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Envolva-se!
Aprenda sobre comportamento
Qual é o SEU estilo de memória?
P974 Psico [recurso eletrônico] / [Tanya Renner ... et al.] ; tradução:
Marcelo de Abreu Almeida ; revisão técnica: Silvia H.
Koller. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012.
CDU 159.9
PENSA
LINGUAGEM E
176 Pensamento e raciocínio
189 Inteligência
SPACESHIPONE
Quando o primeiro homem norte-americano voou
para o espaço em 1961, Burt Rutan tinha 17 anos e
era um calouro da faculdade. Ao ouvir as notícias do
revolucionário voo suborbital de Alan Shepard no
rádio, Rutan ficou eufórico. Ele também esperava ir
para o espaço algum dia...
A SpaceShipOne [o foguete que ele projetou para rea-
lizar o seu sonho] é uma casca de grafita colada em um
motor de foguete que funciona a base de gás do riso [óxido
nitroso] e borracha. O bico é pontuado com portinholas,
como um transatlântico. Do lado de dentro, o instrumento
principal é uma bolinha de pingue-pongue decorada com
uma smiley face e ligada à cabine com um pedaço de bar-
bante, que afrouxa quando o piloto atinge gravidade zero
do espaço suborbital.
Apesar de parecer uma nave tirada do Flash Gordon e
ser uma criação não ortodoxa... ela se tornou a primeira
espaçonave com patrocínio privado. Em Outubro [2004] ela
arrebatou o Prêmio Ansari X de US$ 10 milhões como a
primeira nave do tipo a viajar para o espaço duas vezes em
duas semanas. Graças ao apoio de dois bilionários loucos
pelo espaço, a SpaceShipOne foi... a primeira de uma nova
linha de naves de turismo espacial... “É uma espaçonave
que cabe em uma garagem para dois carros, e você pode
levá-la para o espaço dia sim, dia não”, diz Peter Diaman-
dis, fundador do Prêmio Ansari X. “Isso é muito legal”
(Taylor, 2004).
A invenção de Burt Rutan agora está exposta no Natio-
nal Air and Space Museum, em Washington, DC, junto da
Spirit of St. Louis, de Charles Lindbergh, e outras espaço-
naves históricas. A SpaceShipOne pode não ter revolucio-
nado a viagem espacial, mas está claro que Rutan possui
a rara qualidade que marca os inventores de sucesso: a
criatividade.
De onde veio a criatividade de Rutan? De modo mais
geral, como as pessoas usam as informações para criar so-
Bert Rutan (esquerda) e seu parceiro Paul Allen com a SpaceShipOne luções inventivas para seus problemas? E como as pessoas
no National Air and Space Museum. pensam, compreendem e, através da linguagem, descre-
vem o mundo?
MENTO,
Respostas a essa pergunta se encontram na psicolo-
gia cognitiva, a ampla área de psicologia que se foca no
estudo dos processos mentais elevados, incluindo pensa-
mento, linguagem, resolução de problemas, conhecimento,
raciocínio, julgamento e tomada de decisões. Cobriremos
esses tópicos neste capítulo, junto da inteligência, testes
de inteligência e fatores associados à criatividade. A me-
mória, assunto do Capítulo 6, é outro processo de interesse
para os psicólogos cognitivos.
INTELIGÊNCIAS
• O que é o pensamento?
• Como as pessoas abordam e resolvem problemas?
você LÊ
• Quais as principais abordagens para se medir a inteligência no
ocidente, e o que os testes de inteligência medem?
CONCEITOS
IMAGENS MENTAIS Se alguém lhe pergunta o que tem guardado no armário da
Pense no seu melhor amigo. sua cozinha, você pode responder com uma lista de itens de-
É provável que algum tipo de imagem visual lhe venha talhada (“um pote de doce de leite, três caixas de macarrão
à mente quando pedem que você pense nele ou nela, ou em e queijo, seis tipos diferentes de pratos de refeição”, e assim
qualquer pessoa ou objeto, já que estamos falando disso. Para por diante). O mais provável, contudo, é que você respon-
alguns psicólogos cognitivos, tais imagens mentais consti- desse nomeando categorias mais amplas, como “comida” e
tuem uma parte importante do pensamento. “pratos”.
176 • PSICO
O uso dessas categorias re- lhor exemplo do conceito. Por
flete a operação de conceitos. exemplo, apesar de uma aves-
Conceitos são categorizações truz e uma andorinha serem
de objetos, eventos ou pessoas ambos exemplos de pássaros, é
que compartilham diferentes mais provável que aqueles que
propriedades. Os conceitos nos cresceram próximos de andori-
permitem organizar fenômenos nhas pensem nelas quando lhes
complexos em categorias mais peçam algum exemplo de pás-
simples e, portanto, de mais fá- saro. Consequentemente, para
cil uso (Connolly, 2007; Golds- as pessoas que pensam que a
tone e Kersten, 2003; Murphy, andorinha é o melhor exemplo
2005). para um pássaro, diríamos que
Os conceitos nos ajudam a andorinha é um protótipo do
Muitos atletas, como Tiger Woods, usam imagens mentais para
a classificar objetos encontra- conceito “pássaro”. De modo
se concentrar em uma tarefa, um processo que eles chamam de
dos recentemente com base em “entrar no clima”. Que outras ocupações podem requerer o semelhante, quando pensamos
nossa experiência do passado. uso de imagens mentais fortes? no conceito de uma mesa, aque-
Por exemplo, podemos supor
les que pensam em uma mesa
que alguém que está tocando em uma tela portátil está usan-
de centro antes de pensar em uma mesa de desenho teriam a
do algum tipo de computador ou PDA, mesmo que nunca
“mesa de centro” como o seu protótipo de mesa.
tenhamos visto aquele modelo específico antes. Por fim, os
conceitos influenciam o comportamento; poderíamos pre-
sumir, por exemplo, que é apropriado acariciar um animal ALGORITMOS E HEURÍSTICAS
após determinarmos que se trata de um cão, ao passo que nos
Quando precisamos tomar uma decisão, frequentemente nos
comportaríamos de outro modo após o classificarmos como
voltamos para vários tipos de atalhos cognitivos, conhecidos
um lobo.
