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EBOOKERELIP
EBOOKERELIP
APENAS TRÊS...
Discussões temáticas em língua,
literatura e ensino
2021
1
COPYRIGHT 2021 © EDMILSON JOSÉ DE SÁ
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa dos
autores e organizadores. Por se tratar de uma publicação de artigos oriundos de
autores diversos, o organizador e a editora isentam-se de qualquer responsabilidade
autoral de conteúdo, ficando a cargo do autor de cada artigo tal responsabilidade.
Editora Kandarus
REVISÃO
Os autores
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN: 978-65-00-27866-8
CDD 410
2
COMISSÃO CIENTÍFICA
3
APRESENTAÇÃO
Edmilson José de Sá
(organizador)
4
SUMÁRIO
5
JARGÃO NO AUTISMO: ANÁLISE DA CONCEPÇÃO ADOTADA EM ARTIGOS 259
CIENTÍFICOS
William Berg Lima da Silva
Renata Fonseca Lima da Fonte
“ONDE É QUE BOTO MORA?”: UM ESTUDO SOBRE A LINGUAGEM NO CONTO 272
O BAILE DO JUDEU (1893), DE INGLÊS DE SOUSA
Kauanne Laryse da Costa Oliveira
Rebeca Freire Furtado
POEGRITO: CARLOS DE ASSUMPÇÃO 289
Sandro Adriano da Silva
OS NÍVEIS INTERNOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM ANÚNCIOS 308
PUBLICITÁRIOS
Thalia Cristina Serafim de Campos
Vanessa Aparecida Duarte Almeida
Vera Maria Ramos Pinto
DEBATES DA INTERNET: A ACEITAÇÃO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA 328
REGIONAL NO TWITTER
Lídya Rafaella da Silva Morais
A RELAÇÃO ENTRE A GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS, AS VARIAÇÕES 346
LINGUÍSTICAS E A BOA ESCRITA NA MODERNIDADE
Melissa Mourão Amaral
Lucas Cristiano Ferreira Alves
O USO DO AVEA MOODLE NA EXECUÇÃO DO PROJETO DE ENSINO “NO 362
MEIO DO CAMINHO TEM O ENEM: OFICINAS PREPARATÓRIAS PARA EXAMES
DE INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR”
Flávia Zanatta
Mateus Freitas Charloto
GEOSSOCIOLINGUÍSTICA E ENSINO: A VARIAÇÃO POPULAR EM SALA DE 383
AULA
Thiago Leonardo Ribeiro
Vera Maria Ramos Pinto
O LUGAR DA SOCIOLINGUÍSTICA NA BNCC: O COMPONENTE CURRICULAR 403
DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ETAPA DO ENSINO MÉDIO
Vera Maria Ramos Pinto
Sara Nicacia de Souza
EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS MULTIMODAIS NO ENSINO DE LÍNGUA 416
PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO BÁSICA NO CONTEXTO DE ENSINO REMOTO
Eider Ferreira Santos
A ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DE INTRODUÇÕES DE ARTIGOS CIENTÍFICOS EM 433
LINGUÍSTICA
Penelope de Moura Lopes
Benedito Gomes Bezerra
A ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DE INTRODUÇÕES DE ARTIGOS CIENTÍFICOS EM 445
LINGUÍSTICA E LITERATURA
Maria Carolina Cordeiro Pessoa Bezerra
Benedito Gomes Bezerra
INVESTIGAÇÃO SOBRE ABORDAGENS ACADÊMICAS A RESPEITO DA 466
AQUISIÇÃO DA LIBRAS TÁTIL POR CRIANÇAS SURDOCEGAS CONGÊNITAS
Émile Assis Miranda Oliveira
Adriana Stella Cardoso Lessa-de-Oliveira
6
CONTRIBUIÇÕES DAS GRAMÁTICAS FUNCIONAL E GERATIVA NO TRABALHO 482
COM DOIS EIXOS DO COMPONENTE LÍNGUA PORTUGUESA NA BASE
NACIONAL COMUM CURRICULAR
Cindy Mery Gavioli-Prestes
Cláudia Maris Tullio
FENÔMENOS LINGUÍSTICOS EM VARIAÇÃO: A SOCIOLINGUÍSTICA 503
EDUCACIONAL E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Emily Fernandes Faber
Vera Maria Ramos Pinto
A LITERATURA ORAL DAS LOAS DO MARACATU RURAL COMO ESTRATÉGIA 525
PARA A AMPLIAÇÃO DO LETRAMENTO LITERÁRIO DE ESTUDANTES DA 4ª FASE
DA EJA.
Joseane do Nascimento Rocha
Josivaldo Custódio da Silva
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS: UMA ANÁLISE A PARTIR 546
DO GÊNERO TEXTUAL RESENHA
Sarah Ribeiro
Romário Duarte Sanches
PERCEPÇÃO DE UMA COMUNIDADE ACERCA DO DISCURSO 560
COLONIZADOR
Ana Maria Barbosa Jorge
A APRENDIZAGEM CRIATIVA EM AULAS PARTICULARES DE LÍNGUA 578
PORTUGUESA PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL-ANOS FINAIS: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Jônatas Miranda Amaral
O USO DO SOFTWARE ANTCONC NA PESQUISA EM TERMINOLOGIA: 596
APLICAÇÕES DA FERRAMENTA NA SELEÇÃO E ANÁLISE DE CANDIDATAS A
TERMO DA ÁREA DA GESTÃO ESCOLAR
Claudiuscia Mendes do Carmo
ENSINO DE LITERATURA NO FUNDAMENTAL II: UMA EXPERIÊNCIA DE PRÁTICA 616
LITERÁRIA
Lucas Evangelista Saraiva Araújo
Antônia Eduarda Trindade
TIPOLOGIA DE PERGUNTAS EM ATIVIDADES DE LEITURA PRODUZIDAS NO 630
CONTEXTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Bidamatcha Na Mam
Maria de Lurdes Nazário
ANÁLISE DE QUESTÕES DO PAVE E REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE 649
PORTUGUÊS NO ENSINO BÁSICO
Camila Martins Vellar
Paula Fernanda Eick Cardoso
O CÂNONE E A INSTITUIÇÃO LITERÁRIA: CAMINHOS PARA CONSTRUÇÃO 669
CANÔNICA EM AMOR DE PERDIÇÃO DE CAMILO CASTELO BRANCO
Helen Suzandrey Maia Sousa
CAPOEIRA: LUGAR DE RESISTÊNCIA E MEMÓRIA 685
Ivalda Kimberlly Santos Portela
Magno Santos Batista
A POÉTICA DO VAZIO EM “EIS A NOITE”, DE JOÃO ALPHONSUS 703
Cilene Margarete Pereira
EDUCAÇÃO LITERÁRIA E O ENSINO 717
Larissa Mendes Rosa
7
Lucilo Antonio Rodrigues
8
INTENCIONALIDADE, LITERATURA E CRIATIVIDADE: REFLEXÕES PERTINENTES À 972
FORMAÇÃO DE LEITORES
Igor D’ Aguiar Siqueira de Lemos
Renato Nésio Suttana
A REPRESENTAÇÃO DA PROSTITUTA NA LITERATURA BRASILEIRA DO SÉCULO 987
XX.
Jefferson Gomes Oliveira
Rafaela Cristina Araújo Dos Santos
Venúzia Maria Gonçalves Belo
JOÃO GILBERTO NOLL E A IDENTIDADE DO SUJEITO PROTAGONISTA DO 1005
CONTO MARABÁ DO LIVRO A MÁQUINA DE SER
Carmelinda Carla Carvalho e Silva
USO DE APLICATIVO PARA AUXILIAR NO DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E 1020
DA ESCRITA DOS EDUCANDOS COM DISLEXIA
José Wellington Macêdo Viana
Thais Faustino Bezerra
A ESCRITA ORTOGRÁFICA DE CANDIDATOS DO ENEM: UM ESTUDO 1035
REFLEXIVO
Luíza Vignoli Lacerda
Ana Luiza de Souza Couto
Daniela Mara Lima Oliveira Guimarães
LITERATURA DE MULHERES NEGRAS: ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA COM 1059
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO
Aparecida Dias Terras Gomes
Roselita Soares de Faria
JOGOS VORAZES: UM FUTURO DISTÓPICO COM REFLEXOS DE UM PASSADO 1077
OBSCURO
Lucas Santos de Assis
Moisés Monteiro de Melo Neto
FIGURAÇÕES DA MUSA NA LÍRICA DE MURILO MENDES 1099
Luciano Marcos Dias Cavalcanti
O USO DE ELEMENTOS DE TEXTUALIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE 1113
ALUNOS DO PROJETO DE EXTENSÃO “LETRAMENTOS ACADÊMICOS”
Mara Silva dos Santos
Romário Duarte Sanches
O RACISMO E O LUCRO NO DISCURSO MIDIÁTICO: UMA INVESTIGAÇÃO 1131
SOBRE O ENUNCIADO “ARBEIT MACHT FREI” EM CAMISAS DE LOJAS VIRTUAIS
Marcos Alexandre Fernandes Rodrigues
A DISCIPLINA DE LITERATURA MARANHENSE NA GRADUAÇÃO: MEMÓRIAS E 1147
EXPERIÊNCIAS DE ESTUDANTES NO ENSINO REMOTO
Marcos Antônio Fernandes dos Santos
RIOS DE MEMÓRIAS EM OLHOS D’ÁGUA 1164
Meire Oliveira Silva
MEMES E CIÊNCIA: UMA INVESTIGAÇÃO HODIERNA - RECORTE LINGUÍSTICO 1178
Isabella Tavares Sozza Moraes
Janderson Lacerda Teixeira
MORANGOS MOFADOS DE CAIO FERNANDO ABREU: UM LEITURA PLURAL 1196
DAS IDENTIDADES DOS PROTAGONISTAS
Carmelinda Carla Carvalho e Silva
9
TRANSPOSIÇÃO MIDIÁTICA: O AUTO DA COMPADECIDA DE ARIANO 1218
SUASSUNA ADAPTADO PARA O CINEMA
Carmelinda Carla Carvalho e Silva
O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA: POLÍTICAS PÚBLICAS E 1235
FORMAÇÃO DOCENTE
Luzicréia do Carmo Oliveira Souza
José Antonio de Souza
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NAS AULAS DE LÍNGUA 1255
PORTUGUESA NO RECIFE: UMA ANÁLISE DO CONTEÚDO DOS GÊNEROS
TEXTUAIS
Odailta Alves Silva
REESCRITURA DA AMAZÔNIA ATRAVÉS DA SOBREVIDA DE ALFREDO NO 1271
CICLO DO EXTREMO NORTE DO ESCRITOR DALCÍDIO JURANDIR
Helen Suzandrey Maia Sousa
É UMA RAINHA E PARECE MENDIGA: A CARACTERIZAÇÃO DA IMAGEM 1288
FEMININA NO POEMA “UMA NORDESTINA”, DE FERREIRA GULLAR
Rian Lucas da Silva
Golbery de Oliveira Chagas Aguiar Rodrigues
RODAS DE LEITURAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA POSSÍVEL 1303
Carmelinda Carla Carvalho e Silva
REBENTOS LIBIDINAIS; BANQUETE DE CORPOS: A SUBERSÃO HISTÉRICA EM A 1317
CASA DOS BUDAS DITOSOS, DE JOÃO UBALDO RIBEIRO
Silvio Tony Santos de Oliveira
Hermano de França Rodrigues
ERRÂNCIAS ERÓTICAS; ITINERÁRIOS ESPECULARES:(RE)LEITURAS DA 1336
SUBJETIVAÇÃO DO EU NO MITO DE NARCISO
Silvio Tony Santos de Oliveira
Hermano de França Rodrigues
TERMINOLOGIA E TERMINOGRAFIA: UMA INCURSÃO AS BASES TEÓRICAS E 1360
METODOLÓGICAS
Rejane Umbelina Garcez Santos de Oliveira
Paulo Santiago de Sousa
TERTÚLIA LITERÁRIA DIGITAL E COLETIVA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA 1385
ESCOLAR PELO VIÉS FREIRIANO
Aparecida Dias Terras Gomes
Roselita Soares de Faria
UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A NOÇÃO TEMPORAL EM A HORA DA 1401
ESTRELA O PERÍODO PANDÊMICO: COMO OS DIAS PASSAM A PARTIR DA
MONOTONIA
Brenda Pereira dos Santos
Igor Rocha Camargo
UMA NARRATIVA PIAUIENSE: DESVENDANDO A ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA 1420
DO ROMANCE “VIDA GEMIDA EM SAMBAMBAIA”, DE FONTES IBIAPINA
Luis Felipe da Silva Castelo Branco
A ARGUMENTAÇÃO EM RESENHAS DA REDE SOCIAL SKOOB: UM ESTUDO 1445
SOBRE A FUNÇÃO DO OPERADOR ‘MAS’
Jônatas Miranda Amaral
10
UM EU EM INCOMPLETUDE: MEMÓRIAS DO EU RASURADO EM
PONCIÁ VICÊNCIO
RESUMO: Este artigo tem como objetivo, analisar o romance afro-brasileiro Ponciá Vicêncio
(2003), da escritora contemporânea Conceição Evaristo. Nosso intento é examinar a
trajetória da protagonista, refletindo sobre como se dá a construção da identidade
afrodescendente dentro desse texto, tal-qualmente, busca-se investigar como a
ancestralidade africana reflete na vida dessa personagem de mesmo nome do romance.
Evidenciaremos, ainda, como a escritora Conceição Evaristo configura em sua obra a
presença do pungente aspecto, que é de suma importância no que tange à produção de
textos literários, a saber a memória, acautelando que é notável a presença do elemento
supramencionado, constituindo a estrutura dos textos e permeia toda a sua produção
literária dessa escritora. A aspiração em redigir a presente análise, parte da premissa de que
este é um romance atual, em termos de tema abordado, inserido na realidade étnico-racial
brasileira e surge de uma ótica que por muito tempo foi silenciada e ocultada da história e
da cena literária. Logo, ele aparece desmitificando determinadas cristalizações no âmbito
da Literatura Brasileira, resultantes de um discurso dominante que foi reiterado no mito da
democracia racial, portanto, aqui será esquadrinhado questões que circundam a diegese
do romance, entre elas: processo inconcluso do negro nos diversos campos da sociedade,
as mazelas que a mulher negra encontra no meio social, o trabalho em condições de
semiescravidão, o analfabetismo, a violência doméstica e o preconceito de raça e gênero.
Os aportes teóricos basilares deste trabalho estão sob a égide dos estudos de Bosi (1979),
Halbwachs (2006), Gallagher (2009) e Dionísio (2013).
INTRODUÇÃO
11
Federal daquele estado, depois fez mestrado em Literatura pela
Universidade Pontifícia Católica/RJ e em seguida, doutorado também em
Literatura pela Universidade Federal Fluminense de Rio de Janeiro. Estreou no
campo literário nos anos de 1990, especificamente na série intitulada
Cadernos Negros, publicação lançada em 1978, organizada pelo grupo
Quilombhoje. A partir de então, a autora Conceição Evaristo, como se tornou
conhecida, vem trilhando o caminho de uma escritora versátil, que transita
pela esfera de diversos gêneros, tais como poesia, romances, contos e
ensaios.
12
perscrutado nesta análise; romance em que a narradora revela a riqueza do
universo afro-brasileiro, desvendado na literatura brasileira.
Ao adentrar em uma obra dessa escritora mineira, é fácil notar que ela
se faz de porta-voz da população negra, característica que reforça a
importância que o saber da experiência atinge na produção da autora. Ela
faz, com efeito, transparecer tanto a sua preocupação diante dos
problemas sociais, como a valorização da cultura popular e dos
acontecimentos que se referem à negritude, a partir de um olhar de dentro
ela dialoga com a tradição africana, transitando entre a escrita e a
oralidade, fala com propriedade e de uma forma bem poética sobre a vida
cotidiana do povo afro-brasileiro; esta autenticidade lhe é conferida por
abordar uma realidade que ela conhece muito bem, o espaço de
subalternidade, gerido por preconceitos e estereótipos, Evaristo faz de seu
texto literário, “instrumento de modificação de seu status social e político”
(SOUZA, 2010, p. 213).
13
relacionado à história dos africanos nas Américas, e no romance Ponciá
Vicêncio, a trajetória da protagonista se dá exatamente deste fundo
histórico, particularizando a identidade da personagem.
14
“travessia”, uma trajetória que aponta, desde o início, para referenciais aos
ancestrais negros que foram submetidos à travessia do Atlântico Negro
(GILROY, 2012).
15
africana que não se abandona, Duarte (2011, p. 231) aponta: "se mescla de
forma tensa passado e presente, recordação e devaneio", essa herança da
raiz africana é conhecida na medida em que avança a narrativa.
16
diretamente no rememorar do indivíduo. A imagem do espaço, Vila Vicêncio,
torna-se uma via contribuinte que ajuda a evocar o passado, trazendo-o ao
presente da personagem. Dessa ideia de espaço, salta-se outra questão que
nos auxilia a compreender a trajetória de Ponciá e de seu reconhecimento
pessoal, de seu status quo. Na medida em surgem fragmentos que denotam
características negativas sobre as vivências no vilarejo: atraso, exclusão e
subordinação, comumente, constrói-se um outro discurso, esse segundo será
sobre o espaço urbano, “A cidade era mesmo melhor do que a roça”
(EVARISTO, 2003, p. 70).
17
lembranças sejam acionadas. No movimento diaspórico ou no âmbito de
migrações, pode-se observar esse processo, na medida em que o migrante
retorna ao seu antigo lugar e percebe os “rastros” do passado. Paul Little
(1994) reconhece que a memória pode ser a possibilidade de “[...] se
apoderar do espaço perdido”. Little argumenta que há um risco contido
nessa “apoderação” do passado, segundo ele isso resultaria em dois
processos: no primeiro caso, esse retorno memorialístico não passa de uma
saudade e desejo de recuo para aquele lugar de onde veio; e o outro caso
seria o reconhecimento da necessidade de constituir, outras identidades a
partir do novo local em que se encontra.
18
(1979, p. 14) descreve, em seu livro Memória e Sociedade, a substância social
da memória, afirmando: “A memória do indivíduo depende do seu
relacionamento com a família, com a classe social, com a escola, com a
Igreja, com a profissão; enfim, com os grupos de convívio e os grupos de
referência peculiares a esse indivíduo”.
19
Foram três dias e três noites de viagem até chegar à cidade, tendo
apenas a esperança como bilhete de passagem, Alfredo Bosi, em Dialética
da Colonização (1992), tece um comentário um tanto profético sobre a
trajetória da população negra: “O destino do povo africano, cumprido
através dos milênios, depende de um evento único, remoto, mas irreversível:
a maldição de Cam, de seu filho Canaã e de todos os seus descendentes. O
povo africano será negro e será escravo: eis tudo.” (p. 256). Essa afirmação
nos leva à protagonista Ponciá que herda de sua estirpe, a cor negra, basta
para que triunfe o castigo por uma culpa remota, mas que persiste ao longo
da história. E por que não dizer que ao fazer a grande passagem (campo-
cidade), a protagonista estava fazendo perpetuar as marcas da diáspora e
as histórias do navio negreiro, e que sua vida, estaria aliada ao lamentável
comentário preposto acima.
20
rodava no vazio, ela vazia se sentia sem nome. Sentia-se ninguém.
(EVARISTO, 2017, p. 18).
21
meio da vivência, desde deixar o analfabetismo até a luta cotidiana por
melhores condições de vida.
22
de subalternidade. Nessa condição, Ponciá descarta a possibilidade de ter
condições de criar um filho, e se conforma dizendo que a vida para os negros
é difícil, dolorosa, a narradora sutilmente deixa entrever que a preocupação
da moça não era uma aflição de uma mãe qualquer, mas sim de uma negra
que teme criar um filho e ele, servir de matéria e número nos índices de
criminalidade que se alavancam a cada dia na sociedade brasileira.
Outrossim, a condição precária em que ela vivia também era questão a se
pensar no momento de dar um filho, e essa é também uma representação
da trágica condição de pobreza resultante do processo escravocrata
colonial e da ausência histórica de políticas públicas que poderiam
ocasionar a efetiva emancipação das pessoas escravizadas e de seus
descendentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
23
como um todo, e em seu estado miserável de subalternidade, ela representa
grande parte das mulheres negras do Brasil, que bradam pela sobrevivência,
resgatam e reinventam a própria identidade.
24
REFERÊNCIAS
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. 3. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1979.
CUTI, [Luís Silva]. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo negro, 2010.
25
GALLAGHER, Catherine. “Ficção”. In: MORETTI, Franco (org.). A cultura do
romance. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Cosac Naif, 2009, p. 629-658.
26
AFRICANISMOS NO MARACATU DE ASCENSO FERREIRA
1 INTRODUÇÃO
27
Nossa pesquisa estará calcada nos postulados de Nei Lopes (2006),
Yeda Pessoa de Castro (2002 e 2005), Cunha-Henckel (2005); Lélia Gonzalez
(1984); Mendonça (1934) e Raimundo (1934). Gonzalez analisa a influência
africana no português popular do Brasil e constata que “aquilo que chamo
de ‘pretoguês’ e que nada mais é do que marca de africanização no
português falado no Brasil”. Castro, além de mostrar a presença de palavras
de origem africana no vocabulário baiano e brasileiro, fornece-nos um
estudo bastante aprofundado sobre o percurso histórico dessa influência;
Henckel desenvolve pesquisas sociolinguísticas dos Africanos no Brasil a fim
de respaldar seu estudo sobre a presença de africanismos na obra de José
Lins do Rego; e Mendonça pontua a influência africana em diversas áreas
do português do Brasil.
28
2 METODOLOGIA E REFERENCIAL TEÓRICO
29
A data inicial do tráfico de pessoas africanas para o Brasil, assim como
o exato número de negras e negros trazidos para o nosso país no período da
escravidão, é imprecisa, uma vez que, em 1891, os arquivos da escravidão
foram queimados, sob a ordem do Ministério da Fazenda, destruindo assim a
maioria dos dados oficiais sobre a quantidade de negros trazidos no período
do tráfico transatlântico - do século XVI ao século XIX e também ressalta-se o
fato de muitas pessoas escravizadas terem entrado no Brasil de maneira ilegal
após a proibição do tráfico. Dessa forma, o número varia de acordo com o
pesquisador: Castro (p. 01), no artigo Das línguas africanas ao português
brasileiro, calcula entre quatro/cinco milhões, já Cardoso e Cunha (1970, p.
243) estimam que o número chegue a sete milhões. Com toda essa
quantidade de pessoas africanas trazidas para o Brasil, não deveria
surpreender a grande influência que as línguas desses povos exerceram no
português, entretanto, esse fenômeno ainda é algo ignorado da maioria e
menosprezado por outros. A antropóloga Lélia Gonzalez critica essa postura
discriminatória e apresenta-nos alguns elementos das línguas africanas que
influenciaram os nossos falares populares no Brasil:
30
a) o domínio banto, toda a extensão abaixo da linha do Equador,
englobando os seguintes países: Camarões, Gabão, Congo-Brazaville,
Congo-Dinshasa, Angola, Namíbia, África do Sul, Zâmbia, Botsuana,
Uganda, Ruanda, Burundi, Moçanbique, Tanzânia, Zâmbia, Botsuana,
Uganda, Ruanda, Burundi, Moçambique, Tanzânia, Zimbábue, Quênia,
Lesoto, Malavi;
b) a África Ocidental, que vai do Senegal à Nigéria, no Golfo de Benim,
compreendo, geograficamente, além desses dois países, Gâmbia,
Guiné-Bissau, Guiné Gonakry, Serra Leoa, Libéria, Burquina-Fasso,
Costa do Marfim, Gana, Togo e Benim.
31
conhecida na Europa e a primeira a ser escrita e estudada pelos missionários
portugueses que evangelizaram o reino de Angola nos séculos XV e XVI”
(HENCKEL, P. 46). O quimbundo foi a língua que exerceu maior influência no
português do Brasil, inclusive no Estado de Pernambuco. Na região central
de Angola, o tráfico teve início no século XVII, após a decadência do Reino
do Congo.
32
Em 1630, a indústria açucareira em Pernambuco estava no auge.
Havia cerca de 140 engenhos espalhados desde Alagoas até a
Paraíba. Os senhores de engenho viviam no luxo e possuíam muitos
escravos. A população já passava de 3.000 pessoas, sem contar com
os escravos índios e negros.
33
função da predominância banto (e não nagô) na época do tráfico,
representa apenas 0,16% da população pesquisada, ficando muito aquém
do Estado da Bahia, local onde as religiões afro-brasileiras predominam.
34
mesmo radical banto: “xingamento”, “bunda-mole”, “esmolambado”,
“sambista”, “quitandeiro”, “caçulinha”, “zabumbeiro”.
A força das línguas africanas foi tão grande que verificamos casos de
palavras portuguesas que, deixadas de lado, foram substituídas por termos
africanos de sentido equivalente, introduzidos na língua. Em Pernambuco,
constatamos uma divisão nesse processo de substituição: algumas foram
plenamente substituídas, tornando-se arcaísmos portugueses, independente
de classe social e de escolaridade, essas palavras não circulam em nenhum
contexto do Estado: “giba”, “benjamim” “óleo-palma”, “sinete”, em seus
lugares, utilizamos os africanismos: “corcunda”, “caçula”, “dendê” e
“carimbo”, respectivamente. Por outro lado, algumas substituições
ocorreram apenas na linguagem informal, não chegando ao nível de
arcaísmos portugueses, uma vez que ainda são utilizadas em situações
formais, é o caso de: “nádegas”, “vespa” e “aguardente”; popularmente
conhecidos por: “bunda”, “marimbondo” e “cachaça”.
35
se e começa a escrever para os jornais da cidade. Publica também Catimbó
e Cana Caiana.
36
mais a voz de Ascenso e também não adquirimos o hábito de ler as poesias
desse grande autor.
37
muitos dos poemas presentes contemplam o universo negro, a cultura e
religiosidade dessa raça.
38
no período carnavalesco, desfilam por todo o Estado. O Maracatu Rural mais
antigo do Estado é Cambinda Brasileira, fundado em 1898, ainda
permanece na sede de origem, Engenho do Cumbi, Nazaré da Mata.
Zabumbas de bombos
Estouros de bombas
Batuques de ingonos
Cantigas de banzo
Rangir de ganzás
39
mbumba, bater. A acepção de pancada” (p. 227). No texto, Ascenso lista
vários instrumentos de uso africano e cria uma cadência poética. Por se
tratar de um instrumento também muito utilizado em outros ritmos
pernambucanos (forró e afoxé, por exemplo), a palavra zabumba e seus
derivados circulam com muita freqüência entre os moradores do Estado:
“zabumbeiro” (tocador de zabumba), “zabumbar” (tocar zabumba),
“zabumbada” (ato ou efeito de zabumbar).
40
expressão quimbunda bu-atuka (onde se salta ou se pinoteia)”.
Raymundo (1933:106) escreve: ‘É bailado originário de Angola e do
Congo, mas, em que pese a opinião do Cardela Saraiva, não lhe
chamavam os negros batuque, mas os portugueses; a dança é feita
com cantos em que entra a expressão kubat’ uku, nesta casa aqui.
Daí proveio batucu, alterado em batucum e batecu, já por influência
do verbo português bater.” Cf., no quimbundo, o verbo tuka, saltar.
Teríamos, então, uma etimologia para a dança, outra para o ato de
percutir o tambor?
BANZO [1], s.m. (1) Nostalgia mortal que acometia negros africanos
escravizados no Brasil./// (2) adj. Triste, abatido, pensativo. (3)
Surpreendido, pasmado; sem jeito, sem graça (BH). Do quincongo
41
mbanzu, pensamento, lembrança; ou do quimbuno mbonzo,
saudade, paixão, mágoa.
42
maracatus, afoxés, terreiros de umbanda ou candomblé e nos versos de
escritores como Ascenso Ferreira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
43
número de palavras de origem africana. Esse fator foi determinante para a
escolha da obra desse autor como corpus da nossa pesquisa.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Roberto. A África está em nós. João Pessoa: Editora Grafset, 2004.
44
CASTRO, Yeda Pessoa de. Influência da línguas africanas no português
brasileiro. Disponível em :
http//www.smec.salvador.ba.gov.br/documento/línguas-africanas.pdf
Acesso em ago. 2010.
LOPES, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.
ANEXO:
Zabumbas de bombos,
estouros de bombas,
batuques de ingonos,
cantigas de banzo,
45
rangir de ganzás...
As luas crescentes
de espelhos luzentes,
colares e pentes,
queixares e dentes
de maracajás...
A balsa no rio
cai no corrupio,
(1988, p. 28)
46
APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA: REPRESENTAÇÕES
CULTURAIS HISTÓRICAS DA ADOLESCENTE MÃE EM
DOCUMENTÁRIOS DO YOUTUBE
47
INTRODUÇÃO
48
de olhar central para o sujeito desta pesquisa (AM), gravados em momentos
sócio históricos estanques, seus enunciados ora podem se assemelhar, ora
distinguir-se.
49
tempo a hostilizaria, por escancarar para os outros, aquilo que é tido como
tabu, a sexualidade e seu possível fruto, a maternidade.
Entretanto, existe uma fronteira virtual que pode vir a separar o sujeito
adolescente mãe deste enunciado da Lei de proteção ao adolescente. Os
documentários aqui a serem problematizados nos permitirão (ou não) a visão
da realidade social, das mazelas fronteiriças em que o sujeito adolescente
mãe, no campo das possibilidades, se encontraria e resistira.
50
defende que a fase da adolescência é a quarta fase, é o final do
crescimento, que se encerra, ao contrário do que a lei do Estado prevê, aos
vinte anos de idade, logo, a fase adulta se inicia a partir dos vinte e um anos
de idade, compreendida pela autora como a “fase da maturidade”. É na
fase da adolescência que a puberdade eclode, os órgãos genitais maturam,
o prazer e o desejo sexual manifestam-se na adolescência, “além das
modificações físicas, ocorrem também as comportamentais”. Surgem “os
relacionamentos afetivos, o ficar e o namorar” que podem significar, para o
adolescente, “um caminho seguro pra o desenvolvimento afetivo e aquisição de
autonomia psíquica” . Ainda segundo Moreira é da infância a adolescência, que
“o individuo amplia as suas habilidades através de progressos físicos e mentais que
levam a maturidade”(MOREIRA, 2011.p.121).
51
Ocidente; a aderência gradativa de mulheres aos componentes
tecnológicos capazes de assegurar o exercício da sexualidade na
independência das áreas da maternidade e a participação de jovens nas
lutas feministas.
52
Desconstruir e romper com as proposições e significações identitárias
estabelecidas pela hegemonia como reais, não implicam em novas
descobertas e sim em um novo regime no discurso e no saber. Assim, por
meio desta análise, questionaremos os saberes que compõem o regime
hegemônico, tidos como naturalizados, no que concerne às significações
que cerceiam o sujeito adolescente mãe, nos importando aqui, em como
pode funcionar esse processo, supostamente agonístico e desconfortável,
que essa adolescente mãe enfrenta, e, as possíveis práticas de inclusão e
exclusão por não ser nem isso (criança), e nem aquilo (mulher madura).
53
sistema geral da formação e da produção dos enunciados, do
funcionamento destes. Permitindo assim a produção e a multiplicidade de
enunciados que, por meio da Lingua(gem) podem surgir a partir deles.
54
A política da verdade (FOUCAULT, 1979) aponta que a verdade não
está fora do poder, nem carece dele, não é condição dada para a
formação de valores, e sim para as condições de produção de valores,
condição de realidade e dispersão de enunciados. Ela é pertencente a este
mundo, produzida e produtora de coerções múltiplas, por meio dos efeitos
regrados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, tipos de
discursos, mecanismos e as instâncias conforme sua aceitação; como o real,
a identidade e a verdade. Para o filósofo, não se trata de saber qual é o
poder que age do exterior sobre a ciência e a verdade, mas quais efeitos de
poderes circulam entre esses enunciados, seu regime de poder interior, como
e porque em certos momentos ele se modifica de forma global.
55
suas faltas, seus não ditos, suas (não)fluidez, e seus (des)controle ao falar de
si (CORACINI, 2003), que contribuem para a formação de seus processos
identitários. E o outro documentário: “Saúde no Rolê”(2019), produzido por e
para mulheres adolescentes e maduras, nos permitindo (ou não), um olhar
mais atual a respeito da identidade deste sujeito e suas relações de sentido.
56
sujeito adolescente mãe nas margens, ao mesmo tempo, as naturalizaria,
pois, ao criar as leis de proteção à adolescência que não funcionariam
efetivamente, e, ao criar decretos tardios de prevenção, perante o número
considerável de adolescentes mães presentes na sociedade no tempo
passado e no tempo atual, pode marcar a presença da ambivalência do
jogo da hostilidade e da hospitalidade (DERRIDA, 2001) em que hospedaria
esse sujeito por meio das leis de proteção, e ao mesmo tempo a hostilizaria,
por meio de seus possíveis descasos marcados pelo possível não
cumprimento do regime de verdade posto, e pela possibilidade de exercer
sua sexualidade escancarada na sociedade por meio do exercício da
maternidade.
2 METODOLOGIA
57
saber, e microfísica do poder, enviesados pela perspectiva discursivo-
desconstrutiva de Coracini(2007), entendendo a desconstrução como
estratégia argumentativa, a qual interroga a língua(gem), o sujeito, os
saberes, as verdades, e os discursos, incluindo os nossos, imbricados à ideia
psicanalítica de Lacan(1954) de não completude, não objetividade,
clivagem e contraditoriedade que os constituem.
58
ano de 2019 tem 5.954 visualizações, 189 likes e 4 unlikes até o momento desta
escrita. Constituindo assim uma regularidade de acesso e alcance de
espectadores consideráveis para a construção desta pesquisa. Desse modo,
a internet é um olho do poder (FOUCAULT,1984) ambivalente que cria a ilusão
de permissão e de posição de expectador ao sujeito vigiar o outro, enquanto
é vigiado simultaneamente pelos mecanismos de localização situados em
seus dispositivos eletrônicos. A materialidade que perpetua na internet se
constitui na e pela regularidade de acessos a determinados conteúdos
midiáticos, quanto maior o acesso, maior será sua disponibilidade e
visibilidade.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
59
de sua identidade e ao mesmo tempo se desconstroem, pois são reféns de
suas contradições, são sujeitos clivados, dispersos, reféns daquele que não
conseguem controlar; o inconsciente. Este, que por meio do lapso, da falha,
pode escapar e manifestar aquilo que o sujeito ilude esconder.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
60
REFERÊNCIAS
61
MAGALHAES, Salvaterra Anderson & João Kogawa. Pensadores da Análise
do Discurso. Uma Introdução. Jundiaí, São Paulo. Paco Editorial, 2019.
62
VERBOVISUALIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA: UMA ANÁLISE
DIALÓGICA5
INTRODUÇÃO
63
de mortes no Brasil e sua visão sobre o isolamento social. Justifica-se esta
investigação pela importância que o letramento verbovisual possui na
constituição de cidadãos crítico-reflexivos, sendo uma maneira de estimular
a capacidade de leitura e interpretação dos sujeitos, fazendo-os refletir sobre
as potencialidades do verbovisual e seu poder de alcance na
contemporaneidade. Em acréscimo, considerando a leitura como um dos
eixos do ensino de Língua Portuguesa na educação básica, nossa
investigação vislumbra contribuir com a escolarização formal,
principalmente no que tange a propostas de leitura contemporânea a partir
de uma perspectiva dialógica.
64
artigos científicos publicados, por exemplo na área de Letras e Linguística,
bem como as dissertações e teses que jogam luz a respeito da importância
do imbricamento do verbal e do visual na leitura e constituição dos diversos
gêneros discursivos. Ademais, a temática torna-se um elemento fundamental
como forma de estimular a criticidade dos cidadãos, principalmente na
formação de estudantes de Ensino Básico.
Sob outro ponto de vista, vê-se que o verbovisual vem ganhando cada
vez mais espaço em avaliações externas e internas de redes públicas e
particulares de ensino, culminando no ENEM e nos diversos vestibulares pelo
país. Em acréscimo, nota-se que, ao longo do tempo, os materiais didáticos
têm destacado a questão da verbovisualidade em sua constituição,
seguindo as prescrições dos documentos oficiais e das pesquisas
contemporâneas. No entanto, pesquisadores especialistas da temática,
mostram que esses materiais ainda não estão alinhados de maneira
65
adequada aos documentos parametrizadores, tais como Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001) e Base Nacional Comum Curricular
(BRASIL, 2017).
66
consiga, por meio de seus enunciados concretos, desvelar as intenções
subentendidas a partir do jogo entre os elementos verbovisuais,
considerando o contexto sócio-histórico.
67
maneira mais ampla, levando em consideração a responsabilidade ativa
dos sujeitos discursivos na constituição do momento enunciativo.
68
A partir da noção de enunciado concreto pelo viés dialógico,
analisaremos nosso corpus, atentando as características da
verbovisualidade e sua interação com os sujeitos do discurso e o contexto
em que estão inseridas, evidenciando a constituição e efeitos de sentidos
possíveis por meio da materialidade linguística. Além do enunciado concreto,
em nossa investigação, elegemos também outra categoria de análise, o
conceito de responsividade, no qual abarca as relações externas no
momento enunciativo, considerando a subjetividade envolvida na relação
entre os (inter)locutores.
69
repostas aos enunciados verbovisuais que circularam nas mídias sociais,
tendo como mote a pandemia.
70
De maneira mais específica, numa espécie de bolha, as pessoas
acabam seguindo outras pessoas na rede virtual ou acabam mantendo
amizades virtuais com familiares, amigos e colegas que possuem visões
semelhantes, o que pode ser visto por curtidas e comentários nos inúmeros
tipos de postagens. Destarte, nas timeline dos sujeitos aparecerão postagens
de seus amigos que vão ao encontro a um pensamento comum, do
contrário, isso pode resultar em discussões virtuais e até mesmo a exclusão
de amizades virtuais ou até reais.
Por outro lado, podemos ter nas redes sociais, indivíduos que
comungam de uma posição crítica a respeito das ações do representante
do Poder Executivo, podendo ser de esquerda, centro ou até apartidários,
julgando criticamente a posição e ações do regente da nação que pode
reverberar nas postagens, comentários e curtidas nas redes sociais e grupos
de WhatsApp. Assim, considerando essas peculiaridades do meio no qual
memes, charges e outros gêneros com característica verbovisuais, dentre as
inúmeras postagens a favor e contra a visão do presidente a respeito da
pandemia, selecionamos quadro cenas enunciativas que ilustram o
posicionamento de Jair Bolsonaro e seus simpatizantes a respeito das ações
para controlar o avanço da pandemia no primeiro semestre de 2020, visando
controlar o número de internações e mortes, evitando um colapso na saúde
pública no Brasil. Ressalta-se que a delimitação deve-se ao fato de podermos
71
aprofundar a leitura e discussão da temática, bem como respeitar o número
máximo de laudas deste artigo. Dito isso, segue a primeira figura para nossa
leitura e apreciação.
Figura 1
Fonte: Facebook
72
propagadas de relaxamento do distanciamento social, em vez de fazerem
aglomerações em passeatas, manifestação em que um número grande de
pessoas a pé se desloca para chamar atenção, um grupo ideologicamente
afinado ao bolsonarismo começaram a fazer carreatas, cada qual em seu
carro.
73
enunciativa de boiada, ou seja, expressão que remete às pessoas que falam
ou agem sem reflexão, seguindo uma referência sem questionamento. De
modo específico a respeito da camiseta citada, refere-se também a
vestimenta que muitos apoiadores de direita e do governo federal usavam
para manifestações pró-governo.
74
remete aos dizeres de muitos simpatizantes da chapa Bolsonaro/Mourão
durante a última campanha eleitoral para a Presidência da República do
Brasil, expressão que circulou também por muitos simpatizantes em diversos
atos públicos e nas redes sociais no período em que o candidato venceu o
pleito e o início do seu mandato. A respeito da escolha do vocábulo mito,
recorrendo a memória discursiva, trata-se de narrativas de tempos antigos
no qual povos criavam figuras heroicas que viviam para realizar feitos
fantásticos. Ao longo do tempo muitos mitos foram engendrados pelos povos,
conforme suas culturas perpetuadas ao longo da história. Trazendo esse
conceito para nosso debate, o resgate desse termo como adjetivo para o
então candidato à presidência da República remete ao fato de seus
simpatizantes e apoiadores acharem a figura do pré-candidato semelhante
a um mito. Com promessas de acabar com a “velha política”, o então
candidato Jair Bolsonaro disseminou durante a campanha a ideia de uma
possível mudança, levantando a bandeira de uma “nova política” contra a
corrupção e velhos hábitos comumente retratados nos noticiários.
75
Com essa primeira análise, vê-se a necessidade de exemplos
contemporâneos como esse serem utilizados nas aulas de língua materna,
não apenas para mostrar a estrutura do gênero, mas como mote disparador
para discussões entre adolescentes e jovens que estão no Ensino Básico,
sendo uma maneira de despertar a criticidade dos novos cidadãos que
poderão analisar uma temática por diferentes perspectivas, ampliando
assim o grau de fluência dos estudantes.
Figura 2
Fonte: Facebook
76
enfático do discurso presidencial em insistir, mesmo com o crescimento da
curva de contaminação, que as pessoas e empresas continuassem as
atividades em meio à pandemia causada pelo Coronavírus, contrariando
todas as medidas de isolamento social prescritas pelas autoridades de saúde,
procurando amenizar o aumento de contaminação e casos de morte
causados pelo COVID-19. Em um tom irônico, em um possível acabamento
enunciativo para nossa leitura, o locutor engendra uma cena em que o
presidente parece falar com as lápides, representando os mortos, que faz
alusão aos (futuros) falecimentos causados pela pandemia e o relaxamento
do isolamento, fato que levaria a classe trabalhadora a um contágio mais
rápido, podendo causar mortes entre os menos favorecidos.
77
ser um argumento razoável pelos diversos problemas de uma crise
econômica, como a inflação, recessão e desemprego, algo que começou
afetar inúmeras famílias no mundo e no Brasil. Como era consenso em todo
mundo, todos os países iriam enfrentar com a questão econômica devido a
paralização de diversos setores, bem como o aumento do desemprego, mas
que a prioridade na época era de um isolamento mais severo, prevenindo
vidas e evitando um colapso na saúde pública brasileira.
Figura 3
Fonte: Facebook
78
do cotidiano midiático brasileiro no século passado. Ademais, aliado com
essas possibilidades, na contemporaneidade, um dos apelidos dados pelos
que não apoiam o atual presidente Bolsonaro é justamente Bozo, ironizando
o governante atual do Brasil por meio desse vocábulo.
79
enunciativa é a palavra imbecil. Esse vocábulo aparece na cor vermelha
não por uma escolha aleatória, mas os locutores engendraram uma palavra
com respingos, o que pode representar a palavra sendo escrita com sangue,
representando as muitas mortes que as atitudes do presidente Bolsonaro e
seu governo poderia ter responsabilidade, mesmo que indiretamente, pelo
exemplo negativo divulgado pelas diversas mídias durante o período em que
o país enfrentou a pandemia do Coronavírus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
80
Em nossas leituras, por meio desses gêneros verbovisuais que
circularam no primeiro semestre de 2020, constata-se a evidência do discurso
econômico como argumento da posição do presidente e seus simpatizantes
para propor um relaxamento nas medidas de isolamento social, principal
forma de conter os casos de contaminação pelo Coronavírus, seguindo
todos os protocolos de segurança das autoridades sanitárias.
REFERÊNCIAS
81
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução aos cuidados
de Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro & João
Editores, 2010.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf.
Acesso em: 22 de dezembro de 2017.
82
VOLOCHÍNOV, V. N. Palavra na vida e a palavra na poesia. Introdução ao
problema da poética sociológica. In: VOLOCHÍNOV, V. N. A construção da
enunciação e outros ensaios. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013, p. 71-
100.
83
DISCURSIVIZAÇÃO EM UM CONTEXTO PANDÊMICO: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES PARA O ENSINO DE LÍNGUAS
Bruno Drighetti 7
INTRODUÇÃO
84
permeia a construção da sociedade brasileira, tendo em vista que os baixos
recursos possuídos por grande parte das escolas públicas dificultaram ainda
mais esse processo de adaptação.
85
planejados para esse fim via web que possibilitem ferramentas próprias para
proporcionar a interação (BELMONTE; GROSSI, 2010, p. 3) Para além disso,
concordamos com Santos, que afirma que todo ambiente virtual pode ser
considerado um ambiente de aprendizagem desde que possibilite a
“interação na e pela cultura como um campo de luta, poder, diferença e
significação, [constituindo um] espaço para construção de saberes e
conhecimento” (SANTOS, 2003, p. 2).
86
afeta em diferentes níveis a produção de sentidos em um discurso, surge
nosso interesse em compreender como e se sua alteração na realização de
uma aula afeta a discursivização dos alunos.
1 METODOLOGIA
87
pretensão de realizar o exame em breve. A outra experiência se refere ao
ensino de português como língua estrangeira e foi posta em prática a partir
de um curso de extensão voltado a conversação e cultura brasileira com
alunos dos mais variados contextos, desde estudantes internacionais de
cursos de pós-graduação no Brasil a pessoas que apresentam apenas um
interesse futuro em residir no país. Embora sejam contextos muito diferentes,
algo que apresentam em semelhança é o fato de terem ocorrido de forma
remota, sendo mediados principalmente pelo Google Meet e pelo Google
Classroom, e por se tratarem se aulas de língua estrangeira, motivo pelo qual
nos interessa compreender como ocorre a tomada da palavra.
88
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
89
aluno gerenciar sua própria participação 8 . Da mesma maneira, esse
ambiente limita a possibilidade de que os alunos interajam entre si oralmente
(assuntos referentes ou não à aula), sendo esse tipo de manifestação
realizada especialmente pelos chats.
90
apresentam ferramentas e práticas de interação próprias9. De fato, como
fruto de uma formação frágil nesse quesito, muitos professores correm o risco
de reproduzirem práticas a partir das tecnologias digitais como uma mera
transposição das aulas presenciais, o que tem por efeito uma limitação das
perspectivas produtivas oportunizadas por esse meio. Além disso, ressalta-se
a necessidade de se considerar que as formas de produção de sentido são
afetadas pela variação midiológica, o que também deve ser considerado
nesse contexto.
91
Nessa atividade, cujo objetivo era trabalhar o reconhecimento de
regionalismos a partir da música sertaneja, foi proposto que os alunos se
dividissem em quatro grupos menores para discutir a compreensão das
músicas “Ladrão de mulher”, interpretada por Maiara e Maraísa com Marília
Mendonça, e “Vida boa”, interpretada por Victor e Leo, além de identificar
traços de regionalismos ou gírias.
92
A atividade mediada por essa plataforma foi aplicada no curso de
extensão de inglês para o ENEM. Nessa prática, ilustrada na Figura 1, os
alunos realizaram a leitura de um texto e deveriam compartilhar no
AnswerGarden algumas palavras-chave referentes à problemática
abordada no texto, com o objetivo de ser realizada uma compreensão mais
ampla sobre o conteúdo, compondo parte de uma prática da estratégia de
leitura skimming (técnica para encontrar o sentido geral de um texto).
Como pode ser observado a partir das respostas dadas pelos alunos,
houve um forte engajamento e, de fato, grande parte dos alunos conseguiu
compreender a ideia geral do texto, um caso de violência policial em um
ambiente escolar na África do Sul, o que se reflete em escolhas vocabulares
como “police”, “school” ou “racism”, termos que, por terem sido mais
recorrentes, aparecem em tamanho maior. Além disso, o fato de alguns
alunos terem optado pelo uso da língua portuguesa para o exercício
93
também pode ser representativo de uma tomada da palavra, operando
como uma estratégia para interagir com o texto em inglês por intermédio da
língua apesar de possíveis limitações com a língua estrangeira. Da mesma
maneira, embora o uso de expressões como “colors” para se referir a grupos
étnicos não seja o considerado mais adequado, esse fator também revela
uma tentativa de apropriação da língua estrangeira para comunicação da
parte do estudante.
94
identificar informações específicas em um texto) a partir da leitura de um
texto sobre queimadas na região do Pantanal.
95
pelo professor. Por esse motivo, consideramos necessário promover, em uma
sala de aula virtual, a articulação de diferentes recursos, de modo que seja
possível, por meio de variadas dinâmicas, atingir diversos objetivos quanto ao
desenvolvimento de habilidades linguísticas e utilizar boa parte das
potencialidades oferecidas pelas tecnologias digitais.
96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
97
salas simultâneas e de atividades a partir do AnswerGarden ou Quizizz. Da
mesma maneira, se necessário, urge a necessidade de repensar plataformas
para que os objetivos pedagógicos, como a tomada da palavra pelos
alunos, possam ser alcançados. Esses aspectos nos revelam alguns dos
desafios da docência, visto que é necessário considerar, ainda, o fato de se
tratar de um contexto de pandemia, marcado por uma forte instabilidade
social e psicológica.
REFERÊNCIAS
98
GARONCE, F.; SANTOS, G. L. Transposição midiática: da sala de aula
convencional para a presencial conectada. Educação & Sociedade, v. 33,
n. 121, p. 1003-1017, out/dez. 2012.
99
A LINGUAGEM ANTIRRACISTA NO DISCURSO DE PROTESTO DE
CAROLINA MARIA DE JESUS – VARIAÇÃO LINGUÍSTICA COMO
MARCA DE ESTILO E IDENTIDADE
INTRODUÇÃO
100
enalteçam as vozes, os usos e os estilos linguísticos advindos das minorias
como forma de propiciar reflexões a respeito das relações de poder que se
estabelecem no uso da linguagem.
Estudos nessa linha têm ganhado espaço nos últimos anos nas
academias, desenvolvendo o desejo de luta por espaço de fala na
sociedade – pelas minorias –, e demonstram o caráter político e ideológico
presente nos usos linguísticos nas diversas maneiras de utilização da língua
em diferentes espaços e culturas. Carolina de Jesus tem sido objeto de
estudos de pesquisadores de diferentes áreas, demonstrando assim, o
grande valor social de suas obras. Novas investigações são necessárias, já
101
que as percepções são diversas e a luta representada por ela, contínua e
dinâmica, como os estudos da linguagem e, diria, a própria vida.
Devido à importância que seus textos ocupam nos espaços de luta nos
campos social, político, ideológico, econômico, cultural e linguístico, suas
narrativas são dignas de serem conhecidas, lidas por outras mais pessoas
como estudantes e professores, comunidade escolar para levar a espaços e
tempos outros a fim de que seja revivida e ressoe sempre nas margens e fora
delas.
102
ideologicamente opostos, pois classes sociais diferentes utilizam um mesmo
sistema linguístico (BAGNO, 2019).
1 METODOLOGIA
103
diálogos com outros pesquisadores para troca de conhecimentos em
congressos e seminários.
104
Partindo dessas premissas, as análises demonstram de que modo a
incorporação do tema, dos usos e do estilo linguístico pode contribuir para o
campo dos estudos da Linguística. O pertencimento a um grupo social, aqui
proposto como universo discursivo, pode ser revelado por meio de questões
sociais, culturais, político-ideológicas e linguísticas. Carolina compartilha do
grupo de mulheres negras de periferia, vítimas de injustiças sociais. Essa
inferência tem base no fato de que há nesses escritos o locus da periferia e
do discurso antirracista, a autora não obedece passivamente os ditames da
sociedade dominante e o faz por meio do uso da língua na modalidade
escrita, tomando um espaço que não lhe é dado legitimadamente. Vejamos
alguns discursos do corpus que marcam o racismo, a discriminação e a
crítica a estas posturas, feitas por Carolina:
105
Os estudos da linguagem no século XX trazem a publicação póstuma
do Curso de Linguística Geral (1916) de Saussure, (foi lançado neste mês pelo
linguista Marcos Bagno a tradução desta obra com novas notas e publicado
pela editora Parábola) e nos anos 50, os estudos de Chomsky (Gerativismo),
voltam-se para uma visão mais formal da língua valorizando o conhecimento
mental que o falante possui. Para Saussure há uma diferença entre língua
(langue) e fala (parole) caracterizando o Estruturalismo. Os dois linguistas
veem “a língua como algo abstrato e desvinculado de fatores sociais,
históricos ou culturais”. Bagno (2019) diz que essa diferença decorre porque
em francês e em português existem duas palavras diferentes, linguagem e
língua, com significados próprios; enquanto o inglês só usa um termo
language.
106
igualdade de direitos e contra a discriminação, o preconceito e toda e
qualquer injustiça social. Todavia, o respeito à heterogeneidade da língua
não faz parte da política governamental e dos órgãos educacionais que aí
se encontram onde a vida humana é animalizada, pior, é desprovida de
qualquer valor.
107
Bagno (2019) faz uma análise histórica, cultural, social e linguística
sobre as variações e destaca a importância de estudar a origem e a história
das línguas, bem como do português a fim de melhor compreender o
português brasileiro e suas variações. Dentre os fatores imprescindíveis a esse
entendimento, traz a formação do nosso povo com a colonização à
contemporaneidade, sobressaltando as contribuições de culturas como a
indígena, a africana e algumas de diversos países europeus através de seus
imigrantes. Não há como fechar os olhos a esta realidade. Em pleno século
XXI, ano 2021, tem um pouco de cada cultura representada na língua em
que falamos.
108
ou [é] (mais aberta). Ele destaca que “a pronúncia dessas vogais constitui,
portanto, uma variável; as diferentes pronúncias reveladas nas falas das
pessoas para tais vogais constituem as variantes dessa variável” (p.114). Em
sua primeira edição de Preconceito Linguístico, Bagno exemplifica casos de
variação na pronúncia:
Elas alude (p.14); elas vai (p.20); eles ve (p.22); nois impediu (p.22); As
mulheres lhe conta (p.54); É 5 horas (p.15); os que não ganhou
(p.112); As aguas invadiu (p.54); que as mulheres dizia (p.56); nós da
favela somos temido (p.73); são os adultos que contribue (p.79);
109
quando o povo da alvenaria me viram (p.86); As palavras do senhor
Pinheiro reanimou-me (p.89); Antigamente era os operarios que
queria o comunismo (p.99); Várias pessoas veio (p.126); Elas dá
confiança. (p.139)
Fome (p.25); eu cato papel, mas não gosto (p.25); Fome, favela lixo
alcoolizado (p.26); pobres, míseros, treis bêbado, a verdadeira casa própria
e a sepultura (p.29); fraquesa, chiqueiro de São Paulo, revolta, perder o
interesse pela existência (p.30); chora criança (p.32); A vida é amarga.
Causticante (p.33); rebotalho, quarto de despejo (p.33); são diamantes que
se transformam em chumbo (p.34); minoria, braço desnutrido (p.35); faz de
conta que eu não presenciei esta cena, existência infausta dos marginais,
um Zé Qualquer (p.36); Marginal não tem nome; Eu hoje estou triste. Estou
nervosa. Não sei se choro ou saio correndo sem parar até cair inconsciente.;
Dura é a vida do favelado. (p.37); ainda mais quando é arroz e feijão. É uma
festa para eles. (p.38); porque negra é a nossa vida. Negro é tudo que nos
rodeia. A tontura da fome é pior que a do álcool. (p.39); barracão é
barracão (p.42); o meu dilema é sempre a comida. (p.45), só quem passa
fome é que dá valor a comida. (p.48); é preciso criar este ambiente de
fantasia, para esquecer que estou na favela (p.52); já uso o uniforme dos
indigentes (p.55); que eu sei é que o leite está sendo despesa extra (p.59);
110
quando eu fiquei doente eu andava até querendo suicidar por falta de
recursos (p.60); eu prefiro empregar o meu dinheiro em livros do que no
álcool (p.65); um casal tem 8 filhos, outro 6 e daí por diante (p.66); em cana
(p.67); as pragas (p.68); fugando e bradando, nortistas por nordestinos (p.68);
nasceu com as ideias ao avesso (p.70); parece que eu vim ao mundo
predestinada a catar. Favelados, bater carteira, maloqueira (p. 75); a
cidade está enferma; a revolta surge das agruras (p.76); pinguços (p.81); se
estou suja é porque não tenho sabão (p.89); Olhou-me com repugnancia.
Já estou familiarisada com estes olhares. Não entristeço (p. 98); Eu comecei
sentir tonturas porque estava com fome (p.104).
12 As
modalidades do uso da língua no ensino de Português na Educação de Jovens e
Adultos. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação - USP (Defesa: 30/08/19).
111
na história social da própria língua e o uso linguístico torna-se hábito. Todos
nós temos impressões e fazemos avaliações acerca de usos linguísticos e, sim,
muitas delas são preconceituosas; ao (sócio) linguista, contudo, cabe
descrever e explicar os significados sociais correlatos a certos usos linguísticos.
(MENDES, 2018a 113). Os usos linguísticos estão correlacionados a
características sociais como sexo, idade, nível econômico e escolaridade.
112
de identidade (MENDES, 2018a). Nessa esteira Fiorin (2018a) defende que a
recorrência de traços linguísticos de expressão e de conteúdo criam uma
imagem do falante, o estilo. Todo falante/escritor tem um estilo, não apenas
escritores renomados.
Mendes (2018a) sustenta que o interesse pelo estilo (na fala individual)
surge com a pesquisa laboviana, mas as mais recentes apresentam algumas
diferenças na medida em que a abordagem da variação já não se faz numa
base estritamente dialetal (a região, o estrato social numa comunidade,
etc.), mas sim na base da contribuição de variantes linguísticas para a
construção de categorias de identidades. O autor completa que a própria
língua define alguns limites para a sua variação e que é no contato linguístico
com outros falantes de sua comunidade que ele vai encontrar os limites para
a sua variação individual (2018a, p.128). Os usos e estilos linguísticos podem
ser entendidos à luz dos estudos da variação, para Bagno, o espaço em que
a língua varia é o espaço geográfico propriamente dito, mas também o
espaço social. A mudança se processa no decorrer do tempo (2019, p. 13).
Labov (2001) defende o mesmo. Mendes (2018, p.129) diz que “tendemos a
falar como as pessoas com quem mais falamos, exemplo claro de que as
atitudes linguísticas não estão delimitadas apenas por fronteiras geográficas,
mas também por fronteiras sociais”.
113
pode ser concebida como um grupo de falantes que usam todos as mesmas
formas; ela é mais bem definida como um grupo que compartilha as mesmas
normas a respeito da língua” (2008[1972], p. 188). Para ele, é na comunidade
de fala que a variação e a mudança tomam lugar, ou seja, neste lugar se
dá a iteração entre língua e sociedade. Os usos linguísticos de Carolina em
Quarto de despejo caracteriza o falar cotidiano de pessoas da periferia, os
oprimidos e excluídos sociais, seu estilo é típico de um discurso antirracista,
das margens, que traz a dor da fome e do frio e o silêncio emudecido no seu
lugar de quem não pode dizer, não pode ser, conforme a lógica do sistema
capitalista. Seu estilo é o da tomada de voz que fala, grita através da escrita
de seu diário:
Percebi que nós da favela somos temido (p.77); o dia está triste igual
a minha alma (p. 79); Olhou-me com repugnancia. Já estou
familiarisada com estes olhares. Não entristeço (p. 98); Eu comecei
sentir tonturas porque estava com fome. No sonho eu estava alegre
(p.111); A palavra da moda agora é aumento. Aumentou! (p.119);
Nós já estamos predestinados a morrer de fome (p.126); Igual os Cesar
quando torturava os cristãos (p.129); a cidade é um morcego que
chupa o nosso sangue (p.160).
114
se encontra o negro que determina sua interpretação sobre o racismo – que
se constitui como a sintomática de uma neurose cultural brasileira. A visão da
mulher negra – mulata e doméstica – combatida pela autora – é tema em
Carolina. Gonzales inicia seu processo de escrita a partir de um lugar de fala
seu, onde mostra suas verdadeiras vivências sob o ponto de vista de uma
mulher negra, num contraponto aos discursos do branco a respeito do negro.
Ela sai da “lata de lixo da sociedade brasileira” e assume/toma seu “lugar de
fala” (1984, p.226).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
115
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49ª ed. São
Paulo: Loyola, 1999.
116
FREIRE, Paulo. A pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1978.
______. Medo e ousadia. Paulo Freire & Ira Shor. São Paulo: Paz e Terra, 1986.
______; FAUNDEZ, Antônio. Por uma pedagogia da pergunta. 3ªed. São Paulo:
Paz e Terra, 1988.
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Atlas, 2002.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo. São Paulo: Editora Francisco
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MENDES. Ronald Beline. Língua e variação. In: FIORIN. José Luiz (Org.) et al.
Linguística? Que é isso?. São Paulo: Contexto, 2018a.
117
______. A Variação Linguística. In: FIORIN. José Luiz (Org.) et al. Introdução à
Linguística I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2018b.
118
A LITERATURA NA ROTINA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Sabe-se o quanto é importante iniciar com uma rotina leitora desde cedo no
mundo literário infantil seja pelo acesso aos livros, às imagens ou até mesmo às contações
de histórias. Os benefícios proporcionados pela leitura literária são inúmeros como o
desenvolvimento da imaginação, da criatividade, da interpretação, do raciocínio, da
linguagem, dos sentimentos, das emoções, entre outros. Com referencial teórico respaldado
por Candido (2004), Coelho (2000), Machado (2009), observa-se a Literatura em suas
diferentes concepções. Com base nesses pressupostos, destaca-se a necessidade da
contação de história dentro da sala de aula, ao entender que a maioria das crianças
chegam carentes de manusearem um livro, de ouvirem uma história, de fantasiarem suas
ideias. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo principal incentivar a inserção da
literatura infantil no ambiente escolar por meio do ato de contar histórias, seja utilizando o
livro literário, o avental de histórias, fantoches ou qualquer outro recurso pedagógico. Esse
momento literário é percebido como lúdico e motivador, que torna a aula prazerosa,
propiciando um ambiente acolhedor e de grandes aprendizagens, sendo visível o brilho e a
atenção que as crianças demonstram, até mesmo aquelas com inquietação. Importante
ressaltar que é por meio do acesso à Literatura Infantil desde cedo que se constrói cidadãos
que sabem escrever, ler e interpretar adequadamente, o que se torna imprescindível para
que as crianças tenham oportunidades e desempenhem suas funções de forma satisfatória.
INTRODUÇÃO
119
inúmeros como o desenvolvimento da imaginação, da socialização, da
criatividade, da interpretação, do raciocínio, da linguagem, dos sentimentos,
das emoções, entre outros. De acordo com essas proposições, considera-se
que é por meio do contato com histórias infantis que existe a possibilidade
da criança interagir no mundo da ludicidade, do fantasioso, do imaginário,
permitindo a possibilidade de novas aprendizagens.
120
Esta é uma realidade que afeta muitas regiões do Brasil, sendo que
muitos pais transmitem toda a responsabilidade para a escola tanto no
aspecto de educar como o de ensinar. Em razão dessa demanda, o
professor precisa se desdobrar para desempenhar múltiplas funções e assim
poder desenvolver um trabalho de qualidade no processo de ensino-
aprendizagem. Para discutir essa problemática, o presente estudo tem como
objetivo principal incentivar a inserção da literatura infantil no ambiente escolar por
meio do ato de contar histórias, seja utilizando o próprio livro literário, o avental de
histórias, os fantoches, as imagens das personagens, ou qualquer outro recurso
pedagógico que signifique a Literatura Infantil.
1 METODOLOGIA
121
ponto, são destacadas as ferramentas do próprio livro literário, do uso dos
fantoches e do avental de histórias. Compreende-se que esses recursos são
elementos que envolvem as crianças e trazem significação para o texto
literário apresentado.
Ademais, nada adianta o professor usar livros com histórias longas e apenas
fazer a leitura sem nenhum tipo de gesticulação, as crianças consequentemente
não prestam atenção e acabam se dispersando com outros afazeres, o que gera
um ambiente impróprio de grandes aprendizagens lúdicas. Neste âmbito, ressalta-
se que o professor deve conhecer o livro e ter domínio da obra escolhida, sabendo
usar o livro literário como uma grande ferramenta pedagógica para alcançar um
122
resultado positivo. Logo, o professor deve estar preparado e motivado para o
momento da contação de histórias. Desse modo, os estudantes sentirão prazer no
momento da contação, haverá interesse e participação durante o desenrolar da
temática e os objetivos propostos serão alcançados com êxito.
Este recurso é uma maneira criativa de ser usado, pois permite que o professor
chame o estudante para interagir na colagem das personagens e das situações
retratadas na obra, utilizando o avental. Esse recurso pedagógico proporciona um
momento de descontração, diversão, encantamento e ludicidade, em que os
estudantes são sujeitos ativos na aprendizagem. Nesse momento de contação de
histórias, o estudante tem a oportunidade de interagir e viver o que está sendo
contado.
123
Destaca-se que o empenho do professor no momento da contação faz toda
a diferença. Com isso, o recurso do avental é considerado um complemento que
servirá para dar um toque todo especial e imaginário ao enredo e à temática da
história. Diante disso, salienta-se que as ferramentas pedagógicas auxiliam a prática
escolar, mas não são responsáveis pela ação, sendo o professor da Educação
Infantil o mediador entre a obra e o estudante.
124
movimentação que o professor realiza nas mãos com os fantoches. Desse
modo, registra-se um momento em que as crianças realmente prestam
atenção em cada detalhe, tornando a aula dinâmica, divertida e
participativa.
125
2 REFERENCIAL TEÓRICO
126
Em algumas situações, os estudantes da Educação Infantil chegam às
escolas vulneráveis de tantas necessidades básicas como carinho, afeto,
amor, sem jamais terem compartilhado com os familiares um momento
sequer relacionado às histórias contadas ou passadas entre as gerações. Em
outras situações, pais ou responsáveis estão transferindo suas obrigações e
funções para outras pessoas, usando os mais variados argumentos, para não
terem uma interação literária ou cultural com o seu filho.
127
Nesse contexto, Oliveira (2008) fomenta a preparação acerca da
importância da “alfabetização visual” antes da “alfabetização verbal”, com
o intuito de apreciar o senso crítico da criança e permitir a oralidade,
garantindo de forma agradável todo esse processo de aprendizado. De
forma similar, Freire (2011), destaca que a leitura do mundo precede a leitura
da palavra, afirmando que “[...] Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura
crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. [...]”
(FREIRE, 2011, p. 20).
128
visando implantar quanto mais cedo na Educação Infantil o processo de
apreciação das obras literárias, mais cedo existirão resultados positivos.
129
por meio de práticas enriquecedoras de Literatura Infantil é que se tem a
possibilidade de criar um ambiente educativo, harmonioso e atrativo para a
criança, favorecendo para que no futuro se torne uma leitora crítica, com
ideias e pensamentos mais sensatos, além de possibilitar o desenvolvimento
nos quesitos de escrita e de compreensão.
130
na criança vivências diferenciadas em que a Literatura é significada. Assim,
a prática do professor não se resume em apenas ler o livro, pois traz o
conhecimento prévio e a participação dos estudantes, estando o professor
preparado para apresentar o texto literário com domínio da história
retratada. Coelho (1999) faz indicações de como trabalhar com a obra
literária em sala de aula, pensando um momento de contação de histórias.
O “contar histórias” não significa apenas ler, vai muito além disso, é um
ato que proporciona aprendizado e enriquece a vivência da criança.
131
Contar histórias na Educação Infantil é instrumento didático com valor
cultural e social, que contribui de forma significativa não só para o início da
carreira escolar, mas como também para as demais. É por meio do incentivo
à literatura desde cedo, que se constrói cidadãos mais conscientes e críticos,
que saberão atuar no futuro com atitudes responsáveis e educativas,
prevalecendo os valores tão necessários na sociedade como um todo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por existir uma carência de leitores que se inicia desde a primeira etapa
da Educação Básica e percorre consequentemente as demais etapas
escolares. O que se tem visto é que os estudantes estão mais distantes dos
livros, acarretando em sérias dificuldades de leitura, escrita e compreensão
de texto ao longo dos anos. Nesse contexto, destaca-se que a educação
brasileira está num patamar distante em comparação a países
desenvolvidos, conforme é exibido no gráfico 1 com dados da última
pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (FAILLA, 2020):
132
Com base no gráfico, observa-se pouco crescimento no decorrer dos
anos referente ao número de livros lidos anualmente no Brasil. Conforme os
dados ilustrados, em 2007 o índice foi de 4,7 livros lidos por ano, já em 2011
houve uma diminuição, apresentando uma queda para 4,0. Para os anos de
2015 e 2019, os valores mantêm-se exatamente iguais, compreendendo 5,0
livros lidos por ano, evidenciando uma situação preocupante e que exige
ações para que a leitura esteja em linha de avanço.
133
entre outros modos de aproximar o texto literário do jovem leitor. Ademais, é
de suma relevância que a leitura e o livro literário estejam presentes na rotina
escolar, seguindo o que propõe Colomer (2007), de que os estudantes
devem estar cercados por livros, para que possam ser despertados para a
leitura literária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
134
Assim, a escola é espaço de oportunidades, revelando um mundo
desconhecido em algumas situações sociais. No que tange, ao momento da
contação de histórias, registra-se o brilho no olhar da criança, constatando
um aprendizado significativo e envolvente, visto que ocorre um incentivo
para prosseguir neste caminho de encantamentos e magias A inserção da
leitura literária na Educação Infantil proporciona benefícios para toda a
carreira escolar do estudante e para a sua formação social e cultural. Desse
modo, cabe aos professores e agentes de leitura investir desde cedo na área
da literatura, destacando que é uma vertente com formação completa.
REFERÊNCIAS
135
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 4. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul,
2004.
COELHO, Bethy. Contar histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1999.
COELHO, Novaes Nelly. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo:
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FRANTZ, Maria Helena Aancan. O Ensino das Literaturas nas Séries Iniciais. 3ª
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MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde
cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
OLIVEIRA, Rui de. Pelos Jardins Boboli: Reflexões sobre a arte de ilustrar livros
para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
136
CIRO GOMES E JAIR BOLSONARO: UMA ANÁLISE DO FENÔMENO
DA RECATEGORIZAÇÃO EM POSTAGENS DO FACEBOOK
INTRODUÇÃO
137
isoladas e enfocou o estudo do texto, entendo-o como um construto de
sentidos incompletos, que são construídos à medida que ocorrem inferências
por parte dos interlocutores.
138
apoiadores defendem as ideias expostas por ele e as propagam, enquanto
outros utilizam o espaço da mídia para se posicionarem contra as alegações
realizadas por ele.
139
1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
140
2 REFERENCIAL TEÓRICO: ASPECTOS DA REFERENCIAÇÃO
141
anáforas e as fontes de percepção. Os autores destacam que a
referenciação parte de três princípios imprescindíveis, que são a
negociação, a reelaboração da realidade e o processo cognitivo. O
princípio da negociação é fundamentado na ideia de que os sujeitos
participam interativamente da produção de sentido do texto, negociando
constantemente, testando os referentes, realizando reformulações, isso
agrega uma visão dinâmica da referenciação.
142
referenciando e reelaborando os referentes, isso faz parte da interação
comunicativa e é ponto basilar para a compreensão dos objetos de discurso
presentes no texto. Nesse cenário, é preciso pensar se a perspectiva adotada
pelos estudos referenciais contempla toda a complexidade que esse
fenômeno possui.
143
perceberam que um objeto do discurso, que interfere na coesão do texto,
passava por diversas reformulações em sua categoria, que iam desde o início
do texto/discurso até a sua conclusão. Esses autores consideravam que esse
fenômeno ocorria por meio de situações de correferencialidade, ou seja,
quando esse mesmo referente era retomado ou reformulado por meio de
anáforas diretas.
144
Os pressupostos sociocognitivistas investem no entrecruzamento de
aspectos culturais e cognitivos para as explicações dos fenômenos
relacionados à produção e transformação do conhecimento. Esse
modelo é o mais bem preparado, até o momento, para dar conta
da necessária explicitação de como o fenômeno da representação
de entidades se efetiva, discursivamente, a fim de que a interação
linguística se processe (CUSTÓDIO FILHO, 2012, p. 839).
145
Lima (2009) justifica os estudos da segunda tendência ao analisar que
a recategorização nem sempre pode ser explicada a partir dos elementos
presentes no sintagma nominal; sinaliza que em muitos casos a
recategorização pode ocorrer através de implicaturas cognitivas, entretanto,
esse aspecto interativo não resulta em uma interpretação solta, mas que
possui interligação com pistas presentes no cotexto, para que não haja
outros avanços; e como um terceiro elemento, bem pontuado pela autora,
a recategorização pode ocorrer em diversos graus de explicitude; diante
disso, a teoria de segunda tendência apresenta explicações contundentes
para demonstrar como ocorrem processos desse nível.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
146
ocorreu pelo fato de o presidente da república ter autorizado a retirada do
portal da transparência do ar, justamente no momento em que informações
de gastos desnecessários do governo federal com chiclete, leite moça,
cerveja, entre outros produtos, foram publicizados pela mídia brasileira,
gerando críticas ao atual presidente. Como forma de esconder essas
informações, o atual governo bloqueou o portal da transparência, razão por
que Ciro Gomes formulou uma imagem negativa do presidente Jair
Bolsonaro.
Ademais, Ciro Gomes faz uso da dêixis pessoal em “nos governa”,
demonstrando proximidade com os leitores de sua página virtual e a
população brasileira, tendo em vista que Jair Bolsonaro é o presidente de
todos os brasileiros, inclusive do próprio Ciro. Assim, percebemos um
antagonismo entre o elemento recategorizador “canalha” e a ação de
“governar” que, por sua vez, carrega uma imagem negativa do presidente,
construída ao longo do texto da postagem em tela. Infere-se que temos um
governante canalha, ou seja, alguém que não tem nenhuma capacidade
para ocupar o principal cargo de um país democrático.
