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TMS - TERAPIA DOS MOVIMENTOS SISTÊMICOS

Entenda o Modelo

Integrativo Sistêmico-

Cognitivo

Eduardo Lomando

Cláudia Sigaran
Neste E-book você irá encontrar:

Por que integrar abordagens?


Modelo integrativo
sistêmico-cognitivo
Conceitos básicos de TCC
Axiomas da Comunicação
Causalidade Recursiva
Distorções Cognitivas
Fronteiras
Padrões relacionais
Esquemas emocionais
Valores

TMS - TERAPIA DOS MOVIMENTOS SISTÊMICOS


INTRODUÇÃO
A clínica em psicologia está, cada vez
mais, focada na busca da eficiência
terapêutica.

As rígidas afiliações
conceituais e disputas entre
linhas teóricas estão abrindo
espaço para discussões
integradas, provavelmente
derivadas de currículos
acadêmicos mais
diversificados. 

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INTRODUÇÃO
A crescente produção de terapias
psicológicas nos coloca no dever ético de
responsabilidade, explícito no quarto
princípio do nosso código de ética
profissional¹:

“O psicólogo atuará com


responsabilidade, por
meio do contínuo
aprimoramento
profissional, contribuindo
para o desenvolvimento da
Psicologia como campo
científico de
conhecimento e de
prática”.

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INTRODUÇÃO
Prado² reforça que a lógica integrativa
reflete o intercâmbio intelectual em que
vivemos e entende como inevitável o
cotejamento dos vários enfoques em
terapia:

“todo conceito é uma


construção; portanto,
uma versão de uma
determinada realidade.
Quando algum novo
conceito responde
melhor a esta realidade,
podemos adotá-lo no
lugar do que vínhamos
utilizando”.

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INTRODUÇÃO
Neste desafio integrativo, os
principais favorecidos são
aqueles que nos buscam:
sujeitos únicos, complexos e
que necessitam de olhares
especiais e, portanto,
práticas singulares.

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INTRODUÇÃO
Nós trabalhamos com a abordagem
sistêmica há bastante tempo, e a
integração cognitiva e narrativa tem
trazido muitos ganhos nesta caminhada
em psicoterapia.

Porém, nos deparamos com um problema


importante: a necessidade de um modelo
integrativo dessas práticas. Afinal de
contas, precisamos compreender e
ensinar o que fazemos. 

Em razão disso, a seguir apresentaremos


nossa proposta de modelo sistêmico-
cognitivo que poderá auxiliar terapeutas
e pessoas em atendimento na integração
e visualização dos conceitos trabalhados
até agora.

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INTRODUÇÃO
Nosso intuito também é o de propor essa
discussão e provocar novos modelos
integrativos. Esperamos que, num
momento não tão distante, possamos
testar e criar modelos cada vez mais
complexos e eficientes à prática clínica.

Como utilizamos apenas um conceito


central da Terapia Narrativa, e não toda
construção teórica, nomeamos o modelo
como sistêmico-cognitivo. Mas
ressaltamos o apreço pelo trabalho
narrativo na nossa prática clínica.

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Modelo Sistêmico-Cognitivo
Iniciamos este modelo pelos conceitos da
TCC³, como demonstrados na figura 01.
Como visto, essa abordagem demonstra a
interação entre emoções, cognição
(pensamento, regras e crenças), corpo e
comportamento.

De forma breve, as situações de vida


(ambiente, eventos, memórias, etc.) são os
ativadores da avaliação emocional e
cognitiva que, em relação com nossas
mudanças corporais e nossos
comportamentos, respondem à situação.

FIGURA 01

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Além do comportamento, a maneira como
nosso corpo se altera e o tipo de emoção
que nos é ativada também são formas de
se comunicar com a situação.

Quando vemos alguém mexer suas


sobrancelhas e outros músculos faciais,
nossa capacidade de teoria da mente nos
faz interpretar o que está passando na
cabeça desta outra pessoa.

Quando vemos o suor escorrer do rosto


de alguém com quem estamos interagindo
ou quando vemos sair lágrimas de seus
olhos, novamente avaliamos a partir de
nossa emoção e cognição, o que pode
estar acontecendo.

Logo, se traçarmos um paralelo entre os


conceitos sistêmicos e cognitivos, é
possível afirmar, inicialmente, três
aspectos.