como algoritmos e heurísticas,
Quando os psicólogos cognitivos começaram a estudar conceitos Categorizações de
para nos ajudar. Um algoritmo
conceitos, eles se concentravam naqueles que eram clara- objetos, eventos ou pessoas
mente definidos por um conjunto único de propriedades ou é uma regra que, se aplicada que compartilham diferentes
características. Por exemplo, um triângulo equilátero é uma adequadamente, garante a so- propriedades.
forma fechada que tem três lados de tamanho igual. Se um lução de um problema. Pode-
protótipos Exemplos típicos
objeto tem essas características, trata-se de um triângulo mos usar um algoritmo mesmo altamente representativos de um
equilátero; se não, então não é um triângulo equilátero. que não entendamos por que conceito.
Outros conceitos – frequentemente aqueles de maior re- ele funciona. Por exemplo,
algoritmo Regra que, se aplicada
levância para nossas vidas – são mais ambíguos e difíceis de você pode saber que pode des- adequadamente, garante a solução
definir. Por exemplo, conceitos mais amplos como “mesa” cobrir o tamanho do terceiro de um problema.
e “pássaro” têm um conjunto de traços característicos ge- lado de um triângulo retângulo
2 2 2 heurística Atalho cognitivo que
rais e relativamente menos estáveis, ao invés de proprieda- usando a fórmula a + b = c , pode levar a uma solução.
des únicas claramente definidas que distinguem um exem- mesmo que você não tenha a
plo do conceito de um não exemplo. Quando consideramos menor noção dos princípios matemáticos por trás da fórmula.
esses conceitos mais ambíguos, frequentemente pensamos A heurística é um atalho cognitivo que pode levar a uma
em termos de exemplos chamados de protótipos. Protóti- solução correta. Ao contrário de algoritmos, as heurísticas au-
pos são exemplos típicos altamente representativos de um mentam a probabilidade de sucesso de se chegar a uma solu-
conceito que corresponde a nossa imagem mental ou ao me- ção, mas não podem garanti-la. Por exemplo, quando jogo o
Qual das duas imagens se encaixa no seu protótipo de “telefone”? À esquerda está o primeiro telefone,
inventando por Alexander Graham Bell.
178 • PSICO
Você consegue resolver o enigma da Torre de
O enigma da Torre de Hanói Hanói? O objetivo do enigma é mover todos
1 2 3 1 2 3 os três discos até o terceiro poste, dispostos
na mesma ordem, usando a menor quantidade
de movimentos possível e seguindo as regras
c c
de que só um disco pode ser movido por vez,
b b e nenhum disco pode cobrir um disco menor
a a
durante um movimento. A solução lista os
movimentos em sequência.
Início Fim
Solução: Mova C para 3, B para 2, C para 2, A para 3, C para 1, B para 3 e C para 3.
Passos na resolução de problemas
Preparação
DICA DE ESTUDO
DIC Entender e diagnosticar
problemas
Lemb que os algoritmos são regras que
Lembre
sem
sempre dão uma solução, ao passo que as
he
heurísticas são atalhos que podem fornecer
uuma solução correta. Produção
Gerar soluções
Julgamento
Preparação: entendendo e diagnosticando proble- Avaliar soluções
mas Ao se deparar com um problema como a Torre de
Hanói, a maioria das pessoas começa tentando entender o
problema como um todo. Se o problema é incomum, elas pro-
ser criados, mas apenas um ou alguns dos arranjos produzirá
vavelmente irão prestar atenção especial a quaisquer restri-
uma solução. Problemas de anagramas e quebra-cabeças são
ções que existam para se chegar à solução – tais como a regra
exemplos de problemas de arranjo (Coventry et al., 2003).
sobre mover apenas um disco por vez no problema da Torre
Em problemas de estrutura de indução, uma pessoa
de Hanói. Se, por outro lado, o problema é familiar, elas po-
deve identificar as relações existentes entre os elementos
dem gastar muito menos tempo nesse estágio de preparação.
apresentados para, então, construir uma nova relação entre
Problemas variam de bem definidos a mal definidos (Ar-
eles. Em problemas assim, devem-se determinar não apenas
lin, 1989; Evans, 2004; Reitman, 1965). E um problema bem
as relações entre os elementos, mas a estrutura e o tamanho
definido – tal como uma equação matemática ou a solução
dos elementos envolvidos. No exemplo apresentado (na pró-
de um quebra-cabeça – tanto a natureza do próprio problema
xima página), uma pessoa deve, primeiro, determinar que a
quanto a informação necessária para resolvê-lo estão dispo-
solução necessita que os números sejam considerados em
níveis e claras. Assim, podemos fazer julgamentos francos
pares (14-24-34-44-54-64). Somente após identificar aquela
sobre se uma solução potencial é adequada. Com um pro-
parte do problema é que a pessoa pode determinar a regra da
blema mal definido, tal como aumentar a moral de uma linha
solução (o primeiro número de cada par aumenta de um em
de produção ou como trazer paz ao Oriente Médio, não só a
um, ao passo que o segundo número permanece o mesmo).
natureza específica do problema pode ser incerta, mas a in-
formação necessária para resolver o problema pode ser ainda
menos óbvia.
Tipicamente, um problema se encaixa em uma de três DICA DE ESTUDO
DIC
categorias: arranjo, estrutura de indução e transformação,
Você pode usar os três passos da solução
conforme mostra a figura na página 180. Resolver cada tipo
de problemas para organizar seus estudos:
requer espécies um tanto diferentes de habilidades psicoló-
gicas e de conhecimento (Chronicle, McGregor e Ormerod, Pr
Preparação, Produção e Julgamento (PPJ).
2004; Spitz, 1987).
