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Cumarinas,

cromonas e
xantonas

Farmacognosia II – Curso de Farmácia –


6º período
Profa. Joelma Abadia Marciano de Paula
Situação-problema

▪ Indivíduo adulto, com aproximadamente 30 anos de idade, procura


assistência em uma farmácia para tratar sintomas gripais, tais como,
tosse com muco, acompanhada de broncoespasmos (peito chiando) e
congestão nasal. O farmacêutico prescreve 3g de folhas secas de
Mikania laevigata Bip. ex Baker em 150 mL de água (infusão), para
serem tomados logo após o preparo, duas vezes ao dia.
▪ Discuta:
1) Embasamento legal e científico desta prescrição;
2) Precauções e advertências necessárias durante a utilização desta
preparação e porquê;
3) Aponte as diferenças e semelhanças, botânicas e medicinais, entre
as espécies Mikania laevigata e Mikania glomerata.
1. Introdução
Palavra originada de
Cumaru, conhecido também
Cumarinas como fava-tonka –
Dipteryx odorata
(Aubl.) Willd. (Fabaceae)

Amplamente Podem ser Estruturalmente:


distribuídas: encontradas: Lactonas do ácido
o-hidróxi-cinâmico

5 4

6 3

7
2
8
O O
vegetais bactérias fungos 1
1. Introdução
Cromonas Pequeno grupo de
substâncias naturais

Mais conhecida do ponto


de vista medicinal, a quelina,
Estruturalmente:
extraída da Ammi visnaga
(L.) Lam. (Apiaceae) – Isômeros da cumarina
asma e angina

O
5 4

6 3

7
2
8
O
1
1. Introdução
Nome deriva do grego:
Xantonas xanthos (amarelo)

Provêm das vias do


acetato (1 a 4) e do Estruturalmente:
chiquimato (5 a 8) Derivados da dibenzo-γ-pirona

O
8 1

7 2

B A
6 3
O
5 4
2. Terminologia e classificação

▪ Excetuando-se a 1,2-benzopirona, todas as cumarinas são


substituídas na posição 7 por uma OH;

▪ As OH podem ser metiladas ou glicosiladas;

▪ Pode ocorrer também O-prenilação ou C-prenilação.

Inserção de
unidades
isoprênicas Grupo prenila ou isopreno
2. Terminologia e classificação

Cumarinas Simples

5 4 R1
6 3

7
2
R2 O O
8
O O
1
R3
Cumarina (1,2-benzopirona)
R1 = R3 = H, R2 = OH; umbeliferona
R1 = R3 = H, R2 = OCH3; herniarina
Substituintes no anel
R1 = R2 = OH, R3 = H; esculetina
benzênico
R1 = OCH3, R2 = OH, R3 = H; escopoletina
R1 = OGlic, R2 = OH, R3 = H; esculina
2. Terminologia e classificação

Cumarinas Simples

H3CO O O

O O O

Ostol (cumarina C-prenilada) Aurapteno (cumarina O-prenilada)


2. Terminologia e classificação

Furanocumarinas

O O O O
O O

Psoraleno (linear) Angelicina (angular)


2. Terminologia e classificação

Piranocumarinas

O O O

O O O OCOCH3

OCOCH(CH3)CH2CH3
Xantiletina (linear) Visnadina (angular)
2. Terminologia e classificação

Cumarina Dimérica

OH OH

O O O O

Dicumarol
2. Terminologia e classificação

Cumarinas substituídas

Varfarina
2. Terminologia e classificação

Cromona
Ação
OCH3 O
vasodilatadora e
broncodilatadora.
Frutos da Ammi
visnaga (L.) Lam
(Apiaceae)
O O CH3

OCH3

Quelina (furanocromona)
3. Biogênese

Cumarinas

Via do ácido Via mista


chiquímico (ácido chiquímico
e acetato)

Metabolismo da fenilalanina
(derivado o-hidroxilado 4-fenil-cumarinas
do ácido cinâmico)
Fenilalanina amonialiase
Ácido Chiquímico E2

E1

Dimetilaminopiridina Fosfato

umbeliferona

3. Biogênese

E1= cinamato 4-hidroxilase


E2= cumarato 2-hidroxilase
3. Biogênese

▪ Cromonas – embora sejam isômeros das


cumarinas não se originam da fenilalanina;

▪ Origem provável – via dos policetídeos.


▪ Policetídeos são substâncias formadas pela
condensação de uma unidade de acetil-CoA
como iniciadora do processo biossintético e
várias unidades de malonil-CoA para
alongamento da cadeia.
3. Biogênese

Xantonas

Via do Via próxima a dos


acetato/malonato flavonoides C-glicosilados

Agliconas e C-glicosídicas
O-glicosídicas
4. Localização e Principais famílias botânicas
onde ocorrem estes constituintes

Ocorrem normalmente nas raízes, frutos


e sementes de muitas espécies
Cumarinas simples pertencentes às famílias: Apiaceae,
e derivados Asteraceae, Fabaceae, Lamiaceae,
Poaceae, Rutaceae e Solanaceae.

