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aula 1 – fabrício rocha bastos – FABRICIORBASTOS@GMAIL.

COM

cognição

Conceito

Segundo Alexandre Câmara, “é a técnica utilizada pelo juiz para, através


da consideração, análise e valoração das alegações e provas produzidas pelas
partes, formar juízos de valor acerca das questões suscitadas no processo, a fim
de decidi-las”. É comum a todos os três tipos de processos autônomos, mas
prepondera no processo de conhecimento, cujo objetivo é a obtenção de uma
declaração da existência ou inexistência do direito afirmado pelo demandante.

objeto

Há quatro correntes sobre o objeto da cognição.

1ª corrente: Predomina na doutrina (Fredie Didier) e na jurisprudência que o


objeto da cognição é composto por um trinômio que deve ser enfrentado na
seguinte ordem: pressupostos processuais, condições ao legítimo e regular
exercício direito de ação e o mérito.

2ª corrente: Para Alexandre Câmara, o objeto da cognição também é um


trinômio, mas que se divide da seguinte forma: questões preliminares, questões
prejudiciais e mérito.

3ª corrente (Chiovenda): Existe ainda uma tese minoritária que afirma ser um
binômio: requisitos de admissibilidade = pressupostos processuais e condições da
ação.

4ª corrente: Existe ainda uma quarta corrente que afirma que o objeto da
cognição é um quadrinômio: segue o mesmo conteúdo da tese dominante,
incluindo-se ainda os chamados supostos processuais. Os pressupostos
processuais são aqueles que determinam a existência da relação jurídica,
enquanto os supostos processuais analisam a validade desta relação.

Questão: Qual a diferença entre objeto da cognição, objeto da jurisdição e objeto


do processo?

O objeto do processo é bipartido e contém os elementos individualizadores ou


identificadores da demanda ou elementos da ação + o objeto da cognição. Já o
objeto da jurisdição é a pretensão. Alguns autores incluem também nesse objeto a
resistência oferecida à pretensão.
Muitos autores que comentam o CPC/2015 sustentam que o objeto da cognição
vai ser reduzido porque o novo CPC extingue as condições da ação (Fredie
Didier). É factível sustentar que tais condições serão transferidas completamente
para o mérito, ou seja, deixarão de ser um mero requisito de admissibilidade. É a
aplicação da teoria da asserção. Portanto, o objeto da cognição que era um
trinômio (pressupostos processuais + condições da ação + mérito) passará a ser
um binômio (pressupostos processuais + mérito).

espécies

O sistema cartesiano da cognição estabelece que a cognição é dividida em


dois planos – o plano horizontal e o plano vertical.

 No plano horizontal, trabalha-se a extensão da cognição judicial, no sentido


quantitativo, ou seja, quantidade de matérias que podem ser conhecidas e aquelas
que podem ser ventiladas pelas partes. Nesse plano, encontra-se tanto a cognição
plena como a cognição limitada. Fala-se ainda na cognição eventual ou
secundum eventus defensionis.

 No plano vertical, trabalha-se com a profundidade da cognição judicial, ou


seja, até que ponto o magistrado pode resolver a questão que lhe foi submetida,
qual o nível de certeza do juízo que será emitido pelo magistrado (secundum
eventus probationis). Aqui, fala-se em cognição sumária e cognição exauriente
ou exaustiva. Há autores que ainda incluem a chamada cognição rarefeita.

cognição horizontal plena

Cognição plena ou cognição plenária ou ação plenária é a espécie de cognição


regra geral em nosso ordenamento e indica que não há limites para o exercício
judicial da cognição. As partes são livres para ventilar qualquer matéria tanto
para embasar a pretensão como para embasar a resistência. Normalmente é
encontrada no procedimento comum.

cognição horizontal limitada

Traz uma limitação quanto às matérias que poderão ser ventiladas pelas
partes, gerando o que alguns autores chamam de ação sumária. A ação sumária
não se confunde com o procedimento sumário nem com cognição sumária. A
ação sumária é simplesmente o exercício de uma cognição judicial horizontal
limitada.

Questão: Qual a principal diferença procedimental entre ação petitória e ação


possessória? Na ação petitória, a cognição é plena, ou seja, não se submete a
limites, enquanto na ação possessória, existe uma limitação, pois não pode ser
ventilada matéria petitória, razão pela qual a cognição é limitada.

Questão: É possível uma ação petitória ser decidida exclusivamente com base na
posse? Sim. Como a cognição é plena, a parte pode ventilar matéria possessória
em ação petitória. A função social da posse pode se sobrepor ao próprio direito
da propriedade que não cumpre sua função social. Sendo assim, pode servir de
fundamento para que o proprietário perca o seu bem para o possuidor, desde que
não tenha dado função social à sua propriedade. Ex. O proprietário quer reaver o
bem, mas o possuidor ventila usucapião como matéria de defesa.

Questão: A defesa do executado gera uma cognição plena ou limitada? Depende


da defesa do executado.

 Impugnação (embargos à execução com base em título judicial): art. 475-L do


CPC → traz um rol taxativo das matérias defensivas em sede de execução, o que
significa que a impugnação gera cognição limitada.

 Embargos à execução contra a Fazenda Pública: art. 741 do CPC → rol taxativo
→ cognição limitada.

 Embargos à segunda fase (aqueles que atacam os atos de expropriação –


adjudicação, arrematação ou alienação) → art. 746, caput, do CPC → a cognição
também é limitada.

 Embargos à execução contra devedor insolvente: art. 756 do CPC → rol


taxativo → cognição limitada.

 Embargos à execução com base em título extrajudicial: art. 745, V, do CPC →


por força do inciso V do art. 745 do CPC (rol exemplificativo), a cognição é
plena.

Questão: Pode o executado na fase de cumprimento de sentença alegar como


matéria de defesa incompetência absoluta? O art. 475-L que trata da defesa do
executado em cumprimento de sentença é rol taxativo que não prevê a
possibilidade de alegar incompetência absoluta. Contudo, o art. 475-L deve ser
interpretado conjuntamente com o art. 113 do CPC que preconiza que a
incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo ou grau de
jurisdição, razão pela qual, ainda que não conste do rol do art. 475-L, poderá ser
alegada pelo executado por força do art. 113 do CPC. O executado só poderá
alegar incompetência absoluta até 2 anos após o trânsito em julgado da decisão,
sob pena de violação indireta dos arts. 485, II, e 495 do CPC (c/c Súmula 401 do
STJ). A incompetência absoluta é causa de pedir da ação rescisória, que se
submete a prazo decadencial de 2 anos. Se for permitido ao devedor alegar após
os 2 anos incompetência absoluta ele vai obter via indireta o que não consegue
mais obter pela via direta, qual seja rescindir a coisa julgada por meio da ação
rescisória. Também não pode, portanto, o juiz de ofício reconhecer essa
incompetência absoluta depois dos 2 anos.

Questão: E se for ausência ou nulidade de citação? Em se tratando de ausência


ou nulidade de citação, se o vício ficou restrito o plano da validade, deve também
ser observado o prazo de 2 anos para alegação de tal vício na execução. Se o
vício, contudo, ficou adstrito ao plano da existência, não há que se falar em prazo
decadencial, porque não existiu relação jurídico-processual, se tratando de vício
transrescisório.

Questão: Qual o âmbito de aplicação do art. 485, V, do CPC? Lei é no sentido de


norma jurídica (metonímia utilizada pelo legislador), razão pela qual engloba
norma constitucional, supralegal e legal. Pode, mesmo depois de findo o prazo da
rescisória, ser ventilado o vício da coisa julgada inconstitucional? Sim. O vício
da inconstitucionalidade também está adstrito ao prisma da validade, porém a
inconstitucionalidade não preclui, não convalesce nunca, pelo que pode ser
alegado a qualquer tempo e ser reconhecido inclusive de ofício (vide Inf. 498 do
STF – ação rescisória e Súmula 343 do STF). Se passado o prazo da rescisória,
tal vício não poderá ser alegado via ação rescisória, mas somente mediante ação
autônoma ou como matéria de defesa em uma execução.

Atenção: O art. 475-L, II e §1º c/c art. 741, II e p.ú, do CPC, podem ser usados
para fundamentar a relativização da coisa julgada quando for verificada a coisa
julgada inconstitucional (ou sentença inconstitucional transitada em julgado). O
novo CPC traz essas mesmas disposições nos arts. 525, §§7º ao 12 e 535, §§5º ao
8º.

Obs. A querela nullitatis insanabilis significa ação declaratória de


inexistência da relação jurídica processual (é o que ocorre, por exemplo, em caso
de falta de citação). Como é uma ação declaratória, não se submete a prazo,
porque tem em seu bojo uma pretensão imprescritível. A querela nullitatis por si
só se confunde com qualquer meio de impugnação.

cognição vertical sumária

É aquela que vai gerar um chamado juízo de probabilidade ou juízo de


quase-certeza. Ela é verificada nos casos de tutela antecipada em que se exige
prova inequívoca da verossimilhança da alegação na forma do art. 273, caput, do
CPC. Como gera uma probabilidade, afirma-se que este juízo é provisório. Se o
juízo é provisório, não incidirá coisa julgada material, isto é, a chamada
imutabilidade. A decisão poderá ser revista a qualquer tempo pelo magistrado.
Atenção: Não confundir a ausência de imutabilidade com preclusão. Se o
juiz defere uma tutela antecipada em favor do autor e o réu não recorre, houve
preclusão para esfera recursal, mas a decisão em desfavor desse réu não fica
imutável, que poderá, em momento processual posterior, requerer a revogação da
tutela.

Questão: É possível o ajuizamento de uma ação rescisória contra decisão


interlocutória? Pela redação do art. 485, caput, do CPC, parece que a ação
rescisória só tem por objeto sentença de mérito. Não é, contudo, o que sustenta a
doutrina. Para a doutrina, o objetivo de uma rescisória não é rescindir sentença,
mas sim rescindir coisa julgada material. Por esse raciocínio, pouco importa a
natureza do ato judicial, o que interessa é se ele tem o condão de gerar coisa
julgada material. Ex. Sentença terminativa, em regra, não gera coisa julgada
material, salvo nos casos do art. 267, V, do CPC, na forma do art. 268, 1ª parte,
caso em que gera coisa julgada material, pelo que cabe ação rescisória. O mesmo
se aplica aos casos de decisão interlocutória. Se for de mérito e gerar coisa
julgada material, será cabível ação rescisória (STJ, REsp 711.794/SP).

cognição vertical rarefeita ou sumaríssima

O juízo também é provisório, mas com base em possibilidade, pois o


legislador não exige prova inequívoca para fins de concessão da tutela
jurisdicional. É o que ocorre nos casos de tutela cautelar. Há autores que incluem
tal cognição na cognição sumária.

Questão: Na tutela cautelar, existe provisoriedade na medida concedida?


Existe uma diferença entre provisoriedade e temporariedade, sendo a
provisoriedade aplicada à tutela antecipada e a temporariedade aplicada à tutela
cautelar. As duas formas de tutela geram juízos provisórios. Na provisoriedade,
não há de forma predefinida um momento processual para cessação dos efeitos.
A tutela antecipada vai durar até que não exista uma decisão que a revogue (a
sentença de improcedência gera presunção automática de revogação da tutela
antecipada). Já a denominada temporariedade ostenta um momento processual
predefinido para a cessação de seus efeitos, que é a sentença do processo
principal, porque com a prolação da sentença no processo principal, a finalidade
assecuratória dessa tutela chegou ao fim.

cognição vertical exauriente ou exaustiva

É a cognição padrão em nosso ordenamento que acarreta um juízo de


certeza, significando que o magistrado analisou de forma profunda todas as
questões de fato e de direito apresentadas. Só a cognição exauriente terá o condão
de gerar coisa julgada material.
Questão: Existe alguma forma de tutela antecipada que decorre de uma
cognição exauriente? O art. 273, §6º, do CPC/73 e o art. 311 do novo CPC,
trazem tutela que decorre de cognição exauriente (pedido ou parcela do pedido
incontroverso), mas existe divergência sobre a natureza jurídica desse instituto.
Para uma primeira corrente, é uma das modalidades de tutela antecipada, em
razão da localização topográfica do instituto (Daniel Mitidiero). Já para uma
segunda corrente, que é a dominante (Cassio Scarpinella Bueno, Fredie Didier),
não é uma modalidade de tutela de urgência, mas sim de tutela definitiva, só que
de forma antecipada, razão pela qual consubstancia um julgamento antecipado da
lide.

O novo CPC traz um instituto completamente novo que é o da estabilidade da


tutela antecipada. Hoje, se a parte contrária não interpuser recurso, a tutela não
fica imutável, somente ocorrendo preclusão recursal, pelo que a parte pode a
posteriori requerer a revogação. Com o novo CPC, se a parte contrária não
interpuser recurso, haverá estabilidade da tutela antecipada que não poderá ser
revista senão por meio de ação própria (art. 304 do novo CPC). Essa estabilidade,
porém, não se confunde com coisa julgada material.

cognição eventual

A cognição eventual, também denominada secundum eventus defensionis,


é aquela que depende do exercício judicial de uma resistência, ou como querem
alguns da efetivação do contraditório. Isso significa que a matéria só será objeto
do exercício judicial de cognição se for ventilada pela parte (na eventualidade de
a parte ventilar a matéria).

chgnição secundum eventus probationis

É aquela que decorre da sentença de improcedência por insuficiência de


provas proferida no bojo de uma ação coletiva. Existe uma discussão na doutrina
sobre a natureza dessa sentença – se de mérito ou se terminativa.

Para uma primeira posição (minoritária), é uma sentença meramente terminativa,


pois o magistrado não resolve o mérito da demanda. O argumento de reforço a
esse tese é o de que essa sentença não gera coisa julgada material, tanto que
qualquer legitimado poderá ajuizar nova ação, desde que lastreada em novas
provas (art. 18 da Lei 4.717/65, art. 16 da Lei 7.347/85 e art. 103 do CDC).

A segunda posição, largamente dominante, entende se tratar de sentença de


mérito, mas que não resolve de forma expressa o objeto da demanda, por falta de
suporte probatório, e só não gera coisa julgada material por opção legislativa, isto
é, porque a lei diz isso, pois, se fosse uma ação individual, geraria.
Análise de caso. O MP ajuizou ACP alegando que determinado produto inserido
no mercado de consumo era nocivo. Realizada a prova técnica disponível à
época, verificou-se ausência de nocividade, pelo que o pedido foi julgado
improcedente com trânsito em julgado. Vários anos depois, surge uma nova
forma de produção da prova técnica, que confirma a nocividade do produto. O
MP reproduz então a ACP em face do mesmo fornecedor. O fornecedor citado
alega coisa julgada. Tudo depende de como será interpretada a primeira sentença.
Se entendermos que é caso de sentença de improcedência por falta de provas, não
deve ser acolhida a preliminar de coisa julgada, e o feito deve prosseguir. Se
entendermos que é caso de sentença de improcedência, deve ser acolhida a
preliminar de coisa julgada. A maioria da doutrina sustenta que a sentença
anterior necessariamente deve ser considerada improcedente por falta de provas,
vez que não existia à época a prova técnica existente atualmente. Além disso,
estar-se-ia impondo ao mercado a permanência de um produto nocivo. O risco do
desenvolvimento tecnológico não exonera a responsabilidade civil do fornecedor,
ou seja, esse ônus é do fornecedor e não do consumidor.

processo de conhecimento

panorama geral atual

A rigor, no panorama atual, existem três tipos de processo: conhecimento,


execução e cautelar. Há quem fale ainda em processo monitório ou técnica
monitória. Todos esses processos são autônomos e essa autonomia deriva das
seguintes características: necessidade de ação para seu início, de citação para seu
prosseguimento e de procedimento próprio. Se não for necessária ação, mas
requerimento e, se não for necessária citação, mas intimação, não cabe falar em
processo autônomo (pode ser questão incidente, fase de um processo etc.).

processo de conhecimento

O processo de conhecimento é chamado por alguns autores de processo


de certificação de direitos ou processo cognitivo. O objetivo de todo processo de
conhecimento é a obtenção ou formação de um título executivo que certifique o
direito da parte. Esse processo de conhecimento é exteriorizado através de
procedimentos que se dividem em dois grandes grupos: 1º) procedimento comum
– que pode ser ordinário ou sumário (o novo CPC vai acabar com essa dualidade
entre procedimento ordinário e sumário); 2º) procedimentos especiais – são
aqueles dotados de peculiaridades em seus ritos que os afastam do regramento
comum, previstos no CPC ou em legislação extravagante, de jurisdição
contenciosa ou voluntária.

Os procedimentos especiais também se dividem em dois grandes grupos:


1º. Procedimentos integralmente especiais: é aquele dotado de
indisponibilidade, ou seja, é especial do início ao fim e a parte não pode dele
abrir mão ou escolher procedimento diverso. Ex. inventário, interdição.

2º. Procedimentos especiais conversíveis: aqui vige o princípio da


disponibilidade do procedimento, ou seja, ele é especial até determinada fase ou
etapa do rito. A partir de determinado momento, ele se converte, por exemplo,
em execução ou em procedimento comum.

Ex. Art. 1.102-A do CPC. O fundamento para toda e qualquer ação monitória é o
chamado título injuntivo, isto é, um documento escrito que exterioriza uma
relação obrigacional, mas que não tem executividade (sem eficácia executiva). O
réu, na ação monitória, é citado e pode oferecer embargos. No entanto, caso o réu
se quede inerte, constituído estará de pleno direito o título executivo (art. 1.102-C
do CPC) e o procedimento perderá sua especialidade, sendo convertido
automaticamente em cumprimento de sentença. É o único exemplo em que a
revelia gera formação imediata de título executivo.

Obs. O novo CPC amplia a utilização deste instrumento e permite que a


ação monitória seja utilizada para toda e qualquer obrigação.

processo de execução

O processo de execução tem como finalidade a satisfação da pretensão do


exequente, seja através do cumprimento de sentença, seja através de uma
execução. Se o fundamento da execução for título executivo judicial, de acordo
com o art. 475-I, do CPC, a execução será realizada por meio de uma nova fase
dentro do mesmo processo, que é a chamada fase de cumprimento de sentença,
em razão do sincretismo/sincretização processual/processo
sincrético/sumarização formal do procedimento. A ideia é a de que há um único
processo de conhecimento dividido em duas fases/etapas/módulos: a fase
cognitiva e a fase executiva ou de cumprimento. Entre essas duas fases, pode ser
necessária a liquidação, que terá natureza de incidente processual intermediário.
Essa é a tese dominante, razão pela qual o art. 475-H do CPC preconiza ser
cabível agravo por instrumento da decisão que resolve liquidação (decisão
interlocutória é a que resolve o incidente). Existe uma corrente minoritária que
sustenta que na liquidação de sentença por artigos, a natureza será de ação de
conhecimento, porque haverá necessidade de alegar e provar fato novo. Essa
ideia continua com o CPC/2015.

Cuidado também com a liquidação em processo coletivo. Se a liquidação


for requerida pelo legitimado na ação coletiva, ela é mero incidente. Se for
requerida pelo indivíduo (liquidação individual), terá natureza de ação autônoma,
porque esse indivíduo tem que provar a condição de vítima.

A regra é que título judicial enseja cumprimento de sentença. Existem


exceções:

1ª. Execução contra a Fazenda Pública (arts. 730 e 741 do CPC) – a


execução contra a Fazenda necessariamente far-se-á por processo autônomo.
Com o advento do CPC/2015, a execução contra a FP também será via
cumprimento de sentença em um processo sincrético.

2ª. Execução contra devedor insolvente (art. 748 do CPC) – o novo


CPC/2015 não regulamenta execução contra devedor insolvente (somente contra
devedor solvente), porém determina a ultratividade do procedimento do
CPC/1973, enquanto não for editada lei extravagante própria.

3ª. Títulos judiciais mistos ou de natureza híbrida (sentença arbitral,


sentença estrangeira homologada pelo STJ e sentença penal condenatória) – o
novo CPC incluiu um quarto título misto, qual seja a decisão interlocutória
estrangeira. Nesses casos, mesmo sendo um título judicial, a execução será por
meio de processo autônomo.

processo cautelar

A ideia do processo cautelar é a de assegurar o resultado prático de outro


processo, chamado principal (que pode ser de conhecimento, de execução ou até
mesmo cautelar).

Questão: É possível a concessão de tutela cautelar em processo cautelar?


Sim, desde que a finalidade da tutela cautelar seja a de assegurar a efetividade do
processo cautelar principal.

O novo CPC extingue o processo autônomo cautelar. Passa a existir a


chamada tutela provisória cautelar antecedente ou incidental. O legislador
unificou a regulamentação das tutelas de urgência dentro de um mesmo capítulo.
O gênero agora é denominado tutela provisória. A tutela provisória pode ser de
urgência ou de evidência. Dentro da tutela de urgência, há tutela cautelar e tutela
antecipada.
Antecedente ou
Tutela cautelar
incidental
Tutelas de
urgência
Antecedente ou
Tutela antecipada
Tutelas incidental
provisórias
Art. 273, II e §6º
Tutelas de
do CPC/73 → art.
evidência
311 do CPC/2015

Com o advento do novo CPC, não existem mais procedimentos cautelares típicos
ou nominados. Existem somente medidas cautelares, aplicando-se a que for
adequada ao caso concreto. O procedimento vai ser sempre o mesmo, previsto
para tutela de urgência.

Apesar de o novo CPC não falar expressamente, foi mantido o poder geral de
cautela que permite ao juiz a concessão ex officio da tutela cautelar, inclusive
atípica. Com o novo CPC, coexistem o poder geral de cautela e o poder geral de
efetivação.

fases do procedimento

Fase Fase de Fase de Fase Fase de


Fase decisória
postulatória admissibilidade resposta instrutória cumprimento

fase postulatória

É aquela que decorre do exercício judicial da pretensão, exteriorizada por


meio da petição inicial (alguns autores chamam de instrumento da demanda).

Questão: O réu exerce judicialmente pretensão? Em regra, não, porque o


réu não formula pedido em sentido técnico, salvo quando promove demanda
própria no procedimento ordinário (reconvenção, ação declaratória incidental,
denunciação da lide) ou quando oferece pedido contraposto no procedimento
sumário.

