Você está na página 1de 90

INSTITUTO FEDERAL

Mato Grosso do Sul


Centro de Referência
em Educação a Distância Cread

INTRODUÇÃO À
LÓGICA
Luis Henrique de Souza
IFMS – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato
Grosso do Sul Campus – Campo Grande
Material Didático Mediacional elaborado especificamente para o curso
de Introdução à Lógica na modalidade EaD do IFMS.
Introdução à Lógica

Indicação de Ícones

Objetivos de Glossário
Aprendizagem

Subseções de Atenção!
Estudo

Fique de Olho Dica

Guarde Bem Isto Você Sabia?

Link Saiba Mais

Download Revisando...

Vídeo/Áudio Para Refletir...

Leitura Exercícios
Complementar de Fixação

3
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

4
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Sumário
Apresentação............................................................................................. 7

1. Os Princípios Fundamentais da Lógica................................................ 9

2. O Silogismo Categórico.......................................................................... 13
2.1 Introdução................................................................................................................ 13
2.2 Tipos de Premissas do Silogismo Categórico....................................................... 14
2.3 Modos do Silogismo Categórico............................................................................ 17
2.4 Termos do Silogismo Categórico........................................................................... 18
2.5 Figuras do Silogismo Categórico........................................................................... 19

3. Diagramas de Venn................................................................................ 25

4. Falácias Formais..................................................................................... 31

5. Lógica Simbólica ou Matemática......................................................... 33


5.1 Introdução e História.............................................................................................. 33
5.2 Tradução................................................................................................................... 34
5.3 Operadores Lógicos ou Conectivos Verifuncionais............................................. 35
5.4 Aplicação dos Conectivos Lógicos em Sentenças Complexas........................... 43
5.5. Verificação do Valor na Tabela de Verdade......................................................... 44

6. Implicação e Equivalência..................................................................... 49
6.1 Relação de Implicação: ⇒............................................................................................. 50
6.2 Relação de Equivalência: ⇔.......................................................................................... 50
6.3. Equivalências Notáveis.......................................................................................... 51

7. Dedução Natural.................................................................................... 55
7.1 Regras de Inferência............................................................................................... 55
7.2 Tabela de Dedução Natural.................................................................................... 58

8. Técnicas de Dedução............................................................................. 65
8.1 Prova Condicional.................................................................................................... 65
8.2 Prova Bicondicional................................................................................................. 66
8.3 Prova Indireta........................................................................................................... 67

9. Cálculo de Predicados........................................................................... 69
9.1 Introdução................................................................................................................ 69
9.2 Tradução dos Tipos de Premissas para a Linguagem do CP............................. 73
9.3 A Dedução Natural e o Cálculo de Predicados.................................................... 77

5
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica
9.4 Regras de Inferência do Cálculo de Predicados ................................................. 78

10. Considerações Finais........................................................................... 83

Referências Bibliográficas........................................................................ 87

E-Referências.............................................................................................. 87

6
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Apresentação

N
osso curso foi elaborado pensando em todas as pessoas que gos-
tariam de aprimorar seu raciocínio lógico. Por meio do estudo
da lógica, temos condições de avaliar mais claramente os argu-
mentos dos outros e os nossos próprios, melhorando nossa capacidade
de comunicação, articulação e organização. Esse é um dos desafios do
mundo contemporâneo e um dos desafios do Brasil: tornar a comunica-
ção clara!

Não raro, encontramo-nos em discussões acaloradas sobre este ou


aquele assunto, em ambientes formais e informais e, não menos raro,
não nos fazemos entender e não compreendemos nossos interlocuto-
res. O estudo da lógica nos permite diferenciar os argumentos que fo-
ram bem elaborados daqueles que não o foram. Muitas vezes, utilizamos
falácias formais e/ou informais para sustentar determinadas posições e
nem percebemos que estamos cometendo erros lógicos.

Esperamos poder contribuir no aprimoramento da sua capacidade ana-


lítica, de modo que se torne capaz de identificar e prevenir-se contra
estes argumentos falaciosos. Também se tiver de encarar questões de
lógica em concursos públicos ou em outras provas que exigem capacida-
de analítica aguçada o nosso curso será de grande ajuda.

Espero que você aproveite o curso da melhor maneira possível!

7
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

8
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

1. Os Princípios Fundamentais da Lógica

Os princípios fundamentais da lógica são:

1. Princípio da Identidade: o ser é e o não ser não é.


2. Princípio da Não-contradição: o ser não pode ser e não ser.
3. Princípio do Terceiro Excluído: o ser é ou não é e não há terceira
opção.

Rigorosamente formulados por Aristóteles, a intuição destes prin-


cípios fundamentais da Lógica se deu na filosofia de Parmênides de
Eléia. Sobre ele, diz Nietzsche:
XI. E ele era um grego, cujo “florescimento” é aproximadamente contempo-
râneo à eclosão da revolução jônica. Era então possível a um grego fugir da
profusa efetividade como de um puro e impostor esquema da imaginação.
Fugir, não, por exemplo, como Platão, para o país das ideias eternas, para a
oficina do artesão do mundo, para passear os olhos nos protótipos imacula-
dos e inquebráveis das coisas – mas para o rígido sossego de morte do mais
frio e inexpressivo conceito, o ser. Queremos guardar-nos de interpretar este
fato notável segundo falsas analogias. Aquela fuga não era uma fuga universal
no sentido dos filósofos hindus, para ela não era exigida a profunda convic-
ção religiosa da perversidade, mutabilidade e infelicidade da existência; aque-
la meta final, o repouso no ser, não era aspirada como o mergulho místico
em uma representação totalmente satisfatória e encantadora que, para os ho-
mens comuns, é um enigma e um escândalo. O pensamento de Parmênides
não traz em si nada do perfume sombrio e embriagante dos hindus, perfume
que talvez não seja totalmente imperceptível em Pitágoras e Empédocles; o
milagroso naquele fato, para aquele tempo, é antes o inodoro, o incolor,
o inanimado, o deformado, a falta total de sangue, de religiosidade e
de calor ético, o esquematismo abstrato – em um grego! O milagroso é
antes de tudo a terrível energia da aspiração à certeza em uma época de
pensamento místico, fantástico e sumamente móvel. A oração de Parmê-
nides é: “ó deuses, concedei-me apenas uma certeza! E que ela seja uma
tábua sobre o mar da incerteza, apenas larga o suficiente para permane-
cer sobre ela. Tomai para vós tudo o que vem-a-ser, o que é exuberante,
multicolorido, florescente, enganador, excitante e vivo; e dai-me apenas
a única, pobre e vazia certeza”.

Na filosofia de Parmênides preludia-se o tema da ontologia. A experiência


não lhe apresentava em nenhuma parte um ser tal como ele pensava, mas,
do fato que podia pensá-lo, ele concluía que ele precisava existir: uma con-
clusão que repousa sobre o pressuposto de que nós temos um órgão do co-
nhecimento que vai à essência das coisas e é independente da experiência.
Segundo Parmênides, o elemento de nosso pensamento não está presente
na intuição, mas é trazido de outra parte, de um mundo extrassensível ao

9
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica
qual nós temos um acesso direto através do pensamento. Aristóteles já
fizera valer, contra todas as deduções análogas, que a existência nunca
pertence à essência, que o ser-aí nunca pertence à essência das coisas.
Exatamente por isso não se pode, a partir do conceito “ser” – cuja es-
sentia é apenas o ser –, concluir uma existentia do ser (NIETZSCHE,
A filosofia na época trágica dos gregos, p. 150-151).

Como a Lógica é fria! Seu funcionamento não diz respeito ao mun-


do percebido pelos sentidos, suas regras dizem respeito apenas ao seu
próprio modo de ser. Parmênides diz:
(1)

O carro que me transportava levou-me tão longe quanto desejava meu co-
ração, quando me trouxe e me colocou no famoso caminho da deusa, que
conduz o homem sábio por todas as cidades. Por esse caminho fui condu-
zido, pois por ele me levaram as sábias éguas que puxavam meu carro, e as
donzelas mostraram o caminho. E o eixo, reluzindo nos cubos – pois era
impelido a girar pelas rodas turbilhonantes em cada extremidade –, emitia
um som como o da flauta, quando as filhas do Sol, apressando-se em me
levar para a luz, afastaram do rosto os véus e abandonaram a morada da
Noite.

Lá se encontram os portais dos caminhos da Noite e do Dia, encimados


por um lintel e com uma soleira de pedra. Eles mesmos, bem alto no éter,
são fechados por majestosas portas, e a vindicante Justiça guarda as chaves
que a elas se ajustam. A ela as donzelas rogaram com doces palavras e per-
suadiram-na habilmente a remover sem demora a tranca aferrolhada das
portas. Então, quando as portas se abriram, descerraram ampla abertura,
quando fizeram girar um após outro seus brônzeos gonzos ajustados por
cavilhas e chavetas. Através delas, em linha reta, pelo longo caminho, logo
as donzelas guiaram as éguas e o carro, e a deusa me saudou benévola, to-
mando na sua minha mão direita, e dirigiu-me estas palavras:

Bem-vindo, ó jovem, tu que na minha morada chegas no carro conduzido


por aurigas imortais! Não foi a má sorte, mas o direito e a justiça que te
enviaram por este caminho. Longe, na verdade, ele está da tão batida senda
dos homens! De tudo convêm que te instruas, tanto do inabalável âmago
da verdade rotunda quanto das opiniões de mortais em que não há con-
fiança verdadeira. Ainda assim, também isto aprenderás: como, passando
por todas as coisas, se deve julgar as coisas que parecem ser.

...

Mas, desse caminho de investigação refreia teu pensamento e não deixes


que o hábito, com sua grande experiência, te obrigue a lançar sobre esse
caminho um olhar errante, nem ouvido ou língua auscultadores; mas julga
pelo discurso a muito controvertida prova por mim anunciada. Resta ape-
nas um caminho que se pode falar...

O CAMINHO DA VERDADE
(2)

Olha firme com tua mente para as coisas, como se te estivessem à mão
mesmo que distantes. Não podes impedir o que é de ater-se ao que é, nem
ordenadamente disperso por toda parte, nem tampouco reunido.

10
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica
(3)

É o mesmo, para mim, por onde começo, pois a isso retornarei mais uma vez.

(4, 5)

Vem, pois, e eu te direi – e tu, atenta para o meu dito e leva-o contigo – os
dois únicos caminhos de investigação em que se pode pensar. O primeiro,
aquilo que é e que lhe é impossível não ser, é o caminho da convicção, pois a
verdade é sua companheira. O outro, aquilo que não é e que precisa necessa-
riamente não ser – esse, eu te digo, é uma trilha sobre a qual ninguém pode
aprender. Pois não podes conhecer o que não é – isso é impossível – nem
enunciá-lo, pois o que pode ser pensado e o que pode ser são o mesmo.

(6)

Necessariamente, o que pode ser dito e pensado é, pois lhe é possível ser
e, ao que é nada, não é possível ser. Isto é o que te ordeno que ponderes.
Afasto-te desse primeiro caminho de investigação, e também do outro por
onde vagueiam, dicéfalos, os mortais que nada sabem; pois a impotência
lhes guia no peito o pensamento errante, e assim eles são levados, perple-
xos, qual surdos e cegos. São turbas sem discernimento, que crêem que o é
e o não é são e não são o mesmo, e tudo caminha em direções contrárias!

(7)

Pois jamais se provará que as coisas que não são, são; afasta teu pensamen-
to dessa via de investigação (PARMÊNIDES apud BURNT, A aurora da
filosofia grega, p. 190-192, negrito nosso).

A frieza é da natureza da Lógica. Uma propo- Pelo menos para a lógica que
sição lógica é verdadeira ou falsa, não há meias iremos tratar neste curso e que é
base para outras mais avançadas
verdades e nem meias mentiras. Na Lógica as onde é possível ser e não ser, mas
isso não nos diz respeito por en-
coisas são ou não são, no mundo elas são e não quanto. O mesmo valeria para a
são. “Nos mesmos rios entramos e não entra- física de Newton em relação à de
Einstein. Sabemos que a física de
mos; somos e não somos”, dizia Heráclito de Newton não explica fenômenos
quânticos, ela está limitada a um
Éfeso (apud BURNET, 2006, p. 156, Fragmen- certo campo de observação, sem
to 81). Na Lógica uma coisa não pode deixar de muita precisão, por sinal. Novas
experiências colocaram novos
ser; no mundo, entretanto, elas necessariamente problemas de tal forma alheios
os ensinamentos de Newton que
deixam de ser o que são. Ela foi implacável com foi preciso uma outra explicação.
Sócrates que será eternamente mortal. É o caso das novas linguagens
computacionais, que são formu-
ladas em outras bases, mas que
podem não ser compreendidas
sem uma boa base lógica.

11
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

12
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

2. O Silogismo Categórico

2.1 Introdução

TODO HOMEM É MORTAL.


SÓCRATES É HOMEM.
PORTANTO, SÓCRATES É MORTAL.

Nossa primeira lição de lógica remonta a Aristóteles. O argumento


acima ficou famoso e é símbolo máximo da Lógica Clássica. Iremos
compreender como este tipo de raciocínio é formado.

Um Silogismo Categórico (SC) possui duas premissas (P1 e P2)


e uma conclusão (C) que é uma nova premissa formada pela relação
entre as outras duas.

P1 = TODO HOMEM É MORTAL.


P2 = SÓCRATES É HOMEM.
C = SÓCRATES É MORTAL.

É importante notar que não estamos interessados no conteúdo do


argumento, mas apenas na sua forma.

Observe o seguinte argumento:

Todos os brasileiros são latino-americanos.


Todos os paulistas são brasileiros.
Portanto, todos os paulistas são latino-americanos.

Você consegue notar que existe muita semelhança entre este argu-
mento e o anterior?

13
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Veja:
1. Ambos têm três linhas (P1, P2 e Conclusão).
2. Cada linha tem um sujeito e um predicado (que denominare-
mos “termos”).
3. Cada um desses termos se repete duas vezes.

Existem ainda outras semelhanças, mas, por enquanto, ficaremos


apenas com estas.

Para ficar claro que não estamos interessados no conteúdo dos ar-
gumentos, observe o seguinte argumento:

Todos os gatos são caninos.


Garfield é um gato.
Portanto, Garfield é canino.

Sabemos que os gatos não são caninos. Entretanto, do ponto de


vista formal, que é aquele que interessa para a Lógica, o argumento
está correto e dizemos que se trata de um Silogismo Categórico (SC)
como os outros dois anteriores.

É importante que fique claro para você que a Lógica trata da va-
lidade formal dos argumentos e não da verdade empírica dos fatos.
Neste sentido, um argumento pode ser logicamente válido mesmo
que não seja verdadeiro no mundo real.

2.2 Tipos de Premissas do Silogismo Categórico


Como vimos na lição anterior, cada uma das linhas (P1, P2 e C) de
um Silogismo Categórico (SC) é uma premissa.

As premissas de um SC podem ser de quatro tipos: A, E, I e O.


Mas porquê?

Trata-se de convenção.

14
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Para facilitar a memorização destas denominações dizemos que:

A vem de AFIRMO.
E vem de NEGO.
I vem de AFIRMO.
O vem de NEGO.

Observe as definições:

TIPO A - UNIVERSAL AFIRMATIVA


As premissas do Tipo A são aquelas que afirmam algo a respeito
de toda uma classe de objetos. Geralmente virão acompanhadas do
pronome indefinido “Todos”.

