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8Artigo

A autonomia na aprendizagem em educação a distância:


competência a ser desenvolvida pelo aluno
Mônica de Lourdes Gottardi1

RESUMO ABSTRACT
O presente artigo refere-se à pesquisa This article refers to a qualitative
qualitativa – tipo estudo de caso – acerca de research, a case study, on distance education
Educação a Distância no desenvolvimen- in the development of professional skills in an
to das competências profissionais em uma Educational Institution that offers courses at
Instituição Educacional que oferece essa mo- distance in the state of Rio Grande do Sul. The
dalidade de cursos (EaD) no Estado do Rio objective of this study is to analyze aspects
Grande do Sul. O estudo objetiva análise do of the student’s autonomy development
desenvolvimento da autonomia do aluno co- during the learning process through distance
laborador durante o processo de aprendiza- education. Considering the importance of
gem por meio dessa modalidade. Tendo em everyday practice analysis and reflections,
vista a importância das análises e as reflexões the methodological choice was based on
da prática cotidiana da EaD, a opção metodo- semi-structured interview, which has shown
lógica deu-se pela entrevista semiestruturada, results that prove the autonomy. Thus, the
cujos resultados comprovam a autonomia. learning construction becomes innovative
Assim, a construção de aprendizagem torna- for the student through commitment with
-se inovadora para o aluno por meio de com- responsibility, initiative, time management,
promisso com responsabilidade, iniciativa, search for solutions and engagement in
administração do tempo, busca de soluções e activities, as well as collaboration and
empenho nas atividades, além de colaboração interaction with colleagues and course tutors.
e interação com colegas e professores-tutores This is a relevant study on incipient context of
de curso. Trata-se de estudo relevante em use of this modality with many positive aspects
contexto incipiente de utilização dessa mo- in education, as a form of democratization
dalidade com inúmeros aspectos positivos na and human development in the educational
educação, como forma de democratização e field and qualification for work by increasing
desenvolvimento do ser humano nos âmbitos the skills, in the development of autonomy
educacionais e de qualificação para o trabalho and interaction during the process of teaching
através do incremento das competências, do and learning.
desenvolvimento de autonomia e de interação
durante o processo de ensino-aprendizagem. Keywords: Distance Education. Autonomy.
Student.
Palavras-chave: Educação a Distância.
Autonomia. Aluno.

Faculdade da Serra Gaúcha (FSG). E-mail: monica.gottardi@fsg.br


1 

Volume 14 − 2015
RESUMEN pedagógico, EaD, como modalidade flexível,
Este artículo se refiere a la de tipo corresponde ao paradigma da autoformação,
cualitativo de investigación de estudios de sendo alternativa viável de conhecimentos e
caso sobre la Educación a Distancia en el aprendizagem no atual contexto educacional.
110 desarrollo de habilidades profesionales en Ela vem ao encontro das necessidades atuais,
una institución educativa que ofrece este tipo proporciona construção do conhecimento
de cursos (DE) en el estado de Rio Grande de forma colaborativa e em redes, indepen-
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do Sul. El estudio de análisis objetivo el dentemente de tempo e espaço, como forma


desarrollo dele studiante revisor autonomía auxiliar na resolução de alguns problemas da
durante el proceso de aprendizaje a través educação brasileira.
de este modalidad. Dada la importancia
de los análisis y reflexiones de la práctica O Decreto 5.622, de 19.12.2005, que re-
cotidiana de la educación a distancia, la gulamenta o artigo 80, define EaD como
opción metodológica fue debido a las modalidade educacional na qual a mediação
entrevistas semi-estructuradas, cuyos didático-pedagógica nos processos de ensino
resultados demuestran la autonomía. Así, la e aprendizagem ocorre com a utilização de
construcción de aprendizajes es innovador meios e tecnologias de informação e comu-
para el estudiante a través del compromiso nicação com estudantes e professores desen-
con la responsabilidad, la iniciativa, la gestión volvendo atividades educativas em lugares ou
del tiempo, la búsqueda de soluciones y tempos diversos (BRASIL, 2005).
compromiso con las actividades, así como
la colaboración y la interacción con sus A modalidade possui instrumentos
compañeros y profesores, tutores del curso. capazes de contribuir com a educação bra-
Se trata de estudio relevante en el contexto sileira e acredita-se que, sem uso intensivo
de incipiente uso de esta modalidad con da tecnologia, as instituições educacionais
muchos aspectos positivos en la educación terão dificuldades de atingir toda a sua gama
como un medio para la democratización de formação e capacitação na educação.
y el desarrollo humano en los niveles de Conforme Behar (2009, p. 27), o conceito de
educación y habilidades para trabajar por el EaD refere-se a
aumento de las habilidades, el desarrollo de
la autonomía y interacción durante el proceso [...] uma forma de aprendizagem organi-
de enseñanza-aprendizaje. zada que se caracteriza basicamente pela
separação física entre professor e aluno e
Palabras clave: Educación a Distancia. a existência de algum tipo de tecnologia
Autonomía. Estudiante. de mediatização para estabelecer intera-
ção entre eles.
INTRODUÇÃO
Ou seja, professor e aluno não precisam
Educação a Distância (EaD) é modalida- dividir o mesmo espaço e/ou o mesmo tem-
de de aprendizagem formalmente inserida po para que ensino e aprendizagem se con-
no contexto educacional, apresentando rápi- cretizem na EaD.
da expansão no cenário mundial. Isso é com-
preendido ao se analisarem novas demandas Devido à flexibilidade de tempo e es-
políticas e sociais, frente às necessidades paço, nessa modalidade, alunos necessitam
e exigências de contínuo aperfeiçoamen- empenhar-se disciplinadamente na defini-
to profissional no mercado de trabalho. No ção de horários fixos de estudo em casa e/ou
âmbito tecnológico, inovações possibilitam no trabalho, sendo-lhes disponibilizado um
novas situações de aprendizagem; no âmbito sistema de recursos materiais, tecnológicos e

