Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mediação Da Aprendizagem Na Educação Especial
Mediação Da Aprendizagem Na Educação Especial
Mediação da
aprendizagem na
Educação Especial
Circulação Interna
0
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
“Nada lhe posso dar que já não existam em você mesmo. Não
posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há
em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a
oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar
visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”
(Hermann Hesse)
1
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Sumário
Apresentação...................................................................................................................... 3
O yakhupã que não sabia correr......................................................................................... 4
Introdução........................................................................................................................... 7
CAPÍTULO 1
Reflexões sobre educação inclusiva.................................................................................... 8
Atividades de Síntese........................................................................................................... 20
CAPÍTULO 2
Educação especial e legislação........................................................................................... 22
Atividades de Síntese........................................................................................................... 30
CAPÍTULO 3
A síndrome da privação cultural......................................................................................... 33
Atividades de Síntese........................................................................................................... 41
CAPÍTULO 4
Outras síndromes................................................................................................................. 42
Atividades de Síntese........................................................................................................... 50
CAPÍTULO 5
A mediação da aprendizagem como proposta metodológica.............................................. 52
Atividades de Síntese........................................................................................................... 58
CAPÍTULO 6
O perfil do professor mediador........................................................................................... 60
Atividades de Síntese........................................................................................................... 72
Considerações finais........................................................................................................... 95
Referências.......................................................................................................................... 97
Gabarito.............................................................................................................................. 100
Atividades Avaliativas......................................................................................................... 102
2
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Apresentação
“Eu sei que você acha que entendeu aquilo que eu disse
mas eu não tenho certeza de que aquilo que você entendeu
é exatamente aquilo que eu quis dizer”
O Brasil passa por um período de transição quanto à inclusão de pessoas com deficiências.
Até há pouco tempo, as escolas não praticavam a inclusão, diferentemente do que fazem hoje, por
força de lei, mas sem saber ao certo como devem fazê-lo. Sabemos que a inclusão é uma questão
ética, humana e que não ser favorável a ela, além de crime, é pecar contra a solidariedade, contra
valores e princípios fundamentais. No entanto, nossas boas intenções sofrem com a barreira da falta
de conhecimento e de prática:
Como incluir?
Como educar pessoas com deficiência da melhor forma possível?
Existe uma forma especial para ensiná-las ou precisamos tratar todas
igualmente?
O que um professor precisa saber, minimamente, para que a inclusão
aconteça?
Qual é a melhor proposta em termos metodológicos para exercer nossa
função como professores?
Todas essas perguntas são importantes e, neste módulo, queremos respondê-las ou, se isso
não for possível, esperamos pelo menos apontar caminhos que levem às respostas. Não vamos
abordar transtornos específicos, apesar de darmos uma “pincelada” nos que com mais frequência
são encontrados nas escolas. Também não temos a pretensão de que este estudo seja suficiente para
que um professor, por meio de sua leitura, acerte nos encaminhamentos que precisa dar a crianças
com deficiência. Porém, acreditamos sinceramente que este material contém o mínimo que um
professor deve saber. Todos nós Professores que vivenciam ou não situações de inclusão, devemos
conhecer os princípios da interação de qualidade que podem fazer a diferença para nossos alunos.
A proposta principal é, com base na teoria da mediação da aprendizagem de Reuven
Feuerstein, discorrer sobre as posturas mais apropriadas para o professor na sua abordagem diária,
tomadas aqui como fundamentais para que este possa ser mais eficiente em sua prática. O material
está repleto de orientações práticas e embasadas nessa teoria.
3
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
corrida.
O frutos da floresta. Eram famosos em todas as outras tribos pela velocidade com que
corriam. Amavam correr! Desde cedo, esta era a brincadeira mais comum: apostar
Seus costumes eram passados de geração a geração por meio de aulas especiais chamadas
sakons. As principais lições das sakons eram sobre como correr. As últimas também. Eram sakons
diárias sobre como pisar, levantar o pé, colocar o calcanhar no chão, balançar os braços alter-
nadamente, enfim, tudo sobre os movimentos do corpo enquanto um ser humano corre. Havia
também várias sakons diferentes sobre tipos de terreno, clima, espécies de gramado e tipos de
corrida para cada condição. Para ser um bom yakhupã, sakons e sakons durante anos.
Certo dia, em uma das corridas diárias, avistaram um pequeno índio debatendo-se nas
águas do Rio Omunô. Se a filha do chefe não tivesse se jogado na água para tirá-lo de lá,
provavelmente ele teria morrido.
4
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
O menininho foi adotado pelo chefe e passou a ser respeitado por isso. Mas logo se
descobriu uma tragédia: o garoto não sabia correr! Reprovou em todos os testes. Teve de freqüentar
várias vezes todas as sakons e, mesmo assim, não conseguia correr. Andava. Andava
Alguns diziam que ele jamais seria um yakhupã, mas, como era filho do chefe, não
poderiam excluí-lo, nada poderia ser feito. Sequer mandá-lo de volta, porque não sabiam de que
tribo tinha vindo.
O menino, que recebera o nome de Tãn ("que anda” na língua local), sabia jogar a lança
com uma excelente pontaria. Mas isso não importava, pois, para ser um bom yakhupã, tinha de
saber correr. Resultado: mais sakons, ou seja, mais aulas! Ao final de um ano, ele não tinha
progredido em absolutamente nada, as sakons tinham sido totalmente inúteis, mas, por ser filho do
chefe, foi dispensado do ritual de passagem.
Tornou-se umyakhupã adulto. Aliás, foi “empurrado” para a vida adulta. Essa artimanha
fez com que todos os outros nativos o desprezassem e o tratassem mal. Tinham inveja do
tratamento especial que recebera. “Onde já se viu um yakhupã que não corre! Na minha época, isso
não seria admitido, ele seria sacrificado!”
O ritual de passagem consistia em correr atrás de uma ave especial chamada mutum-guçu,
que só voava uns dois metros, mas corria rápido. Como a ave cansava logo, o menino conseguia
pegá-la.
E, pegando-a, tornava-se adulto. Claro, se o menino não cansasse antes. Em seguida a ave
era trazida para a tribo, que a assava numa fogueira para que todos comessem um pedacinho. A
partir desse dia, o menino já era considerado um homem e tinha todos os direitos e deveres de um
adulto. Como Tãn não havia conseguido nem chegar perto da ave, foi reprovado.
5
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Além de Tãn, havia outro menino com dificuldades: Karióh. Ele era filho de uma
cozinheira da tribo e, mesmo assim, muito magrinho. O coitado reprovou no ritual de passagem,
pois não tinha conseguido correr em tempo suficiente para pegar o mutum-guçu. Cansou cedo
demais e a ave continuou correndo.
Tãn não teve dúvida. Pegou sua lança e, num arremesso certeiro, matou a ave, que ele
entregou para Karióh.
Ninguém aceitou a situação, pois o menino teria de pegar a sua ave ozinho, por conta
própria, e não morta, das mãos de outra pessoa.
Ainda mais de um yakhupã deficiente, que não sabia correr. No ano seguinte, Karióh, mais
forte depois de intermináveis sakons e uma alimentação mais
reforçada, foi aprovado, pegou na corrida o seu mutum-guçu.
Festa na aldeia!
Tãn, percebendo que jamais pegaria à unha seu
mutum-guçu, numa tentativa de mudar seu sentimento de
menino excluído, pediu que houvesse sakons sobre arremesso
de lanças a longas distâncias. Se isso acontecesse, ele poderia
caçar qualquer ave mesmo de longe. Pediu que os sábios da
tribo lhe ensinassem como cortar melhor as pedras para fazer
as pontas das lanças.
Implorou por sakons sobre galhos mais e sobre o
ângulo mais apropriado para cada c lança deveria ter para cada
tipo de caça, mas todo mundo riu.
Riram negando o pedido e, carinhosamente, disseram: “Querido Tãn, nós o aceitamos do
jeitinho que você é. Não se preocupe, não somos preconceituosos.”
Mesmo se sentindo desvalorizado, o jovem aprendeu sozinho a caçar e desenvolver
técnicas especiais de arremesso de lanças, mas, naquela tribo, isso não valia nada.
Tãn viveu como deficiente em corridas até o fim de sua vida. Jamais encontrou sua tribo de
origem, os Tchunkopês significa “exímios arremessadores de lanças”.
6
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Introdução
A história "O Yakhupã que não sabia correr" é uma metáfora da inclusão de crianças com
deficiência nas escolas de nosso país. Nós, autores deste livro, também somos professores. Assim
como a maioria dos professores brasileiros, estamos preocupados com a maneira como a inclusão
de crianças com deficiência (especialmente as deficiências de ordem cognitiva) está ocorrendo nas
salas de aula do país. Talvez essas crianças se sintam como Tãn, pois suas reais potencialidades não
estão sendo desenvolvidas. Além disso, em nome de uma “pseudo-igualdade de direitos”, não
estamos dando a elas aquilo de que mais precisam: uma educação voltada ao desenvolvimento de
suas funções cognitivas, de suas funções cognitivas, de suas habilidades e de seus potenciais. Ou
seja, não estamos atendendo às suas necessidades especiais. Em vez disso, a maioria das escolas de
nosso país fica, dia após dia, impondo o mesmo currículo aplicado a todas as outras crianças:
conteúdos em excesso e sem utilidade nenhuma para elas, pois, na maioria dos casos, nem os
compreendem. Se o currículo de nossas escolas já está defasado, inapropriado, antiquado e
inadequado para o desenvolvimento das crianças que não necessitam do processo de inclusão,
podemos imaginar como está para as demais.
As crianças com deficiências se beneficiam muito quando interagem com outras crianças
na sala de aula e na escola. Esse direito à interação, assegurado pela Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiências, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2006, não
pode ser tirado dessas crianças, mas interação não quer dizer ignorá-las dentro da escola como se
elas nunca tivessem sido: incluídas.
Crianças com deficiência precisam de uma escola que potencialize seus pontos positivos,
desenvolva suas habilidades, corrija quanto possível suas funções cognitivas deficientes e amplie
suas competências, para que possam viver melhor e mais felizes.
Se for possível ajudá-las a apropriar-se também de conteúdos escolares tradicionais, ótimo,
mas esse jamais deveria ser o foco. Ao invés disso, a escola, da forma como age, apenas coloca
mais luz sobre as deficiências dessas crianças e lhes rebaixa ainda mais a autoestima.
Encaminhar continuamente essas crianças para séries seguintes (aprovação automática)
sem nenhum tipo de ação paralela e afirmar que "elas têm o direito de serem aprovadas" é fazer
"inclusão de mentirinha” e dizer a cada uma delas: "Querido Tãn, nós o aceitamos do jeitinho que
você é. Não se preocupe, não somos preconceituosos” Nossas escolas deveriam estar preparadas
para dizer: "Não sabe correr? Não tem problema, vamos ensiná-lo a arremessar lanças!"
Desde já queremos afirmar que compreendemos as dificuldades que os professores passam
em função da falta de apoio da sociedade e do Estado. Lutaremos sempre para que sejam
valorizados, incentivados, mais bem remunerados e protegidos de tudo aquilo que possa tirar deles
a vontade de transformar vidas.
Este estudo é para você, professor, que recebeu um aluno com deficiência em sua sala de aula e
quer fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que ele seja íncluído de verdade e possa
aprender da melhor forma possível.
Esperamos de coração que a desvalorização da função docente seja superada em nosso país
e que os responsáveis comecem a agir- Este livro é uma pequena contribuição para que a educação
de alunos com deficiência seja levada mais a sério e possa trazer benefícios a toda sociedade. A
proposta principal é que os frutos da mediação da aprendizagem da teoria de Feuerstein sejam
colhidos pelas crianças com deficiência tanto quanto pelas outras. Este módulo é para você que
acredita no ser humano e na capacidade que este tem de se desenvolver.
7
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
A inclusão é mesmo
CAPÍTULO 1 para todos? Todos
aprendem da mesma
forma?
REFLEXÕES SOBRE A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Neste capítulo, vamos examinar questões pertinentes à educação mclusiva, bem como algumas
modalidades de atendimento do ensino especial mantidas em Curitiba e as mudanças atitudinais
necessárias ao professor que recebe uma criança em processo de inclusão. Além disso, trazemos
para reflexão alguns conceitos propostos na obra Don’t accept me as I am (em português; "Não
me aceite como eu sou”), de Reuven Feuerstein, que evidencia a necessidade do desenvolvi-
mento do potencial de aprendizagem que cada um traz consigo.
8
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
as suas esferas, das instituições de ensino superior e de cada sistema de ensino para os professores
que têm ou terão estudantes com deficiências em suas salas de aula.
Perguntam-nos se defendemos a inclusão. Respondemos que defendemos a criança, a
família, a educação especial. Defendemos a inclusão escolar se ela se mostrar a melhor opção para
determinada criança. E essa decisão, de estar em uma escola regular ou especial, deve considerar,
acima de tudo, a vontade da própria pessoa em questão. Muitas vezes, vemos pessoas com
deficiência em escolas regulares sem que esse seja o seu desejo. Se tivessem escolha, não estariam
ali, estariam com seus pares, num local do qual verdadeiramente se sentissem parte, onde as ações
estivessem voltadas para o seu contexto1 . Vale observarmos, ainda, que por educação especial
entendemos a educação que oferece aquilo de que a pessoa precisa, que atende às necessidades
peculiares de cada um, que contribui para o seu adequado desenvolvimento, que faz com que o ser
humano - aluno, estudante, pessoa com deficiência ou qualquer que seja a denominação atribuída -
sinta-se respeitado e valorizado nas suas capacidades.
Para que a aprendizagem ocorra, é necessário sujeito realmente compreenda o que está
trabalhado.
Se o professor acredita que todos os alunos devem aprender pelos mesmos meios, com
aulas expositivas ministradas da mesma maneira, como garantir que o aluno com um
grave comprometimento intelectual e motor, por exemplo, vá aprender os conteúdos
propostos pelo currículo?
Devemos sempre ter em mente que podemos produzir mudanças e que todo ser humano é
capaz de aprender, independentemente da condição inicial. Esse é um dos postulados básicos da
teoria da modificabilidade cognitiva estrutural de Reuyen Feuerstein, que está alicerçada em um
axioma universal: "Todo ser humano é modificável”. Essa teoria serviu de base, de pano de fundo,
para a maioria da orientações contidas neste estudo.
Quando Feuerstein recebeu a notícia de que seu neto havia nascido com síndrome de
Down, comunicou a todos: “Deem-me os parabéns! Sou avô, meu neto nasceu com a síndrome de
Down” Obviamente que ele não estava pedindo parabéns em razão de seu neto ser Down, mas por
ser avô. A informação "ele é Down5 foi um comunicado para que o neto fosse recebido e amado da
forma: como era. Entretanto, o trabalho desse avô foi incansável no sentido de fazer com que o
menino se desenvolvesse em todas as suas múltiplas dimensões, incluindo a cognitiva. Feuerstein,
desde o início, amou seu neto, mas não o aceitou assim. Aceitar significa concordar com o estado
atual, permitindo que sua condição permaneça inalterada. Amar significa não aceitar, não
abandonar, não permitir que as dificuldades vençam a esperança. Amar significa validar a frase que
poderia ser dita por qualquer criança com deficiência: “Não me aceite como eu sou, ajude-me a sair
deste lugar, a crescer, a desenvolver-me”. A partir do trabalho com as crianças Down em seu
instituto em Jerusalém, Feuerstein, juntamente com as famílias de crianças Down, escreveu o livro
Don’t accept me as I AM (em português, “Não me aceite como eu sou”).
9
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Não! Da mesma forma que não acontece com todas as pessoas que não têm deficiência
alguma. Somos fruto, todos nós, daquilo que nos foi proporcionado e soubemos aproveitar. Com a
pessoa com deficiência não é diferente. Temos de lhe dar as oportunidades, creditar que ela é capaz
de progredir e investir nossos esforços para isso. É necessário um investimento maior, com certeza.
Investimento financeiro, claro, por parte da família e do Poder Público, mas, sobretudo e
essencialmente, investimento ideológico. Investir e acreditar são as palavras-chave!
Não aceitar o indivíduo como ele é significa ofertar condições para que ele seja melhor.
Não queremos trazer um discurso ideológico demagogo, mas, por experiência, dizemos que é
possível integrar, incluir, de forma responsável e coerente, desde que as necessidades de cada um
sejam respeitadas e o atendimento adequado, no lugar correto, seja ofertado.
Vivemos uma época de proposição de mudanças. Mudanças arquitetônicas, mas, sobretudo,
mudanças atitudinais. Não basta adaptar prédios e instituições com rampas, elevadores e outros
recursos. É preciso modificar a forma de atender e de tratar as pessoas com eficiência; a forma de
ensinar e, consequentemente, de aprender; modificar, essencialmente, a forma de conviver com
essas pessoas, tornando-as parte dos diversos contextos.
O professor Paulo Ross da Universidade Federal do Paraná (UFPR), doutor em Educação
Especial, tem uma frase muito interessante a respeito das adaptações que as escolas precisam fazer
para receber pessoas com deficiência: “Antes das rampas físicas, as escolas precisam construir
rampas pedagógicas”. Concordamos com ele. Uma coisa não exclui a outra, mas reformas prediais
sem mudanças ideológicas e atitudinais são como pintar a favela de branco para a visita do papa: a
realidade, por trás da tinta, continua a mesma.
O relato a seguir ilustra o alerta que estamos fazendo a respeito da inclusão que não
respeita as necessidades de uma pessoa.
Cama-padrão
Marcos Meia
Fui palestrar em uma pequena cidade do interior de nosso imenso Brasil. Do aeroporto
mais próximo até a cidade, levamos cinco horas de viagem, tempo suficiente para que os dois
professores que vieram me buscar no aeroporto para me levar ao hotel se tomassem meus amigos.
Quase chegando ao local, um deles disse rindo, com cara de deboche:
—Professor Marcos, nós vamos lhe deixar no melhor hotel da cidade!
—Muito obrigado! Bom saber que vão me tratar bem - respondi sorrindo, agradecido, O
outro professor imediatamente fale
—Ê o único hotel da cidade!
E os dois gargalharam. Naquele momento nem desconfiei do que me esperava.
10
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Há escolas que agem da mesma forma: dão a mesma “cama” para todos os alunos. É a
mesma aula, o mesmo sistema de avaliação, a mesma atividade, a mesma lição de casa, o mesmo
livro para ler e assim por diante. O aluno que não compreender nada da leitura, não for
minimamente capaz de resolver os exercícios ou de atender is exigências do currículo fica para trás.
Se ele perceber que a “cama esta pequena” talvez peça um edredom, uma aula de reforço, uma
explicação melhor, atividades diferenciadas, um professor auxiliar ou alguma outra ação que lhe
permita aprender. Entretanto, se esse aluno não for capaz nem de perceber onde está sua
dificuldade ou não for capaz de expressar suas necessidades especiais, terá de “dormir encolhido”,
pois a escola o inclui “só de fachada”.
Mais uma vez dizemos que não podemos tomar isso como regra geral. Afinal, há casos de
equipes inteiras mobilizadas para que a inclusão dê certo, para que o estudante tenha sucesso,
progrida e esteja integrado ao contexto escolar, mas, na maioria dos casos, nossa experiência
mostra que a primeira reação/intenção de certos professores e demais profissionais da educação é
“tentar livrar-se do problema” Uma vez que, em Curitiba, os programas de atendimentos especia-
lizados estão sendo mantidos (Escola Especial, Classe Especial, Salas de Recursos, Salas de
11
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
O professor deve acolher seu aluno, o que significa demonstrar sinceramente que não o rejeita
nem ignora. Além disso, não pode ser passivo diante de seu estado atual. Deve promover o seu
desenvolvimento continuamente.