Exemplos:
• “Todos os pássaros são bípedes”;
• “Todos os homens são mortais”;
• “Todos os felinos são mamíferos”; etc.

É importante notar que uma premissa do Tipo A pode pressupor o


pronome indefinido sem que este esteja explícito na frase.

Por exemplo: “Os gatos são felinos” = “Todos os gatos são felinos”

Pressupomos que se trata de todos os gatos. Entretanto, o pronome


indefinido “Todos” está oculto. Recomendamos a utilização do pro-
nome, pois, gramaticalmente, fica mais claro.

TIPO E – UNIVERSAL NEGATIVA


As premissas do Tipo E são aquelas que negam algo a respeito de
toda uma classe de objetos, ao contrário das do Tipo A. Geralmente
elas virão acompanhadas do pronome indefinido “Nenhum”.

Exemplos:
• “Nenhum felino possui asas”;
• “Nenhum homem possui penas”;
• “Nenhum metal contém células”; etc.
15
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

É importante notar que uma premissa do Tipo E poderia ocultar,


como as premissas do Tipo A, o pronome indefinido “Nenhum”.

Por exemplo: “Felinos não possuem asas” = “Nenhum felino pos-


sui asas”

O pronome indefinido “Nenhum” foi substituído pela negação do


verbo “não possuem”. Recomendamos a utilização do pronome, pois,
gramaticalmente, fica mais claro.

TIPO I – PARTICULAR AFIRMATIVA


As premissas do Tipo I são aquelas que afirmam algo apenas de
uma parte de uma classe de objetos ou apenas de um único indivíduo.
Geralmente virão acompanhadas do pronome “Algum”.

Exemplos:
• “Algumas maçãs são verdes”;
• “Algum mamífero é felino”;
• “Algum pássaro é azul”; etc.

É importante perceber que as premissas que utilizam nomes pesso-


ais e que são afirmativas são todas do Tipo I.

Exemplos:
• “Luis é professor”;
• “Danilo é piloto de avião”;
• “William é médico” etc.

TIPO O – PARTICULAR NEGATIVA


As premissas do Tipo O são aquelas que negam algo apenas a uma
parte de uma classe de objetos ou apenas a um único indivíduo. Geral-
mente virão acompanhadas do pronome “Algum” e da negação “não”.

Exemplos:
• “Algumas maçãs não são vermelhas”;
• “Algum mamífero não é felino”;
• “Algum pássaro não é amarelo”; etc.
16
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

A Tabela 1 mostra em resumo os tipos de premissas mais usuais na Lógica.

Tabela 1 – Tipos de Premissas

A UA Todo S é P

E UN Nenhum S é P

I PA Algum S é P

O PN Algum S não é P

2.3 Modos do Silogismo Categórico


Por modo do Silogismo Categórico (SC) entende-se a disposição
dos tipos das premissas em um SC. Os modos válidos são 10:

AAA – AEE – EAE – AAI – IAI – AII – AOO – OAO – EAO – EIO

As premissas são frases simples com sujeito, verbo e predicado.

Exemplos:
AAA
A - Todo homem é mortal.
A - Todo brasileiro é homem.
A - Portanto, todo brasileiro é mortal.

EAE
E - Nenhum homem é imortal.
A - Todo brasileiro é homem.
E - Portanto, nenhum brasileiro é imortal.

AAI
A - Todos os mamíferos são vertebrados.
A - Todos os mamíferos são animais.
I - Portanto, alguns animais são vertebrados.

EAO
E - Nenhum português é americano.
A - Todo português é europeu.
O - Portanto, algum europeu não é americano.
17
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Observe que o argumento do Modo EAO que acabamos de for-


mular parece concluir algo falso. Aqui é importante lembrar aquilo
que já dissemos antes, ou seja, que na Lógica o que importa é a forma
do argumento e não o seu conteúdo empírico.

Parece óbvio que nenhum europeu é americano, mas por que a


conclusão afirma que apenas algum europeu não é americano?

Porque a conclusão deriva das premissas do argumento e as premissas


do argumento não nos dão informação suficiente para uma conclusão
do Tipo E, como nos parece óbvio porque já sabemos isso de antemão.
Repare que o Modo AEA não é um dos 10 modos válidos do SC e que,
portanto, é uma Falácia Formal das quais falaremos em breve.

2.4 Termos do Silogismo Categórico


Nas premissas lógicas, sujeito e predicado são chamados termos.
Em um SC temos 3 termos:
O Termo Sujeito (S) é o sujeito da conclusão.
O Termo Médio (M) é aquele que está nas premissas, mas não na
conclusão.
O Termo Predicado (P) é o predicado da conclusão.

Tomemos o famoso argumento sobre a morte de Sócrates.

Todo homem é mortal.


Sócrates é homem.
Portanto, Sócrates é mortal.

Temos os seguintes termos relacionados:


• Homem;
• Mortal;
• Sócrates.

Cada um desses termos cumpre uma função dentro de um SC.


• Sócrates é o nosso S.
• Mortal é o nosso P.
• Homem é o nosso M.

18
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Portanto, poderíamos substituir as palavras pelas letras e reescrever


o argumento da seguinte forma:

Todo M é P.
Algum S é M.
Portanto, algum S é P.

E ainda, utilizando os Modos e Tipos poderíamos reescrever o ar-


gumento apenas como:

A-M–P
I-S–M
I-S-P

Com o conhecimento dessas definições podemos compreender as


Figuras do Silogismo Categórico.

2.5 Figuras do Silogismo Categórico


Até aqui você pôde conhecer os Tipos, Modos e Termos do Silo-
gismo Categórico. Nesta lição você irá conhecer as Figuras do SC.

A Figura depende das posições que os Termos ocupam em cada


uma das premissas, hora fazendo a função de sujeito e hora fazendo a
função de predicado.

Vimos que um Silogismo Categórico possui uma forma e que po-


demos prescindir do conteúdo empírico do argumento ficando apenas
com sua estrutura formal.

O famoso SC de Aristóteles pode ser assim formalizado:


Tabela 2 – Formalização do SC

Todo homem é mortal. A M-P


Sócrates é homem. I S-M
Portanto, Sócrates é mortal. I S-P.

19
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Onde “M” substitui a palavra “homem”, “P” substitui a palavra


“mortal” e “S” substitui a palavra “Sócrates”, “A” indica que a P1 é
uma proposição do Tipo A (Todo M é P) e I indica que tanto a P2
quanto a Conclusão são proposições do Tipo I (Algum S é M e Algum
S é P, respectivamente).

São possíveis quatro formas de distribuição dos termos (S, P e M)


em um SC. Dizemos que existem 4 Figuras do SC:

Tabela 3 – Figuras do SC

F1 F2 F3 F4

M-P P-M M-P P-M

S-M S-M M-S M-S

S-P S-P S-P S-P

Nem todos os 10 modos válidos podem ser aplicados em todas as


quatro figuras do SC. Os modos válidos para cada figura são:

Tabela 4 – Figuras e Modos válidos do SC

F1 AAA – EAE – AII – EIO

F2 EAE – AEE – EIO – AOO

F3 AAI – IAI – AII – EAO – OAO – EIO

F4 AAI – AEE – IAI – EAO – EIO

Da combinação entre as figuras do SC e os modos válidos para


cada uma delas obtemos 19 formas válidas de SC. As outras formas
possíveis são falácias (erros lógicos).

20
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Exercícios
1. Preencha as informações a seguir e faça um SC para cada uma
de suas 19 formas válidas conforme os exemplos:

F1

MODO FIGURA

A M P

A S M

A S P

E M P

A S M

E S P

A M TODO HOMEM É P MORTAL

I S SÓCRATES É M HOMEM

I S SÓCRATES É P MORTAL

E M P

I S M

O S P

F2

E P NENHUM RÉPITIL É M MAMÍFERO

A S TODO FELINO É M MAMÍFERO

E S NENHUM FELINO É P RÉPTIL

21
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

A P M

E S M

E S P

E P M

I S M

O S P

A P M

O S M

O S P

F3

A M TODO MAMÍFERO É P ANIMAL

A M TODO MAMÍFERO É S VERTEBRADO


ALGUM
I S P ANIMAL
VERTEBRADO É

I M P

A M S

I S P

A M P

I M S

I S P

E M P

A M S

O S P

22
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

O M P
A M S
O S P

E M P
I M S
O S P

F4

A P TODO PAULISTA É M BRASILEIRO

A M TODO BRASILEIRO É S SUL-AMERICANO

I S ALGUM SUL-AMERICANO É P PAULISTA

A P M

E M S

E S P

I P M

A M S

I S P

E P M

A M S

O S P

E P M

I M S

O S P

23
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

24
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

3. Diagramas de Venn

Os Diagramas de Venn são representações gráficas muito utilizadas


na Matemática para representar relações entre conjuntos. Na Lógica,
eles serão úteis para a verificação da validade do Silogismo Categórico.
Por meio dos diagramas, podemos comprovar as regras estabelecidas
entre os diferentes modos e figuras do SC.

Para facilitar o entendimento, vamos iniciar com o exemplo de SC


de Aristóteles e iremos representá-lo no diagrama. Vamos ao exemplo!

Todo homem é mortal.


Sócrates é homem.
Portanto, Sócrates é mortal.

Representado graficamente pelo seguinte diagrama:

Como vimos, nosso exemplo é um SC da Figura 1 (F1) do Modo AII.

A M-P
I S-M
I S–P

25
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Observe que temos três circunferências, uma para cada um dos


termos do SC (S-P-M).
• A circunferência do seu lado esquerdo representará, de agora em
diante, o Termo Menor ou Termo Sujeito (S).
• A circunferência do seu lado direito representará, de agora em
diante, o Termo Maior ou Termo Predicado (P).
• A circunferência inferior ou central, representará, de agora em
diante, o Termo Médio (M).

Sabemos que:
S = Sócrates.
P = Mortal.
M = Homem.

1. Observe que uma parte da Circunferência M está colorida. Isso


significa que esta parte colorida em cinza está vazia, ou seja, não existe
nenhum elemento do conjunto M (no nosso caso, “homem”) no espaço
colorido ou todos os elementos do conjunto M fazem parte do con-
junto P (no nosso caso, “mortal”). Esse colorido será a representação
gráfica da P1 que é do Tipo A – Todo M é P – “Todo homem é mortal”.

2. Observe agora que existe um “x” desenhado na intersecção entre S


e M. Isso significa que algum elemento (“Sócrates”) do conjunto S faz,
também, parte do conjunto M (“Homem”). O “x” será a representação
gráfica da P2 que é do Tipo I – Algum S é M – “Sócrates é homem”.

3. Observe agora que o “x” também se encontra na intersecção en-


tre S e P. Isso significa que algum elemento do conjunto S pertence
também ao conjunto P. Ele representa a Conclusão do SC que tam-
bém é do Tipo I – Algum S é P – “Sócrates é mortal”.

Faremos agora uma análise mais detalhada das regras de aplicação


do Diagrama de Venn para a representação gráfica do SC.

Como vimos na explicação do exemplo, pintar ou não pintar, colo-


car ou não colocar um “x” no digrama depende dos tipos de premissas
que estão sendo utilizadas no SC.
26
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Para as premissas do Tipo A (Todo S é P, p.ex.) teremos a seguinte


representação gráfica:

Para as premissas do Tipo E (Nenhum S é P, p.ex.) teremos a se-


guinte representação gráfica:

Para as premissas do Tipo I (Algum S é P, p.ex.) teremos a seguinte


representação gráfica:

Finalmente, para as premissas do Tipo O (Algum S não é P, p.ex.)


teremos a seguinte representação gráfica:

27
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Obs. Estamos utilizando S e P, apenas como exemplo, mas é óbvio


que poderia ser S-M, M-S, M-P ou P-M (P-S não é permitido!).

A relação entre duas circunferências é a expressão gráfica de uma


premissa, já quando temos três circunferências ao invés de apenas
duas, então estamos diante da expressão gráfica de um SC. Os diagra-
mas podem representar ainda mais conjuntos e sua aplicação na ma-
temática pode exigir outras circunferências. No entanto, para o nosso
objetivo de verificar a validade de um SC utilizando os diagramas,
ficaremos apenas com as três. Vejamos alguns exemplos!

Exemplo 1
F1 – EIO

E M NENHUM POLÍTICO É P HONESTO

I S JOÃO É M POLÍTICO

O S JOÃO NÃO É P HONESTO

Análise:
• note que a intersecção entre P (o círculo superior à sua direita) e
M (o círculo inferior) está totalmente preenchida indicando que não
há nenhum M (político) que também seja P (honesto);
• com isso, a intersecção entre S (o círculo superior à sua esquerda)
e M (o círculo inferior) ficou limitada;
• note que há um “x” na área que sobrou da intersecção entre S e
M indicando que existe pelo menos um S (João) que é M (político);

28
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

• como o “x” está fora da intersecção entre S e P, podemos concluir


que existe ao menos um S (João) que não é P (honesto).

Exemplo 2
Figura 2 - AEE

A P TODOS OS PIRATAS BEBEM M RUM

E S NENHUM CORSÁRIO BEBE M RUM

E S NENHUM CORSÁRIO É P PIRATA

Análise:
• note que a parte de P (círculo superior à direita) que está fora da
intersecção entre P e M (círculo inferior) está toda pintada, indicando
que todo P (piratas) é também M (bebem rum);
• note também que toda a intersecção entre S (círculo superior à
esquerda) e M (círculo inferior) está preenchida, indicando que ne-
nhum S (corsário) é M (bebe vinho);
• com isso, fica evidente, pelo diagrama, que nenhum S (corsário)
é P (pirata), pois toda a intersecção entre S e P está pintada.

Os diagramas de Venn podem não só provar a validade do Silo-


gismo Categórico como também podem mostrar que determinado
argumento é uma Falácia Formal, como veremos a seguir.

29
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Exercícios
1. Com base nos conhecimentos adquiridos, procure fazer cada
um dos diagramas dos 19 silogismos categóricos válidos que fo-
ram dados no exercício anterior.

30
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

4. Falácias Formais

Vimos que um SC do ponto de vista de sua estrutura formal pode


ser geometricamente representado por um diagrama de Venn que nos
mostra a sua validade formal evidentemente, como exigia Descartes.
Entretanto, não raro, ocorre de formularmos mal os nossos raciocí-
nios, a estes raciocínios mal formulados damos o nome de Falácias
Formais. As Falácias Formais são raciocínios mal formulados do pon-
to de vista lógico, o que significa que a estrutura formal do raciocínio
impede que sua conclusão derive das premissas do argumento. Vere-
mos como isto ocorre, recorrendo ao Diagrama de Venn.

Como exemplo, iremos propor quebrar as regras que havíamos es-


tabelecido quando falávamos que nem todos os modos do SC valem
para todas as figuras do SC. Caso você não se lembre dessa lição,
recomendamos voltar e ler novamente!

Segundo o que foi expresso na Tabela 4 – Figuras e Modos váli-


dos do SC, ficou estabelecido que um SC que utiliza a estrutura da
Figura 2 não permite o Modo AAA. Mas por quê? Para responder
essa questão iremos nos valer do que aprendemos com os Diagramas
de Venn. Mas, primeiro, vamos montar um argumento utilizando a
F2 mais o Modo AAA.

