Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2020
Agradecimentos
Agradeço todas as gestantes que participaram desta pesquisa.
Os agradecimentos vão para: Carine Melo Oliveira; Ana Carolina Lucena de Souza
Moreno; Thanandra Taíza Pereira Dias ; Tatiana Pepe Faria, Mariane de Paula, Lourena
Manzini Maciel V. Real, Jéssica Yohana Gribler, Jéssica de Castro Barbosa, Gislaine Apa-
recida Marquesone, Danielle Marinho Veigas Emílio, Dafne Rosane Oliveira, Ariádna
Brandão Gomes Perim.
Resumo
Introdução: O período perinatal é um momento potencial de risco para altera-
ções emocionais maternas. O objetivo deste estudo foi avaliar e comparar alterações
emocionais em gestantes no terceiro trimestre em momento e não momento de CO-
VID-19. Métodos: Participaram da pesquisa 160 gestantes, 80 no Grupo 1 (época de
COVID-19) e 80 no Grupo 2 (época anterior ao COVID-19). Avaliou-se ansiedade, es-
tresse e depressão por meio dos instrumentos IDATE; ISSL e BDI. Resultados: Há dife-
renças significativas entre a manifestação de estresse e depressão nos grupos 1 e 2.
Discussão: O Grupo 1 apresentou maior frequência de alterações emocionais significa-
tivas, indicando que em época de pandemia os riscos para saúde mental materna são
ainda maiores do que em época de não pandemia. Conclusão: Psicólogos precisam
voltar sua atenção e capacitação para atendimento psicológico às gestantes seja de
forma online ou presencial.
Sumário
Introdução 09
Metodologia 12
Resultados 18
Discussão dos Resultados 24
Conclusão 27
Referências Bibliográficas 30
Introdução
Silva e cols. (2010) realizaram um estudo transversal com 1267 gestantes brasileiras
usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) para verificar a prevalência de Transtorno
Mental Comum (TMC), que trata de alterações emocionais que não chegam ao nível
psiquiátrico. Os resultados indicaram que a prevalência de TMC em gestantes foi de
41%. Já Faisal-Cury e cols. (2010) investigaram 831 gestantes brasileiras usuárias do
SUS e encontraram 34% de prevalência de TMC entre elas.
Heron, O’Connor, Evans, Golding & Glover (2004) encontraram dados indicando
que a ansiedade no período gestacional pode ser também um indicativo do apareci-
mento de ansiedade no período pós-natal ou, até mesmo, do aparecimento de de-
pressão pós-parto. O mesmo pode ocorrer quando a gestante apresenta estresse na
gestação (Rodrigues & Schiavo, 2011) e depressão no período pré-natal (Schiavo &
Perosa, 2020).
Em 2020 a saúde mental de milhares de pessoas está sendo impactada por causa
da pandemia gerada pelo COVID-19 (Schmidt, Crepaldi, Bolze, Neiva-Silva & Demene-
ch., 2020). Infelizmente, a saúde mental é negligenciada e a negligência pode impactar
negativamente uma vez que, o adoecimento mental pode se estender para além do
período de pandemia (Ornell, Schuch, Sordi & Kessler, 2020).
Um estudo realizado na China com 1210 entrevistados identificou que 53.8% dos
entrevistados apresentaram alterações emocionais significativas, 16.5% apresentaram
sintomas depressivos, 28.8% sintomas de ansiedade e 8.1% de estresse (Wang e cols.,
2020).
Desta forma, este estudo pretende avaliar sintomas de ansiedade estado, estresse
e depressão em gestantes do terceiro trimestre que estão vivenciando o momento
de pandemia COVID-19 e compará-los aos resultados já obtidos de pesquisa anterior
realizada entre os anos de 2012 a 2014 quando gestantes foram avaliadas, medindo o
seu nível de ansiedade, estresse e depressão no terceiro trimestre.
Metodologia
A amostra do Grupo 2 foi obtida de um banco de dados de 320 gestantes que par-
ticiparam de uma pesquisa maior entre os anos de 2012 e 2014. Buscou-se selecio-
nar as gestantes desse banco de dados com características de idade igual e situação
marital semelhante - vive ou não vive com parceiro (a) - para comparar os resultados.
Tentou-se equiparar outras variáveis sociodemográficas como paridade, escolaridade
e renda. Entretanto, isso não foi possível, pois teste estatístico mostrou que há diferen-
ça entre os grupos para essas variáveis.
