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Vibrações de Sistemas Mecânicos

Vibrações de Sistemas Mecânicos

Alberto Luiz Serpa


2011

Material em construção para a disciplina EM607.

Prof. Dr. Alberto Luiz Serpa - 2011 1


Vibrações de Sistemas Mecânicos

Sumário
1 Introdução 4

2 Vibrações livres não amortecidas de sistemas de 1-GDL 4


2.1 Sistema massa-mola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Sistema massa-mola - equacionamento por energia . . . . . . . 9
2.3 Molas equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3.1 Viga engastada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3.2 Viga bi-apoiada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3.3 Barra em solicitação axial . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3.4 Molas em paralelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3.5 Molas em série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4 Sistema torcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3 Vibrações livres de sistemas de 1-GDL amortecidos 13


3.1 Amortecimento subcrı́tico/sistema sub-amortecido . . . . . . . 15
3.2 Sistema criticamente amortecido . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.3 Sistema super-amortecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.4 Movimento harmônico simples, sistema não amortecido . . . . 17
3.5 Decremento logarı́tmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.6 Amortecimento de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

4 Vibrações forçadas de sistemas de 1-GDL sem amortecimento - excitação harmôn

5 Vibrações forçadas de sistemas de 1-GDL com amortecimento viscoso - excitação

6 Desbalanceamento rotativo 26

7 Transmissibilidade 28

8 Oscilação do suporte 31

A Variáveis-funções complexas 35

B Equações diferenciais 37
B.1 Solução da equação homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
B.2 Determinação da solução homogênea da equação diferencial . . 38
B.3 Solução particular da equação diferencial . . . . . . . . . . . . 39
B.4 Solução completa da equação diferencial . . . . . . . . . . . . 40

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C Entradas Padronizadas 41
C.1 Degrau Unitário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
C.2 Rampa unitária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
C.3 Parábola unitária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
C.4 Função Senoidal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
C.5 Função impulso unitário (Delta de Dirac) . . . . . . . . . . . . 43
C.6 Função porta ou pulso unitário (Gate) . . . . . . . . . . . . . 43
C.7 Função série de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

D Transformada de Laplace 45
D.1 Propriedades da Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . 47
D.1.1 Linearidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
D.1.2 Diferenciação real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
D.1.3 Integração real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
D.1.4 Teorema do valor final . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
D.1.5 Teorema do valor inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
D.1.6 Translação real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
D.1.7 Funções periódicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
D.1.8 Diferenciação Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
D.1.9 Integração Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
D.1.10 Translação Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
D.1.11 Convolução Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
D.2 Transformada inversa de Laplace - método da expansão em frações parciais 55

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1 Introdução
Vibração é um movimento repetitivo. A vibração pode ser:

• desejada, como por exemplo, a vibração das cordas de instrumentos


musicais, vibrações em alguns compactadores, etc;

• não desejada, como por exemplo, no desbalanceamento de rodas de


veı́culos, vibração do solo em terremotos, etc.

A vibração pode ser vista como a troca entre energia potencial e energia
cinética.

2 Vibrações livres não amortecidas de siste-


mas de 1-GDL
Algumas definições são apresentadas a seguir:

• Os sistemas de um grau de liberdade (1-GDL) são aqueles em que


movimento é descrito por apenas uma coordenada.

• O termo vibração livre refere-se às situações em que não há uma força
externa atuando no sistema (não há excitação). Esta resposta é também
conhecida como resposta natural do sistema.

• Um sistema não amortecido é aquele em que não ocorrem perdas (não


há dissipação de energia).

• O sistema será de parâmetros concentrados quando seus elementos pu-


derem ser representados de forma concentrada, como por exemplo, por
massas e molas.

2.1 Sistema massa-mola


Seja o sistema massa-mola (massa m, constante de rigidez da mola k e ace-
leração da gravidade g) esquematizado na Figura 1 em três situações:

• Mola não distendida, posição que determina a origem do eixo y;

• Equilı́brio estático, posição que determina a origem do eixo x. Neste


caso, a mola apresenta uma deflexão ∆;

• Posição arbitrária do movimento com x > 0.

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k
g k k
m
y, ẏ, ÿ ∆
m
mola não distendida x, ẋ, ẍ
m
equilı́brio estático

posição arbitrária

Figura 1: Equilı́brio no sistema massa-mola

ky

mg

Figura 2: Diagrama de corpo livre - sistema massa-mola

Considerando que mola está operando na região linear, sabe-se que a força
na mola é dada por
fmola = kx,
e na situação de equilı́brio estático tem-se que:

k∆ = mg. (1)

Um diagrama de corpo livre para este sistema, considerando a posição


arbitrária da Figura 1 é mostrado na Figura 2.
Da lei de Newton (soma das forças externas é igual a massa vezes ace-
leração) escreve-se que
mg − ky = mÿ. (2)

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Observa-se que
y = x + ∆, ẏ = ẋ, ÿ = ẍ,
o que permite reescrever a equação (2), usando a equação (1), na seguinte
forma:
mẍ + kx = 0. (3)
Observa-se que a equação do movimento (3) está escrita em função de
x, ou seja, com base na posição de equilı́brio estático. Esta é uma equação
diferencial homogênea de segunda ordem, cuja solução é da forma

x(t) = Aest .

Substituindo esta solução na equação diferencial tem-se que


   
m As2 est + k Aest = 0,

que permite obter o polinômio caracterı́stico


k
s2 + = 0,
m
cujas raı́zes são s
k
s1,2 = ± j = ±wn j,
m
onde se define a frequência natural wn como
s
k
wn = .
m
A solução da equação diferencial é portanto

x(t) = A1 ejwn t + A2 e−jwn t ,

que pode ser escrita como

x(t) = Xsen(wn t + φ). (4)

Esta solução representa um movimento harmônico com frequência de os-


cilação wn e amplitude X.
Sejam as condições iniciais em termos de posição x(0) = x0 e velocidade
ẋ(0) = v0 . Com base nestas condições é possı́vel escrever que

x0 = x(0) = Xsen(0wn + φ) = Xsenφ,

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v0 = ẋ(0) = wn Xcos(0wn + φ) = wn Xcos(φ).


x0
Através da divisão v0
obtém-se
w n x0
φ = tan−1 . (5)
v0
Lembrando que sen2 (φ) + cos2 (φ) = 1 verifica-se que
q
wn2 x20 + v02
X= . (6)
wn
A frequência wn é dada em rad/s. Seu valor correspondente em Hz é
dado por fn = w2πn , que permite calcular o perı́odo da oscilação como

1 2π
T = = .
fn wn
Tomando como base o deslocamento, equação (4), é possı́vel escrever a
velocidade e a aceleração como
π
ẋ(t) = wn Xcos(wn t + φ) = wn Xsen(wn t + φ + ); (7)
2
ẍ(t) = −wn2 Xsen(wn t + φ) = wn2 Xsen(wn t + φ + π). (8)
Verifica-se que:

• A amplitude da velocidade é a amplitude do deslocamento multiplicada


por wn e com uma defasagem de π2 .

• A amplitude da aceleração é a amplitude do deslocamento multiplicada


por wn2 em com uma defasagem de π.

• Os pontos de máximo e mı́nimo do deslocamento correspondem a pon-


tos de velocidade nula, o que é compatı́vel com o fato da velocidade ser
a derivada do deslocamento.

• Os pontos de máximo e mı́nimo da velocidade correspondem a pontos


de aceleração nula, o que é compatı́vel com o fato da aceleração ser a
derivada da velocidade.

Exemplo: Um bloco possui massa de 1000kg e está apoiado sobre um


sistema de molas cuja rigidez é 100000N/m. Supondo que o bloco seja deslo-
cado em 0.010m com relação à posição de equilı́brio estático e solto à partir

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do repouso desta condição, determine os gráficos da posição, velocidade e


aceleração. q
A frequência natural neste caso é wn = 100000
1000
= 10rad/s e o perı́odo é

T = 10 = 0.6283s. As condições iniciais são x0 = 0.010m e v0 = 0m/s2 .
A amplitude da resposta em deslocamento X e o ângulo φ dados pelas
equações (6) e (5) são
√  
102 × 0.0102 + 02 −1 10 × 0.01 π
X= = 0.010m e φ = tan = .
10 0 2
As amplitudes da velocidade e da aceleração são respectivamente wn X =
10 × 0.010 = 0.1m/s e wn2 X = 102 × 0.010 = 1m/s2 .
Com bases nos valores calculados e nas equações das respostas dadas por
(4), (7) e (8) são gerados os gráficos da Figura 3.
deslocamento

0.01

−0.01
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
tempo
0.1
velocidade

−0.1
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
tempo
1
aceleração

−1
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
tempo

Figura 3: Deslocamento, velocidade e aceleração - sistema massa-mola

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2.2 Sistema massa-mola - equacionamento por energia


Uma outra forma para obter a equação do movimento no caso do sistema
de massa-mola de um grau de liberdade é através da aplicação do princı́pio
da conservação da energia. Considerando a Figura 1 é possı́vel escrever as
energias cinética T , potencial elástica armazenada na mola Uk e potencial
gravitacional Ug como
1 1
T = mẏ 2 , Uk = ky 2 e Ug = −mgy,
2 2
onde se considerou como referência o sistema de coordenadas com origem na
situação da mola não distendida.
A energia mecânica total do sistema é dada por E = T + Uk + Ug e para
a conservação de energia escreve-se que Ė = 0. Logo, tem-se

Ė = (mẏ)ÿ + ky ẏ − mg ẏ = 0,

ou ainda
mÿ + ky − mg = 0,
que permite obter a mesma a equação do movimento (3) ao se usar (1).

2.3 Molas equivalentes


Algumas outras configurações de elementos elásticos podem ser representados
por molas equivalentes, o que permite uma análise na forma de sistemas
massa-mola equivalentes.

