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Resumo: O cinema, como bem coloca o teórico Christian Metz (1980), é uma
“linguagem sem língua”, que fala por si só, sendo analisado pelo seu conteúdo e por
sua produção. O filme torna-se então um documento que pode ser utilizado pelos
historiadores como uma importante ferramenta na disseminação dos conhecimentos
históricos, e para análise da sociedade que o assiste, como propomos neste trabalho,
nos utilizando do filme Titanic (1997) de James Cameron. O que pretendemos é fazer
uma análise da narrativa do filme, que será nossa fonte, para podermos compreender
como se dão as relações entre a escrita da história e a sua narração fílmica da
perspectiva do diretor, de sua visão do fato. O que pretendia o autor com a produção
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pode nos levar a analisar o resultado obtido por ele de maneira mais consistente,
afinal, pensaremos os limites do que é proposto e pensando pelo diretor e o que de
fato acontece. Levar em consideração o no público alvo do filme, a indústria
cinematográfica da época e a repercussão do filme, nos permite refletir sobre as
intenções de Cameron, e consequentemente, compreender como o filme pode ter dado
uma ótica diferente do fato histórico que não havia sido alcançada por nenhuma
produção feita anteriormente. Ferro (1992) confirma o filme como um documento e é
assim que o analisaremos, nos utilizando de autores como Cristiane Nova e Paul
Veyne. Pretendemos pensar o cinema como meio de se construir o conhecimento
histórico, pensando a sua análise com um caráter reflexivo e crítico.
Cristiane Nova
O filme Titanic será no presente artigo analisado pelo que tem a nos 6
dizer sobre a indústria cinematográfica de 1997, que o produziu com
determinados fins, sobre o público que não só o recebeu, mas o aclamou
como sucesso e sobre a perspectiva dada ao fato histórico pelo diretor,
nos possibilitando pensar a influencia do cinema na sociedade e para a
História. Propomos ainda buscar compreender a escrita da história
realizada pelo diretor, que enxergaremos em certa medida como um
historiador, objetivando refletir sobre as maneiras como ele articula o
fato histórico com a ficção e de que maneira apresenta uma trama
conseguiu reviver o naufrágio e fazê-lo conhecido e lembrado
mundialmente.
Titanic, o plano de fundo do filme
A jovem que já tinha seu futuro escrito pelas mãos de sua mãe,
agora se via possibilitada de alcançar objetivos outrora inalcançáveis. A
força de um amor comove mais que a morte. Aliados, o amor que rompe
limites, com o poder devastador da morte, temos uma das chaves do
sucesso do filme, o elemento que comove e faz o espectador vibrar, o
sentimento.
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“Para experimentar plenamente a tragédia do Titanic,
para ser capaz de compreendê-la no aspecto humano,
parecia necessário criar uma tocha emocional para
guiar o publico, apresentando dois protagonistas que o
conquistassem, e depois levá-los ao inferno”. (MARSH,
1997, p. 7)
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Disponível em
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=TAuzzIAYI7k
primeiro objetivo, como diretor de cinema, fosse entreter o publico”
(MARSH, 1997, p. 13). O cuidado com os detalhes, que vão das roupas até
as lareiras, tornam o filme ainda mais próximo do Titanic real. Cameron
utilizou fotos do irmão gêmeo do Titanic, o Olympic, para reproduzir a
escadaria, a academia, e até mesmo os turcos usados para baixar os botes
salva-vidas. Foram utilizados carros como os que estavam no Titanic, e se
dá destaque para o Renault de passeio de Willian Carter, que se tornou
cenário da cena de amor entre Rose e Jack, cujo interior foi reproduzido
baseado nas imagens conseguidas por Cameron no fundo do oceano e por
documentos históricos. Atenta-se ainda para o cuidado com a reprodução
das acomodações, dos espaços, da decoração. Mas nada disso seria tão
real se os atores não entendessem o comportamento que cada pessoa
tinha que ter dentro de sua classe social. Pensando nisso, os atores
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tiveram aulas de etiqueta, para saber como andar, falar e portar-se. Tudo
devia estar impecável para parecer o mais natural possível. Os penteados
e as roupas foram inspiradas em fotografias de pessoas da época. Até
mesmo a comida servida no jantar tinha de ser impecável. Os atores
comeram caviar e os pratos foram servidos com tanto requinte como
acontecia no Titanic.
Nesse momento do filme, Rose entra em cena e faz com que ele e
todo o publico perceba que há uma história por detrás disso, e é essa
história que, passa a ser explorada. O filme é contado por ela, que
diferente de Brock Lovett vê significado ímpar nos destroços do navio.
Rose faz-nos pensar sobre a possibilidade de resgatar uma memória.
Para HALBWACHS (2004, p.75), “a lembrança é em larga medida
uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do
presente, e além disso, preparada por outras reconstruções feitas em
épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem
alterada. Nesse sentido, podemos criar representações do passado
baseados na memória individual de outros e na memória histórica que se
tem do fato que para nós é desconhecido. Surge então uma nova narrativa
de um acontecimento marcante. O filme Titanic (1997), consegue fazer a
lembrança do naufrágio permanecer na memória histórica, tornando o
fato conhecido a pessoas que não o presenciaram.
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