Material
a) Entrevista Inicial
Para obter informações foi aplicado um questionário com 11 questões, sendo cinco
questões referentes aos dados sociodemográficos (idade, estado civil, escolaridade,
renda familiar, número de filhos), três questões referentes aos antecedentes clínicos
(saúde e saúde mental anterior à gestação, saúde durante a gestação) e duas questões
referentes à gestação (ameaça de aborto da gestação atual e abortamento anterior).
Também foi perguntado às gestantes se ela e o parceiro desejaram (ou não) o bebê.
O BDI, criado em 1961 por Beck, Ward, Mendelson, Mock e Erbaugh e revisado por
Beck, Rush, Shaw e Emery entre 1979/1982, foi traduzido e adaptado para o Brasil
por Cunha (2001). É uma escala de autoavaliação de manifestações comportamen-
tais de depressão, sem finalidade diagnóstica. Este instrumento é composto por 21
categorias de sintomas e atitudes, com quatro afirmações, cada uma, refletindo um
grau crescente de severidade de depressão (de 0 a 3). Obtém-se o escore total do BDI
somando os escores correspondentes às alternativas assinaladas nos 21 itens (Cunha,
2001). Como ponto de corte, foi utilizado o escore superior a 18, critério sugerido por
Oliver; Simmons (1984, citado por Cunha, 2001) para pacientes não diagnosticados
com transtornos psiquiátricos. A consistência interna do BDI foi de 0,84 e a correlação
entre teste e reteste foi de 0,95 (p < 0,001) (Cunha, 2001).
Os dados foram analisados usando o programa Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS, versão 21.0; Chicago INc II, USA), realizando-se análises estatísticas
descritivas e inferenciais.
que apresentavam sintomas de ansiedade, estresse e /ou depressão foi utilizado o tes-
te de Qui-Quadrado de aderência, adotando-se p < 0.05 como nível crítico. Antes de
proceder à análise estatística inferencial, foi aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov
para testar a normalidade das variáveis, que indicou que a distribuição da amostra é
diferente da distribuição normal.
Procedimento ético
Resultados
Observa-se na Tabela 1 que viver junto com o parceiro foi à única característica se-
melhante entre os grupos; as demais características indicam que o grupo menos favo-
recido nas questões sociodemográficas foi o de gestantes em época de não COVID-19.
Frequ. % Frequ. %
Paridade (primigestas) 53 66 28 35
Gestação Desejada 66 82 49 61
Frequ. % Frequ. %
Sintomas de Estresse 61 76 49 61
Sintomas de depressão 23 29 14 17
1 5
X: média; DP: Desvio Padrão; Min: valor mínimo; Max: valor máximo. Fonte: Autoria própria
Saúde
Emocional U Z p-valor
Materna
7 6
Frequência Frequência
Saúde Emocional
Esperada Observada
Materna
p-
G1 G2 X² GL valor
X²: valor do Qui-quadrado; GL: Grau de Liberdade; p-valor: teste Qui-quadrado de aderência
Fonte: Autoria própria
Discussão dos
Resultados
O Grupo 2 teve maior participação de multigestas. Para Schiavo e cols., (2018) ges-
tantes que já são mães de mais de um filho nascido são mais propensas a apresentar
alterações emocionais significativas; também foi observado no Grupo 2 um número
menor de participantes com nove anos ou mais de escolaridade e com renda familiar
menor que três salários, o que também é considerado fator de risco para alterações
emocionais significativas na gestação (Koleva, Stuart, O’Hara & Bowman-Reif, 2011;
Pereira & Lovisi, 2008; Beretta e cols., 2008; Stein e cols., 2008). Tanto no Grupo 1
como no 2 a maioria das participantes desejaram a gestação, entretanto notou-se uma
frequência maior de gravidez desejada para o Grupo 1. O não desejo pela gestação é
considerado fator de risco para alterações emocionais significativas (Schiavo e cols.,
2018).
Conclusão
O número de estressores para gestantes tem aumentado nos últimos dias. Recen-
temente, uma pesquisa foi publicada indicando que gestantes Brasileiras apresentam
maiores condições de risco para mortalidade materna por COVID-19, considerando
que o número total de mortes maternas registradas no mundo até o dia 18 de junho
de 2020 foi de 160 mortes, e 124 delas aconteceu só no Brasil (Takemoto e cols., 2020).
Referências
Andersson, L., Sundström-Paromaa, I., Bixo, M., Wuff, M., Bondestam, K., & aStröm, M.