2.3.1 Viga engastada


Seja o caso de um bloco de massa m sobre uma viga engastada de compri-
mento l conforme ilustrado na Figura 4.

m
l

Figura 4: Bloco apoiado sobre viga engastada em uma extremidade

Na condição de equilı́brio estático, devido ao peso da massa, P = mg,


a viga apresenta uma deflexão ∆. Para um módulo de elasticidade E e um

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momento de inércia da seção transversal da viga I, sabe-se que


P l3
∆= .
3EI
A constante de mola equivalente neste caso é
P 3EI
k= = 3 . (9)
∆ l
Logo, o sistema da Figura 4 pode ser representado por um sistema massa-
mola com massa m e mola de rigidez k dada pela equação (9).

2.3.2 Viga bi-apoiada


Seja o caso de um bloco de massa m apoiado no centro de uma viga bi-apoiada
de comprimento l conforme ilustrado na Figura 5.

l m l
2 2

Figura 5: Bloco apoiado sobre viga bi-apoiada

Na condição de equilı́brio estático, devido ao peso da massa, P = mg,


a viga apresenta uma deflexão ∆. Para um módulo de elasticidade E e um
momento de inércia da seção transversal da viga I, sabe-se que
P l3
∆= .
48EI
A constante de mola equivalente neste caso é
P 48EI
k= = 3 . (10)
∆ l
Logo, o sistema da Figura 4 pode ser representado por um sistema massa-
mola com massa m e mola de rigidez k dada pela equação (10).

2.3.3 Barra em solicitação axial


Seja o sistema da Figura 6 que consiste em uma massa m suportada por uma
barra de comprimento l, módulo de elasticidade E e área da seção transversal
A.

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l
A

m

Figura 6: Bloco suspenso por barra

Na condição de equilı́brio estático, devido ao peso da massa, P = mg, a


barra apresenta uma deflexão ∆. Sabe-se que
Pl
∆= .
AE
A constante de mola equivalente neste caso é
P AE
k= = . (11)
∆ l
Logo, o sistema da Figura 6 pode ser representado por um sistema massa-
mola com massa m e mola de rigidez k dada pela equação (11).

2.3.4 Molas em paralelo


Um conjunto de molas de rigidez ki em paralelo conforme mostrado na Fi-
gura 7 terá uma rigidez equivalente k dada por
n
X
k= ki .
i=1

k1 k2 . . . kn−1 kn

Figura 7: Molas em paralelo

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2.3.5 Molas em série


Um conjunto de molas de rigidez ki em série conforme mostrado na Figura 8
terá uma rigidez equivalente k dada por
n
1 X 1
= .
k i=1 ki

k1

k2

..
.

kn

Figura 8: Molas em série

2.4 Sistema torcional


Seja um sistema de um disco de momento de inércia J conectado a um eixo
engastado em uma das suas extremidades com rigidez torcional kt , caracte-
rizando o sistema torcional da Figura 9. Nesta mesma figura é apresentado
o diagrama de corpo livre do disco.
A lei de Newton (somatória dos momentos é igual ao produto do momento
de inércia pela aceleração angular) permite escrever que
X
M = J θ̈ ⇒ −kt θ = J θ̈,
que pode ser reescrita na forma
kt
θ̈ + θ = 0. (12)
J
A equação (12) é análoga à equação do sistema massa-mola já apresen-
tado, resultando noqmesmo comportamento dinâmico. A frequência natural
neste caso é wn = kJt .

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kt

kt θ θ

θ
J

Figura 9: Sistema torcional de um grau de liberdade e diagrama de corpo


livre

3 Vibrações livres de sistemas de 1-GDL amor-


tecidos
Um sistema amortecido é aquele em que existe um elemento dissipador de
energia. O dissipador mais usual é o amortecedor.
O amortecimento viscoso gera uma força oposta ao movimento dada por:

fd = −cẋ,

onde c é a constante de amortecimento [N s/m] e ẋ é a velocidade.


Seja um sistema de um grau de liberdade como mostrado na Figura 10
onde x é a coordenada definida com origem na posição de equilı́brio estático.
Neste caso, a força peso foi compensada pela distensão inicial da mola, motivo
pelo qual esta força não é colocada no diagrama de corpo livre.

k c
kx cẋ

m
x, ẋ, ẍ

Figura 10: Sistema massa-mola-amortecedor e diagrama de corpo livre

A aplicação da lei de Newton permite escrever a seguinte equação do

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movimento:
c k
mẍ + cẋ + kx = 0 ou ẍ + ẋ + x = 0.
m m
Considerando uma solução do tipo x(t) = Cest obtém-se o seguinte po-
linômio caracterı́stico:
c k
s2 + s + = 0,
m m
cujas raı́zes são: s
 
c c 2 k
s1,2 = − ± − .
2m 2m m
Verifica-se que os tipos de raı́zes dependem dos valores de m, c e k. O
caso em que s
c k
=
2m m
caracteriza duas raı́zes reais e iguais. Esta situação é conhecida como a
situação de amortecimento crı́tico, ou seja, o valor da constante de amorte-
cimento cc tal que
s s
cc k k √
= = wn ou cc = 2mwn = 2m = 2 mk
2m m m
caracteriza o amortecimento crı́tico.
O fator de amortecimento ξ é um parâmetro adimensional que fornece
uma medida do amortecimento do sistema e é definido como
c
ξ= .
cc
Verifica-se que
c c cc
= = ξwn ,
2m cc 2m
o que permite rescrever a equação do movimento em uma forma padronizada
como
ẍ + 2ξwn ẋ + wn2 x = 0.
O polinômio caracterı́stico é portanto
s2 + 2ξwn s + wn2 = 0,
cujas raı́zes são q
s1,2 = −ξwn ± wn ξ 2 − 1.
Nota-se que a natureza da resposta depende do valor de ξ. Os casos
possı́veis são analisados a seguir.

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3.1 Amortecimento subcrı́tico/sistema sub-amortecido


No caso de sistema sub-amortecido, ξ < 1, as raı́zes são complexas conjugadas
e podem ser escritas como
q
s1,2 = −ξwn ± jwn 1 − ξ 2 = σ ± jwd ,

onde σ = −ξwn é a parte real e wd = wn 1 − ξ 2 é a parte imaginária
(caracterizando a frequência natural amortecida). Estas raı́zes podem ser
representadas no plano complexo como na Figura 11.

ξ = cte jw (imaginário)

wn 1 − ξ 2
wn = cte s1
wn
α

σ (real)

−ξwn s2 √
−wn 1 − ξ 2

Figura 11: Representação de um par complexo conjugado no plano complexo.

Nesta representação verifica-se que wn é o raio do cı́rculo e cos(α) = ξ.


Observa-se que as raı́zes s1 e s2 caminham sobre o cı́rculo em função do valor
de ξ. Verifica-se também da Figura 11 que

q 1 − ξ2
senα = 1 − ξ 2 e tan α = .
ξ
A solução da equação diferencial homogênea do sistema de segunda ordem
é do tipo

x(t) = A1 es1 t + A2 es2 t = e−ξwn t (A1 ejwd t + A2 e−jwd t ) = Xe−ξwn t sen(wd t + φ),
(13)
que caracteriza uma resposta oscilatória com frequência wd .
A equação da velocidade, derivada de (13), é

ẋ(t) = −ξwn Xe−ξwn t sen(wd t + φ) + wd Xe−ξwn t cos(wd t + φ). (14)

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Considerando as condições iniciais x0 = x(0) e v0 = ẋ(0) é possı́vel deter-


minar as constantes X e φ da equação (13). Verifica-se que
x0
x(0) = x0 = Xe−0ξwn sen(0wd + φ) = Xsenφ ⇒ X = .
senφ

ẋ(0) = v0 = −ξwn Xe−0ξwn sen(0wd + φ) + wd Xe−0ξwn cos(0wd + φ) =


cos(φ)
= −ξwn Xsenφ + wd Xcos(φ) = −ξwn x0 + wd ,
sen(φ)
que permite escrever
w d x0
tgφ = ,
v0 + ξwn x0
v
u
u (v0 + ξwn x0 )2 + (x0 wd )2
X=t 2
.
wd

3.2 Sistema criticamente amortecido


No caso de sistema criticamente amortecido, ξ = 1, as raı́zes são reais e iguais
e estão sobre o eixo real no plano complexo, ou seja,

s1 = s2 = −ξwn = −wn .

A solução da equação diferencial homogênea é

x(t) = A1 e−wn t + A2 te−wn t ,

que representa um movimento que não oscila.

3.3 Sistema super-amortecido


No caso de um sistema super-amortecido, ξ > 1, as raı́zes são reais e distintas,
ou seja,  
q
2
−1
s1 = wn −ξ + ξ − 1 = ,
τ1
 
q
2
−1
s2 = wn −ξ − ξ − 1 = .
τ2
A solução da equação homogênea é
−t −t
x(t) = A1 e τ1 + A2 e τ2 .

Verifica-se que o caso super-amortecido apresenta uma resposta sem caráter


oscilatório como esperado.

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3.4 Movimento harmônico simples, sistema não amor-


tecido
No caso sem amortecimento, ξ = 0, as raı́zes são complexas conjugadas
com parte real nula, ou seja, estão sobre o eixo imaginário. Neste caso, o
sistema apresentará uma resposta natural sem decaimento, caracterizando o
movimento harmônico simples, ou seja, wd = wn , φ = 0 e x(t) = Asen(wn t).

