Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ELIEZER LIMA SILVA

OS ASPECTOS DA CULTURA E TEOLOGIA MEDIEVAIS


SOB A ÓTICA DA VIRTUDE DA PRUDÊNCIA

História E Teologia Dos Cristianismos Medievais, Prof.


Lucas Ribeiro – 1º Semestre do 2º. Ano, Período Matutino,
do Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade de Teologia
da Igreja Metodista – Universidade Metodista de São Paulo.

São Bernardo do Campo- abril de 2023


COMO ERA VISTA A VIRTUDE DA PRUDÊNCIA NA ERA MEDIEVAL?

A “virtude da prudência” era vista como algo essencial do ser humano, uma
virtude carregada de essencialidade, que permitia o indivíduo ter uma convivência em
sociedade de forma equilibrada. Ela o auxiliaria na compreensão adequada da fé cristã,
assim como a busca por viver uma vida equilibrada em meios as dimensões da vida
humana isso inclui a liberdade pessoal e a obediência, a fé e a razão. Em resumo implicava
o escrutínio das circunstâncias e a escolha do melhor curso de ação.

TOMÁS DE AQUINO E A VIRTUDES CARDEAIS

Tomás de Aquino descreve as virtudes cardinais, prudência, justiça, temperança e


fortaleza. Segundo ele, podem ser estabelecidos através de princípios formais e
subjetividade. A prudência é descrita sobretudo através de princípios formais, como uma
virtude intelectual e moral, e como uma consideração primária da razão.

“... pois são quatro os sujeitos da virtude que estamos falando aqui, a saber: o
racional por essência, que a Prudência aperfeiçoa, e o racional por participação,
que se divide em três, ou seja, a vontade, sujeito da justiça; o apetite
concupiscível, sujeito da temperança e o irascível, sujeito da fortaleza.”
(Aquino, Tomás de. Suma Teológica. Iª IIªe, v.IV, Q. 61, a. 2. São Paulo:
Loyola, 2004)

Ele atribui um papel notável à virtude da prudência, para ele era a principal
virtude, a rainha, a mãe das virtudes. Segundo Aquino, a prudência é a capacidade de
distinguir entre o bem e o mal em uma situação específica e escolher o curso de ação mais
apropriado para alcançar o resultado desejado. No entanto, não depende de regras ou
preceitos rígidos, mas sim de uma avaliação cuidadosa das circunstâncias particulares e
não pode ser reduzida a um conjunto de diretrizes ou regras, mas, uma habilidade que
deve ser aprendida através da reflexão e da experiência.

Além disso, Tomás de Aquino enfatizou que a prudência não é uma virtude
isolada, mas está intimamente relacionada com outras virtudes fundamentais. Entre as
virtudes intelectuais e morais, a virtude moral pode existir sem alguma virtude intelectual,
como sabedoria, ciência e arte, mas nunca sem inteligência e prudência moral. Estas duas
qualidades são necessárias para que haja um objetivo em mente e os métodos adequados
para alcançar esse objetivo.
Portanto, a prudência não deve ser vista como uma habilidade individual, mas
como uma virtude que exige cooperação e unidade. Com efeito, compreende não só a
virtude intelectual no que diz respeito ao conhecimento, mas também virtude moral
representando não só a ligação entre o domínio do conhecimento dos princípios e uma
única ação, mas sobretudo a ligação entre a disposição ao fim último da vontade e a
escolha concreta.

Assim como nos dispomos a proceder retamente em relação aos princípios


universais, pelo intelecto naturalmente, ou pela ciência habitual, assim
também, para nos dispormos bem em relação aos princípios particulares de
nossas ações, que são os fins, é preciso que sejamos aperfeiçoados por certos
hábitos que, de alguma forma nos tornam conatural o correto julgamento do
fim. E isso se faz pela virtude moral, porque o virtuoso julga retamente sobre
o fim da virtude. Logo, a razão reta do agir, ou seja, a Prudência, exige que o
homem tenha a virtude moral. (Aquino, Tomás de. Suma Teológica. Iª IIªe,
v.IV, Q. 58, a. 5. São Paulo: Loyola, 2004)

OS ASPECTOS DA CULTURA E TEOLOGIA MEDIEVAIS SOB A ÓTICA DA


VIRTUDE DA PRUDÊNCIA

A virtude do julgamento prudente, que estava entre as principais virtudes cardinais


consideradas importantes na ética cristã, teve um impacto significativo na cultura e na
teologia medievais. “A redação da Suma teológica tinha como visão preencher uma
lacuna mais visível, fornecendo à teologia moral a base dogmática de que carecia”
(TORREL, 1999,p.170).

A prudência foi vista como uma virtude essencial que permitiu viver na sociedade
e envolveu pesar todas as opções disponíveis antes de escolher o melhor curso de ação.
A importância de respeitar as autoridades religiosas e políticas, bem como a ênfase nas
hierarquias sociais, foram críticas da sociedade medieval. Reconhecer o certo do errado
e aderir às leis e normas estabelecidas eram consideradas virtudes nesta situação. A
crença era que a sabedoria permitiria a um indivíduo alcançar um equilíbrio entre
liberdade pessoal e submissão, evitando a censura da autoridade, mantendo as regras
atuais.