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Primeiro, que emoção, corpo e
comportamento são formas de se
comunicar.

Segundo, que o evento disparador da


ativação emocional e cognitiva pode ser um
processo cognitivo (uma memória, um
pensamento), um ponto do ambiente (tocar
o sinal da escola, ler uma prova), ou uma
interação pessoal. Este último faz sentido
num modelo integrativo, pois estamos
afirmando que a situação vivida também é
a própria interação que temos com outras
pessoas: relacionamentos amorosos,
familiares, amigos, colegas de trabalho,
desconhecidos, etc.

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Terceiro, que essa interação nos coloca
como elemento de um sistema contextual
maior, no qual interagimos em
determinado momento. Nesse caso, somos
um subsistema de um sistema maior que
nós mesmos. Ao mesmo tempo, essa
interação cognição-corpo-emoção-
comportamento é um sistema em si
mesmo: o subsistema individual, produto
das construções singulares de vida de cada
pessoa. A figura 02 é a primeira etapa da
reflexão dessa interação sistêmico-
cognitivo.

FIGURA 02 

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A comunicação é um
dos principais focos
de trabalho da
terapia sistêmica.

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É através dela que a interação acontece entre
as pessoas.

Entretanto, o modelo anterior fica incompleto


se não nos dedicamos a compreender os
processos comunicacionais (emoções, corpo
e comportamento) e cognitivos da(s)
pessoa(s) com a qual estamos interagindo.

Portanto, o primeiro passo é o espelhamento


do modelo cognitivo e sua conexão através
dos três aspectos que integram a
comunicação: emoção, corpo e
comportamento (figura 03).

Esses três aspectos em relação aos mesmos


com os quais interagimos representam o
processo de comunicação.

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Além deles, a
comunicação é
composta de cinco Axiomas
axiomas fundamentais da Comunicação
para compreendermos
os processos de 1. É impossível não se
sofrimento e saúde comunicar.
relacional. 2. A comunicação pode
ser digital e
analógica.
O axioma relativo à
3. Toda comunicação
pontuação nos mostra
possui um conteúdo
que, quando contamos e uma intenção.
algo sobre alguma 4. A pontuação
coisa, pontuamos o influencia na
fato a partir de algum comunicação.
começo, que 5. A comunicação pode
escolhemos de forma ser simétrica ou
arbitrária. Temos a complementar.
ilusão de que esse
ponto pode ser a
origem da
comunicação, mas
esse início inexiste.

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Uma comunicação é
produto e processo
ao mesmo tempo
numa relação de
causalidade Recursividade
recursiva.
É um princípio que
rege os sistemas vivos,
Quem fala, fala de
o qual diz que cada
algum lugar efeito, comportamento
subjetivo, da mesma ou ação retorna, cedo
forma como quem ou tarde, a si mesmo;
escuta. ou seja, os efeitos e
produtos são
Ao mesmo tempo em fundamentais para a
existência do próprio
que um membro
processo que os gera,
comunicante usa a
sendo assim, o própio
linguagem verbal produto se tornará
(lugar de emissor), o produtor daquilo que o
outro (lugar de produz.
receptor) está
enviando mensagens
não verbais com sua
expressão corporal.

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Essa troca constante
de posições faz com
que seja impossível
separar o emissor do
receptor de dada
mensagem, uma vez
que qualquer pessoa
irá desempenhar
esses dois papéis no
processo de se
comunicar.

Além disso, toda


comunicação corre o
risco de ter
distorções Distorções
cognitivas, que Cognitivas
podem prejudicar a
avaliação do evento. São as interpretações
errôneas (distorcidas)
que tiramos de uma
informação que nos
foi transmitida; são
decorrentes das
crenças e esquemas
disfuncionais que
possuímos.
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Na figura 03, as flechas circulares representam
a recursividade na comunicação, assim como a
atenção aos axiomas na comunicação e
distorções cognitivas.

Como o processo cognitivo não é diretamente


percebido por quem interagimos, as flechas
superior e inferior demonstram que a
mensagem também será processada pela
cognição, ou seja, pela nossa capacidade de
percepção e interpretação dos eventos.