3.5 Decremento logarı́tmico


Para o caso sub-amortecido, o perı́odo de oscilação é dado por T = w2πd . O
decremento logarı́tmico é definido em função da relação entre dois pontos
consecutivos separados por um perı́odo de oscilação, ou seja,
x(t)
δ = ln .
x(t + T )
Substituindo a expressão da resposta em deslocamento, escreve-se que
Xe−ξwn t sen(wd t + φ)
δ = ln = ln eξwn T = ξwn T,
Xe−ξwn (t+T ) sen(wd t + wd T + φ)
onde os termos senoidais forma cancelados por terem o mesmo valor devido
a estarem separados exatamente por um perı́odo T .
Substituindo a expressão do perı́odo obtém-se
2π 2πξ
δ = ξwn √ 2
=√ ,
wn 1 − ξ 1 − ξ2
que permite obter o fator de amortecimento à partir do decremento lo-
garı́tmico como
δ
ξ=√ 2 .
4π + δ 2
O interesse no conhecimento do decremento logarı́tmico está em identifi-
car o sistema. Suponha que a massa m, a rigidez k e a resposta medida x(t)
do sistema sejam conhecidas. Da resposta do sistema, é possı́vel determinar
o decremento logarı́tmico δ e consequentemente o fator de amortecimento ξ,
o que permitirá determinar a constante de amortecimento c do sistema.
Para aumentar a precisão na determinação do decremento logarı́tmico, ao
invés de pagar dois pontos separados por um perı́odo, é possı́vel pegar dois
pontos separados por n perı́odos. Neste caso, tem-se que
1 x(t)
δ= ln .
n x(t + nT )

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3.6 Amortecimento de Coulomb


O amortecimento de Coulomb é usado para representar a situação de desli-
zamento com atrito seco.
Seja um sistema massa-mola, com mola de rigidez k e com a massa m
deslizando sobre uma superfı́cie onde existe atrito. A força de atrito Fd é
sempre oposta ao movimento, e os diagramas de corpo livre, considerando
apenas a direção x, podem ser mostrados na Figura 12.

ẋ > 0 ẋ < 0
x
movimento movimento

kx kx
m m m

Fd Fd

Figura 12: Sistema de um grau de liberdade - diagrama de corpo livre - atrito


de Coulomb

A equação diferencial do movimento pode ser escrita como


mẍ = −kx − Fd (sign(ẋ)),
onde sign(ẋ) é a função que define o sinal sinal de ẋ. Esta equação diferencial
é não linear, e pode ser dividida nos seguintes casos
mẍ = −kx + Fd , ẋ < 0,
mẍ = −kx − Fd , ẋ > 0,
que podem ser resolvidos separadamente.
Para o caso de ẋ < 0 tem-se
k Fd
ẍ + x= .
m m
A solução da equação homogênea é a mesma de um movimento livre não
amortecido, ou seja, xh = Asenwn t + Bcoswn t.
A solução particular tem a forma xp = C (C constante). Logo, ẋp = 0,
ẍp = 0 cuja substituição na equação diferencial permite obter
Fd
C= .
k
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A solução completa é portanto


Fd
x = Asenwn t + Bsenwn t + , ẋ < 0.
k
Seja uma situação inicial em que o bloco está na posição extrema da
direita. Neste caso é possı́vel escrever que x(0) = x0 e ẋ(0) = 0. Logo,

Fd Fd
x(0) = x0 = Asen(0) + Bcos(0) + ⇒ B = x0 − ,
k k
ẋ(0) = 0 = Awn cos(0) + Bwn sen(0) ⇒ A = 0,
e portanto  
Fd Fd
x(t) = x0 − cos(wn t) + , ẋ < 0. (15)
k k
A solução dada pela equação (15) é válida enquanto o movimento é da
direita para a esquerda até que a velocidade seja novamente nula. Esta
situação corresponde à
 
Fd
ẋ(t) = − x0 − wn senwn t = 0 ⇒ senwn t = 0 ⇒ wn t = π.
k
A posição correspondente a este ponto de velocidade nula é portanto
   
Fd Fd Fd
x = x0 − cos(π) + = − x0 − 2 .
k k k
Note que esta posição está à esquerda da posição neutra (deslocamento
negativo) e tem sua amplitude diminuı́da de 2 Fkd com relação ao deslocamento
inicial x0 .
Uma análise semelhante pode ser feita para a equação diferencial cor-
respondente ao movimento da esquerda para a direita (ẋ > 0). De forma
análoga ao caso já estudado, quando o movimento atingir sua posição limite
à direita, o deslocamento será
Fd
x = x0 − 4 .
k
Observa-se que em cada ciclo, a diminuição de amplitude é 4 Fkd . O decai-
mento é linear, ou seja, as curvas envoltórias são retas, conforme ilustrado
na Figura 13.
Verifica-se que o movimento é harmônico com a mesma frequência de um
movimento não amortecido. O movimento terminará quando a força da mola
igualar-se à força de atrito.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

0.8

0.6

0.4
deslocamento

0.2

−0.2

−0.4

−0.6

−0.8

−1
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8
tempo

Figura 13: Ilustração da resposta em deslocamento no caso de amortecimento


de Coulomb - envoltórias retas

4 Vibrações forçadas de sistemas de 1-GDL


sem amortecimento - excitação harmônica
Seja o sistema da Figura 14 onde o sistema de coordenadas x tem origem na
posição de equilı́brio estático do sistema. O respectivo diagrama de corpo
livre, já considerando que a força peso foi compensada pela deflexão estática
da mola, é apresentado na mesma figura.
A equação de equilı́brio é portanto
k
mẍ + kx = F0 cos(wt) ⇒ ẍ + x = f0 cos(wt),
m
com f0 = Fm0 .
A solução desta equação diferencial é composta pela componente ho-
mogênea e pela componente particular. A solução homogênea é dada por
xh (t) = A1 sen(wn t) + A2 cos(wn t),
e a solução particular é dada por
xp (t) = Xcos(wt).
Substituindo a solução particular na equação diferencial tem-se
−w2 Xcos(wt) + wn2 Xcos(wt) = f0 cos(wt),

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

k
kx

m
x, ẋ, ẍ

F0 cos(wt)

Figura 14: Sistema massa-mola-amortecedor com excitação harmônica e di-


agrama de corpo livre

e então
f0
X= para wn 6= w.
wn2 − w2
A solução completa pode ser escrita como
f0
x(t) = A1 sen(wn t) + A2 cos(wn t) + cos(wt).
wn2 − w2

As condições iniciais x0 = x(0) e v0 = ẋ(0) podem ser substituı́das na


solução. Neste caso tem-se
f0 f0
x(0) = A2 + = x 0 ⇒ A2 = x 0 − ,
wn2 − w2 wn2 − w2
wf0 v0
ẋ(0) = wn A1 cos(0wn )−wn A2 sen(0wn )− senwt = w n A1 ⇒ A1 = ,
wn2 − w2 wn
que permite escrever a solução completa como
!
v0 f0 f0
x(t) = sen(wn t) + x0 − 2 2
cos(wn t) + 2 cos(wt).
wn wn − w wn − w 2

Seja o caso particular em que x0 = 0 e v0 = 0 sem perda de generalidade.


Assim,
f0
x(t) = 2 (cos(wt) − cos(wn t)) =
wn − w 2
   
2f0 wn − w wn + w
= sen t sen t .
wn2 − w2 2 2

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

Considere agora o caso em que w é próximo de wn . Logo é possı́vel


escrever que
wn − w wn + w
∆= e w∼
= .
2 2
Neste caso, é possı́vel escrever
2f0 f0
x(t) = sen(wt)sen(∆t) = sen(wt)sen(∆t).
(wn + w)(wn − w) 2w∆

Como w >> ∆, a curva sen(wt) será modulada pela curva sen(∆t) (enve-
lope), caracterizando o fenômeno de batimento como ilustrado na Figura 15.

0.8

0.6

0.4
deslocamento

0.2

−0.2

−0.4

−0.6

−0.8

−1
0 2 4 6 8 10 12 14
tempo

Figura 15: Ilustração do fenômeno de batimento

Verifica-se que quando w → wn , tem-se que ∆t → 0 e então sen(∆t) ≈


∆t. Logo,
f0 f0
x(t) = sen(wt)(∆t) = tsen(wt),
2w∆ 2w
que corresponde à situação de ressonância, onde a amplitude da vibração
cresce linearmente de forma ilimitada conforme ilustrado na Figura 16.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

2
deslocamento

−1

−2

−3

−4
0 1 2 3 4 5 6 7
tempo

Figura 16: Ilustração do fenômeno de ressonância - crescimento linear da


amplitude

5 Vibrações forçadas de sistemas de 1-GDL


com amortecimento viscoso - excitação harmônica
Um sistema de um grau de liberdade com amortecimento viscoso e sujeito a
uma excitação harmônica será descrito pela equação diferencial
mẍ + cẋ + kx = F0 sen(wt), (16)
ou ainda
ẍ + 2ξwn ẋ + wn2 x = f0 sen(wt),
q
com wn = k/m, ξ = c/(2mwn ) e f0 = F0 /m.
A solução homogênea desta equação diferencial corresponde à resposta
natural é dada por
xh (t) = Ae−ξwn t sen(wd t + φ),
onde wd é a frequência natural amortecida. Esta solução, devido ao termo
exponencial, decai com o tempo e não afeta a solução de regime.
A solução particular pode ser escrita na forma
xp (t) = M sen(wt) + N cos(wt),
e que ao ser substituı́da na equação diferencial leva à seguinte equação
[−w2 (M sen(wt) + N cos(wt))] + 2ξwn [w(M cos(wt) − N sen(wt))]+

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

+wn2 (M sen(wt) + N cos(wt)) = f0 sen(wt).


Separando os termos em seno e cosseno, é possı́vel resolver o sistema de
equações e obter as expressões para M e N :
(wn2 − w2 )f0 (1 − r2 )f0 /wn2
M= = ,
(wn2 − w2 )2 + (2ξwn w)2 (1 − r2 )2 + (2ξr)2

−2ξwn wf0 −2ξrf0 /wn2


N= = ,
(wn2 − w2 )2 + (2ξwn w)2 (1 − r2 )2 + (2ξr)2
com r = wwn .
A solução particular pode então ser escrita como

xp (t) = Xsen(wt − θ),

com
√ f0 /wn2
X= M2 + N2 = q , (17)
(1 − r2 )2 + (2ξr)2
2ξr
tan θ = .
1 − r2
Nota-se que
f0 f0 m F0
2
= = ,
wn k k
o que permite escrever que
Xk Xwn2 1
MF = = =q , (18)
F0 f0 (1 − r2 )2 + (2ξr)2

onde M F denota o fator de amplificação.