Há uma influência significativa na teologia medieval também, particularmente no


que diz respeito à relação entre razão e fé. Tomás de Aquino e outros teólogos medievais
consideraram que a cautela era necessária para uma compreensão precisa da fé cristã
porque permitia uma avaliação equilibrada das evidências e dos argumentos teóricos. A
prudência também foi vista como uma virtude que permitiu aos teólogos distinguir entre
as verdades reveladas por Deus e as verdadeiras da razão natural, encontrando um
equilíbrio apropriado entre elas. Porém olhando por esse lado teológico, Tomás de Aquino
afirma que não é suficiente para o ser humano confiar unicamente em leis naturais que
lhe permitam agir adequadamente de acordo com suas capacidades, porque essas leis
transcendem a natureza humana e declara a distinção de “virtudes teológicas” das
virtudes morais e intelectuais, onde nas virtudes teológicas, o objeto é algo que a mente
humana não pode compreender, enquanto nas virtudes morais e intelectuais, o objeto é
algo compreensível pela mente humana. As virtudes teológicas, como resultado, têm a
função de orientar o homem para uma bem-aventurança sobrenatural:

“É necessário, pois, que lhes sejam acrescentados por Deus certos princípios
pelos quais ele se ordene a bem-aventurança sobrenatural, tal como está
ordenado ao fim que lhe é conatural por princípios naturais que, porém, não
excluem o auxílio divino. Ora, esses princípios se chamam virtudes teologais,
primeiro por terem Deus como objeto, no sentido que nos orientam retamente
para ele; depois por serem infundidos só por Deus; e, finalmente, porque essas
virtudes são transmitidas unicamente pela revelação divina, na sagrada
escritura”. (Aquino, Tomás de. Suma Teológica. Iª IIªe, v.IV, Q. 62, a. 1. São
Paulo: Loyola, 2004)

TOMAS DE AQUINO E OS QUATRO ASPECTOS DA ÉTICA TOMISTA, DE


ESPECIAL ATUALIDADE PARA A EDUCAÇÃO

A concepção ética de Tomás de Aquino é o primeiro elemento. Ele acreditava que


a realização da felicidade humana definida como a perfeição de todas as dimensões da
vida, incluindo espiritual, moral e material era o objetivo final da ética. Tomás de Aquino
acreditava que a ética não é uma questão de regras ou mandamentos, mas sim de virtudes
e hábitos que permitem que um indivíduo experimente a felicidade completa. “Tomás tem
da ética uma visão profunda e orgânica, que deriva da própria natureza do ser humano.
Nesse sentido, é interessante observar que o Aquinate afirma diversas vezes que a Criação
é obra de toda a Santíssima Trindade e que constitui uma união de ser, verdade e bem que
espelha a Unidade das três Pessoas divinas: Pai, Filho e Espírito Santo” (Lauand, 2017,
p.39).
O segundo aspecto é a valorização da ética tomista do corpo e do material. Tomás
de Aquino acreditava que o corpo e a matéria eram componentes essenciais da natureza
humana e que, como resultado, a moral e a espiritualidade não deveriam descontar ou
minimizar essas dimensões. “Assim, no centro da filosofia da educação de Tomás,
encontra-se a tese fundamental de sua antropologia: anima forma corporis, a profunda
unidade, no homem, entre espírito e matéria: a alma é forma substancial, em intrínseca
união com a matéria” (Lauand, 2017, p.43).

O terceiro é a virtude da prudência. A prudência, de acordo com Aquino, é a


capacidade de distinguir entre o que é bom e o que é ruim em uma situação específica e
escolher o melhor curso de ação para alcançar o resultado desejado. No entanto, não
depende de regras ou diretrizes, mas sim de uma avaliação cuidadosa das circunstâncias
atuais, e não pode ser reduzida a um conjunto de normas ou orientações; antes, é uma
habilidade que deve ser aprendida através da reflexão e da experiência.

O quarto aspecto é o pecado capital da acídia. Porque representava um estado de


desespero e pessimismo diante dos desafios da vida, a acedia era vista como um crime
capitalista. Tomás de Aquino acreditava que a ansiedade era uma barreira para alcançar a
felicidade humana porque impedia o indivíduo de procurar soluções inovadoras e eficazes
para os problemas que estavam enfrentando. Portanto, a educação deve ajudar as pessoas
a desenvolver a virtude da esperança e superar as adversidades, agindo e tendo fé na
providência divina.

Em conclusão, a interpretação tomista da ética tem muitas características que são


extremamente importantes para a educação, como a ideia de que a ética é a realização da
felicidade humana, o valor do corpo e do mundo material, a virtude da sabedoria e o
significado de superar a adversidade. Essas características podem ajudar a desenvolver
indivíduos mais completos e equilibrados que são capazes de enfrentar os desafios da
vida com criatividade, conhecimento e confiança.

“Por mais destacada, porém, que seja a importância histórica do Tratado da


Prudência de Tomás, seu interesse transcende o âmbito da história das ideias e instala-se
– superadas as naturais barreiras de linguagem dos séculos que nos separam do Aquinate
– no diálogo direto com o educador de nosso tempo, como rica contribuição para alguns
de nossos mais urgentes problemas existenciais” (Lauand,2017, p. 43).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

LAUAND, Jean. “Revisitando Tomás de Aquino – quatro aspectos de Ética e


Educação”. Revista Caminhando, v. 22, n. 1, jan./jun. 2017.

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. IIª Seção da IIª Parte, Introdução e notas das
virtudes teologais por Antonin-Marcel Henri e da prudência por Albert Raulin. São Paulo:
Loyola, 2004.

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. V. I, III e IV. São Paulo: Loyola, 2004.

TORREL, J-P. Iniciação a Santo Tomás de Aquino. Sua pessoa e sua obra. Trad. Luiz
Paulo Rouanet. Ed. Loyola, São Paulo, 1999.

PIEPER, J. Virtudes Fundamentales. Madrid: Rialp, 1976.

NASCIMENTO, Carlos Arthur Ribeiro do. A Prudência Segundo Tomás de Aquino.


Revista Síntese Nova Fase. Belo Horizonte, v.20 n. 62, PP. 365-385, 1993.

Você também pode gostar