Isso implica também a questão de o professor aceitar ou não o seu aluno como ele é. Se,
por um lado, é preciso aceitar as diferenças, as diversidades, e não querer que todos os alunos
sejam iguais - nesse sentido, aceitá-los como eles são -, por outro lado, é preciso não aceitar o
aluno com as suas dificuldades e supostas limitações procurando encontrar alternativas para seguir
adiante, para alcançar o aluno, para fazê-lo compreender os conteúdos, para conseguir levá-lo à
reflexão. Afirmamos isso, porque é comum acharmos que as dificuldades e as limitações são
maiores do que na realidade se apresentam. Essa distorção faz com que o “aceite” acabe limitando
o progresso da pessoa com deficiência.
Frequentemente nos deparamos com situações de médicos que fornecem laudos baseados
em poucos minutos de conversa com os país e breve exame clínico da criança. É claro que isso não
é regra; há profissionais bastante responsáveis que, ao contrário, não concluem um diagnóstico sem
exames detalhados e solicitam, sabiamente, avaliações por profissionais de outras áreas, como
pedagogos e psicólogos. O fato é que, para alguns procedimentos educacionais, como redução de
carga horária na escola em casos muito graves, obviamente, é necessário um laudo. Para os
disléxicos, é necessário um laudo para que a escola realize, por exemplo, avaliações orais ao invés
de escritas. Contudo, para a adoção de procedimentos pedagógicos que atendam à necessidade do
estudante, para a mobilização do professor e de toda a equipe pedagógica e administrativa da escola
a fim de ensinar de uma forma que a criança aprenda, não é necessário um laudo. Esta deveria ser
uma prática permanente da equipe da escola: efetivar o ensino. Muitos médicos, aliás, não
costumam aceitar os pacientes como eles são, talvez por falta de conhecimento, em alguns casos,
mas em outros casos por realmente acreditarem que aquele “paciente" tem condições reais de se
12
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
desenvolver e de progredir no ensino regular, sem que, para isso, precisem de atendimento
especializado. Temos acompanhado situações em que isso é positivo; no entanto, em outras, essa
decisão acaba por prejudicar o avanço da criança, pois, em determinados casos, o atendimento
especializado seria mais produtivo para aquele Indivíduo do que permanecer em uma sala regular,
“comum”, com mais de 30 crianças, na qual o professor não tem condições de atendê-lo
individualmente, com estratégias e recursos apropriados. Os pais, muitas vezes, na ansiedade de
manterem seu filho no ensino regular, por entenderem que ele tem o direito à inclusão, apegam-se a
esses laudos e encaminhamentos médicos para contradizer o que os especialistas em educação
estão recomendando.
Nesse sentido, as políticas públicas a favor da inclusão colaboram para o equívoco dos pais
de achar que o ensino regular é a melhor opção para seus filhos. Muitos estudantes, das mais
diversas faixas etárias, relatam que a escola foi uma decepção para eles. Sentiram-se discriminados,
desvalorizados, desacreditados, desa- tendidos. Preferiam ter ficado em instituições especializadas
“no seu problema” com seus pares, recebendo o atendimento e a escolarização adequados e
adaptados às suas necessidades e realidades. Certa vez, um aluno com síndrome de Down, depois
de ter passado metade dos seus 30 anos em escolas regulares (pois a outra metade havia passado na
Apae - Associação de Pais e Amigos do Excepcional) e estando novamente em uma escola
especial, num programa voltado ao ensino profissionalizante, disse: “Agora, sim, estou de volta ao
meu oceano. Aqui consigo nadar e sobreviver sem sofrer!” Esse tipo de fala precisa ser
considerada.
Nem todos darão as mesmas respostas para essas perguntas, mas precisam ser ouvidos. Não
há como negar-lhes esse direito, o direito de escolha do lugar em que querem estar, de uma escola
na qual se sintam mais felizes e bem atendidos.
13
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
É a mesma coisa!
Andar por todos os ambientes sem ser vítima de preconceito, freqüentar todos os lugares,
poder aproveitar as mesmas oportunidades, adaptadas às suas necessidades: esse é o lugar aonde
queremos chegar. Trabalhar para isso exige esforço, dedicação, estudo, boa vontade, pesquisa,
compromisso! Colocar-se no lugar do outro também é importante. Acreditar na modificabilidade
humana e buscá-la pode primeiro passo para essa conquista.
Quando falamos que uma criança precisa ser incluída poderíamos perguntar: Quem a excluiu?
Não é a família, a escola ou os cidadãos que precisam incluir a pessoa com deficiência. Ela deve
estar incluída automaticamente.
Quando nos referimos a uma escola inclusiva, estamos falando da escola que acolhe a
todos, sem distinção, e que trabalha com deseja que todos estejam naquele local e busca
alternativas e soluções para isso. Reforçamos, porém, que não estamos afirmando que todas as
pessoas com deficiência e transtornos devem estar na escola regular, mas que aqueles que
14
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
estiverem, por apresentarem condições para isso ou por optarem por ali estar, precisam se sentir
parte desse contexto e que os profissionais das instituições também precisam entender esse fato
como natural, ou seja, precisam perceber que se trata também de alunos “nossos”, como todos os
outros, nos quais precisamos investir e cuja aprendizagem precisamos mediar para que progridam.
Para refletir
Façamos outra reflexão: Devem existir escolas regulares e escolas especiais? Deve haver essa
distinção?
Alguns defendem que sim, visto que a escola especial é, como o próprio nome diz, uma
escola “especializada” em determinada deficiência, determinado transtorno e, exatamente por isso,
possuí profissionais que estudaram, se capacitaram, se especializaram no atendimento e no ensino
voltados, por exemplo, para surdos, cegos, deficientes intelectuais ou transtornos de
comportamento. No seu corpo funcional há, ou deveria haver, professores especializados,
psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, neurologistas, psiquiatras e
demais profissionais que se façam necessários, ou seja, toda uma equipe multidisciplinar para
atender a cada questão específica para o adequado desenvolvimento do estudante.
Numa escola especial, a metodologia é diferenciada, na medida em que considera a forma
de aprender de cada aluno, pois efetivamente não é possível pensar e agir de forma unificada para
todos os alunos.
Cada um vai precisar de um conteúdo diferente e, para isso, as estratégias e os recursos são
adaptados e/ou construídos especialmente para cada aluno ou grupo de alunos. Na escola especial,
a avaliação também foge totalmente aos padrões usuais, uma vez que considera o avanço do aluno
em relação a ele mesmo, e não em comparação com a turma. Na verificação da aprendizagem do
aluno, o professor sempre se reporta a como ele era, como chegou e como está agora e vislumbra o
que ele ainda está precisando, o que ainda precisa ser trabalhado. Nesse sentido, percebemos como
uma escola regular ainda está muito longe dessa reflexão e dessa prática.
Mas o que determina, por exemplo, se unia criança pode estar na escola regular
ou precisa de uma escola especial?
15
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
diferentes, a fim de ser atendido? Não seria mais produtivo e mais justo para o
estudante receber os atendimentos necessários em um só local? 1
1 Sobre essas questões, leia, ao final do livro, o depoimento de Irajá de Brito Vaz, secretário municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência da
Prefeitura Municipal de Curitiba.
16
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
anual, semestral, trimestral, bimestral, mensal, semanal ou diário pode até ser o mesmo para a
turma, mas as especificidades precisam ser consideradas. Não adianta planejar a mesma atividade
para a turma inteira, pois provavelmente alguns alunos não conseguirão realizá-la com êxito em
todos os aspectos. Talvez seja preciso retomar alguns conteúdos em defasagem, pois, sem o
domínio destes, muitos alunos não conseguirão avançar. Se tudo isso acontece com alunos ditos
“normais”, é óbvio que o aluno incluído também necessitaria receber tal atendimento especializado.
Feuerstein percebeu, na sua interação com jovens de várias origens e culturas que
chegaram a Israel logo após a Segunda Guerra Mundial; que estes possuíam dificuldades para
integrar-se ao sistema social e educacional daquele país. Apresentavam dificuldades de aprendiza-
gem, defasagens cognitivas e outras limitações, apesar de possuírem potencial de aprender e de
desenvolver-se. Ou seja, demonstravam dificuldades para externar esse potencial. Esses jovens
foram testados e considerados deficientes mentais, mas, interagindo com eles, o estudioso
percebeu que tinham mais para oferecer do que diziam os testes e os diagnósticos. Percebeu que
havia uma lacuna entre o potencial interno e sua manifestação externa. Esse potencial latente
precisava ser descoberto, desenvolvido, provocado e levado a sério pelo sistema escolar (Gomes,
2002, p. 71).
Nos sistemas educacionais, existe uma quantidade muito grande de materiais didáticos que
poderiam ser utilizados para suprir as necessidades da criança com dificuldades de aprendizagem,
mas tais materiais não tornam o aprendiz autônomo. E necessário que o professor saiba mediar a
aprendizagem dos conteúdos, potencializando o uso desses materiais.
É preciso, portanto, preencher as lacunas. Em determinados casos, a atividade pode até ser
a mesma, contemplando o mesmo conteúdo para a turma toda, porém a exigência deve ser outra, de
acordo com o que cada grupo de alunos já pode oferecer. Ainda assim, é fundamental ir além
também com esses alunos, ou seja, não parar no que eles já sabem, mas partir daí para avançar,
sempre.
17
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
texto, ou uma palavra, de modo que ele se aproprie de um determinado padrão silábico de que
ainda não se apropriou, por exemplo. Se a turma já está trabalhando numerais da ordem das
centenas, pode ser que tenhamos de retomar a dezena com um aluno em específico ou com todo um
grupo. E é assim que deve ser com qualquer área do conhecimento. Nessa perspectiva, temos de
utilizar diferentes estratégias, diferentes metodologias, trabalhar mais com material concreto para
aqueles que ainda não conseguem abstrair e avaliar com base no objetivo fixado especificamente
para cada aluno. Isso é flexibilidade de planejamento,é adequação metodológica, é adaptação
curricular, é avaliação diferenciada, é trabalho contextualizado.
18
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
reconhecer que muito se aprende com a diversidade e que ter um aluno com deficiência em sala de
aula favorece a todos, também começam a surgir nas escolas, felizmente. Muito se aprende com a
inclusão,
Claro que o ideal é aprendermos antes que tenhamos em sala de aula uma
criança desta ou daquela síndrome, transtorno ou distúrbio, no entanto, se não
estivermos preparados, vamos deixar a criança fora da escola?
Será que ela compreende por que está na escola, o que foi fazer lá?
Para refletir
Uma criança que não consegue ficar sentada na cadeira precisa, antes de qualquer coisa,
aprender a controlar-se. E isso se aprende, sim. E para os que não aprendem, pelo menos não na
velocidade que queremos, por alguma questão neurológica, como os hiperativos, existem os
médicos, as terapias e os medicamentos. Sim, por que não?
Conhecemos vários casos de estudantes que se beneficiaram muito da medicação.
Obviamente, estamos falando de diagnósticos acenados, acompanhamento clínico efetivo e
medicamentos eficientes/eficazes. Não estamos falando de crianças saudáveis que, por terem
energia de sobra, não param quietas em aulas pouco dinâmicas.
O professor mediador acredita que seu aluno é capaz de aprender, independentemente da
sua condição. Mas acredita de verdade e demonstra isso ao seu aluno, sinceramente. E o fato de
realmente acreditar faz com que ele crie e planeje novas formas de ensinar, objetivando a
aprendizagem de fato, pois crê que ela vai acontecer. Não se trata de elaborar um planejamento
para cada criança, mas sim de pensar em atividades, metodologias e estratégias diferenciadas para
19
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Síntese
A inclusão, por força de lei, é uma realidade brasileira, mas a forma como
vem sendo tratada em algumas escolas nem sempre considera as necessidades e os
desejos das pessoas com deficiência. A aprendizagem não ocorre da mesma forma
nem no mesmo tempo para todos os alunos e, por isso, posturas, metodologias,
estratégias e recursos devem ser adaptados e revisitados para que a escola cumpra
a sua função de fazer com que todos aprendam.
E preciso não aceitar o indivíduo como ele é, privando-o de envolver-se, mas
acreditar verdadeiramente que todas as pessoas podem ser melhores, podem
aprender e realizar-se. Ao professor cabe investir todos os esforços para contribuir
para essa conquista.
As avaliações psicoeducacionais e os diagnósticos clínicos são necessários para
auxiliar nas medidas educacionais que poderão ser adotadas para a condução do
trabalho pedagógico, mas não se encerram em si mesmas e não se pode esperar
por elas para agir a favor do aluno.
Incluir é fazer com que a pessoa com deficiência, transtorno, distúrbio ou
dificuldade acentuada se sinta parte integrante do contexto que está inserida, é
construir um planejamento escolar que seja usado para cada um e para todos, é
agir, na condição de professor, em busca do sucesso do aluno, é adotar a avaliação
como instrumento principal para a retomada do trabalho. Para que tudo isso possa
acontecer efetivamente, também é preciso haver o investimento e o compromisso
do Estado.
Atividades de Síntese
1. Assinale a única alternativa incorreta:
a) A aceitação de um aluno com deficiência em sala de aula pressupõe, por parte do professor, uma
atitude interna de acolhimento.
b) A educação especial é aquela que valoriza ações que atendem às necessidades peculiares do
aluno, respeita seu tempo e suas condições e contribui para o seu desenvolvimento. “Todo ser
humano é modificável”. Esse é o axioma universal da teoria da modificabilidade cognitiva
estrutural de Reuven Feuerstein.
20
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
4. De acordo com a política de inclusão do Ministério da Educação, como se caracteriza uma escola
inclusiva?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
5. O que você entende por "não aceitar o indivíduo como ele é”?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
21
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
CAPÍTULO 2
22
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
*****************************************************************
Para saber mais
Recomendamos que você faça a leitura dos documentos disponibilizados no Portal do
(MEC), na seção dedicada à educação especial, para obter mais informações e esclarecimentos
acerca da legislação atual referente à educação inclusiva e ao atendimento educacional
especializado a ser ofertado aos alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades/superdotação. Acesse: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=
article&id=12907:legislacoes&catid=70:legislacoes>.
*****************************************************************
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art. 208, dispõe que é
dever do Estado a garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino; portanto, essa questão não é recente. Há exatos 23
anos a lei garante esse direito, porém é preciso detacar que em nenhum momento se lê, em
qualquer lei, que as pessoas com deficiência ou com necessidades educacionais especiais devam
receber atendimento educacional "exclusivamente” na rede regular de ensino.
Em 1994; na Conferência Mundial sobre Educação Especial, realizada na cidade de
Salamanca, na Espanha, foi elaborada a Declaração tamanca, que proclama:
23
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Esse documento recomenda que as escolas devem se ajustar às necessidades dos seus
alunos, independentemente das condições físicas e sociais destes.
Em 7 de julho de 1999, na cidade da Guatemala, capital do país de mesmo nome, durante
uma sessão da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), aconteceu a
Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contras as
Pessoas com Deficiência, que ficou conhecida como Convenção, da Guatemala. Dela fizeram parte
d seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia; Aosu Rica, El Salvador, Equador,
Guatemala, México, Nicarágua, Pananu Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e
Venezuela.
O evento tinha a finalidade de firmar compromissos para os direitos da pessoa com
deficiência. A Convenção foi promulgada no Brasil pelo Decreto n° 3.956/2001 e prevê que “as
pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdade, fundamentais que
outras pessoas [...]”. Nesse documento, define-se ainda, em seu art. 1°, que:
Para refletir
Façamos aqui uma breve reflexão: Apesar de a inclusão, por força da legislação, estar sendo
proclamada no Brasil, podemos considerar que esta ocorre de forma adequada nas nossas
escolas? O que ainda é necessário para atender com dignidade àqueles que não aprendem na
mesma forma e no mesmo tempo que os demais, sistema no qual se privilegia o cognitivo?
Professores foram ouvidos para que esses documentos atendessem também às suas
necessidades e expectativas?
24
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Em 2006, contando com a participação de 192 países membros da Organização das Nações
Unidas (ONU) e representantes da sociedade civil do mundo todo, foi aprovada, em Nova Iorque, a
Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência: um acordo entre os países participantes
que reconhece o direito à educação de todas as pessoas com deficiência, sem discriminação e com
oportunidades iguais e determina aos Estados participantes que assegurem um sistema de educação
inclusiva em todos os níveis de ensino. O documento faz referência, ainda, às adaptações, sejam
elas de ordem física, material ou humana, que devem ser adequadas às necessidades individual' das
pessoas com deficiência.
No Brasil, em 17 de setembro de 2008, foi publicado o Decreto n° 6.571, que trata do
atendimento educacional especializado AEE (Brasil, 2008a). Esse documento, porém, foi revogado
pelo Decreto n° 7.611, de 17 de novembro de 2011, transcrito a seguir, na íntegra.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV
e VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 208, inciso III, da
Constituição, arts. 5$ a 60 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, art. 9 0 , § 2 0 , da Lei n°
11.494, de 20 de junho de 200% art. 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto Legislativo n° 186,
de 9 de julho de 2008, com status de emenda constitucional, e promulgados pelo Decreto n°
6.949, de 25 de agosto de 2009,
DECRETA:
Art. 1º O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da educação especial
será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes:
I- garantia de um sistema educacional inclusiva em todos os níveis, sem discriminação e com
base na igualdade de oportunidades;
II - aprendizado ao longo de toda a vida;
III- exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência;
IV- garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas adaptações razoáveis
de acordo com as necessidades individuais;
V- oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vista a facilitar
sua efetiva educação;
VI- adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes que maximizem o
desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena;
VII - oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de ensino ; e
VII- apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições privadas sem fins lucrativos,
especializadas e com atuação exclusiva em educação especial.
Para fins deste Decreto, considera-se público-alvo da educação especial as pessoas com
deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou
superdotação.
No caso dos estudantes surdos e com deficiência auditiva serão observadas as diretrizes e
princípios dispostos no Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
25
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
26
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
O público-alvo da educação
especial
De acordo com a Política Nacional de Educação Especial (Brasil, 2.008b), os alunos
considerados público-alvo da educação especial sa° aqueles com deficiências (físicas, intelectuais,
auditivas, visuais e múltiplas), com transtornos globais do desenvolvimento e com altas
habilidades/superdotação.
No entendimento da ONU, “deficiência é um conceito em evolução e [...] resulta da
interação entre pessoas com deficiência e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua
plena e efetiva participação na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”
(ONU, 2006, grifo nosso).
Atualmente, o termo deficiência mental foi substituído por ciência intelectual, sendo esta
27
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
definida como uma limitação do funcionamento mental, com prejuízo na comunicação, cuidados e
relacionamento social. Ressaltamos essa explicação aqui porque muitas denominações já foram
empregadas para designar as pessoas com comprometimento cognitivo (ao passo que, para as
demais deficiências, os termos não se alteraram): desde o termo excepcionais pessoas com
necessidades educacionais especiais, passando por portadores de deficiência mental e deficientes
mentais. Hoje, o termo mais utilizado é deficiência intelectual.
Conforme descrição do DSM.IV - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
(Manual Diagnóstico e Estatístico c. Transtornos Mentais),
28
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Essas pessoas, e aqui vamos tratar dos estudantes, devem ser atendidas, ainda de acordo
com o Ministério da Educação, no âmbito do atendimento educacional especializado, em salas de
recursos multifuncionais, no contraturno da escola comum, ou seja, em um turno, devem freqüentar
a escola regular, com todos os demais estudantes e, no turno contrário, devem freqüentar essa nova
modalidade de atendimento especializado. Essa forma de atendimento nos parece adequada, desde
que, reforçamos, sejam atendidas as necessidades do superdotado.