Exemplo:

MODO FIGURA 2
TODO
A P M BRASILEIRO.
PAULISTA É
TODO CARIOCA
A S M BRASILEIRO.
É
TODO CARIOCA
A S P PAULISTA.
É

31
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

É óbvio que nenhum paulista é carioca! Mas como chegamos a este


erro, uma vez que as duas premissas anteriores são verdadeiras? Como
é possível que de premissas verdadeiras derive uma conclusão falsa?
Para o argumento anterior, teremos o seguinte diagrama de Venn:

Vemos com clareza ímpar, observando o diagrama que nem todo


S (carioca) é P (paulista). Para isso, colorimos de amareno a área do
diagrama que mostra evidentemente que a conclusão não deriva
das premissas no diagrama que replicamos ao lado (apenas para
facilitar o entendimento). Na verdade, o argumento é tão mal formu-
lado que não podemos nem concluir que nenhum carioca é paulista,
uma vez que existem indivíduos do conjunto S (carioca) em toda a
intersecção de S com o conjunto M (brasileiro) onde também existem
elementos do conjunto P (paulista). Podemos dizer que a conclusão
não deriva das premissas ou que das premissas nada se pode con-
cluir ou, simplesmente: trata-se de uma falácia formal.

Exercícios
1. Elabore quatro falácias formais aplicando um modo inválido
para cada uma das figuras do SC e depois faça o Diagrama de
Venn evidenciando a falácia.

32
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

5. Lógica Simbólica ou Matemática

5.1 Introdução e História


Neste tópico, falaremos sobre a lógica simbólica. Lógica que re-
monta às investigações realizadas pelo filósofo e matemático alemão
Gottfried Wilhelm Leibniz que anteviu, em seus estudos sobre os sím-
bolos adotados pelas culturas orientais em sua linguagem, a possibi-
lidade de uma linguagem lógica baseada no uso de símbolos. Mais
tarde, outros pensadores como George Boole, Augustos De Morgan,
Charles Sanders Peirce, Gottlob Frege e Bertrand Russell sistematiza-
ram e “deram vida” ao sonho de Leibniz.

No entanto, cabe notar, que devemos aos Estoicos (escola de pen-


samento que remonta a Zenão de Citium que nasceu por volta de 386
a. C.) e aos Megáricos a intuição das relações lógicas que iremos tratar
neste tópico.
Aparentemente, Crísipo foi um perspicaz observador de cães, defendendo
que se você vir um cão perseguindo uma pista ao longo de uma estrada, o
comportamento do animal irá revelar sua compreensão lógica elementar.
Suponha que a estrada que ele está percorrendo divida-se em três: o cão irá
farejar um dos caminhos e, se a pista desaparecer também, irá retornar ao
entroncamento. Ele então, irá farejar o segundo caminho sem mesmo se dar
ao trabalho de farejar o chão! Essa observação mostra - defendeu Crísipo,
que o cão segue o seguinte princípio:

Ou bem o Primeiro, o Segundo ou o Terceiro.


Não o Primeiro.
Não o Segundo.
Portanto, o Terceiro.
O uso que os estoicos fazem de ‘o Primeiro’, ‘o Segundo’, etc., é um exem-
plo de uma das primeiras tentativas de simbolizar - obtendo o mesmo
efeito que alcançamos hoje com o uso de ‘p’s e ‘q’s. Havia uma escola de ló-
gica ainda mais antiga - os Megáricos - que serviram de inspiração para os
Estóicos e é a estas escolas que devemos uma versão primitiva da notação e
dos princípios da lógica verifuncional (GOLDSTEIN et al, 2007, p. 41).

Esta lógica está na base da Lógica Computacional e foi, em certo


sentido, responsável pela possibilidade da existência dos computado-
res. Se você tem interesse pela área de programação ou mesmo se já
compreende seu funcionamento, este estudo lhe será muito útil e não
33
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

deixará de ser ainda que não se interesse muito pela programação, afi-
nal de contas: a Lógica diz respeito ao nosso modo de raciocinar. So-
mos nós que emprestamos essa capacidade de raciocínio às máquinas!

A lógica que estamos prestes a estudar irá abandonar o uso da lin-


guagem comum e adotar símbolos para a expressão de suas proposi-
ções. Teremos, portanto, que aprender a falar e a traduzir nosso pen-
samento para essa nova língua.

Existem muitas abordagens distintas sobre a simbologia que ire-


mos adotar, pois esta depende de convenção. Importa compreender a
estrutura simples desta nova língua.

5.2 Tradução
Cada uma das sentenças simples que utilizamos em nossos argu-
mentos são traduzidos na Lógica Simbólica ou Matemática por uma
letra. Comumente utiliza-se as letras p, q, r, s, t e u. Neste sentido,
uma sentença simples como “Pedro foi ao supermercado”, será re-
presentada apenas pela letra p. Isso mesmo! Não é simples? Ao invés
de escrever a frase toda, escrevemos apenas p. Vamos supor que em
um argumento conectam-se três sentenças simples. Por exemplo:

“Pedro foi ao mercado” = p


“Maria foi visitar Madalena” = q
“Jesus foi ao templo” = r

Vamos supor que a sentença complexa que iremos formar seja esta:

“Se Pedro foi ao mercado e Maria foi visitar Madalena, então


Jesus foi ao templo”.

Para representar a sentença complexa ou argumento, teremos:

(p ^ q) → r

Talvez você não tenha compreendido a expressão como um todo,


mas não se preocupe, pois tudo será devidamente explicado.

34
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

A lógica simbólica herdou da matemática a simplicidade. Simplici-


dade que facilita a verificação de se uma proposição é logicamente válida
ou não-válida, pois, nesta linguagem mais simples, as relações ficam
mais intuitivas, como são as operações da matemática que, incorpora-
da a certas lógicas computacionais contemporâneas podem realizar vá-
rios cálculos com uma velocidade monstruosa. É incrível, mas um bom
programa de contabilidade pode realizar, por exemplo, em um bom
computador, o cálculo da folha de pagamento de uma empresa de 100
funcionários com um único clique e em poucos segundos!

Vamos aprofundar essas relações entre as proposições simples nos


tópicos a seguir.

5.3 Operadores Lógicos ou Conectivos Verifuncionais


Operadores lógicos ou conectivos verifuncionais de-
Daghlian (2011)
sempenham a função de conectar duas ou mais sentenças denomina disjunção
inclusiva ou soma
simples ou complexas em uma sentença complexa nova lógica o que deno-
ou negar uma sentença simples ou complexa invertendo minamos apenas
disjunção e utiliza o
o valor de verdade da mesma. Assim como a Matemáti- símbolo ‘+’, aqui nós
seguiremos Goldstein
ca utiliza símbolos que determinam as relações entre as (2007) e utilizaremos
grandezas (adição = +, subtração = -, multiplicação = x ‘v’. O livro de Daghlian
Lógica e álgebra de Bo-
ou ∙ ; divisão = ÷ etc.) na Lógica utilizamos símbolos que ole tem como público
alvo os estudantes de
determinam as relações lógicas entre as sentenças. Nós matemática, informá-
utilizaremos os símbolos ~, ^, v, v, → e ↔ para represen- tica e filosofia. Nosso
público alvo não
tar os seguintes operadores lógicos: negação, conjunção, necessita de tal apro-
fundamento, apenas
disjunção, disjunção exclusiva, implicação material, prepara o aluno
bi-implicação. Também utilizaremos símbolos para as para se aprofundar
nessas obras. O autor
variáveis, ou seja, cada uma das sentenças simples. Nós também denomina
condicional e bicondi-
utilizaremos as letras p, q, r, s, t, e u, para diferenciar cada cional as operações
uma das sentenças simples entre si. que denominamos
implicação material e
bi-implicação respecti-
vamente, os símbolos
são os mesmos.

35
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Faltou ‘Se e somente


Quando sentenças ou fórmulas complexas são construídas a partir de sen-
se’.
tenças simples mediante o uso de ‘não’, ‘e’, ‘ou’ e ‘se... então’; a verdade ou
falsidade das sentenças complexas é determinada pela verdade ou falsidade
de seus componentes. Considere ‘p & q’, onde ‘p’ é verdadeira e ‘q’ é verda-
Para simbolizar o co- deira. Neste caso ‘p & q’ é também verdadeira. Considere agora o que dizer
nectivo ‘e’ ou autores se uma delas, tanto ‘p’ quanto ‘q’ forem falsas. Neste caso, a sentença com-
utilizam ‘&’; Daghlian plexa ‘p & q’ é falsa. Quando a verdade ou a falsidade de uma sentença ou
utiliza, por sua vez, ‘.’. fórmula complexa é determinada pela verdade ou falsidade de seus com-
Outros autores tam- ponentes, os conectivos com os quais elas são construídas são chamados
bém utilizam ‘^’. Essas ‘verifuncionais’. ‘Porque’, ‘até’, ‘é estúpido dizer que...’ não são conectivos
são as principais verifuncionais. Os compêndios costumam usar tabelas de verdade para re-
formas de simbolizar sumir os fatos sobre verifuncionalidade (GOLDSTEIN et al, 2007, p. 42).
o operador lógico de
uma Conjunção.

Este tópico tem como base a obra Lógica de Laurence Goldstein,


Andrew Brennan, Max Deutsch e Joe Y. F. Lau e a obra Lógica e álgebra
de Boole de Jacob Daghlian. Há uma evidente diferença entre as duas: a
segunda está endereçada a um público mais restrito (alunos de gradua-
ção, principalmente de Matemática, Computação e Filosofia); a primei-
ra, para um público mais geral, para qualquer um que queira compre-
ender lógica de uma maneira “descomplicada”. A fim de clarificar essas
diferenças de convenção, fizemos o seguinte quadro comparativo:

DAGHLIAN
SIGNIFICADO GOLDSTEIN (2007) NÓS
(2011)
NEGAÇÃO

“Não”
’ ~ ~
CONJUNÇÃO

“e”
. & ^
DISJUNÇÃO

“ou”
+ v v

DISJUNÇÃO EXCLUSIVA

“ou”
⊕ (p v q) & ~ (p & q) v
IMPLICAÇÃO
MATERIAL
→ ↄ →
“Se... então”.
BI-IMPLICAÇÃO

“Se e somente se”.


↔ ≡ ↔

VERDADEIRO 1 V V
FALSO 0 F F

36
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Negação: ~
A operação lógica denominada “Negação” e simbolizada
por nós por “~” inverte o valor de verdade de uma sentença
simples ou complexa (veremos a negação de uma sentença
complexa mais adiante). Daghlian utiliza ‘1’ e ‘0’
para denotar Ver-
dadeiro e Falso, nós
Seja p uma proposição. Denotaremos a proposição com- utilizaremos V e F. As
posta pelo modificador NÃO por p’ e lê-se: “não p”. diferenças de simbo-
Então, V(p’) = 0 (falsidade) quando V(p) = 1 (verdade) logia são convencio-
e V(p’) = 1 (verdade) quando V(p) = 0 (falsidade) (DA- nais e as diferenças
GHLIAN, 2011, p. 31, negrito nosso). entre as simbologias
dos nossos autores
de referência e a
Neste sentido, temos a seguinte tabela de verdade que nossa própria foram
esclarecidas no Qua-
valida o argumento: dro 1.

p ~p
V F
F V

A tabela de verdade de ‘não’ mostra que negar ou recusar ‘p’ simplesmente


inverte seu valor de verdade. Se ‘p’ for verdadeiro, sua negação será falsa; se
for falso, sua negação será verdadeira (GOLDSTEIN, 2007, p. 42).

A Tabela de Verdade da Negação deixa claro a sua dependência dos


princípios de Identidade, Não-contradição e Terceiro Excluído.
• O Princípio de identidade diz que “o ser é” (p = V, coluna 1,
linha 1) “... e o não ser não é” (~p = F, coluna 2, linha 1);
• o de Não-contradição diz que “o ser não pode ser” (p = V*, co-
luna 1, linha 1*) “... e não ser” (~p = V, coluna 2, linha 2);
• e o do Terceiro Excluído diz que “o ser é” (V) “... ou não é” (F)
“... e não há terceira opção” (V ou F, nenhum outro valor é admitido).

Conjunção: ^
A Conjunção é a relação que se dá entre duas sentenças (proposi-
ções) simples e/ou complexas por meio do operador “e” ou “^”.

A conjunção de duas proposições p e q é uma proposição verdadeira quan-


do V(p) = V(q) = 1, e falsa nos demais casos, isto é, só é verdadeiramente
quando ambas as componentes forem verdadeiras. Chamamos p ∙ q a con-
junção de p e q e lê-se: “p e q” (DAGHLIAN, 2011, p. 32).

37
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

A sentença simples “Pedro foi ao mercado” unida pela conjunção


“e” à sentença simples “Maria foi visitar Madalena” ficará representada
da seguinte forma: p ^ q. E a prova de sua validade se dá pela seguinte
tabela de verdade:

p q p^q
V V V
V F F
F V F
F F F

Esta tabela de verdade especifica as condições sob as quais uma sentença


com ‘e’ (uma conjunção) é verdadeira ou falsa. Quando ambos os compo-
nentes são verdadeiros, o todo é verdadeiro, mas em todos os outros casos
o enunciado ou fórmula ‘e’ é falsa (GOLDSTEIN, 2007, p. 42).

Gostaríamos de lembrá-lo que podemos fazer conjunções maiores,


ou seja, com mais do que duas sentenças simples, por exemplo: “(p ^
q) ^ r”, mas seria apenas a título de demonstração. A regra continua
valendo e tal conjunção só será verdadeira quando todas as sentenças
simples forem verdadeiras. Consideramos inútil para os objetivos pe-
dagógicos do curso fazer a tabela de verdade de uma tal conjunção.

Disjunção: v
A Disjunção “Jesus foi ao templo ou Judas entregou Jesus” fica
representada da seguinte forma: “p v q”. Ela só é falsa se ambas as sen-
tenças simples forem falsas. Neste sentido afirma Daghlian (2011, p.
32):
A disjunção de p e q é uma proposição falsa quando V(p) = V(q) = 0 e
verdadeira nos demais casos, ou seja, quando pelo menos uma das compo-
nentes é verdadeira. Chamamos este conectivo disjunção inclusiva ou soma
lógica; denotaremos a disjunção de p e q por p + q, e lê-se: “p ou q”.

Para a disjunção “p v q” teremos a seguinte Tabela de Verdade:

p q pvq
V V V
V F V
F V V
F F F

38
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica
Enunciados construídos com ‘ou’ são verdadeiros quando ao menos um
de seus componentes for verdadeiro e falso apenas quando ambos forem
falsos. Se esta leitura inclusiva do ‘ou’ (do operador disjuntivo) parece um
pouco estranha para você, pense no operador como representando a ex-
pressão “ou um ou outro”, e esta leitura, então, provavelmente fará um poco
mais de sentido. Em algumas linguagens – como a que estamos utilizando
–, há um termo para a disjunção exclusiva – que veremos a seguir –, isto
é, essas linguagens têm um termo que significa ‘um ou outro... mas não
ambos’. Quando este sentido de ‘ou’ é facilmente expresso ao se escrever:
‘(p v q) & ~ (p & q)’ (GOLDSTEIN, 2007, p. 42).

O que dissemos em relação à construção de uma Tabela de Ver-


dade para uma Conjunção com mais de duas sentenças simples vale,
também, para o caso das disjunções inclusivas, uma vez que quando
uma das sentenças simples for verdadeira, o argumento será verdadei-
ro também. Goldstein não apresenta as diferenças entre a Disjunção
Exclusiva e a Inclusiva, apesar de demonstrar, legitimamente, que a
Disjunção Exclusiva é, na verdade, uma Disjunção acompanhada de
uma Conjunção que nega a Conjunção da Disjunção.

