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Protecção Social Financeira e

Demográfica em Moçambique:
Oportunidades e desafios para uma segurança
humana digna

António Francisco | Rosimina Ali | Yasfir Ibraimo

Cadernos IESE N.º 10


“Cadernos IESE”
Edição do Conselho Científico do IESE

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lidade dos seus autores e não reflectem nenhuma posição formal e institucional do IESE
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Protecção Social Financeira e
Demográfica em Moçambique:
Oportunidades e desafios para uma segurança
humana digna

António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo

Cadernos IESE nº 10/2011

António Francisco Director de investigação do IESE e Professor Associado da Faculdade de Economia


da Universidade Eduardo Mondlane, é doutorado em Demografia pela Universidade Nacional da
Austrália.
antonio.francisco@iese.ac.mz

Rosimina Ali é Licenciada em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Eduardo


Mondlane. No IESE, é Assistente de Investigação do Grupo Pobreza e Protecção Social. Na
Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane é Assistente Estagiária da disciplina de
Desenvolvimento Económico.
rosimina.ali@iese.ac.mz

Yasfir Ibraimo é Licenciado em Economia pela Universidade Eduardo Mondlane. No IESE, é


Assistente de Investigação do grupo Pobreza e Protecção Social. É Assistente Estagiário na Faculdade
de Economia da Universidade Eduardo Mondlane, estando actualmente ligado a disciplina de
Economia do Meio Ambiente.
yasfir.ibraimo@iese.ac.mz

Maio, 2011
Título: Protecção Social Financeira e Demográfica em Moçambique:
Oportunidades e desafios para uma segurança humana digna

Autores: António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo

Copyright © IESE, 2011


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Produção Executiva: Marimbique - Conteúdos e Publicações, Lda.
Tiragem: 300 exemplares

ISBN 978-989-8464-08-8

Número de Registo: 6985/RLINLD/2011

Palavras-chave: Protecção social, segurança humana digna, pobreza,


protecção social financeira, protecção social demográfica, transição
demográfica, Moçambique
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Sumário

A ampliação e consolidação de sistemas modernos de protecção social em Moçambique


estão a converter-se num desafio cada vez mais delicado, complexo e difícil de gerir. As
dificuldades surgem, em parte, de factores objectivos e estruturais, associados aos ónus e
bónus demográficos, mas por outro lado, resultam de factores institucionais e conjuntu-
rais, de natureza política; principalmente no início da segunda década do Século XXI, em
que a reputação de Moçambique como exemplo de sucesso no desenvolvimento econó-
mico africano contemporâneo, começou a desvanecer nos círculos mais isentos da opinião
pública internacional.

A finalidade principal deste trabalho é colocar em debate o papel e peso da protecção


social demográfica (PSD) vis-à-vis da protecção social financeira (PSF), com destaque para
questões como as seguintes: (i) se o sistema financeiro nacional, em que se alicerçam os
mecanismos formais e informais de protecção social, proporciona acesso a pouco mais de
um quinto da po­pulação adulta, onde é que os restantes quatro quintos das pessoas ex-
cluídas do sistema financeiro buscam a sua protecção social? (ii) Estarão elas totalmente
despro­tegidas, em termos de apoio básico à criança e mitigação de riscos de insegurança
da população idosa? (iii) Com uma infra-estrutura financeira tão limitada e excludente, será
possível aspirar a uma segurança social contributiva e a uma assistência social não contri-
butiva, inclusivas e socialmente relevantes para a maioria da população?

O artigo mostra que Moçambique carece de um processo de transformação estrutural da


economia e dos mecanismos institucionais, fomentador de sistemas de protecção social vi-
áveis e sustentáveis, capazes de substituírem progressivamente os mecanismos antigos de
protecção social demográfica. Neste contexto, o desenvolvimento de mecanismos moder-
nos de protecção social financeira, assentes em sistemas financeiros inclusivos e eficientes
deveria ser uma prioridade, porque só eles poderão ampliar e sustentar uma segurança hu-
mana mais digna, em termos de liberdade da carência e do medo, prevenção e superação
da insegurança humana, nas diferentes fases do ciclo da vida humana.

Nota: O conteúdo deste texto foi partilhado anteriormente em artigos publicados na Revista Poverty in Focus 22 (Francisco et al.,
2010b), no Ideias No. 32 (Francisco et al., 2010a) e no livro Desafios para Moçambique 2011 do IESE. As traduções de textos em
Inglês são da responsabilidade dos autores. Agradecemos os comentários, sugestões e questões colocadas pelos leitores que
generosamente leram e comentaram versões anteriores deste artigo.

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Caderno IESE 10 | 2011

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António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Introdução

O mundo está a passar por um dos melhores momentos demográficos de toda a história da
humanidade, conhecido na literatura por ‘dividendo demográfico’; um fenómeno inédito,
na evolução demográfica mundial, fruto dos avanços produzidos pela transição demográ-
fica, isto é, o processo de queda generalizada das taxas de mortalidade e de fecundidade
que origina mudanças profundas na estrutura etária populacional e na composição das
famílias (Alves, 2008; Bloom et al., 2003; Lee and Mason, 2006; Mason, 2005a, 2005b; Ross,
2004).

O dividendo demográfico resulta do amadurecimento da população, em que a população


economicamente activa supera largamente o grupo etário de dependentes, composto por
crianças e idosos. Como consequência e em contraste com o aumento do efectivo popu-
lacional em idade activa, observa-se um menor número de nascimentos, menos crianças
e jovens para alimentar, vestir, tratar, cuidar e empregar. Surge assim uma janela de opor-
tunidade inédita de redução substancial dos gastos sociais e em particular, do custo dos
sistemas de protecção social.

A “janela de oportunidade” pode facilitar e estimular o crescimento, embora tal não acon-
teça automaticamente. Se, e em que medida, a referida oportunidade beneficia a socie-
dade, é outra questão. Depende muito da qualidade e do tipo de instituições, políticas
e económicas, existentes na altura em que tal janela de oportunidade se abre; depende
principalmente da disponibilidade de mecanismos institucionais e políticas favoráveis à
melhoria da produtividade e absorção dos jovens trabalhadores extras, que entram na ida-
de economicamente activa (Bloom et al., 2000; Bloom et al., 2003; Bloom and Williamson,
1997; Bloom et al., 2007; García y Bueno, 2007).

Não é objectivo deste artigo debater e alongar as considerações anteriores sobre as várias
oportunidades económicas que o chamado dividendo demográfico oferece às populações
humanas. A sua referência, no início desta introdução visa chamar a atenção, em primeiro
lugar, para o facto da demografia da população moçambicana ser actualmente muito dife-
rente da demografia da maioria da população mundial. O melhor momento demográfico
que a humanidade está atravessando, não inclui a população de Moçambique nem as po-
pulações de vários outros países da África Subsariana que se encontram numa fase inicial e
atrasada da transição demográfica. Estes países continuam reféns de uma debilitante taxa
de dependência, entre o número de pessoas que têm e as que não têm idade para traba-
lhar.1 Em outras palavras, a actual taxa de dependência demográfica moçambicana repre-
senta um ónus, em vez de bónus, para o desenvolvimento económico; um ónus com raízes
profundas na estrutura, composição e dinâmica histórica da população moçambicana.


1
Os países ainda excluídos do dividendo demográfico mundial poderão, eventualmente, beneficiar dele
no futuro, dependendo do progresso da transição demográfica e das condições institucionais, políticas
e económicas prevalecentes.

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Caderno IESE 10 | 2011

Em segundo lugar, a referência ao ónus que a actual taxa de dependência demográfica mo-
çambicana representa para o desenvolvimento económico, visa deixar claro, desde o início
do artigo, que existem problemas demográficos, que são muito mais determinantes e es-
truturantes, da própria conjuntura política e económica, do que muitas vezes se reconhece.
Mas porque existe uma grande apetência das lideranças políticas para atribuírem a terceiros,
ou a factores externos ao seu controlo, a responsabilidade pelas suas próprias deficiências e
fracassos, certos críticos tendem a sobrestimar o peso e a influência da vontade política. A
vontade política das elites ocupa, sem dúvida, lugar de grande relevância, principalmente em
sociedades fortemente dependentes das idiossincrasias dos líderes e governantes, em vez de
mecanismos institucionais previsíveis, transparentes, estáveis e empoderadores dos cidadãos.

Para se identificar com clareza onde começa e onde acaba a responsabilidade dos fazedo-
res de políticas, técnicos e profissionais, é indispensável primeiro distinguir e compreender
o papel dos diferentes tipos de factores determinantes dos problemas sociais; distinguir
sobretudo os factores inerentes à estrutura e composição demográfica da população, em
geral, dos factores associados à qualidade de governação e das políticas implementadas.
Apesar dos factores demográficos se manifestarem geralmente de forma silenciosa e len-
ta, nem por isso as suas consequências deixam de jogar um papel crucial na natureza, no
ritmo e forma de desenvolvimento económico e humano. O fenómeno do dividendo de-
mográfico é apenas um exemplo, entre outros que poderiam ser referidos, que ilustra a
relevância de factores objectivos, com importantes consequências positivas ou negativas,
que acontecem por detrás das expressões e comportamentos das acções sociais e políticas
imediatamente mais evidentes e mundanas.2

Este artigo defende que a ampliação e consolidação de sistemas modernos de protecção


social em Moçambique estão a tornar-se um desafio cada vez mais delicado, complexo e
difícil de gerir. Em parte, as dificuldades derivam de factores objectivos, como o que é refe-
rido anteriormente; por outro lado, existem também factores institucionais e conjunturais,
de natureza política; principalmente no início da segunda década do Século XXI, em que
a reputação de Moçambique como exemplo de sucesso no desenvolvimento económico
africano contemporâneo, começou a desvanecer nos círculos mais isentos da opinião pú-
blica internacional. Este assunto é demasiado importante para ser deixado de lado, sendo
retomado mais adiante, na próxima secção.

Após concluir a leitura deste artigo, as perguntas que provavelmente permanecerão sem
resposta, serão mais do que as que irão ser respondidas; tanto em relação às perguntas
relacionadas com factores objectivos e estruturais, como relativamente a factores subjecti-
vos e conjunturais. O propósito deste texto, é colocar em debate o papel relevante e o peso
da protecção social demográfica (PSD) vis-à-vis da protecção social financeira (PSF).


2
Eduard Hugh (2010), comentando a recente revolta popular na Tunísia, escreveu no Blog demography.
matters.blog (traduções dos autores): ‘A situação política por si só não provocaria a revolução, penso
eu, se não fosse a incapacidade da economia e da política da Tunísia de tirar o melhor proveito do seu
dividendo demográfico. Os jovens descontentes da Tunísia acabaram por demolir tudo’ (Hugh, 2010,
http://demographymatters.blogspot.com/2011/01/why-did-tunisia-revolt-too-deferred.html).

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António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Por protecção social demográfica entende-se, o conjunto de relações e mecanismos deter-


minados, principalmente pelos componentes de mudança demográfica, tais como as taxas
vitais (taxas brutas de mortalidade e de natalidade), estrutura etária, mortalidade infantil e
esperança de vida. Como tem defendido Francisco (2010b, 2010c), a elevada fecundidade
da mulher, desempenha um papel importante na protecção social, através de mecanismos
predominantemente não financeiros, sobretudo mecanismos financeiros modernos típi-
cos das sociedades mais mercantilizadas e de reprodução económica alargada. São meca-
nismos que envolvem relações e fluxos geracionais e de género, sociais e culturais, morais
e ideológicos, intimamente ligados aos componentes de mudança demográfica.

Este artigo está organizado em quatro secções, para além desta introdução de enquadramento
preliminar. A primeira secção apresenta uma breve contextualização do actual debate sobre
protecção social, com destaque para três vertentes: analítica, empírica e o debate em falta. A
segunda secção chama a atenção para o carácter limitado e excludente dos sistemas de protec-
ção social, alicerçados nos sistemas financeiros, tanto nos sistemas formais contributivos de se-
gurança social e sistemas não contributivos de assistência social, como nos sistemas informais
(e.g. grupos de poupança rotativa, como o chamado xitique; associações funerárias e outros
grupos comunitários de inter-ajuda), e ainda nas formas de segurança por via das relações labo-
rais e formas de emprego. A terceira secção mostra que, em Moçambique, na ausência de me-
canismos financeiros suficientemente extensivos, à maioria da população procura o mínimo de
segurança humana digna possível, ao nível do que neste texto se designa por protecção social
demográfica. A secção final equaciona algumas das implicações das evidências empíricas des-
tacadas nas duas primeiras secções, em busca de caminhos e opções mais realistas e efectivos,
para os enormes desafios da ampliação e consolidação da protecção social em Moçambique.

Contexto do debate da protecção social moçambicana

Edificar uma base de protecção social para todos, ou para um número crescente da população
de Moçambique, constitui um desafio enorme, complexo e extremamente difícil, mas de modo
algum insuperável. No entanto, as percepções sobre a dimensão e complexidade dos desafios
enfrentados pela protecção social, bem como a possibilidade e formas de os superar, variam e
dependem, antes de mais nada, do entendimento do próprio conteúdo de “protecção social”.

Seria errado e simplista assumir que o conceito de “protecção social” é entendido, de forma
mais ou menos generalizada e incontroversa, pela maioria dos autores que o utilizam, cada
vez com mais frequência, se bem que nem sempre com clareza e visibilidade satisfatórias.
Embora este artigo se destina a tratar algumas questões específicas, de particular relevân-
cia empírica, é importante dedicar algumas considerações ao estado da literatura actual,
directa ou indirectamente, importante para o tema deste trabalho. Assim, nesta secção
considera-se de forma breve o contexto do debate actual sobre protecção social em torno
de três vertentes: analítica, empírica e o debate em falta.