A Figura 17 apresenta algumas curvas do M F em função do valor de r.
Os pontos crı́ticos da equação (18) podem ser determinados através da
análise da primeira e segunda derivadas com relação a r. Verifica-se que
dM F 2r(1 − r2 − 2ξ 2 )
= ,
dr [(1 − r2 )2 + (2ξr)2 ]3/2

d2 M F 2(1 − 3r2 − 2ξ 2 ) r(1 − r2 − 2ξ 2 )[(2(1 − r2 )(−2r) + 8ξ 2 r](−3)


= + .
dr2 [(1 − r2 )2 + (2ξr)2 ]−3/2 [(1 − r2 )2 + (2ξr)2 ]−5/2
Os pontos crı́ticos são:
• r = 0, que corresponde ao ponto inicial das curvas, e que pode carac-
terizar dois casos:

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

4
ξ0 = 0.000
ξ1 = 0.150
3.5 ξ2 = 0.200
ξ3 = 0.500
3 ξ4 = 0.707
ξ5 = 1.000
2.5
MF

1.5

0.5

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
r

Figura 17: Curvas do fator de amplificação M F em função da razão de


frequências r

– Ponto de mı́nimo:

d2 M F 2
2
> 0 ⇒ 1 − 2ξ 2 > 0 ⇒ ξ < .
dr 2
– Ponto de máximo:

d2 M F 2
2
≤ 0 ⇒ 1 − 2ξ 2 ≤ 0 ⇒ ξ ≥ .
dr 2

• 1 − r2 − 2ξ 2 = 0, permite determinar o ponto de máximo dado por


q √
rpico = 1 − 2ξ 2 , se ξ ≤ 2/2.

Note que este ponto de máximo ocorre a uma frequência menor que
wn , ou seja, rpico < 1.
O valor da máxima amplitude, substituindo o respectivo valor de rpico
na equação (18), corresponde à
1
M Fmax = √ .
2ξ 1 − ξ 2

Nota-se que para ξ pequeno, tem-se M Fmax ∼


= 1/(2ξ).

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

3.5

2.5

2
φ

1.5 ξ0 = 0.000
ξ1 = 0.150
ξ2 = 0.200
1 ξ3 = 0.500
ξ4 = 0.707
ξ5 = 1.000
0.5

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
r

Figura 18: Curvas do ângulo de fase φ em função da razão de frequências r

• r → ∞ representa a situação do mı́nimo da curva (assı́ntota).


A Figura 18 apresenta o ângulo de fase em função da relação de frequências
r. Oserva-se que para r = 1 o ângulo de fase é φ = π/2.
A ressonância no caso de sistemas amortecidos tem mais de uma in-
terpretação. Alguns autores consideram a ressonância como sendo o valor
r = rpico , que corresponde à maior amplitude da resposta. Outros autores
consideram a ressonância como r = 1, que representa a situação de ângulo
de fase φ = π/2, e que corresponde ao caso em que a força de excitação e
a velocidade estão em fase. Nesta apostila, será adotado que a ressonância
corresponde ao caso r = rpico .

6 Desbalanceamento rotativo
Uma fonte comum de vibração forçada é o caso de desbalanceamento rotativo
conforme esquematizado na Figura 19. O sistema desta figura consiste em
um sistema de um grau de liberdade com o movimento apenas na direção x.
Neste sistema, M − m é a massa do bloco, m é a massa desbalanceada a uma
distância e (excentricidade) do centro e w é a frequência angular com que a
massa excêntrica m gira.
O diagrama de corpo livre está também colocado na Figura 19 onde o peso
já foi compensado pela deflexão inicial da mola, de forma que a coordenada
x tem sua origem na posição de vertical de equilı́brio estático.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

m
m e
e
x wt
wt
M −m
M −m
kx cẋ

k c

Figura 19: Esquema de sistema de um grau de liberdade com desbalancea-


mento rotativo

A posição da massa m é dada por x + esen(wt) e assim é possı́vel escrever


a equação do movimento

d2
(M − m)ẍ + m (x + esen(wt)) = −kx − cẋ,
dt2
ou ainda
M ẍ + cẋ + kx = mew2 sen(wt). (19)
Nota-se que a equação (19) é semelhante à equação (16) considerando que
F0 = mew2 , ou f0 = mew2 /M , o que permite escrever diretamente a solução
já encontrada anteriormente conforme dada na equação (17) para este caso
como
(mew2 /M )/wn2 (me/M )r2
X=q =q ,
(1 − r2 )2 + (2ξr)2 (1 − r2 )2 + (2ξr)2
X r2
=q , (20)
(me/M ) (1 − r2 )2 + (2ξr)2
2ξr
tan θ = .
1 − r2
A Figura 20 apresenta o comportamento da equação (20) ao se variar a
razão de frequências.
Os pontos crı́ticos da função dada por (20) podem ser encontrados fazendo-
se !
d X
= 0 ⇒ r(1 − r2 + 2ξ 2 r2 ) = 0,
dr me/M

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

4
ξ0 = 0.000
ξ1 = 0.150
3.5 ξ2 = 0.200
ξ3 = 0.500
3 ξ4 = 0.707
ξ5 = 1.000
X/(me/M )

2.5

1.5

0.5

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
r

Figura 20: Curvas de X/(me/M ) em função da razão de frequências r -


desbalanceamento rotativo

que permite verificar que:


• r = 0 caracteriza um ponto de mı́nimo no inı́cio das curvas;

• r = 1/ 1 − 2ξ 2 >√1 caracteriza um ponto de máximo à direita de
r = 1, quando ξ < 2/2;
• r → +∞ caracteriza X/(me/M ) → 1.

7 Transmissibilidade
Para um movimento forçado (excitação harmônica) de um sistema de um
grau de liberdade amortecido, a força recebida pelo suporte é devido ao
amortecedor e à mola, conforme ilustrado na Figura 21.
A força sobre o suporte é

F = kx + cẋ.

Considerando a situação de regime permanente, xp = Xsen(wt − φ), e


substituindo este resultado na equação da força sobre o suporte tem-se

F = kXsen(wt − φ) + cwXcos(wt − φ),


q q
F = (kX)2 + (cwX)2 sen(wt − φ − β) = k 2 + (cw)2 Xsen(wt − γ),

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

kx cẋ

k c

m
x

P = F0 sen(wt)

Figura 21: Forças no suporte de um sistema massa-mola-amortecedor

com γ = φ + β e tan(β) = −cwk


= −2ξr.
A força máxima (amplitude de F ) é
q
FT = X k 2 + (cw)2 ,

que, empregando o resultado da equação (17), pode ser escrita como


q
f0 /wn2 q 1 + (2ξr)2
FT = q k 2 + (cw)2 = F0 q ,
(1 − r2 )2 + (2ξr)2 (1 − r2 )2 + (2ξr)2

onde foi usado que c = 2mξwn e f0 = F0 /m.


A transmissibilidade é dada por
q
FT 1 + (2ξr)2
TR = =q . (21)
F0 (1 − r2 )2 + (2ξr)2

A Figura 22 apresenta o comportamento da transmissibilidade, equação


(21), ao se variar a razão de frequências para alguns valores de ξ.
Observa-se que para r = 0 tem-se T R = 1, que corresponde ao caso
estático.
O ponto de máximo da transmissibilidade é dado por
q √
−1 + 1 + 8ξ 2
rpico = < 1.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

4
ξ0 = 0.000
ξ1 = 0.150
3.5 ξ2 = 0.200
ξ3 = 0.500
3 ξ4 = 0.707
ξ5 = 1.000
2.5
TR

1.5

0.5

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
r

Figura 22: Transmissibilidade em função da razão de frequências r

No caso de uma situação de desbalanceamento rotativo, sabe-se que F0 =


mew2 . Neste caso, a força transmitida passa a ser
q
1 + (2ξr)2
FT = mew2 q ,
(1 − r2 )2 + (2ξr)2

ou ainda q
FT r2 1 + (2ξr)2
=q .
mewn2 (1 − r2 )2 + (2ξr)2
A Figura 23 mostra as curvas de FT /(mewn2 ) em função de r para alguns
valores de ξ.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

4
ξ0 = 0.000
ξ1 = 0.150
3.5 ξ2 = 0.200
ξ3 = 0.500
3 ξ4 = 0.707
ξ5 = 1.000
FT /(mewn2 )

2.5

1.5

0.5

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
r

Figura 23: Transmissibilidade em função da razão de frequências r - desba-


lanceamento rotativo

8 Oscilação do suporte
Uma fonte comum de movimento forçado é a oscilação do suporte. Seja o
sistema da Figura 24, onde o peso da massa já foi compensado devido à
deflexão estática da mola e o suporte está sujeito a uma oscilação senoidal
y(t) = y0 sen(wt).
A equação do movimento é dada por

mẍ = −k(x − y) − c(ẋ − ẏ) ⇒ mẍ + cẋ + kx = ky + cẏ.

Substituindo y na equação do movimento tem-se


q
mẍ + cẋ + kx = ky0 sen(wt) + cwy0 cos(wt) = y0 k 2 + (cw)2 sen(wt − β),

com tanβ = −(cw)/k = −2ξr.