Problemas de arranjo requerem que a pessoa rearran-
je ou recombine elementos de forma que satisfaçam certos
critérios. Usualmente, diversos arranjos diferentes podem
Problemas de arranjo 2. Dois fios estão pendurados no teto, mas estão muito longe um do
outro para que uma pessoa segure um e caminhe até o outro. No chão
1. Anagramas: rearranje as letras de cada conjunto para estão uma cartela de fósforos, uma chave de fenda e alguns pedaços
formar palavras em português:
de algodão. Como os fios podem ser amarrados um ao outro?
A R T M E
L O F C O
M I C P U
G N E E T
O B V R E
Fontes: Bourne & Dominowski, Cognitive Processes, 1st ed., © 1979 by Prentice-Hall.
Problemas de transformação
2. Dez moedas estão distribuídas da seguinte forma. Movendo apenas
1. Jarros com água: Uma pessoa tem três jarros duas das moedas, faça duas filas que contenham seis moedas cada.
com as seguintes capacidades:
180 • PSICO
(respostas para os problemas da p. 180) Você não ficaria frustrado se fosse
se torne parte de duas colunas. forçado a resolver um problema
horizontal no centro, para que
Empilhe uma moeda da coluna
por tentativa e erro ao invés de
usar atalhos? Thomas Edi-
son só inventou a lâmpada
porque tentou milhares de
tipos diferentes de material
antes de encontrar um que
fim da coluna vertical. funcionasse (carbono). Outra
coluna horizontal até o 2. dificuldade com a tentativa e
Mova uma moeda da erro é que alguns problemas são
duas vezes. O que sobrar no jarro A são 340 ml. tão complicados que levaria uma
1. Encha o jarro A; esvazie-o no Jarro B uma vez e no jarro C vida até esgotar todas as possibili-
Problemas de transformação dades. Por exemplo, de acordo com
2. Raquete, compra algumas estimativas, há cerca de
1. 7 10120 sequências possíveis de lances
Problemas de estrutura de indução de xadrez (10120 equivale a 1 seguido
de 120 zeros) (Fine e Fine, 2003).
pêndulo que pode ser balançado para alcançar o outro fio.
No lugar de tentativa e erro, a reso-
2. A chave de fenda é amarrada a um dos fios. Isso cria um
lução de problemas complexos frequente-
1. MARTE, FOCO, CUPIM, GENTE, VERBO
Problemas de arranjo
mente envolve o uso de heurísticas, atalhos
cognitivos que podem gerar soluções. Provavelmente a heu-
rística aplicada com maior frequência na resolução de proble-
Contudo, quando a escolha foi estruturada em termos da pro- mas seja a análise de meios e fins, que envolve testes repeti-
babilidade de morte, 44% escolherem a radiação em vez da dos para diferenças entre o resultado desejado e o que existe
cirurgia – apesar de os resultados serem idênticos em ambas atualmente. Considere este
simples exemplo (Chrysikou, análise de meios e fins Testagem
as condições.
repetida para as diferenças entre o
2006; Huber, Beckman e resultado desejado e o que existe
Produção: gerando soluções O segundo passo na reso- Herrmann, 2004; Newell e Si- atualmente.
lução de problemas é a produção de soluções possíveis. Se mon, 1972): eu quero levar
um problema é relativamente simples, podemos já ter uma meu filho à pré-escola. Qual a diferença entre o que eu tenho
solução direta armazenada em nossa memória de longo pra- e o que eu quero? É a distância. O que muda a distância? Meu
zo, e tudo o que precisamos fazer é recuperar a informação carro. Meu carro não está funcionando. O que eu preciso para
apropriada. Se não pudermos recuperá-la ou não soubermos fazê-lo funcionar? Uma bateria nova. O que tem baterias no-
a solução, podemos gerar soluções possíveis e compará-las vas? Uma loja de conserto de automóveis...
com informações na memória de longo e de curto prazo. Em uma análise de meios e fins, cada passo aproxima
Quando todo o resto falha, podemos resolver proble- o problema de uma solução. Apesar de essa abordagem fre-
mas por meio de tentativa e erro, mas tendemos a resistir a quentemente ser eficiente, se o problema requer passos indi-
essa abordagem em favor de quaisquer heurísticas possíveis. retos para aumentar temporariamente a discrepância entre
Cirurgia: De cada 100 pessoas que fazem cirurgia, 90 sobre- Cirurgia: De cada 100 pessoas que fazem cirurgia, 10 morrem
vivem ao período pós-cirúrgico, 68 continuam vivas ao fim durante a cirurgia, 32 morrem ao final do primeiro ano e 66
do primeiro ano e 34 continuam vivas ao fim de cinco anos. morrem ao fim de cinco anos.
Radiação: De cada 100 Radiação: De cada 100
pessoas que passam pessoas que passam
por terapia de radiação, por terapia de radiação
todas sobrevivem ao nenhuma morre durante
tratamento, 77 o tratamento, 23 morrem
continuam vivas ao ao final do primeiro ano
final de um ano e 22 e 78 morrem ao final de
continuam vivas ao cinco anos.
final de cinco anos.
Muito mais pacientes
Muito mais pacientes
escolhem a radiação
escolhem a cirurgia
de The Far Side® e de Larson® são marcas registradas da FarWorks, Inc. Usado com permissão.
The Far Side® by Gary Larson © 1981 FarWorks, Inc. Todos os direitos reservados. A assinatura
Com frequência essa é uma questão simples: se a solução está
clara – como no problema da Torre de Hanói – saberemos
imediatamente se obtivemos ou não sucesso (Varma, 2007).
Se a solução for menos concreta, ou se não houver uma
única solução correta, avaliar soluções pode se tornar mais
difícil. Em tais circunstâncias, devemos decidir que solução
LABORATÓRIO alternativa é melhor. Infelizmente, com frequência avaliamos
DE PESQUISA nossas próprias ideias com grande imprecisão. Por exemplo,
DE PRIMATAS
um grupo de pesquisadores de medicamentos trabalhando
para uma companhia específica pode considerar que o seu
remédio para determinada doença é superior a todos os ou-
tros, superestimando a probabilidade de seu sucesso e subes-
timando as abordagens de empresas farmacêuticas competi-
doras (Eizenberg e Zaslavsky, 2004).
