Você está na página 1de 8

/"

> ,. >

,
"

NOTA DE APRESENTAÇÃO

II/trudução de UI1l cuntextu


\
bn6simo Tt:ot{,nioAlrndda.--J
IJrolll/l {JIlÚJersily
"itol" 01igill .•I: 1/'(· S,/Ollf/;I' No,,,I,,lIo,,
(I:) 1\)1)(,. "h c llllin·, ..•il)' of (:hic;lg0. Todos os dilt.,jro .•.•rn.l'I\'.hl ••.\, Atlloliz;hlo peb
l'"in'l\il\' of< 'hit"J~H
"1'111' 1'11"', ('!ti";!}'.II. IlIil1oi ..•, ll.S.A . Irei repetir o quejá {!(irlllei a{!!,uresse disser que acho a instituição do /lI'e-
!'nd,,, o...tllIl"lItl\ dt' ptlhlil.I\.ltI do 1.111111,1nllllngll.1 pllllllglh'\,1 h'.'I'I\',ldu_, pOI: .Jlic/u I/ttiU descl/l1/da, sul1reludu qutll/du se 11'1/1(/ de (//Jreselllar UII/ Ii/!/"() 'IUI'
jJropõe uma tese. Antecipar-lhe um come1llário é injusto para o autor, que se
-] E,~~"~,~S A
e.Y'orçoupor desenvolver a sua argume/1/ação e naturalmente e.l/Jerano míni-
I )CI10I11il1.14,;;'iO Sn,"i.11. DI FEl.RL- Di'-u",,, E"ilnria\, S ,li.
mo ser lido antes das objecções dos críticos; é, no entanto, igualmente injusto
Snk SOl'i;,! IIlTuid.1 "," T,·,lip.". "." ~O·C
para- o leitor, porque este compra o livro por curiosidade e interesse em dar a
lv1iullon: .•• palrwra ao autor expondo-se de boa mente (pelo merlOS na maior pm1e dos
1·1')<;·1<;') III~", - P,,"u~a\
'1'.,1.-"-: ·11 ~OH·jH .• j I ~OH,j') casos assim espera quem escreveu) às suas il~formações, pontos de vista e
1'.,,: ,j 1 ~OX<;O algumentos. Um po.ifácio parece-me resolver bem melhor a situação. O alllor
E·"",il: I )ikI.St\~"",.,il.ldq,.'Lpl terájá assegurado o seu iempo de arll(!na e o leitor poderá muit~ simplesmente
<. :.'piul SOI"i;,1 - (,0000000$00 ("""'111., ",ilh'I<" "e "'<'I,"os)
<. :Ollllihuillll' 11." <;01 .\7X <;.\7 fechar o livro, sat4feito com Ç1 que leu em directo, furtando-se com esse gesto
t\Llllil"ULt n." Xh~O ('tllI\I'I\'.lhí,i.1 do Rq.~i'lo <. :OIlU'!I"i,d dI.' kiLl.'"
<. a intromissões desnecessárias entre a obra e a sua inteligêrlcia e sensihili-
f\lt-má,i.ll' SCllinbdl'
dade.Já saltar o prqfácio rio início de um volume é, para muitos, um acto hem
l 'Olcl\".h' 11I(l1,1"I1.hl.l 1'(11 I )it'go Itllll,hl., <. 'tII1t1 /IIais dflTeil, jJorque em tieral ahrimos um livro com a di.IJlosição/resca e/ran-
ca de (/ ele .I lOSentregarmos, dispostos ao que se IIOSdepara, e na maior par-
Nnl.1 de ,11'11'_"'1\1.1,';\0: l )Ih:.,illtll Tl'OIl'lIlio AII\Il'id,1 le das vezes alé toleramos a il/lromi.'iSão ahu,çiva de um prqfaciadur. Por uutro
l '.11'.1: r\ ',\I ,f'·.I/,r.""')
Rl'\'i';hl 'I'ipogdl'l';': /:"t'(/'-";,.o '\~"/uf'i,."
lado, e em P/ÜlcÍf)io, mall/enhum nos advém disso porque a f)()ssível C/ftica
l 'Ol11pO,i,',ln: r'!"'(tI _,(,',.,íf;f·O
11I1II1Uintrodução quase sempre nos soa a aIp,o vago e estranho.
I"'Pll'".IO l' ;ll·,lh.II1WIHo: n/'''.r ..'''~fi"(;",.,.'il - Vi,nl Se o leitor ainda está comigo, esperará que nesta altura eu me, deixe de
I )cp,·.,ilo I ,q.!,.IIII,'· 1,\7 hR\!')t) mais glosas sohre a desllecessidade dos prefácios e, ou me cale, ou faie de
ISI\N Ir;:-.! 2,t) IH~.)_.\/i\l.lin 1')"1) a~~!lma coi.ça (111e11ãu viole nem os direitos de Steven Shapin, neste caso,
nem us seus. Como já claramente viu que me prolollp,o por mais altil/mas
Pl"oihida ;1 IqHOdu,';-IO (0(;11 011 p;,nid !'Õl"IB;1 pl'l-via ;\1I1()ri/.;I("~"i.o do Fdirof páginas, concluirá que optei pela segunda paHe da disjuntiva.
Primeiro, alguns dados sobre o autor para situar este seu mais recente
livro; sobretudo os que se me aparentam mais importantes para os leitores
p0l1ugueses que desconhecem a obra do sociólogo:
Até ao surgimento de The Scientific Revolution, o nome de Steven Sh(/-
fJill estava associado à sua magna opus, A Social History of Truth. Civility
I
/,
VIII A NbVOLUÇ'ÀO CWNJiFlCA NOTA DE APRESENTAÇÃO IX

