o s s e s s io n e m na coisa ameaçada, do réu,
injúria, pagamento e ações referentes ao enriquecimento ilícito, edito
edilício (considerado no iu s civile, talvez em relação à circunstância de
M A N U A L DE DIREITO ROM ANO 299
(c) L ib ri ex PI a u tio .
Plautio, jurisconsulto que viveu nos tempos de Trajano, foi autor de
uma obra que teve em Roma grandíssima acolhida; tanto assim, que foi
comentada por vários jurisconsultos insignes: Nerácio, Javoleno, Pom
pônio e Paulo. Dos comentários dêstes três últimos juristas temos muitos
fragmentos nas Pandectas. Já se sustentou que a obra de Plautio era
uma coleção de respostas. Por outros, ao invés, foi contraposta à obra
300 ALEXA N D R E CORREIA ---- GAETANO SCIASCIA
consulto que é seu autor, cujo nome então é preciso buscar pela exposição
anterior. Êste significado de n o ta r e por vêzes coincide com o outro, de
repreender, reprovar, i. é, criticar, corrigir; caso em que é possível pelo
próprio verbo, ter notícia da existência de uma nota e também do seu
conteúdo crítico.
Ao publicar ou reeditar obras precedentes, os jurisconsultos romanos
costumam apor ao texto anotações de caráter interpretativo ou crítico,
acréscimos que visam esclarecer qualquer ponto de decisão originária ou
a pôr em evidência a parte substancial. Entram nesta categoria as notas
de Marcelo, de Q. Cervídio Scévola, e de Paulo aos d ig esta de Juliano;
as notas de M arcelo ao lib er singu laris reg u la ru m de Pompônio; as
de Ulpiano aos d igesta de Marcelo; de Paulo, Ulpiano e Marciano à obra
de Papiniano. Podem recordar-se aqui também as notas escritas por
Juliano, ao reeditar os lib ri ad U rseiu m F erocem , as anotações de Pró
culo a Labeão, as obras de Paulo a d N era tiu m e a d P la u tiu m a que se
aludiu há pouco. É possível que com o sustenta Schultz, alguns de tais
corpos de anotações fôssem, na origem, independentes do manuscrito que
comenta vem.
Também nas obras da jurisprudência clássica que nos foram con
servadas mediante resumos de juristas posteriores, acrescentam-se obser
vações do epitomador. Estas podem assumir a característica externa
das notas, como acontece nos P ith an a, epitomados por Paulo, mas se
apresentam também fundidas com o texto antigo resumido, de modo
que difícil se torna ao intérprete distinguir a doutrina antiga da acres
centada pelo epitomador. Devem ser mencionadas entre estas obras
os d ig esta de Alfeno Varo, a que muitas vêzes se aludiu, epitomados
por Paulo; os livros de Javoleno ex p o s te r io r ib u s L a b eon is e ex C assio;
os livros de Paulo ad V itelliu m e a obra de Pompônio ex Plautio.
A parte mais relevante das obras atrás examinadas nos foi conser
vada através da compilação de Justiniano, da qual trataremos no capítulo
seguinte.
Uma série porém, de escritos dos juristas romanos chegou até nós,
independentemente da compilação bizantina. Trata-se, geralmente, de
302 ALEXAN DRE CORREIA ---- ÜAETANO SCIASCIA
§ 162 — G en eralidades.
as leys imperiais de seus antecessores, obra que sem lhe custar mais
trabalho que a diligência de buscar os jurisconsultos, Dorotheo e
Theophilo, que a fizeram, por causa de lhe herdar para cõ o mundo nome
de sábio, sendo elle tão pouco, que affirmão alguns, que lia com muyta
dificuldade os memoriais que lhe davão; e quero de caminho advirtir a
impropriedade que hoje ha em alegar estas Pandectas, ou Digestos, pois
avendose de escrever hum p. grego nesta forma n, que deo nome de Pan
dectas abreviado, se veyo por inadvertencia a converter nos dous ff com
que ordinariamente se escreve. Governou o Império trinta e oito annos,
e tendo mais de 80 de idade, morreu no de Cristo 566 a. que são 4524 da
Creação do M undo” . — Frey Bdo. de Brito, Segunda Parte da Monar-
chia Lusitana, Lisboa, 1690, pags. 257.8.