Disjunção Exclusiva: v
A Disjunção Exclusiva, da qual já tratamos em linhas gerais, foi
brilhantemente demonstrada por Goldstein como sendo a Conjunção
de uma Disjunção e a Negação de sua Conjunção.

Adotaremos aqui uma linguagem própria para denotar a Disjunção


Exclusiva. Assim, como exemplo, a disjunção exclusiva “Dilma será
presidente ou Aécio será presidente, mas não os dois” será represen-
tada como segue: “p v q”. No entanto, cabe notar, concordamos com
Goldstein que esta Disjunção Exclusiva fica mais bem representada
da seguinte forma: “(p v q) ^ ~ (p ^ q)”. Entretanto, a denotação da
forma sintética “p v q” permite uma tabela de verdade mais simples.

A disjunção exclusiva de duas proposições p e q é uma proposição ver-


dadeira somente quando V(p) ≠ V(q) e falsa quando V(p) = V(q), ou
seja, quando p e q são ambas falsas ou ambas verdadeiras. Denotaremos
a disjunção exclusiva de p e q por p ⊕ q, e lê-se: “p ou q, mas não ambas”
(DAGHLIAN, 2011, p. 33).

39
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Para a Disjunção Exclusiva “p v q” teremos a seguinte Tabela de


Verdade:

p q pvq
V V F
V F V
F V V
F F F

Para a forma proposta por Goldstein (2007) - (p v q) ^ ~ (p ^ q) -


teríamos a seguinte tabela de verdade:

p q pvq ~ (p ^ q) (p v q) ^ ~ (p ^ q)
V V V F F
V F V V V
F V V V V
F F F V F

Por um lado, a primeira tabela é mais simples e chega ao mesmo


resultado; por outro, a segunda é mais completa e mais clara que a
primeira.

Implicação Material ou Condicional: →


O argumento chamado Implicação Material é conhecido também
como “Condicional”. Um exemplo de Implicação Material ou Con-
dicional seria:

“Se Maria foi visitar Madalena, então Jesus está no templo”.

Tal argumento será denotado por “p → q”.

O condicional de duas proposições p e q é uma proposição falsa quando


V(p) = 1 e V(q) = 0, sendo verdadeira nos demais casos. Representa-se o
condicional de p e q por p → q e lê-se: “se p então q”. A proposição p é
chamada antecedente e a proposição de q é o conseqüente do condiciona
(DAGHLIAN, 2011, p. 34).

40
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

A validade de tal argumento é definida pela seguinte Tabela de


Verdade:

p q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V

O operador [... →] que representa ‘se... então’ é muito conveniente e, ao


mesmo tempo, fonte de muitos problemas. Sentenças condicionais (‘se...
então) não são comumente propostas em nosso discurso cotidiano a me-
nos que suas orações que contenham a palavra ‘se’ (seus antecedentes) sejam
consideradas verdadeiras. O lógico, no entanto, deve considerar todas as
possibilidades (GOLDSTEIN, 2007, p. 43).

A observação de Goldstein a esse respeito também é esclarecedora.


As linhas 3 e 4 da Tabela de Verdade mostram os casos em que o an-
tecedente é falso (F), mas o argumento continua verdadeiro (V). Por
exemplo, o argumento “Se Maria foi visitar Madalena, então Jesus está
no templo” seria verdadeiro ainda que Maria não fosse visitar Madale-
na. Na verdade, todas as vezes em que Maria não vai visitar Madalena
o argumento continua verdadeiro. Por quê?

Porque o consequente está intimamente ligado ao antecedente.


Portanto, só é possível verificar em sentido stricto uma Implicação
Material quando o antecedente é verdadeiro (V). Quando o antece-
dente é falso, não temos possibilidade de verificar sua validade, sendo
considerado verdadeiro até que se prove o contrário, ou seja: ela só é
falsa se o antecedente for verdadeiro (V) e consequente for falso (F),
pois esta é a única forma de testar a sua validade.

Exemplo:

“Se estiver vivo, em 10 anos estarei milionário”.

Ora, apenas quando passarem os 10 anos e apenas se eu estiver vivo


até lá é que poderei testar a Implicação Material do argumento.

41
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Bi-Implicação ou Bicondicional: ↔
Tomemos a sentença “O presidente será eleito se e somente se obti-
ver a maioria dos votos”. Expressamos tal sentença pela fórmula lógica
“p ↔ q”.

O bicondicional de duas proposições p e q é uma proposição verdadeira


quando V(p) = V(q) e falsa quando V(p) ≠ V(q). Denotaremos o bicon-
dicional de p e q por p ↔ q e lê-se: “p se e somente se q”. Convém notar
que o bicondicional não é uma operação original, mas dupla aplicação do
conectivo (→) (DAGHLIAN, 2001, p. 35).

A Tabela de Verdade que expressa as relações lógicas da Bi-impli-


cação será:
p q p↔q
V V V
V F F
F V F
F F V

O conectivo bicondicional, ‘≡’, é frequentemente representado em portu-


guês por ‘Sse’, abreviação de ‘se e somente se’. Ele expressa equivalência em
valores de verdade das fórmulas em ambos os lados da construção.
Quando dois enunciados são equivalentes em valores de verdade, a verdade
de cada um é, algumas vezes, dita ser necessária e suficiente para a verdade
do outro (GOLDSTEIN, 2007, p. 43, negrito nosso).

É possível observar que a tabela de verdade da bi-implicação “↔” é


oposta à tabela de verdade da disjunção exclusiva “v”. Sendo a bi-impli-
cação verdadeira apenas quando ambas as sentenças possuem o mesmo
valor de verdade (ambas falsas ou ambas verdadeiras) e a disjunção
exclusiva verdadeira apenas quando ambas as sentenças possuem valor
de verdade distinto (uma verdadeira, outra falsa e vice-versa).

Com a bi-implicação, encerramos nossos estudos sobre os conectivos


lógicos e o processo de tradução. Veremos a seguir, como esses conec-
tivos lógicos atuam quando estão unidos em uma sentença complexa.

42
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

5.4 Aplicação dos Conectivos Lógicos em Sentenças Com-


plexas
Tomamos como exemplo a seguinte sentença complexa:

“Se Pedro foi ao mercado e Maria foi visitar Madalena, então


Jesus foi ao templo ou José está na marcenaria”

Observe que o argumento possui três conectivos lógicos (“^”, “→”


e “v”) e quatro sentenças simples relacionadas:

“Pedro foi ao mercado” = p


“Maria foi visitar Madalena” = q
“Jesus foi ao templo” = r
“José está na marcenaria” = s

Nosso argumento será denotado por: “(p ^ q) → (r v s)”.

A Tabela de Verdade da sentença complexa será:

p q r s p^q rvs (p ^ q) → (r v s)
V V V V V V V
V V V F V V V
V V F V V V V
V V F F V F F
V F V V F V V
V F V F F V V
V F F V F V V
V F F F F F V
F V V V F V V
F V V F F V V
F V F V F V V
F V F F F F V
F F V V F V V
F F V F F V V
F F F V F V V
F F F F F F V

43
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Note que nossa Tabela de Verdade possui muito mais linhas e co-
lunas que as tabelas anteriores. Qual a razão? A razão é simples: à me-
dida que aumentam as variáveis, as linhas vão crescendo exponencial-
mente obedecendo a regra 2x, onde o número 2 representa os valores
de verdade “V ou F” e ‘x’ representa o número de variáveis “p, q, r, s, t,
u...”. Assim, se temos um argumento com duas variáveis (p e q), então
a tabela terá quatro linhas (2²=4), como nos exemplos anteriores; mas,
se possui três variáveis (p, q, e r), então a tabela terá oito linhas (2³=8);
se possui quatro (p, q, r e s), como no exemplo em questão, então a
tabela terá 16 linhas (24=16) e assim sucessivamente até o infinito. No
entanto, cabe notar, um argumento com seis variáveis teria sessenta e
quatro linhas (26=64) e a Tabela de Verdade deixa de ser um método
interessante, pois torna-se muito extensa. No próximo tópico, iremos
abordar outro método de validação dos argumentos lógicos (o da De-
dução Natural) que substitui a Tabela de Verdade.

5.5. Verificação do Valor na Tabela de Verdade


Supomos a seguinte sentença complexa:

Se os olhos de Clara são verdes e a camiseta de João é preta, então


Rosa é a de chapéu colorido.

Traduzida para a linguagem da Lógica Simbólica, teríamos: (p ^ q)


→ r. A Tabela de Verdade seria:

p q r p^q r (p ^ q) → r
V V V V V V
V V F V F F
V F V F V V
V F F F F V
F V V F V V
F V F F F V
F F V F V V
F F F F F V

Agora vamos supor que:


a) Clara tem olhos verdes (p=V);
b) A camiseta de João é preta (q=V);
c) Rosa não tem chapéu colorido (r=F).

44
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Então, como fica evidente pela tabela de verdade em sua segunda linha,
a sentença complexa é falsa. Em todos os outros casos ela é verdadeira.

UM DIÁLOGO ENTRE O PROFESSOR E O ALUNO

PROFESSOR
Você deve ter notado uma cor diferente em uma nova coluna para o r e
pode estar se perguntado sobre isso.

ALUNO
O que esta coluna está fazendo aí? Por que ela está colorida?

PROFESSOR
Na verdade, ela poderia não estar.

ALUNO
E por que ela está lá?

PROFESSOR
Bom, a razão é apenas uma razão pedagógica. Observe que a seta → da
Implicação Material tem uma direção.
Ela indica quem é o antecedente e quem é o consequente. Muitas pes-
soas cometem um erro de interpretação aqui, interpretando assim:
r → (p ^ q)

Deste modo, invertendo os papéis de r (consequente) e p ^ q (ante-


cedente) transformando p ^ q em consequente e r em antecedente.
Por isso, repetir a coluna de r torna a direção mais intuitiva:
(p ^ q) → r

Que é o sentido do enunciado, mas você pode se deparar com Tabelas


de Verdade que não repetem a coluna. Por isso, quando estiver diante
de uma Implicação Material, é sempre bom ter claro quem é o antece-
dente e quem é o consequente. O mais comum é esta tabela ser apre-
sentada da seguinte forma:

p q r p^q (p ^ q) → r
V V V V V
V V F V F
V F V F V
V F F F V
F V V F V
F V F F V
F F V F V
F F F F V

45
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Dica
Se nossa explicação ficou evidente, então siga em frente, caso
não tenha compreendido, beba um suco de laranja e leia nova-
mente a parte que você não compreendeu. No começo pode parecer
estranho, mas depois que aprende fica razoavelmente fácil!

Exercícios
1. Faça as tabelas de verdade para os seguintes argumentos:

a) (p ^ q) ↔ ~(q v r).
b) ((p v q) → r) ↔ ~(p v q).

2. Leia com atenção o texto a seguir:


Seis amigas (Andréa, Bianca, Carla, Débora, Eliana e Fabiana) foram ao
Shopping fazer compras para o dia dos namorados. Quando entraram
no Shopping, fizeram 3 duplas e cada dupla seguiu um caminho diferen-
te, pois cada presente ficava em um andar diferente do Shopping. A que
estava de vestido vermelho fez dupla com Bianca. Débora, antes de se
despedir das amigas, pediu para Carla não esquecer de pegar os con-
vites do show que mais tarde iriam ver juntas com os namorados no 2º
andar, que é onde sua dupla compraria o som. Uma delas, a que usava
um vestido preto colado ao corpo, saltou no 4º andar onde foi abordada
por um rapaz que foi até ela perguntar o nome, mas a amiga que estava
com ela disse que estavam atrasadas e saiu puxando a amiga pelo bra-
ço. De fato, elas estavam atrasadas, pois o presente que ela iria comprar
para o namorado ficava no 3º andar onde compraria uma TV. No 1º an-
dar ficava a loja de celulares, Bianca também gostou de um e até pensou
em presentear o namorado com um também, mas logo desistiu. Quem
não teve dúvidas sobre o presente foi a Eliana, que comprou a caixinha
de som da JBL que o namorado ficara olhando na semana anterior. A
que estava de branco comprou um tênis. A de verde lembrou que a
amiga tinha esquecido os ingressos. Andréa acabou encontrando o ex-
namorado da amiga de vestido azul que se escondia dentro da loja no 5º
andar. A de amarelo estava com Débora, que esperava ansiosa do lado
de fora da loja de artigos esportivos onde a amiga comprava uma cami-
sa do Palmeiras, pois àquela hora o shopping estava quase para fechar
e ela ainda tinha que ir até o 3º andar. No 5º andar, os namorados de
Eliana e da moça que comprou o tênis, que estavam juntas esperando
o restante das amigas na praça de alimentação, encontraram Bianca e
a amiga de vermelho que logo avisaram as amigas pelo grupo do What-
sApp. O namorado da que comprou o tênis quis tocar o violão que a de
azul tinha acabado de comprar.

46
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Qual o respectivo presente que cada uma das nossas meninas comprou
para seu namorado?

a) Andréa comprou __________________________.


b) Bianca comprou ___________________________.
c) Carla comprou _____________________________.
d) Débora comprou ___________________________.
e) Eliana comprou _____________________________.
f) Fabiana comprou ___________________________.

Resolução:

ANDRÉA VERMELHO 1 ANDAR CELULAR


BIANCA AZUL 5 ANDAR VIOLÃO
CARLA BRANCO 6 ANDAR TENIS
ELIANA VERDE 2 ANDAR SOM
DÉBORA PRETO 3 ANDAR TV
FABIANA AMARELO 4 ANDAR PALMEIRAS

47
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

48
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

6. Implicação e Equivalência

Segundo Daghlian (2011):

1. Duas sentenças (simples ou complexas) são independentes


quando em suas Tabelas de Verdade as quatro alternativas ocorrem.

Exemplo:
p q
V V
V F
F V
F F

Repare que a tabela contempla as quatro alternativas: VV – VF –


FV – FF.

2. Duas sentenças (simples ou compostas) são dependentes quan-


do uma ou mais dessas alternativas não ocorre.

Exemplo:

Entre a sentença simples p e q → p não ocorre VF, mas, apenas VV


– FF – FV. Observe a tabela-verdade elaborada a seguir:
p q q→p
V V V
V F V
F V F
F F V

Neste caso, dizemos que existe uma relação entre as proposições p e q →


p. Examinaremos as relações simples (quando uma alternativa não ocorre) e
as relações duplas (quando duas alternativas não ocorrem) (DAGHLIAN,
2011, p. 47).

49
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Atenção!
Você se lembra do que dissemos sobre a direção da seta em
relação às sentenças simples ou complexas em uma Implicação
Material? Perceba que neste caso não se trata de p → q, mas de q → p!
Caso isso não tenha ficado claro, retome o estudo da Implicação Material.

6.1 Relação de Implicação: ⇒


Uma sentença p (simples ou complexa) implica outra sentença q
quando em suas Tabelas de Verdade não ocorre VF. Não ocorrendo
VF, podemos denotar essa relação de implicação com a seguinte ex-
pressão simbólica: p ⇒ q.

Neste sentido, verifica-se que “p ⇒ (q → p)” pela Tabela de Verdade


a seguir:
p q q→p
V V V
V F V
F V F
F F V

Uma vez que não ocorre VF na relação entre p e q → p, podemos


afirmar que p ⇒ (q → p) e lemos assim: p implica (se q então p).

