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PRUDÊNCIA
Uma doutrina moral meramente casuística não só e sobre a justiça,
a
menoridade do homem, mas até agrava e perpetua essa kprilhe prudência
conselho"). E a primazia da que, sem
maioridade,
ridade. "Uma vez que se chega à casuística, a primeira dadeao dizer afinal
co. temperança quer moral e um
autêntico
que acontece é que a decisão no caso de consciência é fortalezae a autêntica vida
existir uma
traída à consciênciaindividual e transferida para a sub- nãoé possívelmoral. e a "mãe
procedimento é a forma fundamental impos-
do especialista" 95 prudência
Se realmentea morais, isto equivale a dizer que é
A virtude da prudência, pelo contrário, sendo a perfeita capa virtudes a fortaleza e para
a
q'. de todas as homem para a justiça, para
dade de decisão em função do real, é precisamente a síveleducar um mesmo tempo, se não eduque
que, antes e ao
da maioridade moral (que não exclui, antes inclui a "disponibih.. temperança, desde quer dizer; para a avaliação
Para a prudência
para a prudência. situação do agir concreto, e para a capaci-
95 Linsenmann,Untersuchungenüber die Lehre von Gesetz und Freiheit objetivada concreta concreta.
ano 53 (1871), pág.
(Tubinga). Theologische Qyartalsschrift, 238. de tirar desta avaliação uma decisão da pru-
com estas ninharias talmúdicas, dificilmente pode um homem dar um passo
dade
clássica cristã sobre a primazia da virtude
A doutrina contra
sem o seu confessor". (HIRSCHER,J. B. Úber das Verhãltnis des Evangeliums zu
encerra, na sua mais íntima orientação, um protesto
der theologischenScholastikder neuesten Zeit im katholischen Deutschland dência moralistas
sistemas de pressão moral contrários ao ser,
Tubinga, 1823,pág. 238.)Numa notável dissertação do P. Daniel Feuling O.S.B. todos os o homem que é cha-
a tutela sobre
sobre a prudência (que ele, com um termo mais antigo, designa discretio), encon- e casuísticos,e contra toda
tram-se estas oportunas considerações: MNãoestá a verificar-se entre nós uma mado a decidir-se.
não é apenas o índice da
tendência de largo alcance, embora inconfessada, para preservar o mais possível
A primeiradas virtudes cardeais por isso, o índice
do juízo moral e da decisão independente o homem fisicamente desenvolvido
ou a desenvolver-se?Pois não se colocam —não é às leis positivas procedentes maioridademoral; é também, e precisamente
da autoridadelegítima que nos referimos aqui —acima das variadas exigências da liberdade.
da vida moral, as regras gerais, às quais se pretendem referir todos os deveres
regras que até no pequeno e no mesquinho costumam fixar o que a ordem moral
exige, regras que então ficam praticamente equiparadas a esta ordem moral?
E não se está muitas vezes pronto a atirar a pesada censura da imoralidade no
pensar e no agir a todo aquele que se escandaliza com tal casuística, e se aprcy
xirna da grande verdade fundamental que coloca a virtude no meio, —não em
qualquermeio abstrato e equidistante, mas no meio que se coaduna às circuns-
tâncias,às condições,ao estudo de alma, à mentalidade, e sobretudo à
nalidadede quem atua? Com tal educação e tais influências, não é realmente
surpreenderque não só a atividade de discernimento e de decisão em con-
formidade com as circunstâncias e, portanto, segundo as leis morais fique mais
ou frustrada,mas ainda que toda a coragem indispensável na decisão
soçobre e bastantes vezes desapareça por completo. EE
pode deixar de acontecer que as almas menos
robustas desanimem, se
tam desorien±s e abandonaas na vida
moral, e cheguem até a cair no degs-
quarxionão um homem verdadeiramente discreto e lúcido qtE
senpre nos seus problemasde consciência.
Para este grave
renidio• a progressiva educação
O S. B., para a discretio." (FEULING, DB'
Monatsschrift, ano 7, 1925, p. 359 s)
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PRUDÊNCIA

realização
adequados àqueles fins e a adequada
e os caminhos
A prudência e o amor aqui e agora daquela
orientação fundamental. o fruto
vida não é nem pode ser
Conhecer os fins últimos da e só
adquirida e aperfeiçoada precisamente
de uma capacidade homem
"vida". Os fins são um dado anterior. Nenhum
na própria o bem.