§ 167 — As N ovellae.
§ 171 — C ro n o lo g ia d os ju r ista s ro m a n o s.
18. Cínna
19. Aulus Cascellius
20. Caius Trebatius Testa
21. Quintus Aelius Tubero, m ais jo v e m q u e ê stes ú ltim os.
22. Blaesus, do mesmo tem po (?)
ad M in iciu m libri
ad U rseium F ero cem lib ri I V
58. Sextus Pomponius, so b A d rian o, A n to n in o P io e M arcos e Vero
(até 172))
ad ed ic tu m libri
en ch irid ii lib er sing. e lib ri I I
ep istu la ru m libri
ep istu la ru m e t variarum le c tio n u m libri X X
de fid eico m m issis lib ri V
ad Q u in tu m M u ciu m lib ri X X X I X
n o ta e ad A riston is d igesta
ex P lau tio lib ri V II
reg u la ru m lib er sing.
ad S a b in u m libri X X X V I
de sen a tu s co n su ltis lib ri V
de stip u la tio n ib u s lib ri
variarum le c tio n u m libri
59. Arrianus, c o n te m p o r â n e o de P o m p ô n io ?
d e in terd ictis libri
60. Pactumeius Coemens |
61. Vindius Vero / cón su /es em 138 d ' C'
62. Aburnius Valens, q u a se c o n te m p o r â n e o d êstes
a c tio n u m libri
de fid eico m m issis lib ri V II
63. Africanus, q u a se do m e s m o te m p o , d iscípu lo de Iu lia n o
ep istu la ru m libri
q u a e s tio n u m libri
64. Mauricianus
n o ta e ad Iu lia n i d igesta (?)
65. Publicius |
66. Terentius Clemens / q u a se do m e s m o te m p o
ad le g em Iu liam e t Papiam lib ri X X
67. Venuleius Satuminus, so b A n to n in o P io (138-161 d. C.) e os divi
Fratres (161-172)
a c tio n u m lib ri X
(d isp u ta tio n u m libri)
(ad ed ictu m libri)
de in terd ictis libri V I
de iu diciis p u b licis libri I I I
d e o ffic io p ro co n su lis lib ri IV
d e p o e n is p a g a n o ru m lib er sing.
de stip u la tio n ib u s lib ri X I X
68. Gaius (so b o rein ad o de A d rian o e dos seu s su cesso res; m o rreu
d ep ois d e 178 d. C.)
d e casibu s lib er sin gu laris
318 ALEXAN DRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
de p o r tio n ib u s q u a e liberis d a m n a to r u m co n c ed u n tu r
lib. sing.
d e p u b licis iu d iciis lib. sin g.
q u a e s tio n u m lib. X X V I
ad reg u la m C a ton ia n a m lib. sing.
reg u la ru m lib. V II
reg u la ru m lib. sin g.
r e s p o n s o r u m lib. X X I I l
ad S a b in u m lib. X V I
d e secu n d is ta b u lis lib. sing.
d e s e n a tu sco n su ltis lib. sin g.
ad S. C. C lau d ian u m lib. sing.
a d S. C. L ib o n ia n u m lib. sin g.
ad S. C. O rp h itia n u m lib. sing.
ad S. C. S ilan ia n u m lib. sin g.
ad S. C. T ertu llia n u m lib. sing.
ad S. C. T u rp illià n u m lib . sin g.
a d S. C. V ella ea n u m lib. sin g.
s e n te n tia r u m ad filiu m lib. V
d e sep tem v ira lib u s iu d iciis o u d e cen tu m v ira lib u s iudiciis.
d e ta citis fid eico m m issis lib. sin g.
d e te s ta m e n tis lib. sin g.
d e u su ris lib. sing.
variaru m le c tio n u m lib. sin g.
ad V itelliu m lib. I V
83. Domitianus Ulpianus (so b o rein a d o d e S etím io S evero e seu s
s u c e s so r e s ; m o r to e m 228 d. C.)
d e a d u lteriis o u ad le g e m Iu lia m d e a d u lteriis lib. V
d e a p p ella tio n ib u s lib. I V
d e cen sib u s lib. V I
ad e d ic tu m a ed iliu m cu ru liu m lib. I I
a d e d ic tu m p r a e to r is lib. L X X X I
d e ex cu sa tio n ib u s lib. sin g.