Apiaceae, Fabaceae, Moraceae e


Furanocumarinas Rutaceae.
4. Localização e Principais famílias botânicas
onde ocorrem estes constituintes

▪ Aflatoxina B1 – Micotoxina produzida pelos


fungos Aspergillus flavus e A. parasiticus

▪ São bis-furanocumarinas resistentes ao


calor, ao frio e à luz

▪ Representam problema para a saúde


humana e animal - ações:
Aflatoxina B1 imunossupressora, mutagênica, teratogênica
e hepatocarcinogênica.
5. Propriedades, extração e caracterização

▪ Cumarinas livres – sublimam e são solúveis em álcool e nos solventes


orgânicos apolares, tais como, éter e clorados;

▪ Cumarinas heterosídicas – não sublimam, são solúveis em água;

▪ Seu anel lactônico abre-se em meio alcalino, solubilizando-se, e


fecha-se em meio ácido, porém não se usa mais esta técnica de
separação, pois muitas são sensíveis a ácidos e bases;

▪ Muitas cumarinas são sensíveis a adsorventes como sílica gel e


alumina – hoje utiliza-se Sephadex LH-20 em CC aberta para
separação;
5. Propriedades, extração e caracterização

▪ Cumarinas possuem espectro de


UV característico, assim CCD
reveladas sob luz UV dão cores
diversas como azul, amarela e
roxa, realçadas com vapores de
amônia;

▪ CLAE acoplada a detector de


UV – mais eficiente para
separação, identificação e
quantificação de cumarinas.
5. Propriedades, extração e caracterização

▪ Xantonas – solúveis em solventes de diversas


polaridades;

▪ Xantonas podem ser reveladas em CCD – luz UV


(com ou sem amônia), KOH 5% em Metanol,
reveladores gerais para compostos fenólicos.

▪ Xantonas podem ser isoladas por – CC de


Sephadex LH-20 (hidroxipropil derivado de
dextrana), CLAE dentre outras técnicas
cromatográficas.

▪ Identificação estrutural das Xantonas – IV, UV,


RMN 1H e 13C
6. Usos e Propriedades Farmacológicas

▪ Cumarinas – odor agradável – usadas, há muitos


anos, como aromatizantes de alimentos – FDA
proibiu (hoje, com ressalvas) - (hepatotóxica e
hemorrágica em ratos e cães);

Ex.: Cinnamomum spp.


6. Usos e Propriedades Farmacológicas

▪ Atividades farmacológicas atribuídas a cumarinas:


imunosupressora, relaxante vascular, hipolipidêmica,
hipotensora, antiespasmódica, antitrombótica, anti-
HIV, antimicrobiana, leishmanicida;
▪ Atividades farmacológicas atribuídas a xantonas:
Inibidor da MAO-A (antidepressiva) – Hypericum
brasiliense Choisy (Guttiferae); anticâncer;
antimicrobiana; antimalárica; antioxidante, etc.
6. Usos e Propriedades Farmacológicas

▪ Dicumarol – ação anticoagulante (Melilotus


officinalis Lam.) – modelo para fármacos
anticoagulantes sintéticos (varfarina);

Ph=fenil
7. Furanocumarinas e fototoxicidade

▪ Furanocumarinas são utilizadas desde épocas remotas


para tratar psoríase, hanseníase, vitiligo etc;

▪ No entanto, ocorrência crescente de câncer de pele com


seu uso levou à necessidade de rigor na avaliação do
risco-benefício;
7. Furanocumarinas e fototoxicidade

Absorvem
fortemente na região
do UV (300 e
400nm)
7. Furanocumarinas e fototoxicidade

Estado triplete excitado: elétrons não pareados em


orbitais moleculares diferentes, com spins paralelos
timina

Absorvem fortemente na região


do UV (300 e 400nm) e, em
estado triplete excitado,
reagem com bases pirimídicas Mutações e morte
ou com o O2 por transferência celular

de energia - mutações em
nível de DNA e geração de
radicais superóxido e hidróxi
7. Furanocumarinas e fototoxicidade

▪ Manifestação tóxica em mamíferos


(por contato direto ou ingestão) –
fitofotodermatite, com erupções
bolhosas, hiperpigmentação, eritema
e formação de vesículas.
epiderme

derme

hipoderme

Tirosinase –
polimerização
da tirosina =
melanina
7. Furanocumarinas e fototoxicidade

▪ Furanocumarinas – em condições controladas


podem ser úteis no tratamento de enfermidades
cutâneas.
▪ Terapia PUVA: metoxsaleno ou trimetilpsoraleno (20
a 40 mg dose única) seguida, após 2h, de exposição
Vitiligo aos raios UVA (10 a 15 min), resultados após 20
sessões.
▪ Efeitos colaterais: eritema, bolhas, náuseas, prurido,
cefaleia e depressão.
▪ Plantas produtoras de furanocumarinas:
figo (Ficus carica – Moraceae),
frutas cítricas (Citrus spp – Rutaceae),
mama-cadela [raízes, casca caule e folhas]
Psoríase
(Brosimum gaudichaudii Trécul – Moraceae).
8. Drogas vegetais clássicas