O movimento forçado é determinado pela excitação
q
y0 k 2 + (cw)2 sen(wt − β)
q
cuja amplitude é F0 = y0 k 2 + (cw)2 .
A amplitude da solução de regime permanente (solução
q do movimento
forçado) usando o resultado da equação (17) com f0 = y0 k 2 + (cw)2 /m é

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

y = y0 sen(wt)
k c

k(x − y) c(ẋ − ẏ)


m
x
m

Figura 24: Sistema com oscilação do suporte e diagrama de corpo livre com
a hipótese de x > y

dada por
q q
y0 k 2 + (cw)2 /(mwn2 ) y0 1 + (2ξr)2
X= q =q .
(1 − r2 )2 + (2ξr)2 (1 − r2 )2 + (2ξr)2

A solução de regime é então

x(t) = Xsen(wt − γ),

com γ = β + φ e tanφ = 2ξr/(1 − r2 ).


A força no suporte é dada por

F = k(x − y) + c(ẋ − ẏ) = −mẍ,

que ao se substituir a solução permite obter


q
y0 1 + (2ξr)2
F = mw2 Xsen(wt − γ) = mw2 q sen(wt − γ) =
(1 − r2 )2 + (2ξr)2
q
r2 1 + (2ξr)2
= y0 k q = FT sen(wt − γ),
(1 − r2 )2 + (2ξr)2
com a amplitude da força transmitida dada por
q
r2 1 + (2ξr)2
F T = y0 k q .
(1 − r2 )2 + (2ξr)2

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

Verifica-se que força transmitida está em fase com o movimento da massa


m.
É possı́vel escrever as seguintes relações:
q
X 1 + (2ξr)2
=q ,
y0 (1 − r2 )2 + (2ξr)2
q
FT r2 1 + (2ξr)2
=q .
y0 k (1 − r2 )2 + (2ξr)2

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

Referências
[1] D. J. Inman, Engineering Vibration, 2nd Edition, Prentice-Hall, 2001.

[2] W. T. Thomson, Teoria da Vibração com Aplicações, Editora In-


terciência, 1978.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

A Variáveis-funções complexas
Define-se a variável complexa s como:

s = σ + jω,

para a qual σ denota a parte real, ω denota a parte imaginária, e j = −1.
O conjugado de s, denotado por s∗ , é dado por:

s∗ = σ − jω.

É usual representar uma variável complexa no chamado plano complexo


como mostrado na figura 25.

jw (imaginário)

s1
jw1
s1 = σ1 + jw1

σ1 σ (real)

Figura 25: Representação no plano complexo.

O módulo da variável complexa s é dado por:


√ √
|s| = σ 2 + ω 2 = s∗ s.

O ângulo θ de uma variável complexa é definido como:


 
ω ω
tanθ = ⇒ θ = tan−1
σ σ
Uma função complexa g(s) é uma função de uma variável complexa e
apresenta uma parte real e uma parte imaginária.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

A fórmula de Euler estabelece que:

ejθ = cos(θ) + jsen(θ). (22)

A fórmula de Euler pode ser provada através da expansão em série de Tay-


lor da exponencial comparada com as expansões das funções seno e cosseno,
ou seja,
x2 x3 x4
ex = 1 + x + + + + ...
2! 3! 4!
θ2 θ3 θ4
ejθ = 1 + jθ − −j + + ...
2! 3! 4!
θ3
sen(θ) = θ − + ...
3!
θ2 θ4
cos(θ) = 1 − + + ...
2! 4!
As seguintes relações podem ser obtidas através da equação (22):

ejθ + e−jθ = cos(θ) + jsen(θ) + cos(θ) − jsen(θ) = 2cos(θ),

ejθ − e−jθ = cos(θ) + jsen(θ) − cos(θ) + jsen(θ) = 2jsen(θ).

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

B Equações diferenciais
Para um sistema linear, com parâmetros concentrados, invariantes no tempo
e em tempo contı́nuo, o modelo matemático é descrito na forma de uma
equação diferencial linear ordinária do tipo:

dn y dn−1 y dy dm x dm−1 x
an +a n−1 +. . .+a 1 +a 0 y(t) = b m +b m−1 +. . .+b0 x(t).
dtn dtn−1 dt dtm dtm−1
A solução de uma equação diferencial envolve a soma da solução da
equação homogênea e da solução particular.
A equação homogênea corresponde ao caso de entrada/excitação nula, ou
seja,
dn y dn−1 y dy
an n + an−1 n−1 + . . . + a1 + a0 y(t) = 0,
dt dt dt
e corresponde à resposta natural do sistema.
A solução que inclui a excitação é a resposta forçada do sistema.

B.1 Solução da equação homogênea


A equação diferencial homogênea é satisfeita por

y(t) = Aert .

Logo, pode-se escrever:


dn y
ẏ(t) = Arert , ÿ(t) = Ar2 ert , n
= Arn ert .
dt
Substituindo estas derivadas na equação diferencial homogênea tem-se:

an Arn ert + an−1 Arn−1 ert + . . . + a0 Aert = 0,

an rn + an−1 rn−1 + . . . + a0 = 0,
que representa o polinômio caracterı́stico do sistema.
Como o polinômio caracterı́stico possui n raı́zes, é esperado que a solução
homogênea seja do tipo:

y(t) = A1 er1 t + A2 er2 t + . . . + An ern t = 0,

na qual r1 , r2 , . . ., rn são as raı́zes do polinômio caracterı́stico. Estas raı́zes


podem ser raı́zes simples e reais, reais e repetidas, complexas conjugadas
simples ou complexas conjugadas repetidas.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

B.2 Determinação da solução homogênea da equação


diferencial
O seguinte procedimento pode ser utilizado para a determinação da solução
homogênea de uma equação diferencial:
1. Calcular as n raı́zes do polinômio caracterı́stico, ri , i = 1, . . . n;
2. Para cada raiz distinta ri , um termo Ai eri t aparece na solução;
3. Para cada par de raı́zes complexas conjugadas α±βj, os termos eαt cos(βt)
e eαt sen(βt) aparecem na solução multiplicados por coeficientes cons-
tantes;
4. Para cada raiz real r de multiplicidade m os termos ert , tert , t2 ert , . . .,
tm−1 ert aparecem na solução multiplicados por coeficientes constantes;
5. Para cada par de raı́zes complexas conjugadas α ± βj de multipli-
cidade m, os termos eαt cos(βt), eαt sen(βt), teαt cos(βt), teαt sen(βt),
t2 eαt cos(βt), t2 eαt sen(βt), . . ., tm−1 eαt cos(βt), tm−1 eαt sen(βt), apare-
cem na solução multiplicados por coeficientes constantes.

Exemplo: Determinar a resposta natural do sistema cuja equação diferen-


cial homogênea é:
d3 y d2 y dy
3
+ 8 2
+ 37 + 50y(t) = 0.
dt dt dt
O polinômio caracterı́stico é r3 + 8r2 + 37r + 50 = 0, cujas raı́zes são −2
e −3 ± 4j.
A solução da equação homogênea é:
y(t) = A1 e−2t + A2 e−3t cos(4t) + A3 e−3t sen(4t).

Exemplo: Determinar a solução homogênea da equação diferencial:


d3 y d2 y dy
3
+ 7 2
+ 16 + 12y(t) = 0.
dt dt dt
O polinômio caracterı́stico é r3 + 7r2 + 16r + 12 = 0, cujas raı́zes são −2,
−2 e −3.
A solução da equação homogênea é, portanto,
y(t) = A1 e−2t + A2 te−2t + A3 e−3t .

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

B.3 Solução particular da equação diferencial


A solução particular de uma equação diferencial corresponde à resposta re-
sultante da entrada ou excitação do sistema. É também chamada de resposta
forçada do sistema. Pode-se dizer que a solução particular apresenta a mesma
“forma” da função de excitação.

Exemplo: Determinar a solução particular da equação diferencial:

d3 y d2 y dy
3
+ 8 2
+ 37 + 50y(t) = 4e−3t .
dt dt dt
A solução é do mesmo tipo da entrada, ou seja, y(t) = Ae−3t .
As derivadas são:

−3t −3t d3 y
ẏ = −3Ae , ÿ = 9Ae , 3
= −27Ae−3t .
dt
Substituindo estas derivadas na equação diferencial tem-se
   
−27Ae−3t + 8 9Ae−3t + 37 −3Ae−3t + 50Ae−3t = 4e−3t ,

−27A + 72A − 111A + 50A = 4 ⇒ A = −0.25


Logo, a solução particular é

y(t) = −0.25e−3t .

Exemplo: Determinar a solução particular da equação diferencial:

d3 y d2 y dy
3
+ 8 2
+ 37 + 50y(t) = 4cos(3t).
dt dt dt
A solução particular é dada por y(t) = Acos(3t) + Bsen(3t), cujas deri-
vadas são:
ẏ = −3Asen(3t) + 3Bcos(3t),
ÿ = −9Acos(3t) + 9Bsen(3t),
d3 y
= 27Asen(3t) − 27Bcos(3t).
dt3
Substituindo estas derivadas na equação diferencial tem-se

(27Asen(3t) − 27Bcos(3t)) + 8 (−9Acos(3t) + 9Bsen(3t)) +

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

+37 (−3Asen(3t) + 3Bcos(3t)) + 50 (Acos(3t) + Bsen(3t)) = 4cos(3t),


e então,
sen(3t)(27A − 72B − 111A + 50B) = 0,
cos(3t)(−27B − 72A + 111B + 50A) = 4cos(3t).
Resolvendo o sistema de equações

27A − 72B − 111A + 50B = 0 e − 27B − 72A + 111B + 50A = 4,


84
obtém-se A = −22
1885
eB= 1885
(coeficientes da solução particular).

B.4 Solução completa da equação diferencial


A solução completa de uma equação diferencial consiste na soma da solução
homogênea com a solução particular e na determinação das constantes através
da substituição das condições iniciais.