6.2 Relação de Equivalência: ⇔


Uma sentença p (simples ou complexa) é equivalente a uma sen-
tença q quando em suas Tabelas de Verdade não ocorre VF ou FV.
Não ocorrendo VF ou FV podemos denotar essa relação de equivalên-
cia pela seguinte expressão simbólica: p ⇔ q.

Neste sentido, verifica-se que p ^ q ⇔ ~(~p v ~q) pela seguinte


Tabela de Verdade:
p q p^q ~p ~q ~p v ~q ~(~p v ~q)
V V V F F F V
V F F F V V F
F V F V F V F
F F F V V V F

50
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Uma vez que não ocorre VF ou FV é lícito dizer: p ^ q ⇔ ~(~p v ~q).

Lemos: p e q equivale a não (não p ou não q).

6.3. Equivalências Notáveis


Como você pôde conferir no tópico anterior, as relações de equiva-
lência se dão quando na comparação entre as tabelas de verdade não
ocorre VF ou FV.

Algumas das equivalências são bem conhecidas pelos lógicos e fo-


ram nomeadas. Você irá aprender algumas delas neste tópico.

Dupla Negação

~(~p) ⇔ p.

Por exemplo, dada uma premissa A, deveríamos estar autorizados a inferir


a negação da negação. Em símbolos: de A infere-se ~~A – Regra da Dupla
Negação (GOLDSTEIN, 2007, p. 27).

A tabela-verdade que confirma tal equivalência seria:

p ~p ~(~p)
V F V
F V F

A coluna de p possui os mesmos valores da coluna ~(~p).

Leis Idempotentes
a) p v p ⇔ p.
b) p ^ p ⇔ p.

Sentenças para as quais teríamos as seguintes tabelas de verdade:

51
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

a)
p q pvq qvp
V V V V
V F V V
F V V V
F F F F

b)
p q p^q q^p
V V V V
V F F F
F V F F
F F F F

Leis Associativas
a) p v (q v r) ⇔ (p v q) v r.
b) p ^ (q ^ r) ⇔ (p ^ q) ^ r.

Para as quais teríamos as seguintes tabelas de verdade:


a)
p q r qvr p v (q v r) pvq (p v q) v r
V V V V V V V
V V F V V V V
V F V V V V V
V F F F V V V
F V V V V V V
F V F V V V V
F F V V V F V
F F F F F F F

Observe que os valores de verdade das colunas p v (q v r) e (p v q)


v r são idênticos, ou seja, VF ou FV nunca ocorrem, apenas VV ou FF.
Isso vale para a próxima tabela de verdade.
b)
p q r q^r p ^ (q ^ r) p^q (p ^ q) ^ r
V V V V V V V
V V F F F V F
V F V F F F F
V F F F F F F
F V V V F F F
F V F F F F F
F F V F F F F
F F F F F F F

52
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Bicondicional
p ↔ q ⇔ (p → q) ^ (q → p)

Leis de Morgan
a) ~(p ^ q) ⇔ ~p v ~q
b) ~(p v q) ⇔ ~p ^ ~q

Sentenças para as quais teríamos as seguintes tabelas de verdade


comprovando a equivalência:
a)

p q ~p ~q ~p v ~q p^q ~(p ^ q)
V V F F F V F
V F F V V F V
F V V F V F V
F F V V V F V

b)
p q ~p ~q ~p ^ ~q pvq ~(p v q)
V V F F F V F
V F F V F V F
F V V F F V F
F F V V V F V

Leis Distributivas
a) p ^ (q v r) ⇔ (p ^ q) v (p ^ r)
b) p v (q ^ r) ⇔ (p v q) ^ (p v r)

Cuja equivalência se comprova mediante as seguintes tabelas-verdade:


a)
p q r qvr p ^ (q v r) p^q p^r (p ^ q) v (p ^ r)
V V V V V V V V
V V F V V V F V
V F V V V F F V
V F F F F F F F
F V V V F F F F
F V F V F F F F
F F V V F F F F
F F F F F F F F

53
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

b)
p q R q^r p v (q ^ r) pvq pvr (p v q) ^ (q v r)
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V F V V V V
V F F F V V V V
F V V V V V V V
F V F F F V F F
F F V F F F V F
F F F F F F F F

Bicondicional
p ↔ q ⇔ (p → q) ^ (q → p)

Condicionais
(p → q) ⇔ (~q → ~p)

(q → p) ⇔ (~p → ~q)

54
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

7. Dedução Natural

Implicação e equivalência são muito úteis para o estudo que fa-


remos neste tópico. Na verdade, tudo o que vimos sobre a Lógica
Simbólica até aqui nos será útil. A Dedução Natural é um método
dedutivo que facilita a verificação da validade dos argumentos sem
a necessidade de uma tabela de verdade. Neste sentido, ela propor-
ciona maior agilidade nesta verificação. Os princípios são os mesmos
utilizados na Lógica Simbólica, mas a Dedução Natural retira destes
princípios novas regras de inferência. É importante saber que se algo
pode ser demonstrado por uma tabela de verdade, então pode ser de-
monstrado por uma dedução natural e vice-versa.

7.1 Regras de Inferência


Grace está andando pela rua com Dick e lhe aponta uma casa, parcialmen-
te escondida por árvores, com um grande lago no jardim da frente, dizen-
do: ‘O homem que vive nesta casa deve ser heterossexual’ Intrigado, Dick
pergunta como ela sabe disso. ‘Bem’, diz Grace, ‘se essa casa tem um grande
lago, então tem uma grande fachada, então deve ter muitos cômodos. Mas
todas as casas nesta parte da cidade têm uma cozinha e, no máximo dois
banheiros; assim, essa casa em particular possui muitos quartos. Se a casa
possui muitos quartos, então deve haver muitas crianças morando aqui.
Portanto, o homem que mora nessa casa deve ser o pai de muitas crianças,
assim, deve ser heterossexual’. Dick fica impressionado com esse encade-
amento de raciocínio. No dia seguinte, ele sai a passear com Bert e lhe
aponta uma casa diferente, cujo jardim da frente é ocultado por uma cerca.
‘O homem que mora nessa casa não pode ser hetero’, diz Dick. ‘Por quê?’
pergunta Bert. Fazendo um sinal para que Bert o acompanhasse e olhasse
por cima da cerca, Dick responde: ‘Veja, não há nenhum lago’.
O divertido desta (velha) piada é que Dick, como seu nome indica, é um
tolo em termos de lógica e tamanha estupidez acaba por ser engraçada. É
verdade que o raciocínio de Grace tem alguns elos fracos, mas não é de
todo implausível. Inicialmente, ela busca estabelecer, à maneira de Sherlo-
ck Holmes, a proposição condicional: ‘Se esta casa tem um grande lago no
jardim da frente, então um homem heterossexual mora aqui’. Chamamos
esta proposição de ‘Afirmação 1’. Ao acrescentarmos, a esta proposição, a
observação ‘Esta casa tem um grande lago no jardim da frente’ (Afirmação
2), podemos inferir, de modo válido, a conclusão ‘Um homem heterosse-
xual vive nesta casa’.
Assim, o ponto alto do raciocínio de Grace, seu argumento final, coup de
grace, pode ser representado da seguinte maneira:

1. Se tra-la-la, então tro-lo-lo. (Condicional)


2. Tra-la-la.
Então, 3. Tro-lo-lo.
55
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica
Os lógicos chamariam isso de a forma do argumento final de Grace, por-
que não contem as sentenças que Grace uso, embora possamos reconstruir
o argumento efetivamente usado por Grace fazendo as substituições apro-
priadas: ‘Esta casa tem um grande lago no jardim da frente’ é substituída
por ‘Tra-la-la’ em ambas as circunstâncias em que esta última ocorre e, da
mesma forma, ‘Um homem heterossexual vive nesta casa’ é substituída por
‘Tro-lo-lo’.
Os lógicos preferem ‘p’s e ‘q’s em vez de ‘Tra-la-la’ e ‘Tro-lo-lo’; portanto, se
adotamos a notação deles, podemos apresentar a forma do argumento final
de Grace de maneira muito econômica:

1. Se p, então q.
2. p.
Então 3. q.

Esta forma de argumento válido é tão básica, que temos um nome para
ela. O nome é Modus Ponendo Ponens, ou, de modo mais curto, Modus
Ponens ou, ainda mais curto, MP. Agora compare o caráter prolixo do ar-
gumento final de Grace e a sua forma tal como acabamos de apresentá-la.
Alcançamos uma beleza simples e austera pelo uso de símbolos, este tema é
frequentemente chamado ‘lógica simbólica’. (É também chamado de ‘lógi-
ca formal’ porque, como no caso que acabamos de discutir, não perdemos
tempo “sujando as mãos” com o argumento expresso em linguagem natu-
ral, mas, em vez disso, estudamos sua forma – seu esqueleto ou estrutura
As caixas de texto 1 e que é elegantemente revelado pelo uso dos símbolos.) (GOLDSTEIN,
2 foram suprimidas. 2007, p. 15- 17).

Até aqui foi uma longa caminhada, mas para você deve ter ficado
claro, se compreendeu do que se trata este nosso curso, o que é a lógica
e o seu modus operandi como se diz... Argumentos são elegantemente
construídos, mas apenas alguns possuem validade lógica e os que não
possuem são falácias lógicas. A lógica exige um certo rigor operacio-
nal. Em certo sentido, podemos dizer que assim como Descartes en-
sina no Discurso do método a Lógica procura sempre ir do simples ao
complexo. Entretanto, na busca por simplicidade sempre acabamos
por encontrar novas complexidades.

A seguir, apresentamos um resumo das principais regras de infe-


rências válidas para a dedução natural e no próximo tópico você irá
compreender como utilizar as regras para deduzir se os raciocínios são
válidos ou não.

56
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Modus Ponens (MP): (p → q) ^ p ⇒ q O símbolo ∴ significa


p→qp “Logo” ou “Portanto” e
indica o fim do argu-
∴q mento.

Modus Tollens (MT): (p → q) ^ ~q ⇒ ~p


p→q
~q
∴ ~p

Adição (A): p ⇒ p v q
P
∴pvq

Dupla Negação (DN): ~(~P) ⇒ p ou p ⇒ ~(~p)


~(~p)
∴P

Simplificação (S): p ^ q ⇒ p
p
∴p^q

União: p ^ q ⇒ p ^ q
P
q
∴p^q

Silogismo Disjuntivo (SD): (p v q) ^ ~p ⇒ q


pvq
~p
∴q

Silogismo Hipotético (SH): (p → q) ^ (q → r) ⇒ p → r


p→q
q→r
∴p→r

57
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Dilema Construtivo (DC): (p → q) ^ (r → s) ^ (p v r) ⇒ q v s


p→q
r→s
pvr
∴qvs

Dilema Destrutivo (DD): (p → q) ^ (r → s) ^ (~q v ~s) ⇒ ~p v ~r


p→q
r→s
~q v ~s
∴ ~p v ~r

Regras do Bicondicional (BIC):


a) (p → q) ^ (q → p) ⇒ p ↔ q
p→q
q→p
∴p↔q

b) p ↔ q ⇒ (p → q) ^ (q → p)
p↔q
∴ (p → q) ^ (q → p)

Regra da Absorção (RA): p → q ⇒ p → (p ^ q)


p→q
∴ p → (p ^ q)

Simplificação Disjuntiva (S+): (p v r) ^ (p v ~r) ⇒ p


pvr
p v ~r
∴P

7.2 Tabela de Dedução Natural


Utilizaremos as regras de inferência, implicação e equivalência a fim
de verificar a validade lógica dos argumentos. Em certo sentido, pode-
mos dizer que eles irão substituir a função que tinham as tabelas-verda-
de na verificação da validade dos argumentos. Como vimos, qualquer
uma das regras de inferência, implicação e equivalência podem ser de-

58
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

monstradas por uma tabela-verdade. Isso “facilita” bastante na hora de


saber se uma conclusão pode ser derivada ou não de suas premissas,
pois, como vimos, tabelas-verdade para 6 variáveis teriam 64 linhas di-
ferentes. De posse das regras de inferência, de implicação e equivalência
estamos autorizados, uma vez que essas regras têm sua validade com-
provada pelas próprias tabelas, a abandoná-las. Para isso, será necessária
uma nova tabela que chamaremos Tabela de Dedução Natural.

As tabelas de dedução são organizadas a fim de deixar evidente os


passos que foram dados, ou seja, aquilo que foi permitido concluir
das premissas, e as regras que permitiram dar estes passos. Costuma-se
utilizar 3 colunas paras as tabelas de dedução: uma para evidenciar os
passos, outra para o resultado e outra para as regras.

Exemplo 1
Provar que ~r pode ser deduzido das seguintes premissas:
1. p
2. p → ~q
3. ~q → ~r

1 p Premissa
2 p → ~q Premissa
3 ~q → ~r Premissa
4 ~q MP (1,2)
5 ~r MP (3,4)
c.q.d.

Análise da Tabela de Dedução Natural:


• as premissas do argumento foram distribuídas nas primeiras li-
nhas da tabela;
• a Linha 4 é formada pela aplicação da regra de inferência Modus
Ponens (MP) nas linhas 1 e 2;
• a linha 5 é formada pela aplicação da mesma regra nas linhas 3 e 4.

Como você pode notar, nossa tabela tem apenas 3 colunas e 6 li-
nhas, uma tabela-verdade para verificar a validade do argumento teria
8 linhas e 7 colunas.

59
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

p q r ~q ~r (p → ~q) (~q → ~r)


V V V F F F V
V V F F V F V
V F V V F V F
V F F V V V V
F V V F F V V
F V F F V V V
F F V V F V F
F F F V V V V

Uma vez que as condições para concluir ~r eram 1. p, 2. (p → ~q)


e 3. (~q → ~r), verifica-se pela Linha 4 que ~r pode ser deduzido lo-
gicamente dadas as premissas. 1, 2 e 3. Uma vez esclarecidas as regras
de inferência, implicação e equivalência, então as tabelas de dedução
facilitam muito na verificação de se uma conclusão deriva necessaria-
mente de suas premissas.

Exemplo 2
Provar que p pode ser deduzido das seguintes premissas:
1. ~p → q
2. q → ~r
3. r v s
4. ~s

1 ~p → q Premissa
2 q → ~r Premissa
3 rvs Premissa
4 ~s Premissa
5 r SD (3, 4)
6 ~(~r) DN (5)
7 ~q MT (2, 6)
8 ~(~p) MT (1, 7)
9 p DN (8)
c.q.d.

Análise da tabela de dedução:


• as premissas foram distribuídas nas linhas 1, 2, 3 e 4;
• a Linha 5 resulta da aplicação da regra do Silogismo Disjuntivo
(SD) nas linhas 3 e 4.
• a Linha 6 da aplicação da regra da Dupla Negação (DN) na Li-
nha 5;

60
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

• a Linha 7 da aplicação da regra Modus Tollens (MT) nas linhas


2 e 6;
• a Linha 8 da aplicação da regra Modus Tollens (MT) nas linhas
1 e 7.
• a Linha 9 da aplicação da regra da Dupla Negação (DN) na Li-
nha 8.

