ISSN: 2237-6372

ANO 11, N. 41, SET 2017

NOTÍCIA
Seria possível anular a existência
de doenças genéticas em embriões
humanos?

COMPORTAMENTO HEMATÓFAGO
EM DÍPTEROS
entenda as variações , bases morfo-anatômicas, fisiológicas e
moleculares desse comportamento alimentar

DA ANTIGUIDADE AOS DIAS

ATUAIS
Entenda a necessidade das plantas na
vida dos seres humanos

A SEXTA EXTINÇÃO: UMA

HISTÓRIA NÃO NATURAL
Faça uma viagem - do ponto de vista
LINHA DE PESQUISA biológico - no trabalho de Elizabeth
Kolberth.
Professora Dra. Talita da Silva Espósito e
seus estudos com resíduos provenientes XENOTRANSPLANTES
da pesca e aquicultura. Saiba que alternativas os cientistas
têm buscado para suprir a falta de
doadores de órgãos.
 ISSN: 2237-6372
ANO 11, N. 41, SET 2017

SUMÁRIO
Notícia Ponto de vista biológico
3 A vida sem doenças genéticas 17 I will survive (?)
Como os pesquisadores anularam doença cardía- Entre extinções em massa e alterações geológi-
ca genética de embriões humanos cas, bem-vindo ao Antropoceno
Por Ana Luiza de Araújo Butarelli e Greyck Willyan Marques
Por Greyck Willyan Marques Santos
Santos

Pet na estrada

18 Encontro Nacional dos grupos PET 2017

Ensaios
Responsabilidade PETiana: Os incomodados é
4 Melanismo Industrial que mudam
Exemplo paradigmático da influência humana
na seleção natural
Por Robson Pontes de Oliveira
Linha de pesquisa
5 Minerando Genomas
Uma ferramenta para a predição de produtos
de interesse 19 Profª. Drª. Talita da Silva Espósito
Por Ana Carolina de Araújo Butarelli Conheça as linhas de pesquisa desenvolvidas por
13 Uma boa vizinhança ela.
Facilitação, uma nova alternativa na ecologia Por Juliana​Mendes Souza e Thiago​​Campos​​Coelho
Por Ítalo Vinícius Cantanhêde Santos

14 Como os porcos podem salvar humanos? Escreva você também

Novas tecnologias aplicadas aos Xenotransplan-
tes 20 Da antiguidade aos dias atuais:
Por Ana Luíza de Araújo Butarelli
Por que as plantas são necessárias para a vida
15 Quando prédios forem florestas do ser humano?
Por Eulália Cristine Guimarães Silva Por Camila dos Santos Pires, Hynder Lima de Souza, Maíra
Rodrigues Diniz e Eduardo Bezerra de Almeida Jr.
16 Zika vírus: novos vetores, novos desafios
Por Ricardo Mendes Gonçalves

Artigo
Comportamento hematófago em dípteros
Na capa (Insecta: Diptera): caracterização, evolução,
bases morfo-anatômicas e mecanismos fi-
Aedes aegypti sio-moleculares
Créditos da foto: Sean McCann (ibycter.
com) on VisualHunt / CC BY-NC-SA
Por: Léo Cruz
6

EDITORIAL
Caros Leitores,
É com imensa alegria que apresentamos a Edição 41 do
Boletim PETBio, que trás como artigo de capa uma boa
revisão sobre a evolução do comportamento hematófago em
dípteros. Aproveitamos para agradecer a excelente revisão do
artigo feita pelo Profº Drº Luís Fernando Carvalho Costa do
Departamento de Biologia da UFMA. Nessa edição também
apresentamos o PET na estrada para partilhar o Encontro
Nacional dos grupos PETs realizado em Brasília. Além, de
um repertório variado de temáticas em nossos ensaios, onde
aprenderemos sobre a “Mineração de Genomas” e os novos
vetores e desafios com o Zika Vírus. Também apresentamos
um curioso artigo sobre por que as plantas são necessárias
para o ser humano e a linha de pesquisa da Profª Drª Talita da
Silva Espósito do Departamento de Oceanografia da UFMA.
Boa Leitura!
Mayara Ingrid Sousa Lima
Tutora do Grupo PET BIOLOGIA/UFMA
BOLETIM PETBIO UFMA
Ano 11, N. 41, setembro de 2017
ISSN: 2237-6372
CORPO EDITORIAL
Realização
Grupo PET Biologia - UFMA
Supervisão geral
Prof.ª Dr.ª Mayara Ingrid Sousa Lima
Revisores
Prof.ª Dr.ª Mayara Ingrid Sousa Lima
Ana Carolina de Araújo Butarelli
Eulália Cristine Guimarães Silva
Gabriela Cristina Fonseca Almeida
Ítalo Vinícius Cantanhêde Santos
Léo Nava Piorsky Dominici Cruz
Revisor do artigo
Prof.ª Dr. Luís Fernando Carvalho Costa
Diagramação
Glacyane Winne Tavares Moraes
Greyck Willyan Marques Santos
Luis Henrique Pereira
Mairla Santos Colins
Robson Pontes de Oliveira
Thalita Moura Silva Rocha
Thauana Oliveira Rabelo
CONTATO
E-mail
petbioufma@gmail.com
Site
petbioufma.wordpress.com
Facebook
facebook.com/petbiologiaufma
Notícia
A vida sem doenças genéticas
Como os pesquisadores anularam doença cardíaca
genética de embriões humanos
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís
U
ma equipe internacional
de cientistas conseguiu
reparar a mutação de uma
sequência gênica de embriões humanos
responsável por causar Cardiomiopatia
Hipertrófica. A enfermidade causa o
espessamento do músculo cardíaco,
dificultando a contração do órgão, sendo
considerada uma das principais causas da
morte súbita de atletas jovens considerados
saudáveis. O estudo, coordenado pelo
geneticista Shoukhrat Mitalipov, desperta
a esperança da prevenção de doenças
genéticas hereditárias graves.
A pesquisa consistiu na
utilização do CRISPR-Cas9 (técnica de
edição genética que utiliza da enzima Cas9
para cortar sequências de DNA desejadas)
para a retirada do gene mutante MYBPC3,
causador da cardiomiopatia hipertrófica,
sendo o mesmo substituído por sua versão
normal. O procedimento realizado se
baseou na injeção de espermatozoides
portadores do gene mutado e do CRISPR-
Cas9 em um óvulo normal, com o
objetivo de reduzir o risco de mosaicismo
(embrião constituído de células com dois
ou mais genomas diferentes), de forma
que a edição ocorresse em um momento
precoce do desenvolvimento embrionário.
Os embriões gerados do processo de
fertilização se desenvolveram durante 3
dias antes de suas células serem separadas
e analisadas.
Dos 58 embriões estudados,
42 se mostraram saudáveis, ou seja,
livres da sequência gênica causadora da
cardiomiopatia hipertrófica. Por se tratar
de um estudo inicial, os pesquisadores
pensam em implementar outras
ferramentas que elevem a eficiência do
procedimento para 90% e até mesmo
100%. A técnica também permite o
estudo da prevenção de outras desordens
genéticas, como alguns tipos de câncer.
A surpresa dos pesquisadores ocorreu
durante suas análises, onde foi observado
que a técnica funciona apenas quando um
dos genes parentais é saudável, devido à
deterioração do gene modificado através
da CRISPR-Cas9, que se aderiu à sequência
presente no sêmen do pai e duplicou o
Boletim PETBio UFMA / nº 41 / Setembro de 2017 3
Ana Luiza de Araújo Butarelli
Greyck Willyan Marques Santos
gene saudável materno, em vez de inserir
uma nova sequência do DNA alterado no
código genético.
Apesar dos resultados
animadores, ainda se discute acerca da
ética do estudo e da área da edição genética,
devido à necessidade de mais estudos
a fim de tornar a técnica mais segura,
antes de se tornar uma prática científica
comum. Além disso, já ocorre um exame
de embriões identificando distúrbios
genéticos, anteriormente à fertilização in
vitro, denominado Diagnóstico Genético
Pré-Implantacional.
Os defensores do procedimento
afirmam que a nova técnica poderia ser de
demasiada ajuda para combater milhares
de anomalias genéticas que são causadas
por somente uma mutação, mas a
discussão ainda gira bastante em torno dos
efeitos colaterais desse método, pois uma
das possíveis consequências seriam como
de fato esses genes modificados alterariam
Credit: vchalup2/Depositphotos
a constituição física dos embriões.
Muitos debatem que a metodologia
tem o objetivo de criar bebês “perfeitos”,
geneticamente modificados, debatendo
até em qual ponto seria correto utilizar
da tecnologia e ciência para curar
doenças fatais. Os defensores
da pesquisa afirmam
que o intuito é trabalhar
numa cura de doenças
genéticas manifestadas
ainda nos estágios iniciais de
desenvolvimento do embrião e ao
decorrer dos avanços das pesquisas, que o
procedimento se torne bastante benéfico
para a população em geral e não uma busca
de crianças geneticamente melhoradas,
o que afirmam ainda seria uma proposta
distante a realidade da pesquisa.
Referências: MA, H. et al. Correction of a pathogenic
gene mutation in human embryos. Nature, [s.l.], v.
548, n. 7668, p.413-419, 2 ago. 2017. Springer Nature.
GALLAGHER, J.. Cientistas conseguem ‘apagar’
doença cardíaca genética com edição de DNA. 2017.
Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/
geral-40808728>. Acesso em: 28 ago. 2017.
LEDFORD, H.. CRISPR fixes disease gene in viable
human embryos. Nature, [s.l.], v. 548, n. 7665, p.13-
14, 2 ago. 2017. Springer Nature.
 Melanismo Industrial
ENSAIO
ENSAIO

Exemplo paradigmático da influência humana na seleção natural

Robson Pontes de Oliveira
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís

A emissão de gases poluentes, o descarte indevido de subs-

tâncias químicas nocivas em corpos d’água e inúmeras
outras formas de agressão ao meio ambiente podem cau-
sar pressões de seleção que culminam em modificações, sejam elas
morfológicas, fisiológicas ou comportamentais, no conjunto de in-
divíduos das populações afetadas por essas atividades antrópicas.
Um exemplo clássico de variação intraespecífica1 consequente de
ações humanas é o chamado melanismo industrial, sendo este um
fenômeno que se caracteriza pela ocorrência e predominância de
torarem milhares de serpentes e analisarem suas mudas de pele,
perceberam que a forma escura de E. annulatus ocorria em áreas
industrias onde poluentes eram derramados no mar, e que em suas
mudas de pele haviam altas concentrações de elementos químicos
nocivos. Além disso a muda de pele em serpentes completamente
negras era mais frequente.
De fato, existem espécies animais com uma enorme ha-
bilidade adaptativa a ambientes poluídos, como exposto, e chega
a parecer fantástico o fenômeno do melanismo industrial, sendo