Questão: Se o autor tiver em mãos um título executivo extrajudicial com


eficácia executiva, pode ele optar pela ação de conhecimento ou isso acarretará
carência de interesse processual? No panorama atual, o resultado é a extinção
sem resolução do mérito por falta de interesse processual, porque não há
necessidade para a propositura da ação de conhecimento, já que sua finalidade é
formar título executivo. Com o novo CPC esse panorama será alterado, pois este
conferiu faculdade ao credor para optar entre ação de conhecimento ou ação de
execução.

Questão: Pode o autor escolher o procedimento? No panorama atual, o


autor não pode escolher o procedimento em se tratando de procedimento
especial, seja ele integralmente especial ou conversível (em que não cabe outro
procedimento antes do momento processual de conversão). Existe, porém, um
princípio decorrente do neoprocessualismo (escola de pensamento cujo objetivo é
fazer uma releitura dos princípios e formas do processo), chamado de princípio
da adaptabilidade do procedimento, que prevê que o juiz pode adaptar o
procedimento já existente às peculiaridades do caso concreto. Com o novo CPC,
esse princípio tem sua dimensão ampliada: o juiz poderá fixar o procedimento
adequado ao caso concreto e as partes poderão convencionar o procedimento que
será aplicado.

O procedimento comum, com o novo CPC, é aplicado subsidiariamente


aos procedimentos especiais e ao procedimento executório.

A petição inicial deve obedecer todos os requisitos contidos no art. 282 do


CPC/73 (art. 319 do CPC/15).

A partir daí, passa-se a fase de admissibilidade.

fase de admissibilidade

Aqui o juiz irá analisar os requisitos de admissibilidade da demanda, quais


sejam os pressupostos processuais e as condições da ação. Para a doutrina
majoritária, os requisitos de admissibilidade da demanda devem ser tidos como
requisitos para o provimento final, ou seja, sua análise se estende ao longo de
toda a relação processual, devendo estar presentes até a fase decisória.

Existem duas teorias para trabalhar a forma de análise das condições de


ação. A primeira teoria, denominada teoria da exposição, sustenta que as
condições de ação deverão estar presentes e comprovadas desde o início da
relação jurídica processual. A ausência de uma das condições acarretará sempre
sentença terminativa. Já a segunda teoria, denominada teoria da asserção (in
statu assertionis ou prospettazzione), que é a teoria dominante, adotada no TJRJ
e no STJ, defende que as condições da ação devem ser analisadas com base nas
afirmações feitas pela parte, ou seja, na fase da admissibilidade, não há
necessidade de comprovação de início. A demanda será admitida com base em
um juízo de probabilidade de procedência. Se, após a fase instrutória, for
verificada a ausência de uma das condições da ação, a sentença é de mérito.

 Despacho liminar
Apesar de a doutrina utilizar o termo despacho liminar, nem sempre o ato
será um despacho. É o ato judicial proferido pelo magistrado na fase de
recebimento ou de admissibilidade e se divide em 3 tipos:

a) Positivo: é o ato judicial que reconhece a presença dos requisitos de


admissibilidade e que ordena a citação.

Questão: Quando se dá a interrupção da prescrição?

 Tese dominante: O despacho liminar positivo interrompe a prescrição. O STJ


tem precedente estendendo isso aos casos de decadência, apesar da redação do
art. 287 do CC (art. 202, I, do CC c/c art. 8º, §2º, da LEF c/c art. 174, p.ú, I, do
CTN). O problema é que a tese dominante conflita com a literalidade do art. 219,
caput, parte final, do CPC. Para o art. 219, o que gera a interrupção da prescrição
não é o despacho liminar positivo, mas sim a ocorrência da citação.

Na execução com base em título extrajudicial (sem ser contra a Fazenda Pública)
(art. 617 do CPC) e na ação de improbidade administrativa (STJ), o que
interrompe a prescrição é a propositura da execução e da ação, respectivamente.

 Novo CPC: o que interrompe a citação é o despacho liminar positivo (sem


maiores discussões). No novo CPC, na execução com base em título
extrajudicial, a interrupção da prescrição ocorrerá com o despacho liminar
positivo. Quanto à ação de improbidade, permanece como marco a propositura da
ação.

Questão: Cabe recurso de despacho liminar positivo? Se for entendido como


mero despacho, aplicar-se-á o art. 514 do CPC, não cabendo recurso. Para isso,
deve-se fundamentar que o ato não tem conteúdo decisório e não gera prejuízo
para nenhuma das partes. Existe, contudo, outra tese, que sustenta a
recorribilidade do “cite-se”, afirmando que tal ato é uma decisão interlocutória,
porque tem conteúdo decisório (que é a admissão da demanda) e que gera
prejuízo (que é a interrupção da prescrição). Na ação de improbidade, o art. 17,
§10, da Lei 8.429/92 prevê expressamente a recorribilidade por agravo do
“despacho liminar positivo”.

b) Neutro: é o ato judicial que determina a emenda ou regularização da demanda


(art. 284 do CPC). No panorama atual, este ato é recorrível mediante agravo (art.
522). O novo CPC altera esse regramento em dois pontos: 1º) o juiz deve
identificar de forma precisa o que tem que ser alterado; 2º) não há previsão de
recurso (art. 1.015 do novo CPC). O STJ tem admitido a impetração de MS em
face de decisão judicial irrecorrível que não tenha esse caráter por se tratar de
coisa julgada.
c) Negativo

c.1. Com mérito: no atual CPC, ele pode surgir de duas formas:

1ª) Reconhecimento de prescrição e decadência (art. 269, IV c/c art. 295, IV) →
com o novo CPC, deixam de ser causa de indeferimento da inicial e passam a ser
causa de julgamento liminar de improcedência.

2ª) Julgamento liminar de improcedência (art. 285-A do atual CPC) (art. 332 do
CPC/2015) – para o STJ, a sentença liminar de improcedência, na forma do art.
285-A, só será possível quando estiver lastreada em precedente do STJ ou do
STF (dupla conformidade) (REsp 1225227/MS, Inf. 524 e REsp 1109398/MS,
Inf. 477).

c.2. Sem mérito: é o indeferimento da inicial (art. 295 c/c art. 267, I). O despacho
liminar negativo sem mérito denota a presença de uma irregularidade/um vício
insanável.

Questão: O juiz, ao indeferir a inicial, sem resolver o mérito, deve citar o réu
para responder eventual recurso? De acordo com o STJ, não há necessidade,
desde que a eventual reforma ou anulação da decisão não gere preclusão para o
réu (o réu será citado para contestar e poderá alegar os mesmos vícios que
acarretaram o indeferimento da inicial a princípio). Com o novo CPC, o réu será
necessariamente citado para responder o recurso.

Questão: Qual a natureza jurídica do ato judicial de indeferimento da inicial? Há


discussão se é sentença ou decisão interlocutória. Em regra, é sentença
terminativa, atacável via apelação (alguns sustentam que o nome seria “apelação
por instrumento”). A divergência fica adstrita aos seguintes casos: reconvenção,
oposição, denunciação da lide e ação declaratória incidental. Para uma primeira
tese, com base no conceito formal de sentença (aquele que se atém a literalidade
do art. 162, §1º, do CPC), todo ato judicial que contiver as hipóteses do art. 267
ou do art. 269 será sentença. A segunda tese adota o conceito material de
sentença, cuja premissa é a de que o que é relevante não é o conteúdo da
sentença, mas sim os seus efeitos. O ato só será sentença quando contiver pelo
menos um dos seguintes efeitos:

1º efeito: Encerramento da instância

2º efeito: Encerramento da relação jurídico-processual

3º efeito: Encerramento de fase/etapa/módulo do processo


O novo CPC traz o conceito de sentença no art. 203, §1º.

aula 2 – daniel alves

introdução

O direito de ação é um direito fundamental previsto no art. 5º, XXXV, da


CF, qual seja de submeter ao Judiciário uma pretensão na busca da tutela
jurisdicional. A pretensão é a exigência de subordinação do interesse alheio ao
interesse próprio.

A demanda é a concretização do direito de ação e também o ato de provocar o


Judiciário. Quando se exercita o direito de ação, se ajuiza uma demanda, cujo
instrumento deflagratório é a petição inicial, responsável por veicular um pedido.
O pedido é o elemento nuclear da demanda e sua ausência gera inépcia da inicial
(art. 295, I e p.ú, do CPC) com consequente indeferimento.

pedido

espécies

pedido expresso e determinado

O pedido é elemento nuclear de toda petição inicial. Tem como consequência


prática a determinação do valor da causa, da escolha do procedimento, do órgão
competente para julgamento. O pedido deve ser certo, expresso e determinado
(delimitado quantitativa e qualitativamente, cf. art. 286 do CPC – usa a expressão
ou, mas o certo é e. Esse problema é corrigido no novo CPC).

pedido implícito

O pedido implícito é o contrário de pedido expresso/determinado. É aquele


pedido segundo o qual não há qualquer formulação a respeito, contudo, o bem da
vida será entregue pelo Poder Judiciário.

O pedido principal engloba independentemente de previsão expressa:

a) custas processuais (art. 19 do CPC);

b) honorários de sucumbência (art. 20 do CPC) – o pedido é implícito, mas a


previsão da condenação em honorários deve estar expressa na sentença. Caso
contrário, a parte deverá opor embargos de declaração, com a finalidade de suprir
a omissão. Nesse sentido, a ausência de previsão sobre os honorários na sentença
impede que a parte ou o advogado formule execução ou ajuíze ação própria,
segundo entendimento da jurisprudência dominante, vazado na Súmula 453 do
STJ. A legitimidade para execução dos honorários é concorrente, vide art. 23 do
Estatuto da OAB (Lei 8.906/94) e Enunciado 306 do STJ. É assente no STJ o
entendimento segundo o qual tanto a parte quanto o advogado também têm
legitimidade recursal para obter a majoração do valor dos honorários.

Atenção: À luz do novo CPC (art. 85, §18 e art. 1026, §3º, III) segundo
Enunciado nº 8 do Fórum Permanente dos Processualistas Civis, fica superado o
verbete sumular 453 do STJ.

c) prestações vincendas no curso do processo;

d) alimentos provisórios ou definitivos na ação de investigação de paternidade


(art. 7º da Lei 8.560/92);

e) correção monetária e juros de mora (arts. 404 a 406 do CC).

pedido determinado

É aquele que é delimitado quantitativa e qualitativamente. Quando se


veicula pedido determinado, é vedada a prolação de sentença ilíquida, cf. art.
459, p.ú, do CPC, sob pena de nulidade (error in procedendo que admite
anulação da sentença).

 Procedimentos que vedam a iliquidez da sentença:

a) No procedimento sumário, é vedada a iliquidez da sentença, nas causas


referidas no art. 275, II, d e e, do CPC, consoante disposição do art. 475-A, §3º,
do mesmo diploma (ação indenizatória envolvendo acidente de veículo terrestre e
ação de cobrança do seguro relativo a esse acidente). Para as demais ações,
admite-se sentença ilíquida. Se o juiz profere sentença ilíquida, está violando lei
federal, o que permitirá até mesmo interposição de REsp.

b) Procedimento sumaríssimo (art. 38 da Lei 9.099).

A antítese do pedido determinado é o pedido genérico.

pedido genérico (art. 286, I, II e III)

É considerada exceção à regra de que o pedido deve ser determinado,


contida no art. 286, caput, do CPC.

Cabe pedido genérico:

a) Inciso I: Nas ações universais: a universalidade pode ser tanto de fato


(ex. ação em que se objetiva a entrega de toda uma biblioteca) como de direito
(ex. ação de petição de herança em que se cobra uma cota-parte ou fração ideal).
b) Inciso II: Quando não for possível determinar de início as
consequências do ato ilícito por ocasião do ajuizamento da ação indenizatória: o
dispositivo tem por fundamento o fato de que os efeitos deletérios da atividade
danosa continuam presentes por ocasião do julgamento da demanda e no curso do
processo (se protraem no tempo), razão pela qual não tem como de antemão
prever o valor do dano (ex. indivíduo que precisará passar por várias cirurgias
durante a demanda).

Atenção: A doutrina e a jurisprudência são assentes em admitir a


formulação de pedido genérico quando houver necessidade de futura produção de
prova pericial técnica complexa para determinação do quantum debeatur, como
ocorre, em sua maioria, nas ações civis públicas, em especial as que envolvem o
dano ambiental.

Atenção: A questão do pedido de dano moral.

 Argumentos invocados contra a possibilidade de formular pedido


genérico:

1º. Não há previsão legal que abrace a possibilidade de formulação


genérica de pedido indenizatório por dano moral sofrido;

2º. Ninguém melhor do que o lesado para expressar em números o dano


experimentado.

3º. A formulação de pedido genérico dificultaria a ampla defesa.

 Argumentos favoráveis à possibilidade de formular pedido genérico:

1º. O pedido genérico de dano moral é cabível considerando que compete ao juiz
com exclusividade arbitrar o valor indenizatório. Neste sentido, ainda quando a
parte formule pedido determinado, trata-se de mera sugestão, isto é, o magistrado
não está vinculado ao valor expressamente pretendido, podendo, inclusive, fixar
valor superior, sem que se caracterize sentença ultra petita.

2º. A possibilidade de formulação de pedido genérico serve de estratégia para o


demandante minimizar o recolhimento da taxa judiciária que usualmente é
calculada com base no valor atribuído à causa.

O STJ tem entendimento segundo o qual é possível a formulação de pedido


genérico, sendo certo que eventual condenação em valor inferior ao pretendido
pela parte não afasta o interesse recursal, considerando que o tribunal que julgará
a apelação, diante da profundidade do efeito devolutivo, tem a possibilidade de
reformar a sentença.

Obs. No novo CPC, não se admite mais a formulação de pedido genérico na ação
de dano moral, porque o art. 292, V, exige que se indique como valor da causa o
valor pretendido a título de dano moral.

c) Inciso III: quando a condenação depender de ato praticado pelo réu, como na
ação de prestação de contas.

interpretação de pedidos

O juiz deve interpretar os pedidos de forma restritiva, não se admitindo


sub-entendimentos, consoante o art. 293 do CPC. A regra se alinha à exigência
contida no art. 286 que determina que o pedido deve ser certo e determinado.

cumulação de pedidos

classificação

cumulação própria

Na cumulação própria, o autor sabe de antemão que ambos os pedidos


poderão ser acolhidos pela sentença.

comum ou simples

Não há uma subordinação lógica entre os pedidos no sentido de que o


acolhimento do pedido posterior não depende do acolhimento do pedido anterior.
Não se exige conexão entre os pedidos (art. 292, caput, do CPC). Ex. Quero um
carro e um apartamento.

sucessiva

Há uma subordinação lógica entre os pedidos na medida em que o


acolhimento do pedido posterior depende do acolhimento do pedido anterior.
Ex. 1. Investigação de paternidade c/c alimentos. Ex. 2. Rescisão c/c
rejulgamento da causa (art. 488, I, do CPC). Ex. 3. Declaratória de inexistência
de relação jurídica tributária c/c pedido de repetição de indébito tributário.

cumulação imprópria

Na cumulação imprópria, não obstante a formulação de mais de um


pedido, o autor sabe de antemão que nem todos serão acolhidos pela sentença.

subsidiária (art. 289 do cpc/73 e art. 326 do Cpc/15)


O autor formula mais de um pedido em ordem de preferência. Não
acolhido o pedido anterior, pede que se acolha o pedido posterior. Nesse caso, o
juiz não pode enfrentar na sentença os pedidos de per saltum (ex. analisar
diretamente o terceiro pedido, sem analisar o primeiro e o segundo), sob pena de
prolação de sentença citra petita (que viola o princípio do acesso ao Poder
Judiciário), cominada de nulidade por error in procedendo, devendo o tribunal
determinar a baixa dos autos para prolação de nova sentença. Ele é obrigado a
enfrentar os pedidos cumulados na ordem estabelecida pelo autor na inicial.

A parte mantém interesse recursal de fazer prevalecer o pedido de sua preferência


caso não acolhido pela sentença. Ex. O juiz acolhe o terceiro pedido. A sentença
é procedente, mas a parte pode recorrer para que seja acolhido o primeiro.

Embora o art. 289 do CPC, utilize a palavra “sucessiva”, trata-se de cumulação


subsidiária. Esse problema é corrigido no art. 326 do novo CPC.

alternativa (art. 288 do Cpc/73 e art. 325 do cpc/15)

Aqui o autor formula mais de um pedido, mas sem estabelecer uma ordem
de preferência. O juiz pode acolher um ou outro.

requisitos da cumulação

a) Que os pedidos sejam compatíveis entre si, não se exigindo conexão


entre eles (art. 292, §1º, I c/c art. 295, I e p.ú c/c art. 267, I, do CPC);

b) Que o órgão judicial seja absolutamente competente para ambos os


pedidos (art. 292, II, do CPC/73);

Questão: E se o órgão judicial for absolutamente competente para apenas


um dos pedidos? Aplica-se o verbete sumular nº 170 do STJ. Se o órgão judicial
for absolutamente incompetente quanto a um dos pedidos cumulados, ocorrerá o
indeferimento parcial da petição inicial por falta de pressuposto processual de
validade (competência), devendo a parte ajuizar demanda autônoma com o
pedido remanescente perante o órgão judicial competente. A competência
absoluta é uma defesa processual dilatória, pois o juiz, ao reconhecer a
incompetência absoluta, não extingue o processo, mas apenas atrasa o julgamento
da lide. Exceção: nos Juizados Especiais e quando o juiz for absolutamente
incompetente para um dos pedidos ou para ambos ou para a reconvenção terá
natureza peremptória, ou seja, extinguirá o processo (ou determinado pedido).

c) Que o procedimento seja idêntico para todos os pedidos – se para cada


pedido corresponder um procedimento diverso, admite-se a cumulação se
adotado o procedimento ordinário (art. 292, §2º, do CPC/73).
Questão: Mas e se a cumulação for entre pedido que deva correr pelo
procedimento ordinário e entre pedido que deva correr por procedimento
especial? Se o procedimento especial for daquele em que, após o ajuizamento da
demanda ou mesmo após a citação, converte-se em ordinário (ex. possessória de
força nova) (ex. monitória com embargos apresentados), será possível a adoção
do procedimento comum ordinário para todos os pedidos. De outro lado, se o
procedimento especial for daqueles que contêm elementos especializantes do
início ao fim (genuinamente ou integralmente especial) (ex. inventário e
partilha), é inaplicável a regra do §2º do art. 292.

indeferimento da petição inicial

O indeferimento da petição inicial é sempre uma decisão liminar, isto é,


sem a oitiva da parte contrária. Não existe após a citação! Trata-se de decisão
judicial que obsta ab initio o prosseguimento da demanda.

O indeferimento pode ser total ou parcial. Na 1ª instância, se houver


indeferimento parcial, haverá decisão interlocutória da qual cabe agravo. Se o
indeferimento for total, haverá sentença da qual cabe apelação.

Exceção: Na hipótese em que a demanda for de Estado estrangeiro ou organismo


internacional x pessoa física ou jurídica ou Município brasileiro ou vice-versa,
que corre na justiça federal – art. 109, II, da CF –, se o indeferimento for total,
cabe recurso ordinário constitucional perante o STJ, cf. art. 105, II, c, da CF, e se
o indeferimento for parcial, cabe agravo de instrumento direto para o STJ
(art. 539, p.ú, do CPC).

O indeferimento pode ser com resolução de mérito ou sem resolução de


mérito.

indeferimento com resolução de mérito

No primeiro caso, estaremos diante do reconhecimento da prescrição ou


decadência (art. 219, §5º, 220, 295, IV e 269, IV, do CPC). Também haverá
resolução de mérito no caso de julgamento liminar prima facie, com previsão no
art. 285-A do CPC.

julgamento liminar prima facie

requisitos

a) Trata-se de sentença com resolução de mérito ao tempo que traduz uma


técnica de sumarização do procedimento que veio prestigiar o comando da
duração razoável do processo, contido no art. 5º, LXXVIII, da CF.
b) São necessárias duas ou mais sentenças anteriormente proferidas que
digam respeito a casos semelhantes – segundo a 4ª turma do STJ, não há
necessidade de juntada das sentenças referidas que serviram de paradigma para o
julgamento liminar da demanda (Inf. 481, REsp 1.086.991/MS). Basta que haja a
transcrição da fundamentação.

c) Que a causa verse sobre questão exclusivamente de direito.

O STJ tem posicionamento pacificado segundo o qual o art. 285-A


pressupõe quanto à sua aplicação o alinhamento com o posicionamento das
Cortes Superiores, em especial do STJ e do STF. A afirmação tem por
fundamento uma interpretação sistemática das normas do CPC, tendo em vista
que, nos julgamentos monocráticos permitidos pelo Código (art. 475, §3º e com o
art. 557, caput e §1º-A), levou-se em consideração os posicionamentos das
Cortes de superposição, o que também se aplica ao art. 285-A (Inf. 477, REsp
1.109.398/MT). Ademais, aplicar o dispositivo na contramão do posicionamento
do STJ e do STF seria ir contra o princípio da celeridade e da necessidade de
racionalizar o trabalho do Poder Judiciário. Isso ficou positivado no art. 332 do
CPC/2015.

Contra a sentença de improcedência liminar, é cabível apelação. Esta


apelação tem duas peculiaridades:

1º. Efeito regressivo ou efeito devolutivo diferido (vide art. 285-A, §1º):
uma vez interposta a apelação, o juiz poderá se retratar da sentença. Trata-se de
exceção à regra do art. 463.

Questão: Quando ocorre a publicação da sentença? A doutrina majoritária


é quando ela é juntada aos autos do processo pelo escrivão. A doutrina
minoritária entende que é com a entrega da sentença nas mãos do escrivão
(Nagib Slaibi Filho). Publicada a sentença, o juiz não mais poderá alterá-la, salvo
erro material ou embargos de declaração. Poderá haver alteração, contudo, nos
casos em que se admite o direito de retratação. Remeter do art. 463 para o art.
285-A, §1º.