Como seria em uma tabela-verdade?

p q r s ~p ~q ~r ~s ~p → q q → ~r rvs
V V V V F F F F V F V
V V V F F F F V V F V
V V F V F F V F V V V
V V F F F F V V V V F
V F V V F V F F V V V
V F V F F V F V V V V
V F F V F V V F V V V
V F F F F V V V V V F
F V V V V F F F V F V
F V V F V F F V V F V
F V F V V F V F V V V
F V F F V F V V V V F
F F V V V V F F F V V
F F V F V V F V F V V
F F F V V V V F F V V
F F F F V V V V F V F

A Linha 6 demonstra que se as premissas são verdadeiras p tam-


bém será verdadeiro. Lembre-se que conforme aumenta o número de
variáveis o número de linhas de uma tabela-verdade cresce exponen-
cialmente. No Exemplo 1 tínhamos 3 variáveis (8 linhas), no Exemplo
2 eram 4 (16 linhas) se fizéssemos um novo exemplo com 5, teríamos
uma tabela com 32 linhas e assim sucessivamente.

Exemplo 3
Apenas a título de curiosidade, veremos como ficaria a tabela de
dedução de um argumento com 5 variáveis:
Provar que p → q pode ser deduzido das seguintes premissas:
1. (p v r) → s
2. r → (~s ^ ~t)
3. r v b

61
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

1 (p v r) → s Premissa
2 r → (~s ^ ~t) Premissa
3 rvb Premissa
4 p PP
5 pvr A (4)
6 s MP (1, 5)
7 r → ~(s v t) Equivalência
8 svt A (6)
9 ~[~(s v t)] DN (8)
10 ~r MT (7, 9)
11 q SD (3, 10)
12 p→q PC (4, 11)
c.q.d.

DIÁLOGO ENTRE O PROFESSOR E O ALUNO

PROFESSOR
Se você estiver atento, deve ter percebido algo na Tabela de Dedução
Natural do Exemplo 3 que você ainda não sabe o que é.

ALUNO
Professor, o que significa “c.q.d”?

PROFESSOR
Ainda não expliquei?! A expressão “c.q.d” é a abreviação de “como querí-
amos demonstrar”. No entanto, pelo meu espanto, você deve ter perce-
bido que não era disso que eu estava falando, mas foi bom me lembrar
de explicar isso. O que mais você ainda desconhece na Tabela?

ALUNO
Realmente, professor, na coluna das regras existe uma notação da qual
não falamos ainda: PP. Por que ela está ali e o que significa?

PROFESSOR
Muito bem! Pensei que ninguém fosse notar! Acontece que existem al-
gumas técnicas dedutivas já conhecidas que os lógicos utilizam na de-
dução natural. Vamos conhecer um pouco dessas técnicas no próximo
tópico, mas vou adiantar que nesta dedução utilizamos a técnica da Pro-
va Condicional e aquele “PP” significa “Premissa Provisória”.

ALUNO
Então quer dizer que a Linha 12 “p → q” resulta de uma “Prova Condi-
cional” aplicada nas linhas “4” – que é nossa PP ou Premissa Provisória
– e “11” – que é deduzida logicamente do argumento uma vez que a PP

62
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

é introduzida. Assim, “PC (4, 11)” significa que a “Prova Condicional” foi
aplicada nas linhas 4 e 11?

PROFESSOR
Isso mesmo! Você compreendeu bem a técnica da Prova Condicional?

ALUNO
Acho que sim.

PROFESSOR
Para não haver mais dúvidas, que tal aprendermos mais sobre essa e
outras técnicas dedutivas? Mas antes, que tal você fazer a tabela-verda-
de do Exemplo 3 como exercício?

63
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

64
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

8. Técnicas de Dedução

8.1 Prova Condicional


A Prova Condicional (PC) é utilizada para validar um argumento
cuja conclusão é uma Implicação Material. Como pedia o Exemplo 3.

Seja provar (α → β) das as premissas p1, p2, p3, ..., pn.


Fazendo a conjunção das premissas igual a P, trata-se de mostrar que é
válido o argumento p ˫ α → β, isto é p

∴ α→ β

Trata-se de validar esse argumento. Ocorrendo a validade, temos: P ⇒ (α


→ β) (DAGHLIAN, 2011, p. 65-66).

Exemplo
Provar que q → ~r pode ser deduzido das seguintes premissas:
1. p → ~q
2. ~(r ^ ~p)

1 p → ~q Premissa.
2 ~(r ^ ~p) Premissa.
3 q PP
4 ~(~q) DN (3)
5 ~p MT (1, 4)
6 ~r v ~(~p) De Morgan (2)
7 ~r SD (5, 6)
8 q → ~r PC (3, 7)
c.q.d.

Explicação:
• (Linha 3) introduzimos uma Premissa Provisória (PP) que é o
antecedente da conclusão que queremos demonstrar, ou seja, q na
Linha 3;
• (Linha 4) aplicamos a regra da Dupla Negação (DN) na Linha 3;
• (Linha 5) aplicamos a regra do Modus Tollens (MT) nas linhas
1 e 4;
• (Linha 6) aplicamos a Lei De Morgan na linha 2;

65
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

• (Linha 7) aplicamos a regra do Silogismo Disjuntivo (SD) nas


linhas 5 e 6;
• (Linha 8) uma vez que depois de inserir a PP pode-se deduzir ~r,
portanto, é válido deduzir q → ~r como queríamos demonstrar.

8.2 Prova Bicondicional


A Prova Bicondicional (PB) utiliza a mesma técnica da Condicio-
nal, mas duas vezes.

A prova de um argumento cuja conclusão é uma proposição da forma bi-


condicional α → β é semelhante à prova condicional, com a diferença de
que é feita em duas fases distintas. Então, dada uma proposição α ↔ β,
primeiro prova-se α → β e, a seguir, prova-se β → α, concluindo-se pela
validade do argumento (DAGLHIAN, 2011, p. 67).

Para provar uma bi-implicação ou bicondicional p ↔ q, provamos


primeiro p → q e depois q → p.

Exemplo
Provar que p ↔ r pode ser deduzido das seguintes premissas:
1. s → p
2. r → s
3. p → q
4. r v ~q
1 s→p Premissa.
2 r→s Premissa.
3 p→q Premissa.
4 r v ~q Premissa.
A5 p PP
A6 q MP (3, A5)
A7 r SD (4, A6)
A8 p→r PC (A5, A7)
B5 r PP
B6 s MP (2, B5)
B7 p MP (1, B6)
B8 r→p PC (B5, B7)
9 (p → r) ^ (r → p) U (A8, B8)
10 p↔r Equivalência (9)
c.q.d.

66
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Explicação:
• (Linha A5) inserimos uma Premissa Provisória (PP);
• (Linha A6) aplicamos a regra Modus Ponens (MP) nas linhas 3
e A5;
• (Linha A7) Silogismo Disjuntivo (SD) nas linhas 4 e A6;
• (Linha A8) Prova Condicional (PC) em A5 e A7;
• (Linha B5) Premissa Provisória (PP);
• (Linha B6) Modus Ponens em 2 e B5;
• (Linha B7) Modus Ponens (MP) em 1 e B6;
• (Linha B8) Prova Condicional (PC) em B5 e B7;
• (Linha 9) União (U) em A8 e B8 c.q.d.
• (Linha 10) Equivalência em 9.

8.3 Prova Indireta


A técnica da Prova Indireta (PI) consiste em introduzir a negação
da conclusão como Premissa Provisória (PP) a fim de mostrar uma
contradição.

Exemplo
Dadas as premissas 1, 2 e 3, provar q.
1. ~p → q
2. ~q → r
3. ~(p ^ r)
1 ~p → q Premissa.
2 ~q → r Premissa.
3 ~(p ^ r) Premissa.
4 ~q PP
5 r MP (2, 4)
6 ~p v ~r De Morgan (3)
7 ~(~r) DN (5)
8 ~p SD (6, 7)
9 q MP (1, 8)
10 q ^ ~q U (4, 9)
11 q PI (4-10)
c.q.d.

67
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Explicação:
• (Linha 4) introduzimos a negação da conclusão como PP;
• (Linha 5) aplicamos Modus Ponens (MP) em 2 e 4;
• (Linha 6) Lei De Morgan em 3;
• (Linha 7) Dupla Negação (DN) em 5;
• (Linha 8) Silogismo Disjuntivo (SD) em 6 e 7;
• (Linha 9) Modus Ponens (MP) em 1 e 8;
• (Linha 10) União (U) em 4 e 9 e chegamos a uma contradição
(q ^ ~q);
• (Linha 11) Prova Indireta (PI) nas linhas de 4 a 10 (uma vez
que, ao introduzir a negação (~q) daquilo que se queria demonstrar
(q) como Premissa Provisória (PP), chegamos a uma contradição (q ^
~q), então podemos aplicar a regra da Prova Indireta (PI) e deduzir a
conclusão (q) c.q.d.).

68
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

9. Cálculo de Predicados

9.1 Introdução
Das lições sobre o Silogismo Categórico (SC) para as lições sobre a
Lógica Simbólica demos um salto não apenas histórico, mas, também,
de estrutura formal. Podemos afirmar que:

1. A Lógica Aristotélica trata da atribuição de determinados predi-


cados a determinados sujeitos, por exemplo: “Todos os homens são
mortais”; “Sócrates é homem” etc.

2. A Lógica Simbólica tratava, por sua vez, até aqui, da relação en-
tre sentenças simples, mas completas. Cada variável p ou q pressupõe
uma sentença completa à qual atribuímos valor de verdade: “João foi
ao supermercado” = “p”; “Maria comprou uma blusa azul” = “q”
etc. Ao relacionarem-se umas com as outras, estas sentenças simples e
completas tornam-se sentenças complexas. Para indicar o modo pelo
qual elas se relacionam aprendemos a utilizar os conectivos lógicos
ou verifuncionais (“~”, “^”, “v”, “v”, “→” e “↔”) e, dependendo
do modo de relação, atribuímos um valor de verdade (V ou F) a esta
relação de acordo com as tabelas de verdade ou de dedução natural.

Estas duas lógicas parecem atuar em campos distintos e realmente


atuam, mas seria possível uma intersecção entre ambas? Essa inter-
secção já não faz parte da própria linguagem natural e faltava apenas
simbolizá-la?

Atenção!
O excerto de texto a seguir foi retirado da obra de Laurence Gol-
dstein, Andrew Brennan, Max Deutsch e Joe Y. F. Lau Lógica: con-
ceitos-chave em filosofia e é importante estar atento para os símbolos
utilizados por esses autores:
• “&” para “^”;
• “⊃” para “→”.

69
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Quando examinamos mais profundamente a estrutura


das sentenças, o poder da lógica em revelar inferências
válidas e proposições verdadeiras amplia-se muito. Bert
é solteiro e nenhum homem solteiro tem uma esposa.

Portanto, Bert não tem uma esposa. Por mais simples


que seja este argumento, sua estrutura e sua validade
não podem ser reveladas pela notação desenvolvida até
aqui. Precisamos trazer à tona aspectos mais estruturais
da linguagem. Mais especificamente, precisamos da ha-
bilidade de representar coisas particulares e suas pro-
priedades por intermédio de nossas notações lógicas.
Podemos nos referir a Bert dando-lhe um nome – um
que funcione precisamente como o nome ‘Bert’ na lín-
gua à qual pertence. Desse modo, podemos começar a
simbolizar o argumento acima escrevendo:
b é solteiro
Nenhum homem solteiro tem uma esposa.
Logo, b não tem uma esposa.
Aqui, estamos usando o símbolo ‘b’ para desempenhar
precisamente o mesmo papel que o nome ‘Bert’, ou seja,
para nos referirmos especificamente a uma pessoa, a
saber Bert. Se dispuséssemos de uma maneira de re-
presentar as propriedades de ser solteiro e de ter uma
esposa – ainda assim não conseguiríamos simbolizar
formalmente a totalidade do argumento, pois teríamos:
Fb
Nenhuma pessoa que é F é também G.
Logo, ~Gb
Observe que invertemos a ordem natural das palavras
em português na primeira premissa. ‘Bert é solteiro’
converteu-se, em sua versão lógica, em ‘É Bert solteiro’.
A maioria das notações em lógica clássica opera essa in-
versão e estamos apenas fazendo o mesmo: contudo,
não há nada em particular que dependa da ordem dos
símbolos.
Para compreender como a segunda premissa é normal-
mente simbolizada, duas novas idéias são úteis: a noção
de sentença aberta e uma notação referente a quanti-
ficadores e variáveis. A primeira é uma idéia realmen-
te simples. Pense em uma sentença, que contenha um
nome próprio e que seja verdadeira ou falsa; por exem-
plo, ‘Laurence escreveu parte deste livro’. Agora, retire o
nome próprio ‘Laurence’ e o substitua por uma letra que
marque a lacuna: ‘x escreveu parte deste livro’. Apesar
da sentença sobre Laurence ser verdadeira, a senten-
ça aberta ‘x escreveu parte deste livro’ é verdadeira em
relação a algumas pessoas e falsa em relação a outras.
É verdade, em relação a Max, que ele escreveu parte
deste livro e também é verdade, em relação a Joe, que
ele escreveu parte deste livro’. Portanto, se substituir-
mos a letra x pelo nome ‘Max’ ou pelo nome ‘Joe’, obte-
remos uma sentença fechada verdadeira, ao passo que,
se substituirmos a letra ‘x’ pelo nome ‘Chad’, obteremos
uma sentença fechada falsa. Uma sentença aberta pode
ser verdadeira ou falsa sobre algumas coisas, ou mesmo
não ser verdadeira em relação a absolutamente nada
(como a sentença ‘x é completamente redondo e qua-
drado ao mesmo tempo’).