Exemplo: Determinar a solução completa da seguinte equação diferencial

d3 y d2 y dy
3
+ 8 2
+ 37 + 50y(t) = 4e−3t ,
dt dt dt
dy d2 y
com as seguintes condições iniciais: y(0) = 1, dt
(0) = 2; dt2
(0) = 1.
A solução completa é dada por:

y(t) = A1 e−2t + A2 e−3t cos(4t) + A3 e−3t sen(4t) −0.25e


| {z
−3t
}
.
| {z }
homogênea particular

Substituindo as condições iniciais na equação diferencial, tem-se:

y(0) = A1 + A2 − 0.25 = 1,

ẏ(0) = −2A1 − 3A2 + 4A3 + 0.75 = 2,


ÿ(0) = −4A1 − 7A2 − 24A3 − 2.25 = 1,
e resolvendo este sistema de equações tem-se os coeficientes procurados:
42 −83 43
A1 = ; A2 = ; A3 = .
17 68 68

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

C Entradas Padronizadas
As entradas padronizadas são utilizadas na análise de desempenho dos sis-
temas. Em geral, a entrada real é desconhecida e são definidos alguns
parâmetros para avaliar o desempenho dos sistemas de forma objetiva e ho-
mogênea.
As entradas padronizadas constituem uma boa maneira de prever o de-
sempenho do sistema e permitem realizar comparações de sistemas.
As principais entradas padronizadas são apresentadas a seguir.

C.1 Degrau Unitário


A entrada degrau unitário, usualmente denotada por u(t), é definida como
(
1 se t > 0
u(t) = ,
0 se t ≤ 0
e está representada graficamente na Figura 26.

u(t)

Figura 26: Degrau unitário

Um degrau unitário com translação é dado por:


(
1 se t > T,
u(t − T ) =
0 se t ≤ T,
e está representado na Figura 27.

C.2 Rampa unitária


A rampa unitária, usualmente denotada por r(t), é definida como:
(
t se t > 0,
r(t) = tu(t) =
0 se t ≤ 0,
e está ilustrada na Figura 28.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

u(t − T )

T t

Figura 27: Degrau unitário com translação.

r(t)

45o

Figura 28: Rampa unitária

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

C.3 Parábola unitária


A parábola unitária é definida como:
(
1 1 2
t se t > 0,
x(t) = t2 u(t) = 2
2 0 se t ≤ 0,
e está ilustrada na Figura 29.

x(t)

Figura 29: Parábola unitária

C.4 Função Senoidal


A função senoidal de amplitude A, freqüência w e ângulo de fase ϕ, é dada
por:
x(t) = Asen(wt + ϕ).

C.5 Função impulso unitário (Delta de Dirac)


O impulso unitário δ(t) é definido como:
Z +∞
δ(t) = 0 para t 6= 0, e δ(t)dt = 1,
−∞

ou seja, possui duração nula, amplitude infinita e área unitária, e sua repre-
sentação gráfica usual é a da Figura 30.

C.6 Função porta ou pulso unitário (Gate)


O pulso unitário é definido como a diferença entre um degrau unitário e outro
degrau unitário transladado, ou seja,
g(t) = u(t) − u(t − T ),

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

δ(t)

Figura 30: Impulso unitário

cujo resultado é mostrado na Figura 31.

g(t)

T t

Figura 31: Pulso unitário

C.7 Função série de potências


A série de potências é definida como:
(
a0 + a1 t + a2 t2 + ... se t > 0,
x(t) =
0 se t ≤ 0.

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D Transformada de Laplace
A transformada de Laplace é um método para resolver equações diferenciais
lineares no qual as operações como diferenciação e integração são substituı́das
por operações algébricas no plano complexo. A componente transitória e a
de regime permanente podem ser obtidas simultaneamente. Além disso, a
transformada de Laplace é fundamental para a análise de sistemas via funções
de transferência.
A transformada de Laplace de uma função f (t) é definida por
Z ∞
F (s) = L [f (t)] = f (t)e−st dt, com s = σ + jw.
0

A transformada inversa de Laplace é dada por


1 Z σ+j∞
−1
f (t) = L F (s) = F (s)est ds, t > 0.
2πj σ−j∞
A integral de Laplace existirá/convergirá se σ0 é escolhido de forma que

lim e−σ0 t f (t) = 0, (23)


t→∞

onde σ0 é chamado de abscissa de convergência.


Para a maioria das funções é possı́vel adotar um valor de σ0 positivo
e suficientemente grande tal que a equação (23) é satisfeita. Isso sempre
será verdadeiro para exponenciais positivas ou para funções que crescem a
uma taxa menor que uma exponencial. Existem funções onde isso não será
2
satisfeito para nenhum valor de σ0 , por exemplo, et , que por sorte aparecem
raramente nos problemas de engenharia.

Exemplo: Calcular L[f (t)] para f (t) = e−at , a = b + jc.


h i Z ∞
−at
F (s) = L e = e−at e−st dt =
0
Z

−(s+a)t −1 −(s+a)t ∞ −1 1
= e dt = e = [0 − 1] = .
0 s+a 0 s+a s+a
A abscissa de convergência é determinada por
   
lim e−σ0 t e−at = lim e−(σ0 +b+jc)t = lim e−(σ0 +b)t e−jct ,
t→∞ t→∞ t→∞

e para que este limite convirja a zero, então σ0 + b > 0, ou σ0 > −b.

Exemplo: Calcular L[f (t)] para f (t) = cos(wt).

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

É possı́vel escrever que


1  jwt 
cos(wt) = e + e−jwt .
2
Logo,
!
1  jwt  1 1 1 s
L[f (t)] = L[e ] + L[e−jwt ] = + = .
2 2 s − jw s + jw s2 + w2
 
1  −jwt i
lim e−σ0 t e + e−jwt = 0, se σ0 > 0.
t→∞ 2

Exemplo: Calcular L[u(t)] para o degrau unitário u(t).


(
0 se t ≤ 0,
u(t) = 0t
1 = e se t > 0.
Logo,
1 1
U (s) = L[u(t)] = = , σ0 > 0.
s+0 s

Exemplo: Calcular L[δ(t)] para o impulso unitário δ(t).


Seja a função f (t) mostrada na Figura 32 e definida por

 0
 se t < 0,
1
f (t) = t0
se 0 ≤ t ≤ t0 ,


0 se t0 < t.
O impulso unitário pode ser representado como:
δ(t) = lim f (t).
t0 →0

Assim,   Z ∞
L[δ(t)] = L lim f (t) = lim f (t)e−st dt =
t0 →0 0 t0 →0
Z Z

−st
t01 −st
= lim f (t)e dt = lim e dt =
t0 →0 0 t0 →0 0 t0
! !
1 −1 −st t0 1 − e−st0
= lim e = lim .
t0 →0 t0 s 0 t0 →0 st0
Aplicando a regra de L’Hopital tem-se que
1 − e−st0 s e−st0
lim = lim = 1.
t0 →0 st0 t0 →0 s
Portanto,
L[δ(t)] = 1.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

f (t)

1
t0

t0 t

Figura 32: Representação do impulso unitário - t0 → 0

D.1 Propriedades da Transformada de Laplace


D.1.1 Linearidade
A transformada de Laplace é um operador linear, ou seja,

L[α1 f1 + α2 f2 ] = α1 L(f1 ) + α2 L(f2 ).

Prova: Z ∞
L[α1 f1 + α2 f2 ] = (α1 f1 + α2 f2 )e−st dt =
0
Z ∞ Z ∞
α1 f1 e−st dt + α2 f2 e−st dt = α1 L[f1 ] + α2 L[f2 ].
0 0

D.1.2 Diferenciação real


Se
L[f (t)] = F (s),
então, " #
df
L = sF (s) − f (0).
dt
Prova: " #
Z ∞ Z ∞
df df −st
L = e dt = e−st df.
dt 0 dt 0
R R
Integrando por partes, udv = uv − vdu, com u = e−st , dv = df ,
du = −se−st dt e v = f (t), tem-se,
Z ∞ Z ∞
udv = e−st f (t)|∞
0 − f (t)(−s)e−st dt =
0 0

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

Z ∞
−st
=e f (t)|∞
0 + f (t)s e−st dt = 0 − f (0) + sF (s).
0
Portanto, " #
df
L = sF (s) − f (0).
dt
Generalizando, tem-se:
" # !
n−1
dn f (t) n
X di f
L = s F (s) − sn−i−1 .
dtn i=0 dti t=0
Prova:
df
Seja g = dt
. Logo,
" #
dg
L = sG(s) − g(0) = sL[g(t)] − g(0) =
dt
" #
df df
= sL − g(0) = s(sF (s) − f (0)) − =
dt dt t=0

df
= s2 F (s) − sf (0) − .
dt t=0
dg
Seja h = dt
. Logo,
" #
dh
L = sH(s) − h(0) = sL[h(t)] − h(0) =
dt
" #
dg
= sL − h(0) = s(sG(s) − g(0)) − h(0) =
dt
= s2 G(s) − sg(0) − h(0) = s2 L[g(t)] − sg(0) − h(0) =
" #
df df
2 d2 f
=s L − s − 2 =
dt dt t=0 dt t=0

2 df d2 f
= s (sF (s) − f (0)) − s − 2 =
dt t=0 dt t=0

3 df d2 f 2
= s F (s) − s f (0) − s − 2 .
dt t=0 dt t=0
Pode-se continuar assim por diante para derivadas de ordem n.
Se todas as condições iniciais são nulas tem-se que:
" #
dn f (t)
L = sn F (s).
dtn
Note que derivar no tempo corresponde a multiplicar por s no domı́nio
de Laplace quando as condições iniciais são nulas.

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D.1.3 Integração real


Se L[f (t)] = F (s), então,
Z 
1 1Z
L f (t)dt = F (s) + f (t)dt
s s t=0

Quando todas as condições iniciais são nulas tem-se que:


Z 
F (s)
L f (t)dt = .
s
Prova: Z  Z ∞ Z 
L f (t)dt = f (t)dt |e−st
{zdt}
0
| {z } dv
u
R
que v = e−s , o que permite
−st
Definindo-se u = f (t)dt e dv =R
e−st dt tem-se
R
fazer uma integração por partes ( udv = uv − vdu). Logo,
Z Z  ∞

−st e−st Z
Z ∞ −st
e
f (t)dt e dt = f (t)dt −
f (t)dt =
0 −s 0 0 −s

1Z 1Z ∞
= f (t)dt +
f (t)e−st dt =
s t=0 s 0
Z 
1 1Z
= F (s) + f (t)dt = L
f (t)dt .
s s t=0
Note que integrar no tempo corresponde a dividir por s no domı́nio de
Laplace quando as condições iniciais são nulas.

