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8021 Cultura Regional e o Ensino Da Arte Caminho para Uma Pratica Intercultural Estudo de Caso e M Sulivan Silvestre Oliveira Tumune Kalivono Crianca Do Futuro
8021 Cultura Regional e o Ensino Da Arte Caminho para Uma Pratica Intercultural Estudo de Caso e M Sulivan Silvestre Oliveira Tumune Kalivono Crianca Do Futuro
NILVA HEIMBACH
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________
Prof. Dr. Antonio Hilário Urquiza
_________________________________________
Prof. Dr. José Licínio Backes
_________________________________________
Prof. Drª Adir Casaro Nascimento
DEDICATÓRIA
Após esta longa jornada, dedico este trabalho aos meus amores: Gabriela, Renato e
AGRADECIMENTOS
RESUMO
A investigação Cultura Regional e o Ensino da Arte: Caminho Para uma Prática
Intercultural? Estudo de Caso: Escola Municipal Sulivan Silvestre de Oliveira - Tumune
Kalivono “Criança do Futuro” faz parte do Programa de Mestrado em Educação, na Linha de
pesquisa “Diversidade Cultural e Educação Indígena”. Nesta pesquisa, discute-se o ensino da
arte e as relações estabelecidas com a cultura regional, com ênfase na cultura regional
indígena e as relações de poder que permeiam o currículo escolar, com diálogo sobre
construção da identidade e práticas escolares interculturais. Indaga-se sobre o que e como é
trabalhada a arte regional, especificamente da cultura indígena, no Ensino Fundamental, em
uma aldeia urbana de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, considerando as diversas
possibilidades culturais, como processo de negociação permanente, com fronteiras culturais
re-significadas, dialogando com as práticas educativas em um contexto plural, evidenciado
qual o olhar dado à arte e a cultura regional indígena e a construção da identidade e da
diferença. Como metodologia, o estudo parte de reflexões apoiados em conceitos sobre
identidade, fronteira, hibridização, interculturalidade, envolvendo o simbólico e as
representações, como forma de atribuição de sentido, ligadas a relações de poder. Neste
sentido foram privilegiados autores como Hall e Bhabha e no campo das artes Barbosa e
Martins. A investigação, situou o ensino da Arte no currículo escolar, refletindo sobre
conceitos de arte, cultura e as relações estabelecidas no ensino da arte, apresenta a Escola
Municipal Sulivan Silvestre de Oliveira - Tomune Kalivo-“ Criança do Futuro”, com
população híbrida, com forte traço de etnia terena, que busca uma educação intercultural. Na
pesquisa, observou-se que a preocupação com o ensino da arte e cultura regional indígena,
não é específica da disciplina de Artes, recebendo contribuições das disciplinas extra-
curriculares de Cultura e Língua Terena, solicitação da comunidade local e ministradas por
professores indígenas, como marca da diferença e da identidade escolar. A questão indígena,
referente à identidade, parece melhor contemplada teoricamente. O mesmo não acontece com
as manifestações artísticas dessa etnia no espaço escolar da cidade de Campo Grande,
tornando-se instigante a compreensão dos aspectos identitários, nas regiões de fronteiras
étnicas.O discurso leva a crer que determinados fatos e acontecimentos são naturais,
ocultando as construções sociais permeadas pelas relações de poder. A pesquisa instiga novas
investigações sobre o sujeito criança e suas relações interculturais.
HEIMBACH, Nilva. Regional Culture and Education of Art: Path to a intercultural practice?
Study of case: Sulivan Silvestre de Oliveira - Tumune Kalivono“Children of the Future”,
Campo Grande, 2008, 138 p. Paper (Master’s) Dom Bosco Catholic University – UCDB.
ABSTRACT
The investigation Regional Culture and Education of Art: Path to a intercultural practice?
Study of case: Sulivan Silvestre de Oliveira - Tumune Kalivono “Children of the Future”
Municipal School is part of the Program of Master in Education, in the line of research
“Cultural Diversity and Indigenous Education”. In this research, is discussed the teaching of
art and the relations established with the regional culture, with emphasis in the indigenous
regional culture and the power relationship that permeate the school curriculum, with dialogue
on identity’s construction and intercultural school practices. It is ask about what and how the
regional art is worked, specifically in indigenous culture, in Primary Education, in one urban
village of Campo Grande, Mato Grosso do Sul, considering the many cultural opportunities,
with a permanent negotiation process, with cultural borders re-significated, dialoguing with
educational practices in a pluralist context, evidencing which are the look given to art,
indigenous regional culture and construction of identity and of difference. As methodology,
the study begins on reflections supported in identity concepts, border, hybridization,
interculturally, involving the symbolic and the representations, as a way to attribution of
sense, connected to the power relations. In this sense were privileged authors as Hall and
Bhabha and in the arts field Barbosa and Martins. The investigation situate the teaching of Art
on school curriculum, reflecting about art concepts, culture and the relations established in
teaching of art, presents the Sulivan Silvestre de Oliveira - Tumune Kalivo “Children of the
Future” with hybrid population with a strong trace of terena ethnic, that searches and
intercultural education in that sometimes, the non sentence does not occurs, In the survey, was
observed that the concern about the teaching of art and indigenous regional culture is not
specific of discipline of Arts, receiving contributions of extra-curriculars disciplines of
Culture and Terena Language, solicitation of local community and ministered by indigenous
teachers, as a mark of difference and scholar identity. The indigenous question referring to
identity, looks better contemplated teorically than artistics manifestation of Terena ethnic, The
speech holds as true that determined facts and occurrence are naturals, hiding the socials
constructions permeated by power relations. The research investigate new investigations
about the child subject and its interculturals relations.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ANEXOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................ 13
INTERCULTURAIS....................................................................................................... 22
2.2 Arte e o seu ensino: de uma noção monocultural elitista para uma noção
intercultural........................................................................................................... 46
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 139
12
Emmanuel Marinho
13
INTRODUÇÃO
1
Joanita, o nome é espanhol, pelo fato de seu pai alemão ter saído de seu país em busca de uma nova vida, de
uma nova identidade. Os filhos, nascidos no Brasil, receberam nomes que revelavam a busca de uma nova
identidade.
15
2
C NE C – Oli v a En ci so . Ca mp a n h a Nac io na l d e Esco l as d e Co mu n id ad e. Lo cal iz ad a n a
Av e nid a Afo n so P en a, n a ár ea ce n tr a l d e C a mp o Gr a nd e, p r ó xi mo a e sp aço s c u lt ur ai s. E m
an e xo ( 1 ) , il u s tr açõ es d e ati v id ad es r ea li zad a s n a es co la .