Imagens: - Fundo - disponível em: < http://soha.vn/chuyen-la/ngay-ca-thang-4-va-nhung-ky-luc-ve-noi-doi-20130401104114753.htm>. GOIRAN, C. et al. Industrial Melanism in the Seasnake Emydocephalus annulatus. Current Biology, p. 1–4, 2017.
indivíduos de formas pretas, ou escurecidas, em uma espécie que admirável como essas espécies reagem, aparentemente rápido, ao
até então era em sua maioria formada por indivíduos de cor clara, ambiente – que possui componentes capazes de levá-las a terem
em regiões que se tornaram centros industriais. problemas sérios – e o “manipulam” a seu favor ou o “driblam”,
Pesquisadores afirmam que o processo de mudança de podendo assim prosperar. Entretanto, seriam todos os animais
coloração clara para escura nas populações, ocorre porque há alta viventes aptos a apresentarem respostas rápidas que os permitam
expressão do alelo dominante2 do gene responsável pela produção sobreviver e ter sucesso em ambientes assim? Essa é só mais uma
de melanina3. Em seus estudos eles sugerem que a expressão desse pergunta em meio a um extenso banco de questões que ainda não
alelo é condicionada pela mudança das características do ambiente, estão respondidas, mas basta uma análise do mundo atual para se
ou seja, são desencadeados processos fisiológicos que permitem a chegar perto de uma resposta.
ativação do gene da melanina em resposta ao ambiente poluído dos
grandes centros urbano-industriais, porém esse é um assunto ainda
em discussão entre os cientistas.
A mariposa Biston betularia é o organismo modelo em
vários livros didáticos quando o assunto é melanismo industrial,
pois o registro mais antigo deste fenômeno foi feito nessa espécie. O
primeiro espécime de coloração escura, em meio à uma população
de cor pálida, foi capturado em 1945 na cidade de Manchester, In-
glaterra. Anteriormente, a população dessa espécie de mariposa era
totalmente de cor pálida, contudo, em 1995 foi verificado que apro-
ximadamente 98% da população da espécie era então representada
por indivíduos melânicos - indivíduos de coloração escura. Alguns
estudos foram realizados a fim de descobrir o porquê da alteração Glossário
e prevalência de indivíduos com grande quantidade de melanina, e
1. Intraespecífica: entre indivíduos da mesma espécie.
muitos trabalhos de autores da época têm consenso em seus acha-
dos: as mariposas B. betularia de cor escura ocorriam nos locais 2. Alelo dominante: que se expressa mesmo na presença do alelo contrário.
onde se instalaram grandes indústrias e essas áreas eram poluídas
3. Melanina: pigmento encontrado em animais, vegetais e protistas.
pela emissão de gases com alta concentração de dióxido de carbono
e enxofre. Fato que causou a morte de líquens esbranquiçados, onde
antes se camuflavam as mariposas de cor pálida para se protege-
rem das aves que as predavam, e o acúmulo de fuligem serviu como Referências:
esconderijo para as mariposas escuras, permitindo-as escapar do BEGON, M.; TOWNSEND, C. E HAPPER, J. Ecologia: de indivíduos a ecossiste-
predador e, assim, prosperar. mas. 4 ed. São Paulo: Artmed, 2007, p.740
Por muito tempo o melanismo industrial foi relacionado COOK, L. M.; SACCHERI, I. J. The peppered moth and industrial melanism : evo-
a invertebrados, principalmente à mariposa B. betulária, e aves, lution of a natural selection case study. Heredity v. 110, n. 3, p. 207–212, 2012.
tendo como principal exemplo os pombos de Paris. Entretanto, um GOIRAN, C. et al. Industrial Melanism in the Seasnake Emydocephalus annula-
estudo recentemente divulgado mostra esse fenômeno ocorrendo tus. Current Biology, p. 1–4, 2017.
em uma espécie de serpente marinha. No trabalho intitulado “In-
dustrial melanism in the seasnake Emydocephalus annulatus” (Me-
lanismo Industrial na serpente marinha Emydocepalus annulatus),
os pesquisadores envolvidos ao perceberem que, além da forma
da espécie com listras escuras e claras (comum), estavam também
ocorrendo espécimes de E. annulatus totalmente negros e resolve-
ram investigar o que poderia estar ocasionando isso. Após moni-

4 Boletim PETBio UFMA / nº 41 / Setembro de 2017

 Minerando Genomas
Uma ferramenta para a predição de produtos de interesse
A descoberta de metais preciosos alavancou a busca por
jazidas onde é possível encontrar pedras preciosas e
metais de interesse para a indústria. Com o passar dos
anos, o garimpo, atividade relacionada à exploração ou extração,
manual ou mecanizada, de substâncias minerais, tornou-se
uma atividade extremamente importante para diferenciar o que
é considerado valioso dos demais compostos encontrados nas
jazidas. Assim também ocorre com as informações genéticas
contidas nos seres vivos, que funcionam como grandes “minas
de informações” que precisam ser filtradas com o objetivo
de encontrar sequências gênicas que codificam produtos de
interesse científico.
Então o genoma é a “jazida”? Exatamente! Nos genomas
estão contidas todas as informações genéticas. Ele é
considerado um código genético que está codificado em DNA,
que são moléculas compostas por bases nitrogenadas (Adenina,
Timina, Guanina e Citosina), pentoses e um radical fosfato. De
acordo com o arranjo das bases, é possível identificar diversas
informações, como a cor dos seus olhos, a presença ou ausência
de determinada doença genética ou as proteínas que seu corpo
produz. Os seres vivos apresentam variações em seus genomas
e essa é uma das razões pelas quais, por exemplo, serpentes
possuem escamas na pele e os seres humanos possuem pele lisa
e pelos.
Com o estudo dos genomas, foi possível descobrir
que bactérias e fungos são capazes de produzir compostos
com ação antibacteriana e antifúngica, o que nos leva ao
desenvolvimento de produtos eficientes para o tratamento
de infecções, identificando a importância de garimpar esses
genomas para encontrar novas “pedras preciosas”. Sendo assim,
surge o conceito de Genome mining ou Mineração de genomas
que consiste no processo pelo qual é possível selecionar, dentre
todas as sequências geradas pelo sequenciamento do genoma,
as sequências relacionadas a um composto de interesse.
Atualmente, na era pós-genômica, torna-se cada vez mais
nítido que o potencial biossintético¹ dos microrganismos havia
sido muito pouco explorado e a mineração computacional
de genomas aparece como uma estratégia para subsidiar a
descoberta de novos produtos naturais. Com as novas tecnologias
de análise genômica, como a metagenômica² e a facilidade no
Referências:
RUTLEDGE, P. J.; CHALLIS, G. L.. Discovery of microbial natural products by activation of silent biosynthetic gene clusters. Nature Reviews Microbiolo-
gy, [s.l.], v. 13, n. 8, p.509-523, 29 jun. 2015.
SACCARO, N. L.. A regulamentação de acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios: disputas dentro e fora do Brasil. Ambiente & Sociedade,
[s.l.], v. 14, n. 1, p.229-244, jun. 2011.
ZIEMERT, N.; ALANJARY, M.; WEBER, T.. The evolution of genome mining in microbes – a review. Nat. Prod. Rep., [s.l.], v. 33, n. 8, p.988-1005, 2016.
ENSAIO
Ana Carolina de Araújo Butarelli
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís
sequenciamento, dados concretos são gerados todos os dias.
Milhares desses dados, incluindo as sequências do genoma
de diversos organismos, estão publicamente disponíveis em
gigantescos bancos de dados online, como o National Center
for Biotechnology Information (NCBI) ou Centro Nacional de
Informação Biotecnológica, contendo uma diversidade de
grupos de genes de compostos de interesse que aguardam a
ligação aos seus produtos naturais codificados.
Os microrganismos possuem em seus genomas diversas
informações que os tornam capazes de produzir uma riqueza
de metabólitos³ especializados estruturalmente diversos com
uma gama notável de atividades biológicas e uma ampla
variedade de aplicações na medicina e agricultura, como
o tratamento de doenças infecciosas, câncer e a prevenção
de danos nas culturas vegetais. Dentre os compostos
descobertos a partir da mineração dos genomas, destacam-se
os metabólitos secundários, que são os compostos produzidos
por um organismo mas que não são exigidos para processos
metabólicos essenciais como reprodução ou crescimento,
possuindo, contudo, funções ecológicas importantes. Incluem
drogas, fragrâncias, pigmentos e inseticidas.
A mineração em busca de genes que codificam enzimas
envolvidas na biossíntese de metabólitos secundários de
interesse é a vertente mais “clássica” da mineração do genoma.
Os compostos mais procurados são aqueles que possuem
uma promissora capacidade de inibir outros microrganismos,
fármacos capazes de neutralizar doenças ou até mesmo
toxinas nocivas à nossa saúde.
O desenvolvimento rápido da biologia molecular
alavancou a busca por técnicas de mineração de dados, que
evoluíram durante a última década. A quantidade total de
informação genética disponível é, e será desafiadora no futuro,
direcionando o constante desenvolvimento de alternativas
para orientar a utilização dos mesmos para a descoberta de
novos compostos de interesse.
Glossário
1. Potencial biossintético: capacidade de produção de compos-
tos químicos por seres vivos.
2. Metagenômica: análise genômica de microrganismos no
ambiente por técnicas independentes de cultivo.
3. Metabólitos: produto do metabolismo de uma determinada
molécula ou substância.
Boletim PETBio UFMA / nº 41 / Setembro de 2017 5
ARTIGO

Comport
(Insecta: Diptera)
morfo-anatômica

D entre as muitas estratégias comportamentais observadas no reino ani-

mal, a hematofagia, ou o consumo alimentar de sangue, é uma das mais
Imagem: Rampamyia notoscriptus - John Tann / on VisualHunt / CC BY

bem distribuídas, assumindo características completamente diferentes

em cada grupo que a apresenta. Esse fato não apenas evidencia o seu sucesso, mas
também o potencial que todos os grupos animais apresentam para desenvolvê-lo.
Mamíferos, anelídeos, nematelmintos e quelicerados (carrapatos, aranhas, es-
corpiões e grupos afins) são exemplos de animais hematófagos, explorando seus
hospedeiros por meio de estratégias diversas, que obedecem a diferentes neces-
sidades fisiológicas e em diferentes etapas do ciclo de vida (CIPRAND; HORN;
TERMIGNONI, 2003; DA SILVA; PICCININI; FACCINI, 1997; SILVA, 2009).

Em virtude dessa grande expressividade, o comportamento hematófa-

go possibilita inúmeras abordagens de estudo, podendo ser, ainda uma ferra-
menta para estudos comparativos dentro e entre grupos (MANS, 2011; PE-
TERSEN et al., 2007). No entanto, o grande viés que possibilita o atual número
de pesquisas sobre a hematofagia são os efeitos danosos proporcionados ao ser
humano e a seus animais de interesse, sendo os insetos- e em especial aque-
les pertencentes à ordem Diptera- os responsáveis por tais efeitos na maior
parte dos casos. Além da espoliação sanguínea, muitas patologias relevant-
es e de ampla distribuição geográfica, geralmente, dependem desses agen-
tes (GUBLER, 2007; MACLACHLAN, 2011; MOLINA-CRUZ et al., 2016).

>>

6 Boletim PETBio UFMA / nº 41 / Setembro de 2017

6 Boletim PETBio UFMA / nº 36 / Junho de 2016
tamento hematófago em dípteros
): caracterização, evolução, bases
s e mecanismos fisio-moleculares

Ingressou no curso de Ciências Biológicas da UFMA (modalidade Bacharelado) no primeiro

semestre de 2015 e entrou para o PETBio em janeiro de 2016. No PETBio é responsável
pela manutenção do site do grupo, confecção de cartazes e certificados, divulgação das
atividades por e-mail, supervisão dos pagamentos de multas e contribuições e faz parte
da comissão científica do boletim PETBio. Atualmente é estagiário no Laboratório de
Genética e Biologia molecular (LabGeM) e no Laboratório de Entomologia e Vetores
(LEV), pelos quais investiga a presença de endossimbiontes e a caracterização de genes
relacionados à olfação em insetos vetores de doenças. Suas áreas de interesse são Genética
Animal, Biotecnologia, Aprimoramento genético, Zoologia, Entomologia e Microbiologia.