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pedagógicos, a fim de proporcionar suporte Wedemeyer (1975) conceitualmente des-
nos estudos. Como na modalidade ocorre dis- creveu o conceito de aprendizagem indepen-
tanciamento físico entre professor e aluno, é dente6 e Knowles (1988) propôs um concei-
preciso automotivação e disciplina, além de in- to que teve muita repercussão na literatura
centivo e investimento de professores e tutores. educacional, a aprendizagem autodirigida7, 111
na qual:
Preti (2005) faz referência a diferentes

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dimensões da autonomia na EaD, refletindo [...] os estudantes fazem o diagnóstico
o papel do aluno, dos educadores e da insti- das próprias necessidades de aprendi-
tuição educacional. Segundo o autor, cabe ao zagem, de acordo com seus objetivos,
aluno, neste novo cenário, assumir para si a identificando variedade de recursos pe-
responsabilidade da sua própria formação, dagógicos e planejando estratégias para
sendo autonomia e disciplina para o estudo utilizar esses recursos, avaliando a pró-
compromissos de todo o processo educativo. pria aprendizagem e tendo sua avaliação
validada (KNOWLES, 1988, p. 5).
O desafio está na constante reflexão e nas
pesquisas de todos os envolvidos no processo Os primeiros teóricos a incorporar o
de ensino-aprendizagem para que ocorra de conceito de autonomia em uma teoria de
forma autônoma e disciplinada por parte do EaD foram Moore e Kearsle (2007), que a
aluno e, ao mesmo tempo, com caráter comu- associaram a termos como a independência
nicativo, conversacional e colaborativo para e autonomia.
a aprendizagem.
A distância transacional para Moore e
Kearsle (2007) representa oportunidade no
1.  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
processo de ensino e aprendizagem relacio-
1.1.  O conceito de autonomia nas nada à autonomia, ou seja, quanto maior a
teorias de EaD distância transacional entre os agentes em
função das variáveis diálogo e estrutura,
O desenvolvimento da EaD, a partir do maior a oportunidade para o aluno realizar
surgimento de cursos por correspondência, seus estudos de forma autônoma. Assim, au-
remete à descrição e análise do conceito da tonomia é o ideal a ser alcançado pelos alu-
autonomia presente nas principais teorias. A nos, como um indicativo de maturidade para
relação entre aluno e professor-tutor é mar- a aprendizagem. De acordo com Moore (apud
cada pela separação física e transacional, que BERNATH; VIDAL, 2007, p. 4):
pressupõe autocontrole e autodireção dos
alunos, assim como relativa independência e [...] usando o constructo, podemos con-
autonomia de ações perante as atividades pro- ceber cursos para diferentes graus de au-
postas. A partir dessa separação, surge o tema tonomia, variando o diálogo e a estrutura
autonomia e suas consequentes potencialida- e, do ponto de vista da investigação, po-
des e limitações na EaD. Dewey (1916, p. 353) demos explorar e testar muitas interações
definiu o conceito de atividade autônoma5, dentro e entre essas variáveis.
afirmando que crianças e adultos precisam
ser deixados sozinhos, ou seja, “[...] por meio Peters (2003) associa os termos indepen-
das próprias observações dos alunos, de suas dência e autonomia a processos industriais
reflexões, formulação e sugestões, terão con- de produção em massa. O autor incorpora
dições de ampliar aquilo que já é conhecido”.
6
 Independent learning.
5 7
 Self-activity.  Self directed learning.

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gradativamente, em sua teoria, benefícios as características necessárias para favorecer
das novas tecnologias8 da informação para a postura ativa de educação permanente e
processos de aprendizagem autônoma, aprendizagem autônoma.
ressaltando que:
112 Assim sendo, EaD contribui para a educa-
Maiores níveis de atividade e de inte- ção, pois traz facilidades de o aluno estabelecer
ratividade são atingidos com relativa seu ritmo de busca por novas informações e
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facilidade, e existem muitas outras pos- conhecimentos, destituindo o antigo paradig-


sibilidades promissoras para o desenvol- ma de que somente a escola – em sua função
vimento da aprendizagem autônoma e formal – poderia ensinar. Corrobora com
para o comportamento auto-regulado. A Ferreira e Silva (2009), que referencia EaD
autodireção, que sempre tem de ser con- como educação sem fronteiras e acessível a to-
siderada um pressuposto necessário para das as pessoas como forma de aprendizagem
a aprendizagem de alunos a distância, de novos conhecimentos e de qualificação:
pode ser realizada com o auxílio de com-
putador em nível qualitativamente supe- Do ensino presencial passa-se para o mo-
rior. Por razões pedagógicas importantes, delo a distância por meio de simulações
seria irresponsável não fazer uso dessas virtuais, programas de formação continu-
novas oportunidades para a otimização ada no universo on line, sites que investem
pedagógica. (PETERS, 2003, p. 90). na realidade virtual e criam escolas virtu-
ais baseadas no e-learning, além de uma
Portanto, Peters (2003) reforça que pro- infinidade de estratégias que motivam os
cessos educacionais decorrentes do contexto alunos ao processo colaborativo na apren-
pós-industrial poderão favorecer a aprendiza- dizagem. (FERREIRA; SILVA, 2009, p. 5).
gem autônoma. Ou seja, novos processos de
ensino e aprendizagem possibilitarão a alunos A EaD, apoiada pelas tecnologias da co-
aprendizagem de forma independente, mas municação e metodologias de ensino, traz
por meio da mediação de tecnologias para po- modificações nas funções tradicionais do en-
tencializar as características requeridas para o sinar e aprender, a “sala de aula” não é o úni-
processo de aprendizagem colaborativa. co espaço possível de aprendizagem.Tem-se
possibilidade de mudar da sala de aula – es-
Para Belloni (1999), aprendizagem em paço físico – para sala de aula virtual, no ci-
EaD caracteriza-se essencialmente pela fle- berespaço. Nesse ambiente de aprendizagem,
xibilidade, abertura dos sistemas e maior au- estabelecem-se novas relações entre profes-
tonomia do aluno, sendo mais coerente com sores-tutores e alunos. Embora em ambas as
transformações sociais e econômicas contem- modalidades o objetivo seja o mesmo: cons-
porâneas, pois o fundamento deste modelo truir novos conhecimentos e educar para ci-
enfoca o processo de aprendizagem no edu- dadania, ambas se comportam diferentemen-
cando e não no ensino ou nas tecnologias uti- te nos seus devidos espaços. Paradoxalmente,
lizadas. A autora refere que EaD é mais uma EaD impõe interlocução e interação perma-
modalidade de educação e que aprendizagem nente, proximidade pela comunicação e diá-
a distância relaciona-se mais com modos de logo (PRETTI, 2000).
acesso, com metodologias e estratégias peda-
gógicas, defende que a modalidade tem todas Pretti refere-se à nova realidade:
8
 As novas tecnologias de hoje, segundo Borba (2004), Feche por uns minutos os olhos e ima-
referem-se, principalmente, aos recursos disponíveis gine uma escola sem salas de aula, sem
nos ambientes de educação a distância (EaD), como
chat, correio eletrônico, portfólio, agenda, applets etc. paredes, sem carteiras, com estudantes