2º. O pretenso réu, àquele a quem favorece a sentença, é citado não para
contestar, mas para contra-arrazoar. Citação, pelo novo CPC, é o ato pelo qual se
integra o réu à relação processual (art. 238 do CPC/15).

indeferimento sem resolução de mérito (art. 295, 296 do cpc e 51 da lei 9.099)

O indeferimento liminar da inicial leva à extinção do processo sem


resolução do mérito, salvo na hipótese do art. 295, IV, do CPC.
São casos de indeferimento sem resolução do mérito:

a) Inciso I: inépcia da petição inicial (vide art. 295, p.ú):

b) Inciso II: manifesta ilegitimidade da parte → é a aplicação da teoria da


asserção, ou seja, as condições da ação devem ser analisadas com base nas
alegações do autor. Se for reconhecida sua ausência somente depois da instrução
probatória, a sentença será de mérito.

c) Inciso III: carência de interesse processual do autor → o novo CPC


extingue a possibilidade jurídica do pedido como condição da ação, transferindo-
a para o mérito.

d) Inciso V: o erro de procedimento, ab initio, não leva à extinção do


processo, devendo o juiz determinar ao autor que emende a petição inicial. Só em
não sendo possível a adaptação, haverá extinção sem resolução de mérito. Para a
corrente majoritária, a adequação do procedimento não é elemento do interesse
de agir, razão pela qual primeiro deve-se dar à parte a oportunidade de sanar o
vício, pois o erro de procedimento não desconfigura o interesse de agir.

e) Inciso VI: não atendimento das prescrições do art. 39, p.ú, e 284 do
CPC.

A sentença que extingue o processo sem resolução do mérito também tem


algumas peculiaridades:

1ª. Efeito regressivo ou devolutivo diferido: há possibilidade de o juiz


exercer direito de retratação (art. 296 do CPC/73).

2ª. Em caso de apelação, o réu não é citado para apresentar as


contrarrazões, cf. art. 296, p.ú, do CPC/73. Parcela da doutrina sustenta que a
falta de integração do réu seria violação ao princípio do contraditório (art. 5º,
LIV, da CF), pois o réu tem direito de participar do convencimento dos
componentes do Tribunal (ex. aduzir novos argumentos para a manutenção da
sentença), mas não é esse o entendimento do STF (AI no AgRg 427.533 – STF,
Plenário). O STF afirmou a constitucionalidade da norma, indicando a
desnecessidade de citação para as contrarrazões.

Atenção: No art. 331, §1º, do CPC/2015, é obrigatória a citação do réu


para responder o recurso, positivando entendimento contrário ao do STF.

aula 03 – rodolfo hartmann

comunicação dos atos processuais


introdução

A comunicação dos atos processuais pode ser realizada entre órgãos (ex.
um juízo se comunicando a outro juízo) ou entre órgão e sujeito processual (ex.
citação, arts. 213 e ss.).

comunicação entre órgão e sujeitos processuais

citação

conceito

A citação é conceituada pelo art. 213 do CPC como o ato processual por meio do
qual o réu é chamado em juízo para se defender. Esse conceito desde sempre foi
muito criticado, pois, muitas vezes, o réu se dirige ao juízo pra apresentar outra
coisa que não sua defesa (ex. julgamento de improcedência liminar → em caso
de apelação, o réu é citado não para se defender, mas para contra-arrazoar).
Portanto, o correto seria dizer que a citação é o ato pelo qual o réu integra a
relação processual (art. 238 do CPC/2015).

A citação é considerada hoje e assim será pelo novo CPC um pressuposto


processual de desenvolvimento válido do processo. Para que o processo se
desenvolva validamente, o réu deve estar presente, integrando a relação
processual. Existem, porém, casos de processos sem citação que são
perfeitamente existentes, válidos e eficazes, como no indeferimento da inicial e
na resolução liminar do mérito em que não há recurso do autor (art. 239 do
CPC/2015). Há ainda os chamados processos unipessoais, ou seja, aqueles em
que não há réu, como na auto-insolvência civil em que o autor pede a própria
insolvência. Como não há réu, não há falar em citação. O instituto da insolvência
civil permanece existindo no CPC/2015, mas regulado pelo CPC/73.

vícios da citação

A citação é um pressuposto processual, pois, ocorrendo a falta ou a


nulidade de citação, é comprometido o exercício do contraditório e da ampla
defesa, contaminando parte considerável do processo. Toda a sequência de atos
que lhe forem posteriores será atingida. A citação, como qualquer ato processual,
é analisado sob o prisma da existência, da validade e da eficácia.

O vício da inexistência é o vício mais grave, pois constitui uma ruptura total com
aquilo que a lei exige. Fala-se até mesmo em “não-ato”. Pode ser pronunciado de
ofício e reconhecido a qualquer momento, pois não convalida, não preclui nunca.
Ex. inexistência de citação do litisconsórcio necessário. Reconhecida a falta de
citação no início do processo, tudo que derivou de erro está contaminado, ainda
que haja coisa julgada.

As nulidades afetam a validade do ato. É um vício menor quando confrontada


com a inexistência, porque, para se falar em nulidade, é porque o ato existe. Ex.
O juiz não deu vistas ao MP, foi proferida sentença e surgiu a coisa julgada. A
falta de intimação do MP é uma nulidade (art. 246 do CPC/73), só que, quando
vier a coisa julgada, esta produzirá o chamado efeito sanatório, ou seja, todos os
vícios processuais são sanados, exceto os de inexistência (vícios transrescisórios,
pois podem ser conhecidos até mesmo depois do prazo decadencial de 2 anos da
rescisória). A nulidade pode ser convalidada.

É importante distinguir o vício da inexistência do vício de nulidade para


diferenciar a falta de citação da nulidade da citação. Pelo CPC atual (art. 172 e
§§), a citação pode ser realizada fora do horário de expediente (6h às 20h) se
houver autorização do juiz. Se não houver a referida autorização, a citação
existiu, mas é nula. Obs. O novo CPC/2015 admite em caso de urgência a citação
fora do horário do expediente mesmo sem a autorização do juiz. Qualquer citação
feita sem a observância das prescrições legais é considerada nula (art. 247 do
CPC/73).

No caso da citação, embora inexistência (falta de citação) e nulidade (citação


nula) sejam vícios diferentes, o tratamento prático é exatamente o mesmo, dada
sua importância para o processo. A nulidade de citação recebe o mesmo
tratamento da falta de citação. Ambos são tratados como inexistência, podendo
ser reconhecidos de ofício e alegados a qualquer tempo, não se submetendo ao
efeito sanatório da coisa julgada.

mecanismos para reconhecer vício na citação

Questão: A citação é um ato extremamente solene. Havendo vício na citação,


quais são os mecanismos para reconhecimento desse vício?

 Simples petição nos autos, informando o vício na citação e pedindo sua


renovação (ex. falta de citação do litisconsorte necessário), seja na fase cognitiva
ou na fase executiva;

 Impugnação ao cumprimento de sentença (art. 475-L, I, do CPC);

 Embargos à execução contra a Fazenda Pública (art. 741, I, do CPC);

 Querela nullitatis: é um processo em rito comum ordinário cuja


pretensão veiculada é declaratória, razão pela qual é imprescritível, ou seja, pode
ser interposta a qualquer tempo. Pode ser denominada, portanto, de ação
declaratória de inexistência/nulidade de citação. É uma demanda autônoma,
prejudicial ao processo principal. Não há atualmente regra de prevenção para
querela nullitatis; no máximo, poder-se-ia tentar uma conexão, reunindo em um
mesmo juízo as demandas. Obs. O professor tem indeferido de plano a querela
nullitatis por falta de condição da ação – interesse de agir –, uma vez que não há
necessidade de ação autônoma quando o vício poderia ser alegado em simples
petição.

Atenção! Não cabe ação rescisória, pois a falta/nulidade da citação não se


enquadra nas hipóteses previstas no art. 485 do CPC (rol taxativo). Ademais,
para que a ação rescisória seja julgada, necessariamente deve haver coisa julgada
e, alegada e acolhida falta/nulidade de citação, a própria coisa julgada seria
contaminada com vício de inexistência. Se é inexistente, como se está julgando
uma ação rescisória? O julgamento pelo Tribunal nessa hipótese configuraria
supressão de instâncias.

modalidades de citação

A citação pode ser pessoal ou ficta.

Por correio

Por oficial de
justiça
Pessoal
Por meio
eletrônico

Por serventuário
Citação em cartório
(novo CPC)

Por hora certa

Ficta

Por edital

Atenção:

 Se a citação for pessoal e o réu não comparecer, o juiz decreta a revelia e o


processo segue à revelia do réu.

 Se a citação for ficta e o réu não comparecer, o juiz deve nomear curador
especial (Defensoria Pública ou advogado dativo), conforme exige o art. 9º, II, do
CPC. O art. 302, p.ú, do CPC autoriza que o curador especial conteste a ação por
negativa geral, afastando os efeitos da revelia, sendo essa uma mitigação do
princípio do ônus da impugnação específica das alegações do autor.

efeitos da citação

Os efeitos da citação podem se dar no plano processual ou no plano


material e estão previstos no art. 219 do CPC.

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz
litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em
mora o devedor e interrompe a prescrição.

a) Plano processual:

a.1. Tornar o juízo prevento:

 Na mesma base territorial, isto é, na mesma comarca, o juízo prevento é o que


despachou primeiro, o que proferiu o “cite-se” (art. 106).

 Se em bases territoriais diferentes, a prevenção é do juízo que primeiro efetivou


a citação (art. 219).

Obs. O novo CPC simplifica e diz que prevento será o juízo em que houve a
primeira distribuição (onde tiver mais de uma vara) ou o primeiro registro (em
caso de vara única). Portanto, a citação não terá mais como efeito processual
tornar o juízo prevento.

a.2. Induzir litispendência: a citação induz o estado de litispendência para o réu,


ou seja, passará a ser oponível a este, mas o estado de litispendência já existe
anteriormente para o autor e para o órgão jurisdicional. Portanto, nada impede
que o órgão jurisdicional, diante de dois processos idênticos, extinga de plano um
deles, ainda que não tenha havido citação em nenhum deles. Esse efeito será
mantido no novo CPC.

b) Plano material:

b.1. Tornar litigiosa a coisa: se houve citação do réu e a coisa, objeto do


processo, se encontra em seu poder, a coisa se torna litigiosa. Caso o réu venha a
transferir tal bem para terceiro adquirente, este não poderá invocar a evicção
(art. 457 do CC).

b.2. Constituir em mora: se o réu ainda não está em mora (ex. não houve
interpelação em caso de mora ex persona), a citação terá tal efeito. Portanto,
trata-se de efeito subsidiário, que nem sempre ocorrerá. Será mantido no novo
CPC.

b.3. Interromper a prescrição: a norma do art. 219 do CPC prevê que a citação
interrompe a prescrição, o que confronta com o art. 202, I, do CC, que prevê o
“cite-se” como momento de interrupção da prescrição. Nesse aspecto, há longa
data já se considera o art. 202, I, do CC como prevalente, pois a prescrição é
instituto de natureza material (atinge o fundo do direito) e não de natureza
processual e porque o CC é posterior ao CPC. O novo CPC já conserta essa
questão, colocando o cite-se como momento interruptivo da prescrição,
retroagindo os efeitos à propositura da demanda.

Prevenir o
juízo
Efeitos
processuais
Induzir
litispendência

Citação Tornar a coisa


litigosa

Efeitos Constituir em
materiais mora

Interromper a
prescrição

intimação

Art. 234. Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do
processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa.

Enquanto a citação é necessariamente dirigida ao réu, a intimação se dirige


a qualquer sujeito do processo (ex. autor, réu, perito, testemunha etc.). Sua
finalidade é dar ciência de um ato ou a exigência da prática de um ato.

No novo CPC, manteve-se o mesmo regramento do CPC/1973. O CPC/2015,


porém, inova em afirmar que a prerrogativa de intimação pessoal não se limita à
Fazenda Pública, mas a qualquer advogado público, do defensor público, do
membro do MP.

comunicação entre órgãos

O CPC/1973 prevê que a comunicação entre órgãos se dá mediante cartas,


sendo elas: precatória, de ordem e rogatória.
Obs. Atualmente, fala-se ainda em carta arbitral. A carta arbitral seria
equivalente à carta precatória, mas a comunicação não se dá entre juízes, mas
entre um árbitro e um juiz togado (art. 22, §4º, Lei de Arbitragem). Não pode ser
chamado de carta precatória, pois nesta a comunicação necessariamente se dá
entre órgãos jurisdicionais.

Para Marinoni, o árbitro não pode ser considerado um órgão jurisdicional, pois
jurisdição é dizer o direito e efetivar o direito, e o árbitro, embora diga o direito,
não pode efetivá-lo. Ela tem caráter privatista e seus poderes não equivalem ao
do órgão jurisdicional. Fredie Didier entende, contudo, que a arbitragem é
jurisdição.

O CPC/73 não utiliza a expressão “carta arbitral”, mas ela tem sido
informalmente utilizada, com positivação no novo CPC.

carta precatória

A carta precatória é a comunicação entre órgãos jurisdicionais de igual


hierarquia. O juízo deprecante é aquele que remete a carta precatória e o juízo
deprecado é aquele que recebe a carta.

carta rogatória

A carta rogatória é a comunicação entre órgãos jurisdicionais de países


diferentes. O novo CPC, porém, regulamenta não apenas a carta rogatória, mas
também o chamado auxílio direto.

Questão: Qual a diferença entre carta rogatória e auxílio direto?

Em regra, o auxílio direto é utilizado para alguma providência de cunho


administrativo, ou seja, não necessariamente envolve medida jurisdicional
(inclusive o órgão estrangeiro solicitante não precisa ser órgão jurisdicional).

Eventualmente, pode o auxílio direto abarcar medida jurisdicional. Nessa


hipótese, a principal diferença entre a carta rogatória e o auxílio direto é que, na
carta rogatória, exige-se um juízo de delibação, isto é, o STJ necessariamente terá
que dar o exequatur para que a medida possa ser efetivada. Diferentemente, o
auxílio direto não se submete ao juízo de delibação, não passa pelo STJ, não
precisa de exequatur. O auxílio direto independe de tratado se houver
reciprocidade de tratamento. Ademais, a carta rogatória é necessariamente
cumprida na Justiça Federal de 1º grau (art. 109, X, da CF), enquanto o auxílio
direto pode ser cumprido inclusive administrativamente, salvo se for medida de
cunho jurisdicional, caso em que seu cumprimento também se dará na Justiça
Federal. Os temas atualmente são tratados pelo próprio Regimento Interno do
STJ.

carta de ordem

A carta de ordem é a comunicação entre órgãos jurisdicionais entre os


quais há hierarquia (um órgão é hierarquicamente superior ao outro). Serve tanto
para o processo civil como para o processo penal.

Seja na carta precatória, na carta rogatória ou na carta de ordem, o juízo


“solicitado” não inova no processo, pois não é juiz natural. Qualquer providência
alheia àquela que foi objeto da solicitação deve ser feita no juízo solicitante, que
é o juiz natural.

resposta do réu

noções gerais

Pelo CPC/73, são modalidades de resposta do réu: a) contestação;


b) exceção; c) reconvenção; d) impugnação ao valor da causa; e) impugnação à
gratuidade de justiça (Lei 1.060/50).

Atenção: No novo CPC, a reconvenção, a impugnação ao valor da causa e a


impugnação à gratuidade de justiça e a exceção de incompetência relativa
deverão ser formuladas na própria contestação. A exceção de impedimento e de
suspeição serão opostas via petição específica. Haverá, portanto, uma única
resposta do réu, qual seja a contestação.

classificação das teses defensivas

Existem dois tipos de teses defensivas que podem ser apresentadas:

a) Defesas processuais: quando o réu alega ilegitimidade da parte, falta de


pressuposto processual etc., ou seja, teses que atacam o vínculo de direito
processual.

a.1. Dilatórias: o acolhimento pelo juiz afeta o vínculo de direito processual, mas
o processo permanece tramitando, apenas com sua marcha dilatada.
Ex. incompetência absoluta (remete para o juízo competente).

a.2. Peremptórias: o acolhimento pelo juiz afeta o vínculo de direito material,


gerando a extinção do processo. Ex. ilegitimidade da parte.

b) Defesas de mérito: quando o réu apresenta teses que atacam a relação de


direito material, ex. o réu alega que não praticou a conduta.
b.1. Direta: quando o réu nega o fato afirmado pelo autor ou o efeito
jurídico pretendido. Ex. “Eu não fiz essa dívida”.

b.2. Indireta: quando o réu reconhece o fato afirmado pelo autor, mas a seu
favor invoca um fato modificativo, impeditivo ou extintivo do direito do autor.
Ex. “Eu fiz essa dívida, mas já paguei” (pagamento – defesa de mérito indireta
extintiva).

Obs. Há quem vislumbre que, quando o réu apresenta defesa de mérito


indireta, ele está exercendo direito de ação, pois estaria trazendo fato novo para o
juiz analisar (Leonardo Greco).

A importância desta classificação é porque eventualmente o autor terá que


se manifestar em réplica. O CPC/73 (arts. 326 e 327) e o CPC/2015 (art. 350)
não utilizam a expressão “réplica”, mas existe a imposição de que, dependendo
da defesa trazida pelo réu, o autor tem que se manifestar. A réplica só é
necessária em caso de defesa de mérito indireta.

Tipo de resposta Tipo de defesa

Contestação Defesas processuais e defesas de


mérito

Exceção Defesas processuais

Reconvenção Não é para trazer tese defensiva


(embora chamada de resposta do réu),
pois é uma ação conexa

Impugnação ao valor da causa Defesa processual

Impugnação à gratuidade de Defesa processual


justiça

Obs. No novo CPC, a reconvenção terá que constar da própria


contestação. Se assim não fizer, nada impede que o advogado demande em ação
autônoma e requeira a distribuição por dependência à ação principal que o autor
move em face dele (art. 253 do CPC).

revelia

O conceito de revelia é a falta de contestação. Ela traz necessariamente


dois efeitos:

1º. Efeito material principal (art. 319): se o réu não contestar, presumem-
se como verdadeiros os fatos alegados pelo autor. Isso ocorre, pois a contestação
é o único tipo de defesa em que o réu pode apresentar defesas de mérito, ou seja,
aquelas que questionam o direito material afirmado pelo autor. Se não contestar,
os fatos presumem-se verdadeiros.

Obs. Às vezes, mesmo sem contestação, não se produzirá o efeito material da


revelia (art. 320 do CPC):

a) se houver direito indisponível – é o dispositivo utilizado para afirmar que a


Fazenda Pública não é revel nunca. Na verdade, a Fazenda Pública pode ser
revel, mas, se o direito for indisponível, não lhe será aplicado o efeito material da
revelia. O mesmo vale para o particular;

b) se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;

c) se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei


considere indispensável à prova do ato.

2º. Efeito processual secundário (art. 322): se o réu não contestar, ele não
mais será intimado para os atos posteriores do processo.

momento para apresentação

No CPC/73, temos o procedimento comum, que pode ser ordinário ou


sumário, e os procedimentos especiais.

Procedimento comum ordinário:

Resposta do Réplica (arts. Audiência


Petição inicial Citação AIJ Sentença
réu (15 dias) 326 e 327) preliminar

Se o réu não apresentar a contestação em 15 dias, o réu será considerado


revel. Lembrar ainda que a réplica só existe se a defesa apresentada pelo réu em
contestação for defesa de mérito indireta.

b) Procedimento comum sumário:

Audiência de
Petição inicial Citação Contestação AIJ Sentença
conciliação

No rito sumário, devera haver uma audiência de conciliação. Se não for


possível obter a conciliação, o réu, na própria audiência, deverá apresentar sua
contestação. É um rito mais concentrado.

c) Procedimento sumaríssimo (Juizados Especiais):


Audiência de AIJ +
Petição inicial Citação Sentença
conciliação Contestação

No procedimento sumaríssimo, a contestação é oferecida na própria AIJ. A Lei


9.099 admite a convolação da audiência de conciliação em AIJ. Nos Juizados
Fazendários, como há indisponibilidade do interesse público, não é possível obter
conciliação, razão pela qual convola direto em AIJ.

d) Novo CPC: prevê um procedimento comum para todos os tipos de processo,


acabando com o rito ordinário e o rito sumário. Quando entrar em vigor o novo
CPC, para os processos já iniciados sob o rito sumário, continuará a regência
pelo CPC/73 durante a fase cognitiva e o CPC/2015 incidirá a partir da fase
executiva (teoria das fases processuais e não a teoria do isolamento dos atos
processuais, segundo a qual a norma de caráter processual começa a incidir
imediatamente, preservando-se os atos anteriores).

Aud. de
Contestação Aud. de
Petição inicial Citação conciliação Réplica AIJ Sentença
(início do prazo) saneamento
/mediação

Obs. A audiência de saneamento somente ocorrerá se houver


requerimento das partes nesse sentido. Se não, será mera decisão de saneamento.

No site CEJAS (vídeo gratuito do professor sobre o novo CPC).

Como se vê, o prazo para apresentar defesa é de 15 dias, mas o momento de seu
início depende de cada procedimento.

aula 4: alexandre Câmara

Uma das preocupações do CPC/15 é simplificar o processo. O CPC/73


tem um modelo de formalismo excessivo, ainda que temperado em algumas
hipóteses, como quando da aplicação da instrumentalidade das formas. Um dos
pontos mais simplificados foi a resposta do réu. O novo CPC estabelece uma
concentração de peças. No CPC/73, a contestação serve apenas para contestar.
No CPC/15, serve para contestação, reconvenção (art. 343), alegação de exceção
de incompetência relativa (art. 337, II), impugnação do valor da causa (art. 337,
III) e da gratuidade de justiça (art. 337, XIII). Somente as alegações de
impedimento e de suspeição não serão opostas na contestação. Elas deixam de se
chamar “exceções”, para se chamarem “alegações” ou “argüições” de
impedimento e de suspeição.

reconvenção
Convir, em português arcaico, significava ir a juízo. Esse sentido se
perdeu, sendo utilizado somente no chamado “contra-ataque” do réu em face do
autor – reconvenção (demandar de volta). Reconvenção é uma demanda
proposta pelo réu em face do autor, aproveitando-se do mesmo processo. No
CPC/15, a reconvenção é feita na mesma peça da contestação (art. 343).