(2003). Point prevalence of psychiatric disorders during the second trimester of preg-
nancy: a population-based study. Am. J. Obstet. Gynecol. 189(1): 148-154. Acessado
de doi 10.1067/mob.2003.336
Araujo, D.M.R., Pacheco, A.H.R.N., Pimenta, A.M., & Kac, J. (2008). Prevalência e fato-
res associados a sintomas de ansiedade em uma coorte de gestantes atendidas em um
centro de saúde do município do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Saúde Materno
Infantil. 8(3): 333-340. Acessado de 10.1590/S1519-38292008000300013
Arrais, A.R., Araújo, T.C.C.F., & Schiavo, R.A. (2019). Depressão e ansiedade gestacio-
nais relacionadas à depressão pós-parto e o papel preventivo do pré-natal psicológico.
Revista Psicologia e Saúde, 11(2): 23-34. Acessado de https://pssa.ucdb.br/pssa/arti-
cle/view/706/pdf
Arrais, A.R., Araújo, T.C.C.F., & Schiavo, R.A. (2018). Fatores de risco e proteção asso-
ciados à depressão pós-parto no pré-natal psicológico. Psicologia: Ciência e Profissão,
38(4): 711-729. Acessado de https://www.scielo.br/pdf/pcp/v38n4/1982-3703-p-
cp-38-04-0711.pdf
Beretta, M.I.R., Zaneti, D.J., Fabbro, M.R.C., Freitas, M.A., Ruggiero, E.M.S., Dupas, G.
(2008). Tristeza/Depressão na mulher: uma abordagem no período gestacional e/ou
puerperal. Revista Eletrônica de Enfermagem, 10(4): 966978. Acessado de http://
www.fen.ufg.br/revista/v10/n4/v10n4a09.htm
Biaggio, A., & Natalício, L. (1979). Inventário de ansiedade traço-estado - IDATE. Rio de
Janeiro: CEPA.
Chen, H., Guo, J., Wang, C., Luo, F., Yu, X., Zhang, W., ... & Zhang, Y. (2020). Clinical
characteristics and intrauterine vertical transmission potential of COVID-19 infection in
nine pregnant women: a retrospective review of medical records. Lancet, 395(10226):
809-815. Acessado de 10.1016/S0140-6736(20)30360-3
Cunha, J.A. Manual da versão em português das escalas Beck. São Paulo: Caso do Psi-
cólogo, 2001.
Faisal-Cury, A., Araya, R., Zugaib, M., & Menezes, P.R. (2010). Common mental disor-
ders during pregnancy and adverse obstetric outcomes. J. Psychosom. Obstet Gynae-
col., 31(4): 22-235. Acessado de 10.3109/0167482X.2010.512404
Faisal-Cury, A., & Menezes, P.R. (2007). Prevalence of anxiety and depression during
pregnancy in a private setting sample. Arch. Womens Ment Health, 10(1): 25-32.
Acessado de 10.1007/s00737-006-0164-6
Heron, J., O’Connor, T.G., Evans, J., Golding, J., & Glover, V. (2004). The course of anxiety
and depression through pregnancy and the postpartum in a community sample. J. Af-
fect. Disord, 80(1): 65-73. Acessado de 10.1016/j.jad.2003.08.004
Jiang, X., Deng, L., Zhu, Y., Ji, H., Tao, L., Liu, L., ... Ji, W. (2020). Psychological crisis
intervention during the outbreak period of new coronavirus pneumonia from expe-
rience in Shanghai. Psychiatry Research, 286, 112903. Acessado de 10.1016/j.psy-
chres.2020.112903
Koleva, H., Stuart, S., O’Hara, M.W., & Bowman-Reif, J. (2011). Risk factors for depressi-
ve symptoms during pregnancy. Arch. Womens Ment Health. 14(2): 99-105. Acessado
de http://link.springer.com/article/10.1007/s00737-010-0184-0
Lipp, M.N. (2000). Manual do Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp
(ISSL). São Paulo: Casa do Psicólogo.
O’Connor, T. G., Heron, J., Clover, V. (2002). Antenatal Anxiety Predicts Child Behavio-
ral/Emotional Problems Independently of Postnatal Depression. Journal of the Ame-
rican Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 41(12): 1470-1477. Acessado de
10.1097/00004583-200212000-00019
Ornell, F., Schuch, J.B., Sordi, A.O., & Kessler, F.H.P. (2020). Pandemic Fear and COVID
19: mental health burden and strategies. Braz. J. Psychiatry, 42(3):232-235. Acessado
de 10.1590/1516-4446-2020-0008
Pereira, P.K., & Lovisi, G.M. (2008). Prevalência da depressão gestacional e fatores
associados. Revista Psiquiatria Clínica, 35(4): 144-153. Acessado de http://www.scie-
lo.br/pdf/rpc/v35n4/04.pdf/
Perosa, G. B., Canavez, I.C., Silveira, F.C.P., Padovani, F.H.P., & Peraçoli, J.C. (2009).