;\I1d Scil'ncl' in Sl'''l'ntl'enth-Century Engl:lnd ([ll/il'ersil)' c!l Cllicogo J>ress, de bá duas décadas tanto embandeiraram em arco (a quase generalidade
1994), /1/ais de qllalrocel/los págil/as de 11/1/0i/1/pressiol/onlemenle docu- deles não por interesse na bistória da ciência, mas pela excitante aplicação
menlada (C!lej})njJl1'o chama ao seu /1/élodo -realismo biSlólico allá- à antiga-) do conceito ao domínio social e político, então necessitado de apoios teóricos
lise dasji)/'mas de eslaheleci/1/enlo de l'erdades na SlljxIsla lerra-berço da ciêl/- capazes de modernizar um' pouco o clássico Mar:x:).
da /1/oderl/a, Com ela, o sociólogo da ciêl/cia consegllira, o conlenlo de pelo Relativame/lle ã presente obra, Sbapin é explícito no reconbecimento de
menos mllilos CJilicos, de/1/0nSlrorqlle o cho/1/oda./llosq/lo e,'1}(!rimel/lal ingle-. 11ãoser ela produto de investigação original, mas antes um trabalbo de sín-
sa (hc!ie I'1I(~ar;lIellle con/wcida CO/1/0-ciêllcia /1/oderl/a·) cOIIsIilll ill 11///(/ lese qlle Ibe permitiu generalizar algumas das ideias de fundo, ,(rJrmuladas
1101'aodlllnl (/11""IIII'I~ill 1'/1/ /1(//1,' do IIHIls/losirdo deli/l('n/(Io de COlln'/lrei('S, e {/dellSadas lia sI/a men/e à medida qlle.fiJi alargUlldo e a/m!/imdando lei-
I
c,íd(~n" ,'I'(tlorI'S do L'Ul/n'l~iOçci()gl'l1tll'l11al1/)(II~1 o dO/1/íllio doJilo.w!fIa 1/(/111- i I/lras e re./le,xhessobre o /1Clscil;/ento da cultura (ou melltalidade) cie11t(/lca.
ral. Fml/eis !1aCOI/, c' so/)/'C'I//(/o f(uhel1 !1c!)'le,sdo asF~lcms elllhlc'mfÍliuls des- Abre jJor isso provocadorame11te com uma declaração tão jJeremjJtória
I i
sa Inlll.~/i'1\1ncio, S/Iojlil/ 1"1,/1('11'
i/lsislellle/1/el/l(' (/111'o cOII/lecilll"/llo I/ÚO e.\'islc' q/lal//o sl1/1)/'eel/dente negal/do de modo./i·o11/alque tenba hauido qualquer
sllsjJenso, ./iml da :Iclil'idade jJlÚliul, l/e/1/ c' 1/11/(/ ideia ahs/rac/a, lI/li cc)//illll- revolução cientíjka.
lo dc' /11/(11/('S,011 111I'S/1I0
11/1/ri/llal, ol/Ies SIIl:~C'e " IIlrl/llido /weeisrllllel//c' olnl- Mas isso o lei/or lC'rii com os sells /J/"(J/Jriosolhos, (! /)(Jderii a/Jerceher-se
n;s d(1 ot'/ il'idodl' jm;1 iccl silllOciollOdo, NessejJo r/ iCllla r le/1/jJo elll,~o r do /'1/:,'- ao longo destas páginas riquíssimas de il!/urmaçào e argumen/os, que a.fl-
IÓlia oddel/lal aCOI//ecell serem os hábilospdll1 rais dos gcntlcmen ÍlI.~/eses-:- nal a jactância il1Ícial se/vira mais para épater, lalvez para o irritar ou o
_~I!/re os qllois a COI!f/mIÇO, impreglwdamen/e eSlahelecido CO/1/0cora'c/erísti- entusiasmar a atirar-se à leitura~ já que o poder de discernimento, a clare-
ca de fu ndo das sllas reloções - faclor decisivo para o desellVolvi/1/enlo da za exímia e o domínio do terreno exibidos por Sh,apin o farão sentir-se per-
~'iioi;a alitudeface ao conbeci/1/ento experimenlal. S!!api~l_.qistancia-se dos bis~ feitamente confortável com as' explicações fomecidas para aquela inicial
tCJ,11:adores
do:~ ideias deslip,adas do seu coII/e.\'lo sócio-económico, liras (!/os/o- afirmação bombástica, mais jomalístiCa do que sociológica. Ao longo do
'~~e(~I/(/Imenle da Imdiçâo m(//:Üs/a cl/le siÍ as cOllcel1(' CO/1/0jJrodll/o directo /exio, aliás, vário:~ adjectivos a modí/icam e abrandam. A jJm/to de ser legí-
das "Slrlllll/HS /1/llleriais, Sociri/ogo da cllllllnl e ~'ollhecedor dos li/1/i/açc)es timo perguntarmo-nos, 110 terminar do livro, se teria afinal sido necessário
reSIIII(//lleS de qlla!clller l/IIra daqllelas posturas IIl/idi/1/e/lsiOlwis, Stel'en Sha- elltrar assim tão assa'nhadamente quando se possui, para cllém das garras
jJil/jmlC/I/H 1/111 CCI/1/illho /}('m /1/ais inlricado de ill/er-relacio'l/amel//os e illler- de leão, a serenidade de uma floresta em tarde calma e a visão plargada
de/>c.'l/d~lIcias sllh/is e ri'c/leadas de /1/a/izes, que de uma colina sobre ela se disfruta. Porque Sbapin não nega a.ojim e
°
'/iI/1//I(0/1/ l/rio ,o ,'sl<' Itl,~ar o/,ro/,riado flalH IlIlIa al/cílise crílico desso ao cabo a radicalllOuidade da concepção mecâ//ica da natureza projJosta
/)/'(!/i,SCIIII"IIIc' illIslmda e (//:~III(///len/e e.\/Josla lese de ShajJil/, lis/e Sllcil/to por Newton, ao recO/lbecer estar, o U/liverso escrito em linguagem mate-
/'('SII/1I0ddo /I/'('II'I/dl' a/I('I/os si/llo r o leilor jJC'nII//e as coordel/odas /eriricas- mática.
de a/li n/(Io esll /(Io./Í'i/os. d(~o-se - do a II/or dO/I/'('sellle eS/lldo so/we a ·rel'o- Irmos mais longe na exposição do ponto de vista do autor seria entrar
IlIçÚo ci('III(/lcO" ;lo 10l/go dos C/I/OS,I/OSSilOS il/l'esl(~açcJes CO/I/Ot'/Oll ·direc- em contradição com as considerações iniciais desta nota introdu~ória. Pare-
/0- e /w(!/illldo/1/el//e com a .~el//e de conle e osso mois elllYJluido 1/0 jJrocesso ce-me. todavia, que o mesmo se não poderá dizer se em vez disso fizermos
das or(~I'IIS da C/hlcia IIlOden/{/, alnll','S do Ol/cílisl' de docllmel/los illle/1Jre- reparo a uma omissão na obra,t!.f!_?bapin, típica aliás na btstoriografia da
lados â IlIz da clIl/llra local do re.,pecliva é/JOca; lell vorazmel/le e cOl/sllltoll ciêllcia i/1glesa~ Operando à partida em pano de fundo anglo-americano,
('om Ol<'l/çÚO 1i.~1cIS il/ler/1/il/r;n'is dc' eSllldos soh/'(' o <'Íc1I/CÍfII/OSs('C/dos .\'1'/ " toda ti bibliograpa, inelllindo a desse extraordinário ensaio hihliográfico
XI '//, sO/Jr(!/lIdo I/a JII,~/oterra. e ./Or)//uloll aSila jJltípria lJisào do proce.,:m de que encerra o livro, é originalmente escrita em inglês e. quando o não é,
enJ/llçâo C' eslaheleci/1/C!I//o da ciêl/cio /1/oderl/a, a.l!!.!!!!.o dese ~C:l~1irCOjJOZde aparece m~ncionada porque está traduzida. Com a implantação cada ve:?:
ccm./i·ol/tar 1I1!!!J~'!I.ªªç-'r;,J:e.~ebiqa..e ag()r~l arraigada/)/(;;Ú(ÚJ$.~(!-'itfi.ilE- cll!l/l~·' mais firme da língua inglesa não apenas como língua franca em negócios
nC92.1JLeJl/porâllea. há temjJo.ç tomada mesmo il/disclliíl'eI: a exis,-êl/~ia~ie mas agora também como veículo preferido do diálogo científico internacio-
/lI1la_:..ewl//çdo ciel.f1íjJCt!.situada exaclamente no século XV!~,_c.aracterizada nal, a velba pecba anglo-americana da ignorância de outras línguas pare-
sobretudo por aqllilo qlle entre IIÓS.f/COIIfixado na tradução de um conceito ce dar razões aos estudiosos para cuidarem ainda menos de saber o que se
./i'C/IIcês. afall/osa '/1I/11//J'C1 ejJistemoIÔgica-, clue os allb/lsserial/os pCJ/1l1g/leses jJassa além das suas fronteiras linguísticas.
...

x A NEVOLUÇ'ÀO ClhN7iF1CA NOTA DE APRESENTAÇÃO XI

No caso parliclI{ar dC'slC'{iuro dC'ShalJill, ~Ielll cOllsciêllcia do/ac- historiadores da ciência, citando-se uns aos outros, repétem ter surgido a~
lo, I' 1"'/1('11'I'or isso .I;·I'({II1'11Il's I'COZCS
({1I1' ~1'~;.!.!.!.D'l-'II'<11IJlo_l/lal~rÍ(!! e!!llíll- rias /10 século XVII (exactamente por desconhecerem as supracitadas fontes
gl/a ill,~{l'sa, ac",<'scelllolldo qllase sC'lIIl)/'e de s<:~lIida q!!!:...!ISSil/l,LiJi!!!lrqllC' pmaamentais p.ortug!!~fL.V.!.. Com efeito, fJJ:!:!!!.!dopor qualquer recôndito_
!I I
nlll,q;~i, ITIl I ('!;,-;{;/t I (I,',IllI.!:D:1L/Jl'ill(·ifl(~<'_I/(I_/II.~ItII(!rnl'-/~IIIS des(~l/io dos dell.çes aceJ/ltece 11m historiador da ciencia conhecer as obras
essa (i O/1"S;n:ele IlIelo 11/110{acIIIIO. elllfJora seja IIC'cC'ssiÍrio adlllilir ({lIe a ",!!!!sses71tU()resporttlguese.çelespassam imediatamente a &urar (e não com
II/i/({ffí(í(lm ohras r"'<'I'allles. lalllo or(~ill(l/:" COIllO Crílicas, esliÍ Iradllzido someI/os importância) nas suas narrativas históricas sobre..Q e.m~giLda_
"lI/ il1,~fc1S.
se lIâo I/leSll/O ('sllldado Ilor (1I110resall,~{o-(III/('ricallos. c:iêllcia. O exemplo mais noráveréõ d~ R. I-Iooykaas, autor de um 10nRo e
~ ; JII/i 'fi: lI/"II(' O/~U!11lIIal"ria{ hihfiol>rÚI/,'o '/11" s"rio illl!,orltl/l/e..Shallill
I " .'
cOl1hecer eslÚ escrilo a!l<'lIaS_el/l!J!}r..lllg~ {íl1,~lIa..!/l/e IIC'III QS.de/l.'ig,'i..pore·
.~.I-- ----- ~ !Jrecioso eSflldo sobre}).
seu discíjJUlo, li.
João de Castro, -Science in Mm1ll.e.lillfLSJyJ!1!S (Jm
Floris Cohe~ hoje autorizado historiador da ciência, leu
atelltamente' o que o mestre escreveu sobre a mentalidade científica emer-
f_'I_l/_ic_"_'I_I~I7.~r_ic_·(_'I:
Ilor ll/(Li.~qll('.-OS./u·(lsi/eiros. Se..UUII'C'I'~:i-~_· _{J_r_a- J

