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PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA DO 3.

º CICLO DO ENSINO BÁSICO


PROVA ORAL DE PORTUGUÊS - Prova 91 - 1.ª Fase - 2023
PROVA E CENÁRIOS DE RESPOSTA

GRUPO I
1. Lê o texto, em voz alta, até à linha 23.
Em dada altura, porém, na plataforma de trás levantou-se burburinho.
5 Protestos. Indignação. Cabeças voltaram-se no interior do carro. E viu-se um
homenzinho a empurrar toda a gente e a dizer que havia lugares à frente, que
o deixassem passar. Em vão lhe asseguravam que não havia lugar nenhum,
que não podia passar, que não fosse bruto. O homem empurrava e teimava
que havia lugares à frente. Tanto empurrou que furou. Tanto furou que
10 conseguiu entrar no interior do elétrico, avançou e foi sentar-se num lugar de
lado que estava efetivamente vago lá à frente, ao lado duma senhora por sinal
opulenta1 […]
O homem, que usava um chapéu coçado e um sobretudo castanho bastante
lustroso nas bandas, não se sentou propriamente. Enterrou-se no lugar, com as
15 mãos enfiadas pelas algibeiras dentro. Que sujeito! Devia ser mais novo do que
parecia por causa do cabelo grisalho e da barba por fazer. A senhora opulenta
franziu a testa e remexeu-se no lugar, se assim se pode dizer, como quem
procura ocupar menos espaço. Na verdade, apenas se instalou melhor. A sua
intenção era fazer o homenzinho reparar na inconveniência da atitude que
20 tomara. Mas ele não viu nada disso ou fingiu que não viu. Olhou vagamente as
pessoas que tinha na frente, estendeu os lábios e começou a assobiar. A
assobiar muito à vontade no interior do carro!
Primeiro, foi um assobio baixinho, pouco seguro, impercetível quase.
Depois, a pouco e pouco, o sujeitinho entusiasmou-se. E o assobio aumentou
25 de intensidade. Ouvia-se já em todo o elétrico. Os passageiros, que tinham
recuperado com tanto custo a sua dignidade, fingiam que não davam pelo
homem nem pelo assobio. […]
As pessoas começavam a olhar umas para as outras à socapa 2. Já se tinha
visto coisa assim? Um ou outro cavalheiro levantava os olhos do jornal, franzia
30 a testa, fitava com dureza o homem do chapéu coçado e sobretudo castanho,
na esperança de que ele, envergonhado, parasse com aquilo. A senhora
opulenta, no auge do espanto, nem se atrevia a olhar para lado nenhum,
vexadíssima3 porque, sem ter culpa nenhuma, se encontrava em plena zona do
escândalo. A que uma pessoa está sujeita! […]
35 De repente, uma criança que ia sentada junto duma janela e já se sentia
enfastiada4 de olhar para a rua interessou-se pelo homem. Achava-lhe tanta
graça, com o seu chapéu coçado, o seu sobretudo castanho, o seu assobio...
Era uma criança muito pálida, de cabelos louros e encaracolados, vestida de
azul. Interessou-se tanto pelo homem que começou a bater palmas. Mas uma
40 senhora nova e bonita, que ia ao lado dela, segurou-lhe as mãos com gentileza
e afastou-lhas. Devia ir calada e quietinha.
Mário Dionísio, «Assobiando à vontade – o dia cinzento e outros contos», in Contos
completos, Lisboa

Casa da Achada-Centro Mário Dionísio, 2019, pp. 45-47

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45 Vocabulário: 1. opulenta: gorda, forte; 2. à socapa: de forma disfarçada; 3. vexadíssima:


envergonhada; 4. enfastiada: aborrecida.

GRUPO II

50 1. De acordo com o segundo parágrafo, caracteriza a personagem «O


homem», fundamentando a tua resposta.

«O homem» apresentava-se com «um chapéu coçado e um sobretudo


castanho bastante lustroso nas bandas», tinha o «cabelo grisalho» e a «barba
55 por fazer», o que fazia com que parecesse mais velho do que era. Tem uma
atitude de aparente indiferença perante os outros passageiros e sente-se
extremamente à vontade no elétrico: «Olhou vagamente as pessoas que tinha
na frente, estendeu os lábios e começou a assobiar. A assobiar muito à
vontade no interior do carro!»
60 (ll. 16-17).

2. Refere duas reações dos passageiros adultos ao assobio.


«Os passageiros, que tinham recuperado com tanto custo a sua dignidade,
fingiam que não davam pelo homem nem pelo assobio.» (ll. 21-23).
65 «As pessoas começavam a olhar umas para as outras à socapa. Já se tinha
visto coisa assim?» (l. 24).

3. Explicita o modo como o comportamento de «uma criança» contrasta


com os restantes passageiros.
70 A criança, que já estava aborrecida de olhar lá para fora, interessa-se por
aquela figura diferente de todos os outros passageiros. Achou graça ao assobio
do «homem» e começou, na sua inocência, a bater palmas. Assim, revela uma
atitude de simpatia para com o sujeito do assobio, o que contrasta com o
comportamento incomodado dos outros passageiros.
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(Alternativa - Caso o aluno não consiga responder a alguma das questões
anteriores, o júri poderá colocar-lhe a questão 4.)

4. A frase exclamativa em «A assobiar muito à vontade no interior do carro!»


(ll. 17-18) o que põe em evidência?

80 Põe em evidência a sua inconveniência e a surpresa perante essa atitude.

GRUPO III

1. Classifica a oração: «Tanto empurrou que furou.» (linha 6)


Oração subordinada adverbial consecutiva.

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85 (Alternativa a 1. - Caso o aluno não consiga responder à questão 1., o júri
poderá colocar-lhe a questão 1.1.)

1.1. Classifica a oração: «A senhora opulenta franziu a testa e remexeu-se


no lugar.» (Ll. 12-13)

Oração coordenada copulativa

90 2. Atenta na frase: «segurou-lhe as mãos com gentileza» (linha 30). Identifica


as funções sintáticas dos seguintes elementos: “-lhe”, “as mãos” e
“com gentileza”.
Complemento indireto, complemento direto e modificador (de grupo verbal).

3. Identifica os recursos expressivos presentes nas frases:


95 (O júri da prova deve escolher, entre as 4 opções, de A a D, apenas 2
para questionar o aluno. Caso o aluno não consiga responder, o júri
pode questioná-lo sobre outra das opções.)
a. «que não podia passar, que não fosse bruto» (linha 5)
b. «O homem empurrava e teimava» (linha 5)
100 c. «Enterrou-se no lugar» (linha 10)
d. «calada e quietinha» (linha 37)
a. Anáfora
b. Enumeração
c. Metáfora
105 d. Dupla adjetivação

GRUPO IV

1. Defende o teu ponto de vista sobre o tema – A liberdade de expressão


existe para todos.
110 A liberdade de expressão tem sido uma questão muito discutida, ao longo
dos tempos. Atualmente vivemos numa sociedade democrática, logo, à
partida temos todos liberdade de expressão.
Em Portugal, considero que existe liberdade de expressão e apresento duas
razões para este meu ponto de vista. Ao nível da imprensa, os nossos meios
115 de comunicação são livres para publicar notícias, dados de natureza diversa,
sem haver censura por parte do governo ou de alguma entidade nomeada
para esse efeito.

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