3
Ar ti st a p lá st ica s ul - m ato - gr o s se n se, i nc e nt i v ad o r a n a fo r ma ção d e va lo r e s r e gio n ai s,
r esp o n sá v el p o r i n ú me r a s mo str a s d e Ar t e na cid ad e d e C a mp o G r a nd e .
4
Es c ul to r , r es id e n te e m C a mp o Gr a nd e , co m u m n ú mer o co n sid e r áv el d e tr ab a l ho s
esp a l had o s p e lo E stad o d e Mato Gr o sso d o S u l e p elo B r as il. Au to r d e mo n u me nto s e m
vár ia s c id ad es , co mo e x e mp lo Me mo r ial d o P ap a, Ca va le ir o s G ua ic ur u s.
16
5
A p e sq ui sa fo i o r ie nt ad a p elo p r o f es so r Dr . Cé s ar Au g u s to B e ne vid es , a ar g üi ção o co r r e u
e m 7 /j ul ho /2 0 0 1 , co mo me mb r o s d a b a n ca, o s p r o f es so r e s Dr ª N a n c i Le o n z o e o D r º C a r l o s
Frederico Corrêa da Costa.
6
Esta a ti v id ad e fo i r e g is tr ad a e m r e vi st as so b r e ed u caç ão d a P r ef ei t ur a M u n ic ip a l d e
Ca mp o Gr a nd e . E m a ne x o ( 2 ) , exe mp lo s d e at i vi d ad es r eal izad a s n a E.M . P r efe ito M a no el
I ná cio d e So uza.
17
aluno deveria participar com, pelo menos, uma produção, sendo esta, com a
que se sentiu mais identificado, durante o ano.
12
Gr i fo s d a a uto r a.
19
13
Nes te t r ab a l ho s er á ut il izad a a e xp r e s são Ar te / Ed u caç ão , p o i s s e g u nd o B ar b o sa ( 2 0 0 5 ) , a
q ue er a u ti li zad a a nte r io r me n te: Ar te -Ed u caç ão , fo i cr i tic ad a p ela li n g üi s ta p o r n ã o
tr ad uz ir o se n tid o d e p er te nc i me n to .
20
e de Hebert Read com a idéia de educação pela Arte. Bosi, com reflexões
sobre os conceitos utilizados em Artes, Mirian Celeste Martins com
orientações didáticas para o ensino da arte e Ivone Richter com propostas de
um ensino intercultural também foram evidenciados. Em relação à construção
identidade e suas implicações, serão retomados os conceitos discutidos por
Stuart Hall, Homi Bhabha, Carlos Skliar e Nestor Canclini.
Utilizei de imagens, fotografias de trabalhos de alunos e de artistas
diversos como parte constitutiva do trabalho, oportunizando ao leitor um
potencial diálogo com a temática pesquisada.
Investiguei uma escola que na sua composição de comunidade
escolar é composta por sujeitos que têm forte ligação com a identidade
regional; no caso, alunos indígenas. Realizei entrevistas com profissionais da
escola, observando quais artistas/manifestações regionais são trabalhados e
porque são discutidos.
seus aspectos históricos, com ênfase na cidade de Campo Grande, com seus
monumentos, seu patrimônio cultural. Apresento a comunidade e a Escola
Municipal Sulivan Silvestre de Oliveira - Tomune Kalivo, “Criança do
Futuro”, com população híbrida e com forte traço da etnia terena.
Enfim, no quarto capítulo, Arte regional indígena na Escola
Municipal Sulivan Silvestre Oliveira – Tumune Kalivo- “Criança do Futuro”,
procuro dialogar com a pesquisa criando redes de significações com os
conceitos apresentados. Busco debater os conceitos elucidados dentro do
âmbito escolar, produzindo uma discussão que oportunize conhecer o
panorama de atuação de professores no que se refere à cultura regional
indígena.
CAPÍTULO I
Na Serra da Bodoquena
“Cem léguas de pasto e mata”
Filho chora e não nasce
No ventre dos Kadiweus.
23
14
O gr up o AC AB A, ap r e se n ta - se co mo Ca n ta -Do r es d o P an ta n al e b us ca e m s u a s mú s ica s
ap r e se nt ar a sp e cto s d a r eg ião q u e são p o uco d i s cu tid as .
15
Gi l so n Mar t i n s ( 2 0 0 2 ) , e m B r e ve P ai ne l Et no - Hi stó r ico d e Ma to Gr o s so d o S ul ,
ap r e se nt a as d i f er e n ça s mar c a nt es d e c ad a u m a d as et n ia s ap r e se n tad as, co mo mo r ad ia,
ar te sa n ato , tr a ço s fí si co s, e n tr e o utr o s.
16
St u ar t Ha ll, e m “A I d en tid ad e c ult u r al na p ó s - mo d er n id ad e”, d i sc o r r e nd o so b r e o
na sc i me n to e mo r te d o s uj ei to mo d er no , ap r e se n ta o “h is tó r i co d o q ue v eio a ser co n he cid o
co mo a p o lí ti ca d e id e nt id ad e – u ma id e n tid ad e p ar a c ad a mo vi me n to ” ( Hal l, 2 0 0 4 , p .4 8 ) ,
i mp o r t a nte asp ecto a s er d i sc ut id o na co mp r e en são d a co n str uç ão d a id e n tid ad e e na
ed u caç ão i n ter c ult u r al .
24
escolar, é que se pretende dialogar, uma vez que, “os estudos culturais
envolvem o como e o porquê, esse trabalho é feito, não apenas seu conteúdo”
(NELSON, TREICHLER & GROSSBERG, 1995, p. 27).
Com o título “Tramas e Urdiduras: tecendo possibilidades
interculturais”, comparo as práticas escolares à experiência estética da
tapeçaria. Busco tecer uma composição das relações interculturais num
ambiente escolar, com suas tramas e urdiduras que se entrelaçam, definindo
largura, comprimento, pontos, cores, construindo figuras a serem apreciadas,
indagadas, utilizadas. Fios entrelaçados que formam conexões que podem ser
transformadas, em que o uso da diversidade de estilos e técnicas não a torna
simplesmente eclética, mas único, singular, com características próprias, com
estética ímpar. Um tecido em que seus pontos de interlocuções de
fios/conceitos podem ser desfeitos, ‘desconstruídos’ e reconstruídos, na
produção/pesquisa e reutilizados/re-significados em outra produção. Procuro
tecer/dialogar, além do visível, do explícito, a sua ‘forma’, discorrer com o
seu ‘conteúdo’, com o que a produção revela com conceitos que o discurso, as
relações de poder apresentam. Um fazer artístico com pontos de difícil
elaboração, com deslocamentos constantes, com riscos que instigam.