Art. 343.  Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar
pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.

Embora seja feita na mesma peça da contestação, o réu pode propor


reconvenção sem que formalmente ofereça contestação, isto é, uma defesa em
relação à demanda do autor. Ele pode só contestar, só reconvir ou contestar e
reconvir em uma mesma peça.

Art. 343, § 6o O réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer


contestação.

Obs. Para Alexandre Câmara, o pedido contraposto (do procedimento


sumário e dos Juizados) não se diferencia da reconvenção pelo fato de se dar na
mesma peça da contestação, mas pelo fato de sua abrangência ser mais restrita,
pois se baseia nos mesmos fundamentos de defesa alegados pelo autor. Seria uma
espécie de pedido reconvencional. Como não há mais procedimento sumário no
novo CPC, não se fala mais em pedido contraposto, mas somente em
reconvenção.

Se o réu reconvir, ele terá de dar valor à causa. Esse valor da causa deverá
ser indicado na própria contestação em que o réu reconvenha (art. 292).

Proposta a reconvenção, em nome do princípio do contraditório, deverá


ser oportunizada manifestação ao autor, que será intimado para apresentar
contestação à reconvenção em 15 dias úteis (art. 343, §1º).

Questão: Pode o autor propor reconvenção da reconvenção? Sim. Se o


autor da demanda principal é réu da demanda reconvencional, poderá reconvir
em sua contestação. É a chamada reconvenção sucessiva. Ex. A vai a juízo em
face de B pedindo a declaração de uma cláusula contratual. B contesta e
reconvém pedindo que A cumpra obrigação relativa a várias cláusulas
contratuais. A, ao contestar, poderá reconvir e pedir a declaração de nulidade do
contrato inteiro.

A demanda do autor e a demanda reconvencional são autônomas entre si,


embora o processo seja um só. Não há entre essas demandas qualquer vinculação
no que tange ao julgamento. Daí importa mencionar o art. 343, §2º, do CPC/15:
§ 2o A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame
de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção.

Se o juiz encontrar algum fundamento para não examinar o mérito da


demanda principal, isto não o impedirá de examinar o mérito da demanda
reconvencional e vice-versa, ou seja, a recíproca também é verdadeira.

requisitos de admissibilidade da reconvenção

Os requisitos da reconvenção podem ser subjetivos ou objetivos.

Um dos requisitos objetivos previstos no CPC/73 perde sentido com o novo


CPC: petições distintas apresentadas simultaneamente. Discutia-se o que fazer
quando a contestação e a reconvenção fossem apresentadas dentro do prazo, mas
em momentos distintos. No CPC/15, isto não faz mais sentido, pois a
reconvenção é oferecida na mesma peça da contestação.

requisitos objetivos

competÊncia do juízo

Só se admite a reconvenção se o juízo da causa principal for competente


também para conhecer da reconvenção. Ex. Não se pode em Vara de Família
deduzir pretensão reconvencional que seja de competência da Vara Cível. O que
se exige é o respeito aos critérios absolutos de competência (em razão da
matéria, por exemplo). Os critérios relativos de competência não serão levados
em consideração. Ex. A, residente na cidade do Rio de Janeiro, quer demandar
contra B, residente em Niterói. Propõe a ação na Vara Cível de Niterói (domicílio
do réu). Se B reconvir em face de A, o juízo da Vara Cível de Niterói continua
sendo competente, embora o domicílio do réu seja o Rio de Janeiro. A regra de
competência relativa é afastada pelo princípio da eficiência, da economia
processual (mais resultado com menos dispêndio).

conexão

O art. 343, caput, do CPC/15 diz que a reconvenção é veículo de uma


pretensão que deve ser conexa com a demanda principal ou com o fundamento da
defesa. O CPC/15, tanto quanto o CPC/73, têm um dispositivo para definir
conexão:

Art. 55.  Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o
pedido ou a causa de pedir.

O art. 55 do CPC/15 repete o conceito de conexão existente no art. 103 do


CPC/73. Há, porém, uma observação importante: a conexão mencionada no art.
343, caput, do CPC/15 é diferente da conexão do art. 55 do CPC/15 por dois
fundamentos. A conexão, como pressuposto da reconvenção, pode ser com a
demanda principal ou com a defesa/a contestação.

1º. É difícil pensar em uma reconvenção cujo pedido ou causa de pedir sejam
idênticos ao da demanda principal, pois, em regra, são completamente
antagônicos (somente em situações excepcionalíssimas isso ocorreria, ex. A pede
anulação do contrato porque B o coagiu; B diz que não coagiu, mas que celebrou
o contrato em erro, razão pela qual pede, em reconvenção, a anulação do
contrato), o que restringiria por demais a possibilidade de reconvenção.

2º. Diga-se ainda que a reconvenção nunca poderá ter o mesmo pedido/causa de
pedir da contestação, pois a contestação não deduz pedido ou causa de pedir.

A conexão exigida como requisito objetivo da reconvenção é mais ampla do que


a do art. 55 (embora também englobe as possibilidades ali contidas). Significa
única e exclusivamente ponto de contato. Basta haver algo que ligue a
reconvenção e a ação principal ou a reconvenção e a defesa para que a
reconvenção seja admitida. Ex.1. João propõe ação de divórcio em face de Maria.
Maria reconvém pedindo alimentos. Ex.2. A propõe em face de B ação
declaratória de nulidade do contrato. B diz que o contrato não é mulo e reconvém
pedindo a condenação de A a cumprir o contrato. Ex.3. A propõe em face de B
ação de consignação de pagamento em aluguel. B contesta dizendo que o valor
depositado não é suficiente e reconvém pedindo o despejo de A.

A ligação entre reconvenção e compensação é muito forte. Ex. A vai a juízo em


face de B requerendo a condenação deste ao pagamento de R$10.000,00. B
contesta, confessando a dívida, mas alegando a compensação. Como seu crédito é
maior do que o de A, ele reconvém pedindo o pagamento do saldo da dívida por
A.

requisitos subjetivos

A reconvenção deve ser proposta pelo réu em face do autor.

Pode, porém, a reconvenção ser:

a) Subjetivamente mais ampla que a demanda principal:

Questão: Se A, autor da demanda principal atua no processo na condição de


substituto processual de C, pode B reconvir contra A? Sim, se A também tiver
legitimidade extraordinária para substituir C no pólo passivo (legitimidade
extraordinária passiva). Se não, não cabe reconvenção em face de A.
Questão: Se A demanda em face de B pode B reconvir em face de A e C, ou
seja, incluir um demandado na reconvenção que não é autor da demanda
principal? Sim. Ex. Suponha-se que A e C são credores solidários de uma
obrigação. A propõe ação de cobrança em face de B pedindo o pagamento da
integralidade do crédito. B deve reconvir em face de A e C para pedir anulação
do contrato (nesse exemplo, o litisconsórcio é necessário).

Art. 343, § 3o A reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceiro.

Questão: Pode alguém que não é réu se litisconsorciar ao réu para reconvir?
Sim. Ex. B e D são devedores solidários de A. A propõe ação somente em face
de D. B pode se juntar a D para reconvir pedindo anulação do contrato (nessa
hipótese, o litisconsórcio é facultativo). Assim prevê o art. 343, §4º, do CPC:

§ 4o A reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro.

b) Subjetivamente mais restrita que a demanda principal:

b.1. Em havendo mais de um réu e um único autor na demanda principal: pode


ser que somente um deles proponha reconvenção.

b.2. Em havendo mais de um autor e um único réu na demanda principal: pode


ser que o réu só queira reconvir em face de um autor.

arguição de impedimento e de suspeição

O CPC/15 concentrou todas as matérias alegáveis pelo réu no primeiro momento


em que se manifesta no processo, dando um tratamento diferenciado apenas às
alegações de impedimento e de suspeição. Há dois motivos para isso:

1º. Impedimento e suspeição não são matérias alegáveis apenas pelo réu, mas
também pelo autor, razão pela qual não se poderia restringir sua alegação em
sede de contestação.

2º. Impedimento e suspeição podem surgir a qualquer momento no processo,


inclusive pela mudança de juiz, razão pela qual deve haver um mecanismo que
permita tal alegação mesmo em momento posterior ao da contestação.

Sendo assim, o CPC/15 trouxe o que já existia no CPC/73 sob a denominação


exceção de impedimento e de suspeição com o nome de argüição de impedimento
ou de suspeição do juiz, que gera a instauração de um incidente processual (art.
146, §2º, do CPC/15).

Art. 146.  No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte
alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do
processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com
documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas.

§ 2o Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos, sendo que,


se o incidente for recebido: [...]

causas de impedimento (arts. 144 e 147)

a) Art. 144:

 Inciso I: em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito,


funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como
testemunha;

 Inciso II: de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido


decisão; - houve mudança de redação do CPC/73 para o NCPC, porque, no
CPC/73, o impedimento somente ocorreria se tivesse conhecido a causa em
primeiro grau (ex. juiz que foi promovido a Desembargador). Agora, não importa
o grau de jurisdição em que tenha proferido decisão, estará impedido (ex. juiz
que foi convocado provisoriamente para substituir Desembargador e, depois,
retornou a sua Vara).

 Inciso III: quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado
ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive;

 Inciso IV: quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou
companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até
o terceiro grau, inclusive;

 Inciso V: quando for sócio ou membro de direção ou de administração de


pessoa jurídica parte no processo; - no CPC/73, não havia o impedimento para
sócio. Ex. Se a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) for parte em uma
ação, qualquer magistrado sócio da AMB será tido por impedido. Se mais da
metade do Tribunal for associado, será caso de transferência da competência para
o STF.

 Inciso VI: quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de


qualquer das partes; - no CPC/73, era causa de suspeição e não de impedimento.
Ex. A empregada doméstica do juiz é parte do processo.

 Inciso VII: em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha
relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; - Ex.
Um juiz que dê aula em determinada faculdade não poderá atuar nos processos
em que essa faculdade seja parte.

 Inciso VIII: em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado
de outro escritório; - essa causa não existia no CPC/73. Para Câmara, traz uma
exigência ilógica, pois presume que todo advogado atua de má-fé. Isso cria
inúmeros casos de impedimento entre juízes e parentes advogados em causas que
nenhuma relação possuem.

 Inciso IX: quando promover ação contra a parte ou seu advogado. – essa causa
não existia no CPC/73. Ex. Se Alexandre Câmara propôs ação contra a Decolar,
não poderá atuar como juiz em outras causas em que Decolar seja parte.

b) Art. 147: Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou


afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, o primeiro que
conhecer do processo impede que o outro nele atue, caso em que o segundo se
escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal. – Aqui, o primeiro que atua
cria impedimento do outro (ex. Desembargador pai e juiz filho).

causas de suspeição (art. 145)

 Inciso I: amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus


advogados; - a novidade aqui é a suspeição quando o juiz for amigo íntimo ou
inimigo dos advogados das partes. Para Câmara, há de se ter muito cuidado em
varas de cidades pequenas em que o juiz normalmente é amigo dos advogados.

 Inciso II: que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na


causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes
acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas
do litígio;

 Inciso III: quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de
seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro
grau, inclusive;

 Inciso IV: interessado no julgamento do processo em favor de qualquer


das partes.

 Parágrafo 1º: Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro


íntimo, sem necessidade de declarar suas razões. – O NCPC, ao incluir a
expressão sem necessidade de declarar suas razões, confirmou entendimento já
sufragado pelo STF no sentido de que o magistrado não pode ser obrigado a
declinar as razões que levaram à sua suspeição se o foro é íntimo.

procedimento de arguição de impedimento e de suspeição

A argüição de impedimento e de suspeição é regida pelo art. 146 do


NCPC. A petição será dirigida ao próprio juiz cujo impedimento ou suspeição
seja argüido, no prazo de 15 dias contados do conhecimento do fato, declinado o
fundamento da recusa, isto é, a hipótese normativa que gera o impedimento ou
suspeição.

Oferecida esta argüição, o processo se suspende. No CPC/73, a suspensão se


dava até o julgamento da argüição. No NCPC, é diferente, pois a suspensão não
necessariamente durará até o julgamento do incidente, como se verá a seguir.

Podem ocorrer duas situações distintas:

a) Se o juiz reconhece a suspeição: ele se afasta do processo, que será


redistribuído para seu substituto legal.

b) Se o juiz não reconhece a suspeição: o incidente será remetido ao


Tribunal para julgamento e será distribuído para um Relator. Este Relator deverá
determinar em que efeitos o incidente é recebido. Se for recebido com efeito
suspensivo, o processo continua suspenso; se não, o processo volta a andar (art.
146, §2º).

Se o Tribunal acolher a argüição, ele condena automaticamente o juiz ao


pagamento das custas do incidente (deveria ter se declarado de ofício ou ao
menos acolhido a argüição da parte). Obs. Deve-se desprezar o termo
“manifesta”, contido no art. 146, §5º, do NCPC para evitar subjetivismos.

O NCPC prevê a possibilidade de o juiz recorrer dessa decisão nos moldes do art.
146, §5º (essa previsão não existia no CPC/73). Como não tem capacidade
postulatória, para recorrer, precisará contratar advogado.

Com relação à incompetência relativa, esta passa a ser alegada no NCPC como
preliminar de contestação e não mais como exceção apartada.

impugnação ao valor da causa

Sempre que alguém vai propor uma demanda, seja por petição inicial ou
por reconvenção, é preciso dar à causa um valor (art. 291 do NCPC). Em regra, o
valor da causa corresponde ao proveito econômico que a parte pretende obter
com o processo. Se não houver proveito econômico, o valor da causa será fixado
por estimativa.
Partindo dessa ideia geral, o art. 292 estabelece alguns critérios a serem
necessariamente observados:

Art. 292.  O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:

I - na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do principal,


dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de
propositura da ação;

II - na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cumprimento, a


modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do ato
ou o de sua parte controvertida;

III - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo


autor;

IV - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor de avaliação


da área ou do bem objeto do pedido;

V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;


- com o NCPC, acaba a possibilidade de pedido genérico nas ações de dano
moral, em respeito ao princípio do contraditório (arts. 7º, 9º, 10 do NCPC). O
contraditório no 2º grau não é capaz de suprir a falta do contraditório no 1º grau.

VI - na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma


dos valores de todos eles;

VII - na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor;

VIII - na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal.

Fora dessas hipóteses, podem ter critérios estabelecidos pela legislação


extravagante (ex. art. 58, III, da L. 8245). Se não houver critérios legais, impõe-
se a regra de que o valor da causa tem que ser equivalente ao do proveito
econômico.

Questão: Cabe redução de ofício do valor da causa pelo juiz? No CPC/73,


se consagrou que, nas causas em que houver critério legal, pode o juiz rever o
valor da causa de ofício. Fora desses casos, o controle depende de alegação pela
outra parte. No NCPC, o §3º do art. 292 permite que o juiz controle o valor da
causa em qualquer hipótese, sempre que perceber que este valor não corresponde
ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido.

Art. 292, § 3o O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa
quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou
ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao
recolhimento das custas correspondentes.

Se a causa não tiver conteúdo econômico e o valor da causa tiver que ser
estimado, não cabe controle de ofício pelo juiz.

O réu poderá impugnar, em preliminar de contestação, o valor da causa,


caso com ele não concorde (mesmo que o juiz tenha corrigido de ofício):

Art. 293.  O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor


atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito,
impondo, se for o caso, a complementação das custas.

Se o réu contestou e não impugnou o valor da causa, a matéria está


preclusa.

impugnação à gratuidade de justiça

A Constituição assegura acesso gratuito ao Poder Judiciário àqueles que


não têm condição de arcar com as despesas do processo. Pode ser, porém, que
seja deferido o benefício à parte que não tem direito. Nesse caso, a outra parte –
autor ou réu – poderá oferecer impugnação a esse deferimento.

No NCPC, essa impugnação está expressa no art. 100. Se o autor requer


na inicial e é deferida, o réu pode impugnar em contestação. Se o réu requer na
contestação e é deferida, o réu pode impugnar em réplica. Se o recorrente requer
nas razões e é deferida, o recorrido pode impugnar nas contrarrazões. Em
qualquer outro caso, isso se dará via petição simples nos autos do próprio
processo no prazo de 15 dias da concessão (sem suspensão do processo). Nesse
caso, o juiz deve colher prova para ver se é caso de manter ou revogar o
benefício.

Revogado o benefício, a parte arcará com as despesas processuais que


tiver deixado de adiantar e pagará, em caso de má-fé, até o décuplo de seu valor a
título de multa revertida para a Fazenda Pública federal ou estadual (que pode ser
inscrita em dívida ativa), conforme art. 100, p.ú, do NCPC.

Obs. O STJ entende que basta a alegação de insuficiência de recursos para


que se possa conceder o benefício da gratuidade. Não há qualquer confronto à
Constituição, pois, enquanto esta exige comprovação da insuficiência de
recursos, a Lei 1.060/50 exige mera alegação, ampliando o direito fundamental
de acesso à justiça. No NCPC, as pessoas naturais se beneficiam de uma
presunção relativa de que fazem jus à gratuidade (art. 99, §3º c/c art. 374, IV).
Não se pode exigir delas que comprovem tal insuficiência, mas pode o juiz,
diante de elementos evidenciados nos autos, entender que há provas em sentido
contrário à insuficiência alegada (art. 99, §2º), caso em que deverá intimar o
autor para que possa comprovar a insuficiência. Já as pessoas jurídicas sempre
devem comprovar tal insuficiência.

aula 5: alexandre câmara

providências preliminares

Decorrido o prazo da resposta, tenha ela sido oferecida ou não, os autos


devem ir à conclusão do juiz para que ele verifique se é preciso tomar alguma das
providências preliminares. No CPC/73, as providências preliminares eram três.
No NCPC, são duas, pois desaparece a ação declaratória incidental.

especificação de provas

A primeira providência preliminar, regulada no art. 348 do NCPC, é a


especificação de provas. No CPC/73, a especificação de provas era prevista no
art. 324, dispositivo que compunha sozinho a seção primeira do capítulo que trata
sobre providências preliminares. Essa seção denominava-se “Do efeito da
revelia”, mas tratava exatamente da hipótese em que a revelia não produzia seu
efeito. No NCPC, esta seção se chama “Da não incidência dos efeitos da
revelia”.

A revelia, como já visto, gera um efeito material principal que consiste


numa presunção relativa de veracidade das alegações deduzidas pelo autor. Nesse
caso, dispensada estará a fase probatória, não precisando o autor provar nada do
que foi alegado.

Há casos, porém, em que, não obstante a revelia, tal efeito não será produzido,
ex. réu revel em processo que verse sobre direitos indisponíveis. No NCPC, tais
hipóteses estão no arts. 344 e 345. Se o réu é revel, mas dessa revelia não resulta
uma presunção de veracidade, o autor não fica dispensado do ônus de produzir
provas, caso em que o juiz permitirá ao autor especificar provas para demonstrar
a veracidade de suas alegações.

Art. 348.  Se o réu não contestar a ação, o juiz, verificando a inocorrência do
efeito da revelia previsto no art. 344, ordenará que o autor especifique as provas
que pretenda produzir, se ainda não as tiver indicado.

Mesmos nos casos em que se presumem verdadeiras as alegações do autor em


razão da revelia do réu, ao réu é permitido, se ainda houver tempo, produzir
provas que se contraponham às alegações do autor (contraprova), pois a
presunção é relativa. Ex. Réu que contestou depois do prazo, mas tem procurador
constituído nos autos, pode produzir provas.

Art. 349.  Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações
do autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos
processuais indispensáveis a essa produção.

Ressalte-se que, embora possa produzir contraprovas, o réu não pode


deduzir alegações que já estejam preclusas, conforme art. 507 do NCPC, ou seja,
que deveriam ter sido alegadas em sede de contestação (ex. pagamento,
compensação etc.). Portanto, só poderá aduzir aquelas matérias alegáveis a
qualquer tempo, tais quais prescrição e decadência.

Art. 507.  É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas


a cujo respeito se operou a preclusão.

Existe um costume forense de, após a réplica do autor, prolatar-se um


despacho determinando que ambas as partes especifiquem provas. Esse despacho
não tem previsão legal no CPC/73 nem no NCPC. Ele se deve a uma
incongruência da legislação brasileira. A legislação determina que as partes
indiquem as provas que pretendem produzir no primeiro momento em que lhe
couber falar nos autos – o autor na petição inicial (art. 319, VI, do NCPC) e o réu
na contestação (art. 336). Isso faz com que as partes tenham que indicar provas
antes de saber o que terá que provar, pois só, depois da contestação (para o autor)
e da réplica (para o réu), se saberão quais são as questões controvertidas. Afinal,
o que é incontroverso não pode ser objeto de prova (art. 374, III, do NCPC). Em
razão disso, as partes fazem a priori um requerimento genérico de produção de
provas e, depois da réplica, os juízes determinam que as partes especifiquem
provas.

réplica

O CPC/73 não utilizava a expressão réplica. O NCPC, ao tratar da réplica,


também não utilizou esse nome, mas o termo foi mencionado nos arts. 100, 430 e
437. Réplica é a resposta do autor à contestação, regulada nos arts. 350 e 351 do
NCPC. Submete-se ao prazo de 15 dias úteis.

Haverá réplica em duas hipóteses:

a) Quando o réu na contestação tiver suscitado defesa processual (ex. falta


de interesse, falta de legitimidade, vício de representação etc.).

b) Quando o réu na contestação tiver alegado defesa de mérito indireta


(ex. pagamento, compensação etc.).
Se o réu, na contestação, se limitar a deduzir defesa de mérito direta, ou
seja, se ele apenas negar o fato constitutivo do direito do autor, não haverá
réplica. Nesse caso, a réplica não contribuiria para o aprofundamento do debate
processual, do contraditório, apenas reportando-se às alegações já firmadas na
inicial.

No NCPC, são apenas essas duas providências preliminares: a


especificação de provas e a réplica.

ação declaratória incidental

distinção entre questão principal e questões prejudiciais

Ao longo de um processo, surgem questões que deverão ser resolvidas


pelo juiz. Questão é todo ponto controvertido de fato ou de direito.