Neste capítulo, tratamos da descrição apenas do público-alvo da educação especial definido
pelo Ministério da Educação, porém temos presenciado atendimentos especializados eficazes e
necessários também para pessoas diagnosticadas com transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade (TDAH), dislexia, discalculia, disgrafia, dislalia e outros distúrbios e
transtornos. Indivíduos com esses diagnósticos necessitam também de um olhar diferenciado,
adequação metodológica e acompanhamento psicoterápico, neurológico e fonoaudiológico - em
alguns casos - para obterem sucesso acadêmico, como demonstram práticas diferenciadas em
algumas localidades brasileiras. Embora alguns municípios tenham optado por encerrar os
atendimentos em instituições especializadas, como escolas especiais e classes especiais, outros
mantêm esse atendimento não só para os alunos com deficiência, transtorno global do
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, mas também para alunos com distúrbios e
transtornos diversos.
Síntese
29
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Atividades de Síntese
1. Assinale comV (verdadeiro) ou F (falso) as afirmativas a seguir, referenntes à Convenção da
Guatemala:
30
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
4. Entreviste um professor que atue em uma sala de recursos multifuncionais e relate como é
desenvolvido o trabalho desse profissional no que diz respeito ao suporte ofertado ao aluno e ao
professor desse aluno no ensino comum. Faça os seguintes questionamentos a ele:
a) As atividades e os recursos pedagógicos são adaptam- conforme a necessidade específica de
cada estudante de acordo com a deficiência, ou seja, há material apropriado ou em Braille para os
alunos com deficiência visual ou adaptações de materiais para alunos com dificuldade motora?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
b) De que forma e em quais momentos são fornecidas orientações ao professor da sala de aula
31
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
regular?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
c) Houve formação em Libras para atuação com o aluno surdo? Há momentos de orientação e
suporte aos pudesses alunos?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
d) Há momentos de orientação e suporte à equipe pedagógico-administrativa da escola na qual os
alunos estão em processo de inclusão?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
e) Há a formação continuada para o professor que atua na sala de recursos multifuncionais?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
f) Secretaria da Educação acompanha regularmente o trabalho com os estudantes em processo de
inclusão?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
32
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
CAPÍTULO 3
Neste capítulo, vamos tratar de uma das principais síndromes relacionadas às dificuldades de
aprendizagem de uma criança e que, infelizmente é pouco conhecida pelos professores ou
psicopedagogos.
Tal conhecimento faz com que muitas avaliações psicopedagógicas apresentam apenas as
características presentes e visíveis na criança com dificuldades, sem, no entanto, categorizar tais
dificuldades como pertencentes a uma síndrome.
Você conhece alguém que aparentemente não teria nenhuma razão para ter
dificuldades de aprendizagem, mas tem?
Já viu uma criança que corre, brinca, pula e se diverte, mas não consegue explicar
coisas simples de seu dia a dia?
Conhece crianças cujo rendimento escolar parece muito inferior ao que poderiam
33
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
realizar?
Possivelmente essas crianças, caso não tenham outras smuro ou deficiências de ordem
orgânica, neurológica ou genética, sejam vítimas da síndrome da privação cultural. Em outras
palavras, se a criança passar por uma avaliação psicológica ou neurológica e nada for encontrado,
então vale a pena suspeitar dessa síndrome.
A síndrome da privação cultural começou a ser pesquisada com mais profundidade por
Feuerstein, na década de 1950, quando muitos imigrantes de países como Marrocos, Etiópia e da
Europa começaram a chegar a Israel após o estabelecimento desse território como país. As crianças
que integravam esse contingente populacional apresentavam muitas dificuldades escolares e os
testes utilizadosna época registravam denominações como atrasos mentais, deficiências,
incapacidades e outros termos usuais. Feuerstein, que já trabalhava como psicólogo na área do
desenvolvimento infantil, desconfiou que tais crianças não poderiam ser avaliadas com testes
tradiconais (que buscavam apenas o produto do pensamento ou do conhecimento) pois elas não
haviam tido oportunidades de aprender. Na busca de justificativas mais profundas, Feuerstein
(1980, p, 384) percebeu que ograu de dificuldade de aprendizagem de uma criança estava
diremente ligado ao tempo que os país empenhavam para lhe transmitir a cultura e à qualidade
desses momentos. Crianças cujos pais não se dedicavam a explicar o funcionamento da cultura de
seu próprio povo,tinham mais dificuldades de aprendizagem que aquelas cujos pais gastavam
tempo explicando as minúcias do dia a dia. Em suma, as crianças que não tinham sido submetidas a
uma mediacão cultural adequada apresentavam a síndrome da privação cultural.
**************************************************************
Quem é portador da síndrome da privação cultural apresenta alguns dos sintomas listados a
seguir (Feuerstein, 1980, p. 71-81; Falik; Feustein, 2010, p. 37-103):
• Tem dificuldades para interpretar textos simples, todos os dados apresentados num
problema.
• Não identifica onde está a raiz do problema.
• Não atenta a detalhes.
• Não é curiodo nem demonstra interesse pelo funcionamento do mundo à sua volta.
• Apresenta senso critico diminuído ou inexistente para algumas situações.
• Ao relizar uma tarefa, não planeja as ações, não as executa da melhor forma e os
resultados não são percebidos como ligados ao enunciado do problema, ou seja, não
responde ao que foi pedido.
• Não explica coisas simples da própria cultura na qual está ades para apresentar causas
para os efeitos que ações não causais ou explicações ilógicas para dade em lidar com duas
ou mais fontes de informações.
• Responde sem pensar, apenas para se livrar da pergunta.
• Apresenta muita dificuldade para controlar a impulsividade.
• Ao ouvir explicações, facilmente se distrai com informações ou palavras não
relevantes.
• Não se interessa pela história de sua própria cultura.
**************************************************************
Feuerstein enfatiza que não há culturas inferiores ou superiores, mas crianças que se
34
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
beneficiam de formas diferentes da sua própria inserção na cultura (Falik; Feuerstein, 2010, p. 66).
Essa inserção é promovida pela mediação que os adultos realizam. Crianças cuja cultura foi
adequadamente mediada desenvolvem-se melhor e aprendem com mais facilidade, adquirindo
autonomia, ou seja, cada vez mais elas aprendem sem a necessidade de mediação. Por outro lado,
quando a mediação cultural na infância não é adequada, a criança apresenta dificuldades de
aprendizagem e é muito dependente de ajuda. Assim, o grande objetivo mediação da aprendizagem
é, por mais contraditório que possa parecer tornar-se cada vez menos necessária. A mediação
desenvolve a autonomia da aprendizagem, e a autonomia dispensa a mediação dispensa a
mediação.
Assim, para se combater a síndrome da privação cultural, a principal arma é a prevenção. No
entanto, se a síndrome já se estabeleceu é importante diminuir seus efeitos o máximo possível. A
prevenir e de combater é a mesma: mediar. A mediação possibilita o desenvolvimento da
inteligência, ou, como Feuerstein diria, da modificabilidade.
*****************************************************************
Para saber mais
A história de Víctor de Aveyron e um excelente exemplo de uma criança que, por falta de
mediação, teve seu desenvolvimento prejudicado. François Truffaut filmou a história em O garoto
selvagem (L’Énfant Sauvage, no original em francês).
O GAROTO selvagem. Direção: François Truffaut. Produção Marcel Berbert. França:
United Artists, 1969.
*****************************************************************
35
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
**********************************************************
**********************************************************
1 Estímulos
Este primeiro fator já é bem conhecido pelos cientistas e até mesmo
pelas pessoas leigas. Quanto mais uma criança for estimulada, será seu desenvolvimento. No
entanto, precisamos considerar aspectos ligados aos estímulos: intensidade, quantidade, qualidade e
diversidade.
Intensidade
Se o estímulo é fraco, pouco efeito tem. Por exemplo, se o professor está falando, mas o
colega ao lado está brincando com um video game intensidade do estímulo explicação do professor
é fraca comparativamente com o estímulo concorrente. Para melhorar a intensidade, há dois
caminhos: aumentar a força do estímulo (o que às vezes, não é mais possível, como aumentar o
volume da voz) ou a capacidade de recepção do estímulo, ou seja, ensinar a criança a prestar mais
atenção, concentrar-se e perceber detalhes.
Quantidade
A quantidade de estímulos deve ser adequada. Excesso de estímulos visuais, por exemplo,
pode fazer a criança olhar tudo como se fosse uma coisa só e não se deter ao que é relevante. Um
livro com excesso e frases em diversas fontes e cores, sobrepondo-se umas às outras, faz com que a
criança não se beneficie do impacto que a o causaria a partir de uma frase específica, importante
para a compreensão do conteúdo. Por outro lado, quando a criança recebe poucos estímulos, falta
excitação neural para a produção de novas conexões.
Qualidade
Ficar odia todo exposto aos estímulos provenientes de um aparelho de TV não ajuda na
construção de novas sinapses. E isso não se deve ao fato de a programação ser, muitas vezes, de
má qualidade, mas à falta de variação dos estímulos e à não interação com a criança. Não se pode
fazer perguntas, pois a TV não responde e, quando a TV pergunta, não adianta tentar responder, ela
não “ouve”. Assim pelo baixíssimo grau de interatividade e pela absoluta incapacidade de
provocação do pensamento abstrato, mais complexo, os televisivos, em geral, não atendem ao
quesito qualidade no que se refere aos estímulos.
36
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
************************************************
************************************************
Diversidade
2. Conquista de desafios
Quando o professor propõe atividades desafiadoras a seus alunos, eles tendem a realizá-las,
pois estão motivados. Esse esforço em conquistar o desafio faz com que o aluno se sinta gratificado
37
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
pela vitória, o que lhe dá prazer. Quanto mais desafios ele vencer, mais vontade ele terá de tentar os
próximos. Alunos desafiados são alunos motivados. Vale a pena propor esse tipo de atividade.
Entretanto, é preciso saber como fazer isso. Esse conteúdo será abordado no Capítulo 6, referente
às características da mediação. Trata-se da característica de número nove: “Mediação da busca,
planejamento e alcance dos objetivos”.
2. Superação de dificuldades
Quanto mais dificuldades aparecem numa tarefa, mais o cérebro precisa achar caminhos
neurais alternativos para realizá-la, com maior facilidade, na próxima vez. É a lei do menor
esforço: procuram sempre os caminhos mais fáceis e mais rápidos quando enfrentamos problemas.
O cérebro faz a mesma coisa. Isso significa que nossos alunos precisam superar as dificuldades
propostas. Se o professor apresenta tarefas muito difíceis, ele não colabora para isso, pois o aluno
não as supera.
Por outro lado, se a tarefa não apresenta dificuldade nenhuma, que superação poderia
haver?
*******************************************************
O mediador não pode ser um facilitador da aprendizagem; pois assim não desenvolve a
inteligência de seus alunos. O mediador dificulta as atividades na exata medida em que os
alunos conseguem superá-las.
*******************************************************
4 Resolução de problemas
A heurística é a arte ou ciência da resolução de problemas. Seu estudo tem encantado os
cientistas, que buscam, cada vez mais, desvendar curiosidades a respeito da habilidade que alguém
tem de resolver problemas e das técnicas utilizadas para isso.
Essa habilidade está diretamente ligada ao nível de inteligência de uma pessoa. Quanto
mais inteligente uma pessoa é, maior sua facilidade em resolver problemas. A boa notícia é que,
quanto mais problemas diferentes e de diversos níveis de dificuldade e complexidade são
resolvidos, maior é a facilidade em resolver problemas cada vez mais complexos. Ou seja, é
possível desenvolver a inteligência aprendendo a resolver problemas de toda ordem. Assim, para
que faça um bom trabalho com seus alunos, é importante problemas que, com esforço,
conquistando desafios e superando dificuldades crescentes, seus alunos possam resolver.
38
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
**********************************************************
Quanto
Quanto mais
mais problemas
problemas osos alunos
alunos puderem
puderem resolver
resolver por
por conta
conta própria,
própria, maior
maior será
será seu
seu
desempenho cognitivo. Portanto, a apresentação de problemas motivadores e passíveis de serem
desempenho cognitivo. Portanto, a apresentação de problemas motivadores e passíveis de serem
resolvodos
resolvodos deve
deve ser
ser aa preocupação
preocupação dodo mediador.
mediador.
**********************************************************
39
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Quanto mais obstáculos, dificuldades, desafios e problemas uma criança puder vencer, mais
preparada estará para a vida.
**************************************************************
**************************************************************
Síntese
40
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Atividades de Síntese
1. O que é a síndrome da privação cultural?
a) uma doença pouco diagnosticada pelos médicos, pois não traz muitos prejuízos cognitivos para a
criança portadora.
b) Trata-se de um conjunto de sintomas relacionados à falta de mediação que uma criança teve em
sua infância, o que lhe traz sérias dificuldades de aprendizagem.
c) É uma síndrome característica de crianças que cresceram em culturas inferiores.
d) Trata-se de um conjunto de características culturais não dominadas pela criança sindrômica e
que a fazem se sentir ão integrada à sociedade. Tais características seriam necessárias para que a
síndrome não ocorresse.
3. Uma criança bem estimulada desenvolve melhor sua inteligência. No entanto, os estímulos
precisam ter principalmente as seguintes características:
a) Qualidade, quantidade, especificidade e intensidade.
b) Qualidade, atratividade, diversidade e intensidade.
c) Qualidade, quantidade, diversidade e flexibilidade.
d) Qualidade, quantidade, diversidade e intensidade.
4. Muitos pais ficam em dúvida quanto à melhor idade para colocar seufilho numa escola. Em que
situações poderíamos recomendar que a criança permanecesse na família, sem freqüentar uma
escola, o máximo de tempo possível e, ao contrário, quando poderíamos recomendar que a criança
fosse para uma escola imediatamente?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
5. Entreviste uma criança com suspeita de síndrome da privação cultural e avalie o tipo de resposta
que ela dá para questões simples sobre a nossa cultura, a exemplo das que seguem, entre outras:
"De onde vem o dinheiro que sua mãe usa?'; “Por que a passagem de ônibus custa tal valor?”;
“Quais crianças têm primos?”; “O que é um cunhado?”; “Um carro grande pode ser pequeno?”;
“Mil reais é sempre muito dinheiro?” Observe as respostas que a criança dá e peça sempre que esta
as justifique. Se possível, registre sua entrevista e compartilhe o resultado final com outros
professores. Tente estabelecer indícios que comprovem a falta de mediação dos pais e a presença
de características próprias da síndrome entre as crianças entrevistadas.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
41
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
_______________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4
OUTRAS SÍNDROMES
A seguir, passaremos a descrever algumas das síndromes com que os educadores se deparam
com mais frequência nas escolas – síndrome de Down, síndrome do X-frágil, síndrome autista,
síndrome de Tourette, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, síndrome de Tourette, síndrome
fetal alcoólica e epilepsia. Vamos apresentar um breve histórico de como e quando foram
descobertas, quem as descreveu e as principais características de cada uma delas. Nosso
objetivo com essa abordagem é ressaltar que, mesmo nos casos dessas síndromes, é possível e
indicado oferecer à pessoa uma mediação adequada e provocar a modificabilidade humana e o
desenvolvimento da inteligência, em oposição ao que pensam e dizem alguns profissionais das
áreas de Educação e saúde.
Síndrome de Down
Definida como uma síndrome genética causada pela presença de três cromossomos no par
de numero 21, sendo por isso denominada de trissonomia 21, a síndrome de Down foi descrita pelo
médico britânico John Langdon Down em 1866. Os portadores da síndrome apreentam
características físicas como hipotonia muscular, fenda pálpebral oblíqua, uma única prega palmar,
baixa implantação das orelhas, face achatada e língua protusa. Apresentam, ainda, prejuízos
cognitivos evidentes, porém muito variáveis de indivíduo para indivíduo, Quanto mais cedo
receberem estimulação freqüente e de qualidade, melhor será o desenvolvimento da sua
42
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
motricidade, linguagem e cognição. As pessoas com essa síndrome têm condições de integrar-se à
sociedade, de forma a viver e a conviver satisfatoriamente no que diz respeito à escolarização e ao
trabalho.
*****************************************************************
Para saber mais
No site da Fundação Síndrome de Down, além de informações sobre as ações e o propósito
dessa instituição, você encontra artigos e indicações de livros sobre o tema, bem como noticias
sobre ações governamentais e da comunidade científica relativas ao tratamento dos portadores de
Down. Disponível em: <http:// www.fsdown.org.br/index.phpx>.
*****************************************************************
Síndrome do X-frágil
Trata-se de uma anomalia genética causada por uma falha no cromossomo X. Afeta
homens e mulheres, porém é mais freqüente no sexo masculino. Os sinais mais comuns dessa
síndrome são: déficit mental, atraso no desenvolvimento psicomotor, uma única prega na palma da
mão, orelhas proeminentes, céu da boca alto, mau posicionamento dos dentes, estrabismo ou
miopia, convulsões e epilepsias, hiperatividade e desatenção, pouco contato visual, dificuldades na
fala e na linguagem, entre outras. Além disso, certa agressividade também pode manifestar-se,
geralmente decorrente de estímulos visuais e/ou auditivos intensos, que tendem a provocar
irritabilidade na criança com a síndrome.
Da mesma forma que nas demais síndromes, o importante é adaptar os recursos e as
metodologias usadas na escola, de modo a ampliar as condições do indivíduo para a aprendizagem
e estimular tbílidades para promover a melhoria da qualidade de vida e a adequação ao convívio em
sociedade.
*****************************************************************
Para saber mais
Acesse o site da Fundação Brasileira da Síndrome do X-Frágil para encontrar informações
sobre a síndrome, como orientações sobre sem diagnóstico e tratamento, dúvidas freqüentes,
legislação pertinente, referências bibliográficas sobre o tema, bem como links para acessar outras
organizações no Brasil e em outros países cujo objetivo é pesquisar e orientar sobre o diagnóstico e
o tratamento da síndrome do X-frágil. Disponível em: <http://www.xfragil.com.br/index.htmlx.
*****************************************************************
Síndrome autista
Classificada sob o código F84.0 na Classificação Internacional de doenças - CID-10 , o
autismo é descrito como
43
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
*****************************************************************
Para saber mais
Assista ao filme Temple Grandin, que conta a história dessa autista, já conhecida
mundialmente. A narrativa traz a trajetória de superação das dificuldades de Grandin até tornar-se
mestre em Psicologia , e procura mostrar como pensa e sente o autista em sua relação com o mundo
à sua volta.
*****************************************************************
Síndrome de Asperger
Descrita por Hans Asperger em 1944, a síndrome de Asperger é inclíida entre os critérios
para os transtornos globais do desenvolvimento e classificada na CID-10 sob o código F84.5 . As
pessoas acometidas por essa síndrome demonstram, em geral, certo prejuízo nas habilidades de
interação social e de comunicação, linguagem confusa, de difícil compreensão, porém marcante,
com a presença de vocabulário elaborado, interesse restrito em um determinado assunto, presença
de habilidades incomuns, como cálculos de calendários, memorização de grandes seqüências,
cálculos matemáticos complexos etc., além de pensamento concreto, dificuldade para entender e
expressar emoções, falta de autocensura, apego a rotinas e rituais, dificuldade de adaptação a
mudanças, hipersensibilidade sensorial e dificuldades na organização e planejamento da execução
de tarefas. É considerada uma síndrome do espectro autista, porém possui características diferentes,
não se observando deficiência intelectual nem movimentos repetitivos ou atrasos significativos na
linguagem.
Considerando-se que as crianças com essa síndrome também demonstram dificuldades de
44
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
adaptabilidade e são resistentes a mudanças bruscas na rotina, aconselha-se que na escola seja
propiciado um ambiente previsível e seguro, no qual a criança saiba com antecedência o que vai
acontecer e o que ela deve fazer. É importante valorizar as habilidades demonstradas por esse
aluno, de modo a sentir-se útil aos colegas, evitando-se, assim, que ele se sinta excluído e
ridicularizado, pois também está entre suas características dificuldade de interpretação das
emoções. O professor deve combinar com a criança que os assuntos de seu interesse específico
serão tratados em um momento determinado e estimular a participação dela em todos os assuntos
que estão sendo trabalhados em sala de aula.
