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PSICO

PSICOLOGIA: O cérebro dos


O que ela pode homens é diferente
fazer por você do das mulheres?

Envolva-se!
Aprenda sobre comportamento
Qual é o SEU estilo de memória?
P974 Psico [recurso eletrônico] / [Tanya Renner ... et al.] ; tradução:
Marcelo de Abreu Almeida ; revisão técnica: Silvia H.
Koller. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012.

Editado também como livro impresso em 2012.


ISBN 978-85-8055-093-1

1. Psicologia. I. Renner, Tanya.

CDU 159.9

Catalogação na publicação: Fernanda B. Handke dos Santos – CRB 10/2107


7

PENSA
LINGUAGEM E
176 Pensamento e raciocínio

O QUE VEM POR AÍ


186 Linguagem

189 Inteligência

SPACESHIPONE
Quando o primeiro homem norte-americano voou
para o espaço em 1961, Burt Rutan tinha 17 anos e
era um calouro da faculdade. Ao ouvir as notícias do
revolucionário voo suborbital de Alan Shepard no
rádio, Rutan ficou eufórico. Ele também esperava ir
para o espaço algum dia...
A SpaceShipOne [o foguete que ele projetou para rea-
lizar o seu sonho] é uma casca de grafita colada em um
motor de foguete que funciona a base de gás do riso [óxido
nitroso] e borracha. O bico é pontuado com portinholas,
como um transatlântico. Do lado de dentro, o instrumento
principal é uma bolinha de pingue-pongue decorada com
uma smiley face e ligada à cabine com um pedaço de bar-
bante, que afrouxa quando o piloto atinge gravidade zero
do espaço suborbital.
Apesar de parecer uma nave tirada do Flash Gordon e
ser uma criação não ortodoxa... ela se tornou a primeira
espaçonave com patrocínio privado. Em Outubro [2004] ela
arrebatou o Prêmio Ansari X de US$ 10 milhões como a
primeira nave do tipo a viajar para o espaço duas vezes em
duas semanas. Graças ao apoio de dois bilionários loucos
pelo espaço, a SpaceShipOne foi... a primeira de uma nova
linha de naves de turismo espacial... “É uma espaçonave
que cabe em uma garagem para dois carros, e você pode
levá-la para o espaço dia sim, dia não”, diz Peter Diaman-
dis, fundador do Prêmio Ansari X. “Isso é muito legal”
(Taylor, 2004).
A invenção de Burt Rutan agora está exposta no Natio-
nal Air and Space Museum, em Washington, DC, junto da
Spirit of St. Louis, de Charles Lindbergh, e outras espaço-
naves históricas. A SpaceShipOne pode não ter revolucio-
nado a viagem espacial, mas está claro que Rutan possui
a rara qualidade que marca os inventores de sucesso: a
criatividade.
De onde veio a criatividade de Rutan? De modo mais
geral, como as pessoas usam as informações para criar so-
Bert Rutan (esquerda) e seu parceiro Paul Allen com a SpaceShipOne luções inventivas para seus problemas? E como as pessoas
no National Air and Space Museum. pensam, compreendem e, através da linguagem, descre-
vem o mundo?

MENTO,
Respostas a essa pergunta se encontram na psicolo-
gia cognitiva, a ampla área de psicologia que se foca no
estudo dos processos mentais elevados, incluindo pensa-
mento, linguagem, resolução de problemas, conhecimento,
raciocínio, julgamento e tomada de decisões. Cobriremos
esses tópicos neste capítulo, junto da inteligência, testes
de inteligência e fatores associados à criatividade. A me-
mória, assunto do Capítulo 6, é outro processo de interesse
para os psicólogos cognitivos.

INTELIGÊNCIAS
• O que é o pensamento?
• Como as pessoas abordam e resolvem problemas?

Enquanto >> • Como a língua se desenvolve?


• Como a inteligência é definida e conceituada?

você LÊ
• Quais as principais abordagens para se medir a inteligência no
ocidente, e o que os testes de inteligência medem?

>> Pensamento e raciocínio Imagens mentais são representações na mente de um


objeto ou evento. Não são apenas representações visuais;
Sobre o que você está pensando neste momento? nossa habilidade de “ouvir” uma música na cabeça também é
A mera habilidade de fazer uma pergunta assim ressalta considerada uma imagem mental. De fato, cada modalidade
a natureza distinta da capacidade humana de pensar. Nenhu- sensorial pode produzir uma imagem mental correspondente
ma outra espécie contempla, analisa, recorda ou planeja do (De Beni, Pazzaglia e Gardini, 2007; Kosslyn, 2005).
mesmo modo que os seres humanos. Os psicólogos definem A pesquisa descobriu que nossas imagens mentais têm
o pensamento como a manipulação de representações men- algumas propriedades dos estímulos reais que elas represen-
tais das informações. Uma representação pode ter a forma de tam. Por exemplo, a mente precisa de mais tempo para regis-
uma palavra, uma imagem vi- trar imagens mentais de objetos grandes do que de objetos
psicologia cognitiva Ramo sual, um som ou qualquer ou- pequenos, da mesma forma que um olho demora mais tempo
da psicologia que se foca no
estudo de processos mentais mais
tro tipo de dado sensorial ar- para registrar um objeto grande do que um pequeno. Do mes-
elevados, incluindo pensamento, mazenado na memória. O mo modo, conseguimos manipular e girar imagens mentais
linguagem, resolução de problemas, pensamento transforma uma de objetos, assim como conseguimos manipulá-los e girá-los
conhecimento, raciocínio, julgamento representação específica de no mundo real (Iachini e Giusberti, 2004; Mast e Kosslyn,
e tomada de decisões. informação de formas novas e 2002; Shepard et al., 2000).
pensamento Manipulação diferentes, nos permitindo Alguns especialistas veem a produção de imagens men-
de representações mentais das responder a perguntas, resol- tais como uma forma de aprimorar diversas habilidades.
informações. ver problemas e alcançar ob- Por exemplo, muitos atletas usam imagens visuais em seu
imagens mentais Representações jetivos. treinamento. Jogadores de basquete podem tentar produzir
na mente que se assemelham Apesar de ainda não en- imagens vívidas e detalhadas da quadra, da cesta, da bola e
ao objeto ou evento sendo tendermos completamente o do barulho da torcida. Eles podem se visualizar dando um ar-
representado. que ocorre quando pensamos, remesso, observando a bola e ouvindo o ruído que ela faz ao
uma compreensão da natureza passar pela rede. E funciona: o uso de imagens mentais pode
dos elementos fundamentais envolvidos no pensamento está levar a desempenhos melhores no esporte (MacIntyre, Moran
crescendo. Começaremos considerando o modo como usa- e Jennings, 2002; Mamassis e Doganis, 2004).
mos imagens mentais e conceitos, os tijolos do pensamento.

CONCEITOS
IMAGENS MENTAIS Se alguém lhe pergunta o que tem guardado no armário da
Pense no seu melhor amigo. sua cozinha, você pode responder com uma lista de itens de-
É provável que algum tipo de imagem visual lhe venha talhada (“um pote de doce de leite, três caixas de macarrão
à mente quando pedem que você pense nele ou nela, ou em e queijo, seis tipos diferentes de pratos de refeição”, e assim
qualquer pessoa ou objeto, já que estamos falando disso. Para por diante). O mais provável, contudo, é que você respon-
alguns psicólogos cognitivos, tais imagens mentais consti- desse nomeando categorias mais amplas, como “comida” e
tuem uma parte importante do pensamento. “pratos”.
176 • PSICO
O uso dessas categorias re- lhor exemplo do conceito. Por
flete a operação de conceitos. exemplo, apesar de uma aves-
Conceitos são categorizações truz e uma andorinha serem
de objetos, eventos ou pessoas ambos exemplos de pássaros, é
que compartilham diferentes mais provável que aqueles que
propriedades. Os conceitos nos cresceram próximos de andori-
permitem organizar fenômenos nhas pensem nelas quando lhes
complexos em categorias mais peçam algum exemplo de pás-
simples e, portanto, de mais fá- saro. Consequentemente, para
cil uso (Connolly, 2007; Golds- as pessoas que pensam que a
tone e Kersten, 2003; Murphy, andorinha é o melhor exemplo
2005). para um pássaro, diríamos que
Os conceitos nos ajudam a andorinha é um protótipo do
Muitos atletas, como Tiger Woods, usam imagens mentais para
a classificar objetos encontra- conceito “pássaro”. De modo
se concentrar em uma tarefa, um processo que eles chamam de
dos recentemente com base em “entrar no clima”. Que outras ocupações podem requerer o semelhante, quando pensamos
nossa experiência do passado. uso de imagens mentais fortes? no conceito de uma mesa, aque-
Por exemplo, podemos supor
les que pensam em uma mesa
que alguém que está tocando em uma tela portátil está usan-
de centro antes de pensar em uma mesa de desenho teriam a
do algum tipo de computador ou PDA, mesmo que nunca
“mesa de centro” como o seu protótipo de mesa.
tenhamos visto aquele modelo específico antes. Por fim, os
conceitos influenciam o comportamento; poderíamos pre-
sumir, por exemplo, que é apropriado acariciar um animal ALGORITMOS E HEURÍSTICAS
após determinarmos que se trata de um cão, ao passo que nos
Quando precisamos tomar uma decisão, frequentemente nos
comportaríamos de outro modo após o classificarmos como
voltamos para vários tipos de atalhos cognitivos, conhecidos
um lobo.
como algoritmos e heurísticas,
Quando os psicólogos cognitivos começaram a estudar conceitos Categorizações de
para nos ajudar. Um algoritmo
conceitos, eles se concentravam naqueles que eram clara- objetos, eventos ou pessoas
mente definidos por um conjunto único de propriedades ou é uma regra que, se aplicada que compartilham diferentes
características. Por exemplo, um triângulo equilátero é uma adequadamente, garante a so- propriedades.
forma fechada que tem três lados de tamanho igual. Se um lução de um problema. Pode-
protótipos Exemplos típicos
objeto tem essas características, trata-se de um triângulo mos usar um algoritmo mesmo altamente representativos de um
equilátero; se não, então não é um triângulo equilátero. que não entendamos por que conceito.
Outros conceitos – frequentemente aqueles de maior re- ele funciona. Por exemplo,
algoritmo Regra que, se aplicada
levância para nossas vidas – são mais ambíguos e difíceis de você pode saber que pode des- adequadamente, garante a solução
definir. Por exemplo, conceitos mais amplos como “mesa” cobrir o tamanho do terceiro de um problema.
e “pássaro” têm um conjunto de traços característicos ge- lado de um triângulo retângulo
2 2 2 heurística Atalho cognitivo que
rais e relativamente menos estáveis, ao invés de proprieda- usando a fórmula a + b = c , pode levar a uma solução.
des únicas claramente definidas que distinguem um exem- mesmo que você não tenha a
plo do conceito de um não exemplo. Quando consideramos menor noção dos princípios matemáticos por trás da fórmula.
esses conceitos mais ambíguos, frequentemente pensamos A heurística é um atalho cognitivo que pode levar a uma
em termos de exemplos chamados de protótipos. Protóti- solução correta. Ao contrário de algoritmos, as heurísticas au-
pos são exemplos típicos altamente representativos de um mentam a probabilidade de sucesso de se chegar a uma solu-
conceito que corresponde a nossa imagem mental ou ao me- ção, mas não podem garanti-la. Por exemplo, quando jogo o

Qual das duas imagens se encaixa no seu protótipo de “telefone”? À esquerda está o primeiro telefone,
inventando por Alexander Graham Bell.