-f!.{ei/'(}:....OfJms (~I
u{gl/lI/as passagel/s~
~·;~I<.2....0e Si.tll-Grhis,.~.
Imlados d{pedro Ntl/les':J/
rrllrle ll.acbecQ_Pe;.·ejrl,-
16q~lIos(]o~Sill1ples,
, gente entre algumas figuras da cena portuguesa de Quinhentos, dando ao
facto o relevo devido num grosso volume, por sinal na mesma editora e com
11(-;, C11rcio de OI'li!J'. sohrellldo, ts,H()tl'iro~-de'r ~I de Caslro: lerialll!1.D..1- \ The Scientific Revolution - porém com o
tít/./lo idê/1tico ao de ShajJin -
subtítulo de A historiographical
inquiry\. Cohen voltará a reconhecer-lhes ()
j~i'CÍ(jll(lc7o (,.,\'/~II SbajJil/lIll1 r ( (Ol/C/(/ (·:H .. ~'ôC's e{!oo mz,'
v
J
Jfam C'/Ji~ar(I ser~~
~

"""'-
_-"----

--"---'----
_1...
erro b.istÓl~co~do
_ -_. repetida!.!!..el/te a.!trlllC!-qli..ê
o I"('ocçao cOl/tra a olltorid'{i(fe dos /11//(~os OCiflT"/l /lO seollo .\'\'11 elll I'ez de
1/0 SéCII{O.XI'/', COIIIO Q.LCQ/ll.1e.cedores-daqllelos obras_bá I1lllitO_(((iJ:.1/l01/l.
_ papel desempenhado, sobretudo no caso de D. João de Castro, numa obra
ainda em preparação
~me
mas que dará pelo título deJjow
Imo theWorld. Its conditioned
Moder';1 Science
ell1~~ threefold dynall1iC~
_ Sa"eria ail/da qlle "âo tJ.:1'e11II2arprillleinllllC'111C' C'III /lIg{atC'rrq,' acolIlC'cell Ao fim e ao cabo, para além de uma correcção importante nas balizas
tl/ll'orl/l,~a{ ("elll COll/O lia l/ldiaJ, llIas C'lI/ portllgllês)'. repetidamente referidas por Shapin como marcos dentro dos quais se espa-

1 /1 n'CI/{ll'mçâo elo ill/fiorlii/lci~'/lJ.!Liii1L!.:jil.(" eI(~() OSSil/ll'Ill·({lIe. (/(I


C0l111Úrio elo '111"I/lIlilos I'(';::I'Sse rell<'te elllr" lIeís. lIâo.li)/,OIll os !}()rtllglleses
lha a il/tromissclo dos novos hábiÚJS culturais - ou o nO/Joespírito cient((i-
co - ..!l..E:!.S(~pºrJyguêsteria reforça~ te.çf,!.de.Shapill relatll!,.C!...ffJ..C!!.1J.e
~2...lon-
(l'/(' descohrirall/ o I'alor da e.\1Ieric1/lcia 110 cOlllwcilllelllo'). JorIlO/l-sC' leit- _go, di/uso e descontínuo processo de instauração da nova mentalidade,_
nH)1 h' ('lI t n' (IS I.l1Jl1/(!JIS_("Ll.'llll~lllln"I..ll(Lpl~uc:<,.".m ..(/e..e..'l/J/QrllçâD..i!..dolJl
íIJ io- ponto aliás há muito estabelecido por autores como Karl Popper, RichardL
dos lI/ares'. (/IlIC'C1j}(llIdo C'lI/ qu(/se UlI/ século (/ "01'(/ ll/eiÍL(/lidadU/11J!..J]S... Bernstein ejoliílKrigib que eu próprio citei com~apoio teórico' ao reclamar
-a i/lclusão dos supra mencionados auto~es portugueses na historiografia
, Pelo nwno,'\ \111\;1 \'(.'i'.. ~l' ,,;10 \,.'~tOll l'11\ (.'1'1'0, Sh:lpin :tlltl'l'ip:1 um )10\1l'0 :IS SlI:IS tI:II;!S sobre as origens da ciência nesseperíodo que precede e prepara mais proxi-
f;lI:tndo em -lIn:lb do s~'c\llo \XI-, Ora. l11t'S1110 qUl' ach:lssl' DU:lrtc Pachl't'o Pereira ainda lon- mamente a assim chamada revolução científica. E uso a expressão -revolu-
ge dos h:íhito ...•culturais do cic.:nti.sta 1l1odcrno a que se refere. 1). Jo;io de Castro <.':tlx.-rcrfl'i-
ção cient((ica. ll1algré Steven Shapin, tal como H. Floris Cohen continuará
t:II1H.'IlIt' dcntro do H'lr;lto por l'k l'.•.•
hO(:H.lO. t' os No{ciros :-;;10 de 1C:;.\"-;-I ';·HL E'\III('roldo de Si/u
O,,";s l' de l'l'rt';1 de I~OH.
I Como ~e ~abe. a obra de Garcia de Orta foi pllblicada em Goa em 1563. aqui tão sinteticamente expressas poderá fazê·lo lendo esse outro meu ensaio ·Sobre a revo·
, Per;lI1te eSll'~ ·faclO~·. ~el:1 ~enerali7~I<iL;ttitlldc...--.''IlIc.p()deríam() ..•.da~~ific;tule ver- lução da cxperiência no I'ortug;tl do século XVI: na pista do conccito de ·cxpsriência...a..madrc-
~;\o popll\;!!:J.tcha:..tl:1·fiIo~ona ideali~ta do in~lê~ lIerkeley (esse esl flerc.:ifli, ~er é ~er perc~ das causas'·, in 'í.~g., Associaçào lnlernacimzat de L~jlanislas. Aclas do Q!!i.1I10_C0I1_
?por ISSO, ~n;'~)i1k":'nnJ-dos-~(;ntid{g-~ESL' ;;10 conhc<.:o) é rOf(~IL' 11:10 l'X i.•.•
Il' _.<ires ..m, Oxford·Coimbra •.xcl..Jn,-122!h. P'Q. 1617-1625.-

- 1\;)0 l' t'sdusi\':II1Il'1\le i1\~les:1, pois l' igualmente rrl'qUt'lHt' t'''' Pnrtug:d, t'mhof:! :1 propÚ- I 1:.1\ inglês chamei a :lIcn~':l() para C,~S:lbtnm:1 da historiograna da ciência sohretlldo no
sUo til.' olltros :lssuntos.~~C:::§M}LPOrén), a t'lIlpa recai~1Cn~1lC-..."iobr!: n(}so-Quc-l:debra=- ensaio ·Portu aI and the Dawn of Modern Sdence., tn George D. Winius.•....ul . .J!iJTlu,I!at,-lh"-.
Palhfinder. journeys from I e e teva owar(rlheM()d;;;.n World, 1300 - eu. 1600 Madiso,,-
n)()~ Inuih) l)S I)esn)hr:lu~'to~,..,;tr:rdl'nlr(). eln cons\II_~\()-iIÚcr110.de_rC;1<llICdm?j'H~~~H~
wr,TIicHispanic Seminary of MedievaLStudies,_1293 ••pp~41'361.
n:IClonal. 1\1:IS l'sqUl'Ct'l11o-nos t lo' quc St' nao procurannns'dc[.;cntt'-rT:.lr l ~t"--de.sconheêltl:!
A Ungua l'~sasfontes h;ísica~, ninRl!éJJ~har;í: com ti existência delas. -.,-E5critõ em inglês, mas infelizmente sepultado numa edição portuguesa. em .Apêndice· a
, Procurei del\1onstr.1f isso no ensaio -SObR' () papel til.' Portugal nas t't:lpas prdilninan:s ocup<lr por inteiro o 4,° volumed<l edi~1o-critka~Obrll$ ..Q!pl?lelas dJLD.joàade.Ca.çl~
~~_luS~10 científica tio século XVII,,! ;" I/wórill,(;'..-lJese"IJUltJil!.!.!::.!...!'o da Ciência em l'OI111J.:.f!L (l- ni7'<lda por Luís de AI~erquc~Coimbra.A~elriia Internaci(J.n<l1de C.ultura.Portug~,_19HI.
If\} ~,_"l'ad.l:w.ia_d,,~ Ciênd"~~..J.9.tl6_PILI.1.7,~·1222~
I
- -'Cliícago, TI~Vclsity ofCI~agopre:,s71994. - ~
, F.."pl'dficlI1)t'nte sohre \111) 1:10 rept'lido conceito nestes :Hl0S de l'debr:I~'Úes til..' Dl'S- , Por simpática deferência do <lutor, gesto que aqui pllblic<lmente agradeço. li o c<lpitulo do
l'ohril1\l'1\tos, o leitor intt'rl..'ss:tdo l'1\1 conhecer 1\1:tis t'ont'rL'!;lI11Cn1L':IS hases das afinn:t<,:ÚL'S
I manu~crito em que o autor refere o p<lpcl dos t>ortuguese~, na emergência da -ciência modem<l"