Boletim PETBio UFMA / nº 41 / Setembro de 2017 7

Boletim PETBio UFMA / nº 36 / Junho de 2016 7
 Observa-se ainda uma carência de informações
específicas sobre assunto por parte do público não acadêmico,
ARTIGO
especialmente dos residentes de áreas de risco epidemiológico,
aos quais são apresentadas apenas informações superficiais,
que não proporcionam conhecimentos adequados para a
prevenção e formulação de estratégias de convivências com
esses organismos (DE CARVALHO et al., 2004; MAEDA,
M. H.; GURGEL-GONÇALVES, 2012). Em virtude disso, a
presente revisão tem por objetivo apresentar a hematofagia
como um comportamento dos insetos da ordem Diptera,
descrevendo suas variações, uma síntese sobre sua evolução,
suas bases morfo-anatômicas e alguns mecanismos fisiológicos
e moleculares.
Caracterização e evolução do comportamento
hematófago em Diptera
O termo Hematofagia deriva das palavras em grego
hemos (“sangue”) e fagia (“alimentação”), podendo ser
utilizada em substituição a Flebotomia, que por sua vez deriva
do grego Phleba (“veia”) e tomos (corte), sendo definido como
um tipo de alimentação (AZAR; NEL, 2012) que consiste no
uso do sangue (tecido fluido de vertebrados) como recurso
nutricional. Amplamente identificado nos diversos grupos de
animais e, principalmente nos insetos, é uma característica
marcante de moscas, mosquitos e demais membros de seu
grupo.
Os insetos são o grupo de animais cuja espoliação
sanguínea de vertebrados evoluiu em um maior número
de grupos, havendo diversos representantes das ordens
Hemiptera, Siphonaptera, Anoplura, Lepidoptera e Diptera
(Figura 1). Acredita-se que o hábito hematófago tenha sido
derivado gradualmente em espécies que desenvolveram íntima
associação aos vertebrados que se abrigavam em ninhos.
Esses insetos provavelmente se alimentavam de resquícios
epidérmicos (pelos, penas e escamas) que se desprendiam
dos hospedeiros, posteriormente alimentando-se diretamente
dos tecidos destes, como observado em algumas ordens atuais
(BUSH; CLAYTON, 2006). Uma vez que o sangue é um recuso
Figura 1. Representantes de grupos hematófagos da ordem Diptera.
Subfamília Phlebotominae (a); gênero Culicoides (b); família Culici-
dae (c); família Simuliidae (d); família Tabanidae (e); família Glossin-
idae (f). Imagens de domínio creditadas a: CDC/Franklin (a); United
States Department of Agriculture (b); John Tann via Visualhunt.com
(c); servitude via Visualhunt (d); Hectonichus via commons.wikime-
dia.org (e); International Atomic Emergency Agency via commons.
wikimedia.org (f).
8 8 Boletim PETBio
Boletim UFMA
PETBio / nº
UFMA 4136
/ nº / Setembro de2016
/ Junho de 2017
muito mais nutritivo do que pelos e penas, a seleção natural
pode ter favorecido adaptações morfológicas e fisiológicas que
possibilitassem a extração e consumo de sangue. Para mais
informações sobre as hipóteses de evolução da hematofagia em
insetos, recomenda-se a leitura da obra de Lehane (2005).
A ordem Diptera, originária do grego Di (dois) e ptera
(asas), é uma das mais de 30 ordens formalmente reconhecidas
da classe Insecta, pertencente ao clado Holometabola, que
são insetos que apresentam metamorfose completa, ou seja,
apresentando as fases de larva, pupa e imago (CHAPMAN, 2013).
A megadiversidade do grupo reflete-se no número de espécies
descritas atualmente (aproximadamente 120.000), sendo a ordem
mais bem estudada pelos biólogos (GRIMALDI; ENGELS, 2005).
Tradicionalmente dividida nas subordens Nematocera (“dípteros
inferiores”) e Brachycera (“dípteros superiores”), compreendem
os insetos de popularmente reconhecidos como “moscas”, embora
estudos têm evidenciado a parafilia¹ de Nematocera em relação a
Brachycera, pois alguns membros dessa última são mais próximos
a outros da primeira (Figura 2) (YEATES; WIEGMANN, 1999).
Evitando-se tornar complexa a compreensão do posicionamento
filogenético dos grupos de dípteros, será empregada no texto essa
classificação tradicional; entretanto, recomenda-se a leitura de
Yeates e Wiegmann (2005) para uma fiel revisão da atual situação
taxonômica da ordem.
Figura 2. Filogenia de Diptera segundo Yeates e Wiegmann (1999). A
subordem Nematocera engloba todos os grupos de nós anteriores a
Brachycera. Números à direita indicam o número de espécies descritas
para cada grupo. Modificado de Yeates e Wiegmann (1999).
O comportamento hematófago apresenta variações entre
os grupos de dípteros, sendo essas perceptíveis em características
como: presença ou não em ambos os sexos (fator reprodutivo ou
de nutrição), período da busca pela refeição sanguínea (diurno
ou noturno), hospedeiros preferenciais e demais características
notavelmente peculiares para cada grupo (LEHANE, 2005).
Nos casos em que a hematofagia é um fator reprodutivo
exclusivo das fêmeas (caso da maioria dos nematoceros),
estas podem apresentar ou não concordância concordância
gonotrófica, ou seja, podem maturar um grupo (lote) de ovos
a cada espoliação sanguínea, levando, consequentemente, a
uma redução na demanda de buscas pelo hospedeiro; esta
característica possibilita aos pesquisadores estimar o
número de espoliações e a idade fisiológica da fêmea a
partir da morfologia de seus ovários (DETINOVA, 1962;
M. J. LEHANE., 2005). Por sua vez, as fêmeas discordantes
gonotróficas conseguem maturar um lote de ovos somente
depois de realizarem uma certa quantidade espoliações
sanguíneas, exigindo mais buscas para garantir sua reprodução.
Essa variação é correlacionada a fatores fisiológicos e está
diretamente correlacionada às concentrações de reservas
nutritivas durante o período larval (CHIA; BAXTER;
MORRISON, 1981; WOLFHUGEL, 1951).
A preferência alimentar também diferencia as espécies
hematófagas, havendo espécies generalistas (espoliam vários
hospedeiros) e outras mais especialistas (relacionam-se a um
ou poucos hospedeiros), como, por exemplo, em Brumptomyia
avellari, um flebotomíneo que apresenta poucas espécies
como hospedeiras (MANGABEIRA, 1942). A preferência por
determinados hospedeiros é um fator chave para identificar
o papel do inseto vetor na transmissão de doenças, pois as
espécies generalistas podem atuar como transmissores de
patógenos entre duas ou mais espécies de hospedeiros (DA
ROCHA NERY; LOROSA; RAMOS FRANCO, 2004; NEVES,
2002).
Quanto à evolução, a origem da hematofagia no grupo
ainda gera controvérsias, pois, enquanto alguns autores apontam
para o início do Cretáceo (LUKASHEVICH; MOSTOVSKI,
2003), outros afirmam que esse hábito diversificou-se antes
disso, conforme evidências fósseis de nematóceros de
morfologia espoliadora vêm sendo descobertas (ILANGO,
2011). Argumenta-se ainda que a o desenvolvimento da
hematofagia foi precedido da entomatofagia (predação e
consumo dos fluidos de outros insetos), tendo-se em vista
que o aparelho picador-sugador dos hematófagos também é
utilizado para esse outro comportamento alimentar, além do
comportamento predatório agressivo, constituindo-se de pré-
adaptações (WAAGE, 1979) . Isso é demonstrado para algumas
famílias de moscas e alguns dípteros inferiores, como as fêmeas
da família Ceratopogonidae, que predam e espoliam outros
insetos, contudo, não parece ser o caso de todas as famílias da
ordem (M. J. LEHANE., 2005; WEEREKOON, 1953).
Quaisquer que forem as conclusões referentes às
primeiras formas hematófagas, o fato é que, ao final do Cretáceo,
já havia uma grande representatividade deste comportamento
alimentar em Diptera, diversificando-se mais ainda durante
a irradiação das aves e mamíferos (FREITAS et al., 2015;
MARTINS-NETO, 2003). Além disso, essa diversidade de
hábitos hematófagos na ordem pode ser observada a partir das
suas diferenças morfológicas e anatômicas.
Bases morfológicas e anatômicas
A morfologia chave para a hematofagia reside no
aparelho bucal perfurante. A maioria dos insetos hematófagos
apresenta essa configuração bucal picadora-sugadora, formando
uma estrutura estreita e alongada denominada estilete, que
permite o fluxo do sangue para a região oral. Apesar de esse
aparelho ser um perfeito exemplo de convergência evolutiva,
estando presente em todas as principais ordens hematófagas
(Hemiptera, Siphonaptera e Diptera), ocorrem variações
em relação a quais peças bucais a compõem: em Hemiptera (tanto
nos representantes hematófagos como nos demais), por exemplo,
ARTIGO
é presente um aparelho do tipo Tetraqueta, formado por um
par de mandíbulas, um par de maxilas e um lábio; Siphonaptera
possui um aparelho Diqueta, consistindo num par de maxilas
sobreposto pela epifaringe (CHAPMAN, 2013). Por sua vez, os
outros representantes da ordem Diptera apresentam uma série de
variações quanto à morfologia bucal, as quais serão discutidas a
seguir.
Nos membros de Nematocera, em geral, o estilete consiste
num aparelho Hexaqueta, o qual consiste num par de mandíbulas,
um par de maxilas, uma hipofaringe contendo o canal salivar, um
lábio (o qual forma um “estojo” em volta das demais estruturas) e
um labro, o qual envolve o canal alimentar (Figura 3). Apesar desse
padrão, a morfologia dentro do grupo apresenta variações quanto
ao desenvolvimento de certas peças. Na família Simuliidae, por
exemplo, o lábio envolve o aparelho bucal, o qual é curto e largo,
com um lobo maxilar cerrado e bem desenvolvido (KELLOGG,
1899). Variações desse padrão morfológico também ocorrem nas
demais famílias dos “dípteros inferiores” (KRENN; ASPÖCK,
2012).
Figura 3. Configuração do aparelho bucal dos nematoceros. Clípeo (c),
labro (lbr), hipofaringe (h), mandíbulas (n), maxilas/lacínias (mx), lábio
(lb) e palpos maxilares (mxp). Modificado de “Entomology for begin-
ners; for the use of young folks, fruit growers, farmers, and gardeners”
(1888).
A subfamília Phlebotominae (família Psychodidae), que
engloba importantes vetores de protozoários agentes de doenças,
como a Leishmaniose, apresenta mandíbulas bem desenvolvidas
e dentadas em seu ápice, normalmente sobrepostas quando
em repouso, além de lacínias com pontas afiadas e palpos
maxilares com função sensorial (KRENN; ASPÖCK, 2012).
Um carácter importante à alimentação a base de sangue é a
presença de uma cavidade oral denominada cibário, que, além
de ser um importante carácter taxonômico, apresenta dentículos
esclerotizados (“dentes”) com funções ainda muito debatidas,
mas que, certamente, participam da hematofagia, já que são bem
desenvolvidos nas fêmeas, mas pouco nos machos (LEWIS, 1975).
A caracterização espoliadora é exclusiva das fêmeas, enquanto os
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2016 9
 machos apresentam peças bucais menos desenvolvidas e
utilizadas apenas para a alimentação a base de néctar e exsudatos
ARTIGO
vegetais. Assim como nos flebotomíneos, a morfologia bucal
dos Culicoides é provida de lacínias finas e mandíbulas dentadas
como principais componentes hematófagos (KRENN;
ASPÖCK, 2012), os quais são acionados pelos músculos
abdutores na base da mandíbula, provocando a retração de
suas pontas e, consequentemente, o corte do vaso sanguíneo
(MCKEEVER; WRIGHT; HAGAN, 1988).
Diferentemente dos exemplos anteriores, os mosquitos
(Culicidae) apresentam um desenvolvimento mais complexo
de suas peças bucais. Os estiletes são mais alongados, com
ambas mandíbulas e lacínias apresentando extremidades
afiadas e voltadas à punção; o lábio reveste esse complexo
(também denominado tromba ou probóscide), sendo retraído