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 177


jogo da velha, sigo a heurística de cilmente recordadas (Fox, 2006;
jogar X no centro quando começo Kluger, 2006; Oppenheimer,
a jogar. Essa tática não garante que 2004; Vaughn e Weary, 2002).
eu vença, mas a experiência me
ensinou que irá aumentar minhas
chances de ganhar. De modo seme- RESOLVENDO
lhante, alguns estudantes seguem a PROBLEMAS
heurística de se preparar para uma De acordo com uma lenda antiga,
prova ignorando o livro didático um grupo de monges vietnamitas
indicado e estudando apenas suas protege três torres, nas quais são
anotações – uma estratégia que guardados 64 anéis dourados. Os
pode ou não dar certo. monges acreditam que, se tiverem
Apesar de as heurísticas fre- sucesso em transferir os anéis da
quentemente ajudarem as pessoas primeira torre para a terceira torre
a resolver problemas e a tomar de acordo com uma série de regras
decisões, certos tipos de heurísticas rígidas, o mundo como o conhece-
podem levar a conclusões impreci- mos irá acabar. (Caso você prefira
sas. Por exemplo, às vezes usamos Apesar de você não se dar conta, você usa as heurísticas que o mundo continue como está,
a heurística da representatividade, todos os dias. não há motivos para preocupação
uma regra que usamos quando jul- imediata: levaria 264 – 1 movimen-
gamos as pessoas pela medida em tos para solucionar o problema, e
que representam certa categoria ou grupo de pessoas. Supo- se cada movimento levasse 1 segundo, a solução demoraria
nha, por exemplo, que você é o dono de uma lanchonete que cerca de 600 bilhões de anos.)
foi assaltada muitas vezes por adolescentes. Usando o concei- No enigma da Torre de Hanói, uma versão mais sim-
to de um protótipo discutido acima, poderíamos imaginar que, ples da tarefa diante dos monges, três discos estão dis-
ao longo do tempo, você desenvolveu um protótipo para a apa- postos em três postes em determinada ordem (conforme a
rência e a idade de uma pessoa que vai roubar sua lanchonete. figura a seguir). O objetivo do enigma é mover todos os
A heurística da representatividade (isto é, usando sua catego- três discos até o terceiro poste, dispostos na mesma ordem,
ria de protótipo) faria você se preparar para o pior toda a vez usando a menor quantidade de movimentos possível. Aqui
que alguém desse grupo etário entrasse em sua loja (apesar vão duas restrições: só um disco pode ser movido de cada
de, estatisticamente, ser improvável que qualquer adolescente vez, e nenhum disco pode cobrir um disco menor durante
roube sua loja) (Fisk, Bury e Holden, 2006). um movimento.
Por que os psicólogos cognitivos se interessam pelo pro-
blema da Torre de Hanói? Porque a forma como as pessoas
Alguns estudantes seguem a heurística resolvem quebra-cabeças ajuda a esclarecer como as pessoas
de se preparar para uma prova resolvem problemas complexos da vida real. Os psicólogos
descobriram que a resolução de problemas tipicamente en-
ignorando o livro didático indicado e volve três passos: preparação para criar soluções, produção
estudando apenas suas anotações – uma de soluções e avaliação das soluções que foram geradas.
estratégia que pode ou não dar certo.

A heurística da disponibilidade envolve julgar a proba-


bilidade de um evento com base na facilidade de este ser re- pense PSICO
cordado da memória. De acordo com essa heurística, presu-
mimos ser provável que os eventos dos quais nos lembramos
mais facilmente tenham ocorrido com maior frequência no
passado – e tenham maior probabilidade de ocorrer no futuro
conecte-se
– do que eventos que são mais difíceis de lembrar. Heurísticas
Por exemplo, a heurística da disponibilidade nos causa > > > Como a heurística da disponibilidade pode
mais medo de morrer em um acidente de avião do que em
contribuir para o preconceito baseado em raça, idade e
um acidente de carro, apesar de as estatísticas claramente
gênero? A consciência dessa heurística pode impedir o
mostrarem que viajar de avião é muito mais seguro do que
de carro. Do mesmo modo, apesar de 10 vezes mais pessoas preconceito?
morrerem caindo da cama do que com um raio, temos mais Aceite o desafio PSICO! Descubra como você usa
medo de sermos atingidos por um raio. suas heurísticas. Depois responda à questão 2 do Pop
A razão é que mortes em acidentes de avião e por raios Quiz na p. 203
ganham muito mais publicidade e, portanto, são mais fa-

178 • PSICO
Você consegue resolver o enigma da Torre de
O enigma da Torre de Hanói Hanói? O objetivo do enigma é mover todos
1 2 3 1 2 3 os três discos até o terceiro poste, dispostos
na mesma ordem, usando a menor quantidade
de movimentos possível e seguindo as regras
c c
de que só um disco pode ser movido por vez,
b b e nenhum disco pode cobrir um disco menor
a a
durante um movimento. A solução lista os
movimentos em sequência.
Início Fim
Solução: Mova C para 3, B para 2, C para 2, A para 3, C para 1, B para 3 e C para 3.
Passos na resolução de problemas

Preparação

DICA DE ESTUDO
DIC Entender e diagnosticar
problemas
Lemb que os algoritmos são regras que
Lembre
sem
sempre dão uma solução, ao passo que as
he
heurísticas são atalhos que podem fornecer
uuma solução correta. Produção
Gerar soluções

Julgamento
Preparação: entendendo e diagnosticando proble- Avaliar soluções
mas Ao se deparar com um problema como a Torre de
Hanói, a maioria das pessoas começa tentando entender o
problema como um todo. Se o problema é incomum, elas pro-
ser criados, mas apenas um ou alguns dos arranjos produzirá
vavelmente irão prestar atenção especial a quaisquer restri-
uma solução. Problemas de anagramas e quebra-cabeças são
ções que existam para se chegar à solução – tais como a regra
exemplos de problemas de arranjo (Coventry et al., 2003).
sobre mover apenas um disco por vez no problema da Torre
Em problemas de estrutura de indução, uma pessoa
de Hanói. Se, por outro lado, o problema é familiar, elas po-
deve identificar as relações existentes entre os elementos
dem gastar muito menos tempo nesse estágio de preparação.
apresentados para, então, construir uma nova relação entre
Problemas variam de bem definidos a mal definidos (Ar-
eles. Em problemas assim, devem-se determinar não apenas
lin, 1989; Evans, 2004; Reitman, 1965). E um problema bem
as relações entre os elementos, mas a estrutura e o tamanho
definido – tal como uma equação matemática ou a solução
dos elementos envolvidos. No exemplo apresentado (na pró-
de um quebra-cabeça – tanto a natureza do próprio problema
xima página), uma pessoa deve, primeiro, determinar que a
quanto a informação necessária para resolvê-lo estão dispo-
solução necessita que os números sejam considerados em
níveis e claras. Assim, podemos fazer julgamentos francos
pares (14-24-34-44-54-64). Somente após identificar aquela
sobre se uma solução potencial é adequada. Com um pro-
parte do problema é que a pessoa pode determinar a regra da
blema mal definido, tal como aumentar a moral de uma linha
solução (o primeiro número de cada par aumenta de um em
de produção ou como trazer paz ao Oriente Médio, não só a
um, ao passo que o segundo número permanece o mesmo).
natureza específica do problema pode ser incerta, mas a in-
formação necessária para resolver o problema pode ser ainda
menos óbvia.
Tipicamente, um problema se encaixa em uma de três DICA DE ESTUDO
DIC
categorias: arranjo, estrutura de indução e transformação,
Você pode usar os três passos da solução
conforme mostra a figura na página 180. Resolver cada tipo
de problemas para organizar seus estudos:
requer espécies um tanto diferentes de habilidades psicoló-
gicas e de conhecimento (Chronicle, McGregor e Ormerod, Pr
Preparação, Produção e Julgamento (PPJ).
2004; Spitz, 1987).
Problemas de arranjo requerem que a pessoa rearran-
je ou recombine elementos de forma que satisfaçam certos
critérios. Usualmente, diversos arranjos diferentes podem

Eliminar as informações não essenciais costuma ser um passo decisivo


no estágio de preparação da resolução de problemas.

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 179


Categorias de problemas (respostas podem ser encontradas na página 181)

Problemas de arranjo 2. Dois fios estão pendurados no teto, mas estão muito longe um do
outro para que uma pessoa segure um e caminhe até o outro. No chão
1. Anagramas: rearranje as letras de cada conjunto para estão uma cartela de fósforos, uma chave de fenda e alguns pedaços
formar palavras em português:
de algodão. Como os fios podem ser amarrados um ao outro?

A R T M E

L O F C O

M I C P U

G N E E T

O B V R E
Fontes: Bourne & Dominowski, Cognitive Processes, 1st ed., © 1979 by Prentice-Hall.

Problemas de estruturas de indução


1. Qual o próximo número a vir na série? 2. Complete essas analogias:
1 4 2 4 3 4 4 4 5 4 6 4 beisebol está para o bastão como o tênis está para a ____________
o vendedor está para a venda como o comprador está para a ___________

Problemas de transformação
2. Dez moedas estão distribuídas da seguinte forma. Movendo apenas
1. Jarros com água: Uma pessoa tem três jarros duas das moedas, faça duas filas que contenham seis moedas cada.
com as seguintes capacidades:

Jarro A: Jarro B: Jarro C:


830 ml 200 ml 145 ml

Como uma pessoa pode medir exatamente 340 ml de água?