*****************************************************************
Para saber mais
Visitando o site Mundo Asperger, você encontra um grande número de informações sobre a
síndrome de Asperger e o autismo bem como valiosas indicações de artigos, livros, dissertações,
tese e vídeos sobre o tema. Existe, ainda, uma seção especialment dedicada a recursos que podem
ser usados pela criança e pelo professor na escola, até mesmo com materiais disponíveis para
download. Acesse: <http://www.mundoaspergerxom.br.
*****************************************************************
Síndrome de Rett
De acordo com o neurologista José Salomão Schwartzman (20 p. 88), a Síndrome de Rett é
A Síndrome de Rett é um dos tipos mais graves de autismo, mais frequentmente observada
em meninas do que em meninos, uma vez que não resistem e morrem precocemente. Entre as suas
principais características estão os distúrbios de comportamento e o comprometimento intelectual e
motor. Há, também, sinais como movimentos de bater e esfregar as palmas e levar as mãos à boca.
As habilidades manuais vão progressivamente piorando, a ponto de a criança não conseguir mais
segurar objetos. Com o passar dos anos, uma deterioração motora progressiva, podendo levar a
criança não mais andar. Na maioria dos casos, não há a presença da linguagem e o
desenvolvimento cognitivo permanece defasado.
A criança acometida por essa síndrome precisa de cuidados especiais, realizados por
equipes compostas por pediatras, neurologistas, psiquiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e
terapeutas ocupacionais. Na escola, recebendo atendimento especializado, a criança poderá
demosnstrar avanços cognitivos, caso o trabalho de mediação, com vistas ao falecimento das
funções cognitivas deficientes, seja efetivado. No entanto, apesar do esforço da escola, mais tarde,
por causa dos efeitos deletérios da síndrome, a criança regride. Essa síndrome faz parte do conjunto
de transtornos desintegrativos; é por isso que a criança deixa de avançar e, infelizmente, regride.
45
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
*****************************************************************
Para saber mais
Leia o artigo de José Salomão Schwartzman intitulado Síndrome de Rett. Nesse texto, o
autor apresenta um panorama geral sobre a doença, com descrição do quadro clínico, dos fatores
genéticos e do diagnóstico relacionados à síndrome.
SCHWARTZMAN, J. S. Síndrome de Rett. Revista Brasileira de Pediatria, São Paulo, v.
25, n. 2, jun. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci__arttext&p=Si5i6-
444Ó20030002000i2>. Acesso em: 14 jan. 2012.
*****************************************************************
*****************************************************************
Para saber mais
O artigo intitulado Síndrome de Tourette: revisão bibliográfica e c casos, de Ana Hounie e
Kátía Petribú, traz dados históriricos e práticos sobre a patologia, bem como uma descrição ida
sobre o diagnóstico, o quadro clínico e o tratamento.
HOUNIE; A.; PETRIBÚ, K. Síndrome de Tourette: revisão bíbliográficas e relato de casos.
Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.21, n.1, p. 50-63, 1999. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/rbp/ /v2imaio.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2012.
*****************************************************************
46
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
*****************************************************************
Para saber mais
Acesse o site do Dr José Salomão Schwartzman sobre neurologia da infância e da
adolescência e veja as informações que ele traz sobre e alcoolismo no Brasil e nos demais países,
bem como sobre o histórico, o quadro clinico, a epidemiologia e o diagnóstico da síndrome fetal
alcoólica. Disponível em: <http://www.schwartzman.com,br php/index.php?option=com_content&
view=article&id=52:sindrome-fetal-alcoolica&catid=i:deficiencia-intelectual&Itemid=2ix.
Visite também os sites Educamais.com e Guiainfantil.com e conheça os principais
sintomas apresentados pelas crianças acometidas pela síndrome fetal alcoólica. Acesse:
<http://educamais.conisintomas-de-sindrome-alcoolica-fetal/> e <http://br.guiainfantil;com/
gravidez-gravida/82-alimentacao-gestante/389-sindrome-do- talcoolismo-fetal-.html>.
*****************************************************************
Epilepsia
A epilepsia consiste em uma descarga elétrica excessiva nos neurônios causada por uma
atividade elétrica anormal. Epilepsia é diferente de convulsão. Enquanto a convulsão se caracteriza
pela atividade neural intensa em apenas um episódio, a epilepsia consiste na repetição de várias
crises epilépticas ou convulsões ao longo de um período de tempo. Trata-se de
47
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Alguns cuidados devem ser tomados para auxiliar uma pessoa que esteja em crise
epiléptica: mantenha-se calmo, coloque a pessoa de lado para que ela não se engasgue, afrouxe as
roupas dela (colarinhos, gravatas), proteja-a para que não sofra quedas ou se machuque em algum
móvel ou objeto, coloque uma almofada ou qualquer outra proteção para que a pessoa não bata a
cabeça no chão, não tente fazê-la recobrar a consciência, espere a crise passar e conforte a pessoa
quando isso acontecer.
*****************************************************************
Para saber mais
Existem organizações que se dedicam à divulgação de informações sobre a prevenção, o
diagnóstico e o tratamento da epilepsia, bem como à pesquisa sobre essa patologia, com o objetivo
de promover a melhora da qualidade das pessoas epilépticas. Conheça o trabalho realizado por duas
dessas instituições: a Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) e a Liga Brasileira de Epilepsia
(LBE). Acesse: <http://www.epilepsiabrasil.org.br/> e <http://www.epilepsia .org.br/site
/index.php>.
*****************************************************************
48
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
;
Sapateiro, não vá além das sandálias. (Ne sutor ultra crepidam)
O escritor latino Plínio (o Velho) conta que havia na Grécia, no século IV a.C., um pintor
chamado Apeles, que usava um artifício muito interessante para melhorar suas obras. Quando seus
quadros estavam prontos, Apeles os expunha em frente ao seu ateliê para que os passantes
pudessem observá-los e criticá-los. De posse dos comentários, o pintor podia melhorar ou até
consertar algum erro que pudesse haver. Certo dia observou um homem parado diante de um dos
quadros. Saindo de seu esconderijo,
Apeles perguntou-lhe a razão de tanta
curiosidade. O homem então lhe disse
que era um sapateiro e que por conhecer
seu ofício, tinha notado um erro na
sandália retratada na pintura. O pintor
agradeceu e disse que consertaria o erro.
Tendo percebido que o pintor
acolhera sua crítica, ousou ir adiante,
criticando outros detalhes do quadro.
Nesse momento, barrou sua
impulsividade dizendo: “Ne sutor ultra
crepidam” “Sapateiro, não vá além das
sandálias” (em português, diria “Não seja
ultracrepidário”).
Fonte: Elaborado com base em Pina
Para refletir
Então, o que podemos fazer? Devemos desconfiar, estar sempre alertas quanto a possíveis
problemas e encaminhar os diferentes casos para os especialistas adequados. Nosso trabalho é
despertar nossa atenção por sair do padrão esperado.
49
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
**************************************************************
Enquanto a criança está sendo avaliada pelos especialistas, nosso rabalho é buscar todas as
formas possíveis para fazer com que ela, apesar de sua condição atual, aprenda.
**************************************************************
Síntese
Neste capítulo, fizemos uma breve descrição das síndr omes observadas com maior
frequência nas escolas: síndrome de Dow n, síndrome do X-frágil, síndrome autista, síndrome
de Asperger, síndrome de Rett, síndrome de Tourette, síndrome fetal alcoólica e epilepsia.
Esta última, embora não seja categorizada como uma síndrome, acomete muitos
estudantes, apresentando-se nas suas mais var iadas formas.
Síndromes são conjuntos de sinais e sintomas que as caracterizam. A maioria delas
pode vir acompanhada de deficiência intelectual e/ou transtornos, em maior ou menor grau
de comprometimento, porém, como afirmamos, todos os sujeitos podem ser beneficiados
pela mediação.
Cabe aos profissionais especialistas proceder ao correto diagnóstico e aos
encaminhamentos clínicos, terapêuticos e pedagógicos necessários. Ao final do capítulo,
apresentamos a história “Sapateiro, não vá além das sandálias”, uma bela ilustração sobre
o termo ultracrepidário, cujo significado remete à ideia do lugar de cada um no processo.
Atividades de Síntese
1. Com relação à síndrome de Down, indique se as informações a seguir são verdadeiras (V) ou
falsas (F):
( ) É um acidente genético caracterizado pela presença de três cromossomos 21.
( ) Foi descrita em 1866 por John Langdon Down.
50
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
( ) Suas características fenotípicas mais comuns são: hipotonia muscular, fenda palpebral oblíqua,
uma única prega palmar, baixa implantação das orelhas, face achatada e língua protusa.
( ) Os portadores dessa síndrome não apresentam qualquer prejuízo cognitivo.
3. Nas afirmações a seguir, assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso, considerando as
características da síndrome de Tourette:
( ) É marcada pela presença de tiques que frequentemente afetam a musculatura da face e que
podem ser acompanhadas por vários tipos de vocalizações.
( ) Afeta predominantemente homens, em proporção de 4:1,
( ) Apresenta outras manifestações, como alucinações, ideias paranoides, pensamento
esquizotípico e psicose do tiix esquizofrênica. ;
( ) O tratamento consiste em terapia, medicamente : estimulação profunda do cérebro.
4. Com relação aos cuidados com alguém que esteja tendo uma crise epiléptica, assinale a única
alternativa incorreta:
a) Colocar a pessoa de lado para que ela não se engasgue.
b) Proteger o corpo e a cabeça para que ela não se machuque.
c) Manter-se calmo e confortar a pessoa quando ela recobrar a consciência.
d) Falar com a pessoa ou sacudi-la para que ela retome a consciência.
51
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
CAPÍTULO 5
A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
COMO PROPOSTA METODOLÓGICA
Não basta saber que é urgente repensar o processo de inclusão e que é necessário fazer uso
de uma metodologia diferenciada com os alunos com deficiência, que os faça aprender. É preciso
propor uma saída. E é exatamente isso que fazemos neste estudo: propomos uma forma mais eficaz
de lidar com nossos alunos com deficiência, antes ressaltar que essa metodologia, além de melhor e
mais trabalho com alunos com deficiências, também trará bons resultados com os demais alunos.
A mediação é uma interação especializada, de maior qualidade, qualificada por posturas
específicas denominadas critérios ou características da mediação. Cada uma das características
propostas por Feurstein é internacionalmente identificada por um número de 1 a 12. As 3 primeiras
são chamadas de universais pelo grau de importância e assumem em uma experiência mediada. No
entanto, é possível que essa lista aumente, já que o próprio Feuerstein atualmente babalha na
pesquisa de mais uma postura. Na obra Mediação da aprendizagem: contribuições de Feuerstein e
de Vygotsky (Meier e Garcia, 2010) o autor Marcos Meier apresenta a sugestão de unia w
característica, que foi aceita pelo próprio Feuerstein e considerada muito importante para a
mediação. Entretanto, Feuerstein sugeriu que essa proposta fosse levada em conta durante todo o
procede mediação, não constituindo necessariamente uma característica em separado. Tal proposta
refere-se à mediação da construção vínculo professor-aluno, fundamental para que a motivação
para aprender ocorra e para que a disposição em agir de forma disciplinada esteja presente.
Apresentamos, a seguir, a lista completa das 12 características da mediação propostas por
Feuerstein:
52
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
N° As 12 características da mediação
1 Intencionalidade e reciprocidade
2 Mediação do significado
3 Transcendência
4 Mediação do sentimento de competência
5 Mediação da autorregulação e do controle do comportamento
6 Mediação do comportamento de compartilhar
7 Mediação da individuação e da diferenciação psicológica
8 Mediação da busca, do planejamento e do alcance dos objetivos
10 Mediação da consciência da modificabilidade
11 Mediação da alternativa positiva
12 Mediação do sentimento de pertença
Fonte: Adaptado de Feuerstein; Rand, 1997.
53
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
***************************************************************
Um axioma é uma verdade imutável que não pode ser provada cientificamente, mas precisa
ser aceita para que todo restante da teoria possa ser válido. Por exemplo, por esse conjunto de
axiomas, não é possível provar que todas as pessoas podem modificar-se, mas aceitamos esse fato
como verdadeiro por causa do número de situações extremamente relevantes que comprovam isso.
Em relação à possibilidade de mudança, de adaptação e evolução, podemos citar vários casos
exemplares, como os de Alex Oliver, Victor de Aveyron e Jill Boite Taylor, esta ultima uma
neurocientista que sofreu um AVC e relatou sua própria recuperação e de tantas outras pessoas cuja
mudança em sua evolução como seres humanos presenciamos pessoalmente. Vamos conhecer um
pouco sobre cada um desses três casos mencionados.
Alex Olíver
Mediação intensa promovida pela equipe de Feuerstein logo após a cirgia e que prosseguiu
durante anos.
Esse caso comprova a alta plasticidade cerebral e o potencial de mudança associado à
aprendizagem. Alex Oliver é um símbolo vivo da modificabilidade humana. Como assinala a
jornalista Karina Pastore (1997p. 50), em artigo publicado na revista Veja, “a recuperação de Alex
ilustra de maneira dramática a capacidade que o cérebro humano tem de se adaptar a situações
novas”.
Victor de Aveyron
No ano de 1798, tinha sido avistado em uma floresta francesa da região de Aveyron um
“animal” parecido com um ser humano. Anos depois, aparentando ter 12 ou 13 anos de idade, ele
foi capturado, sendo chamado de Victor em referência à sua vitória por ter sobrevivido. As
hipóteses mais prováveis sugeriam que o menino fora abandonado por seus pais quando ele tinha 4
anos de idade e que acabara sobrevivendo por ter se alimentado de frutos da floresta e folhas.
Tendo sido avaliado pelo famoso Dr. Pinei quanto à sua inteligência, foi diagnosticado
como surdo e incapaz de aprender qualquer coisa. Não aceitando tal diagnóstico, o Dr. Itard,
54
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
discípulo de Pinei, trabahou diretamente com o menino, ensinando-lhe até mesmo nocões básicas,
como sensações de quente e frio. No trabalho realizado com Victor, o Dr. Itard modificou e
adaptou as técnicas de ensino conhecidas, porque acreditava na possibilidade de mudança do
menino. Muitos anos depois, os progressos de Victor eram evidentes e comprovavam que o ser
humano, por pior que seja seu estado inicial, tanto físico quanto mental, pode crescer, aprender e
evoluir.
O que fez a diferença no caso do menino foi a crença do Dr. Itard na possibilidade de
mudança por meio da aprendizagem. Victor aprendeu até mesmo a ouvir, deixando de ser “surdo”
como registrado no primeiro diagnóstico.
Acreditar na modificabilidade, na capacidade de aprendizagem e evolução do ser humano é
o que motivou o Dr. Itard a criar metodologias diferenciadas para ensinar o menino e ajudá-lo a
evoluir.
*****************************************************************
Para saber mais
Recomendamos a leitura do livro A educação de um selvagem, de Luci Banks e Izabel
Galvão, que discute didaticamente o processo de educação de Victor de Aveyron.
BANKS-LEITE, L.; GALVÃO, I. Educação de um selvagem: as experiências
pedagógicas de Jean Itard. São Paulo: Cortez, 2000.
*****************************************************************
*****************************************************************
Para saber mais
Leia o livro biográfico da neurocientista Jill Boite Taylor, em que ela conta com muito
mais detalhes a história que relatamos aqui.
TAYLOR,J. B .A cientista que curou seu próprio cérebro. São Paulo: Ediouro, 2008.
*****************************************************************
55
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Quem acredita que pode fazer a diferença na vida de uma criança com deficiência cria, inventa,
dedica tempo, investe energia, planeja, replaneja, estuda e... faz a diferença.
***************************************************************
Para refletir
Se uma criança tem algum distúrbio mais grave que a impossibilite de aprender na mesma
velocidade das outras crianças, isso não nos deve fazer abandonar nosso empenho mediar.
Precisamos sempre nos perguntar: “Qual é o cimo passo que essa criança consegue dar?” e, a
partir disso, agir. 56
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
A resposta é: mediar. Mas devemos agir acreditando que é possível fazer a diferença na
vida dela, acreditando que ela pode mudar e que nós mesmos podemos ajudá-la a ser cada vez mais
modificável. Atuando na estrutura cognitiva, estamos contribuindo
para o cesso de adaptabilidade e modificabilidade da criança,
ajudando-a a superar as dificuldades.
Criança com baixa autonomia se beneficia muito pouco da Quanto mais
experiências de
aprendizagem direta e fica esperando que alguém a ajude. Ela aprendizagem
urgentemente desenvolver mais autonomia na aprendizagem. Quanto mediada uma criança
maior a autonomia, mais a criança se beneficia do contato do mundo, tiver, maior será seu
desenvolvimento.
incluindo o currículo escolar. Em outras palavras, ela aprende sozinha
e isso gera uma força de desenvolvimento muito grande. No entanto,
para que uma criança se beneficie das experiências de aprendizagem
direta, ela precisa de muita experiência de aprendizagem mediada.
Quanto mais mediação da aprendizagem for oferecida à criança, maior será o seu desenvolvimento
cognitivo e mais aumentado ficará o seu potencial para a aprendizagem, pois este não é estático, vai
se ampliando conforme é submetido à mediação.
Não há limite para o potencial da aprendizagem, assim como não há limite para a
modificabilidade. A mediação deve sempre objetivar a autonomia da criança. O professor precisa
agir de forma a ser cada vez mais desnecessário, pois o aluno aprende a aprender. Claro que há
crianças cujo grau de dificuldade é tão grande que fica difícil colher algum resultado, por menor
que seja.
57
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Síntese
Atividades de Síntese
1. Assinale a alternativa que melhor explica por que Alex Oliver conseguiu desenvolver-se, apesar
de ter perdido metade do seu cérebro:
a) Alex perdeu o hemisfério esquerdo de seu cérebro quando não tinha nem aprendido a falar. Isso
fez com que seu aprendizado fosse realizado pelo hemisfério que restou.
b) As convulsões cerebrais ativaram os circuitos neurais que assimilaram o aprendizado que
deveria ter sido realizaao pelo hemisfério retirado.
c) O cérebro de Alex é geneticamente diferente, o que xez sua estrutura regular modificar-se para
aprender.
d) Após a cirurgia, Alex foi submetido a um intenso programa de estimulação e mediação da
aprendizagem, o que contribuiu significativamente para seu desenvolvimento.
2. Assinale a única alternativa incorreta a respeito do caso da neurocientista Jill Boite Taylor:
a) Jill sofreu um AVC e, por conhecer os sintomas e as conseqüências desse evento, enfrentou
melhor toda a situação.
b) O AVC sofrido por ela não afetou a área da linguagem, o que lhe permitiu explicar às pessoas à
sua volta o que ela precisava para recuperar suas funções cognitivas.
c) As funções cognitivas afetadas pelo AVC prejudicaram sua fala.
d) A produção do livro em que narra sua recuperação só foi possível porque o cérebro da cientista
conseguiu reprogramar-se em relação à leitura e à escrita.
3. Em relação ao caso de Victor de Aveyron, indique se as afirmações a seguir são verdadeiras (V)
58
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
ou falsas (F):
( ) O Dr. Pinei não acreditava na modificabilidade humana, por isso não acreditava que Victor
pudesse aprender.
( ) O Dr. Itard não aceitou o diagnóstico de incapacidade de aprendizagem e se propôs um desafio:
ensinar Victor.