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Caderno IESE 10 | 2011

O debate analítico

A vertente analítica envolve inúmeros aspectos conceptuais e teóricos, gerais e específicos,


os quais não podem ser abordados exaustivamente no espaço reservado a este texto. No
entanto, um aspecto que pode servir para ilustrar um ponto fundamental sobre o contexto
analítico da protecção social diz respeito ao divórcio entre a maneira como a protecção
social é concebida, analisada e gerida nos países desenvolvidos, por um lado, e as aborda-
gens e modelos aplicados na análise e gestão da protecção social nos países subdesenvol-
vidos, por outro. Reflectir, um pouco sobre tal divórcio analítico no pensamento internacio-
nal, poderá ajudar a compreender melhor a natureza dos mecanismos de protecção social,
desenvolvidos e aplicados nos países subdesenvolvidos como Moçambique.

Actualmente, os pesquisadores, analistas e fazedores de políticas dos países desenvolvi-


dos, encontram-se cada vez mais preocupados e empenhados, em repensar a segurança
social e a assistência social, com o objectivo de as tornar viáveis, sustentáveis e consistentes
com as mudanças observadas na estrutura demográfica e económica das suas sociedades.3
Porém, mais inquietante do que os gastos financeiros imediatos, é a preocupante perspec-
tiva de crescimento insustentável dos gastos futuros.

Ao longo da primeira década do Século XXI, intensificaram-se as dúvidas quanto à susten-


tabilidade do Estado Social, tal como é conhecido actualmente nos países desenvolvidos,
nas suas diferentes feições e variantes. Razões objectivas sobrepõem-se às controvérsias
ideológicas e filosóficas sobre os prós e contras dos modelos de segurança social actuais.
São razões determinadas por factores objectivos diversos, tais como: 1) Mudanças demo-
gráficas profundas, associadas aos progressos gerados pela transição demográfica, mani-
festados na transformação dos regimes reprodutivos de altas para baixas taxas de mor-
talidade e fecundidade, aumento significativo na esperança de vida à nascença, redução
sustentável da fecundidade para níveis inferiores ao limiar de substituição demográfica (2,1
filhos por mulher), envelhecimento populacional e consequente aumento do ónus da taxa
de dependência; 2) Mudanças estruturais das economias avançadas, em que as melhorias
tecnológicas geram incrementos na produtividade, tornando o factor trabalho cada vez
menos necessário, imprescindível e fundamental; 3) A reforma dos modelos de segurança
social em países desenvolvidos é incontornável, entre outras razões, porque os actuais mo-
delos deixaram de estimular o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e contribuir para
a paz social e maior segurança humana (Becerra, 2009: 55-58; Bernanke, 2006; Carreira e
Costa, 2008; Carreira e Dâmaso, 2009; Ferguson, 2009: 177-202; Gladwell, 2006: 10; Midgley
and Tang, 2008; Shapiro, 2010: 99-125; Soros, 1999: 141-142).4 Como escreveu Kaletsky no
início do seu recente livro intitulado Capitalism 4.0:


3
‘Todas as sociedades capitalistas avançadas de hoje são Estados de bem-estar de alguma espécie’ afir-
mam George and Wilding (2008: 10). ‘Gastam entre um terço e metade da sua renda em serviços públi-
cos, dos quais metade é dispendida naquilo que passou a ser conhecido por serviços sociais’.

4
A imprensa internacional e a Internet estão repletas de artigos sobre a problemática da protecção social
nos países desenvolvidos. Alguns exemplos: “Alguém viu por aí o Estado social de Sócrates?” (IOnline

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António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

O mundo não acabou. Apesar de todos os presságios de um desastre na crise financei-


ra 2007-09, a primeira década do século XXI deu lugar à segunda sem grandes pertur-
bações. Os motins, sopas a serem distribuídas na rua e falências previstas por muitos
dos mais respeitados economistas do mundo não se concretizaram - e ninguém mais
espera que o colapso do sistema capitalista mundial seja lá o que tal palavra emotiva
significar (Kaletsky, 2010: 1).

Todavia, Kaletsky (2010: 1) também admite que o efeito traumático da crise financeira de
2007-09 não será facilmente esquecido; seus custos económicos perdurarão por décadas
nas dívidas dos contribuintes e dos orçamentos do governo cada vez mais espremidos, na
vida perturbada dos desempregados e nos sonhos destruídos dos proprietários e investi-
dores em todo o mundo.

Não obstante a perspectiva fortemente heliocêntrica desta generalização dos efei-


tos da crise financeira internacional – muito comum nos principais analistas e críticos
contemporâneos do sistema capitalismo (Howe and Jackson, 2011; Soros, 1999, 2003,
2008; Stiglitz, 2002) – não os impede de perceber as suas implicações mais amplas.
Segundo Kaletsky o que desmoronou no Outono de 2008 não foi apenas um banco ou
um sistema financeiro, mas toda uma filosofia política e sistema económico, uma ma-
neira de pensar e viver no mundo. A questão agora é o que vai substituir o capitalismo
global que se desintegrou no Outono de 2008. De forma breve, o argumento central
do livro de Kaletsky é que o capitalismo global será substituído por nada mais do que
o próprio capitalismo global. Um Capitalism 4.0, substanciamente diferente dos capita-
lismos precedentes (1, 2 e 3).

Ainda é cedo para concluir sobre os contornos da crise económico-financeira de 2007-09 e


seus impactos de longo prazo, para as economias desenvolvidas e seus Estados Sociais. O
ano 2010 foi marcado pelo início de uma vaga de insolvências de Estados da zona Euro, as
quais eram impensáveis há meia dúzia de anos atrás.5

Como irão as economias avançadas ultrapassar o crescente risco de falência dos seus mo-
delos de Estado social, é presentemente, difícil antecipar, mas o tempo dirá. O ponto im-
portante a reter, sobre o debate da protecção social nas sociedades desenvolvidas, é que
as suas lideranças e principais autores sociais se encontram seriamente empenhados em
procurar soluções para garantir a viabilidade e sustentabilidade de mecanismos de protec-
ção social, que proporcionem uma segurança humana digna para os seus cidadãos.

de 15.10.2010), www.ionline.pt/conteudo/83372-alguem-viu-ai-o-estado-social-socrates; No Blog de


Santiago Niño Becerra: “Pensiones ¿llegaremos al 2050?” (08.03.2010); “Seguridad social” (22.07.2010);
Malcolm Gladwell, no New Yorker de 28.08.2006: “What’s behind Ireland’s economic miracle – and G.M.’s
financial crisis?”. Butler and MacGuineas (2008) “Rethinking social insurance”.

5
Primeiro a Grécia, depois a Irlanda, e nos meses recentes cresce a probabilidade de outros países (e.g.
Portugal, Espanha) virem a reconhecer a falência soberana e recorrerem oficialmente à intervenção do
BCE (Banco Central Europeu) e FMI (Fundo Monetário Internacional).

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Caderno IESE 10 | 2011

Em contrapartida, o debate sobre a protecção social nos países subdesenvolvidos, incluin-


do Moçambique, a liderança e autores sociais parecem mais preocupados em prolongar,
perpetuar ou mesmo ampliar a dependência financeira internacional, do que encontrarem
caminhos para tornar as suas economias e sistemas de segurança social nacionais efectiva-
mente viáveis e sustentáveis a longo prazo. Neste contexto, não se admira que a aborda-
gem assistencialista assuma actualmente liderança hegemónica nos discursos e políticas
de protecção social, tanto convencionais e oficiais, como alternativas e críticas.

O próprio conceito de protecção social que, segundo autores como Devereux et al. (2010),
Norton et al. (2001: 21) e IPC-IG (2010) pode ser visto como um conceito “guarda-chuva”, na
prática tem sido convertido num proxy composto pelo conjunto de iniciativas, mecanismos
e programas principalmente virados para a assistência social, tanto ampla como restrita
(através de programas de ajuda internacional elaborados em coordenação com agências
como o FMI, Banco Mundial e organismos da Organização das Nações Unidas).

Certos autores defendem que o conceito de “protecção social” deve abarcar a vasta gama de
mecanismos e iniciativas, incluindo a segurança social e assistência social formais, bem como
redes de segurança social informais. Na prática, como admitiu Gentilini (2005: 11), ainda que
tais itens façam parte do domínio da protecção social, individualmente eles não são equipa-
ráveis ou representativos do domínio da protecção social propriamente dita. Gentilini (2005:
11) defende que o termo protecção social deveria englobar o quadro geral de todos os com-
ponentes individuais que o integram. De igual modo, nas estratégias sectoriais para a pro-
tecção social de agências internacionais como o Banco Mundial, o Institute of Development
Studies (IDS) e a Organização Internacional de Trabalho (OIT), reconhecem geralmente a ne-
cessidade de se avançar além da mera doação de ajuda, através de transferências de recursos
(Barrientos and Hulme, 2010; Devereux et al., 2010; Ellis et al., 2009; ILO, 2006; FMI, 2010b).

Não obstante o reconhecimento que uma protecção social abordada e gerida como um
conjunto de sistemas autónomos e desarticulados dos processos normais do sistema eco-
nómico, social e político em que se inserem e a que servem, na realidade continua a ser
extremamente difícil de se conceber, lidar e gerir os mecanismos públicos e privados de
protecção social como parte integrante da sociedade em que operam. Provavelmente a
explicação para tal dificuldade relaciona-se com o papel que a ajuda financeira interna-
cional passou a desempenhar nos países subdesenvolvidos, na sequência do processo de
descolonização, das rivalidades da guerra fria, dos programas de ajustamento e estabiliza-
ção estrutural, das iniciativas de emergência para mitigar os efeitos de conflitos político-
-militares, das crises económico-financeiras dos países subdesenvolvidos, das sucessivas
crises de vulnerabilidade alimentar e outras calamidades naturais e sociais.

Apesar de se reconhecer intelectualmente que o conceito de protecção social deve ser


abrangente e agregador, na prática os modelos, programas e políticas implementadas, as-
sumidas são de natureza e forma profundamente assistencialistas. Um dos exemplos ilus-
trativos e mais recentes desta tendência é o artigo intitulado “Social Protection in Africa:
Where Next?” (Devereux et al., 2010). Ao assumirem que a protecção social é uma arena

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António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

política relativamente nova, “… concebida pela comunidade doadora no final da década de


1990”, é evidente que estes autores reduzem o domínio da protecção social ao processo di-
rectamente ligado às iniciativas de cooperação internacional para o desenvolvimento. Por
isso, entende-se por protecção social como, “... o conjunto específico de instrumentos de
política elaborados pela comunidade doadora no final de 1990, com o objectivo de aliviar a
pobreza e gestão de risco nas comunidades pobres e vulneráveis da região Sul.” (Devereux
et al., 2010: 2). Admite-se que a protecção social possa ser definida de forma ampla e abran-
gente, mas em seguida considera-se que, no caso da África Subsariana, ela é principalmen-
te operacionalizada por doadores e ONGs internacionais, sendo dominada principalmente
por transferências de dinheiro não condicionais ou condicionais, fornecidas a grupos-alvo
de pobres e vulneráveis, e por programas de obras públicas para pobres em idade activa.

O recurso ao termo ‘protecção social’ tornou-se, sem dúvida, apelativo, nem que seja por
ajudar a criar a sensação de abrangência e inclusão, mesmo que seja mínima ou até fictícia.
Na prática, os modelos analíticos e metodológicos usados para lidar com a protecção social
dos países subdesenvolvidos não são consensuais, quanto ao conteúdo e formas operacio-
nais. Certas abordagens são explicitamente assistencialistas, no seu conteúdo, objectivos e
métodos, como é o caso das iniciativas caritativas. Outras procuram converter a assistência
social num direito humano6 ou, então, nas necessidades básicas individuais. Mas como re-
fere Munro (2007: 10) existem diferenças entre os pensadores legalistas e os economistas
neo-clássicos. Enquanto os legalistas defendem a assistência social recorrendo ao argu-
mento do direito humano com base na lei, os economistas justificam-na na base das neces-
sidades económicas, razão pela qual os primeiros acusam estes últimos de assistencialistas
(‘welfarist’) e de argumentos mais fracos do que a fundamentação baseada na lei.

Alguns críticos da abordagem assistencialista têm avançado alternativas, visando tornar


as análises da protecção social parte integrante do sistema mais amplo da economia e
da sociedade em geral. Wuyts (2006), por exemplo, defende que a natureza da protecção
social, depende do quadro de referência tomado em consideração, podendo ser ex-ante e/
ou ex-post. O quadro ex-ante é considerado prospectivo, porque a protecção social é vista
como parte integrante do processo de desenvolvimento económico. O quadro ex-post é
reactivo, típico da abordagem aqui designada por assistencialista; procura compensar ou
apoiar as pessoas que perdem ou são prejudicadas, total ou parcialmente, pelas mudanças
económicas e sociais.

Ambos quadros analíticos, ex-ante e ex-post, são relevantes para a política social, sendo o
último, orientado para responder a situações de necessidade e emergência imediata, en-
quanto o primeiro permite gerar níveis de prevenção ou antecipação de possíveis falhas,
resultantes do processo de desenvolvimento. Por isso, Wuyts (2006; ver também Holzmann,
2009) contrapõe à abordagem ex-post uma abordagem ex-ante orientada para um maior e
melhor equilíbrio entre diferentes estratégias de protecção social.


6
‘Acções benevolentes e caritativas, se bem que boas em si mesmas, são insuficientes do ponto de vista
dos direitos humanos (UNICEF, 2000a) (Ver também UNICEF, 2004: 11-12)’ (Munro, 2007: 10).

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Caderno IESE 10 | 2011

Neste trabalho, diferentemente das abordagens dominantes e alternativas críticas, a pro-


tecção social é considerada em torno da posição epistemológica definida pela finalidade
principal, em vez das suas formas de classificação, seus componentes e funções. Por protec-
ção social entende-se, neste texto, como o sistema de relações, mecanismos, iniciativas e
programas concebidos e implementados para garantir uma crescente segurança humana
digna, através da libertação gradual dos cidadãos de dois medos principais no ciclo da vida
humana: 1) Liberdade da carência, alimentar, profissional ou laboral (seja ela estrutural,
crónica ou acidental; e.g. escassez de alimentos, falta de emprego ou de oportunidades
profissionais), bem como de meios efectivos de controlo da reprodução humana (e.g. aces-
so aos meios contraceptivos adequados e assistência médica básica, que reduza a morta-
lidade materno-infantil); 2) Liberdade da agressão, privação e ameaça à segurança física
e psicológica, incluindo o tráfico de órgãos humanos ou de pessoas, violência doméstica,
linchamentos públicos (Francisco, 2009, 2010a: 37).

