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VIRTUDES HUMANAS

As virtudes cardeais
Nardejane Martins Cardoso
VIRTUDES
Uma definição

“A definição mais simples – embora perigosa – de


virtude é “hábito bom”, ou seja, uma qualidade
que a pessoa tem e que se manifesta em certas
atitudes e reações habituais, em determinadas
condutas contínuas. Há, por exemplo, pessoas
que têm uma amabilidade habitual, outras que
geralmente estão de bom humor, outras que
sempre cumprem os horários, outras que não
descuidam a ordem material, outras que nunca
irritam os outros...”
Padre Francisco Faus - "A Conquista das Virtudes"
Virtude - O justo meio

"[...] a virtude é o hábito que se direciona ao


necessário [e conveniente], nomeando-se
[pelo sujeito] que age racionalmente. Agir
racionalmente significa investigar o conceito
de justo meio, escolhendo-o por livre
vontade. Por isso, a virtude é a mediana,
presente no homem justo"

(SÃO TOMÁS DE AQUINO)


VIRTUDES HUMANAS

"as virtudes humanas são


atitudes firmes, disposições
estáveis, perfeições habituais
da inteligência e da vontade"

(CATECISMO, N. 1804)
Por que virtudes cardeais?

Cardeal vem de
gonzo, dobradiça
– são as virtudes
principais das
quais derivam
outras.
AS VIRTUDES CARDEAIS
As principais virtudes humanas

1º 2º 3º 4º

PRUDÊNCIA JUSTIÇA FORTALEZA TEMPERANÇA


A PRUDÊNCIA
A virtude é a sabedoria da vida. Ser prudente é agir de um
modo pensado.
A prudência é a virtude-guia.

«A prudência dispõe a razão a discernir, em cada circunstância, o


nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para o pôr
em prática. Ela guia as outras virtudes, indicando-lhe regra e
medida» (Compêndio do Catecismo, n. 380).
A primazia da virtude da prudência
-“[...] a virtude da prudência é a ‘mãe’ e a informadora de todas as outras
virtudes cardeais – da justiça, da fortaleza, da temperança. O mesmo é dizer
que só quem é prudente pode ser justo, corajoso e temperado; e que o homem
bom é bom em virtude da sua prudência” (PIEPER, 2018, p. 13)
“A prudência, ou antes, a razão prática atuante na prudência é por assim dizer
(e nisto se distingue do senso moral), a consciência da situação, a ‘consciência
da circunstância’. Os ditames da consciência moral, tal como o princípio da
contradição para o saber concreto, constituem a terra firme, o ponto de
partida para a concreta decisão da ‘consciência circunstancial’. E nesta
decisão encontra a consciência moral a sua aplicação verdadeira” (PIEPER,
2018, p. 22)
Três etapas da prudência
1. Reflexão
2. Juízo
3. Decisão

“[...] Nas duas primeiras está representada a atitude crítico-


receptiva que constitui o caráter cognoscitivo da prudência
(prudentia secundum quod est cognoscitiva), enquanto a última
etapa representa o seu caráter diretivo (secundum quod est
praeceptiva)” (PIEPER, 2018, p. 24)
Exame da Realidade

MEMORIA DOCILITAS SOLERTIA

Mais que a memória Não é o zelo Com vigilância e


natural de recordar, superficial do bom atenção ter a
habilidade de lembrar, discípulo. É a capacidade de tomar as
de não esquecer. capacidade de se decisões. Objetividade
Fidelidade ao ser, deixar instruir. Contém na situação crítica.
trata-se de ter a a verdadeira Serenidade na
memória objetiva. humildade. confusão.
“A prudência é, portanto, como forma fundamental e ‘mãe’ de
toda a virtude humana, o traço específico do nosso espírito,
que aplica à realização do bem o conhecimento da realidade.
Ela encerra a humildade da compreensão silenciosa,
simples; a fidelidade da memória; a arte de saber ouvir; a
lúcida serenidade na confusão. Prudência significa a
ponderação hesitante, o filtro, por assim dizer, da reflexão, e
significa ao mesmo tempo a coragem que se arrisca na
decisão irreversível. Significa sobriedade, retidão, abertura e
simplicidade do ser, para lá de todas as complicações e de
todas as vantagens que a ‘tática’ produz” (PIEPER, 2018, p. 35-
36)
A JUSTIÇA
O Catecismo a define, sinteticamente, assim: «É a virtude
moral que consiste na vontade constante e firme de dar a
Deus e ao próximo o que lhes é devido» (n. 1807).
“[...] Com maior exatidão, diremos que nos propomos tratar do
esforço consciente e da atitude geral necessária para que o
homem seja dado o que é seu. Trata-se, em uma palavra, da
virtude da justiça. ‘Justiça é aquela atitude (habitus) em virtude da
qual se quer, constante e firmemente, dar a cada um aquilo a que
tem direito’ [São Tomás de Aquino]” (PIEPER, 2018, p. 64)
Formas da Justiça