Comparo a pesquisa com a tecelagem hipotética às práticas
existentes na disciplina de Arte, no ambiente escolar, e como as relações
interculturais podem contribuir para a construção das identidades que
compõem o sujeito. Assim, busco sustentação teórica em Stuart Hall,
ancorado nos Estudos Culturais 17 e seu legado teórico, adverte:
Se vocês pesquisa m sobre a cultura, ou se tentaram fazer
pesquisa em outras ár eas verdadeiramente i mportantes e não
obstante, se encontraram reconduzidos à cultura, se acontecer
que a cultura lhes arrebate a al ma, têm de reconhecer que irão
sempre trabalhar numa área de deslocamento (HALL, 2003, p.
211).
17
E m, “D a d iá sp o r a : id e n tid ad es e med iaçõ es c u l tu r ai s” , o a uto r ap r es e nt a o h is tó r ico d o s
Est u d o s C u lt ur ai s co m s ua d i ver sid ad e d e tr aj etó r i a, t e ma s, e s t ud io so s e co n tr ib u içõ e s
p ar a p e sq u is as , e n fo q u e q u e “ap e sar d o p r o j eto d o s es t ud o s c u lt ur ai s s e car act er i zar p ela
ab er t ur a, não s e p o d e r e d uz ir a u m p l ur al i s mo si mp li st a” ( HALL, 2003, p 2 0 1 ) .
25
nela e conhecer outras culturas para dialogar com a sua, fazendo contrapontos
de entendimentos.
Penso no trabalho com a cultura como o encontro reflexivo entre as
produções artísticas e a identidade cultural do apreciador. Observa-se que as
diferenças entre povos e etnias, muitas vezes convivem em um mesmo espaço,
com divergências vedadas, ignoradas, com relações de poder estabelecidas
que buscam aviltamento de um segmento em detrimento de outro. No Estado
de Mato Grosso do Sul, são constantes em noticiários, reportagens sobre a
situação dos povos indígenas. São enfocados as disputas de terras,
mortalidade infantil, alcoolismo, suicídios e assassinatos, entre outros. Nesse
encontro de realidades o ensino da Arte oportuniza a mediação, com um fazer
reflexivo, consciente, sensível, gerando a leitura de mundo, abrindo diálogos
com a diferença e com a própria identidade em construção. Questões estas,
pertinentes aos conteúdos ministrados em Artes, rompem fronteiras
geográficas e culturais.
Acredito que “todas as formas de produção cultural precisam ser
estudadas em relação a outras práticas culturais e às estruturas sociais e
históricas” (NELSON, TREICHLER&GROSSBERG, 1995, p.13), envolvendo
o simbólico e as representações, como forma de atribuição de sentido. As
relações culturais supõem relações de poder, desigualdades, ambivalência.
Assim, a identidade e a diferença não podem ser discutidas fora dos sistemas
de significações, nos quais adquirem sentidos. A identidade e a diferença são
dependentes e inseparáveis e ambas produzidas historicamente. Para Hall,
“nossas identidades são, em resumo, formadas culturalmente” (2004, p.26).
Entendo a cultura como sistema de símbolos e significados. Para
Laraia (2003), a cultura expressa os modos de agir, interpretar, construir e
atribuir sentido de um grupo ou sociedade. Segundo seus estudos “... estudar
a cultura é, portanto, estudar um código de símbolos partilhados pelos
membros dessa cultura” (LARAIA, 2003, p. 63), decifrar códigos, fazendo-os
assumir sentido. É difícil para um sujeito conhecer todo o sistema cultural
apresentado, porém é necessário ter um mínimo de conhecimento para
estabelecer relacionamentos dentro desse sistema. Para Laraia, a importância
deste conhecimento efetivamente ocorre, pois “cada sistema cultural está
sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o
27
18
Aq ui se co n sid er a o co nc ei to e lab o r a d o p o r Se mp r i ni ( 1 9 9 9 ) , e m q ue n a mo no c u lt ur a é
va lo r i zad a a ver s ão d a c ul t ur a cr i s tã, b r a nca e e ur o p é ia.
19
So b r e a q u es tão d o cur r íc ulo , b u car e m S AC RI ST ÁN, J . Gi m eno . C ur r íc u lo e
Di ver s id ad e C ul t ur a l. I n: T er r i tó r io s Co nte s ta d o s. SI LV A, T o maz T a d eu . e MO REI R A,
An to n io F lá v io . ( o r g) . 3 . Ed . Ed ito r a Vo ze s, P et r ó p o li s, 1 9 9 9 .
28
ambiente escolar não é o único local em que se constrói esse processo, mas
local em que os saberes são explanados sistematicamente.
Costa (2002) chama a atenção para a concepção de poder e do
discurso de Foucault, que “produzem realidades” de acordo com os interesses
de seu portador. Quem tem o poder do discurso, de narrar pessoas e fatos, “é
quem dá as cartas da representação, ou seja, é quem estabelece o que tem ou
não estatuto de ‘realidade’” (p.141). Esses discursos podem estar voltados ao
interesse de alguns, de determinada cultura com ação discriminatória de
outras. O alerta se dá para o conjunto de discursos, de saberes presentes nos
currículos escolares em que, muitas vezes, são monoculturalistas,
eurocêntricas, desconsiderando a multiplicidade de linguagens e de textos
culturais.
Sobre a construção do discurso, Hall (1997) apresenta que o
interesse pela linguagem ampliou-se para a prática de representação, na
construção e circulação do significado, formando uma total relação entre a
linguagem e a ‘realidade’. Para o autor,
O significado sur ge não das coisas em si – a “realidade” - mas
a partir dos j ogos da linguagem e dos sistemas de
classificação nos quais as coisas são inseridas. O que
consideramos fatos naturais são, portanto, t ambém fenômenos
discursivos ( HALL,1997, p.29).
20
O s co n ce ito s d i ver sid a d e e d i fe r e nça são i mp o r ta nt es p ar a o e nt e nd i m en to d o s j o go s d e
s uj eiç ão d e d o mi n a ção . Di v er s id ad e r e f er e - s e ao r e co n hec i me n to d a p l ur a lid ad e d e
cu lt ur as p r e se nt es n as s o cied ad e s, co m s ua mu l tip l ic id ad e d e s i g ni f ica d o s, e d i f er e n ça é
ap r e se nt ad a co mo p r o ce s so d e co n st it u ição e hi er a r q ui zaç ão d e s se s s i g ni f ic ad o s mú l t ip lo s.