O uso do demonstrativo “isto” em “Isto jamais aconteceu na história
Brasileira!” funciona como uma anáfora encapsuladora, pois retoma não
somente um referente, mas um enunciado completo: “O canalha que nos
governa tirou o portal da transparência do ar!”. Esse uso engendra a
progressão textual e a progressão temática, razão por que contribui
decisivamente para a construção de sentidos manifestados no cotexto e no
contexto enunciativos.
Em seguida, Ciro Gomes afirma: “pegamos o rabo da ratazana.
Verificamos a recategorização metafórica (LIMA, 2009) do referente Jair
Bolsonaro como um rato, que é um animal astucioso, rápido, sorrateiro.
Observamos, também, que Ciro Gomes se inscreve no ato enunciativo, pois
147
enuncia o verbo na primeira pessoal do plural (pegamos), o que autoriza
pensar que Ciro faz parte de um grupo que está de olhos atentos nas ações
indevidas do atual presidente da república.
No mesmo momento enunciativo, é possível constatarmos outro
elemento recategorizador, haja vista o uso da expressão “rabo”, a qual
indica a “descoberta de possíveis crimes” praticados pelo governo
bolsonarista. À frente, ainda identificamos que o referente “Ministério Público”
é recategorizado como “a solução do problema”, pois é chamado e
indagado sobre pedidos de posicionamento quanto aos possíveis crimes
cometidos pelo presidente do Brasil.
Observamos que, em nenhum momento, o referente Jair Bolsonaro é
manifestado lexicalmente no texto, mas conseguimos identificá-lo por meio
das pistas sociocognitivas compartilhadas a partir do texto em destaque.
Logo, o sujeito enunciador Ciro Gomes se utiliza desses recursos para construir
uma imagem negativa do atual presidente e disseminar essa imagem, pois
constatamos que a postagem recebeu (até o momento em que
selecionamos), 22 mil curtidas, 1,6 mil comentários e 6,8 mil
compartilhamentos, o que atesta o alcance de um grande público.
148
Nesta publicação, observamos que Ciro Gomes cria uma imagem
negativa do ex-presidente dos Estados Unidos da América, recategorizando-
o como um “mau exemplo” e como um “criminoso”. Provavelmente, era
mau exemplo porque demonstrava ser autoritário, ditador, perseguidor e
extremista; e criminoso porque colocava as pessoas de seu país e de outros
países em risco, provocando conflitos com outras nações, a exemplo da
Venezuela, da Coréia do Norte, da China, entre outras.
Após trazer o exemplo de Donald Trump, Ciro Gomes argumenta que
Bolsonaro é “aprendiz” e “capacho” de Trump. Se o ex-presidente dos EUA é
um criminoso e Bolsonaro é uma espécie de aluno, é possível concluir que
Bolsonaro é recategorizado como um criminoso em formação, tendo como
professor Donald Trump. Não é difícil recordar que Jair Bolsonaro atacou de
forma vociferada a Venezuela e a China apenas para concordar com os
ditames preconizados pelo governo dos EUA.
Além disso, Ciro Gomes assevera que Bolsonaro é um capacho de
Trump. Novamente, temos a ideia de que se trata de um capacho de
criminoso, ou seja, aquele que faz de tudo para agradar seu superior e deseja
se igualar a ele. Não foram poucas as vezes que Bolsonaro declarou
obediência e submissão ao governo de Donald Trump, chegando, inclusive,
a bater continência à bandeira do país norte-americano, enquanto a nação
brasileira sofria com a pandemia da COVID-19. Portanto, a recategorização
de Bolsonaro como capacho mostra uma ideia de subserviência e bajulação
ao governo dos EUA.
Por último, o referente “Congresso Brasileiro” é recategorizado como
“salvador da pátria”, pois é a ele delegada a função de frear os possíveis
crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro. Uma das alternativas,
segundo Ciro Gomes, é por meio do processo de impeachment, a fim de
afastar o atual presidente do seu cargo.
149
Imagem 3 – terceira postagem
150
a morte, a exemplo das mais de 450 mil vidas brasileiras já ceifadas
atualmente.
151
como o responsável direto pelas mortes em Manaus, por meio dos termos
recategorizadores, a exemplo de “assassino” e “criminoso”, reforçando uma
imagem negativa do atual presidente. Ciro Gomes se utiliza de um discurso
contundente e faz uma crítica arrojada ao modo de governo apresentado
pelo atual presidente da república. As recategorizações propiciam as
construções de imagens negativas do referente Jair Bolsonaro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
152
Ciro Gomes se aproveita desse ambiente virtual para disseminar
informações, posicionamentos e denúncias políticas que, de alguma forma,
ganham a rede, pois os internautas, em sua maioria, são participantes da
política nacional e interessados em dialogar sobre essa temática, seja
concordando ou discordando. As postagens dizem respeito ao
posicionamento de Ciro Gomes sobre as atitudes do presidente Jair
Bolsonaro frente à pandemia da COVID-19, no Brasil, alegando crimes de
responsabilidade contra a vida dos brasileiros – categoria sobre a qual se
inclui, constantemente, por meio de elementos dêiticos. O cunho temático
dessas postagens caminha em direção ao pedido de impeachment do atual
presidente do Brasil.
REFERÊNCIAS
153
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155
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127f. – Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Letras Vernáculas, Programa de Pós-graduação em Linguística, Fortaleza
(CE), 2013.
156
LEITURA E MULTIMODALIDADES: CAMINHOS PARA UMA PRÁTICA
SIGNIFICATIVA DO GÊNERO CHARGE
1 INTRODUÇÃO
157
iniciação à docência aos alunos de cursos presenciais que se dediquem ao
estágio nas escolas públicas e que, quando graduados, se comprometam
com o exercício do magistério na rede pública. O propósito é antecipar o
vínculo entre os futuros docentes e as salas de aula da rede pública. Com
essa iniciativa, o PIBID faz uma articulação entre a educação superior (por
meio das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais e municipais.
158
localização periférica e à condição de vulnerabilidade de parte de seu
público aprendiz, encarando ainda um outro desafio do momento atual: o
ensino remoto e a falta de democratização do acesso ao ensino (sobretudo
o acesso aos meios que possibilitam o ensino nesse formato emergencial). A
escola funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno, contando com
dois anexos: um no distrito de Cipó dos Anjos (matutino e vespertino) e outro
no distrito de Juatama (noturno).
159
realidade que enfrentarão após o término do curso de graduação, o que
inclusive pode vir a inspirar mudanças nas práticas docentes no tocante ao
ensino de Língua Portuguesa.
1 METODOLOGIA
160
Propusemos a elaboração de um formulário de pesquisa, realizado
pela plataforma Google forms e disponibilizado com antecedência aos
alunos, por meio dos grupos de WhatsApp das turmas, com o objetivo de
saber sobre sua intenção em participar de um minicurso sobre leitura,
elaborado pelas bolsistas do PIBID, com carga horária de oito horas e com
direito a certificação. Obtivemos um total de vinte e duas respostas no
formulário. Os minicursos aconteceram de forma online, de acordo com a
disponibilidade proposta pela escola, no contraturno, por meio da
plataforma do Google meet, nos dias 17 e 24 de junho de 2021. É notória, a
dificuldade de alguns estudantes para permanecerem na sala virtual e
participar efetivamente, por conta da internet que oscila bastante.
Entretanto, tivemos um bom diálogo com a turma, um aluno participou da
leitura dos textos, algo que o professor relatou ser uma grande dificuldade
nas aulas. Alguns estudantes responderam as perguntas sugeridas e
acrescentaram com informações do próprio conhecimento enciclopédico.
161
3. Na etapa de desenvolvimento ou leitura, revelou-se o tema: “Leitura em
sala de aula virtual: práticas de linguagem e resistência”, a ser
desenvolvido no minicurso; através de uma leitura coletiva, dividida em
partes pré-determinadas do texto de trabalho, e debateu-se sobre o
tema, o que gerou discussões entre os participantes;
4. Em seguida, os alunos receberam orientações para a leitura silenciosa:
deveriam anotar as palavras desconhecidas do texto e discutir as novas
informações que tinham adquirido até ali;
5. Na etapa de pós-leitura ou conclusão, foi apresentada a leitura, escuta e
discussão da canção “Meu guri”, de Chico Buarque, buscando relembrar
os fatos ocorridos e relacionar aos gêneros textuais abordados.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
162
Dessa forma, apropriando-se das concepções de leitura
apresentadas por Koch e Elias (2011), compreendemos o processo de leitura
como uma atividade de construção de sentido que requer a interação
autor-texto-leitor, considerando os conhecimentos do leitor para realização
efetiva desse processo. Leitura e produção de sentido são atividades
orientadas por nossa bagagem sociocognitiva: conhecimentos da língua,
dos textos e das coisas do mundo. Quanto a isso, Santos, Riche e Teixeira
(2013, p. 41) asseveram que:
163
utilizamos no mínimo dois modos de representação. Essa liberdade na
manipulação dos gêneros textuais está ligada diretamente ao meio em que
se transmite o gênero.
164
Na educação remota predomina uma adaptação temporária das
metodologias utilizadas no regime presencial, com as aulas, sendo
realizadas nos mesmos horários e com os professores responsáveis
pelas disciplinas dos cursos presenciais, como dito anteriormente.
Esses professores estão tendo que customizar os materiais para
realização das atividades, criando slides, vídeos, entre outros recursos
para ajudar os alunos na compreensão e participação das
atividades. Contudo, nem sempre a qualidade destes materiais
atende aos objetivos desejados.
165
utilizados, bem como dos seus reflexos na materialização da intenção
comunicativa do autor.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
166
a) ausência de computadores nas casas dos alunos; na maioria das vezes,
o acesso às aulas é pelo celular; a internet é limitada, por meio de pacote
de dados; e parte dos estudantes não possuem nenhum tipo de acesso
à internet em suas residências;
b) a falta de experiência com a interface das plataformas que vêm sendo
utilizadas para os encontros virtuais, como Google Meet, Google forms,
Google Classroom, Youtube entre outros;
c) a dificuldade em mediar às atividades que seguem a sequência prevista
para as aulas presenciais, tendo em vista que, se a internet ou algum
equipamento falhar, aquele momento de aprendizado é
completamente prejudicado.
167
conhecimentos linguísticos necessários, o leitor encontra dificuldades de
interpretar o texto apresentado. Dessa forma, pode-se refletir que, na
atividade de leitura e produção de sentido, colocamos em ação várias
estratégias sociocognitivas, mobilizando os diversos tipos de conhecimento
armazenados, que são notoriamente articulados e praticados no âmbito do
ensino básico, contribuindo para o desenvolvimento da competência leitora
dos estudantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
168
Coordenação de Área dessa equipe do PIBID ofereceu um Curso de
Formação em Ensino de Leitura para os bolsistas de iniciação à docência,
dividido em módulos ao longo de 4 meses (entre dezembro/2020 e
março/2021) cuja culminância era a elaboração de sequências didáticas
que pudessem ser aplicadas nas escolas atendidas pelo projeto, em formato
de minicursos, a partir de um período de observação de aulas de leitura por
meio remoto. Ressaltamos que todo esse processo por mediado pela
Coordenação de Área do PIBID, tendo o acompanhamento da supervisão
(professores) no âmbito das escolas.
Para não limitar esse trabalho aos conteúdos didáticos, foi realizado
um breve levantamento sobre temáticas que os alunos gostariam que fosse
abordadas no minicurso. A partir disso, foram pensadas estratégias para as
sequências didáticas, baseadas na interpretação, compreensão e predição
para que eles ativassem os seus esquemas mentais e, assim, pudessem
exercitar e naturalizar práticas de leituras significativas.
169
estudantes. Caberá à instituição realizar formulários de pesquisas sobre
temáticas que os alunos gostariam de trabalhar, instigando, assim, para a
formação e a ampliação de um repertório de leitura, propondo diversos tipos
de gêneros textuais para ampliar seu conhecimento de mundo, e depois
fazer interpretações do que foi lido como, por exemplo - resumos, podcast,
vídeos, cartazes, designs - para assim, facilitar a compreensão e fazer desse
estudante sujeitos ativos no processo de conhecimento.
REFERÊNCIAS
170
SANTOS, Leonor Werneck; RICHE, Rosa Cuba; TEIXEIRA, Claudia Souza. Prática
de leitura de textos orais e escritos. In: Análise e produção de textos. São
Paulo: Contexto, 2013. p. 39-66.
171
A CONSTRUÇÃO DE ENUNCIADOS ESCOLARES NO PLANO DE
ESTUDO TUTORADO DE LÍNGUA PORTUGUESA: PROBLEMATIZAÇÕES
E REFLEXÕES PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM 19
RESUMO: Com o advento da pandemia no ano de 2020, ações emergenciais têm sido
planejadas e implementadas para lidar com os impactos desse contexto na vida social. No
âmbito educacional e, mais especificamente, no estado de Minas Gerais, foi instaurado o
Regime de Estudos não Presenciais (REANP) e, como parte das ações, foi elaborado o Plano
de Estudo Tutorado (PET), um material didático para auxiliar os estudos dos alunos da rede
estadual de ensino. Partindo desse cenário, este trabalho se propôs a analisar como os
enunciados escolares são elaborados em atividades propostas no PET de Língua Portuguesa
e a refletir sobre as implicações dessas estruturações para o ensino e a aprendizagem. A
justificativa deste estudo se situa na necessidade de análise e de reflexão sobre o principal
material didático dos alunos da educação estadual mineira durante o período remoto, além
no fato de que a formação de professores ainda encontra uma defasagem no que diz
respeito à elaboração de enunciados escolares. Para isso, foi feita uma pesquisa teórica
sobre a construção de enunciados em tarefas e atividades escolares a partir de Marcuschi
(2006) e de Lino de Araújo (2017). Em seguida, foi selecionado o volume 7 do PET destinado
ao 6º ano do Ensino Fundamental para um estudo de caso na modalidade de análise
documental de abordagem qualitativa, a fim de refletir e demonstrar, a partir do referencial
teórico prévio, como se deu a elaboração dos enunciados. Constatou-se que as questões
carecem de formulações adequadas para levar os alunos a atingirem objetivos
educacionais, os quais, muitas vezes, não aparecem de forma explícita nos comandos dos
enunciados.
biancasgsg@gmail.com;
21 Professora orientadora: doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela
172
INTRODUÇÃO
173
Moretto (2008) para se pensar questões relativas à prática docente e às
sugestões da BNCC (2018), articulando-as aos PETs. Em seguida, foi realizada
a análise e a discussão do PET, buscando responder à pergunta da pesquisa.
1 METODOLOGIA
Tendo isso em vista, foi realizada uma pesquisa básica com o intuito
de refletir sobre a construção dos enunciados escolares. Para tal, foi feito um
levantamento bibliográfico para delinear os pressupostos teóricos ligados à
elaboração de enunciados. Em seguida, foi realizado um estudo de caso na
modalidade de análise documental, cujo objeto foi o material didático
disponibilizado aos alunos da educação estadual mineira durante o período
remoto de estudos, o PET. Mais especificamente, elencou-se o volume 7,
destinado ao 6º ano do Ensino Fundamental II regular, disponibilizado no ano
174
de 2020 pela SEE-MG. A abordagem caracteriza-se como qualitativa,
considerando dois aspectos: a articulação das formulações dos enunciados
com as proposições da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a
construção das sequências injuntivas em enunciados de atividades de leitura
e de produção de textos.
175
sistema linguístico. Nessa perspectiva, o ensino é voltado para o trabalho
com o texto, o qual é a materialização de um gênero discursivo, o que
significa que
176
tarefas do material didático, eles podem criar condições para que os
objetivos educacionais sejam mais ou menos atendidos.
177
Quadro 1: Níveis de complexidade de Bloom.
178
deve se guiar não somente por aspectos cognitivos, mas também
interacionais, culturais e educacionais.
179
4 AS SEQUÊNCIAS INJUNTIVAS NOS ENUNCIADOS ESCOLARES
180
5 ENUNCIADOS DE ATIVIDADES DE LEITURA
181
Colaço (1998), nessa direção, propõe a elaboração dos enunciados
a partir de sequências injuntivas. Nesse caso, eles são organizados segundo
determinado modo e apontando para tipos de ação. No que diz respeito ao
modo, eles podem aparecer como 1) simples, em que se solicita, clara e
objetivamente, um comando a ser cumprido, que pode ser a identificação
de conhecimentos metalinguísticos ou o posicionamento sobre determinado
assunto; e 2) regulados por modo de ação, cujo propósito é mostrar como o
aluno deve fazer a partir de um parâmetro estabelecido.
182
6 ENUNCIADOS DE ATIVIDADES DE PRODUÇÃO DE TEXTOS
183
atividades com comandos que levam a ações nitidamente explicitadas; 2)
a orientação genérica, que não propõem um jogo enunciativo ao aluno na
construção dos enunciados; e 3) orientação implícita, que supõe que o aluno
domina o gênero proposto para a produção.
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
184
construção dos enunciados, foram selecionados dois aspectos, tomando
como base o referencial teórico elucidado, os quais serão discutidos a seguir.
185
(EF67LP20X) Realizar pesquisa, a partir de recortes e Faça uma pesquisa
questões definidos previamente, usando fontes indicadas e abertas, em jornais, revistas, com as
considerando a credibilidade do veículo de informação pesquisado. pessoas do seu convívio e, se
possível, na internet, sobre a
situação dos animais de rua,
(EF67LP22) Produzir resumos, a partir das notas e/ou levando em consideração as
esquemas feitos, com o uso adequado de paráfrases e citações. perguntas abaixo. Em seguida,
faça um resumo da sua pesquisa.
186
exploram outras dimensões do processo de leitura e produção textual, como
a social, a discursiva e a histórica, o que minimiza a potencialidade dos
campos de atuação de contextualizar as aprendizagens.
187
2017). Mesmo nas questões relacionadas às habilidades iniciadas pelo verbo
“analisar”, por exemplo, os alunos não são levados a relacionar as partes do
texto, apenas a identificá-las, limitando a experiência ao não mesclar demais
níveis.
188
Semana 1 Imagine que você é um aluno dessa escola e tem a sua própria Orientação didática,
opinião a respeito do assunto dos textos da atividade anterior. sem ancoramento.
Escreva uma carta aberta para circular na escola com o seu
posicionamento sobre o uso obrigatório do fardamento
completo. Não se esqueça de colocar os motivos da sua opinião.
Pense com cuidado no destinatário dessa carta aberta.
Semana 2 Faça uma pesquisa em jornais, revistas, com as pessoas do seu Orientação implícita,
convívio e, se possível, na internet, sobre a situação dos animais sem ancoramento.
de rua, levando em consideração as perguntas abaixo. Em
seguida, faça um resumo da sua pesquisa.
Semana 4 Agora, reescreva o texto sobre a Pequena Lo, seguindo a Orientação genérica
estrutura de uma notícia. e ancoramento.
189
aluno já estaria sendo preparado para escrever o texto por meio da
articulação entre as práticas da linguagem, tal qual sugere a BNCC.
190
aluno que ele seja capaz de identificar aspectos explícitos do texto, o que
não permite um trabalho cognitivo, social, textual, discursivo e histórico mais
complexo a partir das questões. Sobre isso, vale destacar, ainda, que esses
objetivos não ficam claros aos alunos, pois o comando predominante é que
eles respondam às questões propostas. No caso da produção textual, o
mesmo se aplica, já que os comandos são produzir ou reescrever
determinados gêneros. Somado a isso, na produção, as instruções não
explicitam o “como fazer” de forma detalhada, isto é, quais são os passos
para se elaborar um texto, cruciais para o planejamento da escrita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
191
Dessa forma, pode-se dizer que estudos mais aprofundados sobre
essa questão podem ser feitos a partir de um corpus mais abrangente. Esta
pesquisa pode ser vista, então, também como um convite para novos
estudos sobre o PET, não somente no que diz respeito à elaboração dos
enunciados escolares, pois, como se viu, ele abre espaço para discussões
que englobam diversos aspectos do ensino de língua portuguesa.
REFERÊNCIAS
192
MARCUSCHI, L. A. Compreensão de texto: algumas reflexões. In: DIONISIO,
Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora.
Gêneros textuais e ensino. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.
193
A ESCRITA DE (RE)EXISTÊNCIA NEGRA NA POÉTICA: DIÁLOGOS
ENTRE CRISTIANE SOBRAL, CONCEIÇÃO EVARISTO E MEL DUARTE
RESUMO: Sabe-se que, por muito tempo, a literatura manteve-se limitada aos grupos
hegemônicos, assim como a escrita literária esteve restrita nas mãos de homens
heteronormativos, brancos, elitistas, ou seja, o que foi imposto como a representação
canônica na sociedade, e consequentemente na literatura. Estes sujeitos ocupam relações
de poder, determinando os mais diferentes espaços na cultura, arte, religião, literatura,
política. Entende-se que discutir acerca de um texto literário é trazer à tona, também, o
contexto sócio-histórico, a criação e recepção de uma obra, as relações ideológicas e
políticas que a permeiam. “A instituição literária como uma instituição social e política,
também participa desse aparato discursivo/ideológico ao incorporar o que é considerado
um dado inquestionado na cultura.” (SCHMIDT, 2013, p.3). Considerando isto, percebe-se
que com o passar dos anos a literatura começa a abranger esses sujeitos, até então,
marginalizados pelo patriarcado. Mas, se torna necessário questionar e repensar de qual
forma a mulher, e principalmente, a mulher negra está sendo representada nesse espaço.
Sendo assim, este trabalho, de natureza qualitativa e de procedimento bibliográfico, tem
como objetivo evidenciar a escrita de (re)existência das poetisas afro-brasileiras, bem como,
a análise literária das semelhanças entre os diálogos presente nos poemas “Nzingas
Guerreiras” de Cristiane Sobral, “Eu-mulher” de Conceição Evaristo e no poema “Não
Desiste!” de Mel Duarte, ressaltando os aspectos de raça e de gênero na literatura, pois, é
preciso refletir acerca dessas intersecções e perceber as relações presentes nessas
categorias. (DAVIS, 2016). As contribuições teóricas que fundamentam esta discussão são
Bosi (2015), Candido (2000; 2011), Davis (2016), Dalcastagnè (2012), Duarte (2002; 2010),
Evaristo (2009), Ribeiro (2017), Santiago (2012), Zolin (2009), dentre outros. Este estudo
demonstra a importância da leitura e escrita afro-brasileira como forma de
representatividade, contribuindo com a descentralização do poder patriarcal e na
(re)construção de identidades subalternizadas.
1 INTRODUÇÃO
194
identidade do Brasil é reconfigurada a partir de uma visão do Outro,
principalmente, daquele que domina, explora e determina padrões sociais,
religiosos e políticos. Com isso, é preciso questionar-se essa identidade
nacional, cultural, étnica e religiosa, ao considerar que a diversidade
presente no país, foi silenciada numa tentativa de unificação por parte do
olhar eurocêntrico. A história do Brasil é marcada por um branqueamento,
de elitismo e hegemonia, principalmente, masculina, que em consequência,
fortaleceu e intensificou a escravidão de negros, a violência e o genocídio
da população afro-brasileira.
195
corpo da mulher negra é, constantemente, marcado por esses discursos de
dominação, discriminação, violência, nessas representações sobre a negra.
196
2 METODOLOGIA
197
(2) Perceber a autorrepresentação feminina e afro-brasileira na
literatura contemporânea.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
198
Sendo assim, é possível perceber que o processo de colonização se
constituiu, principalmente, através da exploração e da dominação por
interesses, puramente, econômicos. Pois, as culturas e religiões já existentes
foram desvalorizadas e menosprezadas, o que não aconteceu de forma
pacífica, ao considerar que houve imposição tanto da língua, quanto da
cultura, entre outras formas. Os negros escravizados em navios, das mais
diversas regiões, de forma desumana e cruel, revelam que a história da
colonização não pode ser vista de forma romantizada, mas sim, por um viés
histórico e crítico, para que só assim, entenda-se o como constrói-se e
ressignifica-se essa identidade.
É notável que o período colonial, pelo seu fator político e social, e por
ter sido um período tão marcante na história do país, muito tem influenciado
na formação da literatura nacional, e reproduzindo atitudes e estereótipos
presentes desde as suas origens, haja vista que a literatura, também, acaba
sendo reflexo do social, seja para representar, criticar e/ou questionar.
Porém, o que se percebe nas origens da literatura nacional, não é uma
crítica, mas sim um reflexo do que o período colonial representou, pois assim
como Evaristo (2005) esclarece que:
199
A representação literária da mulher negra ainda surge ancorada nas
imagens de seu passado escravo, de corpo-procriação e/ou corpo-
objeto de prazer do macho senhor. Interessante observar que
determinados estereótipos de negros/as, veiculados no discurso
literário brasileiro, são encontrados desde o período da literatura
colonial. (EVARISTO, 2005, p. 52).
200
ou seja, é uma visão que parte do olhar do outro acerca das vivências do
próprio negro, o que se propende para uma visão distorcida e ilusória.
201
em 165 autores eram homens, ou seja, 72,7%. Mais gritante ainda é a
homogeneidade racial: 93,9% dos autores são brancos. Mais de 60%
deles vivem no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase todos estão
em profissões que abarcam espaços já privilegiados de produção de
discurso: os meios jornalístico e acadêmico. (DALCASTAGNÈ, 2012, p.
14).
23Informações recolhidas na matéria produzida pelo The Intercept Brasil. Disponível em:
<https://theintercept.com/2018/08/30/conceicao-evaristo-escritora-negra-eleicao-abl/>.
Acesso em: 27 de maio de 2021.
202
mais diversos campos políticos, sociais e culturais, a sua posse não se
concretizou. A ABL, atualmente, é ocupada por quarenta escritores 24 , a
maioria dos membros são homens, destes quarenta que ocupam as cadeiras,
apenas cinco são mulheres, nenhuma delas são negras, e há a presença de
apenas um escritor negro.
203
À vista disso, considera-se a escrita literária das mulheres afro-
brasileiras uma escrita de resistência. É por meio da poética, que mulheres
negras não cedem ao sistema demarcado pelo patriarcado e a hegemonia,
mas resistem por meio de sua escrita literária. E (re)existem em meio a uma
homogeneização que a tentam silenciar, apagar e minimizar a suas
grandiosidades e diversidades, é por intermédio da poética afro-brasileira
que encontram outras formas de existir em meio a todo esse sistema de
exclusão, “afirmando um contra-discurso à literatura produzida pela cultura
hegemônica, os textos afro-brasileiros surgem pautados pela vivência de
sujeitos negros/as na sociedade brasileira e trazendo experiências
diversificadas [...]” (EVARISTO, 2009, p.27).
204
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sendo assim, este trabalho objetiva analisar por meio das vozes de
resistência e (re)existência das poetisas afro-brasileiras Cristiane Sobral,
Conceição Evaristo e Mel Duarte, a autorrepresentação da mulher negra na
literatura contemporânea, atentando para os aspectos de raça, classe e
gênero e evidenciando a necessidade de permitir que os sujeitos que foram
205
colocados na borda da sociedade, ocupem os mais diversos campos sociais,
culturais e políticos.
As mulheres que conheci foram guerreiras Sei que existem muitas mulheres perdidas
Nunca deixaram de madrugar nas Sei que muitas estão escondidas
segundas-feiras
Mas é chegada a hora da revolução
Enfrentaram inúmeros desafios com
alegria
Vamos movimentar nossos quadris rumo a
Graças a Deus aprendi com essas
um futuro certo
mulheres
Femininas e prontas para a reconstrução
Graças a Deus cresci com as mulheres
206
De longe e de perto Seguras e cheias de paz
Capazes de enfrentar os novos desafios
Encontrei mulheres rumo ao sucesso Sábias, fortes, infinitas
Todas souberam encontrar o caminho Mulheres bonitas e mulheres bondade
certo
Solidárias na decepção
Muitas enxergaram os tropeços da
estrada bem perto
Evoé, guerreiras com Nzinga
Sempre admirei suas glórias após o
fracasso Rainhas dignas de exaltação.
O poema Nzingas Guerreiras foi escrito por Cristiane Sobral, que além de
ser poetisa da literatura afro-brasileira, é atriz, dramaturga e mestre em Artes.
É reconhecida pelos seus escritos que abordam, sobretudo, a identidade
negra, a resistência como forma de rompimento aos preconceitos de
padrões hegemônicos e elitistas. Foi na literatura que a autora encontrou
espaço para colocar a sua voz e abordar sobre temáticas tão necessárias e
que ainda hoje são marginalizadas. O poema escolhido está inserido no seu
livro Não Vou Mais Lavar os Pratos, publicado em 2011, que reúne diversos
poemas desde a autoaceitação, liberdade, maternidade, fraternidade, e
sobretudo, a história de sobrevivência e luta da mulher negra.
O poema é composto por vinte e seis (26) versos, e cinco (5) estrofes, é
escrito com uma linguagem simples, sem muitas métricas, há a presença de
versos livres, e alguns ritmados. No poema há a prevalência da coragem, da
força em reinventar-se e da presença de um eu-lírico feminino resiliente que
aprende e encoraja outras mulheres. Um aspecto interessante a se observar
207
em todo o decorrer do poema, é referente a alteridade e a representação
do eu-lírico feminino, a partir das vivências de outras mulheres que
transitaram na vida desse eu-lírico, mas, que de alguma forma deixaram
aprendizados e também constituem parte de sua identidade, como é
demonstrado na primeira estrofe.
208
Quadro com o poema Eu-Mulher de Conceição Evaristo.
209
silenciamento e o branqueamento na literatura canônica. É na literatura, que
Evaristo ganha a voz para denunciar, criticar e questionar os valores
hegemônicos de uma sociedade elitista e excludente acerca dos negros,
principalmente, da mulher negra subalternizada.
O poema Eu-mulher tornou-se um espetáculo que reuniu dança, música e literatura. Foi
25
musicado por Renato Gama, cantado por Mariana Per e contou com a dança de Malu
Avelar. Disponível em: <https://youtu.be/PnjfCN4O43c>. Acesso em: 29 de maio de 2021.
210
Os dois últimos versos da primeira estrofe retratam um eu-lírico
feminino que busca falar, mas essa palavra (o direito a voz) foge, a palavra
não é dada por completa e sim limitada, (meia palavra mordida / me foge
da boca.). É possível notar o efeito sonoro causado por aliterações na
utilização do “m” e do “n” constante ao decorrer do poema.
211
Quadro com o poema Não Desiste! de Mel Duarte.
212
É preciso lembrar de nossa raiz
Semente negra de força matriz que E é por isso que eu digo:
brota em riste!
Que não desisto.
Mãos calejadas, corpos marcados sim
Que não desisto.
Que não desisto.
Mel Amaro Duarte é uma poeta paulista e tem contato desde muito
nova, seu contato com a literatura e escritos surgem desde 2006, além de ser
autora, é slammer e produz conteúdos culturais nas mais diversas plataformas
digitais, como a música, as declamações dos seus poemas, entre outros. Mel
Duarte é a primeira mulher a vencer o campeonato internacional de Slam
(Rio Poetry Slam), é uma das fundadoras do Slam das Minas de SP,
movimento que busca reverberar e possibilitar acesso as vozes femininas nas
batalhas. Por meio das batalhas de poesias, a autora utiliza de sua voz e de
seus escritos para abordar sobre temáticas acerca da identidade negra, da
ancestralidade, denúncias sociais que por muito tempo foram
desvalorizadas e minimizadas, como o racismo, preconceito, machismo,
dentre outros.
213
brasileira, que luta contra os estigmas e preconceitos do sistema
hegemônico e elitista contra a mulher negra. Da primeira a sexta estrofe
localizadas na primeira coluna do quatro, é possível perceber um aspecto
bastante interessante, o eu-lírico-feminino, inicia o poema ecoando uma voz
de (re)existência que aparece presente em todo o poema, (Não desiste
negra, não desiste! / Ainda que tentem lhe calar), e trazendo, também, as
visões estereotipadas da sociedade acerca da imagem feminina negra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
214
Essas novas abordagens na literatura nacional e afro-brasileira,
permitem diferentes percepções relacionadas as mulheres negras,
abordando temáticas referente a feminilidade, ao amor, a denúncia aos
preconceitos, reverberando novas vozes e fortalecendo uma união entre
essas mulheres. Assim como demonstra os poemas Nzingas Guerreiras da
escritora Cristiane Sobral, Eu-mulher de Conceição Evaristo e Não Desiste! de
Mel Duarte, abordam, sobretudo, a autorrepresentação a e união entre as
mulheres negras, assim como representa o diálogo em comum nos três
poemas; referente a força de (re)existir e resistir da mulher afro-brasileira,
valorizando as suas ancestralidades e religiões, assim como o reverberar das
vozes de outras mulheres negras.
REFERÊNCIAS
215
DUARTE, C. L. Gênero e violência na literatura afro-brasileira. In: DUARTE, C.L
et al. Falas do outro: literatura, gênero, identidade. Belo Horizonte: Nandyala,
229-234, 2010.
DUARTE, M. Não Desiste! In: DUARTE, M. Nega nua crua. 2ª ed. São Paulo:
Ijumaa, 2016. p. 14-15.
SOBRAL, C. Nzingas guerreiras. In: SOBRAL, C. Não vou mais lavar os pratos.
Brasília: 2016, p. 30.
216
TRÍADE SIGNIFICATIVA: PROJETOS DE ENSINO, GÊNEROS TEXTUAIS E
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC’S)
INCENTIVAM APRENDIZAGEM.
217
INTRODUÇÃO
218
Permitir ao educando assumir o seu discurso e colocá-lo no embate
com outros discursos circundantes deve ser a mola que o impulsionará a
assumir uma postura autônoma, reflexiva, crítica e criativa perante o mundo.
219
É, justamente, neste contexto que os recursos midiáticos surgem
aproximando e/ou distanciando o educador do educando neste mundo de
tecnologias informativas, mostrando que este recurso é uma tendência
mundial, o qual seja unir as práticas comuns aos recursos midiáticos.
220
É preciso ousar, ter coragem de criar e buscar novas alternativas de
ensino e aprendizagem. Desvencilhar dos livros didáticos para que o
conhecimento socializado pelo estabelecimento de ensino esteja atrelado
às novas formas de relações do homem ao seu redor. Portanto compete à
escola educar para a vida, formando cidadão planetário, competente para
lidar com os sofisticados equipamentos, informação e o conhecimento
gerado em outras partes do mundo.
221
A partir desta informação em rede percebe-se mais facilmente a
diversidade do planeta em termos culturais, geográficas, sociais,
econômicas, incentivam-se ideias, opiniões e atitudes com o objetivo de
estimular o pensar e controle consciente do próprio aprendizado. Dentro
desta perspectiva de análise, é necessário que as pesquisas possam
contribuir para um entendimento mais amplo da necessidade da inserção
das mídias na prática docente dos educadores que estão atuando em várias
redes de ensino.
222
escrita, no momento, por exemplo, em que vai construir seu texto e precisar
usar recursos que explicitem esse objeto.
223
estes entraves e encontrar caminhos para uma reformulação de seu enfoque,
na busca de nova concepção de educação, do papel da leitura e escrita
no contexto e a formação dinâmica de cidadãos contemporâneos.
224
contexto, é importante evidenciar que o estabelecimento de ensino e o
convívio social, são lugares ideais para o desenvolvimento de competências
comunicativas.
225
Para que as premissas apresentadas nos Parâmetros e na teoria dos
gêneros textuais se concretizem no contexto educacional, é de suprema
importância que as discussões e as experiências desenvolvidas em vários
estabelecimentos de ensino alcancem outras salas de aula, assegurando aos
educadores aperfeiçoamento permanente. Dessa forma, os educadores
poderão ficar familiarizados e até mesmo aptos a aplicarem uma
metodologia diferenciada e ampliar discussões para edificar uma educação
de qualidade, que aborde textos originais e explore a criticidade dos
educandos.
226
Para atender ao propósito de produção que considera os textos
pertencentes a diversos gêneros, o documento sugere uma seleção de
gêneros, pautada nos textos que favorecem a “[...] a reflexão crítica, o
exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como
a fruição estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para
a plena participação numa sociedade letrada” (BRASIL, 1998, p. 24).
227
se faz com a coletividade, quando os envolvidos, educandos, corpo
pedagógico e comunidade participam planejam, executam e avaliam as
ações, para obter maiores possibilidade de êxito.
228
Torna-se importante lembrar que este processo que pode ser
designado de intercâmbio, desencadeia a interdisciplinaridade da dinâmica
de trabalho, reforçando o percurso em diferentes campos de conhecimentos.
O que irá favorecer contribuições, estabelecer elos esquecidos nas relações
pedagógicas onde os educandos se bem incentivados poderão deixar vir à
tona manifestações de amplos conhecimentos com criatividade e espírito de
invenção, tornando-se aspectos que fortalecerão sua autoestima.
229
De acordo com Santos
230
dificuldades, conflitos e todos os lentos percursos que as conduzem a
realizações mais complexas.
2 - JORNAL LEGAL
231
4 – HISTÓRIAS INFANTIS E CRIATIVAS.
232
9 - PERCEBENDO AS DIFERENÇAS TEXTUAIS NAS MÍDIAS VARIADAS.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
233
educar para o uso consciente desta tecnologia é depositada na escola e no
educador.
234
escolar. Uma ferramenta multimídia para ensinar investigar-aprender
representa um ganho expressivo para as influências recíprocas entre
educador e educando.
REFERÊNCIAS
235
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº. 9.394. Brasília,
20 dezembro 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm Acesso em: 02 abr. 2021.
236
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança / Paulo Freire. – Tradução de Moacir
Gadotti e Lilian Lopes Martin. – Rio de Janeiro; Paz e Terra, Coleção Educação
e Mudança vol.1. 1983.
http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/tecnologias_eduacacao/inte
gracao.pdf Acesso em: 6 mar. de 2021.
237
________. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas, SP. Papirus,
2009, p.15- 25.
SILVA, Silvio Ribeiro da. Gênero Textual e Tipologia Textual sobre Gramática.
238
O ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA MATERNA NO CONTEXTO
DA SOCIOEDUCAÇÃO PANDÊMICA NA REDE ESTADUAL PAULISTA:
A PRÁTICA COLABORATIVA TRANSDISCIPLINAR DOCENTE SOB A
PERSPECTIVA DA TEORIA DA ATIVIDADE
239
INTRODUÇÃO
240
sujeitos, na visão foucaultiana 29 , aos mecanismos de disciplinarização de
corpos, vigiados e acorrentados moralmente a um sistema panóptico mais
preocupado em punir, e adestrar seres humanos, do que recuperar os
indivíduos e devolver-lhes a dignidade humana (FOUCAULT, 2002).
29Michel Foucault (1926- 1984) foi um filósofo, crítico literário e teórico social francês. Entre
seus estudos, preocupou-se em estudar a respeito do poder e do conhecimento, como uma
forma de controle social.Em seu livro “Vigiar e Punir”, Foucault discorre sobre a
disciplinarização na escola. O autor compara por vezes a escola com instituições
disciplinadoras e severas, como a prisão e o quartel, devido a imposições autoritárias e
arbitrárias de ordem, à guisa de exemplo: filas, regras impostas sem discussão, hierarquia de
poder, vestuário uniforme. A escola opera com a imposição de uma determinada forma de
poder: o poder disciplinar. Para Foucault (2002), o poder disciplinar é, com efeito, um poder
que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior “adestrar”; ou sem dúvida
adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. Na perspectiva do autor sobre a
conjuntura escolar, a disciplinarização tem por objetivo adestrar os alunos, como se fossem
animais que precisam ser domesticados, pois, assim se tornam dóceis, fáceis de serem
manipulados e mandados.
241
privação de liberdade, catadores de materiais recicláveis, população em
situação de rua, entre outros seres excluídos e minorizados (GADOTTI, 2014).
1 METODOLOGIA
242
Obtivemos taxa de resposta de 100%. As perguntas foram as seguintes,
sendo a primeira delimitadora do perfil dos professores e as demais ligadas
ao trabalho docente colaborativo inter/transdisciplinar:
243
experiência na docência de língua
portuguesa no Centro Socioeducativo
2 REFERENCIAL TEÓRICO
244
humanos interagem com o meio de forma indireta, mediada. A existência
da mediação entre o sujeito e o objeto é o conceito chave da TASHC.
Vygotsky, então, propôs um modelo básico (figura 1), por meio do qual
retrata que a ação de um sujeito é mediada por ferramentas mediadoras, e
é destinada a um objeto (ENGESTRÖM, 1999).
245
instrumentos criados coletivamente (ferramentas), ele se limitou à unidade
de análise na esfera individual. Essa limitação é superada na segunda
geração da TASHC, com os estudos de Leontiev, que distingue ações
individuais e atividades coletivas. Leontiev ampliou a visão de Vygotsky ao
criar três níveis de análise: atividade, ação e operação (ENGESTRÖM, 1999).
Toda e qualquer atividade surge de um motivo, uma necessidade
consciente ou não, que a constitui e que a direciona a uma ação ou a um
conjunto de ações. Essas ações possuem um objetivo consciente, uma meta,
alcançadas por meio das operações.
246
cujo foco encontra-se na relação entre o sujeito da atividade e sua
comunidade, reforçando-se, assim, a importância do contexto social nas
atividades (ENGESTRÖM, 1999).
247
Quadro 2 - Componentes do sistema de atividade e suas funções
248
Assim, tem-se a rede de atividade como o objeto de estudo da
terceira geração da TASHC. Destarte, é possível analisarmos como o sistema
de atividade local de ensino (unidade/ instituição da socieeducação)
interage com outros sistemas de atividade da EB aos quais se subordina
(estadual/federal).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
249
Na Fundação CASA, os internos podem cumprir pena de reclusão até
no máximo a idade de 21 anos completos, conforme determina o ECA
(BRASIL, 1990).
250
Figura 5 – Rede de sistema de Atividade Educativa Remota no Regular e na FC
251
Todavia, algumas contradições entre sistemas da atividade educativa
afetam a qualidade do trabalho e os resultados almejados tanto pelos
professores quanto pelos responsáveis pelos sistemas de atividade educativa
da SEDUC-SP e da Fundação CASA. Destarte, no quadro 3, dispomos as
contradições existentes no sistema de ensino remoto/híbrido que afetam a
qualidade do ensino de língua portuguesa na unidade Fundação CASA,
apontadas pelos três colaboradores, vozes dessa atividade.
252
O que se acentuou com a pandemia foi
a exclusão”.
253
Apesar dos esforços, é necessário salientar que a ação educativa dos
professores, enquanto mediadores na ZDP, é sempre atrelada, ou
aprisionada e disciplinarizada, às regras institucionais, tanto da SEDUC-SP
quanto as da Fundação CASA. Esses profissionais têm pouca, ou nenhuma
liberdade para o desenvolvimento de seus exercícios e práticas junto aos
alunos, dada a conjuntura normativa da educação nos espaços de
privação de liberdade. Destarte, mesmo remotamente, seus roteiros de
estudos estão presos às habilidades requeridas pelos currículos; e,
presencialmente, suas práticas estão em constante vigia, observadas por
outros indivíduos cujo papel aproxima-se do de disciplinadores, quando as
propostas pedagógicas vão além do permitido pelas regras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
254
Para superar os óbices, os professores de língua portuguesa têm
recorrido à colaboração com demais docentes de outros componentes
abordando, através de diversos gêneros textuais, conteúdos que
contemplem, interdisciplinarmente, diversos assuntos, ou seja, os textos dos
exercícios de língua portuguesa são constituídos de conteúdos para
componentes de outras áreas, destarte, contata-se a contribuição do ensino
de língua portuguesa como facilitador aos conceitos de outras disciplinas,
dialogados e negociados entre os docentes promovendo a
inter/transdiscplinaridade na socioeducação.
255
REFERÊNCIAS
256
ENGESTRÖM, Y. From teams to knots: activity-theorical studies of collaboration
and learning at work. Nova York: Cambridge, 2008.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
257
ONOFRE, E. M. C. Educação escolar na prisão. Para além das grades: a
essência da escola e a possibilidade de resgate da identidade do homem
aprisionado. Tese. (Doutorado em Educação Escolar), UNESP, Araraquara/SP.
2002.
VYGOTSKY, L. S. The Genesis of Higher Mental Functions. In: WERTSCH, J.V. The
Concept of Activity in Soviet Psychology: An Introduction. M.E. Sharpe, Inc.
New York: USA, 1981.
258
JARGÃO NO AUTISMO: ANÁLISE DA CONCEPÇÃO ADOTADA EM
ARTIGOS CIENTÍFICOS
INTRODUÇÃO
renata.fonte@unicap.br.
259
Fonte (2019), a aquisição de linguagem é um campo de estudo heterogêneo
e híbrido, no qual, dependendo da perspectiva teórica adotada, pode
influenciar a concepção de linguagem e de sujeito. Diante disso,
defendemos a perspectiva multimodal, a qual nos permite analisar as
modalidades de uso da língua em concomitância a emergência do jargão
enquanto linguagem ou sintoma.
260
perguntas, porém não possuem conteúdo linguístico ou estrutura gramatical
e podem aparecer associadas às palavras reais. De acordo com Scarpa
(2007), o jargão ocorre quando o contorno entonacional se estende a uma
cadeia de sílabas ou a um fragmento maior composto por sílabas
ininteligíveis, mas que são reconhecíveis como intenção comunicativa pelos
adultos, que lhe atribuem significado de uma frase ou sentença.
261
1 METODOLOGIA
262
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1
263
II El lenguaje en los Jargão como Perspectiva 1999
trastornos autistas sintoma pragmática
Fonte: os autores.
264
entre os sintomas de distúrbio do movimento e sintomas de autismo, na
tentativa de apontar as dificuldades impostas pela atual definição de
autismo e sua especificidade. Tratou-se de uma revisão. Diante disso, os
autores atentaram, em muitos momentos, em mostrar os sintomas mais
recorrentes para o diagnóstico do autismo, em que o jargão é considerado
como uma patologia da fala, juntamente com o mutismo, a ecolalia,
melodia da fala atípica, sem nenhuma definição.
265
o diagnóstico do autismo. Em relação à perspectiva, verificou-se a
pragmática, pois os pesquisadores investigaram sobre aquisição de língua
através de análise detalhada das capacidades discursivas sintáticas em
crianças autistas. Escandell (1993) afirma que essa perspectiva parte dos
dados oferecidos pela gramática e considera, sobretudo, elementos
extralinguísticos que condicionam o uso eficaz da linguagem.
266
dos anos, com discussões iniciadas, aproximadamente, em 1907, à luz da
psicanálise. De acordo com os autores, os quais citam Kanner (1943) para
fazer tal afirmação, dizem que a criança autista é incapacitada de
estabelecer contato com seu meio, e expõem alguns sinais clínicos que
permitem reconhecer o surgimento precoce do distúrbio: isolamento,
imobilidade, estereotipias gestuais e os distúrbios da linguagem – é nesse
momento, portanto, que o jargão é dito como algo desprovido de
significação, junto à ausência de fala. Diante disso, a concepção de jargão
foi tida como sintoma, porquanto ele foi posto como um sinal para o
diagnóstico.
267
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por mais que não tenhamos encontrado muitos estudos sobre o jargão
no autismo, por ser um tema pouco investigado e aprofundado, ele se mostra
contributivo para a ciência da linguagem, porquanto identificamos que o
jargão foi analisado como sintoma – o que representa as pesquisas que o
defendem enquanto pista para o diagnóstico. Contudo, defendemos o
jargão enquanto linguagem, porquanto acreditamos que ele faz parte da
trajetória linguística de um indivíduo autista como uma forma de produção
vocal, assim como de uma criança com desenvolvimento típico de
linguagem. Essa concepção, à luz da multimodalidade, é interessante,
porque, assim, ressignificamos o jargão enquanto iniciativa interativa,
integrando os sujeitos autistas como aqueles capazes de compartilhar suas
ideias, predileções, pensamentos.
268
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
269
CAVALCANTE, M. FONTE, R. Panorama das pesquisas em aquisição da
linguagem no nordeste brasileiro. In: ATAÍDE et al. (Orgs.). Cartografia GelNE:
20 anos de pesquisas em Linguística e Literatura. São Paulo: Pontes Editores,
p. 287–449, 2019.
DROMI, E. Babbling and early words. In: SALKIND, Neil .J. (Ed.). Child
development. McMillan psychology reference series. McMillan, 2002.
270
KENDON, A. Language and gesture: unity or duality? In: MCNEILL (ed.)
Language and gesture, Cambridge University Press, 2000, p. 47-63.
LEARY, Martha R.; HILL, David A. Moving on: autism and movement
disturbance. Mental Retardation-Washington, v. 34, n. 1, p. 39-53, 1996.
MCNEILL, D. Hand and Mind: What Gestures Reveal About Thought. Chicago,
IL: University of Chicago Press. 1992, 409p.
271
“ONDE É QUE BOTO MORA?”: UM ESTUDO SOBRE A LINGUAGEM
NO CONTO O BAILE DO JUDEU (1893), DE INGLÊS DE SOUSA
RESUMO: Este estudo tem por objetivo investigar de que forma a linguagem é estruturada
no conto “O baile do judeu”, do escritor paraense Herculano Marcos Inglês de Sousa.
Inserido na coletânea Contos amazônicos (1893), neste conto é narrada a história de Isaac,
o judeu, que promove uma festa em sua casa e convida as pessoas mais importantes
daquela sociedade. Durante o festejo, um sujeito misterioso começa a dançar com uma
das convidadas, D. Mariquinhas, até que no meio da valsa ele acaba deixando cair seu
chapéu, transparecendo a cabeça furada e revelando ser o boto. A narrativa fantástica e
sobrenatural nos fazem pensar nos caminhos trilhados pelo autor para compor o mistério que
envolve a trama: quem é o boto? Como ele é descrito? Qual a imagem criada a partir de
suas ações na narrativa? Quais as intertextualidades e simbologias que constroem a
narrativa? Com este trabalho, pretendemos apresentar os resultados desses e de outros
questionamentos que terão como núcleo a linguagem do texto literário. Para tanto, foram
importantes os pressupostos teóricos acerca da linguagem e da literatura de Marilena Chaui
(2000), Roland Barthes (1992; 2004) e Michel Foucault (1996).
Palavras-chave: Linguagem, Texto literário, Inglês de Sousa, O baile do judeu.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
rebecafurtado@ufpa.br.
272
tendo sempre como ponto de partida os seus conhecimentos sobre o
espaço amazônico34.
273
com a linguagem da narrativa e com os seus leitores. A literatura, nesse caso,
relaciona-se diretamente com o discurso de poder, tendo em vista o próprio
ato criativo e encenado da linguagem. O narrador, em alguns momentos,
tece comentários carregados de juízos de valor, que demonstram a sua
superioridade na narrativa de quem domina a linguagem.
274
curtindo o melhor momento do festejo, chega um homem misterioso e
convida a mulher mais bonita da festa para dançar. Num certo momento,
ele deixa cair seu chapéu, expondo um furo e revelando ser o boto, é
quando, então, ele leva a moça para o rio e desaparece com ela nas
profundezas da água.
275
coração (BARTHES, 2004, p. 14). A literatura nada mais é que uma subversão,
dissimulação, encenação. Ela atua como possibilidade de fugir do campo
fechado que é a linguagem, como já apontava Barthes (1992, p. 15). Em um
conto, somos ora espectadores, ora personagens. Nos colocamos, ou somos
colocados, na narrativa. O narrador nos seduz, através da linguagem, a
participar do enredo. Convergimos e divergimos das falas, ações, visões
acerca das personagens. Tomamos um lado. Uma cena que explicita o uso
da linguagem como mecanismo sedutor é a da dança entre a figura
misteriosa que acabara de chegar ao baile e Dona Mariquinhas, tida como
a rainha do baile. A maneira como o autor constrói a cena envolve o leitor e
faz com que ele sinta que está inserido na narrativa, sem fôlego tal como a
dona que está dançando:
276
2.1 A METAMORFOSE DO HOMEM EM ANIMAL E DO ANIMAL EM HOMEM:
CONHECENDO O BOTO
277
Às onze horas, quando mais animado ia o baile, entrou um sujeito
baixo, feio, de casacão comprido e chapéu desabado, que não
deixava ver o rosto, escondido também pela gola levantada do
casaco. Foi direto a D. Mariquinhas, deu-lhe a mão, tirando-a para
uma contradança que ia começar. (SOUSA, 2006, p. 85).
278
Lulu Valente, com este nome que também não foi escolhido pelo autor
de forma aleatória, poderia ser o boto. Os próprios personagens desconfiam
que ele é o homem que se metamorfoseou em animal. Quando o narrador
diz que Lulu morreu pela moça, ele pode estar falando em uma morte não
literal, mas sim de uma morte metafórica, como quem morre por um amor
não correspondido, o que é muito característico do amor construído pela
literatura. Ele teve que morrer e renascer enquanto homem para se
transformar em animal e recuperar o seu amor, mesmo que seja de forma
violenta e não esperada por ela. A morte enquanto encerramento de uma
trajetória, pode ser, também, um sopro de vida, como é o caso de Lulu
Valente.
279
Valente não foi convidado ao baile do judeu. O boto também não. Ele
apareceu naquele local deixando todos curiosos e surpresos. A sua figura
impressiona e horroriza a todos, até mesmo o leitor, ainda mais quando, ao
final da narrativa, ele foge e leva Mariquinhas para o fundo do rio, mostrando
que pode ser tão ou mais poderoso que os homens, justamente pela sua
construção sobrenatural. Segundo Todorov (2012, p.59), a existência de seres
sobrenaturais é um dos enfoques constantes da literatura fantástica.
280
formam um conjunto de textos inseridos em um texto só. A intertextualidade
é recorrente na literatura, tendo em vista que:
281
refere-se a não aceitação do judeu na sociedade. Aqueles que se dizem
cristão jamais pisariam naquele lar. Porém, não é isso que acontece.
282
a permitir ao leitor criar a imagem dela em sua cabeça. Porém, ela é vítima
de uma violência por parte do boto: é levada sem permissão para o fundo
do rio. Mariquinhas é o símbolo da figura feminina naquela sociedade.
No livro de Gênesis, Abraão toma Isaque, seu filho, como sacrifício para
demonstrar sua fé em Deus. No conto, o sacrifício se dá pelo próprio
acontecimento da festa, que acaba de forma trágica, fazendo com que
ninguém frequente mais a casa do judeu. As relações entre a religião são
283
muito expressivas no conto, seja no nome do personagem ou nas relações
entre eles.
284
Já o sobrenome de Lulu, Valente, dá outra simbologia para o
personagem. Valente simboliza a bravura, a resistência perante os conflitos
da vida. É como a sua morte, como foi falado anteriormente, o seu
renascimento diante das escolhas de Mariquinhas. O sobrenome Valente o
permite renascer em outro personagem, não apenas aquele Lulu que foi
deixado por Mariquinhas.
285
Há juízo de valor, também, na culpabilização da aceitação de D.
Mariquinhas ao dançar com o boto. Logo que aquele sujeito misterioso
chega ao baile e tira a personagem para dançar, todos que estão na festa
se divertem pela forma que ele dança, inclusive o Bento de Arruda e a sua
mulher, que “ria-se a bandeiras despregadas” (SOUSA, 2006, p. 85). A
diversão vai se esfriando a partir do momento em que o homem do chapéu
desabado começa a dançar freneticamente, fazendo Mariquinhas “já não
experimentar prazer algum naquela dança desenfreada que alegrava tanta
gente” (SOUSA, 2006, p. 86). A agitação da dança fica tão forte que a
personagem não sente mais o soalho sob os pés, em completo desespero.
Até que, ao final:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
286
linguagem que o narrador se utiliza para narrar os fatos. Ela vai atuar desde
as descrições dos personagens, sejam elas físicas ou psicológicas, até mesmo
no diálogo com outras histórias e narrativas que são lidas e ouvidas.
REFERÊNCIAS
287
no Collège de France no dia 02 de dezembro de 1970. Tradução de Laura
Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
SOUSA, Inglês de. Contos Amazônicos. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.
288
POEGRITO: CARLOS DE ASSUMPÇÃO
RESUMO: Este artigo evidencia as relações entre poesia elegíaca, memória, ancestralidade
e resistência na obra Protesto: poemas (1982), que compõe o livro Não pararei de gritar, do
poeta negro Carlos de Assumpção, publicada em 2020. Tomada em seu mosaico temático,
sobretudo em torno da ancestralidade afro-brasileira e pela consciência do fazer poético
que enforma o legado milenar da oralidade e uma estética negra, a lírica de Assumpção
vem sendo considerada uma precursora do slam contemporâneo, operando como um
libelo militante, contra o preconceito étnico-racial tão indelevelmente enraizado na cultura
brasileira, bem como pela afirmação de uma memória elegíaca que reverbera. A poesia
elegíaca arvora-se como interrogação sobre o tempo, a experiência subjetiva e sua finitude,
o luto, a perda, o exílio, as catástrofes da História, recorrendo a um discurso evocativo e
memorialista. A memória, em sentido amplo, cria um élan entre poesia e imaginário
individual e coletivo, sempre em devir, e de forma dialógica, na constituição das identidades.
A ancestralidade, tomada em seu sentido antropológico, constitui-se como patrimônio
material e simbólico, reverberando uma ideia de herança cuja transmissão a converte em
memória social. Para a literatura negra, especialmente, a poesia, aventamos que o
imaginário revisitado repertoria determinados elementos culturais, como rastros linguísticos e
estéticos, evocação do sagrado, o discurso de resistência ante à colonização, entre outros
aspectos. A poesia, como lugar de fala, portanto, engendra o gesto poético e histórico de
permanente elaboração dos matizes organizadores de memória social e coletiva em
poegritos.
289
apurando a sensibilidade pelo prazer, pelas emoções, pensamentos, o valor
da língua e da tradição literária e da consciência de sua existência (ELIOT,
1972, p. 32;35;36;41). Chartier considera que a poesia aponta para sua
dimensão de registro e representação da realidade, sem negligenciar a
dimensão textual construída em regras próprias, testemunha o real na própria
“historicidade de sua produção e na intencionalidade da sua escrita” (p.62-
63). Paz (2012) indica que a poesia se faz “expressão histórica de raças,
nações, classes”, diante da qual “o homem finalmente toma consciência de
ser mais que passagem” (p. 21).
290
tema e como processo inerente à escrita (p. 13). Ocorre, de acordo com o
crítico, uma “translação de sentido da esfera ética para a estética” na
exploração da “força catalizadora da vida em sociedade: os seus valores”
(p. BOSI, 1996, p.13). Para o autor, “no fazer-se concreto e multiplamente
determinado da existência pessoal, fios subterrâneos poderosos amarram as
pulsões e os signos, os desejos e as imagens, os projetos políticos e as teorias,
as ações e os conceitos” (p. 13). A poesia reverbera um conteúdo de
verdade e moral da poesia, que, com “seu modo figural e expressivo”, revela
“ a mentira da ideologia, a trampa do preconceito, as tentações do
estereótipo” (p. 24).
291
do passado e a autoafirmação do sujeito negro. Dessa forma, operando
como um “vértice entre a história e a memória” (SELIGMANN-SILVA, 2010, p.
6), uma vez que a literatura apresenta-se, no limite, testemunhal nas
reverberações dos eventos históricos, sejam eles experienciados diretamente
ou testemunhados, seja por ser contemporâneo ao fato, seja por dele tomar
conhecimento pelos que o vivenciaram, seja por entrar em contato
com ele através de textos da cultura – incluindo, aqui, a poesia de autoria
negra -, que constituem a memória coletiva e individual.
Nessa breve incursão sobre o livro Protesto (1982), que integra a obra
Não pararei de gritar (2020), de Carlos de Assumpção, lanço um olhar
interpretativo sobre os poemas “Tambor I”, “Tambor II”, “Meu quilombo”,
“Fênix”, “Poema verídico” e “Eclipse”. Neles, busco pôr em evidência a
tensão entre o imaginário e a ancestralidade, como matéria de poesia, e
alguns recursos expressivos dos quais se vale o poeta para trazer à luz a
experiência lírica e a dicção social com a qual reveste seu projeto poético.
Antes, porém, pode ser rentável considerar uma perspectiva de poesia que
seja capaz de nutrir nossa análise, sobretudo levando-se em conta tratar-se
de uma poesia e de um poeta até recentemente alijados do campo literário
e sobre os quais é urgente que a crítica de poesia produza uma recepção
que devidamente reconheça sua validade estética e seu apelo (ou grito)
contra a uma das nuanças do racismo estrutural, que proponho chamar de
racismo literário.
292
intuída, e que não se limita a fazer reconhecer – o que seria o automatismo
da imagem e da percepção -, mas o conhecer – um olhar criado, posto que
poesia é poien – criação. A poesia é o que transcende como modo de ver,
sentir, intuir, sofrer, que passa pela emoção, pela escavação das vivências
íntimas transfiguradas em linguagem. Não é uma emoção periférica e
superficial, mas que mobiliza elementos da sensibilidade, dos afetos, dos
traumas – históricos, individuais, coletivos, que se relacionam à experiência
da filiação, do abandono, da fome, da luta de classes, do erotismo, da
sexualidade, da forma de encarar e encarnar o mundo e de se reconhecer
lançado ao mundo e às contingências históricas. A poesia assume-se como
um território de “conhecimento, salvação, poder, abandono”. (PAZ, 2012, p;
12).
293
Toda alteridade é antes uma relação, pois não se conjuga alteridade
no singular. O Outro é sempre alguém com o qual me confronto ou
estabeleço contato” (OLIVEIRA, 2001, p.257). Nesse sentido, ainda segundo
Oliveira (2001), a ancestralidade é um território sobre o qual se dão as trocas
de experiências: sígnicas, materiais, linguísticas, entre outras. O fundamento
dessa sociabilidade é a ética, daí a ancestralidade ser também uma
categoria de inclusão “porque ela, por definição, é receptadora. Fruto do agora,
a ancestralidade ressignifica o tempo do ontem. Experiência do passado ela
atualiza o presente e desdenha do futuro, pois não há futuro no mundo da
experiência” (OLIVEIRA, 2001, p. 255).
294
em 2020, que reúne esses cinco livros, acrescentando nove poemas inéditos,
escritos entre 2018 e 2019, além de diversas antologias. Tomada em seu
mosaico temático, sobretudo em torno da ancestralidade afro-brasileira e
pela consciência do fazer poético que enforma o legado milenar da
oralidade e uma estética negra, a lírica de Assumpção vem sendo
considerada, ao lado da obra de Carolina Maria de Jesus, uma precursora
do slam contemporâneo, como aponta Pucheu (2020, p. 171), em posfácio
à obra. Pucheu (2020, p. 159) lembra que Carlos de Assumpção estreia na
cena literária brasileira com o poema “Protesto”, recitado pela primeira vez
na Associação Cultural do Negro, em São Paulo, em 1956, ocasião em que
trava amizade com outros nomes expressivos da poesia negra brasileira,
como Solano Trindade, Oswaldo de Camargo, Eduardo de Oliveira, Aristides
Barbosa, Abdias do Nascimento, entre outros intelectuais negros. Dois anos
depois, o poema é publicado em Cadernos de Cultura da ACN. Desde
então, comenta o crítico, o poema de Carlos de Assumpção foi
reiteradamente recitado e ganha o reconhecimento dos movimentos negros.
Para Pucheu, a poesia de Carlos de Assumpção se afina “ao que havia de
mais significativo na formulação de um pensamento de poetas e teóricos
negros sobre questões raciais, passando pelo renascimento negro, pelo
negrismo cubano e pela negritude” (2020, p. 159).
295
negro e a negra, ainda que a justificativa possa parecer “plausível”, “ética” ou
“científica” (p.36). Nessa perspectiva, sobrecodificar é uma das estratégicas
296
e seis poemas, incluindo o poema-título homônimo, “Protesto”. Desse
conjunto, um total de dez poemas explicitam uma dicção poética que
reivindica uma consciência identitária e um sentimento de negritude, através
de dois paradigmas intercambiáveis: a memória e a ancestralidade. Nessa
perspectiva, destacam-se os poemas “Tambor I”, “Tambor II”, “Meu
quilombo”, “Fênix”, “Poema verídico” e “Eclipse”, que passo em revista
doravante.
Tambor
Dá asas a nosso grito contido há séculos
Grita
Nada de pequenos lamentos inúteis
Nada de pranto
Grita tambor
Grita
Estamos do lado de fora
Com as mãos vazias e as portas fechadas
Com chaves de desamor
Grita tambor
Grita
Temos sede de vida e estamos cansados de tanta dor (ASSUMPÇÃO,
2020, p. 11)
297
pela presença de figuras de harmonia, como a assonância, reiterada em an,
on, am, em, bem como pela aliteração produzida pelo fonema t.
Considerando-se a relação de sentidos promovida pelo eixo paradigma-
sintagma, tem-se que o lexema tambor produz uma metáfora de liberdade
e resistência em “dá asas ao nosso grito” (v.2); e cria, simultaneamente, uma
personificação e uma sinédoque em “grita” (v. 3,6, 7,12, 14 – o verbo
comparece 31 vezes, ao longo do livro), como uma fusão entre sujeito e
objeto, em que a escuta do eu poemático ecoa uma memória localizável
no imaginário intertextual e histórico.
Tambor
são inúteis nossos gritos
silêncio
tambor
neste mundo branco
somos considerados incômodas
manchas negras
apenas
silêncio
tambor de nostalgia
tambor de angústia
tambor de desesperança
silêncio
tambor
ninguém compreende nossa mensagem de dor (ASSUMPÇÃO, 2020,
p. 28).
298
A verve militante de sua poesia atualiza a luta ancestral e se faz libelo
contra o preconceito étnico-racial tão indelevelmente enraizado na cultura
brasileira, bem como pela afirmação de uma memória elegíaca como
reverbera em “Meu quilombo’:
299
passado, com sua imagem de destruição e silenciamento (corporal, histórico,
estético) e, finalmente, o futuro, com a ênfase no posicionamento político e
poético matizado de expectativas diante de um possível revisionismo.
Irmãos
300
do “indivíduo vocal”, que pode falar, e que operam como “investigação das
nostálgicas raízes perdidas”, de que trata Spivak (2010, p.45;61):
Em rostos de cal
Olhos impassíveis
Frios como punhais
À minha frente me dizem não
Se eu gritasse se eu gritasse
Se eu gritasse que os meus ais
Se eu gritasse que o meu pranto
Se eu gritasse que o meu sangue
As marcas do meu trabalho
Meu amor incomparável
Estão em todas as partes
Em toda argamassa da pátria
Que adiantaria gritar
[...] (ASSUMPÇÃO, 2020, p.26)
301
do processo capitalista” (p. 165). Em segundo lugar, a poesia se apresenta,
paradoxalmente, como resistência de muitas faces, uma delas, como
revolução e utopia, não sem um tom nostálgico e crítico, uma vez que “o
desespero dos poetas advinha de não poderem eles realizar seu sonho de fazer-se
entender de todos, encontrar um eco no coração de todos os homens. (BOSI, 2000,
p. 168).
302
“Eclipse”, uma vez mais, o eu lírico, aciona, pela via do imaginário,
“textualidades rejeitadas”, para lembrar a concepção de Pereira (2017),
“ausente dos espaços literários legitimados, ao mesmo tempo em que insinua
sua presença em potencial, e “que descrevem seus percursos, revelando,
por um lado, o receio de seus sujeitos ante a perspectiva da exclusão social
[...]” (p.24;35):
Olho no espelho
E não me vejo
Não sou eu
Quem lá está
Senhores
Onde estão os meus tambores
Onde estão meus orixás
Onde Olorum
Onde o meu modo de viver
Onde as minhas asas negras e belas
Com que costuma voar
[...] (ASSUMPÇÃO, 2020, p. 30).
303
(p.40). O tom elegíaco, portanto, funda as relações intersubjetivas, na
medida em que metaforiza as marcas doridas da ancestralidade. Por outro
lado, também se projetam para uma perspectiva de futuro, segundo Cuti
(2010), uma vez que a identidade negro-brasileira “opera para deixar de ser o
que foi forçada a ser para tornar-se uma dimensão liberada, um território
conquistado no campo da cultura e do imaginário nacional” (p.43).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
304
exclusão, quanto matizou de enunciação lírica uma postura de resistência
contra o negrocídio brasileiro.
REFERÊNCIAS
______. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
305
COMPAGNON, A. Valor. In: ______. O demônio da teoria. Trad. Cleonice Paes
Barreto Mourão; Consuelo Fortes Santiago. 2.ed. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2010, p. 221-250.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Irene Ferreira et. al. São Paulo:
Editora Unicamp, 2003.
PAZ, O. O arco e a lira. Trad. Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac
Naify, 2012.
306
SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Trad. Sandra Regina Goulart Almeida
[et al]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
307
OS NÍVEIS INTERNOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM ANÚNCIOS
PUBLICITÁRIOS
RESUMO: Sabemos que toda língua é viva, está em constante variação e mudança, que
tem relação com o tempo e o espaço e seu uso depende das pessoas que a falam, como
do contexto em que é utilizada. Segundo Bagno (2007, p.117), “a língua é viva, dinâmica,
está em constante movimento – toda língua viva é uma língua em decomposição, em
permanente transformação”. Isso posto, existem muitos modos de falar uma língua, porque
toda língua é um conjunto de variedades. Neste artigo, vinculado ao projeto do Grupo de
Pesquisa Leitura e Ensino, do Centro de Letras, Comunicação e Artes, da Universidade
Estadual do Norte do Paraná, campus Jacarezinho (UENP/CJ): Gêneros discursivos/textuais,
gramática, variação e ensino temos como objetivo apresentar pesquisa sobre estudo dos
pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista e sobre variantes linguísticas usadas
em mensagens publicitárias, a fim de identificar e analisar os níveis internos de variação:
fonológico, morfológico, sintático, léxico- semântico e discursivo e os seus efeitos de sentido.
Pretendemos com esse trabalho, contribuir para estudo e reflexão sobre a importância da
abordagem da variação linguística nas aulas de Língua Portuguesa. O referencial teórico
que embasa essa pesquisa é pautado em autores como: Labov ([1972] 2008); Bagno (2007);
Bortoni – Ricardo (2004, 2005); Faraco (2008) Coelho et al (2010) e em estudiosos de anúncios
publicitários: Carvalho (1997); Sandmann (1997), Gonzales (2003, 2004); dentre outros.
INTRODUÇÃO
308
É na escola que um imenso contingente de alunos que frequentam
as redes públicas de ensino tem a oportunidade de acesso à norma
culta da língua, ao conhecimento social e historicamente construído
e à instrumentalização que favoreça sua inserção social e exercício
da cidadania. Contudo, a escola não pode trabalhar só com a
norma padrão culta, porque não seria democrática, seria a-histórica
e elitista”.
309
níveis internos de variação, fonológico, sintático, léxico- semântico e
discursivo, e seus efeitos de sentido.
310
linguísticos em variação, presentes na linguagem publicitária, ocorrem tanto
na fala de pessoas que fazem uso da norma culta, como os que fazem uso
da forma popular (Bagno, 2007). Assim, é relevante conhecer esses
fenômenos, a fim de entender os seus efeitos de sentido.
1 METODOLOGIA
https://www.propagandasemrevistas.com.br.desafiodocodigo.com.br/;
https://www.propagandashistoricas.com.br/.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
311
Sociolinguística vêm quebrando esses paradigmas e mostrando a língua sob
a óptica social.
312
Desse modo, a variação linguística é condicionada tanto por fatores
externos quanto internos e pode levar à mudança linguística.
Por subtração: São os que retiram ou diminuem fonemas à palavra. São eles:
313
aférese, síncope, apócope, crase.
Sístole - Recuo do acento tônico para sílabas anteriores. Ex. “recorde” >
“récorde”.
Rotacismo - Substituição do fonema [l] pelo [r]. Ex. “alface” > “arface”.
314
Por fim, todos esses metaplasmos nos ajudam a explicar a variação e
mudanças fonéticas que se processaram do latim ao português, ou ainda estão
atualmente em processo de mudança.
315
Em (2), a marca de plural, o fonema /s/, é apagado no sujeito e
adjetivo, permanecendo somente no artigo. Assim, há quebra do morfema
representativo de plural, e quebra na estrutura da ideia de pluralidade, que
impõe inserir a marca do plural em todos os termos da frase. Contudo, há
dois casos de variação morfológica sem interface. São eles: “tu” e “você”;
“nós” e “a gente”. Nesses casos há uma drástica mudança no morfema, mas
continuam contendo o mesmo sentido (COELHO et al, 2010, p.58).
Já o nível sintático tem a ver com "Sintaxe" e sintaxe nada mais é que
o estudo das frases, como elas são construídas e capazes de expressar
sentido específico do que se deseja dizer. Alguns fenômenos que estão em
variação são:
316
-Pandorga (RS), papagaio, pipa (nas outras regiões do país).
Coelho et al (2010, p.52) afirma ainda que “ [...] é certo que, quando se
fala em variação linguística, os exemplos que costumam vir primeiro à mente
dizem respeito ao vocabulário (léxico), quase sempre associados à variação
regional ou diatópica”, conforme os exemplos que citados acima.
317
Por fim, o nível discursivo pode ser expandido para além da frase, mas
também porções textuais ou discursivas maiores. Dados interessantes são
encontrados na função de encadear trechos discursivos, desempenhando o
papel de conectores. É importante ressaltar que os conectores são qualquer
elemento linguístico usado para relacionar orações, períodos e mesmo
parágrafos temáticos.
Pode ser uma conjunção (e, mas, porque, portanto etc.), uma
expressão de natureza adverbial (assim, afinal, finalmente, daí,
consequentemente, quanto a, por outro lado etc.), marcadores discursivos
(aí, então, quer dizer, digamos assim), entre outros. Vejamos alguns exemplos
de variações discursivas: - Ex: “e”, “aí”, “tipo assim”, “né”, “daí”, entre outros.
Esses são alguns fenômenos variáveis na dimensão textual/discursiva tendo
função de coordenação em relação de continuidade e ‘consonância’,
estabelecendo coesão entre uma informação precedente e outra
subsequente.