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indo e vindo, conversando, lendo em di- No ambiente virtual de aprendizagem,
ferentes espaços livres, ora reunidos em alunos desenvolvem a capacidade de determi-
equipe, ora desenvolvendo atividades nar seu ritmo, de acessar o conteúdo quando
individuais, com horários diversificados e quantas vezes forem necessárias na busca
para atendimento individual ou em gru- da compreensão do que desperta interesse e 113
pos, com calendário flexível, acompanha- desejo de aprender. Para apoiar a construção
mento personalizado, sob a orientação desse novo exercício de autonomia em EaD,

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de um grupo de educadores etc. Talvez, alunos valem-se de ferramentas específicas
você exclamará surpreso: “Esta escola que oferecem formas de acessar informações
não existe. Quem sabe, num futuro seja e estabelecer interações com os envolvidos no
possível!” Não estou falando da educação processo educacional, conforme citam André
do futuro. Na realidade, estou falando de e Costa (2004):
uma educação real e atual, possível e que
está acontecendo em nosso país, sobretu- A era do conhecimento requer cada vez
do, na modalidade a distância, graças aos mais que as pessoas sejam capazes de
avanços das novas teorias da Física, da construir conhecimentos e habilidades
Biologia, da Psicologia, da Comunicação, com outros e transmitir-lhes o que sa-
da Pedagogia etc. e às novas tecnologias bem, instigando-os a enriquecerem seus
da comunicação. (PRETI, 1996). horizontes vitais e estimulando-os ao
desenvolvimento contínuo de seus po-
A EaD dimensiona a pedagogia que con- tenciais ao longo da vida. Além disso,
tribui para um novo modo de ser e de aprender. a melhor forma de aprender é ensinar.
Segundo Neder (2000), por meio do interes- (ANDRÉ; COSTA, 2004, p. 85).
se e da determinação em superar limites que
nos têm como seres humanos e, segundo Lévy No contexto da relação pedagógica que
(1999, p. 19-20), “[...] pelo aumento da autono- se estabelece, a autonomia reside na capaci-
mia dos indivíduos em multiplicar suas faculda- dade de o sujeito tomar para si sua própria
des cognitivas”. Sendo assim, essa modalidade é formação. O mercado de trabalho exige
a possibilidade de transformação e inovação no cada vez mais habilidades de aprendizagem
aprender novos conhecimentos de forma cola- para que o profissional possa não somente
borativa, além de desenvolvimento de respon- lidar com as muitas demandas de informa-
sabilidades no processo de aprendizagem. ções das redes virtuais, mas também tenha
capacidade de utilizar apoio de ferramentas
da tecnologia para se atualizar profissional-
1.2.  O significado da autonomia
mente. As exigências na formação de cada
em EaD e o seu desenvolvimento
área profissional tendem a mudar, e o aluno
no aluno
precisa estar preparado para as transforma-
Define-se autonomia como “capacidade ções; cada um tem formas preferenciais de
de governar a si mesmo” (HOUAISS, 2004, aprendizagens que são consolidadas conti-
p. 78). Ou seja, um indivíduo é considerado nuamente ao longo do processo educacional.
autônomo quando tem capacidade de admi- Sendo assim, espera-se que ele construa sua
nistrar e gerenciar seus compromissos e ativi- autonomia processualmente e continuamen-
dades; quando alunos estabelecem ação inte- te por meio da EaD.
rativa com materiais didáticos e metodologias
de ensino, estimulados por ações pedagógicas A autonomia na aprendizagem é demo-
de professores-tutores que atuam como insti- crática, requer disciplina, planejamento, de-
gadores cognitivos oportunizando aprendiza- cisão, organização, persistência, motivação,
gem colaborativa. avaliação e responsabilidade. A aprendizagem