I
" /
~ XII
A REVOLUÇÃO C/hWTÍFICA

a II.wí-la 110 sell pnixi/llo li/wo. Qlle aql/i se reco/llellda desdejá aos lei/ores
CO/llacesso Ú líl/glla ill,~/esa, e/llbora aprol'eite ta/llbé/ll para sI/gerir a tm-
dl/çÚo f)()11I/,~l/esadessa ohra.
Aillda a propcJsito de sl/,~estÔes,aífica/ll /IIais dI/as, tallto para os leito-
/"l'SCO/llacesso a ohras e/ll illgk7s CO/110 para os editores illtere.\:wulos e/ll pro-
/llOI~'r tradllçries portll,~IIe'SaSde oln'as importal/tes da histÓria da ch711c.:ia.
7hlta-se de d()/~\'clássicos: 11/11 deles, Sdence and Sociely in Sevenleenth Cen-
lU")' England. de Nolwrt Mertol/. (1IIe'o fmifl/"io Sh'n'l/ Sbaflill recollhece ter História e sociologia do conhecimento científico
e/ll .~IHI/de flarte el/treulo 1/0 domíllio comll/ll do 1I0SS0el/telldi/llellto COI/-
te/llfXmllleo das origells da ciêl/cia; o ol/tro. é precisal/lellfe de Ne(ier H()(~)'- Ricardo Afonso Roque
kaas. Rdigion and lhe IHise of Modern Science' (e IIr/Opor ter dado de/lida Instituto de Saci%Rla Histórica Jo:C.SH. - lj.NL
atellçâo aos portllglleses, o (file mio é o caso lIesta obra). CO/110e/ll outras
áreas do cOlIllC'cimellto. os dehates t(7m aSila histriri{/. n\ses dois liflros col- -l1s imagens tradic.:i(mais da ciéhlcia estÜo a ser atacadas.- Esta frase
mat(m;o importal/h's IJrecbas pl/)~I os leitores rfl/e, /IIotivados po~~r:.steestj;:- ousada bem poderia descrever o ímpeto revoluc.:fonário dosJUós%s Iwturais
m/f!!lIue e Ç1ltam~lIte legível ensaio d.f/fôlego de Steven Shapill, se selltirem do século XVll,analisados por Steven Shapin na obra que agora apresentamos
pe,.didos lia imellsidâo de recomel/dações do magllíJlc.:o e/lsaio bibliográfi- ao público de língua portuguesa. Mas não .. Quem a proferiu foi um nosso
co que ellcerra o sell livro. Há ql/e começar sempre por algum lado e come- contemporâneo, o sociólogo Donald Mackenzie, no início da década de 80,
çar pelos prillcípios lIào é I/ul/ca /IIá ideia. ao introduzir o seu trabalho sobre a emergência das teorias estatísticas na
Obviamel/te ql/e o ,.eparo atrás feito é, 1/0 cOlltexto geral da obra, /.Im viragem do século'. Com essa expressão, Mackenzie estava a captar o ataque
!ton' heh\cr/o. (1111' I/e/ll se(llIer atill,~e Shapil/ em particl/lar visto treltar-se de aos modos -tradicionais- de fazer história e sociologia da ciência lançado
falha ,I!,ellem/izada I/a historiografia sob,.e a ori,l!,e/llda c.:iêllc.:ia.O facto de desde meados dos anos 70 pela auto-intitulada sociology of scientific kno-
estar/llos I/este caso peral/te I/ma ediçdo da ohra e/ll portllgllês é ql/e deI/ wledge (mais conhecida por SSK), em particular pelo grupo reunido na
azo âqllele cO/llel/tário crítico. No sell todo a tese de Sbapill sl/stem-se IIOS Science Studies Unit da Universidade de Edimburgo. Foi aqui que Shapin, tal
sells fmiprios fl<'se {'ale he/ll o e.~Iorço de 1//1/(/ leitllra ateI/ta. O ./iilego do como MacKellzie, deu início à sua carreira intelectual. Apresentar Steven
aI/to,. il/spirarei sem dlil'ida os il/teressados I/essa apesar de tI/do ail/da Shapill como a/llar implica, pois, vê-lo enqUa11to actor desse esforço para
Ill'IlIIlosa b islriria d(' 11/lIa ./llceta ./illldrl/I/C'I/tal da l//rIderl/ idade. /"ç/ormar os estlldos sociais da ciência.
Sabemos, face a obras como esta sobre a -revoluçÜo científica-, qtl~,!lão
,existem, de facICJ,-revolufiães- dramálicasJ!..I! __G.C!_nl.?ec,(ll!!!.tIJ()-'-.
Mas sabemos
igualmente, COl1/Odemonstra ainda este ensaio de Shapin, q,'-i.~~~ _,!ão nos
impede de falar. de processosde.muda1Jça, .ou de ana}~Ç(I:r:. o_tmbalhõ -(fós-
actores com vista a rever certas formas de conhecimellto,_ nem nada impede
que dos seus esforços resultem de facto _mQdificª-ç{ji!~.Não se tmta aqui de
julgar o alcance das descontinuidades introduzidas pelo assalto à relação
1 Donald Mackenzie, Slalist/cs In Brilaln, 1865-1930. 7be Soelat ConslrucUon ofSelenlific
Knowtedge. Edimburgo. Edinburgh University Press, 1981, p. Ix. Cr. Idem, ·Statistical Theory
and Sociallnterests: a Case Study·, Soelat Sludles ofSelellce, 8 (978). pp. 35-83. Para uma ima-
gem geral e introdutória ao desenvolvimento da sociologia do conhecimento científico na Grà-
-l3retanha no início dos anos 80,1:1. M. Collins. -The Sociolo!!y of Scientific KnowJcdgutu:'-
~s of Contemporary Science-. Annual Revlew of SociotoRY. 9 (983). pp. ~5._Veja-se
também a revlsã(}de-~teven-Snapin;--HlstOryõf SaéiiêCãi1d-ItssõCiõfõgiCãíReconstructi0'1-._
, Edimhur!!o. Scolrish At':It1t'mic l'rt'ss. 1972.
J!L,tory of Sciellce •.20 (l9R5a), ..pndS7-~
~