Ao mesmo tempo em que a comunicação irá se


expressar pelo comportamento, corpo e emoção,
será avaliada pelas nossas emoções e cognição,
num movimento dinâmico e retroalimentado.
FIGURA 03 

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Na medida em que as pessoas se comunicam,
essa interação vai criando “encaixes” que irão
produzir mais ou menos saúde na relação dos
comunicantes.

Por hora, iremos resumi-las da seguinte


maneira: podemos encaixar uma comunicação
que promova saúde, bem estar, crescimento,
etc. (+) na mesma comunicação saudável de
outra pessoa. Podemos encaixar o pior de nós
mesmos, nosso sofrimento, desadaptação, etc
(-) também no negativo de outra pessoa.

Por fim, a relação pode ocorrer de forma


antagônica: a saúde de um com o sofrimento
de outro.

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Os símbolos + e -, na figura 04, descrevem
essas possibilidades. Nesses encaixes, é
possível manter padrões de sofrimento ou
criar espirais de saúde, dependendo de como
essa relação cria estratégias para lidar com as
nuances da interação.

FIGURA 04 

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Na medida em que
esses padrões ou
espirais vão sendo
criados, as pessoas
em relação vão
estabelecendo
fronteiras entre si. As Fronteiras
linhas desenhadas ao
redor da Rígida: relação
comunicação como um muro
representam os três relacional, trocas
tipos de fronteiras: emocionais são
rígidas (linha), nítida evitadas entre os
(tracejado) e membros do
emaranhada sistema.
(pontilhado). Emaranhada:
relação com uma
ligação excessiva
entre as pessoas.
Nítida: relação em
que tudo depende
do que for
negociado entre as
partes, o que pode
passar ou não.

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Até o momento, as representações na figura
04 focam interações presentes e nos dão um
panorama mais próximo dos movimentos
atuais da interação.

Torna-se necessário, portanto, anexar ao


modelo quatro conceitos complementares que
nos direcionam à profundidade dos
subsistemas individuais: os processos
transgeracionais, os esquemas/crenças, o
contexto e os valores.

A compreensão desses quatro aspectos de


cada pessoa nos apresenta suas histórias de
vida e suas nuances mais valorosas e/ou
frágeis, esses serão aspectos cruciais para o
processo de psicoterapia.

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Quando falamos em transgeracionalidade, nos
referimos aos conceitos de fusão emocional e
diferenciação de self das famílias de origem,
presentes nas lealdades, rituais, legados,
segredos e mitos.

As formas como as pessoas lidam com suas


histórias de vida terão impactos significativos
naqueles que cuidam, sejam filhos/as ou
qualquer outro nesse papel.

Quanto mais as pessoas são


fusionadas na sua
transgeracionalidade, maior é
a força com que os esquemas
iniciais desadaptativos se
ativam.

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Ou seja, podemos acreditar que não somos
amados, que não temos capacidade, que
somos defeituosos, frágeis, incompreendidos,
etc. e ter mais chances de projetar essas
fragilidades em quem cuidamos ou nos
relacionamos.

Ao passar às próximas gerações deveres que


não são deles ou desafios que uma criança ou
adolescente não tem maturidade para lidar,
abre-se o caminho para a criação e
manutenção desses esquemas
desadaptativos.

As fusões emocionais são processos


geradores e mantenedores de esquemas
desadaptativos, uma vez que as fragilidades
de quem cuida poderão ser transmitidas para
as próximas gerações, mesmo sem intenção.

Quando nos diferenciamos, tanto das


fragilidades de quem nos cuidou, quanto dos
nossos esquemas desadaptativos, ficamos
mais livres para lidar com as nossas próprias
vidas e nossas demandas relacionais.

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Nessa relação de fusões
emocionais e diferenciações,
as pessoas tendem a solidificar
essas verdades sobre si
mesmas, sobre os outros e
sobre o seu futuro (tríade
cognitiva).

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Por outro lado, esse processamento
emocional e cognitivo não é um produto
apenas das relações parentais.

Se vivêssemos numa sociedade de classe


média alta vitoriana, poderíamos até arriscar
dizer que os pais (e em especial a mãe) eram
os únicos a habitar as fantasias infantis. Mas
isso mudou drasticamente.

Atualmente, é possível encontrar cuidadores


que passam menos tempo com seus filhos/as
do que estes passam na escola, com amigos,
sozinhos, com avós, nas mídias ou redes
sociais, etc.