D.1.4 Teorema do valor final


Se L[f (t)] = F (s) e existirem
" #
df
L , lim f (t) e lim sF (s),
dt t→∞ s→0

então,
lim f (t) = lim sF (s).
t→∞ s→0
Prova:
" # " #
df df
L = sF (s) − f (0) ⇒ L + f (0) = sF (s),
dt dt
" # ! " #
df df
lim sF (s) = lim L + f (0) = lim L + f (0) =
s→0 s→0 dt s→0 dt

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

Z Z ∞
∞ df −st
= lim e dt + f (0) = lim e−st df + f (0) =
s→0 0 dt 0 s→0
Z ∞
df + f (0) = f (∞) − f (0) + f (0) = f (∞) = lim f (t).
0 t→∞

D.1.5 Teorema do valor inicial


Se L[f (t)] = F (s) e existirem
" #
df
L e lim sF (s),
dt s→∞

então,
lim f (t) = s→∞
lim sF (s).
t→0+
Prova:
" # ! " #
df df
lim sF (s) = s→∞
lim L + f (0) = s→∞
lim L + f (0) =
s→∞ dt dt
Z Z ∞
∞ df −st
= s→∞
lim e dt + f (0) = lim e−st df + f (0) = f (0) = lim+ f (t).
0 dt 0 s→∞ t→0

D.1.6 Translação real


Seja F (s) = L[f (t)], então,

L[f (t − T )u(t − T )] = e−sT F (s).

f (t) f (t − T )u(t − T )

T t

Figura 33: Representação da translação de f (t)

Prova:
Z ∞
L [f (t − T )u(t − T )] = f (t − T )u(t − T )e−st dt =
0

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

Z ∞ Z ∞
= f (t − T )u(t − T )e −st
dt = f (τ )u(τ )e−s(τ +T ) dτ =
T 0
Z ∞
−sT
=e f (τ )u(τ )e−sτ dτ = e−sT F (s),
0
onde τ = t − T e dτ = dt.

T
t

Figura 34: Representação dos eixos t e τ

D.1.7 Funções periódicas


Para f (t) uma função periódica de perı́odo T tem-se que
1
L[f (t)] = F1 (s),
1 − e−sT
onde F1 (s) = L[f1 (t)] e f1 (t) é o primeiro perı́odo de f (t).
Prova:
f (t) = f1 (t)u(t) + f1 (t − T )u(t − T ) + f1 (t − 2T )u(t − 2T ) + . . . ,
F (s) = L[f (t)] = L[f1 (t)u(t)]+L[f1 (t−T )u(t−T )]+L[f1 (t−2T )u(t−2T )]+. . .
Mas
L[f1 (t)u(t)] = F1 (s),
L[f1 (t − T )u(t − T )] = e−sT F1 (s),
L[f1 (t − 2T )u(t − 2T )] = e−s2T F1 (s),
e conseqüentemente,
F (s) = F1 (s) + e−sT F1 (s) + e−2sT F1 (s) + . . . = (1 + e−sT + e−2sT + . . .)F1 (s).
1 1 1
Como T > 0 tem-se que e−sT = esT < 1. A seqüência 1, esT
, e2sT
, ..., é
1 1
uma PG de razão esT , cuja soma é 1−e−sT . Logo,
1
F (s) = F1 (s).
1 − e−sT
Verifica-se que o fato de s ser complexo não altera o resultado da PG, ou
seja,
1 1 1
sT
= (a+jb)T = aT jbT ,
e e e e
aT jbT
onde e > 1 e e é periódico e limitado.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

D.1.8 Diferenciação Complexa


Se L[f (t)] = F (s) então

dF (s)
− = L[tf (t)].
ds
Prova:
dF (s) d Z∞ −st
Z ∞
d  
− =− f (t)e dt = − f (t)e−st dt =
ds ds 0 0 ds
Z ∞   Z ∞
−st
=− f (t) −te dt = tf (t)e−st dt = L[tf (t)].
0 0

D.1.9 Integração Complexa


R∞
Se L[f (t)] = F (s), e existe s F (s)ds, então,
" Z ∞ #
f (t)
L = F (s)ds.
t s

Prova:
Z ∞ Z ∞ Z ∞ Z ∞ Z ∞ 
−st −st
F (s)ds = f (t)e dtds = f (t) e ds dt =
s s 0 0 s

Z Z ∞ ∞ " #
∞ −e−st f (t) −st f (t)
= f (t) dt = e dt = L .
0 t s 0 t t

D.1.10 Translação Complexa


Se L[f (t)] = F (s), então,

F (s + a) = L[e−at f (t)].

Prova: Z ∞
−at
L[e f (t)] = e−at f (t)e−st dt =
0
Z ∞ Z ∞
= f (t)e−(a+s)t dt = f (t)e−s̄t dt = F (s̄) = F (s + a).
0 0

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

D.1.11 Convolução Real


Define-se a convolução entre f (t) e g(t) como
Z t
h(t) = f (t) ∗ g(t) = f (τ )g(t − τ )dτ.
0

Se L[f (t)] = F (s) e L[g(t)] = G(s), então,

L[f (t) ∗ g(t)] = F (s)G(s).

Prova:
Z t Z ∞
f (τ )g(t − τ )dτ = f (τ )g(t − τ )u(t − τ )dτ,
0 0

pois
(
1 se −(τ − t) > 0 ou τ < t,
u(t − τ ) = u(−(τ − t)) =
0 se −(τ − t) ≤ 0 ou τ ≥ t.

t τ

Figura 35: Representação de u(t − τ )

Seja H(s) = L[h(t)]. Logo, escreve-se:


Z ∞ Z ∞
H(s) = L[h(t)] = f (τ )g(t − τ )u(t − τ )dτ e−st dt =
0 0
Z ∞ Z ∞ 
−st
= f (τ ) g(t − τ )u(t − τ )e dt dτ =
0 0
Z ∞ h i Z ∞
−sτ
= f (τ ) e G(s) dτ = G(s) f (τ )e−sτ dτ = G(s)F (s).
0 0
No caso de sistemas antecipativos e entradas para t <R 0, deve-se estender

os limites de integração, ou seja, h(t) = f (t) ∗ g(t) = −∞ f (τ )g(t − τ )dτ .
Contudo, esta situação não é coberta neste material.

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

f1 (t)
A

T t

A A
− −
f1 (t)

T t T t T t
A A
T
tu(t) T
(t − T )u(t − T ) Au(t − T )

Figura 36: Dente de serra

Exemplo: Calcular a transformada de Laplace da função dente de serra,


como ilustrada na Figura 36.
O primeiro perı́do desta função pode ser construı́do através da soma de
três termos conforme mostrado na Figura 36, ou ainda,
A
f1 (t) = [tu(t) − (t − T )u(t − T ) − T u(t − T )] .
T
Aplicando a transformada de Laplace a cada um destes termos tem-se:
Z    
1 1 1 1
L[tu(t)] = L u(t)dt = U (s) + 0 = = 2,
s s s s
1
L[(t − T )u(t − T )] = e−sT 2 ,
s
1
L[T u(t − T )] = T e−sT .
s
Portanto, a transformada de Laplace do primeiro perı́odo da função é:
" #
A 1 e−sT T e−sT
F1 (s) = − − .
T s2 s2 s
Aplicando a propriedade de funções periódicas tem-se para o dente de
serra:
   " #
1 A 1 − (1 − T s)e−sT
F (s) = F1 (s) = .
1 − e−sT T s2 1 − e−sT

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

D.2 Transformada inversa de Laplace - método da ex-


pansão em frações parciais
Este método aplica-se quando X(s) é uma função racional (quociente de dois
polinômios em s), ou seja,
Q(s)
X(s) = ,
P (s)
onde Q(s) possui ordem m e P (s) possui ordem n, com m < n.
As principais etapas do método são:
Q(s)
1. Desenvolver P (s)
em frações parciais na forma

Q(s) c1 c2 cn
X(s) = = + + ... + ,
P (s) r1 (s) r2 (s) rn (s)

onde ri (s) são polinômios de grau 1 ou 2. Deve-se encontrar as raı́zes


de P (s) (polinômio na forma fatorada).

2. Calcular as constantes ci , i = 1, . . . , n.

3. Obter a transformada inversa de cada fração parcial, que são funções


mais simples.

Exemplo: Caso de raı́zes simples. Seja

a + bs
X(s) = ; µ1 6= µ2 .
(s − µ1 )(s − µ2 )

Pode-se escrever X(s) da seguinte forma:

a + bs c1 c2
X(s) = = +
(s − µ1 )(s − µ2 ) s − µ1 s − µ2

onde c1 e c2 são constantes que devem ser determinadas.


Multiplicando-se por s − µ1 tem-se:
a + bs c2
(s − µ1 )X(s) = = c1 + (s − µ1 ) .
s − µ2 s − µ2
Fazendo s = µ1 , pois s pode assumir qualquer valor, tem-se
a + bµ1
(s − µ1 )X(s)|s=µ1 = c1 = .
µ1 − µ2

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

De forma análoga
a + bµ2
c2 = (s − µ2 )X(s)|s=µ2 = .
µ2 − µ1
Logo,
! ! ! !
a + bµ1 1 a + bµ2 1
X(s) = + .
µ1 − µ2 s − µ1 µ2 − µ1 s − µ2

A anti-transformada de cada fração parcial pode ser calculada, ou seja,


a + bµ1 µ1 t a + bµ2 µ2 t
f (t) = L−1 [X(s)] = e + e .
µ1 − µ2 µ2 − µ1
Portanto, para n raı́zes simples tem-se que:

ci = (s − µi )X(s)|s=µi , i = 1, 2, . . . , n.

