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Universidade Estadual de Goiás

Curso de Farmácia
Farmacotécnica e Cosmetologia II

CONTROLE DE QUALIDADE NA
FARMÁCIA MAGISTRAL

Prof. Dr. Leonardo Luiz Borges


QUALIDADE
“Conjunto de atributos que se deseja para um determinado
produto. A satisfação das expectativas do cliente e o
cumprimento de aspectos técnicos e de performance legalmente
exigidos são dois fatores determinantes para o conceito”.
(GIL, E. S.; QUINTINO, W.A., 2010)
A preocupação com a qualidade dos
produtos não é recente...

➢ Por volta de 2.150 a.C., o código Hamurabi demonstrava


preocupação com a qualidade das habitações e determinava a
imolação (sacrifício) de construtores que negociassem
imóveis débeis.

➢ Os fenícios amputavam as mãos dos fabricantes que


produzissem produtos fora das especificações.

➢ Já na Idade Média, Luís XIV (1638-1715) aprovou normas


relacionadas com a escolha de fornecedores e controle de
processos de fabricação de embarcações.
QUALIDADE DE MEDICAMENTOS

“Tenha, em relação às doenças, duas coisas em vista:


seja útil ou, ao menos, não prejudique”.
Hipócrates – 430 a. C

“A diferença entre um remédio e um veneno está só na


dosagem”
Paracelso – séc. XVI
RDC Nº 67, DE 8 DE OUTUBRO DE 2007

➢Dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de


Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano
em Farmácias.

5.1. As BPMF estabelecem para as farmácias os requisitos


mínimos para a aquisição e controle de qualidade da
matéria-prima, armazenamento, manipulação,
fracionamento, conservação, transporte e dispensação de
preparações magistrais e oficinais, obrigatórios à
habilitação de farmácias públicas ou privadas ao exercício
dessas atividades, devendo preencher os requisitos e ser
previamente aprovadas em inspeções sanitárias locais.
CONTROLE DE QUALIDADE

➢ Controle da qualidade são as ações


relacionadas com a medição da qualidade, para
diagnosticar se os requisitos estão sendo
respeitados e se os objetivos da empresa estão
sendo atingidos.
CONTROLE DE QUALIDADE

DEFINIÇÃO DE ACORDO COM A RDC N° 67/2007

➢ Controle de Qualidade: conjunto de operações (programação,


coordenação e execução) com o objetivo de verificar a
conformidade das matérias-primas, materiais de embalagem e
do produto acabado, com as especificações estabelecidas.

➢ Controle em processo: verificações realizadas durante a


manipulação de forma a assegurar que o produto esteja em
conformidade com as suas especificações.
CONTROLE DE QUALIDADE DE MATÉRIAS-
PRIMAS E MATERIAL DE EMBALAGEM

ESPECIFICAÇÃO
➢ Definição rigorosa e minuciosa das características essenciais
(qualitativas e quantitativas) que deve ter um insumo para
cumprir sua finalidade numa forma farmacêutica.
ATIVIDADES DO CONTROLE DE QUALIDADE

➢ Aprovar ou rejeitar matérias-primas, material de embalagem,


rótulos, de acordo com os padrões de qualidade.
➢ Executar análises em amostras, sejam por testes físico químicos
ou biológicos.
➢ Acompanhar cada processo de produção para certificar-se de
que métodos de produção padronizados estão sendo seguidos.
➢ Avaliar as condições ambientais da área produtiva.
ÁREA OU SALA DE CONTROLE DE QUALIDADE

• Item 4.3 Anexo I – “ A farmácia deve disporde área


ou sala para as atividades de controle de qualidade.”
ÁREA OU SALA DE CONTROLE DE QUALIDADE

Equipamentos
➢ pHmetro *
➢ Aparelho para determinação do ponto de fusão*
➢ Viscosímetro
➢ Densímetro ou picnômetro*
➢ Balança analítica de precisão*
➢ Vidrarias (provetas, tubos de ensaio, pipetas, termômetros, etc.)
ÁREA OU SALA DE CONTROLE DE QUALIDADE

* Utilizados para realização dos testes mínimos


(item 7.3.10): Caracteres organolépticos,
solubilidade, pH, peso, volume, ponto de fusão,
densidade, avaliação do laudo de análise do
fabricante/fornecedor.
ÁREA OU SALA DE CONTROLE DE QUALIDADE

Equipamentos:
• 7.3.17. Os equipamentos e instrumentos de medição e ensaios
devem ser periodicamente verificados e calibrados, de acordo
com o item 5.2 desteAnexo.
• 7.3.18. Os equipamentos utilizados no laboratório de controle
de qualidade devem ser submetidos à manutenção preventiva e
corretiva, quando necessário, de acordo com um programa
documentado e obedecendo aos procedimentos operacionais
escritos.
• 7.3.19. Os registros referentes às calibrações e manutenções
preventivas e corretivas devem ser mantidos por no mínimo 2
(dois) anos.
IDENTIFICAÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS (MP)
E MATERIAL DE EMBALAGEM (ME)

7.2.7 Todas as MP e ME recém-chegadas devem ser identificadas


e colocadas em uma área chamada “quarentena”, até que o CQ
tenha determinado ou não sua aceitabilidade.