É evidente que definições operacionais de conceitos fundamentais, por si só, não podem
resolver os problemas analíticos que conduzem a discrepância de abordagens apontada
no início desta secção, entre a forma de conceber e lidar com a protecção social, em socie-
dades desenvolvidas e sociedades subdesenvolvidas. Quando muito, o reconhecimento
de tal divórcio, conduz a uma revisão mais atenta e rigorosa do instrumental de análise e
dos métodos utilizados na formulação de políticas específicas, a começar pelas próprias
definições operacionais.

Na formulação da definição de protecção social, seguida neste trabalho, teve-se o cuidado


de tomar como referência principal o móbil da segurança humana. Se a última finalidade
da protecção social é proporcionar uma segurança humana cada vez mais digna aos cida-
dãos, isto deve ser válido tanto para as sociedades desenvolvidas como para as sociedades
subdesenvolvidas.

É evidente que se deve tomar em consideração as devidas diferenças, em termos de níveis


de desenvolvimento socioeconómico, demográfico e cultural, nas economias desenvolvi-
das e economias subdesenvolvidas. Mas isto não justifica que, nas economias desenvolvi-
das, o foco dos debates analíticos tenham como preocupação principal, a viabilidade e sus-
tentabilidade económico-financeiras dos seus sistemas de segurança e protecção social,
enquanto nos países subdesenvolvidos se assume como suficiente e inevitável a crescente
dependência da ajuda assistencialista.

Dia após dia, multiplicam-se as iniciativas internacionais, visando converter a assistência


social em sistemas crescentemente previsíveis e abrangentes (Adésínà, 2010; Baliamoune-
-Lutz, 2010; Devereux and Sabates-Wheeler, 2004; Devereux et al., 2010; Ellis et al., 2009;
Holzmann, 2009; ILO, 2006; Niño-Zarazúa, 2010; World Bank, 1999). Em contrapartida, tam-
bém se multiplicam vozes críticas à ajuda internacional prestada aos países subdesenvol-
vidos; para não falar dos críticos por opção ideológica, autores e activistas como Easterly
(2002), Hanlon (2004), Moyo (2010) e Shikwati (2005), que questionam a ajuda interna-
cional pelas suas consequências, que o dinheiro fácil gera em termos de corrupção, mau

12
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

uso dos recursos públicos, irresponsabilidade política das partes envolvidas, distorções dos
mercados nacionais, debilitação do tecido social e cultural e desprezo por opções institu-
cionais, financeiras e governativas mais valorizadoras, formativas e dignificadoras.

O debate empírico

Relativamente à segunda vertente, o contexto empírico, interessa sublinhar que Moçambi-


que encontra-se entre os 12 países no mundo com maior intensidade e incidência da po-
breza, medida pelo recentemente criado Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) (Alkire
and Santos, 2010; UNDP, 2010). Com cerca de 80% da população moçambicana classificada
como pobre em termos do IPM, esta proporção da população cai dentro do intervalo de-
finido pelos dois indicadores mais comuns de pobreza internacional “extrema” - 75% da
população vivendo com 1,25 dólares ou menos por dia e 90% vivendo com 2 dólares ou
menos por dia.

Moçambique entrou assim, na segunda década do Século XXI, com um efectivo de 18 mi-
lhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, correspondendo pelo menos cinco mi-
lhões de pessoas a mais do que o efectivo estimado na base das linhas de pobreza nacional
- 54% em 2003 e 55% em 2009 (MPD, 2010) (Figura 1).

Figura 1: Comparação de Medidas de Pobreza, Moçambique, 2002-2009

25 100%
90%

80%
Números Absolutos, Pobres (em Milhões)

20 75% 80%
Proporção de Pessoas na Pobreza

15 54% 55% 60%

LINHAS DE POBREZA INTERNACIONAL

10 20 40%
LINHAS DE POBREZA NACIONAL
16 17

12
5 10 20%

0 0%
Linha Nacional de Linha Nacional de U$1,25 / dia IPM (H) U$2 / dia
Pobreza, 2002/03 Pobreza, 2008/09

Indicadores de Pobreza

Fonte: MPD, 2010; Alkire & Santos, 2010

13
Caderno IESE 10 | 2011

Entretanto, como sublinhou Francisco (2010d), em reacção à divulgação pública dos dados
oficiais da 3ª Avaliação Nacional de Pobreza, as pesquisas recentes sobre a situação e evo-
lução da pobreza em Moçambique, tanto pesquisas baseadas em dados estatisticamente
representativos (Alkire and Santos, 2010; de Vletter et al., 2009; Cunguara e Hanlon, 2010;
Métier, 2006, MPD, 2010) como pesquisa qualitativa, através de estudos de caso e relatórios
descritivos (Paulo et al., 2008; Hanlon, 2007, Serra, 2010), são unânimes num ponto: a po-
breza em Moçambique é ainda muito elevada, cronicamente resistente e mostrando sinais
de aumento, em vez de diminuição.

Em várias províncias, onde a incidência da pobreza parecia estar a diminuir nos primeiros
anos do corrente século, logo na segunda metade da primeira década surgiram indicações
contrárias. A província da Zambézia, com mais de quatro milhões de pessoas (um quinto da
população de Moçambique), apresenta um forte aumento da pobreza, ultrapassando em
2009 o nível atingido na primeira Avaliação Nacional da Pobreza, há mais de uma década.

A Tabela 1 e Figura 2 sumarizam os dados das três avaliações nacionais (1ª – 1996/97; 2ª –
2002/03 e 3ª – 2008/09), destacando-se com setas as províncias que registaram aumentos
na incidência da pobreza, nos períodos em análise. Todas as mudanças merecem atenção,
mas na Tabela 1 as setas são colocadas onde a pobreza está a piorar, sendo nelas que se
deve incidir a atenção e intervenções prioritárias. Entre a 1ª e a 2ª Avaliação, apenas em
Cabo Delgado, Maputo Província e Cidade de Maputo, a pobreza tinha piorado. No entan-
to, a tendência da incidência da pobreza foi revertida no período seguinte, entre a 2ª e a 3ª
Avaliação, de forma significativa em Cabo Delgado e Cidade de Maputo, mas ligeiramente
na Província de Maputo.

A 3ª Avaliação revelou um panorama nada animador a nível rural. Várias províncias apre-
sentaram sinais de retrocesso, entre 2003 e 2009, resultando no aumento da incidência
da pobreza nacional e rural, nomeadamente nas província da Zambézia, Manica, Sofala,
Gaza e Nampula. Em termos regionais, a região Centro, com 42% da população (cerca de
9 milhões de pessoas), encontra-se numa situação particularmente grave, ao registar um
aumento médio de 14% de incidência da pobreza, resultante do agravamento do padrão
de consumo em três das quatro províncias desta região.

A última coluna na Tabela 1 apresenta a diferença líquida em pontos percentuais (pp.), em


toda a década (1997-2009). Na Zambézia, depois de uma diminuição de 24 pp., entre 1997
e 2003, a pobreza voltou a piorar, de tal maneira, que ultrapassou o nível de 1997, em 2,4
pp. A Província de Maputo tem registado uma ligeira diminuição da pobreza (-1,8 pp.), mas
num ritmo insuficiente para ultrapassar o nível de 1997. Igualmente grave, é a variação da
pobreza entre 2003 e 2009, em Sofala (22 pp.) e em Manica (12 pp.), seguido de algumas
províncias com aumentos menores, como Gaza (2,4 pp.), Maputo Província (2,5 pp.) e Nam-
pula (2,1 pp.).

Contra a tendência geral de agravamento da pobreza, destacam-se as províncias de Cabo


Delgado (-26 pp.), Niassa (-20 pp.), Inhambane (-23 pp.) e Cidade de Maputo (-17 pp.). Estes

14
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

casos com avanços positivos, em termos de redução da pobreza absoluta, acabam por ser
insuficientes para compensar os casos com retrocessos significativos, razão pela qual a inci-
dência da pobreza nacional registou um aumento médio de 0,6 pp. no período 2003-2009.

Tabela 1: Evolução da incidência da pobreza, três avaliações, Moçambique, 1996-2009

Incidência da Pobreza Diferença Pontos Percentuais (pp.)


1a Aval. 2a Aval. 3a Aval. 96-97 a 02-03 a 96-97 a
1996-97 2002-03 2008-09 ‘02-03 ‘08-09 ‘08-09
Nacional 69,4 54,1 54,7 -15,3 0,6 -14,7
Urbana 62,0 51,5 49,6 -10,5 -1,9 -12,4
Rural 71,3 55,3 56,9 -16,0 1,6 -14,4

Norte 66,3 55,3 46,5 -11,0 -8,8 -19,8


Niassa 70,6 52,1 31,9 -18,5 -20,2 -38,7
Cabo Delgado 57,4 63,2 37,4 5,8 -25,8 -20,0
Nampula 68,9 52,6 54,7 -16,3 2,1 -14,2

Centro 73,8 45,5 59,7 -28,3 14,2 -14,1


Zambézia 68,1 44,6 70,5 -23,5 25,9 2,4
Tete 82,3 59,8 42,0 -22,5 -17,8 -40,3
Manica 62,6 43,6 55,1 -19,0 11,5 -7,5
Sofala 87,9 36,1 58,0 -51,8 21,9 -29,9

Sul 65,8 66,5 56,9 0,7 -9,6 -8,9


Inhambane 82,6 80,7 57,9 -1,9 -22,8 -24,7
Gaza 64,6 60,1 62,5 -4,5 2,4 -2,1
Maputo Prov. 65,6 69,3 67,5 3,7 -1,8 1,9
Maputo Cid. 47,8 53,6 36,2 5,8 -17,4 -11,6

Fonte: MPD, 2010: 4

15
Caderno IESE 10 | 2011

Figura 2: Níveis de incidência da pobreza e variações no tempo por províncias,


Moçambique, 2003 - 2009

(variações em pontos percentuais, pp.)

Niassa Cabo-Delgado
31,9% 37,4%
(-20,2) (-25,8) Pemba
Lichinga
Nampula
Tete 54,7%
42% (+2,1)
Nampula
(-17,8) Tete Zambézia
70,9%
(+25,9)
Manica
Quelimane
55%
Sofala
(+11,5)
58%
(+21,9)
Chimoio
Beira

Inhambane Incidência Nacional


57,9% 54,7%
GAZA
62,5% (-22,8) (+0,6)
(+2,4)
Inhambane

Maputo
Província Xai-xai
67,5% Maputo Cidade
(-1,8) 36,2%
Ponta do Ouro (-17,4)
Fonte: MPD, 2010: 4; Republic of Mozambique, 2010: 12

O debate em falta

Quanto à terceira vertente, o debate em falta, um dos assuntos mais carentes de reflexão e
investigação, é a questão da natureza da economia nacional e do Estado em Moçambique. Será
por falta de massa crítica, pela qual ninguém pode ser responsabilizado? Ou é receio de en-
frentar a realidade, quer por desinteresse, quer por conveniência de interesses inconfessáveis?

Francisco (2010a) tem caracterizado Moçambique como um Estado Falido mas não Falhado.7
Não é um Estado Falhado, tanto do ponto de vista dos critérios e indicadores do Índice de


7
As expressões ‘estado falido’ e ‘estado falhado’, não são termos ingénuos, muito menos visam ocupar o
lugar de termos usados abusivamente na literatura internacional (e.g. neo-liberais, capitalismo selvagem,
esquerda, direita ou pró-mercado) por palavras que apenas soam bem mas sem conteúdo claro.

16
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Estados Falhados (Foreign Policy, 2010) como de outras metodologias de avaliação do nível
de estabilidade e vulnerabilidade da governação, serviços prestados ao cidadão e níveis de
corrupção, disfuncionalidade e informalidade. No entanto, apesar de não existir um índice de
Estados Falidos propriamente dito, existem suficientes evidências testemunhando a natureza
falimentar do Estado moçambicano, em vários sentidos, nomeadamente, financeiro e econó-
mico. Financeiramente, o Estado Moçambicano só tem conseguido honrar suas obrigações
perante os credores internacionais, recorrendo à ajuda externa massiva.

No final do século XX, a dívida pública de Moçambique atingiu seis mil milhões de dólares,
representando 153% do PIB do ano 1998, cerca de 13 vezes as receitas do Estado e 25 vezes
as exportações do mesmo ano (Ministério das Finanças, 2008: 3). Foi graças ao perdão de
grande parte da dívida internacional, acumulada de forma insustentável, antes e depois
da adesão às Instituições de Bretton Woods em 1984, que Moçambique voltou a ser reco-
nhecido como detentor de uma dívida sustentável (Reinhart and Rogoff, 2009: 375t; Sachs,
2002: 14).8

Na escala de notação de risco ou ratings globais Moçambique está longe de ser avaliado,
pelas agências internacionais de rating (Standard & Poor’s e Moody’s), como um ‘bom pa-
gador’ e capacidade para atender a compromissos financeiros. A classificação de Moçambi-
que tem sido de B+/Estável/B, correspondente à categoria ‘grau especulativo’, que também
incluiu nações que declaram moratória de suas dívidas (SDF, 2009; S&P, 2010). É sabido
que as agências internacionais de rating actuam no contexto do mercado capitalista for-
mal, sem a devida consideração da economia internacional mais ampla, nomeadamente a
enorme ‘economia obscura’ (Napoleoni, 2009). Além disso, apesar das agências de rating
usarem critérios controversos e falharem por vezes escandalosamente, a verdade é que no
actual mercado formal internacional são elas que decidem qual o risco do país e os juros
que devem pagar. Moçambique, com uma economia fortemente bazarconomizada e um
sector formal muito dependente da ajuda externa, tem recebido uma avaliação generosa,
escapando ao grupo inadimplemento ou falido, em maior ou menor grau (C e D), graças ao
forte fluxo de ajuda externa que assegura uma liquidez orçamental mínima para o funcio-
namento do Estado e de outras actividades económicas.