d e fid eico m m issis lib. IV
i n s titu tio n u m lib. I I
ad le g em A elia m S en tia m lib. I V
ad le g em Iu lia m d e a d u lteriis lib. V
ad le g e m Iu lia m e t P apiam lib. X X
n o ta e ad M arcelli d ig esta e t P a p in ian i resp on sa
d e o ffic io co n su la riu m lib. sing.
d e o ffic io con su lis lib. I I I
d e o ffic io cu ra to ris r e i p u b lic a e lib. sing.
d e o ffic io p r a e fe c ti u rb i lib. sin g.
d e o ffic io p r a e fe c ti vig ilu m lib. sin g.
d e o ffic io p ra e to r is tu tela ris lib sing.
d e o ffic io p ro co n su lis lib. X
d e o ffic io q u a esto ris lib. sing.
322 ALEXANDRE CORREIA — GAETANO SCIASCIA
84. Marcianus
d e a p p ella tio n ib u s lib. I I
d e d ela to rib u s lib. sing.
(d igesta)
ad fo r m u la m h y p o th eca ria m lib. sing.
i n s titu tio n u m lib. X V I
d e iud iciis p u b licis lib. I I
n o ta e a d P apin ian i d e a d u lteriis libros
r eg u la ru m lib. V
a d S. C. T u rp illia n u m lib. sing.
85. Macer (sob o rein a d o d e A lexan d re Severo)
d e a p p ella tio n ib u s lib. I I
d e iu d iciis p u b lic is lib. I I
ad le g e m v icesim a m h e r e d ita tiu m lib. I I
d e o ffic io p ra esid is lib. I I
d e r e m ilita ri lib. I I
86. Iulius Aquila
87. Herennius Modestinus (d iscípu lo d e U lpiano; m o rr eu d epois
d e 239 d. C.)
d e d iffe r en tia d o tis lib sing.
d iffe r en tia r u m lib. I X
d e en u clea tis casibu s lib sing.
d e ex cu sa tio n ib u s lib. V I
d e h eu rem a ticis lib. sin g.
d e in o ffic io so te s ta m e n to lib. sin g.
d e leg a tis e t fid eico m m issis lib. sing.
d e m a n u m issio n ib u s lib. sing.
(ad. Q. M u ciu m )
p a n d ecta ru m lib . X I I
d e p o e n is lib. I V
d e p ra escrip tio n ib u s lib. sing.
(d e p ra escrip tio n ib u s libri)
regu la ru m lib. X
resp o n s o r u m lib. X I X
d e r itu n u p tia ru m lib. sing.
d e te s ta m e n tis lib. sing.
M AN U AL DE DIREITO ROMANO 323
(setembro) 81 96 T. Flavius D o m i t i a n u s
(18.9) 96 98 M . Cocceius Nerva
(25.1) 98 117 Ulpius Nerva T r a i a n u s
(agôsto) 117 138 T . Aelius H a d r i a n u s
(10.1) 138 161 T . Aelius Hadrianus A n t o n i n u s
P i u s (divus Pius)
(7.3) 161 172 M . A u r e l i u s Antoninus et L ucius
V e r u s (divi Frates)
(janeiro) 172 180 M . A u r e l i u s Antoninus (sòzinho)
(março) 180 192 L. Aelius Aurelius C o m m o d u s
(janeiro) 193 P e r t in a x ; D id iu s I u l ia n u s
(junho) 193 211 S e p t im u s S e v e r iu s
(fevereiro) 211 212 M . Aurelius Severus Antoninus (cha
mado C a r a c a l a ) e P . Septimus
Antoninus G e t a
324 ALEXANDRE CORREU — GAETANO SCIASCIA
(15.2) 238 G o r d i a n u s I e II
(abril) 276 F l o r ia n u s
M a x im ia n u s , C o n s t a n t in u s
M a x im u s
363 364 I o v ia n u s
364 375 V a l e n t in ia n u s I e V alens
375 378 V a l e n t in ia n u s II e V a l e n s
379 392 V a l e n t in ia n u s II e T h e o d o s i u s I
392 395 T h e o d o s iu s I
MANUAL DE d ir e ito ROMANO 325