Vivemos num momento em que competimos


com todos esses sistemas para termos a
atenção dos nossos filhos/ as, ao mesmo
tempo em que eles também competem para
ter a nossa.

A cena dos pais/mães brincando na pracinha


com seus filhos está sendo adicionada à cena
dos pais/mães usando o celular enquanto seus
filhos brincam sozinhos.

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A tecnologia e as relações sociais nos tomam
diariamente e, mesmo quando estamos
diferenciados para exercer o cuidado daqueles
que amamos, não estamos “blindados” do
contexto em que vivemos.

Mesmo que façamos o máximo que


pudermos, é improvável escapar da violência
social, do bullying escolar, da corrupção, do
sexismo, racismo, homo-transfobia, etc. Por
melhores pais, mães ou cuidadores/as que
sejamos, não podemos proteger quem
cuidamos de todos os males do mundo.

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Ao mesmo tempo, o contexto em que vivemos
pode também promover o contato com
pessoas singulares, por vezes influentes na
proteção contra o sofrimento e na promoção
da saúde mental.

A professora que escutava, a avó que


financiava, o vizinho que acolhia, a assistente
social que reconhecia e a diretora que é vista
como modelo são exemplos de pessoas fora
do núcleo familiar que podem desempenhar
papéis únicos, constituintes dos contextos de
vida das pessoas que atendemos.

Portanto, o contexto também deve ser


levado em conta na sua interação com os
processos de fusionamento e diferenciação,
assim como na construção singular da
cognição e das emoções.

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Por fim, é importante entendermos como os
valores, virtudes e forças guiam a vida das
pessoas.

Uma vida narrada através deles poderá, junto


com os processos de diferenciação, ser
geradora de saúde e bem-estar.

Os valores não nos parecem ficar na superfície


da consciência, mas eles são expressos pelas
nossas atitudes.

Por causa dessa natureza implícita, nem


sempre é fácil para as pessoas
compreenderem essas virtudes que guiam a
consciência e seus atos.

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Por exemplo, uma filha que ouve as exigências
dos pais sobre voltar cedo para casa pode não
perceber os valores de cuidado e amor
implícitos no discurso deles e, como não os
interpreta, pode processar apenas a dureza na
fala dos genitores e responder com raiva.

A partir da conexão com esses últimos fatores,


a figura 05 representa o modelo final criado
por nós.

Nela, colocamos as fusões da família de


origem acima das crenças, como se fazendo
pressão para que elas se desenvolvam de
forma desadaptativa.

Em baixo, sustentando e dando suporte às


crenças adaptativas, colocamos a
diferenciação da família de origem, somada a
todo sistema de valores e virtudes que as
pessoas trazem consigo.

Ao lado, colocamos o contexto, representando


as relações que as pessoas têm com suas
redes de apoio social e as vulnerabilidades do
meio em que vivem.

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FIGURA 05 

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CONCLUSÃO
A criação desse modelo também tem a
intenção de servir como aproximação
teórica entre abordagens terapêuticas que
outrora ficavam isoladas.

Acreditamos que a criação de modelos


integrados, assim como nos trabalhos de
Bowlby e Young, quebram “barreiras”
conceituais e facilitam a comunicação
entre profissionais de linhas diferentes.

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CONCLUSÃO

Abordagens integradas
podem aumentar as
chances de percebermos e
trabalharmos com diversos
elementos da
complexidade que
constitui a vida das
pessoas que buscam em
nós uma vida melhor.

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Referências

1. CÓDIGO de Ética Profissional do


Psicólogo. Brasília. Agosto, 2005.
2. PRADO, L. O ser terapeuta. Porto
Alegre: Gráfica UFRGS, 2002.
3.   GREENBERGER, D.; PADESKY, C. A
mente vencendo o humor. Porto
Alegre: Artmed, 1999.
4. WRIGHT, J.; BASCO, M.; THASE, M.
Aprendendo a terapia
cognitivocomportamental: um guia
ilustrativo. Porto Alegre: Artmed,
2008.
5. LE DOUX, J.; HOFMANN, S. The
subjective experience of emotion: a
fearful view. Current Opinion in
Behavioral Sciences, vol. 19, p. 67-
72. 2018.

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