Guaco
▪ Mikania glomerata Spreng. (Compositae) Asteraceae;
▪ Parte usada= folhas;

▪ Origem: Nativa do sul do Brasil, cultivada no Ceará, onde


nunca apresenta flores.
▪ Dados químicos: cumarinas e seus derivados.
▪ Dados farmacológicos: Sua ação sobre as vias
respiratórias (broncodilatadora, antitussígena,
expectorante e antiedematogênica) foi confirmada em
estudos científicos.
▪ Dados toxicológicos: pode provocar acidentes
hemorrágicos, a literatura leiga alega que em doses altas
causa vômitos e diarreia que desaparecem com a
suspensão do uso.
8. Drogas vegetais clássicas
Angélica
▪ Angelica archangelica L. (Apiaceae);
▪ Parte usada= raízes e rizomas secos;
▪ Origem: Parece ser originária da Síria, Polônia ou Holanda. Há
espécies europeias, americanas e chinesas.
▪ Uso popular: estomáquico (estimulante do apetite)
▪ Monografias: F. Port. VIII, F. Bras. I.
▪ Dados químicos: óleo volátil (0,3 a 0,6%), cumarinas simples e
furanocumarinas lineares e angulares, lactonas macrocíclicas,
ácidos fenólicos, flavonoides e esteroides.
▪ Dados farmacológicos: apresenta efeitos vasodilatadores
coronarianos e antagonistas do cálcio atribuídos às cumarinas.
▪ Dados toxicológicos: as furanocumarinas presentes tornam a relação
risco-benefício pouco aceitável.
8. Drogas vegetais clássicas

Trevo
▪ Melilotus officinalis Lam. (Fabaceae);
▪ Parte usada= folhas e sumidades floridas;
▪ Origem: Espontânea em Portugal e quase toda a Europa.
▪ Monografias: F. Port. VIII.
▪ Dados químicos: possui melilotosídeo (glicosídeo do ácido 2’-hidróxi-
cinâmico) que se hidrolisa e, por lactonização, forma a cumarina.
▪ Dados farmacológicos: atividade antiedematosa e de aumento do
débito venoso. Em associação com a rutina o extrato de meliloto é
utilizado para melhorar os sintomas da insuficiência veno-linfática.
▪ Dados toxicológicos: Em processos de secagem inadequados as
folhas podem fermentar (com o acúmulo de fungos) convertendo a
cumarina em dicumarol.
8. Drogas vegetais clássicas

Castanha-da-índia
▪ Aesculus hippocastanum L. (Hippocastaneaceae);
▪ Parte usada= cascas dos ramos, folhas e sementes (F. Port. VIII.),
sementes (F. Bras. V);
▪ Origem: Balcãs, Ásia Central e Ocidental. Hoje é encontrada em toda a
Europa como árvore ornamental.
▪ Dados químicos: hidróxi-cumarinas (esculina), saponinas triterpênicas
(escina), flavonoides (rutina, quercetina, campferol), taninos e óleos
fixos.

H OH
▪ Dados farmacológicos: diminuição da permeabilidade e da fragilidade
vascular, inibição da hialuronidase – usada em estados congestivos do
HO
H O
sistema venoso, hemorróidas, varizes, flebites – atividades atribuídas à
HO O escina e à rutina.
H OH
H H ▪ Dados toxicológicos: Ação irritante para o trato gastro-intestinal devido
as saponinas (lise celular), interferência em terapias
esculina HO O O anticoagulantes/coagulantes devido as cumarinas.
8. Drogas vegetais clássicas

Citros
▪ Citrus aurantium L. e Citrus medica L.(Rutaceae);
▪ Parte usada= frutos imaturos;

▪ Monografia: Ph. Bras. I, F. Bras. II, F. Bras. V

▪ Origem: O gênero Citrus compreende árvores frutíferas de origem


oriental.
▪ Dados químicos: flavonoides, cumarinas e terpenos (óleo volátil).
▪ Dados farmacológicos: Usadas de uma maneira geral para
problemas do baço e estômago (distensão abdominal e
epigástrica), náusea, vômito e perda de apetite.
▪ Dados toxicológicos: Sumo e cascas dos frutos possuem
furanocumarinas, que em contato com a pele podem causar lesões
de cor escura (fototoxicidade).
Bibliografia

▪ BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário de Fitoterápicos da


Farmacopéia Brasileira. Brasília: Anvisa, 2011.126p.

▪ CUNHA, A.P.; CAMPOS, M.G. Cumarinas. In: CUNHA, A.P. (Coord.). Farmacognosia e
Fitoquímica. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p. 225-235.

▪ EMERY, F.S. et al. Coleção Farmácia. Farmacognosia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017.

▪ INDICE TERAPÊUTICO FITOTERÁPICO (ITF). Petrópolis: Editora de Publicações Biomédicas,


2008.

▪ KUSTER, R.M.; ROCHA, L.M. Cumarinas, cromonas e xantonas. In: Farmacognosia: da planta
ao medicamento. 6.ed. rev. ampl. Florianópolis: Editora da UFSC; Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2010. p. 537-556.

▪ LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa:
Instituto Plantarum, 2002.

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