O enigma da Torre de Hanói representa o terceiro tipo


de problema – problemas de transformação –, que consiste
Você sabia?
Se você quiser convencer alguém a usar protetor
em um estado inicial, um estado objetivo e um método para
transformar o estado inicial no estado objetivo. No problema solar, as probabilidades de sucesso são mais
ais
da Torre de Hanói, o estado inicial é a configuração original, altas quando a perspectiva é positiva
o estado objetivo é ter os três discos no terceiro poste e o (“ajuda sua pele a parecer mais
método são as regras para mover os discos (Emick e Welsh, jovem”) do que quando você usa uma
2005; Majeres, 2007; Mataix-Cols e Bartres-Faz, 2002). perspectiva negativa (“se você não usar,
Quer o problema seja de arranjo, de estrutura de indução
pode ter câncer de pele”) (APA, 1999).
ou de transformação, o estágio de preparação para entender e
diagnosticar é crítico na resolução de problemas, já que nos
permite desenvolver nossa própria representação cognitiva
do problema e disponibilizá-la em uma estrutura pessoal. Po-
demos dividir o problema em subpartes ou ignorar algumas Considere, por exemplo, se você fosse um paciente de câncer
informações conforme tentamos simplificar a tarefa. Elimi- que tivesse de escolher entre cirurgia e radiação, e recebesse
nar as informações não essenciais costuma ser um passo de- as duas opções de tratamento conforme a figura (na próxima
cisivo no estágio de preparação da resolução de problemas. página) (Chandran e Menon, 2004; Tversky e Kahneman,
Nossa habilidade de representar um problema – e o tipo 1987). Quando as opções são estruturadas em termos da pos-
de solução que por fim encontramos – depende do modo sibilidade de sobrevivência, apenas 18% dos pacientes em
como o problema é expresso verbalmente ou estruturado. um estudo escolheram radiação em detrimento da cirurgia.

180 • PSICO
(respostas para os problemas da p. 180) Você não ficaria frustrado se fosse
se torne parte de duas colunas. forçado a resolver um problema
horizontal no centro, para que
Empilhe uma moeda da coluna
por tentativa e erro ao invés de
usar atalhos? Thomas Edi-
son só inventou a lâmpada
porque tentou milhares de
tipos diferentes de material
antes de encontrar um que
fim da coluna vertical. funcionasse (carbono). Outra
coluna horizontal até o 2. dificuldade com a tentativa e
Mova uma moeda da erro é que alguns problemas são
duas vezes. O que sobrar no jarro A são 340 ml. tão complicados que levaria uma
1. Encha o jarro A; esvazie-o no Jarro B uma vez e no jarro C vida até esgotar todas as possibili-
Problemas de transformação dades. Por exemplo, de acordo com
2. Raquete, compra algumas estimativas, há cerca de
1. 7 10120 sequências possíveis de lances
Problemas de estrutura de indução de xadrez (10120 equivale a 1 seguido
de 120 zeros) (Fine e Fine, 2003).
pêndulo que pode ser balançado para alcançar o outro fio.
No lugar de tentativa e erro, a reso-
2. A chave de fenda é amarrada a um dos fios. Isso cria um
lução de problemas complexos frequente-
1. MARTE, FOCO, CUPIM, GENTE, VERBO
Problemas de arranjo
mente envolve o uso de heurísticas, atalhos
cognitivos que podem gerar soluções. Provavelmente a heu-
rística aplicada com maior frequência na resolução de proble-
Contudo, quando a escolha foi estruturada em termos da pro- mas seja a análise de meios e fins, que envolve testes repeti-
babilidade de morte, 44% escolherem a radiação em vez da dos para diferenças entre o resultado desejado e o que existe
cirurgia – apesar de os resultados serem idênticos em ambas atualmente. Considere este
simples exemplo (Chrysikou, análise de meios e fins Testagem
as condições.
repetida para as diferenças entre o
2006; Huber, Beckman e resultado desejado e o que existe
Produção: gerando soluções O segundo passo na reso- Herrmann, 2004; Newell e Si- atualmente.
lução de problemas é a produção de soluções possíveis. Se mon, 1972): eu quero levar
um problema é relativamente simples, podemos já ter uma meu filho à pré-escola. Qual a diferença entre o que eu tenho
solução direta armazenada em nossa memória de longo pra- e o que eu quero? É a distância. O que muda a distância? Meu
zo, e tudo o que precisamos fazer é recuperar a informação carro. Meu carro não está funcionando. O que eu preciso para
apropriada. Se não pudermos recuperá-la ou não soubermos fazê-lo funcionar? Uma bateria nova. O que tem baterias no-
a solução, podemos gerar soluções possíveis e compará-las vas? Uma loja de conserto de automóveis...
com informações na memória de longo e de curto prazo. Em uma análise de meios e fins, cada passo aproxima
Quando todo o resto falha, podemos resolver proble- o problema de uma solução. Apesar de essa abordagem fre-
mas por meio de tentativa e erro, mas tendemos a resistir a quentemente ser eficiente, se o problema requer passos indi-
essa abordagem em favor de quaisquer heurísticas possíveis. retos para aumentar temporariamente a discrepância entre

Problema: cirurgia ou radiação?

Ponto de vista da sobrevivência Ponto de vista da mortalidade

Cirurgia: De cada 100 pessoas que fazem cirurgia, 90 sobre- Cirurgia: De cada 100 pessoas que fazem cirurgia, 10 morrem
vivem ao período pós-cirúrgico, 68 continuam vivas ao fim durante a cirurgia, 32 morrem ao final do primeiro ano e 66
do primeiro ano e 34 continuam vivas ao fim de cinco anos. morrem ao fim de cinco anos.
Radiação: De cada 100 Radiação: De cada 100
pessoas que passam pessoas que passam
por terapia de radiação, por terapia de radiação
todas sobrevivem ao nenhuma morre durante
tratamento, 77 o tratamento, 23 morrem
continuam vivas ao ao final do primeiro ano
final de um ano e 22 e 78 morrem ao final de
continuam vivas ao cinco anos.
final de cinco anos.
Muito mais pacientes
Muito mais pacientes
escolhem a radiação
escolhem a cirurgia

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 181


DO OUTRO LADO BY GARY LARSON Julgamento: avaliando as soluções O estágio final na re-
solução de problemas é julgar a adequação de uma solução.

de The Far Side® e de Larson® são marcas registradas da FarWorks, Inc. Usado com permissão.
The Far Side® by Gary Larson © 1981 FarWorks, Inc. Todos os direitos reservados. A assinatura
Com frequência essa é uma questão simples: se a solução está
clara – como no problema da Torre de Hanói – saberemos
imediatamente se obtivemos ou não sucesso (Varma, 2007).
Se a solução for menos concreta, ou se não houver uma
única solução correta, avaliar soluções pode se tornar mais
difícil. Em tais circunstâncias, devemos decidir que solução
LABORATÓRIO alternativa é melhor. Infelizmente, com frequência avaliamos
DE PESQUISA nossas próprias ideias com grande imprecisão. Por exemplo,
DE PRIMATAS
um grupo de pesquisadores de medicamentos trabalhando
para uma companhia específica pode considerar que o seu
remédio para determinada doença é superior a todos os ou-
tros, superestimando a probabilidade de seu sucesso e subes-
timando as abordagens de empresas farmacêuticas competi-
doras (Eizenberg e Zaslavsky, 2004).
Teoricamente, podemos fazer escolhas precisas entre
soluções alternativas confiando nas heurísticas e em informa-
ções válidas. Porém, como veremos a seguir, diversos tipos
de obstáculos e vieses na resolução de problemas afetam a
qualidade das decisões e dos julgamentos que fazemos.

Obstáculos para a resolução de problemas Considere


o seguinte teste de resolução de problemas (Duncker, 1945):
Você recebeu um conjunto de tachinhas, velas e fósforos,
um estágio atual e a solução, a análise de meios e fins pode cada um em uma caixinha, e deve colocar as três velas na
ser contraproducente. Por exemplo, algumas vezes a rota altura dos seus olhos em uma porta próxima, de forma que
mais rápida até o topo da montanha requer que o montanhis- a cera não pingue no chão à medida que as velas queimam.
ta retroceda temporariamente; uma abordagem de meios e Como você resolveria esse desafio?
fins – que implica que o montanhista deve sempre avançar e
subir – é ineficaz em tais circunstâncias. Se você tiver dificuldades em resolver o problema, não
Outra heurística comumente usada para gerar soluções está sozinho. A maioria das pessoas não consegue resolver
é dividir um problema em passos intermediários, ou subob- esse problema com os objetos mostrados dentro de caixas.
jetivos, e resolver cada um desses passos. Por exemplo, em Contudo, se os objetos foram apresentados ao lado das cai-
nosso problema modificado da Torre de Hanói, poderíamos xas, em cima da mesa, as probabilidades indicam que você
escolher diversos subobjetivos óbvios, tais como mover o resolvera o problema muito mais rapidamente.
disco maior até o terceiro poste. A dificuldade que você provavelmente encontrou ao re-
Se solucionar um subobjetivo é um passo na direção solver esse problema procede de sua apresentação, que é
de resolver todo o problema, identificar subobjetivos é uma enganosa desde o estágio inicial de preparação. Na verdade,
estratégia apropriada. Em alguns casos, contudo, formar su- obstáculos significativos à resolução do problema podem exis-
bobjetivos não ajuda tanto e pode inclusive aumentar o tempo tir em cada um dos três estágios principais. Apesar de abor-
necessário até encontrar uma solução. Por exemplo, alguns dagens cognitivas à resolução de problemas sugerirem que o
problemas matemáticos são tão complexos que se leva mais pensamento procede de forma razoavelmente lógica e racional
tempo identificando subdivisões adequadas do que resolven- à medida que uma pessoa confronta um problema e considera
do os problemas por outros meios (Fishbach, Dhar e Zhang, várias soluções, diversos fatores podem atravancar o desenvol-
2006; Kaller et al., 2004; Reed, 1996). vimento de soluções criativas, apropriadas e precisas.

Problema das três velas

O problema aqui é colocar três


velas no nível dos olhos em uma
porta próxima, de forma que a cera
não pingue no chão à medida que
as velas derretem – usando apenas
os materiais nessa figura. A solução
aparece na p. 172.