Etiquetas:
➢ Quarentena: amarela
➢ Aprovado: verde
➢ Reprovado: vermelha
IDENTIFICAÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS (MP)
E MATERIAL DE EMBALAGEM (ME)

• 7.3.20 – A amostragem do material deve ser realizada em local


específico e sob condições ambientais adequadas, obedecendo a
procedimentos operacionais padrões que impeçam a
contaminação cruzada.

• 7.3.21 - Todos os utensílios utilizados no processo de


amostragem que entrarem em contato com os materiais devem
estar limpos e sanitizados.
ANÁLISES MÍNIMAS
MATÉRIAS-PRIMAS EM GERAL: 7.3.10

a) caracteres organolépticos;
b) solubilidade;
c) pH;
d) peso;
e) volume;
f) ponto de fusão;
g) densidade;
h) avaliação do laudo de análise do fabricante/fornecedor.
ANÁLISES MÍNIMAS

A) CARACTERES ORGANOLÉPTICOS:
➢ utilizam os cinco sentidos como instrumentos de análise;
➢ identificação inicial da MP;
➢ custo baixo;
➢ subjetivas

Caracteres organolépticos Sentido


Aparência Tato, visão
Cor Visão
Odor Olfato
Sabor Paladar
ANÁLISES MÍNIMAS

B) SOLUBILIDADE:

➢ referem-se a determinações feitas a 25°C;


➢ solventes utilizados: água, álcool etílico, acetona, éter,
clorofórmio, metanol, etc.

Termo Descritivo Partes de solvente necessárias (mL)


para uma parte de soluto (g)
Muito solúvel <1
Facilmente solúvel 1-10
Solúvel 10-30
Levemente solúvel 30-100
Pouco solúvel 100-1000
Muito pouco solúvel 1000-10000
Praticamente insolúvel ou insolúvel >10000
ANÁLISES MÍNIMAS
C) DETERMINAÇÃO DO pH:
➢ pHmetro usado na MP e produto acabado;
➢ Alteração de pH em função de impurezas ou instabilidade;
➢ Importante verificação e cuidados com o eletrodo;

D) PESO:
➢ Balança analítica devidamente verificada e calibrada;

E) VOLUME:
➢ Utilização de vidraria compatível com o volume à ser medido.
ANÁLISES MÍNIMAS
F) DETERMINAÇÃO DO PONTO DE FUSÃO:

➢ Temperatura de passagem do estado sólido ao estado líquido por


influência do calor;
➢ na prática: intervalo de fusão;
➢ USP: média das temperaturas inicial ( quando há formação de
pequenas gotículas) e final (completa formação de gotas límpidas e
transparentes) de fusão;
➢ Farmacopeia Brasileira: idem USP;
➢ identificação e grau de pureza;
➢ Comportamento de fusão: para fármacos que sofrem decomposição.
ANÁLISES MÍNIMAS
G) DENSIDADE:
➢ propriedade física calculada através do peso (em gramas)
e do volume ( em mL) de uma dada substância pura
(sólida ou líquida) ou mistura;
➢ pós: densidade aparente;
➢ líquidos: densidade relativa: picnômetro
ANÁLISES MÍNIMAS
H) AVALIAÇÃO DO LAUDO DE ANÁLISE DO
FABRICANTE/FORNECEDOR:
ANÁLISES MÍNIMAS
7.3.13 Matérias-primas de origem vegetal:
➢ Caracteres organolépticos
➢ Determinação de materiais estranhos
➢ Pesquisas de contaminação microbiológica (contagem total, fungos e
leveduras)1
➢ Umidade1
➢ Determinação de cinzas totais (componentes de natureza inorgânica)1
➢ Plantas íntegras ou grosseiramente rasuradas: avaliação dos caracteres
macroscópicos
➢ Pós ou materiais fragmentados : avaliação dos caracteres microscópicos1

Líquidos: também a determinação da densidade

1.
7.3.13.1. Podem ser aceitos estes ensaios pelos fabricantes/fornecedores, desde
que estes estejam qualificados pela farmácia.
CONTROLE DE QUALIDADE TERCEIRIZADO

