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RESUMO ABSTRACT
O presente artigo refere-se à pesquisa This article refers to a qualitative
qualitativa – tipo estudo de caso – acerca de research, a case study, on distance education
Educação a Distância no desenvolvimen- in the development of professional skills in an
to das competências profissionais em uma Educational Institution that offers courses at
Instituição Educacional que oferece essa mo- distance in the state of Rio Grande do Sul. The
dalidade de cursos (EaD) no Estado do Rio objective of this study is to analyze aspects
Grande do Sul. O estudo objetiva análise do of the student’s autonomy development
desenvolvimento da autonomia do aluno co- during the learning process through distance
laborador durante o processo de aprendiza- education. Considering the importance of
gem por meio dessa modalidade. Tendo em everyday practice analysis and reflections,
vista a importância das análises e as reflexões the methodological choice was based on
da prática cotidiana da EaD, a opção metodo- semi-structured interview, which has shown
lógica deu-se pela entrevista semiestruturada, results that prove the autonomy. Thus, the
cujos resultados comprovam a autonomia. learning construction becomes innovative
Assim, a construção de aprendizagem torna- for the student through commitment with
-se inovadora para o aluno por meio de com- responsibility, initiative, time management,
promisso com responsabilidade, iniciativa, search for solutions and engagement in
administração do tempo, busca de soluções e activities, as well as collaboration and
empenho nas atividades, além de colaboração interaction with colleagues and course tutors.
e interação com colegas e professores-tutores This is a relevant study on incipient context of
de curso. Trata-se de estudo relevante em use of this modality with many positive aspects
contexto incipiente de utilização dessa mo- in education, as a form of democratization
dalidade com inúmeros aspectos positivos na and human development in the educational
educação, como forma de democratização e field and qualification for work by increasing
desenvolvimento do ser humano nos âmbitos the skills, in the development of autonomy
educacionais e de qualificação para o trabalho and interaction during the process of teaching
através do incremento das competências, do and learning.
desenvolvimento de autonomia e de interação
durante o processo de ensino-aprendizagem. Keywords: Distance Education. Autonomy.
Student.
Palavras-chave: Educação a Distância.
Autonomia. Aluno.
Volume 14 − 2015
RESUMEN pedagógico, EaD, como modalidade flexível,
Este artículo se refiere a la de tipo corresponde ao paradigma da autoformação,
cualitativo de investigación de estudios de sendo alternativa viável de conhecimentos e
caso sobre la Educación a Distancia en el aprendizagem no atual contexto educacional.
110 desarrollo de habilidades profesionales en Ela vem ao encontro das necessidades atuais,
una institución educativa que ofrece este tipo proporciona construção do conhecimento
de cursos (DE) en el estado de Rio Grande de forma colaborativa e em redes, indepen-
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RBAAD – A autonomia na aprendizagem em educação a distância: competência a ser desenvolvida pelo aluno
pedagógicos, a fim de proporcionar suporte Wedemeyer (1975) conceitualmente des-
nos estudos. Como na modalidade ocorre dis- creveu o conceito de aprendizagem indepen-
tanciamento físico entre professor e aluno, é dente6 e Knowles (1988) propôs um concei-
preciso automotivação e disciplina, além de in- to que teve muita repercussão na literatura
centivo e investimento de professores e tutores. educacional, a aprendizagem autodirigida7, 111
na qual:
Preti (2005) faz referência a diferentes
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gradativamente, em sua teoria, benefícios as características necessárias para favorecer
das novas tecnologias8 da informação para a postura ativa de educação permanente e
processos de aprendizagem autônoma, aprendizagem autônoma.
ressaltando que:
112 Assim sendo, EaD contribui para a educa-
Maiores níveis de atividade e de inte- ção, pois traz facilidades de o aluno estabelecer
ratividade são atingidos com relativa seu ritmo de busca por novas informações e
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indo e vindo, conversando, lendo em di- No ambiente virtual de aprendizagem,
ferentes espaços livres, ora reunidos em alunos desenvolvem a capacidade de determi-
equipe, ora desenvolvendo atividades nar seu ritmo, de acessar o conteúdo quando
individuais, com horários diversificados e quantas vezes forem necessárias na busca
para atendimento individual ou em gru- da compreensão do que desperta interesse e 113
pos, com calendário flexível, acompanha- desejo de aprender. Para apoiar a construção
mento personalizado, sob a orientação desse novo exercício de autonomia em EaD,
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não é processo que ocorre “a distância”, afas- Quando um estudante recebe infor-
tada da relação com o outro, sem interação e mações que o levam a pensar que o seu
convivência e, portanto, “solitária”; muito pelo sucesso se justifica pela conjugação das
contrário, ela deve ser solidária e colaborativa. suas capacidades com dispêndio de es-
114 forço, este desenvolve a sua percepção de
O termo “presencialidade” significa tam- autoeficácia, melhora a qualidade de sua
bém o “estar juntos virtualmente”. O espaço execução e, de acordo ainda com a teo-
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físico está dando lugar ao ciberespaço ou à ria cognitivo-social, eleva o seu estado de
construção de “redes de aprendizagem”, por motivação. (CERDEIRA apud PRETTI,
meio das quais professores e alunos apren- 2005, p. 10).