Uma busca rápida na literatura internacional e na internet certamente permitirá reunir


mais testemunhos representativos de uma imagem internacional de Moçambique, como
um caso de sucesso exemplar, do que testemunhos consentâneos com a real e difícil situa-
ção social e económica da população moçambicana. Ao longo das duas décadas passadas,
Moçambique despertou interesse e reconhecimento por um alegado sucesso, raramen-
te qualificado e devidamente entendido. Considerando os inúmeros e recentes exemplos
negativos africanos, incluindo em países que no passado pareciam estar a seguir o cami-


8
‘Com o objectivo de tornar a dívida sustentável, Moçambique beneficiou, sucessivamente em 1999
e 2000, do alívio de dívida no âmbito da Iniciativa dos Países Pobres Altamente Endividados (HIPC).
Beneficiou ainda em 2006, do cancelamento da dívida no âmbito da Iniciativa do Alívio da Dívida
Multilateral (MDRI)…’ (Ministério das Finanças, 2008: 3-7).

17
Caderno IESE 10 | 2011

nho do progresso económico e da democracia efectiva (e.g. Quénia, Madagacar e Costa


do Marfim), o facto de Moçambique ter conseguido evitar o Estado Falhado não deve ser
desvalorizado e desprezado. Mas se Moçambique merece ser reconhecido como um su-
cesso africano, é preciso reconhecer tratar-se de um sucesso relativamente aos piores, em
vez de melhores, exemplos africanos. Ou seja, Moçambique tem sido um caso de sucesso
fundamentalmente por de ter conseguido evitar que o Estado Soberano se convertesse
num Estado Falhado (Francisco, 2009, 2010a).

A confirmação desta avaliação pode ser encontrada no crescente número de evidências de


que o desenvolvimento económico e humano dos moçambicanos enfrenta dificuldades
crescentes, devido principalmente a grandes debilidades das instituições nacionais. Devido
aos esforços concertados dos governantes e seus parceiros internacionais de desenvolvi-
mento mais próximos, o Estado moçambicano tem conseguido alongar a boa reputação que
conquistou no passado. Só assim se entende as insistentes avaliações reprodutoras de uma
imagem de sucesso que, se fosse avaliado segundo critérios sérios de dignidade e excelência,
talvez fossem até denunciadas como paternalistas e de algum modo humilhantes.

Não está em dúvida as boas intenções dos autores das avaliações (e.g. Christensen (2008),9
Clément and Peiris (2008), Baxter (2005)10, Fox et al. (2008)11, e o FMI (2010b), para citar ape-
nas alguns exemplos. O que está em causa, e merece ser considerado com sentido crítico,
são os critérios e os parâmetros de avaliação e monitoria, usados por analistas individuais e
sobretudo agências internacionais de desenvolvimento, para avaliar a qualidade do suces-
so do processo de desenvolvimento, neste caso, em Moçambique.

Prevalece actualmente um certo padrão de pensamento, uma espécie de neo-ideologia


que, na falta de melhor termo, se pode designar por pensamento desejoso ou wishful
thinking12 moçambicano (Francisco and Matter, 2007: 16; Francisco et al., 2010a, 2010b). O
pensamento desejoso moçambicano é fruto de uma aliança efectiva entre a elite política
nacional que controla o poder político e a elite financeira internacional que tem subsidiado
o Governo e o Estado moçambicano.13


9
‘Moçambique, uma das histórias mais notáveis de sucesso em África, tem beneficiado de fluxos de
ajuda sustentada, crescimento forte e de base ampla, bem como profunda redução da pobreza…’
(Christensen, 2008: v).
10
‘Sem dúvida, Moçambique é uma história de sucesso. Um sucesso, tanto em termos de crescimento,
mas também como modelo para outros países a respeito de como tirar o melhor partido possível do
interesse do doador’ (Baxter, 2005).
11
‘O ritmo acelerado de crescimento económico tem continuado desde 2003. A continuidade no
crescimento e na redução da pobreza em Moçambique é já uma das mais prolongadas em países de
baixos rendimentos …’ (Fox et al., 2008: 3-4).
12
‘Wishful thinking’, termo inglês que significa o padrão de pensamento que toma os desejos pela
realidade, levando as pessoas a tomar decisões e interpretar os factos, relatos e percepções com base
nesses desejos, em vez do que acontece na realidade e na racionalidade (Francisco and Matter, 2007).
13
O wishful thinking moçambicano não é unicamente produzido e desenvolvido por moçambicanos. I
investigadores e personalidades internacionais influentes têm contribuído para a elaboração do
pensamento desejoso moçambicano. A título de exemplo, Jeffrey Sachs, célebre economista norte-
americano e activo promotor das chamadas ‘Aldeias do Milénio’, numa visita recente a Moçambique
esforçou-se por dar alento ao actual wishful thinking moçambicano. Na palestra que proferiu em Maputo

18
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Um contributo fundamental para o desenvolvimento do pensamento desejo moçambi-


cano, no domínio económico, tem sido prestado pelas Instituições de Bretton Woods, no-
meadamente o FMI, na sua dupla função, de financiador e supervisor técnico da gestão
macroeconómica e financeira da ajuda internacional a Moçambique. Como supervisor téc-
nico, o staff do FMI, através dos seus relatórios periódicos, exerce uma tutela directa nas
avaliações do desempenho económico, nas expectativas e nas perspectivas macroeconó-
micas de Moçambique. Desde meados da década de 1980, o FMI tem proporcionado uma
plataforma de monitoria técnica determinante para a forma como, perante a comunidade
internacional, o desempenho da economia moçambicana é avaliado.

Dentro dos pressupostos estabelecidos pelo FMI para a intervenção na gestão macroeco-
nómica de um país, geralmente mais consentâneos com a economia perfeita dos manuais
académicos convencionais do que a economia imperfeita do país real, os críticos e homens
comuns reagem com incredulidade: ‘se a economia está bem, o que importa se as pessoas
não estão?’ (Estefánia, 1996: 10). Pouca importância parece ter também o facto das avalia-
ções se circunscreverem ao quadro macroeconómico definido apenas pela economia for-
mal, como se a economia informal, social legítima e sobretudo a ilegal e delituosa, tivesse
um peso irrelevante ou marginal. Assim, entende-se que o FMI, ao abstrair-se de toda a
contextualização institucional que explica a conversão da economia moçambicana numa
economia cronicamente dependente e insolvente, apresente-a como desfrutando de me-
lhor desempenho do que economias africanas efectivamente viáveis e sustentáveis, como
são as economias da África do Sul, Botswana e Maurícias.14

A insistência numa imagem enganadora, ou mesmo ilusionista, não acontece por falta de
fontes alternativas de dados e de avaliações actualizadas e consistentes com a realidade
demográfica, social e económica de Moçambique. São inúmeras as evidências produzidas
por pesquisadores de agências reconhecidas e analistas independentes, nacionais e inter-
nacionais, incluindo das agências internacionais a que os autores acima citados pertencem.
Evidências que, certamente, os investidores internacionais sérios tomam em consideração,
quando se trata de avaliar as oportunidades de negócio em África.15

Se alguma dúvida ainda subsistisse, quanto às imagens que melhor reflectem a actual re-
alidade moçambicana, um conjunto de novas pesquisas têm produzido resultados actua-

sobre o tema ‘Moçambique e a Economia Global’, Sachs defendeu que Moçambique tem registado
importantes progressos ‘que faz com que o país pertença já ao grupo das economias emergentes’.
Esta declaração parece ter apanhado a audiência de surpresa, incluindo alguns dos mais notáveis
promotores do wishful thinking moçambicanos, presentes na palestra. Em resposta ao pedido para que
explicasse os critérios para definir um país emergente, Sachs explicou que Moçambique tem condições
para crescer a uma média anual de 10% ou mais nesta década, para além de que a economia também
está apta para duplicar o seu tamanho em cada cinco ou sete anos (‘Moçambique já é uma economia
emergente’ in Jornal Notícias, ‘Economia & Negócios’, 21.01.2011, pp. 4-5).
14
Na sua mais recente avaliação, o FMI considera o desempenho da economia de Moçambique em
2010 como ‘forte’, ‘robusto’ e ‘… melhor durante a recessão mundial que os seus congéneres da África
subsariana (AS) …’ (FMI, 2010b: 4).
15
Índice de liberdade económica (The Heritage Foundation, 2010; Fraiser Institute, 2010) e índices de
ambiente de negócios (World Economic Forum, 2010; World Bank, 2010); índices de notação de crédito

19
Caderno IESE 10 | 2011

lizados e representativos da realidade demográfica, económica e social contemporânea,


reduzindo a margem de controvérsia quanto às difíceis condições de vida da população
moçambicana.16 Apesar disto, não significa que as elites influentes, nacionais e internacio-
nais, estejam prontas a renunciar ao wishful thinking a favor de um maior realismo, verda-
deiro pensamento e discurso positivo e construtivo.

Enquanto a crise financeira internacional de 2007-2009, não converteu a possibilidade de


insolvência dos próprios Estados da zona Euro numa crescente inevitabilidade, nem mes-
mo relativamente aos Estados cronicamente falidos, era fácil associar a sua incapacidade
de cumprimento das obrigações financeiras, para com terceiros, como expressão de falên-
cia, bancarrota ou insolvência. O tempo dirá se as recentes falências e outras em perspec-
tiva, nas economias avançadas, contribuirão para colocar o debate, no seu devido lugar,
sobre a maior ou menor viabilidade e sustentabilidade de economias crónica e fortemente
dependentes da ajuda internacional.

Kaletsky (2010: 237-238) defende que a possibilidade de insolvência do governo, só se co-


loca se uma Nação, ou precisamente se o Tesouro Nacional, pede emprestado a outros
países, numa moeda que não pode controlar. Governos de nações como Estado Unidos,
Inglaterra ou Japão não correm o risco de falência ou incumprimento (default), porque
sempre podem honrar as suas dívidas; nem que, em último recurso, instruíam os seus ban-
cos centrais, a imprimirem o dinheiro necessário para saldar as suas dívidas.

Diferentemente, Estados como o de Moçambique e tantos outros, inteiramente dependen-


tes de divisas de outros países que não conseguem controlar, enfrentam riscos reais de
falência financeira. Apesar de não existirem mecanismos legais a nível internacional, para
forçar os governos devedores a pagarem as suas dívidas em atraso, na prática, os credores
podem retaliar e interromper a actividade dos seus respectivos Estados, cortando-lhes o
acesso aos financiamentos internacionais de que muito dependem.

Em Moçambique, a falência financeira do Estado, remonta a meados da década de 1980;


mais precisamente, a 1984, ano em que o Governo moçambicano formalizou o seu pedido
de apoio financeiro e técnico ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial.
Não é objectivo deste artigo detalhar os antecedentes e causas da falência financeira do
Estado moçambicano, mas a Figura 3 sumariza de forma gráfica, a evolução falimentar da
economia moçambicana, comparando três taxas de crescimento: demográfica, económica
(medida pelo Produto Interno Bruto (PIB) real) e do desenvolvimento económico (medida
pelo PIB real per capita).

ou ‘ratings’ das agências de rating como Standard & Poor’s e Fitch (www.pri-center.com/country/
country_specific.cfm?countrynum=139); níveis de corrupção, democracia, qualidade institucional
(Transparency International, 2010; The Economist, 2010); índices de crescimento, desenvolvimento
humano e de pobreza humana (UNDP, 1994, 2010).

16
Para além da 3ª Avaliação, baseada no Inquérito ao Orçamento Familiar (IOF) 2010 (MPD, 2010), os dados
dos Inquéritos do Trabalho Agrícola (TIA), relativos aos anos 2000 e 2009 (e.g. ver artigo de Cunguara
e Hanlon, 2010) e o Censo 2007 (INE, 2009a, 2010) mostram uma realidade urbana e rural muito mais
complexa e difícil do que as informações oficiais admitem.

20
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Figura 3: Do Estado colonial à falência do Estado Soberano: meio século de


crescimento demográfico, económico e do desenvolvimento em Moçambique,
1960-2005

10%
8% Taxa de
Crescimento 7,2%

6% Económico
4,2% Taxa de 5,0%
4% Crescimento
Demográfico
2,2%
Taxa Média

2,2%
2%
2,0%

0%
1960-64 1965-69 1970-74 1975-79 1980-84 1985-89 1990-94 1995-99 2000-04 2005-09
-2% Taxa de
Desenvolvimento
-4% Económico

-6%
-6,5%

-8%
-10% -9,6%

Períodos
Fonte: PWT 6.1

Entre 1960 e 2009, a população cresceu à taxa média anual 2,2%, enquanto a economia
moçambicana cresceu à taxa média anual 1,7%. Ou seja, ao longo do último meio século,
o moçambicano produziu abaixo do mínimo necessário (pelo menos 2,2% correspondente
ao crescimento populacional) para que o padrão de vida não regredisse. Assumindo o PIB
real dividido pelo número de habitantes como proxy do desenvolvimento económico, nos
últimos 50 anos, Moçambique registou uma involução, em vez de desenvolvimento econó-
mico (-0,3% ao ano) (Francisco, 2010a).

Desde o início da década de 1990, o crescimento económico tem sido geralmente posi-
tivo, resultando num desenvolvimento económico médio anual real de 5%. Só que este
crescimento económico anual recente, apesar de já ser relativamente elevado, ainda não
compensou a profunda involução anterior, resultante do crescimento económico negativo,
registado entre 1975 e o fim da guerra civil em 1992.

Se a verdadeira função do FMI, parafraseando Kanitz (2002), é manter a governabilidade


de governos incompetentes até à próxima eleição, parece haver poucas dúvidas que o
FMI tem cumprido bem tal função em Moçambique. Na verdade, bem de mais, ou mesmo
muito além do esperado do seu mandato e vocação. Em princípio espera-se do FMI, uma
intervenção cirúrgica efectiva e num período relativamente curto. No caso de países como
Moçambique, o FMI supervisiona e gere a macroeconomia há mais de um quarto de século
(Castel-Branco, 1999:12; Soros, 1999: 175-178).17


17
‘Contra o seu mandato e vocação, o FMI acabou ficando envolvido em programas de rápida estabilização
que nunca terminavam, ou que se sucediam uns aos outros nos mesmos Países. Killick (1995) mostra

21
Caderno IESE 10 | 2011

Na verdade, o FMI tornou-se parte integrante do corpo técnico da governação pública mo-
çambicana e um dos principais actores no âmbito do que Francisco (2010a: 38) designa
por protecção social ampla, pelo seu papel na definição dos mecanismos
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macroeconómi-
cos, política monetária e fiscal, política salarial do sector público, aceitação ou rejeição de
subsídios e de programas sociais de transferências a favor dos pobres, assistência técnica
e financeira visando mitigar choques, naturais ou financeiros, entre outros aspectos (FMI,
2010a, 2010b).