Em regra, as questões são independentes uma das outras, ex. competência


do juízo, correção do valor da causa, necessidade ou não de produção de uma
prova. Quando elas são independentes, não importa a ordem em que são
examinadas, sendo tal ordem irrelevante. Ex. Autor pleiteia condenação do réu ao
pagamento de dano material e dano moral (questões de fato independentes).

Pode, contudo, surgir uma relação entre questões, que faz com que uma
tenha que ser necessariamente resolvida antes da outra. Quando isso acontece, a
questão que obrigatoriamente será examinada primeiro se chama questão prévia e
a questão que será examinada depois se chama questão posterior.

Existem dois tipos de questão prévia:

a) Questão preliminar: uma questão é preliminar à outra quando sua


solução é capaz de impedir o exame da questão posterior, denominada principal.
Dependendo do modo como a questão preliminar se resolva, a questão posterior
sequer será examinada. Se a solução da questão preliminar permitir o exame da
questão principal, esta em nada será influenciada pela solução da questão
preliminar. É um obstáculo intransponível. Ex. Ação de cobrança em que o réu
argui preliminar de falte de interesse de agir e, no mérito, que houve pagamento
→ se a preliminar for acolhida, haverá extinção do processo sem resolução do
mérito; se a preliminar for rejeitada, passa-se ao exame de mérito que em nada é
influenciado pela preliminar.

b) Questão prejudicial: é a questão prévia cuja solução influi na solução


da questão posterior, denominada prejudicada. De qualquer forma a questão
prejudicada será examinada. Ex. Ação de cobrança de tributo em que o réu alega
a inconstitucionalidade da lei que o previu. A questão da inconstitucionalidade é
prejudicial, pois, se a lei for constitucional, o tributo é devido, e se for
inconstitucional, o tributo não é devido. Ex. Ação de alimentos em que o réu
afirma não ser pai do menor.

Existem questões que são preliminares ao mérito e existem questões que


são preliminares de mérito.

a) Preliminar ao mérito: é a questão prévia a todo o mérito. Dependendo


do modo como seja resolvida, não será possível chegar ao exame de mérito, pois
o processo será extinto sem resolução do mérito. Ex. Falta das condições da ação.

b) Preliminar de mérito: é uma questão de mérito (dentro do mérito) que é


preliminar a outra questão de mérito. Dependendo do modo como se resolva a
primeira, não será possível examinar a segunda. Ex. Ação de cobrança de crédito
tributário em que o réu alega prescrição e compensação. Ambas são questões de
mérito, mas o juiz necessariamente deve examinar primeiro a questão da
prescrição – preliminar de mérito. Se a prescrição for acolhida, não se examinará
a compensação. Se a prescrição for rejeitada, a compensação será examinada,
sem que haja qualquer influência da questão preliminar da prescrição no seu
resultado.

Assim como existem preliminares de mérito, existem questões prejudiciais


que são prejudiciais a questões processuais, ou seja, a questão prejudicada é
puramente processual e não tem nada a ver com o mérito. Ex. Em um
determinado processo, surgiu uma questão sobre estar ou não determinada parte
regularmente representada no processo. É uma questão puramente processual.
Discute-se se a alteração do contrato social que deu poderes àquele sócio para
assinar sozinho a procuração foi ou não válida. Se a alteração foi válida, a
procuração é válida e a representação processual está correta. Se a alteração não
foi válida, a procuração é nula e existe vício de representação. A validade da
alteração do contrato social é prejudicial à validade da representação da parte em
juízo.

ação declaratória incidental

No regime do CPC/73, as questões prejudiciais ao mérito, decididas


incidentemente no processo, não faziam coisa julgada. O art. 469, III, previa:

Art. 469. Não fazem coisa julgada:

III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.

Contudo, podia a parte, no momento oportuno, propor a chamada ação


declaratória incidental cujo objeto seria a questão prejudicial ao mérito. Sendo
assim, a questão prejudicial deixaria de ser decidida incidentalmente para ser
decidida principaliter, isto é, no dispositivo, razão pela qual passaria a fazer
coisa julgada.

Art. 5º Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de cuja


existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das partes
poderá requerer que o juiz a declare por sentença.

Art. 325. Contestando o réu o direito que constitui fundamento do pedido, o autor
poderá requerer, no prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira sentença
incidente, se da declaração da existência ou da inexistência do direito depender,
no todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5º).

Art. 470. Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se a parte
o requerer (arts. 5º e 325), o juiz for competente em razão da matéria e constituir
pressuposto necessário para o julgamento da lide.

O art. 325 falava sobre o momento processual oportuno para o autor


propor ação declaratória incidental e o art. 470 sobre a formação de coisa julgada
quando da propositura de ação declaratória incidental. Esta só produzirá coisa
julgada se o juiz for competente em razão da matéria, ou seja, se ele for
competente também para a solução principaliter da questão prejudicial (ex. se o
juiz for cível e tiver que decidir uma questão de família, essa será
necessariamente decidida incidenter tantum e não será cabível ação declaratória
incidental perante juiz incompetente).

O NCPC, ao tratar da coisa julgada, muda o tratamento dado no art. 468


do CPC/73 em relação às questões prejudiciais em seus arts. 503 e 504 (suprimiu
o inciso III do art. 468 e incluiu o §1º, III, no art. 543 do NCPC). Veja-se:

Art. 503.  A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei
nos limites da questão principal expressamente decidida.

§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida


expressa e incidentemente no processo, se:

I - dessa resolução depender o julgamento do mérito; - ou seja, a questão


prejudicada necessariamente está afeta ao mérito.

II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no


caso de revelia; - se o réu é revel ou se não foi dada a ele a oportunidade de se
manifestar, não se forma a coisa julgada sobre a questão prejudicial. Exige-se o
contraditório efetivo e prévio.
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la
como questão principal.

Para haver coisa julgada sobre a questão prejudicial, devem ser


observados três requisitos contidos no §1º do art. 503. O que se quis não foi fazer
com que uma parte da fundamentação transite em julgado, mas sim que a solução
da questão prejudicial passe a integrar o mérito independentemente de pedido. É
como se houvesse um “pedido implícito” para a solução da questão prejudicial.
Portanto, ela constará do dispositivo e fará coisa julgada.

O art. 503, §2º, do NCPC traz um requisito negativo para que a solução da
questão prejudicial faça coisa julgada, qual seja o de que o processo não se
submeta a restrições probatórias ou limitações à cognição. Se houver tais
limitações/ restrições (ex. mandado de segurança, inventário, processos nos
Juizados etc.), não haverá coisa julgada quanto à solução da prejudicial.

Art. 503, § 2o A hipótese do § 1o não se aplica se no processo houver restrições


probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise
da questão prejudicial.

O NCPC não fala mais em ação declaratória incidental, mas há quem fale
que, independentemente de previsão expressa, esta continua sendo cabível, uma
vez que, ao prever o incidente de argüição de falsidade, demonstra que o sistema
do NCPC é plenamente compatível com as ações declaratórias incidentais (Ada
Pellegrini Grinover).

Questão: Cabe ação declaratória incidental contra réu revel? No CPC/73, sim,
desde que nos termos do art. 321, que exige que o réu revel seja novamente
citado, sendo-lhe devolvido o prazo de resposta. No NCPC, se o réu é revel, a
solução da prejudicial não vai fazer coisa julgada, conforme art. 503, §1º, II.
Pode ser, portanto, que o réu deixe de contestar de propósito para que a solução
da questão prejudicial não faça coisa julgada. Nesse caso, Câmara entende que
seria plenamente cabível o autor propor ação declaratória incidental, permitindo-
se assim que a questão prejudicial faça coisa julgada quando, a princípio, não
faria.

julgamento conforme o estado do processo

CPC/1973 CPC/2015

Extinção do processo Extinção do processo


Julgamento antecipado da lide Julgamento antecipado do mérito
Julgamento antecipado parcial do
mérito

Audiência preliminar e Saneamento e organização do


saneamento do processo processo

Obs. Com o NCPC, quando o autor instaura uma demanda mediante o


procedimento comum, o réu não é citado para contestar, mas para comparecer à
audiência de conciliação ou mediação. Se não houver acordo, começa a correr o
prazo para contestar. Isso é parte de uma tendência de valorização dos meios
consensuais de resolução de conflito.

extinção do processo

O NCPC, no art. 354, dispõe que:

Art. 354.  Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 (extinção sem
resolução do mérito) e 487, incisos II e III (extinção com resolução do mérito), o
juiz proferirá sentença.

Deve-se ter atenção ao parágrafo único do art. 354:

Art. 354, Parágrafo único.  A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito
a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de
instrumento.

Se o juiz estiver diante de uma situação em que deva haver a exclusão de


determinada parte, de determinado pedido etc., em razão da ocorrência de uma
das hipóteses do art. 485 ou do art. 487, I e II, ele o fará mediante decisão
interlocutória da qual cabe agravo de instrumento. Não há extinção parcial do
processo, pois se o processo continua não há falar em extinção.

julgamento antecipado do mérito

Não sendo caso de extinção do processo, verifica-se se é hipótese de


julgamento antecipado do mérito. O julgamento antecipado do mérito nada mais
é do que a hipótese em que haverá imediatamente após a fase postulatória o
julgamento do mérito, dispensada a fase probatória. Para Athos Gusmão
Carneiro, dever-se-ia denominar julgamento imediato do mérito. Está previsto no
art. 354 do NCPC e no art. 330 do CPC/73.

Art. 355.  O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com


resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;

II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver
requerimento de prova, na forma do art. 349.

O NCPC traz um novo instituto, em seu art. 356, denominado julgamento


antecipado parcial do mérito. Trata-se de uma cisão do julgamento do mérito.

Art. 356.  O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos
formulados ou parcela deles:

 Inciso I: mostrar-se incontroverso; - Ex. 1. Se João promove ação de cobrança


de R$50.000,00 em face de José e este admite dever R$40.000,00, o juiz desde
logo condena José a pagar os R$40.000,00 e o processo segue para discussão dos
R$10.000,00 restantes. Ex. 2. Se João promove ação de reintegração de posse c/c
indenização a título de dano material em face de José e José admite ter esbulhado
o imóvel, mas diz que nenhum prejuízo causou ao autor, o juiz desde logo manda
que José saia do imóvel, discutindo-se posteriormente o prejuízo.

 Inciso II: estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
– Ex. Se, em relação a um dos pedidos, a prova documental acostada à inicial for
suficiente à sua demonstração, pode o juiz desde logo julgá-lo procedente,
deixando os demais pedidos para análise posterior.

O fato de ainda não haver elementos para determinar a liquidez da obrigação não
é suficiente para retirar a possibilidade de julgamento antecipado parcial do
mérito, em razão do que dispõe o art. 356, §1º:

Art. 356, § 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a
existência de obrigação líquida ou ilíquida.

Caso seja reconhecida obrigação ilíquida na decisão interlocutória, a parte


desde logo poderá liquidá-la ou executá-la, conforme parágrafo 2º. A liquidação
ou o cumprimento poderão se dar no mesmo processo ou em autos
suplementares, caso haja requerimento da parte ou determinação do juiz.

§ 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na


decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda
que haja recurso contra essa interposto.

§ 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito


poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a
critério do juiz.
Se ninguém recorrer ou os recursos se esgotarem, haverá trânsito em
julgado da decisão, pelo que a execução mencionada no §2º será tida por
definitiva:

§ 3o Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução


será definitiva.

Por fim, resta-nos dizer que tal ato judicial é uma decisão interlocutória,
na medida em que não encerra o processo, razão pela qual é impugnável via
agravo de instrumento (§5º).

de saneamento e de organização do processo

Não ocorrendo nenhuma das hipóteses acima (extinção do processo ou


julgamento antecipado do mérito), passa-se ao saneamento e à organização do
processo. O NCPC deu ao procedimento comum uma estrutura distinta da que se
tinha no procedimento ordinário do CPC/73, dividida em duas fases nítidas:

a) Fase introdutória ou preparatória – tem por objetivo definir o que será objeto
de discussão e decisão. Ao final da primeira fase, profere-se uma decisão que
delimita este objeto, denominada “decisão de saneamento e de organização do
processo” (já foi denominada de despacho saneador e decisão de saneamento).

b) Fase principal – tem por objetivo discutir e decidir o objeto já definido na


primeira fase.

elementos da decisão

Art. 357.  Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz,
em decisão de saneamento e de organização do processo:

 Inciso I: resolver as questões processuais pendentes, se houver;

 Inciso II: delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade


probatória, especificando os meios de prova admitidos; → somente estas
questões de fato serão objeto de prova, excetuando-se àquelas que forem
supervenientes.

 Inciso III: definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373;


→ o art. 373 do NCPC corresponde ao art. 333 do CPC/73. Com o NCPC, em
qualquer tipo de processo, poderá haver inversão do ônus da prova, desde que
preenchidos os requisitos do art. 373, §1º e desde que essa inversão seja
determinada na decisão de saneamento e de organização.
 Inciso IV: delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito;
ex. por que diploma a relação é regida, se a lei é constitucional ou não etc.
Questões de direito que não tenham sido delimitadas na decisão de saneamento e
de organização não poderão ser discutidas depois, desde que digam respeito a
direito superveniente. Obs. Aqui o juiz que substitui outro, por exemplo, não
pode invocar o iuri novit curia para apreciar outras questões de direito.

Inciso V: designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.

Dos cinco capítulos dessa decisão interlocutória, só cabe agravo de instrumento


contra o capítulo que trata do ônus da prova (art. 1.015, XI c/c art. 373, §1º), se o
juiz tiver redistribuído esse ônus (invertido ou deixado de inverter). Os demais
capítulos serão recorríveis no momento da apelação. Da sentença e das decisões
interlocutórias não agraváveis, irá caber apelação. Portanto, não se fala em
mandado de segurança, pois a decisão interlocutória não é irrecorrível.

Realizado o saneamento, as partes podem pedir esclarecimentos ou


solicitar ajustes no prazo comum de 5 dias, findo o qual a decisão se torna estável
(art. 357, §1º, do NCPC). Esse pedido de esclarecimentos e ajustes se restringe
aos capítulos da decisão de saneamento que não são recorríveis via agravo. Para
o capítulo recorrível via agravo, cabem embargos de declaração em havendo
omissão, obscuridade e contradição (suspende o prazo do agravo) e agravo de
instrumento.

Pode ainda haver o chamado saneamento consensual, previsto no artigo


357, parágrafo 2º, do NCPC. As partes celebram um negócio processual típico
em que definem as questões de fato e de direito relevantes. Sendo válido o
negócio, o juiz tem que homologar. Ele não faz controle do conteúdo desse
negócio. Ele somente controlará os casos de nulidade, de inserção abusiva em
contrato de adesão ou de manifesta vulnerabilidade de uma das partes (art. 190
do NCPC). É uma faceta do processo cooperativo (art. 6º do NCPC), podendo as
partes compor até mesmo sobre matérias de ordem pública que seriam alegáveis
de ofício pelo juiz (ex. se as partes não elegem como uma das questões de direito
a inconstitucionalidade de determinada lei, o juiz não poderá posteriormente
apreciar de ofício essa inconstitucionalidade).

§ 2o As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação


consensual das questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a
qual, se homologada, vincula as partes e o juiz.

O art. 190 do NCPC dispõe que:


Art. 190.  Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é
lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para
ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.

Parágrafo único.  De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das


convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de
nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte
se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

Há ainda o chamado saneamento compartilhado em caso de causas


complexas. Nessas hipóteses, o juiz deverá marcar uma audiência de saneamento
para que, junto com as partes, delimite as questões de fato e de direito. Pode o
juiz nessa oportunidade pedir esclarecimento quanto às alegações da parte.

Art. 357, § 3o Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de


direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em
cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará
as partes a integrar ou esclarecer suas alegações.

Caso na decisão de saneamento tenha sido determinada a produção de


prova testemunhal, as partes terão o prazo de 15 dias para apresentar o rol de
testemunhas (§4º). No entanto, se tiver sido marcada audiência de saneamento, as
partes, ainda que não saibam se haverá prova testemunhal, já deverão levar o seu
rol de testemunhas (§5º), que não pode ser superior a 10 testemunhas, no máximo
de 3 para prova de cada fato (§6º).

Se o juiz determinar a produção de prova pericial, ele não apenas nomeia o


perito, mas sempre que for possível fixa um calendário para os atos envolvendo a
prova pericial: nomeação de assistente técnico e quesitos, depósito dos
honorários periciais, início da produção da prova, dia para apresentação do laudo
etc. Este calendário elimina a necessidade de várias intimações, pois para as datas
incluídas no calendário já há ciência das partes.

As audiências de saneamento serão fixadas em pauta com intervalo


mínimo de 1h (§9º).

aula 6: alexandre câmara

teoria geral da prova

conceito de prova

Prova é uma palavra que pode ter duas acepções jurídicas diferentes:
Sentido subjetivo: prova é convencimento.

Sentido objetivo: prova é o elemento levado ao processo. Ex. “Juntei aos autos
prova de que o contrato foi celebrado”.

A doutrina busca reunir os dois sentidos em um único conceito: prova é todo


elemento levado ao processo que tenha por objetivo contribuir na formação do
convencimento.

finalidade da prova

A finalidade da prova é demonstrar a verdade no que diz respeito à


matéria de fato. Há uma discussão, com origem filosófica, sobre o que é verdade,
se esta pode ou não ser obtida pelo ser humano e se esta é ou não relevante. Para
Câmara, a verdade existe, pode ser alcançada pelo ser humano e é relevante ao
processo, ainda que se trate de uma verdade processualmente possível. Não
necessariamente, contudo, a verdade será sempre descoberta. Nesses casos, o juiz
não pode se eximir de julgar, pelo que serão utilizadas técnicas para determinar
se a pretensão do autor deve ou não ser acolhida.

objeto da prova

A prova, em regra, tem por objeto matéria fática. A princípio, não há


qualquer razão para se produzir prova do direito. Há casos, contudo, em que se
admite que o juiz determine à parte que produza prova do direito. O art. 376 do
NCPC dispõe:

Art. 376.  A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou


consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar.

Direito consuetudinário é o direito costumeiro, que provém dos usos e


costumes. É muito comum, em causas envolvendo contratos comerciais,
internacionais especialmente, a presença de uma cláusula de regência pela lex
mercatoria, isto é, o conjunto de usos e costumes do comércio internacional. O
juiz não é obrigado a conhecer esses usos e costumes, razão pela qual pode instar
a parte que os alegaram a prová-los por qualquer meio de prova.

Existem casos em que o juiz de um país tem de aplicar normas jurídicas


em vigor de outro país, ou seja, direito estrangeiro. Certamente, o juiz de um país
não é obrigado a conhecer o direito de outro, motivo pelo qual pode o juiz instar
a parte a provar o teor e a vigência do direito estrangeiro por ela invocado.

Também pode se exigir prova do direito estadual ou municipal de Estado


ou Município distintos daquele em que o juiz exerce suas atividades.
O problema é quando não foram as partes que alegaram, pois nesse caso o
juiz não poderá obrigá-las a provar aquilo que não alegaram.

O objeto da prova não é o fato, mas a alegação do fato. A prova existe


para formar o convencimento do juiz quanto à veracidade da alegação de um
fato. O art. 319, VI, do CPC, dispõe que:

Art. 319.  A petição inicial indicará:

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos


alegados;

Só serão objeto de prova, porém, as alegações de fato que sejam ao


mesmo tempo relevantes e controvertidas. Se é irrelevante, a alegação de fato
não deve ser objeto de prova, pois em nada influenciará no resultado do processo
(ex. em ação que se discuta a responsabilidade objetiva do Estado, é irrelevante
provar culpa). Alegações sobre fatos incontroversos também não podem ser
objeto de prova, em razão do art. 374, III, do NCPC.

destinatário da prova

É muito comum a afirmação segundo a qual o juiz é o destinatário da


prova. No entanto, essa afirmação é equivocada, na medida em que o juiz não é o
único destinatário da prova, embora também o seja. A prova é produzida para o
juiz e para as partes. Em doutrina, costuma-se afirmar que o juiz é o destinatário
direto (porque voltada ao seu convencimento) e as partes as destinatárias
indiretas da prova.

O NCPC, assim como o CPC/73, regula a produção antecipada de provas.


Só que ele regula essa produção antecipada como ação probatória autônoma e
não como cautelar, razão pela qual independe de urgência. O art. 381, II e III,
demonstra com obviedade que a prova também se destina às eventuais “partes”
de um futuro processo, quando ainda não há sequer participação processual do
juiz, principalmente se, em função dessa prova, possa se viabilizar uma
autocomposição ou meio adequado de solução de conflito ou até mesmo
justificar ou evitar o ajuizamento de ação.

Quando falamos no juiz como destinatário da prova, não estamos nos


referindo à pessoa física do juiz, mas sim ao Estado-juiz. Muitos juízes indeferem
prova ao fundamento de que esta não seria relevante à formação de seu
convencimento. Ocorre que o juiz de primeiro grau não produz prova somente
para formação de seu próprio convencimento, mas também para formação do
convencimento do Tribunal, que também valora prova. Se há uma possibilidade
de que seja relevante para o Tribunal, tem que mandar produzir a prova, sob pena
de cerceamento de defesa. Ex. O juiz não pode indeferir prova pericial contábil
se necessária para prova de alegação de anatocismo (Súmula 301 do TJRJ).

iniciativa probatória

Em regra, a iniciativa probatória é das partes, sendo o juiz responsável por


analisar sua necessidade no caso concreto e determiná-la.

Há um dispositivo no CPC/73 e no art. 370 do NCPC que fala sobre a


iniciativa instrutória do juiz:

Art. 370.  Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as


provas necessárias ao julgamento do mérito.

Parágrafo único.  O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências


inúteis ou meramente protelatórias.