Teoricamente, podemos fazer escolhas precisas entre
soluções alternativas confiando nas heurísticas e em informa-
ções válidas. Porém, como veremos a seguir, diversos tipos
de obstáculos e vieses na resolução de problemas afetam a
qualidade das decisões e dos julgamentos que fazemos.
182 • PSICO
Se você tentou resolver o problema, então sabe que
O vigia as primeiras cinco fileiras são todas resolvidas da mes-
Cinema Chris sofre de deficiências de ma forma: primeiro preencha o jarro maior (B), e depois
memória como resultado de com esse encha o jarro médio (A) uma vez e o jarro me-
uma lesão cerebral. Seu amigo nor (C) duas vezes. O que sobrou em B é a quantidade
o ensina a usar a análise de designada. (Representado como uma fórmula, a quanti-
meios e fins para manter o dade designada é B-A-2C.) A demonstração de estado
foco em seu objetivo e decidir mental vem na sexta fileira do problema, um ponto no
qual o próximo passo adequado o qual você provavelmente deve ter encontrado dificulda-
para atingi-lo.
no
conflito qque você não tenha percebido a solução simples (mas dife-
Benny não está trancado em uma rente) do problema, que envolve meramente subtrair C de
caixa de fixidez funcional. Ele usa garfos e rolos A. Curiosamente, as pessoas que receberam o problema na
nesse filme para coreografar uma dança para Joon fileira 6 primeiro não tiveram dificuldade alguma.
e ganhar seu afeto. • Avaliação Imprecisa das Soluções. Quando a usina
Kukushka nuclear em Three Mile Island, na Pensilvânia, apre-
sentou problemas de funcionamento em 1979 – um
Nesse filme, o destino une três personagens que
desastre que quase levou a uma fusão nuclear –, os
não falam a língua um do outro. Note a força da
operadores da usina imediatamente tiveram de resol-
necessidade de usar a linguagem mesmo quando
ver um problema do mais sério tipo. Diversos moni-
ela não é funcional, os numerosos mal-entendidos
tores davam informações contraditórias a respeito da
e a comunicação não verbal exagerada.
fonte do problema: um sugeria que a pressão estava
Os deuses devem estar loucos muito alta, causando perigo de explosão; outros indi-
Homens-arbusto do Deserto Kalahari o cavam que a pressão estava muito baixa, o que levaria
julgariam muito burro se você não soubesse a uma fusão nuclear. Apesar da pressão, de fato, estar
como se manter hidratado posicionando folhas muito baixa, os supervisores confiaram no único mo-
estrategicamente e extraindo água de tubérculos, nitor – que estava errado – que sugeria que a pressão
como ilustrado na cena de abertura desse filme. estava muito alta. Quando tomaram sua decisão e
agiram com base nela, ignoraram todas as evidências
Gênio indomável contraditórias dos outros monitores (Wickens, 1984).
Um psicólogo ajuda um trabalhador de construção
a descobrir e alimentar seu dom adormecido para O erro dos operadores exemplifica o viés de confir-
a matemática. mação, em que os responsáveis por resolver um problema
favorecem hipóteses ini-
fixidez funcional Tendência de
ciais e ignoram informa-
pensar em um objeto apenas em
• Fixidez Funcional. A dificuldade que a maioria das pes- ções contraditórias que termos de seu uso típico.
soas enfrenta com o problema da vela é causada pela sustentem hipóteses ou solu-
ções alternativas. Mesmo estado mental Tendência de que
fixidez funcional, a tendência de pensar em um objeto antigos padrões de resolução de
apenas em termos de seu uso típico. Por exemplo, a fi- quando encontramos evidên-
problemas persistam.
xidez funcional provavelmente o leva a pensar em um cias que contradigam uma so-
lução que escolhemos, é pos- viés de confirmação Tendência
livro como algo para ler, ao invés de seu uso potencial de favorecer informações que
como encosto de porta ou para acender uma fogueira. sível que fiquemos com a
sustentem a hipótese inicial e
No problema da vela, como os objetos são apresenta- hipótese original. ignorar informações contraditórias
dos dentro de caixas, a fixidez funcional faz com que O viés de confirmação que sustentem hipóteses ou
a maioria das pessoas as enxergue simplesmente como ocorre por várias razões. Uma soluções alternativas.
recipientes para os objetos que elas guardam, ao invés delas é que, como repensar um
de como parte funcional da solução. Elas não preveem problema que parece já estar resolvido exige esforço cognitivo
outra função para as caixas. extra, tentamos nos ater à nossa solução inicial. Outra é que
• Estado Mental. A fixidez funcional é um exemplo de um damos maior peso a informações subsequentes que sustentem
fenômeno mais amplo conhecido como estado mental, nossa posição inicial do que a informações que a contradigam
a tendência de que antigos padrões de resolução de pro- (Evans e Feeney, 2004; Gilovich, Griffin e Kahneman, 2002).
blemas persistam. Um experimento clássico (Luchins,
1946) demonstrou esse fenômeno. Como se pode ver na
CRIATIVIDADE E RESOLUÇÃO DE
figura da página 184, o objetivo da tarefa é usar os jarros
em cada fileira para medir a quantidade designada de lí- PROBLEMAS
quido. (Experimente para ter uma ideia do estado mental Mesmo tendo de enfrentar obstáculos na resolução de proble-
antes de prosseguir.) mas, muitas pessoas habilmente descobrem soluções criati-
Dados jarros com essas capacidades (em mililitros): Essa lista mostra uma criatividade extraordinária. Infe-
lizmente, é muito mais fácil identificar exemplos de criativi-
dade do que determinar suas causas. Diversos fatores, contu-
do, parecem estar associados à criatividade (Kaufman e Baer,
2005; Schpers e van den Berg, 2007; Simonton, 2003).
B
A C
Obter:
184 • PSICO
Da perspectiva de...