Na última década, a supervisão internacional do FMI e do Banco Mundial ampliou-se para


um grupo crescente de agências internacionais e doadores bilaterais. Actualmente, o
chamado G19 envolve pelo menos 19 países que apoiam directamente o Orçamento do
Estado, para além de contribuirem com a ajuda adicional a nível sectorial e local. Deste
modo, em vez da dependência do Estado moçambicano diminuir e ser substituída por fon-
tes nacionais, tem aumentado e diversificado, tanto a nível macro como a nível sectorial.
Um aumento que, nos anos recentes, o Governo tem procurado disfarçar, com simulações
estatísticas e contabilísticas na formulação das percentagens de ajuda ao Orçamento do
Estado, complementadas com declarações retóricas quanto à vontade política de se acabar
com a política da “mão estendida” e dependência da ajuda internacional.

Em termos económicos, o Estado moçambicano alicerça-se numa economia nacional com-


posta por um complexo bazar de múltiplos universos económicos, uma verdadeira bazar-
conomia, porque cada universo económico cresce e desenvolve-se com uma racionalidade
própria, relativamente independente dos demais universos económicos (Francisco, 2009;
2010a).

Acontece, porém, que ao nível da economia nacional mais geral, observa-se uma ten-
dência crescente para a informalidade, envolvendo a fraca economia formal existente e
legalmente registada. Vários universos económicos co-existem e contribuem para o vas-
to e complexo multiverso económico nacional, dependendo crescentemente de políticas
e interesses particulares dos agentes económicos. Diversos universos económicos com-
põem actualmente o bazar económico moçambicano, desde as economias vulgarmente
designadas por ‘economia de subsistência’, ‘economia informal’ (ou também não registada
e e���������������������������������������������������������������������������������������
xtra-legal, mas socialmente legítima); passando pela ‘economia oculta’ ou �������������
ilegal, deli-
tuosa, criminal e socialmente não tolerada; até às exíguas ‘economia capitalista privada’ e
‘economia capitalista pública’.

Neste contexto, os indicadores económicos convencionais, por exemplo Produto Interno


Bruto (PIB) ou Produto Nacional Bruto (PNB), acabam por representar a ponta de um vasto,
mas muito mal conhecido e medido, iceberg económico nacional. Um iceberg económico

que em cada um dos mais de 30 Países da África Sub-Sahariana (SSA) que solicitaram e receberam
apoio do FMI nas duas ultimas décadas, o FMI implementou, ou tentou implementar, pelo menos três,
em alguns casos mesmo dez, programas sucessivos de estabilização económica. Na maioria dos casos,
o FMI entrou no País para ficar entre um a dois anos, e acabou ficando dez ou mais anos sem conseguir
atingir a totalidade dos objectivos de estabilização definidos’ (Castel-Branco, 1999: 12).

22
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

que, bem ou mal, reflecte principalmente a economia que é possível aferir com os instru-
mentos estatísticos disponíveis. Só que em Moçambique a economia real está longe de
ser apenas a que é registada e medida, directa ou indirectamente. Isto acontece por difi-
culdades diversas, relacionadas menos como com as limitações metodológicas e falta de
instrumentos de medição do que dificuldades reais em capturar e aceder aos reais fluxos
económicos e financeiros; incluindo fluxos de auto-consumo e sobretudo fluxos extra-le-
gais e ilegais, ao nível da ‘economia canalha’ (Rogue Economics), parafraseando Napoeloni
(2009) - economia do roubo, da fraude, chantagem e burla, bem como tráfico de vários
tipos (humano, de armas e drogas).

Convencionalmente, assume-se que a economia directa ou indirectamente registada re-


presenta o grosso da economia nacional, estimando-se ter atingido em 2009 cerca de 9,8
mil milhões de dólares americanos (Wikipedia, 2010). Contudo, estas estimativas necessi-
tam de ser interpretadas com cautela, para não se incorrer no equívoco de que representa
um mercado integrado e nacionalmente representativo dos principais universos económi-
cos, que constituem a economia nacional.

É sabido que o PIB, tal como é actualmente estimado e medido, capta uma parte limita-
da da economia total. Sobre a proporção do auto-consumo, ainda é possível arriscar es-
timativas aproximadas, mas a respeito da ‘economia canalha’, nas suas múltiplas formas,
desconhece-se completamente a sua dimensão e peso real no valor monetário total em
circulação na economia moçambicana.18

Considerando as elevadas proporções de informalidade ao nível dos principais factores de


produção, pelo menos 75% do mercado dos factores terra, trabalho e capitais, desenvolve-
-se mais ao nível informal do que formal. É provável que a parte da economia nacional
excluída do mercado formal - particularmente os vastos recursos fundiários e imobiliários,
desvalorizados e convertidos em capital improdutivo, por instituições avessas ao desenvol-
vimento de mercados nacionais integrados - possua presentemente um valor de mercado
inferior ao actual PIB moçambicano. Apesar disso, do ponto de vista da situação e perspec-
tiva de desenvolvimento dos sistemas de protecção social, não é irrelevante que a maioria
da população moçambicana continue a depender mais da economia de subsistência do
que da exígua economia capitalista, nacional e internacional.

À semelhança do que acontece com a economia nacional, também a natureza do Estado


está longe de ser debatida seriamente. Nas últimas duas décadas, como foi acima referi-
do, o principal sucesso do Estado moçambicano tem sido evitar, ou pelo menos adiar, a
conversão do Estado Falido em Estado Falhado (Francisco, 2010a). Mas não está livre que
tal aconteça, a médio prazo, considerando que partes importantes do Estado moçambica-
no parecem estar cada vez mais reféns do crime organizado e narcotráfico.19 Além disso,

18
É duvidoso que a proporção do mercado informal, no seu sentido amplo, represente somente os 40%
do PIB estimados por Schneider et al. (2010: 21; ver também Francisco e Paulo, 2006).
19
Em 2010, o Governo dos Estados Unidos da América, através do Presidente Barak Obama, tomou
medidas em defesa do seu sistema financeiro nacional, alegadamente por Moçambique estar a tornar-

23
Caderno IESE 10 | 2011

existem inúmeras evidências de crescente precariedade da segurança pública, tanto em


relação à protecção pessoal dos cidadãos como dos seus bens, razão pela qual a população
recorre frequentemente à justiça por conta própria (e.g. linchamentos populares).

Quando se confronta esta realidade com a imagem de sucesso de Moçambique, somente


através das lentes do pensamento desejoso moçambicano, se podem perceber afirmações
como a do IPC-IG (2010), sobre o sucesso de Moçambique ao nível dos programas de pro-
tecção social:

Além da África Austral, Moçambique, Gana e Quénia também têm sido bem sucedidos
no desenvolvimento de estruturas de protecção social, e / ou no avanço em direcção à
definição de uma perspectiva de longo prazo de suas políticas e programas (IPC-IG, 2010).

Uma reflexão cuidada dos reais desafios colocados pela ampliação e consolidação da pro-
tecção social em Moçambique, mostra como esta tarefa está a tornar-se cada vez mais di-
fícil, nos dias de hoje. Parte das dificuldades, como se refere e exemplifica no início deste
artigo, derivam de factores objectivos e acontecem independentemente da vontade polí-
tica dos governantes; outra parte deriva de factores subjectivos e conjunturais, incluindo
o empenho, a honestidade e o profissionalismo na implementação das políticas públicas.

Setembro de 2010 foi um mês terrível para os pensadores desejosos em Moçambique. O


mês começou com mais uma revolta popular violenta e sangrenta, nas duas principais ci-
dades da Província de Maputo (Maputo e Matola)20 e terminou com a divulgação de novos
dados devastadores contra a tese de que a pobreza estava a diminuir e a ser controlada.
Segundo a 3ª Avaliação Nacional da Pobreza e Bem-estar em Moçambique, a pobreza es-
tagnou na melhor das hipóteses, mas em várias províncias do país e na zona rural em geral,
aumentou substancialmente (MPD, 2010).

Face a este panorama, relativo à natureza da economia e do Estado de Moçambique, é legí-


timo perguntar: que perspectivas se pode esperar para a protecção social num país mergu-
lhado numa falência económico-financeira crónica, há mais de um quarto de século, com

se cada vez mais envolvido no narcotráfico internacional (www.clubofmozambique.com/solutions1/


sectionnews.php?secao=business&id=18539&tipo=one).
20
Os distúrbios violentos de 1 a 3 de Setembro, apelidados na imprensa internacional como a ‘revolta do
pão’, (www.guardian.co.uk/world/2010/sep/02/mozambique-bread-riots-looters-dead, ou a ‘revolução
do pão’ (www.tvi24.iol.pt/sociedade/visao-quiosque-tvi24-revista--imprensa/1190312-4071.html),
originaram mais de uma dezena de mortes de civis. Seguiram-se alguns dias de tensão e boatos, até que
a 7 de Setembro o Governo recuou na sua decisão. Suspendendo o aumento dos preços de alimentos,
água e electricidade, para além de anunciar outras decisões visando pôr termo ao protesto popular. Uma
onda similar de protesto popular ocorreu também em 05.02. 2008, contra o aumento dos preços dos
“chapas” (transportes urbanos informais), originando confrontos com a polícia, paralisação do comércio
e outras actividades na cidade de Maputo. Este tipo de protestos populares apontam para uma nova
etapa política nacional, um novo dissenso, parafraseando o conceito criado pelo filósofo francês Jacques
Rancière. Dissenso, ao invés de consenso, em que as pessoas que não fazem parte do poder de Estado
e da gestão da coisa pública, apoderam-se das ruas e do palco público, para declarar que aquilo que o
Governo decide, inevitável não é.

24
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

um Estado que hesita entre o subdesenvolvimento e o mau desenvolvimento, enquanto


o desenvolvimento inclusivo parece ser usado na retórica política como isca, destinada a
atrair e perpetuar a ajuda internacional, alegadamente em prol do combate à pobreza.

Protecção social financeira

De acordo com o último censo populacional, realizado em 2007 pelo INE (2009, 2010), a
população moçambicana em idade economicamente activa (PIA), convencionalmente de-
finida entre os 15 e 64 anos de idade, rondava os 10,6 milhões de pessoas (51% da popu-
lação total).

A taxa teórica de participação económica, definida como a percentagem da população


em idade activa (15-64 anos), que exerceu alguma actividade económica ronda os 77%.
Na realidade, a taxa efectiva de participação económica é superior. Se ao efectivo teórico,
referente ao grupo etário dos 15-64 anos se adicionar o efectivo de crianças e adolescentes
dos 7-14 anos que exerceu alguma actividade económica, verifica-se que aproximadamen-
te 32% (cerca de 1,4 milhões) de crianças e adolescentes trabalham (Figura 5). Assim, a
taxa efectiva de participação, poderá rondar os 86%; ou seja, cerca de 10% mais do que é
estimado na base da taxa teórica de participação económica.

A Tabela 2 mostra que a base laboral formal, potencialmente disponível para contribuir fi-
nanceiramente para a segurança social, representa cerca de 8%, contra 17% de desempre-
gados e 75% em actividades informais (INE, 2005). Na prática, menos de 10% dos mais de
10,6 milhões de pessoas na população economicamente activa, encontram-se actualmente
abrangidos pela protecção social formal, incluindo a previdência social do Estado para tra-
balhadores da Administração Pública e o sistema de segurança social (INSS). Como o efecti-
vo do INSS inclui trabalhadores registados, tanto os que contribuem activamente como os
não contribuintes ou inactivos, na realidade a percentagem de beneficiários da segurança
social formal cobre menos de 5% da população em idade economicamente activa.

De uma maneira geral, a literatura actual sobre protecção social nos países subdesenvolvi-
dos, assume como um dado adquirido à ideia de que a viabilidade e a sustentabilidade dos
sistemas modernos de protecção social, dependem principalmente, da robustez, eficácia
e eficiência dos sistemas financeiros existentes (Adésínà, 2010; Baliamounte-Lutz, 2010;
Cichon et al., 2004; Devereux and Sabates-Wheeler, 2004; Devereux et al., 2010; Ellis et al.,
2009; Feliciano et al., 2008; Holzmann, 2009; Niño-Zarazúa et al., 2010; ILO, 2006; Quive,
2007; Waterhouse and Lauriciano, 2009; World Bank, 1999; Wuyts, 2006).

O pressuposto de que os sistemas modernos de protecção social dependem cada vez mais
dos sistemas financeiros é correcto, mas apenas em parte; principalmente em países onde
os sistemas financeiros estão longe de serem extensivos a toda a população e território
nacional. Significa, assim, que grande parte da actual literatura sobre protecção social

25
Caderno IESE 10 | 2011

nos países subdesenvolvidos, não reconhece adequadamente as implicações da limitada


abrangência dos sistemas financeiros relevantes, para a protecção social.

Tabela 2: População em idade economicamente activa e protecção social formal em


Moçambique, 2007

Total
(em 1000
habitantes) %
População Total (Censo 2007) 20.632 100
População de 7 e mais anos de idade 15.213 73,7
População em Idade Activa (PIA), 15-64 anos 10.589 51,3
PIA por Sector de Actividade
Assalariada 837 7,9
Informal 7.942 75
Desempregada 1.800 17
População infantil trabalhadora (7 -14 anos) 1.354 8,9
PIA por Fonte de Contribuição
Previdência Social Estado (Funcionário da Adm. Pública)* 231,8 2,2
Trabalhadores no Sistema de Segurança Social (INSS) 690,0 6,5
Activos 193,4 1,8
Inactivos 496,5 4,7
População Abrangida pela P.S Formal (Previdência Social + INSS) 921,7 8,7
Actuais Beneficiários de Segurança Social Formal (INSS Activos + Estado) 425,2 4,0

Fonte: INE, 2005, 2009a, 2010; Recama, 2008


Nota: (*) O Censo de funcionário indicou um total de 169.963 funcionários, mas o dado usado aqui deriva do Censo 2007.