182 • PSICO
Se você tentou resolver o problema, então sabe que
O vigia as primeiras cinco fileiras são todas resolvidas da mes-
Cinema Chris sofre de deficiências de ma forma: primeiro preencha o jarro maior (B), e depois
memória como resultado de com esse encha o jarro médio (A) uma vez e o jarro me-
uma lesão cerebral. Seu amigo nor (C) duas vezes. O que sobrou em B é a quantidade
o ensina a usar a análise de designada. (Representado como uma fórmula, a quanti-
meios e fins para manter o dade designada é B-A-2C.) A demonstração de estado
foco em seu objetivo e decidir mental vem na sexta fileira do problema, um ponto no
qual o próximo passo adequado o qual você provavelmente deve ter encontrado dificulda-
para atingi-lo.
no

ddes. Se você é como a maioria das pessoas, experimentou


Benny e Joon – corações em m a fórmula e ficou perplexo quando ela falhou. É provável
Psicologia

conflito qque você não tenha percebido a solução simples (mas dife-
Benny não está trancado em uma rente) do problema, que envolve meramente subtrair C de
caixa de fixidez funcional. Ele usa garfos e rolos A. Curiosamente, as pessoas que receberam o problema na
nesse filme para coreografar uma dança para Joon fileira 6 primeiro não tiveram dificuldade alguma.
e ganhar seu afeto. • Avaliação Imprecisa das Soluções. Quando a usina
Kukushka nuclear em Three Mile Island, na Pensilvânia, apre-
sentou problemas de funcionamento em 1979 – um
Nesse filme, o destino une três personagens que
desastre que quase levou a uma fusão nuclear –, os
não falam a língua um do outro. Note a força da
operadores da usina imediatamente tiveram de resol-
necessidade de usar a linguagem mesmo quando
ver um problema do mais sério tipo. Diversos moni-
ela não é funcional, os numerosos mal-entendidos
tores davam informações contraditórias a respeito da
e a comunicação não verbal exagerada.
fonte do problema: um sugeria que a pressão estava
Os deuses devem estar loucos muito alta, causando perigo de explosão; outros indi-
Homens-arbusto do Deserto Kalahari o cavam que a pressão estava muito baixa, o que levaria
julgariam muito burro se você não soubesse a uma fusão nuclear. Apesar da pressão, de fato, estar
como se manter hidratado posicionando folhas muito baixa, os supervisores confiaram no único mo-
estrategicamente e extraindo água de tubérculos, nitor – que estava errado – que sugeria que a pressão
como ilustrado na cena de abertura desse filme. estava muito alta. Quando tomaram sua decisão e
agiram com base nela, ignoraram todas as evidências
Gênio indomável contraditórias dos outros monitores (Wickens, 1984).
Um psicólogo ajuda um trabalhador de construção
a descobrir e alimentar seu dom adormecido para O erro dos operadores exemplifica o viés de confir-
a matemática. mação, em que os responsáveis por resolver um problema
favorecem hipóteses ini-
fixidez funcional Tendência de
ciais e ignoram informa-
pensar em um objeto apenas em
• Fixidez Funcional. A dificuldade que a maioria das pes- ções contraditórias que termos de seu uso típico.
soas enfrenta com o problema da vela é causada pela sustentem hipóteses ou solu-
ções alternativas. Mesmo estado mental Tendência de que
fixidez funcional, a tendência de pensar em um objeto antigos padrões de resolução de
apenas em termos de seu uso típico. Por exemplo, a fi- quando encontramos evidên-
problemas persistam.
xidez funcional provavelmente o leva a pensar em um cias que contradigam uma so-
lução que escolhemos, é pos- viés de confirmação Tendência
livro como algo para ler, ao invés de seu uso potencial de favorecer informações que
como encosto de porta ou para acender uma fogueira. sível que fiquemos com a
sustentem a hipótese inicial e
No problema da vela, como os objetos são apresenta- hipótese original. ignorar informações contraditórias
dos dentro de caixas, a fixidez funcional faz com que O viés de confirmação que sustentem hipóteses ou
a maioria das pessoas as enxergue simplesmente como ocorre por várias razões. Uma soluções alternativas.
recipientes para os objetos que elas guardam, ao invés delas é que, como repensar um
de como parte funcional da solução. Elas não preveem problema que parece já estar resolvido exige esforço cognitivo
outra função para as caixas. extra, tentamos nos ater à nossa solução inicial. Outra é que
• Estado Mental. A fixidez funcional é um exemplo de um damos maior peso a informações subsequentes que sustentem
fenômeno mais amplo conhecido como estado mental, nossa posição inicial do que a informações que a contradigam
a tendência de que antigos padrões de resolução de pro- (Evans e Feeney, 2004; Gilovich, Griffin e Kahneman, 2002).
blemas persistam. Um experimento clássico (Luchins,
1946) demonstrou esse fenômeno. Como se pode ver na
CRIATIVIDADE E RESOLUÇÃO DE
figura da página 184, o objetivo da tarefa é usar os jarros
em cada fileira para medir a quantidade designada de lí- PROBLEMAS
quido. (Experimente para ter uma ideia do estado mental Mesmo tendo de enfrentar obstáculos na resolução de proble-
antes de prosseguir.) mas, muitas pessoas habilmente descobrem soluções criati-

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 183


© The New Yorker Collection 2005 Leo Cullum, extraído
de cartoonbank.com. Todos os direitos reservados.
“Ficarei muito feliz em lhe dar ideias
inovadoras. Quais as suas orientações?”

Agora compare a sua solução com esta, proposta por um


Solução para o problema com as três velas na página 182. menino de 10 anos:

Você pode ler, escrever nele, colocar na mesa e fazer dese-


vas. Uma questão que perdura, nhos nele... Você poderia colocá-lo na porta como decora-
criatividade Habilidade de gerar
e que os psicólogos cognitivos ção, colocar na lata de lixo, colocá-lo na cadeira se ela es-
ideias originais e resolver problemas
de formas inovadoras. buscam responder, é que fato- tiver suja. Se tiver um cachorrinho, você bota um jornal na
res subjazem à criatividade, a caixa dele, ou joga no pátio para o cachorro brincar. Quando
pensamento divergente habilidade de gerar ideias ori-
Habilidade de gerar respostas você constrói algo e não quer que ninguém veja, enrole com
não usuais, mas apropriadas, para
ginais ou resolver problemas jornal. Coloque jornal no chão se não tiver uma cama, use-o
problemas ou perguntas. de formas inovadoras. para pegar algo quente, use para estancar um machucado ou
Apesar de identificar os para as roupas molhadas não pingarem direto no chão. Você
pensamento convergente
estágios da resolução de pro- pode usar jornais como cortina, colocar no tênis para cobrir
Habilidade de produzir respostas
que têm base principalmente em
blemas nos ajuda a entender o que está machucando o seu pé, criar uma pipa com ele,
conhecimento e lógica. como as pessoas abordam e cobrir uma luz que esteja muito brilhante. Você pode enro-
resolvem problemas, isso não lar peixe nele, limpar janelas, ou embrulhar dinheiro... Você
nos ajuda muito a explicar por que algumas pessoas dão so- pode colocar tênis lavados no jornal, limpar os óculos com
luções melhores do que outras. Por exemplo, mesmo as so- ele, colocar embaixo de um pia que está vazando, colocar
luções possíveis para um problema simples frequentemente uma planta em cima, criar um pote de jornal, envolvê-lo em
apresentam grandes discrepâncias. Considere, por exemplo, seus pés como se fossem pantufas. Você pode colocá-lo na
como você pode responder à pergunta: “Em quantos usos areia se não tiver toalha, usar como bases no beisebol, fazer
você consegue pensar para um jornal?”. aviões de papel, usar como pá de lixo quando faz faxina, fa-
zer uma bola para o gato brincar, ou enrolar suas mãos com
ele caso esteja muito frio (Ward, Kogan e Pankove, 1972).

Dados jarros com essas capacidades (em mililitros): Essa lista mostra uma criatividade extraordinária. Infe-
lizmente, é muito mais fácil identificar exemplos de criativi-
dade do que determinar suas causas. Diversos fatores, contu-
do, parecem estar associados à criatividade (Kaufman e Baer,
2005; Schpers e van den Berg, 2007; Simonton, 2003).
B
A C
Obter:

1. 620 3.755 90 2955 Um estado mental clássico


2. 415 4.820 740 2925
Nesta clássica demonstração de estado mental, o objetivo é usar as
3. 530 1.270 295 150 jarras em cada fileira para medir a quantidade designada de líquido.
4. 265 1.240 175 625 Após identificar a solução para as primeiras cinco fileiras, é provável
que você tenha tido problemas com a sexta – mesmo que a solução
5. 590 1.745 120 915
fosse mais fácil. De fato, se você tentasse resolver o problema na sexta
6. 830 2.245 90 740 fileira primeiro, é provável que o resolvesse sem rodeios.