Est e s co nce ito s são e l uc id ad o s p o r Az ib eir o , e m Ed u ca çã o I n te rcu ltu ra l e Co mp lex id a d e:
d esa fio s e me rg en t e s a p a rt i r d a s re la çõ e s e m c o mu n id a d e s p o p u la r es ( 2 0 0 3 ) , a p ar t ir d e
se u s e s t ud o s e m Ho mi B hab h a.
21
Sk li ar ( 2 0 0 3 ) ap o nta p ar a a s e sp a ci al id ad e s, e sp aço us ad o p e lo s se r e s h u ma n o s , co mo
d is c us são d a al ter id ad e. Ev id e nc ia q ue há d i v e r so s es p aço s e q ue st io n a -o s q ua n to a s u a
d is tr ib u ição , ao s co n f l i to s ger ad o s , e q u a nt a à ne g ação d e s te s e ai n d a d e q ue fo r ma
co n v i ve m e se i g no r a m mu t u a me n te.
36
22
Azib eir o ( 2 0 0 3 ) ap r e se nt a nd o o s co nce ito s d e d i fer e n ça c u lt ur al e d i v er s id ad e c ul t ur al ,
co m e st ud o s e m B hab ha, ab o r d a o co n cei to d e e n tr e - l u gar e s, o nd e a fi r ma q u e “ao
en te nd e r mo s a s d i fer e nç as c u lt ur ai s n ão co mo d ad o s, ma s co mo r el ação d e f o r ç a
p er ma ne n te me n te r ei n st it uíd a, cr ia - se o e sp aç o , o en tr elu g a r, e m q ue p r e co nce ito s e
es ter eó tip o s p o d e m ser d es f eito s o u r e s si g n i fic a d o s” ( p .9 3 ) .
38
CAPÍULO II
KANANCIUÊ
Moacir Lacerda
E João Luiz Bittencourt
23
Os i n s ki ( 2 0 0 2 ) e m A r t e, h i stó ria e en s in o : u ma t ra je tó ria d e sc r ev e o p en sa me nto
ed u cat i vo e m ar te, d e sd e a s p r i me ir a s ma n i fe s ta çõ es a té a co n te mp o r a n eid ad e , d i alo g a nd o
co m ver te nt es a s q ua i s s ub j u gar a m o p ap e l d a ar te na so cied ad e e o utr as q u e a ap r e se n ta m
co mo el e me n to e s se nc ia l na fo r ma ção d o i nd i vid uo .
43
Uma lâmina num cabo é uma faca, mas é preciso que o cabo
sej a esculpido, que a lâmina sej a gravada, para que a faca, o
obj eto de um trabalho supérfluo, expri ma o amor e a atenção
que o homem consagrou a ela. Se a arte é associada a um
obj eto útil, ela é, nele, o supérfluo ( COLI, 1990, p.87).
FIGURA 1
Cerâmica terena.
Assim, a arte não é enfeite, pois ela não apresenta apenas o belo e
pode denunciar circunstâncias de maneira subjetiva, e não é dispensável e sim
essencial para o ser humano como meio de comunicação. Cognição, pois, não
se caracteriza por um fazer descomprometido, mas é carregado de sentido, de
intenções, trabalho humano laborioso, que enleva, transcende e apresenta a
realidade com uma outra perspectiva, com um mundo de possibilidades.
24
So b r e o ca mi n ho p er co r r id o d o e n si no d a Ar t e e r ef le xõ es, so b r e s u as p r áti ca s, co n s ul ta r
en tr e o u tr o s: B ARB O S A ( 2 0 0 2 ) ; ( 2 0 0 5 ) ; FE R R AZ ( 1 9 9 3 ) ; M ART I NS ( 1 9 9 8 ) ; OSI N SK I
( 2 0 0 2 ) ; RI CHT E R ( 2 0 0 5 ) .
46
2.2. Arte e seu ensino: de uma noção monocultural elitista para uma
noção intercultural
25
Gr i fo s d a a uto r a.
48
26
Barbosa (2002) em A Imagem no Ensino da Arte, conceitua situação política do ensino da arte no Brasil,
abordando a arte como fundamental importância na educação.
50
27
P r o fe s so r a d o Dep ar ta me n to d e Ed uca ção d a U ni ver s id ad e d e Sa nt a Cr uz d o S u l, R S
( U ni sc) , Me s tr e e m Ed u cação ( U n ica mp ) .
28
As co l eçõ e s p e sq u is a d as fo r a m: O s Gr a nd e s Ar ti s ta s, P i naco tec a Car as e li vr o s d a
co leç ão Me str e s d as Ar t es, fa ci l me n te e nco n tr a d as e m b a nc as d e r e v i st as, não p r ec i sa nd o
d e lo c al esp ec ial izad o p ar a aq u is iç ão .
51
29
Gr i fo s d o a u to r .
54
artística que se trabalha” (p.52). Que pesquise seus códigos de produção, sua
atuação humana, que valorize a diversidade cultural, sendo necessário
“conhecer seu modo específico de percepção, como se estabelece um contato
mais sensível, como são construídos os sentidos a partir das leituras, como
aprimorar o olhar, o ouvido, o corpo” (p. 52).
30
Ne ste P r o gr a ma , co m a i nte n ção d e c ap ac ita ção à d is tâ nc ia, a s co ncep çõ e s d a
Meto d o lo gi a T r ia n g ula r fo r a m fo r t e me n te d i sc u t id a s. Ana Mae B ar b o s a, e m “I nq uie ta çõ e s
e M ud a nç as no E n si no d a Ar t e” d o q u al fo i a o r ga n iz ad o r a e co n ta nd o co m a co lab o r aç ão
d e d i ver so s es t ud io so s d o en si no d a Ar t e, p ar ti u d e r e f le xõ es d o r e fe r id o P r o gr a ma : U m
Sal to p ar a o F u t ur o , e m q ue s ão ap r e se n tad a s a s mu d a nç as o co r r id a s n o en si no d a Ar te,
p r i ncip al me n t e a p ar t ir d o s a no s 8 0 .
58
CAPÍTULO III
Al ma Guarani
Zé Dú
FIGURA. 2.
A Partida da Monção. Al meida J únior.