"Nenhuma virtude moral é possível sem a inconsciente sobre o seu dever de amar e realizar
está conceitual —que
outro lado, "não pode haver prudência sem as virtudes o homem sabe "de maneira mais ou menos
Todo a razão
Estas duas frases são igualmente tiradas do tratado de moraishh humano é "ser de acordo com
o bem essencial do ser
SãoTo realidade própria e com a reali-
de Aquino acerca da prudência. Só o prudente pode isto é, ser de acordo com a sua
ser justo das coisas criadas; e não há homem algum a quem apenas
corajoso e temperado;no entanto, quem não é já temperado dade
justo, corajoso e temperado;
seja preciso dizer que ele deve ser
corajoso e justo também não pode ser prudente. "refletir". A reflexão e a con-
sobre isso já não há necessidade de
Como pode a primeira destas frases ser válida juntamente para a realização con-
clusão da prudência orientam-se apenas
com a segunda, que parece opor-se-lhe? creta da justiça, da fortaleza e da temperança.
ser realmente
Não é que não seja possível lançar mão aqui de um nebuloso Esta realizaçãoconcreta, porém, não poderia
desenvolvida, se
"tanto isso como aquilo", mas em tal caso não deixaríamosde determinada e, acima de tudo, eficientemente
da voluntária
apelar para uma solução tão mesquinha quanto a do que à alu- os esforços da prudência não fossem precedidos
acei-
são ao fato de que a vida moral seja um "organismo". Explica- aceitação das finalidades humanas, quer dizer, da voluntária
fun-
çôes e alusões deste gênero menosprezam a sobriedade e clareza tação da justiça, da fortaleza e da temperança como rumo
esquemática que são o que há de inconfundível no pensamento damental do homem em direção ao seu bem essencial —que é
do "doutor universal". Ou é a prudência que gera as virtudes o "ser de acordo com a razão". Faltando o desejo do bem, todo o
esforço em descobrir o que aqui e agora é prudente e bom redunda
morais, ou são estas que fazem surgir a prudência: não podem
em ilusão e atividade vazia. A virtude da prudência pressupõe
ambas as coisas ser realmente verdadeiras em um só e único sen- uma real aspiração ao fim humano, a intentiofinis 99.Ela pressu-
tido. Mesmo no caso da serpente que se fecha em anel, é sempre põe, não só, como já foi dito várias vezes, a voz da consciência
a cabeça que morde, e nunca a cauda. Aquele "tanto como"do moral, mas também a resposta da vontade a este imperativo da
"círculo que se fecha" é no fundo um absurdo e o cômodo apoio consciência:a primordial afirmação do bem como causa final dos
de um pensamento a que faltam firmeza e exatidão. atos singulares. Tal afirmação, porém, não é outra coisa senão a
A função da virtude da prudência não é descobrir as finali-
dades, ou antes, a finalidade da vida, e determinar a orientação
fundamental do ser humano. É antes a de encontrar os meios
98 1, 11, 18, 5.
96 ver 14,6. 99 Cf. o capítulo sobre a estrutura da atitude moral em Die Wirklichkeit und
97 11,11,47, 13 ad 2. das Gute, pág. 56.
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atitude fundamental do homem que deseja ser just o, PRUDÊNCIA
temperado —em uma palavra, do homem bom100 coraj080 conhe-
que a contribuição que 0
A virtude moral, na medida em que representa a Podemoscertamente
dizer
concreto é de natu-
atitude um ato moral
damental da voluntária afirmação do bem, é o fund trazem a do bem
amento cimentoe a decisão do ato volitivo. A realização
condição prévia da prudência. A prudência, por sua vez, ea distinta da conclusão da
é reza inteiramente sincero do bem como a
suposto imprescindível na efetivação adequada, aqui e pressupõetanto 0 desejo de muito
cada uma destas coisas significa algo éo
daquela atitude fundamentale do seu desenvolvimento prudência;mas A conclusão prudente
ulte. do homem.
prudente aquele que, antes e ao
rior. Só pode ser mesmo tempo diverso no agir concreto Isto quer dizer que é dela
que
"padrão"do ato moral concreto. bem
aquele que é prudente "essência",
ama e quer o bem; só pode fazer o be o seu ser-assim, a sua
ele recebe a sua qualidade, seu ser-ali, a
E como o amor ao bem cresce com a prática do bem, acontece sua "verdade" e a sua "justeza". O seu quid, o
como a ele da força
que os fundamentos da prudência se aprofundam e fortalecem bondade, porém, recebe-os
sua existência, a sua real efeito, de um
é, com
tanto mais quanto mais eficiente e proveitosa ela for. operanteda vontade; "estar na
existência"
(A ânsia natural do bem alimenta-se da força sempre atuante exclusivo da vontade.