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não é processo que ocorre “a distância”, afas- Quando um estudante recebe infor-
tada da relação com o outro, sem interação e mações que o levam a pensar que o seu
convivência e, portanto, “solitária”; muito pelo sucesso se justifica pela conjugação das
contrário, ela deve ser solidária e colaborativa. suas capacidades com dispêndio de es-
114 forço, este desenvolve a sua percepção de
O termo “presencialidade” significa tam- autoeficácia, melhora a qualidade de sua
bém o “estar juntos virtualmente”. O espaço execução e, de acordo ainda com a teo-
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físico está dando lugar ao ciberespaço ou à ria cognitivo-social, eleva o seu estado de
construção de “redes de aprendizagem”, por motivação. (CERDEIRA apud PRETTI,
meio das quais professores e alunos apren- 2005, p. 10).
dem juntos, interagem e cooperam entre si,
colaborando e, consequentemente, oportu- A autonomia do aluno é respeitada nes-
nizando aprendizagem cooperativa e cola- sa modalidade, pois reconhece mudanças na
borativa. Segundo Maturana (2001, p. 103): sociedade atual que lhe fornece subsídios de
“Aprendizagem não é a captação do nada: é atualização e práticas educacionais condizen-
o transformar-se em um meio particular de tes ao novo cenário de educação e trabalho.
interações recorrentes”. Nessa perspectiva, a instituição escolar tem
seus paradigmas cada vez mais pressionados
No que diz respeito ao significado do alu- em prol de revitalização do campo educacio-
no autônomo na EaD, Arcúrio (2008), concei- nal. Conforme Lévy (1999, p. 157), “[...] deve-
tua-a da seguinte forma: mos construir novos modelos de espaço dos
conhecimentos”.
Um aprendiz autônomo no universo da
educação a distância deve saber utilizar Para Belloni (2001), a EaD propicia a
de certa forma os recursos tecnológicos aprendizagem autônoma, que é a aprendiza-
que a modalidade disponibiliza, ade- gem centrada no aluno, cujas experiências
quando as diversas necessidades indi- servem como recurso, pois aluno autônomo
viduais de acordo com a flexibilidade é considerado gestor responsável pelo seu
de horário para o estudo, atendimento processo de aprendizagem. Diante disso, é
personalizado, inovação das metodolo- necessário criar planejamento pedagógico
gias de ensino, aperfeiçoamento e novas diferenciado para o sucesso no uso das ferra-
oportunidades de avaliação da aprendi- mentas tecnológicas do processo educacional.
zagem, sem manchar suas normatizações Na EaD, aluno passivo dá lugar a sujeito ativo,
legais, assim como o grande crescimen- engajado no processo de construção e com-
to de um relacionamento interpessoal. partilhamento do conhecimento.
(ARCÚRIO, 2008, p. 2).
Tendo o professor-tutor de EaD a função
A modalidade em EaD respeita o período de mediador, o aluno, por sua vez, é respon-
de concentração e de interesse individual para sável por utilizar tal apoio oferecido de forma
o estudo, que tem potencial relação com o de- significativa. Palloff e Pratt (2004) listam três
senvolvimento intelectual, como descrito por responsabilidades do aluno on-line, as quais
Keough (1982). O aprender de forma autôno- consideram essenciais: construção de conhe-
ma desfocaliza a visão passiva do educando cimento, colaboração e gerenciamento do
que, neste caso, precisa ser ativo no aprendi- processo de aprendizagem. Ele é responsável
zagem e no estudo. pela busca de soluções para problemas rela-
cionados ao conteúdo do curso, considerando
Cerdeira (apud PRETI, 2005), ao tratar problemas e soluções sob diferentes perspec-
da temática, assim se refere: tivas e, inclusive, sob perspectivas de outros

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colegas envolvidos no processo. O aluno deve ambientes colaborativos de aprendizagem e
questionar suas próprias hipóteses e as apre- favorecimento da autonomia. Moran, Masetto
sentadas pelo tutor e pelos colegas. Dessa for- e Behrens (2000) mencionam que a ele cabe a
ma, engajado no processo de aprendizagem, tarefa de colocar em prática algumas estraté-
aprende a aprender e desenvolve o pensamen- gias que podem propiciar a produção desses 115
to crítico e reflexivo para a construção do co- ambientes, tais como:
nhecimento (PALLOF; PRATT, 2004).

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Estar mais voltado à aprendizagem do
Na segunda responsabilidade – colabora- aluno, estabelecer relações de empatia,
ção –, segundo Palloff e Pratt (2004), o aluno promover co-responsabilidade e par-
deve trabalhar com outros colegas, a fim de ceria, criando clima de mútuo respeito
construir conhecimento e avaliar criticamen- para com todos os participantes, abordar
te os conteúdos em estudo. Deve ser encora- a construção do conhecimento como o
jado a buscar e compartilhar material extra eixo da articulação da prática educativa,
para resolver questões apresentadas e fornecer praticar a criatividade como uma atitude
feedback além da simples mensagem, pois o alerta para buscar, com o aluno, situações
aluno deve ser capaz de realizar comentários novas e inesperadas, ter disponibilidade
consistentes a respeito das ideias apresentadas para o diálogo, considerar a subjetivi-
(PALLOF; PRATT, 2004). Todas essas práticas dade e a individualidade dos atores do
auxiliam no desenvolvimento crítico e reflexi- processo educativo, cuidar para que sua
vo necessário para o engajamento na constru- expressão e comunicação sempre estejam
ção do conhecimento e da aprendizagem. Além em condições de ajudar a aprendizagem
disso, deve ser capaz de gerenciar e administrar e incentivar o aprendiz, comumente para
seu processo de ensino-aprendizagem partici- dialogar, lançar perguntas orientado-
pando, interagindo e se engajando com outros ras, propor desafios, reflexões e situa-
colegas, além de ser responsável pela forma- ções problema. (MORAN; MASETTO;
ção da comunidade de aprendizagem on-line BEHRENS, 2000, p. 168).
(PALLOF; PRATT, 2004). Ele se torna respon-
sável por mover o processo de aprendizagem Na EaD, o professor-tutor deve de-
adiante com maturidade e capacidade de aná- senvolver mediação pedagógica que possa
lise crítica de forma autônoma. promover o pensamento dos alunos, bem
como auxiliá-los a implementar seus proje-
Assim sendo, a modalidade em EaD bus- tos e compartilhar problemas, auxiliando-os
ca recursos e formas para facilitar e promover e instigando-os a entender, analisar, testar
aprendizagem por meio de estratégias que e corrigir suas dúvidas e falhas, com o ob-
incentivem participação, interação, pesquisa, jetivo de desenvolver seus conhecimentos,
debate, diálogo e, especialmente, colaboração, incentivar a aprendizagem e o pensamento.
cooperação e compartilhamento de pensa- Lévy (1999) complementa a argumentação:
mentos, ideias e soluções para a aprendiza- “[...] sendo especialmente um animador da
gem cooperativa. Se a aprendizagem autô- inteligência coletiva para colaborar com a
noma está centrada na criação de ambientes aprendizagem cooperativa”.
colaborativos de aprendizagem, quais estraté-
gias podem ser propiciadas para a produção
2.  METODOLOGIA
de tais ambientes na EaD?
2.1.  Caracterização do estudo
Faz-se necessário abordar de forma am-
pla o papel do professor-tutor que se propõe A pesquisa desenvolvida é de cunho qua-
a ser mediador pedagógico na construção de litativo e o método de investigação utilizado