FIGURA 3
Combate Naval do Riachuelo Victor Meirelles 33
Acer vo do Museu Histórico Nacional, RJ .
33
V í t o r M e i r e l e s d e Li m a , o u a p e n a s V í t o r M e i r e l e s , p i n t o r b r a s i l e i r o ( D e s t e r r o , h o j e
[ F l o r i a n ó p o l i s ] , S C , 1 8 3 2 - R i o d e J a n e i r o , 1 9 0 3 ) . A p i n t u r a fo i r e a l i z a d a n o l o c a l d a gu e r r a ,
encomenda do então ministro da Marinha, Dr. A fo n s o Celso.
h t t p : / / w w w . p i t o r e s c o . c o m/ b r a s i l / vi c t o r / vi c t o r . h t m
66
34
Exe mp l i fic a nd o o gr a nd e n ú mer o d e e str a n ge ir o s q ue a c id ad e r ec eb e u, “C a mp o Gr a nd e -
1 0 0 ano s d e co ns tr u ção ” ( 1 9 9 9 ) ap r es e nt a d ep o i me n to s d e l ib a ne se s, j ap o ne s es,
p ar a g ua io s, p o r t u g u es e s , it al ia no s, esp a n hó i s, a r mê nio s, gr e go s , sír io s , p o lo ne se s, t ur co s,
p ale st i no s e a le mã e s, o s q u ai s co nta m s u a s tr a j etó r ia s e o mo t i vo d a vi n d a p ar a C a mp o
Gr a nd e.
68
35
Si gr i st ( 2 0 0 2 ) e m C h ão B at id o , e xe mp li f ica co m a d a nça fo lcló r ic a d a q uad r i l ha, a q ua l
p er p a ss a p o r lo n gí nq u o s ter r itó r io s at é a s ua c h e gad a ao B r a s il, p o r co lo n izad o r e s
p o r t u g ue se s; e r e - si g n i f icad a , é, na a t ua lid ad e, lar ga me n te p r at icad a , p o d end o , p o r i sso ,
ser co ns id er ad a co mo u ma ma n i fe st ação r e gio n al.
70
FIGURA 4.
Monumento em Homenagem aos Pioneiros . Neide Ono.
Fonte: Renan Hei mbach Vieira.
FIGURA 5.
Feira Indígena.
Acervo: Renan Heimbach Vieira
FIGURA 6.
Anor Pereira Mendes em “Cavaleiro Guaicurus’”.
Fonte: Correio do Estado.
FIGURA 7 .
Carla de Cápua.
“Mercadora de Cerâmica”
FIGURA 8.
Leonor Lage.
Identidades
36
A F U ND AC ( F u nd a ção Mu n ic ip a l d e C u lt ur a, E sp o r t e e Laz er ) l a nço u e m 2 0 0 3 , o li vr o
Mar co s e Mo n u me n to s Hi stó r ico s d e Ca mp o Gr a nd e, d i st r ib u íd o e m to d a r ed e e sco l ar
mu n i cip al co mo i nc e nt i vo a co n h ecer o p a tr i m ô ni o c ul t ur a l mat er i al d e Ca mp o Gr a nd e.
Al g u n s p r o f es so r es fo r a m i nc e nt i vad o s a p ar tic i p ar d o P r o j eto P atr i mô n io C ul t ur a l, e s te s,
r eceb er a m c ap ac it ação so b r e o te ma , p ar a d ep o is r ea liz ar tr ab a l ho s c o m o s a l u no s. No
f i nal d a r e al iza ção d o p r o j eto , ho u ve d i v ul ga çã o na míd ia lo ca l, e xp o si ção d o s tr ab al ho s e
ed ição d e u m li v r o . No s a no s s ub seq ü e nte s, o p r o j eto co nt i n uo u, a cad a a no , e n f at iz a nd o
u m asp ec to d o p a tr i mô n i o c ult u r al .
76
Segundo Canclini,
A pri meira condição para distinguir as oportunidades e os
limites da hibridação é não tornar a arte e a cultura recursos
para o realis mo mágico da compreensão universal. “Trata -se,
antes, de colocá -los no campo instável , conflitivo, da
77
37
So b r e a al f ab e tiz ação n o s có d i go s ar tí st ico s, ler Mir ia n Ce le st e M ar t i n s ( 1 9 9 8 ) .
78
FIGURA 9.
Escola Municipal Suli van Sil vestre Oli veira – Tumune Kali vono “Criança
do Futuro ”
79
FIGURA10.
Memorial da Cultura Indígena .
FIGURA11.
38
A e ntr e vi st a p o d e s er a ces s ad a no si te h ttp :/ / www. r ep o r t er b r a si l.co m. b r ex ib e.p hp . D at a
d e 1 3 /0 3 /2 0 0 3 .
81
39
Se g u nd o o R ep ó r t er B r as il, “Al é m d a Ma r ça l d e So uz a, Ca mp o Gr a nd e ta mb é m p o s s u i,
na p er i f er i a d a cid ad e, u ma o utr a e xp er iê n cia hab it ac io nal s e me l ha n te: a a ld ei a Ág u a
B o ni ta – e sta c r iad a p el o Go v er no d o Est ad o – q ue ab r i ga c er ca d e 6 0 fa mí lia s d e c i nco
et ni as d is ti n ta s. H á ta m b é m u m a s se n ta me n to i n d íg e na no b air r o J ar d i m No r o es te, co m 8 0
fa mí lia s q u e l u ta m p el a r eg u lar iza ção d a ár ea”.
82
FIGURA 12.
Aldeia Urbana Marçal de Souza
FIGURA 13
Moradia terena I. Gils on Martins (2002)
40
O pesquisador Gilson Martins (2002) apresenta as diferentes habitações típicas: guarani, kadiwéu, terena,
guató e ofayé.
83
FIGURA 14.
Moradia terena II. Bittencurt e Ladeira (2000)
Anos depois, vai para o Instituto Bíblico Dr. Eduardo Lani, em Patrocínio -
MG, e estuda sobre liderança cristã.
Já em Dourados, ao assumir o capitanato do Posto Indígena da
Reserva de Dourados, incentiva a retomada das tradições, costumes, as rezas,
rituais de cura e o idioma. Até que, segundo Cabral:
No final dos anos 60, Marçal deixa de ser presbítero, depois
de 30 anos de envol vimento com a Missão Evangélica. Essa
decisão, talvez, tenha sido fruto da i mpossibilidade de se
conciliarem a visão mística e a política, porque a segunda
ganha cada vez mais espaço na atuação de T upã -Y. Em 1972 é
contratado pela Funai, como enfer meiro e nesta condição,
trabalhará até o fi m de seus dias (CABRAL, 2002, p.68). 41
41
Mar ça l d e So u za t a mb é m ti n h a o no me T up ã - Y, q u e e m g u ar a n i s i g ni f ic a P eq ue no De u s.