modo geral, o sentido próprio e
da ideia segundo
daquele salto originário em que o homem, respondendo ao cha. Destemodo se esclarece também o sentido
sincera afirmação do bem
mamento de Deus criador, atravessou o abismo que separao a qual a prudência está dependente da algum que
nada do ser, Esta é a força com a qual surge a possibilidadeda comofim humano.Esta frase não significa de modo
determinada
sua primeira realização:a corrente de um rio, que nasce na clara a conclusão prudente, quanto ao seu conteúdo, seja
a
escuridão da natureza e, constantemente alimentada pela sua ou sequer determinável pela vontade e, portanto, receba dela
origem, atinge com a voz da consciência o limiar da liberdade.) sua qualidade.A qualidade, o ser-assim da conclusão prudente é
No ato moral concreto encontram-se entrelaçados em um antes determinado pela ipsa res, pela realidade, que é o "padrão"
de todo o conhecimentoe de toda a conclusão. Não é pelo fato
todo o conhecimentoe a vontade. Ambos os fios ultrapassam,
de eu desejar o bem que a minha conclusão é prudente no seu
na sua última origem, a estreita zona da evidência racional,e
conteúdo, mas porque eu conheço realmente e avalio retamente
até o "modelo"e a norma segundo a qual se juntam no tecido a situaçãoconcreta do ato concreto. Não é a afirmação do bem,
escapam bem depressa ao olhar humano i01. não é a intentiofinis o que constitui o "padrão" da conclusão
prudente, mas o verdadeiro conhecimento da realidade. Mas o
100 "Prudentiapraecise dirigit in his quae sunt desejo do bem é a condição à qual está presa a realização, a exis-
ad finem... Sed finis agibilium
preexistit in nobis dupliciter: scilicet per
cognitionem naturalem de fine homi• tência,o ser ali, o quid da conclusão prudente: o desejo
nis (synderesis!);alio modo quantium do bem
ad affectionem; et sic fines agibilium cria a possibilidadede a conclusão da prudência
sunt in nobis per virtutes morales... receber a sua
Ad prudentiam requiruntur et intellectum qualidade,o seu conteúdo preciso, o seu
finiutn et virtutes Inorales,
quibus affectus recte collocatur in fine; et propter efetivo ser-assim atra-
hoc.oportet omnem prudentem
«
101 De que modo se virtuosum esse." (Ver. 5, 1) própriada natureza metafisica do
realiza este entrelaçamento do conhecimento prático espírito, o qual, como conhecimento,
com a reflexàosobre ele, ordenadopara todo o ser e também está
per), e sobretudocomo
do juízo coin a decisão (por meio da vontade —J.Pie como desejo de bem, está ordenado para o ato e a sua determinação moral, e
é que isso é possível na para a bondade do
zona do mistério.Mas — eis uma questão que toca tudo, 0 que é praticamente conhecimento, sobre-
este caráter misterioso é de tio.Benediktinische significativo." (FEULING, P. Daniel, O.
toda a moralidade,e realidade viva e condição Monatsschrift, ano 7, 1925, S. B., Discre-
pode-se dizer que, mesmo p. 256)
neste mistério, recebe uma
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realidade. Nunca é possível que
vés do conhecimento da o desejo
contida no conhecimento
determine e produza a verdade e passe por cima dela
conclusão nem a qualidade
do ato bom (como, por outro Aquino,transparente do cimo ao fundo, claridade.
lado difunde a sua corajosa
nenhum conhecimento, por
mais verdadeiro, nenhuma sem reparar em que abismos se
a efetiva realização do
conclus Deve-seantes de mais nada ter presente que o princípio
são. por mais prudente, atinge aperfeiçoada pela
o caminho à verdade, de segundo o qual a natureza é pressuposta e
Mas a retidào do desejo abre modo graça, princípio tão frequentemente evocado como
explicação
e na ação o selo da justa que
esta possa imprimirna vontade fide_ decisiva,encerra verdadeiramente um mistério
impenetrável.