dem juntos, interagem e cooperam entre si,
colaborando e, consequentemente, oportu- A autonomia do aluno é respeitada nes-
nizando aprendizagem cooperativa e cola- sa modalidade, pois reconhece mudanças na
borativa. Segundo Maturana (2001, p. 103): sociedade atual que lhe fornece subsídios de
“Aprendizagem não é a captação do nada: é atualização e práticas educacionais condizen-
o transformar-se em um meio particular de tes ao novo cenário de educação e trabalho.
interações recorrentes”. Nessa perspectiva, a instituição escolar tem
seus paradigmas cada vez mais pressionados
No que diz respeito ao significado do alu- em prol de revitalização do campo educacio-
no autônomo na EaD, Arcúrio (2008), concei- nal. Conforme Lévy (1999, p. 157), “[...] deve-
tua-a da seguinte forma: mos construir novos modelos de espaço dos
conhecimentos”.
Um aprendiz autônomo no universo da
educação a distância deve saber utilizar Para Belloni (2001), a EaD propicia a
de certa forma os recursos tecnológicos aprendizagem autônoma, que é a aprendiza-
que a modalidade disponibiliza, ade- gem centrada no aluno, cujas experiências
quando as diversas necessidades indi- servem como recurso, pois aluno autônomo
viduais de acordo com a flexibilidade é considerado gestor responsável pelo seu
de horário para o estudo, atendimento processo de aprendizagem. Diante disso, é
personalizado, inovação das metodolo- necessário criar planejamento pedagógico
gias de ensino, aperfeiçoamento e novas diferenciado para o sucesso no uso das ferra-
oportunidades de avaliação da aprendi- mentas tecnológicas do processo educacional.
zagem, sem manchar suas normatizações Na EaD, aluno passivo dá lugar a sujeito ativo,
legais, assim como o grande crescimen- engajado no processo de construção e com-
to de um relacionamento interpessoal. partilhamento do conhecimento.
(ARCÚRIO, 2008, p. 2).
Tendo o professor-tutor de EaD a função
A modalidade em EaD respeita o período de mediador, o aluno, por sua vez, é respon-
de concentração e de interesse individual para sável por utilizar tal apoio oferecido de forma
o estudo, que tem potencial relação com o de- significativa. Palloff e Pratt (2004) listam três
senvolvimento intelectual, como descrito por responsabilidades do aluno on-line, as quais
Keough (1982). O aprender de forma autôno- consideram essenciais: construção de conhe-
ma desfocaliza a visão passiva do educando cimento, colaboração e gerenciamento do
que, neste caso, precisa ser ativo no aprendi- processo de aprendizagem. Ele é responsável
zagem e no estudo. pela busca de soluções para problemas rela-
cionados ao conteúdo do curso, considerando
Cerdeira (apud PRETI, 2005), ao tratar problemas e soluções sob diferentes perspec-
da temática, assim se refere: tivas e, inclusive, sob perspectivas de outros
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colegas envolvidos no processo. O aluno deve ambientes colaborativos de aprendizagem e
questionar suas próprias hipóteses e as apre- favorecimento da autonomia. Moran, Masetto
sentadas pelo tutor e pelos colegas. Dessa for- e Behrens (2000) mencionam que a ele cabe a
ma, engajado no processo de aprendizagem, tarefa de colocar em prática algumas estraté-
aprende a aprender e desenvolve o pensamen- gias que podem propiciar a produção desses 115
to crítico e reflexivo para a construção do co- ambientes, tais como:
nhecimento (PALLOF; PRATT, 2004).
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é o de entrevistas semiestruturadas com per- atuação da unidade em Educação a Distância,
guntas previamente elaboradas. Os sujeitos a instituição valeu-se de ambiente virtual de
participantes foram colaboradores que reali- aprendizagem que permite interação entre
zaram módulos de qualificação e capacitação, participantes por diferentes meios de comu-
116 bem como professores-tutores e coordenador nicação: fórum, chat, mensagens, entre ou-
de Educação a Distância dispostos a partici- tros. Embora a empresa disponibilize cursos
par de maneira voluntária da pesquisa. para público interno, os cursos em Educação
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por uma relação de questões de interesse, autonomia, se o aluno não tem no curso
cujo roteiro o investigador explora ao longo EaD, ele não consegue nem construir du-
do desenvolvimento. rante o curso, e desiste.
