Você está na página 1de 2

Revista de Economia Política, vol. 26, nº 4 (104), pp.

627-633 outubro-dezembro/2006

Resenhas

Chutando a Escada: a estratégia do


desenvolvimento em perspectiva histórica
Ha-Joon Chang
São Paulo: Editora UNESP, 2004.

A versão original desse livro foi publicada los países desenvolvidos a adotar o que chamam
em inglês, em 2002, e foi traduzida para uma sé- de “boas políticas e boas instituições”, capazes de
rie de idiomas. Seu autor, Ha-Joon Chang, é um promover o desenvolvimento econômico. As
coreano, professor da Universidade de Cambrid- “boas políticas” seriam as recomendadas pelo
ge, na Inglaterra, desde 1990, e diretor-adjunto Consenso de Washington, dentre elas podemos ci-
do Departamento de Estudos sobre Desenvolvi- tar políticas macroeconômicas restritivas, libera-
mento. Ha-Joon vem sendo considerado um líder lização comercial e financeira, privatização, e des-
da nova geração de economistas heterodoxos que regulamentação. As “boas instituições” seriam as
tentam revitalizar os trabalhos e debates na área existentes nos países desenvolvidos, principalmen-
de desenvolvimento econômico te nos anglo-saxões, por exemplo, a democracia,
Em 2003, o livro, cujo título original em in- um poder judiciário e banco central independen-
glês é Kicking away the ladder: development stra- tes e uma forte proteção aos direitos de proprie-
tegy in historical perspective, foi o vencedor do dade. Os argumentos utilizados são que “políti-
Prêmio Gunnar Myrdal, dado pela EAEPE (Eu- cas e instituições boas” foram adotadas pelos
ropean Association for Evolutionary Political países desenvolvidos quando estavam em proces-
Economy) para a melhor publicação. so de desenvolvimento. Chang mostra que não fal-
Seu autor, Ha-Joon Chang, dividiu o Prê- tam evidências históricas sugerindo o contrário.
mio Leontief (Wassily Leontief Prize for Advan- O principal questionamento de seu traba-
cing the Frontiers of Economic Thought) de 2005, lho é: “Como os países ricos enriqueceram de fa-
dado pela Universidade de Tufts, com Richard R. to?” Esta pergunta é o título do primeiro capítu-
Nelson, professor da Universidade de Columbia. lo do livro.
O Prêmio Leontief foi recebido pela sua contri- A obra é dividida em quatro capítulos. O pri-
buição para o estudo do desenvolvimento econô- meiro é introdutório, discutindo o método de aná-
mico de países pobres e pelos seus trabalhos ten- lise utilizado e os questionamentos do autor, ante-
tando desvendar a problemática relação existente cipando também algumas conclusões finais do
entre metas de desenvolvimento e uma economia trabalho. O capítulo 2 aborda as chamadas políti-
globalizada. cas de ICT (políticas industrial, comercial e tecno-
O título do livro, Chutando a escada, faz re- lógica). Segundo Chang, são as diferenças nestas
ferência a parte de uma frase de Friedrich List, políticas que, para ele, separam os países bem-su-
economista alemão do século XIX (1789-1846), cedidos, em termos de desenvolvimento econômi-
defensor do protecionismo à indústria nascente. co, dos outros países, deixando claro que não ne-
Em seu trabalho, Ha-Joon afirma que os países ga a importância de outras políticas. O terceiro
em desenvolvimento estão sendo pressionados pe- capítulo analisa um grande número de instituições.