quando do momento da inserção das peças bucais, as quais são
inseridas diretamente no capilar e, em conjunto às bombas do
cibário e da faringe, promovem a sucção sanguínea (CONSOLI;
LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994). Ademais, a composição
do aparelho nas fêmeas da família Culicidae respeita o padrão
dos Nematoceros.
Nos dípteros “superiores”, observa-se diferenças
tanto na composição do aparelho bucal quanto no nível de
desenvolvimento de suas partes. Nos membros da família
Tabanidae, por exemplo, o complexo picador-sugador segue,
essencialmente, o padrão dos nematoceros, embora apresentem
uma estrutura mais curta, larga e robusta (KRENN; ASPÖCK,
2012), apta, contudo, a seus hospedeiros preferenciais (equinos,
bovinos e cervídeos). Em Glossinidae, por sua vez, o aparato
picador-sugador consiste em labro, hipofaringe e lábio envoltos
pelos palpos maxilares. A labela é um importante elemento
nessa família, visto que apresenta dentes que são evertidos no
momento da alimentação sanguínea por meio de alterações
na pressão hemolinfática², promovendo a perfuração do
tegumento do hospedeiro múltiplas vezes a partir da retração e
inserção do aparelho picador em posições levemente diferentes,
o que proporciona a formação de uma poça sob o tegumento
e a rápida alimentação do inseto (KRENN; ASPÖCK, 2012;
POPHAM; ABDILLAHI, 1979).
Apesar desse papel crucial, o aparelho bucal não é
a única adaptação morfológica útil à hematofagia, sendo
necessárias especializações anatômicas em todo o seu sistema
digestório para receber o conteúdo do repasse sanguíneo. Uma
dessas adaptações é a anatomia do intestino médio. Dípteros,
diferentemente de outros insetos hematófagos, apresentam
de um a três divertículos para armazenamento adicional do
conteúdo ingerido; além disso, nesse grupo, a digestão pode ser
em lotes (ocorre igualmente por toda a superfície do intestino
médio) ou contínua (ocorre gradualmente como em uma linha
de produção), sendo a primeira ocorrente nos nematoceros e
a segunda nos braquíceros (LEHANE, 2005). Características
anatômicas que guiem ao hospedeiro também são essenciais
para o desenvolvimento da hematofagia, sendo a atração visual
e química essenciais (SUTCLIFFE, 1987; TAKKEN, 1991; VAN
BREUGEL et al., 2015).
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Os dípteros, assim como outros insetos, podem
apresentar visão por aposição (a luz que alcança um omatídeo³
é distribuída a um rabdoma4) ou por justaposição (a luz de
vários omatídeos converge a apenas um rabdoma), sendo a
primeira comum nas espécies diurnas e a última nas espécies
noturnas (GALLO et al., 2002). Os olhos de espécies noturnas
são mais eficientes na captação de luz, muito devido à forma
larga e cônica e da disposição fundida dos seus rabdomas, que
permite uma visão por justaposição e uma aclimatação mais
ampla que a das espécies diurnas às mudanças de luminosidade
(LAND et al. 1999).
Se as peças bucais são a morfologia chave para a
espoliação sanguínea, as estruturas quimiotáticas são a
chave para o encontro com o hospedeiro. Dentre essas,
podemos citar as antenas e os palpos maxilares como os
principais, e contendo uma grande quantidade de sensilas,
que são extensões da cutícula que abrigam a maquinaria de
reconhecimento de químicos voláteis (DA SILVA NETO,
2013). A captação de odores é a principal atividade sensorial
relacionada à hematofagia, pois experimentalmente já
foi demonstrado que o comprometimento da capacidade
olfativa em diversos níveis interfere no encontro com a fonte
alimentar, no caso, do hospedeiro vertebrado (HOFFMANN;
MILLER, 2002; MILLER; GIBSON, 1994; WILLIAMS et
al., 2006). Recentemente, pesquisas têm sido voltadas a esse
reconhecimento e às moléculas responsáveis (BIESSMAN et
al., 2002; XU et al, 2009).
Mecanismos fisiológicos e moleculares
O hábito hematófago depende de uma série de
características para que possa ser desenvolvido, sendo
a morfologia e a anatomia, como visto, essenciais para
isso. Entretanto tais características não são isoladamente
responsáveis pelo comportamento hematófago, pois são
necessários estímulos para a atração pelo hospedeiro, além de
componentes fisiológicos para o processamento do sangue e
destinação ao desenvolvimento dos ovos. Esses componentes
fazem parte do repertório molecular próprio ou externo aos
insetos dípteros que influenciam em sua fisiologia, logo, tais
moléculas (ácidos nucléicos, proteínas, compostos voláteis e
outros) têm despertado o interesse da comunidade científica
no que diz respeito ao seu papel em todas as fases do
comportamento hematófago (ADAMS, 1999; MESQUITA et
al., 2015; WU et al., 2009).
A fisiologia hematófaga emprega adaptações que
permitem o processamento do sangue, proveniente, em sua
maioria, de hospedeiros vertebrados, uma fonte altamente rica
em nutrientes, porém, que carrega patógenos e apresenta uma
configuração diferente da hemolinfa dos insetos (MELLANBY,
1939). Algumas dessas adaptações garantem o balanço hídrico
após a ingestão de um grande volume de sangue, como a
pré-diurese, que permite a liberação do excesso de líquido
obtido durante a alimentação sanguínea pelo canal digestivo,
concentrando as proteínas do sangue espoliado (SADLOVA et
al., 2013), enquanto outras estão mais relacionadas à proteção
contra contaminação pelo conteúdo sanguíneo.
 Apesar de notórios vetores de patógenos, os dípteros
e outros insetos hematófagos apresentam células (hemócitos)
e proteínas (defensinas, em sua maioria) em sua hemolinfa
que reconhecem e inativam possíveis microrganismos
patogênicos ao inseto que podem ser adquiridos pelo contato
com o hospedeiro (CASTILLO; BROWN; STRAND, 2011;
LOWENBERGER et al., 1995). Outra estratégia observada em
mosquitos do gênero Anopheles consiste na liberação de fluidos
durante a alimentação sanguínea, reduzindo a temperatura
corporal do inseto pela evaporação desse fluido e protegendo-o
do stress térmico gerado ingestão do sangue vertebrado com
temperatura elevada (LAHONDÈRE; LAZZARI, 2012).
O sucesso do hábito hematófgo garantiu que
os insetos respondessem positivamente ao sangue como
recurso alimentar e, na maioria dos dípteros, como recurso
reprodutivo para maturação dos ovos. Para a maturação dos
ovos, as proteínas e aminoácidos são as principais demandas
nutricionais, promovendo o rápido desenvolvimento dos
ovos quando em altas concentrações, mas não se deve
descartar o papel de lipídios como precursores hormonais das
formas imaturas (KOGAN, 1990). Naturalmente, a digestão
sanguínea deve ocorrer com o auxílio de proteases, enzimas
cuja função é a degradação das proteínas em aminoácidos e
que são permeáveis à membrana peritrófica5, tendo, então,
acesso ao conteúdo ingerido (CONSOLI; LOURENÇO-DE-
OLIVEIRA, 1994). Deve-se mencionar, ainda, o importante
papel das enzimas anticoagulantes presentes na saliva para
a manutenção da viabilidade do sangue obtido, além de
outras proteínas alergênicas e imunomodulatórias que podem
favorecer o sucesso na transmissão de parasitas aos hospedeiros
vertebrados e na sua aquisição pelo inseto vetor (CONSOLI;
LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; DARPEL et al., 2011;
SOARES; TURCO, 2003).
Na busca pelo hospedeiro, os mecanismos moleculares
são imprescindíveis. Tanto que a maioria das buscas para
abordagens de controle biológico tem como alvo as famílias
de genes e proteínas quimiossensoras, como as OBPs
(Odorant Binding Proteins, Proteínas Ligantes de Odores),
ARTIGO
proteínas hidrossolúveis imersas na hemolinfa que atuam no
reconhecimento primário de compostos voláteis (moléculas de
odores) que chegam às sensilas; CSP (Chemosensory Proteins),
análogas às OBP; OR (Odorant Receptors, Receptores de
Odores), proteínas de membrana presentes nos neurônios e
responsáveis pela transdução do sinal ao receberem a resposta
das OBP e CSP (Figura 4); IR (Ionotropic Receptors, Receptores
Ionotrópicos), uma família recentemente descoberta de
receptores olfatórios não relacionada às OR e os GR (Gustatory
Receptors, Receptores Gustatórios). Essas proteínas e os genes
que as codificam são padrões para a quimiorrecepção dos insetos
(EYUN et al., 2017), contudo, sua investigação nos dípteros
hematófagos pode e vem ajudando no desenvolvimento de
abordagens práticas no controle da disseminação de doenças,
e, no campo teórico, com a formulação de relações evolutivas
baseadas nessas moléculas (DEGENNARO et al., 2013;
MANOHARAN et al., 2013; SENGUL; TU, 2010).
Conclusão
A evolução da hematofagia na ordem Diptera é
um de muitos casos da expressão desse comportamento no
reino animal, claramente garantindo o sucesso dos poucos
grupos que o desenvolveram, tendo-se em vista as vantagens
nutricionais proporcionadas pelo sangue e a diversidade de
formas que se irradiaram dentro desses grupos, especialmente
nos nematoceros (FARIAS; ALMEIDA; PESSOA, 2016;
RUEDA, 2008).
A descrição das morfologias hematófagas é bem
detalhada para a ordem, logo perspectivas futuras para estudos
na área apontam para abordagens moleculares como forma
de elucidar as linhas evolutivas do comportamento dentro
de Diptera, moléculas envolvidas no repasto sanguíneo e
também como forma de compreender esses mecanismos para a
aplicação em técnicas de controle biológico no que diz respeito
ao controle de doenças transmitidas por artrópodes.
Figura 4. Mecanismo de ação das
OBP (proteínas ligantes a odores)
e OR (receptores de odores) na
quimiorrecepção dos insetos. À
esquerda, pode-se observar as
partes que compõem cada sen-
sila; à direita estão ilustrados os
componentes e o mecanismo de
interação entre as moléculas para
captação do odor e transdução do
sinal pelo neurônio. Modificado
de Sánchez-Gracia, Vieira e Rozas
(2009).
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Glossário
1: condição em que um clado (grupo filogenético) engloba o
ancestral comum, mas não todos os seus descendentes.
ARTIGO
2: hemolinfa constitui o fluido análogo ao “sangue” de inse-
tos e outros artrópodes.
3: subunidade poligonal de olhos compostos dos insetos.
4: estrutura em forma de tubo circundada pela retina, pre-
sente sob cada omatídio, com função fotorreceptora.
5: membrana de quitina que envolve o conteúdo ingerido no
intestino médio dos insetos.
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WAAGE, J. K. The evolution of insecthertebrate associations. n. November, p. 187–224,
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28, n. 7–9, p. 85–92, 1953.
WILLIAMS, C. R. et al. Laboratory and field assessment of some kairomone blends for
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WOLFHUGEL, K. Quantitative relationship between ingested blood and follicular
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1951.
WU, D. D. et al. A profound role for the expansion of trypsin-like serine protease family
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XU, Y. L. et al. Large-scale identification of odorant-binding proteins and chemosensory
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YEATES, D. K.; WIEGMANN, B. M. CONGRUENCE AND CONTROVERSY: Toward
a Higher-Level Phylogeny of Diptera. Annu. Rev. Entomol, v. 44, p. 397–428, 1999.
YEATES, D. K.; WIEGMANN, B. M. (Ed.). The evolutionary biology of flies. Columbia
University Press, 2005.
 Uma boa vizinhança