UM HOMEM DE NEGÓCIOS Você
tem o desafio de descobrir
como encorajar um grupo de
empregados a encontrar soluções
criativas para um problema.Você
pode pensar em estratégias que
os ajudariam a pensar de forma mais VOCÊ ACREDITA? > > >
inovadora?
Aprendendo a ser um pensador melhor
Pensadores críticos e criativos não nascem, eles são cria-
Um desses fatores é o pensamento divergente, a habili- dos, de acordo com pesquisadores cognitivos. Considere,
dade de gerar respostas não usuais, mas mesmo assim apro- por exemplo, essas sugestões para aumentar o pensamen-
priadas, para problemas e perguntas. Esse tipo de pensamento to crítico e a criatividade (Burbach, Matkin e Fritz, 2004;
contrasta com o pensamento convergente, que produz res- Kaufman e Baer, 2006):
postas que se baseiam primariamente em conhecimento e ló-
gica. Por exemplo, em resposta à questão “O que você pode • Redefina problemas. Podemos modificar limites e supo-
fazer com um jornal?”, alguém que se baseasse no pensamen- sições ao reformular um problema, seja em um nível
to convergente poderia dizer “Você lê o jornal”. Por outro mais abstrato ou mais concreto.
lado, “usar como pá de lixo” é uma resposta mais divergente • Use subobjetivos. Ao desenvolver subobjetivos, pode-
– criativa (Baer, 1993; Cropley 2006; Finke, 1995; Ho, 2004;
mos dividir um problema em passos intermediários.
Runco, 2006; Runco e Sakamoto, 2003; Sternberg, 2001).
Esse processo, conhecido como fracionamento, nos
Um fator que não está intimamente relacionado à cria-
permite examinar cada parte em busca de novas pos-
tividade é a inteligência, conforme é definida e mensurada
no ocidente. Exames tradicionais de inteligência, que fazem sibilidades e abordagens, levando a uma solução nova
perguntas focadas que só têm uma resposta aceitável, avaliam para o problema como um todo.
habilidades de pensamento convergente. Tais testes penalizam • Adote uma perspectiva crítica. Ao invés de aceitar passi-
pessoas altamente criativas por seu pensamento divergente. vamente suposições ou argumentos, podemos avaliar
Isso pode explicar por que os pesquisadores consistentemente materiais cuidadosamente, considerar suas implicações,
descobrem que a criatividade só está levemente relacionada credibilidade e relevância, e pensar sobre possíveis ex-
às notas no colégio e à inteligência quando a inteligência é ceções e contradições.
mensurada usando testes tradicionais de inteligência (Hong,
• Considere o oposto. Ao considerar o oposto de um con-
Milgram e Gorsky, 1995; Sternberg e O’Hara, 2000).
ceito que estamos buscando compreender, às vezes
podemos fazer progresso. Por exemplo, para definir
Você sabia? “boa saúde mental”, pode ser útil considerar o que
“má saúde mental” significa.
Um estudo sugeriu que tetos altos podem
estimular as pessoas a pensarem de • Pense de modo divergente. Em vez do uso mais comum
modo mais livremente (estilo livre, e lógico de um objeto, considere como você poderia
amplo), e tetos baixos podem usá-lo se você estivesse proibido de utilizá-lo do jeito
encorajar pensamentos mais usual.
conservadores, focados nos detalhes • Experimente várias soluções. Não tenha medo de usar
diferentes rotas para encontrar soluções para pro-
(Meyers-Levy e Zhu, 2007).
blemas (verbais, matemáticas, gráficas e mesmo dra-
máticas). Por exemplo, tente pensar em tudo o que
conseguir, não interessa quão louca ou bizarra pareça
a princípio. Após ter criado uma lista de soluções ma-
DICA
DIC
C DE ESTUDO lucas, reveja cada uma e tente pensar em formas de
fazer o que inicialmente parecia ser impraticável em
Lemb que o pensamento divergente produz
Lembre algo mais factível.
tipo
tipos diferentes e diversos de respostas,
ao passo que o pensamento convergente
p
produz tipos de respostas mais comuns.
186 • PSICO
adquire linguagem com mais facilidade. De fato, se as crian-
ças não forem expostas a uma língua durante esse período crí-
tico, elas terão grandes dificuldades posteriormente para su-
perar esse déficit (Bates, 2005; Shafer e Garrido-Nag, 2007).
Casos em que crianças que sofreram abuso foram isola-
das de contato com outros sustentam a teoria acerca de tais
períodos. Em um caso, por exemplo, uma garota chamada
Genie foi exposta a virtualmente nenhuma língua desde 20
meses até que fosse resgatada
rava) (Pietarinen, 2006; Richgels, 2004). Frequentemente, a aos 13 anos. Ela simplesmen- sintaxe Regras que indicam como
nuança de significados é produzida em português pelo uso de te não conseguia falar. Apesar
palavras e expressões podem ser
palavras de sentidos semelhantes, mas não idênticos. Consi- combinadas para formar frases.
de instruções intensivas, ela
dere, por exemplo, a diferença entre estas duas frases: “Maria aprendeu apenas algumas pa- semântica Regras que governam o
amava João” e “Maria adorava João”. lavras e jamais conseguiu do- significado das palavras e das frases.