184 • PSICO
Da perspectiva de...
UM HOMEM DE NEGÓCIOS Você
tem o desafio de descobrir
como encorajar um grupo de
empregados a encontrar soluções
criativas para um problema.Você
pode pensar em estratégias que
os ajudariam a pensar de forma mais VOCÊ ACREDITA? > > >
inovadora?
Aprendendo a ser um pensador melhor
Pensadores críticos e criativos não nascem, eles são cria-
Um desses fatores é o pensamento divergente, a habili- dos, de acordo com pesquisadores cognitivos. Considere,
dade de gerar respostas não usuais, mas mesmo assim apro- por exemplo, essas sugestões para aumentar o pensamen-
priadas, para problemas e perguntas. Esse tipo de pensamento to crítico e a criatividade (Burbach, Matkin e Fritz, 2004;
contrasta com o pensamento convergente, que produz res- Kaufman e Baer, 2006):
postas que se baseiam primariamente em conhecimento e ló-
gica. Por exemplo, em resposta à questão “O que você pode • Redefina problemas. Podemos modificar limites e supo-
fazer com um jornal?”, alguém que se baseasse no pensamen- sições ao reformular um problema, seja em um nível
to convergente poderia dizer “Você lê o jornal”. Por outro mais abstrato ou mais concreto.
lado, “usar como pá de lixo” é uma resposta mais divergente • Use subobjetivos. Ao desenvolver subobjetivos, pode-
– criativa (Baer, 1993; Cropley 2006; Finke, 1995; Ho, 2004;
mos dividir um problema em passos intermediários.
Runco, 2006; Runco e Sakamoto, 2003; Sternberg, 2001).
Esse processo, conhecido como fracionamento, nos
Um fator que não está intimamente relacionado à cria-
permite examinar cada parte em busca de novas pos-
tividade é a inteligência, conforme é definida e mensurada
no ocidente. Exames tradicionais de inteligência, que fazem sibilidades e abordagens, levando a uma solução nova
perguntas focadas que só têm uma resposta aceitável, avaliam para o problema como um todo.
habilidades de pensamento convergente. Tais testes penalizam • Adote uma perspectiva crítica. Ao invés de aceitar passi-
pessoas altamente criativas por seu pensamento divergente. vamente suposições ou argumentos, podemos avaliar
Isso pode explicar por que os pesquisadores consistentemente materiais cuidadosamente, considerar suas implicações,
descobrem que a criatividade só está levemente relacionada credibilidade e relevância, e pensar sobre possíveis ex-
às notas no colégio e à inteligência quando a inteligência é ceções e contradições.
mensurada usando testes tradicionais de inteligência (Hong,
• Considere o oposto. Ao considerar o oposto de um con-
Milgram e Gorsky, 1995; Sternberg e O’Hara, 2000).
ceito que estamos buscando compreender, às vezes
podemos fazer progresso. Por exemplo, para definir
Você sabia? “boa saúde mental”, pode ser útil considerar o que
“má saúde mental” significa.
Um estudo sugeriu que tetos altos podem
estimular as pessoas a pensarem de • Pense de modo divergente. Em vez do uso mais comum
modo mais livremente (estilo livre, e lógico de um objeto, considere como você poderia
amplo), e tetos baixos podem usá-lo se você estivesse proibido de utilizá-lo do jeito
encorajar pensamentos mais usual.
conservadores, focados nos detalhes • Experimente várias soluções. Não tenha medo de usar
diferentes rotas para encontrar soluções para pro-
(Meyers-Levy e Zhu, 2007).
blemas (verbais, matemáticas, gráficas e mesmo dra-
máticas). Por exemplo, tente pensar em tudo o que
conseguir, não interessa quão louca ou bizarra pareça
a princípio. Após ter criado uma lista de soluções ma-
DICA
DIC
C DE ESTUDO lucas, reveja cada uma e tente pensar em formas de
fazer o que inicialmente parecia ser impraticável em
Lemb que o pensamento divergente produz
Lembre algo mais factível.
tipo
tipos diferentes e diversos de respostas,
ao passo que o pensamento convergente
p
produz tipos de respostas mais comuns.

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 185


>> Linguagem soas têm dificuldade de aprender outras línguas. Por exem-
plo, para um falante de japonês, cuja língua nativa não tem o
Era briluz. fonema r, pronunciar palavras em português como roer apre-
As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos. senta algumas dificuldades. De modo similar, para um falan-
Estavam mimsicais as pintalouvas, te nativo de inglês, é difícil de ouvir a diferença entre os dois
E os momirratos davam grilvos.* sons feitos pela letra “p”. Considere o modo como o p soa na
palavra pull. Se você disser pull segurando uma vela na fren-
Apesar de poucos de nós terem se deparado alguma vez te da boca, a chama vai ser movida pela sua respiração. Ago-
com uma lesmolisa, temos poucas dificuldades em discernir ra diga a palavra spell. Perceba que a chama não se move. Se
que no poema de Lewis Carrol (1872), “Jaguadarte”, a ex- você cresceu falando tailandês, você está familiarizado com
pressão lesmolisas touvas contém um adjetivo, touvas, e o ambos esses sons. Se você cresceu falando espanhol, é prová-
substantivo que ela modifica, lesmolisas. vel que use o p de spell sempre que produzir o som de p. Um
Nossa habilidade de atribuir sentido ao sem sentido, se o desafio ainda maior para falantes nativos de inglês é produzir
sem sentido seguir as típicas regras da linguagem, ilustra a o som de p em spell sem usar um s precedente. Tente. Você
complexidade tanto da linguagem humana quanto dos pro- vai saber que está chegando perto quando puder dizer pull
cessos cognitivos que subjazem seu desenvolvimento e uso. com uma vela acesa na sua frente e a chama não for empurra-
O uso de linguagem – a comunicação de informações por da pelo ar que sai de sua boca.
meio de símbolos arranjados de acordo com regras sistemáti- Sintaxe refere-se às regras que indicam como palavras e
cas – é uma habilidade cogni- expressões podem ser combinadas para formar frases. Cada
linguagem Comunicação de tiva importante, que é indis- língua tem regras intricadas que orientam a ordem como as
informações por meio de símbolos palavras podem ser agrupadas para comunicar significado.
pensável se quisermos nos
arranjados de acordo com regras
comunicar uns com os outros. Falantes do português não têm dificuldade de reconhecer que
sistemáticas.
A linguagem não é apenas im- “TV a desligue” não é uma sequência significativa, ao pas-
gramática Sistema de regras portante para a comunicação, so que “desligue a TV” é. Para entender o efeito de um tipo
que determina como nossos de regra de sintaxe em português, considere as mudanças em
pensamentos podem ser expressos
como também está intima-
mente ligada ao modo como significado causadas pela ordem diferente das palavras nos
em palavras.
pensamos e compreendemos seguintes enunciados: “João raptou o menino” e “O menino
fonologia Estudo das menores raptou João” (Eberhard, Cutting e Bock, 2005; Robert, 2006).
o mundo. Não é de espantar
unidades básicas do discurso, Em outras línguas, como o russo, mudar a ordem das palavras
chamadas de fonemas.
que os psicólogos tenham de-
dicado atenção considerável não muda o significado básico da frase. São usados prefixos,
fonemas Menores unidades do ao estudo da linguagem (Fitch sufixos e outros artifícios para mudar nossa compreensão de
discurso. quem realiza uma ação e quem/o que recebeu a ação.
e Sanders, 2005; Hoff, 2008;
Stapel e Semin, 2007). O terceiro grande componente da língua é a semântica,
o significado das palavras e das frases. Regras semânticas nos
permitem usar palavras e expressar as nuances mais sutis. Em
GRAMÁTICA: AS REGRAS DA LÍNGUA português, podemos uma vez mais usar a ordem das palavras
Para entender como a língua se desenvolve e se relaciona para produzir a distinção entre “o caminhão atropelou Laura”
com o pensamento, primeiro precisamos rever alguns dos (o que provavelmente diríamos se tivéssemos acabado de ver
elementos formais da linguagem. A estrutura básica da lín- o veículo batendo na Laura) e “Laura foi atropelada por um
gua está na gramática, o sistema de regras que determina caminhão” (que é o que diríamos se alguém nos perguntasse
como nossos pensamentos podem ser expressos em palavras. por que a Laura estava faltando às aulas enquanto se recupe-
A gramática lida com três grandes componentes da lín-
gua: fonologia, sintaxe e semântica. Fonologia é o estudo
das menores unidades básicas do discurso, chamadas de fo-
nemas, que afetam o significado, e da forma como usamos Você sabia?
esses sons para formar palavras e produzir significado. Por Shakespeare exercita o cérebro! Exames cerebrais
exemplo, o e em colher (o utensílio usado para comer) e em indicam que o uso imprevisível que Shakespeare faz
colher (o verbo usado para se apanhar ou conseguir algo) re- da língua tem um efeito distinto na atividade neural
presenta dois fonemas diferentes na língua portuguesa (Har-
e estimula pensamentos em nível mais elevado do
dison, 2006).
Linguistas identificaram mais de 800 fonemas diferen- que a escrita convencional. Ao simplesmente
tes entre todas as línguas do mundo. E apesar de os falantes transformar substantivos em verbos, por
nativos do inglês, por exemplo, usarem apenas 52 fonemas exemplo, Shakespeare parece pegar o
para produzir palavras, outras línguas usam desde 15 até 141. cérebro de surpresa. Talvez essa seja
Diferenças de fonemas são uma das razões por que as pes- uma razão-chave para o enorme
impacto dramático de sua obra
* N. de T.: Tradução do poema “Jabberwocky” (Jaguadarte, em portu-
(Davis, 2007).
guês), de Lewis Carrol, por Augusto de Campos.