Para os adeptos do modelo privatista do processo, toda a iniciativa


instrutória deve ficar a cargo das partes. Há na doutrina muitos defensores de tal
modelo (Juan Montero Arocca, Luis Guilherme Marinoni, Glauco Gumerato
Ramos). Há de outro lado aqueles que sustentam que não se pode negar ao juiz
iniciativa instrutória, pois isso não seria compatível com o modelo publicista de
processo. O NCPC traz um modelo de processo cooperativo no art. 6º,
perfeitamente compatível à iniciativa instrutória do juiz, na medida em que
também ele deve cooperar para a produção do resultado do processo. Em caso de
prova pericial ser determinada de ofício, os honorários periciais, pelo CPC/73,
eram adiantados pelo autor, e pelo NCPC, serão rateados, sendo no final arcados
pelo vencido.

Obs. Vide www.justificando.com (artigos sobre novo CPC).

valoração da prova

sistemas de valoração

O primeiro sistema de valoração da prova pretensamente científico que


surgiu foi o sistema da prova legal em que a lei previamente estabelecia o valor
de cada prova. O papel do juiz, portanto, era verificar apenas o peso de cada uma
das provas produzidas pelas partes no processo e quem tinha mais provas
valiosas em seu favor. Determinadas leis falavam em provas plenas e semi-
plenas. Há resquícios no CPC/73 da prova legal como o art. 401 que prevê que
não se admite prova exclusivamente testemunhal para prova de contratos cujo
valor exceda o décuplo do maior salário-mínimo vigente no País.
Passou-se, então, ao extremo oposto – o sistema da íntima convicção,
segundo o qual o juiz poderia valorar a prova conforme quisesse, sem
necessidade de fundamentação.

O CPC/73 adotou outro sistema, denominado de sistema do livre


convencimento motivado. Desde que o juiz fundamente sua decisão, ele deve
ser reputado livre para que atribua valor à prova, conforme art. 131 do CPC/73:

Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e


circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas
deverá indicar, na sentença, os motivos que Ihe formaram o convencimento.

O NCPC abandona o sistema do livre convencimento motivado em seu


art. 371, que retirou o advérbio “livremente” do art. 131 do CPC/73:

Art. 371.  O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do


sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu
convencimento.

Há atualmente uma visão do direito pós-positivista que defende que, no


direito, existem respostas corretas, razão pela qual não se podem admitir
discricionariedades judiciais. A discricionariedade parte da premissa de que pode
haver indiferença jurídica (tanto faz escolher a opção A ou a opção B) e isso não
é possível para o juiz no exercício de jurisdição e na valoração da prova, na
medida em que há apenas uma única resposta correta (ex. ou o documento é falso
ou o documento é autêntico). Por isso, o NCPC vem fundamentado nessa visão e
retira o livre convencimento motivado do juiz, pois, se não há discricionariedade,
seu convencimento não pode ser considerado livre.

Ele terá que valorar a prova e justificar sua decisão, sem que possa fazer escolhas
indistintas (ex. não pode considerar o depoimento de uma testemunha mais
convincente do que o da outra). Portanto, se não tem elementos suficientes,
deverá buscar outros elementos de prova. Não havendo outros elementos de
prova, o juiz julgará conforme as regras de distribuição do ônus da prova. Para
Câmara, o novo sistema deve ser denominado de sistema de valoração
democrática da prova.

ônus da prova

No processo civil, existem regras de distribuição do ônus da prova. Para


falar de ônus, é preciso falar de condutas.

As condutas jurídicas são aquelas regradas e disciplinadas por normas jurídicas.


Elas podem ser divididas em duas grandes categorias:
a) Condutas facultativas: as pessoas têm a faculdade de exercer a conduta.

b) Condutas imperativas: aquelas cuja prática o ordenamento impõe.

b.1. Obrigação: é o imperativo do interesse alheio. É uma conduta


imperativa que tem que ser realizada para satisfazer interesse de outrem. Ex. Se
você me emprestar dinheiro, eu tenho a obrigação de te pagar.

b.2. Ônus: é o imperativo do interesse próprio. É uma conduta imperativa


destinada à satisfação de interesse próprio. Ex. Se o réu é citado, ele tem o ônus
de se defender para buscar a realização de seu próprio interesse, qual seja a
rejeição da pretensão autoral. Ex. contestar, recorrer.

Originariamente, pensou-se em um conjunto, uma sequência de ônus. Cada parte


teria o ônus de alegar no processo aquilo que lhe fosse favorável. Quando uma
das partes se desincumbe desse ônus e faz suas alegações, nasce para a parte
contrária o ônus de impugnar tais alegações, sob pena de se presumirem
verdadeiras. Tendo ambas as partes se desincumbido do ônus de alegar, nasce
para a parte que fez uma alegação impugnada pela outra produzir a prova que
demonstre que sua alegação é verdadeira. A norma de imposição do ônus
probatório seria uma norma destinada a estabelecer uma conduta processual
imperativa à satisfação de um interesse próprio.

Essa primeira visão sobre ônus da prova teve de ser abandonada, pois é
incompatível com a própria técnica do direito processual. No direito processual,
há o chamado princípio da aquisição da prova. Trata-se da afirmação de que a
prova, uma vez produzida, pertence ao processo, não importando saber quem a
produziu, constante do art. 371 do NCPC. Sendo assim, não se pode mais pensar
no ônus da prova como uma conduta imposta a uma parte, pois não interessa
quem praticará a conduta, mas sim se a prova vai ou não ser produzida. Isso foi
identificado pela primeira vez por Leo Rosenberg em seu livro “O ônus da
prova”, no qual sustenta que as normas que estabelecem ônus probatório não
impõem comportamentos. Essa ideia se difundiu no Brasil nos anos 1970 em
função de Barbosa Moreira.

Se as normas de distribuição do ônus probatório não impõem comportamentos,


qual sua função? São normas de julgamento, isto é, que o juiz deve aplicar no
momento de decidir como técnica para viabilizar certos julgamentos.

No processo civil romano, era permitido ao juiz o chamado non liquet, isto é, o
juiz podia se eximir de julgar em duas situações: a) quando não houvesse norma
aplicável ao caso (lacuna na lei); b) quando houvesse insuficiência de provas.
Depois, passou-se a entender que, a partir do momento em que o juiz se depara
com uma insuficiência do material de julgamento (seja normativo ou probatório),
ele ainda assim é obrigado a julgar, sendo vedado o non liquet.

Só que o juiz continua se deparando com casos de insuficiência de norma ou de


suporte probatório. Para isso, é necessário que se criem regras que permitam ao
juiz julgar mesmo diante de tais situações.

O art. 140 do NCPC prevê que:

Art. 140.  O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade
do ordenamento jurídico.

Para a insuficiência normativa, a regra de solução se encontra no art. 4º da


LINDB que prevê a integração da lacuna com analogia, costumes e princípios
gerais de direito. Os princípios gerais de direito não podem mais ser vistos como
fontes meramente integradoras, pois princípios são normas e, portanto, se há
norma, não há lacuna a integrar.

Se o material probatório constante dos autos for insuficiente para formar o


convencimento do juiz, ele se utilizará das regras de distribuição do ônus da
prova pra julgar contra quem tinha o ônus da prova.

A regra de distribuição do ônus da prova se encontra no art. 373 do NCPC (cópia


do art. 333 do CPC/73):

Art. 373.  O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do


direito do autor.

Para Câmara, este texto tem equívocos, pois parte da premissa de que no
processo só possam ser alegados quatro tipos de fato: constitutivo, impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor. Para ele, para que fosse adequado,
bastava que o art. 373 do CPC dispusesse que o ônus da prova incumbe a quem
alega. Quando o juiz for proferir sentença ele deve analisar quais fatos foram
alegados e estão provados (em ordem lógica). Se algum não estiver provado, o
juiz deve ver quem o alegou e julgar contra esta pessoa. Portanto, só se usa regra
de distribuição do ônus da prova quando o material probatório for insuficiente.
Questão: É possível convenção das partes sobre ônus da prova? Sim, conforme
prevê o art. 373, §3º, do NCPC, salvo algumas exceções em que será considerada
nula.

Art. 373, § 3o A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por
convenção das partes, salvo quando:

I - recair sobre direito indisponível da parte;

II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. – a


convenção não pode impor a uma das partes o ônus de uma prova diabólica,
como ocorre com algumas provas de fato negativo, sob pena de nulidade.

O NCPC amplia o instituto da redistribuição do ônus da prova que já existia no


direito brasileiro, mas de forma reduzida (restrito ao âmbito do direito do
consumidor e alguns outros casos). É possível, em qualquer processo, por decisão
judicial se redistribuir o ônus da prova, de modo que o juiz deverá atribuir esse
ônus a quem mais tenha condições de produzir a prova (salvo quando houver
distribuição convencional). É a chamada teoria da distribuição dinâmica do
ônus da prova.

Assim dispõe o §1º do art. 373:

Art. 373, § 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa


relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo
nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário,
poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça
por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade
de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

a) A decisão deve ser fundamentada.

b) Deve ser dada à parte a quem foi redistribuído o ônus da prova a possibilidade
de se desincumbir de tal ônus, produzindo as provas. Portanto, o STJ já
condenava a redistribuição do ônus da prova em sede de sentença, pois isso
violaria o contraditório. O NCPC, consolidando essa posição do STJ, fixou que a
referida redistribuição deve se dar na decisão de saneamento e de organização do
processo (art. 356, III). Depois disso, a estabilidade do ônus impede sua
redistribuição.
c) A decisão de redistribuição não pode gerar para a outra parte a quem o ônus
foi redistribuído a impossibilidade ou extrema dificuldade de dele se desincumbir
(§2º). São pressupostos da redistribuição: (a) a parte que detém o ônus da prova
terá dificuldade ou impossibilidade de produzi-la; (b) a parte a quem é
redistribuído o ônus tem condições de produzir a prova.

§ 2o A decisão prevista no § 1 o deste artigo não pode gerar situação em que a
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.

Cabe agravo de instrumento contra a decisão que redistribui o ônus da


prova, conforme art. 1.015, XI, do NCPC.

Costuma-se dizer que as presunções legais podem ser de dois tipos:


a) relativas – aquelas que admitem prova em contrário; b) absolutas – aquelas
que não admitem prova em contrário.

Presunções relativas e absolutas resultam de normas jurídicas


completamente diferentes. Presunção relativa é norma de direito processual
enquanto que a presunção absoluta é norma de direito material. Isso não se liga
necessariamente à localização de tais normas no ordenamento (no CPC ou no
CC).

A presunção absoluta é a norma que retira relevância de um fato e, por


isso, ela não admite prova em contrário. Se o fato passa a ser irrelevante, a
produção de prova em sentido contrário em nada mudará a solução do processo.
Ex. Se um bem imóvel for penhorado e essa penhora for averbada no RGI, surge
presunção absoluta de que esta penhora é conhecida por todos. Se há essa
presunção absoluta, se torna irrelevante saber se a penhora era ou não conhecida
– fato juridicamente irrelevante.

A presunção relativa é uma norma de distribuição do ônus da prova.


Quando a lei diz que sobre determinado fato incide uma presunção relativa, ela
está dizendo que quem alegar este fato não precisa prová-lo. Cabe a parte
contrária o ônus de provar que aquele fato não ocorreu. É uma mera regra de
inversão do ônus da prova e, por isso, admite prova em contrário. Ex. Em regra,
em uma ação de investigação de paternidade, o ônus da prova é do autor que
alega. Contudo, se houver alguma das presunções de paternidade elencadas no
CC, tal qual aquela em que o genitor era casado com a genitora, inverte-se o ônus
da prova e o réu passa a ter que provar que não é pai.

aula 7: daniel macedo


direito fundamental à prova

O direito fundamental à prova é uma garantia que decorre do direito de


acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, da CR) e do direito ao contraditório e à ampla
defesa (art. 5º, LV, da CR). O direito à prova compreende: o direito de provar os
fatos da causa, o direito de participar da produção probatória, o direito de falar
sobre seus resultados e o direito de ver avaliada motivadamente a prova.

O CPC adotou o sistema da liberdade dos meios de prova (vide art. 332 do
CPC/73 e 369 do NCPC). Assim, admitem-se meios de prova típicos para a
prova de certo fato (documental, testemunhal, pericial, inspeção judicial,
depoimento pessoal da parte, confissão, interrogatório), bem como meios de
prova atípicos (ex. prova emprestada – no NCPC, vai ser prova típica;
reconstituição de fatos, prova de informações). As provas atípicas são admitidas
desde que moralmente legítimas a provar certo fato, consoante o art. 332/369.

Obs. Na prova documental já há um documento pré-constituído que será juntado


aos autos. Na prova de informações, o documento ainda será confeccionado,
razão pela qual se denomina prova constituenda.

fontes e meios de prova

Os meios de prova são as técnicas utilizadas para extrair a prova de sua


fonte. São fontes de prova a pessoa, a coisa ou fenômenos da natureza. Ex.
Veículo automotor com projétil de arma de fogo em sua lataria → a fonte da
prova é o projétil (coisa) e o meio de prova é a prova pericial. Ex. Testemunha de
um fato → a fonte da prova é a própria testemunha (pessoa) e o meio de prova é
a prova testemunhal, extraindo da testemunha as suas afirmações.

prova emprestada

É a prova de um fato produzida em um processo seja por documentos,


testemunhas, confissão, depoimento pessoal, exame pericial etc., que é
transladada para outro processo por meio de certidão extraída daquele.

É instituto que garante o princípio da economia processual. Assim,


permite que, com o mínimo de atividade judicial, seja alcançado o maior
resultado possível.

São requisitos para admissão da prova emprestada:

a) A prova emprestada não tem eficácia vinculante para o juiz destinatário.


Afinal, o CPC adotou o sistema de valoração da prova, denominado de livre
convencimento motivado ou da persuasão racional. Nesse sentido, o magistrado
que admitir a importação tem ampla liberdade para avaliá-la. A prova ingressa no
processo de destino e, caso admitida, o juiz dará a ela o valor que merecer no
contexto probatório (ela é sopesada com outros meios de prova).

b) É possível a importação da prova produzida em juízo criminal, arbitral


e até mesmo em processo administrativo (STJ, Inf. 521, RMS 33.628/PE; Inf.
436, MS 14.405/DF). Jurisprudência. Admite-se, inclusive, que se empreste
prova de inquérito policial, tal qual intercepção telefônica, em processo
administrativo disciplinar (STF, Inq. 2424-QO-QO).

c) É importante observar que as garantias mínimas do devido processo


legal, do contraditório e da ampla defesa devem ser observadas no processo de
origem.

Jurisprudência. O fornecimento ao Tribunal de Contas e Ministério


Público Estadual de material probatório de caráter sigiloso, inclusive gravações
telefônicas, é considerado lícito segundo o julgado previsto no AgRg nos EDcl
536/BA. O mesmo julgado ressalva que o questionamento sobre a validade ou
não da prova emprestada deverá ser posto para apreciação perante o órgão que
dela venha a fazer uso.

d) É imprescindível que a parte contra qual vai ser usada a prova


emprestada também tenha sido parte no primeiro processo (de origem). No
entanto, o STJ (Inf. 543, Corte Especial, ERESP 617.428/SP) tem entendimento
segundo o qual não há necessidade de que aquele contra quem será produzida a
prova tenha sido parte também no primeiro processo.

e) A prova de origem ingressa no processo de destino como prova


documental e o juiz dará a ela o valor que merecer.

Obs. A autorização para interceptação de conversa telefônica é admitida


no processo penal para investigação de fatos determinados apenados com
reclusão. Deve ser encarada como exceção diante do sigilo e intimidade que a
norma constitucional visa proteger. Nesse sentido, é majoritário na doutrina que a
conversa degravada não pode ser objeto de empréstimo, tendo como destino
outro processo que não o criminal em que se denuncia o fato probando. Corrente
minoritária da doutrina (José Carlos Barbosa Moreira) sustenta a possibilidade do
empréstimo. O autor faz a seguinte indagação: De que adianta nos
preocuparmos em preservar um cofre que já fora arrombado?, considerando que
a intimidade já fora exposta no processo de origem. De outro lado, não é possível
criar qualquer óbice à execução civil de sentença penal condenatória ao
argumento de que esta foi proferida em processo cuja interceptação telefônica
ocorreu. O STF e o STJ vêm seguindo este posicionamento, admitindo por
empréstimo a degravação de conversa telefônica produzida em inquérito policial
com autorização judicial para procedimento administrativo disciplinar e para
ação civil de improbidade administrativa. O STJ já admitiu a interceptação de
conversa telefônica em caráter excepcional em ação de busca e apreensão de
criança.

iniciativa probatória do juiz – os poderes instrutórios do magistrado

Durante muito tempo, pensava-se no juiz como figura, além de imparcial,


absolutamente desinteressado no deslinde da causa, no resultado do processo.
Afirmava-se que o bom juiz era aquele que interferia o mínimo possível no
processo, deixando para as partes as iniciativas postulatórias e probatórias, tudo
em nome e respeito ao princípio do dispositivo. Confundia-se imparcialidade
com omissão e neutralidade, preferindo-se um juiz distante ao juiz participativo.
Era ilógico o juiz carrear provas para o processo de ofício.

 Justificativas do pensamento acima:

a) O direito material é disponível; assim as partes também poderiam dispor das


provas a ele relacionadas.

b) Princípio da igualdade das partes – ao carrear uma prova de ofício para o


processo, o juiz poderia favorecer uma das partes.

c) Exigência de imparcialidade.

Com a mudança do Estado liberal para o Estado social, a doutrina afastou-se


desses argumentos.

 Argumentos contrários:

a) O processo judicial cumpre sua função social de pacificação do conflito de


interesses. Logo, há um interesse público subjacente de descortinar a verdade.
Nesse sentido, o juiz não pode compactuar com o desleixo probatório da parte.

b) Quanto ao princípio da igualdade das partes, a paridade de armas é exigência


do princípio do contraditório. Nesse sentido, exige do magistrado uma postura
muito mais ativa na instrução probatória, como forma de concretamente igualar
as partes e suas chances de se sagrarem vitoriosas. A isonomia real exige um
tratamento desigual por parte do juiz. Às vezes, a superioridade econômica ou
técnica de uma das partes será amenizada exatamente por uma postura mais ativa
do magistrado. O juiz não tem condições a priori de prever o resultado da prova
e, por isso mesmo, em tese, ao impulsionar a atividade probatória, não age com a
intenção de favorecer qualquer das partes. Em verdade, ao convencer o juiz, o
resultado da prova beneficiará o titular do direito material.
c) O art. 130 do CPC confirma os poderes instrutórios do juiz, mas assim
deve ele ser interpretado: caberá às partes a iniciativa probatória e ao juiz, em
caráter subsidiário, a atuação oficiosa. A iniciativa probatória do juiz está jungida
aos fatos da causa, não podendo o juiz ir além, ficar aquém ou decidir fora dos
elementos objetivos e subjetivos da demanda (princípio da demanda, da
adstrição, da congruência).

Este artigo foi reproduzido parcialmente no art. 370 do NCPC.

preclusão para o juiz na atividade probatória

Indeferida a prova, por decisão da qual não se recorreu, não há falar em


preclusão para o juiz, que poderá, no caso concreto, se reposicionar em seu
entendimento, desde que, em momento posterior, e de forma fundamentada,
passe a entender que a prova é importante.

De outro lado, deferida a prova, a liberdade do juiz encontra obstáculo.


Nesse caso, não havendo recurso da parte contrária, haverá preclusão pro
iudicato, considerando que o direito à prova e, sobretudo porque ela já fora
deferida, faz parte da esfera jurídica das partes em litígio, não podendo ser
afrontado com uma simples mudança de pensamento do magistrado.

aula 8: sylvia drummond rhaddour

provas

Não obtida a conciliação, o juiz saneia o processo, resolvendo questões


processuais pendentes, fixando os pontos controvertidos e determinando as
provas que serão produzidas (art. 331, §2º, do CPC). Em havendo pedido de
prova pericial ou de inspeção judicial, estas provas serão desde logo produzidas
mesmo antes da AIJ. Contudo, em havendo outras provas a serem produzidas
(ex. depoimento pessoal) ou até mesmo caso o juiz entenda que o perito deve
esclarecer certos pontos do laudo, o juiz designará audiência de instrução e
julgamento. É na AIJ que as referidas provas serão produzidas.

inspeção judicial

É o próprio juiz examinando pessoas ou coisas para, através dessa


inspeção, formar seu convencimento. Quando há necessidade de inspeção
judicial, é muito comum que essa inspeção acabe sendo realizada pelo oficial de
justiça. Em regra, a prova é produzida na própria sede do juízo, mas, dependendo
do caso, pode haver necessidade de que o juiz se desloque até a pessoa/coisa a ser
inspecionada.
A inspeção judicial pode ser determinada de ofício ou a requerimento da
parte e está prevista no art. 440 do CPC:

Art. 440. O juiz, de ofício ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do


processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato, que
interesse à decisão da causa.

Nada impede que o juiz designe peritos para o acompanharem na inspeção


caso esta demande algum conhecimento técnico (art. 441 do CPC).

As partes necessariamente deverão ser intimadas da data e hora da


inspeção judicial, tendo o direito de participar da realização do ato, conforme art.
442, parágrafo único, do CPC.

Finda a inspeção judicial, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado,


mencionado tudo o que for útil ao julgamento da causa (art. 443 do CPC).

prova pericial (arts. 420 e ss.)

O juiz, na própria decisão em que determina a produção da prova pericial,


fixa o prazo para entrega do laudo pelo perito (art. 421). Em princípio, quem
determina o prazo para que as partes indiquem assistente técnico e formulem
quesitos é também o juiz. Se ele não marcar prazo nenhum, vale o prazo de 5
dias, previsto no §1º do art. 421 do CPC.

Obs. O assistente técnico não se submete às regras de impedimento e de


suspeição, na medida em que estes são de confiança das partes, muitas vezes
contratados para formular quesitos tecnicamente (art. 422, parte final, do CPC).

Questão: E se as partes não apresentarem assistente técnico e quesitos


dentro deste prazo? Qual a consequência processual? O entendimento pacífico do
STJ é que a inobservância do prazo quanto à apresentação dos quesitos não gera
preclusão. Pode a parte posteriormente apresentar os quesitos, desde que sejam
apresentados antes da realização da perícia.