ENSAIO
Facilitação, uma nova alternativa na ecologia
Ítalo Vinícius Cantanhêde Santos
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís

A maioria das pessoas, mesmo aquelas que não tem ligação com área da biologia, já ouviu falar em algum momento da sua vida so-
bre algum processo ecológico, como por exemplo: competição, comensalismo¹, predação, amensalismo² entre outros, dos quais
aprendemos durante a vida escolar. Entretanto, a ecologia é uma área ampla dentro das ciências biológicas e os processos eluci-
dados por ela são vastos e complexos, propiciando o surgimento de diversas vertentes e linhas de estudo. Um desses processos ecológicos
é a chamada Facilitação, a qual teve a descoberta e as atenções dos pesquisadores recentemente, e consiste basicamente na presença de um
indivíduo em determinado local influenciar positivamente indivíduos de diferentes espécies propiciando o estabelecimento e/ou desen-
volvimento diferencial dos mesmos em uma comunidade, nesse processo pelo menos um dos indivíduos participantes é beneficiado.
Estudos relacionados aos processos de facilitação vem crescendo cada vez mais e ganhando força na área da ecologia, prin-
cipalmente devido ao fato de surgirem como uma ferramenta teórica para mudança de conceitos previamente estabelecidos na área.
Tradicionalmente, as interações ecológicas negativas, tais como predação e competição, são consideradas as mais importantes na de-
terminação da estrutura das comunidades, mas com o aumento da importância dada à facilitação pelos ecólogos, maior atenção vem
sendo dada às interações ecológicas positivas e como estas influenciam na diversidade de espécies. Um exemplo de como esses estu-
dos vêm mudando o cenário da ecologia atual é encontrado no trabalho Facilitation as a ubiquitous driver of biodiversity (Facilitação
como um direcionador ubíquo³ de biodiversidade) no qual os autores propõem uma hipótese onde a facilitação seria a principal fonte
de geração de biodiversidade nas comunidades, propiciando o surgimento de várias discussões e questionamentos sobre o assunto.
Mas na prática, como entender a facilitação? Diversos artigos têm sido publicados detalhando o processo de facilitação. A maio-
ria desses trabalhos são relacionados às plantas, seja pela facilidade de trabalhar com esses organismos em comparação com animais ou
pela maior ocorrência desse fenômeno nos sítios de pesquisa escolhidos. Um desses estudos exemplifica claramente o processo de facil-
itação, ele faz a correlação entre a presença ou ausência de uma planta de uma espécie em uma área com a quantidade de visitas florais e
plantas polinizadas de outra espécie, para isso os pesquisadores projetaram um experimento no qual duas espécies de plantas que ocor-
rem no mesmo local naturalmente foram plantadas juntas em uma área controlada em diferentes proporções de uma pra outra e também
em áreas com as espécies sozinhas. Foram feitas observações acerca de características relacionadas à polinização dessas plantas e foi
possível perceber uma maior quantidade de visitas e maior número de frutos formados nos tratamentos em que as plantas estavam pre-
sentes juntas e em proporções iguais, evidenciando que a presença de uma planta no local afetou positivamente a polinização da outra.
A facilitação é uma relação ecológica ainda muito controversa para muitos pesquisadores, mas que vem se mostran-
do uma fonte promissora tanto no aspecto teórico da ecologia ao propiciar alternativas para os novos estudos, mas também no
campo prático, podendo ter seus conceitos utilizados no desenvolvimento de estratégias de conservação de espécies ameaça-
das de extinção ou na recuperação de áreas degradadas. Entretanto, muito ainda há para se descobrir nesse campo relativa-
mente novo da ecologia, como qual é o seu real papel na geração da biodiversidade, a sua relação com os processos evolutivos e
genéticos e mesmo se a facilitação ocorre em todas as comunidades. No final das contas parece que não é tudo tão “fácil” assim.

Glossário
1. Comensalismo: Relação ecológica que ocorre entre espécies diferentes, na
qual um indivíduo de uma das espécies se beneficia enquanto o da outra espé-
cie não possui prejuízos nem ganhos.
2. Amensalismo: Relação ecológica que ocorre entre dois ou mais indivíduos
da mesma espécie ou espécies diferentes, na qual um dos indivíduos é benefi-
ciado enquanto que o outro é prejudicado.
3. Ubíquo: que pode ser encontrado em todos os lugares.

Referências
GHAZOUL, J. Floral diversity and the facilitation of pollination. Journal of ecology, v. 94, n. 2, p. 295-304, 2006.
MCINTIRE, E. J; FAJARDO, A. Facilitation as a ubiquitous driver of biodiversity. New Phytologist, v. 201, n. 2, p. 403-416, 2014.
YE, Z. M., DAI, W. K., JIN, X. F., GITURU, R. W., WANG, Q. F., YANG, C. F. Competition and facilitation among plants for pollination:
can pollinator abundance shift the plant–plant interactions? Plant ecology, v. 215, n. 1, p. 3-13, 2014.

Boletim PETBio
Boletim UFMAUFMA
PETBio / nº 41 / Setembro
/ nº 36 / Junhodede2017
2016 13

ENSAIO

Como os porcos podem salvar humanos?

Novas tecnologias aplicadas aos Xenotransplantes
Ana Luiza Araújo Butarelli
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís

O s números não mentem, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, somente até o mês de junho
de 2017 cerca de 33 mil pessoas estavam na fila de espera para receber um órgão. O rim é o órgão que possui mais
demandas (cerca de 20.500 pacientes na espera), seguido de córnea (10.250 pacientes) e fígado (1.200 pacientes).
Apesar da grande quantidade de pessoas precisando de doações, o número de doadores não acompanha essa carência.
http://funnypicblast.com

Entre janeiro e junho de 2017 foram identificados apenas cerca de 1.600 doadores efetivos, não representando nem 5%
da demanda. Então, qual seria a solução?
Os cientistas vêm buscando novas alternativas para suprir a falta de doadores de órgãos e atender as necessi-
dades de quem precisa restabelecer suas funções corporais, permitindo o prolongamento da vida humana, bem como
a melhoria da qualidade de vida de indivíduos acometidos por doenças graves que levam à falência total ou parcial de
órgãos, ou à destruição de células e tecidos. Uma delas é o xenotransplante, que segundo Cozzi e White (1995) consiste
no transplante de células, tecidos e órgãos entre indivíduos de espécies animais diferentes. Essa técnica, apesar de abrir
um grande leque de possibilidades, está rodeada de dificuldades imunológicas e éticas.
Os porcos são doadores promissores para o xenotransplante devido à grande quantidade de semelhanças fi-
siológicas e anatômicas com os humanos, além da facilidade de criação e manutenção do animal, sendo possível obter
uma prole numerosa. Então por que os transplantes não são feitos? Ao transplantar um órgão de um porco normal
saudável para um humano, o mesmo pode sofrer a ação de reações imunológicas ainda mais severas que o transplante
de humanos para humanos, as mesmas são denominadas HAR (Hyperacute Rejection - Rejeição Hiperaguda) e AHXR
(Acute Humoral Xenograft Rejection - Rejeição Aguda de Xenogravagem Humoral) e são capazes de gerar rejeição e res-
postas graves ao organismo e ao órgão enxertado. Além da potencial destruição do órgão, existe ainda a possibilidade
de transmissão de partículas e genes virais presentes nos suínos para o humano receptor, gerando infecções que podem

iStock/Getty Images/Veja
causar danos ao mesmo. Sendo assim, diversas pesquisas têm sido realizadas com o intuito de criar porcos transgêni-
cos, ou seja, modificados geneticamente, com o intuito de dar fim aos empecilhos do xenotransplante.
As técnicas de edição gênica1 têm sido extremamente valiosas na retirada de genes virais incorporados ao ge-
noma suíno, eliminando os chamados PERV’s (Porcine endogenous retrovirus - Retrovírus Endógenos Porcinos) que
podem infectar as células do humano receptor do órgão em questão. Sendo assim, pesquisadores dos Estados Unidos
conseguiram, através da tecnologia CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic
Repeats - Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) de
edição gênica, retirar as sequências gênicas pertencentes a esses vírus e dar origem a
indivíduos saudáveis e livres de PERV’s, dando um grande passo em direção as novas
alternativas de transplante de órgãos. A eliminação de genes e enzimas capazes
de desencadear as reações imunológicas HAR e AHXR também está na lista de
edições gênicas realizadas nesses animais. As mesmas têm o objetivo de dimi-
nuir a rejeição dos órgãos porcinos pelo organismo humano, havendo maiores
chances de sucesso pós-transplante.
Os porcos, apesar de serem considerados os animais com maior
quantidade de alterações genéticas da história, ainda estão um pouco longe de
serem os doadores perfeitos. O alotransplante (transplante de células, tecidos
e órgãos entre indivíduos da mesma espécie, porém, geneticamente diferentes)
ainda é o mais apropriado, no entanto, com a falta de doadores as opções se
tornam cada vez mais escassas. Apesar de se sobressair como alternativa ainda
existem muitas discussões acerca do xenotransplante e sua viabilidade. No Brasil,
ainda não há uma legislação específica que regulamenta a realização dessa forma de
transplante, no entanto, é preciso analisar os riscos e problemas de sua realização, con-
trabalanceando com seus benefícios. Seria o xenotransplante o futuro para salvar vidas?

Glossário
1. Edição gênica: Consiste na manipulação/alteração do genoma de
um ser vivo (animais, plantas ou até mesmo bactérias).

Referências:
Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. BRASIL. http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/2017/rbt-leitura-sem.pdf. 2017. Disponível em: <http://www.abto.org.br/
abtov03/Upload/file/RBT/2017/rbt-leitura-sem.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2017.
COZZI, Emanuele; WHITE, David J. G.. The generation of transgenic pigs as potential organ donors for humans. Nature Medicine, Padua, v. 1, n. 9, p.964-966, set. 1995.
GALLAGHER, James. O avanço genético que pode possibilitar transplante de órgãos de porcos em humanos. 2017. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/geral-40900795>.
Acesso em: 14 ago. 2017.
KLYMIUK, Nikolai et al. Genetic modification of pigs as organ donors for xenotransplantation. Molecular Reproduction And Development, [s.l.], p.1-13, 2009. Wiley-Blackwell.
SERVICK, Kelly. CRISPR slices virus genes out of pigs, but will it make organ transplants to humans safer? 2017. Disponível em: <http://www.sciencemag.org/news/2017/08/crispr-slices-
virus-genes-out-pigs-will-it-make-organ-transplants-humans-safer>. Acesso em: 14 ago. 2017.