186 • PSICO
adquire linguagem com mais facilidade. De fato, se as crian-
ças não forem expostas a uma língua durante esse período crí-
tico, elas terão grandes dificuldades posteriormente para su-
perar esse déficit (Bates, 2005; Shafer e Garrido-Nag, 2007).
Casos em que crianças que sofreram abuso foram isola-
das de contato com outros sustentam a teoria acerca de tais
períodos. Em um caso, por exemplo, uma garota chamada
Genie foi exposta a virtualmente nenhuma língua desde 20
meses até que fosse resgatada
rava) (Pietarinen, 2006; Richgels, 2004). Frequentemente, a aos 13 anos. Ela simplesmen- sintaxe Regras que indicam como
nuança de significados é produzida em português pelo uso de te não conseguia falar. Apesar
palavras e expressões podem ser
palavras de sentidos semelhantes, mas não idênticos. Consi- combinadas para formar frases.
de instruções intensivas, ela
dere, por exemplo, a diferença entre estas duas frases: “Maria aprendeu apenas algumas pa- semântica Regras que governam o
amava João” e “Maria adorava João”. lavras e jamais conseguiu do- significado das palavras e das frases.
Apesar das complexidades da língua, a maioria de nós minar as complexidades da balbucio Sons semelhantes ao
adquire os elementos básicos da gramática sem nem estar linguagem (Rymer, 1994; discurso, mas sem significado,
consciente de que aprendeu suas regras. (E nosso conheci- Veltman e Browne, 2001). produzido por crianças de
mento dessas regras provavelmente permanece inconsciente, 3 meses até 1 ano de idade,
que é o motivo por que a maioria de nós não gostava de ter Produzindo linguagem aproximadamente.
aulas de gramática no colégio.) Além disso, apesar de termos Quando alcançam aproxima-
dificuldade de afirmar explicitamente as regras da gramática, damente 1 ano, as crianças param de produzir sons que não
nossas habilidades linguísticas são tão sofisticadas que pode- pertencem à língua à qual foram expostas. A partir daí, não
mos proferir um número infinito de declarações diferentes. demora muito até que comecem a produzir palavras reais. Em
Como adquirimos essas habilidades? português, por exemplo, tipicamente se trata de palavras curtas
que começam com sons consonantais como b, d, m, p e t – isso
ajuda a explicar por que mama e papa frequentemente estão
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
entre as primeiras palavras dos bebês. Mesmo antes de produ-
Para os pais, os sons de seu bebê balbuciando são como mú- zir suas primeiras palavras, as crianças podem compreender
sica aos seus ouvidos (exceto, talvez, às 3 horas da manhã). uma grande quantidade da língua que escutam. A compreen-
Esses sons também servem uma função específica. Eles são da linguagem precede a produção de linguagem.
marcam o primeiro passo na estrada do desenvolvimento da Após completar 1 ano, as crianças começam a aprender
linguagem. formas mais complicadas de linguagem. Seu vocabulário au-
menta sensivelmente e, aos 2 anos, uma criança normal tem
Balbucio As crianças balbuciam – produzem sons seme-
um vocabulário de mais de 50 palavras. Apenas seis meses
lhantes ao discurso, mas sem significado – a partir dos 3 me-
depois, esse vocabulário aumentou para centenas de palavras.
ses até 1 ano, mais ou menos. Enquanto balbuciam, os bebês
A princípio, elas produzem combinações de duas palavras,
podem produzir, em um momento ou outro, sons encontrados
chamadas de fala telegráfica, já que essas frases primitivas
em todas as línguas, não só os da língua à qual eles estão ex-
soam como se fizessem parte de um telegrama, em que pala-
postos. Mesmo bebês que não conseguem ouvir, mas que são
vras que não são críticas à mensagem são deixadas de fora.
expostos à língua de sinais desde o nascimento, “balbuciam”
Ao invés de dizer “Eu mostrei o livro a você”, uma criança
usando as mãos (Locke, 2006; Pettito, 1993).
utilizando a fala telegráfica pode dizer “mostro livro”, e “esse
O balbucio de um bebê se assemelha cada vez mais à lín-
é o sapato da minha irmã” pode se tornar “sapato mana”.
gua específica falada em seu ambiente. Bebês jovens podem
Gradualmente, as crianças passam a usar menos a fala tele-
distinguir entre todos os 869 fonemas que foram identificados
gráfica e a produzir frases cada vez mais complexas (Volterra
por todas as línguas do planeta. Contudo, após os 6 aos 8 me-
et al., 2003).
ses, essa habilidade começa a entrar em declínio. Bebês come-
çam a se “especializar” na língua à qual são expostos confor-
me os neurônios no seu cérebro se reorganizam para responder
apenas aos fonemas específicos que escutam rotineiramente.
Você sabia?
Ser fluente em duas línguas torna mais fácil a
Enquanto balbuciam, os bebês
aprendizagem de uma nova língua do que
podem produzir sons encontrados saber apenas uma. Isto ocorre
em todas as línguas. possivelmente porque indivíduos
bilíngues aprenderam a refrear uma
Alguns teóricos argumentam que existe um período crí- língua enquanto usam a outra língua
tico para o desenvolvimento da linguagem no início da vida, (Northwestern University, 2009).
em que a criança é especialmente sensível a pistas da língua e

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 187


Por volta dos 3 anos, muitas crianças aprenderam
a formar o plural agregando s a substantivos e a formar o
pretérito adicionando –eu ao final de alguns verbos. Essas
habilidades também levam a erros, já que as crianças cuida-
dosamente aplicam regras que acabaram de aprender. Elas
supergeneralizam essas regras, usando-as mesmo quando
resultam em erros. Assim, apesar de ser correto dizer “ele
correu” para o pretérito de correr, a regra não funciona tão
bem quando as crianças dizem “ele veu” para o pretérito de
ver (Gershkoff-Stowe, Connell e Smith, 2006; Howe, 2002;
Rice et al., 2004).

Da perspectiva de...
UM PSICÓLOGO DO DESENVOLVIMENTO Crianças pequenas dominam as regras básicas de gramática em sua
Um pai preocupado trouxe seu filho de língua nativa sem que ninguém as tenha ensinado e adquirem um
vocabulário grande o bastante aos 5 anos para conseguir manter uma
2 anos e meio para uma consulta. O
conversa simples.
pai lhe diz que seu filho fala de modo
agramatical, por vezes usando apenas
duas palavras e às vezes agregando Abordagens da teoria da aprendizagem A aborda-
terminações estranhas às palavras. Por gem da teoria da aprendizagem sugere que a aquisição da
exemplo, ontem à noite mesmo ele linguagem segue os princípios do reforço e do condiciona-
disse “eu trusse o brinquedo pra mim brincar”. O que mento descobertos por psicólogos que estudam a aprendi-
você diria a esse pai, e como você o encorajaria a maximizar zagem. Por exemplo, uma criança que diz “mamãe” recebe
as habilidades linguísticas do filho? abraços e elogios de sua mãe, o que reforça o comportamento
de dizer “mamãe” e torna sua repetição mais provável. Essa
visão sugere que as crianças começam a aprender a falar ao
serem recompensadas por produzir sons que se aproximam
Por volta dos 5 anos, as crianças adquiriram as regras da fala. No final, por meio de um processo de modelagem, a
básicas da língua. Contudo, só adquirem mais tarde um voca- língua se assemelha cada vez mais ao discurso adulto (Ornat
bulário completo e a habilida- e Gallo, 2004; Skinner, 1957).
fala telegráfica Frases em que de de compreender e usar re- Como apoio à abordagem da teoria da aprendizagem à
palavras que não são críticas à gras gramaticais sutis. Por
mensagem são deixadas de fora.
aquisição da linguagem, quanto mais os pais falam com seus
exemplo, um menino de 5 filhos pequenos, mais proficientes as crianças se tornam no
supergeneralização Fenômeno anos que visse uma boneca uso da língua. Além disso, quando chegam aos 3 anos, as
pelo qual as crianças aplicam regras vendada e fosse perguntado se crianças que ouvem níveis linguísticos mais sofisticados no
da língua mesmo quando sua “a boneca é mais fácil ou difí-
aplicação resulta em erro.
discurso de seus pais apresentam uma taxa maior de cresci-
cil de ver?” provavelmente mento vocabular, uso de vocabulário, e mesmo de realização
abordagem da teoria teria dificuldades para com- intelectual do que as crianças cujos pais têm um discurso
da aprendizagem (ao preender a pergunta. De fato, mais simples (Hart e Risley, 1997).
desenvolvimento da linguagem) se lhe pedissem para tornar a
Teoria que sugere que a aquisição A abordagem da teoria da aprendizagem não tem tanto
boneca mais fácil de ver, ele sucesso em explicar como as crianças adquirem as regras da
da linguagem segue os princípios do
reforço e do condicionamento. provavelmente tentaria remo- língua. Por exemplo, pais respondem tão prontamente à per-
ver a venda dela. Na época em gunta “Isso é pra mim fazer?” quanto a versão correta “Isso é
que chegam aos 8 anos, contudo, as crianças têm pouca difi- para eu fazer?”. Ouvintes entendem as duas perguntas igual-
culdade de entender essa pergunta, já que percebem que a mente bem. A teoria da aprendizagem, portanto, tem dificul-
venda da boneca não tem nada a ver com a habilidade do dade em explicar completamente a aquisição da linguagem.
observador de enxergá-la (Chomsky, 1969; Hoff, 2003).
Abordagens nativistas Apontando esses problemas nas
abordagens da teoria da aprendizagem à aquisição da lingua-
TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA gem, o linguista Noam Chomsky (1968, 1978, 1991) forneceu
LINGUAGEM uma alternativa inovadora. Chomsky argumentava que os seres
Seres humanos fazem enormes avanços no desenvolvimento humanos nascem com uma capacidade linguística inata que
da linguagem durante a infância. Contudo, os motivos para emerge primariamente como uma função do amadurecimento.
esse crescimento rápido estão longe de serem óbvios. Psicó- De acordo com essa abordagem nativista à linguagem, todas
logos ofereceram duas grandes explicações, uma baseada na as línguas do mundo compartilham uma estrutura subjacente
teoria da aprendizagem e outra baseada em processos inatos. em comum chamada de gramática universal. Chomsky suge-

188 • PSICO
locais específicos no cérebro abordagem nativista
estão intimamente ligados (à linguagem) Teoria de
à língua, e que o formato da que um mecanismo inato e
boca e a da garganta humanas geneticamente determinado rege o
é talhado para a produção de desenvolvimento da linguagem.
fala. E existem evidências gramática universal Teoria de
de que características de cer- Noam Chomsky de que todas as
tas línguas, como o chinês, o línguas do mundo compartilham uma
vietnamita, o navajo e outras estrutura subjacente em comum.
línguas tonais em que o tom aparelho de aquisição da
é usado para produzir signi- linguagem (language acquisition
ficado, estão ligadas a genes device) Sistema neural do cérebro
específicos (Chandra, 2007; proposto por Noam Chomsky que
permite entender a língua.
Dediu e Ladd, 2007; Hauser,
Chomsky e Fitch, 2002). abordagem interacional
Ainda assim, a visão de (ao desenvolvimento da
linguagem) Visão de que o
Chomsky tem seus críticos.
desenvolvimento da linguagem
Por exemplo, teóricos da é produzido por meio de uma
aprendizagem afirmam que a combinação de predisposições
habilidade aparente de certos geneticamente determinadas e
animais, tais como chimpan- circunstâncias ambientais que
zés, de aprender os funda- ajudam a ensinar a língua.
mentos da linguagem humana
contradiz a visão da capacidade linguística inata.
Como adquirimos a linguagem?
Abordagens interacionais Para reconciliar as diferentes
visões, muitos teóricos assumem uma abordagem intera-
Você sabia? cional ao desenvolvimento da linguagem. A abordagem in-
teracional sugere que o desenvolvimento da linguagem seja
A habilidade de ler expressões faciais é tão produzido por meio de uma combinação de predisposições
importante para a compreensão verbal geneticamente determinadas e circunstâncias ambientais que
que mais de 900 emoticons digitais ajudam a ensinar a língua.
(smiley face, winks, etc.) foram Especificamente, proponentes da abordagem intera-
desenvolvidos ao se comunicar por cional sugerem que o aparelho de aquisição da linguagem
programado no cérebro que Chomsky e geneticistas sugerem
e-mail. =:o
fornece o hardware para nossa aquisição da linguagem, ao
passo que a exposição à língua em nosso ambiente que os
teóricos da aprendizagem observam nos permite desenvolver
o software apropriado. Mas a questão de como a língua é ad-
quirida permanece um tópico ativo de discussão (Hoff, 2008;
Lana, 2002; Pinker e Jackendoff, 2005).
riu que o cérebro humano tem um sistema neural, o aparelho
de aquisição da linguagem (language acquisition device),
que não apenas nos permite entender a estrutura que a língua
apresenta, mas também nos fornece estratégias e técnicas para >> Inteligência
aprender as características únicas de nossa língua mãe (Lidz e Membros da tribo Trukesa no Pacífico Sul frequentemente
Gleitman, 2004; McGilvray, 2004; White, 2007). velejam por quilômetros nas águas do mar aberto. Apesar de
Chomsky usou o conceito de aparelho de aquisição da
linguagem como uma metáfora, e ele não identificou uma
área específica no cérebro onde ele reside. Contudo, evidên-
cias coletadas por neurocientistas sugerem que a habilidade DICA DE ESTUDO
DIC
de usar a língua, que foi um avanço evolutivo significativo É imp
importante entender que diferentes teorias
para os seres humanos, está ligada a desenvolvimentos neu-
con
contribuem para nossa compreensão de um
rológicos específicos (Sahin, Pinker e Halgren, 2006; Sakai,
fe
fenômeno complexo, como a aquisição da
2005; Willems e Hagoort, 2007).
Por exemplo, cientistas descobriram um gene relacio- llinguagem.
nado ao desenvolvimento de habilidades linguísticas que
pode ter surgido recentemente – em termos evolucionistas
–, há cerca de 100.000 anos. Além do mais, está claro que