Apesar das complexidades da língua, a maioria de nós minar as complexidades da balbucio Sons semelhantes ao
adquire os elementos básicos da gramática sem nem estar linguagem (Rymer, 1994; discurso, mas sem significado,
consciente de que aprendeu suas regras. (E nosso conheci- Veltman e Browne, 2001). produzido por crianças de
mento dessas regras provavelmente permanece inconsciente, 3 meses até 1 ano de idade,
que é o motivo por que a maioria de nós não gostava de ter Produzindo linguagem aproximadamente.
aulas de gramática no colégio.) Além disso, apesar de termos Quando alcançam aproxima-
dificuldade de afirmar explicitamente as regras da gramática, damente 1 ano, as crianças param de produzir sons que não
nossas habilidades linguísticas são tão sofisticadas que pode- pertencem à língua à qual foram expostas. A partir daí, não
mos proferir um número infinito de declarações diferentes. demora muito até que comecem a produzir palavras reais. Em
Como adquirimos essas habilidades? português, por exemplo, tipicamente se trata de palavras curtas
que começam com sons consonantais como b, d, m, p e t – isso
ajuda a explicar por que mama e papa frequentemente estão
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
entre as primeiras palavras dos bebês. Mesmo antes de produ-
Para os pais, os sons de seu bebê balbuciando são como mú- zir suas primeiras palavras, as crianças podem compreender
sica aos seus ouvidos (exceto, talvez, às 3 horas da manhã). uma grande quantidade da língua que escutam. A compreen-
Esses sons também servem uma função específica. Eles são da linguagem precede a produção de linguagem.
marcam o primeiro passo na estrada do desenvolvimento da Após completar 1 ano, as crianças começam a aprender
linguagem. formas mais complicadas de linguagem. Seu vocabulário au-
menta sensivelmente e, aos 2 anos, uma criança normal tem
Balbucio As crianças balbuciam – produzem sons seme-
um vocabulário de mais de 50 palavras. Apenas seis meses
lhantes ao discurso, mas sem significado – a partir dos 3 me-
depois, esse vocabulário aumentou para centenas de palavras.
ses até 1 ano, mais ou menos. Enquanto balbuciam, os bebês
A princípio, elas produzem combinações de duas palavras,
podem produzir, em um momento ou outro, sons encontrados
chamadas de fala telegráfica, já que essas frases primitivas
em todas as línguas, não só os da língua à qual eles estão ex-
soam como se fizessem parte de um telegrama, em que pala-
postos. Mesmo bebês que não conseguem ouvir, mas que são
vras que não são críticas à mensagem são deixadas de fora.
expostos à língua de sinais desde o nascimento, “balbuciam”
Ao invés de dizer “Eu mostrei o livro a você”, uma criança
usando as mãos (Locke, 2006; Pettito, 1993).
utilizando a fala telegráfica pode dizer “mostro livro”, e “esse
O balbucio de um bebê se assemelha cada vez mais à lín-
é o sapato da minha irmã” pode se tornar “sapato mana”.
gua específica falada em seu ambiente. Bebês jovens podem
Gradualmente, as crianças passam a usar menos a fala tele-
distinguir entre todos os 869 fonemas que foram identificados
gráfica e a produzir frases cada vez mais complexas (Volterra
por todas as línguas do planeta. Contudo, após os 6 aos 8 me-
et al., 2003).
ses, essa habilidade começa a entrar em declínio. Bebês come-
çam a se “especializar” na língua à qual são expostos confor-
me os neurônios no seu cérebro se reorganizam para responder
apenas aos fonemas específicos que escutam rotineiramente.
Você sabia?
Ser fluente em duas línguas torna mais fácil a
Enquanto balbuciam, os bebês
aprendizagem de uma nova língua do que
podem produzir sons encontrados saber apenas uma. Isto ocorre
em todas as línguas. possivelmente porque indivíduos
bilíngues aprenderam a refrear uma
Alguns teóricos argumentam que existe um período crí- língua enquanto usam a outra língua
tico para o desenvolvimento da linguagem no início da vida, (Northwestern University, 2009).
em que a criança é especialmente sensível a pistas da língua e
Da perspectiva de...
UM PSICÓLOGO DO DESENVOLVIMENTO Crianças pequenas dominam as regras básicas de gramática em sua
Um pai preocupado trouxe seu filho de língua nativa sem que ninguém as tenha ensinado e adquirem um
vocabulário grande o bastante aos 5 anos para conseguir manter uma
2 anos e meio para uma consulta. O
conversa simples.
pai lhe diz que seu filho fala de modo
agramatical, por vezes usando apenas
duas palavras e às vezes agregando Abordagens da teoria da aprendizagem A aborda-
terminações estranhas às palavras. Por gem da teoria da aprendizagem sugere que a aquisição da
exemplo, ontem à noite mesmo ele linguagem segue os princípios do reforço e do condiciona-
disse “eu trusse o brinquedo pra mim brincar”. O que mento descobertos por psicólogos que estudam a aprendi-
você diria a esse pai, e como você o encorajaria a maximizar zagem. Por exemplo, uma criança que diz “mamãe” recebe
as habilidades linguísticas do filho? abraços e elogios de sua mãe, o que reforça o comportamento
de dizer “mamãe” e torna sua repetição mais provável. Essa
visão sugere que as crianças começam a aprender a falar ao
serem recompensadas por produzir sons que se aproximam
Por volta dos 5 anos, as crianças adquiriram as regras da fala. No final, por meio de um processo de modelagem, a
básicas da língua. Contudo, só adquirem mais tarde um voca- língua se assemelha cada vez mais ao discurso adulto (Ornat
bulário completo e a habilida- e Gallo, 2004; Skinner, 1957).
fala telegráfica Frases em que de de compreender e usar re- Como apoio à abordagem da teoria da aprendizagem à
palavras que não são críticas à gras gramaticais sutis. Por
mensagem são deixadas de fora.
aquisição da linguagem, quanto mais os pais falam com seus
exemplo, um menino de 5 filhos pequenos, mais proficientes as crianças se tornam no
supergeneralização Fenômeno anos que visse uma boneca uso da língua. Além disso, quando chegam aos 3 anos, as
pelo qual as crianças aplicam regras vendada e fosse perguntado se crianças que ouvem níveis linguísticos mais sofisticados no
da língua mesmo quando sua “a boneca é mais fácil ou difí-
aplicação resulta em erro.
discurso de seus pais apresentam uma taxa maior de cresci-
cil de ver?” provavelmente mento vocabular, uso de vocabulário, e mesmo de realização
abordagem da teoria teria dificuldades para com- intelectual do que as crianças cujos pais têm um discurso
da aprendizagem (ao preender a pergunta. De fato, mais simples (Hart e Risley, 1997).
desenvolvimento da linguagem) se lhe pedissem para tornar a
Teoria que sugere que a aquisição A abordagem da teoria da aprendizagem não tem tanto
boneca mais fácil de ver, ele sucesso em explicar como as crianças adquirem as regras da
da linguagem segue os princípios do
reforço e do condicionamento. provavelmente tentaria remo- língua. Por exemplo, pais respondem tão prontamente à per-
ver a venda dela. Na época em gunta “Isso é pra mim fazer?” quanto a versão correta “Isso é
que chegam aos 8 anos, contudo, as crianças têm pouca difi- para eu fazer?”. Ouvintes entendem as duas perguntas igual-
culdade de entender essa pergunta, já que percebem que a mente bem. A teoria da aprendizagem, portanto, tem dificul-
venda da boneca não tem nada a ver com a habilidade do dade em explicar completamente a aquisição da linguagem.
observador de enxergá-la (Chomsky, 1969; Hoff, 2003).