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é o de entrevistas semiestruturadas com per- atuação da unidade em Educação a Distância,
guntas previamente elaboradas. Os sujeitos a instituição valeu-se de ambiente virtual de
participantes foram colaboradores que reali- aprendizagem que permite interação entre
zaram módulos de qualificação e capacitação, participantes por diferentes meios de comu-
116 bem como professores-tutores e coordenador nicação: fórum, chat, mensagens, entre ou-
de Educação a Distância dispostos a partici- tros. Embora a empresa disponibilize cursos
par de maneira voluntária da pesquisa. para público interno, os cursos em Educação
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a Distância são também oferecidos a clien-


A pesquisa de abordagem qualitativa tes externos, pois a unidade possui serviço
foi analisada a partir dos depoimentos e in- especializado em Soluções Corporativas em
formações dos participantes. A escolha pela Educação a Distância, que assessora a estru-
abordagem qualitativa deu-se ao fato de que turação de projetos, além de desenvolver e
ela coloca o pesquisador em contato direto customizar conteúdos para tal modalidade de
com o objeto investigado, tendo nisso sua educação em empresas e instituições.
principal característica, fazendo com que o
pesquisador torne-se o seu principal instru-
2.3.  Participantes do estudo
mento (TRIVIÑOS, 1987).
O número de participantes do estudo
Para Godoy (1995; 2006), a diversida- compreende 12 colaboradores, sendo que 9
de existente entre os trabalhos qualitativos deles já concluíram qualificações e cursos
enumera um conjunto de características es- em Educação a Distância na empresa e/ou
senciais capazes de identificar uma pesquisa estavam em fase de qualificação. Além deles,
desse tipo, a saber, que ela compreende um há um professor-tutor que ministra e acom-
conjunto de diferentes técnicas interpreta- panha os cursos de Educação a Distância na
tivas que visam a descrever e decodificar os empresa e um Coordenador do Programa.
componentes de um sistema complexo de
significados. Tem por objetivo traduzir e ex-
2.4.  Instrumentos de coleta
pressar o sentido dos fenômenos do mundo
de dados
social; trata-se de reduzir a distância entre in-
dicador e indicado, entre teoria e dados, entre A coleta das informações foi realizada
contexto e ação. por meio de instrumentos de análise de do-
cumentos, manuais, apostilas e avaliações de
cursos de Educação a Distância, software e
2.2.  Campo empírico
ambiente virtual de aprendizagem por meio
O campo empírico da investigação foi de materiais utilizados pela empresa. A cole-
uma empresa privada, cuja sede administrati- ta valeu-se também de dados obtidos quando
va localiza-se em Porto Alegre (POA). A esco- da aplicação das entrevistas semiestrutura-
lha deu-se a partir do conhecimento da pes- das, com o objetivo de analisar, aprofundar
quisadora na utilização e aplicação da prática respostas e investigar motivos, sentimentos,
de Educação a Distância nos colaboradores, pensamentos e reflexões dos entrevistados.
tendo em vista já ter atuado como docente
nessa instituição. Segundo Bailey (1982), a entrevista se-
miestruturada combina perguntas fechadas
A empresa escolhida para a pesquisa re- e abertas e permite ao entrevistado discor-
alizada – instituição educacional com unida- rer sobre o tema sugerido sem que o entre-
des em diversos estados – centrou-se nas uni- vistador fixe,  a priori,  determinadas respos-
dades educacionais e no Setor Administrativo tas ou condições. Gil (2002) complementa
de Porto Alegre. Para realização de cursos na que a entrevista semiestruturada é guiada

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por uma relação de questões de interesse, autonomia, se o aluno não tem no curso
cujo roteiro o investigador explora ao longo EaD, ele não consegue nem construir du-
do desenvolvimento. rante o curso, e desiste.

Os depoimentos corroboram Pink (2009) 117


3.  APRESENTAÇÃO E ANÁLISE
sobre a necessidade de o aluno administrar
DOS RESULTADOS
seus estudos e ter autonomia referente a ques-

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3.1.  O desenvolvimento da tões de técnica, tarefa e tempo.
autonomia do aluno em EaD
A7 reitera a afirmativa expressando que
A autonomia é reconhecida como pre-
missa para a EaD, pois se espera do alu- [...] sim, porque todas temos que ir atrás
no maior envolvimento com o processo de e buscar a informação, estar atento ao
aprendizagem, durante o qual ele assume a calendário, não perder os prazos, então
maior parte da gestão desse processo de for- tudo isso fez com que achava que tinha
ma individualizada, priorizando, dentre os desenvolvido autonomia e até um pouco
objetivos educacionais propostos, aqueles que mais perceber a atitude de organização,
serão contemplados em primeiro lugar, orga- de cumprir os prazos e de buscar outras
nizando o tempo e os cronogramas de estudo, informações, e inclusive de estabelecer
definindo horários e a busca de materiais de relação entre o conteúdo, e trocar ideias
apoio, assim como conhecendo melhor o seu com os demais profissionais.
próprio estilo de aprendizagem, suas dificul-
dades e formas de superação. Corroboram Um aprendiz autônomo em EaD deve
afirmações de Belloni (1999) e Petters (2003) saber utilizar de forma certa recursos tecno-
sobre a EaD como potencializadora de apren- lógicos que a modalidade disponibiliza, ade-
dizagem ativa, autônoma e independente. quando diversas necessidades individuais de
Nos depoimentos da pesquisa realizada com acordo com a flexibilidade de horário para o
alunos em EaD, evidencia-se a autonomia estudo, atendimento personalizado, inovação
como essencial ao processo de aprendizagem, das metodologias de ensino, aperfeiçoamento
e seu desenvolvimento ocorre geralmente du- e novas oportunidades de avaliação da apren-
rante o decorrer do curso. dizagem, sem manchar suas normatizações le-
gais, assim como o grande crescimento de re-
Quando questionados se EaD exige de- lacionamento interpessoal (ARCÚRIO, 2008).
senvolvimento da autonomia do aluno, as
respostas dos entrevistados reiteram que a au- A análise das narrativas evidencia pre-
tonomia é desenvolvida no decorrer do curso, sença da autonomia no sentido de compro-
conforme o depoimento de A9, afirmando metimento do aluno, gerenciamento do tem-
que EaD po e dedicação para atividades.