14 Boletim PETBio UFMA / nº 41

36 / Setembro de 2017
Junho de 2016
 Quando prédios forem florestas
A s abelhas são insetos muito importantes do ponto
de vista ecológico porque são hábeis polinizadores.
Segundo estudos do Serviço Americano de Pesca e Vida
Selvagem, elas estão na lista de espécies ameaçadas de extinção,
devido provavelmente ao fato de que as florestas estão dando
lugar a prédios e construções urbanas. A ausência de habitats
por queimadas ou desmatamentos, somados também a outros
fatores como as mudanças climáticas, o uso indiscriminado
de pesticidas a base de nicotina (neonicotinoides) e o
desequilíbrio nas teias ecológicas com o aparecimento de
espécies invasoras, ocasionam uma perda significativa do
número de espécies pertencentes à ordem Hymenoptera¹.
Existem fortes relações coevolutivas moldadas ao longo
de muito tempo e, por isso, a ausência de uma abelha específica
pode ser (ou pode funcionar de forma) letal para a planta, em
outras palavras, essas relações especialistas podem provocar a
extinção de um deles na ausência do outro. As redes de interação
abelha-planta mostram a imediata necessidade de conservá-
las, bem como os habitats e reduzir a ação dos dispersores
de pesticidas. Sem as abelhas, não há produção de culturas de
melancia, maçã, laranja, cebola, diferentes grãos como café
e tantos outros. As abelhas são responsáveis por cerca de 90%
da polinização, realizada principalmente pela tribo sem ferrão,
Meliponini². Perder uma biodiversidade representada pela
superfamília Apoidea³ significa perder plantações inteiras, não
obstante, acarretaria em inúmeras perdas consecutivas como
um efeito cascata. A alimentação de animais ficaria igualmente
comprometida e toda a cadeia alimentar seria afetada.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) tem um protocolo de exigência
de preservação de uma área mínima da Amazônia a qual seria
suficiente para manter uma variabilidade genética mínima que
propicie a continuidade dessas populações nesse ambiente.
Em populações isoladas, devido a prováveis fragmentação dos
ecossistemas, a frequência de muitos genes, como por exemplo
aqueles responsáveis pela determinação do sexo diminuem,
e isso traz grandes riscos para a preservação das colônias.
Referências:
REBÊLO, M. História Natural das Euglossíneas. As abelhas das orquídeas. São Luís: Lithograf Editora, 2001. 152p.
SANTOS,A.B. Abelhas nativas: Polinizadores em declínio. Disponível em: <http://www.naturezaonline.com.br/natureza/conteudo/pdf/01_
santosab_103106.pdf> Acessado em: 10/05/2017.
KERR, W.E. et al. Biodiversidade, pesquisa e desenvolvimento na Amazônia: Aspectos pouco mencionados da biodiversidade amazônica.
Parcerias estratégicas, n 12. Setembro 2001.
.
ENSAIO
Eulália Cristine Guimarães Silva
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís
Um grande exemplo da importância desses organismos
é a interface entre a polinização e o reflorestamento, como por
exemplo, o reflorestamento da floresta Amazônica, onde as
abelhas polinizam grande parte das plantas presentes nesse bioma.
Porém, a degradação das florestas ocasiona a
perda de habitats das abelhas e isso as coloca em ameaça de
extinção, isso traz à tona a incapacidade de reflorestamento
sem a dispersão de pólen das flores. Assim, há uma enorme
teia entre esses fenômenos, ou seja o declínio das espécies
das abelhas trará grandes modificações nos ecossistemas.
Um exemplo claro desse processo são os conflitos
gerados pelo modelo agropecuário extensivo e de monoculturas
que acarretarão em gastos bilionários segundo a Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Food and
Agricultural Organization - FAO), e somente uma pequena
parcela de toda a população será suprida, além disso enormes
áreas de floresta estão sendo degradadas, consequentemente
isso gera fortes impactos nas populações de abelhas.
Assim, a preservação desses insetos tão significativos
permitirá a continuidade da polinização de plantas. Para isso,
é necessário proibir na legislação do Brasil o uso de pesticidas
à base de nicotina, o cumprimento dos protocolos do IBAMA
em relação ao desmatamento, o reflorestamento das áreas
desmatadas e quando a presença das árvores forem tanto
quanto a dos prédios. O físico Albert Einstein, ganhador do
Prêmio Nobel, em um dos seus discursos disse: “Se as abelhas
desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais
quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização...”.
Glossário:
1 Hymenoptera: Ordem de insetos que abrange vespas, formigas e
abelhas.
2 Meliponini: Uma das tribos pertencentes à família Apidae.
3 Apoidea: Superfamília do grupo Hymenoptera.
Boletim PETBio
Boletim UFMA
PETBio / nº 41
UFMA / nº/ Setembro
36 / Junhode
de2017
2016 15
15
 Zika vírus: novos vetores, novos desafios
ENSAIO
A infecção pelo vírus Zika (ZIKV)causa uma doença com
sintomas bastante característicos, porém de evolução
benigna, com rápida regressão. Entretanto, o atual surto
da doença no Brasil tem chamado atenção pelos quadros mais
avançados decorrentes da infecção, como microcefalia neonatal
e distúrbios neurológicos(síndrome de Guillain-Barré). O
ZIKV é um vírus de RNA, pertence à família Flaviviridae
e foi isolado pela primeira vez em 1947, a partir de macacos
do gênero Rhesus em uma floresta da África chamada Zika.
Em 1948, o ZIKV foi isolado de uma espécie de Aedes (Aedes
africanus), sendo posteriormente isolados de outras espécies
do gênero Aedes, além de espécies dos gêneros Mansonia,
Anopheles e Culex.
Mais de dez anos após a descoberta do vírus, casos de
infecção em humanos foram registrados em países da África,
posteriormente em países do sudeste asiático, porém o sinal de
alerta mundial ainda não tinha sido dado. Contudo, em 2007,
na Micronésia, foi registrada a primeira epidemia da doença em
ambiente urbano, afetando quase 3/4 da população em uma das
ilhas. Entretanto, apesar de mosquitos Aedes serem encontrados
em algumas áreas afetadas, análises moleculares para detecção
do vírus nesses insetos responderam negativamente. Além
disso, algumas ilhas com casos de infecção por ZIKV não
possuíam Aedes.
Existe um consenso global entre cientistas e agência de
saúde que o Aedes aegypti e Aedes albopictus são os principais
vetores de ZIKV em áreas urbanas, sendo, em parte, resultado
de estudos conduzidos exclusivamente para espécie desse
gênero, principalmente A. aegypti. Intrigantemente alguns
estudos já haviam demonstrado que populações dessas duas
espécies possuíam baixa ou nenhuma capacidade vetorial,
mesmo já sendo relatado o contrário. Contudo, o papel de
outros vetores na propagação do vírus tem sido negligenciado.
Desse modo, outras espécies de mosquitos, como o Culex
quinquefasciatus, por exemplo, poderiam contribuir com
transmissão e consequente disseminação do ZIKV nas áreas
afetadas, visto que esses insetos coexistem com o Aedes em
localidades urbanas.
Embora haja dados que mostram que Culex não é um
vetor do vírus Zika, estudos recentes realizados com mosquitos
ALIOTA, M.T. et al. Culex pipiens and Aedes triseriatus mosquito susceptibility to Zika vírus. Emerging Infectious Diseases. 2016.
BEZERRA, E. B. et al. Ciclo de vida de Aedes (Stegomyia)aegypti (Diptera, Culicidae) em águas com diferentes características. Iheringia, Sér. Zool., Porto
HUANG, Y.J. et al. Culex Species Mosquitoes and Zika Virus. Vector Borne Zoonotic Deseases. 2016.
GUEDES, D.R.D et al. Zika virus replication in the mosquito Culex quinquefasciatus in Brazil. Nature, 2017.
16 Boletim
Boletim PETBio
PETBio UFMA
UFMA // nº
nº 41
36 // Setembro de 2017
Junho de 2016
Ricardo Mendes Gonçalves
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís
coletados em áreas urbanas na China mostraram que esses
insetos são capazes de se infectar e de transmitir o vírus a
ratos em condições laboratoriais. Todos esses resultados
controversos são explicados por haver diferenças na
combinação dos genótipos dos mosquitos e do vírus. O
principal vetor (A. aegypti), isolado no Senegal, por exemplo,
não tem capacidade de transmitir a cepa de vírus isolada de
Rhesus, enquanto que a mesma variedade pode ser transmitida
por uma estirpe de A. aegypti encontrada no México.
Pensando nisso, pesquisadores brasileiros realizaram uma
série de experimentos com mosquitos C. quinquefasciatus,
coletados no Nordeste do Brasil, onde foi possível detectar
a presença de ZIKV nas glândulas salivares e na saliva dos
mosquitos alimentados artificialmente, mostrando capacidade
vetorial semelhante a do A. aegypti, nas mesmas condições.
Em uma cepa de ZIKV isolada de Culex coletados em campo
foi possível detectar mutações em regiões de DNA importante
na produção de enzimas necessárias à multiplicação viral,
permitindo que isso aconteça. Em contrapartida, essas
mutações não foram detectadas no material genético viral
isolado a partir de pessoas infectadas.
Esses dados sugerem que a espécie C. quinquefasciatus é
um vetor de ZIKV. A partir de então, é possível sugerir uma
explicação para a velocidade de disseminação desse vírus, o
qual se acredita que adentrou no Brasil em 2015, espalhou-
KUHN & ROSMAN
se pela América do Sul, passando pela América Central,
chegando ao México em uma velocidade assustadora. Isso
provavelmente foi possível pela coexistência das duas espécies
de mosquitos já citados em ambientes urbanos, onde o Culex
ainda apresenta vantagens, pois, mesmo já sendo descrito
que A. aegypti também se reproduz em águas altamente
contaminadas, porém que com baixa viabilidade larval, esses
ambientes são um prato cheio para desenvolvimento das
larvas de Culex. Ademais, faz-se necessária a realização de
mais estudos com outros possíveis vetores de ZIKV, visto que
a variabilidade genética é um fator crucial na determinação
da capacidade vetorial. Sendo assim, será possível traçar
estratégias eficazes no combate a esse vírus causador de
danos irreparáveis à saúde humana.
Referências:
Alegre , v. 99, n. 3, p. 281-285, 2009.
 I will survive (?)*

PONTO DE VISTA
BIOLÓGICO
Entre extinções em massa e alterações geológicas, bem-vindo ao Antropoceno
Greyck Willyan Marque Santos
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís

I magine-se em um futuro distante. O ser humano encontra-se extinto (hipoteticamente falando, você pode escolher o
motivo, aposto que tem várias ideias). Supondo que esteja em uma espécie de laboratório futurístico, considerando os
seres dominantes, como uma barata geóloga e um rato gigante paleontólogo (ou o tipo de ser vivo que você imagina
que prevalecerá sobre o planeta daqui a milhões de anos). Durante suas pesquisas mais recentes, esses cientistas analisam
a camada geológica referente aos tempos atuais e que surpresa a deles ao observarem as mudanças súbitas nos sedimentos,
tanto no registro fóssil e geológico, logo concluirão que uma rápida e grande catástrofe se abateu sobre o planeta causando
uma extinção em massa. Pesquisando a fundo perceberão que aquela diferença das camadas não ocorreu devido a desastres
naturais como vulcões em erupção ou asteroides errantes, mas sim a algo bem peculiar: uma estranha espécie daninha
que causou grandes transformações em seu meio, afetando não apenas a biodiversidade, mas toda a dinâmica do planeta.
Como algo assim pode ocorrer fica mais esclarecido no trabalho jornalístico de Elizabeth Kolbert “A sexta extinção:
uma história não natural”, obra de divulgação científica ganhadora do prêmio Pulitzer¹ de 2015. A autora explica como o
ser humano é o principal condutor de uma extinção em massa (a sexta, levando em consideração
a classificação das grandes extinções que ocorreram em decorrência a eventos naturais
como a glaciação no fim do Ordoviciano, as transformações químicas dos oceanos e o
aquecimento global no final do Permiano, o impacto de um asteroide que delimitou
o Cretáceo, por exemplo), apresentando argumentos bem fundamentados de
forma objetiva e dinâmica sobre esta proposição que beira absurdamente ao
senso comum e que talvez diante disto não é muito refletida ativamente pelo
público mais leigo. Além disso, durante toda a sua escrita ela aponta ao
conceito de Antropoceno, a era geológica modificada pela ação do ser humano.
Elizabeth elabora sua escrita de modo bem mais instigante e interessante
do que muitos cientistas seriam capazes de escrever, de forma leve e até mesmo
com toques de humor, mas não peca ao utilizar termos técnicos de uma linguagem
mais científica. A distribuição dos capítulos, descreve a jornada investigativa da
autora que percorreu diversos países (por exemplo: Peru, Brasil, Islândia, Austrália,
Escócia, entre outros) não recolhendo apenas embasamento teórico científico
para estruturar seu livro, mas declarações de diversas pessoas, desde paleontólogos,
químicos, naturalistas e vários especialistas em diferentes grupos de seres vivos,
incluindo também até aqueles que não saberiam estruturar de maneira técnica as mudanças
que estão ocorrendo com o planeta, mas tão importante quanto isso, são suas experiências
pessoais ao descreverem o que seus próprios olhos observaram mudar drasticamente em tão pouco tempo.
A narrativa trabalhada como uma história de uma mochileira que levanta dados em diferentes lugares, totalmente
diversos em relação ao seus ambientes e climas, mesmo assim, apresentam espécies de seres vivos que correm o risco de
desaparecer, estabelecendo um paralelo entre todos eles, como se de certo modo as extinções estivessem interligadas,
fundando uma coerência maior de como ocorre esse processo de extinção único, abrangente e atual. Cada capítulo focaliza
em uma espécie ou grupo de organismos em vias de extinção ou relaciona as espécies com questões humanas, como a rã-
dourada-do-panamá existente somente em cativeiro, a caça aos araus-gigantes e a acidificação dos oceanos que corrompe
os recifes de corais, destacando até mesma a possível participação do ser humano na extinção do Homem de Neandertal.
Além disso, a relevância ao contexto histórico é colocada, como quando destaca as pesquisas de Georges Cuvier como
anatomista e a formação do conceito de extinção, algo anteriormente inimaginável aos olhos da sociedade científica da época.
O livro não deixa de intimidar em alguns momentos e emocionar em outros, levantando uma profunda reflexão
sobre as ações humanas, graças a escrita impactante. Durante a leitura, torna-se comum a pergunta se a nossa espécie
sobreviverá a esta nova era, considerando todo o contexto atual, alguns já esperam que não (não hipoteticamente falando).

