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V i v i a n e B e i n e k e

Notas sobre o uso e grafias dos instrumentos de percussão


Rodrigo Gudin Paiva

Aqui iremos apresentar e descrever, sucintamente, as principais características dos instrumentos de percussão utilizados nos
arranjos dessa obra. Serão também apresentadas as convenções de notação musical utilizadas nas partituras do repertório do
“Flauteando pelos cantos do Brasil”.

Tambores

Os tambores com membrana (pele) podem ser percutidos por meio das mãos ou por baquetas (macetas). Eles são feitos,
geralmente, em madeira, com diferentes formatos e tamanhos, havendo também o uso de cabaças ou metal. O corpo de
ressonância é aberto e coberto com pele de animal (boi, cabra, cobra) ou, às vezes, com pele sintética. Há tambores com uma
ou duas peles, chamadas de batedeira e de resposta . A tensão nas peles influencia na afinação do tambor, podendo ser regulada
mecanicamente, através de parafusos ou cravelhas, ou termicamente, pelo aquecimento no fogo ou no sol.
Os principais tambores utilizados nos ritmos brasileiros são:

Atabaque: tambor feito em madeira, comprido e com formato cônico, utiliza uma pele animal esticada por cordas ou parafusos.
É tocado principalmente com as mãos, podendo ainda ser percutido com varinhas de bambu, como no caso de alguns toques
afro-brasileiros do Candomblé. Na borda da pele obtém-se o som mais grave e no centro da pele, o mais agudo.

Bumbo: também chamado de Bombo, é um tambor grande de duas peles. É tocado com uma baqueta grande com ponta
arredondada, de feltro ou lã. O seu som é bastante grave, sendo responsável pela marcação principal em diversos ritmos,
podendo ainda ser tocado com duas baquetas, ou percutido com as baquetas no aro, em geral de madeira, extraindo um som
seco e agudo.

Caixa: tambor raso de duas peles, geralmente feito em metal. Com uma esteira de metal encostada na pele inferior (de resposta),
produz um som agudo, sendo tocado com duas baquetas finas de madeira. Muito usado nas Bandas Marciais, pode ser chamado
de Tarol ou Caixa de Guerra, dependendo da sua profundidade.
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Repinique: também chamado de repique, é tocado com uma baqueta fina de madeira, percutindo o centro, o canto da pele e o
aro do tambor, juntamente com a outra mão que complementa os toques da baqueta. Nas Escolas de Samba, é o instrumento
usado pelo mestre de bateria.

Surdo: tambor fundo, de som grave. Como o Bumbo, é utilizado para marcação em vários ritmos, sendo tocado, também, com
uma baqueta grande com ponta de feltro. Pode-se obter o som da pele solta, deixando-a vibrar livremente, ou da pele abafada
com o apoio da mão ou da própria baqueta, sobre a pele.

Zabumba: é um tipo de bombo, mais raso, tocado com uma baqueta de bombo na pele batedeira e uma varinha fina de bambu,
chamada de bacalhau . Muito usado nos ritmos do Nordeste brasileiro, seu corpo pode ser de madeira ou metal e as peles podem
ser amarradas com cordas ou através de mecanismos de metal.

Na partitura, os toques dos tambores são representados da seguinte forma:

Toques: Nota grave, produzida com o toque da mão na borda da pele,


deixando-a vibrar. No caso de tambores tocados com baquetas, essa
nota representa o som grave extraído da pele.
Nota produzida com um toque da mão, espalmada no centro da pele.
Este toque é acentuado, também chamado de tapa ou “slap”.
Nota produzida com o toque da baqueta no aro do instrumento,
obtendo-se um som agudo e seco.
Nota produzida com o toque da baqueta na pele do instrumento.
Indica o som aberto do instrumento (som solto).
Indica o som abafado do instrumento (som preso).

Observação: quando não há indicação de som aberto ou abafado,


deverá ser utilizado o toque aberto.

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Exemplo 1 - capoeira (usando os toques da mão na borda e no centro da pele):

Exemplo 2 - baião (usando os toques da baqueta na pele e no aro):

Observação: No desenvolvimento do trabalho, procuramos especificar os tipos de tambores a serem utilizados nos arranjos, mas
sempre podem ser feitas adaptações, de acordo com o material disponível.

Triângulo

A mão que segura o triângulo produz a diferenciação dos toques do instrumento, representados na partitura da seguinte maneira:

Toques: Indica o som aberto do instrumento (som solto).

Indica o som abafado do instrumento (som preso).

Exemplo 1 - baião:

Pandeiro

Nas partes para pandeiro são utilizados diferentes toques, representados da seguinte forma na partitura:

Sons da pele (membrana): Nota grave, produzida com o toque do dedo polegar da mão direita na
pele, em uma região próxima ao aro.
Nota produzida com um toque da mão direita, espalmada no centro
da pele. Este toque é acentuado, também chamado de tapa ou “slap”.

Exemplo 1 - capoeira (usando apenas o toque do polegar e o tapa):


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Sons das platinelas: Nota produzida com o punho da mão direita, em uma região próxima
à borda do instrumento.
Nota produzida com a ponta dos dedos da mão direita, em forma de
bloco.

Esta maneira de grafar os sons das platinelas foi elaborada a partir da proposta de Cartier (2000), que baseia-se no “princípio da
visualização”, porém de maneira simplificada. Segundo este sistema, a escrita acima ou abaixo da linha representa a região a ser
percutida pela mão no pandeiro (superior ou inferior).

Exemplo 2 - capoeira (incluindo o som das platinelas):

Sons produzidos pela movimentação da mão esquerda:

Será grafada através de setas, indicando o movimento de subida ou descida do pandeiro. Estes movimentos produzem sons com
as platinelas, podendo-se obtê-los apenas com o movimento da mão esquerda

Exemplo 3 - capoeira (usando o polegar, tapa e movimentos da mão esquerda):

Fontes consultadas:

CARTIER, Sandro. Ritmos e grafia aplicados à Música Brasileira. 2ª edição. Ed. Repercussão, Santa Maria/RS, 2000.
DIAS, Margot. Instrumentos musicais de Moçambique. Instituto de Investigação Científica Tropical. Lisboa, 1986.
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de Música de Curitiba, 1994.

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Fontes consultadas:

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amazonia/curios1.htm, [2002/08/06].
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Danças Populares Brasileiras. OHTAKE, Ricardo (Coord). Rhodia S.A, 1989.
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PAIVA, Rodrigo Gudin. Conhecendo os Ritmos do Nordeste. In: Jornal da Dança. Rio de Janeiro, Grazia Camerano,
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PEREIRA, Edimilson de Almeida; DIAS, Paulo. Documentos Sonoros Brasileiros: congado mineiro. Vol I. Acervo Cachuera.
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RIBEIRO, José. Brasil no folclore. 2 ed. Rio de Janeiro: Aurora, 19--.
SOARES, Doralécio. Documeto Sonoro do Folclore Brasileiro, vol IV. Acervo FUNARTE da música brasileira. Instituto Itaú
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SOARES, Doralécio. Folclore Brasileiro: Santa Catarina. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura. Fundação
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TRAVASSOS, Elizabeth. “O avião brasileiro”: análise de uma embolada. In: Matos, Cláudia Neiva de; Travassos,
Elizabeth; Medeiros, Fernanda Teixeira de (orgs.). Ao encontro da palavra cantada – poesia, música e voz. Rio de Janeiro,
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Contato: nem@udesc.br
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