70
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Realizar a substituição da variável ‘x’ por um nome é so-


mente uma das possibilidades de fechar uma sentença
aberta. Considere a seguinte sentença fechada verda-
deira: ‘Uma coisa escreveu uma parte deste livro’. Utili-
zando um símbolo especial para representar um quanti-
ficador cujo sentido é ‘existe ao menos uma coisa, x, tal
que...’ e é abreviado por ‘∃x’, podemos escrevê-la assim:
(∃x) (x escreveu uma parte deste livro
Lemos isto da seguinte forma: ‘há ao menos uma coisa
x tal que x escreveu uma parte deste livro’; ou, de modo
mais breve, ‘para algum x, x escreveu uma parte deste
livro’. Se a sentença aberta ‘x escreveu uma parte deste
livro’ for verdadeira em relação a pelo menos uma coisa
no universo, então a sentença fechada (∃x) (x escreveu
uma parte desse livro) será verdadeira.
Max, Joe e Laurence não são apenas coisas, são também
pessoas. Se considerarmos a seguinte conjunção de
duas sentenças abertas:
x é uma pessoa e x escreveu uma parte deste livro
então, poderemos fechá-la da mesma maneira:
(∃x) (x é uma pessoa & x escreveu uma parte deste livro)
Se a sentença a sentença que expressa uma conjunção
for verdadeira em relação a pelo menos uma coisa, en-
tão esta última sentença será verdadeira. Os parênte-
ses têm sido usados para indicar que a mesma variável
‘x’ é ligada ao quantificador ‘∃’ em todos os lugares em
que ela ocorre na sentença. A pessoa e x (exatamente a
mesma coisa) escreveu uma parte deste livro. Diferente-
mente, a seguinte sentença:
(∃x) (x é uma pessoa) & x escreveu uma parte deste livro
é aberta e, portanto, não é verdadeira e nem falsa. Esta
última sentença é lida assim em português:
Há pelo menos uma coisa e x escreveu uma parte desse
livro.
Ou, de forma mais literal:
(Em relação a pelo menos uma coisa qualquer x, x é uma
pessoa) e x escreveu uma parte deste livro.
Aqui, os parênteses mostram que o quantificador ‘pelo
menos uma’ não incide sobre a ocorrência final da va-
riável ‘x’. Há uma maneira mais eficiente de falar sobre
isso. Chamemos a sentença mais curta, que vem depois
da expressão composta pelo quantificador + variável, de
escopo desta expressão. A variável que está acoplada
ao quantificador apenas incide sobre – ou liga – as ins-
tâncias desta variável que ocorram no interior do esco-
po da expressão original composta pelo quantificador
+ variável. Nosso quantificador ‘∃’ é muito eloqüente
quando associado à negação. Considere ‘F’ e ‘G’ como re-
presentando, respectivamente, as propriedades de ser
um sapo e de ser verde. Para representar ‘alguns sapos
são verdes’, ou ‘ao menos um sapo é verde’, escrevendo
apenas:
(∃x) (Fx & Gx)
Agora você percebe o que significa a sentença abaixo?
(∃x) (Fx ~Gx)
Ela afirma que há ao menos uma coisa que é sapo e que
não é verde; em outras palavras: que alguns sapos não
são verdes. No entanto, se quisermos expressar a afir-
mação de que nenhum sapo é verde, podemos simples-

71
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

mente colocar a negação onde ela possui um escopo


maior, a saber:
~(∃x) (Fx & Gx)
Esta sentença afirma que é falso que haja pelo menos
um sapo verde; em outras palavras, ela expressa o pen-
samento: nenhum sapo é verde.
Isto posto, estamos em posição de simbolizar o argu-
mento sobre Bert da seguinte maneira, lembrando, des-
ta vez, de ler ‘F’ como significando ‘é solteiro’ e ‘G’ como
‘ter uma esposa’:
Fb
~(∃x) (Fx & Gx)
~Gb
A formulação da segunda premissa diz que nenhuma
coisa é solteira e tem uma esposa. Para exprimir a afir-
mação de que nenhum homem é solteiro e tem uma
esposa, precisamos especificar um pouco mais, escre-
vendo:
~(∃x) (Mx & Fx & Gx)
onde Mx é lido como ‘x é um homem’.
Por conveniência, os textos de lógica usualmente intro-
duzem um quantificador adicional, ‘Ɐ...’ para represen-
tar ‘Todas as coisas... são tais que...’, ou ainda, ‘Cada...
é tal que...’, ou apenas ‘Para todo...’. O materialismo é a
filosofia que afirma que todas as coisas são materiais.
Utilizando ‘Mx’ para representar ‘x é material’, podemos
simbolizar a afirmação central dos materialistas da se-
guinte maneira:
(Ɐx) (Mx)
Enquanto o quantificador ‘∃’ é normalmente utilizado à
frente de sentenças complexas que contêm ‘&’ como seu
principal conectivo, o quantificador universal ‘Ɐ’ possui
uma afinidade com o conectivo ‘ͻ’. A afirmação de que
todos os sapos são verdes, seria simbolizada assim:
(Ɐx) (Fx ͻ Gx)
E porque não usar ‘(Ɐx) (Fx & Gx)’? ‘(Ɐx) (Fx & Gx)’ é ver-
dadeira desde que a sentença aberta ‘(Fx & Gx)’ seja ver-
dadeira em relação a todas as coisas do universo. Mas
é totalmente falso que todas as coisas do universo se-
jam, tanto sapos quanto verdes! Ela é satisfeita por uma
coisa desde que esta coisa seja verde se for um sapo.
O fechamento universal desta sentença é lido assim:
‘Para qualquer coisa, x, se x é um sapo, então x é ver-
de’. Não se trata de uma tradução perfeita, mas é mui-
to mais plausível do que a interpretação que recorre à
conjunção. Suponha agora que, infelizmente, o universo
não contenha nenhum sapo. Em tal universo, desde que
contenha alguma coisa, seria verdadeiro em relação a
todas as coisas e de cada uma delas que, se ela é um
sapo, então é verde (lembre-se que a tabela de verdade
de ‘A ͻ B’ confere à condicional valor verdadeiro todas
as vezes que o antecedente for falso). Em um universo
desprovido de sapos, nossa afirmação universal de que
todos os sapos são verdes revela-se verdadeira (e tam-
bém é verdadeira em universo no qual todos os sapos
sejam cinza, sejam marrom e no qual todos sejam tam-
bém metrô). [...]
No universo em que habitamos, existem sapos. Portan-
to, a forma de condicional universal parece dar uma ex-
plicação bastante boa do que queremos dizer quando

72
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

afirmamos que todos os sapos são verdes: para refu-


tar esta afirmação precisamos ao menos uma coisa que
seja um sapo e que não seja verde. Com efeito, a afirma-
ção formalizada ‘(∃x) (Fx & ~G)’ contradiz explicitamente
a afirmação ‘(Ɐx) (Fx ͻ Gx)’. Portanto, escrever ‘~(∃x) (Fx
& ~Gx) é somente uma outra maneira de dizer a mesma
coisa que ‘(Ɐx) (Fx ͻ Gx)’, ao passo que escrever ‘~(Ɐx)
(Fx ͻ Gx)’ é somente uma outra maneira de exprimir a
mesma coisa que ‘(∃x) (Fx & ~G)’. Você perceberá ago-
ra que dispor tanto do quantificador universal, quanto
do quantificador existencial é uma extravagância: em
teoria, se dispomos da negação e de outros conectivos
verifuncionais, podemos expressar todas as verdades
universais e particulares que quisermos simplesmente
recorrendo a um dos quantificadores. Diga-se de passa-
gem que é uma extravagância termos tantos conectivos
verifuncionais, pois não precisamos de todos. Por exem-
plo, poderíamos, se quiséssemos, dispensar o ‘ͻ’, porque
‘~A v B’ tem exatamente as mesmas condições de verda-
de que ‘A ͻ B’ (GOLDSTEIN, 2007, p. 58-62).

Vamos investigar essa extensa citação aos poucos, e vamos deduzir


algumas regras básicas sobre o Cálculo de Predicados: a tradução dos
argumentos para a linguagem simbólica, seus operadores e suas variá-
veis. Mas antes vamos retomar um pouco o conteúdo sobre o Silogis-
mo Categórico (SC) de Aristóteles.

9.2 Tradução dos Tipos de Premissas para a Linguagem do CP


Dissemos que as premissas de um SC podem ser de 4 tipos: A, E,
I e O:
A – Todo S é P.
E – Nenhum S é P.
I – Algum S é P.
O – Algum S não é P.

Reparem que, até agora, não tínhamos condições de simbolizar


essas relações lógicas que quantificam predicados.

Para traduzir os tipos de premissa de um SC precisamos simbolizar


os pronomes: todo, nenhum, algum e algum não.

73
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Dissemos que o SC possui os termos: Sujeito (S), Médio (M) e


Predicado (P):

Todos os homens (M) são mortais (P).


Sócrates (S) é homem (M).
∴ Sócrates (S) é mortal (P).

Vamos precisar simbolizar os termos de um SC.

9.2.1 Quantificadores
Ainda não tínhamos como simbolizar essas relações predicativas na
lógica simbólica, pois, cada variável (p, q, r, s, t...) expressa uma sen-
tença completa, por exemplo: “Jesus é carpinteiro” = “p”. Agora vamos
precisar de uma variável para “Jesus” uma outra para “carpinteiro”.
Como afirma Goldstein et. al. (2007), trata- se de um exame mais
profundo das sentenças. Vamos compreender melhor essa relação en-
tre o CP e SC.

Quantificador Universal: Ɐ
Usaremos o símbolo “Ɐ”, chamado quantificador universal, para exprimir
o fato de que “para todo x em um dado conjunto, a proposição P(x) é
verdadeira”. Uma proposição do tipo “Para todo x, P(x)” é simbolicamente
representada por Ɐx, P(x).
A proposição “Todo inteiro é racional” pode-se escrever:
1. Ɐx, x∊Z → x∊Q.
As linhas 2 e 3 são
2. Para todo x, se x∊Z, então x∊Q.
exatamente iguais no
3. Para todo x, se x∊Z, então x∊Q.
original. Acredito ser
4. Para cada x, se x∊Z, então x∊Q.
um erro de edição
5. Ɐx(x∊Z → x∊Q).
6. Qualquer que seja x, x∊Z → x∊Q (DAGHLIAN, p. 90-91).

Os quantificadores serão utilizados no CP para cumprir a função


que os tipos de premissas têm no SC: todos (A), algum sim (I), algum
não (O) e nenhum (E).

Tipo A – Universal Afirmativa


• “Todos os homens são mortais”.
• “Para todo x, se x é homem, então x é mortal”.
• “Ɐx, se x é homem, então x é mortal”.
• Tradução para o CP: “Ɐx (Hx → Mx)”.

74
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Tipo E – Universal Negativa


• “Nenhum palmeirense é corintiano”.
• “Todos os palmeirenses não são corintianos”.
• “Ɐx, se x é palmeirense, então x não é corintiano”.
• Tradução para o CP: “Ɐx (Px → ~Cx)”.

Quantificador Existencial: ∃

No caso de proposições que envolvem expressões do tipo “Existe”, “Há


pelo menos um”, “Para ao menos um” e “Algum”, usaremos o símbolo “∃”,
chamado quantificador existencial, para exprimir o fato de que para um ou
mais elementos de um dado conjunto a proposição P(x) é verdadeira. Uma
proposição do tipo “Existe um x tal que P(x)” pode ser escrita simbolica-
mente: ∃x, P(x).
As seguintes proposições têm o mesmo significado:
∃x, x∊N.
Existe um x tal que x∊N. Algum número é natural.
Existe pelo menos um número natural.
1º Exemplo:
Escrever de maneira simbólica a proposição: Existe x tal que x² + 1 = 2x.
Solução:
P(x): x² + 1 = 2x
∃x, P(x)
2º Exemplo:
Simbolizar a proposição: Existe x∊Q tal que 0 ≤ x < 1 Solução:
P(x): 0 ≤ x < 1
∃x, x∊Q, P(x).
Os quantificadores podem aparecer juntos ou não, conforme mostramos
nos exemplos abaixo:
1º Exemplo:
Para todo x e para todo y, x + y = y + x é representada simbolicamente por:
ⱯxⱯy(x + y = y + x)
2º Exemplo:
Para todo x, existe um y tal que x < y, representa-se por: Ɐx∃y, (x < y)
3º Exemplo:
Existe um x tal que para todo y, y + x = 0, representa-se simbolicamente
por: ∃xⱯy, (x + y = 0).
4º Exemplo:
Existe um x e existe um y tal que xy é irracional, escreve-se:
∃x∃y, (xyy∊I).
5º Exemplo:
Para todo x, se x é par, então existe um y tal que x = 2y, é representada sim-
bolicamente por Ɐx(x é par → ∃y, x = 2y) (DAGHLIAN, 2011, p 91-92).

Tipo I – Particular Afirmativa


• “Algum brasileiro é palmeirense”.
• “Existe um x, tal que x é brasileiro e x é palmeirense”.
• “∃x, tal que x é brasileiro e x é palmeirense”.
• “∃x (Bx ^ Px)”

75
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

Tipo O – Particular Negativa


• “Algum brasileiro não é corintiano”.
• “Existe um x, tal que x é brasileiro e x não é corintiano”.
• “∃x, tal que x é brasileiro e x não é corintiano”.
• Tradução para o CP: “∃x (Bx ^ ~Cx)”.

Na Introdução ao Cálculo de Predicados foi feita uma longa cita-


ção de Goldstein et. al. (2007) e nos dois parágrafos finais os autores
explicam que a utilização de dois quantificadores seria uma extrava-
gância, uma vez que podem ser construídas equivalências entre eles.
Exemplo 1
Todo homem é mortal.
Ɐx (Hx → Mx) ⇔ ~∃x (Hx ^ ~Mx).
Ou seja:
Para todo x, tal que, se x é homem, então x é mortal ⇔ Não existe
x, tal que, x é homem e x não é mortal.

Exemplo 2
Nenhum palmeirense é corintiano.
Ou seja:
Ɐx (Px → ~Cx) ⇔ ~∃x (Px ^ Cx).
Para todo x, tal que, se x é palmeirense, então x não é corintiano ⇔
Não existe x, tal que, x é palmeirense e x é corintiano.

Exemplo 3
Algum brasileiro é palmeirense.
Ou seja:
∃x (Bx ^ Px) ⇔ ~(Ɐx (~Bx ^ ~Px))
Negação:
~(∃x (Bx ^ Px)) ⇔ Ɐx ~(Bx ^ Px) ⇔ Ɐx (~Bx ^ ~Px)
Portanto:
∃x (Bx ^ Px) ⇔ ~(Ɐx ~(Bx ^ Px)) ⇔ ~(Ɐx (~Bx ^ ~Px))
Existe um x, tal que x é brasileiro e x é palmeirense ⇔ Não para
todo x, x não é brasileiro e x não é palmeirense.

76
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Exemplo 4
Algum brasileiro não é corintiano.
Ou seja:
∃x (Bx ^ ~Cx) ⇔ ~(Ɐx) (Bx → Gx)
Existe um x, tal que x é brasileiro e x não é corintiano ⇔ Não para
todo x, tal que, se x é brasileiro então x é corintiano.

9.3 A Dedução Natural e o Cálculo de Predicados


Vimos que é possível fazer a Dedução Natural para verificar a vali-
dade ou falsidade de um argumento. Agora que aprendemos a traduzir
estes argumentos para a linguagem do Cálculo de Predicados, pode-
mos aplicar as mesmas regras de implicação, equivalência e inferência
que utilizamos na tabela de dedução para validar os argumentos escri-
tos na linguagem do CP.
Exemplo
Provar que “Olívia joga voleibol” (Vo) dadas as seguintes premissas:
1. Os atletas da delegação de Campo Grande jogam voleibol ou futebol.
2. Olívia é atleta.
3. Olívia não joga futebol.

Reescrito:
1. Para todo os membros da delegação de Campo Grande, se são
atletas, então jogam voleibol ou futebol.
2. Olívia é atleta.
3. Olívia não joga futebol.
4. Portanto, Olívia joga voleibol.

Tradução para o CP:


1. Ɐx (Ax → (Vx v Fx)).
2. Ao.
3. ~Fo.

1 Ɐx (Ax → (Vx v Fx)) Premissa.


2 Ao Premissa.
3 ~Fo Premissa.
4 Ao → (Vo v Fo) EⱯ (1)
5 Vo v Fo MP (4, 2)
6 Vo SD (5, 3)
c.q.d.

77
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

DIÁLOGO ENTRE PROFESSOR E ALUNO

ALUNO
Professor, percebi que na Linha 4 o senhor utilizou uma regra chamada
EⱯ. Não me lembro de nenhuma regra chamada EⱯ.

PROFESSOR
Ótima observação! Esta regra é chamada Eliminação do Universal (EⱯ). Ela
nos permite substituir a variável “x” por uma constante “o”. Vamos apren-
der esta e outras regras de inferência próprias do CP.

9.4 Regras de Inferência do Cálculo de Predicados

Eliminação do Quantificador Universal - EⱯ


Se todos os indivíduos de um conjunto possuem determinado pre-
dicado, então cada um deles em particular possui o mesmo predicado.