• 7.3.15. Em caso de terceirização de análises de controle de qualidade, o


contrato deve ser mutuamente acordado e controlado entre as partes, de
modo a evitar equívocos na análise de qualidade. Deve ser firmado um
contrato escrito entre o contratante e o contratado, que estabeleça claramente
as atribuições de cada parte.
• 7.3.15.1. O contrato escrito firmado deve estabelecer os métodos de análise
utilizados.
• 7.3.15.2. O contrato deve estabelecer que o contratante pode fazer auditoria
nas instalações do contratado.
• 7.3.15.3. O contratante é responsável pela avaliação da qualificação do
contratado para realizar os serviços contratados.
CONTROLE DE QUALIDADE TERCEIRIZADO
Além disso, deve ser assegurado, por meio do contrato firmado, que os
princípios das Boas Práticas de Laboratório sejamcumpridos.
• 7.3.15.4. O contratado deve possuir instalações, equipamentos e
conhecimentos adequados, além de experiência e pessoal qualificado para as
atividades estabelecidas em contrato.
• 7.3.15.5. O contrato deve prever as ações a serem adotadas quando houver
reprovação do material.
• 7.3.16. Os Certificados de Análise emitidos pela farmácia ou por empresa
contratada devem ser avaliados para verificar o atendimento às
especificações e conter informações claras e conclusivas, com todas as
especificações, definição dos resultados; datados, assinados e com
identificação do responsável técnico e respectivo número de inscrição no seu
Conselho Profissional.
IMPORTANTE:
• 7.3.14. A reprovação de insumos deve ser notificada à
Autoridade Sanitária, segundo legislação vigente.
CONTROLE DE QUALIDADE ÁGUA

ÁGUAPOTÁVEL
• 7.5.1.2. A farmácia deve possuir procedimentos escritos para
realizar amostragem da água e periodicidade das análises.
• 7.5.1.3. Devem ser feitos testes físico-químicos e
microbiológicos, no mínimo a cada seis meses, para monitorar
a qualidade da água de abastecimento, mantendo-se os
respectivos registros. As especificações para água potável devem
ser estabelecidas com base na legislação vigente. (Portaria
2914/2011)
CONTROLE DE QUALIDADE ÁGUA
ÁGUAPOTÁVEL

• 7.5.1.4. Devem ser realizadas, no mínimo, as seguintes análises:


a) pH
b) cor aparente
c) Turbidez
d) cloro residual livre
e) sólidos totais dissolvidos
f) contagem total de bactérias
g) coliformes totais
h) presença de E. coli.
i) coliformes termorresistentes

7.5.1.5. É facultado à farmácia terceirizar os testes de que trata o item


anterior, devendo estabelecer para o laboratório contratado as
especificações para água potável, de acordo com a legislação vigente.
CONTROLE DE QUALIDADE ÁGUA - TERCEIRIZAÇÃO
2.Devem ser feitos testes físico-químicos e microbiológicos da
água purificada, no mínimo mensalmente, com o objetivo de
monitorar o processo de obtenção de água, podendo a farmácia
terceirizá-los.
3.A farmácia deve possuir procedimento escrito para a coleta e
amostragem da água. Um dos pontos de amostragem deve ser o
local usado para armazenamento.

Laudos insatisfatórios:
4.A farmácia deve estabelecer, registrar e avaliar a efetividade das
medidas adotadas, por meio de uma nova análise, em caso de
resultado de análise insatisfatório da água purificada.
Farmacopeia Brasileira 4° Ed. Farmacopeia Brasileira 5° Ed.

Ensaio Especificação Especificação

Características físicas Líquido límpido, incolor, insípido (sem gosto) e Líquido inodoro, incolor e límpido.
inodoro.
Acidez e alcalinidade A solução não desenvolve coloração vermelha/ A A solução não desenvolve coloração vermelha/ A
solução não adquire coloração azul solução não adquire coloração azul
Substâncias oxidáveis Coloração fracamente rósea Coloração fracamente rósea
Condutividade da água Etapa 1 – No máximo 1,3 uS/cm a 25,0 °C ± 0,5 Etapa 1 – No máximo 1,3 uS/cm a 25,0 °C ± 0,5
°C °C
Etapa 2 – No máximo 2,1 uS/cm a 25,0 °C ± 0,5 Etapa 2 – No máximo 2,1 uS/cm a 25,0 °C ± 0,5
°C °C
Etapa 3 – Correlação pH e condutividade. Etapa 3 – Correlação pH e condutividade.