4 A LINGUAGEM PUBLICITÁRIA
318
modalidades ou pluralidade de códigos, seja a linguagem escrita, visual e
auditiva, com o objetivo central de conquistar o público.
319
sem transgressões graves à gramática, segundo Gonzales (2004). Neste
tópico, apresentamos a análise da variação linguística, em seus níveis
internos de variação, em anúncios publicitários, coletados em revistas e sites
especializados como https://www.propagandasemrevistas.com.br.
E, no corpo do texto volta a usar a palavra óia em: “E óia que pneus
Bridgestone e Firestone são que nem festa de São João”...
320
Anúncio 2 – Havaianas Top, da Havaianas
321
texto, foi usada a preposição em + o = no, uma variação no nível sintático. Ir
no bar ao invés de ir ao bar.
322
Anúncio 5 - Cerveja Polar
323
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
324
expressivamente a mensagem publicitária para atingir seu objetivo: chamar
a atenção para vender o produto ou serviço.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
325
conforme assegura Preti (1977, p.28), “levar o indivíduo a um
condicionamento do próprio pensamento, a uma interpretação da
realidade que o cerca”.
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico, o que é, como se faz. São Paulo: Ed.
Loyola, 2008.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São
Paulo: Parábola, 2008.
326
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua
portuguesa. 1.ed; 1ª reimpressão com alterações. Rio de Janeiro: Editora
Objetiva, 2009.
327
DEBATES DA INTERNET: A ACEITAÇÃO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
REGIONAL NO TWITTER
RESUMO: O presente trabalho tem como finalidade apresentar um estudo sobre o impacto
da variação linguística regional na interação ocorrida virtualmente no Twitter a partir da
análise de alguns debates mais comuns que ocorrem nesse ambiente. Na pesquisa,
focalizamos na observação e coleta de postagens sobre duas intensas discussões que
surgiram e alcançaram grandes repercussões durante os meses de maio, junho e julho de
2020, em que o fenômeno da variação linguística regional no campo culinário foi
amplamente questionado e debatido, analisando-as a partir do arcabouço teórico da
sociolinguística variacionista e de autores que abordam esse tema, como Barcellos (2016),
Bagno (2007) e Nobaro (2009). A análise das publicações coletadas revela um discurso
fundamentado em uma concepção de que existe o uso “correto” ou “errado” de
determinadas variações linguísticas, principalmente no campo lexical, na rede social,
baseada no preconceito linguístico. Este estudo, portanto, contribui para uma melhor
compreensão sobre a questão da variação linguística regional nas redes sociais digitais, em
particular no Twitter, que se configura como um ambiente fértil para a discussão e pesquisa
dessa temática, possibilitando um novo olhar mais atualizado com os jovens, em especial,
uma vez que eles são os maiores usuários dessa rede em específico.
1 INTRODUÇÃO
328
apresenta como uma entidade homogênea. [...] qualquer língua é
representada por um conjunto de variedades” (ALKMIM, 2004, p. 33).
329
Tavares (2019), que analisa a representação linguística e cultural do Nordeste
através de publicações da página “Nordestinos” também do Facebook.
330
influenciadas por questões geográficas, por exemplo, que promovem e
possibilitam a comunicação entre os seus falantes.
Dessa forma, este estudo oferece uma reflexão acerca dessa questão
por meio de uma análise realizada através de postagens dessa rede social,
proporcionando uma maior compreensão sobre esse fenômeno nesse
ambiente virtual, e possibilitando que haja um entendimento mais
aprofundado sobre como a variação linguística regional é debatida na
interação entre seus usuários.
2 METODOLOGIA
331
como critério principal que fossem postagens que revelassem concepções e
julgamentos sobre a questão da variação linguística regional nesse ambiente
virtual. Dessas postagens coletadas, destacamos duas discussões que
consideramos mais relevantes devido aos seus grandes alcances, por vezes
perdurando dias. Para tal análise, foi utilizado como base o arcabouço
teórico da sociolinguística variacionista e autores que abordam essa
temática, como Barcellos (2016), Bagno (2007), Nobaro (2009), entre outros.
3 PANORAMA HISTÓRICO
Havia também a língua geral ou brasílica, que era uma língua utilizada
pela massa indígena e que proporcionava a comunicação entre os índios e
a comunidade portuguesa. Essa língua foi empregada até o século XVIII e
332
Silva Neto (1963, p. 53 apud PIRES DE OLIVEIRA, 1998, p. 110) atesta que ela
tinha um material morfológico reduzido e simples, sem declinação e
conjugação.
Pires de Oliveira (1998, p. 110) ainda diz que, por conta disso, a língua
geral se expandiu até ser falada pelas próprias famílias dos colonizadores,
nas catequeses dos índios e nos confessionários dos jesuítas, sendo
predominantemente utilizada por mulheres e crianças portuguesas. A coroa
portuguesa percebeu esse fato e ordenou, através do Marquês de Pombal,
em 1754, a proibição do uso dessa língua, implantando exclusivamente a
língua portuguesa no país, que já era falada nos centros urbanos emergentes.
Com essa medida, a língua portuguesa se expandiu pelas regiões do país
com a trilha dos bandeirantes até passar pelo sertão e se interiorizar, por fim.
Dessa forma
333
4 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA REGIONAL
334
fim, em diacrônicas (ou históricas), que verificam-se ao longo do tempo
através das etapas de mudança histórica de uma língua.
335
5 ANÁLISE DE POSTAGENS DA REDE SOCIAL DIGITAL TWITTER
336
Fonte: Site da Revista Quem.40
Fonte: Twitter.41
mai. 2020.
337
Maisa, por sua vez, não ficou calada e rebateu a internauta ao falar
da diversidade cultural do país.
Fonte: Twitter.42
Fonte: Twitter.43
mai. 2020.
338
A discussão sobre o que seria munguzá, canjica e curau é antiga nesse
ambiente virtual e de tempos em tempos surge novamente. Trata-se aqui do
fenômeno da variação regional, que no caso da culinária brasileira é algo
muito comum, visto a enorme extensão do país. Nobaro (2009, p. 14) chama
esse fenômeno de variação geográfica e afirma que
339
Outro caso que ocorreu nesse período foi um debate acalorado
acerca do uso das variantes lexicais mexerica, tangerina e bergamota. Nesse
debate virtual há um ferrenho questionamento sobre qual seria o nome
“certo” para designar essa fruta cítrica de cor alaranjada e sabor adocicado,
como o exemplo abaixo mostra.
Fonte: Twitter.44
340
Figura 6: Discussão sobre o uso da variante canjica atinge os trending topics do Twitter.
Fonte: Twitter.
341
A variante tangerina é a mais frequentemente usada em produtos
industrializados que utilizam o sabor artificial da fruta e também figura nos
dicionários brasileiros. Porém, há uma grande diversidade de nomes para ela,
também conhecida como laranja-cravo em Pernambuco e outros estados
do Nordeste, bergamota no Sul, com a variante mimosa em Curitiba, e
mexerica, que é usada nas regiões Centro-oeste e Sudeste do país. Há ainda
vários outros nomes para designar esse alimento.
Fonte: Twitter.45
342
como algo inerente à língua, respeitando os diversos modos de falar e as
variantes que caracterizam a cultura local de cada estado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
343
possibilitando a elaboração de caminhos e pontes para a compreensão e o
ensino da heterogeneidade da língua portuguesa, visando acabar ou pelo
menos diminuir a desvalorização e o preconceito linguístico.
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49. ed. São
Paulo: Loyola, 2007b.
344
(Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Campina Grande, Cajazeiras,
2015.
SOUSA, Julienni Lopes de; LIMA, Luana Nunes Martins de. Regionalismo e
variação linguística: uma reflexão sobre a linguagem caipira nos causos de
Geraldinho. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 72, p. 63-82, 2019.
345
A RELAÇÃO ENTRE A GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS, AS VARIAÇÕES
LINGUÍSTICAS E A BOA ESCRITA NA MODERNIDADE
1 INTRODUÇÃO
346
linguísticos como gramaticais têm sido comuns na sociedade moderna, por
isso, nota-se a importância de um estudo que aborde as peculiaridades e
formas de interação entre essas duas grandes áreas. A princípio, deve-se
destacar a autonomia que o indivíduo possui em relação à sua fala, bem
como sua escrita, já que ambas estão intrinsecamente ligadas quando nos
referimos a contextos formais e informais de uso. No contexto formal de uso,
cabe asseverar a gramática como área primordial para que o indivíduo
desenvolva, plenamente, suas habilidades de escrita e de domínio em
relação à normal culta da língua. Já no contexto informal, observa-se outro
ponto essencial que é o conhecimento e o reconhecimento de formas
coloquiais e/ou variações linguísticas que são utilizadas, por exemplo, em
situações informais ou por grupos e regiões específicas, o que representa
espontaneidade e singularidade à língua. Ainda, dentro do contexto
informal, pode-se citar, também, o chamado “internetês” que está ligado à
informalidade e que pode ser visto, via de regra, em comunicações de textos
nas redes sociais. Essa nova modalidade de conversação torna-se cada vez
mais presente na vida das pessoas, principalmente, pela facilidade na escrita
já que, em sua maioria, as palavras não são devidamente acentuadas e nem
as regras da norma culta são seguidas. Desse modo, é necessário que se
entenda e se conheça mais e melhor acerca de todos os fatores que podem
contribuir para que haja um eixo de equilíbrio e ponderação entre os
contextos formais e informais de uso da língua.
347
usos. Nesse sentido, o indivíduo conseguirá, facilmente, adaptar-se às
diversas circunstâncias de aplicabilidade, sabendo fazer o uso adequado da
norma culta quando lhe for pedido, mas, também, não sendo exigente e
preconceituoso em relação à informalidade e à variabilidade na língua.
Outrossim, deve-se levar em conta, como objetivo a ser alcançado, a escrita
de excelência que é capaz de contemplar as competências exigidas em
eventuais situações específicas como o Exame Nacional do Ensino Médio -
Enem, vestibulares, provas de concursos e seleções em geral. Dessa forma, é
importante que se crie a consciência de que dominar a gramática
tradicional, bem como suas respectivas regras é imprescindível para a boa
escrita e para o desenvolvimento social e intelectual dos indivíduos.
2 METODOLOGIA
348
3 REFERENCIAL TEÓRICO
349
sabe ao certo o verdadeiro futuro das nossas regras, o que se sabe, de fato,
é que ela está em constante transformação. Chega-se, portanto, em um viés
no qual nos deparamos com alguns obstáculos como, por exemplo, aquele
em que o falante adepto ao contexto coloquial pode não ter a consciência
de que a forma gramatical pode e deve ser usada em contextos que a
peçam já que estão totalmente acostumados com o uso informal da língua.
Outro obstáculo pode ser entendido por parte de falantes que são rigorosos
quanto ao uso correto dos padrões gramaticais estabelecidos o que
acarreta, portanto, o que denominamos de preconceito linguístico.
350
compreender e de utilizar as normas consideradas corretas. O uso incorreto
da língua, para esses indivíduos, estaria, portanto, ligado apenas às pessoas
que possuem o poder aquisitivo mais baixo, já que não conseguiriam ter
acesso à educação e as ferramentas de estudo consideradas adequadas
que possibilitem um conhecimento mais aprofundado acerca do assunto em
questão. Por outra perspectiva, a obra póstuma Curso de Linguística Geral
criada pelos discípulos de Fernando Saussure, grande linguista americano,
em homenagem a seus ensinamentos, traz-nos a definição de fala:
351
não tenha seus direitos de cidadão reconhecidos plenamente, a
uma pessoa que viva na zona rural onde um punhado de senhores
feudais controlam extensões gigantescas de terra fértil, enquanto
milhões de famílias de lavradores sem-terra não têm o que comer
nem onde trabalhar. (BAGNO, 2015, p. 105-106)
352
grave, ou seja, não têm o que comer. Dessa forma, a prioridade do país
torna-se outra, dando-se destaque à contextos sociais de pobreza nos quais
o bem mínimo não consegue chegar quem dirá a norma padrão da língua
ou qualquer uma de suas estruturas.
353
por exemplo, já que em 100% deles o uso da gramática e suas regras são
cobradas pelas bancas examinadoras. Além disso, o conteúdo também
pode ser diversificado, já que alguns temas são mais cobrados em algumas
bancas do que em outras, o que eleva o nível de complexidade dos
certames. Ainda, a despeito do que muitos de nós achamos, o português
não é uma matéria que se conhece “instintivamente”. Ao contrário, esse
conhecimento que achamos possuir a partir do uso da língua no dia a dia é
muitas vezes equivocado, sendo necessário o estudo aprofundado das
regras e formas adequadas de colocação.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
354
• redações em branco - 1,12%
• outros motivos - 0,17%
355
consideração apenas um ou outro tópico não ajuda em certos contextos de
aprendizagem, pois é necessário que todos os elementos que constituem
uma boa aprendizagem e, em especial uma boa escrita, estejam presentes.
356
Fonte: site LeiaJa
357
A tabela se refere às matérias mais cobradas de forma geral em
concursos públicos, ou seja, aquelas em que a atenção deve ser redobrada.
Se compararmos essa tabela à anterior, veremos que apesar de as duas
cobrarem a matéria de português em geral, na primeira temos uma variação
maior dos temas, ou seja, matérias da gramática tradicional como, por
exemplo, sintaxe, não são tão cobradas quanto matérias de modernismo,
realismo-naturalismo e morfologia. Porém, isso não significa dizer que não
sejam pedidas as matérias que coloquem os conhecimentos das normas
gramaticais à prova. O que o primeiro gráfico mostra, na verdade, é que as
incidências são diferentes se comparadas aos tópicos abordados em
certames de concursos, ou seja, pode ser que sejam cobradas várias
questões relativas à gramática tradicional em um vestibular, ou poucas.
Dessa forma, o que deve ser compreendido é que a relevância do português,
hoje, para a sociedade, de um modo geral, é altíssima. É necessário que haja
358
um conjunto maior de esforços a fim de que ele seja trabalhado de forma
contínua entre os estudantes que também precisam compreender a
importância dessa matéria para sua formação e para possíveis objetivos a
serem alcançados no futuro. Criando-se essa consciência, o estudo que será
desenvolvido posteriormente deverá ser direcionado à prova de interesse do
aluno, quer seja para ingresso em uma faculdade por meio de um vestibular
quer seja para o ingresso em um cargo público.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
359
sociedade livre de preconceitos, que seja mais interacionista e interessada
nos estudos de língua portuguesa e suas inúmeras variações e regras.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
BLUNDI, Breno Alves dos Santos. NARDELLI, Alex Junior dos Santos. Linguagem,
poder e sociedade: a educação capitalista e o preconceito linguístico.
MOSAICO, SJ RIO PRETO, v. 17, n. 1, p. 458-474 459. 2018.
CUNHA, Celso Ferreira da. CINTRA, Luis Filipe Lindley. Nova gramática do
português contemporâneo. 7 ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.
FIORIN, José Luiz. Introdução à Linguística – I. Objetos teóricos. 6 ed. São Paulo:
Contexto, 2020.
360
KOMESU, Fabiana. TENANI, Luciani. Considerações sobre o conceito de
“internetês” nos estudos da linguagem. Linguagem em (Dis)curso, Palhoça,
SC, v. 9, n. 3, p. 621-643, set./dez. 2009. Disponível em:
http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/. Acesso em: 25 jun. 2021.
SAUSURRE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 28 ed. São Paulo: Cultrix,
2012.
SILVA, Paulo Cesar Garré. SOUSA, Antonio Paulino de. Revista Educação e
Emancipação, São Luís, v. 10, n. 3, set/dez.2017. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.18764/2358-4319.v10n3p260-285. Acesso em: 28 jun. 2021.
361
O USO DO AVEA MOODLE NA EXECUÇÃO DO PROJETO DE ENSINO
“NO MEIO DO CAMINHO TEM O ENEM: OFICINAS PREPARATÓRIAS
PARA EXAMES DE INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR”48
Flávia Zanatta49
Mateus Freitas Charloto50
48 Este artigo é resultado do projeto de ensino “No meio do caminho tem o Enem: oficinas
preparatórias para exames de ingresso no ensino superior”, desenvolvido entre setembro de
2020 e março de 2021 no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Sul - IFRS Campus Vacaria - com recursos do Programa Institucional de Bolsas de Ensino
(PIBEN) do Campus Vacaria.
49 Doutoranda em Ensino na Universidade do Vale do Taquari - Univates. Professora de
362
INTRODUÇÃO
363
compreender textos adequados à produção de efeitos de sentido desejados
em situações específicas e concretas de interação comunicativa”
(TRAVAGLIA, 2014, s.p.).
364
para o desenvolvimento das atividades e para a organização dos materiais;
e, por fim, discutem-se os resultados da execução do projeto de forma
remota.
365
meio de atividades variadas elaboradas com as ferramentas disponíveis no
AVEA Moodle.
366
compartilhamento de significados” (ALENCAR et al., s.d., p. 2), o Moodle,
acrônimo de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment,
permite a gestão da aprendizagem online e pode ser utilizado em cursos a
distância, semipresenciais e presenciais. Por se tratar de um Software Livre, é
utilizado por diversas instituições de ensino para o desenvolvimento de
atividades de ensino e de aprendizagem.
367
ATIVIDADES DESCRIÇÃO
368
classificação avançada, como uma rúbrica. Notas finais são registradas
no livro de notas.
Quadro 1: Atividades do AVEA Moodle utilizadas nas oficinas do projeto. Elaborado pelos
autores a partir das informações disponíveis na AVEA do projeto No meio do caminho tem o
Enem.
RECURSOS DESCRIÇÃO
Página Este recurso habilita que uma página web seja exibida e editada em um
curso.
Rótulo Um rótulo permite que um texto e/ou imagens possam ser inseridos no
meio dos links de atividades na página do curso. Rótulos são muito
versáteis e podem ajudar a melhorar a aparência de um curso caso
utilizados sabiamente. Rótulos podem ser utilizados para: separar uma lista
de atividades na forma de um cabeçalho ou uma imagem, exibir um som
incorporado ou vídeo diretamente na página do curso e adicionar uma
descrição breve a uma seção de um curso.
URL O módulo de URL permite que um professor forneça um link de web como
um recurso da disciplina. Tudo o que está online disponível gratuitamente,
tais como documentos ou imagens, pode ser ligado a URL, não sendo
necessariamente a home page de um site. A URL de uma página web
em particular pode ser copiada e colada, ou um professor pode usar o
seletor de arquivo e escolher um link de um repositório, como Flickr,
369
YouTube ou Wikipédia (dependendo de quais repositórios estão
habilitados para o site). Há uma série de opções de exibição para a URL,
como embutidos, abrir em uma nova janela e opções avançadas de
informação que passa, tal como o nome de um aluno, para a URL, se
necessário.
Quadro 2: Recursos do AVEA Moodle utilizados nas oficinas do projeto. Elaborado pelos
autores a partir das informações disponíveis na AVEA do projeto No meio do caminho tem o
Enem.
51É importante destacar que também foram mobilizadas outras plataformas para a
realização de atividades, sobretudo nas oficinas síncronas, sendo que essas eram inseridas
no Moodle através de links, ou seja, com o uso do recurso URL.
370
para as atividades relativas aos momentos de prática; o recurso Arquivo era
empregado para deixar à disposição os slides utilizados.
371
as características da banca mencionada, foram propostos questionários,
elaborados no Moodle, com quinze questões do Enem de cada língua.
3 OFICINAS DE REDAÇÃO
372
tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em
prosa).
373
proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos
humanos).
374
A atividade Questionário foi empregada para tratar das
Competências 4 e 5. No concernente à Competência 4, elaborou-se uma
questão para explorar os mecanismos linguísticos na construção da
argumentação em que os estudantes tinham que reconhecer as relações de
sentido que se estabelecem entre as ideias que compõem um texto e
empregar os mecanismos linguísticos devidos na construção da
argumentação. Para tal, tinham à disposição um texto modelo Enem, o qual
deveria ser lido e, a partir da identificação das relações de sentido possíveis
entre orações em que havia lacunas, preenchê-las com os operadores
argumentativos adequados, selecionados dentre os listados na questão53.
Quanto à Competência 5, foram explorados os elementos que devem
integrar a proposta de intervenção e como esta pode ser estruturada. Para
tanto, foram elaboradas duas questões, uma em que os estudantes
deveriam observar passagens destacadas em trechos de propostas de
intervenção retiradas do Manual de correção da redação do Enem -
Competência 554 e identificar a que elemento correspondiam (agente, ação,
meio/modo, efeito, detalhamento) e outra em que tinham de colocar em
ordem a proposta de intervenção de um texto modelo Enem, a qual havia
sido desmembrada.
informações impostos pela mídia, o que influencia negativamente seus padrões de consumo
e sua autonomia intelectual.
Fonte: Redação de Fernanda Carolina Santos Terra de Deus. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem20
19_cartilha_participante.pdf. Acesso em out. 2020.
53 Na ordem da atividade, chamou-se a atenção dos estudantes para o fato de que, em
termos de relação de sentido, poderia haver mais de uma possibilidade viável, mas que eles
deveriam prestar atenção à estrutura das sentenças no momento de definir o conector,
dado que ela pode restringir as possibilidades a apenas um operador argumentativo.
54 Material disponibilizado pelo Inep em http://inep.gov.br/web/guest/enem-outros-
documentos.
375
janeiro de 2021, promoveu-se um Simulado de Redação, para o qual foram
utilizados os recursos Pasta, Rótulo e URL e a atividade Tarefa. Foram
disponibilizadas na pasta cinco propostas de redação modelo Enem para
que os participantes do projeto escolhessem a(s) que quisessem desenvolver.
Através do recurso URL, eles tinham acesso ao template da redação,
elaborado de modo a facilitar o processo de identificação do estudante e
da proposta escolhida, bem como a avaliação, por já conter uma tabela
com os critérios de acordo com os quais a redação do Enem é avaliada. Por
fim, usou-se a atividade Tarefa para que os estudantes postassem o link do
seu texto, produzido no Google Docs a partir do template disponibilizado.
Essa dinâmica mostrou-se produtiva no sentido de que facilitou o processo
de avaliação do texto e possibilitou aos estudantes visualizar correções e
comentários feitos pela professora avaliadora. Vale destacar, por fim, que
foram realizados dois plantões de dúvidas para que os estudantes pudessem,
primeiramente, solicitar suporte em relação à escrita da redação e,
posteriormente, esclarecer dúvidas quanto à avaliação de seu texto.
376
4 OFICINAS DE LITERATURA
377
publicação dos colegas, o que possibilitava uma espécie de intercâmbio de
informações.
378
algumas questões de cunho teórico, para reforçar conceitos, noções e
nomenclaturas, e questões variadas selecionadas das provas das edições do
Enem de 2015 a 2019.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
379
dos estudantes do último ano do ensino médio, sendo que muitos deles
obtiveram resultados excelentes no Enem, o que lhes permitiu ingressar no
ensino superior.
380
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. 8. ed. São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
381
São Paulo, SP, v. 1 , n. 3, p. 36-51, 2010. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/teccogs/article/view/52991. Acesso em:
15 jan. 2020.
382
GEOSSOCIOLINGUÍSTICA E ENSINO: A VARIAÇÃO POPULAR EM
SALA DE AULA
RESUMO: Obras como O dialeto caipira (AMARAL, 1920), O linguajar carioca (NASCENTES,
1922), A língua do Nordeste (MARROQUIM, 1996) são as precursoras de estudos sobre a
realidade linguística brasileira, inspiradoras dos primeiros atlas regionais, Atlas Prévio dos
Falares Baianos-APFB (1963), Atlas Linguístico de Sergipe-ALS (1973), Esboço de um Atlas
Linguístico de Minas Gerais-EALMG (1977), Atlas Linguístico da Paraíba-ALPB (1984) e o Atlas
Linguístico do Paraná-ALPR (1994). Esses trabalhos marcaram o início da Geolinguística no
Brasil e permitem que entendamos como é grande a variação linguística do Português
Brasileiro (PB) e possamos considerar, principalmente, dadas à dimensão territorial do nosso
país, a região geográfica como fator impulsionador dessa variedade linguística, somada aos
fatores sociais como o nível de escolaridade, a idade e o sexo dos falantes. Assim, a variação
de uma língua ocorre em todos os níveis da gramática: fonético-fonológico, semântico-
lexical, morfológico e sintático. Diante de tantas variedades, é comum nos depararmos com
o preconceito linguístico, principalmente advindo da fala de pessoas com menos
escolaridade e oriundas de áreas menos prestigiadas socialmente, como a zona rural. Desse
modo, na esfera educacional, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017, 2020),
documento norteador de ensino, propõe o trabalho com a variação linguística nos
componentes de Língua Portuguesa dos ensinos Fundamental e Médio. Nessa esteira,
considerando estudos de Ramos Pinto (2018), que prioriza a conscientização do futuro
professor de Língua Portuguesa (LP) sobre a importância da abordagem da variação
linguística no contexto escolar, apresentamos proposta de ensino de língua portuguesa,
fazendo junção das concepções da Sociolinguística com as da Geolinguística, utilizando
cartas linguísticas elaboradas com os dados obtidos sistematicamente em pesquisa
empreendida por Ribeiro (2021), em sua tese intitulada Atlas Linguístico do Norte Pioneiro do
Paraná – ALiNPiPR.
383
INTRODUÇÃO
384
Para tanto, utilizamos cartas linguísticas elaboradas com os dados
obtidos sistematicamente em pesquisa empreendida por Ribeiro (2021), em
sua tese intitulada Atlas Linguístico do Norte Pioneiro do Paraná - ALiNPiPR, e
criamos atividades que propiciam a discussão da variação linguística, a
discussão sobre a variação diatópica, a variação semântico-lexical, e
também a abordagem de figuras de linguagem, na ocasião,
especificamente, a metonímia.
1 METODOLOGIA
385
masculino e a carta F3 com as formas designativas do saboroso derivado do
leite, e estudamos, no campo semântico de variação linguística, a figura de
linguagem metonímia. As atividades propostas podem ser trabalhadas tanto
nos anos finais do Ensino Fundamental como no Ensino Médio.
57Conforme texto publicado nos Anais do III SIMVALE - Simpósio de Variação Linguística e
Ensino (UEM, 2020). Disponível em: https://sites.google.com/uem.br/simvale-
2019/p%C3%A1gina-inicial/anais. Acesso em: 13 jun. 2021.
386
● realização de inquéritos linguísticos: entrevistamos 60 informantes entre
janeiro e junho de 2019, resultando em aproximadamente 45 horas de
gravação. A conversa tinha início com o preenchimento das fichas do
informante e da localidade, com o gravador já ligado, continuando com
questionamentos direcionados à obtenção de narrativas pessoais (origem
familiar, pontos turísticos da localidade, comida típica, feira agropecuária,
curiosidades locais) e, em seguida, a aplicação do questionário; ao final era
exposto o objetivo real da entrevista.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
387
de uso. O homem é um ser subjetivo que gera essas possibilidades de
linguagem e as utiliza em diversas situações.
Dessa forma, cada falante usa a língua da maneira que julga ser a mais
apropriada para expressar o próprio pensamento, ou seja, ele o faz por uma
questão de escolha. Faz-se necessário, então, analisar as relações existentes
entre língua, sociedade e cultura, pois dependem das interações que
ocorrem no seio da comunidade.
388
bidimensional em estudo do espaço tridimensional da variação linguística"
(THUN, 1998, p. 4).
389
Esses trabalhos marcaram o início da Geolinguística no Brasil e
permitem que entendamos como é grande a variação linguística do
Português Brasileiro (PB) e possamos considerar, principalmente, dadas à
dimensão territorial do nosso país, a região geográfica como fator
impulsionador dessa variedade linguística, somada aos fatores sociais como
o nível de escolaridade, a idade e o sexo dos falantes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
390
(RIBEIRO, 2021), elaboradas com base nos dados obtidos com questões
extraídas do Questionário Semântico Lexical (QSL) e do Questionário
Fonético Fonológico (QFF) dessa pesquisa geossociolinguística. A utilização
das cartas do ALiNPiPR é um dos recursos didáticos muito ricos para o ensino
da Língua Portuguesa e vem ao encontro das proposições da BNCC (2017,
2020) no que diz respeito às competências e habilidades do ensino da LP na
educação básica como o reconhecimento das variedades da língua
falada, concomitante ao ensino da norma-padrão.
3.2 ORIENTAÇÕES
391
alimentício muito consumido pelas crianças, o iogurte (questão 38 do QFF),
mostrando as cartas.
3.3 A METONÍMIA
392
da diversidade linguística do Norte Pioneiro do Paraná representada no
ALiNPiPR (RIBEIRO, 2021).
393
Fonte: ALiNPiPR (2021)
394
Resposta esperada: Zorba, porque é a marca da cueca e não o nome da
peça.
Resposta esperada: Não todos, posto que alguns nomes são tipos de cueca.
Entretanto, pode ser a forma em que é conhecida naquela região, no
município em que a pesquisa foi realizada.
395
Figura 2 – Carta F3 - Iogurte
396
3.5.1 Após a exposição da carta, fazer as seguintes perguntas:
a) 1 b) 3 c) 5 d) 10 e) nenhuma.
397
Por meio dos atlas linguísticos, mais especificamente, neste trabalho, o
ALiNPiPR, é possível estudarmos a variação linguística do Português Brasileiro
(PB) em seus vários níveis: fonético-fonológico, morfológico, sintático e
semântico-lexical, foco do nosso estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
398
São muitas as possibilidades de atividades que podemos propor
usando o ALiNPiPR para o estudo da língua portuguesa e suas variedades,
principalmente, sobre o modo de falar de pessoas de diferentes regiões,
dento de um mesmo estado, como o Paraná e sua mesorregião Norte
Pioneiro. O estudo da metonímia apresentado é apenas uma dessas
atividades.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
399
ALTENHOFEN, C. V.; KLASSMANN, M. S. (orgs.). Atlas Linguístico-etnográfico da
Região Sul do Brasil – ALERS: cartas semântico-lexicais. Porto Alegre: Editora
da UFRGS; Florianópolis: Ed. UFSC, 2011.
400
KOCH, W.; ALTENHOFEN, C. V.; KLASSMANN, M. S. (orgs.). Atlas Linguístico-
Etnográfico da Região Sul do Brasil – ALERS: cartas fonéticas e
morfossintáticas. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS; Florianópolis: Ed. UFSC,
2011.
401
RIBEIRO, T. L. A variação lexical na Rota do Café: estudos
geossociolinguísticos no norte do Estado do Paraná. 2017. 205 f. Dissertação
(Mestrado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual de Londrina.
Londrina. 2017. Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000225819. Acesso
em: 17 jun. 2021.
402
O LUGAR DA SOCIOLINGUÍSTICA NA BNCC: O COMPONENTE
CURRICULAR DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ETAPA DO ENSINO
MÉDIO
INTRODUÇÃO
403
vistas como um erro atrelado à baixa escolarização sob o viés de uma língua
portuguesa que deveria ser imutável, independente da época, do lugar e
das gerações. Hoje os estudos trazidos e conquistadas por esse campo de
estudo, permitem a pesquisa e o ensino a partir do conceito de língua em
seu contexto cultural, histórico e social, isto é, de uma língua que é viva e,
assim sendo, se adequa a gerações, sociedades e diferentes regiões.
404
variação linguística na BNCC para o ensino fundamental. Para pensar as
propostas de descentralização do ensino da gramática na escola
corroboramos com os estudos de Antunes (2007) e Bezerra (2010). Este estudo
também tem caráter documental, pois como parte da pesquisa contamos
com a BNCC (2019), documento orientador da educação Nacional.
1 METODOLOGIA
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
405
da nova organização do ensino médio estabelecida na BNCC – EM, nos
delimitamos a compreender, nessa pesquisa, o espaço reservados para a
Sociolinguística no Itinerário Formativo de Linguagens e suas Tecnologias.
Para esse itinerário o documento traz a seguinte descrição quanto aos
objetivos
406
discursiva, bem como situações reais de uso da língua como meio de
expandir sua competência comunicativa. Nesse sentido, o acesso às
inúmeras formas em que se expressam as variações linguísticas contribui para
o respeito à pluralidade linguística em seu contexto sociocomunicativo.
407
riqueza das expressões linguísticas e, assim, saibam comunicar o que sentem,
o que desejam, o que lhes causa revolta, nos mais diferentes âmbitos das
esferas sociais. O objetivo da sociolinguística está atrelado à ampliação dos
processos comunicativos dos sujeitos e não a exclusão do seu lugar social,
como faz a norma culta da língua ao segregar entre o falar “certo” e o falar
“errado”. Essa forma de analisar e ensinar a língua não considera a
espontaneidade e criatividade dos indivíduos e sob essa visão as gírias, os
regionalismos, o estrangeirismo rebaixam a língua.
408
Como o próprio texto coloca, essa competência indica como
finalidade para os estudantes do ensino médio a compreensão do
funcionamento da língua em sua complexidade da vida social,
ultrapassando a concepção meramente normativa. Assim, são duas as
habilidades gerais presentes nessa competência no que concerne ao
campo de estudos da sociolinguística.
409
Diante dessa restruturação pela qual o ensino médio deverá passar,
visto que a BNCC é um documento obrigatório para toda a educação
básica, os únicos componentes curriculares estabelecidas como obrigatórias
pelo documento são Língua Portuguesa e Matemática para os três anos do
ensino médio e Língua Inglesa, obrigatória apenas no primeiro ano.
410
Tabela 2 – Habilidades do campo de atuação social relacionadas à variação linguística
411
Atualmente a compreensão se língua não se detém apenas ao
“português brasileiro”, pois Brasil é marcado pelo silenciamento e exclusão
das línguas indígenas e das expressões regionais de origem histórica e cultural
em prol da instauração da norma culta, que favorece uma determinada
camada social.
412
quanto os preconceitos discriminatórios decorrentes. (RUTIQUEWISKI, SOUZA,
2020, p. 212)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
413
esclarecer como esses conteúdos estão presentes nos livros didáticos após a
aprovação de um documento curricular obrigatório para todo o país.
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 55. ed. São
Paulo: Edições Loyola, 2013.
BAKHTIN, Michael. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
414
Sweder. (orgs.) Ensino de Língua Portuguesa e a Base Nacional Comum
Curricular: propostas e desafios (BNCC – Ensino Findamental II). 1 ed.
Campinas – SP: Mercado das Letras, 2020. – (Coleção Estudos Críticos em
Linguagens)
415
EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS MULTIMODAIS NO ENSINO DE
LÍNGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO BÁSICA NO CONTEXTO DE
ENSINO REMOTO
INTRODUÇÃO
416
os setores da sociedade, tendo em vista as importantes e necessárias
medidas de isolamento social recomendadas, desde os primeiros meses do
ano de 2020, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com vistas à
manutenção da vida. Todo esse contexto, entendo, levou a humanidade ao
caos, tendo em vista as incertezas quanto ao futuro, à manutenção de
empregos, das aprendizagens, das interações sociais em todos os níveis e,
não sendo diferente, nos modos de ensinar-aprender, em razão do
necessário fechamento das escolas.
417
Diante de situações de anormalidade, conforme anteriormente
exposto, geradores de intervenções igualmente inéditas, cabe uma postura
reflexiva, conforme nos orienta Perrenoud (2002), pois, é “[...] o professor ou
educador um inventor, um pesquisador, um improvisador, um aventureiro
que percorre caminhos nunca antes trilhados e que pode se perder caso não
reflita de modo intenso sobre o que faz” (PERRENOUD, 2002, p. 13).
418
remoto. Para tal, apresentam-se relatos de experiências, com inspiração nos
dispositivos metodológicos da pesquisa (auto)biográfica, conflitos e
inquietações de uma professora da educação básica mediante o desafio
de ministrar aulas de maneira remota de modo inesperado, observando suas
investidas multimodais no seu fazer docente. Em seguida, igualmente,
descrevo minhas experiências enquanto professor de Língua Portuguesa e
Literaturas, observando em que medida a multimodalidade, na perspectiva
das linguagens múltiplas, aparecem no meu fazer docente.
419
1 EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS MULTIMODAIS NO ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS DOCENTES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA
DO DIGITAL
420
acredito que o mundo tá descobrindo isso, que professor é
insubstituível em sala de aula. Que antes de tudo isso existia até
aquela conversa que professores poderiam ser substituído
futuramente, que qualquer um pode dar aula, que o menino hoje
com a internet precisa de professor pra quê? Quantas vezes a gente
já ouviu isso! Que professor com o tempo vai se tornar obsoleto na
sala! E nós estamos tendo a prova na pandemia que professor é
muito importante e o próprio aluno me dá o fedback disso. A primeira
coisa que os meninos fazem quando eu entro é “pró, quando a
gente vai voltar?”, “pró, eu não vejo a hora da gente voltar! De ver
a senhora, pró!” Então, o lado positivo disso pra mim só é esse: é
mostrar que professor é importante, sim, pra sala de aula! (MARIA
FLOR/PROFESSORA DA EDUCAÇÃO BÁSICA/Maio de 2020).
421
Essa necessidade de letramento digital e das peculiaridades existentes
nesse meio é, talvez a primeira descoberta da categoria docente nesse novo
contexto, conforme observamos anteriormente e contatamos na seguinte
afirmação da professora Maria Flor: “A gente sabe que precisa de
planejamento, que o mundo virtual exige uma outra dinâmica. [...]. Mais do
que nunca a escola mostrou que ela precisa mudar...ela precisa se adequar
a esse novo mundo de tecnologias, de acesso” (MARIA FLOR/PROFESSORA
DA EDUCAÇÃO BÁSICA/MAIO DE 2020).
422
estão sendo manipuladas nesse sentido? Para responder a essas questões,
parto da compreensão de Rojo (2012, p.11) da necessidade de propor uma
pedagogia dos multiletramentos ao questionar “por que propor uma
pedagogia dos multiletramentos?”, nos alertando para uma urgente
necessidade da Escola tomar para si uma pedagogia dos multiletramentos,
emergentes na sociedade, especialmente em razão das novas Tecnologias
da Informação e da Comunicação (TCs), as quais já têm sido uma realidade
vivida por muitos dos nossos estudantes. Estes já nasceram mergulhados em
uma cultural midiática, emergindo destas, inevitavelmente, novos
letramentos, “de caráter multimodal ou multissemiótico” (ROJO, 2012, p. 13),
hipermidiáticos.
423
verbalização oral, o qual vem acompanhada de signos visuais. Ao longo da
narrativa a própria professora demonstra mais segurança e vai apresentando
outras estratégias/recursos multimodais mobilizados por ela, tais como
imagens, músicas, links, hipertextos:
Então esses recursos são positivos, não são recursos ruins, até porque
você pode usar muito da criatividade, né, você pode brincar, os
meninos têm uma facilidade porque você pode jogar imagens. Ele
vê aquilo que, até então, pra ele fica só no imaginário, através de
um slide ele vê de uma maneira muito real porque os exemplos vão
além da palavra, ne, você muda os símbolos...você tem imagem,
você tem um vídeo, você tem uma letra de música. Quando você
está na sala de aula presencial você tem que ir com todo aquele
artefato, né, aqui não, você vai jogando links, clicando, a questão
dos hipertextos, e as coisas vão acontecendo. Se eu tivesse sido
melhor preparada, se eu estivesse esperando por isso, com certeza,
a experiência seria muito mais positiva (MARIA FLOR/PROFESSORA DA
EDUCAÇÃO BÁSICA/Maio de 2020).
424
Evidentemente, a lógica interativa-colaborativa das novas
ferramentas dos (multi)letramentos no mínimo dilui e no máximo
permite fraturar ou subverter/transgredir as relações de poder
preestabelecidas, em especial as relações de controle unidirecional
da comunicação e da informação (produção cultural, portanto) e
da propriedade dos “bens culturais” (ideias, textos, discursos,
imagens, sonoridades) (ROJO, 2012, p. 24-25).
425
A princípio, é preciso considerar que o ensino de Língua Portuguesa no
Ensino Médio tem sido desafiador desde sempre, tendo em vista a constante
necessidade de conquistar nossos estudantes para desvendar no texto
literário, os sentidos da vida e da existência e, mais que isso, possibilitar na
arte literária uma oportunidade de refletir a respeito de suas próprias
condições de sujeito individual e coletivo, do particular e do social. Em
tempos de aulas remotas esses desafios apresentam-se ainda maiores para
nós professores e professoras que entendem que uma leitura meramente
analítica não constrói leitores autônomos, críticos e, menos ainda sujeitos
produtores de conhecimento.
426
produções, lendo seus textos. Como isso foi feito? Primeiro, solicitando que
trouxessem para a aula um poema de Fernando Pessoa que lhe tenha
chamado atenção, que lhe tocou, que lhe despertasse sentimentos. Apenas
esse ato de pesquisar já colocou o estudante em contato com uma
infinidade de textos poéticos do autor em questão.
427
também era outra possibilidade. Essa proposta foi um modo de fazer a arte
poética circular, ser lida, consumida pelo maior número de pessoas. Fazer o
Sarau sair das “fronteiras” da sala de aula.
428
Postagem I
Imagem 2
429
A terceira produção cita o poema “Pressagio”, o qual é assinado pelo
próprio Fernando Pessoa. Nela observa-se o poema na íntegra, disposto
como uma espécie de bilhete endereçado a alguém, onde as cores rosa e
verde se harmonizam, tomando um certo romantismo. Observemos ainda
que a produção vem acompanhada de emojis de corações que pulsam e
como trilha musical a canção “Pupila” da dupla “Anavitória” cujos versos
afirmam: Como que eu vou dizer pra ela/ Que eu gosto do seu cheiro/ Da
cor do seu cabelo/ Que ela faz minha pupila dilatar/ Eu quero dizer pra ele/
Que a rima fez efeito/ E agora penso o dia inteiro/ Só ele faz minha pupila
dilatar.
Imagem 3
430
multissemióticas, multimodais, conforme as discussões de Rojo (2012) e, mais
que isso, se configura como um “projeto didático de imersão em práticas
que fazem parte das culturas do alunado e nos gêneros e designes
disponíveis para essas práticas” (ROJO, 2012, p.30).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
431
REFERÊNCIAS
432
A ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DE INTRODUÇÕES DE ARTIGOS
CIENTÍFICOS EM LINGUÍSTICA
INTRODUÇÃO
433
de domínio na retórica dos textos científicos. Alguns linguistas brasileiros,
percebendo esta lacuna no meio científico, já escreveram sobre redação
acadêmica. Citamos aqui alguns para exemplificação, Motta-Roth
e Hendges (2010), Paiva (2019) e Durão (2020).
434
1 METODOLOGIA
435
Swales utiliza de uma metáfora ecológica, com territórios, nichos e
passos, para a organização de seu modelo retórico de introduções.
Concluindo em 3 Movimentos e 11 Passos. Em um primeiro momento, no
Movimento 1, é esperada a centralização ou generalizações acerca do
tema proposto, assim se estabelece um território de estudo. Após isto, no
Movimento 2, é comum o pesquisador delimitar melhor em que território está
a sua pesquisa, apresentando uma proposta mais detalhada por aportes
teóricos, ou questionamentos ou contra-argumentando. Por fim, no
Movimento 3, o pesquisador ocupa o nicho da pesquisa apresentando
objetivos, podendo ainda indicar a estrutura do artigo.
436
do gênero artigo acadêmico se relaciona com duas necessidades básicas
que movimentam a produção científica: a necessidade de estabelecer uma
interação constante e dinâmica entre os membros experientes ou iniciantes
da academia e a necessidade, por parte dos(as) autores(as), de terem seus
trabalhos reconhecidos para efeito de financiamento junto a órgãos de
fomento.
437
introduções continham pelo menos um movimento retórico do Movimento
3.
P1 P2 P3 P 1A P 1B P 1C P 1D P 1A P 1B P2 P3
LG 1 X X X
LG 2 X X X X
LG 3 X X X X X
LG 4 X X X X
LG 5 X X X X
LG 6 X X X X
LG 7 X X X X X
438
LG 8 X X X
LG 9 X X X X
LG 10 X X X X X
LG 11 X X X X
LG 12 X X X
LG 13 X X X X X
LG 14 X X X X X
LG 15 X X X X X
439
Exemplo 1: LG 11
No que diz respeito aos livros didáticos (nosso terceiro pilar), sabe-se que, há
algumas décadas, ele vem suscitando uma grande diversidade de interesses no
campo da pesquisa e, a despeito da variedade de abordagens de tais
investigações, há, entre elas, um consenso no que diz respeito à sua massiva
presença nas salas de aula da Educação Básica e à centralidade do seu uso nas
escolas. É esse lugar que os LD têm nas salas de aula a justificativa para a nossa
opção de investigá-los. [Movimento 3, Passo 1A:
delineando objetivos] Nesse complexo contexto, objetivamos descortinar o lugar
das áreas em pauta em dois LD de português voltados para o 6º
440
Segue um segundo exemplo de introdução, que contém todos os três
movimentos sugeridos no modelo CARS de 1990, porém elas foram menos
frequentes em nossa análise:
Exemplo 2: LG 12
441
das quatro primeiras edições de A Plebe, publicadas num momento
particularmente importante da efervescência operária no Brasil.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
442
sua carreira acadêmica. A partir desta observação, notamos a importância
de se desenvolver estudos que contribuam aos pesquisadores uma certa
“métrica” ou melhor, um norteamento de como introduzir suas análises e
estudos no meio acadêmico.
REFERÊNCIAS
443
BIASI-RODRIGUES, Bernardete. Estratégias de condução de informações em
resumos de dissertações. 1998. Tese (Doutorado em Linguística) – Centro de
Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 1998.
Longman, 1993.
444
A ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DE INTRODUÇÕES DE ARTIGOS
CIENTÍFICOS EM LINGUÍSTICA E LITERATURA
INTRODUÇÃO
445
publicação desse gênero tem se alastrado pelas diversas áreas, seja em solos
nacionais ou internacionais. Os indicadores FAPESP de Ciência, Tecnologia e
Inovação registraram entre os anos de 2008 a 2010 a liderança do Brasil na
produção de artigos científicos em relação aos demais países da América
latina, configurando um total de 55,6% de publicações em periódicos
científicos internacionais (FAPESP, 2011, p. 1).
446
Em virtude disso e sabendo que em linguística e literatura, apesar de
serem áreas próximas, as convenções da escrita acadêmica diferem
significativamente, a pesquisa teve por objetivo realizar a análise de um
corpus, baseado na perspectiva da Análise de Gêneros de Swales (1990,
2004), com 30 introduções de artigos científicos nas áreas de Linguística e
Literatura produzidos por pesquisadores das universidades brasileiras que
publicaram em 2019-2020 em periódicos classificados como Qualis A1 no
quadriênio avaliativo Capes 2013-2016.
1 METODOLOGIA
447
para uma análise das de suas peculiaridades. Por último, foram identificados
os elementos linguísticos que sinalizam os diferentes movimentos retóricos nas
introduções. Para uma melhor compreensão, apresenta-se, a seguir, uma
breve descrição do modelo CARS (SWALES, 1990).
448
2 REFERENCIAL TEÓRICO
449
Uma classe de eventos comunicativos, cujos membros compartilham
os mesmos propósitos comunicativos. Esses propósitos são
reconhecidos pelos membros especializados da comunidade
discursiva de origem e, portanto, constituem a razão subjacente do
gênero. Essas razões moldam a estrutura esquemática do discurso e
influenciam e restringe as escolhas do conteúdo e estilo. O propósito
comunicativo é um critério privilegiado que opera no sentido de
manter o escopo do gênero, conforme concebido aqui,
estreitamente ligado a uma ação retórica comparável com o
gênero (SWALES, 1990, p. 58).
450
artigo, o que, inevitavelmente acaba desclassificando possíveis publicações
em revistas renomadas:
451
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
452
de Literatura, encontramos escolhas retóricas mais variadas, isto é, seus
passos.
Para vias de assimilação do que até então fora discutido, vale expor
as tabelas, baseadas no modelo de Swales (1990), criadas para assinalar os
moves e passos que cada uma das introduções apresentou e, também, para
que seja possível observar as similitudes e contrastes entre as áreas.
453
Figura 2 - Fonte: elaboração da autora.
454
empate entre os passos 1A, 1B e 1C, cada um com quatro recorrências. Há
também uma situação especial nos artigos LING12, exibindo novamente
todos os passos e LING15, retratando três dos quatro passos. Três das quinze
introduções não apresentaram o move dois, recorrendo normalmente à
extensão do move 1, o que resultou em um move inesperado que foi
nomeado de aprofundamento da pesquisa ou, mais especificamente, seu
detalhamento.
LING11:
455
apesar de não indicar de fato a estrutura, sugeriam o que seria discutido na
próxima secção. O passo 2 não foi apresentado em nenhuma das
introduções analisadas. Com base na tabela (figura 2) e no que já fora
apresentado, podemos acrescentar que a introdução de número 12
contemplou não apenas todos os moves, mas também a maior parte dos
passos de cada movimento, com exceção do move 3 em que só fora
utilizado o passo 1A.
456
um único passo (passo 3). Algo em comum entre os três que não realizaram
mais de um passo do move 1 foi uma linguagem mais objetiva e direta,
ocasionando em introduções que – no início da construção do texto – deram
destaque do move 3, passo 1A e 1B.
LIT9:
“Este artigo tem como base de apoio algumas interrogações que visam repensar os debates
da ‘criminologia feminista’ no Brasil e propor formulações criativas para pensar outras formas
de enfrentamento à violência de gênero, incluindo movimentos sociais compartilhados que
utilizam recursos tecnológicos como estratégias de resistência”.
LIT10:
“Neste artigo temos como objetivo analisar como um grupo de mulheres, moradoras da
Comunidade Quilombola Mato do Tição, situada na Região metropolitana de Belo Horizonte
mobilizam dispositivos de raça e gênero para a elaboração do referente “mulher quilombola”
na construção de suas identidades – pautada, muitas vezes, na opressão, na violência e no
racismo”.
457
5 ANÁLISE CONTRASTIVA ENTRE AS ÁREAS
Após ser realizada a exposição das análises retóricas de cada uma das
áreas e detalhar os movimentos e passos utilizados, principalmente os que
mais se sobressaíram, é importante que seja possível visualizar até que ponto
as disciplinas convergem e divergem em suas peculiaridades nas estratégias
de escrita.
458
Analisando o move 2, em maior recorrência na área de Linguística
temos o passo 1D, continuando uma tradição, em contrapartida apenas dois
de Literatura utilizaram tal passo. Foi comum perceber certo contraste entre
as áreas no que diz respeito ao passo 1D e 1A. Os artigos em Linguística
tiveram uma tendência a dar continuidade à uma pesquisa, todavia, os
artigos em Literatura apresentaram outros vieses a serem explorados.
Vejamos um exemplo entre as áreas:
LING8:
LIT3:
459
LIT3:
“Assim, em seguida, será realizada uma abordagem da trajetória desse conceito e sua
vinculação com o romance Azul corvo”.
LING1:
“Este artigo está organizado em três partes principais, além desta Introdução, das
Considerações Finais e das Referências. Na primeira, caracterizo o ProfLetras no contexto
universitário brasileiro em que o modelo de pós-graduação acadêmica, informado pelo
paradigma dominante de pesquisa, prevalece. Na segunda, sintetizo alguns pressupostos
teóricos atrelados à metafunção experiencial da linguagem proposta na LSF, utilizados na
análise linguística da dissertação. Por fim, na terceira parte, apresento uma análise
quantitativa e qualitativa do objeto investigado, quando são exemplificados os tipos de
escolhas linguísticas responsáveis por práticas de letramento científico perceptíveis na
escrita da professora”.
460
Embasando o projeto no que Hyland (2000) diz a respeito das
disciplinas e suas várias manifestações da linguagem, apresentaremos as
marcas linguísticas e lexicais que, ora diferem e ora convergem, estão
presentes nas áreas de Linguística e Literatura. Vejamos as marcas linguísticas
entre as ciências que se assemelham:
LIT10:
“No presente artigo temos como objetivo trazer essas reflexões (...).”
LING7:
“Nesse complexo contexto, objetivamos descortinar o lugar das áreas em pauta em dois LD
de português voltados para o 6º ano do Ensino Fundamental (...)”.
LIT15:
“Interessa, aqui, entender de que maneira elas vivenciam o que Comfort (2003) denomina
de “prisionização secundária” e quais são os processos sociais envolvidos para que essas
mulheres se tornem “satélites domésticos” no ambiente carcerário”.
LING1:
461
LIT3:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
462
Os resultados da pesquisa – a nível de consciência do gênero – foram
satisfatórios em ambas as áreas. As duas disciplinas apresentaram
introduções que correspondiam à proposta do modelo CARS, mas também
houve introduções que inovaram em alguns pontos, o que não prejudicou
em nada a mensagem a ser passada.
REFERÊNCIAS
463
BHATIA, V. K. Analysing Genre: language use in professional settings. New York:
Long-man, 1993
FREEDMAN, Aviva; MEDWAY, Peter. Genre and the New Rethoric. London:
Taylor & Francis, 1994.
HYON, S. Genre in three traditions: implications for ESL. TESOL Quarterly, v. 30,
n. 4, p. 693-722, 1996.
464
SIMÕES, Janaína. Pesquisadores no Brasil publicam 56% dos artigos científicos
originados na América Latina. Indicadores FAPESP de ciência, tecnologia e
inovação, São Paulo, boletim nº 3, p. 1-4, nov. 2011.
465
INVESTIGAÇÃO SOBRE ABORDAGENS ACADÊMICAS A RESPEITO
DA AQUISIÇÃO DA LIBRAS TÁTIL POR CRIANÇAS SURDOCEGAS
CONGÊNITAS
466
INTRODUÇÃO
467
deficiências (LAGATI, 1995). A surdocegueira pode ser classificada em
congênita, quando ocorre antes do nascimento, antes da aquisição da
linguagem, ou adquirida, quando ocorre após a aquisição da linguagem
( ALMEIDA, 2015). A autora Lupetina (2018) fez um levantamento sobre as
pesquisas na área da surdocegueira e constatou que as mesmas são poucas
e incipientes, se comparadas a outras áreas da Educação Especial.
1 METODOLOGIA
468
Marconi (2003, p.158) “a pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre
os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem
capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema.”
2 REFERENCIAL TEÓRICO
469
Para aqueles surdocegos pós-linguísticos que já possuem
experiências linguísticas, seja pela língua oral ou pela Língua de
Sinais, e considerando a presença de resíduos sensoriais, a
necessidade de desenvolver formas de comunicação ocorrerá a
partir da realidade individual de cada um quanto ao meio, ao grau
de funcionalidade da deficiência, aos estímulos cognitivos que lhes
são proporcionados no seu desenvolvimento. (p.174)
470
capacidade inata para a linguagem de todos os seres humanos. Segundo
esta corrente, nascemos com o potencial linguístico congênito, nela a língua
que será adquirida pela criança já está pré-progamada, mas necessita da
experiência proveniente do ambiente para que o processo seja iniciado.
471
seu estágio inicial chama-se Gramática Universal (GU), que é composta de
princípios fixos, comuns a todas as línguas naturais e por princípios flexíveis
chamados parâmetros, que variam de uma língua para outra. A partir de
inputs linguísticos presentes no ambiente em que a criança vive, estes
parâmetros serão marcados, o que gerará mudanças de estágios até que
se atinja o estágio estável chamado de Língua-I (individual, intensional e
internalizada) (KENEDY, 2019; GROLLA, SILVA, 2014).
472
ativar o mecanismo linguístico inato à criança para o desencadeamento da
aquisição. Diante disto, sem acesso ao input linguístico tátil, a GU desta
criança permanece potencialmente latente.
473
o tato. Estudos como os de Dammeyer et al. (2015) confirmam que a criança
surdocega congênita com acesso ao input tátil tem sua aquisição linguística
como qualquer criança. A latência linguística das crianças surdocegas
congênitas precisa ser apenas despertada para que a produtividade
linguística dessas crianças possa emergir.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
474
Dissertação: A criança Luis Carlos Souza Sociointeracionista
surdocega e a linguagem Bezerra (2010)
(Claudia Lemos)
no contexto escolar e
familiar
475
O surdocego não tem acesso ao input oral ou gestual. Por isso, a mãe
de J. tem um papel fundamental no processo de aquisição da
linguagem de sua filha, e conhecimento de mundo, uma vez que
Samara vai funcionar como reguladora ou mediadora de todas as
informações que J. recebe do meio. ( p.43)
476
A crítica gerativista a propostas empiristas é que se está supondo
nessas propostas que a criança pode desenvolver um conhecimento
linguístico, que altamente complexo, a partir de dados que tecnicamente
não estão presentes por completo na fala do adulto (daí a pobreza de
estímulos), partindo apenas de observações via sentidos, ainda que seja a
partir da interação comunicativa com o adulto. No caso da surdocegueira,
em que os sentidos para a comunicação ficam limitados ao tato, tal
explicação pode se configurar como ainda mais inviável. Ou seja, a
aquisição da linguagem do surdocego precisaria ser concebida num
movimento, de fora para dentro, completamente dependente dos sentidos.
Entretanto, se faltam ao surdocego os sentidos da visão e audição, como
explicar a aquisição da linguagem, nessa perspectiva, diante de uma
pobreza de estímulos agravada?
477
CONSIDERAÇÕES FINAIS
478
REFERÊNCIAS
DAMMEYER, J..; NIELSEN, A.; STROM E., HENDAR, O.; EIRÍKSDÓTTIR, V.K. A case
study of tactile language and its possible structure: A Tentative Outline to
Study Tactile Language Systems among Children with Congenital
Deafblindness. ., Commun Disord Deaf Stud Hearing 2015, 3:2. Disponível
em:http://dx.doi.org/10.4172/2375-4427.1000133. Acesso em:16/12/2020.
479
GALVÃO, N. de C. S. S. A comunicação do aluno surdocego no cotidiano da
escola inclusiva. 2010. 213 f. Tese (doutorado em Educação) – Universidade
Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2010.
GROLLA, E.; SILVA, M.C.F. Para conhecer Aquisição da Linguagem. São Paulo:
Contexto, 2014.
480
SCARPA, E. M., Aquisição da linguagem. In: MUSSALIN, F. e BENTES, A. C.
Introdução à lingüística teórica. v 2. São Paulo: Cortez, 2001.
481
CONTRIBUIÇÕES DAS GRAMÁTICAS FUNCIONAL E GERATIVA NO
TRABALHO COM DOIS EIXOS DO COMPONENTE LÍNGUA
PORTUGUESA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
482
INTRODUÇÃO
483
BNCC, discutindo as contribuições que elas podem trazer para o ensino de
língua portuguesa.
1 REFERENCIAL TEÓRICO
Dessa forma, tal documento pretende ser a base para a formação dos
currículos escolares brasileiros. Por essa razão, discuti-la é de suma
importância para o ensino, no nosso caso, da língua portuguesa enquanto
língua materna nas escolas.
484
A BNCC está dividida em três etapas, a saber Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio, sendo que as duas últimas são divididas em
áreas, que, por sua vez, estão subdivididas por componentes. Nosso foco
aqui é o componente “Língua Portuguesa”, presente na área de Linguagens,
dentro da etapa do Ensino Fundamental.
485
De forma semelhante, o eixo da produção de textos contemplará
também a interação e a autoria dos mais diversos textos, com diferentes
finalidades, e sempre de forma contextualizada. Portanto, ele “compreende
as práticas de linguagem relacionadas à interação e à autoria (individual ou
coletiva) do texto” (BRASIL, 2017, p. 74), levando em consideração “situações
efetivas de produção pertencentes a gêneros que circulam nos diversos
campos de atividade humana” (BRASIL, 2017, p. 76). Buscando, assim,
ampliar as possibilidades de recursos que podem ser contemplados na
produção, gerando, assim, uma maior autonomia dos alunos. Além disso,
486
Assim, as práticas de leitura/escuta e de produção de textos orais,
escritos e multissemióticos oportunizam situações de reflexão sobre a
língua e as linguagens de uma forma geral, em que essas descrições,
conceitos e regras operam e nas quais serão concomitantemente
construídos: comparação entre definições que permitam observar
diferenças de recortes e ênfases na formulação de conceitos e
regras; comparação de diferentes formas de dizer “a mesma coisa”
e análise dos efeitos de sentido que essas formas podem
trazer/suscitar; exploração dos modos de significar dos diferentes
sistemas semióticos etc.” (BRASIL, 2017, p. 81, grifos nossos).
Essa gramática que gera sentenças, por exemplo, traz também uma
concepção de língua que merece ser mencionada. Nessa gramática
487
gerativo transformacional (GGT), encontramos a dicotomia chomskiana (cf.
Chomsky, 1994) que assume uma língua-I, que seria interna e estaria na
mente do falante, e uma língua E, que seria externa, um “fenômeno
sociocultural, histórico e político que corresponde um código linguístico [...]”
(KENEDY, 2013, p. 29, grifos do autor).
488
autênticos da interação social, considerando suas relações com a cultura e
contexto social nos quais esses produtos são negociados (EGGINS, 2004, p. 2)
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
489
a linguística ativa. Assim, a intenção é tornar o aluno como ator e não como
detetive (PIRES DE OLIVEIRA; QUAREZEMIN, 2016), ou seja, os discentes não
têm que ficar procurando por “desvios da norma padrão”, mas sim buscar
refletir, indagar, pensar sobre a língua que os cerca.
490
Quadro 1: Habilidades 8º ano, eixo da Análise Linguística/Semiótica
491
estrutura deve ocorrer. Portanto, de alguma maneira, o docente precisará
trabalhar com seu aluno esses elementos.
492
que ele conhece e com outras variedades linguísticas existentes em sua
língua70.
70 A GGT considera que cada indivíduo tem uma gramática. Não entraremos nessa
discussão aqui por conta do limite do artigo. No entanto, remetemos o leitor para §2.7 de
Guimarães (2017, p. 85) para uma compreensão adequada acerca disso.
493
texto, ou seja, o que quero dizer ao usar uma estrutura em detrimento de
outra. Exemplificando: se a posição de sujeito está ou não preenchida, se
faço uso de um verbo na voz ativa ou passiva, dentre outros, o que esses usos
interferem na construção do texto e do discurso.
Portanto, a GGT pode sim contribuir com esses dois eixos, visto que
permite reflexões acerca da estrutura da língua, a partir de conhecimentos
que os discentes já possuem de sua língua.
494
se encontra, faz as devidas escolhas lexicais, semânticas, semióticas, dentre
outras considerando o outro.
495
Quadro 4: Condições de produção de textos na BNCC
496
Dentre a categoria das modalidades, pode-se destacar a modalidade
deôntica, por meio da qual se exige ou autoriza uma ação do interlocutor
em um tempo futuro. Na sequência, analisa-se um determinado gênero
discursivo e como a modalidade deôntica está presente em seu interior,
justificando. Um exemplo clássico é o gênero sentença judicial, em que a
modalidade deôntica é predominante.
497
A partir dos estudos funcionalistas viabilizou-se refletir a respeito da
função dos elementos da língua, seu uso e não apenas “decorar” regras e
regras que a gramática normativa vem apresentando a nós, sem uma
explicação plausível do “porquê” daquela regra. Cabe a nós, meros mortais,
a decodificação e decorar a regra, com a justificativa que cai em concursos,
vestibulares etc. Com a mudança de perspectiva, muitas universidades têm
adotado provas de língua em que privilegiam a reflexão sobre o uso da
língua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
498
levando em consideração a BNCC, visto que é esse o documento que
embasa os currículos escolares nacionais.
REFERÊNCIAS
CHOMSKY, Noam. The minimalism program. Cambridge: The MIT Press, 1995.
499
DILLINGER, M. Forma e função na Linguística. DELTA, v. 7, n. 1, p. 397-407, São
Paulo, 1991.
500
NETO, Antonio Gil. A produção de textos na escola: uma trajetória da palavra.
4 ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
PERINI, Mario A. Para uma Nova Gramática de Português. São Paulo: Editora
Ática, 1995.
501
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola? Campinas:
mercado das Letras, 1996.
502
FENÔMENOS LINGUÍSTICOS EM VARIAÇÃO: A SOCIOLINGUÍSTICA
EDUCACIONAL E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
RESUMO: Com a divulgação dos resultados de pesquisas que buscaram compor um retrato
bastante fiel da realidade linguística, com especial interesse na descrição do Português
Brasileiro (PB), houve a preocupação de sociolinguistas brasileiros em transformar os
resultados dessas pesquisas em instrumental pedagógico capaz de interferir nas práticas de
educação sociolinguística, isto é, nas formas de ensinar a Língua Portuguesa nas escolas. E,
nesse contexto, a Sociolinguística Educacional começa a ganhar espaço. Assim, levando
em consideração que o processo de ensino e aprendizagem da língua portuguesa deve
desenvolver e ampliar as competências comunicativas do aluno, de forma a ponderar, na
prática educativa, a realidade social, cultural, política, histórica e linguística em que ele se
insere, objetivamos apresentar, neste artigo, as contribuições da Sociolinguística
Educacional para o ensino da língua portuguesa e propostas de atividades para o trabalho
com fenômenos linguísticos em variação, o estudo da alternância entre os pronomes
tu/você e nós/a gente no paradigma pronominal do Português Brasileiro, por meio das
mensagens extraídas de anúncios publicitários, a fim de explicitar e abordar esses
fenômenos, contrapondo, desse modo, o uso ideal da língua, norma-padrão, com o uso
real da língua, norma culta, e o uso vernacular, norma popular. O embasamento teórico
deste trabalho será pautado nos estudos de Labov (2008), Bagno (1999; 2003; 2007), Bortoni-
Ricardo (2005; 2009), Faraco (2008, 2015), Antunes (2007), Görsky e Coelho (2009), dentre
outros autores.
INTRODUÇÃO
503
semânticos e discursivos, levando em consideração os comportamentos da
sociedade diante dos usos linguísticos nas mais diversas situações
comunicativas.
504
Bortoni – Ricardo, a esse respeito, afirma:
505
1 METODOLOGIA
2 REFERENCIAL TEÓRICO
506
de 1964, em um congresso na Universidade da Califórnia, em Los Angeles
(UCLA), quando importantes nomes da área, como Dell Hymes, Gumperz,
Labov e Fisher reúnem-se para compartilhar seus estudos e dar início à área
que buscava uma inserção mais robusta de elementos sociais no estudo da
língua (ALKMIN, 2001).
507
Portuguesa em sala de aula, bem como os enfrentamentos pelo professor e
aluno, priorizando a norma-padrão, não dando ênfase nos estudos da norma
culta e popular.
508
p.83).
509
Educacional, área teórico-metodológica que ela inaugurou entre nós”
(BAGNO, 2004, p.7).
510
e à capacidade de desempenhar tarefas escolares cotidianas” (BORTONI -
RICARDO e FREITAS, 2009, p.278).
Bagno (1999) afirma que a ideia de que existe uma única língua
correta baseada na gramática normativa, de que o português é uma língua
difícil, de que o certo é falar assim porque se escreve assim, entre outras
utopias, impedem que o estudante tenha conhecimento de que a maneira
como ele fala, não é considerada “errada” e tão pouco inapropriada no
contexto de seu uso.
511
linguagens existentes no âmbito sociocultural, assegurando-o como um
direito de aprendizagem do estudante, pois ela reconhece e concebe a
língua como dotada de variações no meio sociocomunicativo do falante.
512
internos à língua, o fonológico, morfológico, sintático, semântico e lexical,
objetos de nosso estudo.
513
em vez da camisa ou por cima ou por baixo da camisa, ou com uns calções
como equipamento desportivo (as camisolas dos jogadores de futebol, por
exemplo), e que no Brasil se usa para designar uma camisa de dormir, peça
de vestuário feminino.
514
conforme o quadro que segue.
Paradigma 1 Paradigma 2
Eu Eu
Tu Tu/você
Vós Vós/vocês
515
4 O PARADIGMA PRONOMINAL: PROPOSTA DE ESTUDO EM ANÚNCIOS
PUBLICITÁRIOS
516
5 ORIENTAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
Anúncio sabão em pó Rinso 1965 Anúncio bonecas Atma 1974 Anuncio Salgadinhos Fritex 1982
517
Anúncio da palha de aço Bombril, 1998 Anúncio palha de aço Bombril, 2012
Anúncio Câmera Kodak 1963 Anúncio Coca-Cola 1977 Anúncio chocolate Lollo da Nestlé 1983
518
Anúncio sorvete fura bolo da Gelato, 1996 Anúncio do creme dental Colgate, 2013 Anúncio Chocolates Cacau
Show, 2021
1- De acordo com o que foi exposto, o que é possível observar com relação
ao uso dos pronomes nós/ a gente e tu/você no anúncios publicitários de
diferentes décadas do século XX e XXI?
519
5-A linguagem utilizada no anúncio publicitário aproxima ou distancia-se do
leitor, por quê?
5.1 FECHAMENTO
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
520
nós. Esse novo pronome (a gente) desencadeia nova alteração no
paradigma verbal, que conta agora com mais uma forma homônima: você
foi/a gente foi/ele foi;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
521
como o caso dos fenômenos que envolvem o paradigma pronominal,
estudado neste trabalho.
REFERÊNCIAS
522
ABRALIN: 40 ANOS EM CENA. João Pessoa: Editora Universitária. 2009.
COELHO, Izete Maria et al. COELHO, Izete Lehmkuhl [et al]. Sociolinguística.
Florianópolis:LLV/CCE/UFSC, 2010. Disponível em:
<http://ppglin.posgrad.ufsc.br/files/2013/04/Sociolingu%C3%ADstica_UFSC.p
df>. Acesso em: 26 mai. 2021.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São
Paulo: Parábola, 2008.
PINTO, Vera Maria Ramos. Por uma educação sociolinguística consciente nos
cursos de Letras. 2018. 247f. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2018.
523
Sites consultados:
https://www.propagandashistoricas.com.br/;https://www.propagandasemr
evistas.com.br.desafiodocodigo.com.br/.
524
A LITERATURA ORAL DAS LOAS DO MARACATU RURAL COMO
ESTRATÉGIA PARA A AMPLIAÇÃO DO LETRAMENTO LITERÁRIO DE
ESTUDANTES DA 4ª FASE DA EJA.
525
INTRODUÇÃO
526
Recepção nas produções escritas dos alunos; realizar a leitura oral e
interpretativa de textos literários na sala de aula; avaliar a compreensão e a
interpretação do texto literário, desenvolvidas pelo aluno.
1 METODOLOGIA
2 REFERENCIAL TEÓRICO
527
sua linguagem. Na literatura define-se, portanto, a partir da utilização
especial que se faz da linguagem” (2011. p. 35). Essa observação nos faz crer
que o texto literário trata a linguagem de uma forma especial e conota uma
qualificação no trato linguístico. A literatura tem sua importância na
formação humanizadora do homem (CANDIDO, 2011). Através da leitura
desses textos, é possível incorporar novos olhares, compreender novas
culturas e adquirir novos saberes.
528
“corresponde ao prazer de se sentir co-autor da obra” (ZILBERMAN, 1989, p.
55).
529
1ª tese: a historicidade da Literatura não se dá pela cronologia das
obras, mas pelo diálogo dinâmico com a obra literária por parte de seus
leitores;
530
Segundo Zilberman (apud AGUIAR e BORDINI, 1988 p. 83), o autor e o
leitor interpretam a obra a partir dos seguintes aspectos: intelectual,
ideológico, linguístico e literário. Além dos aspectos afetivos que funcionarão
como determinantes para a aceitação ou não dos demais aspectos.
531
objetiva de uma metodologia consistente para o ensino de literatura. Fazia-
se necessário acrescentar algo aos estudos já realizados e à aplicação da
metodologia já apresentada, o que chamou de sequência expandida.
Através desta, o autor acrescenta outras duas aprendizagens da literatura
dentro dos passos iniciados na sequência básica. “A sequência expandida
vem deixar mais evidente as articulações que propomos entre experiência,
saber e educação literários inscritos no horizonte desse letramento na escola”.
(COSSON, 2011, p. 76).
532
voz e linguagem implicam em um distanciamento conceitual que
proporciona a discussão e o estudo distintos.
533
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Gráfico 01
Gostam
Não gostam
20%
40% Mais ou menos
10%
534
2. Quais tipos de textos você gosta de ler?
Gráfico 04
Romance
Poesia e romance
10% 10%
10% Todos
20%
10% Bíblia
Contos e aventuras
10%
30% Dramáticos
Mensagens
Gráfico 10
30% Sim
Não
70%
535
Observemos que no gráfico 10, 30% dos estudantes declararam nunca
terem lido um livro e 70% já fizeram algumas leituras.
Gráfico 11
20% Romances
Vários
20%
Não gostam
No gráfico 11, 50% dos estudantes declararam não terem lido nenhum
livro. E 50% declararam já terem lido, sendo 20% leitores de romances, 10%
de poemas e 20%, vários. Um cenário de metade que declararam não gostar
de ler.
Gráfico 12
25% 25%
536
Gráfico 13
Não se interessa
10%
10% Não entende
Não informaram
Gráfico 15
7%
31% Sim Não
31%
31%
537
Gráfico 16
Evento agradável
10%
30% Por causa da religião
20%
Chato
40%
Não informaram
538
com os textos literários são claramente restritos aos espaços escolares, em
sua maioria, a cultura do maracatu rural, mesmo sendo nativa da região em
que a pesquisa foi aplicada, é desconhecida e, até mesmo, depreciada
por parte dos estudantes, por motivos religiosos, demonstrando o
preconceito e a falta de informação.
539
Uma linguagem simples, de pouca complexidade e muita
expressividade sobre a cultura representada e a linguagem literária.
Observamos os textos produzidos pelos participantes e analisamos o quanto
conseguiram atingir a interpretação, através das contextualizações e de
algumas teses de Jauss (1994).
540
pela forma de uso das palavras e pelo estranhamento que cada colocação
pode apresentar e, ao mesmo tempo, expressar uma ideia em favor do
mestre (poeta) ou da nação representada por ele. Em terceiro lugar, os
versos de ambos valorizam a figura do poeta ao descrever como seriam suas
mortes, suas ausências e o legado deixado por eles.