lidade ao ser. Um desejo perverso, com efeito, impede precisa. Além disso, este princípio refere-se a um aspecto que
pertence
mente que a verdade das coisas reais se torne determinante dos ao domínio do universal e do essencial, e que não é o aspecto
do
atos humanos é digno de profunda meditação, na Epístola aos ser-ali, concreto e imediato. Para falar com maior precisão, pode-
Romanos.aqueleversículoonde se diz que a verdade é retida ríamos dizer que aquela unissonância da ordem natural com a
nas malhas da injustiça (Rm nova vida da amizade divina não se deve entender como se ela
"Os atos humanos são bons na medida em que correspon- fosse dada diretamente ou realizável em um desenvolvimento
dem ao padrão aferidor do procedimento humano. O homem "harmônico" e imperturbável. Uma tal harmonia está, com efeito,
possui um instrumento de aferição, adequado, próprio da sua profundamente enraizada nos hábitos de pensar. Mas as confi-
natureza, que é a reta razão; mas existe um outro padrão, supe- dênciasdos grandes apaixonados de Deus mostram quase em
rior e inexcedível,que é Deus. A reta razão atinge-a o homem cada página que a verdadeira existência do cristão está sujeita
na prudência, que é a reta razão no domínio do procedimento. a outra ordem de leis; mostram que as relações terrenas entre a
Deus, porém, o homem só O atinge no amor "104 natureza e a sobrenatureza, não atingindo "ainda" a paz da conso-
"Aprudênciaé consideradaa forma de todas as virtudes nância, envolvem múltiplas possibilidades de conflito e confusão.
Isto não quer dizer que as mais temíveis possibilidades de
morais. Mas a ação da virtude, uma vez que assenta no "justo
tais colisõesresidam na zona ínfima da vida natural, e por-
meio",é, por assim dizer, a "matéria prima" da ordenação ao fim
tanto em uma espécie de oposição entre o querer sensorial
último. E esta ordenação acolhe a ação da virtude sob o impera-
e o dever sobrenatural. De modo nenhum. A mais temível
tivo do amor.E por isso se pode dizer que o amor é a forma de
possibilidadede conflito entre a natureza e a sobrenatureza
todas as outras virtudes "105
no coração do homem está contida na conjugação das mais
Pode muito facilmente acontecer que quem se debruce super-
altas virtudes naturais com as altas virtudes teologais, isto é,
ficialmentesobre a limpidez desta explicação de São Tomás de na conjugaçãoda prudência natural com o amor sobrenatu-
ral. Não é o "pecador", mas o "prudente", quem
está sobrema-
neira exposto à tentação de se fechar e de se
102 "Adactum virtutis opor à nova vida
requiritur, quod sit rectus et quod sit voluntarius. Sed que a graça lhe proporciona. O perigo
sicut voluntariiactus específico da prudência
principium est voluntas, ita recti
actus principium est natural está na verdade em que ela tende
ratio." (Ver. 14,
5 obj. 11) a reduzir
o funda-
103 Cf. Die Wirklichkeit mento dos atos humanos às realidades
104 Virt. card. 2.
und das Gute, pág.
109. naturalmente sensíveis.
Mas a prudência do cristão implica
105 ver. 27,5 ad 5.
a precisamente a abertura e
expansãodeste fundamento, e ainda,
na fé informada pelo
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amor. a Inclusão de novas e jnv:siveis realidades no compleu capaz de se dirigir a si rnesmo


que determina a nossa conclusão. pdo pelo Espirito Santo, torna-se
Nada mos é preciso para se compreender que a mais elevu tem o espírito
e aos outros Santo,porém. não
e nws fecunda realizaçào da vida cnstà consiste na ' donsdo Espírito um papel passivos por
isso,
ativo, mas quantidade é
da prudência e do amor, como um grão que se semeia. humano urn pape) questão sobre 0 modo e a
Tal colaboração está ligada a primazia do amor sobre a pru. qualquer insensata petulância
serta na verdade
déncla. Esta é a forma íUndamental das virtudes morais, rnaseh de responder. as quais o
de
as -regras" segundo
própria é, por sua vez, informada pelo amor pretenderdescobnr deliberação do homem. máximo
Deusatua na reflexão e na possibilidades
Sobre o modo como o amor se imprime na prudência que a quase Infinita gama de
que se pode drzer é qualquer
creio ser possível dar alguma explicação. Porque o amor, par. natural imposçibilita
que Já no campo da prudência
ticipaçâoem graça na vida do I)eus trino, é essencialmente ainda, na ordem sobrenatural,
normageral e abstrata, recebe
dádiva, e dádiva que se subtrai à capacidade de compreensào indetermmaçáo e uma multiplicidade inteiramente novas.
urna
humana, tanto sensorial como conceptual. Não existe nenhum no caráter Incomparável e
Paraver Isto, basta que reparemos
meio humano de penetrar no que se passa quando as três virtu- no domínio próprio da
singularda vida de cada santo. Estamos
quiseres".