~ XIV NOTA DE APRESENTAÇÃO xv


A REVOLUÇÀ O CIEN7iHCA

el/lre a ciêl/cia e o seu cOl/texlo social ellcetado desde meados dos aflOS 70, ~esso:~~. Estesfactores representavam9.que /:Jal!!lJA'!..~ºf~_!ºlógico na ciên-
e 110qllal Sbapillfoi 11mdos actores prillcipais. Deleguemos essa tar~/à, e esse cia. Eram vistos como uma ·inJluência3!:!..e._a..c:_~'!:!!.!!.a...
c!9.J!?:.?f..1JQ!_-=_lJ_
socJeda-
(Ic~\-(?(io.
a quem se qll/:çer lallçar boje 1/(/ sociolo,~ia do cOllbecimellto ciellt[(ico. de ~ para o interior, o conhecimento cientifico propriamente dito. Na práti-
7i-ata-se de eh:~er essepr~JCessode cdfica e reuistlo dos estudos da ciêllcia COIIIO ca, correspondiam às instituições e aos cientistas, actuafldo sob a fqnna~ por
cOllfc~\·toe'scolbido e' cOl/Sl17lído/x)/"Slel~'" SbafJill fJaro daraIJrigo ás Sl/(/Silll'l'S- exemplo, de -interesses-, -estlutura social-, ou -comunidade cient((ica-, esta
t(~açÔl's. Nesta IJre/'(! 1I01a. pretelldo dar ao leilor de A Hevolução Científica Última a fórmula eleita pOl' Kuhll pa,~a desenvolver uma leitura sociológica da
rI~~U/llrlS coord('llrldrls (/'/(' o/a//lilitllÚ('1II COIIIe'SSe' COllt(~\'toe' sitlle'1I/ o /)('rclIr- ci(?l/cia'. A autoridade da sociologip merloniana dependia em parlicular da
so illl('ledutll de IlI/I tllllor O!jo cOIII/'il/lllo (i tlgOlrl illcolllo/'lllÍlV'l fJaro /}('rcC'I>l'/, sua ca/Jacidade /Jara demmlstrar a illtromissão desses/actores na dinâmica
nç n'o'lItC's (1c~"e'lIIYl/I'i/l/('/lt(~Çlia bislÓria (' sociolo.~itl elo cOlIllC'cil/lC'lllo cie'III[f/- cieuI [(ica, sem couludo deixar de lhe rese/7Jar um domínio diçtinlamellte
coo l~çfJC'mpoelC'r tlssill/ sC'o/lleltÍ-lo lia Idllllrl elC'sltlolml. il/tenlO, puro e intrínseco - o do próprio cOllhecimento. Segltlldo Sha/Jin,-' a
Sbtl/lill (, actl/(/III/C'IIIC' I>r(!/c,,\:çordI' Sociologia /Ia {1l1il~'I'Sidade' de S. I);e'- sociolo,~ia de MerlOlI su/nmha a exiçtência de/nmleiras claras e autocontidas
.'lo, lia C;al!jiJrllia. illslitlliçâo ollde lecciulla desde II/eados da década de 80. entre a ciência e a sociedade, ã imagem dos sLçlemas sociaiç de I>ilirim Soro-
C(me/uill os Se'use'studos e'//I lJiologia e' (;('I/('li('rI /lO Ne'(/(i (:oll(:~e' (' lia (lui- Idl/. de lal//lodo que os conlelÍdos cOWlíliuos da ciência Ilão se /JresllllJa//l a
J~çlados Ullidos. d()//to/,(/lIdo-se e/ll 1971 e/ll His-
/x'l'SieltlelC'dI' IFiscolIsill. 110.1' Il/IIa (//lálLçe sociológica. Por seu ttlrno, os estudos :illtenllflL~tas-, rL1Jreseula-
tória e Suciologia da Ciêllcia lia Ulliuersidade da Pellsilvâlzia. Foi elltdo qlle dos grosso modo pela filosofia das ciências e a história.dc1sidl}jas eE!_'f()_!Yl~!"e-
seguiu fJom a Ullil'l!I'Sirlade de EdimIJlIlgo, lia Eçcócia, ollde ellsillOIl Hi,çtó- sentaflte mais emblemáticoJoitalvezAlexan.4.r../L&f2iré, ocupavam-se exclu-
ria da Ciêllcia lia Science Studies Unit até aos allOS 80. Dese/lvolveu aí ullla sivamente dos conteúdos cognitivos da ciência. A mudaflça cientifica
fél1i1 colabomção com o sociólogo Ba/'/y Banzes, expressa em várias publi- explicava-se apelando a uma espécie de força causal Intrínseca às ideias.
caçõeç COI!jl/lllas. I e il1l.'esfigoll a ciê/lcia /latllrallla Eçcócia dos séculos XVTlI Neste debate, a divisão ontoló8ica entre ciência e sociedade significava ao
e SI.\'. Foij)(,lrlllle esle o/?jecto de esl/ldo qlle S/.Japill../Órll/adu IIOSEstados Ulli- mesmo tempo um recurso explicativo e uma instituição cufa ruptura de/ron-
dos e Ire/llodo lia ellltlo callóllica sociologia da ciêllcia lIIel10llialla, prilllei- teiras contaminaria a illtegridade dos conteúdos cient((icos-daí aferoz des-
ro COl!/i'Ollt()// o prolJlellla da relaçâo elltre a ciêllcia e o cOlltexto social. confiança com que os dois lados do debate. olhavam a abordagem marxistq
Eçta e/'(/ justalllellte a qllestào./i/lldadom da allálise sociológica da ciê/l- dos anos 40 e 50, acusada de desvirtuar a ciência ao reduzir a explicação dos
cia desde os tmIJalbos semilwis de Rohl'l1 AlerIa 11 lias allos 30'. Pelo lIIellOS seus processos à acçãà de meros factores sociais. Quem se atrevesse a sugerir
desdC' a 1/ (;uerm Mllllditll (/11eq/IilIc'IlC'r />mlicallte qlle se pretel/(Ie,\:çe {~f/r- que o conhecimento cient((ico era passível de uma compreensão /JUramente
111(//'110('sllldo dtl cic~lIciaC' dlllllUdall(a ciC'III[(ica dC'I~'ricl (Ic:/lllira .1'1/(/fJosi- sociológica corria o risco de ver-se acusado de pro/anador de templos. fui l!!.fl.-
çrio '/ÚcC' ris dllas aIJo/'dtl,~ells (file dil'iditllll o g('lIero: o -~\·tenlalislllu- e o c isa/llellte cont r,!_!!!..'i..lI..
J/iuisào.ontológ Ü;a,-organizadora .dQS._J-'J!!!:!el~_exl!.~ca-
.itllC'/'IIt1lisll/o·'. /:'11/ tC'r/llus ,~L'rais. os /'('/)/"eselll(//IIC's da />rillleir(/abo/'dú.I{(!1I/ t ivo~_d_(~
;iiiierliãliç!!!Q~...!uifL-ext(ft'naJismo-,- que.-Shap.itlJ!,...os..n.tvWonistas dos
'pmO/l~II'(//11 C'.\fllicar ti lIrllurC'za e a /lII/{l(//lça da ch~lIcia tlllldil/(Io a ~/Úcto- (IIIOS 7o"~80 se tentaram afirmar ..Na década de 90, esta investida p~;''"é-
ce um elemellto central na idelltidade da nova sociologia do conhecimento
cient((ico. Tudo leva a crer que essesmodelos, apesar de criticados à exaus-
, Sle\,,'11 Shapil1 " lIarr)' lIarnes. ·1"'ad :111<1 Ilal1<l: Hhelmil';tI Ik"""'n's il1 llrilbh "edago-
gical Wrilil1g. 1770-IH~O,. O,\,I;)/'({N"/';"I/' o/I:,II/"(/Iiol/, 2 ( 1')7(,). 1'1'. 2.\ 1-2~-1; I\:II'I'YlIal'l1<'s e tào, cmltinuem a marcar muito do que se escreve ~ diz acerca da ciência, seja
SI"\'<'11Shapil1 .. \\Ih<'le b 111<'I'dge of Ohj,· •.•ivily? 11!<,,'el1";o a M:"'Y I)ougl:". /l1/1,fi"i/ AI,'(/- ua lillguagem comum, seja na pró/Jria produçào e.\jJecializada. Com/Jreende-
I/il/g.,j, 1I/-;/isl>'/",,,·I/(/{'/;,,./I><,
Ilisl"'.1' o/Sc;"I/C".7 ( 1977). 1'1'. h I-h(): Sle\'el1 Shapil1 e lIarry 11:11'- -se assim que Shapin, num ensaio de J 992,. continue reclamar a reaualiaçào
l1es. -Seiel1ce, Nalure :md COl1trol: Inlcrpreling Mcdwnics' Inslilules-. SociatSlIIdiesoISciel/ce,
7 (1977). rI'. 31-74. 13arry 13ames e Sleven Sharin. eds .. op. ci/ .• 1979, idem. -Oarwin and Social desse debate que muitos declararam como mortq'. E o certo é ql:le em A Revo-
Oarwinism: Pmil)' and Hislory- i/l Idem, ibidem, rp. 125-143. lução Científic,!, ~J.~0'!!J..
:f.f!EPLIJ.J!.9..ll.a
a apontar as baterias às tradicionais nar-
I Robert K. Merton, Scie/lce,TeclJl/otog)'alld Socie/yi/l Seve/l/ee/llb-CeI!lUl)'EI/glalld,
NO\'a (orque, Free Press, 1970 O' ed. 1938). Idem. Sociolog,!' q( Sciel/ce:77.Jeorelicat alld El1Ipi- I Cf. Thomas S. Kuhn. 7heSlruclure of Sciel//ificRevotuliollS,'Chicago. lIniversily of Chi-
/-;ca{"I/~'.</(~(//iol/s, Chicago. lInive,.silY or Chicago Press, 1973. eago Press, 2.' cd. 1970 (I.' eel. 1962).
, Sleven Shapin, -Discipline and 13ounding: The History anel Sociology or Science as Secn I Idem, .Understanding lhe Merton Thesis-, Isis, Ixxix (988), rr. 594-605.
Throu!<h lhe EXlern:llism-lnternalism Deh:llc-. /li.</OI.1'()(Sciel/ce,\'01. 30 (992), pp. 334-Y,9. , Idem, op. cit., 1992. I
/-
,
,.
XVI
A REVOLUÇÃO CIbNJiFICA.

rofi[1(lsinte/"l/{Jlistas soúre a //lI/dança cienf(/lca e â ÍllStiLuiçâo que apa/1a a