541
posturas sobre o respeito às diferenças de pensamento e de conduta
sociocultural.
Oficina IV: Ampliação do Horizonte de Expectativas: (2 aulas de 40min):
nessa oficina, a proposta foi trazer aos participantes a oportunidade de
conhecer um dos clássicos da literatura brasileira e ampliar os horizontes na
linguagem, na poética, temática e interpretações utilizando as teses de Jauss.
Texto 04: Motivo, de Cecília Meireles (Poema anexo).
542
A contextualização temática, possivelmente a mais elementar,
evidencia-se em primeiro plano e possibilita a reflexão sobre as relações de
presentificação, observadas na maioria dos textos produzidos pelos
estudantes. Quanto à linguagem poética, pretendíamos que os
participantes percebessem a diferença linguística e de estilo literário. Estas
últimas, também evidenciam-se pela linguagem, pela abordagem e pela
formalidade. A leitura do texto explicitou o distanciamento estilístico entre
os poemas anteriores e do uso da norma padrão e provocaram ensaios da
escrita do texto lírico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
543
introdução ao estudo de literatura, e as autoras Aguiar e Bordini (1988),
sistematizam essa teoria através do Método Recepcional, que visa à reflexão
do leitor sobre sua própria leitura como elemento atuante no processo.
Objetivando a atitude participativa do aluno/leitor sobre sua própria práxis,
faz-se necessária uma reflexão sobre suas práticas leitoras para que o
estudante perceba e reflita sobre seu próprio comportamento e horizonte.
REFERÊNCIAS
544
CANDIDO, Antônio. O direito à literatura. In. Vários Escritos. 5ª. ed. São Paulo,
Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011.
FRANTZ, Maria Helena Zancan. A Literatura nas séries iniciais. Petrópolis, RJ:
Editora Vozes, 2011.
545
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS: UMA ANÁLISE
A PARTIR DO GÊNERO TEXTUAL RESENHA
Sarah Ribeiro73
546
INTRODUÇÃO
O processo de leitura é altamente complexo, haja vista que o ato de ler não
se restringe apenas a decodificação de signos linguísticos, muito pelo contrário, ler
requer percepção, entendimento e significação daquilo que está sendo lido.
Segundo Cabral (1986), a leitura é composta por quatro etapas: decodificação,
compreensão, interpretação e retenção. A partir dessa visão, pode-se afirmar que,
o processo de leitura só será efetivo se passar por todas essas etapas. Diante disso,
surge a seguinte problemática: como está sendo o processo de leitura e
interpretação na educação brasileira?
547
família, até ao mal uso ou a falta de metodologias nas escolas que busquem ensinar
o aluno a fazer leitura de modo que ele possa reconhecer as particularidades
empregadas e assim realizar uma boa interpretação do que ler.
1 REFERENCIAL TEÓRICO
548
- Ler é extrair a ideia central;
- Ler é interagir;
Com isso, a leitura não significa mais ler somente um texto escrito em papel,
em uma direção pré-determinada, ou seja, de cima para baixo e da esquerda para
a direita. Hoje em dia, após a intensificação do uso da Internet, essa concepção de
leitura precisou ser reformulada. No ambiente digital, como afirma Rojo (2012), a
comunicação passa a ser multimodal, ou seja, a informação é fornecida não
apenas em forma de texto escrito, mas também através de signos multissemióticos.
Pessoas que não são leitoras têm a vida restrita à comunicação oral
e dificilmente ampliam seus horizontes, por ter contato com ideias
próximas das suas, nas conversas com amigos. [...] é nos livros que
temos a chance d entrar em contato com o desconhecido,
conhecer outras épocas e outros lugares – e, com eles abrir a
cabeça. Por isso, incentivar a formação de leitores é não apenas
549
fundamental no mundo globalizado em que vivemos. É trabalhar
pela sustentabilidade do planeta, ao garantir a convivência pacífica
entre todos e o respeito à diversidade.
550
estudantes, ao se defrontarem com textos científicos ou filosóficos,
encontram dificuldades logo julgadas insuperáveis e que reforçam
uma atitude de desânimo e de desencanto, geralmente
acompanhada de um juízo de valor depreciativo em relação ao
pensamento teórico.
2 METODOLOGIA DA PESQUISA
551
leitura, de interpretação de textos acadêmicos, buscando sanar as
dificuldades encontradas por graduandos em relação às práticas de
linguagem que permeiam a esfera universitária, bem como: fichamento,
resumo, resenha, artigo científico, seminário acadêmico, ensaio etc. O
Projeto foi organizado em dez oficinas, as quais foram ministradas na
modalidade on-line através das ferramentas: Google Classroom e Google
Meet. Inicialmente, as oficinas serviram para nortear os alunos sobre as
práticas de letramentos acadêmicos e traçar uma investigação sobre o perfil
desses alunos através de questionários, com o intuito de diagnosticar as
dificuldades enfrentadas por eles. Após a realização dos questionários, foram
ministradas oficinas específicas sobre gêneros textuais acadêmicos, na
ocasião os alunos passaram a produzir seus próprios textos, os quais foram
considerados aqui como objeto de estudo desta pesquisa.
552
Para identificar os problemas relacionados à falta de leitura e
interpretação textual desses alunos, foi selecionado o gênero textual resenha
crítica, uma vez que o objetivo dessa pesquisa é compreender o processo
de leitura e interpretação na produção desses gêneros textuais. As resenhas
analisadas são produções dos colaboradores do projeto “Letramentos
acadêmicos”, as quais foram solicitadas pelo professor regente.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
553
como o uso de ideias superficiais, em que o colaborador fez um apanhado
muito breve do tema e deixou de colocar dados relevantes do texto-base,
como podemos observar no trecho a seguir: “No primeiro subcapítulo
“Mazagão Velho Nos Dias de Hoje” OLIVEIRA, M. esclarece o porquê a
celebração a Santiago é tão importante para os afro-brasileiros residentes
em Mazagão”.
554
(...) O texto de Oliveira (2019) aborda sobre a celebração a Santiago
em uma comunidade negra da Amazônia. Contém 3 laudas e são
divididos em doze subtítulos organizadas cronologicamente (...) é
apresentado o contexto histórico da comunidade e sua população
formada por negros (..) O contexto histórico resumido nos conta a
origem de Mazagão(...) O texto nos mostra de forma organizada
cada etapa da programação e como a cada ano essa celebração
vem ganhando visibilidade por muitas pessoas (COLABORADOR 2).
555
argumentos através de exemplos retirados do texto-base. Nos trechos a
seguir podemos observar essas atribuições:
(...) A autora trás uma breve visão da comunidade nos dias atuais.
Cita Gomes (2003) onde faz uma alusão de como era o cotidiano
dos moradores da Mazagão marroquina(...) trás um apanhado do
cronograma da celebração e acontecimentos, no qual a autora
destaca o aumento de participantes na festa, principalmente no dia
25 de julho(...) Nos demais subtítulos a autora aborda os diferentes
quadros das encenações e eventos ocorrentes na festa. Assim a
autora trás traz um panorama do evento. (...) Em suma, a forma
exposta pela autora cumpre seu desígnio de mostrar uma das
culturas que se destaca na comunidade afro-brasileira da Amazônia,
a festividade de Santiago de Mazagão Velho (COLABORADOR 5).
556
A partir da pesquisa realizada a respeito das produções das resenhas,
evidenciou-se a falta de habilidade da grande maioria dos alunos perante a
produção do gênero resenha. Verificou-se também a falta de assimilação e
organização dos temas em análise e a dificuldade de interpretar o que foi
proposto para a realização desse gênero. Contudo, esses não foram os
únicos problemas encontrados e também não são os que mais preocupam,
mesmo sendo de total relevância para a discussão deste artigo. Os
problemas que mais chamaram atenção foram a superficialidade ao
abordar o tema, pois nem todos os colaboradores tiveram a preocupação
de explorar com mais profundidade as ideias contidas no texto-base,
trazendo apenas alguns fragmentos.
557
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
558
ROJO, R. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de
linguagens na escola. In: ROJO, R.; MOURA, E. (Orgs.). Multiletramentos na
escola. São Paulo: Parábola, 2012.
SEVERINO, A. J. Educação, sujeito e história. São Paulo: Ed. Olho d'Água, 2002.
559
PERCEPÇÃO DE UMA COMUNIDADE ACERCA DO DISCURSO
COLONIZADOR
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar as temáticas da colonização, ocupação
e desenvolvimento de um bairro no município de Sinop-Mato Grosso, tomando como ponto
referencial os discursos existentes na percepção de uma realidade, na qual se considera o
contexto migratório e ocupacional. Buscou-se verificar, por meio da relação dialógica,
como moradores de um bairro periférico da cidade, percebem a colonização deste
ambiente em seus relatos de experiências, considerando a posição em que se encontram
nas relações discursivas, sociais e econômicas e quais são os fatores que influenciam na
interpretação do discurso a que são submetidos. Para tanto, utilizou-se o método de
pesquisa qualitativa, a pesquisa de campo e entrevista semiestruturada com atores do
processo de ocupação dos espaços geográficos. A revisão dos conceitos pautou-se na
pesquisa bibliográfica com base referencial ancorada em Eni P. Orlandi e Michel Foucault,
autores que discorrem sobre um poder que controla o sujeito discursivo que se vê obrigado
a conviver com uma multiplicidade de discursos dominantes existentes no local em que está
situado. Buscou-se, analisar como se dá a concepção da colonialidade e ocupação desses
espaços na visão desses sujeitos participantes da pesquisa. Os resultados mostram a
percepção dos intérpretes sociais no processo do desenvolvimento e progresso estratégico
de ocupação frente a expansão da fronteira territorial da região e evidencia a inclusão
dos fatos de que o discurso dos que discorre sobre a colonização, em partes confirmam,
porém em partes se opõem.
Palavras-chave: Contexto ocupacional, Interpretação, Discurso.
INTRODUÇÃO
560
colonização e de outras cidades vizinhas, a exemplo Vera, Cláudia e Santa
Carmem. Seu processo de colonização ocorreu em 1972, fundada
oficialmente em 1974 e emancipada em 1979, segundo informações do site
da prefeitura municipal de Sinop.
561
No entanto, Sinop mudou rapidamente, estudos realizados sobre esse
processo constata que na década de 1970 houve a abertura de novas
fronteiras, compostas por uma vasta área localizada no médio e centro norte
do Estado de Mato Grosso. atualmente o município conta com uma grande
diversidade econômica, como o setor madeireiro e empresas dos mais
diferentes segmentos, sendo eles no comércio, prestação de serviços, saúde,
agropecuário e educação. Além de atender aos moradores locais, também
atendem cerca de 30 municípios propínquos.
562
norte do município de Sinop. Os participantes são parte do processo
migratório de famílias que se deslocaram de diferentes regiões do país que
se locomoviam em busca do sonho de um lugar melhor para se viver.
1 METODOLOGIA
563
antecede à pandemia da 77 Covid-19 e não havia a necessidade do
distanciamento social por não haver riscos de contaminação.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
pademia da Covid-19 e nenhum risco aos participantes, por isso a coleta se deu de forma
presencial.
564
sua natureza, suas funções, suas analogias, suas causas. Trata-se da
historicidade do texto investigativo, que para Orlandi (1983) “São os
acontecimentos do texto como discurso, [...] os trabalhos dos sentidos nele,
que chamamos de historicidade”. Porém, possível de ser investigado por
meio de um conceito construído por teorias e métodos, que são mecanismos
onde funciona o discurso. Ou seja, passa a existir pelo discurso presente,
como define Orlandi (1999), em Discurso e Leitura. “A possibilidade de
análise em análise do discurso deriva da consideração do discurso como
parte de um mecanismo de funcionamento”.
565
discurso das moradoras do Jardim do Ouro – confrontando as teorias
discursivas em outros contextos de produção.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
566
Conforme citado acima, o discurso é controlado, ele não acontece
no ocaso ou num contexto desorganizado. É preciso atentar que é no
discurso que se constrói o conhecimento do fato dado pelo texto distribuído
em suas categorias. Quanto à possibilidade de investigar os fatos dados por
intermédio da pesquisa bibliográfica só é possível segundo o deslocamento
do dado para o fato, segundo Orlandi: “Um deslocamento para a Análise
do Discurso é o que permite passar do dado para o fato” (ORLANDI, apud
CASTRO,1996. p.209). Ou seja, ao analisarmos um fato, os dados são os
discursos. E para ela os discursos não são objetos empíricos e sim os efeitos
de sentido entre locutores:
567
é preciso que ela seja provida de textualidade, ou seja, é preciso que sua
interpretação derive de um discurso que a sustenta, que a provê de uma
realidade significativa.
568
outra. Mas a gente ‘guentou’ firme aqui, sempre com a esperança e
vendo que a cidade iria muito crescer. (ARRUDA, 1997, p. 94.).
569
Para preservar a identidade das entrevistadas serão tratadas por
“moradoras” e o uso de suas informações serão utilizadas somente para fins
científicos sem riscos de danos ou riscos de natureza física ou psicológica.
570
dificuldade e sem conseguir dar continuidade, pois precisavam trabalhar
para ajudar no sustento da família.
571
de lugares que estão em decadência financeira, em virtude de não
oferecerem possibilidades de melhorias. O bairro Jardim do Ouro, localizado
no município de Sinop, trata-se de um bairro pequeno, com 9 ruas e vias
pavimentadas que interligam o bairro com outras pontas da cidade.
Moradora 2 “Moro há bastante tempo, acho que uns 12 anos ou mais. Gosto
daqui porque é bem sossegado., mas não gosto da poeira que ainda tem
aqui”.
572
era registrada. E como a gente não tinha onde morar depois foi embora e
que o fazendeiro foi embora, aí, a gente veio para cá. [...]. “A cidade era
bem pequena, tinha pouca coisa. A farmácia que lembro que tinha, era a
do Marçal. Os mercados, era o Machado e o São João. Era bem diferente
de hoje. O bairro ainda estava começando, não tinha quase nada e as
casas eram de lona”.
573
linguagem enquanto lugar de descoberta, lugar de produção de sentidos e
de processos de identificação dos sujeitos na relação do homem com a sua
realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
574
sociedade, é preciso ouvi-los, se posicionar por meios empíricos para que
haja um retorno que faça diferença na vida dessas pessoas que de fato são
silenciadas pelos discursos dominantes. É evidente também a percepção de
significados que um mesmo enunciado produz o que depende da pessoa
que o interpreta e a maneira que compreende, ou seja, um mesmo discurso
ou enunciado pode apresentar mais de um sentido para a mesma pessoa
ou quando se trata de grupo de pessoas, podem ter percepções diferentes
uma da outra.
Dessa forma, os resultados obtidos por meio desse estudo, nas falas das
participantes da pesquisa que vivem na mesma condição social e cultural,
com idades muito próximas, há a confirmação de um discurso que em parte
se confirma, porém em parte contrasta com a realidade em que vivem
diariamente. Porém faz-se necessário um estudo mais aprofundado para
compreender melhor esse processo de desenvolvimento e colonização de
maneira a lutar pela classe que vive às margens da sociedade.
REFERÊNCIAS
575
do-ouro/34443200. Acesso em: 25 de jun. de 2021
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino in: Mato Grosso S/A. Amazônia revelada. 2005.
ORLANDI, Eni et alii, ed. Unicamp, 1994. Texto e discurso. Brasiliense, São Paulo,
1983.
PELLEGRINI, Fabio. Chegada a Sinop: a cidade que um dia foi floresta. ((O))
ECO. 29 de outubro de 2012. Disponível em:
https://www.oeco.org.br/especiais/direto-do-nortao/26602-chegada-em-
576
sinop-a-cidade-que-um-dia-foi-floresta/. Acesso em: 25 de jun. de 2021.
577
A APRENDIZAGEM CRIATIVA EM AULAS PARTICULARES DE LÍNGUA
PORTUGUESA PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL-ANOS
FINAIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
RESUMO: O ser humano possui um grande potencial criativo, e esse potencial pode ser
desenvolvido a partir de exercícios, tal qual um músculo em uma academia. Este trabalho,
portanto, parte da perspectiva da aprendizagem criativa como uma ação em que o
professor é um mediador do conhecimento, responsável por construir ambientes de
aprendizagem criativa em suas aulas, de modo a favorecer o ensino-aprendizado. Desta
forma, este relato de experiência tem por objetivo descrever e analisar práticas de
atividades com foco na criatividade realizadas com alunos do sexto ao oitavo ano do ensino
fundamental, em aulas particulares presenciais e online durante a pandemia de Covid-19.
O trabalho utiliza-se, como base teórica, os trabalhos de Plucker, Begheto e Dow (2004)
Rocha (2014), Luckesi (2002;2006) e Freire (1997;2015), Rosas (2008) As atividades
desenvolvidas com os alunos focalizaram na compreensão de conceitos sobre o gênero
textual conto maravilhoso e acerca de figuras de linguagem. Sendo criados pelos alunos:
um suporte de conceitos em formatos diferenciados, tirinhas e resumos criativos. Os alunos
inicialmente sentiam constantemente que deveriam ser guiados, justamente por conta de
práticas educativas que, constantemente, não permitem que a criatividade do aluno seja
valorizada, cerceando as possibilidades dos alunos. Foi importante estabelecer uma
proposta e permitir que em torno dela os alunos criassem. A partir da aplicação do processo
de aprendizagem criativa, foi possível perceber que o ambiente lúdico e com ação ativa
dos alunos favoreceu uma melhor aprendizagem do conteúdo, além de ter sido possível
que estes se percebessem como operadores do conhecimento (MORIN, 1987), ao se
sentirem livres, dentro de um ambiente lúdico (LUCKESI, 2002), para propor novas ideias
diante do que foi proposto pelo professor, favorecendo ainda que o aluno produza
tecnologias e coloque os conhecimentos linguísticos em contextos significativos.
Palavras-chave: Aprendizagem Criativa; Ensino de Língua Portuguesa; Ludicidade.
578
INTRODUÇÃO
As metodologias ativas são ferramentas que têm sido cada vez mais
reconhecidas e trabalhadas em sala de aula, principalmente com a
imposição do ensino remoto, diante da pandemia de Covid-19, que
alcançou o Brasil em março de 2020, fazendo com que as escolas fechassem
suas portas, adotando o modelo remoto para continuar o ano letivo. As
escolas particulares, em sua maioria, conseguiram estabelecer melhor este
formato, ainda que tenham enfrentado os problemas técnicos mais básicos
deste modelo: falta de conexão, dificuldade de acesso e um letramento
digital falho de muitos alunos e familiares.
579
inicialmente tentaram apenas transportar para o online a mesma dinâmica
do ensino presencial, algo que para muitos não foi satisfatório,
principalmente levando em consideração os pressupostos da educação à
distância.
580
resumo criativo, tirinhas e suporte de conceitos. Deste modo, este trabalho
descrever e analisa, tendo como base a abordagem qualitativa, de acordo
com Minayo (2016).
1 METODOLOGIA
581
pudesse ser estimulada, a fim de alcançar melhor aprendizagem dos
conteúdos a serem estudados.
582
apresentar os conceitos de cada
um.
Fonte: O autor
583
Momento 03 – Elaboração de tirinhas com uso de figuras de linguagem em
papel
Modalidade: Remota
Fonte: O autor
2 REFERENCIAL TEÓRICO
584
imaginação e a criatividade, sendo negada em favor de um rigor, de um
acerto pelo acerto. O fruto disto é, em geral, a frase “Professor, eu não sou
criativo”, gerando no aluno um desestímulo a práticas que tenta ir à
contramão desta concepção de ensino.
585
aplicá-lo. É nesse sentido que as múltiplas tecnologias, também, auxiliam
nesse processo.
586
diferente do professor tradicional como fonte de conteúdo.” (BURD, 2018, p.
14).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
587
coragem e lealdade. O conto com seu enredo forte e carregado de
imagens gerou nos alunos forte conexão emocional, percebida através das
reações aos acontecimentos da história.
Diante disto, foi pedido aos alunos que elaborassem um resumo criativo
acerca das principais características do conto maravilhoso, de modo que
estes pudessem fixar os conceitos. Os alunos inicialmente verbalizaram uma
frase que sempre perpassa os alunos no início de atividades como esta:
“Professor, não sou criativo”. Contudo, essa dificuldade inicial foi superada
com o diálogo e mediação para que este pudessem perceber as inúmeras
possibilidades para realização da atividade.
588
Figura 01 – Resumo Criativo
Fonte: O Autor
589
Figura 02 – Suporte de Conceitos
Fonte: O autor
590
Contudo, a presença do elemento criativo e que estava nas mãos deles
a decisão do tema, enredo e escolha das figuras de linguagem, tornou
possível um momento de aprendizagem lúdica e significativa, no qual os
alunos puderam produzir textos concretos e aplicar os conhecimentos.
Fonte: O autor
591
Figura 04 – Tirinha “Metonímia”
Fonte: O autor
592
CONSIDERAÇÕES FINAIS
593
REFERÊNCIAS
594
ROSAS, Agostinha da Silva. Paulo freire na trilha da criatividade libertadora.
Interritórios. Revista de Educação: Universidade Federal de Pernambuco,
Cuaruaru, Brasil, 2016. Vol. 02. N. 02.
595
O USO DO SOFTWARE ANTCONC NA PESQUISA EM TERMINOLOGIA:
APLICAÇÕES DA FERRAMENTA NA SELEÇÃO E ANÁLISE DE
CANDIDATAS A TERMO DA ÁREA DA GESTÃO ESCOLAR
INTRODUÇÃO
596
por meio das mais diversas plataformas digitais, responsáveis por veicular
informações com a publicação de livros e artigos científicos, vídeos e tantos
outros recursos que potencializam a divulgação da ciência e facilitam o
acesso a diversos tipos de conteúdo.
597
analisar a funcionalidade do software AntConc nas etapas seleção e análise
das candidatas a termo da área da Gestão Escolar.
1 METODOLOGIA
598
voltados à Educação. Dessa forma, foram selecionados dez artigos,
produzidos por doutores e devidamente publicados em periódicos da CAPES,
dez dissertações e dez teses de programas de pós-graduação em Educação
de universidades brasileiras.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
599
2.1 A PESQUISA EM TERMINOLOGIA E A LINGUÍSTICA DE CORPUS
600
IULATERM 83 , que tem como cerne o entendimento de que o léxico
especializado faz parte do léxico comum e que os termos possuem uma
perspectiva poliédrica, com uma face linguística, uma cognitiva e uma
comunicativa.
601
A LC possui vinculação às ferramentas da Informática, tendo em vista
a necessidade de compilação e análise de um volume de textos geralmente
extenso. Com isso, o pesquisador conta com os softwares voltados à análise
linguística, no intuito de obter maior rapidez e fidedignidade com os dados
coletados. Maciel (2001a, p. 373) esclarece a importância do uso das
ferramentas tecnológicas para as pesquisas com viés terminológico:
602
Education in Science and Engineering), na universidade japonesa Waseda.
Essa ferramenta é compatível com diversos sistemas operacionais e está
disponível para download gratuito no site
https://www.laurenceanthony.net/software/antconc/.
84 https://www.youtube.com/user/AntlabJPN
603
Figura 1: Tela inicial do AntConc
Fonte: https://www.laurenceanthony.net/software/antconc/
604
programa, como instruções gerais de uso e também sobre a licença do
software.
605
do pesquisador e produz resultados fidedignos, a partir do corpus
selecionado. Como afirma Gonçalves (2016 p. 4), “o AntConc suporta um
grande número de documentos em uma mesma análise e oferece opções
avançadas que permitem um melhor manuseio dos dados de acordo com
suas necessidades”.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
606
Figura 2: Ferramenta Wordlist
607
É importante frisar que o AntConc não salva as informações coletadas
no programa. Isso significa que, sempre que for necessário analisar o corpus,
será preciso realizar todo o passo a passo novamente. Porém, o software
possui uma ferramenta denominada clone results, localizada na parte de
baixo da tela, no canto direito, com a qual é possível migrar os dados para
uma planilha que pode ser salva no computador.
608
Outra ferramenta de bastante auxílio nessa etapa é a ferramenta
Concordance Plot (Figura 4), onde é possível observar o comportamento da
unidade selecionada nos arquivos que compõem o corpus. Essa ferramenta
é uma espécie de gráfico e aponta os dados estatísticos da candidata a
termo. Com isso, é possível observar em quais arquivos a candidata está
presente e quantas vezes ocorre em cada um deles. Além disso, a
ferramenta indica em que posição do texto a unidade aparece com maior
frequência, tendo em vista que o gráfico gerado no Concordance Plot é
semelhante a um “código de barras” e consegue demonstrar esse aspecto.
609
A ferramenta File View (Figura 5) também foi bastante utilizada na
pesquisa, pois com ela é possível verificar o contexto completo da candidata
a termo nos textos do corpus. Nessa ferramenta, o pesquisador consegue
selecionar cada ocorrência da candidata no texto e, com isso, elaborar sua
análise a partir do seu objeto de pesquisa. No nosso caso, como analisamos
o fenômeno da variação denominativa no corpus, a análise de cada
ocorrência foi importante para identificar os contextos de uso das
candidatas a termo e, dessa forma, delimitar as situações de autovariação,
por exemplo, que é quando os termos possuem variantes dentro de um
mesmo texto (FREIXA, 2002).
610
Outra ferramenta de grande auxílio foi a Clusters/N-Grams (Figura 6).
Com ela, é possível observar as combinações entre as unidades e, dessa
forma, a identificação de candidatas a termos compostos torna-se mais fácil.
611
para as análises realizadas na pesquisa de mestrado. As outras ferramentas,
Collocates e Keyword List, não foram utilizadas no processo, pois não
atendiam ao objetivo das análises realizadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
612
A partir dessas considerações, cremos que as discussões propostas
neste artigo suscitam, principalmente, estudos que tratem do detalhamento
e da importância das ferramentas tecnológicas de apoio às pesquisas
linguísticas, a partir de seus objetivos específicos.
REFERÊNCIAS
613
GONÇALVES, J. S. B. Tutorial AntConc: software para a realização de análises
qualitativas. Documentos LANTRI , n. 01, 2016. Disponível em:
https://www.laurenceanthony.net/software/antconc/resources/help_AntCo
nc344_portuguese.pdf. Acesso em: 10 mar. 2021.
614
https://www.researchgate.net/publication/313590021. Acesso em: 20 Abr.
2021.
615
ENSINO DE LITERATURA NO FUNDAMENTAL II: UMA EXPERIÊNCIA DE
PRÁTICA LITERÁRIA
RESUMO: O Ensino de Literatura nos Anos Finais do Ensino Fundamental, 6º ao 9º ano, pauta-
se geralmente pela abordagem da Língua nos desintegrais textos literários contidos nos livros
didáticos. Para extrapolar essa abordagem mínima dos textos literários nesses livros e visando
atender o que diz a BNCC quanto à educação literária, o Projeto Apoio à Aprendizagem –
PAA, que foi instituído pela Resolução SE-68, de 27 de setembro de 2013 para atendimento
às demandas pedagógicas dos anos finais do ensino fundamental e das séries do ensino
médio na rede pública estadual da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE-
SP), é um exemplo dessas práticas de linguagem. Tal projeto voltado aos alunos do 6º ao 9º
ano, em específico, na disciplina de Português, foi desenvolvido por um dos proponentes
dessa comunicação oral, no qual abordou a leitura literária, em roda de conversa, de
gêneros literários diversos; do poema ao romance, mediante o nível de cada série. Nosso
objetivo é apresentar o Projeto de Apoio à Aprendizagem – PAA, enquanto uma prática de
leitura literária em sala de aula. Para tanto, nos apoiamos em: JAUSS (1994), BAJOUR (2012),
AMORIM (2017), dentre outros. Em nossos resultados, pode-se inferir diante da
discussão/reflexão levantada, que o PPA transcende o ensino de literatura no fundamental
II e a abordagem da leitura e dos textos literários nos livros didáticos, pois coloca o aluno
enquanto leitor e a prática de leitura literária em primeiro plano.
Palavras-chave: Práticas, Leitura Literária, PAA.
INTRODUÇÃO
dhuda09hotmail.com
616
literária nesses anos, tende a ser desproporcional quanto se trata das
competências e habilidades leitoras desses alunos.
617
didáticos a leitura e os textos literários são meros pretextos para ensinar
gramática.
1 METODOLOGIA
618
prévias e por meio da experiência em sala de aula permeada pela
abordagem da leitura literária nos anos finais do fundamental II. Segundo
Prodanov e Freitas (2013), esse tipo de pesquisa possui uma análise mais
qualitativa/descritiva.
619
etapa da formação dos alunos, enquanto estudantes da educação básica.
Esse documento, também, leva em consideração as particularidades da
sociedade, das regiões, e em termos culturais e metodológicos de cada
instituição de ensino que são consideradas singulares.
620
isso, os estudantes podem ter acesso a literatura de diversos países, como,
também outras culturas, no intuito de enriquecer o ensino-aprendizagem.
621
despertar do aluno para novos horizontes da leitura para a ampliação do seu
repertório sócio cultural. Ainda, dentro da língua portuguesa, o campo de
estudo da literatura dialoga fortemente com o artístico-cultural, assim
compreendo a formação do aluno, também como um sujeito social e
cidadão. Esse campo do artístico-literário objetiva, de forma especial e
ampla, a valorização dos textos literários, proporcionando o fruir na
formação do leitor-fruidor e do cidadão:
622
críticos e fundamentais para o processo de transformação e integração
social.
Para essa empreitada cabe ao Professor ser alicerce para que o aluno
se adentre a literatura, com isso os livros e obras literárias pode ser incluído
em projetos pedagógicos e até em projetos interdisciplinares quando esses
tratam de aspectos históricos, geográficos e ambientais, meio ambiente, de
determinada região. O desenvolvimento de práticas como essas têm muito
a contribuir, tanto para o exercício de letramento dos alunos como para
formação intelectual, pessoal e social.
623
5 O PROJETO DE APOIO À APRENDIZAGEM – PAA, COMO PRÁTICA DE LEITURA
LITERÁRIA: O VALOR DA ESCUTA
624
que faltasse em determinado dia. O professor substituto deveria desenvolver
com os alunos um projeto que reforçasse o ensinoapredizagem desses alunos.
Em nosso caso, esse reforço/apoio se deu na disciplina de língua portuguesa,
especificamente nas aulas de leitura em literatura. Tal projeto é voltado aos
alunos do 6º ao 9º ano e desenvolvido, no nosso caso, na disciplina de
português. A leitura literária de gêneros literários diversos foi o foco do projeto.
Lia-se poemas a romances, mediante o nível de cada ano e essa leitura era
feita sempre em roda de conversa (BAJOUR, 2012.
625
É válido a inserção da teoria em práticas como essa, contudo, “a
teoria é mobilizada a partir daquilo que os leitores dizem sobre os textos, e
não de antemão: quando ela precede a leitura, condiciona e fecha
sentidos”. Ou seja, o leitor e ele pensa precisam ser levados em consideradas
no momento da aplicação de qualquer teoria, que por sua vez, deve ser a
base para o desenvolvimento de uma prática de leitura em sala de aula, e
não o contrário.
Nesse cenário,
626
letramento literários estão intrínsecos ao que diz Bajour, pois é na escuta que
ambas as práticas se constroem, já que por meio do PAA, o texto literário
transcende o livro didático, fomenta a leitura e contribui com o letramento
essencialmente literário.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
627
(BAJOUR, 2012). Para além da teoria, discutimos/refletimos acerca da leitura
nos anos finais do fundamental como forma de reconectar o ensino de
literatura ao gosto pela leitura por meio da roda de conversa e da mediação
dessa leitura através do professor. O leitor é quem recepciona e atualiza o
texto literário, e nesse contexto, “os textos literários nos tocam e nos
questionam acerca de nossas visões sobre o mundo e nos convidam a
perguntarmo-nos como viveriam os o que é representado nas ficções”. A
leitura torna prático aquilo que é estático e perpassa a escuta, transcendo-
a, quando extraímos dela aquilo que é real.
REFERÊNCIAS
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: ___. Vários Escritos. 5 ed. Rio de
Janeiro: Ouro sobre Azul/ São Paulo: Duas Cidades, 2004.
628
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária.
Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.
NASCIMENTO, Débora Ventura Klayn. Livro didático e leitura literária nos anos
finais do ensino fundamental. Rev. Bras. Linguíst. Apl., v. 19, n. 1, p. 119-145,
2019.
629
TIPOLOGIA DE PERGUNTAS EM ATIVIDADES DE LEITURA PRODUZIDAS
NO CONTEXTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Bidamatcha Na Mam87
630
INTRODUÇÃO
631
A pesquisa tem uma abordagem quanti-qualitativa, propondo-se a
descrever a tipologia das perguntas em duas atividades de leitura
elaboradas por graduandas/os do 7º período do curso de Letras da Unidade
Universitária de Ciências Socioeconômicas e Humanas da UEG. Tais questões
foram descritas e analisadas seguindo a tipologia de perguntas descrita por
Marcuschi (1996), em sua pesquisa que investigou o trabalho com a
compreensão de texto em livros didáticos.
632
leitor, nem no texto, nem no autor, mas se dá como um efeito das relações
entre eles e das atividades desenvolvidas” (MARCUSCHI, 2008, p. 242).
No entanto, o texto como uma proposta de sentido não quer dizer que
qualquer interpretação é possível. Há sim intepretações equivocadas e até
impossíveis de serem feitas, considerando que a “textualidade se dá como
sistema equilibrado entre forma e conteúdo” (MARCUSCHI, 2008, p. 242). Isto
é, há princípios de textualidade que asseguram leituras possíveis. É necessário
atentar-se para a estratégia argumentativa usada pelo autor, procurando
compreender suas intenções comunicativas e suas escolhas de uso da língua
num dado contexto.
633
“compreender é, essencialmente, uma atividade de relacionar
conhecimentos, experiências e ações num movimento interativo e
negociado”.
634
competência discursiva, textual e gramatical/linguística (MENDONÇA, 2006),
a fim de que possa atuar linguisticamente de forma eficiente no mundo.
635
surge como alternativa complementar às práticas de leitura e
produção de texto, dado que possibilitaria a reflexão consciente
sobre fenômenos gramaticais e textual-discursivos que perpassam os
usos linguísticos, seja no momento de ler/escutar, de produzir textos
ou de refletir sobre esses mesmos usos da língua. (2006, p. 204).
636
trabalho depende de como o professor pergunta para seu aluno, de como
o professor suscita reflexões sobre as leituras feitas. Para se pensar sobre essa
questão, a descrição das tipologias de pergunta de compreensão em livros
didáticos de língua portuguesa, desenvolvida por Antônio Marcuschi (1996,
2008) e adotada (com ligeira readaptação) por Wesley Carvalhaes (2016),
tem uma contribuição teórica fundamental para a formação de professores
nos cursos de Letras e Pedagogia. A descrição de Marcuschi (1996, 2008)
apresenta nove tipos de pergunta: cavalo branco (CARVALHAES, 2016)
renomeou esta de evidente em sua pesquisa), cópia, objetiva, inferencial,
global, subjetiva, impossível, vale-tudo e metalinguística.
637
Na categoria de questões reflexivas, segundo Marcuschi (1996), há os
tipos inferencial e global. Nessa categoria, é exigido um processo de reflexão
mais complexo e acurado, em que conhecimentos extra-textuais são
acionados. No primeiro tipo, parte-se de aspecto específico do texto para
tecer a reflexão, acionando conhecimentos pessoais, contextuais,
enciclopédicos, regras de inferência e análise crítica em busca da reposta,
como: “Há uma contradição quanto uso da carne de baleia no Japão.
Como isso aparece no texto”. Ao passo que, no segundo tipo, se consideram
o texto no seu todo e aspectos extratextuais, “envolvendo processos
inferenciais complexos”( MARCUSCHI, 1996, p. 52), a fim de responder à
pergunta, como em: “Qual a moral dessa história?”.
638
“De que passagem do texto você mais gostou?”. Já as questões do tipo
impossível trabalham com o conhecimento enciclopédico externo e não
contido no texto. São questões como “Caxambú fica onde?” que faz
referência a essa cidade sobre a qual o texto não fala (MARCUSCHI, 1996, p.
51-53).
4 METODOLOGIA
639
aproveitadas para a pesquisa 97 questões que abordam aspectos
linguísticos e textuais das crônicas. Nessa etapa da análise, foram
identificadas questões com mais de um comando, questões que pediam
mais de uma resposta. A decisão metodológica foi considerar para a análise
cada comando separadamente na contagem dos dados, contabilizando
no final 120 comandos.
640
5 RESULTADO PRELIMINAR E DISCUSSÃO
641
Tais informações não estão inscritas na crônica e só podem ser
recuperadas a partir de informações extratextuais, considerando os usos
discursivos e pragmáticos (é o marido que chama a mulher de “essa aí” e
“aquilo” depois de algum tempo casados) que se faz dos pronomes. Na
crônica, o narrador demonstrar o desgaste da relação de um casal em
função do tempo (inimigo do amor), de forma que o esposo, que no início
do casamento chamava a esposa de Quequinha, passa a se referir à esposa
com esses termos com uma carga semântica negativa. Para compreender
o uso desses pronomes, é preciso acessar conhecimentos extra-textuais,
significados históricos e culturalmente construídos para se referir a uma
pessoa (mulher/esposa) em uma situação social como a do texto. Desse
modo, a pergunta 44 configura-se na tipologia inferencial, que requer um
processo de reflexão para além do texto (MARCUSCHI, 1996, 2008).
642
contexto de vida; de modo que o professor, pela natureza da questão, não
tem parâmetro para avaliar a resposta. Esse tipo de questão ajuda o
professor a ter mais conhecimento do cotidiano de seus alunos que
participam centralizando sua subjetividade no processo educativo.
Por outro lado, segundo Marcuschi (2008), além dessa tipologia lidar
com o texto de forma superficial, pode ainda ocorrer de a opinião do aluno
ser moldada pela opinião do professor, ou seja, ocorre de este ser uma
influência sobre o que aquele pensa. Essa possibilidade exige cuidado e
cautela da parte do docente a fim de não usar da sua posição privilegiada
para ditar o que o outro deve pensar/dizer.
643
A pergunta “(19) Sabemos que a concordância verbal é a relação
estabelecida de forma harmônica entre sujeito e verbo. Na oração
Moravam debaixo da ponte, com qual sujeito o verbo ‘moravam’ está
relacionado? ” exemplifica o tipo impossível. Essa questão se configura
como tal porque, na frase destacada, o sujeito é indeterminado, de modo
que não há possibilidade de ser respondida.
644
com sinônimos das palavras contidas no texto, a tipologia cópia não permite
essa possibilidade de substituição, pois tem como única resposta válida as
palavras ou expressões dadas no texto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
645
sistema, apesar de haver um indício de reflexão e mudança de ampliação
de suas concepções quando se esforçaram por explorar conteúdos
linguísticos e textuais com a finalidade de contribuir com a compreensão do
texto. Essas questões mais reflexivas contribuem para que o ensino da língua
materna ocorra de forma interativa e crítica, sinalizando para uma
compreensão de linguagem/língua como interação.
646
REFERÊNCIAS
647
SEVERINO, A. J. Modalidades e metodologias de pesquisa científica. In: ______.
Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007.
648
ANÁLISE DE QUESTÕES DO PAVE E REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE
PORTUGUÊS NO ENSINO BÁSICO
649
INTRODUÇÃO
650
justificar a correção de uma das alternativas e excluir as demais. Além disso,
este trabalho é constituído pelos critérios de correção empregados na
avaliação dos textos dissertativos da 3ª etapa do PAVE. Após a discussão dos
critérios, apresentaremos a análise de uma das redações retiradas do banco
de textos com as redações do PAVE e do vestibular da UFPel.
1 METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma Pesquisa Aplicada, visto que tem por meta
elaborar e fornecer reflexões acerca de um conhecimento que possua
aplicabilidade de fato. Nesse sentido, o estudo tem por finalidade refletir
sobre o processo de ensino de Língua Portuguesa a partir da análise de
questões presentes na prova do PAVE. O tipo de pesquisa realizada é
considerado descritivo, tendo em vista que procuraremos esclarecer o
assunto, descrevendo ao máximo a análise, as informações e resultados
obtidos. Quanto à natureza, é considerada bibliográfica, porque serão
utilizados, para a análise, provas de edições anteriores desse processo
seletivo.
651
Desse modo, para a realização desta pesquisa, em um primeiro
momento foi feita a coleta das provas das edições já realizadas do PAVE e,
em um segundo momento, foi realizada a análise das questões das
disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura. A análise foi constituída com
base nas teorias do âmbito da Linguística Aplicada ao Ensino de Língua
Portuguesa.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
652
Batista (2011) constatou na sua pesquisa sobre a imagem dos
professores de Língua Portuguesa em concursos públicos que:
653
e do bem escrever eram uma exigência social, portanto foram criadas
inúmeras gramáticas para uso escolar, muitas das quais permanecem sendo
utilizadas até hoje.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
654
Desse modo, a seguir, apresentamos algumas questões e a respectiva
análise.
(a) Um dos personagens sente-se superior aos demais e é punido por isso no
desfecho da história.
(b) Jurema exige de Libório um comportamento que não é habitual a ele.
(c) Libório, no segundo quadrinho, é designado por uma expressão agressiva,
mas compatível com suas características pessoais.
(d) Libório mostra-se cordato às solicitações de Jurema.
(e) Do ponto de vista de Libório, a promessa feita a Jurema foi cumprida.
(f) I.R.
655
promessa. Jurema deseja que Libório não bata em ninguém. O protagonista
atende à solicitação de forma pouco convicta. O motivo principal do humor
da tira gira em torno dessa promessa. Depois de ser ofendido verbalmente
por um outro personagem, Libório utiliza um subterfúgio para revidar a ofensa,
sem descumprir, em sua visão, a promessa feita à Jurema. Libório bate no
coadjuvante da tira, utilizando a mão daquele personagem. Logo, a única
alternativa correta é a letra (e), a qual registra o motivo principal do humor
da tira.
As alternativas (a) e (b) são compatíveis com a tira, entretanto elas não
apresentam o motivo principal do humor do texto. A alternativa (a) refere-se
ao fato de o personagem secundário julgar-se superior a Libório, muito
provavelmente em termos de força, e exigir do protagonista uma atitude
subalterna. Esse aspecto apenas contribui para o motivo central do humor.
Já a alternativa (b) refere-se à promessa feita por Libório à Jurema. A
expressão facial do protagonista indica que a promessa foi feita muito a
contragosto, visto que ela implicaria a alteração de um hábito de Libório.
Esse aspecto também contribui para o humor da tira.
656
Questão 2 – Leia a tira:
(a) dúvida.
(b) possibilidade.
(c) ironia.
(d) comprometimento com o que é dito.
(e) credulidade.
(f) I.R
Notamos que a questão trata da função dos tempos verbais na
construção do sentido do texto. O verbo “soar” aparece no terceiro
quadrinho da última tira conjugado no futuro do pretérito do indicativo. Esse
tempo verbal é empregado no texto em questão para indicar uma
possibilidade. Uma das personagens da tira critica um filme ao qual ela e
sua amiga estariam assistindo, e a outra diz que acreditaria nas opiniões
emitidas sobre esse filme desde que a personagem em questão não se
escondesse atrás do sofá sempre que terminavam os comerciais. Portanto,
seria possível crer em algo desde que certas condições fossem observadas.
657
Não é possível sustentar que a forma verbal “soaria” indique dúvida. O
locutor da frase não está incerto sobre a veracidade do que disse. Ao
contrário, o comentário foi motivado exatamente pelas atitudes do outro
personagem. O verbo “soar” presente no terceiro quadrinho também não
expressa ironia. O locutor da frase não pretende transmitir o sentido oposto
do que é literalmente dito nem é representado visualmente com um ar de
escárnio, de deboche.
Na tira anterior, há a frase “Ei! Isso dá certo!”, a qual foi proferida pelo
sargento. Nessa frase, o pronome “isso” refere-se
658
(d) à submissão do personagem designado como “Zero”, que não esboça
nenhuma reação à atitude grosseira de seu superior.
(e) ao tom ríspido utilizado pelo protagonista para se dirigir ao seu
subordinado; esse tom é representado pelas letras em itálico do segundo
quadrinho da tira.
(f) I.R.
A questão trata da capacidade de interpretação dos mecanismos
coesivos presentes em uma tira. No primeiro quadrinho dessa tira, o sargento
faz um comentário sobre as inspirações que os grandes homens teriam no
momento de se barbear. No segundo quadrinho, o protagonista intimida seu
subordinado – o recruta Zero – com a ameaça de que o transformará em
uma vassoura caso não se levante. No terceiro quadrinho, o sargento volta
a se referir ao fato de o barbear inspirar os grandes homens. Essa referência
é realizada pelo anafórico “isso”, o qual permite a retomada de uma
informação que havia sido mencionada anteriormente. Concluímos, pois,
que o sargento se considera um grande homem e que, em sua opinião,
transformar o recruta em uma vassoura é uma ideia. Logo, a única
alternativa que pode ser assinalada é a letra (c).
659
Questão 4 - Em algumas construções da língua portuguesa, a simples
inversão na ordem de colocação dos elementos resulta em diferença de
significado, como exemplificado por “amigo cachorro” e “cachorro amigo”.
Marca a alternativa em que uma possível inversão da ordem dos
constituintes daria à tira o sentido sugerido.
660
um caráter pejorativo. O mesmo não se verifica em “cachorro amigo”, pois,
nesse último caso, o elemento caracterizador é “amigo”. Logo, essa
expressão transmite um sentido positivo.
661
também uma prova de leitura, uma vez que dificilmente produzimos um bom
texto quando não conhecemos o assunto do qual objetivamos tratar.
Quadro 1 – Redação.
662
Jovens de 16 anos podem escolher o futuro de seu país e muitos as suas
futuras profissões, logo também têm consciência para saber se matar e roubar é
mesmo o que desejam fazer. A redução da maioridade penal seria a solução para
muitos problemas culturais e sociais do Brasil, além de passar muito mais segurança
à população que vive assustada.
Fonte: < https://wp.ufpel.edu.br/pave/>.
663
cogita algumas implicações acerca das consequências advindas da
redução da maioridade penal, mas no terceiro parágrafo ele apresenta
dados no mínimo perturbadores sobre os efeitos da permanência da atual
legislação, procurando, assim, sensibilizar o leitor.
664
maioridade penal – e expõe o posicionamento que será defendido –
favorável à redução da maioridade penal.
665
Nota-se ainda o respeito à regência nominal, como em “ (...) redução
da maioridade penal (...)”, em que a preposição “da” acompanha o
substantivo “redução”, e o respeito à regência verbal, como em “(...) o
menor sofreu apenas internação (...)”, em que o verbo “sofrer” não exige a
presença de uma preposição obrigatória entre ele e o complemento
“internação”. Verifica-se também o emprego da pontuação, como em “Os
dois homens maiores de idade foram condenados por homicídio doloso, e o
menor sofreu apenas internação em uma instituição sócio-educativa”, em
que a vírgula separa orações com sujeitos diferentes.
666
Com essa análise, podemos constatar que as questões da prova são
coerentes com os objetivos desse processo contínuo de avaliação, além de
que privilegiam-se questões que conduzem o aluno a, efetivamente, refletir
sobre os usos da língua, não apenas necessitando decorar e aplicar
mecanicamente regras tradicionais da gramática, como acontece muito
em outros vestibulares e concursos públicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
667
assuntos atuais e polêmicos, sobre os quais o candidato pode se posicionar
criticamente.
Além disso, as redações não são vistas como mera aplicação de regras
gramaticais que devem ser memorizadas pelos candidatos. Os critérios de
avaliação procuram privilegiar o conteúdo e a criatividade do aluno e
evitam assinalar implacavelmente todos os erros de grafia, pontuação,
sintaxe. A nota não é atribuída por subtração na base das deficiências do
candidato. O objetivo é que o candidato possa fazer a redação para
expressar através da linguagem escrita suas ideias, reflexões.
REFERÊNCIAS
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, São
Paulo: Mercado das Letras, 1996.
668
O CÂNONE E A INSTITUIÇÃO LITERÁRIA: CAMINHOS PARA
CONSTRUÇÃO CANÔNICA EM AMOR DE PERDIÇÃO DE CAMILO
CASTELO BRANCO
RESUMO: Este texto tem por finalidade demonstrar em que medida se dá a importância da
construção canônica do autor Camilo Castelo Branco em sua obra Amor de Perdição, uma
contribuição na investigação do ensino da literatura no que diz respeito a composição de
um elenco de obras e autores que configuram um espaço privilegiado e construído a partir
de um conjunto de fatores dos quais perpassam o tempo, a história, a recepção e a crítica
que envolve a obra. Mas para isto, a priori, lançamos mão dos conceitos sobre o que seria
cânone, além de estabelecer de que modo obras e autores se tornam um instrumento
balizar para uma lista de grandes obras que ultrapassaram o tempo e continuam entre nós
sob o conceito de obras clássicos.
INTRODUÇÃO
669
como um conjunto de regras (ou, frequentemente, como um conjunto de
modelos). Mais tarde o seu significado evoluiu para o de padrão ao aplicar
como norma, ora bem, se temos um conjunto de instrumentos pelos quais se
estabelece em via de regra um conjunto de parâmetros na formação
cânone.
Almeida Garrett em seu texto Viagens na minha Terra nos dá, de certo
modo, uma formulação daquilo que para ele significa construir um romance,
que diante das possibilidades de recepção (elite aristocráticas romanesca)
670
faria grande sucesso e promove pistas para a construção deste que seria um
guia na formação de obra literária bem sucedida, diz:
Sim, leitor benévolo, e por esta ocasião te vou explicar como nós hoje
em dia fazemos a nossa literatura. Já me não importa guardar
segredo, depois desta desgraça não me importa já nada. Saberás
pois, ó leitor, como nós outros fazemos o que te fazemos ler.
Trata-se de um romance, de um drama — cuidas que vamos estudar
a história, a natureza, os monumentos, as pinturas, os sepulcros, os
edifícios, as memórias da época? Não seja pateta, senhor leitor, nem
cuide que nós o somos. Desenhar caracteres e situações do vivo da
natureza, colori-los das cores verdadeiras da história... isso é trabalho
difícil, longo, delicado, exige um estudo, um talento, e sobretudo
tacto!... Não senhor: a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe
explico.
Todo o drama e todo o romance precisa de: Uma ou duas damas,
mais ou menos ingénuas.
Um pai — nobre ou ignóbil.
Dois ou três filhos, de dezanove a trinta anos.
Um criado velho.
Um monstro, encarregado de fazer as maldades.
Vários tratantes, e algumas pessoas capazes para intermédios
e centros.
Ora bem; vai-se aos figurinos franceses de Dumas, de Eug. Sue, de
Vítor Hugo, e recorta a gente, de cada um deles, as figuras que
precisa, gruda-as sobre uma folha de papel da cor da moda, verde,
pardo, azul — como fazem as raparigas inglesas aos seus álbuns e
scrapbooks; forma com elas os grupos e situações que lhe parece;
não importa que sejam mais ou menos disparatados. Depois vai-se
às crónicas, tiram-se uns poucos de nomes e de palavrões velhos;
com os nomes crismam-se os figurões, com os palavrões iluminam-
se... (estilo de pintor pinta-monos). — E aqui está como nós fazemos
a nossa literatura original.
E aqui está o precioso trabalho que eu agora perdi!
(GARRET, 1847, p. 22)
671
uma propriedade intrínseca das obras, mas sim da sua transmissão, na
relação que mantém com outras, num determinado universo discursivo”
(CARVALHO, Pg. 259), ou seja, o modelo de romance que Garret reproduz
em sua fala é o que recepcionado pela aristocracia vigente da época, ou
para além disso, era um instrumento social e elitizado e de alguma forma
“aceito” em sua recepção, crítica e sociedade da época. Fátima
Mendonça, reitera:
672
teve sua importância em determinado espaço temporal, porém nem sempre
autores que em um determinado momento histórico, político, social esteve
entre as mais importantes obras de seu tempo, estarão necessariamente na
constelação vigente, restando apenas sua luz no céu, que não terá força
suficiente para permanecer entre os astros, esta relação segundo Mendonça
ainda pode ser vinculada ao poder do Estado, pois ressalta:
673
Assim o termo canônico pode indicar uma lista de obras extraordinárias
que coincidem eventualmente com a ideia de obras ditas clássicas, estas
listas apesar de não serem estáticas, mudam com pouquíssima frequência,
Carvalho diz que a primeira constituição de cânone está inteiramente ligada
a valores linguísticos e literários veiculados pelas obras dos “clássicos” e
reconhecidos pela tradição, evitando juízo de valores por parte dos
contemporâneos, e sobretudo aos ainda vivos. (CARVALHO, 2011, p. 260).
Para Harold Bloom esta perspectiva vai além, pois para ele a condição não
está simplesmente no plano linguístico/literário, mas é o desejo de “escrever
grandiosamente” é o desejo de estar em outra parte, num tempo e lugar
nossos, numa originalidade que deve combinar-se com a herança, com a
ansiedade da influência. (BLOOM, 2010, p. 24,).
674
Para que definitivamente tenhamos um lastro do conceito sobre
cânone para que assim possamos identificar a importância da Obra Amor
de Perdição como um ícone da Literatura Portuguesa, Victor Aguiar e Silva
ressalta ainda que Cânone Literário corresponde à necessidade, sentida e
expressa em todos os tempos, de cada comunidade cultural preservar,
organizar e ordenar a sua memória, o seu passado e sua herança linguístico-
literário (AGUIAR E SILVA, 2010, p. 243).
675
recompensa das suas trágicas e afrontosas dores em vida tão breve.
(BRANCO,1900, p. 13)
Camilo foi assim reconhecido por seu pai em 1829, como “filho de mãe
incógnita”. Ficou órfão de mãe quando tinha um ano de idade e de pai aos
dez anos, o que lhe criou um caráter de eterna insatisfação com a vida. Foi
“criado” por uma tia chamada Emília de Vila Real e, depois, por uma irmã
mais velha, Carolina Rita Botelho Castelo Branco.
Camilo Castelo Branco teve uma vida atribulada, o que lhe serviu
muitas vezes de inspiração para os seus folhetins, envolveu-se algumas vezes
com mulheres casadas, a mais conhecida é a de Ana Plácido, esta que o
levou a passar um bom tempo da cadeia, sob o crime de adultério, em
676
consequência ao fato de estar preso os jornais portuenses recusaram a
publicar os seus escritos, por temerem uma má repercussão, porém durante
sua passagem pelo cárcere, Camilo não deixou de escrever, pelo contrário,
escreveu um dos seus mais famosos romances, e ainda: O retrato de
Ricardina, A Brasileira de Prazins, A filha do Regicida, Memória de Cárcere e
Eusébio Macário. Em 1888, Camilo e Ana se casam e nessa ocasião já têm
dois filhos. Já cego, em 1890, Camilo Castelo Branco se suicida.
Usava como porta de entrada para suscitar e alimentar sua mente fértil
nas construções de texto que ficariam marcados na memória da sociedade
Portuguesa até hoje. Isto pode ser constatado com a presença de estátuas
pelas cidades Portuguesas de Lisboa e Porto, além de nomes de ruas e
parques (jardins) que lembram o célebre autor português Camilo Castelo
677
Branco e sua popularidade. Em Lisboa sua estátua está situada no Jardim
Camilo Castelo Branco, na freguesia de Santo António, antiga freguesia do
Coração de Jesus em frente do Hotel Dom Carlos, e em Porto está localizada
na antiga Cadeia Relação onde Camilo foi preso pelo crime de adultério.
Estas são de alguma forma marcas que colocam Camilo em uma lista
de autores que apesar de não estarem de maneira clara no cânone da
Literatura Portuguesa institucionalizada, faz parte de uma lista de autores que
pertencem ao cânone popular. Segundo Luísa Carvalho, a primeira relação
de autores reconhecidos por suas obras foi datada de 1822, esta que, de
nenhuma forma, Camilo se fazia presente, porém em dezembro de 1884, o
jornal de Coimbra O imparcial, fez uma enquete sobre quem seriam os
autores da atualidade reconhecidos como os mais importantes pelo “povo”,
mas ignorados pelo meio acadêmico e governamental, e nesta lista Camilo
Castelo Branco aparece como o primeiro, lista que está longe de ser igual a
678
de autores do Cânone oficial. Isto se deve em grande parte, porque a
construção do cânone oficial considera autores que já haviam morrido e
desconsideram autores vivos, no entanto, ganha uma especial relevância
autores como Camilo por apresentar um grande sucesso editorial enorme e
emergente.
679
cada momento da narrativa encontram-se ações decorrente aos fatos, um
sucessivo ao outro, tarefa que somente com um autor de alta performance,
digo no sentido de escrever muitas novelas, consegue ter, no que concerne
à construção da narrativa, da qual o leitor quer mais a todo instante. Camilo
tem esse poder, prende atenção do leitor cria uma cadeia de
acontecimentos, de fatos, e de ações que o leitor não tem outra fora se não
ler toda a novela.
680
para um convento. Simão acaba por se esconder na casa de um ferreiro,
que o trata muito bem porque devia um favor a seu pai. A filha do ferreiro
João da Cruz, Mariana, também se apaixona por Simão e faz tudo para o
satisfazer, como podemos identificar ao se deparar com Simão:
Mariana, a filha de João da Cruz, quando viu seu pai pensar a chaga
do braço de Simão, perdeu os sentidos. O ferrador riu
estrondosamente da fraqueza da moça, e o acadêmico achou
estranha sensibilidade em mulher afeita a curar as feridas com que
seu pai vinha laureado de todas as feiras e romarias. (BRANCO, p. 93)
681
se tratando das cartas que eram trocadas entre Simão e Tereza, essas que
são o principal atração para os leitores, já que a através delas que grande
parte da narrativa se desenrola, e é por elas que sabemos fatos que irão
ocorrer, e principalmente a carga sentimental que envolve os textos, é o
caso do momentos finais da narrativa, onde ao ingressar a nau, Simão avista
Teresa no mirante e chega questionar a Mariana se realmente é Teresa, por
não reconhecer a enferma.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
682
novelas mais bem recepcionada pelo público, texto esse que tem uma série
de características que favorecem essa bem sucedida narrativa.
REFERÊNCIAS
683
BONNICI, Thomas. FLORY, A. Villibor. PRADO. M. Roberto. Margens Instáveis.
Maringá. Eduem. 2011.
CÂNDIDO, Antônio. Vários escritos – edição revista e ampliada. São Paulo:
Duas Cidades, 1995.
CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de perdição. São Paulo: Queiroz & Filhos,
1900.
Site visitados:
http://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/canone/
https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/vasco-graca-moura/sobre-o-
canone-literario--2709362.html
684
CAPOEIRA: LUGAR DE RESISTÊNCIA E MEMÓRIA
685
forma individual ou coletiva o espaço que lhes foi negado. Na leitura da
cultura brasileira faz-se necessário destacar a deriva do agrupamento das
culturas: indígenas, europeias e africanas. Vale a ressalva que a
heterogeneidade da cultura brasileira se dá a partir dos povos que vieram
ou já estavam no Brasil, por isso: “somos uma cultura sincrética, um povo novo,
que apesar de fruto da fusão de matrizes diferenciadas, se comporta como
uma só gente, sem se apegar a nenhum passado.” (Ribeiro, 1996).
686
de circunscrição do sujeito e do cosmo remetem-nos não apenas ao
universo semântico e simbólico da ação ali reapresentada, mas
constituem em si mesmas a própria ação, instituída e constituída pela
performance do corpo. Dançar é performar, inscrever. A
performance ritual é, pois, um ato de inscrição, uma grafia. Nas
culturas predominantemente orais e gestuais, como as africanas e as
indígenas, por exemplo, o corpo é, por excelência, o local da
memória, o corpo em performance, o corpo que é performance
(MARTINS, 2002).
687
Nas ações políticas e históricas, a memória africana é diretamente
ligada a um dos traços mais marcantes da capoeiragem, essa vem
carregada de marcadores de exclusão de um povo, que deu origem à arte
como resistência da negritude em solo brasileiro. Estes que por quase 400
anos, em meio a condições desumanas, sofreram a diáspora de seu
continente natal e viveram aqui como escravos. Por mais que tenha sido
abolida, a escravização deixou suas marcas cruéis de discriminação étnico-
racial, maquiada até hoje no Brasil e camuflada na forma de uma
pseudodemocracia racial.
688
considerada a cidade mais negra fora da África, segundo os dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (IBGE, 2017).
1 METODOLOGIA
689
2 REFERENCIAL TEÓRICO
690
Além disso, a Capoeira se tornou uma das manifestações culturais
mais importantes no Brasil, assim como o carnaval, o samba e o futebol, isto
é, faz parte do conjunto dos grandes ícones contemporâneos
representativos da identidade cultural brasileira. Sua prática surge como
traço da cultura afro-brasileira excluída da sociedade, visto a princípio,
como resistência a escravidão, como algo sem valor, clandestina, ilegal,
violenta e perseguida pelos senhores de engenho.
Assim como nas demais esferas sociais tudo que não venha do
patriarcado representado pela branquitude é inferiorizado, e com a
Capoeira nãos seria diferente. Como nas escolas de samba e nos terreiros,
existe uma permanente invasão de povos que não tem lugar de fala nesses
espaços, não por atitude antirracista, mas por apropriação indevida de tudo
691
que é preto e só se torna “legítimo”, “legal”, culturalmente aceito, quando é
arrancado de nossas mãos, retirado do contexto de nossa história, a ponto
de ser renegado por nós.
692
A Capoeira é considera herança deixada pelos negros bantos, vindos
de Angola como escravos, foi cultivada e praticada por escravos fugitivos
que, ameaçados de recaptura, defendiam-se, usando a técnica. Para não
levantar suspeitas, os movimentos da luta foram adaptados às cantorias
africanas para que parecesse uma dança.
693
2.3 AS CANTIGAS RETRATOS DA MEMÓRIA E RESISTÊNCIA DA POPULAÇÃO
NEGRA.
694
contribuem para a configuração da roda de capoeira e a formação rítmica
e melódica das cantigas.
Iê!
Tava em casa
sem pensar nem maginar
delegado no momento
já mandou foi me intimar
é verdade meu colega
com toda diplomacia
prendero o capoeira
dentro da delegacia
para dar depoimento
daquilo que num sabia
695
Iê! (DAS AREIAS, 1983)
Luanda ê pandeiro
Ô, Luanda é Pará
Oi Tereza samba deitada
Ô, Idalina samba de pé
Ô, lá no cais da Bahia
Na roda de capoeira
Não tem lelê
Não tem lá
Não tem lelê
Nem lalá
Ô, laê, laê, lá
Ô, lelê
Ô, laê, laê, la
coro (DOWNEY, 1994)
696
mais, a identificação e a origem se dão na lembrança do país em que foram
caçados e trazidos à força para o Brasil. O cais e o lelê também registram a
condição de escravo, não somente pela sua cor de pele, mas também
através da luta contra a sua condição de vítima de opressão e
marginalização ao longo dos séculos.
Antigamente
697
memória triste e carregada de sofrimento é relatada em várias cantigas de
capoeira.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
698
apropriam e transmite uma série de conhecimentos acumulados por mais de
400 anos de história.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
699
identidade cultural brasileira. Sua prática surge como traço da cultura afro-
brasileira excluída da sociedade, visto como resistência a escravidão, como
algo sem valor, se manifestando de forma clandestina, ilegal, violenta e
perseguida. Essa história foi marcada por perseguições policiais, prisões,
racismo e outras formas de controle social que os agentes dessa prática
cultural experimentaram em sua relação com o Estado brasileiro. Portanto,
desde sua a gênese apresenta-se como significado de luta e resistência de
um povo.
REFERÊNCIAS
BRITO, Débora. Mulheres usam roda de capoeira como espaço de luta pela
igualdade: Prática pode incentivar resgate da identidade racial. Disponível
em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-07/mulheres-usam-
roda-de-capoeira-como-espaco-de-luta-pela-igualdade. Acesso em: 6 nov.
2020.
700
DOMINGUES, Petrônio. Ações afirmativas para negros no Brasil: o início de
uma reparação histórica. Revista brasileira de educação, n. 29, p. 164-176,
2005.
DOWNEY, Greg (ed) 1994 Universo Musical da Capoeira: VIII Oficina mostra e
II Encontro Internacional de Capoeira de Angola. Salvador. Grupo de
Capoeira Angola Pelourinho, Comissão de Documentação e Acervo.
701
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 13, n.
2, p. 245-249, 1996.
702
A POÉTICA DO VAZIO EM “EIS A NOITE”, DE JOÃO ALPHONSUS
RESUMO: Apesar de bastante elogiado pela crítica, o escritor mineiro João Alphonsus tem
sido alvo de poucos estudos, identificando-se apenas três ensaios fundamentais. Em João
Alphonsus: tempo e modo, de 1965, Fernando Côrrea Dias apresenta uma visão geral da
obra do escritor mineiro, reportando-se ao entendimento de sua importância dentro da
história literária daquele momento. João Alphonsus - ficção, de 1971, de João Etienne Filho,
pertence à coleção “Nossos clássicos”, que, como se sabe, apresenta um modelo já
determinado: dados biográficos, apresentação (dividida em situação histórica e estudo
crítico) e uma antologia de textos do autor. Em 2011, o crítico Ivan Marques dedicou um
capítulo do livro Cenas de um modernismo de província: Drummond e outros rapazes de
Belo Horizonte à ficção de João Alphonsus, destacando aspectos particulares de sua obra,
sobretudo de seus contos. Considerando este percurso crítico, importante para o
entendimento da obra de João Alphonsus, proponho aqui uma leitura do conto “Eis a noite”,
publicado na coletânea de mesmo nome em 1943. A narrativa se constrói sob o vazio
existencial da protagonista do conto, Madalena. Normalmente, as narrativas curtas de João
Alphonsus são construídas em “torno do nada”, conforme observou Antonio Candido (1999,
p. 88). Tal ideia de falha e incompletude (emanada da própria forma do conto de João
Alphonsus) se mostra também na construção de suas personagens, que parecem dotadas
de uma existência nula, em que o não acontecimento dos contos e sua não finalização são
formas de mimetizar esta existência falhada.
INTRODUÇÃO
703
ficção de João Alphonsus, destacando aspectos de sua obra,
particularmente de seus contos.
1 METODOLOGIA
704
indefinidamente seus conhecimentos” (SOUZA, 2016, p. 81) a respeito do
assunto tratado:
2 REFERENCIAL TEÓRICO
705
influência do pai, foi na prosa que João Alphonsus se destacou, publicando
em sua curta vida literária dois romances, Totônio Pacheco (1935) e Rola-
moça (1938); e três livros de contos, Galinha cega (1931);97 Pesca da baleia
(1941)98 e Eis a noite! (1943),99 ano anterior à sua morte, em 24 de maio.
706
Em Rola-moça, seu segundo e último romance, o procedimento de
divisão da história volta a aparecer; entretanto, as três narrativas que
compõem o livro apresentam certa independência entre si, localizadas em
ambientes diversos de Belo Horizonte. Em um sanatório para tuberculosos
passa-se os acontecimentos em torno da jovem Clara, moça carioca que
vem a Belo Horizonte em busca de tratamento. O segundo ambiente-
narrativo é a residência burguesa de Anfrísio da Conceição, bacharel em
Direito e funcionário público, que está localizada entre uma favela próxima
de ser desocupada e o sanatório citado. O terceiro cenário do romance é a
própria favela. Como se vê, João Alphonsus constrói sua narrativa a partir do
movimento entre os três espaços, tendo o palacete e a figura de Anfrísio
como “problematizadores” da cidade (partida) ainda em construção. Rola-
moça, mais que Totônio Pacheco, evidencia uma tendência de João
Alphonsus à fragmentação do enredo, centrado nas pequenas peripécias
de suas personagens. Tal fato parece sugerir sua vocação para o conto,
forma literária de predileção do autor:
707
Amoroso Lima, Nelson Werneck Sodré exaltam as virtudes do contista.” (DIAS,
1965, p. 25).
100Os outros contos destacados são “Galinha Cega” e “Godofredo e a virgem” de sua
primeira coletânea (Galinha Cega, de 1931), e “Sardanapalo”, do volume A pesca da baleia
(1941).
708
Recentemente, em 2011, o crítico Ivan Marques dedicou um capítulo
do livro Cenas de um modernismo de província: Drummond e outros rapazes
de Belo Horizonte à ficção de João Alphonsus, destacando aspectos
particulares de sua obra, sobretudo de seus contos.101
709
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
710
No trecho, a sensação de vazio da personagem é dada pela
repetição e lentidão das ações, que dizem respeito, afinal, a objetos e a
outras pessoas, enquanto ela apenas espera. Termos como “esperou”,
“devagar”, “lentamente”, “vagarosos”, “calmos”, “novamente” dão a ideia
de não movimentação e de letargia. Para Ivan Marques, essa ausência de
ação em muitas narrativas do escritor, se por um lado, “estimula a análise
psicológica”; por outro, também pode ajudar na construção de
“personagens caricatos ou incaracterísticos” (MARQUES, 2011, p. 163)
711
Por isso apenas em sonho ou por poucos minutos (protegida pela
fortaleza do sobrado) a personagem parece dotada de algum poder de
ação (e desejo), mesmo que esta ação esteja condicionada à existência de
outro, a algo fora dela, para além dos limites de sua própria realidade física.
Se ele tivesse morrido? Não teve o menor susto com tal pensamento,
dentro do absurdo avassalador, livre e leve como se o fato já se
houvesse consumado e passado [...] e ela já estivesse distante de
tudo isso, sozinha e libertada... (GUIMARAENS, 1976, p. 131).
712
O convite à vivência da noite, promovido pelo homem sem feições do
sonho, é a manifestação de seu próprio desejo sexual, que só se torna
possível com a ausência paterna e em uma cidade estranha e menos
convencional que a provinciana Belo Horizonte.
713
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
714
CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira (resumo para
principiantes). 3ª ed. São Paulo: Humanitas, 1999.
DUTRA, Waltensir; CUNHA, Fausto. Biografia crítica das letras mineiras. Brasília:
INL, 1956.
FILHO, João Etienne. João Alphonsus – ficção. Rio de Janeiro: Ed. Agir, 1971.
(Coleção Nossos Clássicos).
715
http://portal.virtual.ufpb.br/biologia/novo_site/Biblioteca/Livro_2/8-
METODOLOGIA.pdf. Acesso em 11 de dez. 2020.
716
EDUCAÇÃO LITERÁRIA E O ENSINO
RESUMO: O presente estudo almeja esboçar um panorama reflexivo sobre o atual ensino e
aprendizagem da Educação literária. A todo momento estamos sendo bombardeados de
novidades e informações, a atenção das crianças não se concentra por muito tempo em
um único assunto, despertadas pelas oportunidades dinâmicas da internet e do universo
tecnológico fora da sala de aula, no contexto escolar a mesma dinâmica é solicitada ao
professor. Neste contexto refletiremos, por meio da obra Pós-modernismo: a lógica cultural
do capitalismo tardio, de Fredric Jameson (1997), sobre o efeito das telas de computadores,
celulares e televisão, que trazem milhares de informações instantaneamente, e em face do
grande número de imagens que nos distraem e embaralham a nossa noção de tempo e
espaço. Para o autor essa fragmentação, diferentemente da fragmentação surrealista (que
ainda apresentava um referente lógico, no caso a teoria dos sonhos de base freudiana) a
dispersão contemporânea se aproximaria de uma estética esquizofrênica. Assim,
considerando essa hipótese como o centro de nossas perquirições nos perguntamos: como
podemos pensar a educação literária em sala de aula de forma que ela possa ser
compreendida além do superficial, ou seja, como podemos acolher o movimento
tecnológico em sala de aula? Sabemos que ensinar literatura na escola atualmente propõe
ir além dos livros literários, há de se pensar em uma pedagogia com novos insumos
tecnológicos em uma perspectiva de construir pensadores, quebrando paradigmas em um
mundo cercado pelo consumismo, possa ser transformado, não se deixando levar pelo
simulacro do pós-modernismo.
INTRODUÇÃO
717
Para contextualizar este estudo precisamos primeiramente definir quais
as principais mudanças ocorridas que nos trazem as questões atuais. Assim
buscaremos essa contextualização em Fredric Jameson, no obra Pós-
modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio.
718
há também uma explosão de cores, onde se vê um gesto de esperança, de
que tudo podia mudar.
719
O quadro de Warhol não possui um elemento utópico, estando
disperso na história. O brilho presente nele sugere uma sensação de euforia
que está relacionada ao nosso desejo de comprar, apenas uma vontade
superficial de consumir imagens, como ocorre hoje no Facebook, Instagram,
Tic-toc, entre outros. Esse desejo consumista é tão rápido quanto o desejo por
aquela mercadoria que acabamos de ver e já nos sentimos saturados dela.
Essa falta de profundidade no contexto da lógica do simulacro 104 , que
segundo Jameson (1997, p. 72), com sua transformação e novas realidades
em imagens de televisão, faz muito mais do que meramente replicar a lógica
do capitalismo tardio: ela a reforça e a intensifica.
104[...] esse apetite, historicamente original, dos consumidores por um mundo transformado
em mera imagem de si próprio, por pseudo-eventos e por “espetáculos” (o termo utilizado
pelos situacionistas). É para esses pseudo-objetos que devemos reservar a concepção de
Platão do “simulacro”, a cópia idêntica de algo cujo original jamais existiu (JAMESON, 1997,
p. 45).
720
esquizofrênico se reduz à experiência dos puros significantes
materiais, ou, em outras palavras, a uma série de puros presentes,
não relacionados no tempo. (JAMESON, 1997, p. 53)
721
Diante de tantos fatores, de uma sociedade de certa forma
fragmentada, como podemos acolher a educação literária em sala de aula?