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 189


seu destino poder ser apenas uma pequena porção de terra concepção dos leigos. Para os psicólogos, a inteligência é
com pouco mais de um quilômetro de extensão, os Trukeses a capacidade de entender o mundo, pensar racionalmente e
conseguem se orientar com precisão até ela sem a necessida- usar recursos efetivamente ao enfrentar desafios. Apesar de
de de uma bússola, cronômetro, sextante ou qualquer outra os psicólogos reconhecerem que a inteligência ocorre em um
ferramenta náutica usada pelos navegadores ocidentais. Eles contexto específico, conforme demonstrado pelos exemplos
conseguem navegar com precisão, mesmo quando os ventos acima e por essa definição, a pesquisa ficou para trás nessa
não permitem que eles se aproximem diretamente das ilhas compreensão; ainda não está claro o que é a Inteligência e
e elas tenham que fazer uma rota em zigue-zague (Gladwin, como ela pode ser medida.
1964; Mytinger, 2001). Você se vê como alguém que escreve bem, mas que não
Como esses Trukeses conseguem navegar com tanta efi- é bom em matemática? Você se sente mais à vontade escre-
ciência? Se você lhes perguntasse, eles não saberiam respon- vendo um programa de computador do que aprendendo a
der. Eles poderiam dizer que usam um processo que leva em dançar? Os seus amigos, pais e professores dizem que você é
conta o nascer e o pôr de estrelas, a aparência, o som e a sen- muito inteligente em muitas áreas diferentes?
sação das ondas contra o lado do barco. Mas, a qualquer mo- Uma questão básica relacionada à inteligência é isso: se
mento em que estão navegando, eles não conseguiriam identi- você é uma pessoa inteligente, você é geralmente melhor na
ficar sua posição ou dizer por que estão fazendo o que estão maioria das coisas do que alguém que não seria considerado
fazendo em termos que fariam sentido para alguém com co- inteligente? Ou, seria esse o caso em que podemos ser bri-
nhecimentos ocidentais de lhantes em algumas áreas
e menos desenvoltos em
inteligência Capacidade de outras? Ao ler a próxi-
entender o mundo, pensar
ma sessão, tente manter
racionalmente e usar recursos
efetivamente ao enfrentar desafios. a mente aberta, já que,
quando há várias teorias
g ou fator g Fator único geral que recebem muita aten-
para a habilidade mental, que se
supõe que subjaza à inteligência em
ção, tipicamente todas
algumas das primeiras teorias da elas contêm um fundo de
inteligência. verdade.

navegação. De modo se-


melhante, eles não pode- TEORIAS DA
riam explicar a teoria de INTELIGÊNCIA
orientação subjacente à No início, os psicólogos
sua técnica de navegação. interessados na inteli-
Se déssemos aos na- gência criaram a hipótese
vegadores Trukeses um de que haveria um fator
teste padronizado de co- O que os métodos de navegação dos Trukeses, que não envolvem mapas nem único geral para a habili-
instrumentos, nos dizem sobre a inteligência?
nhecimento e teoria nave- dade mental, ao qual eles
gacional ocidental, ou, já denominaram g, ou fator
que estamos falando nisso, um teste tradicional de inteligên- g. Pensava-se que esse fator de inteligência geral subjazia ao
cia, eles poderiam apresentar maus resultados; mas nós é que desempenho em cada aspecto da inteligência, e se presumia
não seríamos muito espertos se achássemos que os Trukeses que fosse o fator g que estivesse sendo mensurado em tes-
não são inteligentes: apesar de sua incapacidade de nos expli- tes de inteligência (Colom, Jung e Haier, 2006; Gottfredson,
car como fazem isso, eles conseguem se orientar com suces- 2004; Spearman, 1927).
so no mar aberto. Do seu ponto de vista, nós é que podemos Teorias mais recentes veem a inteligência de outro
não ser inteligentes, já que não entendemos suas explicações modo. Ao invés de enxergar a inteligência como uma entida-
e, portanto, não conseguimos navegar sem todo o tipo de en- de unitária, eles consideram-na um conceito multidimensio-
genhoca desnecessária, como computadores e sextantes. nal que inclui diferentes tipos de inteligência (Stankov, 2003;
Por anos a psicologia se bate contra a questão de criar Sternberg e Pretz, 2005; Tenopyr, 2002).
uma definição geral de inteligência que leve diferenças cultu-
rais em conta. Os leigos têm ideias razoavelmente claras do Inteligência fluida e cristalina Alguns psicólogos estu-
que é a inteligência, apesar de suas ideias terem base na cul- dam dois tipos diferentes de inteligência: a inteligência fluida
tura. Os ocidentais normalmente veem a inteligência como e a inteligência cristalina. A inteligência fluida reflete capa-
a habilidade de formar categorias e debater racionalmente. cidades de processamento de informações: raciocínio e me-
Por outro lado, pessoas de culturas orientais e de algumas mória. Se nos pedissem para resolver uma analogia, agrupar
comunidades africanas veem a inteligência mais em termos uma série de letras de acordo com algum critério ou lembrar
de compreender e se relacionar uns com os outros (Brislin, um conjunto de números, estaríamos usando a inteligência
Worthley e MacNab, 2006; Nisbett, 2003; Sternberg, 2005). fluida. Usamos a inteligência fluida quando estamos tentan-
A definição de inteligência que os psicólogos empre- do resolver um enigma rapidamente (Cattell, 1998; Kane e
gam contém alguns dos mesmos elementos encontrados na Engle, 2002; Saggino et al., 2006).
190 • PSICO
Por outro lado, inteligência cristalizada é o acúmu- múltiplas está ligada a um sistema independente no cérebro.
lo de informações, habilidades e estratégias que as pessoas Além disso, ele sugere que pode haver ainda mais tipos de
podem ter aprendido pela experiência e que podem aplicar inteligência, tais como inteligência existencial, que envolve
em situações de resolução de problemas. Ela reflete nossa identificar e pensar sobre as questões fundamentais da exis-
habilidade de recuperar informações da memória de longo tência humana. O Dalai Lama pode exemplificar esse tipo de
prazo. Provavelmente usaríamos a inteligência cristalizada, inteligência (Gardner, 1999).
por exemplo, se nos pedissem para participar de uma discus- Apesar de Gardner ilustrar sua concepção dos tipos es-
são sobre a solução das causas da pobreza, uma tarefa que pecíficos de inteligência com descrições de pessoas famosas,
nos permite usar nossa própria experiência passada e nosso cada pessoa tem os mesmos oito tipos de inteligência – em di-
conhecimento do mundo. Em contraste com a inteligência ferentes graus. Além disso, apesar de os oito tipos básicos de
fluida, que reflete um tipo mais geral de inteligência, a inteli- inteligência estarem individualmente presentes, Gardner su-
gência cristalizada é mais gere que essas inteligências
um reflexo da cultura em separadas não operam em
que uma pessoa foi criada. isolamento. Normalmente,
As diferenças entre inteli- qualquer atividade engloba
gência fluida e cristaliza- diversos tipos de inteligên-
da torna-se especialmente cia em cooperação.
mais evidente nos idosos, O conceito de inte-
que apresentam declínios ligências múltiplas levou
na inteligência fluida, mas ao desenvolvimento de
não na cristalizada (Aart- perguntas em testes de in-
sen, Martin e Zimprich, teligência que podem ter
2002; Buehner, Krumm e mais de uma resposta cor-
Ziegler, 2006; Schretlen et reta; esses testes fornecem
al., 2000). a oportunidade para que
os avaliados demonstrem
As inteligências múlti- diferentes tipos de inteli-
plas de Gardner O psi- gência. Além disso, muitos
cólogo Howard Gardner educadores, abraçando o
Pilotar um helicóptero requer tanto a inteligência fluida quanto a
usou uma abordagem bem cristalizada. Qual dos dois tipos de inteligência você acha mais importante conceito das inteligências
diferente do pensamento para essa linha de trabalho? múltiplas, criaram currí-
tradicional sobre a inteli- culos de sala de aula que
gência. Gardner argumenta buscam exigir diferentes
que, ao invés de perguntar “O quão inteligente você é?”, aspectos da inteligência (Armstrong, 2000, 2003; Kelly e
deveríamos fazer outra pergunta: “Como você é inteligente?”. Tangney, 2006).
Em resposta à última pergunta, Gardner desenvolveu uma teo-
ria das inteligências múltiplas (Gardner, 1999). Abordagem do proces-
Gardner argumenta que temos no mínimo oito formas samento de informa- Inteligência fluida Inteligência
diferentes de inteligência, cada uma relativamente indepen- que reflete capacidades de
ções Uma das contribuições
processamento de informações,
dente das outras: musical, cinestésico-corporal, lógico-ma- mais recentes à compreensão raciocínio e memória.
temática, linguística, espacial, interpessoal, intrapessoal e da inteligência vem do traba-
naturalista. Na visão de Gardner, cada uma das inteligências lho dos psicólogos cognitivos inteligência cristalizada Acúmulo
de informações, habilidades e
que assumem uma aborda-
estratégias que as pessoas podem
gem de processamento de in-
© The New Yorker Collection 1983 W.B. Park, extraído

ter aprendido pela experiência e


formações. Eles afirmam que que podem aplicar em situações de
de cartoonbank.com. Todos os direitos reservados.
© The New Yorker Collection 1983 W.B. Park

o modo como as pessoas ar- resolução de problemas.