NOTA DE APRESENTAÇÃO

Este trabalho traduz na verdade uma importante reorientação na abor-


XVII

ciência (~asocied~de - desfafeita, com a consequêllcia, creio, de estilhaçar dagem dâ dicotomia entre o social e o científico - que, afinal, como
as noç6es fmdiciOllllis sohre o //I/((Iança ciel/f(/lca, ao /"(1)01;a p(//1ir dasprâ- demonstraram Shapin e Schaffer, constitui um dos pilares da modernidade.
ficas, a i/IU'11eza. cOlltillgência e beterogeneidade dos processos bistóricos. A separação ontológica entre a -natureza-.- cujo representante e porta-voz
I1lcOI!/or//lado 1.'0//1o del}(lfe tradicional. Sbapin cO//leçol/ por tentar fomamos como a ~ÇJêI]EJ(l:- e a ~sQciedacje-- representada pelo domínio
.!llzer a pollle entre os dois pÓlos da ql/estâo. 1hltava-se de procurar reunir da política- - transformou-se em questão de investigação. -A lilzguagem
IIIl/IllI //Ies/llo e\11licaçâo (afr(//'6', fmr exe//lplo, da prosopogl'l!/i'cl dos ciell- que transporta a política para fora da ciência.-, escreviam em desafio, -é
fistas)' r;!@.c:.!t.c.!:'·
~I!.!~'!..'!~os,
cogn itil 'os, e externos, sociais, el'ifando cair e//l aquilo que precisamos de compreender e explicar.~' Tomand9_9JJesacurdo
extre/llis//los. nu/auia, esfa e"pécie de cO/llfu'olllisso - a (Iue //Iais tarde cba- entre Hobhes e Boyle (autores que nos habituámos a amimar como funda-
/1101/ de f1osiÇ(/O-ec/c'cfica.-'- cOlltil/l/al'a a //IOI'er-se 11/1/11 (lI/adro trodicio- dores respectivamente ~a polUi~ÇJe da ciência m.Qd~[.1zas),Shapi/l e Sch~f-
lIal, om .!(Icada nos cienfisllÚ, ora proCUI'lllldo evidenciar Í/!/luências fer puseram em prática u que chamaram de arqueologia da separação entre
sociais extríllsecas /IOS conteúdos cognitivos, deixando intocável a separa- a ciência e a sociedade, detectando que fora es~q mesma divisão que os filó-
çilo elllre C/'ellça e est17l1l/ra social, T:sfl/dOlI deste modo as -al/dW/lcias S(lfas eX/JeiimenfaisASJ s_éclll(}~1(":.'!.§(!._esf.orçaram
por estabelecer como legíti-
(~~'ternas. da ciihlt:ia St'tecentista escucesa e, depois, CUIlIUJlJackelLzie, recul.:~ ma condição de possibilidade.pama_SLJapr4tjçaJ• De caiegorias e:\plicaFi-
reu à noçâo de ·i,lleresses sociais- para demO/lstrar como a aualiação de vas dadas por adquiridas, os dois pólos da divisão converteram-se em tópicos
factos I/(Ifrenologia Oifocel/tista tanto implicol/ -puros- interesses ciellt(j'icos. problemáticos, as categorias a explicar pelo estudo empírico da sua cunsti-
como i//teresses profissio//ais e de classe'. Nos a//os 80, sem perder de vi.s.tao tuição histórica. Nesta arqueologia, não se tratava de usar a -sociedade- e o
assalto âjiw.:tllra tradicio//al e se//sível ao dillamis//lu das co//trovérsias (na -social- como causa estável para explicar o que acontecia no dumínio da
altura um dos focos empíricos //Iais e.\1Jlorados),' Shapi/z virou-se para as -natureza-, movimerlto característico da postura sociológica corrente peran-
Orl:~(,/lSda d(>/lda //Ioder/la /lO s<'<.:lI/o.\"\'11,
fra!Jalb(/}ulu e//lj)(/rticular soúre te o c071hecimerllu natural. Colucagas. no seu contexto histórico de. emer-
o e.'1Jeri/l/e/ltalisll/o de Nohert 1J(~)llee da N(~J'alSaciety (!j'LU/ldoll'. Resllltou gência, essas entidades surgiam como. efeitos históricos irlcertos e contin-
dessas fle,w/"isas o ('-"te/lso eSflldo, já clá":"ico, sohre a cO/ltro!:~!..·siaSeisce//- gentes de umprocesso colectivo .de. discussão_e ..negociação ..entr.e..Qs.a.ctQres.
tista el1tre 1Z,o/l/as Habhes e .NaIJe~·tBoyle, Leviathan and the Àir-Pump, pro- Para Shapin, esta arqueologia das categorias, movimento de reflexividade
dllzido e//l co/alm/'llçâo com 5ill/o// Sch(?/rel". suportado num historicismo moderCfdo, difine, na verdade, um programa
altenlativo para os estudos sociais da ciência erifrentarem as ontologias
I ~tc\'l'n Sh:lpin c A. Th:lckr:I)", .Prn~opro~r:lphy as :I HeSl':lrd1 '1'001 in lhe Ilistory of Scil'n· modernas".
n': Th,' IIrilish Sci"l1lilk COl\\l\\ul1ily I 700· 19()0·, /liSI(J/.1'(~(Sde/lce, XII t 197·1), 1'1'. 1·2H.
Mais do que na enunciação de princípios foi com o próprio exercício de
, Sle\"<'11 Shapil1. il,it/ell/, 1'1'. j·12-.~·j~.
• Idel\\. :rI\<' Audkl1'·" for Sdel1e,' il1 Eighl""l1lh·Ceillllt)' Edinhurgh •. IIisIOI.1'(!(Sde/lce, XII análise da controvérsia que Shapin e Schaffer interpelaram a tradicional
t 197·0, 1'1'. 9';·121: idel\\ .. Phrl'nological Knowledge and lhe Sodal Struclure 01' Early Ninell'enth- imunidade sociológica. usufruída pelos conteúdos cognitivos da ciência.
C"I1Il")' Edil1hurgh •. 11//l1i"S '!( Sd"/ln', .12 ti 'n,;), 1'1'. 219·2·1.\ idem, ·1 fOl\\o Phrc'l1ologicus:
Aliás, Shapin evitou a formalizaçãC? como estratégia para afirmar a nova
AllIh,..,pological Persp,'.-ti\'es 011 AI1 Ilislorieal P.-oblem·, i/l lia •.•)' liames e Sleven Shapin, eds.,
op. cil., 1'1'. 41-7.~; idem, op. cit .. 1<)92, r. 34. Cf. Donakl1\·lackenzie, 0p. cit., 198\. sociologia do conhecimento científico. Em vez de, por exemplo, escrever tra-
• St"V"11 Shapin. ·111<' Polilics of Ohser.'ation: Cerehral Al1atomy :I\\d Sociallnt,'r,'sts il1 che tados teóricos e metodológicos à maneira dos epistemólogos tradicionais,
Edil1l1urgh Phrel1ology Dispules·, i/l It Wallis, ed., 0/1 Ibe Mar~i/ls ,,{Seie/lee: '/11(' Sudal Cems-
ImCli,)// (~(Neiecle" K/lolI'le(~~e, Keele, lIniversily 01' Keele, Sodologicol Review Monowarh 27, , Steven Shapin e Simon Sch:lffer, ibielem, p. 342.
f'n'), idel\\, -01' (;,)(b :lI1d Kings: Nalural Philosophy :lI1d Policies il1 lhe I.l'ihniz-Clarke Dispu, l Stcven ol'. c/I., 1992, pp. 353-354. Idem, vl'. cit., 19H5a. Cf. a proposta
Shapin, de lIar'1'
tes·, Isis, 72 t 19HI), 1'1'. IH7-215. Barnes, Scienlific Knowteelge and Sociotogicat 1beory, Londres, Routledge & Kegan Paul, 1974.
• Idem, ·Pump :lI1d Circul\\stance: Robert lIoyle's Lilera'1' Technology., Social SllIdies ~( .' Steven Shapin, op. cit., 1<)92. Allernativo também ao outro importanle projecto de refor-
Sd<'llce, 14 (l9H·I), 1'1'. ·181-';20. ma dos eSludos da ciência, fundado na ideia de ·actor-rede· (aclor-neIWOrk) e desenvolvido
• Ste\'el1 Shapin e Sil\\on Schaffer, Ü'/'ialb(/ll (/I1l/lbe Air-l'/llI/p: HublJes, JJ(~l'le,lIIleI Ibe em especial por Michcl Callon, Bruno Latour eJohn Law. Uma fonte sintética desta teoria, bem
E\1><'/ÚI/"/llflll·i(e, Princeton, PrilK"lon Universily Press. 198')11. Cf. a niticl de IIruno Latour a
como um Útil guia bibliogrMico nos novos estudos da ciência
e da tecnologia, é Bruno Lalqur,
l'SllO tr:Ih;,lho; Bruno 1.:11 ou 1", NOlls 11lUtOIlS j{lIlltlis (;/(; IlIod('rll('s: ('ssai d'alllbrotx11o,l!ie _'-;"'(;1";- lLI Science ell acliOlI: illlrodtlclion à ta soci%gie eles,Kiences, Paris, Polio, 1<)95 (I.' ed. 19H9;
<1'''', 1':1ris, b 1)lo"''''''l'I1'', 11)97 (\' ed. 11)9\). I' ed. inglesa 1987).
,/
\.TIII A NEVOIUÇÀO CIENJiFICA NOTA DE APREShNTAÇÃO XIX