[...] desenvolve muito a autonomia, por- A9 cita:


que temos que buscar muitas informa-
ções. Fiz um curso de informática, que [...] é importante a dedicação no sentido
era a distância e tinha algumas atividades de que ninguém vai fazer por você, você
que eu tinha que fazer e buscar informa- tem que se dedicar para aquele assunto,
ções. A questão da autonomia é de ter conteúdo, porque sei que se eu não ler,
paciência, de conseguir fazer alguma ati- se não me dedicar eu não vou conseguir
vidade, e isto é bem presente em EaD. A aprender o que o curso está propondo.

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A autonomia é percebida no sentido da e, ao mesmo tempo, exige que o aluno desen-
construção do próprio conhecimento a partir volva disciplina, organização, persistência,
das atividades propostas. A3 assim reitera: motivação, decisão e responsabilidade. As
análises e depoimentos reiteram a funda-
118 [...] a questão da busca, de se conseguir mentação teórica de Pallof e Pratt (2004),
ter um conteúdo, receber aquele conte- quando citam que o aluno é responsável
údo e ter capacidade de estudar e inte- pelo seu processo de ensino-aprendizagem
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ragir com teus colegas, construindo um na construção do conhecimento, atuando de


conhecimento. É ter um olhar autônomo forma colaborativa com os integrantes do
daquele teu conhecimento que construiu. processo educacional.

Concorda com Almeida (2003) quando A4 expressa a importância da disciplina


refere que no ambiente digital de aprendiza- como hábito de estudo em EaD:
gem há sofisticação que exige do aluno certa
autonomia e quebra da relação de dependên- [...] a autonomia de estudar exige a dis-
cia, ou seja, característica de uma abordagem ciplina e responsabilidade, ou seja, exige
de ensino que, em algumas situações tradi- mais disciplina, até porque a internet pos-
cionais, já se mostrou inadequada e ineficien- sui muitos pontos que podem desviar a
te. Evidencia-se, portanto, a importância de atenção, pois tem muitos recursos rápidos,
desenvolvimento da autonomia por parte do material, vídeos. Se você está estudando
aluno no decorrer dos cursos. pelo computador, pela internet corre esse
risco. Então acho que é essa a disciplina
A9 expressa a afirmativa por meio de ex- em EaD, de todo dia ir para aula e estudar.
periência pessoal: A disciplina é um hábito, é algo que cresce
contigo pra desenvolver bem consigo. Vai
[...] como eu fiz um tecnólogo em EaD, percebendo que precisa disso.
tive que aprender a desenvolver essa au-
tonomia e nos demais cursos eu fui se- Cada indivíduo tem seu método prefe-
guindo a mesma linha; claro que sempre rencial de aprendizagem e o adquire no de-
aprendemos bastante, mas no primeiro correr do processo de aprendizagem e de
sempre é um desafio maior. estudo. Para que o aluno construa sua autono-
mia de acordo com o tempo, a EaD disponibi-
A autonomia se concretiza para o aluno liza e torna viável várias linguagens de apren-
através de gerenciamento do tempo, do cum- dizagem para determinado assunto. Moore e
primento de prazos e dedicação para ativida- Kearsle (2007) consideram-na um ideal a ser
des. A7 ilustra a afirmativa: alcançado, favorecendo a aprendizagem e a
maturidade do aluno.
[...] em EaD, você se perder, não fizer as
atividades e não seguir o cronograma e A2 expressa o desenvolvimento da auto-
por ser nesse ambiente que o professor nomia a partir dos cursos de EaD:
também está conversando contigo, e não
acessar, você perde o vínculo. Precisa es- [...] a autonomia que eu tenho hoje é de
tar acessando com qualidade, entregando interagir mais com os colegas, de partici-
as tarefas. par mais. Eu participo bem mais do que
eu participava antigamente, antes eu ti-
Autonomia na aprendizagem em EaD co- nha medo, postava alguma coisa, levava
labora de modo democrático para a educação muito tempo pra postar.

RBAAD – A autonomia na aprendizagem em educação a distância: competência a ser desenvolvida pelo aluno
A autonomia percebida como competên- [...] sim, porque você tem que ler muito
cia a ser desenvolvida durante o curso de EaD mais, tem que estudar, porque se você está
é confirmada por A8, quando afirma: com o professor ali e faz a pergunta ele vai
te responder. Em EaD você tem que ter
[...] eu considero uma competência a muito essa interação, muitos dos professo- 119
autonomia, no sentido de eu fazer meu res que eu tive, não respondiam, e diziam,
horário minhas horas de estudo, sei onde olha nesse material aqui, olha no site tal,