85
42
Gr i fo s d o a uto r .
87
FIGURA 15.
Mulher terena no tear.
Fonte: Bittencourt e Ladeira (2000).
FIGURA 16.
Homens terena com uniforme de guerra.
Fonte: Bittencourt e Ladeira (2000)
FIGURA 17.
Moça Guaná e Guanitá, chefe dos Guanás
Fonte: Bittencourt e Ladeira (2000)
43
Exp ed ição r u s sa o r g a n izad a e c he f iad a p elo B ar ão G.I . La n g sd o r f f p er co r r e u, e ntr e o s
ano s d e 1 8 2 4 a 1 8 2 9 , m ai s d e d ez es s ei s mi l q ui lô met r o s p e lo i n ter io r d o B r a sil , fa ze nd o
r eg i str o s d o s a sp ecto s mai s var iad o s d e s u a n at ur eza e so c ied ad e, co n st it u i nd o u m
in v e nt ár io d o B r a si l no séc u lo XI X.
90
CAPÍTULO IV
WARADZU
Moacir de Lacerda
( In Memorian de Marçal de Souza
Tupã’ 25/11/83)
Sonhei um dia
J unto a castanhas,
Indaiás, crescer
Com turãna perdi meu caminhar
Terubutuwê, terubutuwê.
Vi separar irmãos de pais,
Waya não mais
Waradzu, waradzu,war adzu
Águas do rio
Em apare vi transfor mar
Babaçu, pindó, bacuri, buriti.
Perdi meu arco
Perdi meu retrato
Minha dança se perde
No canto e no pranto
A fera da mata
Estranha o meu cantar
Onça, warâ, j acaré-açu
Peixe j aú.
44
A p r o fe s so r a M ar i a A mél ia Ra n g el M ar t i n s au x il io u n a p e sq ui sa d isp o n ib i liz a nd o
ati v id ad e s r ea liz ad a s n a s ala d e i n fo r má tic a e co m i n fo r ma çõ e s p r ecio sa s so b r e o
f u nc io na me n to d a e sco l a. M ar i a A mé lia tr ab a l ha no s p er ío d o s ma t u ti no e v esp er t i no n a
esco la, u m co mo r e g e nt e d e sa la no e n si no f u nd a me n t al e no o u tr o c o mo i n str u to r a d e
in f o r má tic a, e st á na e sco la há vár io s a no s, p ar ti cip o u d a elab o r ação d a P r o p o sta
P ed agó g ica E sco lar ( 2 0 0 4 ) e mo r a p r ó x i ma à e s co la, co n h ece nd o p r o f u nd a me n te a
r eal id ad e e sco l ar .
95
45
Exp o siç ão r ea li zad a d e 2 3 d e ab r il a 7 d e set e mb r o d e 2 0 0 0 no P ar q u e I b ir ap u er a, São
P au lo , SP , co m co l et â n ea p a no r â mi ca d e 5 0 0 a no s d e ar t e s vi s u ai s no B r as il. Ap r e se nto u
ma n i fe s taçõ es c ul t ur a i s p r é -co l o nia i s a té tr ab al ho s co n te mp o r â n eo s, in cl u i nd o d i v er so s
se g me n to s so c iai s.
46
So b r e ar te na so cied a d e ind í ge n a, o Re fe r e n cia l C ur r ic u lar Na cio n a l P ar a as E sco l a s
I nd í ge na s ap r e se n ta a a r te n as d i f er e n te s e s fe r as d a v id a, co mo ele m en to i mp o r t a nt e e
co n s ti t ut i vo n a fo r maç ã o d e id e nt id ad e s, não f ix a, ma s q ue é e lab o r a d a e r e -el ab o r ad a,
co m e sté ti ca e sp e cí f ica d a et n ia e m q u es tão . A tr a n s mi s são d o s co n he ci me n to s ( t éc ni co s e
es tét ico s) d ep e nd e d e cad a et n ia, g er a l me nt e l i gad a a p es so a s ma i s v el h as e à
ap r e nd i za ge m d e e n vo l v er o “ver faz er e a a ção d e faz er ” ( R C NEI , p . 2 9 0 ) .
96
47
A p r o fe s so r a se g u e a o r ie nt ação d a s D ir e tr iz e s C ur r i c ul ar e s d o E n si n o F u nd a me n ta l d a
P r ef eit u r a M u ni cip a l d e Ca mp o Gr a nd e, a q ua l, no a no d e 2 0 0 6 , e nco n tr a va - s e e m
r ef o r mu l ação .
98
48
A p r o fe s so r a não i n fo r mo u o s no me s d a s i ns ti t ui çõ e s e m q ue f az o s c ur so s.
49
No p er ío d o d e co n str u ç ão d o P r o j eto P ed agó gi c o d a Esco la, a p r o fe s so r a tr ab a l ha va co m
a Ed uca ção I n f a nt il. M u d o u d e f u nção ap ó s a c he g ad a d e u ma p r o f es so r a co nc ur sad a p ar a
o car go .
50
O P r o gr a ma E sco la V i va é u ma aç ão d a Se cr e tar i a M u ni cip a l d e Ed uc ação , j u n ta me n te
co m o FN DE ( F u nd o Nac io nal d e De se n v o l v i me nto d a Ed uca ç ão ) – P r o gr a ma Es co l a
Ab er t a, q u e te m p o r fi n alid ad e ab r i r as e sco la s ao s f i na is d e se ma n a, o fer ece nd o o f ici n a s
d e ed uc ação , l azer , c u lt ur a , e sp o r te e fo r ma ção i ni cia l p a r a a co mu n i d ad e, e m ger al, e,
p ar ti c ul ar me n te, p ar a o s j o ve ns . I n ic iad o e m 2 0 0 4 o p r o gr a ma Es co la A b er ta na sc e u d e u m
aco r d o d e co o p er ação téc n ica e ntr e o Mi n is t ér io d a Ed uc ação e a U ne sco e o b j et i va
99
entrevista, relata que a questão dos saberes diversos, antes, ela aprendia com
os familiares. O que sabe do artesanato, danças, aprendeu com a sua avó, mas
faltou dominar a língua terena.