É muito comum que o próprio cartório fixe os honorários periciais


mediante ato ordinatório, sendo o perito intimado para aceitar ou não o encargo e
as partes intimadas para concordar ou não com o valor fixado. Não devem as
partes interpor agravo deste valor, na medida em que não cabe agravo de mero
ato ordinatório do despacho. Devem as partes formular pedido de revisão dos
honorários ao próprio juiz, pois este é responsável por homologá-los mediante
decisão judicial. Desta decisão judicial, cabe agravo.
Se a perícia depender de deslocamento do perito até determinado local,
aplicam-se as normas da inspeção judicial, tal qual a necessidade de intimação
das partes para, se quiserem, participar da realização do ato.

Só se marca audiência de instrução e julgamento se existir prova oral pra


ser produzida em audiência. Elas serão produzidas na seguinte ordem: 1º) perito
responde a quesitos e dá esclarecimentos sobre o laudo se necessário; 2º) tomada
de depoimento pessoal das partes; 3º) oitiva das testemunhas. Sempre começa
pelo demandante e depois se passa ao demandado. O juiz é responsável por
inquirir as partes e as testemunhas e não os advogados que deverão dirigir suas
perguntas ao juiz e este, verificando a conveniência da pergunta, as dirigirá às
partes e testemunhas.

Questão: Pode o juiz alterar a ordem de produção das provas, por exemplo, ouvir
as testemunhas do réu porque as do autor ainda não chegaram? Nada obsta que a
ordem de produção de provas seja alterada por um motivo justificado, desde que
isso não acarrete um prejuízo para a parte contrária.

Questão: Qual a consequência se a parte deixar de comparecer à AIJ? Não há


obrigatoriedade que as partes compareçam à AIJ, salvo se tiver sido determinado
depoimento pessoal, hipótese em que a parte deverá ser intimada pessoalmente
para comparecimento. Neste caso, se a parte não comparecer, ser-lhe-á aplicada
pena de confissão.

No procedimento sumário, a lei expressamente diz que as partes devem


comparecer à audiência pessoalmente ou mediante preposto com poderes para
transigir. O rito sumário, contudo, não prevê nenhuma consequência para o não
comparecimento do autor, mas prevê para o réu, que será considerado revel. A
jurisprudência, porém, entende que ninguém precisa comparecer, desde que
mande advogado com poderes para transigir, em respeito ao princípio da
igualdade das partes.

Obs. O único que não pode faltar na audiência de conciliação é o advogado do


réu, pois terá que apresentar a contestação.

Questão: Qual a consequência do não comparecimento injustificado do


advogado das partes na AIJ? Em princípio, não há uma consequência direta, mas
se quem faltou foi o advogado representa a parte que pretendia a produção de
prova, esta prova não será mais produzida, a não ser que o próprio juiz pretenda
de ofício a produção da prova. Se quem faltou foi o advogado que não pretendia
a produção de prova, isto é, da parte contrária, ele estará impedido, por exemplo,
de formular perguntas para a parte contrária (depoimento pessoal) ou para as
testemunhas da parte contrária (prova testemunhal).
Atenção! Se o juiz não puder concluir a instrução na data designada para a AIJ,
ele poderá suspender tal audiência e designar nova data para sua continuação.
Como se trata da mesma audiência (audiência una e indivísvel), não poderá a
parte, na nova data, incluir novas testemunhas para serem ouvidas. Nada impede,
porém, que o juiz, entendendo necessária determinada prova para o deslinde da
causa, determine tal prova de ofício na nova data designada (ex. oitiva de nova
testemunha). O que não pode é a parte incluir nova testemunha!

O que não pode é o juiz deferir a produção de determinada prova na decisão de


saneamento e, posteriormente, não produzi-la, pois nesse caso há a chamada
preclusão pro judicato. O juiz pode limitar a produção da prova anteriormente
deferida. Ex. Deferiu prova testemunhal e o autor tinha apresentado rol de 8
testemunhas. Se, no dia da AIJ, o juiz ouve 3 testemunhas e se dá por convencido
do fato, não precisará ouvir as demais, podendo dispensá-las. No entanto, não
poderá dispensar as testemunhas se não estiver convencido do fato alegado pelo
autor e julgar improcedente por insuficiência de provas, pois neste caso há
cerceamento de defesa. Essa dispensa da prova se dá através de decisão
interlocutória proferida em AIJ e, portanto, passível de agravo retido oral, que
deverá ser consignado em ata.

Obs. O juiz não está adstrito à conclusão do laudo pericial, podendo julgar
diferentemente, desde que fundamente a sua decisão em outras provas. Isto
porque o sistema que vige de valoração da prova é o do livre convencimento
motivado do juiz, sendo o único resquício de prova tarifária o art. 401 do CPC.

prova testemunhal

A testemunha é aquele que pode produzir alegação sobre fato que presenciou e
que é objeto de prova na demanda.

As partes deverão, no prazo fixado pelo juiz ou em 10 dias no silêncio do juiz,


depositar em cartório o rol de testemunhas, devidamente qualificadas, bem como
pagar as custas referentes à intimação das testemunhas (art. 407, caput).

O rol deve contar no máximo com 10 testemunhas. Pode o juiz na AIJ ouvir
apenas 3 testemunhas para a prova de cada fato, dispensando as restantes (art.
407, parágrafo único, do CPC).

Obs. O art. 401 do CPC é um resquício do sistema tarifário de valoração da


prova, pois o próprio legislador está dizendo que, nesta hipótese, a prova
exclusivamente testemunhal não tem valor probante. A existência de contrato
que exceda o décuplo do salário mínimo só pode ser provada documentalmente.
As demais questões atinentes ao contrato admitem prova testemunhal.
Art. 401. A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo
valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo
em que foram celebrados.

sequência da aij

Produzidas as provas na audiência, procedem-se aos debates orais. Nada


obsta que os debates orais sejam substituídos pela apresentação de memoriais
(art. 454, caput e §3º). Pela lei, essa substituição se dá nos casos em que a causa
apresentar questões complexas de fato e de direito. Nada impede, porém, que o
juiz estabeleça essa substituição em outros casos para dar maior dinâmica ao
processo.

O prazo para apresentação dos memoriais não é legal, mas judicial, isto é,
deve ser fixado pelo juiz. Se não for, presume-se que é prazo comum de 5 dias
para autor e para réu. Por uma rigidez processual, os juízes deveriam fixar prazo
para autor e réu se manifestarem de forma sucessiva. Atenção: como é um prazo
judicial, não se aplica o disposto no art. 191 do CPC.

sentença

conceito

O conceito de sentença se encontra no art. 162, §1º, do CPC:

Art. 162, § 1º Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas
nos arts. 267 e 269 desta Lei.

Este artigo se limita a dizer que é sentença qualquer ato judicial que tenha
o conteúdo do art. 267 ou 269 do CPC. Essa noção obviamente conduziria à
multiplicidade de sentenças em um único processo, razão pela qual foi superada.
Atualmente, entende-se que, para que um ato seja identificado como sentença,
não basta que tenha o conteúdo dos arts. 267 ou 269, sendo necessário que esse
ato encerre o procedimento em primeiro grau, seja cognitivo, executivo etc.

Por isso, uma decisão, por exemplo, que exclua determinado litisconsorte
do pólo passivo, não é sentença embora tenha o conteúdo de um dos incisos do
artigo 267 do CPC, pois não encerra o procedimento cognitivo que continua em
relação aos demais litisconsortes. Essa decisão é uma decisão interlocutória.

A classificação entre despacho, decisão interlocutória e sentença só existe


para determinar qual o recurso cabível. Os demais atos do juiz, tais quais tomada
de depoimento pessoal, formulação de perguntas à testemunha, inspeção judicial
etc., são simplesmente considerados atos do juiz.
sentenças terminativas

O art. 267 regula as sentenças terminativas, ou seja, sem resolução do


mérito.

 Inciso I: quando o juiz indeferir a petição inicial – não devemos


confundir indeferimento de petição inicial com improcedência liminar, pois nesta
há um enfrentamento do mérito pelo juiz. Ocorre que, dentro das hipóteses de
indeferimento da petição inicial constantes do art. 295, existe o inciso IV, que
prevê indeferimento da inicial no caso de haver prescrição e decadência.
Prescrição e decadência, contudo, são matérias de mérito, que não conduzem a
uma sentença terminativa, mas a uma sentença definitiva de improcedência
prima facie. Portanto, deveria constar do art. 269 e não do art. 267 do CPC. Esse
equívoco é corrigido no NCPC.

 Inciso II: quando, por não promover os atos e diligências que lhe
competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 dias; - nos casos de
abandono do autor, o juiz não pode extinguir o processo de logo sem antes ser
intimado pessoalmente o autor para dar andamento ao processo em até 48h.
Ocorre que o direito de ação é assegurado a todos. Da mesma maneira que o
autor, o réu também tem direito de ter uma resposta do Poder Judiciário. Por isso,
a Súmula 240 do STJ prevê que a extinção do processo no caso do art. 267, II, do
CPC, depende do requerimento do réu. Na verdade, não se trata de um
requerimento, mas de intimação do réu para anuir com essa extinção, para que
não se viole indiretamente o artigo 267, §4º, do CPC. Obs. O silêncio do réu é
interpretado como anuência.

sentenças definitivas

Dizia-se que a sentença definitiva é aquela que julga o mérito. No entanto,


a redação do art. 269, caput, do CPC, foi alterada para substituir o julgamento do
mérito pela resolução do mérito, pois só há verdadeiro julgamento pelo juiz no
caso do inciso I, ou seja, quando o juiz acolhe ou rejeita o pedido autoral.
Sentença definitiva, portanto, é aquela que resolve o mérito.

 Inciso III: quando as partes transigirem – se, no acordo, as partes


requererem a suspensão do processo até o cumprimento final do acordo, não há
qualquer problema, pois o descumprimento do acordo levará ao cumprimento de
sentença. Mas e se não houver requerimento de suspensão? No silêncio da
transação, o juiz homologa o acordo mediante sentença de extinção com
resolução do mérito, nos termos do art. 269, III, do CPC. O processo irá então
para o arquivamento provisório. Se o acordo não for cumprido, pede-se
desarquivamento do processo para que se inicie a fase de cumprimento da
sentença homologatória.

O art. 460 consagra o princípio da congruência, da correlação, do


dispositivo, da adstrição da sentença ao pedido. O juiz, na sentença, deve se
ater aos limites daquilo que foi pedido. Este princípio até admite flexibilização
em casos específicos como nas tutelas de urgência e nas causas envolvendo
direito de família.

Não respeitado o princípio em questão, o juiz proferirá sentença extra


petita, ultra petita ou citra petita. A sentença extra petita é aquela sentença de
natureza diversa daquilo que foi requerido (seja no pedido ou na causa de pedir).
A sentença ultra petita é aquela sentença que extrapola os limites quantitativos
daquilo que foi pedido (ex. pediu 100, o juiz deu 120). A sentença citra petita é
aquela que deixa de apreciar algum dos pedidos formulados (objeto inferior).
Não é apenas a quantidade inferior, pois isso leva à procedência parcial. Ex. Se
eu peço lucros cessantes, tenho que quantificá-los (pedido certo e determinado) e
o juiz necessariamente terá que proferir sentença líquida (art. 459, p.ú, do CPC),
pois, senão, estaria proferindo sentença citra petita, com objeto inferior ao que
foi formulado.

É vedado ao juiz também proferir sentença condicional, ou seja, ele não


pode condicionar a sentença à apuração de um evento futuro (art. 460, p.ú, do
CPC). Afinal, o objetivo da sentença é por fim a incerteza jurídica. Ex. Julgo
procedente para que o réu pague ao autor lucros cessantes, em valor a ser
apurado em liquidação (ok). Julgo procedente para que o réu pague ao autor
lucros cessantes se estes forem apurados em liquidação (nula). Quando o direito
material para ser exercido depender de uma condição, não há sentença
condicional (ex. condenação em honorários advocatícios da parte que obteve
gratuidade de justiça – art. 12 da Lei 1.060/50), pois o que é condicional não é a
sentença, mas o exercício do direito material.

requisitos da sentença

A sentença tem que conter três elementos: relatório, fundamentação e


dispositivo, nos termos do art. 458 do CPC. Nos Juizados, dispensa-se o
relatório. Sendo sentença terminativa também, o relatório pode ser breve,
conciso. Tradicionalmente, a falta do relatório levaria à nulidade da sentença,
mas há decisão do STJ sustentando que a ausência do relatório é mera
irregularidade, pois em nada prejudica o direito da parte de recorrer.

A ausência de fundamentação gera nulidade da sentença. O juiz, contudo,


não é obrigado a enfrentar em sua fundamentação todas as teses suscitadas pelas
partes, bastando que enfrente as principais teses, consideradas fundamentais,
determinantes à apreciação do pedido.

O dispositivo é o conteúdo decisório da sentença e deve ser dado de forma


clara, pois é ele que forma coisa julgada material. Falta de dispositivo acarreta a
própria inexistência da sentença.

Antigamente, entendia-se que a ausência da assinatura do juiz também


levava à inexistência do ato. Atualmente, entende-se que a ausência da assinatura
é mera irregularidade (STJ).

aula 9: rodolfo hartmann

classificação das sentenças de mérito

Há uma divergência doutrinária. Parte da doutrina defende uma


classificação trinária, segundo a qual existem três espécies distintas de sentença:
declaratória, constitutiva e condenatória (Humberto Theodoro Jr.). Outra parte
defende a classificação quinária, segundo a qual há cinco sentenças de mérito
distintas: declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental e executiva lato
sensu (Pontes de Miranda). Pontes de Miranda sustenta que nenhuma sentença se
enquadra exclusivamente em uma espécie, mas denota apenas uma
preponderância de uma espécie ou de outra.

sentença declaratória

É aquela que acolhe um pleito declaratório e, pelo menos de acordo com o


art. 4º do CPC/73, a demanda declaratória é aquela que busca eliminar um estado
de incerteza ou busca o reconhecimento de autenticidade de algo, como um
documento. Se a pretensão declaratória for acolhida, haverá uma sentença
declaratória.

Toda sentença de improcedência, qualquer que seja a natureza do pedido,


é necessariamente declaratória, pois declara a ausência do direito postulado. Toda
sentença de procedência que acolhe o pedido e elimina um estado de incerteza
também tem natureza declaratória.

A sentença, embora seja classificada como declaratória, não


necessariamente assim o será em sua totalidade, na medida em que um de seus
capítulos pode veicular uma carga condenatória mais forte, por exemplo, ao
condenar o vencido nos ônus sucumbenciais (possibilidade de execução deste
capítulo).

A sentença declaratória em regra:


a) Não é objeto de execução → não há necessidade de executar uma sentença
declaratória, pois, uma vez ocorrendo o trânsito em julgado, a sua eficácia é
imediata (ex. após o trânsito em julgado é efeito imediato a autenticidade do
documento). Nada impede, porém, que determinado capítulo da sentença
declaratória tenha carga condenatória, caso em que será possível a execução (ex.
condenação do vencido nos ônus sucumbenciais).

O art. 584 do CPC/73 previa como título executivo judicial somente a sentença
civil condenatória. Em 2005, esse artigo foi revogado e o tema foi deslocado para
o art. 475-N, I, sendo considerado título executivo judicial a sentença que
reconheça e declare obrigação de pagar, fazer, não fazer e entregar coisa. Essa
alteração foi formulada porque assim já vinha entendendo a jurisprudência do
STJ pelo cabimento de execução de sentença declaratória cujo objeto da
declaração for reconhecer obrigação de pagar, fazer, não fazer ou entregar coisa,
mesmo que expressamente não condene o réu (ex. demanda do particular em que
busca seja reconhecido um crédito dele perante a Fazenda Pública em razão de
um pagamento de tributo em dobro).

b) Só gera efeitos após o trânsito em julgado → normalmente, a finalidade da


ação declaratória é eliminar um estado de incerteza e, isso somente ocorre em um
provimento que tenha cognição exauriente (juízo de certeza) e que tenha
transitado em julgado.

Questão: Existe possibilidade de tutela antecipada em pedido declaratório? a


Segundo parte da doutrina, a tutela antecipada costuma ser dada por decisão
interlocutória, decorrente de uma cognição sumária, que, por exarar um juízo de
probabilidade, é incapaz de eliminar o estado de incerteza, razão pela qual não
caberia tutela antecipada em pedido declaratório. O STJ e Kazuo Watanabe
entendem que cabe tutela antecipada em pedido declaratório, mas não da
declaração em si, mas sim das consequências do acolhimento do pedido
declaratório (ex. autor pede declaração de inexistência de dívida e pede que,
antecipadamente, seja retirado seu nome dos cadastros restritivos de crédito → a
inclusão em cadastro restritivo é consequência da declaração de inexistência de
dívida).

Se a sentença é declaratória, é irrelevante saber se o recurso dela interposto tem


ou não efeito suspensivo para fins de determinar o momento em que produz seus
efeitos. Isto porque seus efeitos só serão produzidos após o trânsito em julgado.
Portanto, a pendência de RE ou RESP é suficiente a impedir a produção dos
efeitos de uma sentença declaratória, ainda que tais recursos não sejam recebidos
em regra com efeito suspensivo.
c) Seus efeitos costumam ser retroativos ( ex tunc): a sentença declaratória tem
eficácia retroativa ao início da demanda. Ex. quando o devedor quer consignar a
dívida, ele quer que seja declarada a extinção do vínculo obrigacional desde o
momento do pagamento.

sentença constitutiva

É aquela que acolhe um pedido constitutivo, que cria, modifica ou


extingue a relação jurídica. Ela nunca será integralmente constitutiva, pois
contém uma carga mínima declaratória, condenatória etc.

a) Não costuma ser executada: em regra, não há necessidade de executar a


sentença constitutiva, pois seus efeitos são produzidos automaticamente quando
do trânsito em julgado (ex. sentença de divórcio). Nada impede, contudo, que se
execute o capítulo condenatório da sentença, por exemplo, a que condena o
vencido nos ônus sucumbenciais.

b) Só gera efeitos após o trânsito em julgado: para gerar efeitos, deve


decorrer de uma decisão com cognição exauriente transitada em julgado. Aplica-
se aqui também a divergência quanto à possibilidade de tutela antecipada em
pedido constitutivo e a atenção acerca dos recursos sem efeito suspensivo.

c) Seus efeitos costumam ser não retroativos (ex nunc): em regra, a


sentença constitutiva tem efeitos ex nunc, ou seja, a partir do trânsito em julgado.
Há, porém, algumas exceções:

c.1) sentença que decreta interdição (art. 1.184, CPC/73) – gera efeitos
imediatamente, independentemente do trânsito em julgado, ou seja, a apelação
nesse caso não terá o efeito suspensivo do art. 520. Obs. No NCPC, a apelação
na interdição também só tem efeito devolutivo, conforme dispõe o art. 1.012, IV.

c.2) sentença que anula negócio jurídico por vício de consentimento – é sentença
constitutiva em caráter ex tunc (art. 182 do CC), pois o negócio é anulado com
efeitos retroativos à data da celebração do negócio.

sentença condenatória

a) Em regra, é executada: se o réu descumpre a sentença condenatória e o


autor não a executa, ela atua como se fosse uma “sentença declaratória”, que
apenas declara o direito do autor, porque será incapaz por si só de satisfazer
integralmente a pretensão autoral. Por isso, diz-se que a sentença condenatória
deve ser executada se o réu não cumprir.

b) Em certos casos, produz efeitos antes do trânsito em julgado: se houver


apelação sem efeito suspensivo, o efeito condenatório já está sendo produzido,
não havendo necessidade de aguardar o trânsito em julgado. Pode se iniciar a
execução provisória com base em título provisória, salvo restrições legais.
Havendo trânsito em julgado, a execução provisória vira definitiva. Ex. Execução
contra a Fazenda Pública → só cabe execução contra a FP após o trânsito em
julgado, ou seja, com base em título definitivo, com trânsito em julgado. Não há
execução provisória contra a FP (art. 2º-B da L. 9494/97).

c) Sua eficácia costuma ser retroativa.

sentenças mandamentais e executivas lato sensu

Para Humberto Theodoro Jr., defensor da classificação trinária, as


sentenças mandamentais e executivas lato sensu na realidade são sentenças
condenatórias. O que muda não é o conteúdo da sentença, mas sim a forma de
cumprimento.

As sentenças mandamentais e executivas lato sensu não dependem de


execução em regra.

A sentença mandamental é uma sentença condenatória em que o juiz estabelece


de ofício um mecanismo de coerção em caso de descumprimento pelo réu. A
ideia é que o réu fique atemorizado com a coerção e prefira cumprir a sentença
voluntariamente ao invés de proceder à sua execução. Nada impede que o juiz
fixe tal meio coercitivo antes ou depois da sentença, mas nesse caso não será
considerada sentença mandamental.

A sentença executiva lato sensu é uma sentença condenatória que traz em seu
âmago um meio de sub-rogação, ou seja, ela também impõe uma obrigação, mas
não há uma execução nos moldes tradicionais, pois até mesmo um terceiro pode
efetivar o cumprimento da obrigação. Ex. ações possessórias, ação de despejo
(oficiais de justiça podem, através de mandados, retirar as pessoas do local).
Aqui, o juiz não precisa estimular o réu a cumprir, pois outra pessoa pode obrigá-
lo a cumprir, como o oficial de justiça.

coisa julgada

conceito

O CPC/73, em seu art. 467, traz o conceito de coisa julgada material. É


uma eficácia que torna imutável o conteúdo da sentença, não mais sujeita a
recurso ordinário ou extraordinário. Questiona-se se é correto pensar na coisa
julgada como um dos efeitos da sentença. Na doutrina, prevalece o entendimento
de que coisa julgada é uma qualidade que torna imutável o conteúdo da sentença
(HTJ, Marinoni, Ada Pellegrini Grinover). É qualidade, pois, ainda que a
obrigação contida na sentença seja cumprida (eficácia positiva), o seu conteúdo
permanece inalterável (eficácia negativa). Há ainda quem diga que é uma
situação jurídica. O NCPC, fugindo a esta divergência, definiu coisa julgada
como autoridade.