des teologais são "vasadas" na nossa natureza. No entanto, uma norma de Santo Agostinho: 'Ama, e faz o que
aquelas frases
coisa é certa: a nossa essêncra e a nossa maneira de ser recebem (Sãodignas da maior atenção, por outro lado,
assim uma elevação ontológica, completamente inatingível por tromás, muito próximo de Santo Agostinho) 10. for-
em que São
outro meio. Por isso, o amor sobrenatural de Deus, ao informar mulaa mesmarelação,dizendo que o dom do conselho é insepa-
as deliberaçõesdo cristão, significa algo de maior e melhor do rávelda bem-aventurança, a "bem-aventurança da misericórdia
que uma suplementar "motivação mais elevada", no sentido psi- — beatitudo misericordiae) lil
cológico do termo. O amor de Deus, dádiva da graça, insinua-se Diza SummaTheologicaque no alto nível de perfeição que
nos atos quotidianos do cristão, (embora isso não seja discerní• é o amor há ainda uma alta e extraordinária prudência — uma
vel "do exterior"),a partir do fundamento e no seu cerne mms prudênciaque menosprezatodas as coisas deste mundo)
íntimo, e de uma forma que, seja qual for, excede o domínio da Não será que isto se opõe frontalmente a tudo o que o "dou-
experiênciapsicológicanormalmente possível. tor universal"diz sobre a essência da primeira virtude cardeal?
À medida que se robustece a Este "menosprezo"das coisas criadas não será precisamente o
virtude teologal do amor, desen-
volvem-seno homem em graça contráriodaquelahonesta objetividadeque, na situação con-
os sete dons do Espírito Santo;
e nessa mesma medida
vem em auxílio da prudência humana¯ creta do ato concreto, se esforça por conhecer o
"padrão" desse
de modo mais sensível mesmo ato?
—o "dom do conselho", donum consiliL
"O dom do conselho
responde à prudência, ajudando-a e aper-

feiçoando-a"107. 108 11,11,52, 2 ad 3.
, o espírito humano,
precisamente por ser diri- 109 11,11,52,2 ad 1.
110 De sermone Domini in
monte, cap. 4.
106 Ver. 14,5 ad II. 11,11, 52, 4.
107 11,11.52,z 112 1, 61,5
JOSEF PtEPER
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unicamente para Deus, que as
"Pequenas" são as coisas
como o barro na mão do oleiro. Atra. padrão e direção do querer e do agir individuais. Nunca, com
e em cujas mãos elas são
amor gratuitamente recebido, efeito, poderá haver, para o homem, outro padrão moral que não
vés do poder sobre-humanodo
tal unidade com Deus, que recebg seja o próprio Ente e a verdade em que o Ente se revela; e não
porém, o homem atinge uma
e o direito de olhar as coisas poderá haver, para ele, nenhum padrão mais alto do que o Ente
por assim dizer, a capacidade do
"relativizar" e de as absoluto que é Deus, e a sua verdade.
ponto de vista de Deus.de as
ou contestar a sua importàn. E acerca do homem que "realiza a verdade", diz-se na Sagrada
como Deus, semcom isso as negar
a Escritura (Jo 3,21) que ele "caminha para a luz".
cia Esta é a única possibilidade legítima e única justificação
do "desprezo do mundo":o crescimento no amor. Em contrapar-
tida, todo o desprezo do mundo procedente de uma visão pura.
mente humana,e portanto não gerada pelo amor sobrenaturd
de Deus, é necessariamente orgulho insensato, que pode furtar-
-se ao dever quotidiano que as coisas criadas pedem a qualquer
homem Sóa profundaintimidade com Deus. alimentada peb
amor, deva o homem acima da imediata dissipação no mun&
Com aproximamo-nos
de uma fronteira para akn
qualsó a exFrÊrria da santidade permite conhecer e dize
alguma Linute1M)-nosapelas a observar que muitas vez
os santos amaram o quotidiano e o habitual. e que mu•
vezesmeram recuo de tomar indevidamente o seu sEret0
'extraordinário' -conselho- do Espírito Santo.
Max alta e extraordmária prudência que
o tami*xn Ern equívoco a rnesmaatin±
a prudência "ordinária': a atin±
ao rr e da conformLde ao reaL
mó&ira amiz.± divina derobrem as
da reabdade, às quais se não abriu airjao
comum e do rridio•, em do
tkus,a coisasreaisabre-z nus
atu—
a ele se dá a conhEer,
e a da divina-
a mas alta pru&Eia sobrenatural prós
fazer com que a verda&.
deDeuse m:nb,

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