Carbono Orgânico Total No máximo 0,5mg/L Ensaio não exigido se realizado o de substâncias
oxidáveis
Amônio No máximo 0,2ppm X
Cálcio e Magnésio Uma coloração azul límpida é produzida X
Cloretos Não apresenta alteração na aparência pelo menos X
15 minutos.
Nitratos No máximo 0,2ppm X
Sulfatos A solução não apresenta alterações na aparência X
por pelo menos 1 hora
Contagem do número total de No máximo 100UFC/mL No máximo 100UFC/mL
microrganismos mesófilos (T
mediana) *

Contagem de bactérias No máximo 100UFC/mL No máximo 100UFC/mL


heterotrófica*

Coliformes totais Ausente Ausente


Escherichia coli Ausente Ausente
Pseudomonas aeruginosa Ausente Ausente
X = Ensaios que podem ser substituídos pelo ensaio de condutividade; = Ensaios que podem ser substituídos pela contagem de
*

bactérias heterotrófica e vice-versa.


CONTROLE DE QUALIDADE DAS PREPARAÇÕES
MAGISTRAIS E OFICINAIS

9.1.1. Devem ser realizados, no mínimo, os seguintes ensaios,


de acordo com a Farmacopéia Brasileira ou outro Compêndio
Oficial reconhecido pela ANVISA, em todas as preparações
magistrais e oficinais:
CONTROLE DE QUALIDADE DAS PREPARAÇÕES
MAGISTRAIS E OFICINAIS

PREPARAÇÕES SÓLIDAS

A. Descrição
B. Aspecto
C. Caracteres organolépticos
D. Peso médio – Este teste tem por objetivo verificar se as
unidades de um mesmo lote apresentam uniformidade de peso e
aplica-se a formas farmacêuticas sólidas, como cápsulas,
comprimidos, drágeas, etc.
CONTROLE DE QUALIDADE DAS PREPARAÇÕES
MAGISTRAIS E OFICINAIS

PREPARAÇÕES SÓLIDAS

PROCEDIMENTO:
Cápsulas duras:
➢ Pesar individualmente 10 cápsulas e determinar o peso
médio.
PM ± 10 % (menos que 300 mg)
DPR
Teor mínimo
Teor máximo
CONTROLE DE QUALIDADE DAS PREPARAÇÕES
MAGISTRAIS E OFICINAIS

PREPARAÇÕES SÓLIDAS

Processador estatístico acoplado a uma balança e uma


impressora que permite a obtenção de todos os resultados dos
cálculos estatísticos da amostra e a conformidade ou não do
resultado.
CONTROLE DE QUALIDADE DAS PREPARAÇÕES
MAGISTRAIS E OFICINAIS
MONITORAMENTO DO PROCESSO MAGISTRAL

3.Devem ser realizadas análises de teor e uniformidade de


conteúdo do princípio ativo, de fórmulas cuja unidade
farmacotécnica contenha fármaco(s) em quantidade igual ou
inferior a vinte e cinco miligramas, dando prioridade àquelas
que contenham fármacos em quantidade igual ou inferior a
cinco miligramas.

1.A farmácia deve realizar a análise de no mínimo uma


fórmula a cada três meses. O número de unidades para compor
a amostra deve ser suficiente para a realização das análises de
que trata o item 9.2.3.
CONTROLE DE QUALIDADE NO ESTOQUE MÍNIMO

10. Manipulação do Estoque Mínimo.


1.A farmácia pode manipular e manter estoque mínimo
de preparações oficinais constantes do Formulário
Nacional, devidamente identificadas e de bases
galênicas, de acordo com as necessidades técnicas e
gerenciais do estabelecimento, desde que garanta a
qualidade e estabilidade das preparações.
CONTROLE DE QUALIDADE NO ESTOQUE MÍNIMO

11.2 - Análise lote a lote dos produtos de estoque mínimo,


conforme os itens abaixo relacionados, quando aplicáveis,
mantendo os registros dos resultados:

a) caracteres organolépticos;
b) pH;
c) peso médio;
d) viscosidade;
e) grau ou teor alcoólico;
f) densidade;
g) volume;
h) teor do princípio ativo;
i) dissolução;
j) pureza microbiológica.
CONTROLE DE QUALIDADE NO ESTOQUE MÍNIMO

Item 11.2.4. No caso das bases galênicas, a avaliação da pureza


microbiológica (letra “j” do item 11.2) poderá ser realizada por
meio de monitoramento.

•Este monitoramento consiste na realização de análise mensal de


pelo menos uma base ou produto acabado que fora feito a
partir de base galênica, devendo ser adotado sistema de rodízio
considerando o tipo de base e manipulador, sendo que todos os
tipos de base devem ser analisados anualmente.
RDC Nº 67, DE 8 DE OUTUBRO DE 2007

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução 67,


de 08 de outubro de 2007. Dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de
Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em farmácias. Brasília, 2007.

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