( ) Quando Victor foi encontrado, a plasticidade cerebral já era amplamente conhecida, por isso o
Dr. Itard se propôs a ensiná-lo.
( ) Victor foi adotado, ainda bebê, por lobos na floresta, por isso conseguiu sobreviver.
59
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
_______________________________________________________________________________
CAPÍTULO 6
*****************************************************************
Para saber mais
Para aprofundamento teórico, recomendamos que você procure as obras sobre mediação da
aprendizagem relacionadas a seguir:
FALIK, L.; FEUERSTEIN. R. Beyond Smarten: Mediated Learnm and the Brain e Capacityfor
60
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
*****************************************************************
Característica 1:
Intencionalidade e reciprocidade
Intencionalidade
O mediador deve agir com intencionalidade: ter o objetivo de ensinar e fazer tudo o que for
possível para que esse objetivo seja realmente atingido. Apenas dar aulas não demonstra
intencionalidade; apenas objetivos específicos ainda não é suficiente. Um professor que realmente
deseja causar transformações no aluno, fazê-lo aprender, modificar sua forma de pensar e agir deve
ter intencionalidade. Ele precisa ir além dos objetivos traçados para aquela disciplina, naquela
turma de alunos. A falta de compreensão por parte do aluno não é ignorada, pois quem tem
intencionalidade procura todas as formas possíveis de ensinar determinado conteúdo. A
intencionalidade move o professor a procurar metodologias mais adequadas, a inovar com a criação
de exemplos, exercícios, ilustrações e explicações mais apropriadas para a criança com dificuldade
de aprendizagem.
Se um aluno com deficiência não estiver compreendendo absolumente nada do conteúdo
ensinado, o mediador se pergunta: o que ele consegue aprender?” “O que ele já sabe?”. E, com base
nesse saber, o professor ajuda o aluno a dar pequenos tiram do lugar do "não saber” e o colocam
61
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
um pouco à frrente. Talvez o aluno não caminhe o suficiente, de acordo com os objetivos
estabelecidos para aquela turma de alunos, mas não ficará parado, não será deixado para trás.
*****************************************************************
Todo esse esforço adicional do professor para ajudar seu aluno a aprender, que vai além dos
objetivos traçados, materializa a intencionalidade.
*****************************************************************
Você está ensinando seus alunos a escrever uma carta, mas um deles nem alfabetizado está.
Essas ações diferentes, motivadas por sua decisão em fazer tal aluno dar pelo menos um
pequeno passo em relação ao domínio da leitura e da escrita, demonstram sua intencionalidade.
Pode ser frustrante perceber que o aluno ainda não acompanha a turma ou que jamais a alcançará,
mas desistir dele por causa disso é um grande erro. Se ele pode sair do lugar em que está (em
termos cognitivos), deve ser provocado e incentivado a sair. Aprender é um direito.
Reciprocidade
Por outro lado, apesar de toda motivação do professor, há que simplesmente não querem
aprender. Nem tentam. Já tiveram tantas experiências de fracasso que desistiram de tentar,
desistiram de se esforçar. Esses alunos, não importando quais sejam as justificativas, não
apresentam reciprocidade em relação à intencionalidade do professor. É preciso, então, mudar essa
inércia, esse marasmo intelectual. O professor precisa conquistar a vontade de aprender. Para isso,
pode incentivar, elogiar, provocar, desequilibrar certezas, apresentar curiosidades, enfim, desafiar
seus alunos a aprender. A reciprocidade representa a disposição do aluno a envolver-se na interação
oferecida pelo professor. É quando o aluno demonstra vontade de fazer parte da interação (ou da
tarefa) que o professor está propondo.
62
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
compreender, pois a atenção aumenta muito quando vamos ouvir uma história. A
humanidade passou milhares de anos sem a escrita, transmitindo seu conhecimento por meio
da tradição oral. Isso fez com que, de alguma forma, nossa atenção aumente quando sabemos
que vamos ouvir uma boa história. É como se a vontade de ouvi-la fosse uma predisposição
genética.
∗ Alunos com dificuldade de atenção precisam frequentemente da companhia mais próxima
do professor para que não se sintam abandonados. Ele deve ir com frequência à carteira
desses alunos, abaixar-se, falar com suavidade e, dependendo do grau de dificuldade,
começar a atividade para eles. Muitas vezes um pequeno empurrãozinho inicial pode causar
motivação suficiente para que possam ir até o fim naquela tarefa.
∗ O professor deve se perguntar sempre: “O que você já fez até agora?”, “O que você está
pensando?”, “Lembre-se do exercício anterior, o que tem de igual neste de agora?”, “O que o
exercício pede?”, “Diga com suas palavras o objetivo da atividade”, “Quais são os dados que
você já tem?” etc. Essas perguntas ajudam o aluno a pensar sobre o problema ao invés de
desistir dele sem ao menos tentar compreendê-lo.
63
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
de outras áreas do conhecimento amplia a compreensão por trazer mais significado ao que se está
estudando. Interdisciplinaridade não é apenas uma forma de fazer os alunos trabalharem em grupo,
na tentativa de realizar alguma ativide trata-se de suplantar o caráter de inutilidade do conceito
ensinado.
Por exemplo, quando o professor faz o aluno memorizar que 3 x 5 = 15, pode estar
contribuindo para que este desanime em relação à matemática. No entanto, se o professor mostra
que 3 fileiras de 5 carteiras têm 15 carteiras e que não é necessário contar uma por uma mas
“memorizar” que o resultado de 3 x 5 sempre será 15, ele contribui para a construção do
significado da multiplicação. Em seguida deve perguntar aos alunos que outras situações podem
provocar a necessidade de fazer a conta 3x5. Essa busca que os alunos farão em suas memórias ou
na ação de criar, imaginar outros contextos amplia o significado da multiplicação.
A mediação do significado é importante porque ajuda a desenvolver no sujeito uma
tendência a buscar significado. Essa é a razão pela qual a criança pergunta tanto os porquês das
coisas e procura incessantemente o significado delas. O professor mediador é aquele que está
sempre disposto a responder e instigar a curiosidade e a reflexão sobre pontos além do que o aluno
está perguntando.
Característica 3:
Transcendência
A transcendência acontece quando o aluno aplica corretamente um conceito aprendido em
uma área diferente da inicial. Muitos especialistas em educação chamam esse processo de
transferência- o conceito de transcendência é mais amplo. Transferir um conceito aprendido para
outro contexto pode ser feito apenas por similaridade, o que esconde se houve ou não a
aprendizagem. Entretanto, quando o aluno é capaz de transcender, é porque ele construiu o
conceito, aprendeu de verdade e então pode aplicá-lo em qualquer outra situação ou contexto.
Essa característica representa a intenção do professor em ultrapassar o objetivo imediato
para o qual a sua ação está direcionada, qualquer que seja esse objetivo, o professor sempre estará
suscitando a necessidade do aluno de ir além.
Uma criança que aprende o som da palavra janela e, ao vê-la escrita, diz “já-ne-la” pode
não estar fazendo transcendência e, portanto, pode ter aprendido a ler ainda. Quando ela percebe
que a sílaba já também aparece na palavra jacaré e o som é o mesmo, então a criança começar a
confirmar sua hipótese de que o som se preserva mesmo em palavras diferentes. Quando sua ideia é
confirmada, ela a usa em todas as palavras em que a sílaba já está presente. Quase ao mesmo
passará a perceber a letra j ao lado de outras vogais e que o som de /j/ será emitido também nessas
sílabas.
64
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
A escola deveria ser um espaço onde as experiências de sucesso fossem sempre mais
significativas e em maior número que as de fracasso.
65
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Ajudar o aluno a controlar o comportamento é fazê-lo tornar-se consciente de cada uma das
fases da realização da atividade, diminuindo os erros provocados pela impulsividade.
***********************************************************
Um cuidado que o professor deve ter é o de não dizer apenas “pense antes de fazer” quando
uma criança erra, mas mostrar em qual das fases o erro aconteceu e por que aconteceu. O controle
vai sendo aprimorado à medida que o ganho aparece: o menor esforço na realização da tarefa, a não
necessidade de repetir o que já foi feito, o não desperdício de materiais e as palavras de elogio pelo
comportamento apresentado. Tudo isso ajuda o aluno a melhorar sua consciência do
comportamento, aprimorando seu controle.
66
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
67
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
desejam; eles irritam com as repetições constantes ou com a demora do professor ern avançar.
Outros ficam magoados por terem sido deixados para trás.
Esse modelo de ensino massificante, voltado a um hipotético “aluno médio” não considera
o aluno com dificuldades de aprendizagem nem o aluno com altas habilidades. Se a turma está na
"média" professor dá seqüência aos conteúdos. Mais tarde, se possível, o aluno, que “ficou para
trás” será resgatado por uma recuperação. No outro extremo, os alunos que já aprenderam ficam
desmotivados, porque não há nada que os desafie.
Mediar a diferenciação psicológica é ter a consciência de que não podemos massificar a
sala de aula e tratar todos os alunos de forma igual. Sabemos que parece utópico o tratamento
individualizado, diferenciado, personalizado, porém o pouco que fazemos nessa direção já surte
efeitos. Compreender efetivamente que “cada um é um” já é um grande passo para o sucesso do
aluno. Quando o professor valoriza o aluno de altas habilidades, propondo-lhe desafios, está
personalizando. Quando atende ao aluno com deficiências, indo até sua carteira, ajudando-o a ir
mais um passinho adiante em sua compreensão, esta considerando as diferenças. Isso é respeitar o
ser humano.
***************************************************************
No século passado, Sartre defendia que as pessoas tivessem um projeto de vida, o que hoje
nos parece irreal, dada a velocidade das mudanças sociais e tecnológicas. Entretanto, tudo o que o
professor puder planejar será positivo. Os objetivos que ele puder traçar para a educação de seus
alunos com deficiências poderão até mesmo não ser alcançados, mas lhe indicam um caminho e o
fazem mudar estratégias que não tenham sido bem-sucedidas. Essa flexibilidade é benéfica para a
aprendizagem do aluno. Se o professor não puder estabelecer novos objetivos ou não souber quais
são os objetivos previstos para o seu aluno, vai pensar que, tendo fracassado a aprendizagem, a
estratégia estava correta e que seu aluno não conseguiu aprender por culpa dele próprio. Se os
objetivos forem conscientes, claros, bem estabelecidos, a falta de sucesso do aluno fará com que se
culpe a estratégia, não o aluno.
68
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Característica 9:
Mediação da busca pela adaptação a situações
novas e complexas: o desafio
Quando uma pessoa se sente desafiada, tende a aprender melhor e dedicar-se mais à
aprendizagem. Para desafiar alguém, é preciso considerar os dois eixos estruturantes do desafio: o
da familiaridade e o da complexidade.
Familiaridade
O eixo da familiaridade tem dois polos distintos: fácil e difícil. Se o sujeito conhece a
tarefa e já a executou muitas vezes, então ele pode afirmar que a atividade a ser executada é fácil.
Se ele não tem familiaridade com a execução dessa tarefa, ela lhe parece difícil. Fácil e difícil são
extremos de um mesmo eixo: o da familiaridade. O professor só consegue desafiar um aluno com
atividades que não sejam muito fáceis nem muito difíceis, a fim de equilibrar o eixo.
Tarefas fáceis são entediantes, os alunos se sentem desmotivados e não se interessam em
começar a executá-las. Se forem muito difíceis, eles não se sentem capazes de realizá-las e
desistem.
Complexidade
A resposta é: conhecendo o aluno. Para saber se o aluno consegue realizar uma tarefa, é
preciso interagir com ele, conquistar sua confiança a ponto de ele compartilhar suas dificuldades
sem medo de ser censurado.
69
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
E a tarefa?
Como saber se ela é muito complexa?
A resposta é: conhecendo com profundidade o conteúdo a ser ensinado. Não há outra saída:
quanto mais o professor se aprofundar no conhecimento de um determinado conteúdo escolar, mais
adequadas serão suas explicações e as propostas de atividades. Se a criança tiver alguma
deficiência, é ainda mais importante que o professor observe se o nível de complexidade da tarefa
está dentro das possibilidades dela. Propor atividades muito complexas para uma criança que só
conhece as mais simples pode desencadear desmotivação e um forte sentimento de rejeição em
relação a tudo o que esse professor propuser.
***************************************************************
Como desafiar um aluno com deficiência? Da mesma forma desafiaríamos os demais alunos.
***************************************************************
Buscar o novo é ampliar a possibilidade de desafio, pois o aluno vai conhecendo cada vez
mais coisas, tornando-as familiares. Ao buscar atividades cada vez mais complexas, ele aumenta
seu sentimento de competência, pois percebe que pode pensar em mais de uma fonte de informação
ao mesmo tempo.
70
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
que vai dar certo, escolhemos o melhor caminho e, em seguida, fazemos tudo para que isso
realmente aconteça.
Por exemplo, um professor cujo aluno ainda não se alfabetizou pode esperar que um dia
isso aconteça; ele é otimista. No entanto, se esse fessor escolher a alternativa (aprender ou não
aprender) positiva, ele escolherá o que vai dar certo - o aluno será alfabetizado - e dedicará todos os
esforços para que o aluno aprenda a ler e a escrever. Esse professor vai pesquisar sobre formas
alternativas de alfabetizar e vai utilizá-las até que o aluno seja alfabetizado. É um professor que
nãodesite. Não é uma tarefa fácil: às vezes o estado inicial da criança com deficiência é tão
lastimável que fica difícil acreditar que um ela possa ler e escrever. Contudo, se o professor não
optar pela endizagem, ou seja, se não optar pela alternativa positiva, então a creiança já terá
perdido a chance de aprender. Se, por outro lado, pela alternativa positiva - “essa criança vai
aprender a ler e a escrever”-, então a dedicação desse professor será tão grande que a chance de a
criança ser alfabetizada passará a existir de fato. Pode até que ela jamais aprenda, mas nunca terá
sido pela atitude tomada pelo professor.
Além de o mediador optar pela alternativa positiva, sua mediação deve incentivar a criança
a sempre optar por ela também. Crianças que escolhem vencer e lutam incansavelmente por isso
têm muito mais chance de sucesso na vida. Vale a pena ensiná-las a ter persistência e dedicação e a
não desistir nunca.
71
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
funcionários, alunos e famílías, pois as conseqüências emocionais são graves. Ninguém tem o
direito de ferir outra pessoa retirando dela seu sentimento de pertença.
Se a ausência do sentimento de pertença é tão prejudicial, a postura de neutralidade
assumida pelo professor que não promove tal sentimento em seus alunos é, de igual modo, ruim. A
falta de iniciativa para desenvolver projetos que destaquem a escola ou que, de alguma forma
façam os alunos terem orgulho de estudar nela eqüivale à prática de bullying pela própria escola,
pois afeta o sentimento de pertença de seus alunos.
Assim, o professor pode ser fundamental na construção de um clima saudável para seus
alunos. Ele deve agir de forma proativa, criando espaços que valorizem a participação do aluno e
desenvolvam neste o orgulho de fazer parte da escola.
Síntese
Atividades de Síntese
1. Qual o significado de intencionalidade para Feuerstein?
a) Existe quando as intenções do professor são esperançosas.
72
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
3. Por que o mediador precisa ajudar seus alunos a desenvolverem o sentimento de competência?
a) Porque, em geral, os alunos não são competentes nas disciplinas escolares.
b) Porque a competência precisa ser sempre desenvolvida.
c) Porque em aluno que não se sente competente para realizar uma tarefa não se dedica como
poderia,
d) Porque o sentimento de competência é fundamental para que o aluno se sinta bem consigo
mesmo.
5. Quais são suas características pessoais que o ajudam em seu trabalho de lecionar? Essas
características se aproximam do que Feuerstein defende?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
6. De que forma a personalidade de um professor pode interfenr positiva ou negativamente em sua
forma de ensinar?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
73
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
1
O aluno não retém o que foi trabalhado. Ele sabe agora, mas daqui a
pouco, ou amanhã, não saberá mais.
Então é porque ele não aprendeu de verdade! Ou, o que também ocorre, as informações não
passaram para a memória de longo prazo. Na hipótese de não ter aprendido, talvez haja um
problema relacionado à atenção.
A psicologia descreve que temos dois tipos de atenção: a automática e a voluntária. A
primeira nasce conosco e não temos controle sobre ela. É a atenção evocada pelos estímulos
súbitos, intensos, em movimento e em contraste com o fundo, quando voltamos nossa atenção, por
exemplo, a um ponto escuro em uma parede clara, ou quando alguém fala o nosso nome em meio a
uma sala cheia de pessoas conversando ao mesmo tempo, ou quando procuramos um objeto de
determinada cor em meio a outros tantos de outra cor.
Até por volta dos 5 anos de idade, só conseguimos acionar essa atenção (a automática).
Após essa idade, em virtude da maturação do lobo frontal, passamos a acionar também a atenção
voluntária, e é ela uma importante personagem na apropriação da alfabetização, portanto, preste
atenção à idade do seu aluno e, mesmo que a idade já esteja mais avançada, observe se ele está
tendo a atenção suficiente. Parece que, às vezes, não é a criança que é dispersa ou desatenta, mas e
a atividade que não desperta a atenção daquele aluno em especial.
Outro fator relacionado à retenção é o que chamamos de ciclo da aprendizagem. O ciclo
compreende três fases distintas: a primeira fase é a de entrada das informações, que são registradas
na memória curto prazo e, de acordo com novas pesquisas, enviadas também à memória de longo
prazo. Depois, se o cérebro perceber a necessidade da informação, esta continua fixada na memória
de longo prazo.
O cérebro não perceber a necessidade, a informação ruma a extinção. Essa segunda fase
ocorre com leituras, revisões e lição de casa. Durante a realização da lição de casa, o cérebro, de
alguma forma pela necessidade de lembrar a informação recém-aprendida, grava a informação
74
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
que já está na memória de longo prazo, não permite que seja extinta. Se o aluno só assiste à aula e
não faz mais nada, não revê, não estuda, não escreve resumos, não faz lição de casa, então o
cérebro, por não perceber a necessidade da informação, não a retém. A informação é perdida.
Caso se dê o registro na memória de longo prazo, ocorre a terceira fase, a fixação, que
acontece durante o sono profundo. Nesse momento, o cérebro libera substâncias que agem sobre a
memória de longo prazo, fixando o que há lá. Se a criança não dormir bem, ou dormir pouco, a
fixação será afetada.
2
O aluno se recusa a fazer as atividades.
Procure compreender suas razões. Será que não está difícil demais para ele? Ele se sente
capaz de resolver a atividade proposta? Está entendendo o que ela pede? Quer chamar a atenção do
professor? Está enxergando bem? Está ouvindo bem? As questões de ordem sensorial estão
íntegras? Se não estiverem, será mais difícil para o aluno compreender o que está sendo solicitado
e, então, ele pode se recusar a fazer a atividade simplesmente porque não a compreende.
Há também outra situação comum e que faz o aluno reagir da mesma forma: a
superproteção. Uma criança superprotegida tende a evitar tudo o que pode trazer-lhe algum
desconforto. Ela so quer o prazer imediato. Trabalhar exige esforço e, para uma criança “mimada",
esse esforço é gigantesco demais. Nesses casos, deve-se orientar a família quanto aos malefícios da
superproteção e desenvolver na criança, passo a passo, o prazer pelo trabalho, pelo esforço. Isso se
consegue com o elogio por pequenos esforços realizados.
Cuide para não elogiar demais o sucesso, o produto benfeito, a vitória. É melhor elogiar o
esforço, o trabalho realizado e a dedicação. Isso faz com que a criança continue se esforçando ao
invés de desistir por achar inatingível o produto final.
5.
A família não participa da vida escolar do filho.