Glossário:
1.Prêmio Pulitzer: É um prêmio norte-americano dado a pessoas que
realizam trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e
composição musical.
Preço: R$ 27, 60 (Amazon)
Nota - I will survive (?)*
Tradução livre: Eu sobreviverei (?)
Música de: GAYNOR, Gloria. I Will
Survive, Love Tracks (Vinil), EUA: RCA

Referências:
KOLBERT, E. A sexta extinção: uma história não natural. 1ºed. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2015. p.336

Boletim
Boletim PETBio
PETBio UFMA
UFMA / nº/41
nº/36 / Junho de 2016
Setembro 2017 17
 Encontro Nacional dos grupos PET 2017
PET NA ESTRADA

Responsabilidade PETiana: Os incomodados é que mudam

Ana Carolina de Araújo Butarelli,
Ana Luiza de Araújo Butarelli e
Thalita Moura Silva Rocha
Curso de Ciências Biológicas/ UFMA - São Luís

Entre os dias 23 e 30 de Julho de 2017 ocorreu em Brasília, DF, o XXII Encontro Nacional de grupos
PET - ENAPET. O evento ocorre anualmente e reúne petianos e tutores do Brasil inteiro para discutir sobre te-
máticas relacionadas às experiências vividas por todos os integrantes do Programa de Educação Tutorial. Com
o tema Responsabilidade PETiana: Os incomodados é que mudam, os participantes foram desafiados a re-
fletir acerca da responsabilidade de participar ativamente da busca pelos direitos do programa junto ao MEC
e junto às IES (Instituições de Ensino Superior). O encontro se destaca por possuir um caráter integrativo e
de compartilhamento de experiências e aprendizados entre os grupos, além de ser um espaço deliberativo.
O evento foi sediado pela Universidade Federal de Brasília (UNB) que acolheu mais de 900 pe-
tianos vindos de diversas partes do país, sendo esses bolsistas, voluntários, tutores e egressos. Ape-
sar de todos os contratempos, o PET Biologia (PETBio) UFMA marcou presença no evento, sen-
do representado pelas petianas Ana Carolina de Araújo Butarelli, Ana Luiza de Araújo Butarelli, Thalita
Moura Silva Rocha e pela tutora Mayara Ingrid Sousa Lima. O grupo também teve a oportunidade de ter dois
trabalhos aprovados sendo possível compartilhar com os outros grupos do Brasil suas experiências e atividades.
Este ano, em especial, o evento apresentou cunho estatuinte, tornando possível uma discussão mais
aprofundada sobre a situação do programa e um levantamento de propostas e encaminhamentos a fim de se
fazer modificações no estatuto do PET pertinentes à sua situação política, sendo as mesmas aprovadas ou su-
primidas na Assembleia Geral do XXII ENAPET. A proposta do evento de chamar atenção para a importân-
cia do programa e mostrar os problemas que os grupos vêm enfrentando em meio a uma crise nacional, cul-
minou em mais uma edição do Mobiliza PET, uma manifestação organizada com o intuito de dar voz aos
petianos por meio de uma reunião entre a Comissão Executiva Nacional do Programa de Educação Tuto-
rial (CENAPET) e o Ministério da Educação (MEC). A manifestação foi realizada em frente ao Ministério da
Educação e buscou chamar atenção também para o descaso com as Universidades e os cortes na educação.
Além da oportunidade de reflexão sobre a importância do programa, participação na mobilização e integração
com outros grupos, a oportunidade de compartilhar e conhecer os trabalhos realizados por Brasil a fora foi única. O
PET Bio está preparado para um 2018 cheio de novos desafios e discussões nos próximos encontros regional e nacional.

Figura 2: Alunas e tutora repre-

Figura 1: Representantes do
PET Biologia no XXII ENAPET.
Da esquerda para direita: Ana
Luiza, Ana Carolina e Thalita
Figura 3: Delegação do PET
sentantes do PET Bio no último
UFMA no movimento Mobili-
dia do XXII ENAPET. Da esquer-
za PET em frente ao Ministério
da para direita: Ana Carolina, Profª
da Educação, em Brasília-DF.
Mayara Ingrid, Ana Luiza e Thalita.