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A autonomia é percebida no sentido da e, ao mesmo tempo, exige que o aluno desen-
construção do próprio conhecimento a partir volva disciplina, organização, persistência,
das atividades propostas. A3 assim reitera: motivação, decisão e responsabilidade. As
análises e depoimentos reiteram a funda-
118 [...] a questão da busca, de se conseguir mentação teórica de Pallof e Pratt (2004),
ter um conteúdo, receber aquele conte- quando citam que o aluno é responsável
údo e ter capacidade de estudar e inte- pelo seu processo de ensino-aprendizagem
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A autonomia percebida como competên- [...] sim, porque você tem que ler muito
cia a ser desenvolvida durante o curso de EaD mais, tem que estudar, porque se você está
é confirmada por A8, quando afirma: com o professor ali e faz a pergunta ele vai
te responder. Em EaD você tem que ter
[...] eu considero uma competência a muito essa interação, muitos dos professo- 119
autonomia, no sentido de eu fazer meu res que eu tive, não respondiam, e diziam,
horário minhas horas de estudo, sei onde olha nesse material aqui, olha no site tal,
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Moore (1993) considera que autonomia também reitero que um estudante que não
surge com o processo de maturação do indiví- seja tão autônomo ele poderá desenvolver,
duo, ressaltando que programas de Educação tanto a autonomia como a organização.
a Distância, devido à sua estrutura, requerem Acredito que a responsabilidade como
120 alunos com comportamentos autônomos, de um todo deve ser desenvolvida, porque
modo a conseguirem concluir com êxito os normalmente na EaD se tem um crono-
programas de aprendizagem. Conclui-se, as- grama de atividades, entrevistas, leituras,
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sim, que o perfil de aluno autônomo precisa interações, o momento do fórum, em que
ser desenvolvido nos cursos de EaD, o que se uma semana tem o fórum para participar
comprova em depoimentos, conforme afir- e o aluno precisa se dar conta dessa parti-
mativa de C1: cipação naquele período porque os outros
colegas também estarão participando e a
[...] é bem importante que ele seja um contribuição dele será para todos. Outras
aluno autônomo, mas também é pos- atribuições também, em termos de co-
sível que ele desenvolva essa autono- nhecimento das tecnologias, ele precisará
mia ao longo dos seus estudos. Porque desenvolver em ambientes digitais.
algumas pessoas não têm experiência
com EaD e durante o processo que terá No papel de tutoria em cursos de EaD, a
oportunidade de verificar e desenvolver percepção quanto à autonomia ocorre de for-
essa competência. ma crescente e com melhorias evidenciadas
através da experiência profissional, o que se
Reforça a afirmação o exemplo prático de comprova no depoimento de T1:
vivência profissional na questão da autono-
mia, que permite o desenvolvimento e a atitu- [...] acredito que a autonomia vem numa
de da organização: crescente. Ainda falta muito para chegar
no patamar desejado, mas confesso que
[...] ministrei um curso de EaD no Pós e já está bem melhor do que estava. Porque
foi bem positivo que no final os alunos eu vejo isso pela situação a seguinte,
vieram dizer, olha professora, a organi- muitos alunos preocupados em, por
zação que eu preciso ter para estudar a exemplo, postar as atividades no prazo
distância me ajudou a me organizar para específico. Então isso eu não via no iní-
o resto da minha vida. Porque tenho que cio, agora eu já começo a observar aquela
organizar os meus momentos de estudo, pessoa preocupada, e essa preocupação
momentos de desenvolver as atividades. quando vem questionada, às vezes, não
E essa organização para ser aluno virtual, temos o contato, é só por e-mail, e eles já
oportuniza uma organização para a vida têm uma própria autonomia para ir bus-
do aluno que realmente é forte, assim car essa informação ou se o sistema está
como a autonomia. fora, ou se é problema no micro deles,
eles já têm essa preocupação em buscar
As afirmações de C1 reiteram-se com as e resolver as situações.
de Belloni (2001), que abordam a necessida-
de da postura ativa, centrada e autônoma do Inegavelmente, a modalidade de EaD
aluno em EaD: favorece o aluno no sentido de que, com sua
postura ativa e de busca de resolução, assume
[...] a organização e autonomia que o responsabilidade e maturidade para o proces-
aluno precisa ter é muito evidente, mas so de aprendizagem.
RBAAD – A autonomia na aprendizagem em educação a distância: competência a ser desenvolvida pelo aluno
CONSIDERAÇÕES FINAIS Fundamental na EaD é o aluno vencer o
O contexto da sociedade contemporânea desafio de estudar sozinho, obtendo autono-
tem exigido nova postura em relação à for- mia do seu ato de aprender e, para isso, precisa
mação e ao aperfeiçoamento, para que pesso- desenvolver a habilidade de ter aprendizagem
as consigam se manter ativas e participantes autônoma (FERREIRA; SILVA, 2009). Isso 121
da sociedade. ocorre porque o aluno assume para si a res-
ponsabilidade de sua formação, tendo como
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ao ambiente virtual, onde conhecimento é Disponível em: <http://www.partes.com.
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122 no e aprendizagem, inserindo de forma con- BAILEY, K. D. Methods of social research.
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