Essa é clássica! E mais comum encontrarmos famílias que não participam da vida escolar
do filho do que o contrário, mas há formas de fazê-ías participar. Já tentou chamar os pais para
mostrar as coisas boas que o filho faz? Já fez os pais se sentirem realmente importantes para o
sucesso escolar do filho? Ou os pais só são chamados para saber dos defeitos dele? Será que o que
você está pedindo aos país esta ao alcance deles? Lembre-se: como diz o dito popular, “ninguém dá
o que não tem”.
Aliás, a participação da família é um dos “nós" da escola. Adoramos dizer que eles não
participam, que eles transferem para a escola as responsabilidades, mas o que estamos fazendo para
reverter essa situação? Quantas vezes já dissemos para os pais o que eles podem fazer de real para
ajudar os filhos? E não podemos dizer que não conseguimos fazer isso porque eles não vão à
escola. O que já fizemos para atraí-los, verdadeiramente? Festas? Reuniões exaustivas nas quais
falamos, falamos, mas eles não entendem nada? E não estamos dizendo que não entendem porque
lhes falta inteligência, mas porque o nosso 'universo pedagógico” é muito distante do deles. No
caso de alguns pais, pode, sim, faltar entendimento com relação aos assuntos da escola, mas, em
outros, a realidade de vida, de trabalho, de interesses deles é muito distante da nossa, então
precisamos tornar claro o que pretendemos e de que forma. Isso não se consegue em apenas uma
75
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
reunião, mas sim pela participação constante dc no cotidiano da escola. Eles não precisam ir à
escola todos nem toda semana, mas precisam sentir-se coautores do que acontece o no dia a dia
desta.
Às vezes, uma pequena dica para a mãe, dita no corredor da pode mostrar a ela que
estamos do lado dela e que compreendemos suas dificuldades na lida com o filho. Vamos mostrar
aos pais são as aulas, como são as atividades, vamos fazê-los compre de que forma trabalhamos,
para que eles comecem também preender e a descobrir como podem ajudar. Alguns pais terão
oportunidade, o tempo e a vontade de fazer parte dos conselhos de associações e outras
organizações escolares, mas alguns serão distantes. Então, é para estes que devemos pensar as
alternativas de participação: rodas de conversa, clubes de leitura, reuniões de nos grupos para
debater temas trazidos por eles próprios, que do seu interesse. Vamos ouvir os pais! Vamos chamá-
los, colocar ao seu dispor para uma conversa informal, quem sabe até semfalar nos filhos, num
primeiro momento. Temos percebido, por experiência, que os pais gostam de contar sobre a sua
vida, sobre o que fazem, o que gostam ou gostariam de fazer, quais são as suas angústias ou
preocupações ou simplesmente de “jogar conversa fora". Por que em todos os momentos,
precisamos tratar apenas de assuntos desagradáveis e exaustivos”?
***************************************************************
****************************************************************
Percebemos que as mães gostam de falar, entre si, de seus maridos, de seus
relacionamentos, de seus filhos (os que estão na escola ou os que já passaram por ela), dos preços
do supermercado, de roupas, da novela, da propaganda, enfim, de assuntos sérios e de assuntos que
descontraem. Criemos, então, ambientes assim na escola. Talvez passem a sentir prazer em estar lá
e, dessa forma, começarão a ver a escola corno mais um espaço também seu, de acolhimento, de
ajuda mútua, um lugar importante que merece respeito e dedicação por parte deles e dos seus filhos.
Há pais que se sentem muito úteis quando solicitados a participar do cotidiano da escola.
Quando um casal recebe a notícia de que seu filho não é “perfeito”, um enorme sentimento
de frustração os domina. Isso é explicável, pois, quando o filho está sendo gestado, ele é idealizado.
Imagina-se qual será a cor dos olhos, dos cabelos, o formato dos dedinhos, da boca, do nariz. Cria-
se também uma expectativa de futuro, do que o filho vai ser, qual será a sua profissão, qual
faculdade vai cursar, qual esporte vai preferir. Mas e quando esse filho chega com a notícia de que
algo inesperado aconteceu e se percebe que nada do planejado, um pouco disso, vai realizar-se? A
primeira coisa que os pais pensam é: E agora? O que vai ser? Como vai ser? Vai sobreviver? Vai
andar? Vai falar? De quem foi a culpa? Por que justamente comigo isso foi acontecer? Será castigo
de Deus? O que eu fiz para merecer isso? Um sentimento de revolta e dúvida toma conta dos pais.
A estimulação precoce deve ser buscada pelos pais tão detectada a necessidade da criança,
independentemente de ser proveniente de uma síndrome, de uma lesão, de uma dificuldade no
parto, logo no nascimento ou depois dele.
Nessa hora, o acompanhamento e as orientações de profissionais das áreas médicas e da
educação são fundamentais para o conforto, o esclarecimento desses pais. Os pais esperam sempre
o melhor para seus filhos, mas, para isso acontecer, devem direcionar todos os esforços para que
estes tenham o melhor, o mais adequado para as suas necessidades e, por conseqüência, uma vida
melhor. Não se pode deixar que o comodismo (ou a facilidade, ou a teimosia) de matricular o filho
em uma escola e não em outra prejudique o desenvolvimento da criança. Por exemplo, há pais que
se utilizam das propostas referentes, à inclusão para manter seu filho na escola comum, quando o
76
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
que ele precisa verdadeiramente é de uma escola especializada, que atenda as necessidades da
criança e que disponha de profissionais habilitados para o trabalho diferenciado que deve ser
executado com ela. A mídia mostra que todos têm direito de estar na escola comum. Sim, há esse
direito, mas será o melhor para essa criança? Será o melhor para quem?
Recomendamos sempre a formação de grupos de pais parareceoer orientação e suporte por
parte dos profissionais da área (professores equipe pedagógico-administrativa, profissionais da
saúde). Os pais precisam saber lidar com as suas próprias expectativas tanto com as frustrações.
Precisam aprender sobre a condição do seu filho, que ele talvez demore um tempo a mais para dar
as respostas esperadas, mas que é capaz. Ou, em alguns casos, precisam até mesmo aceitar o fato
de que o filho jamais agirá como o esperado, mas o pouco que ele já conseguiu avançar pode ser
considerado sucesso. Para isso, é necessário que tenham uma expectativa positiva, mas real; não
pessimista, mas congruente com o petencial da criança.
4
A família não leva a criança ao médico (neurologista, psiquiatra etc.).
Inconscientemente tendemos a fugir de notícias tristes que possam, de alguma forma, fazer-
nos sentir culpa. Então, é melhor (pensamos erroneamente) nem levar o filho ao médico, pois ele
pode nos fazer sentir culpa ou nos assustar apontando algum problema grave, que é melhor nem
sabermos qual é. Esse tipo de pensamento é maléfico, equivocado, mas é uma postura natural e
inconsciente no ser humano. Então, temos de nos empenhar muito para convencer a família a levar
a criança ao médico.
Você já explicou claramente para os pais qual a importância disso e tem certeza de que eles
compreenderam? Explicou em que os médicos podem ajudar? Cobrou dos pais o relato do médico?
Alguns podem entender que a escola está sugerindo uma avaliação ou uma opinião niedica porque
já não sabe mais o que fazer ou por entender que esses profissionais terão a solução que a própria
escola não consegui oferecer. Cabe, então, aos profissionais da escola tornar clara a sua intenção,
que deve ser sempre a de contar com equipes multi e interdisciplinares na busca de soluções e
avanços. Os pais precisam saber quais são nossos objetivos em relação à criança, pois, dessa forma,
ficarão ao nosso lado, já que os objetivos são os mesmos que eles têm (ou pelo menos deveriam
ser).
5
A família não dá à criança o remédio prescrito pelo médico
Já procurou saber as razões dos pais para não ministrarem o remédio? Já acabou com os
mitos a esse respeito, esclarecendo quais os benefícios que poderão ser trazidos pelo medicamento?
Ou nem você professor; sabe ao certo quais são esses benefícios? Se não sabe, se aflija, mas
procure saber para ajudar a esclarecer e encaminhe pais novamente aos médicos; para que estes
forneçam os esclarecimentos necessários.
Quando relatamos casos reais de outras famílias que levaram a sério a medicação e os
ganhos que a criança teve por causa disso, os pais tendem a respeitar mais as prescrições
medicamentosas.
77
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
6
A família não aceita os atendimentos especializados.
Mais uma vez nos deparamos com a necessidade de dar a informação de maneira correta e
convincente. Explique claramente o que vai ser trabalhado com o filho em cada um dos
atendimentos. Se não souber o que vai ser feito, pergunte a quem sabe. Peça esclarecimentos para
melhor poder esclarecer.
O medo que a família tem de "descobrir algo ruim” é tão grande que é comum a
postergação inconsciente, expressa em frases como: "Outro dia eu levo”. Assim, a criança fica sem
o acompanhamento médico e sem as avaliações necessárias das outras especialidades. Quando a
escola explica as vantagens dos diagnósticos e o ganho que a criança tem quando começamos a
intervir mais cedo, a família tende a apressar os encaminhamentos.
7
O aluno não para quieto.
“Quero que você ouça o que estou dizendo, é por isso que estou falando mais alto.”
“Minha intenção, quando falo baixinho, é que você se esforce para ouvir, não apenas escute.”
“Quero que você perceba a seqüência das ações, é por isso que as repito várias vezes.”
Há várias técnicas para despertar a atenção de uma criança, mas uma das que mais dão
resultados é a contação de histórias. Pequenos relatos costumam prender muito a atenção.
8
O aluno bate nos colegas e xinga, bate na professora, arrasta-se pelo
chão.
Quais as razões que o levam a agir assim? Sempre é essencial pensar nas causas. Ele está se
78
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
sentindo humilhado, excluído, maltratado? Ele quer chamar a atenção? Está com algum problema
em casa? Ele ainda não compreendeu que a escola é um local que tem regras próprias e
determinados comportamentos não são aceitos? O aluno está seguindo o modelo de alguém de casa
ou da própria escola? Sera que essa é mesmo a intenção dele ou está querendo dizer alguma com
isso? Às vezes também precisamos pensar se não fizemos, de fato, algo que pudesse provocar esse
tipo de reação. A reação em si é inadequada, mas pode nos informar sobre nossas próprias atitudes.
Procure ajuda de especialistas em desenvolvimento infantil (desenvolvimento neurológico e
psicológico). Essa pode ser uma fase superada ou ainda algum transtorno. Não trabalhe sozinho.
Peça ajuda! Reflita, sempre!
9
O aluno é apático.
Avalie se é assim que você vê o seu aluno e cuidado na utilização dos termos. Muitas vezes
dizemos uma coisa querendo dizer outra ou não nos damos conta da gravidade daquilo que estamos
dizendo, alunos podem assumir esses "rótulos” e permanecer nesse estado, sentindo-se
inferiorizados e com dificuldade em manifestar um desejo de mudança. Manifestações de carinho e
respeito produzem no aluno um efeito muito mais positivo.
10
O aluno é nulo, não percebo nele nenhuma habilidade ou interesse.
Ninguém é nulo. Todo mundo tem algo de bom para mostrar. Todos têm algo que interessa
mais, alguma habilidade em alguma coisa, basta descobrir. Revisite seus conceitos de habilidade. O
aluno pode não ser tão bom naquilo que você gostaria que ele fosse, mas não faça do seu aluno o
seu espelho. Ele tem habilidades próprias, interesses próprios, qualidades únicas que podem
superar todas as expectativas. E; se o seu aluno com necessidades especiais for
extremamente limitado, lembre-se de que pequenas conquistas, pequenos passos, quando
valorizados, fazem o aluno querer ir cada vez mais para frente, o que resulta em desenvolvimento.
11
O aluno parece estar sempre aéreo, pensando em qualquer coisa;
menos no que está sendo trabalhado. É desatento, dispersivo.
Onde está o foco da sua atenção naquele determinado momento? Não são poucas as vezes
em que observamos os alunos se esticando em direção à janela para ver o que estava acontecendo
no pátio, ou prestando atenção no que ouviam na sala ao lado, simplesmente porque era mais
interessante do que aquilo que estavam vendo e ou que na sua
própria sala de aula. Se a sua aula estiver realmente interessante e,
ainda assim, algum aluno parecer estar com o pensamento distante Apatia é resultado da falta
de autoria. Crianças que
dali, pode ser, sim, um caso de déficit de atenção, e uma consulta ao criam, inventam, produzem
neurologista seria muito bem-vinda. Mas seja criterioso observação e sentem-se motivadas.
79
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Se for o caso de criança com déficit de atenção, crie estratégias para fazê-la voltar de suas
"viagens imaginárias”. Ande em direção a ela e, ao passar do seu lado, toque-a no ombro ou fale o
nome dela, colocar um grande peso nisso. Por exemplo, supondo que o meiuno Carlos tenha déficit
de atenção, você pode falar assim: “Agora vou perguntar ao Carlos, pois já perguntei no início da
aula, nem ao Pedro, que já respondeu hoje. Vou perguntar a quem quiser responder...” Dessa
forma, o Carlos volta sua atenção para você sem ficar em evidência na sala.
Veja, a seguir, uma reflexão sobre diagnósticos equivocados.
Você, professor, está achando tudo um absurdo? É exatamente isso que acontece com
milhares de crianças todo ano em nosso país e no mundo! São diagnosticadas como TDAH. No
entanto, são crianças ativas, que gostam de correr, brincar, pular e mexer em tudo.
Além dessas características normais de toda criança ativa, foram ensinadas a prestar
atenção, a esperar pela vez delas; a deixar o prazer para depois, a respeitar o espaço dos outros. Não
80
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
aprenderam. Seus pais, pelas infinitas justificativas atuais, não dedicaram atenção suficiente ao
ensino dessas coisas tão básicas, mas tão importantes. Se não aprenderam, podem ser rotuladas
como hiperativas? Podem ser diagnosticadas como tendo déficit de atenção? Faltou mediação de
qualidade, faltou interação, faltou mais educação a respeito das velhas palavrinhas “mágicas",
como por favor, com licença, desculpe-me, obrigado, além de tantas outras evidências de que a
criança foi abandonada à própria sorte por seus pais.
Também faltou respeito às dificuldades da criança quando o professor jogou o Augusto no
meio da piscina, sem que soubesse nadar. Muitas crianças passam por isso. São atiradas num
mundo curricular de conteúdos “até a borda” e esperam que saiam nadando, ou que dominem os
assuntos suficientemente.
É possível modificar o comportamento dessas crianças? A resposta é “sim”! Se não houver
uma disfunção no funcionamento dos neurotransmissores, não é TDAH, é falta de aprender a
prestar atenção. Nesse caso, o caminho é mediar, e não medicar. Nos casos reais desse transtorno,
a medicação pode fazer “milagres” sim, mas a criança precisa ser acompanhada pelos médicos.
Dessa forma, o professor pode ajudá-la a aprender muito sobre seu próprio comportamento e
modificá-lo. A modificabilidade humana deve ser sempre uma esperança do professor.
12
O aluno não tem amigos.
Um dos maiores objetivos da inclusão é a socialização, embora não seja o único, apesar de
alguns educadores e legisladores assim o fazerem parecer. Ajude o aluno a integrar-se com os
colegas nas atividades de sala de aula, nas brincadeiras do recreio, nas aulas de Educação Física e
em outras. Planeje atividades em grupo, nas quais o aluno não seja ainda mais exposto, mas que
desempenhe um papel importante na tarefa. Isso desenvolve o sentimento de pertença, tão
importante para a saúde mental de uma pessoa!
13
O aluno não consegue manter diálogo, responde somente com
palavras ou frases curtas. Tem dificuldades fonoaudiológicas.
Investigue como o aluno se expressa em situações diferentes da sala de aula. Por exemplo,
ele conversa com os colegas no recreio, com os familiares, em casa? Se sim, ele pode ser tímido, ter
vergonha de se expressar diante da figura de autoridade do professor. Verifique como é a
articulação das palavras, Pode ser também que ele fale “errado” saiba disso e sinta vergonha. Caso
ainda não se trate disso, uma avaliação com um fonoaudiólogo pode indicar algum problema
fonoarticulatório ou uma dificuldade de linguagem, e um atendimento com este ou outros
especialistas pode ajudar muito. Encaminhe sempre a família para que realize uma investigação
com o profissional da área pertinente. Somente ele poderá afirmar se existe mesmo a dificuldade.
Não faça julgamentos sobre algo que não domina. Não seja ultracrepidário.
14
Suspeito que o aluno sofre abuso sexual.
Toda suspeita deve ser denunciada. Procure o Conselho Tutelar. Há vários indicadores
81
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
******************************************************************
Sempre que houver a desconfiança, peça ajuda a outros profissionais que possam
encaminhar a criança para uma investigação médica e psicológica. Não tente fazer com que a
criança conte algum fato consumado ou alguma tentativa de abuso a você. Caso ela o faça espon-
taneamente, apenas acolha, escute e diga que vai procurar ajudá-la. E preciso deixar essa questão
para os profissionais especialistas. Não queiramos resolver todos os problemas do mundo!
15
A criança apanha em casa.
Da mesma forma que na questão anterior, peça ajuda a outros profissionais que tenham
melhores condições de prestar atendimento à criança vítima de maus-tratos. Existem muitos
serviços especializados bem preparados para lidar com essa questão. Os sintomas que a criança
apresenta são facilmente percebidos, mas jamais podemos, por conta própria, julgar ou
diagnosticar o fato. Entretanto, pena ficar atento a marcas de machucados roxos em cirna de
outros já amarelados. Isso significa que a história de “fulano caiu da escada” pode estar
escondendo atos violentos sistemáticos, pois a criança pode estar apanhando semanalmente. Outros
sinais evidentes são manchas ou marcas circulares em volta do pescoço ou dos punhos. Muitas
mães agressoras, ou coniventes com o agressor, justificam o machucado dizendo: “Ela ia cair e
quando fui segurae, peguei na correntinha e ficou a marca no pescoço”. Entretanto, a correntinha
teria marcado apenas a frente do pescoço, e não a nuca. Fique atento.
A criança pode ter sido sufocada com uma cordinha, envolvendo o pescoço todo. O mesmo
pode ser observado em relação aos pulsos. Se a marca for circular, ou seja, em volta do pulso todo,
a criança pode ter sido amarrada. Novamente repetimos: desconfie e encaminhe o caso, mas jamais
julgue ou afirme que o fato ocorreu. O encaminhamento para os órgãos ou profissionais
competentes pode salvar a criança, enquanto nosso julgamento pode atrapalhar investigações mais
profundas.
16
O aluno lê com lentidão.
Lentamente para qual parâmetro? Há crianças que necessitam realmente, de mais tempo
para decodificar e compreender o que estão lendo. Nós, adultos, também. Se formos cronometrar o
tempo que cada um lê, este será diferente para cada um de nós. Algumas pessoas levam poucos
segundos para ler um parágrafo. Outras podem levar minutos. É uma questão de treino, hábito de
leitura ou próprio. Nesses casos, tudo o que der prazer na leitura deve ser indicado: revistas sobre
carros ou bonecas, pequenos livros de fábulas ou outros gêneros de leitura, desde que a criança
82
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
goste de ler. O prazer de ler, estimulado por palavras de incentivo à leitura, pode fazer a criança ler
cada vez melhor.
Há um mito segundo o qual, para escrever bem, é necessário ler bastante. Não é verdade,
pois as funções cognitivas são diferentes. Ler é decodificar, é transformar em significado os
símbolos esccritos. Escrever é, ao contrário, codificação: transformam-se idéias em símbolos
escritos, em códigos. Portanto, para escrever bem, deve-se bastante e aprimorar cada vez mais essa
habilidade, mas isso se faz com a prática.
Quando uma pessoa lê bastante, ela adquire vocabulário, que pode ser utilizado na escrita,
conhece novas estruturas de frases, conhecimento que também pode ser aplicado na ação de
escrever, mas, voltamos a reafirmar, a relação “lê bem-escreve bem” não é direta.