De forma que ela pode ser compreendida além do seu uso distraído?
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
722
estado de imobilidade e ausência de criticidade daquilo que lhe é
apresentado.
723
específica destes profissionais ocorre no sentido de serem eles quem
apresentam o mundo da literatura para as crianças.
Para que isso ocorra o processo de contação de histórias deve ser feito
de forma a instigar a imaginação e interesse das crianças, o responsável pela
atividade deve se envolver e gostar, utilizando de entonação e
demonstrando interesse, para cativar aqueles que lhe ouvem e fazer com
que esse processo seja prazeroso. No processo de desenvolvimento da
linguagem, a educação informal é fator primordial, de modo que estimula a
criança em diversas maneiras de conversar e se expressar, contribuindo com
a linguagem oral, abrindo as portas para o mundo dos livros.
724
vida”, via os processos de compartilhamento de experiências,
principalmente em espaços e ações coletivos cotidianas” (MARIA DA
GLÓRIA GOHN, 2006 p. 28-29), ou seja, é aquele conhecimento adquirido dia
após dia. Diferentemente da educação informal, que se desenvolve a partir
da espontaneidade e do senso comum e sem a expectativa de resultados,
a educação não-formal é intencional, ou seja há regras de convivência,
processos e metodologias que podem ser desenvolvidos de maneira geral
ou em função de uma situação específica.
725
levar o aluno a um tipo de letramento específico, que poderíamos, por ora,
chamar de letramento literário.
Lembramos aqui que não podemos definir uma pessoa letrada como
aquela que sabe ler e escrever, esse tipo de conhecimento vai muito além
dessa definição, nas palavras de Souza (2011):
726
Essa formação auxilia o leitor a questionar o mundo, de forma a pensar
nele como alternativa, que segundo Azevedo e Balça, “liberto das
constrições do mundo empírico e histórico-factual” (AZEVEDO E BALÇA, 2019,
p. 8). A literatura adentra a parte mais profunda do ser e acaba
desconstruindo o que pensávamos estar pronto, trazendo diversas
indagações que muitas vezes não possuem respostas, mas que transformam
o ser. De modo que por meio do conhecimento obtido através da educação
literária e com a prática de fazer a leitura de múltiplos planos é que ela irá
ocorrer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
727
devem ser feitas de acordo com cada turma que o educador recebe,
observando o repertório de cada aluno.
REFERÊNCIAS
728
CECHINEL, André. Literatura e atenção: notas sobre um novo regime de
percepção no ensino de literatura. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 24,
e240035, 2019. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413247820190001
00230&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 14/07/2020.
729
A IRRUPÇÃO DO PERSONAGEM E SUA CONSTRUÇÃO NO CONTO “
A ESCRAVA” DE MARIA FIRMINA DOS REIS.
vmsrocha15@gmail.com
730
INTRODUÇÃO
731
sentimentos e ideias, destinadas a serem somente donas de casa e mães.
Como forma de luta a autora carrega seus textos com personagens
femininas que estão presentes em lutas não só pelo seu espaço enquanto
mulher, mas estão em busca de algo com real significado, que faria com
que tivessem espaço e fossem vistas como membros fundamentais na
sociedade.
732
a relação da expressividade da língua em função da estrutura da narrativa.
Dessa maneira, em seu estudo sobre Estilística, Bally se fundamenta na
premissa de que o domínio da Estilística é o da língua falada, da observação
e a análise, dentro dela, dos matizes afetivos. Para impulsionar tal reflexão
temos como critério de análise os significados representacionais circunscritos
no texto A Escrava, possibilitando-nos compreender a constituição de um
texto, sua conservação ou mudança dentro de uma sociedade.
1 METODOLOGIA
733
Destarte, deu-se início às análises levando em conta o contexto
social no qual a obra está inserida, as lutas sociais e as relações de poder.
E, por fim, buscou-se comprovar a evidência de representações femininas
negras na escrita de Maria Firmina dos Reis e a importância dessas
personagens para o cenário de mudanças sociais no Brasil. Este trabalho
parte de uma pesquisa que surgiu através de uma grande indagação,
frente à inquietação por reconhecer muito além de valores impostos pela
sociedade machista e escravagista do século XIX.
734
2 REFERENCIAL TEÓRICO
735
exemplo de obras como os poemas homéricos e a retórica.
736
servia para escrever em tabuinhas, antes da época do papel e da
pena de ganso é a maneira de escrever, a utilização pelo escritor dos
meios de expressão para fins literários, distinguindo-se, portanto, da
gramática, que define o sentido e a correção das formas.” Guiraud
define as noções de gênero e de estilo como inseparáveis, pois os
estilos se constroem a partir dos gêneros do discurso. Na Antiguidade,
distinguiam-se três estilos elementares, ligados à aquela dinâmica social;
o simples, o temperado e o sublime, dependendo do que e de que
modo se iria contar ou cantar poeticamente. Essas classificações, assim
como a retórica, estenderam-se pela Idade Média, indo até o início do
século XIX. Apreciada durante séculos, a retórica passa a entrar em
decadência no século XVIII e nada surge para substituir a ciência da
eloquência.
Martins explica uma das fases passadas pela Estilística (1989, p. 19-
20),revelando que “as mudanças ocorridas no pensamento da época do
Romantismo, como a valorização do individual e o repúdio às normas
estabelecidas, levam a Retórica a perder o seu prestígio, chegando a ser
ridicularizada.” A transição da retórica para a estilística reflete uma
transformação histórica em que os valores estéticos da linguagem
deixaram de ser verdades absolutas, convertendo-se em uma relação do
homem com a produção e a experiência sensível.
737
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
738
de modo que através dessas marcas estéticas são possíveis os meios de
comunicação efetivos entre o autor e o leitor. Nesse sentido, a Estilística é
imprescindível no estudo dos recursos estilísticos e suas funções, de modo
que assim percebemos a presença das vozes do eu-lírico e autora, os
efeitos emotivos e expressivos, a linguagem conotativa e subjetiva e as
figuras de linguagem. Promovendo assim, o emprego de sentidos
particularizados e de efeito possibilitando a compreensão da mensagem
passada.
739
personagens de maneira diferenciada, mas igualando-os em dignidade
e em igualdade de reconhecimento com relação aos personagens
brancos.
740
REFERÊNCIAS
BALLY, Charles. (1951) Traité de stylistique française. Genève: Georg & cie.
BARBOSA, Maria Aparecida. (2001)
741
(romance); A escrava (conto). Florianópolis: Ed. Mulheres/Belo Horizonte:
PUC Minas, 2009, p. 263-279.
GUIRAUD, Pierre. A Estilística. Trad. Miguel Maillet. São Paulo: Mestre Jou,
1970. GUIRAUD, Pierre.1978. A estilística. São Paulo: Mestre Jou
In: . Gêneros textuais & ensino. 4.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005,
p. 34-35. MARTINS, N.S. Introdução à estilística: a expressividade da língua
portuguesa. 4.ed.São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.
742
REIS, Maria Firmina. Álbum (1853-1903). Edição fac-similar. In: MORAIS
FILHO, José Nascimento. Maria Firmina dos Reis, fragmentos de uma vida.
São Luís: Governo do Estado do Maranhão, 1975, s/p.
743
A DIALETOLOGIA DO INTERIOR DE PERNAMBUCO
INTRODUÇÃO
744
Antropologia, de modo a explicar a língua e sua interface com a cultura
do falante.
745
palavras e por regras que as combinam em frases que os indivíduos de
uma comunidade linguística usam como principal meio de
comunicação e de expressão, falado ou escrito. Saussure (1986), por sua
vez, considera o sistema abstrato de signos inter-relacionados, de
natureza social e psíquica, obrigatório para todos os membros de uma
comunidade linguística, enquanto Dubois et al (2007) ainda menciona
que o funcionamento da língua é regido por regras e coerções.
746
apenas como disciplina ou modelo de estudo descritivo dos limites da
língua, mas como ciência que estuda a fala característica seja através
da inserção das realizações mais proeminentes no mapa ou pela simples
catalogação dessas realizações através de modelos distintos de análise.
747
principais realizações fonético-fonológicas, semântico-lexicais,
morfossintáticas, pragmáticas e prosódicas.
748
2002, o Segundo Atlas Linguístico de Sergipe – 2005, o Atlas Linguístico
Sonoro de Pará – 2004, o Atlas Linguístico do Amazonas – 2004, o Atlas
Linguístico de Paraná - II – 2007, o Atlas Linguístico do Mato Grosso do Sul
– 2007, o Atlas Linguístico do Estado do Ceará – 2010, Atlas Linguístico de
Pernambuco – 2013, o Atlas Linguístico do Amapá – 2017, o Atlas
Linguístico do Estado de Alagoas – 2017 e o Atlas Linguístico do Acre –
2018.
749
Os primeiros registros étnicos apontam para a povoação de
indígenas, portugueses, holandeses, judeus, africanos e espanhóis
(SAMPAIO, 2008b). Há, ainda, colônias japonesas no interior do Estado.
750
dissertação de Mestrado de Edilene Maria Oliveira de Almeida, que
elaborou o Atlas Linguístico da Mata Sul de Pernambuco (ALMASPE) sob
a orientação da professora Socorro Aragão.
751
Um segundo atlas linguístico construído sobre o falar
pernambucano foi realizado como trabalho monográfico de
Especialização Lato Sensu em Língua Portuguesa da Universidade de
Pernambuco (UPE), sob a autoria de Joseane Cavalcanti Ferreira.
Priorizou-se, nesse trabalho, o município de Buíque, no Agreste do Estado.
752
Figura 2: Carta com designações para assassino pago do Atlas Linguístico de Buíque
753
Figura 3: Carta com Antropo-epônimos do Atlas Eponímico de Tupanatinga
754
especificamente rurais distribuídos em 15 campos semânticos: agricultura
familiar, agroecologia, associativismo, caatinga, caprinos, convivência
com o semiárido, cooperativismo, criação de gado, criação de galinhas,
ervas daninhas, extrativismo, hortifruticultura, plantas medicinais, pragas
na agricultura e suinocultura. As respostas produtivas resultaram em 43
cartas, sendo três introdutórias e 40 semântico-lexicais, exemplificadas
pela figura 4.
Figura 4: Carta com designações para canga no Esboço de um atlas linguístico rural
de Pernambuco
755
série), à exceção da capital, que também requer informantes com curso
superior completo.
756
Figura 5: Carta 23 com designações do gambá no Atlas Linguístico de Pernambuco
Fonte: Sá (2013)
757
sonho de completar o mapeamento linguístico dos quilombolas ainda
não se esgotou e poderá se tornar realidade num curto espaço de tempo.
Fonte: Sá (2018)
758
CONSIDERAÇÕES FINAIS
759
REFERÊNCIAS
760
NASCENTES, Antenor. Bases para a elaboração do atlas linguístico do
Brasil. Rio de Janeiro: MEC, Casa de Rui Barbosa, Vol. I, 1958.
761
OLHADA SEMIÓTICA DO CONTO « A FELICIDADE
CLANDESTINA » DE CLARICE LISPECTOR.
Nada El ahib109
Resumo: Se quisermos encarnar o feminismo brasileiro no início do século XX, não iriamos
excluir a Clarice Lispector, uma autora que defendeu a questão feminina e conseguiu
por meio dos seus contos plasmar a realidade da época. O nosso objetivo fundamental
é apresentar uma leitura semio-narrativa seguindo a escola estruturalista francesa de
Greimas. Sendo a semiótica uma ciência do signo (linguístico e não linguístico), pois
serve-nos para ler as relações entre os signos e revela a lógica da ordem dos eventos
narrativos. Optamos pelo conto A felicidade clandestina de Clarice Lispector,
publicado pela primeira vez em 1967, no Jornal do Brasil. O próprio título nos deixa
perante um paradoxo que ía ser descoberto através da interpretação semiótica que
faremos.
Palavras-chave : Leitura semio-narrativa, Literatura brasileira, Clarice Lispector, signo
linguístico.
762
mais complexo, em que se focalizam as estratégias de argumentação e
persuasão mais diretamente ligadas ao plano enunciativo.
763
Destinador : autora Objeto Destinatário : leitor
764
1 COMO A FELICIDADE PODE SER CLANDESTINA ?
765
As palavras de sentido pejorativo que designam caráter da
antagnosita são : crueldade ; ferocidade ; vingança ; sadismo ; tortura.
1967
766
A tortura foi arma invisível da menina que usou como elemento
ajudante para humilhar a protagonista e privá-la do empréstimo do livro
que deseja ler. À medida que a tortura se prolongue, a protagonista não
desiste e a dona do livro aumente o ritmo de maldade.
767
Relativamente à estrutura do conto : o facto de descobrir a
existência do livro com a filha do dono da livraria, a protagonista
começou por viver uma felicidade enorme interna : “até o dia seguinte eu
me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar
num mar suave, as ondas me levavam e me traziam”113.
768
Também temos de mencionar que a vida estudantil de Clarice
não foi uma vida normal: pois sofria de marginalização sendo ucraniana
e de origem judaica.
769
mencionar que, a menina não passou pelo estado b) visto que não tinha
a mínima ideia de parar este sofrimento, um sofrimento segundo ela que
vai-lhe facilitar o posse do livro.
REFERÊNCIAS
770
49, set. 2019.
Anexo
Felicidade Clandestina
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança,
chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós
771
que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos
livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha
ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia:
continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim
uma tortura chinesa.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele,
comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses.
Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o
emprestaria.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava
num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar.
Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a
outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo.
Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me
tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu
modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí:
guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes
seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava,
andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
772
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da
livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de
sua casa, com um sorriso e o coração batendo.
Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que
eu voltasse no dia seguinte.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo
indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já
começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes
adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer
me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã,
de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a
olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde
e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando
a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu
explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada
de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais
estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa
entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas
este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
773
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia
ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em
silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a
menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi
então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha:
você vai emprestar o livro agora mesmo.
E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem?
Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o
que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre.
Saí andando bem devagar.
Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra
o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco
importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para
depois ter o susto de o
774
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo,
sem tocá-lo, em
êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu
amante.
775
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA NA EDUCAÇÃO
BÁSICA: ANALISANDO PRÁTICAS DOCENTES
Lívia Suassuna118
santanacristiana45@gmail.com.
118 Doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora
776
Palavras-chave: Ensino de língua portuguesa, Ensino de literatura, Prática docente.
1 INTRODUÇÃO
777
Com base em Soares (1998), trazemos aqui três diferentes
concepções de linguagem, quais sejam: linguagem como sistema, como
instrumento de comunicação e como interação, e discutimos a
importância de o professor ancorar-se na concepção interacionista da
linguagem para realizar um ensino de língua portuguesa que seja mais
produtivo. Alicerçadas em Silva e Cox (2002) e Antunes (2009),
ressaltamos a importância de o professor considerar o texto como
unidade básica de ensino e trabalhar com diversos gêneros textuais,
tanto orais quanto escritos. Além dos autores supracitados, recorremos a
Silva (1999), Barbosa (2010), Leal (2003) e Magalhães (2008) e discutimos
sobre os eixos de ensino de língua portuguesa na atualidade, a saber:
leitura, análise linguística, produção escrita e oralidade. Por fim,
ancoramo-nos em Souza e Cosson (2011) para falar sobre literatura e
letramento literário na escola.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
778
contato com textos literários, através dos quais se desenvolviam as
habilidades de leitura e escrita. A autora afirma que, com a Reforma
Pombalina, instituída em 1759, e, consequentemente, com a
obrigatoriedade do ensino de língua portuguesa em Portugal e no Brasil,
“[...] esse ensino seguiu a tradição do ensino do latim, isto é, definiu-se e
realizou-se como ensino da gramática do português, ao lado do qual se
manteve o ensino da retórica e da poética” (SOARES, 1998, p. 54). Nesse
período, a concepção de linguagem vigente compreendia a língua
como sistema: ensinar português era ensinar a (re)conhecer o sistema
linguístico.
779
afirmam que encarar o texto a partir da concepção dialógica e
interacionista da linguagem significa “[...] considerá-lo em suas múltiplas
situações de interlocução, vê-lo como resultado de trocas verbais social
e concretamente situadas que configuram a dinâmica de uma dada
comunidade linguística” (SILVA; COX, 2002, p. 35).
780
2.1 O TRABALHO COM OS EIXOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
ANCORADO NA CONCEPÇÃO INTERACIONISTA DA LINGUAGEM
781
focados no interior das práticas de análise linguística, na medida em que
estas devem estar relacionadas às práticas de uso da linguagem. “Visto
dessa forma, o trabalho com a gramática deixa de se basear em
classificações descontextualizadas e volta-se para a exploração de
recursos linguísticos colocados à disposição dos sujeitos para a
construção de sentidos [...]” (BARBOSA, 2010, p. 158).
782
a escola já tem uma política para a escrita, a autora afirma que “[...] uma
pedagogia do oral não estaria na contramão das ações educacionais,
uma vez que a fala pública é solicitada ao cidadão nas diversas
situações do seu dia a dia” (MAGALHÃES, 2008, p. 139). Assim, ainda
conforme Magalhães (2008), levando em consideração o texto como
unidade básica de ensino, o trabalho com a oralidade precisa envolver
os gêneros textuais da modalidade falada, através de atividades de
escuta, produção e análise linguística, visto que estas permitem o
treinamento, o uso e a reflexão, respectivamente, com o intuito de
construir “[...] conhecimentos e conceitos sobre a linguagem, sobre os
papéis sociais envolvidos na interação, bem como a inserção do aluno
em atividades de oralidade letrada” (MAGALHÃES, 2008, p. 147).
783
sentidos se faz indagando ao texto quem e quando diz, o que diz, para
que diz e para quem diz” (SOUZA; COSSON, 2011, p. 103), a partir do
exame atento dos detalhes do texto, da configuração de um contexto e
da inserção da obra em um diálogo com outras obras, a fim de chegar
à formação do repertório do leitor. Para isso, faz-se necessário levar o
aluno a desenvolver estratégias de leitura, quais sejam: conhecimento
prévio; conexão; inferência; visualização; perguntas ao texto;
sumarização; e síntese (PRESSLEY, 2002 apud SOUZA; COSSON, 2011).
3 METODOLOGIA
784
de 90h, subdividido em 30h de atividades realizadas na UFPE e 60h de
atividades realizadas nas escolas-campo.
785
textos instrucionais, ela questionou os alunos sobre quem era o leitor a que
se destinavam as receitas culinárias trabalhadas, ao que o grupo-classe
respondeu “mulheres”. Diante da resposta, a docente realizou outros
questionamentos, com o intuito de levar os alunos a refletirem sobre
questões de gênero e promover uma leitura crítica.
786
sujeitos que interagem verbalmente, a partir de determinadas situações
comunicativas e de determinadas condições sócio-históricas.
787
Quanto ao trabalho com a prática de análise linguística,
observamos que a professora P utiliza o texto como pretexto para
abordar questões gramaticais, pois ela não articula a prática de análise
linguística com as demais práticas, como sugere Barbosa (2010). O
trabalho com crase, por exemplo, foi feito a partir de placas de
sinalização com foco no que a gramática tradicional estabelece como
correto para o uso desse recurso linguístico. Além disso, a docente
solicitou que os alunos pesquisassem regras gramaticais, estabelecidas
pela gramática tradicional, referentes ao uso correto do sinal de crase e
as classificassem em três categorias distintas: “Uso”, “Não uso”, “Uso se
quiser”. Assim, percebemos que o trabalho realizado pela professora P
baseia-se em classificações descontextualizadas e metalinguagem
excessiva. Diferentemente disso, de acordo com Barbosa (2010), os
conteúdos gramaticais devem ser focados no interior da prática de
análise linguística, à medida que esta relaciona-se com as demais
práticas.
788
As atividades realizadas pela professora P voltadas para o eixo da
oralidade consistiram em debates, nos quais a docente dividia os alunos
em grupos, distribuía temas diversos, a saber: a violência contra a mulher,
o respeito à diversidade religiosa, entre outros, e solicitava que eles
pesquisassem sobre os temas propostos e, depois, compartilhassem as
informações selecionadas pelo grupo com os colegas de classe, com o
intuito de defender seus posicionamentos. No entanto, as atividades
realizadas pela professora P não podem ser consideradas, de fato,
trabalho com a oralidade, visto que o foco da docente estava na
exposição do conteúdo e na defesa do ponto de vista por parte dos
alunos, desconsiderando-se, portanto, a importância de refletir sobre a
função social e as características estruturais do gênero oral debate para
a realização de um trabalho consistente e sistemático com a oralidade.
Conforme Magalhães (2008), o trabalho com a oralidade na sala de aula
não pode ser ignorado pelo professor, pois faz-se necessário levar o aluno
a desenvolver a capacidade de transitar pelas diversas instâncias sociais,
tanto na modalidade oral quanto na modalidade escrita.
789
obra, na vida do autor e no movimento literário em que a obra se insere.
Embora o trabalho realizado com as fotografias tenha sido interessante e
auxiliado os alunos a refletirem sobre as relações do texto literário com
outras artes, segundo Souza e Cosson (2011), o objetivo do letramento
literário ou do ensino da literatura na escola deve ser, em primeiro lugar,
formar leitores, “[...] mas um leitor capaz de se inserir em uma
comunidade, manipular seus instrumentos culturais e construir com eles
um sentido para si e para o mundo em que vive” (SOUZA; COSSON, 2011,
p. 106), o que dificilmente irá acontecer se o trabalho com a literatura na
sala de aula for realizado com ênfase na história da literatura, em
detrimento do contato do aluno com o texto literário.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
790
evidenciando uma mescla de abordagens. Frente a essa constatação,
ratificamos a importância da formação tanto inicial quanto continuada
para a reconfiguração do ensino de língua portuguesa e literatura.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo:
Parábola Editorial, 2009.
SILVA, Mauro Mendes da; COX, Maria Inês Pagliarini. As linhas mestras do
novo paradigma do ensino de língua materna. In: Polifonia. Cuiabá:
EdUFMT, n. 5, p. 27-48, 2002.
791
SOARES, Magda. Concepções de linguagem e o ensino da Língua
Portuguesa. In: BASTOS, Neusa Barbosa (org.). Língua Portuguesa: história,
perspectivas, ensino. São Paulo: EDUC, 1998, p. 53-60.
792
ANÁLISE DAS TRANSFORMAÇÕES FONOLÓGICAS E LEXICAIS
DO LÉXICO DA LIBRAS APOIADAS PELO SISTEMA ELiS
RESUMO: As línguas de sinais nem sempre tiveram o espaço merecido, com o estudo
de Stokoe (1960) estas línguas ganham seu merecido destaque, sendo alvo de
investigação por diversos pesquisadores. No Brasil a Língua Brasileira de Sinais – Libras,
ganha seu reconhecimento a partir da Lei 10.436/02, correspondendo como a língua
das comunidades surdas do Brasil. Diferentemente do que se pensa, a Libras é uma
língua natural com estrutura própria, e por este motivo passa pelos mesmos fenômenos
que as línguas orais, como empréstimos e variações do léxico em uma perspectiva
sincrônica e diacrônica. O presente trabalho tem como objetivo analisar o léxico da
Libras, dispondo como ponto de partida a primeira obra dicionarística que se tem
notícia, sendo este o trabalho de Gama (1875), para a comparação das prováveis
mudanças em uma perspectiva diacrônica o mesmo será comparado ao dicionário de
Capovilla et al (2017). Interessante observar que os dois dicionários registram o léxico da
Libras a partir de ilustrações, no entanto, para o cotejo e análise das possíveis
transformações das entradas, sejam elas em nível fonológico ou lexical, nos
beneficiaremos do Sistema Brasileiro de Escrita das Línguas de Sinais – ELiS. Contudo, as
possíveis modificações serão apresentadas apoiadas em sua própria escrita, de forma
a considerar aspectos inerentes à estrutura das línguas de sinais.
INTRODUÇÃO
793
organizamos nosso conhecimento de mundo. Logo, a língua representa
um papel primordial para a sociedade, o de possibilitar não apenas a
classificação, mas também a interação e a transmissão de
conhecimento e cultura. A língua Brasileira de Sinais, doravante Libras é
reconhecida pela Lei 10.436/02 como a língua das comunidades surdas
do Brasil. Apesar deste reconhecimento ser recente, a Libras sempre
esteve presente na sociedade.
794
demonstrar as modificações sofridas pelo léxico confirmadas nos
verbetes selecionados.
1 METODOLOGIA
795
Iconographia dos signaes dos surdos-mudos, elaborada por Gama (1875)
e o Dicionário da língua de sinais do Brasil: a Libras em suas mãos,
organizado por Capovilla et al (2017).
796
Imagem 2: Sinais desconhecidos.
797
duro, vermelho, azul, verde, ignorante, sincero, distraído, bom, mal,
modesto, discreto, curioso, corajoso, hipócrita, generoso, inteligente,
idiota e silencioso. Contudo, a partir da seleção e transcrição dos
supracitados sinais, intentamos identificar o processo de variação
fonológico e lexical em nível diacrônico. Logo, reiteramos a natureza da
Libras como uma língua natural, que se modifica ao logo do tempo a
depender das necessidades de seus utentes.
798
Inicialmente os estudos de variação das línguas de sinais se
vincularam às mudanças lexicais. Já na década de 70 os estudos
associados as variações fonológicas dos sinais tiveram sua largada, muito
se deve às questões ligadas às línguas orais, uma vez que, se tinha mais
conhecimento sobre as formas de lidar com essa modalidade linguística,
como afirma Andrade (2013).
Foi, ainda, observado por autores como Lucas (2003), Gesser (2009)
e Schembri e Johntson (2012, 2013) que a variação nas línguas de sinais
pode ocorrer tanto nos níveis fonológicos, quanto morfológicos e
sintáticos. E os fatores relevantes para que essa mudança ocorra são as
mesmas variáveis sociolinguísticas das línguas orais, sendo elas: raça;
799
escolaridade; geografia; idade, sexo, entre outros. Portanto, a seguir
apresentamos os aspectos fonéticos e fonológicos da Libras para assim,
compreendermos as variações diacrônicas no corpus selecionado para
a realização de nossa análise.
Ferreira (2010, p. 21) reitera que “[...] a Libras é uma língua natural,
com estrutura própria, regida também por princípios universais” por ser a
Libras uma língua natural, passou por transformações em seu léxico ao
longo dos anos. Logo, as alterações ocorreram em conformidade com
as necessidades dos sinalizantes, pode ser observadas mudanças
fonológicas, morfológicas, semânticas e lexicais e estas modificações
podem ser fontes de estudo para a história da língua e da cultura da
comunidade utente.
800
precedeu a gramática como descrição, com vista à prescrição, de
determinados usos da língua”. Assim, neste trabalho, teremos como foco
os aspectos estruturais da Libras, dispondo como ponto de partida para
nossas análises o sistema ELiS.
801
Muitas expressões não manuais não são representadas na ELiS
por considerarmos que: a) são intrínsecas ao sinal, como o
movimento de olhos que acompanham o uso de pronomes
pessoais ou demonstrativos; b) são previsíveis pela sintaxe, como
alguns movimentos de cabeça e sobrancelha em algumas
frases subordinadas e em frases interrogativas, em que os
próprios sinais de pontuação levam o leitor a realizá-los; c) são
dadas pelo contexto de leitura, como o girar de tronco para
marcar o turno de interlocutores (BARROS, 2015, p. 22).
802
por um sistema de escrita. A fonética e a fonologia são áreas
interdependentes, posto que, a fonética é essencialmente descritiva e a
fonologia interpretativa. Contudo, para se compreender as análises e
discussões das transformações do léxico da Libras julgamos necessário
uma singela apresentação do sistema ELiS, auxiliando na compreensão
das unidades mínimas e na estrutura gráfica dos sinais. Uma vez que, o
sistema representa graficamente os visemas, que são os parâmetros
formadores dos sinais.
120De acordo com Silva (2015, p. 62) “O sistema de glosas é um sistema, em que uma
palavra em inglês (no nosso caso em Português) é grafada em maiúsculo como
representação do sinal manual com sentido equivalente”.
803
Imagem 1: sinal ele/a, gritar e muito.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
804
da forma do sinal, tendo este o objetivo de auxiliar os consulentes na
realização dos sinais. No entanto, em Gama (1875), nem todas os
verbetes possuem a descrição dos sinais, por este motivo, levamos em
consideração as imagens para suas escritas no sistema ELiS. Logo, serão
apresentados os sinais que sofreram modificações fonológicas e
posteriormente as lexicais.
805
Percebe-se que o sinal “comprido” apresenta uma única
modificação, sendo esta no parâmetro CM, que em Gama (1875) a
mesma se apresenta com o polegar estendido lateralmente e demais
dedos estendidos e unidos pelas laterais , enquanto que em Capovilla
et al (2017) os dedos estão fechados, com exceção do indicador que
está estendido . O sinal “vermelho” possui o acréscimo do M
, ausente em Gama . A seguir serão apresentados os
sinais que salientaram mudanças lexicais.
806
Encontramos o total de 45 sinais que manifestam mudança lexical,
ou seja, sinais que apresentam um novo lexema para um mesmo
referente ou objeto. A grande quantidade de sinais com mudança lexical
pode ser justificada pois, a Libras em 1875 estava se constituindo, com a
vinda de E. Huet da França para o Brasil a pedido de D. Pedro II, fundou
o Instituto Imperial de Surdos-Mudos em 1857, sendo hoje conhecido
como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Doravante, a
Libras realizou empréstimos linguísticos da Língua de Sinais Francesa, de
modo a constituir seu léxico.
807
utilizado em São Paulo e Rio Grande do Sul e sua variação ,
utilizada em Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
808
assim como a variação de uma unidade linguística em nível sincrônico
de uma mesma lexia. Interessante observar que tais variações são
fenômenos previsíveis nas línguas naturais, pois, a língua se adapta às
necessidades dos utentes, e por representar a cultura, um mesmo
referente pode possuir um signo linguístico próprio em diferentes regiões.
809
REFERÊNCIAS
810
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 18 dez. 2020.
SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Editado por Charles Bally &
Albert Sechehaye com a colaboração de Albert Riedlinger Tradução
Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 4ª ed. São Paulo: Cultrix,
1972.
811
______; ______. Sociolinguistic variation and change in sign languages. In:
BAYLEY, R.; CAMERON, R.; LUCAS, C. (Ed.) Oxford Handbook of
Sociolinguistics. Oxford: Oxford University Press, 2013.
812
O ESPELHO ALEGÓRICO NO SERMÃO DO DEMÔNIO MUDO DO
PADRE ANTÔNIO VIEIRA
INTRODUÇÃO:
813
se detendo a essa necessidade, cai-se em um risco verdadeiro de
interpretações anacrônicas quase criminosas com a memória e o legado
Vieirianos. Dessa forma, observemos em que situação, para que público
e em que condições históricas essas pessoas se encontravam.
122 Onde se localiza o túmulo do rei Dinis, desde sua morte em 1325.
123 Violante Cabral era irmã do navegador Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil.
124 Isabel de Gusmão, Rainha consorte de Portugal entre 1640 e 1656, nomeada regente
814
admiração. Ela, tementes as insinuações a respeito do comportamento
pouco clerical das internas do convento, sugeriu ao padre que, com seu
poder de persuasão ímpar, proferisse esse Sermão às internas. Ou seja,
estamos diante de um texto redigido para atender a uma necessidade
bastante específica do reino, naquele momento.
125“Esperanças de Portugal, missiva escrita por Padre Antônio Vieira ao recém eleito
Bispo do Japão, André Fernandes, onde apresentara as teses que seriam perseguidas
pela Inquisição. (HANSEN, 2003, p. 268)
815
quem teve três filhos 126 - e as mulatas de Salemas 127 , acusadas de
atentarem contra a vida do rei. Também não viveu para saber da
participação de Bartolomeu de Gusmão e suas investidas sexuais no
convento. Nem soube do caso que inspiraria Camilo Castelo Branco a
escrever A caveira de Mártir128, quando vinte freiras foram condenadas
por viver situações amorosas dentro do convento129. Também não viria a
saber sobre os “outeiros” por vezes bastante pervertidos que os poetas
do século XIX organizavam no pátio do convento, com a participação
das freiras. Mas os fatos dos quais Vieira fora contemporâneo são as visitas
constantes que o Dom Afonso VI fazia ao mosteiro de Odivelas.
Não fora ele o primeiro rei a fazer isso, mas até o momento havia
sido o mais explícito. D Afonso VI mantinha algumas amantes no
convento, D. Ana de Moura, a quem D. Afonso VI prometera fazer rainha,
ficando apenas a promessa, afirmando-se o mosteiro uma vez mais como
um ninho de alcova. Nessa mesma época, havia no mosteiro a abadessa
D Feliciana de Milão (1642-1705). Uma das poucas a entrar para a
clausura por vocação, se opunha fortemente contra os hábitos de suas
iguais, condenando, inclusive, o romance de D Afonso VI com D Ana
Moura conforme trecho da carta enviada por ela ao monarca relatando
seu posicionamento sobre o caso. Carta que fora publicada pelas
freiras que durante o reinado de D. João V foram condenadas por “delitos amorosos”.
Esta mesma lista serviu de inspiração a Camilo Castelo Branco para escrever o romance
“A Caveira da Mártir”.
816
historiadoras Maria Paula Lourenço, Ana Cristina Pereira e Joana Troni
(2008), em obra que acompanha a vida conjugal e extraconjugal das
quatro dinastias portuguesas:
817
2 PRESTEZA NA ADAPTAÇÃO DISCURSA
818
sumariamente, às defesas das cistercienses, só poderia ser construída a
partir de uma imagem que, soturnamente, usurpasse da expiação e
sentinela; portanto, um demônio que não bramisse. Um demônio mudo,
pois abaixo do mesmo silêncio em que se esconde o perigo, descansa e
adormece o cuidado (VIEIRA, edição 2016: 2). Observa-se, como bem
pontuou João Reis ao analisar como a receção dessa expressividade se
dá, que o elemento alegórico, revelado no início do discurso, com sua
conhecida forma aparente e pouco dotado, por sua configuração
epistémica, de elementos de surpresa, passa a ser substituído por um
outro demônio, cuja principal arma é a discrição. Se o Leão,
alegoricamente, preenche muito bem a imagem do primeiro demônio,
qual elemento Vieira usará para alertar suas ouvintes de uma ameaça
maior: O espelho. Vieira consegue, ainda no início de seu sermão, utilizar
dois elementos alegóricos que atendem à significantes íntimos da
recepção e poderá, através desta orientação discursiva, conduzir seu
raciocínio e seu convencimento para além do texto. Técnica essa
característica dos autores que viveram durante a Contrarreforma.
819
reflexões de Friedrich Creuzer130, sugere uma distinção entre alegoria e
símbolo fundamentado no caráter efêmero de cada um deles. A leitura
que Benjamin faz de Creuzer a respeito, propõe que:
820
resistiram a retirada de seus pertences das celas, com exceção de um,
conforme relatou o homem: A primeira a que fiquei persuadido, com boa
vênia de tão venerável comunidade, é que nos conventos e celas das
religiosas o espelho é o diabo mudo (VIEIRA, edição 2016:3).
821
2011:71). O demônio mudo habita a vaidade alimentada pelo apreço
822
3 A FORMOSURA E A PERSUASÃO
823
O reconhecimento dessa mutabilidade e a necessidade de um
ação crítica diante dela supera os limites do convento, do tempo, de
Portugal e fazem do discurso de Vieira um objeto literário e filosófico, não
apenas por retomar fundamentos da retórica e da dialética aristotélica,
mas principalmente por se apresentar como uma reflexão emergencial
à humanidade diante dos demônios-mudos que se apresentam de
tempos em tempos.
824
questionamento à submissão. E por que isso preocupa nas mulheres mais
do que nos homens? Para responder a essa questão, que não foi posta
pelas ouvintes, mas prevista pelo próprio Vieira, o mesmo resgatará o que
aconteceu com Eva que, se tivesse espelho no Paraíso, teria se rendido,
nas palavras do Padre, com muito mais afinco do que se rendeu a uma
serpente que fala. Pois, diante do espelho mudo refletindo sua formosura
natural, a Eva falaria a vaidade e a autocontemplação permitira em si o
abandono dos ditames de Deus, ou, no primeiro momento o seu
questionamento.
825
envolvido, não permitiria ao padre tal manifestação, visto que seus
integrantes eram na maioria membros da corte, barões, donos de terra
e, não raro, monarcas.
826
REFERÊNCIAS
DANTAS, Júlio. O amor em Portugal no século XVIII. Lello & irmão. Porto,
1916. Disponível em
https://archive.org/details/oamoremportugaln00dant/page/n8/mode/2up
Obra integral. Acesso em 01/02/2020.
HANSEN, J.A. Para ler as cartas de Padre Antonio Vieira. In Antônio Vieira.
Cartas do Brasil. 1ª edição. São Paulo: Hedra, 2003.
REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no
Barroco. São Paulo, Cia das Letras, 1991.
827
VIEIRA. Pe António. Obras Completas. Volume XV - Sermões 1ªedição.
Edições Loyola. São Paulo, 2016.
828
FAKE NEWS: UMA BREVE ANÁLISE DO FENÔMENO COMO
GÊNERO DO DISCURSO
RESUMO: No final do ano de 2016, dois eventos políticos tiveram grande repercussão no
cenário mundial: as eleições norte-americanas que culminaram na vitória de Donald
Trump e o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, conhecido como Brexit.
Em ambos os casos, a possível influência da circulação de notícias falsas no resultado
das votações provocou amplo debate e controvérsias entre a opinião pública. A partir
disso, o termo fake news se consolidou e se popularizou como uma forma de referir a
difusão de conteúdo inverídico. Pesquisadores como o historiador Robert Darnton (2017)
têm argumentado, entretanto, que a divulgação de notícias falsas não seria uma
novidade na história da humanidade, havendo registros de sua existência desde o
século VI, pelo menos. Nessa perspectiva, o termo fake news configuraria apenas um
novo rótulo para uma prática antiga. Indo de encontro a essa premissa, o presente
trabalho se propõe a discutir o conceito de fake news, sinalizando as peculiaridades
que caracterizam os textos que circulam sob tal denominação como um gênero do
discurso contemporâneo, atrelado ao atual cenário sociopolítico e ao advento das
redes sociais. Para isso, tomaremos como base a teoria dos gêneros do discurso
desenvolvida pelo filósofo Mikail Bakhtin (2011) assim como trabalhos de pesquisadores
que se dedicam à análise do fenômeno das fake news, como Claire Wardle (2017),
Lucia Santaella (2018) e Nick Anstead (2021).
INTRODUÇÃO
829
um gênero do discurso para, a partir dessa caracterização, propor
práticas de leitura nas aulas de língua materna que auxiliem os alunos
não apenas a identificá-las mais facilmente, mas também a lidar
criticamente com a questão.
Por fim, outra questão importante diz respeito à origem das fake
news como fenômeno discursivo. Acadêmicos como o historiador Robert
Darnton (2017), por exemplo, têm demonstrado em suas pesquisas que a
divulgação de notícias falsas não configura uma novidade na história da
humanidade. Segundo o autor, desde o século VI, pelo menos, há
registros da prática, como no texto intitulado “Anekdota”, no qual o
830
historiador bizantino Procópio teria propagado informações de caráter
duvidoso (“fake news”, nas palavras de Darnton) para arruinar a
reputação do imperador Justiniano.
1 METODOLOGIA
831
Dando prosseguimento, a fim de demonstrar como os aspectos
sociocomunicativos que caracterizam as fake news como gênero do
discurso se manifestam na materialidade dos textos, outra etapa da
pesquisa se volta para a análise de fake news que circularam em redes
sociais durante o período da pandemia do novo coronavírus. O corpus
utilizado na pesquisa tem como fonte o trabalho de plataformas de fact-
checking como a Agência Lupa e o Projeto Comprova. Dados os limites
espaciais deste artigo, limitamo-nos aqui à análise de apenas uma das
fake news que compõem o corpus da pesquisa.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
832
função delas que seus elementos constitutivos se configuram. Como as
possibilidades comunicativas humanas são inesgotáveis e mutáveis, a
riqueza e a diversidade dos gêneros também são infinitas: eles existem
em número ilimitado, pois surgem, modificam-se ou desaparecem,
adaptando-se às necessidades comunicativas humanas. Assim, de
acordo com a teoria bakhtiniana, o que verdadeiramente importa no
estudo dos gêneros não é a catalogação ou a descrição de cada um
deles, mas a compreensão do processo de emergência e estabilização
dos diferentes gêneros, sua estreita vinculação com as variadas esferas
da atividade humana.
833
autor, mas as características linguísticas do gênero determinadas pelas
condições específicas da esfera da comunicação a que está atrelado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
834
de tais eventos políticos. Por fim, Anstead identifica como fenômeno mais
recente seu uso como dispositivo retórico, utilizado principalmente por
políticos populistas para atacar a grande mídia e a oposição em geral,
caracterizando as críticas que lhes são feitas simplesmente como fake
news. É partir da segunda acepção observada por Anstead que
abordamos o termo no presente artigo.
835
também têm sido apropriados pelas fake news, como é o caso dos
memes e de postagens com teor de denúncia que normalmente
circulam na rede.
836
não-oficial, de acesso à informação.
837
produção e circulação das fake news se refere ao seu meio de
divulgação. Embora a falsificação ou distorção de informações seja uma
prática antiga, a novidade das fake news advém da forma como estas
são “produzidas, disseminadas e interpretadas” (Santaella, 2018, s.p.). O
advento da internet e o surgimento das redes sociais propiciaram novas
formas de criar, publicar, compartilhar e consumir informação, as quais
não sofrem o mesmo tipo de regulação das mídias tradicionais. Assim,
valendo-se das plataformas digitais como suporte, qualquer usuário da
rede pode postar ou compartilhar informações falsas (ainda que
inadvertidamente). Além disso, o uso das novas tecnologias faz com que
sua difusão atinja volume, alcance e velocidade sem precedentes.
838
confirmem suas opiniões e visões de mundo, ainda que seu conteúdo
possa ser duvidoso. O apelo aos afetos do receptor é justamente um dos
mecanismos cruciais para a propagação de desinformação.
839
vinculados, como a notícia, a reportagem, a postagem de denúncia, o
meme etc. Assim, as fake news, a exemplo de outros gêneros como a
crônica e a sátira, não possuem um formato fixo. Seus atributos
composicionais serão definidos em função do gênero que pretendem
simular.
132 A esse respeito, vale conferir a “anatomia” das fakes news apresentada pelo grupo
de divulgação científica Vydia Academics em manual destinada ao combate de fake
news sobre a pandemia do novo coronavírus. O material está disponível na página do
Jornal da USP pelo link
<https://drive.google.com/file/d/1J1LSiyenP74KkFZ6CiSJs6GyxGMkne59/view>. Acesso
em 05/07/2020.
133 A esse respeito, vale conferir a tipologia das fake news estabelecida por Wardle
(2017).
840
Silva e Graça (2020), as fake news se valem dos mesmos pressupostos que
tornam determinado evento notícia para fabricar informação falsa. São
os chamados “valores-notícia”, elementos que servem como base para
avaliar a noticiabilidade de um fato. A partir dos estudos de Traquina
(apud FANTE, SILVA & GRAÇA, 2020, p. 80), os autores identificam dez
valores-notícia que servem de base para a composição de notícias e,
consequentemente, de fake news. São elas: 1) a morte; 2) a notoriedade
(visibilidade do ator principal de um acontecimento), 3) a proximidade
(geográfica ou cultural), 4) a relevância (acontecimentos socialmente
importantes), 5) a novidade (fato novo ou informação nova sobre notícia
velha), 6) o tempo (atualidade do assunto, que pode gerar nova notícia
ou propiciar a retomada de notícias antigas), 7) a notabilidade (número
de pessoas impactadas), 8) o inesperado (fato surpreendente ou que
rompe as expectativas), 9) o conflito ou a controvérsia (violência física ou
simbólica), 10) o escândalo.
Cf. <https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/12/03/vacina-nao-altera-
134
dna-nem-tem-microchip-as-mentiras-sobre-imunizacao-contra-o-coronavirus.htm>.
Acesso em 23/12/2020.
841
news. A depender do formato utilizado, diversas estratégias podem ser
empregadas para captar a atenção e mobilizar os afetos do interlocutor.
A seleção vocabular configura um dos aspectos mais relevantes, pois
tende a refletir os valores e interesses do campo ideológico a que o
conteúdo veiculado se filia. Além disso, recursos estilísticos, como o uso
de ironias, de comparações, de frases no imperativo ou de palavras em
caixa alta, são alguns dos artifícios empregados para cooptar o
destinatário e direcionar suas reações.
842
2020 pela página intitulada Relevante News 135 e replicada em redes
sociais como o Facebook. O enunciado busca emular o gênero notícia,
replicando suas características formais típicas, como a presença de
manchete e lide. Além disso, como a Imagem 1 evidencia, até mesmo a
configuração da página busca reproduzir padrões de portais de
jornalismo, como, por exemplo, a presença de um logotipo semelhante
aos utilizados por veículos oficiais de imprensa e a divisão em seções,
como “política”, “economia” e “comportamento”.
843
A falsa notícia gira em torno da reunião de um grupo de médicos
espanhóis que teriam se encontrado em Madri para questionar
publicamente a versão oficial da Organização Mundial de Saúde (OMS)
acerca da pandemia do novo coronavírus. Além de denunciar
informações supostamente equivocadas fornecidas pela OMS, como a
recomendação do uso de máscaras e a adoção de medidas de
isolamento, o texto aponta como referência um relatório produzido pelo
Ministério do Interior Alemão que teria sido apresentado no encontro e
cujo teor demonstraria que os riscos da pandemia foram superestimados.
844
Interior Alemão, mas de um texto produzido por um funcionário que se
apropriou indevidamente do nome da instituição para dar credibilidade
ao seu discurso. Além disso, as próprias afirmações feitas no relatório (e
replicadas como fato no corpo da falsa notícia) são desmentidas pela
Agência Lupa, que demonstra estudos oficiais que corroboram a
efetividade do uso de máscaras e de medidas de isolamento no
combate à propagação do novo coronavírus, além de explicarem o
funcionamento dos testes de PCR, cuja confiabilidade também foi
questionada no suposto documento.
845
pandemia, inclusive, aparece entre aspas já na manchete, demarcando
uma adesão a um discurso que questiona aquilo que vem sendo
veiculado pela grande mídia e por autoridades competentes.
846
água, fala ou ar condicionado ou que o uso permanente de
luvas ou tiras de queixo não ser recomendado, pois causam
doenças respiratórias e da pele.
847
CONSIDERAÇÕES FINAIS
848
uma prática intencional que visa a algum tipo de ganho
(financeiro, político, ideológico etc.);
6) Sua autoria quase sempre é desconhecida ou forjada e as
informações divulgadas provêm de fontes normalmente
desconhecidas e/ou inacessíveis;
7) Violam direitos, uma vez que se valem das emoções do público
para influenciá-lo a tomar decisões com base em informações
falsas;
8) Configuram um fenômeno pós-imprensa, pois surgem atreladas ao
âmbito
849
construção composicional, é comum a presença de erros ou exageros
na apresentação do conteúdo (como incorreções gramaticais e uso
excessivo de emojis) que indiquem a familiaridade do texto com o
processo de produção de fake news. Por fim, em relação ao estilo, são
observadas escolhas que marcam clara parcialidade e têm como
objetivo apelar para os afetos do interlocutor, na tentativa de mobilizar
sua adesão e engajamento.
REFERÊNCIAS
BUCCI, Eugênio. “News não são fake – e fake news não são news”. In:
BARBOSA, Marina. Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de
narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. p. 37-48.
850
DARNTON, Robert. “Notícias falsas existem desde o século 6, afirma
historiador Robert Darnton”. Entrevista. In: Folha de S. Paulo, 18/02/2017.
Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859726-noticias-
falsas-existem-desde-o-seculo-6-afirma-historiador-robert-darnton.shtml>.
Acesso em 07/10/2020.
FANTE, Alexandra; SILVA, Tiago Mathias da & GRAÇA, Valdete da. “Fake
news e Bakhtin: Gênero Discursivo e (Des)Apropriação da Notícia”. In:
TOURAL, Carlos; CORONEL, Gabriela & FERRARI, Pollyana (Orgs.). Big data
e fake news: na sociedade do (des)conhecimento. Avieiro: Ria Editorial,
2020. p. 70-88.
RÔMANY, Italo. “#Verificamos: Post cita relatório não oficial para atacar
medidas preventivas durante pandemia da Covid-19”. In:
https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/09/18/verificamos-relatorio-
medidas-pandemia/. Acesso em 08/10/2020.
WARDLE, Claire. “Fake news. It’s complicated.” In: First Draft, 16/02/2017.
https://medium.com/1st-draft/fake-news-its-complicated-d0f773766c79.
Acesso em 07/10/2020.
851
ESTUDOS LÍNGUÍSTICOS: FENÔMENOS DO FALAR CACERENSE
1 INTRODUÇÃO
lucas.rodrigues@unemat.br.
852
cacerense, tendo como suporte teórico os estudos da Fonética e da
Fonologia do português brasileiro (PB).
853
foram posteriormente analisados e estão expostos no decorrer deste
trabalho.
854
2 HISTÓRIA E IMPORTÂNCIA DE CÁCERES
855
Rio Paraguai, abrindo então vida de comunicação com o extremo oeste
mato-grossense.
3 METODOLOGIA
856
mesmo estado. Foi selecionada uma falante do sexo feminino, de 42 anos
de idade, casada, um filho. É natural de Cáceres e vive em Tangará da
Serra há cinco anos. Cursa o ensino superior em universidade pública à
noite e trabalha no período diurno.
857
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
858
do ditongo /ôw/ - boa – bôwa. 2. Dialetalmente, pela vogal
tônica final travada por /s/ pós-vocálico, com o
desenvolvimento dos ditongos de pospositiva /y/, pás, és, fez, sós,
flux, cãs, pronunciadas / pays, feys, sóys, fluys. Dá-se então a
neutralização da oposição entre ditongo e vogal simples,
desaparecendo a distinção, no caso 2, por exemplo – pás e pais;
sós e sóis, flux e fluis, cãs e cães. (CÂMARA JÚNIOR, 1977, p. 143)
859
A Harmonia Vocálica (HV) possui uma alta frequência no
funcionamento das línguas e é bastante recorrente no PB. O processo de
HV ocorre quando há a assimilação de um ou mais traços vocálicos.
860
O alçamento vocálico é caracterizado pela elevação do traço
da altura das vogais médias altas [e] e [o] que se realizaram como as
vogais altas [i] e [u], respectivamente. Essa variação pode-se dar por
fatores linguísticos, extralinguísticos, ou por fatores sociais. Nossa
entrevistada apresentou muitos traços de alçamento, como podemos
observar a seguir:
861
A despalatização é um fenômeno comum, entretanto, em nossa
pesquisa foi detectado apenas um termo no qual a falante fez uso desse
fenômeno. É a perda da palatal de um fonema, como podemos
observar no dado a seguir:
862
PALAVRA/FRASE PRONÚNCIA REPRESENTAÇÃO FENÔMENO CLASSE GRAMATICAL
FONÉTICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
863
A variedade da língua é uma colaboradora da vida humana. As
diferenças constroem e motivam a buscar aquilo que ainda é
desconhecido. A linguagem contextualizada em suas diversas
plataformas e segmentos nos revelam como são imensas as diferenças e
abre cada vez mais possibilidades de conhecer seu próprio universo
infinito. Cada fenômeno ou regionalismo caracteriza o falar de alguma
comunidade linguística, que se constitui pela linguagem, assim como o
homem. Evidentemente, há ainda muitos outros fatores, muitos outros
fenômenos nessas extensões brasileiras que precisam ser explorados.
Cada característica é pessoal, assim como a fala. E, invariavelmente a
comunicação é bem sucedida, pois a força da linguagem promove uma
interação sensacional que está em constantes mudanças, felizmente.
REFERÊNCIAS
864
FERREIRA, João Carlos Vicente. Mato Grosso e seus Municípios. Cuiabá-
MT: Buriti. 2001
865
FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO: REFLEXÕES ACERCA
DAS PRÁTICAS DOCENTE
866
INTRODUÇÃO
867
Por esse motivo, é significativo que cada mais se aborde e
contextualize essa prática, mostrando os resultados provenientes dela e
pontuando aos educadores a necessidade real de se ter essa formação
nas escolas e as consequências positivas que ela pode gerar, tanto para
a escola, quanto para o próprio educador.
868
Por conseguinte, buscando possíveis respostas às nossas
inquietações, este estudo se apoia na pesquisa bibliográfica, de
abordagem qualitativa e com objetivo descritivo, pois nos permitiu
aprofundarmos em uma temática de contexto amplo e de importante
relevância dentro do cenário educacional brasileiro.
1 METODOLOGIA
869
e ressaltando autores pertinentes para a fortuna crítica necessária para
discussão.
870
2 REFERENCIAL TEÓRICO
871
melhor para a realidade da escola, adequando a formação às
necessidades daquele contexto.
872
Também salientamos que a formação continuada vem avançando
gradativamente, entretanto, ainda há muito que ser feito nesse sentido;
observamos assim, que há pesquisas sinalizado que são necessárias
mudanças imprescindíveis para que se impulsione a formação a sair do
tradicionalismo, a tornando mais voltada justamente para um processo
de reflexão e humanização (MOYANO, 2015).
873
Canário (1998) também disserta que devemos nos atentar a
dimensão coletiva e enfatiza que ela possibilita que os indivíduos
aprendam através da organização, reforçando não somente a questão
coletiva, mas também a sua capacidade autônoma de mudança
(CANÁRIO, 1998).
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
874
para que ele desabroche. O professor nesse contexto tem apenas a
função de mediar a partir da troca, já que ele também é sujeito e
também aprende.
875
feitas em conjunto, buscam melhorar e agregar experiências a sua
jornada como profissional da área da educação.
876
número de cursos possíveis, mas sim que consiga, através tanto dos cursos,
quanto de palestras e outros meios, refletir e consequentemente melhorar
sua prática, para que haja resultados significativos no dia a dia escolar.
877
Nesta direção, as formações continuadas de professores, para
além dos formatos à distância, podem ocorrer por meio de cursos de
aperfeiçoamento, de extensão, de pós-graduação (lato e stricto sensu);
também podem ser viabilizados através de eventos curtos como: mini
cursos, seminários, congressos e palestras; e, além disso, mediante a
formação continuada em serviço, que são aquelas desenvolvidas no
chão da escola, e que reúnem todos os profissionais da unidade escolar.
878
De acordo com Canário (1998, p. 22) “A formação centrada na
escola estabelece uma ruptura com esta lógica adaptativa e
instrumental, em que as pessoas são formadas para agir, dando lugar a
uma perspectiva de agir para formar ou de formar-se agindo. Por isso se
torna tão importante a metodologia de projecto na concepção e
planeamento deste tipo de práticas formativas”.
879
Isto posto, cremos que a formação desenvolvida nas escolas, seja
uma ferramenta para além da mera formação do professor, uma vez que,
a carreira docente não pode ser mais importante do que o próprio
processo educativo.
880
educação de excelência, pois permite aos profissionais da educação
refletir sobre suas práticas, pensar e questionar sobre os processos
educativos, fazendo com que a educação se torne um segmento mais
crítico e reflexivo, não a mera execução de técnicas dentro do processo.
881
Ele deve compreender seu papel e fazer uso de sua relevância,
dentro e fora de sala de aula, auxiliando, juntamente aos outros
profissionais, nas metodologias e ferramentas necessárias para
construção de uma educação em que metas, habilidades e objetivos,
presentes nos documentos, se tornem uma realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
882
Há, cada vez mais, pesquisadores preocupados em destacar os
resultados obtidos através da aplicação da formação continuada em
serviço no âmbito escolar, e enfatizar a relevância dessa aplicação. Por
isso, se faz necessário refletir e conceitualizar, cada vez mais, o assunto,
para que ela possa adentrar de forma mais efetiva em um número maior
de escolas, se tornando assim significativa e essencial para os profissionais
da educação.
883
lacunas que as outras formações continuadas deixam, ao longo do
processo.
REFERÊNCIAS
884
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas,
2008.
885
TERRAZZAN, E. A.; GAMA, M. E. Encontros e desencontros nos processos
de formação continuada de professores em escolas públicas de
educação básica. Form. Doc., Belo Horizonte, v. 04, n. 07, p. 126-140,
jul./dez. 2012.
886
GLOSSÁRIO TERMINOLÓGICO DA UNILA (ATUALIZAÇÃO 2018 –
2022)140
Americana (UNILA).
887
INTRODUÇÃO
888
selecionando os documentos que regem a nossa universidade; depois,
foram extraídos dos mesmos os candidatos a termos; na sequência,
organizamos os termos em árvores de domínio que mostrassem suas
relações conceptuais; finalmente, todas as informações foram
registradas em fichas terminológicas, usando el programa Access de
Microsoft Office, que serviram posteriormente para a elaboração dos
1927 verbetes do glossário.
889
científico y acadêmico, pois na universidade, os professores, alunos e
técnicos são os usuários específicos dos termos incluídos em seu marco
normativo, em suas comunicações especializadas, nos contextos
administrativos e acadêmicos.
890
Segundo a TCT, uma obra terminográfica pode ser classificada, em
função das línguas envolvidas, como: “monolíngue, monolíngue com
equivalências, bilíngue, bilíngue monodirecional, bilíngue bidirecional,
bilingualizada e plurilíngue” (GONZÁLEZ-JOVER, 2006, p326 – tradução
nossa).
891
selecionados do marco normativo da UNILA, os quais, naturalmente,
estão todos escritos nesta língua. Por esse motivo, o glossário poderia
estar incluído na categoria dos dicionários monolíngues; no entanto, este
apresenta uma língua de partida e uma língua de chegada,
característica própria dos dicionários bilíngues.
892
A principal distinção que debe ser feita entre as obras
lexicográficas está relacionada com o uso normativo das palavras. Desse
jeito, um dicionário, glossário, etc., pode ser prescritivo ou descritivo; ou
seja, prescreve sobre o uso das palavras ou descreve o léxico e não está
limitado pela norma.
893
O organismo internacional mais importante é o International
Standardization Organisation (ISO), o qual prescreve certas regras, não
somente em relação à Terminologia, mas também a outras questões
como produtos, processos industriais, unidades de medida, segurança
das pessoas e bens.
894
marco normativo da UNILA aos membros lusófonos da
comunidade unileira.
1 RESULTADOS E DISCUSSÃO
895
Resumimos a estrutura do glossário no organigrama da Figura 1:
Superestrutura
Superestrutura monofocal
português - espanhol
Macroestrutura Microestrutura
Entrada em
português
Definição em
português
Contexto em
português
Equivalente em
espanhol
Informações
adicionais
Fonte: o autor.
896
Nas situações em que dois ou mais conceitos estão representados
pelo mesmo significante, estes estão diferenciados mediante um numeral
exponencial, como, por exemplo, A, A¹, A²; credenciamento,
credenciamento¹, disciplina, disciplina¹, disciplina², etc.
Fonte: o autor.
897
língua do termo-entrada; ou seja, em português. A citação mostra-se
entre aspas e está precedida do símbolo (fonte Wingdings, tamanho
12) que representa um computador, para uma rápida localização da
citação textual.
Fonte: o autor.
898
Quadro 3: Exemplo de termo equivalente em espanhol – UT Certidão de
Nascimento:
Fonte: o autor.
899
adicionais que explicassem essa eleição. Esse foi o caso, por exemplo, de
bacharelado/ carrera de grado sin habilitación para la docencia, entre
outros.
900
Oferecemos, em baixo, um exemplo de Informações
complementares no Quadro 4:
Fonte: o autor.
Fonte: o autor.
901
CONSIDERAÇÕES FINAIS
902
deve ser revisada com uma certa periodicidade, para sua constante
atualização.
903
REFERÊNCIAS
904
Contexto, 2004.
905
O LÉXICO DO MARCO NORMATIVO UNIVERSITÁRIO E SEUS
PROBLEMAS DE INTERPRETAÇÃO: O CASO DA UNILA142
Americana (UNILA).
906
INTRODUÇÃO
907
Portanto, uma pessoa alhéia ao mundo universitário ou que esteja
apenas se inserindo nele não saberá interpretar devidamente um
enunciado do tipo:
908
projetos em ambas línguas. No entanto, o mesmo não ocorre no âmbito
administrativo, pois os documentos do MNU são redigidos exclusivamente
em português e os servidores técnicos administrativos em educação (TAEs)
são todos de origem brasileira, sem a fluência necessária em espanhol e
sem o domínio da terminologia acadêmica universitária nesse idioma.
909
1 METODOLOGIA
910
Com o intuito de contribuir para a acessibilidade textual dos
documentos normativos que contém os termos motivo de conflito
linguísticos, esses termos e documentos foram analisados durante os
encontros do projeto de iniciação científica Terminologia em contexto
normativo relacionada com a entrada de estudantes na Universidade:
uma pesquisa sobre a UNILA e a UNE144.
144 Universidad Nacional del Este, sediada em Ciudad del Este, Paraguay.
911
2 REFERENCIAL TEÓRICO
912
No âmbito terminológico, segundo Bevilacqua (1996, p. 14), quem
considera principalmente a composição da unidade fraseológica e seu
domínio, podemos considerar a unidade fraseológica como: “Cadeia de
caracteres especializada, constituida por elementos invariáveis e
variáveis que assume, em conseqüência, o caráter de uma matriz
representativa de um domínio” (BEVILACQUA, 1996, p.114).
913
isso pode fazer com que o texto em seu conjunto, como um todo, não
seja entendido e, além disso, faça o leitor dessisitir, do memso modo que
um cadeirante dessiste de tentar acessar a um prédio ao se deparar com
alguma barreira arquitetônica.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
914
Figura 1: Modelo de ficha terminológica em vista formulário.
915
☞Paráfrase. No Paraguai, não existe uma prova nacional de acesso
à Universidade; no entanto, algumas universidades mantém, como
requisito, em seus processos seletivos, superar algúm tipo de prova como
instrumento de avaliação dos conhecimentos dos candidatos.
916
abaixo descritas: a) Demanda Social: aberta a candidato que
comprove, nos termos do item 4.2 deste edital, estar em situação
de carência financeira e não possuir recursos suficientes para o
próprio sustento; e b) Ampla Concorrência: aberta a candidato
que não apresente documentos comprobatórios de
hipossuficiência econômica (tradução intralinguística).
917
administrativos da UNILA. Eles possuem carga horária total de 102h e
estão organizados em dois encontros semanais, visando à adquisição da
fluência necessária para o atendimento aos alunos nas secretarias
acadêmicas dos quatro institutos que conformam a universidade
(ILAACH, ILAESP, ILACVN e ILATIT).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
918
“rampas de acesso” à plena compreensão do documento específico
como um todo.
REFERÊNCIAS
919
JAKOBSON, R. On Linguistic Aspects of Translation. Harvard University Press.
Cambridge, MA, 1959.
920
MORTE E VIDA SEVERINA, AUTO DE NATAL PERNAMBUCANO -
LITERATURA, ORIGEM E ORALIDADE NO NORDESTE DO
BRASILEIRO
921
INTRODUÇÃO
Barbante ou trancelim.
(...)
Na inspiração corrente.
[...](MAXADO, 1982)
922
A literatura popular surge na Galícia nas Cantigas Medievais, as
cantigas do século XII, como uma manifestação lixívia independente do
sistema de comunicação, por se caracterizar como uma língua regional.
923
No Brasil, ainda havia uma maneira onde o vendedor poderia
evadisse ou escapar, quando um guarda municipal ou fiscal aparecia, já
que o costume era sempre expor os panfletos no chão, em papel de
jornal ou em uma mala aberta nas feiras livres das pequenas cidadelas.
924
A veia satírico-literária, por sua vez, também se lembra na literatura
de Cordel, como antes feita pelos menestréis galegos medievais. A
literatura de cordel é também uma fonte de trabalho, protesto,
resistência, informação e lazer, são textos que conferem vida às feiras
nordestinas, seja incentivando-os com os cantores das cordas, seja
garantido para ganhar pão.
925
1 BIOGRAFIA DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO
926
2 O ESCRITOR FOI MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS.
Principais Obras
• O Engenheiro (1945)
• Quaderna (1960)
927
• Agrestes (1985)
928
- Antologia poética. Tradução de Angel Crespo. Barcelona: Editorial
Lumen, 1990. Prêmios e Decorações
929
ombros da nobreza, tal adaptação proposta pelo autor, mostra a riqueza
estilística de sua obra literária, e a proximidade da cultura da oralidade
medieval.
- A reforma agrária.
930
Esta estrutura estilística deste poema é amplamente utilizada na
poesia galega no tratamento da nascente do menino Jesus, a realidade
sócio-política e a vida das pessoas simples desta região.
Texto 1 do poema:
931
morre de velhice antes dos trinta, de emboscada ante os vinte de fome
um pouco por dia.
932
destino que é chegar à cidade do Recife, e novamente o autor aponta
para outra queixa social em relação à luta pela reforma agrária.
933
Os ciganos:
O poema faz uma ótima pergunta: por que vale a pena viver?
Texto 2 do poema:
934
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A resposta vem com o texto, apesar das mortes, a vida vale a pena
ser vivida, apesar de ser uma vida "Severina", o enredo da história
começa com várias mortes e acaba com a vida.
REFERÊNCIAS
Melo Neto, João Cabral de. (1955) Morte e vida Severina: Um Auto de
Natal Pernambucano. Nead, Núcleo de Educação à Distância, Belém,
Pará, Brasil. Disponível em: <http://bibliotecadigital.puc-
campinas.edu.br/services/e-
books/Joao%20Cabral%20de%20Melo%20Neto.pdf>. Acesso em 20 \ 02
\ 2021.
935
MELO NETO, João Cabral de. (2009) Morte e vida Severina. Editora
Massangana. Recife: Fundaj, Brasil. Disponível em
<https://cdnbi.tvescola.org.br/resources/VMSResources/contents/docu
ment/publications/1402921167454.pdf>. Acesso em 22/03/2021.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp>. Acesso em 03 \ 05 \
2021.
936
A CENSURA DA LITERATURA FANTÁSTICA E DE HORROR NO
CONTEXTO ESCOLAR: REFLEXÕES SOBRE O LIVRO ABC DOIDO,
DE ANGELA LAGO
INTRODUÇÃO
937
por essa realidade cerceativa e deixam de ser lidas e exibidas em
múltiplos contextos ainda.
938
Literatura é uma necessidade constante e basilar de todos os homens,
independentemente da geração e, por isso, trata-se de “uma
necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui
um direito” (CANDIDO, 1989, p. 112).
1 REFERENCIAL TEÓRICO
939
(2014) e Bozzetto (2004). Além disso, utilizamos as teorias literárias pós-
estruturalistas para discutir o impacto da censura, sendo os teóricos Hans
Robert Jauss (1994) e Wolfgang Iser (1996).
940
A antiga ‘imaginação delirante’, ligada à produção de mitos
subentendidos pelas religiões, forneceu um número
impressionante de temas: a vida após a morte, a punição divina,
o purgatório, os diversos infernos, os fantasmas, os diabos, os
íncubos, os súcubos ou as mulheres-raposas. Esses temas, assim
como as figuras que encarnam alguns de seus aspectos – o
vampiro, o lobisomem, o zumbi, o possuído – serão recuperados
e reciclados. Inicialmente pelo folclore e naquilo que se chama
de maravilhoso feérico (a bruxa, o duende). Mas também nos
contos de assustar, no quadro do “maravilhoso noir”. Eles serão
usados num primeiro momento pelos romances góticos em que
se encontram abundantemente fantasmas, filtros, maldições,
depois pelos textos ditos fantásticos quando da elaboração
desses textos em gênero, no fim do século XVIII e no início do XIX.
(BOZZETTO, 2004, p.81)
941
Assim, o postulado de Jauss diverge dos postulados positivistas, ao
dar luz ao leitor e sua importância no processo de significação literária,
logo ele “não se submete a tradição dominante, uma vez que sua base
teórica defende a ideia do ‘relativismo histórico e cultural, já que está
fundamentalmente convicta da mutabilidade dos objetivos, bem como
da obra literária dentro do processo histórico” (BORDINI, 1993, p.81).
A crítica literária por sua vez, a partir dos postulados de Jauss (1994)
não determinam a verdade de uma obra literária, eles apenas podem
trazer uma possibilidade de leitura a partir de seus horizontes de
expectativas subjetivos, uma vez que
942
Em adição à teoria da Estética da Recepção de Jauss, a Teoria do
efeito, de Wolfgang Iser, também quebra os pressupostos estruturalistas
de leitura e comunga com a ideia de que a Literatura é um texto em
aberto para o leitor preencher conforme suas vivências. Conforme o livro
O ato da leitura: uma teoria do efeito estético (1996), o material literário
torna-se o lugar no qual a subjetividade do leitor ganha espaço, a partir
de suas vivências e repertórios de mundo, auxiliando na elaboração da
representação simbólica da literatura.
943
possibilidades de leitura, há uma polissemia, mas não uma percepção
infinita.
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
944
A obra ABC doido traz adivinhas que brincam com o alfabeto e,
ainda mais, de trás pra frente. São charadas que chamam a
atenção para as diferentes formas de compor as palavras e suas
sonoridades. Bom pra ler em dupla, alternando quem lê a
advinha, ou em voz alta pela professora para o grupo classe,
para ver quem identifica primeiro o segredo de cada charada.
Quem está consolidando o processo de alfabetização terá um
desafio a mais: afinal, de que são feitas as palavras e qual o
papel das letras nessa composição? (BRASIL, 2012, p.63).
945
A censura da obra ocorreu na cidade Taubaté, em São Paulo, em
mais de uma instituição social, tanto na esfera escolar – com o
questionamento do material em sala de aula, quanto no âmbito
legislativo, sendo colocado em debate na câmara dos vereadores a
relevância do material. Junto com a obra, mais três outros livros
destinados foram censurados, entre eles a Máscara da Morte vermelha,
de Edgar Allan Poe, Terríveis Romanos, de Terry Deary,
946
A utilização do material chegou a virar pauta de audiência pública
da cidade, conforme a notícia vinculada no site G1, Vale do Paraíba
(2014b, on-line) “Após a polêmica sobre o conteúdo dos livros didáticos
comprados para serem usados por 33 mil alunos da rede municipal
de Taubaté, o material será usado apenas como leitura complementar aos
estudantes. O acordo foi feito entre os vereadores e a secretária de
educação [...]”.
947
fato de algumas pessoas fazerem esta leitura, não significa que outros
leitores da obra corresponda a esse viés de interpretação.
948
Em relação à constituição, à censura infringe o artigo 220, “A
manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,
sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição” (BRASIL, 1988, on-line) e com
ênfase o segundo inciso, “É vedada toda e qualquer censura de natureza
política, ideológica e artística”. (BRASIL, 1988, on-line).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
949
fantástico produz um efeito particular sobre o leitor - medo, ou horror, ou
simplesmente curiosidade -, que os outros gêneros ou formas literárias não
podem provocar”. Logo, como resultados, entendemos que a censura
deste material literário é inaceitável tanto pela sua infração aos
pressupostos de ensino, quanto aos pressupostos propriamente literários.
REFERÊNCIAS
950
BRASIL. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário
Oficial, 1988.
G1, GLOBO. Pais dizem que livros didáticos fazem apologia ao diabo em
Taubaté, SP. Vale do Paraíba, 14 mar. 2014. Disponível em:
<http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2014/03/pais-
dizem-que-livros-didaticos-fazem-apologia-ao-diabo-em-taubate-
sp.html>. Acesso em: 13 jun. 2021.
951
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria
literária. Trad. De Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.
952
A LEITURA NA ESCOLA E AS CONTRIBUIÇÕES DO PROFESSOR NA
FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS
– ninhaysandes@gmail.com
953
INTRODUÇÃO
954
A prática desafiadora de objetar a leitura como algo interessante
para o discente, perpassa pela necessidade de ter ou criar um ambiente
estimulador com diversos tipos de materiais e um docente que tenha o
habito leitor, que compreenda a importância de variadas práticas de
leitura na escola e tenha intimidade com o material oferecido,
possibilitando o desenvolvimento de habilidades leitoras e interpretativas.
O acesso a essa cultura deixada através de gerações favorece a
formação de leitores confiantes, efetivos e críticos.
1 METODOLOGIA
955
contato com o objeto de estudo. Por meio da pesquisa de campo, da
observação sistemática e assistemática foi possível levantar dados sobre
as práticas leitoras utilizadas na sala de aula pelos professores e alunos. A
pesquisa foi efetuada baseando-se na relação entre os pesquisadores e
o objeto de estudo, o resultado desta investigação não foi fruto de um
trabalho individual, mas configura-se em uma atividade conjunta,
estruturada a fim de responder a problemática levantada pela pesquisa.
956
leitura no contexto educacional de modo a envolver toda comunidade
escolar na ampliação do hábito leitor é basilar.
957
precisa ser propiciada, respeitando o ambiente sociocultural do leitor.
Ações pautadas na fruição leitora também são de responsabilidade da
escola ao induzir o discente pelo mundo do letramento, os estímulos
diários e ações propositivas são capazes de desenvolver a imaginação,
ampliar o vocabulário, potencializar a oralidade, além de proporcionar
ganhos efetivos para o aprendizado e desenvolvimento cognitivo.
958
de estimulá-lo a perceber seu entorno, suas necessidades, percebendo
as inúmeras diferenças sociais causadas pela simples inabilidade da
leitura como um dos motivos relacionados à exclusão social. Essa leitura
pode ser entendida a partir do que expõe Freire quando faz referência a
alfabetização e a pós-alfabetização. “... a leitura do mundo precede
mesmo a leitura da palavra. Os alfabetizandos precisam compreender o
mundo, o que implica falar a respeito do mundo”, pois “uma
alfabetização crítica, sobretudo uma pós-alfabetização, não pode
deixar de lado as relações entre o econômico, o cultural, o político e o
pedagógico”. (Freire, 2021, p. 84).