Abordagens nativistas Apontando esses problemas nas
abordagens da teoria da aprendizagem à aquisição da lingua-
TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA gem, o linguista Noam Chomsky (1968, 1978, 1991) forneceu
LINGUAGEM uma alternativa inovadora. Chomsky argumentava que os seres
Seres humanos fazem enormes avanços no desenvolvimento humanos nascem com uma capacidade linguística inata que
da linguagem durante a infância. Contudo, os motivos para emerge primariamente como uma função do amadurecimento.
esse crescimento rápido estão longe de serem óbvios. Psicó- De acordo com essa abordagem nativista à linguagem, todas
logos ofereceram duas grandes explicações, uma baseada na as línguas do mundo compartilham uma estrutura subjacente
teoria da aprendizagem e outra baseada em processos inatos. em comum chamada de gramática universal. Chomsky suge-
188 • PSICO
locais específicos no cérebro abordagem nativista
estão intimamente ligados (à linguagem) Teoria de
à língua, e que o formato da que um mecanismo inato e
boca e a da garganta humanas geneticamente determinado rege o
é talhado para a produção de desenvolvimento da linguagem.
fala. E existem evidências gramática universal Teoria de
de que características de cer- Noam Chomsky de que todas as
tas línguas, como o chinês, o línguas do mundo compartilham uma
vietnamita, o navajo e outras estrutura subjacente em comum.
línguas tonais em que o tom aparelho de aquisição da
é usado para produzir signi- linguagem (language acquisition
ficado, estão ligadas a genes device) Sistema neural do cérebro
específicos (Chandra, 2007; proposto por Noam Chomsky que
permite entender a língua.
Dediu e Ladd, 2007; Hauser,
Chomsky e Fitch, 2002). abordagem interacional
Ainda assim, a visão de (ao desenvolvimento da
linguagem) Visão de que o
Chomsky tem seus críticos.
desenvolvimento da linguagem
Por exemplo, teóricos da é produzido por meio de uma
aprendizagem afirmam que a combinação de predisposições
habilidade aparente de certos geneticamente determinadas e
animais, tais como chimpan- circunstâncias ambientais que
zés, de aprender os funda- ajudam a ensinar a língua.
mentos da linguagem humana
contradiz a visão da capacidade linguística inata.
Como adquirimos a linguagem?
Abordagens interacionais Para reconciliar as diferentes
visões, muitos teóricos assumem uma abordagem intera-
Você sabia? cional ao desenvolvimento da linguagem. A abordagem in-
teracional sugere que o desenvolvimento da linguagem seja
A habilidade de ler expressões faciais é tão produzido por meio de uma combinação de predisposições
importante para a compreensão verbal geneticamente determinadas e circunstâncias ambientais que
que mais de 900 emoticons digitais ajudam a ensinar a língua.
(smiley face, winks, etc.) foram Especificamente, proponentes da abordagem intera-
desenvolvidos ao se comunicar por cional sugerem que o aparelho de aquisição da linguagem
programado no cérebro que Chomsky e geneticistas sugerem
e-mail. =:o
fornece o hardware para nossa aquisição da linguagem, ao
passo que a exposição à língua em nosso ambiente que os
teóricos da aprendizagem observam nos permite desenvolver
o software apropriado. Mas a questão de como a língua é ad-
quirida permanece um tópico ativo de discussão (Hoff, 2008;
Lana, 2002; Pinker e Jackendoff, 2005).
riu que o cérebro humano tem um sistema neural, o aparelho
de aquisição da linguagem (language acquisition device),
que não apenas nos permite entender a estrutura que a língua
apresenta, mas também nos fornece estratégias e técnicas para >> Inteligência
aprender as características únicas de nossa língua mãe (Lidz e Membros da tribo Trukesa no Pacífico Sul frequentemente
Gleitman, 2004; McGilvray, 2004; White, 2007). velejam por quilômetros nas águas do mar aberto. Apesar de
Chomsky usou o conceito de aparelho de aquisição da
linguagem como uma metáfora, e ele não identificou uma
área específica no cérebro onde ele reside. Contudo, evidên-
cias coletadas por neurocientistas sugerem que a habilidade DICA DE ESTUDO
DIC
de usar a língua, que foi um avanço evolutivo significativo É imp
importante entender que diferentes teorias
para os seres humanos, está ligada a desenvolvimentos neu-
con
contribuem para nossa compreensão de um
rológicos específicos (Sahin, Pinker e Halgren, 2006; Sakai,
fe
fenômeno complexo, como a aquisição da
2005; Willems e Hagoort, 2007).
Por exemplo, cientistas descobriram um gene relacio- llinguagem.
nado ao desenvolvimento de habilidades linguísticas que
pode ter surgido recentemente – em termos evolucionistas
–, há cerca de 100.000 anos. Além do mais, está claro que
Fonte: Adaptado de Multiple Intelligences: New Horizons, de H. Gardner. © 2006 by Howard Gardner.
a partir disso, computa o número de
segmentos completados, a proporção surda e cega, sua tarefa já havia
que falta da viagem e quaisquer ludibriado outros por anos. Porém,
correções na rota. apenas duas semanas depois de
começar seu trabalho com
Keller, Sullivan conseguiu
grande sucesso.