Sua história de vida funde-se com a organização do bairro
indígena/aldeia urbana, com a fundação da escola. Suas ações são decorrentes
da formação familiar. Sua mãe sempre lutou pelas questões indígenas,
articulou a vinda de grupos indígenas para tomarem posse do que já de fato e
de direito lhes pertencia, passaram por momentos de grandes dificuldades. Na
ocasião, famílias se instalaram na região do bairro e as notícias saíam como
“índios invasores”; no entanto, as famílias estavam tomando posse do que
lhes pertenciam. Esses primeiros moradores eram muito organizados. Para a
professora, “hoje, todo mundo quer ser pai do Sulivan, esquecem que tem
índios urbanos que estiveram envolvidos com a causa” (agosto/2006).
Sobre a sua atuação profissional, narra que tem vínculo com a
prefeitura municipal de forma especial, e que sempre trabalhou na escola. A
professora está desde o início da formação da escola, mas não sabe se ainda
permanecerá. “A gente não vive só de amor... antes, o Sulivan era minha casa,
estava aqui em todos os momentos... hoje não consigo terminar a minha
graduação... não quero ser a parte fraca!” (agosto/2006). Não teve a
oportunidade de terminar o curso de Pedagogia, devido ao alto custo deste, o
que não lhe permitiu prestar concurso público para professores. Seu ensino
médio é traduzido pelo magistério voltado para professores indígenas. Como
não morava na aldeia, sentiu resistências, por parte de alguns componentes do
curso. Segundo a professora, descobriu que “índio discrimina índio”
(agosto/2006), mas nunca aceitou a discriminação, não se aceita passiva, no
entanto, não se sentia da aldeia e nem da cidade. Fez estágios na aldeia de
Limão Verde (Aquidauana/MS), sua aldeia de origem, de convivência 51.
O sentimento apresentado pela professora de se sentir discriminada
me leva a refletir sobre as relações de poder, tensões estabelecidas no interior
de uma coletividade. Para ser considerado índio, deve-se morar fora dos
centros urbanos? Ter a identidade indígena não passaria pelo sentimento e
52
No a no d e 2 0 0 7 , mu d o u - se a sa la. P ar a a Fe ir a C ul t ur a l I nd í ge na, fo i co n str u íd a u ma
típ i ca mo r ad a t er e na, co m ap r o x i mad a me n te 3 x 4 m, e lá, p o r o p ç ão d o p r o f es so r , a s a u la s
são r eal iz ad a s.
102
53
O utr as d i sc ip l i na s não f o r a m p e sq ui sad a s, u ma ve z q ue o e n fo q ue d o e s tud o é a r e laç ão
d o e ns i no d e Ar te e a C ul t ur a R e gio n al.
104
54
FREI R E, J o sé R. B e s sa . O P atr i mô n io C u lt ur a l I nd í ge na . I n : P r o gr a m a d e Es t ud o s d o s
P o vo s I nd í g e na s. h tt p ://p a gi n as .ter r a.co m.b r /ed uca cao / Lud i mil a/p r o hi s t. ht m. Ace s so :
1 0 /0 7 /2 0 0 7 . s /d
105
55
Gr i f o s d o a uto r .
106
FIGURA 18
Danças da Siputrena. Dança Terena Feminina.
Fonte: Acervo da Escola.
FIGURA19.
Dança do Bate-Pau. Dança masculina terena.
Fonte: Acervo da Escola.
107
FIGURA 20.
Encenação da Lenda Kadiwéu.
Fonte: Acervo da Escola.
108
FIGURA 21
Origem da vida guató.
Fonte: Renan Heimbach Vieira
109
56
Fo r a m co n s ul tad o s to d o s o s D iár io s d o ano d e 2 0 0 6 , d e to d as a s s ér ie s, r e fer e nte s à
d is cip li na d e Ar te s e d e C u lt ur a T er e na, o b se r va nd o o s co nte úd o s q u e fo r a m r e g is tr ad o s
co mo tr ab a l had o s. Aq u i, ele nco ap e n as o s r e fer e nt e s à C u lt ur a Re g io na l, o utr o s co nt e úd o s
não fo r a m r e gi st r ad o s p o r n ão p er te nc er e m à p e sq ui sa .
57
T o d o s o s p r o f es so r es e al u no s p ar t ic ip ar a m d o P r o j eto d a Feir a C u lt ur a l, no e n ta n to , não
fo i p o s sí v el o b ter o P r o j eto i mp r e s so , p o i s o me s mo não fo i ar q ui v ad o e não fo i
en co ntr ad a o u tr a có p ia.
110
FIGURA 22.
Produção dos alunos 59 em PowerPoint. Padrões Kadiwéu.
Acervo da escola.
58
No s r e g is tr o s d o s D iár i o s, o s co n te úd o s são el e nc ad o s s e m ma io r e s d eta lh e s.
59
Os no me s d o s al u no s n ã o ser ão id e nt i fi cad o s.
111
FIGURA 23.
Terena. Alunos: T.S. F. L. e T.V. A.
Fonte: Acervo da Escola.
60
Na s f i g ur a s ap r es e nt a d as, f o r a m o mi t id a s a s p ar te s d as at i vid ad e s o nd e o s al u no s
lo ca liz a va m a s e t ni as n o map a d e Ma to Gr o s s o d o Su l, u ma ve z q u e est e d ad o não er a
o b j eto d e e s t ud o .
112
FIGURA 24.
Índio Guató, aluno G. da S.
Acervo da Escola
61
So b r e d e se n ho s d a c r i an ça í nd ia, Sô n ia Gr ub it s, e m “A c a sa: c ul t ur a e so cied ad e na
exp r e ss ão i n fa n ti l” ( 2 0 0 3 ) p esq ui sa a id e nt id a d e d e cr ia nç as d e p er i f er ia s d e d i fer e nt es
gr up o s i nd í ge na s ( B o r o r o d e Mato Gr o s so e G u a r an i/ Ka io vá no Mato Gr o s so d o S ul) . P ar a
a a uto r a, o s e st ud o s so b r e o d e se n ho , d e u m mo d o g er al , fa vo r ece m in v e st i gaçõ es, e ntr e
o ut r o s , d a id e nt i f ica ção d e a sp ec to s so ci ai s e c ul tu r ai s d o meio a mb ie nt e d as cr i a nça s.
62
P r ó x i mo ao b air r o há u ma la go a e u m có r r e go . Ap e s ar d a p r o ib i ção p a r a b an ho e p e sc a,
ai nd a aco nt ece m.
113
FIGURA 25.
Casa Guató.