959
3 PARÂMENTROS CURRICULARES NACIONAIS E A BASE COMUM
CURRICULAR: O QUE FALAM SOBRE A LEITURA NA ESCOLA?
960
Os Parâmetros de Língua Portuguesa referente ao Ensino
Fundamental I objetiva respaldar a execução do trabalho laboral do
professor, estabelecendo intenções no que tange às séries iniciais do
Ensino Fundamental I. Espera-se que o alunado adquira gradativamente
competências efetivas em relação à linguagem, possibilitando-lhe
alcançar sua plena participação no mundo letrado, sendo que a prática
da leitura na escola é, sobretudo, necessária.
961
torno da diversidade do ato de ler que circula socialmente. A
compreensão sobre a substancialidade da leitura na escola posta pelos
PCN demonstra que o conhecimento debatido a respeito dos processos
de leitura aponta que o ensinar a ler por meio de práticas centradas na
decodificação não são mais aceitáveis, é preciso oferecer aos alunos
inúmeras oportunidades de aprendizagem que o possibilite a ler usando
procedimentos que bons leitores utilizam.
962
evidenciando-a como temática central da área e colocando-a como
ferramenta interdisciplinar. A leitura, de acordo a BNCC (2018) precisa
promover o desenvolvimento de habilidades que possibilite a
interpretação de textos, o entendimento da leitura proposta, bem como
o reconhecimento dos diversos gêneros textuais, elementos esses que são
de competência específica da área de Língua Portuguesa.
963
diversas metas e situações presentes nos documentos oficiais e no mundo
do letramento.
964
uma troca de saberes entre professor e aluno. As práticas metodológicas
do professor precisam ser projetadas no aluno.
965
primeira para que isso aconteça é que o professor também goste de ler,
tenha preparo teórico e metodológico para selecionar materiais
interessantes, contextualizados, propositivos e de acordo aos elementos
norteadores propostos pelos documentos oficiais, currículos e projeto
político pedagógico, além de compreender as singularidades da
realidade escolar no qual trabalha.
966
humana, giratória, diversificada e conjunta, marcada socialmente e
culturalmente. O professor não é o detentor do saber indiscutível, pronto
e acabado, mas constitui-se como o intermediário do saber.
967
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
968
com livros, textos, práticas e materiais a serem lidos, para que
subsequentemente seja possível uma associação significativa e cada vez
mais complexa. Formar sujeitos leitores requer insistência efetivas na
necessidade de fazer presente no cotidiano escolar práticas leitoras
significativas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
969
textuais observando sua real função é elemento basilar para o leitor
crítico e atuante.
REFERÊNCIAS
970
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília.
971
INTENCIONALIDADE, LITERATURA E CRIATIVIDADE: REFLEXÕES
PERTINENTES À FORMAÇÃO DE LEITORES
RESUMO: Essa escrita tem como tema a intencionalidade criativa por meio da literatura,
isto é, a ponte constituída a partir do alicerce literário para a composição reflexiva de
possíveis transformações escolares e extra escolares. Sob essa perspectiva, a pesquisa é
desenvolvida a partir de leituras de estudiosos preocupados com o ensino de literatura,
fundamentada em reflexões sobre o ensino literário e a mediação criativa, ou seja, uma
pesquisa de natureza teórica e reflexiva. O texto verterá em três partes: análises de
trabalhos teóricos para caracterizar estruturas basilares da literatura, em seguida haverá
a contextualização da tessitura escolar e extra escolar tendo como fundamento a
potência criativa e imaginativa dos sujeitos, por conseguinte, iremos incursionar a
fragmentada constituição do ser social e a intencionalidade intrínseca à constituição
da lida literária, de modo a texturizar a literatura como ínterim do escopo específico. A
posteriori será explanado o contexto de ensino, de modo a salientar a potência criativa
e imaginativa do sujeito social por meio da literatura. Por fim, a ênfase da
intencionalidade tem como base a possibilidade de refletir a mediação criativa, a
ponte entre os sujeitos participantes do processo e o alicerce que suporta a constituição
da ponte, isto é, a literatura.
INTRODUÇÃO
renatosuttana@ufgd.edu.br.
972
disciplinas foram o fio condutor para delimitar a reflexão intelectual
inscrita nessa escrita, de tal modo, é necessário constituir a obra literária
como ponto da linha de raciocínio contínuo, tanto na escrita desse
trabalho, como no trato literário em ambiente escolar. No âmbito do
estado da arte, os mecanismos de sentido compõem o literário, nessa
composição é necessário trazer a ciência humanística de CÂNDIDO
(2004), para o teórico a literatura é um direito humanístico que promove
ao sujeito a potência da fruição literária no desenvolvimento social,
devido a assertiva de CÂNDIDO (2004) foi possível refletir a literatura
como ferramenta humanizadora na construção contínua da sociedade.
Para que permaneça a fruição transformativa da sociedade, é
necessário que o trato literário seja bem efetivado, sob essa perspectiva
LAJOLO; ZILBERMAN (2020) expõe o quadro artístico do possível leitor, ou
seja, no ponto de fuga - a literatura -, haverá as linhas que pouco a pouco
comporão a abstração representativa da potência literária, em síntese
os leitores escorregadios. Portanto, diante da plurissignificação humana
haverá cores, texturas, perspectivas e formas que serão diferentes entre
si, porém, o ponto de fuga da futura imagem será a literatura. Em
continuidade TODOROV (2018) assunta que os elementos da obra
literária dialogam entre si para conjecturar a construção do literário intra
obra, em outra face, o leitor e suas fragmentações constituídas em
sociedade, interpreta estes elementos literários tendo como escopo a
obra literária em sua completude e a interpretação que proporciona
vida aos elementos literários, sendo, então, a obra e o leitor paralelos
entre si, solitários, mas embebidos de humanidade.
973
sua identidade continuamente na sociedade, essa é a problemática em
questão, delinear um trato literário para esse leitor(es) escorregadio(s) é
complexo pois a partir desse conhecimento será possível inserir a
representação literária em sua perspectiva de mundo. De tal modo, a
obra literária continua a ser o vento que apresentará o desconhecido ao
futuro leitor.
974
âmbito humano em relação às instituições, neste caso, a escola. Decerto
a estabilidade adequada que SOARES (2011) incutiu não contrapõe o
pensamento de LARROSA (1999), pois, é a partir dessa adequação no
trato literário que a estabilidade processual ocorrerá, como também,
manterá a possibilidade da transgressão e positiva abertura social de
perspectivas que agregarão na estabilidade transformativa que a obra
literária incorrerá aos sujeitos do processo escolar, em perspectiva, o
professor de literatura e o aluno.
1 METODOLOGIA
975
condutor, a análise intuitiva dos estudos apresentados e as imbricações
teóricas entre os autores pesquisados. Para tanto foi explorado teóricos a
partir da exposição das aulas do PPG - FACALE, da UFGD, em
consonância com o aporte teórico já refletido em escritos contínuos no
âmbito da graduação concluída na UFCAT.
976
obstante, haverá a apresentação do leitor como face importante para
o processo de formação de leitores, pois:
977
3 O TRATO LITERÁRIO E A CRITICIDADE CRIATIVA ESCOLARIZADA
978
Após a explanação acima, é o momento de incursionar a solidão
da obra literária, bem como, a solidão criativa discutida por BLANCHOT
(1987), para o teórico é necessário o autor permanecer solitário “[...]
aquele que a escreveu é dispensado [...]” (p. 11), pois, a obra literária
torna vívida a partir de seus elementos, desse modo, o tempo é ausente
na obra literária em perspectiva ao leitor, que também é permeado pela
ausência fragmentada de sua subjetividade, entre faces, a
representação literária tocará a imaginação do leitor e o tempo ausente
verterá ao retorno de sua construção de sentidos:
979
de modo a continuar a perscrutar o horizonte, em específico ao literário
e suas sensitividades , nesse contexto, a:
980
que as próprias palavras possam tornar-se imagens, aparências
- e não signos, valores, poder de verdade. (BLANCHOT, 1987, p.
15)
981
momento crítico no próprio coração do ato de base de seguir
uma história (RICOEUR, 1994, p. 217)
982
literário e teórico na constituição do leitor na representação do
imaginário subjetivo à coletividade institucional.
Alberto Manguel (2000, p. 27) assevera que “ler nos ajuda a manter
a coerência no caos, não o eliminar [...]; a não confiar na superfície
brilhante das palavras, mas a investigar a escuridão”. Nesse sentido, a
criatividade envolve o olhar interpretativo para a escuridão perpassada
em meio ao texto literário e cada investigação tomará a forma e o
conteúdo da interpretação literária, isto é, aspectos culturais, sociais e
históricos que delineiam a leitura, ao passo que, cada incursão deverá
possuir atenção às diferentes possibilidades interpretativas.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
983
sentido propôs a reflexão da ausência como forma criativa, a partir do
percurso traçado no desenrolar da caracterização da literatura, foi
possível observar a solidão como conceito necessário à criação do novo,
tendo como base a retomada contínua da busca pela ausência no
literário, foi explanada, também, a escolarização da literatura e sua
adequação em completude com vistas a não mutilação da fruição
humanizadora. Nesse ínterim situacional, a proposição acerca da
intencionalidade agrega a conectividade entre o escopo argumentativo
da intra obra e do leitor literário, portanto, o plano incursionado delineia
a pertinência da obra literária à formação de leitores em ambientes
escolares, não obstante, a abertura propôs reflexão acerca da
fragmentada composição humana, talvez ausente em contínua e
permanente mudança em um retorno intra escopo literário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
984
concordar quando as discussões se realizam. A mediação criativa
permite elaborar e oferecer a escuta de possibilidades de existência,
tendo como ênfase o respeito às diferenças; aspectos que são
necessários para a constituição contínua da sociedade. Sob essa
perspectiva, ler é a ramificação da existência e o limiar da palavra
possibilita a construção de imagem do imensurável humano. O literário
se expõe por meio da escrita e tornam-se acessíveis ao ponto de haver
diálogos subjetivos para começar novos capítulos culturais, sociais e
históricos. A conceitualização da mediação criativa no ensino de
literatura é uma atividade processual que envolve aspectos libertários,
pois, cada leitor perpassa contextos sociais, culturais e históricos, por
consequência, o professor em conjunto com o alunado poderá agregar
à contínua transformação criativa.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
985
CÂNDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. 4. ed. São
Paulo/Rio de Janeiro: Duas Cidades/Ouro sobre azul, 2004, p. 169-191.
986
A REPRESENTAÇÃO DA PROSTITUTA NA LITERATURA BRASILEIRA
DO SÉCULO XX.
RESUMO: A presente pesquisa é uma análise acerca da obra Lucíola, de José de Alencar.
Nesse sentido, pretende-se discutir a representação da prostituta na literatura brasileira
do século XX e descrever as representatividades sociais da prostituta presente na
literatura. Publicado em 1862, o romance Lucíola causou polêmica porque trazia como
protagonista uma cortesã de nome Lúcia empurrada para a prostituição por problemas
familiares e financeiros e, que ganha a vida vendendo seu corpo, em um prostíbulo,
integrado ironicamente ao espaço social e moralmente aceito. Além disso, falava
também da reabilitação dessa cortesã pelo amor. Na época, tal temática representou
um escândalo porque para os rígidos padrões de conduta social e moral isso era algo
inaceitável, a obra chegou a ser rotulada como imoral. Essa temática ganhou destaque
no auge do romantismo brasileiro e a partir daí vários autores, em suas obras deram
espaços para esse grupo de forma bastante diversa e recorrente nas produções
literárias, fazendo com que estas apareçam em espaços cada vez mais surpreendentes
e denunciadores. Para a produção dessa pesquisa, o tema se sustenta nos trabalhos de
Michael Focault, Rodrigo Cánovas, Northrop Frye, Ricardo Guilherme Dicke, Jean
Shinoda Bolen Valéria de Marco, Luís Felipe de Alencastro, Luciana Nunes da Silva e na
abordagem da obra Lucíola. Vale ressaltar que foram usados como suporte outros
campos da literatura (Teoria Literária e Ciências Sociais), este artigo tem como objetivo
analisar o modo de representação da prostituta na obra Lucíola, de José de Alencar,
tomando como ponto de partida, o conceito de Ariágda dos Santos Moreira sobre
“mundo profano” (o espaço habitado pela personagem prostituta) e “mundo sagrado”
(o espaço social, regulamentado pela moralidade), tomando a personagem prostituta
como ponto de integração entre esses dois mundos e por entender que essa temática
ainda carece de discussões a respeito de sua representação em contextos literários.
Palavras-chave: Representação; Prostituta; Literatura brasileira.
153
Pós- Graduando em Ensino de língua portuguesa e Literatura na Universidade Federal
de Lavras - (UFLA.) E-mail: jstar1604@gmail.com
154
Graduada em Letras Língua Portuguesa e Literaturas na Universidade Estadual do
Maranhão – (UEMA). E-mail: rafaelacristinaarau@gmail.com
155
Professora do Curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão - (UEMA). E-
mail: venuziabelo@gmail.com
987
INTRODUÇÃO
Por outro lado, tudo que foge a este ideal, que está a margem, é
visto como o impuro, o patológico ou não corresponde aos padrões do
que é ser uma “mulher de verdade”. Nota-se que o direito das mulheres
e os preconceitos contra elas e outro grupos minoritários 157 estão
presentes na história desde a idade média.
156
A cisgeneridade é a condição da pessoa cuja identidade de gênero corresponde
ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento. Por exemplo, alguém que se identifica
como mulher e foi designada como mulher ao nascer é uma mulher cisgênera.
157
No sentido de representação nos espaços de poder.
988
profanas, as prostitutas nem sempre tiveram essa face. Segundo o
autor, Nancy Qualls-Corbett, em sua obra “A Prostituta Sagrada” (1990)
diz que: a "profissão mais antiga do mundo" teve sua face sagrada nas
nações latinas antigas. Nas civilizações gregas e romanas que viveram
antes da Era Cristã, as respeitadas prostitutas sagradas viviam tranquilas,
cercadas de atenção, conforto e muito respeito em suas comunidades
(Id: 14).
Para que uma mulher fosse eleita prostituta sagrada, nesse sentido,
ela tinha que possuir algumas qualidades especiais, como ser dotada de
algumas características físicas. Conforme Qualls-Corbett (1990), essa
mulher teria que ser "virgem, boa, alta e exoticamente bela" (1990, Id.,
ibid.14), sua imagem era associada a um modelo humano das deusas.
Vale situar que já na bíblia este grupo é representado negativamente e
que, em sociedades cristãs, esta representação impacta negativamente
na vida destas mulheres até hoje. Depois do fim do cristianismo, a faceta
sagrada da prostituta é esquecida e no mundo moderno, o que torna-se
interessante é o universo erótico, misterioso e profanado da prostituta.
989
1 METODOLOGIA
990
2 REFERENCIAL TEÓRICO
991
“inserida em diversos tópicos de discussão, tais como, a degradação
social, a saúde pública, os comportamentos de risco, a tóxico-
dependência, a exploração sexual, o tráfico de mulheres e crianças”
(MOTA, 2008, p. 13), além da luta diária pelo reconhecimento da sua
profissão.
159 De acordo com Rodrigues (s./d.), bolsista Capes, aluna do Programa de Pós-
Graduação em Estudos Literários – Mestrado Acadêmico, Campus Universitário de
Tangará da Serra, Universidade do Estado de Mato Grosso, em seu trabalho intitulado
“Representação das personagens femininas em Lucíola e nome de guerra”, Nickie
Roberts é uma referência para a compreensão da origem da prostituição, da projeção
dos mitos e da condição feminina a que as personagens protagonistas nos romances
se submetem. Segundo Francisco Reginaldo de Sá Menezes, mais conhecido como Xico
Sá, jornalista e escritor brasileiro, Nickie Roberts é “[...] uma ex-stripper de Londres, autora
do mais vasto ensaio sobre as ditas mulheres de vida fácil [...] O livro é um show de [...]
compilações de dados históricos com finas citações de Hobsbawm, sobre as chamadas
“trabalhadoras do sexo” – como são politicamente tratadas”. In:
http://www.germinaliteratura.com.br/2009/volupiaverbal_xicosa_jun09.htm. Acesso em
13/06/2021.
992
As prostitutas ou meretrizes 160 , termo usado por Pereira(2012),
foram notadas pela sua alta inteligência e cultura, e também
comparadas a deusas, pelo fato de ser associada a elas a condição
primária para obtenção de maior poder e respeito ao lado da
população masculina da época. Essas mulheres sempre possuíram um
lugar de grande importância em certos momentos da história, porém,
com o passar os anos, sua posição de respeitada a imoral. Esta visão de
ser ou não ser bem vista é um olhar atual da sociedade sobre essas
mulheres. Conforme Vrissimtzis (2002, p. 18), a moralidade é instável “[...]
e afetada por vários e diferentes fatores e, muitas vezes, passa por
mudanças radicais: o que hoje se considera imoral pode em outra época
ter sido considerado correto e vice-versa”.
160De acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa (2001), meretriz significa
prostituta.
993
proibidas de ler, passam a ler além dos textos sacros (pois, somente esses
eram permitidos) os romances.
Com base nas afirmações dos autores, nota-se que a maior parte
das mulheres era iletrada, sua educação foi essencial para que elas se
tornassem grandes leitoras, ainda que não fossem deixados de lado sua
principal intenção de prepará-las para as obrigações de ser esposa e
mãe.
994
mais contato com outras mulheres e a partir desses encontros, elas
passam a trocar ideias e começam a escrever suas próprias histórias.
Além disso, passam a reivindicar e lutar pelos seus direitos de igualdade
ao sexo masculino, nota-se que os ideais da mulher europeia do século
XVIII começam a influenciar as mulheres brasileiras.
995
4 A PROSTITUIÇÃO NO SÉCULO XX
996
transgressão protegida e controlada (DEL PRIORE, 2006 p. 85 apud
OLIVEIRA; SANTOS; COSTA, 2016, p. 6). Segundo o ponto de vista da
autora, graças aos prostíbulos que passa a surgir a ideia de prazer sexual.
997
pedir ajuda ao vizinho, chamado Couto que se aproveita da inocência
da menina para corrompê-la.
998
O escritor nos leva a reflexão sobre a representação da mulher
prostituta, em seu romance, por meio de duas importantes fases da vida
da Maria da Glória/Lúcia. A primeira diz respeito ao período em que ela
possuía quatorze anos. Nessa fase, ela não tem consciência de vida e é
enganada por um homem dissimulado, que se aproveitou da sua
inocência e do seu desespero para se aproveitar dela. Lúcia se prostituiu
para ajudar sua família e não tinha idade para responder pelos seus atos
e nem raciocinar sobre as consequências que reincidiriam sobre ela.
999
que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo,
profano na difícil ciência das banalidades sociais. — Não é uma
senhora, Paulo! E uma mulher bonita. Queres conhecê-la?.
Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana que
confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato
da inocência. Só então notei que aquela moça estava só e, e
que a ausência de um pai, de um marido ou de um irmão,
deviam-me ter feito suspeitar a verdade. (ALENCAR,2001, P.15
apud OLIVEIRA; SANTOS; COSTA, 2016, pág. 7)
1000
Na busca dessa redenção para viver um amor íntegro, Lúcia se
resigna no momento em que percebe a possível concretização desse
amor puro que ela tanto buscou, falece. O final nos deixa implícito de
forma velada o preconceito da época: um corpo que foi, principalmente,
marcado pela natureza jamais poderia ser dado a benção considerada
divina, que seria um filho.
1001
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1002
na contemporaneidade. Por meio dos seus relatos, essas mulheres
escrevem sobre si e permitem que o outro possa conhecer sua vivencia,
para quem sabe no futuro os preconceitos, julgamentos contra essas
vozes dissidentes possam ser reduzidos.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Ática, Série Bom Livro, 1988.
D’INCAO, Maria Ângela. Mulher e Família Burguesa. In: DEL PRIORE, Mary.
História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Editora contexto, 2010.
1003
KOLONTAI, Alexandra. A nova mulher e a moral sexual. 2ª ed. São Paulo:
Expressão popular, 2011.
ROBERTS, Nickie. A prostituta na história. São Paulo: Rosa dos Ventos, 1998.
1004
JOÃO GILBERTO NOLL E A IDENTIDADE DO SUJEITO
PROTAGONISTA DO CONTO MARABÁ DO LIVRO A MÁQUINA
DE SER
RESUMO: Este artigo consiste na análise de um dos contos que compõe o livro cujo título
é A máquina de ser, de João Gilberto Noll, publicado em 2006, na perspectiva da
identidade. Com a base teórica de estudiosos acerca dessa temática, há respaldo
para uma discussão sobre a identidade dos indivíduos que Noll nos apresenta no conto
Marabá, um dos vinte e quatro contos que formam o livro. Como forma de constituir,
a identidade faz com que o indivíduo construa uma relação com o meio, o espaço, o
tempo e os demais membros que os cercam, sedimentando uma identidade que ora
está fixa e ora encontra-se em processo de modificação, já que o indivíduo possui
diferentes identidades em diferentes momentos nessa narrativa.
INTRODUÇÃO
161
Mestra em Literatura, Memória e Cultura – UESPI – Universidade Estadual do Piauí.
Emaiil: carmelinda.sig7@gmail.com
1005
a protagonista vivencia na narrativa.
No livro A identidade cultural na pós-modernidade, Stuart Hall
(2000) trata do surgimento do feminismo como crítica teórica e
movimento social, que trouxe toda uma forma nova de pensar as
teorizações a respeito das identidades sexuais e de gênero. O autor
esclarece que nas últimas décadas do século XX as transformações na
construção da identidade vêm se tornando mais frequentes, deixando o
sujeito em dúvidas ao ter que optar pelos novos ou velhos padrões.
Em síntese, para Hall, identidade, sociedade e cultura não se
separam, mas encontram-se fortemente ligadas através de um elo, que
molda as estruturas das identidades de cada sujeito. E é a partir do
transcurso dessas mudanças culturais que a fixidez de identidades é
então ainda mais abalada. Conforme Hall, 2000, p. 104) é com base nisso
que ocorrem construções de novas identidades no processo de
pluralização de culturas.
1 METODOLOGIA
1006
descontentes. No fragmento abaixo notaremos que a relação já é
desconfortante:
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1007
que trabalha de forma profunda a crise de identidade nos sujeitos. Nesta
obra o autor indica uma mudança vagarosa das identidades dos sujeitos,
confrontado a sociedade moderna com o avanço das sociedades
tardias.
A individualidade do sujeito vai sendo construída de acordo com
a evolução de sua consciência. Aos poucos essa identidade se firma no
indivíduo e torna-se uma característica que o particulariza. Hall (2000) nos
fala sobre isso, mostrando também que o tempo se encarrega de
solidificar tais identidades e que:
1008
mais a referência da tradição, descortina-se, para o indivíduo,
um mundo de diversidade, de possibilidades abertas, de
escolhas. O indivíduo passa a ser responsável por si mesmo e
o planejamento estratégico da vida assume especial
importância. (DIAS, 2005, p. 93)
1009
Nessa concepção, a identidade é formada pela convivência do
seu eu com a coletividade, perfazendo dessa forma, as lacunas
existentes entre o mundo interior que possui e os espaços vazios que não
considera como sendo importantes. Assim, essa relação entre o eu e a
sociedade é comparada a uma sutura, onde o sujeito é aproximado à
estrutura que o mundo social lhe proporciona. Conforme Hall (2000, p.13):
Por fim, o Sujeito Pós Moderno definido como um sujeito que passa
por uma transformação contínua, devido às formas como são
representadas as identidades nos sistemas culturais, onde o sujeito possui
identidades diferentes em distintos momentos. Para esclarecer acerca
disso, lembra Hall (2000, p. 107):
1010
tais alterações:
1011
Em seguida, lembra Hall (1992) da descoberta do inconsciente por Freud,
que aponta este elemento como responsável pelos processos de
formação do indivíduo, utilizando-se de métodos e símbolos como
alternância para a criação de um elo entre o consciente e o
inconsciente, solidificando identidades antes fragmentadas e sem base
estrutural. Essa percepção traz novos elementos para se pensar a
identidade.
Por outro lado, o desenvolvimento do estruturalismo linguístico de
Saussure apresenta a língua como sendo pré-existente e social, ou seja,
tudo o que fazemos é resultado de uma ação já antes praticada, já
produzida e que está sendo apenas reproduzidas quantas vezes se
fizerem necessárias. Este elemento, a linguagem, também influencia na
construção da identidade do sujeito. Hall (1992) indica ainda a ideia do
poder disciplinar proposta por Michel Foucault (1985), onde o sujeito deve
ser mantido com seus modos de ser e agir com disciplina e sem
modificações, buscando com isso, o controle de sua identidade.
Finalmente, Hall (1992) trata do surgimento do feminismo como
crítica teórica e movimento social, que trouxe toda uma forma nova de
pensar as teorizações a respeito das identidades sexuais e de gênero. O
autor esclarece que nas últimas décadas do século XX as transformações
na construção da identidade vêm se tornando mais frequentes,
deixando o sujeito em dúvidas ao ter que optar pelos novos ou velhos
padrões.
Em síntese, para Hall, identidade, sociedade e cultura não se
separam, mas encontram-se fortemente ligadas através de um elo, que
molda as estruturas das identidades de cada sujeito. E é a partir do
transcurso dessas mudanças culturais que a fixidez de identidades é
então ainda mais abalada. Conforme Hall é com base nisso que ocorrem
1012
construções de novas identidades no processo de pluralização de
culturas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
1013
A protagonista que embora não tenha um nome, sente-se como
uma mulher dominada pelo cônjuge, que além de tratá-lo com todos os
‘caprichos’, coloca-se na condição de ser pertencente ao esposo. No
meio da narrativa ela fala de como o trata, novamente tomando como
referência a forma como seu pai fora tratado por sua mãe. Ela serve
como sendo a responsável por satisfazer os caprichos e até mesmo lavar
os pés cansados deste:
1014
desenho e a fábula sobre o balcão, de é mesmo. Adivinhava,
eu já não fazia parte de um casal, estava avulsa daquele
homem que nos chamava de parceiro. (NOLL, 2006. p. 91)
1015
no centro da cidade e ela fala que “sempre quis entrar ali, desde
criança” (NOOL, 2006, p. 92). Olhando em volta daquele lugar, ver do
outro lado da rua, um cartaz de anúncio do filme Feminices 162 de
Domingos de Oliveira, que ao analisarmos, trata-se de um documentário
real onde explora o feminismo e faz uma breve conexão de como as
mulheres podem e são independentes.
A protagonista por sua vez resolve entrar para assisti-lo. Quando
adentra escolhe dentre muitos assentos vagos, um que fica ao lado de
um belo homem que chama sua atenção. Aqui notamos como a
identidade que segundo Hall (2000) é inconstante, se mostra. Ela age
contrariamente a aquela mulher dominada, submissa e que só tem olhos
para seu esposo. Nesse momento a categoria de identidade pós-
moderna é evidente, pois ela age conforma seus desejos e o meio em
que está, a estimulam:
162Documentário lançado em 2004 onde retrata confissões de três amigas que após
anos separadas reúnem-se e descobrem que todas estavam infelizes nos seus
respectivos relacionamentos até que tomam a iniciativa de reconstruírem suas histórias
em busca de liberdade.
1016
nos deixa esquecer que tanto a modernidade pode aproximar as
identidades, ela também pode afastá-la já que dependendo da
atmosfera, do meio e modo como vivem, indivíduo reagem de formas
diferentes nesse processo de construção.
1017
que esse ‘eu’ seja coerente (HALL, 2000, p. 13).
Esse sujeito é encontrado no conto Marabá (2006) na personagem
de Noll, uma vez que as identidades estão submersas a esse abismo
descentrado do mundo contemporâneo. João Gilberto Noll trabalha
justamente com essa pluralidade do sujeito atual, e de certa forma um
ser proveniente de relações fragmentarias que estão sempre
perambulando geograficamente, seres desterrados, assim ele trata a
questão de identidade profundamente de forma substancial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1018
GIDDENS, A. Modernidade e identidade (P. Dentzien, Trad.). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar. 2003.
1019
USO DE APLICATIVO PARA AUXILIAR NO DESENVOLVIMENTO DA
LEITURA E DA ESCRITA DOS EDUCANDOS COM DISLEXIA
thaisfaustino00@gmail.com;
1020
INTRODUÇÃO
1021
aquisição e capacidade de escrever e soletrar”. No sentindo mais amplo,
a dislexia é:
1022
auxiliar no processo de ensino-aprendizagem dos educandos,
especialmente aqueles com dislexia.
1 METODOLOGIA
1023
âmbito educacional, especialmente dos disléxicos, a partir do uso desse
aplicativo.
Quadro 1 - Trabalhos incluídos nessa revisão, com os respectivos nome(s) do(s) autor(es),
ano de publicação e título do artigo.
O Professor e o “laboratório”
de informática: navegando
Zanela 2007
nas suas percepções
Movimentos colaborativos,
tecnologias digitais e
Pretto e Bonilla 2015
educação
1024
Conte, Habowski e 2019 Ressonâncias das tecnologias
Rios digitais na educação
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1025
Figura 1 – Interface do aplicativo “As Minhas Histórias”.
1026
Figura 2 – Algumas Histórias disponíveis no aplicativo.
1027
Figura 3 – Trecho da história infantil “A Abelha Chocolateira”.
1028
Figura 4 - Jogo da Memória da Abelha Chocolateira.
1029
possibilitando a aproximação dos alunos ao conteúdo trabalhado
(TORRES, 2014).
1030
Quadro 2 - Nomes próprios presentes na história “A abelha chocolateira”
para divisão silábica.
Abelha
Anita
Mel
Beatriz
1031
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1032
BEZERRA, T. F.; VIANA, J. W. M.; ARAÚJO, V. F.; ARAÚJO, J. F.; BEZERRA, J. D.
C. S.; Dos SANTOS, A. C. B.; De ALENCAR, R. C. Jogos educativos na
aprendizagem dos alunos disléxicos: relato de experiência. Revista
EntreAções: diálogos em extensão, v. 1, n. 1, p. 70-84, 2020.
1033
Itabaiana, v. 8, n. 4, p.127-142, jul./dez. 2010. Disponível em:
http://atividadeparaeducacaoespecial.com/wp-
content/uploads/2014/08/uso-da-tecnolgia.pdf. Acesso em: 25 de Junho,
2020.
1034
A ESCRITA ORTOGRÁFICA DE CANDIDATOS DO ENEM: UM
ESTUDO REFLEXIVO
daniolive@yahoo.com.
1035
Palavras-chave: Escrita. Ortografia. Ensino Médio. ENEM. Práticas didáticas.
INTRODUÇÃO
1036
Fundamental II (SENE, 2018), Ensino Médio (SARTORI et al., 2015) e até
mesmo no Ensino Superior (HENBEST et al., 2020). Essa realidade prejudica
não só o aspecto gramatical e ortográfico do texto, mas também a
qualidade dessas redações, uma vez que produções textuais com muitos
desvios ortográficos tendem a ser penalizadas mais severamente por
qualidade de ideias (GRAHAM; HARRIS; HEBERT, 2011; GRAHAM;
SANTANGELO, 2014). Isso acontece porque um leitor que se depara com
uma redação com muitos erros ortográficos precisa fazer mais pausas em
sua leitura, a fim de tentar entender melhor as palavras grafadas
erroneamente, assim, tais pausas não permitem uma leitura contínua, o
que prejudica a compreensão das ideias contidas no texto.
1037
corrigir a ortografia do aluno em suas produções textuais, sem propor
uma reflexão sobre os erros ortográficos cometidos, é suficiente para que
ele domine as regras ortográficas, que passarão a ser decoradas na
medida em que os erros são corrigidos (LEITE, 2007). Porém, o que esse
tipo de perspectiva estipula é que a ortografia é aprendida, apenas, por
meio de memorização de palavras, o que é comprovadamente falso,
pois é necessário, antes da aprendizagem efetiva da ortografia, a
reflexão sobre os padrões ortográficos envolvidos nas palavras corrigidas
nas produções textuais (CASTRO; COUTO, 2021).
1038
estimulado a refletir sobre o motivo do erro?. Isso, atrelado aos outros
mitos, lamentavelmente, pode causar uma repulsa nos alunos, os quais
passam a afirmar que não sabem português e que é muito chato ter que
o aprender. Por isso, neste artigo, assumimos a palavra erro, mas não com
essa conotação de negatividade ou punição, mas sim numa concepção
de “elemento revelador do processo de aprender”, pois se trata de “um
processo de análise e reorganização e pode auxiliar aqueles que”
investigam o saber construído (MIRANDA, 2010, p. 14).
1039
A ortografia precisa e deve ser vista como objeto de investigação
e análise, pois sua aprendizagem pode ocorrer por meio de instruções
sistemáticas e reflexivas. Portanto, esperamos que esta pesquisa possa
contribuir com reflexões sobre a importância da ortografia na sala de
aula. Além desta introdução, este artigo contém a Metodologia, o
Referencial Teórico, a Análise dos dados e discussão dos resultados, com
proposições práticas acerca do ensino da ortografia na sala de aula, as
Considerações Finais e as Referências Bibliográficas.
1 METODOLOGIA
1040
Educacionais Anísio Teixeira (INEP)168 em 2020 (INEP, 2020). Vale ressaltar
que tal Manual era sigiloso e não podia ser divulgado ao público. No
entanto, devido ao contexto da pandemia do coronavírus, iniciada em
2020, que exigiu, e ainda exige, o isolamento social para a contenção do
vírus, as escolas foram um dos muitos estabelecimentos fechados,
passando as atividades para o formato virtual, ou, lamentavelmente,
paralisando-as por tempo indeterminado, pela falta de acesso, de muitos
alunos, aos meios digitais. Neste contexto, o INEP teve a iniciativa de
divulgar o Manual de Correção para auxiliar os estudos de alunos
participantes do ENEM 2020.
1041
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1042
partir da leitura, ele cria maior sensibilidade com os padrões da língua e,
na hora de escrever, desenvolve hipóteses sobre a grafia correta das
palavras (TREIMAN, 2017, 2018). Já a aprendizagem explícita depende da
interferência de um adulto, que irá instruir o aprendiz sobre os padrões
adequados da língua, em outras palavras, envolve instruções diretas
sobre os padrões ortográficos. Portanto, a aprendizagem implícita e a
explícita configuram como importantes caminhos para o ensino e
aprendizagem da ortografia (TREIMAN; KESSLER, 2014; TREIMAN, 2017,
2018).
1043
discentes sobre a escolha de grafemas. A exemplo disso, tem-se o
grafema <s> que, quando entre vogais, assume o som de /z/, o que pode
causar diversas dúvidas nos aprendizes. Esse tipo de erro contextual, no
entanto, precisa ser abordado de forma categórica, para que o
estudante consiga estabelecer uma noção mais adequada dos padrões
da língua. Nesse trabalho, Castro e Couto (2021) propõem que o
professor crie uma rede de palavras com seus alunos (casa - casada -
casamento - casebre - casinha) e, a partir dessa instrução formal, os
discentes poderão estabelecer que todos os termos oriundos da palavra
“casa” serão grafados com <s>, assim, eliminando possibilidades de
desvios ortográficos.
1044
escolas, a fim de que haja uma maior homogeneidade entre os centros
educacionais (SANTANA, 2020). Assim, percebe-se a importância dos
PCNs (BRASIL, 1998, 2000) e da BNCC (BRASIL, 2017, 2018), documentos
que regulamentam as aprendizagens.
1045
versar sobre o aluno do Ensino Médio, estabelece que “Bem sabemos
que graves são os problemas oriundos do domínio básico e instrumental,
principalmente da língua escrita, que o aluno deveria ter adquirido no
Ensino Fundamental” (BRASIL, 2000, p. 17, grifo nosso). Essa citação revela
que se espera do estudante um domínio da norma ortográfica já no
Ensino Fundamental e que, caso isso não ocorra, tais desvios são
considerados graves. Contudo, os Parâmetros Nacionais Curriculares do
Ensino Médio (BRASIL, 2000) não especificam sobre como o docente
deve lidar com as dúvidas de ortografia dos alunos, no caso de haver
persistência de tais erros ao final do EM. Isto é, além de, logo após a
citação, propor um diagnóstico para averiguar as habilidades
dominadas pelo aprendiz, os PCNs (BRASIL, 2000) não fazem um
direcionamento para que o professor possa buscar as soluções dos
possíveis problemas que podem ser notados nessa averiguação.
1046
menção feita pela BNCC do EM (BRASIL, 2018) à ortografia, em que a
Base apenas menciona a necessidade deste domínio. Com isso,
evidencia-se que esses dois documentos norteadores da educação
básica brasileira determinam que o domínio ortográfico deve ser
consolidado nos alunos enquanto estes estiverem nos anos iniciais do
processo educacional, mas não oferecem orientações para que tal
trabalho ocorra com êxito.
1047
Quadro 1- Desvios ortográficos de candidatos do ENEM 2018
Dados
Troca de
Acentuação Segmentação Marcas de oralidade Hipercorreção
grafemas
cedentaria internete
dificúlta usala (usá-la) usa (usar)
(sedentária) (internet)
fazelidade enseno
íncrivel quenhe (quem é) ne todos (em todos)
(facilidade) (ensino)
precão descobremo
gravissimo apartir pro (para o)
(pregam) s
ousace medeo
influenciêm oque Us (Os)
(ousasse) (médio)
de feretes enternet
estar (está) impecilio encinamentos
(diferentes) (internet)
distroe
excelencía afavor tá (está) atravez
(destrói)
1048
sonora. Nas trocas de grafema, nota-se que há a instabilidade na escrita
de grafemas irregulares, ou seja, palavras cuja ocorrência de um
grafema ou outro não têm relação direta com o som que representa,
mas com a história da palavra, propriamente, como em *deicam. Por
último, a coluna hipercorreção incorpora erros que poderiam, inclusive,
fazer parte de outras categorias, mas que se encontram sob este rótulo
justamente pelo fato de que se compreender que o erro decorre de um
raciocínio que visa, sobretudo, atingir a norma. Isso nos mostra que os
alunos concludentes do Ensino Médio podem apresentar erros de
diversas ordens e que precisam ser trabalhos de forma sistemática nas
aulas de língua portuguesa.
1049
Junto aos dados exemplificados no Quadro 1, há um total de 806
desvios ortográficos analisados em 201 redações e excertos disponíveis
no Manual do Corretor. Tais desvios são de diversas naturezas que fogem
a qualquer categorização, no entanto, podem se referir às hipóteses
desenvolvidas por quem os escreveu e, portanto, envolvem a
aprendizagem implícita do candidato (TREIMAN; KESSLER, 2014). Por
exemplo, de uma mesma palavra, como internet, há diversos tipos de
grafia, como *internete, *inter net, *inte-net, que podem refletir em outros
padrões da língua, como o uso de <e> ao final de palavras pronunciadas
com [i], como pent[i], a segmentação de palavras, tal como de repente,
por isso, e o uso de hífen em palavra como anti-higiênico.
1050
relacionados a diversos padrões ortográficos, isso evidencia a
necessidade de se consolidar o lugar da ortografia nos documentos
educacionais, para, também, consolidá-la nas aulas de língua
portuguesa.
Fala Escrita
1051
Ressaltamos que a fala e a escrita não podem ser tidas como
concorrentes, ou que uma é mais “correta” que a outra. Ao contrário, a
fala e a escrita devem ser vistas como facetas da língua portuguesa
(SOARES, 2018), e deve ser evidenciado que cada uma possui suas
características e particularidades. Ainda, deve-se levar em conta a
variação linguística da sala de aula. A reflexão dessas duas facetas, de
acordo com determinado contexto geográfico, pode se tornar um
caminho para refletir a língua. Por exemplo, como no exemplo acima, há
padrões da língua que já são consolidados na fala, como o uso do som
[i] em palavras como empecilho, ao passo que a grafia desta palavra
seja com <e>. Em contrapartida, há palavras que são faladas com [i] e,
também, escritas com <i>, como em diferente. Tal discussão pode levar
os alunos a refletirem sobre os diversos padrões ortográficos da língua
portuguesa, além de evidenciar a multiplicidade entre fala e escrita.
1052
Figura 2: Discussão de padrão ortográficos através de memes
1053
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1054
corpus mais amplo e direcionado. Além disso, esse ensino deve ser
reflexivo, instrutivo e capaz de contribuir para a formação do aluno
letrado, que sabe usar a escrita em diversos contextos sociais. Ademais,
os mitos acerca do trabalho com ortografia devem ser dissolvidos, a fim
de que os professores entendam a importância de instruir os estudantes
sobre os padrões ortográficos da língua e, dessa maneira, a ortografia
ganhe espaço nos anos finais da educação básica.
REFERÊNCIAS
1055
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e ortografia. Educar em Revista, n. 20, p.
43–58, 2002.
GRAHAM, S., HARRIS, K. R., & HEBERT, M. It is more than just the message:
Analysis of presentation effects in scoring writing. Focus on Exceptional
Children, 44(4), 1–12, 2011.
HENBEST, V. S.; FITTON, L.; WERFEL. K. L.; APEL. K. The Relation Between
Linguistic Awareness Skills and Spelling in Adults: A Comparison Among
Scoring Procedures. Journal of Speech, Language, and Hearing Research.
Vol. 63, 2020.
1056
MIRANDA, Ana Ruth Moresco. Um estudo sobre a natureza dos erros (orto)
gráficos produzidos por crianças dos anos iniciais. Educ. rev., Belo
Horizonte, v. 36, 2020.
________, Ana Ruth Moresco. Um estudo sobre o erro ortográfico. In: Otília
Lizete Heining, Cátia de Azevedo Fronza. (Org.). Diálogos entre linguística
e educação. 1 ed. Blumenau: EDIFURB, v. 1, 2010.
1057
SILVA, A.; MORAIS, A. G. Ensinando ortografia na escola. In: SILVA, A.;
MORAIS, A. G. de; MELO, K. L. R. de (org.). Ortografia na sala de aula. 1.
ed., 1. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 45-60.
1058
LITERATURA DE MULHERES NEGRAS: ANÁLISE DE UMA
EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO
1059
INTRODUÇÃO
1060
considerações finais acerca dessa estratégia de leitura e das temáticas
apresentadas na literatura afro-brasileira e africana com vistas à
transformação do(a) aluno(a) em um jovem ou uma jovem protagonista
partícipe de uma educação para as relações étnico-raciais.
1 METODOLOGIA
1061
brasileiro vigente no que diz respeito à proficiência de leitura. Muito pelo
contrário, o que se pretende é fomentar a reflexão dialógica sobre as
diferentes estratégias de leitura pelas quais se vislumbram alternativas de
intervenção, a fim de mitigar a falta de proficiência em relação à
competência leitora, pois, dominar essa competência é salutar para o
entendimento de todo o processo educativo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
3 RELATO DE EXPERIÊNCIA
1062
lidar com tal situação, nunca antes vivenciada. Neste atual contexto,
ambos se viram obrigados a se apropriarem de outras estratégias de
ensino, por exemplo, a sala de aula invertida, bem como a participação
em tertúlia literária por meio da sala de aula virtual.
1063
professora qual fora o trecho ou os trechos escolhidos por ele para
participar da tertúlia literária. Abriu-se o primeiro turno, o primeiro aluno
inscrito leu em voz alta o trecho escolhido por ele e fez sua interpretação,
considerações e/ou associações do excerto lido com sua vida a partir de
suas vivências de mundo.
1064
As personagens passam a ser (re)criadoras de sua jornada, ao
negarem imposições características dessa construção histórica patriarcal
em que seu espaço foi definido pelo o outro. Nos contos presentes no
livro supracitado, as protagonistas deslocam-se, transitam-se, mudam-se
de lugar para se encontrarem com a realização de seus anseios. A
negação de uma história e a afirmação de outra, são marcas dessas
narrativas em que destacam a resistência dessas mulheres.
1065
bem como violências: doméstica e sexual. Dessa forma, a pesquisadora
também teve a oportunidade de conhecer melhor seu alunado, pois
alguns deles relataram abusos e opressões sofridos em casa, sobretudo,
pela figura masculina. Mostrando assim, que lamentavelmente, o sistema
patriarcal ainda impera em algumas famílias e na sociedade.
1066
de uma denúncia às opressões pelas quais passa, não só a personagem,
mas grande parte das mulheres.
1067
psicossomática que leva à somatização da diferença sexual, ou seja, da
dominação masculina” (BOURDIEU, 1998, p. 18).
1068
um quadro bem evidente nos arquivos da tua memória, e nós não
largamos um só suspiro, hipnotizados pela tua dor” (CHIZIANE, 1994, p.
365).
Nessa passagem, Maria justifica seus atos por canta do amor, Maria
estava desajuizada, enfeitiçada por esse amor, pois era jovem e talvez,
segundo os alunos, “quando se é jovem, a pessoa se joga sem pensar”.
No entanto, a sociedade não perdoa, sobretudo, a sociedade machista,
daí surgem os julgamentos, mesmo sem conhecer as razões.
1069
Lembro-me da noite sem lua, quando debaixo do cajueiro disse
sim, ao homem dos meus sonhos. O régulo de Matutuíne, meu
pai, disse não a esse pobre, sem gado para lobolar a filha do rei.
Ao meu homem ultrajado não restou alternativa senão procurar
o lenitivo das mágoas do outro lado da fronteira, em
Johannesburg, deixando-me o ventre semeado. Nos nove
meses de gesta, minha alma em suplício consumiu facadas.
Quinze dias depois do nascimento da criança, o meu pai disse:
fora desta casa (CHIZIANE, 1994, p. 363).
Vale refletir por meio dessa citação, acerca do fato de que, até
esse momento, Maria não aparece como sujeito de seu próprio desejo,
tampouco argumenta sobre o fato; esse silêncio representa a submissão
diante da lei. Isso se dá porque historicamente criou-se a concepção
essencialista de uma identidade feminina ou das mulheres, ou seja, uma
natureza comum a todas as mulheres (servil, frágil, incapaz).
1070
de seu processo de diálogo e de problematização enriquecendo a
discussão a repeito das temáticas presentes nos contos, tais como:
violência contra mulher, estupro infantil, incesto, abandono, machismo,
patriarcalismo, entre outros, com vistas a desenvolver no sujeito visões
mais esclarecidas acerca dessas e de outras questões de opressão.
Note que depois de todas as angústias vividas por Maria, ela pôde
usufruir de seu encontro com o seu homem, aquele que fora culpado por
toda a sua tristeza. Paradoxalmente, também é o responsável por toda
a sua felicidade. “Como uma pena voando ao vento, balancei de poiso
em poiso, contornando vilas, cidades, até alcançar o objecto da minha
aventura: o meu homem” (CHIZIANE, 1994, P. 366).
O conto termina com Maria pedindo perdão a sua filha por tantas
vezes que pensou até em matá-la. Mas como prova de resistência e
resiliência concedida a essa personagem: “(...) – Mãe, eras capaz de
jogar-me na fossa, a mim? – Perdoa-me, querida. Eu não queria dizer
nada. Apenas gostaria que os seres humanos tivessem mais humanidade,
amor e fraternidade” (CHIZIANE, 1994, P. 367).
1071
do sonho de reencontrar seu homem. Passou por muitas adversidades,
entretanto, superou cada uma delas.
1072
seres humanos para nunca se desesperançar, pois o amor pode ser a
esperança de toda a humanidade.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1073
1 Diálogo igualitário: em que todos têm espaço e vez para exporem seus
argumentos sem medo de julgamentos, pois não há posição de poder
de uma pessoa em relação à outra.
1074
troca de conhecimento cultural etc., com vistas a aprofundar, enriquecer
e consolidar a aprendizagem para formação humana, tolerante,
democrática e igualitária como prática da liberdade, pois em uma
atividade como essa, os subalternos saem de sua posição de
subalternidade para assumirem o papel de protagonista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1075
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 30. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
1076
JOGOS VORAZES: UM FUTURO DISTÓPICO COM REFLEXOS DE
UM PASSADO OBSCURO
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar a série de romances juvenis
Jogos Vorazes, da autora Suzanne Collins. Discorrendo como a literatura direcionada
aos jovens começa a ganhar destaque no século XXI, ressaltando algumas das suas
características que contribuem para cativar seu público leitor. Trazendo uma discussão
sobre os gêneros distopia e utopia, que se consagraram na atualidade como dois dos
maiores fenômenos da literatura mundial. Enfatizando como a série de Collins se
apresenta distópica, ao abordar os referidos traços distintivos deste intrigante estilo de
narrar mundos ficcionais, ou seja, mostra em sua obra um mundo pós-apocalíptico
controlado por um governo autoritário que faz o uso da violência e do medo para o
controle social, a repreensão das massas populacionais menos favorecidas e a fome,
que tanto se destaca na obra em análise. Fazendo, constantemente, relações com
fatores atuais e históricos da realidade humana, como a analogia ao Império Romano,
ao brutal sistema de controle populacional do Nazismo alemão e aos aparatos
tecnológicos do qual dispomos. Para a obtenção dos referidos resultados, foi realizada
uma pesquisa de cunho bibliográfico e de natureza qualitativa, seguindo os
pressupostos teóricos de Conceição (2018), Cordeiro e Nogueira (2010), Foucault (2010),
Guimarães (2020) entre outros. Concluindo que a obra é uma verdadeira distopia, pois
associa acontecimentos do passado e do presente da história real para nos descortinar
um futuro pós-apocalíptico, mesmo sendo fictício, com o objetivo de trilharmos
caminhos diferentes que não nos levem a esses cenários caóticos/distópicos que tanto
predominaram nos nossos antepassados e ainda perduram em algumas localidades.
INTRODUÇÃO
moises@moisesneto.com.br.
1077
pelos mundos idealizados por ilustres autores(as). Geralmente, os
personagens destes universos peculiares conseguem cativar o leitor
prendendo a sua atenção ao longo de toda a narrativa, seja por
apresentarem personalidades semelhantes à do público destinado, por
conseguirem construir um universo que foge da atual realidade humana
e adentra um cenário futurístico ou a um ambiente repleto de criaturas
mágicas e míticas.
Inicialmente, a literatura destinada ao público infantil e juvenil
possuía certo caráter pedagógico e moralizante, em que os personagens
destas obras não podiam se envolver ou praticar atos que viessem a
chocar seus leitores. Restando a iniciativa de desenvolver nos
personagens os devidos modos normativos de como uma criança ou
jovem devia se portar perante a sociedade, como a obediência aos pais.
Com o passar do tempo, tais características foram ficando mais rarefeitas
nessas obras, passando a desenvolver um personagem mais autônomo e
que se propunha a explorar cenários inóspitos e perigosos.
Tais figuras dramáticas são recorrentemente encontradas em
diversas produções literárias destinadas ao público infantil e juvenil
publicadas nas últimas décadas, que se tornaram um verdadeiro
fenômeno de leitura com milhões de adeptos ao redor de mundo, não
só do seu público alvo, mas também ganhando a satisfação do público
mais maduro, ou seja, os adultos. Começaram a ganhar adaptações
cinematográficas que contribuíram ainda mais para o enraizamento
deste estilo de literatura na vida do jovem contemporâneo que, ao assistir
ao filme baseado em determinada obra, passa a se familiarizar com seu
enredo e procura fervorosamente ao livro que originou tal história, em
busca de uma continuação ou para se aprofundar ainda mais nesse
novo mundo que o cativou.
1078
Inúmeros escritores e escritoras da contemporaneidade se
propõem, cada vez mais, em desenvolver narrativas que abordam um
cenário mundial futurístico, dotado de tecnologia e ciência
exorbitantemente superior. Porém, mesmo com esse tom de
superioridade, encontra-se mergulhado em desordem e caos.
Controlado por um regime governamental de atitudes tirânicas,
comparadas com os regimes totalitários que já existiram e existem no
mundo real.
As obras literárias dotadas desses traços são comumente
classificadas de distopias pelos críticos literários. Gênero esse que se
firmou durante os últimos anos como um dos favoritos dos jovens, tanto
em obras literárias como em produções cinematográficas onde, cada
vez mais, bebe da literatura como fonte de inspiração para seus enredos.
Sendo assim, este trabalho tem o objetivo de analisar o universo de
uma dessas obras considerada como um dos maiores sucessos literários
da atualidade, a série de romances Jogos Vorazes, da autora
estadunidense Suzanne Collins; que narra uma história futurística pós-
apocalíptica da espécie humana, focando na sobrevivência individual
em um país controlado por um governo absurdamente autoritário.
O corpus de estudo do trabalho é constituído pelos quatros
romances que compõe a série Jogos Vorazes, que são Jogos Vorazes
(2010), Em Chamas (2011), A Esperança (2011) e A Cantiga dos Pássaros
e das Serpentes (2020). Tendo como metodologia uma pesquisa
bibliográfica de cunho qualitativo, seguindo os postulados teóricos de
Conceição (2018), Cordeiro, Goes e Nogueira (2016), Foucault (2010) e
Oliveira (2019), entre outros.
O trabalho encontra-se estruturado em quatro seções. A primeira
traz um resumo sucinto da história narrada na série Jogos Vorazes. Na
1079
segunda discutimos acerca da literatura juvenil, e como esta se vale de
alguns estratagemas para chamar a atenção do seu público destinado,
da qual se destaca a semelhança entre personagens e leitores. A terceira
seção traz uma discussão sobre os mundos distópicos e como a obra
literária, objeto de estudo, se classifica como uma distopia. Já na quarta
mostramos alguns aspectos históricos de um passado obscuro da espécie
humana, que são encontrados com bastante clareza no decorrer de
toda a narrativa da trilogia objeto de estudo, o totalitarismo. Que
massacrou e continua a massacrar a população ao redor do mundo,
com seus métodos de controle da massa populacional e sua disciplina
punitiva de extrema violência física e mental, mostrado como a opressão
social é apresentada nos referidos romances. Finalizando o estudo com
as considerações finais.
Sendo possível perceber que a série Jogos Vorazes, assim como
todas as obras distópicas, nos revela uma sociedade futurística dotada
de meios tecnológicos avançados. Entretanto, caoticamente
desestabilizada e rigorosamente controlada por um governo tirânico que
faz o uso de métodos disciplinares bárbaros. Associando acontecimentos
do presente e passado da história real para aludir que sistemas
governamentais repressivos e desigualdades sociais podem surgir com
muita facilidade em provável futuro.
1080
mundo, mas precisamente do que restou da nossa atual América do
Norte, surge o país de Panem, dividido em treze distritos e uma capital.
Que prosperam em um curto período de tempo, até que vieram os Dias
Escuros, o levante dos distritos contra a capital.
A Capital conseguiu sair vitoriosa, como punição o 13º Distrito foi
obliterado e com lembrete de que jamais poderiam vivenciar essa
traição novamente, cada um dos doze distritos restantes deve oferecer,
por meio de um sorteio, um garoto e uma garota entre 12 e 18 anos para
a Capital, que serão transferidos para uma arena, onde lutarão entre si
até reste somente um sobrevivente. Esse evento mórbido ganha o nome
de “Jogos Vorazes”. Uma espécie de reality-show que acontece
anualmente, transmitido para todo o território de Panem.
Jogos Vorazes é o primeiro livro de uma série de quatro romances,
sendo o último uma narrativa que precede os acontecimentos do
primeiro. Jogos Vorazes, sucedido por Em Chamas e A Esperança,
respectivamente, formam uma trilogia que narra a história de Katniss
Everdeen, uma garota do Distrito 12 que se oferece para participar da
septuagésima edição dos Jogos Vorazes no lugar da sua irmã, uma vez
que esta era muito jovem e tida como indefesa.
Katniss consegue sair vitoriosa, porém, por desafiar as regras dos
jogos, começa a ser tratada pelos distritos como um símbolo de levante
contra o poder supremo da tirânica Capital. E por intermédio do
Presidente Snow, que pretende fazer não só dela como dos outros
participantes um exemplo de que nem um deles pode superar o poderio
da Capital, retorna para uma nova edição dos jogos com mais outros 23
participantes vitoriosos de edições anteriores da disputa.
Nesta sua segunda participação no sangrento reality-show, Katniss
é resgata pelas forças rebeldes lideradas por um Distrito 13 que se
1081
mantinha no anonimato da aniquilação e aceita desempenhar o papel
de símbolo rebelde em uma nova guerra entre os distritos, que
procuravam a conquista de direitos igualitários e melhores condições de
vida, e a força bélica da Capital comandada pelo tirânico Presidente
Snow, que está no poder por décadas.
1082
conscientes de si e do meio em que vivem, que possuem voz ativa para
alterar o mundo ao seu redor e, geralmente, participam de eventos
perigosos. Esse avanço da literatura juvenil ocorre principalmente no final
do século XX, com a publicação de Harry Potter, da autora inglesa J. K.
Rowling.
O fato desse estilo literário cativar tanto seus leitores, é o colocar
de um personagem juvenil como protagonista da narrativa, e o jovem
leitor passa a se identificar com as características que são personificadas
nesse personagem fictício. Dessas características a busca da construção
de uma identidade pelo protagonista reflete no jovem da realidade, que
também almeja construir a sua imagem identitária que será apresentada
a sociedade ao seu redor.
1083
E com o decorrer da narrativa, é influenciada pelos rebeldes, que a veem
como um símbolo de coragem e de desafio contra o poder da Capital,
a assumir o papel simbólico do Tordo na guerra que se segue.
Em uma outra coleção de livros, que chamou atenção nos últimos
anos, a série Divergente, da norte-americana Veronica Roth. Temos a
protagonista Beatrice Prior, que ao completar seus dezesseis anos precisa
fazer uma escolha que refletirá no seu meio social e moldará a sua
identidade para sempre. Para maior entendimento escolhemos um
trecho da obra que evidencia a importância da escolha de Beatrice.
1084
refletir sobre um passado que a espécie humana tanto teme e que
mesmo assim ainda vigora no mundo atual, ou seja, o período dos
governos altamente autoritários que dizimou com a vida de milhões de
pessoas.
Ao conceber na narrativa um cenário futurístico resultante de uma
quase extinção da espécie humana onde os sobreviventes encontram
uma demanda de desafios para sobreviverem, surge um gênero
particular da literatura, que atualmente é um fenômeno global de
vendas, a distopia. Diversos teóricos explicam que a distopia se originou
a partir da utopia, embora cada uma possua um caráter divergente.
Enquanto a utopia visa um mundo totalmente idealizado e que o bem-
estar da população seja elevado ao máximo, a distopia nos revela um
mundo arruinado onde a miséria e a desigualdade social reinam. Sobre
a utopia, Oliveira (2019) afirma:
1085
Nos transportando para uma dualidade indiscutível e por onde se
explica o surgimento da distopia ou anti-utopia. Diferentemente da
sociedade utopicamente idealizada, a distopia surge principalmente por
discorrer sobre caminhos tenebrosos que levam uma sociedade ao seu
declínio catastrófico. Nos revelando que as obras distópicas são mais
aceitáveis que as utópicas, pois os humanos já vivenciaram o desenrolar
de duas grandes guerras que praticamente deixaram o mundo de
joelhos, bem como o horror de governos tiranos, que ao transmitir um
ideal de sociedade perfeita, fizeram totalmente o inverso, sobrepujaram
e massacraram as massas sociais, como o Nazismo alemão.
Assim, conhecemos as consequências desastrosas de trilhar por um
dos caminhos que levaram essas catástrofes humanas a ocorrer. Mesmo
que a intenção inicial dos idealizadores desses movimentos aludisse a
sociedade perfeita em seus parâmetros, acabaram por propagar caos e
desordem. Dessa ilusão em almejar a sociedade perfeita/utópica, surgiu
a distopia, pois aquilo que é considerado utópico por um, pode ser visto
como distópico por um outro.
1086
Ao longo da narrativa de Collins, são demonstrados os grandes
desastres ambientais e as guerras ocorridas no passado, que fizeram com
que toda a idealização contida na nova nação de Panem viesse à tona.
Como relata a personagem Katniss Everdeen no seguinte trecho:
1087
um futuro próximo, criando a ideia de ficção científica. Como Conceição
(2018) reflete sobre as ideias de Ferneda (2015):
1088
4 PANEM: O TOTALITARISMO E A POLÍTICA DO PÃO E CIRCO
1089
Logo de início é apresentado um termo interessantíssimo remetendo a
uma forma de governo predominante no passado, cristalizado no próprio
nome do país, Panem. Nos levando à política do pão e circo do Império
Romano, visível em um trecho do terceiro volume da série em estudo,
referente a um diálogo entre os personagens Katniss e Plutarch:
[...]
- É um ditado de milhares de anos atrás, escrito numa língua
chamada latim sobre um lugar chamado Roma – explica ele. –
Panem et Circenses se traduz por “pão e circo”. O escritor queria
dizer que em retribuição a barrigas cheias e diversão, seu povo
desistiria de suas responsabilidades políticas e, portanto,
abdicara de seu poder.
Penso na Capital. No excesso de comida. E na diversão mais
importante de todas: os Jogos Vorazes. (COLLINS, 2020, p. 241).
1090
comida. Agora que somos ricos, ela oferece um pouco para que
levem para casa. Mas antigamente, com muita frequência, não
havia nada a ser dado e a criança não tinha como ser salva. E
aqui na Capital eles vomitam pelo prazer de encher seus
estômagos initerruptamente. Não por causa de alguma
enfermidade do corpo ou da mente, nem por causa de alguma
comida estragada. É o que todo mundo faz numa festa. É o que
é esperado. Faz parte da diversão. (COLLINS, 2020, p.91).
1091
menção de cantigas narradas pelas próprias pessoas que habitam a
zona distrital.
Além de ser estritamente proibida a comunicação interdistrital,
não havendo notificações sobre as ocorrências fora de seu território,
usufruindo de meios de comunicação somente quando há algum
comunicado presidencial ou durante a exibição dos Jogos, eventos que
exigem a presença obrigatória da sociedade.
Em uma sociedade sempre existe uma ordem a ser mantida por
meio de restrições das mais variadas, mas, quando falamos em um
sistema político com um ditador impiedoso no controle, as restrições são
aplicadas rigorosamente. Pautando na disseminação do medo por meio
de punições rígidas aos indivíduos que quebrem ou pretendam causar
agitação nas normas estabelecidas.
Panem, faz o uso dos ditos Pacificadores, o esquadrão de força
militar do governo, para manter suas diretrizes respeitadas. Além da
comunicação inexiste entre os distritos, faz o uso de um sistema de cercas
elétricas que circundam os distritos, impedindo a população de se
locomover para além das áreas designadas. E como punição, caso
sejam pegos violando o perímetro estabelecido, são chicotas em público
ou fuzilamento.
1092
superiores criadores das exigências estabelecidas. Na obra, todos os
distritos são responsáveis por produzir um bem material a ser entregue a
Capital em abundância.
Nesse viés, os serviçais distritais são submetidos a uma rígida carga
horária de trabalho e recebem tão pouco que não alimentam sua família
de forma devida, os levando a falecer por fome. Literalmente, se formos
traduzir o título original do primeiro romance da série, The Hunger Games,
traduziríamos para Jogos das Fome, e não Jogos Vorazes. Pois, a fome se
configura como um meio de submeter a população aos caprichos do
capitólio. Tendo em vista que manter a população faminta os obrigam a
adquirir uma cesta básica de alimentação, as chamadas “Tésseras”, em
troca de inserirem o nome de seus filhos mais uma vez nos Jogos.
Aumentando as chances desses jovens serem sorteados, conforme é
percebido no trecho a seguir do romance: “Mas aí vem a jogada.
Digamos que você esteja passando fome [...] Você pode optar por
adicionar seu nome mais vezes em troca de tésseras.”
Ainda sobre essa questão de controle da massa populacional, é
possível comparar os distritos com os Campos de Concentração
existentes no Nazismo Alemão. Pois, ao impossibilitar a locomoção dos
indivíduos para outras áreas não vigiadas, facilita com que estes sejam
aniquilados de forma rápida. O que de fato acontece quando Katniss,
no seu segundo Jogos, é resgatada da arena pelos rebeldes. O
Presidente Snow, enfurecido, ordena a total aniquilação do Distrito 12
com toda sua população.
1093
por tirar a vida não entendo simplesmente o assassínio direto,
mas também tudo o que pode ser assassínio indireto: o fato de
expor à morte, de multiplicar para alguns o risco de morte ou,
pura e simplesmente, a morte política, a expulsão, a rejeição,
etc. (FOUCAULT, 2010, p. 216).
inferior. Aspecto este que serviu como base ideológica para a escravidão
instante. Perceptível neste trecho do quarto livro da série, que narra uma
1094
um sistema de caráter escravocrata, já que os distritos são forçados a
suprir o capitólio desde alimentos a utensílios de uso doméstico, sem o
direito de usufruir adequadamente dos bens que eles mesmos produzem.
Além de entregar seus jovens para serem assassinados como forma de
diversão.
CONCLUSÃO
1095
Expressão em latim que consequentemente significa “pão e circo”.
Refletidos na arena do reality-show dos Jogos Vorazes, que seria o
circo/forma de entretenimento e o pão significado pelo excesso de
comida que os habitantes da Capital possuem, enquanto os residentes
dos distritos se esvaem de fome.
Não bastasse, os traços racistas presentes nos regimes autoritários
que já existiram e que ainda existem, também são demonstrados em
Panem. Tratando as pessoas fora da Capital, no caso os distritos, como
meros animais para o abate. Os obrigando a oferecerem seus jovens
todos os anos para a sangrenta disputa dos Jogos Vorazes com o mero
sentido de entretenimento.
Deste modo, concluímos que a série Jogos Vorazes, assim como
todas as obras distópicas, nos revela um futuro caótico e os caminhos
que levaram a tal situação. Associando características do passado e
presente da realidade para que possamos refletir sobre o que queremos
para o nosso amanhã. E que, mesmo os sistemas mais brutais que a
humanidade já provaram em seus antepassados, podem voltar em um
piscar de olhos se trilharmos pelos mesmos caminhos ideológicos que
fazem uma tirania surgir.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Andreza Tenório de; REIS, Thais Resende dos. Jogos Vorazes:
um dispositivo de análise da sociedade contemporânea. Revista Pandora
Brasil. Disponível em:
http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/edicao83.htm. Acesso
em: 10 de set. de 2020.
1096
COLLINS, Suzanne. A cantiga dos pássaros e das serpentes. 1ª. ed. Rio de
Janeiro: Rocco, 2020.
_________. A esperança. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
_________. Em chamas. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
_________. Jogos vorazes. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.
CONCEIÇÃO, Verônica Alves dos Santos. FICÇÃO CIENTÍFICA: O ESCRITOR
E O LEITOR (DES)AUTORIZADOS PELA CIÊNCIA. Linha Mestra. n. 36, p. 345-
349, set. dez. 2018.
DA SILVA CORDEIRO, M. A.; SILVA GOES, B.; NOGUEIRA, W. DE S. Jogos
Vorazes e a questão da distopia na série de filmes de Gary Ross E Francis
Lawrence. Revista GEMInIS, v. 7, n. 1, p. 257-272, 6 jul. 2016.
EGAN, Kate. Jogos Vorazes: Em Chamas: guia oficial do filme. Trad.
Leilane Garcia, São Paulo: Prumo, 2013.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes,
2010.
GUIMARÃES, Mônica Lopes Névoa. JOGOS VORAZES: UMA REFLEXÂO
SOBRE O MUNDO CONTEMPORÂNEO. Orientadora: Fernanda Aquino
Sylvestre. 2020. 133 p. Tese (Doutorado em Estudos Literários) –
Universidade Federal de Uberlândia, Pós-graduação em Estudos Literários,
Uberlândia, 2020.
OLIVEIRA, Raissa Silva de; RIOS, Riverson. Gênero e Distopias: Uma Análise
Comparativa sobre a Representatividade Feminina de Jogos Vorazes
(2010) e de 1984 (1949). Disponível em:
file:///C:/Users/lucas/Documents/Trabalhos/Literatura%20Infantil%20e%20
Juvenil/Trabalho%20-%20Jogos%20Vorazes/Te%C3%B3ricos/representativi
dade%20feminia.pdf. Acesso em: 01 de set. de 2020.
ROTH, Veronica. Divergente. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.
1097
SANTOS, Cássia Farias Oliveira dos; CARDOSO, André Cabral de Almeida.
UMA DISCUSSÃO SOBRE A LITERATURA JUVENIL. Anais do VI SAPPIL-Estudos
de Literatura, v. 1, n. 1, 2015.
SEIFE, Emily. Jogos vorazes: guia do tributo. Trad. Alice Klesck, São Paulo:
Prumo, 2012.
STREHL, Jerônimo Teixeira. A obra Jogos Vorazes: o consumo
ressignificado da estética nazista. Disponível em:
https://estudosdoconsumo.com/wp-
content/uploads/2018/05/ENEC2014-GT06-Strehl-
A_obra_Jogos_Vorazes.pdf. Acesso em 01 de Out de 2020.
REFERÊNCIAS DE FILMES
1098
FIGURAÇÕES DA MUSA NA LÍRICA DE MURILO MENDES
RESUMO: Este artigo pretende analisar uma das figurações mais importantes do mito na
poética de Murilo Mendes, a Musa. Portadora do sagrado, do profano, representação
da memória e da própria poesia. A figuração do feminino na obra poética de Murilo
Mendes é ampla, em sua lírica há múltiplos desdobramentos da musa representadas
por várias figurações do feminino, que proporcionam a manifestação do poético. O
poeta está em busca de uma espécie de “memória profunda” da cultura, trazendo
para o presente um passado mítico exemplar. De acordo com essa perspectiva, é pela
poesia que o poeta deseja vivenciar um mundo inaugural entregue à inspiração, ao
mito e ao sagrado, configurado por imagens complexas e extraordinárias.
Palavras-chave: Murilo Mendes, Mito, Musa, Feminino.
INTRODUÇÃO
1099
memória e da própria poesia. O próprio poeta revela a importância da
musa para sua poesia em sua “Microdefinição do autor”: “Vejo-me
empurrado pelo motor das musas (terrestres) inquietantes” (MENDES,
1994, p.46)
1 AS MUSAS
1100
consegue superar os limites determinados pela espaço-temporalidade
ordinária e material e ir além do mundo sensível.
1101
No poema “A musa”, de Tempo e Eternidade (1934), podemos
observar a grande importância e o significado que a musa recebe em
sua poesia. É por meio da musa que o poeta estabelece um diálogo com
Deus, como uma espécie de ponte que permite a comunicação entre o
plano terreno e o plano divino. É ela que inspira o eu lírico instigando a
sua criação para a “verdadeira” poesia, associada ao eterno/divino. A
musa é capaz de representar o que há por vir, afinal um dos poderes
concedidos a esta entidade mitológica é justamente o de conhecer a
totalidade do tempo: o passado o presente e o futuro. Ela tem a
capacidade, própria do mito, de organizar o caos presente em um
cosmo futuro. Este é um atributo importante que aproxima a literatura do
mito: a transformação do caos em cosmos, o que pode ser considerado
a própria essência do mito.
1102
não conseguiria exprimir seus movimentos interiores. É a musa que
propicia o direcionamento do poeta para o infinito. A musa recebe um
caráter orientador dos poetas futuros, que o eu lírico diz querer, em um
futuro, ao receber poderes sobre-humanos de Deus, fazê-la de uma
constelação que servirá de referência, de um guia para a criação
poética. Como aponta Fábio Andrade: “A musa é o guia, sugestão da
afetividade como caminho pelo qual o poeta deixa ou se distancia, se
furta ao controle do tempo dividido e tumultuado da história,
preservando a possibilidade de uma nova ordem.” (ANDRADE, 1997,
p.46) Dessa maneira, a musa é uma entidade mitológica imprescindível
para capacitar o poeta a alcançar a elevação a mundos e ordens
superiores.
1103
problemática religiosa redimensionada e seus temas bíblicos. A mulher é
representada como um ser mítico, pelo qual incide toda uma
cosmogonia. A musa assume um sentido erótico, da criação do mundo,
como podemos ver no poema “Jandira” em que também notamos a
metamorfose da poesia em mulher.
1104
Não caía nem um fio,
Nem ela os aparava.
E sua boca era um disco vermelho
Tal qual um sol mirim.
Em roda do cheiro de Jandira
A família andava tonta.
As visitas tropeçavam nas conversações
Por causa de Jandira.
E um padre na missa
Esqueceu de fazer o sinal da cruz por causa de Jandira.
E Jandira se casou.
E seu corpo inaugurou um vida nova,
Apareceram ritmos que estavam de reserva,
Combinações de movimento entre as ancas e os seios.
À sombra do seu corpo nasceram quatro meninas que
repetem
As formas e os sestros de Jandira desde o princípio do tempo
E o marido de Jandira
Morreu na epidemia de gripe espanhola.
E Jandira cobriu a sepultura com os cabelos dela.
Desde o terceiro dia o marido
Fez um grande esforço para ressuscitar:
Não se conforma, no quarto escuro onde está,
Que Jandira viva sozinha,
Que os seios, a cabeleira dela transtornem a cidade
E que ele fique ali à toa.
E as filhas de Jandira
Inda parecem mais velhas do que ela.
E Jandira não morre,
Espera que os clarins do juízo final
Venham chamar seu corpo,
Mas eles não vêm.
E mesmo que venham, o corpo de Jandira
Ressuscitará inda mais belo, mais ágil e transparente.