Em parte, a exclusão dos sistemas financeiros está relacionada com a estrutura laboral e
económica, de algum modo acima caracterizada; mas por outro lado, o próprio sistema
financeiro, no caso específico de Moçambique é, em si, muito precário e limitado.

Moçambique possui o pior índice de acesso a serviços financeiros na região da África Aus-
tral, como constatou o recente estudo intitulado FinScope Mozambique Survey 2009. A
Figura 4 ilustra bem a exiguidade dos sistemas financeiros moçambicanos, tanto sistemas
formais como informais. Em conjunto, estes sistemas fornecem acesso a pouco mais de um
quarto da população adulta. A capacidade de endividamento dos cidadãos, nos sistemas
formais e informais, é globalmente insignificante (de Vletter et al., 2009; Francisco e Paulo,
2006; Francisco, 2010c, 2010d; INE, 2006).

Existe aqui um paradoxo importante. Enquanto os limitados mecanismos e actores finan-


ceiros formais (cobrindo menos de 7% da população) concentram e acumulam os recursos
de capital financeiro, por outro lado cerca de 78% da população adulta (85% na zona rural e
61% na zona urbana) vive completamente excluída de tais sistemas formais. Depreende-se,
deste modo, que os dois lados do mercado financeiro que deveriam, directa ou indirecta-
mente, sustentar os processos de protecção social (através de seguros diversos, previdên-

26
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

cia social, capitalizações, entre outros produtos), de uma maneira geral não se ligam entre
si, se bem que ambos precisem fortemente um do outro.

Figura 4: Acesso a serviços financeiros em Moçambique, 2009

Excluídos 77,8%
Formalmente
Bancarizado
(6,1%)

1,1% 3,1%
1,6%

Outro Formal 0,4% Informal


(0,5%) (9,6%)

Fonte: de Vletter et al, 2009: 36

Esta evidência contraria uma percepção enganadora muito comum. A percepção segun-
do a qual o sistema informal compensa ou substitui o sistema financeiro formal (banca e
outras entidades financeiras), onde ele está ausente, não corresponde à verdade. Os da-
dos do FinScope Mozambique Survey 2009, mostram que o sistema financeiro informal
é igualmente limitado, em termos de abrangência nacional. Menos de 15% de pessoas
adultas têm acesso ao sistema informal, das quais apenas 5% estabelecem ligações com
o sistema formal (bancário e outros formais). Por isso, os mecanismos informais, quanto
muito, expandem o sistema financeiro formal para o dobro da sua abrangência nacional.
Mesmo assim, considerados em conjunto os dois sistemas financeiros, o sistema financeiro
como um todo cobre apenas 22% da população adulta moçambicana, o que significa que
78% permanece excluída.

Nestas circunstâncias, como tinha sido acima adiantado, não é de admirar que o sistema
de protecção social formal cubra menos de 5% da população em idade economicamente
activa. Isto é consistente com o baixo nível de alocação de recursos financeiros públicos,
através do Orçamento do Estado; em 2009 a alocação realizada para segurança social e
programas de assistência social representou menos de 0,5% das despesas orçamentais ge-
rais e menos de 0,2% do PIB (Tabela 3). Em 2010, segundo os dados da Tabela 3, observa-se
uma ligeira tendência de diminuição na alocação de recursos, comparativamente à propor-
ção das despesas do Orçamento e do PIB em 2009.

27
Caderno IESE 10 | 2011

Tabela 3: Orçamento do Estado para Protecção Social Formal em Moçambique,


2009-2010

(em Milhões de US$) 2009 2010


% PSF % PSF
Protecção Social Formal (PSF) $13,7 $11,3
Orçamento de Estado $2.858 0,48% $3.855 0,3%
PIB $8.327 0,17% $8.926 0,13%

Fonte: FDC e UNICEF, 2010

Nota: Câmbio: 30,6 MT por 1US$

Admitindo que os sistemas financeiros informais ampliem a abrangência dos formais para
o dobro, algo similar pode ser também admitido com respeito aos sistemas de protecção
social, assentes em mecanismos financeiros informais. Mas como ilustram as evidências em-
píricas (Figura 4), mesmo uma ampliação da formalidade para o dobro, através da interacção
directa com os mecanismos informais, continua a ser um nível de cobertura muito limitado.

Perante o panorama, acima descrito, algumas questões tornam-se inevitáveis: se o sistema fi-
nanceiro nacional, em que se alicerçam os mecanismos formais e informais de protecção social,
proporciona acesso a pouco mais de de um quinto da população adulta, onde é que os restan-
tes quatro quintos das pessoas excluídas do sistema financeiro buscam sua protecção social?
Estarão elas totalmente desprotegidas, em termos de apoio básico à criança e mitigação de
riscos de insegurança da população idosa? Com uma infra-estrutura financeira tão limitada e
excludente, será possível aspirar a uma segurança social contributiva e a uma assistência social
não contributiva, inclusivas e socialmente relevantes para a maioria da população?

Protecção social demográfica

A resposta curta e directa às três interrogações acima colocadas pode ser dada recorrendo
ao conceito de Protecção Social Demográfica (PSD), tal como foi definido na introdução
deste texto - o conjunto de relações e mecanismos intergeracionais, de género, familiares,
comunitários e sociais que moldam e determinam, directa ou indirectamente, os compo-
nentes de mudança demográfica, nomeadamente: mortalidade, natalidade e, em certos
casos, as migrações também.

Aos cerca de quatro quintos de moçambicanos adultos, sem qualquer tipo de acesso aos
sistemas financeiros, não resta outra alternativa senão procurar garantir a sua segurança e
sobrevivência, através dos sistemas reprodutivos e demográficos, estabelecidos ao longo
dos séculos em torno das elevadas taxas vitais. Mesmo os moçambicanos com alguma for-
ma de acesso a mecanismos financeiros não podem dispensar o contributo significativo
dos mecanismos demográficos.

28
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Na sua vida quotidiana, a solução para a prevenção e mitigação dos principais riscos huma-
nos, desde o risco de perder a vida precocemente na infância (antes de completar um ou
cinco anos) até ao risco de mergulhar na insegurança durante a velhice, continua a depen-
der fortemente dos sistemas demográficos de protecção social. São sistemas predominan-
temente não financeiros, mas socialmente relevantes e determinantes do controlo social
exercido nas práticas, atitudes e comportamentos das mulheres e dos homens.

Precisamente por causa desta característica, geralmente vulgarizada e assumida como natural
ou biológica, Francisco (2010c) tem contraposto um argumento de algum modo provocativo,
considerando o desprezo que o assunto tem recebido nas políticas de protecção social mais
convencionais. Em Moçambique, defende Francisco (Francisco et al., 2010a, 2010b), ter muitos
filhos continua a ser a principal forma de protecção social. Este assunto é abordado, de forma
mais extensiva, em Francisco (2011b). A este nível basta apenas registar o facto de tal argu-
mento suscitar um misto de reacções curiosas, desde surpresa, algum embaraço e também
perplexidade. A surpresa e embaraço derivam da forma como uma constatação tão mundana
e óbvia expõe de forma muito simples, a desatenção ou mesmo desprezo dispensado ao domí-
nio da protecção social, socialmente relevante, enquanto a maior parte das energias, recursos
humanos e financeiros, são concentradas em áreas cujos resultados deixam muito a desejar.

Os investigadores, doadores e as agências internacionais não desconhecem o padrão de


“protecção social”, característico das sociedades rurais e das economias de subsistência po-
bres. Mas o hábito de lidar com os mecanismos familiares e demográficos como naturais,
ou quando muito historicamente determinados, considera-se o ter muitos filhos como par-
te de um universo desligado dos sistemas de protecção social modernos, os quais assen-
tam em mecanismos principalmente financeiros. Admite-se que, ter muitos filhos seja uma
opção, em sociedades de economia de subsistência fortemente expostas à vulnerabilidade
crónica, onde as pessoas buscam segurança contra riscos e choques, nas redes sociais, so-
ciedades funerárias e acumulação de activos produtivos destinados a alugar ou vender em
tempos de crise (e.g. terra, gado e outros activos).21

As definições de protecção social prevalecentes na literatura contemporânea, fortemente


focalizadas nas “acções públicas” em resposta à vulnerabilidade, choques e privações hu-
manas (Norton et al., 2001: 7) também não facilitam o reconhecimento do papel exercido
pelos mecanismos privados e familiares. Estes últimos, praticamente não podem contar
com o apoio de entidades públicas, tanto da Administração Pública como de organiza-
ções não governamentais e da sociedade, ou na combinação entre todas elas. Mais im-
portante do que a insuficiente facilitação da parte das definições conceituais, razões de

‘…dada a vulnerabilidade crónica dos nossos antepassados, as primeiras formas de seguro talvez
21

tenham sido, até, as sociedades fúnebres que poupavam recursos para garantir ao membro de uma
tribo um enterro digno. (Esse tipo de sociedades permanecem a única forma de instituição financeira,
em algumas das partes mais pobres da África Oriental. Poupar antecipadamente para uma provável
adversidade futura continua a ser o princípio fundamental dos seguros, quer seja contra a morte, quer
seja contra os efeitos da idade avançada, de uma doença ou de um acidente. O truque é saber quanto
devemos poupar e o que devemos fazer com essas poupanças…’ (Ferguson, 2009: 164).

29
Caderno IESE 10 | 2011

natureza prática concorrem também para o fraco reconhecimento do papel das relações
não financeiras na protecção social. Apesar do espaço reservado a este texto não permitir
aprofundar satisfatoriamente as razões do referido fraco reconhecimento da protecção
social demográfica, é possível enumerar e qualificar resumidamente algumas das razões:

1. O paradoxo associado ao facto do fundamental da protecção social acontecer no


domínio das relações demográficas e sociais, votada à sua sorte e risco, enquanto o
grosso dos recursos (financeiros, humanos, técnicos e em tempo) é concentrado nos
serviços públicos, cuja cobertura e efectividade deixa muito a desejar;

2. Como o domínio reprodutivo e demográfico, associado aos mecanismos de sobrevi-


vência humana, é frequentemente assumido como natural ou socialmente contex-
tual, muitos autores acreditam que tal domínio não faz parte, ou está para além do
âmbito da protecção social;

3. A transição demográfica moçambicana está atrasada e a decorrer muito lentamente,


comparativamente à transição demográfica em vários países do sul de África, tais
como: Maurícias, Botswana, África do Sul, Zimbabué, Suazilândia e Lesoto (Bonga-
arts, 2002, 2007; Lesthaeghe, 1980, 1989, 2010; Malmberg, 2008; Reher, 2004; Schou-
maker, 2004; Shapiro and Gebreselassie, 2007; UN, 2010). Além disso, quando se trata
de conceber mecanismos de mitigação de riscos, de insegurança humana e formas
de prevenção e compensação de choques, os modelos formalmente escolhidos, ins-
piram-se nos modelos aplicados nos países de transição demográfica e economias
avançadas, sem a devida consideração de que Moçambique se encontra ainda na
fase inicial da transição demográfica.

4. Interpretações erradas e enganadoras da teoria geral de transição demográfica e em


particular do papel da fecundidade no processo demográfico, têm induzido certos
autores a concluir que a teoria convencional da fecundidade assenta no pressuposto
de que os casais em todo o mundo, sempre desejaram ter muitos filhos, devendo por
isso ser estimulados a desejarem menos filhos e famílias menores (Campbell, 2007:
242-243). Esta percepção denuncia um grande equívoco quanto à questão do nú-
mero de filhos desejados pelos casais. Num regime reprodutivo dependente de altas
taxas vitais, as pessoas não dispõem praticamente de nenhuma margem de escolha.
Tal como não são capazes de controlar o elevado risco de morte prematura, também
não podem escolher entre a quantidade e a qualidade do número de filhos. A conti-
nuidade da sobrevivência é garantida principalmente pela quantidade do número de
filhos. Por isso, da mesma forma que os casais não desejavam muitos óbitos, também
o argumento de que as pessoas desejam ter muitos filhos, como se uma opção sub-
jectiva e individual se tratasse, tem pouco sentido.

5. Como bem referiu Reher (2004) a ideia segundo a qual, antes da transição demográ-
fica, as pessoas preferem grandes famílias, por perceberem a utilidade dos filhos na
economia familiar e, mais tarde, como seguro na velhice, é atractiva, mas reflecte mais

30
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

a realidade histórica contemporânea do que a antiga. No passado remoto, anterior à


transição demográfica, as famílias não eram muito grandes. As taxas de crescimento
populacional relativamente baixas, na generalidade do mundo, antes da transição de-
mográfica são a melhor prova de que, no passado, as famílias eram geralmente peque-
nas (Reher, 2004: 25). A falsa percepção do passado demográfico poderá derivar, em
parte da ignorância dos factos históricos mais remotos, mas por outro lado, da confu-
são entre o número de filhos nascidos e o número de filhos sobreviventes; estes nunca
foram muitos, na maioria da história da população humana (Reher, 2004: 25).

Do ponto de vista macro, tanto em termos demográficos como económicos, várias são as
características comuns aos países que se encontram na fase inicial ou atrasada da transição
demográfica, como é o caso de Moçambique: 1) As necessidades de consumo tendem a ex-
ceder a capacidade produtiva, reflectindo-se em altos níveis de pobreza; 2) A abundância de
crianças está intimamente relacionada com a estrutura populacional jovem, manifestando-
-se na elevada ocorrência de trabalho infantil. Como se indicou anteriormente, existem mais
de 1,3 milhões de crianças e adolescentes nas idades dos 7 aos 14 anos a contribuir para
a actividade produtiva familiar; um efectivo, como ilustra a Figura 5, bastante superior ao
efectivo de trabalhadores assalariados nos sectores privado e público; 3) Forte dependência
da exploração de recursos naturais e de capitais estrangeiros; 4) As mulheres precisam de
investir consideráveis recursos produtivos e em tempo na esfera da reprodução humana; 5)
Persistência da elevada fecundidade (ter muitos filhos), visto que os sistemas financeiros e de
protecção social modernos, mostram-se incapazes de substituir os antigos fluxos de riqueza
entre gerações e outros mecanismos de segurança social (Cain, 1981, 1983, Caldwell, 1976;
Francisco, 2010a, 2010c, 2010d; Lesthaeghe, 1980, 1989; Malmberg, 2008; Malmberg and
Sommestad, 2000; INE, 2002, 2009a, 2009b, 2009c; 2010; Robertson, 1991).