Fonte: Gilson Martins, 2002.
63
T er es i n ha S il v a O li ve ir a ( 2 0 0 3 ) , e m “O l har es q ue f aze m a “d i fer e nça ”: o índ io e m l i vr o s
d id át ico s e o u tr o s ar te fa to s c ul t ur a is ” d i sc u te co mo “í nd io s ( a s) são i n s t it uíd o s ( a s) co mo
d i fer e n te s co m b a se e m o lh ar e s ma ter i al izad o s a tr a vé s d e l i vr o s d id át ico s, s elo s e car tõ e s
p o st ai s, etc. , ger al me n te p r eso s ao p a s sad o d is ta nt e”.
114
Difere a cada ano a temática, pois são várias as questões que a comunidade
quer discutir.
Acredito que nem tudo que foi realizado sobre a temática da cultura
regional tenha sido registrado. Em uma das visitas que realizei, os professores
de Cultura e de Artes estavam organizando uma aula-passeio para assistirem,
no Teatro Glauce Rocha, ao espetáculo AnDanças Musical Camalote, Lendas e
Danças Folclóricas na Fronteira Oeste 65, no entanto, essa aula-passeio não foi
anotada nos diários de classe.
64
Al é m d a id e nti f ic ação d a c ul t ur a r e g io nal , o utr o s ite n s f o r a m r e g is tr ad o s no s Diá r io s d e
Cl a ss e, q ue n e ste tr ab al ho n ão ap ar ece m, u ma v ez q ue n ão são o b j eto s d a p e sq ui sa.
65
O mu s i ca l, co m P e sq ui sa, Ro te ir o e Dir eção d e Ma r le i Si g r i st e co m Dir e ção As s i st e nte
d e I vo ne te Si mo ce ll i, fo i ap r es e ntad o d e 1 4 a 1 6 d e a go sto d e 2 0 0 6 , p e lo gr up o Ca ma lo t e –
Gr up o P ar a fo lcló r ico . S eg u nd o o fo ld er d e ap r ese n ta ção , o gr up o se a p ó ia na s p e sq ui sa s
r eal izad as d ur a nte s 2 2 a no s p el a p r o f e sso r a Mar lei Si gr i st/ D AC / CC H S/ UF MS e q ue ger o u
a p ub li caç ão d o li v r o C hão B a tid o ( 2 0 0 0 ) e i n ú mer o s ar ti go s e m li vr o s e r e v i sta s
cie n tí f ica s d o p aí s. O r o teir o e n f o ca a s o r i g e ns d a cu lt ur a p o p ular e m M ato Gr o s so d o S ul ,
d esd e o p er ío d o p r é - co l o mb ia no .
115
66
E m a ne xo , o s co n te úd o s p r o p o sto s p ar a a s a u la s d e Lí n g ua e C ul t ur a T er e na, se g u nd o a
P r o p o sta P ed a gó gi ca.
67
I n s tit u to So c io a mb ie nt a l, P o vo s I nd í ge n as no B r as il. Ac es so : j u n ho /2 0 0 7 .
116
FIGURA 26.
Artesanato “A” confeccionado na aula de Cultura Terena, exposto para
venda.
FIGURA 27.
Artesanato “B”.
identidade terena, de forma que se tenham laços com a tradição e que seja
contemporânea, estabelecendo elos com a diversidade, com o outro. Todos
podem usar, admirar, comprar e valorizar a estética indígena terena.
68
E m u ma d a s v i si ta s, ma io /2 0 0 7 f u i i n fo r mad a d e q ue o s ar te sa n ato s e s ta va m e m B r as íl ia
– DF , e xp o sto s co mo p r o d uç ão d e al u no s d e u m a ald eia ur b a na .
69
As mu l h er e s er a m d e ci nco e t ni as d i f er e n te s. Se nd o u ma d e o r i ge m e ur o p éia al e mã, o u tr a
p o r t u g ue sa, u ma j ap o ne sa, u ma a fr ic a na e u ma ind í ge n a. T o d as ti n h a m “f azer e s esp eci ai s ”
q ue s e d e s tac a va m e m s ua co mu n i d ad e e q ue a s s u mi a m o p ap e l d e tr a n s mi s s ão d o a sp e cto
cu lt ur al q u e d o mi n a va m.
119
CONSIDERAÇÕES FINAIS
GENOCÍD IO
Emmanuel Marinho
Não, criança.
indígena e sua manifestação artística que ficou mais evidente foi a terena.
Percebi que o sentimento de identidade de ser índio não está no local de
nascimento, no padrão “aldeia rural”, mas por toda a simbologia presente no
seu sistema de representação cultural, ocasionando identificações.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: Ed. C/Arte, 1998.
BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a Arte. 7 ed. São Paulo : Ática. 2001.
NASC IMENTO, Adir Casaro. Escola indígena: palco das diferenças. Campo
Grande: UCDB, 2004.
READ, Hebert. A educação pela arte; trad. Valter Lellis Siqueira – São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
RODR IGUES, J. Barbosa. História de Mato Grosso do Sul. São Paulo: Ed.
Do Escritor. 1984.
SIGR IST, Marlei. Chão Batido: a cultura popular de Mato Grosso do Sul:
folclore, tradição. Campo Grande: UFMS, 2000.
SOUZA, Maria Izabel Porto de, FLEURI, Reinaldo: Entre limites e limiares
de culturas: educação na perspectiva intercultural. In. FLEURI,R.M.
(org.). Educação intercultural mediações necesárias. Rio de Janeiro: DP&
A editora, 2003.
SOUCY, Donald. Não Existe Expressão sem Conteúdo. In: BARBOSA, Ana
Mae(org). Arte/Educação contemporânea: consonâncias internacionais.
São Paulo: Cortez 2005.
DOCUMENTOS
PESQUISA DIGITAL
DISCOS COMPACTOS
.
136
ANEXOS
T
137
ANEXO I
ANEXO II
ANEXO III
2. Artista plástica Lazara Lessonier, com os alunos do 3º Ano do Normal Superior, 2007.p
140
ANEXO IV
Nas ilustrações abaixo, registram alguns momentos dos minicursos oferecidos aos
flechas indicativas.
Ficha catalográfica
Heimbach, Nilva
H468c Cultura regional e o ensino da arte: caminho para uma prática intercultural?
Estudo de caso E.M.Sulivan Silvestre Oliveira – Tumune Kalivono “Criança do
futuro” / Nilva Heimbach; orientação Adir Casaro Nascimento. 2008
139 f. + anexos
CDD-700.7