Inteligência intrapessoal
7
Conhecimento dos aspectos internos de si mesmo;
acesso aos próprios sentimentos e emoções. Exemplo:
de Gardner
192 • PSICO
DICA DE ESTUDO
DIC na carreira. Sternberg aponta evidências que mostram que
a maioria dessas medidas tradicionais de inteligência, na
verdade, não é muito boa em prever o sucesso na carreira
A teo
teoria de Gardner sugere que cada indivíduo
(McClelland, 1993). Especificamente, apesar de executivos
tem todo o tipo de inteligência, mas em
de sucesso normalmente pontuarem moderadamente bem em
gr
graus diferentes. testes de inteligência, a velocidade com que avançam e suas
realizações na profissão estão minimamente associadas com
mensurações tradicionais de inteligência.
Sternberg argumenta que o sucesso na profissão requer
um tipo de inteligência muito diferente daquele que é neces-
sário para obter sucesso acadêmico. Ao passo que o sucesso
acadêmico se baseia no conhecimento de uma base de infor-
partes do problema e recuperando informações relevantes da mação específica obtida lendo e ouvindo, a inteligência prá-
memória de longo prazo do que as pessoas com escores mais tica é aprendida principalmente ao observar o comportamen-
baixos. Essa ênfase inicial em recordar informações relevan- to dos outros. As pessoas que têm inteligência prática alta
tes compensa no final; os que usam essa abordagem têm mais conseguem aprender normas e princípios gerais e aplicá-los
sucesso em buscar soluções do que aqueles que passam rela- adequadamente. Consequentemente, testes de inteligência
tivamente menos tempo nos estágios iniciais (Deary e Der, prática medem a habilidade de empregar princípios amplos
2005; Hunt, 2005; Sternberg, 1990). na resolução de problemas do cotidiano (Polk, 1997; Stemler
Outras abordagens de processamento de informação e Sternberg, 2006; Sternberg e Pretz, 2005).
examinam a simples velocidade do processamento. Por Além da inteligência prática, Sternberg argumenta que
exemplo, pesquisas mostram que a velocidade com a qual há outros dois tipos básicos inter-relacionados de inteligên-
as pessoas conseguem recuperar informações da memória cia de sucesso: inteligência analítica e inteligência criativa.
tem relação com a inteligência verbal. No geral, pessoas A inteligência analítica se foca em tipos de problemas abs-
com escores altos em testes de inteligência verbal reagem tratos, mas tradicionais, medidos em testes de QI, ao passo
mais rapidamente em diversas tarefas de processamento de que a inteligência criativa envolve a geração de ideias e pro-
informações, variando desde reações a luzes piscantes até a dutos novos (Benderly, 2004; Sternberg, Grigorenko e Kidd,
diferenciação entre letras. A velocidade do processamento 2005).
de informações, portanto, pode estar na base de algumas di- Alguns psicólogos ampliam o conceito de inteligência
ferenças de inteligência (Deary e Der, 2005; Gontkovsky e ainda mais, de modo a incluir as emoções. Eles definem a
Beatty, 2006; Jensen, 2005). inteligência emocional como o conjunto de habilidades que
subjaz à análise, avaliação, expressão e regulação precisa das
Inteligência prática e inteligência emocional Consi- emoções (Humphrey, Curran e Morris, 2007; Mayer, Salovey
dere a seguinte situação: e Caruso, 2004; Zeidner, Matthews e Roberts, 2004).
A inteligência emocional subjaz à habilidade de se rela-
Um funcionário que trabalhou para um de seus subordina- cionar bem com os outros. Ela nos ajuda a entender o que as
dos pediu para falar com você acerca de desperdício, baixa outras pessoas estão sentindo e vivenciando, além de nos per-
capacidade de gerenciamento e possíveis violações tanto da mitir responder adequadamente às necessidades dos outros.
política da empresa quanto da lei por parte do seu subor- A inteligência emocional é a base da empatia pelos outros, da
dinado. Você esteve em sua posição atual por apenas um autoconsciência e das habilidades sociais.
ano, mas nesse período você não viu indícios de problemas Habilidades na inteligência emocional podem ajudar a
por parte do funcionário em questão. Nem você nem a sua explicar por que pessoas com escores apenas modestos em
companhia tem uma política de “portas abertas”, então se testes tradicionais de inteligência podem obter muito suces-
espera que os funcionários levem suas preocupações a seu so. Uma inteligência emocional alta pode permitir que um
supervisor imediato antes de levar a questão à atenção de indivíduo entre em sintonia com os sentimentos de outra pes-
outra pessoa. O funcionário que deseja se encontrar com soa, permitindo um grau mais alto de sensibilidade às pes-
você não discutiu essa questão com o supervisor dele devido soas ao nosso redor.
à sua natureza delicada (Sternberg, 1998, p. 17). Apesar da noção de que inteligência prática De acordo
com Sternberg, é a inteligência
a inteligência emocional faz
relacionada com o sucesso em geral
Sua resposta a essa situação tem muito a ver com o seu sentido, ela ainda precisa ser na vida.
sucesso futuro no mundo dos negócios, de acordo com o psi- quantificada de forma rigoro-
cólogo Robert Sternberg. A questão faz parte de uma série sa. Ainda assim, a noção de inteligência emocional Conjunto
de habilidades que subjaz à análise,
criada para avaliar sua inteligência prática. Inteligência prá- inteligência emocional nos avaliação, expressão e regulação
tica é a inteligência relacionada com o sucesso em geral na lembra de que há muitas for- precisa das emoções.
vida (Muammar, 2007; Sternberg, 2000, 2002b; Sternberg e mas de demonstrar compor-
Hedlund, 2002; Wagner, 2002). tamento inteligente – assim como há diversas visões sobre
Testes tradicionais de inteligência foram desenvolvi- a natureza da inteligência (Barrett e Salovey, 2002; Fox e
dos para prever o desempenho acadêmico, não o sucesso Spector, 2000).