Sintomas depressivos e ansiosos em mães de recém-nascidos com e sem malforma-
ções. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 31(9): 433-439. Acessado de
https://www.scielo.br/pdf/rbgo/v31n9/a03v31n9.pdf
Rasmussen, S.A, Smulian, J.C., Lednicky, J.A., Wen, T.S., & Jamieson, D.J. (2020).
Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) and Pregnancy: What obstetricians need to know.
Am. J. Obstet. Gynecol., 222(5): 425-426. Acessado de 10.1016/j.ajog.2020.02.017
Rodrigues, O.M.P.R., & Schiavo, R.A. (2011). Stress na gestação e no puerpério: uma
correlação com a depressão pós-parto. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrí-
cia, 33(9): 252-257. Acessado de https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S0100-72032011000900006
Schiavo, R.A., & Perosa, G.B. (2020). Child Development, Maternal Depression and
Associated Factors: A Longitudinal Study. Paidéia (Ribeirão Preto), 30 e.3012. Acessa-
do de https://www.scielo.br/pdf/paideia/v30/1982-4327-paideia-30-e3012.pdf
Schiavo, R.A., Rodrigues, O.M.P.R., & Perosa, G.B. (2018). Variáveis associadas à ansieda-
de gestacional em primigestas e multigestas. Trends in Psychology., 26(4): 2091-2104.
Acessado de https://www.scielo.br/pdf/tpsy/v26n4/2358-1883-tpsy-26-04-2091.pdf
Schmidt, B., CrepaldI, M.A., Bolze, S.D.A., Neiva-Silva, L., & Demenech, L.M. (2020).
Impacts on Mental Health and Psychological Interventions related to the new Coro-
navirus Pandemic (COVID-19). SciELO Preprints. Acessado de https://preprints.scielo.
org/index.php/scielo/preprint/view/58/69
Segato, L., Andrade, A., Vasconcellos, D.I.C., Matias, T.S., & Rolim, M.K.S.B. (2009).
Ocorrência e controle do estresse em gestantes sedentárias e fisicamente ativas. Revis-
ta da educação Física/UEM, 20(1): 121-129. Acessado de http://eduem.uem.br/ojs/
index.php/RevEducFis/article/view/6062/4005
Silva, R. A., Ores, L.C., Mondin, T.C., Rizzo, R.N., Moraes, I.G.S., Jasen K., & Pinheiro,
R.T. (2010). Transtornos mentais comuns e autoestima na gestação: prevalência e fa-
tores associados. Caderno de Saúde Pública, 26(9): 1832-1838. Acessado de https://
www.scielo.br/pdf/csp/v26n9/16.pdf
Stein, A., Malmberg, L., Sylva, K., Barnes, J., & Leach, P. (2008). The influence of ma-
ternal depression, caregiveng and socioeconomic status in the post-natal year on chil-
dren’s language development. Child Care Health Dev., 34(5): 603-612. Acessado de
10.1111/j.1365-2214.2008.00837.x/full
Wang, C., Pan, R., Wan, X., Tan, Y., Xu, L., Ho, C.S., & Ho, R.C. (2020). Immediate
psychological responses and associated factors during the initial Stage of the 2019 Co-
ronavirus Disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. Inter-
national Journal Environmental Research and Public Health., 17(5): 1729. Acessado
de 10.3390/ijerph17051729
Weide, J. N., Vicentini, E. C. C., Araujo, M. F., Machado, W. L., & Enumo, S. R. F.
(2020). Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia. Porto Ale-
gre: PUCRS/PUC-Campinas.
Liu, W., Wang, Q., Zhang, Q., Chen, L., Chen, J., Zhang, B., ... & Sun, Z. (2020).
Coronavirus disease 2019 (COVID-19) during pregnancy: a case series. Preprints.
2020020373. v.1. Acessado de https://www.preprints.org/manuscript/202002.0373/
v1
Zhou, X. (2020). Psychological crisis interventions in Sichuan Province during the 2019
novel coronavirus outbreak. Psychiatry Research, 26(286): 112895. Acessado de
10.1016/j.psychres.2020.112895