17
O aluno não interpreta o que leu.
Então ele não está efetivamente lendo, mas decodificando símbolos, ente ler com ele, em
partes menores, inicialmente frases curtas, e ajude-o a interpretar. Pergunte do que está tratando
aquela frase depois outra e outra. Faça isso repetidas vezes, pois essa habilidade pode levar muito
tempo para se consolidar.
Para experimentar a sensação de saber ler, mas não entender nada, o texto de Loni Grimm
Cabral, cujo trabalho aponta para o erro comum de se ensinar apenas a decodificação do texto em
detrimento da compreensão.
Leia o texto a seguir e responda às perguntas.
Mirimi e Gissitar
Era uma vez dois trafelnos, Mirimí e Gissítar. Os dois trafelnos eporavam longe das perlogas.
Um masto, porém, um dos trafelnos, Mirimi, felnou que ramalia rizar e aror uma perloga.
Gissitar regou muito. Ele rurbia que Mirimi nao rizaria mais da perloga. Gissitar felnou, regou,
regou; mas nada. Mirimi estava leruado: ramalia rizar e aror uma perloga. No masto do fabeti,
Mirimi rizou muito lento. No masto do fabeti, proceu Gissitar e os dois rizaram ateli. Gissitar
não ramalia clenar Mirimi.
83
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
história, é ser capaz de fazer outro texto com argumentações contrárias ou favoráveis ao que o texto
defende, enfim, é compreender com profundidade o que foi lido, A escola deve ajudar o aluno a
fazer isso e preocupar-se menos com a mecanização da leitura ou com a ortografia. Estas últimas o
computador faz, mas na compreensão do texto nenhum computador pode ajudar, isso é papel da
escola.
18
O aluno é estranho.
É preciso que os professores ampliem o vocabulário para descrever seus alunos. Estranho
não define comportamentos, não mostra quais são as dificuldades manifestadas, não fornece pistas
do que pode estar realmente acontecendo com a criança. Estude, pesquise, pergunte, fundamente
suas observações.
Quando for atender aos pais, evite interpretar as atitudes da criança, fale apenas de fatos.
Por exemplo, diga “Seu filho encosta a testa na parede e balança os braços enquanto o restante da
turma está prestando atenção no que estou explicando” em vez de dizer “Seu filho é muito
estranho, esquisito, tem posturas fora do normal” Se, a partir do relato dos fatos, os pais
perguntarem se isso é normal, então, e só então, você poderá dizer que “não parece” uma atitude
normal, mas não saberia dizer por que razão isso ocorre.
Em outras palavras, quando você fala de fatos reais, os pais não têm como pensar que você
está dizendo tal coisa porque não gosta do filho deles. Se você disser suas opiniões, os pais vão
achar que o problema é com você, que não “compreende” o filho deles, e não vão perceber que o
filho pode realmente ter algum problema que precisa ser investigado.
O aluno perde seu material ou é descuidado com seus pertences.
Essa é uma das características da criança com TDAH, mas não significa que esse seja o
diagnóstico, baseado em somente uma ou poucas informações. Pode ser que ele apenas não tenha o
hábito da organização, do cuidado. Investigue a dinâmica familiar. Questione como a família se
organiza ou como a criança se organiza em casa. Organização e zelo também se aprendem. Vale a
pena refletir novamente sobre o menino que tinha “TDNH” por não saber nadar. Se ninguém o
ensinou nadar, como afirmar que a ausência do comportamento é fruto de um transtorno? É fruto
da falta de alguém ter tido paciência o suficiente para ensiná-lo a nadar.
19
A criança comete trocas e omissões de letras.
Essa é uma das características da criança disléxica, mas as crianças que ainda não se
apropriaram da escrita também podem apresentar essa característica. É freqüente a criança trocar,
omitir ou acrescentar letras. E preciso fazê-la perceber o que escreveu, levando-a a ler o que está
escrito, da forma como está escrito, para que ela perceba a falha e então ela própria possa corrigi-la.
Não se pode concluir que uma criança é disléxica antes de pelo menos dois anos de alfabetização.
21
Não tenho condições de dar atenção a somente um aluno, os demais
também têm direito de aprender.
84
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
É verdade. O professor precisa estar atento a todos os alunos da turma, mas entendemos
que nem sempre isso é possível em todos os momentos. Ensine seus alunos a esperar enquanto
você precisa se dedicar mais intensamente a um ou a um grupo de alunos. Nessas situações,
proponha outras atividades para os demais alunos, como leitura individual, realização de desafios
ou outras tarefas que mantenham os alunos ocupados. Peça ajuda também àqueles que já dominam
o conteúdo para que auxiliem os que ainda têm dúvidas ou dificuldades. Eles se sentem úteis e, na
maioria dos casos, conseguem estabelecer uma ótima relação com o colega, favorecendo a
aprendizagem.
Quanto mais centralizado no professor for o processo de ensino- aprendizagem, mais difícil
será atender individualmente aos alunos com deficiência. Se houver mais momentos de
aprendizagem coletiva, o aluno com dificuldades receberá ajuda dos amigos. Além disso, sobra
mais tempo para que o professor possa ajudar também.
22
Não tenho condições de fazer mais de um planejamento nem
atividades diferenciadas.
Essa questão já foi abordada em capítulo anterior, mas vale lembrar que não se trata de
fazer vários planejamentos, mas sim de adequar a metodologia, as estratégias e as atividades para
os alunos que demonstram dificuldades. Recentemente pudemos verificar a prática de três
Proressoras que trabalham com o 3º ano do ensino fundamental em uma escola pública (para citar
apenas um exemplo dentre tantos que temos visto). Além de apresentar para os alunos com
dificuldades ou defasagens acadêmicas atividades diferentes das demais propostas para a turma,
para cada um desses alunos as atividade ( e até os próprios cadernos de
cada área do conhecimento) eram diferentes. Para cada criança, uma
estratégia e uma atividade específica, voltadas ao aspecto que cada um
estava precisando trabalhar naquele momento. Vale obser var que esses
O papel do professor
alunos não se sentiam discriminados, excluídos ou menos capazes do
que os colegas nem os colegas os ridicularizavam por terem atividades atual não é mais
diferentes das deles. Era uma espécie de cultura esta belecida pelas ensinar, mas fazer
professoras para a turma. Trata-se de um trabalho digno de servir de aprender.
modelo, de exemplo, que atende à função do professor e da escola para
aqueles alunos. E o resultado está surgindo!
Uma mudança de mentalidade deve ocorrer: o ofício do
professor, antigamente, era o de ensinar. Se os alunos aprendessem ou
não aprendessem, a responsabilidade era exclusivamente deles.
Atualmente nas escolas interacionistas (a absoluta maioria no Brasil), o
papel do professor é outro. Como já comentamos anteriormente, a responsabilidade dele não é mais
ensinar, mas fazer aprender.
23
Preciso de mais um professor na sala para me ajudar com os alunos
que têm dificuldades.
85
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
24
A avaliação psicoeducacional (ou psicopedagógica) demora demais.
25
O atendimento especializado não trabalha conteúdos acadêmicos.
E verdade, e é assim que deve acontecer. Atendimento terapêutico educacional não é aula
de reforço nem de recuperação de conteúdo! Os especialistas trabalham, essencialmente,
habilidades cognitivas, funções cognitivas deficientes, operações mentais, pré-requisitos para a
aprendizagem acadêmica. Se um psicopedagogo trabalhar especificamente conteúdos curriculares,
talvez o efeito do trabalho seja pontual e as reais dificuldades da criança continuem existindo. Em
outras palavras, se os profissionais que deveriam intervir no sistema cognitivo da criança, com o
objetivo de corrigir funções cognitivas deficientes, estiverem fazendo o trabalho do professor v:oro
conteúdos curriculares), então quem ajudará a criança a superar suas dificuldades? Ela melhora
suas notas em um bimestre, mas no outro suas dificuldades retornam.
26
Não tenho habilitação nem recebo capacitação para trabalhar com o
diferente, com a inclusão.
86
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Não fique esperando por capacitação, corra atrás, busque formação, aprenda com a prática,
quando o problema se apresentar. Cursos, congressos, seminários, encontros, simpósios estimulam
a pesquisa, a reflexão, a troca de experiências, o aprofundamento teórico e são extremamente
necessários, fundamentais, mas nenhum curso capacita mais o professor para trabalhar com o aluno
com deficiência do que o próprio aluno. Aprendemos com eles, na prática, no dia a dia, à medida
que os desafios vão se apresentando. Muitas vezes é preciso usar a criatividade, pois aquilo que
havíamos planejado, pensado, para determinado momento simplesmente não serviu. O aluno, às
vezes, não chega muito bem à escola, ou não consegue fazer aquilo que propomos, ou surge algum
fato novo que impede aquele trabalho naquele momento, enfim, muitas e variáveis situações
acontecem e temos de modificar toda a dinâmica prevista para aquele dia. Isso, curso nenhum
ensina; só aprendemos quando a situação acontece.
Queremos relembrar, porém, que todo esse nosso movimento em buscar, nós mesmos, a
formação necessária não deve eximir os gestores (das escolas públicas ou particulares) de sua
responsabilidade de oferecer capacitação aos professores.
27
Não optei por trabalhar com alunos especiais e não ganho para isso.
Trabalhar com pessoas deficientes deveria ser uma opção. Se não for assim tudo se tomará
muito mais difícil, porque o professor, principalmente, não terá a resiliência suficiente para superar
os desafios e até as limitações dessa atividade. Ou seja, o aluno pode não apresentar um
desempenho de acordo com a expectativa do professor, muito menos no tempo em que este espera,
então é preciso paciência, perseverança e acreditar que cada aluno, dentro do seu tempo, do seu
limite e da sua capacidade, vai avançar.
Por outro lado, todos os alunos, incluindo aqueles sem dificuid uj,
alguma, devem ser incluídos. A proposta de trabalho deve prever as
diferenças, os ritmos descompassados, os diferentes modos de aprender. A
homogeneização da ação do professor acaba excluindo muitos alunos que
Aprendemos com os
não se adaptam às peculiaridades dessa prática. É por isso que a
preocupação em incluir deve ser constante, não somente em relação aos ali]unos, na prática, à
28. apresentando.
87
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
psicológica ou outra, devem ser erradicada escola. Professores não podem segregar, ter preconceito
ou excluir. A bandeira da tolerância deve ser erguida por todos nós, educaddores.
29.
Os alunos com dificuldades rebaixam o aproveitamento geral da
turma.
30.
A equipe pedagógico-administrativa da escola não me apóia.
Quando a direção da escola está envolvida com o pedagógico, tudo acontece de forma mais
efetiva, mas, se os dirigentes não acreditam na ação pedagógica desenvolvida, não a apoiam e não
buscam alternativas junto com o professor, realmente o trabalho se toma muito árduo. Quando
falamos em inclusão, verificamos que, se a equipe diretiva da escola acredita e investe nesse
projeto, a verdadeira inclusão pode acontecer.
Se, por infelicidade, os gestores realmente não o apoiam, comunique cada passo que der
em relação à inclusão, compartilhe suas emperiências, explicando o que você está fazendo com o
aluno com deficiência. Isso os faz ser corresponsáveis na educação desse aluno.
31
Qual o papel do professor em relação aos alunos com dificuldades,
com deficiência?
88
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
32
Não sei mais o que fazer com esta "criatura”.
É melhor encaminhar o aluno para o neurologista.
Ouvimos os professores dizendo que não há mais o que fazer com o aluno que não
acompanha a turma, não aprende, não para quieto, não se concentra, não interage com os colegas,
parece estar "alheio” ao que acontece na sala de aula, não responde aos questionamentos etc. As
queixas são as mais variadas e alguns professores acreditam que, então, a única solução é
encaminhar o aluno a um neurologista, que poderá fazer um diagnóstico e finalmente encontrar a
solução para todos os problemas do aluno e, por conseqüência, do professor. Acreditamos que essa
possa ser parte da solução, mas enfatizamos a necessidade do envolvimento de vários profissionais,
de diversas áreas, na busca pelo melhor atendimento ao estudante. Podem fazer parte dessa equipe
o psicólogo, o fonoaudiólogo, o psiquiatra, o terapeuta ocupacional, o musicoterapeuta, o pediatra,
o otorrinolaringologista, o oftalmologista e até mesmo o neurologista, entre outros, dependendo da
especificidade de cada caso. Mas de nada adiantará o envolvimento desses profissionais se o
professor não estiver junto, compartilhando e esclarecendo dúvidas, aprendendo e agindo. Nenhum
remédio é melhor que a própria aprendizagem e, nesse caso, o professor é o melhor especialista.
89
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
90
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
****************************************************************
****************************************************************
Irajá nos diz ainda que o foco das preocupações da escola em relação à pessoa com
deficiência precisa mudar. Há uma excessiva preocupação com a aquisição dos conteúdos das
disciplinas curriculares (Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências etc.),
deíxando-se de valorizar as habilidades que a pessoa tem e investir nelas. A escola deveria
preocupar-se em exaltar as habilidades e qualificá-las, em vez de obrigar o estudante a trabalhar
com conteúdos que talvez não lhe sejam relevantes.
Em entrevista realizada com José Juarez Martins, ele enfatiza diversas vezes que o que
falta para as escolas, com relação à inclusão, é atitude. Ele entende que o cego deve estar em uma
escola para cegos, pelo fato de que a escola comum não sabe como ensinar o deficiente visual e há
muita discriminação contra a pessoa com deficiência. Falta estrutura para promover a
acessibilidade e a mobilidade, assim como faltam materiais didáticos em geral e preparo dos
profissionais. Caso haja um cego numa sala de aula em que há pessoas que enxergam normalmente,
deve haver um professor especializado. Como não há, o melhor local para a educação acadêmica
do deficiente visual é a escola especial, na qual poderá aprender o sistema Braille, considerado o
melhor meio de leitura e escrita para pessoas cegas.
Juarez encerra a entrevista dizendo que o deficiente visual não pode ser tratado como
“coitadinho” e precisa de incentivo. Ressalta, mais uma vez, a importância da mudança de atitude.
Rubens leonart
Assessor especial para a Área Auditiva da Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa com
91
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Antes de assumir o cargo de assessor para a Área Auditiva na Secretaria Especial dos
Direitos da Pessoa com Deficiência, Rubens Leonart professor, diretor de escola regular, diretor de
escola especial e também pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científica e
Tecnológico (CNPq) na área de plantas tóxicas e medicinais.
Em função da surdez de um dos seus filhos, Rubens passou a dedicar boa parte do seu
tempo a fortalecer e melhorar o atendimento prestado por instituições educacionais para surdos.
Essa lida começou em 1979 e estende-se até os dias atuais.
Em relação ao seu filho, nos primeiros anos de vida da criança, Leonart, ao pesquisar sobre
o assunto, descobriu que os especialistas recomendavam aos pais que colocassem o filho surdo em
ambiente educacional apropriado, tão logo fosse identificada e quantiíicaaa a perda auditiva.
Contudo, na época, nenhuma escola regular estatal aceitava matricular criança com idade
inferior a 6-7 anos; criança surda, então, nem pensar. As escolas particulares até aceitavam, com a
ressalva, colo cada desde o início da conversa, de não disporem de pessoal com um mínimo de
competência para prestar esse atendimento.
Como precisava inserir seu filho surdo nesse ambiente recomendado pela literatura,
direcionou sua busca para entidades zadas. Descobriu que eram duas as que atendiam a crianças
surdas c em Curitiba. Elas tratavam das questões da surdez e da fala, muito mais desta, e deixavam
para a escola regular a escolarizaçãc, começava quando a criança atingisse a idade para freqüentar a
1ª Série do ensino fundamental (era ensino de 1° grau).
Primeiro veio o encanto com a descoberta; depois, o desânimo. A primeira instituição
alegou não ter vaga; a segunda, em razão de atender a crianças carentes, em regime de internato,
não podia aceitar o seu filho. Ou seja, nesta não bastava a criança ser surda; era oreciso que os seus
pais cumprissem outros requisitos, como terem uma baixíssima condição financeira ou serem
militares.
Ânimo refeito, ele descobriu que havia outros pais na mesma situação: filho surdo no colo
e nenhuma escola aonde levá-lo. Unindo esforços, conseguiram fundar um centro de treinamento
de reabilitação da adição e da fala.
Quando o filho completou 4 anos, Rubens o matriculou numa escola particular que
dispunha de turmas de jardim da infância. Assim, no período da manhã, o filho freqüentava o
centro de atendimento especializado; no período da tarde, o jardim da infância.
Quando o menino atingiu a idade para freqüentar a 1a série, buscou uma escola regular
particular apontada como ótima em uma pesquisa realizada por uma equipe de Educação da
Universidade Federal do Paraná. O seu pensamento era o de que naquela escola o seu filho teria um
bom atendimento educacional.
O filho permaneceu naquela instituição até o dia em que, em determinada reunião, a
coordenadora pedagógica lhe confessou que não sabiam direito o que fazer com o seu filho, mas
que poderiam continuar a “dar notas” para ele.
Diante disso, Rubens resolveu mudar o encaminhamento que havia dado à questão escolar
do seu filho. Como nessa época era diretor de uma escola regular estatal, pensou em transferi-lo
para essa instituição. Antes de fazê-lo, porém, em uma reunião com os professores que atuavam de
1a a 4a série, comunicou-lhes que a escola recebería um aluno surdo. Omitiu que se tratava do seu
filho. Em seguida, perguntou qual professor gostaria de trabalhar com o novo aluno. Após silêncio
desconfortável, uma professora se mai dizendo: “Eu aceito esse aluno na minha classe!”
A professora não sabia ao certo como iria proceder para tra os conteúdos ao novo aluno,
todavia deu o primeiro e importante passo: aceitou-o. E fez um bom trabalho.
92
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
****************************************************************
"Afirmar que os homens são pessoas e que, enquanto pes devem ser livres, mas não fazer nada
para que esta afirm se tome realidade, sem dúvida, é uma comédia” (Freire, p. 59).
Provavelmente o discurso de todos os outros professores era o da inclusão, do respeito e da
igualdade entre todas as pessoas, mas somente essa professora tomou o discurso realidade. Tal
postura deve sempre ser incentivada e valorizada em nossa sociedade.
****************************************************************
Rubens sempre fez questão de treinar o filho para fazer leitura labial e da escrita e sobre
isso relatou um fato que mere que: enquanto todos afirmavam que, para a leitura labial ser com
mais facilidade e sucesso pelo surdo, os homens (interlocutores do surdo) não poderiam ter barba
nem bigode, Rubens, contrariando o senso comum, deixou a barba e o bigode crescerem (aindaos
usa). Ele entendeu que seu filho deveria aprender na dificuldade; se ele soubesse fazer leitura labial
olhando para alguém com bigode, seria muito mais fácil realizá-la olhando para lábios de Rubens
nos conta também que, desde pequeno, seu filho considerava que o ouvinte vivia em uma espécie
de mundo paralelo entre eles o incomodava. Em linguagem infantil, o coleguinha era alguém que
estava por ali, mas que não contava. Da mesma forma, constata Rubens, para as pessoas ditas
“normais”, de modo geral, a quem tem deficiência habita um mundo paralelo. Os poucos meninos
intes que pleiteavam ser amigos de seu filho e que, às vezes, iam a sua casa para brincar ficavam
com ele por pouco tempo, pois o o menino pedia que fossem embora. Mão se sentia bem no meio
outras crianças que, para ele, eram diferentes.
Rubens enfatiza que é um equívoco querer, a todo momento, pensar pela pessoa com
deficiência, agir em nome dela, sem perguntar entender de fato o que ela quer ou pretende.
Poderíamos traduzir essa ideia assim: “Pense em mim, não por mim!”.