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pesquisar, então é um comprometimento pesquisa aqui que você obterá as respostas.
e comprometimento está dentro de uma
competência, então eu vejo ela como Segundo Moran, Masetto e Behrens
uma competência. (2000, p. 16), “Somente podemos educar para
a autonomia, para a liberdade, com processos
Zarifian (2001) identifica três domínios fundamentalmente participativos, interativos,
de competências: autonomia, responsabiliza- libertadores, que respeitem diferenças, que
ção e comunicação. Essa classificação reforça incentivem e apoiem orientados”.
a formação de competências diretamente re-
lacionadas com o processo de ensino-apren- Ao professor-tutor de EaD cabe
dizagem na EaD e os pressupostos teóricos já
esboçados anteriormente. [...] promover a comunicação na comu-
nidade de aprendizagem, incentivando o
Segundo A8, uma experiência pessoal de intercâmbio de experiências e a circula-
seus cursos de EaD comprova: ção do saber entre os agentes do processo
(ARCÚRIO, 2008, p. 3).
[...] a minha comunicação virtual melho-
rou muito, tenho sido mais objetivo em Nesse processo interativo, com liberdade
respostas de e-mails, em algumas ativida- de tempo e de espaço, o desenvolvimento do
des referentes ao curso, em pesquisar na potencial de autonomia do aluno consiste em
internet ficou muito mais fácil, a própria sua instrumentalização para se deparar com
interação de usar as fontes e os autores, novas formas de aprender, de saber e de fazer
pesquisar artigos já tenho uma facilidade uso adequado das tecnologias com recursos e
enorme e buscar bancos. formas de incentivo para participação, intera-
ção e aprendizagem colaborativa dos alunos
A5 ilustra desenvolvimento de autono- envolvidos no processo educativo.
mia em EaD, relacionando-a inclusive à práti-
ca de seu trabalho: Por meio do depoimento de C1, eviden-
cia-se a importância e a ênfase da autonomia
[...] sim, desenvolvi a autonomia, porque eu na aprendizagem e estudos em EaD, pois
estava fazendo errado ou eu pensava estar
certo, correto sobre uma determinada situa- [...] falamos bastante na questão da au-
ção, e no curso eu aprendi que não, que é de tonomia, que quem for trabalhar, ou es-
outra maneira. Que a forma correta de se fa- tudar na modalidade a distância precisa
zer a atividade é daquela maneira. Então eu desenvolver essa autonomia. Realmente,
consegui colocar em prática o que eu apren- depende muito do aluno e muito mais do
di, e isso permite um pouco de autonomia. aluno. Porque o que acontece, no presen-
cial às vezes se trabalha o dia inteiro chega
A3 também reforça a afirmativa quando no final do expediente de trabalho, pega
reconhece a importância da autonomia nas teus materiais e vai para a aula, sem ter se
atividades e na interação com professores: preparado, sem ter feito uma leitura.

Volume 14 − 2015
Moore (1993) considera que autonomia também reitero que um estudante que não
surge com o processo de maturação do indiví- seja tão autônomo ele poderá desenvolver,
duo, ressaltando que programas de Educação tanto a autonomia como a organização.
a Distância, devido à sua estrutura, requerem Acredito que a responsabilidade como
120 alunos com comportamentos autônomos, de um todo deve ser desenvolvida, porque
modo a conseguirem concluir com êxito os normalmente na EaD se tem um crono-
programas de aprendizagem. Conclui-se, as- grama de atividades, entrevistas, leituras,
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sim, que o perfil de aluno autônomo precisa interações, o momento do fórum, em que
ser desenvolvido nos cursos de EaD, o que se uma semana tem o fórum para participar
comprova em depoimentos, conforme afir- e o aluno precisa se dar conta dessa parti-
mativa de C1: cipação naquele período porque os outros
colegas também estarão participando e a
[...] é bem importante que ele seja um contribuição dele será para todos. Outras
aluno autônomo, mas também é pos- atribuições também, em termos de co-
sível que ele desenvolva essa autono- nhecimento das tecnologias, ele precisará
mia ao longo dos seus estudos. Porque desenvolver em ambientes digitais.
algumas pessoas não têm experiência
com EaD e durante o processo que terá No papel de tutoria em cursos de EaD, a
oportunidade de verificar e desenvolver percepção quanto à autonomia ocorre de for-
essa competência. ma crescente e com melhorias evidenciadas
através da experiência profissional, o que se
Reforça a afirmação o exemplo prático de comprova no depoimento de T1:
vivência profissional na questão da autono-
mia, que permite o desenvolvimento e a atitu- [...] acredito que a autonomia vem numa
de da organização: crescente. Ainda falta muito para chegar
no patamar desejado, mas confesso que
[...] ministrei um curso de EaD no Pós e já está bem melhor do que estava. Porque
foi bem positivo que no final os alunos eu vejo isso pela situação a seguinte,
vieram dizer, olha professora, a organi- muitos alunos preocupados em, por
zação que eu preciso ter para estudar a exemplo, postar as atividades no prazo
distância me ajudou a me organizar para específico. Então isso eu não via no iní-
o resto da minha vida. Porque tenho que cio, agora eu já começo a observar aquela
organizar os meus momentos de estudo, pessoa preocupada, e essa preocupação
momentos de desenvolver as atividades. quando vem questionada, às vezes, não
E essa organização para ser aluno virtual, temos o contato, é só por e-mail, e eles já
oportuniza uma organização para a vida têm uma própria autonomia para ir bus-
do aluno que realmente é forte, assim car essa informação ou se o sistema está
como a autonomia. fora, ou se é problema no micro deles,
eles já têm essa preocupação em buscar
As afirmações de C1 reiteram-se com as e resolver as situações.
de Belloni (2001), que abordam a necessida-
de da postura ativa, centrada e autônoma do Inegavelmente, a modalidade de EaD
aluno em EaD: favorece o aluno no sentido de que, com sua
postura ativa e de busca de resolução, assume
[...] a organização e autonomia que o responsabilidade e maturidade para o proces-
aluno precisa ter é muito evidente, mas so de aprendizagem.

