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Livro para pais

separados/divorciados
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A separação dos pais é sempre causa de sofrimento para os filhos. Mesmo que a

vida diária se tenha tornado difícil, os filhos sofrem com a separação e, muito

frequentemente, passados anos, continuam a sonhar com a reconciliação dos pais.

A separação é, tanto para os pais, como para os filhos, uma transição de vida e

consequentemente um processo de luto e readaptação a uma nova situação. Nem

sempre os pais têm consciência que também os filhos têm de lidar com sentimentos

de perda e também eles têm de reconstruir um novo sentido para a vida, tarefa muito

dolorosa e por vezes bastante confusa!

 Como tornar então este momento de ruptura e dor menos

doloroso?

Prepare conjuntamente com o seu cônjuge a conversa que irão ter com o vosso

filho, no sentido de lhe comunicar o final da relação conjugal. Esta conversa deverá

acontecer quando a decisão de se separarem estiver devidamente consolidada e

pouco tempo antes de um dos elementos do casal deixar o espaço físico, que

anteriormente era partilhado por todos.

O local escolhido para esta conversa deverá ser calmo e a posição corporal

deverá permitir o contacto físico. Um abraço no momento certo ajudará as palavras a

"ganharem" mais sentido.

Nessa primeira conversa e em conversas posteriores, sublinhe sempre que,

apesar da relação conjugal ter terminado, o amor que sentem por ele(a) continuará

sempre bem vivo e que jamais terminará. Ele(a) deverá sentir que é um tesouro na

vida dos pais e que a separação não altera este facto.


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As razões da separação devem ser explicadas de uma forma muito simples, não

sendo necessário nem aconselhável explicar razões concretas. Concretizar demasiado

só servirá para magoar a criança e para reduzir uma realidade muita vasta e profunda,

que nem sempre é possível traduzir por palavras.

Quando as crianças são pequenas, por vezes, julgam-se culpadas da separação

dos pais. Converse com o seu filho sobre este sentimento, e faça-o compreender que

ele não é culpado da separação.

Sentimentos de perda, abandono, desconfiança, negação e dúvida são

frequentes face a uma situação de divórcio. Por esta razão, é fundamental criar

situações em que todos estes sentimentos possam ser expressos. Prepare-se para as

lágrimas, para lhe responder a todas as suas questões de uma forma verdadeira e

clara e sobretudo para o ouvir.

O quotidiano da criança deve assemelhar-se, na medida do possível, àquele que

ela tinha antes do divórcio. Grandes alterações do estilo de vida da criança só

contribuirão para que esta tenha de se adaptar ainda a mais situações diferentes, o

que só dificultará o processo. Por exemplo, se era o pai que a levava à escola, isto

deverá, se possível, continuar a acontecer.

Denegrir a imagem do outro é pôr à frente dos interesses da criança o seu

desejo de retaliação e vingança. Mantenha os seus conflitos afastados da criança e

ajude-a a manter uma imagem positiva do outro cônjuge. Ela tem o direito de viver

com ambos, de ter uma imagem positiva dos dois e de ser livre de amar todos: avós,

tios e, eventualmente, novos companheiros da mãe ou do pai.


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Não faça do seu filho um mensageiro entre si e o seu ex-cônjuge. Ele nunca

deverá ser o transmissor de mensagens, quer elas se tratem de dinheiro, férias ou

problemas de outra ordem. Todas as negociações deverão ser feitas directamente

pelos pais, nunca envolvendo os filhos neste tipo de situação.

Os amigos da escola, os primos, os avós, os professores e outras pessoas de

quem a criança gosta podem ser uma grande ajuda neste momento difícil. Os pais

devem, por isso, rodear-se dos entes queridos dos filhos. O seu isolamento e o

isolamento dos filhos é a pior opção.

Ambos os cônjuges devem passar o máximo de tempo possível com os filhos.

Se tal não for possível a um dos pais, é importante que o pouco tempo que passem

juntos seja de qualidade. Se um pai não puder estar com o seu filho no mínimo de 15

em 15 dias, é indispensável que fale com ele para lhe explicar os motivos. Esta

informação poderá ser dada via telefone, devendo ser transmitida à própria criança, e

não ao adulto com quem ela vive.

Todas estas sugestões fazem ainda mais sentido se tiver em consideração que

não é tanto o divórcio em si que tem consequências nefastas, mas sim a forma como

os pais se separam!

O divórcio não deve ser tratado como segredo e não se deve menosprezar a

capacidade de entendimento dos mais pequenos. As modificações nas relações

repercutem-se na rotina da família e da criança, independentemente da idade,

percebe que algo não vai bem.