Revista de Economia Política 26 (4), 2006 627


Ha-Joon afirma que (p. 25), “[...]Tanto quanto me nagem industrial patrocinada pelo Estado e a
é dado saber, este livro é o único que oferece infor- cooptação de trabalhadores da Inglaterra, práti-
mações em um espectro tão amplo de instituições, cas que seriam consideradas “ruins” nos dias de
passando por um grande número de países”. No hoje. Em uma outra parte do livro (págs. 127-
último capítulo, intitulado “Lições para o presen- 36), Ha-Joon demonstra que, nos países desen-
te”, o autor tenta responder os seus questionamen- volvidos, a democracia, durante muito tempo,
tos iniciais, dando algumas sugestões para os paí- não foi muito democrática, porque excluía pes-
ses em desenvolvimento. soas por renda, sexo, cor... Existia também com-
Após a análise do desenvolvimento econô- pra de votos, fraude eleitoral e corrupção. Segun-
mico sob um prisma histórico, Ha-Joon conclui do o autor, os países em desenvolvimento, nas
que se os países desenvolvidos tivessem mesmo fases iniciais da democracia, não tiveram tantos
adotado as políticas que recomendam aos países problemas como os países desenvolvidos.
em desenvolvimento, não seriam o que são hoje. O livro é de leitura fácil, com abundância
Muitos deles, ao longo de sua trajetória de desen- de dados históricos não só de países tradicional-
volvimento, recorreram a políticas comerciais e mente analisados como EUA, Alemanha, França,
industriais protecionistas, atualmente considera- Grã-Bretanha e Japão, mas também de países me-
das políticas “ruins”. Além disso, no século XIX nores, como a Bélgica, Suíça, Holanda, etc. Apre-
e início do século XX, antes de se tornarem países senta, assim como em outros livros do mesmo au-
desenvolvidos, possuíam poucas das instituições tor, uma visão crítica em relação ao papel do
que agora recomendam aos países em desenvolvi- Estado no desenvolvimento econômico e em rela-
mento. Em outras palavras, os países desenvolvi- ção às políticas recomendadas aos países em desen-
dos, pregando políticas ortodoxas, estariam hoje volvimento pelos órgãos de fomento internacio-
“chutando a escada” para que os países em de- nal como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
senvolvimento não consigam seguir os mesmos ca- Internacional.
minhos trilhados por eles para se desenvolver. É um trabalho original, recomendado para
O ponto alto do livro são os dados históri- leitura a economistas e pessoas com diversas áreas
cos que questionam determinados mitos em rela- de formação, inclusive a formuladores de políticas
ção aos países desenvolvidos. Por exemplo, na ta- públicas. Contém inúmeras referências bibliográ-
bela 2.1 (pág. 36), fica claro que, de 1820 até ficas e estimula a repensar as estratégias de desen-
1931, os EUA e alguns outros países hoje desen- volvimento econômico que vêm sendo adotadas
volvidos adotaram políticas altamente protecio- pelos países pobres e em desenvolvimento.
nistas para defender a sua indústria nascente, mas
eles alegam que fizeram o contrário: que liberali- Carmen Augusta Varela
zaram seus mercados. Em um trecho do livro (pág. Professora da Escola de Administração
66), que analisa as políticas de ICT adotadas pe- de Empresas de São Paulo
la Alemanha, menciona-se a utilização de espio- da Fundação Getúlio Vargas

Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta


Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner
Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

Em um tempo em que estudantes e profis- ta, de autoria de Steven D. Levitt e Stephen J.


sionais queixam-se do elevado grau técnico das Dubner deve ser saudado.
discussões acadêmicas em Economia, surge um Recentemente, ocorreram esforços seme-
livro que busca, de maneira simples e irreveren- lhantes ao dos autores. Por exemplo, o livro Se-
te, revelar as diversas possibilidades de aplicação xo, drogas e Economia, de Diane Coyle (São Pau-
da teoria econômica. É principalmente por esta lo: Futura, 2003), equivale a uma tentativa de
razão que o lançamento do livro Freakonomics: apresentar uma introdução didática a temas pou-
o lado oculto e inesperado de tudo que nos afe- co convencionais vistos sob o prisma da Ciência

628 Revista de Economia Política 26 (4), 2006

Você também pode gostar