RBAAD – A autonomia na aprendizagem em educação a distância: competência a ser desenvolvida pelo aluno
CONSIDERAÇÕES FINAIS Fundamental na EaD é o aluno vencer o
O contexto da sociedade contemporânea desafio de estudar sozinho, obtendo autono-
tem exigido nova postura em relação à for- mia do seu ato de aprender e, para isso, precisa
mação e ao aperfeiçoamento, para que pesso- desenvolver a habilidade de ter aprendizagem
as consigam se manter ativas e participantes autônoma (FERREIRA; SILVA, 2009). Isso 121
da sociedade. ocorre porque o aluno assume para si a res-
ponsabilidade de sua formação, tendo como

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Segundo Belloni (2001), faz parte da evo- suporte alguns componentes materiais e hu-
lução a constante mudança; assim, o atual manos planejados, acompanhados e avaliados
contexto social necessita de um novo modelo para que tenha possibilidade de construir au-
de cidadão trabalhador; por isso, a obrigato- tonomia e aprendizagem durante o processo.
riedade de a educação ajudar a habilitar e for-
mar o novo modelo que deverá ter múltiplas Essa perspectiva coloca-o como sujeito,
habilidades, ser cooperativo e ter capacidade autor e condutor do processo de formação,
de adaptação às diferentes situações que en- habilita-o à apropriação e reelaboração de
frentará em seu cotidiano profissional e social. conteúdos e à construção do conhecimento.
O aluno obrigatoriamente terá de desenvolver
Somos exigidos a apresentar maior agilida- habilidades para estudar em ambiente infor-
de, proatividade, respostas rápidas, imediatas e matizado de aprendizagem com autodetermi-
corretas, sendo que tais fatores relacionam-se nação, orientação, seleção e capacidade de to-
diretamente com a capacidade de uso, de aces- mar decisões, habilidades de organização da
so e de adaptação às tecnologias, que permitem aprendizagem e habilidades metacognitivas.
o acesso ao mundo virtual e suas possíveis atu-
alizações. Portanto, cada vez mais deveremos Embora as tecnologias estejam ligadas
ser autônomos na aprendizagem, na formação à educação, elas não modificam necessa-
de educação continuada e nas ações profissio- riamente a concepção pedagógica adotada,
nais. A nova sociedade exige habilidades de conforme defende Moran (2003), mas o uso
trabalho em equipe de modo cooperativo, pois da tecnologia nas questões pedagógicas fará,
as interações virtuais são cada vez mais cons- sim, a diferença. Temos possibilidade de usar
tantes. Autonomia, criatividade e flexibilidade a internet na EaD para somente reproduzir o
são elementos fundamentais para que o indiví- modelo de transmissão de conhecimento, ou
duo possa otimizar o acesso às inúmeras possi- podemos aproveitá-la e utilizar as potencia-
bilidades virtuais, de forma responsável, ética, lidades dessa tecnologia para fazer educação
coerente e altamente produtiva. inovadora, com modelo pedagógico mais
centrado no aluno, valorizando colaboração,
As formas de ensino-aprendizagem de- interação, construção de conhecimentos e
mocratizam-se através da EaD, já que a quebra aprendizagens, autonomia e pensamento
de fronteiras geográficas e espaciais é promo- reflexivo crítico.
vida pela tecnologia, pela interação e comu-
nicação entre os usuários dessa modalidade. Para atender às necessidades do indiví-
Sendo assim, buscam-se processos educativos duo, do profissional e do aluno, fazem-se ne-
por meios comunicacionais que possibilitem a cessárias mudanças nas formas de ensinar e
troca, o diálogo e a mudança na aprendizagem aprender. O modelo de ensino-aprendizagem
e, para isso, interatividade, aprendizagem a baseado na transmissão de informações, me-
distância (AD), flexibilidade de espaço∕tempo, morização e reprodução dos conteúdos não
redes colaborativas, maior autonomia, inte- mais atende às expectativas do indivíduo, as
gração de mídias e de linguagens tornam-se tecnologias de informação e comunicação
características essenciais da EaD. oportunizam a interação pessoal necessária

Volume 14 − 2015
ao ambiente virtual, onde conhecimento é Disponível em: <http://www.partes.com.
construção dinâmica e contínua. Para que br/educacao/autonomiadoaprendiz.asp>.
a interatividade aconteça, é imprescindível Acesso em: 02 fev. 2015.
criar ambiente favorável no processo de ensi-
122 no e aprendizagem, inserindo de forma con- BAILEY, K. D. Methods of social research.
creta e satisfatória as tecnologias no trabalho New York: The Free Press, 1982.
pedagógico. Devido a esses fatores, verifica-se
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que a EaD exige muito compromisso e res- BEHAR, P. A. (Org.). Modelos pedagógi-
ponsabilidade no enfrentamento de inúmeros cos em educação a distância. Porto Alegre:
desafios para a aprendizagem significativa. Artmed, 2009.

Tendo em vista o instigante tema do BELLONI, M. L. Aprendizagem autônoma: o


Artigo – Educação a Distância –, cujo enfo- estudante do futuro. In: ______. Educação a
que possibilita oportunidades de estudo e distância. Campinas: Autores Associados, 1999.
qualificação por meio da autonomia que pro-
porciona, vê-se nele importante recurso para ______. O que é mídia-educação. Campinas:
o aprendizado, para o trabalho e para a cons- Autores Associados, 2001.
trução de aprendizagem democrática. Com
EaD, a construção pedagógica de qualidade BERNATH, U.; VIDAL, M. The theories and
ocorre independentemente de lugar, hora ou the theorists: why theory is important for
professor presencial. research, with Boerje Holmberg, Michael
Graham Moore, Otto Peters. Distances et
Seja em instituições, seja em empre- Savoirs, London, v. 5, n. 3, p. 427-458, 2007.
sas, é necessário e possível transpor desa-
fios que se interponham no cenário da EaD, BRASIL. Presidência da República. Casa
para que excelência e qualidade possam ser Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
oportunizadas desde o aprendizado básico Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005.
até o nível de saber mais elevado, como, por Regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20
exemplo, cursos de mestrado e doutorado. de dezembro de 1996, que estabelece as dire-
Independentemente de faixa etária, de con- trizes e bases da educação nacional. Diário
dição cultural ou de qualquer outra classifi- Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 2005.
cação, a EaD ocupa espaço definitivo e fun- Disponível em: <http://www.planalto.gov.
damental para a educação democratizada br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/
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