Comunidade

Ju
l

st
ga


Le

a
D
a

is

tr
st

ib
Ju

ut
iv
a
Justiça Comutativa
Indivíduo Indivíduo
“A resposta de São Tomás seria mais ou menos assim: em uma comunidade,
em um Estado, reina a justiça quando as três relações de base, as três
estruturas fundamentais da vida comunitária estejam ‘justamente’ em ordem:
primeiro a relação de cada um com cada um (ordo partium ad partes), depois
a relação do todo social com cada um (ordo totius ad partes) e em terceiro
lugar a relação de cada um com o todo social (ordo partium ad totum). Estas
três relações com que constituem o alicerce da justiça, de acordo com a
forma de ordenação correspondente: a justiça de permuta (iustitia
commutativa) que ordena a relação de cada ente social com o seu
semelhante; a justiça distribuição (iustitia distributiva) que ordena a relação
da comunidade enquanto tal com cada um dos seus membros; e a justiça
legal, geral (iustitia legalis, iustitia generalis), que ordena a relação dos
membros com o todo social” (PIEPER, 2018, p. 96-97)
A FORTALEZA
“O louvor da fortaleza depende de alguma maneira da justiça”
São Tomás de Aquino
O Papa João Paulo II, em uma catequese de quarta-feira
(15/11/1978), referia-se ao valor da fortaleza nestes termos: «A
virtude da fortaleza requer sempre uma certa superação da
fraqueza humana e, sobretudo, do medo. O homem, por
natureza, teme o perigo, as moléstias, os sofrimentos... Desejo
render homenagem a todos os que têm a coragem de dizer “não”
ou “sim” quando isso custa»
Não podemos esquecer o mal...
“[...] a realidade metafísica da existência do mal; do mal no mundo
humano e demoníaco, do mal no aspecto duplo da culpa e do castigo,
isto é, do mal que fazemos e do mal que padecemos. O liberal
iluminista não pode conhecer, nem tampouco aceitar esta realidade
fundamental, porque para tal encontra obstáculo decisivo no seu
declarado mudanismo, no seu desregrado otimismo, e ainda em um
burguesísmo metafísico, que procede dos dois primeiros fatores e
surge medrosamente ansioso de uma segurança que pretende
“permanecer alheia à fortaleza”” (PIEPER, 2018, p. 149)
Três graus de perfeição da Fortaleza segundo São Tomás:
1. “O grau mais baixo, que no entanto se integra no grau imediatamente superior e não
fica abandonado em si mesmo, é a fortaleza ‘política’ da vida social de cada dia.
Quase tudo o que se tem dito até aqui sobre fortaleza – à parte as observações acerca
do martírio – está relacionado, cristãmente falando, com este grau inicial.”
2. “Progredindo interiormente do primeiro para o segundo grau – o da purificação da
fortaleza –, o homem que deseja uma realização mais alta da imagem de Deus em si
próprio, penetra nos umbrais da verdadeira vida mística. A vida mística não é mais do
que o desenvolvimento perfeito do amor sobrenatural de Deus e dos dons do Espírito
Santo.”
3. “O terceiro grau da fortaleza – a fortitudo purgati animi –, a fortaleza já transformada
na essência própria do ‘espírito puro’ – só se consegue nos mais altos vértices da
santidade terrena, que já são um começo da vida eterna”. (PIEPER, 2018, p. 173)
A TEMPERANÇA
O Catecismo fala das várias dimensões essa virtude. De modo geral, a
define como «a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e
procura o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da
vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da
honestidade» (n. 1809).
Josef Pieper explica que ela não se confunde com a moderação – e
explica, porque a moderação acabou sendo reduzida a contraposição
com a ira (embora, ele não negue que faz parte da temperança), em
segundo, porque o termo significa o medo de qualquer exagero, o que
compromete a relação com a caridade, e, por fim, a palavra moderação é
demasiadamente negativa e exclusiva.
TEMPERANÇA INTEMPERANÇA
CASTIDADE, LUXÚRIA,
CONTINÊNCIA, INCONTINÊNCIA,
HUMILDADE, SOBERBA,
SUAVIDADE, IRA CONTIDA,
MANSIDÃO, CURIOSITAS.
STUDIOSITAS.
Importância da Temperança
“Temperança não é, no seu sentido estrito e definitivo, a ‘realização’ do
‘bem’. Temperança e castidade não são ainda a perfeição do homem. A
temperança, conservando e disciplinando a ordem interior do homem,
põe as indispensáveis premissas para a realização do verdadeiro bem e
para a reta orientação do homem para o seu fim. Sem ela, a impetuosa
corrente das mais fortes tendências aninhadas no ser humano
transbordaria e destruiria todos os limites, perderia a sua direção
para jamais chegar ao mar da perfeição. A temperança não é em si
essa corrente. É margem e represa. Mas da sua solidez recebe a
corrente o benefício de fluir sem obstáculos; ganha ímpeto, inclinação e
velocidade” (PIEPER, 2018, p. 216)
“Só quem tem um coração puro é que poderá rir livremente. E
com igual razão se pode dizer que só quem olha o mundo com
olhos limpos é que consegue reconhecer a sua beleza”
(PIEPER, 2018, p. 207)

Referências
AQUINO, Tomás de. Onze lições sobre a virtude: comentários ao segundo livro
da ética de Aristóteles. Tradução de Tiago Tondinelli. Campinas: Ecclesiae, 2013.

FAUS, Francisco. A conquista das virtudes: para uma vida realizada. São Paulo:
Cultor de Livros. Online. Link:
https://www.padrefaus.org/storage/2017/11/CONQUISTA-DAS-VIRTUDES.pdf

PIEPER, Josef. Virtudes fundamentais: as virtudes cardeais e teologais.


Tradução de
Beckert da Assumpção, Narino e Silva, Paulo Roberto de Andrada Pacheco. São
Paulo: Cultor de livros, 2018.
Obrigada!

"Virtudes cardeais" - Raffaello Sanzio - Afresco na Capela Sistina

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