p,.,><.:l/rol/ il/(rodl/Úr li I,ossillilid(/de d(/ /lll/dll/l((/ (/(r(//'('s do /IIodo COl/lIJ li/limos alltores realizaram sobretudo eSllldos etl1ográficos ()/l -microssociu/6-
ft/:::.ia sOt"Ío/o,l!i(/. /'r(/(h'ol/ ('I/(Úo 1//11(/ espà'h' de (,/lis«'/llOlo,l!ÍI/ (,/IIpírica, gicos· em ce1lário /aboratorial, assim proporciol1a1ldo a Sbapil1 um importal1-
il/l~'s(i.l!(/lIdo (,/,is(,dios his(I,ricos (','j)('c(li"cos CO/ll o (/lloio d(' 1//11 I(//:l!o co//- te rr?/X?rtóriopara e1lterlder a e.\perimel1tação e a cOI1S(nlçào de factos como
jl///(O d('})/I(l's: -Ial/llc'lhor 1/l1;,/('i/'{/ de ('s(allel('cer (/ Ilossillilid(/d(' d('faz('r prática local e corltingente,. tão trivial como qualquer outra prática quotidia-
1/111(/cois(/ (;'/flz('//do-a-', lia, Sbapin rem i1lSistindo assim na i!!'J!.O..,!_ànc!f! '!<!!:.!L~!ê?lcia._comouma
!!'!.. __
Assi/ll, ('/lI I.eviathan and lhe Air-pul11p, Shalli// (' Sch(![l'('r e/llpr('el/(Ic'- prática produzida por actores bUlnan~-'!!.?~.o~ity'ações bistóricas esp(!cífi.·~as.
I~/I/I a /I//ldll/ll'a 1101,.1r a '/;I/It"Ío//ar 11(/(///lÍlis(' do dell(/(' ('//(r(' !!olll)('s (' ReferiJ1Icia imporlatlle é também a antropologia tOllt COllrt, que combi-
no.!'''' (/ Sl/(/ cdl'lIn' 1)/"0luIsi(Úo: -so/l/()(,s 11(/10l)/"oll"'/llas d(' co///wt"Í/II('I/(o //(/ com uma abordagem bistó/ica, assim como a teoria social do cOllbeci-
,\'tio so/l/(I)es l)t/lO l)/"olllc'/IIas d(' ord(,/II social·. Fiz('n///I~//o de /(,r/l/(/ si- mel//o de Witlgenstein, então sujeita a escnllÍ/lio pelos I/OVOSestudiosos da
/IIc'tric(/: "'n/lll o e,\jwri/l/('//(alis/llo d(' NI~)'''' CO//lOIlro,l!r(///la social e o Le- ciêl/cia'. Foi com base na rlOção wi//genstei/liana de que o acto discursivo, o
vi:ItIÚln d(' !!o/)/)('s CO/110prog/{I/)/a epis(e/llo/!,p,icu, cOI//'er(el/do-os a a/llbos -jogo da /ir/guagem., é uma actividade prática ou uma forma de vida· que
e/ll IoI'I/wS si/lll/I(al/ea/l/el/te políticas, sociais e ciel/(((icas. DemOI/S(raram Sbapin e ScbaJJer parliram para dissolver a distil/ção ol/tológica entre, por
a,':~;/I/ COIlIO os dnis lados da COlltro/'('rsia al)/"(,SI'//({//'(1/11dilc'r('//('s soll/(fit.:s 11/1/ lado, COII/exto eformas sociais e, I,or outro, discurso e ccJl/(elídos COR'li-
1//lIl/lfO Ú /IIe/hur /I/(I//L'i/'{/ de prudl/zir e garal/(ir I/m cUI//leci/lle//(u 1/(/(1/- livos. Desde a década de 70 que, apesar de ligado ãs categorias lIIertOl/ia-
__ - • __ •• u _ - uu __ •• _

ral, so/l/çoes essas Ifl/e era/l/ ao /l/es/l/o te/l/po, e se/ll dis(il1ção, formas de nas, procurava uma -epistemologia social~ que resolvesse o .liiil6mio
reso!tv.'r os IJroble/llas de orde/l/ polí(ica e relig;osa uividos pela sociedade -.- .----
sociallcientl.ffiõ~E;iq;;~~to se a~corava mais aftmdo em Wi//ge1lStein, Sba-
il/glesa do s('cl//o .\"\'/1.(!!"ec(ad(/ pel(/ crise d(/ Res((/I/raçâo. Dera/ll ta/lllJé/ll pin SOCOtTeu-setambém das perspectivas aI/tropológicas, em especial do tra-
a(el/çÚo (/OS mjJec(os (ecl1olÓgicos (orl/alldo-us cOl/s(i(l/(ivos dos cOI/(elí.dos balbo de Mary Douglas sobre a i1lStituição das I/Oções de pureza e poluição,
cogl/i(il'os. Acel1(//'(//II (/ssi/ll I/ol/(r(/ dico(o/l/i(/ (radiciol/(/I (ciêl/cio/(ccl1olo- bem como as suas il/vestigaçàes sobre o isomorjzsmo el/tre I/a(ural e social
o /IIodo CO/110('lO feito o cOI//lecill/('l/-
,l!ia >-': S/>tl/li// (' Scht!l1c'r 1/('('1/(1/(//'11/11 I/as cosmolugias das culturas priJ-letradas'. It/vestiu, etltão, mO/ia atlá/ise do
(o, t"ol!I<'ri//do lI/lia ("('//(ralid(/dl' pi()//eira ri actividade dos di.'jJ(Jsifi/~IS cOllbecimetllo tal como emerge r/os seus cor/textos de uso, apoiado /l/lllla
II/a(('ri(/is, CO/110a lIo/lll)(/ dI' ar de nOJ'le, //a co//s(i(//içÚo e e.\p(//Isâu, se/ll- perspectiva simétrica. Este ponto de vista sugeriu-lbe uma descrição do
I".e l".oll"'II/(í(icas. do cOl/heci/llel/(o /IIeca//icis(a. cOllbecimento cient(fico e ·raciol/al. como se tratasse de qualquer cosmolo-
.1I(/s o IlIo,.i/llI'//(o de S/>alli// //Úo se cOllllln'e//d(' al/('//as ("(11110 re(/cçÚo gia -i/Taciotlal· tlão ocidental, tia qual as bomologias entre os domil/ios do
//('!-!.(/(il'cla., c"'''a(' (/{/dit"Ío//al. I:'//('('('sslírio (Io:::.('rl,(/r(/ all//i o co//t('.\'(o posi- I/atllral e do social I/ão se apresel1tavam travadas pelas frol/teiras el1tre
(in, 'lI/c' /IIo"ili::<I. Sc'lIl COIII isso Ilr('(e//d('I: cI'ide//(('/l/('//(('. ('s(all('lecerlil/ha- IIll(ureza e sociedade próP,ias à cull/lra moderl/a do Ocidellte. Foi também
eS,l!o(ar a rl'd(' de i//(e/7'e//ie//(es //a sI/a prlÍ(ic(/ d(' co///leci/l/('I/(o .
,1!.('//s 01/ tel/tando vestir a pele do viajante em tetTas estral/bas que Sbapil1 e ScbaJJer
.1It1/ÚI/II d('sd(' IO,l!opr('s('//ç(/ o i/llpl/Iso re/a(il'is(a d(' '/holl/(/s 1\'1//1//' I/a /lis- se aVel/t~lramm I/a sua aproximação ao familiar programa e.xpe/imel/tal de
(IÍria e socio/o,Q.ia da ciê/lci(/ e os desellL'ului/llcl/(os dus parceiros de Sbapi// Boyle, hoje identificado com a ciêl/cia modeqla. A sel/sibi/idade de -estral/-
//a ('llIpr('sa n'I'isiOl/is((/- alc'/II de na/"l/{'s, Mackel/zie, f)(I/JÜll3lo()/'e /lmlrell' geiro. é completada pela (entativa de produzir um estudo -descritivo e expli-
PicL'eril/g, sel/s cO/llpal/heiros em Edimburgo, e do próprio Simol1 ScbaJJer. cativo· dos seus objectos, despido de juízos -avalialivos-'. Este esforço para
a{Jo//(elll-Se (a/ll/Jé/ll !·!a,.,y M. Col!il/S, 7i·el.'(w.f. Pil/t.:/I, I3rl/l/o !.a (011/: el/(re
, I):lvid Blom, \rIiIIgensleill: A Sfxia( 7beory of K'lOw(edge, Inndres, Macmillan, 19H3. lI:1rry
ol//ros. F..\H'/lçÚo/Í'i(a a !.a/ol/I; cl/ia oln'a se espraia 1'111 1'lÍrios UI/II/XIS, estes liames e Sleven Shapin, 01'. eil., pp. 10-11. Sleven Sh:lpin e Simon Schaffer, ihidem. Hefira-se
lambém o uso de Witlgenslcin por Kuhn: Thomas S. Kuhn, o/,. eU., 1970, esp. pp. 43-51.
, ~lt'n'l1 ~h;'I)il1 t' lIarry lI:trnt's, .ll1lrodIKt;OI1-, i// Idem, nls., "/>. cÍ/ .. p. 11; S'en~11 Sh:l- I Sleven Shapin, 01'. eU., 1979. Cf. Mary Douglas, Naiura( Symhots: Hxp(nralions i/I Cos-
rin e ~im()n ~'h:lffcr, np. di .. pp. 14-15. mo(ogy, Londres, Barrie & Rockliff, Cressel Press, 1970; idem, Impficil MeallillRs: Bsays ill
, E~:I ~<'I):lr:1(:10e~l:lv:l 11:1mir:l do~ novos e~llIdos d:l Iccnolo~i:l. CL, ror exemplo. Trc- Alllbropo(ogy, Londres, Roulledge & Kegan Paul, 1975; idem, Purily alld Dallger.' ali Alla(ysis
n)f .'- l'",dl t' \X'ie!>t: E. Bijkt'r, ·"he Sod:ll COl1slrllUiol1 of !':lcIS :ll1d Ancf:lt1S: or lIo\\' lhe ofColleepls of 1'0fllllioll alld Taboo, Londres, Routledge & Keg:ln Paul, 197H. Émile Durkheim
~ •.i""1):Y nf ~.:it'IKt' :ll1d Iht' ~"ciolo~y "f Tt'dmolo~y Mi~h( 1k'l1dkl E:tch Other·, Socia( SIII- e Marcel M:llISS, ·De quelques formes primilives de classificalion: contribulion á I'élude des
dle'" "rSoc'II'c'. 1·1. .~ (I')H·O, pp. 5<)<)-44.~. réprcscnl:ltions colleclives., ill Marcel Mauss, Oellvres. f{(préselllalirms euflee/ive.<el diver.;ilé
, ",,'m:ls ~. 1\.11 ItI1, il>i""III; itkm, '(lI(' h~"'//Ii"( '(('lIsi,,//: Sd<,cl<,"SII,"i"s i// Sd('lIlific rra- des civiIL<alio,/S, Paris, Minuil, vol. 2, 1974 (I.' ed. 19(3), pp. 13-R9.
r!ilkUltlll'/ c·"tI".~c'. Chic:lgo. \ 1nin.'1'!'\il)' of Chic.:ago Pres,•.•. t9/7. • Sleven Shapin e Simon Schaffer, n/,. eil., pp. 12·13.
/
xx NOTA DE APRESENTAÇÃO XXI
A REVOLUÇÃ O CIENTÍFICA