(MENDES, 1994, p.202)
1105
pois não tem idade, ocupa todos os tempos e espaços e pertence ao
tempo dos primórdios, iniciado por seus seios, revelando a criação do
mundo através do elemento erótico e materno. De acordo com Nóbrega,
esse erotismo latente no poema, “força universal de atração que
possibilita a união entre os seres” – versão hesiodiana do mito de Eros, se
liga:
1106
descomunal representação da musa do poeta no espaço ocupado por
signos do mundo tecnológico moderno, associados a uma escatologia
cristã-apocalíptica, “dá a medida da originalidade com que Murilo
Mendes irá utilizar por causa própria, durante a fase mais marcante da
sua produção poética, as virtualidades da interpenetração espacio-
temporal que, de Joyce a Picasso, de Eliot a Stravinsky, funda as poéticas
da modernidade.” (PAES, 1997, p.173) Para o crítico, a singularidade das
metáforas forjadas por Murilo Mendes, que podemos observar nesse
poema, como também nos livros posteriores do poeta, como o exemplar
As Metamorfoses, se dá pela “inversão do trajeto normal da metáfora, a
qual, em vez de ir buscar ao mundo natural ou cósmico, como de hábito,
símiles para exprimir aspectos do mundo humano (‘teus olhos são duas
estrelas’), toma destes símiles para exprimir aspectos daquele.” (PAES,
1997, p.176). Dessa maneira, as inversões feitas pelo poeta moderno, para
criar suas metáforas inusitadas, lembram bastante as metáforas
elaboradas pela poesia barroca. Em que “uma e outra têm predileção
pelos efeitos de surpresa, e os conseguem pelo recurso ao caráter
hiperbólico das metáforas de trajeto invertido, que aproximam ‘por uma
espécie de intrusão, realidades naturalmente distanciadas dentro do
contraste e da descontinuidade’” (PAES, 1997, p. 176).
1107
Em A poesia em pânico (1936-1937), livro que adensa ainda mais a
experiência do poeta com o surrealismo, a representação da “Musa das
musas” pode ser vista no poema “Igreja mulher”, em que a relação entre
religião e a experiência erótica com a musa aparece de maneira efetiva.
Nesse sentido, a aproximação do eu lírico com o sagrado se dará através
do corpo, como manifestação de sua experiência religiosa, pela união
do espiritual com o carnal. De acordo com Davi Arrigucci Jr., Murilo
Mendes pratica um catolicismo singular – encarnado na vida cotidiana –,
que se caracteriza por conglomerar a “carnalidade erótica” à
espiritualidade, “formando uma estranha aliança entre religiosidade e
materialismo que desconcerta crédulos e ateus quando explode em sua
poesia, embora fizesse parte, sem qualquer arrepio, da doutrina de
Ismael, para quem não havia incompatibilidade alguma entre sexo e
espírito religioso.” (ARRIGUCCI JR., 2000, p.111).
1108
Que um dia me absolverá
Na sua ternura totalitária e cruel. (MENDES, 1994, p. 329)
1109
lírico é um ser mutilado, como é mimetizado em seu poema, elaborado
por meio da justaposição de imagens díspares, recriando um mundo de
maneira a poder sobreviver.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1110
temporalidade ordinária e material e ir além do mundo sensível. A musa
também está associada aos atos ligados à criação: inventar, medir,
refletir, cuidar. É através da memória, que a unidade é revelada. Nela,
presente, passado e futuro se fundem. No momento em que o poeta é
possuído pelas musas, ele absorve o conhecimento de Mnemosine, dessa
maneira, ele obtém todo conhecimento expresso pelas genealogias,
atingindo o ser em toda a sua profundidade. É a descoberta da origem,
do movimento primordial: a gênese dos deuses, o nascimento da
humanidade, o surgimento do cosmos. Esse poder ontofânico é
evidenciado na experiência poética muriliana quando o poeta funda
uma realidade própria, um mundo próprio.
REFERÊNCIAS
LUCAS, Fábio. Murilo Mendes: poeta e prosador. São Paulo: EDUC, 2001.
1111
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/graphos/article/download/945
3/5106/. Acesso em: 05-03-2021.
1112
O USO DE ELEMENTOS DE TEXTUALIDADE NA PRODUÇÃO
ESCRITA DE ALUNOS DO PROJETO DE EXTENSÃO “LETRAMENTOS
ACADÊMICOS”
1113
INTRODUÇÃO
1114
conseguir acompanhar as discussões em sala de aula ou por não produzir
um texto de qualidade, conforme sugerido pelos professores.
1 REFERENCIAL TEÓRICO
1115
textualidade. Para isso, faremos uma breve abordagem histórica sobre a
área de estudo.
1116
A coesão é uma espécie de ligação coerente entre as partes de
um texto, produzida por uma escolha correta de operadores textuais.
Para Koch (2014), esse elemento funciona como um conector entre frases
e parágrafos e tem como função agir, juntamente com a coerência,
dando sentido amplo ao texto.
1117
A situacionalidade, por sua vez, é a adequação da manifestação
linguística a uma situação comunicativa do texto e está relacionada ao
contexto, sempre se referindo ao fato de relacionar o evento textual à
situação comunicativa. Koch e Travaglia (2015) apontam que a situação
ajuda a direcionar o sentido do discurso, tanto em sua produção como
também em seu entendimento.
1118
2 METODOLOGIA
1119
atividades desenvolvidas no projeto foram realizadas através de oficinas
organizadas da seguinte forma:
1120
No decorrer das oficinas foram aplicados aos participantes
questionários que foram preenchidos através do google formulário, um
desses questionários teve o intuito de fazer um levantamento
socioeconômico dos estudantes, tendo em vista que uma boa produção
escrita não requer do estudante só saber escrever e interpretar textos,
mas é necessário ele tenha um espaço e condições apropriadas para
que isso ocorra.
1121
No mês de setembro do mesmo ano foi solicitado que fizessem
uma resenha crítica do texto-base "Celebração a Santiago numa
comunidade negra da Amazônia" de Marilucia Barros de Oliveira.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
1122
tema exposto, permitindo que a ideia central do texto ficasse
visivelmente claro para o leitor, acarretando também uma boa
aceitabilidade de seu texto. No entanto, segue alguns exemplos em que
houve equívocos na escrita do colaborador.
1123
em sua produção para convencer o leitor de seu ponto de vista e de seus
argumentos a respeito do tema abordado. Observa-se que a
informatividade está fortemente presente em sua produção, pois há
informações importantes veiculadas no texto que levam o leitor a uma
compreensão necessária do contexto histórico e cultural do tema. É
necessário evidenciar que a produção do colaborador 2 apresenta o uso
adequado dos elementos de textualidade, pois seu texto está bem
desenvolvido, trazendo ideias de forma linear, fazendo com que o leitor
compreenda a ideia central, gerando, assim, coesão e coerência de sua
produção.
1124
2, podemos identificar a falta de pontuação, fato este que também é
encontrado em outras partes do texto. Seguindo a observação, nota-se
que a forma como as duas palavras foram escritas está inadequada, pois
estão escritas “tabelas explicativa”, acarretando, assim, problema de
concordância nominal, em que a norma padrão da língua sugere o uso
das duas palavras no plural.
1125
quem o ler. Também foi observado que o colaborador tem um domínio
no que se diz respeito às normas exigidas pela ABNT. No entanto, no que
se refere à coesão textual, apresentou bastante dificuldade na
organização de suas ideias, tornando vários trechos de sua produção
incoerentes. A seguir, temos dois trechos em que foram encontrados
esses equívocos.
1126
outro, havendo, assim, a falta de coesão e coerência, uma vez que
houve uma ligação coerente entre as partes do texto.
1127
estudantes. A maioria dos textos analisados possui os elementos de
textualidade, principalmente a intencionalidade. Todavia, a maior
dificuldade encontrada foi em relação à coesão textual, pois foram
encontrados muitos conectivos e palavras usadas inadequadamente, o
que pode ser uma consequência da falta de prática de escrita e leitura
nas séries anteriores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1128
AGRADECIMENTOS
À minha tia do coração e mentora, Odete Dias, pelo carinho e apoio nos
momentos de angústia.
REFERÊNCIAS
1129
KOCH, I. O texto e a construção dos sentidos. 10. ed. São Paulo: Contexto,
2014.
KOCH, I.; TRAVAGLIA, L. A coerência textual. 18. ed. São Paulo: Contexto,
2015.
1130
O RACISMO E O LUCRO NO DISCURSO MIDIÁTICO: UMA
INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENUNCIADO “ARBEIT MACHT FREI” EM
CAMISAS DE LOJAS VIRTUAIS
RESUMO: Esta pesquisa tem como objeto discursivo três anúncios de lojas virtuais que,
obedecendo a uma lógica antissemita e mercantil de oferta/demanda, comercializam
camisas com o enunciado Arbeit Macht Frei (O trabalho liberta) e suas variações. Tendo
essas palavras como escopo, o objetivo geral é analisar o horizonte ideológico
manifesto nas camisas dos anúncios, observando-se reflexos e refrações de sentidos em
cruzamento com vozes sociais que também (per)correm esses produtos. A partir daí,
através do contrato de comunicação firmado na situação de troca das instâncias
produtora e receptora, busca-se, especificamente, 1) verificar os dados externos no que
compete a condições de identidade, finalidade, propósito e dispositivo; e 2) examinar
os dados internos no que tange à locução, à relação e à tematização. A justificativa da
presente pesquisa se consagra no compromisso com o combate de manifestações
racistas, discriminatórias e intolerantes, inspirando-se nos valores dos direitos humanos
da Declaração de Durban (2001). A metodologia se fundamenta na interlocução
teórica entre os postulados de Bakhtin (2018), Medviédev (2016), Volóchinov (2018) e
Charaudeau (2010), havendo como procedimento metodológico, com efeito, a
seleção de três anúncios provenientes das lojas Koszulkolandia, Teesbuys e Ebay. Os
resultados permitem concluir que os três enunciados-anúncios estruturam um discurso
midiático que, imbricando instâncias de produção e recepção, reflete e refrata
semanticamente posicionamentos antissemitas. Nesse horizonte ideológico, o
enunciado Arbeit Macht Frei põe em diálogo vozes (neo)nazistas que, em um coro de
condenação e hostilidade, acentuam ecos da política segregacionista dos campos de
concentração poloneses.
Palavras-chave: Arbeit Macht Frei, Camisas de lojas virtuais, Discurso das mídias,
Contrato de comunicação, Horizonte ideológico.
1131
INTRODUÇÃO
1132
planeta. A segunda é a teórica ao passo que tenta preencher uma
lacuna bibliográfica em nichos brasileiros de pesquisa a respeito do
enunciado circunscrito no arco de ferro da entrada de campos de
concentração, o trabalho liberta.
1133
os caminhos metodológicos e a abordagem adotada nesta pesquisa. Em
seguida, parte-se para o referencial teórico no qual se expõe as principais
discussões teóricas, construindo a linha de raciocínio deste artigo. Após,
chega-se finalmente aos resultados sistematizando-se a análise dos três
anúncios antissemitas.
1 METODOLOGIA
1134
retrospectivo – contextos do passado, movimento prospectivo –
antecipação (e início) do futuro contexto”.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1135
Mas esse filósofo da linguagem vai mais além, pois (d)escreve que os
fenômenos ideológicos superam suas particularidades existenciais
refletindo e refratando realidades, visto que o signo, compreendido
metaforicamente como uma arena, é acompanhado por vários
horizontes ideológicos (VOLÓCHINOV, 2018). Isto é, o signo é,
dialeticamente, palco para embates de vozes sociais nas/pelas quais os
sentidos são multidirecionados. Basta observar, portanto, o signo gestual
romano imposto na Alemanha Nazista para saudar Adolf Hitler, não se
tratando tão somente de um levantar de mãos, mas, para os nazistas, a
fidelidade ao líder e, para os opositores ao regime, o autoritarismo.
O signo, com novo sentido a cada vez que enunciado, não pode
ser separado de sua base material no processo concreto de
comunicação discursiva. Nessa perspectiva, é correto afirmar que os
fenômenos ideológicos sígnicos transitam em distintos gêneros discursivos
de esferas de atuação humana (política, economia, literatura, linguística,
educação, midiática).
1136
obedecendo a lógicas econômica e simbólica (e ideológica,
bakhtinianamente falando), esse contrato comunicacional consiste em
considerar restrições e circunstâncias sociológicas e discursivas. Em
relação aos dados externos, pode-se pensar na condição de identidade,
finalidade, propósito e dispositivo (CHARAUDEAU, 2010). No que compete
aos dados internos, pode-se refletir sobre a locução, relação e
tematização (CHARAUDEAU, 2010).
1137
predefinidos pela situação de troca (CHARAUDEAU, 2010). Assim, o sujeito
falante posiciona-se em relação ao tema proposto pelo contrato
(aceitando, recusando), optando por modos de intervenção (retomada,
continuidade) e um modo de organização discursiva particular
(descritivo, narrativo, argumentativo) (CHARAUDEAU, 2010).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1138
são mortos, deportados e explorados em guetos. O segundo momento
tem seu nascedouro com os primeiros passos do plano Reinhardt,
havendo a deportação em massa de judeus para campos de
concentração (MĘDYKOWSKI, 2018). Nesse tempo, os judeus eram
separados em duas filas: uma replete daqueles que poderiam trabalhar;
outra com aqueles que não o fariam/podiam, indo direito para as
câmaras de gás (EVANS, 2012; MĘDYKOWSKI, 2018).
1139
O segundo campo de extermínio foi construído perto de Sobibor,
onde inclusive havia um campo de trabalho forçado para mulheres
judias, dando continuidade aquele segundo momento descrito por
Mędykowski (2018). Nessa zona de morte, tal como em Bełżec, havia um
espaço de administração e, ainda, de recepção com um ramal
ferroviário. Naquele contexto, os membros da SS treinavam cachorros
para atacarem os judeus completamente nus, além, é evidente, de
serem surrados (EVANS, 2012). Até 1943, 250.000 judeus foram mortos
(EVANS, 2012).
1140
tentativa de golpe, viu-se um homem com uma camisa com o
enunciado Camp Auschwitz Work Brings Freedom (Campo de Auschwitz,
O trabalho traz liberdade). Durante a investigação da presente pesquisa,
verificou-se que existem lojas que vendem a mesma camisa usada pelo
(neo)nazista na invasão do Capitólio, baluarte Poder Legislativo Federal.
Fonte: Koszulkolandia
1141
qualidade é uma das mais elevadas do mercado”, já que o material é
“durável, muito bom”. As camisas “são feitas de algodão de alta
qualidade – sua composição é 100% algodão”, pois “Nossas camisetas
não tingem na lavagem. A impressão é feita de forma profissional, o que
garante excelente qualidade, longevidade e resistência ao desgaste”.
As camisas são oferecidas com as cores branco, preto, castanho, azul,
verde, vermelho, amarelo e laranja do tamanho pequeno ao grande.
1142
Figura 2 – Camisa antissemita
Fonte: Teesbuys
1143
lavagens, como acontece com algumas das outras”, distinguindo-se do
que já há no mercado de roupas. O que, através do contrato, instaura
um diálogo entre vozes consumidoras (neo)nazistas que possuem o
extermínio de judeus como vislumbre de seus valores.
Fonte: Ebay
Nesse caso, tem-se uma camisa da loja Ebay que custa € 13,00. A
loja assevera que usam “apenas produtos de qualidade”, possuindo
“excelente capacidade de carga e resistência à lavagem” com um
produto que é “ecologicamente inofensivo”. A camisa é oferecida nas
cores azul, preto e branco do tamanho pequeno ao maior. Percebe-se
assim que, na formulação do contrato comunicacional com a instância
receptora (público), a instância produtora (loja) introduz como temas a
qualidade do produto, a resistência à lavagem e o fato de ser
ecologicamente inofensivo.
1144
camisa, mas de um produto que tem uma potencialidade para ser usado
em manifestações (neo)nazistas neste tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1145
No término desta pesquisa, denunciou-se à Safernet as três lojas
virtuais devido aos seus produtores serem uma manifestação
(neo)nazista, que, inclusive, acentua a pan(neo)nazificação cultural,
estética e midiática já explanada.
REFERÊNCIAS
1146
A DISCIPLINA DE LITERATURA MARANHENSE NA GRADUAÇÃO:
MEMÓRIAS E EXPERIÊNCIAS DE ESTUDANTES NO ENSINO
REMOTO
RESUMO: O ensino de literatura constitui uma das práticas indispensáveis aos docentes
licenciados em letras, responsáveis por estimular o exercício da leitura literária e por
mediar conhecimentos a respeito da produção literária universal, nacional e regional,
propiciando aos estudantes um conjunto de experiências e aprendizados a respeito da
arte literária. Nos cursos de graduação em letras, os profissionais em formação possuem
amplas possibilidades de conhecer e discutir sobre saberes relativos às suas futuras
práticas, e nas aulas de literatura, o espaço é também de reflexão sobre como essa
arte tem poder de sensibilizar e humanizar, sendo, portanto, essencial à formação
humana. Nesse sentido, as literaturas produzidas em regiões específicas do Brasil, como
é o caso da literatura maranhense, também são importantes instrumentos de
conhecimento histórico e cultural da região, portanto, também devem fazer parte do
currículo, no contexto da formação de professores de línguas. A presente pesquisa
objetivou relatar as experiências com a disciplina de literatura maranhense, no curso de
Letras da UEMA, através da perspectiva de discentes que a cursaram em 2020.2, de
forma remota, por conta da pandemia do novo coronavírus. Quanto à metodologia, o
artigo consistem num relato de experiência e tem procedimentos bibliográficos. O
instrumento de coleta dos dados expostos, foram memoriais produzidos pelos discentes,
os quais resultaram da última avaliação da disciplina. No contexto do ensino remoto,
mesmo as universidades e os cursos de graduação precisaram se reinventar, e, o que a
experiência durante um semestre de aulas de literatura em formato remoto revelou, foi
que o ensino-aprendizagem pode acontecer de forma satisfatória,
independentemente da distância geográfica, e isso depende principalmente da
aproximação dos discentes com o curso e com a disciplina em questão. Em relação ao
caso que esse trabalho investigou, o uso da tecnologia foi fundamental para que as
aulas acontecessem, e a motivação dos estudantes foi um aspecto bastante relevante
para o êxito da turma para com a disciplina de literatura maranhense.
1147
INTRODUÇÃO
1148
contexto de transformações, o qual exige novas experiências e reflexões
sobre a literatura, seja em relação aos textos ou ao ensino, que, cada vez
mais, vem sendo mediado e envolvido pelas tecnologias. A literatura
digital, por exemplo, já é uma realidade. E mesmo a escrita literária que
é vinculada à tradição, objeto de leitura e ensino nas escolas, vem cada
vez mais dialogando com o contexto das tecnologias.
1149
Assim, foi graças ao auxílio das tecnologias que a educação
continuou acontecendo, quando professores, alunos e demais
profissionais da educação precisaram reinventar suas práticas, seus
cotidianos, e com o auxílio da internet, de ambientes de aprendizagem
virtuais e de uma grande variedade de outros recursos, continuarem
ensinando e aprendendo. A literatura, então, foi objeto de discussão de
professores e alunos, através do universo da internet e do ensino mediado
por tecnologias, dando continuidade a um trabalho iniciado nas escolas
e no espaço da sala de aula física, que agora fora expandido. Por meio
da necessidade de distanciamento físico e geográfico, decorrente do
perigo de contaminação pelo novo corona vírus, através da indicação
de distanciamento social, pela OMS, o ensino remoto foi o meio
encontrado para que as instituições de ensino prosseguissem com suas
atividades.
1150
1 A FORMAÇÃO PARA O ENSINO DE LITERATURA, NOS CURSOS DE
LICENIATURA EM LETRAS
1151
A preocupação com a formação do professor de literatura, uma
questão ainda atual, mas já que existe a bastante tempo, nos revela a
necessidade de
1152
denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de
vivermos dialeticamente os problemas (CANDIDO, 1989, p. 113).
1153
Justamente aí, parece-me, está o ponto mais grave do
problema. Apesar das insuficiências dos alunos, altamente
imaturos e despreparados, continuam os professores a organizar
e ministrar seus cursos de graduação como se tivessem diante
de si alunos ideais, ou, ao menos, com alguma leitura, quando
não são raros os que chegam à faculdade sem nunca terem lido
uma obra literária sequer, como se deduz do questionário. (LINS,
1977, p. 82)
2 O ENSINO REMOTO
1154
do mundo, diante da pandemia no novo corona vírus. O adjetivo remoto,
que caracteriza essa modalidade de ensino, sugere a ideia de
distanciamento geográfico. Na educação, o ensino remoto é uma
opção, especialmente quando nos encontramos diante de um
acontecimento imprevisto, e que por conta deste, os indivíduos são
impossibilitados de se encontrarem presencialmente no mesmo espaço.
De acordo com Moreira e Schlemmer (2020), através do ensino remoto,
o ensino presencial é levado para os ambientes digitais em rede.
1155
de forma significativa. Esse é, inclusive, um dos pontos que muito de
discute atualmente, principalmente diante do crescente espaço que a
Educação a distância (EaD) vem assumindo em nossa sociedade.
3 METODOLOGIA
1156
o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos. Consiste num relato de experiência, o que
constitui uma pesquisa participante que, segundo Kauark, Manhães e
Souza (2010, p. 29) “se desenvolve a partir da interação entre
pesquisadores e membros das situações investigadas”.
1157
que ela aconteceu, que em alguns textos é mencionado. Os estudantes,
em suas falas, serão nomeados através de letras do alfabeto, para que
assim suas identidades permaneçam em sigilo. Inicio por destacar a fala
de uma estudante sobre o curso de letras, que em seu relato, diz:
1158
O depoimento demonstra satisfação em relação à aprendizagem
e ao conhecimento sobre a literatura maranhense, seus autores e obras,
bem como a suficiência das discussões levantadas em meio às aulas
remotas, assim, os conteúdos não ficaram pelo meio do caminho e foram
percebidos com a mesma importância que teriam, caso ministrados de
forma presencial. A estudante enfatiza, ainda, a participação e sua
relevância para a construção em conjunto do conhecimento. Os relatos
de outra participante da disciplina, dialogam com os apresentados pela
estudante A, e acrescenta que os conteúdos foram transmitidos de forma
clara. A intitulada estudante B, diz que “as aulas foram bem produtivas,
realizamos atividades diversas como provas e seminários. Todas as aulas
foram transmitidas de forma clara e precisa, e contribuíram para a
construção dos conhecimentos e com a nossa jornada acadêmica”
(ESTUDANTE B, 2021).
1159
Esse foi um dos casos em que ficou evidenciado dificuldades em
relação ao ensino remoto, em decorrência principalmente de questões
inerentes a aluna em questão. Mesmo citando seus esforços, bem como
os do professor, reconhece que poderia ter aproveitado mais, assim,
obtendo maior rendimento. Avalia, ainda, que o ensino presencial tem
suas vantagens em relação ao aprendizado e à transmissão dos
conteúdos da disciplina. Cabe lembrar que o ensino remoto foi
autorizado pela portaria n° 544 de 16 de junho de 2020, quem em seu art.
1° expõe o caráter excepcional e autoriza a substituição das disciplinas
presenciais, por aulas remotas que utilizem tecnologias digitais e de
comunicação seguindo limites da legislação em vigor (BRASIL, 2020).
Logo, o caráter excepcional do ensino remoto é declarado, sendo a
opção, enquanto durar a pandemia, pelo menos até segunda ordem,
para que as atividades de ensino continuem acontecendo.
1160
A disciplina foi de fato uma coisa nova para a nossa vida como
acadêmicos, porque até o presente período não tínhamos tido
um contato tão próximo com a literatura e os conteúdos que
foram abordados nas aulas. Foi uma ótima experiência,
pudemos aprender sobre assuntos e temáticas incríveis, que são
fundamentais para o nosso desenvolvimento e aprendizagem
enquanto futuros docentes (ESTUDANTE E, 2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1161
depende principalmente da aproximação dos discentes com o curso e
com a disciplina em questão.
REFERÊNCIAS
1162
KAUARK, Fabiana; MANHÃES, Fernanda Castro; SOUZA, Carlos Henrique
Medeiros de. Metodologia da pesquisa: um guia prático. Itabuna, BA: Via
Litterarum, 2010.
1163
RIOS DE MEMÓRIAS EM OLHOS D’ÁGUA
INTRODUÇÃO
1164
descendência atrelada às amarras escravocratas e coloniais. Os quinze
contos que compõem o volume datam de 2014 e referem-se às mazelas
da vida cotidiana metropolitana acirradas pelas violências raciais e de
gênero. Os enredos versam sobre as histórias de mulheres trabalhadoras,
mães e, na maior parte das vezes, as únicas responsáveis pelos seus
destinos. Suas raízes ancestrais de vigor e resistência deflagram um
passado recuperado por meio das memórias como símbolos de força da
terra da qual os povos africanos foram arrancados (FANON, 2005). E as
personagens reverberam esse grito ancestral frente aos infortúnios
opressores.
1165
aludem a uma ideia de branqueamento e negacionismos crescentes na
atualidade.
1166
Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por
isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de
minha mãe era cor de olhos d’água. Águas de Mamãe Oxum!
Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla
a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum.
Abracei a mãe, encostei meu rosto no dela e pedi proteção.
Senti as lágrimas delas se misturarem às minhas. Hoje, quando já
alcancei a cor dos olhos de minha mãe, tento descobrir a cor
dos olhos de minha filha. Faço a brincadeira em que os olhos de
uma se tornam o espelho para os olhos da outra (EVARISTO, 2018,
p. 19, grifos meus).
1167
No segundo conto, Ana Davenga, em narrativa potente
permeada por “gozo-pranto” do início ao fim, a vida da protagonista
homônima ao título destolda-se. Isso acontece em momentos que
rapidamente alternam alegria e tristeza extremas diante da descoberta
de que seu companheiro era o motor do paradoxo que passou a reger
sua existência entre céu e inferno concomitantes. E dessas constatações
originou-se a resignação com que ela aceitou a sina que pensava ser
somente sua e, na verdade, pertencia a ambos, duas existências
vitimadas às dores e lágrimas:
1168
hereditários, as sinas e as repetições de fatalidades aparecem operando
como obstáculos às existências desses corpos considerados dissidentes e
extermináveis por uma sociedade embrutecida e esquecida de seu
passado.
Tudo foi tão rápido, tão breve, Maria tinha saudades de seu ex-
homem. Por que estavam fazendo isto com ela? O homem
havia segredado um abraço, um beijo, um carinho no filho. Ela
precisava chegar em casa para transmitir o recado. Estavam
todos armados com facas a laser que cortam até a vida.
Quando o ônibus esvaziou, quando chegou a polícia, o corpo
da mulher estava todo dilacerado, todo pisoteado (EVARISTO,
2018, p. 44).
1169
universo materno e questionando os lugares da mãe, da barriga ou do
feto. Tríade estranha entre si durante toda narrativa:
1170
não denunciava as quase cinco décadas que já havia vivido. As marcas
no rosto [...] mentiam descaradamente sobre a sua idade (EVARISTO,
2018, p. 63).
1171
forçado a trabalhar na insegurança das ruas em ciclos de miséria e
exclusão: “Di Lixão achava que a história da mãe do outro devia parecer
com a da sua mãe” (EVARISTO, 2018, p. 84).
1172
para sempre perdido na implacável constatação histórica do
irremediável ou irrecuperável, apesar dos movimentos de retomada das
memórias. A dilapidação identitária empreendida pelo processo de
colonização surpreende os trajetos cotidianos ainda muito vinculados a
uma formação histórica violenta que persiste disseminando o horror.
3 O RACISMO COTIDIANO
1173
África retorna continuamente em lágrimas e clamores ancestrais a fim de
demonstrar que não se calarão frente aos golpes históricos que, como
narrativas oficiais, contrariam o levante das vozes e existências
silenciadas e subalternizadas.
1174
A subalternidade a que são submetidas as diversas subjetividades
femininas na obra de Conceição Evaristo manifesta-se em Olhos d´água
e vai ao encontro das preocupações da autora em narrar as agruras
vividas pelas mulheres submetidas a uma sobreposição de opressões. A
temática então estende-se para uma estética que proporciona a
emersão de epistemologias insurgentes contra vozes, poderes e saberes
continuamente silenciados (SPIVAK, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1175
escrevivências atentas da escritora Conceição Evaristo, já consagrada
como uma das maiores vozes da Literatura brasileira contemporânea.
REFERÊNCIAS
Hucitec, 1999.
2008.
2005.
1176
GONZÁLEZ, Lélia. “Democracia racial? Nada disso!”. In: RIOS, Flavia; LIMA,
Márcia (Orgs.) Por um feminismo afrolatino-americano: ensaios,
intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
1177
MEMES E CIÊNCIA: UMA INVESTIGAÇÃO HODIERNA - RECORTE
LINGUÍSTICO
RESUMO: Este artigo objetiva analisar e estudar os memes sob suas perspectivas
multimodais, utilizando conceitos das concepções biológicas; linguísticas; tecnológicas
e gerais do tema. Há a pretensão de analisar os memes sob estas perspectivas,
pautando-se principalmente sob a ótica de Algirdas Julien Greimas, Charles Sanders
Peirce e Richard Dawkins. Busca-se investigar e compreender os fenômenos
provenientes da internet e observar, pois, usos dos memes para auxílio em outras áreas,
resultante das perspectivas mencionadas. O artigo demonstra questões pertinentes
sobre os memes e a memética que é a ciência que compreende os memes com a visão
científica, porém, hodiernamente pautando-se nos meios multissemióticos e virtuais.
INTRODUÇÃO
1178
tecnológicos. Para que fosse possível a realização do artigo, utilizou-se
revisão bibliográfica de livros e artigos sobre o tema, e também de temas
correlatos. Destarte, a princípio, o primeiro meme foi concebido em 1921,
com a publicação da revista Judge Magazine. Richard Dawkins, na obra
O gene egoísta (1972), utilizou o termo meme, a princípio como parte do
estudo genético, memes para Dawkins, são reprodutores, fazem o
processo de replicação da cultura. Sendo assim, os memes por meio da
internet são tidos como reprodutores culturais, assim como nos estudos
genéticos, pois seguem uma estrutura equivalente e tem o mesmo
princípio: se replicar. Nas redes sociais, os memes sofrem alguns processos
para que sejam replicados, um dos fenômenos presentes é o da
viralização, pelas quais o objeto é replicado para grupos seletos por meio
dos princípios do lugar que foi postado. Os memes, sob essa ótica, podem
ser objetos de grande valor para a replicação de conteúdos e
informações de grande relevância, isso para usos convencionais ou não.
Por este conceito, os memes sob as duas óticas podem e devem ser
analisados totalmente, isso pela ótica da genética ou da semiótica. Para
que haja essa análise, é preciso saber o contexto, partes que compõem
o meme, legendas, cores e formas. A semiótica de Charles Sanders Peirce,
é um conceito elaborado por tríades, pelo autor, que concerne o signo
sob todos os seus aspectos, sendo assim, o uso dessa forma de análise,
aplicado aos memes da internet, é de grande relevância para haver a
compreensão totalizada sobre o objeto. Algirdas Julius Greimas, como
leitura complementar do artigo, realiza análises do signo sobre
quadrados semióticos, sendo assim, o autor utiliza de dualidades para
obter a significação do signo, além de seu contexto e corpus. Os memes
sob essa ótica, podem ser tidos como signos, ou questões multissemióticas
dos signos, pois representam não apenas a transmissão cultural
1179
demonstrada por Dawkins, mas transmissão de contextos, de sentimentos,
de cotidianos etc. Os memes sob a ótica geral, são transmissores e são
elementos que levam por si transmissões externas, DAWKINS (1972, p. 114)
diz que, “[...]Cada vez que um cientista ouve uma idéia e transmite-a a
outra pessoa ele provavelmente muda-a bastante.”, neste contexto, os
memes são transmitidos também de acordo com o enunciador para o
enunciatário, com isso observa-se que os memes, tanto da genética,
quanto da internet, mudam a cada vez que há a transmissão, por isso
concerne-se a falta de originalidade, pois de memes originais, estes se
replicam e as replicações nunca são iguais, sempre sofrem alguma
alteração. O autor conceitua, que: “Os memes estão sendo transmitidos
a você sob forma alterada.” (DAWKINS, 1972, p. 114), referindo-se a
transmissão dos genes, sendo assim, a transmissão dos memes em
quaisquer perspectivas, sempre será heterogênea.
1 METODOLOGIA
1180
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Texto retirado do artigo Memes e ciência: uma investigação hodierna, sob a autoria
182
1181
[...]um signo é tudo aquilo que está relacionado
com uma segunda coisa. Seu objeto, com respeito
a uma qualidade, de modo tal a trazer uma
terceira coisa, seu interpretante, para uma relação
com o mesmo objeto e de modo trazer uma quarta
para uma relação com aquele objeto na mesma
forma, ad infinitum. (PEIRCE, 2005, p. 37)
1182
diádicas(leis) existentes e os três grupos principais: primeiridade,
secundidade e terceiridade, representa-se como os subgrupos
mencionados e fazem mudanças entre si: lei, existência e possibilidade,
que podem intercalar-se ou apenas existirem de maneira única e sem
misturas.
1183
sequência lógica deve ser complementado com as dez relações
triádicas do signo e observado sob seus aspectos concretos, outra
relação que o autor determina em sua obra, são as tricotomias dos
argumentos, que possuem em suas relações, subdivisões das dez tríades
mencionadas, tem-se por si se há verdade nas deduções ou falsidades,
ou se são prováveis ou improváveis, a partir disso há induções e
verificações experimentais do signo, para isso o signo sofre uma
argumentação proveniente de amostras, e por fim, após as questões
determinadas pelo argumento, há uma predição geral, como determina
o autor como abdução. (p. 68). Um ícone, de acordo com o autor, é o
“[...]fato de fazer com que se assemelhem quantidades que mantêm
relações análogas com o problema” (p. 75). Infere-se que para ser um
ícone, o signo passa por uma relação triádica e lógica, na seguinte
sequência: ícone + índice = símbolo, ou quaisquer outras relações
triádicas, o autor propõe que essa relação triádica, relacione com
relações lógicas e fenomenológicas, para haver o signo de maneira
concreta.
1184
elementos citados acima, fazem parte dos dois grupos: hipotéticas
particulares negativas; hipotéticas universais afirmativas.(p. 105). Os
termos são repetitivos para os dois próximos grupos, porém, são melhores
elaboradas. Hipotéticas universais negativas; hipotéticas particulares
afirmativas; relações condicionais: em todo caso [aconteceria tal
fenômeno]; relações disjuntivas: em todo caso [ou] [ou]; relações
excludentes: em nenhum caso [tanto] [como]; relações independenciais:
pode [ocorrer algo] sem [ocorrer outra coisa]; relações terciais: pode ser
que nem [aconteça algo] nem [outra coisa]. Todas as razões hipotéticas
demonstradas, são caso que vão além do sintático, é estabelecido a
partir de proposições lógicas e ad argumentum. Para o autor, “os
substantivos são originariamente usados para denotar “perceptos de
sentido”, enquanto que orações hipotéticas são comumente usadas
para denotar situações que ás vezes ocorrem” (PEIRCE, 2005, p. 107). Para
Peirce, há tipos de predicado, sendo eles: a predicação analógica, pela
qual o sentido empregado é o sentido da razão; a predicação
denominativa: o ser é sujeito e é tomado como sujeito; predicação
dialética: resulta-se num argumento provável, irredutível e nada
antecedente. (p. 113); predicação direta: representa-se a extensão do
sujeito pertencente ao predicado. (p. 114); predicação essencial: o
predicado está contido totalmente na essência de sujeito; predicação
exercitada: distinção entre os tipos de predicado, porém exercida de
maneira essencial ou acidental; predicação formal: predicado no
conceito de sujeito; predicação natural - direta, indireta e idêntica -
indireta: sujeito relacionado ao predicado. direta: sujeito e predicado
relacionados com um terceiro elemento; idêntica: comparação entre os
sujeitos. Por essa ótica, infere-se que os tipos de sujeito e predicado, na
visão de Peirce, apesar de relacionada com o pensamento lógico da
1185
filosofia medieval e moderna, prossegue de maneiras explícitas na
linguagem e nas relações lógicas que existem em proposições,
vinculadas ao discurso, a fala e a escrita. (p. 115). A dedução e indução
neste sentido de sujeito enquanto ser concreto ou não, infere por tais
relações lógicas, podendo variar mediante contextos. O sujeito
enquanto ser composto ou simples, pode ser relacionado pela
predicação natural; já o sujeito desinencial, pode ser tido como parte
essencial da predicação formal. As predicações neste sentido mostram
variações para que se possa ter tido o genuíno contexto e uso destes
tipos de predicação, embora o fato de haver diversas predicações não
infiram ao sujeito de maneira tendenciosa. Para Algirdas Julien Greimas,
a representação visual cabe aos quadrados semióticos, neles contêm as
informações passíveis de análises e representações derradeiras de
antíteses, é um sistema lógico que determina fenômenos e possíveis
sentimentos por trás do objeto, porêm não se limita a estes conceitos.
Para haver um quadrado, é preciso haver linhas retas, ao menos quatro,
no esquema de greimas, todo início de linha que compõe o quadrado
deve possuir estas nomenclaturas (no sistema básico): s1; s2; -s1; -s2; num
primeiro esquema, o s1 e s2 seriam feminino e masculino, e o não-s1 e
não-s2 seriam a negação destes conceitos. Destas questões, podem
haver seis tipos de linhas: s1 - s2 = eixo contrário; -s1 - -s2 = eixo sub
contrário; s1 - -s1 = eixo positivo; s2 - -s2 = eixo negativo; s1 - -s2 = deixis
positiva; s2 - -s1 = deixis negativa. Todas essas relações, podem ser tidas
nas análises dos objetos, tendo em vista o que se contrapõe, há exemplos
de pinturas barrocas, em que se há a contraposição de luz e sombra;
vida e morte e outros conceitos; essas questões devem ser levadas em
consideração ao realizar as análises com base na semiótica grreimasiana.
Estes termos positivos, negativos e neutros (s e -s), são denominados por
1186
Greimas como termos sêmicos. De acordo com o autor, a noção
interpretante referente aos quadrados semióticos é tida a partir de a:
1187
s1(masculino - não medo) - s2(masculino - medo); por dentro deste
quadrado, seria retratado de maneira inferente ao quadrado, cortando
de ponta - a - ponta, retratando desta maneira: s - homem; -s - vida; s1 -
s2 = homem vivo; s2 - s1 = homem morto. A essência do conteúdo, seria
a temeridade do homem, mediante o contexto que seria descoberto de
acordo com informações complementares, tais como a data da obra, o
título, e o pintor, a partir disso se inferiria o contexto histórico, a época
literária e artística, além do estilo artístico, no caso do que foi escrito, seria
o barroco, época de antíteses, então infere-se que o contexto seria de
alguém que perde-se mediante sua crença em deus e a carnalidade,
deus seria o temor, enquanto a carnalidade seria o não-temor, sendo
assim as cores: preto, vermelho-escuro, demonstrariam primeiro: o preto
como a perdição, a falta de deus ou seja o não-s2, e o vermelho-escuro,
seria a carnalidade, em antítese com a ideia de deus. Todos estes
aspectos, aos serem analisados pela visão de Greimas, inferem algo além
das relações dos quadrados, pois o interpretante deve ter consciência
dos fatos históricos, literários, artísticos etc. 183
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1188
elaboradas análises a partir das tríades de dois memes, de cunho
linguístico, para relacionar ambas as teorias e além de confrontar,
observar as diferenças de ambos os sistemas. Para que haja de maneira
concreta essa questão da análise triádica, é preciso que haja de maneira
explícita a primeiridade, secundidade e terceiridade, os três elementos
serão aprofundados com subgrupos triádicos que irão se relacionar entre
si para compor como única análise, além disso, a relação triádica do
signo evidencia as questões de maior importância do objeto analisado.
1189
Tabela 1: análise do meme com base nas tríades.
1190
Imagem 2: meme sobre banca de TCC
1191
ou não, por isso o efeito de
espanto.
1192
Imagem 3: meme sobre fonética.
disponível em:
<http://anacrisprofessora.blogspot.com/2018/01/transformando-
conceitos-em-memes.html>, acesso em 22 dez. 2020.
1193
A antítese entre fome e não-fome, representado pela legenda, ironiza o
fato da fonética ser aberta a análises sociolinguísticas, por exemplo, pois
não infere como absoluta verdade a gramática, e sim as formas
pluralistas de se falar algo, por isso que na fonética há as diferenças entre
os fonemas: /ʧi/ e o /ti/ por exemplo, pois depende da fala do falante,
então pressupondo que seja esta a relação do meme, o termo: /’fome/
é a inferência fonética de /ba’Xiga/. As cores predominantes são:
branco; preto; castanho; rosa-amarelado (suave); e castanho-escuro. O
que preconiza uma relação de pacificidade do objeto principal: a
senhora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1194
viralização. Os memes, são ferramentas fundamentais para
compreender o funcionamento da internet, para responder a
questionamentos do porquê, por exemplo, correntes são extremamente
propagadas, e também para uso como ferramenta de auxílio
educacional, análise linguística e semiótica como determina a
BNCC(2018) e também de divulgação científica, tendo em vista a
linguagem coloquial e imagens chamativas que podem auxiliar o público
externo a compreender as informações de maneira rápida.
REFERÊNCIAS
1195
MORANGOS MOFADOS DE CAIO FERNANDO ABREU: UM
LEITURA PLURAL DAS IDENTIDADES DOS PROTAGONISTAS
INTRODUÇÃO
1196
1 METODOLOGIA
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1197
a evolução de sua consciência. Aos poucos essa identidade se firma no
indivíduo e torna-se uma característica que o particulariza. Hall (1992) nos
fala sobre isso, mostrando também que o tempo se encarrega de
solidificar tais identidades e que:
1198
Na segunda categoria, Hall (1992) evidencia o Sujeito Sociológico,
que reflete avariedade do mundo moderno e a consciência que ele não
é independente e detentor de todos os conhecimentos sobre o meio
externo, mas formado pela interação com o mundo social, que se refere
aos sujeitos que agregam intimidade nos ciclos de vida e que
representam relevância para aquele indivíduo.
Por fim, o Sujeito Pós Moderno definido como um sujeito que passa
por uma transformação contínua, devido às formas como são
representadas as identidades nos sistemas culturais, onde o sujeito possui
identidades diferentes em distintos momentos. Para esclarecer acerca
disso, lembra Hall (1992, p. 107):
1199
identificações estão sendo continuamente deslocadas. (HALL,
1992, p. 108).
1200
identidades que os sujeitos assumem e como se classificam cada uma
delas, passaremos ao item seguinte, realiza a análise dos três contos
selecionados e que traça um paralelo entre os apontamentos de Hall
(1992) e os personagens de Caio Fernando Abreu, em Morangos Mofados
(1982).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
1201
que cria um cenário imaginário, envolvente e sensual, cheio de desejos
e ideias para o encontro:
1202
relação entre o gênero com que se relaciona”, ou seja, um indivíduo
masculino busca uma referência em outro do mesmo gênero para assim
firmar-se como homossexual.”
1203
[...] porque ele me esperava, ele me chamava, eu só ia indo
porque ele me chamava, eu me atrevia, eu ia além daquele
ponto de estar parado (...) eu ia daquele jeito estranho de já ter
estado lá sem nunca ter, hesitava, mas ia indo, no meio da
cidade com um invisível fio saindo da cabeça dele até a minha.
(ABREU, 2005, p. 46-47).
1204
expectativas, toda uma fantasia íntima e que, muitas vezes, acabamos
por nos decepcionar.
1205
e ele. O descreve de maneira rica o encontro com seu parceiro, ao
mesmo tempo, nos mostra como os dois são recriminados pelos que ali se
encontravam. Embora o conto tenha um desfecho triste, retrata o que
na maioria das vezes acontece com indivíduos homossexuais que
expressam qualquer tipo de sentimento frente à sociedade. A narrativa
expõe também o prazer de ambos ao se encontrarem, como podemos
verificar no fragmento seguinte:
1206
vivenciaram olhando um para o outro, dos desejos, como vemos a seguir:
1207
Os personagens do conto em análise podem muito bem estar no
âmbito daquilo que Hall (1992) chamou de sujeito pós-moderno, pois
sentem-se livres para viver a atração mútua, demonstrando que eles não
comungam das ideias gerais da sociedade acerca da relação afetiva,
que a concebe como normal apenas para heterossexuais.
1208
Também é nesse conto em que a identidade dos personagens é
trabalhada de forma transparente. O interesse homossexual é tratado de
modo crítico, como se o narrador estivesse fazendo uma crítica sobre a
posição de masculinidade com a qual se comportam os jovens que
servem o exército, uma vez que a narração revela a primeira experiência
sexual de Hermes, jovem pertencente a um grupo que se alista no serviço
militar, e que tem como chefe o sargento Garcia.
- Hermes.
- Eu chamei Hermes. Quem é essa lorpa?
- Sou eu.
- Sou eu, meu sargento. Repita. (ABREU, 2005, p. 79).
1209
Mostrando-se superior e digno de todo respeito, Garcia faz pressão
nos jovens, e não por um acaso, escolhe coagir principalmente o tímido
Hermes, que via na figura do Sargento, um homem insuportável.
Analisava detidamente os seus traços:
1210
Em conformidade com Souza (2010, p. 55) “por um lado, a
identidade gay está sendo defendida ou rejeitada e, de outro, há uma
especificidade centrada no desejo homoerótico”. Ou seja, esse desejo
faz com que o personagem Garcia sinta-se atraído pelo jovem Hermes,
e queira vivenciar a prática sexual, transar e satisfazer sua fantasia com
o rapaz. Isso faz dele um sujeito em conflito, pós-moderno, fragmentado,
como nos diz Hall (1992): é o macho do exército que sente atração por
um garoto e consuma o ato sexual.
1211
Conversam sobre o quartel, a vida foradaquele ambiente: “Não parecia
mais um leão, nem general espartano. A voz macia era de um homem
comum, sentado na direção de seu carro.” (ABREU, 2005, p. 86).
Continuaram o percurso e Garcia indaga de Hermes se ele sentiu medo
dele quando o pressionou no quartel:
1212
O jovem permanece calado, mas Garcia não precisa da
afirmativa do garoto. O sargento fala: “Claro que quer. Estou vendo que
tu não quer outra coisa, guri” (ABREU, 2005, p 88). Neste momento, o
narrado Hermes nos mostra que não se assusta com a insinuação de
Garcia e nos conta o que acontece dentro do carro, antes de chegarem
ao destino em que o sargento o levará:
1213
gostando da sensação de ter um pênis dentro de si. Foi então que o
rapaz deitou-se novamente de bruços a espera de Garcia, que se jogou
por cima e continuou a estimulá-lo mais ainda. O personagem-narrador
conta que:
1214
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1215
sujeitos com inclinações homossexuais, essa identidade é fortemente
influenciada pelo comportamento que apresentam pelo meio que os
cerca e pela convivência com seus parceiros, como vimos nas narrativas
em análise.
REFERÊNCIAS
1216
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: o uso dos prazeres. Rio de
Janeiro: Edições Graal Ltda, 1985.
1217
TRANSPOSIÇÃO MIDIÁTICA: O AUTO DA COMPADECIDA DE
ARIANO SUASSUNA ADAPTADO PARA O CINEMA
INTRODUÇÃO
1218
duas literaturas. Apresentando novos olhares, procuraremos apontar
tópicos onde a adaptação se aproxima e se difere do romance físico a
fim de destacar e justificar nossos estudos embasados na Literatura
Comparada destacamos estudos que embasem tal discussão bem
como aproximar a teoria aqui proposta com o objeto em análise.
1 METODOLOGIA
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1219
como uma estrutura que faz parte do pensamento e da organização da
cultura. E comparar é um ato perceptível/presente em diferentes áreas
do conhecimento.
No entanto, no papel de crítico literário ao analisar uma obra, faz-
se necessário à relação de confronto entre obras de outros autores para
que se possa apresentar juízos de valores. Assim, para Carvalhal (2006), a
comparação é um meio de conferir se os objetos confrontados são iguais
ou diferentes.
De acordo com as postulações de Pichois & Rosseau apud Chervrel
(1997:9), a literatura comparada possibilita o enfoque de textos advindos
de diferentes épocas, de diferentes culturas. O que só destaca ainda
mais a importância de tal literatura e suas contribuição para o acervo
literário. Torna-se interessante destacar também as palavras de Carvalhal
(2006) sobre a proposta da literatura comparada, a qual pode guiar
pesquisas que englobam tal tema. A sugestão é a seguinte:
1220
A literatura comparada tem uma grande importância dentro do
contexto social, político, cultural e histórico, como já citamos, Carvalhal
(2006) ressalta que o comparativismo busca explicações para questões
literárias mais amplas, que exijam mais engajamento. Seu objetivo não é
tão/somente comparar obras.
Pois assim, buscará uma investigação de contextos diferentes.
Possibilitando a ampliação dos horizontes literários, estéticos. E torna tal
trabalho formidável, porque permite análise que contribuem para a visão
crítica literária dentro do contexto literário nacional.
Outro ponto interessante para destacar entre as comparações
feitas sobre os textos/obras em estudo é a relação invenção e imitação.
Como ocorre essa relação. Carvalhal (2006) destaca:
1221
2 RESULTADOS E DISCUSSÕES
1222
Com o surgimento dessa nova arte iniciam-se várias análises
quanto à relação da obra literária e sua adaptação. Destacando-se os
pontos que tornam essa relação tão grandiosa. Uma das questões que
merecem destaque dessa relação é a formação da imagem que é
mental na leitura de obra literária e no cinema a imagem está diante do
espectador.
Neste caso, não significa que ele não precise detalhá-la para total
entendimento. Por meio desse viés, Marcel Martins (2003) em “A
linguagem cinematográfica destaca:
1223
de Platão; A adaptação como perda; A concentração em textos
canônicos e o Pressuposto de origem única.
Entre as dez dificuldades encontradas destacamos a Adaptação
como cinema impuro; Adaptação como “usurpações de obras-primas
literárias e a adaptação como perda”. Alvaro Hattnher em Invertendo os
Vetores: filmes gerando literatura explicita a questão da Adaptação
como ‘cinema impuro’ que as adaptações para o cinema eram vistas
como impuras por serem opostos a uma dependência de suporte em
relação à literatura.
Em relação à Adaptação como “usurpações de obras-primas
literárias destaca que alguns autores achavam um ameaça a
literariedade em relação ao livro e sobre, e assim foram banidas dos
estudos literários a partir de 1992”.
No entanto o que se deve observar nas observações não é a
relação de “fidelidade”, mas a importância de produção em cada
contexto/meio. Quando fincamos o estudo na relação de fidelidade
podemos estar neutralizando elementos que diferencie uma obra da
outra.
Além do mais devemos observar quão grandioso é o trabalho que
o cineasta tem ao retratar o romance em obra fílmica. E os dilemas
enfrentados, já que muitas vezes ao tentar inovar causam consequências
diferentes das pretendidas. BAZIM (1991) destaca:
1224
É notório que haverá diferenças entre as artes comparadas. Entre
as analisadas percebemos que s diferenças partem do princípio do
discurso literário e fílmica é a questão do quantitativo (quando
analisamos as cenas tanto literária e fílmica) fazemos as relações de
tamanho em relação à outra. O que procuramos ressaltar dessa relação
é que ela é de troca ou correspondência, mesmo sendo independentes.
A troca que essa relação permite que possamos ver novos contextos,
novos significados.
O Auto da Compadecida, obra em análise, é uma peça teatral
escrita por Ariano Suassuna, a qual faz referência a elementos do teatro
popular. Suassuna foi um renomado escritor, um dos melhores, e
dramaturgo. Valoriza as artes populares.
Foi idealizador do Movimento Armorial, com objetivo de criar uma
cultura de caráter erudito baseada em elementos da cultura popular do
Nordeste. Em 1989 tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras,
ocupando a cadeira nº 32. Pertenceu a Academia Pernambucana de
Letras (1993) e Academia Paraibana de Letras (a partir de 2000).
Auto da Compadecida (1955) ganhou destaque quando foi
encenada no Rio de Janeiro, em 1957, no Festival de Amadores
Nacionais. Seu enredo tem por base os autos medievais de Gil Vicente e
a autores do gênero cordel.
O professor Marcílio B. Gomes Jr (2012), da Oficina do Estudante de
Campinas (SP) descreve a peça como: “Auto da Compadecida, peça
teatral de Ariano Suassuna, é um auto (peça de apenas um ato) que
consubstancia a tradição do teatro medieval português ao contexto
social e histórico do nordeste brasileiro.”.
Fazem parte da peça de Suassuna as seguintes personagens: o
palhaço (que apresenta a peça), João Grilo (inteligente e consegue sair
1225
de enrascadas) e Chicó (medroso e contador de causos); Antônio Morais
(homem de posses), Padre Antônio, o Sacristão, Padeiro e sua mulher,
Bispo, Frade, Severino de Aracaju, Cangaceiro, Demônio, Encourado
(Diabo), Manoel (Jesus) e a Compadecida (Nossa Senhora).
O cenário apresentado no livro é de um picadeiro de um circo,
onde acontecerão os atos da peça. Que no decorrer peça serão
organizados. A peça inicia-se com a fala do Palhaço “Auto da
Compadecida! O julgamento de alguns canalhas, entre os quais um
sacristão, um padre e um bispo, para exercício da moralidade” (p.23).
Em seguida apresenta os personagens explicando ao público como será
a organização do cenário e que contará com a imaginação do mesmo.
A peça começa com o diálogo de João Grilo e Chicó sobre Padre
João, se ele benze ou não o cachorro, que pertence ao padeiro. Nesta
passagem da peça, percebe-se característica do Padre como
interesseiro, por não querer benzer o cachorro por se tratar não ser de
ninguém importante, até que João Grilo usa sua esperteza para dizer que
o animal é do Major Antônio (homem rico).
Fazem parte da cena da morte do cachorro, o padeiro, a esposa,
João Grilo, o Sacristão e o Padre. Estes últimos só aceitam enterrar o
cachorro, porque Grilo inventa que o animal tinha um testamento e que
deixava para os dois. Esse trecho encerra a Primeiro ato da peça.
Segundo ato acontece com o Major Antônio Morais reclamando
ao Bispo a atitude do Padre que chamou o seu filho de cachorro
(situação consequência da mentira de João). O Bispo é apresentado
como medíocre, anda na companhia do Frade, uma pessoa bondosa.
Interessante destacar que no momento que o Bispo procura o Padre, há
um diálogo entre Bispo e Palhaço.
1226
Quando Bispo de encontra com o Padre para reclamar de sua
atitude e Padre percebe que foi enganado por João, vai procurá-lo para
tomar satisfação. Grilo, muito esperto consegue salvar-se da acusação.
E ainda faz o Bispo perdoar o Padre pelo ocorrido, dizendo que ele
também é herdeiro. Mostrando mais uma vez a personalidade do Bispo.
João Grilo é ressentido com o Padeiro e a Mulher pela forma que
os tratavam. E resolve pegar uma peça neles, com a venda de um gato
que “descome” dinheiro. Na sequência desse acontecimento o Padeiro
vai tomar satisfações com João, que se encontra na Igreja, juntamente
cm o Padre, Sacristão, Bispo e Frade. No meio da confusão a Mulher do
padeiro chega desesperada anunciando a chegada de Severino de
Aracaju.
Quando Severino chega livra o Frade da morte, pois diz dar azar.
Manda matar o Padre, o Bispo, Padeiro e a Mulher. João Grilo consegue
enganá-lo convencendo que tem uma gaita mágica. Porém, é
assassinado pelo cangaceiro.
A partir desses pontos todos se encontram após a morte, onde
cada um é julgado. E onde aparecem os personagens Demônio,
Encourado, Manoel e a Compadecida, que intercede por todos. E que
são levados para o Purgatório. João pede para ir direto para o céu, mas
são relatados todos seus atos mentirosos. Deixa que volte a vida para ver
se aprende.
Ao retornar e encontrar com Chicó, pensa que está rico. No
entanto, o amigo havia prometido dar todo o dinheiro para Nossa
Senhora se João sobrevivesse. Ele fica triste, mas entende a situação e
acredita ser até melhor, pois teme que fiquem iguais ao Padeiro e a
Mulher, e assim os dois seguem.
1227
O filme que mostra aventuras de João Grilo e Chicó foi lançado em
10 de setembro de 2000 (Brasil) sobre a direção de Guel Arraes e o roteiro
de Guel Arraes e Adriana Falcão.
A obra fílmica, Auto da Compadecida, inicia-se com João Grilo e
Chicó anunciando o filme sobre a Paixão de Jesus Cristo, que se passará
na Igreja, sobre a organização do Padre João (apresentado como
ambicioso). Ponto a ser destacado é que aparece a voz do narrador
falando o nome do episódio: o testamento da cachorra.
João Grilo trabalha para o padeiro Eurico e convence Chicó a ser
ajudante. As cenas que se passam na padaria, mostrando padeiro e a
mulher (Dorinha) já deixa claro como são as características dos dois. Ele
mandado pela esposa e ela muito esperta. A qual tem um caso com
Chicó.
Há uma fala que Chicó cita no filme que não está na obra literária,
mas que deixa a obra mais cômica, que é ele dizendo que falou “I Love
you” e que significa morena em francês. Outra cena que não
encontramos no livro é a que a Dorinha vai se confessar com o padre e
Eurico é que está no local. No filme apenas menciona que ela o trai com
Chicó, na obra fílmica aparece outro amante, o Vicentão.
Como já citado o nome do episódio é o testamento da cachorra,
mas no filme se trata de um cachorro. Somente após aproximadamente
dezoito minutos de filme é que aparece Dorinha com sua cachorrinha.
Mostrando que ela gosta mais da cadela do que de qualquer outro ser.
Mas a cachorra fica doente e dona pede que chamem o padre para
benzê-la. Até aqui se assemelha com o acontecido no livro (com o
cachorro). Entre uma cena e outra Chicó conta seus causos. Sempre
usando o bordão: “Não sei! Só sei que foi assim!” quando lhe pedem
explicações.
1228
Major Antônio Morais ganha mais cenas no filme. Sua chegada
começa com a visita a padaria de Eurico e falando da chegada da Filha.
E que ela quer a benção do padre. Na obra literária o Major tem um filho.
João ouve que Major está na cidade e vai conversar com ele, para
poder se livrar da mentira inventada sobre a cachorra doente. O
encontro entre Chicó e Major; Major e Padre é bem parecido com as
cenas descritas no livro. Diferencia-se pelo fato que o Major após a
conversa com o Padre João e ficar revoltado como a forma que ele
tratou a filha, convida João para visitá-lo, algo que não ocorre na obra
de Suassuna.
A cena da morte da cachorra se difere do livro, pois que conta é
Chicó, e de forma bem engraçada. O enterro dela também é bem
parecido, só ocorre depois da invenção da existência de um testamento,
artimanha pensada por João Grilo, por saber da ganância do padre.
Nesta cena não existe o sacristão, como já citado.
Na obra literária o Major Antônio é que vai falar com o Bispo, já no
filme o Bispo faz questão de visitar o Major, um a pessoa tão importante.
Nessa visita, acontece uma cena muito engraçada: o Major soletrando
a palavra cachorra e soletra com x. O Bispo corrigi, mas tenta se explicar
dizendo cachorra com x não é palavrão.
O Chicó é um grande contador de “causos”, no filme ele conta um
que não é mencionado no livro. Quando um bispo se confessa com um
papagaio. Suas estórias sempre são uma forma dele dar exemplos de
situações semelhantes a que está vivenciando.
Outra cena envolvendo Chicó que não aparece no livro é o
encontro dele com a Dorinha e que Vicentão (o outro amante) aparece.
E Severino disfarçado de mendigo para avaliar como é a cidade, essa
cena também não consta na obra literária.
1229
Depois que descobrem que João os enganou, Dorinha e Eurico vão
procurá-lo e ele inventa uma falsa morte. A morte de João serve para
livrar a cidade da primeira invasão dos cangaceiros, pois ele fala para
Severino que “Padim Pade Ciço” pediu para não atacar a cidade. A
partir desse ponto acontecem novos fatos, como o Bispo se justificando
com o Major, a chegada da polícia e da filha do major na cidade,
Rosinha.
Sua chegada inicia o romance dela e de Chicó. E trapaças de
João Grilo para ganhar o dote de Rosinha, uma porca, herança da avó.
Par se dar bem ajuda o amigo a casar com a moça. Engana Vicentão,
o Sargento (personagem que não existia na obra literária). Para que tudo
dê certo para o casamento João tenta se passar pelo Severino, mas
nesse momento ele realmente aparece. E acontecem as mortes, que são
bem parecidas com a do livro.
A cena do encontro “pós-morte” é semelhante a do livro. Partes
que merecem destaque é quando João aceita ir para inferno
reconhecendo suas atitudes, porém a Compadecida intercede por ele
e Manoel lhe dá mais uma chance de voltar a viver. No livro João
considera-se tão “gente boa” que diz merecer ir diretamente para o céu
e o Encourado diz que ele deve ir para o inferno. Nesse momento Nossa
Senhora intercede. E Manoel o desafia a fazer uma pergunta que Ele não
possa responder e “danado” do João consegue.
Na adaptação, quando Chicó está fazendo o enterro do seu
amigo, ele volta a viver. Dando-lhe um grande susto, mais uma cena que
se destaca comicamente entre as demais. Após o ocorrido, lembram-se
do casamento com Rosinha e da dívida. Não sabiam como pagar, visto
que tinha dado todo seu dinheiro para pagar a promessa. Rosinha os
lembra da herança, a porca cheia de dinheiro.
1230
Após o casamento, quando vão quitar a dívida percebem que
continuavam pobres, pois o dinheiro não valia mais nada, de tão antigo
que era. Ajudado por Rosinha e João Grilo, Chicó consegue se livrar da
dívida. Além de todos esses novos fatos, termina Manoel disfarçado de
pobre pedindo esmolas e João duvidando que Jesus fosse aquele
homem.
Observamos que na obra literária original já apresentava pontos
ligados ao humor, na adaptação esses pontos ocorreram com mais
frequência. Além de ser acrescida uma história de amor, que também
era cômica. Foram inseridas falas mais contextualizadas. Ao fazer essa
comparação entre obra literária e fílmica, usamos as palavras de
Cardoso (2011) para explicar o processo de adaptação:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1231
apenas o que ficou fiel à obra literária original. Pois, o cineasta pode se
apropriar e recriá-lo, trazendo para si uma nova função.
A obra apresentada traz várias cenas “novas” e que condizem
com o contexto histórico do filme. Muitas delas apelando ao senso crítico
do espectador como na cena que Manoel diz a Nossa Senhora que se
ela continuar intercedendo por todos daquela maneira, o inferno vai virar
uma repartição pública. Existe, mas não funciona. Notamos nesse trecho
como uma crítica (engraçada) as repartições públicas. E finalizando o
filme mostra a questão do preconceito racial que estava presente no
contexto histórico do filme sobre não julgar pela cor da pele. Quando
João Grilo olha Jesus e fica admirado por ele ser negro.
Percebemos também que a adaptação fílmica traz uma
intertextualidade com a peça de Ariano Suassuna, O santo e a porca.
Pois o roteirista do filme faz uma parte da narrativa em torno de uma
porca cheia de dinheiro, fazendo referencia a peça citada acima.
Por fim, esperamos que, através desse estudo, possamos ter
contribuído, mesmo que minimamente, para ampliar os estudos críticos
sobre a comparação das obras literárias e adaptações. Finalizamos com
as palavras de (2014)
1232
Concluímos que, cada uma das obras possui seu valor e que não
devemos enaltecer uma e rebaixar a outra. Temos que procurar
compreender os objetivos a serem alcançados pela nova arte que se
espelha na obra original. Se a obra adaptada fosse fiel a original não
haveria a independência artística.
Almejamos ter realizado o trabalho ao qual nos propomos a fazer,
concretizando nossos objetivos. Esperamos que essa análise tenha sido
relevante e que tenha mostrado quão importante é para nossos estudos
literários.
REFERÊNCIAS
1233
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 26ª ed. Rio de Janeiro: Agir,
1993.
VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica.
Campinas: Papirus, 1994.
SITES
https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-auto-da-compadecida-
analise-da-obra-de-ariano-suassuna/ Acesso em novembro de 2018.
https://www.todamateria.com.br/ariano-suassuna/ Acesso em: 15 nov.
2020.
1234
O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA: POLÍTICAS
PÚBLICAS E FORMAÇÃO DOCENTE
1235
INTRODUÇÃO
1236
para se delinear os objetivos de uma coleção, quais as concepções de
língua e de aprendizagem, conteúdos e atividades coerentes com a
proposta de ensino para determinado ano e para público a ser atingido.
1237
Albuquerque (2006) afirma que “livro didático é um material
importante que deveria funcionar como um prolongamento da ação
pedagógica do professor, um recurso metodológico a mais, entretanto,
o que se observa é que o LD tem demonstrado a anulação do professor”.
1238
promover os fundamentos da nacionalidade brasileira por meio da
educação, que de acordo com Souza, visassem “à melhor organização
pedagógica para a escola primária” (2000, p. 10).
1239
O INL (Instituto Nacional do Livro) foi criado com o objetivo de
planejar as atividades relacionadas com o livro didático e
estabelecer convênios com órgãos e instituições que
assegurassem a produção e distribuição do livro didático
(FREITAG, 1985, p. 134).
1240
134).
1241
Grau”. O programa trouxe inovações para a produção e distribuição do
material didático, dentre as quais podemos citar a avaliação
pedagógica dos livros e a escolha realizada pelo docente. Além disso, a
aquisição dos livros passou a ser feita por meio de recursos do governo
federal.
1242
O livro didático constitui um dos principais insumos da instituição
escolar. Os aspectos referentes à sua política, economia,
gerência e pedagogia são indissociáveis das demais
características da questão educacional brasileira. Embora
existam no mercado editorial livros de inegável qualidade, o país
ainda não conseguiu formular uma política consistente para o
livro didático que enfatize o aspecto qualitativo. O princípio da
livre escolha pelo professor esbarra em sua insuficiente
habilitação para avaliar e selecionar. A eficiência dos
programas é comprometida pelo processo de aquisição, o que
tem impedido que o livro esteja disponível na escola no início do
ano escolar (BRASIL, 1993).
Nos dias atuais, além do PNLD, o governo federal tem dois outros
programas sobre o livro didático: o Programa Nacional do Livro Didático
para o Ensino Médio (PNLEM), criado em 2004 e o Programa Nacional do
1243
Livro Didático para Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA), criado em
2007. É importante ressaltar que o livro didático sempre enfrentou um
impasse para saber quem realmente era seu público alvo: o professor ou
o aluno.
1244
não deve ser a nossa única fonte de estudos e pesquisas, visto que os
conhecimentos são mutáveis, passíveis de transformações. Precisamos
levar o aluno a ter vários meios de estudo para, assim, ter uma
aprendizagem efetiva e satisfatória.
Nenhum livro didático, por melhor que seja, pode ser utilizado
sem adaptações. Como todo e qualquer livro, o didático
também propicia diferentes leituras para diferentes leitores, e é
em função da liderança que tem na utilização coletiva do livro
didático que o professor precisa preparar com cuidado os
modos de utilização dele, isto é, as atividades escolares através
das quais um livro didático vai se fazer presente no curso em que
foi adotado. (LAJOLO, 1996, p. 8-9).
A autora ainda enfatizou que “o pior livro pode ficar bom na sala
de um bom professor, e o melhor livro desanda na sala de um mau
professor. Pois o melhor livro, repita-se mais uma vez, é apenas um livro,
instrumento auxiliar da aprendizagem.” (LAJOLO, 1996, p. 8).
1245
Diante disso, podemos afirmar que nenhum livro poderá ser capaz
de superar a presença do professor, o qual deverá utilizar em suas alunas
não só este recurso e, muito menos, se limitar a ele. O professor deve
sempre recorrer a várias outras bibliografias, jornais, revistas, filmes,
documentos, depoimentos, além dos recursos tecnológicos para ser
capaz de propiciar ao aluno aprender de forma significativa.
1246
no objetivo final que é o de formar alunos conscientes do seu papel na
sociedade.
Além disso, fazer com que o mesmo seja aprovado no guia do livro
didático e escolhido pelas escolas, pois a coleção mais adotada no
Estado é justamente aquela que vai para a reserva técnica, tendo assim,
o lucro garantido sobre a produção, pelo menos nos próximos três anos.
1247
utilizá-lo, o professor deve ter como meta a articulação com a sua prática
didática e uma correlação direta com a Proposta Pedagógica da escola.
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1248
instrumento e nem considerá-lo como fonte de conhecimento legítimo,
o qual não pode ser questionado.
1249
O professor precisa ser visto como mediador, um profissional capaz
de atrelar o conhecimento teórico com a prática do ensino da língua.
Assim, é importante ressaltar que a formação do professor é
responsabilidade da instituição de ensino, que tem como função,
orientar os graduandos quanto ao uso do livro didático e também sobre
a seleção dos conteúdos e estratégias a serem utilizadas.
1250
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1251
Por meio do livro didático espera-se que a aprendizagem se
processe pela leitura das informações fornecidas pelo livro, mas também
pela realização das atividades que ele sugere, as quais devem ser
contextualizadas e realizadas de acordo com o conhecimento que cada
aluno possui interiorizado.
REFERÊNCIAS
1252
FERREIRA, Rita de Cássio Cunha. A comissão nacional do livro didático
durante o estado novo (1937 - 1945). Dissertação de Mestrado.
Faculdade de Ciências e Letras de Assis - UNESP- Universidade Estadual
Paulista. Assis, 2008.
1253
TEIXEIRA, R. F. B. As relações professor e livro didático de alfabetização.
Anais do VIII Congresso Nacional de Educação EDUCERE. Curitiba, PR:
PUC-PR, 2012, PP.772-811. Disponível em
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/772_811
.pdf. Acesso em 03/12/2020.
1254
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NAS AULAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA NO RECIFE: UMA ANÁLISE DO CONTEÚDO DOS
GÊNEROS TEXTUAIS
1 INTRODUÇÃO
188
Mestra em Linguística-UFPE/SEDUC-PE
1255
textuais presente no caderno/livro de Língua Portuguesa, do 9º ano, do
projeto “Aprova Recife”, da editora Moderna, adotada pela Rede
municipal de educação do Recife, e entregue às escolas municipais nos
últimos quatro anos, para trabalhar em todo o Ensino Fundamenl. Para a
presente pesquisa, analisaremos apenas o caderno do 9º ano, com o
objetivo de observar a existência (ou não) de uma pluralidade étnico-
racial nesses textos, como orienta a Lei 10.639/03, e como a identidade
negra é construída a partir desse material. De acordo com Bakhtin (1992,
p. 274), “os gêneros constituem formas relativamente estáveis de
enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos:
conteúdo temático, estilo e construção composicional”, é
compreendendo a importância de os conteúdos abordados nesses
gêneros contemplarem as mais diversas identidades étnico-raciais que
desenvolveremos essa análise.
1256
Portuguesa, para Hall, “as identidades são, pois, pontos de apego
temporário às posições-de-sujeito que as práticas discursivas constroem
para nós” (p. 112, 2000), nesse sentido, fazem-se necessários alguns
questionamentos: que identidade as práticas discussivas das aulas de
Língua Portuguesa tem construído para os(as) alunos(as) negros(as)?
Qual é o corpo positivamente idealizado e o corpo silenciado ou
negativado nesses espaços? De acordo com Ribeiro, “quem possui o
privilégio social, possui o privilégio epistêmico” (2019, p. 24), e dessa
forma, a elite branca brasileira coloca-se como produtora de
conhecimento, fortalecendo o seu padrão e suas ideologias.
2 METODOLOGIA
1257
aspectos quantitativos e qualitativos, uma vez que, ao analisar o
caderno/livro Aprova Recife, procederá uma contagem dos textos que
possuem autorias negras e dos textos de autores(as) brancos(as). A
também será analisada como a identidade negra é construída a partir
desses textos, se é possível perceber uma imagem positiva ou negativa
da pessoa negra; se a associação permanece voltada para a fome,
marginalidade, escravidão, ou outros reperenciais de sucesso, felicidade,
beleza são projetados nesses textos quando associados ao padrão
negro.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
1258
entrada de europeus e restringia o acesso de pessoas vindas da África e
Ásia para Brasil. Outra estratégia foi construir um ideal positivo de
branquitude, naquele momento “as pessoas são persuadidas de que a
civilização do futuro será criada com sangue branco” (MBEMBE, p. 115, )
e negativar todo imaginário voltado para a população negra, sempre
atrelada ao feio, violento, ignorante e inferior, “a memória que lhe
inculcam não é a de seu povo; a história que ensinam é outra; (...) os livros
estudados lhe falam de um mundo totalmente estranho, da neve e do
inverno que nunca viu” (MUNANGA, 1988, p. 13).
1259
identidades negras devem ser vistas no interior de estruturas de
representações perpassadas pelas relações de poder”, poder que
legitima e ilegitima discursos, que garante privilégios e impede acessos a
diretos básicos. É nessa relação de poder que o padrão branco se
fortalece nos diversos textos, enquanto o preto dá sufocados passos em
busca de novas representatividades textuais.
1260
sobre as diversas identidades raciais, por exemplo, se ao trabalhar o
gênero “poema”, o livro limita-se a trazer como referências Vinícius de
Moraes e Cecília Meireles e invisibiliza as escritas de Conceição Evaristo e
Solano Trindade, está contribuindo para o apagamento histórico dos
corpos negros como produtores de literatura, de arte, de
intelectualidade. Por que não se trabalhar uma biografia a partir de uma
personalidade negra? Por que não trabalhar o gênero artigo de opinião
problematizando questões raciais? Por que não trabalhar o gênero
receita a partir do acarajé?
1261
- morena/ tu fosses em vez de clara!”, o(a) professor(a) está muito mais
do que trazendo a estrutura, mas também uma ideologia sobre o
conceito de beleza, historicamente construído pela sociedade racista,
“enunciado não é uma unidade convencional, mas uma unidade real,
estritamente delimitada pela alternância dos falantes” (BAKHTIN, 2000:
294).
1262
Para Bakhtin, ao se comunicarem, as pessoas trocam enunciados
plenos de sentidos, não apenas vocábulos e orações, sendo assim, os
gêneros são construídos a partir desse uso comunitário da língua, dessa
relação dialógica que, muitas vezes, determina a escolha dos gêneros
para emitir determinados conteúdos.