O dispositivo original, constante do art. 467 do CPC/73, diz que a coisa


julgada incide sobre sentença não mais sujeita a recurso ordinário ou
extraordinário. O NCPC diz apenas que incide sobre sentença não mais sujeita a
recurso. Quando o CPC/73 menciona “recurso ordinário” e “recurso
extraordinário”, ele não se refere às espécies de recurso, mas sim ao gênero,
sendo recurso ordinário aqueles que tutelam interesse da parte (trabalha-se com a
injustiça da decisão, ex. ROC, recurso de apelação, agravo) e recurso
extraordinário aqueles que tutelam a harmonia na interpretação do sistema
normativo, sua higidez (recurso extraordinário e recurso especial).

espécies

Há três tipos diferentes de coisa julgada: coisa julgada formal, coisa


julgada material e coisa soberanamente julgada.

coisa julgada formal

É a autoridade que torna imutável a sentença no âmbito do processo em


que foi proferida. É comum em casos de decisão terminativa em que não há
recurso (art. 267 do CPC/73 e art. 485 do NCPC), caso em que o conteúdo será
imutável neste processo. A sentença terminativa não impede, contudo, que a ação
seja repetida em outro processo, produzindo uma sentença com teor diferente.

Obs. No NCPC, não há mais juízo de admissibilidade pelo juízo de


primeiro grau de recurso interposto contra sentença terminativa, mas todas as
hipóteses de sentença terminativa trazem a possibilidade de juízo de retratação. A
retratação, atualmente, é uma consequência de admissibilidade do recurso. Surge,
então, o questionamento quanto ao novo CPC da possibilidade de o juiz se
retratar mesmo antes de recebido o recurso.

coisa julgada material

A decisão de mérito, ao transitar em julgado (tornando-se definitiva, cf.


art. 269 do CPC/73 e 487 do NCPC), produz ao mesmo tempo coisa julgada
formal e coisa julgada material. A coisa julgada material é a autoridade que torna
imutável o conteúdo da sentença no âmbito de outros processos além do processo
em que foi proferida. Nesse caso, se a mesma ação vier a ser repetida em outro
processo, haverá ofensa à coisa julgada material, sendo extinta desde logo em
razão do art. 267, V c/c art. 268, 1ª parte.
Obs. Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução do mérito pelo
art. 267, V, do CPC, a sentença terminativa não faz coisa julgada material, mas
apenas coisa julgada formal. O que há é uma preclusão para a propositura de uma
nova ação, conforme art. 268, 1ª parte. Por não fazerem coisa julgada material,
não se sujeitam à ação rescisória. No NCPC, admite-se, nessas hipóteses, ação
rescisória.

Pode haver, contudo, sentença de mérito (art. 269 do CPC/73) que só faz
coisa julgada formal, mas isso decorre de previsão normativa. Ex. 1. Art. 16 da
Lei 7.347/85 – se o pedido for julgado improcedente por falta de provas, é
possível repetir a ação – é a chamada coisa julgada secundum eventum litis
(Câmara) ou secundum eventum probationis (Didier). Ex. 2. A Lei 5.478/68
prevê expressamente que a sentença que condena em alimentos não faz coisa
julgada material. Ovídio Baptista defende que faz coisa julgada material, pois a
ação revisional é uma ação distinta daquela em que houve a condenação. Como é
uma sentença determinativa, que condena o réu em uma obrigação de trato
sucessivo, a extensão dessa obrigação se submete à cláusula rebus sic standibus,
isto é, pode ser alterada, sem que isso importe alteração do conteúdo da sentença
condenatória (art. 471, I, do CPC/73).

coisa soberanamente julgada

Mesmo depois do trânsito em julgado, a parte ainda pode se utilizar da


rescisória após 2 anos do trânsito em julgado para rescindir decisão que contenha
vícios extremamente graves. É uma via excepcional, pois só se podem invocar os
argumentos autorizados por lei. Depois dos 2 anos, há a chamada coisa
soberanamente julgada, pois até mesmo os vícios mais graves são sanados, salvo
aqueles vícios considerados transrescisórios. O NCPC mantém o prazo de 2 anos,
mas em algumas situações o trânsito em julgado não será o termo inicial, sendo
este deslocado para o futuro. Ex. Se o STF declara a inconstitucionalidade de
uma lei com efeitos ex tunc, o prazo para ação rescisória começa a contar dessa
declaração (art. 525, §15 e 535, §8º, NCPC).

formação da coisa julgada

A coisa julgada se forma no dispositivo da sentença e vincula autor e réu.


Eventuais questões prejudiciais alegadas como causa de pedir e constantes da
fundamentação não farão coisa julgada (vide art. 469, I e II). Ex. Ação de
alimentos em que se alega como causa de pedir a relação parental entre autor e
réu → o juiz condena o réu em alimentos ao argumento de que ele é pai. Nada
impede que o réu ingresse posteriormente com ação declaratória negativa de
paternidade, pois a questão da paternidade, na primeira ação, não fez coisa
julgada material.
Obs. No NCPC, se a questão prejudicial for relevante para o processo, tiver sido
submetida ao contraditório e se o juiz for competente para julgá-la, passará a
constar do dispositivo e fará coisa julgada material (art. 503, §1º, do NCPC). O
professor entende que essa disposição afeta a estabilização objetiva da demanda,
na medida em que o autor não incluiu a questão prejudicial no seu pedido. Para
ele, também não é possível considerar que há coisa julgada material se o juiz não
incluir a solução da questão prejudicial no dispositivo, deixando apenas na
fundamentação.

aula 10: alexandre câmara

coisa julgada

limites subjetivos

Existe uma antiga ideia de que a coisa julgada fica limitada às partes, ou
seja, a sentença transitada em julgado se torna imutável àqueles que foram partes
no processo que produziu essa decisão, que estarão impedidos de repetir a ação,
não podendo alcançar terceiros.

Entendia-se no direito romano que a coisa julgada não poderia alcançar


terceiros nem para prejudicar nem para beneficiar. O art. 472 do CPC/73 traz
esse entendimento:

Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de
pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos
os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.

O NCPC rompe com essa tradição em seu art. 506 ao prever que a coisa
julgada não alcançará terceiros para prejudicá-los, mas pode beneficiá-los:

Art. 506.  A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
prejudicando terceiros.

O fundamento para a coisa julgada não alcançar terceiros é o direito


constitucional ao contraditório, ou seja, o direito de participar do processo
influindo em seu resultado. Contudo, sendo o contraditório uma garantia, a
ausência de contraditório só pode viciar o resultado se gerar prejuízo a alguém.
Se o resultado beneficia, não há violação do contraditório. Perder sem ser ouvido
não é possível, mas ganhar sem ser ouvido é possível. Ex. Se a sentença julga
improcedente o pedido autoral de condenação do réu a pagar determinada dívida
contratual, ao fundamento de que a obrigação não existe, pode o fiador deste réu,
ainda que não tenha participado deste processo, invocar a coisa julgada em seu
benefício em futura e eventual ação do autor em face dele.

Atenção: Substituição processual. Ocorre a substituição processual


sempre que um legitimado extraordinário está em juízo no interesse de um
legitimado ordinário. Nos casos de substituição processual, a coisa julgada
alcança o substituto e o substituído.

Ex. Ação de investigação de paternidade movida pelo MP em face de João. MP


atua como substituto processual da menor Ana. A coisa julgada atinge o MP, Ana
e João. Se assim não fosse, criar-se-ia para o demandado, sempre que houvesse
possibilidade legal de legitimação extraordinária, o ônus de ter que se defender
em dois processos distintos (um movido pelo legitimado extraordinário e um pelo
legitimado ordinário), o que viola o princípio da isonomia.

Ex. Quando no curso do processo ocorre alienação da coisa litigiosa, o


alienante continua parte no processo, só havendo sucessão processual se a outra
parte concordar. Se a outra parte não concordar, o alienante permanece no
processo na defesa de interesse alheio (do terceiro adquirente), na condição de
substituto processual. A sentença alcançará o substituto e o substituído, assim
como a coisa julgada.

No NCPC, isso está expresso no art. 109, §3º, do CPC:

Art. 109.  A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos, a título
particular, não altera a legitimidade das partes.

§ 1o O adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juízo, sucedendo o


alienante ou cedente, sem que o consinta a parte contrária.

§ 3o Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias ao


adquirente ou cessionário.

Atenção: Sucessão. Não se trata de sucessão processual, porque nesta


aquele que sucede se torna parte, sendo alcançada pela coisa julgada. Estamos
falando da sucessão do direito material. A coisa julgada alcança as partes e, se as
alcança, também alcança seus sucessores, porque, embora formalmente o
sucessor seja outra pessoa, substancialmente ele ocupa a mesma posição jurídica
do antecessor. Ex. A e B disputam em juízo a propriedade de um imóvel. B
ganhou e se formou coisa julgada. Morre A. Os herdeiros de A movem ação em
face de B ao fundamento de que são proprietários do imóvel por herança. B pode
invocar a coisa julgada.

limites objetivos
Trata-se de definir na sentença o que se torna imutável. A sentença, como
se sabe, tem três elementos – relatório, fundamentação e dispositivo.

 O relatório não traz julgamento, mas mera descrição do andamento


processual, razão pela qual evidentemente não há coisa julgada.

 Quanto à fundamentação, há divergência doutrinária. Liebman sempre


sustentou que a fundamentação da sentença não fazia coisa julgada. Já para
Carnelutti a fundamentação fazia coisa julgada. O CPC/39 tinha dois artigos,
cada um positivando uma corrente. O CPC/73, no art. 469, definiu-se que a
fundamentação da sentença não faz coisa julgada:

Art. 469. Não fazem coisa julgada:

I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte


dispositiva da sentença;

II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;

III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.

A fundamentação da sentença não faz coisa julgada e isso inclui as questões


prejudiciais que são decididas incidenter tantum, pois constam da
fundamentação. O CPC/73 previu, contudo, a chamada ação declaratória
incidental, cujo pedido seria a solução da questão prejudicial, que deixaria de ser
decidido como incidente para ser decidido principaliter e deixaria de constar da
fundamentação para constar do dispositivo. Passaria, então, a fazer coisa julgada.
Nesse sentido, veja-se:

Art. 470. Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se a parte
o requerer (arts. 5o e 325), o juiz for competente em razão da matéria e constituir
pressuposto necessário para o julgamento da lide.

Ao tratar dos limites objetivos da coisa julgada, o NCPC mantém o padrão


do CPC/73 no sentido de que o dispositivo faz coisa julgada e a fundamentação
não, em seu art. 504:

Art. 504.  Não fazem coisa julgada:


I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte
dispositiva da sentença;

II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.

A novidade está no fato de que, pelo NCPC, desde que preenchidos alguns
requisitos, a solução dada pelo juiz à questão prejudicial fará coisa julgada,
independentemente de ação declaratória incidental (não prevista no NCPC), cf.
art. 503, §1º:

Art. 503.  A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei
nos limites da questão principal expressamente decidida.

§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida


expressa e incidentemente no processo, se:

Alguns têm sustentado que, por força deste novo regime, haveria coisa
julgada sobre a parte da fundamentação da sentença que desse solução à questão
prejudicial. Isso é um equívoco. A fundamentação continua sem transitar em
julgado em sua totalidade. O que há é que, preenchidos os requisitos, a solução
da questão prejudicial se deslocará automaticamente da fundamentação para o
dispositivo, fazendo então coisa julgada, independentemente de pedido expresso
nesse sentido. É um “pedido implícito”, assim como as custas, os honorários, os
juros legais etc. O objetivo é evitar a propositura de nova ação que tenha por
objeto a solução da questão prejudicial. Se não preencher os requisitos, será
decidida na fundamentação.

São requisitos para que haja coisa julgada sobre a solução da questão prejudicial:

 §1º, inciso I: dessa resolução depender o julgamento de mérito; - a


questão prejudicial necessariamente deve estar ligada ao mérito. Se for questão
meramente processual, não há coisa julgada.

 §1º, inciso II: a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo,
não se aplicando no caso de revelia; - se o réu foi revel, a solução da prejudicial
não fará coisa julgada. No entanto, ainda que não haja revelia, exige-se
contraditório prévio e efetivo para formação da coisa julgada, o que não ocorre,
por exemplo, na improcedência liminar do mérito.

 §1º, inciso III: o juízo tiver competência em razão da matéria e a pessoa


para resolvê-la como questão principal. – ex. um juiz cível não pode decidir
questão prejudicial de forma definitiva afeta ao direito de família.
 §2º: A hipótese do § 1o não se aplica se no processo houver restrições
probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise
da questão prejudicial. – ex. de limitações probatórias → mandado de segurança
(só prova documental), inventário e partilha (só prova documental),
procedimento dos Juizados (não se admite prova pericial complexa); ex. de
limitações à cognição → ações possessórias em que não pode ser invocado
direito petitório.

 O dispositivo faz coisa julgada.

coisa julgada nas causas de estado de pessoa

O art. 472, parte final, do CPC/73, dispõe que:

Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de
pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário,
todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a
terceiros.

Causas de estado são aquelas que dizem respeito ao estado da pessoa,


ex. paternidade, estado civil, nacionalidade etc., e, que, portanto, devem ser
conhecidas por todos.

O CPC/73 entendeu por bem, então, em razão desta peculiaridade, estabelecer


que a sentença nesses casos faz coisa julgada em relação a terceiros. Não há,
contudo, coisa julgada erga omnes, pois, se todos os interessados serão citados
como litisconsortes necessários, necessariamente são considerados partes e serão
atingidos pela coisa julgada. Não serão citados aqueles que não têm interesse e,
portanto, não há coisa julgada em relação a eles, pois sequer tem interesse de agir
para demandar em juízo relativamente à causa de estado. O NCPC não reproduz
essa parte final (art. 506).

coisa julgada nas sentenças determinativas

Sentença determinativa é a sentença que regula uma relação jurídica de


trato sucessivo. Existem relações de trato sucessivo/continuado que são relações
obrigacionais que se prolongam no tempo, acabando por ter uma característica
muito peculiar. O devedor cumpre a obrigação, mas esse ato dele não põe fim a
obrigação, fazendo com que ele continue devedor e assim por diante. Ex.:
devedor de alimentos, locatário, quota condominial.
A relação continua a existir apesar do pagamento, o que, por sua vez, não
significa que essas relações não acabam jamais, por exemplo, para deixar de
pagar a quota condominial você pode vender o apartamento.

Cuidado! Não confundir as obrigações de trato continuado com as obrigações de


pagamento parcelado, pois nestas o pagamento integral extingue a obrigação,
existindo a obrigação até a última parcela.

Muitas vezes, pode ser levada a juízo uma demanda na qual virá uma sentença
que disciplina o modo como se regula uma obrigação de trato sucessivo. No
entanto, a relação perdurará, se prolongará no tempo e pode surgir a necessidade
de se rever o que tinha sido decidido quando mudarem as circunstâncias.

Como podemos rever aquilo que foi decidido em um processo que já chegou ao
fim? A coisa julgada não seria um obstáculo a isso? Não, pois podemos rever o
que foi decidido. O que autoriza essa revisão? Será que existe alguma
peculiaridade no trato da coisa julgada que se forma sobre essas decisões?

Há muito na doutrina brasileira já se sabe que sentenças determinativas fazem


coisa julgada, sendo possível, contudo, rever o que foi decidido.

O art. 505, I, do NCPC (art. 471, I, do CPC/73) prevê:

Art. 505.  Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à


mesma lide, salvo:

I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação


no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que
foi estatuído na sentença;

Questão: Qual o fundamento desta revisão se existe coisa julgada?

 1ª corrente (Alfredo Buzaid): pode haver revisão, mesmo sendo coisa


julgada, porque há autorização expressa em lei. Por isso, Buzaid, ao elaborar o
CPC/73, incluiu o art. 471, I.

 2ª corrente (Ada Grinover, HTJ): a sentença determinativa transitada em


julgado pode ser revista porque contém implícita a cláusula rebus sic standibus,
ou seja, a coisa julgada subsiste no que diz respeito ao valor contido na sentença
enquanto as circunstâncias permanecerem as mesmas. Para Barbosa Moreira,
essa cláusula nada explica, porque saber se houve não mudança das
circunstâncias necessariamente tem relação com o mérito e o que se quer é
entender como se chegou à revisão desse mérito já que há coisa julgada (antes do
mérito).

 3ª corrente (Barbosa Moreira, Câmara): a sentença determinativa faz


coisa julgada, sendo esta como outra qualquer, sem nenhuma peculiaridade e é
exatamente por isso que pode haver revisão. Coisa julgada é a imutabilidade do
que foi decidido. Chiovenda dizia: “A res iudicata é a res in iudicium deducta
depois de ter sido iudicata”. Quando se vai a juízo, algo é posto para ser objeto
de discussão e posterior julgamento. A causa deduzida no processo após ser
julgada torna-se uma causa julgada (vide art. 6º da LINDB). Por isso, por uma
questão de segurança jurídica, não pode ser julgada novamente, pois a coisa
julgada é uma garantia de estabilidade daquilo que já foi julgado. Sendo assim, se
for proposta a mesma ação (tríplice identidade), deverá ser extinta sem resolução
do mérito. Ex. Ação de alimentos e ação revisional são causas diferentes, pois,
apesar de possuírem as mesmas partes, têm causa de pedir e pedido diferentes. A
ação revisional nunca foi julgada anteriormente, pelo que plenamente cabível.

relativização da coisa julgada

Questão: É possível relativização da coisa julgada?

 1ª corrente: Se uma sentença fez coisa julgada, não se pode mais discutir o que
foi decidido, independentemente dos motivos que levaram àquela decisão.
Muitos autores negam categoricamente a possibilidade de relativização da coisa
julgada fora das hipóteses da ação rescisória, sendo esta uma garantia
constitucional que homenageia a segurança jurídica (Barbosa Moreira, Marinoni,
Leonardo Greco, Nery).

 2ª corrente: permite a desconsideração da coisa julgada, ou seja, que se rejulgue


aquilo que já foi decidido quando o resultado do processo for manifestamente
injusto (HTJ, Dinamarco, Bermudes). Dinamarco diz que o processo é um
instrumento de acesso à justiça, ou seja, de obtenção de um resultado justo.
Portanto, se o resultado do processo é manifestamente injusto, não se pode
reconhecer a existência de coisa julgada, pois isso seria uma negação dos
próprios objetivos do processo. O STJ já acolheu essa tese.

Obs. Câmara critica a utilização de adjetivos como injustiça manifesta,


excessiva, pois sua interpretação depende de subjetivismos. Ainda que se
retirassem os adjetivos, o fundamento para afastar a coisa julgada não poderia ser
a injustiça da sentença, pois isso importaria na negação da própria coisa julgada,
uma vez que a sentença sempre será considerada injusta por quem por ela foi
prejudicado. A mera alegação de que a sentença foi injusta já afastaria a coisa
julgada, pois o juiz, para analisar a justiça/injustiça da sentença, teria
inevitavelmente que adentrar o mérito.

 3ª corrente (posição intermediária): essa teoria sustenta que, como regra geral, a
coisa julgada tem que ser observada, mas seria possível desconsiderá-la, com
posterior rejulgamento, nos casos em que o resultado do processo ofenda norma
constitucional (critério objetivo). Há quem chame isso de teoria da coisa julgada
inconstitucional. Há várias hipóteses em que uma decisão inconstitucional
transitará em julgado: (a) recurso extraordinário intempestivo/sem preparo contra
decisão inconstitucional do Tribunal; (b) recurso extraordinário contra decisão
inconstitucional em que não foi reconhecida repercussão geral; (c) decisões
transitadas em julgado com posterior declaração de inconstitucionalidade da lei
com base na qual foi proferida etc.

Ex. Ação de investigação de paternidade julgada quando não tinha teste de DNA.
Fazia-se exame tipológico que permitia excluir a paternidade com 100% de
certeza. Se não excluísse, buscavam-se outras provas, ex. testemunhal,
documental (ex. fotos de aniversário), inspeção judicial (semelhança física pai e
filho) etc. Ocorre que, posteriormente, com o surgimento do DNA, percebia-se
que muitas dessas sentenças, que já tinham transitado em julgado, estavam
incorretas. Todas as ações negatórias de paternidade começaram a ser extintas
por ofensa à coisa julgada. A questão chegou ao STF que decidiu que o direito à
origem genética integra a própria dignidade humana, constante do art. 1º, III, da
CF. Sendo assim, a manutenção da sentença incorreta viola a própria CF, pelo
que cabível a desconsideração da coisa julgada.

procedimento sumário

É um procedimento muito mais demorado na prática do que o ordinário,


principalmente quando não há prova oral a produzir, pois, embora seja mais
concentrado, possui várias audiências, o que sobrecarrega as pautas dos juízos.

Na primeira audiência, procede-se à tentativa de acordo. Se não houver


acordo, o réu já apresenta contestação na própria audiência de conciliação. O
juiz, não havendo mais provas a produzir, pode julgar desde logo. Sendo
necessária a produção de outras provas, marca-se outra audiência para a colheita
de mais provas para posteriormente proferir sentença.

Os casos de procedimento sumário são os do art. 275 do CPC/73. Há duas


técnicas diferentes: (a) em razão do valor da causa – até 60 salários-mínimos
(art. 275, I) – não é cogente, podendo o autor optar pelo procedimento ordinário;
(b) em razão da matéria – nessas hipóteses, o valor da causa não interessa. Em
tese, são matérias menos complexas (art. 275, II).
Com o NCPC, não haverá mais procedimento sumário. Todas as causas
passarão a seguir o procedimento comum – procedimento padrão do NCPC.

Obs. 1. Quando o NCPC entrar em vigor, os processos que já estiverem


em curso pelo procedimento sumário seguirão neste procedimento até a sentença,
ou seja, haverá uma ultratividade do CPC/73 (art. 1.046, §1º, do NCPC).

Obs. 2. Os Juizados Especiais são competentes para as hipóteses do art.


275, II, do CPC. Só que com o NCPC não tem procedimento sumário. Tem um
dispositivo do NCPC que diz que todas as referências contidas na legislação
extravagante ao CPC/73 passam a fazer referência aos dispositivos
correspondentes no NCPC. Ocorre que não há artigo correspondente para o
procedimento sumário.

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