mazenam material na memó- teoria das inteligências
ria e usam esse material para múltiplas Teoria da inteligência de
resolver tarefas intelectuais Gardner que propõe que existem
fornece a medida mais precisa oito esferas distintas da inteligência.
da inteligência. Consequente-
mente, ao invés de se focar na estrutura da inteligência ou
em seu conteúdo ou dimensões subjacentes, abordagens de
processamento de informações examinam os processos en-
volvidos na produção de comportamento inteligente (Hunt,
2005; Neubauer e Fink, 2005; Pressley e Harris, 2006).
Por exemplo, pesquisas mostram que as pessoas com es-
“Para ser bem franco, eu não sou tão esperto cores altos em testes de inteligência passam mais tempo nos
quanto parece que você acha que eu sou”. estágios inicias de codificação de problemas, identificando as

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 191


Inteligência musical
1
Habilidades em tarefas
envolvendo música. Exemplo:
Quando tinha 3 anos, Yehudi Inteligência cinestésico-corporal
Menuhin foi levada à Orquestra 2
de San Francisco às escondidas Habilidades no uso do corpo na
por seus pais. Quando tinha 10 solução de problemas ou na cons-
anos, Menuhin era uma música trução de produtos ou exposições,
internacional. exemplificadas por dançarinas,
atletas, atores e cirurgiões. Exemplo:

Babe Ruth, aos 15 anos, jogava na


Inteligência lógico-matemática terceira base; o arremessador do seu time estava jogando
3 muito mal e Babe o criticava em voz alta lá de onde estava.
Habilidades em resolução de problemas e pensamento
científico. Exemplo: Irmão Matthias, o técnico, chamou: “Ruth, se você sabe tanto,
Barbara McClintock, que ganhou vai arremessar!”. Mais tarde, Ruth disse que, no momento em
o Prêmio Nobel de Medicina, que assumiu o lugar, ele sabia que seria um arremessador.
descreve uma de suas
descobertas, que veio após
pensar em um problema por
cerca de meia hora: “De repente Inteligência linguística
eu pulei e corri para o milharal. 4
Do alto do milharal (os outros Habilidades envolvidas na
ainda estavam lá embaixo) eu produção e no uso da linguagem.
gritei, ‘Eureca, descobri!’”. Exemplo:
Aos 10, T. S. Eliot criou uma
revista chamada Fireside,
da qual ele era o único
Inteligência espacial contribuinte.
5
Habilidades envolvendo configurações
espaciais, tais como as usadas por
artistas e arquitetos. Exemplo: Inteligência interpessoal
6
Nativos das Ilhas Truk navegam no mar Habilidades em interagir com os outros, tais como a sensibilidade
sem instrumentos. Durante a viagem a humores, temperamentos, motivações e intenções dos outros.
de fato, o navegador deve visualizar Exemplo:
mentalmente a ilha referência conforme
passa sob uma estrela específica e, Quando Anne Sullivan começou
a instruir Helen Keller, jovem

Fonte: Adaptado de Multiple Intelligences: New Horizons, de H. Gardner. © 2006 by Howard Gardner.
a partir disso, computa o número de
segmentos completados, a proporção surda e cega, sua tarefa já havia
que falta da viagem e quaisquer ludibriado outros por anos. Porém,
correções na rota. apenas duas semanas depois de
começar seu trabalho com
Keller, Sullivan conseguiu
grande sucesso.
Inteligência intrapessoal
7
Conhecimento dos aspectos internos de si mesmo;
acesso aos próprios sentimentos e emoções. Exemplo:

Em seu ensaio “A sketch of the past” (“Um esboço do passado”),


Virginia Woolf demonstra profunda compreensão de sua própria Inteligência naturalista
vida interna, descrevendo sua reação a diversas memórias
8
A habilidade de identificar e
específicas de sua infância, que, classificar padrões na natureza.
mesmo na vida adulta, ainda a chocam: Exemplo:
“Apesar de eu ainda ter a peculiaridade
de receber esses choques repentinos, Durante os períodos pré-históricos,
agora eles são sempre bem-vindos; caçadores/colhedores dependiam
após a primeira surpresa, eu sempre da inteligência naturalista para
sinto, instantaneamente, que eles são identificar que flora e fauna
particularmente valiosos. E assim eu eram comestíveis. As pessoas
prossigo, supondo que a habilidade de que têm facilidade de distinguir
receber esses choques é o que me nuances entre grandes números
torna uma escritora”. de objetos semelhantes podem
estar expressando uma habilidade
As inteligências múltiplas da inteligência naturalista.

de Gardner
192 • PSICO
DICA DE ESTUDO
DIC na carreira. Sternberg aponta evidências que mostram que
a maioria dessas medidas tradicionais de inteligência, na
verdade, não é muito boa em prever o sucesso na carreira
A teo
teoria de Gardner sugere que cada indivíduo
(McClelland, 1993). Especificamente, apesar de executivos
tem todo o tipo de inteligência, mas em
de sucesso normalmente pontuarem moderadamente bem em
gr
graus diferentes. testes de inteligência, a velocidade com que avançam e suas
realizações na profissão estão minimamente associadas com
mensurações tradicionais de inteligência.
Sternberg argumenta que o sucesso na profissão requer
um tipo de inteligência muito diferente daquele que é neces-
sário para obter sucesso acadêmico. Ao passo que o sucesso
acadêmico se baseia no conhecimento de uma base de infor-
partes do problema e recuperando informações relevantes da mação específica obtida lendo e ouvindo, a inteligência prá-
memória de longo prazo do que as pessoas com escores mais tica é aprendida principalmente ao observar o comportamen-
baixos. Essa ênfase inicial em recordar informações relevan- to dos outros. As pessoas que têm inteligência prática alta
tes compensa no final; os que usam essa abordagem têm mais conseguem aprender normas e princípios gerais e aplicá-los
sucesso em buscar soluções do que aqueles que passam rela- adequadamente. Consequentemente, testes de inteligência
tivamente menos tempo nos estágios iniciais (Deary e Der, prática medem a habilidade de empregar princípios amplos
2005; Hunt, 2005; Sternberg, 1990). na resolução de problemas do cotidiano (Polk, 1997; Stemler
Outras abordagens de processamento de informação e Sternberg, 2006; Sternberg e Pretz, 2005).
examinam a simples velocidade do processamento. Por Além da inteligência prática, Sternberg argumenta que
exemplo, pesquisas mostram que a velocidade com a qual há outros dois tipos básicos inter-relacionados de inteligên-
as pessoas conseguem recuperar informações da memória cia de sucesso: inteligência analítica e inteligência criativa.
tem relação com a inteligência verbal. No geral, pessoas A inteligência analítica se foca em tipos de problemas abs-
com escores altos em testes de inteligência verbal reagem tratos, mas tradicionais, medidos em testes de QI, ao passo
mais rapidamente em diversas tarefas de processamento de que a inteligência criativa envolve a geração de ideias e pro-
informações, variando desde reações a luzes piscantes até a dutos novos (Benderly, 2004; Sternberg, Grigorenko e Kidd,
diferenciação entre letras. A velocidade do processamento 2005).
de informações, portanto, pode estar na base de algumas di- Alguns psicólogos ampliam o conceito de inteligência
ferenças de inteligência (Deary e Der, 2005; Gontkovsky e ainda mais, de modo a incluir as emoções. Eles definem a
Beatty, 2006; Jensen, 2005). inteligência emocional como o conjunto de habilidades que
subjaz à análise, avaliação, expressão e regulação precisa das
Inteligência prática e inteligência emocional Consi- emoções (Humphrey, Curran e Morris, 2007; Mayer, Salovey
dere a seguinte situação: e Caruso, 2004; Zeidner, Matthews e Roberts, 2004).
A inteligência emocional subjaz à habilidade de se rela-
Um funcionário que trabalhou para um de seus subordina- cionar bem com os outros. Ela nos ajuda a entender o que as
dos pediu para falar com você acerca de desperdício, baixa outras pessoas estão sentindo e vivenciando, além de nos per-
capacidade de gerenciamento e possíveis violações tanto da mitir responder adequadamente às necessidades dos outros.
política da empresa quanto da lei por parte do seu subor- A inteligência emocional é a base da empatia pelos outros, da
dinado. Você esteve em sua posição atual por apenas um autoconsciência e das habilidades sociais.
ano, mas nesse período você não viu indícios de problemas Habilidades na inteligência emocional podem ajudar a
por parte do funcionário em questão. Nem você nem a sua explicar por que pessoas com escores apenas modestos em
companhia tem uma política de “portas abertas”, então se testes tradicionais de inteligência podem obter muito suces-
espera que os funcionários levem suas preocupações a seu so. Uma inteligência emocional alta pode permitir que um
supervisor imediato antes de levar a questão à atenção de indivíduo entre em sintonia com os sentimentos de outra pes-
outra pessoa. O funcionário que deseja se encontrar com soa, permitindo um grau mais alto de sensibilidade às pes-
você não discutiu essa questão com o supervisor dele devido soas ao nosso redor.
à sua natureza delicada (Sternberg, 1998, p. 17). Apesar da noção de que inteligência prática De acordo
com Sternberg, é a inteligência
a inteligência emocional faz
relacionada com o sucesso em geral
Sua resposta a essa situação tem muito a ver com o seu sentido, ela ainda precisa ser na vida.
sucesso futuro no mundo dos negócios, de acordo com o psi- quantificada de forma rigoro-
cólogo Robert Sternberg. A questão faz parte de uma série sa. Ainda assim, a noção de inteligência emocional Conjunto
de habilidades que subjaz à análise,
criada para avaliar sua inteligência prática. Inteligência prá- inteligência emocional nos avaliação, expressão e regulação
tica é a inteligência relacionada com o sucesso em geral na lembra de que há muitas for- precisa das emoções.
vida (Muammar, 2007; Sternberg, 2000, 2002b; Sternberg e mas de demonstrar compor-
Hedlund, 2002; Wagner, 2002). tamento inteligente – assim como há diversas visões sobre
Testes tradicionais de inteligência foram desenvolvi- a natureza da inteligência (Barrett e Salovey, 2002; Fox e
dos para prever o desempenho acadêmico, não o sucesso Spector, 2000).

Pensamento, Linguagem e Inteligências • 193


Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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