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Seria difícil falar do filme “Sergio” sem citar o momento específico que o

mundo vive. No longa, acompanhamos uma leitura da vida de Sergio Vieira de


Mello, brasileiro que, como alto comissário da ONU, conseguiu realizar feitos
internacionais importantes, como garantir a independência do Timor Leste e
atuar em diversos conflitos mundiais.
Conforme podemos ver na interpretação de Wagner Moura e em alguns
momentos do filme relacionados à Guerra do Iraque, Sergio acreditava na
função imparcial da Organização das Nações Unidas. O órgão criado após o fim
da Segunda Guerra Mundial tem justamente o objetivo de cooperar com a paz
e a integração entre os países, simbolizando e promovendo a união entre os
povos. É uma pena, portanto, que muitas pessoas e governos questionem a
importância de tais instituições, incluindo as agências especializadas (como a
OMS, por exemplo).
É curioso, portanto, que possamos ver no filme Sergio um documento que
ressalte a importância da ONU e de seus funcionários, ainda que seus objetivos
primevos não sejam esses. O filme é dirigido por Greg Barker, que foi
responsável pelo documentário também intitulado “Sergio”, exibido pela HBO
em 2009. Como o próprio nome de ambos os filmes mostra, trata-se de uma
homenagem ao homem simples que foi o protagonista, já que o próprio
secretário-geral da ONU na época o homenageou como “apenas Sergio”.

Esperto ao narrar a história do biografado em forma de flashbacks, o diretor


traz mais dinâmica à trama, evitando assim uma trajetória cronológica que
poderia ser mais enfadonha. Com isso, vemos logo no começo os momentos
finais de Sergio, enquanto ele recorda os acontecimentos recentes de sua vida,
incluindo sua paixão recente pela argentina Carolina Larriera (Ana de Armas),
poupando detalhes de sua relação com os filhos, por exemplo. Se encararmos
como um flashback literal, ou seja, como se o personagem estivesse se
lembrando de tudo, em alguns momentos as coisas podem não fazer tanto
sentido, mas se a ideia é repassar sua vida como se houvesse um narrador
externo, talvez faça mais sentido.
E se a ideia de utilizar uma fotografia mais quente para as lembranças de
Sergio no Rio de Janeiro e no Timor Leste não é nada mais do que o esperado,
ao menos é eficaz. As cenas entrecortadas conseguem muitas vezes formar
ótimas rimas visuais com os famosos “match cuts”, ainda que muitas vezes
também haja cortes abruptos, o que pode ter sido uma escolha para sair de
um momento feliz (com um belo samba de Cartola) e lembrar que o
protagonista está em uma situação dramática, dando mais urgência. Nada
além do essencialmente eficiente.
Também não se pode falar de situação dramática sem citar Wagner Moura,
que consegue dar uma força e resiliência à figura do personagem, ainda que
muitas vezes possa resvalar no overacting. Sua química com Ana de Armas
(com quem também fez par, menos romântico, em Wasp Network) também
ajuda na ideia de tornar o biografado mais humano e menos “glorificado”,
fazendo do filme uma homenagem mais sóbria – algo que nem toda
cinebiografia de grandes figuras consegue fazer.
Tudo isso faz com que Sergio seja um filme eficiente e pontual que, além de
homenagear um brasileiro que deveria ser lembrado por sua contribuição ao
mundo, chega em um momento de rupturas. Após um breve período de
retorno ao nacionalismo exacerbado e ao isolamento dos países, uma crise
sem precedentes exige ainda mais união entre os povos (ainda que o resultado
real disso não será possível de ver tão cedo).
Sergio Vieira de Mello resolvia conflitos com base no diálogo. E talvez seja o
diálogo uma das principais vacinas que precisamos.

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