Muitos pais costumam pensar pelo filho com deficiência ao longo toda a vida. Aliás, a
sociedade também tem esse hábito. Em alguns casos, esse comportamento é inevitável. É
importante, contudo, que da pessoa possa participar das decisões a respeito de sua própria vida,
cada qual na medida do seu conhecimento e da real necessidade, ma pessoa surda que desde cedo
teve a sua condição respeitada está ta a fazer escolhas. Ela tem o direito de escolher em qual escola
uer estar, que trabalho gostaria de realizar etc.
Hoje, fala-se muito em inclusão. Mas, enquanto a inclusão depender de terceiros, de
pessoas que inserem pessoas, o sucesso continuará ífio. A sociedade precisa “incluir-se”. Incluir é
diferente de inserir, nchir deve ser um “tsunami” que eleve e envolva a todos.
Rubens, com toda a sua experiência de pai e educador, afirma que o surdo quer fazer parte
de um ambiente agradável, de um lugar onde estar é estar bem, não o local onde é sempre alvo de
olhares curiosos, como se pertencesse a uma espécie animal diferente. O surdo tende a sentir-se
diferente num ambiente em que a maioria é ouvinte, principalmente se essa maioria não entende
nada de sua condição linguística. Quanto mais evoluída a sociedade, mais condições têm os seus
membros de usufruir o benefício de poder optar.
O caso Gabriel
A mãe de Gabriel, um menino Down de 16 anos de idade, foi chamada à escola em que seu
filho estudava para uma reunião com a diretora, uma professora e a coordenadora pedagógica.
Clima de suspense, todas sentadas à volta de uma mesa, a coordenadora inicia a reunião;
— Bem, a gente pediu que você viesse, mãe, pois estamos passando por uma situação
muito constrangedora e não soubemos como agir.
93
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
— Vá em frente, diga logo que a gente resolve! — diz a mãe, já acostumada com os
excessos de cuidados em relação ao trato com o filho.
— E que... bem... Vou direto ao assunto então! E que o Gabriel estava se masturbando
dentro da sala de aula!
A reação da mãe foi de alívio por não ter sido nada grave e chegou até a achar graça da
situação! Tanto mistério por tão pouco!
— E o que vocês fizeram? — perguntou a mãe.
— Bem, a gente não fez nada, não sabíamos se a gente podia falar sobre um assunto desses
com o menino, pois não sabemos se vocês já falaram dessas coisas com ele.
— Ora, claro que já falamos! Os hormônios já estão percorrendo as veias dele! Ele já tem
desejo sexual e precisa ser orientado. Por que vocês não mandaram parar? Bastava dizer que isso só
se faz no quarto, em casa, sozinho, e não na escola, na frente de todo mundo! Orientem! E, se ele
fizer algo errado, contra as normas da escola, podem dar bronca! Ele é uma criança que precisa
aprender. E revejam o que aconteceu, pois o Gabriel só começa a se masturbar quando não tem
nada pra fazer, ou seja, provavelmente ele estava em sala de aula sem atividade nenhuma pra
executar.
Este relatório foi dado pelos pais de Gabriel ao professor Marcos Meier, amigo da família.
Optamos por preservar a identidade original do menino que protagoniza o caso, para evitar a
exposição dele e da escola em que se passa a situação relatada.
— Humm, vamos ver isso depois. Obrigada por ter vindo.
**************************************************************
“A deficiência de um sujeito se define menos por um constatado e Insuperável desvio à
normalidade do que pelo limite interior que o educador estabelece ao principio da
educabilidade” (Meiríeu, 1998, p. 75). A mãe de Gabriel, sem o saber cientifico e consolidado,
aponta para o que realmente a escola deve fazer: deixar de lado os limites interiores e acreditar
que o sujeito com deficiência realmente aprende. Entretanto, o professor deve interagir com o
aluno de forma proativa, e não desistir de tentar e solicitar o socorro da mãe.
**************************************************************
Claro que essa é a síntese de uma conversa que durou mais de uma hora e trouxe uma série
de outras reflexões a respeito de como interagir com o menino Down. No entanto, queremos
levantar ao menos algumas questões com base nesse episódio. A escola está realmente desafiando o
menino a ir além do que ele já sabe ou ele fica muito tempo ocioso em sala de aula? O medo de
mandar o menino parar de se masturbar existe porque a escola não está ensinando sobre sexuali-
dade humana em nenhuma das aulas ou porque o desconhecimento sobre crianças Down gera medo
de interagir?
Inclusão não é só permitir que o aluno esteja dentro da sala de aula, mas fazer o melhor
possível para que ele, estando ali, possa desenvolver-se. E isso significa que as palavras de
incentivo devem ser ditas tanto quanto as de repreensão. Só elogios não educam.
94
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Educar é uma das ações mais bonitas, significativas e importantes. É por meio da
aprendizagem que nos tornamos humanos. Entretanto, mesmo com esse sentido de missão, não
podemos esperar que as bênçãos divinas recaiam sobre nós, professores, e sobre nossos alunos e
que, por essa razão, tudo seja sempre agradável e perfeito. Educar dá trabalho, é desgastante,
cansativo e exige de nós muita dedicação de tempo e investimento de energia. Apesar disso, educar
nos realiza, para não nos desgastarmos tanto, precisamos, cada vez mais, nos profissionalizar. Fazer
cursos de pós graduação e de extensão, participar de congressos, seminários, grupos de estudo e
leitura, ler bons livros na área da formação de professores são formas de melhorar nosso trabalho.
Neste módulo, tentamos, da melhor maneira possível (não ideal, mas possível), suscitar
reflexões, apresentar-lhe informações relevantes para seu trabalho com alunos deficientes ou com
alunos com altas habilidades e, ainda, incentivá-lo nessa prática. Sabemos que muitos assuntos
deixaram de ser abordados ou não foram explorados com a profundidade que mereciam, mas
cremos que nosso objetivo tenha sido alcançado: incentivar você, professor, a educar, da melhor
forma possível, seu “aluno em processo de inclusão”.
Estamos conscientes também de que há vários fatores que agem contra nosso trabalho, mas
não podemos desistir. Se a quantidade de alunos em sala de aula é um impeditivo, então devemos
lutar por um menor número de alunos por turma. Se os salários não nos animam a estudar, a buscar
formação continuada, a nos especializar na educação especial, não podemos deixar de investir em
nós, mas lutar por uma remuneração mais digna e alertar a população sobre o crime que o Estado
comete ao não fazer esse investimento. Nós, educadores, precisamos defender a educação de
qualidade sempre, até mesmo quando alguns de nossos governantes têm dificuldades de
aprendizagem a ponto de não compreenderem que um país só cresce de forma sábia se investir
adequadamente em todos os segmentos da educação. Educação infantil de qualidade evita uma
série de problemas no desenvolvimento cognitivo e emocional de nossas crianças, no outro
extremo, ensino superior caracterizado por investimentos bem planejados a curto, médio e longo
prazo evita problemas com a formação de profissionais incompetentes.
Adequando metodologias, estratégias, recursos, planejamentos, espaços físicos e
avaliações, considerando novas e diferenciadas formas de ensinar e aprender, estamos
verdadeiramente respeitando, direitos da pessoa com deficiência, com dificuldades de
aprendizagem ou com altas habilidades em sua vivência dentro da escola, seja ela qual for,
especial, regular, pública ou privada. Façamos o que nos cabe com relação à cognição.
95
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Portanto, assumir uma atitude de professor mediador, com as características descritas por
Feuerstein, é a nossa indicação para o trabalho com pessoas que apresentam alguma deficiência.
Queremos enfatizar que toda essa teoria não é útil somente para esses alunos, mas para todos os
demais, pois acreditamos na modificabilidade humana. Mediar é, portanto, o caminho para que os
alunos possam ser incluídos não somente na escola, mas em toda a sociedade.
Desde a década de 1960, vem sendo disseminado o conceito de participação plena na
sociedade. Este pode ser identificado nos debates de vários segmentos da sociedade, e o lema
“Nada sobre nós, sem nós" vem ganhando espaço em livros, artigos, protestos e manifestações
públicas, a exemplo do lançamento do livro de David Werner, em 1998; intitulado Nothing aboutus
mthout us: developing innovative technologies for, by and with disabled persons (Nada sobre nós;
sem nós: desenvolvendo tecnologias inovadoras para, por e com pessoas com deficiência).
Esse é considerado o lema do movimento internacional pelos direitos da pessoa com
deficiência. Ou seja, as ações em direção ao desenvolvimento biopsicossocial da pessoa com
deficiência devem sempre estar pautadas no que ela própria pensa, sente e quer para si,
considerando-se a sua opção quanto ao lugar onde quer estar, onde se sente acolhida e respeitada,
seja a escola, seja outro espaço de aprendizagem e convívio. Todos os países precisam tomar
decisões nessa direção.
Não podemos esperar que um dia nosso país leve a sério a educado em todos os seus
segmentos. Nós precisamos investir na qualidade dos serviços e dos projetos desenvolvidos nessa
área, pois quem sofre os efeitos que daí decorrem são nossos alunos e, por conseqüência, o Brasil.
Enquanto as conquistas que almejamos ainda não estiverem sendo alcançadas, nosso
trabalho com as crianças não pode parar.
Há na literatura judaica (vai aqui uma homenagem ao nosso mestre Feuerstein) uma
interessante historinha que ilustra muito bem nosso entendimento sobre a educação especial.
******************************************************************
O mestre Hammaguel caminhava pela estrada quando avistou im velho que plantava uma
árvore. Curioso, pergunta:
— Senhor, quando esta árvore dará frutos?
— Creio que em setenta anos.
— Mas então o senhor não poderá saboreá-los!
— Sim, eu sei, mas, se meus avós tivessem pensado da mesma forma, não teríamos frutos
hoje.
— Meus netos poderão colher o que hoje planto.
******************************************************************
Trabalhar com pessoas com deficiência pode despertar a pressa de colher os frutos, mas
talvez não sejamos nós a usufruir deles. Desenvolvimento cognitivo, comportamental e das demais
dimensões humanas não ocorre de uma hora para outra, é preciso tempo.
Nosso desejo é que este estudo possa ter sido útil a você, profissional da área da educação,
que quer fazer a diferença na vida de um aluno com deficiência. Nos objetivo foi suscitar reflexões
úteis para a mediação dessas pessoas tão especiais e contribuir para que você possa adotar uma
nova postura em relação ao ser humano e suas dificuldades. A boa notícia que todos os outros
alunos serão beneficiados com essa mudança.
Bom trabalho!
96
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Referências
ASSENCIO-FERREIRA, V.J. O que todo professor precisa saber sobre neurologia. São José
dos Campos: Pulso Editorial; 2005.
AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D. E.; HANES1AN, H. Psicologia educacional. Rio de Janeiro:
Interamericana, 1980.
BANKS-LEITE, L.; GALVÃO; I. Educação de um selvagem: as experiências pedagógicas
deJean Itard. São Paulo: Cortez, 2000.
BEYER, H. O. O fazer psicopedagógico: a abordagem de Reuven Feuerstein a partir de Piaget e
Vygotsky. Porto Alegre: Mediação, 1996.
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivíl_03/constituicao/constitui%C3%AyaG.htm>. Acesso em: 8 jan. 2012.
________. Decreto n. 3.956, de 8 de outubro de 2001. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, 9 out. 2001a. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.
action?id=233ó83&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB>. Acesso em: 13 dez. 2011.
________. Decreto n. 6.571, de 17 de setembro de 2008. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, 18 set. 2008a. Disponível em: <http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp
/10/does/decreto_no_6.57i ,_de_i7_de_setembro_de_2oo8.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2011.
________. Decreto n. 7.611, de 17 de novembro de 2011. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, 18 de nov. 2011. Disponível em: <http://www.planalt0.g0v.br/ccivil_03/_At
02011-2014/2011/ Decreto/D76n.htm>. Acesso em 28 mar. 2012.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União. Poder Legislativo,
Brasília, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arqmvos/pdf/lei9394
_ldbn1.pdfx>. Acesso em: 12 dez. 2011.
BRASIL, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica.
Resolução n. 2, de 11 de setembro de 2001b. Relator: Francisco Aparecido Cordão. Diário Oficial
ia União, Brasília, 14 set. 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos
/pdf/CEB0201.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2011.
________. Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inculsiva. Brasília, 2010. Disponível em: <http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/atuacao-e-conteudos-de-
apoio/ publicacoes/educacao/marcos-politíco-legaís.pdfx Acesso em: 16 dez. 2011.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Manual de Orientação:
Programa de Implantação de Sala de Recursos Multifuncionais. Brasília, 2007. Disponível em:
<http://pt scribd.com/doc/40605552/Manual-de-Orientacao-Programa-de-Implantacao-de-Sala-de-
Recursos-Multifuncionais>. Acesso em: 13 dez 2011.
________. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: 1994. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ politica.pdfx Acesso em: 12 dez. 2011.
________. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília,
2008b. Disponível em: < http://portaLmec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf>. Acesso
em: 8 jan. 2012.
GARDNER, H. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento
97
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
98
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
99
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Gabarito
CAPÍTULO 1
Atividades de Síntese
1. d
2. V, V; V; V
3. b
4. Uma escola inclusiva é aquela em que o estudante demonstra o sentimento de pertença e sente
prazer em estar; o professor se preocupa em planejar as suas aulas de acordo com o que o aluno
precisa; os recursos para aprendizagem e as metodologias são adaptados à necessidade específica
de cada um; o tempo de aprendizagem de cada um é respeitado; a avaliação verifica o avanço do
aluno a partir do seu ponto de partida; a estrutura física fornece condições de acessibilidade; a
participação efetiva do aluno é garantida.
5. É promover condições para que a pessoa se tome melhor, mais adaptada, com condições de se
expressar, de interagir, de estar integrada, de participar da vida em sociedade.
CAPÍTULO 2
Atividades de Síntese
1. V,V,V,V
2. F,V,F,V
3. A avaliação pedagógica, como processo dinâmico, considera tanto o conhecimento prévio e o
nível atual de desenvolvimento do aluno quanto as possibilidades de aprendizagem futura. Devem
prevalecer os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor.
4. d
5. Prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos com
deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação,
desenvolvendo recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino-
aprendizagem.
6. De acordo com o documento Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, o atendimento educacional especializado é realizado mediante a atuação de
profissionais com conhecimentos específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua
Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do sistema Braille, do Soroban, da
orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do
desenvolvimento dos processos superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da
adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não
ópticos, da tecnologia assistiva e outros” (Brasil, 2010).
CAPÍTULO 3
Atividades de Síntese
1. b
2. c
3. d
4. A chave para responder a essa questão é a qualidade da mediação que a mãe pode proporcionar
ao seu filho e daquela oferecida pela escola. Se a mãe for excelente mediadora, é melhor que a
criança permaneça em casa. Por outro lado, se a mãe (ou pai e familiares) não tem tempo para
interagir com a criança, mas a escola sabe mediar, então é melhor que a criança seja imediatamente
matriculada na escola. A ideia central é achar o lugar em que a criança receba mediação de maiorm
qualidade.
CAPÍTULO 4
Atividades de Síntese
100
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
1. V,V,V,F
Os portadores da síndrome de Down apresentam prejuízos cognitivos evidentes, mas muito
variáveis de indivíduo para indivíduo.
2. a
3. 3- V, V, V, V
4. d
5. Autismo e síndrome de Asperger.
Semelhanças: dificuldade de relacionamento, movimentos estereotipados, ecolalia, dificuldades de
linguagem, fixação em um objeto, fato ou tema, resistência a mudanças de rotina, fixação em
rituais.
CAPÍTULO 5
Atividades de Síntese
1. d
2. b
3. V, V, F, F
-Não se conhecia a plasticidade cerebral naquela época, pois o próprio cérebro era pouco
conhecido.
-Não consta nenhum registro que comprove a adoção por lobos. Os relatos mostram que o menino
foi encontrado sozinho.
4. d
-É preciso que o mediador incentive o aluno a acreditar na própria modificabilidade.
5. Se o número de crianças em sala de aula for muito grande e a professora não puder despender
tempo de qualidade para cada criança uma vez por dia pelo menos, então estar presente nessa
escola pode não significar que a criança esteja recebendo mediação de qualidade. Além disso, se a
criança tiver danos cerebrais graves que a limitem fortemente em sua apropriação do conhecimento
trabalhado em sala de aula, então o ideal seria que a criança fosse mediada de forma mais
individualizada, considerando-se suas características pessoais e de estado atual de aprendizagem.
Assim, talvez a sala regular fosse perda de tempo. É sempre bom perguntarmos se a inclusão em
sala de aula é um direito da criança ou se, em alguns casos, esse direito é um castigo.
CAPÍTULO 6
Atividades de Síntese
1. c
2. d
3. c
4. V,V,V,F,F
-Todos são passíveis de modificabilidade e sempre, não somente quando possível, a
modificabilidade humana deve ser objetivo do mediador.
5. Em geral, um professor de sucesso já é um mediador, mas age sem estar consciente disso.
Quando estudamos as características da mediação, é possível percebermos que nossas posturas
como professores são, em geral, posturas de mediadores, salvo algumas exceções. Estar consciente
dessas características pode nos tomar professores ainda mais eficazes.
6. Geralmente as características positivas da personalidade ajudam o professor, enquanto as
negativas atrapalham. Por exemplo, se um professor é muito perfeccionista, seu nível de exigência
com os alunos é alto demais e irá desmotivá-los; se um professor é otimista e tem boa autoestima,
irá influenciar positivamente seus alunos, desafiando-os adequadamente e mediando o sentimento
de competência deles.
101
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda
Atividades Avaliativas
1. Visite uma escola que tenha pessoa(s) com deficiência entre seus alunos e elabore um plano de
ação que contemple as necessidades desse(s) estudante (s), considerando aspectos de aquisição de
conteúdos e posturas dos profissionais da escola. Nesse plano você deve apresentar as seguintes
informações: nome do aluno, idade, ano/série/etapa em curso, diagnóstico, conteúdos a serem
trabalhados, metodologia a ser adotada, recursos a serem empregados, forma e periodicidade da
avaliação, atitudes a sererem adotadas pelos professores, equipe pedagógica/adminisirativa e
demais profissionais da escola.
2. Qual a principal finalidade do atendimento educacional especializado? Como deve ser o perfil do
professor que atua na sala de recursos multifuncionais?
4. Releia a história "Sapateiro, não vá além das sandálias” e elabore um texto que registre o seu
entendimento sobre o termo ultracrepidário, relacionando-o às atribuições dos diversos
especialistas no que diz respeito ao diagnóstico das pessoas com deficiências e transtornos.
5. Que razões justificariam que uma formação universitária nas áreas de licenciatura ou Pedagogia
contemplasse uma disciplina de Mediação da Aprendizagem em seu currículo?
6. Vá a uma escola e peça que alguns professores descrevam 5 (ou mais) características de um
excelente professor. Depois, categorize as respostas dos professores em grupos de afinidades, ou
seja, que remetem quase ao mesmo conceito. Em seguida, verifique se as 3 categorias mais citadas
pelos professores estão de acordo com as 3 principais citadas por Feuerstein. As incongruências
mostrarão o que os professores estão valorizando na prática e aquilo a que poderiam dar mais valor.
Relate todos os dados e conclusões desta pesquisa.
“Somos, sem dúvidas, homens e mulheres cheios de esperança, pois temos que ter esperança do verbo
esperançar, porque há outros que têm esperança do verbo esperar, não é esperança, é espera: eu
espero que dê certo, espero que funcione, espero que resolva… Esperançar é ir atrás, é juntar, é não
desistir.” (Paulo Freire)
Bom desempenho!
102
Textos extraídos Do Livro Mediação da Aprendizagem na Educação Especial: Gislaine Budel, Marcos Meier