Se ⱯxPx é considerada verdade, então o quantificador universal


pode ser eliminado para se obter Px (que é verdadeiro para todos os
indivíduos) ou para obter Pa (que é verdadeiro para um indivíduo
particular). Em outras palavras: o que for verdade para todos os indi-
víduos será verdade para cada um.
Exemplo
1. Ɐx (Px → Qx)
2. Pa
3. ∴ Qa

A Tabela de Dedução será:

1 Ɐx (Px → Qx) Premissa.


2 Pa Premissa.
3 Pa → Qa EⱯ (1)
4 Qa MP (2, 3)
c.q.d.

Introdução do Quantificador Existencial - I∃


Vamos supor a sentença “Jesus é marceneiro”. Se Jesus é marcenei-
ro, então, é correto afirmar, existe pelo menos alguém que é marce-
neiro e que esse alguém é Jesus. Traduzindo para a linguagem do CP
podemos escrever isso da seguinte forma:
78
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Mj
∴ ∃xMx

A fórmula ∃xMx resulta da substituição de uma ou mais constan-


tes j pela variável x (não é preciso substituir todas as ocorrências de j
por x). Além disso, j deve ser substituível por x em Mj.

Exemplos
Fc Ac ^ Bc Ac ↔ (Bc ^ Dc) ∴ ∃x (Ax
∴ ∃xFx ∴ ∃x (Ax ^ Bx) ↔ (Bx ^ Dx)

Demonstração
Ɐx (Px → Qx)
Pa
∴ ∃xQx

A Tabela de Dedução será:

1 Ɐx (Px → Qx) ∴ ∃xQx Premissa.


2 Pa Premissa.
3 Pa → Qa EⱯ (1)
4 Qa MP (2, 3)
5 ∃xQx I∃ (4)
c. q. d

Eliminação do Quantificador Existencial - E∃


Se ∃xPx é verdade, então “a” representa o indivíduo para o qual
Px é verdade, desde que “a” não tenha sido já usado para representar
outro indivíduo. Assim, eliminando o quantificador ∃ e substituindo
“x” por “a” obtém-se “Pa”.

Se um enunciado for verdadeiro para algum objeto, então pode-


mos nos referir a este objeto lhe atribuindo um nome.

Existem algumas restrições para a aplicação desta regra. O fato de


existir um indivíduo em um certo domínio, que possui o predicado
P, não significa que se está em condições de apontar um determinado
indivíduo “a” como sendo aquele que possui o predicado P. A regra
E∃pode ser aplicada se:

79
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

• “a” não ocorre nas premissas do argumento. “a” só deve aparecer


no argumento por meio da aplicação da regra E∃;

• uma constante que tenha sido introduzida em um argumento via


E∃ não pode reaparecer nesse argumento por uma nova aplicação de
E∃. Na segunda aplicação deve ser usada uma nova letra.

Exemplo
∃x(Fx ^ Gx)
∴ ∃xFx ^ ∃xGx
1 ∃x(Fx ^ Gx) Premissa.
2 Fa ^ Ga E∃ (1)
3 Fa S (2)
4 Ga S (2)
5 ∃xFx I∃ (3)
6 ∃xGx I∃ (4)
7 ∃xFx ^ ∃xGx U (5, 6)
c.q.d.

Introdução do Quantificador Universal - IⱯ


Seja Px uma fórmula e a uma constante, então:
Pa
∴ ⱯxPx

Se uma fórmula Px é verdade para um x arbitrário do domínio de


discurso — onde Px pode conter ou não outros símbolos que não x
—, então o quantificador universal pode ser introduzido para obter
ⱯxPx, desde que todo objeto existente em Px, que dependa de x, este-
ja coberto pelo quantificador.

Ou seja:
• dentro de certas restrições, o que for verdade para um objeto ar-
bitrário do domínio de discurso, é verdade para todos os objetos do
domínio e permite a introdução de um quantificador universal.

80
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Restrições necessárias:
1. a regra não pode ser aplicada a constantes que ocorram nas premissas,
uma vez que tais constantes se referem a objetos particulares do domínio;
2. a regra não deve ser aplicada a constantes introduzidas pela regra
de Eliminação do Existencial, uma vez que referem-se a objetos parti-
culares do domínio.

Exemplo 1
Ɐy (Py → Qy)
ⱯyPy
∴ ⱯxQx
1 Ɐy (Py → Qy) Premissa
2 ⱯyPy Premissa
3 Px → Qx EⱯ (1)
4 Px EⱯ (2)
5 Qx MP (3, 4)
6 ⱯxQx IⱯ (5)
c. q. d.

Exemplo 2
Ɐx (Px → Ax)
Ɐx (Ux → Px)
∴ Ɐx (Ux → Ax)
1 Ɐx (Px → Ax) Premissa
2 Ɐx (Ux → Px) Premissa
3 Px → Ax EⱯ (1)
4 Ux → Px EⱯ (2)
5 Ux → Ax SH (3, 4)
6 Ɐx (Ux → Ax) IⱯ (5)
c. q. d.

Como você pôde notar, podemos utilizar as regras de inferência


da Dedução Natural no Cálculo de Predicados mesmo com a intro-
dução dos quantificadores, os quais possuem suas próprias regras de
inferência. Com isso, a precisão lógica fica ainda maior. O que não
quer dizer que possamos produzir um sistema da verdade total por
meio da Lógica. Como já dissemos na Introdução deste nosso curso,
a Lógica continua produzindo novas linguagens em outros domínios,
principalmente na informática e na matemática, ainda existem muitas
outras possibilidades lógicas e não lógicas, muitos dilemas, esquemas

81
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

ainda mais complexos de dedução que estão muito além das nossas
pretensões com este curso. Nosso curso é apenas uma preparação para
que você possa aprofundar seus conhecimentos sobre a Lógica, seja
esse aprofundamento na Lógica propriamente dita, seja em outros
campos de conhecimento.

82
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

10. Considerações Finais

Com as explicações sobre as regras de introdução e eliminação


dos quantificadores universal e existencial, chegamos ao fim do nosso
Curso de Introdução à Lógica. Esperamos que este material tenha
auxiliado em sua aprendizagem e lhe capacitado para aprofundar seus
estudos sobre a Lógica ou mesmo que seja suficiente para que você
perceba como os procedimentos lógicos podem auxiliar ou não na
distinção dos argumentos que foram bem construídos daqueles que
não foram.

Sabemos que a Lógica continua avançando em outros domínios,


principalmente no campo da informática onde possui uma aplica-
ção prática muito relevante. À medida que o desenvolvimento da in-
formática ocorre, novos problemas lógicos surgem e relações lógicas
que estavam muito bem estabelecidas se mostram problemáticas. Na
verdade, desde a intuição dos princípios que sustentam e engendram
tudo o que falamos sobre a Lógica neste curso, essas relações nunca
estiveram bem estabelecidas.

Foi antes em um estado oposto que Parmênides encontrou a doutrina do


ser. Naquele dia e nesse estado ele examinava seus dois contrários coope-
rantes, cujo desejo e ódio constituem o mundo do vir-a-ser, o que é e o que
não é, as propriedades positivas e negativas – e subitamente deteve-se no
conceito da propriedade negativa, no que não é, com desconfiança. Pode
então algo que não é ser uma propriedade? Ou perguntado mais princi-
palmente: pode então algo que não é ser? A única forma de conhecimento
tautológico, porém, a que desde logo conferimos uma confiança incon-
dicionada e cuja negação equivale ao desvario, é a tautologia A = A. Mas
justamente esse conhecimento tautológico lhe clamava implacavelmente:
o que não é, não é! O que é, é! Subidamente ele sentiu um descomunal
pecado lógico pesar sobre sua vida: e, no entanto, ele havia sempre admi-
tido sem escrúpulo que havia propriedades negativas, em geral algo não
sendo, e que, portanto, expresso formalmente, A era = não A: o que, no
entanto, somente a completa perversão do pensamento poderia afirmar.
Decerto, como ele se deu conta, toda a grande maioria dos homens julga
com a mesma perversão: ele mesmo não fez mais do que tomar parte no
crime universal contra a lógica. Mas o mesmo instante, que o acusa desse
crime, levado pela firme e terrível mão da verdade tautológica sobre o ser,
ele desce ao abismo das coisas.

83
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica
No caminho se defronta com Heráclito – um encontro infeliz! Para ele,
que esperava tudo da separação mais rigorosa entre ser e não-ser, havia de
ser profundamente odioso, logo agora, o jogo das antinomias de Heráclito;
uma proposição como: “Somos e não somos ao mesmo tempo”, “ser e não-
ser é ao mesmo tempo o mesmo e não o mesmo”, um proposição pela qual
se tornava mais uma vez confuso e inextricável tudo aquilo que ele acaba
de esclarecer e desembaraçar, levava-o ao furor: “Fora com os homens!”
– gritou ele – “que parecem ter duas cabeças e no entanto nada sabem!
Neles tudo está em fluxo, mesmo seu pensamento! Olham pasmados para
as coisas, mas têm de ser tão surdos quanto cegos para misturarem assim
os contrários!” O desentendimento da massa, glorificado por antinomias
lúdicas e exaltado como o ápice de todo conhecimento, era para ele uma
vivência dolorosa e inconcebível.
E ele mergulhou no banho gelado das suas terríveis abstrações. Aquilo que
é verdadeiramente tem de ser em eterno presente, dele não pode ser dito
“era”, “será”. O que é não pode ter vindo a ser: pois de onde teria podido
vir a ser? Do que não é? Mas este não é e não pode produzir nada. Do
que é? Isto não seria nada outro do que engendrar a si mesmo. O mesmo
se dá com o perecer; ele é tão impossível quanto o vir-a-ser, quanto toda
alteração, quanto todo crescimento, toda diminuição. Por toda parte vale
a proposição: tudo aquilo que se pode dizer “foi” ou “será” não é, mas do
que é nunca pode ser dito “não-é”. O que é, é indivisível, pois onde está a
segunda força que haveria de dividi-lo? É imóvel, pois para onde haveria de
mover-se? Não pode ser infinitamente grande nem infinitamente pequeno,
pois está completo, como uma esfera, mas não em um espaço: pois para
separá-los teria de haver algo que não estaria sendo: uma suposição que
suprime a si mesma. Assim, há somente a eterna unidade.
Se agora, porém, Parmênides tornava a voltar o olhar ao mundo do vir-a-
ser, cuja existência ele havia antes procurado conceber através de combina-
ções tão engenhosas, zangava-se com seus olhos porque viam o vir- a-ser,
com seus ouvidos porque o ouviam. “Não sigais o olho estúpido” – assim
diz agora o seu imperativo – “não sigais o ouvido ruidoso ou a língua, mas
examinai somente com a força do pensamento!” Com isso executou a pri-
meira e sumamente importante, se bem que ainda tão insuficiente e fatal
em suas conseqüências, crítica do aparelho cognitivo: ao apartar abrupta-
mente os sentidos e a aptidão de pensar abstrações, portanto a razão, como
se fossem duas faculdades totalmente separadas, ele dilacerou o próprio
intelecto e encorajou àquela separação totalmente errônea entre “espírito”
e “corpo” que, particularmente desde Platão, pesa como uma maldição
sobre a filosofia. Todas as percepções dos sentidos, julga Parmênides, só
nos dão ilusões; e sua ilusão mestra é justamente simularem que aquilo que
não é também é e que mesmo o vir-a-ser também tem um ser. Toda aquela
multiplicidade e colorido do mundo conhecido conforme a experiência,
a mudança de suas qualidades, a ordenação de seu acima e abaixo, são
implacavelmente postas de lado como mera aparência e ilusão; desse lado
não há nada a aprender, portanto todo esforço dedicado a esse mundo de
mentira, inteiramente nulo, e que é como que uma fraude dos sentidos, é
desperdiçado. Quem julga assim no geral, como o fez Parmênides, deixa
com isso de ser um investigador da natureza em particular; seu interesse
pelos fenômenos estanca, ele cria um ódio de si mesmo, por não poder
desvencilhar-se desse eterno engodo dos sentidos. Somente nas mais des-
botadas, nas mais abstratas generalidades, nos estojos vazios das palavras
mais indeterminadas há de morar agora a verdade, como num casulo de
fios de aranha: junto de uma tal “verdade” senta- se agora o filósofo, e aliás
exangue como uma abstração e emaranhado em fórmulas. A aranha, no
entanto, quer o sangue de suas vítimas; mas o filósofo parmenidiano odeia
precisamente o sangue de sua vítima, o sangue da empiria, sacrificada por
ele (NIETZSCHE, 1978, p. 37-39).

84
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Se na Introdução deste Material Didático Mediacional pretendía-


mos iniciar você no mundo da Lógica, ou seja, mandá-lo para mundo
do Ser, com estas Considerações Finais pretendemos de lá resgatá-lo
para devolvê-lo ao mundo real... o mundo do vir-a-ser.

O estudo da Lógica pode parecer enfadonho ou difícil, inútil às ve-


zes, mas pode também se parecer com um jogo de montar/desmontar
por meio do qual treinamos nossa capacidade de raciocínio enquanto
nos divertimos.

Foi um prazer dividir um pouco do meu conhecimento sobre a Ló-


gica e espero que tenha lhe proporcionado boas reflexões e boas horas.
Acredito que o conhecimento é algo prazeroso e que se você concluiu
este curso deve ter desfrutado algumas horas prazerosas de pensamento.

Assim imaginei você durante o curso: se divertindo!

85
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

86
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Introdução à Lógica

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, D. C. P. Dedução natural rotulada para lógicas mo-


dais e multimodais. 2017. 159 f. Tese (Doutorado em Filosofia) –
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2017.

BURNET, J. Aurora da filosofia grega. Tradução de Vera Ribeiro.


Rio de Janeiro: Contraponto: Editora PUC-Rio, 2006.

DAGHLIAN, J. Lógica e álgebra de Boole. 4. ed. São Paulo: Atlas,


2011.

GOLDSTEIN, L.; et al. Lógica: conceitos-chave em filosofia. Tradu-


ção de Lia Levy. Porto Alegre: Artmed, 2007.

NIETZSCHE, F. W. Obras incompletas. 2 ed. Seleção de textos de


Gérard Lebrun; tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho;
posfácio de Antônio Cândido de Melo e Souza. São Paulo: Abril Cul-
tural, 1978. (Os pensadores)

E-Referências

ALMEIDA, D. C. P. Dedução natural rotulada para lógicas modais


e multimodais. Disponível em: <>. Acesso em: 13 de abril de 2021.

NIETZSCHE, F. A filosofia na época trágica dos gregos. Disponível


em: <https://aletp.com.br/wp-content/uploads/2017/12/nietzsche-a-
filosofia-na- idade-tragica-dos-gregos.pdf>. Acesso em: 24 out. 2020.

87
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Introdução à Lógica

PUC. Dedução natura: lógica proposicional. Disponível em: <ht-


tps://www.inf.pucrs.br/~emoreno/undergraduate/EC/logcomp/
class_files/A ula09.pdf>. Acesso em: 13 de abril de 2021.

UFPE. Dedução natural. Disponível em: <https://www.cin.


ufpe.br/~ajfgc/trocos/Apostila%20-%20Deducao%20Natural.pdf >.
Acesso em: 24 de out. 2020.

UNISINOS. Regras de dedução natural. Disponível em: <http://re-


positoriocanvas.unisinos.br/Logica/novos/deducao_natural/pdf/regr
as_inferencia_introducao.pdf>. Acesso em: 24 de out. 2020.

88
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS

Você também pode gostar