tonlar estrallbo ° qlle éfamiliar el/colltrava eco lia IlOva sociologia, qlle se lat; Shapin tenta problematizar essa tese virando-a par.a 9Lcódigos de con-
oriellfOl'a j>ara lima /"('Iatil'o imj>arcialidade e ag 11 ost icism o face aos o/~jec- duta e moral dos gentlemen ingleses do século XVII. Foi deste questionamen-
tos de estlldo e aos sells liSOSsociais, atitllde qlle j>oderá ser em parte inter- to que llasceu o volume A Social History af Truth, obra cuja recepção críti-
prC'tado como reacçâo ao comj>rometimC'lIto dos sociólogos da ciência dos ca, em especial dos historiadores, levou Shapin a responder em sua defesa'.
mlOs 50 e 60 com o plolleamellto ciellt[/ico C' as sllas cOllseqllêllcias sociais. Após a publicação de A Revolução Científica, editou, em parceria com o his~
Aillda qlle Sbaj>ill se mostre agora mais céptico qllallto ti possihilidade efec- toriador C. Lawrence, um conjunto de ensaios históricos sobre as principais
til'a de atillp,ir cssa IIclltralidade c /'lIre:zx/ acad('lIIica (C1~joCIIStO,recollbe- figllras dessa -revolução., apresentando-as num de.~fi/e nada convencional
('1', seri(/ ° I~"olamcllto do SOci()fO,WIda ci<1l1cia./f/u' ao resto do /l1I1//do)', (' /Jara quem imagirle os cielltistas como pllroS ascetas intelectllai.~. Sha!Jin e
il/(:~fÍ/d a i/ll/)()/'fiillcia dcstc dll/llo /losiciolla/l/('lIto, sillldrico e im//{/rcial, Lawrence propõem aqui, uma vez mais usando de uma re.flexividade histó-
110 sell tmllalho c lia (!!,rmaçâo dos 1I0/'OScstlldos da ciéllcia. !Jastará r~!i!- rica, qlle os prodlltos do illtelectofazemparte dos corpos humanos, das pai-
rir o emMema lIIais radical do 1101'0relatiuismo, precisall/ellfe o -strong pro- xões, dos modos de vida, da humanidade mais quotidiana e malerial dos
gramme- avançado 110Sat10S 70 por David BloO/; argumentando que o actores. Shapin c.()1'/ti"!!!:C}JJ:..1l9Lem_questàoas imagens tradicionais e fat~li.:
socirí/oW' do cOllbecimellto ciellt[/ico de/'ia agir deformo simétrica e impar- liares da ciência. Mas o seu assalto nunca terá sucesso se não/ar capaz de
ci:lI, il/(!c'/Jelldelltemellte
das /'erdades e da raciollalidade qlle professava~. seduzir o leitor a embarcar l/O desafio. Talvez seja este o cOllvite de A Hevo-
Estes cOlltextos permanecem importantes lias trahalbos mais recentes de lução Científica.
Stel'(!I1 Sbapin desdefillais da década de 80. Continllatldo a explorarE.s O/i:.
gel/s da ciêllcia II/odema a partir do programa experimentalista de Boyle, Q
trabalho de Shapin I'evela um aprofillldar do fi/ão abel10 com Leviathan and
the Air-Pul1lp. Malltém-se interessado em desmontar bistoricamellle as cate-
,~orias (1111'li/arcam o /llOdo como hoje elltelldell/os a ciêllcia 11IOderlla. Nes-
te selltido, ('('m-se illteressalldo, por/I/II lado, em situar o conhecimento .e a
('.\l,e/'Ímelltaçâo 110 espaço, ao il/t'('st(l!,ar os IlIgares seiscelltistlls de prodll-
çâo dosfactos e.\lJeri/lzellt;~is:' Por Olltro, 1111/1/ reellCOI/tro C/1tiCOCO!/1o tra-
diciollal.fêJco socioló,l!,iCO lias' -cielltistas-. tem investido, I}o modo como se
cOI/stitllill e 1c,l!,itill/oll a cO/lIII//idade ciellt[/Ic(/ 110 s('cll/o .\'\'11e, e~;'-i;articII-
I;/~: a id('lItidade dofihis(!!i, e.'1Jt>rill/('lItal /llOderllo a /)(/rtir da /(0)'(/1 Society
(I( Lrl/ldoll'. I~'dcstc' II/odo (I"c' Sha/lill /I/'OClI/Y/ rc'/'cr as tcscs clássicas de
W(>/Jt>r e MertOl/ (I//(' ide~/t(!lcat'(//I/ o /J//rit(/lIisll/o COII/Oli j>rillcij>(/ljiJ//te de
1':11 !c:~itimidade d(/ /I/'titia/ ciellt[/Ic(/ mode/'lw. J)o sell pOllto de /lista !JarticlI-

, Sle"en Shapin. o/,. cit .• 1<)<)2,1'1'. j57-j60. Cr. idem, ·Social Uses 01' Science·. 11/ G.S.
HOllsseall e R. Poner, eds .. 71le Fermel// of Kl/olI'ledge: S/I/dles 11/ Ibe lils/oriograpby (!r Eilgh-
"~'tI/"-C('IIII/1.l' Sci,·tlC<'.C:llnhrid~L'. C:ll11hl'id~e {lnivL'I"silyPl'ess. 1<)HO.1'1'. <).~·1:W.
, \)avid \llo()l'. KtlOII''''I(~'' (/tI~( S()cit/llmt/.~'·'.l'. IJ1I\dl'L's, HOllt1edge &. Keg:1Il Palll. !'J7(,.
, Sleven Shapin. ·The Ilollse 01' Expel'imenl in Sevenleenth-Cenl\IIY Engl:lI1d•• Isls. 79
(198H), 1'1'.. ~7j-4(H. (LiL'm.• The Miml is IIs Own Place': Sdence :lIld Solitllde in Seventeenlh- , (tlem, A Social liL'IO/)' of Tru/h. Ci/Jili/y alld Seiellee il/ Se/X!n/eenlh-Crm/ury /;'ngland,
Centllty England .. Sc;el/ce;1/ C()//Iexl, 4, 1(990), pp. 191-218. Adi Ophil' e Stevcn Shapin, .The Chicago, University 01' Chicago Press, 1994; Mordechai Feingold •• When Facts Matler. (Recen-
Plaee 01' Knowledge: A Methodologieal SlIl'Vey·, Sciellee ;11 COII/ex/, 4. 1 (991), pp. 3-21. são aS. Shapin, A Sociat HIs/ory of1'ru/hJ, Isls, 87 (996), pp. 131-139; idem •• Reply to S. Sha-
II • Steven Shapin. ·'A Seholar and a Gentleman': The Problematie Identity 01' the Scientifie pin., Isls, 87, 4 09%), pp. 684-687; Steven Shapin, ·[LetterJ lO lhe Editor., Isls, 87, 4 (996).
Practitioner in E;1r1yModern England., liislOI)' of Seiel/ee, vol. 22 (991), pp. 279-327; idem, pp. 681-684; J.L. Heilbron, ·[Reeensão ai Sleven Shapin, A Soclat Hlslory of 1'ru/lJ..,A/mats of
.Personal Developmcnt and (ntcllcet\lal Biogr;1phy: The Case 01' Roben 13oyle., BrilL,b jOl/r/wl Sele/Ice, vol. 52, 5 (995), pp. 521-523 .
./i)/'I"" l/islOl)' 1!{ScI"l/c". 2(, ( 1')<)3),pp. 335-.~45: Cf. idem .. Following Scientists Arollnd,. Social , Chrislopher Lawrenec c Sleven Shapin, cds., Selenee IlIeama/e: HIs/orieal Emhndlmen/s
I:
S/II/lies (!{ Sci"tlc". WII (1')88). pp. 533-550. of Na/ural Kllowledge. Chicago, Universily 01' Chicago l'ress, 1998.

Você também pode gostar