18 Boletim
Boletim
PETBio
PETBio
UFMA
UFMA
/ nº/ 41
nº /36
Setembro
/ Junho de
de 2016
2017

Nesta edição, o Boletim PETBio entrevistou a Professora Talita
da Silva Espósito, da Universidade Federal do Maranhão, para
conhecer as linhas de pesquisa desenvolvidas por ela.
Imagem: Acervo pessoal
T alita da Silva Espósito possui graduação em
Ciências Biológicas pela Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), 2003. Foi bolsista do PIBIC/
CNPq (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica/
Conselho Nacional Científico e Tecnológico) por três anos,
período em que realizou atividades de monitoramento ambiental
em área de cultivo piloto de ostras na região de Paquatiua em
Alcântara- MA, sob a orientação da Prof.ª M.ª Maria Marlúcia
F. Correia do Departamento de Oceanografia e limnologia
(DEOLI). Posteriormente, ainda no PIBIC/CNPq, desenvolveu
pesquisa com dinâmica populacional de uma espécie de bagre
encontrada no Rio Anil (São Luís – MA), sob orientação do Prof.
Dr. Antônio Carlos Leal de Castro, trabalho que culminou em
sua monografia “Estrutura populacional e composição alimentar
do bagre guribu, ​Arius herzbergii (Bloch, 1794) (Siluriformes:
Ariidae) do rio Anil, ilha de São​​Luís-MA”.
No mestrado (2006), dedicou-se a enzimologia​ ¹ de
organismos aquáticos pelo programa de pós-graduação em
recursos pesqueiros e aquicultura da Universidade Federal Rural
de Pernambuco (UFRPE), ocasião na qual defendeu a dissertação
intitulada “Aplicação de proteases alcalinas das vísceras do
tambaqui (​Colossoma macropomum​) e da carpa (​Cyprinus carpio​
) como aditivo de detergentes em pó”. Realizou o doutorado
em Ciências Biológicas (2009) pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) com foco em biotecnologia, onde defendeu
a tese “Resíduo do processamento de peixes comerciais como
fonte de proteases alcalinas e seu potencial uso biotecnológico”.
Em 2010, iniciou a carreira docente na Universidade Federal de
Alagoas (UFAL) pelo curso de Engenharia de Pesca, onde atuou​​
principalmente​ ​na​ ​área​ ​de​ ​tecnologia​ ​de​ ​pescado.
Desde 2012, está vinculada à UFMA e compõe o corpo
de docentes do Departamento de Oceanografia e Limnologia
(DEOLI). Nesse período, fez pós-doutorado na Holanda, na​
Wageningen University​ , WUR, na cidade de Wageningen,
melhorando processos de formulação de ração que utilizam
microalgas na composição. Atualmente, no campus Dom
Delgado, coordena o Laboratório de Biotecnologia de
Organismos Aquáticos (BIOAQUA) e ministra disciplinas nos
cursos de Oceanografia e Ciências Biológicas, assim como orienta
alunos de iniciação científica e monografias. Realiza pesquisas
em colaboração com professores de outros departamentos da
UFMA, bem como da UEMA, UFRN, ​​UFAL​​e​​UFPE.
No laboratório, sob a sua coordenação, são desenvolvidos
LINHA DE PESQUISA
Juliana​Mendes Souza e Thiago​​Campos​​Coelho
Curso de Ciências Biológicas/ UFMA - São Luís
atualmente três projetos de pesquisa, todos sob financiamento da
Fundação de Amparo à Pesquisa ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - MA (FAPEMA). O primeiro analisa a estrutura de
comunidades de peixes do sistema hidrográfico do rio Pindaré e
se intitula “Estruturação da Comunidade de Peixes e Aspectos
reprodutivos de populações de Espécies de importância Econômica
na Bacia do Rio Pindaré”.
O segundo projeto tem por título “Descartes de ostras
negligenciadas como fonte de cálcio para cultivo de corais”. O
objetivo é desenvolver uma fonte de cálcio para corais a partir
de cascas de ostras descartadas nas praias de São Luís e assim,
avaliar a viabilidade econômica do uso do cálcio obtido a partir
desses resíduos. O terceiro projeto, “Uso de biossensor para
monitoramento ambiental na amazônia do maranhão-Brasil”,
visa avaliar o potencial da tripsina extraída e purificada de cecos
pilóricos do peixe ​Genyatremus luteus como biossensor para
metais pesados na Amazônia Maranhense. O estudo dos efeitos
de metais pesados sobre tripsina isolada das vísceras de pescado
traz informações importantes para que essas espécies e/ou enzimas
possam ser utilizadas como bioindicadoras.
Atualmente, a professora está encerrando um projeto
com biossensores enzimáticos utilizando resíduos de pescado.
Segundo Talita, “Os estudos com resíduos provenientes da pesca
e aquicultura permitirão a identificação de biomoléculas passíveis
de utilização em diversos segmentos da indústria”. A purificação
e a caracterização dessas enzimas podem levar à descoberta de
novas fontes enzimáticas com características adequadas ao uso
na indústria de detergentes, agregando valor a um produto que,
atualmente, se apresenta como uma fonte poluidora.
Interessados em conhecer mais e contribuir com o trabalho
da professora podem entrar em contato​​pelo​​e-mail​t​ alitaesposito@
yahoo.com.br
Glossário:
1: Enzimologia: ​ ​estudos​ ​das​ ​enzimas​ ​e​ ​sua​ ​natureza​ ​química​ ​
e​ ​biológica.
Boletim PETBio
Boletim UFMA
PETBio / nº/41
UFMA nº/36
Setembro 2017
/ Junho de 2016 19
ESCREVA VOCÊ TAMBÉM
Da antiguidade aos dias atuais:
Por que as plantas são necessárias para a vida do ser humano?
Camila dos Santos Pires
Hynder Lima de Souza
Maíra Rodrigues Diniz
Curso de Ciências Biológicas/UFMA - São Luís
Eduardo Bezerra de Almeida Jr.
Professor Doutor do Departamento de Biologia (DEBIO)
Ciências Biológicas/UFMA - São Luís
T
udo começou há um tempo...
O uso das plantas e de suas propriedades acontece desde
a antiguidade, seja para fins medicinais, ritualísticos e/ou
alimentícios. O registro mais antigo é de 60 mil anos atrás,
correspondendo a restos de pólen observados em plantas
usadas para fins medicinais e que foram encontrados num jazigo
arqueológico em Shanidarb (Iraque), datando do período do Homem
Neanderthal (MATA, 2009).
Os povos egípcios, gregos, chineses e hindus foram os
primeiros a inventariar as plantas que possuíam potencial medicinal,
classificando as plantas de acordo com características relacionadas
a forma, cor, sabor e aroma (LIMA, 2006; MATSUCHITA;
MATSUCHITA, 2015). Os egípcios (1.500 a.C.) manipulavam
hortelã, açafrão, cebola e pimenta para preparar o que chamavam
de “drogas vegetais”. Os gregos produziam compressas com raízes,
couve e óleos para estancar ferimentos, usavam também aipo, salsa e
aspargo como diurético, além de meimendro, beladona e ópio como
narcóticos (DEVIENNE; RADDI; POZETTI, 2017). Em relação
aos povos chineses, há registros em obras de 2700 a.C., o livro de
medicina do antigo Imperador Amarelo da China, relata sobre o
uso de plantas como o gengibre; outras plantas eram usadas em
cerimônias religiosas, por atribuir poderes divinos (diante dos efeitos
causados pelos princípios ativos das plantas) (TIERRA, 1992). O uso
de plantas que possuíam substâncias psicoativas também era utilizado
pelos hindus com finalidade religiosa. De acordo com a literatura, os
hindus utilizavam o cânhamo nos seus rituais; contudo, os registros
históricos mostram que os primeiros vestígios do uso dessa planta
tenham surgido na China, por volta de 4.000 a.C. (ARAÚJO;
MOREIRA, 2006). De acordo com intenção de uso, alguns povos
relacionavam as plantas com os astros, atribuindo assim propriedades
mágicas para esses vegetais (LIMA, 2006).
Durante a idade média, entre os séculos V e XII, a igreja
católica começou a utilizar as plantas em rituais religiosos (BRAGA,
2011). Nas ciências, por volta do século XIII, diversos povos como
os chineses, indianos e árabes iniciaram estudos mais aprofundados
com relação aos vegetais, desmembrando-os do caráter mágico e
ritualístico (DEVIENNE; RADDI; POZETTI, 2017).
No período Renascentista, com a queda do poder da igreja e
a formação de um pensamento mais racional, houve grande estímulo
nas áreas científicas, começando então o desenvolvimento de trabalhos
voltados para a botânica e a criação dos jardins botânicos (TEXEIRA,
1994). Os portugueses, ao chegarem ao Brasil, e se depararem com
os índios, perceberam que esse grupo vivia e ainda vive utilizando
os recursos naturais para a sua sobrevivência. Por exemplo, usavam
urucum (Bixa orellana L.) para pintar e proteger o corpo das picadas
de insetos e também para tingir seus objetos cerâmicos (MATA,
2009). No século XIX as pessoas que mostravam conhecimento sobre
a botânica eram consideradas elegantes, demonstrando bom gosto.
Tanto o imperador Pedro I quanto seu filho Pedro II tinha interesse
por plantas. A planta conhecida como guapeba - Chrysophyllum
20 Boletim PETBio UFMA / nº 41 / Setembro de 2017
Imagem: http://somosverdes.com.br/wp-content/uploads/2015/10/liv-
imperiale (Lindenex K. Koch & Fintelm.) Benth. & Hook., da família
Sapotaceae, que hoje compõe a lista de plantas sob ameaçada de
extinção. Na época, essa planta era a que chamava mais atenção dos
monarcas; e por gostarem tanto da árvore, enviaram espécimes para
cultivo em vários jardins botânicos do mundo. Cabe ressaltar que
o epíteto imperiale é uma homenagem aos dois imperadores pelos
cuidados dedicados à essa espécie (SALATINO; BUCKERIDGE,
2016).
Segundo Almeida (1993), as plantas consideradas
medicinais foram os primeiros recursos terapêuticos utilizados para
o cuidado da saúde dos seres humanos, sendo um conhecimento
milenar que fez e ainda faz parte da evolução humana, tanto no
uso como medicação, quanto como alimentação. Todavia, mesmo
estando por toda parte, tem-se a impressão que o ser humano vem
se distanciando da natureza e, pior ainda, se colocando como uma
entidade superior, acontecendo de forma mais enfática com relação
às plantas (SALATINO, 2000). Contudo é necessário ter em mente
que as plantas são fundamentais para a manutenção do nosso planeta
e precisam de cuidados para não se tornar raras na face da terra.
Já nos dias atuais...
Desde os primórdios da humanidade, como já foi
mencionado, os vegetais vêm sendo utilizados para a alimentação,
abrigos, utensílios, roupas e até mesmo para produção de calor.
Durante a evolução do homem, novas formas de uso direta ou
indireta dos vegetais foram sendo descobertas (FURLAN et. al.,
2008). No entanto, apesar da importância das plantas no nosso dia-a-
dia, a sociedade contemporânea está deixando de perceber as plantas
que estão a sua volta, o que tecnicamente é chamado de “cegueira
botânica” (SALATINO; BUCKERIDGE, 2016). Esse termo se refere à
falta de habilidade para a percepção das plantas no ambiente natural,
diminuindo a capacidade de reconhecimento da importância destas
para a biosfera (WANDERSEE; SCHUSSLER, 2001); ou ainda, por
enxergar as plantas apenas como um pano de fundo para a vida dos
animais, causando assim uma visão equivocada por colocar as plantas
em segundo plano, tratando-as, muitas vezes, como organismos
inferiores (KATON et. al., 2013).
Segundo Wandersee e Schussler (2001) os principais
motivos da tendência humana de não notar as plantas no ambiente
não são simples, pois podem ser provenientes da capacidade cognitiva
cerebral, do grau de atenção que damos aos fatos e objetos, da cultura,
dentre inúmeros outros fatores ainda não esclarecidos. Esses fatores
também contribuem com “sintomas” que variam no tempo, na cultura
e, inclusive, de pessoa para pessoa, não sendo estáticos homogêneos
ou determinantes. Portanto, pessoas que tiveram poucas experiências
educativas e/ou culturais significativas conscientes envolvendo
plantas, demonstram pouca base para o reconhecimento das mesmas.
Parece ser uma característica da espécie humana perceber e
reconhecer animais na natureza e ignorar a presença das plantas.

Não só nas escolas, como no nosso dia a dia, pouca atenção é dada
às plantas. Tal comportamento tem-se denominado “negligência
botânica”. Nós interpretamos as plantas como elementos estáticos,
compondo um cenário, diante do qual se movem os animais.
Tornando assim, “portadores” da cegueira botânica (SALATINO;
BUCKERIDGE, 2016).
A cegueira botânica nos alerta para os desafios de atentarmos para as
plantas como seres vivos importantes para a sobrevivência de outros
seres e para o equilíbrio ecológico. Dessa forma, a sociedade que não
consegue “enxergar” as plantas também não será capaz de entender
a importância da conservação destas para o planeta (GAGLIANO,
ro-ervas-medicinais-001.jpg
2013).
Por que devemos gostar das plantas...
Sabe-se que os seres humanos precisam das plantas por
conta dos benefícios que as mesmas proporcionam. Como uma
tentativa de amenizar a chamada cegueira botânica é importante que
sejam sempre realizados os estudos das plantas, contribuindo assim
para o entendimento da essência da vida na terra e o total equilíbrio
do planeta, assumindo desta maneira um papel de destaque no ensino
de ciências (RAVEN, 2001). Nesse contexto, a escola possui um
importante papel para a socialização dos saberes colaborando para
a construção de conhecimento científico dos alunos, e também dos
professores, em relação às plantas (BITENCOURT; MACEDO, 2012).
Para que esta construção de conhecimento ocorra, alguns professores
utilizam estratégias e metodologias variadas para melhor trabalhar
a botânica em sala de aula, como é o caso, por exemplo, da escola
municipal de Benjamin Constant no Amazonas.
“O conhecimento dentro da área de Botânica é de
suma importância, pois não é possível imaginar
vida no planeta sem os vegetais. Com base nessas
premissas, fora implantado um projeto visando o
ensino de Botânica, denominado O Meu Jardim na
Escola, cuja metodologia aplicada fora à associação da
teoria estudada na sala de aula com a prática executada
na construção de um jardim e uma horta” (MELO et
al, 2016, p. 01).
São várias as metodologias utilizadas pelos professores para
trabalhar as temáticas relacionadas à botânica, tornando-as mais
interessante. Por exemplo, a saída a campo ou uma caminhada em
torno da escola, uso de material vegetal em sala de aula, atividade em
laboratório e aula expositiva com o apoio de material paradidático
(ARAÚJO, 2011). Nesse contexto, as aulas práticas de campo estão
sendo, cada vez mais, incorporadas ao processo de ensino aprendizagem
diante da eficiência no desenvolvimento do aluno por facilitar a
observação e a comparação por meio de sons, texturas, paladares,
cheiros e cores, possibilitando a identificação daquilo que nos envolve
(SILVA, 2008). Isso reforça as ideias apresentadas por Nascimento et
al. (2016) que relata a necessidade de interação dos alunos com as
plantas nas aulas de botânica, tornando-as mais dinâmicas para que os
alunos despertem o interesse em querer conhecer e gostar das plantas.
Desta forma os espaços não formais contribuem como
um novo campo da educação por serem instrumentos capazes de
contribuir com a educação científica da população, como é o caso
dos museus e centros de ciências, planetários, museus de história
natural, zoológicos, jardins botânicos, parques nacionais, herbários
e demais espaços culturais disponíveis no contexto social (CAZELLI,
2005). Dentre estes espaços há destaque para os jardins botânicos que
remontam do século XVI na Europa, e foi criado com o intuito de
estudar e cultivar plantas medicinais, o que deu início as primeiras
plantas desidratadas para fins científicos. No Brasil a iniciativa partiu
do príncipe Maurício de Nassau no século XVII na cidade de Recife
(PE) espalhando-se ao longo do tempo por outros pontos do Brasil.
Atualmente os jardins botânicos estão espalhados por 17 Estados do
Imagem: pixabay.com
país com relevante papel, como o registro e documentação da flora,
ESCREVA VOCÊ TAMBÉM
promoção da educação ambiental e sensibilização no uso sustentável
da diversidade vegetal (PEREIRA; COSTA, 2010).
Assim, diante da correria diária, e considerando a rapidez
com que as informações são divulgadas ou compartilhadas, as pessoas
tendem a usar as tecnologias para a maioria de suas interações sociais,
esquecendo-se de interagir com o natural, com o ambiente; deixando
de perceber que as plantas estão ao lado ou ao nosso redor - como
roupas, comidas, remédios, móveis e, claro, contribuindo com o ar
que respiramos.
Referências
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científicos. São Paulo: Hemus, 1993, 341 p.
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Boletim PETBio UFMA / nº 41 / Setembro de 2017 21
 Imagem: gbohne via Visualhunt / CC BY-SA

Attelabus nitens é uma espécie de insetos coleópteros polífagos pertencente à família Attelabidae

22 Boletim PETBio UFMA / nº 36 / Junho de 2016 Boletim PETBio UFMA / nº 41 / Setembro de 2017 22