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Características das crianças, nas diferentes faixas etárias

Idade pré-escolar:

A criança consolida os vínculos emocionais e afectivos aos pais e estes

representam modelos de comportamento. É preciso que eles preparem a criança para

as mudanças que vão ocorrer e que as regras para as visitas estejam bem definidas e

claras. O principal aspecto neste momento é deixar claro que o divórcio não tem nada

a ver com o comportamento da criança, que o pai e a mãe continuarão a cuidar dela e

quem se está a separar é o marido e a mulher e não os pais e os filhos. A capacidade

que as crianças pequenas têm de diferenciar a realidade da fantasia é pequena, pelo

que podem sentir-se responsáveis por terem afastado o pai ou a mãe.

Idade Escolar:

É importante esclarecer que a criança não tem responsabilidade pela

separação. Nesta fase, a criança tem a fantasia omnipotente da reconciliação dos pais

e pode pensar que tem o poder de "reunir" o casal. É importante dar espaço para que

a criança expresse seus sentimentos e questionamentos, pois isso ajuda-a a

compreender a separação.

Adolescência:

A notícia do divórcio deve ser acompanhada de explicações das mudanças que

vão ser processadas na rotina familiar, procurando garantir a continuidade dos

vínculos afectivos e relacionais já existentes. A possibilidade de o adolescente

participar na escolha da custódia deve ser discutida, mas sem que se dispute a

"lealdade" a um dos pais.

Quais são as reacções mais frequentes da criança?


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É importante que a rotina familiar não seja interrompida, para proporcionar à

criança estabilidade e segurança.

A separação dos pais pode ser interpretada como sendo culpa ou

responsabilidade da criança e esta pode sentir-se igualmente responsável pela

reconstrução da relação dos pais. Podem verificar-se regressões em termos de

comportamentos, como voltar a fazer xixi na cama e mostrar insegurança ou recusar-

se a separar-se de um dos pais.

É frequente surgirem alguns problemas escolares, de atenção e concentração,

de comportamento e rebeldia para com figuras de autoridade.

Nos adolescentes podem acontecer reacções de raiva, pois a separação dos

pais pode ser sentida como uma ameaça à sua estabilidade e segurança, e é exigido

um amadurecimento precoce do adolescente. Se se sente leal à mãe, por exemplo,

esse sentimento pode gerar conflito e hostilidade com o pai em algumas situações,

como o início de um outro relacionamento. Se o divórcio é problemático, a angústia do

adolescente pode manifestar-se no fracasso ou insucesso escolar, em

comportamentos agressivos e no uso de álcool e drogas.

Ou, pelo contrário, pode ser uma experiência positiva de amadurecimento.

O que posso fazer para ajudar o meu filho?

Tanto o pai como a mãe são responsáveis pelos filhos. Saber separar os

problemas conjugais auxilia na reorganização da estabilidade familiar.


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Permita que todos expressem suas emoções em relação à separação e dê

tempo para que absorvam as mudanças que ocorrerão.

Mantenha os vínculos dos seus filhos com os avós, tios e amigos. Isso é

fundamental para que eles possam lidar com a nova situação.

O processo de divórcio é muito mais tranquilo se os pais não esperam que seus

filhos tomem partido de um ou outro.

Preserve os seus filhos dos aspectos negativos do casamento. Caso contrário, a

mensagem que pode “passar” é que até os filhos fazem parte da herança negativa do

casamento.

Se os pais puderem continuar a ser amigos e a compartilhar a responsabilidade

e o amor pela criança, esta passará a compreender e a acreditar que não é

responsável pelo fim do relacionamento dos pais.

Durante o processo de divórcio toda a família está em crise. Todos se sentem

responsáveis e culpados, procurando soluções ou explicações. Por isso, o diálogo e o

espaço para a expressão dos sentimentos são fundamentais para esclarecer as

perguntas e dúvidas da criança ou adolescente.

Os pais também se sentem culpados. São frequentes os sentimentos: "Se

pudesse voltar no tempo tentaria reconstruir a história de uma outra maneira, para

que a família não tivesse que passar por isto!”.


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O comportamento dos pais após o divórcio é que vai determinar a estabilidade

ou instabilidade da família. Não se prenda ao pensamento de que nada valeu a pena e

que tudo poderia ter sido diferente. É importante pensar nas coisas boas que a família

viveu, nos filhos que essa união gerou e no que pode ser feito daqui para a frente para

que as relações familiares sejam reorganizadas e se tornem melhores.

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