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Colégio Diocesano de

Departamento Curricular de Línguas


Nossa Senhora da Apresentação
Ano letivo 2014-2015

90 min.

PORTUGUÊS  8º ano
Teste escrito n.º 4

GRUPO I
(20 pontos)

Neste grupo, será avaliada a compreensão do oral, a realizar na aula


imediatamente a seguir a este
teste escrito, de acordo com as indicações fornecidas pelo teu professor.

GRUPO II
(30 pontos)

Lê com atenção o excerto do conto “Assobiando à vontade”, de Mário Dionísio, e


responde às ques-
tões que te são colocadas de forma completa, clara e precisa.

Assobiando à vontade

Àquela hora o trânsito complicava-se. As lojas, os escritórios,


algumas oficinas, atiravam para a
rua centenas de pessoas. E as ruas, as praças, as paragens dos elétricos, que
tinham sido planeadas
quando não havia nas lojas, nos escritórios e nas oficinas tanta gente,
ficavam repletas dum momento
para o outro. Nos largos passeios das grandes praças havia encontrões. […] Os
elétricos apinhavam -se
5 na linha à frente uns dos outros. Seguiam morosamente, carregados [...] com as
tais centenas de pess o-
as que saltavam àquela hora apressadamente das lojas, dos escritórios, das
oficinas. Além disso, nos
dias bonitos como aquele, as ruas da Baixa enchiam-se de elegantes que iam dar
a sua volta, às cinco
horas, pelas lojas de novidades e pelas casas de chá, para matar o tempo de
qualquer maneira, ver ca-
ras conhecidas, cumprimentar e ser cumprimentadas, e só voltavam a casa à hora
do jantar. […]
10 O carro seguia morosamente e repleto como os outros. Felizmente, ainda
havia alguns homens
corretos na cidade e algumas mulherezinhas que conheciam o seu lugar. Só
graças a isso as senhoras
que tinham arriscado os seus sapatos e os seus chapéus naquela refrega e
alguns cavalheiros respeit á-
veis conseguiam sentar-se.
Nos primeiros momentos de viagem, as pessoas voltavam-se nos bancos,
preocupadas, tentando ver
15 se o marido, uma amiga, um filho, não teriam ficado em terra. Os que seguiam
de pé ousavam dar um passo
no interior do carro, a ver se teria ficado algum lugar vago por acaso. Havia
logo protestos na plataforma. De-
pois as pessoas acomodavam-se o melhor que podiam, punham os braços no ar para
livrar os embrulhos do
aperto, fechavam bem os casacos e as malas onde levavam o dinheiro, o condutor
puxava energicamente o
cordão da campainha muitas vezes, lotação completa, e o carro arrastava-se em
silêncio.
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20 […] Em dada altura, porém, na plataforma de trás levantou-se


burburinho. Protestos. Indignação.
Cabeças voltaram-se no interior do carro. E viu-se um homenzinho a empurrar
toda a gente e a dizer que
havia lugares à frente, que o deixassem passar. Em vão lhe asseguravam que não
havia lugar nenhum,
que não podia passar, que não fosse bruto. O homem empurrava e teimava que
havia lugares à frente.
Tanto empurrou que furou. Tanto furou que conseguiu entrar no interior do
elétrico, avançou e foi sentar-
25 se num lugar de lado que estava efetivamente vago lá à frente, ao lado duma
senhora por sinal opulenta.
Foi um espanto geral e silencioso. Ninguém tinha reparado no lugar. E
menos que ninguém, co-
mo é fácil de compreender, a própria senhora opulenta. Todos os atrevidos têm
sor te.
O homem, que usava um chapéu coçado e um sobretudo castanho bastante
lustroso nas bandas,
não se sentou propriamente. Enterrou-se no lugar, com as mãos enfiadas pelas
algibeiras dentro. Que
30 sujeito! Devia ser mais novo do que parecia por causa do cabelo grisalho e da
barba por fazer. A senho-
ra opulenta franziu a testa e remexeu-se no lugar, se assim se pode dizer,
como quem procura ocupar
menos espaço. Na verdade, apenas se instalou melhor. A sua intenção era fazer
o homenzinho reparar
na inconveniência da atitude que tomara. Mas ele não viu nada disso ou fingiu
que não viu. Olhou vag a-
mente as pessoas que tinha na frente, estendeu os lábios e começou a assobiar.
A a ssobiar muito à von-
35 tade no interior do carro! […]

Mário Dionísio, «Assobiando à Vontade», O Dia Cinzento e Outros


Contos, 3.ª ed., Lisboa, Publicações Europa-América, 1977

1. Indica a importância da hora do dia para os acontecimentos narrados no


texto. (5 pontos)

2. Refere o que distingue as pessoas «elegantes» (linha 7) das outras


«centenas de pessoas» (linha 2) que

circulam pela Baixa.


(5 pontos)

3. Descreve duas das reações dos passageiros nos «primeiros momentos de


viagem» (linha 14). (5 pontos)

4. Caracteriza direta e indiretamente o «homenzinho».


(5 pontos)

5. Identifica o recurso expressivo presente em «Felizmente, ainda havia alguns


homens corretos na cidade e

algumas mulherezinhas que conheciam o seu lugar.» (linhas 10 e 11) e


explicita o seu sentido. (5 pontos)

6. Classifica o narrador quanto à presença e ponto de vista, justificando a


tua resposta. (5 pontos)

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GRUPO III
(20 pontos)

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Atenta na frase.
«Felizmente, ainda havia alguns homens corretos na cidade e algumas
mulherezinhas que conheciam o
seu lugar.»
1.1. Refere a classe e a subclasse das palavras sublinhadas.
(4 pontos)

1.2. Indica as funções sintáticas de «o seu lugar».


(3 pontos)

1.3. Transcreve a oração subordinada presente na frase.


(3 pontos)

1.4. Justifica a utilização da vírgula na frase.


(3 pontos)

1.5. Identifica os processos de formação da palavra «mulherezinhas».


(3 pontos)

2. Reescreve as frases que se seguem, pronominalizando as expressões sublinhadas.


2.1. «A sua intenção era fazer o homenzinho reparar na inconveniência da atitude
que tomara.» (2 pontos)
2.2. «Mas ele não viu nada disso».
(2 pontos)

GRUPO IV
(30 pontos)

No conto “Assobiando à vontade”, de Mário Dionísio, é evidente o confronto entre


o indivíduo e
a sociedade.

Partindo da afirmação anterior e com base no conto “Assobiando à vontade”,


redige um comentário crí-
tico, com um mínimo de 150 e um máximo de 200 palavras, onde tomes posição sobre
esta dualidade.
O teu comentário deve incluir uma parte introdutória, um desenvolvimento e uma
conclusão.
Organiza a informação da forma que considerares mais pertinente, tratando os
tópicos apresentados a se-
guir:
 manifestação de concordância ou discordância, total ou parcial,
relativamente à afirmação.
 Justificação do teu ponto de vista, evidenciando e fundamentando:
 as razões que levam as pessoas a protestarem e a indignarem-se
com o «homenzinho»;
 as diferenças físicas, comportamentais e psicológicas entre o
«homenzinho» e os restan-
tes passageiros;
 a carga irónica e crítica do narrador;
 os nossos direitos/liberdades e o confronto com os
direitos/liberdades dos outros;
 os diferentes tipos sociais representados no texto, enquanto
personagens-tipo.
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