Exemplo: Raı́zes Múltiplas. Seja

a + bs
X(s) = ,
(s − µ1 )2 (s − µ2 )
com µ1 de multiplicidade 2.
A expansão em frações parciais torna-se
a + bs c1 c2 c3
X(s) = 2
= 2
+ + . (24)
(s − µ1 ) (s − µ2 ) (s − µ1 ) (s − µ1 ) (s − µ2 )

Multiplicando por (s − µ1 )2 obtém-se

a + bs (s − µ1 )2
(s − µ1 )2 X(s) = = c1 + (s − µ1 )c2 + c3 , (25)
s − µ2 s − µ2
e fazendo s = µ1 , tem-se que
a + bµ1
c1 = .
µ1 − µ2
Derivando a equação (25) com relação a s e fazendo s = µ1 obtém-se c2 ,
ou seja,
" #
d h i d a + bs −µ2 b − a
c2 = (s − µ1 )2 X(s) =
= .
ds s=µ1
ds s − µ2
s=µ1
(µ1 − µ2 )2

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

Portanto, para q raı́zes reais e iguais, s = µi , tem-se


" #
1 dp−1
[(s − µi )q X(s)]

cp = p−1
, p = 1, . . . , q.
(p − 1)! ds
s=µi

Multiplicando a equação (24) por s − µ2 e fazendo s = µ2 tem-se



a + bs a + bµ2
2
= c 3 ⇒ c3 = .
(s − µ1 ) s=µ2 (µ2 − µ1 )2

A anti-transformada de cada fração parcial pode ser calculada como


" #
1 1
L −1
q
= tq−1 eµi t .
(s − µi ) (q − 1)!

Exemplo: Determinar a transformada de Laplace de uma equação de se-


gunda ordem
ÿ + 2ξwn ẏ + wn2 y(t) = γwn2 f (t),
com as seguintes condições iniciais y(0) = y0 e ẏ(0) = v0 .
Pode-se escrever

L[y(t)] = Y (s), L[ẏ(t)] = sY (s) − y0 e L[ÿ(t)] = s2 Y (s) − sy0 − v0 .

Consequentemente

(s2 + 2ξwn s + wn2 )Y (s) − (s + 2ξwn )y0 − v0 = γwn2 F (s),

ou ainda
1 h
2
i
Y (s) = γw n F (s) + v 0 + (s + 2ξw )y
n 0 ,
s2 + 2ξwn s + wn2

onde cada termo desta equação pode ser analizado de forma independente
devido ao sistema ser linear.
Com condições iniciais nulas, y0 = 0 e v0 = 0, tem-se

γwn2
Y (s) = 2 F (s) = G(s)F (s),
s + 2ξwn s + wn2

onde
γwn2
G(s) =
s2 + 2ξwn s + wn2

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é a função de transferência que relaciona a entrada à saı́da do sistema e que


pressupõe condições iniciais nulas, ou seja,

Y (s) = G(s)F (s).

Exemplo: Seja um sistema de primeira ordem descrito por


dy dy
a1 + a0 y = b 0 x ⇒ τ + y = γx(t).
dt dt
onde
a1 b0
τ= e γ=
a0 a0
com a condição inicial y(0) = 0.
Aplicando a transformada de Laplace, tem-se que
" #
dy
L τ + y = L[γx(t)] ⇒ τ sY (s) + Y (s) = γX(s)
dt

onde L[y(t)] = Y (s) e L[x(t)] = X(s).


É possı́vel escrever que
γ
Y (s) = X(s),
τs + 1
com a seguinte função de transferência:
γ
G(s) = .
τs + 1
Considere os casos das entradas apresentadas a seguir.
1. Seja x(t) = u(t) uma entrada do tipo de degrau unitário. Logo tem-se
que
1
X(s) = L[u(t)] =
s
e a transformada de Laplace da equação do sistema de primeira ordem
torna-se  
γ 1
Y (s) = .
τs + 1 s
Deseja-se determinar a resposta temporal y(t) através da expansão em
frações parciais, ou seja,
γ ! !
τ 1 c1 c2
Y (s) = 1 = 1 + . (26)
s+ τ
s s+ τ s

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Vibrações de Sistemas Mecânicos

1
Multiplicando (26) por s + τ
tem-se

γ 1 c2
= c1 + (s + ) ,
τs τ s
e fazendo s = − τ1 , pois a equação deve ser válida para qualquer s,
tem-se
γ
= c1 + 0 ⇒ c1 = −γ.
τ (− τ1 )

Multiplicando (26) por s e calculando-se para s = 0 tem-se,


γ
τ c1
1 = s + c2 ⇒ c2 = γ.
s+ τ
s + τ1

Logo, !
γ γ
Y (s) = − 1 .
s s+ τ

Fazendo a anti-transformada de Laplace tem-se:


" !#
1 1 1
L −1
γ − 1 = γ(1 − e− τ t ) = y(t), t ≥ 0.
s s+ τ

2. Seja x(t) = δ(t) um impulso unitário. A transformada de Laplace do


impulso unitário é
X(s) = L[δ(t)] = 1.
e a transformada de Laplace da equação do sistema de primeira ordem
torna-se γ
τ
Y (s) = G(s) = 1 .
s+ τ

A resposta ao impulso pode ser encontrada através da transformada


inversa, ou seja,
" γ #
−1 τ γ −t
y(t) = L 1 = e τ, t ≥ 0,
s+ τ
τ

cuja representação gráfica está na Figura 37.

3. Seja x(t) = tu(t) uma rampa unitária. A transformada de Laplace da


rampa unitária é
1
X(s) = L[tu(t)] = 2 ,
s
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γ y(t)
τ

Figura 37: Resposta ao impulso de um sistema de primeira ordem

e a transformada da equação da resposta do sistema de primeira ordem


torna-se γ ! !
τ 1 c1 c2 c3
Y (s) = = 2+ + . (27)
s + τ1 s2 s s s + τ1

As constantes da expansão em frações parciais podem então ser calcu-


ladas. Multiplicando (27) por s + τ1 e fazendo s = − τ1 tem-se
γ
  2
τ γ τ
c3 = = − = γτ.
s2 s=− τ1
τ 1

Multiplicando (27) por s2 tem-se


γ
c3
τ
1 = c1 + sc2 + s2 , (28)
s+ τ
s + τ1

e fazendo s = 0, tem-se
γ

τ
c1 = 1 = γ.
s + τ s=0

Derivando (28) com relação a s obtém-se


" #
− γτ d 2 c3
1 2 = c2 + s ,
(s + τ ) ds s + τ1

e fazendo s = 0 obtém-se
− γτ
c2 = = −γτ.
( τ1 )2

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Logo, a transformada de Laplace na forma de frações parciais é


!
γτ γ γτ
Y (s) = 1 + 2 − ,
s+ τ s s

cuja anti-transformada será dada por


 t

y(t) = L−1 [Y (s)] ⇒ y(t) = γ τ e− τ + t − τ , t ≥ 0.

A resposta temporal é ilustrada na Figura 38.

y(t) entrada
γ
resposta

τ t

Figura 38: Resposta à rampa unitária de sistema de primeira ordem.

4. Seja uma entrada senoidal na forma x(t) = sen(wt). A transformada


de Laplace de x(t) é
w
X(s) = L[sen(wt)] = ,
s2 + w 2
e a transformada da equação da resposta do sistema de primeira ordem
torna-se γ ! 
τ w
Y (s) = .
s + τ1 s2 + w 2

Como s2 + w2 = (s + jw)(s − jw) é possı́vel escrever que


γ ! 
τ w c1 c2 c3
1 = 1 + + . (29)
s+ τ
s + w2
2 s+ τ s + jw s − jw

As constantes das frações parciais podem ser calculadas, ou seja,


     " #
γ w γ w γwτ
c1 = 2 2
= 1 = ,
τ s + w s=− τ1

τ 2
(− τ ) + w 2 1 + w2 τ 2

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γ ! !
τ w
γ wτ
c2 = 1 = ,
s+ τ
s − jw
s=−jw
(−jw + τ1 )(−2jw)

γ wτ

γ wτ
c3 = = .
(s + τ1 )(s + jw) s=jw (jw + τ1 )(2jw)

A transformada de Laplace na forma de frações parciais torna-se:


  
wτ 1
Y (s) = γ 1+w2 τ 2 s+ τ1
+
w   w  
1 1
+ τ
(−jw+ τ1 )(−2jw) s+jw
+ τ
(jw+ τ1 )(2jw) (s−jw)
.

A anti-transformada de Laplace pode ser agora determinada,

y(t) = L−1 [Y (s)].

Para cada um dos termos tem-se:


" !#
−1 wτ 1 wτ t
L γ 1 =γ e− τ ,
1 + w2 τ 2 s+ τ
1+w τ2 2

" w
!# w
−1 τ 1 τ
L γ 1 =γ 1 e−jwt ,
(−jw + τ
)(−2jw) s + jw (−jw + τ
)(−2jw)
" w
!# w
1
L−1 γ τ
1 =γ τ
1 ejwt .
(jw + τ
)(2jw) s − jw (jw + τ
)(2jw)

As fórmulas de Euler, ejt = cos(t) + jsen(t) e e−jt = cos(t) − jsen(t),


podem ser empregadas de forma que
h t

y(t) = γ 1+w2 τ 2
e− τ +
w
+ (−jw+ 1τ)(−2jw) (cos(wt) − jsen(wt))+
τ 
w
+ 1
τ
(jw+ τ )(2jw)
(cos(wt) + jsen(wt)) ,

ou ainda,
 
wτ t 1
y(t) = γ 2 2
e− τ − cos(wt) + sen(wt) , t ≥ 0.
1+w τ τw

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