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Artigo Narcisismo
Artigo Narcisismo
Nos Três ensaios, Freud lança algumas das bases fundamentais para a
consolidação das noções de sexualidade no interior da psicanálise. O estudo é iniciado
pela consideração dos casos que desviavam da norma, sendo analisadas as
manifestações perversas da sexualidade. Em um capítulo que tem por título As
aberrações sexuais, o autor tenta compreender algumas características da sexualidade
que não se coadunam com a norma social estabelecida. É nesse ponto que Freud analisa
a inversão sexual, isto é, a homossexualidade.
Vale salientar que já nesse texto a perversão não era concebida como uma
condição totalmente apartada da neurose. O texto freudiano aborda inicialmente as
manifestações claramente perversas para depois elucidar que elas não pertencem a uma
ordem diferente daquelas notadas na estrutura neurótica. É analisando as “aberrações
sexuais” que Freud pode afirmar que “a disposição para as perversões é a disposição
originária universal da pulsão sexual humana “(FREUD, 1905/1996, p.218)
No que tange ao narcisismo pode-se afirmar que ele ainda não apresenta um
status conceitual nesse texto. Não é trabalhado nenhum aspecto psicodinâmico,
econômico ou tópico, de maneira que seu uso se restringe a um recurso metafórico.
Observa-se mais uma vez que o termo narcisismo apresenta uma condição analógico-
metafórica e que apesar de fazer referência a uma psicodinâmica não se encontram
elementos sobre a economia ou aos aspectos tópicos do fenômeno.
O caso Schreber é uma das reflexões mais importantes sobre a psicose dentro do
projeto freudiano. Os elementos tópicos, econômicos e psicodinâmicos são abordados
pormenorizadamente e acabam por elucidar também condições ligadas a estrutura
neurótica. Nesse escrito é proposta uma nova visão sobre o desenvolvimento libidinal, o
que representa um acréscimo a algumas noções construídas previamente nos Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade. Mais especificamente é descrita a passagem do
autoerotismo para o amor objetal, salientando as etapas intermediárias desse processo.
Mas essa relação com a alteridade, com um objeto externo também não é
processada de um modo único. A superação, sempre parcial, do narcisismo exige que os
primeiros objetos externos resguardem semelhanças com o sujeito. O que significa que
O caso de Schreber é paradigmático nesse sentido, uma vez que em seu delírio
ele se julgava tão importante a ponto de que Deus se poria a persegui-lo. Em um
segundo momento a megalomania se torna mais visível, como pode ser constado
quando esse indivíduo modifica a sua relação com Deus, considerando-o não mais como
perseguidor, mas como aliado no projeto de salvar a humanidade. Esse objetivo seria
obtido a partir de uma transformação de Schreber em uma mulher. O juiz presidente
considerava-se como o único objeto de milagres e o ser humano mais importante de
todos os tempos (FREUD, 1911/1996, p.27). Essas especificidades se tornam mais
inteligíveis ao se considerar que
Servindo-se mais uma vez de uma racionalidade clínica que propõe que a
investigação deve privilegiar os casos mais agudos presentes nos fenômenos
psicopatológicos, Freud parece encontrar nessas manifestações psicóticas uma via de
estudos privilegiada para a investigação do narcisismo. Embora seja uma característica
universal, o narcisismo exarcebado pode ser uma peça fundamental para a estrutura
psicótica. Por isso não parece ser acidental que seja em um texto que toma como objeto
privilegiado a paranoia que o narcisismo possa surgir como um conceito, o que
demonstra a importante relação entre esses dois elementos.
Conclusão
Isso é atestado pelo fato de que foi somente em uma obra destinada
especificamente a investigar a psicose que o narcisismo foi elevado ao nível de
conceito. Nota-se que tanto nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905),
quanto em Leonardo da Vinci: uma lembrança de infância (1910) o narcisismo emergia
apenas como uma metáfora ou analogia, diferentemente do texto Notas psicanalíticas
sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia ( Dementia Paranoides) de
1911, no qual o narcisismo já aparece integrado a um modelo inédito de
desenvolvimento libidinal, com os contornos tópicos, econômicos e psicodinâmicos já
elaborados.
Miguelez (2007) propõe inclusive que a paranoia ao lado da histeria deve ser
considerada como uma das duas grandes fontes de investigação sobre o narcisismo A
incidência em duas estruturas diferentes pode ter significações também diversas, o que
aponta para um promissor campo de estudos.
Referências bibliográficas
FREUD, S. (1905) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Em: Edição Standard
Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago
Editora, 1996.