Figura 5: Trabalho infantil versus trabalho adulto assalariado nos sectores pri-
vado e público, Moçambique censo 2007
As (4
sa 3%
lar )

Sector Público,
iad

316.644
os

(13%)

Trabalho Infantil
Sector Privado,
(assalariado & outros),
708.550
1.332.630
(30%)
(57%)

Fonte: INE, 2010

31
Caderno IESE 10 | 2011

Ampliação da protecção social: oportunidades e desafios

Este artigo problematiza mais do que recomenda e prescreve, pela simples razão que o
assunto nele debatido necessita, primeiro que tudo, ser devidamente reconhecido, ana-
lisado e compreendido, de forma sistemática e aprofundada. Sem uma boa compreensão
da complexa dimensão e natureza da protecção social, no actual contexto moçambicano,
dificilmente se identificarão- soluções alternativas e mais efectivas do que as opções até
aqui implementadas.

À primeira vista, não parece difícil mobilizar simpatia e reconhecimento, ao nível do senso
comum, para o argumento fundamental apresentado neste trabalho, em torno da distin-
ção entre o domínio da protecção social demográfica e o domínio da protecção social fi-
nanceira. Mas numa segunda análise, será preciso admitir que a simpatia e reconhecimen-
to do senso comum nem sempre conduzem ao reconhecimento por parte do pensamento
mais elaborado, em termos académicos, políticos e operacionais. Esta dificuldade constitui,
de imediato, um dos desafios das ideias avançadas neste artigo, face ao escrutínio da crítica
e consideração da sua relevância e utilidade prática para uma visão mais realista e relevan-
te da protecção social moçambicana.

Procurar mobilizar entendimento e apoio ao nível das sensibilidades políticas e ideológicas


actualmente mais influentes, pode parecer uma perda de tempo. Enquanto assim aconte-
cer, talvez não seja perca de tempo se o assunto aqui debatido continuar a ser aprofunda-
do, reunindo evidências persuasivas e sistemáticas para uma compreensão da realidade
moçambicana, na esperança de que novas sensibilidades políticas, ideológicas e profissio-
nais brotem dos dissensos (ver Nota 8) que estão a emergir.

Quatro questões chave, com implicações teóricas e práticas importantes, merecem maior
aprofundamento no futuro, com vista a uma ampliação efectiva da protecção social em
Moçambique. As quatro questões estão intimamente ligadas aos pontos de vista expressos
nas secções anteriores.

Como são tomadas as decisões sobre a ampliação da protecção


social?

As decisões sobre a ampliação e consolidação da protecção social são tomadas, consciente


ou subconscientemente, em função da natureza e tipo de instituições ou regras de jogo
prevalecentes na sociedade. Enquanto certas decisões reflectem e são influenciadas, de
forma consciente e explícita, por abordagens políticas, ideológicas ou culturais específicas,
muitas outras decisões, escolhas e opções são o resultado de interesses e valores, cuja in-
fluência raramente é racionalizada pelos seus actores. Frequentemente, factores determi-

32
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

nantes da natureza demográfica da população, alguns dos quais foram referidos mas não
aprofundados neste trabalho, são apreendidos ou aprendidos pelas pessoas, ao longo da
vida, jogando um papel nos comportamentos e atitudes independentemente da vontade
individual das pessoas. Os processos de decisão são, por isso, complexos e de difícil deter-
minação, visto conjugarem factores objectivos e subjectivos, manifestados predominante-
mente de forma implícita e só raramente explicitamente.

A partir de 2007, o Governo moçambicano tem vindo a aprovar um conjunto de leis, re-
gulamentos, planos de acção, relevantes para o presente e futuro da protecção social em
Moçambique. No início de 2010 aprovou a proposta de estratégia nacional de segurança
social básica feita em 2009, e em Setembro, reagindo aos tumultos populares no início do
mês, introduziu subsídios dos preços supostamente temporários, em resposta à revolta
violenta contra o agravamento do custo de vida nas zonas urbanas (Moçambique, 2007a,
2007b, 2009a, 2009b; INE, 2009c; Quive, 2007; Recama, 2008).

Estes esforços, alguns dos quais são conjunturais e ad hoc mas outros têm implicações
estruturantes e de longo prazo, têm contribuído para a formação de um quadro jurídico de
protecção social que deixa muito a desejar, quando considerado num contexto mais amplo
da natureza demográfica, económica, social e organizacional do Estado em Moçambique. É
um quadro legal fragmentado e desarticulado, votado à sua sorte e principalmente depen-
dente da boa vontade de alguns funcionários públicos voluntariosos e da generosidade
dos seus parceiros internacionais.

A generalidade dos detentores do poder político, governantes e líderes da oposição, mos-


tram-se mais preocupados em ampliar e consolidar o controlo do poder político do que
compreender e contribuir para uma plataforma institucional saudável e harmonizadora da
diversidade de características da população. Questões relativas às implicações da actual
fase da transição demográfica moçambicana, seus ónus e bónus para o processo de cres-
cimento e desenvolvimento económico, incluindo as advertências de estudos académicos
sobre previsíveis riscos de tensão social associados à evolução demográfica, são frequente-
mente desvalorizadas ou ignoradas pelos líderes dos partidos. 22��

Quais os principais constrangimentos institucionais?

Um dos constrangimentos principais da protecção social diz respeito à carência de infra-


-estruturas institucionais e organizacionais, com destaque para infra-estruturas financeiras,
capazes de proporcionar uma plataforma de alternativas efectivas à dependência da ajuda


22
Não é por acaso que grande parte das políticas e estratégias nacionais - e.g. Agenda 2025, EDR (Estratégia
de Desenvolvimento Rural), 2007; ODMs (Objectivos de Desenvolvimento do Milénio) - revelam fraca
ligação e consistência com os planos de acções nacionais, sectoriais (e.g. PRSPs (Poverty Reduction
Strategy Papers)/PARPA (Plano e Acção para a Redução da Pobreza Absoluta, PES (Plano Económico e
Social) e projectos distritais e locais.

33
Caderno IESE 10 | 2011

internacional, no processo de transição dos antigos mecanismos de protecção social demo-


gráfica para os mecanismos modernos de protecção social financeira. Uma plataforma que
permita superar o paradoxo que caracteriza o actual sistema de protecção social moçambica-
no, nomeadamente, o facto da generalidade da oferta de recursos financeiros concentrar-se
num conjunto de entidades financeiras, extremamente limitado, enquanto a maior parte da
demanda, potencial e efectiva, da população permanecer completamente excluída dos siste-
mas financeiros em que se alicerçam os serviços de segurança e assistência social.

Enquanto nos países avançados da zona Euro os líderes políticos reagem com preocupação
e relutância à possibilidade de terem de recorrer à ajuda internacional de agências finan-
ceiras como o Banco Central Europeu (BCE) e o FMI, em Moçambique os governantes nem
olham com horror para a hipótese dos doadores virem a reduzir ou interromper totalmente
a ajuda ao Orçamento do Estado e sectores prioritários. O Governo moçambicano mostra-se
apostado numa estratégia pouco, para não dizer nada, preocupada com a falência crónica
económico-financeira em que o Estado moçambicano se encontra mergulhado há mais de
25 anos. Exemplo disso, para citar apenas um dos recentes, é fornecido pela visão expressa
pelo Ministério das Finanças (2010) relativamente à sustentabilidade da dívida pública de
Moçambique. Este documento, na sequência de outros que o antecederam (Ministério das
Finanças, 2008), combina pressupostos e indicadores macroeconómicos, da dívida interna e
externa e de possíveis novos financiamentos; simula e compara vários cenários alternativos
de sustentabilidade da dívida a longo prazo, num horizonte temporal compreendido entre
o presente e meados do corrente século XXI, com incidência para o período 2010 a 2030.
Segundo o Ministério das Finanças (2010: 16) “A política do Governo no que diz respeito à
mobilização de recursos externos, não privilegia a contratação de créditos não concessionais,
neste contexto o recurso a este tipo de financiamento será opcional”.

Depois da leitura deste importante documento governamental, percebe-se que o actual


Executivo não equaciona um cenário em que se recorra seriamente aos mercados finan-
ceiros, tanto nacionais como internacionais, com vista a inserir a economia moçambicana
na economia internacional, numa perspectiva de viabilidade efectiva, segundo critérios de
notações de crédito decente, num quadro institucional atractivo, transparente, inovador e
saudável, para merecer a confiança dos investidores. Em outras palavras, o Governo conti-
nua mais empenhado em privilegiar a mobilização de “dinheiro fácil” (donativos e subven-
ções altamente concessionadas), com todas as consequências que tal opção estratégica
acarreta para o modelo de desenvolvimento económico e alternativas de protecção social
a ele ligadas.

Não está claro se a opção pela dependência crónica acontece devido à fraca consciência das
suas implicações negativas para o desenvolvimento económico a longo prazo; ou se é uma
escolha consciente dos decisores políticos, mais preocupados em maximizar o controlo do
poder político e, tanto quanto for possível, capacitarem o poder económico dos actuais lí-
deres políticos e governantes. É sabido que a bancarrota do Estado e da economia nacional
não implica necessariamente que todos os agentes económicos se tornem insolventes. Pelo
contrário. Tanto no tempo da guerra civil como no subsequente período de paz, a situação

34
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

falimentar do Estado e da economia moçambicana sempre proporcionou oportunidades de


acumulação de riqueza, a certos grupos de interesses políticos e económicos.

Em Moçambique, os programas públicos de assistência social em curso, são implementa-


dos principalmente com recurso à ajuda internacional. Na ausência de melhor, não há dú-
vida que tais programas sociais proporcionam algum alívio a alguns grupos populacionais,
em necessidade de apoio urgente. No entanto, mesmo as acções conjunturais de alívio e
emergência, acabarão por produzir fraco impacto, se a nível macro e mais amplo, a ajuda
internacional estrutural servir para capacitar mais os já detentores do poder político e eco-
nómico do que os despossuidos e mais necessitados de ajuda.

Quais as principais oportunidades institucionais?

A maior oportunidade para o desenvolvimento de instituições favoráveis ao progresso,


tem sido proporcionada pela generosidade da comunidade internacional, ao doar e pro-
longar sua ajuda financeira e técnica a Moçambique. Apesar do balanço entre os custos e
benefícios da ajuda estrutural ser discutível, oportunidades não tem faltado. Por quanto
tempo e como irá a ajuda internacional continuar futuramente, não se sabe, mas uma coisa
está a tornar-se cada vez mais evidente – o Governo mostra-se profundamente apostado
em prologar o máximo possível a ajuda internacional (Ministério das Finanças, 2010).

O estágio actual da transição demográfica em Moçambique, como se refere ao longo deste


trabalho, gera importantes ónus demográficos, devido à debilitante taxa de dependência
da população, mas os bónus demográficos poderiam ser maiores, se algo de mais concreto
fosse feito nesse sentido. Algo de concreto ao nível das políticas públicas que contribuís-
sem para uma sociedade economicamente livre, tanto ao nível das liberdades negativas
como positivas (Francisco, 2010a).

Nas duas secções precedentes, apresentam-se evidências de que o ónus demográfico cau-
sado pela elevada taxa de dependência populacional poderá estar a ser minimizado, a ní-
vel rural, pelo facto das famílias recorrerem ao trabalho infantil e juvenil. Desconhece-se o
valor que representa o valor económico produzido pelos cerca de 1,3 milhões de crianças
e jovens dos sete aos catorze anos envolvidos na economia de subsistência. De qualquer
forma, o facto de este grupo etário, formalmente em idade pré-laboral, ser maior do que o
efectivo total de trabalhadores assalariados, nos sectores privado e público, justifica que se
pense no que isto representa em termos de protecção social real, ao nível das famílias mo-
çambicanas, sem qualquer ligação aos sistemas formais de segurança e assistência social.

Se a transição demográfica avançar rapidamente, nas próximas duas décadas, mais depres-
sa poderá alcançar-se o dividendo demográfico, referido no início deste texto. Permanece-
rá, todavia, a dúvida: será que a sociedade moçambicana está ou irá preparar-se para tirar
o melhor e maior proveito, do dividendo demográfico?

35
Caderno IESE 10 | 2011

Do ponto de vista do pensamento desejoso moçambicano não só irá, como tudo está sen-
do feito, para que depois não se diga que os moçambicanos foram apanhados de surpresa.
Em contra partida, do ponto de vista de um pensamento realista e crítico, a resposta a dúvi-
da anterior depende do tipo de instituições que prevalecerem – progressivas e produtivas
ou, pelo contrário, regressivas e extractivas/predadoras? A experiência passada não ofere-
ce motivos encorajadores, entre outras razões, porque persistiu no passado e continua a
persistir uma grande insensibilidade para com as características e consequências da actual
fase da transição demográfica moçambicana. Persiste uma grande indiferença para com as
advertências de estudos académicos, por exemplo, as consequências dos constrangimen-
tos institucionais aos efeitos da estrutura etária jovem da população, ao nível do mercado
de emprego e oportunidades de geração de renda, os quais poderão converter-se em fon-
te de tensões sociais, em vez de oportunidade de geração de riqueza e melhoria do padrão
de vida da maioria da população (Bloom et al., 2003; Cincotta et al., 2002; Francisco, 2010c).