1263
• Lição 08 - Cartum e charge – Nanihumor/Nani
1264
(homem branco), pedindo a opinião sobre um texto escrito pelo autor.
Acerca de Machado de Assis, vale ressaltar a identidade branca
construída sobre ele, muita gente o ler como branco, afinal, no
imaginário racista, tal genialidade não poderia pertencer a um corpo
preto. Coletivos negros estão resgatando imagens de Machado
enquanto homem negro.
1265
Nos primeiros versos do poema Ferro, de Cuti, temos “Primeiro o
ferro marca/ a violência nas costas/ Depois o ferro alisa/ a vergonha nos
cabelos (...)”, fazendo menção à violência sofrida pelo povo negro no
tempo da escravidão, que eram queimados, espancados com ferro nas
costas e também reflete sobre o processo de alisamento dos cabelos de
mulheres negras com ferro quente, consequência de um processo
violento de agressão à autoestima dessas mulheres.
1266
No terceiro texto, ao trabalhar o gênero romance, na lição 16, o
Caderno apresenta um trecho de Capitães de Areias, do autor Jorge
Amado, e, nesse texto, a identidade negra é cruelmente negativada, o
negro é o ladrão, analfabeto; o branco, mesmo fazendo parte da
quadrilha, é “professor” porque é o único que sabe ler, é o mais
inteligente. O texto apresenta o negro João Grande de forma
inferiorizada, “este negro é burro mas é uma prensa... nunca deixou de
ser convidado para as reuniões que os maiorais vaziam para planejar os
furtos. Não que fosse um bom organizador de assalto...doía-lhe a cabeça
se tinha que pensar”. Silva afirma que “isso tem um impacto sobre a
construção da identidade dos educandos de ascendência africana,
indígena e mestiça, que não encontram referências positivas a sua
origem, a sua cultura e a sua história, omitida ou mostrada de maneira
caricatural, estereotipada e folclorizada na escola” (2001, p. 135).
1267
Ao trazer apenas textos com perspectivas sofridas e marginalizadas
do povo negro o material invisibiliza outras identidades negras de sucesso,
de afeto, de poder. A escritora Chimamanda, encerra seu texto, O perigo
de uma história única, com a seguinte reflexão, “quando nós rejeitamos
uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma
história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso”, é
em busca do paraíso que outras histórias acerca da população negra
precisam ecoar nos materiais didáticos e nas grandes mídias,
apresentando referências positivas do nosso povo que existe.
1268
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1269
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro – Pólen, 2019.
RIBEIRO, Djamila. Lugar de Fala. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
1270
REESCRITURA DA AMAZÔNIA ATRAVÉS DA SOBREVIDA DE
ALFREDO NO CICLO DO EXTREMO NORTE DO ESCRITOR
DALCÍDIO JURANDIR
INTRODUÇÃO
1271
faz-se necessário enfatizar a importância de alguns trabalhos
acadêmicos que se debruçaram em torno da concepção de um
arcabouço intelectual formado a partir dos textos de Dalcídio Jurandir,
além de sua importância cultural para a Amazônia, e para a inclusão do
mesmo no cânone literário brasileiro e, por extensão, universal. Um dos
trabalhos que merece relevância por ser um dos pioneiros, no sentido de
destaque acadêmico, sem dúvida, é a dissertação de Enilda Tereza
Newmam Alves, que ainda na década de oitenta do século XX, se
destacou por apresentar elementos que incorporam de forma
interdisciplinar a obra dalcidiana, Três casas e um Rio e a partir de
conceitos da psicanálise que exploram os meandros da mente humana.
O trabalho intitulado “Marinatambalo: construindo o mundo amazônico
com apenas Três casas e um rio”, foi apresentado no ano de 1984, na
PUC do Rio de Janeiro, e abriu as portas para vários outros trabalhos que
formam hoje um verdadeiro arcabouço de pesquisas de suas obras.
1272
constroem um enredo para a vida de Alfredo. Com uma peculiar forma
de descrever a Amazônia, fornece uma enciclopédia linguística que
caracteriza o povo daquela região: sons, narrativas, personagens que só
existem neste território brasileiro, tão pouco explorado pela literatura
mundial. Diante disso, este trabalho tem o escopo de reconstruir e
criticamente analisar a trajetória de Alfredo, utilizando como corpus
textual cinco romances do Ciclo do Extremo Norte: Chove nos campos
de Cachoeira (1941), Primeira Manhã (1967), Três casas e um rio (1958),
Belém do Grão - Pará (1960) e Ribanceira (1978), e estabelecendo, por
fim, a relação da personagem com os romances supracitados.
1 METODOLOGIA
1273
procederemos à leitura analítica das obras Chove nos Campos de
Cachoeira, Três Casas e um Rio, Belém do Grão - Pará, Primeira Manhã e
Ribanceira (obra que encerra o Ciclo do Extremo norte), tendo em vista
o objetivo de investigar a trajetória de Alfredo, personagem principal das
tramas, que será o foco central da pesquisa. No entanto, trechos de
outros romances do autor também poderão ser utilizados, quando
contribuírem para aprofundamento da proposta a ser defendida, e para
construção efetiva da sobrevida desta personagem.
1274
Para Tânia Carvalhal em Literatura Comparada, a literatura se
estabelece a partir de análises comparativas entre textos, texto e
sociedade, ou momentos históricos. Essas possíveis relações voltam-se
então, não apenas com o objetivo de concluir sobre a natureza dos
elementos confrontados, mas, principalmente, para saber se são similares
ou diferentes. Recurso usual pela crítica literária quando o que busca é
estabelecer parâmetros de comportamento do próprio texto, o que
demais ele sugere ou investiga. Portanto, quando a comparação é
empregada como recurso preferencial no estudo crítico, convertendo-
se na operação fundamental da análise, ela passa a tomar ares de
método – e começamos a pensar que tal investigação é um “estudo
comparado” (CARVALHAL, 2006, p. 7).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Esta importância dada ao próprio texto nos revela que para que se
estabeleça uma relação “trans” dos textos, devemos mergulhar em seus
próprios enigmas, haja vista que esta compreensão nos aponta para um
caminho que, inevitavelmente, se estabelece a partir da compreensão
de transtextualidade de Gérard Genette, descrita em sua obra
Palimpsestes. La littérature au second degree (1982), pois esta tem sido
de grande valia para o entendimento do universo literário Dalcidiano, na
1275
condição hipertextual que subjaz às narrativas.
1276
O objetivo da poética, como de certa forma eu já disse, não é
o texto, considerado na sua singularidade (este é antes, tarefa
da crítica), mas arquitexto, ou se preferirmos, a
arquitextualidade do texto (como se diz, em certa medida, é
quase o mesmo que a “literariedade da literatura), isto é, o
conjunto das categorias gerais ou transcendentes- tipos de
discurso, modos de enunciação, gêneros literários, etc. do qual
se desta cada texto singular. Eu diria hoje, mais amplamente,
que este objeto é a transtextualidade, ou transcendência
textual do texto, que definiria já, a grosso modo, como “tudo que
o coloca em relação, manifesta ou secreta com outros textos.”
(GENETTE, 2010, p. 4).
1277
concepção de sobrevida de Alfredo ao longo da obra de Jurandir.
1278
dita, ou seja, a obra literária.
1279
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1280
composto de cenário e natureza. A idéia de experiência,
vivência, etc., relacionada ao conceito de lugar segundo vários
estudiosos, seria analisada a partir da identificação desses dois
espaços sem que, para isso, seja necessário o uso da
terminologia ‘lugar’. Dessa maneira, não falaríamos de lugar,
mas de cenário ou natureza e da experiência, da vivência das
personagens nesses mesmos espaços. (FILHO, 2008, p. 1)
1281
da vida como produto e criação de uma vontade natural ou
sobrenatural e da história, onde não há lugar para o
mascaramento das forças sociais. E um modo de a literatura ler
e dialogar com a história amazônica, resgatando significados
perdidos, forças vitais na apreensão e construção de um novo
tempo. (ASSMAR, 2002, p. 174)
REFERÊNCIAS
1282
ASSMAR, Olinda Batista. Confluência de diálogos na obra Dalcidiana.
Universidade Federal do Acre, Brasil. Revista veredas, pg. 2002.
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 46. ed. São Paulo:
Cultrix, 2006.
1283
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. Vol. III, Rio: Editorial Sul
Americana S.A, 1969. Vol. V, Rio: José Olympio: Niterói, Universidade
Federal Fluminense, 1986.
1284
Pará (1938/1941). In: FIGUEIREDO et all (Org.) Crítica e Literatura. Rio de
Janeiro: De Letras, 2011.
1285
.Os habitantes. Rio de Janeiro: Artenova, 1976
MOISÉS, Massaud. Conto. In: A criação literária: prosa I. 20. ed. São Paulo:
Cultrix, 2006.
1286
REIS, Carlos e HENRIQUES, Marisa das Neves, Estudos Literários:
personagens e figuração. Centro de Literatura Portuguesa, Revistas de
Estudos Literários. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ed.
4, 2014.
1287
É UMA RAINHA E PARECE MENDIGA: A CARACTERIZAÇÃO DA
IMAGEM FEMININA NO POEMA “UMA NORDESTINA”, DE
FERREIRA GULLAR
1288
INTRODUÇÃO
1289
O escritor197 transitou por diversos gêneros, sendo dono de uma
vasta obra literária ao escrever desde contos, crônicas e ensaios, até
biografias, críticas e traduções. Dentre suas principais obras, destacam-
se: Um pouco acima do chão (1949); A luta corporal (1954); Poemas
(1958); Teoria do não-objeto (1959); João Boa-Morte, Cabra Marcado pra
Morrer (1962); Cultura posta em questão (1964); Dentro da noite veloz
(1975); Poema sujo (1976); Uma luz no chão (1978); Na vertigem do dia
(1980); Sobre arte (1984); Etapas da arte contemporânea (1985); Barulhos
(1987); Indagações de hoje (1989); Argumentação contra a morte da
arte (1993); Muitas vozes (1999); Um gato chamado gatinho (2005);
Resmungos (2007); Em alguma parte alguma (2010); Autobiografia
poética e outros textos (2016).
1290
Metodologicamente, este estudo divide-se em dois momentos
principais: na fundamentação teórica será explorada os pressupostos
teóricos de alguns autores acerca da poética de Gullar, bem como do
que vem a ser o que intitulam de “ser nordestina”; por fim, há as
discussões e resultados que serão reveladas, por meio de excertos para
a comprovação, a forma como a mulher é apresentada no poema pelo
eu-lírico.
1 METODOLOGIA
1291
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1292
Na música, dentre muitas as representativas que existem nessa
região, destaca-se a canção “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, sendo
considerada como o Hino do Nordeste. Na pintura, por outro lado, nomes
como Pedro Américo e Romero Britto surgem como representantes
importantes para o Brasil e, sobretudo, para o Nordeste.
1293
ao tratar acerca do escritor maranhense Ferreira Gullar, a fim de,
posteriormente, analisar um de seus poemas.
Fonte: https://www.oliberal.com/cultura/ferreira-gullar-que-faria-90-anos-e-
homenageado-com-lives-e-novos-livros-1.304750. Acesso em 21 de maio de 2021.
1294
Gullar não está preocupado em agradar quem quer seja com o
que escreve. Suas palavras não são reconfortantes ou
apaziguadoras, ao contrário, elas nos inquietam e nos fazem
pensar. (...) A poesia de Gullar nasce da realidade brasileira, da
miséria e da fome estampadas no rosto de tantos excluídos
(SANTOS, 2010, p. 19 e 48).
1295
Conforme pontuam as autoras, “o ser nordestina” se encontra
atrelado aos lentos processos pelos quais essas mulheres tiveram de
passar ao longo de nossa história, bem como acerca de suas dificuldades
que as fizeram permanecer relegadas, por muito tempo, ao
esquecimento.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1296
Figura 4 – Apresentação do poema
1297
No primeiro plano, isto é, no que se refere à pobreza material torna-
se evidente a atribuição de predicativos à mulher sobre sua própria
aparência física que resulta de uma caracterização de mulher pobre,
que sequer possui um calçado para usar, tampouco roupas mais
apresentadas, uma vez que se veste por meio de trapos, conforme se
observa na terceira estrofe:
De pés na poeira
de trapos vestida
é uma rainha
e parece mendiga:
a pedir esmolas
a fome a obriga
(GULLAR, 1999, p. 345-346).
1298
Não importa a roupa
de que está vestida.
Não importa a alma
aberta em ferida.
Ela é uma pessoa
e nada a fará
desistir da vida.
Nem o sol de inferno
a terra ressequida
a falta de amor
a falta de comida.
É mulher é mãe:
rainha da vida.
(GULLAR, 1999, p. 345-346).
Há, nesse sentido, uma dualidade entre dois planos à medida que,
de um lado, surge a pobreza material, de outro lado, por sua vez, surgem
as riquezas incalculáveis, ou seja, aquelas que constroem, de fato, a
identidade de uma mulher esperançosa, otimista, guerreira e
trabalhadora, que não desiste facilmente face aos obstáculos que lhe
são impostos.
1299
Esses lados opostos se enlaçam, na poética de Gullar, para conferir
ao poema um tom mais verídico à realidade que ainda é, infelizmente,
vista e vivida por muitas mulheres no Nordeste, além de demarcar com
mais intensidade a construção identitária dessa mulher nordestina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1300
delimitação do que intitulam “ser nordestina”, revelando as diversas
nuances e dificuldades ao ser mulher nordestina em um país ainda tão
lento em processos igualitários e justos.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Ana Karina Silva; DUTRA, Elza Maria do Socorro. Era uma vez
uma história sem história: pensando o ser mulher no Nordeste. Pesqui. prát.
psicossociais [online]. 2019, vol.14, n.2, pp. 1-14. ISSN 1809-8908.
1301
SANTOS, Viviane Aparecida. Do ressentimento à cicatriz: memória e exílio
em Ferreira Gullar. Diss. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade
Federal de São João del-Rei. São João del-Rei, 2010.
1302
RODAS DE LEITURAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA
POSSÍVEL
RESUMO: O presente trabalho pretende abordar os conceitos de leitura, bem como sua
importância na formação do indivíduo e a utilização das rodas de leitura como forma
de despertar na criança o gosto por ler e assim transformar-se em um sujeito não apenas
decodificador no ato de visualizar textos, mas um leitor capaz de compreender, se
portar como um crítico e a partir de suas leituras expandir um leque de possibilidades
de interpretações onde esse leitor possui um papel consideravelmente ativo diante do
ato de ler. Para tal pesquisa nos utilizamos de teóricos tais como Cramer e Castle (2011),
Brandão e Rosa (2011), Cosson (2014), Freire (1997), Lajolo (1996), Coelho (2000), Paim
(2000) e Maricato (2005).
INTRODUÇÃO
Email: carmelinda.sig7@gmail.com
1303
Com isso, o objetivo de nosso trabalho é explorar a importância das
rodas de leitura na educação infantil, onde o professor com seu papel
importante de despertar na criança a imaginação e de ampliar seus
conhecimentos com as palavras, ajudando no que chamamos mundo
imaginário diante de textos verbais e não verbais para que ocorra por fim
seu crescimento enquanto leitor prático.
1304
Todavia, sabemos que essa leitura pode se realizar de diferentes
maneiras tanto através da escrita como por meio de desenhos, por
exemplo, mas não podemos associar o despertar pela leitura tão e
somente ao trabalho do professor, uma vez que a família também possui
o papel de mediadora, reconhecendo a necessidade da leitura desde
a infância.
1 REFERENCIAL TEÓRICO
1305
Quando Lajolo (1996) nos fala da realidade em que o leitor está
inserido, devemos remeter-nos que nem sempre todos possuem com
facilidade esse acesso a leitura e que quando possuem, na maioria das
vezes não é de forma considerada como a mais adequada e isso faz
alusão à escassez de materiais, dificuldades para adquirir livros, faltas de
bibliotecas com amplas ofertas de leituras entre tantos outros motivos.
1306
a expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o texto e
as ilustrações enquanto a história é lida. (RCNEI, 1998, v.3, p. 143)
1307
ela participe das rodas de leituras criando trechos, personagens, finais e
recontando conforme suas interpretações.
1308
fornecer suportes para o professor como, por exemplo, um ambiente
adequado para que as crianças, materiais didáticos atualizados,
materiais para decoração, fantasias, etc.
2 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Vale ressaltar que as escolhas desses livros tem que ser de acordo
com a faixa etária da turma. Com isso o professor tem que ser um
caçador literário infantil, pois quando se trata de uma leitura
compartilhada é necessário ter um bom acervo, um estímulo para realizar
tal leitura.
1309
outros deixam as crianças desejando saber mais sobre as histórias
contadas.
1310
Observamos, portanto a necessidade de valorizar esse contato
com os livros desde a educação infantil seja em rodas de leitura em sala
de aula, seja em casa com a família sem que essa responsabilidade
recaia somente ao professor.
1311
indivíduo no que diz respeito ao seu aprendizado através de uma
prazerosa leitura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1312
Primeiramente irão desenvolver interesse pelas leituras com muitas
imagens que chama a atenção, depois por histórias mais longas e
quando os livros apresentam volumes de continuidade, irão procurar
efetuar mais e mais a leitura para se saber o desfecho das personagens
entre outras lacunas que serão preenchidas.
1313
importância para o conhecimento de si mesma e de relacionamento em
sociedade.
1314
Esse é justamente o esforço maior que o professor tem em
desenvolver: apresentar a leitura de forma cativante para que desperte
nas crianças curiosidades e admiração pelo livro. Lembrando que o
Referencial curricular nacional para educação Infantil, 1998, p. 135:
Cosson (2011, p. 103) nos fala que a leitura não se trata apenas de
uma simples busca por decifrar palavras, “mas sim uma experiência de
dar sentido ao mundo por meio de palavras que falam de palavras,
transcendendo os limites de tempo e espaço.” (COSSON, 2011, p. 103)
1315
REFERÊNCIAS
1316
REBENTOS LIBIDINAIS; BANQUETE DE CORPOS: A SUBERSÃO
HISTÉRICA EM A CASA DOS BUDAS DITOSOS, DE JOÃO UBALDO
RIBEIRO
1317
INTRODUÇÃO
1318
histeria foi a subversão dessas amarras culturais. As histéricas de Freud não
encenavam, em seus corpos, as mesmas metáforas corporais ostentadas
pelas histéricas de Hipócrates, Platão ou até mesmo do Príncipe dos
metódicos Sorános de Éfeso (Séc. I). Todavia, o fio condutor da
sexualidade perpassa todas essas mulheres. Sendo assim, nossa pesquisa
se debruça sobre a obra A casa dos budas ditosos (1999), de J. Ubaldo
Ribeiro, na qual, vislumbramos o fenômeno histérico como aspecto
constituinte da feminilidade da personagem CLB.
1319
forma satisfatória, conceituar a Hystera202 de forma fixa e pragmática.
Essa constante necessidade, até certo ponto, compulsória, que o homem
apresentou historicamente, de definir plausivelmente a histeria, segundo
Israel (1995), é vista como mais uma tentativa de moldar, reduzir o
feminino a um conjunto ou modelo fechado.
Essa posição da autora nos auxilia nas reflexões no que diz respeito
ao posicionamento da ciência, ao longo dos séculos, sobre a etiologia
da histeria ligada ao útero como forma de minimizar o caráter
enigmático do fenômeno, mas, também, como forma de não
reconhecer a fragilidade de um corpo cientifico, dominado por homens,
que se mostra confuso e ineficiente em descobrir a origem de toda uma
gama de sintomas até então restrita ao feminino. Aceitar a
incapacidade de desvendar as brumas da histeria seria, de certa forma,
ascender o feminino acima dos homens.
Ana O. foi um dos casos que Freud descreveu nessa obra de 1895.
Inicialmente, o psicanalista concebe a jovem de vinte e poucos anos
como possuidora de uma grande capacidade intelectual e beleza,
1320
contudo criada em uma família de costumes puritanos, Ana O.
apresentava uma indiferença a sua vida sexual. O quadro veio a se
agravar, outros sintomas como delírios e paralisias dos membros
começaram a surgir, após a doença do pai e o impedimento da filha de
continuar com os cuidados prestados. Seguindo Freud, com a análise do
caso, afirma que, ao se colocar como cuidadora do pai, Ana O.
ocupava, assim, o lugar e o papel da mãe, com a qual já apresentava
um relacionamento conflituoso. Era pela doença, que Ana O. poderia ter
o pai e se tornar aquela que ele desejava.
1321
próprio self. 203 Essa insatisfação é levada também ao âmbito de uma
sexualidade que se apresenta nebulosa e conflituosa, pois pode se dividir,
ao mesmo tempo, entre um erotismo exacerbado e um rechaço do
mesmo.
1322
nojo de qualquer contato carnal. A inibição sexual histérica não
significa retraimento, mas movimento ativo de rechaço. (NASIO,
1991, p. 44).
1323
Obviamente, como nossa personagem, do corpus, é feminino,
doravante, iremos nos ater a sexualidade da mulher, na perspectiva
psicanalítica da histeria feminina. Porém, ressaltamos a possibilidade da
existência dos sintomas histéricos no masculino. Israel (1995) afirma que a
histeria feminina é caracterizada, primeiramente, por uma insatisfação
consigo mesma. Apesar de possuir uma capacidade de sedução
bastante significativa, a histérica se utiliza desses mecanismos eróticos e
de conquista para realizar um engodo das lacunas presentes no seu ego,
lacunas essas que são originárias dos períodos arcaicos edípicos de tenra
idade.
1324
Com relação a esse dilema do Édipo feminino, Freud em
Feminilidade (1932) utiliza o termo inveja do pênis para nomear tal conflito.
Em outro texto intitulado Édipo, Nasio (2007) discorda de Freud no
tocante a utilização desse termo. Para ele, o termo angústia é mais
adequado no complexo de castração do menino, pois esse, sim, tem
algo a perder, ou seja, o falo, e a apreensão da perda da fonte de seu
poder resultaria em angústia. A menina apresenta, segundo o autor, uma
dor de ser enganada pela mãe-falo, que não possui o falo, e não lhe deu
um igual. A menina passa por período de desolação, no qual a dor da
ausência de algo, que lhe oferte uma identificação, é inevitável. Desde
os primórdios, o feminino se confronta com o vazio e o continente
obscuro que lhe caracteriza e que surpreendeu Freud.
1325
impõe ao indivíduo, por caminhos tortuosos, pois todos são fadados ao
fracasso, na tentativa de lidar com a tormenta da falta fálica.
1326
reencontro com o desejo incestuoso, a cada relação sexual, como um
Déjà vu das cenas edípicas primitivas, diferenciando, assim, as relações
sexuais genitais de suas relações amorosas. Conforme discutido, os
objetos sexuais, da histérica adulta, encenam suas fantasias primeiras e
em cada objeto busca obter novamente a possibilidade, fadada ao
fracasso, de obter o falo que lhe foi negado em ambos períodos do Édipo.
A seguir, discorremos acerca da sexualidade da personagem CDL e
como se arquitetura a problemática da histeria em suas aventuras sexuais.
1327
fazê-lo, denuncia as estruturas morais deterioradas e hipócritas quanto
ao sexo.
Mas nunca cheguei a ser como Norminha. Ela era diferente, era
realmente completa, sempre tive uma certa inveja dela. Inveja
sadia, eu não queria tirar o que ela tinha, queria somente ter
também o que ela tinha, ou melhor, ser como ela era. Uma
inveja a favor de admiração (...) (RIBEIRO,1999, p.51)
1328
de coincidência entre os dois egos (...). (GORI, 2007, p.69). Sobre o
processo de identificação na histeria, assim se posiciona Israel:
1329
científica que busca normatizar suas várias manifestações. O
transbordamento libidinal se exterioriza, como sintoma de conversão, tão
quanto as afonias, estrabismos, paralisias, desmaios encenados pelas
múltiplas mulheres, ao longo dos séculos, como forma de ostentar uma
feminilidade, que se confronta com a estrutura patriarcal vigente nesses
contextos sócio-históricos. Não é à toa que, para Kehl (2017), a histeria se
apresenta ora como um refúgio, ora como uma forma de subversão de
valores, que aprisionam a mulher em um estereótipo de feminilidade que
atende a manutenção da ordem patriarcal.
1330
Rodolfo e na qual, entre outras coisas, ficamos ambas de rabo
para cima, para ele nos penetrar alternadamente. E Rodolfo era
Rodolfo, fodeu as duas a noite inteira em todos os buracos e fez
questão de não ser grosseiro e esporrou também nas duas.
(RIBEIRO,1999 p.115)
1331
com ele também. Às vezes ficava sentada com a boca junto ao
pau dele, assistindo transportada a ele bater uma punheta para,
na hora de gozar, dirigir o jato à minha boca aberta.
(RIBEIRO,1999, p. 108)
1332
como CLB, Letícia Fernandez protagonista de Cem homens em um ano
(2004), de Nadia Lapa busca em seus parceiros sexuais uma forma de
identificação de sua feminilidade. Algo que se mostra recorrente em
histéricas clássicas da literatura canônica como Emma, de Madame
Bovary (1857) e Aurélia, de Senhora (1875). Kehl (2017) se posiciona de
forma contundente ao vislumbrar através do enigmatismo da
feminilidade e suas variantes um deslocamento inerente à sexualidade
da mulher que ao fazê-los não se permite ser apenas CDL, Letícia, Emma
ou Aurélia, mas um Ser capaz de se deslocar em seus múltiplos
significantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1333
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
1334
RIBEIRO, João Ubaldo. A casa dos budas ditosos. Rio de Janeiro, Objetiva
Ed. 1999.
1335
ERRÂNCIAS ERÓTICAS; ITINERÁRIOS ESPECULARES: (RE)LEITURAS
DA SUBJETIVAÇÃO DO EU NO MITO DE NARCISO
1336
INTRODUÇÃO
1337
clássicas da mitologia grega a Teogonia 207 , de Hesíodo, em grego
Ἡσίοδος, (750 e 650 a.C. é a partir de Sigmund Schlomo Freud (1856-1939),
que Psicanálise e Literatura apresentam relações indissociáveis O mestre
vienense buscou, na arte literária, expressões ou exemplificações que o
inspiraram a desenvolver, teoricamente, muitos dos conceitos
psicanalíticos como, por exemplo, o complexo de Édipo (relações com a
tragédia grega Édipo Rei, de Sófocles (496 a.C. 406 a.C) e o complexo de
narcisismo (relações com o mito de Narciso).
207Do grego: Θεογονία ( theos, deus e gonia, nascimento), é uma obra clássica
composta por 1022 versos Hexâmetros escritos por volta do século VIII a. C. que contam
a origem ou a genealogia dos Deus gregos.
1338
1 LAÇOS INDISSOLÚVEIS: DIÁLOGOS E INTERAÇÕES ENTRE O MITO E A
PSICANÁLISE.
1339
tentativa de pensar o que estaria entre, ou melhor, o que
conjugaria o pré- -psíquico (anterior à ou mais-aquém da
interioridade psíquica individual) e o pós-psíquico (ulterior e
exterior ao psiquismo individual). (WINIGRAD; MENDES, 2012, p.
226)
1340
2 OS (DES) CAMINHOS NOS ENLACES DA DUPLICIDADE NARCÍSICA
1341
necessariamente pela concepção ou ideia do duplo. Essa imago que,
na perspectiva freudiana, é desenvolvida pela figura materna e que nas
perspectivas de Lacan e Françoise Dolto é, também, vivenciada pela
influência da experiência da imagem do espelho. Inicialmente,
partiremos das contribuições freudianas acerca do narcisismo
formuladas no célebre texto psicanalítico Introdução ao Narcisismo
(1914). Nessa obra, o psicanalista vienense delineia sua teoria sobre o
desenvolvimento psicossexual da criança desde as experiências
autoeróticas até alcançar seu narcisismo. Para Freud, o ego não é uma
estrutura pré-formada ou pré-existente na psiquê humana. Vejamos
como nos ensina o pai da psicanálise:
1342
de Freud reverbera na teoria lacaniana, uma vez que, a perspectiva da
relação criança/mãe é entendida como pertencente ao campo do
imaginário. O bebê é o falo da mãe e a mãe é o falo do bebê. Seria uma
relação ainda não transpassada pela cultura e pela linguagem. Sendo
assim, voltemos nossa atenção para o corpus e a seguinte passagem:
1343
a personagem que, na construção narrativa, terá a função de sintetizar,
em suas ações, todos os olhares e desejos daqueles que admiravam o
filho de Liriope. Eco será aquela que, com seu amor, desejo e admiração
dirigidos ao objeto (Narcisio), realiza, metaforicamente, a função ou o
papel que a mãe desempenha com seu filho: carícias, cuidados,
palavras sussurradas, exaltação da beleza da criança. Tudo isso se
resumindo em uma supervalorização do objeto. Aqui, encontramos um
pensamento teórico que permeia as visões de Freud e Lacan: o Ego não
é uma estrutura do psiquismo inata ou pré-formada no sujeito, mas é
forjada a partir da relação com o duplo – em Freud, a mãe. Em Lacan, a
imagem especular. Eco é aquela que dirige sua energia libidinal, por sua
vez, Narciso é aquele que recebe ou é o receptáculo desse investimento.
A ninfa admiradora também pode ser entendida como duplo do filho de
Cefiso quanto ao discurso da falta: a mãe é um ser desejante e assim o
é, pois reconhece sua falta. Algo lhe falta na sua subjetividade. Para a
figura materna, algo se perdeu no processo de castração209 e renúncia
dos seus primeiros objetos de amor. Por meio da maternidade, mesmo
que momentaneamente, o bebê se torna o falo da mulher. Aquilo que a
completa e que a faz reconhecer-se em sua feminilidade210 Nos enlaces
entre a mãe e a criança, o bebê se entrega e se sente completo por
estar nos braços daquela que, ao lhe fornecer os meios para sobreviver,
o erotiza com seus carinhos. Sendo assim, a relação de duplicidade é
1344
estabelecida entre ambos personagens, uma vez que Eco assume a falta
e Narciso renega sua falta como sujeito movido pelo desejo. Vejamos:
Eco, que jamais teria respondido, fosse a que som fosse, com
maior agrado, repetiu: “Encontremo-nos!” Secundando ela as
próprias palavras, sai da floresta e avança, disposta a abraçar o
cobiçado colo. Ele foge. E diz, ao fugir: “Retira as mãos deste
aperto! Antes morrer que seres, senhora, de mim! (OVÍDIO, 2017
p. 189)
1345
identificar-se com os outros, transforma a voz deles na sua,
ampliando a sua personalidade. (HOLMES, 2005, p. 26; 27)
1346
qual um bebê e um chimpanzé são comparados em nível de inteligência.
É relatado que, de início, a criança é superada, em inteligência
instrumental, pelo animal, mesmo que por período curto, pois,
rapidamente, a criança consegue reconhecer sua imagem diante do
espelho. Para Lacan, o estádio do espelho ocorre no período
compreendido aproximadamente entre 6 meses e 18 meses de vida,
porém essa demarcação cronológica apenas tem por objetivo teorizar
sobre um suposto período. Ela não é rígida em suas demarcações. Na
perspectiva lacaniana, nesse período, a criança se encontra ainda com
uma visão fragmentada sobre si mesma. Seu sistema nervoso se encontra,
ainda em formação, podendo ser constatado na locomoção feita com
extrema dificuldade. O psiquismo também ainda está em formação,
uma vez que os traços anímicos entre suas necessidades fisiológicas e
biológicas estão em processo de inscrição. Logo, tanto biologicamente
como psiquicamente a criança se encontra fragilizada ou, como diz
Lacan, com o corpo despedaçado. Vejamos como Veiga descreve esse
estágio do desenvolvimento infantil:
1347
forma, aquela(e) que realiza a função materna: acolher, alimentar,
dispor atividades higiênicas, etc. Mãe e filho se encontram sob o véu do
imaginário: o bebê é o falo da mãe e esta é uma extensão corporal da
criança. O infans não possui uma imagem completa, integrada do
próprio corpo. Diante do espelho, diz Lacan, o filhote humano se
descobre, reconhece-se como sujeito detentor de um corpo. Assim,
vejamos uma das possíveis definições lacanianas para o estádio do
espelho:
1348
águas. Fica perplexo diante de tamanha beleza e perfeição. Traços
físicos que são comparados aos deuses e aos elementos da natureza
como os astros. Ora, não é difícil imaginar que as águas e a imagem
descrita no mito desempenham, metaforicamente, a mesma função que
o espelho e a imagem refletida na teoria psicanalítica. Lacan (1998)
afirma que a criança diante de sua imagem é tomada por um júbilo
inestimável. Ao tentar tocar, beijar, abraçar a imagem especular, o infans
tem a confirmação que aquele que tenta manter contato físico não é
outro, senão sua imagem refletida. É nesse momento que o Eu da criança
começa a se integralizar ou ainda, totalizar-se de maneira que a imagem
fragmentada de um corpo ainda fragilizado pela dependência
biológica e pela imaturação psíquica começa a ser substituída por uma
imagem totalizante do corpo. Jalley (2009) defende que inicialmente, a
criança reconhece a imagem, porém não reconhece seu próprio corpo
e nem a noção de exterior. O Eu, aos poucos, através de um processo
contínuo e, em uma perspectiva normal, sempre caracterizado por
avanços, ganha seu molde com base na imagem especular. Essa, diz o
referido autor, ao mesmo tempo que forma o Eu também usa da
alienação desse. No jogo do duplo, para Lacan, os efeitos positivos sobre
o bebê estão, justamente, no reconhecimento ou identificação com a
imagem especular. A energia libidinal, assim como ocorre com Narciso,
é dirigida para o Eu - aqui, vislumbramos um ponto de convergência
entre o pensamento freudiano e lacaniano. Essa experiência não é
considerada circunscrita no âmbito do campo do simbólico. Entretanto,
é o momento de iniciação da inserção da criança na linguagem e na
ordem da cultura. O bebê começa a entender que possui um corpo e
que esse não se mantém fusionado com o corpo materno. Dessa
maneira, podemos pensar nessa experiência do espelho como algo que
1349
oferece à criança a vivencia de um gozo211, uma vez que, ao mesmo
tempo que estimula o júbilo infantil por se reconhecer como detentor de
um corpo não- fragmentado, também essa consciência implica em um
prenúncio da separação da mãe e da tomada de consciência que o
corpo materno não é uma extensão de si.
Lacan busca, na área jurídica, o sentido psicanalítico do gozo. Para ele, o gozo
211
implica em fazer uso de algo com determinado limite ou até certa medida. O gozo se
encontra nos limiares do prazer e da dor, da satisfação e da angústia, do êxtase e do
descontentamento. O gozo sempre é parcial.
1350
do corpo projetadas em seus grafismos. Ora, em suas esculturas
o tamanho das mãos é muito maior que nas modelagens das
crianças que vêem, e a razão disso é muito clara: é com as mãos
que as cegas vêem, é nas mãos que elas têm olhos. (DOLTO,
2008, p. 38)
1351
contempla, com olhar insaciável, a enganosa imagem, e morre vítima de
seus próprios olhos.” (OVÍDIO, 2017. p.193) A passagem seguinte, contribui
de forma significativa para a discussão de outros conceitos psicanalíticos
entre Lacam e Dolto sobre o narcisismo:
1352
interagir com sua imagem ao tentar tocar, beijar abraçar a suposta outra
criança, assim como faz Narciso com seu reflexo:
1353
212um corpo que não o era assim anteriormente. A criança possui uma
imagem inconsciente de si que precisa apenas ser moldada através do
processo de simbolização. Lacan defende que o sucesso se encontra na
criança se reconhecer no espelho. Dolto advoga que a experiência do
espelho gera no infans uma angústia e não júbilo e consequentemente
seria algo semelhante a castração.
1354
que ao mesmo tempo corresponde aos gestos amorosos, mas que foge
daquele que dirige esses gestos toma conta do jovem. Sobre a imagem
especular: “ela distorce na medida em que mostra apenas uma única
face do sujeito, quando, na verdade, a criança sente-se inteira em seu
ser; tanto nas costas como na frente.” (DOLTO, 2008, p. 43) Lacan (1998)
entende que o narcisismo primário se inicia a partir do momento em que
a criança se reconhece diante do espelho. O Eu ganha contornos e
prenuncia sua inserção futura na ordem simbólica e consequentemente
na cultura. Dolto (2008), por sua vez, postula que o narcisismo primário se
instaura a partir do momento que a criança passa pela angustiosa prova
do espelho. Lograr êxito, nessa perspectiva, é não se reconhecer na
imagem, mas saber que aquilo que observa não é o Eu mas um reflexo
parcial de um corpo unificado. A passagem mítica seguinte nos oferece
reflexões infindáveis com base no pensamento desses dois teóricos da
psicanálise. Observemos:
1355
viabilizar esse amor. Nessa cena, ao que parece, a teoria doltoniana
abarca melhor a problemática narcísica: após se deixar levar pelos
estímulos visuais, o jovem tem sua imagem corporal fragmentada.
Narciso não obtém sucesso na prova angustiosa do espelho. É se
reconhecendo que sucumbi! Ao contrário da perspectiva lacaniana que
defende o reconhecimento ou a identificação com a imago especular,
como forma de surgimento do narcisismo e integração de um corpo
fragilizado. Narciso, pela primeira vez, abdica de seu egocentrismo e se
mostra sensível ao sentimento do outro. Ele deseja que, mesmo que
custasse seu fim, o seu amado continuasse a existir. Porém, reconhece ser
inviável a consumação de seus desejos. Freud (1914) afirma que o
narcisismo primário necessita ser abdicado em nome de manutenção de
laços mais saudáveis ou sociáveis na fase adulta. Assim como diz Narciso
“extingo-me na flor da idade”, é na infância que a criança começa a
direcionar sua libido não mais ao Eu, mas aos objetos, primeiramente, no
decorrer do complexo de Édipo 213e, posteriormente, em outros objetos
de amor escolhidos na fase adulta. Freud ainda não acredita em um
direcionamento completo da energia do Eu para objetos. Nesse caso
encontramos ainda no corpus aspectos metafóricos que ressoam nesse
pressuposto freudiano. Narciso, após se entregar em contemplação a
sua própria imagem, começa a perder as forças vitais até ser recebido
no inferno. “No lugar do corpo, encontraram uma flor amarela com
pétalas brancas em volta do centro.” (OVÍDIO, 2017, p. 197) A flor de
Narciso, ao nosso ver, pode ser utilizada como metáfora daquilo que
Freud defende como resultado do narcisismo primário. De acordo com o
1356
referido autor, a energia, que outrora fora dirigida ao Eu, é transformada
em dois elementos constituintes do psiquismo humano o “Eu-ideal” e o
“ideal-do-Eu”. O primeiro seria ainda resquícios de um narcisismo primário.
As aspirações ou idealizações que o Eu tem sobre si. Se pensarmos na
teoria lacaniana, o “Eu-ideal” estaria no âmbito do imaginário. Por sua
vez, o segundo diz respeito das projeções ou expectativas que os outros
socialmente esperam do sujeito, na teoria lacaniana estaria no campo
do simbólico. Assim como Narciso se transfigura em uma formosa flor, o
narcisismo primário não deixa de existir em sua totalidade, apenas se
modifica na forma de transferência libidinal existente entre o Eu-ideal e o
ideal-do-eu.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1357
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Ana Vicentini de. Mito e Psicanálise. Rio de Janeiro. Ed. Zahar.
(2004)
1358
psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XV. Rio de Janeiro. Ed.
Imago. 2006
1359
TERMINOLOGIA E TERMINOGRAFIA: UMA INCURSÃO AS BASES
TEÓRICAS E METODOLÓGICAS
1360
INTRODUÇÃO
1361
um conjunto de coisas e atividades peculiares a uma determinada área
técnica ou científica. A Terminologia ocupa-se em estudar os termos de
natureza técnica e cientifica e a Terminografia organiza e compila dados
terminológicos, bem como elabora materiais terminográficos. Muitos
estudiosos como Biderman (1984), defendem a Terminografia como uma
ciência que elabora dicionários. É, portanto, uma ciência que repertoria
e organiza sistematicamente um léxico em dicionário.
1 REFERENCIAL TEÓRICO
1362
Ciência ou técnica, usando a linguagem de uso geral, a Lexicografia
repertoria e organiza sistematicamente um léxico em dicionário
observando os aspectos gramatical e contextual das unidades lexicais.
1363
ou Terminografia, cuja finalidade é a descrição linguística, conceitual e
pragmática das unidades terminológicas (Uts) de um ou mais domínios.
O objetivo é produzir dicionário, glossário ou vocabulário especializado.
1364
armazena, mas as denominações oriundas dos “recortes” científicos ou
técnicos. Dessa forma, não se pode dizer que a Terminografia substitui a
Lexicografia, mas deve-se considerar o que diz Krieger & Finatto (2004, p.
13): “... Ao lado de fundamentos teóricos, há também uma dimensão
aplicada [da Terminologia], refletida na produção de glossários e
dicionários técnicos, entre outros instrumentos de organização formal das
terminologias.”
1365
2 METODOLOGIA
1366
conhecimento técnico. Essas UCEs, a princípio, estão presentes em
produtos lexicográficos, a exemplo do Novo dicionário da língua
portuguesa (1975), de Aurélio Buarque de Holanda, que registra grande
número de UCEs advindos de empréstimos recebidos do tupi e de línguas
africanas relativas à religião, fauna, flora, culinária.
1367
UNESP/AR, UFPE. Posteriormente a UFC, UFU, UNESP/ASSIS/SJRP, UEM,
UFSCAR, UFMS também começaram a desenvolver pesquisas em
Terminologia, oferecendo este curso aos seus alunos pós-graduandos.
1368
de-açúcar; os termos da Lingüística da Enunciação; o léxico da indústria
moveleira; a elaboração colaborativa de terminologias para
intercâmbio e difusão de conhecimento especializado.
Para a coleta dos dados, esta pesquisa buscou outros estudos que
culminaram em obras terminográficas como dicionários de
especialidade. As obras que constituíram fontes para nossas pesquisas
são de cunho terminológico e/ou socioterminológico, vinculadas ao
grupo de pesquisas GeoLinTerm, (Projeto Geossociolinguística e
Socioterminologia- Universidade Federal do Pará). Trata-se de um
macroprojeto que pesquisa a realidade léxica do Norte do Brasil,
coletando dados e traçando características nas áreas da
Geossociolinguística, da Socioterminologia e da Dialetologia. Encontra-
se sediado no Laboratório de Estudos da Linguagem da Universidade
Federal do Pará (UFPA), e é coordenado pelos professores Dr. Abdelhak
1369
Razky (UFPA/UnB), Drª Marilucia Oliveira (UFPA) e Dr. Alcides Fernandes
(UFPA).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1370
constituem seu objetivo. Diferente da Terminografia que prima pelas
linguagens de especialidade, pois parte da Terminologia referente a
algum domínio especializado. As obras terminográficas visam atender às
necessidades específicas de uma área, de determinado domínio
científico ou técnico e, por isso apresentam grande variedade tipológica,
uma vez que resultam dos diversos discursos daquele segmento em
análise.
1371
acordo com a oposição dialética estabelecida por Muller (1968) entre
sistema, norma e fala.
1372
3.1 A ESTRUTURA DOS DICIONÁRIOS
1373
objetivou-se a caracterização das duas últimas etapas em dicionários
especializados, uma vez que se percebeu em muitas obras o cruzamento
dessas acepções.
1374
As informações que compõem a microestrutura de um dicionário
terminológico são todas importantes, mas nenhuma é tanto ou quanto a
definição. É a partir dela que os verbetes são organizados em dicionários
especializados e o terminólogo/terminógrafo, usando seu conhecimento,
(re)significa uma UT.
1375
o terminólogo/terminógrafo acrescenta à definição, ou apresenta como
nota explicativa, comentários e julgamentos que julga necessários ao
entendimento do verbete (ALVES COSTA, 2015, p. 88-89). A
representação do verbete configura-se de:
1376
equivalentes, sinônimas. Nos dicionários terminológicos, as remissivas
costumam ser apresentadas pela etiqueta cf. As remissivas interligam
formas mais gerais com outras mais específicas. Enquanto as variantes
basicamente reúnem os sinônimos, as remissivas expressam conceitos
que interligam os hipônimos e hiperônimos.
1377
Considerando que tanto a macro quanto a microestrutura dos
dicionários devem resultar da combinação entre os objetivos pretendidos
pela obra e o público-alvo esperado, buscou-se o estudo realizado por
Oliveira; Razky (2016, p.287-310). Nele, os pesquisadores constataram o
pressuposto de que termos, fraseologias especializadas e variações
resultam sempre das percepções e dos usos que são realizados durante
o desenvolvimento das atividades técnicas ou científicas. Logo, a
importância, enfim, de obras terminográficas como um dicionário,
composto por termos e fraseologias especializadas, não só atende às
necessidades de um domínio especializado, mas pode ser um aporte
linguístico para o estabelecimento de relações científicas, técnicas,
comerciais, como também pode ser um registro de caráter eminente e
documental de um léxico de especialidade, ainda não realizado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1378
área bem restrita. Por isso, percebe-se que muitas vezes não há consenso
quanto à organização macroestrutural dos dicionários, do mesmo modo
que esse consenso não se mostra no nível microestrutural dessas mesmas
obras. Cabe, portanto ao terminógrafo/terminólogo tomar decisões de
acordo com o seu seus objetivos e seu público alvo. Portanto, os produtos
terminográficos são fundamentais para que o especialista possa
disseminar a informação técnico-científica, além de ser uma das
condições necessárias para o desenvolvimento desta. A partir disso
destaca-se a importância do conhecimento de que são muitos os fatores
que contribuem para a elaboração de um projeto terminográfico, além
de que as características tipológicas de uma obra dependem das
informações contidas em seus verbetes, do público que se quer atingir,
da extensão das entradas e outros.
1379
REFERÊNCIAS
1380
BARBOSA, M. A. Terminologia aplicada: percursos interdisciplinares. USP.
Polifonia, Cuiabá, n. 17, p. 29-44, 2009.
1381
CIOBANU, G. Peculiarities of Terminography. Boletim científico.
Universidade Politécnica de Timisoara. Tom 2, série Limbi moderne, 2003.
1382
KUDASHEV, I. Terminography vs. Lexicography Opposition Revisited.
Publikationer
1383
SILVA. M. M. A. da. A ciência da terminologia: bases históricas e sua
importância no século XXI. In. HWANG, Álvaro David; NADIN, Odair Luiz.
Linguagens em Interação III: Estudos do Léxico, p. 100-102, Maringá:
Chichetec, 2010.
1384
TERTÚLIA LITERÁRIA DIGITAL E COLETIVA: RELATO DE UMA
EXPERIÊNCIA ESCOLAR PELO VIÉS FREIRIANO
1385
INTRODUÇÃO
1386
Dessa forma, este relato pretende mostrar uma prática exitosa de
leitura, mesmo em meio às adversidades pandêmicas e a um momento
tão crucial para a educação com governos que estão alheios a situação
de pobreza, de falta de acessibilidade dos menos favorecidos.
1 METODOLOGIA
1387
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3 RELATO DE EXPERIÊNCIAS
1388
Essas relações igualitárias envolvem a solidariedade, o respeito, a
confiança, o apoio, em vez da imposição.
1389
educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens
educam entre si. Mediatizados pelo mundo (FREIRE, 2012, p.68).
1390
escolhido pela maioria dos alunos fora Aladim e a lâmpada maravilhosa,
presente no livro, As mil e uma noites. Os estudantes tiveram acesso ao
texto, leram e selecionaram um trecho.
1391
saberes conforme afirma Freire (1987, p. 68) “não há saber mais, nem
saber menos, há saberes diferentes”. E, é por meio desses saberes
diferentes que os alunos vão dialogando, desenvolvendo e (re)
construindo a completude de outros saberes.
1392
ainda assim, não pediram nada para si, pensaram na coletividade, em
uma forma de ajudar a todos. Isso mostra que a leitura não é só uma
tarefa escolar, ela vai, além disso. Por tudo que foi dito, fica evidente que,
a leitura leva o sujeito à reflexão, à construção do conhecimento.
Desenvolvendo assim, a criticidade, a problematização de assuntos
salutares para o debate dentro e fora de sala de aula.
Veja o que diz Freire (1989) sobre a prática de leitura em seu livro A
importância do ato de ler.
1393
e democrática no ato ler e de compartilhar conhecimento por meio da
junção de interpretações que vão se construindo ao longo da jornada.
Ademais, essa ação de dar, receber e retribuir faz com que uma
rede de solidariedade seja alcançada de forma horizontal na construção
do conhecimento baseado no respeito mútuo, na igualdade de
diferenças, na associação de repertório cultural, na equidade. Uma das
ações promovidas por essa troca é o movimento de partilha sem
interesse próprio, movido apenas pelo intuito da solidariedade e
empatia.
1394
enriquecimento do vocabulário, e ainda torna o ser compreensivo e
crítico ao ponto de manifestar suas opiniões ao longo da vida. Rangel e
Rojo (2010) coadunam com as ideias de Freire quando afirmam que
Leio para meus filhos não em função das aulas sobre a segunda
infância da faculdade (não as tive), ou porque o pediatra tenha
nos recomendado isso (ele não o fez), mas porque meu pai lia
para mim. Portanto, quando chegou minha vez, eu sabia que
havia uma tocha a ser passada de uma geração para outra
(CASTLE, 2005, p. 20).
1395
leitura liberta o leitor das falácias enganosas da vida. Conferindo, assim,
a prática da liberdade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1396
preciosa ferramenta facilitadora do desenvolvimento intelectual,
instrucional e social dos educandos.
1397
compromisso profissional como uma dívida do homem para com a sociedade,
assumida à medida que se fez profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1398
educação libertadora precisa permitir a liberdade dos sujeitos para
vislumbrar a prática da liberdade carregada de esperança, de
boniteza, de utopia.
REFERÊNCIAS
1399
____________. Educação e mudança. Tradução: Lilian Lopes Martin. 39 ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2018.
1400
UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A NOÇÃO TEMPORAL EM
A HORA DA ESTRELA O PERÍODO PANDÊMICO: COMO OS DIAS
PASSAM A PARTIR DA MONOTONIA
RESUMO: A Hora da Estrela, livro publicado em 1977, é um dos livros mais importantes de
Clarice Lispector. A obra abrange amplas reflexões, que vão desde assuntos
predominantes na sociedade à concepções filosóficas, com uma abordagem temporal
muito importante; Macabéa, personagem principal, lida com seus dias de forma
monótona, de forma a não pontuar em sua rotina passado e futuro, o presente se repete
de modo cotidiano. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo relacionar a
construção temporal à realidade pandêmica vivida por todos os brasileiros. Assim, os
principais autores utilizados para fundamentar teoricamente nossas reflexões foram:
Nunes (1988), Candido (2004), Oliveira (2020), Cavalcante (2020), Santos e Oliveira (2016),
Lima (2020); dentre outros. A metodologia empregada nesta pesquisa foi de
abordagem qualitativa, com viés descritivo e de cunho bibliográfico. Logo, os resultados
obtidos foram os de que, após fazer uma análise mais profunda sobre a concepção
temporal do texto, observa-se que tanto na obra literária quando no dia a dia
pandêmico há convergências, ainda que as realidades abordadas sejam distintas (real
e ficcional), o mecanismo de rotina criado de forma a sustentar um sistema de apatia,
afetando diretamente os sentidos psicológicos, ou fazendo uma abordagem mais
contextualizada inerente à saúde mental.
Email breendapsantos@gmail.com;
219Bacharel em Direito pela Universidade de Uberaba - UNIUBE, Pós-graduando em
Direito e Processo Civil pelo Centro Universitário União das Américas - UniÁmerica,
Graduando do Curso de Letras Português e Inglês da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro - UFTM. Pesquisador nas áreas de Direito e Literatura, Análise do Discurso, Ensino
de Língua Inglesa e Educação de Surdos. E-mail: igorrochacamargo@gmail.com.
1401
INTRODUÇÃO
1402
partir de uma noção temporal, a relação entre a obra A hora da Estrela
e o período pandêmico dentro do contexto da monotonia, bem como
apontar no texto fragmentos que possam relacionar/comprovar como a
obra se converge ao período de isolamento social, na medida em que
abarca e reflete sobre como a monotonia atinge os brasileiros,
observando os períodos em que livro e pandêmia ocorreram.
1403
consegue atingir seu objetivo, na medida em que a analogia se constrói,
dentro da nossa proposta.
1 METODOLOGIA
1404
de fenômenos, pois “esta vantagem se torna particularmente
importante quando o problema de pesquisa requer dados muito
dispersos pelo espaço” (GIL, 2008, p. 50).
2 FORTUNA CRÍTICA
1405
do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento
das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da
vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do
mundo e dos seres, o cultivo do humor. (CANDIDO, 2004, p.180).
1406
Quando LISPECTOR se dedica a falar sobre a vida de uma mulher
nordestina, a partir do ponto de vista e olhar de outro sujeito, ela traz
pontos até então esquecidos pela elite, público alvo de suas obras. O
apagamento de sua existência, sua redução a si mesma e a falta de
visibilidade diante das pessoas que a cercavam, denotam a Macabéa,
que até a página 43 não tem seu nome citado, um caráter de vítima,
tanto de si mesma, por ser quem se é, quanto da comunidade, por não
ter culpa de ser e viver presa a essa existência inútil, monótona e rasa,
que diante dos outros, não possui utilidade alguma.
1407
Consideramos assim, que a narrativa é o ponto preponderante
da obra, já que todo o enredo é construído por meio da narração de
Rodrigo S.M. Como o narrador descreve, a narrativa vai além de sua
significação primária, se concebendo, no decorrer das páginas, como
um desabafo. “Não se trata apenas de narrativa, é antes de tudo vida
primária que respira, respira, respira. Material poroso, um dia viverei aqui
a vida de uma molécula com seu estrondo possível de átomos.”
(LISPECTOR, 1977; p. 13).
1408
Como Nunes ressalta, há uma divergência entre esses tempos,
sendo o físico mais preciso e o psicológico impreciso, fundindo-se entre
passado e presente. Essa é justamente a construção de tempo notada
na nossa obra de investigação, já que o narrador descreve a história de
Macabéa, em no tempo físico presente, enquanto traz memórias que
completam sua narração. Dessa primeira ideia de tempo como um
fenômeno da alma, decorre a segunda que diz que, se o tempo se passa
na alma, ele não pode existir como três: passado, presente e futuro, (LYRA
E RIBEIRO, 2008; pg.67)
1409
presente, que se refaz e se reconstrói em si mesmo, já que os dias que se
passam são monótonos, presos na rotina e repletos de atitudes que
figuram um cenário de repetição.
1410
o que lhe dava uma existência” (LISPECTOR, 1977, pg. 81). Macabéa
estava, enfim, livre. Aqueles pequenos momentos que lhe permitiam
minúsculos instantes de liberdade, eram apenas um presságio de seu
grande momento de emancipação, tanto de si quanto de nós, os outros.
1411
irritabilidade, tristeza e medos diversos (de adoecer, morrer,
perder os meios de subsistência, transmitir o vírus), podendo levar
a alterações de apetite e sono, a conflitos familiares e a excessos
no consumo de álcool ou drogas ilícitas. (LIMA, 2020, p. 6).
1412
de auto análise, que culmina em uma concepção de derrota,
inexistência de sentido e autopiedade. “Mas eu, que não chego a ser ela,
sinto que vivo para nada. Sou gratuito e pago as contas de luz, gás e
telefone.” (LISPECTOR, 1977, p. 32).
1413
angústia em meio aos dias monótonos, construídos por meio de hábitos
repetidos. Essa rotina, de certa forma, se refere também a uma
inquietação pessoal, de um não suportamento a um convívio consigo
mesmo.
FRAGMENTO 1
Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para
mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou
cansado, não suporto mais a rotina de me ser e não se fosse a sempre
novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.
(LISPECTOR, 1977, p. 21)
1414
cidadão pertencente ao período pandêmico), sejam completamente
distintos e pertençam a contextos diferentes, a realidade experimentada
por ambos é igual e talvez as consequências geradas por esse isolamento
também sejam.
FRAGMENTO 2
Pois faz calor neste cubículo que me tranquei e de onde tenho a
veleidade de querer ver o mundo. Também tive que me abster de sexo
e de futebol. Sem falar que não tenho contato com ninguém.
(LISPECTOR, p. 23).
Não há, por exemplo, planos para o futuro, já que ambos vivem o
presente, de forma repetida, pois, ele reforça no fragmento, o sempre e
eternamente é o dia de hoje e o amanhã será um hoje, ou seja, todos os
dias serão hoje. Nesse sentido, o tempo físico transcorre, enquanto o
psicológico fica preso no instante do hoje, sendo a eternidade uma
construção temporal que reforça o agora.
1415
FRAGMENTO 3
Quero acrescentar, à guisa de informações sobre a jovem e sobre mim,
que vivemos exclusivamente no presente pois sempre e eternamente é
o dia de hoje e o dia de amanhã será um hoje, a eternidade é o estado
das coisas neste momento.
FRAGMENTO 4
Quanto a moça, ela vive num limbo impessoal, sem alcançar o pior
nem o melhor. Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e
expirando. (LISPECTOR, p. 23).
1416
dos dias que seguem são exatamente iguais. Essa rotina, entretanto, irrita
o narrador, que enfatiza se dar mal com a repetição. Ele constata, em
sua própria autoanálise, que essa invariabilidade o afasta de conhecer
possíveis novidades em sua vida.
FRAGMENTO 5
1417
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1418
REFERÊNCIAS
CAVALCANTE, Marta. O que nos faz pensar, Rio de Janeiro, v.29, n.46, p.8-
18, jan.-jun.2020
1419
UMA NARRATIVA PIAUIENSE: DESVENDANDO A ORGANIZAÇÃO
DISCURSIVA DO ROMANCE “VIDA GEMIDA EM SAMBAMBAIA”,
DE FONTES IBIAPINA220
INTRODUÇÃO
1420
um espaço construído, muitas vezes, sem um compromisso com a
realidade, isto é, abrindo possibilidades para a ficcionalização de um real,
não deixa de ser uma construção linguística de um sujeito, inserido em
um determinado contexto sócio-histórico e detentor de uma
determinada visão de mundo. Por isso mesmo, uma análise do discurso
literário, longe de confrontar as particularidades desse campo, tem muito
a contribuir para o seu entendimento enquanto produção discursiva.
1421
Dessa maneira, objetiva-se desvendar a organização discursiva deste
romance, preferencialmente os modos descritivo e narrativo, à luz da
perspectiva semiolinguística do discurso.
1 METODOLOGIA
1422
fenômenos propostos, contextualização sócio-histórica e escrita da
análise dos resultados e do presente artigo como um todo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1423
ordená-las em função das finalidades discursivas do ato de
comunicação”.
1424
2.1 O MODO DE ORGANIZAÇÃO DESCRITIVO
1425
incorporados aos procedimentos de organização da construção
descritiva, que podem ser de duas naturezas. De um lado, os
procedimentos discursivos: de identificação (para nomear), de
construção objetiva do mundo (para localizar-situar) e de construção
objetiva/subjetiva do mundo (para qualificar). De outro, utilizando de
categorias de língua a serviço dos componentes, estão os
procedimentos linguísticos. Quanto a eles, existem aqueles para nomear
(denominação, indeterminação, atualização etc.), localizar-situar (de
forma precisa ou imprecisa) e qualificar (acumulação de detalhes e de
precisões ou utilização de analogias). (CHARAUDEAU, 2016)
1426
russos, abrindo portas para reflexões mais estruturais sobre o
funcionamento desses tipos de textos. Diante dessas influências, em uma
perspectiva semiolinguística, mesmo que ainda motivado por
inquietações de certo modo parecidas, o foco recaí não mais a
compreensão de um gênero ou tipo textual em específico, mas para os
componentes e procedimentos de um modo de organização do discurso
cuja análise permite ampliar o entendimento das diversas possibilidades
de significação de um texto, seja ele literário ou não. Isto posto, partindo
do pressuposto de que a narrativa seria uma totalidade e o narrativo o
seu modo de organização, consideramos que:
1427
sucessiva, contínua e com início e fim – e de colocar o leitor diante de
um narrador, testemunha de algo a ser narrado, sendo isto ficcional ou
não. Além disso, ele seria caracterizado pela dupla articulação de uma
organização da lógica narrativa e de uma encenação narrativa; a
primeira mais voltada para o aspecto estrutural das narrativas, enquanto
a segunda para a construção dos universos narrados.
1428
Figura 1 – Dispositivo da encenação narrativa
1429
procedimentos discursivos. Eles manifestam-se na identidade, estatuto e
nos pontos de vista assumidos pelo narrador. De modo geral, eles
apontam para a maneira como um narrador poderá intervir em uma
narrativa, a posição assumida para contá-la e a perspectiva adotada.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1430
É possível percebê-las em funcionamento verificando a construção
descritiva de determinados discursos. Para tanto, observemos,
primeiramente, o seguinte fragmento:
1431
Maria do Céu, Margarina de Pedro Antônio, Paulo da Bodega, dentre
outros. Como é possível perceber, é frequente a presença de
caracterizações identificatórias ao lado dos nomes de cada um deles;
um fenômeno recorrente em nossas análises, principalmente, para
construir identificações pessimistas dos espaços e personagens. Vejamos
alguns exemplos: “A matutada sambambaiense amanheceu de crista
caída” (IBIAPINA, 1985, p.13, grifo nosso); “O nosso velho Piauí sofrido
parecia querer pegar fogo de uma vez” (IBIAPINA, 1985, p.18, grifo nosso);
“O fim de um pobre pai de família que roubava a fim de os filhos não
morrerem de fome” (IBIAPINA, 1985, p.45, grifo nosso) “À noite, o pé-
d´água bateu novamente. Surpresa por demais agradável para aquele
povo faminto e cadavérico” (IBIAPINA, 1985, p.70, grifo nosso).
1432
nomear, destacamos a categoria de denominação. Como já foi dito, na
maioria das vezes, os seus personagens são caracterizados a partir de
nomes próprios ou identificações específicas, assim como ocorre quando,
utilizando de categorias linguísticas para localizar-situar, é feito o seu
enquadramento espacial e temporal, investindo no detalhe e na
precisão para produzir um efeito realista àquele romance sobre a seca
no sertão piauiense. A começar pela sua abertura, o dia, mês e lugar já
é posto em evidencia antes mesmo de qualquer coisa: “Dezembro, dia
14. A matutada sambambaiense amanheceu de crista caída” (IBIAPINA,
1985, p.13).
1433
De maneira mais específica, a encenação descritiva desse
romance é ordenada por um sujeito descritor – o mesmo que assume o
papel de narrador. Ele descreve, nos capítulos iniciais da obra, a partir de
um olhar memorialístico para o seu passado, relembrando os seus tempos
de infância na fazenda de seus pais. No restante da obra, ele começa a
afastar-se, assumindo uma posição distante e tentando apagar-se diante
daquilo que passa a retratar, continuando a não revelar a sua identidade
explicitamente. Com isso, ele acaba projetando, por exemplo, efeitos de
saber, de realidade e de gênero.
1434
1953 prometeu cantar mais uma canção triste, melhor dizendo:
um bendito de defunto, nas caatingas secas de Sambambaia.
Se apenas prometer, não seria nada. O danado foi que
prometeu e cantou mesmo. E pior do que todas. Uma Seca
quase que escanchada noutra Seca. Duas Secas com um
inverno fracateado entre as pernas. Em pleno janeiro, e a mata
completamente desfolhada. Todos os dias, o sol dava um banho
de fogo nas caatingas. Toda a terra assim como se uma fornalha.
Fornalha maior do que as fornalhas dos grandes engenhos dos
tempos da escravidão negra emendada umas às outras. As
roças mais limpas que terreiro preparado para jornadas de São
Gonçalo. Tudo só sinal de tristeza para o povo daquele chão
(IBIAPINA, 1985, p.155-156, grifo nosso).
1435
3.2 O MODO DE ORGANIZAÇÃO NARRATIVO
1436
Ao lado dessa personagem inusitada, estão os actantes no papel
narrativo de vítimas e injustiçados, os quais são preenchidos por vários
personagens, como é o caso de Alonso, o personagem principal cujos
passos são acompanhados ao longo do romance. Ele é a vítima da ação
da seca e é qualificado ora de maneira positiva, ora negativa. Além disso,
inicialmente, ele reage àquela situação colocada diante de si por meio
de uma resposta, tentando superá-la; mas, ao final, a fuga acaba sendo
a sua única salvação.
1437
Essa ação de Alonso não é à toa nem isolada das demais que se
sucedem ao longo da narrativa. Todas elas fazem partes de sequências
narrativas, cada uma seguindo determinados princípios de organização.
A título de exemplo, observemos como se dá o funcionamento dos
princípios de coerência e encadeamento:
1438
Fechamento Não aguentando as punições e
humilhações recebidas, Alonso decide ir
embora de Sambambaia juntamente
com sua família, buscando melhores
condições para a sobrevivência.
Fonte: O autor
1439
acontecimentos, ações e consequências seguindo sempre os
acontecimentos de forma linear.
1440
Ele organiza a sua narrativa de acordo com os códigos daquele mundo
particular. Dessa forma, convoca um leitor-destinatário a receber aquela
história como pertencente a um universo ficcional, isto é, idealizado pela
sua imaginação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1441
IBIAPINA, Fontes. Vida Gemida em Sambambaia. São Paulo: Clube do
Livro, 1985.
1442
A ARGUMENTAÇÃO EM RESENHAS DA REDE SOCIAL SKOOB: UM
ESTUDO SOBRE A FUNÇÃO DO OPERADOR ‘MAS’
1443
INTRODUÇÃO
1444
Partindo disto, esta pesquisa buscou responder a seguinte
pergunta: com que função o operador argumentativo “mas” tem sido
empregado nas resenhas postadas por usuários da plataforma Skoob?
Tendo como objetivo geral contribuir para caracterizar as formas de
interação entre usuários na referida rede social por meio do estudo da
argumentação em 20 (vinte) resenhas postadas na sua plataforma. E por
objetivos específicos verificar a ocorrência do operador argumentativo
“mas‟ em resenhas de apreciação tanto positiva quanto negativa sobre
o livro “A culpa é das estrelas”; observar a(s) função(ões) que o operador
masPA exerce nos dois tipos de resenha e descrever como o operador
masPA contribui para a construção da argumentação dos resenhadores.
1445
1 METODOLOGIA
1446
classificação se deu a partir das notas dos usuários (1 a 5 estrelas), sendo
4 a 5 consideradas como apreciação positiva e de 1 a 3, como
apreciação negativa da obra. Foi feita também uma catalogação com
levantamento de sexo, idade, nota e data de postagem. Sendo assim, o
corpus se constitui de dez resenhas de apreciação positiva e dez
resenhas de apreciação negativa.
Resenhas de Resenhas de
apreciação negativa
apreciação positiva
1447
Ocorrências 37 Ocorrências 31
do ‘mas’ do „mas‟
Fonte: O autor.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1448
Segundo a concepção da ‘argumentação na língua’, defendida
por Ducrot, há na própria estrutura do enunciado algumas marcas que
detêm a função argumentativa, ou seja, o valor argumentativo de uma
frase não é só uma consequência das informações presentes nesta, mas
a frase “pode comportar diversos morfemas, expressões, termos que,
além de seu conteúdo informativo, servem para dar uma orientação
argumentativa ao enunciado, a conduzir o destinatário em tal ou qual
direção” (DUCROT, 1981. p.178).
1449
argumental. E, assim, toda língua oferece mecanismos que nos permitem
identificar a orientação argumentativa dos enunciados. Tais mecanismos
são comumente chamados de marcas linguísticas da enunciação ou da
argumentação.
1450
menor dos conteúdos dos enunciados” (GUIMARÃES, 1987, p. 28). Dessa
forma, “o enunciado p’ é mais forte que p, se toda classe argumentativa
que contém p contém também p‟, e se p‟ é nela, cada vez, superior a p”
(DUCROT, 1987, p. 182).
1451
A conjunção “mas”, foco deste trabalho, é considerada por Ducrot
(1957) o operador argumentativo por excelência, por ser utilizado
frequentemente nos mais diferentes enunciados, uma vez que contrapõe
argumentos, sendo um recurso importante no encadeamento de
enunciados.
1452
Em que A é argumento a favor de r e B argumento a favor de ~r,
sendo este argumento predominante. Portanto A mas B é argumento
para ~r. A conclusão final, portanto, será a conclusão ~r.
1453
usuário, a estante virtual, metas de leitura, recados, grupos de discussão,
área de resenhas e vídeos.
Fonte: Skoob
1454
interações virtuais têm aberto espaço para gêneros verbais e não verbais,
assim como estabelece novas estruturas para gêneros existentes.
1455
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1456
O título desta resenha – “Não foi tudo aquilo” - esclarece de
imediato que houve uma decepção com a obra. Esta decepção é
explanada nas primeiras frases da resenha, sendo, então, a tese
norteadora sob a qual a resenha se baseará. Neste primeiro parágrafo,
temos a primeira ocorrência do “mas”: “Eu escolhi ler o livro bem depois
de todo o burburinho para evitar decepção, mas nem assim consegui
escapar”, em que nota-se a seguinte orientação argumentativa:
r ~r
A (é uma obra bonitinha com mas B ( que não passa disso
uma mensagem válida
1457
2) ~r O final não decepciona O final decepciona
~r
A (O final é tocante e mas B ( ...falta algo..
1458
O livro não foi tudo aquilo O livro não foi tudo aquilo
ou O livro não supre as ou O livro não supre as
expectativas expectativas
1459
vemos que não existe uma contraposição direta, em grande parte, se
referindo a expectativas, mas sim, muitas vezes, acrescentando
argumentos que fortalecem os detalhes comentados, podendo gerar,
inclusive, mais expectativa no leitor da resenha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização desta pesquisa, foi possível ter uma ampla visão
do ato de argumentar, algo tão intrínseco a linguagem e ao ser humano.
É interessante notar o quanto a interação virtual favorece um espaço de
opinião, de discussão, em que se pode opinar e discutir sobre diversos
assuntos. Destacamos a rede social Skoob como um espaço de
divulgação, opinião e discussão sobre literatura em geral.
1460
Desta forma, entender o que tem sido produzido nesta plataforma
é um trabalho interessante na medida em que esta é uma plataforma
nova com diversos recursos que podem oferecer auxílio a metodologias
de ensino que prevejam em sua sequência didática o uso de elementos
midiático que estimulem o aprendizado. Do mesmo modo, a rede social
pode ser um propulsor de estímulo para formar novos leitores, e também
um resgate pelo gosto da leitura daqueles que por algum motivo
deixaram de lado este hábito. Pode-se perceber que, por meio das
ferramentas disponíveis, a experiência de leitura torna-se ainda mais
interativa, afinal, se você gosta de uma leitura, você quer conversar sobre
ela.
1461
Por fim, acredita-se que este trabalho possibilita compreender e
caracterizar uma rede social que tem ferramentas interessantes, com
boas possibilidades de usos em diversos contextos, além de ter um
ambiente de discussão constante sobre literatura, em que a
argumentação é um fator fundamental. Desta forma, esses
conhecimentos e discussões aqui construídos estarão a partir de agora
abertos aos trabalhos vindouros.
REFERÊNCIAS
KOCH, Ingedore Villaça. A Inter-Ação pela linguagem. (10. ed.) São Paulo:
Contexto, 2010.
1462
ANEXOS
ANEXO A - RESENHA
N#02
Eu sei que MUITAS pessoas vão discordar de mim nesta resenha. Justamente
porque eu estou discordando delas. Infelizmente minhas expectativas para o
livro A Culpa é das Estrelas do John Green estavam absurdamente altas. O que
aconteceu? Não foi tudo aquilo que eu imaginava. Eu escolhi ler o livro bem
depois de todo o burburinho para evitar decepção, mas nem assim consegui
escapar.
O livro que conta a história de Hazel e Gus. Dois adolescentes que tem
envolvimento com o câncer. Hazel é uma paciente terminal que tem câncer
desde os 13 anos e a grande dúvida dela não é se vai morrer, mas sim quando
irá morrer. Pode acontecer a qualquer momento e bem, a mãe dela só quer
que ela aproveite enquanto pode da sua vida. Hazel é uma personagem
irônica ao extremo e impaciente com a atitude das pessoas com os pacientes
de câncer. A vida dela muda completamente quando conhece Augustus
Waters em mais uma sessão do Grupo de Apoio a Crianças com Câncer.
Augustus é tudo que Hazel precisava para voltar a ter vontade de fazer as coisas.
O motivo. O problema é que Hazel não quer ser a grande bomba prestes a
explodir a qualquer momento em sua vida.
No começo eu fiquei bem cansada da Hazel, fiquei irritada com as atitudes dela
e argh, sem paciência para ler as páginas de lamentação por algo que ela não
queria lamentar (?). A história só me prendeu bem depois da metade do livro.
Com uma grande aventura de Hazel e Gus até então eu não tinha visto nada
demais no livro. O final é realmente tocante e surpreendente. O que eu pensei
o tempo todo durante a leitura não aconteceu, e isso foi muito bom. Mas sabe
aquela sensação de que falta algo? Apesar de ficar arrasada com o final,
penso que cadê tudo aquilo? O sentimento é de falta. E não é o vazio pelo final
do livro, mas sim a espera pelo algo a mais.
Minha dica para quem ainda não leu: Não vá com muita expectativa, tenho
medo que você se decepcione como eu. Aliás, torço para que sua experiência
seja melhor que a minha.
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Ocorrência do ‘mas’ em N#02
Eu escolhi ler o livro bem depois de todo o burburinho para evitar decepção,
mas nem assim consegui escapar.
O final é realmente tocante e surpreendente. O que eu pensei o tempo todo
durante a leitura não aconteceu, e isso foi muito bom. Mas sabe aquela
sensação de que falta algo?
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