Algumas áreas emergentes para consideração futura

A ampliação e consolidação da protecção social em Moçambique continuarão a ser forte-


mente condicionadas pela natureza do Estado e da totalidade da economia nacional do País,
mas não menos importante pelos factores objectivos referidos desde o início deste traba-
lho: a composição e estrutura etária da população moçambicana, elevada dependência da
economia de subsistência, do trabalho infantil e dos recursos naturais. Além disso, a actual
configuração institucional moçambicana, ao nível político e económico, tem favorecido o
desenvolvimento de formas precárias e predadoras de protecção social, através de meca-
nismos de dimensão macro, mas raramente reconhecidos como tal: 1) O papel da ajuda in-
ternacional tornou-se o garante de certas modalidades de segurança social que beneficiam
principalmente os trabalhadores do sector público urbano e das administrações públicas nas
províncias e distritos. Uma segurança precária e de curto prazo, visto depender dos recursos
canalizados para a Administração Pública, beneficiando o efectivo dos funcionários públicos,
através de remunerações complementares dos seus salários relativamente baixos; 2) O mo-
nopólio do Estado sobre os direitos de propriedade da terra, supostamente visando evitar
que a população rural fique exposta ao risco de insegurança fundiária, proporciona direitos
precários de uso e aproveitamento da terra, num quadro legal contraditório e avesso ao de-
senvolvimento de um mercado economicamente saudável e progressivo; 3) A fraca e inefi-
ciente articulação entre as políticas públicas nacionais, as prioridades fixadas pelos doadores
e as necessidades do mercado privado e da sociedade civil em geral.

Todavia, o que Moçambique mais necessita, e por enquanto pouco tem desenvolvido, é
um processo de transformação estrutural da economia e dos mecanismos institucionais
fomentadores de sistemas de protecção social viáveis e sustentáveis, capazes de comple-
mentarem e substituírem progressivamente os mecanismos antigos de PSD. A este nível,
o desenvolvimento de mecanismos modernos de PSF, assentes em sistemas financeiros

36
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

inclusivos e eficientes deveria ser uma prioridade, com vista a ampliar a segurança humana
mais digna, em termos de liberdade em relação à carência e ao medo, da prevenção e se-
guro contra a insegurança nas diferentes fases do ciclo da vida humana. Neste contexto, as
próprias iniciativas de protecção social poderiam ser convertidas em veículos de promoção
da inclusão institucional, tanto financeira como administrativa.

Se esta perspectiva de protecção social passasse a ser reconhecida pelos fazedores de polí-
ticas públicas, certamente que as políticas nacionais dar-lhe-iam um enquadramento mais
explícito e prioritário, com clara expressão em termos de despesas financeiras e fiscais,
bem como nas políticas de trabalho, de migração, de terras e de investimento, entre outras.

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44
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Outras Publicações do IESE

Livros
Desafios para Moçambique 2011 (2011)
Luís de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Sérgio Chichava e António Francisco (organizadores)
IESE: Maputo

Economia extractiva e desafios de industrialização em Moçambique – comunicações


apresentadas na II Conferência do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (2010)
Luís de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Sérgio Chichava e António Francisco (organizadores)
IESE: Maputo

Protecção social: abordagens, desafios e experiências para Moçambique – comunica-


ções apresentadas na II Conferência do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (2010)
Luís de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Sérgio Chichava e António Francisco (organizadores)
IESE: Maputo

Pobreza, desigualdade e vulnerabilidade em Moçambique – comunicações apresenta-


das na II Conferência do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (2010)
Luís de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Sérgio Chichava e António Francisco (organizadores)
IESE: Maputo.

Desafios para Moçambique 2010 (2009)


Luís de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Sérgio Chichava e António Francisco (organizadores)
IESE: Maputo

Cidadania e governação em Moçambique – comunicações apresentadas na Conferência


Inaugural do Instituto de Estudos Sociais e Económicos. (2009)
Luís de Brito, Carlos Castel-Branco, Sérgio Chichava e António Francisco (organizadores)
IESE: Maputo

Reflecting on economic questions – papers presented at the inaugural conference of the


Institute for Social and Economic Studies. (2009)
Luís de Brito, Carlos Castel-Branco, Sérgio Chichava and António Francisco (editors)
IESE: Maputo

Southern Africa and Challenges for Mozambique – papers presented at the inaugural
conference of the Institute for Social and Economic Studies. (2009)
Luís de Brito, Carlos Castel-Branco, Sérgio Chichava and António Francisco (editors)
IESE: Maputo

45
Caderno IESE 10 | 2011

Cadernos IESE
(Artigos produzidos por investigadores permanentes e associados do IESE. Esta colecção
substitui as séries “Working Papers” e “Discussion Papers”, que foram descontinuadas).

Cadernos IESE nº 9: Can Donors ‘Buy’ Better Governance? The political economy of budget
reforms in Mozambique. (2011)
Paolo de Renzio
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_09_Renzio.pdf

Cadernos IESE nº 8: Desafios da Mobilização de Recursos Domésticos – Revisão crítica do


debate. (2011)
Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_08_CNCB.pdf

Cadernos IESE nº 7: Dependência de Ajuda Externa, Acumulação e Ownership. (2011)


Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_07_CNCB.pdf

Cadernos IESE nº 6: Enquadramento Demográfico da Protecção Social em Moçambique)


António Francisco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_06_AF.pdf

Cadernos IESE nº 5: Estender a Cobertura da Protecção Social num Contexto de Alta Informali-
dade da Economia: necessário, desejável e possível? (2011)
Nuno Cunha e Ian Orton
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_05_Cunha&Orton.pdf

Cadernos IESE nº 4: Questions of Health and Inequality in Mozambique (2010)


Bridget O’Laughlin
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_04_Bridget.pdf

Cadernos IESE nº 3: Pobreza, Riqueza e Dependência em Moçambique: a propósito do lança-


mento de três livros do IESE (2010)
Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_03_CNCB.pdf

Cadernos IESE nº 2: Movimento Democrático de Moçambique: uma nova força política na


democracia moçambicana? (2010)
Sérgio Inácio Chichava
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_02_SC.pdf

Cadernos IESE nº 1: Economia Extractiva e desafios de industrialização em Moçambique (2010)


Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_01_CNCB.pdf

46
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Working Papers
(Artigos em processo de edição para publicação. Colecção descontinuada e substituída
pela série “Cadernos IESE”)

WP nº 1: Aid Dependency and Development: a Question of Ownership? A Critical View. (2008)


Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/AidDevelopmentOwnership.pdf

Discussion Papers
(Artigos em processo de desenvolvimento/debate. Colecção descontinuada e substituída
pela série “Cadernos IESE”)

DP nº 6: Recursos naturais, meio ambiente e crescimento económico sustentável em


Moçambique. (2009)
Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/DP_2009/DP_06.pdf

DP nº 5: Mozambique and China: from politics to business. (2008)


Sérgio Inácio Chichava
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/DP_05_MozambiqueChinaDPaper.pdf

DP nº 4: Uma Nota Sobre Voto, Abstenção e Fraude em Moçambique (2008)


Luís de Brito
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/DP_04_Uma_Nota_Sobre_o_Voto_
Abstencao_e_Fraude_em_Mocambique.pdf

DP nº 3: Desafios do Desenvolvimento Rural em Moçambique. (2008)


Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/DP_03_2008_Desafios_DesenvRural_
Mocambique.pdf

DP nº 2: Notas de Reflexão Sobre a “Revolução Verde”, contributo para um debate. (2008)


Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/Discussion_Paper2_Revolucao_Verde.pdf

DP nº 1: Por uma leitura sócio-historica da etnicidade em Moçambique (2008)


Sérgio Inácio Chichava
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/DP_01_ArtigoEtnicidade.pdf

IDeIAS
(Boletim que divulga resumos e conclusões de trabalhos de investigação)

Nº36: A problemática da protecção social e da epidemia do HIV-SIDA no livro Desafios para


Moçambique 2011 (2011)
António Francisco e Rosimina Ali
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_36.pdf

47
Caderno IESE 10 | 2011

Nº35P: Será que crescimento económico é sempre redutor da pobreza? Reflexões sobre a
experiência de Moçambique (2011)
Marc Wuyts
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_35P.pdf

Nº35E: Does economic growth always reduce poverty? Reflections on the Mozambican ex-
perience (2011)
Marc Wuyts
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_35E.pdf

Nº34: Pauperização Rural em Moçambique na 1ª Década do Século XXI (2011)


António Francisco e Simão Muhorro
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_34.pdf

Nº33: Em que Fase da Transição Demográfica está Moçambique? (2011)


António Francisco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_33.pdf

Nº 32: Protecção social financeira e protecção social demográfica: ter muitos filhos, princi-
pal forma de protecção social em Moçambique? (2010)
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_32.pdf

Nº 31: Probreza em Moçambique põe governo e seus parceiros entre a espada e a parede (2010)
António Francisco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_31.pdf

Nº 30: A dívida pública interna imobiliária em Moçambique: alternativa ao financiamento


do défice orçamental? (2010)
Fernanda Massarongo
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_30.pdf

Nº 29: Reflexões sobre a relação entre infra-estruturas e desenvolvimento (2010)


Carlos Uilson Muianga
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_29.pdf

Nº 28: Crescimento demográfico em Moçambique: passado, presente…que futuro? (2010)


António Francisco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_28.pdf

Nº 27: Sociedade civil e monitoria do orçamento público (2009)


Paolo de Renzio
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_27.pdf

Nº26: A Relatividade da Pobreza Absoluta e Segurança Social em Moçambique (2009)


António Francisco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_26.pdf

48
António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Nº 25: Quão Fiável é a Análise de Sustentabilidade da Dívida Externa de Moçambique? Uma


Análise Crítica dos Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Externa de Moçambique (2009)
Rogério Ossemane
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_25.pdf

Nº 24: Sociedade Civil em Moçambique e no Mundo (2009)


António Francisco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_24.pdf

Nº 23: Acumulação de Reservas Cambiais e Possíveis Custos derivados - Cenário em


Moçambique (2009)
Sofia Amarcy
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_23.pdf

Nº 22: Uma Análise Preliminar das Eleições de 2009 (2009)


Luis de Brito
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_22.pdf

Nº 21: Pequenos Provedores de Serviços e Remoção de Resíduos Sólidos em Maputo (2009)


Jeremy Grest
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_21.pdf

Nº 20: Sobre a Transparência Eleitoral (2009)


Luis de Brito
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_20.pdf

Nº 19: “O inimigo é o modelo”! Breve leitura do discurso político da Renamo (2009)


Sérgio Chichava
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_19.pdf

Nº 18: Reflexões sobre Parcerias Público-Privadas no Financiamento de Governos Locais


(2009)
Eduardo Jossias Nguenha
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_18.pdf

Nº 17: Estratégias individuais de sobrevivência de mendigos na cidade de Maputo: Enge-


nhosidade ou perpetuação da pobreza? (2009)
Emílio Dava
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_17.pdf

Nº 16: A Primeira Reforma Fiscal Autárquica em Moçambique (2009)


Eduardo Jossias Nguenha
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_16.pdf

Nº 15: Protecção Social no Contexto da Bazarconomia de Moçambique (2009)


António Francisco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_15.pdf

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Caderno IESE 10 | 2011

Nº 14: A Terra, o Desenvolvimento Comunitário e os Projectos de Exploração Mineira (2009)


Virgilio Cambaza
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_14.pdf

Nº 13: Moçambique: de uma economia de serviços a uma economia de renda (2009)


Luís de Brito
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_13.pdf

Nº 12: Armando Guebuza e a pobreza em Moçambique (2009)


Sérgio Inácio Chichava
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_12.pdf

Nº 11: Recursos Naturais, Meio Ambiente e Crescimento Sustentável (2009)


Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_11.pdf

Nº 10: Indústrias de Recursos Naturais e Desenvolvimento: Alguns Comentários (2009)


Carlos Nuno Castel-Branco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_10.pdf

Nº 9: Informação Estatística na Investigação: Contribuição da investigação e organizações


de investigação para a produção estatística (2009)
Rosimina Ali, Rogério Ossemane e Nelsa Massingue
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_9.pdf

Nº 8: Sobre os Votos Nulos (2009)


Luís de Brito
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_8.pdf

Nº 7: Informação Estatística na Investigação: Qualidade e Metodologia (2008)


Nelsa Massingue, Rosimina Ali e Rogério Ossemane
http://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_7.pdf

Nº 6: Sem Surpresas: Abstenção Continua Maior Força Política na Reserva em Moçambique…


Até Quando? (2008)
António Francisco
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_6.pdf

Nº 5: Beira - O fim da Renamo? (2008)


Luís de Brito
http://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_5.pdf

Nº 4: Informação Estatística Oficial em Moçambique: O Acesso à Informação, (2008)


Rogério Ossemane, Nelsa Massingue e Rosimina Ali
http://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_4.pdf

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António Francisco, Rosimina Ali e Yasfir Ibraimo | Segurança Humana Digna

Nº 3: Orçamento Participativo: um instrumento da democracia participativa (2008)


Sérgio Inácio Chichava
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_3.pdf

Nº 2: Uma Nota Sobre o Recenseamento Eleitoral (2008)


Luís de Brito
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_2.pdf

Nº 1: Conceptualização e Mapeamento da Pobreza (2008)


António Francisco e Rosimina Ali
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_1.pdf

Relatórios de Investigação
Moçambique: Avaliação independente do desempenho dos PAP em 2009 e tendências de
desempenho no período 2004-2009 (2010)
Carlos Nuno Castel-Branco, Rogério Ossemane e Sofia Amarcy
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/2010/PAP_2009_v1.pdf

Current situation of Mozambican private sector development programs and implications


for Japan’s economic cooperation – case study of Nampula province (2010)
Carlos Nuno Castel-Branco, Nelsa Massingue and Rogério Ossemane

Mozambique Independent Review of PAF’s Performance in 2008 and Trends in PAP’s Perfor-
mance over the Period 2004-2008. (2009)
Carlos Nuno Castel-Branco, Rogério Ossemane, Nelsa Massingue and Rosimina Ali.
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/PAPs_2008_eng.pdf
(também disponível em versão em língua Portuguesa no link http://www.iese.ac.mz/lib/
publication/outras/PAPs_2008_port.pdf ).

Mozambique Programme Aid Partners Performance Review 2007 (2008)


Carlos Nuno Castel-Branco, Carlos Vicente and Nelsa Massingue
http://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/PAPs_PAF_2007.pdf

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